Veja 7 casos da Copa que podem ocorrer no ambiente de trabalho.
Pâmela Kometani
Saiba como é estar num time dependente de uma estrela, como Messi.
E como lidar com um brigão que produz resultados, como Suárez.
Sua equipe de trabalho tem um funcionário encrenqueiro que dá resultado, como Suárez, o goleador
mordedor que acabou suspenso da Copa? Ou ela está à sombra de uma estrela, como a Argentina,
de Messi? Você já chorou no trabalho, feito o goleiro Júlio César? O G1 "levou" situações vividas pelas
seleções da Copa para o ambiente de trabalho e ouviu craques em gestão, para saber como lidar
com esses casos no dia a dia.
Quem opina é Eduardo Ferraz, consultor em gestão de pessoas, Irene Azevedo, diretora de negócios
da consultoria LHH|DBM, e João Marco, diretor da Michael Page. Veja abaixo como eles avaliam cada
situação.
1) Suárez, o funcionário problema que entrega resultados.
Giogio Chiellini mostra marca de mordida dada por Luis Suárez (Foto: Daniel Gascia/AFP)
Fundamental para o Uruguai, o atacante Luis Suárez acabou suspenso da Copa após morder o
jogador Chiellini, da Itália. Foi a terceira vez que o atleta se envolveu nesse tipo de episódio. Suárez é
um "funcionário" encrenqueiro que dá resultado. Como lidar com ele? Vale a pena manter alguém
assim na equipe de trabalho?
Eduardo Ferraz: No ambiente corporativo não é possível contar com alguém que, apesar de genial ou
de entregar ótimos resultados, causa constrangimento por comportamentos inadequados com
frequência. É muito mais efetivo investir na equipe como um todo do que em indivíduos talentosos,
mas problemáticos.
“Não há resultado que justifique um comportamento que cause danos a outros e ao próprio
profissional" Irene Azevedo, consultora
Irene Azevedo: Cabe ao líder encaminhar para tratamento, quando necessário, e solicitar ao RH
ajuda para a solução deste problema. Mas não há resultado que justifique um comportamento que
cause danos a outros e ao próprio profissional. Se não se dá tratamento e acompanhamento, ele não
se desenvolverá e corre o risco de ter sua carreira deteriorada.
João Marco: É preciso avaliar se o comportamento do profissional pode ser corrigido e melhor
orientado com uma gestão mais próxima, treinamento e direcionamento da carreira. Se a postura
não mudar, não acredito que valha o investimento. Mas, caso haja mudanças positivas, acredito que
um profissional que entrega bons resultados tem que ser preservado.
2) Tem um Messi na sua equipe: há espaço para alguém mais?
Messi em jogo contra a Nigéria (Foto: Darren Staples/Reuters)
O próprio treinador da Argentina, Alejandro Sabella, já assumiu, em entrevista, que o time é
dependente de Messi. Considerado por três vezes o melhor do mundo pela Fifa, o argentino foi peçachave em todas as vitórias da seleção nesta Copa. Messi chegou a criticar o esquema tático da
equipe e Sabella mudou, mas disse que o fez por convicções próprias. Como será chefiar uma equipe
com uma estrela como esta? E como deve ser a convivência em um time que tem um Messi?
Eduardo Ferraz: A maioria as pessoas aceita muito bem trabalhar ao lado de gênios “do bem”. O que
as pessoas odeiam é trabalhar com gente talentosa, mas intragável.
“Quando o líder tem uma situação desta, a melhor estratégia é valorizar a equipe e deixar claro que
ninguém é maior que ela" Irene Azevedo
Irene Azevedo: O bom líder deve privilegiar a equipe. Quando o líder tem uma situação desta, a
melhor estratégia é valorizar a equipe e deixar claro que ninguém é maior que ela. É logico que
estrelas tem que ser valorizadas, mas a equipe tem que vir sempre em primeiro lugar.
João Marco: O chefe tem que dar espaço e ajudá-lo, mostrando os caminhos. Mas, ao mesmo
tempo, deve mostrar os riscos de ser a "estrela", ou seja, toda a responsabilidade que ele tem.
