UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ROBSON SILVA LIMA O MAESTRO E SUA ATUAÇÃO ARTÍSTICA NA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS – SEDE DO MINISTÉRIO DO BELÉM – SÃO PAULO–SP (1960-2010) São Paulo 2010 II ROBSON SILVA LIMA O MAESTRO E SUA ATUAÇÃO ARTÍSTICA NA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS – SEDE DO MINISTÉRIO DO BELÉM – SÃO PAULO–SP (1960-2010) Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do Titulo de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura. Orientador: Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier. São Paulo 2010 III ROBSON SILVA LIMA O MAESTRO E SUA ATUAÇÃO ARTÍSTICA NA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS – SEDE DO MINISTÉRIO DO BELÉM – SÃO PAULO–SP (1960-2010) Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do Titulo de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura. Aprovada em ___ de __________de 2010. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Prof. Dr. Marcel Mendes. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Prof. Dr. Celso Antonio Mojola. Universidade Federal do Rio de Janeiro. IV L732m Lima, Robson Silva O maestro e sua atuação artística na igreja evangélica Assembléia de Deus sede do ministério do Belém: São Paulo SP (1960/2010) – Robson Silva Lima. São Paulo, 2010 238 f. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2010. Referências bibliográficas: f. 232-236. 1. Petencostalismo. 2. Assembléia de Deus. 3. Ensino musical. 4. Música evangélica. 5. Harpa cristã. 6.Jahn Sörheim. 7. Orquestra do Belém. 8. Banda do Belém. 9. Música Sacra. 10. Teologia. I. Título. CDD 781.70981 V DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos os departamentos musicais de todas as Igrejas Evangélicas Assembléias de Deus. Em um deles aprendi amar a música e o Trombone. VI AGRADECIMENTOS A Deus, que me permitiu tão estimável feito. A todos meus professores, que aprendi amar desde menino. A meu orientador, em especial, pelas sóbrias e imprescindíveis observações. A meu amigo, Maestro Nehemias Soares de Castro pela ajuda com as melodias inventadas. Especialmente ao Maestro João Quirante Blanques. Sem sua ajuda não teríamos acesso às informações tão importantes e necessárias, para compreensão dos procedimentos do Departamento Musical da Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, que tão bem registradas e documentadas com riqueza de detalhes nos serviram de sul durante as horas agradabilíssimas de aprendizado que pude ter em sua casa. Aos entrevistados: Pastor José Wellington Bezerra da Costa, Maestro Wainner Fernandes da Silva, Maestro Noel Vitório de Freitas, Maestro Gilberto Massambani, Maestro Samuel Apulcro, Maestro Sueldo Francisco, Maestro Marcos Motta, Maestro Roberto Farias e Professor Maurício Nascimento Silva, pelas horas doadas, paciência, franqueza e presteza. A todo o departamento musical da Igreja Evangélica Assembléia de Deus - Sede do Ministério do Belém pela receptividade carinhosa e calorosa. À professora de língua portuguesa, alemão e suas literaturas, Maria José Dias Bönninger que revisou este trabalho. E a seu esposo, Jürgen Bönninger pela tradução do resumo para o Inglês. A meus familiares, pela compreensão de tão presente ausência durante a pesquisa. VII “Então, se não nascemos artista, mas artista queremos ser, um endereço de passagem no mundo atual deve ser a universidade. Nesse ambiente, podem se aprender os conceitos da atividade criativa, pode-se adquirir experiência estética e, ainda, se vivenciar os processos inventivos que a cultura contemporânea nos apresenta.” Marcos Rizzoli. “Cultura é a manifestação artística de nossa capacidade criativa e inteligente, que herdamos de Deus”. Roberto Minczuk. “O trabalho do ‘Maestro de Igreja’ é importante para o progresso e o bem estar da Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém. Nada nem ninguém deve dificultá-lo.” Robson Lima. VIII RESUMO Este trabalho tem como objetivo geral pontuar dados históricos do Pentecostalismo Brasileiro e da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém em São Paulo, seus procedimentos educacionais referente à música e a arte, existentes no Ministério do Belém; um dos maiores e mais antigos ministérios das Assembléias de Deus no Brasil, criada por pentecostais suecos. A desmistificação de que as Igrejas Assembléias de Deus são fruto de missão batista estadunidense, ou outra missão qualquer, ― este mito existe no Brasil, porque há na América do norte uma associação de igrejas com o mesmo nome, Assemblies of God. O fato de as Igrejas Assembléias de Deus no Brasil não escreverem suas histórias e serem uma grande instituição religiosa, gera interesse em se escrever devaneios, incorporando as Assembléias de Deus do Brasil como filial ou sucursal que declararam independência depois de desenvolvidas ― essa é, uma das hipóteses estudadas. As Assembléias de Deus no Brasil tornaram-se também, uma junção de instituições, que por pequenas divergências políticas internas separaram-se administrativamente, mas que mesmo assim, estão unidas por convenção. O objeto de nosso estudo é a Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, com aproximadamente 1.900 congregações no Brasil, (que neste trabalho para melhor compreensão trataremos como ‘filiais’). Esta igreja e suas filiais pertencem à convenção denominada CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil). Os Maestros que trabalham nesta igreja têm papeis diferentes dos Maestros seculares e até poderiam, pela diferença do preparo exigido de IX ambos, ter outro título mais adequado, menos Maestro. Na ampla investigação do trabalho desses Maestros, analisamos o hinário Assembleiano “Harpa Cristã” cujas informações estão explicitadas no capítulo 2. Palavras-chave: Pentecostalismo; Assembléia de Deus; Maestro; Ensino; Hino; Música; Educação Musical; Maestro de Igreja; Harpa Cristã X ABSTRACT The main reason of this work is to show historical dates of the Whituntides of Brazil and the evangelical church "Assembléia de Deus" with the headquarter "Ministério do Belém" and his education proceedings relating to music and arts. The "Ministério do Belém", one of the majors and eldest headquarters of "Assembléias de Deus", is a Brazilian institution founded by the Swiss-Whitsuntides. The mith, that the churches "Assembléia de Deus" are fruits of a state-batism, or any other mission, exist in Brazil, because there is at North-America an association of churchs with the same name "Assemblies of God". The reason why the churches "Assembléia de Deus" don`t write their history is, because they are a big religion institution, always creating fantastical stories, incorporating "Assembléia de Deus" of Brazil like a branch, which announced her independence after their development. (This is one of the possibilities to be studied). All "Assembléias de Deus" in Brazil are an united institution, but because of little political internal divergences, they have separated administration, but they are always united in the conventions. The reason of our study or work is the evangelical church "Assembléia de Deus" of the "Ministério do Belém", with about 1.900 congregations in Brazil. (For better understanding of the study, we are treating them like branchs). That church and their branchs belong to the convention with the name CGADB (General-Convention of Assembléia de Deus at Brazil). The masters, which ar working at that churches have different papers or assignments than the secular masters, due to the difference of preparing or training of them. They should use another more appropriated title. While the during investigation of this master- XI case, we came across with anthem of the Assembléia "Harpa Cristã". (This information is explained in Chapter 2). Key-words: Whitsuntides; Assemblies of God; Master; Teaching; Anthem; Music; Musical Education; Master of Church; 'Harpa Cristã' XII SUMÁRIO Introdução.................................................................................................................02 1 Justificativa na escolha do tema............................................................02 2 Objetivos................................................................................................04 2.1 Geral......................................................................................................04 2.2 Secundários...........................................................................................04 2.2.1 Profissionalismo de membros músicos.................................................04 2.2.2 História da Igreja e desenvolvimento da música na liturgia..................04 2.2.3 Procedimentos litúrgicos e a Arte..........................................................05 2.2.4 Corpo Docente......................................................................................05 2.2.5 Performance..........................................................................................05 2.2.6 O Corpo Musical e o Evangelismo........................................................05 3 Critérios metodológicos.........................................................................06 4 Produção historiográfica........................................................................07 5 Corpus...................................................................................................07 Capítulo 1 Origem da Igreja Pentecostal no Brasil.............................................09 1.1 Pensamento filosófico do Pentecostalismo...........................................09 1.2 De onde veio o nome Pentecostal e o que significa.............................12 1.3 Perfil das Igrejas Pentecostais..............................................................14 1.3.1 Origem do Pentecostalismo..................................................................17 1.3.2 O Evangelismo......................................................................................20 1.3.3 Dons Espirituais: algumas observações................................................23 1.3.4 Solidariedade, unidade..........................................................................27 Capítulo 2 Igreja Assembléia de Deus: expressão maior do Pentecostalismo Brasileiro..............................................................................................28 XIII 2.1 Os Primórdios: A Primeira Onda..........................................................30 2.2 Organização Administrativa..................................................................34 2.3 Trajeto da Assembléia de Deus - Sede do Ministério do Belém .........38 2.4 Daniel Berg, Gunnar Vingren e suas contribuições para o cumprimento do direito da liberdade religiosa no Brasil.............................................47 2.5 O nome “ASSEMBLÉIA DE DEUS”......................................................53 2.6 A liturgia Assembleiana e a música......................................................59 2.6.1 Contribuições Assembleianas para a cultura musical brasileira..........60 2.6.1.1 O Hinário e a Hinódia...........................................................................60 2.6.1.2 A História..............................................................................................73 2.6.1.2.1 A Harpa Cristã com Música, história à parte........................................78 2.6.1. 3 A Paisagem Brasileira na hinódia.........................................................86 Capítulo 3 O Departamento de Música da Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém .....................................................................97 3.1 Maestros na Igreja Evangélica Assembléia de Deus - Sede do Ministério do Belém............................................................................107 3.1.1 O Ensino da música...........................................................................115 3.1.2 O “Harpão Azul”..................................................................................119 3.1.2.1 Principais Características...................................................................122 3.1.2.2 Um Problema, uma Solução!..............................................................137 3.1.2.3 Melodias Inventadas..........................................................................144 3.1.3 A Banda do Belém como Ferramenta Evangelística.........................173 3.1.3.1 A Banda do Belém e o Batismo.........................................................186 3.1.4 A Associação Musical Jahn Sörheim................................................189 3.1.4.1 O Estatuto da Associação Musical Jahn Sörheim.............................191 3.1.4.2 Audições da Escola de Música da Associação e a Orquestra Sinfônica De Alunos..........................................................................................195 XIV 3.1.4.3 A Prática do Ensino Musical..........................................................197 3.1.4.3.1 Estrutura para o Ensino Musical....................................................199 3.1.4.3.2 Professores ..................................................................................204 3.1.5 A Orquestra Filarmônica Evangélica Jahn Sörheim e o Coro Principal.........................................................................................211 3.1.6 Testemunho de músicos membros da Igreja Evangélica Assembléia de Deus - Sede do Ministério do Belém que tornaram-se músicos profissionais...................................................................................222 Conclusão...............................................................................................................230 Bibliografia..............................................................................................................232 Anexo I Estatuto Associação Musical Jahn Shöreim.............................................237 Anexo II Cópias de Grades Originais do ‘Harpão Azul’..........................................238 XV ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS Figura 001 – Batismo em rios.....................................................................................11 Figura 002 – Batismo em batistério construído dentro do templo..............................11 Figura 003 – Evangelistas pentecostais em uma prisão............................................21 Figura 004 – Primeiro templo das Assembléias de Deus no Brasil............................38 Figura 005 – Casa onde se faziam cultos antes da construção do primeiro templo..39 Figura 006 – Segundo templo das Assembléias de Deus no Brasil..........................40 Figura 007 – Templo da Assembléia de Deus em Belém – PA, em 1997.................41 Figura 008 – Foto da Banda do Belém em 1937.......................................................42 Figura 009 – Foto da Banda do Belém em 1950.......................................................42 Figura 010 – Foto da Banda do Belém em 1976.......................................................43 Figura 011 – Foto de culto no terreno onde foi construído Templo atual da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do ministério do Belém.......44 Figura 012 – Foto do Templo atual da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede Do Ministério do Belém.........................................................................44 Figura 013 – Imagem do protótipo do novo Templo, ainda em construção...............45 Figura 014 – Réplica da Figura 008 publicada com legenda equivocada..................46 Figura 015 – Hino 254 digitalizado do Hinário Harpa Cristã sem música..................61 Figura 016 – Hino 254 digitalizado do Hinário Harpa Cristã com música..................63 Figura 017 – Hino 7 digitalizado do Hinário Novo Cântico.........................................64 Figura 018 – Instruções de uso digitalizada do Hinário para o Culto Cristão............65 Figura 019 – Instruções de uso digitalizada do Hinário Cantor Cristão.....................66 Figura 020 – Hino 18 digitalizado do Hinário para o Culto Cristão............................66 Figura 021 – Nota Histórica do Hino 35 do Hinário para o Culto Cristão...................67 XVI Figura 022 – Hino 5 digitalizado do Hinário Harpa Cristã..........................................68 Figura 023 – Hino 456 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................69 Figura 024 – Índice de autores digitalizado do Hinário Harpa Cristã.........................70 Figura 025 – Hino 629 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................71 Figura 026 – Hino 586 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................72 Figura 027 – Hino 271 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................73 Figura 028 – Corinho “Se Começarmos Orar”, transcrição nossa.............................75 Figura 029 – Hino 271 digitalizado do Hinário Harpa Cristã com música, em Eb......80 Figura 030 – Hino 271 digitalizado do Hinário Harpa Cristã Cifrada..........................81 Figura 031 – Desenho de cifra digitalizada do encarte da Harpa Cristã Cifrada.......82 Figura 032 – Desenho de Campo Harmônico do encarte da Harpa Cristã Cifrada...83 Figura 033 – Desenho explicativo de Escalas e Funções Harmônicas.....................84 Figura 034 – Hino 149 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................87 Figura 035 – Hino 467 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................88 Figura 036 – Hino 561 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................88 Figura 037 – Hino 582 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................89 Figura 038 – Hino 311 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................91 Figura 039 – Hino 190 digitalizado do Hinário Novo Cântico.....................................91 Figura 040 – Hino 283 digitalizado do Hinário para o Culto Cristão..........................92 Figura 041 – Hino 122 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................93 Figura 042 – Hino 510 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................94 Figura 043 – Tabela quantitativa de idades dos efetivos musicais............................99 Figura 044 – Tabela quantitativa das profissões dos efetivos musicais....................99 Figura 045 – Tabela quantitativa [bairros/deslocamento] dos efetivos musicais.... 