A INTERNET NA ESCOLA COMO SUPORTE PARA TRABALHO
COM PROJETOS EM MATEMÁTICA
Miriam Godoy PENTEADO1
Maria Dirlene da SILVA CATTAI2
Adriana Ribeiro LANNES2
Denival BIOTTO FILHO3
Rodrigo Montenegro REIS SILVA3
Jader Franco GÓES3
Ronaldo Rouvher GUEDES SILVA3
Marcelo GASPAROTO3
Resumo:
Este artigo traz uma reflexão sobre um trabalho realizado em parceria com
professores de matemática de escolas da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. É
uma tentativa de contribuir com a discussão sobre o uso de tecnologia informática
nas escolas. Há uma seção sobre a Internet e seu uso nas escolas e então um relato
das atividades desenvolvidas nas cinco escolas, através do Projeto intitulado
“Projetando o seu futuro”. Utilizou-se o ambiente Teleduc como suporte para as
interações virtuais. A análise do trabalho realizado permitiu afirmar que em relação ao
uso da Internet não se conseguiu fazer com que a comunicação eletrônica tivesse o
alcance planejado. São muitos os problemas técnicos e falta de manutenção dos
laboratórios. Os alunos demonstraram interesse em utilizar a Internet, em especial o
fato de poder habitá-la com registro de sua própria produção. A experiência também
foi uma contribuição para o desenvolvimento profissional dos professores envolvidos.
Palavras-chave: Internet; trabalho com projetos; Educação Matemática.
INTRODUÇÃO
Neste artigo trazemos uma reflexão sobre um trabalho realizado em parceria com
professores de matemática de escolas da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. A nossa
temática de trabalho nos últimos anos tem sido o uso de tecnologia da informação e comunicação
(TIC) nas escolas. Além do uso de software em situações de ensino e aprendizagem de um
determinado conteúdo matemático nos voltamos também para o estudo da Internet. Fala–se muito
da potencialidade dessa tecnologia para transformar a educação escolar. A possibilidade de
acesso a informações diversas e, principalmente, de aproximar pessoas que estão em territórios
distantes é algo pouco explorado no âmbito da escola pública. A reflexão que apresentamos aqui é
uma tentativa de ampliar e contribuir para a discussão sobre esta temática. Iniciamos com uma
seção sobre a Internet e seu uso nas escolas e então seguimos para um relato das atividades
desenvolvidas nas escolas, através do Projeto intitulado “Projetando o seu futuro”.
1
Professora do Departamento de Matemática, IGCE, Unesp, Rio Claro. Coordenadora do Projeto vinculado ao Núcleo de Ensino.
Professora de Matemática de uma das escolas participantes do projeto.
3
Alunos de graduação em Matemática do IGCE envolvidos no projeto.
2
388
A INTERNET NA ESCOLA
A Internet é considerada uma mídia aberta e descentralizada. Cada um pode
acessar o que melhor lhe convir e fazer contato com quem quiser. É possível criar seu próprio
ritmo de navegação2. Não importa a distância nem o local, uma vez conectados, podemos nos
comunicar com pessoas em qualquer parte do mundo. É crescente o uso da Internet nas
atividades diárias e esforços têm sido feitos no sentido de ampliar a possibilidade de seu uso. Hoje
em dia não ter acesso a Internet é um sinal de exclusão social.3
No que diz respeito às escolas seu uso também tem aumentado. No ensino superior
encontramos um destacado avanço. Hoje podemos encontrar várias faculdades que trabalham
com educadores e educandos em lugares diferentes, e horários mais flexíveis, vídeo aulas, vídeo
conferência. Algumas também oferecem plantões de dúvidas na Internet em que um professor
permanece on line durante um período de tempo para que o aluno faça contato. Neste nível de
ensino a Internet tem servido tanto para cursos totalmente a distância como para suporte aos
tradicionais cursos presenciais.
Já no nível fundamental ou médio o uso da Internet está em ritmo lento mas há um
crescimento do interesse governamental em impulsionar a chegada de computadores nas escolas.
Isso é notado em escolas da Rede Pública do Estado de São Paulo em que é possível encontrar
laboratórios amplos com um número razoável de computadores, aparelho de DVD, computador
interligado a TV de 29 polegadas e conexão com Internet banda larga. Importante ressaltar aqui
que a quantidade de escolas neste nível está longe de ser satisfatória.
Em geral são muitos alunos para poucas máquinas. Além disso, mesmo as que
possuem um laboratório de informática adequado à realização de tarefas envolvendo a Internet,
nem sempre o fazem porque a simples disponibilidade de tecnologia não significa garantia de
sucesso desse tipo de atividade. A gestão escolar é fundamental aqui. Muitas vezes a falta de
planejamento da própria escola e as atitudes de coordenadores e diretores podem obstruir as
iniciativas dos docentes. Pode ocorrer intimidações, como por exemplo se a direção atribuir ao
professor a responsabilidade sobre qualquer dano causado nos equipamentos. Que professor de
escola pública quer se arriscar a assumir tal responsabilidade sozinho? Isso acarreta uma
sobrecarga de trabalho que poucos professores estão dispostos a enfrentar. Além da sobrecarga
de trabalho tem também o aspecto da formação. Muitas vezes, talvez na maioria dos casos, a falta
de envolvimento dos professores não é simplesmente para esquivar-se de mais trabalho, e sim por
não ter formação para isso. Por toda essa problemática, o sucesso do uso de TIC nas escolas
2
3
Esta é uma expressão bastante utilizada na literatura: “navegar pela Internet” que significa acessar os vários sites disponíveis.
