UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
ROBSON SILVA LIMA
O MAESTRO E SUA ATUAÇÃO ARTÍSTICA NA IGREJA
EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS – SEDE DO
MINISTÉRIO DO BELÉM – SÃO PAULO–SP (1960-2010)
São Paulo
2010
II
ROBSON SILVA LIMA
O MAESTRO E SUA ATUAÇÃO ARTÍSTICA NA IGREJA
EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS – SEDE DO MINISTÉRIO DO
BELÉM – SÃO PAULO–SP (1960-2010)
Dissertação apresentada à Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito
parcial para a obtenção do Titulo de Mestre
em Educação, Arte e História da Cultura.
Orientador: Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier.
São Paulo
2010
III
ROBSON SILVA LIMA
O MAESTRO E SUA ATUAÇÃO ARTÍSTICA NA IGREJA
EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS – SEDE DO MINISTÉRIO DO
BELÉM – SÃO PAULO–SP (1960-2010)
Dissertação apresentada à Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito
parcial para a obtenção do Titulo de Mestre
em Educação, Arte e História da Cultura.
Aprovada em ___ de __________de 2010.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Arnaldo Daraya Contier.
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Prof. Dr. Marcel Mendes.
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Prof. Dr. Celso Antonio Mojola.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
IV
L732m
Lima, Robson Silva
O maestro e sua atuação artística na igreja evangélica
Assembléia de Deus sede do ministério do Belém: São Paulo SP (1960/2010) – Robson Silva Lima. São Paulo, 2010
238 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2010.
Referências bibliográficas: f. 232-236.
1. Petencostalismo. 2. Assembléia de Deus. 3. Ensino musical.
4. Música evangélica. 5. Harpa cristã. 6.Jahn Sörheim.
7. Orquestra do Belém. 8. Banda do Belém. 9. Música Sacra.
10. Teologia. I. Título.
CDD 781.70981
V
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os
departamentos musicais de todas
as Igrejas Evangélicas Assembléias
de Deus. Em um deles aprendi amar
a música e o Trombone.
VI
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me permitiu tão estimável feito.
A todos meus professores, que aprendi amar desde menino.
A meu orientador, em especial, pelas sóbrias e imprescindíveis
observações.
A meu amigo, Maestro Nehemias Soares de Castro pela ajuda com as
melodias inventadas.
Especialmente ao Maestro João Quirante Blanques. Sem sua ajuda
não teríamos acesso às informações tão importantes e necessárias, para
compreensão dos procedimentos do Departamento Musical da Assembléia de Deus
– Sede do Ministério do Belém, que tão bem registradas e documentadas com
riqueza de detalhes nos serviram de sul durante as horas agradabilíssimas de
aprendizado que pude ter em sua casa.
Aos entrevistados: Pastor José Wellington Bezerra da Costa, Maestro
Wainner Fernandes da Silva, Maestro Noel Vitório de Freitas, Maestro Gilberto
Massambani, Maestro Samuel Apulcro, Maestro Sueldo Francisco, Maestro Marcos
Motta, Maestro Roberto Farias e Professor Maurício Nascimento Silva, pelas horas
doadas, paciência, franqueza e presteza.
A todo o departamento musical da Igreja Evangélica Assembléia de
Deus - Sede do Ministério do Belém pela receptividade carinhosa e calorosa.
À professora de língua portuguesa, alemão e suas literaturas, Maria
José Dias Bönninger que revisou este trabalho. E a seu esposo, Jürgen Bönninger
pela tradução do resumo para o Inglês.
A meus familiares, pela compreensão de tão presente ausência
durante a pesquisa.
VII
“Então, se não nascemos artista, mas artista queremos ser, um endereço de
passagem no mundo atual deve ser a universidade. Nesse ambiente, podem se
aprender os conceitos da atividade criativa, pode-se adquirir experiência estética e,
ainda, se vivenciar os processos inventivos que a cultura contemporânea nos
apresenta.” Marcos Rizzoli.
“Cultura é a manifestação artística de nossa capacidade criativa e inteligente, que
herdamos de Deus”. Roberto Minczuk.
“O trabalho do ‘Maestro de Igreja’ é importante para o progresso e o bem estar da
Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém. Nada nem ninguém deve
dificultá-lo.” Robson Lima.
VIII
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo geral pontuar dados históricos do
Pentecostalismo Brasileiro e da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do
Ministério do Belém em São Paulo, seus procedimentos educacionais referente à
música e a arte, existentes no Ministério do Belém; um dos maiores e mais antigos
ministérios das Assembléias de Deus no Brasil, criada por pentecostais suecos. A
desmistificação de que as Igrejas Assembléias de Deus são fruto de missão batista
estadunidense, ou outra missão qualquer, ― este mito existe no Brasil, porque há na
América do norte uma associação de igrejas com o mesmo nome, Assemblies of
God. O fato de as Igrejas Assembléias de Deus no Brasil não escreverem suas
histórias e serem uma grande instituição religiosa, gera interesse em se escrever
devaneios, incorporando as Assembléias de Deus do Brasil como filial ou sucursal
que declararam independência depois de desenvolvidas ― essa é, uma das
hipóteses estudadas.
As Assembléias de Deus no Brasil tornaram-se também, uma junção
de instituições, que por pequenas divergências políticas internas separaram-se
administrativamente, mas que mesmo assim, estão unidas por convenção. O objeto
de nosso estudo é a Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do
Belém, com aproximadamente 1.900 congregações no Brasil, (que neste trabalho
para melhor compreensão trataremos como ‘filiais’). Esta igreja e suas filiais
pertencem à convenção denominada CGADB (Convenção Geral das Assembléias
de Deus no Brasil). Os Maestros que trabalham nesta igreja têm papeis diferentes
dos Maestros seculares e até poderiam, pela diferença do preparo exigido de
IX
ambos, ter outro título mais adequado, menos Maestro. Na ampla investigação do
trabalho desses Maestros, analisamos o hinário Assembleiano “Harpa Cristã” cujas
informações estão explicitadas no capítulo 2.
Palavras-chave: Pentecostalismo; Assembléia de Deus; Maestro; Ensino; Hino;
Música; Educação Musical; Maestro de Igreja; Harpa Cristã
X
ABSTRACT
The main reason of this work is to show historical dates of the
Whituntides of Brazil and the evangelical church "Assembléia de Deus" with the
headquarter "Ministério do Belém" and his education proceedings relating to music
and arts. The "Ministério do Belém", one of the majors and eldest headquarters of
"Assembléias de Deus", is a Brazilian institution founded by the Swiss-Whitsuntides.
The mith, that the churches "Assembléia de Deus" are fruits of a state-batism, or any
other mission, exist in Brazil, because there is at North-America an association of
churchs with the same name "Assemblies of God". The reason why the churches
"Assembléia de Deus" don`t write their history is, because they are a big religion
institution, always creating fantastical stories, incorporating "Assembléia de Deus" of
Brazil like a branch, which announced her independence after their development.
(This is one of the possibilities to be studied).
All "Assembléias de Deus" in Brazil are an united institution, but
because of little political internal divergences, they have separated administration,
but they are always united in the conventions. The reason of our study or work is the
evangelical church "Assembléia de Deus" of the "Ministério do Belém", with about
1.900 congregations in Brazil. (For better understanding of the study, we are treating
them like branchs). That church and their branchs belong to the convention with the
name CGADB (General-Convention of Assembléia de Deus at Brazil). The masters,
which ar working at that churches have different papers or assignments than the
secular masters, due to the difference of preparing or training of them. They should
use another more appropriated title. While the during investigation of this master-
XI
case, we came across with anthem of the Assembléia "Harpa Cristã". (This
information is explained in Chapter 2).
Key-words: Whitsuntides; Assemblies of God; Master; Teaching; Anthem; Music;
Musical Education; Master of Church; 'Harpa Cristã'
XII
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................................................02
1
Justificativa na escolha do tema............................................................02
2
Objetivos................................................................................................04
2.1
Geral......................................................................................................04
2.2
Secundários...........................................................................................04
2.2.1
Profissionalismo de membros músicos.................................................04
2.2.2
História da Igreja e desenvolvimento da música na liturgia..................04
2.2.3
Procedimentos litúrgicos e a Arte..........................................................05
2.2.4
Corpo Docente......................................................................................05
2.2.5
Performance..........................................................................................05
2.2.6
O Corpo Musical e o Evangelismo........................................................05
3
Critérios metodológicos.........................................................................06
4
Produção historiográfica........................................................................07
5
Corpus...................................................................................................07
Capítulo 1 Origem da Igreja Pentecostal no Brasil.............................................09
1.1
Pensamento filosófico do Pentecostalismo...........................................09
1.2
De onde veio o nome Pentecostal e o que significa.............................12
1.3
Perfil das Igrejas Pentecostais..............................................................14
1.3.1
Origem do Pentecostalismo..................................................................17
1.3.2
O Evangelismo......................................................................................20
1.3.3
Dons Espirituais: algumas observações................................................23
1.3.4
Solidariedade, unidade..........................................................................27
Capítulo 2
Igreja Assembléia de Deus: expressão maior do Pentecostalismo
Brasileiro..............................................................................................28
XIII
2.1
Os Primórdios: A Primeira Onda..........................................................30
2.2
Organização Administrativa..................................................................34
2.3
Trajeto da Assembléia de Deus - Sede do Ministério do Belém .........38
2.4
Daniel Berg, Gunnar Vingren e suas contribuições para o cumprimento
do direito da liberdade religiosa no Brasil.............................................47
2.5
O nome “ASSEMBLÉIA DE DEUS”......................................................53
2.6
A liturgia Assembleiana e a música......................................................59
2.6.1
Contribuições Assembleianas para a cultura musical brasileira..........60
2.6.1.1
O Hinário e a Hinódia...........................................................................60
2.6.1.2
A História..............................................................................................73
2.6.1.2.1
A Harpa Cristã com Música, história à parte........................................78
2.6.1. 3
A Paisagem Brasileira na hinódia.........................................................86
Capítulo 3
O Departamento de Música da Igreja Assembléia de Deus – Sede
do Ministério do Belém .....................................................................97
3.1
Maestros na Igreja Evangélica Assembléia de Deus - Sede do
Ministério do Belém............................................................................107
3.1.1
O Ensino da música...........................................................................115
3.1.2
O “Harpão Azul”..................................................................................119
3.1.2.1
Principais Características...................................................................122
3.1.2.2
Um Problema, uma Solução!..............................................................137
3.1.2.3
Melodias Inventadas..........................................................................144
3.1.3
A Banda do Belém como Ferramenta Evangelística.........................173
3.1.3.1
A Banda do Belém e o Batismo.........................................................186
3.1.4
A Associação Musical Jahn Sörheim................................................189
3.1.4.1
O Estatuto da Associação Musical Jahn Sörheim.............................191
3.1.4.2
Audições da Escola de Música da Associação e a Orquestra Sinfônica
De Alunos..........................................................................................195
XIV
3.1.4.3
A Prática do Ensino Musical..........................................................197
3.1.4.3.1
Estrutura para o Ensino Musical....................................................199
3.1.4.3.2
Professores ..................................................................................204
3.1.5
A Orquestra Filarmônica Evangélica Jahn Sörheim e o Coro
Principal.........................................................................................211
3.1.6
Testemunho de músicos membros da Igreja Evangélica Assembléia
de Deus - Sede do Ministério do Belém que tornaram-se músicos
profissionais...................................................................................222
Conclusão...............................................................................................................230
Bibliografia..............................................................................................................232
Anexo I Estatuto Associação Musical Jahn Shöreim.............................................237
Anexo II Cópias de Grades Originais do ‘Harpão Azul’..........................................238
XV
ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS
Figura 001 – Batismo em rios.....................................................................................11
Figura 002 – Batismo em batistério construído dentro do templo..............................11
Figura 003 – Evangelistas pentecostais em uma prisão............................................21
Figura 004 – Primeiro templo das Assembléias de Deus no Brasil............................38
Figura 005 – Casa onde se faziam cultos antes da construção do primeiro templo..39
Figura 006 – Segundo templo das Assembléias de Deus no Brasil..........................40
Figura 007 – Templo da Assembléia de Deus em Belém – PA, em 1997.................41
Figura 008 – Foto da Banda do Belém em 1937.......................................................42
Figura 009 – Foto da Banda do Belém em 1950.......................................................42
Figura 010 – Foto da Banda do Belém em 1976.......................................................43
Figura 011 – Foto de culto no terreno onde foi construído Templo atual da Igreja
Evangélica Assembléia de Deus – Sede do ministério do Belém.......44
Figura 012 – Foto do Templo atual da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede
Do Ministério do Belém.........................................................................44
Figura 013 – Imagem do protótipo do novo Templo, ainda em construção...............45
Figura 014 – Réplica da Figura 008 publicada com legenda equivocada..................46
Figura 015 – Hino 254 digitalizado do Hinário Harpa Cristã sem música..................61
Figura 016 – Hino 254 digitalizado do Hinário Harpa Cristã com música..................63
Figura 017 – Hino 7 digitalizado do Hinário Novo Cântico.........................................64
Figura 018 – Instruções de uso digitalizada do Hinário para o Culto Cristão............65
Figura 019 – Instruções de uso digitalizada do Hinário Cantor Cristão.....................66
Figura 020 – Hino 18 digitalizado do Hinário para o Culto Cristão............................66
Figura 021 – Nota Histórica do Hino 35 do Hinário para o Culto Cristão...................67
XVI
Figura 022 – Hino 5 digitalizado do Hinário Harpa Cristã..........................................68
Figura 023 – Hino 456 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................69
Figura 024 – Índice de autores digitalizado do Hinário Harpa Cristã.........................70
Figura 025 – Hino 629 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................71
Figura 026 – Hino 586 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................72
Figura 027 – Hino 271 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................73
Figura 028 – Corinho “Se Começarmos Orar”, transcrição nossa.............................75
Figura 029 – Hino 271 digitalizado do Hinário Harpa Cristã com música, em Eb......80
Figura 030 – Hino 271 digitalizado do Hinário Harpa Cristã Cifrada..........................81
Figura 031 – Desenho de cifra digitalizada do encarte da Harpa Cristã Cifrada.......82
Figura 032 – Desenho de Campo Harmônico do encarte da Harpa Cristã Cifrada...83
Figura 033 – Desenho explicativo de Escalas e Funções Harmônicas.....................84
Figura 034 – Hino 149 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................87
Figura 035 – Hino 467 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................88
Figura 036 – Hino 561 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................88
Figura 037 – Hino 582 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................89
Figura 038 – Hino 311 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................91
Figura 039 – Hino 190 digitalizado do Hinário Novo Cântico.....................................91
Figura 040 – Hino 283 digitalizado do Hinário para o Culto Cristão..........................92
Figura 041 – Hino 122 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................93
Figura 042 – Hino 510 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................94
Figura 043 – Tabela quantitativa de idades dos efetivos musicais............................99
Figura 044 – Tabela quantitativa das profissões dos efetivos musicais....................99
Figura 045 – Tabela quantitativa [bairros/deslocamento] dos efetivos musicais.... 101
Figura 046 – Tabela indicativa das atividades dos efetivos musicais......................102
XVII
Figura 047 – Imagem de informações sobre Igrejas Filiais [01]...............................103
Figura 048 – Imagem de informações sobre Igrejas Filiais [02]...............................104
Figura 049 – Imagem de informações sobre Igrejas Filiais [03]...............................104
Figura 050 – Imagem de informações sobre Igrejas Filiais [04]...............................105
Figura 051 – Foto de exemplar das primeiras coleções de arranjos para Banda....123
Figura 051A – Foto de exemplar atual das coleções de arranjos para Banda........124
Figura 052 – Hino 333 digitalizado da primeira coleção de arranjos para Banda....124
Figura 053 – Informativos digitalizados das coleções de arranjo para a Banda......125
Figura 054 – Hino 200 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................127
Figura 055A – Grade de arranjo do Maestro Quirante, transcrição nossa...............128
Figura 055B – Continuação da figura 055A.............................................................129
Figura 056A – Grade de arranjo do Maestro Quirante, transcrição nossa...............131
Figura 056B – Continuação da figura 056A.............................................................132
Figura 057A – Grade de arranjo do Maestro Quirante, transcrição nossa...............134
Figura 057B – Continuação da figura 057A.............................................................135
Figura 058 – Figura explicativa sobre o Círculo das Quintas [01]............................139
Figura 059 – Figura explicativa sobre o Círculo das Quintas [02]............................140
Figura 060 – Figura explicativa sobre o Círculo das Quintas [03]............................140
Figura 061 – Hino 128 e ‘Melodia Inventada’ digitalizada da coleção atual de arranjos
para a Banda......................................................................................145
Figura 062 – Hino 265 e ‘Melodia Inventada’ digitalizada da coleção atual de arranjos
para a Banda......................................................................................146
Figura 063 – Hino 198A da coleção atual de arranjos para a Banda.......................146
Figura 064 – Hino 198 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................147
Figura 065 – Hino 40 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.........149
XVIII
Figura 066 – Hino 40 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................150
Figura 067 – Hino 70 [01] melodia inventada, transcrição e harmonização nossa..151
Figura 068 – Hino 70 [02] melodia inventada, transcrição e harmonização nossa..152
Figura 069 – Hino 70 digitalizado do Hinário Harpa Cristã......................................153
Figura 070 – Hino 104 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa...... 154
Figura 071 – Hino 104 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................155
Figura 072 – Hino 128 melodia inventada, harmonização nossa............................156
Figura 073 – Hino 128 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................157
Figura 074 – Hino 265 melodia inventada, harmonização nossa............................158
Figura 075 – Hino 265 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................159
Figura 076 – Hino 302 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......160
Figura 077 – Hino 302 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................161
Figura 078 – Hino 376 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......162
Figura 079 – Hino 376 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................163
Figura 080 – Hino 440 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......164
Figura 081 – Hino 440 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................165
Figura 082 – Hino 469 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......166
Figura 083 – Hino 469 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................167
Figura 084 – Hino 476 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......168
Figura 085 – Hino 476 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................169
Figura 086 – Hino 518 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......170
Figura 087 – Hino 518 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................171
Figura 088 – Hino 523 melodia inventada, transcrição e harmonização nossa.......172
Figura 089 – Hino 523 digitalizado do Hinário Harpa Cristã....................................173
Figura 090 – Foto da Banda do Belém desfilando por Itaquera em 1965 [01].........175
XIX
Figura 091 – Foto da Banda do Belém desfilando por Itaquera em 1965 [02].........176
Figura 092 – Foto da Banda do Belém desfilando por Itaquera em 1965 [03].........177
Figura 093 – Foto da Banda do Belém em Culto ao Ar Livre em 1965....................177
Figura 094 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1968 por Itaquera [01].........178
Figura 095 – Foto da Banda do Belém em Culto ao Ar Livre em 1968....................178
Figura 096 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1971 por Itaquera [01].........179
Figura 097 – Foto da Banda do Belém em Culto ao Ar Livre em 1971....................179
Figura 098 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1972 pelo centro de Poços de
Caldas ................................................................................................180
Figura 099 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1972 pelos bairros de Poços
de Caldas ..........................................................................................180
Figura 100 – Foto da Banda do Belém desfilando em 1975 pelo centro de Poços de
Caldas ...............................................................................................181
Figura 101 – Foto da Banda do Belém na inauguração do Templo Filial em Poços de
Caldas................................................................................................182
Figura 102 – Fotos dos efetivos Banda em evento evangelístico............................183
Figura 103 – Fotos dos efetivos da Banda se preparando para evangelização .....184
Figura 104 – Fotos de maletas onde se transporta partituras dos naipes...............184
Figura 105 – Fotos de maleta onde se transporta estantes.....................................184
Figura 106 – Fotos do autódromo de Interlagos e dos efetivos da Banda...............185
Figura 107 – Fotos dos efetivos da Banda se preparando para o evento...............185
Figura 108 – Fotos dos efetivos da Banda se apresentando...................................185
Figura 109 – Fotos de candidatos aguardando o Batismo nas Águas [01]..............187
Figura 110 – Fotos de tanque batismal no Templo Sede........................................188
Figura 111 – Fotos de candidatos aguardando o Batismo nas Águas [02]..............188
XX
Figura 112 – Foto da Banda tocando em Batismo...................................................188
Figura 113 – Foto de tabela quantitativa de batizandos..........................................189
Figura 114 – Fotos de alunos se preparando para audição.....................................197
Figura 115 – Fotos de sala de aulas de música construídas no Templo Sede........200
Figura 116 – Fotos de sala de aula improvisada no Templo Sede.[01]...................200
Figura 117 – Foto de sala de aula improvisada no Templo Sede [02].....................201
Figura 118 – Fotos de sala de aula improvisada no Templo sede [03]....................201
Figura 119 – Fotos de estrutura escolar [01]............................................................203
Figura 120 – Foto de estrutura escolar [02].............................................................203
Figura 121 – Fotos de sala de aula, (infantil), compartilhada [01]...........................206
Figura 122 – Foto de sala de aula, (infantil), compartilhada [02].............................207
Figura 123 – Fotos de sala de aula, (adultos), compartilhada [01]..........................208
Figura 124 – Fotos de sala de aula, (adultos), compartilhada [02]..........................208
Figura 125 – Foto de reunião do corpo docente da Associação Musical.................209
Figura 126 – Fotos da Orquestra Filarmônica em evento evangelístico..................211
Figura 127 – Fotos de arquivo de partituras da Orquestra Janh Sörheim...............212
Figura 128 – Foto da sala da Orquestra...................................................................213
Figura 129 – Fotos de maleta onde se transporta partituras da Orquestra.............214
Figura 130 – Fotos de pasta de partituras da Orquestra por estante......................214
Figura 131 – Foto de maleta onde se transporta estantes da Orquestra.................214
Figura 132 – Partes de trombone, da peça “Deus Conosco”, digitalizadas.............216
Figura 133 – Parte de trombone, da peça “Deus Conosco”, digitalizada.................218
Figura 134 – Fotos de ensaio da Orquestra Janh Sörheim [01]..............................219
Figura 135 – Fotos de ensaio da Orquestra Janh Sörheim [02]..............................219
Figura 136 – Planilha de controle de presença dos efetivos, digitalizada................219
XXI
Figura 137 – Fotos de ensaio de naipes da Orquestra Janh Sörheim.....................221
Figura 138 – Fotos da apresentação do ‘Glória’ de Antonio Vivaldi........................221
XXII
Ouça entrevista com áudio original do Missionário sueco
DANIEL BERG um dos fundadores das ASSEMBLÉIAS DE
DEUS, onde faz um breve relato de como foi o início de
seu trabalho no Brasil em 1911.