101 Figura 046 – Tabela indicativa das atividades dos efetivos musicais......................102 XVII Figura 047 – Imagem de informações sobre Igrejas Filiais [01]...............................103 Figura 048 – Imagem de informações sobre Igrejas Filiais [02]...............................104 Figura 049 – Imagem de informações sobre Igrejas Filiais [03]...............................104 Figura 050 – Imagem de informações sobre Igrejas Filiais [04]...............................105 Figura 051 – Foto de exemplar das primeiras coleções de arranjos para Banda....123 Figura 051A – Foto de exemplar atual das coleções de arranjos para Banda........124 Figura 052 – Hino 333 digitalizado da primeira coleção de arranjos para Banda....124 Figura 053 – Informativos digitalizados das coleções de arranjo para a Banda......125 Figura 054 – Hino 200 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................127 Figura 055A – Grade de arranjo do Maestro Quirante, transcrição nossa...............128 Figura 055B – Continuação da figura 055A.............................................................129 Figura 056A – Grade de arranjo do Maestro Quirante, transcrição nossa...............131 Figura 056B – Continuação da figura 056A.............................................................132 Figura 057A – Grade de arranjo do Maestro Quirante, transcrição nossa...............134 Figura 057B – Continuação da figura 057A.............................................................135 Figura 058 – Figura explicativa sobre o Círculo das Quintas [01]............................139 Figura 059 – Figura explicativa sobre o Círculo das Quintas [02]............................140 Figura 060 – Figura explicativa sobre o Círculo das Quintas [03]............................140 Figura 061 – Hino 128 e ‘Melodia Inventada’ digitalizada da coleção atual de arranjos para a Banda......................................................................................145 Figura 062 – Hino 265 e ‘Melodia Inventada’ digitalizada da coleção atual de arranjos para a Banda......................................................................................146 Figura 063 – Hino 198A da coleção atual de arranjos para a Banda.......................146 Figura 064 – Hino 198 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................147 Figura 065 – Hino 40 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.........149 XVIII Figura 066 – Hino 40 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................150 Figura 067 – Hino 70 [01] melodia inventada, transcrição e harmonização nossa..151 Figura 068 – Hino 70 [02] melodia inventada, transcrição e harmonização nossa..152 Figura 069 – Hino 70 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................153 Figura 070 – Hino 104 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa...... 154 Figura 071 – Hino 104 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................155 Figura 072 – Hino 128 melodia inventada, harmonização nossa............................156 Figura 073 – Hino 128 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................157 Figura 074 – Hino 265 melodia inventada, harmonização nossa............................158 Figura 075 – Hino 265 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................159 Figura 076 – Hino 302 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......160 Figura 077 – Hino 302 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................161 Figura 078 – Hino 376 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......162 Figura 079 – Hino 376 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................163 Figura 080 – Hino 440 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......164 Figura 081 – Hino 440 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................165 Figura 082 – Hino 469 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......166 Figura 083 – Hino 469 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................167 Figura 084 – Hino 476 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......168 Figura 085 – Hino 476 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................169 Figura 086 – Hino 518 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......170 Figura 087 – Hino 518 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................171 Figura 088 – Hino 523 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......172 Figura 089 – Hino 523 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................173 Figura 090 – Foto da Banda do Belém desfilando por Itaquera em 1965 [01].........175 XIX Figura 091 – Foto da Banda do Belém desfilando por Itaquera em 1965 [02].........176 Figura 092 – Foto da Banda do Belém desfilando por Itaquera em 1965 [03].........177 Figura 093 – Foto da Banda do Belém em Culto ao Ar Livre em 1965....................177 Figura 094 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1968 por Itaquera [01].........178 Figura 095 – Foto da Banda do Belém em Culto ao Ar Livre em 1968....................178 Figura 096 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1971 por Itaquera [01].........179 Figura 097 – Foto da Banda do Belém em Culto ao Ar Livre em 1971....................179 Figura 098 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1972 pelo centro de Poços de Caldas ................................................................................................180 Figura 099 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1972 pelos bairros de Poços de Caldas ..........................................................................................180 Figura 100 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1975 pelo centro de Poços de Caldas ...............................................................................................181 Figura 101 – Foto da Banda do Belém na inauguração do Templo Filial em Poços de Caldas................................................................................................182 Figura 102 – Fotos dos efetivos Banda em evento evangelístico............................183 Figura 103 – Fotos dos efetivos da Banda se preparando para evangelização .....184 Figura 104 – Fotos de maletas onde se transporta partituras dos naipes...............184 Figura 105 – Fotos de maleta onde se transporta estantes.....................................184 Figura 106 – Fotos do autódromo de Interlagos e dos efetivos da Banda...............185 Figura 107 – Fotos dos efetivos da Banda se preparando para o evento...............185 Figura 108 – Fotos dos efetivos da Banda se apresentando...................................185 Figura 109 – Fotos de candidatos aguardando o Batismo nas Águas [01]..............187 Figura 110 – Fotos de tanque batismal no Templo Sede........................................188 Figura 111 – Fotos de candidatos aguardando o Batismo nas Águas [02]..............188 XX Figura 112 – Foto da Banda tocando em Batismo...................................................188 Figura 113 – Foto de tabela quantitativa de batizandos..........................................189 Figura 114 – Fotos de alunos se preparando para audição.....................................197 Figura 115 – Fotos de sala de aulas de música construídas no Templo Sede........200 Figura 116 – Fotos de sala de aula improvisada no Templo Sede.[01]...................200 Figura 117 – Foto de sala de aula improvisada no Templo Sede [02].....................201 Figura 118 – Fotos de sala de aula improvisada no Templo sede [03]....................201 Figura 119 – Fotos de estrutura escolar [01]............................................................203 Figura 120 – Foto de estrutura escolar [02].............................................................203 Figura 121 – Fotos de sala de aula, (infantil), compartilhada [01]...........................206 Figura 122 – Foto de sala de aula, (infantil), compartilhada [02].............................207 Figura 123 – Fotos de sala de aula, (adultos), compartilhada [01]..........................208 Figura 124 – Fotos de sala de aula, (adultos), compartilhada [02]..........................208 Figura 125 – Foto de reunião do corpo docente da Associação Musical.................209 Figura 126 – Fotos da Orquestra Filarmônica em evento evangelístico..................211 Figura 127 – Fotos de arquivo de partituras da Orquestra Janh Sörheim...............212 Figura 128 – Foto da sala da Orquestra...................................................................213 Figura 129 – Fotos de maleta onde se transporta partituras da Orquestra.............214 Figura 130 – Fotos de pasta de partituras da Orquestra por estante......................214 Figura 131 – Foto de maleta onde se transporta estantes da Orquestra.................214 Figura 132 – Partes de trombone, da peça “Deus Conosco”, digitalizadas.............216 Figura 133 – Parte de trombone, da peça “Deus Conosco”, digitalizada.................218 Figura 134 – Fotos de ensaio da Orquestra Janh Sörheim [01]..............................219 Figura 135 – Fotos de ensaio da Orquestra Janh Sörheim [02]..............................219 Figura 136 – Planilha de controle de presença dos efetivos, digitalizada................219 XXI Figura 137 – Fotos de ensaio de naipes da Orquestra Janh Sörheim.....................221 Figura 138 – Fotos da apresentação do ‘Glória’ de Antonio Vivaldi........................221 XXII Ouça entrevista com áudio original do Missionário sueco DANIEL BERG um dos fundadores das ASSEMBLÉIAS DE DEUS, onde faz um breve relato de como foi o início de seu trabalho no Brasil em 1911. (gravação de 1958 na faixa 04 do CD anexo) 2 INTRODUÇÃO 1 JUSTIFICATIVA NA ESCOLHA DO TEMA A música é um instrumento importante na construção do enriquecimento cultural. Sabe-se de diversos pólos culturais, que através dela promovem; além dessa construção, inserção social. A Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, tornou-se um desses pólos culturais de suma relevância, sendo reconhecida por autoridades brasileiras. Mesmo não sendo a educação musical e a difusão das artes seu principal objetivo, tem conseguido desenvolvê-lo com habilidade, principalmente em comunidades onde o Governo Federal não acessa e não interessa acessar ─ sendo para ele, a promoção da educação, um valioso instrumento de captação de votos, comunidades pequenas ou isoladas e sem representação política, não fazem parte de seus projetos educacionais e culturais. Como para a Igreja Evangélica Assembléia de Deus as preocupações com captação de votos são irrelevantes, as pequenas ou comunidades excluídas, fazem parte de seus projetos educacionais e artísticos. Essa igreja é a maior comunidade Pentecostal de nosso País. Então: A partir dessa perspectiva considera-se que a explicação do êxito do movimento pentecostal nasce das mudanças estruturais contemporâneas na sociedade latino-americana. [...] O Pentecostalismo responde aos processos de modernização que se impõe à sociedade, favorecendo a sobrevivência e a ascensão social. [...] Diante dessa mudança tão radical, a 3 igreja pentecostal ajuda a restaurar os valores comunitários do mundo rural perdido, de modo que possa resistir aos desafios e exigências do mundo moderno. (GUTIÉRREZ, 1996. pg. 14) Essa pesquisa fundamenta-se num breve relato histórico das Assembléias de Deus no Brasil, do Movimento Pentecostal, (que está diretamente ligado a ela), e no estudo do ensino musical no Templo – Sede da Assembléia de Deus do Ministério do Belém, no bairro do Belém, na Rua Conselheiro Cotegipe número 273, na cidade de São Paulo – SP no período de 1960 a 2010. Essa Igreja Pentecostal, tem na liturgia de seu culto hinos cantados pela congregação1 e acompanhados por uma Banda de Música e Orquestra Filarmônica2. Dessa forma entra em cena o maestro e seu trabalho educacional/artístico que é um elo ─ uma ponte de inserção através de seu trabalho ─ entre membros novos, membros migrantes e a Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, e entre o excluído social e a sociedade. Para a manutenção de seu trabalho há nesta Igreja, uma Associação Musical para o ensino da música em sua estrutura organizacional, onde todo o esforço e trabalho do maestro se concentram. É de suma importância a investigação desse trabalho educacional. CONGREGAÇÃO: Nome utilizado para citar as pessoas, a membresia de uma igreja reunida num templo. Deve-se observar o sentido da frase porque também é usada para citar um Templo Filial e no meio pentecostal pode ser usado para citar a “Congregação Cristã no Brasil”. 2 “FILARMONÍA: Amor à música, gosto pela boa arte. FILARMÔNICA: Sociedade musical de amadores, banda civil”. (GRAÇA, 1962. Pg. 513). [O sentido da palavra está em transformação, como observamos:] “FILARMÔNICA: No passado, servia para designar certo tipo de orquestra cuja organização era essencialmente amadora, ou de amantes da música, seja em sua constituição ou origem. Atualmente com a transformação de algumas filarmônicas em orquestras profissionais classificadas entre as melhores do mundo (Berlim, Nova Iorque, Viena), perdeu-se a conotação da palavra. Emprega-se indiferentemente, nos dias de hoje, os termos filarmônicas ou sinfônicas para designar orquestras completas de qualquer origem, tamanho ou constituição.” (DOURADO, 2004. Pg. 131). Na igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, a orquestra é completa e formada por amadores em sua maioria. Porém observa-se que todas as orquestras de órgãos municipais, estaduais e federais, no Brasil, são classificadas como ‘Orquestra Sinfônica’. 1 4 2 OBJETIVOS 2.1 GERAL Investigar trabalhos musicais realizados nessa Igreja pelos Maestros que ali trabalham, descrevendo seus procedimentos artísticos e educacionais. 2.2 SECUNDÁRIOS 2.2.1 Profissionalização de Membros Músicos Coletar testemunhos de pessoas que se beneficiaram tornando-se músicos profissionais. 2.2.2 História da Igreja e do desenvolvimento da música na liturgia Relatar dados históricos da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, suas origens, sua relação com o Pentecostalismo e o desenvolvimento, tanto do trabalho artístico como da estrutura organizacional para que seja eficiente frente à demanda de uma grande e rápida expansão, assim como o trabalho de maestros anteriores que ainda sejam membros da Igreja. 5 2.2.3 Procedimentos Litúrgicos e a Arte Descrever as principais características, costumes, valores artísticos e sociais da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém. 2.2.4 Corpo Docente Descrever perfis de professores, formação pedagógica, e verificar se têm atividades seculares fora da Igreja. Como se aperfeiçoam tecnicamente, quais perspectivas tem e como planejam a realização de projetos educacionais para a Igreja Evangélica Assembléia de Deus - Sede do Ministério do Belém. 2.2.5 Performance Relatar a performance da Banda de Música e Orquestra Filarmônica na liturgia do culto, e quais procedimentos composicionais são adotados em seus arranjos, quais estilos musicais são permitidos ou restringidos. 2.2.6 O Corpo Musical e o Evangelismo Descrever qual relevância tem a participação da Banda de Música e a Orquestra Filarmônica no trabalho de evangelização e sua contribuição para a expansão da igreja. 6 3 CRITÉRIOS METODOLÓGICOS O procedimento adotado será estudo de caso com participação observante, entrevista pré-estruturada e história oral; o estudo terá uma exposição monográfica3. O aspecto geral Nos últimos anos tem sido extraordinário o crescimento de trabalhos científicos – monografia, artigo, dissertação e tese orientados por uma estratégia de pesquisa que considera uma unidade – um caso – como elemento para o desenvolvimento da investigação: Estudo de Caso. [...]. Mediante um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o Estudo de Caso possibilita a penetração em uma realidade social, não conseguida plenamente por um levantamento amostral e avaliação exclusivamente quantitativa. (MARTINS, 2008. pg. 8 e pg. 9) A crítica à ciência vigente acentuou sua pobreza técnica e seu distanciamento do real, apontando para a necessidade de renovar as formas de coleta de dados como um passo fundamental para enriquecer as interpretações. [...] Não vou aprofundar agora esta discussão, que tem aspectos controversos e complexos. Quero apenas recuperar o velho modelo de observação participante (que supunha neutralidade do pesquisador) para compreender por que, atualmente, ele se transformou em participação observante. Isto é, por que, de adjetiva, a participação passou a substantiva e, neste movimento, se reinventou a empatia como forma de compreender o outro, sem que Weber seja citado.