Uma discussão detalhada sobre esse aspecto é feita por Castells (1996)
389
pressupõe uma alteração na cultura do trabalho docente no sentido de um maior compartilhamento
das ações.4
Não queremos aqui fazer uma apologia ao uso da Internet como algo que vai
melhorar o sistema educacional. Na verdade pouco se sabe sobre as vantagens dessa adoção em
larga escala. É preciso pesquisar e conhecer melhor suas contribuições. Não podemos ter a
ingenuidade de crer que a Internet resolverá todos os problemas da Educação.
Certamente o uso de uma tal tecnologia implica um novo papel tanto para alunos,
quanto para professores. Abre possibilidades para novas abordagens metodológicas tais como os
trabalhos em grupos em torno de um tema. O professor deixa de ser o centro das informações
para o aluno. Muitas coisas o aluno descobre através de sua navegação e traz como contribuição
para a sala de aula. (BORBA & PENTEADO, 2001)
A nossa perspectiva para o uso de Internet na escola é para estimular que os alunos
trabalhem em grupos na investigação de determinados temas e que esse trabalho possa ser
realizado também com a colaboração de pessoas que estão distantes geograficamente da escola.5
A idéia é ampliar a rede de interlocutores dos alunos e professores.
Em uma rede as relações entretecem-se, articulam-se em teias, em redes, construídas
social e individualmente, e em permanente estado de atualização. A rede é constituída
por nós e ligações.(...) As ligações são as relações entre os nós. Os nós e as ligações
(...) criam relações de reciprocidade, de dualidade, de não-linearidade, de múltiplas
articulações, de abertura a mudanças. (MACHADO, 1995 p. 138 apud ALMEIDA, 2000
p.73)
Vejamos algumas ferramentas computacionais que podem ser utilizadas nessa
perspectiva de trabalho colaborativo:
Correio eletrônico
- pode servir como meio de comunicação entre professores e alunos;
- uma maior facilidade de comunicação;
- criação de grupos de discussão.
FTP – Transferência de pastas de dados
- permite compartilhar informações (ex: material de estudo) numa escola ou rede de
escolas;
- recolher dados de bibliotecas informatizadas.
4
5
Penteado (2001) traz uma discussão detalhada sobre os riscos do uso de TIC para os professores.
Atividades denominadas de projetos telecolaborativos. Ver mais detalhes sobre isso em Penteado, Biotto Filho & Silva (2006).
390
Bate papo on line
- fazer conferência sobre temas específicos de uma disciplina ou material de estudo;
- debates entre alunos de diferentes escolas;
Existem vários ambientes computacionais que integram essas ferramentas e são
especialmente desenhados para dar suporte ao trabalho colaborativo pela Internet. Em nossa
pesquisa as escolas utilizaram o ambiente Teleduc6. A seguir descreveremos algumas das
possibilidades deste ambiente para a interação entre alunos e professores:
Em “Material de Apoio” podemos disponibilizar artigos, dissertações, etc;
Geralmente é disponibilizado pelo coordenador da atividade. As discussões podem ser feitas na
sala de bate-papo (link bate-papo). Neste ambiente a comunicação se dá através da escrita e
impera a informalidade. A preocupação não é escrever corretamente o idioma e sim transmitir uma
idéia. A colaboração ocorre de forma síncrona e em tempo real, onde acontece o que Borba &
Penteado (2001)
descrevem
como multiálogo,
o acontecimento de diversos
diálogos
entrecruzados.
Há também a possibilidade de se enviar mensagens de correio eletrônico para todos
ou para apenas um dos participantes com cópia para e-mail externo. Esse tipo de comunicação
acontece de forma assíncrona. Ainda de forma assíncrona pode-se utilizar o ‘fórum’ que permite a
criação de temas de discussão e as pessoas contribuem cada qual conforme seu tempo. As
mensagens ficam disponíveis para todos os participantes. O fórum é organizado por temas.
Há o mural para divulgação de notícias. Existem ainda outras ferramentas tais como
portifólio para que cada participante disponibilize seu material. Segue abaixo uma tela do Teleduc.
6
http://teleduc.unicamp.br/teleduc/
391
A seguir descrevemos as atividades realizadas pelas escolas participantes de nossa
pesquisa.
O TRABALHO NAS ESCOLAS
O trabalho realizado na escola teve como base a perspectiva acima mencionada. O
seu objetivo era ampliar nossa compreensão sobre o uso da Internet em atividades pedagógicas.
