TECNOLOGIAS E
ATIVIDADES DE AVENTURA
ORGANIZAÇÃO
LEL – LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO LAZER
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – CAMPUS RIO CLARO
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
PATROCÍNIO
CAPES - COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO
DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR
PARCERIAS
SEST/SENAT – RIO CLARO
PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO CLARO
SEME – SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTES
APOIOS
ABRE - Associação Brasileira de Recreadores
ABRAPEFE - Associação Brasileira dos Profissionais de Educação Física e Esportes
5° Elemento Esportes de Aventura
Cia da Aventura
Padaria Gaib
Churrascaria Caçador
Papelaria Lápis de Cor
Fricock
Café Wenzel
Pacheco`s
Buffet Felicità
FIRA - Fundação regional Educacional de Avaré
TKT ONE - Assessoria Turística
Choperia o Magro & o Gordo
TECNOLOGIAS E
ATIVIDADES DE AVENTURA
Organizadores:
Gisele M. Schwartz - Danielle F. A. Christofoletti - Giselle H. Tavares
Juliana de P. Figueiredo - Ana Paula E. G. Teodoro
Amanda M. do nascimento - Marcelo F. S. Palhares
Cristiane N. Kawagutti - Leonardo M. Pereira
Autores:
Amanda Mayara do Nascimento - Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro
Carlos Alberto Tavares de Toledo - Carmen Maria Aguiar
Dimitri Wuo Pereira - Douglas Eduardo dos Santos Silva
Edmundo de Drummond Alves Junior - Flávio Antônio Ascânio Lauro
Giselle Helena Tavares - Gisele Maria Schwartz - Igor Armbrust
Ivana de Campos Ribeiro Fulvio Rodrigues Valeriano - José Ricardo Auricchio
Juliana de Paula Figueiredo - Leonardo Madeira Pereira
Marcelo Fadori Soares Palhares - Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan
Raquel de Magalhães Borges -Rodolfo Antonio Zagui Filho
Sandro Carnicelli Filho -Tereza França
editora
são paulo - 2012
editora
© Editora Lexia Ltda, 2012. São Paulo, SP
CNPJ 11.605.752/0001-00
www.editoralexia.com
Editores-responsáveis
Fabio Aguiar
Alexandra Aguiar
Projeto gráfico
Fabio Aguiar
Capa e diagramação
Equipe Editora Lexia
Revisão
Responsável: os autores
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
S291t
Tecnologias e atividades de aventura / Gisele Maria
Schwartz ... [Et al.]. VII CBAA – Congresso Brasileiro de
Atividades de Aventura. I CIAA - Congresso Internacional
de Atividades de Aventura. - São Paulo: Lexia, 2012.
152 p.
ISBN 978-85-8182-032-3
1. Estudos - Lazer. 2. VII Congresso Brasileiro de
Atividades de Aventura. 3. I Congresso Internacional de
Atividades de Aventura. I. Nascimento, Amanda Mayara
dO. II. Teodoro, Ana Paula Evaristo Guizarde. III. Toledo, Carlos Alberto Tavares de. IV. Aguiar, Carmen Maria.
V. Pereira, Dimitri Wuo. VI. Silva, Douglas Eduardo dos
Santos. VII. Junior, Edmundo de Drummond Alves. VIII.
Lauro, Flávio Antônio Ascânio. IX. Tavares, Giselle Helena. X. Schwartz, Gisele Maria. XI. Armbrust, Igor. XII.
Valeriano, Ivana de C. Ribeiro Fulvio Rodrigues. XIII. Auricchio, José Ricardo. XIV. Figueiredo, Juliana de Paula.
XV. Pereira, Leonardo Madeira. XVI. Palhares, Marcelo
Fadori Soares. XVII. Trevisan, Priscila Raquel Tedesco
da Costa. XVIII. Borges, Raquel de Magalhães. XIX. Filho, Rodolfo Antonio Zagui. XX. Filho, Sandro Carnicelli.
XXI. França, Tereza. XXII. Título.
CDD -248.73
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou
reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o
prévio e expresso consentimento do autor.
Impresso no Brasil. Printed in Brazil.
DEDICATÓRIA
A todos que amam a aventura de viver e que fazem
a diferença, estando sempre dispostos a construir para um
mundo melhor!!!
APRESENTAÇÃO
Este livro representa o esforço de estudiosos de diferentes
áreas do conhecimento, os quais se propuseram a disseminar seus
conhecimentos e suas intervenções exitosas, no sentido de favorecer novos olhares sobre as atividades de aventura. Os textos
aqui presentes são provenientes de reflexões apresentadas durante
o VII CBAA – Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura
e I CIAA - Congresso Internacional de Atividades de Aventura,
organizados pelo LEL- Laboratório de Estudos do Lazer, Departamento de Educação Física, Instituto de Biociências da UNESP
- Campus de Rio Claro.
Esta sétima edição do CBAA e primeira do CIAA contaram com
o patrocínio financeiro da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior, tendo como parceiros o SEST/SENAT
– Rio Claro, a Prefeitura Municipal de Rio Claro, por intermédio
da SEME – Secretaria Municipal de Esportes. Os eventos receberam
apoio de diversas empresas de diferentes ramos de atuação. Os anais
dos referidos eventos foram divididos em duas partes, sendo uma relativa à elaboração de uma mídia em forma de CD-ROM, contendo os
resumos dos trabalhos aprovados como apresentação nos formatos pôster e comunicações orais, e outra parte dos anais corresponde a alguns
textos na íntegra, os quais dão substância à presente obra.
Estes textos aqui apresentados na forma de capítulos deste livro
representam os conteúdos condensados das falas de palestrantes, confe-
rencistas ministrantes de oficinas e de convidados representativos entre os
estudiosos das atividades de aventura. Esperamos que a obra seja agradável e que a mesma possa suscitar novas reflexões, aprimorando a temática
das atividades de aventura.
Boa leitura!
Gisele Maria Schwartz
Coordenadora do VII CBAA/ICIAA
SUMÁRIO
PARTE 1 - PALAVRAS DOS PALESTRANTES ............. 13
REFLEXÕES SOBRE AVENTURA,
EDUCAÇÃO E EXPERIÊNCIA
Sandro Carnicelli Filho .............................................. 15
ATIVIDADES DE AVENTURA,
TECNOLOGIAS E ENVELHECIMENTO
Edmundo de Drummond Alves Junior ....................... 23
SOCORRO, TURISMO PARA TODOS
Carlos Alberto Tavares de Toledo ................................ 30
LAZER, AVENTURA E TECNOLOGIA
NA CULTURA POPULAR
Carmen Maria Aguiar ................................................ 32
TECNOLOGIAS
E AVENTURAS PARTICIPATIVAS:
POSSIBILIDADES DE
PRÁTICAS CRÍTICO-HUMANIZADORAS
Tereza Luiza de França .............................................. 38
A TECNOLOGIA, A AVENTURA E A
SUSTENTABILIDADE: A ARTE DO
EQUILÍBRIO SER HUMANO&NATUREZA
Ivana de Campos Ribeiro .......................................... 47
PARTE 2 - PALAVRAS
DOS MINISTRANTES DE OFICINAS ....................... 55
ORIENTAÇÃO PEDESTRE –
TECNOLOGIAS E ATIVIDADES
DE AVENTURA
Fulvio Rodrigues Valeriano ........................................ 57
ESCALADA: EVOLUÇÃO
E RETORNO À ORIGEM
Dimitri Wuo Pereira .................................................. 62
SLACKLINE: O EQUILÍBRIO
AO ALCANCE DE TODOS
Douglas Eduardo dos Santos Silva .............................. 69
TECNOLOGIA EDUCATIVA
INTERDISCIPLINAR –
OS ESPORTES RADICAIS
Igor Armbrust ........................................................... 75
A PRÁTICA DE SKATE E O
DESENVOLVIMENTO DO
EQUILÍBRIO CORPORAL:
UMA QUESTÃO DE SEGURANÇA
PARA O INICIANTE
Flávio Antônio Ascânio Lauro .................................... 81
TÉCNICAS VERTICAIS: CONCEITUAÇÃO,
UTILIZAÇÕES E SEGURANÇA
José Ricardo Auricchio ............................................... 88
EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS ENVOLVENDO
ATIVIDADES DE AVENTURA
Leonardo Madeira Pereira .......................................... 975
PARTE 3 - PALAVRAS DOS CONVIDADOS ........... 101
TREINAMENTO EMPRESARIAL,
ATIVIDADES DE AVENTURA
E TECNOLOGIAS
Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro ....................... 105
TECNOLOGIAS, O IDOSO
E A BUSCA POR AVENTURA
NOS IDEOGAMES
Amanda Mayara do Nascimento ............................... 108
TECNOLOGIAS, DIFERENÇAS DE
GÊNERO E ESPORTE DE AVENTURA
Giselle Helena Tavares ............................................. 115
RECURSOS TECNOLÓGICOS
NAS ATIVIDADES DE AVENTURA
COMO APELO PRÓ-AMBIENTAL
Juliana de Paula Figueiredo ...................................... 119
ATIVIDADE DE AVENTURA
E VIOLÊNCIA: POSSÍVEIS RELAÇÕES?
Marcelo Fadori Soares Palhares ................................. 123
ATIVIDADES DE AVENTURA,
TECNOLOGIAS E USO DA CRIATIVIDADE
Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan ................ 130
O (RE) CONHECIMENTO
DE PRÁTICAS CORPORAIS
NA NATUREZA NO ESTADO DO
PARÁ NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Raquel de Magalhães Borges ................................... 136
LAZER VIRTUAL: AS ATIVIDADES
DE AVENTURA NOS JOGOS
DE VIDEOGAME
Rodolfo Antonio Zagui Filho ................................. 141
EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
E A GESTÃO DO NICHO
DA AVENTURA
Gisele Maria Schwartz ............................................. 147
PARTE 1
PALAVRAS DOS PALESTRANTES
– 13 –
Sandro Carnicelli Filho
Doutor em Filosofia (PhD) pelo Depto. de Turismo da Univerity of Otago
– New Zealand
Docente da University of the West of Scotland.
E-mail: [email protected]
Edmundo de Drummond Alves Junior
Prof. Dr. em Educação Física - Universidade Gama Filho
Docente na Universidade Federal Fluminense
E-mail: [email protected]
Carlos Alberto Tavares de Toledo
Diretor do Departamento de Turismo e Cultura
Prefeitura de Socorro/SP
E-mail: [email protected]
Carmen Maria Aguiar
Livre-Docência em Sociologia do Lazer e Cultura Popular - UNESP
Docente na UNESP – Rio Claro
E-mail: [email protected]
Tereza Luiza de França
Profa. Dra. em Educação – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Docente na Universidade Federal de Pernambuco
Coordenadora-Líder do NIEL-DEF-UFPE - Pesquisadora Rede CEDES
Ministério do Esporte
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC
E-mail: [email protected]
Ivana de Campos Ribeiro
Doutora em Ecologia e Recursos Naturais- UFSCAR.
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC Coordenadora de Projetos do IBEV - Instituto Brasileiro de
Educação para a Vida
E-mail: [email protected]
– 14 –
REFLEXÕES SOBRE AVENTURA,
EDUCAÇÃO E EXPERIÊNCIA
Sandro Carnicelli Filho
Desde 2006, quando o primeiro CBAA (Congresso Brasileiro
de Atividades de Aventura) foi lançado, muitas foram as discussões
acerca da transferência do conhecimento acadêmico para a educação
formal e informal de crianças e adultos. Neste texto, proponho uma
reflexão que transcende apenas os elementos Aventura e Educação
que já foram associados e discutidos em inúmeras pesquisas, como
em Marinho e Schwartz (2005) e Tahara, Dias e Schwartz (2006).
Este texto procura incrementar a discussão sobre educação e
aventura adicionando o importante aspecto da Experiência, que vai
dar sentido e ser o elemento transformador e educador da Aventura.
O conceito de Experiência será tratado nesse texto para além da dicotomia positiva-negativa, focalizando a importância de seu significado
para os seres envolvidos. Para melhor explorar as relações entre as
temáticas, este texto, então. será dividido em quatro relações: Educação e Aventura; Educação e Experiência; Aventura e Experiência e,
finalmente, Aventura, Educação e Experiência.
Educação e Aventura
A utilização de atividades de aventura na educação não é novidade e Pickett e Polley (2001) indicam que, desde a década de 60, estas práticas já estavam inseridas na educação formal de crianças. Ainda
segundo Pickett e Polley (2001) a principal influência foi o Outward
Bound, movimento que se iniciou no Reino Unido na década de 40 e
que buscava aperfeiçoar as habilidades físicas de jovens, além de trabalhar valores éticos e morais que os ajudaria com as demais disciplinas.
Marinho e Schwartz (2005) também exploram a relação entre
educação e aventura. As autoras enfatizam que a educação pode ofe– 15 –
recer canais formais e informais de socialização, utilizando aprendizados experienciais e criativos, como os oferecidos pelas atividades de
aventura. Para Pereira e Monteiro (1995), as conexões entre aventura
e educação podem favorecer o desenvolvimento humano, por intermédio de processos pedagógicos catalisadores de competências que
podem ser, tanto cognitivas, quanto socioafetivas e psicomotoras.
É então que entra a problemática apresentada por Pickett e Polley (2001), em que o uso das atividades de aventura na educação formal
pode se dividir entre a criação de uma disciplina per se e voltada unicamente para o desenvolvimento socioafetivo, cognitivo e psicomotor
propiciado pelas atividades, ou a utilização das atividades como parte
de outras disciplinas, que vão se beneficiar das práticas para o ensino
dos conteúdos educacionais clássicos (PICKETT; POLLEY, 2001).
A educação ambiental apresentada como um diálogo transdisciplinar por Inácio (1997) e Ribeiro (1998) pode envolver diferentes
áreas, como a Ecologia, a Biologia, a Geologia, o Turismo e a Educação Física. É nessa educação ambiental transdisciplinar que Tahara,
Dias e Schwartz (2006) se pautam para indicar a necessidade de uma
prática de atividades de aventura que seja mais consciente e compromissada. Uma prática da aventura que forneça, tanto elementos
educativos, quanto experiências significativas para seus praticantes.
Educação e Experiência
A necessidade de novas formas de ensino e aprendizagem, em
que o conhecimento é construído e disseminado de forma local e global,
tornou-se premente com o desenvolvimento de uma sociedade pautada
em novas tecnologias. As formas tradicionais de saber, que estão baseadas nos conhecimentos científicos, sempre tiveram preferência frente
aos conhecimentos adquiridos por intermédio de saberes experienciais.
O conhecimento popular foi por muito tempo ignorado, ganhando
uma nomenclatura pejorativa: senso comum, e esse senso comum visto
como conhecimento vazio e que de nada vale para o alcance de diplomas e certificados, ou que não pode ser descrito no Curriculum. Pires
(2007, p.15), numa perspectiva diferente, se contrapõe a essa visão ra– 16 –
cionalista e afirma que “[...] aprendizagem e experiência são interdependentes; a experiência assume um papel central na aprendizagem dos
adultos; a experiência (um “material bruto”), quando acompanhada de
um processo de reflexão crítica e de formalização, pode ser traduzida
(“trans‑formada”) em saberes e competências”.
Entre as experiências não-formais que podem auxiliar na
aprendizagem e na educação está o ato de viajar, explorar e conhecer
novos lugares, culturas, formas de pensamento e filosofias de vida.
Porém, essa experiência tem que ser significativa e ser permeada por
prazer, pois, como afirma Trigo (2010, p.31): “Nem todo serviço ou
viagem é uma experiência que mereça ser repetida ou que marque
significativamente a vida de alguém. A experiência tem a ver com a
emoção, com o prazer, e não com o sentimentalismo e a acomodação estéril.”. É essa experiência significativa e prazerosa que deve ser
propiciada pelas atividades de aventura.
A partir da importância de experiências significativas podemos elaborar três questões essenciais, que devem ser feitas quando
pensamos no processo educativo e suas relações com as vivências
pessoais. A primeira questão é “O que podemos aprender com as experiências?”, a segunda: “Por quê as experiências ensinam?” e finalmente “Quais experiências nos ensinam algo positivo?”. Essas questões podem nortear, tanto educadores, quanto gestores públicos e
prestadores de serviço, a elaborar situações, serviços e produtos que
serão elementos educativos transformadores. São questões a serem
respondidas por pesquisas empíricas mais profundas e que não cabem
nessa curta reflexão. Porém, entre esses elementos com potencial educativo e transformador estão as atividades de aventura e suas práticas
na natureza (como, por exemplo, a escalada, o rafting, e a canoagem)
e no meio urbano (como o le parkour e o skate).
Aventura e Experiência
As sensações físicas e as percepções corporais nas experiências
na natureza são, segundo Reis (2010), parte essencial na construção
dos significados da aventura. Essas sensações físicas podem ser vendidas
– 17 –
em pacotes de aventura que promovem experiências que transcendem
a simples contemplação e mergulham o turista na prática corporal e o
incitam a desfrutar e interagir com as belezas naturais. Essas características foram abordadas, tanto por Cloke e Perkins (2005), quanto por
Reis (2010), os quais, ao estudarem os turistas de aventura na Nova
Zelândia, afirmam que as informações promocionais das agências mudam o foco do turista, que passa de simples observador para se envolver
diretamente e corporalmente com as experiências na natureza.
Percebe-se então que a discussão pode permear intensamente
a comercialização da aventura e da experiência, o que já foi discutido por autores como Johnston e Edwards (1994), Cloke e Perkins
(2002), Varley (2006). Porém, essa experiência induzida não vem só
das empresas e da comercialização das atividades, mas pode ser originada pelo próprio contexto do turismo, que gera convenções e regras
do que ver, do que fazer e de como agir, que limita a criatividade e a
espontaneidade do indivíduo (ENDERSON, 2001). São essas características que buscam induzir o turista aventureiro para participarem
de experiências significativas e prazerosas. Essas atividades podem ser,
tanto contemplativas, quanto participativas, passivas ou ativas e vão
se adequar com as próprias características do aventureiro.
Queenstown, na Nova Zelândia, é considerada a Capital Mundial
da Aventura, justamente por oferecer uma gama de atividades de aventura que vai, desde as mais comerciais, como o bungee jump e o rafting,
até as gratuitas, como trilhas e escaladas nas montanhas dos Alpes do Sul.
Queenstown também oferece atividades de aventura comerciais, que dependem da participação do turista, como o mountain bike e outras, onde
o turista tem uma atuação mais passiva, como o jet boating. Oferecer
diferentes opções para o aventureiro faz com este encontre a atividade
que, de acordo com suas características, vai otimizar o significado de sua
experiência, podendo, também, facilitar momentos educativos.
Aventura, Educação e Experiência
A idéia central desse texto consiste, então, na reflexão acerca do
potencial educativo de aventuras significativas. Exemplos que misturam
– 18 –
esses três elementos são alguns dos parques urbanos e não urbanos, que
possibilitam ao turista, não só uma experiência única e significativa,
mas também, a chance de desenvolver seu lado aventureiro e junto com
momentos de aprendizagem. Um exemplo é o Bosque do Alemão em
Curitiba, que mistura uma trilha no meio de uma mata nativa fechada
aos aspectos educacionais simbolizado pela história infantil de Hänsel
und Gretel (João e Maria, no Brasil). O Bosque do Alemão proporciona
uma aventura para adultos e crianças, combinado com elementos educativos e culturais que representam a colonização alemã.
Outro exemplo que possibilita uma otimização da experiência
aventureira misturada com elementos educativos são os acampamentos educacionais. São nestes acampamentos que equipes de recreadores
e educadores montam atividades que envolvem aventura e educação.
Atividades cheias de significados, que buscam otimizar a experiência
lúdica de crianças e adolescentes, mas, ao mesmo tempo, educar com
base em valores morais e de convivência social. Não é raro ver nesses acampamentos atividades como mini-corridas de aventura, onde
crianças trabalham em grupo, escalada indoor, e rafting. Porém, essas
atividades agregariam pouco aos participantes, se os facilitadores ou
guias não engajassem elementos educativos nas práticas.
Assim também acontece com algumas das práticas de educação ambiental que não trazem nenhum tipo de aventura, prazer ou
excitamento para os participantes. A falta do prazer e da aventura faz
com que a experiência se torne banal, chata, redundante e limitada a
conceitos teóricos, os quais, provavelmente, serão esquecidos. Assim
como afirma Marinho (2004, p.10), na sociedade atual, “[,,,] não se
pretende mais visualizar uma educação ambiental movida por oficinas repetitivas esvaziadas de conteúdos e desconectas de um processo
educacional como um todo [...]”, é necessário que exista emoção,
amor, prazer, para que essa educação ambiental se torne significativa
e fonte transformadora de ações socioambientais. A aventura e prazer
são elementos essenciais no desenvolvimento sensível e crítico dos
seres humanos, são essenciais para que os conteúdos e valores transmitidos e ensinados tenham significado para quem está aprendendo.
– 19 –
Como diz Marinho (2004, p.12), “[...] a educação formal deixa suas
funções a desejar, uma vez que parece se ater apenas a um ensino teórico massivo ou a práticas esvaziadas de conteúdos e, nesse processo,
com o sentido de superação, a educação para o lazer e a educação ambiental têm ambas como finalidade a formação de sujeitos conscientes, sensíveis e críticos no que se refere ao tempo livre e à natureza.”.
Considerações Finais
Torna-se premente, então, pensar em novas formas de integrar
aventura, educação e experiências significativas. Para isso, foi criada
uma pirâmide, a qual enfatiza os elementos integrativos primordiais:
• Agregar valor
• Eco-Inovações
• Novas tecnologias
• Link sociedade-aventureiro
• Educação Ativa x Educação Passiva
• Compreeder as Características da Sociedade
Na base da pirâmide está a necessidade de compreender as características da sociedade atual. Sociedade que busca constantemente
ser educada e que irá se aventurar cada vez mais na e com a natureza.
É necessário, também, compreender melhor as diferenças e a importância das diferentes concepções de educação, que vão da educação
ativa e participativa, até a educação passiva e mais tradicional.
É importante que se entendam os link entre a sociedade e o aventureiro, o qual, muitas vezes, foi marginalizado e ignorado, mas que hoje
começa a ser reconhecido e respeitado, por suas habilidades e por suas
vivências emocionais. É fundamental que novas tecnologias colaborem,
tanto para o processo educativo, quanto para se otimizar experiências
vividas e para que as aventuras possam ser cada vez mais seguras.
Num mundo que clama por sustentabilidade, não poderiam
ficar de fora as eco-inovações, novas idéias, produtos e atividades
que, não só sãos importantes para o ser humano, mas também, para
– 20 –
a preservação do meio-ambiente. E, finalmente, isso vai agregar valores que não são só econômicos, mas também, morais e éticos. Esses valores vão contribuir para o processo educativo e para otimizar
a experiência da aventura.
Referências
CLOKE, P.J.; PERKINS, H.C. Commodification and adventure in
New Zealand tourism. Current Issues in Tourism, New Zeland, n.
5, v.6, p. 521–549, 2002.
CLOKE, P.; PERKINS, H. Cetacean Performance and Tourism
in Kaikoura, New Zealand. Environment and Planning, New
Zeland, n.23, v.6, 2005.
ENDERSON, T. Performing Tourism, Staging Tourism: (Re)
Producing Tourist Space and Practice. Tourist Studies, n.1, v.1, 2001.
INÁCIO, H. L. D. Educação física e ecologia: dois pontos de
partida para o debate. Revista Brasileira de Ciências do Esporte,
Campinas, n.18, v.2, p. 133-136, 1997.
JOHNSTON, B. R.; EDWARDS, T. The commodification of
mountaineering, Annals of Tourism Research, n.21, v.3, p.459478, 1994.
MARINHO, A. Atividades na natureza, lazer e Educação
Ambiental: refletindo sobre algumas possibilidades. Motrivivência,
Florianópolis n.16, p.47-69, 2004.
MARINHO, A.; SCHWARTZ, G. M. Atividades de aventura como
conteúdo da educação física: reflexões sobre seu valor educativo. Lécturas
Educación Física y Deportes, Buenos Aires n. 88, 2005
– 21 –
PEREIRA, J. M.; MONTEIRO, L.R. Actividades Físicas de
exploração da natureza - em defesa do seu valor educativo. Revista
Horizonte, n. 69, p. 111-116, 1995.
PICKETT, B.; POLLEY, S. Investigating the history of outdoor
education in South Australia. Australian Journal of Outdoor
Education, Milton, n.5, v.2, p. 49-53, 2001.
PIRES, A. L. Reconhecimento e Validação das Aprendizagens
Experienciais. Uma Problemática Educativa. Sisifo – Revista de
Ciências da Educação, Lisboa. 2, p. 5-20, 2007.
REIS, A. C. Sentindo na pele: corpos em movimento na experiência
turítica na natureza. In: Panosso-Netto, A e Gaeta, C. (Eds) Turismo
de Experiência, São Paulo: SENAC, p. 297-313, 2010.
RIBEIRO, I. C. Ecologia de corpo e alma e transdisciplinariedade
em educação ambiental. Dissertação (Mestrado em Ciências da
Motricidade) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1998.
TAHARA, A.K., DIAS, V.K., SCHWARTZ, G. M. A aventura e
o lazer como coadjuvantes do processo de Educação Ambiental.
Pensar a prática, Goiânia, n.9, v.1, 2006
TRIGO, L. G. G. A viagem como experiência significativa.
In: PANOSSO-NETTO, A.; GAETA, C. (Org.) Turismo de
Experiência, São Paulo: SENAC, 2010, p. 21-41.
VARLEY, P. Confecting adventure and playing with meaning:
The adventure commodification continuum. Journal of Sport &
Tourism, n. 11, p. 173-194, 2006.
– 22 –
ATIVIDADES DE AVENTURA,
TECNOLOGIAS E ENVELHECIMENTO
Edmundo de Drummond Alves Junior
Ao se pensar em tecnologia, logo vem à mente o novo, a busca
por maior eficiência com menor esforço, algo que tem a ver com o
moderno, o ser jovem; já o envelhecimento, nos leva a pensar em
algum tipo de desgaste, a necessidade de substituição, uma fraqueza,
ou ainda, uma etapa que, no que toca o curso da vida, sugere o indivíduo ultrapassado, antigo, sem função, o velho. A estes dois temas
acrescentarei à minha discussão as práticas corporais de aventura, que
trazem em si a incorporação da idéia de um novo modelo de vida
moderno, que atrai os mais intrépidos, em geral jovens destemidos
amantes da adrenalina. Acrescento a estas práticas corporais, cujas
fronteiras são bem flexíveis, um grupo de atividades que acabam por
se confundir com a categorização anterior, que são as atividades que
dependem da natureza e têm sua prática exclusivamente em contato
com um meio ambiente que não foi totalmente dominado.
Quem tem quarenta anos hoje não é a mesma pessoa que teve
quarenta anos no início do século passado, como exemplo, o processo
seletivo dos atletas americanos que pretendem competir em Londres
nas Olimpíadas tem duas mulheres, ambas têm mais de quarenta anos
(CROUSE 2012, p.1). O aumento da expectativa de vida e da longevidade humana também acontece no campo de práticas corporais,
como na dos esportes, seja nos de lazer como de alta performance.
Não envelhecemos da mesma maneira do que nossos antepassados. No montanhismo brasileiro, Jean Pierre Von der Weid comemorou cinquenta anos de escaldas (COSTA 2012, p.6). É interessante saber, por intermédio do seu relato, a importância da tecnologia a
serviço do montanhismo, levando-nos a pensar que isto se apresenta
em outras práticas corporais. Outro exemplo sai de atividades com– 23 –
petitivas, e não se trata de torneios másteres, que são campeonatos
que chegam a ter pessoas com mais de 100 anos competindo. Vide o
documentário denominado ‘Atletas do tempo’ (SPORTV, 2012).
Em 2010, no Campeonato Mundial de Vela categoria Star.
Gastão Brun, então com 65 anos, competiu ao lado de jovens e veio a
ser o 20º colocado na classificação geral (DORO, 2010). Pierre Bourdieu (1980, p. 145) sugere que, de forma semelhante à juventude, a
velhice é uma categoria socialmente construída, e assim diz ele:
“[...] a idade é uma variável biológica socialmente manipulada, por esse motivo plena de ambiguidades que não
serve como único parâmetro para dizer quando alguém
é velho.”.
Propomos a desconstrução dos preconceitos relacionados a
uma determinada idade que, entre outros, impede a prática de atividades como as de aventura e na natureza. Encontramos nos estudos
do lazer e da animação cultural, (MELO, ALVES JUNIOR, 2012)
a contribuição teórica que se junta às reflexões que fazemos sobre
a intergeracionalidade, o princípio do educar pelo e para o lazer
(ALVES JUNIOR, 2001). A cidade passa a ser um equipamento
de lazer. O Rio de Janeiro é peculiar no que tange às praias, lagoas,
Unidades de Conservação com vias de escalada e trilhas diversas, as
rampas de vôo livre, entre outros. Sem necessitar grandes deslocamentos, a cidade possui uma gama bastante variada de possibilidades de práticas na natureza.
