Revista Brasileira de Flsica, Vol. 12, NP 2, 1982 Estudo Preliminar do Nível Operatório de Estudantes Universit&rios* M. CÉLIA DIBAR URE Universidade federal Fluminense Recebido em 28 de Fevereiro de 1981 Ttie r e a s o n i n g s used by Elementary P h y s i c s s t u d e n t s a t t o solve 4 U.F.F. P i a g e t i a n t a s k s ( f l o a t i n g b o d i e s , pendulum, p r o b a b i l i t y and c o r r e l a t i o n s ) a r e s t u d i e d t h r o u g h c1 i n i c a l i n t e r v i e w s . These a r e compar e d t o t h e answers g i v e n by Genevan a d o l e s c e n t s , and t h e d i f f e r e n c e s a r e examined and d i s c u s s e d . A rough e s t i m a t e o f t h e percentages o f ses c o r r e s p o n d i n g t o each o p e r a t o r y leve1 i s o b t a i n e d , for respon- comparison t o those o b t a i n e d by o t h e r a u t h o r s w h i l e t h e d i f f i c u l t i e s i n interpre- t i n g them when d e a l i n g w i t h a d u l t s a r e c o n s i d e r e d . 0s r a c i o c í n i o s usados p o r a l u n o s de F í s i c a Elementar, na UFF, para r e s o l v e r 4 t a r e f a s P i a g e t i a n a s ( f l u t u a ç ã o de c o r p o s , pêndulo, p r o - b a b i l idade e c o r r e l a ç õ e s ) são estudadas a t r a v é s de e n t r e v i s t a s c l í n i c a s . São comparados às r e s p o s t a s dadas p o r a d o l e s c e n t e s de Genebra, e as d i f e r e n ç a s são examinadas e d i s c u t i d a s . E o b t i d a uma e s t i m a t i v a a p r o x i mada das percentagens de r e s p o s t a s correspondentes a cada n í v e l t ó r i o e são f e i t a s comparações às o b t i d a s p o r o u t r o s a u t o r e s , ao tempo que se consideram as d i f i c u l d a d e s em i n t e r p r e t á - l a s no operamesmo caso de adu l t o s . (*) Comunicação d e s t e t r a b a l h o apresentada na são Paulo - 1978 3 0 Reunião ~ Anual da SBPC INTRODUÇAO E comum que os a l u n o s de c i ê n c i a s apresentem d i f i c u l d a d e s na r e s o l u ç ã o de problemas, sobretudo nos p r i r n e i r o s c u r s o s de F í s i c a . Este f a t o , a l i a d o ao a l t o í n d i c e de r e p e t ê n c i a , nos tem levado a p e s q u i s a r o t i p o de r a c i o c í n i o p o r e l e s usado. Seguimos para i s s o as I jnhas gerais da t e o r i a d e s e n v o l v i d a p e l a e s c o l a de Genebra de P s i c o l o g i a G e n é t i c a . Os p r i m e i r o s t r a b a l h o s sobre a d o l e s c e n t e s ' mostram que os j o v e n s de Genebra a t i n g e m o r a c i o c í n i o formal ou h i p o t é t i c o - d e d u t i v o na c i a , apesar d e o p r ó p r i o p i a g e t 2 posteriormt:nte adolescên- q u e s t i o n a r a g e n e r a l idade d e s t a observação. Trabalhos r e c e n t e s com-jovens u n i v e r s i t á r i o s e a d u l t o s em c u r sos de e s p e c i a l i z a ç ã o apontam que uma a p r t x i á v e l percentagem de estu- dantes a d u l t o s não a t i n g i r a m o r e f e r i d o n í v e l de r a c i o c í n i o f o r m a l , in- d i s p e n s á v e l à aprendizagem de d i s c i p l i n a s c i e n t í f i c a s . a Mc Kinnon e ~ e n n e r ~t e, s t a n d o u n i v e r s i t á r i o s de 1 - s é r i e t a r e f a s de conservação de volume, r e f l e x ã o de uma b o l a na parede, tuação, pêndulo e f l e x i b i l i d a d e , acharam que 50% dos