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OFICINAS TERAPÊUTICAS NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
Silva, Luciana *
Firmino, Roberta **
RESUMO
As oficinas terapêuticas enquanto dispositivos da atual política de Saúde Mental do Brasil,
inspirada na reforma italiana, prima por promover a cidadania das pessoas com sofrimento
mental, buscando a reinserção social reabilitando o sujeito para a vida. Esta Pesquisa buscou
por meio da revisão bibliográfica refletir sobre a importância das oficinas terapêuticas na
reabilitação psicossocial do indivíduo com sofrimento mental. Identificou-se entre os
trabalhos científicos que os profissionais da saúde mental consideram como relevantes as
oficinas terapêuticas como um dos modelos substitutivos em saúde mental. Como resultado
da pesquisa pode-se evidenciar a relevância das oficinas no processo de reabilitação tanto no
âmbito da saúde mental, no social e na convivência. Tal reflexão nos permite refletir sobre a
contribuição das oficinas no processo de reabilitação psicossocial.
Palavras-Chave: Oficinas Terapêuticas; Sofrimento Mental. Reabilitação Psicossocial;
Saúde Mental.
_______________
* Enfermeira.
1 INTRODUÇÃO
** Docente do curso de Especialização em Saúde Mental e Internvenção Psicossocial, terapeuta ocupacional,
especialista em Terapia Ocupacional com Ênfase em Saúde Mental pela Universidade Federal de Minas Gerais.
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1 INTRODUÇÃO
No atual contexto da reforma psiquiátrica, torna-se cada vez mais premente a
discussão acerca das estratégias inclusivas de pessoas com sofrimento mental em dispositivos
voltados à reabilitação e inserção social. Estes dispositivos têm como objetivo que o sujeito
com sofrimento mental seja visto a partir de um novo paradigma, o da reabilitação
psicossocial, considerando a vida em seus diferentes âmbitos: pessoal, social e familiar.
Sob este novo olhar surgem os serviços substitutivos ao modelo asilar, formando uma
rede de atenção à saúde mental. Rede esta constituída tanto pela atenção básica em saúde,
como as unidades básicas de saúde os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), hospital-dia,
serviços de urgência e emergência psiquiátricas, leito ou unidade em hospital geral, serviços
residenciais terapêuticos, centros de convivência, cooperativas de trabalho e associações de
usuários.
Os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) são serviços de atendimento diário, de
caráter substitutivo ao hospital psiquiátrico. Devem atender pessoas com transtornos mentais
severos e persistentes, dentro de sua territorialidade. Estes serviços são regulamentados pela
portaria ministerial GM nº 336, de 19 de fevereiro de 2002.
Nos CAPS trabalham equipes multiprofissionais que desenvolvem atividades
diversificadas como atendimentos individuais e/ou em grupo, acompanhamento em atividades
externas, atendimento as famílias dos usuários, oficinas terapêuticas e de criação, atividades
físicas, atividades lúdicas, além da assistência medicamentosa, que antes era considerada a
principal forma de tratamento.
Entre as atividades desenvolvidas identificam-se as oficinas terapêuticas, no campo da
reabilitação psicossocial, como espaços destinados aos usuários onde a singularidade é
respeitada, em um processo que visa resgatar a cidadania da pessoa com sofrimento mental
através da atividade criativa. Dessa maneira, as oficinas passam a exercer um papel
fundamental no projeto terapêutico por meio de diversas ações que visam dar autonomia e
qualidade de vida ao indivíduo.
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Tais oficinas tornam-se positivas quando possibilitam a transformação da realidade
minimizando o sofrimento que a doença mental causa. Entre saberes e fazeres nas oficinas
terapêuticas o atendimento implica o criar e o recriar constantes. Nesta proposta de educação
terapêutica o importante é fomentar a capacidade de poder viver e vivenciar a individualidade
dos participantes. Acrescenta-se ainda que seja por meio da troca de experimentações no
coletivo, na relação com o outro que o sujeito se enxerga como parte do processo da vida.
Considerando que na assistência em saúde mental a remissão de sintomas é importante
na estabilização de pacientes, é preciso transformar essa vivencia em produção de vida, de
forma a ser possível inserir este sujeito no contexto social, familiar e comunidade.
