AU TO RA L UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O PE LA LE I DE DI R EI TO INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Por: Ana Alice da Silva Gonçalves DO CU M EN TO PR OT EG ID A visão Holística na Administração Orientadora/Tutora Profª. Adélia Maria Oliveira de Araújo Profª. Marcella Estevez Manaus-Am 2009 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A visão Holística na Administração Apresentação de Universidade Candido como requisito monografia parcial à Mendes para obtenção do grau de especialista em Gestão de Recursos Humanos. 3 AGRADECIMENTOS Ao Deus Todo-Poderoso na Pessoa bendita de Jesus Cristo. 4 DEDICATÓRIA Dedico aos meus pais João Batista e Idarcy Gonçalves. 5 RESUMO A Administração é um fenômeno universal no mundo moderno. Cada organização e cada empresa requerem a tomada de decisões, a coordenação de múltiplas atividades, condução de pessoas, avaliação de desempenho etc, levando profissionais em suas respectivas especialidades buscarem transformar-se em administradores para conduzirem os objetivos da empresa onde trabalham e no qual assumiram postos ou cargos de gestores. Mas nem sempre foi assim, esta é uma realidade atual conseqüência de uma quebra de paradigma aonde nos antecedentes históricos da administração vamos nos deparar com vários princípios nos quais o ator principal desse contexto, ou seja, homem aparece completamente desvalorizado em sua capacidade de pensar, inserido e submetido a modelos obsoletos que o confundiam com a máquina e o adestravam apenas para produzir e executar tarefas, aprisionado dentro de um sistema fordista/taylorista que neutralizava a sua atividade mental enjaulando-o dentro de uma visão mecanicista de pensar e agir, uma metodologia antiga de conduzir e gerir negócios e pessoas, visão essa que infelizmente ainda persiste em nossos dias. Mas ao mesmo tempo em que essa visão persiste é inevitável também vislumbrar a quebra, ainda que paulatina desse paradigma e o surgimento de novos valores, especificamente da visão holística trazendo novos modelos de gestão cujo foco principal é o homem. O trabalho visa mostrar essas duas realidades, essa quebra de modelos e a necessidade dentro da administração de acompanhar os avanços, as transformações de um mundo globalizado e sinalizar com flexibilidade para que de uma forma geral a cultura das organizações seja mudada e se abra as portas para as mudanças, para o investimento no ser humano na certeza de que o diferencial competitivo de uma empresa é o seu capital intelectual e isso só é encontrado no homem. 6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A construção deste trabalho foi projetada sobre três capítulos cujas ações técnicas remeteram-se a opção de uma pesquisa bibliográfica, delimitada acerca da visão holística na administração. Para esta pesquisa foram utilizados os recursos de livros, apostilas, pesquisa na Internet, objetivando a busca do conhecimento científico que enseja uma visão da realidade livre das amarras do senso comum. Os principais autores que fundamentaram esta pesquisa foram Idalberto Chiavenato, José Nelson Magalhães e Tânia Mara Potrich. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8 CAPÍTULO I 1. A Administração e suas Perspectivas..........................................................10 1.1 A Administração Científica.........................................................................15 CAPÍTULO II 2. A Visão Holística na Administração.............................................................17 2.1 O Contexto do Holísmo..............................................................................17 2.2 A Organização Empresarial / Sistema Aberto...........................................18 2.3 Fundamentos da Empresa Holística..........................................................18 2.4 A Administração Holística..........................................................................23 2.5 A Estrutura Organizacional Holística.........................................................24 2.6 A Valorização dos Recursos Sociais.........................................................27 CAPÍTULO III 3. A Empresa Holística....................................................................................30 3.1 As Relações Internas da Empresa Holística..............................................32 3.2 A Percepção do Valor do Homem.............................................................46 3.3 As Relações Internas da Empresa Holística..............................................48 CONCLUSÃO.............................................................................................................51 BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................53 8 INTRODUÇÃO O interesse pela pesquisa sobre a teoria holística surgiu a partir de uma reflexão acerca do modelo de administração científica onde o homem, ou melhor, o trabalhador passou anos e anos sendo neutralizado na sua potencialidade intelectual e adestrado para ser um mero executor de tarefas sem se vislumbrar o seu ser interior e tudo o que envolve o seu processo emotivo. A questão central é mostrar que transformações foram se evidenciando, principalmente com o surgimento do fenômeno globalização e que inevitavelmente provocaria mudanças na organização racional do trabalho, remetendo o ambiente organizacional a uma nova estrutura contribuindo assim para que os modelos de administração bem como a cultura das organizações fossem mudados. Dentro desse contexto de mudanças administrativas e organizacional, essa pesquisa busca dentro de seus objetivos focalizar essa quebra de paradigmas e a inserção da teoria holística na administração a qual, na relação de trabalho tem uma outra percepção do homem vendo-o, não mais como uma máquina ou de forma fragmentada. A inserção de um novo paradigma não permite que o sistema organizacional do trabalho neutralize a atividade mental dos trabalhadores, o novo modelo, pelo contrário, sinaliza com a percepção de que é preciso investir no ser humano, valorizá-lo no trabalho, admitir a interferência de sua mente, vislumbrando-o não mais como um mero executor de ordens, mas sim um agente de mudanças. No contexto atual de um mundo globalizado na qual a administração de uma forma geral sofre mudanças e transformações contundentes o homem na sua totalidade e especificamente na sua força de trabalho passa a ser visto com um olhar diferenciado e, é nessa perspectiva, na visão do todo que se vislumbra ainda que de forma tímida a inserção paulatina do enfoque holístico na administração. Diante disso, este trabalho se propõe em seu primeiro capítulo a abordar a questão da administração e suas perspectivas, fazendo um apanhado da visão antiga da idade média onde o homem era visto como um simples executor de tarefas 9 ficando evidente neste momento a desvalorização de seu potencial. O segundo capítulo mostra uma pesquisa acerca da visão holística na administração onde o ser humano até então um mero executor de tarefa passa a ganhar espaço quanto à evolução das suas condições de trabalho. Já o terceiro capítulo traz toda uma pesquisa sobre o significado de uma empresa holística, sua visão e relações internas destacando-se a percepção e valorização do homem como um ser inteiro. 10 CAPÍTULO I 1. A ADMINISTRAÇÃO E SUAS PERSPECTIVAS Entre as grandes transformações resultantes do advento da sociedade formacional, temos a reconceitualização do trabalho humano. Desde a Grécia antiga, passando pela idade média, na visão dos protestantes, dos economistas clássicos ou no entendimento crítico de Hegel e Marx, o conceito de trabalho tem sofrido profundas alterações, as quais expressam as mudanças econômicas e as formas de produção próprias de cada contexto. Tomando-se como base a concepção fordistataylorista responsável pela organização científica do trabalho, temos a característica que mais contrasta com a forma atual de conceber o trabalho, ou seja, a desvalorização do conhecimento e do saber desenvolvido com a formação e a experiência. De acordo com A. Gramsci a qualificação aqui é medida a partir do desinteresse do trabalhador, da sua "mecanização", esta concepção reduzia os operários em ações produtivas vinculadas apenas ao aspecto físico maquinal, negando a participação ativa da inteligência, da fantasia e da iniciativa do trabalhador. www.ipepe.com.brNeste paradigma, o controle, a prescrição e a limitação dos movimentos, praticamente anulavam a importância do "saber-fazer" dos trabalhadores, ignorando com isso a capacidade que os mesmos possuíam no sentido de aperfeiçoar os sistemas técnico-organizacionais. Sobre isto, o exemplo dos manuenses dado por Gramsci para ilustrar essa situação sobre o taylorismo e a mecanização do trabalhador, é bastante interessante. Segundo ele, para os manuenses a adaptação à mecanização seria bem mais difícil do que para outro trabalhador, pois os mesmos teriam que ignorar e não refletir sobre o conteúdo intelectual do texto que estavam reproduzindo para evitar que interferissem e modificassem o texto. 11 Porém, a nova organização flexível do trabalho coloca em questão esses pressupostos tradicionais. Na era das novas tecnologias de comunicação e informação, o conteúdo qualitativo do trabalho passa a ser privilegiado, transformando-se, assim, sua concepção. O trabalho passa a ser uma série de aplicações de conhecimentos, onde os indivíduos voltam suas capacidades para a programação e o controle, e isto trazem como exigência se pensar a formação dos indivíduos para o trabalho com base em pressupostos pós-fordistas, sob os quais novas habilidades estão sendo demandadas. Temos hoje um aumento das exigências de aptidões para o trabalho, considerando-se uma base de conhecimentos mais amplos, exigência de capacidade para resolução de problemas, exigência para tomada de decisões autônomas, capacidade de abstração e comunicação escrita e verbal. Somando-se a isto, o trabalhador deve ser polivalente, e com maior nível de escolaridade. Polivalente no sentido de multiqualificado, isto é, aquele que é capaz de desenvolver e incorporar diferentes competências e repertórios profissionais. As novas competências, tendo em seu centro a dimensão reflexiva superam a estreiteza das habilidades manuais, coloca-se sobre a clássica noção de qualificação e constituem-se na profunda transformação da natureza do trabalho, que passa a ser definido em termos de "mobilização de competências". Ao se combinarem com o conhecimento e a inteligência organizada, as competências e os saberes pós-modernos emergem como um novo fator de produção sobre o qual se desloca o poder que era detido pelo capital. Mas o modelo das competências está longe de ser atendido pela maioria dos trabalhadores, os quais se não responderem suas exigências tornam-se desempregados ou inserem-se em novas formas precárias de trabalho. Some-se a isto outra grande parcela desprovida totalmente das condições mínimas para o trabalho, e para os quais a impossibilidade de fazerem parte do novo mundo do trabalho é estrutural e permanente. De acordo com a organização internacional do trabalho, mais de 700 milhões de pessoas estão desempregadas ou parcialmente empregadas, constituindo-se isto num dos maiores problemas sociológicos da pósmodernidade. Estes são o que S. Lash chamou de "perdedores da reflexividade", pois excluídos do trabalho nas, para e com as estruturas de informação e comunicação, grande parte deste número encontra-se na posição do que está sendo 12 conhecido como "subclasse". Como diz B. Santos, "o aumento do desemprego estrutural conduz à passagem dos trabalhadores de um estatuto de cidadania para um estatuto de lumpencidadania", tratando-se muitas vezes de uma situação permanente. Devemos reconhecer que o novo padrão tecnológico e produtivo internacional é contraditório por excelência. De um lado, abre novas possibilidades, valorizando significativamente a formação e o reconhecimento dos saberes dos trabalhadores. As novas exigências do modelo de competência, assim como a quebra da rigidez hierárquica com relações mais horizontalizadas entre os trabalhadores, repercutem positivamente na