UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO ANDRÉ ROBSON TRAJANO DA SILVA PROPOSTA PARA A INCORPORAÇÃO DOS FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE EMPRESAS: UMA APLICAÇÃO AO SETOR DE PAPEL E CELULOSE Rio de Janeiro 2013 André Robson Trajano da Silva PROPOSTA PARA A INCORPORAÇÃO DOS FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE EMPRESAS: UMA APLICAÇÃO AO SETOR DE PAPEL E CELULOSE Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Celso Funcia Lemme, D. Sc. Rio de Janeiro 2013 Trajano da Silva, André Robson. Proposta para a incorporação dos fatores socioambientais na avaliação econômica de empresas: uma aplicação ao setor de papel e celulose / André Robson Trajano da Silva. -- Rio de Janeiro: UFRJ, 2013. 83 f.: il.; 31 cm. Orientador: Celso Funcia Lemme Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, 2013. 1. Avaliação de Empresas. 2. Finanças. 3. Administração – Teses. I. Lemme, Celso Funcia. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. André Robson Trajano da Silva PROPOSTA PARA A INCORPORAÇÃO DOS FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE EMPRESAS: UMA APLICAÇÃO AO SETOR DE PAPEL E CELULOSE Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada por: _________________________________________________________________ Prof. Celso Funcia Lemme, D.Sc. - Orientador (COPPEAD/UFRJ) _______________________________________________________________ Prof. Marcos Cohen, D.Sc. (IAG/PUC-RIO) _______________________________________________________________ Prof. Carlos Eduardo Frickmann Young, Ph.D. (Instituto de Economia/UFRJ) Rio de Janeiro 2013 Para Juliana, Conceição, Antonio, Arthur, Anderson, Margarida e Ayrton. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela vida e pelas oportunidades de alcançar meus objetivos como fruto de minha dedicação. Agradeço a Jesus Cristo pelo exemplo e pelos ensinamentos que me confortaram nos momentos difíceis. Agradeço a minha esposa, Juliana Albuquerque Marques, pelo companheirismo diário e por incentivar-me a lutar pelos meus sonhos. Agradeço a meus pais, Maria da Conceição Trajano da Silva e Antonio Trajano da Silva, pelo amor incondicional e por estimularem-me a buscar novos conhecimentos desde minhas primeiras palavras. Agradeço a meus irmãos, Arthur Vinícius Trajano da Silva e Anderson Felipe Trajano da Silva, a Mariana Freitas Tacanho da Silva e a família Marques pelo apoio durante o período em que me dediquei ao mestrado. Agradeço ao meu professor, Celso Funcia Lemme, por seu formidável empenho em orientar-me durante todas as etapas deste trabalho. Agradeço a Clarissa Lins, a Israel Klabin e a Kyle Whitaker por suas valiosas contribuições a esta pesquisa. Por fim, agradeço sinceramente aos familiares e amigos que se dedicam com amor ao trabalho, pois me inspiraram a empenhar meus melhores esforços nesta pesquisa. RESUMO TRAJANO DA SILVA, André Robson. Proposta para a incorporação dos fatores socioambientais na avaliação econômica de empresas: uma aplicação ao setor de papel e celulose. Dissertação (Mestrado em Administração) – COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013. O presente trabalho teve por objetivo propor um modelo preliminar que incorpore os fatores socioambientais à avaliação econômica de empresas, aplicando-o ao setor de papel e celulose. Para a construção desse modelo foram identificados: os principais aspectos socioambientais que merecem a atenção das empresas em geral, as questões socioambientais mais significativas para o setor de papel e celulose, bem como práticas socioambientais associadas a estas questões com reflexos econômicos para as empresas do setor. O modelo proposto aponta quais informações são necessárias para que investidores e analistas financeiros possam identificar o ganho ou perda de valor decorrente de práticas socioambientais adotadas pelas empresas de papel e celulose. Entretanto, no estágio atual, a aplicação do modelo é limitada pela qualidade das informações divulgadas pelas empresas. Esta limitação do modelo reforça a sua contribuição: o modelo proposto apresenta-se como um referencial para investidores e analistas financeiros aperfeiçoarem sua demanda por informações e, com isso, gerar um efeito indutor para o aprimoramento da qualidade das informações divulgadas pelas empresas. Palavras-chave: Avaliação de Empresas; Finanças; Relatórios de Sustentabilidade; Sustentabilidade Corporativa. ABSTRACT TRAJANO DA SILVA, André Robson. Environmental and social factors in corporate valuation: a model for the Brazilian pulp and paper industry. Master Thesis (Master of Business Administration) – COPPEAD, Federal University of Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013. This study aimed to propose a preliminary model for incorporating social and environmental factors to the economic valuation of companies, applying it to the pulp and paper industry. To construct this model, were identified: the main social and environmental aspects that deserve the attention of companies in general; the most significant social and environmental issues for the pulp and paper sector; as well as social and environmental practices associated with these issues with economic consequences for companies acting in this sector. The proposed model shows which information is needed so that investors and financial analysts can identify the gain or loss in value due to social and environmental actions adopted by pulp and paper companies. However, at the current stage, its application is limited by the quality of information disclosed by companies. This limitation reinforces the contribution of the model: investors and financial analysts can use it as a referential to improve their demand for information and consequently lead to an improvement of the information disclosed by companies. Keywords: Business Evaluation; Corporate Sustainability; Finance; Sustainability Reports. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Modelo de sistema de mensuração ............................................................. 34 Figura 2 - Sistema para a integração dos fatores socioambientais ao modelo de avaliação econômica de empresas .............................................................................................. 43 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Amostra utilizada na terceira fase do estudo da SustainAbility ................. 30 Quadro 2 - Amostra das iniciativas de avaliação da sustentabilidade corporativa......... 31 Quadro 3 - Dados do setor de papel e celulose brasileiro............................................. 36 Quadro 4 - Nível de aplicação GRI ............................................................................. 39 Quadro 5 - Engajamento de stakeholders .................................................................... 40 Quadro 6 - Amostra de avaliações utilizadas para identificação das questões materiais do setor de papel e celulose......................................................................................... 41 Quadro 7 - Amostra dos relatórios de sustentabilidade utilizados para identificação das práticas socioambientais e seus impactos econômicos ................................................. 41 Quadro 8 - Cálculo do fluxo de caixa livre para a empresa ......................................... 42 Quadro 9 - Agrupamento das iniciativas selecionadas como amostra........................... 45 Quadro 10 - Principais fatores socioambientais abordados pelas iniciativas de avaliação da sustentabilidade corporativa examinadas ................................................................ 46 Quadro 11 - Principais questões materiais identificadas e fatores socioambientais associados................................................................................................................... 48 Quadro 12 - Manejo florestal e sua conexão com valor ............................................... 50 Quadro 13 - Impactos na biodiversidade e sua conexão com valor .............................. 52 Quadro 14 - Mudanças climáticas e sua conexão com valor ........................................ 53 Quadro 15 – Uso da água e sua conexão com valor ..................................................... 55 Quadro 16 - Emissões, efluentes e resíduos e sua conexão com valor.......................... 56 Quadro 17 – Consumo sustentável e sua conexão com valor ....................................... 57 Quadro 18 - Relacionamento com fornecedores e sua conexão com valor ................... 58 Quadro 19 - Relacionamento com comunidades e sua conexão com valor................... 60 Quadro 20 - Modelo preliminar de avaliação econômica dos fatores socioambientais aplicado ao setor de papel e celulose ........................................................................... 61 Quadro 21 - Exemplos de retorno gerado por práticas socioambientais ....................... 62 Quadro 22 - Exemplos de dispêndios em práticas socioambientais .............................. 64 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABRAF - Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas BRACELPA - Associação Brasileira de Celulose e Papel DFC - Desempenho Financeiro Corporativo DJSI - Dow Jones Sustainability Indexes DSA - Desempenho Socioambiental IFC - International Finance Corporation FBDS - Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável GEE - Gases de Efeito Estufa GRI - Global Reporting Initiative ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&F Bovespa MDL - Mecanismos de Desenvolvimento Limpo ONU - Organização das Nações Unidas PRI – Principles for Responsible Investment TBL - Triple Bottom Line UNEP FI – United Nations Environment Programme Finance Initiative WBCSD - World Business Council for Sustainable Development SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO ................................................................................ 13 1.2 PROBLEMA...................................................................................................... 14 1.3 OBJETIVO DA PESQUISA .............................................................................. 16 1.4 RELEVÂNCIA .................................................................................................. 16 1.5 DELIMITAÇÕES .............................................................................................. 17 2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 18 2.1 RELAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO FINANCEIRO CORPORATIVO E SOCIOAMBIENTAL ................................................................................................. 18 2.2 MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL E AVALIAÇÃO DE MATERIALIDADE .................................................................................... 24 2.3 MÉTRICAS FINANCEIRAS DE DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL......... 27 3 MÉTODO DE PESQUISA............................................................................... 29 3.1 IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS FATORES SOCIOAMBIENTAIS ........ 29 3.1.1 Critérios para seleção da amostra........................................................................ 29 3.1.2 Descrição das iniciativas selecionadas para amostra ........................................... 32 3.1.3 Análise e categorização dos principais fatores socioambientais .......................... 33 3.2 ANÁLISE DAS QUESTÕES MATERIAIS SETORIAIS .................................. 35 3.2.1 Critérios para a seleção do setor de papel e celulose ........................................... 36 3.2.2 Análise da materialidade dos fatores socioambientais para o setor de papel e celulose .............................................................................................................. 37 3.3 ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS E SUA CONEXÃO COM A AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE EMPRESAS ................................................ 41 3.4 SELEÇÃO DA AMOSTRA DE EMPRESAS PARA TESTE DO MODELO .... 43 3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ........................................................................... 44 4 RESULTADOS................................................................................................. 45 4.1 PRINCIPAIS FATORES SOCIOAMBIENTAIS ............................................... 45 4.2 IDENTIFICAÇÃO DAS QUESTÕES MATERIAIS PARA O SETOR DE PAPEL E CELULOSE ...................................................................................... 47 4.3 IDENTIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS ASSOCIADAS ÀS QUESTÕES MATERIAIS E DE SEUS IMPACTOS NA AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE EMPRESAS DE PAPEL E CELULOSE ............................. 48 4.3.1 Manejo florestal ................................................................................................. 49 4.3.2 Impactos na biodiversidade ................................................................................ 51 4.3.3 Mudanças climáticas .......................................................................................... 53 4.3.4 Uso da água........................................................................................................ 54 4.3.5 Emissões, efluentes e resíduos............................................................................ 55 4.3.6 Consumo sustentável.......................................................................................... 57 4.3.7 Relacionamento com fornecedores ..................................................................... 58 4.3.8 Relacionamento com comunidades..................................................................... 58 4.4 APRESENTAÇÃO DO MODELO .................................................................... 60 4.5 TESTE DO MODELO ....................................................................................... 62 4.6 CONSIDERAÇÕES AO TESTE DO MODELO................................................ 65 5. CONCLUSÃO .................................................................................................. 67 REFERÊNCIAS................................................................................................. 70 APÊNDICE 1 – PRINCIPAIS FATORES SOCIOAMBIENTAIS AVALIADOS PELAS INICIATIVAS EXAMINADAS............................................................ 75 APÊNDICE 2 – QUESTÕES MATERIAIS IDENTIFICADAS PARA O SETOR DE PAPEL E CELULOSE................................................................................. 76 ANEXO 1 – 108 INICIATIVAS GLOBAIS ANALISADAS PELO ESTUDO “RATE THE RATERS” FASE TWO (SUSTAINABILITY, 2010b) .................. 77 ANEXO 2 – TOP 100 GLOBAL FOREST, PAPER & PACKAGING INDUSTRY COMPANIES (PRICEWATERHOUSECOOPERS, 2011) ............ 81 ANEXO 3 – NÍVEIS DE APLICAÇÃO DA GRI VERSÃO 3.1 (GRI, 2000-2011) ........................................................................................................................... 83 13 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO Nos anos 1970 já existiam iniciativas isoladas para a seleção de investimentos a partir de fatores não financeiros. Alguns fundos de pensão na Europa e nos Estados Unidos tinham a preocupação de que seus investimentos pudessem ser questionados sob o ponto de vista ético, moral ou religioso. Dessa forma, investidores com esse perfil passaram a aprovar ou reprovar a alocação e a manutenção de recursos em ativos com base nestes critérios (CRAMER e KARABELL, 2010). Algumas décadas depois, o lançamento dos Princípios do Equador contribuiu para a incorporação da avaliação socioambiental em empreendimentos que captam recursos por meio de project finance. Tradicionalmente, em operações dessa natureza, o financiador analisa as receitas projetadas para um projeto específico, tanto como fonte de pagamento quanto como garantia à sua exposição ao risco. Com a ratificação dos Princípios do Equador, as instituições financeiras signatárias comprometeram-se em analisar essas operações também em função dos impactos e riscos socioambientais relevantes para o projeto financiado, de acordo com os critérios aplicados pela International Finance Corporation (IFC). A introdução destes critérios na avaliação destas operações financeiras teve por objetivo assegurar que os projetos financiados sejam desenvolvidos de forma socialmente responsável e mediante boas práticas de gestão ambiental. Dessa maneira, reduz-se a exposição das entidades que utilizam este tipo de financiamento a eventuais passivos socioambientais e, consequentemente, mitiga-se os riscos de crédito destes financiamentos em favor das instituições financeiras signatárias. Até o mês de maio de 2012 os Princípios do Equador já tinham sido ratificados por setenta e sete instituições financeiras de diversos países (EQUATOR PRINCIPLES, 2012). Por sua vez, a proposição dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI, do inglês Principles for Responsible Investment) pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2006 foi uma importante iniciativa global que incorporou fatores socioambientais e de governança à avaliação de investimentos. A elaboração destes princípios teve a colaboração direta de alguns dos maiores investidores institucionais do planeta, o que contribuiu para a difusão dos mesmos na comunidade financeira. Os signatários do PRI fundamentam-se no entendimento de que fatores ambientais, sociais e de governança corporativa têm impacto no desempenho financeiro dos portfólios de 14 investimentos, ainda que seus efeitos possam variar em função de outros fatores como o setor econômico, as características da empresa e as localidades em que atua. Até o mês de abril de 2012 o PRI já havia sido ratificado por mais de mil investidores institucionais. Conjuntamente estes signatários eram responsáveis pela gestão de aproximadamente trinta trilhões de dólares em ativos (PRI, 2012). 