TECNOLOGIAS E ATIVIDADES DE AVENTURA ORGANIZAÇÃO LEL – LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO LAZER DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – CAMPUS RIO CLARO UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA PATROCÍNIO CAPES - COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR PARCERIAS SEST/SENAT – RIO CLARO PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO CLARO SEME – SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTES APOIOS ABRE - Associação Brasileira de Recreadores ABRAPEFE - Associação Brasileira dos Profissionais de Educação Física e Esportes 5° Elemento Esportes de Aventura Cia da Aventura Padaria Gaib Churrascaria Caçador Papelaria Lápis de Cor Fricock Café Wenzel Pacheco`s Buffet Felicità FIRA - Fundação regional Educacional de Avaré TKT ONE - Assessoria Turística Choperia o Magro & o Gordo TECNOLOGIAS E ATIVIDADES DE AVENTURA Organizadores: Gisele M. Schwartz - Danielle F. A. Christofoletti - Giselle H. Tavares Juliana de P. Figueiredo - Ana Paula E. G. Teodoro Amanda M. do nascimento - Marcelo F. S. Palhares Cristiane N. Kawagutti - Leonardo M. Pereira Autores: Amanda Mayara do Nascimento - Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro Carlos Alberto Tavares de Toledo - Carmen Maria Aguiar Dimitri Wuo Pereira - Douglas Eduardo dos Santos Silva Edmundo de Drummond Alves Junior - Flávio Antônio Ascânio Lauro Giselle Helena Tavares - Gisele Maria Schwartz - Igor Armbrust Ivana de Campos Ribeiro Fulvio Rodrigues Valeriano - José Ricardo Auricchio Juliana de Paula Figueiredo - Leonardo Madeira Pereira Marcelo Fadori Soares Palhares - Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan Raquel de Magalhães Borges -Rodolfo Antonio Zagui Filho Sandro Carnicelli Filho -Tereza França editora são paulo - 2012 editora © Editora Lexia Ltda, 2012. São Paulo, SP CNPJ 11.605.752/0001-00 www.editoralexia.com Editores-responsáveis Fabio Aguiar Alexandra Aguiar Projeto gráfico Fabio Aguiar Capa e diagramação Equipe Editora Lexia Revisão Responsável: os autores Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP S291t Tecnologias e atividades de aventura / Gisele Maria Schwartz ... [Et al.]. VII CBAA – Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. I CIAA - Congresso Internacional de Atividades de Aventura. - São Paulo: Lexia, 2012. 152 p. ISBN 978-85-8182-032-3 1. Estudos - Lazer. 2. VII Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura. 3. I Congresso Internacional de Atividades de Aventura. I. Nascimento, Amanda Mayara dO. II. Teodoro, Ana Paula Evaristo Guizarde. III. Toledo, Carlos Alberto Tavares de. IV. Aguiar, Carmen Maria. V. Pereira, Dimitri Wuo. VI. Silva, Douglas Eduardo dos Santos. VII. Junior, Edmundo de Drummond Alves. VIII. Lauro, Flávio Antônio Ascânio. IX. Tavares, Giselle Helena. X. Schwartz, Gisele Maria. XI. Armbrust, Igor. XII. Valeriano, Ivana de C. Ribeiro Fulvio Rodrigues. XIII. Auricchio, José Ricardo. XIV. Figueiredo, Juliana de Paula. XV. Pereira, Leonardo Madeira. XVI. Palhares, Marcelo Fadori Soares. XVII. Trevisan, Priscila Raquel Tedesco da Costa. XVIII. Borges, Raquel de Magalhães. XIX. Filho, Rodolfo Antonio Zagui. XX. Filho, Sandro Carnicelli. XXI. França, Tereza. XXII. Título. CDD -248.73 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento do autor. Impresso no Brasil. Printed in Brazil. DEDICATÓRIA A todos que amam a aventura de viver e que fazem a diferença, estando sempre dispostos a construir para um mundo melhor!!! APRESENTAÇÃO Este livro representa o esforço de estudiosos de diferentes áreas do conhecimento, os quais se propuseram a disseminar seus conhecimentos e suas intervenções exitosas, no sentido de favorecer novos olhares sobre as atividades de aventura. Os textos aqui presentes são provenientes de reflexões apresentadas durante o VII CBAA – Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura e I CIAA - Congresso Internacional de Atividades de Aventura, organizados pelo LEL- Laboratório de Estudos do Lazer, Departamento de Educação Física, Instituto de Biociências da UNESP - Campus de Rio Claro. Esta sétima edição do CBAA e primeira do CIAA contaram com o patrocínio financeiro da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, tendo como parceiros o SEST/SENAT – Rio Claro, a Prefeitura Municipal de Rio Claro, por intermédio da SEME – Secretaria Municipal de Esportes. Os eventos receberam apoio de diversas empresas de diferentes ramos de atuação. Os anais dos referidos eventos foram divididos em duas partes, sendo uma relativa à elaboração de uma mídia em forma de CD-ROM, contendo os resumos dos trabalhos aprovados como apresentação nos formatos pôster e comunicações orais, e outra parte dos anais corresponde a alguns textos na íntegra, os quais dão substância à presente obra. Estes textos aqui apresentados na forma de capítulos deste livro representam os conteúdos condensados das falas de palestrantes, confe- rencistas ministrantes de oficinas e de convidados representativos entre os estudiosos das atividades de aventura. Esperamos que a obra seja agradável e que a mesma possa suscitar novas reflexões, aprimorando a temática das atividades de aventura. Boa leitura! Gisele Maria Schwartz Coordenadora do VII CBAA/ICIAA SUMÁRIO PARTE 1 - PALAVRAS DOS PALESTRANTES ............. 13 REFLEXÕES SOBRE AVENTURA, EDUCAÇÃO E EXPERIÊNCIA Sandro Carnicelli Filho .............................................. 15 ATIVIDADES DE AVENTURA, TECNOLOGIAS E ENVELHECIMENTO Edmundo de Drummond Alves Junior ....................... 23 SOCORRO, TURISMO PARA TODOS Carlos Alberto Tavares de Toledo ................................ 30 LAZER, AVENTURA E TECNOLOGIA NA CULTURA POPULAR Carmen Maria Aguiar ................................................ 32 TECNOLOGIAS E AVENTURAS PARTICIPATIVAS: POSSIBILIDADES DE PRÁTICAS CRÍTICO-HUMANIZADORAS Tereza Luiza de França .............................................. 38 A TECNOLOGIA, A AVENTURA E A SUSTENTABILIDADE: A ARTE DO EQUILÍBRIO SER HUMANO&NATUREZA Ivana de Campos Ribeiro .......................................... 47 PARTE 2 - PALAVRAS DOS MINISTRANTES DE OFICINAS ....................... 55 ORIENTAÇÃO PEDESTRE – TECNOLOGIAS E ATIVIDADES DE AVENTURA Fulvio Rodrigues Valeriano ........................................ 57 ESCALADA: EVOLUÇÃO E RETORNO À ORIGEM Dimitri Wuo Pereira .................................................. 62 SLACKLINE: O EQUILÍBRIO AO ALCANCE DE TODOS Douglas Eduardo dos Santos Silva .............................. 69 TECNOLOGIA EDUCATIVA INTERDISCIPLINAR – OS ESPORTES RADICAIS Igor Armbrust ........................................................... 75 A PRÁTICA DE SKATE E O DESENVOLVIMENTO DO EQUILÍBRIO CORPORAL: UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA PARA O INICIANTE Flávio Antônio Ascânio Lauro .................................... 81 TÉCNICAS VERTICAIS: CONCEITUAÇÃO, UTILIZAÇÕES E SEGURANÇA José Ricardo Auricchio ............................................... 88 EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS ENVOLVENDO ATIVIDADES DE AVENTURA Leonardo Madeira Pereira .......................................... 975 PARTE 3 - PALAVRAS DOS CONVIDADOS ........... 101 TREINAMENTO EMPRESARIAL, ATIVIDADES DE AVENTURA E TECNOLOGIAS Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro ....................... 105 TECNOLOGIAS, O IDOSO E A BUSCA POR AVENTURA NOS IDEOGAMES Amanda Mayara do Nascimento ............................... 108 TECNOLOGIAS, DIFERENÇAS DE GÊNERO E ESPORTE DE AVENTURA Giselle Helena Tavares ............................................. 115 RECURSOS TECNOLÓGICOS NAS ATIVIDADES DE AVENTURA COMO APELO PRÓ-AMBIENTAL Juliana de Paula Figueiredo ...................................... 119 ATIVIDADE DE AVENTURA E VIOLÊNCIA: POSSÍVEIS RELAÇÕES? Marcelo Fadori Soares Palhares ................................. 123 ATIVIDADES DE AVENTURA, TECNOLOGIAS E USO DA CRIATIVIDADE Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan ................ 130 O (RE) CONHECIMENTO DE PRÁTICAS CORPORAIS NA NATUREZA NO ESTADO DO PARÁ NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA Raquel de Magalhães Borges ................................... 136 LAZER VIRTUAL: AS ATIVIDADES DE AVENTURA NOS JOGOS DE VIDEOGAME Rodolfo Antonio Zagui Filho ................................. 141 EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E A GESTÃO DO NICHO DA AVENTURA Gisele Maria Schwartz ............................................. 147 PARTE 1 PALAVRAS DOS PALESTRANTES – 13 – Sandro Carnicelli Filho Doutor em Filosofia (PhD) pelo Depto. de Turismo da Univerity of Otago – New Zealand Docente da University of the West of Scotland. E-mail: [email protected] Edmundo de Drummond Alves Junior Prof. Dr. em Educação Física - Universidade Gama Filho Docente na Universidade Federal Fluminense E-mail: [email protected] Carlos Alberto Tavares de Toledo Diretor do Departamento de Turismo e Cultura Prefeitura de Socorro/SP E-mail: [email protected] Carmen Maria Aguiar Livre-Docência em Sociologia do Lazer e Cultura Popular - UNESP Docente na UNESP – Rio Claro E-mail: [email protected] Tereza Luiza de França Profa. Dra. em Educação – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Docente na Universidade Federal de Pernambuco Coordenadora-Líder do NIEL-DEF-UFPE - Pesquisadora Rede CEDES Ministério do Esporte Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC E-mail: [email protected] Ivana de Campos Ribeiro Doutora em Ecologia e Recursos Naturais- UFSCAR. Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC Coordenadora de Projetos do IBEV - Instituto Brasileiro de Educação para a Vida E-mail: [email protected] – 14 – REFLEXÕES SOBRE AVENTURA, EDUCAÇÃO E EXPERIÊNCIA Sandro Carnicelli Filho Desde 2006, quando o primeiro CBAA (Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura) foi lançado, muitas foram as discussões acerca da transferência do conhecimento acadêmico para a educação formal e informal de crianças e adultos. Neste texto, proponho uma reflexão que transcende apenas os elementos Aventura e Educação que já foram associados e discutidos em inúmeras pesquisas, como em Marinho e Schwartz (2005) e Tahara, Dias e Schwartz (2006). Este texto procura incrementar a discussão sobre educação e aventura adicionando o importante aspecto da Experiência, que vai dar sentido e ser o elemento transformador e educador da Aventura. O conceito de Experiência será tratado nesse texto para além da dicotomia positiva-negativa, focalizando a importância de seu significado para os seres envolvidos. Para melhor explorar as relações entre as temáticas, este texto, então. será dividido em quatro relações: Educação e Aventura; Educação e Experiência; Aventura e Experiência e, finalmente, Aventura, Educação e Experiência. Educação e Aventura A utilização de atividades de aventura na educação não é novidade e Pickett e Polley (2001) indicam que, desde a década de 60, estas práticas já estavam inseridas na educação formal de crianças. Ainda segundo Pickett e Polley (2001) a principal influência foi o Outward Bound, movimento que se iniciou no Reino Unido na década de 40 e que buscava aperfeiçoar as habilidades físicas de jovens, além de trabalhar valores éticos e morais que os ajudaria com as demais disciplinas. Marinho e Schwartz (2005) também exploram a relação entre educação e aventura. As autoras enfatizam que a educação pode ofe– 15 – recer canais formais e informais de socialização, utilizando aprendizados experienciais e criativos, como os oferecidos pelas atividades de aventura. Para Pereira e Monteiro (1995), as conexões entre aventura e educação podem favorecer o desenvolvimento humano, por intermédio de processos pedagógicos catalisadores de competências que podem ser, tanto cognitivas, quanto socioafetivas e psicomotoras. É então que entra a problemática apresentada por Pickett e Polley (2001), em que o uso das atividades de aventura na educação formal pode se dividir entre a criação de uma disciplina per se e voltada unicamente para o desenvolvimento socioafetivo, cognitivo e psicomotor propiciado pelas atividades, ou a utilização das atividades como parte de outras disciplinas, que vão se beneficiar das práticas para o ensino dos conteúdos educacionais clássicos (PICKETT; POLLEY, 2001). A educação ambiental apresentada como um diálogo transdisciplinar por Inácio (1997) e Ribeiro (1998) pode envolver diferentes áreas, como a Ecologia, a Biologia, a Geologia, o Turismo e a Educação Física. É nessa educação ambiental transdisciplinar que Tahara, Dias e Schwartz (2006) se pautam para indicar a necessidade de uma prática de atividades de aventura que seja mais consciente e compromissada. Uma prática da aventura que forneça, tanto elementos educativos, quanto experiências significativas para seus praticantes. Educação e Experiência A necessidade de novas formas de ensino e aprendizagem, em que o conhecimento é construído e disseminado de forma local e global, tornou-se premente com o desenvolvimento de uma sociedade pautada em novas tecnologias. As formas tradicionais de saber, que estão baseadas nos conhecimentos científicos, sempre tiveram preferência frente aos conhecimentos adquiridos por intermédio de saberes experienciais. O conhecimento popular foi por muito tempo ignorado, ganhando uma nomenclatura pejorativa: senso comum, e esse senso comum visto como conhecimento vazio e que de nada vale para o alcance de diplomas e certificados, ou que não pode ser descrito no Curriculum. Pires (2007, p.15), numa perspectiva diferente, se contrapõe a essa visão ra– 16 – cionalista e afirma que “[...] aprendizagem e experiência são interdependentes; a experiência assume um papel central na aprendizagem dos adultos; a experiência (um “material bruto”), quando acompanhada de um processo de reflexão crítica e de formalização, pode ser traduzida (“trans‑formada”) em saberes e competências”. Entre as experiências não-formais que podem auxiliar na aprendizagem e na educação está o ato de viajar, explorar e conhecer novos lugares, culturas, formas de pensamento e filosofias de vida. Porém, essa experiência tem que ser significativa e ser permeada por prazer, pois, como afirma Trigo (2010, p.31): “Nem todo serviço ou viagem é uma experiência que mereça ser repetida ou que marque significativamente a vida de alguém. A experiência tem a ver com a emoção, com o prazer, e não com o sentimentalismo e a acomodação estéril.”. É essa experiência significativa e prazerosa que deve ser propiciada pelas atividades de aventura. A partir da importância de experiências significativas podemos elaborar três questões essenciais, que devem ser feitas quando pensamos no processo educativo e suas relações com as vivências pessoais. A primeira questão é “O que podemos aprender com as experiências?”, a segunda: “Por quê as experiências ensinam?” e finalmente “Quais experiências nos ensinam algo positivo?”. Essas questões podem nortear, tanto educadores, quanto gestores públicos e prestadores de serviço, a elaborar situações, serviços e produtos que serão elementos educativos transformadores. São questões a serem respondidas por pesquisas empíricas mais profundas e que não cabem nessa curta reflexão. Porém, entre esses elementos com potencial educativo e transformador estão as atividades de aventura e suas práticas na natureza (como, por exemplo, a escalada, o rafting, e a canoagem) e no meio urbano (como o le parkour e o skate). Aventura e Experiência As sensações físicas e as percepções corporais nas experiências na natureza são, segundo Reis (2010), parte essencial na construção dos significados da aventura. Essas sensações físicas podem ser vendidas – 17 – em pacotes de aventura que promovem experiências que transcendem a simples contemplação e mergulham o turista na prática corporal e o incitam a desfrutar e interagir com as belezas naturais. Essas características foram abordadas, tanto por Cloke e Perkins (2005), quanto por Reis (2010), os quais, ao estudarem os turistas de aventura na Nova Zelândia, afirmam que as informações promocionais das agências mudam o foco do turista, que passa de simples observador para se envolver diretamente e corporalmente com as experiências na natureza. Percebe-se então que a discussão pode permear intensamente a comercialização da aventura e da experiência, o que já foi discutido por autores como Johnston e Edwards (1994), Cloke e Perkins (2002), Varley (2006). Porém, essa experiência induzida não vem só das empresas e da comercialização das atividades, mas pode ser originada pelo próprio contexto do turismo, que gera convenções e regras do que ver, do que fazer e de como agir, que limita a criatividade e a espontaneidade do indivíduo (ENDERSON, 2001). São essas características que buscam induzir o turista aventureiro para participarem de experiências significativas e prazerosas. Essas atividades podem ser, tanto contemplativas, quanto participativas, passivas ou ativas e vão se adequar com as próprias características do aventureiro. Queenstown, na Nova Zelândia, é considerada a Capital Mundial da Aventura, justamente por oferecer uma gama de atividades de aventura que vai, desde as mais comerciais, como o bungee jump e o rafting, até as gratuitas, como trilhas e escaladas nas montanhas dos Alpes do Sul. Queenstown também oferece atividades de aventura comerciais, que dependem da participação do turista, como o mountain bike e outras, onde o turista tem uma atuação mais passiva, como o jet boating. Oferecer diferentes opções para o aventureiro faz com este encontre a atividade que, de acordo com suas características, vai otimizar o significado de sua experiência, podendo, também, facilitar momentos educativos. Aventura, Educação e Experiência A idéia central desse texto consiste, então, na reflexão acerca do potencial educativo de aventuras significativas. Exemplos que misturam – 18 – esses três elementos são alguns dos parques urbanos e não urbanos, que possibilitam ao turista, não só uma experiência única e significativa, mas também, a chance de desenvolver seu lado aventureiro e junto com momentos de aprendizagem. Um exemplo é o Bosque do Alemão em Curitiba, que mistura uma trilha no meio de uma mata nativa fechada aos aspectos educacionais simbolizado pela história infantil de Hänsel und Gretel (João e Maria, no Brasil). O Bosque do Alemão proporciona uma aventura para adultos e crianças, combinado com elementos educativos e culturais que representam a colonização alemã. Outro exemplo que possibilita uma otimização da experiência aventureira misturada com elementos educativos são os acampamentos educacionais. São nestes acampamentos que equipes de recreadores e educadores montam atividades que envolvem aventura e educação. Atividades cheias de significados, que buscam otimizar a experiência lúdica de crianças e adolescentes, mas, ao mesmo tempo, educar com base em valores morais e de convivência social. Não é raro ver nesses acampamentos atividades como mini-corridas de aventura, onde crianças trabalham em grupo, escalada indoor, e rafting. Porém, essas atividades agregariam pouco aos participantes, se os facilitadores ou guias não engajassem elementos educativos nas práticas. Assim também acontece com algumas das práticas de educação ambiental que não trazem nenhum tipo de aventura, prazer ou excitamento para os participantes. A falta do prazer e da aventura faz com que a experiência se torne banal, chata, redundante e limitada a conceitos teóricos, os quais, provavelmente, serão esquecidos. Assim como afirma Marinho (2004, p.10), na sociedade atual, “[,,,] não se pretende mais visualizar uma educação ambiental movida por oficinas repetitivas esvaziadas de conteúdos e desconectas de um processo educacional como um todo [...]”, é necessário que exista emoção, amor, prazer, para que essa educação ambiental se torne significativa e fonte transformadora de ações socioambientais. A aventura e prazer são elementos essenciais no desenvolvimento sensível e crítico dos seres humanos, são essenciais para que os conteúdos e valores transmitidos e ensinados tenham significado para quem está aprendendo. – 19 – Como diz Marinho (2004, p.12), “[...] a educação formal deixa suas funções a desejar, uma vez que parece se ater apenas a um ensino teórico massivo ou a práticas esvaziadas de conteúdos e, nesse processo, com o sentido de superação, a educação para o lazer e a educação ambiental têm ambas como finalidade a formação de sujeitos conscientes, sensíveis e críticos no que se refere ao tempo livre e à natureza.”. Considerações Finais Torna-se premente, então, pensar em novas formas de integrar aventura, educação e experiências significativas. Para isso, foi criada uma pirâmide, a qual enfatiza os elementos integrativos primordiais: • Agregar valor • Eco-Inovações • Novas tecnologias • Link sociedade-aventureiro • Educação Ativa x Educação Passiva • Compreeder as Características da Sociedade Na base da pirâmide está a necessidade de compreender as características da sociedade atual. Sociedade que busca constantemente ser educada e que irá se aventurar cada vez mais na e com a natureza. É necessário, também, compreender melhor as diferenças e a importância das diferentes concepções de educação, que vão da educação ativa e participativa, até a educação passiva e mais tradicional. É importante que se entendam os link entre a sociedade e o aventureiro, o qual, muitas vezes, foi marginalizado e ignorado, mas que hoje começa a ser reconhecido e respeitado, por suas habilidades e por suas vivências emocionais. É fundamental que novas tecnologias colaborem, tanto para o processo educativo, quanto para se otimizar experiências vividas e para que as aventuras possam ser cada vez mais seguras. Num mundo que clama por sustentabilidade, não poderiam ficar de fora as eco-inovações, novas idéias, produtos e atividades que, não só sãos importantes para o ser humano, mas também, para – 20 – a preservação do meio-ambiente. E, finalmente, isso vai agregar valores que não são só econômicos, mas também, morais e éticos. Esses valores vão contribuir para o processo educativo e para otimizar a experiência da aventura. Referências CLOKE, P.J.; PERKINS, H.C. Commodification and adventure in New Zealand tourism. Current Issues in Tourism, New Zeland, n. 5, v.6, p. 521–549, 2002. CLOKE, P.; PERKINS, H. Cetacean Performance and Tourism in Kaikoura, New Zealand. Environment and Planning, New Zeland, n.23, v.6, 2005. ENDERSON, T. Performing Tourism, Staging Tourism: (Re) Producing Tourist Space and Practice. 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PIRES, A. L. Reconhecimento e Validação das Aprendizagens Experienciais. Uma Problemática Educativa. Sisifo – Revista de Ciências da Educação, Lisboa. 2, p. 5-20, 2007. REIS, A. C. Sentindo na pele: corpos em movimento na experiência turítica na natureza. In: Panosso-Netto, A e Gaeta, C. (Eds) Turismo de Experiência, São Paulo: SENAC, p. 297-313, 2010. RIBEIRO, I. C. Ecologia de corpo e alma e transdisciplinariedade em educação ambiental. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1998. TAHARA, A.K., DIAS, V.K., SCHWARTZ, G. M. A aventura e o lazer como coadjuvantes do processo de Educação Ambiental. Pensar a prática, Goiânia, n.9, v.1, 2006 TRIGO, L. G. G. A viagem como experiência significativa. In: PANOSSO-NETTO, A.; GAETA, C. (Org.) Turismo de Experiência, São Paulo: SENAC, 2010, p. 21-41. VARLEY, P. Confecting adventure and playing with meaning: The adventure commodification continuum. Journal of Sport & Tourism, n. 11, p. 173-194, 2006. – 22 – ATIVIDADES DE AVENTURA, TECNOLOGIAS E ENVELHECIMENTO Edmundo de Drummond Alves Junior Ao se pensar em tecnologia, logo vem à mente o novo, a busca por maior eficiência com menor esforço, algo que tem a ver com o moderno, o ser jovem; já o envelhecimento, nos leva a pensar em algum tipo de desgaste, a necessidade de substituição, uma fraqueza, ou ainda, uma etapa que, no que toca o curso da vida, sugere o indivíduo ultrapassado, antigo, sem função, o velho. A estes dois temas acrescentarei à minha discussão as práticas corporais de aventura, que trazem em si a incorporação da idéia de um novo modelo de vida moderno, que atrai os mais intrépidos, em geral jovens destemidos amantes da adrenalina. Acrescento a estas práticas corporais, cujas fronteiras são bem flexíveis, um grupo de atividades que acabam por se confundir com a categorização anterior, que são as atividades que dependem da natureza e têm sua prática exclusivamente em contato com um meio ambiente que não foi totalmente dominado. Quem tem quarenta anos hoje não é a mesma pessoa que teve quarenta anos no início do século passado, como exemplo, o processo seletivo dos atletas americanos que pretendem competir em Londres nas Olimpíadas tem duas mulheres, ambas têm mais de quarenta anos (CROUSE 2012, p.1). O aumento da expectativa de vida e da longevidade humana também acontece no campo de práticas corporais, como na dos esportes, seja nos de lazer como de alta performance. Não envelhecemos da mesma maneira do que nossos antepassados. No montanhismo brasileiro, Jean Pierre Von der Weid comemorou cinquenta anos de escaldas (COSTA 2012, p.6). É interessante saber, por intermédio do seu relato, a importância da tecnologia a serviço do montanhismo, levando-nos a pensar que isto se apresenta em outras práticas corporais. Outro exemplo sai de atividades com– 23 – petitivas, e não se trata de torneios másteres, que são campeonatos que chegam a ter pessoas com mais de 100 anos competindo. Vide o documentário denominado ‘Atletas do tempo’ (SPORTV, 2012). Em 2010, no Campeonato Mundial de Vela categoria Star. Gastão Brun, então com 65 anos, competiu ao lado de jovens e veio a ser o 20º colocado na classificação geral (DORO, 2010). Pierre Bourdieu (1980, p. 145) sugere que, de forma semelhante à juventude, a velhice é uma categoria socialmente construída, e assim diz ele: “[...] a idade é uma variável biológica socialmente manipulada, por esse motivo plena de ambiguidades que não serve como único parâmetro para dizer quando alguém é velho.”