(gravação de 1958 na faixa 04 do CD anexo)
2
INTRODUÇÃO
1 JUSTIFICATIVA NA ESCOLHA DO TEMA
A
música
é
um
instrumento
importante
na
construção
do
enriquecimento cultural. Sabe-se de diversos pólos culturais, que através dela
promovem; além dessa construção, inserção social. A Igreja Evangélica
Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, tornou-se um desses pólos
culturais de suma relevância, sendo reconhecida por autoridades brasileiras.
Mesmo não sendo a educação musical e a difusão das artes seu principal objetivo,
tem conseguido desenvolvê-lo com habilidade, principalmente em comunidades
onde o Governo Federal não acessa e não interessa acessar ─ sendo para ele, a
promoção da educação, um valioso instrumento de captação de votos,
comunidades pequenas ou isoladas e sem representação política, não fazem parte
de seus projetos educacionais e culturais.
Como para a Igreja Evangélica Assembléia de Deus as preocupações
com captação de votos são irrelevantes, as pequenas ou comunidades excluídas,
fazem parte de seus projetos educacionais e artísticos. Essa igreja é a maior
comunidade Pentecostal de nosso País. Então:
A partir dessa perspectiva considera-se que a explicação do êxito do
movimento pentecostal nasce das mudanças estruturais contemporâneas
na sociedade latino-americana. [...] O Pentecostalismo responde aos
processos de modernização que se impõe à sociedade, favorecendo a
sobrevivência e a ascensão social. [...] Diante dessa mudança tão radical, a
3
igreja pentecostal ajuda a restaurar os valores comunitários do mundo rural
perdido, de modo que possa resistir aos desafios e exigências do mundo
moderno. (GUTIÉRREZ, 1996. pg. 14)
Essa pesquisa fundamenta-se num breve relato histórico das
Assembléias de Deus no Brasil, do Movimento Pentecostal, (que está diretamente
ligado a ela), e no estudo do ensino musical no Templo – Sede da Assembléia de
Deus do Ministério do Belém, no bairro do Belém, na Rua Conselheiro Cotegipe
número 273, na cidade de São Paulo – SP no período de 1960 a 2010. Essa Igreja
Pentecostal, tem na liturgia de seu culto hinos cantados pela congregação1 e
acompanhados por uma Banda de Música e Orquestra Filarmônica2. Dessa
forma entra em cena o maestro e seu trabalho educacional/artístico que é um elo ─
uma ponte de inserção através de seu trabalho ─ entre membros novos, membros
migrantes e a Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do
Belém, e entre o excluído social e a sociedade. Para a manutenção de seu trabalho
há nesta Igreja, uma Associação Musical para o ensino da música em sua estrutura
organizacional, onde todo o esforço e trabalho do maestro se concentram. É de
suma importância a investigação desse trabalho educacional.
CONGREGAÇÃO: Nome utilizado para citar as pessoas, a membresia de uma igreja reunida num
templo. Deve-se observar o sentido da frase porque também é usada para citar um Templo Filial e
no meio pentecostal pode ser usado para citar a “Congregação Cristã no Brasil”.
2
“FILARMONÍA: Amor à música, gosto pela boa arte. FILARMÔNICA: Sociedade musical de
amadores, banda civil”. (GRAÇA, 1962. Pg. 513). [O sentido da palavra está em transformação,
como observamos:] “FILARMÔNICA: No passado, servia para designar certo tipo de orquestra cuja
organização era essencialmente amadora, ou de amantes da música, seja em sua constituição ou
origem. Atualmente com a transformação de algumas filarmônicas em orquestras profissionais
classificadas entre as melhores do mundo (Berlim, Nova Iorque, Viena), perdeu-se a conotação da
palavra. Emprega-se indiferentemente, nos dias de hoje, os termos filarmônicas ou sinfônicas para
designar orquestras completas de qualquer origem, tamanho ou constituição.” (DOURADO, 2004.
Pg. 131). Na igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, a orquestra é completa e
formada por amadores em sua maioria. Porém observa-se que todas as orquestras de órgãos
municipais, estaduais e federais, no Brasil, são classificadas como ‘Orquestra Sinfônica’.
1
4
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Investigar trabalhos musicais realizados nessa Igreja pelos Maestros
que ali trabalham, descrevendo seus procedimentos artísticos e educacionais.
2.2 SECUNDÁRIOS
2.2.1 Profissionalização de Membros Músicos
Coletar testemunhos de pessoas que se beneficiaram tornando-se
músicos profissionais.
2.2.2 História da Igreja e do desenvolvimento da música na liturgia
Relatar dados históricos da Igreja Evangélica Assembléia de Deus –
Sede do Ministério do Belém, suas origens, sua relação com o Pentecostalismo e o
desenvolvimento, tanto do trabalho artístico como da estrutura organizacional para
que seja eficiente frente à demanda de uma grande e rápida expansão, assim
como o trabalho de maestros anteriores que ainda sejam membros da Igreja.
5
2.2.3 Procedimentos Litúrgicos e a Arte
Descrever as principais características, costumes, valores artísticos e
sociais da Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém.
2.2.4 Corpo Docente
Descrever perfis de professores, formação pedagógica, e verificar se
têm atividades seculares fora da Igreja. Como se aperfeiçoam tecnicamente, quais
perspectivas tem e como planejam a realização de projetos educacionais para a
Igreja Evangélica Assembléia de Deus - Sede do Ministério do Belém.
2.2.5 Performance
Relatar a performance da Banda de Música e Orquestra Filarmônica
na liturgia do culto, e quais procedimentos composicionais são adotados em seus
arranjos, quais estilos musicais são permitidos ou restringidos.
2.2.6 O Corpo Musical e o Evangelismo
Descrever qual relevância tem a participação da Banda de Música e a
Orquestra Filarmônica no trabalho de evangelização e sua contribuição para a
expansão da igreja.
6
3 CRITÉRIOS METODOLÓGICOS
O procedimento adotado será estudo de caso com participação
observante, entrevista pré-estruturada e história oral; o estudo terá uma exposição
monográfica3. O aspecto geral
Nos últimos anos tem sido extraordinário o crescimento de trabalhos
científicos – monografia, artigo, dissertação e tese orientados por uma
estratégia de pesquisa que considera uma unidade – um caso – como
elemento para o desenvolvimento da investigação: Estudo de Caso. [...].
Mediante um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o
Estudo de Caso possibilita a penetração em uma realidade social, não
conseguida plenamente por um levantamento amostral e avaliação
exclusivamente quantitativa. (MARTINS, 2008. pg. 8 e pg. 9)
A crítica à ciência vigente acentuou sua pobreza técnica e seu
distanciamento do real, apontando para a necessidade de renovar as
formas de coleta de dados como um passo fundamental para enriquecer as
interpretações. [...] Não vou aprofundar agora esta discussão, que tem
aspectos controversos e complexos. Quero apenas recuperar o velho
modelo de observação participante (que supunha neutralidade do
pesquisador) para compreender por que, atualmente, ele se transformou
em participação observante. Isto é, por que, de adjetiva, a participação
passou a substantiva e, neste movimento, se reinventou a empatia como
forma de compreender o outro, sem que Weber seja citado.[...] Uma
entrevista, enquanto está sendo realizada, é uma forma de comunicação
entre duas pessoas que estão procurando entendimento. Ambos aprendem,
se aborrecem, se divertem e o discurso modulado é tudo isso. (CARDOSO,
2004. Pg. 98, 101 e 102)
3
“[...]. Uma monografia é a abordagem de um só tema, como tal se opondo a uma “história de”, a
um manual, a uma enciclopédia”. (ECO, 2007. pg. 10).
7
4 PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA
Os Pentecostais, incluindo-se a Igreja Evangélica Assembléia de
Deus – Sede do Ministério do Belém, têm produzido poucos artigos, dissertações e
teses, submetidas ao crivo acadêmico, comparadas ao percentual pentecostal no
total do protestantismo brasileiro. O que mais se encontra são estudos
desenvolvidos por membros de Igrejas Protestantes Históricas e da própria Igreja
Católica; esses estudos têm como foco principal o crescimento vertiginoso desse
movimento no Brasil. Posto isso há detalhes importantes que não são abordados
por tais pesquisadores4 ─ como os procedimentos do ensino musical e como a
prática musical influencia e exerce interferências positivas nos brasileiros ─ porque
lhes falta acesso a todas as informações, o que é comum quando se investiga
qualquer organização de fora para dentro.
5 CORPUS
O Corpus documental consiste na utilização de CDs gravados pela
Banda5 e Orquestra Filarmônica6 da Assembléia de Deus – Sede do Ministério do
Belém, além de vídeos postados no Youtube que, sendo de utilização pública e de
fácil gravação, tornam-se valioso instrumento de investigação. DVDs foram
4
Benjamin F. Gutiérrez, Leonildo Silveira Campos, Rafael Cepeda, Carlos Ham Stanard, Francisco
Limón C., Ana Ligia Sanchez, Osmundo Ponce, Edgar Moros Ruano, Ofélia Ortega, Éber Ferreira
Silveira Lima, Dennis Smith, e outros.
5
CD “Hinos da Harpa Cristã – Banda do Belém” vols. 01, 02, 03, 04 e 05.
6
CD “Orquestra Filarmônica Evangélica Jahn Sorheim”
8
produzidos por Observação Participativa e da mesma forma servem de fontes.
Houve, também, cruzamentos de informações colhidas em depoimentos dados
pelos maestros João Quirante Blanques, Samuel Apulcro, Wainer Fernandes da
Silva, Noel Vitório de Freitas, Gilberto José Massambani, Maestro Marcos Antonio
Motta, Sueldo Nascimento Francisco, Professor Maurício Nascimento Silva; e o
Pastor Presidente das Assembléias de Deus – Sede do Ministério do Belém7, José
Welington Bezerra da Costa.
7
Nesse trabalho a palavra “Belém” não se refere ao bairro do Belém ou Belenzinho em São Paulo –
SP, tampouco à cidade de Belém – PA onde Vingren e Berg iniciaram a Igreja Assembléia de Deus,
mas faz parte do nome pelo qual é conhecida a Igreja Assembléia de Deus no Bairro do Belém –
SP, registrada como “Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério do Belém”. Essa igreja é
Sede de várias filiais por todo o país e fora do país, que levam seu nome “Ministério do Belém”.
Nosso objeto de estudo é essa Igreja, as atividades artísticas e educacionais realizadas nesse
Templo da Igreja Assembléia de Deus Sede do Ministério do Belém, não tendo relação com a Igreja
de onde se originou na cidade de Belém – PA.
9
CAPÍTULO 1 Origem da Igreja Pentecostal no Brasil8
1.1 Pensamento Filosófico do Pentecostalismo
As igrejas pentecostais crêem em um único Deus, onisciente,
onipotente, e onipresente, criador do mundo e da humanidade. Crêem em seu Filho
Jesus Cristo ressuscitado, e que se comunica diretamente com seus seguidores.
Crêem no Espírito Santo de Deus, que orienta diretamente ─ sem intermediários
como Apóstolos, Bispos, Pastores, Presbíteros ou qualquer outra autoridade
eclesiástica9 ─ os seguidores a ter uma conduta condizente com a vontade de
Deus, através da revelação da sua palavra, a Bíblia; não cultuam, não fazem
preces e não acreditam em nenhum santo ou imagem de escultura de nenhuma
espécie.
Todos os seus seguidores são iguais, a autoridade eclesiástica é
apenas administrativa [ver tópico 2.2 – Organização Administrativa da pg. 34].
Ninguém, nem autoridade alguma, podem interromper a comunicação e a
comunhão entre Deus e o seguidor, portanto todo seguidor deve ler a Bíblia usada
pelos protestantes10 ─ sem os livros apócrifos ─ buscando se aperfeiçoar para
enquadrar-se na vontade de Deus:
A Igreja Assembléia de Deus é responsável pelo sólido desenvolvimento da prática pentecostal no
Brasil, portanto se faz necessário uma breve digressão pela história do pentecostalismo.
9
A autoridade eclesiástica é responsável pelo zelo e pela difusão da doutrina e costumes de sua
comunidade, não pode impedir, excluir, condenar, excomungar, facilitar, perdoar, conceder títulos
que habilitem o status de curador, benzedor, santo ou algo semelhante. Dessa forma o membro de
uma comunidade pentecostal é livre para mudar para outras igrejas ou denominações conforme sua
afinidade com algum desses líderes administrativos.
10
Bíblia traduzida para a Língua Portuguesa por João Ferreira de Almeida, português convertido do
catolicismo para a fé evangélica. Conhecedor do hebraico e do grego, se utilizou dos manuscritos dessas
línguas, calcando sua tradução no chamado Textus Receptus, do grupo bizantino, se servindo também
de traduções: holandesa, francesa (tradução de Beza), italiana, espanhola e latina (Vulgata). Em 1676
concluiu o Novo Testamento, faleceu em 1691 quando já tinha traduzido o velho testamento até Ezequiel
41:21. Em 1748 o pastor Jacobus op den Akker, da Batavia, reiniciou o trabalho interrompido por Almeida
e em 1753 foi impressa a primeira Bíblia completa em português em dois volumes. (BÍBLIA,. 2005, p.
