A INTERAÇÃO CORPO-MÚSICA-MOVIMENTO NO PROJETO DE BANDA PERCUSSIVA
MENINOS DO SÃO JOÃO, EM PALMAS-TO
Liubliana Silva Moreira Siqueira
Universidade de Brasília, Brasil
Resumo:
Essa pesquisa faz parte da dissertação que será apresentada ao Programa de Mestrado
Profissional em Artes da Universidade de Brasília-DF. Ela nasce da experiência com o Grupo
de Banda Percussiva Meninos do São João, da cidade de Palmas-To. Nesta pesquisa corpo e
experiência estética se fundem para estudo do processo criativo. O presente artigo aborda parte
dos estudos realizados neste projeto, tendo como objetivo descrever as aulas de dança,
incorporadas na prática musical desse grupo durante o processo de criação do Espetáculo
“Ducampo”. Toma como referências principais os trabalhos de J. Dewey, Jorge Bomdía Larrosa
e Duarte Júnior sobre experiência estética; Rudolf Laban e Merleau-Ponty, sobre a percepção
corporal e dança, para a estruturação das aulas de dança.
Palavras-chave: Corpo, Percepção corporal, Prática corporal, Experiência estética, dança.
Abstract:
This research is parto f na essay that will be presented at the Professional Masters in Arts
Program of the University of Brasília. It was born from the experience whit the group Banda
Percussiva Meninos do São João, from the city of Palmas-TO. The present article approaches
part of the studies made in this project, and aims to describe the dance lessons assembled to the
musical practice of the Grou during creation process of the show “DuCampo”. It’s main
references are the woks of J. Dewey, Jorge Bomdía Larrosa and Duarte Júnior about asthetical
experience; Rudolf Laban and Merleau-Ponty about body perception and danca, to structure the
dance classes.
Key-words: body; body perception; body practice; aesthetical experience; dance.
II SIEFPE – Faced-UFJF – Outubro de 2015
A INTERAÇÃO CORPO-MÚSICA-MOVIMENTO NO PROJETO DE BANDA PERCUSSIVA
MENINOS DO SÃO JOÃO, EM PALMAS-TO
INTRODUÇÃO
Está pesquisa é parte integrante do Projeto “Ponto de Cultura e Memória Rural
Meninos do São João” com o Grupo “Banda percussiva Meninos do São João”,
desenvolvido na Escola Municipal do Campo Marcos Freire, em Palmas-To. Seu
objetivo é registrar a experiência artística e estética vivenciada por este grupo, no que
tange a interação corpo-música-movimento para a criação do Espetáculo de música e
dança “DuCampo”.
O projeto, em funcionamento há quatro anos, foi idealizado e, é coordenado pelo
músico, poeta e compositor tocantinense Dorivan Borges. É composto por ações
artísticas, pedagógicas e ambientais; envolvendo oficinas de construção de instrumentos
percussivos através de material reciclado, oficinas de música percussiva e rodas de
conversa para discussão de alunos e professores sobre as aulas.
A interação corpo-música-movimento pretende trazer para o universo desse
grupo musical, um pouco da importância do trabalho corporal usando o viés do
movimento como elo entre essas duas linguagens na criação de um espetáculo artístico.
Deste modo, promover uma nova experiência estética, que desperte a sensibilidade e
expressividade corporal desses alunos, durante o processo criativo.
Ao Olhar para o projeto, vislumbramos uma ação educativa, uma concepção
estética da educação, assim como proposto por Duarte Júnior (1995). Ação gerada por
meio da escuta sensível que possibilita uma nova experiência através do corpo
incorporado no fazer musical desse grupo. Compartilho as ideias de Barreto (2004),
acerca do corpo que dança, quando destaca que este corpo “é próprio da expressão”.
Cabe à dança, nesse contexto permitir a experimentação e criação no exercício da
espontaneidade, diversidade e criatividade. Contribuir para o corpo expressivo em cena.