Para isso, contatamos escolas que possuíam acesso à Internet, quer na sala de informática ou na
secretaria. Manifestaram interesse e participaram inicialmente do projeto quatro7 escolas da cidade
de Rio Claro e uma da cidade de Araras. A equipe foi formada por professores das escolas,
pesquisadores da Unesp e alunos do curso de licenciatura em Matemática da Unesp. Grande
parte já havia trabalhado em projetos anteriores conosco.
Uma vez definida a equipe, passamos a fazer reuniões semanais para discussão de
como organizar as atividades com os alunos. Nossa idéia era trabalhar a Matemática com base em
problemas não necessariamente matemáticos8. A maioria da equipe já havia estudado aspectos
teóricos dessa abordagem e desenvolvido atividades dessa natureza em projetos anteriores. A
discussão girava em torno de como trabalhar colaborativamente com diferentes escolas.
Passamos um bom tempo discutindo se o tema deveria ser livre de forma que cada aluno
escolhesse sobre o que gostaria de pesquisar, ou seria um tema diferente por escola ou ainda se
seria um mesmo tema para todas as escolas. Decidimos que seria um mesmo tema para todas as
escolas pois achávamos que isso facilitaria a interação entre os alunos já que estariam tratando de
7
Iniciamos com quatro escolas em Rio Claro mas em uma delas o trabalho foi interrompido. Os motivos são expostos na seção sobre o
trabalho nas escolas.
8
Metodologia de trabalho com projetos ou aprendizagem baseada em problemas. Em Inglês a sigla é PBL – problem based learning
392
um mesmo assunto. Uma professora trouxe um material9 com sugestões de temas para trabalhos
dessa natureza. Dois foram os temas que nos chamaram mais a atenção. Um era sobre escolha
profissional, que envolvia pesquisar o mercado de trabalho, salário, vocações e influências. O
outro abordava o assunto consumo, que envolvia a pesquisa sobre Código de Defesa do
Consumidor, cesta básica, comparação de preços, despesas e prazo de validade. Inicialmente
pensamos em fazer uma reunião desses projetos e usar a proposta de atividades que os
acompanhavam. Mas de nossos estudos sobre o trabalho com projetos como prática pedagógica,
entendíamos que aquelas atividades propostas pelo livro eram muito diretivas. Precisávamos de
uma orientação mais aberta de forma a possibilitar diferentes caminhos de investigação por parte
dos alunos. Após muita conversa, decidimos por propor uma situação comum para todos mas a
forma de investigá-la seria discutida e decidida com cada grupo de alunos.
A situação apresentada aos alunos foi a seguinte: Título: Projetando o seu futuro.
"Imagine que você já é adulto, tem uma profissão e precisa investigar sobre as condições para
morar sozinho e se sustentar de forma a viver bem’”.
Investigar isso implicava, dentre outras coisas, escolher e pesquisar uma profissão,
o mercado de trabalho, o que consideravam como viver bem, o que precisavam para morar
sozinho, que gastos teriam e qual um salário para manter uma vida como aquela.
É importante observar que para chegarmos a esta decisão foram necessários vários
encontros, discussões, negociação e simulação do que aconteceria com os alunos. Fizemos isso
presencialmente e também pela Internet. O próximo passo foi pensar na operacionalização. A
primeira questão a ser resolvida era: trabalhar com uma classe toda ou com um grupo de alunos
num horário extra? Tendo em vista o número reduzido de computadores nas escolas e também o
fato de que queríamos uma participação voluntária dos alunos, resolvemos que faríamos em
horário extra-aula com um grupo de nove alunos em média por escola, na faixa etária entre 14 e
17 anos. O trabalho teria a duração aproximada de dez encontros. Durante o desenvolvimento, os
alunos de uma escola fariam contato com os de outra através da Internet. Para isso utilizaríamos o
Teleduc como base de integração do trabalho das cinco escolas. Os grupos deveriam armazenar e
disponibilizar tudo o que produziam durante o projeto, para que se pudesse conhecer o que estava
sendo feito em cada uma das escolas. Podia-se saber o que outros grupos estavam
desenvolvendo, dar sugestões, fazer perguntas e comentários. Ao final do trabalho nas escolas,
haveria um encontro presencial com todos os participantes. Vejamos a seguir o rumo que cada
escola perseguiu.
Escola A
9
Livros da Coleção Educação Matemática, 5ª a 8ª série, Célia Carolino Pires, Edda Curi e Ruy Pietropaolo. Atual Editora, São Paulo,
2002.
393
Esta escola se localiza ao lado da universidade, num bairro afastado do centro da
cidade, e trabalha há muitos anos em parceria conosco. Possui uma boa sala de informática com
cerca de 10 computadores e conexão com Internet banda larga. Muitos professores costumam
usar esta sala para dar aulas, e a direção incentiva e apóia bastante esse tipo de atividade.
Aqui contamos com a participação de dez alunos e foram realizados dez encontros.
