UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR NÚCLEO DE SAÚDE – DEPARTAMENTO DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL Maisa da Silva Araújo EFEITOS DA QUANTIDADE DE ALIMENTO E DA DENSIDADE LARVAL NA BIOLOGIA DO VETOR DA MALÁRIA - Anopheles darlingi (DIPTERA: CULICIDAE). Porto Velho 2008 Maisa da Silva Araújo EFEITOS DA QUANTIDADE DE ALIMENTO E DA DENSIDADE LARVAL NA BIOLOGIA DO VETOR DA MALÁRIA - Anopheles darlingi (DIPTERA: CULICIDAE). Dissertação apresentada à Universidade Federal de Rondônia, para obtenção do título de Mestre, pelo programa de Pósgraduação em Biologia Experimental – Área de concentração: Entomologia. Orientador: Alexandre de Almeida e Silva Porto Velho 2008 Catalogação Biblioteca Central / UNIR A5861i Araújo, Maisa da Silva Efeitos da quantidade de Alimento e da densidade Larval na Biologia do Vetor da Malária – Anopheles darlingi (DIPTERA: CULICIDAE)./ Maisa da Silva Araújo. Orientador Alexandre de Almeida e Silva. – Porto Velho, 2008. 86f. Dissertação apresentada à Fundação Universidade Federal de Rondônia para obtenção do título de Mestre em Biologia Experimental 1.Entomologia 2. Malária I.Título CDU : 595.7 Maisa da Silva Araújo Efeitos da quantidade de alimento e da densidade larval na biologia do vetor da malária - Anopheles darlingi (Diptera: Culicidae). Dissertação apresentada à Universidade Federal de Rondônia, para obtenção do título de Mestre, pelo programa de Pósgraduação em Biologia Experimental – Área de concentração: Entomologia. Aprovado em ___/___/____ Banca Examinadora Dedico este trabalho... Aos meus pais, Ivan e Maria Auxiliadora Que em todos os momentos, sempre Me deram força através de seu amor. À minha tia Maria das Graças (In memorian) que demonstrou grande fé e coragem diante da sua doença. À minha amiga Reginéia Aparecida (In memorian) pelo seu exemplo de determinação. E ao meu grande incentivador e amigo, M.R. Merci d’avoir enchanté ma vie. AGRADECIMENTOS Foram muitos, os que me ajudaram a concluir este trabalho. Meus sinceros agradecimentos... À Deus, pelas benções que recebo todos os dias. Ao meu amigo e companheiro de estudo Roberto, o qual me apresentou o Max, que me ensinou a identificar os culicineos e a gostar de entomologia médica. Ao responsável pelo laboratório de entomologia do IPEPATRO, Luiz Herman Soares Gil, por ter me aceitado como estagiaria e confiar no meu trabalho, além de me incentivar a continuar nesta área de Entomologia Médica. Ao Dr. Alexandre de Almeida e Silva pelas orientações e apoio para execução deste trabalho. Ao Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais – IPEPATRO, por todo apoio financeiro e logístico para a realização deste trabalho. Ao Diretor Geral do IPEPATRO, professor Luiz Hildebrando Pereira da Silva. Ao Diretor Científico, Dr. Rodrigo Stábeli. À Diretora de Assuntos Acadêmicos do IPEPATRO, Dra Vera Engracia Oliveira. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela bolsa de mestrado. Ao Professor Salomão David Ferreira que sempre se mostrou solícito em todos os momentos de dúvidas que sugiram no decorrer deste trabalho. Aos colegas e amigos do laboratório de Entomologia, Elis, Frances, Rafael, Tony, Richard, André, Luciany, Tainá, Wéslia, Lucivaldo, Raimundo, Jayro e Alan pelos momentos de aprendizagem e alegria que passamos juntos. Aos demais colegas e amigos do IPEPATRO/CEPEM, Aline, Gleysa, Kayena, Ângela, Rosineide, Joana, Vânia, Marlene, Giovanni, Enéias, Sr. Raimundo, Paulo, Beto, Andreilson, Siliane, Rose, Sr. Pedro, Márcio, Sr. Messias, Kiki e demais funcionários por toda ajuda e colaboração. Aos professores do mestrado, Vera Engracia, Maria Manuela Moura, Rodrigo Stábeli, Gehard Underlich, Rubiani Pagotto, Gilson Silva, profº Hildebrando Pereira da Silva, Paulo Nogueira, Juan Miguel, Valdir Facundo, Ana Escobar e Izaldina Jardim pelos ensinamentos. Aos companheiros do mestrado, Reginéia (in memorian), Elaine, Cléia, Rudson, André, Soraya, Helen, Taísa, Davi, Sheila e Socorro. Às minhas amigas que compreenderam a minha ausência em alguns momentos, Ângela, Franqueneide e Crisbele. À Joana D’Arc e a minha amiga Franqueneide, pela simpatia e compreensão nas correções. À minha família que sempre me incentivou e esteve presente em minha formação. “Para mim, sábio não é aquele que proclama palavras de sabedoria, mas sim aquele que demonstra sabedoria em seus atos”. (São Gregório) LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Distribuição