. Propomos a desconstrução dos preconceitos relacionados a uma determinada idade que, entre outros, impede a prática de atividades como as de aventura e na natureza. Encontramos nos estudos do lazer e da animação cultural, (MELO, ALVES JUNIOR, 2012) a contribuição teórica que se junta às reflexões que fazemos sobre a intergeracionalidade, o princípio do educar pelo e para o lazer (ALVES JUNIOR, 2001). A cidade passa a ser um equipamento de lazer. O Rio de Janeiro é peculiar no que tange às praias, lagoas, Unidades de Conservação com vias de escalada e trilhas diversas, as rampas de vôo livre, entre outros. Sem necessitar grandes deslocamentos, a cidade possui uma gama bastante variada de possibilidades de práticas na natureza. Consideramos estas práticas corporais como um fato social, investigações têm sido produzidas envolvendo a cidade e as práticas. Sandoval Villaverde (2003) investigou o Grupo de Caminhada Alternativa de Vida e o Clube dos Excursionistas do Rio de Janeiro. Junto com Cleber Augusto Gonçalves Dias desenvolvemos o que chamamos de Observatório dos Esportes na Natureza, que veio a ser um dos projetos especiais da Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio de Janeiro. Nossa opção pelo Rio de Janeiro ficou marcada no livro Entre o Mar e a Montanha (DIAS, ALVES JUNIOR, 2007). Este livro – 24 – antecipou a edição de um trabalho coletivo, ao qual demos o título de “Em Busca da Aventura” (DIAS, ALVES JUNIOR, 2009). Já nestes momentos percebíamos a presença cada vez mais acentuada de pessoas mais velhas nas atividades na natureza. O caso do montanhismo no Rio de Janeiro é um exemplo que permite perceber a convergência de um número importante de pessoas mais velhas misturadas aos mais jovens, no que chamaria de trocas intergeracionais, as quais lá são possíveis de serem realizadas, mesmo que isto não seja verbalizado por seus freqüentadores. Diria que a intergeracionalidade é sugerida como uma das formas de diminuir o preconceito com relação ao envelhecimento e à velhice (ALVES JUNIOR, 2006). Nesta convivência possibilitada pela estrutura na qual se organiza o clube, os participantes mais velhos atuam, tanto na organização das atividades dos clubes, nos cursos que formam novos escaladores e também na participação de atividades como as de trecking, existindo aqueles que, com mais de cinqüenta anos, continuam escalando vias com certo grau de dificuldade. Não resta dúvida de que a utilização de ambientes naturais para determinadas práticas corporais está profundamente articulada com a criação de novos símbolos de consumo da cultura esportiva. Esses símbolos estão relacionados a imagens de aventura, coragem, audácia e jovialidade. Não se trata, assim, de um fenômeno social ingênuo e que atrai às suas práticas jovens ‘viciados em adrenalina’, considerados por muitos como irresponsáveis, pessoas que gostam de testar os limites humanos e viver perigosamente desafiando o risco de acidentes. Atualmente, temos também de reconhecer que estamos diante de uma forte indústria do entretenimento que alia a busca pelo lucro que estas práticas podem sugerir ao forjamento de um sistema de valores muito peculiar, no que diz respeito ao ser jovem, moderno e inserido no mundo atual. Nesses termos, aderir a um esporte de aventura e na natureza significa, na prática, associar-se a um conjunto de símbolos definidores de identidade. No caso daqueles que têm mais de sessenta anos, idade – 25 – que, no Brasil, a legislação considera para identificar quem é idoso ou velho se junta outro fato que foi assunto de reportagem no mês passado na Folha de São Paulo (ROLLI, 2012). Trata-se do crescimento do potencial de consumo daqueles que têm mais de sessenta anos. Lazer junto com alimentação e saúde canalizam estes novos consumidores. Aqui um parêntese se faz necessário, não podemos ser ingênuos ao lermos estes dados, de que haja uma generalização destas condições ao conjunto dos velhos brasileiros e que afinal tudo estaria bem com os velhos brasileiros, fato este que, mesmo que fosse verdade, não justificaria afirmar que esta seria a ‘melhor idade’ ou a ‘idade feliz’. Na verdade, estas classificações visam homogeneizar um grupo social que nada tem de homogêneo e traz em si a negação do processo normal do envelhecimento, que camufla a inexorabilidade da velhice e acaba por ignorar a precariedade de recursos da grande maioria dos velhos brasileiros. Estes não podem ser comparados a um contingente ainda reduzido de idosos que envelhecem com boas condições (ALVES JUNIOR, 2011). Temos de admitir que a indústria do entretenimento já está alerta e percebe que há profundas mudanças nos interesses daqueles que envelhecem. Numa rápida consulta ao Google verificamos que, por meio da entrada ‘Esportes Radicais e Terceira Idade,’ já se apresentam diversos sites oferecendo pacotes exclusivos para este segmento. Trago aqui o exemplo encontrado no site Webadventure que, no ano de 2003, assim divulgava seus serviços: “Terceira idade nos esportes de aventura” (JORGE, 2012). Apesar de podermos incluir práticas que já atingiram certa maturidade, como a vela, esportes de prancha e o montanhismo, a verdade é que, mesmo estas atividades não são mais praticadas como no momento de sua organização inicial. Em determinados momentos, trata-se mesmo de outras práticas. Como exemplo saído do montanhismo, sabemos que a evolução foi significativa, já que, num primeiro momento, não tão distante assim, se utilizavam cordas de sisal, hoje, temos as cordas de nylon e certificadas, o material é muito mais leve e seguro. Além disto, temos os fixadores e a maior leveza de outros equipamentos, como roupas e calçados, sem contar a inclusão na – 26 – prática do GPS. Se pensarmos no surfe, mesmo que ainda tenhamos os adeptos dos pranchões, é fato que ninguém buscará esta prática com base naquelas pranchas que eram preparadas com madeirite. Foi a partir dos anos sessenta, com o prenúncio do grande crescimento do número de pessoas que se considerava como velhos e com a generalização dos sistemas de aposentadoria, principalmente em países mais desenvolvidos, que se passou a pensar em um modo de vida para aqueles que envelheciam, que não mais se fundamentava no desengajamento e na diminuição das atividades. Com relação a este período falei de uma “Pastoral do envelhecimento ativo” como tendência que servia à descaracterização do que se considerava como mau envelhecimento, de outro que seria considerado como bom envelhecimento (ALVES JUNIOR, 2011). Considerações Finais Independente da atividade escolhida, verificamos a capacidade das práticas corporais de aventura e na natureza de agregarem praticantes que acompanham a tendência que valoriza, neste homem contemporâneo, a busca por uma excitação agradável, a qual é encontrada nestas práticas. Elias e Dunning (1992) contribuem bastante para este tipo de leitura, e tal como um ‘jogo de vertigem’, que nos permite pensar em Roger Callois (1990), o praticante estaria mais propenso a se engajar cada vez mais em novas experiências, as quais, graças aos avanços tecnológicos, são cada vez mais desafiadoras e emocionantes, fazendo com que os limites individuais estejam sempre postos em questão. Acrescento que, no caso das práticas realizadas por meio de sua forte inserção e fundamental dependência da natureza, acompanham também uma nova postura ambientalista, que aproxima os urbanos do século XX e deste século XXI, a terem um maior diálogo com o meio ambiente. Aposto no crescimento do número de pessoas que procuram estas atividades que, cada vez mais, terão pessoas com mais idade e credito principalmente a este fato o envelhecimento de antigos praticantes, que não deixaram de praticar durante o processo do enve– 27 – lhecimento, sendo estes praticantes capazes de compreender possíveis limitações, que farão com que eles se adéquem a uma nova realidade. Agrada-me falar no conceito de geração para explicar muitos dos fatos sociais que agora acontecem, no que toca alguns velhos de hoje: a prática de atividades físicas faz parte desta realidade. Referências ALVES JUNIOR, E. D. A pastoral do envelhecimento ativo, Rio de Janeiro: Apicuri, 2011. ALVES JUNIOR, E. D. O Grupo de caminhada alternativa de vida. In: Coletrânea do II seminário lazer em debates, Belo Horizonte: UFMG, 2001. ALVES JUNIOR, E. D. Pondo em prática a intergeracionalidade, In: MELO; TAVARES , O Exercício Reflexivo do Movimento, Rio de Janeiro: Ed Shape, p. 264- 281, 2006. BOURDIEU, P. Questions de sociologie, Paris: Ed Du Minuit, 1980. CALLOIS, R. Os jogos e os homens. Lisboa: Cotovia, 1990. COSTA V., 50 anos subindo pelas paredes, Jornal O Globo, seção esportes, 22 de abril de 2012, p.6 DIAS, C. A. G., ALVES JUNIOR, E. D. Entre o Mar e a Montanha: esporte aventura e natureza, Niterói: Eduff, 2007. DIAS, C. A. G.; ALVES JUNIOR,E. D. Em busca da aventura: múltiplos olhares sobre esporte lazer e natureza, Niterói: Eduff, 2009. – 28 – DORO B. Classe dos tiozões: Star tenta conciliar juventude de campeões com tradição, Rio de Janeiro UOL esporte, 20 de janeiro de 2010, disponível em, <http://esporte.uol.com.br/vela/ ultimas-noticias/2010/01/20/classe-dos-tiozoes-star-tenta-conciliarjuventude-de-campeoes-com-tradicao.jhtm> acessado em 03 de julho de 2012. ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992. CROUSE, K. Aos quarenta anos, Jornal O Globo, seção esportes, 03 de março de 2012, p.1. MELO V. A.; ALVES JUNIOR, E. D., Introdução ao Lazer, 2 edição, Barueri: Manole, 2012. ROLLI C. Cresce potencial de consumo dos idosos, Folha de São Paulo, Editoria Mercado, B1, 10 de junho de 2012. SPORTV reporter, Atletas do Tempo, divulgado em 06 de junho de 2011, disponível em http://globotv.globo.com/ busca?q=Atletas+do+Tempo consultado em 07 de julho de 2012. VILLAVERDE, S. M. Subjetividade, amizade e montanhismo: potencialidades das experiências de lazer e aventura. Tese (Doutorado em Educação fïsica) Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2003. – 29 – SOCORRO, TURISMO PARA TODOS Carlos Alberto Tavares de Toledo A cidade de Socorro/SP (nome originado da padroeira N. S. do Perpétuo Socorro), hoje com 37.000 habitantes, foi fundada em 09/08/1829. Com o relêvo da Serra da Mantiqueira, clima ameno e às margens do Rio do Peixe, proporciona um cenário de rara beleza, excelente para a prática do Turismo, mais notadamente três segmentos: Ecoturismo, o Turismo de Aventura e o Turismo Rural. Devido à qualidade das águas minerais, ela ingressa no Turismo em 1945, passando em 1978, à condição de Estância Hidromineral. No final da década de 60, Socorro passa a produzir o tricô - costume trazido pelos imigrantes italianos que integraram a nossa população na época da cultura do café e do fumo – em máquinas, industrializando o tricô. Isto deu origem a esse pólo regional de malharias, hoje um setor de grande geração de emprego e renda para nossa comunidade. Em 1994, com a chegada do Turismo de Aventura e em 1996, com a criação do Conselho Municipal de Turismo de Socorro, começamos a trabalhar além do Turismo de Aventura, com o Ecoturismo e o Turismo Rural. O Turismo passa a ser e ter um desenvolvimento significativo, com o aproveitamento da exuberância de nossos atrativos naturais, o que possibilitou a atuação em oito segmentos diferentes de Turismo, sendo os principais ligados ao ambiente natural rural. Todas as atividades de Turismo de Aventura são praticadas em seis parques privados na zona rural, que contam com completa infraestrutura necessária. Com a implantação de nove programas e projetos, Socorro se tornou um dos 10 Destinos Referência em Turísticos no Brasil para Ministério do Turismo, por termos implantado o conceito do Turismo para Todos, proporcionando, assim, turismo de qualidade para turistas, independente de sua idade ou condição física. O programa Aventura Segura, implantado pelo Ministério do Turismo unicamente em 17 destinos no país, qualificou os presta– 30 – dores de serviços de Turismo de Aventura. O projeto Aventureiros Especiais adaptou 10 atividades de Turismo de Aventura para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e o projeto Socorro Acessível, adaptou logradouros públicos, empreendimentos privados e capacitou e sensibilizou pessoas para melhor atender a esse público alvo, incluindo entre estes a melhor idade. Socorro conta em seu cenário rural com mais 2700 propriedades agrícolas atualmente, mais de 80% das propriedades familiares, bem como, os serviços são executados por mão de obra familiar. Estes pequenos produtores, sozinhos ou consorciados estão, aos poucos, indo em direção ao Turismo Rural, visando à melhoria da renda com a perspectiva de agregar valor ao produto agrícola, como o café, banana, batata doce, abóbora seca e transformando o leite em doces e queijos. O mel é outro produto que vem ganhando força, com o projeto Casa do Mel da Associação Rural do Bairro dos Cubas e também os produtos organoagrícola, da Associação dos Produtores do Bairro dos Pereiras. Estamos estrategicamente participando ainda no Turismo Rural, visando gerar emprego e renda na zona rural. O Talentos do Brasil Rural - programa do Ministério do Turismo em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário – representa um projeto, no qual o nosso roteiro turístico “Caminhos da Roça” (seis empreendimentos rurais sendo quatro deles da agricultura familiar) é o único do Estado de S. Paulo que foi aprovado em todas as fases entre os 24 roteiros existentes no Brasil. Hoje, Socorro é um destino de benchmarking, onde se recebem visitas técnicas de empresários de todo o Brasil e do exterior em Socorro, com o intuito de conhecer para replicar nossa experiência como melhores práticas. Socorro está trabalhando alinhado ao Plano Nacional do Turismo - Uma Viagem de Inclusão, que é fruto do consenso nacional de todos os segmentos turísticos comprometidos no objetivo comum de transformar a atividade de turismo em um importante mecanismo de melhoria da atividade econômica e fazer do Turismo um indutor do desenvolvimento e da inclusão. – 31 – LAZER, AVENTURA E TECNOLOGIA NA CULTURA POPULAR Carmen Maria Aguiar Este texto retrata algumas questões referentes a práticas culturais, destacando aquelas ilustrativas no campo do entretenimento e do lazer, que envolvem atividades caracterizadas por algum grau de risco ou aventura e por utilizar recursos tecnológicos oriundos de culturas populares e/ ou criadas por comunidades tradicionais. Há uma variedade de possibilidades que garantem que mais pessoas possam vivenciar com prazer, não apenas as atividades lúdicas propriamente ditas, mas também, aquelas que se adequam ao lazer da população, sendo executadas com prazer, ou mesmo, encontrando em cada uma um viés lúdico e criativo. A observação e o registro de tais práticas possibilitam uma reflexão sobre os modos como a população realiza e vivencia suas atividades de caráter lúdico, muitas vezes associadas ao trabalho, a festejos e a outros afazeres, expondo habilidades, conhecimentos e saberes, gerando nova criação, invenção e elaboração de recursos culturais e tecnológicos e, até, outros instrumentos destinados ao entretenimento, garantindo, assim, o lazer da comunidade. Os dados apresentados ao longo deste texto foram extraídos de uma pesquisa qualitativa mais ampla, em que foram investigados eventos caracterizados pela presença de elementos lúdicos e que são explorados pela cultura local, de diversos estados brasileiros. Os procedimentos metodológicos adotados, além de uma extensa revisão de literatura, contemplaram a investigação em campo, em que se priorizou a vivência de práticas por meio da observação e da pesquisa participantes, recursos tradicionais no campo da Antropologia. Do material coletado nessa pesquisa mais ampla, foram selecionados alguns exemplos de práticas culturais e lúdicas – vivenciadas por comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas – caracterizadas pelo uso de tecnologias, ora bem simples, ora mais – 32 – complexas, por seu caráter criativo, em geral refletindo a cultura local, suas técnicas e materiais disponíveis. É preciso destacar que muitas atividades lúdicas surgem a partir de necessidades associadas ao trabalho ou aos afazeres do próprio cotidiano de uma comunidade. É o caso de comunidades ribeirinhas, que, utilizando material disponível no seu ambiente e tecnologia desenvolvida por eles mesmos e transmitida dos mais velhos para os mais jovens, constroem jangadas feitas de troncos de bananeiras atravessados ou fixados em troncos finos de árvores e amarrados com cipós ou cordas trançadas de embira, a fim de explorar os recursos do rio, seja coleta de alimento, como peixes, seja como transporte para locais de plantação ou de caça. Depois, essas jangadas são utilizadas por jovens e crianças em aventuras, descendo corredeiras ou em competições de remo. Nessas atividades, desenvolvem seu potencial físico e habilidades essenciais para sua manutenção e sobrevivência. As manifestações culturais congregam cultura e educação, em geral, conjugam crenças e brincadeiras, reúnem adultos e crianças e utilizam a troca de saberes como veículo de sociabilidade entre os participantes, por intermédio de um processo social dinâmico, no qual diferentes elementos socioculturais servem como meio para o ensino e o aprendizado de tradições culturais. Os elementos lúdicos comumente permeiam os processos culturais vividos somando-se a outros processos e práticas sociais (AGUIAR, 2010). A tecnologia mais moderna desenvolveu recursos poderosos para permitir atividades mais arriscadas, mas populações sem acesso a essa possibilidade continuam a se aventurar utilizando seus próprios meios. Assim, invenção, criação e utilização de recursos tecnológicos nascem do ambiente natural em que o ser humano viveu quase toda sua história. As matas fornecem, em várias culturas, o cenário e o material para essas atividades. É muitas vezes necessário subir em árvores muito altas, em um coqueiro ou em uma palmeira, para coletar alimento ou outro recurso, como folhas e talos a fim de cobrir moradias. São vários os métodos desenvolvidos para essa escalada: há desde corridas desembaladas em direção à árvore, que permitem ao executor da tarefa alcançar uma altura – 33 – razoável subindo correndo pelo tronco, até subidas lentas ora abraçado ao tronco com pernas e braços, ora com apoio de cordas presas aos pés, mas sempre envolvendo uma boa dose de risco como também de risos. Das matas também se pode utilizar um tronco de árvore com abertura oblonga, que batido com um bastão fazia ressoar sinais acústicos para transmitir mensagens (BARDI, 1982). Entre índios brasileiros, esse tambor era um instrumento de comunicação que apresentava muita eficácia devido ao som que emitia uma sonoridade capaz de alcançar distâncias quilométricas. Eram utilizadas batidas específicas, informativas e significativas, que serviam de meio de comunicação e de transmissão de mensagens. Essa tecnologia possibilitou a ampliação dos horizontes das atividades, muitas vezes de risco, ou de aventura, do mesmo modo que hoje o fazem telefones móveis e aparelhos de GPS. Ainda nas matas, índios confeccionam arcos e flechas com recursos disponíveis no seu ambiente, e saem para caçadas necessárias à sua alimentação. É muitas vezes um trabalho árduo e perigoso, mas, no qual, encontram prazer e diversão. É um trabalho para adultos, do qual os mais jovens se aproximam aos poucos, praticando em suas brincadeiras ou participando em momentos mais seguros, até dominarem os conhecimentos que lhes são transmitidos. Seja nas águas de um rio ou no meio da mata ou em áreas já urbanizadas, na zona rural ou nas cidades, atividades variadas vinculadas à cultura local percorrem o mesmo caminho de atrelar recursos disponíveis à busca de aventura e/ou prazer. Como em uma comunidade rural, em que a fixação de um balanço, por meio de cabos de aço, ao alto de uma grande árvore, com alças chegando a 20 metros ou mais de comprimento, possibilita que moradores locais se aventurem em verdadeiros “vôos” sobre copas de árvores menores e barrancas profundas. Ou no caso de uma gangorra feita de um longo tronco de árvore fixado ao centro em outro tronco que lhe serve de apoio, num sistema que tanto permite o movimento de oscilação quando o de rodopio, e na qual várias crianças se apinham num jogo de equilíbrio e desafio. – 34 – Assim, em cada contexto social e geográfico nascem práticas lúdicas que envolvem conhecimentos, renovados diariamente com novos experimentos, atrelados ao ambiente (composição do solo, tipo de vegetação da mata ciliar, características de minerais, volume e profundidade das águas, etc.) e ao desenvolvimento físico e intelectual, crítico e criativo, dos moradores daquele local. É comum se observar índios brincando, após enchente, no braço de um grande rio, com grandes troncos trazidos pelas águas, ora utilizados como trampolim, ora como barreira a se transpor mergulhando por baixo. Crianças, jovens e adultos criam brincadeiras e desafiam as fortes corredeiras turbulentas. As barrancas, lavadas pelas águas, viram campo para jogar bola, desenhar em areias, brincar de pega-pega, corrida, fazer piruetas com seus corpos. O cenário, ao mesmo tempo em que serve de espaço lúdico, revela o modo como nessa cultura os eventos naturais são incorporados em suas vidas como fonte de lazer e aprendizado. Adicionalmente, essas práticas resultam em melhoria das condições físicas e respiratórias, que facilitam o desempenho nos afazeres diários e promovem uma vida saudável. Em diversas regiões brasileiras, encontramos, nas águas, uma série de exemplos de atividades de caráter lúdico desafiadoras, que colocam à prova o corpo, a sensibilidade e a coragem de cada indivíduo e do grupo como um todo. O conhecimento do ambiente e seus recursos, base da cultura local, mapeia o tamanho dos desafios, ao se avaliar a altura de uma cachoeira, de onde se salta, a profundidade do rio, em que se mergulha, o percurso e a lisura das pedras de um tobogã natural, em que se deixa deslizar por corredeiras d´água. O conhecimento, representado pelo comportamento humano contextualizado, vai causar impacto sobre a vida social e sua dinâmica. “[...] ‘Saber´ tem duplo sentido [...] sempre foi esclarecer a ordem cósmica e psíquica, que é “saber” na acepção mais popular do termo e que está na raiz da ideia de ciência. Ao mesmo tempo, “saber” é “criar”, fazer alguma coisa, o – 35 – que está na raiz da ideia de arte. [...] Entender a ordem cósmica e psíquica e criar, que aparentemente nada a ver um com o outro, leva à ciência, que é um ato de puro de saber, assim como a arte e a técnica são atos puro do fazer. [...] As crianças, assim como a humanidade, têm um comportamento evolutivo em seu aprendizado que vai do comportamento individual ao social e finalmente ao cultural.” (D´AMBROSIO, 1990, p. 60-61) Outro exemplo de atividade tradicional, de comunidades quilombolas e caiçaras, executada nas águas do litoral norte do Estado de São Paulo e sul do Estado do Rio de Janeiro, envolve modos lúdicos associados ao convívio social e a brincadeira infantil. Naquela região, ao pé da Serra do Mar, em vários municípios, filhos de pescadores executam uma espécie de treinamento para o mergulho, em que elementos como tronco de árvores, de espécie apropriada, colocados na água para indicar variações de profundidade, demarcam os riscos e delimitam as habilidades individuais para enfrentá-los. Os adultos preparam a madeira e as crianças se encarregam de cuidar para que a brincadeira gire em torno de suas peripécias. Novamente, o contexto cultural explora as condições e os recursos locais. Acreditam que a felicidade, a criatividade e o aprendizado devem acompanhar a vida infantil por meio da credibilidade atribuída ao grupo de crianças, as quais devem aprender a ter responsabilidade, descobrir seus limites e cuidar uns dos outros. “[...] O grupo, ou a cultura, é imanente ao indivíduo, mas este reencontra-se no grupo. [...] É importante ter em mente que a parte, o individual, a espécie, o singular não se separam, enquanto diferenças, do todo, do grupo, do gênero, da natureza comum ou universal” (SODRÉ, 2000, p. 139). Lidar com a cultura e suas fronteiras requer um pensamento e uma ciência nômade para circular do folclore à antropologia, da história da arte à comunicação (GRUZINSKI, 2001). – 36 – O equilíbrio instável das culturas deixa muitas questões ainda embaraçosas, pois suas fronteiras são ao mesmo tempo reais e imaginárias. Referências AGUIAR, C. M. Educação e saberes: correlação com a natureza e a cultura. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. BARDI, P. M. A madeira desde o pau-brasil e a celulose. São Paulo: Banco Sudameris Brasil S/A, 1982. D’AMBROSIO, U. Etnomatemática. São Paulo: Ática, 1990. GRUZINSKI, S. O Pensamento mestiço. São Paulo: Cia das Letras, 2001. SODRÉ, M. Claros e escuros. Petrópolis: Vozes, 2000. – 37 – TECNOLOGIAS E AVENTURAS PARTICIPATIVAS: POSSIBILIDADES DE PRÁTICAS CRÍTICO-HUMANIZADORAS Tereza Luiza de França Levantar reflexões e posições frente a esta temática, por sua complexidade, impõe explicitar o entendimento acerca dos dois conceitos básicos que a constitui: tecnologias e aventuras articipativas. Aqui, o conjunto destes conceitos é concebido como práticas crítico-humanizadoras, um ato de amor, coragem, respeito, ética, criação, ludicidade que, ao serem expressas, dialogam e constroem com sentimentos, fascínios, encantamentos, prazeres, conhecimentos. Não numa perspectiva ingênua, pois na verdade nada aqui tem de ingênuo. Mas, uma práxis de humanização, socialização e singularização, que permite romper com a visão de mundialização individualista, para fundamentarse em princípios de apropriação/pertencimento do patrimônio humano – o conhecimento. Com estas convicções, buscamos, na relação do impulso racional, sensível e lúdico, explicitar esses conceitos, tomando três poesias como ponto de partida para melhor compreendê-los. – 38 – A TECNOLOGIA DO MEU SER Minha televisão É o sol e o mar brasileiros Meu rádio É o som das asas do beija-flor Voando pelo mundo Minha internet É uma pequena carta Em uma garrafa no mar O qual tem a missão de levá-la Ao correio de um pintor da felicidade Minha lâmpada É o sol a sorrir Meu perfume preferido É a rosa desabrochando na primavera da Alemanha Meu trabalho É fazer a pedra virar amor Meu amor verdadeiro É sentir cada gota da chuva A tocar meu corpo Levando os ingredientes da vida Minha vida...é saber...que continuo Caminhando entre as flores do coração. 1 (ANA CLAUDIA DE SOUZA, 2012) 1 A escolha desta poesia significa que compreendemos as Tecnologias em sua dimensão humana sensível, que contribui para a vivência de práticas crítico-humanizadoras, no sentido da valorização do desenvolvimento humano. Dentre outras possibilidades, as tecnologias apresentam-se como: tecnologia clássica, tecnologia avançada, tecnologia da comunicação e tecnologia elétrica fundamental, as quais constituem e contribuem com os campos de conhecimento centrados nos avanços técnico-científicos de processos e materiais criados na evolução humana, pelo uso de ferramentas das simples às ferramentas complexas. Portanto, fazer uso deste termo no plural significa compreendê-lo na sua antiguidade, atualidade, amplitude e complexidade, que se apresenta como campo do conhecimento. 1 Disponível no site: http://www.brasileiros-na-alemanha.com/portal/ – 39 – AVENTURAS Na abstração não se veem os voos alçando as estrelas nas asas da imaginação Não são ouvidos os gritos e os ecos indefinidos, ecoando, mudos, presumidos Na vestimenta apenas se apresenta alguém mediano, nas letras aventurando No universo das alegorias pinçando palavras, a pérola no âmago da ostra, viajando nas fantasias... 2 (EDILOY A C FERRARO, 2010) 1 Aventuras são práticas criativas nas mais diferentes dimensões do quefazer, no sentido freireano, em que a boniteza, a amorosidade, a humanização, a descoberta do fluxo, o risco calculado nascem da busca de ser coerente ao expressar-se. Realidade, pensamento, expressividade e linguagem trazem do quefazer aventureiro a unidade na multiplicidade do ser, que se efetivam como seres de reflexão-ação, humanizados, críticos e transformadores. Este quefazer aventureiro tem sido amplamente discutido nos últimos anos, em razão, entre outros fatores, do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), que divulga a situação de desgaste do planeta Terra. De acordo com o relatório, só a mudança de atitudes e de valores da população mundial pode conter, de forma significativa, os efeitos de tal desgaste. Neste sentido, pensamos que as discussões, estudos e pesquisas acerca das tecnologias, numa relação direta com as práticas de aventuras, contribuem para a formação de cidadãos críticos, reflexivos e capazes de intervir nas realidades local, regional e global. 2 Disponível no site: http://sitedepoesias.com/poesias/58746 – 40 – ARRISCAR Há pessoas que nunca se interrogam sobre o que se avista do alto de uma montanha ou sobre se é possível lançar o disco a 100 metros de distância. Essas pessoas nunca arriscam… Há pessoas que nunca perguntam qual é a causa da pobreza ou porque é que outras pessoas parecem infelizes. Essas pessoas nunca arriscam… Há pessoas que nunca tentam modificar o que está mal ou modificar-se a si próprias. Essas pessoas nunca arriscam… Há pessoas que nunca sonham com um mundo mais justo nem com a liberdade e a paz. Essas pessoas nunca arriscam… Felizmente que algumas pessoas são capazes de arriscar.3 (LEIF KRISTIANSON,1982) 1 Ao adjetivar aventuras como Participativas, compreendemos que estas implicam num quefazer caracterizado pela participação em vivências, experiências e construções forjadas no caminho que se faz caminhando, com múltiplos olhares na e para a totalidade que as constituem. Nesta unidade de pluralidade, o homem, em suas dimensões, relaciona-se consigo, com o outro, com o mundo. É uma participação qualificada, nutrida pela sua totalidade, solidariedade, dialogicidade, emancipação, territoriedade, que sensibiliza, motiva e estimula o espírito de buscas e descobertas criativas despertadoras de curiosidade do sentido e significado desta mesma aventura. Significa reconhecer que as construções/produções não se encerram em momentos singulares da humanidade, mas se constroem e se (re) constroem em movimentos cíclicos, pela vontade político-formativa de aprender a arriscar-se, numa relação motivadora de confiança e compromisso com as aventuras. 