autonomia dos indivíduos e possibilitam maiores capacidades cooperativas. Este novo padrão tecnológico possibilita também o surgimento de uma "nova classe média", que para S. Lash é uma classe média expandida ou transformada, e trabalhando dentro das estruturas de comunicação e informação, tem o privilégio de trabalhar especialmente com o processamento de informações, "e este trabalho não está mais subsumido às necessidades da acumulação industrial" (S. Lash), o que quer dizer que o novo trabalhador opera com regras e finalidades diversas da do capital, estando liberado inclusive a experimentações para fazer a economia funcionar de maneira diferente. De outro lado, "fatos da desindustrialização e da transferência geográfica de fábricas, a flexibilidade dos mercados de trabalho, da automação e da inovação de produtos olham a maioria dos trabalhadores de frente" (D.harvey). Este "olhar de frente" representa relações que acentuam a insegurança, ampliam a desigualdade e a exclusão social. Isto gera uma ansiedade permanente nos indivíduos, quer pela incerteza da permanência no trabalho ou pela constante procura do mesmo. Já as diferenciações geográficas representam movimentos de "destaylorização" em alguns pontos seguidos de um "neofordismo" (ou como Lipietz chama, "fordismo periférico") em outros. Práticas de trabalho mais flexíveis são incorporadas nas empresas, quando os trabalhadores não estão preparados para enfrentá-las. Portanto a qualificação profissional constitui-se hoje numa forma indispensável para transformar o trabalho numa esfera de inclusão, sendo assim um direito de cidadania embora o aumento do grau de qualificação médio da força de trabalho seja a tendência desta fase do capitalismo global, no Brasil, por exemplo, a estrutura ocupacional ainda é bastante estratificada e, com uma grande parcela, 13 composta por trabalhadores pouco qualificados e instruídos, o que dificulta o crescimento dos "ganhadores da refletividade", e favorece o aumento dos perdedores. Isto depende de ações do estado, de um novo papel dos sindicatos, da atuação constante dos novos movimentos sociais, e principalmente de um novo tipo de educação, o qual está sendo chamando de educação pós-moderna crítica, e que entende que a instrumentalização dos indivíduos para o exercício da cidadania passa não só pelas formações política e sociocultural, mas também pela formação para o trabalho. Ou dito de outra forma, a preocupação com a formação para o trabalho num processo educacional pós-moderno crítico diz respeito não só ao aspecto técnico, mas também ao político e ao sociocultural, ou seja, tendo o trabalho como ponto de partida, busca-se aquilo que Gramsci denominou "formação unilateral do homem", sendo esta a maior possibilidade para o exercício efetivo da cidadania na sociedade pós-moderna. Num momento em que as escolas e as universidades estão repensando seus projetos políticos pedagógicos a nova concepção de trabalho e as categorias envolvidas na mesma são centrais nas reorganizações desses projetos. Assim como Gramsci destacou princípios educativos no fordismo, precisamos estar atentos ao novo fulcro pedagógico que surge das contradições produtivas do pós-fordismo no trabalho, e se estende para as maneiras do homem pós-moderno viver, pensar e sentir a sua vida. Segundo Chiavenato (2000, p.05), em uma época de complexibilidade, mudanças e incertezas como a que atravessamos no momento, a administração tornou-se uma das mais importantes áreas da atividade humana. Vivemos em uma civilização na qual o esforço competitivo do homem é a base fundamental da sociedade. E, a tarefa básica da administração e a de fazer as coisas por meio das pessoas, de maneira eficiente e eficaz. Seja nas indústrias, comércio, organizações de serviços públicos, hospitais, universidades, instituições militares ou em qualquer outra, fora de empreendimento humano a eficiência e eficácia com que as pessoas trabalham em conjunto para conseguir objetivos comuns depende diretamente da capacidade daqueles que exercem função administrativas. O avanço tecnológico e o desenvolvimento do conhecimento humano, por si apenas não produzem efeitos se, 14 a qualidade da administração efetuada sobre os grupos organizados de pessoas não permitir uma aplicação efetivas dos recursos humanos e materiais. A administração está sendo considerada a principal chave para a solução dos mais graves problemas que atualmente afligem o mundo moderno. Peter Druck apud Chiavaneto, (Ibidem), autor clássico, afirma que não existem países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, e sim, países que sabem administrar a tecnologia, os recursos disponíveis e potenciais e países que ainda não o sabem. Em outros termos, existem países administrados e países subadministrados. O trabalho do administrador em qualquer organização seja ele um supervisor de primeira linha ou um dirigente máximo da organização é essencialmente o mesmo. Nesse sentido, não ha uma distinção básica do administrador enquanto diretor, gerente, chefe ou supervisor. Qualquer que seja a posição em nível que ocupe, alcança resultados através de qualquer tipo ou tamanho de organização, seja ela uma grande indústria, uma cadeia de supermercados, uma escola, clube, hospital ou uma empresa de consultoria. Toda organização seja ela industrial ou prestadora de serviços, precisa ser administrada para alcançar seus objetivos com a maior eficiência e economia de ação e de recursos. Devido as suas limitações físicas, biológicas e psíquicas, as pessoas têm necessidade de cooperar com outras pessoas para, em conjunto, alcançar objetivos. Quer seja esse objetivo industrial, comercial, militar, religioso, caritativo ou educacional a coordenação do esforço humano torna-se um problema essencialmente administrativo, onde requer que a cooperação de pessoas no intuito de alcançar um ou mais objetivos comuns se torne organizada e formal, o componente essencial e fundamental dessa associação é a administração, a função de conseguir fazer as coisas por meio das pessoas, com os melhores resultados. 15 1.1 ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA O fundador da Administração cientifica foi Frederick Winlow. Em sua concepção, Idalberto Chiavenato, (2000, p.54), entende que a organização e a administração devem ser estudadas e tratadas cientificamente e não empiricamente. A improvisação deve ceder lugar ao planejamento e o empirismo a ciência: a ciência da administração, no entanto, a administração cientifica restringiu-se as tarefas e aos fatores diretamente relacionados com o cargo ou a função do operário. Muito embora a organização seja constituída de pessoas, deu-se pouca atenção ao elemento humano e concebeu-se a organização como um arranjo rígido e estático de peças, ou peças e especificações, também construímos uma organização de acordo com um projeto, daí a denominação “teoria da máquina” dada à administração cientifica. De acordo com Idalberto Chiavenato: “Os engenheiros da administração científica achavam que os estudos dos tempos e movimentos permitiam a determinação do melhor método de trabalho e que juntamente com a seleção científica do trabalhador e com os cuidados para evitar a fadiga humana proporcionariam um padrão de produção mais elevado e que, coadjuvador por uma supervisão do tipo funcional, com um plano de incentivo salarial e condições ambientais adequadas de trabalho conduziria a máxima eficiência possível e, portanto, a maiores lucros e maiores salários”. (CHIAVENATO, 2000, p.56). Essa visão mecanicista e lógica nem sempre foi plenamente realizada. O teylorismo, segundo Idalberto Chiavenato (2000, p.62), demonstrou que a maneira espontânea com que os trabalhadores executavam suas tarefas era a mais fatigante, a menos econômica e a menos segura. A administração científica refere-se a cada empregado tomado individualmente, ignorando que o trabalhador é um ser humano e social. A partir de sua concepção negativa do homem na qual as pessoas são preguiçosas e ineficientes, Cheavenato apud Taylor (ibidem), enfatiza o papel monocrático do administrador “a aceleração do trabalho só pode ser obtida por meio da padronização obrigatória dos métodos, adoção obrigatoriedade, instrumentos e 16 condições de trabalho e cooperação obrigatória”. É essa atribuição de impor padrões e forçar a cooperação, compete exclusivamente a gerência. “A industrialização inerente ao esquema de Taylor implica a proliferação do trabalho desqualificado que coexiste com uma estrutura administrativa monocrática, alienante, na qual a principal virtude é a obediência as ordens”. Segundo Idalberto Chiavenato (1999, pág.58 “na era da industrialização os trabalhadores eram tratados como fatores inerentes e estáticos, com ênfase no controle através de regras rígidas para cumprir a missão de vigilância e coerção”. O mesmo autor (2000, p.71,71), diz que o princípio que Taylor adotou para conciliar os interesses entre patrões e empregados foram a causa de sérios transtornos e críticas sofridas posteriormente. O fato de supor que o empregado age motivado pelo interesse do ganho material e financeiro, produzindo o máximo possível, mas, sem levar em consideração outros fatores motivacionais importantes, foi sem dúvida outro aspecto mecanicista típico dessa teoria. De um modo geral a abordagem dos engenheiros americanos concebeu a organização dentro de um sentido mecânico e o emprego de técnicas mecanicistas passou a representar a desumanização do trabalho industrial. 17 CAPÍTULO II 2. A VISÃO HOLÍSTICA NA ADMINISTRAÇÃO “A cobra para poder crescer despoja-se da pele velha. O homem em evolução que não queria ser peça de museu morto, mas planta de jardim vivo, não pode fossibilizar-se em idéias fixas, tem de ultrapassar certos estágios evolutivos para prosseguir na sua educação ascensional”. (Santo Agostinho) Segundo SIQUEIRA, a visão holística antes de qualquer coisa é a visão do todo, abrangente, envolvendo todas as atividades da organização empresarial, atrelado a um velho princípio administrativo: “a unidade de direção” Dentro desse enfoque, entende-se que a empresa não pode ser organizada e administrada sob o ponto de vista deste ou daquele objetivo que pareça significativo em determinado momento mercadológico e sim que a organização e a administração estejam voltadas para sólidos princípios filosóficos, científicos, tecnológicos que impliquem sinergia, através da permanente busca da eficiência, da eficácia e da efetividade, garantindo a satisfação plena de sua clientela. 2.1 O CONTEXTO DO HOLÍSMO A globalização, mundialização que atinge a era em que vivemos o enfoque cibernético, robotização, automação dos processos industriais; a mecanização crescente da agricultura, convergência eletrônica na realização e na prestação de serviços bancários, comerciais, culturais, cognitivos: o desenvolvimento científico e tecnológico em todos os ramos das atividades humanas: a explosão social, o crescimento desordenado da população do globo: as carências sociais entre as 18 quais: o emprego, renda, ensino, saúde, habitação, alimentação, saneamento básico, a poluição, o surgimento de novas doenças e todo esse “conjunto de conjunções” políticas, econômicas, sociais e ambientais que refletem as ações humanas na dimensão histórica e geográfica da civilização, compõe um contexto, o contexto do holismo. 2.2 A ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL / SISTEMA ABERTO Afora as ações fisiológicas do ser humano, todas as atividades civilizatórias são promovidas pelas organizações de pessoas jurídicas: governo, empresa, associações, sindicatos, partidos políticos, cooperativas, escolas, universidades, centro de pesquisas, enfim, todos os empreendimentos humanos são realizados através dessas “unidades de empreendimento” político, econômico e social, assim, seria de todo impossível para a organização empresarial, empreender sua estruturação e sua administração ao longo desse fantástico “complexo de convergência” filosófica, políticas e existenciais que assaltam os conglomerados humanos: cidades, países, blocos econômicos! É, pois nesse ambiente que a organização empresarial deve definir os seus rumos, seus objetivos sociais e não apenas a lucratividade, na certeza de que sua lucratividade depende do alcance de seus objetivos sociais. 