Consideramos estas práticas corporais como um fato social,
investigações têm sido produzidas envolvendo a cidade e as práticas.
Sandoval Villaverde (2003) investigou o Grupo de Caminhada Alternativa de Vida e o Clube dos Excursionistas do Rio de Janeiro. Junto
com Cleber Augusto Gonçalves Dias desenvolvemos o que chamamos de Observatório dos Esportes na Natureza, que veio a ser um
dos projetos especiais da Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio de
Janeiro. Nossa opção pelo Rio de Janeiro ficou marcada no livro Entre o Mar e a Montanha (DIAS, ALVES JUNIOR, 2007). Este livro
– 24 –
antecipou a edição de um trabalho coletivo, ao qual demos o título de
“Em Busca da Aventura” (DIAS, ALVES JUNIOR, 2009). Já nestes
momentos percebíamos a presença cada vez mais acentuada de pessoas mais velhas nas atividades na natureza.
O caso do montanhismo no Rio de Janeiro é um exemplo
que permite perceber a convergência de um número importante de pessoas mais velhas misturadas aos mais jovens, no que
chamaria de trocas intergeracionais, as quais lá são possíveis
de serem realizadas, mesmo que isto não seja verbalizado por
seus freqüentadores. Diria que a intergeracionalidade é sugerida
como uma das formas de diminuir o preconceito com relação ao
envelhecimento e à velhice (ALVES JUNIOR, 2006). Nesta convivência possibilitada pela estrutura na qual se organiza o clube,
os participantes mais velhos atuam, tanto na organização das
atividades dos clubes, nos cursos que formam novos escaladores
e também na participação de atividades como as de trecking,
existindo aqueles que, com mais de cinqüenta anos, continuam
escalando vias com certo grau de dificuldade.
Não resta dúvida de que a utilização de ambientes naturais para
determinadas práticas corporais está profundamente articulada com
a criação de novos símbolos de consumo da cultura esportiva. Esses
símbolos estão relacionados a imagens de aventura, coragem, audácia
e jovialidade. Não se trata, assim, de um fenômeno social ingênuo e
que atrai às suas práticas jovens ‘viciados em adrenalina’, considerados por muitos como irresponsáveis, pessoas que gostam de testar os
limites humanos e viver perigosamente desafiando o risco de acidentes. Atualmente, temos também de reconhecer que estamos diante de
uma forte indústria do entretenimento que alia a busca pelo lucro que
estas práticas podem sugerir ao forjamento de um sistema de valores
muito peculiar, no que diz respeito ao ser jovem, moderno e inserido
no mundo atual.
Nesses termos, aderir a um esporte de aventura e na natureza
significa, na prática, associar-se a um conjunto de símbolos definidores
de identidade. No caso daqueles que têm mais de sessenta anos, idade
– 25 –
que, no Brasil, a legislação considera para identificar quem é idoso ou
velho se junta outro fato que foi assunto de reportagem no mês passado na Folha de São Paulo (ROLLI, 2012). Trata-se do crescimento do
potencial de consumo daqueles que têm mais de sessenta anos. Lazer
junto com alimentação e saúde canalizam estes novos consumidores.
Aqui um parêntese se faz necessário, não podemos ser ingênuos
ao lermos estes dados, de que haja uma generalização destas condições ao conjunto dos velhos brasileiros e que afinal tudo estaria bem
com os velhos brasileiros, fato este que, mesmo que fosse verdade, não
justificaria afirmar que esta seria a ‘melhor idade’ ou a ‘idade feliz’. Na
verdade, estas classificações visam homogeneizar um grupo social que
nada tem de homogêneo e traz em si a negação do processo normal
do envelhecimento, que camufla a inexorabilidade da velhice e acaba
por ignorar a precariedade de recursos da grande maioria dos velhos
brasileiros. Estes não podem ser comparados a um contingente ainda
reduzido de idosos que envelhecem com boas condições (ALVES JUNIOR, 2011). Temos de admitir que a indústria do entretenimento
já está alerta e percebe que há profundas mudanças nos interesses daqueles que envelhecem. Numa rápida consulta ao Google verificamos
que, por meio da entrada ‘Esportes Radicais e Terceira Idade,’ já se
apresentam diversos sites oferecendo pacotes exclusivos para este segmento. Trago aqui o exemplo encontrado no site Webadventure que,
no ano de 2003, assim divulgava seus serviços: “Terceira idade nos
esportes de aventura” (JORGE, 2012).
Apesar de podermos incluir práticas que já atingiram certa maturidade, como a vela, esportes de prancha e o montanhismo, a verdade é que, mesmo estas atividades não são mais praticadas como no
momento de sua organização inicial. Em determinados momentos,
trata-se mesmo de outras práticas. Como exemplo saído do montanhismo, sabemos que a evolução foi significativa, já que, num primeiro momento, não tão distante assim, se utilizavam cordas de sisal,
hoje, temos as cordas de nylon e certificadas, o material é muito mais
leve e seguro. Além disto, temos os fixadores e a maior leveza de outros equipamentos, como roupas e calçados, sem contar a inclusão na
– 26 –
prática do GPS. Se pensarmos no surfe, mesmo que ainda tenhamos
os adeptos dos pranchões, é fato que ninguém buscará esta prática
com base naquelas pranchas que eram preparadas com madeirite.
Foi a partir dos anos sessenta, com o prenúncio do grande crescimento do número de pessoas que se considerava como velhos e
com a generalização dos sistemas de aposentadoria, principalmente
em países mais desenvolvidos, que se passou a pensar em um modo
de vida para aqueles que envelheciam, que não mais se fundamentava
no desengajamento e na diminuição das atividades. Com relação a
este período falei de uma “Pastoral do envelhecimento ativo” como
tendência que servia à descaracterização do que se considerava como
mau envelhecimento, de outro que seria considerado como bom envelhecimento (ALVES JUNIOR, 2011).
Considerações Finais
Independente da atividade escolhida, verificamos a capacidade
das práticas corporais de aventura e na natureza de agregarem praticantes que acompanham a tendência que valoriza, neste homem contemporâneo, a busca por uma excitação agradável, a qual é encontrada nestas práticas. Elias e Dunning (1992) contribuem bastante para
este tipo de leitura, e tal como um ‘jogo de vertigem’, que nos permite
pensar em Roger Callois (1990), o praticante estaria mais propenso
a se engajar cada vez mais em novas experiências, as quais, graças aos
avanços tecnológicos, são cada vez mais desafiadoras e emocionantes, fazendo com que os limites individuais estejam sempre postos
em questão. Acrescento que, no caso das práticas realizadas por meio
de sua forte inserção e fundamental dependência da natureza, acompanham também uma nova postura ambientalista, que aproxima os
urbanos do século XX e deste século XXI, a terem um maior diálogo
com o meio ambiente.
Aposto no crescimento do número de pessoas que procuram
estas atividades que, cada vez mais, terão pessoas com mais idade e
credito principalmente a este fato o envelhecimento de antigos praticantes, que não deixaram de praticar durante o processo do enve– 27 –
lhecimento, sendo estes praticantes capazes de compreender possíveis
limitações, que farão com que eles se adéquem a uma nova realidade.
Agrada-me falar no conceito de geração para explicar muitos dos fatos sociais que agora acontecem, no que toca alguns velhos de hoje: a
prática de atividades físicas faz parte desta realidade.
Referências
ALVES JUNIOR, E. D. A pastoral do envelhecimento ativo, Rio
de Janeiro: Apicuri, 2011.
ALVES JUNIOR, E. D. O Grupo de caminhada alternativa de vida.
In: Coletrânea do II seminário lazer em debates, Belo Horizonte:
UFMG, 2001.
ALVES JUNIOR, E. D. Pondo em prática a intergeracionalidade,
In: MELO; TAVARES , O Exercício Reflexivo do Movimento, Rio
de Janeiro: Ed Shape, p. 264- 281, 2006.
BOURDIEU, P. Questions de sociologie, Paris: Ed Du
Minuit, 1980.
CALLOIS, R. Os jogos e os homens. Lisboa: Cotovia, 1990.
COSTA V., 50 anos subindo pelas paredes, Jornal O Globo, seção
esportes, 22 de abril de 2012, p.6
DIAS, C. A. G., ALVES JUNIOR, E. D. Entre o Mar e a
Montanha: esporte aventura e natureza, Niterói: Eduff, 2007.
DIAS, C. A. G.; ALVES JUNIOR,E. D. Em busca da aventura:
múltiplos olhares sobre esporte lazer e natureza, Niterói: Eduff, 2009.
– 28 –
DORO B. Classe dos tiozões: Star tenta conciliar juventude
de campeões com tradição, Rio de Janeiro UOL esporte, 20 de
janeiro de 2010, disponível em, <http://esporte.uol.com.br/vela/
ultimas-noticias/2010/01/20/classe-dos-tiozoes-star-tenta-conciliarjuventude-de-campeoes-com-tradicao.jhtm> acessado em 03 de
julho de 2012.
ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992.
CROUSE, K. Aos quarenta anos, Jornal O Globo, seção esportes,
03 de março de 2012, p.1.
MELO V. A.; ALVES JUNIOR, E. D., Introdução ao Lazer, 2
edição, Barueri: Manole, 2012.
ROLLI C. Cresce potencial de consumo dos idosos, Folha de São
Paulo, Editoria Mercado, B1, 10 de junho de 2012.
SPORTV reporter, Atletas do Tempo, divulgado em 06 de
junho de 2011, disponível em http://globotv.globo.com/
busca?q=Atletas+do+Tempo consultado em 07 de julho de 2012.
VILLAVERDE, S. M. Subjetividade, amizade e montanhismo:
potencialidades das experiências de lazer e aventura. Tese
(Doutorado em Educação fïsica) Universidade Estadual de
Campinas, UNICAMP, 2003.
– 29 –
SOCORRO, TURISMO PARA TODOS
Carlos Alberto Tavares de Toledo
A cidade de Socorro/SP (nome originado da padroeira N. S.
do Perpétuo Socorro), hoje com 37.000 habitantes, foi fundada em
09/08/1829. Com o relêvo da Serra da Mantiqueira, clima ameno e
às margens do Rio do Peixe, proporciona um cenário de rara beleza,
excelente para a prática do Turismo, mais notadamente três segmentos: Ecoturismo, o Turismo de Aventura e o Turismo Rural.
Devido à qualidade das águas minerais, ela ingressa no Turismo
em 1945, passando em 1978, à condição de Estância Hidromineral.
No final da década de 60, Socorro passa a produzir o tricô - costume
trazido pelos imigrantes italianos que integraram a nossa população
na época da cultura do café e do fumo – em máquinas, industrializando o tricô. Isto deu origem a esse pólo regional de malharias, hoje um
setor de grande geração de emprego e renda para nossa comunidade.
Em 1994, com a chegada do Turismo de Aventura e em 1996,
com a criação do Conselho Municipal de Turismo de Socorro, começamos a trabalhar além do Turismo de Aventura, com o Ecoturismo e
o Turismo Rural. O Turismo passa a ser e ter um desenvolvimento significativo, com o aproveitamento da exuberância de nossos atrativos
naturais, o que possibilitou a atuação em oito segmentos diferentes de
Turismo, sendo os principais ligados ao ambiente natural rural.
Todas as atividades de Turismo de Aventura são praticadas em
seis parques privados na zona rural, que contam com completa infraestrutura necessária. Com a implantação de nove programas e projetos,
Socorro se tornou um dos 10 Destinos Referência em Turísticos no
Brasil para Ministério do Turismo, por termos implantado o conceito
do Turismo para Todos, proporcionando, assim, turismo de qualidade
para turistas, independente de sua idade ou condição física.
O programa Aventura Segura, implantado pelo Ministério do
Turismo unicamente em 17 destinos no país, qualificou os presta– 30 –
dores de serviços de Turismo de Aventura. O projeto Aventureiros
Especiais adaptou 10 atividades de Turismo de Aventura para pessoas
com deficiência ou mobilidade reduzida e o projeto Socorro Acessível, adaptou logradouros públicos, empreendimentos privados e capacitou e sensibilizou pessoas para melhor atender a esse público alvo,
incluindo entre estes a melhor idade.
Socorro conta em seu cenário rural com mais 2700 propriedades
agrícolas atualmente, mais de 80% das propriedades familiares, bem
como, os serviços são executados por mão de obra familiar. Estes pequenos produtores, sozinhos ou consorciados estão, aos poucos, indo
em direção ao Turismo Rural, visando à melhoria da renda com a perspectiva de agregar valor ao produto agrícola, como o café, banana, batata doce, abóbora seca e transformando o leite em doces e queijos. O
mel é outro produto que vem ganhando força, com o projeto Casa do
Mel da Associação Rural do Bairro dos Cubas e também os produtos
organoagrícola, da Associação dos Produtores do Bairro dos Pereiras.
Estamos estrategicamente participando ainda no Turismo Rural, visando gerar emprego e renda na zona rural. O Talentos do
Brasil Rural - programa do Ministério do Turismo em parceria com
o Ministério do Desenvolvimento Agrário – representa um projeto,
no qual o nosso roteiro turístico “Caminhos da Roça” (seis empreendimentos rurais sendo quatro deles da agricultura familiar) é o único
do Estado de S. Paulo que foi aprovado em todas as fases entre os 24
roteiros existentes no Brasil.
Hoje, Socorro é um destino de benchmarking, onde se recebem visitas técnicas de empresários de todo o Brasil e do exterior em Socorro, com o intuito de conhecer para replicar nossa
experiência como melhores práticas. Socorro está trabalhando
alinhado ao Plano Nacional do Turismo - Uma Viagem de Inclusão, que é fruto do consenso nacional de todos os segmentos
turísticos comprometidos no objetivo comum de transformar a
atividade de turismo em um importante mecanismo de melhoria
da atividade econômica e fazer do Turismo um indutor do desenvolvimento e da inclusão.
– 31 –
LAZER, AVENTURA
E TECNOLOGIA NA CULTURA POPULAR
Carmen Maria Aguiar
Este texto retrata algumas questões referentes a práticas culturais,
destacando aquelas ilustrativas no campo do entretenimento e do lazer,
que envolvem atividades caracterizadas por algum grau de risco ou aventura e por utilizar recursos tecnológicos oriundos de culturas populares e/
ou criadas por comunidades tradicionais. Há uma variedade de possibilidades que garantem que mais pessoas possam vivenciar com prazer, não
apenas as atividades lúdicas propriamente ditas, mas também, aquelas
que se adequam ao lazer da população, sendo executadas com prazer, ou
mesmo, encontrando em cada uma um viés lúdico e criativo.
A observação e o registro de tais práticas possibilitam uma reflexão sobre os modos como a população realiza e vivencia suas atividades
de caráter lúdico, muitas vezes associadas ao trabalho, a festejos e a outros afazeres, expondo habilidades, conhecimentos e saberes, gerando
nova criação, invenção e elaboração de recursos culturais e tecnológicos
e, até, outros instrumentos destinados ao entretenimento, garantindo,
assim, o lazer da comunidade. Os dados apresentados ao longo deste
texto foram extraídos de uma pesquisa qualitativa mais ampla, em que
foram investigados eventos caracterizados pela presença de elementos
lúdicos e que são explorados pela cultura local, de diversos estados brasileiros. Os procedimentos metodológicos adotados, além de uma extensa revisão de literatura, contemplaram a investigação em campo, em
que se priorizou a vivência de práticas por meio da observação e da pesquisa participantes, recursos tradicionais no campo da Antropologia.
Do material coletado nessa pesquisa mais ampla, foram selecionados alguns exemplos de práticas culturais e lúdicas – vivenciadas por comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas
– caracterizadas pelo uso de tecnologias, ora bem simples, ora mais
– 32 –
complexas, por seu caráter criativo, em geral refletindo a cultura
local, suas técnicas e materiais disponíveis. É preciso destacar que
muitas atividades lúdicas surgem a partir de necessidades associadas
ao trabalho ou aos afazeres do próprio cotidiano de uma comunidade. É o caso de comunidades ribeirinhas, que, utilizando material
disponível no seu ambiente e tecnologia desenvolvida por eles mesmos e transmitida dos mais velhos para os mais jovens, constroem
jangadas feitas de troncos de bananeiras atravessados ou fixados em
troncos finos de árvores e amarrados com cipós ou cordas trançadas
de embira, a fim de explorar os recursos do rio, seja coleta de alimento, como peixes, seja como transporte para locais de plantação
ou de caça. Depois, essas jangadas são utilizadas por jovens e crianças em aventuras, descendo corredeiras ou em competições de remo.
Nessas atividades, desenvolvem seu potencial físico e habilidades
essenciais para sua manutenção e sobrevivência.
As manifestações culturais congregam cultura e educação, em
geral, conjugam crenças e brincadeiras, reúnem adultos e crianças e
utilizam a troca de saberes como veículo de sociabilidade entre os
participantes, por intermédio de um processo social dinâmico, no
qual diferentes elementos socioculturais servem como meio para o
ensino e o aprendizado de tradições culturais. Os elementos lúdicos
comumente permeiam os processos culturais vividos somando-se a
outros processos e práticas sociais (AGUIAR, 2010).
A tecnologia mais moderna desenvolveu recursos poderosos para
permitir atividades mais arriscadas, mas populações sem acesso a essa
possibilidade continuam a se aventurar utilizando seus próprios meios.
Assim, invenção, criação e utilização de recursos tecnológicos nascem do
ambiente natural em que o ser humano viveu quase toda sua história.
As matas fornecem, em várias culturas, o cenário e o material para
essas atividades. É muitas vezes necessário subir em árvores muito altas,
em um coqueiro ou em uma palmeira, para coletar alimento ou outro
recurso, como folhas e talos a fim de cobrir moradias. São vários os métodos desenvolvidos para essa escalada: há desde corridas desembaladas em
direção à árvore, que permitem ao executor da tarefa alcançar uma altura
– 33 –
razoável subindo correndo pelo tronco, até subidas lentas ora abraçado ao
tronco com pernas e braços, ora com apoio de cordas presas aos pés, mas
sempre envolvendo uma boa dose de risco como também de risos.
Das matas também se pode utilizar um tronco de árvore com
abertura oblonga, que batido com um bastão fazia ressoar sinais
acústicos para transmitir mensagens (BARDI, 1982). Entre índios
brasileiros, esse tambor era um instrumento de comunicação que
apresentava muita eficácia devido ao som que emitia uma sonoridade capaz de alcançar distâncias quilométricas. Eram utilizadas batidas específicas, informativas e significativas, que serviam de meio de
comunicação e de transmissão de mensagens. Essa tecnologia possibilitou a ampliação dos horizontes das atividades, muitas vezes de
risco, ou de aventura, do mesmo modo que hoje o fazem telefones
móveis e aparelhos de GPS.
Ainda nas matas, índios confeccionam arcos e flechas com recursos disponíveis no seu ambiente, e saem para caçadas necessárias à
sua alimentação. É muitas vezes um trabalho árduo e perigoso, mas,
no qual, encontram prazer e diversão. É um trabalho para adultos,
do qual os mais jovens se aproximam aos poucos, praticando em suas
brincadeiras ou participando em momentos mais seguros, até dominarem os conhecimentos que lhes são transmitidos.
Seja nas águas de um rio ou no meio da mata ou em áreas
já urbanizadas, na zona rural ou nas cidades, atividades variadas
vinculadas à cultura local percorrem o mesmo caminho de atrelar
recursos disponíveis à busca de aventura e/ou prazer. Como em uma
comunidade rural, em que a fixação de um balanço, por meio de
cabos de aço, ao alto de uma grande árvore, com alças chegando
a 20 metros ou mais de comprimento, possibilita que moradores
locais se aventurem em verdadeiros “vôos” sobre copas de árvores
menores e barrancas profundas. Ou no caso de uma gangorra feita
de um longo tronco de árvore fixado ao centro em outro tronco que
lhe serve de apoio, num sistema que tanto permite o movimento de
oscilação quando o de rodopio, e na qual várias crianças se apinham
num jogo de equilíbrio e desafio.
– 34 –
Assim, em cada contexto social e geográfico nascem práticas lúdicas que envolvem conhecimentos, renovados diariamente
com novos experimentos, atrelados ao ambiente (composição do
solo, tipo de vegetação da mata ciliar, características de minerais,
volume e profundidade das águas, etc.) e ao desenvolvimento físico e intelectual, crítico e criativo, dos moradores daquele local.
É comum se observar índios brincando, após enchente, no braço de um grande rio, com grandes troncos trazidos pelas águas,
ora utilizados como trampolim, ora como barreira a se transpor
mergulhando por baixo. Crianças, jovens e adultos criam brincadeiras e desafiam as fortes corredeiras turbulentas. As barrancas, lavadas pelas águas, viram campo para jogar bola, desenhar
em areias, brincar de pega-pega, corrida, fazer piruetas com seus
corpos. O cenário, ao mesmo tempo em que serve de espaço
lúdico, revela o modo como nessa cultura os eventos naturais
são incorporados em suas vidas como fonte de lazer e aprendizado. Adicionalmente, essas práticas resultam em melhoria das
condições físicas e respiratórias, que facilitam o desempenho nos
afazeres diários e promovem uma vida saudável.
Em diversas regiões brasileiras, encontramos, nas águas, uma
série de exemplos de atividades de caráter lúdico desafiadoras, que
colocam à prova o corpo, a sensibilidade e a coragem de cada indivíduo e do grupo como um todo. O conhecimento do ambiente e seus
recursos, base da cultura local, mapeia o tamanho dos desafios, ao se
avaliar a altura de uma cachoeira, de onde se salta, a profundidade do
rio, em que se mergulha, o percurso e a lisura das pedras de um tobogã natural, em que se deixa deslizar por corredeiras d´água.
O conhecimento, representado pelo comportamento humano contextualizado, vai causar impacto sobre a vida social e
sua dinâmica.
“[...] ‘Saber´ tem duplo sentido [...] sempre foi esclarecer
a ordem cósmica e psíquica, que é “saber” na acepção mais
popular do termo e que está na raiz da ideia de ciência.
Ao mesmo tempo, “saber” é “criar”, fazer alguma coisa, o
– 35 –
que está na raiz da ideia de arte. [...] Entender a ordem
cósmica e psíquica e criar, que aparentemente nada a ver
um com o outro, leva à ciência, que é um ato de puro
de saber, assim como a arte e a técnica são atos puro do
fazer. [...] As crianças, assim como a humanidade, têm
um comportamento evolutivo em seu aprendizado que
vai do comportamento individual ao social e finalmente
ao cultural.” (D´AMBROSIO, 1990, p. 60-61)
Outro exemplo de atividade tradicional, de comunidades
quilombolas e caiçaras, executada nas águas do litoral norte do
Estado de São Paulo e sul do Estado do Rio de Janeiro, envolve
modos lúdicos associados ao convívio social e a brincadeira infantil. Naquela região, ao pé da Serra do Mar, em vários municípios, filhos de pescadores executam uma espécie de treinamento
para o mergulho, em que elementos como tronco de árvores, de
espécie apropriada, colocados na água para indicar variações de
profundidade, demarcam os riscos e delimitam as habilidades
individuais para enfrentá-los. Os adultos preparam a madeira e
as crianças se encarregam de cuidar para que a brincadeira gire
em torno de suas peripécias. Novamente, o contexto cultural
explora as condições e os recursos locais. Acreditam que a felicidade, a criatividade e o aprendizado devem acompanhar a vida
infantil por meio da credibilidade atribuída ao grupo de crianças, as quais devem aprender a ter responsabilidade, descobrir
seus limites e cuidar uns dos outros.
“[...] O grupo, ou a cultura, é imanente ao indivíduo,
mas este reencontra-se no grupo. [...] É importante ter
em mente que a parte, o individual, a espécie, o singular
não se separam, enquanto diferenças, do todo, do grupo,
do gênero, da natureza comum ou universal” (SODRÉ,
2000, p. 139).
Lidar com a cultura e suas fronteiras requer um pensamento
e uma ciência nômade para circular do folclore à antropologia, da
história da arte à comunicação (GRUZINSKI, 2001).
– 36 –
O equilíbrio instável das culturas deixa muitas questões
ainda embaraçosas, pois suas fronteiras são ao mesmo tempo reais e imaginárias.
Referências
AGUIAR, C. M. Educação e saberes: correlação com a natureza e
a cultura. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
BARDI, P. M. A madeira desde o pau-brasil e a celulose. São
Paulo: Banco Sudameris Brasil S/A, 1982.
D’AMBROSIO, U. Etnomatemática. São Paulo: Ática, 1990.
GRUZINSKI, S. O Pensamento mestiço. São Paulo: Cia das
Letras, 2001.
SODRÉ, M. Claros e escuros. Petrópolis: Vozes, 2000.
– 37 –
TECNOLOGIAS E AVENTURAS
PARTICIPATIVAS: POSSIBILIDADES DE
PRÁTICAS CRÍTICO-HUMANIZADORAS
Tereza Luiza de França
Levantar reflexões e posições frente a esta temática, por
sua complexidade, impõe explicitar o entendimento acerca dos
dois conceitos básicos que a constitui: tecnologias e aventuras
articipativas. Aqui, o conjunto destes conceitos é concebido
como práticas crítico-humanizadoras, um ato de amor, coragem,
respeito, ética, criação, ludicidade que, ao serem expressas, dialogam e constroem com sentimentos, fascínios, encantamentos,
prazeres, conhecimentos. Não numa perspectiva ingênua, pois
na verdade nada aqui tem de ingênuo. Mas, uma práxis de humanização, socialização e singularização, que permite romper
com a visão de mundialização individualista, para fundamentarse em princípios de apropriação/pertencimento do patrimônio
humano – o conhecimento. Com estas convicções, buscamos,
na relação do impulso racional, sensível e lúdico, explicitar esses
conceitos, tomando três poesias como ponto de partida para melhor compreendê-los.
– 38 –
A TECNOLOGIA
DO MEU SER
Minha televisão
É o sol e o mar brasileiros
Meu rádio É o som das asas do beija-flor
Voando pelo mundo
Minha internet
É uma pequena carta
Em uma garrafa no mar O qual tem a missão de levá-la
Ao correio de um pintor da
felicidade
Minha lâmpada
É o sol a sorrir
Meu perfume preferido
É a rosa desabrochando na primavera da
Alemanha
Meu trabalho
É fazer a pedra virar amor
Meu amor verdadeiro
É sentir cada gota da chuva
A tocar meu corpo
Levando os ingredientes da vida
Minha vida...é saber...que continuo
Caminhando entre as flores do coração. 1
(ANA CLAUDIA DE SOUZA, 2012)
1
A escolha desta poesia significa que compreendemos as
Tecnologias em sua dimensão humana sensível, que contribui
para a vivência de práticas crítico-humanizadoras, no sentido da
valorização do desenvolvimento humano. Dentre outras possibilidades, as tecnologias apresentam-se como: tecnologia clássica,
tecnologia avançada, tecnologia da comunicação e tecnologia
elétrica fundamental, as quais constituem e contribuem com os
campos de conhecimento centrados nos avanços técnico-científicos de processos e materiais criados na evolução humana, pelo
uso de ferramentas das simples às ferramentas complexas. Portanto, fazer uso deste termo no plural significa compreendê-lo
na sua antiguidade, atualidade, amplitude e complexidade, que
se apresenta como campo do conhecimento.
1
Disponível no site: http://www.brasileiros-na-alemanha.com/portal/
– 39 –
AVENTURAS
Na abstração
não se veem os voos
alçando as estrelas
nas asas da imaginação
Não são ouvidos os gritos e os ecos
indefinidos, ecoando,
mudos, presumidos
Na vestimenta
apenas se apresenta
alguém mediano,
nas letras aventurando
No universo das alegorias
pinçando palavras,
a pérola no âmago da ostra,
viajando nas fantasias... 2
(EDILOY A C FERRARO, 2010)
1
Aventuras são práticas criativas nas mais diferentes dimensões do quefazer, no sentido freireano, em que a boniteza, a amorosidade, a humanização, a descoberta do fluxo, o risco calculado nascem
da busca de ser coerente ao expressar-se. Realidade, pensamento, expressividade e linguagem trazem do quefazer aventureiro a unidade
na multiplicidade do ser, que se efetivam como seres de reflexão-ação,
humanizados, críticos e transformadores.
Este quefazer aventureiro tem sido amplamente discutido nos
últimos anos, em razão, entre outros fatores, do relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), que divulga a
situação de desgaste do planeta Terra. De acordo com o relatório, só a
mudança de atitudes e de valores da população mundial pode conter,
de forma significativa, os efeitos de tal desgaste. Neste sentido, pensamos que as discussões, estudos e pesquisas acerca das tecnologias,
numa relação direta com as práticas de aventuras, contribuem para
a formação de cidadãos críticos, reflexivos e capazes de intervir nas
realidades local, regional e global.
2
Disponível no site: http://sitedepoesias.com/poesias/58746
– 40 –
ARRISCAR
Há pessoas
que nunca se interrogam
sobre o que se avista
do alto de uma montanha
ou sobre se é possível
lançar o disco
a 100 metros de distância.
Essas pessoas nunca
arriscam…
Há pessoas
que nunca perguntam
qual é a causa da pobreza
ou porque é que outras pessoas
parecem infelizes.