Neste aspecto as oficinas terapêuticas se apresentam como mais uma ferramenta, que
somada a outras colaboram para reabilitação psicossocial do sujeito.Valorizando a história de
vida com suas peculiaridades e regionalidades de forma que este sujeito sinta-se acolhido,
neste contexto, entende-se que as oficinas possibilitam esta ponte entre a loucura e a lucidez,
respeitando o ritmo de cada um.
Segundo Pitta (1996), a reabilitação psicossocial é um processo que facilita ao usuário
com limitações, melhor reestruturação de autonomia de suas funções na comunidade e
Sarraceno (1999) acrescenta que a reabilitação psicossocial precisa contemplar três vértices da
vida de qualquer cidadão: casa, trabalho e lazer.
Desta forma, propor a reabilitação psicossocial dos indivíduos em sofrimento mental é
promover a cidadania, através do acolhimento nos serviços de atenção em saúde mental a fim
de minimizar o sofrimento causado pela doença.
O presente estudo teve como metodologia de pesquisa a revisão bibliográfica e seu
principal objetivo é refletir sobre este importante dispositivo de intervenção psicossocial, as
oficinas. Questiona-se qual o papel das oficinas terapêuticas no processo de reabilitação do
portador de transtorno mental.
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2 DESENVOLVIMENTO
2.1 BREVE HISTÓRICO DA LOUCURA E DO USO DA ATIVIDADE NO
TRATAMENTO ÀS DOENÇAS MENTAIS
Retomando a história pode-se perceber que o mundo da loucura foi se tornando o
mundo da prisão. Segundo Guerra (2004), houve um período da Idade média que a burguesia
condenou o ócio, assim qualquer forma de improdutividade era sentenciada ao
enclausuramento.
Criaram-se, então, casas correcionais que impediam a mendicância e
qualquer comportamento que denotasse desordem social. Nestas casas impunham o trabalho
aos ociosos entre eles os loucos. Com a Revolução francesa e os ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade trouxeram transformações a estas casas, rompendo assim com a idéia
do antigo regime. Neste contexto surge o hospital no conceito que hoje conhecemos, onde os
pesquisadores podiam agrupar e estudar as moléstias (AMARANTE, 2003).
O pai da Psiquiatria, Pinel, contemporânio da Revolução Francesa, via a doença
mental como um desequilíbrio das paixões. Acreditava, ele, que, a cura consistia em trazer o
alienado de volta à realidade, dominar seus impulsos e afastar suas ilusões. Por isso,
objetivando uma reeducação da mente alienada, defendia a adoção de um Tratamento Moral
que consistia entre outras práticas a imposição do trabalho como recurso pretensamente
terapêutico (AMARANTE, 1996). O médico francês deu ao trabalho uma associação a saúde.
Com a ascensão do Capitalismo, segundo Foucault (1997), a loucura foi transformada em
"doença mental”. Para o capitalismo o louco não tinha valor no mundo do trabalho. Se o louco
não é útil então trancafiá-lo num asilo seria o mais prudente.
No Brasil, foi criado o primeiro hospício em 05 de dezembro de 1852, através do
decreto nº 82 de julho de 1841 devido à necessidade de tirar loucos das ruas e da Santa Casa
de Misericórdia. Na verdade, não se pensou em tratamento, mas numa forma de transferir
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responsabilidades. O Hospício Pedro II localizava-se propositalmente afastado do meio
urbano, ficando evidente a forma de exclusão adotada para “tratamento” dos doentes mentais.
Com a República, em 1890, o Hospício Pedro II passou a se chamar “Hospício
Nacional dos Alienados”. Foram criadas Colônias anexadas ao Hospital Nacional que tinham
por finalidade resolver o problema da superlotação do hospício, oferecendo tratamento através
do trabalho agropecuário e de diversos artesanatos. Em 1902, em função de irregularidades,
foi aberto um inquérito e nomeado o Dr. Juliano Moreira, professor de psiquiatria da Bahia
para diretor. Este doutor fez várias críticas às condições das instalações o que provocou
melhoras.