1.2 PROBLEMA As iniciativas mencionadas fazem parte de uma tendência pela inclusão de critérios de sustentabilidade corporativa nas análises efetuadas para o aporte de recursos em empresas, seja na forma de financiamento ou de capital próprio. No entanto, há o desafio de verificar, em última instância, como a sustentabilidade corporativa pode se traduzir no resultado financeiro das corporações (YACHNIN & ASSOCIATES, 2006). Para o propósito deste trabalho, a expressão sustentabilidade corporativa será tratada como a incorporação de fatores socioambientais na definição da estratégia das empresas, na operação do negócio e nas interações com stakeholders (LINS e WAJNBERG, 2007). Em uma série de seminários efetuados por duas entidades de influência internacional, World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e United Nations Environment Programme Finance Initiative (UNEP FI), constatou-se que gestores de empresas e investidores têm o entendimento de que fatores socioambientais podem gerar impactos no desempenho financeiro de longo prazo das empresas, sejam estes positivos ou negativos. Entretanto, observou-se que há divergências entre essas partes em relação à quais fatores socioambientais devem ser tratados como relevantes para a mensuração de seus impactos na avaliação econômica de empresas (UNEP FI e WBCSD, 2010). Muitos investidores ainda têm o entendimento de que os fatores socioambientais se limitam a questões relacionadas à reputação e à marca. Ao mesmo tempo, embora dotados de um profundo entendimento do negócio em que operam, os gestores de empresas têm dificuldade em comunicar adequadamente aos investidores quais fatores socioambientais têm impactos relevantes no desempenho financeiro da companhia. Consequentemente, os investidores frequentemente superestimam ou subavaliam o valor das empresas no longo prazo porque não conseguem integrar de forma apropriada os fatores socioambientais à suas análises e decisões de investimentos (UNEP FI e WBCSD, 2010). 15 Na tentativa de orientar os investidores que buscam alocar seus recursos em empresas que tenham um bom nível de sustentabilidade corporativa, surgiram nos últimos anos diversas entidades com o objetivo de avaliar as empresas de capital aberto sob esta ótica (SUSTAINABILITY, 2010a). Como resultado há diversos índices, ratings, rankings e premiações que se propõem a atestar o desempenho socioambiental de empresas em várias partes do globo. Para tanto, um grande número de questionários tem sido encaminhado às empresas por estas entidades especializadas, solicitando informações que permitam avaliar seu nível de sustentabilidade corporativa. Este fato tem sido criticado pelas empresas em função dos recursos empregados para a prestação de informações por vezes pouco significativas no contexto de seus negócios (UNEP FI e WBCSD, 2010). Além disso, poucas destas iniciativas para mensurar a sustentabilidade corporativa efetuam uma análise integrada dos fatores econômicos, sociais e ambientais. Neste esforço são utilizados diferentes indicadores para avaliar cada um destes fatores, bem como adotados métodos distintos para ponderar e agregar os resultados obtidos. Dessa forma, tais avaliações estão sujeitas a resultados subjetivos, ainda que possam ser empregados vários critérios objetivos (SINGH et al., 2012). Ao mesmo tempo, embora os índices, ratings, rankings e premiações tenham o objetivo de auxiliar investidores em suas decisões de alocação de recursos, não lhes permitem mensurar os impactos financeiros dos fatores socioambientais nas empresas analisadas. Isoladamente, o resultado destas avaliações apenas permite aos investidores distinguir as empresas de melhor desempenho socioambiental, como ocorre, por exemplo, com os Dow Jones Sustainability Indexes (DJSI) e os ratings da Oekom. Uma vez identificadas quais são estas empresas, a prática de mercado consiste em verificar se o desempenho financeiro das mesmas também é superior ao obtido pelas corporações não tão bem avaliadas sob a ótica socioambiental, mediante a análise de séries históricas das carteiras de ações. Desta forma, os índices, ratings, rankings e premiações não atendem ao desafio de elucidar aos investidores de forma clara e direta o retorno financeiro gerado pelos recursos que são alocados pelas empresas em práticas socioambientais1. Uma forma de estabelecer uma conexão direta entre o desempenho socioambiental e financeiro seria a incorporação dos fatores socioambientais relevantes aos modelos de avaliação de empresas. 1 Práticas associadas às atividades operacionais das empresas que impactem de forma positiva seus stakeholders e/ou o meio ambiente, direta ou indiretamente. 16 De acordo com a literatura examinada, não foi encontrado um modelo genérico que permita a mensuração dos efeitos financeiros gerados pelo desempenho socioambiental das empresas. Ainda assim, conforme será apresentado a seguir, há estudos que apontam alguns dos caminhos que podem ser desenvolvidos para a identificação do valor econômico gerado pelas práticas socioambientais corporativas. 1.3 OBJETIVO DA PESQUISA O presente trabalho tem por objetivo propor um modelo preliminar que incorpore os fatores socioambientais à avaliação econômica de empresas. Este modelo visa identificar o ganho ou perda de valor decorrente de um conjunto de práticas corporativas que envolvem fatores sociais e/ou ambientais. Para ilustrar a construção deste modelo, foi selecionado o setor de papel e celulose tendo em vista a relevância socioeconômica do setor no Brasil e sua interferência no meio ambiente. No intuito de testá-lo, sob a ótica de investidores e analistas financeiros, foram utilizadas informações coletadas em fontes de acesso público referentes a uma amostra de empresas brasileiras que atuam neste setor. 1.4 RELEVÂNCIA A apresentação de uma estrutura sequencial que seja capaz integrar os fatores socioambientais na avaliação econômica de empresas seria um método de análise útil para investidores e analistas financeiros. O modelo de avaliação econômica resultante da aplicação deste método lhes possibilitaria quantificar o retorno monetário dos recursos empregados em ações corporativas que geram benefícios diretos ou indiretos aos stakeholders e ao meio ambiente. A proposta desta pesquisa coaduna-se com o alerta efetuado por Epstein e Roy (2003) de que somente é possível integrar os fatores sociais e ambientais na estratégia empresarial quando as empresas conseguem estabelecer uma justificativa de negócios (business case) para um bom desempenho socioambiental. Um modelo capaz de capturar os efeitos econômicos dos fatores socioambientais nas corporações auxiliaria investidores e analistas financeiros em verificar se as empresas que integram tais fatores à estratégia, às atividades operacionais e ao relacionamento com stakeholders geram um retorno financeiro superior em relação àquelas que não adotam tais práticas. 17 1.5 DELIMITAÇÕES É importante ressaltar que a construção do modelo proposto esteve sujeita a delimitações espaciais e temporais. Neste trabalho, foram examinados os principais fatores socioambientais relacionados ao setor de papel e celulose no contexto brasileiro para o ano de 2010 e 2011. 18 2 REVISÃO DE LITERATURA A revisão de literatura foi dividida em três tópicos. Primeiramente, buscou-se uma melhor compreensão dos resultados obtidos por diversos pesquisadores na tentativa de identificar a relação existente entre o desempenho financeiro das empresas e seu desempenho socioambiental. Embora o conjunto de estudos examinados não indique uma correlação positiva robusta entre os mesmos, constatou-se que os gestores de empresas não destroem os recursos que lhes são confiados pelos acionistas ao empregarem-nos em práticas socioambientais. Em seguida, a literatura examinada revela a importância das informações divulgadas pelas empresas para que os investidores e analistas financeiros sejam capazes de integrar as práticas socioambientais às suas decisões de investimentos. Para que as empresas possam aperfeiçoar a qualidade das informações divulgadas, observouse que devem ser direcionados esforços para a mensuração das práticas socioambientais mais relevantes para o negócio, conforme a atividade econômica que desempenham. Por fim, a literatura revisada propõe a divulgação do desempenho socioambiental corporativo em métricas financeiras. Nesse sentido, constatou-se que a incorporação dos fatores socioambientais na avaliação econômica de empresas pressupõe a expressão dos impactos econômicos desses fatores em medidas que possam ser traduzidas em um denominador comum monetário. 2.1 RELAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO FINANCEIRO CORPORATIVO E SOCIOAMBIENTAL O vencedor do Premio Nobel de Ciências Econômicas, Milton Friedman, defendia nos anos 1970 a perspectiva de que os gestores corporativos não deveriam alocar os recursos da empresa em causas sociais, pois estariam destruindo a riqueza dos acionistas que representam (FRIEDMAN, 1970 apud HUMPHREY, LEE e SHEN, 2012). No entanto, nos anos 1980, outros agentes começaram a influenciar as decisões dos gestores de empresas, além dos acionistas. Neste novo contexto de negócios, uma perspectiva mais ampla tornou-se mais adequada. Desta forma, fortaleceu-se o entendimento de que os interesses de todos os grupos que afetam ou são afetados pelas atividades empresariais devem ser analisados durante o processo decisório dos gestores corporativos (FREEMAN e Mc VEA, 2001). Três décadas depois, há uma grande pressão para que as empresas não apenas aprimorem seu relacionamento com stakeholders, como também para que haja a 19 integração dos fatores ambientais, sociais e de governança às suas atividades. No entanto, é preciso saber se os recursos empregados pelas corporações para aprimorar seu desempenho socioambiental e de governança será traduzido em benefícios futuros, ou seja, se aumentará o valor da empresa ou se o reduzirá. Do ponto de vista do investidor, a questão que se apresenta atualmente é se a análise que leva em consideração tal desempenho lhe permitirá identificar quais empresas representam bons investimentos (HUMPHREY, LEE e SHEN, 2012). Para Ruf et al. (2001), a incorporação das demandas de stakeholders nas ações corporativas traduz-se em um inevitável custo para que as empresas possam operar. Enquanto que o envolvimento com seus stakeholders confere legitimidade social às atividades empresariais, ignorá-los pode resultar em eventuais confrontos que impactem negativamente no valor de suas ações: greves, protestos, processos judiciais, boicotes a seus produtos e serviços, entre outros. Por este motivo, sob esta perspectiva, ao considerar os interesses de todos os grupos que são afetados pelas suas atividades, as empresas também estão protegendo os interesses de seus acionistas. A importância das empresas estabelecerem um bom relacionamento com os stakeholders vem da percepção de que as transações com fornecedores, clientes, empregados, governos e comunidades não se dão uma única vez, repetindo-se no longo prazo. Quando as empresas agem de forma cooperativa, adotando ações voluntárias socialmente responsáveis e comunicando-as a seus stakeholders fortalecem sua reputação com seus parceiros e clientes (RUF et al., 2001). As empresas que desfrutam de vantagens competitivas são aquelas que detêm recursos valiosos, raros, inimitáveis e insubstituíveis (BARNEY, 1991). Desta forma, aquelas que encaram como custos a satisfação de seus stakeholders tendem a minimizar tais dispêndios, adotando o padrão mínimo requerido para a indústria. Por outro lado, as empresas que incorporam o envolvimento com stakeholders à sua estratégia, podem desenvolver ações específicas que satisfaçam as necessidades destes grupos de interesse e, com isso, criar vantagens competitivas que podem lhe render um melhor desempenho financeiro (RUF et al. 2001). Diversos pesquisadores têm demonstrado interesse em explorar a relação entre o desempenho financeiro corporativo (DFC) e socioambiental (DSA), como forma de refutar ou corroborar a perspectiva proposta há algumas décadas por Friedman (GRIFFIN e MAHON, 1997). De acordo com Salzmann, Steger e Ionescu-Somers (2005a), os estudos acadêmicos que analisam a relação entre o DFC e DSA podem ser agrupados em duas categorias: estudos teóricos, baseados em modelos que procuram 20 explicar a relação de causalidade entre o DFC e o DSA; e estudos empíricos que, por sua vez, se subdividem em instrumentais e descritivos. Os estudos instrumentais buscam testar as hipóteses dos estudos teóricos de forma qualitativa ou quantitativa, enquanto que os estudos descritivos objetivam verificar como as empresas fazem a conexão entre o DFC e o DSA na prática. Entretanto, uma análise individualizada de algumas pesquisas instrumentais quantitativas que estudam a relação entre o DFC e o DSA revela resultados mais ou menos conclusivos, em favor de uma correlação positiva entre os mesmos, de acordo com o conjunto de dados examinados em cada estudo. Um grande número de pesquisas com este propósito tem sido efetuado a partir de informações extraídas de diversos horizontes temporais, em diferentes localizações geográficas, dentre outras distinções de parâmetros de análise. A título de ilustração, apresenta-se uma síntese de quatro destas pesquisas nos parágrafos a seguir. Como exemplo, observa-se o trabalho de Klassen e McLaughlin (1996) que, ao analisarem o período de 1985 a 1991, verificaram a existência de retornos positivos significativos no valor de mercado de empresas em função de premiações que atestavam uma boa gestão ambiental, enquanto que retornos negativos significativos foram observados quando empresas apresentavam problemas de gestão ambiental. Este resultado seria um indicativo de percepção de valor quanto à variável ambiental, pois se observou a existência de retornos anormais positivos de ações de empresas que se destacam por seu desempenho ambiental. Conclusão semelhante pode ser obtida a partir da pesquisa de Arx e Zigler (2008) que, ao efetuarem análises econométricas em dados de empresas dos Estados Unidos e da Europa entre 2003 e 2006, constataram a existência de reflexos no retorno mensal das ações de empresas em função de suas atividades socioambientais quando comparadas a outras dentro do mesmo setor de atividade econômica, muito embora tenham sido identificadas diferenças na robustez dos resultados obtidos para os Estados Unidos e a Europa. Assim, este estudo também aponta favoravelmente para a relevância do DSA no DFC, embora destaque diferenças na intensidade dos resultados em função da região geográfica examinada. Em contrapartida, a relação entre DSA e DFC apresentou resultados distintos quando Jacobs, Singhal e Subramarian (2008) analisaram o efeito no valor de mercado de ações de empresas em decorrência de seu desempenho ambiental, tendo como referência a divulgação de iniciativas corporativas para evitar, mitigar ou compensar os impactos ambientais de seus produtos, bem como a divulgação de premiações e 21 certificações ambientais. Como resultado, constatou-se que não há uma reação do mercado em função destes anúncios quando há uma análise conjunta dos mesmos. Contudo, ao mesmo tempo, foram identificadas relações estatisticamente significativas para algumas subcategorias de informações analisadas, como por exemplo: reações negativas do mercado em função da redução das emissões voluntárias de empresas e reações positivas do mercado diante da obtenção da certificação ISO 14001 por empresas. Assim, os referidos autores concluíram que o