Essas pessoas nunca
arriscam…
Há pessoas
que nunca tentam modificar o que está mal
ou modificar-se
a si próprias.
Essas pessoas nunca arriscam…
Há pessoas que nunca sonham
com um mundo mais justo
nem com a liberdade e a paz.
Essas pessoas nunca arriscam…
Felizmente que
algumas pessoas
são capazes de arriscar.3
(LEIF KRISTIANSON,1982)
1
Ao adjetivar aventuras como Participativas, compreendemos
que estas implicam num quefazer caracterizado pela participação
em vivências, experiências e construções forjadas no caminho que
se faz caminhando, com múltiplos olhares na e para a totalidade que
as constituem. Nesta unidade de pluralidade, o homem, em suas dimensões, relaciona-se consigo, com o outro, com o mundo. É uma
participação qualificada, nutrida pela sua totalidade, solidariedade,
dialogicidade, emancipação, territoriedade, que sensibiliza, motiva
e estimula o espírito de buscas e descobertas criativas despertadoras de curiosidade do sentido e significado desta mesma aventura.
Significa reconhecer que as construções/produções não se encerram
em momentos singulares da humanidade, mas se constroem e se (re)
constroem em movimentos cíclicos, pela vontade político-formativa
de aprender a arriscar-se, numa relação motivadora de confiança e
compromisso com as aventuras.
3
Disponível no site: http://historiasparaosmaispequeninos
– 41 –
Conceber as aventuras permeadas pela participação não significa tomar a participação como estratégia ou recurso. Mas, significa atitude de respeito, de colaboração, no sentido de ajuda mútua
para o desenvolvimento humano. É criar ambientes com autonomia
e emancipação, que contribuam para a construção de conhecimento
na perspectiva da formação humana.
Aventurar-se participativamente nos reporta a compreender a idéia de participação, isto é, do trabalho associado e cooperativo de pessoas em situações que requerem respeito e diálogo,
se constituindo pela reflexão crítica destas práticas, isto é, da responsabilidade de exercer sua autoridade e liberdade. Tomando os
escritos de LÜCK (2006), compreendemos a participação como:
presença – sentido de pertencimento; expressão verbal e discussão
– liberdade de expressão; representação – caráter representativo;
tomada de decisão - compartilhar poder e compartilhar responsabilidade nas decisões; engajamento – envolver-se dinamicamente
nos processos sociais.
É deste lugar que falamos. É neste contexto que compreendemos o papel das tecnologias nas aventuras participativas. Ou seja,
numa estreita relação e incorporação destes dois conceitos.
As tecnologias constroem e (re)constroem a realidade como cenário de práticas de lazer, em que o aventureio-tecnológico-participativo formata um conjunto de ações intencionais em prol da sustentabilidade, com a finalidade de contribuir para a humanização e emancipação do homem e para a formação de cidadãos críticos. Segundo
Souza (2007), vamos nos tornando humanos ou nos desumanizando
no decorrer de nossa vida conforme as condições que construímos. O
que implica pensar e emocionar-se nas relações com a natureza. O ser
humano é um ser de relações em constante mudança e transformação,
pela necessidade de manter um equilíbrio harmônico e saudável com
o meio natural, em todos os aspectos em que esta relação se concretize
(TAHARA; DIAS; SCHWARTZ, 2006).
E, as tecnologias, na perspectiva da humanização, impõem
desafios para os estudos do lazer, no sentido de problematizar ações
– 42 –
atitudinais, para que os praticantes aventureiros possam intervir
no seu tempo, solucionando questões plurais, para efetivamente
fazer escolhas e tomar decisões com alternativas, possibilidades e
probabilidades de um risco calculado à formação de sujeitos “tecnicamente inteligentes”.
Aqui cabe uma pergunta: Quem veio primeiro, a tecnologia
ou a sociedade humanizada? Muito se fala que as tecnologias são
apropriadas para o uso de equipamentos, procedimentos e materiais
técnico-científico, para a acumulação do capital, robotizando o humano pela automatização. Paul Virilio (1932, s/p) define “[...] a era
da informática como algo perigoso, já que nos leva à perda da noção
da realidade, quebrando distâncias e territorialidades e ainda proporcionando uma quantidade absurda de informações”.
Dialogando com outros interlutores, que têm desenvolvidos
estudos e pesquisas, constatamos �������������������������������������
novas perspectivas e avanços nas formas antigas de comunicação, experimentação e participação nas aventuras. Esses interlocutores reconhecem que a informática promove e
garante integrações cada vez maiores e mais rápidas, possibilitando
um legado de transformações nas alternativas processadas e transladadas, as quais aproximam ainda mais as manifestações de aventuras
participativas, com predisposições e possibilidades estruturais para se
integrar de maneira adequada a outros contextos.
Assim, compreendemos face aos avanços tecnológicos, em que
incorporam-se novos sentidos e significados, que a relação tecnologia
e humanização aprimora e privilegia a diversidade, tendo uma base
de técnicas para a integração social, para o viver e o relacionar-se com
o outro.Um quefazer promovido nos mais diferentes ambientes, com
a perspectiva de formação participativa.
Aqui levantamos outra pergunta: É possível uma sociedade
sem tecnologia? Não, não é mais possível, aliás, nunca foi possível
uma sociedade sem a tecnologia.
A tecnologia surge desde a criação da humanidade, quando,
por exemplo, o homem descobre
– 43 –
“[...] o fogo, a roda, o arado, as lâminas, os transístores e foi
autor de muitos outros inventos que lhe permitiram domesticar animais, cultivar a terra, erigir edifícios, fazer guerras e
viajar aos confins subatômicos”(GAMA, ­2005, p. 164).
Os sujeitos, na historicidade, vão se constituindo, à medida
que assumem comportamentos e atitudes valorativas, que percebem a
tarefa educacional na perspectiva crítico-humanizadora, contribuindo para a formação de cidadãos conscientes de sua relação e responsabilidades no e com o mundo.
Na dialogicidade entre as tecnologias e as aventuras participativas, cabe mais uma pergunta: Qual o lugar da tecnologia na nossa
vida? Para nós, pesquisadores, educadores e praticantes de aventuras, pensarmos sobre esta questão torna-se necessário assegurar as
exigências de uma reflexão de caráter filosófico, conforme nos alerta
Saviani(1986, p. 24), ou seja,
“[...] é preciso que se satisfaça uma série de exigências que
vou resumir em apenas três requisitos: a radicalidade, o
rigor e a globalidade. Quero dizer, em suma, que a reflexão filosófica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e de
conjunto”.
Os conceitos tecnologias e as aventuras participativas implicam
num quefazer que surge da necessidade de inovar a práxis diferenciada,
construída em situações-limites, “[...] além das quais se acha o inédito
viável às vezes perceptível, às vezes não, se encontram razões de ser para
ambas as posições: a esperançosa e a desesperançosa” (FREIRE, 2001,
p. 138). A postura esperançosa em relação ao mundo das tecnologias
e aventuras participativas é guia na busca pelo inédito, viável por novos
projetos para viver a natureza com um pensar crítico-humanizador, que
se materializa como ação complexa e em movimento constante, permeada por tensões, emoções, criações e inovações.
Os elementos de um pensar crítico-humanizador se estabelecem nestas relações por via das mudanças sociais presentes no mundo da globalização/tecnologia em que: a) surgem novas formas de
– 44 –
relacionamentos sociais; b) a identidade social e pessoal ganha outra
significação; c) há a criação de novos excluídos como, por exemplo,
o analfabetismo digital. Tais elementos constituem unidade de apropriação do conhecimento contribuindo para a formação de sujeitos
humanizados e críticos, conscientes da realidade social, da indissociabilidade da natureza.
Esses sujeitos humanizados, ao vivenciarem as aventuras participativas, precisam compreender os limites e as possibilidades que
as tecnologias oferecem e, para tal, vemos, na humanização e na criticidade, categorias da dimensão utópica do pensamento freireano,
uma forma de “[...] diminuir a distância entre o sonho e sua materialização” (FREIRE, 2001, p. 126). Em busca desta diminuição é
que estamos investigando, nas práticas de aventuras participativas,
as contribuições das tecnologias com experiências inovadoras, como
possibilidade de formação.
As tecnologias e as aventuras participativas apresentam-se
como temáticas relevantes e emergentes para trilhar novos caminhos epistemológicos e metodológicos. Nesta trilha inovadora defendemos três teses: 1) a necessidade de mudança do paradigma,
2) a redefinição dos papéis das tecnologias; 3) viver práticas humanizadoras com novas perspectivas na relação da natureza com
o sujeito-mundo.
Referências
FRANÇA, T. L. de. Lazer – Corporeidade – Educação: o saber da
experiência cultural em prelúdio. Tese (Doutorado em Educação)
– Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2003.
FREIRE, P. À sombra desta mangueira. 4. ed. SP: Olho D’Água, 2001.
GAMA, D. R. N. da. Ciberatletas, cibercultura e jogos digitais considerações epistemológicas. In: Revista Brasileira de Ciências
do Esporte, Campinas, v. 26, n. 2, p. 163-177, jan. 2005
– 45 –
LÜCK, Heloísa. Metodologia de projetos: uma ferramenta de
planejamento e gestão. 4ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005
SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica.
8ª. Edição. SP: Cortez, 1986.
SOUZA, J. F. de. E a educação popular: ??Que?? uma pedagogia
para fundamentar a educação, inclusive escolar, necessária ao povo
brasileiro. Recife: Bagaço, 2007.
TAHARA, A. K.; DIAS, V. K.; SCHWARTZ, G. M. A aventura e
o lazer como coadjuvantes do processo de educação ambiental. In:
Revista Pensar a Prática. Faculdade de Educação Física – UFGO.
Goiânia. V. 9, n. 1, p. 1-152, Jan/Jun. 2006
VIRILIO, Paul. Tecnologias da Comunicação. In: Wikipédia.
Paris, França, 1932
– 46 –
A TECNOLOGIA, A AVENTURA
E A SUSTENTABILIDADE: A ARTE DO
EQUILÍBRIO SER HUMANO&NATUREZA
Ivana de Campos Ribeiro
Vivemos tempos de transformações rápidas, as quais têm marcado positivamente ou negativamente o cenário planetário. Transformações rápidas atingem níveis subjetivos do ser e podem afetar seu
comportamento, uma vez que influenciam os valores e as atitudes humanas, em oposição à adaptação biológica, que é um processo natural
e demanda tempo (ORNSTEIN, 2010). Os meios de comunicação
de massa, hoje reconhecidos como tecnologias de informação (TIC)
e comunicação, podem ser apontados como um dos maiores responsáveis por tão rápidas transformações.
Na década de 60 o filósofo, educador e teórico da comunicação, Marshall McLuhan (1977), cunhou a expressão – aldeia global.
McLuhan argumentava que o progresso tecnológico estava transformando todo o planeta em uma pequena aldeia e considerava a televisão como a grande responsável. No entanto, o vislumbramento de
McLuhan partia dos serviços de satélite que começam a ser utilizados.
McLuhan previa a homogeneização das culturas, com todos os seres
humanos falando a mesma língua, usando as mesmas roupas e ouvindo as mesmas músicas, etc.
O avanço das tecnologias de comunicação e informação tornou
o planeta esta aldeia global. A World Wide Web (WWW) mostrou que
McLuhan estava no caminho certo, embora ele desconhecesse algo
além das imagens de TV via satélite. Não se tem dúvidas dos benefícios destas tecnologias, mas gostaríamos de destacar seu lado oposto,
colocando também a reflexão de como as atividades de aventura podem se valer dos seus aspectos positivos das tecnologias e, sobretudo,
como as atividades de aventura podem servir de antídoto contra os
– 47 –
aspectos negativos de tecnologias de informação, como a internet.
Dentre os aspectos negativos, é notório que, com o avanço das
tecnologias, as tragédias têm sido o tema principal nos meios de comunicação de todo o mundo. As guerras, a violência, surtos viróticos,
a corrupção política, as drogas, catástrofes e destruição dos bens naturais1, a intolerância, a pobreza, entre tantos outros, se sobressaem às
boas notícias. É claro que neste mundo de dualidades, estas também
têm seus aspectos positivos, como o despertar a compaixão, a cooperação e a motivação para ações mitigadoras, mas, o que estas notícias
proporcionam, na grande maioria dos casos, é a desilusão, a descrença, a desconfiança, o desamor, o desligamento da relação ser humanonatureza e muitos outros “des”, como prefixo de negação.
Mais do que nunca, estes aspectos devem ser combatidos, pois
são contrários à alegria de viver num mundo em equilíbrio, lembrando que são raras as pessoas que conseguem trabalhar estas informações
positivamente, como por exemplo, extraindo delas apenas a motivação
para tais ações mitigadoras, sem se deixar abater por elas. Um bom
exemplo deste tipo de motivação está na Psicologia Positiva, movimento iniciado pelo o psicólogo Martin Seligman, quando, em 1998,
assumiu a presidência da American Psychological Association (APA).
Este movimento pretendia dar atenção às pesquisas sobre os aspectos
positivos da emoção e valores humanos. Ao investigar as temáticas das
pesquisas no campo da psicologia, ele percebeu que, em sua maioria,
estas eram dedicadas aos aspectos negativos da alma humana.
Nesse momento, um número especial da revista American
Psychologist foi publicado em 2000, por Seligman e Czikszentmihalyi, no qual os artigos discutiam questões como o que permite a felicidade, como os efeitos da autonomia e da auto-regulação,
como o otimismo e a esperança, afetam a saúde, o que constitui a
sabedoria, como o talento e a criatividade podem ser concretiza1
Expressão utilizada por Ribeiro (2003), a qual marca a relação ser humano/natureza pelo aspecto afetivo e respeitosa em oposição à expressão recurso natural, de fundo utilitarista.
– 48 –
das, o papel das características positivas que tornam a vida digna
de ser vivida. Este número destacou a necessidade de pesquisas que
também abordem os aspectos positivos de potenciais humanos, a
exemplo da esperança, da criatividade, da sabedoria, da espiritualidade, da felicidade e da coragem. Estas duas últimas, a felicidade
e a coragem, estão diretamente relacionadas aos potenciais que as
atividades de aventura atuam como promotoras.
Da mesma forma, buscamos, nesta reflexão, levantar os aspectos positivos das tecnologias, em especial as TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) e do contato com a natureza como um
caminho para a busca do equilíbrio socioambiental.
Os conceitos como ponto de partida
Significações e conceitos podem ser um bom caminho para a
articulação de idéias. Assim:
1. Tecnologia, do grego tecno, técnica, arte, ofício e logia - logos, estudo, sendo um termo que envolve o conhecimento
técnico e científico e, consequentemente, os instrumentos,
processos e materiais desenvolvidos e/ou utilizados a partir
desse conhecimento. Ela pode estar a favor da formação de
uma cultura, a exemplo das culturas de massa pelos meios
de comunicação, da modificação e até aniquilamento ou
perpetuação da cultura ou ambientes, tanto no âmbito
concreto como subjetivo. Lembrando que a arte é um termo que vem do Latim, ars, artis, também pode significar
técnica ou habilidade (HOUAISS, 2001).
2. Aventura, do latim adventura, pode ser compreendida
como um acontecimento imprevisto, surpreendente, que
sucede imprevistamente, mas que pode estar carregado de
acaso ou sorte, também podendo significar proeza ou ação
arriscada (HOUAISS, 2001).
3. Sustentabilidade, de acordo com a Comissão Mundial da
ONU sobre o Meio Am­biente e Desenvolvimento (UN– 49 –
CED) e segundo o documento Nosso Futuro Comum,
também conhecido como relatório Brundtland, é “[...] o
atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras.” (WCED, 1987, p. 43).
Estas informações levam a compreender que uma proposta
metodológica é uma tecnologia, tanto quanto os equipamentos de
segurança e aqueles utilizados como instrumentos ou acessórios para
determinadas modalidades de atividades de aventura, ou as tecnologias de informação. Neste sentido a própria tecnologia, a aventura
e sustentabilidade, estão interligadas, formando uma tríade retroalimentadora, cuja base deve ser a sustentabilidade.
Considera-se que, tanto a tecnologia necessita estar baseada na
sustentabilidade, seja ela no nível concreto, da produção de equipamentos, como as atividades de aventura devem ter como condição
para a sua realização prática a sustentabilidade, tanto dos lugares onde
são praticadas, como do usuário, principalmente em ternos de segurança. Neste sentido, faz-se necessário um olhar mais atento sobre os
aspectos duais das tecnologias de informação e comunicação, para
que se possam ressaltar seus aspectos positivos, ao mesmo tempo em
que estes próprios aspectos passem a ser também promotores da sustentabilidade do usuário, uma vez que aspectos como a felicidade ou
momentos prazerosos, ou mesmo a coragem, podem ser potencializados na prática das atividades de aventura.
Enquanto as tecnologias de informação afastam o ser humano do convívio social presencial, estimulando as relações virtuais,
explorando apenas a visão, audição e o movimento dos dedos em
detrimento dos demais sentidos, reduzindo a relação corpórea com o
mundo a um espaço limitado de uma sala, é esta mesma tecnologia
que estreita distâncias e seduz usuários a desejar aventurar-se em alguma atividade em contato com a natureza, seja pelos desafios sugeridos
pelas diversas modalidades de atividades de aventura, e/ou pelas belas
paisagens que despertam o desejo de estar junto à natureza, expostas
– 50 –
em inúmeros sites especializados ou não. Aqui o substantivo despertar tem uma conotação mais profunda, uma vez que, segundo Tuan
(1983) e Wilson (1997), há uma necessidade inata de convívio com
espaços naturais.
O conceito de topofilia (TUAN, 1983) aborda a relação afetiva que os seres humanos têm com os ambientes, paisagens ou lugares. A palavra topofilia vem do grego, sendo que topus significa lugar,
enquanto filo, significa amor, amizade, afinidade. Já a atração que
o ser humano tem pela natureza pode ser explicada pelo professor
de biologia da Universidade de Harvard, Edward O. Wilson (1997).
Sua hipótese, a da biofilia - do grego - o amor à vida, sugere que os
humanos têm uma necessidade biológica de se relacionar com a natureza, com o ambiente natural, especialmente o meio biótico (plantas e animais). Trata-se de herança evolutiva enquanto espécie, uma
necessidade genética. Em ambos os casos, destaca-se a relação afetiva
com estes espaços. Vale aqui lembrar que, sendo o verde, a cor mais
abundante em ambientes naturais, transforma-se em um cenário que,
segundo a psicologia das cores, pode propiciar renovação, trazendo
relaxamento,equilí brio e harmonia, reduzindo o estresse e a tensão,
sendo um meio de baixar a pressão arterial (HELLER, 2007).
Este despertar, que leva ao desejo das aventuras em contato com
a natureza, pode desencadear dimensões de sustentabilidade que vão
além da sustentabilidade física e psicológica do ser. O contato com a
natureza estreita laços entre ela e seus usuários. São trocas de caráter
subjetivo e que recaem sobre a sequencia que caracteriza a Educação
Ambiental de Corpo&Alma (RIBEIRO, 2004; 2005; 2007). Esta sequencia, formada por fases, é um processo de desdobramentos, que
têm início no contato com o corpo e do corpo com o meio circundante, a exemplo da natureza. Quando, às experiências com ambientes
naturais (experiências afetivas), são somadas às informações conceituais
(de ordem cognitiva) estas experiências tornam-se mais significativas.
Este conjunto de estímulos racionais e sensoriais ou afetivos
podem ser assim representados: na Fase 1 – Tomar Com-tato, onde
a re-união entre razão (conceito) e emoção (vivência) desencadeia a
– 51 –
Fase 2 – Admiração, uma vez que ao conhecer a dinâmica e a fragilidade de um ecossistema, estes se transformam em razão para que
seja mantido de forma sustentável. Esta somatória de contatos (razão
e emoção) é a responsável pela admiração que, por sua vez, desperta
a Fase 3, o Amor, uma vez que a admiração pode se transformar em
amor. Assim, a Fase 4 é resultante deste amor, e é representada pelo
desencadear do Respeito e, deste respeito, o desejo de conservar os
ambientes que servem de cenário às aventuras alimentam a – Fase
5, Conservação, uma vez que conservamos aquilo que amamos e
respeitamos.
Percebe-se, então, que, valores humanos como admiração,
amor, respeito e conservação são produtos de uma estratégia, cuja
raiz está no conhecimento e nas experiências, daí as atividades de
aventura serem uma excelente ferramenta para a promoção, não
apenas destes valores, mas de atitudes coerentes com a sustentabilidade socioambiental.
Reunindo argumentos
Para que estas fases sejam desencadeadas, além da informação
conceitual, faz-se necessário que a técnica, para além da materialidade, seja sinônima de ARTE, onde o aprendizado seja com o corpo
todo e onde se perceba que este corpo é tal qual a natureza, um sistema aberto, passível de equilíbrios e desequilíbrios e desejoso de ser
cuidado e respeitado. As atividades de aventura, não apenas promovem potenciais como a coragem, uma vez que há de se vencer temores
que habitam a alma, mas ainda, proporcionam prazer duplo - a cura
destes temores adormecidos e os benefícios ligados aos aspectos inatos
do ser (topofilia e biofilia), promovendo a sensação de paz e bem-estar
após uma seção de contato.
A coragem e a resiliência, como capacidade de autosuperação (desafio dos temores), podem promover, por sua vez, a autoestima e estados de
felicidade. Aqui, a tríade retroalimentadora pode ser percebida em seu sentido mais profundo, pois há uma sustentabilidade, a qual se baseia numa
cumplicidade ser humano-natureza, num abraço de solidariedade marcado
– 52 –
por cuidados mútuos, a natureza acolhendo o humano e o humano acolhendo a natureza, uma vez que este percebe a sua importância.
Este abraço solidário transforma valores e atitudes, pois age sobre
as mentes, os corações e as mãos, no sentido da prática – do “contato”
como preconiza a Fase 1 da Educação Ambiental de Corpo&Alma (RIBEIRO, 2011, p. 59). Desta forma, a aventura marcada pelo casamento
entre ser humano e natureza nada tem de arriscado nem de imprevisto,
mas uma aventura, cujo saldo seguro recai sobre a harmonia biopsicossocial e ambiental, tão almejada por tantos neste planeta.
É evidente que esta aventura positiva apenas se torna realidade,
quando as tecnologias da informação, de produção, ou quando sinônimo de metodologias são criadas e utilizadas com base nos princípios da sustentabilidade, em seu sentido mais amplo e profundo.
Referências
HELLER, E. Cómo actúan los colores sobre los sentimientos y la razón.
Psicología del color. Barcelona: Editorial Gustavo Gili SA, 2007.
HOUAISS, A. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001.
McLUHAN, M. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem
tipográfico. São Paulo: Editora Nacional, 1977.
ORNSTEIN, R. e EHRLICH P. Humanity on a Tightrope:
Thoughts on Empathy, Family, and Big Changes for a Viable
Future. Lanham, Maryland: Rowman & Littlefield Publishers, 2010.
RIBEIRO. I. C. Educação para a vida: uma experiência
metodológica para a conservação da água. São Carlos, Tese
(Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade
Federal de São Carlos, 2003.
– 53 –
RIBEIRO. I. C. Atividades recreativas e Educação Ambiental: uma
parceria imbatível. In: SCHWARTZ, Gisele. M. (org.). Atividades
Recreativas, p. 29-45, 2004.
RIBEIRO. I. C. Educação Ambiental de Corpo&Alma,
trabalhando sentimentos e valores numa experiência com
Agenda 21 Escolar. Ribeirão Preto: São Francisco, 2005.
RIBEIRO. I. C. Educação Ambiental no ambiente empresarial: um
caminho para a responsabilidade social. In: PEDRINI, A. G. (org.).
Metodologias em Educação Ambiental. Rio de Janeiro: Vozes, p.
147-18, 2007.
RIBEIRO, I. C. Educação Ambiental de Corpo&Alma. In:
SEABRA, G. (org.). Educação Ambiental no mundo Globalizado:
uma ecologia de riscos, desafios e resistência. João Pessoa: Editora
Universitária/UFPB,p.39-64, 2011.
Seligman, M. E. P.; CSIKSZENTMIHALYI, M. Positive
psychology: An introduction. American Psychologist, New York,
NY, v. 55, n. 1, p. 5-14, Jan. 2000.
TUAN, Y. Espaço & Lugar. São Paulo: Difel, 1983, 250 p.
WCED. Our Common Future. Oxford: Oxford University Press, 1987.
WILSON, E. O. Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
– 54 –
PARTE 2
PALAVRAS DOS
MINISTRANTES DE OFICINAS
– 55 –
Fulvio Rodrigues Valeriano
Prof. Ms. em Psicologia - Universidade Federal de São João Del-Rei
Docente em Ensino Superior da Fundação Helena Antipoff
E-mail: [email protected]
Dimitri Wuo Pereira
Prof. Ms. em Educação Física - Faculdade São Judas Tadeu
Docente na Universidade Nove de Julho
E-mail: [email protected]
Douglas Eduardo dos Santos Silva
Especialista em Atividade e Esportes de Aventura – FMU
E-mail: [email protected]
Igor Armbrust
Mestre em Educação Física - USJT;
Docente na Universidade Camilo Castelo Branco e FEFISA
Professor convidado no curso de pós-graduação em Atividades e Esportes de Aventura da FMU e UGF
Subcoordenador do Instituto Esporte e Educação.
E-mail: [email protected]
Flávio Antônio Ascânio Lauro
Prof. Ms em Reabilitação - Universidade Federal de São Paulo
Docente na Faculdades Metropolitanas Unidas
E-mail: [email protected]
José Ricardo Auricchio
Mestrando em Educação Física pela UNIMEP
Docente no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, FMU.
E-mail: [email protected]
Leonardo Madeira Pereira
Prof. Doutorandoem Ciências da Motricidade – UNESP
Coordenador da Educação Física na Faculdade de Tecnologia e Ciências- Vitória
da Conquista
e-mail [email protected]
– 56 –
ORIENTAÇÃO PEDESTRE –
TECNOLOGIAS E ATIVIDADES
DE AVENTURA
Fulvio Rodrigues Valeriano
As atividades de aventura têm sido, de certa forma, olvidada,
por falta de conhecimento, custo supostamente elevado, entre outros
motivos. Entretanto, o esporte de orientação pedestre é uma modalidade que se utiliza de recursos tecnológicos simples e práticos, como
bússola, mapa, croqui (desenho) ou imagem aérea (Google Earth), papel, caneta ou lápis de cor, garrafas pet, entre outros.
No VII CBAA - Congresso Brasileiro de Atividades de
Aventura, foram utilizados uma imagem aérea do Google Earth,
06 prismas, que foram confeccionados em pano e 03 bússolas.
Tais equipamentos ou acessórios são de fácil aquisição, visto que
seu custo é bem reduzido e parte destes podem ser construídos
por seus praticantes, visando à educação integral do indivíduo,
desenvolvendo a criatividade, cognição, relacionamento interpessoal, coordenação motora fina, entre outros aspectos. Uma vez
construindo os materiais para sua prática, os participantes se tornam indivíduos capazes de repensar a própria ação, reconstruindo
e construindo a sua própria história.
Pensando na temática tecnologia e atividades de aventura, entender o termo tecnologia se faz necessário. Pela origem grega, a palavra é formada por tekne (arte, técnica ou ofício) e por logos (conjunto
de saberes), ou seja, são conhecimentos que permitem “fabricar” objetos e/ou modificar o meio ambiente, visando preencher as necessidades humanas.
Longo (1984) e Abetti (1989) (apud STEENSMA, 1996) e
Kruglianskas (1996) concordam que tecnologia é um conjunto de
conhecimentos técnicos e científicos que ajudam a resolver proble– 57 –
mas ou facilitar a solução de problemas. Portanto, baseando-se neste
conceito, o emprego da tecnologia para as atividades de aventura vai
desde a construção de um simples nó, até a fabricação de uma Mountain Bike com quadro de fibra de carbono, pneus de kevlar sem câmara, suspensão a ar e óleo, com trava no guidão, odômetro eletrônico,
entre outros.
Transferindo o termo para a Orientação Pedestre, estamos empregando a tecnologia quando utilizamos o conhecimento sobre a definição correta do ângulo de azimute, ao
reconhecer os símbolos e cores definidos mundialmente pela
International Orienteering Federation (IOF), saber que o sol
nasce em uma determinada direção conforme a época do ano,
quando se utilizam as técnicas de navegação, como, por exemplo, a definição do ponto de ataque, a comparação do mapa
com o terreno, conhecida também como leitura carta terreno,
quando confeccionamos com um papel e um lápis o “mapa” da
área onde se pretende desenvolver as atividades pedagógicas
relativas à prática da orientação. Para esta gama de “coisas”
utiliza-se muita tecnologia, ou seja, conhecimentos acumulados e adquiridos para a resolução dos problemas inerentes
à atividade que, em sua essência, é encontrar os pontos de
controles definidos no mapa, em uma sequência determinada,
no menor tempo possível, cabendo ao praticante tomar as decisões sobre qual o melhor caminho para se atingir o objetivo
no menor tempo.
