GERAL JP 16 Sábado e domingo, 10 e 11 de julho de 2010 SIEDUCA 2010 “Educação deve ser a todos e a cada um” Professor português José Pacheco, criador da Escola da Ponte, fala em ousadia e responsabilidade FOTOS PATRICIA MIRANDA > PATRICIA MIRANDA A ideia do educador português José Pacheco soa estranho para quem está acostumado com um modelo de educação onde o professor ensina e o aluno deve aprender. No entanto, ele afirma que é possível, sim, ter uma escola sem sala de aula, sem horários pré-definidos, sem professores específicos para determinadas disciplinas e, assim, se ter uma educação realmente voltada à individualidade de cada estudante. Criador da Escola da Ponte, que fica em Vila das Aves, uma pequena cidade próxima à cidade do Porto, em Portugal, Pacheco esteve nesta sexta-feira palestrando no último dia do 15º Sieduca, organizado pelo curso de Pedagogia da Ulbra/Cachoeira. Em sua conversa, ele falou sobre o fracasso e o sucesso na educação. Morando agora em Belo Horizonte, Pacheco conta que se mudou para o Brasil porque acredita que o país pode mudar seu modelo de educação, ultrapassado há muito mais de 100 anos. “A educação no Brasil hoje promove a exclusão. Ela é para todos, mas não é para cada um. Para atingir seu propósito ela deve ser para todos e também para cada um”, justifica Pacheco. Ele destaca que, para mudar este perfil, as escolas devem seguir quatro passos. O primeiro deles é não querer imitar a Escola da Ponte, já que cada uma tem suas individualidades. O segundo é que cada escola tenha pelo menos três professores que queiram fazer coisas bem feitas para melhorar o todo. Depois, é importante ter uma secretaria de educação que dê o suporte necessário para as mudanças, acompanhando, apoiando e avaliando. Por último, é preciso uma universidade que seja parceira e ligue teoria à prática. Para que isso tudo comece a dar resultados, ele estima que seja necessário cerca de 10 anos. A Escola da Ponte já tem 34 anos de existência. PRÁTICA - Pacheco observa que hoje acompanha cerca de 30 escolas no Brasil que vêm buscando mudar seu sistema de ensino. Grande parte delas é pública e tem o seu índice no Ideb já superiores aos dos modelos tradicionais. “Esta é a terceira vez que venho a Cachoeira do Sul. Já está na hora de passarmos da teoria para a prática”, convida ele. Silvia recebe homenagem no 15º Sieduca José Pacheco: trouxe sua experiência em uma educação diferenciada ao 15º Sieduca TRÊS PERGUNTAS PARA José Pacheco, criador da Escola da Ponte O que o senhor considera um fracasso na educação? “Todo o sistema atual é um fracasso. As avaliações mostram que não se consegue alcançar a excelência que tanto se quer. Não se pensa hoje no cognitivo, em atitudes. Devemos buscar um ser humano mais sábio e mais feliz. Imagine como era uma intervenção cirúrgica em uma pessoa há 200 anos. Ninguém vai querer ser submetido hoje a uma cirurgia como era há tantos anos. Na educação acontece isso. Ela continua igual como era há 200 anos e isso mata a mente e o espírito”. O professor é o culpado por este fracasso? Professora Silvia: emoção pelo reconhecimento de seu trabalho pelo Sieduca A coordenadora do curso de Pedagogia da Ulbra/Cachoeira, Silvia Santos, que há 15 anos acompanha todos os detalhes da preparação do seminário, foi homenageada pelos professores e acadêmicos da graduação. 15 acadêmicos vestidos com a camiseta de cada uma das edições do encontro entregaram rosas para Silvia, simbolizando todos os 15 seminários. Tomada pela emoção, Silvia não conteve as lágrimas ao receber cada uma das flores. No último dia do 15º Sieduca também foram apresentado os melhores trabalhos inscritos no 1º Prêmio Sieduca MUL TIMÍDIA MULTIMÍDIA Acesse o site do JP e veja um vídeo da homenagem à professora Silvia. de Sucesso Escolar. O vencedor foi o projeto Planeta Vivo: Integrando a Poesia e a Música, de Isabel Cristina Tossi Schneider, de Ijuí. O segundo lugar foi para o projeto Nossa Terra, da Escola Municipal Getúlio Vargas, de Cachoeira do Sul. O primeiro lugar ficou com R$ 300,00 e o segundo com R$ 150,00. Para 2011, a ideia é aumentar o prêmio e já fazer algumas modificações. “Não. Se crucifica demais os professores. Eles não são culpados, mas são coniventes com a prática tradicional. Fala-se muito em dificuldade de aprendizagem, mas é preciso pensar que há também dificuldade de 'ensinagem'. Cada aluno tem sua característica própria e o professor não sabe ainda lidar com estas individualidades”. Mas há professores dispostos a mudar este modelo? “Mesmo sendo mal pagos, os professores estão dispostos a mudar. Para reverter a situação que temos hoje é necessário duas palavras: ousadia e responsabilidade. Mas isso só se consegue em equipe. É preciso ter as responsabilidades repartidas".