mercado parece ter uma reação seletiva diante de anúncios corporativos de desempenho ambiental. Por sua vez, o trabalho de Cavalcante, Bruni e Costa (2009), ao analisar a relação entre o DFC e o DSA no contexto brasileiro, encontrou resultados distintos sob o ponto de vista temporal. Ao confrontarem o desempenho de uma carteira teórica formada pelas ações que compõem o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBOVESPA com o das carteiras teóricas que formam o Índice Bovespa (Ibovespa) e o Índice Brasil (IBrX), esses autores não identificaram um desempenho superior do ISE ante os demais índices no período posterior a sua criação. Todavia, ao retroagirem o ISE para o período anterior a sua criação, observou-se que a carteira teórica associada a este índice apresentou melhor desempenho, o que poderia sugerir que sua precificação teria ocorrido antes de sua divulgação oficial. Ainda assim, os autores deste estudo enfatizam que não foi possível identificar um momento específico capaz de marcar a elevação percebida nos preços das ações em questão. O exame da literatura supramencionada fornece indícios de como é difícil concluir quanto à existência de uma relação entre o DFC e o DSA mediante uma análise individualizada de apenas alguns artigos acadêmicos. Por esse motivo, baseando-se no grande número de estudos instrumentais quantitativos que tem explorado a relação entre o DFC e o DSA, alguns autores têm realizado pesquisas que se propõem a analisar de forma consolidada os resultados obtidos por vários destes estudos. Conforme se observa na revisão de literatura apresentada a seguir, embora o resultado destas metanálises não permita a identificação de evidências robustas de uma correlação positiva entre o DFC e o DSA, fortalece-se a constatação de que as práticas socioambientais ao menos não destroem valor para investidores e empresas. Margolis, Elfenbein e Walsh (2007) examinaram 167 estudos entre 1972 e 2007 encontrando uma tênue correlação positiva entre DSA e DFC, ou seja, que haveria alguma relação entre ambos. Contudo, para Herremans et al. (1993 apud BEURDEN e GOSSLING, 2008) é preciso cuidado ao examinar resultados de estudos que envolvem aspectos sociais quando abrangem períodos de tempo muito distintos. Por este motivo, 22 Beurden e Gossling (2008), ao efetuarem uma metanálise para analisar a relação entre DSA e DFC, optaram por incluir em sua amostra apenas dados posteriores a 1990, pois entendem que após a publicação do “Brundtland Report” (1987) deu-se maior importância às questões socioambientais. Ainda assim, estes dois autores também obtiveram como resultado evidências de que há uma correlação positiva entre DSA e DSC. Os resultados da pesquisa de Margolis, Elfenbein e Walsh (2007) lhes permitiram afirmar que as empresas não destroem sistematicamente a riqueza de seus acionistas ao investirem seus recursos para aprimorarem seu desempenho socioambiental, ao contrário do temor manifestado por Friedman nos anos 1970. Para Beurden e Gossling (2008), a visão atual sobre o tema permite distinguir a responsabilidade socioambiental corporativa das práticas meramente filantrópicas, que era ao que Friedman se referia quarenta anos atrás. Segundo estes autores, se Friedman analisasse o DFC como consequência do DSA, provavelmente defenderia o pensamento de que organizações socialmente responsáveis podem ser lucrativas. Ademais, ao constatarem uma tênue correlação positiva entre DSA e DFC, Margolis, Elfebein e Walsh (2007) verificaram que parece haver menos sustentação para impactos financeiros positivos em decorrência do DSA do que quando se tratam de impactos financeiros negativos decorrentes de atitudes irresponsáveis por parte das empresas. Isso significa dizer que há uma maior tendência de que o valor do acionista decresça em função de impactos negativos socioambientais do que aumente em decorrência de impactos positivos de mesma natureza. Por sua vez, Van der Laan, Van Ees e Van Witteloostuijn (2008) obtiveram evidências de que o reflexo do DSA no DFC tende a ser assimétrico, de modo que os efeitos no DFC de uma reputação positiva de DSA são menores do que uma reputação negativa de DSA de mesma magnitude. Segundo estes autores tal comportamento justifica-se pela teoria dos prospectos de Kahneman e Tversky (1979 apud Van der Laan, Van Ees e Van Witteloostuijn, 2008), de acordo com a qual a perda de valor para um investidor diante de um prejuízo é percebida de forma mais marcante do que o acréscimo de valor face um ganho na mesma proporção. Em um estudo mais recente, Humphrey, Lee e Shen (2012) concluíram que os gestores de empresas podem incorporar os fatores socioambientais à estratégia corporativa sem preocuparem-se em incorrer em custos financeiros significativos (ou benefícios) em termos de risco e retorno. Isso porque, ao confrontarem o DSA de 256 empresas do Reino Unido com o desempenho financeiro de suas ações no período de 23 2002 a 2010, observaram que o DSA não tem um efeito sistemático, positivo ou negativo, no valor de mercado destas empresas. Ainda assim, conforme destacado no relatório “Translating ESG into sustainable business value” (UNEP e WBCSD, 2010), diversas empresas tem o entendimento de que fatores socioambientais tem um impacto significativo em seu valor intrínseco. Consequentemente, segundo esta ótica, tal impacto deveria gerar um efeito correspondente no valor de mercado de suas ações. No entanto, segundo o referido relatório, para que investidores e analistas financeiros tenham percepção semelhante, compete às empresas aprimorarem sua comunicação interna, aproximando profissionais das áreas de Sustentabilidade e de Relacionamento com Investidores, e externa, divulgando claramente quais fatores socioambientais lhes impactam financeiramente de modo significativo. A perspectiva de que as empresas devam ser analisadas não apenas em função da ótica econômica, como também pelo valor social e ambiental que adicionam ou destroem, está consubstanciada no conceito de Triple Bottom Line (TBL) proposto por Elkington (2005). Frequentemente associado ao termo sustentabilidade corporativa, em linhas gerais, o TBL refere-se à prosperidade econômica, qualidade ambiental, progresso social e a elaboração de métricas que possibilitem a mensuração do desempenho de uma empresa não apenas na esfera econômica, como também nas esferas social e ambiental (LINS e WAJNBERG, 2007). Neste sentido, a UNEP FI (2006) elaborou um relatório destinado aos investidores a partir de alguns estudos efetuados por analistas financeiros, majoritariamente sob uma ótica setorial, que buscaram identificar o impacto dos fatores sociais, ambientais e de governança no valor econômico das empresas. Neste relatório, foram apresentadas as seguintes conclusões: 1º) Há evidências robustas de que tais fatores podem afetar de forma positiva ou negativa o valor gerado para o acionista no curto e longo prazo; 2º) O impacto destes fatores pode ser avaliado economicamente, tendo em vista a quantificação apresentada em seis dos onze estudos analisados; 3º) A relevância destes fatores varia em função do setor econômico analisado. Após esta breve descrição de alguns estudos que têm buscado identificar os efeitos dos fatores socioambientais no desempenho financeiro das corporações, será dada ênfase aos mecanismos que podem ser adotados pelas empresas para mensurar o desempenho de suas práticas socioambientais, bem como para avaliar a relevância destas iniciativas em seu resultado financeiro. 24 2.2 MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL E AVALIAÇÃO DE MATERIALIDADE Para que investidores e analistas financeiros sejam capazes efetuar a avaliação econômica de fatores socioambientais, é fundamental que as empresas sejam capazes de transmitir-lhes com clareza a relação destes fatores com o desempenho financeiro da companhia (UNEP FI e WBCSD, 2010). De acordo com o World Economic Forum e a AccountAbility (ZADEK, MERME e SAMANS 2005), as empresas podem aprimorar sua comunicação com investidores e analistas financeiros mediante a adoção das seguintes medidas: Aperfeiçoamento do processo de coleta de informações materiais não financeiras, divulgando-as de forma consistente e precisa; Estabelecimento de critérios para a definição dos assuntos mais significativos, utilizando-os como referência para a divulgação de informações que evidenciem a conexão entre o desempenho socioambiental e financeiro. Segundo Epstein e Roy (2001), cada elemento das ações corporativas relacionadas aos fatores socioambientais deve ser traduzido em uma métrica que eventualmente será relacionada ao desempenho socioambiental. Em primeiro lugar, a estratégia voltada para a sustentabilidade corporativa deve ser associada a um objetivo mensurável, como a meta de redução do número de dias em que os trabalhadores ficaram impossibilitados de exercer suas atividades, por exemplo. Em seguida, os planos e programas de ação para atingir estes objetivos também devem estar associados a dispêndios, como os programas de treinamento para reduzir acidentes que resultem na perda de dias de trabalho. E por fim, também deve haver medidas para aferir os sistemas de gestão, como o número de gestores responsáveis pela supervisão de medidas de saúde e segurança, certificações internacionais obtidas pela empresa, entre outros. Contudo, os referidos autores reconhecem que o estabelecimento de mecanismos capazes de mensurar as práticas socioambientais corporativas é uma tarefa particularmente difícil, pois muitas vezes tais ações estão relacionadas a horizontes de longo prazo, a um grande nível de incertezas e, geralmente, seus impactos são de difícil quantificação (EPSTEIN e ROY, 2001). Ainda assim, a UNEP FI e WBCSD (2010) destacam que este último obstáculo pode ser superado por meio de reuniões regulares entre os gestores da empresa e seus investidores, pois se tratam de informações que requerem julgamento e a visão destes atores é complementar. 25 No intuito de avaliar a qualidade das métricas de desempenho socioambiental adotadas pelas empresas, Epstein e Roy (2003) sugeriram a classificação das informações divulgadas em quatro níveis. Quão mais claramente tais métricas possam ser associadas ao desempenho financeiro da empresa, maior é o nível em que são classificadas. Primeiro nível: informação descritiva, não relacionada ao desempenho financeiro. Segundo nível: informação quantitativa mensurada de forma física, não relacionada ao desempenho financeiro. Terceiro nível: informação traduzida em valor monetário, mas parcialmente relacionada ao desempenho financeiro, na medida em que apresenta apenas os dispêndios efetuados. Quarto nível: informação traduzida em valor monetário estando integralmente relacionada ao desempenho financeiro, pois corresponde aos dispêndios efetuados e benefícios financeiros gerados. Ao mesmo tempo, no tocante às diversas iniciativas efetuadas por entidades especializadas para mensuração do desempenho socioambiental de empresas, Delai e Takahashi (2008) destacam a falta de um conjunto de medidas padronizadas de sustentabilidade corporativa amplamente aceitas. Em sua pesquisa, apresentam um modelo de referência para mensuração da sustentabilidade corporativa com base na análise de complementaridade de oito iniciativas de mundialmente conhecidas: Global Reporting Initiative (GRI), Métricas de Sustentabilidade do IChemE, Índice Dow Jones de Sustentabilidade, Índice Triple Bottom Line, Indicadores de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, Barômetro de Sustentabilidade, Dashboard de Sustentabilidade e Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. O modelo proposto por estes autores apresenta uma hierarquia de quatro níveis: dimensões, temas, subtemas e indicadores de desempenho. As dimensões estão em consonância com o conceito do Triple Bottom Line, destacando separadamente os aspectos sociais, ambientais e econômicos. Os temas caracterizam-se por serem os assuntos prioritários de cada uma destas dimensões e os subtemas um desmembramento mais específico destes. Segundo os autores, a proposta de um modelo de três níveis de abstração mais seus respectivos indicadores justifica-se por ser uma característica comum à maioria dos sistemas por eles analisados. Ademais, a avaliação do desempenho socioambiental varia conforme as especificidades de cada setor (UNEP FI 2006, UNEP FI e WBCSD 2010). Por este 26 motivo, é preciso estabelecer com clareza a materialidade dos fatores socioambientais. Com isso, evita-se a mensuração e a divulgação de informações que tenham pouca relevância para o contexto da empresa analisada. Vários autores também apontam em suas pesquisas que a definição dos fatores socioambientais materiais deve considerar as características da indústria analisada (HESS, 2003; SALZMANN, IONESCUSOMERS, STEGER, 2005a; LYDENBERG, ROGERS, WOOD, 2010). O termo materialidade tem sua origem nas ciências contábeis, sendo uma questão dita material quando esta impacta de maneira significativa o resultado financeiro ou desempenho de uma empresa. No contexto da sustentabilidade corporativa, Lins e Lomonaco (2012) destacam que uma questão é material quando esta tem impacto relevante na reputação de uma empresa e/ou em seu desempenho, tendo em vista a ótica da empresa e de seus principais stakeholders. Desta maneira, segundo estas autoras, o processo de definição da materialidade deve envolver tanto os executivos de uma empresa quanto seus principais stakeholders. Para tanto, compete às empresas a adoção de práticas de engajamento do público interno e das principais partes interessadas, com o objetivo de captar, de modo estruturado, suas expectativas e percepções. Para avaliar a materialidade dos fatores socioambientais, Lydenberg, Rogers e Wood (2010) propõem um teste composto de cinco filtros: 1º) Fatores que tenham impactos financeiros ou possam representar risco para o setor no curto, médio e longo prazo; 2º) Assuntos setoriais que envolvam políticas governamentais ou aspectos regulatórios; 3º) Assuntos que as empresas do setor costumam reportar em seus relatórios ou reconhecem como fatores relevantes em suas linhas de negócios; 4º) Assuntos que são de grande importância para stakeholders e/ou reflitam tendências de consumo e sociais; 5º) Áreas em que há potencial para explorar soluções inovadoras que beneficiem o meio ambiente e stakeholders, como forma de criar vantagem competitiva. Depois, os referidos autores sugerem aplicar uma escala de quatro pontos (0-3) para cada um destes cinco categorias ao analisar cada um dos fatores socioambientais capturados para o setor em análise. Em seguida, sugerem ordenar estes fatores conforme o somatório dos pontos obtidos por cada um dos fatores, estabelecendo ainda uma linha de corte que defina a partir de qual pontuação os mesmos devem ser considerados como significativos. 27 Como se pode observar, a análise de materialidade não é uma ciência exata, tendo em vista a subjetividade do julgamento para cada um dos cinco filtros e a linha de corte. Por este motivo, os autores propõem esta análise dentro de um modelo ainda a ser criado, mas capaz de estabelecer de forma padronizada quais são os fatores socioambientais relevantes que devem ser divulgados por todas as empresas, respeitando as características de seu setor econômico, a localização espacial e o fator temporal (LYDENBERG, ROGERS, WOOD, 2010). 