MERCÚRIO E ALUMÍNIO EM TECIDOS DE PEIXE NO ESTADO DO PARÁ –
CONSIDERAÇÕES SOBRE NEUROTOXICANTES NA REGIÃO AMAZÔNICA DO
BRASIL.
MERCURY AND ALUMINIUM IN ESTUARINE FISH TISSUES FROM PARÁ
STATE – CONCERNS ON NEUROTOXICANTS IN THE AMAZON REGION OF
BRAZIL.
Dulcidéia da Conceição PALHETA1*; Maria Creuza CARVALHO2 Simone de Fátima
Pinheiro PEREIRA3; Bruno de Cássio Veloso de BARROS4; André Luis MENESES5; Eliane
Pacheco RODRIGUES6.
RESUMO
O incremento das atividades industriais e mineradoras na região Amazônica, especialmente
no Estado do Pará tem levado ao lançamento e dispersão de elementos metálicos nos
ecossistemas aquáticos. A fim de se investigar essa dispersão ambiental, e os riscos para as
vidaa humana e animal, dez amostras de Brachyplatystoma vailantii (piramutaba), capturadas
na Baia do Marajó Estado do Pará, Brasil, foram analisadas para determinação de aluminio e
mercury total na musculatura, brânquias e fígado. As concentrações de alumínio e mercúrio
foram respectivamente, na musculatura 103,75 ± 16,76 mg/Kg e 0,168 ± 0,008 mg/Kg; nas
brânquias, 245,125 ± 53,904 mg/Kg e 0,032 ± 0,002 mg/Kg; no fígado 150,775 ± 17,598
mg/Kg e 1,329 ± 0,0678 mg/Kg. Estes resultados mostram que essas concentrações de
alumínio e mercúrio podem representar um grande risco à população humana que consome
esse pescado e ameaça à sobrevivência dessa espécie aquática estuarina. Esse estudo também
revela a grande necessidade de pesquisas continuadas sobre as concentrações de metais traços
na biota amazônica para fins comerciais, ação neurotóxica sobre o ser humano e o impacto
real sobre a biodiversidade aquática.
SUMMARY
The increasing industrial and mineral activities going on through all Amazonian Region,
especially in Pará State has led to a great discharge and dispersion of metallic elements in the
aquatic ecosystems. In order to investigate this environmental dispersion, biological hazard
for humans and animals, ten samples from Brachyplatystoma vailantii (piramutaba), captured
in Marajó Bay – State of Pará, Brazil, were analized for aluminium and mercury
concentrations in muscle, gills and liver. Aluminium and mercury concentrations were
respectively, in muscle 103,75 ± 16,76 mg/Kg and 0,168 ± 0,008 mg/Kg; in the gills, 245,125
± 53,904 mg/Kg and 0,032 ± 0,002 mg/Kg; in the liver, 150,775 ± 17,598 mg/Kg and 1,329 ±
0,0678 mg/Kg. These results show that aluminium and mercury concentrations may represent
a risk factor for human health and a hazard for this estuarine aquatic species survival. This
_______________________
1
Médica Veterinária, Dra. Prof. Adj. do Instituto de Saúde e Produção Animal, Lab. de Toxicologia
Animal/Universidade Federal Rural da Amazônia-UFRA. Avenida Tancredo Neves, n°2501, Bairro: Montese,
CEP. 66.077-901 Belém- Pará –Brasil.Correspondência: [email protected].
2
Med. Vet. Pós-Graduaanda em Saúde e Produção Animal, Instituto de Saúde e Produção Animal, Laboratório
de Toxicologia Animal/ UFRA.
3
Química Analítica, Dra. Prof. Adjunta, Instituto de Ciências Exatas e Naturais – Laboratório de Química
Ambiental. Universidade Federal do Pará (UFPA).
4
Méd. Vet., MS, Professor Assistente, Instituto de Ciências da Saúde/Universidade Federal do Pará (UFPA).
5
Discente do Curso de Medicina Veterinária. Lab. de Toxicologia Animal/Universidade Federal Rural da
Amazônia-UFRA.
6
Discente do Curso de Medicina Veterinária. Lab. de Toxicologia Animal/Universidade Federal Rural da
Amazônia-UFRA.
investigation also reveals a great necessity for continued investigation on trace metals
concentrations in Amazonian biota for commercial purposes, neurotoxic effects on human
beens and the real impact on the local aquatic biodiversity.
Key Words: piramutaba, aluminium, mercury, liver, gills.
O mercúrio é ainda utilizado nos processos de extração de ouro na Amazônia
brasileira. Além disso, a indústria amoderna também utiliza células eletrolíticas de mercúrio
para a produção de cloro e soda, assim como o uso em desinfetantes e na indústria de
pigmentos. Algumas doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson pode estar
associada com a exposição a metais, assim como o mal de Alzheimer devido a bioacumulação
de alumínio no cérebro (GOYER, 1996). No Estado do Pará, no Brasil, um grande esforço
tem sido feito a fim de se correlacionar a exposição humana a concentrações de metais nos
alimentos em áreas de extração mineral (BARROS et al., 2010). Com esse objetivo, um peixe
carnívoro, considerado um bioindicador do estuário local foi escolhido.