3 Disponível no site: http://historiasparaosmaispequeninos – 41 – Conceber as aventuras permeadas pela participação não significa tomar a participação como estratégia ou recurso. Mas, significa atitude de respeito, de colaboração, no sentido de ajuda mútua para o desenvolvimento humano. É criar ambientes com autonomia e emancipação, que contribuam para a construção de conhecimento na perspectiva da formação humana. Aventurar-se participativamente nos reporta a compreender a idéia de participação, isto é, do trabalho associado e cooperativo de pessoas em situações que requerem respeito e diálogo, se constituindo pela reflexão crítica destas práticas, isto é, da responsabilidade de exercer sua autoridade e liberdade. Tomando os escritos de LÜCK (2006), compreendemos a participação como: presença – sentido de pertencimento; expressão verbal e discussão – liberdade de expressão; representação – caráter representativo; tomada de decisão - compartilhar poder e compartilhar responsabilidade nas decisões; engajamento – envolver-se dinamicamente nos processos sociais. É deste lugar que falamos. É neste contexto que compreendemos o papel das tecnologias nas aventuras participativas. Ou seja, numa estreita relação e incorporação destes dois conceitos. As tecnologias constroem e (re)constroem a realidade como cenário de práticas de lazer, em que o aventureio-tecnológico-participativo formata um conjunto de ações intencionais em prol da sustentabilidade, com a finalidade de contribuir para a humanização e emancipação do homem e para a formação de cidadãos críticos. Segundo Souza (2007), vamos nos tornando humanos ou nos desumanizando no decorrer de nossa vida conforme as condições que construímos. O que implica pensar e emocionar-se nas relações com a natureza. O ser humano é um ser de relações em constante mudança e transformação, pela necessidade de manter um equilíbrio harmônico e saudável com o meio natural, em todos os aspectos em que esta relação se concretize (TAHARA; DIAS; SCHWARTZ, 2006). E, as tecnologias, na perspectiva da humanização, impõem desafios para os estudos do lazer, no sentido de problematizar ações – 42 – atitudinais, para que os praticantes aventureiros possam intervir no seu tempo, solucionando questões plurais, para efetivamente fazer escolhas e tomar decisões com alternativas, possibilidades e probabilidades de um risco calculado à formação de sujeitos “tecnicamente inteligentes”. Aqui cabe uma pergunta: Quem veio primeiro, a tecnologia ou a sociedade humanizada? Muito se fala que as tecnologias são apropriadas para o uso de equipamentos, procedimentos e materiais técnico-científico, para a acumulação do capital, robotizando o humano pela automatização. Paul Virilio (1932, s/p) define “[...] a era da informática como algo perigoso, já que nos leva à perda da noção da realidade, quebrando distâncias e territorialidades e ainda proporcionando uma quantidade absurda de informações”. Dialogando com outros interlutores, que têm desenvolvidos estudos e pesquisas, constatamos ������������������������������������� novas perspectivas e avanços nas formas antigas de comunicação, experimentação e participação nas aventuras. Esses interlocutores reconhecem que a informática promove e garante integrações cada vez maiores e mais rápidas, possibilitando um legado de transformações nas alternativas processadas e transladadas, as quais aproximam ainda mais as manifestações de aventuras participativas, com predisposições e possibilidades estruturais para se integrar de maneira adequada a outros contextos. Assim, compreendemos face aos avanços tecnológicos, em que incorporam-se novos sentidos e significados, que a relação tecnologia e humanização aprimora e privilegia a diversidade, tendo uma base de técnicas para a integração social, para o viver e o relacionar-se com o outro.Um quefazer promovido nos mais diferentes ambientes, com a perspectiva de formação participativa. Aqui levantamos outra pergunta: É possível uma sociedade sem tecnologia? Não, não é mais possível, aliás, nunca foi possível uma sociedade sem a tecnologia. A tecnologia surge desde a criação da humanidade, quando, por exemplo, o homem descobre – 43 – “[...] o fogo, a roda, o arado, as lâminas, os transístores e foi autor de muitos outros inventos que lhe permitiram domesticar animais, cultivar a terra, erigir edifícios, fazer guerras e viajar aos confins subatômicos”(GAMA, 2005, p. 164). Os sujeitos, na historicidade, vão se constituindo, à medida que assumem comportamentos e atitudes valorativas, que percebem a tarefa educacional na perspectiva crítico-humanizadora, contribuindo para a formação de cidadãos conscientes de sua relação e responsabilidades no e com o mundo. Na dialogicidade entre as tecnologias e as aventuras participativas, cabe mais uma pergunta: Qual o lugar da tecnologia na nossa vida? Para nós, pesquisadores, educadores e praticantes de aventuras, pensarmos sobre esta questão torna-se necessário assegurar as exigências de uma reflexão de caráter filosófico, conforme nos alerta Saviani(1986, p. 24), ou seja, “[...] é preciso que se satisfaça uma série de exigências que vou resumir em apenas três requisitos: a radicalidade, o rigor e a globalidade. Quero dizer, em suma, que a reflexão filosófica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e de conjunto”. Os conceitos tecnologias e as aventuras participativas implicam num quefazer que surge da necessidade de inovar a práxis diferenciada, construída em situações-limites, “[...] além das quais se acha o inédito viável às vezes perceptível, às vezes não, se encontram razões de ser para ambas as posições: a esperançosa e a desesperançosa” (FREIRE, 2001, p. 138). A postura esperançosa em relação ao mundo das tecnologias e aventuras participativas é guia na busca pelo inédito, viável por novos projetos para viver a natureza com um pensar crítico-humanizador, que se materializa como ação complexa e em movimento constante, permeada por tensões, emoções, criações e inovações. Os elementos de um pensar crítico-humanizador se estabelecem nestas relações por via das mudanças sociais presentes no mundo da globalização/tecnologia em que: a) surgem novas formas de – 44 – relacionamentos sociais; b) a identidade social e pessoal ganha outra significação; c) há a criação de novos excluídos como, por exemplo, o analfabetismo digital. Tais elementos constituem unidade de apropriação do conhecimento contribuindo para a formação de sujeitos humanizados e críticos, conscientes da realidade social, da indissociabilidade da natureza. Esses sujeitos humanizados, ao vivenciarem as aventuras participativas, precisam compreender os limites e as possibilidades que as tecnologias oferecem e, para tal, vemos, na humanização e na criticidade, categorias da dimensão utópica do pensamento freireano, uma forma de “[...] diminuir a distância entre o sonho e sua materialização” (FREIRE, 2001, p. 126). Em busca desta diminuição é que estamos investigando, nas práticas de aventuras participativas, as contribuições das tecnologias com experiências inovadoras, como possibilidade de formação. As tecnologias e as aventuras participativas apresentam-se como temáticas relevantes e emergentes para trilhar novos caminhos epistemológicos e metodológicos. Nesta trilha inovadora defendemos três teses: 1) a necessidade de mudança do paradigma, 2) a redefinição dos papéis das tecnologias; 3) viver práticas humanizadoras com novas perspectivas na relação da natureza com o sujeito-mundo. Referências FRANÇA, T. L. de. Lazer – Corporeidade – Educação: o saber da experiência cultural em prelúdio. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2003. FREIRE, P. À sombra desta mangueira. 4. ed. SP: Olho D’Água, 2001. GAMA, D. R. N. da. Ciberatletas, cibercultura e jogos digitais considerações epistemológicas. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 2, p. 163-177, jan. 2005 – 45 – LÜCK, Heloísa. Metodologia de projetos: uma ferramenta de planejamento e gestão. 4ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005 SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 8ª. Edição. SP: Cortez, 1986. SOUZA, J. F. de. E a educação popular: ??Que?? uma pedagogia para fundamentar a educação, inclusive escolar, necessária ao povo brasileiro. Recife: Bagaço, 2007. TAHARA, A. K.; DIAS, V. K.; SCHWARTZ, G. M. A aventura e o lazer como coadjuvantes do processo de educação ambiental. In: Revista Pensar a Prática. Faculdade de Educação Física – UFGO. Goiânia. V. 9, n. 1, p. 1-152, Jan/Jun. 2006 VIRILIO, Paul. Tecnologias da Comunicação. In: Wikipédia. Paris, França, 1932 – 46 – A TECNOLOGIA, A AVENTURA E A SUSTENTABILIDADE: A ARTE DO EQUILÍBRIO SER HUMANO&NATUREZA Ivana de Campos Ribeiro Vivemos tempos de transformações rápidas, as quais têm marcado positivamente ou negativamente o cenário planetário. Transformações rápidas atingem níveis subjetivos do ser e podem afetar seu comportamento, uma vez que influenciam os valores e as atitudes humanas, em oposição à adaptação biológica, que é um processo natural e demanda tempo (ORNSTEIN, 2010). Os meios de comunicação de massa, hoje reconhecidos como tecnologias de informação (TIC) e comunicação, podem ser apontados como um dos maiores responsáveis por tão rápidas transformações. Na década de 60 o filósofo, educador e teórico da comunicação, Marshall McLuhan (1977), cunhou a expressão – aldeia global. McLuhan argumentava que o progresso tecnológico estava transformando todo o planeta em uma pequena aldeia e considerava a televisão como a grande responsável. No entanto, o vislumbramento de McLuhan partia dos serviços de satélite que começam a ser utilizados. McLuhan previa a homogeneização das culturas, com todos os seres humanos falando a mesma língua, usando as mesmas roupas e ouvindo as mesmas músicas, etc. O avanço das tecnologias de comunicação e informação tornou o planeta esta aldeia global. A World Wide Web (WWW) mostrou que McLuhan estava no caminho certo, embora ele desconhecesse algo além das imagens de TV via satélite. Não se tem dúvidas dos benefícios destas tecnologias, mas gostaríamos de destacar seu lado oposto, colocando também a reflexão de como as atividades de aventura podem se valer dos seus aspectos positivos das tecnologias e, sobretudo, como as atividades de aventura podem servir de antídoto contra os – 47 – aspectos negativos de tecnologias de informação, como a internet. Dentre os aspectos negativos, é notório que, com o avanço das tecnologias, as tragédias têm sido o tema principal nos meios de comunicação de todo o mundo. As guerras, a violência, surtos viróticos, a corrupção política, as drogas, catástrofes e destruição dos bens naturais1, a intolerância, a pobreza, entre tantos outros, se sobressaem às boas notícias. É claro que neste mundo de dualidades, estas também têm seus aspectos positivos, como o despertar a compaixão, a cooperação e a motivação para ações mitigadoras, mas, o que estas notícias proporcionam, na grande maioria dos casos, é a desilusão, a descrença, a desconfiança, o desamor, o desligamento da relação ser humanonatureza e muitos outros “des”, como prefixo de negação. Mais do que nunca, estes aspectos devem ser combatidos, pois são contrários à alegria de viver num mundo em equilíbrio, lembrando que são raras as pessoas que conseguem trabalhar estas informações positivamente, como por exemplo, extraindo delas apenas a motivação para tais ações mitigadoras, sem se deixar abater por elas. Um bom exemplo deste tipo de motivação está na Psicologia Positiva, movimento iniciado pelo o psicólogo Martin Seligman, quando, em 1998, assumiu a presidência da American Psychological Association (APA). Este movimento pretendia dar atenção às pesquisas sobre os aspectos positivos da emoção e valores humanos. Ao investigar as temáticas das pesquisas no campo da psicologia, ele percebeu que, em sua maioria, estas eram dedicadas aos aspectos negativos da alma humana. Nesse momento, um número especial da revista American Psychologist foi publicado em 2000, por Seligman e Czikszentmihalyi, no qual os artigos discutiam questões como o que permite a felicidade, como os efeitos da autonomia e da auto-regulação, como o otimismo e a esperança, afetam a saúde, o que constitui a sabedoria, como o talento e a criatividade podem ser concretiza1 Expressão utilizada por Ribeiro (2003), a qual marca a relação ser humano/natureza pelo aspecto afetivo e respeitosa em oposição à expressão recurso natural, de fundo utilitarista. – 48 – das, o papel das características positivas que tornam a vida digna de ser vivida. Este número destacou a necessidade de pesquisas que também abordem os aspectos positivos de potenciais humanos, a exemplo da esperança, da criatividade, da sabedoria, da espiritualidade, da felicidade e da coragem. Estas duas últimas, a felicidade e a coragem, estão diretamente relacionadas aos potenciais que as atividades de aventura atuam como promotoras. Da mesma forma, buscamos, nesta reflexão, levantar os aspectos positivos das tecnologias, em especial as TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) e do contato com a natureza como um caminho para a busca do equilíbrio socioambiental. Os conceitos como ponto de partida Significações e conceitos podem ser um bom caminho para a articulação de idéias. Assim: 1. Tecnologia, do grego tecno, técnica, arte, ofício e logia - logos, estudo, sendo um termo que envolve o conhecimento técnico e científico e, consequentemente, os instrumentos, processos e materiais desenvolvidos e/ou utilizados a partir desse conhecimento. Ela pode estar a favor da formação de uma cultura, a exemplo das culturas de massa pelos meios de comunicação, da modificação e até aniquilamento ou perpetuação da cultura ou ambientes, tanto no âmbito concreto como subjetivo. Lembrando que a arte é um termo que vem do Latim, ars, artis, também pode significar técnica ou habilidade (HOUAISS, 2001). 2. Aventura, do latim adventura, pode ser compreendida como um acontecimento imprevisto, surpreendente, que sucede imprevistamente, mas que pode estar carregado de acaso ou sorte, também podendo significar proeza ou ação arriscada (HOUAISS, 2001). 3. Sustentabilidade, de acordo com a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UN– 49 – CED) e segundo o documento Nosso Futuro Comum, também conhecido como relatório Brundtland, é “[...] o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras.” (WCED, 1987, p. 43). Estas informações levam a compreender que uma proposta metodológica é uma tecnologia, tanto quanto os equipamentos de segurança e aqueles utilizados como instrumentos ou acessórios para determinadas modalidades de atividades de aventura, ou as tecnologias de informação. Neste sentido a própria tecnologia, a aventura e sustentabilidade, estão interligadas, formando uma tríade retroalimentadora, cuja base deve ser a sustentabilidade. Considera-se que, tanto a tecnologia necessita estar baseada na sustentabilidade, seja ela no nível concreto, da produção de equipamentos, como as atividades de aventura devem ter como condição para a sua realização prática a sustentabilidade, tanto dos lugares onde são praticadas, como do usuário, principalmente em ternos de segurança. Neste sentido, faz-se necessário um olhar mais atento sobre os aspectos duais das tecnologias de informação e comunicação, para que se possam ressaltar seus aspectos positivos, ao mesmo tempo em que estes próprios aspectos passem a ser também promotores da sustentabilidade do usuário, uma vez que aspectos como a felicidade ou momentos prazerosos, ou mesmo a coragem, podem ser potencializados na prática das atividades de aventura. Enquanto as tecnologias de informação afastam o ser humano do convívio social presencial, estimulando as relações virtuais, explorando apenas a visão, audição e o movimento dos dedos em detrimento dos demais sentidos, reduzindo a relação corpórea com o mundo a um espaço limitado de uma sala, é esta mesma tecnologia que estreita distâncias e seduz usuários a desejar aventurar-se em alguma atividade em contato com a natureza, seja pelos desafios sugeridos pelas diversas modalidades de atividades de aventura, e/ou pelas belas paisagens que despertam o desejo de estar junto à natureza, expostas – 50 – em inúmeros sites especializados ou não. Aqui o substantivo despertar tem uma conotação mais profunda, uma vez que, segundo Tuan (1983) e Wilson (1997), há uma necessidade inata de convívio com espaços naturais. O conceito de topofilia (TUAN, 1983) aborda a relação afetiva que os seres humanos têm com os ambientes, paisagens ou lugares. A palavra topofilia vem do grego, sendo que topus significa lugar, enquanto filo, significa amor, amizade, afinidade. Já a atração que o ser humano tem pela natureza pode ser explicada pelo professor de biologia da Universidade de Harvard, Edward O. Wilson (1997). Sua hipótese, a da biofilia - do grego - o amor à vida, sugere que os humanos têm uma necessidade biológica de se relacionar com a natureza, com o ambiente natural, especialmente o meio biótico (plantas e animais). Trata-se de herança evolutiva enquanto espécie, uma necessidade genética. Em ambos os casos, destaca-se a relação afetiva com estes espaços. Vale aqui lembrar que, sendo o verde, a cor mais abundante em ambientes naturais, transforma-se em um cenário que, segundo a psicologia das cores, pode propiciar renovação, trazendo relaxamento,equilí brio e harmonia, reduzindo o estresse e a tensão, sendo um meio de baixar a pressão arterial (HELLER, 2007). Este despertar, que leva ao desejo das aventuras em contato com a natureza, pode desencadear dimensões de sustentabilidade que vão além da sustentabilidade física e psicológica do ser. O contato com a natureza estreita laços entre ela e seus usuários. São trocas de caráter subjetivo e que recaem sobre a sequencia que caracteriza a Educação Ambiental de Corpo&Alma (RIBEIRO, 2004; 2005; 2007). Esta sequencia, formada por fases, é um processo de desdobramentos, que têm início no contato com o corpo e do corpo com o meio circundante, a exemplo da natureza. Quando, às experiências com ambientes naturais (experiências afetivas), são somadas às informações conceituais (de ordem cognitiva) estas experiências tornam-se mais significativas. Este conjunto de estímulos racionais e sensoriais ou afetivos podem ser assim representados: na Fase 1 – Tomar Com-tato, onde a re-união entre razão (conceito) e emoção (vivência) desencadeia a – 51 – Fase 2 – Admiração, uma vez que ao conhecer a dinâmica e a fragilidade de um ecossistema, estes se transformam em razão para que seja mantido de forma sustentável. Esta somatória de contatos (razão e emoção) é a responsável pela admiração que, por sua vez, desperta a Fase 3, o Amor, uma vez que a admiração pode se transformar em amor. Assim, a Fase 4 é resultante deste amor, e é representada pelo desencadear do Respeito e, deste respeito, o desejo de conservar os ambientes que servem de cenário às aventuras alimentam a – Fase 5, Conservação, uma vez que conservamos aquilo que amamos e respeitamos. Percebe-se, então, que, valores humanos como admiração, amor, respeito e conservação são produtos de uma estratégia, cuja raiz está no conhecimento e nas experiências, daí as atividades de aventura serem uma excelente ferramenta para a promoção, não apenas destes valores, mas de atitudes coerentes com a sustentabilidade socioambiental. Reunindo argumentos Para que estas fases sejam desencadeadas, além da informação conceitual, faz-se necessário que a técnica, para além da materialidade, seja sinônima de ARTE, onde o aprendizado seja com o corpo todo e onde se perceba que este corpo é tal qual a natureza, um sistema aberto, passível de equilíbrios e desequilíbrios e desejoso de ser cuidado e respeitado. As atividades de aventura, não apenas promovem potenciais como a coragem, uma vez que há de se vencer temores que habitam a alma, mas ainda, proporcionam prazer duplo - a cura destes temores adormecidos e os benefícios ligados aos aspectos inatos do ser (topofilia e biofilia), promovendo a sensação de paz e bem-estar após uma seção de contato. A coragem e a resiliência, como capacidade de autosuperação (desafio dos temores), podem promover, por sua vez, a autoestima e estados de felicidade. Aqui, a tríade retroalimentadora pode ser percebida em seu sentido mais profundo, pois há uma sustentabilidade, a qual se baseia numa cumplicidade ser humano-natureza, num abraço de solidariedade marcado – 52 – por cuidados mútuos, a natureza acolhendo o humano e o humano acolhendo a natureza, uma vez que este percebe a sua importância. Este abraço solidário transforma valores e atitudes, pois age sobre as mentes, os corações e as mãos, no sentido da prática – do “contato” como preconiza a Fase 1 da Educação Ambiental de Corpo&Alma (RIBEIRO, 2011, p. 59). Desta forma, a aventura marcada pelo casamento entre ser humano e natureza nada tem de arriscado nem de imprevisto, mas uma aventura, cujo saldo seguro recai sobre a harmonia biopsicossocial e ambiental, tão almejada por tantos neste planeta. É evidente que esta aventura positiva apenas se torna realidade, quando as tecnologias da informação, de produção, ou quando sinônimo de metodologias são criadas e utilizadas com base nos princípios da sustentabilidade, em seu sentido mais amplo e profundo. Referências HELLER, E. Cómo actúan los colores sobre los sentimientos y la razón. Psicología del color. Barcelona: Editorial Gustavo Gili SA, 2007. HOUAISS, A. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. McLUHAN, M. 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RIBEIRO, I. C. Educação Ambiental de Corpo&Alma. In: SEABRA, G. (org.). Educação Ambiental no mundo Globalizado: uma ecologia de riscos, desafios e resistência. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB,p.39-64, 2011. Seligman, M. E. P.; CSIKSZENTMIHALYI, M. Positive psychology: An introduction. American Psychologist, New York, NY, v. 55, n. 1, p. 5-14, Jan. 2000. TUAN, Y. Espaço & Lugar. São Paulo: Difel, 1983, 250 p. WCED. Our Common Future. Oxford: Oxford University Press, 1987. WILSON, E. O. Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. – 54 – PARTE 2 PALAVRAS DOS MINISTRANTES DE OFICINAS – 55 – Fulvio Rodrigues Valeriano Prof. Ms. em Psicologia - Universidade Federal de São João Del-Rei Docente em Ensino Superior da Fundação Helena Antipoff E-mail: [email protected] Dimitri Wuo Pereira Prof. Ms. em Educação Física - Faculdade São Judas Tadeu Docente na Universidade Nove de Julho E-mail: [email protected] Douglas Eduardo dos Santos Silva Especialista em Atividade e Esportes de Aventura – FMU E-mail: [email protected] Igor Armbrust Mestre em Educação Física - USJT; Docente na Universidade Camilo Castelo Branco e FEFISA Professor convidado no curso de pós-graduação em Atividades e Esportes de Aventura da FMU e UGF Subcoordenador do Instituto Esporte e Educação. E-mail: [email protected] Flávio Antônio Ascânio Lauro Prof. Ms em Reabilitação - Universidade Federal de São Paulo Docente na Faculdades Metropolitanas Unidas E-mail: [email protected] José Ricardo Auricchio Mestrando em Educação Física pela UNIMEP Docente no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, FMU. E-mail: [email protected] Leonardo Madeira Pereira Prof. Doutorandoem Ciências da Motricidade – UNESP Coordenador da Educação Física na Faculdade de Tecnologia e Ciências- Vitória da Conquista e-mail [email protected] – 56 – ORIENTAÇÃO PEDESTRE – TECNOLOGIAS E ATIVIDADES DE AVENTURA Fulvio Rodrigues Valeriano As atividades de aventura têm sido, de certa forma, olvidada, por falta de conhecimento, custo supostamente elevado, entre outros motivos. Entretanto, o esporte de orientação pedestre é uma modalidade que se utiliza de recursos tecnológicos simples e práticos, como bússola, mapa, croqui (desenho) ou imagem aérea (Google Earth), papel, caneta ou lápis de cor, garrafas pet, entre outros. No VII CBAA - Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura, foram utilizados uma imagem aérea do Google Earth, 06 prismas, que foram confeccionados em pano e 03 bússolas. Tais equipamentos ou acessórios são de fácil aquisição, visto que seu custo é bem reduzido e parte destes podem ser construídos por seus praticantes, visando à educação integral do indivíduo, desenvolvendo a criatividade, cognição, relacionamento interpessoal, coordenação motora fina, entre outros aspectos. Uma vez construindo os materiais para sua prática, os participantes se tornam indivíduos capazes de repensar a própria ação, reconstruindo e construindo a sua própria história. Pensando na temática tecnologia e atividades de aventura, entender o termo tecnologia se faz necessário. Pela origem grega, a palavra é formada por tekne (arte, técnica ou ofício) e por logos (conjunto de saberes), ou seja, são conhecimentos que permitem “fabricar” objetos e/ou modificar o meio ambiente, visando preencher as necessidades humanas. Longo (1984) e Abetti (1989) (apud STEENSMA, 1996) e Kruglianskas (1996) concordam que tecnologia é um conjunto de conhecimentos técnicos e científicos que ajudam a resolver proble– 57 – mas ou facilitar a solução de problemas. Portanto, baseando-se neste conceito, o emprego da tecnologia para as atividades de aventura vai desde a construção de um simples nó, até a fabricação de uma Mountain Bike com quadro de fibra de carbono, pneus de kevlar sem câmara, suspensão a ar e óleo, com trava no guidão, odômetro eletrônico, entre outros. Transferindo o termo para a Orientação Pedestre, estamos empregando a tecnologia quando utilizamos o conhecimento sobre a definição correta do ângulo de azimute, ao reconhecer os símbolos e cores definidos mundialmente pela International Orienteering Federation (IOF), saber que o sol nasce em uma determinada direção conforme a época do ano, quando se utilizam as técnicas de navegação, como, por exemplo, a definição do ponto de ataque, a comparação do mapa com o terreno, conhecida também como leitura carta terreno, quando confeccionamos com um papel e um lápis o “mapa” da área onde se pretende desenvolver as atividades pedagógicas relativas à prática da orientação. Para esta gama de “coisas” utiliza-se muita tecnologia, ou seja, conhecimentos acumulados e adquiridos para a resolução dos problemas inerentes à atividade que, em sua essência, é encontrar os pontos de controles definidos no mapa, em uma sequência determinada, no menor tempo possível, cabendo ao praticante tomar as decisões sobre qual o melhor caminho para se atingir o objetivo no menor tempo. Para melhor entendimento do que se coloca no parágrafo anteriior, é necessário entender um pouco das características da modalidade em questão. Segundo a Confederação Brasileira de Orientação (2008) esta modalidade deverá ser intitulada como Esporte de Orientação Pedestre, tendo em vista que, para o nosso idioma, o termo orientação possui diversas conotações que não se relacionam diretamente ao esporte. Então, segue um breve histórico sobre o Esporte Orientação Pedestre, suas categorias, tipos de competições e classificações. – 58 – Orientação Pedestre A Orientação surgiu na Escandinávia, em 1850. Como desporto, sua prática começou a ser inserida pelos militares como forma de treinamento e entretenimento. Desenvolveu-se na Suécia, em 1888, onde as técnicas eram ensinadas com intuito de profissionalização de militares. No ano de 1893, próximo de Estocolmo, na Suécia, aconteceu a primeira competição similar à atual modalidade, porém, ainda sem o uso do mapa. Em 30 de junho de 1895, realizou-se a primeira competição de orientação em Estocolmo e, em 1904, houve o nascimento da orientação como esporte civil, com a primeira prova realizada por homens não militares na cidade de Helsingfors, na Suécia. Mas, foi em 1912, com a ajuda do Major Killander, chefe de escoteiros, que a orientação entrou para o programa da Federação Sueca de Atletismo, com o objetivo de captar jovens que se afastavam da corrida e do atletismo. Ele ainda criou mapas e incentivou o desenvolvimento da orientação (VALERIANO, 2011). Em 1961, criou-se o órgão máximo da orientação, a Internacional Orienteering Federation (IOF), na cidade de Copenhague, na Dinamarca, fundada por dez países. O esporte de orientação é conceituado, segundo a IOF, como um esporte em que o indivíduo, auxiliado por um mapa detalhado por meio de códigos e uma bússola, deve encontrar os pontos de controle na área proposta, no menor tempo possível (PASINI, 2007). O esporte de orientação possui diversas categorias divididas em H para homens e D para damas. Ainda existe uma divisão por idade, que começa aos 10 anos, sobe de dois em dois anos até os 20 anos, a próxima faixa é a partir de 21 anos, seguida da faixa de 35 anos. Na seqüência, sobe de cinco em cinco anos até os 90 anos. Além destas, existem mais quatro categorias especiais: DN1 e HN1 para atletas acompanhados com menos de 10 anos; DN2 e HN2 para atletas acompanhados de 10 a 14 anos, DN3 e HN3 para atletas acompanhados com mais de 15 anos. Em todas estas categorias é necessário o auxílio de uma pessoa determinada pela organização da prova, e existe o aberto, para atletas inscritos após – 59 – a data de inscrição. Cada uma destas categorias ainda se subdivide em outras quatro, que definem o grau de dificuldade da seguinte forma: E, para elite; A, para muito difícil; B, para difícil; N, para fácil e N1, N2 e N3 para os iniciantes. Segundo as regras da confederação brasileira de orientação os tipos de competições de Orientação podem ser classificados de acordo com o modo de deslocamento, podendo ser: Orientação Pedestre, Orientação em Bicicleta, Orientação de precisão1, conhecido também como Pré–O, para portadores de necessidades especiais, orientação em esqui e outros tipos, desde que não usem motor ou qualquer meio que polua ou cause prejuízo ao meio ambiente, salvo o caso da cadeira de rodas dos deficientes. Quanto a sua natureza, pode ser: individual2; revezamento3 e ou equipe4, os pontos de controle podem ser visitados em uma ordem específica, que é pré-estabelecida no mapa e sem ordem específica, onde o participante é livre para escolher a ordem. Finalizando o nosso diálogo; para a oficina de Orientação Pedestre oferecida no VII CBAA, o grupo que chegava até a oficina era subdividido em 03, na sequência, cada grupo foi informado como orientar o mapa para o norte magnético utilizando-se a bússola e, a partir de então, as equipes realizavam uma leitura da carta comparando-se com o terreno. Era dado o sinal de largada e as equipes tinham como objetivo chegar aos pontos marcados no mapa no menor tempo possível. Conforme a avaliação, os participantes gostaram significativamente da forma como foi desenvolvida a atividade. 1 Modalidade para deficientes. 2 O indivíduo executa independentemente (sozinho). 3 Dois ou mais competidores de uma equipe participando sucessivamente. 