a l u n o s ~ r i f f t h s " a p l icando uma t a r e f a de p l a n o flu- apresenta- vam r a c i o c í n i o c o n c r e t o (o e s t á g i o a n t e r i o r ao e s t á g i o f o r m a l ) a i n d a não tinham a t i n g i d o completamente o r a c i o c í n i o com 25% e formal. i n c l inado relata aproximadamente 30% de a l u n o s " f o r m a i s " . E l e c a r a c t e r i z a os a l u n o s só como usando r a c i o c í n i o f o r m a l ou não f o r m a l , mas também segundo não a linguagem t é c n i c a p o r e l e s usada e acha que m u i t o s a l u n o s , apesar d e n s o terem o r a c i o c í n i o f o r m a l , u t i 1 i z a n t a l 1 inguagem para não pensar ou não v e r as c o n t r a d i ç õ e s e n t r e as suas e x p l ica!;Ões e as p r ó p r i a s observações da e x ~ e r i ê n c i ade l a b o r a t ó r i o . S c h i r c k s e ~ a r o c h e ~t e, s t a n d o a d u l t o s com n í v e l de e s t u d o p r i m e i r o g r a u , e que estavam füzendo c u r s o s de a p e r f e i ç o a m e n t o , de desco- brem 8% de a l u n o s f o r m a i s e 80% de a l u n o s p r é - f o r m a i s e i n t e r m e d i á r i o s . Como as p r o v a s d e s e n v o l v i d a s p o r P i a g e t para t e s t a r nível f o r mal em e n t r e v i s t a s c l í n i c a s foram usadas em Genebra com a d o l e s c e n t e s de a t é 17 anos, e como as a p l i c a ç õ e s a a d u l t o s a i n d a são poucas, propuse- TABELA DE CLASS I F I CAÇÃOPOR NfVE I S (EM PERCENTAGENS) e s t a pesqu i sa i I l idades outros autores / I F l u t u a g ã ~ ) Pêndulo 1 16 31 Mc Kinnon Griff et al. 50 iths 4 / Sch i r k s 3 ) e t ~aroche' 50 46 25 32 23 42 - 25 ---- formais 38 59 25 30 1 8 2, v e r na d i s c u s s ã o as c a r a c t e r í s t i c a s d e s t a prova 3, v e r na seção Método as d i f e r e n ç a s s u b - c l a s s i f icaçÕes mo-nos a f a z e r um t r a b a l h o p r e l i m i n a r , experimentando algumas das pro- vas de P i a g e t com pequenas m o d i f i c a ç õ e s e usando e n t r e v i s t a s c1 Í n i c a s e a l g u n s problemas e s c r i t o s que requerem o n í v e l formal ,i 12 70 interme diárioç I p a r a v e r qua i s eram as r e s p o s t a s dos a l u n o s de F í s i c a 1 Geral da U n i v e r s i d a d e Federa 1 F l umi nense. Achávamos de i n t e r e s s e : com a ) Estudar as r e s p o s t a s mais t í p i c a s n e s t a s provas, e compará- las as dos a d o l e s c e n t e s de Genebra. b) V e r i f i c a r se o b t inhamos mascaramentos p o r 1 inguagem t é c n i c a , a ss im como G r i f f i t h s o b t e v e . c ) E n c o n t r a r as percentagens de a l u n o s com r e s p o s t a s c a r a c t e r í s t i c a s do c o n c r e t o , I n t e r m e d i á r i o e f o r m a l em cada prova, numa p r i m e i r a apro- ximação ao estudo do problema. MÉTODO A m e t o d o l o g i a b á s i c a compõe-se de e n t r e v i s t a s i n d i v i d u a i s do t i p o usado p e l a Escola de E p i s t e m o l o g i a Genética l i d e r a d a p o r Jean P i a g e t . Esta é uma t é n i c a f l e x í v e l que p e r m i t e acompanhar e p e s q u i s a r os passos dados p e l o a l u n o ao t e n t a r r e s o l v e r os problemas que lhe são p r o p o s t o s . Uma d i s c u s s ã o d e s t e método, também chamado de e x p l o r a ç ã o c r í ti - ca, pode s e r achada na i n t r o d u ç ã o do l i v r o Aprendizagem e E s t r u t u r a s de 6 conhecimento . 