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UM A WAV E R LY OW L L EVA SEUS DEV E R ES
DE MON ITOR I A A SÉ R IO — NÃO I M PORTA A
SE R I EDA DE DO A LU NO.
E
stava estranhamente tranquilo na principal sala de leitura da Biblioteca Swayer na quarta-feira à tarde antes
do Dia de Ação de Graças. Brett Messerschmidt bateu
a beirada de sua pilha de anotações em cartão no carvalho
sulcado da imensa mesa de estudos onde estava. Livros de latim com uma tipologia elegante e cursiva se espalhavam a sua
frente, como se a mochila tivesse explodido. Só alguns alunos
continuavam na biblioteca, uns com bolsas estufadas aos pés,
esperando que os utilitários Lexus dos pais os pegassem e os
levassem para um fim de semana de peru caipira orgânico e
HDTV.
Desde que veio para a Waverly Academy, Brett morria
de medo de voltar à espalhafatosa McMansão dos pais em
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Rumson, Nova Jersey, tendo concluído que cada aspecto da
vida suburbana no Garden State era completamente deselegante. Talvez fosse pelo pesadelo que foi sua vida no semestre
passado, mas não suportava pensar no molho de crawberry
direto-da-lata do pai, nem na insistência da mãe em enfrentar
o shopping abarrotado em Short Hills na Sexta-feira Negra.
A ideia de se sentar num banco do shopping ao lado da mãe,
comendo um pretzel quente e amanteigado da Auntie Anne’s,
mesmo cercadas de sacolas e mais sacolas de roupas da Betsey
Johnson e da Guess, fazia Brett se sentir meio tosca.
O estalo da cadeira de madeira a sua frente a trouxe de
volta ao presente. Encostado perigosamente em uma estante
de revistas estava um rapaz alto de cabelos escuros, com uma
expressão que pairava entre o tédio e a diversão. Brett semicerrou os olhos verdes e amendoados para ele, tentando vê-lo
objetivamente, como se não tivesse passado as últimas quatro
semanas procurando fazer com que ele decorasse Cícero — e
como se ele já não fosse um tremendo pé no saco para ela.
— Sebastian. — Brett enfiou uma mecha de cabelo ruivo
e sedoso atrás da orelha e tentou aparentar severidade. Ela
marcou hora com o cabeleireiro no sábado, grata pelo iminente
fim de semana de Ação de Graças e pela chance de ir a algum
lugar além do Supercuts no Rhinecliff Mall — não que alguém
da Waverly realmente fosse lá. — Foco, por favor.
— Quer mesmo que eu preste atenção? — Um fraco raio de
sol de outono caiu no queixo de Sebastian, lembrando a Brett
o quanto essa época do ano a deprimia. Quando saía de sua
última aula, já estava escuro. — Talvez da próxima vez você
possa usar alguma coisa mais sexy em vez de, sei lá, parecer a
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Sra. Birdsall. — A Sra. Birdsall era a bibliotecária-chefe, cujo
uniforme consistia em um suéter de gola rulê preto e uma saia
comprida de veludo, mesmo no verão.
Brett o encarou.
— Sou sua monitora, seu nojento, e não uma Pussycat Doll.
— Ela tentou não deixar que o comentário a incomodasse,
partindo de alguém que julgava se uma menina era gata pela
quantidade de pele que ela mostrava. Ela sabia que estava
atraente com o suéter American Apparel de gola rulê, preto e
justo, e o jeans Calvin Klein preto de corte reto, com um cinto
vermelho e estreito cingindo a cintura pequena. Era um visual
que planejou com cuidado, caso encontrasse algum universitário da Williams ou da Bard mais tarde, no trem Metro-North
indo para a Grand Central.
— Você também não está lá muito concentrada — resmungou Sebastian, tocando o cabelo denso e escuro, como
se quisesse ter certeza de que tinha aplicado bastante gel pela
manhã. Ele tinha. — E. Qual. É. O. Problema? — Ele destacou
as palavras batendo o pé da cadeira no chão e olhando nos
olhos de Brett. A camisa branca de manga comprida parecia
ter sido pisoteada, o contorno da camiseta branca claramente
visível por baixo.
— O problema — Brett suspirou, querendo pela centésima
vez sacar uma navalha e decepar aquele cabelo brilhante — é
que provavelmente você não vai se formar. Será um presente
de Natal e tanto para mamãe e papai, não é?
— Não vamos falar dos meus pais — disse ele, sentando-se
reto na cadeira. Os olhos escuros, quase pretos, fitavam Brett
com arrogância. — Eu vou me formar, então não fique toda
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irritadinha.