[...] Uma entrevista, enquanto está sendo realizada, é uma forma de comunicação entre duas pessoas que estão procurando entendimento. Ambos aprendem, se aborrecem, se divertem e o discurso modulado é tudo isso. (CARDOSO, 2004. Pg. 98, 101 e 102) 3 “[...]. Uma monografia é a abordagem de um só tema, como tal se opondo a uma “história de”, a um manual, a uma enciclopédia”. (ECO, 2007. pg. 10). 7 4 PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA Os Pentecostais, incluindo-se a Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, têm produzido poucos artigos, dissertações e teses, submetidas ao crivo acadêmico, comparadas ao percentual pentecostal no total do protestantismo brasileiro. O que mais se encontra são estudos desenvolvidos por membros de Igrejas Protestantes Históricas e da própria Igreja Católica; esses estudos têm como foco principal o crescimento vertiginoso desse movimento no Brasil. Posto isso há detalhes importantes que não são abordados por tais pesquisadores4 ─ como os procedimentos do ensino musical e como a prática musical influencia e exerce interferências positivas nos brasileiros ─ porque lhes falta acesso a todas as informações, o que é comum quando se investiga qualquer organização de fora para dentro. 5 CORPUS O Corpus documental consiste na utilização de CDs gravados pela Banda5 e Orquestra Filarmônica6 da Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, além de vídeos postados no Youtube que, sendo de utilização pública e de fácil gravação, tornam-se valioso instrumento de investigação. DVDs foram 4 Benjamin F. Gutiérrez, Leonildo Silveira Campos, Rafael Cepeda, Carlos Ham Stanard, Francisco Limón C., Ana Ligia Sanchez, Osmundo Ponce, Edgar Moros Ruano, Ofélia Ortega, Éber Ferreira Silveira Lima, Dennis Smith, e outros. 5 CD “Hinos da Harpa Cristã – Banda do Belém” vols. 01, 02, 03, 04 e 05. 6 CD “Orquestra Filarmônica Evangélica Jahn Sorheim” 8 produzidos por Observação Participativa e da mesma forma servem de fontes. Houve, também, cruzamentos de informações colhidas em depoimentos dados pelos maestros João Quirante Blanques, Samuel Apulcro, Wainer Fernandes da Silva, Noel Vitório de Freitas, Gilberto José Massambani, Maestro Marcos Antonio Motta, Sueldo Nascimento Francisco, Professor Maurício Nascimento Silva; e o Pastor Presidente das Assembléias de Deus – Sede do Ministério do Belém7, José Welington Bezerra da Costa. 7 Nesse trabalho a palavra “Belém” não se refere ao bairro do Belém ou Belenzinho em São Paulo – SP, tampouco à cidade de Belém – PA onde Vingren e Berg iniciaram a Igreja Assembléia de Deus, mas faz parte do nome pelo qual é conhecida a Igreja Assembléia de Deus no Bairro do Belém – SP, registrada como “Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério do Belém”. Essa igreja é Sede de várias filiais por todo o país e fora do país, que levam seu nome “Ministério do Belém”. Nosso objeto de estudo é essa Igreja, as atividades artísticas e educacionais realizadas nesse Templo da Igreja Assembléia de Deus Sede do Ministério do Belém, não tendo relação com a Igreja de onde se originou na cidade de Belém – PA. 9 CAPÍTULO 1 Origem da Igreja Pentecostal no Brasil8 1.1 Pensamento Filosófico do Pentecostalismo As igrejas pentecostais crêem em um único Deus, onisciente, onipotente, e onipresente, criador do mundo e da humanidade. Crêem em seu Filho Jesus Cristo ressuscitado, e que se comunica diretamente com seus seguidores. Crêem no Espírito Santo de Deus, que orienta diretamente ─ sem intermediários como Apóstolos, Bispos, Pastores, Presbíteros ou qualquer outra autoridade eclesiástica9 ─ os seguidores a ter uma conduta condizente com a vontade de Deus, através da revelação da sua palavra, a Bíblia; não cultuam, não fazem preces e não acreditam em nenhum santo ou imagem de escultura de nenhuma espécie. Todos os seus seguidores são iguais, a autoridade eclesiástica é apenas administrativa [ver tópico 2.2 – Organização Administrativa da pg. 34]. Ninguém, nem autoridade alguma, podem interromper a comunicação e a comunhão entre Deus e o seguidor, portanto todo seguidor deve ler a Bíblia usada pelos protestantes10 ─ sem os livros apócrifos ─ buscando se aperfeiçoar para enquadrar-se na vontade de Deus: A Igreja Assembléia de Deus é responsável pelo sólido desenvolvimento da prática pentecostal no Brasil, portanto se faz necessário uma breve digressão pela história do pentecostalismo. 9 A autoridade eclesiástica é responsável pelo zelo e pela difusão da doutrina e costumes de sua comunidade, não pode impedir, excluir, condenar, excomungar, facilitar, perdoar, conceder títulos que habilitem o status de curador, benzedor, santo ou algo semelhante. Dessa forma o membro de uma comunidade pentecostal é livre para mudar para outras igrejas ou denominações conforme sua afinidade com algum desses líderes administrativos. 10 Bíblia traduzida para a Língua Portuguesa por João Ferreira de Almeida, português convertido do catolicismo para a fé evangélica. Conhecedor do hebraico e do grego, se utilizou dos manuscritos dessas línguas, calcando sua tradução no chamado Textus Receptus, do grupo bizantino, se servindo também de traduções: holandesa, francesa (tradução de Beza), italiana, espanhola e latina (Vulgata). Em 1676 concluiu o Novo Testamento, faleceu em 1691 quando já tinha traduzido o velho testamento até Ezequiel 41:21. Em 1748 o pastor Jacobus op den Akker, da Batavia, reiniciou o trabalho interrompido por Almeida e em 1753 foi impressa a primeira Bíblia completa em português em dois volumes. (BÍBLIA,. 2005, p. 1378) 8 10 [...] uma nova experiência de Deus sem mediação. Teologicamente, a única mediação é a experiência do Espírito Santo, que faz a pessoa sentir a presença de Deus. Culturalmente, o universo simbólico criado pelo pentecostalismo chega a ser uma mediação entre o povo e o sagrado, a experiência do Espírito Santo é pessoal e direta, não tendo que passar pela mediação sacerdotal. (GUTIÉRREZ, 1996. pg. 15 e pg. 16). Estes seguidores são batizados por imersão como Cristo: em rios, conforme se observa na figura 01, ou em piscinas construídas dentro dos templos; a figura 02 é uma foto de um Batismo na Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, cedida pelo Maestro João Quirante. Já em cidades litorâneas, onde não haja rios apropriados, os batismos são feitos no mar. Seus membros desenvolvem os nove dons espirituais citados em I Coríntios 12: 7-10, são: “palavra da sabedoria, palavra da ciência, fé, dons de curar, operação de milagres, profecia, discernimento dos espíritos, variedade de línguas11 e interpretação de línguas”. Nas igrejas filiais há um problema cultural próprio da cultura de massa que confunde o “talento musical” com um dom. Essa confusão não é exclusiva da igreja, uma vez que essa é uma fala popular brasileira quando se diz: “fulano tem o dom da música”. Na igreja se diz: “Deus deu o dom da música pra fulano”. É claro que, esse engano da igreja, é uma ignorância ou falta de atenção porque o texto bíblico que trata dos dons espirituais é o epigrafado acima e não faz referência à música. Talento musical é uma facilidade natural para a decifragem do código musical, assim como sua execução técnica, nada tem a ver com um dom divino, uma dádiva sagrada ofertada aos protestantes. A maioria das pessoas tem que estudar muito para entender tais códigos e ter uma boa execução técnica. 11 Variedade de línguas ocorre quando o crente tomado pelo Espírito Santo fala outro idioma que desconhece, e pode ser traduzido por quem tem o dom de Interpretação de línguas. O texto bíblico de Atos 2: 4-11 cita pelo menos oito idiomas: “Partos, medos e elamitas e os que habitavam na Mesopotâmia, Judéia e Capadócia, Ponto e Asia, Frigia e Panfilia, Egito e partes da Líbia perto de Cirene, forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos), cretences e árabes.” 11 Figura 01 - Batismo em rios. (OLIVEIRA, 1998. pg. 101 e pg. 119) Figura 02. – Batismo em tanque construído no Templo (Foto dos arquivos do Maestro João Quirante) 12 1.2 De onde veio o nome Pentecostal e o que significa O nome vem da Cultura Judaica e é tratado na Bíblia nos livros do Pentateuco12. É a segunda festa anual no fim da sega do trigo [festa da colheita], mais especificamente no dia seis do terceiro mês judaico o Sivã (junho) e conforme relato bíblico se dava cinqüenta dias depois da Páscoa ou seja: 13 O pentecoste . Contareis sete semanas completas, a partir do dia seguinte ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida, sete semanas inteiras serão. Até o dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinqüenta dias, e então apresentareis nova oferta de cereais ao Senhor. (BÍBLIA, 2005. Levítico. Cap.23 vs. 15, 16). O nome em hebraico é hag haqasir ou hag xabu´ot, por ocasião do domínio grego aproximadamente 300 anos antes de Cristo, a palavra Pentecoste foi imposta ao povo e significa cinqüenta dias, de forma que a Igreja Evangélica Pentecostal não vem dessa festa, tampouco das comemorações Judaicas mantidas pela Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil até os dias de hoje; mas de um fato histórico acontecido especificamente na comemoração da festa do ano de 33 d.C. quando na ocasião dessa festa estavam reunidos em Jerusalém os seguidores de Jesus Cristo obedecendo uma orientação sua conforme nos explica o texto bíblico: [...] Se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias, e falando do que respeita ao reino de Deus. E, certa ocasião, estando comendo com eles, ordenou-lhes: Não vos ausenteis de Jerusalém, mas esperai a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o 12 Pentateuco vem do grego pentateuchos e significa cinco livros. Nome que se dá à coleção dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. (DAVIS, 1983. pg. 464) 13 Os negritos das citações são nossos. 13 espírito Santo, não muito depois desses dias. [...] Então voltaram para Jerusalém, do monte das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, à distância 14 do caminho de um sábado . Tendo chegado, subiram ao cenáculo, onde permaneciam. [...] Naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos discípulos (ora, a multidão reunida era de quase cento e vinte pessoas), [...]. Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. (BÍBLIA, 2005. Atos cap. 1 e 2). A igreja Pentecostal entende a leitura bíblica como uma orientação atual e não apenas histórica, dessa forma busca as mesmas promessas e experimenta fatos parecidos com os da época de Cristo como: a cura de enfermos, profecias e vários outros milagres. Uma promessa bíblica dada aos discípulos e ainda vivenciada na igreja é a de falar em outras línguas: Todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem [...]. E todos pasmavam e se maravilharam, perguntando uns aos outros: Não são galileus todos esses homens que estão falando? Então como os ouvimos cada um, na nossa própria língua nativa? [...] Pedro porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz, e disse-lhes: [...] Estes homens não estão embriagados, como pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: Nos últimos dias, diz Deus, do meu Espírito derramarei sobre toda a carne. Os vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos. (BÍBLIA, 2005. Atos cap. 1 e 2). Como já dissemos páginas atrás, o pentecostalismo voltava-se para o cristianismo primitivo, buscando reproduzir o que este apresentara de extraordinário na manifestação do Espírito Santo, isto é, orar e falar em línguas desconhecidas, fazer curas pelo poder divino. Isso significava introduzir no presente um modelo do passado. (ROLIM, 1987. pg. 54) 14 O povo Hebreu tinha o costume de guardar o sábado. Guardá-lo é o quarto dos dez mandamentos, além de não se poder acender fogo, preparar comida, trabalhar, havia uma quantidade de metros que se podia andar. “A jornada de um a sábado era avaliada a juízo dos escribas. [...] Medindo-se a distância, desde a porta oriental de Jerusalém, conforme o método judaico de calcular, até o lugar onde existe a igreja da Ascensão, no cume do monte das Oliveiras, igual ao vôo de um corvo, é de cerca de 2250 pés ingleses, ou 742 m. 5 [sic]. A jornada de um sábado atual, é consideravelmente maior. Segundo Josefo, o monte distava da cidade, cerca de seis ou sete estádios” ─ [Um estádio são quatrocentos côvados e um côvado são quarenta e cinco centímetros]. (DAVIS, 1983. pg. 521) 14 Dessas características é que vem o nome “Igreja Pentecostal” não pela tradição cristã, mas porque é prática da Igreja Evangélica Pentecostal no Brasil e no mundo, seus membros ser “batizados com o Espírito Santo”, falar línguas estranhas, profetizar, ter revelações e orar para cura. Entendem-se esses “dons espirituais” como dádiva de Deus e qualquer membro da Igreja Evangélica Pentecostal pode tê-los, sem cursar Faculdade Teológica, sem ser Seminarista, sem ter patentes do clero como: “Padre”, “Pastor”, “Bispo” ou “Santo”. Esse fato é muito importante na inserção dos excluídos, dando-lhes pé de igualdade com qualquer classe social ou cultural diferente da sua: Os despossuídos, os deserdados encontram nas comunidades pentecostais uma aceitação e abertura que não tinham antes. Ao serem aceitos pela comunidade de crentes, imediatamente dão testemunho de sua nova vida e se convertem em missionários, conforme os dons que cada um vem a possuir. Finalmente, podemos dizer que outro aspecto distintivo e atraente do pentecostalismo é que a pregação usa a linguagem do povo. Os que tiveram a nova experiência se comunicam com linguagem do povo, e, portanto, a mensagem é transmitida com simplicidade e clareza. (GUTIÉRREZ, 1996. Pg. 16) 1.3 O Perfil das Igrejas Pentecostais A liturgia de um culto pentecostal é muito diferente da de uma missa ou de um culto em uma Igreja Protestante Histórica. A liberdade de expressão, a não formalidade faz desse culto um evento popular: um hino pode ser solicitado sem aviso prévio, as orações são coletivas: todos falam ao mesmo tempo e se expressam livremente nessas orações às vezes gritando ou erguendo as mãos ─ se justificam que Deus é capaz de ouvir todos ao mesmo tempo, que nas igrejas históricas e na igreja católica, apenas uma pessoa ora ou reza, mas há várias 15 igrejas em várias partes do mundo, onde em cada igreja, há apenas uma pessoa orando ou rezando, mas se juntarem todas as igrejas são várias pessoas orando ou rezando ao mesmo tempo e que, supostamente, Deus ouve a todos ─ a mensagem bíblica pode ser modificada minutos antes de ser explanada pelo pregador; dessa forma cada culto é um evento dinâmico e imprevisível com resposta igualmente dinâmica e participativa de toda a congregação. Sobre isso Jack Deer em seu livro “Surpreendido pelo Espírito”, página 91, diz: Reuniões estão sendo efetuadas numa cabana da rua Azusa, perto da rua São Pedro. Os devotos da estranha doutrina praticam os ritos mais fanáticos, pregam as mais loucas teorias e esforçam-se até a excitação em seu zelo peculiar. Negros e um minguado número de brancos perturbavam a vizinhança devido aos uivos dos adoradores. Estes passam horas balançando o corpo para frente e para trás, numa atitude nervosa de orações e súplicas. Eles afirmam que possuem o dom de línguas, e dizem-se capazes de compreender semelhante babel. (apud OLIVEIRA, 2003. pg. 59) Ainda sobre esse assunto, a entrevista de um pastor protestante não pentecostal colhida por Francisco Cartaxo Rolim: Já li muita coisa sobre o pentecostalismo. Mas fui ver como são seus cultos. Eles têm orações coletivas, todo mundo orando ao mesmo tempo e com suas palavras. Nas nossas igrejas, é uma pessoa que ora e as outras ficam em silêncio, escutando. A impressão que ficou foi a de uma certa desordem. Quando os pentecostais cantam, obedecem uma disciplina: seguem a letra como está escrita e o ritmo da melodia. Aí tem ordem. Mas nas orações coletivas, o grupo se desmancha. Cada um ora como deseja, dizendo em voz alta o que sente, uns falando em tom mais elevado, outros em tom mais baixo. Um vozerio descompassado e desarticulado enche o templo. Vi cultos que se grita tão alto que as vozes ecoam na vizinhança. Uns levantam os braços, as mãos tremulando. Outros ficam de cabeças abaixadas, como se procurassem alguma coisa no chão. (ROLIM, 1987. pg. 8) A comunidade pentecostal não é excludente, não tem preferências sociais ou raciais e como em nosso país há uma enorme desigualdade social, onde 16 a maioria das pessoas é excluída da cultura erudita, se reúnem nessas igrejas, muitas pessoas com a mesma dificuldade para acessá-la. Comparados aos fiéis de outras religiões, os Pentecostais recebem os seguintes salários e gastam os seguintes valores mensais em reais segundo pesquisa do IBGE15: O maior rendimento médio mensal familiar foi registrado quando a pessoa de referencia era espírita (R$ 3.760,00), enquanto nas pertencentes à evangélica pentecostal era o menor (R$ 1.271,00). Entre católicos apostólicos romanos, o rendimento correspondia a R$ 1.790,56. As maiores e menores despesas seguiram este padrão, com espíritas apresentando gasto de R$ 3.617,28 e evangélicos pentecostais, R$ 1.301,35. Católicos gastaram 16 cerca de R$ 1.769,32. (POF 2002-2003). Segundo o mesmo Instituto em percentuais a comunidade Pentecostal no Brasil representa: Religião nos censos brasileiros. O Censo Demográfico é a grande referência na investigação da Religião no Brasil, visto ser a única pesquisa que cobre todo o Território Nacional. [...] Analisando a evolução da proporção de católicos a partir de meados do século XX, observou-se uma tendência declinante ao longo dos anos. Por outro lado, desde 1950 que as proporções de evangélicos apresentam comportamento inverso, quando eram apenas 3,4%, passando