4 Dois ou mais indivíduos participando juntos. – 60 – Referências CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ORIENTAÇÃO. Regras para Orientação pedestre, 2008. Disponível em <http://www.cbo. org.br/site/regras/index.php>. Acessado em 07/06/2012. RUGLIANSKAS, I. Tornando a pequena e média empresa competitiva. São Paulo : Instituto de Estudos Gerenciais e Editora, 1996. STEENSMA, H. K. Acquiring technological competencies through inter-organizational collaboration: na organizational learning perspective. Journal of Engineering and Technology Management, v. 12, p. 267-86, 1996. LONGO, W. P. Tecnologia e soberania nacional. São Paulo : Ed. Nobel, 1984. PASINI, C.G.D. Pedagogia, Técnica e Tática de Corrida de Orientação. Santiago: Ponto Cópias, 2007. VALERIANO, F.R. Percepção de vida, estratégias de enfrentamento e capacidade de resiliência em competições do esporte orientação pedestre. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – UFSJ, São João Del Rei, 2011. – 61 – ESCALADA: EVOLUÇÃO E RETORNO À ORIGEM Dimitri Wuo Pereira A escalada surgiu com a ascensão de montanhas nevadas na Europa, nos séculos XVII e XVIII. No século XX as conquistas das maiores montanhas do mundo e as subidas de grandes paredes rochosas no período da contracultura culminaram com as escaladas de vias curtas com alta dificuldade técnica (PEREIRA, 2010). Existem hoje várias formas de escalar, como demonstra Pereira (2007): Escalada em Gelo – com as modalidades de: Alta Montanha (com mais de 4000 metros de altitude) e Cascade (paredes de gelo em qualquer altitude), e Escalada em Rocha – com as modalidades de: Big Wall (escalada em que se dorme na parede); Livre (escalada usando os equipamentos apenas para o caso de quedas e não para progressão) – tradicional (vias com mais de 50 metros de altura) e esportiva (vias curtas com cerca de 30 metros); Boulder (blocos de pedra com cerca de 5 metros de altura). A escalada indoor apareceu na década de 1970, na Rússia, como forma de treinamento durante o rigoroso inverno. Ela consiste em colocar agarras artificiais em paredes construídas permitindo recriar os movimentos da rocha e treinar a qualquer momento. Essa modalidade aumentou o acesso à escalada pelo menor perigo e facilidade de recriar o ambiente natural. Praticada em paredes de concreto, ferro e madeira com pontos de apoio conhecidos por agarras, de diversos tamanhos e formas, fabricados com resina de poliéster, a escalada deixou de ser uma aventura para poucos especialistas, para se transformar em uma atividade esportiva com muitos adeptos. Na década de 1980 surgiram os campeonatos, a mídia, o aumento de participantes e os patrocinadores, na Europa. No Brasil a escalada indoor apareceu – 62 – em Curitiba, no Paraná, em 1988, em um muro de treinamento (RESENDE JUNIOR, 1999). As paredes de escalada têm formas distintas, sendo: Positiva, aquela com inclinação maior que 90º (em relação ao solo); Reta, ou perpendicular ao chão; Diedros e arestas, que são os encontros de faces maiores e menores do que 90 graus entre si; Negativa, aquela com inclinação menor que 90º. Essas inclinações aumentam consideravelmente o esforço físico, respectivamente, e a altura da parede exige uma continuidade do esforço que leva à exaustão, pela repetição de movimentos (PEREIRA, 2007). Na escalada indoor como a altura não é o fator determinante, as dificuldades física e técnica sobressaem e as vias, que são os caminhos que se determina para escalar numa parede, são os problemas a resolver com o corpo. O critério que se usa para classificar uma escalada esportiva recebe as seguintes determinações quanto à forma de execução: Escalar a vista: quando se consegue escalar na primeira tentativa, sem queda ou qualquer tipo de auxílio. Encadear quando se atinge o topo da via após a primeira tentativa sem queda e qualquer tipo de auxílio. Escalar em red point: quando se guia a via (técnica de levar a corda ao topo), colocando as costuras nas chapeletas. Escalar em pink point: quando se guia a via (idem) com as costuras já colocadas. Hang dog: trabalhar uma via, mesmo que com várias quedas, até atingir o topo. As vias de escalada podem ser classificadas pelo grau de dificuldade de sua subida. No Brasil, temos a seguinte graduação: 1º e 2º graus para caminhadas em trilhas. 3º, 4º, 5º e 6º graus para escaladas que exigem equipamentos de segurança. A partir de então se usa 7º A, 7º B e 7º C; 8º A, 8º B e 8º C; 9º A, 9º B e 9º C; 10ºA, 10º B e 10ºC e 11º para alto grau de dificuldade atlética. Toda essa classificação é feita pela comparação entre o conhecimento prático de diversos escaladores, confirmando a validade de um grau sugerido. Sobre o desenvolvimento técnico, um estudo realizado com escaladores de competição do estado de São Paulo (PEREIRA; – 63 – MANOEL, 2008) mostrou que os atletas treinam entre cinco e seis vezes por semana e têm, pelo menos, cinco anos de prática na modalidade. Para 43% dos pesquisados o treino de escalada ocorre nas próprias paredes, sem uso de outras estratégias como musculação, treinos aeróbios, ou outros. Poucos desses atletas tinham treinador e davam pouca importância a esse profissional ser formado em Educação Física, apesar da literatura cientifica apontar o treinador como agente para melhoria de desempenho. Criadas para trazer maior equilíbrio, poupar gasto energético e menor esforço, as técnicas de escalada foram sendo desenvolvidas facilitando as mudanças de direções, as posições nas diversas inclinações e diminuindo o esforço exercido nos pontos de apoio em cada situação. Observa-se que, nessas técnicas, a manutenção do cotovelo estendido, o centro de gravidade próximo dos pontos de apoio e um triângulo entre três pontos, para liberar um segmento para a próxima agarra, é o modo mais fácil de progredir (PEREIRA, 2007). Em relação às movimentações, o equilíbrio estático é considerado mais preciso, porque provém mais certeza no alcance da agarra seguinte e melhor manutenção do equilíbrio durante a movimentação. No movimento em equilíbrio dinâmico, o escalador lança seu corpo para a próxima agarra, às vezes, desprendendose totalmente dos pontos de apoio. A vantagem, nesse caso está na economia de energia, pois a inércia ajuda a atingir a agarra, porém perde-se em precisão. Algumas técnicas foram criadas melhorando o desempenho atlético do escalador. As técnicas de mãos referem-se à forma de pegar nas agarras. Pegada ������������������������������������������ fechada, pegada aberta, bidedo, monodedo, reglete, estendida e pinça. Cada uma exige um esforço diferente dos músculos, articulações e ossos dos membros superiores. O uso dos pés permite manter o equilíbrio e distribuir o peso sobre os membros inferiores. As sapatilhas de escalada, nesse sentido, com soldado rígido e ponta fina, melhoram a firmeza em pequenas superfícies. – 64 – O posicionamento do corpo é geralmente feito com o corpo na posição frontal à superfície, ou lateral, usando o back step (os dois calcanhares voltados para o mesmo lado), o drop knee (flexão de joelho a partir da posição do back step, baixando o centro de gravidade) e o twist lock (cruzando um dos braços sobre o outro, para usar cadeias cruzadas de movimentos). A técnica é a forma mais eficiente de realizar determinado movimento com menor gasto energético. As técnicas de movimentos exigem uma estratégia mental para se atingir o objetivo, na escalada isso é chamado leitura de via. Ler a via na escalada é uma tentativa de prever uma situação que ocorrerá. O escalador visualiza o local e define posicionamentos e formas de realizar sua subida. Esse procedimento demanda programas motores que atendam ao requisito daquela situação específica, isto é, a pessoa deve saber fazer determinados movimentos. O treinamento esportivo também influenciou a evolução da escalada. Para Bertuzzi (2005) há uma relação direta entre a capacidade de perceber o esforço necessário durante uma escalada e a demanda metabólica requisitada. Mas, segundo o autor, os estudos de ergoespirometria mostram valores distintos entre os dados de VO2 máximo e lactato. Outros estudos observaram que as variáveis morfológicas e funcionais como: força muscular dos grupos flexores e extensores do joelho e ombro, a força de preensão manual, a potência de membros superiores e inferiores, a resistência de preensão manual, o percentual de gordura e a maior habilidade na escalada, influenciam diretamente nos resultados em tarefas de escalada. Isto confirma os princípios do treinamento esportivo que agem simultaneamente durante o exercício e que não podem se negligenciados. Bertuzzi (2004) conclui que, entre as variáveis morfológicas, a porcentagem de gordura corporal e a força de preensão manual podem influenciar o desempenho. Com relação à requisição de força máxima, o ATP-CP prevalece como substrato energético em rotas curtas. Outra conclusão a que o autor chega é que o aumento de FC e estimativa da demanda fisiológica podem não predizer um desempenho positivo na escalada. – 65 – As contínuas contrações musculares dos membros superiores geram adaptações morfológicas. As mãos dos escaladores experientes são duras e com maior espessura das falanges, indicando que utilizam mais esses segmentos como sustentação do corpo, do que de pessoas não treinadas. O tipo de pegada: aberta ou fechada, não interfere na fadiga muscular, sugerindo a necessidade de o atrito da mão com a superfície agarrada atuar como manutenção do apoio. A sobrecarga sobre os flexores da mão aponta na direção de adaptações específicas nas articulações e tendões dos dedos desses praticantes. Sugere-se variação de práticas em tipos e formas de agarras que promovam maior variabilidade de exigências motoras e uma exposição ao estímulo de segurar, com diferentes tipos de atrito. Reforça-se a ideia de que o atrito das polias e tendões atua na aplicação da força de preensão, quando precisamos suportar o peso do corpo por longos períodos nas falanges dos membros superiores, que é a principal exigência na escalada esportiva. Esse desenvolvimento esportivo parece o fim da evolução da modalidade, porém, como observou Marinho (2001), é no aspecto do lazer, independente das competições e do alto rendimento, que a escalada mais se expandiu. A autora afirma que, no encontro de agarras e de escaladores, forma-se uma composição que não é a dominação do humano sobre a natureza, mas uma junção dos mesmos. A autora ainda cita o criador do Boulder, John Gil, falando sobre sua relação com a escalada: “[...] tenho vias memorizadas a tal ponto que nem preciso refletir sobre a escalada num nível consciente. Fico tão envolvido com o fluir e o ritmo da escalada que perco contato com quem sou e com o que sou, e me torno parte da rocha - houve ocasiões em que realmente me senti como se envolvido numa trama com a rocha, como se estivesse sendo costurado nela, como se penetrasse nela e saísse, e entrasse e saísse, o tempo todo” (GIL, citado por MARINHO, 2001, p. 104). – 66 – A escalada possibilita um encontro consigo mesmo e uma relação menos agonística com a vida, na qual a disputa estabelece-se na autosuperação e não na necessidade de derrotar o outro. É aqui que a escalada como num espiral retorna a sua origem, pois sua evolução leva aos mesmos interesses daqueles que as iniciaram nas altas montanhas da Europa, isto é, aos amigos que se faz escalando, aos desafios que a verticalidade remete e ao silêncio interno que esse ambiente sugere. Referências BERTUZZI, R. C. M. Estimativa das contribuições dos sistemas bioenergéticos e do gasto energético total na escalada esportiva indoor. Dissertação (Mestrado) - Escola da Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2004. BERTUZZI, R. C. M; FRANCHINI, E.; KISS, M. A. P. D. Análise da força e da resistência de preensão manual e as suas relações com variáveis antropométricas em escaladores esportivos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v. 13, n. 1, p. 87 – 93, 2005. MARINHO, A. Da busca pela natureza aos ambientes artificiais: reflexões sobre a escalada esportiva. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Campinas – Educação Física. Campinas – SP: 2001. PEREIRA, D. W. Escalada. São Paulo: Odysseus Editora, 2007. (Coleção agôn, o espírito do esporte). PEREIRA, D. W. Um olhar sobre a complexidade da escalada na Educação Física. Dissertação de Mestrado – Universidade São Judas Tadeu. São Paulo – SP, 2010. – 67 – PEREIRA, D. W.; MANOEL, M. L. O Treinamento de Escaladores de Competição do Estado de São Paulo. Revista Mineira de Educação Física. Viçosa – MG, v. XVII, n. 2, ano XVI, p.108 -135, 2008. RESENDE JUNIOR, O. S. Escalada Esportiva – Uma nova proposta de trabalho para o professor de educação física. Trabalho de Conclusão de Curso. Projeto Institucional. Faculdade de Ciência da saúde. Instituto Porto Alegre. Porto Alegre. 1999. – 68 – SLACKLINE: O EQUILÍBRIO AO ALCANCE DE TODOS Douglas Eduardo dos Santos Silva Trajetória Histórica – O Novo e o Velho Encontro Para compreensão das novas atividades que estão sendo divulgadas e praticadas pelo mundo, em especial as de aventura, retratei um percurso vivencial pautado nas experiências que tenho como praticante e divulgador, além da pesquisa como alicerce necessário para algumas passagens. O Slackline, também conhecido popularmente no Brasil como slack, é uma atividade que se configura a partir da estabilização como habilidade predominante. Basta ter uma fita tencionada entre uma estrutura e outra, sendo essas as mais diversas imaginadas, como: árvores, postes, pilastras, estacas, entre outras. Além dos diferentes tipos de equilíbrio que a pessoa pode se beneficiar praticando o slack, há também melhoria na concentração diante do desafio, consciência corporal, coordenação motora, entre outros aspectos (GRANACHER et al. 2010). Porém, os estudos ainda necessitam de mais aprofundamento e melhores olhares para essa nova/velha atividade. Os relatos históricos mostram que, por volta de 1851, nos Estados Unidos da América, um interessante local foi descoberto pelo homem moderno. Chamado de Yosemite Valley, este lugar agregava muitos escaladores e amantes da natureza, tornando-se um lugar sagrado. Como a prática da escalada ofertava diferente e enormes vias de acesso, muitas pessoas, de toda parte do mundo passaram a visitar o belo cenário de Yosemite, reverenciado entre as rochas e precipícios impressionantes. Com a grande adesão dos escaladores, foram construídos alguns acampamentos e um em especial, chamado acampamento quatro, se tornou o centro de desenvolvimento da escalada em rocha no meio do século XX. Como as pessoas ficavam por lá – 69 – durante muito tempo, os habitantes do acampamento quatro podiam ser encontrados facilmente andando em correntes de estacionamento, corrimãos e, até mesmo, em cordas tencionadas entre as árvores, como forma de passatempo. Provavelmente, esse atributo tende aos adoradores da arte circense e atividades arriscadas, que encantam e despertam prazer (SLACKNEWS, 2011). O caminhar na corda bamba tem sido praticado há muito tempo pelos artistas de circo, mas este novo passatempo tinha diferenças em alguns aspectos: a corda de escalada ficava solta e não tão tensionada como o cabo de aço usado por equilibristas circenses; não havia o uso de barras para estabilizar o corpo em movimento; muitos praticantes passavam descalços, entre outras particularidades (SLACKNEWS, 2011). Desta forma, claramente, foi mais desafiador e estimulante para aquele grupo, logo as pessoas começaram a caminhar sobre fitas planas que atualmente é o que mais aparece nas praças, nas montanhas e até nas escolas (PEREIRA; ARMBRUST, 2010). Com a divulgação midiática, principalmente a internet, ocorreu a facilitação e a praticidade na montagem do equipamento e aprimoramento/inovação das técnicas e habilidades. Claro que se deve alertar para o uso adequado de equipamentos, conscientização ambiental e criticidade pedagógica. Tipos de Práticas A seguir, apresentarei algumas atividades e suas características consideradas (GIBBON, 2012). Trickline: É a modalidade mais praticada do slackline. Fita ancorada sobre dois pontos fixos, geralmente a partir de 60 cm a 85 cm de altura e com distância entre 10m a 15m para o praticante realizar manobras com certo grau de dificuldade, como: saltos, equilíbrio em um pé, sentar e levantar e outros, exigindo bastante preparo físicomotor, além de muito treino. Highline: Fita ancorada em alturas superiores a 5 metros. Esta modalidade é considerada uma das mais difíceis e a mais al– 70 – mejada por muitos praticantes. Requer muita experiência e conhecimento de técnicas verticais, pois é necessária a utilização de equipamentos de segurança e conhecimento técnico de sistema de redução. Também é importante saber lidar com a vertigem e a exposição à altura. Longline: É ancorado sobre dois pontos fixos, com uma distância superior a 20m. Esta modalidade exige do praticante bastante condicionamento físico-motor, pois, quanto maior o comprimento da fita, mais especificidade de unidades motoras e equilíbrio serão necessários. Além disso, o praticante precisará mais concentração mental para percorrer e manter-se na fita. Waterline: Fita ancorada sobre a água, podendo ser praticado em rios, lagos, piscinas ou praias. Esta é, provavelmente, a mais divertida, uma vez que podem ser realizadas diversas manobras e as quedas, geralmente não machucarão. Equipamentos Como cada prática tem a sua característica, algumas requerem equipamentos específicos, como: mosquetões, polias, cordins e freios para tencionamento, catracas especiais, entre outros. Pode-se dizer que a popularização desta atividade se dá pela praticidade e facilidade da montagem. Mencionaremos, neste texto, apenas os equipamentos mais utilizados e fáceis de serem encontrados. O kit de slack é composto por uma fita de poliéster com poliamida, largura variando entre 15 a 75 mm e 10m a 15m de comprimento, contendo um loop (alça) em uma das pontas e uma catraca com uma fita fixa entre 2 a 3m com um loop na ponta. Utiliza-se também uma proteção para não ferir a casca da árvore em caso de proteções naturais e preservar o material. O processo de montagem se dá pela passagem da fita que envolve um ponto fixo, levando em conta que a fita deve passar dentro do loop e abraçar o ponto fixo. A outra parte do kit, que contém a catraca com a fita menor, deve ser colocada da mesma forma, em outro ponto fixo. Após a colocação é preciso passar a fita longa na catraca e começar – 71 – o processo de tencionamento, feito isso, é necessário verificar se a catraca está travada, para não soltar e se está pronta para a atividade. Orientações Pedagógicas Como o Slack é uma atividade que envolve predominantemente a habilidade estabilizadora, precisamos estimular a realização de diferentes formas que ofertem os equilíbrios: estático, dinâmico e recuperado. O objetivo específico para esta proposta será apresentar alguns indicativos, que chamarei de ‘dicas’, para as pessoas que pretendem iniciar a prática do slack e também ensiná-lo num ambiente educativo, que valorize ensinar o respeito às diferenças e a participação de todos. Dicas Pedagógicas Dica 01: Equilibrar-se em uma estrutura fixa, rígida e estreita, no intuito de ambientar o corpo ao movimento. Podem-se utilizar bancos suecos, improvisar com tábuas, trave de ginástica e pequenas muretas. É Interessante investir em jogos, como pega-pega, packman, entre outros. Dica 02: Gostamos muito de um momento de experimentação, momento da prática no Slackline propriamente dito, onde a intervenção deve ser mínima (sem se esquecer de observar a área de segurança). Vale investir na implementação de materiais para facilitar a pratica e dicas básicas, como: andar sobre a fita, para que o praticante possa ter tempo de se conhecer na fita e arriscar algumas manobras. Se possível, varie os tipos de slackline à disposição da aprendizagem (baixo, alto, curto, longo, estreito, largo). Lembramos que isso seria uma situação ideal, porém, pode e deve ser ajustada às condições de ambiente, equipamento, número de pessoas e outras que surgirem. Na ausência de muitos materiais, a criatividade do praticante pode (re)significar o Slackline para o que mais lhe convém. Dica 03: Estimule as atividades coletivas, no intuito de os praticantes se sentirem mais à vontade para trocar informações e – 72 – provocar um conflito integral, a fim de resolverem um problema em conjunto. As atividades como corridas na fita, pega-pega sobre o Slack, rouba o rabo e outras, são interessantes para esta finalidade. As atividades podem ter mais de uma pessoa sobre a mesma fita do Slack. Vale investir em materiais que possam auxiliar na aprendizagem (cordas na parte de cima da fita, cabos de vassoura para apoiar no chão, corda fixa apenas em um ponto da fita, ajuda coletiva com as mãos dos colegas). Dica 04: Os desafios são algo que vêm para motivar e estimular novas aprendizagens, então, pode-se pensar em saltos, manobras, acrobacias, tipos de práticas diferenciadas (Trickline, Highline, Longline e Waterline). Considerações Finais Os caminhos da aventura podem expandir a pluralidade cultural de pessoas que ousam estimular ou vivenciar diferentes práticas (ARMBRUST; SILVA, 2012). Estamos vivendo um momento de expansões de informações e precisamos saber aproveitá-las com sapiência e sem medo de pensar que jamais saberemos tudo e que o inesperado pode acontecer. Esperamos ter contribuído para este contato inicial, ou uma possível revisitação sobre o assunto slackline, nas esferas educativas e autônomas. Temos grandes expectativas que ‘você’ leitor possa ter sido instigado a descobrir-se com novas/velhas, diferentes/conhecidas práticas. Referências ARMBRUST, I.; SILVA, S. A. P. S. Pluralidade Cultural: Os Esportes Radicais na Educação Física Escolar. Revista Movimento, Porto Alegre, v. 18, n. 01, p. 281-300, jan/mar de 2012. GIBBONS. Produtos. . Disponível em: <http://www. gibbonslacklines.com.br>. Acesso mai.2012. – 73 – GRANACHER, U.; ITEN, N.; ROTH, R.; GOLLHOFER, A. Slackline training for balance and strength promotion. International Journal of Sports Medicine. Thieme, Stuttgart, Allemagne. v. 31, n. 10, p. 717-723, 2010. Disponível em <http:// cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=23310841>. Acesso mai. 2012. PEREIRA, D. W.; ARMBRUST, I. Pedagogia da aventura: os esportes radicais, de aventura e de ação na escola. Jundiaí, SP: Fontoura, 2010. SLACKNEWS. A história do slackline. Disponível em: <http:// slacknews.blogspot.com.br/2011/05/historia-do-slackline.html>. Acesso mai. 2012. – 74 – TECNOLOGIA EDUCATIVA INTERDISCIPLINAR – OS ESPORTES RADICAIS Igor Armbrust Este texto configurou-se a partir da dissertação de mestrado sobre os Esportes Radicais num contexto interdisciplinar, desenvolvido com professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Campo Salles, situada no bairro de Heliópolis em São Paulo (ARMBRUST, 2011). Apresentarei, em seguida, algumas reflexões discutidas com o grupo de professores, as quais respaldaram os entendimentos sobre o esporte enquanto fenômeno expressivo e dotado de significados, o movimento enquanto linguagem corporal e os Esportes Radicais como elo de ligação e possível experimentação. Esses tópicos desencadearam a construção coletiva de um roteiro de estudos para os alunos da referida escola. A visão de esporte O desporto pode ser entendido como um conjunto de tecnologias corporais, sendo balizado por razões e padrões culturais e por intencionalidades e valores sociais. Nisso tudo, há o ser que habita este corpo e que pode não estar nessa roupagem de expectativas extrínsecas. Um olhar que, muitas vezes, não é visto nesses diferentes olhares para tal prática, que destaca a forma e o aprimoramento corporal, gestual e comportamental do ser humano. É difícil concretizar a sua essência, a sua técnica, pois, percebe-se uma visão estreita sobre esse assunto (BENTO, 2006). A técnica, muitas vezes, antecipa e possibilita a criatividade, pois a técnica: – 75 – [...] é uma condição acrescida e aumentativa; não serve apenas a eficácia, transporta para a leveza, a elegância e a simplicidade. Sem ela não se escrevem poemas, não se compõem melodias, não se executam obras de arte, não se marcam gols [...] (BENTO, 2006, p. 157). No desporto, os processos culturais também fazem parte e são expressões da preocupação sem fim de fazer o corpo, de criar, adaptar, transformar e melhorar, acrescentando, ainda, de compreender esse corpo.Toda a qualidade expressa nesses momentos são interrelações que solicitam a construção cultural, mas não se pode esquecer do valor com que mostramos o nosso ser no mundo (MERLEAU-PONTY, 1999). Há uma forte tendência à multiplicidade desportiva experimentada pelas culturas indicando que o corpo parece estar regressando de um esquecimento, ultrapassando sistemas de distanciação e repressão, retomando o lugar de suporte da identidade que lhe pertencia em sociedades mais simples (BENTO, 2006, p. 173). Essas ligações e conscientizações de si próprio, essa pulsão e essa vontade de redescobrir o corpo, de o sentir, experimentar e testar por dentro e por fora, perfaz a inclinação para novas formas de prática mais ativa, sentida, arriscada, desafiante, radical, intensiva e extensiva, como os Esportes Radicais, que ligam essas estimulações com o conhecimento significativo do evento, com a interação, com o eu pessoal, com o outro e com a natureza (SERRANO, 2000). Olhares para o movimento O movimento expressivo no ambiente educativo precisa ser estimulado, para que os alunos desenvolvam suas potencialidades de forma democrática e para que se permita que aprendam para além das técnicas de execução. Intencionalmente, o educador deve ofertar des– 76 – cobertas sobre os entendimentos: de regras, adaptações, suas reconstruções, e que os alunos apreciem e critiquem as práticas corporais, a fim de (re)significá-los, a partir de suas experimentações. A concepção cultural expressiva por intermédio do movimento nos espaços educativos, que prepara o aluno para o pleno exercício da cidadania, deve ajudá-lo no desenvolvimento da autonomia, da cooperação e participação social, além da afirmação de valores e princípios democráticos. Uma primeira orientação metodológica geral é a de que o diálogo entre áreas de conhecimento seja uma das características do trabalho nos anos iniciais de ensino. Essa integração pode ser feita, por exemplo, por meio de modalidades, como os projetos interdisciplinares, que constam nas orientações curriculares nacionais. As atividades Neste texto, apresentarei apenas alguns exemplos, devido à delimitação do espaço, vale recorrer ao texto completo da dissertação (ARMBRUST, 2011). Foram preparadas algumas atividades que explorassem os ambientes dos Esportes Radicais de terra, ar e água, para os professores vivenciarem, com o intuito de apresentar a diversidade e suas potencialidades em cada ambiente, além de mostrar algumas adaptações de materiais e do próprio esporte, destacando as diferenciações e olhares para o fenômeno educacional. O grupo realizou alguns desafios de orientação com bússola, articulando contagem de passos, dimensão espacial e identificação de objetos. Nessa mesma dinâmica, os professores experimentaram, também, a montagem de um acampamento com barraca e o reconhecimento do ambiente, como árvores e materiais recicláveis. Também participaram de um desafio, em que precisavam atravessar uma fita tencionada em duas árvores, simulando uma ponte, como a que se encontra em trilhas. Após cada tarefa, discutíamos algumas ideias sobre o que sentiram e o que estavam agregando de valores, além das suas facilidades e dificuldades nos desafios. O grupo se posicionou, apontando que havia conhecimen– 77 – tos importantes que poderiam se relacionar com as expectativas de ensino, por exemplo: os cálculos matemáticos, para saber a quantidade de passos percorridos em um determinado percurso, as noções de geografia, para compreender os direcionamentos do corpo no espaço, a partir da rosa dos ventos que fora desenhada em conjunto. Além disso, os professores colocaram que havia uma carência em atividades desse tipo, que reflita e valorize o ambiente de convivência, a coleta de lixo e também atividades que estimulem a resolução de problemas. Perceberam, nessas atividades, que os caminhos ou as respostas precisam ser buscados e que não há uma via única. Em outro grupo de atividades foram explorados os desequilíbrios sobre o skate, que representaram as atividades urbanas. Proporcionei alguns desafios de deslocamentos sobre os skates, também coloquei na quadra alguns shapes1, para aguçar as curiosidades e alguns rolos com tábuas em cima, para buscar alguns equilíbrios sobre o material. O grupo tentou diferentes tipos de deslocamentos no skate: deitado, sentado e em pé. Alguns não quiseram andar com o skate, outros experimentaram os giros nos shapes e tentaram se equilibrar no rolo. Conversando com o grupo obtive algumas informações importantes com relação ao medo. Alguns professores afirmaram que, no começo da atividade, tiveram certo receio de participar, pois estavam com medo e vergonha de cair, mas, quando os demais procuraram ajudar, despertou-lhes vontade de tentar. Outros professores confessaram que, se pudessem, ficariam brincando mais, porque relembraram a infância quando andavam de bicicleta e de patins, a maioria dos professores nunca havia subido em cima de um skate. Refletimos, também, sobre os giros que podem ser experi1 Shape – tábua de madeira, na qual a pessoa apóia os pés. Há variações nas formas, mas geralmente, as duas extremidades são arredondadas e com uma pequena elevação. – 78 – mentados, os conhecimentos dos materiais e os desafios propostos pelo próprio material. Foi uma experiência enriquecedora e os participantes concordaram que esse tipo de atividade precisa ser mais enfatizado na escola. Discutimos, nesse sentido, a entrada desses materiais e a apropriação do local a alunos que se identificam com o skate, sabendo que nos bairros periféricos têm o maior índice de praticantes dessa modalidade2.1 Considerações Finais Após quatro semanas de experimentações, o grupo compreendeu as situações em que o movimento pode ser um estimulador de outros saberes. Mesmo o grupo pontuando que existiam dificuldades para se ensinar dessa forma, afirmando que o problema maior seria controlar as crianças, aceitaram o desafio de tentar trabalhar com o tema. Passamos para a construção de um roteiro de estudos, discutindo quais conteúdos, atividades e estratégias que poderiam articular com as expectativas de ensino em cada ano das séries iniciais do ciclo fundamental I. Referências ARMBRUST, I. Os esportes radicais como potenciais geradores de saberes interdisciplinares. 