2.3 MÉTRICAS FINANCEIRAS DE DESEMPENHO SOCIOAMBIENTAL Para que investidores e analistas financeiros possam verificar de que maneira o desempenho socioambiental afeta a lucratividade da empresa no longo prazo, cabe aos gestores de empresas destacarem a importância do mesmo em uma linguagem de fácil compreensão. Alguns autores destacam que a melhor forma de executar tal tarefa é por meio da linguagem monetária (EPSTEIN E ROY, 2001; YACHNIN & ASSOCIATES, 2006). Salzmann, Steger e Ionescu-Somers (2005b) destacam três formas pelas quais medidas não financeiras e financeiras decorrentes das práticas socioambientais corporativas podem ser refletidas na avaliação econômica das empresas: redução de custos, aumento de receitas e efeitos positivos em ativos intangíveis. No entanto, os referidos autores reconhecem que a conversão das ações de sustentabilidade corporativa para métricas monetárias é difícil pelos seguintes motivos: especificidades inerentes ao setor e ao país; tempo decorrente entre estas ações e seus efeitos; necessidade de aplicálas a diversos fatores socioambientais com características distintas; necessidade de julgamento que requer habilidades e intuição. Ao mesmo tempo, a incorporação dos fatores socioambientais ao modelo de avaliação financeira não se refere apenas à geração de benefícios monetários, mas também à identificação de riscos. Neste sentido, merece destaque a abordagem efetuada por Stern (2006) em um trabalho voltado para a análise dos impactos econômicos das mudanças climáticas em nível global. Em uma de suas abordagens, a referida pesquisa avaliou os efeitos negativos nos agregados monetários para um determinado horizonte de tempo com base no cenário business as usual, ou seja, caso mantenha-se o volume atual de emissões de gases de efeito estufa. Para tanto, estimou-se os prejuízos financeiros decorrentes da elevação da temperatura global por conta de desastres naturais e de outros impactos no meio ambiente capazes de afetar a saúde humana 28 (exemplo: epidemia de novas doenças), a produtividade global (exemplo: perda de terras agrícolas) e os instrumentos financeiros (exemplo: encarecimento de seguros). Yachnin & Associates (2006) sugerem que as práticas socioambientais corporativas sejam traduzidas na mesma linguagem que é adotada para todos os outros aspectos de finanças corporativas. Para tanto, propõem que os impactos de cada uma destas ações sejam isolados e convertidos em meios monetários. Isso permitiria que gestores de empresas e investidores pudessem comparar os resultados obtidos com os estimados para avaliar oportunidades específicas segundo a magnitude do valor gerado ou dos riscos minimizados. Tendo por base os dados apresentados por algumas empresas do setor de mineração em seus relatórios de sustentabilidade, os referidos autores sugerem a aplicação de cinco ferramentas de avaliação financeira para converter indicadores socioambientais em um denominador comum monetário: análise de indicadores financeiros; fluxo de caixa descontado; análise de viabilidade financeira; análise do valor econômico adicionado e opções reais. Para tanto, conforme qualquer modelo de avaliação financeira, estes autores enfatizam que algumas premissas precisam ser assumidas, por se tratarem de métodos que podem envolver diversas questões subjetivas. Como exemplo, destacam o engajamento de comunidades locais nas atividades desempenhadas pelas empresas como forma de acelerar a implementação de determinados projetos. Na prática, este ganho temporal corresponde a uma antecipação do retorno do fluxo financeiro a ser gerado pelo projeto. Assim, caso seja possível estima-lo, será possível determinar o valor gerado para a empresa em meio monetário (YACHNIN & ASSOCIATES, 2006). 29 3 MÉTODO DE PESQUISA O presente trabalho tem por objetivo propor um modelo preliminar que incorpore fatores socioambientais à avaliação econômica de empresas. A construção deste modelo foi efetuada em três etapas. Primeiramente buscou-se uma análise genérica para melhor compreensão dos fatores socioambientais no contexto empresarial. Embora a revisão de literatura destaque a existência de diferenças setoriais quanto à relevância dos fatores socioambientais para as corporações, faz-se necessário uma apuração prévia do universo desses fatores. Desta forma, o objetivo desta etapa inicial traduz-se em uma tentativa de identificar os principais fatores socioambientais que merecem a atenção das empresas de modo geral. Na segunda etapa, os fatores socioambientais foram selecionados de acordo com sua relevância para o setor de papel e celulose. Esta análise baseou-se nas avaliações efetuadas para o setor na publicação Rumo à Credibilidade 2010 (FBDS e SUSTAINABILITY, 2010) e nos relatórios de sustentabilidade da Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA) e de algumas empresas de papel e celulose. Na última etapa, foram estabelecidos critérios para identificar as práticas socioambientais associadas às questões identificadas como materiais para o setor analisado e seus impactos econômicos. Por fim, no intuito de testar a aplicação do modelo proposto, sob a ótica de investidores e analistas financeiros, foi selecionada uma amostra de empresas brasileiras de papel e celulose com base em critérios explicados mais adiante. Para tanto, foram coletadas informações divulgadas pelas empresas selecionadas em fonte de acesso público. 3.1 IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS FATORES SOCIOAMBIENTAIS 3.1.1 Critérios para seleção da amostra Para a identificação dos principais fatores socioambientais, foram examinadas algumas iniciativas representativas de avaliações da sustentabilidade corporativa a partir das constatações apresentadas na pesquisa efetuada por Delai e Takahashi (2008). Como resultado, elaborou-se uma matriz destacando os principais fatores socioambientais inerentes às empresas em geral, independentemente de seu contexto operacional. 30 Adotou-se como ponto de partida a amostra empregada na terceira fase do estudo “Rate the Raters” (SUSTAINABILITY, 2011), o qual teve por objetivo analisar um universo de iniciativas que avaliam a sustentabilidade corporativa de empresas para então sugerir quais aspectos deveriam ser aprimorados em favor da qualidade e transparência dessas iniciativas. Este estudo foi efetuado em quatro fases, cada uma apresentada em um relatório distinto, publicados sequencialmente entre 2010 e 2011. Na segunda etapa deste estudo, a SustainAbility (2010b) efetuou uma análise preliminar de 108 iniciativas globais cujos nomes estão transcritos no Anexo 1. Por sua vez, a amostra empregada na terceira fase deste estudo foi composta por 21 iniciativas selecionadas dentre as 108 analisadas na fase anterior, as quais estão destacadas no Quadro 1. Segundo a SustainAbility, estas 21 iniciativas são representativas sob o ponto de vista geográfico, dos assuntos abordados e do público ao qual se destinam. Quadro 1 – Amostra utilizada na terceira fase do estudo da SustainAbility 1) Access to Medicine Index 2010 2) ASSET4 (Thomson Reuters) 3) Bloomberg ESG Disclosure Scores 4) Carbon Disclosure Project 5) Climate Counts 6) Corporate Reporting on Water Risk 7) CR Magazine 100 Best Corporate Citizens 8) CSRHub 9) Dow Jones Sustainability 10) EIRIS 11) Ethisphere’s World’s Most Ethical Companies 12) FTSE4Good Index Series 13) Global 100 Most Sustainable Corporations in the World 14) GoodGuide 15) GS Sustain 16) Maplecroft Climate Innovation Indexes (CIIs) 17) Newsweek Green Rankings 18) Oekom Corporate Ratings 19) Sustainalytics 20) Trucost Environmental Impact Assessment 21) Vigeo Fonte: SustainAbility (2011) 31 A partir da análise das 21 iniciativas selecionadas pela SustainAbility, constatouse que algumas destas não permitem livre acesso aos indicadores de desempenho socioambiental avaliados. Esta restrição foi um fator determinante para a definição da amostra desta pesquisa, pois é a partir destes indicadores que se espera identificar quais fatores sociais e ambientais merecem ser considerados no modelo de avaliação econômica de empresas. Por este motivo, foram descartadas da amostra todas as avaliações de sustentabilidade corporativa que, no momento da elaboração do presente trabalho, não disponibilizavam acesso gratuito pela internet aos indicadores de desempenho socioambiental examinados. Assim, eliminou-se 10 das 21 iniciativas. Adicionalmente, optou-se por eliminar as avaliações que estivessem direcionadas exclusivamente para um único setor econômico, pois se trata de uma abordagem que destoa da análise genérica desejada para esta etapa da pesquisa. Assim, foi excluído da amostra o Acess to Medicine Index, por restringir sua avaliação ao setor farmacêutico. Em contrapartida, foi adicionada à amostra a análise efetuada para a elaboração do Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE. A inclusão do ISE justifica-se por ser uma avaliação direcionada para as empresas mais negociadas na BMF&BOVESPA, que é a única bolsa de valores, mercadorias e futuros em operação atualmente no Brasil. Ademais, há acesso gratuito pela internet aos questionários utilizados como base para a avaliação dos fatores socioambientais dessas empresas. O Quadro 2 apresenta as iniciativas de avaliação da sustentabilidade corporativa que compõem a amostra utilizada para a identificação dos principais fatores socioambientais que estão relacionados às atividades das empresas em geral. Quadro 2 – Amostra das iniciativas de avaliação da sustentabilidade corporativa 1) Carbon Disclosure Project 2) Corporate Reporting on Water Risk 3) Climate Counts 4) CR Magazine 100 Best Corporate Citizens 5) Dow Jones Sustainability Indexes 6) Ethisphere’s World’s Most Ethical Companies 7) FTSE4Good Index Series 8) Global 100 Most Sustainable Corporations in the World 9) GS Sustain 10) Índice de Sustentabilidade Empresarial 11) Oekom Corporate Ratings 32 3.1.2 Descrição das iniciativas selecionadas para amostra No intuito de possibilitar um entendimento das 11 iniciativas selecionadas para análise, apresenta-se a seguir uma breve descrição das mesmas. Carbon Disclosure Project – organização sem fins lucrativos fundada em 2000 que disponibiliza questionários para as empresas divulgarem informações referentes às suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e ao uso de água, bem como os riscos e oportunidades identificadas em relação aos impactos das mudanças climáticas em suas operações. Corporate Reporting on Water Risk – relatório elaborado em 2010 pela Ceres com o objetivo de avaliar informações relacionadas à água divulgadas por 100 empresas de capital aberto que atuam em setores considerados expostos a riscos decorrentes da disponibilidade de água: bebidas, alimentação, energia elétrica, construção civil, petróleo e gás, mineração e semicondutores. Climate Counts – entidade que, desde 2007, avalia anualmente as ações e políticas adotadas por empresas de diferentes setores para reduzir os impactos de suas atividades no aquecimento global. CR Magazine 100 Best Corporate Citzens – avaliação anual elaborada pela Corporate Responsability Magazine desde 2009, a partir de informações públicas divulgadas por um grupo pré-definido de empresas2, tem por objetivo estabelecer um ranking das 100 melhores segundo critérios socioambientais e de governança corporativa. Dow Jones Sustainability Indexes (DJSI) – índices compostos por empresas de capital aberto selecionadas de acordo com critérios sociais, ambientais e econômicos, dentro de um universo de análise global, continental ou nacional. Lançado em 1999 como a primeira iniciativa do gênero, atualmente estes índices são elaborados com a colaboração da Sustainability Investing. Ethisphere’s World’s Most Ethical Companies – sistema de avaliação elaborado pelo Ethisphere Institute, desde 2007, que aponta as melhores empresas com base em critérios relacionados à ética, governança corporativa, cidadania e responsabilidade corporativa. FTSE4Good Index Series – índices elaborados pela FTSE desde 2001 para destacar empresas de capital aberto selecionadas de acordo com critérios 2 O universo de empresas examinadas pela CR Magazine na edição de 2010-2011 teve como base o Russell 1000 Index. Pode-se obter maiores detalhes em relação às empresas que compõem este índice em: http://www.russell.com/indexes/data/fact_sheets/us/russell_1000_index.asp#membership 33 sociais, ambientais e de governança, dentro de um universo de análise global, continental ou nacional. Global 100 Most Sustainable Corporations in the World – lançado em 2005, é um projeto iniciado pela Corporate Knights, com a colaboração de informações fornecidas pela Global Currents, Inflection Point Capital Management e Phoenix Global Advisors LLC, que tem por objetivo a divulgação de cem empresas, dentre as maiores do mundo em valor de capital, com melhor desempenho em indicadores sociais, ambientais e econômicos. GS Sustain – avaliação de empresas de diversos setores lançada em 2007 pela Goldman Sachs, que tem por objetivo identificar aquelas que mais se destacam em seu segmento de atuação segundo aspectos econômicos, sociais, ambientais e de governança corporativa. Índice de Sustentabilidade Empresarial – iniciado em 2005, é um índice cujo método de avaliação é elaborado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP) e que tem por objetivo avaliar o desempenho de empresas brasileiras com papéis negociados na BM&FBOVESPA segundo critérios econômicos, sociais, ambientais e de governança corporativa. Oekom – agência de rating internacional fundada em 1993 que, entre outras atividades, elabora avaliações de empresas de diversos setores com base em critérios sociais e ambientais. 3.1.3 Análise e categorização dos principais fatores socioambientais O exame das iniciativas selecionadas para a amostra revelou a mesma carência de padronização de informações mencionada por Delai e Takahashi (2008). Verificou-se que cada entidade opta por um sistema próprio de categorização dos fatores de sustentabilidade corporativa examinados. Por este motivo, quando as iniciativas foram comparadas, em uma primeira tentativa de identificar os principais fatores socioambientais abordados, observou-se que a nomenclatura utilizada e os graus hierárquicos de análise apresentam diversas distinções e semelhanças entre si. Devido a esta heterogeneidade de informações, verificou-se a necessidade de examinar individualmente as iniciativas integrantes da amostra. Neste esforço, cada iniciativa foi examinada a partir da premissa de que se encontraria um sistema estruturado, de forma semelhante, embora não exatamente igual, ao modelo de sistema 34 proposto por Delai e Takahashi (2008) com hierarquia em quatro níveis de análise: dimensão, tema, subtema e indicador de desempenho. Desta forma, para identificar os principais fatores socioambientais abordados por cada iniciativa, partiu-se dos níveis mais abrangentes de seu sistema e, sempre que necessário, deslocava-se a análise para o nível imediatamente inferior, no intuito de capturá-los. Figura 1 – Modelo de sistema de mensuração Fonte: Delai e Takahashi (2008) Por exemplo, se a iniciativa examinada apresentasse expressamente, no primeiro nível do sistema, uma nomenclatura que possibilitasse a identificação do fator social e/ou ambiental abrangido, este era adicionado ao conjunto de principais fatores socioambientais mapeados. Caso fosse uma nomenclatura imprecisa, eram examinados os níveis seguintes até que a análise permitisse identificar quais eram os fatores socioambientais abordados. Entretanto, as iniciativas examinadas não abordam apenas fatores socioambientais. Neste ponto, é importante ressaltar que a categorização efetuada no presente trabalho não contemplou aspectos relacionados à governança corporativa, éticos ou econômicos. A importância dos mesmos é notória tendo em vista a recorrência destes na maioria das iniciativas examinadas. Entretanto, não constituem o objeto de análise desta pesquisa. Para possibilitar um melhor entendimento desses fatores que não foram abordados na referida categorização, são elencados a seguir alguns exemplos de tópicos que foram identificados nos questionários, mas destoam do propósito desta pesquisa. 35 Governança Corporativa3: assuntos relacionados ao relacionamento com acionistas em investidores, transparência, Conselho de Administração, prestação de contas e auditoria, conflitos de interesse, entre outros; Ética4: assuntos relacionados a regras antitrustes, concorrência desleal, conflitos de interesse, aceitação de presentes, contribuições políticas e lobby, corrupção e suborno, confidencialidade de informações (empregados, clientes e consumidores), fraudes, lavagem de dinheiro, entre outros; Econômicos5: defesa do direito à concorrência, inovação, reposicionamento, novos produtos e serviços, entre outros. Ademais, é importante ressaltar que o pesquisador optou por utilizar uma dentre as denominações identificadas nas iniciativas examinadas quando observado que duas ou mais nomenclaturas diferentes tinham por objetivo expressar o mesmo fator socioambiental. Exemplo: água e recursos hídricos. Desta forma, o julgamento do autor foi empregado unicamente para padronizar a nomenclatura que expressa os fatores socioambientais identificados nas iniciativas examinadas. Por fim, a identificação dos principais fatores socioambientais foi efetuada de maneira complementar. Dessa forma, a partir da segunda avaliação examinada, caso fosse identificado um fator socioambiental que não havia sido contemplado pela(s) iniciativa(s) analisada(s) anteriormente, este era adicionado à relação de fatores apurada. Em síntese, adotou-se o seguinte método de pesquisa para a identificação dos principais fatores socioambientais inerentes às empresas em geral: 1) exame de cada iniciativa selecionada individualmente; 2) identificação dos fatores a partir dos níveis de abstração mais abrangentes para os mais específicos; 3) eliminação dos fatores relacionados à governança corporativa, ética e/ou econômicos; 4) categorização dos fatores socioambientais identificados; e 5) análise complementar das iniciativas. 