'AS e n t r e v i s t a s são gravadaij em f i t a s c a s s e t e para uma análise posterior. A e s c o l h a das provas n e s t a f a s e p r e l i m i n a r f o i f e i t a levando-se em c o n t a a p o s s i b i l idade de se achar m a t e r i a l para as e x p e r i ê n c i a s . Nossa c l a s s i f i c a ~ ã o ,pelo mesmo f a t o de e s t e t r a b a l h o s e r pre- l i m i n a r e não e s t a r dedicado e s p e c i f icamerite a c l a s s i f i c a r alunos em n í v e i s o p e r a t ó r i o s , não é d e t a l h a d a . Classil'icamos os t i p o s de r a c i o c í n i o apenas como c o n c r e t o s , i n t e r m e d i á r i o s e f o r m a i s , como também o fazem os a u t o r e s americanos. S c h i r k s e ~ a r o c h e ~p,o r sua vez, c l a s s i f i c a m as operações do mesmo modo que I n h e l d e r e p i a g e t l , i s t o é, cada e s t á g i o subdi- v i d i d o em dois subestág i o s ( p o r exemplo, n e s t a nomenckatura o c o n c r e t o c o r r e s p o n d e r i a a I IA e l lB e o f o r m a l a I I IA e 1 1 I B ) , agregando a estas um n í v e l i n t e r m e d i á r i o e n t r e 118 e I I I A . Usamos a c l a s s i f i c a ç ã o de i n t e r n e d i á r i o p a r a d e s i g n a r aqueles a l u n o s que, tendo a t i n g i d o numa dada prova, operaçõec caracter i s t icas do e s t á g i o Concreto, começam a t r a b a l h a r com algumas operações formais mas a i n d a em forma m u i t o i n s t á v e l . Assim f i c a m i n c l u í d o s , necessariament e como i n t e r m e d i á r i o s , a l g u n s r a c i o c í n i o : , que c o r r e s p o n d e r i a m ao n í v e l I I I A e também a l g u n s I I B . Por exemplo, na prova de p r o b a b i l i d a d e , consideramos como i n t e r m e d i á r i a o t i p o de r e s p o s t a que ' c a s a v a ' nós fichas para comparar p r o b a b i l idades (exemplo disc.ut i d o na seção s e g u i n t e ) , que em I n h e l d e r e p i a g e t l aparece num exemplo do s u b n í v e l I IB.Temsduas r a zões para e s t e c r i t é r i o : a p r i m e i r a é que achamos a q u i um t i p o de inísimul- c i o de compensação usando c o r r e s p o n d ê n c i a mas que l e v a em c o n t a taneamente as duas v a r i á v e i s , ou s e j a , um i n i c i o de operações formais; em segundo l u g a r , e r e f o r ç a n d o nossa i d é i a , m u i t o s a l u n o s que 'casam numas r e s p o s t a s , em o u t r a s o s c i l a m e n t r e v á r i o s c r i t é r i o s ( p o r 5s vezes escolhem p e l o número de c r u z e s , às vezes p e l o número de cos) i n d i c a n d o que começam ã ' exemplo s e n t i r a i n f l u ê n c i a das d i f e r e n t e s branvariá- veis. Por o u t r o l a d o , a c l a s s i f i c a ç ã o de a1 gumas reações dos su j e i t o s dos s u b n í v e i s 366 'B' como intermed i ã r i a s e s t á i m p l í c i t a nos primeI ros t r a b a l h o s do p r ó p r i o p i a g e t 7 ondelpor exemplo,^ s u b - t í t u l o do n í v e l 18 é: 'Reações i n t e r m e d i á r i a s e n t r e os e s t á g i o s I e 1 1 . ' PROVAS USADAS NAS ENTREVISTAS CLINICAS Começamos usando a prova do pêndulo da mesma forma que é usada em a d o l e s c e n t e s p o r lnhelderl, tra- ou s e j a , deixando que o s u j e i t o b a l h e l o g