O presente artigo tem como foco apresentar algumas reflexões utilizadas para a
elaboração e possíveis desdobramentos das aulas de dança, incorporadas na prática
musical do Grupo de Banda Percussiva Meninos do São João, durante o processo de
criação do Espetáculo “DuCampo”. Estas aulas tiveram como objetivo possibilitar aos
alunos, meninas e meninos com idade entre 10 e 15 anos, da Escola Municipal do
A interação corpo-musica-movimento no projeto de banda percussiva meninos do são joão, em palmas-to
Campo Marcos Freire, uma maior sensibilização e expressividade corporal em seu fazer
musical.
PERCEPÇÃO E PRÁTICA CORPORAL
O corpo está presente em diversas investigações de cunho biológico,
pedagógico, estético, ético, cultural, social. Nesta pesquisa corpo e experiência estética
se fundem para estudo do processo criativo. Então qual, ou quais os significados do
corpo contemplam o universo desta pesquisa? Segundo Merleau-Ponty (1994, p.03), “O
mundo não é aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou aberto ao mundo,
comunico-me indubitavelmente com ele”.
Diante desse viés da construção do mundo a partir do saber da experiência, o
corpo adquiri seu primeiro significado, como “pivô de nossas experiências”, concepção
de Merleau-Ponty também presente nos estudos a respeito do corpo em Laban (1978).
Os autores convergem em sua fala quando destacam o corpo enquanto um todo que
possui partes interligadas, envolto não só em ações funcionais bem como em situações
expressivas que são vivenciadas em suas experiências motoras, permitindo-nos acessar
o mundo e os objetos.
Ambos aproximam seus pensamentos no tocante às questões do corpo e suas
significações, destacando a experiência como a base para relação do homem com o
mundo e os objetos. A dança faz a ‘ponte’ com a interação corpo-musica-movimento,
está presente nos estudos desses autores, de forma mais extensa em Laban. De acordo
com suas ideias a dança comtempla uma nova significação aos movimentos, é poesia
das ações corporais.
O corpo como expressão, como espaço expressivo e comunicativo são conceitos
também fundamentais na visão tanto de Merleau-Ponty quanto de Laban. Entretanto a
linguagem corpórea é muitas vezes preterida em nossa sociedade, que vê na oralidade a
única forma de comunicar-se. Nesse sentido diria Thérère Bertherat (1977) “o corpo
fala, ele tem suas razões”. O privilégio dado à fala não pode abafar a linguagem
perceptiva do nosso corpo.
A linguagem do corpo é segundo Gicovate (2001), a “fala” do corpo com gestos,
fisionomias e movimentos. Um movimento que se torna significativo, expressivo
quando o corpo passa a compreendê-lo, quando incorpora ao seu próprio mundo.
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A arte é uma das maneiras de representar esse movimento significativo, de
comunicar através do corpo uma nova experiência. É oportunidade de experimentar a
plasticidade do corpo, de exercitar suas potencialidades motoras e expressivas ao se
relacionar com as diversas modalidades artísticas. Fonseca (1995) reflete sobre o
potencial que tem a experiência cultural quando propõe:
A noção de corpo, por meio da experiência cultural, integra o
emocional, o afetivo, o mágico, o fantástico, o objetivo e o subjetivo.
Em uma palavra, a noção de corpo transforma-se na noção do
psíquico. Com bases nesses dados, o corpo transforma-se em um
instrumento do pensamento e da comunicação. Reconhece-se o que se
é nele e com ele. [Fonseca, 1995, p. 182].
O conceito proposto pelo autor transfere ao corpo a característica de instrumento
do pensamento e comunicação. Laban e Merleau-Ponty buscam fugir dessa
terminologia do “corpo-objeto”. Contudo fazem uso de termos que a carregam. Nessa
perspectiva Laban (1978, p. 67) propõe, “O corpo é nosso instrumento de expressão por
via do movimento”. E ainda [...] Pois o corpo é instrumento através do qual se comunica
e se expressa (1978, p.88).
Mesmo negando essa denominação do corpo como objeto, quando compara este
a uma obra de arte, ainda assim Merleau-Ponty (1994, p.122), reporta a mesma
terminologia. Nessa significação traz, “O corpo é o veículo do ser no mundo, e ter um
corpo é, para um ser vivo, juntar-se a um meio definido [...]”.