3.2 ANÁLISE DAS QUESTÕES MATERIAIS SETORIAIS Após a definição dos procedimentos para a identificação dos principais fatores socioambientais, também foi estabelecido um método para determinar as questões mais relevantes do setor de papel e celulose, o qual será explicado mais adiante. Isso porque, conforme observado na revisão de literatura, as questões materiais diferem conforme o 3 Os exemplos citados tiveram por base questionário da dimensão de Governança Corporativa do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). 4 Os exemplos citados tiveram por base os assuntos que devem integrar o código de conduta corporativo de acordo com o questionário Ethisphere. 5 Os exemplos citados tiveram por base o questionário da dimensão Econômico-Financeira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). 36 setor econômico analisado. Desta forma, a avaliação da materialidade é essencial para assegurar que o modelo de avaliação dos fatores socioambientais capture os aspectos mais relevantes. Como resultado deste processo, elaborou-se uma matriz que permite a identificação das questões materiais relacionadas à atividade de papel e celulose, bem como associação destas com aos principais fatores socioambientais previamente identificados. 3.2.1 Critérios para a seleção do setor de papel e celulose A escolha do setor de papel e celulose como objeto desta pesquisa foi efetuada em função da relevância socioeconômica do setor e de suas interferências no meio ambiente. No Quadro 3 estão apresentados alguns dados publicados pela Bracelpa que ratificam esta afirmação. Quadro 3 – Dados do setor de papel e celulose brasileiro Número de empresas: 222 Florestas preservadas: 2,9 milhões ha Distribuição geográfica: 18 estados e Florestas 539 municípios 4º maior produtor mundial de celulose 10º maior produtor mundial de papel plantadas para fins industriais (2010): 2,2 milhões ha Área florestal total certificada: 2,7 milhões ha Investimentos no setor nos últimos 10 Empregos diretos: 115 mil; sendo 68 anos: US$ 12 bilhões mil na indústria e 47 mil em florestas Exportações: US$ 7,2 bilhões Empregos indiretos: 575 mil Saldo Comercial: US$ 5,1 bilhões Participação no PIB: 0,9% Fonte: BRACELPA (2012) No tocante aos aspectos socioeconômicos, Lins e Ouchi (2007) apontam ainda a relevância das atividades de papel e celulose para as comunidades existentes no entorno das operações florestais e industriais de empresas do setor. Tendo em vista a indisponibilidade espacial para o plantio de floresta próximo a áreas mais urbanizadas, os autores destacam que as empresas são compelidas a instalar suas florestas e fábricas em localidades menos urbanizadas e desenvolvidas, geralmente com índices inferiores de desenvolvimento humano. Por este motivo, ressaltam que as empresas do setor investem em infraestrutura e na capacitação da mão de obra local para assegurar a eficiência de suas operações. 37 Ao mesmo tempo, Ferraz e Seroa da Motta (2002) ressaltam que este é um dos setores de maior impacto ambiental, tanto em função da atividade extrativa quanto industrial. O Guia Técnico Ambiental da Indústria de Papel e Celulose elaborado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (2008) enumera diversos destes impactos, como por exemplo: manejo de florestas, consumo de água e energia, emissões de atmosféricas, efluentes e resíduos sólidos; potenciais efeitos dos produtos químicos utilizados no processo produtivo à saúde humana e ao meio ambiente, dentre outros. Por fim, é importante ressaltar que a totalidade da celulose fabricada no Brasil provém de florestas plantadas, ou seja, não há a extração de madeira de árvores nativas para a produção de celulose e, por conseguinte, de papel (BRACELPA, 2011). As florestas plantadas no Brasil para este fim são basicamente do gênero Pinus, que tem predomínio nos Estados do Sul, e do gênero Eucalyptus, nas demais regiões (ABRAF, 2012). 3.2.2 Análise da materialidade dos fatores socioambientais para o setor de papel e celulose A análise das questões socioambientais relevantes associadas a papel e celulose baseou-se nas avaliações efetuadas para o setor na publicação Rumo à Credibilidade 2010 (FBDS e SUSTAINABILITY, 2010) e nos relatórios de sustentabilidade da Bracelpa e de algumas empresas de papel e celulose. A publicação Rumo à Credibilidade 2010 (FBDS e SUSTAINABILITY, 2010) teve como um de seus objetivos a classificação dos 10 melhores relatórios de sustentabilidade a partir de uma amostra inicial de 137 empresas brasileiras. Para tanto, a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e a SustainAbility efetuaram uma avaliação das questões materiais esperadas nestes relatórios para alguns setores, dentre eles o setor de papel e celulose. O resultado desta avaliação foi incorporado à análise de materialidade do presente trabalho. Ademais, foram selecionados preliminarmente como amostra os relatórios de sustentabilidade da Bracelpa e de quatro empresas brasileiras que se destacam segundo critérios econômicos ou de prestação de contas, sendo este último baseado na publicação Rumo à Credibilidade 2010. É importante ressaltar que para fins deste trabalho foram utilizados os relatórios de sustentabilidade disponíveis na internet até 17 de junho de 2012. A escolha da Bracelpa justifica-se pelo fato desta associação representar no País e no exterior as indústrias brasileiras de papel e celulose, sendo composta por 37 38 associadas que representam 100% da produção de nacional de celulose e 85% de papéis. Por se tratar de uma associação setorial, sem operações próprias a serem divulgadas, o relatório de sustentabilidade da Bracelpa é composto pelos dados socioambientais das empresas associadas. Porém, conforme destacado pela Bracelpa, o relatório de 2010 teve a participação de apenas 22 associadas, uma vez que nem todas forneceram informações para os indicadores sociais e ambientais apresentados. Ao mesmo tempo, a seleção das empresas brasileiras teve como referência a 14ª edição da Global Forest, Paper & Packaging Industry Survey elaborada pela PricewaterhouseCoopers (2011). Esta publicação destaca as 100 maiores empresas do mundo no setor analisado, ranqueando-as em função de seu faturamento (a lista completa foi transcrita no Anexo 2). Apenas 3 empresas brasileiras produtoras de papel e celulose configuram nesta lista: Fibria, Suzano e Klabin. Além disso, observou-se que a estrutura de capital destas empresas destaca-se por sua exposição internacional, uma vez que as mesmas são emissoras de American Depositary Receipts (ADRs). Por fim, adicionou-se a Celulose Irani a amostra. Trata-se da única empresa do setor de papel e celulose cujo relatório foi classificado entre os 10 melhores do País pela publicação Rumo à Credibilidade 2010 (FBDS e SUSTAINABILITY, 2010). A decisão de extrair a avaliação das questões materiais para o setor de papel e celulose dos relatórios de sustentabilidade da Bracelpa e das empresas supramencionadas partiu da premissa de que os mesmos foram elaborados segundo as recomendações da GRI. Esta instituição tem como missão tornar os relatórios de sustentabilidade corporativa uma prática padronizada nas empresas a nível global, fornecendo apoio e orientação às mesmas (GRI, 2012). E a GRI (2000-2011) recomenda que tais relatórios abordem questões que reflitam os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos das empresas ou possam influenciar substancialmente as avaliações e decisões de stakeholders. Um exame preliminar dos relatórios de sustentabilidade selecionados confirmou a premissa de que os mesmos efetivamente adotaram como referência a estrutura de relatório proposta pela GRI6, pois apresentam um sumário ou índice remissivo onde estão correlacionadas as informações divulgadas com o conteúdo básico recomendado 6 A Estrutura de Relatórios da GRI visa servir como um modelo amplamente aceito para a elaboração de relatórios sobre o desempenho econômico, ambiental e social de uma organização. Segundo a publicação Sustainability Reporting Guidelines (GRI, 2000-2011), esta estrutura foi concebida para ser utilizada por organizações de qualquer porte, setor ou localidade, bem como considera as questões práticas enfrentadas por uma série de organizações, desde pequenas empresas até grupos com operações variadas e geograficamente dispersas. O conteúdo da Estrutura de Relatórios da GRI é aplicável às organizações em geral e há, inclusive, algumas disposições setorialmente específicas, acordadas com vários stakeholders a nível global como aplicáveis na divulgação do desempenho de sustentabilidade das organizações. 39 pela publicação Sustainability Reporting Guidelines (GRI, 2000-2011). Entretanto, verificou-se que apenas a Bracelpa, a Celulose Irani e a Fibria destacaram expressamente em seus respectivos relatórios quais questões foram avaliadas como materiais enquanto que as demais empresas não indicaram claramente quais eram os assuntos mais relevantes em sua opinião. Esta diferença na qualidade das informações divulgadas é explicável, pois, ainda que duas ou mais organizações optem por publicar seus relatórios de sustentabilidade seguindo as recomendações da GRI, o nível de aplicação pode ser mais ou menos próximo das melhores práticas propostas7. No Quadro 4 apresenta-se o nível de aplicação dos relatórios de sustentabilidade examinados8. Quadro 4 – Nível de aplicação GRI Organização Nível de aplicação GRI Bracelpa C Celulose Irani A+ Fibria A+ Klabin C+ Suzano B+ Ao mesmo tempo, o exame preliminar dos relatórios de sustentabilidade selecionados revelou que, à exceção do relatório da Klabin, os demais relatórios apresentam também uma análise dos principais assuntos de interesse de seus stakeholders. Conforme observado na revisão de literatura, trata-se de um procedimento importante para a identificação das questões materiais, pois estas são definidas em função de uma combinação de fatores internos e externos à empresa (GRI, 2010-2011). Destacamos no Quadro 5 os principais atores consultados pelas organizações examinadas, conforme divulgado em seus relatórios de sustentabilidade. 7 Cada organização que adota a estrutura de relatórios da GRI deve declarar em qual grau esta estrutura foi utilizada. Para atender às necessidades de relatores iniciantes, intermediários e avançados, o sistema apresenta três níveis: C, B e A. O Anexo 3 apresenta os requerimentos para o enquadramento nestes três níveis. Uma organização poderá autodeclarar um ponto a mais (+) em cada nível, por exemplo, C+, B+, A+), caso tenha sido utilizada verificação externa. Desta forma, o nível A+ corresponde a melhor prática. 8 Apenas a informação quanto ao nível de aplicação da estrutura de relatórios da GRI não permite constatar se a organização efetuou a avaliação das questões materiais (exceto aquelas com nível de aplicação A ou A+), pois, hipoteticamente, uma empresa de nível C poderia efetuar tal avaliação e não atender outros critérios que são determinantes para atingir níveis de aplicação mais elevados. 40 Quadro 5 – Engajamento de stakeholders Organização Stakeholders Bracelpa Avaliadores9 Empresas do Setor10 Especialistas11 Membros do Conselho Deliberativo Acionistas Fornecedores Clientes Colaboradores Comunidades Governo Sociedade Clientes Fornecedores Investidores ONGs Trabalhadores diretos e indiretos N/A Celulose Irani Fibria Klabin Suzano Comunidades Clientes Fornecedores Colaboradores Fonte: Relatórios de Sustentabilidade Bracelpa 2010, Celulose Irani 2010, Fibria 2011, Klabin 2010 e Suzano 2011. Esta segunda análise possibilitou constatar que, embora o relatório de sustentabilidade da Suzano não indique expressamente quais questões foram avaliadas como materiais pela empresa, o mesmo destaca com clareza as questões que foram identificadas como relevantes por seus stakeholders. Neste sentido, para fins desta etapa do trabalho, a análise dos stakeholders da Suzano foi interpretada como a avaliação das questões materiais efetuada pela empresa para o setor de papel e celulose. Por fim, como não foram identificados indícios da avaliação das questões materiais pela Klabin em seu relatório de sustentabilidade, esta empresa foi excluída da amostra selecionada para esta etapa do trabalho. No Quadro 6, são apresentadas as fontes de informação para a análise das questões socioambientais materiais para o setor. 9 Foram analisados os requisitos exigidos pelo ISE e pelo DJSI Foram analisados os relatórios de sustentabilidade das empresas do setor 11 Foram consultados os seguinte especialistas: ABRE – Associação Brasileira de Embalagem, Abigraf – Associação Brasileira da Indústria Gráfica, ABTCP – Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel, FSC – Forest Stewardship Council, Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, Jornal Valor Econômico, Key Associados, TNC – The Nature Conservancy no Brasil, WWF – World Wildlife Fund do Brasil 10 41 Quadro 6 – Amostra de avaliações utilizadas para identificação das questões materiais do setor de papel e celulose Rumo à Credibilidade 2010 Bracelpa 2010 Celulose Irani 2010 Fibria 2011 Suzano 2011 No intuito de analisar as questões materiais identificadas para o setor de papel e celulose foi elaborada uma matriz correlacionando-as com cada avaliador disponível no Apêndice 2. Por fim, considerou-se como questões materiais para o propósito da presente pesquisa aquelas identificadas em mais de uma fonte de informação. 3.3 ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS E SUA CONEXÃO COM A AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE EMPRESAS Esta etapa da pesquisa buscou analisar de que maneira o desempenho socioambiental pode impactar na avaliação econômica das empresas de papel e celulose brasileiras. Para tanto, foram selecionados como fonte de informação os relatórios de sustentabilidade das quatro empresas que integraram o exame preliminar para a seleção da amostra utilizada na etapa anterior. O Quadro 7 apresenta a relação destes relatórios. Quadro 7 – Amostra dos relatórios de sustentabilidade utilizados para identificação das práticas socioambientais e seus impactos econômicos Celulose Irani 2010 Fibria 2011 Klabin 2010 Suzano 2011 Nestes relatórios, procurou-se identificar quais práticas adotadas pelas empresas selecionadas integram fatores socioambientais às atividades operacionais. Esta tarefa restringiu-se às práticas identificadas como relacionadas às questões relevantes para o setor de papel e celulose, a partir da análise de materialidade efetuada na etapa anterior desta pesquisa. 42 Conforme já mencionado, as informações divulgadas nos relatórios de sustentabilidade da Celulose Irani, Fibria, Klabin e Suzano têm como referência a estrutura de relatórios proposta pela GRI, ainda que com níveis de aplicações distintos. Como o nível C foi o menor nível observado dentre estas quatro empresas (Quadro 4), teve-se a certeza de que um número mínimo12 de informações associadas a práticas socioambientais corporativas poderia ser identificado nos relatórios examinados. Ao mesmo tempo também se buscou informações, nos referidos relatórios, que evidenciassem os impactos econômicos decorrentes da adoção de práticas socioambientais. Quando identificada esta associação, a despeito de sua natureza descritiva ou quantitativa, traduziu-se seu efeito econômico para o método de fluxo de caixa. Desta forma, procurou-se expressar os impactos das práticas socioambientais em três categorias: recebimentos, dispêndios e investimentos corporativos13. Para tanto, foi adotado como referência o modelo de fluxo de caixa apresentado no Quadro 8. Quadro 8 – Cálculo do fluxo de caixa livre para a empresa (+) Receitas (-) Custos (-) Depreciação (-) Despesas operacionais (-) Imposto de Renda sobre operações (=) Lucro operacional após Imposto de Renda (+) Depreciação (-) Imobilizações (-) Aumento do capital de giro (=) Fluxo de caixa livre para a empresa Fonte: MARTELANC, PASIN e PEREIRA (2010) Espera-se que a adoção do método supramencionado nos relatórios de sustentabilidade da amostra possibilite a construção de um modelo teórico capaz de incorporar fatores socioambientais na avaliação econômica de empresas de papel e 12 Os relatórios de sustentabilidade de nível de aplicação C devem apresentar, no mínimo, informações associadas a dez indicadores de desempenho ambiental, econômico e social (GRI, 2000-2011). 13 Optou-se pelo agrupamento dos itens que resultam no cálculo do fluxo de caixa livre em apenas três categorias para facilitar a apresentação do modelo. Em síntese, este cálculo permite estimar os recursos disponíveis para os proprietários e financiadores da empresa. Ademais, é importante ressaltar que há diferenças entre o lucro líquido e o fluxo de caixa, tais como eventuais diferenças temporais entre receitas e recebimentos, bem como entre custos e despesas e desembolsos. Uma fonte de consulta para o aprofundamento do assunto é o livro “Avaliação de Empresas” de Roy Martelanc, Rodrigo Pasin e Fernando Pereira (2010). 