Mais tarde nasceu a Colônia das Alienadas, também para resolver a superlotação do
Hospício Nacional. Sempre com o objetivo principal, isolar os loucos dos centros urbanos.
Somente em 1918, por iniciativa de Gustavo Riedel é criado na Colônia de Alienadas o
primeiro ambulatório psiquiátrico da América Latina (SAMPAIO, 1988).
Muita coisa mudou e a forma de pensar, num processo histórico e crítico traz a
concepção do homem como ser biopsicossocial. Este pensamento após a Segunda Grande
Guerra sinalizava para a transformação do paradigma da Psiquiatria Clássica (AMARANTE,
1995).
Esta transformação iniciada na Europa e Estados Unidos chegou ao Brasil, inspirada
no modelo da Reforma Psiquiátrica Italiana. Conta-nos Losboque (2001) que, as vertentes
anteriores à italiana eram fortemente marcadas pelo discurso "psi" (Psiquiatria,
Psicopatologia, Psicologia, Psicanálise), enquanto a reflexão orientada por Basaglia (ícone da
Reforma na Itália) consistia em uma crítica radical sobre tais discursos. Esses discursos se
constituíam na prática como instrumentos de saber e poder, de controle e segregação.
Se a perspectiva da desinstitucionalização visa romper com a violência da objetivação
do homem em síndromes e doenças construídas pela psiquiatria, então, pode-se, como diz
Amarante (1996), colocar a doença entre parênteses e enxergar o sujeito em sua experiência
da loucura.
No Brasil, o projeto de lei Paulo Delgado, propôs a extinção progressiva dos hospitais
psiquiátricos, através do impedimento da abertura de novos ou financiamento de outros leitos
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além dos já existentes. Também propôs a criação de recursos assistenciais alternativos,
estruturas não manicomiais, como unidades psiquiátricas em hospitais gerais, hospitais-dia,
hospitais-noite, centros de convivência etc. (Amarante, 2003; Curso Básico de
Acompanhamento Domiciliar em Saúde Mental - Ministério da Saúde, 1998). Tal projeto de
lei foi, em 1997, rejeitado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Seu substituto Lucídio Portela - mantém a internação psiquiátrica como uma intervenção terapêutica válida,
caso os recursos extra-hospitalares não sejam suficientes para o tratamento. Além disso,
impede que a internação seja considerada exclusivamente um ato médico (Curso Básico de
Acompanhamento Domiciliar em Saúde Mental - Ministério da Saúde, 1998).
Desta forma, no Brasil, uma grande reforma da assistência à saúde mental foi colocada
em marcha, principalmente, a partir da década de 1970. O resgate das pessoas internadas nos
manicômios, enquanto sujeitos de direitos e cidadãos, e a preconização do respeito às
diferenças e maneiras de vivenciar o sofrimento psíquico foram pressupostos para as ações
desenvolvidas pelos serviços de saúde mental que despontavam como substitutivos às
instituições asilares. Pode-se dizer que o direito à cidadania e o seu reconhecimento nos
espaços públicos e privados para todas as pessoas, entre elas as que vivenciam o transtorno
mental, exigiu o estabelecimento e a criação de espaços de escuta e diálogo onde fosse
possível questionar estereótipos e condutas comportamentais impostas como adequadas.
Desta forma contribui para o desvelamento de discursos e ações que insistem em negar o
direito à diferença, à diversidade, à dúvida e ao conflito existencial.
Tradicionalmente a reabilitação era compreendida como a restituição a um estado
anterior ou à normalidade do convívio social ou de atividades profissionais. Na proposta atual
da Reforma Psiquiátrica no Brasil, têm-se como objetivo a desinstitucionalização e inclusão,
integrando as pessoas com sofrimento psíquico nos diferentes espaços da sociedade. Anterior
a essa reforma da assistência em saúde mental, tratamentos com o eletro choque, choque
insulínico, hiper dosagens medicamentosas, lobotomia, entre outros, eram pensados como o
máximo de recurso para as pessoas com sofrimentos mentais.
