[2] SALVADOR, BAHIA, SEGUNDA-FEIRA, 15/09/2014 O período climático com incidência de chuvas, aliado ao uso de novas tecnologias agrícolas e ao aumento das áreas de plantios, foi fundamental para que a Bahia elevasse a produção de grãos. Jairo Carneiro, secretário estadual da Agricultura [ CA PA ] POR ALEXANDRE SANTOS Bahia deve fechar o ano de 2014 com safra recorde de grãos Foto: Sílvio Ávila A Bahia deve fechar o ano de 2014 com uma safra recorde de grãos,comproduçãode8,82milhões de toneladas ante as 6,13 milhões de 2013 — um incremento em torno de 44%. A estimativa é da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura (Seagri), que aponta crescimento em 21,15% da área colhida no mesmo período: um salto de 2,59 milhões para 3,16 milhões de hectares. Segundo a Seagri, o desempenho do setor pode ser atribuído a fatores climáticos favoráveis, com distribuição de chuvas, além de um controle de pragas mais exitoso do que no ano passado. Entreosdestaquesdascommodities que elevaram a safra 2013/2014 estão a soja (41,5%), algodão/fibra (38,2%), milho e feijão (27%). Asoja,queatingeacolheitamais expressiva de todos os tempos, fechará em 3,98 milhões de toneladas. O montante representa um crescimento de 43,99% sobre a safra anterior, de 2,77 milhões de toneladas. A área colhida com a leguminosa passou de 1,21 milhão de hectares em 2013 para 1,41 milhão de hectares em 2014, ou seja, uma elevação de 16,55%. A colheita do algodão obteve um incremento de 31,73% em 2014: avançou de 924,98 mil para 1,22 milhão de toneladas. De acordo com o balanço da Seagri, o preço do produto à época do plantio apontava para uma boa perspectiva de receita, levando os produtores a investir no cultivo e elevar a área plantada, que saltou de 294,47 mil hectares em 2013 para 338,27 mil hectares este ano. Jáaproduçãototaldemilhoatingiráumrecordede3,18milhõesdetoneladas contra 2,22 milhões na colheita de 2013, ou seja, um aumento de43%.Aáreacolhidatambémregistrou 34,62% de crescimento: passou de 570,57 mil hectares para 768,11 mil hectares. A safra de feijão cresceu 27,59% em comparação com o ano passado, saindo de 248,66 mil para 317,26 mil toneladas. Caso se confirme a tendência, a produção baiana para o feijão está estimada em 236,9 mil toneladas, representando um acréscimo de 25,2%. Conforme a Seagri, as previsões da safra de mamona para 2013/14 também são boas. O setor obteve recuperação de 11 mil para 76 mil toneladas. Segundo a pasta, a expectativa se deve ao crescimento na produção nacional, puxada pela retomada na produção baiana, que concentra 90% da produção brasileira e que sofreu umagrandequebranasafrapassada. De acordo com o secretário estadual da Agricultura, Jairo Carneiro, o período climático com incidência de chuvas, aliado ao uso de novas tecnologias agrícolas e ao aumento das áreas de plantios, foi fundamental para que a Bahia elevasse a produção degrãos.ParaErnaniSabai,diretorde pesquisa e projetos da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), apesar do cenário satisfatório, os preços, porém, não foram os melhores já observados, uma vez que se mantiveram estáveis. “Somente nesta safra, ocorreu uma retração que tem comprometido a lucratividade e, por sua vez, a rentabilidade do setor, devido ao aumento dos custos de produção, principalmente diesel, fertilizantes e químicos”, diz. Na avaliação de Sabai, a soja, carro-chefe da produção do Estado, tem encontrado maior liquidez nos mercados interno e externo, por causa das condições consideradas adequadas da região, que oferece pluviometria, solo, luminosidade, topografia, tecnologia [sementes e máquinas] favoráveis. O dirigente da AIBA afirma que, em se mantendo o dinamismo do setor,o Oeste da Bahia tem tudo