o após l h e p e r g u n t a r o q u e . f a r i a para n o d i f i c a r o 'tempo que o pêndulo demora para i r e v o l t a r ' , i s t o é, o p e r í o d o . As ú n i c a s a l t e r a ç õ e s nossas foram: a ) P e d i r que, a n t e s de mexer, e l e r e l a c i o n a s s e todas as c o i s a s que m o d i f i c a r i a e quando d e i x a v a de mencionar alguma das mais ele importantes (peso, comprimento do f i o ) , perguntávamos se e l e achava que, modif i c a n do-a, o tempo de i d a e v01 t a s e r i a a l t e r a d o . Depois su g eríamos que trabalhasse 2 ele vontade e dávamos toda a a j u d a n e c e s s á r i a . caso b) Tínhamos um cronômetro com o equipamento que e l e p o d i a u s a r , p r e c i s a s s e . I s t o f o i f e i t o porque achávamos que e s t u d a n t e s universitá- r i o s poderiam f i c a r a t r a p a l h a d o s se não conseguissem m e d i r o tempo. Esta prova t e v e um número m u i t o grande de r e s p o s t a s e s c o l a r i zadas, uma vez que a m a i o r i a dos a l u n o s se lembrava, vagamente, de ter v i s t o uma demonstração do pêndulo ou de t e r estudado uma f ó r m u l a do seu p e r í o d o . Mas, para aproximadamente 30% dos a l u n o s e s t a s r e s p o s t a s escol a r i z a d a s nao levavam a uma i n t e r p r e t a ç ã o mais c l a r a dos dados. Usavam uma l inguagem t é c n i c a que e n c o b r i a as observações ou mostravam uma enorse me r e s i s t ê n c i a em m e d i r , p r e f e r i n d o f i c a r com as e x p l i c a ç c e s de que lembravam. Se mediam, e r a com pouco i n t e r e s s e , e a t é pareciam temer que a e x p e r i ê n c i a c o n t r a d i s s e s s e r e s p o s t a s dadas a n t e r i o r m e n t e . E s t e f o i o caso de m u i t o s a l u n o s que, p a r a v e r i f i c a r a p r ó p r i a h i p ó t e s e de o que comprimento não i n f l u í a , o m o d i f i c a v a de forma quase i m p e r c e p t í v e l . M u i t o s também chegavam a t é mesmo a se enganar p r o p o s i t a l m e n t e nas l e i t u r a s das medidas F e i t a s , como um a l u n o que, tendo a f i r m a d o i n i c i a l m e n t e que todos os pêndulos possuiam o mesmo p e r í o d o , de um segundo, mesmo d e p o i s de f a z e r a e x p e r i ê n c i a , não d e i x o u o e n t r e v i s t a d o r v e r o cronômetro, e no momento de d a r a sua conciusão, d i s s e que r e a l m e n t e h a v i a se engana- do, o p e r í o d o não e r a sempre i g u a l a um segundo mas sim i g u a l a dois segundos!! .ar Uma grande percentagem ( 4 1% ) do's a1 unos t e s t a d o s p a r e c i a ter - ?ma para o b s e r v a r os r e s u l t a d o s , mesmo quando m o d i f icavam um? só 5 tc 6 um c r i t e r i o fundamental nes- -1 p o r vez (o que, segundo P i a g e t , /d oara i d e n t i f i c a r o r a c i o c i n i o f o r m a l , que f o i usado p o r 59% dos alunos, varia- Alguns a l u n o s t i r a v a m conclusÕe!j d e p o i s de f a z e r uma ção t i p o m a t r i c i a l ( 2 massas com d o i s comprimentos, do t i p o : m,l,,m,l,, ml12,m,l ,). As vezes e s t e s procedimento os levava a e r r o s , j á que cisavam v o l t a r ao comprimento i n i c i a l e, no mesmo tempo que se pre- preocu- param em p e d i r cronômetros para r e a l i z a r medidas m u i t o p r e c i s a s de temtentando po, às medidas de comprimento não