Para melhor entendimento do que se coloca no parágrafo anteriior, é necessário entender um pouco das características da modalidade em questão. Segundo a Confederação Brasileira de Orientação (2008) esta modalidade deverá ser intitulada como Esporte
de Orientação Pedestre, tendo em vista que, para o nosso idioma, o
termo orientação possui diversas conotações que não se relacionam
diretamente ao esporte. Então, segue um breve histórico sobre o
Esporte Orientação Pedestre, suas categorias, tipos de competições
e classificações.
– 58 –
Orientação Pedestre
A Orientação surgiu na Escandinávia, em 1850. Como desporto, sua prática começou a ser inserida pelos militares como forma de
treinamento e entretenimento. Desenvolveu-se na Suécia, em 1888,
onde as técnicas eram ensinadas com intuito de profissionalização
de militares. No ano de 1893, próximo de Estocolmo, na Suécia,
aconteceu a primeira competição similar à atual modalidade, porém,
ainda sem o uso do mapa. Em 30 de junho de 1895, realizou-se a
primeira competição de orientação em Estocolmo e, em 1904, houve o nascimento da orientação como esporte civil, com a primeira
prova realizada por homens não militares na cidade de Helsingfors,
na Suécia. Mas, foi em 1912, com a ajuda do Major Killander, chefe
de escoteiros, que a orientação entrou para o programa da Federação
Sueca de Atletismo, com o objetivo de captar jovens que se afastavam
da corrida e do atletismo. Ele ainda criou mapas e incentivou o desenvolvimento da orientação (VALERIANO, 2011).
Em 1961, criou-se o órgão máximo da orientação, a Internacional Orienteering Federation (IOF), na cidade de Copenhague, na
Dinamarca, fundada por dez países. O esporte de orientação é conceituado, segundo a IOF, como um esporte em que o indivíduo, auxiliado por um mapa detalhado por meio de códigos e uma bússola,
deve encontrar os pontos de controle na área proposta, no menor
tempo possível (PASINI, 2007).
O esporte de orientação possui diversas categorias divididas
em H para homens e D para damas. Ainda existe uma divisão por
idade, que começa aos 10 anos, sobe de dois em dois anos até os
20 anos, a próxima faixa é a partir de 21 anos, seguida da faixa
de 35 anos. Na seqüência, sobe de cinco em cinco anos até os 90
anos. Além destas, existem mais quatro categorias especiais: DN1
e HN1 para atletas acompanhados com menos de 10 anos; DN2
e HN2 para atletas acompanhados de 10 a 14 anos, DN3 e HN3
para atletas acompanhados com mais de 15 anos. Em todas estas
categorias é necessário o auxílio de uma pessoa determinada pela
organização da prova, e existe o aberto, para atletas inscritos após
– 59 –
a data de inscrição. Cada uma destas categorias ainda se subdivide
em outras quatro, que definem o grau de dificuldade da seguinte
forma: E, para elite; A, para muito difícil; B, para difícil; N, para
fácil e N1, N2 e N3 para os iniciantes.
Segundo as regras da confederação brasileira de orientação
os tipos de competições de Orientação podem ser classificados de
acordo com o modo de deslocamento, podendo ser: Orientação
Pedestre, Orientação em Bicicleta, Orientação de precisão1, conhecido também como Pré–O, para portadores de necessidades
especiais, orientação em esqui e outros tipos, desde que não usem
motor ou qualquer meio que polua ou cause prejuízo ao meio ambiente, salvo o caso da cadeira de rodas dos deficientes. Quanto a
sua natureza, pode ser: individual2; revezamento3 e ou equipe4, os
pontos de controle podem ser visitados em uma ordem específica,
que é pré-estabelecida no mapa e sem ordem específica, onde o
participante é livre para escolher a ordem.
Finalizando o nosso diálogo; para a oficina de Orientação
Pedestre oferecida no VII CBAA, o grupo que chegava até a oficina era subdividido em 03, na sequência, cada grupo foi informado como orientar o mapa para o norte magnético utilizando-se a
bússola e, a partir de então, as equipes realizavam uma leitura da
carta comparando-se com o terreno. Era dado o sinal de largada e
as equipes tinham como objetivo chegar aos pontos marcados no
mapa no menor tempo possível. Conforme a avaliação, os participantes gostaram significativamente da forma como foi desenvolvida a atividade.
1
Modalidade para deficientes.
2
O indivíduo executa independentemente (sozinho).
3
Dois ou mais competidores de uma equipe participando sucessivamente.
4
Dois ou mais indivíduos participando juntos.
– 60 –
Referências
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ORIENTAÇÃO. Regras
para Orientação pedestre, 2008. Disponível em <http://www.cbo.
org.br/site/regras/index.php>. Acessado em 07/06/2012.
RUGLIANSKAS, I. Tornando a pequena e média empresa
competitiva. São Paulo : Instituto de Estudos Gerenciais e
Editora, 1996.
STEENSMA, H. K. Acquiring technological competencies
through inter-organizational collaboration: na organizational
learning perspective. Journal of Engineering and Technology
Management, v. 12, p. 267-86, 1996.
LONGO, W. P. Tecnologia e soberania nacional. São Paulo : Ed.
Nobel, 1984.
PASINI, C.G.D. Pedagogia, Técnica e Tática de Corrida de
Orientação. Santiago: Ponto Cópias, 2007.
VALERIANO, F.R. Percepção de vida, estratégias de
enfrentamento e capacidade de resiliência em competições do
esporte orientação pedestre. Dissertação (Mestrado em Psicologia)
– UFSJ, São João Del Rei, 2011.
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ESCALADA: EVOLUÇÃO
E RETORNO À ORIGEM
Dimitri Wuo Pereira
A escalada surgiu com a ascensão de montanhas nevadas na
Europa, nos séculos XVII e XVIII. No século XX as conquistas das
maiores montanhas do mundo e as subidas de grandes paredes rochosas no período da contracultura culminaram com as escaladas de vias
curtas com alta dificuldade técnica (PEREIRA, 2010).
Existem hoje várias formas de escalar, como demonstra Pereira
(2007): Escalada em Gelo – com as modalidades de: Alta Montanha
(com mais de 4000 metros de altitude) e Cascade (paredes de gelo em
qualquer altitude), e Escalada em Rocha – com as modalidades de:
Big Wall (escalada em que se dorme na parede); Livre (escalada usando os equipamentos apenas para o caso de quedas e não para progressão) – tradicional (vias com mais de 50 metros de altura) e esportiva
(vias curtas com cerca de 30 metros); Boulder (blocos de pedra com
cerca de 5 metros de altura).
A escalada indoor apareceu na década de 1970, na Rússia, como
forma de treinamento durante o rigoroso inverno. Ela consiste em
colocar agarras artificiais em paredes construídas permitindo recriar
os movimentos da rocha e treinar a qualquer momento. Essa modalidade aumentou o acesso à escalada pelo menor perigo e facilidade de
recriar o ambiente natural.
Praticada em paredes de concreto, ferro e madeira com pontos de apoio conhecidos por agarras, de diversos tamanhos e formas, fabricados com resina de poliéster, a escalada deixou de ser
uma aventura para poucos especialistas, para se transformar em
uma atividade esportiva com muitos adeptos. Na década de 1980
surgiram os campeonatos, a mídia, o aumento de participantes e
os patrocinadores, na Europa. No Brasil a escalada indoor apareceu
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em Curitiba, no Paraná, em 1988, em um muro de treinamento
(RESENDE JUNIOR, 1999).
As paredes de escalada têm formas distintas, sendo: Positiva,
aquela com inclinação maior que 90º (em relação ao solo); Reta, ou
perpendicular ao chão; Diedros e arestas, que são os encontros de
faces maiores e menores do que 90 graus entre si; Negativa, aquela
com inclinação menor que 90º. Essas inclinações aumentam consideravelmente o esforço físico, respectivamente, e a altura da parede
exige uma continuidade do esforço que leva à exaustão, pela repetição
de movimentos (PEREIRA, 2007).
Na escalada indoor como a altura não é o fator determinante,
as dificuldades física e técnica sobressaem e as vias, que são os caminhos que se determina para escalar numa parede, são os problemas
a resolver com o corpo. O critério que se usa para classificar uma
escalada esportiva recebe as seguintes determinações quanto à forma
de execução:
Escalar a vista: quando se consegue escalar na primeira tentativa, sem queda ou qualquer tipo de auxílio. Encadear quando se
atinge o topo da via após a primeira tentativa sem queda e qualquer
tipo de auxílio. Escalar em red point: quando se guia a via (técnica
de levar a corda ao topo), colocando as costuras nas chapeletas. Escalar em pink point: quando se guia a via (idem) com as costuras
já colocadas. Hang dog: trabalhar uma via, mesmo que com várias
quedas, até atingir o topo.
As vias de escalada podem ser classificadas pelo grau de
dificuldade de sua subida. No Brasil, temos a seguinte graduação:
1º e 2º graus para caminhadas em trilhas. 3º, 4º, 5º e 6º graus para
escaladas que exigem equipamentos de segurança. A partir de então
se usa 7º A, 7º B e 7º C; 8º A, 8º B e 8º C; 9º A, 9º B e 9º C; 10ºA,
10º B e 10ºC e 11º para alto grau de dificuldade atlética. Toda essa
classificação é feita pela comparação entre o conhecimento prático de
diversos escaladores, confirmando a validade de um grau sugerido.
Sobre o desenvolvimento técnico, um estudo realizado com
escaladores de competição do estado de São Paulo (PEREIRA;
– 63 –
MANOEL, 2008) mostrou que os atletas treinam entre cinco e
seis vezes por semana e têm, pelo menos, cinco anos de prática na
modalidade. Para 43% dos pesquisados o treino de escalada ocorre
nas próprias paredes, sem uso de outras estratégias como musculação,
treinos aeróbios, ou outros. Poucos desses atletas tinham treinador e
davam pouca importância a esse profissional ser formado em Educação
Física, apesar da literatura cientifica apontar o treinador como agente
para melhoria de desempenho.
Criadas para trazer maior equilíbrio, poupar gasto energético
e menor esforço, as técnicas de escalada foram sendo desenvolvidas
facilitando as mudanças de direções, as posições nas diversas
inclinações e diminuindo o esforço exercido nos pontos de apoio
em cada situação. Observa-se que, nessas técnicas, a manutenção
do cotovelo estendido, o centro de gravidade próximo dos pontos
de apoio e um triângulo entre três pontos, para liberar um
segmento para a próxima agarra, é o modo mais fácil de progredir
(PEREIRA, 2007).
Em relação às movimentações, o equilíbrio estático é
considerado mais preciso, porque provém mais certeza no alcance
da agarra seguinte e melhor manutenção do equilíbrio durante a
movimentação. No movimento em equilíbrio dinâmico, o escalador
lança seu corpo para a próxima agarra, às vezes, desprendendose totalmente dos pontos de apoio. A vantagem, nesse caso está na
economia de energia, pois a inércia ajuda a atingir a agarra, porém
perde-se em precisão.
Algumas técnicas foram criadas melhorando o desempenho
atlético do escalador. As técnicas de mãos referem-se à forma de
pegar nas agarras. Pegada
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fechada, pegada aberta, bidedo, monodedo, reglete, estendida e pinça. Cada uma exige um esforço
diferente dos músculos, articulações e ossos dos membros superiores. O uso dos pés permite manter o equilíbrio e distribuir o
peso sobre os membros inferiores. As sapatilhas de escalada, nesse
sentido, com soldado rígido e ponta fina, melhoram a firmeza em
pequenas superfícies.
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O posicionamento do corpo é geralmente feito com o corpo
na posição frontal à superfície, ou lateral, usando o back step (os dois
calcanhares voltados para o mesmo lado), o drop knee (flexão de joelho a partir da posição do back step, baixando o centro de gravidade) e
o twist lock (cruzando um dos braços sobre o outro, para usar cadeias
cruzadas de movimentos). A técnica é a forma mais eficiente de realizar determinado movimento com menor gasto energético.
As técnicas de movimentos exigem uma estratégia mental para
se atingir o objetivo, na escalada isso é chamado leitura de via. Ler a
via na escalada é uma tentativa de prever uma situação que ocorrerá.
O escalador visualiza o local e define posicionamentos e formas de
realizar sua subida. Esse procedimento demanda programas motores
que atendam ao requisito daquela situação específica, isto é, a pessoa
deve saber fazer determinados movimentos.
O treinamento esportivo também influenciou a evolução da escalada. Para Bertuzzi (2005) há uma relação direta entre a capacidade
de perceber o esforço necessário durante uma escalada e a demanda
metabólica requisitada. Mas, segundo o autor, os estudos de ergoespirometria mostram valores distintos entre os dados de VO2 máximo
e lactato. Outros estudos observaram que as variáveis morfológicas e
funcionais como: força muscular dos grupos flexores e extensores do
joelho e ombro, a força de preensão manual, a potência de membros
superiores e inferiores, a resistência de preensão manual, o percentual
de gordura e a maior habilidade na escalada, influenciam diretamente
nos resultados em tarefas de escalada. Isto confirma os princípios do
treinamento esportivo que agem simultaneamente durante o exercício e que não podem se negligenciados.
Bertuzzi (2004) conclui que, entre as variáveis morfológicas, a
porcentagem de gordura corporal e a força de preensão manual podem influenciar o desempenho. Com relação à requisição de força
máxima, o ATP-CP prevalece como substrato energético em rotas
curtas. Outra conclusão a que o autor chega é que o aumento de FC
e estimativa da demanda fisiológica podem não predizer um desempenho positivo na escalada.
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As contínuas contrações musculares dos membros superiores geram adaptações morfológicas. As mãos dos escaladores
experientes são duras e com maior espessura das falanges, indicando que utilizam mais esses segmentos como sustentação do
corpo, do que de pessoas não treinadas. O tipo de pegada: aberta
ou fechada, não interfere na fadiga muscular, sugerindo a necessidade de o atrito da mão com a superfície agarrada atuar como
manutenção do apoio. A sobrecarga sobre os flexores da mão
aponta na direção de adaptações específicas nas articulações e
tendões dos dedos desses praticantes.
Sugere-se variação de práticas em tipos e formas de agarras que
promovam maior variabilidade de exigências motoras e uma exposição ao estímulo de segurar, com diferentes tipos de atrito. Reforça-se
a ideia de que o atrito das polias e tendões atua na aplicação da força
de preensão, quando precisamos suportar o peso do corpo por longos
períodos nas falanges dos membros superiores, que é a principal exigência na escalada esportiva.
Esse desenvolvimento esportivo parece o fim da evolução
da modalidade, porém, como observou Marinho (2001), é no
aspecto do lazer, independente das competições e do alto rendimento, que a escalada mais se expandiu. A autora afirma que, no
encontro de agarras e de escaladores, forma-se uma composição
que não é a dominação do humano sobre a natureza, mas uma
junção dos mesmos.
A autora ainda cita o criador do Boulder, John Gil, falando
sobre sua relação com a escalada:
“[...] tenho vias memorizadas a tal ponto que nem preciso
refletir sobre a escalada num nível consciente. Fico tão
envolvido com o fluir e o ritmo da escalada que perco
contato com quem sou e com o que sou, e me torno parte da rocha - houve ocasiões em que realmente me senti
como se envolvido numa trama com a rocha, como se
estivesse sendo costurado nela, como se penetrasse nela e
saísse, e entrasse e saísse, o tempo todo” (GIL, citado por
MARINHO, 2001, p. 104).
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A escalada possibilita um encontro consigo mesmo e uma relação menos agonística com a vida, na qual a disputa estabelece-se
na autosuperação e não na necessidade de derrotar o outro. É aqui
que a escalada como num espiral retorna a sua origem, pois sua
evolução leva aos mesmos interesses daqueles que as iniciaram nas
altas montanhas da Europa, isto é, aos amigos que se faz escalando,
aos desafios que a verticalidade remete e ao silêncio interno que esse
ambiente sugere.
Referências
BERTUZZI, R. C. M. Estimativa das contribuições dos sistemas
bioenergéticos e do gasto energético total na escalada esportiva
indoor. Dissertação (Mestrado) - Escola da Educação Física e
Esporte da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2004.
BERTUZZI, R. C. M; FRANCHINI, E.; KISS, M. A. P. D.
Análise da força e da resistência de preensão manual e as suas
relações com variáveis antropométricas em escaladores esportivos.
Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v. 13, n. 1, p.
87 – 93, 2005.
MARINHO, A. Da busca pela natureza aos ambientes artificiais:
reflexões sobre a escalada esportiva. Dissertação (Mestrado).
Universidade Estadual de Campinas – Educação Física. Campinas –
SP: 2001.
PEREIRA, D. W. Escalada. São Paulo: Odysseus Editora, 2007.
(Coleção agôn, o espírito do esporte).
PEREIRA, D. W. Um olhar sobre a complexidade da escalada na
Educação Física. Dissertação de Mestrado – Universidade São Judas
Tadeu. São Paulo – SP, 2010.
– 67 –
PEREIRA, D. W.; MANOEL, M. L. O Treinamento de Escaladores
de Competição do Estado de São Paulo. Revista Mineira de
Educação Física. Viçosa – MG, v. XVII, n. 2, ano XVI, p.108
-135, 2008.
RESENDE JUNIOR, O. S. Escalada Esportiva – Uma nova
proposta de trabalho para o professor de educação física.
Trabalho de Conclusão de Curso. Projeto Institucional. Faculdade
de Ciência da saúde. Instituto Porto Alegre. Porto Alegre. 1999.
– 68 –
SLACKLINE: O EQUILÍBRIO
AO ALCANCE DE TODOS
Douglas Eduardo dos Santos Silva
Trajetória Histórica – O Novo e o Velho Encontro
Para compreensão das novas atividades que estão sendo divulgadas e praticadas pelo mundo, em especial as de aventura, retratei
um percurso vivencial pautado nas experiências que tenho como praticante e divulgador, além da pesquisa como alicerce necessário para
algumas passagens.
O Slackline, também conhecido popularmente no Brasil como
slack, é uma atividade que se configura a partir da estabilização como
habilidade predominante. Basta ter uma fita tencionada entre uma
estrutura e outra, sendo essas as mais diversas imaginadas, como: árvores, postes, pilastras, estacas, entre outras. Além dos diferentes tipos
de equilíbrio que a pessoa pode se beneficiar praticando o slack, há
também melhoria na concentração diante do desafio, consciência corporal, coordenação motora, entre outros aspectos (GRANACHER et
al. 2010). Porém, os estudos ainda necessitam de mais aprofundamento e melhores olhares para essa nova/velha atividade.
Os relatos históricos mostram que, por volta de 1851, nos Estados Unidos da América, um interessante local foi descoberto pelo
homem moderno. Chamado de Yosemite Valley, este lugar agregava
muitos escaladores e amantes da natureza, tornando-se um lugar sagrado. Como a prática da escalada ofertava diferente e enormes vias
de acesso, muitas pessoas, de toda parte do mundo passaram a visitar
o belo cenário de Yosemite, reverenciado entre as rochas e precipícios
impressionantes. Com a grande adesão dos escaladores, foram construídos alguns acampamentos e um em especial, chamado acampamento quatro, se tornou o centro de desenvolvimento da escalada
em rocha no meio do século XX. Como as pessoas ficavam por lá
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durante muito tempo, os habitantes do acampamento quatro podiam
ser encontrados facilmente andando em correntes de estacionamento, corrimãos e, até mesmo, em cordas tencionadas entre as árvores,
como forma de passatempo. Provavelmente, esse atributo tende aos
adoradores da arte circense e atividades arriscadas, que encantam e
despertam prazer (SLACKNEWS, 2011).
O caminhar na corda bamba tem sido praticado há muito tempo pelos artistas de circo, mas este novo passatempo tinha
diferenças em alguns aspectos: a corda de escalada ficava solta e
não tão tensionada como o cabo de aço usado por equilibristas
circenses; não havia o uso de barras para estabilizar o corpo em
movimento; muitos praticantes passavam descalços, entre outras
particularidades (SLACKNEWS, 2011). Desta forma, claramente, foi mais desafiador e estimulante para aquele grupo, logo as
pessoas começaram a caminhar sobre fitas planas que atualmente
é o que mais aparece nas praças, nas montanhas e até nas escolas
(PEREIRA; ARMBRUST, 2010).
Com a divulgação midiática, principalmente a internet, ocorreu a facilitação e a praticidade na montagem do equipamento e aprimoramento/inovação das técnicas e habilidades. Claro que se deve
alertar para o uso adequado de equipamentos, conscientização ambiental e criticidade pedagógica.
Tipos de Práticas
A seguir, apresentarei algumas atividades e suas características
consideradas (GIBBON, 2012).
Trickline: É a modalidade mais praticada do slackline. Fita ancorada sobre dois pontos fixos, geralmente a partir de 60 cm a 85 cm
de altura e com distância entre 10m a 15m para o praticante realizar
manobras com certo grau de dificuldade, como: saltos, equilíbrio em
um pé, sentar e levantar e outros, exigindo bastante preparo físicomotor, além de muito treino.
Highline: Fita ancorada em alturas superiores a 5 metros.
Esta modalidade é considerada uma das mais difíceis e a mais al– 70 –
mejada por muitos praticantes. Requer muita experiência e conhecimento de técnicas verticais, pois é necessária a utilização de
equipamentos de segurança e conhecimento técnico de sistema
de redução. Também é importante saber lidar com a vertigem e a
exposição à altura.
Longline: É ancorado sobre dois pontos fixos, com uma distância superior a 20m. Esta modalidade exige do praticante bastante
condicionamento físico-motor, pois, quanto maior o comprimento
da fita, mais especificidade de unidades motoras e equilíbrio serão necessários. Além disso, o praticante precisará mais concentração mental para percorrer e manter-se na fita.
Waterline: Fita ancorada sobre a água, podendo ser praticado
em rios, lagos, piscinas ou praias. Esta é, provavelmente, a mais divertida, uma vez que podem ser realizadas diversas manobras e as quedas,
geralmente não machucarão.
Equipamentos
Como cada prática tem a sua característica, algumas requerem
equipamentos específicos, como: mosquetões, polias, cordins e freios
para tencionamento, catracas especiais, entre outros. Pode-se dizer
que a popularização desta atividade se dá pela praticidade e facilidade
da montagem. Mencionaremos, neste texto, apenas os equipamentos
mais utilizados e fáceis de serem encontrados.
O kit de slack é composto por uma fita de poliéster com poliamida, largura variando entre 15 a 75 mm e 10m a 15m de comprimento, contendo um loop (alça) em uma das pontas e uma catraca
com uma fita fixa entre 2 a 3m com um loop na ponta. Utiliza-se
também uma proteção para não ferir a casca da árvore em caso de
proteções naturais e preservar o material.
O processo de montagem se dá pela passagem da fita que envolve um ponto fixo, levando em conta que a fita deve passar dentro do
loop e abraçar o ponto fixo. A outra parte do kit, que contém a catraca
com a fita menor, deve ser colocada da mesma forma, em outro ponto
fixo. Após a colocação é preciso passar a fita longa na catraca e começar
– 71 –
o processo de tencionamento, feito isso, é necessário verificar se a catraca está travada, para não soltar e se está pronta para a atividade.
Orientações Pedagógicas
Como o Slack é uma atividade que envolve predominantemente a habilidade estabilizadora, precisamos estimular a realização
de diferentes formas que ofertem os equilíbrios: estático, dinâmico e
recuperado. O objetivo específico para esta proposta será apresentar
alguns indicativos, que chamarei de ‘dicas’, para as pessoas que pretendem iniciar a prática do slack e também ensiná-lo num ambiente
educativo, que valorize ensinar o respeito às diferenças e a participação de todos.
Dicas Pedagógicas
Dica 01: Equilibrar-se em uma estrutura fixa, rígida e estreita,
no intuito de ambientar o corpo ao movimento. Podem-se utilizar
bancos suecos, improvisar com tábuas, trave de ginástica e pequenas
muretas. É Interessante investir em jogos, como pega-pega, packman,
entre outros.
Dica 02: Gostamos muito de um momento de experimentação, momento da prática no Slackline propriamente dito, onde
a intervenção deve ser mínima (sem se esquecer de observar a área
de segurança). Vale investir na implementação de materiais para
facilitar a pratica e dicas básicas, como: andar sobre a fita, para
que o praticante possa ter tempo de se conhecer na fita e arriscar
algumas manobras. Se possível, varie os tipos de slackline à disposição da aprendizagem (baixo, alto, curto, longo, estreito, largo).
Lembramos que isso seria uma situação ideal, porém, pode e deve
ser ajustada às condições de ambiente, equipamento, número de
pessoas e outras que surgirem. Na ausência de muitos materiais,
a criatividade do praticante pode (re)significar o Slackline para o
que mais lhe convém.
Dica 03: Estimule as atividades coletivas, no intuito de os
praticantes se sentirem mais à vontade para trocar informações e
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provocar um conflito integral, a fim de resolverem um problema
em conjunto. As atividades como corridas na fita, pega-pega sobre
o Slack, rouba o rabo e outras, são interessantes para esta finalidade. As atividades podem ter mais de uma pessoa sobre a mesma
fita do Slack. Vale investir em materiais que possam auxiliar na
aprendizagem (cordas na parte de cima da fita, cabos de vassoura
para apoiar no chão, corda fixa apenas em um ponto da fita, ajuda
coletiva com as mãos dos colegas).
Dica 04: Os desafios são algo que vêm para motivar e estimular novas aprendizagens, então, pode-se pensar em saltos, manobras,
acrobacias, tipos de práticas diferenciadas (Trickline, Highline, Longline e Waterline).
Considerações Finais
Os caminhos da aventura podem expandir a pluralidade cultural de pessoas que ousam estimular ou vivenciar diferentes práticas (ARMBRUST; SILVA, 2012). Estamos vivendo um momento
de expansões de informações e precisamos saber aproveitá-las com
sapiência e sem medo de pensar que jamais saberemos tudo e que
o inesperado pode acontecer. Esperamos ter contribuído para este
contato inicial, ou uma possível revisitação sobre o assunto slackline,
nas esferas educativas e autônomas. Temos grandes expectativas que
‘você’ leitor possa ter sido instigado a descobrir-se com novas/velhas,
diferentes/conhecidas práticas.
Referências
ARMBRUST, I.; SILVA, S. A. P. S. Pluralidade Cultural: Os
Esportes Radicais na Educação Física Escolar. Revista Movimento,
Porto Alegre, v. 18, n. 01, p. 281-300, jan/mar de 2012.
GIBBONS. Produtos. . Disponível em: <http://www.
gibbonslacklines.com.br>. Acesso mai.2012.
– 73 –
GRANACHER, U.; ITEN, N.; ROTH, R.; GOLLHOFER,
A. Slackline training for balance and strength promotion.
International Journal of Sports Medicine. Thieme, Stuttgart,
Allemagne. v. 31, n. 10, p. 717-723, 2010. Disponível em <http://
cat.inist.fr/?aModele=afficheN&cpsidt=23310841>. Acesso mai.
2012.
PEREIRA, D. W.; ARMBRUST, I. Pedagogia da aventura: os
esportes radicais, de aventura e de ação na escola. Jundiaí, SP:
Fontoura, 2010.
SLACKNEWS. A história do slackline. Disponível em: <http://
slacknews.blogspot.com.br/2011/05/historia-do-slackline.html>.
Acesso mai. 2012.
– 74 –
TECNOLOGIA EDUCATIVA
INTERDISCIPLINAR –
OS ESPORTES RADICAIS
Igor Armbrust
Este texto configurou-se a partir da dissertação de mestrado sobre os Esportes Radicais num contexto interdisciplinar,
desenvolvido com professores da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Campo Salles, situada no bairro de Heliópolis em
São Paulo (ARMBRUST, 2011). Apresentarei, em seguida, algumas reflexões discutidas com o grupo de professores, as quais
respaldaram os entendimentos sobre o esporte enquanto fenômeno expressivo e dotado de significados, o movimento enquanto linguagem corporal e os Esportes Radicais como elo de ligação e possível experimentação. Esses tópicos desencadearam a
construção coletiva de um roteiro de estudos para os alunos da
referida escola.
A visão de esporte
O desporto pode ser entendido como um conjunto de tecnologias corporais, sendo balizado por razões e padrões culturais
e por intencionalidades e valores sociais. Nisso tudo, há o ser que
habita este corpo e que pode não estar nessa roupagem de expectativas extrínsecas. Um olhar que, muitas vezes, não é visto nesses
diferentes olhares para tal prática, que destaca a forma e o aprimoramento corporal, gestual e comportamental do ser humano.
É difícil concretizar a sua essência, a sua técnica, pois, percebe-se
uma visão estreita sobre esse assunto (BENTO, 2006).
A técnica, muitas vezes, antecipa e possibilita a criatividade,
pois a técnica:
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[...] é uma condição acrescida e aumentativa; não
serve apenas a eficácia, transporta para a leveza, a
elegância e a simplicidade. Sem ela não se escrevem
poemas, não se compõem melodias, não se executam
obras de arte, não se marcam gols [...] (BENTO,
2006, p. 157).