para 9,1%, em 1991, e atingindo 15,4%, em 2000. [...] As maiores concentrações de evangélicos estão no extremo norte do País, mais especificamente no Amazonas, Roraima, Acre e Rondônia, e nos Estados de Goiás, Rio de Janeiro e Espírito Santo. [...] Os evangélicos, principalmente os pentecostais, apareceram em segundo lugar nas quatro classes de tamanho das taxas de crescimento da população dos municípios, com percentuais que variavam entre 7,7% (municípios com taxas de crescimentos negativo) e 17 13,7% (municípios com taxas de 3,0% ao ano). (Fonte: site do IBGE ). Essas informações dão elementos para se construir um perfil das Igrejas Evangélicas Pentecostais: São igrejas de excluídos da cultura erudita, de 15 www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=961&id_pagina=1 (Acessado em 20/07/2009) 16 A sigla significa: Pesquisa de Orçamento Familiar e é procedimento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 17 www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tendencias_demograficas/comentarios.pdf (Acessado em 23/07/2009) 17 excluídos sociais, de carentes das necessidades básicas como: lazer, alimentação balanceada, educação formal, amparo médico-hospitalar e moradia18: Às vezes, quando se lhes pergunta se as Igrejas Pentecostais fizeram a opção pelos pobres, respondem: “Não optamos pelos pobres, somos os pobres”. (GUTIÉRREZ, 1996. pg. 16) 1.3.1 Origem do Pentecostalismo Após longo período de abandono da prática dos costumes da noite do ano 33 d.C. no cenáculo de Jerusalém, reaparece com força na Europa e Estados Unidos em fins do séc. XIX e começo do séc. XX. Vejamos alguns fatos importantes desse período: Em 1880 A. B. Simpson, pastor presbiteriano e professor de teologia, deixou o pastorado de uma igreja para fundar a Aliança Cristã Missionária, agências interdenominacionais para um trabalho evangelístico e um instituto bíblico de treinamento missionário. [...] O seu poderoso ministério foi enfatizado e marcado pela cura divina. Para ele, Cristo era o médico que curava, santificava e batizava com o Espírito Santo. Assim, muito influenciou o pentecostalismo. [...] Dwight L. Moody fundou o famoso Moody´s Chicago Bible Training Institute que se tornou um centro de ensino e divulgação do evangelho, [...] É impossível considerar que um homem como Moody, que marcou profundamente a história do reavivamento e evangelismo com tanto êxito, que não fosse um verdadeiro pentecostal. (OLIVEIRA, 2003. pg. 38 e pg. 39) A igreja protestante tradicional já tinha uma estrutura consolidada nos Estados Unidos, mas ainda mantinha costumes preconceituosos contra os negros, 18 Embora este seja o perfil das Igrejas Pentecostais no Brasil, não são o perfil das igrejas centrais, as Sedes, com templos grandes e exuberantes, geralmente bem localizadas em cidades bem desenvolvidas. A membresia destas igrejas Sedes, geralmente, pertence as mais variadas camadas sociais e culturais, em algumas delas, até, se reúnem representações políticas importantes. Vale lembrar que as igrejas filiais enquadram-se no perfil descrito acima. 18 um exemplo disso eram as igrejas exclusivas de negros de onde surgiu o estilo musical negro spiritual19. Por sua vez, mulheres também eram discriminadas devido à não contemporização dos textos bíblicos traduzidos para o inglês de uma forma bem conservadora mantendo o tradicionalismo oriental: Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, é como se a tivesse rapada, [...]. Pois o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem, [...]. Mas ter a mulher cabelo comprido lhe é honroso, pois o cabelo lhe foi dado em lugar do véu, [...]. As mulheres estejam caladas nas igrejas. Não lhes é permitido falar, mas estejam submissas, como também ordena a lei. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; pois é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. (BIBLIA, 2005. I Coríntios. 11:5-15; 14:34,35) Isso mantinha a originalidade dos textos e imparcialidade de quem os traduzia, mas era um motivo para alimentar atitudes preconceituosas contra a mulher, como a não permissão para, sequer, candidatarem-se a cargos de liderança expressiva. Cargos de pouca liderança, quando não lhes são vetados, estão diretamente vinculados a seus maridos, dando-lhes sempre posição de submissão, como se observa no negrito do texto citado acima. Ou seja: podem liderar, desde que estejam sob tutoria de seus esposos. Além disso, a formalidade do ritual do culto aboliu o desenvolvimento dos dons espirituais nas igrejas históricas, principalmente o da cura. O que os pentecostais fizeram foi justamente resgatar as práticas desses dons espirituais ─ o que trazia grande contrariedade aos defensores do tradicionalismo ─ como vemos: 19 CD Anexo faixa 01: Hinos da Big-Band take 8, CD anexo faixa 02: Mahalia Jackson take 02, CD anexo faixa 03: Mahalia Jackson take 04, CD anexo vídeo 01: youtube. 19 Em 1882 Adoniran Judson Gordon, pastor batista de Boston, escreveu livros e periódicos sobre a cura divina, e tal foi sua fama que ultrapassou as fronteiras da América e chegou a Europa. [...] Em 1890 na Rússia e Armênia. 20 Demos Shakarian (fundador da ADHONEP ) relata em seu livro, O Povo mais Feliz da Terra, acontecimentos em uma região tão distante do continente americano que não deixa dúvidas sobre as evidências da operação do Espírito Santo, pois não havia qualquer ligação humana entre esses pólos. Os protagonistas de tais acontecimentos eram pessoas pertencentes à Igreja Ortodoxa. Isto se deu entre camponeses russos que foram impulsionados, após receberem a experiência do batismo com o Espírito Santo, falando em línguas estranhas, ao visitarem o país vizinho, Armênia, em uma localidade do Kara Kala. [...] O falar em línguas, a cura divina e outros dons do Espírito Santo, diziam eles. “... estão na Bíblia”. (apud OLIVEIRA, 2003. pg. 39 e pg.40) O conhecimento sobre as doutrinas pentecostais foi transmitido, entre as populações excluídas, por eles mesmos. Como enfrentavam exclusão social e tinham dificuldades nos relacionamentos com os mais aculturados, devido à forte segregação racial americana, a situação: do negro, dos excluídos, dos carentes passou a ser o centro das pregações nos cultos pentecostais. Era uma mensagem de protesto contra tudo isso materializado em frases como: “Deus ama a todos”, brancos, amarelos e negros. “Deus distribui os dons espirituais a todos”, brancos, amarelos e negros. “Olhe para o impossível e diga: em Deus sou mais que vencedor!”. “Deus não vê o exterior, mas olha para a fidelidade”, enfim, isso era ensinado e propagado entre os excluídos, de pessoa para pessoa: É necessário destacar que na época não havia qualquer ensino sistemático sobre o pentecostalismo, pois o termo não era usado até então. É importante ressaltar que a família de Demos Shakarian, ao imigrar para os Estados Unidos, foi dirigida por Deus, através de uma profecia, que deveriam fixar seus lares na costa Oeste do país. “Los Angeles foi a cidade americana que mais cresceu entre 1880 e 1910. Em 1900, ela possuía 100 mil habitantes; em 1906 (ano da explosão pentecostal), 130 mil [sic] [230 mil]; e em 1910 21 atingiu 230 mil (sic) [320 mil] moradores . Entre negros, mexicanos e japoneses, estavam também imigrantes europeus. Em 1910, 75% da população eram de pessoas provenientes de imigrantes ou filhos de imigrantes”. (Na Força do Espírito, Leonildo Silveira, p.110) [sic] (apud ADHONEP (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno) www.adhonep.com.br Ao conferir fonte citada observam-se equívocos nos números: ”[...] Em 1900 ela possuía 100 mil habitantes, em 1906 (ano da explosão pentecostal), 230 mil e em 1910 atingiu os 320 mil habitantes”. (CAMPOS, 1996. pg. 110). 20 21 20 OLIVEIRA, 2003. Pg. 40). Nesta mesma ocasião, ao estabelecerem-se nessa cidade, tomaram conhecimento do movimento da rua Azusa, 312, e admiraram-se pelo fato de o Pentecoste haver chegado também ali, uma terra tão distante, do outro lado do mar. (OLIVEIRA, 2003. pg. 40) Os novos pentecostais convertidos nos Estados Unidos treinavam e ensinavam pessoas para difundir o Pentecostalismo em diversas partes do mundo. Essas pessoas eram chamadas de missionários e as pessoas reunidas nesse novo país ou continente, de missão. Estas divulgações quando no próprio Estados Unidos eram chamadas de Cruzadas Evangelísticas. Dessa forma o nome Pentecostal foi associado aos costumes de num culto protestante, se ensinar ou praticar o “falar em línguas estranhas”; interpretá-las, orar para cura divina e profetizar. [“Ao adquirir o dom de falar em línguas estranhas, diz-se que essa pessoa foi “batizada com o Espírito Santo”]. A Igreja Evangélica Pentecostal é uma dissidência da igreja protestante22, se sabe que o movimento pentecostal difundido no Brasil iniciou-se através do trabalho de missionários Suecos convertidos ao pentecostalismo, Daniel Berg e Gunnar Vingren, em 1911. (OLIVEIRA. 2003, P.65) 1.3.2 O Evangelismo A linha de trabalho desenvolvida pelas Igrejas Evangélicas Pentecostais Brasileiras é a seguinte: evangelizar a todos quanto possíveis, e a maior parte de sua frente de trabalho está entre os excluídos, pessoas que na 22 A igreja pentecostal é protestante, assim como os neopentecostais. Mas há diferenças. A dissidência não é uma negação do protestantismo, mas uma ramificação deste; a característica mais marcante entre pentecostais e protestantes tradicionais é que os pentecostais falam em “línguas” nos cultos. 21 pesquisa do IBGE ganham menos rendimentos e moram em favelas. Os Pentecostais são os que mais fazem visitas aos presídios levando a Palavra de Deus23, mensagem de conforto para pessoas que são consideradas a escória da sociedade, figura 3: Figura 03 – Evangelismo em prisão e casa de Recuperação. (OLIVEIRA, 1998. Pg. 195) Esses excluídos, quando passam a freqüentar a comunidade Pentecostal, são tratados como irmãos, têm um lugar de reunião, um templo disponível que está muitas vezes construído com mais infra-estrutura que sua própria casa, (às vezes barracos), e podem dizer que é deles também. Quando se tem energia elétrica onde está construída a igreja, há ventiladores, microfones, instrumentos musicais para eles ou seus filhos, nas reuniões eles também têm 23 A expressão “levar a palavra de Deus” no meio pentecostal significa falar para as pessoas do Amor de Deus por elas, independente de classes sociais, econômicas. Inclusive aos criminosos e presidiários, a estes sempre dizem uma palavra de esperança, de possibilidade de mudança de vida, que podem ter uma vida reta e honesta. 22 oportunidade para expor suas idéias e sentem-se inseridos com igualdade naquela comunidade que chamam de igreja. Uma empregada doméstica que vê seu filho aprender música e tocar um instrumento na igreja, nota que os procedimentos e a dedicação necessárias são parecidas à dedicação e lições dos filhos de uma patroa, (que pode pagar boa escola de música para o filho), gerando com isso, sentimento de similaridade: [...] Ler e escutar a Bíblia, pregar nos templos, entender a linguagem dos que falavam, orar com seus gestos e palavras, cantar, comunicar-se. [...] Agora, uma vez pentecostais, vêem que todos têm o alcance de sua inspiração o púlpito de onde lançam suas palavras e são escutados atentamente pelos irmãos. (ROLIM, 1994. Pg. 31 e pg. 34) As orações são quase sempre coletivas. Isso favorece o sentimento de que todos pertencem ao corpo de Cristo e de que juntos exercem o sacerdócio universal dos cristãos, através da intercessão comunitária e coletiva. (CALDAS, 2001. Pg. 75) Esse trabalho feito pelos Pentecostais, da primeira onda24, ganha importância no Brasil e causa preocupação em outras organizações, que acabam imaginando fantasias por não conhecê-los. A sociedade forma opiniões equivocadas geradas por atitudes de alguns poucos grupos Pentecostais, da terceira onda, cujos líderes se destacam em noticiários policiais, administrando a igreja como uma empresa capitalista, vendendo produtos míticos e fantasiosos, se aproveitando da boa fé das pessoas fragilizadas por alguma carência. Até mesmo A periodização da história do Movimento Pentecostal por ondas, de acordo com Paul Freston, estudioso da religião, está classificadas assim: a) Primeira Onda: Congregação Cristã no Brasil (1910), Assembléia de Deus (1911), Igreja Adventista da Promessa (1938). b) Segunda Onda: Igreja do Evangelho Quadrangular (1953), O Brasil para Cristo (1956), Igreja Nova Vida (1960), Igreja Pentecostal Deus é Amor (1961), Casa da Benção (1964), Metodista Wesleyana (1967) e outras pequenas denominações. c) Terceira Onda: Salão da Fé (1975), Igreja Universal do reino de Deus (1977), Igreja Internacional da Graça (1980) e muitas outras comunidades: (Igreja Renascer, Igreja Mundial do Reino de Deus, Igreja Paz e Vida e outras). (Cf. CAMPOS, 1996. Pg. 84 e pg. 85) 24 23 denominações evangélicas tradicionais acabam cometendo engano parecido por falta de conhecimento. 1.3.3 Dons Espirituais: algumas observações Ao estudar o livro batista “Quem são eles” do Dr. E. C. Routh se evidencia o desconhecimento ao supor na introdução, que seja possível explicar os procedimentos de um movimento como o Pentecostal, com algumas dezenas de palavras; resumindo o assunto em um capítulo de três meias-páginas contendo a seguinte estrutura: titulo do capítulo: “Quem são os Grupos Pentecostais?” e três subtítulos: “A sua história e seus ensinos” com quatro parágrafos, “O que dizem as escrituras?” com três parágrafos e “Concernente ao Espírito Santo” com dois parágrafos. Nessas poucas palavras se ensina contra o Pentecostalismo e a favor da doutrina Batista: A existência destas seitas, freqüentemente, é devido a negligência por parte das denominações evangélicas estabelecidas. Nas zonas rurais temse diminuído a atividade missionária, deixando assim aberto o campo para os pregadores que apelam às emoções e aos preconceitos do povo. Precisamos revisar os nossos planos missionários e providenciar pelo progresso espiritual e econômico das zonas destituídas. (ROUTH, 1960. pg. 38) No tocante ao Espírito Santo e aos dons espirituais fica explícito que não os praticam e que pensam ser um grande equívoco praticá-los como se lê: 24 Mas o batismo pelo Espírito parece ter sido limitado à idade apostólica. [...] Nos tempos apostólicos o ministério dos apóstolos e das igrejas foi atestado ou acreditado por certos sinais, como o ressuscitar os mortos (Atos 9:36-40 e 20:9); o curar os enfermos (atos 28:8; 9:33); o pegar nas serpentes (Mar. 16:17-18 e Atos 28:3); o falar em línguas (Atos 2 e I Cor. 14); sinais e prodígios (Atos 6:8; 8:13). Estas coisas não foram manifestas à parte dos apóstolos. Nos tempos modernos, os homens não ressuscitam os mortos, nem bebem veneno, nem pegam serpentes, impunes. Notai, também, que quando os homens falaram em línguas, como no Dia de Pentecostes, havia quem os compreendesse (“cada um os ouvia falar na sua própria língua”). (ROUTH, 1960. pg. 40) Este é um argumento usado até os dias de hoje no combate a esta prática. Mas não atentamente apropriado porque no próprio texto de Atos há uma argüição sobre o tema, como observa bem Kinnaman: 25 Finalmente, as linguas estranhas são um sinal para os ‘não crentes’ . Em Marcos 16, as línguas estranhas se identificam como um sinal que deve ser encontrado naqueles que crêem. Isto também implica que este poderoso dom pode ser um testemunho extraordinário para os ‘não crentes’, 26 especialmente quando são idiomas reconhecíveis . Não é surpresa que um milagre como esse, no dia de Pentecostes, resultasse na conversão de tantas almas. Sem dúvida, quando as línguas estranhas não são idiomas reconhecíveis, pode haver mal entendidos! No dia de Pentecostes, nem todos que estavam ali se maravilharam com as línguas celestiais. “Mas outros, caçoando, diziam: estão embriagados.” (Atos 2:13). (KINNAMAN, 1991. Pg. 77. Tradução nossa) Os pentecostais rebatem esses ensinos, das Igrejas Históricas, baseados na própria Bíblia quando referente a ressuscitar os mortos, curar os enfermos ou comer alguma coisa mortífera involuntariamente, se lê: 25 “Não Crentes” na linguagem do povo pentecostal, define todas as pessoas não protestantes, mesmo que não sejam ateus; portanto uma pessoa de fé católica, espírita, muçulmana ou outro credo qualquer é denominado ‘pessoa não crente’ ou seja: não aceita ou não pratica a doutrina protestante. 