1378)
8
10
[...] uma nova experiência de Deus sem mediação. Teologicamente, a
única mediação é a experiência do Espírito Santo, que faz a pessoa sentir
a presença de Deus. Culturalmente, o universo simbólico criado pelo
pentecostalismo chega a ser uma mediação entre o povo e o sagrado, a
experiência do Espírito Santo é pessoal e direta, não tendo que passar
pela mediação sacerdotal. (GUTIÉRREZ, 1996. pg. 15 e pg. 16).
Estes seguidores são batizados por imersão como Cristo: em rios,
conforme se observa na figura 01, ou em piscinas construídas dentro dos templos;
a figura 02 é uma foto de um Batismo na Igreja Evangélica Assembléia de Deus –
Sede do Ministério do Belém, cedida pelo Maestro João Quirante. Já em cidades
litorâneas, onde não haja rios apropriados, os batismos são feitos no mar. Seus
membros desenvolvem os nove dons espirituais citados em I Coríntios 12: 7-10,
são: “palavra da sabedoria, palavra da ciência, fé, dons de curar, operação de
milagres, profecia, discernimento dos espíritos, variedade de línguas11 e
interpretação de línguas”. Nas igrejas filiais há um problema cultural próprio da
cultura de massa que confunde o “talento musical” com um dom. Essa confusão
não é exclusiva da igreja, uma vez que essa é uma fala popular brasileira quando
se diz: “fulano tem o dom da música”. Na igreja se diz: “Deus deu o dom da música
pra fulano”. É claro que, esse engano da igreja, é uma ignorância ou falta de
atenção porque o texto bíblico que trata dos dons espirituais é o epigrafado acima e
não faz referência à música. Talento musical é uma facilidade natural para a
decifragem do código musical, assim como sua execução técnica, nada tem a ver
com um dom divino, uma dádiva sagrada ofertada aos protestantes. A maioria das
pessoas tem que estudar muito para entender tais códigos e ter uma boa execução
técnica.
11
Variedade de línguas ocorre quando o crente tomado pelo Espírito Santo fala outro idioma que
desconhece, e pode ser traduzido por quem tem o dom de Interpretação de línguas. O texto bíblico de
Atos 2: 4-11 cita pelo menos oito idiomas: “Partos, medos e elamitas e os que habitavam na
Mesopotâmia, Judéia e Capadócia, Ponto e Asia, Frigia e Panfilia, Egito e partes da Líbia perto de
Cirene, forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos), cretences e árabes.”
11
Figura 01 - Batismo em rios. (OLIVEIRA, 1998. pg. 101 e pg. 119)
Figura 02. – Batismo em tanque construído no Templo (Foto dos arquivos do Maestro João
Quirante)
12
1.2 De onde veio o nome Pentecostal e o que significa
O nome vem da Cultura Judaica e é tratado na Bíblia nos livros do
Pentateuco12. É a segunda festa anual no fim da sega do trigo [festa da colheita],
mais especificamente no dia seis do terceiro mês judaico o Sivã (junho) e conforme
relato bíblico se dava cinqüenta dias depois da Páscoa ou seja:
13
O pentecoste . Contareis sete semanas completas, a partir do dia seguinte
ao sábado, desde o dia em que trouxerdes o molho da oferta movida, sete
semanas inteiras serão. Até o dia seguinte ao sétimo sábado, contareis
cinqüenta dias, e então apresentareis nova oferta de cereais ao Senhor.
(BÍBLIA, 2005. Levítico. Cap.23 vs. 15, 16).
O nome em hebraico é hag haqasir ou hag xabu´ot, por ocasião do
domínio grego aproximadamente 300 anos antes de Cristo, a palavra Pentecoste
foi imposta ao povo e significa cinqüenta dias, de forma que a Igreja Evangélica
Pentecostal não vem dessa festa, tampouco das comemorações Judaicas
mantidas pela Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil até os dias de hoje; mas
de um fato histórico acontecido especificamente na comemoração da festa do ano
de 33 d.C. quando na ocasião dessa festa estavam reunidos em Jerusalém os
seguidores de Jesus Cristo obedecendo uma orientação sua conforme nos explica
o texto bíblico:
[...] Se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles
por espaço de quarenta dias, e falando do que respeita ao reino de Deus. E,
certa ocasião, estando comendo com eles, ordenou-lhes: Não vos ausenteis
de Jerusalém, mas esperai a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim
ouvistes. Pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o
12
Pentateuco vem do grego pentateuchos e significa cinco livros. Nome que se dá à coleção dos
primeiros cinco livros do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
(DAVIS, 1983. pg. 464)
13
Os negritos das citações são nossos.
13
espírito Santo, não muito depois desses dias. [...] Então voltaram para
Jerusalém, do monte das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, à distância
14
do caminho de um sábado . Tendo chegado, subiram ao cenáculo, onde
permaneciam. [...] Naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos
discípulos (ora, a multidão reunida era de quase cento e vinte pessoas),
[...]. Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo
lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e
encheu toda a casa onde estavam assentados. (BÍBLIA, 2005. Atos cap. 1 e
2).
A igreja Pentecostal entende a leitura bíblica como uma orientação
atual e não apenas histórica, dessa forma busca as mesmas promessas e
experimenta fatos parecidos com os da época de Cristo como: a cura de enfermos,
profecias e vários outros milagres. Uma promessa bíblica dada aos discípulos e
ainda vivenciada na igreja é a de falar em outras línguas:
Todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em outras
línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem [...]. E todos
pasmavam e se maravilharam, perguntando uns aos outros: Não são galileus
todos esses homens que estão falando? Então como os ouvimos cada um, na
nossa própria língua nativa? [...] Pedro porém, pondo-se em pé com os onze,
levantou a voz, e disse-lhes: [...] Estes homens não estão embriagados, como
pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo
profeta Joel: Nos últimos dias, diz Deus, do meu Espírito derramarei sobre
toda a carne. Os vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos
jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos. (BÍBLIA, 2005.
Atos cap. 1 e 2).
Como já dissemos páginas atrás, o pentecostalismo voltava-se para o
cristianismo primitivo, buscando reproduzir o que este apresentara de
extraordinário na manifestação do Espírito Santo, isto é, orar e falar em
línguas desconhecidas, fazer curas pelo poder divino. Isso significava
introduzir no presente um modelo do passado. (ROLIM, 1987. pg. 54)
14
O povo Hebreu tinha o costume de guardar o sábado. Guardá-lo é o quarto dos dez
mandamentos, além de não se poder acender fogo, preparar comida, trabalhar, havia uma
quantidade de metros que se podia andar. “A jornada de um a sábado era avaliada a juízo dos
escribas. [...] Medindo-se a distância, desde a porta oriental de Jerusalém, conforme o método
judaico de calcular, até o lugar onde existe a igreja da Ascensão, no cume do monte das Oliveiras,
igual ao vôo de um corvo, é de cerca de 2250 pés ingleses, ou 742 m. 5 [sic]. A jornada de um
sábado atual, é consideravelmente maior. Segundo Josefo, o monte distava da cidade, cerca de
seis ou sete estádios” ─ [Um estádio são quatrocentos côvados e um côvado são quarenta e cinco
centímetros]. (DAVIS, 1983. pg. 521)
14
Dessas características é que vem o nome “Igreja Pentecostal” não
pela tradição cristã, mas porque é prática da Igreja Evangélica Pentecostal no
Brasil e no mundo, seus membros ser “batizados com o Espírito Santo”, falar
línguas estranhas, profetizar, ter revelações e orar para cura. Entendem-se esses
“dons espirituais” como dádiva de Deus e qualquer membro da Igreja Evangélica
Pentecostal pode tê-los, sem cursar Faculdade Teológica, sem ser Seminarista,
sem ter patentes do clero como: “Padre”, “Pastor”, “Bispo” ou “Santo”. Esse fato é
muito importante na inserção dos excluídos, dando-lhes pé de igualdade com
qualquer classe social ou cultural diferente da sua:
Os despossuídos, os deserdados encontram nas comunidades pentecostais
uma aceitação e abertura que não tinham antes. Ao serem aceitos pela
comunidade de crentes, imediatamente dão testemunho de sua nova vida e
se convertem em missionários, conforme os dons que cada um vem a
possuir. Finalmente, podemos dizer que outro aspecto distintivo e atraente
do pentecostalismo é que a pregação usa a linguagem do povo. Os que
tiveram a nova experiência se comunicam com linguagem do povo, e,
portanto, a mensagem é transmitida com simplicidade e clareza.
(GUTIÉRREZ, 1996. Pg. 16)
1.3 O Perfil das Igrejas Pentecostais
A liturgia de um culto pentecostal é muito diferente da de uma missa
ou de um culto em uma Igreja Protestante Histórica. A liberdade de expressão, a
não formalidade faz desse culto um evento popular: um hino pode ser solicitado
sem aviso prévio, as orações são coletivas: todos falam ao mesmo tempo e se
expressam livremente nessas orações às vezes gritando ou erguendo as mãos ─
se justificam que Deus é capaz de ouvir todos ao mesmo tempo, que nas igrejas
históricas e na igreja católica, apenas uma pessoa ora ou reza, mas há várias
15
igrejas em várias partes do mundo, onde em cada igreja, há apenas uma pessoa
orando ou rezando, mas se juntarem todas as igrejas são várias pessoas orando
ou rezando ao mesmo tempo e que, supostamente, Deus ouve a todos ─
a
mensagem bíblica pode ser modificada minutos antes de ser explanada pelo
pregador; dessa forma cada culto é um evento dinâmico e imprevisível com
resposta igualmente dinâmica e participativa de toda a congregação. Sobre isso
Jack Deer em seu livro “Surpreendido pelo Espírito”, página 91, diz:
Reuniões estão sendo efetuadas numa cabana da rua Azusa, perto da rua
São Pedro. Os devotos da estranha doutrina praticam os ritos mais fanáticos,
pregam as mais loucas teorias e esforçam-se até a excitação em seu zelo
peculiar. Negros e um minguado número de brancos perturbavam a
vizinhança devido aos uivos dos adoradores. Estes passam horas balançando
o corpo para frente e para trás, numa atitude nervosa de orações e súplicas.
Eles afirmam que possuem o dom de línguas, e dizem-se capazes de
compreender semelhante babel. (apud OLIVEIRA, 2003. pg. 59)
Ainda sobre esse assunto, a entrevista de um pastor protestante não
pentecostal colhida por Francisco Cartaxo Rolim:
Já li muita coisa sobre o pentecostalismo. Mas fui ver como são seus cultos.
Eles têm orações coletivas, todo mundo orando ao mesmo tempo e com suas
palavras. Nas nossas igrejas, é uma pessoa que ora e as outras ficam em
silêncio, escutando. A impressão que ficou foi a de uma certa desordem.
Quando os pentecostais cantam, obedecem uma disciplina: seguem a letra
como está escrita e o ritmo da melodia. Aí tem ordem. Mas nas orações
coletivas, o grupo se desmancha. Cada um ora como deseja, dizendo em voz
alta o que sente, uns falando em tom mais elevado, outros em tom mais
baixo. Um vozerio descompassado e desarticulado enche o templo. Vi cultos
que se grita tão alto que as vozes ecoam na vizinhança. Uns levantam os
braços, as mãos tremulando. Outros ficam de cabeças abaixadas, como se
procurassem alguma coisa no chão. (ROLIM, 1987. pg. 8)
A comunidade pentecostal não é excludente, não tem preferências
sociais ou raciais e como em nosso país há uma enorme desigualdade social, onde
16
a maioria das pessoas é excluída da cultura erudita, se reúnem nessas igrejas,
muitas pessoas com a mesma dificuldade para acessá-la. Comparados aos fiéis de
outras religiões, os Pentecostais recebem os seguintes salários e gastam os
seguintes valores mensais em reais segundo pesquisa do IBGE15:
O maior rendimento médio mensal familiar foi registrado quando a pessoa de
referencia era espírita (R$ 3.760,00), enquanto nas pertencentes à
evangélica pentecostal era o menor (R$ 1.271,00). Entre católicos
apostólicos romanos, o rendimento correspondia a R$ 1.790,56. As maiores e
menores despesas seguiram este padrão, com espíritas apresentando gasto
de R$ 3.617,28 e evangélicos pentecostais, R$ 1.301,35. Católicos gastaram
16
cerca de R$ 1.769,32. (POF 2002-2003).
Segundo
o
mesmo
Instituto
em
percentuais
a
comunidade
Pentecostal no Brasil representa:
Religião nos censos brasileiros. O Censo Demográfico é a grande
referência na investigação da Religião no Brasil, visto ser a única pesquisa
que cobre todo o Território Nacional. [...] Analisando a evolução da proporção
de católicos a partir de meados do século XX, observou-se uma tendência
declinante ao longo dos anos. Por outro lado, desde 1950 que as proporções
de evangélicos apresentam comportamento inverso, quando eram apenas
3,4%, passando para 9,1%, em 1991, e atingindo 15,4%, em 2000. [...] As
maiores concentrações de evangélicos estão no extremo norte do País, mais
especificamente no Amazonas, Roraima, Acre e Rondônia, e nos Estados de
Goiás, Rio de Janeiro e Espírito Santo. [...] Os evangélicos, principalmente os
pentecostais, apareceram em segundo lugar nas quatro classes de tamanho
das taxas de crescimento da população dos municípios, com percentuais que
variavam entre 7,7% (municípios com taxas de crescimentos negativo) e
17
13,7% (municípios com taxas de 3,0% ao ano). (Fonte: site do IBGE ).
Essas informações dão elementos para se construir um perfil das
Igrejas Evangélicas Pentecostais: São igrejas de excluídos da cultura erudita, de
15
www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=961&id_pagina=1
(Acessado em 20/07/2009)
16
A sigla significa: Pesquisa de Orçamento Familiar e é procedimento do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística)
17
www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tendencias_demograficas/comentarios.pdf
(Acessado em 23/07/2009)
17
excluídos sociais, de carentes das necessidades básicas como: lazer, alimentação
balanceada, educação formal, amparo médico-hospitalar e moradia18:
Às vezes, quando se lhes pergunta se as Igrejas Pentecostais fizeram a
opção pelos pobres, respondem: “Não optamos pelos pobres, somos os
pobres”. (GUTIÉRREZ, 1996. pg. 16)
1.3.1 Origem do Pentecostalismo
Após longo período de abandono da prática dos costumes da noite do
ano 33 d.C. no cenáculo de Jerusalém, reaparece com força na Europa e Estados
Unidos em fins do séc. XIX e começo do séc. XX. Vejamos alguns fatos
importantes desse período:
Em 1880 A. B. Simpson, pastor presbiteriano e professor de teologia, deixou
o pastorado de uma igreja para fundar a Aliança Cristã Missionária, agências
interdenominacionais para um trabalho evangelístico e um instituto bíblico de
treinamento missionário. [...] O seu poderoso ministério foi enfatizado e
marcado pela cura divina. Para ele, Cristo era o médico que curava,
santificava e batizava com o Espírito Santo. Assim, muito influenciou o
pentecostalismo. [...] Dwight L. Moody fundou o famoso Moody´s Chicago
Bible Training Institute que se tornou um centro de ensino e divulgação do
evangelho, [...] É impossível considerar que um homem como Moody, que
marcou profundamente a história do reavivamento e evangelismo com tanto
êxito, que não fosse um verdadeiro pentecostal. (OLIVEIRA, 2003. pg. 38 e
pg. 39)
A igreja protestante tradicional já tinha uma estrutura consolidada nos
Estados Unidos, mas ainda mantinha costumes preconceituosos contra os negros,
18
Embora este seja o perfil das Igrejas Pentecostais no Brasil, não são o perfil das igrejas centrais,
as Sedes, com templos grandes e exuberantes, geralmente bem localizadas em cidades bem
desenvolvidas. A membresia destas igrejas Sedes, geralmente, pertence as mais variadas camadas
sociais e culturais, em algumas delas, até, se reúnem representações políticas importantes. Vale
lembrar que as igrejas filiais enquadram-se no perfil descrito acima.
18
um exemplo disso eram as igrejas exclusivas de negros de onde surgiu o estilo
musical negro spiritual19.
Por sua vez, mulheres também eram discriminadas
devido à não contemporização dos textos bíblicos traduzidos para o inglês de uma
forma bem conservadora mantendo o tradicionalismo oriental:
Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra
a sua própria cabeça, é como se a tivesse rapada, [...]. Pois o homem não
foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem, [...].
Mas ter a mulher cabelo comprido lhe é honroso, pois o cabelo lhe foi dado
em lugar do véu, [...]. As mulheres estejam caladas nas igrejas. Não lhes é
permitido falar, mas estejam submissas, como também ordena a lei.
Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus
próprios maridos; pois é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.
(BIBLIA, 2005. I Coríntios. 11:5-15; 14:34,35)
Isso mantinha a originalidade dos textos e imparcialidade de quem os
traduzia, mas era um motivo para alimentar atitudes preconceituosas contra a
mulher, como a não permissão para, sequer, candidatarem-se a cargos de
liderança expressiva. Cargos de pouca liderança, quando não lhes são vetados,
estão diretamente vinculados a seus maridos, dando-lhes sempre posição de
submissão, como se observa no negrito do texto citado acima. Ou seja: podem
liderar, desde que estejam sob tutoria de seus esposos. Além disso, a formalidade
do ritual do culto aboliu o desenvolvimento dos dons espirituais nas igrejas
históricas, principalmente o da cura. O que os pentecostais fizeram foi justamente
resgatar as práticas desses dons espirituais ─ o que trazia grande contrariedade
aos defensores do tradicionalismo ─ como vemos:
19
CD Anexo faixa 01: Hinos da Big-Band take 8, CD anexo faixa 02: Mahalia Jackson take 02, CD
anexo faixa 03: Mahalia Jackson take 04, CD anexo vídeo 01: youtube.