No desporto, os processos culturais também fazem parte e
são expressões da preocupação sem fim de fazer o corpo, de criar,
adaptar, transformar e melhorar, acrescentando, ainda, de compreender esse corpo.Toda a qualidade expressa nesses momentos
são interrelações que solicitam a construção cultural, mas não se
pode esquecer do valor com que mostramos o nosso ser no mundo
(MERLEAU-PONTY, 1999).
Há uma forte tendência à multiplicidade desportiva
experimentada pelas culturas indicando que o corpo
parece estar regressando de um esquecimento, ultrapassando sistemas de distanciação e repressão, retomando o lugar de suporte da identidade que lhe pertencia em sociedades mais simples (BENTO, 2006,
p. 173).
Essas ligações e conscientizações de si próprio, essa pulsão e essa vontade de redescobrir o corpo, de o sentir, experimentar e testar por dentro e por fora, perfaz a inclinação para
novas formas de prática mais ativa, sentida, arriscada, desafiante, radical, intensiva e extensiva, como os Esportes Radicais,
que ligam essas estimulações com o conhecimento significativo
do evento, com a interação, com o eu pessoal, com o outro e
com a natureza (SERRANO, 2000).
Olhares para o movimento
O movimento expressivo no ambiente educativo precisa ser
estimulado, para que os alunos desenvolvam suas potencialidades de
forma democrática e para que se permita que aprendam para além das
técnicas de execução. Intencionalmente, o educador deve ofertar des– 76 –
cobertas sobre os entendimentos: de regras, adaptações, suas reconstruções, e que os alunos apreciem e critiquem as práticas corporais, a
fim de (re)significá-los, a partir de suas experimentações.
A concepção cultural expressiva por intermédio do movimento nos espaços educativos, que prepara o aluno para o pleno
exercício da cidadania, deve ajudá-lo no desenvolvimento da autonomia, da cooperação e participação social, além da afirmação
de valores e princípios democráticos. Uma primeira orientação
metodológica geral é a de que o diálogo entre áreas de conhecimento seja uma das características do trabalho nos anos iniciais
de ensino. Essa integração pode ser feita, por exemplo, por meio
de modalidades, como os projetos interdisciplinares, que constam
nas orientações curriculares nacionais.
As atividades
Neste texto, apresentarei apenas alguns exemplos, devido à delimitação do espaço, vale recorrer ao texto completo da dissertação
(ARMBRUST, 2011). Foram preparadas algumas atividades que explorassem os ambientes dos Esportes Radicais de terra, ar e água, para
os professores vivenciarem, com o intuito de apresentar a diversidade
e suas potencialidades em cada ambiente, além de mostrar algumas
adaptações de materiais e do próprio esporte, destacando as diferenciações e olhares para o fenômeno educacional.
O grupo realizou alguns desafios de orientação com bússola,
articulando contagem de passos, dimensão espacial e identificação
de objetos. Nessa mesma dinâmica, os professores experimentaram,
também, a montagem de um acampamento com barraca e o reconhecimento do ambiente, como árvores e materiais recicláveis.
Também participaram de um desafio, em que precisavam atravessar uma fita tencionada em duas árvores, simulando uma ponte,
como a que se encontra em trilhas. Após cada tarefa, discutíamos
algumas ideias sobre o que sentiram e o que estavam agregando de
valores, além das suas facilidades e dificuldades nos desafios.
O grupo se posicionou, apontando que havia conhecimen– 77 –
tos importantes que poderiam se relacionar com as expectativas
de ensino, por exemplo: os cálculos matemáticos, para saber a
quantidade de passos percorridos em um determinado percurso,
as noções de geografia, para compreender os direcionamentos do
corpo no espaço, a partir da rosa dos ventos que fora desenhada
em conjunto. Além disso, os professores colocaram que havia uma
carência em atividades desse tipo, que reflita e valorize o ambiente
de convivência, a coleta de lixo e também atividades que estimulem a resolução de problemas. Perceberam, nessas atividades, que
os caminhos ou as respostas precisam ser buscados e que não há
uma via única.
Em outro grupo de atividades foram explorados os desequilíbrios sobre o skate, que representaram as atividades urbanas. Proporcionei alguns desafios de deslocamentos sobre os skates, também
coloquei na quadra alguns shapes1, para aguçar as curiosidades e alguns rolos com tábuas em cima, para buscar alguns equilíbrios sobre
o material.
O grupo tentou diferentes tipos de deslocamentos no skate: deitado, sentado e em pé. Alguns não quiseram andar com o
skate, outros experimentaram os giros nos shapes e tentaram se
equilibrar no rolo. Conversando com o grupo obtive algumas
informações importantes com relação ao medo. Alguns professores afirmaram que, no começo da atividade, tiveram certo receio
de participar, pois estavam com medo e vergonha de cair, mas,
quando os demais procuraram ajudar, despertou-lhes vontade de
tentar. Outros professores confessaram que, se pudessem, ficariam brincando mais, porque relembraram a infância quando andavam de bicicleta e de patins, a maioria dos professores nunca
havia subido em cima de um skate.
Refletimos, também, sobre os giros que podem ser experi1
Shape – tábua de madeira, na qual a pessoa apóia os pés. Há variações
nas formas, mas geralmente, as duas extremidades são arredondadas e
com uma pequena elevação.
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mentados, os conhecimentos dos materiais e os desafios propostos
pelo próprio material. Foi uma experiência enriquecedora e os participantes concordaram que esse tipo de atividade precisa ser mais
enfatizado na escola. Discutimos, nesse sentido, a entrada desses
materiais e a apropriação do local a alunos que se identificam com
o skate, sabendo que nos bairros periféricos têm o maior índice de
praticantes dessa modalidade2.1
Considerações Finais
Após quatro semanas de experimentações, o grupo compreendeu as situações em que o movimento pode ser um estimulador
de outros saberes. Mesmo o grupo pontuando que existiam dificuldades para se ensinar dessa forma, afirmando que o problema maior
seria controlar as crianças, aceitaram o desafio de tentar trabalhar
com o tema. Passamos para a construção de um roteiro de estudos,
discutindo quais conteúdos, atividades e estratégias que poderiam
articular com as expectativas de ensino em cada ano das séries iniciais do ciclo fundamental I.
Referências
ARMBRUST, I. Os esportes radicais como potenciais geradores
de saberes interdisciplinares. 2011. 152f. Dissertação (Mestrado
em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo,
2011.
BENTO, J. O. Corpo e desporto: reflexões em torno desta relação.
In: MOREIRA, W. W. (Org.). A era do corpo ativo. Campinas,
SP: Papirus, 2006, p. 155-182.
FOLHA DE SÃO PAULO. Pesquisa data-folha, 2003.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São
2
Folha de São Paulo – Pesquisa Data folha, 15/06/2003
– 79 –
Paulo: Martins Fontes, 1999.
SERRANO, C. M. T. A educação pelas pedras: uma introdução. In:
SERRANO, C. M. T (Org.). A educação pelas pedras: ecoturismo
e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000. p. 7-24.
– 80 –
A PRÁTICA DE SKATE E O
DESENVOLVIMENTO DO EQUILÍBRIO
CORPORAL: UMA QUESTÃO DE
SEGURANÇA PARA O INICIANTE
Flávio Antônio Ascânio Lauro
Skate: Atividade (ou Esporte) de Aventura (ou Radical)
mais Popular do Brasil
Segundo a maior pesquisa sobre os hábitos esportivos dos brasileiros: Estudo sobre Prática de Esportes, a qual foi conduzida pela filial brasileira da empresa alemã de consultoria de marketing esportivo,
a Sport+Markt, que entrevistou mais de 46.300 pessoas a partir dos
16 anos de idade, em 130 cidades com mais de 200.000 habitantes de
todos os estados do país, a prática de skate ocupava, em 2011, a 10a
colocação (CABRAL; BERGAMO, 2011; MIRANDA, 2011). Segundo Gyrão (2010), a pesquisa sobre o número de skatistas no Brasil
realizada pelo Datafolha, em 2009, apontou um total aproximado de
3.900.000 praticantes, sendo que, 86% destes praticantes possuíam
entre 11 e 20 anos de idade (25% com até 10 anos de idade e 61%
entre 11 e 20 anos de idade).
Alguns motivos podem ter levado a este crescimento de adeptos de skate no Brasil. Um deles pode ser os mais de 20 títulos mundiais em diversas modalidades, conseguidos pelos skatistas brasileiros
(gêneros masculino e feminino), desde 1995 (WORLD CUP SKATEBOARDING, 2012). O caráter esportivo competitivo é muito
divulgado e explorado pelas mídias.
Outros motivos podem estar relacionados às próprias razões
do surgimento do skate no início do século 20: o lazer e a diversão. A possibilidade do uso do skate para transporte, já vista nos
seus primórdios, é um dos outros motivos que levam as pessoas
– 81 –
a se interessarem pela prática de skate, segundo Brooke (1999),
Noll (2000) e Rose (1999). Inclusive ultimamente, a utilização do
skate como meio de transporte alternativo e não poluente, tendo
sido apontada como uma das soluções para favorecer a mobilidade
humana nas grandes metrópoles, onde o excesso de trânsito e a
poluição são preocupantes.
Devido ao grande crescimento e popularização, outros motivos levaram as pessoas a se interessarem pela prática de skate:
os interesses educacionais (LAURO; DANUCALOV, 2005) e de
inclusão social (CARAVANA DO ESPORTE, 2012; PROJETO,
2012). Outro motivo para as pessoas quererem praticar skate pode
estar ligado ao bem-estar e à saúde. Os estudos de Lauro e outros
pesquisadores (1999; 2000) demonstraram que a prática de skate
pode trazer benefícios à saúde, por melhorar capacidades físicas
importantes ligadas à aptidão física, as quais, por sua vez, estão
ligadas à qualidade de vida.
Entre as características gerais da prática do skate, tem-se que,
durante a prática, a pessoa pode estar se deslocando ou não com o
skate, estar ou não na mesma posição corporal sobre o skate, ou ainda,
estar em contato corporal ou não com a prancha do skate (WERNER, 2001). Sendo assim, é bem provável que para se praticar skate
de uma forma segura seja necessário desenvolver o equilíbrio corporal
tanto estático como dinâmico, entre outras capacidades físicas.
Segurança na Prática de Skate
Os estudos mostram que a prática de skate apresenta vários
riscos à integridade física das pessoas praticantes, porque muitos
acidentes acontecem e os traumas nas quedas e choques com o
skate, local de prática e as outras pessoas são muito frequentes
(FORSMAN; ERIKSSON, 2001; KYLE e cols., 2002). Entretanto, alguns requisitos simples podem ajudar a prevenir e diminuir
os acidentes e traumas na prática de skate: uso dos equipamentos
individuais de proteção (capacete, protetores de punhos ou luvas,
cotoveleiras, protetores de quadril, joelheiras e tênis); prática em
– 82 –
locais adequados (parques de skate ou não); entendimento e respeito à dinâmica coletiva de prática (regras de conduta quando
existem mais skatistas praticando juntos) e bom preparo físico (capacidades físicas condicionais e coordenativas).
Então, equipamentos e informações devem ser fornecidas aos
praticantes de skate, a fim de evitar acidentes e traumas. E, dentre as
capacidades físicas a serem desenvolvidas com as mesmas finalidades,
talvez o equilíbrio corporal possa ser a mais importante, principalmente para as pessoas no início da aprendizagem motora da prática
de skate.
Características Gerais do Equilíbrio Corporal
De acordo com Silveira et al. (2006), o equilíbrio corporal
pode ser definido, do ponto de vista biológico, como a manutenção de uma postura particular do corpo com um mínimo de oscilação (equilíbrio estático), ou a manutenção da postura durante
o desempenho de uma habilidade motora que tenda a perturbar a
orientação do corpo (equilíbrio dinâmico). O equilíbrio corporal,
que é uma das capacidades físicas coordenativas, depende muito
mais da visão, sistemas vestibular e somatossensorial, coordenação
central e ajuste da musculatura tônica (MASSION, 1998), do que
dos sistemas cardiorrespiratório (tamanho do coração e pulmões),
músculo-esquelético (tipos de fibras musculares e anatomia dos
ossos e articulações) e energéticos (sistemas anaeróbios alático e
lático e aeróbio), que estão diretamente relacionados às capacidades físicas condicionais.
Desta forma, ao contrário de muitas atividades físicas e esportes, parece não existir um biotipo ideal ou perfil genético mais adequado à prática de skate, uma vez que ele pode ser praticado por pessoas com diferentes características morfológicas e fisiológicas. Além
disto, o desenvolvimento das capacidades físicas condicionais (força,
resistência e flexibilidade ou mobilidade) pode não ser tão importante para que uma pessoa consiga praticar skate de forma segura, pelo
menos nos níveis iniciais de aprendizagem motora.
– 83 –
Desenvolvimento do Equilíbrio Corporal
para a Prática de Skate
O uso da prancha do skate (shape) ou do skate sem as rodas
para o desenvolvimento do equilíbrio corporal estático para a prática
do skate, além de serem recursos muito simples e seguros, porque não
há deslocamento da pessoa, possuem as vantagens de serem com os
próprios equipamentos específicos, o que traz a familiarização com o
skate. A utilização de pranchas de equilíbrio (um cilindro e uma prancha, que pode ser ou não o shape) é outro recurso bastante simples,
mas que acrescenta um pouco mais de dificuldade, porque exige da
pessoa o equilíbrio corporal dinâmico também.
Minicamas elásticas (ARAGÃO, 2009) e outros equipamentos
simples de reabilitação e treinamento do equilíbrio corporal (YAGGIE; CAMPBELL, 2006) podem ser usados. Porém, muitas vezes,
não desenvolvem o equilíbrio corporal da forma que é necessária para
a prática de skate.
Devido ao interesse médico em avaliar corretamente o equilíbrio corporal das pessoas antes, durante e depois de procedimentos
terapêuticos, foram criadas plataformas eletrônicas de força (TEIXEIRA et. al.., 2008). Entretanto, trata-se de equipamentos caros e que
nem sempre conseguem reproduzir o equilíbrio corporal da prática
do skate.
Muito utilizados por não skatistas também, uma vez que os
perigos dos acidentes e dos traumas reais não existem, os diversos
jogos eletrônicos em vídeo, os quais são praticados em pé (exergames),
têm se mostrado eficientes no tratamento de diversos problemas de
saúde ligados ou que comprometem o equilíbrio corporal (SOUSA,
2011). Alguns dos exergames possuem joysticks no formato de prancha ou de skate, que podem ser muito eficientes para desenvolver o
equilíbrio corporal para a prática do skate e, ainda, ajudar o jogador
a ter contato virtual com os locais de prática e aprender os nomes das
manobras. Entretanto, os exergames, além de não desenvolverem o
equilíbrio corporal dinâmico, não conseguem simular tão realisticamente a prática de skate.
– 84 –
Considerações Finais
Como a prática do skate tem se tornado cada vez mais popular devido aos vários motivos que levam as pessoas a se interessarem por ela, e, como existe a grande probabilidade de aumentarem proporcionalmente os acidentes e os traumas advindos da
sua prática, é eminente a necessidade de implantação de ações, no
sentido de evitar que estas projeções se concretizem. Então, além
de informação, orientação e o uso de equipamentos de proteção
individuais, o desenvolvimento das capacidades físicas, em especial do equilíbrio corporal, para as pessoas durante a fase inicial de
aprendizagem motora da prática de skate deve ser implementado,
como mais uma forma de, talvez, evitar que os acidentes e os traumas aumentem ainda mais.
Apesar das buscas de estudos nas bases de dados online Medline
e Scielo sobre os efeitos da prática do skate no equilíbrio corporal,
ou do equilíbrio corporal na prática do skate, não foram encontradas
pesquisas sobre estes assuntos. Sendo assim, trata-se de uma possibilidade interessante e carente para futuras pesquisas.
Referências
ARAGÃO, F. A.. Estudos sobre os efeitos do mini trampolim
sobre o controle postural de idosos. Tese (Doutorado em Ciências
do Movimento Humano) – Escola de Educação Física, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
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Toronto: Warwick, 1999.
CABRAL, O.; BERGAMO, G.. País de sedentários. Veja, São
Paulo, ano 44, n.39, p.102-108, set. 2011.
CARAVANA DO ESPORTE, Disponível em: <http://www.
esporteeducacao.org.br/?q=node/41>. Acesso em 5 jul. 2012.
– 85 –
FORSMAN, L.; ERIKSSON, A. Skateboarding injuries of today.
Br J Sports Med, n.35, p.325-328, 2001.
GYRÃO, C. O skate cresce... e aparece (somos quase 4 milhões).
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WINSTON, F. K. Skateboard-associated injuries: participationbased estimates and injury characteristics. J Trauma, v.53, p.686690, 2002.
LAURO, Fl. A. A.; DANUCALOV, M. Á. D.. O elemento
aventura no meio universitário: a formação acadêmica pelos
esportes de prancha. In: UVINHA, Ricardo Ricci (Org.).
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p.103-136, 2005.
LAURO, F.A.A.; SHINZATO, G.T.; SAMPAIO, I.C.S.P.;
GONÇALVES, A.; BATTISTELLA, L.R. Concentric knee
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LAURO, F.A.A.; SILVA, P.R.S.; GONÇALVES, A.F.; DOURADO,
M.P.; BATTISTELLA, L.R. Maximal oxygen uptake of Brazilian
professional skateboarders. In: AMERICAN COLLEGE OF
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2000.
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perspective. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, San
Antonio, v.22, n.4, p.465-472, 1998.
– 86 –
MIRANDA, Giuliana. Maioria dos brasileiros está longe dos
esportes. Folha de São Paulo, São Paulo, Saúde, p.C12, 2011.
NOLL, Rhyn. Skateboard Retrospective: a collector’s guide.
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Disponível em: <http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.
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TEIXEIRA, C. S.i; LEMOS, L. F. C.; LOPES, L. F. D.; ROSSI,
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skateboarding. Chula Vista: Start-up Sports / Tracks Publishing, 2001.
YAGGIE, James A.; CAMPBELL, Brian, M. Effects of balance
training in selected skills. J. Strength Cond Res, v.20, n.2, p.422428, 2006.
– 87 –
TÉCNICAS VERTICAIS: CONCEITUAÇÃO,
UTILIZAÇÕES E SEGURANÇA
José Ricardo Auricchio
Conceituação e Utilizações
Desafio é a palavra que vem em mente ao escrever um texto
sobre técnicas verticais, visto que as referências acadêmicas sobre o
assunto não são vastas. Porém, os desafios devem sempre ser superados e começaremos conceituando as palavras que compõem o título
deste capítulo.
Segundo o Dicionário Aurélio (2012), considera-se como técnica, parte material de uma arte ou o conjunto dos processos de uma
arte ou prática. Também segundo esta mesma fonte, entende-se que
vertical é o que está colocado no vértice, sendo que vértice representa
o grau supremo, ponto culminante, ou parte mais alta. A partir destas definições simples, é possível conceituar técnicas verticais como o
conjunto de processos da arte que está colocada no vértice ou parte
mais alta, ponto culminante.
Ao trazermos este termo para as atividades de aventura, observase que as técnicas verticais são atividades muito utilizadas por espeleólogos1, para a exploração de abismos e também por biólogos, para a
coleta de amostras e observação de fauna e flora. De maneira geral,
entende-se que técnicas verticais são o conjunto de técnicas de subidas,
descidas e movimentação em desníveis verticais, usando equipamentos
de segurança de alpinismo, como cordas, fitas, mosquetões, cadeirinha
e outros acessórios específicos. É utilizada na prestação de serviços em
altura, resgate em ambientes verticais, ou pelo simples prazer de descer
uma parede, uma ponte ou uma cachoeira, no denominado canyonis1
Espeleologia é a ciência que estuda cavernas e grutas e espeleólogos são
especialistas nesta ciência.
– 88 –
mo ou cascading. Sozinhas, as técnicas verticais, como o rapel, não são
consideradas como um esporte, mas sim, como uma técnica que pode
estar incluída dentro de alguns esportes de aventura, como a escalada,
na qual o escalador deve ter o domínio destas técnicas para auxiliá-lo
na subida e descida por corda; ou o canyonismo, em que. seguindo o
percurso do rio no sentido da correnteza, o praticante deve transpor
obstáculos naturais, como cachoeiras e paredes de rocha; ou até na espeleologia, pois podem existir trechos do percurso com abismos2,1clarabóias3,2dolinas4,3entre outros obstáculos naturais.
A palavra rapel deriva do verbo francês rappeler, que significa
lembrar, chamar, ou fazer voltar, por isso, por muito tempo o rapel
foi considerado como uma descida feita por meio de corda dupla,
em que, após descer, o praticante recupera esta corda, chamando-a,
fazendo-a voltar para si. Por este fato, inicialmente, o rapel era feito
somente no montanhismo, sendo utilizado pelo escalador para retornar à via que se escalou, passando a corda por pontos fixos e controlando a descida, por meio de um freio preso à cadeirinha por um
mosquetão (PEREIRA, 2007, p.49), por meio de cordadas (etapas a
serem transpostas de um ponto de ancoragem a outro) e também no
canyonismo, em que, para descer as cachoeiras, o canyonista tem que
recolher a corda para executar a próxima descida.
Rapel é um método usado por alpinistas para descer a rocha íngreme ou gelo, de forma rápida e segura. Uma corda é
dobrada em torno de um pináculo ou rocha, ou por meio de um
2
Abismos são grandes profundidades e podem ser tanto em terra como no
fundo do mar.
3
Clarabóia é a fresta ou óculo numa parede para passagem da claridade ou
do ar.
4
Dolina é Conhecida popularmente com sumidouro, sendo uma depressão circular formada pelo abatimento do solo em regiões de rochas com
água subterrânea em seu fundo.
– 89 –
píton5.1O escalador coloca a corda dobrada ao redor de uma das
coxas, até em seu peito e o ombro oposto. O atrito da corda ao
redor do corpo do alpinista permite-lhe controlar a taxa de descida facilmente, com a mão livre. Chegando à parte inferior, ele
se solta e puxa a corda livre para ser usada novamente (MILNE;
MILNE, 1962, p.164).
A descida em corda simples é chamada de descida em corda fixa, por conta de sua fixação no ponto de ancoragem e, consequentemente, por não ter como recuperá-la, permitindo que,
muitas das vezes, o praticante suba pela mesma corda. Na espeleologia, o espeleólogo desce, mas tem que voltar pela mesma corda, utilizando a técnica de ascensão 62para sair da cavidade onde
se encontrava. O método empregado para técnica de ascensão
em corda simples é denominada de sapo. Consiste na utilização
de um ascensor ventral e outro de punho, permitindo maior conforto para o escalador, quando comparado com o método escada
(BECK, 1995).
Com o desenvolvimento das técnicas verticais, percebeu-se
que o rapel pode fazer parte do turismo de aventura, permitindo
que seus praticantes tenham acesso a cachoeiras, cânions, vales e
cavernas, proporcionando-lhes maior diversão e a oportunidade
de interagirem com estes atrativos naturais, já que a prática desta
modalidade não requer uso excessivo de força física e nem pleno
domínio de técnicas, desde que as descidas sejam acompanhadas por instrutores adequadamente treinados. Observa-se, então,
que os procedimentos técnicos de montagem dos equipamentos
e operação de segurança, devem ser realizados por operadoras
capacitadas.
Com a ascensão dos esportes de aventura na mídia, os acampamentos de férias têm-se munido das práticas verticais como a es5
Píton é um pino de metal preso à rocha pelo escalador.
6
Técnica de Ascensão é a subida pela corda com aparelhos específicos.
– 90 –
calada, o rapel, o arvorismo71e a tirolesa8,2sendo elas utilizadas como
diferenciais, no sentido de atualizarem suas ofertas e atraírem público
(SILVA, 2010). Além disso, as práticas verticais, hoje, são também
usadas largamente em peças de teatro, circo, montagem de palcos de
shows e eventos e montagem de iluminação em shoppings, na época
de natal. São utilizadas também na manutenção de torres de telefonia, plataformas de petróleo, entre outros.
Na atualidade, as técnicas verticais podem ser encontradas, não
só nos acampamentos, mas em diversos equipamentos de lazer montados por empresas especializadas em atividades, como falsa baiana9,3
tirolesa e arvorismo (PEREIRA, 2007). Praças, parques, clubes e
buffets disponibilizam tal atividade, principalmente para as crianças
(AURICCHIO, 2009), tamanha a segurança proporcionada pela tecnologia dos equipamentos hoje utilizados (PEREIRA, 2007).
Sistema de Gestão de Segurança e Gerenciamento de Risco
Ao falarmos sobre as questões de segurança, utilizaremos as normas técnicas para turismo de aventura da ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas), que delimita normas específicas para as técnicas
verticais, gestão de segurança e gerenciamento de risco. A NBR10155014
trata sobre técnicas verticais - requisitos para produtos têm grande enfoque em sistemas de gestão de segurança e gerenciamento de risco,
desde a saída dos clientes da agência, trajeto ao local da atividade, mo7
Arvorismo é um circuito de atividades suspensas através de cordas ou cabos de aço, madeiras e redes, onde o praticante fica sempre preso a um
cabo de segurança.
8
Tirolesa é o deslocamento por cordas ou cabos de aço realizado de um
ponto fixo a outro através de polias.
9
Falsa baiana é a atividade montada com duas cordas paralelas, sendo
uma para os pés e outra para as mãos. Utilizada em sua originalidade
para travessias de rios, arvores e montanhas.
10
NBR – Normas Brasileiras
– 91 –
vimentação em áreas de risco durante a atividade, sendo a segurança do
grupo responsabilidade do responsável pela operação.
De acordo com a norma supracitada, temos ainda a classificação de alguns termos e definições utilizados no texto base:
Áreas de risco são as áreas com risco significativo de quedas, escorregões, afogamento e outros perigos relacionados à prática do
turismo de aventura; Autorresgate é a aplicação de técnicas pelo
próprio grupo, para resolver situações adversas, sem intervenção
externa; Autosseguro é o dispositivo de segurança conectado ao
ponto de fixação da cadeirinha e conectável a um ponto de segurança, confeccionado com cordas e fitas, com uma ou mais pontas e mosquetões nas extremidades; Sistema debreável é o sistema
utilizado para a fixação da corda na ancoragem, utilizando-se
um nó dinâmico ou um freio descensor, devidamente bloqueados, de tal modo que possibilite o desbloqueio da corda, mesmo
com carga.
Um sistema de gestão de segurança (SGS) deve prevenir os
acidentes, por meio de análises de riscos detalhadas, deve também
implementar programas de prevenção de acidentes e ter um plano de
atendimento à emergência, para socorrer vítimas. O SGS envolve as
operadoras de turismo de aventura, receptivos e atrativos turísticos
organizados. Todos os envolvidos devem ser treinados para que garantam a própria segurança, dos colegas e dos clientes (PROGRAMA
AVENTURA SEGURA, 2007).
Em se tratando da gestão de riscos, conforme estabelecido
na NBR15331 é necessário realizar uma avaliação dos perigos
existentes na sua operação e realizar uma análise de riscos, conforme estabelecido na norma. Além disso, há uma certificação
em Sistema de Gestão de Segurança que as empresas podem implementar, tendo que cumprir vários requisitos e passar por uma
auditoria de certificação.
Tendo em vista que todas as atividades de aventura envolvem risco aos praticantes, devemos, então, ficar atentos a todas as
normas de segurança vigentes para todas as atividades e trabalhar– 92 –
mos sempre no sentido de minimizar tais riscos, proporcionando
uma atividade prazerosa, em que todos vivenciem experiências
únicas e inesquecíveis nas atividades de aventura, sejam elas na
natureza ou urbanas.
Referências
ABNT . NBR 15331. Turismo de Aventura: Sistema de Gestão
de Segurança. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2005.
Disponível em http://www.abntcatalogo.com.br/mtur/java/
viewnormajava.aspx?NormaID=50&FileID=61288 . Acesso em 03
de Julho de 2012
ABNT . NBR 15501. Turismo de Aventura: Técnicas Verticais –
Requisitos para produto. Associação Brasileira de Normas Técnicas,
2011. Disponível em http://www.abntcatalogo.com.br/mtur/java/
viewnormajava.aspx?NormaID=86622&FileID=68529. Acesso em
03 de Julho de 2012
AURICCHIO, J. R.. Escalada na Educação Física escolar:
Orientação adequada para a prática segura. Buenos Aires: Revista
Digital EFDeportes, Dezembro, 2009
BECK, S.. Com Unhas e Dentes. São Paulo: Ed. Independente,
1995
Dicionário Aurélio versão on-line 2012. Disponível em: www.
aureliopositivo.com.br
PEREIRA, D.W.. Escalada. São Paulo: Odysseus Editora, 2007
MILNE, L. J , MILNE M. . The Mountains. New York, USA: Ed.
Time Incorporated, 1962.
– 93 –
PROGRAMA AVENTURA SEGURA. Apostila do Curso de
Sistema de Gestão de Segurança. Ministério do Turismo, 2007.
SILVA, Renata Laudades. Atividades Recreativas em Acampamentos
de Férias. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/
arquivos/File/2010/ artigos_teses /EDUCACAO_FISICA/artigos/Silva.