Esta interpretação do corpo como “instrumento, veículo, meio” pode
preconceber uma visão racionalista e mecanicista, questionada pelos autores. Todavia
acolhem o corpo como espaço de expressão e comunicação que necessita ser
instrumento-veículo para comunicar-se. Na há como pensar a comunicação sem um
meio para que esta “fale”.
Procuramos trazer nessa pesquisa a proposta de uma nova experiência através da
arte. E para mim, o que é a arte? Arte é expressão do que sentimos, do que sonhamos,
do que imaginamos, do que vivenciamos. É experiência de vida, é registro de história
(passado), é discussão do vivido (presente), é proposição de futuro (desconhecido). Arte
é corpo que dança. Para Nóbrega (1999, p.65) “o corpo não é coisa nem ideia, é
movimento, expressão criativa e sensibilidade”.
Voltamos à interação corpo-música-movimento para falar de dança, arte como
meio expressivo incorporado no trabalho musical do Grupo de Banda Percussiva
Meninos do São João. Na presente pesquisa buscou-se um meio de evocar as
significações do corpo junto à prática desse grupo. Brincando, de forma lúdica trazer a
A interação corpo-musica-movimento no projeto de banda percussiva meninos do são joão, em palmas-to
espontaneidade dos gestos para cena, torná-la mais sensível, mas expressiva. Deixá-los
ter um mundo próprio por meio da arte.
O corpo é nosso meio geral de ter um mundo. Ora ele se limita aos
gestos necessários a conservação da vida e, correlativamente, põe em
torno de nós um mundo biológico; ora, brincando com seus primeiros
gestos e passando de seu sentido próprio a um sentido figurado, ele
manifesta através deles um novo núcleo de significação: é o caso dos
hábitos motores como a dança [Merleau-Ponty, p.203].
Somos conduzidos a adentrar nessa brincadeira, nessa dança. E novamente o
corpo é nosso meio, caminho para a descoberta de um mundo repleto de significações.
Um mundo sensível, expressivo, que quer comunicar algo através de seus gestos. Não
podemos esquecer “a sabedoria sem palavras que mora em nosso corpo”, como coloca
Rubens Alves (1998).
Trazer a dança para o horizonte desse projeto, é possibilitar a comunicação do
corpo para além da execução da música. A dança foi um dos temas básicos de Laban em
suas investigações. Procurou dar maior liberdade para quem dança, quebrando duras
doutrinas e exigências técnicas presentes na dança e na ginástica, primava pela dança
expressiva e criativa, possível para todos. Segundo Laban (1978), “a dança e a mímica
são o meio pelos quais as ações simbólicas e o nossos sonhos se exprimem a nível
estético”.
É essa confluência de concepções, ideias, pensamentos que norteiam nossa
pesquisa. Um projeto que além de ações práticas quer conduzir para o desenvolvimento
do aluno como ser sensível, criativo, expressivo, sujeito de suas experiências.
CORPO COMO EXPERIÊNCIA ESTÉTICA
Para entendermos como se dá o processo de criação do Espetáculo “DuCampo”
através do trabalho corporal, aprofundamos nossos conceitos de experiência abordando
para isso John Dewey, Bomdía Larrosa e Duarte Júnior. Autores que ressaltam a
importância do valor formativo das experiências vividas. Aqui, destacamos o campo da
arte, em especifico a dança para contextualizar nosso aporte teórico-prático.
Para Larrosa (2001), “a experiência é em primeiro lugar um encontro ou uma
relação com algo que se experimenta que se prova”. É ainda “exposição, receptividade,
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abertura, travessia, perigo, capacidade de formação e transformação, é paixão”. Então,
para se experenciar, na vida como na dança é preciso o encontro, paixão. Relação onde
se experimenta algo, de forma que quem à experenciar esteja aberto, receptivo.