3) Chorar no trabalho pode?
Julio Cesar chora antes da cobrança de pênaltis (Foto: TV Globo)
Os jogadores brasileiros se emocionaram durante a Copa: teve lágrima durante o hino e em
momentos críticos, como as de Julio Cesar antes dos pênaltis que decidiram a classificação para as
quartas de final. Apesar do choro antes das cobranças, o goleiro pegou duas cobranças e saiu como
herói. Afinal, chorar no trabalho pega mal? Demonstrar fragilidade ou desabafar diante dos colegas
compromete o funcionário?
Eduardo Ferraz: Mais atrapalha do que ajuda. A vida profissional é a soma de milhares de pequenas
decisões, acertos e erros. Pessoas maduras (isso nem sempre tem a ver com idade) têm como
característica marcante o autocontrole na maioria das situações difíceis.
“Alguns usam isso como força ao desabafar e soltar o peso, mas outros acabam sentindo a pressão e
não conseguem retomar o controle emocional" João Marco, especialista em gestão
João Marco: Pode ajudar ou atrapalhar, varia de pessoa para pessoa. Alguns usam isso como força
ao desabafar e soltar o peso, mas outros acabam sentindo a pressão e não conseguem retomar o
controle emocional.
Irene Azevedo: A questão não é chorar ou não chorar, a questão é como eu, profissional, estou me
sentindo e como encaro minhas emoções internas. Medo, tristeza, raiva, ciúmes são sentimentos que
todos temos e quando temos consciência deles e podemos lidar com eles, aí sim, estamos maduros e
tiramos o melhor de todas as situações.
4) Neymar, estreante com imensa responsabilidade
Neymar se prepara para bater pênalti em jogo contra o Chile (Foto: Reuters/Dylan Martinez)
Longe de ser um jogador novato, Neymar tem tanta responsabilidade na seleção brasileira que
muitos esquecem que ele está em sua primeira Copa. Aos 22 anos, ele estreia no maior torneio do
mundo, sob os olhos de milhões de expectadores, com a expectativa de entregar ótimos resultados.
Como é um funcionário tão jovem consegue carregar tamanha carga? Como o chefe deve liderar
alguém assim?
João Marco: Com muita proximidade. Não se pode esquecer que, por mais talentoso que o
profissional seja, a maturidade e a experiência vêm com acertos e erros. É importante que ele passe
por tudo isso e crie a resiliência necessária para aprender com esses momentos.
“Nas empresas, os jovens talentos devem ser preparados aos poucos, sem exagero nas cobranças
enquanto eles não estiverem preparados" Eduardo Ferraz, consultor.
Eduardo Ferraz: Nas empresas, os jovens talentos devem ser preparados aos poucos, sem exagero
nas cobranças enquanto eles não estiverem preparados. Muito treinamento e um bom mentor
auxiliam muito neste processo.
Irene Azevedo: Para que tem um nível de entrega “fora da curva”, é necessária uma atenção maior
do líder, para manter as motivações. Por exemplo, há pessoas que se motivam por serem sempre
desafiadas e outras que querem equilíbrio de vida pessoal e profissional. Então, se um profissional
com esse perfil é responsável por um grande projeto, é dever do líder verificar se as motivações
estão sendo atendidas, para garantir maior produtividade.
5) Como um grupo se recupera de um tombo como o da Espanha?
Sergio Ramos, da Espanha, reage à derrota para o Chile (Foto: Jorge Silva/Reuters)
As tradicionais Espanha, Inglaterra, Itália e Portugal foram eliminadas ainda na primeira fase da Copa
do Mundo. Atual campeã, a seleção espanhola amargou uma goleada da Holanda no primeiro jogo e
outra derrota, para o Chile, no segundo, que cravou a desclassificação. Como uma equipe deve
encarar um fracasso tão grande? De quem é a culpa?
Eduardo Ferraz: Os principais responsáveis pelo sucesso ou fracasso são os líderes e eles devem,
sim, assumir o ônus da mesma forma quando ganham o bônus. Nas empresas é o mesmo princípio.
