UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DESENVOLVIMENTO DE COMPRIMIDO DE LIBERAÇÃO PROLONGADA DE BENZNIDAZOL FABIANA LÍCIA ARAUJO DOS SANTOS RECIFE 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DESENVOLVIMENTO DE COMPRIMIDO DE LIBERAÇÃO PROLONGADA DE BENZNIDAZOL Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas na área de concentração: Produção e Controle de Qualidade de Medicamentos. Orientador: Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto Co-orientador: Profº. Dr. José Lamartine Soares Sobrinho FABIANA LÍCIA ARAUJO DOS SANTOS RECIFE 2011 Santos, Fabiana Lícia Araujo dos Desenvolvimento de comprimido de liberação prolongada de benznidazol / Fabiana Lícia Araujo dos Santos. – Recife: O Autor, 2011. 122 folhas: il., fig,; 30 cm. Orientador: Pedro José Rolim Neto. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Ciências Farmacêuticas, 2011. Inclui bibliografia. 1. Benznidazol. 2. Doença de chagas. 3. Dispersões sólidas. 4. Fotoestabilidade. 5. Liberação prolongada. I. Rolim Neto, Pedro José. II.Título. 615.31 CDD (20.ed.) UFPE CCS2011-087 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO REITOR Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins VICE-REITOR Prof. Dr. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro VICE-DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Prof. Dr. Márcio Antônio de Andrade Coelho Gueiros CHEFE DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof. Dr. Dalci José Brondani VICE-CHEFE DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof. Dr. Antonio Rodolfo de Faria COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto VICE-COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Profª. Drª. Beate Saegesser Santos SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. Dedico a minha querida mãe Graça, ao meu pai Aldson (in memória), ao meu irmão Fábio e ao meu noivo Libni. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. AGRADECIMENTOS Ao nosso Deus, por permitir o desenvolvimento desse trabalho através de sua infinita bondade, me fortalecendo e provendo força, saúde e determinação, elementos essências para realização desta feita. Ao meu orientador, mentor e amigo, Prof. Dr. Pedro Rolim, pela oportunidade, ensinamentos e excelente convívio ao longo dos anos compartilhados no ambiente de trabalho e de fraternidade do Labotatório de Tecnologia dos Medicamentos (LTM) da UFPE. A Universidade Federal de Pernambuco por oferecer excelentes professores e funcionários, especialmente à funcionária Margarete Valdevino, que judaram na conclusão desse trabalho através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Àos membros da equipe de pesquisa do Benznidazol: ao dedicado aluno de iniciação científica Leslie Raphael, ao meu atuante coorientador, o Professor José Lamartine, por toda atenção e disponibilidade, aos amigos Ádley Antonini e Camila Melo, e, especialmente, as amigas Larissa Rolim e a querida Magaly Lyra. Todos trabalharam com grande dedicação durante todas as etapas de desenvolvimento desse trabalho. Vocês são muito queridos! A Família LTM: José Lourenço, Alexandre Couto, Luíse Lopes, Danilo Fontes, Pablo Ataíde, Salvana Costa, Thays Gomes, Ana Flávia, Maria Luiza, Graziella Marques, Evelyn Mirela, Amanda Quintas, Cláudio César, Carlos Augusto, Henrique Tavares, Rosali Silva, Mônica Soares, Geisiane Presmich, em especial a Monize Peixoto, Lariza Darlene e Keyla Emanuelle por tornarem o ambiente de pesquisa muito agradável e acolhedor. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. A Professora Miracy Albuquerque, a farmacêutica Ruth Strattmann e a aluna Júlia Souza do Núcleo de Controle de Qualidade de Medicamentos e Correlatos, pelo apoio e parceria estabelecida. Aos amigos que nunca deixaram de estar próximos: Patrícia Magalhães, Kelly Galindo, Alexandra Gomes, Diana Falcão, Kaio Sales, Kelly de Pace e Irma Katarine. Adoro vocês! Aos meus familiares, em especial aos meus queridos avós: José Alexandre e Maria José (in memória) e aos primos Anna Danielle, André Luiz, Anderson Luiz, Ádler Daniel e Gladlane Maria. E finalmente a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), que através do programa institucional de bolsas de Pós-graduação, possibilitou uma situação mais tranqüila para a realização deste trabalho. E a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. “Bem sei eu que tudo podes e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido" (Jó 42:1) SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BNZ Benznidazol CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência DNDI Iniciativa de Medicamentos para Doença Negligenciadas DS Dispersão Sólida DSC Calorimetria Diferencial de Varredura FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz FUNASA Fundação Nacional de Saúde HPMC Hidroxipropilmetilcelulose IV Infravermelho LAFEPE Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco LTM Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos MEV Microscopia Eletrônica de Varredura MS Ministério da Saúde OMS Organização Mundial de Saúde PCR Reação de polimerização em cadeia PEG Polietilenoglicol PECE Programa Especial de Controle da Esquistossomose PNCM Programa Nacional de Controle de Malária PVP Polivinilpirrolidona P&D Pesquisa e Desenvolvimento PZQ Praziquantel rpm Rotação por minuto REM irradiação eletomagnética SUCAM Superintendência de Campanhas de Saúde Pública TGA Análise Termogravimétrica UFPE Universidade Federal de Pernambuco UV Ultravioleta SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. LISTA DE SÍMBOLOS % porcentagem °C graus Celsius mg miligramas g gramas mL mililitro λ comprimento de onda Kg kilogramas µg microgramas > maior que < menor que ΔH variação de entalpia T temperatura µm micrometro º graus ± mais ou menos J.g-1 Joule por gramas T temperatura SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. LISTA DE FIGURAS Artigo II Figura 1. Sistema de classificação biofarmacêutica ............................................................. 53 Figura 2. Estrutura química do monômero de PVP .............................................................. 61 Figura 3. Estrutura química do monômero de PEG.............................................................. 62 Figura 4. Estrutura química do monômero de HPMC .......................................................... 63 Artigo III Figura 1. Perfil da Iluminâcia de acordo com o tempo de exposição ................................... 80 Figura 2. Absorbância de fotoprodutos de quinino por hora ................................................ 80 Figura 3. Fotografias amostras sólidas de BNZ na ausência de irradiação (esquerda) .. Erro! Indicador não definido. Figura 4. Micrografia eletrônica das amostras sólidas de BNZ na ausência de irradiação (esquerda) e após 41h de exposição (direita)........................................................................ 81 Figura 5. Curva de DSC do BNZ antes e após receber irradiação ....................................... 82 Figura 6. Curva de DTG do BNZ antes e após receber irradiação ....................................... 83 Figura 7. IV do BNZ padrão (em verde) em comparação ao fotodegradado (em preto). .... 84 Figura 8. Espectro de massas do BNZ.................................................................................. 85 Figura 9. Esquema da ionização secundária do BNZ ........................................................... 86 Figura 10. Possível rota degradativa do BNZ por fotólise ................................................... 87 Figura 11. Cromatograma do BNZ , BNZ fotodegradado e BNZ + celulose apresentando 89 Figura 12. Espectro de massas da amostra de BNZ isolado, BNZ fotodegradado e ............ 90 Artigo IV Figura 1. Curvas de DSC (A) e TG (B) para os componentes isolados e para a DS de BNZ e PVP nas duas proporções..................................................................................................... 98 Figura 2. Espectros de Infravermelho dos sistemas obtidos.................................................99 Figura 3. Esquema gráfico das possíveis interações entre o PVP e o BNZ na formação das DS ....................................................................................................................................... 106 Figura 4. Perfil de Dissolução dos Granulados de dispersões sólidas do BNZ em PVP. .. 107 Figura 5. Perfil de dissolução das formas farmacêuticas desenvolvidas LB1 e LB2. ........ 109 Figura 6. Fração de BNZ dissolvido para formas farmacêuticas desenvolvidas LB1 e LB2 ............................................................................................................................................ 110 Figura 7. Fotografia dos comprimidos desenvolvidos fotodegradados (acima) e o controle (abaixo) de LB1. ................................................................................................................. 112 SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. LISTA DE TABELAS Artigo III Tabela I. Resultados da determicação do Teor de BNZ por CLAE ..................................... 88 Artigo IV Tabela 1. Formulações dos lotes de bancada desenvolvidos (LB1 e LB2) ........................ 100 Tabela 2. Modelos matemáticos de cinética de dissolução usados na avaliação do perfil de ............................................................................................................................................ 102 Tabela 3. Eficiência de dissolução (ED%) das DS obtidas. ............................................... 107 Tabela 4. Controle de Qualidade dos comprimidos obtidos............................................... 108 Tabela 5. Valores dos estudos de regressão linear, aplicando modelo de zero ordem, primeira ordem, Higuchi e Hopfenberg, derivados dos perfis de dissolução dos produtos LB1 e LB2. ......................................................................................................................... 111 SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 16 2 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 19 2.1 Objetivo Geral ................................................................................................................ 19 2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 19 Capítulo I .............................................................................................................................. 20 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 20 3.1 Artigo I - Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para o Controle das Doenças Negligenciadas ..................................................................................................................... 21 3.2 Artigo II. Dispersões Sólidas para Incremento de Solubilidade: Casos com Polímeros Hidrofílicos em Fármacos pouco Solúvéis em Água ........................................................... 50 Capítulo II ............................................................................................................................. 72 4 ESTUDO DE FOTOESTABILIDADE DO BENZNIDAZOL ......................................... 72 4.1 Artigo III - Estudo de Fotólise Direta e Indireta do Fármaco Antichagásico Benznidazol .............................................................................................................................................. 73 Figura 3. Fotografias amostras sólidas de BNZ na ausência de irradiação (esquerda) .. Erro! Indicador não definido. Capítulo III ........................................................................................................................... 94 5 DESENVOLVIMENTO DE COMPRIMIDO DE LIBERAÇÃO PROLONGADO PARA O TRATAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS............................................................... 94 5.1 Artigo IV – Grânulos de Dispersões Sólidas para o Desenvolvimento de Comprimido Matricial do AntiChagásico Benznidazol ............................................................................. 95 6 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 119 7 PERSPECTIVAS ............................................................................................................ 120 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 122 SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. RESUMO A doença de Chagas é classificada pela Organização Mundial de Saúde como uma doença negligenciada, que não dispõe de tratamentos eficazes ou adequados. Ao enfrentar esse problema, os países atingidos por essas endemias têm com a sua população um custo elevado em decorrência das co-morbidades trazidas por essas enfermidades. Apesar de não ser o fármaco ideal, devido à sua toxicidade e baixa solubilidade, o benznidazol (BNZ) é o fármaco utilizado no tratamento da doença de Chagas e o único comercializado em diversos países da América do Sul. As dispersões sólidas (DS), sistemas estruturados de sólidos em que o fármaco está disperso em uma matriz biologicamente inócua, têm sido utilizadas para aumentar a solubilidade de fármacos pouco solúveis. Polímeros hidrofílicos também têm sido amplamente utilizados como carreadores por apresentar baixo custo e alta solubilidade, além da aplicação farmacêutica como agentes moduladores de liberação na preparação de comprimidos. Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi desenvolver e caracterizar um sistema de DS de BNZ e polivinilpirrolidona (PVP) e posterior incorporação do produto em uma matriz de hidroxiprometilcelulose (HPMC) para desenvolvimento de um comprimido de liberação prolongada para o tratamento da doença de Chagas, partindo de um estudo de fotoestabilidade direta e indireta do fármaco como critério de escolha para seleção dos excipientes utlizados na formulação. As DS obtidas foram avaliadas por técnicas de análises térmica, espectros de infravermelho e perfil de dissolução, que comprovaram a eficiência do sistema no incremento de solubilidade do BNZ. A rota degradativa proposta no estudo de fotoestabilidade mostrou que o BNZ sofre fotólise direta, não sendo observados novos produtos de degradação após irradiação eletomagnética (REM) nas misturas com os excipientes, estes apenas influenciaram na sua velocidade da degradação. A liberação do BNZ da matriz aconteceu pelo mecanismo de erosão nas duas formulações do comprimido desenvolvidas (25 e 35% de HPMC), entretanto a formulação com 25% do polímero mostrou maior tendência em manter estável a liberação do fármaco até alcançadas 12hs no ensaio de dissolução, ponto em que 100% do fármaco foi liberado. PALAVRAS CHAVE: Benznidazol, doença fotoestabilidade, matrizes, liberação prolongada. de Chagas, dispersões sólidas, SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. ABSTRACT Chagas disease is classified by the World Health Organization as a neglected disease, which has no effective treatments or appropriate. To face this problem, the countries affected by these epidemics have high costs with the population due to the co-morbidity brought about by these diseases. Although benznidazole (BNZ) is not the ideal drug because of its toxicity and low solubility, it is the drug used to treat Chagas disease and the only available in the market in several countries in South America. Solid dispersions (SD) are solid structured systems in which the drug is dispersed in a biologically innocuous matrix, SD have been used to increase solubility of poorly soluble drugs. Hydrophilic polymers have also been widely used as carriers due to its low cost and high solubility. Given the above, the aim of this study was to develop and characterize a system of BNZ and polyvinylpyrrolidone (PVP) SD and subsequent incorporation of the SD in a hidroxiprometilcelulose (HPMC) matrix to develop an extended-release tablet for the treatment of Chagas disease, a direct and indirect photostability study of the drug was performed as choice criteria for the selection of the excipients of the formulation. The DS obtained were evaluated by thermal analysis techniques, infrared spectroscopy and dissolution profile, which testfied the efficiency of the system by increasing the solubility of the BNZ. The degradative route elucidated in the study demonstrated that BNZ is only affected by direct photolysis, with no noticeable new products of degradation after electromagnetic irradiation (REM) in mixtures with excipients, these only affected the speed of degradation. The release of BNZ from the matrix happened by erosion in the two formulations of the developed tablet (25 and 35% HPMC), however the formulation with 25% of polymer demonstrated a greater tendency to maintain the drug release stable until 12 hours on the dissolution test, time in which where 100% of the drug was released. KEYWORDS: Benznidazole, Chagas disease, solid dispersions, photostability, matrix, extended release. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 15 INTRODUÇÃO SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 16 1. INTRODUÇÃO A doença de Chagas é classificada pela Organização Mundial de Saúde como uma doença negligenciada, que não dispõe de tratamentos eficazes ou adequados (OMS, 2009). Ao enfrentar a escassez ou falta de um tratamento adequado para essas doenças, países atingidos por essas endemias têm, em sua população um custo elevado em decorrência das co-morbidades trazidas por essas enfermidades. Como por exemplo, no Brasil, os custos anuais sociais da doença de Chagas chegam próximo a 1 bilhão (BESTETTI; MARTINS; CARDINALLI-NETO, 2009). Apesar de não ser o fármaco ideal, devido à sua toxicidade e baixa solubilidade, o benznidazol (BNZ) é o fármaco utilizado no tratamento da doença de Chagas e o único comercializado em diversos países da América do Sul (SOARES-SOBRINHO, 2009). O tratamento com BNZ, além de poder curar, adia a progressão da doença durante a fase crônica e reduz a quantidade de recursos médicos utilizados pelo paciente durante a sua vida, trazendo economias para o sistema saúde, quando comparado com a não utilização de benzonidazol na fase aguda (SAGGIA; SANTOS; DIETZE, 2007). O conhecimento aprofundado sobre este fármaco e formas mais eficazes de vetorização deste, poderá possibilitar o desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas para o tratamento da doença, disponibilizando a população em um curto espaço de tempo e com menor custo quando comparado a uma nova molécula a ser introduzida na terapêutica (DOCAMPO, 2001). Várias técnicas têm sido usadas para melhorar a solubilidade e a taxa de dissolução de fármacos pouco solúveis em água. Estas incluem a formulação com formas amorfas sólidas, nanopartículas, microemulsões, dispersão sólida (DS), extrusão por fusão, formação de sal e formação de complexos solúveis em água. Por estas técnicas tenta-se aumentar a solubilidade aparente de compostos lipofílicos sem diminuir a otimização de seu potencial (LOFTSSON; HREINSDÓTTIR; MÁSSON, 2005). A determinação da estabilidade de fármacos e medicamentos é de extrema importância para garantir a segurança dos pacientes, bem como a eficácia e qualidade dos medicamentos produzidos. A fotodegradação de medicamentos pode conduzir à perda de princípios ativos e assim à perda na sua eficiência, além de formar subprodutos ou SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 17 intermediários tóxicos de vida curta (p.ex., radicais livres). Estudos de fotoestabilidade são conduzidos a fim de quantificar a extensão pelas quais as reações induzidas pela luz afetam as formulações dos medicamentos. Em alguns casos, determinar os mecanismos de fotoreações dos fármacos e de outros componentes que compunham o produto avaliado (PIECHOCK & THOMA, 2007) As formas farmacêuticas sólidas orais de liberação prolongada caracterizam-se pela liberação gradual do fármaco e manutenção da sua concentração plasmática em níveis terapêuticos, durante um período de tempo prolongado. Podem ser desenvolvidas empregando-se tecnologias como matrizes poliméricas. As matrizes são dispersões ou soluções de um fármaco em uma ou mais substâncias capazes de modular a sua liberação, geralmente polímeros de natureza hidrofílica ou inerte, onde a liberação do fármaco pode envolver processos de intumescimento do polímero, difusão do fármaco e erosão da matriz (PEZZINI et al., 2007). A incorporação da DS obtida em um sistema matricial confere maior segurança na manutenção da fração de fármaco que é liberada nos intervalos de tempo pré-determinados, excluindo a possibilidade de que o fármaco que está sendo liberado da matriz não esteja biodisponível por aprasentar problemas na sua solubilidade, garantido assim a manutenção da quantidade de fármaco a ser absorvida. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 18 OBJETIVOS SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 19 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Desenvolvimento da forma farmacêutica comprimido de liberação prolongada de Benznidazol. 2.2 Objetivos Específicos • Realização do estudo de fotoestabilidade direta e indireta do BNZ • Obtenção e caracterização da DS de BNZ:PVP para promover aumento na solubilidade do fármaco. • Obtenção da forma farmacêutica sólida de liberação prolongada de BNZ e avaliação do mecanismo de liberação do fármaco da matriz polimérica. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 20 Capítulo I 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Artigo I - Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Para o Controle das Doenças Negligenciadas Artigo submetido à Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada 3.2 Artigo II - Dispersões Sólidas para Incremento de Solubilidade: Casos Com Polímeros Hidrofílicos em Fármacos Pouco Solúvéis em Água Artigo submetido à Revista Brasileira de Farmácia SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 21 3.1 Artigo I - Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para o Controle das Doenças Negligenciadas RESUMO O fluxo contínuo de novos produtos no mercado é fruto da inovação tecnológica apresentado pela Industria Farmacêutica. O governo Brasileiro tem investido em iniciativas promissoras de inovação, através do desenvolvimento de medicamentos para os programas públicos de saúde, instituindo o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas, o qual foca sete doenças: dengue, doenças de Chagas, leishmaniose, hanseníase, malária, esquistossomose e tuberculose. O artigo foca uma revisão sobre P&D aplicada à prevenção e controle das doenças negligenciadas no Brasil e no mundo. Com base nos dados levantados, percebeu-se que são grandes as dificuldades para o desenvolvimento de P&D em tecnologias e produtos para combater as doenças negligenciadas e que são poucos os investimentos financeiros neste segmento, quando comparados às pesquisas que focam outras enfermidades. Diante disto pode-se enfatizar a importância de investimentos em pesquisas neste setor, em saneamento básico e programas educativos que orientem a população sobre combate à proliferação dos vetores e agentes causadores. PALAVRAS CHAVE: Doença, Tecnologia, Pesquisa, Inovação ABSTRACT The steady stream of new products is the result of technological innovation introduced by the pharmaceutical industry. The Brazilian government has invested in promising initiatives for innovation through the development of drugs for public health programs, establishing the Program for Research and Development for Neglected Diseases, which focuses on seven diseases: dengue fever, Chagas disease, leishmaniasis, leprosy, malaria, schistosomiasis and tuberculosis. The article focuses on a review of R&D applied to the prevention and control of neglected diseases in Brazil and worldwide. Based on survey data, we noticed that there are great difficulties for the development of R&D technologies SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 22 and products to fight neglected diseases and there are few investments in this segment as compared to research that focuses on other diseases. Before this can emphasize the importance of investment in research in this area, sanitation and education programs to guide the population on combating the proliferation of vectors and causative agents. KEYWORDS: Diseases, technology, research, innovation INTRODUÇÃO Em uma época marcada pelas transformações tecnológicas é contraditório abordar um assunto que trata da ausência de tecnologias, pesquisa e inovação na área da saúde: Doenças negligenciadas, um grupo de afecções transmissíveis, em sua maioria causada por protozoários e transmitida por vetores, cujo tratamento é inexistente, precário ou desatualizado (Oliveira, 2009). A indústria farmacêutica apresentou, ao longo de sua história, um ritmo acelerado de inovações tecnológicas que resultaram em um fluxo contínuo de novos produtos no mercado. Estas foram quase sempre implementadas por empresas a partir de elevados investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico (P&D), mas em estreita cooperação com outras instituições, em geral públicas ou sem fins lucrativos (Bastos, 2006). Entretanto, no período entre 1975 e 2004 apenas 1% dos 1.535 novos fármacos registrados foram destinados às doenças tropicais (Dias & Dessoy, 2009). Estes dados sugerem que o investimento em P&D de fármacos para doenças negligenciadas é inadequado, sendo evidenciado pelo fato do investimento em malária ser pelo menos 80 vezes menor que o para HIV/AIDS (Vidotti & Castro, 2009). Como uma das ações tomadas no objetivo de intervir nesta situação a Iniciativa de Drogas para Doenças Negligenciadas (DNDi) pesquisa e desenvolve novos tratamentos para as doenças negligenciadas e tem como parceiros fundadores o Instituto Pasteur, na França, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), no Brasil, o Ministério da Saúde da Malásia e os institutos de pesquisa clínica da Índia e do Quênia (Pontes, 2009). Os planos e programas de desenvolvimento tecnológico bem sucedidos no mundo foram concebidos e implementados tendo o respaldo de políticas públicas nacionais que SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 23 constituíam os Sistemas Nacionais de Inovação, assinalando prioridades, objetivos e recursos (Villas Bôas & Gadelha, 2007). No Brasil, foi organizada, em 2003, a primeira Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Nesta, foram adotadas proposições que visam à criação de política pública específica para P&D de fármacos e medicamentos conforme as necessidades de saúde, seguindo critérios epidemiológicos e sociais (Vidotti, 2007). O caminho brasileiro é demonstrado pelas iniciativas promissoras de inovação, através do desenvolvimento de medicamentos para os programas públicos de saúde, como no caso dos medicamentos genéricos, das vacinas de última geração, utilizadas nas políticas de vacinação e dos reagentes produzidos para o controle de sangue no país, que compartilham uma articulação entre a política de saúde com a política de desenvolvimento industrial e de inovação, resultando em maior competitividade para os agentes nacionais, constituindo elementos essenciais da política nacional de saúde (Villas Bôas, 2004). A área de doenças negligenciadas tem sido uma prioridade do governo brasileiro, que instituiu o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Doenças Negligenciadas, focado em sete doenças: dengue, doenças de Chagas, leishmaniose, hanseníase, malária, esquistossomose e tuberculose (Ministério da Saúde, 2008). Os incentivos governamentais para P&D nesta área é crescente e estão em torno de R$ 75 milhões ao ano. Boa parte vem do Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio de suas duas principais agências de fomento: o CNPq e a FINEP, que em 2008, investiram mais de R$ 25 milhões em projetos de P&D para as doenças negligenciadas. Colocando o Brasil em posição de destaque, ocupando o sexto lugar no ranking dos países que mais investem nesse segmento (Pontes, 2009). A proposta do presente artigo foi realizar uma revisão narrativa com caráter qualitativo sobre a P&D aplicada à prevenção e controle das doenças negligenciadas no Brasil e no mundo, abordando os programas de saúde, os projetos de pesquisas e as mais recentes descobertas no âmbito, contextualizando o leitor sobre o tema abordado. Esquistossomose A esquistossomose é uma doença causada pelo trematódeo Schistosoma mansoni, cujas formas adultas habitam os vasos mesentéricos do hospedeiro e as formas SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 24 intermediárias se desenvolvem em caramujos gastrópodes aquáticos do gênero Biomphalaria. Inicialmente a doença é assintomática, podendo evoluir para formas clínicas extremamente graves e levar o paciente ao óbito (Brasil, 2010). Dentre as doenças parasitárias, a esquistossomose apresenta alto índice de prevalência mundial, estimando-se 200 milhões de pessoas atingidas distribuídas em 74 países, em torno de 80% dos casos concentrados na África. No Brasil existem de 8 a 18 milhões de indivíduos infectados, distribuídos numa faixa endêmica que se estende do estado Rio Grande do Norte até Minas Gerais (Sales et al., 2009, Carvalho et al., 2008). O controle nacional da doença foi efetivado em 1975 pela Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM), com a criação do Programa Especial de Controle da Esquistossomose (PECE). Em 1980, o PECE deixou de ser um programa especial da SUCAM e passou a ser denominado de Programa de Controle da Esquistossomose (PCE), implementado pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Apesar das mudanças, o PCE manteve as principais características do modelo anterior: levantamento espacial domiciliar, censo da população inicial, diagnóstico coprológico em massa, pelo método de Kato-Katz, intensa terapia com oxaminiquina e controle da população de caramujos através do uso de moluscicidas (Cardim, 2010). Em 1986 a OMS indicava a FIOCRUZ como centro colaborador para pesquisa básica e aplicada em esquistossomose, inclusive apoiando financeiramente algumas atividades. Esta indicação incentivou a oficialização do “Programa Integrado de Esquistossomose da Fundação Oswaldo Cruz” no ano de 2007. Durante 21 anos, os pesquisadores do projeto publicaram 910 artigos científicos e 16 capítulos de livros, além da formação de recursos humanos com 64 dissertações e 42 teses defendidas. Atualmente, sete pesquisadores integrantes do programa são membros do Comitê Técnico Assessor do Programa de Esquistossomose da Secretaria de Vigilância em Saúde (Brasil, 2010). As estratégias atuais para o controle da esquistossomose consistem no controle da transmissão e no controle da morbidade, sendo que essas possuem limitações, como o elevado custo e o desenvolvimento de resistência às drogas utilizadas para o tratamento (Brasil, 2010). Acredita-se que a quimioterapia moderna contra esquistossomíase tenha começado quando Christopherson (1918) relatou o tratamento bem sucedido da doença com tartarato SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 25 de antimônio. Compostos antimoniais de vários tipos foram, certamente, os medicamentos disponíveis mais usados até a Segunda Guerra Mundial, quando então a lucantona foi introduzida na prática clínica. Período de progresso intenso começou nos anos 60, com a introdução do niridazol, hicantona, oxamniquina e metrifonato. Algumas pesquisas empregam o método da latenciação para aprimorar a atividade terapêutica da oxamniquina e diminuir seus efeitos adversos mediante uso de resinas de troca iônica e de outros tipos de polímeros. Este período culminou nos anos 70 com a descoberta do amoscanato, oltipraz e o mais importante, praziquantel (Parise-Filho, 2001). Atualmente a Oxaminiquina e o Praziquantel são os fármacos utilizados para o tratamento das esquistossomoses apesar de suas limitações como: baixa eficácia no tratamento da esquistossomose mansônica aguda; baixa atividade sobre o S. mansoni na forma imatura e falha em tratamentos devido à ocorrência de resistência ou tolerância a esses fármacos (Hotez et al., 2010, Frezza et al .,2007). Sayed e colaboradores (2008) identificaram uma nova classe de compostos, oxadiazol, que apresentou atividade contra os parasitas jovens e adultos das principais espécies infectantes de esquistossomo para o homem. No mesmo ano, Penido e colaboradores (Penido et al.,2008) relatam a atividade esquistossomicida dos ácidos aminoalcanotiofulfúricos comparável ao praziquantel, em experimento com animais. A tecnologia de encapsulamento do ácido 2-(butilamino)-1-fenil-1-etanotiosulfurico em nanoemulsões permite a liberação do fármaco em local onde demonstra mais eficácia contra o parasita, promovendo a redução dos seus efeitos tóxicos ao hospedeiro. Estudos recentes têm mostrado que a cloroquina, fármaco utilizado tradicionalmente na terapia antimalárica, apresenta propriedades antiesquistosomais significativas (Manneck et al., 2011). Como o número de pessoas infectadas continuou o mesmo durante as últimas duas décadas de tratamento químico contra a esquistossomose, é clara a necessidade de se desenvolver uma vacina antiesquistossomótica (Brasil, 2010). Há 35 anos, a FIOCRUZ estuda uma vacina com foco no combate à esquistossomose. Os pesquisadores isolaram, em 1990, uma molécula que é vital para os helmintos (SM14), considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a mais SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 26 promissora para a criação de um imunizante contra a doença. A fase I dos testes clínicos dessa vacina foi iniciada no ano de 2010 (Brasil, 2010). Tuberculose A tuberculose é uma doença crônica, causada pelo complexo Mycobacterium tuberculosis e sua forma clínica é caracterizada principalmente pelo comprometimento dos pulmões (pulmonar), podendo também atingir outros sítios anatômicos (extrapulmonar) ou ocorrer de maneira disseminada (disseminada ou miliar). Essa doença é transmitida de pessoa a pessoa por via aérea, através de gotículas produzidas pelo indivíduo portador da forma clínica pulmonar ou laríngea da doença, ao tossir, espirrar ou falar (Pandolfi et al., 2007). Segundo o Relatório Global de Controle da Tuberculose 2009, essa doença, junto com o HIV/SIDA e a malária, é uma das que mais mata no mundo. Em 2007, foram estimados 9,27 milhões de novos casos da doença, 1,4 milhão também viviam com o HIV. Nesse mesmo ano, foram registrados 456 mil mortes de pacientes com diagnóstico de tuberculose que também eram soropositivos. Um desafio no combate à doença são os casos resistentes a poliquimioterapia (mais de 500 mil novos casos registrados em 2007) (WHO, 2009). O Brasil ocupa o 16º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% dos casos estimados de tuberculose no mundo, estando em nono lugar entre as causas infecciosas de internação, sétimo lugar em gastos com internação por doenças infecciosas no Sistema Único de Saúde (SUS) e quarto lugar em mortalidade por doenças infecciosas (Perrechi & Ribeiro., 2009, Monroe, 2008). O ano de 1944 foi um marco para pesquisa de fármacos contra a tuberculose. Neste ano, o pesquisador Waksman descobriu a estreptomicina, primeiro antibiótico capaz de atuar de maneira eficaz no combate à doença. Após esta descoberta, novos fármacos foram utilizados com sucesso, destacando-se a isoniazida, em 1952; a rifampicina, em 1965; o etambutol, sintetizado em 1960, empregado somente em 1968 e a pirazinamida, sintetizada em 1936, porém só utilizada em 1970 (Souza & Vasconcelos., 2005). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 27 Existem ainda os fármacos de segunda linha: aminoglicosídeos (amicacina, canamicina), polipeptídeos (capreomicina), tioamidas (etionamida, protionamida), cicloserina e ácido aminosalicílico (Cavalcanti et al., 2009). O uso de apenas um medicamento revela a alta proporção de mutantes resistentes e esclarece o fenômeno da resistência e a conseqüente necessidade da associação de fármacos em qualquer esquema terapêutico (Dalcolmo et al., 2007). O aumento de casos de multirresistência à isoniazida isolada e associada à rifampicina observado no I e II Inquérito Nacional de Resistência aos Fármacos Anti-TB, realizado nos períodos de 1995-1997e 2007-2008, respectivamente, levou o MS a propor um novo sistema de tratamento da doença no ano de 2009. Dentre as mudanças recomendase a introdução de uma quarta droga, o etambutol, no esquema de tratamento já estabelecido, composto pelos fármacos isoniazida, rifampicina e pirazinamida e o desenvolvimento formulação das quatro drogas em um único comprimido, a dose fixa combinada. Porém, a incompatibilidade da rifampicina com a isoniazida em condições de estômago vazio é um problema da terapia com dose fixa combinada, verificando-se grande perda de rifampicina antes da sua absorção (SES-SP, 2010, Allanson et al., 2007, Singh et al., 2006, WHO, 1994). O desenvolvimento de novas formulações visa reduzir este problema, através das técnicas de microencapsulação gastrorresistente; comprimidos com revestimento entérico; especificação de polimorfos e tamanho de partícula; processo de fabricação sem mudanças no estado cristalino; e sistemas de liberação controlados de drogas. Além das micropartículas de hidrogel alginato, desenvolvidas para liberação oral de tuberculostáticos contendo isoniazida, rifampicina e pirazinamida, sozinhas ou em dose fixa combinada; isoniazida e rifampicina em forma coloidal para liberação oral; sistemas de liberação controlada na forma de cápsulas de isoniazida com rifampicina e a forma de aerossóis (Cavalcanti et al., 2009). Devido ao seu amplo espectro de atividade antimicrobiana, as fluorquinolonas têm sido utilizadas com sucesso no combate à tuberculose, estando sob investigação como fármacos de primeira escolha. Após a importante descoberta do norfloxacino, inúmeras fluorquinolonas foram sintetizadas e avaliadas, merecendo destaque o ciprofloxacino e ofloxacino. Ainda dentro das classes promissoras contra o M. tuberculosis, encontra-se as SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 28 oxazolidinonas. O primeiro medicamento desta classe de compostos aprovado nos Estados Unidos é o Zyvox® (linezolida). A combinação desde com fluorquinolonas foi capaz de combater, de maneira eficaz e em baixa concentração a M. tuberculosis resistente a outras classes de medicamentos (Souza & Vasconcelos., 2005). Os derivados nitroimidazólicos deniminados PA-824 e OPC- 67683 e a diarilquinolina TMC207 são recentes alternativas para o tratamento da tuberculose. Os derivados nitroimidazólicos apresentaram atividade bactericida quando administrados sozinhos e aumentaram a velocidade de eliminação dos bacilos quando substituíam a isoniazida em regime de tratamento multidroga. O TMC207 apresentou potente atividade contra o M. tuberculosis em ensaios in vitro e, em doses aplicadas em humanos, o fármaco sozinho apresentou atividade comparável ao tratamento padrão que associa rifampicina, isoniazida e pirazinamida (Davies & Nuermberger., 2008). Doença de chagas De modo geral, a doença de Chagas emerge de um contexto bio-ecológico intimamente relacionado à forma de viver e à história natural de seu agente etiológico, o Trypanosoma cruzi e de seus reservatórios superiores (mamíferos) e hospedeiros intermediários (insetos vetores). A infecção humana pode ser muito grave, com mortalidade significativa em crianças na sua fase aguda e severo acometimento cardíaco e/ou digestivo em adultos crônicos (Dias, 2007). Estima-se que aproximadamente 14 milhões de pessoas estejam infectadas na América Latina e que 60 milhões estejam em risco de infecção, sendo que no Brasil, de 1,8 a 2,4 milhões de indivíduos devam estar na fase crônica da doença, 1/3 deles na forma cardíaca e digestiva, gerando alta morbi-mortalidade (Almeida et al., 2009). Visto que não existe vacina que evite a infecção da doença, o modo de se impedir o aparecimento de novos casos reside, especialmente, no controle dos principais mecanismos de transmissão (vetorial, transfusional, congênita e, atualmente, oral) do protozoário T. cruzi. Como a imensa maioria dos chagásicos existentes foi contaminada pelas fezes dos triatomíneos infectados, o afastamento destes hemípteros da moradia deve ser o enfoque preventivo principal (Villela et al., 2009). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 29 As ações de controle da transmissão vetorial da tripanossomíase americana no Brasil começaram a se esboçar a partir da década de 1940, objetivando diminuir a transmissão da doença no ambiente domiciliar. Em 1950 o Programa de Controle da Doença de Chagas foi instituído pelo Serviço Nacional de Malária, mas somente sistematizado e estruturado como programa de alcance nacional em 1975 pela SUCAM, atual FUNASA (Vinhaes & Dias., 2000). Infelizmente, apesar compreensão da biologia do T. cruzi, as dos avanços impressionantes únicas drogas atualmente disponíveis para na o tratamento da doença de Chagas são as mesmas registradas há 21 anos: o nifurtimox e o benzonidazol, que foram desenvolvidos empiricamente em1960 e 1970 respectivamente (Croft et al., 2005). O nifurtimox teve seu uso interrompido, por apresentar muitos efeitos secundários, estando apenas o benznidazol disponível no mercado brasileiro, ainda que com uma série de restrições, como: baixa eficácia na fase crônica da doença, significativas variações regionais na eficácia devido ao surgimento de resistência do T. cruzi e alta taxa de abandono do tratamento devido aos efeitos colaterais causados pelos medicamentos (WHO, 2010). Visando diminuir a incidência de efeitos colaterais observados durante o tratamento com o benznidazol (muitos deles relacionados à sua baixa solubilidade aquosa), pesquisas recentes têm comprovado a eficiência das técnicas de incremento de solubilidade de fármacos pouco solúveis, como dispersões sólidas e complexos de inclusão, como excelentes alternativas para o caso do benznidazol (Lima et al., 2011, Soares-Sobrinho et al., 2010, Lyra et al., 2009). Também seguindo esta linha, o trabalho de Nogueira Silva e colaboradores (2008) propõe aumentar a potência e reduzir a toxicidade do benznidazol através da obtenção do complexo benznidazol-rutênio que apresentou melhor hidrossolubilidade e maior atividade in vitro e in vivo quando comparado ao fármaco isolado. Outro grande inconveniente do tratamento com o benznidazol era a inexistência de uma forma farmacêutica pediátrica. As crianças infectadas eram tratadas com frações do comprimido de uso adulto, depois de seccionado, por vezes, em até 12 partes. Com objetivo de tornar essa ação obsoleta, o DNDi e o Laboratório Farmacêutico do Estado de SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 30 Pernambuco (LAFEPE), desenvolveram uma formulação pediátrica de benznidazol, prevenindo possíveis erros no fracionamento e impactos negativos na eficácia, qualidade e segurança da medicação (DNDI, 2010). Ao contrário do empirismo observado na descoberta da atividade do benznidazol e do nifurtimox, uma abordagem racional está sendo utilizada na pesquisas de novos agentes para o tratamento da doença de Chagas (Croft et al., 2005). Nos últimos 15 anos novos compostos triazólicos apresentaram a capacidade de induzir a cura parasitológica nos estágios agudos e crônicos da doença de Chagas, como o posaconazol, que já é comercializado com o nome de Noxafil® (Schering-Plough) para o tratamento de infecções fungicas na Europa e nos Estados Unidos e o ravuconazole, que apresenta excelente atividade in vitro sobre as formas amastigotas do T. cruzy. Ambos os fármacos estão em fase de estudos clínicos para o tratamento específico da doença de Chagas (Urbina, 2010). Os inibidores da cruzaína- protease especifica e essencial para o parasita- e os bisfosfonatos – inibidores da farnesil pirofosfato sintase- são compostos que dentro de pouco tempo também estarão na etapa de estudos clínicos. Além deles, os inibidores da enzima tripanotiona, da hipoxantina guanina fosforibosiltransferase e os novos inibidores da síntese do ergosterol que atuam nas enzimas esqualeno ciclase e oxidoesqualeno estão em fase de estudos pré-clínicos (Garzoni et al., 2004, Urbina & Docampo., 2003, Schmidt & Krauth-Siegel., 2002). Dias (2007) considera a doença de Chagas em seus vários aspectos como um excelente modelo de investigação e desenvolvimento científico, seja no campo da biologia, da bioquímica e da genética do parasito, seja em aspectos mais amplos como o da fisiopatogenia da cardiopatia, das estratégias de controle, das questões sociais, da terapêutica específica e da vigilância epidemiológica, entre outros. Neste mesmo trabalho, o autor refere-se a um crescimento exponencial na pesquisa em doença de Chagas, o que resultou em notório desenvolvimento científico dos países afetados. Malária Mamalária é uma doença infecciosa, cujos agentes etiológicos são protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos por mosquitos vetores do gênero Anopheles. Quatro SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 31 espécies podem produzir a infecção: Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax, Plasmodium malarie e Plasmodium ovale. A Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax, são as mais comuns, sendo a Plasmodium falciparum a mais letal (WHO, 2010). A doença afeta entre 300 e 500 milhões de pessoas a cada ano, com mais de um milhão de óbitos principalmente de crianças menores de 5 anos de idade. Ocorre em todos os continentes na faixa intertropical, em mais de 100 países, sendo mais prevalente na África onde são registrados cerca de 90% dos casos . No Brasil, ocorrem aproximadamente 400.000 casos de malária por ano, basicamente nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Roraima e Tocantins, o que representa 99,5% do total. A dinâmica da transmissão da malária, nesses estados, está associada a fatores ambientais, socioculturais, econômicos e políticos (Manoel et al., 2010). A quimioprofilaxia antimalárica em áreas endêmicas demonstrou inicialmente uma redução na morbidade, mas foi abandonado por revelar um crescimento nos casos de resistência do parasita aos fármacos utilizado no tratamento. A cloroquina, por exemplo, foi ineficaz em muitas partes da África, sendo substituído pela associação de sulfadoxina e pirimetamina. A OMS recomenda terapias combinadas para o tratamento da malária, uma vez que os benefícios dessa associação promovem o retardo do aparecimento da resistência (Alonso, 2006). Atualmente os fármacos antimaláricos são baseados em produtos naturais ou compostos sintéticos. Esses fármacos são específicos para cada etapa do ciclo de vida do Plasmodium e são classificados, principalmente de acordo com o modo de ação, em dois grandes grupos: O primeiro grupo inclui os alcalóides derivados da cinchona, as aminoquinolinas e as acridinas. Acredita-se que esses fármacos podem interferir no metabolismo da glicose em diferentes pontos e também na habilidade do parasita de digerir a hemoglobina, impedindo, assim, que ele se alimente ou intoxicando-o com altos níveis de ferriprotoporfirina-IX, que é um subproduto tóxico da digestão da hemoglobina. O segundo grupo inclui as pirimidinas e biguanidas e envolve a interferência na síntese do ácido tetrahidrofólico, importante cofator no processo de síntese de DNA e de aminoácidos (Ministério da Saúde, 2011). O MS disponibiliza gratuitamente os medicamentos antimaláricos utilizados em todo o território nacional, em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Para o SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 32 cumprimento dessa política, o Programa Nacional de Controle de Malária (PNCM) preocupa-se, constantemente, em revisar o conhecimento vigente sobre o arsenal terapêutico da malária e sua aplicabilidade para o tratamento dos indivíduos. Pesquisadores, professores e profissionais de saúde compõem uma Câmara Técnica de Terapêutica da Malária, oficialmente nomeada pelo MS, com o objetivo de assessorar o PNCM na determinação da política nacional de tratamento da doença no Brasil (Ministério da Saúde, 2011). O PNCM firmou uma estratégia em que o diagnóstico precoce e o tratamento imediato aparecem como prioridade. O programa também se preocupa com as intervenções para controle do vetor, a detecção imediata de epidemias e um maior envolvimento do nível estadual e municipal para execução das medidas de controle da doença (Ministério da Saúde, 2011). Recentemente, as três maiores ferramentas usadas no controle da malária é o controle de mosquitos, redução do contato humano-vetor, prevenção e tratamento da doença com medicamentos. O tratamento farmacológico da malária baseia-se na susceptibilidade do parasita aos radicais livres e substâncias oxidantes, morrendo em concentrações destes agentes inferiores às mortais para as células humanas. Diversos fármacos são utilizados para o tratamento da malária, como: mefloquina, artemisina e quinina (Franca et al., 2008). Além das numerosas medidas de controle e dos tratamentos, vacinas estão sendo desenvolvidas, cujos ensaios se encontram em diferentes fases. A vacina está dirigida contra o esporozoito, a forma do parasita injetada pelo mosquito Anopheles spp. A vacina induz uma forte produção de anticorpos e células Th1 (o tipo de células T que intervêm na imunidade mediada por células (Alonso, 2006). Desde 2007, o DNDi disponibilizou dois novos produtos para o tratamento da malária: duas combinações em dose fixa, sendo a primeira com artesunato e mefloquina , sendo esta uma parceria com Fiocruz e registado no Brasil; e a segunda com artesunato e amodiaquina, este último é fruto de um trabalho em conjunto com a indústria SanofiAventis, comprovando a eficácia das parcerias público-privada na área de P&D de medicamentos para doenças negligenciadas (Fiocruz, 2010). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 33 Os sistemas de liberação controlada de fármacos também vêm recebendo atenção especial nesta área de pesquisa de doenças negligenciadas, com o desenvolvimento de estratégias para a veiculação de agentes bioativos e vacinas na forma de nanodispositivos tais como lipossomas, nanopartículas e micropartículas. Diversos nanossistemas já demonstraram eficácia na otimização de vacinas e quimioterápicos destinados ao controle da malária (Silva et al., 2010). Leishimaniose As leishmanioses são doenças infecto-parasitárias cujos agentes etiológicos são protozoários tripanosomatídeos do gênero Leishmania transmitidos por flebotomíneos (Diptera, Psychodidae) e integram o conjunto das seis doenças tropicais mais importantes no Velho Mundo e nas Américas (Silva et al., 2010). A descoberta dos agentes etiológicos das leishmanioses ocorreu no final do século XIX, quando Cunningham em 1885, na Índia, descreveu formas amastigotas em casos de Calazar. Em 1903, Leishman e Donovan realizaram as primeiras descrições do protozoário responsável pelo Calazar indiano, denominado mais tarde de Leishmania donovani. Igualmente em 1903, Wright descreveu o parasita do Botão do Oriente, conhecido atualmente como Leishmania tropica. E no continente americano, várias doenças que criavam lesões, freqüentes em determinadas regiões, eram chamadas de úlcera de Bauru, ferida brava, uta, úlcera dechiclero. A correlação destas lesões com um protozoário do gênero Leishmania foi estabelecida por Gaspar Vianna, em 1909, no Instituto Oswaldo Cruz, recebendo o nome de Leishmania braziliensis (Rath et al., 2003). Para doença, estima-se uma prevalência de 12 milhões de casos no mundo, sendo que 350 milhões de pessoas estão ameaçadas de contrair a doença em 88 países, 72 dos quais são subdesenvolvidos. Sendo a incidência de 90% dos casos de Leishmaniose visceral no Brasil, Bangladesh, Índia e Sudão (WHO, 2010). Com relação à Leishmaniose visceral, zoonose causada por Leishmania chagasi, estima-se que 90% dos casos registrados na América Latina ocorram no Brasil, a maioria deles em crianças (DNDI, 2011). Historicamente, a quimioterapia da leishmaniose foi baseada no uso de antimonial pentavalente. Contudo, a pentamidina e anfotericina B estão sendo utilizadas como fármacos alternativos, devido à alta resistência ao antimonial, inclusive na Índia o seu uso é SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 34 praticamente obsoleto. Apesar disso, os antimoniais pentavalentes são úteis para o resto do mundo, onde a introdução de marcas de genéricos reduziu os custos (Croft, 2005, Ayres et al., 2007). O MS distribui gratuitamente os medicamentos Anfotericina B, Isotionato de Pentamidina e Meglumina Antimoniato através do Programa de Endemias Focais. O Programa tem como objetivo auxiliar estados e municípios em ações de prevenção e controle das seguintes endemias: Malária, Cólera, Leishmanioses, Doença de Chagas, Tracoma, Dengue, Peste, Filariose e Esquistossomose (Brasil, 2010). A pentamidina e anfotericina B possuem como principal empecilho ao tratamento, a não possibilidade de administração por via oral, requerendo ser administradas por via parenteral, além de causar sérios efeitos adversos. Mesmo assim, a ação sinérgica entre esses fármacos e a resposta imune vem sendo investigada através da combinação entre os fármacos e imonoestimulantes (Croft, 2005, Ayres et al., 2007, Pontin et al., 2008). Neste sentido, os sucessos na quimioterapia das leishmanioses nos últimos 21 anos tem sido baseados em reformulação e rastreio ao invés de design racional e uma melhor compreensão da imunologia, como por exemplo com a utilização de interferona recombinante humana e outras citocinas (Soares-Beze et al., 2004). Adicionalmente, vem havendo um direcionamento para a inibição de vias metabólicas vitais e específicas do parasita. Contudo, a indústria pouco tem contribuído no desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento da leishmaniose e, no Brasil, o fármaco de eleição continua sendo o antimoniato de metilglucamina (Rath et al., 2003). Paralelamente,como forma de incentivar novas pesquisas, o DNDi iniciou em 2010 um estudo clínico para avaliar a segurança e a eficácia da combinação Ambisome© + Glucantine© para o tratamento da Leishmaniose Visceral no Brasil, com o objetivo de avaliar a eficácia dos atuais tratamentos recomendados no país, no contexto da Rede Brasileira de Alternativas Terapêuticas para as Leishmanioses. A combinação corresponderá a metade da dose total preconizada para cada um dos medicamentos quando usados em monoterapia, favorecendo um tratamento de menor duração, reduzindo a sua toxicidade e custo, e melhorando a adesão do paciente, o que resulta potencialmente em melhor eficácia assim como reduz risco de desenvolvimento de resistência. Este projeto SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 35 tem financiamento da FINEP e o DNDi procurou financiamento complementar junto ao DECIT/SCTIE/MS (DNDI, 2011). Em nível global, o DNDi desenvolve estratégias para pesquisas com objetivo de melhor utilização dos tratamentos existentes através de extensão geográfica e novas combinações de fármacos já disponíveis na África e Índia. Até 2014 o DNDI pretende registrar um novo medicamento para Leishmaniose Visceral e duas coadministrações a partir do seu portfólio de medicamentos (DNDI, 2011). Hanseníase A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa, causada por um bacilo denominado Mycobacterium leprae e persiste como endemia em quatro países do mundo: Brasil, República Democrática do Congo, Moçambique e Nepal, com prevalência acima de 10/100.000 habitantes (Silveira et al., 2009, Araujo, 2003). Apesar de todo o empenho em sua eliminação, o Brasil é o segundo país em número absoluto de casos no mundo, com 40.822 casos registrados no ano de 2008 (Araujo, 2003). Estratégias foram criadas em todo o mundo para o controle da endemia, o marco histórico dessa estratégia foi a resolução da 44 ª Assembléia Mundial (1991) que definiu como eliminação da hanseníase a prevalência de registro abaixo de 1 caso para 10.000 habitantes, meta programática que deveria ter sido alcançada pelos países endêmicos até 2001 (Martelli et al., 2002). Neste contexto, desde 1995, os medicamentos necessários para o tratamento têm sido disponibilizados gratuitamente em todos os países endêmicos através da OMS. No Brasil, o MS é responsável pela aquisição e distribuição direta desses medicamentos às secretarias estaduais de saúde, este tratamento consiste em uma poliquimioterapia padronizada devendo ser realizado nas unidades de saúde (Araujo, 2003, Brasil, 2010). Os fármacos Rifampicina, dapsona, clofazimina, ofloxacina, minociclina e claritromicina fazem parte da antibioticoterapia contra o M.leprae, quando associados, apresentam percentual de cura de até 99,99%. Com esses medicamentos disponíveis, a busca de novos agentes contra a hanseníase é pouco provável que seja uma prioridade. Entretanto, a investigação clínica e laboratorial de novas combinações em esquemas terapêuticos é justificada (Stefani, 2008, Jacobson et al., 1999). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 36 Estudos agora visam à retomada de drogas outrora obsoletas, como é o caso da talidomida que, com base na descoberta das suas propriedades antiinflamatórias e imunorreguladoras, a indústria norte-americana Celgene Co. solicitou ao US Food and Drug Administration (FDA) sua aprovação para uso no tratamento da hanseníase, concedida em julho de 1998. Marcava-se de forma definitiva o renascimento deste fármaco, que representa, atualmente, um agente terapêutico aleatório para o tratamento efetivo dos lepromas (Lima et al., 2001). O esforço da OMS para eliminar a hanseníase até o ano 2000 foi baseado em importantes avanços na terapia antimicobacteriana na década de 80. Até então, os fatores genéticos não eram considerados predisponentes para o desenvolvimento da doença. Acreditava apenas que o contágio se dava através do contato com pacientes infectados. Hoje, o paradigma de que fatores genéticos aumentam o risco de contrair a doença é amplamente aceito pela comunidade científica e tem mudado o foco das pesquisas sobre a doença, que atualmente considera prioridade o desenvolvimento de novos métodos de prevenção e diagnóstico (Stefani, 2008, Schurr et al., 2006). Entretanto, até a conclusão da seqüência completa do genoma do parasita publicada em 2001, o M. leprae permaneceu como um enigma principalmente devido à impossibilidade de ser cultivado in vitro (Stefani, 2008). As investigações sobre o papel da resposta imunonólógica inata ao M. leprae têm fornecido informações importantes para intervenção terapêutica na modulação do curso da doença. Os receptores de reconhecimento do M. leprae e o mecanismo de liberação de citocinas pelas células da imunidade inata são possíveis alvos para o desenvolvimento de novos agentes terapêuticos antimicrobianos (Modlin, 2010). Os estudos a cerca da imunidade específica, por sua vez, viabilizam o desenvolvimento de novos métodos imunodiagnósticos, como observado no trabalho de Araoz e colaboradores (2006), que identificou quatro antígenos específicos para o M. leprae, um passo importante no desenvolvimento de um teste de detecção dos casos de hanseníase. A descoberta desses novos antígenos do M. leprae é um grande avanço no setor da pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para o combate da doença, que poderão fornecer testes diagnósticos que permitam detecção da infecção recente, testes com potencial valor prognóstico e adequados para classificação da hanseníase. Além da SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 37 possibilidade de identificar infecção subclínica, novos testes laboratoriais podem auxiliar no entendimento dos padrões de transmissão e de vigilância em nível populacional (Stefani, 2008). Dengue A Dengue é uma doença causada por arbovírus da família Flaviviridae, gênero Flavivírus, que inclui quatro tipos imunológicos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4, que pode provocar sintomas debilitantes de forma autolimitada, como também apresentarse de maneira mais grave e potencialmente fatal, nos casos de febre hemorrágica da dengue e síndrome de choque da dengue (Ross, 2010). Essa doença infecciosa aguda constitui um sério problema de saúde pública no mundo, especialmente na maioria dos países tropicais onde é favorecida por características climáticas, ambientais e sociais (Almeida et al., 2009). Estima-se que entre 50 e 100 milhões de pessoas se infectem anualmente em mais de 100 países. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em consequência da dengue (Brasil, 2011). O mosquito transmissor do vírus, o Aedes aegypti, é encontrado atualmente numa extensão que vai desde o Uruguai até o sul dos Estados Unidos, tendo sido registrado surtos de grande importância em vários países, como Venezuela, Cuba, Brasil e Paraguai, o que corresponde a 3,5 bilhões de pessoas contaminadas no mundo, exceto a Europa, o Canadá e Chile (Ferreir et al., 2009, Silva et al, 2008). No Brasil, os esforços para conter os surtos da doença estão reunidos no Programa Nacional de Controle da Dengue. Uma avaliação pragmática, que comparou os cinco anos anteriores (1998- 2002) com os cinco anos posteriores (2002-2007) à implantação do programa, verificou uma redução de 25% no total de casos notificados no país. Sendo que, mesmo com essa redução, 2007 foi o segundo ano com maior número de notificações de dengue (Coelho, 2008). Infelizmente, a infra-estrutura laboratorial, a capacidade técnica e de investigação é limitada em muitos países onde a dengue é uma epidemia. Estes fatores influenciam negativamente na vigilância clínica dos casos e no desenvolvimento de novas abordagens necessárias ao controle da doença, como o desenvolvimento de novas tecnologias para SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 38 um diagnóstico mais rápido e específico, a obtenção de uma vacina e o estudo mais aprofundado sobre a sua patogenia (Guzmán & Kourí, 2004). A OMS vem buscando liderar um processo que impulsione o avanço das pesquisas de vacinas contra dengue, mediante a formação de grupos de trabalho, apoiando programas interinstitucionais, estimulando o aporte de recursos financeiros para investigações que venham a contribuir para a realização dos necessários estudos de campo, a fim de que sejam conduzidos de forma segura aos sujeitos das pesquisas, elaboração de protocolos, promoção de reuniões para atualização e discussão das questões, entre outras iniciativas (Barreto & Teixeira, 2008). As vacinas tetravalentes contendo vírus vivos atenuados parecem ser as mais adequadas para prevenir a doença, devido à possibilidade de proteção para todos os sorotipos, por longos períodos de tempo; as vacinas vivas têm a vantagem de estimular tanto a imunidade humoral, como a resposta celular. A partir do final da década de 70, cientistas da Tailândia e dos Estados Unidos desenvolveram vacinas com vírus vivos atenuados para dengue, em culturas de células. Após a realização de diversos estudos em animais, os laboratórios Glaxo SmithKline® e Sanofi Pasteur® passaram a conduzir estudos com essas vacinas em humanos. Apesar de alguns problemas encontrados, como diferentes graus de atenuação entre cepas de sorotipo diferentes e a possibilidade de o vírus voltar para forma ativa, o desenvolvimento dessas vacinas seguem em estágios avançados. Se os ensaios em de fase II e III em andamento forem bem sucedidos a Sanofi Pasteur está apta a receber autorização dos órgãos sanitários no prazo de 5 anos (Zheng et al., 2011, Murrell et al., 2010). As Vacinas de DNA, uma tecnologia que consiste na inoculação de um ou mais plasmídeos de expressão de proteínas estruturais do vírus, tem apresentado resultados promissores para ativação do sistema imunológico contra a doença, inclusive com alguns resultados comprovados em testes pré-clínicos (Zheng et al., 2011, Lima et al., 2011). A avaliação dos estudos de eficiência dessas vacinas está relacionada ao desenvolvimento de métodos de diagnóstico rápido e preciso. O diagnóstico também é importante para confirmação do caso de dengue clássica, hemorrágica ou síndrome do choque da dengue, para diferenciar a dengue de outras infecções por flavivírus e para o acompanhamento e avaliação clínica dos pacientes. Atualmente o diagnóstico da dengue é SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 39 realizado através da sorologia e a confirmação realizada por isolamento do vírus em amostra de sangue ou de tecidos, detecção de anticorpos anti-dengue através da técnica de radioimunoensaio e Elisa e detecção de seqüências do genoma viral através da reação de polimerização em cadeia (PCR). Estes testes apresentam alguns problemas para aplicação prática, pois o isolamento do vírus não é uma técnica rápida, o PCR requer laboratórios e equipamentos específicos e a detecção dos anticorpos IgM pode apresentar resultados falso positivo, além dos custo elevado dos kits comerciais (Guzmán & Kourí, 2004). CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de serem grandes as dificuldades para o desenvolvimento de P&D em tecnologias e produtos para combater as doenças negligenciadas e de ainda serem poucos os investimentos financeiros neste segmento, quando comparados às pesquisas que focam enfermidades que atingem os países ricos, como a AIDS, inúmeros são os trabalhos científicos desenvolvidos na tentativa de diminuir tanto o número expressivo de pessoas que sofrem as conseqüências dessas doenças, quanto os gastos governamentais com os tratamentos disponibilizados. O bom desempenho in vitro das novas classes de compostos identificadas para tratar a Esquistossomose, a eficácia das terapias combinadas para o tratamento da tuberculose e Leishmaniose e a obtenção de formulações contendo fármacos tecnologicamente modificados para tratar a doença de Chagas são resultados promissores das pesquisas direcionadas a estas enfermidades dos países pobres. Os dados da literatura também revelaram que as vacinas, que seguem em diferentes estágios de desenvolvimento, são armas que em pouco tempo poderão ser utilizadas na prevenção dessas doenças, mas enquanto são aguardadas, a melhor medida para controlar a situação epidemiológica dessas doenças é melhorando as condições de saneamento básico e orientando a população sobre a forma de combate à proliferação dos vetores e agentes causadores. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Allanson AL, Cotton MM, Tettey JN, Boyter AC. Determination of rifampicin in human plasma and blood spots by high performance liquid chromatography with UV detection: a potential method for therapeutic drug monitoring. J Pharm Biomed Anal. 2007;44(4):963-9. Almeida AS, Medronho RA, Valencia LIO. Análise espacial da dengue e o contexto socioeconômico no município do Rio de Janeiro, RJ. Rev Saúde Pública [online]. 2009;43(4) :666-73. 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Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. in 50 3.2 Artigo II. Dispersões Sólidas para Incremento de Solubilidade: Casos com Polímeros Hidrofílicos em Fármacos pouco Solúvéis em Água Solid Dispersion Systems for Increase Solubility: Cases With Hydrophilic Polymers in Poorly Water Soluble Drugs RESUMO A utilização de novas técnicas para melhorar a solubilidade, taxa de dissolução e biodisponibilidade dos fármacos pouco solúveis em água é de grande importância no desenvolvimento de fármacos, principalmente aquelas administradas por via oral. Entre estas, as dispersões sólidas (DS), sistemas estruturados de sólidos em que o fármaco está disperso em uma matriz biologicamente inócua, têm sido utilizados para aumentar a solubilidade de fármacos. Polímeros hidrofílicos também têm sido amplamente utilizados como carreadores por causa de seu baixo custo e alta solubilidade. No entanto, há poucos relatos de aplicação dessa técnica em um produto acabado, demonstrando a necessidade de conhecimento detalhado sobre as mais recentes técnicas de preparação mais utilizadas em laboratório e em escala industrial. O objetivo deste trabalho foi discutir os principais métodos utilizados na preparação e caracterização de DS, os fármacos que tiveram um aumento de solubilidade e as principais características físico-químicas dos polímeros hidrofílicos mais amplamente utilizados, listando suas vantagens e desvantagens. PALAVRAS CHAVE: Métodos analíticos, caracterização, dissolução, biodisponibilidade. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 51 ABSTRACT The use of new techniques to improve the solubility, dissolution rate and bioavailability of the few water-soluble drugs is of great importance in the development of pharmaceuticals, particularly those administered orally. Among these, the solid dispersions (SD), structured solid systems in which the drug is dispersed in a matrix biologically innocuous have been used to increase solubility of drugs. Hydrophilic polymers have also been widely used as carriers because of its low cost and high solubility. However, there are few reports of application of this technique into a finished product, demonstrating the need for detailed knowledge about the most recent major gathering techniques used in laboratory and industrial scale. The objective was to discuss the basis of a literature review, the main methods used in the preparation and characterization of DS, the drugs had increased solubility and the main physicochemical characteristics of the most widely used hydrophilic polymers, listing their advantages and disadvantages. KEYWORDS: solid dispersion, solubility, hydrophilic polymers, analytics methods. INTRODUÇÃO Dependendo de sua solubilidade em água, cada fármaco possui um perfil diferente e único de liberação e de ação no alvo. Os fármacos pouco solúveis requerem uma tecnologia para a sua liberação em um alvo específico1. Apresentam, em geral, problemas de biodisponibilidade, sendo a dissolução o fator limitante para a absorção dos mesmos2. Essa propriedade é tão importante que atualmente é utilizado como um dos critérios de classificação biofarmacêutica3, conforme exposto na figura 1. Os fatores que mais influenciam a biodisponibilidade de fármacos, em formulações para administração oral, são a solubilidade e a permeabilidade4. A solubilidade de fármacos é controlada pela área superficial que a partícula apresenta para dissolução5. Paralelamente a permeabilidade nas membranas biológicas, a solubilidade/dissolução constitui-se um fator essencial para efetividade dos fármacos. Tal fato é considerado um desafio para a indústria farmacêutica já que mais de 40% das substâncias ativas hoje investigadas apresentam-se insolúveis ou pouco solúveis6. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 52 A taxa de absorção e biodisponibilidade de fármacos pouco solúveis é frequentemente controlada pela taxa de dissolução do fármaco no trato gastrointestinal. Portanto, muitas vezes nos regimes terapêuticos convencionais uma grande quantidade é administrada e uma grande fração é excretada sem exercer nenhuma atividade. Alternativas eficientes que tornem os fármacos mais disponíveis para determinado sítio de absorção com taxas de dissolução mais adequadas têm sido amplamente descritas na literatura com a finalidade de aumentar a solubilidade em sistemas aquosos, direcionar os fármacos a sítios específicos do organismo, liberá-los de maneira controlada e aumentar o efeito terapêutico7. O desenvolvimento de novas técnicas para melhorar a solubilidade, a taxa de dissolução e a biodisponibilidade é de grande importância no desenvolvimento de produtos farmacêuticos, em especial para aqueles administrados por via oral. Dentre estas, as dispersões sólidas, sistemas sólidos estruturados, no qual o fármaco está disperso em uma matriz biologicamente inócua com o objetivo de melhorar a sua biodisponibilidade oral tem sido muito utilizada para aumentar a solubilidade de fármacos hidrofóbicos. Elas são obtidas através de um processo tecnológico que consiste em dispersar um componente farmacologicamente ativo (fármaco) em um carreador ou matriz no estado sólido, a fim de melhorar a solubilidade e a estabilidade, aumentar a taxa de dissolução, modular a ação terapêutica e a permeabilidade do fármaco através das membranas absortivas8. A escolha do polímero ou substância para a preparação das dispersões sólidas (além da natureza da droga) irá determinar as dinâmicas de dissolução. Assim a associação do polímero hidrofílico com fármacos pouco solúveis em água determinará aumento de solubilidade e consequentemente dissolução9. O objetivo desta pesquisa foi verificar os principais fármacos com dificuldade de solubilização que tiveram suas características de solubilidade melhoradas através dos sistemas de dispersões sólidas, além dos processos de obtenção e caracterização das mesmas e a utilização dos polímeros hidrofílicos. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 53 Figura 1. Sistema de classificação biofarmacêutica (adaptado de Barreto et al., 2002). DISPERSÕES SÓLIDAS O termo dispersão sólida refere-se a um grupo de produtos sólidos compostos por pelo menos dois componentes diferentes, geralmente uma matriz hidrofílica e uma droga hidrofóbica. A matriz pode ser cristalina ou amorfa. A droga pode ser dispersa molecularmente, em partículas amorfas ou em partículas cristalinas 10,11. Em 1961, Sekiguchi e Obi propuseram pela primeira vez a formulação de uma mistura eutética para conseguir aumentar a velocidade de dissolução de um fármaco pouco solúvel. Nesse trabalho pioneiro, os autores prepararam a mistura contendo sulfatiazol como modelo de fármaco pouco solúvel, e uréia como carreador hidrossolúvel. Ao serem expostas a água, as misturas eutéticas foram capazes de liberar o fármaco mais rapidamente, na forma de uma dispersão fina. Adicionalmente, as formas farmacêuticas obtidas, apresentaram maior biodisponibilidade que as formas convencionais12. Atualmente se prefere utilizar polímeros hidrossolúveis como carreadores, devido à baixa solubilidade e aplicabilidade geral para a maioria dos fármacos13. Uma droga pouco solúvel combinado com um carreador hidrossolúvel resulta em um sistema de liberação rápida, enquanto uma droga hidrossolúvel quando combinado com um carreador levemente solúvel, resulta no atraso da liberação do fármaco14. O desenvolvimento de dispersões sólidas como um método praticamente viável para melhorar a biodisponibilidade de fármacos hidrofóbicos superou as limitações das abordagens anteriores, como a formação de sal, a solubilização por solventes e a redução de SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 54 tamanho de partículas15. Os estudos revelaram que a droga na dispersão sólida não precisa necessariamente existir no estado micronizado. Uma fração da droga poderia molecularmente se dispersar na matriz, formando assim uma dispersão sólida. Quando a mesma é exposta ao meio aquoso, o transportador se dissolve e ocorrem lançamentos de drogas como finas partículas coloidais. Além disso, uma porção da droga dissolve-se imediatamente para saturar o fluido do trato gastrointestinal e as drogas em excesso precipitam-se como finas partículas coloidais16,17. MÉTODOS DE OBTENÇÃO DAS DISPERSÕES SÓLIDAS Geralmente as dispersões sólidas preparadas mais frequentemente são amorfas e podem ser classificadas como: suspensões sólidas, onde o fármaco encontra-se disperso na matriz na forma de agregados, e soluções sólidas, onde o fármaco encontra-se disperso de modo homogêneo em níveis moleculares12. Tradicionalmente, as dispersões sólidas são obtidas pelo método de fusão e pelo método de evaporação do solvente, mas outras tecnologias também têm sido utilizadas. Método de fusão O método de fusão foi proposto pela primeira vez por Sekiguchi e Obi e consiste em fundir através de uma mistura física a droga com o carreador seguido de congelamento e pulverização para obter o produto18. A mistura é fundida e rapidamente resfriada, de modo a obter a supersaturação do fármaco, cujas moléculas ficam aprisionadas entre as moléculas do carreador, devido ao rápido resfriamento que não permite a nucleação do soluto19. A obtenção de dispersões sólidas pelo método da fusão pode ser limitada pela sensibilidade térmica dos constituintes da formulação12, podendo ocorrer dessa forma a degradação das drogas20. Método de Evaporação No método de preparação por evaporação do solvente, o carreador e o fármaco são dissolvidos em um solvente geralmente orgânico ou gás em condições supercríticas, ambos estáveis, e o solvente é evaporado a uma temperatura fixa e a pressão reduzida. Com a remoção do solvente ocorre uma supersaturação do meio seguido de precipitação SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 55 simultânea dos constituintes. O solvente, aderido à superfície da partícula co-precipitada, é removido por secagem com auxílio de vácuo. Este método é indicado para fármacos termolábeis, que poderiam se degradar na temperatura de fusão do carreador. A dificuldade deste método está em encontrar um solvente que dissolva tanto o fármaco como o carreador. Além disso, o uso de diferentes solventes pode induzir o aparecimento de diferentes polimorfos21. Atomização (Spray Drying) A mistura parcial do sistema e a rápida eliminação de água propiciam uma eficiência de complexação elevada. Além disso, esta técnica permite controlar o tamanho de partículas obtido em intervalos bastante estreitos, fundamental, por exemplo, para obtenção de pós de administração pulmonar22. O rápido resfriamento causado pelas baixas temperaturas no nitrogênio líquido e elevado grau de atomização resulta em nanopartículas amorfas. Hélio, propano, outros líquidos criogênicos como argônio e diidrofluoroeteres ou dióxido de silício podem ser empregados para atomização23. O baixo rendimento e o estresse térmico são algumas das limitações desta técnica24. Liofilização Esta técnica foi proposta como uma técnica alternativa a evaporação do solvente. A liofilização foi pensada como uma técnica molecular25, que consiste na eliminação de solvente dos sistemas em solução, através de um prévio congelamento e posterior secagem a pressões reduzidas para obter uma dispersão liofilizada molecular. Apresenta como desvantagens, o longo tempo de processamento e as características inadequadas de fluxo do material obtido26,27,28. Método de Co-precipitação Esta técnica parte de uma solução de fármaco em condições muito próximas a saturação e através de mudanças bruscas de temperatura ou adição de solventes orgânicos, se obtém a precipitação do material em forma de complexo de inclusão. Os cristais obtidos são coletados por centrifugação ou filtração29. Este método é bastante utilizado em escala SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 56 laboratorial. No entanto, o baixo rendimento conseguido em escalas maiores, o risco de formação de complexos de inclusão com solventes orgânicos e o longo tempo do processamento (um a três dias) torna-o pouco atrativo em escala industrial30. Método de Emulsificação Neste método, o fármaco - disperso em um solvente orgânico - é disperso em uma fase aquosa contendo surfactante. Esta etapa é seguida de evaporação do solvente orgânico sobre pressão reduzida (rotaevaporacão), o qual resulta na precipitação de partículas do fármaco para formar uma suspensão de nanopartículas, a qual é estabilizada pela adição de surfactante. A emulsificação não deve ser empregada para fármacos que apresentem baixa solubilidade em ambos os meios empregados (aquoso ou orgânico)23. Fluidização supercrítica Constitui um dos métodos mais inovadores de obtenção de complexos em estado sólido. O desenho de partículas empregando CO2 em estado supercrítico confere aos materiais obtidos por esta técnica, características únicas quanto à interação31. No processo o dióxido de carbono supercrítico é misturado com solvente orgânico contendo o fármaco. O solvente expande no dióxido de carbono supercrítico, aumentando assim a concentração do soluto em solução, resultando em uma solução supersaturada e causando a precipitação do soluto. Micropartículas e nanopartículas são formadas após a precipitação do fármaco por transferência de massa devido à extração do solvente orgânico junto ao dióxido de carbono. A elevada transferência de massa é importante para minimizar a aglomeração das partículas e reduzir o tempo de secagem23. Apesar de ser um método atóxico (não utiliza solventes orgânicos), rápido, quimicamente estável (utiliza temperaturas moderadas), de baixo custo de manutenção e com promissores resultados descrito na literatura, ainda é uma técnica experimental e que apresenta um custo inicial bastante elevado32, 33. Malaxagem Consiste em formar uma pasta a partir da adição da mínima quantidade de líquido (água ou misturas etanoaquosas) suficiente para umedecer a mistura em pó de fármaco e SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 57 ciclodextrinas. Em escala laboratorial, é realizada em um almofariz com auxílio de um pistilo24,34,35. Industrialmente, a mistura de componentes é efetuada em uma malaxadora. A secagem do material pode ser feita em estufa ou diretamente na malaxadora acompanhada de pulverização para uniformizar o tamanho de partícula. Variações desta técnica utilizando extrusores de calor ou granuladores de leito fluidizado são reportadas36,37,38. Devido à simplicidade, ao elevado rendimento e à facilidade de transposição de escala, este método é um dos mais utilizados na indústria farmacêutica, ainda que sua eficiência de complexação seja inferior a conseguida com outras técnicas. CARACTERIZAÇÃO DAS DISPERSÕES SÓLIDAS Os métodos empregados para caracterizar as substâncias no estado sólido, e seu comportamento em meio aquoso pode ser realizado “in vitro” ou “in vivo”. Geralmente empregam técnicas espectrais que se baseiam na interação da matéria condensada com a energia radiante ou utilizam técnicas de observação do comportamento da substância quando submetidas ao calor ou a ação de solventes12. Os métodos mais importantes para caracterizar as dispersões sólidas são: espectroscopia de Infra Vermelho, difração de raiosx, métodos termoanalíticos e estudos de dissolução em fármacos. Espectroscopia de Infravermelho A espectroscopia de infravermelho tem sido muito utilizada para identificar a natureza e a extensão das interações químicas que ocorrem em dispersões sólidas39. A utilização desse método parte da premissa que a mistura de dois componentes em nível molecular deverá ocasionar mudanças nas oscilações do dipolo das moléculas. Essas mudanças se manifestam no espectro sob a forma de alterações na frequência e na largura das bandas dos grupos interagentes. Logo, se os grupos funcionais do fármaco e do polímero interagem, então o espectro de infravermelho dos grupos deverá apresentar as bandas deslocadas e achatadas quando comparadas com os espectros individuais dos componentes da mistura. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 58 A espectroscopia de infravermelho pode se tornar uma técnica especialmente poderosa quando associada a outros métodos espectroscópicos como a ressonância magnética40. Difração raios-x Entre as técnicas cristalográficas, a difração de raios-x é a mais empregada devido a sua simplicidade e rapidez26. Cada composto cristalino fornece um perfil de difração característico, constituído por picos, equivalentes às cristas em fase da radiação incidente. A partir do padrão do difratograma e da área total sob os picos de difração, torna-se possível identificar a forma cristalina e o grau de cristalinidade de uma amostra. Por outro lado, sólidos amorfos exibem um difratograma sem picos definidos12. Sendo assim, é possível com a difração de raios-X diferenciar entre soluções sólidas, em que a droga é amorfa, e dispersões sólidas, em que é pelo menos em parte presente na forma cristalina, não obstante se o carreador é amorfo ou cristalino41. Com isso essa técnica tem se mostrado uma ferramenta indispensável na caracterização do grau de cristalinidade de sólidos, e tem sido usado em praticamente todos os trabalhos que envolvem a caracterização das dispersões sólidas42, 43,39. Métodos Termoanalíticos Os métodos térmicos de análise são constituídos por técnicas que medem variação das propriedades físico-químicas das substâncias em função da temperatura. Apesar de algumas limitações e da necessidade de utilizar outras técnicas complementares para uma informação mais precisa, este ensaio consegue, em muitos casos, proporcionar informações quantitativas quanto ao grau de complexação, além de informações valiosas da estabilidade do sistema e de sua cristalinidade44. As técnicas mais utilizadas na caracterização das dispersões sólidas são a termogravimetria, análise térmica diferencial e calorimetria diferencial exploratória. Entre estes, a calorimetria diferencial exploratória (DSC) é o método mais empregado, porque permite a detecção quantitativa de todos os processos em que a energia é exigida ou produzida. O método usual de medida é o aquecimento de amostras teste e referência de tal maneira que a temperatura das duas é mantida. A falta de SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 59 um pico de fusão no DSC numa dispersão sólida indica que a droga está presente mais no estado amorfo do que na forma cristalina. Desde que o método seja quantitativo, o grau de cristalinidade também pode ser calculado para sistemas em que a droga é em parte amorfa e em parte cristalina45. Os métodos de análise térmica têm sido muito empregados na caracterização de mistura de polímeros com fármacos, geralmente para determinar a temperatura e a entalpia de fusão e de recristalização, que são parâmetros que ajudam a elucidar as interações que ocorrem na formulação e permitem avaliar a cristalinidade do material46, 47, 48,18. Estudos de Dissolução Os testes de dissolução “in vitro” permitem comparar formulações de diferentes lotes ou diferentes composições e constituem etapa fundamental no desenvolvimento e controle de qualidade das preparações farmacêuticas. Habitualmente os ensaios de dissolução “in vitro” são influenciados pela solubilidade do fármaco no meio solvente, distribuição do tamanho de partículas, forma farmacêutica e excipientes utilizados12. Um experimento de dissolução bem desenvolvido mostrará se a solubilidade e taxa de dissolução da droga foi melhorada, e também se a solução supersaturada é estável ou tende precipitar rapidamente. Comparação de resultados do pó da droga pura e misturas físicas da droga com o carreador podem ajudar a indicar se o carreador melhorou a dissolução pela formação da dispersão sólida41. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) A microscopia eletrônica de varredura é utilizada em várias áreas do conhecimento, sendo amplamente utilizado para estudar os aspectos estruturais dos materiais. O uso desta técnica vem se tornando mais freqüente por fornecer informações detalhadas, com aumentos de até 300.000 vezes, do estado de cristalização de produtos obtidos por diferentes técnicas de complexação e dispersões sólidas49,50. O conhecimento detalhado da microestrutura dos materiais permite o entendimento e, em muitos casos, até a previsão das propriedades e do comportamento dos mesmos. A partir do MEV, avalia-se a contribuição com relação à diminuição da cristalinidade das SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 60 partículas obtidas através dos diversos métodos para a formação de dispersões sólidas, à medida que permite a visualização e diferenciação das partículas de polímeros e dos cristais dos fármacos51. Em geral, as partículas dos polímeros são globulares e amorfas, enquanto que os fármacos apresentam-se na forma de cristais menores, com formato irregular, mas com uma distribuição de tamanho de partícula mais homogênea. Nas misturas físicas é possível distinguir as partículas de fármaco das partículas de polímeros. Porém, quando uma dispersão é formada, o estado cristalino resultante é diferente do obtido pela simples mistura da molécula do fármaco e o polímero. POLÍMEROS HIDROFÍLICOS A melhoria no desenvolvimento de sistemas de liberação modificada depende da seleção de um agente apropriado capaz de controlar a liberação do fármaco, sustentar a ação terapêutica ao longo do tempo e/ ou de liberar o fármaco ao nível de um determinado tecido ou órgão alvo. Dentro das várias opções, os polímeros são agentes versáteis e promissores para exercer tal função52. Sendo assim, a utilização de sistemas matriciais constituídos por diversos tipos de polímeros é opção interessante, sendo uma das estratégias mais empregadas de desenvolvimento de uma formulação oral de liberação modificada devido às vantagens inerentes a estes sistemas: versatilidade, eficácia, baixo custo e produção que recorre a equipamentos e técnicas convencionais. Além disso, a utilização de sistemas matriciais permite a incorporação de quantidades relativamente elevadas de fármacos53. Dentre os polímeros hidrofílicos mais relatados na literatura para preparação das dispersões sólidas temos a polivinilpirrolidona (PVP), o polietilenoglicol (PEG) e a hidroxipropilmetilcelulose (HPMC). Polivinilpirrolidona (PVP) A polivinilpirrolidona comumente conhecida como PVP, é um polímero altamente hidrofílico encontrado no mercado com especificações de peso molecular médio que pode variar de 2.5 a 3000 KDa, expresso como uma função do valor K53. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 61 Esse polímero é extensivamente utilizado como excipiente farmacêutico, em combinação com uma ampla variedade de fármacos, sendo empregado em diversas formas farmacêuticas com finalidades diferentes. Essa versatilidade associada a uma baixa toxicidade fundamenta o uso da PVP na obtenção de dispersões sólidas. A PVP apresenta temperatura de transição vítrea relativamente alta, acima de 110ºC, que limita o seu uso na obtenção de dispersões sólidas pelo método de fusão. Entretanto, devido a sua solubilidade em uma ampla variedade de solventes, esse polímero é amplamente empregado e estudado na obtenção de dispersões sólidas pelo método de evaporação do solvente. Alguns estudos têm mostrado que a PVP inibe a cristalização em dispersões sólidas. Acredita-se que o polímero ao interagir com as moléculas do fármaco, principalmente por ligações de hidrogênio, inibe a nucleação e consequentemente a cristalização55,56,48. Figura 2. Estrutura química do monômero de PVP Polietilenoglicol (PEG) O PEG (figura 3) apresenta diversos pesos moleculares e diferentes temperaturas de fusão, sendo isto um dos motivos por serem bastante utilizados em muitas aplicações industriais que envolvem aquecimento. Seu peso molecular varia de 200 a 300.00057. Comumente, na preparação de dispersões sólidas e de soluções, são utilizados PEGs com pesos moleculares entre1500 e 20.000. Com o aumento do peso molecular do PEG, há a elevação da sua viscosidade e de seu ponto de fusão. Nas estruturas de peso molecular de até 600, os PEGs são fluidos; na escala entre 800-1500 apresenta maior consistência; entre 2000 a 6000 apresentam aspectos cerosos e aqueles com pesos moleculares acima de 20000, são em forma de cristais frágeis à temperatura ambiente. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 62 Figura 3. Estrutura química do monômero de PEG Hidroxipropilmetilcelulose (HPMC) A HPMC é um polímero hidrofílico linear e os trabalhos realizados demonstram que os seus efeitos se manifestam principalmente pela sua capacidade de, após hidratação, intumescer e formar uma camada gelatinosa à superfície do comprimido. Esta funciona como barreira à rápida liberação do fármaco, controlando quer a penetração de água, quer a velocidade de liberação da substância ativa58. A ampla utilização de matrizes de HPMC deve-se à existência de grande variedade deste polímero, que se classifica de acordo com a sua viscosidade e a proporção entre os grupos substituintes (grupos metoxila e hidroxipropila). O grau de hidratação deste polímero hidrossolúvel depende das características físico-químicas, como a massa molecular, o grau de substituição e a viscosidade. Uma das características mais importantes deste polímero hidrofílico, no que se refere à sua aplicação em sistemas de liberação modificada, é a capacidade de intumescimento/relaxamento, a qual exerce efeito pronunciado na cinética de liberação do fármaco incorporado. A sua popularidade deve-se, também, a outras características, como a natureza não-tóxica e não-iônica do polímero (não apresentando problemas de compatibilidade), a capacidade de incorporar elevadas quantidades de substâncias ativas, a simplicidade, a rapidez e a economia da tecnologia associada à sua preparação e à possibilidade de fabricação de comprimidos matriciais por compressão direta, apresentando boas características de compressão sem necessidade de etapa prévia de granulação59,60,61. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 63 Figura 4. Estrutura química do monômero de HPMC APLICAÇÕES DAS DISPERSÕES SÓLIDAS NO CAMPO FARMACÊUTICO A busca por sistemas que realizem tarefas complexas em regiões restritas do organismo humano e que podem ser controlados e manipulados tem impulsionado a pesquisa em vários campos da área farmacêutica. A alternativa encontrada para melhorar a taxa de solubilidade e o percentual de dissolução de fármacos pouco solúveis tem sido a associação destes fármacos a sistemas de liberação adequados. O Fluconazol (FLC), um fármaco sintético derivado do triazol, usado no tratamento de infecções fúngicas cutâneas e sistêmicas, e também utilizado na prevenção e tratamento de infecções micóticas é considerado um fármaco de baixa solubilidade e alta permeabilidade. A técnica utilizada para o melhoramento da solubilidade foi a de dispersão sólida obtida por dispersões do fármaco na presença de PVP. Comparando o perfil de dissolução do FLC puro e deste na dispersão sólida, é evidente o aumento da taxa de dissolução do fármaco nas dispersões sólidas (cerca de 38% a mais ao final de 90 min). Assim é possível atribuir esta melhora nas propriedades de dissolução do FLC ao uso da tecnologia farmacêutica empregada62. De acordo com Verheyen et al., a utilização de formulações de dispersões sólidas de hidroclorotiazida em PVP, pelo método de evaporação do solvente, contribuiu para o aumento da solubilidade do fármaco em água, justificado pela formação de estrutura sólida SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 64 amorfa, que mantém o sistema estável através de ligações de hidrogênio e de um efeito plastificante, de forma semelhante ao efeito exercido pelo PEG 6000 sobre benzodiazepínicos12. Segundo Lima, o aumento da solubilidade e taxa de dissolução do Benznidazol pôde ser realizado pela formação de dispersões sólidas com PVP K30 e PEG 6000 obtidas pelo método de malaxagem. Baseado nos resultados pôde-se constatar que as dispersões sólidas foram muito eficientes na melhoria dessas características, que são pontos limitantes deste fármaco e dificultam sua biodisponibilidade63. Estudos com o Efavirenz tiveram resultados significativos quando associados ao PVP K-30 possibilitando a preparação de sistemas de DS ternárias na forma sólida, o que viabilizaria a preparação de dispersões de consistência mais adequadas para a produção de formas farmacêuticas sólidas, assim como a utilização de métodos mais simples e de maior rendimento para a preparação das DS, como o método de malaxagem, que poderia ser mais facilmente transponível para uma escala industrial64. As dispersões sólidas de Praziquantel (PZQ) foram obtidas por precipitação na presença de PVP. Houve um aumento na solubilidade e no perfil de dissolução do fármaco, mostrando que a presença do carreador aumenta significativamente a quantidade de PZQ dissolvido e que as dispersões sólidas apresentam um perfil de dissolução melhor que as misturas físicas. A maior taxa de dissolução do PZQ nas dispersões sólidas deve-se provavelmente à maior interação do fármaco com o carreador resultando na mudança do estado cristalino para amorfo65. A utilização da tecnologia de obtenção de dispersões sólidas, para proporcionar o aumento da solubilidade da β-lapachona, é um fato inédito no ramo científico. Os resultados obtidos indicam que o uso do PVP K-30 e PEG 4000, polímeros hidrofílicos, como carreadores, através da técnica de dispersões sólidas, melhora a solubilidade em água da β-lapachona e teor dissolvido, podendo melhorar sua biodisponibilidade por reduzir o tamanho das partículas, aumentar a área de superfície de contato, melhorar a molhabilidade e originar um composto com forma amorfa66. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 65 CONCLUSÃO A baixa solubilidade de fármacos continua sendo a grande dificuldade do desenvolvimento de medicamentos com moléculas de vasto potenciais terapêuticos. A maioria das novas entidades químicas promissoras são fármacos pouco hidrossolúveis, que podem apresentar reduzido efeito terapêutico devido à sua baixa biodisponibilidade. Dispersões sólidas são um dos mais atrativos processos para melhorar a solubilidade de fármacos pouco solúveis, sua estabilidade e performance pelo incremento de solubilidade através da interação fármaco-polímero, perda da estrutura cristalina, aumento da molhabilidade e porosidade da partícula. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 66 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Shah P. MRS Bull. 2006; 31: 894. 2. Amidon GL, Lennernäs H, Shah VP, Crison JR. Pharm. Res. 1995; 12: 413. 3. Amidon GL, Lennernäs H, Shah VP, Crison JR. A theoretical basis for a biopharmaceutical classification: The correlation in vitro drug product dissolution and in vivo bioavailability. Pharm. Res. 1995; 15: 413 – 420. 4. Lipka E, Amidon GL. 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Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 73 4.1 Artigo III - Estudo de Fotoestabilidade Direta e Indireta do Fármaco Antichagásico Benznidazol RESUMO O benznidazol (BNZ) é um antiparasitário, com ação tripanocida, que vem sendo utilizado, desde 1973, no tratamento etiológico da doença de Chagas. A determinação da estabilidade de fármacos e medicamentos é de extrema importância para garantir a eficácia e qualidade dos medicamentos. Quando fármacos isolados absorvem radiações eletromagnéticas (REM) ocorrendo decaimento da substância pura e a formação de produtos de degradação, tem-se uma fotoreação direta. Nas fotoreações indiretas, não o fármaco, mas outro componente da formulação (p.ex., excipientes) absorve REM ultavioleta (UV) ou visível resultando na formação de uma ou mais espécies reagentes as quais reagem com os fármacos. O objetivo deste trabalho foi investigar a fotoreação direta e indireta do fármaco BNZ no estado sólido, além da elucidação da estrutura química dos produtos de degradação obtidos, através das técnicas de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), microscopia eletrônica de varredura (MEV), calorimetria diferencial de varredura (DSC) e espectroscopia do infravermelho (IV) e massas (MS). A fotodegradação indireta do BNZ foi realizada através das misturas física (MF) com 13 excipientes. As técnicas CLAE e MS foram seletivas para determinação dos 2 fotoprodutos (FPs) encontrados nos ensaios de fotoreação direta e indireta. Os resultados mostram que o BNZ sofre apenas fotodegradação direta, não sendo encontrados novos FPs após associação do fármaco com os excipientes. PALAVRAS CHAVE: Benznidazol, fotodegradação, produto de degradação. ABSTRACT The benznidazole (BNZ) is an antiparasitic, with action trypanocidal, which has been used since 1973 in etiologic treatment of Chagas disease. The determination stability of new drugs is extremely importance for the efficiency and quality of medicines. When drugs alone absorb radiation electromagnetic (REM) decay occurring substance pure and the ormation of degradation products, has an fotoreação direct. In indirect photoreactions, not the drug, but another component of the formulation (eg, excipients) absorbs ultavioleta SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 74 (REM UV) or visible resulting in the formation of one or more reactive species which react with the drugs. The aim of this work was to investigate the direct and indirect fotoreação BNZ drug in solid form, beyond the elucidation of chemical structure of degradation products, through the techniques of high performance liquid chromatography (HPLC), scanning electron microscopy (SEM), differential scanning calorimetry (DSC) and infrared spectroscopy (IR) and mass (MS). The BNZ indirect photodegradation was carried out by physical mixtures (PM) with 13 excipients. HPLC techniques and MS were selective for the determination of two FPs fotoreação found in tests of direct and indirect. The results show that only suffers BNZ direct photodegradation, not being found new FPs after an association of drug with excipients KEYWORDS: Benznidazole, photodegradation, a degradation product. INTRODUÇÃO O benznidazol (N-benzil-2-nitro-1-imidazolacetamida) é um antiparasitário, derivado nitroimidazol, com ação tripanocida, que vem sendo utilizado, desde 1973, no tratamento etiológico da doença de Chagas (LEITE et al., 2009). A determinação da estabilidade de fármacos e medicamentos é de extrema importância para garantir a segurança dos pacientes acometidos, bem como a eficácia e qualidade dos medicamentos produzidos. Estudos de fotoestabilidade são conduzidos a fim de quantificar a extensão pelas quais as reações induzidas pela luz afetam as formulações dos medicamentos. Em alguns casos, determinar os mecanismos de fotoreações dos fármacos e de outros componentes que compunham o produto avaliado (PIECHOCK & THOMA, 2007). Medicamentos são expostos a uma variedade de fontes de emissão de radiação eletromagnética (REM) durante o processo de fabricação, embalagem, distribuição, e nos locais de venda nas farmácias, e nos locais de utilização. As fontes de iluminação são as mais variadas, desde iluminações artificiais como lâmpadas de vapor de Hg, incandescentes, fluorescentes, à iluminação natural pela luz solar filtrada e luz solar direta (TØNNESEN, 2004; PIECHOCK & THOMA, 2007). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 75 Na rotina de testes de fotoestabilidade, medicamentos são iluminados com extremo cuidado em condições controladas a fim de se determinar se eles são fotoestáveis e quantificar a extensão da fotodegradação de medicamentos que mostram certa sensibilidade à luz (TØNNESEN, 2004; PIECHOCK & THOMA, 2007). A energia da luz, da mesma forma que o calor pode promover a ativação necessária para que uma reação ocorra. Na situação em que os fármacos isolados absorvem REM UV ou visível resultando na perda deste fármaco e a formação de produtos de degradação, temse uma fotoreação direta. No caso de fotoreações indiretas, não o fármaco, mas outro componente da formulação (p.ex., excipientes ou impurezas) absorve REM UV ou visível resultando na formação de uma ou mais espécies reagentes as quais reagem com os fármacos (KUHN, 2004; TØNNESEN, 2004; PIECHOCK & THOMA, 2007). A fotodegradação de medicamentos pode conduzir à perda de princípios ativos e assim à perda na sua eficiência, além de formar subprodutos ou intermediários tóxicos de vida curta (p.ex., radicais livres) (PIECHOCK & THOMA, 2007). O “ICH Harmonised Tripartite Guideline: Photostability Testing of New Drug Susbtances and Products Q1B” (Guideline Q1B), adotado pela ANVISA na RE n° 398 de 12 de novembro de 2004 determinou o Guia de Publicação de Estudos de Estabilidade, a qual foi revogada pela RE n° 01 de 29 de Julho de 2005. De acordo com a Guideline Q1B as características intrínsecas da fotoestabilidade de substâncias ativas e produtos farmacêuticos devem ser avaliados para demonstrar que a exposição à luz não resulta em mudanças inaceitáveis. Segundo a recomendação técnica da ANVISA o teste de fotoestabilidade tem como objetivo demonstrar que a exposição à luz não resulta em alterações significantes no produto. A recomendação é de que se proteja o produto de forma a evitar subprodutos de degradação pela luz, porém, caso a presença seja inevitável, a quantidade dessas impurezas não deve comprometer a qualidade do produto (ICH, 1996; BRASIL, 2005). Os resultados obtidos da análise de amostras expostas devem ser avaliados tanto individualmente como parte de um conjunto de resultados de estabilidade. Esses estudos combinados, por exemplo, a resultados de estudo de estabilidade de longa duração, fornecem a informação necessária para avaliar se a data de validade proposta é aceitável ou se deve ser reduzida (GONÇALVES, 2008). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 76 Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi investigar a fotodegradação direta e indireta do fármaco BNZ no estado sólido, além da elucidação da estrutura química dos produtos de degradação obtidos. MATERIAIS E MÉTODOS Materiais O BNZ, N-benzil-2-(2-nitroimidazol-1-il)acetamida, matéria prima bem como o padrão de trabalho, foram cedidos pelo Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE®) oriundos de doação da Roche® Indústria Farmacêutica. Todos os outros solventes e substâncias utilizadas foram de grau analítico. As soluções foram preparadas utilizando água ultrapura (MILLI Q®) e filtradas em membranas filtrantes de porosidade de 0,22 μm Millipore®. Os excipientes utilizados, com origem em diversas fontes comerciais, foram os seguintes: Celulose Microcristalina, croscarmelose sódica, glicolato de amido sódico e estearato de magnésio (Blanver and Microcel® Ltda, Brasil), amido 1500 e Hidroxipropilmetilcelulose (HPMC) (Colorcon®, EUA), lactose (Meggle®, Alemanha), talco (Magnesita®, Brasil), hidroxipropilcelulose–HPC (Aqualon, EUA), etilcelulose, polietileno glicol (PEG 4000), polivinilpirrolidona - PVP K 30 (ISP Corp®, EUA) e dióxido de silício coloidal (Henkel® Ltda, Brasil). Método Analítico O doseamento do BNZ foi realizado por e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) utilizando o equipamento Shimadzu® com sistema controlador (Shimadzu SCL 20VP), bombas A e B (Shimadzu LC - 20AD VP), detector PDA (SPD-M20A VP), autoinjetor (Shimadzu SIL - 20AD VP), forno (Shimadzu CTO - 20A) e os cromatogramas foram determinados através do programa LC – Solution® 1.0. Foram utilizadas as seguintes condições analíticas: coluna fase reversa Shimadzu®, C18, 5 μm, 25 cm × 0.46 cm, fluxo de 1,0 mL min-1, volume de injeção: 40 µL, comprimento de onda de 210 nm, temperatura de 40 ºC e fase móvel: acetonitrila/tampão fosfato pH 2,7 (80/20) (v/v). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 77 Curva de Calibração Foi realizado o estudo teórico para elaboração volumétrica da curva de calibração, nas mesmas condições analíticas das amostras, sendo utilizada para a obtenção das concentrações das amostras. Foi preparada uma solução mãe de BNZ com o padrão de trabalho em acetonitrila a 200µg/mL, com posteriores diluições volumétricas desta solução mãe foram efetuadas, utilizando fase móvel como diluente, para constituição da curva de calibração com as concentrações de 8, 12 e 16µg/mL . Actinometria Química e Física da Câmara de Fotoestabilidade A actinometria permite a determinação do fluxo de fótons (Iλ) ou “dose de luz” em que os medicamentos são expostos durante os ensaios de fotoestabilidade, quer por um meio instrumental, com o uso de radiômetro espectral, em radiometria, ou por métodos químicos (KUHN, 2004; TØNNESEN, 2004). A intensidade da fonte de fótons é a maior variável e depende bastante da natureza da lâmpada (formato e tempo de uso). Estes fatores, com respeito às amostras, irão determinar a dose incidente que as amostras irão receber. De acordo com o ICH, a dose de luz UV mínima recomendada para testes de fotoestabilidade é de 200 W.h/m2, e de luz visível 1.200.000 Lux.h. Para medida da incidência de fótons provenientes da luz visível, utilizou-se um luxímetro, devidamente calibrado uma vez que o luxímetro é um aparelho que mede a intensidade da luz visível percebida pelo olho humano, em outras palavras, mede a intensidade de uma iluminação, ou a iluminância, não sendo sensível, portanto, a outros tipos de fonte de emissão (TØNNESEN, 2004; PIECHOCK & THOMA, 2007). Enquanto que para medida da luz ultravioleta utilizou-se o cloridrato de quinina monohidratado, na concentração recomendada (2%), a solução de quinina tem uma absorbância ≥ 2 entre 320 a 367 nm, de modo que a irradiância UV acima deste intervalo pode ser determinada utilizando este sistema (YOSHIOKA, 1994; ICH, 1996; TØNNESEN, 2004; PIECHOCK & THOMA, 2007). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 78 O cálculo da equivalência em tempo necessário para duas fontes de radiação com irradiâncias ou iluminâncias diferentes produzirem a mesma dose foi feito através da equação da reta obtida com a média de 3 análises idênticas para a absorbância do quinino(irradiância) e a quantidade de lux por hora (iluminância). Estudo da degradação do BNZ no estado sólido por fotólise direta Amostras sólidas de BNZ foram expostas à dose de irradiação em uma fina camada (1mm) em uma placa de petri, por 41h em 1.200.000 Lux e 200 W.h/m2. Os resultados foram expressos em percentagem do BNZ e cada análise realizada em triplicata, com doseamento por CLAE – DAD, e avaliadas pelas técnicas de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), análise térmica do BNZ por Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e termogravimetria diferencia (DTG), espectrometria de massas, espectrometria no Infravermelho (IV). Microscopia Eletrônica de Varredura A microscopia eletrôncia de varredura (MEV) para avaliação do tamanho e formas dos cristais. As amostras foram montadas em fita dupla-face de carbono, sem metalização prévia e analisadas em microscópio FEI®, modelo Quanta 200F, com 200kV de voltagem de aceleração, baixo vácuo (0.5torr), emissor FEG e elétrons secundários como modo de aquisição de imagem. Análise Térmica do BNZ por Calorimetria Exploratória Diferencial e termogravimetria diferenciada As curvas de DSC para o fármaco foram obtidas por meio de um calorímetro da marca Shimadzu®, modelo DSC-60, em atmosfera de nitrogênio em fluxo de 50 mL.min-1, sendo a massa das amostras analisadas em torno de 2,0 mg, acondicionadas em cadinhos de alumínio, nas razões de aquecimento de 10ºC.min-1, até a temperatura de 600ºC. Realizouse a calibração do DSC via ponto de fusão do padrão Índio (156,6ºC ± 0,3) e Zinco (419,6ºC ± 0,3). O fluxo de calor e entalpia foram calibrados via ponto de fusão do Índio (28,59 ± 0,3 J.g-1), sob as mesmas condições das amostras. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 79 Espectrometria no Infravermelho O espectro de IV do BNZ foi obtido em espectrômetro infravermelho Spectrum 400 da PerkinElmer® sendo o resultado obtido, uma média de 10 varreduras realizadas de 650 a 4000 cm-1 com resolução de 4 cm-1. Espectroscopia de Massas O espectrometro utilizado para analisar as amostras de BNZ foi um equipamento marca Shimadzu, com ionização por nebulização térmica e analisador de massas por tempo de vôo, sendo utilizado para diluição do fármaco um sistema acetonitrila:água (50:50), com scan de 80 a 300 m / z. Estudo da degradação do BNZ por fotólise indireta As diferentes MF foram obtidas na proporção 1:1 (p/p) BNZ:excipiente e submetidas ao agitador de Tubos tipo Vortex, marca Marconi®, modelo MA 162. Durante o estudo, as amostras permaneceram por 41h em Câmara de fotoestabilidade Nova Ética®, modelo 242/CF, com associação de lâmpadas UV e fluorescente a uma emissão total de 200 W/m² e 1.200.000 Lux, segundo preconizado pela RE 01 n° 01 de 2005 (ANVISA) e Q2B 1CH. As amostras foram armazenadas a temperatura de 25°C, em triplicata, com padrão interno e externo para controle da fotodegradação. Os resultados foram expressos em percentagem do BNZ e cada análise realizada em triplicata, com doseamento por CLAE – DAD, e avaliadas por espectrometria de Massas. Para análise das amostras submetidas ao estudo de degradação indireta, foram utilizadas as técnicas de CLAE e espectroscopia de massas, seguindo as mesmas condições experimentais utilizadas no estudo de fotólise direta do BNZ. RESULTADOS E DISCUSSÃO Quantificação da Iluminância e Irradiância da Câmara de Fotoestabilidade SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 80 Com a utilização de um luxímetro obteve-se o perfil de lux emitidos por hora (equação da reta y = 2875.x – 1,164 x 10-10), estabelecendo portanto para nossa análise que o tempo total de exposição segundo recomendação do ICH para 1.200.000 Lux corresponde a 41h de exposição (figura 1). Para determinação da irradiância, foi utilizado a avaliação da fotoestabilidade do quinino, em que preconiza-se para irradiância de 200 W.h/m2 corresponda-se uma absorbância relativa aos fotoprodutos do quinino em 0,5A. A avaliação da média da diferença de absorbância das amostras de quinino expostas a irradiação resultaram no perfil observado na figura 2 (equação da reta y = 0,0331x + 0,0032), permitindo o cálculo do tempo mínimo de exposição de acordo com o ICH de 15 horas de exposição. Figura 1. Perfil da Iluminâcia de acordo com o tempo de exposição. Figura 2. Absorbância de fotoprodutos de quinino por hora SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 81 Estudo de Fotodegradação direta do BNZ No estado sólido, após exposição de 41h de iluminância/irradiação, foi observado a mudança de coloração do BNZ, para um pó amarelado (figura 3), evidenciando a degradação do fármaco. Os cromatogramas das amostras sólidas evidenciaram que o BNZ é fotossensível de acordo com o normatizado pelo ICH/ANVISA, já que após a iluminância/irradiação determinada pelos órgãos regulatórios o < 5%, apresentando decaimento de 30% quando avaliado por CLAE (tabela I). Figura 3. Fotografias amostras sólidas de BNZ na ausência de irradiação (esquerda) e após 41h de exposição (direita). A micrografia eletrônica de varredura da amostra degradada não apresentou mudanças estruturais nos cristais de BNZ, conforme ilustrado na figura 43, sugerindo que a fotodegradação do BNZ no estado sólido além de superficial não modifica fisicamente a estrutura cristalina do fármaco. Figura 4. Micrografia eletrônica das amostras sólidas de BNZ na ausência de irradiação (esquerda) e após 41h de exposição (direita). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 82 A curva de DSC expressa na figura 5 revela que pico endotémico de fusão do BNZ em 191,1°C sofre antecipação de 2°C após a exposição direta a radiação. O pico exotérmico de degradação do fármaco, por sua vez, sofre uma antecipação de aproximadamente 4°C após exposição, saindo de 287,5°C para 283,4°C. As energias requeridas nos eventos de fusão e degradação do fármaco são acentuadamente reduzidas, afirmativa confirmada através da análise das variações de entalpia das amostras, essas variações são previsíveis uma vez que o estudo de fotodegradação promoveu decaimento do fármaco em 30%, de acordo com os resultados de CLAE. Apesar de apresentar diferenças entre as amostras do fármacos após irradiação direta, a curva de DSC não é seletiva para identificação de produtos de degradação, pois não foi observado nenhum pico de fusão característico de novo produto formado durante a fotólise. Figura 5. Curva de DSC do BNZ antes e após receber irradiação SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 83 Figura 6. Curva de DTG do BNZ antes e após receber irradiação As curvas de DTG (figura 6) do BNZ mostram que, após irradiação do fármaco, o pico de temperatura onde ocorre o primeiro evento de perda de massa é antecipado em ~2°C, sendo deslocado de uma temperatura 194,7 para 192,1ºC. A análise, portanto, mostra-se eficiente para visualização do processo degradativo do fármaco. Apesar disso, não foram observados novos eventos de perda de massa que poderiam ser indicativos da presença dos produtos de degradação confirmados nos cromatogramas. Essa técnica, assim como a técnica de DSC, mostrou-se não seletiva para identificação dos FPs. A análise dos espectros de infravermelho (figura 7) demostraram que a amostra de BNZ fotodegradado em comparação a matéria prima padrão, não apresentou mudanças significativas nas bandas caracterísitcas do BNZ, comprovando que a degradação do BNZ no estado sólido foi reduzida não sendo possível sua visualização sem o isolamento dos compostos. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 84 Figura 7. IV do BNZ padrão (em verde) em comparação ao fotodegradado (em preto). Os cromatogramas das amostras sólidas evidenciaram que o BNZ é fotossensível de acordo com o normatizado pelo ICH/ANVISA. O decaimento após a iluminância/irradiação determinada pelos órgãos regulatórios deve ser < 5%, a análise por CLAE apresentou um decaimento do BNZ de ~30% (tabela I) após submetido as condições do ensaio, originando dois fotoprodutos (FP) relevantes, nos seguintes tempo de retenção (Tr) : FP-1 (Tr = 2,75 min) e FP-2 (Tr = 7,53 min) (Figura 11). O espectrômetro de massas utilizado é o equipamento mais indicado para detecção de produtos de degradação de fármacos por alta resolução e alta sensibilidade, porém tais condições são uma desvantagem quando se observa o número de ruídos no espectro inicial da molécula do BNZ isolada (SILVERSTEIN; WEBSTER; KIEMLE, 2006). Para porpor a elucidação da rota degradativa do BNZ, as amostras fotoirradiadas do BNZ isolados e nas misturas físicas foram analisadas por espectrômetro de massas, evidenciando a formação de produtos de degradação semelhantes entre as amostras, corroborando com a análise por CLAE que identificou a formação de apenas 2 produtos de degradação figura 11. Inicialmente, foram avaliadas as duas ionizações possíveis: a positiva (M+) e a negativa (M-), para avaliação da suscetibilidade do BNZ ao sofrê-las. A figura 8 demonstra que a ionização positiva foi muito mais eficaz em evidenciar o real pico majoritário do BNZ, sendo observado com 100% da intensidade um pico característico em 261,09 m/z, já que a massa molecular do BNZ é 260 g/mol, então [M + 1]+ = 261,09 m/z, sendo possível também a observação do [M + 2]+ = 262,09 m/z. Enquanto que na ionização negativa os picos principais, isto é com intensidade próxima a 100% estão na região de 300 m/z sendo a SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 85 do BNZ foram utilizados aqueles obtidos com a ionização positiva, utilizando a negativa apenas para confirmação dos resultados. O espectro de massas primário obtido das duas ionizações do BNZ está representado na figura 8, sendo observado além do pico principal do BNZ [M + 1], picos característicos em 139,99; 158,99; 176,99, 200,02 e 262,1. Figura 8. Espectro de massas do BNZ. Os picos observados no espectro do BNZ são referentes a ionizações secundárias do fármaco durante a ionização principal ou a possíveis contaminantes da amostra durante o preparo ou a produtos de degradação obtidos durante armazenamento da matéria prima. Para sanar quaisquer dúvidas a cerca da ionização secundária do BNZ foi realizado o MS2 para confirmação do perfil degradativo do BNZ por ionização térmica, com análise por tempo de vôo. As massas observadas na ionização unicamente do pico correspondente ao BNZ, com intensidade significativa, isto é superior a 10%, foram apenas cinco: 91,05; 107,04; 118,01; 157,07; e 214,09 m / z; que provavelmente, correspondem às estruturas químicas representadas no esquema abaixo (Figura 9). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 86 O O + O + +H N N + CH2 NH NH - N O N N H + + OH N N H CH2 O H + N + N O N Figura 9. Esquema da ionização secundária do BNZ . A partir destas evidências cromatográficas (CLAE-DAD) e espectrais (MS), e dos dados teóricos, realizou-se uma revisão da literatura a cerca de mecanismos fotoquímicos de degradação de moléculas com grupos funcionais semelhantes ao BNZ. Os grupamentos químicos que possuem ligações π e orbitais livres na camada de valência são mais resistentes a quebra fotolítica, devido ao fato que, quando os elétrons são excitados pelos fótons mudam apenas de orbitais, não absorvendo energia necessária para que sua dissipação resulte em quebra daquele grupamento (TØNNESEN, 2004). No caso de ligações duplas entre carbono e oxigênio, ambos os átomos (presentes no gupamento amida do BNZ) possuem orbitais livres na última camada que neste caso, também é a de valência: C6 Æ 1s2 2s2 2p2 / O8 Æ 1s2 2s2 2p4, portanto quando estes átomos estão ligados em dupla coordenação (em orbitais π), forma-se uma “barreira” eletrostática, que não permite uma excitação maior dos elétrons, não sendo capazes de absorver energia necessária para quebra homolítica das ligações (TØNNESEN, 2004; WILKINS et al., 1987; PFOERTNER & DALY, 1987). Tal revisão evidenciou 3 pontos fotoinstáveis, de fácil excitação, na molécula do BNZ: carbonos vicinais a anéis aromáticos relatada pela literatura, produzindo assim os compostos descritos na figura 10, em que o primeiro composto tem massa molecular 183 g/mol e quando ionizado positivamente 184 m/z e o segundo seria o anel benzeno. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 87 Figura 10. Possível rota degradativa do BNZ por fotólise Estudo de Fotodegradação indireta do BNZ Para realização do estudo de fotodegradação indireta do BNZ foram selecionados 13 excipientes farmacêuticos comumente utilizados na obtenção de formas farmacêuticas sólidas, incluindo diluentes, agregantes, desintegrantes, lubrificantes e agentes solubilizantes. Os resultados de teor das MF submetidas às condições da câmara de fotoestabilidade estão expressos na tabela I. Para análise do teor de BNZ nas amostras, as quantidades do fármaco quantificada nas amostras foram comparadas ao padrão interno e externo de trabalho pelo método análito de CLAE já descrito. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 88 Tabela I. Resultados da determicação do Teor de BNZ por CLAE Determinação de teor por CLAE Amostra BNZ BNZ fotodegradado BNZ + amido BNZ + celulose microcristalina* BNZ + croscarmelose BNZ + dióxido de silício coloidal BNZ + etilcelulose BNZ + estearato BNZ + glicolato amido sódico BNZ + lactose BNZ + hpc BNZ + hpmc BNZ + pvp BNZ + peg BNZ + talco % 98,7 67 63 57 71 75 72 79 70 71 67 64 93 79 64 *Excipiente crítico Celulose microcristalina mostrou-se o excipiente crítico do estudo por apresentar menor percentual de fármaco dentre as MF analisadas, sendo considerado alvo ideal para verificação da formação de produtos de degradação não encontrados no estudo de fotodegradação direta. O cromatograma da MF BNZ+celulose apresentou produtos de degradação com tempo de retenção praticamente sobrepostos aos FPs encontrados no cromatograma do fármaco isolado após sofrer fotodegradação (figura 11), com tempos de retenção em 2,5 min e 7,5, respectivamete. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 89 Figura 11. Cromatograma do BNZ , BNZ fotodegradado e BNZ + celulose apresentando dois picos referentes FP-1 (Tr = 2,75 min) e FP-2 (Tr = 7,53 min). As análises dos espectros de massas, segundo metodologia descrita para análise da fotodegradação indireta, foi também realizada com a amostra BNZ + celulose e confirma o SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 90 resultado obtido por CLAE, pois percebe apenas um aumento de intensidade dos picos correspondentes as massas 184 e 79 g/mol também, correspondentes aos FPs encontrados na fotodegradação do BNZ isolado. Figura 12. Espectro de massas da amostra de BNZ isolado, BNZ fotodegradado e MF com celulose fotodegradado. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 91 CONCLUSÃO As técnicas de CLAE e MS mostraram-se mais seletivas para identificação dos produtos de degradação do BNZ após absorção da radiação eletromagnética proveniente da câmara de fotoestabilidade utilizada neste estudo. Os cromatogramas das amostras revelam dois produtos de degradação com tempos de retenção em 2,5 min e 7,5 min, também observados no espectro de massas com gragmentos de relação massa carga de 184 e 79g/mol dos compostos nitro e anel benzendo propostos da rota degradativa. O estudo de fotorreação indireta utilizou como excipiente crítico a celoluse microcristalina por apresentar menor teor de BNZ após análise da amostra, quando comparado ao BNZ irradiado, sugerindo este excipiente acelera o precesso degradativo. Não foram observadas formações de novos produtos de degradação nos cromatogramas das misturas de BNZ com os excipientes (representadas pela celuloose microcristalina), assim como, o espectro de massas dessas amostras são muito semelhantes ao espectro do fármaco após sofrer fotólise direta, ocorrendo apenas maior intensidade dos picos referentes aos FPs. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL Lei 6.360, de 23 de setembro de 1976. Dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos, e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 1976. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RE n.º 01, de 29 de julho de 2005. Autoriza, a publicação do Guia para Realização de Estudos de Estabilidade. Brasília: Diário Oficial da União, 2005. GONÇALVES, L M; Guia para fotoestabilidade: como se adequar às recomendações do ICH e da Anvisa. 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LEITE, A.C.L.; DONNICI, C.L.; MARIA HELENA ARAÚJO,M.H.; OLIVEIRA,H.S.; MOREIRA,D.R.M.; PEREIRA,V.R.A.; SOUZA,M.A.; CASTRO, M.A.B.. Ruthenium complexes endowed with potent anti-Trypanosoma cruzi activity: Synthesis, biological characterization and structure–activity relationships. Bioorganic & Medicinal Chemistry. Junho 2009. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 94 CAPÍTULO III 5 DESENVOLVIMENTO DE COMPRIMIDO DE LIBERAÇÃO PROLONGADO PARA O TRATAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS 5.1 Artigo IV – Desenvolvimento de Comprimido Matricial do AntiChagásico Benznidazol a partir de Grânulos de Dispersões Sólidas com o Polímero Polivinilpirrolidona Artigo a ser submetido à revista da American Association of Pharmaceutical Scientists(AAPS PharmSci) SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 95 5.1 Artigo IV – Desenvolvimento de Comprimido Matricial do AntiChagásico Benznidazol a partir de Grânulos de Dispersões Sólidas com o Polímero Polivinilpirrolidona RESUMO A doença de Chagas é causada por um protozoário flagelado Trypanosoma cruzi e afeta mais de 18 milhões de pessoas na América Latina. Mesmo apresentando problemas de solubilidade em água e elevada toxicidade, o benznidazol (BNZ) é o fármaco de escolha para tratamento da dessa doença. O uso de polímeros hidrosolúveis, tais como a polivinilpirrolidona (PVP), empregando a tecnologia de dispersão sólida (DS) promove aumento da taxa de dissolução de fármacos com baixa solubilidade aquosa, como o BNZ. Formas farmacêuticas de liberação prolongada têm adquirido popularidade em alguns mercados, sendo usada não só para obter uma liberação de ordem zero, mas também para suprimir a liberação brusca inicial do fármaco. Sendo assim, o objetivo do estudo foi o desenvolvimento de um comprimido de liberação prolongada partindo da obtenção de grânulos de BNZ disperso em PVP nas proporções de 25% e 50% deste polímero e posterior incorporação em matrizes hidrofílicas do polímero hidroxipropilmetilcelulose (HPMC), um derivado de celulose utilizado como retardante da liberação de fármacos em formulações orais. Duas formulações foram desenvolvidas, LB1 com 25% e LB2 com 35% de HPMC. Os comprimidos foram obtidos por granulação via úmida e avaliados quanto ao peso médio, dureza, friabilidade, teor, uniformidade de doses unitárias e ensaio de dissolução. Os perfis de dissolução das duas formulações apresentaram percentual de fármaco dissolvido de 100% após 12h, caracterizando um perfil prolongado de liberação quando comparado com os núcleos de liberação imediata disponíveis no mercado. A utilização de matrizes hidrofílicas para liberação de BNZ foi eficaz na promoção de uma liberação prolongada do fármaco, entretanto, os perfis de dissolução de LB1 e LB2 demonstram que as diferentes concentrações testadas do polímero HPMC na matriz não influenciaram na cinética e velocidade de dissolução. PALAVRAS CHAVES: Benznidazol, Doença de Chagas, Liberação Prolongada, PVP, HPMC. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 96 ABSTRACT Chagas disease is caused by a flagellate protozoan Trypanosoma cruzi and affects more than 18 million people in Latin America. Despite presenting problems of water solubility high toxicity, benznidazole (BNZ) is the drug of choice for treatment of Chagas disease. The use of water soluble polymers such as polyvinylpyrrolidone (PVP), using solid dispersion (SD) technology have increased the drug dissolution rate. Extended release dosage forms have gained popularity in some markets, being used not only to obtain a release of zero order, but also to eliminate the sharp initial release of the drug. The polymer hydroxypropylmethylcellulose (HPMC) is a derivative of cellulose used to retard the release of drugs in oral formulations. Therefore, the aim of this study was to develop an extended-release tablet based on the obtainment of granules of BNZ dispersed in PVP in the proportions of 25% and 50% of this polymer and subsequent incorporation in hydrophilic matrix polymer hydroxypropylmethylcellulose (HPMC), a cellulose derivative used as a retardant of drug release in oral formulations. Two formulations were developed, LB1 and LB2 with 25% to 35% of HPMC. The tablets were obtained by wet granulation and evaluated for weight, hardness, friability, content and dissolution test. The dissolution profiles of two formulations presented percentage of drug dissolved in 100% after 12h, featuring an extended profile release when compared with the immediate release nuclei available in the market . The use of hydrophilic matrices for BNZ release was effective in promoting a sustained release of the drug, however, the dissolution profiles of LB1 and LB2 have shown that different concentrations of HPMC polymer matrix did not influence the kinetics neither the dissolution rate. KEYWORDS: Benznidazole, Chagas disease, Extended release, PVP, HPMC. INTRODUÇÃO SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 97 A tripanossomíase humana ou doença de Chagas é uma enfermidade endêmica na América Latina, afetando em torno de 10 milhões de pessoas. Atualmente, a doença de Chagas é classificada pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 2009) como uma doença negligenciada, que não dispõe de tratamentos eficazes ou adequados (SILVA et al. 2007). Ao enfrentar a escassez ou falta de um tratamento adequado para essas doenças, países atingidos por essas endemias têm em sua população um custo elevado em decorrência das co-morbidades trazidas por essas enfermidades. No Brasil, por exemplo, os custos anuais sociais com a doença de Chagas chegam próximo a 1 bilhão de dólares (BESTETTI; MARTINS; CARDINALLI-NETO, 2009). Apesar da baixa solubilidade em água e alta toxicidade apresentada, o BNZ é atualmente o fármaco de escolha para o tratamento da doença de Chagas. Conhecimentos mais aprofundados sobre este fármaco e formas mais eficazes de sua vetorização poderão possibilitar o desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas para o tratamento da doença, estando estas disponíveis a população em um curto espaço de tempo e com menor custo, uma vez que não envolve custos adicionais sobre uma nova molécula a ser introduzida na terapêutica (SOARES-SOBRIHO, 2007). Chiou e Rielgeman (1971) relataram a função de polímeros hidrofílicos em melhorar a solubilidade e o grau de dissolução de fármacos de baixa solubilidade. Uma possibilidade atrativa pode ser representada pelo uso de polímeros solúveis em água, tais como PVP, empregando a tecnologia de DS, que tem como finalidade aumentar a dissolução de fármacos pouco solúveis em água (CIRRI et al., 2004). Além da excelente solubilidade aquosa, o PVP é um polímero de baixo custo, que apresenta baixa toxicidade, baixo ponto de fusão, é tolerado fisiologicamente e encontra-se disponível em diferentes pesos moleculares (PATEL et al., 2008). Formas farmacêuticas de liberação prolongada têm adquirido popularidade em alguns mercados, sendo usada não só para obter uma liberação de ordem zero, mas também para suprimir a liberação brusca inicial do fármaco (MANADAS; PINA; VEIVA, 2002). O polímero HPMC é um derivado de celulose utilizado como retardante da liberação de fármacos em formulações orais. A ampla utilização de matrizes de HPMC deve-se à existência da grande variedade deste polímero, classificado de acordo com a sua viscosidade e proporção entre os grupos substituintes (grupos metoxila e hidroxipropila). O SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 98 grau de hidratação deste polímero hidrossolúvel depende de características físico-químicas, como massa molecular, grau de substituição e viscosidade (LOPES; LOBO; COSTA, 2005). O presente trabalho propõe o desenvolvimento de comprimidos de liberação prolongada a partir de grânulos de DS BNZ:PVP incorporados na matriz de HPMC, em diferentes proporções, para avaliação da influência do polímero na liberação do fármaco. METODOLOGIA Fármaco e Substâncias O BNZ, N-benzil-2-(2-nitroimidazol-1-il) acetamida, Lote 15772, bem como o padrão de trabalho (BNZ 07-1051/000), foram cedidos pelo Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE®), fabricados pela Roche® Indústria Farmacêutica. Os excipientes utilizados para obtenção das formas farmacêuticas foram: polivinilpirrolidona (PVP K-30), Aspen®; hidroxipropilmetilcelulose (HPMC), Metlhocel® K4M da Dow Chemical®; estearato de magnésio da Opção Fênix® e lactose da Blanver®. Obtenção do granulado de dispersões sólidas pelo método da malaxagem Soares-Sobrinho (2009) e Lyra (2010) citam a baixa solubilidade do BNZ como um impasse tecnológico no desenvolvimento de formas farmacêuticas para o tratamento da doença de Chagas. Portanto, como forma de melhorar esta solubilidade, inicialmente foi desenvolvido um granulado em que o BNZ foi disperso na matriz polimérica de PVP K-30, a fim de melhorar a molhabilidade do fármaco e conseqüentemente sua solubilidade. Com base em estudos de tais sistemas dispersos por Lima em 2008, para obtenção do granulado foram avaliadas duas proporções do polímero em relação ao ativo (25 e 50%) visando avaliar o incremento de solubilidade proporcionado por três diferentes técnicas: espectroscopia por infravermelho - IV (em espectrômetro FT-IR Spectrum 400 da PerkinElmer®, sendo o resultado obtido através de uma média de 10 varreduras realizadas de 650 a 4000 cm-1 com resolução de 4 cm), calorimetria exploratória diferencial (utilizando calorímetro da marca Shimadzu®, modelo DSC-60, em atmosfera de nitrogênio SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 99 em fluxo de 50 mL.min-1, utilizando cerca de 2,0 mg das amostras, acondicionadas em cápsulas de alumínio fechadas, na razão de aquecimento de 10°C.min-1 até a temperatura de 350ºC) e estudo de dissolução em água, realizado a 37 ± 0,5°C, velocidade de rotação de 75 rpm, aparato 2 (pá), em dissolutor Varian VK 7010. Desenvolvimento de Sistema Matricial O polímero utilizado para o desenvolvimento dos sistemas matriciais foi o HPMC em duas diferentes proporções: 25 e 35%, na tentativa de se obter diferentes mecanismos de liberação. Foi utilizado um HPMC de cadeia média, comercialmente denominado de Methocel® K4M, que possui viscosidade entre 2000 a 5600 cPs, devido à sua capacidade de intumescimento/relaxamento, a qual exerce efeito pronunciado na cinética de liberação do fármaco incorporado. Além disso, apresenta natureza não-tóxica e não-iônica (não apresentando problemas de compatibilidade), capacidade de incorporar elevadas quantidades de substâncias ativas, simplicidade, rapidez e economia na obtenção das formulações (LOPES; LOBO; COSTA, 2005). Obtenção de Lotes de bancada da Forma Farmacêutica Comprimido Os comprimidos foram obtidos pelo processo de granulação por via úmida partindo dos grânulos das DS BNZ:PVP na proporção 25% de PVP que, de acordo com os dados expressos a seguir, apresentou os melhores resultados. A utilização da técnica de obtenção de DS tem sido utilizada com êxito na melhoria da solubilidade de fármacos pouco solúveis, com conseqüente melhoria na sua biodisponibilidade (LIMA et al, 2008). Soares-Sobrinho e colaboradores em 2008 relataram, em estudo de compatibilidade entre fármaco e excipientes, que a lactose monohidratada, também utilizada no presente estudo, não apresenta interações prejudiciais com o BNZ, salvaguardando assim possíveis problemas no estudo de estabilidade. Por fim, o estearato de magnésio foi adicionado à mistura de pós. A mistura apresentou bom escoamento pelas paredes do equipamento e características de compressão satisfatórias, sendo utilizados punções côncavos de 11 mm na etapa de compressão. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 100 A fim de se avaliar a influência da concentração do polímero na liberação do fármaco, foram desenvolvidas duas formulações diferentes de comprimidos com concentrações distintas do polímero HPMC K4M, resultando em dois lotes de bancada (LB1 e LB2). Baseando-se numa planificação quantitativa de excipientes, foram manipulados dois lotes de bancada (LB) contendo 150 g de massa de pó, os quais estão descritos na Tabela 1. Tabela 1. Formulações dos lotes de bancada desenvolvidos (LB1 e LB2) Componente * Lote LB1 (%) Lote LB2 (%) BNZ* 40 40 PVP K-30 10 10 HPMC 25 35 Estearato de magnésio 1 1 Lactose 24 14 Total 100 100 Granulado na proporção 25% de PVP. Controles de Qualidade Físico-químico Os procedimentos metodológicos empregados para a realização de peso médio, dureza e friabilidade seguiram os critérios estabelecidos na Farmacopeia Brasileira 5ª Edição. O peso médio dos comprimidos foi determinado com o auxilio de balança analítica Bioprecisa®. Para o teste de dureza foi utilizado durômetro Varian® e para a realização do teste de friabilidade dos comprimidos de BNZ foi empregado um friabilômetro PressTest®. Para a quantificação do fármaco nos comprimidos utilizou-se o método analítico desenvolvido e validado por Silva e colaboradores em 2007. A análise foi realizada em cromatógrafo de alta eficiência equipamento Shimadzu® com sistema controlador (Shimadzu SCL - 20VP), bombas A e B (Shimadzu LC - 20AD VP), detector PDA (SPDSANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 101 M20A VP), auto-injetor (Shimadzu SIL - 20AD VP), forno (Shimadzu CTO - 20A) e os cromatogramas foram determinados através do programa LC – Solution® 1.0. Foram utilizadas as seguintes condições analíticas: coluna fase reversa Shimadzu®, C18, 5 μm, 25 cm × 0.46 cm, fluxo de 1,0 mL min-1, volume de injeção: 40 µL, comprimento de onda de 210 nm, temperatura de 40 ºC e fase móvel: acetonitrila/tampão fosfato pH 2,7 (80/20) (v/v)., sendo as amostras preparadas com a primeira diluição em acetonitrila, que é justificada pela hidrofobicidade do ativo e a segunda diluição em fase móvel acetonitrila:água (50:50), utilizando padrão secundário (99,99% de pureza). Perfil de dissolução das formas farmacêuticas desenvolvidas Com a finalidade de avaliar a influência de formulações com diferentes concentrações do polímero HPMC no comprimido contendo 200 mg de BNZ, os perfis de dissolução foram construídos a partir da quantificação do fármaco dissolvida nas cubas de dissolução, em intervalos de tempo pré-definidos, para os dois lotes dos produtos (LB1 e LB2). O estudo de dissolução in vitro foi realizado de acordo com metodologia desenvolvida por Lima (2009). Os ensaios foram realizados a temperatura de 37 ± 0,5°C, com velocidade de rotação de 75 rpm, aparato 2 (pá) e meio de dissolução HCl 0.1 M com NaCl, pH 1.2 em um volume de 900 mL por cuba. Nos intervalos de tempo de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 12, 15, 18, 21 e 24 horas alíquotas de 5mL foram retiradas, filtradas em filtro de membrana 0,45 µm e devidamente diluídas para posterior determinação do teor de BNZ em espectrofotômetro UV / Vis da marca Micronal® modelo B582 no comprimento de onda de 324 nm, de acordo com metodologia desenvolvida e validada por Soares-Sobrinho e colaboradores em 2006. Foi realizada reposição do meio de dissolução e o ensaio foi realizado com as amostras em triplicata. Os resultados obtidos a partir do perfil de dissolução foram submetidos a cálculos matemáticos com o objetivo de determinar a cinética de dissolução do BNZ para os lotes de bancada desenvolvidos. A equação de regressão da reta foi determinada através das porcentagens dissolvidas e não dissolvidas em função do tempo, utilizando-se dos modelos cinéticos representados na tabela II. O modelo matemático que melhor expressou o perfil de SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 102 dissolução do BNZ dos produtos foi selecionado após avaliação do coeficiente de correlação, r de cada amostra nos diferentes modelos. Tabela 2. Modelos matemáticos de cinética de dissolução usados na avaliação do perfil de dissolução de comprimidos de BNZ Modelo Ordem zero Primeira ordem Higuchi Equação* Q 0 = Q t + K0t ln Qt = ln Q0 + K1t Q t = f t = KH t Hopfenberg *Qt - quantidade de fármaco liberado no tempo t; Q0 – quantidade inicial de fármaco em solução; Q∞ - quantidade de fármaco dissolvida no tempo total; Mt - quantidade de fármaco dissolvido no tempo t; M∞ - quantidade total de fármaco dissolvido quando a forma farmacêutica se desintegra por completo; K0, K1, KH, constantes de liberação de zero ordem, de primeira ordem, de e de Higuchi; t - tempo. Estudo de Fotoestabilidade Os comprimidos desenvolvidos (LB-1) foram submetidos à fotodegradação em câmara de fotoestabilidade Nova Ética® (Modelo C242), que consiste na associação de lâmpadas UV e fluorescente a uma emissão total de 200 W/m2e 1.200.000 Lux, segundo preconiza a RE n°01 de 2005 (ANVISA) e Q2B ICH. O estudo foi realizado a temperatura de 25°C em triplicata com padrão interno e externo para controle da fotodegradação das formas farmacêuticas, sendo a concentração de BNZ determinada por CLAE (SILVA