19
Em 1882 Adoniran Judson Gordon, pastor batista de Boston, escreveu livros
e periódicos sobre a cura divina, e tal foi sua fama que ultrapassou as
fronteiras da América e chegou a Europa. [...] Em 1890 na Rússia e Armênia.
20
Demos Shakarian (fundador da ADHONEP ) relata em seu livro, O Povo
mais Feliz da Terra, acontecimentos em uma região tão distante do
continente americano que não deixa dúvidas sobre as evidências da
operação do Espírito Santo, pois não havia qualquer ligação humana entre
esses pólos. Os protagonistas de tais acontecimentos eram pessoas
pertencentes à Igreja Ortodoxa. Isto se deu entre camponeses russos que
foram impulsionados, após receberem a experiência do batismo com o
Espírito Santo, falando em línguas estranhas, ao visitarem o país vizinho,
Armênia, em uma localidade do Kara Kala. [...] O falar em línguas, a cura
divina e outros dons do Espírito Santo, diziam eles. “... estão na Bíblia”. (apud
OLIVEIRA, 2003. pg. 39 e pg.40)
O conhecimento sobre as doutrinas pentecostais foi transmitido, entre
as populações excluídas, por eles mesmos. Como enfrentavam exclusão social e
tinham dificuldades nos relacionamentos com os mais aculturados, devido à forte
segregação racial americana, a situação: do negro, dos excluídos, dos carentes
passou a ser o centro das pregações nos cultos pentecostais. Era uma mensagem
de protesto contra tudo isso materializado em frases como: “Deus ama a todos”,
brancos, amarelos e negros. “Deus distribui os dons espirituais a todos”, brancos,
amarelos e negros. “Olhe para o impossível e diga: em Deus sou mais que
vencedor!”. “Deus não vê o exterior, mas olha para a fidelidade”, enfim, isso era
ensinado e propagado entre os excluídos, de pessoa para pessoa:
É necessário destacar que na época não havia qualquer ensino sistemático
sobre o pentecostalismo, pois o termo não era usado até então. É importante
ressaltar que a família de Demos Shakarian, ao imigrar para os Estados
Unidos, foi dirigida por Deus, através de uma profecia, que deveriam fixar
seus lares na costa Oeste do país. “Los Angeles foi a cidade americana que
mais cresceu entre 1880 e 1910. Em 1900, ela possuía 100 mil habitantes;
em 1906 (ano da explosão pentecostal), 130 mil [sic] [230 mil]; e em 1910
21
atingiu 230 mil (sic) [320 mil] moradores . Entre negros, mexicanos e
japoneses, estavam também imigrantes europeus. Em 1910, 75% da
população eram de pessoas provenientes de imigrantes ou filhos de
imigrantes”. (Na Força do Espírito, Leonildo Silveira, p.110) [sic] (apud
ADHONEP (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno) www.adhonep.com.br
Ao conferir fonte citada observam-se equívocos nos números: ”[...] Em 1900 ela possuía 100 mil
habitantes, em 1906 (ano da explosão pentecostal), 230 mil e em 1910 atingiu os 320 mil
habitantes”. (CAMPOS, 1996. pg. 110).
20
21
20
OLIVEIRA, 2003. Pg. 40). Nesta mesma ocasião, ao estabelecerem-se nessa
cidade, tomaram conhecimento do movimento da rua Azusa, 312, e
admiraram-se pelo fato de o Pentecoste haver chegado também ali, uma terra
tão distante, do outro lado do mar. (OLIVEIRA, 2003. pg. 40)
Os novos pentecostais convertidos nos Estados Unidos treinavam e
ensinavam pessoas para difundir o Pentecostalismo em diversas partes do mundo.
Essas pessoas eram chamadas de missionários e as pessoas reunidas nesse novo
país ou continente, de missão. Estas divulgações quando no próprio Estados
Unidos eram chamadas de Cruzadas Evangelísticas. Dessa forma o nome
Pentecostal foi associado aos costumes de num culto protestante, se ensinar ou
praticar o “falar em línguas estranhas”; interpretá-las, orar para cura divina e
profetizar. [“Ao adquirir o dom de falar em línguas estranhas, diz-se que essa
pessoa foi “batizada com o Espírito Santo”]. A Igreja Evangélica Pentecostal é uma
dissidência da igreja protestante22, se sabe que o movimento pentecostal difundido
no Brasil iniciou-se através do trabalho de missionários Suecos convertidos ao
pentecostalismo, Daniel Berg e Gunnar Vingren, em 1911. (OLIVEIRA. 2003, P.65)
1.3.2 O Evangelismo
A
linha
de
trabalho
desenvolvida
pelas
Igrejas
Evangélicas
Pentecostais Brasileiras é a seguinte: evangelizar a todos quanto possíveis, e a
maior parte de sua frente de trabalho está entre os excluídos, pessoas que na
22
A igreja pentecostal é protestante, assim como os neopentecostais. Mas há diferenças. A dissidência
não é uma negação do protestantismo, mas uma ramificação deste; a característica mais marcante entre
pentecostais e protestantes tradicionais é que os pentecostais falam em “línguas” nos cultos.
21
pesquisa do IBGE ganham menos rendimentos e moram em favelas. Os
Pentecostais são os que mais fazem visitas aos presídios levando a Palavra de
Deus23, mensagem de conforto para pessoas que são consideradas a escória da
sociedade, figura 3:
Figura 03 – Evangelismo em prisão e casa de Recuperação. (OLIVEIRA, 1998. Pg. 195)
Esses excluídos, quando passam a freqüentar a comunidade
Pentecostal, são tratados como irmãos, têm um lugar de reunião, um templo
disponível que está muitas vezes construído com mais infra-estrutura que sua
própria casa, (às vezes barracos), e podem dizer que é deles também. Quando se
tem energia elétrica onde está construída a igreja, há ventiladores, microfones,
instrumentos musicais para eles ou seus filhos, nas reuniões eles também têm
23
A expressão “levar a palavra de Deus” no meio pentecostal significa falar para as pessoas do
Amor de Deus por elas, independente de classes sociais, econômicas. Inclusive aos criminosos e
presidiários, a estes sempre dizem uma palavra de esperança, de possibilidade de mudança de
vida, que podem ter uma vida reta e honesta.
22
oportunidade para expor suas idéias e sentem-se inseridos com igualdade naquela
comunidade que chamam de igreja. Uma empregada doméstica que vê seu filho
aprender música e tocar um instrumento na igreja, nota que os procedimentos e a
dedicação necessárias são parecidas à dedicação e lições dos filhos de uma
patroa, (que pode pagar boa escola de música para o filho), gerando com isso,
sentimento de similaridade:
[...] Ler e escutar a Bíblia, pregar nos templos, entender a linguagem dos
que falavam, orar com seus gestos e palavras, cantar, comunicar-se. [...]
Agora, uma vez pentecostais, vêem que todos têm o alcance de sua
inspiração o púlpito de onde lançam suas palavras e são escutados
atentamente pelos irmãos. (ROLIM, 1994. Pg. 31 e pg. 34)
As orações são quase sempre coletivas. Isso favorece o sentimento de que
todos pertencem ao corpo de Cristo e de que juntos exercem o sacerdócio
universal dos cristãos, através da intercessão comunitária e coletiva.
(CALDAS, 2001. Pg. 75)
Esse trabalho feito pelos Pentecostais, da primeira onda24, ganha
importância no Brasil e causa preocupação em outras organizações, que acabam
imaginando fantasias por não conhecê-los. A sociedade forma opiniões
equivocadas geradas por atitudes de alguns poucos grupos Pentecostais, da
terceira onda, cujos líderes se destacam em noticiários policiais, administrando a
igreja como uma empresa capitalista, vendendo produtos míticos e fantasiosos, se
aproveitando da boa fé das pessoas fragilizadas por alguma carência. Até mesmo
A periodização da história do Movimento Pentecostal por ondas, de acordo com Paul Freston,
estudioso da religião, está classificadas assim: a) Primeira Onda: Congregação Cristã no Brasil
(1910), Assembléia de Deus (1911), Igreja Adventista da Promessa (1938). b) Segunda Onda: Igreja
do Evangelho Quadrangular (1953), O Brasil para Cristo (1956), Igreja Nova Vida (1960), Igreja
Pentecostal Deus é Amor (1961), Casa da Benção (1964), Metodista Wesleyana (1967) e outras
pequenas denominações. c) Terceira Onda: Salão da Fé (1975), Igreja Universal do reino de Deus
(1977), Igreja Internacional da Graça (1980) e muitas outras comunidades: (Igreja Renascer, Igreja
Mundial do Reino de Deus, Igreja Paz e Vida e outras). (Cf. CAMPOS, 1996. Pg. 84 e pg. 85)
24
23
denominações evangélicas tradicionais acabam cometendo engano parecido por
falta de conhecimento.
1.3.3 Dons Espirituais: algumas observações
Ao estudar o livro batista “Quem são eles” do Dr. E. C. Routh se
evidencia o desconhecimento ao supor na introdução, que seja possível explicar os
procedimentos de um movimento como o Pentecostal, com algumas dezenas de
palavras; resumindo o assunto em um capítulo de três meias-páginas contendo a
seguinte estrutura: titulo do capítulo: “Quem são os Grupos Pentecostais?” e três
subtítulos: “A sua história e seus ensinos” com quatro parágrafos, “O que dizem
as escrituras?” com três parágrafos e “Concernente ao Espírito Santo” com dois
parágrafos. Nessas poucas palavras se ensina contra o Pentecostalismo e a favor
da doutrina Batista:
A existência destas seitas, freqüentemente, é devido a negligência por
parte das denominações evangélicas estabelecidas. Nas zonas rurais temse diminuído a atividade missionária, deixando assim aberto o campo para
os pregadores que apelam às emoções e aos preconceitos do povo.
Precisamos revisar os nossos planos missionários e providenciar pelo
progresso espiritual e econômico das zonas destituídas. (ROUTH, 1960. pg.
38)
No tocante ao Espírito Santo e aos dons espirituais fica explícito que
não os praticam e que pensam ser um grande equívoco praticá-los como se lê:
24
Mas o batismo pelo Espírito parece ter sido limitado à idade apostólica. [...]
Nos tempos apostólicos o ministério dos apóstolos e das igrejas foi
atestado ou acreditado por certos sinais, como o ressuscitar os mortos
(Atos 9:36-40 e 20:9); o curar os enfermos (atos 28:8; 9:33); o pegar nas
serpentes (Mar. 16:17-18 e Atos 28:3); o falar em línguas (Atos 2 e I Cor.
14); sinais e prodígios (Atos 6:8; 8:13). Estas coisas não foram manifestas à
parte dos apóstolos. Nos tempos modernos, os homens não ressuscitam os
mortos, nem bebem veneno, nem pegam serpentes, impunes. Notai,
também, que quando os homens falaram em línguas, como no Dia de
Pentecostes, havia quem os compreendesse (“cada um os ouvia falar na
sua própria língua”). (ROUTH, 1960. pg. 40)
Este é um argumento usado até os dias de hoje no combate a esta
prática. Mas não atentamente apropriado porque no próprio texto de Atos há uma
argüição sobre o tema, como observa bem Kinnaman:
25
Finalmente, as linguas estranhas são um sinal para os ‘não crentes’ . Em
Marcos 16, as línguas estranhas se identificam como um sinal que deve ser
encontrado naqueles que crêem. Isto também implica que este poderoso
dom pode ser um testemunho extraordinário para os ‘não crentes’,
26
especialmente quando são idiomas reconhecíveis . Não é surpresa que
um milagre como esse, no dia de Pentecostes, resultasse na conversão de
tantas almas. Sem dúvida, quando as línguas estranhas não são idiomas
reconhecíveis, pode haver mal entendidos! No dia de Pentecostes, nem
todos que estavam ali se maravilharam com as línguas celestiais. “Mas
outros, caçoando, diziam: estão embriagados.” (Atos 2:13).
(KINNAMAN, 1991. Pg. 77. Tradução nossa)
Os pentecostais rebatem esses ensinos, das Igrejas Históricas,
baseados na própria Bíblia quando referente a ressuscitar os mortos, curar os
enfermos ou comer alguma coisa mortífera involuntariamente, se lê:
25
“Não Crentes” na linguagem do povo pentecostal, define todas as pessoas não protestantes,
mesmo que não sejam ateus; portanto uma pessoa de fé católica, espírita, muçulmana ou outro
credo qualquer é denominado ‘pessoa não crente’ ou seja: não aceita ou não pratica a doutrina
protestante.
26
Prática da Glossolalia [do grego “glossais – língua”, “lalein – falar” (quando se fala palavras não
identificáveis pela inteligência humana)], ou Xenolália [ do grego “xeno – estrangeiro”, “lalein – falar”
(quando se fala idioma que ainda não aprendeu)]. (ARAUJO, pg. 331 e pg. 922)
25
E disse-lhes Jesus: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda a
criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será
condenado. E estes sinais seguirão os que crerem: Em meu nome
expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e
quando beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum;
imporão as mãos sobre enfermos e os curarão. (BÍBLIA, Marc. 16:1518).
Outras reflexões:
Deus curava os enfermos no passado, e Ele é um Deus imutável. Através
do Antigo e Novo Testamento nos encontramos com um Deus que atua
favoravelmente em tempos de enfermidades e dor. A bíblia nos fala sobre
um Deus de milagres, e os testemunhos sobre curas e promessas de cura,
são abundantes de Gênesis a Apocalipse (ver Êxodo 15:26; 23:25; Salmos
103:3; 105:37; 107:20; Mateus 9:35; Marcos 6:12-13). A Bíblia não diz que
Deus poderia mudar em alguma dispensação futura, ao contrário, diz que
Ele é imutável (Malaquias 3:6, Tiago 1:17) e que o Senhor Jesus é o
mesmo ontem hoje e eternamente. (Hebreus 13:8). No Antigo Testamento
Deus se revelava por meio de um número de nomes redentores especiais:
Jehová-shammah [O Senhor está sempre presente], Jehová-jireh [O
Senhor é nosso Provedor], Jehová-nissi [O Senhor é nossa Bandeira],
Jehová-shalom [O Senhor é nossa Paz], Jehová-raah [O Senhor é meu
Pastor], Jehová-tsidkenu [O Senhor é nossa Justiça], Jehová-rafah [O
Senhor que nos cura]. Ninguém pode negar que Deus é imutável em
qualquer aspecto revelado de Seu Ser, porém, mesmo assim, há alguns
crentes quês estão dispostos a aceitar cada um destes nomes, exceto o
último. Prestemos atenção a esta poderosa promessa: “...porque eu sou
Jeová que te cura” (Êxodo 15:26) (KINNAMAN, 1991. Pg. 138, tradução
nossa)
27
No lugar da anterior doutrina radical da cura total incluída na expiação ,
28
Carter começou ensinar que a cura divina era um “favor especial” que às
vezes se oferecia e outras se negava, segundo “a suprema vontade de
nosso Senhor”. Carter também elaborou um interessante resumo das
diversas doutrinas sobre a cura total existentes desde o começo do século
20, era distinto entre a posição “extrema” de seu livro anterior (“Cura total
na Expiação”) e o ponto de vista mais moderado de “A Providencia
Especial” de seu livro posterior. Informava que Cullis nunca havia sido tão
extremista como muitos de seus seguidores. (DAYTON, 1991. Pg. 92,
tradução nossa)
“A Santidade na Expiação”: foi uma doutrina pentecostal norte-americana do século 19 baseada
em Isaias 53:4 [“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores
levou sobre si”]. Dessa forma Jesus ao ser crucificado encerrou toda a dor humana. A manifestação
de doenças, significava falta de fé ou resquícios de pecados. O extremo dessa doutrina era: o
doente não podia se medicar por que isso era sinal de incredulidade e se continuasse doente era
descriminado por que devia ter algum pecado. (DAYTON, 1991. Pg. 77 a pg. 97).
28
Carter era matemático, escritor, criador de ovelhas, médico e um dos maiores defensores da cura
divina. (DAYTON, 1991. Pg. 90)
27
26
Kathryn Kulman nasceu em 04/06/1907, no Estado do Missouri,
Estados Unidos. Em seu livro, essa escritora que tinha o dom da cura, relata bem o
pensamento pentecostal na introdução de seu livro:
Se você acreditar que eu, como ser humano, tenho qualquer poder para
curar, está completamente enganado. Não contribuí em nada para qualquer
milagre registrado neste livro, nem tive nada a ver com qualquer cura que
tenha sido realizada em algum corpo físico. Não possuo absolutamente
nenhum poder para curar. Tudo quanto posso fazer é indicar-lhe o
caminho ─ posso conduzi-lo até o Médico dos médicos, e posso orar, mas
o restante fica entre você e Deus. Sei o que ele tem feito por mim, e já vi o
que Ele tem feito para um número incontável de pessoas. O que Deus lhe
concede depende de você. A única limitação para o poder de Deus está
dentro do individuo! (KUHLMAN, 1962. Pg. 11)
Dentre vários testemunhos de pessoas que foram curadas através
das orações de Kathryn está o de Carey Reams, engenheiro químico das Forças
Armadas, durante a Segunda Guerra Mundial. Ferido por uma mina terrestre, ficou
paralítico, com seguidas hemorragias além de outras seqüelas. Foi num culto no
Teatro Penn em Butler, Pensilvânia no dia 31 de dezembro de 1950 que aconteceu
o que relatou:
Bem de repente, relata Carey, a Srta. Kuhlman disse: “coloque de lado essa
muleta direita”. Experimentei faze-lo, e o resultado foi bom: minha perna
sustentou meu peso. Naquele momento a dor no corpo sumiu
instantaneamente. Segundo a descrição de Carey: “Foi como desligar uma
lâmpada, ou como a tinta de caneta sendo sugada pelo mata-borrão”.