43 celulose. Nesse sentido, este modelo preliminar consiste na consolidação das informações divulgadas por quatro empresas do setor que claramente expressam uma conexão entre práticas socioambientais e seus respectivos impactos econômicos para as empresas, no tocante aos recursos empregados e ao retorno obtido. No intuito de sintetizar as etapas percorridas até a construção do modelo proposto, foi elaborado o sistema apresentado na Figura 2: Figura 2 – Sistema para a integração dos fatores socioambientais ao modelo de avaliação econômica de empresas 3.4 SELEÇÃO DA AMOSTRA DE EMPRESAS PARA TESTE DO MODELO A amostra de empresas selecionada para o teste do modelo proposto foi a mesma que contribuiu para a construção do modelo. Desta forma, esta amostra resulta da adoção de critérios econômicos e de qualidade de informação. Sob o ponto de vista econômico, a Fibria, Klabin e Suzano são as únicas empresas de papel e celulose brasileiras que integraram o ranking das 100 maiores do setor, segundo a publicação Global Forest, Paper & Packaging Industry Survey de 2011 elaborada pela PricewaterhouseCoopers (2011). Observou-se que as empresas que atendem a este critério obtiveram faturamento superior a 2 bilhões de dólares em 2010. Sob o ponto de vista de qualidade de informação, a Celulose Irani é a única empresa do setor de papel e celulose cujo relatório foi classificado entre os 10 melhores do País pela publicação Rumo à Credibilidade 2010 (FBDS e SUSTAINABILITY, 2010). Aplicou-se o modelo proposto na Celulose Irani, Fibria, Klabin e Suzano, individualmente, no intuito de apurar o ganho ou perda de valor para cada uma destas empresas em decorrência da adoção de práticas socioambientais. Nesta tarefa, buscou-se a identificação de informações monetárias capazes de compor as linhas do modelo 44 proposto em fontes de acesso público. Entretanto, é importante ressaltar que, na prática, apenas os relatórios de sustentabilidade foram utilizados como fonte de informação para teste do modelo. Há duas razões para tanto. O primeiro motivo decorre da expectativa de que os relatórios de sustentabilidade concentrem as informações referentes às práticas socioambientais, uma vez que as empresas analisadas seguem a estrutura de relatórios da GRI conforme constatado durante a construção do modelo. Desta forma, em teoria, se poderia dizer que caso fosse identificada alguma informação associada às práticas socioambientais em outra fonte de acesso público, esta também deveria estar refletida no relatório de sustentabilidade. O segundo motivo deve-se a uma análise preliminar das demonstrações financeiras das empresas selecionadas como amostra, a qual foi efetuada posteriormente à tentativa de composição do modelo proposto com base nas informações divulgadas nos relatórios de sustentabilidade. Em linhas gerais, não foi possível identificar nenhuma informação monetária adicional que pudesse alterar significativamente o resultado obtido em função apenas do exame dos relatórios de sustentabilidade. 3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO O mapeamento das práticas socioambientais e a identificação de seus respectivos impactos econômicos envolveram o julgamento do autor ao examinar as informações apresentadas nos relatórios de sustentabilidade integrantes da amostra selecionada. 45 4 RESULTADOS 4.1 PRINCIPAIS FATORES SOCIOAMBIENTAIS O exame individual das iniciativas de avaliação da sustentabilidade corporativa selecionadas revelou que estas poderiam ser agrupadas segundo sua abrangência. O primeiro grupo é composto pelas iniciativas cuja avaliação está direcionada para um tópico central. O segundo grupo é formado pelas iniciativas que avaliam diversos tópicos socioambientais simultaneamente. O Quadro 9 sintetiza estas informações. Quadro 9 – Agrupamento das iniciativas selecionadas como amostra Carbon Disclosure Project Grupo 1 Climate Counts Corporate Reporting on Water Risk CR Magazine 100 Best Corporate Citizens Dow Jones Sustainability Indexes Ethisphere’s World’s Most Ethical Companies Grupo 2 FTSE4Good Index Series GS Sustain Índice de Sustentabilidade Empresarial Oekom The Global 100 Most Sustainable Corporations in the World Apesar de as iniciativas do primeiro grupo estarem direcionadas para um tópico específico, foi observado que as mesmas abordam alguns fatores sociais e/ou ambientais adjacentes a este tema central. Por exemplo, embora o Carbon Disclosure Project esteja direcionado para as mudanças climáticas, são abordadas questões relacionadas à cadeia de valor. Dessa maneira, a análise destas iniciativas possibilitou a identificação de outros fatores além de seu principal objeto de avaliação. O resultado conjunto do exame das iniciativas selecionadas indicou que os principais fatores sociais poderiam ser categorizados a partir de um grupo de stakeholders: pessoas, comunidades, fornecedores, clientes e governo. Por sua vez, os principais fatores ambientais poderiam ser categorizados em função de alguns recursos naturais: energia, água, biodiversidade; mais os resíduos decorrentes das atividades corporativas. 46 Ademais, constatou-se a recorrência de outros três fatores nas avaliações selecionadas: mudanças climáticas, direitos humanos, saúde e segurança. Embora estes fatores possam ser relacionados a um ou mais fatores sociais e/ou ambientais anteriormente mencionados, observou-se que são tratados com destaque em algumas iniciativas. Por este motivo, foram adicionados aos demais fatores socioambientais identificados, não se estabelecendo qualquer relação hierárquica entre os mesmos. Outra constatação da análise efetuada está relacionada ao enquadramento dos fatores identificados como sociais ou ambientais. Observou-se que alguns destes poderiam ser enquadrados simultaneamente em ambas as dimensões. Por este motivo, o produto final da análise consistiu na categorização dos fatores identificados como socioambientais, ou seja, sem a segregação dos mesmos em um âmbito social ou ambiental. No Apêndice 1 foi elaborada uma matriz correlacionando as iniciativas selecionadas na amostra com os aspectos socioambientais avaliados pelas mesmas. Dessa forma, verificou-se que há doze fatores que deveriam ser avaliados pelas corporações em geral no tocante à sustentabilidade corporativa. No Quadro 10 são apresentados exemplos de alguns tópicos abordados pelos questionários das iniciativas selecionadas ao lado da nomenclatura escolhida para categorizar os fatores socioambientais que representam. Quadro 10 – Principais fatores socioambientais abordados pelas iniciativas de avaliação da sustentabilidade corporativa examinadas Fatores Descrição de alguns tópicos abordados Água Programas para redução do consumo e reaproveitamento. Biodiversidade Ações para a proteção e restauração de habitats. Cadeia de Valor Avaliação de fornecedores e relacionamento com clientes. Comunidades Engajamento de comunidades nas localidades de atuação e ações de cidadania corporativa. Direitos Humanos Medidas para impedir o trabalho infantil ou escravo e proteção dos direitos das minorias. Energia Programas de conservação e redução do consumo. Mudanças Climáticas Redução das emissões diretas e indiretas de GEE e ações para a captura de carbono. Pessoas Ações voltadas terceirizados, para incluindo empregados medidas e para funcionários assegurar preservação do direito a livre associação sindical. a 47 Fatores Descrição de alguns tópicos abordados Reguladores Monitoramento de multas e sanções não monetárias resultantes da inobservância de normas legais. Resíduos e Reciclados Medidas adotadas reaproveitar resíduos para mensurar, sólidos, reduzir líquidos e e/ou gasosos decorrentes do processo produtivo, bem como o uso de materiais reciclados. Saúde e Segurança Fatalidades, lesões ocupacionais, impactos de produtos no meio ambiente e na saúde de consumidores. Território Manejo do solo, exploração de recursos florestais e minerais. Por fim, é importante ressaltar que não há a pretensão em afirmar que todos os fatores socioambientais podem ser agrupados nas categorias apresentadas. Ainda assim, tomando por base as iniciativas examinadas nesta pesquisa, acredita-se que as doze categorias apresentadas abrangem os principais fatores socioambientais inerentes às atividades das organizações em geral. Ao mesmo tempo, conforme observado na revisão de literatura, as empresas devem avaliar a relevância de cada uma das categorias propostas conforme o setor econômico em que atuam. Por este motivo, na segunda etapa da presente pesquisa avaliou-se a materialidade dos fatores socioambientais especificamente para o setor de papel e celulose. 4.2 IDENTIFICAÇÃO DAS QUESTÕES MATERIAIS PARA O SETOR DE PAPEL E CELULOSE A análise da amostra selecionada de avaliações da materialidade dos fatores socioambientais para o setor de papel e celulose resultou em uma relação de questões socioambientais apontadas como relevantes para o setor. No Apêndice 2 foi elaborada uma matriz correlacionando as questões materiais identificadas com seu respectivo avaliador. Conforme mencionado anteriormente, foram consideradas como materiais as questões assim identificadas por dois ou mais avaliadores examinados. Nesta análise, quando observados tópicos com nomenclaturas semelhantes, foi aplicado o juízo do autor com base nas informações públicas disponíveis para verificar se estes abordavam 48 os mesmos assuntos. Como resultado, estão apresentadas no Quadro 11 as questões identificadas como relevantes para o setor, associadas a alguns dos fatores socioambientais identificados na primeira etapa deste trabalho como aplicáveis às empresas em geral. Quadro 11 – Principais questões materiais identificadas e fatores socioambientais associados Questões materiais Fatores socioambientais Impactos na Biodiversidade Biodiversidade Manejo Florestal Biodiversidade e Território Mudanças Climáticas Mudanças Climáticas Uso da Água Água Emissões, efluentes e resíduos Resíduos e Reciclados Consumo Sustentável Resíduos e Reciclados Relacionamento com Fornecedores Cadeia de Valor Relacionamento com Comunidades Comunidades Observou-se que todas as questões apontadas como materiais estão associadas ao menos a uma das doze categorias listadas na primeira etapa da pesquisa. A partir destas questões materiais, buscou-se identificar informações capazes de refletir o desempenho socioambiental das empresas do setor de papel e celulose, no ambiente regulatório brasileiro, bem como analisar seus impactos na avaliação econômica das mesmas. 4.3 IDENTIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS ASSOCIADAS ÀS QUESTÕES MATERIAIS E DE SEUS IMPACTOS NA AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE EMPRESAS DE PAPEL E CELULOSE O exame dos relatórios de sustentabilidade da Celulose Irani (2010), Fibria (2011), Klabin (2010) e Suzano (2011) para as questões avaliadas como materiais para o setor de papel e celulose revelou a adoção de práticas socioambientais semelhantes pelas empresas analisadas, como também algumas práticas que não são executadas por mais do que uma destas empresas. Como o presente trabalho não teve por objetivo avaliar o desempenho socioambiental das empresas examinadas, mas somente verificar o conjunto de práticas adotadas pelas empresas do setor sem juízo de valor do pesquisador, não foi efetuada uma correlação entre as empresas e as práticas 49 socioambientais identificadas nem uma análise crítica das práticas apresentadas nos relatórios de sustentabilidade. Ao mesmo tempo, a análise dos quatro relatórios supramencionados mostrou que é possível identificar os impactos de algumas práticas socioambientais na avaliação econômica das empresas de papel e celulose, independentemente destas informações serem apresentadas de forma descritiva ou quantitativa nos relatórios de sustentabilidade. Desta maneira foram relacionados os possíveis efeitos no modelo do fluxo de caixa ainda que os mesmos não pudessem ser convertidos em um denominador comum monetário com base nas informações divulgadas. Por fim, observou-se que o enquadramento das práticas socioambientais identificadas nas categorias previamente atribuídas às questões materiais foi, algumas vezes, uma tarefa difícil, dada a inter-relação entre tais categorias. Por exemplo, a prática de plantio em mosaico poderia ser associada com manejo florestal tanto quanto com impactos na biodiversidade. No entanto, como tal associação não interfere no objetivo da presente pesquisa, sendo apenas uma forma de facilitar a evidenciação da análise efetuada, optou-se pelo arbítrio de alguns critérios que serão explicados oportunamente. Nos tópicos 4.3.1 a 4.3.8 a seguir serão apresentadas as práticas socioambientais e seus respectivos impactos econômicos identificados nos relatórios de sustentabilidade das empresas examinadas, bem como sua correlação com o modelo de fluxo de caixa. 4.3.1 Manejo florestal Entendem-se como relacionadas ao manejo florestal todas as ações empregadas na “administração da floresta para a obtenção e benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema” (FIBRIA, 2012). No entanto, para fins do presente trabalho, associou-se o manejo florestal apenas às práticas identificadas nos relatórios de sustentabilidade como relacionadas às florestas plantadas. Por sua vez, as práticas com efeitos simultâneos nas florestas plantadas e matas nativas foram associadas à biodiversidade, tendo em vista seus impactos na mesma. Dessa forma, foram identificadas as seguintes práticas nos relatórios examinados: Controle de dispersão do pinus em áreas não comerciais; Investimentos para o melhoramento genético do eucalipto; Utilização de informações aéreas para o plantio e manejo florestal; Sistema automatizado de gerenciamento e controle da adubação; 50 Utilização de técnicas especializadas para o plantio florestal; Colheita mecanizada da madeira plantada; Pesquisas para avaliar e melhorar a resistência genética do eucalipto a pragas e doenças; Plantio de diferentes espécies de eucalipto para reduzir a probabilidade de perdas em função de pragas e doenças; Obtenção de certificações florestais atestando que o manejo florestal é ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável. Também foram identificados nos relatórios de sustentabilidade alguns impactos econômicos decorrentes destas ações. Com base nestas informações, foi possível associar seus efeitos a algumas linhas do modelo do fluxo de caixa. O Quadro 12 apresenta alguns exemplos desta análise. Quadro 12 – Manejo florestal e sua conexão com valor Práticas Impactos econômicos Reflexos no fluxo de caixa socioambientais (Quadro 20) Investimentos para o Aumento de produtividade - Venda de Produtos melhoramento genético e redução da quantidade de - Pesquisa e Desenvolvimento do eucalipto terra necessária plantio de para - Terrenos eucalipto; pesquisas Colheita mecanizada da Aumento da produtividade - Venda de Produtos madeira plantada e redução de perdas com - Insumos madeira Uso de informações Maior - Equipamentos Agrícolas assertividade e - Insumos aéreas para o plantio e racionalização no plantio - Serviços de Monitoramento manejo florestal Aéreo Obtenção certificações de Aumento para manejo florestal da base de - Venda de Produtos o clientes; dispêndios com - Certificações Florestais treinamentos e auditorias 51 4.3.2 Impactos na biodiversidade Conforme observado no relatório de sustentabilidade da Fibria (2012), a biodiversidade é “o conjunto de formas de vida (organismos vivos e complexos ecológicos) e genes contidos em cada indivíduo, bem como as inter-relações, ou ecossistemas, na qual a existência de uma espécie afeta diretamente outras”. Para fins do presente trabalho, os impactos na biodiversidade foram associados às práticas socioambientais não relacionadas à gestão das florestas plantadas. Conforme mencionado anteriormente, as práticas com efeitos simultâneos nas florestas plantadas e nativas foram associadas à biodiversidade, tendo em vista seus impactos na mesma. Dessa forma, foram identificadas as seguintes práticas nos relatórios examinados: Plantio de eucalipto e pinus entremeados com porções significativas de matas nativas (plantio em mosaico); Produção, plantio e distribuição de mudas nativas para a recuperação de áreas degradadas e reflorestamento; Preservação da vegetação nativa e áreas naturais existentes; Estudos e monitoramento da flora e fauna existente nas florestas nativas; Conservação de espécies ameaçadas; Certificação da gestão ambiental; Monitoramento de florestas para a detecção prévia de pragas e doenças, bem como determinar o nível de infestações de plantas daninhas; Pesquisas para desenvolver novos herbicidas; Pesquisas para estudar e avaliar métodos alternativos ao controle químico no combate a pragas; Aplicação controlada de produtos químicos nos plantios florestais; Vigilância para coibir a caça e pesca predatória nas propriedades florestais, bem como o controle de visitantes para a pesca autorizada; Treinamento e fornecimento de equipamentos a equipes responsáveis pelo combate a incêndios florestais. O Quadro 13 apresenta alguns exemplos de impactos econômicos identificados nos relatórios de sustentabilidade em decorrência destas práticas e a sua associação às linhas do modelo do fluxo de caixa. 