et al., 2007). Análise estatística Os resultados foram analisados através de análise de variânvia (ANOVA) considerando-se o nível de significância (valor p) de 0,05. RESULTADOS E DISCUSSÃO SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 103 Desenvolvimento de granulado disperso de BNZ A DS 25% de PVP apresentou grânulos homogêneos e rendimento de 99% em relação à massa dos pós pesados. Em contrapartida, a formulação com 50% de polímero não formou grânulos com facilidade, passou com dificuldade pela malha de granulação e apresentou menor rendimento (84,60%), quando comparado a DS 25%. A análise térmica dos granulados está representada na figura 1 e foi obtida comparando com as curvas de DSC e TG do fármaco puro, do polímero e das misturasfísicas (MF), obtida pela mistura do polímero e do fármaco unicamente, além das DS nas duas proporções em estudo. A curva de DSC do BNZ isolado (figura 1-A) possui características típicas de um produto anidro no estado cristalino com alto grau de pureza, apresentando um único processo endotérmico em aproximadamente 190°C referente ao ponto de fusão da substância pura, com posterior processo exotérmico referente à degradação térmica do fármaco em 287,06°C, descrito mais detalhadamente na análise termogravimétrica (figura 1-B). O PVP, entretanto, apresenta vários processos endotérmicos no intervalo de 50-120°C decorrente da perda de água, processos já descritos nos laudos técnicos do excipiente, não apresentando processo endotérmico característico de fusão da substância visto que o mesmo é uma substância amorfa. A análise térmica da MF BNZ:PVP apresentou um somatório dos eventos encontrados nos termogramas dos compostos isolados, com pico de fusão característico do BNZ bem definido e picos referentes ao fenômeno de desidratação e decomposição do polímero, evidenciando que não há formação de DS na ausência do processo tecnológico de malaxagem da mistura. Nas curvas de DSC das DS (figura 1-A) foi possível verificar uma expressiva diminuição da intensidade energética desprendida no processo de fusão do BNZ quando comparada a MF, com deslocamento térmico para temperaturas inferiores, evidenciando que o processo de malaxagem possibilitou uma redução da energia necessária para fusão do fármaco, sugerindo um incremento em sua solubilidade devido à redução da energia de solvatação necessária para solubilização do BNZ. Fato evidenciado também pelo alargamento do pico de fusão do fármaco sugerindo a perda do estado cristalino do BNZ. A SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 104 que o processo de malaxagem possibilitou uma redução da energia necessária para fusão do fármaco, sugerindo um incremento em sua solubilidade devido à redução da energia de solvatação necessária para solubilização do BNZ. Fato evidenciado também pelo alargamento do pico de fusão do fármaco sugerindo a perda do estado cristalino do BNZ. A DS 50% apresentou um deslocamento térmico maior no pico de fusão em relação à DS 25%, que pode ser justificada pela maior quantidade de polímero nesta dispersão (Figura 1 - A). Também a análise pela TG (figura 1-B) revela um decaimento de massa na amostra DS 50% com características mais pronunciadas com relação a decomposição do PVP isolado do que na amostra DS 25%. (A) (B) Figura 1. Curvas de DSC (A) e TG (B) para os componentes isolados e para a DS de BNZ e PVP nas duas proporções. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 105 A análise por espectrometria no infravermelho pode evidenciar os possíveis grupamentos químicos do BNZ e PVP K-30 que estariam interagindo para formação das dispersões sólidas, porém no caso dos granulados dispersos desenvolvidos, poucas interações foram observadas no espectro das DS (Figura 2). Dados da literatura sugerem interações por ligações intermoleculares de hidrogênio entre os hidrogênios do BNZ e a carbonila do PVP, ou ainda entre a carbonila e o grupamento amida (N-H) do BNZ e hidrogênios do PVP, como ilustrado na figura 3 (LIMA, 2008). Portanto, para confirmação de tal hipótese o espectrograma no IV do BNZ (Figura 2) foi analisado relacionando seus picos característicos, principalmente com relação às bandas típicas das amidas (vibração de estiramento N-H), estiramento de carbonila (banda amida I) e deformação N-H (banda amida II), além das vibrações devido ao grupo benzílico e imidazólico. A banda devido às vibrações de estiramento N-H, encontra-se em 3330 cm-1. A banda de estiramento da carbonila encontra-se em 1685 cm-1 e a deformação de N-H (amida II) em 1565 cm-1, característica da amida secundária. Além dessas, a banda em 1318 cm-1 é atribuída ao estiramento C-N. O conjunto de bandas em 3180, 3160, 3120, 3090 e 3000 cm-1 surgem das vibrações de estiramento simétrico e assimétrico de metileno do grupo benzila e o estiramento do C-H aromático. Figura 2. Espectros de Infravermelho dos sistemas obtidos. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 106 Figura 3. Esquema gráfico das possíveis interações entre o PVP e o BNZ na formação das DS (Adaptado de LIMA, 2008) Interações tipo pontes de hidrogênio são observadas no espectro de infravermelho como deslocamento ou alargamento das bandas relacionadas, portanto, foi possível a observação do alargamento e sutil deslocamento da banda correspondente a carbonila do BNZ nas DS (1685cm-1) bem como o alargamento das bandas referentes ao estiramento CH não aromático (3010cm-1), sugerindo que tais grupos sejam responsáveis pelas interações existentes. A cerca dos espectros pode inferir-se que o N-H pertencente ao grupamento amida do BNZ, não interage quimicamente com o PVP como inicialmente foi sugerido, visto que não houve alterações significativas nas bandas correspondentes. As curvas de dissolução do BNZ e das DS de PVP são representadas na Figura 4. Lima (2008) relata em seu estudo que a técnica de obtenção da DS apresenta melhor eficiência de dissolução, em relação as misturas físicas não processadas do BNZ com PVP.Os perfis de taxa de liberação foram plotados como percentual de BNZ dissolvidos das dispersões sólidas e BNZ puro versus tempo. A taxa de dissolução das dispersões sólidas de BNZ com PVP K30 foi significativamente maior que o BNZ isolado (Figura 4), demonstrando os efeitos solubilizantes do PVP. A DS 25% apresentou resultado satisfatório, com percentual de dissolução maior que 80% em 1h. Vários mecanismos têm sido propostos para explicar o aumento na cinética de dissolução de fármacos em dispersões sólidas, como a diminuição da cristalinidade, aumento da molhabilidade, e redução do tamanho de partículas do fármaco (CRAIG, 2002). SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 107 Figura 4. Perfil de Dissolução dos Granulados de dispersões sólidas do BNZ em PVP. Tabela 3. Eficiência de dissolução (ED%) das DS obtidas. Eficiência de Dissolução (ED%) Produto 20 min. 60 min. BNZ 1,2 4,3 DS 25% 21 83 DS 50% 19 60 A comparação estatística dos valores de ED% demonstraram não haver diferenças significativas entre DS 25% e DS 50% PVP nos primeiros 20 minutos do ensaio, com valor de F calculado menor que tabelado, porém, após os 60 minutos, a DS 25% PVP mostrou-se mais eficiente e ideal na promoção da melhoria da solubilidade do BNZ. Apesar das curvas de dissolução apontarem a DS 25% como a mais indicada para compor a formulação do comprimido, os resultados obtidos nas análises de DSC (Figura 1A) revelam que os deslocamentos dos picos de fusão são mais evidentes para a DS 50%, levando a inferir que a proporção do PVP na DS pode influenciar a liberação do fármaco por aumento na viscosidade do meio de dissolução quando o polímero está em maior SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 108 centração. O comportamento do granulado da DS 25% no ensaio de dissolução determinou a sua escolha na composição dos dois lotes de comprimidos obtidos. Avaliação das características físico-químicas dos núcleos de benznidazol Os valores referentes aos ensaios físico-químicos de peso médio, dureza, friabilidade, teor e uniformidade de doses unitárias estão expressos na tabela 4. Tabela 4. Controle de Qualidade dos comprimidos obtidos PARÂMETROS ESPECIFICAÇÕES LBI LBII Peso médio (500mg ± 5%) 519,0 ± 0,6 496,0 ± 1,7 Friabilidade (<1,5%) 0,1 0,1 Dureza (> 3,0 Kgf.cm-1) 12,2 5,2 Teor (95-105%) 102,2 102,4 Uniformidade de dose unitária (≤ 15) 2,0 4,5 Os comprimidos obtidos apresentaram-se brancos, brilhantes e sem fissuras ou capeamento. Não houve dificuldade na manipulação do polímero quanto a escoamento e compactação. O peso médio é um parâmetro que influencia a quantidade de fármaco na forma farmacêutica. Os núcleos de BNZ foram planejados para um peso de 500 mg. Os resultados do peso médio obtido foram comparados às especificações da Farmacopeia Brasileira (2010), que permite variação de até 5% em peso para comprimidos não-revestidos com valor de massa de 250 mg ou mais. Os resultados encontrados para o LBI e para o LBII satisfazem às especificações. A friabilidade de um comprimido determina a sua resistência ao rolamento, oferecendo informações úteis quanto à resistência ao desgaste por atrito dos comprimidos em operações de embalagem, transporte e desgaste durante o revestimento. Segundo a Farmacopeia Brasileira (2010), o ideal é que o valor encontrado de friabilidade seja inferior SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 109 a 1,5%. Os valores de 0,1% de perda de peso para LB1 e LB2 demonstram que diferentes proporções do polímero HPMC não interferem no cumprimento dessa especificação para ambos os lotes. A dureza é outro parâmetro importante que relaciona a resistência do comprimido ao esmagamento ou à ruptura sob pressão radial, com a força medida em Newton (N). A dureza de um comprimido é proporcional à força de compressão e inversamente proporcional à sua porosidade. De acordo com a farmacopeia Brasileira (2010), o mínimo aceitável é 30 N ou 3,0 Kgf.cm-1. Ambos os lotes apresentaram valores de dureza acima do limite mínimo estabelecido na Farmacopeia Brasileira. Em relação ao ensaio de teor do fármaco determinado por CLAE apresentaram valores próximos a 100% para LB1 e LB2. O ensaio de uniformidade de doses unitárias seguiu os parâmetros estabelecidos pela Farmacopeia Brasileira (2010), seguindo o método de variação de peso. Os lotes obtidos obedecem o limite do valor de aceitação que deve ser menor ou igual a 15. Análise dos perfis de dissolução das formas farmacêuticas desenvolvidas Os perfis de dissolução dos comprimidos dos lotes LB1 e LB2 de BNZ estão apresentados na Figura 6. Os perfis da taxa de liberação do BNZ das matrizes comprimidas são expressos em percentual de BNZ dissolvido versus o tempo. Figura 5. Perfil de dissolução das formas farmacêuticas desenvolvidas LB1 e LB2. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 110 Figura 6. Fração de BNZ dissolvido para formas farmacêuticas desenvolvidas LB1 e LB2 O teste ANOVA utilizado na comparação dos perfis de dissolução de LB1 e LB2 revelou valores de F calculado menores que o F crítico tabelado nos intervalos de 6, 9, 12 e 24h, respectivamente, demonstrando não haver diferenças significativas na comparação dos perfis de dissolução. Entretanto, os resultados das frações de fármaco dissolvido por hora (figura 6) ilustram uma maior tendência de LB1 em manter a liberação do fármaco constante durante as 12 primeiras horas do ensaio, quando o percentual de fármaco dissolvido é praticamente de 100%. As duas formulações apresentaram frações de liberação quase constantes e muito semelhantes até a 6h do ensaio. A partir desse ponto, as variações nas frações dissolvidas por hora foram mais acentuadas para LB2, essas variações são prejudiciais ao desenvolvimento da forma farmacêutica que deve seguir um padrão de liberação homogêneo durante os intervalos entre as doses. Quando são especificados limites superiores e inferiores a qualquer ponto do perfil, a diferença entre eles não deve exceder 20% do conteúdo em substância ativa da formulação (EEC-Directive, 1992). A figura 6 demonstra também que as variações nas frações de BNZ dissolvido não ultrapassam esses limites. Os resultados obtidos com estudo da cinética de dissolução podem explicar o comportamento anômalo de liberação do fármaco a partir da 6h do ensaio. Os valores de coeficiente de correlação (r) expressos na tabela 5 mostram que o modelo matemático que SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 111 melhor representa o perfil de liberação do BNZ é o modelo de Hopfenberg. Este modelo representa formas farmacêuticas que sofrem erosão heterogênea, uma vez que o passo limitante da liberação do fármaco é a erosão da matriz por si só e que a difusão dependente do tempo interna ou externa à matriz que sofre erosão não a influenciam. A interpretação dos valores obtidos nos ensaios de dissolução é facilitada pela utilização de uma equação genérica, que traduz matematicamente a curva de dissolução em função de alguns parâmetros relacionados com a forma farmacêutica. Em alguns casos, essa equação pode ser deduzida através de uma análise teórica do processo, como numa cinética de ordem zero. Na maioria dos casos, porém, não existe um fundamento teórico, sendo usada uma equação empírica mais adequada. O tipo de fármaco, a sua forma polimórfica, cristalinidade, tamanho de partícula, solubilidade e quantidade incorporada na forma farmacêutica podem influenciar a cinética de liberação (MANADAS, 2002). Tabela 5. Valores dos estudos de regressão linear, aplicando modelo de zero ordem, primeira ordem, Higuchi e Hopfenberg, derivados dos perfis de dissolução dos produtos LB1 e LB2. Valores de coeficiente de regressão linear (r) Modelo LB1 LB2 Ordem zero 0,8022 0,8343 Primeira ordem 0,6236 0,6872 Higuchi 0,9189 0,9260 Hopfenberg 0,96506 0,9609 Ambas as formulações apresentaram percentuais de fármaco dissolvido de aproximadamente 100% em 12 horas (Figura 6). Esse percentual apresentou poucas variações até alcançadas 24 horas do ensaio. O resultando aponta a ineficiência do polímero HPMC de baixa viscosidade em retardar a velocidade de dissolução do fármaco até o tempo SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 112 pretendido para a liberação prolongada de 24 horas. Entretanto, considerando o tempo de meia vida do BNZ (12horas) é possível extrapolar estes resultados para uma formulação que libere o fármaco por 12 hs e este permaneça agindo por mais 12h, totalizando o efeito desejado das 24hs. Porém essa hipótese só poderá ser aceita através de futuros estudos confirmatórios de biodisponibilidade. Estudo de Fotoestabilidade O estudo de fotoestabilidade foi realizado nos comprimidos matriciais que apresentaram melhores resultados no ensaio de dissolução (LBI). Avaliando-se o teor de BNZ degradado foi possível determinar que o duplo sistema polimérico (PVP e HPMC) em que o BNZ encontra-se disperso formando o granulado e o sistema matricial, fornecem fotoproteção superior ao BNZ comprimido 100 mg comercial, pois Rolim em 2010 descreve que, devido a não penetração da irradiação, as formas farmacêuticas sólidas orais comercializadas pelo LAFEPE obtiveram decaimento inferior a matéria prima no estado sólido, em torno de 6,52% pela proteção física da forma farmacêutica para comprimidos de liberação imediata, enquanto que o comprimido matricial desenvolvido obteve decaimento de BNZ de 4,85%, para o LB1 sob as mesmas condições experimentais. Figura 7. Fotografia dos comprimidos desenvolvidos fotodegradados (acima) e o controle (abaixo) de LB1. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 113 CONCLUSÃO A utilização da técnica de DS obtida pelo processo de malaxagem melhorou consideravelmente a solubilidade do BZN quando comparado com o fármaco isoladamente, fato que pode ser confirmado através da determinação do perfil de dissolução das amostras e das curvas termoanalíticas, onde ficou evidenciada a redução da energia necessária para fusão do fármaco. A análise de IV ilustra as possíveis interações entre o BNZ e o PVP após a formação das DS. O perfil de dissolução das DS obtidas foi determinante na escolha da DS 25% PVP para seguir no desenvolvimento do comprimido de liberação prolongada. Ambas as formulações de matrizes poliméricas apresentaram percentual de dissolução de aproximadamente 100% em 12 horas, indicando a eficiência do polímero HPMC como retardante da velocidade de dissolução do fármaco, quando comparado com a formulação de liberação imediata disponível para comercialização. No entanto, os perfis de dissolução de LB1 e LB2 demonstram que as diferentes concentrações testadas do polímero HPMC nas matrizes não proporcionam efeito retardante maior na velocidade de dissolução. Apesar dos dois lotes terem sido aprovados nos testes de controle de qualidade, LB1 apresentou maior tendência em manter a fração de fármaco constante até alcançado os 100% de liberação, sendo a formulação escolhida para seguir com futuros ensaios in vivo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BESTETTI, R.B., C.A. MARTINS & A. CARDINALLI-NETO. Justice where justice is due: A posthumous Nobel Prize to Carlos Chagas (1879–1934), the discoverer of American Trypanosomiasis (Chagas' disease). International Journal Cardiology. 134: 9–16, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RE n.º 01, de 29 de julho de 2005. Autoriza, a publicação do Guia para Realização de Estudos de Estabilidade. Brasília: Diário Oficial da União, 2005. CHIOU, W.L.; RIEGELMAN, S. 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Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 117 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 118 6 CONCLUSÕES 1) O estudo de fotoestabilidade do BNZ foi capaz de delinear que: • O BNZ é fotosenssível a irradiação de fótons UV e no espectro visível; • Os cromatogramas do BNZ fotoirradiado mostram a formação de 2 picos de compostos que são formados após absorção da irradiação e que estes picos se repetem nos cromatogramas do BNZ com excipientes, mostrando não haver a formação de novos produtos de degradação quando da presença desses; As análises espectrais por MS/MS sugeriram as possíveis estruturas dos produtos de degradação do BNZ; • O BNZ sofre fotólise direta. 2) O desenvolvimento do comprimido matricial revelou: • As técnicas de IV, DSC e DTG indicam a formação das DS de BNZ com PVP; • O perfil de dissolução em água ilustra que a formação da DS de BNZ com PVP melhorou consideravelmente a solubilidade do fármaco, principalmente quendo o polímero está na concentração de 25% em relação ao fármaco; • As formulações obtidas LBI e LB2 foram aprovadas nos teste de controle de qualidade físico-químicos. Ambas conseguem retardar a liberação do fármaco até 12h. • A liberação do fármaco da matriz ocorre pelo mecanismo de erosão, tanto em LBI, quanto em LBII; • A formulação LBI com matriz de HPMC a 25% apresentou maior tendência em manter constante a taxa de liberação do fármaco durante as 12h de liberação,sendo, portanto, a formulação mais adequada para dar continuidade ao desenvolvimento da nova apresentação do comprimido; SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 119 • A formulação LBI conferiu maior fotoestabilidade ao fármaco, quando em comparação a forma farmacêutica de liberação imediata disponível no mercado. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 120 PERSPECTIVAS • Realizar estudo de correlação in vivo para avaliação da biodisponibilidade da nova formulação; • Realizar estudo de estabilidade acelerada e de longa duração; • Transposição de escala para produção industrial do comprimido desenvolvido. SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 121 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SANTOS, F. L. A. Desenvolvimento de Comprimido de Liberação Prolongada de Benznidazol. 122 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BESTETTI, R.B.; MARTINS, C.A.; CARDINALLI-NETO, A. Justice where justice is due: A posthumous Nobel Prize to Carlos Chagas (1879–1934), the discoverer of American Trypanosomiasis (Chagas' disease). International Journal Cardiology. 134: 9–16, 2009. DOCAMPO, R. Recent developments in the chemotherapy of Chagas disease. Current Pharmaceutical Design, Schiphol, v. 7, n. 12, p. 1157-1164, Ago. 2001. 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