Percebendo que aquela perna suportava seu peso, Carey deixou cair a
segunda muleta e ficou em pé sozinho, sem ajuda. A Srta. Kuhlman então
me mandou subir na plataforma, uns 12 degraus muito íngremes. Dois
cavalheiros grandes e fortes colocaram-se ao meu lado para me ajudar,
mas eu não precisava de ajuda alguma. Subi para a plataforma como um
pássaro voando. Parecia que quase não tocava o chão, e não andei em
direção à Srta. Kuhlman, corri. (KUHLMAN, 1962. Pg. 23)
27
1.3.4 Solidariedade, unidade
Outra característica dos pentecostais, (embora outras igrejas também
a tenham, mas com procedimentos diferentes), é que são uma comunidade
solidária, a maioria dos membros leva à igreja em reuniões mensais chamadas de
“Culto de Santa Ceia” um quilo de alimento não perecível para “Campanha do
Quilo”, que funciona assim: os membros são ensinados a levarem “Um Quilo” de
alimento; dessa forma muitos quilos são arrecadados e distribuídos em sacolas,
que o membro desempregado e cadastrado pelos líderes da igreja, leva vazia de
sua casa e traz cheia nesse culto mensal, até conseguir um trabalho; assim o
combate à fome e a promoção da igualdade social é praticada na comunidade
pentecostal há muito tempo independente de políticas públicas.
No fim desse culto todos recebem a “oração” do Pastor da igreja para
que o doador, sempre tenha para doar e quem recebe tal doação, tenha força e
ânimo para superar a dificuldade que passa e logo também doar. Essas pessoas
em dificuldades, quando as superam, falam no “Culto da Família” como foram suas
experiências: falam sobre as privações impostas e como agora estão alegres, não
mais na condição de quem leva a sacola vazia, mas de quem leva “Um Quilo” de
alimento no “Culto de Santa Ceia”. Essa conscientização humaniza a comunidade
que realmente vive como uma família de irmãos, desenvolvendo o envolvimento
dos excluídos e os unindo para alcançarem seus objetivos: a propagação do
evangelho e a realização do verdadeiro louvor a Deus.
28
Capítulo 2 Igreja Assembléia de Deus: expressão maior do Pentecostalismo
Brasileiro
Os
Missionários,
Pastores
e
Evangelistas
que
difundiram
a
Assembléia de Deus no Brasil realmente não tinham um planejamento estratégico,
mas lhes ardia no coração a vontade de vê-la progredir e isso era feito como um
milagre, por pessoas com muita boa vontade mas sem preparo acadêmico, os
“Pastores Leigos”. Esses pastores atuam na Igreja Evangélica Assembléia de Deus
até hoje, são semi-analfabetos, têm dificuldade na leitura do texto bíblico, fazem
uma exposição simples do texto bíblico, não fazem relação histórica com os
acontecimentos bíblicos, mas como, na maioria das vezes, falam para sertanistas e
ouvintes também semi-analfabetos, conseguem se comunicar satisfatoriamente.
Esse “Pastor Leigo” trabalha em igrejas filiais camponesas ou periféricas afastadas
dos grandes centros populacionais. Quando essas Igrejas atingem certo
desenvolvimento que necessite de um líder com conhecimento administrativo
adequado para lidar com filiais e quantidade expressiva de conflitos inter-pessoais,
a Igreja Sede designa um pastor com formação teológica e na maioria das vezes
também com formação acadêmica em alguma área. No entanto não se pode
desprezar o valioso trabalho desses “Pastores Leigos”:
As demais igrejas protestantes tinham em suas escolas de formação de
pastores, um ensino equivalente ao curso superior, onde se aprendia teologia,
história do cristianismo e a Bíblia. Os pentecostais não tiveram escolas para
formar pastores. A formação vinha pela prática dos cultos, da aprendizagem
simples da leitura da Bíblia, aos domingos, e da própria pregação. A maioria
de seus adeptos não possuía curso médio para receber ensinamento mais
elevado. Mas tinha uma coisa interessante, tinha uma cultura popular oral.
Enquanto nas igrejas não pentecostais só podia pregar o pastor porque tinha
estudado, nas pentecostais pregavam tanto pastor como o simples crente.
Isso significava que a cultura oral, de tipo popular, era canalizada para o
pentecostalismo e não era absorvida pelas outras igrejas protestantes.
(ROLIM, 1987. Pg. 25)
29
Além de serem líderes carismáticos importantes, merecem, portanto,
investimento educacional, principalmente artístico, porque decidem sobre arte sem
conhecê-la. Esse investimento educacional é totalmente viável uma vez que,
atualmente, a Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do
Belém, tem, em suas dependências, uma Faculdade.
Alguns desses pregadores andavam a pé dezenas de quilômetros
para presidir ─ se dizem no meio pentecostal “dirigir um culto” ─ a um culto em
algum vilarejo distante. Com o passar dos anos, a estrutura ia melhorando e
começavam a utilizar algum meio de transporte. Às vezes seguravam a Bíblia de
cabeça para baixo na hora da leitura, simplesmente pelo fato de serem semianalfabetos, portanto decoravam os textos litúrgicos, oravam pelos doentes,
“simples crentes lendo a Bíblia (não importa se soletravam) e também pregando”
(ROLIM, 1994. Pg. 30), falavam sermões de ânimo e valentia na luta diária pela
subsistência e a igreja prosperava a cada dia:
O crente pentecostal. Não é pastor. Tem apenas o primeiro grau
incompleto, o que não o impede de ser pastor: “Vi um crente, pedreiro como
29
eu, falando e dizendo que Jesus muda a vida das pessoas. Quando
30
acabou, ele disse: ‘Quem quiser aceitar Jesus levante o braço ’. Ele veio
me abraçar e me chamou pra ir na igreja. Fui e aceitei Jesus, já tem uns
oito anos. Larguei de beber, de fumar e briga lá em casa nunca mais teve.
[...] O evangelista Lucas escreveu nos Atos dos Apóstolos, capítulo 2: “E
chegou o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar, de
repente se fez ouvir do céu um ruído como se soprasse impetuoso
vendaval e todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar
línguas estranhas, conforme o Espírito lhes concedia falar” (o crente cita o
trecho de cor). Pentecoste foi o cumprimento da promessa de Jesus e
também da profecia do profeta Joel (o crente faz questão de lembrar o
profeta e de citá-lo, também de memória). (ROLIM, 1987. Pg. 12 e pg. 13)
O pesquisador narra sobre um pregador num “ponto de pregação” [dá-se esse nome ao local em
uma casa onde, normalmente se iniciará uma congregação].
30
Levantar a mão, (braço), “aceitando a Jesus” num culto durante o apelo após a pregação, significa
se unir a uma igreja pentecostal, ou aceitar os costumes e a doutrina em uma igreja pentecostal.
29
30
Por sua vez a Assembléia de Deus foi aos poucos proporcionando aos seus
quadros de direção um pouco de formação. Não propriamente teológica,
mas antes bíblica. Esta subida para uma formação bíblica não só chegava
tarde mas nem sequer atingia a todos os pastores e a grande maioria
permanecia semi-analfabeta. (ROLIM, 1994. Pg. 64)
“O começo do avivamento pentecostal não obedeceu a um plano
predeterminado por qualquer mente humana, e as Assembléias de Deus são fruto
de um movimento que teve seu início de forma espontânea e da parte de Deus”.
(OLIVEIRA, 2003. pg. 34). Dessa forma o Movimento Pentecostal chegou ao Brasil:
Em um domingo, 9 de abril de 1906, o próprio Seymour e outros sete irmãos
receberam o batismo com o Espírito Santo. A manifestação do poder do
Espírito Santo logo atraiu muitos curiosos e outros interessados em conhecer
a evidência bíblica de um autêntico batismo com o Espírito Santo, conforme o
relato do Novo Testamento. Precisando de um espaço maior de fácil acesso,
Seymour descobriu um templo da Igreja Metodista Episcopal Africana, que se
achava abandonado, na rua Azuza, 312, local ideal para desenvolver seu
trabalho. [...] Foi nesse local, que se iniciou o movimento sob o nome The
Apostolic Faith Mission. Diversos visitantes protestantes foram atraídos para
esse local, entre eles muitos voltavam convertidos ao pentecostalismo. Aí
também apareceu o pastor batista Willian H. Durham, que se tornou uma
figura importantíssima para a história do pentecostalismo brasileiro.
(OLIVEIRA, 2003. pg. 58)
2.1 Os primórdios: a Primeira Onda31
A primeira igreja pentecostal no Brasil foi a “Congregação Cristã no
Brasil”, igreja com alguns procedimentos parecidos com as práticas Presbiterianas,
[por ter sido dessa igreja histórica, seu fundador Luigi Francescon adotou e
adaptou algumas de suas estruturas eclesiásticas], assim não evangelizam
31
Ver nota 24 da página 22.
31
(ALVARES, 1996. pg. 34). Por isso desenvolveram menos que a segunda igreja
pentecostal a ser aberta no Brasil: a “Assembléia de Deus”, dessa forma:
Na primeira fase do pentecostalismo no Brasil, chegou aqui em 1910, Luigi
Francescon, de confissão valdense, que emigrara da Itália para os estados
Unidos e recebeu o batismo com o Espírito Santo na Missão da Avenida
Norte de William H. Durham, em Chicago. [...] em 1909 seguiu para a
Argentina, e em 1910 veio para o Brasil, onde fundou a Congregação Cristã
no Brasil, começando seu trabalho entre os italianos imigrantes, a exemplo
do que já havia feito nos Estados Unidos. Durham havia passado algum
tempo em Los Angeles, na rua Azuza, e constituiu em Chicago um dos ciclos
pentecostais mais importantes da América do Norte. (OLIVEIRA, 2003. pg.
58)
A Congregação Cristã no Brasil também é de suma importância no
Pentecostalismo brasileiro e embora os missionários que fundaram ambas,
Assembléia de Deus e Congregação Cristã no Brasil, tivessem contato com o
mesmo movimento pentecostal americano e as fundassem na mesma época, com
diferença apenas de um ano, são igrejas com algumas características distintas: A
Congregação Cristã no Brasil, é pentecostal, trabalha no Brasil com ética e
seriedade, tem Orquestra que participa da liturgia do culto, mas não a usa para
evangelizar ou propagar o Pentecostalismo, a Orquestra apenas faz parte da
liturgia do culto. Dessa maneira o Pentecostalismo cria raízes em nosso país:
Em 1910, enquanto o avivamento conquistava terreno e dominava a vida
religiosa na cidade de Chicago, fatos de alta importância estavam
acontecendo também nas cidades vizinhas, entre dois jovens que estão
ligados à história das Assembléias de Deus. Na cidade de South Bend, no
Estado vizinho de Indiana, morava um jovem pastor batista chamado Gunnar
Vingren. Atraído pelos acontecimentos do avivamento de Chicago, ele foi a
cidade, a fim de certificar-se da verdade; e diante da demonstração do poder
divino, creu e foi batizado com Espírito Santo. Gunnar Vingren nasceu em
Ostra Husby, Ostergotland, Suécia, em 8 de agosto de 1879. [...] Em 1903,
viajou para os Estados Unidos. Ingressou então no Seminário Teológico de
Chicago. Após a conclusão do curso em 1909, assumiu o pastorado da
Primeira Igreja Batista de Menominee, Michigan, em cuja função participou da
32
32
Convenção daquela igreja. [...] Nesse ambiente de avivamento espiritual
ocorreu a chamada para o Brasil. (OLIVEIRA, 2003. pg. 63 e pg. 64)
Gunnar Vingren já enfrentava dificuldades em relacionar-se com a
liderança eclesiástica de sua igreja por causa do costume pentecostal que já havia
adotado, dessa forma deixou uma carreira promissora e sólida para obedecer uma
profecia que lhe orientava a buscar uma cidade que não conhecia. Olhando no
mapa viu que a cidade mencionada estava no Brasil, e veio para cá sem imaginar
que iniciaria uma das maiores Igrejas Pentecostais da América Latina, a
“Assembléia de Deus”:
Em uma reunião de oração, o Espírito Santo falou-lhe através do irmão Adolfo
Uldin que devia ir ao Pará. [...] O encontro com Daniel Berg se deu nessa
época. Juntos, foram a uma biblioteca para consultar os mapas e verificaram
que o lugar mencionado na profecia localizava-se no Norte do Brasil, [...]
Sairam de Nova Iorque em 5 de novembro de 1910, e aportaram no Brasil no
dia 19 do mesmo mês. Em 1911 em Belém, Pará, foram encaminhados a um
pastor batista que os recebeu e permitiu [sic] [ver segunda citação da pg.49]
morar no porão do templo. Ao chegarem à capital paraense , uniram-se à
Igreja Batista, porque sempre pertenceram a esta denominação, [...] Vingren
e Berg provocaram, com pregação pentecostal, uma dissensão naquela
igreja. E assim, com dezenove membros [sic], fundaram em 18 de junho
33
[sic] de 1911 a Missão da Fé Apostólica, que mais tarde veio a chamar-se
Assembléia de Deus. (OLIVEIRA, 2003. pg. 64 e pg. 65)
A Igreja Evangélica Assembléia de Deus e a Congregação Cristã no
Brasil são as maiores Igrejas Pentecostais de nosso país, e a Assembléia de Deus
foi a que mais teve dissidências, talvez esse tenha sido um dos elementos que
mais contribuiu para a sua expansão vertiginosa. Muitas dessas igrejas dissidentes,
usam o primeiro nome da Igreja, divergem apenas ideologicamente, mas
infelizmente por terem uma estrutura mais nova, substituem a Banda Marcial ou
32
Convenção é um ajuntamento de líderes. Reúnem-se de tempos em tempos para decidirem
procedimentos litúrgicos, comportamentais, ações e objetivos.
33
“Estes dezoito irmãos saíram então da igreja batista pra nunca mais voltar outra vez. Isto
aconteceu no dia 13 de junho de 1911” (VINGREN, 1973. pg.33)
33
Orquestra Sinfônica por Bandas de Rock ─ o problema dessa substituição não é
o estilo musical, mas o fato de uma Banda de Rock envolver menos pessoas e
menos trabalho artístico do que uma Banda Marcial ou uma Orquestra Sinfônica.
Sobre o Rock:
Designação genérica para a música popular de origem norte-americana
consolidada na metade do século XX, difundiu-se em todos os países do
mundo e permanece com variantes ou mesmo com sua forma clássica até
os dias de hoje. [...] A instrumentação básica inclui guitarras elétricas, baixo
elétrico, bateria e eventualmente piano, teclados e órgão eletrônico, entre
outros instrumentos. (DOURADO, 2004. pg. 283.)
Após um tempo as igrejas dissidentes se reconciliam com as igrejas
de sua origem tornando-se independentes34, ao invés de dissidentes, dessa forma
vale listar algumas igrejas Assembléias de Deus dissidentes ou independentes:
Assembléia de Deus do Bom Retiro, Assembléia de Deus Russa, (de onde veio o
Maestro Roberto Minzzuck35), Assembléia de Deus Betesda, Assembléia de Deus
- Ministério de Santos [primeira igreja no Estado de São Paulo, (nessa igreja há a
função de Pastora e Diaconisa)], Assembléia de Deus - Ministério do Belém
[primeira igreja na Cidade de São Paulo, (igreja foco de nosso estudo)],
Assembléia de Deus Bereana, Assembléia de Deus - Ministério de Madureira – RJ,
Assembléia de Deus da Penha – RJ, Assembléia de Deus Missão – MT [Nesta
Igreja há um “Pastor Maestro” participando de sua Diretoria], Assembléia de
Deus - Ministério de São Miguel Paulista – SP, Assembléia de Deus Ministério de
34
“Uma congregação pode, com o tempo, ganhar autonomia e tornar-se uma igreja-sede, que, por
sua vez, passará a abrir novas congregações”. (Araujo, 2007. pg. 201)
35
Aos 14 anos ganhou bolsa para estudar na Juilliard School, é Diretor Artístico e regente titular da
Orquestra Sinfônica Brasileira, da Filarmônica de Calgary (Canadá) e do Theatro Municipal do Rio
de Janeiro, foi diretor artístico do Festival de Campos do Jordão, diretor adjunto e regente associado
da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, regeu a Filarmônica de Nova Iorque e as
orquestras mais importantes do mundo, rege numa única temporada mais de 30 orquestras em 14
paises. (www.cristianismocriativo.com.br 29/11/2009)
34
Santo André, (de onde veio o Maestro Roberto Farias36, embora fosse transferido
do Ministério de Santos) e muitas outras. Salientamos que, as Igrejas Assembléias
de Deus dissidentes ou independentes trazem traços e costumes litúrgicos da
Assembléia de Deus iniciada por Vingren e Berg em Belém do Pará.
Há, porém, igrejas Assembléias de Deus que ganharam autonomia, e
mesmo com pequenas diferenças ideológicas, mantêm a tradição musical, embora
sejam mais abertas à diversidade de estilos, conseguem uma mistura saudável
entre estilos e gêneros musicais como: Banda Marcial ou até Orquestras
Sinfônicas acompanhada de Corais, Grupos de Jazz, faixa 04 do CD anexo, que
adaptam melodias da hinódia e grupos de Rock in roll, que atendem os gostos da
juventude pentecostal. Estas igrejas seguem a mesma seriedade, tanto as
dissidentes quanto as independentes, e trabalham a mesma linha filosófica com
sutis diferenças nos costumes e liturgia do culto, porém, todas se mantêm
pentecostais, (falam em línguas, oram pela cura e profetizam).