Destarte trazer a linguagem corporal para o universo musical deste grupo de
alunos teve como desafio o “novo”. Aventar uma interação que fosse além de sua
realidade, a prática musical, entretanto que estivesse intensamente envolvida no seu
próprio processo do viver, que fosse como a paixão, intensa e transformadora. Envolto
em um processo, que é acima de tudo travessia para o inesperado, onde nos somos o
sujeito. Sobre o sujeito da experiência Larrosa coloca:
O sujeito da experiência seria algo como um território de passagem,
algo como uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de
algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa
alguns vestígios, alguns efeitos [Larrosa, 2001, p.25].
É a experiência desse sujeito, que é corpo, alma, sentimento e emoção que
buscamos evidenciar nesse grupo através da incorporação da linguagem corporal em seu
fazer musical. Uma experiência cultural, estética e artística.
Duarte Júnior (2000, p.15) retorna à raiz grega da palavra “estética” para
resgatar seu significado. Segundo ele, “Estética - aisthesis, indicativa da primordial
capacidade do ser humano de sentir a si próprio e ao mundo num todo integrado, a
capacidade sensível do ser humano para perceber e organizar os estímulos que lhe
alcançam o corpo”.
Desta forma, pensando na capacidade sensível de se perceber algo que “nos toca,
nos acontece” palavras de Larrosa (200, p.28), pretende-se com as aulas de dança fazer
o corpo veículo de experiência estética dentro do processo criativo de um espetáculo
que envolve a linguagem da música e da dança.
O corpo é então vivenciado nesse conceito como meio de se atingir uma maior
sensibilização e expressividade a partir do processo de experiência artística e estética.
Digo artística e estética, pois de acordo com Dewey (2010), “a palavra “artístico” se
refere primordialmente ao ato de produção, e a palavra “estético”, ao ato de percepção e
apreciação. Embora o vocabulário separe a dimensão ativa e a receptiva, a experiência
com a arte revela a profunda conexão entre elas.
A interação corpo-musica-movimento no projeto de banda percussiva meninos do são joão, em palmas-to
O ato de dançar é proposto nessa pesquisa como um momento de sensibilização
e expressão. Tentando abarcar as dimensões ativas e receptivas, a apreciação e o ato de
produção. Este artigo procura descrever em seguida, as atividades desenvolvidas nas
aulas de dança, um processo que se deu ao longo da preparação e montagem do
Espetáculo “DuCampo” com o Grupo de Banda Percussiva Meninos do São João.
SOBRE O PROCESSO CRIATIVO
O processo criativo do espetáculo foi dividido em cinco etapas, partimos do
“Estudo-observação”, onde foram observadas as aulas e apresentações realizadas pelo
grupo durante um mês. Está etapa teve como foco, questões relacionadas à sensibilidade
e expressividade corporal nas aulas e na cena (apresentações), registrados através de
vídeos e diário de bordo, a reação deste corpo que ora esta em seu ambiente de aula
(escola) ora esta na cena (palcos).
Em seguida partiu-se para o “Estudo diagnóstico”, momento onde foram
realizadas oficinas de dança e expressão corporal com o intuito de conhecer qual o
repertório corporal dos alunos desse grupo, quais as linguagens de dança eles
conheciam, gostavam e desejavam aprender. Questões relacionadas a dança, e as
significações relativas ao corpo em sua vida e seu cotidiano, foram levantadas em rodas
de conversa com os alunos.
Esses momentos foram importantes para estabelecer um primeiro contato com o
grupo, constituir um caminho para o “aprendizado da convivência” como coloca,
Warschauer (1993), ao mesmo tempo, propiciar à proximidade, a segurança, a troca de
saberes entre alunos e professor. A ideia era sentar junto, ao lado, falar com o grupo,
trazer a tona os significados que o corpo assume em sua prática musical.
Após esse conhecer coletivo partimos para “Estudo corporal” são propostas
oficinas de dança e expressão corporal como preparação para a montagem coreográfica
do espetáculo. Etapa que descreveremos a seguir como ponto principal deste artigo, as
etapas seguintes, “Estudo de Roteiro” e “Estudo Coreográfico”, onde inicia-se a
montagem do espetáculo, não serão discriminadas nesse texto, pois ainda fazem parte da
pesquisa em andamento.