2.3 FUNDAMENTOS DA EMPRESA HOLÍTICA Segundo Balcão a Western Eletric, empresa americana fez várias pesquisas para avaliar até onde o campo emocional do trabalhador influenciaria em suas tarefas. Os resultados evidenciaram que os fatores psicológicos tais como: as inovações e as maneiras de perceber e de se relacionar com o mundo tinham grandes influencia no trabalho humano. E estes resultados surpreenderam os empresários, pois se percebeu que os aspectos subjetivos que não podiam ser 19 controlados tinham uma força maior no desempenho do trabalhador do que os aspectos fisiológicos. Em outras palavras, entende-se que, se o trabalhador estiver satisfeito consigo e com sua vida, a tendência será produzir mais, mesmo que o ambiente de trabalho apresente alguns aspectos desfavoráveis, ao contrario, se as condições físicas fossem as ideais, mas se o inconsciente do homem estiver envolvido em outros fatos sua produção cairia. Segundo Magalhães e Patrick, o trabalho só tem sentido para satisfazer alguma necessidade humana. Do contrário, resume-se apenas em uma obrigação a cumprir, tornando-se extremamente cansativo e monótono. Desta forma, busca-se para o novo milênio uma empresa que veja o homem como um todo e não em partes. As empresas têm uma visão parcial do homem e eles também se percebem em partes, como acontece atualmente. Sendo assim, existe o homem: • Profissional – aquele que comparece ao emprego. • Social – aquele que se relaciona com seus colegas de trabalho e vizinhos. • Fisiológico – aquele que possui um corpo vulnerável a patologias. • Familiar – aquele que se comunica com os parentes. • Amoroso – aquele que se relacionam com os filhos, pais cônjuges e amigos. • Espiritual – aquele que fala com Deus e com quem sua fé lhe leve a falar. Mas na verdade não existem esses “homens partes” o homem é completo em qualquer situação. Quando o homem está feliz, triste, cansado, nervoso, tranqüilo ou em paz, esses estados físicos e de espírito interferem em todos os papéis que este representa. Por isso, o próprio homem e a sociedade devem percebê-lo como um ser inteiro, em que cada um desses aspectos integra um todo indivisível. O “homem parte” é um mito, um folclore que está começando a ser questionado. Na verdade está se percebendo que quanto mais completo em seu trabalho, melhor será seu desempenho e sua saúde física e mental. Há uma probabilidade de que o mito “homem parte” seja um dos mais difíceis paradigmas newtoniano a ser desfeito, pois ele é reforçado pelas próprias vitimas dessa conceituação. Quantas vezes já ouvimos a expressão: “os problemas do escritório ficam da porta da casa para fora”. Isso é um engano, uma expressão que de tão repetida, ganhou certa credibilidade, pois se formos verdadeiramente 20 honestos, veremos que tudo que nos atinge, o que é de fato importante, nos acompanha em todos os momentos. Se pararmos para viver baseados nos papéis que nos são impostos, perceberemos claramente que não existem “homens partes” e sim um ser humano inteiro, como esclarece Rodrigues: “Faz-se necessário uma análise da vida do trabalhador fora do meio organizacional, para que possa ser medida a importância e interligação destas “duas” vidas. Muito se tem falado sobre a Qualidade de Vida no Trabalho. Mas a satisfação no trabalho não pode estar isolada da vida do indivíduo como um todo”. (RODRIGUES, 1995, p.93) Com esse enfoque, inicia-se um processo irreversível de transição no que diz respeito ao relacionamento do homem com seu trabalho. Ele não mais aceita o papel newtoniano que as organizações querem lhe impor, apenas quer ser livre, trabalhar com sua plenitude, pensar, usar sua mente, sua sensibilidade e seu inconsciente em seu trabalho, poderia assim dizer que sensibilidade é a capacidade de percepção de mudanças de níveis ou formas de energia, ou também se importar com o que valha a pena perceber e sensibilizar. Ele não mais aceita a divisão de “quem pensa não executa e quem executa não pensa”. O trabalhador está continuamente crescendo como pessoa, como cidadão e cada vez mais consciente de sua capacidade criativa e disposto a abrir mão de sua personalidade em favor da empresa. O que se observa é novamente uma inversão de valores, considera-se, contudo, nesta fase, a proposta correta do homem, encontra-se para integrar-se ao meio que garanta seu crescimento, seu aperfeiçoamento como gente. Historicamente o trabalho sempre compôs a vida do homem, daí afirmar a sua importância para colaborar no crescimento individual. E, se o pensamento está acima das mãos, ele converge para a idéia do que se toca, proporcionando a interação homem-trabalho. O homem está se reintegrando como parte integrante da sociedade trabalhista, porque começa a perceber sua derrota como pessoa, em função das máquinas que surgem cada vez mais avançadas em alta tecnologia e performances. Tal reintegração resulta de um início de tomada de consciência de homem, que começa a se dá conta que as grandes descobertas e aperfeiçoamentos tecnológicos decorrem de criação e genialidade. 21 O homem quer ser feliz, ele quer trabalhar, produzir, ajudar a sociedade a crescer, mas sem que isso lhe traga sofrimento físico ou psíquico. “Os homens estão menos dispostos hoje do que dez ou vinte anos atrás a aceitar pressões ou fiscalizações rígidas, na escola, na família e nas comunidades, há uma tendência a conceder ao individuo maior liberdade e autonomia. Há menos ordens diretas sem explicação e os jovens participam cada vez mais das decisões que os atingem.” (GORZS. p. 135) O homem quer se relacionar mútua e respeitosamente com a natureza e com os outros seres humanos de maneira sadia. Atualmente, busca-se para o novo milênio uma empresa com visão do homem como um todo sensível e não em partes racionais. Complementando essa idéia Silvia Vergara afirma: “Refutando o paradigma mecanicista que tem ancorado as práticas organizacionais, o paradigma da complexidade privilegia uma visão holística da vida em geral e dos negócios em particular. Tal visão valoriza o ser humano, como criador de recursos, não podendo, portanto igualar-se aos recursos financeiros, materiais, informacionais e tecnológicos... valoriza diferentes formas de se ter acesso ao conhecimento como a razão e a intuição. Valoriza a flexibilidade... valoriza a inovação a capacidade de aprender a aprender, de autoorganização de participação. Valoriza sobre tudo a qualidade de vida, o significado da existência, o desenvolvimento humano.” (VERGARA, 1995, p.15) Ou como diz Francisco Matos: “O trabalho como fonte de felicidade, e não como fonte de punição e sofrimento. O trabalho como fonte de prazer e não como fonte de limitação. O hedonismo aplicado as atividade humana na empresa. O tecnicismo está cada vez mais de lado, enquanto o humanismo está em crescente alta.” (MATOS, 1995, p 13-14) O homem ainda sente dificuldades para parar de representar o papel de um modelo, no interagir de um paradigma newtoniano, e assumir sua verdadeira identidade; porém se está caminhando para que isso aconteça, lenta e inexoravelmente, pode se demorar um pouco, mas não mais se retrocederá ou se tornará novamente parte de uma máquina. O trabalhador busca ser produtivo, mas ele não mais se coloca como um ser não pensante que simplesmente executa o que os outros mandam, nem as empresas desejam mais esse tipo de trabalhador, pois a 22 nova dinâmica dos negócios globais exige que a empresa altere constantemente seus processos e o trabalhador deve estar adequado a estas bruscas mudanças nos processos para ser útil à empresa. Não é mais possível que ele seja um ator representando um papel qualquer, é necessário que ele esteja consciente da importância de seu trabalho e o execute com todo o seu potencial. “A persona, ou máscara, expressa a parte aparente da personalidade, o conjunto de papeis sociais que são desempenhados. Muitas pessoas vivem acreditando que são aquilo que representam para os outros (e para si mesma) e faz do papel social a sua personalidade, sem saber que possuem uma realidade interior mais promissora. O autoconhecimento pode ser alcançado gradativamente quando a pessoa se dispõe a atravessar a máscara social, a examinar seu eu sistematicamente por meio de introspecção, de informações e “feedback” dos outros, de processos de laboratório e terapia. Tratase de um percurso demorado, acidentado, complexo, delicado e sofrido, Porém compensador.” (MOSCOVICI, 1993,p 32) De modo geral a história se divide em três partes: 1. O homem existindo apenas como um recurso produtivo ao lado das matériasprimas e das máquinas, sem nenhuma consideração especial; 2. O homem como uma peça extremamente importante para o processo de produção motivando seu comportamento pela busca da satisfação de suas necessidades materiais. 3. O homem como mais do que simples peça na produção, merecedor de considerações especiais, motivado não só pela necessidade de satisfazer seus desejos materiais como também pela busca constante da satisfação de suas necessidades sociais e psicológicas. Segundo Magalhães (1999). “Tudo nasce, vive e morre de acordo com leis e sentimentos imperceptíveis a certos corações. Talvez, por viver, ser o elo presenciado entre estes dois mistérios evolutivos, o mesmo esteja mais classificado em nossos seres”. O processo qualitativo de vida é misterioso, mais nosso processo interior é ditame de nossos corações. Na vida visamos entender o que nos trouxe a esta dimensão, para saber onde estamos e podermos vislumbrar um futuro dimensional para nós, “egoisticamente” deixando para nossos filhos um processo de entendimento da vida melhor. Por que não nos portamos assim, então, com relação aos processos físicos já que estes influenciaram espiritual e fisicamente 23 gerações futuras, mas que estarão convivendo com nossas próprias gerações? Aprimoramento da qualidade de vida não é uma profissão. Qualidade é um modo de estar, uma forma de ser. “Qualidade é um fator intrínseco na cultura e evolução de um povo, um contexto cultural bem sedimentado, uma conseqüência da educação sistemática e continuada”. (MAGALHÃES, 1999, p.18) Em resumo, podemos entender que o homem está buscando uma integração consigo mesmo e com o meio em que vive. 2.4 A ADMINISTRAÇÃO HOLÍSTICA A administração holística resulta de um amálgama de todas as teorias administrativas até agora criadas e postas em exercício corrente. O que se percebeu inicialmente foi a ênfase na tarefa, quando o que importava era a otimização do trabalho, medido em “winks”, e analisando à luz de movimentos singularmente pequenos, verdadeiras “unidade de movimento”, denominados “terbligs”. A seguir, a ênfase na estrutura ordenou pesquisas acerca dos tipos de estruturas linear, funcional, linear-funcional que deveriam sedimentar as “estruturas do poder”; as relações inter-orgânicas e os princípios de comando e direção das empresas. Adiante, chegou-nos a ênfase humanística, momento em que o homem, seus anseios, suas satisfações, sua cultura, são valorizados e as relações entre as pessoas e os aspectos da liderança vem a lume, numa clara demonstração de que o ser humano era o verdadeiro objetivo da organização social. Em prosseguimento a este escalar científico passamos a ênfase na tecnologia. A organização empresarial é, então, pautada na tecnologia disponível, na qual desponta a computação eletrônica de dado, como instrumento capaz de processar dados e informações em mano/segundo (um bilionésimo do segundo) medida de tempo incapaz de ser avaliada pelo ser humano. Com a computação eletrônica chegam à cibernética, com sua robotização e automação dos processos produtivos. A organização empresarial transforma-se em 24 um monumental parque tecnológico, cuja resultante é a multiplicação da capacidade de organização e controle do trato administrativo. Na seqüência, vem à luz, a ênfase no ambiente. A organização empresarial percebe que sua configuração depende das exigências políticas, econômicas, sociais e tecnológicas do ambiente no qual está inserida. E mais, que ela é o seu fruto mais importante, pois, do ambiente, vieram às solicitações e as bases econômicas e sociais para sua criação desenvolvimento e implantação. É dele e para ele que a empresa trabalha numa relação complexa de “causa e efeito” a cada mudança de seu contexto político-econômico-social. Em seguida, chega-nos a ênfase no cliente. Estudos e pesquisas importantes dão-nos conta de que o vértice da sociedade é o cliente. É para ele, que toda a estrutura empresarial agregada deve dirigir sua atenção, pois é nessa direção que segue a teoria da qualidade. Impondo a utilização de todos os recursos sociais disponíveis para satisfazer as expectativas dos clientes: a melhoria de sua qualidade de vida. Surgem então, as idéias de criação de sistemas de garantia da qualidade, envolvendo as “relações de negócios” entre os organismos sociais, em níveis de qualidade jamais imaginados. E o cliente passa a ser o objetivo principal de toda essa transformação filosófica e administrativa da organização empresarial. Deparamo-nos então com a ênfase na globalização / mundialização. Forçado pelo sistema financeiro internacional que investira pesadamente, na pesquisa e no desenvolvimento cientifica e tecnológico, os países do mundo, sobretudo aqueles do terceiro mundo, tiveram que, às pressas, importar tecnologia para “modernizar” seus parques industriais, objetivando competir, em qualidade e preço, com os países do primeiro mundo, ou seja, com as “expectativas” dos países do primeiro mundo. 