Renata_Artigo pdf. Acesso em 02. de Julho de 2012
– 94 –
EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS
ENVOLVENDO ATIVIDADES
DE AVENTURA
Leonardo Madeira Pereira
Este capítulo propõe-se a apresentar as observações e reflexões
relatadas sobre as estratégias utilizadas em um programa educativo envolvendo atividades de aventura, o qual foi realizado no VII
CBAA - Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura e I CIAA
- Congresso Internacional de Atividades de Aventura. Atividades
como escalada, corrida de aventura, orientação, slackline, parkour,
skate, técnicas verticais e trilhas, foram realizadas em forma de um
circuito de aventuras nas oficinas do congresso, com o objetivo de
promover o aprendizado de habilidades e competências relacionadas às atividades de aventura.
De acordo com Marinho (2008), tais atividades, no contexto
do lazer, estão sendo entendidas como as diversas práticas manifestadas
com características inovadoras e diferenciadas dos esportes tradicionais,
pois as condições de prática, os objetivos, a própria motivação e os
meios utilizados para o seu desenvolvimento são outros. Além disso, há
também a presença de inovadores equipamentos tecnológicos, permitindo uma fluidez entre o praticante e o espaço da prática.
São atividades cercadas por riscos, na medida do possível calculados, não ocorrendo treinamentos intensivos prévios. A experimentação acontece de maneira mais direta, havendo um afastamento
de rendimentos planejados. Outras características e discussões específicas sobre estas práticas podem ser observadas em outros trabalhos
(MARINHO, 2001; MARINHO; BRUHNS, 2005, 2003, 2001).
Neste capítulo, será apresentado o método e os resultados da
estratégia educacional utilizada. Cada uma das atividades envolvidas
nesse programa educativo contemplou um aspecto especifico da aven– 95 –
tura no contexto do lazer e ou de competição. O grupo participante
apresentou pouca ou nenhuma experiência nas atividades vivenciadas.
Ao todo foram oferecidas oito atividades, enumeradas de 01
a 08, corrida de aventura e orientação (01), slackline (02), parkour
(03), skate (04), técnicas verticais (05), escalada (06) e trilhas (07).
Em cada atividade o participante realizou um desafio de 30 minutos,
totalizando três horas e trinta minutos de vivência, 30 minutos de
movimentação e duas horas de reflexão e discussão em grupo.
A dinâmica de rodízio proporcionou uma movimentação entre
os participantes, os quais, a todo momento, se encontravam entre
uma oficina. Neste momento, os grupos trocavam olhares, experiências e compartilhavam emoções e expectativas. A formação do grupo
ocorreu de forma aleatória, onde os subgrupos afins foram separados
e cada grupo formado possuía entre 18 e 22 integrantes.
A orientação e a corrida de aventura ocorreram simultaneamente, utilizando-se bússola e carta topográfica, os participantes percorreram um percurso multiesportivo de 800m. Neste percurso de
orientação, seis pontos de controle foram sinalizados com prismas e
picotadores, três modalidades esportivas foram realizadas, sendo elas
mountain biking, canoagem e trekking. Durante toda a atividade os
integrantes deveriam adotar estratégias determinantes para o sucesso da equipe. Orientação de posicionamento da carta no terreno e
utilização da bússola nortearam o direcionamento para o cumprimento das tarefas. As palavras que representam a experiência de 21
equipes que passaram por essa atividades foram: cooperação, trabalho
em equipe, estratégia, confiança, diversão, interatividade, liderança e
condicionamento físico.
No slackline, os sete grupos puderam explorar diversar fitas,
tensionadas manualmente com uso de mosquetão e argolas e com catraca mecânica, fitas acrobráticas e clásssicas. Pode-se explorar aspectos técnicos relacionados à montagem e desmontagem, assim como,
aspectos pedagógicos e de segurança. As palavras que representam a
experiência dos participantes nessa atividade foram: equilíbrio, concentração, superação, vertigem e cooperação.
– 96 –
O parkour explorou exercícios de aquecimento, movimentação
entre obstáculos, segurança e deslocamentos. Os grupos transitaram
em uma academia ao ar livre e entre corrimãos, foram realizados rolamentos, ajudas e segurança de corpo. O percurso elaborado possibilitou a descoberta de movimentos e exploração interativa do espaço
físico. As palavras que representam a experiência dos grupos nessa
vivência foram: superação corporal, equilíbrio, liberdade, autoconhecimento, alegria e dinamismo.
O skate proporcionou experiência de equilíbrio, utilizando
shapes, garrafas pet e cones e os participantes puderam aprender a
se equilibrar sob a prancha, a se posicionar sobre o skate e ajudar no
deslocamento com segurança. As palavras que representam a experiência do grupo nessa atividade foram: emoção, equilíbrio, segurança,
cooperação, concentração, confiança e superação.
No percurso de técnicas verticais montado, foi possível vivenciar travessias por corda, redes suspensas, pontes e rapel. Os participantes aprenderam a se equipar e a transitar por trecho vertical com
segurança. As palavras que representam a experiência do grupo nas
atividades foram: criatividade, confiança, companheirismo, responsabilidade, planejamento, trabalho em equipe, prazer e cooperação.
A escalada aconteceu em uma parede do tipo boulder, onde
não foi necessária a utilização de cordas de segurança. Os participantes experimentaram diferentes pegadas e deslocamentos horizontais e
verticais nessa parede. As palavras que representam a experiência dos
grupos nessa atividade foram: força, técnica, concentração, determinação e estratégia.
Nas trilhas, os participantes puderam interagir com a natureza. Os grupos recebiam uma poesia que falava sobre o ser humano e a natureza e todos deveriam representá-la utilizando o
ambiente natural. Cada membro do grupo recebia uma função e
todos transitavam por um percurso, explorando a flora e o relevo.
As palavras que representam a experiência do grupo na experiência foram: relações interpessoais, prazer, cooperação, criatividade,
alegria e planejamento.
– 97 –
O nível de satisfação pode ser mensurado utilizando-se
uma escala tipo Likert de 5 pontos que variava de pouquíssimo
satisfeito (1) a muitíssimo satisfeito (5). A média geral de satisfação dos participantes nessa escala foi de 4,5, ou seja todos ficaram bastante satisfeitos. Durante as reflexões e discussões, todos os participantes relataram certo desconforto sobre a questão
do tempo que poderia ter sido maior. A organização do evento
ponderou sobre essa questão, mas seguiu modelos utilizados internacionalmente nos treinamentos experienciais ao ar livre (PANICUCCI, 2003; MOORE; DRIVER, 2005; GILBERTSON
et al., 2006).
Na perspectiva pedagógica, o método utilizado nestes congressos promoveu, por intermédio das atividades de aventura, um
aprendizado significativo, memorável, capaz de oferecer aos participantes, em sua maioria, futuros profissionais de educação física, experiências educativas e vivências que os participantes poderão levar
para a vida toda.
Referências:
GILBERTOSON, K.; BATES, T.; MCLAUGHLIN, T.; EWERT,
A. Outdoor Education: methods and strategies. Champaign:
Human Kinetics, 2006.
MARINHO, A. Lazer, aventura e risco: reflexões sobre atividades
realizadas na natureza. Movimento, Porto Alegre, v. 14, n.02, p.
181-206, 2008.
MARINHO, A. Lazer, natureza e aventura: compartilhando
emoções e compromissos. Revista Brasileira de Ciências do
Esporte, Campinas, v. 22, n. 2, p. 143-153, 2001.
MARINHO, A.; BRUHNS, H. T. (Org.). Turismo, lazer e
natureza. São Paulo: Manole, 2003.
– 98 –
MARINHO, A.; BRUHNS, H. T. La escalada y las actividades de
aventura: realizando sueños lúcidos y lúdicos. Educación Física y
Deportes, Barcelona, n. 65, p. 105-110, 2001.
MARINHO, A; BRUHNS, H. T. Body relationships in an urban
adventure setting. Journal of Leisure Studies. Forest Row, v. 24, n.
3, p. 223-238, 2005.
MOORE, R.L.; DRIVER, B.L. Introduction to Outdoor
Recreation: providing and managing natural resource based
opportunities. State College: Venture Publishing, 2005.
PANICUCCI, J. Adventure curriculum for physical education:
high school. Beverly: Project Adventure, 2003.
– 99 –
PARTE 3
PALAVRAS DOS CONVIDADOS
– 101 –
Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro
Profa Mestre em Desenvolvimento Humano e Tecnologias - UNESP
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC
[email protected]
Amanda Mayara do Nascimento
Profa. Msda. em Ciências da Motricidade - UNESP
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC
E-mail: [email protected]
Giselle Helena Tavares
Profa. Dda. em Ciências da Motricidade - UNESP
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC
E-mail: [email protected]
Juliana de Paula Figueiredo
Profa. Mestrandra em Ciências da Motricidade - UNESP
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC
[email protected]
Marcelo Fadori Soares Palhares
Prof. Mestrandro em Ciências da Motricidade - UNESP
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC
E-mail: [email protected]
Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan
Profa. Mestre em Ciências da Motricidade - UNESP
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC
E-mail [email protected]
– 102 –
Raquel de Magalhães Borges
Mestre em Educação - PUC Minas
Docente na Faculdade de Educação Física da Universidade Federal do Pará
Coordenadora do Projeto Núcleo Escolar de Qualidade de Vida (UFPA/CAPES/
PIBID)
e-mail: [email protected]
Rodolfo Antonio Zagui Filho
Especialita em Esportes e Atividades de Aventura – FMU
Membro Pesquisador do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/ DEF/IB/
UNESP-RC
E-mail: [email protected]
Gisele Maria Schwartz
Livre-docência em Emoção e Aventura: Expressões intervenientes no estilo contemporâneo do lazer
Docente na UNESP – Rio Claro
Coordenadora do LEL – Laboratório de Estudos do Lazer/DEF/IB/UNESP- RC
E-mail:[email protected]
– 103 –
TREINAMENTO EMPRESARIAL,
ATIVIDADES DE AVENTURA E
TECNOLOGIAS
Ana Paula Evaristo Guizarde Teodoro
As atividades de aventura têm sido exploradas por diversas áreas do conhecimento e para inúmeros fins, dentre eles, o treinamento
empresarial. As atividades de aventura podem se tornar uma ferramenta interessante durante os treinamentos empresariais, principalmente pela característica de serem realizadas ao ar livre, e, na maioria
das vezes, em contato com a natureza, mas será que os usos das tecnologias contribuíram para o aumento do número de empresas que
oferecem esse tipo de atividade?
Os treinamentos empresariais, geralmente, com formato mais
metódico, com a utilização de palestras, cursos de aperfeiçoamento
e dinâmicas de grupo vêm aprimorando suas técnicas e incorporando novas práticas, como a utilização das atividades de aventura.
A simples alteração no espaço, saída de um ambiente muitas vezes
fechado para um ambiente aberto, já pode representar mudanças
na rotina de trabalhadores. A ideia é criar situações semelhantes às
vivenciadas no cotidiano, porém, ao ar livre, com recursos diferentes, tentando, assim, alcançar objetivos previamente determinados.
O ideal seria que as atividades estimulassem as potencialidades dos
sujeitos envolvidos por meio de desafios, que levassem os sujeitos à
reflexão (RINK, 2004).
O número de empresas que oferecem treinamentos “outdoor”
vem crescendo. Isto se tornou evidente, não somente pelo aumento
no número de empresas que oferecem serviços ligados às atividades
de aventura, mas, também, por ações conjuntas, como o aumento
do número de pesquisas envolvendo a temática e a consolidação do
CBAA - Congresso Brasileiro de Atividades de Aventura, que está em
– 104 –
sua sétima edição, sendo concomitante, este ano, com o I CIAA Congresso Internacional de Atividades de Aventura.
Além dessas iniciativas, a oferta deste tipo de serviço aumentou nos últimos anos, principalmente com o avanço das tecnologias.
Em 2010, dos 294 associadas à ABETA - Associação Brasileira das
Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, 52 já ofereciam treinamento empresarial (TEODORO, 2011), sendo que este número
pode ser bem maior, pois, neste estudo só foram contabilizadas as empresas que divulgavam este atrativo em seus sites. Levando em conta
que muitas empresas não possuem sites, este dado acaba se tornando
apenas uma estimativa. Outro exemplo que pode ser ressaltado é o de
que, das 07 agências e operadoras associadas à ABROTUR - Associação das Empresas de Turismo de Brotas e Região, 04 divulgam este
tipo de atrativo em seus sites, demonstrando, assim, que a oferta de
treinamentos empresariais já é comum neste ramo de atividade.
As terminologias utilizadas para esta prática variam de região
para região. No caso das empresas associadas à ABETA, pode ser
encontrado em seus sites: treinamento motivacional, treinamento
ao ar livre, treinamento vivencial, eco-training, jogos empresariais,
atividades empresariais, treinamento experencial, outdoor training,
treinamento experencial ao ar livre, treinamento outdoor, treinamento corporativo, treinamento comportamental ao ar livre, entre outros. Cada uma dessas atividades pode ser distinta, porém,
quando se verificam os objetivos, são encontradas grandes semelhanças entre elas.
As atividades de aventura podem estar associadas às tecnologias,
devido à grande preocupação com a segurança durante as práticas,
pois, investe-se em equipamentos sofisticados, materiais resistentes,
com maior durabilidade, e isto tudo utilizando aparatos tecnológicos. De acordo com o Ministério do Turismo (2008), a diversidade das atividades de turismo de aventura também tende a aumentar
em decorrência dos avanços tecnológicos, tanto para a confecção de
equipamentos quanto no aprimoramento das técnicas empregadas.
Hoje em dia, até games com a temática de aventura foram lançados
– 105 –
no mercado, muitos, inclusive, simulando situações quase reais, com
movimento e acessórios próximos aos reais.
Além dos equipamentos, outros recursos, como a divulgação de serviços, também podem ser dado como exemplo no uso
das tecnologias, dentre as principais estratégias utilizadas por essas empresas, seja por meio da divulgação em sites, propagandas,
ou para a confecção de material impresso. As empresas que oferecem treinamentos empresariais, principalmente as associadas à
ABETA, procuram deixar evidente nos sites a divulgação das atividades, investindo em marketing, utilizando estes recursos visuais
para atrair a clientela.
Durante a realização dos treinamentos empresariais, comumente se nota a utilização de tecnologias, como por exemplo, apresentação de vídeos, o uso de data-show e notebooks. Também são freqüentes, a comunicação via rádio, o uso de dispositivos como o Global Positioning System (GPS) e iPad em formato tablet. As atividades
que antes utilizavam apenas carta topográfica e bússola, hoje, ganham
reforços, com a utilização de carros de apoio equipados e dependendo
da atividade, até jet-skis.
A tecnologia que um dia, com a revolução industrial, afastou,
de certa maneira, o homem do contato com a natureza, hoje, contribui para o aumento da adesão às práticas na natureza, tendo em vista
que mais pessoas buscam atividades seguras, e isso não deixa de estar
intimamente relacionada às tecnologias. No treinamento empresarial
não poderia ser diferente, uma vez que mais empresas investem em
equipamentos sofisticados e na divulgação dos serviços oferecidos.
Contudo, as discussões acerca das atividades de aventura, treinamento empresarial e tecnologias estão longe de se esgotar, tendo
em vista que esta área sofre constantes avanços e transformações e o
treinamento empresarial começa a ganhar mais espaço no campo das
atividades de aventura. Para tanto, reitera-se a necessidade de mais
estudos, no sentido de ampliar as reflexões e práticas envolvendo as
atividades de aventura e o treinamento empresarial.
– 106 –
Referências
ABETA, Associação Brasileira de Ecoturismo e Turismo de
Aventura. Disponível em: <http://abeta.tur.br/pt-br/>. Acesso em:
11 jul. 2012.
ABROTUR, Associação das Empresas de Turismo de Brotas e
Região. Disponível em: <http://www.abrotur.com.br/>. Acesso em;
11 jul. 2012.
BRASIL, Ministério do Turismo. Turismo de aventura: orientações
básicas. 2008. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/export/
sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_
publicacoes/Livro_Aventura.pdf> Acesso em: 10 jul. 2012.
RINK, B. Treinando a razão e a emoção. In: DINSMORE, P. C.
(Org.). Treinamento experencial ao ar livre: uma revolução em
educação empresarial. Rio de Janeiro: Editora SENAC Rio, p.35-40,
2004.
TEODORO, A. P. E. G. As atividades de aventura no mercado
corporativo. In: MARINHO, A.; COSTA, E. T.; SCHWARTZ, G.
M. (Org.). Entre o urbano e a natureza: a inclusão na aventura.
São Paulo: Lexia, p.27-35, 2011.
– 107 –
TECNOLOGIAS, O IDOSO E A BUSCA
POR AVENTURA NOS VIDEOGAMES
Amanda Mayara do Nascimento
No mundo contemporâneo, as novas tecnologias se mostram
cada vez mais presentes no cotidiano da população. A crescente criação de ambientes altamente informatizados está gerando uma ampla
diversidade de atividades eletrônicas em muitas esferas da vida humana, onde, pode-se perceber o surgimento de uma nova dimensão da
nossa sociedade.
Uma dessas novas tecnologias que têm sido cada vez mais
utilizadas por pessoas de diferentes faixas etárias, são os videogames,
os quais, atualmente, representam uma parte significativa dos novos
aparatos tecnológicos domésticos, no que se refere ao contexto mundial: atraem o interesse, não apenas de crianças e adolescentes, mas de
adultos e idosos, que vêm utilizando cada vez mais os seus consoles,
jogos e outros acessórios. Esses novos videogames permitem novas formas de interação do corpo em movimento aos ambientes virtuais, que
são propostos em diferentes tipos de jogos.
Além disso, essas novas formas de práticas corporais associados às tecnologias virtuais têm modificado a maneira como os indivíduos realizam suas atividades físicas e adotam estilos de vida mais
saudáveis. Trabalhos nessa temática evidenciam que existem alguns
modelos de videogames ativos sendo mais utilizados, por propiciar ao
usuário a possibilidade de vivenciar algumas atividades do contexto
da vida real como, por exemplo, o Kinect XBox 360 e o console Wii
da Nintendo.
Em relação a estes videogames, o console Wii da Nintendo,
criado pela Microsoft em 2006, nos EUA e posteriormente no Japão
e Europa, representa o quinto console do videogame da Nintendo
(PERANI; BRESSAN, 2007). Caracteriza-se por ser um console de
– 108 –
videogame doméstico, em que a principal ação é a utilização de dispositivos sem fio para detectar os movimentos do usuário e, dessa forma,
obter o controle sobre o jogo.
Essas características específicas começaram a possibilitar que os
usuários não precisassem continuar restritos ao aperto de botões ou
joysticks para controlar os seus jogos. Com o console Wii, tornou-se
possível movimentar, apontar, inclinar e balançar o controlador, o que
abriu uma nova perspectiva de utilização do game para a prática de jogos baseados em esportes, como, por exemplo, o golfe, o tênis e o surf.
Entre os jogos existentes para a utilização no console Wii, existem alguns que simulam atividades de aventura na natureza, como
por exemplo:
• Mountain Sports: jogo de esportes na neve, com seis modalidades diferentes, esqui, snowboard, trenó, curling, biatlo
e tobogã.
• Shaun White Snowboarding: um simulador real do snowboarding, que apresenta pistas no Japão, Europa, Alaska e
Estados Unidos. O jogo apresenta uma abordagem realista,
com todas as dificuldades reais que um atleta enfrenta ao
descer uma montanha de gelo sobre uma prancha.
• We Ski e Snowboard: um jogo que tem como aparato o
suporte Balance Board (também chamada de balança de
equilíbrio – um suporte do jogo), onde, o jogador poderá
imitar os movimentos sobre uma prancha.
• Free Running: game baseado no esporte urbano Parkour
(corrida com obstáculos e acrobacias usando elementos da
cidade). O jogo permite uma adaptação aos controles interativos, para dar mais realismo aos movimentos do jogador
e criar novas formas de completar os percursos.
Outro videogame, o Kinect XBox 360, criado em 2012, tem
uma nova tecnologia, com a qual, os jogadores podem interagir com
os jogos eletrônicos sem a necessidade de ter nas mãos um controle.
– 109 –
Desse modo, o campo dos jogos se destacou ainda mais, devido a
essas grandes inovações, que foram iniciadas desde a criação do console Wii. Nos jogos do Kinect Xbox 360, a sensação de contato do
usuário com os esportes na natureza é ainda maior, uma vez que,
o mesmo tem a possibilidade de realizar os movimentos corporais
mais próximos daqueles exigidos na prática real. Além disso, a ausência do controle no jogo permite uma conexão participante/game
de modo mais intenso, onde, é possível a expressão dos movimentos
com maior liberdade.
No que se refere aos jogos do Kinect Xbox 360 pautados na
prática esportes na natureza tem-se:
• Adrenaline Motionsport: jogo com seis modalidades simuladas em ambientes naturais, com atividades como Wingsuit,
Mountan bike, Kayak, Esqui, Escalada, Kitesurf.
• MotionSport: possui simuladores de esportes como, asa delta, esqui na neve e outros esportes.
• Kinect adventure: jogo com simulador de bóia-cross e rafting
Os Idosos e as Atividades de Aventura Praticadas nos
Videogames
A informatização e a indústria tecnológica crescentes na sociedade contemporânea fazem com que uma grande parcela da
população se aproprie desses conhecimentos, inclusive os idosos.
Sendo assim, os mesmos estão se mostrando cada vez mais interessados na utilização dos aparatos tecnológicos como meio para
interagir na sociedade atual, visando obter maior bem-estar, saúde
e qualidade de vida.
De acordo com Dé Gaspari (2005), a respeito do maior
acesso do idoso à informação, bem como, da interação ativa em
diversos ambientes, os idosos estão tendo mais oportunidades,
em diversas esferas, principalmente no âmbito do lazer, de ressignificar sua existência, sua própria aprendizagem, sua condição
como cidadão e sua participação efetiva dentro dos segmentos
– 110 –
da sociedade nos quais estão inseridos. A população idosa, que
hoje começa a se interessar pelo uso de novas tecnologias, como
os jogos eletrônicos, conviveu, por muito tempo, com uma ideia
de que os videogames, eram exclusividade dos jovens. Também,
de que eram utilizados apenas por jovens que permaneciam, por
muito tempo, sentados, controlando os jogos com a utilização
das mãos.
Nesse sentido, como salienta Papastergiou (2009), o aspecto
negativo relacionado ao uso dos videogames para prática de atividade
física, frequentemente, esteve associado ao fato desses aparatos tecnológicos serem manuseados, na maioria das vezes, por controle manual. Além disso, a utilização de videogames por um grande período de
tempo foi visto como uma atividade que poderia ocasionar diversos
problemas para a saúde tais como, diversas lesões, comportamento
agressivo e pouco convívio em sociedade devido ao excessivo tempo
gasto para os jogos.
No entanto, essa ideia foi, no decorrer dos anos, se modificando, na medida em que novos consoles de videogames foram sendo
criados e/ou modificados, passando a possibilitar a interação corporal
dos usuários com o aparelho. Os novos consoles permitem que os
usuários possam praticar atividades físicas ou esportivas utilizando-se
dos movimentos do seu próprio corpo, reforçando, assim, essa concepção de interação corporal.
Além disso, nota-se que os jogos eletrônicos, têm apresentado para o idoso uma interessante alternativa para a prática de exercício de maneira lúdica e prazerosa. Pesquisas vêm dando atenção
às melhorias observadas nos idosos, decorrente da utilização dos
videogames como instrumento para a prática de exercício físico e,
também, do interesse desses praticantes por essa atividade. Dessa
forma, o idoso tem encontrado nesses videogames uma maneira de
potencializar o equilíbrio e o condicionamento físico (WILLIAMS et al., 2010), diminuindo os riscos de depressão (ROSENBERG et al., 2010) e ampliando os momentos de descontração e
entretenimento (TORRES; ZAGALO, 2007).
– 111 –
Além dos benefícios possibilitados por esses jogos, é possível
perceber que, com eles, os idosos têm maior possibilidade de vivenciar alguns tipos de atividades que, muitas vezes, não possuem a
oportunidade de experimentar em ambiente real, como por exemplo,
as atividades de aventura praticadas na natureza. As vivências nessas atividades de aventura se mostram de extrema relevância, uma
vez que, proporcionam o estabelecimento de novas conexões entre
os indivíduos envolvidos no lazer e em outras ações da vida humana,
contribuindo para o surgimento de novas relações de amizades, além
de novas sensações e emoções (MARINHO, 2008).
Entretanto, o que se pode perceber é que ainda existe uma
grande dificuldade dos idosos em vivenciar estas experiências, pois,
geralmente, são motivados a desenvolverem apenas atividades com
reduzido esforço, como caminhadas ecológicas, trilhas e passeios turísticos, o que torna perceptível a falta de preparo dos profissionais
em lidar com as exigências e peculiaridades dessa população (DIAS;
SCHWARTZ, 2005). Nessa perspectiva, a relação do idoso com a
prática de atividades de aventura na natureza é ainda percebida, na
maioria das vezes, com grande preconceito, devido a alguns mitos
vinculados a essas atividades. Pelo fato dessas atividades estarem intimamente associadas com elementos como a busca pelo prazer, a superação dos próprios limites e com sentimentos vertiginosos, o acesso
e a prática a elas está associado, na maioria das vezes, às pessoas mais
jovens (DIAS, 2006).
Diante dessa realidade, é possível perceber que os videogames
que simulam vivências em atividades de aventura na natureza, permitem que a população idosa tenha a oportunidade de aproximação
com esses tipos de ambientes com situações mais desafiadoras, como
a práticas de escala, bóia-cross, entre outras atividades, de modo simulado, o que pode auxiliar a quebrar alguns padrões e estigmas. Além
disso, essa maior aproximação do idoso com os jogos de videogames
que envolvem atividades de aventura, pode se tornar um fator de
incentivo para futuras aderências dos idosos a essas modalidades fora
do ambiente virtual.
– 112 –
Ainda, os elementos que envolvem as atividades de aventura na
natureza praticadas com o auxílio de videogames contribuem para que
indivíduos idosos se tornem fisicamente ativos, por meio de práticas
prazerosas e estimulantes, em que os mesmos possam tomar consciência de suas próprias potencialidades na tentativa de alcançar a
superação de seus limites. Portanto, percebe-se que esse assunto tem
instigado inúmeras reflexões, pois, a busca por alternativas que favoreçam a experimentação de emoções nas atividades de aventura atrelada às novas tecnologias não é mais exclusividade de uma faixa etária
específica, mas de todas as fases que englobam o desenvolvimento
humano. Contudo, ainda são necessários outros estudos, para que o
videogame ativo possa ser realmente afirmado como sendo um instrumento que atende às necessidades reais do idoso em relação à prática
de atividades de aventura na natureza.
Referências
DE GÁSPARI, J. C.; SCHWARTZ, G.M. O idoso e a
Ressignificação Emocional do Lazer. Revista Psicologia, Teoria e
Pesquisa, Brasília, v. 21, n. 1, p. 69-73, 2005.
DIAS, V. K. A participação de idosos em atividades de aventura
na natureza no âmbito do lazer: valores e significados. (Mestrado
em Ciências da Motricidade) Curso em Ciências da Motricidade,
Departamento de Educação Física, UNESP, Rio Claro, 2006.
DIAS, V. K.; SCHWARTZ, G. M. Conduta ética e atividades de
aventura: o (des) preparo do mercado para o atendimento ao idoso.
In: ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER,
XVII, 2005, Campo Grande. Anais..., Campo Grande, 2005.
MARINHO, A. Lazer, Aventura e Risco: reflexões sobre atividades
realizadas na natureza, Movimento, Porto Alegre, v. 14, n. 02, p.
181-206, maio/agosto de 2008.
– 113 –
PAPASTERGIOU, M. Exploring the potential of computer and
videogames for health and physical education: A literature review.
Computers e Education, Oxford, v. 53, n.3, p.603-622, 2009.
PERANI, L.; BRESSAN, R. T. Wii will rock you: Nintendo Wii
e as relações entre interatividade e corpo nos videogames. IN: VI
Simpósio Brasileiro de Jogos para Computador e Entretenimento
Digital - SBGames. Anais... São Leopoldo: Unisinos, 2007.
ROSEMBERG, D.; DEPP, C. A.; VAHIA, I. V.; REICHSTADT,
J.; PALMER, B. W.; KERR, J. et al. Exergames for Subsyndromal
Depression in Older Adults: A Pilot Study of a Novel Intervention
.The American Journal of Geriatric Psychiatry, Philadelphia, v.18,
p.221-226, 2010.
TORRES, A.; ZAGALO, N.; Videojogos: um novo meio de
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PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 5.,
2007, Braga. Anais... Braga, 2007. p. 2167-2175.
WILLIAMS, M. A.; SOIZA. R. L; JENKINSON, A. M.;
STEWART, A. Exercising with Computers in Later Life (EXCELL)
- pilot and feasibility study of the acceptability of the Nintendo
WiiFit in community-dwelling fallers. BioMed Central, London, v.
3, p. 2- 8, 2010.