SOBRE AS AULAS DE DANÇA
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Após o levantamento realizado com o “Estudo-observação”, realizado nas aulas
de música e nas apresentações do grupo durante um mês, foi diagnosticado que o corpo
tem sido preterido durante o processo de ensino. Percebeu-se a falta de uma orientação
corporal específica, que contribuísse para ampliar as possibilidades de ação junto ao
fazer musical desse grupo.
Partindo desse diagnóstico definimos como objetivo do projeto, incorporar a
prática corporal como “veículo, instrumento, meio” de uma nova experiência estética de
maneira que contribuísse para uma maior sensibilização e expressividade. Nesse sentido
as aulas de dança são inseridas como parte do processo criativo do Espetáculo de dança
e música “DuCampo”. As atividades a seguir tiveram como base o livro: Oficinas de
dança e Expressão corporal para o Ensino Fundamental. [SÁ, I. R; K. M. A. GODOY,
2009].
“Estudo diagnóstico” – Primeiro passo: Comunicação e expressividade
1- Roda de apresentações – Os alunos foram dispostos em círculo. Inicialmente
cada aluno fez sua apresentação pessoal dizendo o seu nome, após todos terem se
apresentado, é feita uma segunda rodada onde todos repetem o nome do colega. Novas
rodadas são propostas com formas diferenciadas de apresentação onde os alunos
escolhem um movimento, ou gesto. Os demais alunos repetem o gesto e o nome da
pessoa que se apresentou. Durante a atividade promovemos a comunicação e
expressividade de forma espontânea o que contribuiu para a descontração do grupo, o
desenvolvimento de uma maior relação de intimidade uns com os outros, além de
trabalhar a memoria motora e atenção.
2- Vontade Própria: Nessa atividade é solicitado que os alunos elejam uma parte
do seu corpo. Essa parte ganha “vontade própria”, inicia movimentos acompanhando o
ritmo da música percussiva, que é tocada pelos professores de música. Ao longo da
atividade outras partes do corpo são selecionadas para que os alunos explorem as
diversas possibilidades de movimento de cada um deles, trabalhando o improviso,
criatividade, domínio dos movimentos corporais e a integração com o grupo.
“Estudo Corporal” – Segundo Passo: Conhecendo o Corpo e os fatores de movimento.
A interação corpo-musica-movimento no projeto de banda percussiva meninos do são joão, em palmas-to
1- Os animais: Nessa atividade os alunos são orientados a ocuparem livremente
o espaço da quadra, deitam no chão (como uma estrela do mar com os braços abertos
ocupando toda extensão do espaço que seu corpo puder) de olhos fechados. Ao som
percussivo tocando pelos professores de música, são dados estímulos para que aos
poucos os alunos se movimentem pelo espaço, começando devagar com cada parte do
corpo.
Após essa experimentação, os alunos podem abrir os olhos e o nome de alguns
animais é citado para que eles reproduzam, a sua maneira, a movimentação deste pelo
espaço. Primeiramente por animais que caracterizam do nível baixo (cobras, lagartixas,
lagartos, etc) depois nível médio (gato, cachorro, onças, macaco, girafas, etc) e por fim
animais no nível alto (pássaros, borboletas, águias, etc). Nessa atividade foi trabalhado:
a percepção corporal, tônus corporal, a compreensão das articulações e espaço. As
noções do que eram os níveis alto, médio e baixo foram discutidas antes do início da
atividade.
2- Na batida: Essa atividade os alunos estão distribuídos livremente no espaço. A
partir de um estímulo musical, os alunos deslocam-se andando pelo espaço
acompanhando a batida da música (acento). O professor de música comanda a
velocidade com que esse deslocamento é feito, a direção e suas combinações são
coordenadas pela professora de dança. Com o sessar da música os alunos tem que
congelar em uma pose. Na segunda parte da atividade é sugerido que os alunos parem
em duplas, grupos, conforme a batida final da música, um toque (sozinhos), dois toques
(duplas), três toques (trios) e assim por diante. Na atividade os meninos trabalharam
desde a percepção do tempo, deslocamento no espaço, dinâmicas de aceleração e
desaceleração, o trabalho de direção, integração com o grupo.