Brett bufou.
— O que o faz pensar assim? — Ela o olhou. O cheiro de
Drakkar Noir permeava a área ao redor e ela apenas deu graças pela biblioteca estar vazia. A Sra. Birdsall já trancara as
portas dos andares superiores — aparentemente temerosa de
que alguma coruja assanhada tentasse se entocar na biblioteca
durante fim de semana prolongado, profanando os sagrados
espaços de estudo.
— Porque... — Sebastian sorriu, recostando-se, revelando
uma pequena lasca no incisivo inferior que sempre surpreendia
Brett. Por que ele ainda não consertou esse dente? — Eu mexo
com você.
Brett sentiu pelo corpo uma onda de eletricidade — parte
irritação, parte algo mais.
— Olha aqui. Não estou fazendo isso por prazer pessoal.
— Sei alguma coisa sobre seu prazer pessoal, se estiver
interessada.
Ele tinha sorte por não haver ninguém por perto, ou ela
pegaria os livros abertos de latim e bateria nele. Com força.
— I’ve got you, babe — ele começou a cantar. Estalou os dedos
ao cantarolar o resto da música.
Brett se obrigou a reprimir um sorriso da piada idiota. A
realidade era que ele não estava levando as sessões de estudos
a sério e, quer reconhecesse ou não, corria um risco verdadeiro
de perder o ano na Waverly. Ela bateu as unhas cor de amora
(Madame Butterfly, da Nars) na tampa branca de seu Mac iBook
fechado. Ainda não tinham visto nem metade das coisas que
ela queria cobrir naquele dia.
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Sebastian passou a mão no rosto, parecendo tão exasperado
com Brett quanto ela estava com ele.
— Olha, por que não damos o fora daqui? Tomamos um
café ou coisa assim, e você pode me contar o verdadeiro motivo
para agir com toda essa caretice.
Brett fechou bem os olhos, pensando em mil outros lugares
onde poderia estar em vez de perder seu tempo na biblioteca
com Sebastian. Infelizmente, aquele em que ela não queria
pensar era o mais fácil de imaginar — aconchegada com
Jeremiah Mortimer, seu namorado vai-e-vem, na frente de
uma lareira crepitante da cabana de esqui da família dele
no Colorado, bebendo chocolate quente caseiro em imensas
canecas de cerâmica. Ou talvez entre partidas de Imagem e
Ação, ouvindo os pais de sangue azul da Nova Inglaterra e
gosto perfeito contarem a história de como se conheceram. As
imagens zombavam dela, lembretes dolorosos do que ela podia
ter se fosse um pouco mais inteligente.
Porque, infelizmente, graças a seu pequeno lance experimental com Kara Whalen enquanto ela e Jeremiah davam
um tempo, e sua subsequente mentira a respeito disso, agora
estavam permanentemente separados.
O telefone de Sebastian vibrou na mesa de madeira. Ele o
pegou e franziu a testa para a tela. Atendeu num sussurro baixo:
— Cara, pensei ter dito para nunca mais ligar para cá.
Brett cruzou os braços e olhou as revistas na prateleira atrás
de Sebastian. Ficou tentada a pegar um exemplar da New Yorker
para ler no trem na ida para casa, mas já comprara uma revista
People na loja de conveniência na cidade e agora a ideia de ler
sobre os problemas dos outros era muito mais atraente. Lá se
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foi a intenção de impressionar universitários.
Antes de dar um tapa na mesa para lembrar a Sebastian
de que estavam estudando e que os celulares no campus, em
especial na biblioteca, eram estritamente proibidos, seu próprio
celular vibrou na bolsa Zac Posen xadrez preto com uma nova
mensagem de texto. Ela o pegou e se surpreendeu ao ver o nome
Bree iluminado sob o envelopinho. Veria a irmã dali a algumas
horas — estava louca para vestir o moletom rosa-shocking
Juicy Couture e vegetar na frente do telão de TV em sua sala
de mídia com Bree. E talvez falar de Jeremiah e do quanto sua
vida estava uma droga.
Adivinha quem vem para jantar?, dizia o texto. Brett respondeu, Quem?, embora desconfiasse da resposta antes que
aparecesse na telinha: Willy. Brianna mal conseguia falar de
outra coisa além do grande Willy Cooper Terceiro desde que
se conheceram meses antes, enquanto estavam em mesas
adjacentes na Waverly Inn. No início, Brett ficou curiosa e
quis conhecê-lo, mas quanto mais Bree falava dele, mais ele
parecia um bobalhão. Ele era formado em Yale, tinha MBA
da Wharton, trabalhava em Wall Street para um dos maiores
bancos de investimento e não tirava férias há três anos desde
que chegara lá. A não ser, ao que parecia, para passar o Dia
de Ação de Graças com os Messerschmidt. Brett esperava que
ele não se importasse de se sentar no sofá e ver maratonas da
MTV o dia todo.