– 114 –
TECNOLOGIAS, DIFERENÇAS
DE GÊNERO E ESPORTE DE AVENTURA
Giselle Helena Tavares
Há muito tempo, as mulheres vêm lutando por igualdade
e melhores oportunidades sociais de diferentes maneiras e em diferentes contextos. Mas, apesar de muitas lutas e revoluções, esta
realidade ainda está longe de ser totalmente alterada, haja vista o
desrespeito e a falta de credibilidade com que ainda são tratadas.
Quando o enfoque recai diretamente no âmbito do lazer, este panorama é ainda mais ampliado, tendo em vista receber os resquícios desses estigmas sociais.
Segundo Messner (1992), em todos os segmentos sociais, a
mulher sempre teve que lutar por seus direitos e para ser inserida nos
diversos setores. No âmbito do esporte em geral, e particularmente
nos esportes de aventura, parece que esta saga ainda perdura até os
dias atuais, já que o esporte representa um meio bastante profícuo
para a construção de simbologias de gênero.
Ao se focalizar o âmbito esportivo, não raro, podem ser percebidos entraves ainda indissolúveis, referentes à inserção da mulher
em determinadas modalidades esportivas. No esporte de aventura,
ainda que algumas pioneiras tenham se envolvido espontaneamente
em algumas práticas, muitas modalidades negligenciaram a presença
feminina ao longo da história, sendo que apenas atualmente, foram
adaptadas regras capazes de aceitar a mulher em equipes esportivas no
contexto do esporte de aventura.
Pode-se citar como exemplo, a corrida de orientação, em
que a mulher, por sua persistência e insistência, conseguiu apoio
para sua inserção, com a implementação de novas regras, agregando
um componente do sexo feminino nas equipes, em algumas modalidades. Outros esportes adotam regras diferenciadas, para adequar
– 115 –
os níveis de exigência motora às condições femininas, com modalidades específicas.
Ao se analisar o ciclismo como exemplo, apenas nas Olimpíadas de Barcelona é que a mulher brasileira se inseriu nas provas,
sendo que Claudia Carceroni, inclusive, foi a única mulher brasileira
a integrar a prova Tour de France, nos idos de 1989. Isto demonstra
a dificuldade enfrentada por representantes do sexo feminino para
avançar no âmbito esportivo. Porém, ainda que alguns aspectos já tenham sido alterados, no caso do mountain bike, a diferenciação entre
as provas masculinas e femininas, em que nestas últimas não existe
divisão por categorias, acarreta um descontentamento e desmotivação
das atletas envolvidas.
Nas reflexões feitas por Gill e Kamphoff (2010), foi possível
evidenciar que estas discussões são imprescindíveis, no sentido de favorecer a desconstrução da idealizada supremacia masculina associada
ao mundo do esporte, em busca da justiça de gênero e de superar as
lacunas impregnadas na realidade social. Só assim é que se pode reconhecer a importância do papel feminino nessa nova construção do
esporte contemporâneo.
Ainda neste sentido, Goellner (2003), pesquisadora nos campos de estudos do gênero e educação física, destaca que os atributos
sociais que são vinculados à imagem feminina, são de bela, feminina
e maternal, perdendo todo o foco nos outros papéis já assumidos pela
mulher na sociedade, seja no contexto do esporte, ou no mundo do
trabalho. Entretanto, mesmo que ainda incipientes, as mulheres parecem iniciar tentativas no sentido de buscar mudanças que possam
alterar, de alguma forma, os valores pré-estabelecidos pela sociedade.
Neste sentido, foi necessário desenvolver novas estratégias, que possibilitem esta mudança de paradigmas e promover reflexões importantes sobre as questões de diferenças de gênero, utilizando como aliada,
a revolução tecnológica pela qual perpassa os tempos atuais.
Algumas mulheres já começaram a tentar vencer essas barreiras, e tornaram-se aliadas em uma luta pela igualdade de direitos nos
esportes de aventura, utilizando estratégias ligadas ao uso de tecnolo– 116 –
gias da informação. Uma dessas investidas se refere a dar maior visibilidade a suas próprias figuras e às modalidades às quais pertencem,
criando canais de rápida comunicação, especialmente utilizando o
ambiente virtual. Já estão sendo vistos diversos blogs, sites, chats e o
uso da internet, para a disseminação de dados e informações sobre
essas atividades.
Além disso, por meio das redes sociais, é possível que sejam
formados grupos com necessidades comuns, que vivenciam uma
mesma modalidade ou atividade, para que sejam realizadas discussões
e práticas conjuntas. Já se pode notar, ao se fazer buscas informais
pela internet, a disseminação de informações sobre as ações que já
vêm sendo realizadas por mulheres esportivas de aventura, como, por
exemplo, resultados de competições, participações em campeonatos,
tanto em nível nacional como internacional, práticas coletivas, locais
apropriados para a vivência, entre outros temas relacionados.
No que se refere ao contexto científico, as tecnologias da informação também vêm auxiliando no sentido de disseminar os estudos e pesquisas que são realizados neste tema associando a mulher às
atividades de aventura. Apesar de ainda bastante restritos, Schwatz
et al. (2010) puderam identificar alguns avanços que demonstram
o interesse de pesquisadores em explorar este campo de pesquisa, favorecendo reflexões que auxiliem no entendimento do real papel da
mulher no contexto das atividades de aventura.
A pesquisa desenvolvida por estas autoras evidencia que os estudos realizados no campo científico demonstram que alguns tabus
já vêm sendo automaticamente derrubados, especialmente aqueles
referentes à masculinização da mulher praticante de esportes, ou da
inferioridade feminina, ou ainda, de baixa condição psicológica para
aguentar pressões. Além disso, com base nesta pesquisa, é possível
evidenciar que estes aspectos estão totalmente arraigados muito mais
a estigmas psicossociais, do que propriamente à condição biológica,
sendo que a ciência vem gradativamente provando isto como fato.
Mesmo que estas iniciativas já estejam sendo realizadas, muito ainda se deve percorrer para que o caminho da igualdade de gêne– 117 –
ros efetivamente aconteça no ambiente esportivo, especialmente no
contexto das atividades de aventura. Para isto, torna-se necessário
utilizar todo o potencial disseminador das tecnologias da informação, para que estas sejam ferramentas importantes, na tentativa de
mudança de paradigma social, no que se refere à atuação de mulheres no contexto esportivo.
Referências
GILL, D. L.; KAMPHOFF , C. S. Gender in Sport and Exercise
Psychology. In J.C. CHRISLER; D.R. MCREARY (Org.)
Handbook of Gender Research in Psychology. Springer Science:
Business Media, 2010. p. 563-585.
GOELLNER, S. Bela, Maternal e Feminina: imagens da mulher
na Revista Educação Physica. Ijuí: Unijuí, 2003.
MESSNER, M. Boyhood, organized sports, and the construction of
masculinities. In: KIMEL, M.; MESSNER, M. Men´s lives. New
York: Macmillan Publishing, 1992. p. 131-161.
SCHWARTZ, G. M. ; KAWAGUTI, C. N. ; TAVARES, G. H.
; TEODORO, A. P. E. G.; TREVISAN, P. R. T. C. Gênero e
atividades de aventura em periódicos internacionais de ciências
humanas. Impulso, Piracicaba, v. 20, n.50, p. 63-72, 2010.
– 118 –
RECURSOS TECNOLÓGICOS NAS
ATIVIDADES DE AVENTURA COMO
APELO PRÓ-AMBIENTAL
Juliana de Paula Figueiredo
Os recursos tecnológicos voltados à captação de imagens e de
disseminação de informações, não raro, provocam sensivelmente o imaginário humano de diferentes formas (SALVATORI, 2007). Por este
motivo, quando são utilizados para a divulgação de informações sobre
os diversos tipos de atividades de aventura, podem representar fatores
motivadores de novas atitudes e condutas em relação ao ambiente.
Isto é decorrente do apelo emocional envolvido, já que o ser
humano, ao se deparar com a beleza estética de algum lugar, ou mesmo com a fauna exótica, é tocado de diferentes maneiras. Entre os
inúmeros recursos tecnológicos de divulgação de imagens sobre atividades de aventura utilizados atualmente, a fotografia, tanto de forma
impressa, como aquela dos sites do ambiente virtual, representa um
elemento bastante importante, haja vista que compõe as inúmeras estratégias de persuasão das empresas envolvidas, para comercializarem
seus produtos.
No que concerne à fotografia, esta representa um suporte imagético que se configura como representação de um momento, lugar
ou pessoa, pelo olhar de alguém (APOLINÁRIO, 2011). Esse recurso tecnológico instiga interpretações carregadas de emoções, tendo
em vista que o momento capturado é o que fez a diferença na visão
de quem capta a fotografia.
Ainda que uma tomada fotográfica possa representar o momento-chave para quem a capturou, também aquele que aprecia determinada foto pode imprimir a ela legendas subliminares atreladas
à consciência, ao pensamento e ao imaginário. Esta perspectiva demonstra, assim, o fascínio deste recurso tecnológico, o qual vem sen– 119 –
do amplamente utilizado como estratégia de marketing das empresas
de ecoturismo e turismo de aventura.
Uma foto pode representar a história de uma localidade, a
realidade cultural, a pluralidade artística, mas também, a sensibilidade de determinada pessoa, capaz, muitas vezes, de fabricar
o belo, o inusitado ou o extravagante, para além da realidade em
si, apenas com seu olhar incisivo, persuadido por algum apelo
momentâneo. Além disto, uma fotografia pode estimular novas emoções, conforme o significado pessoal a ela impresso por
quem a vê, o que tem estreita relação com o enredo psicológico
de cada observador.
A fotografia, muitas vezes, deixa de ser simples objeto ou produto da tecnologia, para representar formas de pensar, de olhar, compreender o mundo e expressá-lo. Ver, o que outros não vêem, ou não
valorizam como foco, é uma das potencialidades desse recurso.
Ao se analisar de modo assistemático as informações contidas em prospectos e outros materiais impressos, ou mesmo, em
sites especializados em serviços sobre atividades de aventura, podese perceber os apelos que são escolhidos. Entre eles, encontram-se
fotos de lugares paradisíacos, de animais exóticos, de possibilidades de vivências emocionais de alegria e de união familiar, entre
tantos outros aspectos.
Em todas estas fotos veiculadas de modo impresso ou no ambiente virtual nos sites, pode-se notar a limpeza dos locais em evidência, a harmonia das estruturas hoteleira e de prática de aventura
com o ambiente natural. Também, são notadas as emoções de alegria
e prazer que perpassam as expressões corporais dos envolvidos com
estas atividades.
Todos esses apelos podem efetivamente ser tomados como estratégias coadjuvantes para favorecer nova consciência ambiental, já
que provocam o lado estético e ético envolvidos com a beleza dos
locais de práticas e com experiências de sucesso e prazer. Conforme
a antropologia visual (SAMAIN, 1998), a perspectiva da fotografia é
imprimir na pele do que o autor chamou de corpo visível do ser hu– 120 –
mano, seus signos e marcas sociais, por intermédio de outra pele, que
seria a película dos filmes fotográficos.
Para Barthes (1990), a fotografia permite reconhecer as singularidades e riquezas presentes no olhar de quem capta a imagem
(fotógrafo) e de quem a visualiza (observador), ambos imprimindo
à foto uma visão particular de mundo. De todo modo, esta visão de
mundo é pertinente ao sujeito e está sob a égide dos apelos emocionais vinculados à experiência vivida.
Assim, ao se deparar com as fotografias utilizadas pelas
agências de atividades de aventura, as pessoas podem usar os
recursos do imaginário e adquirirem as atividades para que as
emoções imaginadas possam efetivamente acontecer, dentro das
premissas de segurança e ética exigidas, o que parece envolver o
construto ambiental. Os elementos mais atraentes de uma fotografia, conforme Salvatori (2007) são aqueles que provocam o
despertar da imaginação e da memória. Estes elementos recriam
emoções e sensações peculiares, advindas da busca as projeções
do imaginário.
Entretanto, ainda que a fotografia impressa e divulgada nos
sites das agências já sejam consideradas estratégias essenciais atrativas
na comercialização dessas atividades de aventura, muito ainda se tem
que debruçar o olhar para se compreender melhor esse fenômeno.
Em âmbito dos estudos acadêmicos, diversas inquietações são geradas, passíveis de novos estudos, entre elas:
• Quais seriam as outras potencialidades da fotografia para
as pesquisas com as atividades de aventura?
• De que modo pode ser apropriado esse recurso tecnológico
referente à fotografia, para estimular novas condutas próambientais?
• Como a singularidade desta linguagem pode acessar o
emocional humano a ponto de catalisar novas atitudes e
valores em relação ao ambiente?
– 121 –
Tendo em vista estes desafios, torna-se relevante que sejam estimulados outros estudos, capazes de ampliar a compreensão do uso
destes recursos tecnológicos relacionados às atividades de aventura e à
perspectiva de adoção de comportamento pró-ambiental.
Referências
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contínuo. Revista Letras & Letras, Uberlândia, v. 27, n. 2, p. 399410, jul./dez. 2011. Disponível em: <http://www.letraseletras.ileel.
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Acesso em: 11 jul. 2012.
BARTHES, R. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Tradução
Lea Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
SALVATORI, M. Imaginário e representação: alguns apontamentos
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5, n. 1, p. 136-145, 2007. Disponível em: <http://www.revistas.
ufg.br/index.php/lucianahidemi/article/view/18041>. Acesso em:
11 jul. 2012.
SAMAIN, E. Um retorno à Câmara Clara: Roland Barthes e a
Antropologia Visual. In: SAMAIN, E. (Org.). O fotográfico. São
Paulo: Hucitec/CNPQ, 1998, p. 115-128.
– 122 –
ATIVIDADE DE AVENTURA E
VIOLÊNCIA: POSSÍVEIS RELAÇÕES?
Marcelo Fadori Soares Palhares
O objetivo deste capítulo é trazer reflexões acerca das atividades de aventura e uma possível relação destas com a violência. Inicialmente, tais temas não possuem relação, porém um olhar mais atento
poderia revelar alguns elementos dessa relação. Provavelmente, a aparente desconexão de atividades de aventura e violência fundamente-se
na concepção acerca da violência, que no senso comum, fica restrita a
embates ou confrontos físicos. No entanto, o conceito de violência é
muito mais abrangente e complexo.
Atualmente, a violência é um tema que aflige o ser humano. Ao sair de casa, muitas pessoas adquiriram o hábito de fechar
janelas e portas, trancar portões e esconder as chaves. As crianças
não podem mais brincar nas ruas e mitos evitam sair à noite.
Seria este um mal da modernidade? Marcondes Filho (1986) coloca que a globalização gerou o seu reverso, a fragmentação, na
qual os indivíduos possuem sociabilidades limitadas, em decorrência de inúmeros fatores, sendo um deles o crescimento da
violência. Vive-se uma época de conflito entre seres humanos, o
outro deixa de ser um possível aliado e se torna o desconhecido,
um possível ameaçador.
Dentro deste cenário, brigas, crime, morte, roubo, estupro, são palavras que, em alguns cenários urbanos, chegam a ser
comuns, todavia, indubitavelmente, elas remetem à violência,
que ainda choca e deprime Somente estas palavras não contemplam a complexidade de tal fenômeno. Essa complexidade pode
ser evidenciada na constante preocupação humana em torno
dessa questão, da dificuldade na realização de ações concretas e
eficazes em relação a esta, bem como, na série de estudos, acadê– 123 –
micos ou não, de diferentes áreas do conhecimento, envolvendo
e focalizando a violência.
Para melhor compreensão deste amplo fenômeno, é prudente
fazer uma busca pela etimologia da palavra. Do latim violentia, e com
raiz semântica ‘vis’, violência significa força (ABBAGNANO, 2000).
A análise etimológica traz esse elemento força para a definição da
violência, porém somente este elemento não é suficiente para tal definição. Existe um elemento primordial na conceituação da violência
referente à intencionalidade, que a torna esse fenômeno plural a ser
elucidado. Na violência há intenção deliberada em causar lesão ou
dano a outrem (MACHADO, 1997) e, exatamente este julgamento é
que fica, muitas vezes, obscuro.
Pode-se analisar as guerras, os crimes, o terrorismo, os assaltos e as torturas, além de diversas outras práticas humanas, que
são intencionais e objetivam causar lesão ou dano a alguém, entretanto, uma guerra pode ser deflagrada apenas pela justificativa
de defesa de território ou de um bem patrimonial, o que pode
gerar dúvidas quanto à intencionalidade. Geralmente, os danos da
violência são físicos, porém a violência também causa graves repercussões psicológicas, como nos regressos de guerras e mulheres
violentadas sexualmente, por exemplo. Além de ser complexa, a
violência é multifatorial e heterogênea, polimorfa, ou seja, possui
diversas manifestações e causas (MURAD, 2007).
Atualmente, conforme salienta Wieviorka (1997), seria necessário reconsiderar o conceito de violência, pois elementos como:
a crise internacional, narcotráfico, subdesenvolvimento e o terrorismo seriam elementos atuais e que se constituem como capazes de
estabelecer um novo paradigma de violência. Murad (2007) corrobora Wieviorka (1997) e aponta que o século XX foi o século no
qual o ser humano mais trabalhou para a resolução de problemas
envolvendo a violência.
A partir desta conceituação de violência e elucidação de sua
complexidade, foca-se a atenção para as possíveis relações com as
atividades de aventura. Estas atividades de aventura são caracte– 124 –
rizadas como práticas corporais, vivenciadas em um ambiente geralmente natural, no tempo destinado a atividades do âmbito do
lazer, que fogem à rotina e podem proporcionar diversas vivências
significativas (MARINHO; SCHWARTZ, 2005). São também
caracterizadas pelo risco calculado e pela presença de elementos
tecnológicos que procuram garantir a segurança almejada (MARINHO; BRUHNS, 2003).
A busca pelo novo, o desconhecido, aquilo que é fora dos padrões é muito presente para os praticantes de atividades de aventura.
Tal iniciativa representa um paradoxo e a necessidade de quebra de
padrões, pois, na vida cotidiana, se vive uma rotina, o previsto, o
conhecido e, nestas atividades, o desconhecido, o risco e a imprevisibilidade, que são os elementos predominantes. Tal procura deve-se
ao fato de o ser humano buscar atividades prazerosas, sensibilizadoras
e que proporcionem a superação de limites, sejam eles internos e/ou
externos (TAHARA; SCHWARTZ, 2002).
A busca pelo ambiente natural pode ser também justificada
pela ausência ou escassez deste dentro do cenário urbano. Baudrillard
(1995) aponta o quadro atual das cidades mundiais, nas quais a natureza se constitui como um signo, devido ao tamanho estado de
devastação da mesma na realidade concreta.
Este afastamento da natureza teria trazido consequências ao
ser humano? Schwartz (2006) aponta fatores socioeconômicos, bem
como, a discrepância nas oportunidades de formação cultural e na
participação em atividades na natureza, como elementos que poderiam causar mudanças importantes em relação às concepções e valores
humanos frente à natureza.
Neste contexto globalizado, porém, ainda ditado pelas regras do capital, existem oportunidades e condições que diversas
pessoas não possuem, sendo que a participação em atividades de
aventura poderia ser um exemplo disto. Tal limitação na participação interfere negativamente no possível desenvolvimento, em
diversos âmbitos, que estas vivências junto à natureza poderiam
trazer ao indivíduo.
– 125 –
Após esta breve explanação sobre cada um dos temas,
como pensar na violência no âmbito das atividades de aventura?
Como poderiam, estas atividades, alocar a violência? Marinho
e Schwartz (2005) sinalizam que a violência pode se fazer presente nas atividades de aventura, pois estas poderiam desencadear ações negativas, destrutivas em relação ao meio ambiente,
sendo assim, destoantes da intenção primária, de interação com
a natureza.
Desta forma, destaca-se a necessidade de considerar as atividades de aventura dentro de um contexto social mais amplo
e em estreita interrelação com este contexto. Dentro dessa lógica capitalista e consumista privilegiada nas sociedades atuais,
conforme lembra Marinho (2001), a natureza se torna mais um
produto e uma forma de consumo, sendo, somente, um local
para a realização das atividades de aventura, que passam a ser
descontextualizadas de um objetivo maior, podendo proporcionar experiências significativas.
Um exemplo disto, apontado por Marinho (2001) é a expedição mata atlântica (EMA), na qual há grande quantidade de patrocinadores envolvidos nesta corrida de aventura. Esta quantidade elevada de patrocinadores reflete o interesse comercial sobre a atividade e
sobre a apropriação da natureza como cenário de prática apenas.
A partir deste exemplo, pode-se indagar: será que estas atividades atendem apenas aos interesses mercadológicos, somente
consumindo a natureza? Ou realmente visam oferecer um contato
mais próximo e o subsequente desenvolvimento pessoal na prática
destas atividades?
Tal reflexão também auxilia a compreender o atual objetivo da maioria dos envolvidos com a aventura e uma possível aparição da violência, com a exacerbação da exclusão, visto que este
mercado das atividades de aventura, ainda é inacessível à grande
parte da população brasileira. Algumas iniciativas já se fazem
presentes para contrapor a esta situação, podendo-se observar o
aumento da inclusão a algumas atividades de aventura, por meio
– 126 –
de adaptações feitas, por exemplo, para receber deficientes ou
grupos especiais, como idosos e crianças, mas, estas iniciativas
são particularizadas. Porém, muitas ainda se configuram como
atividades que exigem equipamentos com alto custo e praticados
por poucas pessoas com melhor nível econômico.
Outro fator que pode ser considerado uma violência é a relação de poder estabelecida na interação ser humano-natureza. Segundo Elias e Dunning (1992) nas relações interdependentes, o menos
dependente estabelece poder sobre o mais depende. Na relação ser
humano-natureza, o homem, geralmente, quer dominar a natureza,
ou seja, estabelecer poder sobre esta. Ao tentar dominar a natureza, talvez, o ser humano cometa uma das maiores violência, por não
gerenciá-la de maneira adequada.
A partir deste pensamento de poder, seriam totalmente
justificáveis as ações de turismo insustentável que se observa na
atualidade. Dentre estas ações pode-se citar a prática de atividades de aventura sem preocupações ambientais, causando diversos
impactos e danos ambientais, gerando poluição, desmatamento
e destruição de trilhas naturais, por exemplo. A violência também poderia ser manifesta na inequidade de participação dos
portadores de necessidades especiais e mulheres no campo das
atividades de aventura.
Estes são alguns exemplos nos quais é possível se estabelecer relação das atividades de aventura com violência. Tais reflexões podem auxiliar a repensar sobre a atual configuração das
atividades de aventura e possíveis estratégias para torná-las mais
acessíveis e inclusivas, minimizando alguns aspectos relativos à
violência. Esta temática da violência representa um desafio para
novos estudos, que possam investigar as percepções dos principais atores das atividades de aventura sobre a violência, bem
como, suas possíveis manifestações nas atividades de aventura e
modos de prevenção.
– 127 –
Referências
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Fontes, 2000.
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2005.
MURAD, M. A violência e o futebol: dos estudos clássicos aos dias
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SCHWARTZ, G. M. (Org.). Aventuras na natureza: consolidando
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– 128 –
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Horizonte, v.5, n.1, p. 50-58, 2002.
WIEVIORKA, M. O novo paradigma da violência. Revista de
Sociologia, São Paulo, v. 9, n.1, pp. 5-41, 1997.
– 129 –
ATIVIDADES DE AVENTURA,
TECNOLOGIAS E USO DA
CRIATIVIDADE
Priscila Raquel Tedesco da Costa Trevisan
A realidade tecnológica que se instalou no cotidiano do trabalho, da educação e do lazer, cada vez mais, apresenta propósitos
significativos ao ser humano, acarretando, inclusive, mudanças nas
formas de apreciação e nas suas relações interpessoais. Entre as diferentes formas de apropriação da tecnologia, encontra-se a crescente
demanda por atividades vivenciadas em ambiente natural, como os
esportes e atividades de aventura, mercados bastante importantes na
sociedade atual.
A associação entre atividades de aventura e tecnologias
permitiu maior envolvimento de estímulos em diferentes âmbitos. Isto favoreceu maior percepção de aspectos capazes de retratar e aflorar a sensibilidade, diferentes estados emocionais,
o imaginário humano, a conscientização sobre potencialidades
que estavam ainda embotadas e a criatividade na resolução de
problemas e tomadas de decisões.
Cada vez mais, programas e equipamentos sofisticados que
enriquecem as diversas formas para se experimentar tais atividades,
estendem oportunidades para além das vivências práticas. No ambiente virtual, os simuladores têm sido altamente desenvolvidos,
tornando-se um aliado no aprimoramento de diversas capacidades.
Além disso, a criatividade e a imaginação envolvidas nessas atividades
comprovam a originalidade e o pensamento divergente daqueles que
criam estes recursos.
Esta apropriação dos recursos tecnológicos se torna um campo
capaz de instigar inquietações para novas pesquisas no âmbito acadêmico e tem se tornado um alvo interessante dos mais distintos setores
– 130 –
da sociedade. Estas possibilidades são vislumbradas como espaços recorrentes para a vivência do lazer (MARINHO, 2009), para a educação (FRANCO, 2011; FERREIRA et al., 2011)), para as perspectivas
terapêuticas (SCHWONKE et al, 2011; FERREIRA et al., 2011),
artísticas (SPANGHERO, BULHÕES-CARVALHO, VELLOSO,
2011), expressivas e criativas (BRASILEIRO, MARCASSA, 2008;
SÖDERBERG, 2011), entre outras.
Com base nas vivências de aventura, aliadas ao uso de
aparatos tecnológicos, o potencial criativo pode ser expandido,
especialmente com o estímulo e uso do imaginário, oportunidade em que se torna possível alterar as percepções. Isto pode
repercutir, inclusive, nas relações interpessoais, na apreciação ou
não de determinadas atividades, na percepção de riscos e da qualidade dos desafios, entre outras implicações que podem assumir
uma esfera subjetiva.
Para Teodoro (2010) as atividades de aventura vêm se tornando uma tendência inclusive no meio corporativo e traz como
consequência a ampliação do mercado de trabalho do Profissional
de Educação Física. Quanto aos fatores motivacionais para a busca
por aventura, a autora destaca aspectos relacionados a testar limites, autossuperação, como alternativas para se alterar rotinas, aliviar
tensões, favorecer relações de trabalho, aumentar a produtividade,
capacitar visando prevenção de acidentes de trabalho, entre outros.
Diversos estudos, como os de Gregersen (2011), Schwartz
et al. (2010) e Marinho (2009) já se fazem presentes, procurando
investigar as relações entre os diferentes ambientes, as tecnologias
e as atividades de aventura. Esta associação das vivências nos ambientes naturais e o desenvolvimento tecnológico vem tendo seu
valor reconhecido de forma promissora, inclusive, no contexto da
educação formal.
Para Franco et al. (2011) as atividades de aventura são conteúdos
capazes de proporcionar sensações e experiências que atingem aspectos
formativos importantes. Esse autor destaca a possibilidade de se explorar
um universo de conhecimentos que envolve a interdisciplinaridade, o
– 131 –
meio ambiente, as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável,
ampliação da cultura corporal do movimento, entre outras tantas ações.
Especialmente em se tratando dos esportes e atividades
de aventura, pode-se salientar a necessidade do uso de aparatos e
acessórios que viabilizem e oportunizem práticas significativas e
a aproximação com outros ambientes, realidades e sensações. A
utilização de recursos materiais como cordas, cabos, assim como,
a possibilidade de se escalar paredes, explorar capacidades físicas
em diferentes posições e alturas no próprio espaço escolar, ou em
ambientes alternativos podem se tornar estratégias pedagógicas
especialmente atrativas para novas elaborações criativas.
Entretanto, para que este universo ainda pouco explorado no âmbito da educação formal possa ser devidamente estimulado, torna-se necessário observar as condições de segurança.
Ainda, o profissional deve se mostrar consciente e preparado
para associar os diversos ambientes para a oferta destas práticas,
entre os quais o virtual, com base nos jogos interativos e simuladores; o natural, com explorações e viagens diretamente à natureza, bem como, o artificial, com atividades adaptadas dentro de
espaços especialmente criados e preparados para esta finalidade,
despertando o uso do imaginário e da criatividade.
Schwartz et al. (2011) destacam a necessidade de estudos que
focalizem o entendimento das dinâmicas dos relacionamentos humanos no processo de interação com as tecnologias envolvendo o ambiente virtual. O uso de computadores, internet, chips, programas de
televisão, jogos entre outros que compõem a era digital, viabilizam a
criação de novas tendências, capazes de extrapolar o uso destes recursos como simples ferramentas. Estas estratégias tecnológicas aliadas
ao contexto da aventura representam uma proposta promissora, no
sentido de incentivar a superação de desafios no uso das capacidades
e habilidades humanas, inclusive por formas mais criativas.
Para Lubart (2007), a criatividade é um dos motores mais
importantes para o conhecimento, para o desenvolvimento econômico e cultural e representa uma combinação interativa de fa– 132 –
tores cognitivos, emocionais, ambientais, entre outros. Também
para Sternberg e Lubart (1999) e Villalba (2008), criatividade é um
tópico que, além de muito abrangente, é extremamente relevante,
tanto para os níveis individuais, como para os sociais, dentro de
uma grande variedade de domínios.