davam a mesma i m p o r t â n c i a , manter o tamanho usado i n i c i a l m e n t e no comprimento do pêndulo apenas q u a l i t a t i v a m e n t e na memória, não tendo mesmo h a v i d o nenhum caso de a l u no que p e d i s s e uma régua para m e d i r com p r e c i s ã o e s t e s c o m p r i m e n t o s . Daí, m u i t a s vezes as v a r i a ç õ e s do p e r í o d o do pêndulo não eram atribuí- das a v a r i a ç õ e s do comprimento do mesmo, tendo- se p o r t a n t o c o n c l u s Õ e s equivocadas. A segunda p r o v a 7 i n t r o d u z i d a f o i uma de p r o b a b i 1 i d a d e 8 onde se p e d i a ao a l u n o para a v a l ; a r em q u a l dos d o i s g r u p i n h o s de c a r t õ e s em branco e com unia c r u z , se t i n h a mais chance de t i r a r um c a r t ã o com c r u z , t i r a n d o - s e uma só vez, sem o l h a r . Esta prova e r a bem mais a g radável aos a l u n o s e, certamente p r ?arecer mais v i n c u l a d a aos j o g o s d e a z a r do que a t r a b a l h o e s c o l a r , q u a se não obtínhamos r e s p o s t a s e s c o l a r i z a d a s que perturbassem o raciocí- n i o , sendo que os que respondiam com a p a l a v r a " probabi 1 idades" e com- paravam numericamente as f r a ç õ e s , eram os que a r e a l i z a v a m bem. Nesta prova encontramos r e s p o s t a s que só levavam em c o n t a uma das v a r i á v e i s , esquecendo a o u t r a . Nestes casos, os a l u n o s consideravam apenas o número t o t a l de f i c h a s , ou o número de c a r t õ e s com c r u z , ou o número de c a r t õ e s brancos, c a r a c t e r i s t i c a s das operações c o n c r e t a s . V i - mos a i n d a t i p o s de r e s p o s t a s i n t e r m e d i á r i c i s e n t r e os d o i s n í v e i s operat ó r i o s , nas q u a i s os a l u n o s o s c i l a v a m e n t r e d o i s ou mais c r i t é r i o s , sem consegui r i n t e g r á - l o s numa e s t r a t é g i a Única que não l e v a s s e a r e s p o s t a s c o n t r a d i t ó r i a s . Vejamos d o i s exemplos t í p i c o s : a ) Trabalhando com os g r u p i n h o s de p r o b a b i l i d a d e s 1/3 e 2/6, m u i t o s a l u nos, 50% dos e n t r e v i s t a d o s , achavam que as chances de t i r a r uma c r u z e r a d i f e r e n t e nos d o i s grupos, escolhendo, p r o b a b i l i d a d e s 1/3, p o r exemplo, o grupo p o r s e r o número t o t a l de f i c h a s menor do de que o de 2/6. Quando em seguida d i v i d í a m o s o grupo de 2/6 em d o i s g r u p i nhos de 1/3, e l e s achavam que os t r ê s g r u p i n h o s t i n h a m a mesma chanc e mas, quando o experimentador v o l t a v a à s i t u a ç ã o i n i c i a l , respon- diam com o mesmo e r r o ; a l g u n s , porém, f i c a v a m p e r t u r b a d o s p e l a con- t r a d i ç ã o e v i d e n c i a d a e c o n s t r u iam r e s p o s t a s de "conc i 1 iação" do t i p o : "a p r o b a b i 1 idade ( a n t e r i o r m e n t e só f a l a v a em chance) é que é igual, mas eu f i c o com e s t e " ( o e s c o l h i d o i n i c i a l m e n t e ) . b) Para comparar d o i s grupos, m u i t o s a l u n o s 'casavam' i s t o é, formavam pares de f i c h a s com c r u z e em branco e depois comparavam as que sobravam em cada grupo. A p l i c a n d o e s t e c r i t é r i o ao exemplo a n t e r i o r , da- r i a que há mais chance de t i r a r c r u z no grupo