52 Quadro 13 – Impactos na biodiversidade e sua conexão com valor Impactos econômicos Práticas Reflexos no fluxo de caixa socioambientais Produção, plantio (Quadro 20) e Gastos com - Reflorestamento de Áreas distribuição de mudas reflorestamento nativas como Degradadas condicionante à licença de operação Estudos e Análises técnicas de - Softwares monitoramento da flora paisagem com o auxílio de e fauna existente nas computadores como forma florestas nativas de manter a estabilidade ambiental Pesquisas para estudar e Investimentos em pesquisa - Pesquisa e Desenvolvimento avaliar métodos para controle biológico de alternativos ao controle pragas, mediante o uso de químico no combate a inimigos naturais pragas Monitoramento florestas para detecção prévia de Redução do a agrotóxicos e uso de - Insumos inimigos de naturais para reduzir os pragas e doenças, bem danos à floresta plantada como determinar o nível de infestação de plantas daninhas Treinamento fornecimento e Proteção das florestas - Insumos de plantadas, nativas e da - Treinamento no Combate a equipamentos a equipes biodiversidade; gastos com Incêndios responsáveis combate florestais a pelo treinamento de pessoal e - Equipamentos Florestais incêndios equipamentos 53 4.3.3 Mudanças climáticas Neste tópico, procurou-se identificar nos relatórios de sustentabilidade as ações que estivessem associadas ao controle, monitoramento, redução e compensação de emissões de GEE, bem como a adaptação às mudanças climáticas: Inventário de GEE; Quantificação dos GEE emitidos durante todo o ciclo de vida dos produtos; Engajamento da cadeia de suprimentos no inventário da pegada de carbono; Estabelecimento de metas de eficiência energética; Investimentos em matriz energética mais limpa; Desenvolvimento e certificação de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL); Aquisição de créditos de carbono de projetos que envolvem a geração de energia por fontes renováveis e manejo de resíduos; Estudos para o melhoramento genético na produção de eucalipto, buscando identificar as espécies mais adaptáveis a diferentes condições climáticas. O Quadro 14 apresenta alguns exemplos de reflexos econômicos identificados nos relatórios de sustentabilidade em decorrência destas ações e sua associação às linhas do modelo do fluxo de caixa. Quadro 14 – Mudanças climáticas e sua conexão com valor Práticas Impactos econômicos Reflexos no fluxo de caixa socioambientais Implementação e (Quadro 20) Recebimento de recursos - Venda de Créditos de certificação de projetos pela de MDL negociação créditos de carbono Compra de créditos de Aumento carbono de Carbono para clientes da pela base - Instalações Fabris de - Venda de Produtos crescente - Aquisição de Créditos de compensação voluntária demanda de consumidores Carbono de emissões de GEE por produtos sustentáveis para a fabricação de papel 54 Práticas Impactos econômicos Reflexos no fluxo de caixa socioambientais (Quadro 20) Pesquisa genética para Investimentos em pesquisa - Pesquisa e Desenvolvimento aprimorar o eucalipto - Insumos para adaptação às mudanças climáticas 4.3.4 Uso da água Em relação ao uso da água, foram identificadas as seguintes práticas: Monitoramento dos recursos hídricos, bem como do percentual de água reciclada e reutilizada; Levantamento da pegada hídrica; Estabelecimento de metas de eficiência operacional; Fechamento do circuito de águas para reciclagem e reaproveitamento em alguns processos. Não foram observados nos relatórios de sustentabilidade impactos econômicos expressos decorrentes da gestão dos recursos hídricos. No entanto, é importante ressaltar que o investimento em instalações fabris para a reciclagem e o reaproveitamento de água, ao diminuir a captação direta de fontes naturais, pode evitar impactos nos custos destas empresas. Isso porque a Lei 9433/97 possibilita ao Poder Público cobrar pela captação de recursos hídricos utilizados como insumo na produção. Embora esta cobrança ainda seja restrita a algumas bacias hidrográficas, existe a possibilidade de aplicação do referido dispositivo legal em outras fontes de água (PORTAL BRASIL, 2012). Dessa forma, unidades fabris instaladas em bacias hidrográficas sujeitas à cobrança pela captação de água beneficiam-se de ações de reaproveitamento de recursos hídricos. Neste cenário, apresentamos no Quadro 15 alguns exemplos de impactos econômicos quanto às ações adotadas pelas empresas de papel e celulose para a reciclagem e o reaproveitamento de água, bem como sua associação às linhas do modelo do fluxo de caixa. 55 Quadro 15 – Uso da água e sua conexão com valor Impactos econômicos Práticas Reflexos no fluxo de caixa socioambientais Monitoramento (Quadro 20) dos Redução recursos hídricos de passivos - Contingências Ambientais ambientais pela gestão de - Instalações Fabris recursos hídricos Fechamento do circuito Redução dos dispêndios - Água de águas para com a água captada em - Instalações Fabris reciclagem e bacias hidrográficas reaproveitamento em sujeitas a essa cobrança e alguns processos investimentos em projetos que possibilitem reciclagem e a o reaproveitamento de água 4.3.5 Emissões, efluentes e resíduos Em relação a este tópico, buscou-se a identificação de práticas relacionadas a substâncias sólidas, liquidas e gasosas (exceto emissões de GEE), decorrentes do manejo florestal e da fabricação de papel e celulose. Desta forma, observaram-se as seguintes ações nos relatórios de sustentabilidade examinados: Monitoramento de emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio e de outras emissões atmosféricas pelas unidades fabris; Aferição periódica das emissões de veículos de transporte de carga e de frota terceirizada; Substituição de equipamentos para redução do consumo de substâncias destruidora da camada de ozônio; Treinamento de pessoas para detecção de odor proveniente das fábricas; Redução de emissões por melhorias operacionais e redução do consumo de combustíveis fósseis; Utilização de equipamentos para retenção de poluentes nas fontes geradoras; Monitoramento da quantidade e qualidade da água descartada, com a coleta de dados para comparação com as exigências da legislação vigente; 56 Uso de equipamentos para tratamento da água residual de irrigação das unidades florestais; Uso de estações próprias para tratamento de efluentes industriais; Manutenção de resíduos da colheita para a conservação do solo; Compostagem de resíduos para a produção de adubo orgânico; Adoção de procedimentos específicos para a coleta, armazenagem e destinação adequada dos resíduos sólidos gerados; Contratação e avaliação de empresas para transporte e tratamento de resíduos perigosos; Reciclagem e reaproveitamento de alguns resíduos sólidos como corretivo de solo; Utilização dos resíduos do processo produtivo como biomassa para a geração de energia. O exame dos relatórios de sustentabilidade analisados revelou que algumas destas práticas foram associadas a impactos econômicos nas empresas analisadas. O Quadro 16 apresenta alguns exemplos. Quadro 16 – Emissões, efluentes e resíduos e sua conexão com valor Práticas Impactos econômicos socioambientais Adoção (Quadro 20) de Redução do volume de - procedimentos específicos Reflexos no fluxo de caixa material para disposto Armazenamento e em Transporte de Resíduos a aterros e da exposição a - Contingências Ambientais coleta, armazenagem e passivos ambientais pela destinação dos resíduos adequada gestão de resíduos sólidos gerados Reciclagem reaproveitamento e Redução na compra de - Armazenamento de fertilizantes e dos resíduos Transporte de Resíduos alguns resíduos sólidos a serem depositados em - Insumos como corretivo de solo aterros e 57 Práticas Impactos econômicos Reflexos no fluxo de caixa socioambientais (Quadro 20) Utilização dos resíduos Utilização do processo produtivo gerada como biomassa para a produtivo geração de energia da no energia - Venda de Energia processo - Energia e venda da - Instalações Fabris energia excedente Adicionalmente, é importante ressaltar que os dispêndios com instalações e equipamentos para o monitoramento, controle e tratamento de emissões, efluentes e resíduos reduzem os riscos de exposição das empresas a multas e outras sanções que podem ser impostas por entes governamentais. No Brasil, há normas de âmbito federal e estadual que disciplinam os impactos no meio ambiente. Como exemplos podem ser citados a lei federal no 6.938/81 que disciplina a Política Nacional do Meio Ambiente, a lei federal no 9.985/00 que estabelece compensações financeiras em decorrência de empreendimentos que resultem em impactos ambientais e a lei estadual no 997/76 que dispõe sobre o controle da poluição no Estado de São Paulo. 4.3.6 Consumo sustentável As práticas identificadas nos relatórios de sustentabilidade em relação ao consumo sustentável estão relacionadas às empresas fabricantes de papel. Basicamente, tais práticas referem-se à aquisição de aparas de papel para reaproveitamento como insumos, o monitoramento do volume de insumos reciclados e o engajamento de consumidores em ações de logística reversa para a recuperação de embalagens. O Quadro 17 apresenta alguns exemplos de impactos econômicos identificados nos relatórios de sustentabilidade em decorrência destas práticas e seus reflexos no fluxo de caixa. Quadro 17 – Consumo sustentável e sua conexão com valor Práticas Impactos econômicos socioambientais (Quadro 20) Utilização da fibra de Venda aparas de papel como verdes de e produtos - Venda de Produtos redução do - Insumos insumo após a reciclagem emprego de fibra virgem em unidades próprias Reflexos no fluxo de caixa - Instalações Fabris 58 4.3.7 Relacionamento com fornecedores Em relação ao relacionamento com fornecedores, foram identificadas as seguintes ações nos relatórios de sustentabilidade examinados: Avaliação de fornecedores e auditoria mediante a análise de aspectos trabalhistas, ambientais, de saúde ocupacional e segurança, entre outros; Priorização na contratação de fornecedores locais; Programas para a educação ambiental de fornecedores; Programas de fomento florestal. A avaliação prévia de fornecedores e seu monitoramento visam assegurar a qualidade do produto final, bem como evitar eventuais contingências ou danos à imagem das empresas de papel e celulose. Dessa forma, se tratam de medidas preventivas de impactos econômicos negativos. Por sua vez, os programas de fomento florestal têm por objetivo estimular proprietários rurais a produzirem madeira para a indústria de papel e celulose. Para tanto, as empresas do setor oferecem mudas para o plantio, apoio técnico, garantias de financiamento, além do compromisso de compra da madeira ao final do ciclo do cultivo. O Quadro 18 apresenta alguns exemplos de impactos econômicos identificados nos relatórios de sustentabilidade em decorrência destas práticas e seus reflexos no fluxo de caixa. Quadro 18 – Relacionamento com fornecedores e sua conexão com valor Práticas Impactos econômicos socioambientais (Quadro 20) Programas de fomento Compra florestal Reflexos no fluxo de caixa de madeira - Aquisição de Madeira de certificada de terceiros e Terceiros redução da necessária próprias quantidade - Terrenos de para terras florestas plantadas 4.3.8 Relacionamento com comunidades A última questão material examinada nos relatórios de sustentabilidade analisados refere-se às ações executadas pelas empresas do setor em comunidades do entorno de suas operações florestais e industriais. Além da execução efetiva de projetos nestas 59 comunidades, observou-se que há ações voltadas para a análise de suas principais necessidades, inclusive com o apoio de softwares, e para o monitoramento de eventuais impactos causados pela atividade de papel e celulose, mediante diálogo com as comunidades locais. Durante a análise, observou-se que os projetos voltados para as comunidades locais podem ser divididos em dois grupos: ações assistencialistas e ações integradas às operações de papel e celulose. Em geral, observou-se que as ações de caráter assistencialista são executadas ou financiadas por entidades sem fins lucrativos, constituídas por estas empresas, bem como mediante parcerias com órgãos governamentais ou entidades socioambientais independentes. Neste sentido foram identificados projetos em diferentes campos, tais como: saúde, educação técnica, cultura, esporte, entre outros. Quanto às ações integradas a atividade de papel e celulose, destacam-se dentre os exemplos identificados: Programas para a geração de renda pela contratação de mão de obra direta e pelo desenvolvimento de projetos que fazem uso de serviços ecossistêmicos, tais como a apicultura e a piscicultura; Manipulação de plantas medicinais encontradas nas áreas florestais para a fabricação de cosméticos e fitoterápicos, destinados à população local; Programas de educação ambiental. Entretanto, o exame dos relatórios de sustentabilidade revelou que a descrição dos impactos econômicos nas empresas em decorrência dessas ações, na maioria das vezes, refere-se aos dispêndios efetuados pelas companhias de papel e celulose. Este fato limita a incorporação das práticas socioambientais associadas às comunidades locais no modelo proposto, uma vez que também é necessária a identificação do retorno gerado para as empresas em função destes dispêndios. Como exceção, foi identificada uma associação entre o engajamento das comunidades locais em ações integradas às operações de papel e celulose com a redução de perdas patrimoniais para as empresas, conforme descrito no quadro 19. 60 Quadro 19 – Relacionamento com comunidades e sua conexão com valor Impactos econômicos Práticas Reflexos no fluxo de caixa socioambientais (Quadro 20) Contratação de mão de - Gastos diversos* obra local para - Desenvolvimento de as - Redução de furtos de Comunidades Locais operações florestais e madeira - Insumos realização de projetos sociais voltados para o desenvolvimento comunidades das locais (apicultura, agricultura familiar e piscicultura) * Os dispêndios associados ao engajamento de comunidades locais nas operações florestais de empresas de papel e celulose, bem como em projetos sociais (exemplos: agricultura familiar e atividades relacionadas a serviços ecossistêmicos) estão refletidos na linha “Desenvolvimento de Comunidades Locais” do modelo de fluxo de caixa a título de simplificação, tendo em vista a natureza diversa dos dispêndios que podem ser associados a este propósito. 4.4 APRESENTAÇÃO DO MODELO A partir dos impactos econômicos identificados como decorrentes das práticas socioambientais examinadas, conforme destacados nos quadros 12 a 19, foi construído um modelo preliminar de avaliação econômica de empresas aplicável ao setor de papel e celulose. O modelo proposto é composto por linhas indicativas dos recursos empregados pelas empresas em práticas socioambientais, bem como por linhas que refletem o retorno gerado para as empresas em função dessas práticas. O Quadro 20 apresenta o modelo proposto, bem como a correspondência de cada linha do fluxo de caixa com os quadros em que foram destacadas as práticas socioambientais apuradas nos relatórios de sustentabilidade. 