Iniciamos com a apresentação da proposta. Em seguida eles escolheram as profissões e
começaram a planejar as atividades que desenvolveriam para projetar o futuro. Nesta escola o
principal instrumento de pesquisa foi a Internet. A maioria dos alunos não tinha acesso a ela em
casa, assim poder usá-la na escola foi essencial para a pesquisa. Ao final de cada encontro, eles
acessavam o Teleduc para arquivar e compartilhar o que descobriam. Vale lembrar que houve um
momento de familiarização com o Teleduc o que não ocupou muito tempo pois ele é muito fácil de
ser usado.
O primeiro passo dos alunos foi pesquisar sobre profissões. Entre as escolhidas
estavam: professor de matemática, engenheiro mecânico, jornalista, dona de loja de roupas,
bióloga, veterinária e ator. Depois eles pesquisaram que estudos eram necessários para
exercerem aquelas profissões, e escolheram as instituições em que estudariam. Também
pesquisaram o mercado de trabalho e o salário. Interessante que durante essas pesquisas muitos
mudaram de profissão e outros optaram por ter duas profissões: uma para se manter, outra para
‘fazer o que gostavam’.
Após a pesquisa das profissões, cada um dos alunos construiu uma tabela (tabela
1) com a previsão de seus gastos mensais. Eles incluíram gastos com produtos de limpeza, de
higiene pessoal, comida, energia elétrica, água, gás, roupas, transporte, produtos pessoais,
aluguel e telefone. Alguns incluíram gastos com Internet (banda larga), plano de saúde e lazer.
Tabela 1 - Tabela de gastos mensais de uma aluna (em R$)
Produtos de limpeza
25,00
Mercado
250,00
Energia elétrica
50,00
Água e esgoto
25,00
Gás
14,00
Roupa
150,00
Transporte
350,00
Produtos pessoais
50,00
Financiamento da casa
350,00
Telefone
50,00
394
Este encontro em que foram planejadas as
despesas gerou muitas discussões que se estenderam
por mais dois encontros.
Uma delas foi sobre os valores a serem gastos:
“Quanto seria gasto por mês em comida? Em telefone?
Em aluguel?...” Eles davam opiniões nos gastos uns dos
Quadro 1 - redação de um aluno
“(...) sou ator de teatro e produtor diretor,
(...) gasto por mês r$2000,00, sei que é
com coisas banais, mas também com
coisas importantes, (...) e sempre lutando
por uma vaga maior em um outro teatro, e
outros e chegavam a um consenso sobre o que é ‘gastar
quem sabe talvez numa novela. (...) a
demais’ (ou insuficientemente) em cada item.
minha casa é financiada (...), pago também
Também foi bastante discutido sobre o que eles
o meu carro em 24 parcelas (...). mas
iriam possuir e como comprariam: “Vou ter automóvel? aonde eu tento economizar e não consigo é
Vou ter quais eletrodomésticos? Eles são econômicos?
no supermercado (...) e todo mês tenho que
Como
comprar pelo menos uma peça de roupa,
vou
comprá-los:
à
vista
ou
a
prazo?...”
Interessante que muitos mudaram suas escolhas depois
destas conversas.
Outro problema foi sobre a compra da casa: “O
que é melhor: comprar ou alugar uma casa? Financiála?...” Para os alunos, o aluguel de uma casa
pois é feio ir sempre ao teatro com a
mesma roupa. (...) passei por situações
críticas
para
estudar
cinema
e
artes
cênicas. agora quero fazer medicina, afinal,
foi um dos meus primeiros sonhos. nos fins
de semana vou visitar a minha mãe. e lá vai
aumentava muito o valor das despesas. E era muito gasolina. (...) quase não sobra nada para
Quadro 2 - Redação de uma aluna
“(...) Tenho 25 anos. Cursei uma
caro comprar uma.
mim, mas tenho tudo (quase) que sempre
Uma
sonhei. (...) sempre que posso ajudo a
aluna
até
minha mãe. (...)”
faculdade. (...) morei com meus
chegou a dizer: “O
pais até conseguir um emprego fixo,
melhor é eu ficar morando com meus pais!”
(...)
hoje
sou
formada
em
administração, tomo conta de minha
No nono encontro, eles compararam seus salários e
própria loja que consegui com a
suas despesas e analisaram quais os ajustes que poderiam
ajuda de meus pais. Tenho minha
fazer, caso fossem necessários.
casa própria que consegui comprar
com meu salário. Mobiliei minha
casa por partes, comprando uma
coisa por vez, sem pressa. Gasto,
por mês, em média, R$ 1311,00,
No décimo encontro foi solicitado que eles fizessem
uma redação. Deveriam tratar sobre os planos para o futuro e
incluir o que tinham pesquisado nos encontros passados sobre
os salários e as despesas10.
com (...)”
10
Veja Quadro 1 e Quadro 2.
395
Escola B
Esta escola se situa na periferia da cidade e a maior parte dos alunos que a
freqüenta é de classe econômica não muito favorecida. Da mesma forma que na escola anterior,
aqui participaram dez alunos. A escola possui sala de informática, mas seus computadores não
são conectados à Internet. Na secretaria havia um computador conectado a Internet mas somente
em dois encontros eles conseguiram usar esse computador para conhecer o Teleduc. A maioria
das informações sobre o projeto era disponibilizada pela professora a partir de acesso a Internet
de sua casa. Durante os encontros, que aconteciam em período contrário ao das aulas dos alunos,
eles se reuniam e relatavam o que haviam pesquisado sobre suas profissões. O principal meio de
pesquisa deles foi entrevistar profissionais relacionados à sua escolha; também usaram guias de
profissões e ajuda de professores que conheciam melhor a profissão.