2.2 Organização Administrativa
A organização se dá da mesma forma em todas as Assembléias de
Deus, tradicionais, dissidentes ou independentes: existe uma Diretoria eleita, —
É membro da Associação Paulista de Arte, Coordena os Grupos Artísticos de Cubatão-SP, é
diretor Artístico e regente titular da Banda Sinfônica da Província de Córdoba (Argentina), é diretor
Artístico da Orquestra de Câmara Solistas do Brasil, regeu a Orquestra Sinfônica de Santos, a
Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, a Banda Sinfônica de Montevidéu (Uruguai), a University
of Pensivânia Wind Ensenble (EUA), a United States of América Air Force Academy (EUA), a
Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, a Orquestra Jazz-Sinfônica do Estado de
São Paulo, a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, a Orquestra Sinfônica de Americana, a
Banda Sinfônica da Polícia Militar de Santa Catarina, a Banda Sinfônica da Cidade de Natal – RN, e
a Banda Sinfônica da Universidade Federal de Minas Gerais, foi professor de regência orquestral no
Centro de Estudos Musicais Tom Jobim – SP. (entrevista por e-mail em novembro de 2009)
36
35
geralmente seu líder é o fundador, o dissidente ou quem ganhou a independência
— há uma diversificada graduação de patentes eclesiásticas e a cada patente é
dada uma quantidade de pessoas/igrejas ou de grupo de pessoas/igrejas sob sua
responsabilidade e são: Apóstolos, Bispos, Reverendos, Pastores Presidentes
[estes cargos são de líder da Diretoria] seguidos por: Pastores Vice-presidentes,
Pastores Tesoureiros, Pastores Secretários [estes compõem a Diretoria] e
finalmente: Pastores simplesmente, Vice-Pastores ou Co-Pastores, Evangelistas,
Presbíteros, Diáconos, Cooperadores e Missionários.
Ainda há preconceito e resistência para que mulheres ocupem essas
patentes eclesiásticas nas diretorias das Igrejas Assembléias de Deus, há apenas
raríssimas exceções, mas já se encontra patentes de Pastora e Diaconisa. O mais
comum é encontrar Missionárias37; é um trabalho importante, mas a liderança
exercida por essa patente é quase nula. Administrativamente filiais das igrejas são
divididas em setores e a esses setores pertencem várias igrejas menores, com
estruturas administrativas dependentes e orientadas pela igreja responsável por
esse “setor”, ou seja: suas construções, reformas, seus departamentos são
gerenciados por essa igreja “mãe”, inclusive o departamento musical; a compra de
seus instrumentos e sua formação musical e eclesiástica. Porém, essas igrejas
menores, se quiserem, podem ter sua própria formação musical e, inclusive,
comprar seus próprios instrumentos.
37
Missionárias são uma espécie de evangelizadoras enviadas a uma cidade, estado ou país; no
meio Pentecostal ainda pode ter outro significado e atualmente é o mais comum: Diz-se de uma
pessoa pregadora itinerante, que tem os dons de profecia, revelação e cura; recebe pessoas de
vários lugares e denominações em sua casa, em busca de oração ou algum conselho. A grande
maioria de pessoas que exercem essa função, no sentido Pentecostal, é do sexo feminino. Além
dessas funções a maior parte das Missionárias são cantoras leigas e com a venda de seus CDs se
mantém e custeiam as despesas de seus deslocamentos.
36
Esses setores também se juntam formando um campo38. Dessa
maneira, as pequenas igrejas estão submissas a seus setores, e os setores aos
campos e os campos, a uma matriz (sede). Esta matriz (sede) dá liberdade
administrativa, mas impõe regras que devem ser seguidas pelas demais
ramificações administrativas. Essa liberdade administrativa, embora tenha pontos
positivos, faz com que as metodologias de ensinos musicais sejam diferentes, [a
igreja foco de nosso estudo é uma Igreja Matriz ou Igreja Sede]. A hierarquia
eclesiástica e administrativa varia de acordo com as patentes dos líderes e quando
se precisa delegar mais poder administrativo a alguém, o líder da Diretoria é
promovido a uma patente maior para que um liderado passe a ter poderes de
liderança iguais ao seu e mesmo assim ainda continuar sendo seu liderado.
A diretoria planeja, projeta e decide regras organizacionais assim
como, quando e quais destinos terão verbas para realização de projetos das igrejas
sob liderança da Igreja Sede, portanto projetos musicais não têm prioridade, os
projetos artísticos são prejudicados e alguns ainda subsistem porque há nos líderes
músicos, “maestros”, vontade e teimosia. Os projetos musicais são feitos muito
precariamente porque só está disponível uma pequena parte do orçamento para o
departamento musical. Esse é um grande problema porque a responsabilidade não
é toda da Diretoria que não acompanha de perto os departamentos de arte e
música de suas igrejas e conseqüentemente não os assistem adequadamente,
mas também há a contrapartida de muitos investimentos e projetos feitos
equivocadamente, orientado por “maestros” amadores que não têm segurança e
precisão do que fazer na tentativa do avanço educacional e técnico. Estes arcam
“Campo nas Assembléias de Deus, é a área de atuação de um Ministério formado por uma igrejasede (“igreja-mãe”) e suas diversas congregações e/ou cidades em um ou mais Estados”.
(ARAUJO, 2007. pg. 152)
38
37
com a responsabilidade de investimentos em projetos que foram executados e
tornaram-se traumáticos gerando grandes prejuízos financeiros para a igreja.
A migração dos membros da igreja é um reflexo da sociedade
brasileira e o fato da Igreja Assembléia de Deus ter filiais no Brasil inteiro, facilita a
adaptação dos migrantes em seu novo habitat. A função eclesiástica que esse
migrante executava em seu local natal é respeitada na igreja que o acolhe e a
pessoa continua a exercê-la em sua nova comunidade de irmãos. A pessoa
acostumada ir a uma Igreja Pentecostal de uma área rural qualquer e migra para
uma grande cidade, ou vice versa, traz consigo uma “carta de recomendação ou
mudança”39 e com ela, pode procurar uma igreja nessa nova cidade para ser
recebido, mesmo se for de uma denominação diferente, mas pentecostal,
apresenta tal documento e o recebem como membro. A mesma hinódia e liturgia
do culto favorecem o entrosamento, amenizando dessa forma, o sentimento de
angústia causado pela solidão e distanciamento de seus familiares e local anterior,
(porém esse fato é um complicador para o equilíbrio dos naipes da Banda ou da
Orquestra quando o migrante é músico [veja capítulo 3, pg. 136]). Essa pessoa é
ajudada na difícil tarefa de buscar um novo emprego e se socializar em uma cidade
com procedimentos diferentes aos de seu vilarejo ou cidade. Dessa forma:
As comunidades pentecostais são, geralmente, acolhedoras,
personalizadoras e participativas. Eliminam barreiras criadas pela
distinção e separação tradicionais entre o clero e o laicato. Através de
sua participação em diversos ministérios da igreja, as pessoas deixam de
ser “objetos” e se transformam em sujeitos ativos da experiência e do
discurso religioso. (GUTIÉRREZ, 1996. pg. 15)
“Com o uso dessas imprescindíveis cartas, os líderes assembleianos passaram a ter,
naturalmente, um maior controle do deslocamento de sua membresia pelo país e, principalmente, a
evitar o abuso de pessoas mal-intencionadas, que, naquela época, já apareciam nas igrejas se
contrafazendo e perturbando os servos de Deus”. (ARAUJO, 2007. pg.160).
39
38
Esta prática é muito comum nas Igrejas Evangélicas Assembléias de
Deus do Ministério do Belém, como estão em todo o território nacional, seus
membros quando migram para estudar, ou trabalhar, logo são amparados por um
alguma igreja filial ou algum Ministério Assembleiano.
2.3 Trajeto da Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém
A garra, a determinação e persistência da Igreja Assembléia de Deus
fazem história em nosso país. Onde havia uma igrejinha há vários anos, hoje se
tem um Grande Templo, um grande Setor, Campo ou uma Igreja Sede. Exemplo
disso é a Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, que foi
iniciada por Berg em uma casa na Vila Carrão em São Paulo – SP e hoje tem, no
território nacional, mais de 1.900 filiais. O inicio no Pará:
Figura 04. Primeiro Templo das Assembléias de Deus no Brasil. (OLIVEIRA, 1998. pg. 45)
39
Na figura 4, vemos o primeiro templo da Igreja Assembléia de Deus
no Brasil, inaugurado em 1914, três anos após sua fundação quando os cultos
aconteciam na própria casa de seus fundadores, conforme figura 5:
Figura 05. (OLIVEIRA, 1998. pg. 27). Lê-se o nome Assembléia de Deus na placa fixada na sacada.
Foto da casa onde se iniciou as Assembléias de Deus no Brasil.
Talvez seja daqui que tenha surgido o procedimento de que quando
se inicia um trabalho evangelístico Assembleiano em uma comunidade, bairro ou
cidade, o Evangelista ou Missionário vai a uma praça ou a um lugar onde possa
falar de Jesus para alguém, vai até sua casa para fazer uma oração por um doente,
ou a favor de um problema de difícil solução e após um milagre ou solução do
problema em questão inicia-se naquela casa regularmente cultos semanais; após o
aumento do número de pessoas participantes nesses cultos semanais, aluga-se
um salão e assim começa uma nova filial da Igreja Assembléia de Deus. Essa foi a
principal estratégia de que se utilizaram até poucos anos atrás, aliada ao uso da
40
Banda de Música; esses procedimentos provaram ser uma boa estratégia: simples
e eficaz; a ponto de fazer da Assembléia de Deus a maior Igreja Evangélica da
América Latina e segundo o IBGE em seu Censo Demográfico 2000, as
Assembléias de Deus tinham números disparados bem na frente das outras Igrejas
Pentecostais representando quase a metade de todos os Pentecostais, reunidos no
Brasil: “Evangélicos de origem pentecostal, 17.617.307. Igreja Evangélica
Assembléia de Deus, 8.418.140”.
Figura 6. Segundo Templo das Assembléias de Deus no Brasil. (OLIVEIRA, 1998. pg. 79)
Na figura 6, vê-se o segundo templo no Brasil, e na figura 7 temos
uma idéia geral da expansão da Igreja, observando o interior do atual templo das
Assembléias de Deus em Belém – PA.
41
Figura 7. Templo da Assembléia de Deus em Belém – PA em 1997. (OLIVEIRA, 1998. pg. 91)
Quando a Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém,
foi iniciada na Vila Carrão, zona Leste da cidade de São Paulo já havia dezesseis
anos de trabalho missionário pentecostal no Brasil. Dessa forma Daniel Berg
mudou-se para São Paulo para iniciar o trabalho na Capital Paulista no dia 15 de
novembro de 1927, quando o Bairro do Carrão era totalmente despovoado, não
conheciam ninguém e não tinham nenhum contato, no entanto iniciava-se um dos
maiores Ministérios das Assembléias de Deus no Brasil. Com os mesmos
procedimentos utilizados em Belém do Pará, Berg foi evangelizando e convidando
as pessoas para participarem dos primeiros cultos em sua casa. Realizou o
primeiro batismo dia 04 de março de 1928 e com o progresso de seu trabalho, Berg
alugou o primeiro salão em São Paulo na Av. Celso Garcia, 1.209; onde funcionou
a primeira “Sede” de São Paulo.
Em 1935, após se mudarem da primeira Igreja construída em São
Paulo na Rua Vilela, inaugurou-se a nova sede num amplo salão da Rua Cruz
Branca, 35. Na figura 8, vê-se a Banda no púlpito desse templo.
42
Figura 8. Foto da Banda do Belém, dos arquivos do Maestro João Quirante.
Na figura 8, vê-se o Maestro Jahn I. Sörheim, em pé, usando terno
branco, atrás do percussionista. [Sörheim foi um Missionário sueco, músico,
responsável pela formação de vários Corais, Bandas e Orquestras nas
Assembléias de Deus]. A sede da Assembléia de Deus em São Paulo ainda
mudou-se outra vez, em 1941, para a R. Antonio de Alcântara Machado, 616 no
Bairro Belenzinho – SP, figura 9. Antes de se mudar para a R. Conselheiro
Cotegipe ocupou um imóvel alugado, à R. Dr. Clementino, 200, também no bairro
do Belenzinho.
Figura 9. Foto da Banda do Belém, dos arquivos do Maestro João Quirante, [foto de 1950].
43
Figura 10. Foto da Banda do Belém, dos arquivos do Maestro João Quirante [foto de 1976].
Na figura 10, vê-se o Maestro João Quirante no canto inferior direito
usando terno rosa. Esse Templo foi desapropriado para a construção da estação
Belém do Metrô Metropolitano de São Paulo, quando foi transferida então para a R.
Conselheiro Cotegipe, 273 o templo atual da Igreja Assembléia – Sede do
Ministério do Belém. Na figura 11, observa-se o culto da pedra fundamental desse
templo. Estavam presentes nesse culto, realizado no dia 12 de dezembro de 1976,
o Pastor Presidente do Ministério do Belém, Cícero Canuto de Lima, no centro da
foto de terno claro e seu Vice-Presidente, José Welington Bezerra da Costa à sua
direita de terno azul segurando a bíblia, fechada, com a mão esquerda; o homem
de óculos com a bíblia aberta é o engenheiro Prof. Dr. Marcel Mendes, responsável
pelo projeto arquitetônico desta obra e ao seu lado, de terno marrom, o Presbítero.
Pedro Isaias, mestre de obras.
44
Figura 11. Foto do culto da Pedra Fundamental do atual Templo, dos arquivos do Maestro João
Quirante [foto de 1976].
A atual Sede construída nesse terreno está sob a responsabilidade de
seu atual Pastor Presidente José Welington Bezerra da Costa, (figura 11), Igreja
foco de nossa pesquisa. Na foto menor, da figura 11, observa-se no canto inferior
direito, de terno marrom tocando clarinete, o Maestro Quirante. Na figura 12 e 13,
vê-se respectivamente o atual e o futuro templo da Igreja Assembléia de Deus –
Sede do Ministério do Belém, já em construção.
Figura 12. Atual Templo da Igreja Objeto de nosso estudo. (Foto de 12/2009).
45
Figura 13. Imagem do protótipo do que será o novo Templo da Igreja Objeto de nosso estudo.
(http://www.adimb.com/assembleia/endereco)
O desenvolvimento e o crescimento do corpo musical e do trabalho
artístico dos Maestros pioneiros se deram de forma semelhante ao da
colportagem40 e evangelização, ou seja, cresceram juntos e da mesma forma:
Igrejas que tinham dois ou três músicos, há vários anos, hoje têm grandes
Orquestras e variados grupos musicais, mas infelizmente nas pesquisas e nos
livros onde se buscam o resgate histórico da Igreja Assembléia de Deus, quase
nada se fala sobre a Banda de Música; tampouco se procura saber os nomes
daqueles que deram as primeiras aulas de música e tocaram os primeiros
instrumentos. Na pesquisa de Isael de Araujo “Dicionário do Movimento
Pentecostal”, embora seja um material histórico riquíssimo, só se tem informações
40
“Colportor: Vendedor ou distribuidor ambulante de livros e bíblias (venda porta a porta), tendo
também a missão evangelística.” (ARAUJO, 2007. Pg. 194)
46
biográficas de músicos quando estes também são pastores. Como se vê na figura
14:
Figura 14. Cópia da Figura 8, publicada com legenda errada. (OLIVEIRA, 1998. Pg. 113)
Observem que na foto o mérito pela banda é do Pastor, enquanto o
“Maestro” não é citado, e só se pode saber de seu nome porque o reconhecemos
na fotografia, (vide página 42). (No Livro, publicado pela CPAD41, se lê a data de
1950, porém na fotografia é possível ler: “NATAL 1937”; nosso entrevistado
Maestro João Quirante tinha uma cópia dessa foto e nos confirmou que realmente
era de 1937). Ainda que se consiga fazer um trabalho de grande valor artístico, os
Maestros não o fazem com o objetivo do fazer artístico, mas fazem exclusivamente
para louvar a Deus. Com isso se sub-valorizam e não se preocupam com o
aperfeiçoamento técnico; não impondo respeito e agravando o problema de falta de
apoio, pois dessa forma perdem a voz e se isolam diante de inúmeras dificuldades.
Isso é considerado um problema, mas se alguém pergunta, todos responderão:
estamos louvando a Deus, mesmo acomodados em um espaço físico inadequado
41
CPAD é a sigla da Casa Publicadora das Assembléias de Deus.
47
ou não obtendo um resultado satisfatório. Acreditamos que a arte louva a Deus, e
que a música sem qualidade artística feita sem devidas preocupações técnicas,
não é outra coisa se não falta de conhecimento musical e por bom senso poderia
ser extirpado de uma Igreja tão séria, adotando-se, por exemplo, a sistematização
de frentes de “educações musicais” padronizadas, contendo o essencial a ser
trabalhado na formação de um cantor ou instrumentista, para que, com qualidade e
rigor técnico, possam fazer das Assembléias de Deus, além da maior Igreja
Pentecostal, uma igreja onde se possa ouvir boas execuções musicais.
2.4 Daniel Berg e Gunnar Vingren. Suas contribuições para o
cumprimento do direito da liberdade religiosa no Brasil
Ao fundarem a Assembléia de Deus, mesmo não sendo brasileiros e
sequer falarem o português, iniciaram uma das poucas igrejas de tamanho vultoso
e caracteristicamente brasileira42, organizando um sério trabalho educacional e
social com escolas de ensinos fundamental e médio, creches, asilos, universidades
e milhares de templos edificados em todo o território nacional.
Uma igreja como a Assembléia de Deus é tão brasileira que já se diz
popularmente que cidade que se preze possui uma agência do Banco
Bradesco, um cemitério, uma igreja Católica e um templo das Assembléias
de Deus (CALDAS, 1996. Pg.76)
42
Brasileira não no sentido de brasileirismo ou brasilidade, mas no sentido geográfico.