d e . p r o b a b i I i d a d e 1/3do que no de 2/6 porque no p r i m e i r o sobra um branco e no segundo sobram d o i s , como se vê no desenho: ia: I I 1 i01 0 E s t e comportamento, que aparece num exemplo do n í v e l I I B pode s e r Ianu- i n t e r p r e t a d o como uma t e n t a t i v a de comparação por compensação, l a n d o ' o e f e i t o de uma c r u z com um branco, usando correspondência, operação que os c o n c r e t o s dominam bem, mas levando em conta a in- f l u ê n c i a das duas v a r i á v e i s . Nesta e x p e r i ê n c i a c l a s s i f i c a m o s p r e l i m i n a r m e n t e 18% de con- c r e t o s , 50% de i n t e r m e d i á r i o s e 32% de f o r m a i s . Em t e r c e i r o l u g a r testamos com uma p r o v a de c o r r e l a ç ã o 1 e n t r e a c o r dos cabelos e a c o r dos o l h o s , não em g e r a l , mas dado um c e r t o nÚ- t e r p r e t a ç ã o mais profunda, pesqu i s a r melhor e s t e t i p o de esquema mui t o usado, o de f u g i r 2s c o n t r a d i ç õ e s com armas que d i f e r e m e n t r e a d u l t o s escolarizados e crianças. Achamos v á r i a s r e s p o s t a s que a t r i b u í r a m a f l u t u a ç ã o às c a r a c t e r í s t i c a s do m a t e r i a l como: " madeira b o i a " ou " metal afunda" , sem cons e g u i r separar as p r o p r i e d a d e s do m a t e r i a l que r e a l m e n t e i n f l u e m ; e o u t r a s que f i c a v a m com apenas uma v a r i á v e l , t i p i c a m e n t e o peso ou a sup e r f í c i e , sendo assim levados a c o n t r a d i ç õ e s marcantes. Classificamos p r e l iminarmente e s t e s a l u n o s (7 no t o t a l ) como i n t e r m e d i á r i o s e não como c o n c r e t o s , p o i s a m a i o r i a u t i l i z o u também algum r a c i o c í n i o com, pro- porções ou usou contra- exemplos para d e s c a r t a r h i p ó t e s e s e r r a d a s , mesmo em forma i n c o m p l e t a . Somente um a1 uno t e n t o u comparar os . o b j e t o s c i l í n d r i c o s & mesmo volume, tendo tamb6m s u g e r i d o qce s e r i a i n t e r e s s a n t e termos objetos de mesmo peso e volumes d i f e r e n t e s . Da d i s c u s s ã o a n t e r i o r c o n c l u i - s e que e s t a p r o v a a p r e s e n t a c a r a c t e r í s t i c a s d i f e r e n t e s das o u t r a s : o s a l u n o s em g e r a l dão respostas correspondentes a e s t á g i o s a n t e r i o r e s , mas usando também a l g u n s c í n i o s mais avançados. C l a s s i f i c a n d o - o s segundo e s t e s ú I t imos, raciopode-se v e r na t a b e l a anexa que as percentagens não d i f e r e m m u i t o das de probab i 1idades. Cabe-se q u e s t i o n a r a razão d e s t e e f e i t o e melhor pesqui si-10, uma vez que e s t a prova f o i p r é - t e s t a d a com apenas 14 a l u n o s . A e x p l icação p o d e r i a e s t a r l igada ao f a t o de que c e r t o s avanços no r a c i o c í n i o levam n e s t a prova a respostasmais c o n t r a d i t õ r i a s com a r e a l idade ( p o r exemplo o peso aparece nas e x p l icações das c r i a n ç a s do nível I IB, mas quando começa a s e r usado separado do volume, l e v a a mais c o n t r a d i ç õ e s do que as e x p l i c a ç õ e s baseadas apenas no m a t e r i a l , do es- tágio I 1 A). Um e f e i t o s i m i l a r é v i s t o p o r A. K a r m i l o f f - S m i t h e 