2.5 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL HOLÍSTICA Não resta dúvida que a concepção sistêmica ainda é o fundamento filosófico, científico e tecnológico capaz de engendrar, com sucesso, a estrutura organizacional 25 dos empreendimentos empresariais, qualquer que seja o setor econômico ao qual pertença. Isto porque é concepção de elevada “resolução” administrativa e está baseada em uma composição de sistemas, processada à luz das antigas funções organizacionais – hoje nomeadas de sistemas de planejamento, de programação, de execução e de controle – e das, também antigas, funções administrativas, agora, nominadas de sistemas de garantia de qualidade, de relações com o cliente, de administração dos recursos operacionais. Toda essa concepção sistêmica tem como fulcro, os princípios da teoria da qualidade, operacionalizada por um sistema de garantida, qualidade que é parte integrante de sua organização e processado segundo as Normas Internacionais da Qualidade – ISO - Série 9.000. Esta organização estrutural e administrativa, além de conferir agilidade a sua estrutura de decisão permite, à empresa, uma permanente troca de informações científicas, tecnológicas econômicas e sociais com o ambiente, hoje tornando universal pela globalização/mundialização. A concepção sistêmica é a única capaz de conferir agilidade à empresa, em função da diversidade de subsistemas que poderão ser instalados imediatamente as imposições do ambiente globalizado/mundializado. A organização empresarial, por sua vez, precisará de um salto quântico na arquitetura do seu processo de planejamento, de programação, de execução e de controle. Não lhe bastará a análise de cenários projetados no tempo real – aqueles que norteiam o planejamento à luz das informações disponíveis no ambiente. Será necessária a “análise preditiva”, realizada sobre cenários projetados no tempo imaginário – aqueles que nortearão o planejamento virtual, meta-ambiente, centrado na gestão de negócios. A administração, por seu turno, há que ser empreendedora voltada para inovação sistemática de métodos e de técnicas de execução e de controle do processo produtivo. No processo produtivo, o maior avanço. A organização holística não terá como produto um bem ou um serviço. Por sua concepção holística baseada na gestão de negócios – o que significa dizer que ela poderá estar fabricando um carro em uma joint-venture no Japão e/ou 26 produzindo panelas de alumínio em outra joint-venture na Bolívia – os seus verdadeiros produtos são: v Qualidade v Tecnologia v Eficiência v Eficácia v Efetividade Alguém poderá questionar: como se pode ter, como produto, conceitos e não bens de serviços?” A explicação é simples: antes de realizar um novo negócio – seja por fusão, incorporação ou criação de joint-venture – a administração empreendedora realiza uma auditoria completa na futura aliada e no seu “ambiente tarefa”. Avaliam políticas, metas, projetos, produtos, clima organizacional, recursos operacionais, imagem da empresa (econômico, social e ecológico), distribuição, vendas, faz um diagnóstico global e impõe a adoção dos seus verdadeiros produtos: v Qualidade – promove à implantação de um sistema de garantia da qualidade, baseado nas Normas Internacionais da Qualidade, ISSO - Série 9.000, que a administração empreendedora utiliza no seu dia-a-dia. v Tecnologia – impõe, em conseqüência da auditoria realizada no produto: novo desenho quântico; adequação ao uso corrente; aumento da vida útil do produto (bens e serviços); acréscimo de utilidade (agrega análise de valor). v Eficiência – determina a adoção de novos métodos e técnicas de produção que otimize tempo, custos e eliminação do desperdício de produção de bens e/ou serviços. v Eficácia – provê o alcance dos objetivos do processo produtivo: volume de produção (de bens e/ou serviços) adequado a demanda; veloz distribuição de produto; ampla aceitação no mercado; relação ótima custo de produção X preço de venda. v Efetividade – ordena total responsabilidade social sobre o uso do produto; assistência pós-venda e análise sistemática dos anseios do cliente. 27 Com esses conceitos-produto, os produtos econômicos levados ao mercado – bens e serviços – necessariamente serão conformes, o que garantirá, à organização holística, baseada na gestão de negócios, utilizando administração empreendedora, total sucesso de seu novo empreendimento. 2.6 A VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS SOCIAIS A filosofia holística foi a primeira a criar uma teoria única de valorização dos recursos sociais. Até então, cada teoria administrativa que vinha alume, procurava valorizar um determinado recurso social. Por exemplo: A ênfase na tarefa buscava valorizar o trabalho. Ainda que, no fundo, o trabalho seja realizado pelo ser humano, a ênfase residia no modus operandi, não na pessoa. O ser humano deveria operar como se fora uma máquina. A ênfase na estrutura preocupou-se com a modelagem empresarial. Tratou da estrutura de poder, fixou o comando e fez da empresa, a organização-máquina. A ênfase humanística tratou do trabalhador. Valorizou a relações internas da empresa, cuidou da liderança, porém, não caminhou para fora da empresa. O “homem” seria o “ser subordinado”, não um ser humano. A ênfase na tecnologia colocou o “homem” como subproduto das máquinas e equipamentos de tecnologia de ponta. A empresa é um grande parque tecnológico de ultima geração implantado em seus domínios. A ênfase no ambiente vislumbra o entorno da empresa. Analise sua mutabilidade e percebe que a empresa é fruto do seu próprio ambiente. Se o ambiente não impuser novas exigências econômicas e sociais não haverá novas empresas. E isto é uma verdade mercadológica. A ênfase do cliente busca a satisfação do consumidor, usuário, distinguindo, agora, com as novas prerrogativas: os sistemas da qualidade garantem a satisfação do cliente. O cliente é o vértice da sociedade. Esqueceram que sem o emprego e sem a renda não há clientes. 28 A ênfase da globalização/mundialização sugere que, se o ambiente tornou-se universal, as empresas devem tornar-se universais, pelo menos em qualidade, tecnologia e preço de vendas de produtos. A “modernização” sugerida foi a forma de garantir a remuneração do capital investido em ciência e tecnologia pelo sistema financeiro internacional. A ênfase holística foi o grande salto da nossa era. A filosofia holística, por ser abrangente, valoriza os recursos naturais, tecnológicos e financeiros e os talentos dos seres humanos propõem o novo modelo de organização empresarial, sistêmico, ágil, com grande capacidade de criar, desenvolver e implantar subsistemas que se possam transformar “células organizacionais vivas” em “unidades de negócios”, com capacidade administrativa para integrar outras corporações, realizar fusões e participar de joint-venture, em ambientes diferenciados, pois a sua administração é empreendedora, busca o sucesso, concedida a moda da inovação sistemática do contexto empresarial – “A empresa feliz”. A empresa holística utiliza os talentos dos seres humanos de elevada capacidade cognitiva e os valoriza profissional e permanentemente, através de programas de ensino e de especialização em todos os subsistemas implantados e a implantar na empresa combinados com os valores conceptivos de análise de valor com o que o trabalho é grande aliado da felicidade. Podemos afirmar que: os talentos humanos da empresa holística são recrutados no mundo, pois a idéia básica é: valorizar o ser humano, antes de valorizar o trabalhador. Respeitar seu ambiente familiar, seus valores, sua cultura, sua crença e sua nacionalidade. No que tange aos recursos tecnológicos, a empresa holística mantêm Centros de Pesquisa e Desenvolvimento encabeçando a criação, o desenvolvimento e a implantação de cada subsistema, do que se aproveita a administração empreendedora para conceber novas pesquisas que induzam a otimização de processos e produtos. Os recursos financeiros necessários à administração empreendedora são obtidos, em uma empresa holística através de suas unidades de negócio, lançando títulos no mercado financeiro internacional ou atraindo investimentos paralelos, de organizações interessadas em integrar o capital das fusões e/ou criação de jointventure em seus países. 29 No que diz respeito aos recursos materiais, a qualidade da matéria-prima tem mais importância do que seu preço. Uma organização cujo produto é qualidade, não pode preocupar-se com o preço unitário, até porque a licitação é feita em termos mundiais e o preço unitário fica diluído na qualidade, pois é a qualidade da matéria prima que garante a durabilidade do produto e este é o argumento de maior venda do mercado. Outro ponto importante nas relações de troca da empresa holística è a sistemática auditoria em seus fornecedores; a pesquisa de mercado em relação aos concorrentes e a consulta permanente aos clientes, buscando fidelizá-los. A fidelização dos clientes é crucial em uma empresa holística. A fidelização é conseqüência da satisfação do cliente em relação à empresa holística, seja por seus Sistemas de Administração das Relações com Clientes, seja pela imagem da empresa no mercado, seja pela qualidade dos bens e serviços que suas “unidades de negocio” comercializam pelo mundo. 