No presente estudo, tecidos das brânquias, fígado e musculatura da espécie
Brachyplatystoma vailantii,conhecido como “Piramutaba” capturado no rio Barcarena e ao
longo da baia do Marajó foram processados para a determinação das concentrações de
mercúrio total e alumínio. Dez indivíduos foram avaliados para o peso corporal, e tamanho
através de balança digital e ictiômetro, após o que a dissecação dos tecidos foi conduzida,
retirando-se aproximadamente 10 g de tecido visceral. Para a determinação de alumínio e
mercúrio total os parâmetros analíticos foram conduzidos em um equipamento Espectrômetro
de Absorção Atômica pelo método de Chama e utilizando-se um Analizador Direto para
Mercúrio (Direct Mercury Analyser (DMA - 80), respectivamente.
A distribuição de mercúrio nos tecidos apresentou uma esperada bioacumulação no
tecido hepático (Figura 1).
2,4
2,2
Median
Extremes
25%-75%
Non-Outlier Range
Outliers
2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
0,8
Hg concentration (mg/kg)
0,6
0,4
0,2
0,0
M- muscle, G - gills, L - liver
-0,2
M
G
L
Figura 1 – “boxplot” para mercúrio total distribuido em diferentes tecidos de B. vaillantii, mostrando a
bioacumulação no fígado. M: musculatura; G: guelras; L: fígado
Os maiores valores foram detectados no fígado com concentrações de 1,329 ± 0,09
mg/Kg, que se caracteriza como local de metabolismo e bioacumulação (GOYER, 1991). As
concentrações de Meg (I) oriundos da água são baixas em fluxos naturais, e apesar das guelras
apresentarem um grande superfície de absorção, essa via é minima em peixes selvagens
(HALL et al., 1997), o que foi encontrado no presente estudo, onde as concentrações foram de
0,032 ± 0,02 mg/Kg; os níveis na musculatura foram 0,168 ± 0,008 mg/Kg, abaixo dos limites
2
estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde para o consumo humano (WHO, 1991). As
concentrações de Alumínio são mostradas na Tabela 1. Os valores são maiores do que os
encontrados por Colino et al (2009), onde as concentrações de Al variaram entre 6,28 a 19,93
mg/Kg na musculatura de B. vaillanti capturadas na baia do Marajó. A distribuição tecidual do
Alumínio não apresentou uma boa correlação estatística, mostrando que o Al se distribui
igualmente ao longo de todo organismo animal, provavelmente devido à característica
inorgânica do elemento em questão. Não há valores de referência para as concentrações
máximas de Al em peixe de acordo com a legislação brasileira e de outras Instituições
regulamentadoras quando considerado o consumo humano desses animais, como ocorre para
o mercúrio.
Tabela 1. Concentrações medias para o Alumínio na musculatura, guelras e fígado –
diferenças estatísticas ente os tecidos.
Tissues
Number Samples
Mean Conc mg/Kg (SD)
Variance
P value
M
8
103,75
3225,446
0,1
G
10
245,125
41620,642
L
10
150,775
10917,284
M: musculatura; G:guelras; L: fígado
As concentrações de metais encontradas nos diferentes tecidos de B. vailantii podem
ser tóxicas para essa espécie e causar lesões em outros peixes também; os mecanismos tóxicos
dessas concentrações considerando-se morbidade ou mortalidade também devem ser
considerados. As autoridades sanitárias locais devem priorizar a necessidade de se estabelecer
legislação específica para as concentrações de mercúrio e alumínio nos alimentos visando a
alimentação animal e humana. Como os dois elementos são neurotóxicos, a avaliação da
freqüência de ingestão desse pescado por parte das populações urbanas e ribeirinhas deve ser
meta prioritária em programas de saúde pública e ambiental, a fim de serem correlacionadas
prevalência de doenças neurais e ingestão de elevadas concentrações de metais neurotóxicos.
REFERÊNCIAS
BARROS, B. C.V.; PEREIRA, S.F.P.; PALHETA, D.da C.; SILVA, C.S. Determinação de
Cd, Cr e Al em tecidos de peixes provenientes do igarapé gelado/APA floresta de Carajás –
PA. Holos Environment, v.10, n.2 p. 195 -2010.
COLINO, E. C. V.; PALHETA, D. DA C.; SARAIVA, A. F., CARDOSO, E.C. Níveis de
Metais Pesados em Piramutabas (Brachyplatystoma Vailantii) Capturadas na Baía de Marajó
e Comercializadas no Município de Belém, Pará. Veterinária em Foco. Canoas, v.6 n.2, pp.
147-153. Jan/Jun, 2009.
GOYER, R. A. Toxic effects of metals. IN: Amdur MO, Dull J, Klaassen CD, eds. Casareh
and Doulls. Toxicology The Basic Science of Poisons. 4. ed. New York: Pergamon Press; Pp.
639-646, 1996.
HALL, B. D., BODALY, R. A., FUDGE, R. J. P., RUDD, J. W. M., AND ROSENBERG, D.
M. Food as the dominant pathway of methylmercury uptake by fish. Water Air Soil
Pollut.100, 13–24, 1997.
WHO (World Health Organization). Methylmercury. Geneva: (Environmental Health Criteria
101), 1991.
3
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Trabalho - SOVERGS