“Estudo Corporal” - Terceiro passo: O corpo e os ritmos corporais.
1- No ritmo: Nessa atividade os alunos são dispostos em um círculo. Os
professores de música iniciam alguns ritmos: funk, congado, maculêlê, ciranda, forró,
swingueira, brega. As batidas são variadas seguindo o ritmo de cada estilo musical. Os
alunos devem acompanhar os ritmos promovendo movimentos que acham que tenham
ligação com esse estilo musical, adivinhando os ritmos tocados pelo professor. Nessa
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atividade é trabalhada a consciência corporal, envolvimento com as partes do corpo, a
escuta e acompanhamento musical, a memorização e a auto expressão criativa. Surgem
movimentos inusitados, e alguns líderes que conduzem a movimentação do grupo.
2- Desafio: Os alunos são dispostos em um círculo. Com o acompanhamento da
música percussiva é criada uma célula de movimentos que é reproduzida pelos alunos.
Foi pedido que os alunos complementassem essa célula com movimentos seus. Em uma
segunda parte os alunos ocupam o espaço da quadra e é repetida essa mesma célula em
ritmos diferentes. Depois os alunos são divididos em dois grupos. Cada grupo vai
elaborar uma frase rítmica e apresentar para o outro grupo, elegendo um representante
para ficar na frente. O desafio é brincar com a criatividade, espontaneidade, auto
expressão e espírito de grupo. Trabalhando a percepção rítmica, memória motora e
criação de movimentos resgatando o que eles têm em seu repertório. Foi uma atividade
extremamente rica, trouxe o empenho do grupo, a integração e socialização de ideias,
eles deram apoio uns para os outros e mesmo sem perceber dançaram.
“Estudo corporal” - Quarto Passo: Brincadeiras e brinquedos como recurso de criação
O conteúdo programático da última parte das aulas de dança destaca-se pelo
aprendizado prático da execução de movimentos surgidos do ato de brincar e do
manuseio desses brinquedos.
1- Roda de conversa: Relembrando brinquedos e brincadeiras. Nessa aula
através de uma conversa em roda, os alunos foram relembrando brinquedos e
brincadeiras que eles gostavam e faziam parte de seu cotidiano, da sua casa, escola.
Depois eles puderam contar histórias que envolviam essas brincadeiras e sua vivência.
Os nomes dessas brincadeiras e brinquedos foram registrados em uma cartolina. Foi um
momento de troca de saberes, de compartilhar histórias com o grupo, histórias que por
vezes se completavam, ora traziam novidades para o grupo.
2- Explorando brinquedos e brincadeiras. Nessa aula foram trazidos alguns
desses brinquedos. Os alunos foram divididos em grupos e ficaram livres para escolher
o seu brinquedo e brincar. O intuito era conhecer todas as possibilidades de
movimentação que poderiam surgir do laboratório dessa vivência, primeiramente a
A interação corpo-musica-movimento no projeto de banda percussiva meninos do são joão, em palmas-to
partir do simples ato de brincar, de interagir com: pião, bola de gude (chamada de
peteca pelos alunos e comunidade), elástico, peteca de índio (copeteca de pena), pular
corda, bambolê, ioiô, queimada. Foram explorados os movimentos surgidos a partir dos
brinquedos e/ou brincadeiras, que eram apresentados pelos alunos como parte do
cotidiano de sua comunidade, família e escola. O espírito de integração e solidariedade
foi registrado por diversas vezes quando colegas ensinavam aos que não sabiam algum
tipo de brincadeira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, é possível dizer que dançar é se tornar presença em momento,
refletindo imagens e criando formas. O corpo que dança é próprio ao
da expressão, e seu tempo-espaço só pode ser o presente. Dançar é
imaginar, fazer e acordar em outros interiores e exteriores seus
próprios olhares e imaginações [Barreto, 2004, p.125/126].