das áreas de risco da malária no mundo.................................16 FIGURA 2 - Casos de malaria no Brasil..........................................................................17 FIGURA 3 - Distribuição da malária no Brasil -2006.......................................................18 FIGURA 4 - Mapa do Estado de Rondônia.....................................................................19 FIGURA 5 - Ciclo biológico do Plasmodium sp. .............................................................22 FIGURA 6 - Distribuição das espécies de Anopheles no globo terrestre........................24 FIGURA 7 - Ciclo de vida do Anopheles.........................................................................28 FIGURA 8. Diagrama da asa de An. darlingi...................................................................43 FIGURA 9 - Curva da sobrevivência larval de Anopheles darlingi submetidos a crescentes concentrações de alimento......................................................48 FIGURA 10 - Proporção de fêmeas de Anopheles darlingi picando a cada dia, cujas larvas foram submetidas a crescente concentração de alimento...............50 FIGURA 11 - Longevidade e tamanho da asa dos adultos cujas larvas foram submetidas a crescentes concentrações de alimento...............................51 FIGURA 12 - Longevidade e tamanho da asa de machos e fêmeas obtidos de larvas submetidas a crescente concentração de alimento....................................52 FIGURA 13 - Curva de sobrevivência larval de Anopheles darlingi em alta concentração de alimento em crescente densidade.......................................................56 FIGURA 14 - Proporção de fêmeas de An. darlingi picando a cada dia.........................58 FIGURA 15 - Longevidade e tamanho da asa dos adultos de acordo com o sexo........59 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Parâmetros biológicos avaliados.................................................................38 TABELA 2 - Concentrações de alimento (mg) oferecidas às larvas de Anopheles darlingi. .......................................................................................................38 TABELA 3 - Tabela de sobrevivência com estádios medianos em intervalos de 24h para as larvas de Anopheles darlingi submetidos a crescente concentração de alimento......................................................................................................43 TABELA 4 - Duração e sobrevivência dos estádios larvais de Anopheles darlingi submetidos a crescente concentração de alimento. ..................................47 TABELA 5 - Alguns aspectos comportamentais e biológicos de fêmeas de Anopheles darlingi alimentadas diariamente com sangue humano, obtidas de larvas submetidas a crescentes concentrações de alimento. ...............................49 TABELA 6 - Tabela de sobrevivência com estádios medianos em intervalos de 24h para as larvas de Anopheles darlingi submetidos a alta e baixa concentração de alimento em crescente densidade larval.....................................................53 TABELA 7 - Duração dos estádios larvais (%) de Anopheles darlingi submetidas a alta e baixa de concentração de alimento em crescente densidade....................54 TABELA 8 - Sobrevivência larval (%) de Anopheles darligi submetidas a alta e baixa concentração de alimento em crescente densidade...................................55 TABELA 9 - Alguns aspectos comportamentais e biológicos de fêmeas de Anopheles darlingi alimentadas diariamente com sangue humano, cujas larvas foram submetidas a alta e baixa concentração de alimento em crescente densidades..................................................................................................57 TABELA 10 - Longevidade e tamanho da asa dos adultos de Anopheles darlingi cujas larvas foram submetidas à alta e baixa concentração de alimento em crescente densidade..................................................................................59 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AC - Acre Ae. - Aedes AM - Amazonas An. - Anopheles ANOVA - Análise de Variância CO2 - Dióxido de carbono CEP - Comitê de Ética em Pesquisa CEPEM - Centro de Pesquisa em Medicina Tropical F1 - primeira geração HRB - Hour Biting Rate IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IPEPATRO - Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais MS - Ministério da Saúde