Devido à abrangência e relevância desta temática, os trabalhos que envolvem a criatividade e apropriação das tecnologias deixam lacunas, especialmente ao se analisar as atividades de aventura.
Torna-se premente, até mesmo pela crescente adesão e busca por tais
experiências, um olhar apurado para aspectos qualitativos referentes
ao impacto e às percepções despertadas por este envolvimento.
Os recursos tecnológicos aliados às atividades de aventura podem favorecer práticas qualitativas ao desenvolvimento humano, trazendo para tais vivências, perspectivas mais inclusivas. Neste âmbito,
pode-se salientar questões relacionadas a gênero, limitações, deficiências e idades, demonstrando um rico potencial no sentido de enriquecer práticas educativas, redimensionar valores acerca de cooperação,
concentração, respeito ao ambiente e ao outro.
Entre outros aspectos de igual modo importantes, tem-se
o estímulo à criatividade por meio de adaptações feitas para se
diversificar os desafios, para se apropriar da incerteza do ambiente
natural ou mesmo, para se buscar novas possibilidades no universo
virtual. Esta interação entre atividades de aventura, tecnologias e
uso da criatividade, além de ampliar as possibilidades de adesão e
participação, permite ao indivíduo, inclusive, simular e se aproximar das sensações de risco controlado, superação de limites entre
outros, o que, a maioria dos que se envolvem com estas atividades,
está em busca.
Referências
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dimensões expressivas e possibilidades educativas da ginástica e da
dança. Pro-Posições, Campinas, v. 19, n. 3, set./dez., 2008.
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– 135 –
O (RE) CONHECIMENTO DE PRÁTICAS
CORPORAIS NA NATUREZA NO
ESTADO DO PARÁ NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Raquel de Magalhães Borges
Na área da Educação Física, o início deste século tem sido marcado por um interesse crescente em pesquisas e intervenções pedagógicas que discutam as vivências de lazer e esportivas associadas à
natureza. Portanto, algumas propostas curriculares para a formação
de professores em Educação Física no Brasil buscam, por intermédio
do ensino, contemplar tal temática.
No caso do currículo do curso de Licenciatura em Educação
Física da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Campus de Castanhal, a disciplina Teorias do Desenvolvimento e Meio Ambiente
compõe a relação de disciplinas optativas a serem cursadas no sétimo
período. O plano de curso tem sido organizado de forma que os discentes relacionem os termos desenvolvimento e meio ambiente, direcionando seu olhar para a realidade vivida em sua região, o nordeste
paraense, que compõe a Amazônia Legal. Assim, há uma preocupação em explicitar a diversidade cultural e socioambiental do território
brasileiro, ressaltando a natureza como invenção humana expressa em
sua paisagem, que deixa de ter um conceito singular, para ser reconhecido em sua pluralidade (MARINHO, 1999).
Além disto, a disciplina utiliza estratégias de ensino que
possibilitam aos discentes o (re) conhecimento de práticas corporais na natureza típicas daquela região. Cabe informar alguns
detalhes sobre a região onde se localiza o município de Castanhal,
pois, tem-se que,
– 136 –
Enquanto em algumas regiões do país a predominância
da paisagem é constituída por montanhas, vales, planaltos, florestas, a região nordeste paraense constituise num espaço de planície, permeado pela presença
abundante da água que brota em nascentes e conforma
igarapés que deságuam em efluentes de rios. A água
fria dos igarapés contrasta com o calor intenso, típico
do clima equatorial (BORGES et al., 2011, s/p)
Neste texto são relatados a seguir os procedimentos utilizados no ano de 2011, nas atividades de ensino da referida
disciplina e as práticas corporais na natureza encontradas e relatadas pelos discentes, analisando-as como atividades de aventura
na natureza.
Desenvolvimento, meio ambiente, e o reconhecimento das
práticas corporais na natureza na região nordeste do Pará
Para introduzir os conceitos propostos pela disciplina, houve debates a partir da leitura de textos que tratam do desenvolvimento, sustentabilidade e meio ambiente. Com estes debates
em aula, a turma elegeu um conceito que melhor explicitasse as
necessidades do homem contemporâneo para a organização da sociedade e uso racional dos recursos naturais. Assim, o conceito de
envolvimento sustentável desenvolvido por Viana (2004, p.25),
passou a expressar também a preocupação dos alunos da disciplina, pois é compreendido como:
[...] conjunto de políticas e ações direcionadas para fortalecer o envolvimento das sociedades com os ecossistemas locais, fortalecendo e expandindo os seus laços
sociais, econômicos, culturais, espirituais e ecológicos,
com o objetivo de buscar a sustentabilidade em todas
essas dimensões.
Uma das atividades realizadas, de caráter avaliativo, consistiu de uma pesquisa exploratória de campo, desenvolvida por grupos de discentes da disciplina. Os grupos identificaram elementos
– 137 –
presentes na relação de comunidades locais com um determinado
espaço natural que compõe seu entorno e as práticas corporais
na natureza frequentes naquele local. Os resultados da pesquisa
foram apresentados em sala de aula, seguidos de debates. Foram
desenvolvidos trabalhos que envolviam as seguintes localidades e
suas comunidades:
1) Agrovila do Itaqui: situada na zona rural do município
de Castanhal, próxima ao centro urbano, concentra
muitos igarapés frequentados nos fins de semana pela
comunidade e visitantes. Alguns igarapés em área privada foram adaptados como balneários e outros são de
livre acesso;
2) Bairro do Jaderlândia: o bairro mais populoso do município de Castanhal, situado no entorno do Campus Universitário da UFPA, possui um igarapé numa área privada,
conhecida como Parque das Águas, que foi constituída
como um clube de lazer. O grupo buscou identificar como
a comunidade percebe o espaço após ter sido transformado
em clube. Apesar de ser área privada, o espaço é conhecido por grande parte da comunidade, pois algumas escolas
públicas costumam promover encontros no local, e o valor
para entrada no Parque foi apontado como acessível por
moradores locais.
No caso destas duas comunidades, as práticas corporais observadas referem-se a atividades aquáticas nos igarapés em momentos destinados ao lazer, especialmente aquelas vivenciadas pelas
crianças. Dentre estas atividades destacamos: pular de um galho de
árvore na água, brincadeiras de pegador que necessitam de deslocamentos rápidos na água, em parte rasa e funda, nado livre e travessia
de uma margem para outra. Tais vivências independem de materiais
e tecnologias.
– 138 –
3) Praia da Aldeia: situada à beira do Rio Tocantins no
município de Cametá. A comunidade local vive da
pesca e desenvolveu diversas técnicas adequadas a cada
situação imposta pela natureza, ou dependendo do número de pescadores envolvidos no momento da pesca,
ou ainda da disponibilidade de material. São praticadas
pelos pescadores daquela região técnicas que utilizam
redes, pesca de mergulho, pesca com vara, entre outras.
Neste caso, a pesca não é considerada pelos praticantes
como atividade esportiva, mas como meio de subsistência, e as características da pesca naquela região são
distintas para cada técnica utilizada, pois são diversos
os tipos praticados.
4) Espaço Cultural de Inhangapi: Inhangapi é um pequeno
município (aproximadamente dez mil habitantes) que possui
uma área pública conhecida como Espaço Cultural, às margens do Rio Inhangapi, frequentado diariamente pela população em busca de lazer (banho no rio, caminhada) e pesca.
Anualmente, ocorre na área o Festival do Açaí, evento popular
de repercussão em toda região do nordeste paraense.
O grupo buscou registrar a prática da peconha, ou seja, a subida
no pé de açaí. O momento mais aguardado no Festival de Açaí é o campeonato da peconha, competição de velocidade para alcançar determinada altura do açaizeiro. Tal prática caracteriza-se como uma técnica vertical
(PEREIRA; ARMBRUST, 2010), que utiliza de tecnologia rústica, envolvendo um trançado nos pés feito com a folha do açaí, prática tradicional entre as populações do Norte do Brasil que consomem o açaí como
parte de sua alimentação. No entanto, como atividade de competição,
tem-se caracterizado como esporte de aventura, vivenciado por homens e
mulheres. Isto justifica a manutenção de uma área de pés de açaí dentro
do Espaço Cultural de Inhangapi, para ser utilizada especialmente na
ocasião do campeonato.
– 139 –
Considerações finais
O uso do filme e seu debate a partir dos textos selecionados favoreceram a compreensão dos discentes sobre a relação entre desenvolvimento e meio ambiente. A ida ao campo para as atividades de pesquisa
exploratória possibilitou a sensibilização necessária dos discentes para a
realidade local, sendo que, em sala de aula, foi possível conferir olhar
crítico às percepções captadas no campo. Desta forma, a maior parte dos
discentes desta disciplina entrou em contato, de modo diferenciado, com
uma realidade da qual fazem parte, sendo possível (re) conhecer a importância das práticas corporais na natureza para a cultura paraense.
Assim, os alunos puderam analisar o quanto estão se distanciando de sua cultura, ao distanciar-se do meio ambiente e que sustentabilidade relaciona-se a um estado ambiental, cultural e econômico, definido por um estilo de vida social, que envolve as práticas
corporais, suas técnicas e tecnologias.
Referências
BORGES, R.M. et al. Núcleo Pedagógico de Atividades Aquáticas:
aproximações com a cultura corporal no nordeste do Pará. In:
Anais..... São Luis do Maranhão: UFMA, 2011.
MARINHO, A. Do Bambi ao Rambo ou vice-versa? As relações
humanas com a (e na) natureza. In: Conexões: educação, esporte e
lazer. Campinas: UNICAMP, v.1, n.3, p.33-41, 1999.
PEREIRA, D. W.; ARMBRUST, I. Pedagogia da aventura: os
esportes radicais, de aventura e de ação na escola. SP: Fontoura,
2010.
VIANA, V.M. Envolvimento Sustentável e conservação das florestas
brasileiras. In: DIEGUES, A.C.; VIANA, V.M. Comunidades
tradicionais e manejo dos recursos naturais da Mata Atlântica.
SP: Hucitec, 2004.
– 140 –
LAZER VIRTUAL: AS ATIVIDADES DE
AVENTURA NOS JOGOS DE VIDEOGAME
Rodolfo Antonio Zagui Filho
Um dos campos de estudo que vem despertando a curiosidade
de pesquisadores na atualidade é o da arte digital, especificamente
ligada ao universo do lazer, destacando o pioneirismo de Schwartz
(2003), quando propõe maior reflexão nessa perspectiva de um novo
conteúdo do lazer, o lazer virtual, salientando neste o mundo dos
jogos de videogames. O protótipo desse aparelho doméstico, combinando elementos gráficos que respondiam aos comandos das pessoas
foi idealizado por Ralph H. Baer, como relata Gallo (2004). Ele acreditava que esse aparelho deveria possuir outras características e possibilidades, além de simplesmente exibir a programação transmitida
pelas emissoras de televisão.
Entre 1968 e 1970, Ralph Baer tentou convencer, sem sucesso,
diversas empresas a fabricar e vender o Brown Box (nome dado por ele
ao console criado) até que, em 1971, a Magnavox, uma empresa de
produtos eletrônicos de baixo custo, concorda em distribuir a invenção, mudando o nome para Magnavox Odyssey. O produto entra nas
prateleiras dos mercados em 1972 e fica marcado como o primeiro
console doméstico.
O Odyssey vendeu apenas 330 mil unidades, entretanto,
os consoles de videogame games ainda não eram considerados um
produto essencial na casa das pessoas. Isso viria a ser mudado
com a chegada da segunda geração. No início dos anos 1980,
as filas para os game centers, lugares onde este tipo de entretenimento estava disponível, eram enormes, as pessoas se aglomeravam para jogar alguns minutos.
A Atari percebeu que, para que seu console sobrevivesse, era
necessário reproduzir, na casa das pessoas, aquilo que estava sendo
– 141 –
exibido nos árcades, o que despertava um maior interesse das pessoas
pelo console. O Atari 2600 marca o início da 2° Geração, uma grande gama de jogos foi criada, com base em cartuchos, como: Frogger,
Donkey Kong, Pac-Man, Pitfall, Space Invaders e Asteroids.
A 3° Geração se distingue por marcar o início das disputas
entre as empresas de console, se lançam em ascensão Sega, com
Master System e Nintendo, com Nes, com a tecnologia de 8 bits. O
Nes teve os primeiros RPGs1 lançados na história, além de grandes
sucessos como Super Mario Bros, Legend of Zelda. A Sega não ficou
para trás, lançou sucessos como Alex Kidd, Double Dragon, Shinobi
e seu RPG Phantasy Star.
É chegada a era dos 16 bits, a 4° geração, a qual foi marcada,
mais uma vez, pela rivalidade Sega lança Mega-Drive, Nintendo o
Super-Nes. Outros consoles também existiram, mas o único que ganhou alguma popularidade foi o Neo-Geo, com seu foco em transferir
a experiência de jogar árcades, em casa (tendo seu controle, até mesmo, a similaridade ao de um árcade).
Uma estratégia adotada pelas companhias foi a de aprimorar
personagens e jogos que tinham suas raízes nas eras anteriores e fizeram fama. Sega elegeu Sonic, um porco-espinho que protagonizava
jogos rápidos, enquanto a Nintendo investia em Mário, um simpático
encanador. A Sony resolveu desenvolver um videogame game próprio,
baseado em mídias de CD, que acabou se tornando o Sony Playstation, colocando a Sony no mapa das grandes empresas dominantes na
geração seguinte.
Na 5° geração os processadores eram de 32 bits. Outros dois
pontos importantes dessa geração foram a consolidação da tecno1
O Role-playing game (RPG), ou seja, “jogo de interpretação de Personagens”, é um tipo de jogo em que os jogadores assumem os papéis de
personagens e criam narrativas colaborativas. O progresso de um jogo
acontece de acordo com um sistema de regras predeterminadas, dentro
das quais os jogadores podem improvisar livremente. As escolhas dos
jogadores determinam a direção que o jogo irá tomar.
– 142 –
logia em imagens 3D21e o uso mais intenso do marketing para divulgação, tanto dos consoles, quanto dos jogos. Chega ao mercado
o Nintendo 64, como o console mais popular da época. A Sony, por
sua vez, lança o Playstation.
Iniciando a Sexta Geração, a Sega lança o Dreamcast. Apesar da
gama de jogos bem conceituados pelo público, seu lançamento não
conseguiu superar todos os problemas que vinham sendo enfrentados
desde as gerações anteriores e a empresa decidiu fechar sua divisão de
hardware, dedicando-se apenas à produção de jogos, situação na qual
permanece até hoje.
A Microsoft chegou ao mercado de consoles com o Xbox, o
qual foi sucesso nos Estados Unidos. Com seu poder de processamento superior, possuía todas as características de um computador
internamente. A falta de sucesso dos outros consoles da geração foi,
sem dúvida, devido ao lançamento do Playstation 2, da Sony, a qual,
além de investir em marketing e em jogos para adultos, tinha preço
competitivo e garantiu grande sucesso com exclusividade para seu
sistema. Fez tanto sucesso que ainda não foi abandonado, sendo o
console mais vendido da história.
Hoje, as evoluções atravessam a 7° geração, que conta com o
Xbox 360 da Microsoft, o Playstation 3 da Sony e o Wii da Nintendo.
No decorrer de toda essa evolução foram utilizados diversos tipos de
dispositivos de interação entre humanos e máquinas. Entretanto, nos
últimos anos, houve uma grande mudança na forma como essa interação ocorre, uma vez que foram lançados no mercado dispositivos
com interfaces naturais, capazes de atender a comandos por meio do
reconhecimento de toques, gestos e voz. O que mais desperta atração
pelos jogos de videogame game hoje em dia é esse tipo de interação.
Um dos mais recentes dispositivo de interface natural lançado comercialmente foi o Kinect (acessório para Xbox 360), o
2
Imagens 3D são imagens de duas dimensões (altura e largura) elaboradas
de forma a proporcionarem a ilusão de terem uma terceira dimensão
(profundidade).
– 143 –
qual, diferentemente dos demais, dispensa o uso de controles e
cria oportunidades de uso em aplicações de interfaces realmente naturais, promovendo melhor experimentação do usuário. O
kinect é um acessório com vários componentes de hardware integrados em sua estrutura, para alcançar o objetivo desejado. Uma
câmera é utilizada para o reconhecimento facial e detecção de
outras características por meio do reconhecimento de três componentes de cor, vermelho, verde e azul. Uma segunda câmera,
com sensores de profundidade, possui um projetor de luz infravermelho e um sensor, que funcionam juntos para identificar a
profundidade dos objetos no ambiente. Microfones são quatro,
capazes de isolar as vozes dos jogadores de outros barulhos. Isso
permite que o jogador possa se manter mais distante do sensor e
ainda usar controles por voz para sua interação.
Essas experiências virtuais permitem, inclusive, maior divulgação das atividades de aventuras, é possível arriscar seu avatar3,1nas
mais variadas modalidades que, possivelmente, muitos não vivenciarão na vida real, devido a diversas dificuldades de acessibilidade, ambiental, financeira, física e, até mesmo, pelo treinamento que algumas
atividades requerem para sua vivência, por exemplo, um salto de base
jump ou wingsuit. Vivenciá-los exige treinamento, existem algumas
atividades de aventuras que requerem uma experiência anterior e
mais profunda, um repertório motor específico da atividade, o que
não acontece nos jogos virtuais dessas modalidades.
Entretanto, ainda que o apelo sobre segurança e o aparato
tecnológico envolvido nestas vivências sejam bastante intensos, muitas pessoas apresentam resistência em participar efetivamente dessas
práticas, mesmo mantendo o interesse sobre elas. Para que possam
usufruir as sensações e desafios similares, porém, sem participar na
realidade das atividades, algumas pessoas buscam se inserir por intermédio da utilização dos jogos virtuais.
3
É o personagem virtual que o jogador assume como intermediário necessário à interação com o jogo.
– 144 –
São encontrados hoje 52 jogos, somando os jogos de Playstation
3 e do Xbox 360, como apontam Novais et al. (2012). Observou-se
que, especificamente os jogos do Xbox 360, com auxilio do periférico
kinect, apresenta os jogos que especificamente simulam atividades de
aventura, por meio do Xbox Live Marketplace4:1MotionSport, com
simuladores de Hipismo, Asa Delta, Esqui. Kinect Adventure, com
simulador de Bóia Cross. Cabela’s Adventure Camp, com simulador
de caça, kayak, Jet Sky e Moutain Bike. Kinect Sports Season Two, com
esqui., são alguns desses jogos.
Destacamos também o Adrenaline Motionsport, pois é um jogo
com todas as suas modalidades simulando Atividades de Aventuras,
(diferentemente dos anteriormente descritos, que continham outras
modalidades de jogos além das atividades de aventura) com seis atividades, podendo-se vivenciar o Wingsuit, Mountain Bike, Kayak, Esqui, Escalada e Kitesurf.
Com essa nova interface de videogame game, de maior interação do jogador, pode-se utilizá-los como uma grande ferramenta, trazendo uma outra conotação aos jogos, tendo maiores possibilidade também no aspecto motor, além do cognitivo,
como já apontam alguns estudos realizados pelos fabricantes e
alguns estudiosos, como Burgani (2011) quando destaca a utilização do videogame game, em programa de exercícios físicos,
treino de força muscular, exercícios aeróbicos, jogos de equilíbrio e, até mesmo, reabilitação de pessoas portadoras de doenças
motoras e limitações físicas. Estes tipos de jogos possibilitam e
promovem, até mesmo, maior sensibilização à preservação do
meio ambiente, despertando novos adeptos a prática de atividades física e de aventura, potencializando o desenvolvimento do
ser humano, contemplando todos seus aspectos afetivo, cognitivo, sensitivo, motor, moral e social.
4
O Xbox Live Marketplace é um mercado virtual projetado para Microsoft ‘s Xbox 360, que permite a membros comprar e baixar o conteúdo.
– 145 –
Referências
BURGANI, A. S., Videogame interativo e envelhecimento:
uma relação de saúde e bem-estar, REVISTA PORTAL de
Divulgação, n.16, Nov. 2011 Disponível em: <http://www.
portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php>, Acessado em:
06 jan 2012.
GALLO, S.N. Breves considerações acerca do videogame.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO, 27. 2004. Porto Alegre. Anais... São Paulo:
Intercom, 2004.
NOVAIS I. T. et al. Jogos eletrônicos de Atividades de Aventura. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ATIVIDADE DE AVENTURA,
7. COGRESSO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE DE
AVENTURA,1. 2012. Rio claro. Anais... Rio Claro: Laboratório de
Estudos do Lazer, 2012. p. 19. CD ROM
SCHWARTZ, G. M. O conteúdo virtual do lazer:
contemporizando Dumazedier. Revista Licere, Belo Horizonte, v.
6, n. 2, p. 23-31, 2003.
– 146 –
EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E A GESTÃO
DO NICHO DA AVENTURA
Gisele Maria Schwartz
As atividades de aventura se tornaram uma das opções mais
atrativas no campo do lazer, imprimindo, inclusive, novos conceitos
ao modo de usufruto do tempo disponível, o qual, na contemporaneidade, apresenta estreita relação com vivências mais vigorosas do
que as que antigamente eram postuladas para o momento de descanso do trabalho. Observa-se, hoje, que a ideia comum de que feriados e férias eram momentos de relaxamento e descanso está sendo
gradativamente substituída por atividades de caráter mais vigoroso e
desafiador, buscando envolvimento saudável, prazeroso (BRUHNS,
1998,) e prezando pela qualidade de vida (SCHWARTZ, 2006)
Com isto, novas configurações foram sendo criadas, tornando
o lazer, especialmente em suas vertentes do turismo (BAHIA, 2005)
e entretenimento, umas das mais promissoras áreas para os empreendedores. Os negócios relativos à indústria do turismo se avolumam
em somas robustas e o segmento de aventura é um dos que mais
cresceu nas últimas décadas (BENI, 2004). As atividades de aventura
se iniciaram como práticas espontâneas no âmbito do lazer, porém,
passaram a ser encaradas como negócio, especialmente impulsionadas
pela evolução das tecnologias.
Estas vivências também ganharam novas configurações, tendo
como propósito atender ao mercado da aventura (UVINHA, 2005),
que recebe uma demanda crescente de interessados. Assim, a indústria da aventura parece ser uma via de mão dupla, em que o mercado,
juntamente com os recursos tecnológicos criados, alimentam essas
práticas, mas as atividades também retroalimentam os negócios neste
ramo tecnológico, haja vista a utilização de equipamentos, roupas e
acessórios de alta qualidade utilizados nas vivências.
– 147 –
A indústria do turismo de aventura mobiliza famílias, esportistas, acompanhantes e indivíduos curiosos, os quais, deliberadamente, optam por se envolver com as práticas, seja como expectador,
como praticante esporádico ou como esportista. Diferentes motivos
são apresentados nos estudos em relação à busca pelas atividades de
aventura. Entre eles, podem ser considerados mais comuns, a vivência de emoções, a busca pelo contato com a natureza e a ampliação
de relacionamentos.
Seja qual for o motivo que impulsiona alguém a se envolver
com as atividades de aventura, existe capital sendo empregado
para a busca dessas satisfações, disto decorre que, ao se fazer um
balanço do desenvolvimento das atividades de aventura, podem
ser elencados pontos negativos e positivos. A presença de possível discriminação, tendo em vista que o preço dos equipamentos,
do traslado aos locais de prática, assim como, a exigência de determinadas habilidades para algumas vivências podem representar fatores limitantes de inclusão nestas atividades, tornando-se
pontos negativos.
Já do ponto de vista positivo, pode-se perceber que os gastos
com o turismo de aventura podem trazer diversos benefícios de diferentes magnitudes. Destacam-se os de ordem econômico-social, com
a criação de novos postos de empregos nas cidades receptoras, ou
mesmo, ampliando as possibilidades de vivência do lazer pró-ativo,
imprimindo maior incentivo à prática regular de atividades físicas.
Estes aspectos positivos podem ter ressonâncias benéficas, inclusive
nos níveis de saúde e qualidade de vida dos praticantes.
Para que uma viagem para a prática de atividades de aventura se concretize, estão envolvidos diferentes aspectos importantes.
Entre eles constam as próprias escolhas das atividades, os locais de
vivência, a segurança e credibilidade das agências intermediárias nas
opções, os meios de transporte, a rede hoteleira, os restaurantes, as
lojas de roupas e de equipamentos para diferentes finalidades, além
de inúmeros outros serviços periféricos e que agregam valor a esse
produto de consumo.
– 148 –
Com base nesses elementos, pode-se perceber como estas
atividades apresentam ressonâncias significativas na indústria turística, exigindo alterações e adaptações das empresas envolvidas,
para atender adequadamente a esse mercado. A dinâmica e o marketing (COBRA, 2001) por trás dessas atividades parece ser uma
via de mão dupla. Por um lado, a busca por este tipo de vivência
fez impulsionar a criação de novos recursos tecnológicos para garantir a eficiência e segurança nas atividades. Por outro lado, estes
avanços nas tecnologias também catalisaram novas buscas e demandas pelas práticas de aventura e moldaram, inclusive, outras
perspectivas de modalidades.
O turismo de aventura afetou o âmbito das tecnologias, no
sentido de que, com o aumento da demanda, houve a necessidade
de se elevar e garantir o nível de segurança dos equipamentos utilizados nas vivências e ampliar o desempenho nas práticas. Alguns
exemplos são facilmente encontrados entre as modalidades de terra,
água e ar. No caso do surf, modalidade de água, houve a criação de tecidos como o neoprene, para melhor proteção do corpo, apresentando
costura selada, que veda a roupa.
O design arrojado e materiais altamente sofisticados foram inseridos na confecção das pranchas, o que alterou sua estética, inclusive, passando do uso de pranchas de madeira, para aquelas feitas com
placas de polietileno e poliuretano. Nestas pranchas atuais, podem ser
acoplados equipamentos sofisticados de filmagens, ou até sensores,
GPS, acelerômetro e bússola, os quais prometem aprimorar o nível
de performance dos usuários.
No campo das atividades de aventura aéreas, o Skysurf foi
criado como uma modalidade de pára-quedismo, a qual comporta o uso de pranchas específicas para manobras, durante a queda
livre. Ainda perseguindo o sonho humano de voar, o Wingsuit
representa uma modalidade aérea que exige a utilização de um
macacão com asas, altamente sofisticado no quesito de tecnologia de tecidos, tendo sido criado algo que fosse devidamente
apropriado para esta modalidade.
– 149 –
O impacto do avanço dessas tecnologias entre as modalidades de terra, fez surgir novas práticas, as quais são pautadas
na evolução dos recursos tecnológicos e que, até então, não eram
possíveis de serem realizadas, tendo em vista a necessidade de
sofisticação de equipamentos. Este pode ter sido o caso do dual
Snowboard, em que o praticante usa duas pranchas com botas,
permitindo, apesar de maior instabilidade, mais opções de manobras. Entre os recursos tecnológicos utilizados no Caving ou
no espeleoturismo, pode-se perceber a evolução nos diferentes
equipamentos de iluminação, ou nas roupas confeccionadas com
tecidos sintéticos com termostato ou Polartec, os quais possuem
excelentes propriedades térmicas, para que a transpiração se processe de modo adequado.
Do modo artesanal de fabricação da aventura, esta passou para
a era tecnológica, se apropriando de todas as vantagens que isto possa
oferecer, porém, luta para não perder o apelo simplista da relação humana direta com o ambiente natural. Para além da segurança e comodidade impressas pela evolução tecnológica, o desafio atual é manter a
sustentabilidade, tanto de pessoas, como do ambiente nesta relação.
Esse desafio demanda muito mais do que tecnologias, torna-se
premente que, juntamente com o avanço se enfatize a consciência
pró-ambiental, a educação e gestão eficiente, elementos-chave para
que esse nicho da aventura não se concentre no desenvolvimento do
comportamento predatório e possa estimular a fixação de novos valores positivos, além de ressaltar aqueles já presentes na essência das
atividades de aventura.
Referências
BAHIA, M. C. Lazer – Meio ambiente: em busca das atitudes
vivenciadas nos Esportes de Aventura. 2005. Dissertação (Mestrado
em Educação Física) - Universidade Metodista de Piracicaba –
UNIMEP, Piracicaba, SP, 2005.
– 150 –
BENI, M. C. Globalização do turismo: megatendências do setor e
a realidade brasileira. São Paulo: Aleph, 2003. Segunda edição 2004.
BRUHNS, H. T. Lazer e meio ambiente: a natureza como espaço
daexperiência. In: Conexões: educação, esporte, lazer. Campinas,
SP: Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de
Campinas, 1998.
COBRA, M. Marketing de turismo. 2.ed. São Paulo: Cobra, 2001.
SCHWARTZ, G. M. Aventuras na natureza: consolidando
significados. Jundiaí: Fontoura, 2006.
UVINHA, Ricardo Ricci (Org.) Turismo de aventura: reflexões e
tendências. São Paulo: Aleph, 2005.
– 151 –
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TECNOLOGIAS E ATIVIDADES DE AVENTURA