61 Quadro 20 – Modelo preliminar de avaliação econômica dos fatores socioambientais aplicado ao setor de papel e celulose (+) Recebimentos Venda de Créditos de Carbono Quadro 14 Venda de Energia Quadro 16 Vendas de Produtos Quadros 12, 14 e 17 (-) Dispêndios Água Quadro 15 Armazenamento e Transporte de Resíduos Quadro 16 Aquisição de Créditos de Carbono Quadro 14 Aquisição de Madeira de Terceiros Quadro 18 Certificações Florestais Quadro 12 Contingências Ambientais Quadros 15, 16 Energia Quadro 16 Insumos Quadros 12, 13, 16, 17, 19 Desenvolvimento de Comunidades Locais Quadro 19 Reflorestamento de Áreas Degradadas Quadro 13 Serviços de Monitoramento Aéreo Quadro 12 Treinamento no Combate a Incêndios Quadro 13 (=) Fluxo de Caixa Operacional (-) Investimentos Equipamentos Agrícolas Quadro 12 Equipamentos Florestais Quadro 13 Instalações Fabris Quadros 15, 16 Pesquisa e Desenvolvimento Quadros 12, 13, 14 Softwares Quadro 13 Terrenos Quadros 12, 18 (=) Fluxo de Caixa Livre para a Empresa 62 4.5 TESTE DO MODELO Após a proposição do modelo que incorpora os fatores socioambientais à avaliação econômica de empresas de papel e celulose, foi testada a sua aplicação em cada uma das empresas que contribuíram para a sua construção: Fibria, Celulose Irani, Klabin e Suzano. Entretanto, o exame individual dos relatórios de sustentabilidade destas empresas revelou a existência de poucas informações expressas em moeda que possam ser associadas às linhas do modelo proposto, sobretudo no tocante às linhas que expressam o retorno gerado em função de práticas socioambientais. Ainda assim, foram identificadas informações quantitativas em outras unidades de medida que poderiam ser traduzidas para um denominador comum monetário. No Quadro 21 estão transcritos alguns exemplos de informações extraídas dos relatórios de sustentabilidade que descrevem o retorno gerado para as quatro empresas examinadas em decorrência de suas práticas socioambientais. Estas informações atendem a algumas linhas do modelo proposto em função do aumento de recebimentos (exemplo: aumento de caixa pela venda de créditos de carbono) ou da redução de dispêndios (exemplo: redução de dispêndios com a compra de fertilizantes) em favor das empresas de papel e celulose. Quadro 21 – Exemplos de retorno gerado por práticas socioambientais Aplicação do modelo Fonte de informação para cálculo do efeito financeiro no fluxo de caixa Venda de Créditos de Projeto MDL: Modernização da Estação de Tratamento de Carbono Efluentes - “O projeto viabilizou um retorno financeiro proveniente da venda de créditos de carbono de R$ 3.386.148,38 referentes aos períodos de 2007 a 2009. No período de 2010, foram reconhecidos R$ 1.072.372,59; esse valor ainda não foi recebido efetivamente, mas já foi contabilizado” (Celulose Irani) 63 Aplicação do modelo Fonte de informação para cálculo do efeito financeiro no fluxo de caixa Venda de Créditos de Projeto MDL: Usina de Cogeração – “O projeto viabilizou Carbono retorno financeiro proveniente da venda de créditos de carbono de R$ 6.356.303,07 no período de 2006 a 2008. Entre os períodos de 2009 e 2010, foram reconhecidos R$ 3.512.953,68; esse valor ainda não foi recebido efetivamente, mas já foi contabilizado” (Celulose Irani). Venda de Energia / Energia “Quase toda a energia produzida na Fibria vem de subprodutos do processo produtivo. A característica sustentável dessa energia produzida pela Fibria traz um ganho extra para as Unidades que geram excedentes e comercializam energia elétrica na rede pública nacional (...). Combinada, a produção excedente das Unidades Aracruz e Três Lagoas é de 30 megawatts (ou 8% da produção total da empresa), o suficiente para abastecer uma cidade com 500 mil habitantes” (Fibria). Insumos / “Lama de cal, cinza de biomassa, dregs e grits são Armazenamento e resíduos Transporte de Resíduos sólidos industrialização gerados da durante celulose. o Esses processo resíduos de são transformados em coprodutos e após o processo de reciclagem são reaproveitados como corretivo de solo na Unidade Aracruz (ES). Essa operação traz vantagens econômicas e ambientais, como o aumento da vida útil do aterro industrial, já que reduz a quantidade de resíduos a ser depositada no local, promove a economia na compra de calcário e outros fertilizantes minerais, e contribui no índice geral de reciclagem. Estimamos que foram economizados cerca de R$ 6,1 milhões em 2011 com essa prática” (Fibria). 64 Aplicação do modelo Fonte de informação para cálculo do efeito financeiro no fluxo de caixa Insumos “Cerca de 2.500 famílias (...) beneficiadas por programas de desenvolvimento implantados em 57 comunidades vizinhas das operações da Fibria. Entre os resultados mais notáveis (...) estão a contratação, com carteira assinada, de aproximadamente 600 moradores dessas áreas, e a redução em mais de 50% na incidência de furto de madeira nas propriedades da companhia em 2011.” (Fibria) Ademais, também foram identificadas informações expressas em moeda referentes aos recursos empregados em práticas socioambientais nos relatórios de sustentabilidade das empresas examinadas. Em geral, estas informações têm por objetivo atender aos indicadores de desempenho da GRI que recomendam a divulgação dos dispêndios em proteção ambiental14 e em benefício de comunidades15. No Quadro 22 estão transcritos alguns exemplos de recursos empregados em práticas socioambientais que foram identificados nos relatórios de sustentabilidade como forma de evidenciar algumas linhas do modelo proposto que podem ser atendidas com as referidas informações. Quadro 22 – Exemplos de dispêndios em práticas socioambientais Aplicação do modelo Fonte de informação para cálculo do efeito financeiro no fluxo de caixa Água “Instalação da torre de resfriamento na MP5. Reaproveitamento de água, reduzindo o consumo. R$ 125.635,11” (Celulose Irani). Reflorestamento de Áreas “Revegetação de áreas degradadas e de proteção (APP e Degradadas RL). Unidade Aracruz: R$ 6.813.030. Unidade Jacarei R$ 1.512.487” (Fibria). 14 Observou-se que a apresentação destas informações nos relatórios de sustentabilidade examinados está comumente associada ao indicador GRI EN30 que recomenda a divulgação do “total de investimentos e gastos em proteção ambiental, por tipo” (GRI, 2000-2011). 15 Observou-se que a apresentação destas informações nos relatórios de sustentabilidade examinados está comumente associada ao indicador GRI EC8 que recomenda a divulgação dos “(...) investimentos em infraestrutura e serviços oferecidos, principalmente para benefício público” (GRI, 2000-2011). 65 Aplicação do modelo Fonte de informação para cálculo do efeito financeiro no fluxo de caixa Desenvolvimento Comunidades Locais de “O valor investido no ano em infraestrutura, apenas para atender às demandas pontuais da comunidade, somou R$ 129,6 mil.” (Suzano) Instalações Fabris “A Companhia investiu na melhoria da matriz energética das unidades de Papéis (papel cartão e papel kraft). Entre os principais projetos destacam-se (...) novas caldeiras de biomassa nas unidades de Correia Pinto e Otacílio Costa (SC). O equipamento já instalado em Otacílio Costa representou investimento de R$ 29 milhões em 2010 e agregou importantes avanços ao processo de preservação ambiental, com redução nas emissões de gases de efeito estufa e no consumo de óleo combustível da unidade” (Klabin). 4.6 CONSIDERAÇÕES AO TESTE DO MODELO O experimento de aplicar o modelo proposto de incorporação dos fatores socioambientais à avaliação econômica de empresas de papel e celulose com base em informações divulgadas nos relatórios de sustentabilidade possibilitou duas constatações importantes. Em primeiro lugar, observou-se que algumas informações divulgadas possibilitam a identificação do retorno gerado em função de práticas socioambientais. Trata-se de uma constatação relevante, pois evidencia que uma parcela dos efeitos econômicos positivos gerados por boas práticas socioambientais são capturados pelas empresas, devendo ser incorporados aos modelos de avaliação econômica. Como exemplo, observou-se que a energia gerada a partir do processamento de resíduos, além de reduzir as emissões de GEE e evitar o armazenamento de dejetos da produção, reduz dispêndios com a compra de energia e possibilita o incremento de recebimentos pela venda do excedente gerado. No entanto, em segundo lugar, a aplicação do modelo em cada empresa da amostra revelou que a qualidade das informações disponíveis é insuficiente para atender a todas as linhas do modelo proposto. Isso porque, ressalvadas algumas exceções, há 66 uma carência de informações quantitativas que possibilitem mensurar os reflexos econômicos das práticas socioambientais em um denominador comum monetário. Para que haja o emprego efetivo do modelo faz-se necessária a identificação de informações que permitam compor todas as suas linhas. Isso porque não é possível avaliar o efeito econômico de ganho ou perda em decorrência das práticas socioambientais sem associar os recursos empregados ao retorno gerado. Desta forma, observa-se que as informações divulgadas nos relatórios de sustentabilidade foram insuficientes para atender ao modelo proposto. Adicionalmente, é importante ressaltar que há uma questão relevante para a incorporação dos fatores socioambientais na avaliação econômica de empresas que não compreende o escopo deste trabalho. Trata-se da análise da taxa de desconto que deveria ser utilizada para estimar o valor presente dos impactos de práticas socioambientais nos fluxos de caixa das empresas. O resultado desta análise consiste na utilização da mesma taxa de desconto aplicada pela empresa aos fluxos de caixa gerados por projetos semelhantes ou na adoção de uma taxa de desconto diferenciada. Uma fonte de consulta para aprofundar-se no assunto é o livro “Discounting and Intergenerational Equity” editado por Paul R. Portney & John P. Weyant (1999). 67 5. CONCLUSÃO Os índices, ratings, rankings e premiações relacionados ao desempenho socioambiental das empresas de capital aberto não atendem ao desafio de identificar, de modo claro e direto, o retorno financeiro gerado pelos recursos alocados em práticas socioambientais. Dessa forma, uma maneira de estabelecer uma conexão direta entre o desempenho socioambiental e financeiro seria a incorporação dos fatores socioambientais relevantes nos modelos de avaliação econômica de empresas. O presente trabalho teve por objetivo propor um modelo preliminar que incorpore os fatores socioambientais à avaliação econômica de empresas, aplicado ao setor de papel e celulose. A construção do modelo se deu em três etapas. Primeiramente, foram identificados os fatores socioambientais que merecem a atenção das empresas em geral, tendo em vista os impactos gerados pelas atividades empresariais, com base em um conjunto de quesitos examinados por avaliadores globais. Após esta etapa inicial, para uma análise específica do setor de papel e celulose, foram identificadas as questões materiais com base na publicação Rumo à Credibilidade 2010, nos relatórios de sustentabilidade da Bracelpa e de empresas selecionadas do setor. Por fim, foram identificadas práticas socioambientais e seus reflexos econômicos em empresas do setor analisado, com base nas informações divulgadas em seus respectivos relatórios de sustentabilidade. Teoricamente, o sistema de três etapas adotado nesta pesquisa para a construção do modelo setorial poderia ser aplicado em qualquer setor de atividade econômica. Uma sugestão para pesquisas futuras seria a realização de painéis de especialistas para a validação das questões socioambientais relevantes em diversos setores, envolvendo profissionais do meio acadêmico, de empresas e de instituições financeiras. A adoção desta estratégia contribuiria para o aperfeiçoamento do método empregado no presente trabalho. Ademais, a revisão de literatura examinada no presente trabalho indicou que a elaboração de relatórios de sustentabilidade segundo as diretrizes da GRI é uma prática amplamente adotada. Sendo assim, se pode inferir que as informações referentes às práticas socioambientais adotadas e seus respectivos impactos econômicos podem ser encontradas nos relatórios de sustentabilidade de empresas de outros setores, o que permitiria a execução da terceira e última etapa da construção do modelo setorial. Ainda assim, como observado na aplicação do modelo no setor de papel e celulose, nem mesmo relatórios que obtém o melhor nível de aplicação da estrutura de 68 relatório recomendada pela GRI dispõem de informações com a qualidade requerida para o pleno uso do modelo. Para que os fatores socioambientais, após a avaliação de sua materialidade, possam ser incorporados aos modelos de avaliação econômica faz-se necessário que os reflexos econômicos das práticas socioambientais corporativas sejam expressas em medidas quantitativas que possam ser traduzidas em um denominador comum monetário, tanto para os recursos empregados quanto para o retorno gerado. Nesse contexto, é importante ressaltar a contribuição do modelo proposto a despeito da limitação do método de pesquisa. Apesar da interferência do julgamento do autor no mapeamento das práticas socioambientais e de seus respectivos impactos econômicos nas empresas de papel e celulose, persiste a proposta de padronização de uma estrutura de fluxo de caixa para a avaliação econômica dos fatores socioambientais. Observou-se no presente trabalho que é possível a categorização dos reflexos econômicos das práticas socioambientais em três grupos principais: recebimentos, dispêndios e investimentos em ativos. Tendo em vista as considerações supramencionadas, o modelo proposto pelo presente trabalho aponta quais informações são necessárias para que investidores e analistas financeiros possam identificar o ganho ou perda de valor decorrente de práticas socioambientais adotadas pelas empresas de papel e celulose. Entretanto, no estágio atual, a aplicação do modelo é limitada pela qualidade das informações divulgadas pelas empresas. Por sua vez, esta limitação atual ao emprego do modelo reforça sua contribuição. O modelo proposto apresenta-se como um referencial para melhorar a comunicação entre gestores de empresas, analistas financeiros e investidores. A partir do momento em que estes atores adotam uma linguagem comum, identificando o mesmo conjunto de informações como necessárias para que os fatores socioambientais sejam incorporados à avaliação econômica de empresas, resolve-se um dilema natural: até então as empresas não divulgavam tais informações por não haver tal solicitação por investidores e analistas financeiros, enquanto estes não as solicitavam por desconhecer os reflexos econômicos das práticas socioambientais corporativas. Portanto, o modelo proposto pelo presente trabalho pode contribuir para que este círculo vicioso transforme-se em um círculo virtuoso, apontando um caminho para investidores e analistas financeiros aperfeiçoarem sua demanda por informações e, com isso, gerar um efeito indutor para o aprimoramento da qualidade das informações divulgadas pelas empresas. Consequentemente, caberá às empresas aprimorarem os business cases associados a práticas socioambientais para que investidores e analistas financeiros possam avaliar 69 de forma diferenciada àquelas que integram os fatores socioambientais ao seu negócio e efetivamente incrementam seu desempenho econômico com tais práticas. Para tanto, as empresas devem desenvolver procedimentos que possibilitem a análise dos efeitos econômicos das práticas socioambientais mais significativas segundo sua atividade operacional, bem como um sistema de coleta e processamento dessas informações que possibilitem sua divulgação de forma consistente e precisa. Uma maior aproximação entre os profissionais de finanças e aqueles responsáveis pelo gerenciamento de questões socioambientais poderia contribuir para a evolução desta agenda nas corporações. Na medida em que investidores e analistas financeiros começarem a fazer uso de modelos financeiros com a proposta de incorporar os fatores socioambientais à avaliação econômica de empresas, as corporações serão compelidas a fornecer as informações necessárias para atendê-los. As empresas que se anteciparem a esse processo poderão ter vantagens competitivas frente às demais, no tocante à captação de recursos de investidores e instituições financeiras que tomem suas decisões com base nesses modelos. Entretanto, no médio e longo prazo, a disponibilização de informações para atender esses modelos pode ser uma condição preponderante para a sobrevivência das empresas. 70 REFERÊNCIAS ABRAF: Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. Anuário estatístico da ABRAF 2012 ano base 2011. Brasília: ABRAF, 2012. Disponível em: < http://www.abraflor.org.br/estatisticas.asp>. Acesso em: 27 mai. 2012. ARX, U.; ZIEGLER, A. The Effect of CSR on Stock Performance: New Evidence for the USA and Europe. Economics Working Paper Series. CER-ETH Zurich, Center of Economic Research at Eidgenossische Technische Hochschule Zurich. Swiss Federal Institute of Technology Zurich. Maio, 2008. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/ sol3/papers.cfm?abstract_id=1102528>. Acesso em: 12.05.2012. BARNEY, J. Firm resources and sustained Management, v. 17, p 99-120, 1991. competitive advantage. Journal of BEURDEN P.; GOSSLING, T. The Worth of values – a literature review on the relation between corporate social and financial performance. Journal of Business Ethics, v. 82, p 407-424, 2008. BRACELPA. Relatório de sustentabilidade 2010. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.bracelpa.org.br/bra2/sites/default/files/public/relsustenta/Bracelpa_PDF_N avegavel_PORT_Final.pdf>. 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