26 Prática da Glossolalia [do grego “glossais – língua”, “lalein – falar” (quando se fala palavras não identificáveis pela inteligência humana)], ou Xenolália [ do grego “xeno – estrangeiro”, “lalein – falar” (quando se fala idioma que ainda não aprendeu)]. (ARAUJO, pg. 331 e pg. 922) 25 E disse-lhes Jesus: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão os que crerem: Em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e quando beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; imporão as mãos sobre enfermos e os curarão. (BÍBLIA, Marc. 16:1518). Outras reflexões: Deus curava os enfermos no passado, e Ele é um Deus imutável. Através do Antigo e Novo Testamento nos encontramos com um Deus que atua favoravelmente em tempos de enfermidades e dor. A bíblia nos fala sobre um Deus de milagres, e os testemunhos sobre curas e promessas de cura, são abundantes de Gênesis a Apocalipse (ver Êxodo 15:26; 23:25; Salmos 103:3; 105:37; 107:20; Mateus 9:35; Marcos 6:12-13). A Bíblia não diz que Deus poderia mudar em alguma dispensação futura, ao contrário, diz que Ele é imutável (Malaquias 3:6, Tiago 1:17) e que o Senhor Jesus é o mesmo ontem hoje e eternamente. (Hebreus 13:8). No Antigo Testamento Deus se revelava por meio de um número de nomes redentores especiais: Jehová-shammah [O Senhor está sempre presente], Jehová-jireh [O Senhor é nosso Provedor], Jehová-nissi [O Senhor é nossa Bandeira], Jehová-shalom [O Senhor é nossa Paz], Jehová-raah [O Senhor é meu Pastor], Jehová-tsidkenu [O Senhor é nossa Justiça], Jehová-rafah [O Senhor que nos cura]. Ninguém pode negar que Deus é imutável em qualquer aspecto revelado de Seu Ser, porém, mesmo assim, há alguns crentes quês estão dispostos a aceitar cada um destes nomes, exceto o último. Prestemos atenção a esta poderosa promessa: “...porque eu sou Jeová que te cura” (Êxodo 15:26) (KINNAMAN, 1991. Pg. 138, tradução nossa) 27 No lugar da anterior doutrina radical da cura total incluída na expiação , 28 Carter começou ensinar que a cura divina era um “favor especial” que às vezes se oferecia e outras se negava, segundo “a suprema vontade de nosso Senhor”. Carter também elaborou um interessante resumo das diversas doutrinas sobre a cura total existentes desde o começo do século 20, era distinto entre a posição “extrema” de seu livro anterior (“Cura total na Expiação”) e o ponto de vista mais moderado de “A Providencia Especial” de seu livro posterior. Informava que Cullis nunca havia sido tão extremista como muitos de seus seguidores. (DAYTON, 1991. Pg. 92, tradução nossa) “A Santidade na Expiação”: foi uma doutrina pentecostal norte-americana do século 19 baseada em Isaias 53:4 [“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si”]. Dessa forma Jesus ao ser crucificado encerrou toda a dor humana. A manifestação de doenças, significava falta de fé ou resquícios de pecados. O extremo dessa doutrina era: o doente não podia se medicar por que isso era sinal de incredulidade e se continuasse doente era descriminado por que devia ter algum pecado. (DAYTON, 1991. Pg. 77 a pg. 97). 28 Carter era matemático, escritor, criador de ovelhas, médico e um dos maiores defensores da cura divina. (DAYTON, 1991. Pg. 90) 27 26 Kathryn Kulman nasceu em 04/06/1907, no Estado do Missouri, Estados Unidos. Em seu livro, essa escritora que tinha o dom da cura, relata bem o pensamento pentecostal na introdução de seu livro: Se você acreditar que eu, como ser humano, tenho qualquer poder para curar, está completamente enganado. Não contribuí em nada para qualquer milagre registrado neste livro, nem tive nada a ver com qualquer cura que tenha sido realizada em algum corpo físico. Não possuo absolutamente nenhum poder para curar. Tudo quanto posso fazer é indicar-lhe o caminho ─ posso conduzi-lo até o Médico dos médicos, e posso orar, mas o restante fica entre você e Deus. Sei o que ele tem feito por mim, e já vi o que Ele tem feito para um número incontável de pessoas. O que Deus lhe concede depende de você. A única limitação para o poder de Deus está dentro do individuo! (KUHLMAN, 1962. Pg. 11) Dentre vários testemunhos de pessoas que foram curadas através das orações de Kathryn está o de Carey Reams, engenheiro químico das Forças Armadas, durante a Segunda Guerra Mundial. Ferido por uma mina terrestre, ficou paralítico, com seguidas hemorragias além de outras seqüelas. Foi num culto no Teatro Penn em Butler, Pensilvânia no dia 31 de dezembro de 1950 que aconteceu o que relatou: Bem de repente, relata Carey, a Srta. Kuhlman disse: “coloque de lado essa muleta direita”. Experimentei faze-lo, e o resultado foi bom: minha perna sustentou meu peso. Naquele momento a dor no corpo sumiu instantaneamente. Segundo a descrição de Carey: “Foi como desligar uma lâmpada, ou como a tinta de caneta sendo sugada pelo mata-borrão”. Percebendo que aquela perna suportava seu peso, Carey deixou cair a segunda muleta e ficou em pé sozinho, sem ajuda. A Srta. Kuhlman então me mandou subir na plataforma, uns 12 degraus muito íngremes. Dois cavalheiros grandes e fortes colocaram-se ao meu lado para me ajudar, mas eu não precisava de ajuda alguma. Subi para a plataforma como um pássaro voando. Parecia que quase não tocava o chão, e não andei em direção à Srta. Kuhlman, corri. (KUHLMAN, 1962. Pg. 23) 27 1.3.4 Solidariedade, unidade Outra característica dos pentecostais, (embora outras igrejas também a tenham, mas com procedimentos diferentes), é que são uma comunidade solidária, a maioria dos membros leva à igreja em reuniões mensais chamadas de “Culto de Santa Ceia” um quilo de alimento não perecível para “Campanha do Quilo”, que funciona assim: os membros são ensinados a levarem “Um Quilo” de alimento; dessa forma muitos quilos são arrecadados e distribuídos em sacolas, que o membro desempregado e cadastrado pelos líderes da igreja, leva vazia de sua casa e traz cheia nesse culto mensal, até conseguir um trabalho; assim o combate à fome e a promoção da igualdade social é praticada na comunidade pentecostal há muito tempo independente de políticas públicas. No fim desse culto todos recebem a “oração” do Pastor da igreja para que o doador, sempre tenha para doar e quem recebe tal doação, tenha força e ânimo para superar a dificuldade que passa e logo também doar. Essas pessoas em dificuldades, quando as superam, falam no “Culto da Família” como foram suas experiências: falam sobre as privações impostas e como agora estão alegres, não mais na condição de quem leva a sacola vazia, mas de quem leva “Um Quilo” de alimento no “Culto de Santa Ceia”. Essa conscientização humaniza a comunidade que realmente vive como uma família de irmãos, desenvolvendo o envolvimento dos excluídos e os unindo para alcançarem seus objetivos: a propagação do evangelho e a realização do verdadeiro louvor a Deus. 28 Capítulo 2 Igreja Assembléia de Deus: expressão maior do Pentecostalismo Brasileiro Os Missionários, Pastores e Evangelistas que difundiram a Assembléia de Deus no Brasil realmente não tinham um planejamento estratégico, mas lhes ardia no coração a vontade de vê-la progredir e isso era feito como um milagre, por pessoas com muita boa vontade mas sem preparo acadêmico, os “Pastores Leigos”. Esses pastores atuam na Igreja Evangélica Assembléia de Deus até hoje, são semi-analfabetos, têm dificuldade na leitura do texto bíblico, fazem uma exposição simples do texto bíblico, não fazem relação histórica com os acontecimentos bíblicos, mas como, na maioria das vezes, falam para sertanistas e ouvintes também semi-analfabetos, conseguem se comunicar satisfatoriamente. Esse “Pastor Leigo” trabalha em igrejas filiais camponesas ou periféricas afastadas dos grandes centros populacionais. Quando essas Igrejas atingem certo desenvolvimento que necessite de um líder com conhecimento administrativo adequado para lidar com filiais e quantidade expressiva de conflitos inter-pessoais, a Igreja Sede designa um pastor com formação teológica e na maioria das vezes também com formação acadêmica em alguma área. No entanto não se pode desprezar o valioso trabalho desses “Pastores Leigos”: As demais igrejas protestantes tinham em suas escolas de formação de pastores, um ensino equivalente ao curso superior, onde se aprendia teologia, história do cristianismo e a Bíblia. Os pentecostais não tiveram escolas para formar pastores. A formação vinha pela prática dos cultos, da aprendizagem simples da leitura da Bíblia, aos domingos, e da própria pregação. A maioria de seus adeptos não possuía curso médio para receber ensinamento mais elevado. Mas tinha uma coisa interessante, tinha uma cultura popular oral. Enquanto nas igrejas não pentecostais só podia pregar o pastor porque tinha estudado, nas pentecostais pregavam tanto pastor como o simples crente. Isso significava que a cultura oral, de tipo popular, era canalizada para o pentecostalismo e não era absorvida pelas outras igrejas protestantes. (ROLIM, 1987. Pg. 25) 29 Além de serem líderes carismáticos importantes, merecem, portanto, investimento educacional, principalmente artístico, porque decidem sobre arte sem conhecê-la. Esse investimento educacional é totalmente viável uma vez que, atualmente, a Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, tem, em suas dependências, uma Faculdade. Alguns desses pregadores andavam a pé dezenas de quilômetros para presidir ─ se dizem no meio pentecostal “dirigir um culto” ─ a um culto em algum vilarejo distante. Com o passar dos anos, a estrutura ia melhorando e começavam a utilizar algum meio de transporte. Às vezes seguravam a Bíblia de cabeça para baixo na hora da leitura, simplesmente pelo fato de serem semianalfabetos, portanto decoravam os textos litúrgicos, oravam pelos doentes, “simples crentes lendo a Bíblia (não importa se soletravam) e também pregando” (ROLIM, 1994. Pg. 30), falavam sermões de ânimo e valentia na luta diária pela subsistência e a igreja prosperava a cada dia: O crente pentecostal. Não é pastor. Tem apenas o primeiro grau incompleto, o que não o impede de ser pastor: “Vi um crente, pedreiro como 29 eu, falando e dizendo que Jesus muda a vida das pessoas. Quando 30 acabou, ele disse: ‘Quem quiser aceitar Jesus levante o braço ’. Ele veio me abraçar e me chamou pra ir na igreja. Fui e aceitei Jesus, já tem uns oito anos. Larguei de beber, de fumar e briga lá em casa nunca mais teve. [...] O evangelista Lucas escreveu nos Atos dos Apóstolos, capítulo 2: “E chegou o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar, de repente se fez ouvir do céu um ruído como se soprasse impetuoso vendaval e todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar línguas estranhas, conforme o Espírito lhes concedia falar” (o crente cita o trecho de cor). Pentecoste foi o cumprimento da promessa de Jesus e também da profecia do profeta Joel (o crente faz questão de lembrar o profeta e de citá-lo, também de memória). (ROLIM, 1987. Pg. 12 e pg. 13) O pesquisador narra sobre um pregador num “ponto de pregação” [dá-se esse nome ao local em uma casa onde, normalmente se iniciará uma congregação]. 30 Levantar a mão, (braço), “aceitando a Jesus” num culto durante o apelo após a pregação, significa se unir a uma igreja pentecostal, ou aceitar os costumes e a doutrina em uma igreja pentecostal. 29 30 Por sua vez a Assembléia de Deus foi aos poucos proporcionando aos seus quadros de direção um pouco de formação. Não propriamente teológica, mas antes bíblica. Esta subida para uma formação bíblica não só chegava tarde mas nem sequer atingia a todos os pastores e a grande maioria permanecia semi-analfabeta. (ROLIM, 1994. Pg. 64) “O começo do avivamento pentecostal não obedeceu a um plano predeterminado por qualquer mente humana, e as Assembléias de Deus são fruto de um movimento que teve seu início de forma espontânea e da parte de Deus”. (OLIVEIRA, 2003. pg. 34). Dessa forma o Movimento Pentecostal chegou ao Brasil: Em um domingo, 9 de abril de 1906, o próprio Seymour e outros sete irmãos receberam o batismo com o Espírito Santo. A manifestação do poder do Espírito Santo logo atraiu muitos curiosos e outros interessados em conhecer a evidência bíblica de um autêntico batismo com o Espírito Santo, conforme o relato do Novo Testamento. Precisando de um espaço maior de fácil acesso, Seymour descobriu um templo da Igreja Metodista Episcopal Africana, que se achava abandonado, na rua Azuza, 312, local ideal para desenvolver seu trabalho. [...] Foi nesse local, que se iniciou o movimento sob o nome The Apostolic Faith Mission. Diversos visitantes protestantes foram atraídos para esse local, entre eles muitos voltavam convertidos ao pentecostalismo. Aí também apareceu o pastor batista Willian H. Durham, que se tornou uma figura importantíssima para a história do pentecostalismo brasileiro. (OLIVEIRA, 2003. pg. 58) 2.1 Os primórdios: a Primeira Onda31 A primeira igreja pentecostal no Brasil foi a “Congregação Cristã no Brasil”, igreja com alguns procedimentos parecidos com as práticas Presbiterianas, [por ter sido dessa igreja histórica, seu fundador Luigi Francescon adotou e adaptou algumas de suas estruturas eclesiásticas], assim não evangelizam 31 Ver nota 24 da página 22. 31 (ALVARES, 1996. pg. 34). Por isso desenvolveram menos que a segunda igreja pentecostal a ser aberta no Brasil: a “Assembléia de Deus”, dessa forma: Na primeira fase do pentecostalismo no Brasil, chegou aqui em 1910, Luigi Francescon, de confissão valdense, que emigrara da Itália para os estados Unidos e recebeu o batismo com o Espírito Santo na Missão da Avenida Norte de William H. Durham, em Chicago. [...] em 1909 seguiu para a Argentina, e em 1910 veio para o Brasil, onde fundou a Congregação Cristã no Brasil, começando seu trabalho entre os italianos imigrantes, a exemplo do que já havia feito nos Estados Unidos. Durham havia passado algum tempo em Los Angeles, na rua Azuza, e constituiu em Chicago um dos ciclos pentecostais mais importantes da América do Norte. (OLIVEIRA, 2003. pg. 58) A Congregação Cristã no Brasil também é de suma importância no Pentecostalismo brasileiro e embora os missionários que fundaram ambas, Assembléia de Deus e Congregação Cristã no Brasil, tivessem contato com o mesmo movimento pentecostal americano e as fundassem na mesma época, com diferença apenas de um ano, são igrejas com algumas características distintas: A Congregação Cristã no Brasil, é pentecostal, trabalha no Brasil com ética e seriedade, tem Orquestra que participa da liturgia do culto, mas não a usa para evangelizar ou propagar o Pentecostalismo, a Orquestra apenas faz parte da liturgia do culto. Dessa maneira o Pentecostalismo cria raízes em nosso país: Em 1910, enquanto o avivamento conquistava terreno e dominava a vida religiosa na cidade de Chicago, fatos de alta importância estavam acontecendo também nas cidades vizinhas, entre dois jovens que estão ligados à história das Assembléias de Deus. Na cidade de South Bend, no Estado vizinho de Indiana, morava um jovem pastor batista chamado Gunnar Vingren. Atraído pelos acontecimentos do avivamento de Chicago, ele foi a cidade, a fim de certificar-se da verdade; e diante da demonstração do poder divino, creu e foi batizado com Espírito Santo. Gunnar Vingren nasceu em Ostra Husby, Ostergotland, Suécia, em 8 de agosto de 1879. [...] Em 1903, viajou para os Estados Unidos. Ingressou então no Seminário Teológico de Chicago. Após a conclusão do curso em 1909, assumiu o pastorado da Primeira Igreja Batista de Menominee, Michigan, em cuja função participou da 32 32 Convenção daquela igreja. [...] Nesse ambiente de avivamento espiritual ocorreu a chamada para o Brasil. (OLIVEIRA, 2003. pg. 63 e pg. 64) Gunnar Vingren já enfrentava dificuldades em relacionar-se com a liderança eclesiástica de sua igreja por causa do costume pentecostal que já havia adotado, dessa forma deixou uma carreira promissora e sólida para obedecer uma profecia que lhe orientava a buscar uma cidade que não conhecia. Olhando no mapa viu que a cidade mencionada estava no Brasil, e veio para cá sem imaginar que iniciaria uma das maiores Igrejas Pentecostais da América Latina, a “Assembléia de Deus”: Em uma reunião de oração, o Espírito Santo falou-lhe através do irmão Adolfo Uldin que devia ir ao Pará. [...] O encontro com Daniel Berg se deu nessa época. Juntos, foram a uma biblioteca para consultar os mapas e verificaram que o lugar mencionado na profecia localizava-se no Norte do Brasil, [...] Sairam de Nova Iorque em 5 de novembro de 1910, e aportaram no Brasil no dia 19 do mesmo mês. Em 1911 em Belém, Pará, foram encaminhados a um pastor batista que os recebeu e permitiu [sic] [ver segunda citação da pg.49] morar no porão do templo. Ao chegarem à capital paraense , uniram-se à Igreja Batista, porque sempre pertenceram a esta denominação, [...] Vingren e Berg provocaram, com pregação pentecostal, uma dissensão naquela igreja. E assim, com dezenove membros [sic], fundaram em 18 de junho 33 [sic] de 1911 a Missão da Fé Apostólica, que mais tarde veio a chamar-se Assembléia de Deus. (OLIVEIRA, 2003. pg. 64 e pg. 65) A Igreja Evangélica Assembléia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil são as maiores Igrejas Pentecostais de nosso país, e a Assembléia de Deus foi a que mais teve dissidências, talvez esse tenha sido um dos elementos que mais contribuiu para a sua expansão vertiginosa. Muitas dessas igrejas dissidentes, usam o primeiro nome da Igreja, divergem apenas ideologicamente, mas infelizmente por terem uma estrutura mais nova, substituem a Banda Marcial ou 32 Convenção é um ajuntamento de líderes. Reúnem-se de tempos em tempos para decidirem procedimentos litúrgicos, comportamentais, ações e objetivos. 