A Dra. Nise da Silveira, psiquiatra vanguardista da reforma psiquiátrica brasileira, se
colocou radicalmente contrária a essas terapêuticas e apresentou formas diferenciadas e
humanizadas de lidar com o sofrimento mental, utilizando-se de atividades diversificadas
como tratamento. Essa psiquiatra tornou-se precursora da terapia ocupacional e das oficinas
terapêuticas utilizadas no campo da reabilitação psicossocial. Mais tarde, o termo terapêutica
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ocupacional, por ser considerado pesado e sem emoção no próprio termo, é substituído por
"emoção de lidar". Lidar com tinta, papel, dança, costura, lidar com a horta, lidar com os
sentimentos, com a emoção, com os medos e com os prazeres. Lidar com o diferente. As
oficinas terapêuticas são o espaço onde a interação com o material e com a atividade provoca
emoções que posteriormente poderão promover transformação de vida e de sentido.
2.2 OFICINAS TERAPÊUTICAS NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL E SUAS
IMPORTÂNCIAS
Mas por que “oficinas”? O termo “oficina” vem sendo muito empregado para designar
atividades desenvolvidas em diversos espaços de cuidados em saúde mental. Neste sentido, as
oficinas podem ser um meio para os usuários sentirem-se sujeitos de suas vidas. As oficinas
se sustentam, segundo Ribeiro (2004 p.105):
Na possibilidade de representarem dispositivos que sejam catalisadores da
produção psíquica dos sujeitos envolvidos, facilitando o trânsito social deles na
família, na cultura, bem como sua inserção ou reinserção no trabalho produtivo.
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Dessa maneira, os estatutos que regulamentam as oficinas terapêuticas mostram que
elas são a estratégia por meio da qual a reabilitação psicossocial deve se realizar. Minzoni
(1974), já utilizava o termo terapia psicossocial e o conceituava como atividades terapêuticas
que envolvem o atendimento do usuário, tanto a nível individual como em grupo, atividades
de trabalho ou recreação. A autora cita como exemplos às atividades de trabalho e recreação e
as subdivide em motoras (ginástica, voleibol, trabalho em couro e madeira, entre outros),
sociais (festas e datas civis, cinema, teatro e outras) e auto-expressivas (atividades
espontâneas e não orientadas, como por exemplo, cerâmica, pintura e dança). Minzoni (1974)
tentava organizar as atividades, categorizando-as de acordo com os seus objetivos. Entende-se
que estas atividades sejam equivalentes as hoje denominadas oficinas.
Vê-se que estas atividades, associadas à terapia clínica e tratamento medicamentoso,
contribuíram para desinstitucionalização em saúde mental. Enfim, enquanto a reabilitação
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objetiva reinserir o indivíduo na sociedade, a desinstitucionalização se preocupa em
transformar esta sociedade. Desinstitucionalizar não pode resumir-se em desospitalizar, do
contrário, teremos pequenos manicômios espalhados por todo o país. É importante ressaltar
que a desinstitucionalização é a reconstrução de um novo pensar, uma forma de despir
preconceitos institucionalizados na sociedade. Repensar o trabalho, a família, as políticas
públicas na contemporaneidade exige um questionamento acerca das nossas ações e se
estabelece como um acolhimento ao outro, com suas peculiaridades e diferenças culturais e
cognitivas.
As oficinas terapêuticas podem promover a reaquisição das competências para
realização das atividades de vida diária e prática que são perdidas ao longo do processo de
adoecimento mental, favorecendo a relação do usuário consigo e com os outros. As
habilidades sociais podem ser reaprendidas. As dificuldades que os sujeitos portadores de
transtorno mental encontram no lidar do cotidiano podem ser cumulativas e ele se
enclausurar, precarizando cada vez mais o seu relacionamento na família e comunidade. Este
conjunto de competências como escovar os dentes, ir à padaria, comprar uma roupa, visitar
um amigo, enfim, se aprendido e exercitado melhora a auto-estima de qualquer sujeito que
antes se sentia incapaz.
O cotidiano pode começar a ser reconstruído dentro das oficinas terapêuticas no lidar
com o outro e com os objetos. A competência social adquirida ao longo da vida implica numa
compreensão e integração com o mundo que o sujeito vive.
