CMYK Economia no DF 27 • Cidades • Brasília, quinta-feira, 16 de janeiro de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE CONSTRUÇÃO CIVIL O setor, antes de domínio masculino, cede espaços para elas, que trocam antigos empregos pelas grandes obras, nas quais o salário e a chance de promoção são bem maiores. No DF, as operárias somam 8% dos 66 mil nas construções Monique Renne/CB/D.A Press Andreia de Paula, Valdirene da Silva, Juliana Miura, Lorrayne Rodrigues de Souza, Evanilde Carvalho de Sousa e Zélia Alves Nunes: elas apostam na possibilidade de crescer no ramo da construção civil Mulhereschegam aoscanteirosdeobras Antonio Cunha/Esp. CB/D.A Press » FLÁVIA MAIA despertador sempre toca às 5h. O sol ainda não saiu e Ieda Maria de Oliveira Teodoro, 46 anos, obedece ao chamado diário e se vê de pé, preparada para encarar mais um dia de trabalho. Ela colore os lábios, coloca o par de brincos, arruma a mesa de café para o filho de 14 anos e segue em direção ao ponto de ônibus. Da casa em Samambaia, ela toma duas conduções para estar às 7h na obra em que trabalha na Ceilândia. Quando chega à construção, toma o café da manhã, coloca o macacão de serviço e então começa a pintar as paredes do novo edifício. Ela é a única mulher da obra. O ofício de pintora foi aprendido há apenas dois anos e já foi responsável por triplicar a renda familiar. Antes, Ieda trabalhava como operadora de telemarketing. Rotinas como a de Ieda são vividas por pelo menos 6 mil mulheres no Distrito Federal, que largaram as antigas profissões de olho na melhor remuneração da construção civil. Segundo os últimos dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Distrito Federal paga, em média, R$ 2.442,17 às operárias do setor, o melhor valor do país. Ainda na capital da República, elas ganham 24% a mais do que a média salarial da categoria (R$ 1.961,87). “Isso é um atrativo. Mas o segmento tem outros benefícios, como assistência médica e odontológica, o que também atrai as mulheres”, afirma Izídio Santos Júnior, diretor de Política e Relações Trabalhistas do Sindicato da Indústria da Construção Civil no DF (Sindiscon). As mulheres ainda não representam nem 10% do mercado da construção civil no Distrito Federal. De acordo com o MTE, elas somam 8% dos mais de 66 mil trabalhadores existentes. Para entrar nesse setor ainda masculino, as mulheres apostam na qualificação como diferencial. Em tempos de desaquecimento, a capacitação ganha mais importância. De 2011 para 2012, ocorreu uma di- O trabalhoemdobroporqueeuquero que todo mundo saiba que eu vim pra ficar”, conta. Agora, com a renda melhor, Ieda pretende fazer um curso superior a distância para conseguir conciliar com o trabalho e a casa. Diversas atuações Todo mundo, no trabalho, falava que eu não tinha mais idade para mudar de profissão, mas eu tinha visto na televisão que a área da construção civil estava boa e decidi apostar. Fiz o curso e, agora, estou no mercado. Não existe mais local de trabalho em que a mulher não possa estar” Ieda Maria de Oliveira Teodoro, 46 anos, trabalha como pintora no canteiro de obras ca Débora Barem, professora da Universidade de Brasília especialista em mercado de trabalho. Sidney Bezerra é proprietário da Concretta, escola particular especializada na formação de profissionais para a construção civil. Ele conta que os homens ainda são maioria, mas, a cada ano, aumenta a quantidade de mulheres nas salas de aula. “Com o salário maior do que ganhava quando trabalhava como operadora de telemarketing, Ieda conseguiu comprar uma tevê nova e fala, com orgulho, que pode fornecer uma vida mais confortável para o filho de 14 anos. À noite, quando chega do trabalho, prepara o jantar de forma que sobre para o almoço do dia seguinte.“Sempre trabalhei fora e fico administrando a casa por telefone. Mas isso não atrapalha o meu trabalho. Como sou mulher, eu me esforço mais para ninguém notar a diferença nem falar nada. Se preciso, CMYK minuição de 1,8 mil postos para mulheres no ramo. “A construção civil é dinâmica, tem muitas rescisões e contratações. Mas quem é bom de serviço não fica sem emprego”, explica Edgard de Paula Viana, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção e do Mobiliário de Brasília (STICMB). Assim fez Ieda. Ela se matriculou em um curso de pintura em edificações do Instituto Federal de Brasília em Samambaia. “Todo mundo, no trabalho, falava que eu não tinha mais idade para mudar de profissão, mas eu tinha visto na televisão que a área da construção civil estava boa e decidi apostar. Fiz o curso e, agora, estou no mercado”, comemora. “Não existe mais local de trabalho em que a mulher não possa estar. Uma vez qualificada, ela consegue emprego. No caso da construção civil, essa qualificação provavelmente está puxando o salário da mulher para cima”, expli- A quantidade de mulheres na construção civil vem aumentando à medida que elas encaram novos postos nas obras. “Pelos registros do sindicato, a maioria delas trabalha com acabamento, azulejaria, limpeza e pintura, áreas que demandam mais delicadeza e menos força”, explica Edgard de Paula Viana, Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brasília. Mas as mulheres vão além. Elas já ocupam cargos de mestre de obras, encarregadas, além das áreas técnicas e superiores. Andréia de Paula, 36 anos, é engenheira civil e hoje ocupa o cargo de gerente do maior canteiro de obras que a construtora em que ela trabalha tem no Brasil. Ela comanda 523 funcionários, desses, 62 são mulheres. “A gente acaba tendo uma postura mais firme para conseguir o respeito profissional. No mais, não vejo diferença”, conta. Na mesma obra que Andréia chefia, Zélia Alves Nunes, 28, ocupa o posto de vigilante da obra. Juliana Miura, 26, é gerente de produção e Lorrayne Rodrigues de Souza, 22, atua como assistente de engenharia. “Entrei como técnica de segurança do trabalho, agora estou fazendo engenharia porque vejo possibilidade de crescer nesse ramo”, diz Lorrayne. Evanilde Carvalho de Sousa, 36 anos, e Valdirene da Silva, 31, trabalham como encarregadas de obras. Ambas largaram serviços domésticos, de cuidadora de idosos e de empregada doméstica, para investir na carreira na construção civil.“O salário é melhor do que em casa de família, o horário é mais certinho e a possibilidade de crescer é maior. Eu mesmo quero chegar a mestre de obras ou engenheira”, espera.