O telefone vibrou novamente. E os pais dele. Brett olhou as
quatro palavras com o estômago arriando no chão. Parece
que ela realmente ia dividir Bree neste fim de semana. Brett
queria responder, De Greenwich até aí?, mas resistiu. Em vez
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disso, fechou o telefone, olhando Sebastian, que ainda ria alto
ao celular, distraído do fato de que a Sra. Birdsall os fuzilava
com os olhos da mesa da recepção. Brett bateu num relógio
invisível no pulso e esbugalhou os olhos para ele. Sebastian
ergueu um dedo e assentiu.
— Até mais, cara. — Ele fechou o telefone, largando-o no
bolso da mochila a seus pés. — Desculpe. Era importante.
— É, parecia importante mesmo — disse ela com rispidez,
arrancando uma lista de vocábulos de seu caderno de espiral
e empurrando para Sebastian.
— Ei, você também estava ao telefone — ele retrucou com
raiva, pegando o papel.
— É, esperando que você desligasse o seu. — Brett ficou
agradecida por repreender Sebastian, porque podia fazer isso
no piloto automático. Impedia que as lágrimas de frustração
brotassem de seus olhos. Ia mesmo ter estranhos invadindo
sua casa no feriado de Ação de Graças? Se havia um ano em
que precisava de alguma traquilidade para se refazer, era este.
Agora, se quisesse ter alguma paz, teria de se entocar no quarto
com alguns DVDs. Brett se imaginou de pernas cruzadas sob
o edredom, a neve cobrindo Nova Jersey enquanto ela comia o
jantar de Ação de Graças num prato no colo, metendo o garfo
num pedaço frio de peru gorduroso e passando-o no purê de
batatas com cheddar da mãe, enquanto a discussão do mercado
de ações vagava para ela da sala de jantar.
A Sra. Birdsall apagou uma série de luzes fluorescentes e
metade da biblioteca ficou às escuras. Brett olhou o relógio na
parede e saltou da cadeira.
— Merda — murmurou, enfiando freneticamente os cader-
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nos na bolsa e vestindo o casaco DKNY preto e curto. Como
pode ter ficado tão tarde? Todo o projeto de salvar Sebastian
estava condenado desde o início, então por que manter essa
farsa?
— Vou me atrasar para meu trem. Você que estude sozinho.
— Feliz Dia de Ação de Graças, tá? — disse ele às costas dela.
Brett passou o cachecol xadrez amarelo L.A.M.B. no pescoço
e colocou as luvas de couro preto. Abriu as portas duplas da
biblioteca e saiu na tarde cheia de neve, ao escurecer, absorta
demais com terríveis visões dos Cooper de Greenwich para
se despedir.
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RyanReynolds:
Eu vi vc saindo de uma porcaria de
Fiat? WTF?
BennyCunningham:
Acho que papai está com crise de
meia-idade. Sacou a peruca?
Vi essa peruca do outro lado do
parque! Vc sabe o que vem agora?
Uma nova Mamãezinha Querida.
RyanReynolds: BennyCunningham:
Não, eles querem o melhor para
os filhos. Além disso, eles têm um
Acordo.
RyanReynolds:
O que quer dizer que todo mundo vai
levar namorado no feriado?
BennyCunningham:
Vc entendeu.
RyanReynolds:
Posso ir?
BennyCunningham:
Não ia conseguir lidar com a gente.
Ta-tá!
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Caixa de Mensagem Instantânea
LonBaruzza:
Alguém tem um osso da sorte? Eu
tenho um desejo incrível.
AlanStGirard:
O que é?
LonBaruzza:
Agora, na estação de trem, vendo
Tinsley, Callie e Jenny reunidas no frio.
Queria que elas estivessem nuas.
AlanStGirard:
Seria uma visão e tanto. Kd a Brett?
Precisa de uma ruivinha aí para ficar
completo.
LonBaruzza:
O que mais gosto nessas meninas é
que a qualquer hora elas podem sair
no tapa...
AlanStGirard:
Se rolar, tira uma foto, brother. Bom
feriado!
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Estava estranhamente tranquilo na principal sala