Além das competências que podem ser aprendidas no ambiente das oficinas
terapêuticas o produto destas oficinas poderá ser utilizado como objeto de troca material ou
simbólica a partir do momento em que a produção reinscreve o usuário como sujeito de valor,
capaz de criar e produzir. Promover competências sociais e pessoais é estimular a observar,
compreender as situações, trabalhar uma melhor realização de tarefas e idéias.
Para Guerra (2004) o que diferencia as oficinas como recurso terapêutico é a
possibilidade de o sujeito trabalhar com o concreto, segundo sua definição é a “Materialidade
do Produto”. Neste sentido as oficinas podem produzir efeitos subjetivos e socializantes.
Estariam as oficinas, segundo a autora, num campo inédito onde se une cliníca e política.
Pode se entender aí como política o lidar nas relações dos participantes das oficinas.
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Nesta convivência das oficinas o sujeito vai se introduzindo na cultura, "inserir-se em
alguma forma de liame social, ou seja, participar de um conjunto de signos que o inscrevam
enquanto ser social e político à medida que lhe for possível" (GUERRA, 2004).
Portanto, percebe-se a importância das oficinas terapêuticas que ao se apropriarem das
variadas formas de atividades, serão facilitadoras de uma expressão do indivíduo. Neste
espaço terapêutico tem se priorizado a expressão livre e espontânea, onde a técnica e a
estética aparecerão como coadjuvante salvo se solicitadas pelo participante.
Segundo Ribeiro (2004) as oficinas terapêuticas são “catalizadoras da produção
psíquica do sujeito e favorecedoras de formas singulares de enlaçamento social, marcada pela
relação estabelecida pelo sujeito com seu sintoma.” Na perspectiva da proposta de reabilitação
psicossocial, a inclusão subjetiva aparece em uma "prática feita por muitos". Sustentar o lugar
social do sujeito a partir de sua diferença é enxergá-lo como cidadão. Nos serviços
substitutivos ao hospital psiquiátrico, é através do acolhimento que o tratamento é
singularizado.
A função de acolher corrobora a idéia de que o fundamental é o sujeito e o desafio das
oficinas terapêuticas é de propor algumas vias de acesso à produção subjetiva. As vias de
acesso à produção subjetiva são fundamentais na medida em que na psicose o sujeito não
comparece nas tradicionais formações do inconsciente (sonhos, atos falhos, sintomas etc.).
Nas oficinas as diferenças serão acolhidas com liberdade, facilitando o desbloqueio da
criatividade e estimulando à autonomia. As oficinas, por sua vez, remontam aos primórdios da
psiquiatria, mas foram ressignificadas como recurso terapêutico no contexto da reforma
psiquiátrica. Assim nas oficinas surgem um veículo de expressão e elaboração de idéias e
afetos, como espaço de aprendizagem e como espaço de promoção de atividades culturais
(GUERRA, 2004). Vale ressaltar que, enquanto os grupos terapêuticos geralmente são
realizados no espaço interno do CAPS, por sua especificidade, as oficinas não
necessariamente precisam ocorrer intramuros. Pelo contrário, é importante que algumas sejam
realizadas na comunidade (promovidas pelo CAPS ou não) e que possam integrar usuários e
outros sujeitos que habitam o mesmo território.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do exposto, é possível evidenciar que muitos avanços aconteceram na assistência em
saúde mental em nosso país na última década. Também é possível constatar, na prática, alguns
avanços culturais e sociais no que diz respeito à saúde mental. Mas todas as conquistas, sem
dúvida, representam muito pouco na luta pela integração dos portadores de sofrimento mental.
Vale ressaltar que estas conquistas só se tornaram realidade com o advento da reforma
psiquiátrica. Assim foi cada vez mais sendo questionadas as abordagens de tratamento que
eram realizadas nos manicômios. Esse movimento de luta pela desinstitucionalização visa
restabelecer a cidadania das pessoas com transtornos mentais, por meio da desconstrução do
modelo asilar e dos preconceitos.