30 CAPÍTULO III 3. A EMPRESA HOLÍSTICA A empresa holística ao considerar seus empregados como seres inteiros, seja no aspecto emocional, físico ou psicológico, fazem com que estes se sintam parte da organização do trabalho e com isso produzam mais e melhor. Sentem-se responsáveis pelo sucesso da organização, tomam parte das decisões e comprometem-se com o seu futuro. Baseados nestes princípios vejam algumas considerações sobre o significado de empresa holística: • Para Naisbtt e Aburdene (1986), empresa holística é aquela que consegue criar um clima favorável à realização pessoal e com isso contar com pessoas bem dotadas. Nestas empresas, o papel do dirigente é de cultivar e manter o ambiente propício ao desenvolvimento pessoal. O estilo autoritário, hierarquizado, cede lugar à administração de redes de pessoas que falam uma com as outras, partilhando idéias e informações. A intuição passa a assumir um papel cada vez mais relevante. • Para Henry Mintzberg (1982), a empresa holística realiza uma descentralização seletiva interna nas equipes para a realização do trabalho. As atividades administrativas e operacionais são integradas num só esforço. As informações circulam de forma flexível e informal. O poder de decisão é distribuído entre dirigentes e não dirigentes. E existe uma flexibilidade para mudanças de produtos e/ou serviços. • Para Hubert Landier (1987), o ponto fundamental da empresa holística é a intensidade das relações interpessoais; cada membro do grupo é conhecido pelas suas qualidades e seus limites. Alguns grupos de trabalho são estáveis no tempo, outros têm duração efêmera, os grupos não possuem função definida, os papeis são assumidos de acordo com a capacidade de cada um. 31 • Para Alvin Tofler (1985), a empresa holística deve substituir os rígidos departamentos convencionais por uma estrutura altamente flexível. Os problemas que surgem, atualmente, não podem ser mais enquadrados em quaisquer componentes da organização e deve ser resolvido por um grupo de pessoas qualificadas para lidar com eles, a cada problema novo que surge, um novo grupo de pessoas deve procurar a solução para ele; desse modo, as pessoas estarão sempre crescendo e efetivamente participando da solução dos problemas da empresa. A organização terá que avaliar a importância das informações que recebe e atuar de acordo com a nova realidade. O trabalho deve ser variado e não repetitivo, deverá ser responsável desafiando a capacidade de apreciação e julgamento das pessoas. As empresas devem se dedicar de forma crescente a temas como a teoria do aprendizado, a comunicação intelectual e a metodologia pedagógica. • Para Sanley Davis (1988), a liberdade se origina da intuição e produz a inovação; a planificação formal deve ser substituída pela intuição, a competência das pessoas é um patrimônio da empresa, e quanto mais às mudanças se aceleram, menos podemos nos ater aos fatos e mais precisamos utilizar a imaginação. • Para Tom Peters (1988), a empresa deve criar equipes multidisciplinares para todas as atividades de desenvolvimentos, deve encorajar a experimentação, deve envolver todos em tudo, criar equipes autônomas e investir mais no patrimônio humano do que nas máquinas. • Para Max Pagés (1987), a empresa holística não mais fixa o poder, mais o distribui em um conjunto da organização. O empregado acredita que a organização faz parte dele, assim como ele faz parte da organização. Como podemos observar a empresa holística não é uma ficção e sim uma realidade cada vez mais próxima e necessária para as organizações que queiram sobreviver aos novos tempos da globalização da economia. 32 3.1 AS RELAÇÕES INTERNAS DA EMPRESA HOLÍSTICA “Quando o ser dito ”humano” se nega a aceitar uma verdade, porque ela é verdade, significa que aquela verdade, se dita mentira por ele, não descortinará da sua própria verdade escondida”. (Nelson de Magalhães) A empresa holística busca o lucro como qualquer outra, mas diferencia-se das outras empresas tradicionais porque descobriu que quanto mais o empregado se envolver por completo em seu trabalho, maior lucro proporcionará ao empresário. O empregado não age mais como um autômato, nem a empresa deseja que ele o faça. O trabalhador, atualmente, se coloca em posição de empregabilidade, ou seja, ele não mais conhece apenas um assunto, mais procura informar-se sobre tudo o que está acontecendo no mundo, atualiza-se continuamente e participa ativamente das mudanças no seu trabalho. As empresas buscam cada vez mais pessoas diligentes e criativas em detrimento dos profissionais especialistas que limitam seu conhecimento a apenas uma área. Existe, modernamente, uma preocupação constante das empresas em relação à qualidade de vida de seus empregados, pois ela descobriu que, gastando pouco, pode aumentar muito seus resultados, já que quanto melhor os empregados se sentirem em seu ambiente de trabalho, mais se dedicarão a ele, diminuindo em muito a rotatividade das empresas. A rotatividade é uma dispensa significativa e útil, pois, além de gastos com indenizações, implica também em perda de produtividade, já que o novo empregado precisa de um determinado tempo para se adaptar ao novo ambiente de trabalho, aos colegas e as suas tarefas. Também diminui o absentismo, já que quanto mais os empregados se sentem parte integrante da empresa, menor será o número de faltas que terão, seja por doenças, seja por boicote. O trabalhador com boa qualidade de vida adoece menos; por outro lado, quando se sente desprezado e não pode largar o emprego, pois precisa dele para sobrevivência de sua família, tende a procurar formas inconscientes de se sentir vingado, sabotando o trabalho sempre que possível. Isso pode ser feito de várias maneiras, desperdiçarem matéria-prima é uma delas, outra é encontrar desculpas para faltar ao trabalho ou demorar-se demais no lanche. 33 Comparando-se as evoluções das condições de trabalho, desde a revolução industrial, percebe-se que elas mudaram e ainda estão mudando. As relações humanas nunca são estáveis, estão em constantes mudanças, e a base de qualquer relação de trabalho é, na verdade, a relação humana, pois praticamente não existe ambiente de trabalho isolado. As pessoas sempre interagem umas com as outras. As normas da qualidade, série ISO, incorporadas ao processo de trabalho, através da qualidade total, tem se aperfeiçoado no intuito de abranger todo o processo de trabalho e, como não poderia deixar de existir, as normas série ISO 18000 tratam das relações humanas nas empresas. Percebe-se que é praticamente impossível evitar esse caminho. Mesmo que haja desemprego, as pessoas que estão desempregadas não conseguem mais aceitar serem tratadas como meros equipamentos. A empresa que quiser continuar a ser produtiva e lucrativa deve mudar sua estrutura conforme explica Chiavenato: “A empresa voltada para o passado e que ainda mantem seu modelo mecanicista e fechado está totalmente fora do foco e de posicionamento com o mundo exterior. A empresa voltada para o futuro, deverá se basear o modelo orgânico ou organicista; flexível e adaptável, inovadora e criativa, ágil e sensível ao mercado e ao cliente. A mudança empresarial, em direção a modernidade, precisa acontecer através das pessoas”. (CHIAVENATO 1994 p.28) A principal matéria-prima de uma empresa é seu capital humano e se isso não for devidamente valorizado, cultivado, a empresa ficará estagnada ou afundará seus velhos mitos. As antigas concepções científicas que dividiam o homem para estudá-lo e não se preocupavam com a interdependência entre os vários aspectos do comportamento humano, criam inevitáveis inadequações como no caso de emoções humanas, importantes componentes do homem, porém, completamente desprezadas e consideradas como um sinal de fraqueza. A disciplina não deve ser percebida como uma rigidez do comportamento e a lealdade como submissão à autoridade. O oposto também é válido. A criatividade não deve ser percebida como inadaptação à empresa ou rebeldia à autoridade, nem deve ser considerada como desorganização e sim como um crescimento grande e pessoal que muito beneficiará a empresa. 34 “O gerenciamento dos talentos humanos, apesar de todos os enormes avanços tecnológicos do fato de estamos à beira do século XXI, é ainda uma grande utopia, apenas um pequeno e restrito circulo de empresas tem dado a suficiente atenção para a obtenção de melhores resultados através das pessoas. São as ilhas de prosperidade dos novos ventos da modernidade. Apesar de todas as mudanças sociais, culturais, políticas, econômicas e tecnológicas de uma sociedade em constante transformação, as nossas empresas ainda constituem organizações conservadoras e tradicionais que resistem as inovações que acontece no país e no mundo”. (CHIAVENATO, 199, p.28) O gerente deve negociar claramente as expectativas e o comportamento esperados da equipe, como ela sente e pensa os fatos. A equipe, por sua vez, precisa saber o que o gerente espera dela. Esse é um dos aspectos mais importantes das tarefas que o gerente precisa realizar conhecer sua equipe e se fazer conhecer por ela. As relações interpessoais se desenvolvem internamente, subjetivamente, de acordo com a personalidade de cada um, por isso, o gerente precisa conhecer as personalidades para saber como agir. A personalidade não é imutável, modifica-se permanentemente. As pessoas estão sempre aprendendo, sempre se modificando. A cada aprendizagem, elas mudam seu comportamento e o gerente deve ter claramente essa visão. As pessoas precisam saber como são percebidas pelos outros. Sempre avaliam a sua própria capacidade, o seu comportamento, de acordo com as relações que ele tem com os outros, com o feedback que recebem das outras pessoas. Baseado nisso, a empresa não deve fornecer feedback apenas quando faz uma reclamação, quando corrige algum fato negativo. Também deve elogiar quando a pessoa faz alguma coisa produtiva, valorizar as idéias e a criatividade de seus trabalhadores. Isso incentiva as pessoas a progredir, a melhorar sempre e a se envolver cada vez mais com a empresa. Para Juran (1992:280). “As atividades de controle ocorrem em uma seqüência sistêmica de feedback”. O mesmo autor sugere de forma simples o que seja esta alça – a alça de feedback. Este autor explica o fluxo destas informações da alça de feedback assim: 35 - O sensor (que está ligado ao processo avalia o desempenho real). - O sensor reporta esse desempenho arbítrio (ou verificador, comparador). - O árbitro também recebe informações a respeito de qual é a meta. - O árbitro compara o desempenho real à meta. Se a diferença justifica uma reação, ele aciona um atuador. - O atuador modifica as condições do processo para colocar o desempenho em linha com as metas. (JURAN 1992:280) Quando não existe um ambiente de liberdade para as pessoas agirem e se exporem, elas normalmente criam rótulos para os outros, como fulano é isso, fulano é aquilo, e passam a se relacionar com as pessoas de acordo com esses rótulos, sem verificar se eles são verdadeiros ou não. Elas não têm acesso às informações que poderiam avaliar melhor o comportamento do outro e isso bloqueia o desenvolvimento de qualquer equipe. Outra conseqüência dos rótulos e a falta de informação é que esta lacuna abre espaço para as fofocas e as pessoas acabam fazendo comentários e criando informações falsas, sem que possa descobrir a origem dessas informações. O ambiente de trabalho vai ficando cada vez pior, o gerente não tem acesso a essas informações e, por conseguinte administra de maneira errada. Para poder dá ou receber o “feedback” das atitudes de seus colaboradores, o gerente deve incentivá-los não só a falar, mais também a ouvir os outros. Todos devem saber ouvir seu companheiro de trabalho, o seu gerente, discutir o problema em todos os níveis, para que a construção se estabeleça claramente. O homem moderno tem grande dificuldade de se relacionar consigo mesmo e com os outros. No cotidiano, tem prevalecido a relação homem-objeto, ou seja, ele lida com o outro como se ele fosse um objeto que pode ser usado conforme suas necessidades do momento. O homem está bastante confuso nos tempos atuais. Ele percebe que seu antigo modo de se relacionar com os outros lhe causa insatisfação, mas ainda não sabe como agir. Tem, porém uma certeza: o velho método de se relacionar não o satisfaz mais e deve ser mudado. 