para se tornar o celeiro alimentar do Norte/ Nordeste. “Esse título se deve ao fato de que48,8% dasoja produzidalocalmente,emgrãoe/oufarelo,87,5%do milho, 30% da pluma e quase 100% do caroço de algodão são destinados ao mercado interno e 80% deste é consumido pelo Nordeste”, assinala. SOJA É O CARRO-CHEFE DA PRODUÇÃO BAIANA Dados da AIBA mostram que toda a produção de soja da Bahia está concentrada no Oeste, ocupando 58% da área total de plantio. O algodão (97%) e o milho (31%) ocupam a segunda e a terceira posições, respectivamente. O Estado também responde por 4% da produção agrícola do Brasil. De acordo com a associação, 65% do produto agrícola do Oeste baiano são destinados aos mercados do Norte/Nordeste. Em grande parte, as commodities atendem ao setor produtivo que utiliza ração animal como base alimentar, a exemplo de criadores de bovinos, suínos, avícolas e caprinos. Entre os principais compradores de grãos do Oeste da Bahia destacam-se o Sul do Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Segundo a AIBA, a atividade responde por cerca de 63 mil empregos diretos e indiretos. Na região em que há produção, as famílias são compostas em média por 3,9 pessoas. Considerando-se esse universo, 252 pessoas mil têm suas rendas geradas pelo setor. MAMONA ALGODÃO MILHO FEIJÃO As expectativas de safra de mamona para 2013/14 são boas, com excelente crescimento na produção nacional, puxada pela retomada na produção daqui da Bahia, que concentra 90% da produção brasileira e que sofreu uma grande quebra na safra passada. A Bahia recupera sua produção, saindo de 11 mil para 76 mil toneladas. O Estado da Bahia, segundo a produção nacional, aparece com um incremento de área de 18,0%, saindo de 271,4 mil hectares cultivados na safra passada para 320,3 mil hectares na safra atual. As precipitações têm sido favoráveis ao cultivo, a expectativa é de incremento na área plantada na Bahia de 14,8% (628,4 mil hectares para 721,7 mil hectares), com destaque para a produção de 2,2 milhões de toneladas. Caso se confirme a tendência, a produção baiana para o feijão está estimada em 236,9 mil toneladas, representando um acréscimo de 25,2%. A produção poderá sofrer ajustes no decorrer do período, (1ª, 2ª e 3ª safras) dependendo do comportamento do clima. outras 16% SOJA A Bahia deve plantar, nesta temporada, 1,33 milhão de hectares, um incremento de 3,9% em relação à safra passada, cerca de 50 mil hectares a mais. Se o a safra não apresentar anormalidade, o Estado deve produzir 3,81 milhões de toneladas de soja, tornando-se o 6º maior produtor do país e permanecendo como o maior Estado produtor das regiões Norte/Nordeste. Produtoracreditaemrecuperaçãodasafra Arquivo Pessoal Apesar de comemorar o bom momento em relação aos anos anteriores, o produtor rural Moisés Schmidt prefere usar o termo “recuperação” em vez de crescimento. Proprietário de lavouras de milho, soja e algodão e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras (SPRB), ele atribui o melhor panorama da safra de grãos ao período de chuvas e ao aumento das áreas plantadas. “Para mim, não houve um cresci- mento de fato. O que houve, na verdade, foi uma recuperação em torno de 10% da produtividade”, avalia. Segundo Schmidt, mesmo com resultados melhores do que os de anos anteriores, o Oeste baiano ainda enfrenta problemas que afetam diretamente a produção. “Além da questão das pragas, que atingem a lavoura, dependemos 100% da BR-242 para escoar a produção para fora do Estado. São mais de mil quilômetros de estrada pa- Com crescimento nas três variáveis: produção, área e produtividade, respectivamente 101%, 9% e 83,7%, a Bahia não é um grande produtor de arroz, é o 19º colocado no ranking nacional. O Estado tem 