Projetos fracassados precisam ser avaliados e corrigidos.
“Tem que avaliar o projeto e identificar os erros. No trabalho em equipe todos ganham e perdem
juntos" João Marco
João Marco: Tem que avaliar o projeto e identificar os erros. No trabalho em equipe todos ganham e
perdem juntos.
Irene Azevedo: Quando os resultados não acontecem o protagonismo é fundamental. O time deve
olhar para seu desempenho, verificar o que não fez e identificar o que deve fazer para chegar aos
resultados.
O papel do líder, então, é de mostrar também os pontos fortes da equipe e fazê-los entender que o
melhor caminho é o do protagonismo.
6) Mensagens motivacionais funcionam?
Felipão é pop (Foto: Getty Images)
Nos dias de jogos da seleção brasileira, Felipão envia mensagens motivacionais ao grupo. Uma carta
é colocada por baixo da porta dos quartos dos jogadores. Esse tipo de ação ajuda, de fato, os
funcionários?
Irene Azevedo: Neste caso, a carta é um símbolo de cuidado com os jogadores, de pensar num tema
que sirva de apoio a eles. Quando um líder mostra aos seus liderados que se importa com todos e faz
ações na direção de incentivá-los, ele estará incentivando o time e com isto cria um espírito de
equipe e terá resultados.
“O discurso só vale quando é acompanhado pelo exemplo" Eduardo Ferraz
Eduardo Ferraz: O discurso só vale quando é acompanhado pelo exemplo. Nas empresas, o discurso
puramente motivacional é muitas vezes ridicularizado pela equipe e às vezes tem efeito contrário. O
que funciona na prática é a meritocracia: ganha mais quem produz mais e ajuda os outros a
produzirem também.
João Marco: Acredito na gestão transparente e pelo exemplo. O líder que consegue exercer esse tipo
de gestão vai, em 90% dos casos, fazer com que sua equipe trabalhe unida e em busca dos
objetivos traçados.
6) Ainda não é um "titular" no trabalho? Paulinho e Fernandinho não se
intimidaram
Paulinho, no centro, incentiva colegas antes dos pênaltis (Foto: TV Globo)
Reserva no início da Copa, Fernandinho ganhou a posição de Paulinho após se sair bem ao substituílo no 2º tempo do jogo contra Camarões, ao fim da 1ª fase. Acabou escalado entre os titulares
contra o Chile, nas oitavas. No mesmo jogo, Paulinho foi dos que mais incentivaram o time antes das
cobranças de pênaltis. Com o colete de reserva, ele se posicionou no centro da roda, diante de
jogadores e de Felipão, e tomou a palavra. Os dois mostraram que, mesmo sem ser "titular" na
equipe, é possível ser mais que um coadjuvante?
Eduardo Ferraz: Muitas vezes, há funcionários que trabalham muito e aparecem pouco. Algumas
dessas pessoas não serão chefes e nem terão muito destaque, mas são importantíssimas e devem
ser valorizadas, principalmente por meio de elogios públicos, treinamentos específicos ou novas
oportunidades como projetos desafiadores.
“ Esta é a máxima do marketing pessoal: ter visibilidade e, é lógico, entregar resultados consistentes"
Irene Azevedo
Irene Azevedo: Para que ser notado, é importante ser estar sempre disposto a ajudar, principalmente
se o assunto for crítico. Esta é a máxima do marketing pessoal: ter visibilidade e, é lógico, entregar
resultados consistentes. Hoje, com a pressão por resultados, quem não está entregando o resultado
prometido tem que estar alerta, porque será cobrado e alguém vai pagar o pato.
João Marco: Os "carregadores de piano" têm papel fundamental em qualquer companhia. Quando
você tem uma equipe/time na mão, todos conhecem seus objetivos. E quando não está entregando
os resultados esperados (dentro de uma gestão transparente), o profissional que deixa sua posição
para uma outra pessoa sabe que precisará trabalhar mais e melhor para recuperar seu prestígio e
espaço dentro da equipe.
Artigo disponível na web - publicado no Portal G1 do dia 03/07/2014
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