33 “Estes dezoito irmãos saíram então da igreja batista pra nunca mais voltar outra vez. Isto aconteceu no dia 13 de junho de 1911” (VINGREN, 1973. pg.33) 33 Orquestra Sinfônica por Bandas de Rock ─ o problema dessa substituição não é o estilo musical, mas o fato de uma Banda de Rock envolver menos pessoas e menos trabalho artístico do que uma Banda Marcial ou uma Orquestra Sinfônica. Sobre o Rock: Designação genérica para a música popular de origem norte-americana consolidada na metade do século XX, difundiu-se em todos os países do mundo e permanece com variantes ou mesmo com sua forma clássica até os dias de hoje. [...] A instrumentação básica inclui guitarras elétricas, baixo elétrico, bateria e eventualmente piano, teclados e órgão eletrônico, entre outros instrumentos. (DOURADO, 2004. pg. 283.) Após um tempo as igrejas dissidentes se reconciliam com as igrejas de sua origem tornando-se independentes34, ao invés de dissidentes, dessa forma vale listar algumas igrejas Assembléias de Deus dissidentes ou independentes: Assembléia de Deus do Bom Retiro, Assembléia de Deus Russa, (de onde veio o Maestro Roberto Minzzuck35), Assembléia de Deus Betesda, Assembléia de Deus - Ministério de Santos [primeira igreja no Estado de São Paulo, (nessa igreja há a função de Pastora e Diaconisa)], Assembléia de Deus - Ministério do Belém [primeira igreja na Cidade de São Paulo, (igreja foco de nosso estudo)], Assembléia de Deus Bereana, Assembléia de Deus - Ministério de Madureira – RJ, Assembléia de Deus da Penha – RJ, Assembléia de Deus Missão – MT [Nesta Igreja há um “Pastor Maestro” participando de sua Diretoria], Assembléia de Deus - Ministério de São Miguel Paulista – SP, Assembléia de Deus Ministério de 34 “Uma congregação pode, com o tempo, ganhar autonomia e tornar-se uma igreja-sede, que, por sua vez, passará a abrir novas congregações”. (Araujo, 2007. pg. 201) 35 Aos 14 anos ganhou bolsa para estudar na Juilliard School, é Diretor Artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica Brasileira, da Filarmônica de Calgary (Canadá) e do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi diretor artístico do Festival de Campos do Jordão, diretor adjunto e regente associado da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, regeu a Filarmônica de Nova Iorque e as orquestras mais importantes do mundo, rege numa única temporada mais de 30 orquestras em 14 paises. (www.cristianismocriativo.com.br 29/11/2009) 34 Santo André, (de onde veio o Maestro Roberto Farias36, embora fosse transferido do Ministério de Santos) e muitas outras. Salientamos que, as Igrejas Assembléias de Deus dissidentes ou independentes trazem traços e costumes litúrgicos da Assembléia de Deus iniciada por Vingren e Berg em Belém do Pará. Há, porém, igrejas Assembléias de Deus que ganharam autonomia, e mesmo com pequenas diferenças ideológicas, mantêm a tradição musical, embora sejam mais abertas à diversidade de estilos, conseguem uma mistura saudável entre estilos e gêneros musicais como: Banda Marcial ou até Orquestras Sinfônicas acompanhada de Corais, Grupos de Jazz, faixa 04 do CD anexo, que adaptam melodias da hinódia e grupos de Rock in roll, que atendem os gostos da juventude pentecostal. Estas igrejas seguem a mesma seriedade, tanto as dissidentes quanto as independentes, e trabalham a mesma linha filosófica com sutis diferenças nos costumes e liturgia do culto, porém, todas se mantêm pentecostais, (falam em línguas, oram pela cura e profetizam). 2.2 Organização Administrativa A organização se dá da mesma forma em todas as Assembléias de Deus, tradicionais, dissidentes ou independentes: existe uma Diretoria eleita, — É membro da Associação Paulista de Arte, Coordena os Grupos Artísticos de Cubatão-SP, é diretor Artístico e regente titular da Banda Sinfônica da Província de Córdoba (Argentina), é diretor Artístico da Orquestra de Câmara Solistas do Brasil, regeu a Orquestra Sinfônica de Santos, a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, a Banda Sinfônica de Montevidéu (Uruguai), a University of Pensivânia Wind Ensenble (EUA), a United States of América Air Force Academy (EUA), a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, a Orquestra Jazz-Sinfônica do Estado de São Paulo, a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, a Orquestra Sinfônica de Americana, a Banda Sinfônica da Polícia Militar de Santa Catarina, a Banda Sinfônica da Cidade de Natal – RN, e a Banda Sinfônica da Universidade Federal de Minas Gerais, foi professor de regência orquestral no Centro de Estudos Musicais Tom Jobim – SP. (entrevista por e-mail em novembro de 2009) 36 35 geralmente seu líder é o fundador, o dissidente ou quem ganhou a independência — há uma diversificada graduação de patentes eclesiásticas e a cada patente é dada uma quantidade de pessoas/igrejas ou de grupo de pessoas/igrejas sob sua responsabilidade e são: Apóstolos, Bispos, Reverendos, Pastores Presidentes [estes cargos são de líder da Diretoria] seguidos por: Pastores Vice-presidentes, Pastores Tesoureiros, Pastores Secretários [estes compõem a Diretoria] e finalmente: Pastores simplesmente, Vice-Pastores ou Co-Pastores, Evangelistas, Presbíteros, Diáconos, Cooperadores e Missionários. Ainda há preconceito e resistência para que mulheres ocupem essas patentes eclesiásticas nas diretorias das Igrejas Assembléias de Deus, há apenas raríssimas exceções, mas já se encontra patentes de Pastora e Diaconisa. O mais comum é encontrar Missionárias37; é um trabalho importante, mas a liderança exercida por essa patente é quase nula. Administrativamente filiais das igrejas são divididas em setores e a esses setores pertencem várias igrejas menores, com estruturas administrativas dependentes e orientadas pela igreja responsável por esse “setor”, ou seja: suas construções, reformas, seus departamentos são gerenciados por essa igreja “mãe”, inclusive o departamento musical; a compra de seus instrumentos e sua formação musical e eclesiástica. Porém, essas igrejas menores, se quiserem, podem ter sua própria formação musical e, inclusive, comprar seus próprios instrumentos. 37 Missionárias são uma espécie de evangelizadoras enviadas a uma cidade, estado ou país; no meio Pentecostal ainda pode ter outro significado e atualmente é o mais comum: Diz-se de uma pessoa pregadora itinerante, que tem os dons de profecia, revelação e cura; recebe pessoas de vários lugares e denominações em sua casa, em busca de oração ou algum conselho. A grande maioria de pessoas que exercem essa função, no sentido Pentecostal, é do sexo feminino. Além dessas funções a maior parte das Missionárias são cantoras leigas e com a venda de seus CDs se mantém e custeiam as despesas de seus deslocamentos. 36 Esses setores também se juntam formando um campo38. Dessa maneira, as pequenas igrejas estão submissas a seus setores, e os setores aos campos e os campos, a uma matriz (sede). Esta matriz (sede) dá liberdade administrativa, mas impõe regras que devem ser seguidas pelas demais ramificações administrativas. Essa liberdade administrativa, embora tenha pontos positivos, faz com que as metodologias de ensinos musicais sejam diferentes, [a igreja foco de nosso estudo é uma Igreja Matriz ou Igreja Sede]. A hierarquia eclesiástica e administrativa varia de acordo com as patentes dos líderes e quando se precisa delegar mais poder administrativo a alguém, o líder da Diretoria é promovido a uma patente maior para que um liderado passe a ter poderes de liderança iguais ao seu e mesmo assim ainda continuar sendo seu liderado. A diretoria planeja, projeta e decide regras organizacionais assim como, quando e quais destinos terão verbas para realização de projetos das igrejas sob liderança da Igreja Sede, portanto projetos musicais não têm prioridade, os projetos artísticos são prejudicados e alguns ainda subsistem porque há nos líderes músicos, “maestros”, vontade e teimosia. Os projetos musicais são feitos muito precariamente porque só está disponível uma pequena parte do orçamento para o departamento musical. Esse é um grande problema porque a responsabilidade não é toda da Diretoria que não acompanha de perto os departamentos de arte e música de suas igrejas e conseqüentemente não os assistem adequadamente, mas também há a contrapartida de muitos investimentos e projetos feitos equivocadamente, orientado por “maestros” amadores que não têm segurança e precisão do que fazer na tentativa do avanço educacional e técnico. Estes arcam “Campo nas Assembléias de Deus, é a área de atuação de um Ministério formado por uma igrejasede (“igreja-mãe”) e suas diversas congregações e/ou cidades em um ou mais Estados”. (ARAUJO, 2007. pg. 152) 38 37 com a responsabilidade de investimentos em projetos que foram executados e tornaram-se traumáticos gerando grandes prejuízos financeiros para a igreja. A migração dos membros da igreja é um reflexo da sociedade brasileira e o fato da Igreja Assembléia de Deus ter filiais no Brasil inteiro, facilita a adaptação dos migrantes em seu novo habitat. A função eclesiástica que esse migrante executava em seu local natal é respeitada na igreja que o acolhe e a pessoa continua a exercê-la em sua nova comunidade de irmãos. A pessoa acostumada ir a uma Igreja Pentecostal de uma área rural qualquer e migra para uma grande cidade, ou vice versa, traz consigo uma “carta de recomendação ou mudança”39 e com ela, pode procurar uma igreja nessa nova cidade para ser recebido, mesmo se for de uma denominação diferente, mas pentecostal, apresenta tal documento e o recebem como membro. A mesma hinódia e liturgia do culto favorecem o entrosamento, amenizando dessa forma, o sentimento de angústia causado pela solidão e distanciamento de seus familiares e local anterior, (porém esse fato é um complicador para o equilíbrio dos naipes da Banda ou da Orquestra quando o migrante é músico [veja capítulo 3, pg. 136]). Essa pessoa é ajudada na difícil tarefa de buscar um novo emprego e se socializar em uma cidade com procedimentos diferentes aos de seu vilarejo ou cidade. Dessa forma: As comunidades pentecostais são, geralmente, acolhedoras, personalizadoras e participativas. Eliminam barreiras criadas pela distinção e separação tradicionais entre o clero e o laicato. Através de sua participação em diversos ministérios da igreja, as pessoas deixam de ser “objetos” e se transformam em sujeitos ativos da experiência e do discurso religioso. (GUTIÉRREZ, 1996. pg. 15) “Com o uso dessas imprescindíveis cartas, os líderes assembleianos passaram a ter, naturalmente, um maior controle do deslocamento de sua membresia pelo país e, principalmente, a evitar o abuso de pessoas mal-intencionadas, que, naquela época, já apareciam nas igrejas se contrafazendo e perturbando os servos de Deus”. (ARAUJO, 2007. pg.160). 39 38 Esta prática é muito comum nas Igrejas Evangélicas Assembléias de Deus do Ministério do Belém, como estão em todo o território nacional, seus membros quando migram para estudar, ou trabalhar, logo são amparados por um alguma igreja filial ou algum Ministério Assembleiano. 2.3 Trajeto da Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém A garra, a determinação e persistência da Igreja Assembléia de Deus fazem história em nosso país. Onde havia uma igrejinha há vários anos, hoje se tem um Grande Templo, um grande Setor, Campo ou uma Igreja Sede. Exemplo disso é a Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, que foi iniciada por Berg em uma casa na Vila Carrão em São Paulo – SP e hoje tem, no território nacional, mais de 1.900 filiais. O inicio no Pará: Figura 04. Primeiro Templo das Assembléias de Deus no Brasil. (OLIVEIRA, 1998. pg. 45) 39 Na figura 4, vemos o primeiro templo da Igreja Assembléia de Deus no Brasil, inaugurado em 1914, três anos após sua fundação quando os cultos aconteciam na própria casa de seus fundadores, conforme figura 5: Figura 05. (OLIVEIRA, 1998. pg. 27). Lê-se o nome Assembléia de Deus na placa fixada na sacada. Foto da casa onde se iniciou as Assembléias de Deus no Brasil. Talvez seja daqui que tenha surgido o procedimento de que quando se inicia um trabalho evangelístico Assembleiano em uma comunidade, bairro ou cidade, o Evangelista ou Missionário vai a uma praça ou a um lugar onde possa falar de Jesus para alguém, vai até sua casa para fazer uma oração por um doente, ou a favor de um problema de difícil solução e após um milagre ou solução do problema em questão inicia-se naquela casa regularmente cultos semanais; após o aumento do número de pessoas participantes nesses cultos semanais, aluga-se um salão e assim começa uma nova filial da Igreja Assembléia de Deus. Essa foi a principal estratégia de que se utilizaram até poucos anos atrás, aliada ao uso da 40 Banda de Música; esses procedimentos provaram ser uma boa estratégia: simples e eficaz; a ponto de fazer da Assembléia de Deus a maior Igreja Evangélica da América Latina e segundo o IBGE em seu Censo Demográfico 2000, as Assembléias de Deus tinham números disparados bem na frente das outras Igrejas Pentecostais representando quase a metade de todos os Pentecostais, reunidos no Brasil: “Evangélicos de origem pentecostal, 17.617.307. Igreja Evangélica Assembléia de Deus, 8.418.140”. Figura 6. Segundo Templo das Assembléias de Deus no Brasil. (OLIVEIRA, 1998. pg. 79) Na figura 6, vê-se o segundo templo no Brasil, e na figura 7 temos uma idéia geral da expansão da Igreja, observando o interior do atual templo das Assembléias de Deus em Belém – PA. 41 Figura 7. Templo da Assembléia de Deus em Belém – PA em 1997. (OLIVEIRA, 1998. pg. 91) Quando a Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, foi iniciada na Vila Carrão, zona Leste da cidade de São Paulo já havia dezesseis anos de trabalho missionário pentecostal no Brasil. Dessa forma Daniel Berg mudou-se para São Paulo para iniciar o trabalho na Capital Paulista no dia 15 de novembro de 1927, quando o Bairro do Carrão era totalmente despovoado, não conheciam ninguém e não tinham nenhum contato, no entanto iniciava-se um dos maiores Ministérios das Assembléias de Deus no Brasil. Com os mesmos procedimentos utilizados em Belém do Pará, Berg foi evangelizando e convidando as pessoas para participarem dos primeiros cultos em sua casa. Realizou o primeiro batismo dia 04 de março de 1928 e com o progresso de seu trabalho, Berg alugou o primeiro salão em São Paulo na Av. Celso Garcia, 1.209; onde funcionou a primeira “Sede” de São Paulo. Em 1935, após se mudarem da primeira Igreja construída em São Paulo na Rua Vilela, inaugurou-se a nova sede num amplo salão da Rua Cruz Branca, 35. Na figura 8, vê-se a Banda no púlpito desse templo. 42 Figura 8. Foto da Banda do Belém, dos arquivos do Maestro João Quirante. Na figura 8, vê-se o Maestro Jahn I. Sörheim, em pé, usando terno branco, atrás do percussionista. [Sörheim foi um Missionário sueco, músico, responsável pela formação de vários Corais, Bandas e Orquestras nas Assembléias de Deus]. A sede da Assembléia de Deus em São Paulo ainda mudou-se outra vez, em 1941, para a R. Antonio de Alcântara Machado, 616 no Bairro Belenzinho – SP, figura 9. Antes de se mudar para a R. Conselheiro Cotegipe ocupou um imóvel alugado, à R. Dr. Clementino, 200, também no bairro do Belenzinho. Figura 9. Foto da Banda do Belém, dos arquivos do Maestro João Quirante, [foto de 1950]. 43 Figura 10. Foto da Banda do Belém, dos arquivos do Maestro João Quirante [foto de 1976]. Na figura 10, vê-se o Maestro João Quirante no canto inferior direito usando terno rosa. Esse Templo foi desapropriado para a construção da estação Belém do Metrô Metropolitano de São Paulo, quando foi transferida então para a R. Conselheiro Cotegipe, 273 o templo atual da Igreja Assembléia – Sede do Ministério do Belém. Na figura 11, observa-se o culto da pedra fundamental desse templo. Estavam presentes nesse culto, realizado no dia 12 de dezembro de 1976, o Pastor Presidente do Ministério do Belém, Cícero Canuto de Lima, no centro da foto de terno claro e seu Vice-Presidente, José Welington Bezerra da Costa à sua direita de terno azul segurando a bíblia, fechada, com a mão esquerda; o homem de óculos com a bíblia aberta é o engenheiro Prof. Dr. Marcel Mendes, responsável pelo projeto arquitetônico desta obra e ao seu lado, de terno marrom, o Presbítero. Pedro Isaias, mestre de obras. 44 Figura 11. Foto do culto da Pedra Fundamental do atual Templo, dos arquivos do Maestro João Quirante [foto de 1976]. A atual Sede construída nesse terreno está sob a responsabilidade de seu atual Pastor Presidente José Welington Bezerra da Costa, (figura 11), Igreja foco de nossa pesquisa. Na foto menor, da figura 11, observa-se no canto inferior direito, de terno marrom tocando clarinete, o Maestro Quirante. Na figura 12 e 13, vê-se respectivamente o atual e o futuro templo da Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, já em construção. Figura 12. Atual Templo da Igreja Objeto de nosso estudo. (Foto de 12/2009). 45 Figura 13. Imagem do protótipo do que será o novo Templo da Igreja Objeto de nosso estudo. (http://www.adimb.com/assembleia/endereco) O desenvolvimento e o crescimento do corpo musical e do trabalho artístico dos Maestros pioneiros se deram de forma semelhante ao da colportagem40 e evangelização, ou seja, cresceram juntos e da mesma forma: Igrejas que tinham dois ou três músicos, há vários anos, hoje têm grandes Orquestras e variados grupos musicais, mas infelizmente nas pesquisas e nos livros onde se buscam o resgate histórico da Igreja Assembléia de Deus, quase nada se fala sobre a Banda de Música; tampouco se procura saber os nomes daqueles que deram as primeiras aulas de música e tocaram os primeiros instrumentos. Na pesquisa de Isael de Araujo “Dicionário do Movimento Pentecostal”, embora seja um material histórico riquíssimo, só se tem informações 40 “Colportor: Vendedor ou distribuidor ambulante de livros e bíblias (venda porta a porta), tendo também a missão evangelística.” (ARAUJO, 2007. Pg. 194) 46 biográficas de músicos quando estes também são pastores. Como se vê na figura 14: Figura 14. Cópia da Figura 8, publicada com legenda errada. (OLIVEIRA, 1998. Pg. 113) Observem que na foto o mérito pela banda é do Pastor, enquanto o “Maestro” não é citado, e só se pode saber de seu nome porque o reconhecemos na fotografia, (vide página 42). (No Livro, publicado pela CPAD41, se lê a data de 1950, porém na fotografia é possível ler: “NATAL 1937”; nosso entrevistado Maestro João Quirante tinha uma cópia dessa foto e nos confirmou que realmente era de 1937). Ainda que se consiga fazer um trabalho de grande valor artístico, os Maestros não o fazem com o objetivo do fazer artístico, mas fazem exclusivamente para louvar a Deus. Com isso se sub-valorizam e não se preocupam com o aperfeiçoamento técnico; não impondo respeito e agravando o problema de falta de apoio, pois dessa forma perdem a voz e se isolam diante de inúmeras dificuldades. Isso é considerado um problema, mas se alguém pergunta, todos responderão: estamos louvando a Deus, mesmo acomodados em um espaço físico inadequado 41 CPAD é a sigla da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. 