P. - Plasmodium RO - Rondônia SIVEP - Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Malária WHO - World Health Organization SUMÁRIO p. RESUMO SUMMARY/ABSTRACT 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................15 1.1. MALÁRIA..................................................................................................................15 1.2. MODO DE TRANSMISSÃO DA MALÁRIA..............................................................20 1.3. VETORES DA MALÁRIA..........................................................................................23 1.4. CICLO DE VIDA DO VETOR...................................................................................27 1.5. FATORES QUE AFETAM O DESENVOLVIMENTO LARVAL.................................29 1.6. ALIMENTAÇÃO E DENSIDADE LARVAL................................................................31 2. OBJETIVOS................................................................................................................36 2.1. OBJETIVO GERAL...................................................................................................36 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................36 3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................37 3.1. COLONIZAÇÃO DE Anopheles darlingi...................................................................37 3.2. EFEITO DA QUANTIDADE DE ALIMENTO NO ESTÁGIO LARVAL......................38 3.3. DENSIDADE LARVAL..............................................................................................39 3.4. AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS BIOLÓGICOS DO VETOR...............................40 3.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA..........................................................................................43 3.6. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS....................................................................................43 4. RESULTADOS............................................................................................................45 4.1. EFEITO DA QUANTIDADE DE ALIMENTO.............................................................45 4.2. EFEITO DA DENSIDADE LARVAL..........................................................................52 5. DISCUSSÃO...............................................................................................................60 5.1. EFEITOS DA QUANTIDADE DE ALIMENTO E DENSIDADE LARVAL NO DESENVOLVIMENTO LARVAL......................................................................................60 5.2. EFEITOS DA QUANTIDADE DE ALIMENTO E DA DENSIDADE LARVAL NO ESTÁGIO ADULTO.........................................................................................................65 6. CONCLUSÃO..............................................................................................................72 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................73 REFERÊNCIAS...............................................................................................................74 Efeitos da quantidade de alimento e da densidade larval na biologia do vetor da malária - Anopheles darlingi (diptera: culicidae). Maisa da Silva Araújo Resumo: A incidência de malária na Amazônia, assim como em outras regiões tropicais, sofre variações com as estações do ano, principalmente devido à variação do número de criadouros. As mudanças climáticas alteram as características físicoquímicas dos criadouros, podendo alterar, consequentemente, a disponibilidade de alimento para os estádios imaturos dos vetores, causando alterações biológicas nos adultos, i.e., na capacidade vetorial. Na Amazônia o principal vetor é o Anopheles darlingi, sendo responsável por 99% dos casos de malária na região. Apesar da sua importância na transmissão da doença, o conhecimento sobre a biologia e ecologia da forma larval é ainda limitado. Estudos com adultos têm sido realizados com freqüência, no entanto, há uma necessidade do conhecimento dos fatores que afetam a biologia do vetor, a fim de possibilitar medidas de controle mais efetivas. O objetivo do presente trabalho foi estudar os efeitos da quantidade de alimento e densidade larval na biologia do vetor Anopheles darlingi em condições laboratoriais. As larvas foram divididas em três grupos cada um com cem indivíduos/bacias, e receberam três diferentes concentrações de