2011. 152f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2011. BENTO, J. O. Corpo e desporto: reflexões em torno desta relação. In: MOREIRA, W. W. (Org.). A era do corpo ativo. Campinas, SP: Papirus, 2006, p. 155-182. FOLHA DE SÃO PAULO. Pesquisa data-folha, 2003. MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São 2 Folha de São Paulo – Pesquisa Data folha, 15/06/2003 – 79 – Paulo: Martins Fontes, 1999. SERRANO, C. M. T. A educação pelas pedras: uma introdução. In: SERRANO, C. M. T (Org.). A educação pelas pedras: ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000. p. 7-24. – 80 – A PRÁTICA DE SKATE E O DESENVOLVIMENTO DO EQUILÍBRIO CORPORAL: UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA PARA O INICIANTE Flávio Antônio Ascânio Lauro Skate: Atividade (ou Esporte) de Aventura (ou Radical) mais Popular do Brasil Segundo a maior pesquisa sobre os hábitos esportivos dos brasileiros: Estudo sobre Prática de Esportes, a qual foi conduzida pela filial brasileira da empresa alemã de consultoria de marketing esportivo, a Sport+Markt, que entrevistou mais de 46.300 pessoas a partir dos 16 anos de idade, em 130 cidades com mais de 200.000 habitantes de todos os estados do país, a prática de skate ocupava, em 2011, a 10a colocação (CABRAL; BERGAMO, 2011; MIRANDA, 2011). Segundo Gyrão (2010), a pesquisa sobre o número de skatistas no Brasil realizada pelo Datafolha, em 2009, apontou um total aproximado de 3.900.000 praticantes, sendo que, 86% destes praticantes possuíam entre 11 e 20 anos de idade (25% com até 10 anos de idade e 61% entre 11 e 20 anos de idade). Alguns motivos podem ter levado a este crescimento de adeptos de skate no Brasil. Um deles pode ser os mais de 20 títulos mundiais em diversas modalidades, conseguidos pelos skatistas brasileiros (gêneros masculino e feminino), desde 1995 (WORLD CUP SKATEBOARDING, 2012). O caráter esportivo competitivo é muito divulgado e explorado pelas mídias. Outros motivos podem estar relacionados às próprias razões do surgimento do skate no início do século 20: o lazer e a diversão. A possibilidade do uso do skate para transporte, já vista nos seus primórdios, é um dos outros motivos que levam as pessoas – 81 – a se interessarem pela prática de skate, segundo Brooke (1999), Noll (2000) e Rose (1999). Inclusive ultimamente, a utilização do skate como meio de transporte alternativo e não poluente, tendo sido apontada como uma das soluções para favorecer a mobilidade humana nas grandes metrópoles, onde o excesso de trânsito e a poluição são preocupantes. Devido ao grande crescimento e popularização, outros motivos levaram as pessoas a se interessarem pela prática de skate: os interesses educacionais (LAURO; DANUCALOV, 2005) e de inclusão social (CARAVANA DO ESPORTE, 2012; PROJETO, 2012). Outro motivo para as pessoas quererem praticar skate pode estar ligado ao bem-estar e à saúde. Os estudos de Lauro e outros pesquisadores (1999; 2000) demonstraram que a prática de skate pode trazer benefícios à saúde, por melhorar capacidades físicas importantes ligadas à aptidão física, as quais, por sua vez, estão ligadas à qualidade de vida. Entre as características gerais da prática do skate, tem-se que, durante a prática, a pessoa pode estar se deslocando ou não com o skate, estar ou não na mesma posição corporal sobre o skate, ou ainda, estar em contato corporal ou não com a prancha do skate (WERNER, 2001). Sendo assim, é bem provável que para se praticar skate de uma forma segura seja necessário desenvolver o equilíbrio corporal tanto estático como dinâmico, entre outras capacidades físicas. Segurança na Prática de Skate Os estudos mostram que a prática de skate apresenta vários riscos à integridade física das pessoas praticantes, porque muitos acidentes acontecem e os traumas nas quedas e choques com o skate, local de prática e as outras pessoas são muito frequentes (FORSMAN; ERIKSSON, 2001; KYLE e cols., 2002). Entretanto, alguns requisitos simples podem ajudar a prevenir e diminuir os acidentes e traumas na prática de skate: uso dos equipamentos individuais de proteção (capacete, protetores de punhos ou luvas, cotoveleiras, protetores de quadril, joelheiras e tênis); prática em – 82 – locais adequados (parques de skate ou não); entendimento e respeito à dinâmica coletiva de prática (regras de conduta quando existem mais skatistas praticando juntos) e bom preparo físico (capacidades físicas condicionais e coordenativas). Então, equipamentos e informações devem ser fornecidas aos praticantes de skate, a fim de evitar acidentes e traumas. E, dentre as capacidades físicas a serem desenvolvidas com as mesmas finalidades, talvez o equilíbrio corporal possa ser a mais importante, principalmente para as pessoas no início da aprendizagem motora da prática de skate. Características Gerais do Equilíbrio Corporal De acordo com Silveira et al. (2006), o equilíbrio corporal pode ser definido, do ponto de vista biológico, como a manutenção de uma postura particular do corpo com um mínimo de oscilação (equilíbrio estático), ou a manutenção da postura durante o desempenho de uma habilidade motora que tenda a perturbar a orientação do corpo (equilíbrio dinâmico). O equilíbrio corporal, que é uma das capacidades físicas coordenativas, depende muito mais da visão, sistemas vestibular e somatossensorial, coordenação central e ajuste da musculatura tônica (MASSION, 1998), do que dos sistemas cardiorrespiratório (tamanho do coração e pulmões), músculo-esquelético (tipos de fibras musculares e anatomia dos ossos e articulações) e energéticos (sistemas anaeróbios alático e lático e aeróbio), que estão diretamente relacionados às capacidades físicas condicionais. Desta forma, ao contrário de muitas atividades físicas e esportes, parece não existir um biotipo ideal ou perfil genético mais adequado à prática de skate, uma vez que ele pode ser praticado por pessoas com diferentes características morfológicas e fisiológicas. Além disto, o desenvolvimento das capacidades físicas condicionais (força, resistência e flexibilidade ou mobilidade) pode não ser tão importante para que uma pessoa consiga praticar skate de forma segura, pelo menos nos níveis iniciais de aprendizagem motora. – 83 – Desenvolvimento do Equilíbrio Corporal para a Prática de Skate O uso da prancha do skate (shape) ou do skate sem as rodas para o desenvolvimento do equilíbrio corporal estático para a prática do skate, além de serem recursos muito simples e seguros, porque não há deslocamento da pessoa, possuem as vantagens de serem com os próprios equipamentos específicos, o que traz a familiarização com o skate. A utilização de pranchas de equilíbrio (um cilindro e uma prancha, que pode ser ou não o shape) é outro recurso bastante simples, mas que acrescenta um pouco mais de dificuldade, porque exige da pessoa o equilíbrio corporal dinâmico também. Minicamas elásticas (ARAGÃO, 2009) e outros equipamentos simples de reabilitação e treinamento do equilíbrio corporal (YAGGIE; CAMPBELL, 2006) podem ser usados. Porém, muitas vezes, não desenvolvem o equilíbrio corporal da forma que é necessária para a prática de skate. Devido ao interesse médico em avaliar corretamente o equilíbrio corporal das pessoas antes, durante e depois de procedimentos terapêuticos, foram criadas plataformas eletrônicas de força (TEIXEIRA et. al.., 2008). Entretanto, trata-se de equipamentos caros e que nem sempre conseguem reproduzir o equilíbrio corporal da prática do skate. Muito utilizados por não skatistas também, uma vez que os perigos dos acidentes e dos traumas reais não existem, os diversos jogos eletrônicos em vídeo, os quais são praticados em pé (exergames), têm se mostrado eficientes no tratamento de diversos problemas de saúde ligados ou que comprometem o equilíbrio corporal (SOUSA, 2011). Alguns dos exergames possuem joysticks no formato de prancha ou de skate, que podem ser muito eficientes para desenvolver o equilíbrio corporal para a prática do skate e, ainda, ajudar o jogador a ter contato virtual com os locais de prática e aprender os nomes das manobras. Entretanto, os exergames, além de não desenvolverem o equilíbrio corporal dinâmico, não conseguem simular tão realisticamente a prática de skate. – 84 – Considerações Finais Como a prática do skate tem se tornado cada vez mais popular devido aos vários motivos que levam as pessoas a se interessarem por ela, e, como existe a grande probabilidade de aumentarem proporcionalmente os acidentes e os traumas advindos da sua prática, é eminente a necessidade de implantação de ações, no sentido de evitar que estas projeções se concretizem. Então, além de informação, orientação e o uso de equipamentos de proteção individuais, o desenvolvimento das capacidades físicas, em especial do equilíbrio corporal, para as pessoas durante a fase inicial de aprendizagem motora da prática de skate deve ser implementado, como mais uma forma de, talvez, evitar que os acidentes e os traumas aumentem ainda mais. Apesar das buscas de estudos nas bases de dados online Medline e Scielo sobre os efeitos da prática do skate no equilíbrio corporal, ou do equilíbrio corporal na prática do skate, não foram encontradas pesquisas sobre estes assuntos. Sendo assim, trata-se de uma possibilidade interessante e carente para futuras pesquisas. Referências ARAGÃO, F. A.. Estudos sobre os efeitos do mini trampolim sobre o controle postural de idosos. Tese (Doutorado em Ciências do Movimento Humano) – Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. BROOKE, M.. The Concrete Wave: the history of skateboarding. Toronto: Warwick, 1999. CABRAL, O.; BERGAMO, G.. País de sedentários. Veja, São Paulo, ano 44, n.39, p.102-108, set. 2011. CARAVANA DO ESPORTE, Disponível em: <http://www. esporteeducacao.org.br/?q=node/41>. Acesso em 5 jul. 2012. – 85 – FORSMAN, L.; ERIKSSON, A. Skateboarding injuries of today. Br J Sports Med, n.35, p.325-328, 2001. GYRÃO, C. O skate cresce... e aparece (somos quase 4 milhões). Tribo Skate, São Paulo, ano 19, n.175, p.20-21, 2010. KYLE, S. B.; NANCE, M.l L.; RUTHERFORD, Jr., G. W.; WINSTON, F. K. Skateboard-associated injuries: participationbased estimates and injury characteristics. J Trauma, v.53, p.686690, 2002. LAURO, Fl. A. A.; DANUCALOV, M. Á. D.. O elemento aventura no meio universitário: a formação acadêmica pelos esportes de prancha. In: UVINHA, Ricardo Ricci (Org.). Turismo de Aventura: reflexões e tendências. São Paulo: Aleph, p.103-136, 2005. LAURO, F.A.A.; SHINZATO, G.T.; SAMPAIO, I.C.S.P.; GONÇALVES, A.; BATTISTELLA, L.R. Concentric knee isokinetic strength and power of Brazilian professional skateboarders. In: AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE ANNUAL MEETING, 46., 1999, Seattle. Anais... Baltimore: Lippincott Willians & Wilkins, 1999. LAURO, F.A.A.; SILVA, P.R.S.; GONÇALVES, A.F.; DOURADO, M.P.; BATTISTELLA, L.R. Maximal oxygen uptake of Brazilian professional skateboarders. In: AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE ANNUAL MEETING, 47., 2000, Indianapolis. Anais... Baltimore: Lippincott Willians & Wilkins, 2000. MASSION, J. Postural control systems in developmental perspective. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, San Antonio, v.22, n.4, p.465-472, 1998. – 86 – MIRANDA, Giuliana. Maioria dos brasileiros está longe dos esportes. Folha de São Paulo, São Paulo, Saúde, p.C12, 2011. NOLL, Rhyn. Skateboard Retrospective: a collector’s guide. Atglen: Schiffer, 2000. PROJETO Skate na Fundação CASA completa 10 anos. Disponível em: <http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia. php?id=208035&c=6>. Acesso em 5 jul. 2012. ROSE, Aaron. Dysfunctional. London: Booth-Clibborn, 1999. SILVEIRA, C.R.A.; PRENUCHI, M.R.T.P.; SIMÕES, C.S.; CAETANO, M.J.D.; GOLBI, L.T.B. Validade de construção em testes de equilíbrio: ordenação cronológica na apresentação das tarefas. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum.Trindade, v.8, n.3, p.66-72, 2006. SOUSA, F. H.. Uma revisão bibliográfica sobre a utilização do Nintendo Wii ® como instrumento terapêutico e seus fatores de risco. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, n.123, p.155-160, 2011. TEIXEIRA, C. S.i; LEMOS, L. F. C.; LOPES, L. F. D.; ROSSI, A. G.; MOTA, C. B.i. Equilíbrio corporal e exercícios físicos: uma investigação com mulheres idosas praticantes de diferentes modalidades. Acta Fisiatr, v.15, n.3, p.156-159. , 2008. WERNER, D. Skateboarder´s Start-Up: a beginner’s guide to skateboarding. Chula Vista: Start-up Sports / Tracks Publishing, 2001. YAGGIE, James A.; CAMPBELL, Brian, M. Effects of balance training in selected skills. J. Strength Cond Res, v.20, n.2, p.422428, 2006. – 87 – TÉCNICAS VERTICAIS: CONCEITUAÇÃO, UTILIZAÇÕES E SEGURANÇA José Ricardo Auricchio Conceituação e Utilizações Desafio é a palavra que vem em mente ao escrever um texto sobre técnicas verticais, visto que as referências acadêmicas sobre o assunto não são vastas. Porém, os desafios devem sempre ser superados e começaremos conceituando as palavras que compõem o título deste capítulo. Segundo o Dicionário Aurélio (2012), considera-se como técnica, parte material de uma arte ou o conjunto dos processos de uma arte ou prática. Também segundo esta mesma fonte, entende-se que vertical é o que está colocado no vértice, sendo que vértice representa o grau supremo, ponto culminante, ou parte mais alta. A partir destas definições simples, é possível conceituar técnicas verticais como o conjunto de processos da arte que está colocada no vértice ou parte mais alta, ponto culminante. Ao trazermos este termo para as atividades de aventura, observase que as técnicas verticais são atividades muito utilizadas por espeleólogos1, para a exploração de abismos e também por biólogos, para a coleta de amostras e observação de fauna e flora. De maneira geral, entende-se que técnicas verticais são o conjunto de técnicas de subidas, descidas e movimentação em desníveis verticais, usando equipamentos de segurança de alpinismo, como cordas, fitas, mosquetões, cadeirinha e outros acessórios específicos. É utilizada na prestação de serviços em altura, resgate em ambientes verticais, ou pelo simples prazer de descer uma parede, uma ponte ou uma cachoeira, no denominado canyonis1 Espeleologia é a ciência que estuda cavernas e grutas e espeleólogos são especialistas nesta ciência. – 88 – mo ou cascading. Sozinhas, as técnicas verticais, como o rapel, não são consideradas como um esporte, mas sim, como uma técnica que pode estar incluída dentro de alguns esportes de aventura, como a escalada, na qual o escalador deve ter o domínio destas técnicas para auxiliá-lo na subida e descida por corda; ou o canyonismo, em que. seguindo o percurso do rio no sentido da correnteza, o praticante deve transpor obstáculos naturais, como cachoeiras e paredes de rocha; ou até na espeleologia, pois podem existir trechos do percurso com abismos2,1clarabóias3,2dolinas4,3entre outros obstáculos naturais. A palavra rapel deriva do verbo francês rappeler, que significa lembrar, chamar, ou fazer voltar, por isso, por muito tempo o rapel foi considerado como uma descida feita por meio de corda dupla, em que, após descer, o praticante recupera esta corda, chamando-a, fazendo-a voltar para si. Por este fato, inicialmente, o rapel era feito somente no montanhismo, sendo utilizado pelo escalador para retornar à via que se escalou, passando a corda por pontos fixos e controlando a descida, por meio de um freio preso à cadeirinha por um mosquetão (PEREIRA, 2007, p.49), por meio de cordadas (etapas a serem transpostas de um ponto de ancoragem a outro) e também no canyonismo, em que, para descer as cachoeiras, o canyonista tem que recolher a corda para executar a próxima descida. Rapel é um método usado por alpinistas para descer a rocha íngreme ou gelo, de forma rápida e segura. Uma corda é dobrada em torno de um pináculo ou rocha, ou por meio de um 2 Abismos são grandes profundidades e podem ser tanto em terra como no fundo do mar. 3 Clarabóia é a fresta ou óculo numa parede para passagem da claridade ou do ar. 4 Dolina é Conhecida popularmente com sumidouro, sendo uma depressão circular formada pelo abatimento do solo em regiões de rochas com água subterrânea em seu fundo. – 89 – píton5.1O escalador coloca a corda dobrada ao redor de uma das coxas, até em seu peito e o ombro oposto. O atrito da corda ao redor do corpo do alpinista permite-lhe controlar a taxa de descida facilmente, com a mão livre. Chegando à parte inferior, ele se solta e puxa a corda livre para ser usada novamente (MILNE; MILNE, 1962, p.164). A descida em corda simples é chamada de descida em corda fixa, por conta de sua fixação no ponto de ancoragem e, consequentemente, por não ter como recuperá-la, permitindo que, muitas das vezes, o praticante suba pela mesma corda. Na espeleologia, o espeleólogo desce, mas tem que voltar pela mesma corda, utilizando a técnica de ascensão 62para sair da cavidade onde se encontrava. O método empregado para técnica de ascensão em corda simples é denominada de sapo. Consiste na utilização de um ascensor ventral e outro de punho, permitindo maior conforto para o escalador, quando comparado com o método escada (BECK, 1995). Com o desenvolvimento das técnicas verticais, percebeu-se que o rapel pode fazer parte do turismo de aventura, permitindo que seus praticantes tenham acesso a cachoeiras, cânions, vales e cavernas, proporcionando-lhes maior diversão e a oportunidade de interagirem com estes atrativos naturais, já que a prática desta modalidade não requer uso excessivo de força física e nem pleno domínio de técnicas, desde que as descidas sejam acompanhadas por instrutores adequadamente treinados. Observa-se, então, que os procedimentos técnicos de montagem dos equipamentos e operação de segurança, devem ser realizados por operadoras capacitadas. Com a ascensão dos esportes de aventura na mídia, os acampamentos de férias têm-se munido das práticas verticais como a es5 Píton é um pino de metal preso à rocha pelo escalador. 6 Técnica de Ascensão é a subida pela corda com aparelhos específicos. – 90 – calada, o rapel, o arvorismo71e a tirolesa8,2sendo elas utilizadas como diferenciais, no sentido de atualizarem suas ofertas e atraírem público (SILVA, 2010). Além disso, as práticas verticais, hoje, são também usadas largamente em peças de teatro, circo, montagem de palcos de shows e eventos e montagem de iluminação em shoppings, na época de natal. São utilizadas também na manutenção de torres de telefonia, plataformas de petróleo, entre outros. Na atualidade, as técnicas verticais podem ser encontradas, não só nos acampamentos, mas em diversos equipamentos de lazer montados por empresas especializadas em atividades, como falsa baiana9,3 tirolesa e arvorismo (PEREIRA, 2007). Praças, parques, clubes e buffets disponibilizam tal atividade, principalmente para as crianças (AURICCHIO, 2009), tamanha a segurança proporcionada pela tecnologia dos equipamentos hoje utilizados (PEREIRA, 2007). Sistema de Gestão de Segurança e Gerenciamento de Risco Ao falarmos sobre as questões de segurança, utilizaremos as normas técnicas para turismo de aventura da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que delimita normas específicas para as técnicas verticais, gestão de segurança e gerenciamento de risco. A NBR10155014 trata sobre técnicas verticais - requisitos para produtos têm grande enfoque em sistemas de gestão de segurança e gerenciamento de risco, desde a saída dos clientes da agência, trajeto ao local da atividade, mo7 Arvorismo é um circuito de atividades suspensas através de cordas ou cabos de aço, madeiras e redes, onde o praticante fica sempre preso a um cabo de segurança. 8 Tirolesa é o deslocamento por cordas ou cabos de aço realizado de um ponto fixo a outro através de polias. 9 Falsa baiana é a atividade montada com duas cordas paralelas, sendo uma para os pés e outra para as mãos. Utilizada em sua originalidade para travessias de rios, arvores e montanhas. 10 NBR – Normas Brasileiras – 91 – vimentação em áreas de risco durante a atividade, sendo a segurança do grupo responsabilidade do responsável pela operação. De acordo com a norma supracitada, temos ainda a classificação de alguns termos e definições utilizados no texto base: Áreas de risco são as áreas com risco significativo de quedas, escorregões, afogamento e outros perigos relacionados à prática do turismo de aventura; Autorresgate é a aplicação de técnicas pelo próprio grupo, para resolver situações adversas, sem intervenção externa; Autosseguro é o dispositivo de segurança conectado ao ponto de fixação da cadeirinha e conectável a um ponto de segurança, confeccionado com cordas e fitas, com uma ou mais pontas e mosquetões nas extremidades; Sistema debreável é o sistema utilizado para a fixação da corda na ancoragem, utilizando-se um nó dinâmico ou um freio descensor, devidamente bloqueados, de tal modo que possibilite o desbloqueio da corda, mesmo com carga. Um sistema de gestão de segurança (SGS) deve prevenir os acidentes, por meio de análises de riscos detalhadas, deve também implementar programas de prevenção de acidentes e ter um plano de atendimento à emergência, para socorrer vítimas. O SGS envolve as operadoras de turismo de aventura, receptivos e atrativos turísticos organizados. Todos os envolvidos devem ser treinados para que garantam a própria segurança, dos colegas e dos clientes (PROGRAMA AVENTURA SEGURA, 2007). Em se tratando da gestão de riscos, conforme estabelecido na NBR15331 é necessário realizar uma avaliação dos perigos existentes na sua operação e realizar uma análise de riscos, conforme estabelecido na norma. Além disso, há uma certificação em Sistema de Gestão de Segurança que as empresas podem implementar, tendo que cumprir vários requisitos e passar por uma auditoria de certificação. Tendo em vista que todas as atividades de aventura envolvem risco aos praticantes, devemos, então, ficar atentos a todas as normas de segurança vigentes para todas as atividades e trabalhar– 92 – mos sempre no sentido de minimizar tais riscos, proporcionando uma atividade prazerosa, em que todos vivenciem experiências únicas e inesquecíveis nas atividades de aventura, sejam elas na natureza ou urbanas. Referências ABNT . NBR 15331. Turismo de Aventura: Sistema de Gestão de Segurança. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2005. Disponível em http://www.abntcatalogo.com.br/mtur/java/ viewnormajava.aspx?NormaID=50&FileID=61288 . Acesso em 03 de Julho de 2012 ABNT . NBR 15501. Turismo de Aventura: Técnicas Verticais – Requisitos para produto. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2011. Disponível em http://www.abntcatalogo.com.br/mtur/java/ viewnormajava.aspx?NormaID=86622&FileID=68529. Acesso em 03 de Julho de 2012 AURICCHIO, J. R.. Escalada na Educação Física escolar: Orientação adequada para a prática segura. Buenos Aires: Revista Digital EFDeportes, Dezembro, 2009 BECK, S.. Com Unhas e Dentes. São Paulo: Ed. Independente, 1995 Dicionário Aurélio versão on-line 2012. Disponível em: www. aureliopositivo.com.br PEREIRA, D.W.. Escalada. São Paulo: Odysseus Editora, 2007 MILNE, L. J , MILNE M. . The Mountains. New York, USA: Ed. Time Incorporated, 1962. – 93 – PROGRAMA AVENTURA SEGURA. Apostila do Curso de Sistema de Gestão de Segurança. Ministério do Turismo, 2007. SILVA, Renata Laudades. Atividades Recreativas em Acampamentos de Férias. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/ arquivos/File/2010/ artigos_teses /EDUCACAO_FISICA/artigos/Silva. Renata_Artigo pdf. Acesso em 02. de Julho de 2012 – 94 – EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS ENVOLVENDO ATIVIDADES DE AVENTURA Leonardo Madeira Pereira Este capítulo propõe-se a apresentar as observações e reflexões relatadas sobre as estratégias utilizadas em um programa educativo envolvendo atividades de aventura, o qual foi realizado no VII CBAA - Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura e I CIAA - Congresso Internacional de Atividades de Aventura. Atividades como escalada, corrida de aventura, orientação, slackline, parkour, skate, técnicas verticais e trilhas, foram realizadas em forma de um circuito de aventuras nas oficinas do congresso, com o objetivo de promover o aprendizado de habilidades e competências relacionadas às atividades de aventura. De acordo com Marinho (2008), tais atividades, no contexto do lazer, estão sendo entendidas como as diversas práticas manifestadas com características inovadoras e diferenciadas dos esportes tradicionais, pois as condições de prática, os objetivos, a própria motivação e os meios utilizados para o seu desenvolvimento são outros. Além disso, há também a presença de inovadores equipamentos tecnológicos, permitindo uma fluidez entre o praticante e o espaço da prática. São atividades cercadas por riscos, na medida do possível calculados, não ocorrendo treinamentos intensivos prévios. A experimentação acontece de maneira mais direta, havendo um afastamento de rendimentos planejados. Outras características e discussões específicas sobre estas práticas podem ser observadas em outros trabalhos (MARINHO, 2001; MARINHO; BRUHNS, 2005, 2003, 2001). Neste capítulo, será apresentado o método e os resultados da estratégia educacional utilizada. Cada uma das atividades envolvidas nesse programa educativo contemplou um aspecto especifico da aven– 95 – tura no contexto do lazer e ou de competição. O grupo participante apresentou pouca ou nenhuma experiência nas atividades vivenciadas. Ao todo foram oferecidas oito atividades, enumeradas de 01 a 08, corrida de aventura e orientação (01), slackline (02), parkour (03), skate (04), técnicas verticais (05), escalada (06) e trilhas (07). Em cada atividade o participante realizou um desafio de 30 minutos, totalizando três horas e trinta minutos de vivência, 30 minutos de movimentação e duas horas de reflexão e discussão em grupo. A dinâmica de rodízio proporcionou uma movimentação entre os participantes, os quais, a todo momento, se encontravam entre uma oficina. Neste momento, os grupos trocavam olhares, experiências e compartilhavam emoções e expectativas. A formação do grupo ocorreu de forma aleatória, onde os subgrupos afins foram separados e cada grupo formado possuía entre 18 e 22 integrantes. A orientação e a corrida de aventura ocorreram simultaneamente, utilizando-se bússola e carta topográfica, os participantes percorreram um percurso multiesportivo de 800m. Neste percurso de orientação, seis pontos de controle foram sinalizados com prismas e picotadores, três modalidades esportivas foram realizadas, sendo elas mountain biking, canoagem e trekking. Durante toda a atividade os integrantes deveriam adotar estratégias determinantes para o sucesso da equipe. Orientação de posicionamento da carta no terreno e utilização da bússola nortearam o direcionamento para o cumprimento das tarefas. As palavras que representam a experiência de 21 equipes que passaram por essa atividades foram: cooperação, trabalho em equipe, estratégia, confiança, diversão, interatividade, liderança e condicionamento físico. No slackline, os sete grupos puderam explorar diversar fitas, tensionadas manualmente com uso de mosquetão e argolas e com catraca mecânica, fitas acrobráticas e clásssicas. Pode-se explorar aspectos técnicos relacionados à montagem e desmontagem, assim como, aspectos pedagógicos e de segurança. As palavras que representam a experiência dos participantes nessa atividade foram: equilíbrio, concentração, superação, vertigem e cooperação. – 96 – O parkour explorou exercícios de aquecimento, movimentação entre obstáculos, segurança e deslocamentos. Os grupos transitaram em uma academia ao ar livre e entre corrimãos, foram realizados rolamentos, ajudas e segurança de corpo. O percurso elaborado possibilitou a descoberta de movimentos e exploração interativa do espaço físico. As palavras que representam a experiência dos grupos nessa vivência foram: superação corporal, equilíbrio, liberdade, autoconhecimento, alegria e dinamismo. O skate proporcionou experiência de equilíbrio, utilizando shapes, garrafas pet e cones e os participantes puderam aprender a se equilibrar sob a prancha, a se posicionar sobre o skate e ajudar no deslocamento com segurança. As palavras que representam a experiência do grupo nessa atividade foram: emoção, equilíbrio, segurança, cooperação, concentração, confiança e superação. No percurso de técnicas verticais montado, foi possível vivenciar travessias por corda, redes suspensas, pontes e rapel. Os participantes aprenderam a se equipar e a transitar por trecho vertical com segurança. As palavras que representam a experiência do grupo nas atividades foram: criatividade, confiança, companheirismo, responsabilidade, planejamento, trabalho em equipe, prazer e cooperação. A escalada aconteceu em uma parede do tipo boulder, onde não foi necessária a utilização de cordas de segurança. Os participantes experimentaram diferentes pegadas e deslocamentos horizontais e verticais nessa parede. As palavras que representam a experiência dos grupos nessa atividade foram: força, técnica, concentração, determinação e estratégia. Nas trilhas, os participantes puderam interagir com a natureza. Os grupos recebiam uma poesia que falava sobre o ser humano e a natureza e todos deveriam representá-la utilizando o ambiente natural. Cada membro do grupo recebia uma função e todos transitavam por um percurso, explorando a flora e o relevo. As palavras que representam a experiência do grupo na experiência foram: relações interpessoais, prazer, cooperação, criatividade, alegria e planejamento. – 97 – O nível de satisfação pode ser mensurado utilizando-se uma escala tipo Likert de 5 pontos que variava de pouquíssimo satisfeito (1) a muitíssimo satisfeito (5). A média geral de satisfação dos participantes nessa escala foi de 4,5, ou seja todos ficaram bastante satisfeitos. Durante as reflexões e discussões, todos os participantes relataram certo desconforto sobre a questão do tempo que poderia ter sido maior. A organização do evento ponderou sobre essa questão, mas seguiu modelos utilizados internacionalmente nos treinamentos experienciais ao ar livre (PANICUCCI, 2003; MOORE; DRIVER, 2005; GILBERTSON et al., 2006). Na perspectiva pedagógica, o método utilizado nestes congressos promoveu, por intermédio das atividades de aventura, um aprendizado significativo, memorável, capaz de oferecer aos participantes, em sua maioria, futuros profissionais de educação física, experiências educativas e vivências que os participantes poderão levar para a vida toda. Referências: GILBERTOSON, K.; BATES, T.; MCLAUGHLIN, T.; EWERT, A. Outdoor Education: methods and strategies. Champaign: Human Kinetics, 2006. MARINHO, A. Lazer, aventura e risco: reflexões sobre atividades realizadas na natureza. Movimento, Porto Alegre, v. 14, n.02, p. 181-206, 2008. MARINHO, A. Lazer, natureza e aventura: compartilhando emoções e compromissos. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 22, n. 2, p. 143-153, 2001. MARINHO, A.; BRUHNS, H. T. (Org.). Turismo, lazer e natureza. São Paulo: Manole, 2003. – 98 – MARINHO, A.; BRUHNS, H. T. La escalada y las actividades de aventura: realizando sueños lúcidos y lúdicos. Educación Física y Deportes, Barcelona, n. 65, p. 105-110, 2001. MARINHO, A; BRUHNS, H. T. Body relationships in an urban adventure setting. Journal of Leisure Studies. Forest Row, v. 24, n. 3, p. 223-238, 2005. MOORE, R.L.; DRIVER, B.L. Introduction to Outdoor Recreation: providing and managing natural resource based opportunities. State College: Venture Publishing, 2005. PANICUCCI, J. Adventure curriculum for physical education: high school. Beverly: Project Adventure, 2003. – 99 – PARTE 3 PALAVRAS DOS CONVIDADOS – 101 – Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro Profa Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias - UNESP Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC [email protected] Amanda Mayara do Nascimento Profa. Msda. em Ciências da Motricidade - UNESP Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC E-mail: [email protected] Giselle Helena Tavares Profa. Dda. em Ciências da Motricidade - UNESP Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC E-mail: [email protected] Juliana de Paula Figueiredo Profa. Mestrandra em Ciências da Motricidade - UNESP Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC [email protected] Marcelo Fadori Soares Palhares Prof. Mestrandro em Ciências da Motricidade - UNESP Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC E-mail: [email protected] Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan Profa. Mestre em Ciências da Motricidade - UNESP Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC E-mail [email protected] – 102 – Raquel de Magalhães Borges Mestre em Educação - PUC Minas Docente na Faculdade de Educação Física da Universidade Federal do Pará Coordenadora do Projeto Núcleo Escolar de Qualidade de Vida (UFPA/CAPES/ PIBID) e-mail: [email protected] Rodolfo Antonio Zagui Filho Especialita em Esportes e Atividades de Aventura – FMU Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/ UNESP-RC E-mail: [email protected] Gisele Maria Schwartz Livre-docência em Emoção e Aventura: Expressões intervenientes no estilo contemporâneo do lazer Docente na UNESP – Rio Claro Coordenadora do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/DEF/IB/UNESP- RC E-mail:[email protected] – 103 – TREINAMENTO EMPRESARIAL, ATIVIDADES DE AVENTURA E TECNOLOGIAS Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro As atividades de aventura têm sido exploradas por diversas áreas do conhecimento e para inúmeros fins, dentre eles, o treinamento empresarial. As atividades de aventura podem se tornar uma ferramenta interessante durante os treinamentos empresariais, principalmente pela característica de serem realizadas ao ar livre, e, na maioria das vezes, em contato com a natureza, mas será que os usos das tecnologias contribuíram para o aumento do número de empresas que oferecem esse tipo de atividade? Os treinamentos empresariais, geralmente, com formato mais metódico, com a utilização de palestras, cursos de aperfeiçoamento e dinâmicas de grupo vêm aprimorando suas técnicas e incorporando novas práticas, como a utilização das atividades de aventura. A simples alteração no espaço, saída de um ambiente muitas vezes fechado para um ambiente aberto, já pode representar mudanças na rotina de trabalhadores. A ideia é criar situações semelhantes às vivenciadas no cotidiano, porém, ao ar livre, com recursos diferentes, tentando, assim, alcançar objetivos previamente determinados. O ideal seria que as atividades estimulassem as potencialidades dos sujeitos envolvidos por meio de desafios, que levassem os sujeitos à reflexão (RINK, 2004). O número de empresas que oferecem treinamentos “outdoor” vem crescendo. Isto se tornou evidente, não somente pelo aumento no número de empresas que oferecem serviços ligados às atividades de aventura, mas, também, por ações conjuntas, como o aumento do número de pesquisas envolvendo a temática e a consolidação do CBAA - Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura, que está em – 104 – sua sétima edição, sendo concomitante, este ano, com o I CIAA Congresso Internacional de Atividades de Aventura. Além dessas iniciativas, a oferta deste tipo de serviço aumentou nos últimos anos, principalmente com o avanço das tecnologias. Em 2010, dos 294 associadas à ABETA - Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, 52 já ofereciam treinamento empresarial (TEODORO, 2011), sendo que este número pode ser bem maior, pois, neste estudo só foram contabilizadas as empresas que divulgavam este atrativo em seus sites. Levando em conta que muitas empresas não possuem sites, este dado acaba se tornando apenas uma estimativa. Outro exemplo que pode ser ressaltado é o de que, das 07 agências e operadoras associadas à ABROTUR - Associação das Empresas de Turismo de Brotas e Região, 04 divulgam este tipo de atrativo em seus sites, demonstrando, assim, que a oferta de treinamentos empresariais já é comum neste ramo de atividade. As terminologias utilizadas para esta prática variam de região para região. No caso das empresas associadas à ABETA, pode ser encontrado em seus sites: treinamento motivacional, treinamento ao ar livre, treinamento vivencial, eco-training, jogos empresariais, atividades empresariais, treinamento experencial, outdoor training, treinamento experencial ao ar livre, treinamento outdoor, treinamento corporativo, treinamento comportamental ao ar livre, entre outros. Cada uma dessas atividades pode ser distinta, porém, quando se verificam os objetivos, são encontradas grandes semelhanças entre elas. As atividades de aventura podem estar associadas às tecnologias, devido à grande preocupação com a segurança durante as práticas, pois, investe-se em equipamentos sofisticados, materiais resistentes, com maior durabilidade, e isto tudo utilizando aparatos tecnológicos. De acordo com o Ministério do Turismo (2008), a diversidade das atividades de turismo de aventura também tende a aumentar em decorrência dos avanços tecnológicos, tanto para a confecção de equipamentos quanto no aprimoramento das técnicas empregadas. Hoje em dia, até games com a temática de aventura foram lançados – 105 – no mercado, muitos, inclusive, simulando situações quase reais, com movimento e acessórios próximos aos reais. Além dos equipamentos, outros recursos, como a divulgação de serviços, também podem ser dado como exemplo no uso das tecnologias, dentre as principais estratégias utilizadas por essas empresas, seja por meio da divulgação em sites, propagandas, ou para a confecção de material impresso. As empresas que oferecem treinamentos empresariais, principalmente as associadas à ABETA, procuram deixar evidente nos sites a divulgação das atividades, investindo em marketing, utilizando estes recursos visuais para atrair a clientela. Durante a realização dos treinamentos empresariais, comumente se nota a utilização de tecnologias, como por exemplo, apresentação de vídeos, o uso de data-show e notebooks. Também são freqüentes, a comunicação via rádio, o uso de dispositivos como o Global Positioning System (GPS) e iPad em formato tablet. As atividades que antes utilizavam apenas carta topográfica e bússola, hoje, ganham reforços, com a utilização de carros de apoio equipados e dependendo da atividade, até jet-skis. A tecnologia que um dia, com a revolução industrial, afastou, de certa maneira, o homem do contato com a natureza, hoje, contribui para o aumento da adesão às práticas na natureza, tendo em vista que mais pessoas buscam atividades seguras, e isso não deixa de estar intimamente relacionada às tecnologias. No treinamento empresarial não poderia ser diferente, uma vez que mais empresas investem em equipamentos sofisticados e na divulgação dos serviços oferecidos. Contudo, as discussões acerca das atividades de aventura, treinamento empresarial e tecnologias estão longe de se esgotar, tendo em vista que esta área sofre constantes avanços e transformações e o treinamento empresarial começa a ganhar mais espaço no campo das atividades de aventura. Para tanto, reitera-se a necessidade de mais estudos, no sentido de ampliar as reflexões e práticas envolvendo as atividades de aventura e o treinamento empresarial. – 106 – Referências ABETA, Associação Brasileira de Ecoturismo e Turismo de Aventura. Disponível em: <http://abeta.tur.br/pt-br/>. Acesso em: 11 jul. 2012. ABROTUR, Associação das Empresas de Turismo de Brotas e Região. Disponível em: <http://www.abrotur.com.br/>. Acesso em; 11 jul. 2012. BRASIL, Ministério do Turismo. Turismo de aventura: orientações básicas. 2008. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/export/ sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_ publicacoes/Livro_Aventura.pdf> Acesso em: 10 jul. 2012. RINK, B. Treinando a razão e a emoção. In: DINSMORE, P. C. (Org.). Treinamento experencial ao ar livre: uma revolução em educação empresarial. Rio de Janeiro: Editora SENAC Rio, p.35-40, 2004. TEODORO, A. P. E. G. As atividades de aventura no mercado corporativo. In: MARINHO, A.; COSTA, E. T.; SCHWARTZ, G. M. (Org.). Entre o urbano e a natureza: a inclusão na aventura. São Paulo: Lexia, p.27-35, 2011. – 107 – TECNOLOGIAS, O IDOSO E A BUSCA POR AVENTURA NOS VIDEOGAMES Amanda Mayara do Nascimento No mundo contemporâneo, as novas tecnologias se mostram cada vez mais presentes no cotidiano da população. A crescente criação de ambientes altamente informatizados está gerando uma ampla diversidade de atividades eletrônicas em muitas esferas da vida humana, onde, pode-se perceber o surgimento de uma nova dimensão da nossa sociedade. Uma dessas novas tecnologias que têm sido cada vez mais utilizadas por pessoas de diferentes faixas etárias, são os videogames, os quais, atualmente, representam uma parte significativa dos novos aparatos tecnológicos domésticos, no que se refere ao contexto mundial: atraem o interesse, não apenas de crianças e adolescentes, mas de adultos e idosos, que vêm utilizando cada vez mais os seus consoles, jogos e outros acessórios. Esses novos videogames permitem novas formas de interação do corpo em movimento aos ambientes virtuais, que são propostos em diferentes tipos de jogos. Além disso, essas novas formas de práticas corporais associados às tecnologias virtuais têm modificado a maneira como os indivíduos realizam suas atividades físicas e adotam estilos de vida mais saudáveis. Trabalhos nessa temática evidenciam que existem alguns modelos de videogames ativos sendo mais utilizados, por propiciar ao usuário a possibilidade de vivenciar algumas atividades do contexto da vida real como, por exemplo, o Kinect XBox 360 e o console Wii da Nintendo. Em relação a estes videogames, o console Wii da Nintendo, criado pela Microsoft em 2006, nos EUA e posteriormente no Japão e Europa, representa o quinto console do videogame da Nintendo (PERANI; BRESSAN, 2007). Caracteriza-se por ser um console de – 108 – videogame doméstico, em que a principal ação é a utilização de dispositivos sem fio para detectar os movimentos do usuário e, dessa forma, obter o controle sobre o jogo. Essas características específicas começaram a possibilitar que os usuários não precisassem continuar restritos ao aperto de botões ou joysticks para controlar os seus jogos. Com o console Wii, tornou-se possível movimentar, apontar, inclinar e balançar o controlador, o que abriu uma nova perspectiva de utilização do game para a prática de jogos baseados em esportes, como, por exemplo, o golfe, o tênis e o surf. Entre os jogos existentes para a utilização no console Wii, existem alguns que simulam atividades de aventura na natureza, como por exemplo: • Mountain Sports: jogo de esportes na neve, com seis modalidades diferentes, esqui, snowboard, trenó, curling, biatlo e tobogã. • Shaun White Snowboarding: um simulador real do snowboarding, que apresenta pistas no Japão, Europa, Alaska e Estados Unidos. O jogo apresenta uma abordagem realista, com todas as dificuldades reais que um atleta enfrenta ao descer uma montanha de gelo sobre uma prancha. • We Ski e Snowboard: um jogo que tem como aparato o suporte Balance Board (também chamada de balança de equilíbrio – um suporte do jogo), onde, o jogador poderá imitar os movimentos sobre uma prancha. • Free Running: game baseado no esporte urbano Parkour (corrida com obstáculos e acrobacias usando elementos da cidade). O jogo permite uma adaptação aos controles interativos, para dar mais realismo aos movimentos do jogador e criar novas formas de completar os percursos. Outro videogame, o Kinect XBox 360, criado em 2012, tem uma nova tecnologia, com a qual, os jogadores podem interagir com os jogos eletrônicos sem a necessidade de ter nas mãos um controle. – 109 – Desse modo, o campo dos jogos se destacou ainda mais, devido a essas grandes inovações, que foram iniciadas desde a criação do console Wii. Nos jogos do Kinect Xbox 360, a sensação de contato do usuário com os esportes na natureza é ainda maior, uma vez que, o mesmo tem a possibilidade de realizar os movimentos corporais mais próximos daqueles exigidos na prática real. Além disso, a ausência do controle no jogo permite uma conexão participante/game de modo mais intenso, onde, é possível a expressão dos movimentos com maior liberdade. No que se refere aos jogos do Kinect Xbox 360 pautados na prática esportes na natureza tem-se: • Adrenaline Motionsport: jogo com seis modalidades simuladas em ambientes naturais, com atividades como Wingsuit, Mountan bike, Kayak, Esqui, Escalada, Kitesurf. • MotionSport: possui simuladores de esportes como, asa delta, esqui na neve e outros esportes. • Kinect adventure: jogo com simulador de bóia-cross e rafting Os Idosos e as Atividades de Aventura Praticadas nos Videogames A informatização e a indústria tecnológica crescentes na sociedade contemporânea fazem com que uma grande parcela da população se aproprie desses conhecimentos, inclusive os idosos. Sendo assim, os mesmos estão se mostrando cada vez mais interessados na utilização dos aparatos tecnológicos como meio para interagir na sociedade atual, visando obter maior bem-estar, saúde e qualidade de vida. De acordo com Dé Gaspari (2005), a respeito do maior acesso do idoso à informação, bem como, da interação ativa em diversos ambientes, os idosos estão tendo mais oportunidades, em diversas esferas, principalmente no âmbito do lazer, de ressignificar sua existência, sua própria aprendizagem, sua condição como cidadão e sua participação efetiva dentro dos segmentos – 110 – da sociedade nos quais estão inseridos. A população idosa, que hoje começa a se interessar pelo uso de novas tecnologias, como os jogos eletrônicos, conviveu, por muito tempo, com uma ideia de que os videogames, eram exclusividade dos jovens. Também, de que eram utilizados apenas por jovens que permaneciam, por muito tempo, sentados, controlando os jogos com a utilização das mãos. Nesse sentido, como salienta Papastergiou (2009), o aspecto negativo relacionado ao uso dos videogames para prática de atividade física, frequentemente, esteve associado ao fato desses aparatos tecnológicos serem manuseados, na maioria das vezes, por controle manual. Além disso, a utilização de videogames por um grande período de tempo foi visto como uma atividade que poderia ocasionar diversos problemas para a saúde tais como, diversas lesões, comportamento agressivo e pouco convívio em sociedade devido ao excessivo tempo gasto para os jogos. No entanto, essa ideia foi, no decorrer dos anos, se modificando, na medida em que novos consoles de videogames foram sendo criados e/ou modificados, passando a possibilitar a interação corporal dos usuários com o aparelho. Os novos consoles permitem que os usuários possam praticar atividades físicas ou esportivas utilizando-se dos movimentos do seu próprio corpo, reforçando, assim, essa concepção de interação corporal. Além disso, nota-se que os jogos eletrônicos, têm apresentado para o idoso uma interessante alternativa para a prática de exercício de maneira lúdica e prazerosa. Pesquisas vêm dando atenção às melhorias observadas nos idosos, decorrente da utilização dos videogames como instrumento para a prática de exercício físico e, também, do interesse desses praticantes por essa atividade. Dessa forma, o idoso tem encontrado nesses videogames uma maneira de potencializar o equilíbrio e o condicionamento físico (WILLIAMS et al., 2010), diminuindo os riscos de depressão (ROSENBERG et al., 2010) e ampliando os momentos de descontração e entretenimento (TORRES; ZAGALO, 2007). – 111 – Além dos benefícios possibilitados por esses jogos, é possível perceber que, com eles, os idosos têm maior possibilidade de vivenciar alguns tipos de atividades que, muitas vezes, não possuem a oportunidade de experimentar em ambiente real, como por exemplo, as atividades de aventura praticadas na natureza. As vivências nessas atividades de aventura se mostram de extrema relevância, uma vez que, proporcionam o estabelecimento de novas conexões entre os indivíduos envolvidos no lazer e em outras ações da vida humana, contribuindo para o surgimento de novas relações de amizades, além de novas sensações e emoções (MARINHO, 2008). Entretanto, o que se pode perceber é que ainda existe uma grande dificuldade dos idosos em vivenciar estas experiências, pois, geralmente, são motivados a desenvolverem apenas atividades com reduzido esforço, como caminhadas ecológicas, trilhas e passeios turísticos, o que torna perceptível a falta de preparo dos profissionais em lidar com as exigências e peculiaridades dessa população (DIAS; SCHWARTZ, 2005). Nessa perspectiva, a relação do idoso com a prática de atividades de aventura na natureza é ainda percebida, na maioria das vezes, com grande preconceito, devido a alguns mitos vinculados a essas atividades. Pelo fato dessas atividades estarem intimamente associadas com elementos como a busca pelo prazer, a superação dos próprios limites e com sentimentos vertiginosos, o acesso e a prática a elas está associado, na maioria das vezes, às pessoas mais jovens (DIAS, 2006). Diante dessa realidade, é possível perceber que os videogames que simulam vivências em atividades de aventura na natureza, permitem que a população idosa tenha a oportunidade de aproximação com esses tipos de ambientes com situações mais desafiadoras, como a práticas de escala, bóia-cross, entre outras atividades, de modo simulado, o que pode auxiliar a quebrar alguns padrões e estigmas. Além disso, essa maior aproximação do idoso com os jogos de videogames que envolvem atividades de aventura, pode se tornar um fator de incentivo para futuras aderências dos idosos a essas modalidades fora do ambiente virtual. – 112 – Ainda, os elementos que envolvem as atividades de aventura na natureza praticadas com o auxílio de videogames contribuem para que indivíduos idosos se tornem fisicamente ativos, por meio de práticas prazerosas e estimulantes, em que os mesmos possam tomar consciência de suas próprias potencialidades na tentativa de alcançar a superação de seus limites. Portanto, percebe-se que esse assunto tem instigado inúmeras reflexões, pois, a busca por alternativas que favoreçam a experimentação de emoções nas atividades de aventura atrelada às novas tecnologias não é mais exclusividade de uma faixa etária específica, mas de todas as fases que englobam o desenvolvimento humano. Contudo, ainda são necessários outros estudos, para que o videogame ativo possa ser realmente afirmado como sendo um instrumento que atende às necessidades reais do idoso em relação à prática de atividades de aventura na natureza. Referências DE GÁSPARI, J. C.; SCHWARTZ, G.M. O idoso e a Ressignificação Emocional do Lazer. Revista Psicologia, Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 21, n. 1, p. 69-73, 2005. DIAS, V. K. A participação de idosos em atividades de aventura na natureza no âmbito do lazer: valores e significados. (Mestrado em Ciências da Motricidade) Curso em Ciências da Motricidade, Departamento de Educação Física, UNESP, Rio Claro, 2006. DIAS, V. K.; SCHWARTZ, G. M. Conduta ética e atividades de aventura: o (des) preparo do mercado para o atendimento ao idoso. In: ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER, XVII, 2005, Campo Grande. Anais..., Campo Grande, 2005. MARINHO, A. Lazer, Aventura e Risco: reflexões sobre atividades realizadas na natureza, Movimento, Porto Alegre, v. 14, n. 02, p. 181-206, maio/agosto de 2008. – 113 – PAPASTERGIOU, M. Exploring the potential of computer and videogames for health and physical education: A literature review. Computers e Education, Oxford, v. 53, n.3, p.603-622, 2009. PERANI, L.; BRESSAN, R. T. Wii will rock you: Nintendo Wii e as relações entre interatividade e corpo nos videogames. IN: VI Simpósio Brasileiro de Jogos para Computador e Entretenimento Digital - SBGames. Anais... São Leopoldo: Unisinos, 2007. ROSEMBERG, D.; DEPP, C. A.; VAHIA, I. V.; REICHSTADT, J.; PALMER, B. W.; KERR, J. et al. Exergames for Subsyndromal Depression in Older Adults: A Pilot Study of a Novel Intervention .The American Journal of Geriatric Psychiatry, Philadelphia, v.18, p.221-226, 2010. TORRES, A.; ZAGALO, N.; Videojogos: um novo meio de entretenimento de idosos. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 5., 2007, Braga. Anais... Braga, 2007. p. 2167-2175. WILLIAMS, M. A.; SOIZA. R. L; JENKINSON, A. M.; STEWART, A. Exercising with Computers in Later Life (EXCELL) - pilot and feasibility study of the acceptability of the Nintendo WiiFit in community-dwelling fallers. BioMed Central, London, v. 3, p. 2- 8, 2010. – 114 – TECNOLOGIAS, DIFERENÇAS DE GÊNERO E ESPORTE DE AVENTURA Giselle Helena Tavares Há muito tempo, as mulheres vêm lutando por igualdade e melhores oportunidades sociais de diferentes maneiras e em diferentes contextos. Mas, apesar de muitas lutas e revoluções, esta realidade ainda está longe de ser totalmente alterada, haja vista o desrespeito e a falta de credibilidade com que ainda são tratadas. Quando o enfoque recai diretamente no âmbito do lazer, este panorama é ainda mais ampliado, tendo em vista receber os resquícios desses estigmas sociais. Segundo Messner (1992), em todos os segmentos sociais, a mulher sempre teve que lutar por seus direitos e para ser inserida nos diversos setores. No âmbito do esporte em geral, e particularmente nos esportes de aventura, parece que esta saga ainda perdura até os dias atuais, já que o esporte representa um meio bastante profícuo para a construção de simbologias de gênero. Ao se focalizar o âmbito esportivo, não raro, podem ser percebidos entraves ainda indissolúveis, referentes à inserção da mulher em determinadas modalidades esportivas. No esporte de aventura, ainda que algumas pioneiras tenham se envolvido espontaneamente em algumas práticas, muitas modalidades negligenciaram a presença feminina ao longo da história, sendo que apenas atualmente, foram adaptadas regras capazes de aceitar a mulher em equipes esportivas no contexto do esporte de aventura. Pode-se citar como exemplo, a corrida de orientação, em que a mulher, por sua persistência e insistência, conseguiu apoio para sua inserção, com a implementação de novas regras, agregando um componente do sexo feminino nas equipes, em algumas modalidades. Outros esportes adotam regras diferenciadas, para adequar – 115 – os níveis de exigência motora às condições femininas, com modalidades específicas. Ao se analisar o ciclismo como exemplo, apenas nas Olimpíadas de Barcelona é que a mulher brasileira se inseriu nas provas, sendo que Claudia Carceroni, inclusive, foi a única mulher brasileira a integrar a prova Tour de France, nos idos de 1989. Isto demonstra a dificuldade enfrentada por representantes do sexo feminino para avançar no âmbito esportivo. Porém, ainda que alguns aspectos já tenham sido alterados, no caso do mountain bike, a diferenciação entre as provas masculinas e femininas, em que nestas últimas não existe divisão por categorias, acarreta um descontentamento e desmotivação das atletas envolvidas. Nas reflexões feitas por Gill e Kamphoff (2010), foi possível evidenciar que estas discussões são imprescindíveis, no sentido de favorecer a desconstrução da idealizada supremacia masculina associada ao mundo do esporte, em busca da justiça de gênero e de superar as lacunas impregnadas na realidade social. Só assim é que se pode reconhecer a importância do papel feminino nessa nova construção do esporte contemporâneo. Ainda neste sentido, Goellner (2003), pesquisadora nos campos de estudos do gênero e educação física, destaca que os atributos sociais que são vinculados à imagem feminina, são de bela, feminina e maternal, perdendo todo o foco nos outros papéis já assumidos pela mulher na sociedade, seja no contexto do esporte, ou no mundo do trabalho. Entretanto, mesmo que ainda incipientes, as mulheres parecem iniciar tentativas no sentido de buscar mudanças que possam alterar, de alguma forma, os valores pré-estabelecidos pela sociedade. Neste sentido, foi necessário desenvolver novas estratégias, que possibilitem esta mudança de paradigmas e promover reflexões importantes sobre as questões de diferenças de gênero, utilizando como aliada, a revolução tecnológica pela qual perpassa os tempos atuais. Algumas mulheres já começaram a tentar vencer essas barreiras, e tornaram-se aliadas em uma luta pela igualdade de direitos nos esportes de aventura, utilizando estratégias ligadas ao uso de tecnolo– 116 – gias da informação. Uma dessas investidas se refere a dar maior visibilidade a suas próprias figuras e às modalidades às quais pertencem, criando canais de rápida comunicação, especialmente utilizando o ambiente virtual. Já estão sendo vistos diversos blogs, sites, chats e o uso da internet, para a disseminação de dados e informações sobre essas atividades. Além disso, por meio das redes sociais, é possível que sejam formados grupos com necessidades comuns, que vivenciam uma mesma modalidade ou atividade, para que sejam realizadas discussões e práticas conjuntas. Já se pode notar, ao