36 “Existe um grande abismo entre o processo tecnológico e a qualidade de vida. A tecnologia cresce constantemente e a qualidade de vida quase não sai do lugar. O avanço tecnológico é assombroso, irreversível e de grande valor para a humanidade. No auge de sua pujança intelectual, cientifica e tecnológica, o homem do século XX descuidou-se, porém, de seu próprio desenvolvimento como pessoa humana. É necessário restabelecermos a relação do homem com seu semelhante. É preciso resgatar o humano na tecnologia.” (MOSCOVICI, 1993, p.2) Neste ambiente tão fascinante de tecnologia avançada, questiona-se, se as pessoas trabalham melhor e mais felizes, a resposta para a grande maioria geralmente é NÃO. A qualidade de vida não acompanhou a velocidade do avanço tecnológico, defasando-se deste gradativamente. O homem deseja a máquina como um instrumento, mais quando ela o substitui, ele se sente roubado e desprestigiado. A máquina não deve se sobrepor ao homem como acontece freqüentemente, causando infindáveis discussões entre classes, sindicatos e instituições. Moscovici explica isso da seguinte maneira: “O individuo que trabalha na grande organização moderna, bem equipada tecnologicamente, tende a sentir-se diminuído como pessoa. O ambiente todo parece ser dominado pelas máquinas – elas são mais valorizadas que as pessoas de forma inegável... O espaço físico apropriado, refrigeração e outras comodidades especiais não são questionadas para funcionamento dos computadores. Que condições equivalentes são consideradas para as pessoas? ...O homem tem necessidade de ser conhecido pelo que é e não pelo que faz...As máquinas fazem, não são. A produtividade é concebida em termos quantitativos do fazer e não do ser. As pessoas como tal não se importam. Como peças de máquinas, podem ser substituídas por outras e um imenso mecanismo continuará funcionando como deve. Essa identidade artificial constitui mais um fator de estresse na organização...O papel profissional não abrange todas as potencialidades do individuo, que possui recursos não utilizados por serem desconhecidos.” (MOSCOVICI, 1993:10) Pode-se usar o entretenimento no trabalho, pois a brincadeira desperta por algum tempo o raciocínio rígido que a pessoa se impõe e liberta sua criatividade, fazendo com que ela consiga perceber os fatos por outro ângulo, tornando-se, assim, mais flexível. A brincadeira pode ser um modo de enfrentar algumas 37 situações de tensão e por isso dilui essa tensão sem causar constrangimento a nenhuma das partes. Acolher a não-racionalidade, a bobagem, a brincadeira, a espontaneidade como aspectos legítimos da dinâmica organizacional, admitindo sua existência como inerente dos processos administrativos gerenciais e técnicos, contracenando com os procedimentos da racionalidade, da lógica da consistência, da análise crítica, eis o maior desafio das organizações e de seus líderes. O quadro de Moscovici mostra os benefícios da brincadeira. A competência técnica continua fundamental para a execução do trabalho, mais é necessário que se admitam também as características pessoais do trabalho, para diferenciar a pessoa da máquina. A ausência dessa diferença de tratamento leva a irritabilidade e ao estresse crônico. Atualmente, grandes empresas estão pesquisando sobre inteligência emocional, não bastam mais apenas diplomas. Eles são o ponto de partida, mas para conseguir um emprego é necessário que a pessoa saiba interagir com o outro e vivenciar suas emoções. Tal concepção vai desde o gerente até o operário da fábrica, pois todos têm o direito de participar ativamente das decisões da empresa, de participar no seu trabalho com todas as suas emoções, porque elas fazem parte da pessoa. As empresas estão percebendo que grandes partes dos defeitos que ocorriam não eram por sabotagem e sim por algum problema emocional que impediam o trabalhador de ficar atento ao trabalho. A avaliação de suas emoções, o respeito aos seus problemas implicaram a diminuição da quantidade de peças “não conformes” (que não atendem a um padrão pré-estabelecido), porque o fato de o trabalhador poder dividir com seu chefe, com seus colegas, suas ansiedades, sem ter que fingir que está tudo bem, já faz com que ele fique mais tranqüilo, sintam-se importante e participante daquele grupo, isso faz com que ele trabalhe mais atentamente. Os estudos têm mostrado que a cada dia, mais as decisões devem ser tomadas em grupos e as pessoas que não conseguem interagir, que é autoritária vão ficar para trás. Infelizmente ele não pode acompanhar esse novo modelo de trabalho e a empresa que insistir em manter esse tipo de diretoria autoritária também vai ser superado, vai perder a competitividade, porque as pessoas hoje em dia são menos concorrentes. Está buscando muito mais dividir as soluções, compartilhar os 38 problemas, tanto pessoais quanto profissionais, do que serem gênios solitários. Não existe mais espaço no mundo para as pessoas que, sozinhas, fizeram importantes descobertas como Einstein ou Darwin. Exemplo dessa filosofia pode ser encontrado na entrega dos prêmios Nobel que hoje em dia são dados a pessoas que souberam coordenar um grupo e chegar a alguma descoberta, aos líderes de laboratórios que conseguiram coordenar seus grupos de trabalho da maneira mais eficiente possível. Segundo Milton de Oliveira, as empresas, que representam a efetividade e as relações emocionais de seus funcionários, desperdiçaram grandes potenciais energéticos, especialmente a energia humana. “O preparo tecnológico não é suficiente para garantir supremacia e competência para lidar com o mundo moderno. As habilidades humanas precisam ser resgatadas e desenvolvidas para garantir efetiva e produtiva utilização dos avanços tecnológicos para usar as informações adequadamente, no sentido de agregar valor ao ser humano.” (Decidir, abril, 1996, p.27) O homem moderno precisa aprender para aprender, ou seja, buscar no outro solução para resolver determinado problema. À medida que as pessoas procuram dividir a solução dos problemas, elas começam a ser mais eficiente em seus trabalhos, pois quanto mais informação possui sobre determinado assunto, mais fácil fica encontrar a melhor decisão para resolver qualquer problema. “O executivo que prefere um grupo homogêneo de assessores e colaboradores se expõe a um empobrecimento de insumos cognitivos, a uma limitação de alternativas, resvalando perigosamente para o óbvio, o convencional, a rotina, a estagnação, enfim, a diminuição da produtividade do grupo.” (MOSCOVICI, 1993 p. 144) O mundo está passando por várias transformações, da dissolução da Rússia, a União Européia, as crises econômicas, o crescimento asiático, as pressões pelo poder da importação/exportação, tudo isso tem exigido uma participação maior das pessoas, tanto que se tem visto grandes manifestações em Pequim, Los Angeles, África do Sul, Canadá, Brasil, Europa. Essas manifestações têm mudado o mundo em todos os processos produtivos e nas relações sociais. A insatisfação que as pessoas tem sentido origina-se de uma profunda crise pela falta de valores, de repressão dos sentimentos, de falta de contato social, dificuldade de relações interpessoais, enfraquecimento de solidariedade. Esses problemas têm provocado a 39 desintegração do ser humano, que está sem identidade e, em todo esse contexto caótico, confuso. A administração também tem que repensar o seu papel, os seus valores. As empresas fazem parte da sociedade e como a sociedade está em transformação, às empresas tem que se transformar também. As empresas devem ser espaços físicos para que o homem interaja com seus semelhantes de modo amplo, pois não mais é possível afastar os sentimentos do trabalho. O gerente deve trabalhar as relações emocionais e afetivas para despertar a consciência de cidadão no trabalhador, pois não é possível haver mudanças de comportamento sem que haja também mudanças na cultura do indivíduo. O gerente deve dá ênfase não a mudança propriamente dita do indivíduo, e sim a sua cultura. Todo indivíduo tem uma cultura que lhe é fornecida pela sociedade através do meio em que vive. A princípio, toda sua leitura de mundo, o seu relacionamento com os outros, o seu aprendizado, enfim, o seu imaginário social é moldado a partir dessas representações cuja mutação só será admissível na medida em que sua cultura também mude. Gerenciar é influenciar o comportamento das equipes de trabalho. Uma das dificuldades na implantação da gerência participativa da qualidade total é que nossa tradição valoriza a autoridade, e ela não é suficiente para provocar a participação das pessoas nas decisões da gerência. Chiavenato esclarece bem como deve agir o gerente da empresa holística quando diz que: “A inabilidade de lidar com as pessoas, de criar e preparar as condições básicas necessárias para sua atividade cooperativas e integradas, de eliminar o maior desperdício de energia humana ou a subutilização do talento humano nas empresas. O despreparo para administrar pessoas ou, se possível administrar com as pessoas. Daí o desafio central: fazer das pessoas a base da excelência empresarial. A empresa constitui o ambiente dentro do qual as pessoas trabalham e vivem as maiores partes de suas vidas. A maneira pela qual esse ambiente é moldado e estruturado influencia poderosamente a qualidade de trabalho e de vida das pessoas. Mais que isso influencia o comportamento e os objetivos pessoais de cada ser humano. E isto, conseqüentemente, afeta o próprio funcionamento da empresa.” (CHIAVENATO. 1994. p. 25) Matos enfatiza que: 40 “Empresas são como famílias, sem amor, amizade, compreensão, honestidade e entendimento, não há tecnologia nem recursos capazes de viabilizar uma empresa saudável.” (MATOS. 1995. p. 25) O processo empowerment vai muito além dos planos, regras e procedimentos técnicos superficiais fragmentados e restritos a valores materiais, visando ao controle das situações externas. “O sucesso material é temporário. A conquista espiritual é duradoura. O futuro das organizações começa hoje. Que futuro as empresas escolherão?” (Decidir, Agosto, 1995, p. 28-29) É quase impossível enganar o trabalhador, atualmente, ele já não aceita mais a manipulação de si através de técnicas de relações humanas. Ele quer ser respeitado em sua inteligência e percepção dos fatos e não mais engambelado por conversas falsas e vazias. “Levar no Bico”, não é aceito por nenhum trabalhador nos dias de hoje. O trabalhador de hoje vive uma tensão entre seus objetivos íntimos pessoais e o que o meio social lhe possibilita alcançar. Essa crise pessoal produz o individuo a estar consciente de si, de suas necessidades e busca realizar-se. O empregado é um individuo e quer ser respeitado e tratado como tal. “Ser feliz é matéria tão importante que deveria ser ensinada e vivenciada nas escolas. Implica na qualidade de vida, mas é mais do que isso. É paz de espírito que advém de uma filosofia existencial. Saber o que queremos, donde resulta a compreensão de nossas limitações e de nossas possibilidades infinitas. A ênfase no negócio e na obsessiva cobiça, a lucratividade mediatista e míope, em detrimento da empresa como instituição social, é um dos equívocos graves que ocorrem habitualmente. A concorrência acirrada, a base da competitividade de guerra, ganhar/perder, forma um clima pesado de desconfiança, na linha da motivação do medo.” (MATOS, 1995, p.26) O mundo, assim como a vida, não possui apenas dois caminhos, o do sim e o do não. Existem muitas possibilidades em qualquer decisão que se vá tomar. Por isso o empresário que ouve seus funcionários pode colher muito mais recursos para decidir, do que aquele que decide sozinho, apenas com seus argumentos. Essa participação melhora a qualidade de vida de todos, pois cada participante sente-se respeitado e aceito, mesmo que sua sugestão não seja escolhida como a melhor. Só o fato de participar do processo já eleva a moral do funcionário. 41 O mundo não deve ser percebido como um lugar cheio de competidores, prontos a tomarem uns os lugares dos outros, e sim como um lugar onde cada ser humano possui seu espaço e as pessoas buscam se ajudar mutuamente e não se derrubar. Schutz afirma que o princípio básico para uma relação boa entre colegas de trabalho é o autoconhecimento. Só quando nos conhecemos, é que podemos nos relacionar com os outros de maneira mais aberta. Rogers (1986) afirma que as pessoas são em sua essência dignas de confiança. O que significa que se deve acreditar no potencial do homem para fazer o bem e realizar suas tarefas da melhor maneira possível. Isso vale também para as relações profissionais. capacidade. Pode-se confiar nas pessoas e procurar aflorar sua Procurar reforçar sempre uma pessoa incentivá-la a crescer, é a melhor maneira de se relacionar com o outro. Esse relacionamento, baseado na confiança, deve fazer bem a ambos. Rogers, afirma que a pessoa produz mais e melhor quando não é vigiada ou punida pelos erros. O trabalhador que se sente dono de suas tarefas e que pode decidir o modo de executá-las, sentir-se-á motivado para fazer o melhor possível e a aprender com seus erros e corrigi-los. A qualidade de vida ainda está longe de corresponder às necessidades humanas, à complexidade de suas emoções, sentimento e razão. O homem atual busca a razão para compreender tudo que o cerca e também compreender que o acontece dentro de si, dentro do seu coração. Na medida em que o homem toma consciência desse processo e tenta mudálo, ele se depara com o medo, pois se não é possível racionalizar tudo, controlar tudo, se ele não consegue se autocontrolar, entra em pânico. Esse pânico, paradoxalmente, possibilita ao homem um grande crescimento. Ao tentar sufocá-lo através da razão, o homem estará crescendo, conhecendo o que está em seu coração. Sentimentos bons e ruins podem fazer parte de uma pessoa sem, contudo, estereotipá-la de boa ou má. Aquele que consegue ver as suas sombras e lidar dá com elas, poderá emergir deste processo como um ser humano muito melhor, pois se consegue aceitar suas falhas, poderá também aceitar as do outro. 