48
Porém, há poucos documentos historiográficos e seus membros mais
jovens não conhecem fatos históricos da origem dessa organização, e dessa
forma, alguns poucos estudiosos pensam que a igreja teve sua origem americana,
enquanto outros européia. O fato é que os missionários que se empenharam na
construção de tão sólida instituição a fizeram sem preocupação histórica, para que
o nome de Deus fosse louvado; perdendo-se dessa forma documentos que
pudessem firmar ou desmentir informações e enganos43, [mesmo que sem intenção
de mentir ou enganar], como podemos observar:
Quando irromperam com sua experiência pentecostal, não puderam
permanecer com seus irmãos e irmãs batistas e iniciaram sua própria
Igreja. Mais tarde, filiaram seu movimento nacional à Assembléia de Deus
44
de origem norte-americana [sic]. (GUTIÉRREZ, 1996. Pg. 35)
Dentre as igrejas pentecostais de origem estrangeira que atuam no Brasil,
podem-se citar: As Assembléias de Deus (de origem Sueca), [sic]
Congregação Cristã (de origem Italiana), [sic] e Igreja do Evangelho
Quadrangular (de origem norte-americana). (CALDAS, 2001. Pg. 74)
Os missionários Gunnar e Daniel não vieram ao Brasil enviados ou
financiados pela Igreja Batista Norte-americana. Esse ponto é muito importante
porque causa muitas dúvidas e interpretações equivocadas e requer explicações:
a) Daniel Berg foi aos EUA em busca de oportunidade financeira e
desenvolvimento profissional pessoal, cf. “Enviado por Deus” uma biografia editada
em data desconhecida por uma gráfica de São Paulo (BERG), e segue relatando
que saiu de Vargon, Suécia e chegou na costa americana em 25 de março de 1902
na cidade de Boston. Passados oito anos voltou para a Suécia onde teve contato
com o Pentecostalismo. Retornando aos EUA, conheceu Gunnar Vingren numa
Há hoje interesse em resgatar a história, buscando-se através da História Oral, informações e
documentando-as. Um bom exemplo disso é o trabalho do pesquisador Pastor Isael de Araujo.
44
Esclarecimentos dessa informação no tópico 2.5 – “O Nome Assembléia de Deus” da página 53.
43
49
conferência, em Chicago e que também era Sueco, da cidade de Ostra Husby,
Ostergötland; e então, tornaram-se amigos.
b) Gunnar Vingren chegou aos EUA, em Kansas City no dia 19 de novembro de
1903. Começou um curso de quatro anos no seminário teológico sueco batista
entrando em seguida na universidade batista de Kansas, sendo diplomado em
maio de 1909. Embora adquirisse formação acadêmica em uma igreja histórica,
Gunnar conheceu o pentecostalismo ainda nessa denominação.
c) Ambos receberam orientação para virem ao Brasil através de procedimentos
pentecostais e não de uma organização americana ou sueca; vieram com dinheiro
doado por pessoas, (irmãos pentecostais movidos por uma emoção, um sentimento
superior), que no meio pentecostal se entende como “uma ordem do próprio Deus”:
Ali estávamos os dois sem nenhum recurso, sem pertencer a nenhuma
denominação, pertencendo somente à denominação que está no céu.[...]
Eu lhes contei como tinha vindo a este país sem pedir ajuda de ninguém,
somente confiando no Senhor. (VINGREN, 1973. pg. 25 e pg. 57)
d) Não foram hospedados na Primeira Igreja Batista do Pará como supostamente
se acredita [ver citação da pg. 32], Berg trabalhava numa fundição, enquanto
Vingren estudava língua portuguesa durante o dia e ensinava o que tinha
aprendido ao companheiro à noite. Dessa forma com o trabalho de Berg se pagava
as aulas, a alimentação e a hospedagem:
O pastor batista também falava inglês. Nós então perguntamos a ele onde
poderíamos morar mais barato, porque no hotel estávamos pagando 16 mil
réis (cerca de 4 dólares por dia). Ele então nos convidou para morar em sua
casa por 2 dólares diários. [...] Era um corredor bem escuro no porão,
com o chão de cimento sem nenhuma janela. (VINGREN, 1973. pg. 28).
50
e) Ao anunciar os costumes pentecostais para os irmãos batistas que se reuniam
no templo logo acima de suas acomodações, foram expulsos. Dezoito membros
que não concordaram com o ocorrido, tomaram partido contra tal expulsão e dessa
forma, também foram expulsos da Primeira Igreja Batista do Pará. Então:
Não havíamos revelado essa preocupação a ninguém. Porém o irmão que
se levantou e falou em nome dos demais, chegou perto de nós, e, como se
houvesse lido nossos pensamentos, disse: compreendo vossa
preocupação; tenho uma grande sala em casa; está à vossa disposição,
para realizar cultos, e para morar, também há lugar para os irmãos. É claro
que aceitamos o oferecimento, com muita alegria; naquela noite nós e
muitos que desejavam o Espírito santo, reunimo-nos naquela casa, para
realizar, oficialmente, o primeiro culto pentecostal no Brasil. [sic] [ver
citações da pg. 31 e pg. 32]. (BERG, pg. 40 e pg. 41)
A grande colaboração que os dois missionários deram ao Brasil é que
espalharam bíblias em português, trazidas dos EUA, por todo o norte, centro
oeste e nordeste e finalmente em todo território brasileiro. Esse fato foi de
extrema relevância para a liberdade religiosa em nosso país. Antes desse fato
histórico a maioria das bíblias que se tinham, estavam escritas em latim e em
poder dos padres católicos que ensinavam aos brasileiros, ser proibido lerem-nas
sem ter a patente de padre ou outra do sacerdócio católico. Assim posto, a
liberdade religiosa era apenas teórica, porque as pessoas não tinham outra opção
de escolha, visto que as bíblias em português nas denominações históricas eram
em quantidades insuficientes; como se observa na narração do pioneiro Daniel
Berg:
51
Surpreendido, o homem parou. Tirei a Bíblia do bolso e perguntei-lhe se
conhecia aquele Livro. Depois de o haver examinado, reconheceu que era
a Bíblia. Olhou em redor, receioso [sic] de que a rua tivesse ouvidos [sic]. ─
Sim, já vi uma Bíblia ─ disse ele ─ mas era em latim, mas não compreendi
nada. Eu sei ─ respondi ─ que os católicos estão proibidos, pelos padres de
ler a Bíblia. Os padres dizem que só as pessoas cultas podem ler a Bíblia.
[...] Neste livro que lhe ofereço o sr. tem o privilégio de encontrar a verdade.
Pode lê-lo sozinho, sem imposições do que pode e do que não pode ler.
(BERG. Pg 80)
Berg ficou conhecido no Pará como vendedor de livros [copoltor], ele
não doava todas as bíblias. No início, durante alguns anos até a igreja tomar forma
de organização filantrópica essa foi a maneira que encontrou para se sustentar:
revendendo bíblias. Durante a exposição de sua “mercadoria” falava de seu
conteúdo, às vezes doava algumas bíblias quando percebia que a pessoa se
interessava, mas não tinha dinheiro para comprá-las. Relatou em suas memórias
que certa vez deu uma a um homem que o recebeu num vilarejo e que estava
muito triste porque acabara de perder um cachorro, morto por uma onça que ali
passara. Esse homem não sabia ler, mas ficou com a bíblia para que quando
passasse alguém alfabetizado por ali a lesse para ele e sua família. Há relatos de
pessoas que aprenderam ler examinando a bíblia, qual metodologia aplicada no
aprendizado não foi possível identificar, mas esse fato se repetia durante esse
período inicial da Assembléia de Deus no Brasil:
Mais uma remessa de Bíblias e Novos Testamentos havia chegado. Sei
que eram muitas, e muitíssimos eram os pacotes, que haviam atravessado
o Oceano Atlântico, guardando o conteúdo valioso. Além do valor espiritual,
o valor cultural e educativo dos livros eram também elevados. Quando a
pessoa que não sabe ler chega a ter fé em Jesus e na Sua Palavra,
também deseja conhecer a Bíblia. Em alguns casos a pessoa faz os
maiores esforços para aprender ler, a fim de dedicar-se a leitura do Livro
Divino. (BERG. Pg. 99)
52
Com essa inusitada abertura, antigos tiradores de novenas, rezadores de
pagar promessas, uma vez convertidos ao pentecostalismo, encontraram
oportunidade para pregar a Bíblia. Para difundi-la no meio de gente
simples. Aqui convém destacar que foram os pentecostais os primeiros a
levar a Bíblia às camadas empobrecidas. Precederam de muito o
45
catolicismo [sic] e grande maioria das Igrejas Evangélicas. (ROLIM, 1987.
Pg.25 e pg. 26
Dessa maneira, fomentaram a leitura da bíblia como hábito diário, o
canto e uso de alguns instrumentos musicais. Aqueles que estivessem disponíveis,
eram inseridos na liturgia do culto. Frida Strandberg, missionária que se tornaria
esposa de Vingren relata em uma carta enviada à Suécia em 5 de julho de 1917 as
seguintes observações descrevendo o já desenvolvido hábito musical durante os
cultos: “Sobre a porta está escrito46: “Assembléia de Deus”. Ó, como cantavam!
Uma irmã sentada bem na frente dirigia47 os hinos com sua voz de soprano, como
uma flauta” (VINGREN, 1973. pg. 87). Nos cultos, em templos, ou vilarejos as
pessoas tinham oportunidade para testemunhar algum fato ou simplesmente cantar
um hino durante um período do culto que normalmente antecede o momento da
pregação, como observamos:
Dizer que os pentecostais se anteciparam aos católicos na distribuição de Bíblias em português é
um fato inegável, mas seguramente leva o leitor a imaginar que a Igreja Católica queria distribuir
Bíblias em português e só o fez em 1976 por alguma desatenção: “ I edição – setembro de 1976 –
66.000 exs”. (BÍBLIA, 1980). Isso não é verdade. Não interessava para a Igreja Católica que o povo
brasileiro lesse ou tivesse acesso aos textos bíblicos porque há muitas contestações bíblicas para
muitos procedimentos litúrgicos e administrativos católicos: A adoração e culto às imagens,
[Miquéias 5:13; Romanos.1:23] a autonomia e autoridade de padres para absolver e condenar
pessoas de seus pecados, [Atos 8:22]. Biblicamente é inconcebível imaginar que uma pessoa do
mundo humano, natural, tivesse autonomia para criar o purgatório e pior ainda é o fato de uma
patente eclesiástica como um papa, tivesse no lugar de Cristo, [Isaias 42:8; 48:11]. Estes são
apenas alguns pontos básicos para não nos alongarmos nesse assunto que não é o teor de nossa
pesquisa.
46
Strandberg descrevia a figura 4 da página 38.
47
Dirigir um hino significa liderar o canto sobrepondo a voz, definindo o tom e o ritmo, dessa forma
todos os demais seguem a execução.
45
53
Onde há despertamento, também se canta bastante. Por isso também
imprimiram o hinário, que ficou pronto no dia 6 de outubro [de 1917] e tinha
194 hinos e cânticos. [...] mas todos estão orando ferventemente a Deus
48
pelo culto. O pastor começa a cantar um hino todos se levantam e cantam
juntos. Outro hino é cantado com muito fervor e alegria. O hino é dirigido
por uma senhora ruiva, a irmã Frida Vingren, que está tocando órgão. Um
jovem está ao lado, tocando violino e um senhor de idade toca trombone
[1926]. (VINGREN, 1973. Pg. 83 e pg. 123)
2.5 – O nome “ASSEMBLÉIA DE DEUS”
É provável que tenha sido nessa época [08/11/1914] que ocorreu o que foi
relatado por Manuel Maria Rodrigues e, a partir daí, passaram a usar o
nome “Assembléia de Deus”. “Estou perfeitamente lembrado da primeira
vez que se tocou nesse assunto. Tínhamos saído de um culto na Vila
Coroa. Estávamos na parada do bonde, na Bernal do Couto canto com a
Santa Casa de Misericórdia. O irmão Vingren perguntou que nome deveria
se dar à igreja, explicando que na América do Norte usavam os termos
Assembléia de Deus ou Igreja Pentecostal. Todos os presentes
concordaram em que deveria ser “Assembléia de Deus”” Segundo apurou
o pesquisador da história das Assembléias de Deus, Eliézer Cohen, quando
entrevistou vários pioneiros e crentes antigos no Norte do País para o
projeto Pró-Memória, realizado pela CPAD na década de 80, o nome
“Missão de Fé Apostólica” não teve boa aceitação. (ARAUJO, 2007. pg. 40
e pg. 41).
Controlar o uso de uma marca ou um nome representativo não é
tarefa fácil no Brasil ou em outra parte qualquer do mundo. Hoje há órgãos
controladores, que fiscalizam o uso indevido de nomes, e impedem que se criem
ambigüidades, até por desconhecimento, de nomes tradicionais ou marcas de
projeção internacional. Não há informações que justifiquem afirmar que o
48
Quando a igreja está reunida orando, é prática na igreja pentecostal que quando se quer
interromper a oração para a seqüência do culto, alguém canta, como um sinal. Conhecendo esse
sinal, a membresia da igreja então, para a oração e canta também até o final do hino quando se dá
a seqüência do culto.
54
movimento pentecostal brasileiro iniciado por Daniel Berg e Gunnar Vingren foi
associado ao movimento também pentecostal norte-americano “Assemblies of
God” associação de Igrejas Pentecostais fundada em 1914 [ver citações das pp. 48
e 49]. Vejamos a procedência do nome Norte Americano:
Nos Estados Unidos, em 1909, foi formada uma associação livre de
pastores pentecostais em Dothan (Alabama), chamada Church of God
(Igreja de Deus), sem qualquer relação com a homônima de Cleveland.
Seus quatro principais líderes foram: H.G. Rodgers, M. M. Pinson, D. J.
Dubose e J.W. Ledbetter. [...] Nos Estados Unidos, em 1913, o grupo da
Church of God (Igreja de Deus), fundada em Dothan, uniu-se à Church of
God in Christ – white (Igreja de Deus em Cristo – dos brancos) com um
cadastro de 352 pastores. Nos Estados Unidos, em 1914 foi fundada a
49
50
Assembly of God [sic] (Assembléia de Deus [sic]), na cidade de Hot
Spring, Arkansas, sob a liderança dos principais pastores da Church of God
in Christ – white: M. M. Pinson, A. P . Collins, H. A. Goss, D. C. O.
Opperman e E. N. Bell. Com a fundação da Assembly of God, a Church of
God in Christ deixou de existir. (ARAUJO, 2007. pg. 241 e pg. 242)
Sempre houve cooperação e ajuda de igrejas pentecostais suecas e
norte-americanas. Missionários foram enviados para o Brasil e trabalharam com os
pioneiros Vingren e Berg, assim como, houve ajuda financeira, mas é clara a
independência da igreja brasileira.
Dessa forma quando a Assembléia de Deus foi registrada no Brasil, já
havia nos EUA uma associação de igrejas com nome semelhante, a “Assemblies of
God”, esta associação é uma união de igrejas pentecostais norte-americanas que
se ajudam mutuamente. Essa organização envia missionários para o mundo todo,
─ não há noticias de missionários desta organização no Brasil até os anos
No site da referida Igreja se lê: “Assemblies of God” . Quando se encontra o nome “Assembly of
God” trata-se de filiais da Igreja Brasileira em solo Norte Americano. www.ag.org acessado em
30/11/2009.
50
A tradução acompanha o plural do primeiro nome em Inglês: “Assembléias de Deus”, porque se
trata de uma associação de igrejas pentecostais. Ver recurso em espanhol no próprio site
www.ag.org acessado em 30/11/2009.
49
55
anteriores a segunda guerra mundial ─ porém cada igreja associada mantém sua
independência. Posto isso fica evidente que a igreja fundada pelos missionários no
Brasil nada tem com esta organização:
O ano de 1918 foi de suma importância para a continuação do movimento
pentecostal no grande país. O trabalho já contava com alguns anos. Agora
chegou o tempo de registrar a igreja oficialmente, para que fosse pessoa
jurídica. Isto aconteceu no dia 11 de janeiro de 1918, quando a igreja foi
registrada oficialmente com o nome de “Assembléia de Deus. (VINGREN,
1973. Pg. 91)
Outro fator importante, ainda sobre dúvidas se a Igreja Brasileira
tenha sido incorporada pela Igreja Norte-Americana como se supõe na primeira
citação da página 48, são os esclarecimentos da pesquisa de Isael Araújo e na
entrevista concedida pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da
Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério Belém e também
presidente da CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil):
11 de janeiro de 1918 – A Missão da Fé Apostólica de Belém é registrada
como Sociedade Evangélica Assembléia de Deus. Adota-se a expressão
“Assembléia de Deus” quatro anos depois de pastores e igrejas
pentecostais norte-americanas terem formado em 1914, o Concilio Geral
das Assembléias de Deus. (ARAUJO, 2007. Pg. 244)
É o seguinte: precisa se compreender que a Assembléia de Deus no Brasil,
foi na verdade, iniciada por Gunnar Vingren e Daniel Berg. Com o
crescimento da Igreja, com a expansão da Igreja, nós recebemos alguns
missionários americanos. Daí houve, não intervenção, não existe nenhum
compromisso, compromisso fechado, estatuído, com contrato ou coisa
semelhante com a igreja americana. Nós temos comunhão eclesiástica, não
só com eles, mas com os demais países [se referiu às outras Igrejas
Assembléias de Deus] do mundo, pois bem. Com relação à Suécia, até
quando o Brasil necessitou de missionários estrangeiros eles aqui
estiveram. Os irmãos suecos, foram na verdade de uma boa compreensão,
de um bom entendimento, quando eles notaram que o Brasil [se referiu à
56
Assembléia de Deus] tinha condição de andar com suas próprias pernas,
eles então se retiraram e então passaram a investir em outros países.