47 ou não obtendo um resultado satisfatório. Acreditamos que a arte louva a Deus, e que a música sem qualidade artística feita sem devidas preocupações técnicas, não é outra coisa se não falta de conhecimento musical e por bom senso poderia ser extirpado de uma Igreja tão séria, adotando-se, por exemplo, a sistematização de frentes de “educações musicais” padronizadas, contendo o essencial a ser trabalhado na formação de um cantor ou instrumentista, para que, com qualidade e rigor técnico, possam fazer das Assembléias de Deus, além da maior Igreja Pentecostal, uma igreja onde se possa ouvir boas execuções musicais. 2.4 Daniel Berg e Gunnar Vingren. Suas contribuições para o cumprimento do direito da liberdade religiosa no Brasil Ao fundarem a Assembléia de Deus, mesmo não sendo brasileiros e sequer falarem o português, iniciaram uma das poucas igrejas de tamanho vultoso e caracteristicamente brasileira42, organizando um sério trabalho educacional e social com escolas de ensinos fundamental e médio, creches, asilos, universidades e milhares de templos edificados em todo o território nacional. Uma igreja como a Assembléia de Deus é tão brasileira que já se diz popularmente que cidade que se preze possui uma agência do Banco Bradesco, um cemitério, uma igreja Católica e um templo das Assembléias de Deus (CALDAS, 1996. Pg.76) 42 Brasileira não no sentido de brasileirismo ou brasilidade, mas no sentido geográfico. 48 Porém, há poucos documentos historiográficos e seus membros mais jovens não conhecem fatos históricos da origem dessa organização, e dessa forma, alguns poucos estudiosos pensam que a igreja teve sua origem americana, enquanto outros européia. O fato é que os missionários que se empenharam na construção de tão sólida instituição a fizeram sem preocupação histórica, para que o nome de Deus fosse louvado; perdendo-se dessa forma documentos que pudessem firmar ou desmentir informações e enganos43, [mesmo que sem intenção de mentir ou enganar], como podemos observar: Quando irromperam com sua experiência pentecostal, não puderam permanecer com seus irmãos e irmãs batistas e iniciaram sua própria Igreja. Mais tarde, filiaram seu movimento nacional à Assembléia de Deus 44 de origem norte-americana [sic]. (GUTIÉRREZ, 1996. Pg. 35) Dentre as igrejas pentecostais de origem estrangeira que atuam no Brasil, podem-se citar: As Assembléias de Deus (de origem Sueca), [sic] Congregação Cristã (de origem Italiana), [sic] e Igreja do Evangelho Quadrangular (de origem norte-americana). (CALDAS, 2001. Pg. 74) Os missionários Gunnar e Daniel não vieram ao Brasil enviados ou financiados pela Igreja Batista Norte-americana. Esse ponto é muito importante porque causa muitas dúvidas e interpretações equivocadas e requer explicações: a) Daniel Berg foi aos EUA em busca de oportunidade financeira e desenvolvimento profissional pessoal, cf. “Enviado por Deus” uma biografia editada em data desconhecida por uma gráfica de São Paulo (BERG), e segue relatando que saiu de Vargon, Suécia e chegou na costa americana em 25 de março de 1902 na cidade de Boston. Passados oito anos voltou para a Suécia onde teve contato com o Pentecostalismo. Retornando aos EUA, conheceu Gunnar Vingren numa Há hoje interesse em resgatar a história, buscando-se através da História Oral, informações e documentando-as. Um bom exemplo disso é o trabalho do pesquisador Pastor Isael de Araujo. 44 Esclarecimentos dessa informação no tópico 2.5 – “O Nome Assembléia de Deus” da página 53. 43 49 conferência, em Chicago e que também era Sueco, da cidade de Ostra Husby, Ostergötland; e então, tornaram-se amigos. b) Gunnar Vingren chegou aos EUA, em Kansas City no dia 19 de novembro de 1903. Começou um curso de quatro anos no seminário teológico sueco batista entrando em seguida na universidade batista de Kansas, sendo diplomado em maio de 1909. Embora adquirisse formação acadêmica em uma igreja histórica, Gunnar conheceu o pentecostalismo ainda nessa denominação. c) Ambos receberam orientação para virem ao Brasil através de procedimentos pentecostais e não de uma organização americana ou sueca; vieram com dinheiro doado por pessoas, (irmãos pentecostais movidos por uma emoção, um sentimento superior), que no meio pentecostal se entende como “uma ordem do próprio Deus”: Ali estávamos os dois sem nenhum recurso, sem pertencer a nenhuma denominação, pertencendo somente à denominação que está no céu.[...] Eu lhes contei como tinha vindo a este país sem pedir ajuda de ninguém, somente confiando no Senhor. (VINGREN, 1973. pg. 25 e pg. 57) d) Não foram hospedados na Primeira Igreja Batista do Pará como supostamente se acredita [ver citação da pg. 32], Berg trabalhava numa fundição, enquanto Vingren estudava língua portuguesa durante o dia e ensinava o que tinha aprendido ao companheiro à noite. Dessa forma com o trabalho de Berg se pagava as aulas, a alimentação e a hospedagem: O pastor batista também falava inglês. Nós então perguntamos a ele onde poderíamos morar mais barato, porque no hotel estávamos pagando 16 mil réis (cerca de 4 dólares por dia). Ele então nos convidou para morar em sua casa por 2 dólares diários. [...] Era um corredor bem escuro no porão, com o chão de cimento sem nenhuma janela. (VINGREN, 1973. pg. 28). 50 e) Ao anunciar os costumes pentecostais para os irmãos batistas que se reuniam no templo logo acima de suas acomodações, foram expulsos. Dezoito membros que não concordaram com o ocorrido, tomaram partido contra tal expulsão e dessa forma, também foram expulsos da Primeira Igreja Batista do Pará. Então: Não havíamos revelado essa preocupação a ninguém. Porém o irmão que se levantou e falou em nome dos demais, chegou perto de nós, e, como se houvesse lido nossos pensamentos, disse: compreendo vossa preocupação; tenho uma grande sala em casa; está à vossa disposição, para realizar cultos, e para morar, também há lugar para os irmãos. É claro que aceitamos o oferecimento, com muita alegria; naquela noite nós e muitos que desejavam o Espírito santo, reunimo-nos naquela casa, para realizar, oficialmente, o primeiro culto pentecostal no Brasil. [sic] [ver citações da pg. 31 e pg. 32]. (BERG, pg. 40 e pg. 41) A grande colaboração que os dois missionários deram ao Brasil é que espalharam bíblias em português, trazidas dos EUA, por todo o norte, centro oeste e nordeste e finalmente em todo território brasileiro. Esse fato foi de extrema relevância para a liberdade religiosa em nosso país. Antes desse fato histórico a maioria das bíblias que se tinham, estavam escritas em latim e em poder dos padres católicos que ensinavam aos brasileiros, ser proibido lerem-nas sem ter a patente de padre ou outra do sacerdócio católico. Assim posto, a liberdade religiosa era apenas teórica, porque as pessoas não tinham outra opção de escolha, visto que as bíblias em português nas denominações históricas eram em quantidades insuficientes; como se observa na narração do pioneiro Daniel Berg: 51 Surpreendido, o homem parou. Tirei a Bíblia do bolso e perguntei-lhe se conhecia aquele Livro. Depois de o haver examinado, reconheceu que era a Bíblia. Olhou em redor, receioso [sic] de que a rua tivesse ouvidos [sic]. ─ Sim, já vi uma Bíblia ─ disse ele ─ mas era em latim, mas não compreendi nada. Eu sei ─ respondi ─ que os católicos estão proibidos, pelos padres de ler a Bíblia. Os padres dizem que só as pessoas cultas podem ler a Bíblia. [...] Neste livro que lhe ofereço o sr. tem o privilégio de encontrar a verdade. Pode lê-lo sozinho, sem imposições do que pode e do que não pode ler. (BERG. Pg 80) Berg ficou conhecido no Pará como vendedor de livros [copoltor], ele não doava todas as bíblias. No início, durante alguns anos até a igreja tomar forma de organização filantrópica essa foi a maneira que encontrou para se sustentar: revendendo bíblias. Durante a exposição de sua “mercadoria” falava de seu conteúdo, às vezes doava algumas bíblias quando percebia que a pessoa se interessava, mas não tinha dinheiro para comprá-las. Relatou em suas memórias que certa vez deu uma a um homem que o recebeu num vilarejo e que estava muito triste porque acabara de perder um cachorro, morto por uma onça que ali passara. Esse homem não sabia ler, mas ficou com a bíblia para que quando passasse alguém alfabetizado por ali a lesse para ele e sua família. Há relatos de pessoas que aprenderam ler examinando a bíblia, qual metodologia aplicada no aprendizado não foi possível identificar, mas esse fato se repetia durante esse período inicial da Assembléia de Deus no Brasil: Mais uma remessa de Bíblias e Novos Testamentos havia chegado. Sei que eram muitas, e muitíssimos eram os pacotes, que haviam atravessado o Oceano Atlântico, guardando o conteúdo valioso. Além do valor espiritual, o valor cultural e educativo dos livros eram também elevados. Quando a pessoa que não sabe ler chega a ter fé em Jesus e na Sua Palavra, também deseja conhecer a Bíblia. Em alguns casos a pessoa faz os maiores esforços para aprender ler, a fim de dedicar-se a leitura do Livro Divino. (BERG. Pg. 99) 52 Com essa inusitada abertura, antigos tiradores de novenas, rezadores de pagar promessas, uma vez convertidos ao pentecostalismo, encontraram oportunidade para pregar a Bíblia. Para difundi-la no meio de gente simples. Aqui convém destacar que foram os pentecostais os primeiros a levar a Bíblia às camadas empobrecidas. Precederam de muito o 45 catolicismo [sic] e grande maioria das Igrejas Evangélicas. (ROLIM, 1987. Pg.25 e pg. 26 Dessa maneira, fomentaram a leitura da bíblia como hábito diário, o canto e uso de alguns instrumentos musicais. Aqueles que estivessem disponíveis, eram inseridos na liturgia do culto. Frida Strandberg, missionária que se tornaria esposa de Vingren relata em uma carta enviada à Suécia em 5 de julho de 1917 as seguintes observações descrevendo o já desenvolvido hábito musical durante os cultos: “Sobre a porta está escrito46: “Assembléia de Deus”. Ó, como cantavam! Uma irmã sentada bem na frente dirigia47 os hinos com sua voz de soprano, como uma flauta” (VINGREN, 1973. pg. 87). Nos cultos, em templos, ou vilarejos as pessoas tinham oportunidade para testemunhar algum fato ou simplesmente cantar um hino durante um período do culto que normalmente antecede o momento da pregação, como observamos: Dizer que os pentecostais se anteciparam aos católicos na distribuição de Bíblias em português é um fato inegável, mas seguramente leva o leitor a imaginar que a Igreja Católica queria distribuir Bíblias em português e só o fez em 1976 por alguma desatenção: “ I edição – setembro de 1976 – 66.000 exs”. (BÍBLIA, 1980). Isso não é verdade. Não interessava para a Igreja Católica que o povo brasileiro lesse ou tivesse acesso aos textos bíblicos porque há muitas contestações bíblicas para muitos procedimentos litúrgicos e administrativos católicos: A adoração e culto às imagens, [Miquéias 5:13; Romanos.1:23] a autonomia e autoridade de padres para absolver e condenar pessoas de seus pecados, [Atos 8:22]. Biblicamente é inconcebível imaginar que uma pessoa do mundo humano, natural, tivesse autonomia para criar o purgatório e pior ainda é o fato de uma patente eclesiástica como um papa, tivesse no lugar de Cristo, [Isaias 42:8; 48:11]. Estes são apenas alguns pontos básicos para não nos alongarmos nesse assunto que não é o teor de nossa pesquisa. 46 Strandberg descrevia a figura 4 da página 38. 47 Dirigir um hino significa liderar o canto sobrepondo a voz, definindo o tom e o ritmo, dessa forma todos os demais seguem a execução. 45 53 Onde há despertamento, também se canta bastante. Por isso também imprimiram o hinário, que ficou pronto no dia 6 de outubro [de 1917] e tinha 194 hinos e cânticos. [...] mas todos estão orando ferventemente a Deus 48 pelo culto. O pastor começa a cantar um hino todos se levantam e cantam juntos. Outro hino é cantado com muito fervor e alegria. O hino é dirigido por uma senhora ruiva, a irmã Frida Vingren, que está tocando órgão. Um jovem está ao lado, tocando violino e um senhor de idade toca trombone [1926]. (VINGREN, 1973. Pg. 83 e pg. 123) 2.5 – O nome “ASSEMBLÉIA DE DEUS” É provável que tenha sido nessa época [08/11/1914] que ocorreu o que foi relatado por Manuel Maria Rodrigues e, a partir daí, passaram a usar o nome “Assembléia de Deus”. “Estou perfeitamente lembrado da primeira vez que se tocou nesse assunto. Tínhamos saído de um culto na Vila Coroa. Estávamos na parada do bonde, na Bernal do Couto canto com a Santa Casa de Misericórdia. O irmão Vingren perguntou que nome deveria se dar à igreja, explicando que na América do Norte usavam os termos Assembléia de Deus ou Igreja Pentecostal. Todos os presentes concordaram em que deveria ser “Assembléia de Deus”” Segundo apurou o pesquisador da história das Assembléias de Deus, Eliézer Cohen, quando entrevistou vários pioneiros e crentes antigos no Norte do País para o projeto Pró-Memória, realizado pela CPAD na década de 80, o nome “Missão de Fé Apostólica” não teve boa aceitação. (ARAUJO, 2007. pg. 40 e pg. 41). Controlar o uso de uma marca ou um nome representativo não é tarefa fácil no Brasil ou em outra parte qualquer do mundo. Hoje há órgãos controladores, que fiscalizam o uso indevido de nomes, e impedem que se criem ambigüidades, até por desconhecimento, de nomes tradicionais ou marcas de projeção internacional. Não há informações que justifiquem afirmar que o 48 Quando a igreja está reunida orando, é prática na igreja pentecostal que quando se quer interromper a oração para a seqüência do culto, alguém canta, como um sinal. Conhecendo esse sinal, a membresia da igreja então, para a oração e canta também até o final do hino quando se dá a seqüência do culto. 54 movimento pentecostal brasileiro iniciado por Daniel Berg e Gunnar Vingren foi associado ao movimento também pentecostal norte-americano “Assemblies of God” associação de Igrejas Pentecostais fundada em 1914 [ver citações das pp. 48 e 49]. Vejamos a procedência do nome Norte Americano: Nos Estados Unidos, em 1909, foi formada uma associação livre de pastores pentecostais em Dothan (Alabama), chamada Church of God (Igreja de Deus), sem qualquer relação com a homônima de Cleveland. Seus quatro principais líderes foram: H.G. Rodgers, M. M. Pinson, D. J. Dubose e J.W. Ledbetter. [...] Nos Estados Unidos, em 1913, o grupo da Church of God (Igreja de Deus), fundada em Dothan, uniu-se à Church of God in Christ – white (Igreja de Deus em Cristo – dos brancos) com um cadastro de 352 pastores. Nos Estados Unidos, em 1914 foi fundada a 49 50 Assembly of God [sic] (Assembléia de Deus [sic]), na cidade de Hot Spring, Arkansas, sob a liderança dos principais pastores da Church of God in Christ – white: M. M. Pinson, A. P . Collins, H. A. Goss, D. C. O. Opperman e E. N. Bell. Com a fundação da Assembly of God, a Church of God in Christ deixou de existir. (ARAUJO, 2007. pg. 241 e pg. 242) Sempre houve cooperação e ajuda de igrejas pentecostais suecas e norte-americanas. Missionários foram enviados para o Brasil e trabalharam com os pioneiros Vingren e Berg, assim como, houve ajuda financeira, mas é clara a independência da igreja brasileira. Dessa forma quando a Assembléia de Deus foi registrada no Brasil, já havia nos EUA uma associação de igrejas com nome semelhante, a “Assemblies of God”, esta associação é uma união de igrejas pentecostais norte-americanas que se ajudam mutuamente. Essa organização envia missionários para o mundo todo, ─ não há noticias de missionários desta organização no Brasil até os anos No site da referida Igreja se lê: “Assemblies of God” . Quando se encontra o nome “Assembly of God” trata-se de filiais da Igreja Brasileira em solo Norte Americano. www.ag.org acessado em 30/11/2009. 50 A tradução acompanha o plural do primeiro nome em Inglês: “Assembléias de Deus”, porque se trata de uma associação de igrejas pentecostais. Ver recurso em espanhol no próprio site www.ag.org acessado em 30/11/2009. 