42 O homem que vê o outro como seu ser semelhante é um homem capaz de superar seus limites e ajudar o outro a também superar os seus. Quando não se permite que a emoção aflore, não se consegue aceitar que o outro o faça, e pior que isso, nem ao menos se admite que o outro tenha emoções. Qualquer relacionamento humano que funcione só em bases racionais é um relacionamento fraco, incompleto. Para que se torne mais complexo, deve-se ir além da racionalidade. Tudo que somos reflete-se em todas as ações. Sempre que se interage com alguém se está representando algum papel. Somente quando se pára de representar é que se pode realmente perceber o outro como ele é, e não como nós o imaginamos através de nossas representações. Rogers fala assim: “É perfeitamente possível ter uma organização centrada na pessoa, na qual as bases do poder e controle são sentidos por cada indivíduo, como se estivesse dentro dele próprio, está solidamente comprovado que, em tal organização, os indivíduos podem e realmente trabalham juntos de modo responsável, para estabelecer objetivos, para determinar as orientações a seguir, para tratar de detalhes administrativos, para utilizar diferentes modalidades organizacionais e para lidar com as crises que inevitavelmente ocorrem. O grupo está mais capacitado para tomar decisões sábias do que uma única pessoa, pois ele apela para as potencialidades de liderança de todos”. (ROGERS, 1986, Pág.33 Apud MAGALHÃES, Nelson e POTRICH,Tânia Mara, 2007) O amor, sentimento muito usado nos romances, começa agora a ocupar lugar também na empresa que, por mais bem equipada que esteja só gerará lucros através do trabalho humano, e, como o amor faz parte das emoções do homem, nada mais essencial que ele se manifeste nas relações de trabalho como bem explica Hawley: “No trabalho, o objetivo é realizar. Trabalhar significa fazer e conseguir que as coisas sejam feitas. Mas a realização nas empresas é sempre conseguida através de outros seres humanos. Você está constantemente trabalhando com pessoas, estejam elas no seu nível, acima ou a baixo. O amor no trabalho está além da suavidade e da gentileza. Inclui o fato das pessoas se respeitarem e se importarem com as outras, de ajudarem, de protegerem a dignidade das outras, e de darem sem correntes que as prendam” (HAWLEY, 1995, p.93-101). 43 O amor é a vivencia da dependência dos indivíduos e proporciona a superação da competição individual. Quanto mais diferentes são os indivíduos, mais criativos e produtivos eles se tornam quando trabalham em grupos integrados. O homem deve evitar ser falso tanto em sua vida pessoal como no seu ambiente de trabalho. Porque qualquer ato desonesto, por menor que seja, acaba o corrompendo, e, gradativamente, estes pequenos atos se tornam vis, fazendo com que ele se auto-rejeite, o que refletirá nas suas relações, tanto profissionais quanto pessoais, levando-o a uma vida sem qualidade. “O que é verdadeiro para um individuo também é verdadeiro para um conjunto de indivíduos. Existe um drama coletivo, uma lei interior da empresa, e cada empresa tem o seu. A coragem, a autodisciplina, a bondade e fazer a coisa certa são marcas do caráter coletivo, assim como do individual. Cada empresa também deve seguir o seu coração coletivo e a sua alma coletiva”. (HAWLEY, 1995, p93) Os trabalhadores fornecem à empresa o que recebem dela. Se a empresa atentar para isso, verá que quanto mais oferecer aos operários em qualidade de vida, mais receberão deles em produtividade. Uma vez que o empregado conheça sua atividade melhor do que ninguém, deve se acolher suas propostas para implantações de qualquer mudança, pois ele detém o conhecimento necessário para que as mudanças sejam eficazes. Balcão descreve que: “A pesquisa demonstrou que o moral do empregado e a eficiência de operação se relacionam estreitamente com o grau de integração da organização. Entretanto, a integração não necessariamente obtida quando a organização satisfaz os requisitos da lógica mecânica. Aliás, aquilo que possa parecer lógico, de um ponto de vista puramente técnico, pode contrariar diretamente as necessidades pessoais e sociais dos empregados. Há uma série de organizações que possuem tecnologia, divisão de trabalho e hierarquia administrativos lógicas e que são muito desorganizadas do ponto de vista das relações das pessoas no trabalho. Tais organizações somente no papel são bem integradas. Na realidade, são irritantes e frustradoras, do ponto de vista dos empregados, e ineficiente, aborrecidas e dispendiosas, do ponto de vista da administração”. (BALCÃO, 1979, p.298-299) A pessoa é muito mais que matéria-prima, é uma entidade psicossocial e como tal deve ser tratada. dimensão econômica. É preciso visualizar o trabalhador além da simples 44 Chiavenato diz que está ocorrendo na “cabeça” das pessoas uma mudança que já está alcançando todos os níveis de trabalhadores, motivados pela ecologia e por uma melhor qualidade de vida. Essa mudança é irreversível e as empresas que não se adaptarem a elas, no futuro, deixarão de existir. Nada pode substituir a eficiência e a competência do trabalhador. Ele deve ser respeitado e ouvido pelos empresários, posto que esteja capacitado para atuar em níveis mais altos de produtividade e qualidade. Com a globalização e a automação existem cada vez menos empregos e, com isso, as empresas não podem mais admitir em seus funcionários atitudes de espera das ordens a cumprir, e os trabalhadores também não mais aceitam ser manipulados. Juntando essas duas tendências de comportamento, chegaremos à empresa holística que trata seus funcionários como seres humanos envolvidos e motivados para fazer de seu trabalho um prazer e com isso produzir mais. A gestão pela qualidade total em seu inicio, esteve voltada à perfeição dos produtos a serem fabricados, que não podiam ter defeitos. Após esta fase, começou a preocupar-se também com os processos, os produtos deveriam sair das fabricas perfeitos e o processo de fabricação desses produtos também deveria ser perfeito, ou seja, produzir o melhor produto pelo custo mínimo. Toda estrutura de funcionamento da organização sofreu profundas mudanças nesta fase. Continuando o desenvolvimento da Qualidade, começou-se a procurar fazer o produto perfeito, um processo perfeito e também sem poluir ou destruir a natureza. O que ousamos mostrar é que agora a Qualidade Total, apesar de já ter quebrado vários paradigmas, está quebrando mais um, pois, passou a se ocupar das relações interpessoais dentro da empresa, ou seja, dos aspectos relacionados exclusivamente às relações humanas. Com isso, a rígida hierarquia está cedendo espaço para gerência participativa e o homem, neste âmago, cada vez mais começa a ser respeitado como cidadão e cada vez mais tem voz ativa em seu ambiente de trabalho. Essa mudança está ocorrendo lenta, mas inexoravelmente. Como a FIAT que colocou um painel em cada setor de sua fabrica em Minas Gerais, que permite ao trabalhador informar o seu estado de espírito aos seus colegas e gerentes. Dependendo do seu humor, ele fica liberado de trabalhar naquele dia, sem nenhum 45 prejuízo ao seu salário e sem ter que está doente. Essa decisão de criar o painel foi tomada pelos próprios funcionários e a empresa acatou, pois custa mais barato o dia do trabalhador do que o custo de um equipamento que ele possa vir a danificar se sua atenção estiver muito dispersa. Outro exemplo é de outra multinacional, que em seu laboratório estabeleceu um horário nobre, das 11h00 até as 15h00 horas, em que todos devem estar na empresa, fora este horário o funcionário pode chegar mais tarde ou sair mais cedo sempre que precisar, sem ter que prestar nenhuma justificativa. O funcionário pode ficar devendo no máximo 22 horas por mês, como também pode acumular 22 horas a mais de trabalho por mês. Isso permite que a pessoa se programe para acumular horas, quando ela sabe que por qualquer motivo no mês seguinte precisará de mais tempo livre. Permite também que, se ocorrer algum imprevisto em sua casa, ela possa dispor dessa flexibilidade de horário para resolver seus problemas. O novo milênio chegou e as empresas começaram agora a realizar mudanças em suas relações internas para se adaptar ao novo modelo de trabalhador que está se formando, um trabalhador muito mais consciente e exigente nessas relações, mas que também se compromete muito mais com o sucesso da empresa em que trabalha. Para que essas metas sejam alcançadas, contudo, há que ocorrer, em paralelo ao desenvolvimento da visão humanista dos empresários, uma flexibilização da legislação trabalhista. O citado horário nobre implantado já está sendo praticado, também por algumas empresas privadas. Contudo, ao se desligarem das empresas, os empregados podem reivindicar, na justiça, que as horas trabalhadas, além da jornada normal de trabalho, sejam remuneradas com extras, mesmo que tenham sido para compensar horas não trabalhadas em dias anteriores, beneficiando-se assim do acréscimo estabelecido pela legislação para remuneração das horas extraordinárias. A tendência da Justiça do Trabalho é dar ganho de causa aos empregados, até porque este “horário nobre” não está contemplado na legislação trabalhista. Tal procedimento da justiça se constitui em desestímulo aos empresários nos sentido de que sejam intentadas relações de trabalho inovadoras. Para que estas efetivamente tenham sucesso, é indispensável que não só os empresários, como também os 46 trabalhadores, seus sindicatos e a legislação estejam imbuídos do mesmo espírito de melhorar, sem paternalismo, as relações trabalhistas. 3.2 A PERCEPÇÃO DO VALOR DO HOMEM Nulla est homini causa philosophandi, nisi ut beatus sit. “Se há uma razão para o homem filosofar, esta razão é a busca da felicidade”. (Santo Agostinho) Entre as tribos do Norte da África do Sul, a saudação mais popular é “sawu bona”, (literalmente significa “vejo-te”). Se fosse um membro da tribo, poderia responder “sik bona” (literaente significa “estou cá”). A ordem da troca de saudação é importante, pois, até demonstrares que percebes minha presença, eu cá não existo. E como se ao demonstrares que percebes minha presença, tu me respeitas e eu passo assim a existir. Isto os nativos tem como parte do espírito “Ubuntu”. Ubuntu provém do ditado popular “Umuntungmuntu nagabanto” (traduzido, literalmente, do zulu, significa: um indivíduo é um indivíduo por causa de outros indivíduos). Na filial de uma grande fábrica, ao Norte da Península Ibérica, um funcionário da produção (criado nas regiões rurais montanhosas) desenvolveu um sistema que otimizava a produção de uma aparelhagem de som de alta performance. Tal sistema de produção juntamente com os primeiros lotes, foi apresentado, mais tarde, aos diretores, com enorme estardalhaço de marketing. Apesar do sucesso da nova produção e da satisfação dos diretores, o funcionário que desenvolveu tal sistema ficou visivelmente contrariado, e perguntado o que estava a acontecer, disse: “eles não mencionaram o meu nome no projeto, só disseram que a equipe toda estava vestindo a camisa da empresa, tiraram até fotos do grupo de desenvolvimento, simplesmente ignoraram o pessoal da produção, passei ao largo, ignoram-me também, eu não existo!”