Os alunos calcularam e anotaram os gastos mensais e também os gastos que
teriam com móveis, eletrônicos e utensílios domésticos. Alguns alunos foram bastante detalhistas
nesta atividade. Por exemplo, um deles pensou em: garfos, xícaras, toalhas, pano de prato, etc.
Ele tentou pensar em tudo o que se precisa em uma casa. Além disso, ele teria uma casa muito
bem equipada: com computador, TV 29", DVD, etc. Outra aluna chegou até mesmo a fazer a
previsão de quantas escovas de dentes teria que comprar. Ainda outro calculou quanto precisava
para comprar uma casa, pois queria financiar uma, visto que achava o aluguel muito caro; ele fez
uma previsão para saber por quanto tempo teria que depositar 300 reais por mês na poupança
para ter o dinheiro para comprá-la. Enquanto que para outro aluno poucas coisas tais como: uma
cama - esqueceu o colchão - TV, sofá, fogão, eram suficientes para viver bem. Segue alguns
destaques do trabalho que os alunos desenvolveram nesta escola.
Profissão escolhida: Psicóloga
Pessoa entrevistada: Uma tia que é psicóloga. Ela tinha bastante pacientes, mas passou a morar em outra
cidade e a ter apenas três pacientes.
Formação: É necessário fazer o curso de Psicologia que dura 5 anos (na faculdade que a tia fez). A tia
possuía uma bolsa de estudos e tinha apenas as despesas com o transporte (a faculdade era numa cidade
vizinha). Segundo ela, nos dois primeiros anos são estudadas disciplinas como Matemática, Português e
Ciências, e depois se estudam as matérias específicas da Psicologia.
Salário: Depende do número de pacientes que a pessoa tiver.
Comentário: Este item gerou uma discussão interessante. A aluna conversou com sua tia por telefone. A tia
deu o exemplo: “se ela tivesse 10 pacientes, com uma sessão por semana, cobrando R$ 50,00 por
sessão...”. A aluna responde: “então ela irá ganhar R$ 500,00 por semana”. A conversa com a tia continuou,
e a aluna foi anotando algumas contas em seu caderno. Durante o encontro ela reviu em seu caderno: 4 x
500 = 2000, mas ela não sabia por que havia anotado: “Eu não sei de onde saiu isso: 4 x 500 = 2000”. O
grupo raciocinou: “Se ela tivesse 10 pacientes, quanto ganharia por semana? Quantas semanas têm em um
mês? Quanto ela ganharia por mês?”.
Local de trabalho: A pessoa precisa ter um consultório ou uma clínica. Mas, no início até ela conseguir
dinheiro suficiente para montar o consultório, pode trabalhar na Prefeitura, dando assistência aos alunos das
escolas públicas que precisarem de atendimento. Isso levantou a seguinte questão: “O que é preciso para
trabalhar na Prefeitura? Há vagas? Não é sempre que a Prefeitura contrata psicólogos”.
396
Profissão escolhida: Administrador de Fazendas
Pessoa entrevistada: Um funcionário de uma universidade e um fazendeiro.
Formação: O funcionário da universidade o informou que poderia fazer um curso de Administração, de
Agrimensura ou de Zootecnia. Já o fazendeiro, disse que ele não precisa fazer nenhum curso: “é só ir ao
sítio, começar a trabalhar, aprender o serviço e tentar arrumar um emprego de administrador de fazendas”.
Salário: Segundo o fazendeiro, o salário pode chegar a R$ 3.000,00. E segundo o funcionário, R$
10.000,00. O aluno ficou bastante entusiasmado com esses valores!
Escola C
Esta é uma das principais escolas de Rio Claro, situada no centro da cidade, que
recebe em sua maioria alunos de bairros próximos com um nível social um pouco mais elevado do
que os das outras escolas envolvidas no projeto. A sala de informática possuía oito computadores,
ligados em rede, mas sem acesso a Internet.
Houve uma proposta da direção para que o trabalho envolvesse as turmas do
período da manhã e da noite. Decidiu-se trabalhar com 10 alunos do período da manhã, com
participação voluntária e envolver uma classe toda do período da noite – 40 alunos. Foi um grande
desafio envolver esse número de alunos com participação compulsória.
Nessa turma a idade dos alunos estava entre 18 e 24 anos. A professora de
matemática era a mesma para o período da manhã e da noite. Para amenizar o problema de falta
de espaço e de computadores no laboratório de informática, a turma foi dividida em cinco grupos
com uma média de oito alunos em cada um sendo que três grupos trabalhavam em uma aula
dupla e dois em outra, dividindo assim a turma entre o laboratório de informática e a sala de aula
com a professora. No laboratório de Informática, as atividades eram orientadas por dois alunos da
graduação da Unesp.