se fazer buscas informais pela internet, a disseminação de informações sobre as ações que já vêm sendo realizadas por mulheres esportivas de aventura, como, por exemplo, resultados de competições, participações em campeonatos, tanto em nível nacional como internacional, práticas coletivas, locais apropriados para a vivência, entre outros temas relacionados. No que se refere ao contexto científico, as tecnologias da informação também vêm auxiliando no sentido de disseminar os estudos e pesquisas que são realizados neste tema associando a mulher às atividades de aventura. Apesar de ainda bastante restritos, Schwatz et al. (2010) puderam identificar alguns avanços que demonstram o interesse de pesquisadores em explorar este campo de pesquisa, favorecendo reflexões que auxiliem no entendimento do real papel da mulher no contexto das atividades de aventura. A pesquisa desenvolvida por estas autoras evidencia que os estudos realizados no campo científico demonstram que alguns tabus já vêm sendo automaticamente derrubados, especialmente aqueles referentes à masculinização da mulher praticante de esportes, ou da inferioridade feminina, ou ainda, de baixa condição psicológica para aguentar pressões. Além disso, com base nesta pesquisa, é possível evidenciar que estes aspectos estão totalmente arraigados muito mais a estigmas psicossociais, do que propriamente à condição biológica, sendo que a ciência vem gradativamente provando isto como fato. Mesmo que estas iniciativas já estejam sendo realizadas, muito ainda se deve percorrer para que o caminho da igualdade de gêne– 117 – ros efetivamente aconteça no ambiente esportivo, especialmente no contexto das atividades de aventura. Para isto, torna-se necessário utilizar todo o potencial disseminador das tecnologias da informação, para que estas sejam ferramentas importantes, na tentativa de mudança de paradigma social, no que se refere à atuação de mulheres no contexto esportivo. Referências GILL, D. L.; KAMPHOFF , C. S. Gender in Sport and Exercise Psychology. In J.C. CHRISLER; D.R. MCREARY (Org.) Handbook of Gender Research in Psychology. Springer Science: Business Media, 2010. p. 563-585. GOELLNER, S. Bela, Maternal e Feminina: imagens da mulher na Revista Educação Physica. Ijuí: Unijuí, 2003. MESSNER, M. Boyhood, organized sports, and the construction of masculinities. In: KIMEL, M.; MESSNER, M. Men´s lives. New York: Macmillan Publishing, 1992. p. 131-161. SCHWARTZ, G. M. ; KAWAGUTI, C. N. ; TAVARES, G. H. ; TEODORO, A. P. E. G.; TREVISAN, P. R. T. C. Gênero e atividades de aventura em periódicos internacionais de ciências humanas. Impulso, Piracicaba, v. 20, n.50, p. 63-72, 2010. – 118 – RECURSOS TECNOLÓGICOS NAS ATIVIDADES DE AVENTURA COMO APELO PRÓ-AMBIENTAL Juliana de Paula Figueiredo Os recursos tecnológicos voltados à captação de imagens e de disseminação de informações, não raro, provocam sensivelmente o imaginário humano de diferentes formas (SALVATORI, 2007). Por este motivo, quando são utilizados para a divulgação de informações sobre os diversos tipos de atividades de aventura, podem representar fatores motivadores de novas atitudes e condutas em relação ao ambiente. Isto é decorrente do apelo emocional envolvido, já que o ser humano, ao se deparar com a beleza estética de algum lugar, ou mesmo com a fauna exótica, é tocado de diferentes maneiras. Entre os inúmeros recursos tecnológicos de divulgação de imagens sobre atividades de aventura utilizados atualmente, a fotografia, tanto de forma impressa, como aquela dos sites do ambiente virtual, representa um elemento bastante importante, haja vista que compõe as inúmeras estratégias de persuasão das empresas envolvidas, para comercializarem seus produtos. No que concerne à fotografia, esta representa um suporte imagético que se configura como representação de um momento, lugar ou pessoa, pelo olhar de alguém (APOLINÁRIO, 2011). Esse recurso tecnológico instiga interpretações carregadas de emoções, tendo em vista que o momento capturado é o que fez a diferença na visão de quem capta a fotografia. Ainda que uma tomada fotográfica possa representar o momento-chave para quem a capturou, também aquele que aprecia determinada foto pode imprimir a ela legendas subliminares atreladas à consciência, ao pensamento e ao imaginário. Esta perspectiva demonstra, assim, o fascínio deste recurso tecnológico, o qual vem sen– 119 – do amplamente utilizado como estratégia de marketing das empresas de ecoturismo e turismo de aventura. Uma foto pode representar a história de uma localidade, a realidade cultural, a pluralidade artística, mas também, a sensibilidade de determinada pessoa, capaz, muitas vezes, de fabricar o belo, o inusitado ou o extravagante, para além da realidade em si, apenas com seu olhar incisivo, persuadido por algum apelo momentâneo. Além disto, uma fotografia pode estimular novas emoções, conforme o significado pessoal a ela impresso por quem a vê, o que tem estreita relação com o enredo psicológico de cada observador. A fotografia, muitas vezes, deixa de ser simples objeto ou produto da tecnologia, para representar formas de pensar, de olhar, compreender o mundo e expressá-lo. Ver, o que outros não vêem, ou não valorizam como foco, é uma das potencialidades desse recurso. Ao se analisar de modo assistemático as informações contidas em prospectos e outros materiais impressos, ou mesmo, em sites especializados em serviços sobre atividades de aventura, podese perceber os apelos que são escolhidos. Entre eles, encontram-se fotos de lugares paradisíacos, de animais exóticos, de possibilidades de vivências emocionais de alegria e de união familiar, entre tantos outros aspectos. Em todas estas fotos veiculadas de modo impresso ou no ambiente virtual nos sites, pode-se notar a limpeza dos locais em evidência, a harmonia das estruturas hoteleira e de prática de aventura com o ambiente natural. Também, são notadas as emoções de alegria e prazer que perpassam as expressões corporais dos envolvidos com estas atividades. Todos esses apelos podem efetivamente ser tomados como estratégias coadjuvantes para favorecer nova consciência ambiental, já que provocam o lado estético e ético envolvidos com a beleza dos locais de práticas e com experiências de sucesso e prazer. Conforme a antropologia visual (SAMAIN, 1998), a perspectiva da fotografia é imprimir na pele do que o autor chamou de corpo visível do ser hu– 120 – mano, seus signos e marcas sociais, por intermédio de outra pele, que seria a película dos filmes fotográficos. Para Barthes (1990), a fotografia permite reconhecer as singularidades e riquezas presentes no olhar de quem capta a imagem (fotógrafo) e de quem a visualiza (observador), ambos imprimindo à foto uma visão particular de mundo. De todo modo, esta visão de mundo é pertinente ao sujeito e está sob a égide dos apelos emocionais vinculados à experiência vivida. Assim, ao se deparar com as fotografias utilizadas pelas agências de atividades de aventura, as pessoas podem usar os recursos do imaginário e adquirirem as atividades para que as emoções imaginadas possam efetivamente acontecer, dentro das premissas de segurança e ética exigidas, o que parece envolver o construto ambiental. Os elementos mais atraentes de uma fotografia, conforme Salvatori (2007) são aqueles que provocam o despertar da imaginação e da memória. Estes elementos recriam emoções e sensações peculiares, advindas da busca as projeções do imaginário. Entretanto, ainda que a fotografia impressa e divulgada nos sites das agências já sejam consideradas estratégias essenciais atrativas na comercialização dessas atividades de aventura, muito ainda se tem que debruçar o olhar para se compreender melhor esse fenômeno. Em âmbito dos estudos acadêmicos, diversas inquietações são geradas, passíveis de novos estudos, entre elas: • Quais seriam as outras potencialidades da fotografia para as pesquisas com as atividades de aventura? • De que modo pode ser apropriado esse recurso tecnológico referente à fotografia, para estimular novas condutas próambientais? • Como a singularidade desta linguagem pode acessar o emocional humano a ponto de catalisar novas atitudes e valores em relação ao ambiente? – 121 – Tendo em vista estes desafios, torna-se relevante que sejam estimulados outros estudos, capazes de ampliar a compreensão do uso destes recursos tecnológicos relacionados às atividades de aventura e à perspectiva de adoção de comportamento pró-ambiental. Referências APOLINÁRIO, M. S. de J. Fotografia: poética do instante contínuo. Revista Letras & Letras, Uberlândia, v. 27, n. 2, p. 399410, jul./dez. 2011. Disponível em: <http://www.letraseletras.ileel. ufu.br/include/getdoc.php?id=1622&article=716&mode=pdf>. Acesso em: 11 jul. 2012. BARTHES, R. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Tradução Lea Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. SALVATORI, M. Imaginário e representação: alguns apontamentos sobre a fotografia no processo de criação. Visualidades, Goiânia, v. 5, n. 1, p. 136-145, 2007. Disponível em: <http://www.revistas. ufg.br/index.php/lucianahidemi/article/view/18041>. Acesso em: 11 jul. 2012. SAMAIN, E. Um retorno à Câmara Clara: Roland Barthes e a Antropologia Visual. In: SAMAIN, E. (Org.). O fotográfico. São Paulo: Hucitec/CNPQ, 1998, p. 115-128. – 122 – ATIVIDADE DE AVENTURA E VIOLÊNCIA: POSSÍVEIS RELAÇÕES? Marcelo Fadori Soares Palhares O objetivo deste capítulo é trazer reflexões acerca das atividades de aventura e uma possível relação destas com a violência. Inicialmente, tais temas não possuem relação, porém um olhar mais atento poderia revelar alguns elementos dessa relação. Provavelmente, a aparente desconexão de atividades de aventura e violência fundamente-se na concepção acerca da violência, que no senso comum, fica restrita a embates ou confrontos físicos. No entanto, o conceito de violência é muito mais abrangente e complexo. Atualmente, a violência é um tema que aflige o ser humano. Ao sair de casa, muitas pessoas adquiriram o hábito de fechar janelas e portas, trancar portões e esconder as chaves. As crianças não podem mais brincar nas ruas e mitos evitam sair à noite. Seria este um mal da modernidade? Marcondes Filho (1986) coloca que a globalização gerou o seu reverso, a fragmentação, na qual os indivíduos possuem sociabilidades limitadas, em decorrência de inúmeros fatores, sendo um deles o crescimento da violência. Vive-se uma época de conflito entre seres humanos, o outro deixa de ser um possível aliado e se torna o desconhecido, um possível ameaçador. Dentro deste cenário, brigas, crime, morte, roubo, estupro, são palavras que, em alguns cenários urbanos, chegam a ser comuns, todavia, indubitavelmente, elas remetem à violência, que ainda choca e deprime Somente estas palavras não contemplam a complexidade de tal fenômeno. Essa complexidade pode ser evidenciada na constante preocupação humana em torno dessa questão, da dificuldade na realização de ações concretas e eficazes em relação a esta, bem como, na série de estudos, acadê– 123 – micos ou não, de diferentes áreas do conhecimento, envolvendo e focalizando a violência. Para melhor compreensão deste amplo fenômeno, é prudente fazer uma busca pela etimologia da palavra. Do latim violentia, e com raiz semântica ‘vis’, violência significa força (ABBAGNANO, 2000). A análise etimológica traz esse elemento força para a definição da violência, porém somente este elemento não é suficiente para tal definição. Existe um elemento primordial na conceituação da violência referente à intencionalidade, que a torna esse fenômeno plural a ser elucidado. Na violência há intenção deliberada em causar lesão ou dano a outrem (MACHADO, 1997) e, exatamente este julgamento é que fica, muitas vezes, obscuro. Pode-se analisar as guerras, os crimes, o terrorismo, os assaltos e as torturas, além de diversas outras práticas humanas, que são intencionais e objetivam causar lesão ou dano a alguém, entretanto, uma guerra pode ser deflagrada apenas pela justificativa de defesa de território ou de um bem patrimonial, o que pode gerar dúvidas quanto à intencionalidade. Geralmente, os danos da violência são físicos, porém a violência também causa graves repercussões psicológicas, como nos regressos de guerras e mulheres violentadas sexualmente, por exemplo. Além de ser complexa, a violência é multifatorial e heterogênea, polimorfa, ou seja, possui diversas manifestações e causas (MURAD, 2007). Atualmente, conforme salienta Wieviorka (1997), seria necessário reconsiderar o conceito de violência, pois elementos como: a crise internacional, narcotráfico, subdesenvolvimento e o terrorismo seriam elementos atuais e que se constituem como capazes de estabelecer um novo paradigma de violência. Murad (2007) corrobora Wieviorka (1997) e aponta que o século XX foi o século no qual o ser humano mais trabalhou para a resolução de problemas envolvendo a violência. A partir desta conceituação de violência e elucidação de sua complexidade, foca-se a atenção para as possíveis relações com as atividades de aventura. Estas atividades de aventura são caracte– 124 – rizadas como práticas corporais, vivenciadas em um ambiente geralmente natural, no tempo destinado a atividades do âmbito do lazer, que fogem à rotina e podem proporcionar diversas vivências significativas (MARINHO; SCHWARTZ, 2005). São também caracterizadas pelo risco calculado e pela presença de elementos tecnológicos que procuram garantir a segurança almejada (MARINHO; BRUHNS, 2003). A busca pelo novo, o desconhecido, aquilo que é fora dos padrões é muito presente para os praticantes de atividades de aventura. Tal iniciativa representa um paradoxo e a necessidade de quebra de padrões, pois, na vida cotidiana, se vive uma rotina, o previsto, o conhecido e, nestas atividades, o desconhecido, o risco e a imprevisibilidade, que são os elementos predominantes. Tal procura deve-se ao fato de o ser humano buscar atividades prazerosas, sensibilizadoras e que proporcionem a superação de limites, sejam eles internos e/ou externos (TAHARA; SCHWARTZ, 2002). A busca pelo ambiente natural pode ser também justificada pela ausência ou escassez deste dentro do cenário urbano. Baudrillard (1995) aponta o quadro atual das cidades mundiais, nas quais a natureza se constitui como um signo, devido ao tamanho estado de devastação da mesma na realidade concreta. Este afastamento da natureza teria trazido consequências ao ser humano? Schwartz (2006) aponta fatores socioeconômicos, bem como, a discrepância nas oportunidades de formação cultural e na participação em atividades na natureza, como elementos que poderiam causar mudanças importantes em relação às concepções e valores humanos frente à natureza. Neste contexto globalizado, porém, ainda ditado pelas regras do capital, existem oportunidades e condições que diversas pessoas não possuem, sendo que a participação em atividades de aventura poderia ser um exemplo disto. Tal limitação na participação interfere negativamente no possível desenvolvimento, em diversos âmbitos, que estas vivências junto à natureza poderiam trazer ao indivíduo. – 125 – Após esta breve explanação sobre cada um dos temas, como pensar na violência no âmbito das atividades de aventura? Como poderiam, estas atividades, alocar a violência? Marinho e Schwartz (2005) sinalizam que a violência pode se fazer presente nas atividades de aventura, pois estas poderiam desencadear ações negativas, destrutivas em relação ao meio ambiente, sendo assim, destoantes da intenção primária, de interação com a natureza. Desta forma, destaca-se a necessidade de considerar as atividades de aventura dentro de um contexto social mais amplo e em estreita interrelação com este contexto. Dentro dessa lógica capitalista e consumista privilegiada nas sociedades atuais, conforme lembra Marinho (2001), a natureza se torna mais um produto e uma forma de consumo, sendo, somente, um local para a realização das atividades de aventura, que passam a ser descontextualizadas de um objetivo maior, podendo proporcionar experiências significativas. Um exemplo disto, apontado por Marinho (2001) é a expedição mata atlântica (EMA), na qual há grande quantidade de patrocinadores envolvidos nesta corrida de aventura. Esta quantidade elevada de patrocinadores reflete o interesse comercial sobre a atividade e sobre a apropriação da natureza como cenário de prática apenas. A partir deste exemplo, pode-se indagar: será que estas atividades atendem apenas aos interesses mercadológicos, somente consumindo a natureza? Ou realmente visam oferecer um contato mais próximo e o subsequente desenvolvimento pessoal na prática destas atividades? Tal reflexão também auxilia a compreender o atual objetivo da maioria dos envolvidos com a aventura e uma possível aparição da violência, com a exacerbação da exclusão, visto que este mercado das atividades de aventura, ainda é inacessível à grande parte da população brasileira. Algumas iniciativas já se fazem presentes para contrapor a esta situação, podendo-se observar o aumento da inclusão a algumas atividades de aventura, por meio – 126 – de adaptações feitas, por exemplo, para receber deficientes ou grupos especiais, como idosos e crianças, mas, estas iniciativas são particularizadas. Porém, muitas ainda se configuram como atividades que exigem equipamentos com alto custo e praticados por poucas pessoas com melhor nível econômico. Outro fator que pode ser considerado uma violência é a relação de poder estabelecida na interação ser humano-natureza. Segundo Elias e Dunning (1992) nas relações interdependentes, o menos dependente estabelece poder sobre o mais depende. Na relação ser humano-natureza, o homem, geralmente, quer dominar a natureza, ou seja, estabelecer poder sobre esta. Ao tentar dominar a natureza, talvez, o ser humano cometa uma das maiores violência, por não gerenciá-la de maneira adequada. A partir deste pensamento de poder, seriam totalmente justificáveis as ações de turismo insustentável que se observa na atualidade. Dentre estas ações pode-se citar a prática de atividades de aventura sem preocupações ambientais, causando diversos impactos e danos ambientais, gerando poluição, desmatamento e destruição de trilhas naturais, por exemplo. A violência também poderia ser manifesta na inequidade de participação dos portadores de necessidades especiais e mulheres no campo das atividades de aventura. Estes são alguns exemplos nos quais é possível se estabelecer relação das atividades de aventura com violência. Tais reflexões podem auxiliar a repensar sobre a atual configuração das atividades de aventura e possíveis estratégias para torná-las mais acessíveis e inclusivas, minimizando alguns aspectos relativos à violência. Esta temática da violência representa um desafio para novos estudos, que possam investigar as percepções dos principais atores das atividades de aventura sobre a violência, bem como, suas possíveis manifestações nas atividades de aventura e modos de prevenção. – 127 – Referências ABBAGNANO. N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. BAUDRILLARD, J. A sociedade do consumo. Rio de Janeiro: Elfos, 1995. ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992. MACHADO, A. A. (Org.). Psicologia do esporte: temas emergentes. Jundiaí: Ápice, 1997. MARCONDES FILHO, C. O que todo cidadão precisa saber sobre violência das massas no Brasil. São Paulo: Global, 1986. MARINHO, A. Lazer, natureza e aventura: compartilhando emoções e compromissos. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 22, n. 2, PP.143-153, 2001. MARINHO, A.; BRUHNS, H. T. (Orgs.) Turismo, lazer e natureza. São Paulo: Manole, 2003. MARINHO, A; SCHWARTZ, G. M. Atividades de aventura como conteúdo da educação física: reflexões sobre o seu valor educativo. Revista Digital Efdeportes, Buenos Aires, n. 88, set. 2005. MURAD, M. A violência e o futebol: dos estudos clássicos aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. SCHWARTZ, G. M. (Org.). Aventuras na natureza: consolidando significados. Jundiaí: Editora Fontoura, 2006. – 128 – TAHARA, A. K.; SCHWARTZ, G. M. Atividades de aventura: análise da produção acadêmica do ENAREL. Licere, Belo Horizonte, v.5, n.1, p. 50-58, 2002. WIEVIORKA, M. O novo paradigma da violência. Revista de Sociologia, São Paulo, v. 9, n.1, pp. 5-41, 1997. – 129 – ATIVIDADES DE AVENTURA, TECNOLOGIAS E USO DA CRIATIVIDADE Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan A realidade tecnológica que se instalou no cotidiano do trabalho, da educação e do lazer, cada vez mais, apresenta propósitos significativos ao ser humano, acarretando, inclusive, mudanças nas formas de apreciação e nas suas relações interpessoais. Entre as diferentes formas de apropriação da tecnologia, encontra-se a crescente demanda por atividades vivenciadas em ambiente natural, como os esportes e atividades de aventura, mercados bastante importantes na sociedade atual. A associação entre atividades de aventura e tecnologias permitiu maior envolvimento de estímulos em diferentes âmbitos. Isto favoreceu maior percepção de aspectos capazes de retratar e aflorar a sensibilidade, diferentes estados emocionais, o imaginário humano, a conscientização sobre potencialidades que estavam ainda embotadas e a criatividade na resolução de problemas e tomadas de decisões. Cada vez mais, programas e equipamentos sofisticados que enriquecem as diversas formas para se experimentar tais atividades, estendem oportunidades para além das vivências práticas. No ambiente virtual, os simuladores têm sido altamente desenvolvidos, tornando-se um aliado no aprimoramento de diversas capacidades. Além disso, a criatividade e a imaginação envolvidas nessas atividades comprovam a originalidade e o pensamento divergente daqueles que criam estes recursos. Esta apropriação dos recursos tecnológicos se torna um campo capaz de instigar inquietações para novas pesquisas no âmbito acadêmico e tem se tornado um alvo interessante dos mais distintos setores – 130 – da sociedade. Estas possibilidades são vislumbradas como espaços recorrentes para a vivência do lazer (MARINHO, 2009), para a educação (FRANCO, 2011; FERREIRA et al., 2011)), para as perspectivas terapêuticas (SCHWONKE et al, 2011; FERREIRA et al., 2011), artísticas (SPANGHERO, BULHÕES-CARVALHO, VELLOSO, 2011), expressivas e criativas (BRASILEIRO, MARCASSA, 2008; SÖDERBERG, 2011), entre outras. Com base nas vivências de aventura, aliadas ao uso de aparatos tecnológicos, o potencial criativo pode ser expandido, especialmente com o estímulo e uso do imaginário, oportunidade em que se torna possível alterar as percepções. Isto pode repercutir, inclusive, nas relações interpessoais, na apreciação ou não de determinadas atividades, na percepção de riscos e da qualidade dos desafios, entre outras implicações que podem assumir uma esfera subjetiva. Para Teodoro (2010) as atividades de aventura vêm se tornando uma tendência inclusive no meio corporativo e traz como consequência a ampliação do mercado de trabalho do Profissional de Educação Física. Quanto aos fatores motivacionais para a busca por aventura, a autora destaca aspectos relacionados a testar limites, autossuperação, como alternativas para se alterar rotinas, aliviar tensões, favorecer relações de trabalho, aumentar a produtividade, capacitar visando prevenção de acidentes de trabalho, entre outros. Diversos estudos, como os de Gregersen (2011), Schwartz et al. (2010) e Marinho (2009) já se fazem presentes, procurando investigar as relações entre os diferentes ambientes, as tecnologias e as atividades de aventura. Esta associação das vivências nos ambientes naturais e o desenvolvimento tecnológico vem tendo seu valor reconhecido de forma promissora, inclusive, no contexto da educação formal. Para Franco et al. (2011) as atividades de aventura são conteúdos capazes de proporcionar sensações e experiências que atingem aspectos formativos importantes. Esse autor destaca a possibilidade de se explorar um universo de conhecimentos que envolve a interdisciplinaridade, o – 131 – meio ambiente, as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, ampliação da cultura corporal do movimento, entre outras tantas ações. Especialmente em se tratando dos esportes e atividades de aventura, pode-se salientar a necessidade do uso de aparatos e acessórios que viabilizem e oportunizem práticas significativas e a aproximação com outros ambientes, realidades e sensações. A utilização de recursos materiais como cordas, cabos, assim como, a possibilidade de se escalar paredes, explorar capacidades físicas em diferentes posições e alturas no próprio espaço escolar, ou em ambientes alternativos podem se tornar estratégias pedagógicas especialmente atrativas para novas elaborações criativas. Entretanto, para que este universo ainda pouco explorado no âmbito da educação formal possa ser devidamente estimulado, torna-se necessário observar as condições de segurança. Ainda, o profissional deve se mostrar consciente e preparado para associar os diversos ambientes para a oferta destas práticas, entre os quais o virtual, com base nos jogos interativos e simuladores; o natural, com explorações e viagens diretamente à natureza, bem como, o artificial, com atividades adaptadas dentro de espaços especialmente criados e preparados para esta finalidade, despertando o uso do imaginário e da criatividade. Schwartz et al. (2011) destacam a necessidade de estudos que focalizem o entendimento das dinâmicas dos relacionamentos humanos no processo de interação com as tecnologias envolvendo o ambiente virtual. O uso de computadores, internet, chips, programas de televisão, jogos entre outros que compõem a era digital, viabilizam a criação de novas tendências, capazes de extrapolar o uso destes recursos como simples ferramentas. Estas estratégias tecnológicas aliadas ao contexto da aventura representam uma proposta promissora, no sentido de incentivar a superação de desafios no uso das capacidades e habilidades humanas, inclusive por formas mais criativas. Para Lubart (2007), a criatividade é um dos motores mais importantes para o conhecimento, para o desenvolvimento econômico e cultural e representa uma combinação interativa de fa– 132 – tores cognitivos, emocionais, ambientais, entre outros. Também para Sternberg e Lubart (1999) e Villalba (2008), criatividade é um tópico que, além de muito abrangente, é extremamente relevante, tanto para os níveis individuais, como para os sociais, dentro de uma grande variedade de domínios. Devido à abrangência e relevância desta temática, os trabalhos que envolvem a criatividade e apropriação das tecnologias deixam lacunas, especialmente ao se analisar as atividades de aventura. Torna-se premente, até mesmo pela crescente adesão e busca por tais experiências, um olhar apurado para aspectos qualitativos referentes ao impacto e às percepções despertadas por este envolvimento. Os recursos tecnológicos aliados às atividades de aventura podem favorecer práticas qualitativas ao desenvolvimento humano, trazendo para tais vivências, perspectivas mais inclusivas. Neste âmbito, pode-se salientar questões relacionadas a gênero, limitações, deficiências e idades, demonstrando um rico potencial no sentido de enriquecer práticas educativas, redimensionar valores acerca de cooperação, concentração, respeito ao ambiente e ao outro. Entre outros aspectos de igual modo importantes, tem-se o estímulo à criatividade por meio de adaptações feitas para se diversificar os desafios, para se apropriar da incerteza do ambiente natural ou mesmo, para se buscar novas possibilidades no universo virtual. Esta interação entre atividades de aventura, tecnologias e uso da criatividade, além de ampliar as possibilidades de adesão e participação, permite ao indivíduo, inclusive, simular e se aproximar das sensações de risco controlado, superação de limites entre outros, o que, a maioria dos que se envolvem com estas atividades, está em busca. Referências BRASILEIRO, L. T.; MARCASSA L. P. Linguagens do corpo: dimensões expressivas e possibilidades educativas da ginástica e da dança. Pro-Posições, Campinas, v. 19, n. 3, set./dez., 2008. – 133 – FERREIRA, D. A. A.; SANTOS, D. T. P.; MODESTO, E. C.; VELASCO, J. O.; ELISIÁRIO, L. S.; ALVES, V. P.; CUNHA, W. P. O uso do software educativo Navega Feliz na inclusão digital e no tratamento terapêutico de vítimas de escalpelamento atendidas pela Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Revista Novas Tecnologias na Educação, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1-10, dez., 2011. FRANCO, L.; OLIVEIRA, E. C.; OLIVEIRA, I. L.; OLIVEIRA, M. A. Atividades físicas de aventura: proposta de um conteúdo na Educação Física escolar no ensino fundamental. Rev. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 18-35, jul./dez., 2011 GREGERSEN, A. Genre, technology and embodied interaction: the evolution of digital game genres and motion game. Journal of media and comunication research, Mediekultur, v. 51, p. 94-109, 2011. LUBART, T. Psicologia da criatividade. Porto Alegre: Artmed, 2007. MARINHO, A. Lazer, aventura e ficção: possibilidades para refletir sobre as atividades realizadas na natureza. Motriz, Rio Claro, v, 15, n. 1, p. 1-12, jan./mar., 2009. SCHWARTZ, G. M.; KAWAGUTI, C. N. ; TAVARES, G. H.; TEODORO, A. P. E. G.; TREVISAN, P. R. T. C. Gênero e atividades de aventura em periódicos internacionais de Ciências Humanas. Impulso, Piracicaba, v. 20, n. 50, p. 63-72, jul./dez., 2010. SCHWARTZ, G. M. ; SANTIAGO, D. R. P. ; TAVARES, G. H. ; KAWAGUTI, C. N. ; CARNICELLI FILHO, S. Risk, emotion, agressiveness in virtual leisure: brasilian game players stand points. Recreation and Society in Africa, Asia & Latin America, Dunedin, v. 1, n. 2, p. 90-114, 2011. – 134 – SCHWONKE, C. R. G. B.; LUNARDI FILHO, W. D.; LERCH, V. l.; SANTOS, SILVANA S. C; BARLEM, E. L. D. Perspectivas filosóficas do uso da tecnologia no cuidado de enfermagem em terapia intensiva. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 64, n. 1, p. 189-192, 2011. SÓDERBERG, S. A case study on the creative process of making a game for cognitively impaired children. Bachalor thesis in computer sciense. Mälardalens university school of Innovation. Desigin and Engineering. 2011. SPANGHERO, M.; BULHÕES-CARVALHO, A. M.; VELLOSO, R. Tecnologia para entender dança: as notações coreográficas. Moringa - Artes do Espetáculo. João Pessoa, v. 2, p. 71-80, 2011. STERNBERG, R. J.; LUBART T. I. The concept of creativity: prospects and paradigms. In: STERNBERG, R. J. Handbook of creativity. New York: Cambridge University Press, p. 3-16, 1999. TEODORO, A. P. E. G. As atividades de aventura no Mercado corporativo. In: FREITAS, A. et al. Entre o urbano e a natureza: a inclusão na aventura. São Paulo: Editora Lexia, 2010, p. 27-35. Disponível em: <http://www.rumoaventura. com.br/ImagensUsuario/file/Livro%20CBAA5.pdf> Acesso em: 09/07/12. VILLALBA, E. On creativity: towards and understanding of creativity and its measurements. JRC Scientific and Technical Reports. Luxembourg, 2008. – 135 – O (RE) CONHECIMENTO DE PRÁTICAS CORPORAIS NA NATUREZA NO ESTADO DO PARÁ NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA Raquel de Magalhães Borges Na área da Educação Física, o início deste século tem sido marcado por um interesse crescente em pesquisas e intervenções pedagógicas que discutam as vivências de lazer e esportivas associadas à natureza. Portanto, algumas propostas curriculares para a formação de professores em Educação Física no Brasil buscam, por intermédio do ensino, contemplar tal temática. No caso do currículo do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Campus de Castanhal, a disciplina Teorias do Desenvolvimento e Meio Ambiente compõe a relação de disciplinas optativas a serem cursadas no sétimo período. O plano de curso tem sido organizado de forma que os discentes relacionem os termos desenvolvimento e meio ambiente, direcionando seu olhar para a realidade vivida em sua região, o nordeste paraense, que compõe a Amazônia Legal. Assim, há uma preocupação em explicitar a diversidade cultural e socioambiental do território brasileiro, ressaltando a natureza como invenção humana expressa em sua paisagem, que deixa de ter um conceito singular, para ser reconhecido em sua pluralidade (MARINHO, 1999). Além disto, a disciplina utiliza estratégias de ensino que possibilitam aos discentes o (re) conhecimento de práticas corporais na natureza típicas daquela região. Cabe informar alguns detalhes sobre a região onde se localiza o município de Castanhal, pois, tem-se que, – 136 – Enquanto em algumas regiões do país a predominância da paisagem é constituída por montanhas, vales, planaltos, florestas, a região nordeste paraense constituise num espaço de planície, permeado pela presença abundante da água que brota em nascentes e conforma igarapés que deságuam em efluentes de rios. A água fria dos igarapés contrasta com o calor intenso, típico do clima equatorial (BORGES et al., 2011, s/p) Neste texto são relatados a seguir os procedimentos utilizados no ano de 2011, nas atividades de ensino da referida disciplina e as práticas corporais na natureza encontradas e relatadas pelos discentes, analisando-as como atividades de aventura na natureza. Desenvolvimento, meio ambiente, e o reconhecimento das práticas corporais na natureza na região nordeste do Pará Para introduzir os conceitos propostos pela disciplina, houve debates a partir da leitura de textos que tratam do desenvolvimento, sustentabilidade e meio ambiente. Com estes debates em aula, a turma elegeu um conceito que melhor explicitasse as necessidades do homem contemporâneo para a organização da sociedade e uso racional dos recursos naturais. Assim, o conceito de envolvimento sustentável desenvolvido por Viana (2004, p.25), passou a expressar também a preocupação dos alunos da disciplina, pois é compreendido como: [...] conjunto de políticas e ações direcionadas para fortalecer o envolvimento das sociedades com os ecossistemas locais, fortalecendo e expandindo os seus laços sociais, econômicos, culturais, espirituais e ecológicos, com o objetivo de buscar a sustentabilidade em todas essas dimensões. Uma das atividades realizadas, de caráter avaliativo, consistiu de uma pesquisa exploratória de campo, desenvolvida por grupos de discentes da disciplina. Os grupos identificaram elementos – 137 – presentes na relação de comunidades locais com um determinado espaço natural que compõe seu entorno e as práticas corporais na natureza frequentes naquele local. Os resultados da pesquisa foram apresentados em sala de aula, seguidos de debates. Foram desenvolvidos trabalhos que envolviam as seguintes localidades e suas comunidades: 1) Agrovila do Itaqui: situada na zona rural do município de Castanhal, próxima ao centro urbano, concentra muitos igarapés frequentados nos fins de semana pela comunidade e visitantes. Alguns igarapés em área privada foram adaptados como balneários e outros são de livre acesso; 2) Bairro do Jaderlândia: o bairro mais populoso do município de Castanhal, situado no entorno do Campus Universitário da UFPA, possui um igarapé numa área privada, conhecida como Parque das Águas, que foi constituída como um clube de lazer. O grupo buscou identificar como a comunidade percebe o espaço após ter sido transformado em clube. Apesar de ser área privada, o espaço é conhecido por grande parte da comunidade, pois algumas escolas públicas costumam promover encontros no local, e o valor para entrada no Parque foi apontado como acessível por moradores locais. No caso destas duas comunidades, as práticas corporais observadas referem-se a atividades aquáticas nos igarapés em momentos destinados ao lazer, especialmente aquelas vivenciadas pelas crianças. Dentre estas atividades destacamos: pular de um galho de árvore na água, brincadeiras de pegador que necessitam de deslocamentos rápidos na água, em parte rasa e funda, nado livre e travessia de uma margem para outra. Tais vivências independem de materiais e tecnologias. – 138 – 3) Praia da Aldeia: situada à beira do Rio Tocantins no município de Cametá. A comunidade local vive da pesca e desenvolveu diversas técnicas adequadas a cada situação imposta pela natureza, ou dependendo do número de pescadores envolvidos no momento da pesca, ou ainda da disponibilidade de material. São praticadas pelos pescadores daquela região técnicas que utilizam redes, pesca de mergulho, pesca com vara, entre outras. Neste caso, a pesca não é considerada pelos praticantes como atividade esportiva, mas como meio de subsistência, e as características da pesca naquela região são distintas para cada técnica utilizada, pois são diversos os tipos praticados. 4) Espaço Cultural de Inhangapi: Inhangapi é um pequeno município (aproximadamente dez mil habitantes) que possui uma área pública conhecida como Espaço Cultural, às margens do Rio Inhangapi, frequentado diariamente pela população em busca de lazer (banho no rio, caminhada) e pesca. Anualmente, ocorre na área o Festival do Açaí, evento popular de repercussão em toda região do nordeste paraense. O grupo buscou registrar a prática da peconha, ou seja, a subida no pé de açaí. O momento mais aguardado no Festival de Açaí é o campeonato da peconha, competição de velocidade para alcançar determinada altura do açaizeiro. Tal prática caracteriza-se como uma técnica vertical (PEREIRA; ARMBRUST, 2010), que utiliza de tecnologia rústica, envolvendo um trançado nos pés feito com a folha do açaí, prática tradicional entre as populações do Norte do Brasil que consomem o açaí como parte de sua alimentação. No entanto, como atividade de competição, tem-se caracterizado como esporte de aventura, vivenciado por homens e mulheres. Isto justifica a manutenção de uma área de pés de açaí dentro do Espaço Cultural de Inhangapi, para ser utilizada especialmente na ocasião do campeonato. – 139 – Considerações finais O uso do filme e seu debate a partir dos textos selecionados favoreceram a compreensão dos discentes sobre a relação entre desenvolvimento e meio ambiente. A ida ao campo para as atividades de pesquisa exploratória possibilitou a sensibilização necessária dos discentes para a realidade local, sendo que, em sala de aula, foi possível conferir olhar crítico às percepções captadas no campo. Desta forma, a maior parte dos discentes desta disciplina entrou em contato, de modo diferenciado, com uma realidade da qual fazem parte, sendo possível (re) conhecer a importância das práticas corporais na natureza para a cultura paraense. Assim, os alunos puderam analisar o quanto estão se distanciando de sua cultura, ao distanciar-se do meio ambiente e que sustentabilidade relaciona-se a um estado ambiental, cultural e econômico, definido por um estilo de vida social, que envolve as práticas corporais, suas técnicas e tecnologias. Referências BORGES, R.M. et al. Núcleo Pedagógico de Atividades Aquáticas: aproximações com a cultura corporal no nordeste do Pará. In: Anais..... São Luis do Maranhão: UFMA, 2011. MARINHO, A. Do Bambi ao Rambo ou vice-versa? As relações humanas com a (e na) natureza. In: Conexões: educação, esporte e lazer. Campinas: UNICAMP, v.1, n.3, p.33-41, 1999. PEREIRA, D. W.; ARMBRUST, I. Pedagogia da aventura: os esportes radicais, de aventura e de ação na escola. SP: Fontoura, 2010. VIANA, V.M. Envolvimento Sustentável e conservação das florestas brasileiras. In: DIEGUES, A.C.; VIANA, V.M. Comunidades tradicionais e manejo dos recursos naturais da Mata Atlântica. SP: Hucitec, 2004. – 140 – LAZER VIRTUAL: AS ATIVIDADES DE AVENTURA NOS JOGOS DE VIDEOGAME Rodolfo Antonio Zagui Filho Um dos campos de estudo que vem despertando a curiosidade de pesquisadores na atualidade é o da arte digital, especificamente ligada ao universo do lazer, destacando o pioneirismo de Schwartz (2003), quando propõe maior reflexão nessa perspectiva de um novo conteúdo do lazer, o lazer virtual, salientando neste o mundo dos jogos de videogames. O protótipo desse aparelho doméstico, combinando elementos gráficos que respondiam aos comandos das pessoas foi idealizado por Ralph H. Baer, como relata Gallo (2004). Ele acreditava que esse aparelho deveria possuir outras características e possibilidades, além de simplesmente exibir a programação transmitida pelas emissoras de televisão. Entre 1968 e 1970, Ralph Baer tentou convencer, sem sucesso, diversas empresas a fabricar e vender o Brown Box (nome dado por ele ao console criado) até que, em 1971, a Magnavox, uma empresa de produtos eletrônicos de baixo custo, concorda em distribuir a invenção, mudando o nome para Magnavox Odyssey. O produto entra nas prateleiras dos mercados em 1972 e fica marcado como o primeiro console doméstico. O Odyssey vendeu apenas 330 mil unidades, entretanto, os consoles de videogame games ainda não eram considerados um produto essencial na casa das pessoas. Isso viria a ser mudado com a chegada da segunda geração. No início dos anos 1980, as filas para os game centers, lugares onde este tipo de entretenimento estava disponível, eram enormes, as pessoas se aglomeravam para jogar alguns minutos. A Atari percebeu que, para que seu console sobrevivesse, era necessário reproduzir, na casa das pessoas, aquilo que estava sendo – 141 – exibido nos árcades, o que despertava um maior interesse das pessoas pelo console. O Atari 2600 marca o início da 2° Geração, uma grande gama de jogos foi criada, com base em cartuchos, como: Frogger, Donkey Kong, Pac-Man, Pitfall, Space Invaders e Asteroids. A 3° Geração se distingue por marcar o início das disputas entre as empresas de console, se lançam em ascensão Sega, com Master System e Nintendo, com Nes, com a tecnologia de 8 bits. O Nes teve os primeiros RPGs1 lançados na história, além de grandes sucessos como Super Mario Bros, Legend of Zelda. A Sega não ficou para trás, lançou sucessos como Alex Kidd, Double Dragon, Shinobi e seu RPG Phantasy Star. É chegada a era dos 16 bits, a 4° geração, a qual foi marcada, mais uma vez, pela rivalidade Sega lança Mega-Drive, Nintendo o Super-Nes. Outros consoles também existiram, mas o único que ganhou alguma popularidade foi o Neo-Geo, com seu foco em transferir a experiência de jogar árcades, em casa (tendo seu controle, até mesmo, a similaridade ao de um árcade). Uma estratégia adotada pelas companhias foi a de aprimorar personagens e jogos que tinham suas raízes nas eras anteriores e fizeram fama. Sega elegeu Sonic, um porco-espinho que protagonizava jogos rápidos, enquanto a Nintendo investia em Mário, um simpático encanador. A Sony resolveu desenvolver um videogame game próprio, baseado em mídias de CD, que acabou se tornando o Sony Playstation, colocando a Sony no mapa das grandes empresas dominantes na geração seguinte. Na 5° geração os processadores eram de 32 bits. Outros dois pontos importantes dessa geração foram a consolidação da tecno1 O Role-playing game (RPG), ou seja, “jogo de interpretação de Personagens”, é um tipo de jogo em que os jogadores assumem os papéis de personagens e criam narrativas colaborativas. O progresso de um jogo acontece de acordo com um sistema de regras predeterminadas, dentro das quais os jogadores podem improvisar livremente. As escolhas dos jogadores determinam a direção que o jogo irá tomar. – 142 – logia em imagens 3D21e o uso mais intenso do marketing para divulgação, tanto dos consoles, quanto dos jogos. Chega ao mercado o Nintendo 64, como o console mais popular da época. A Sony, por sua vez, lança o Playstation. Iniciando a Sexta Geração, a Sega lança o Dreamcast. Apesar da gama de jogos bem conceituados pelo público, seu lançamento não conseguiu superar todos os problemas que vinham sendo enfrentados desde as gerações anteriores e a empresa decidiu fechar sua divisão de hardware, dedicando-se apenas à produção de jogos, situação na qual permanece até hoje. A Microsoft chegou ao mercado de consoles com o Xbox, o qual foi sucesso nos Estados Unidos. Com seu poder de processamento superior, possuía todas as características de um computador internamente. A falta de sucesso dos outros consoles da geração foi, sem dúvida, devido ao lançamento do Playstation 2, da Sony, a qual, além de investir em marketing e em jogos para adultos, tinha preço competitivo e garantiu grande sucesso com exclusividade para seu sistema. Fez tanto sucesso que ainda não foi abandonado, sendo o console mais vendido da história. Hoje, as evoluções atravessam a 7° geração, que conta com o Xbox 360 da Microsoft, o Playstation 3 da Sony e o Wii da Nintendo. No decorrer de toda essa evolução foram utilizados diversos tipos de dispositivos de interação entre humanos e máquinas. Entretanto, nos últimos anos, houve uma grande mudança na forma como essa interação ocorre, uma vez que foram lançados no mercado dispositivos com interfaces naturais, capazes de atender a comandos por meio do reconhecimento de toques, gestos e voz. O que mais desperta atração pelos jogos de videogame game hoje em dia é esse tipo de interação. Um dos mais recentes dispositivo de interface natural lançado comercialmente foi o Kinect (acessório para Xbox 360), o 2 Imagens 3D são imagens de duas dimensões (altura e largura) elaboradas de forma a proporcionarem a ilusão de terem uma terceira dimensão (profundidade). – 143 – qual, diferentemente dos demais, dispensa o uso de controles e cria oportunidades de uso em aplicações de interfaces realmente naturais, promovendo melhor experimentação do usuário. O kinect é um acessório com vários componentes de hardware integrados em sua estrutura, para alcançar o objetivo desejado. Uma câmera é utilizada para o reconhecimento facial e detecção de outras características por meio do reconhecimento de três componentes de cor, vermelho, verde e azul. Uma segunda câmera, com sensores de profundidade, possui um projetor de luz infravermelho e um sensor, que funcionam juntos para identificar a profundidade dos objetos no ambiente. Microfones são quatro, capazes de isolar as vozes dos jogadores de outros barulhos. Isso permite que o jogador possa se manter mais distante do sensor e ainda usar controles por voz para sua interação. Essas experiências virtuais permitem, inclusive, maior divulgação das atividades de aventuras, é possível arriscar seu avatar3,1nas mais variadas modalidades que, possivelmente, muitos não vivenciarão na vida real, devido a diversas dificuldades de acessibilidade, ambiental, financeira, física e, até mesmo, pelo treinamento que algumas atividades requerem para sua vivência, por exemplo, um salto de base jump ou wingsuit. Vivenciá-los exige treinamento, existem algumas atividades de aventuras que requerem uma experiência anterior e mais profunda, um repertório motor específico da atividade, o que não acontece nos jogos virtuais dessas modalidades. Entretanto, ainda que o apelo sobre segurança e o aparato tecnológico envolvido nestas vivências sejam bastante intensos, muitas pessoas apresentam resistência em participar efetivamente dessas práticas, mesmo mantendo o interesse sobre elas. Para que possam usufruir as sensações e desafios similares, porém, sem participar na realidade das atividades, algumas pessoas buscam se inserir por intermédio da utilização dos jogos virtuais. 3 É o personagem virtual que o jogador assume como intermediário necessário à interação com o jogo. – 144 – São encontrados hoje 52 jogos, somando os jogos de Playstation 3 e do Xbox 360, como apontam Novais et al. (2012). Observou-se que, especificamente os jogos do Xbox 360, com auxilio do periférico kinect, apresenta os jogos que especificamente simulam atividades de aventura, por meio do Xbox Live Marketplace4:1MotionSport, com simuladores de Hipismo, Asa Delta, Esqui. Kinect Adventure, com simulador de Bóia Cross. Cabela’s Adventure Camp, com simulador de caça, kayak, Jet Sky e Moutain Bike. Kinect Sports Season Two, com esqui., são alguns desses jogos. Destacamos também o Adrenaline Motionsport, pois é um jogo com todas as suas modalidades simulando Atividades de Aventuras, (diferentemente dos anteriormente descritos, que continham outras modalidades de jogos além das atividades de aventura) com seis atividades, podendo-se vivenciar o Wingsuit, Mountain Bike, Kayak, Esqui, Escalada e Kitesurf. Com essa nova interface de videogame game, de maior interação do jogador, pode-se utilizá-los como uma grande ferramenta, trazendo uma outra conotação aos jogos, tendo maiores possibilidade também no aspecto motor, além do cognitivo, como já apontam alguns estudos realizados pelos fabricantes e alguns estudiosos, como Burgani (2011) quando destaca a utilização do videogame game, em programa de exercícios físicos, treino de força muscular, exercícios aeróbicos, jogos de equilíbrio e, até mesmo, reabilitação de pessoas portadoras de doenças motoras e limitações físicas. Estes tipos de jogos possibilitam e promovem, até mesmo, maior sensibilização à preservação do meio ambiente, despertando novos adeptos a prática de atividades física e de aventura, potencializando o desenvolvimento do ser humano, contemplando todos seus aspectos afetivo, cognitivo, sensitivo, motor, moral e social. 4 O Xbox Live Marketplace é um mercado virtual projetado para Microsoft ‘s Xbox 360, que permite a membros comprar e baixar o conteúdo. – 145 – Referências BURGANI, A. S., Videogame interativo e envelhecimento: uma relação de saúde e bem-estar, REVISTA PORTAL de Divulgação, n.16, Nov. 2011 Disponível em: <http://www. portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php>, Acessado em: 06 jan 2012. GALLO, S.N. Breves considerações acerca do videogame. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 27. 2004. Porto Alegre. Anais... São Paulo: Intercom, 2004. NOVAIS I. T. et al. Jogos eletrônicos de Atividades de Aventura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ATIVIDADE DE AVENTURA, 7. COGRESSO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE DE AVENTURA,1. 2012. Rio claro. Anais... Rio Claro: Laboratório de Estudos do Lazer, 2012. p. 19. CD ROM SCHWARTZ, G. M. O conteúdo virtual do lazer: contemporizando Dumazedier. Revista Licere, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 23-31, 2003. – 146 – EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E A GESTÃO DO NICHO DA AVENTURA Gisele Maria Schwartz As atividades de aventura se tornaram uma das opções mais atrativas no campo do lazer, imprimindo, inclusive, novos conceitos ao modo de usufruto do tempo disponível, o qual, na contemporaneidade, apresenta estreita relação com vivências mais vigorosas do que as que antigamente eram postuladas para o momento de descanso do trabalho. Observa-se, hoje, que a ideia comum de que feriados e férias eram momentos de relaxamento e descanso está sendo gradativamente substituída por atividades de caráter mais vigoroso e desafiador, buscando envolvimento saudável, prazeroso (BRUHNS, 1998,) e prezando pela qualidade de vida (SCHWARTZ, 2006) Com isto, novas configurações foram sendo criadas, tornando o lazer, especialmente em suas vertentes do turismo (BAHIA, 2005) e entretenimento, umas das mais promissoras áreas para os empreendedores. Os negócios relativos à indústria do turismo se avolumam em somas robustas e o segmento de aventura é um dos que mais cresceu nas últimas décadas (BENI, 2004). As atividades de aventura se iniciaram como práticas espontâneas no âmbito do lazer, porém, passaram a ser encaradas como negócio, especialmente impulsionadas pela evolução das tecnologias. Estas vivências também ganharam novas configurações, tendo como propósito atender ao mercado da aventura (UVINHA, 2005), que recebe uma demanda crescente de interessados. Assim, a indústria da aventura parece ser uma via de mão dupla, em que o mercado, juntamente com os recursos tecnológicos criados, alimentam essas práticas, mas as atividades também retroalimentam os negócios neste ramo tecnológico, haja vista a utilização de equipamentos, roupas e acessórios de alta qualidade utilizados nas vivências. – 147 – A indústria do turismo de aventura mobiliza famílias, esportistas, acompanhantes e indivíduos curiosos, os quais, deliberadamente, optam por se envolver com as práticas, seja como expectador, como praticante esporádico ou como esportista. Diferentes motivos são apresentados nos estudos em relação à busca pelas atividades de aventura. Entre eles, podem ser considerados mais comuns, a vivência de emoções, a busca pelo contato com a natureza e a ampliação de relacionamentos. Seja qual for o motivo que impulsiona alguém a se envolver com as atividades de aventura, existe capital sendo empregado para a busca dessas satisfações, disto decorre que, ao se fazer um balanço do desenvolvimento das atividades de aventura, podem ser elencados pontos negativos e positivos. A presença de possível discriminação, tendo em vista que o preço dos equipamentos, do traslado aos locais de prática, assim como, a exigência de determinadas habilidades para algumas vivências podem representar fatores limitantes de inclusão nestas atividades, tornando-se pontos negativos. Já do ponto de vista positivo, pode-se perceber que os gastos com o turismo de aventura podem trazer diversos benefícios de diferentes magnitudes. Destacam-se os de ordem econômico-social, com a criação de novos postos de empregos nas cidades receptoras, ou mesmo, ampliando as possibilidades de vivência do lazer pró-ativo, imprimindo maior incentivo à prática regular de atividades físicas. Estes aspectos positivos podem ter ressonâncias benéficas, inclusive nos níveis de saúde e qualidade de vida dos praticantes. Para que uma viagem para a prática de atividades de aventura se concretize, estão envolvidos diferentes aspectos importantes. Entre eles constam as próprias escolhas das atividades, os locais de vivência, a segurança e credibilidade das agências intermediárias nas opções, os meios de transporte, a rede hoteleira, os restaurantes, as lojas de roupas e de equipamentos para diferentes finalidades, além de inúmeros outros serviços periféricos e que agregam valor a esse produto de consumo. – 148 – Com base nesses elementos, pode-se perceber como estas atividades apresentam ressonâncias significativas na indústria turística, exigindo alterações e adaptações das empresas envolvidas, para atender adequadamente a esse mercado. A dinâmica e o marketing (COBRA, 2001) por trás dessas atividades parece ser uma via de mão dupla. Por um lado, a busca por este tipo de vivência fez impulsionar a criação de novos recursos tecnológicos para garantir a eficiência e segurança nas atividades. Por outro lado, estes avanços nas tecnologias também catalisaram novas buscas e demandas pelas práticas de aventura e moldaram, inclusive, outras perspectivas de modalidades. O turismo de aventura afetou o âmbito das tecnologias, no sentido de que, com o aumento da demanda, houve a necessidade de se elevar e garantir o nível de segurança dos equipamentos utilizados nas vivências e ampliar o desempenho nas práticas. Alguns exemplos são facilmente encontrados entre as modalidades de terra, água e ar. No caso do surf, modalidade de água, houve a criação de tecidos como o neoprene, para melhor proteção do corpo, apresentando costura selada, que veda a roupa. O design arrojado e materiais altamente sofisticados foram inseridos na confecção das pranchas, o que alterou sua estética, inclusive, passando do uso de pranchas de madeira, para aquelas feitas com placas de polietileno e poliuretano. Nestas pranchas atuais, podem ser acoplados equipamentos sofisticados de filmagens, ou até sensores, GPS, acelerômetro e bússola, os quais prometem aprimorar o nível de performance dos usuários. No campo das atividades de aventura aéreas, o Skysurf foi criado como uma modalidade de pára-quedismo, a qual comporta o uso de pranchas específicas para manobras, durante a queda livre. Ainda perseguindo o sonho humano de voar, o Wingsuit representa uma modalidade aérea que exige a utilização de um macacão com asas, altamente sofisticado no quesito de tecnologia de tecidos, tendo sido criado algo que fosse devidamente apropriado para esta modalidade. – 149 – O impacto do avanço dessas tecnologias entre as modalidades de terra, fez surgir novas práticas, as quais são pautadas na evolução dos recursos tecnológicos e que, até então, não eram possíveis de serem realizadas, tendo em vista a necessidade de sofisticação de equipamentos. Este pode ter sido o caso do dual Snowboard, em que o praticante usa duas pranchas com botas, permitindo, apesar de maior instabilidade, mais opções de manobras. Entre os recursos tecnológicos utilizados no Caving ou no espeleoturismo, pode-se perceber a evolução nos diferentes equipamentos de iluminação, ou nas roupas confeccionadas com tecidos sintéticos com termostato ou Polartec, os quais possuem excelentes propriedades térmicas, para que a transpiração se processe de modo adequado. Do modo artesanal de fabricação da aventura, esta passou para a era tecnológica, se apropriando de todas as vantagens que isto possa oferecer, porém, luta para não perder o apelo simplista da relação humana direta com o ambiente natural. Para além da segurança e comodidade impressas pela evolução tecnológica, o desafio atual é manter a sustentabilidade, tanto de pessoas, como do ambiente nesta relação. Esse desafio demanda muito mais do que tecnologias, torna-se premente que, juntamente com o avanço se enfatize a consciência pró-ambiental, a educação e gestão eficiente, elementos-chave para que esse nicho da aventura não se concentre no desenvolvimento do comportamento predatório e possa estimular a fixação de novos valores positivos, além de ressaltar aqueles já presentes na essência das atividades de aventura. Referências BAHIA, M. C. Lazer – Meio ambiente: em busca das atitudes vivenciadas nos Esportes de Aventura. 2005. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, Piracicaba, SP, 2005. – 150 – BENI, M. C. Globalização do turismo: megatendências do setor e a realidade brasileira. São Paulo: Aleph, 2003. Segunda edição 2004. BRUHNS, H. T. Lazer e meio ambiente: a natureza como espaço daexperiência. In: Conexões: educação, esporte, lazer. Campinas, SP: Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, 1998. COBRA, M. Marketing de turismo. 2.ed. São Paulo: Cobra, 2001. SCHWARTZ, G. M. Aventuras na natureza: consolidando significados. Jundiaí: Fontoura, 2006. UVINHA, Ricardo Ricci (Org.) Turismo de aventura: reflexões e tendências. São Paulo: Aleph, 2005. – 151 –