Deixaram então o trabalho das Assembléias de Deus nas mãos dos
Nacionais [referiu-se aos pastores]. E a nossa comunhão não é só com a
igreja americana, mas com a igreja sueca e com as demais Assembléias de
Deus no Mundo, haja vista que participo do comitê mundial das
Assembléias de Deus; agora no próximo mês de março [2010] vou para
Amsterdã, pois faço parte da comissão que está organizando o próximo
Congresso Mundial das Assembléias de Deus que irá acontecer na China
na cidade de Xangai. Mas não existe um compromisso, se não eclesiástico,
com as Assembléias de Deus do mundo inteiro. Com relação aos
brasileiros que vão daqui para a América, a igreja americana, assim como
no Brasil, eles têm sua Convenção Nacional, você acabou de dizer que a
sede é em Springfield. Eu tenho estado sempre com aqueles irmãos, tenho
boa amizade, boa comunhão com eles. Nós, como temos um bom número
de brasileiros morando na América, e você sabe que há certa diferença na
Assembléia de Deus americana e a Assembléia de Deus brasileira. Daí até
a liturgia é um tanto diferente. Nós recebemos orientação, e procuramos
segui-la, dos irmãos suecos e elas se adaptam, mas não é a mesma liturgia
da América do Norte. Daí o porquê os nossos irmãos americanos
compreendendo isso, eles então nos franquearam a nos organizar na
América. Nós temos lá um distrito de língua portuguesa para os brasileiros,
esse distrito foi criado juridicamente, e está vinculado à Convenção
Americana. Por enquanto esse distrito é presidido pelo Joel Freire da Costa
[filho de José Wellington da Costa], ele é o presidente do distrito de língua
portuguesa para os brasileiros nos EUA, e faz parte da área administrativa
da igreja americana, porque o distrito está vinculado à Convenção
Americana. Eles, os brasileiros que estão lá vinculados, têm credencial da
Convenção Americana, são obreiros da Convenção Americana. Eles têm a
nossa credencial no Brasil, eles têm dupla cidadania pentecostal.
(ENTREVISTADO 5, 2009)
A divisão das tarefas entre os dois missionários no Brasil era a
seguinte: Gunnar cuidava das igrejas e da parte burocrática, Daniel fazia o trabalho
de campo visitando e evangelizando vilarejos e iniciando igrejas. Dentre as
atividades de Gunnar estava a divulgação que fazia pessoalmente no exterior
viajando aos EUA, quando falava sobre o Brasil e o desenvolvimento do movimento
Pentecostal Brasileiro. Em cada cidade que visitava conquistava pessoas que
voluntariamente enviavam ofertas para ajudar o sustento e a expansão da jovem
igreja brasileira:
57
Durante estes meses nos Estados Unidos, fez longas viagens por este
grande continente e realizou cultos e falava ardentemente sobre a obra de
Deus no Brasil, e como Deus havia derramado do Seu Espírito Santo sobre
os brasileiros. [...] deram uma oferta para o Brasil. A oferta foi de cinco
dólares. “No dia seguinte enviei estes cinco dólares ao Brasil. Glória a
Jesus. [...] Naturalmente todos se interessaram pelo trabalho missionário no
Brasil e se levantou uma oferta, a fim de comprar um barco para a missão
no rio Amazonas. (VINGREN, 1973. pgs. 65, 66 e 67)
Sobre esse barco comprado com oferta americana entende-se ao
comparar relatos das Memórias de Daniel Berg que não foi suficiente para pagá-lo
completamente, mas apenas para a entrada. Tratava-se de um veleiro com
camarote e cozinha, foi usado para a evangelização e transporte de irmãos
amazônicos que tivessem alguma urgência ou para levar alguém ou algo à algum
lugar:
O proprietário facilitou o pagamento de modo que conseguimos comprálo. [...] Tratando-se de um barco a vela, desenvolvia grande velocidade, o
que favorecia o atendimento ao trabalho. Um barco menor, atrelado ao
grande, completava o equipamento [...]. Nos flancos e na proa estava
escrito o nome do barco, que era o seguinte: “Boas Novas”. Esse tornou-se
conhecido em toda a região; [...] O trabalho crescera tanto, nas ilhas, que
nem mesmo com o barco veloz era possível atender a todos os chamados.
Atendíamos com preferência aos enfermos. [...] Combinamos que se
ergueria uma bandeira vermelha, na margem do rio, quando houvesse
enfermos. [...] Caso não houvesse algo importante, estaria então a bandeira
branca, como sinal. (BERG. pg. 133 e pg. 134)
Mesmo com a importante ajuda americana não se pode afirmar que
esta ajuda era dada por uma igreja ou organização estabelecida, mas eram
doações de pessoas que queriam colaborar, assim como a ajuda recebida da
Suécia, oferecida devido aos laços de antiga amizade entre Vingren, Berg e
Pethrus. Vale dizer que a colaboração mais significativa veio da Suécia,
especificamente da Igreja Filadélfia do pastor Pethrus.
58
Em 1914, Daniel Berg viajou para a Suécia, estabeleceu contato com Lewi
Pethrus, seu amigo de infância e pastor da 7ª Igreja Batista de Estocolmo,
que poucos anos antes se tornara pentecostal e se organizou como Igreja
Filadélfia de Estocolmo em 1913. A partir deste ano, Daniel Berg e Gunnar
Vingren passaram a constar nos registros dessa igreja como seus
missionários. No ano seguinte, 1915, Gunnar Vingren também seguiu para
a Suécia. (ARAUJO, 2007. Pg. 41).
Esta igreja foi a que mais enviou missionários, e estes também
implantaram Igrejas Assembléias de Deus em solo brasileiro. Todavia Lewi
Petrhus, pastor da Igreja Filadélfia, em 1930 esteve em convenção no Brasil,
convocado por Vingren; e nessa ocasião Petrhus decidiu que as igrejas iniciadas,
por seus missionários, fossem entregues para os pastores brasileiros. Dessa forma
os missionários estrangeiros terminaram sua missão neste país, ficando a Igreja
Assembléia de Deus no Brasil sob responsabilidade dos brasileiros e cem por
cento comandada por pastores nacionais:
Sobre a viagem ao Brasil o pastor Lewi Petrhus escreveu na revista
pentecostal da Suécia, “Evangelii Harold” o seguinte: [...] A pedido dos
missionários no Brasil, a igreja resolveu enviar-me numa visita de pouco
tempo ao campo missionário no Brasil, o maior e mais antigo do
movimento pentecostal na Suécia. [...] Haviam chegado à conclusão que
os trabalhos nos Estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Rio Grande do
Norte, Paraíba e Pernambuco, onde já havia cerca de mil membros em
cento e sessenta igrejas, deveria ser entregue inteiramente aos obreiros
nacionais. Também foi mencionado e dito pelos missionários que todos os
templos e locais de reuniões que pertenciam à missão deveriam ser
entregues, sem nenhum custo, para as respectivas igrejas locais
brasileiras. (VINGREN, 1973. pga 144 e pág. 155)
Então, desde 1930, a expansão e a administração da Igreja
Assembléia de Deus em todo o território nacional e também no exterior foi
resultado do trabalho de brasileiros seguindo as práticas e orientações deixadas
por seus fundadores.
59
2.6 A liturgia Assembleiana e a Música
A Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Sede do Ministério do
Belém, cada vez mais, assume o papel do Estado no que tange à inclusão social, e
à difusão das artes entre as classes sociais mais desfavorecidas. Tem filiais por
todo o Brasil e, por sua vez, essas filiais, adotam costume litúrgico orientado pela
sede que inclui a prática do canto acompanhado de Banda Musical, ou Orquestra,
ou de alguns instrumentos da banda ou orquestra. Cada culto é dividido em duas
partes: a do louvor e a da “palavra51”, com pequenas variações apenas nas filiais
menos desenvolvidas que o dividem em três partes: louvor, “oportunidades”52 e
palavra. O louvor ocupa metade, às vezes até dois terços do tempo total do culto e
nunca menos que a metade do tempo cúltico.
Usa-se, nessa igreja, a Bíblia e a Harpa Cristã53 em todas as reuniões
litúrgicas e administrativas, todos os membros têm uma Bíblia e um hinário; quando
não se tem condição financeira para comprá-los alguém ou a própria igreja lhes
doa um exemplar de cada: da Bíblia e da Harpa Cristã. Esses membros são
incentivados a usá-los em suas casas ou trabalho e quando vão a alguma reunião,
os levam de suas casas. Ensina-se, que as músicas catalogadas da Harpa Cristã
“Palavra” na linguagem pentecostal significa o momento da pregação, da reflexão e ensino de um
texto bíblico.
52
“Oportunidade” é a abertura que se faz no tempo cúltico para a membresia em geral fazer uma
leitura bíblica e um pequeno sermão, contar uma benção alcançada, testemunhar uma dádiva
qualquer, cantar um hino. Quando se canta nessas “oportunidades” se tem autonomia para chamar
outras pessoas presentes para subir ao púlpito e também cantar. São nessas “oportunidades” que
se descobrem e desenvolvem aptidões e talentos: tanto para pregadores como para o departamento
musical. [nessas oportunidades quando se canta, se cantam hinos avulsos, outros do meio
pentecostal e gospel, portanto fora do hinário Harpa Cristã.]
53
Harpa Cristã é o nome do hinário das Assembléias de Deus invariavelmente, independente de
qual ministério e possui 640 músicas. No meio pentecostal é conhecido como Harpa.
51
60
são inspiradas por Deus54, assim os hinos são tão reverenciados quanto a leitura
bíblica. Dessa forma se promove o canto e o contato de toda a membresia ou
visitantes com a música:
A igreja protestante é uma igreja que canta. As reformas protestantes
ocorridas na Igreja Católica no século XVI alteraram as práticas de cultos
possibilitando aos cristãos protestantes cantar de forma participativa nos seus
cultos. Estas mudanças inseriram o canto congregacional nas liturgias
musicais protestantes e os cristãos puderam desde então cantar os corais
luteranos e os salmos calvinistas em suas próprias línguas. Descobriu-se
então o valor didático das práticas musicais. A música poderia ser realizada
de forma solene para compor certos momentos do culto. Esta arte poderia
também estar a serviço da interiorização das teologias e doutrinas, já que
textos contendo mensagens específicas eram cantados e repetidos por todos.
(FREDDI JÚNIOR. 2002, p. 13.).
2.6.1 Contribuições Assembleianas para a cultura musical brasileira
2.6.1.1 O Hinário e a Hinódia
O Hinário Assembleiano tem uma edição apenas com a poesia, sem
nenhuma notação musical para que a congregação tenha mais facilidade na leitura,
figura 15. Essa edição sem música foi elaborada para que cantores não leitores de
notação musical pudessem acompanhar o texto e também participar do canto
congregacional, enquanto a Banda ou a Orquestra tocam. Esse foi o procedimento
desde os primórdios quando ainda não se tinha estrutura técnico-musical e os
cantos eram acompanhados por um ou dois instrumentos populares, (cujos
[...] 524 cânticos congregacionais escritos por homens inspirados por Deus. Agora, surge a
oportunidade de ampliarmos a Harpa Cristã com outros hinos inspirados. (Ante-capa do hinário
Harpa Cristã)
54
61
executores também não liam e nem conheciam tal notação), como: violão,
triângulo, pandeiro ou sanfona:
Figura 15. Digitalizado a partir do Hinário Harpa,Cristã sem música. (HARPA, 1992)
Tal edição reforça o pensamento equivocado, principalmente nas
filiais da Igreja Assembléia de Deus – Sede do Ministério do Belém, que para
cantar, não é necessário ler partitura; porque o membro da igreja vê dois modelos
do mesmo hinário: um com letra e música disposto a quatro vozes para coral, figura
16, geralmente usado por quem toca instrumento de sopro, piano ou é maestro,
chamado de “Harpa com Música”) e o outro apenas com o texto poético, [figura 15,
inclusive Pastores e Líderes não ligados ao departamento musical, usam essa
edição no púlpito. A esse, chamam apenas de “Harpa”].
62
Na edição sem música quase não se tem informações sobre autor e
compositor. Trata-se na figura 15, de um hino estrófico cujo estribilho55 está em
negrito. Nessa edição do hinário, quando só há estrofes56 a música é impressa
normalmente. Os números de um a quatro escritos no começo dos versos indicam
o inicio das estrofes, o número “254” antes do título da música indica sua
disposição no hinário. Há no final da última estrofe da figura 15, três letras que
identificam o autor ou tradutor, “J.A.S”, trata-se de Janh Sörheim [para afirmarmos
isso, foi necessário pesquisar o hinário com música]. Esta maneira de identificar o
compositor, o autor ou o tradutor é atípica e no mínimo uma explicação se faz
necessário num prefácio como há nos hinários das Igrejas Históricas como: Novo
Cântico57, Salmos e Hinos, Cantor Cristão58, Hinário para o Culto Cristão. Dessa
forma, na Harpa Cristã, não fica claro na impressão dessas três letras, quase
despercebidas no final dos textos, que se trata de autor, tradutor ou compositor.
Na figura 16, [cópia de edição com música de 1981 com 524 hinos]
vê-se a mesma música, nela fica claro a Forma59 Binária Redonda60, A-B. Há
também ao lado do titulo o número “254”, da mesma forma indicando sua
disposição no hinário, porém o nome do autor e compositor está disposto como é
mais comum nas partituras impressas: compositor à direita e autor à esquerda,
“ESTRIBILHO, frase ou período melódico que se repete regularmente; usa-se em particular no
canto popular, profano e sacro.” (SINZIG, 1959. Pg. 249)
56
“ESTROFE, grupo de versos, estância; no canto, geralmente, é sempre igual, com mesmo
número de linhas e sílabas.” (SINZIG, 1959. Pg. 249)
57
“Novo Cântico” Hinário Oficial das Igrejas Presbiterianas do Brasil, juntamente com o Hinário
Salmos e Hinos.
58
“Cantor Cristão Musical” Hinário Oficial das Igrejas Batistas do Brasil, juntamente com o Hinário
para o Culto Cristão (H.C.C.).
59
FORMA: “Estrutura ou plano musical de uma composição. Principio de organização de uma obra
em seus elementos musicais, como tonalidade, tema, repetições, variações. Designa, de modo
específico, a organização dos elementos da construção de SONATAS ou RONDÓS, por exemplo.”
(DOURADO, 2004. Pg. 137)
60
BINÁRIA REDONDA: “Forma de origem medieval, compõe-se de duas seções seguidas da
repetição da primeira”. (DOURADO, 2004. Pg. 138)
55
63
logo abaixo do título em negrito, sendo assim, nessa edição, desnecessário
explicações:
Figura 16. Digitalizado a partir do Hinário Harpa Cristã com Música. (HARPA, 1981)
Há grande zelo nas editoras dos hinários das Igrejas Históricas no
tocante aos compositores e autores da hinódia, observa-se na figura 17, cópia do
hinário Presbiteriano, Novo Cântico, a clareza de quem é o autor, [à esquerda], e o
compositor, [à direita], e ainda no rodapé uma breve nota histórica:
64
Figura 17. Digitalizado a partir do Hinário Presbiteriano Novo Cântico. (NOVO, 2007. Pg. 11)
No Hinário para o Culto Cristão há uma diagramação diferente do
comum em partituras impressas, assim como é diferente a diagramação atual da
Harpa Cristã Ampliada, porém no hinário batista há uma exaustiva explicação,
(figura 18), ─ a exemplo do hinário batista anterior, o Cantor Cristão (figura 19) ─
mesmo sendo claro a indicação dos autores [abaixo à esquerda] e compositores
[abaixo a esquerda], (figura 20). Sobre as notas históricas e biografias relacionadas
à música, autor e compositor foi editado um livro exclusivo com tais informações e
seguem a mesma ordem numérica do hinário, (figura 21, exemplo do hino 35).
(MULHOLLAND, 2001).
65
Figura 18. Digitalizado a partir do Hinário Batista para o Culto Cristão. (HINÁRIO, 1997. Pg. xvi)
66
Figura 19. Digitalizado a partir do Hinário Batista Cantor Cristão. (CANTOR, 1995)
Figura 20. Digitalizado a partir do Hinário Batista Cantor Cristão. (HINÁRIO, 1997)
67
Figura 21. Digitalizado a partir do livro Batista com história de seus hinos, compositores e autores.
(MULHOLLAND, 2001. Pg. 43)
Não se percebe na CPAD, editora da Harpa Cristã, preocupação com
a compreensão do usuário, nem com poetas e músicos que construíram uma
identidade assembleiana histórica relevante; figura 22 essa desatenção com os
músicos e poetas é preocupante, uma vez que a música e o louvor sempre ocupa,
no mínimo, metade do tempo cúltico. Transparece ─ pelo fato do músico ou líder
musical participar ativamente na metade do tempo cúltico e ter pequena liderança
─ que na prática da dominação, da imposição de uma liderança mais forte [a do
pastor] estrategicamente, não se reconhece os artistas, nem o trabalho artístico,
como um trabalho especializado, não valorizando adequadamente suas presenças
e seus trabalhos, como se qualquer pessoa pudesse fazê-lo com eficácia.
68
Figura 22. Digitalizado a partir do Hinário Harpa Cristã. (HARPA, 1996)
Não há problema identificar um autor ou compositor ou tradutor
usando letras abreviadas logo abaixo do título, como na figura 22 (cópia da edição
da Harpa Cristã Ampliada com 640 músicas), mas se torna um problema quando a
informação é incompleta. Algumas vezes a abreviação do nome do autor está à
esquerda da abreviação do nome do compositor entre parênteses, ambas
informações estão abaixo do título no lugar do subtítulo. O problema em questão,
não é a atipicidade da edição da Harpa Cristã Ampliada, mas a dúvida que gera e a
dificuldade para se entender tais informações, figura 23:
Download

Robson Silva Lima1 - início