Abaixo o exemplo de uma apresentação de uma aluna do noturno:
Oiiieeeeeee.
11
Meu nome é Maria , estou no 3°D na escola XXX.
Nasci em Bambuí –MG mas moro em Rio Claro há 8 anos.
Tenho como perspectiva do meu futuro fazer faculdade de DANÇA, mas prestar vestibular para
dança esse ano será quase impossível, porém estou indecisa entre Biologia ou Educação Física, mas eu
não sei nadar para prestar Educação Física. Contudo tenho preferência por Educação Física e depois me
especializar em dança e no futuro abrir uma Academia de dança Evangélica. e trabalhar com projetos
Sociais em Presídios, Febens e Favelas.
Os alunos do noturno, em geral, já trabalham, porém nenhum deles tomou sua
profissão atual como a desejada para o futuro. Outro ponto de destaque é que a maioria já tinha
familiaridade com os computadores e isso facilitou o trabalho.
11
Nome fictício
397
Devido ao grande número de alunos, as atividades foram mais dirigidas se
comparadas com as das outras escolas. Embora tenha havido uma boa participação, é importante
ressaltar que nem todos estavam interessados. Isso ficou explicito pela excessiva ausência dos
alunos nas aulas, em particular na véspera de feriados. É importante lembrar que na turma da
noite os alunos não tinham a opção de não participar do projeto.
Com a turma da manhã o trabalho foi desenvolvido durante doze encontros e
envolveu dez alunos da terceira série do ensino médio com idade entre 17 e 19 anos. Houve um
grande número de interessados e foi preciso fazer uma seleção. O projeto foi desenvolvido durante
as aulas de matemática: das cinco aulas semanais, duas foram dedicadas ao projeto. A idéia era
estudar o conteúdo de matemática financeira no contexto da situação problema proposta.
Enquanto esse grupo trabalhava no projeto, o restante da classe ficava trabalhando com a
professora na sala de aula.
O primeiro encontro foi dedicado à discussão da situação proposta e da
necessidade de pesquisa. Foi surpresa perceber que muitos alunos já tinham em mente suas
profissões e até alguns planos para alcançá-las. Uma vez definida a profissão, iniciou-se a fase de
pesquisa. Como a escola estava sem Internet, essa fase foi feita em casa pelos alunos. Os que
não possuíam acesso a Internet, eram auxiliado pelo material levado pelos orientadores. Este
material era composto de revistas, jornais e panfletos.
Nos encontros seguintes, foram discutidos os resultados das pesquisas sobre os
salários, mercado de trabalho e a formação necessária. Isto foi feito no laboratório de informática,
os dados foram preparados para serem posteriormente adicionados ao Teleduc.
Abaixo segue a apresentação de um aluno.
398
Posteriormente, a discussão girou em torno do que se entendia por “viver bem” e a
conclusão foi a de que era preciso ter uma harmonia entre boa situação financeira e boa saúde. A
partir dessa discussão cada um elaborou uma lista sobre o que necessitaria para viver bem. Essa
lista também foi objeto de discussão na sala. Por que precisamos disso ou daquilo? A seguir,
fizeram um levantamento do custo de vida que haviam planejado. Neste momento o acesso à
Internet na escola fez muita falta. Para auxiliar, foram fornecidos diversos jornais e panfletos de
lojas com artigos que continham nas listas.
Os alunos perceberam que várias listas eram impossíveis de serem mantidas com o
salário que receberiam. Alguns incluíram aplicação na poupança, e calcularam os juros para a
compra de um imóvel e o parcelamento em lojas. Fizeram até um ‘projeto de casamento’. Nesse
momento o conteúdo de matemática financeira foi importante. Utilizamos os computadores em
quase todo o projeto com planilhas de cálculos e produção de textos.
Chegou-se a um ponto em que os próprios alunos teriam que decidir sobre o ‘rumo’
de suas vidas, principalmente aqueles que concluíram que o salário não supria as despesas. A
solução tomada por alguns foi diminuir a lista de consumo. Outros, optaram por mudar a profissão.
Em geral o trabalho nessa escola transcorreu bem apesar da deficiência do
laboratório de informática. O laboratório possuía oito máquinas e ao final do projeto elas foram se
danificando e apenas três estavam operando.
ESCOLA D
Esta escola também está situada em um bairro de periferia de Rio Claro e tem aulas
nos períodos da manhã, da tarde e noite. Iniciamos nosso trabalho com alunos do período da
manhã. Neste período funcionam salas do 2º. Ciclo do Ensino Fundamental. Optamos por alunos
com mais de 13 anos, ou seja, os que cursavam as 7ªs e 8ªs séries. Eles deveriam voltar à escola
no período da tarde para desenvolver as atividades.
A seleção dos alunos foi feita pela professora de Matemática a partir de conversas
com eles na sala de aula. Nem todos os alunos podiam voltar para a escola para atividades extras,
porque trabalhavam ou porque não tinham quem os trouxessem até a escola. Com tudo isso
considerado, oito alunos manifestaram interesse em participar. A administração da escola
colaborou bastante com o projeto. Apesar de se interessar por este tipo de parceria, ela raramente
o faz, pois está localizada em um bairro muito distante da universidade.