8.1nheklerg que estudam as e s t r a t é g i a s usadas p o r c r i a n ç a s na r e s o l u ç ã o dos p r o b l e mas que l h e s sso p r o p o s t o s . No caso do problema do e q u i l í b r i o de barri; nhas de densidades uniformes e não u n i f o r m e s , os avanços que levam 5 formulação p e l o s meninos da t e o r i a do c e n t r o g e o m é t r i c o l e v a temporariamente a mais f r a c a s s o s no p r ó p r i o e q u i l í b r i o mas, enquanto que d u r a r i t e um tempo o menino só se i n t e r e s s a p e l o sucesso na t a r e f a p r o p o s t a , g r a dualmente e l a s notam que a atenção da c r i a n ç a passa ao problema de ' c o mo e q u i l i b r a r ' passando assim a t e s t a r suas p r ó p r i a s t e o r i a s . De acordo com nossos r e s u l t a d o s p r e l i m i n a r e s d e s t a experiên- c i a de f l u t u a ~ ã o , c a b e r i a uma a n á l i s e da i n f l u ê n c i a do t i p o a t u a l deens i n o na maneira dos a l u n o s p r o g r e d i r e m i n t e l e c t u a l m e n t e . P o d e r i a - s e t o mar como h i p ó t e s e q u e , o f a t o d e e s t e t i p o de e n s i n o v a l o r i z a r apenas os r e s u l t a d o s f i n a i s c o r r e t o s , não a t r i b u i n d o nenhum m é r i t o às d ú v i d a s e buscas r e a l izadas p e l o a l u n o ã p r o c u r a da s o l u ç ã o do problema, d e s e s t i - mule-o a questionamentos, levando- o mesmo a r e g r e d i r , como no nosso c a so, no q u a l os a l u n o s p r e f e r e m f i c a r com r e s p o s t a s que são j u s t i f icadas p e l o t i p o de m a t e r i a l , não se aprofundando nas c a r a c t e r í s t i c a s que in- f l u e m , p o i s , no i n í c i o das considerações que, f i n a l m e n t e c o n d u z i r i a m a uma r e s p o s t a c e r t a , as h i p ó t e s e s s o b r e o peso conduzem a m u i t o s e r r o s . As e n t r e v i s t a s c l í n i c a s r e a l i z a d a s em forma p r e l i m i n a r n o l n s t i t ~ i t ode F Í s i c a da UFF, com a l u n o s das c a d e i r a s b á s i c a s de F i s i c a , m o s t r a m que, de um modo g e r a l , os e r r o s demonstrados p o r e s t e s a l u n o s são m u i t o semelhantes aos dos a d o l e s c e n t e s e n t r e v i s t a d o s p e l o p r ó p r i o P i a g e t , podendo s e r a t r i b u í d o s ã u t i l i z a ç ã o de operações c o n c r e t a s de ra- c i o c í n i o ou ao p e r í o d o i n t e r m e d i á r i o de t r a n s i ç ã o e n t r e e s t a s e as operações forma i s, mas havendo a se n o t a r uma f o r t e n f l uênc i a da escolari - zação além de o u t r a s c a r a c t e r í s t i c a s que, segundo nossa p r o p o s t a , se devem a o f a t o d e o s a l u n o s t e n t a r e m e v i t a r as c o n t r a d ções e n t r e as suas teorias e a experiência realizada. Esta p r o b l e m á t i c a c o n f i r m a a c o r i p l e x i d a d e do problema de t e s tagem dos a d u l t o s 2 ' ' , mesmo quando e s t e s pertencem à á r e a c i a s , e sugere o i n t e r e s s e de f u t u r a s pesquisas nesse s e n t i d o , em c o n t a a s p e c t o s v a r i a d o s , que não sejam apenas e s t r i t a s de c i ê n levando percentagens de a l u n o s segundo o s seus n í v e i s o p e r a t ó r o s . Uma vez que uma boa compreensão de d i s c i p l i n a s científicas, t a i s como a F í