Após conhecer o grupo, através de um “aprendizado de convivência”, percebo
que eles passaram a ter mais confiança, descobriram uma movimentação própria. A
expressividade corporal surgida dessa movimentação passou a ser trabalhada para a
presença desse corpo na cena.
O trabalho de pesquisa sobre ritmos e cultura, antes desenvolvidos pelo grupo de
Banda Percussiva Meninos do São João por meio de estudos dos ritmos presente na
região norte e nordeste, ampliou-se com as atividades de vivência corporal. Surgem
assim novas formas de expressão corporal advinda do contato com as brincadeiras e
brinquedos presentes em seu cotidiano, a movimentação desenvolvida nas aulas de
dança e a música percussiva.
Nos três primeiros momentos, desenvolveram-se atividades corporais que
privilegiassem o estudo do corpo no espaço, peso, tempo, fluência de acordo com os
princípios de movimento de Laban (1978). O autor destaca que é necessário fazer com
que os alunos tomem consciência do movimento, primeiramente a partir de ações
básicas como: andar, correr, saltar, pular, empurrar, levantar, ações básicas encontradas
nas atividades desenvolvidas nas aulas de dança e no ato de brincar.
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Acreditamos que as aulas de dança, como linguagem expressiva e meio de
comunicação, assumiram um papel de suma importância não só no fazer musical desse
grupo mais de forma ainda maior na vida desses alunos. A experiência estética
vivenciada por eles durante esse processo pôde ampliar o seu repertório cultural,
possibilitar a descoberta de um corpo sensível, expressivo, criativo, espontâneo.
É possível dizer que a dança já fazia parte do corpo desses alunos, ganhou
liberdade através das aulas de dança. Como diria Barreto (2004), afinal “o corpo que
dança é o próprio ato de expressão”. Termino com Garaudy, um grande pensador
francês:
“O que aconteceria se, em vez de apenas construir nossa vida, nós nos
entregássemos à loucura ou a sabedoria de dança-la? Talvez esta seja,
hoje, uma das mais importantes questões levantadas pela juventude
em sua contestação das finalidades do mundo que lhe legamos”
[GARAUDY, 1980].
Tal como vejo, talvez devêssemos somente nos deixar tocar, vivenciar essa
grande experiência estética que é a vida. Sem arquitetar nosso futuro, que vive um
presente sem tempo, cheio de opiniões, trabalho e excesso de informação,
principalmente em nossas escolas. O ambiente escolar pode ser o grande espaço para
promover a experiência estética que nossos alunos necessitam para desenvolver sua
autonomia, potencial criativo, sensibilidade, expressividade no mundo que vivem.
A interação corpo-musica-movimento no projeto de banda percussiva meninos do são joão, em palmas-to
REFERENCIAS BIBLIGRÁFICAS
BARRETO, D. Dança... ensino, sentidos e possibilidades na escola. Campinas, São
Paulo: Autores Associados, 2004.
DEWEY, J. A Arte como Experiência In Os Pensadores. Trad. Murilo Leme. São
Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1974.
DUARTE JÚNIOR, J.F. Fundamentos estéticos da educação. São Paulo: Cortez; São
Paulo: Autores Associados, 1981. (Coleção Educação Contemporânea).
GARAUDY, R. Dançar a vida. Trad. de Antônio Guimarães Filho. Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 1980.
LABAN, R. Domínio do Movimento. São Paulo: Summus, 1878.
LARROSA BONDÍA, Jorge. Trad: Notas sobre a experiência e o saber de experiência.
João Wanderley Geraldi. Palestra proferida no 13º COLE-Congresso de Leitura do
Brasil. Unicamp, Campinas/SP. 17 a 20 de julho, 2001
MARQUES, I. (1997, junho). Dançando na Escola. Revista Motriz, 3(1), 20-28.
MERLEAL-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Tradução: Carlos Alberto
Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins, 1994.
SÁ, I. R; GODOY, K. M. A. Oficinas de dança e expressão corporal para o Ensino
Fundamental. São Paulo, Cortez, 2009.
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