O primeiro encontro foi utilizado para uma atividade de familiarização com o
computador já que poucos sabiam utilizá-lo. Contou com a participação de seis alunos. Iniciar com
o computador e explorar a Internet fascinou os alunos presentes. Aproveitou-se essa oportunidade
para providenciar um endereço de e-mail para quem ainda não o possuía.
399
O segundo encontro contou com apenas quatro alunos, e foi dada a continuidade na
exploração de sites de busca na Internet e como utilizar o Teleduc. Houve uma conversa com os
alunos sobre a necessidade de presença nos encontros. A professora de Matemática se
comprometeu a auxiliá-los nas pesquisas em horário de aula.
Abaixo segue a profissão escolhida e a apresentação no Teleduc de um aluno desta
escola:
A partir desse encontro a situação tomou um rumo desfavorável para a continuidade
das atividades. Houve uma interrupção por coincidir com feriados. Além disso, vários encontros
tiveram que ser cancelados porque a prioridade do uso da sala de informática tinha sido dada para
projetos de recuperação de alunos com rendimento insuficiente em outras disciplinas. Não
conseguimos retomar as atividades com os alunos e o trabalho foi suspenso a partir do segundo
encontro.
ESCOLA E
A escola E é situada no centro da cidade de Araras e recebe estudantes de vários
bairros da periferia e também do centro da cidade É uma escola que, assim como a maioria das
escolas, segundo os professores, apresenta muitos problemas de disciplina. Participaram do
projeto doze alunos, com faixa etária entre 14 e 16 anos de idade. Vale ressaltar que não houve
qualquer problema relacionado à indisciplina entre os participantes durante o projeto.
Os encontros semanais eram realizados no período contrário ao horário de aula. O
local dos encontros alternava entre a sala de informática e a sala de aula. Nas reuniões realizadas
na sala de aula eles sentavam em círculos e discutiam o tema e os assuntos específicos do
projeto. Na sala de informática, eles utilizavam os computadores conforme a necessidade.
Primeiramente, o tema foi exposto aos estudantes e iniciou-se a pesquisa sobre as
profissões. Foram levantados aspectos tais como o salário, mercado de trabalho, a qualificação
necessária entre outros. Depois os alunos expuseram e discutiram o que pesquisaram. Mas os
dados das pesquisas e das discussões não estavam sendo registrados. Por isso, distribuímos
400
fichas para serem preenchidas a fim de facilitar a fase de registro das informações. As fichas
constavam do seguinte:
Você agora é um profissional, descreva:
Sua profissão;
Seu salário;
Seu nível de escolaridade;
Mais detalhes que julgar importante sobre sua profissão.
Você vive sozinho e é o profissional que escolheu, diga o que é necessário para viver bem e descreva seus
gastos mensais.
No decorrer das pesquisas, alguns alunos resolveram mudar de profissão e outros
demoraram mais tempo que os demais para definir a escolha. Quando começaram a analisar o
custo de vida, todos eles se lembravam de gastos com celular, roupas, passeios, mas, por outro
lado, eles não tinham muita noção do que precisava para se alimentar durante um mês, isso
produziu grande discussão entre os alunos para que pudessem fazer esta análise. Ao compararem
os gastos e o salário perceberam que apenas uma aluna tinha os gastos dentro de seu orçamento.
Neste momento, passaram a repensar as escolhas feitas, tanto de profissão, como, e
principalmente, dos gastos, até poderem chegar num equilíbrio entre despesas e salário.
Inicialmente, tentou-se utilizar a Internet para pesquisa na escola. Porém, isso não
foi possível porque dos dez computadores disponíveis apenas dois permitiam o acesso à Internet,
e mesmo esses, tinham a conexão muito lenta. No restante dos computadores a conexão era
interrompida antes mesmo de se conseguir acessar o Teleduc. Por isso, os alunos passaram a
usar a Internet em casa, e aqueles que não tinham esse acesso, o faziam em lan houses12. Além
da Internet, os alunos entrevistaram profissionais da área e parentes. Também pesquisaram em
jornais, revistas e publicações das universidades.
Devido ao problema de lentidão dos computadores no acesso à Internet os alunos
tiveram dificuldade no processo de alteração da senha do Teleduc. Com isso só começaram a
interagir com os alunos das demais escolas a partir da terceira semana.
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são lojas que cobram um valor por hora para se utilizar o computador com acesso a Internet.
401
ENCONTRO PRESENCIAL
O encontro presencial, para encerramento das atividades, aconteceu no dia 1 de
dezembro, nas dependências do Departamento de Matemática. Todas as escolas participantes
enviaram representantes. Muitos alunos não conheciam a universidade e estavam bastante
ansiosos com esta visita. Até mesmo um aluno que não participou do projeto pediu para ir ao
encontro.