alimento que variavam entre 3 e 6 mg/larva, com três repetições cada à temperaturas de 28 ºC, 80% de umidade e fotoperíodo de 12h. Três densidades foram testadas com e sem restrição de alimento sob as mesmas condições e repetições da quantidade de alimento larval. Amostras de adultos de cada tratamento foram acompanhadas para observação da longevidade, tamanho da asa e freqüência de picadas para a determinação da capacidade vetorial. O tempo de desenvolvimento e a sobrevivência larval apresentaram diferenças significativas com o aumento da concentração de alimento e densidade larval. Os efeitos nos adultos foram mais observados quando havia uma variação na quantidade de alimento. A densidade apenas afetou o tamanho da asa e a longevidade, apresentando alterações na capacidade vetorial. Enquanto que, o aumento da concentração de alimento larval causou aumento positivo na longevidade, freqüência de picadas, duração do repasto sanguíneo e tamanho da asa e, assim, apresentou maior capacidade vetorial. Houve correlação positiva entre a freqüência de picadas, o tamanho da asa e a longevidade. As fêmeas apresentaram maior longevidade que os machos apesar de apresentarem menor tamanho da asa. De forma geral, observou-se um aumento na produção de larvas e adultos com o aumento da disponibilidade de alimento e a diminuição da densidade larval, produzindo adultos maiores com mais tempo de vida, o que contribui para o aumento da taxa de oviposição e a freqüência de picadas, fatores importantes para o aumento da transmissão da malária. Palavras-chaves: Anopheles darlingi. desenvolvimento larval. viabilidade dos adultos. capacidade vetorial. Effects of the amount of food and larval density in the biology of the vector of malaria - Anopheles darlingi (Diptera: Culicidae). Maisa da Silva Araújo Abstract: The incidence of malaria in the Amazon and in other tropical regions undergoes changes within the seasons along the year, mainly due to the variation in the number mosquito breeding sites and also their physicochemical characteristics. Thus, altering the availability of food for the immature stages of vectors, causing biological changes in adults, e.g., the vectorial capacity. Anopheles darlingi is the main malaria vector in the Amazon, accounting for 99% of the mosquitoes captured in the region. Despite its importance in the transmission of the disease, current knowledge about the biology and ecology of larvae is still limited. Studies with adults have been performed frequently, however, there is a need for more data of the factors that affect the biology of the vector, to provide more effective control measures. The objective of this study was to investigate the effects of the quantity of food and larval density in the biology of the vector Anopheles darlingi in laboratory conditions . The larvae were divided into three groups each with one hundred individuals/basin, and received three different concentrations of food that ranged between 3 and 6 mg/larva, with three repetitions each to temperatures of 28 °C, 80% humidity and pho toperiod of 12h. Three densities were tested with and without restriction of food under the same conditions and number of repetitions larval food. Samples of adults in each treatment were followed for observation of longevity, wing length and frequency of bites for determining the vectorial capacity. Duration of development and larval survival had significant differences with the increase of concentration of food and larval density. The effects in adults were apparently most related to variation in the quantity of food. The density only affected the wing lenght and longevity, changing the vectorial capacity. Meanwhile, the increase in concentration of larval food caused positive increase in longevity, frequency of bites, blood meal duration and wing length, leading to higher vectorial capacity. There was a positive correlation between the frequency of bites, the size of the wing and longevity. The females had greater longevity than males but smaller size of the wing. Overall, there was an increase in the survival of larvae and adults with increased availability of food and the reduction of larval density, producing larger mosquitoes with extended lifespan, possibly contributing to higher fecundity and bite frequency, important factors to the increased transmission of malaria. Keywords: Anopheles darlingi. larval development. fitness adults. vectorial capacity.