Vários espaços e experiências para a atenção em saúde mental têm sido efetivados
nessa perspectiva, tanto como elementos terapêuticos quanto como promotores de reinserção
social, por meio de ações que envolvem o trabalho, a geração de renda e a autonomia do
sujeito. Porém, há que se tomar cuidado a fim de não se incorrer em uma nova
“institucionalização” que pode vir a criar pequenos manicômios na sociedade. Há muito a ser
feito, pessoas continuam à margem da vida, escondidas atrás de dificuldades e barreiras, que
são mínimas e imperceptíveis para alguns, mas que se constituem em obstáculos
intransponíveis nas atividades do cotidiano das pessoas portadores de sofrimento mental. A
solução da maioria dos problemas enfrentados passa por uma mudança do ponto de vista
sócio-cultural e político.
O desafio é de toda a coletividade, a sociedade precisa exigir que o Estado cumpra o
seu papel de agente financeiro e regulador; mas deve, também, participar ativamente,
colocando em prática às idéias.
A reabilitação e reinserção social implicam no "desmonte" de uma prática na restrição
dos espaços sociais ou mesmo a exclusão social dos usuários da saúde mental e na
medicalização. Agora existem novas possibilidades para o paciente em sofrimento mental. É a
ruptura do processo em que a doença os colocou e a reconstrução de vida com a capacidade
de ter experiências culturais diversas. Não basta que tenhamos belas leis como sistema de
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compensação das desigualdades, de programas de integração aos portadores de sofrimento
mental à comunidade, sociedade. É preciso que tudo isso seja efetivamente implementado
através da participação ativa da sociedade civil.
De acordo com o Ministério da Saúde, Portaria 189 de 19/11/1991, as oficinas
terapêuticas se caracterizam como “atividades grupais de socialização, expressão e inserção
social” e acontecem num espaço onde se preza a valorização do sujeito, no qual se deve visar
a aceitação das diferenças. Assim, há um resgate da cidadania desse sujeito, para que consiga
exercer da melhor forma possível suas funções ocupacionais e sociais. A oficina terapêutica é
um espaço de construção de saberes mútuos, onde todos aprendem e todos ensinam. As
oficinas terapêuticas são atividades de encontro de vidas entre pessoas em sofrimento
psíquico, promovendo o exercício da cidadania à expressão de liberdade e convivência dos
diferentes através preferencialmente da inclusão pela arte.
Essas referidas oficinas aparecem ao longo do processo histórico da psiquiatria, mas
tinham um objetivo diferenciado do referencial da reabilitação psicossocial. Atualmente vem
se constituindo através de princípios específicos, ou seja, a partir da reinserção das pessoas
em sofrimento psíquico, mas na prerogativa do respeito à singularidade de cada instituição, de
acordo com suas peculiaridades e regionalidades. Nesse sentido Guerra (2004) relata que a
ênfase das oficinas está nas particularidades de cada caso, na escuta, na invenção de novas
estratégias de acolhimento e intervenção sobre o campo social, e no trabalho
multiprofissional. As oficinas, articulando com o conceito de rede social, têm contribuído para
a reabilitação psicossocial por meio da interação social com a comunidade.
A oficina terapêutica faz parte do processo reabilitador e, desta forma, se mostra como
experiência positiva, atuando no campo da cidadania. É uma maneira também de incentivar a
preparação para o mercado de trabalho, fazendo com que o usuário retome suas atividades e
descubra novas habilidades, na busca por sua independência. O sentido das oficinas
terapêuticas se torna claros na fala de Rauter (2000, p. 271):
As oficinas, o trabalho e a arte possam funcionar como catalisadores da construção
de territórios existenciais (inserir ou reinserir socialmente os ”usuários”, torná-los
cidadãos...), ou de “mundos” nos quais os usuários possam reconquistar ou
conquistar seu cotidiano... de cresse que está se falando não de adaptação à ordem
estabelecida, mas de fazer com que trabalho e arte se reconectem com o primado da
criação, ou com o desejo ou com o plano de produção da vida.
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A experiência do trabalho das oficinas é positiva quando uma de suas funções é uma
intervenção no âmbito social como transformadora da realidade excludente.
Ao longo da história o homem elaborou diversas idéias acerca da loucura. Porém o
“louco” como alienado surgiu com a urbanização e o capitalismo que rotulou indivíduos que
não se adequavam as convenções sociais impostas. A sociedade o privou de liberdade,
desejos, escolhas. Foram trancados em asilos e a eles eram aplicados corretivos para se
enquadrarem ao padrão social imposto. A reforma psiquiátrica busca dar a este “louco”
cidadania, a partir de uma lógica de inclusão social. Porém não basta fechar os hospitais
psiquiátricos, é preciso descontruir preconceitos, verdadeiros manicômios mentais.