34 municípios produtores, mas sua produção concentra-se na região Oeste do Estado (São Desidério, Cocos, Barreiras e Formosa do Rio Preto). DISTRIBUIÇÃO DE ÁREA - SAFRA 2013/2014 algodão 14% milho 12% soja 58% EVOLUÇÃO AGRÍCOLA - 15 ANOS PERÍODO % Área 2013/14 - 1999/00 236,32 Fonte: AIBA Moisés Schmidt: “O que houve, na verdade, foi uma recuperação em torno de 10% da produtividade” ARROZ ra chegar ao Porto de Salvador, que oferece estrutura precária”, diz. De acordo com ele, o Terminal Portuário Cotegipe, unidade privada localizada na capital, tem sido importante para desafogar as produções de soja e milho, por exemplo.Parao produtor, essa logística, no entanto, só será minimizada com a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que deveria ser concluída este ano, e do Porto de Ilhéus, projetado para transportar cargas para os Estados do Nordeste. “Com esses novos modais, a logística para a produção chegar até o consumidor final, que engloba os mercados asiático e europeu, irá melhorar bastante”, afirma Schmidt. Na opinião de Ernani Sabai, diretor de pesquisa e agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), quando concluída, a ferrovia reduzirá consideravelmente os custos de logística de forma a melhorar as margens de rentabilidade do setor produtivo, que variam de 0,5 a 1% do capital investido. SORGO %Prod. 294,82 Essa é outra cultura que teve recuperação no Estado, com crescimento nas três variáveis, deverá sair de 87,1 mil hectares para 88,8 mil ha (2,0%) na área plantada; 32,3 mil toneladas para 133,6 mil toneladas (313,6%) e produtividade de 371 kg/ ha para 1.505 kg/ha (305,7%). A Bahia é o 4º maior produtor de sorgo do Brasil, sendo os municípios de Luís Eduardo Magalhães, São Desidério, Muquém do São Francisco e Formosa do Rio Preto os destaques. A Bahia é responsável por 4% da produção agrícola brasileira. 65% do produto agrícola do Oeste do Estado destinam-se aos mercados do Norte/Nordeste do país. 100% da soja da Bahia são cultivados no Oeste. A soja ocupa 58% da área cultivada do Oeste. Em média, 45% da leguminosa têm como destino o Norte/Nordeste do país. 31% do milho da Bahia são cultivados no Oeste e a sua produção representa 77%. Em média, 90% abastecem o Norte/Nordeste do país. 97% do algodão da Bahia são cultivados no Oeste. Em média, 30% da pluma e 95% do caroço abastecem o Norte/Nordeste do país. Investimentoemmodaisdetransporteno Oestebaianoampliaráomercadoexterno O diretor de pesquisa e projetos da AIBA, Ernani Sabai, afirma que o Oeste ocupa uma posição estratégica no que se refere ao abastecimento da região e à ampliação do mercado externo. Em sua avaliação, a implantação de um corredor multimodal de transporte certamente reduzirá os custos de escoamento da produção e fortalecerá a atração de investimentos na região. “Necessitamos que sejam realizados e implementados novos projetos e investimentos urgentes nesses modais. Isto ampliará a dinâmica econômica local”, afirma Sabai, referindo-se ao desenvolvimento de potenciais hidroviário, ferroviário e rodoviário. “Temos uma das bacias hidrográficas mais importantes do país, a do São Francisco, que, ao longo da história da região, contribuiu para seu desenvolvimento por transporte hidroviário. É necessário retomar o rumo da história e incorporá-lo ao processo de transporte. Trata-se de um modal altamente vantajoso, tanto do ponto de vista econômico como do ambiental”, diz. De acordo com informações da Codevasf, ao transportar 4.200 toneladas de carga por hidrovia, um comboio com carga de 37 toneladas retiraria das estradas 113 carretas bitrens e reduziria o consumo de combustíveis fósseis, a emissão de poluentes, despesas de conservação rodoviária e acidentes de trânsito.