. “Durante muitos anos na África do Sul, muitas empresas começaram a empregar gerentes que foram criados em regiões tribais. A ética “ubuntu”, muitas vezes se choca sutilmente com a cultura dessas empresas. Num 47 escritório, por exemplo, é perfeitamente normal passar por alguém no saguão e, estando distraído, não cumprimentá-lo. Sob a ética ubuntu, isso seria pior que um sinal de desrespeito, indicaria que você achava que essa pessoa não existia”. (PETER SENGR 1995, p.3) Toda empresa é um agrupamento de homens, e, como tal, a vida dela decorre das ações e decisões dos que a integram. Estes também são naturalmente afetados pelas vicissitudes da própria empresa, pelo comportamento de cada um dos seus integrantes, seja de inveja, avareza, indiferença, entusiasmo, oposição, desfaçatez, passividade, malquerença, egoísmo, maldade, ódio, ambição desmedida. O envolvimento deste agrupamento torna-se necessário para “consciencialização” das novas realidades. O homem, enquanto homem, não pode ser ignorado, ou melhor, tem que ser analisado e enfatizado pelo lugar que ocupa na sociedade que o circunda, logo, na empresa que coabita. Suas reações e análises pesam fortemente na vida da própria empresa; delas podem advir progresso, estagnação ou regressão. “As pessoas trazem para as empresas suas habilidades, conhecimentos, atitudes, comportamentos, percepções etc, (...) Ademais, as pessoas são extremamente diferentes entre si, constituindo um recurso altamente diversificado face às diferenças individuais de personalidade, de experiência, de motivação etc.” (Idalberto Chiavenato, Compromissos Gerenciais, Decidir, Outubro , 1994) Em contrapartida os dirigentes acabam por ter mais dificuldades a vencer o campo humano do que o campo técnico. Eles têm que lutar para vencer a inércia, ultrapassar as oposições, estimular e interligar as vontades. Valores da nossa sociedade mudaram tanto que talvez caiba uma revisão total do modelo ético-moral a ser seguido. A conceituação e a prática dos valores devem ser revistos. 48 3.3 AS RELAÇÕES INTERNAS DA EMPRESA HOLÍSTICA A empresa holística busca o lucro como qualquer outra, mas diferencia-se das outras empresas tradicionais porque descobriu que quanto mais o empregado se envolver por completo em seu trabalho, maior lucro proporcionará ao empresário. O empregado não age mais como um autômato, nem a empresa deseja que ele o faça. O trabalhador, atualmente, se coloca em posição de empregabilidade, ou seja, ele não mais conhece apenas um assunto, mais procura informar-se sobre tudo o que está acontecendo no mundo, atualiza-se continuamente e participa ativamente das mudanças no seu trabalho. As empresas buscam cada vez mais pessoas diligentes e criativas em detrimento dos profissionais especialistas que limitam seu conhecimento a apenas uma área. Existe, modernamente, uma preocupação constante das empresas em relação à qualidade de vida de seus empregados, pois ela descobriu que, gastando pouco, pode aumentar muito seus resultados, já que quanto melhor os empregados se sentirem em seu ambiente de trabalho, mais se dedicarão a ele, diminuindo em muito a rotatividade das empresas. A rotatividade é uma dispensa significativa e útil, pois, além de gastos com indenizações, implica também em perda de produtividade, já que o novo empregado precisa de um determinado tempo para se adaptar ao novo ambiente de trabalho, aos colegas e as suas tarefas. Também diminui o absentismo, já que quanto mais os empregados se sentem parte integrante da empresa, menor será o número de faltas que terão, seja por doenças, seja por boicote. O trabalhador com boa qualidade de vida adoece menos; por outro lado, quando se sente desprezado e não pode largar o emprego, pois precisa dele para sobrevivência de sua família, tende a procurar formas inconscientes de se sentir vingado, sabotando o trabalho sempre que possível. Isso pode ser feito de várias maneiras, desperdiçarem matéria-prima é uma delas, outra é encontrar desculpas para faltar ao trabalho ou demorar-se demais no lanche. Comparando-se as evoluções das condições de trabalho, desde a revolução industrial, percebe-se que elas mudaram e ainda estão mudando. As relações humanas nunca são estáveis, estão em constantes mudanças, e a base de qualquer 49 relação de trabalho é, na verdade, a relação humana, pois praticamente não existe ambiente de trabalho isolado. As pessoas sempre interagem umas com as outras. As normas da qualidade, série ISO, incorporadas ao processo de trabalho, através da qualidade total, tem se aperfeiçoado no intuito de abranger todo o processo de trabalho e, como não poderia deixar de existir, as normas série ISO 18000 tratam das relações humanas nas empresas. Percebe-se que é praticamente impossível evitar esse caminho. Mesmo que haja desemprego, as pessoas que estão desempregadas não conseguem mais aceitar serem tratadas como meros equipamentos. A empresa que quiser continuar a ser produtiva e lucrativa deve mudar sua estrutura conforme explica Chiavenato: “A empresa voltada para o passado e que ainda mantêm seu modelo mecanicista e fechado está totalmente fora do foco e de posicionamento com o mundo exterior. A empresa voltada para o futuro, deverá se basear o modelo orgânico ou organicista; flexível e adaptável, inovadora e criativa, ágil e sensível ao mercado e ao cliente. A mudança empresarial, em direção a modernidade, precisa acontecer através das pessoas.” (CHIAVENATO 1994, p.28) A principal matéria-prima de uma empresa é seu capital humano e se isso não for devidamente valorizado, cultivado, a empresa ficará estagnada ou afundará seus velhos mitos. As antigas concepções científicas que dividiam o homem para estudá-lo e não se preocupavam com a interdependência entre os vários aspectos do comportamento humano, criam inevitáveis inadequações como no caso de emoções humanas, importantes componentes do homem, porém, completamente desprezadas e consideradas como um sinal de fraqueza. A disciplina não deve ser percebida como uma rigidez do comportamento e a lealdade como submissão à autoridade. O oposto também é válido. A criatividade não deve ser percebida como inadaptação à empresa ou rebeldia à autoridade, nem deve ser considerada como desorganização e sim como um crescimento grande e pessoal que muito beneficiará a empresa. “O gerenciamento dos talentos humanos, apesar de todos os enormes avanços tecnológicos do fato de estamos à beira do século XXI, é ainda uma grande utopia, apenas um pequeno e restrito circulo de 50 empresas tem dado a suficiente atenção para a obtenção de melhores resultados através das pessoas. São as ilhas de prosperidade dos novos ventos da modernidade. Apesar de todas as mudanças sociais, culturais, políticas, econômicas e tecnológicas de uma sociedade em constante transformação, as nossas empresas ainda constituem organizações conservadoras e tradicionais que resistem as inovações que acontece no país e no mundo”. (CHIAVENATO, 1994, p.28) O gerente deve negociar claramente as expectativas e o comportamento esperados da equipe, como ela sente e pensa os fatos. A equipe, por sua vez, precisa saber o que o gerente espera dela. Esse é um dos aspectos mais importantes das tarefas que o gerente precisa realizar que é conhecer sua equipe e se fazer conhecer por ela. As relações interpessoais se desenvolvem internamente, subjetivamente, de acordo com a personalidade de cada um, por isso, o gerente precisa conhecer as personalidades para saber como agir. A personalidade não é imutável, modifica-se permanentemente. As pessoas estão sempre aprendendo, sempre se modificando. A cada aprendizagem, elas mudam seu comportamento e o gerente deve ter claramente essa visão. As pessoas precisam saber como são percebidas pelos outros. Sempre avaliam a sua própria capacidade, o seu comportamento, de acordo com as relações que ele tem com os outros, com o feedback que recebem das outras pessoas. Baseado nisso, a empresa não deve fornecer feedback apenas quando faz uma reclamação, quando corrige algum fato negativo. Também deve elogiar quando a pessoa faz alguma coisa produtiva, valorizar as idéias e a criatividade de seus trabalhadores. Isso incentiva as pessoas a progredir, a melhorar sempre e a se envolver cada vez mais com a empresa. É o que acreditamos. 51 CONCLUSÃO Diante de toda a pesquisa sobre a visão holística na administração o que percebemos é que é fato a chegada de novos valores, novos modelos, novas concepções em termos de administração. As transformações de um mundo globalizado remetem a extinção de gerenciamentos ultrapassados, obsoletos, de uma visão mecanicista cujo foco concentrava-se apenas no lucro sem se importar com a mão de obra, o homem, o bem de maior valor de uma organização. A chegada da visão holística faz mudar esse foco, quebra o paradigma e traz modelos perceptivos de valor humano, ressurge no homem o sentimento e aborda suas concepções de modo quase sagrado. Na questão profissional investiga o empregado em todos os seus aspectos, não o vê em partes e leva para dentro da empresa as suas características, adequando-as ao ambiente de trabalho, ressurgindo assim as relações interpessoais de forma integrada, cooperativa e quase prazerosa. A visão holística busca a compreensão da realidade em função da harmonia e integração das totalidades existentes em um processo. Este enfoque nos afasta das conceituações vigentes de análise (redução dos fenômenos aos seus componentes básicos) e da qualificação mecanicista onde todos os fenômenos podem ser explicados mecanicamente. Partindo-se desses pressupostos, no cenário empresarial, a gerência holística é constituída de uma visão do todo, de forma harmônica e integrada, sem negligenciar as suas partes ou componentes. Do ponto de vista operacional, a empresa pode ser entendida como uma macro-unidade, composta por unidades menores, cada uma com suas características e responsabilidades próprias (produção, comercialização, recursos humanos, administração, contabilidade, finanças e outras). No seio de cada unidade menor podem-se identificar outras subunidades dividindo o trabalho nas suas configurações mais especificas, atribuídas para as pessoas que devem executá-las. 52 Desta forma, o enfoque gerencial holístico assemelha-se a uma conceituação “divina’ onde tudo que existe no Universo tem uma função própria (interdependência), porém harmônica e integrada com as demais funções existentes, do todo e/ou suas partes. Isto significa que a conceituação clássica de que o gerente se limita a organizar, controlar e supervisionar pessoas para obter resultados já está superado. As novas fronteiras da gerência estão sendo ampliadas de tal maneira que os gerentes devem assumir o seu novo papel à procura de uma visão global e harmonicamente integrada nas suas partes ou componentes, inclusive as que se encontram no ambiente externo das organizações. Mesmo que o mundo capitalista leve as empresas para a busca de resultados apenas, a visão holística nos faz acreditar que investir no ser humano também dá lucro. 53 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração, 6º edição, Rio de Janeiro: Campos, 2000. DELLA, Ida Mônica. ST. São Paulo, sd, por correio eletrônico, www.ipepe.com.br FURASTÉ, Pedro A. Normas Técnicas Para o Trabalho Científico. MEDEIROS Filho, Benedito C. A Gerência Holística, 24/04/08, sl, por correio eletrônico. MINTZBERG, H.1982, p.13, Apud Módulo II. Análise Comportamental. MAGALHÃES, Nelson Jose Veiga e POTRICH, Tânia Mara. O Novo Papel do Homem nas Organizações. Rio de Janeiro: editora: Instituto A vez do Mestre, 2007. Módulo I. Análise Comportamental. MAGALHÃES, Nelson Jose Veiga e POTRICH, Tânia Mara. Análise do Trabalho para o Homem. Rio de Janeiro: editora: Instituto A vez do Mestre, 2007. Módulo II. Análise Comportamental._______. O Novo Papel do Homem nas Organizações. Rio de Janeiro, editora: Instituto A vez do Mestre, ________. Módulo III. Introdução à Administração. SIQUEIRA, Jonh Wesley. Análise Histórica e Científica do Desenvolvimento da Administração: Ênfase Holística Rio de Janeiro, editora Instituto A vez do Mestre: ________. NAISBITT e ABURNDENE. 1986, p____, Apud______________________________ PAGÉS, M.1987, p_____, Apud__________________________________________ ___________________________________________________________________ TOFLER, A.1985, p_____, Apud_________________________________________