s i c a , r e q u e r que o a l u n o possua o n í v e l o p e r a t ó r i o f o r m a l bem sedimentado e, d i a n t e dos r e s u l t a d o s p r e l i m i n a r e s encontrados n e s t e t r a b a l h o , cabe a q u i d i s c u t i r se o e n s i n o da F í s i c a elementar e, mais dramaticamente, o e n s i n o do 20 grau, como vem sendo dado, de uma forma g e r a l , p r o p o r c i o n a ao a l u n o a t i v i d a d e s que r e a l m e n t e c o n t r i b u e m para um desenvolvimento adequado do seu r a c i o c í n i o . As f a l h a s t í p i c a s , j á dis- c u t i d a s nas e x p e r i ê n c i a s de pêndulo e f l u t u a ç ã o podem s e r d e v i d a s a um e n s i n o que só v a l o r i z a as r e s p o s t a s c o r r e t a s , não se dando nenhum v a l o r e aos t i p o s de e r r o s e equivocos que fazem o r a c i o c í n i o requerendo m u i t a s vezes que o a l u n o use r a c i o c í n i o s mais avançados do que seu desenvolvimento p e r m i t e , f o r ç a n d o - o a s s i m a um a p r e n d i z a d o pass i v o e decorado. Com base n e s t a e x p e r i ê n c i a i n i c i a l decidimos realizar outra s é r i e de e n t r e v i s t a s usando as provas de p r o b a b i 1 idades e f l u t u a ç ã o , às q u a i s agregamos f l e x i b i l i d a d e , combinações químicas e balança. Novos r e s u l t a d o s encontram- se em f a s e de c o n c l u s ã o e deverão s e r b r e v e m e n t e apresentados. P a r a l e l a m e n t e a e s t e t r a b a l h o começou-se a t r a b a l h a r na ob- ten ç ão de uma prova e s c r i t a e q u i v a l e n t e 5s e n t r e v i s t a s i n d i v i d u a i s , m e s mo sabendo-se que a informação assim o b t i d a não é t ã o r i c a q u a n t o a obt i d a usando o método c l í n i c o . No e n t a n t o e s t a prova c o l e t i v a p e r m i t i r á a v a l i a r turmas in- t e i r a s num tempo c u r t o . Os r e s u l t a d o s de s u c e s s i v a s t e n t a t i v a s serão apresentadas separadamente em b r e v e . REFERÊNCIAS 1 . Inhelder, B. e t Piaget, J. de Z1adoZescent; P a r i s , P.U.F. De Za Logique de Z 'enfant à Za (1955); P i o n e i r a Ed. 1976). 2. P i a g e t , J . Human Development 15, Logique ( t r a d u z i d o para o P o r t u g u ê s : 1 (1972). 3. McKinnon, J.W. e Renner, J.W. Am.J.Phys. 3 9 , 9 (1971). 4. G r i f f i t h s , D.H., Am.J.Phys. 5. S c h i r c k s , A. e Laroche, J . L . , 6. 44, 1 (1976). T r a v a i l Humain 33, 2 (1970). . I n h e l d e r , B Apprentissage e t Structuj*es de Za Connaissance; 1974 P a r i s , P.U.F. 7. Nota: No t r a b a l h o f i n a l que se acha eri andamento, e s t a prova foi a p l i c a d a t a n t o em forma i n d i v i d u a l como c . o l e t i v a . Nesta Ú l t i m a pedramos aos a l u n o s que j u s t i f i c a s s e m p o r e s c r i t o os r e s u l t a d o s , j u s t i f i c a t i v a s achamos r a c i o c i n i os i d ê n t i c o s aos observados e nestas na p r o - va i n d i v i d u a l . 8. P i a g e t , J ., Lu Genèse de 2 'idée de Haeard chez 2 'enfant; ( 1 951 1, P a r i s , P.U.F. ( t r a d u z i d o p a r a o Portu g uês: Record Ed.) 9. K a r m i l o f f - S m i t h , A. e I n h e l d e r , B. 10. Gruber, H . E . I I . Donaldson, M., e Susswein, Ben J . , Cognition 3, Arch.Psych. Bul l .Psych. 33, 327 ( 1 9 7 7 ) . 3 . (1975). XLI I I , 169 (1975).