Fala-nos Pelbart (1989) do Manicômio Mental, como crítica a todos os nossos
preconceitos, para isso é necessário criar um “método” para que profissionais da área possam
aprender a lidar com o inesperado. O trabalho exige do profissional, envolvimento, não basta
que tenha conhecimento. Por conta disto esta equipe necessita permanentemente rever seus
parâmetros repensando diariamente estratégias no lidar com o outro. Conta-nos Rauter (2000,
p. 269) que, na sociedade em que vivemos:
Ocorre à prevalência dos aspectos técnico-econômico ou dos aspectos jurídicos
sobre aqueles referentes à produção desejante é o que está condenando nosso
mundo à desertificação das relações amorosas e do sexo, esvaziamento do campo
coletivo, produção de um número cada vez maior de excluídos, não apenas do
mercado de trabalho, mas de um cotidiano, já que muitos modos de ser não se
adequam a um mundo que coloca em primeiro plano aspectos ligados à
produtividade técnico-econômico.
Portanto, para desenvolver este novo paradigma, que é um dos substitutivos em Saúde
Mental, e estas oficinas serem efetivamente terapêuticas, deve-se aprender a convivência
com os não iguais dentro e fora da equipe. A equipe de saúde, a família, a sociedade, devem
estar abertas a um novo equilíbrio social, com a geração e reestruturação de valores. É
preciso mais que uma Reforma Psiquiátrica. É preciso
urgente de uma Reforma de
Pensamento e neste sentido, este novo paradigma denominado oficinas terapêuticas, propõem
interdisciplinaridade com equipe multiprofissional.
Sob essa perspectiva, descentraliza-se da doença do indivíduo e faz-se um resgate de
aspectos positivos, isto é, a atenção deixa de ser a doença e passa a ser o da reconstrução da
vida. Com esse entendimento uma nova abordagem no tratamento, valoriza o ser humano
resgatando a sua história e sua vida cotidiana. É aí que entram as oficinas como fundamentais
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no processo de reabilitação do indivíduo. O modelo biomédico vem se caracterizando, ao
longo dos tempos, por dar ênfase aos aspectos físicos, ter uma visão fragmentada do ser
humano e se colocar como saber hegemônico frente ao saber popular. Estes fatos mostram-se
opostos à idéia de cuidado integral e acolhimento dispensado durante as oficinas terapêuticas.
CONCLUSÃO
Pode-se evidenciar ao longo do estudo a relevância das oficinas terapêuticas na
reabilitação psicossocial, pois é o momento em que o usuário pode ser ele mesmo e expressar
seus sentimentos sem julgamento, dessa forma estabelece relações, compartilha emoções e
interage com o outro. Enfim as oficinas são fundamentais, pois restabelece a convivência, a
comunicação e faz com que o sujeito seja parte do processo de gestão de sua vida.
As oficinas visam resgatar a cidadania do portador de transtorno mental porque passa
a exercer papel fundamental tanto como elemento terapêutico como promotor de reinserção
social através de ações que envolvem trabalho, criação de produto, geração de renda e a
autonomia do sujeito de pensar, planejar e agir.
THERAPEUTIC WORKSHOP IN PROCESS OF REABILITATION
PSYCHOSOCIAL
ABSTRACT
This paper intends to reflect on the importance of therapeutic workshops on psychosocial
rehabilitation of individuals with mental distress. Currently, mental health professionals such
as doctors, psychologists, nurses, social workers and others perceive the relevance of
therapeutic workshops as a substitute of the models in mental health. The current policy of
Mental Health of Brazil, inspired by the Italian reform press for giving citizenship to patients.
In this process we seek to rehabilitate the social reintegration subject to life. In this aspect the
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therapeutic workshops serve as a vehicle for socialization and interaction, hence the work in
the workshops will become a therapeutic resource.
Key Words: Workshops Therapy, Mental Distress, Psychosocial Rehabilitation, Mental
Health.
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