Cada grupo liderado pela professora fez uma apresentação em power point. Depois
cada um dos alunos falava um pouco da profissão escolhida, do futuro planejado, e também da
sua própria atuação no projeto (como pesquisou, etc). Os que estavam assistindo podiam fazer
questionamentos.
Veja abaixo a foto de um slide de uma das apresentações.
402
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo relatamos um trabalho que buscou inserir o uso da Internet para dar
suporte ao processo de interação entre alunos de diferentes escolas. Descrevemos como as
atividades ocorreram em cada escola e as dificuldades encontradas.
A abordagem baseada numa situação problema e a forma como foi conduzida
possibilitou aos alunos uma reflexão matemática diferente das que acontecem normalmente nas
salas de aulas. No momento em que os alunos tiveram que tomar decisões sobre comprar ou
alugar uma casa, e dizer de onde sairia o dinheiro para isso, houve uma reflexão Matemática muito
importante, que envolveu juros, rendimento de poupança e a perda do dinheiro do aluguel. Os
alunos criaram estratégias sobre aquisição de casa própria e como equipá-la. Houve quem, por
exemplo, planejou até que usaria os móveis da mãe dele (de uma loja de móveis usados que ela
tem) e que conforme fosse comprando os seus, devolveria os da mãe. Uma menina queria ser
professora de 1ª a 4ª série. Mas como sobreviver com R$ 750,00? No começo, quando ela viu o
salário, achou que fosse muito. Quando fez a relação de suas despesas mensais, viu que os 750
reais não eram suficientes para a vida que havia planejado. Daí começou a cortar despesas: “Ah,
não! Não preciso ficar tanto tempo no banho! Vou tirar um pouco em energia elétrica” e assim os
demais fizeram o mesmo.
Ainda sobre a estratégia adotada pareceu-nos que a participação voluntária traz
resultados muito melhores do que a compulsória. Isso ficou evidente na escola em que tivemos a
participação de uma classe toda. Houve muita falta e interrupções. Assim, fica o desafio de como
implementar uma abordagem de trabalho com projetos na escola de maneira que envolva um
número maior de alunos. Há que se pensar em ambientes diferenciados do que usualmente temos
com aulas de 50 minutos. Também se pensar o papel do professor como orientador em atividades
dessa natureza.
Outro ponto a ressaltar é o encontro presencial em que os grupos tiveram que fazer
uma apresentação pública como resultado do que discutiram nas escolas. Isso gerou ansiedade
mas de uma forma muito positiva. Eles expuseram algo que produziram. O trabalho de escola não
ficou guardado na gaveta do professor. Consideramos isso muito importante quando se trabalha
com projetos em escolas.
Com relação ao uso da Internet, percebemos que apesar de um planejamento
cuidadoso, não conseguimos fazer com que a comunicação eletrônica tivesse o alcance que
imaginávamos. São muitos os problemas técnicos e falta de manutenção dos laboratórios. Porém,
a experiência vivida traz indícios de que é importante continuar nesta direção. Os alunos
403
demonstraram interesse em utilizar a Internet, em especial o fato de poder habitá-la13 com registro
de sua própria produção. O fato de ser autor nos pareceu mais importante para os alunos do que o
de ser consumidor de informações disponíveis. A Internet nos possibilita essas duas opções.
Principalmente os alunos com poder aquisitivo menor, aqueles que não têm acesso
à Internet em casa, se sentiram valorizados por poderem participar desse trabalho. Não podemos
fechar os olhos ao que acontece fora dos muros escolares, o mundo todo se encontra interligado e
através da Internet é possível saber o que acontece do outro lado do planeta numa fração de
segundos. Nossos alunos sabem disso. A Internet pode ser utilizada de forma a promover novos
ambientes de aprendizagem na escola e também promover a inclusão digital de alunos com
situação econômica menos favorecida.
Cabe aqui também falar da relevância que esse trabalho teve para o
desenvolvimento profissional de todos os envolvidos: professores, alunos e pesquisadores. O
trabalho com projetos, embora bastante disseminado nas escolas brasileiras, implica em muitos
desafios e maneiras novas de organizar a aprendizagem. A inserção do uso de tecnologia
informática traz um elemento a mais que requer o enfrentamento de várias situações imprevisíveis
como pudemos ver na seção anterior. Para tudo isso é preciso ter profissionais disponíveis a
correr risco dessa natureza.
Finalizamos com a sugestão de que outros trabalhos continuem nessa direção de
forma a compreender melhor a complexidade do ambiente escolar com a inserção de tecnologia
informática e criar demandas para que a escola pública possa ter condições de oferecer esse tipo
de acesso aos seus alunos.
13
Aqui nos baseamos no trabalho de Garcia, 2005
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Monteiro, A. & Pompeu Junior, G. A Matemática e os Temas Transversais. São Paulo: Moderna,
2001.
Penteado, M. G. Redes de Trabalho: Expansão das Possibilidades da Informática na Educação
Matemática da Escola Básica. Educação Matemática: Pesquisa em Movimento. São Paulo: Cortez,
2004.
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Formação de Educadores. São Paulo: Avercamp, 2003.
405
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A INTERNET NA ESCOLA COMO SUPORTE PARA