49 55 anteriores a segunda guerra mundial ─ porém cada igreja associada mantém sua independência. Posto isso fica evidente que a igreja fundada pelos missionários no Brasil nada tem com esta organização: O ano de 1918 foi de suma importância para a continuação do movimento pentecostal no grande país. O trabalho já contava com alguns anos. Agora chegou o tempo de registrar a igreja oficialmente, para que fosse pessoa jurídica. Isto aconteceu no dia 11 de janeiro de 1918, quando a igreja foi registrada oficialmente com o nome de “Assembléia de Deus. (VINGREN, 1973. Pg. 91) Outro fator importante, ainda sobre dúvidas se a Igreja Brasileira tenha sido incorporada pela Igreja Norte-Americana como se supõe na primeira citação da página 48, são os esclarecimentos da pesquisa de Isael Araújo e na entrevista concedida pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério Belém e também presidente da CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil): 11 de janeiro de 1918 – A Missão da Fé Apostólica de Belém é registrada como Sociedade Evangélica Assembléia de Deus. Adota-se a expressão “Assembléia de Deus” quatro anos depois de pastores e igrejas pentecostais norte-americanas terem formado em 1914, o Concilio Geral das Assembléias de Deus. (ARAUJO, 2007. Pg. 244) É o seguinte: precisa se compreender que a Assembléia de Deus no Brasil, foi na verdade, iniciada por Gunnar Vingren e Daniel Berg. Com o crescimento da Igreja, com a expansão da Igreja, nós recebemos alguns missionários americanos. Daí houve, não intervenção, não existe nenhum compromisso, compromisso fechado, estatuído, com contrato ou coisa semelhante com a igreja americana. Nós temos comunhão eclesiástica, não só com eles, mas com os demais países [se referiu às outras Igrejas Assembléias de Deus] do mundo, pois bem. Com relação à Suécia, até quando o Brasil necessitou de missionários estrangeiros eles aqui estiveram. Os irmãos suecos, foram na verdade de uma boa compreensão, de um bom entendimento, quando eles notaram que o Brasil [se referiu à 56 Assembléia de Deus] tinha condição de andar com suas próprias pernas, eles então se retiraram e então passaram a investir em outros países. Deixaram então o trabalho das Assembléias de Deus nas mãos dos Nacionais [referiu-se aos pastores]. E a nossa comunhão não é só com a igreja americana, mas com a igreja sueca e com as demais Assembléias de Deus no Mundo, haja vista que participo do comitê mundial das Assembléias de Deus; agora no próximo mês de março [2010] vou para Amsterdã, pois faço parte da comissão que está organizando o próximo Congresso Mundial das Assembléias de Deus que irá acontecer na China na cidade de Xangai. Mas não existe um compromisso, se não eclesiástico, com as Assembléias de Deus do mundo inteiro. Com relação aos brasileiros que vão daqui para a América, a igreja americana, assim como no Brasil, eles têm sua Convenção Nacional, você acabou de dizer que a sede é em Springfield. Eu tenho estado sempre com aqueles irmãos, tenho boa amizade, boa comunhão com eles. Nós, como temos um bom número de brasileiros morando na América, e você sabe que há certa diferença na Assembléia de Deus americana e a Assembléia de Deus brasileira. Daí até a liturgia é um tanto diferente. Nós recebemos orientação, e procuramos segui-la, dos irmãos suecos e elas se adaptam, mas não é a mesma liturgia da América do Norte. Daí o porquê os nossos irmãos americanos compreendendo isso, eles então nos franquearam a nos organizar na América. Nós temos lá um distrito de língua portuguesa para os brasileiros, esse distrito foi criado juridicamente, e está vinculado à Convenção Americana. Por enquanto esse distrito é presidido pelo Joel Freire da Costa [filho de José Wellington da Costa], ele é o presidente do distrito de língua portuguesa para os brasileiros nos EUA, e faz parte da área administrativa da igreja americana, porque o distrito está vinculado à Convenção Americana. Eles, os brasileiros que estão lá vinculados, têm credencial da Convenção Americana, são obreiros da Convenção Americana. Eles têm a nossa credencial no Brasil, eles têm dupla cidadania pentecostal. (ENTREVISTADO 5, 2009) A divisão das tarefas entre os dois missionários no Brasil era a seguinte: Gunnar cuidava das igrejas e da parte burocrática, Daniel fazia o trabalho de campo visitando e evangelizando vilarejos e iniciando igrejas. Dentre as atividades de Gunnar estava a divulgação que fazia pessoalmente no exterior viajando aos EUA, quando falava sobre o Brasil e o desenvolvimento do movimento Pentecostal Brasileiro. Em cada cidade que visitava conquistava pessoas que voluntariamente enviavam ofertas para ajudar o sustento e a expansão da jovem igreja brasileira: 57 Durante estes meses nos Estados Unidos, fez longas viagens por este grande continente e realizou cultos e falava ardentemente sobre a obra de Deus no Brasil, e como Deus havia derramado do Seu Espírito Santo sobre os brasileiros. [...] deram uma oferta para o Brasil. A oferta foi de cinco dólares. “No dia seguinte enviei estes cinco dólares ao Brasil. Glória a Jesus. [...] Naturalmente todos se interessaram pelo trabalho missionário no Brasil e se levantou uma oferta, a fim de comprar um barco para a missão no rio Amazonas. (VINGREN, 1973. pgs. 65, 66 e 67) Sobre esse barco comprado com oferta americana entende-se ao comparar relatos das Memórias de Daniel Berg que não foi suficiente para pagá-lo completamente, mas apenas para a entrada. Tratava-se de um veleiro com camarote e cozinha, foi usado para a evangelização e transporte de irmãos amazônicos que tivessem alguma urgência ou para levar alguém ou algo à algum lugar: O proprietário facilitou o pagamento de modo que conseguimos comprálo. [...] Tratando-se de um barco a vela, desenvolvia grande velocidade, o que favorecia o atendimento ao trabalho. Um barco menor, atrelado ao grande, completava o equipamento [...]. Nos flancos e na proa estava escrito o nome do barco, que era o seguinte: “Boas Novas”. Esse tornou-se conhecido em toda a região; [...] O trabalho crescera tanto, nas ilhas, que nem mesmo com o barco veloz era possível atender a todos os chamados. Atendíamos com preferência aos enfermos. [...] Combinamos que se ergueria uma bandeira vermelha, na margem do rio, quando houvesse enfermos. [...] Caso não houvesse algo importante, estaria então a bandeira branca, como sinal. (BERG. pg. 133 e pg. 134) Mesmo com a importante ajuda americana não se pode afirmar que esta ajuda era dada por uma igreja ou organização estabelecida, mas eram doações de pessoas que queriam colaborar, assim como a ajuda recebida da Suécia, oferecida devido aos laços de antiga amizade entre Vingren, Berg e Pethrus. Vale dizer que a colaboração mais significativa veio da Suécia, especificamente da Igreja Filadélfia do pastor Pethrus. 58 Em 1914, Daniel Berg viajou para a Suécia, estabeleceu contato com Lewi Pethrus, seu amigo de infância e pastor da 7ª Igreja Batista de Estocolmo, que poucos anos antes se tornara pentecostal e se organizou como Igreja Filadélfia de Estocolmo em 1913. A partir deste ano, Daniel Berg e Gunnar Vingren passaram a constar nos registros dessa igreja como seus missionários. No ano seguinte, 1915, Gunnar Vingren também seguiu para a Suécia. (ARAUJO, 2007. Pg. 41). Esta igreja foi a que mais enviou missionários, e estes também implantaram Igrejas Assembléias de Deus em solo brasileiro. Todavia Lewi Petrhus, pastor da Igreja Filadélfia, em 1930 esteve em convenção no Brasil, convocado por Vingren; e nessa ocasião Petrhus decidiu que as igrejas iniciadas, por seus missionários, fossem entregues para os pastores brasileiros. Dessa forma os missionários estrangeiros terminaram sua missão neste país, ficando a Igreja Assembléia de Deus no Brasil sob responsabilidade dos brasileiros e cem por cento comandada por pastores nacionais: Sobre a viagem ao Brasil o pastor Lewi Petrhus escreveu na revista pentecostal da Suécia, “Evangelii Harold” o seguinte: [...] A pedido dos missionários no Brasil, a igreja resolveu enviar-me numa visita de pouco tempo ao campo missionário no Brasil, o maior e mais antigo do movimento pentecostal na Suécia. [...] Haviam chegado à conclusão que os trabalhos nos Estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, onde já havia cerca de mil membros em cento e sessenta igrejas, deveria ser entregue inteiramente aos obreiros nacionais. Também foi mencionado e dito pelos missionários que todos os templos e locais de reuniões que pertenciam à missão deveriam ser entregues, sem nenhum custo, para as respectivas igrejas locais brasileiras. (VINGREN, 1973. pga 144 e pág. 155) Então, desde 1930, a expansão e a administração da Igreja Assembléia de Deus em todo o território nacional e também no exterior foi resultado do trabalho de brasileiros seguindo as práticas e orientações deixadas por seus fundadores. 59 2.6 A liturgia Assembleiana e a Música A Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, cada vez mais, assume o papel do Estado no que tange à inclusão social, e à difusão das artes entre as classes sociais mais desfavorecidas. Tem filiais por todo o Brasil e, por sua vez, essas filiais, adotam costume litúrgico orientado pela sede que inclui a prática do canto acompanhado de Banda Musical, ou Orquestra, ou de alguns instrumentos da banda ou orquestra. Cada culto é dividido em duas partes: a do louvor e a da “palavra51”, com pequenas variações apenas nas filiais menos desenvolvidas que o dividem em três partes: louvor, “oportunidades”52 e palavra. O louvor ocupa metade, às vezes até dois terços do tempo total do culto e nunca menos que a metade do tempo cúltico. Usa-se, nessa igreja, a Bíblia e a Harpa Cristã53 em todas as reuniões litúrgicas e administrativas, todos os membros têm uma Bíblia e um hinário; quando não se tem condição financeira para comprá-los alguém ou a própria igreja lhes doa um exemplar de cada: da Bíblia e da Harpa Cristã. Esses membros são incentivados a usá-los em suas casas ou trabalho e quando vão a alguma reunião, os levam de suas casas. Ensina-se, que as músicas catalogadas da Harpa Cristã “Palavra” na linguagem pentecostal significa o momento da pregação, da reflexão e ensino de um texto bíblico. 52 “Oportunidade” é a abertura que se faz no tempo cúltico para a membresia em geral fazer uma leitura bíblica e um pequeno sermão, contar uma benção alcançada, testemunhar uma dádiva qualquer, cantar um hino. Quando se canta nessas “oportunidades” se tem autonomia para chamar outras pessoas presentes para subir ao púlpito e também cantar. São nessas “oportunidades” que se descobrem e desenvolvem aptidões e talentos: tanto para pregadores como para o departamento musical. [nessas oportunidades quando se canta, se cantam hinos avulsos, outros do meio pentecostal e gospel, portanto fora do hinário Harpa Cristã.] 53 Harpa Cristã é o nome do hinário das Assembléias de Deus invariavelmente, independente de qual ministério e possui 640 músicas. No meio pentecostal é conhecido como Harpa. 51 60 são inspiradas por Deus54, assim os hinos são tão reverenciados quanto a leitura bíblica. Dessa forma se promove o canto e o contato de toda a membresia ou visitantes com a música: A igreja protestante é uma igreja que canta. As reformas protestantes ocorridas na Igreja Católica no século XVI alteraram as práticas de cultos possibilitando aos cristãos protestantes cantar de forma participativa nos seus cultos. Estas mudanças inseriram o canto congregacional nas liturgias musicais protestantes e os cristãos puderam desde então cantar os corais luteranos e os salmos calvinistas em suas próprias línguas. Descobriu-se então o valor didático das práticas musicais. A música poderia ser realizada de forma solene para compor certos momentos do culto. Esta arte poderia também estar a serviço da interiorização das teologias e doutrinas, já que textos contendo mensagens específicas eram cantados e repetidos por todos. (FREDDI JÚNIOR. 2002, p. 13.). 2.6.1 Contribuições Assembleianas para a cultura musical brasileira 2.6.1.1 O Hinário e a Hinódia O Hinário Assembleiano tem uma edição apenas com a poesia, sem nenhuma notação musical para que a congregação tenha mais facilidade na leitura, figura 15. Essa edição sem música foi elaborada para que cantores não leitores de notação musical pudessem acompanhar o texto e também participar do canto congregacional, enquanto a Banda ou a Orquestra tocam. Esse foi o procedimento desde os primórdios quando ainda não se tinha estrutura técnico-musical e os cantos eram acompanhados por um ou dois instrumentos populares, (cujos [...] 524 cânticos congregacionais escritos por homens inspirados por Deus. Agora, surge a oportunidade de ampliarmos a Harpa Cristã com outros hinos inspirados. (Ante-capa do hinário Harpa Cristã) 54 61 executores também não liam e nem conheciam tal notação), como: violão, triângulo, pandeiro ou sanfona: Figura 15. Digitalizado a partir do Hinário Harpa,Cristã sem música. (HARPA, 1992) Tal edição reforça o pensamento equivocado, principalmente nas filiais da Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, que para cantar, não é necessário ler partitura; porque o membro da igreja vê dois modelos do mesmo hinário: um com letra e música disposto a quatro vozes para coral, figura 16, geralmente usado por quem toca instrumento de sopro, piano ou é maestro, chamado de “Harpa com Música”) e o outro apenas com o texto poético, [figura 15, inclusive Pastores e Líderes não ligados ao departamento musical, usam essa edição no púlpito. A esse, chamam apenas de “Harpa”]. 62 Na edição sem música quase não se tem informações sobre autor e compositor. Trata-se na figura 15, de um hino estrófico cujo estribilho55 está em negrito. Nessa edição do hinário, quando só há estrofes56 a música é impressa normalmente. Os números de um a quatro escritos no começo dos versos indicam o inicio das estrofes, o número “254” antes do título da música indica sua disposição no hinário. Há no final da última estrofe da figura 15, três letras que identificam o autor ou tradutor, “J.A.S”, trata-se de Janh Sörheim [para afirmarmos isso, foi necessário pesquisar o hinário com música]. Esta maneira de identificar o compositor, o autor ou o tradutor é atípica e no mínimo uma explicação se faz necessário num prefácio como há nos hinários das Igrejas Históricas como: Novo Cântico57, Salmos e Hinos, Cantor Cristão58, Hinário para o Culto Cristão. Dessa forma, na Harpa Cristã, não fica claro na impressão dessas três letras, quase despercebidas no final dos textos, que se trata de autor, tradutor ou compositor. Na figura 16, [cópia de edição com música de 1981 com 524 hinos] vê-se a mesma música, nela fica claro a Forma59 Binária Redonda60, A-B. Há também ao lado do titulo o número “254”, da mesma forma indicando sua disposição no hinário, porém o nome do autor e compositor está disposto como é mais comum nas partituras impressas: compositor à direita e autor à esquerda, “ESTRIBILHO, frase ou período melódico que se repete regularmente; usa-se em particular no canto popular, profano e sacro.” (SINZIG, 1959. Pg. 249) 56 “ESTROFE, grupo de versos, estância; no canto, geralmente, é sempre igual, com mesmo número de linhas e sílabas.” (SINZIG, 1959. Pg. 249) 57 “Novo Cântico” Hinário Oficial das Igrejas Presbiterianas do Brasil, juntamente com o Hinário Salmos e Hinos. 58 “Cantor Cristão Musical” Hinário Oficial das Igrejas Batistas do Brasil, juntamente com o Hinário para o Culto Cristão (H.C.C.). 59 FORMA: “Estrutura ou plano musical de uma composição. Principio de organização de uma obra em seus elementos musicais, como tonalidade, tema, repetições, variações. Designa, de modo específico, a organização dos elementos da construção de SONATAS ou RONDÓS, por exemplo.” (DOURADO, 2004. Pg. 137) 60 BINÁRIA REDONDA: “Forma de origem medieval, compõe-se de duas seções seguidas da repetição da primeira”. (DOURADO, 2004. Pg. 138) 55 63 logo abaixo do título em negrito, sendo assim, nessa edição, desnecessário explicações: Figura 16. Digitalizado a partir do Hinário Harpa Cristã com Música. (HARPA, 1981) Há grande zelo nas editoras dos hinários das Igrejas Históricas no tocante aos compositores e autores da hinódia, observa-se na figura 17, cópia do hinário Presbiteriano, Novo Cântico, a clareza de quem é o autor, [à esquerda], e o compositor, [à direita], e ainda no rodapé uma breve nota histórica: 64 Figura 17. Digitalizado a partir do Hinário Presbiteriano Novo Cântico. (NOVO, 2007. Pg. 11) No Hinário para o Culto Cristão há uma diagramação diferente do comum em partituras impressas, assim como é diferente a diagramação atual da Harpa Cristã Ampliada, porém no hinário batista há uma exaustiva explicação, (figura 18), ─ a exemplo do hinário batista anterior, o Cantor Cristão (figura 19) ─ mesmo sendo claro a indicação dos autores [abaixo à esquerda] e compositores [abaixo a esquerda], (figura 20). Sobre as notas históricas e biografias relacionadas à música, autor e compositor foi editado um livro exclusivo com tais informações e seguem a mesma ordem numérica do hinário, (figura 21, exemplo do hino 35). (MULHOLLAND, 2001). 65 Figura 18. Digitalizado a partir do Hinário Batista para o Culto Cristão. (HINÁRIO, 1997. Pg. xvi) 66 Figura 19. Digitalizado a partir do Hinário Batista Cantor Cristão. (CANTOR, 1995) Figura 20. Digitalizado a partir do Hinário Batista Cantor Cristão. (HINÁRIO, 1997) 67 Figura 21. Digitalizado a partir do livro Batista com história de seus hinos, compositores e autores. (MULHOLLAND, 2001. Pg. 43) Não se percebe na CPAD, editora da Harpa Cristã, preocupação com a compreensão do usuário, nem com poetas e músicos que construíram uma identidade assembleiana histórica relevante; figura 22 essa desatenção com os músicos e poetas é preocupante, uma vez que a música e o louvor sempre ocupa, no mínimo, metade do tempo cúltico. Transparece ─ pelo fato do músico ou líder musical participar ativamente na metade do tempo cúltico e ter pequena liderança ─ que na prática da dominação, da imposição de uma liderança mais forte [a do pastor] estrategicamente, não se reconhece os artistas, nem o trabalho artístico, como um trabalho especializado, não valorizando adequadamente suas presenças e seus trabalhos, como se qualquer pessoa pudesse fazê-lo com eficácia. 68 Figura 22. Digitalizado a partir do Hinário Harpa Cristã. (HARPA, 1996) Não há problema identificar um autor ou compositor ou tradutor usando letras abreviadas logo abaixo do título, como na figura 22 (cópia da edição da Harpa Cristã Ampliada com 640 músicas), mas se torna um problema quando a informação é incompleta. Algumas vezes a abreviação do nome do autor está à esquerda da abreviação do nome do compositor entre parênteses, ambas informações estão abaixo do título no lugar do subtítulo. O problema em questão, não é a atipicidade da edição da Harpa Cristã Ampliada, mas a dúvida que gera e a dificuldade para se entender tais informações, figura 23: