Parabéns aos 185 alunos do CPV
aprovados na GV 1a Fase-maio-2003.
LÍNGUA PORTUGUESA
01. (Peso: 10%) A frase abaixo foi extraída de recente anúncio para a venda de um imóvel. Comente o uso que nela se faz do pronome
demonstrativo isso.
— Isso aqui é o Paraíso.
Resolução: O pronome demonstrativo “isso”, quando usado para identificar objetos no espaço, indica algo que se encontra próximo da
segunda pessoa do discurso, ou seja, aquele com quem se fala. No anúncio, a primeira pessoa é o vendedor; a segunda, o consumidor; a
terceira, o imóvel. Assim, o vendedor aponta o imóvel, que se aproxima do consumidor. É preciso lembrar, no entanto, que os pronomes
demonstrativos têm largo uso expressivo na oralidade e que, em propagandas, a linguagem utilizada pretende aproximar-se da variante
lingüística do público. Portanto, pode-se afirmar que o uso do demonstrativo faz referência, em confronto com outras, a coisa mais presente,
mais do momento.
02. (Peso 10%) Diga, da perspectiva da norma culta, se a frase abaixo está correta ou incorreta. Justifique sua resposta.
Este livro trata-se da melhor forma de você se divertir sem gastar muito.
Resolução: De acordo com a norma culta, o verbo “tratar-se”, quando significa “estar”, é impessoal, ou seja, não possui sujeito. Na frase em
destaque, “Este livro” é sujeito da oração, de modo que era necessário mudar o verbo, como se observa em “Este livro é a melhor forma de
divertir-se sem gastar muito”. Omitiu-se o pronome de tratamento “você” que, na oralidade, costuma indeterminar o sujeito.
03. (Peso 7%) Observe as palavras das três séries abaixo. Formule a regra que explica o som do s em cada uma dessas séries.
a) Casa, mesa, pisa, dengosa, usa, franceses, preciso, sisudo.
b) Cansado, perseguir, absoluto, pulso, pseudônimo, corsário.
c) Transamazônica, transeunte, trânsito, transoceânico, transumano.
Resolução:
No item a, o fonema | s | possui som sibilante brando, que corresponde ao do “z”, pois encontra-se entre vogais.
No item b, o fonema | s | tem som sibilante forte, que corresponde a “ss”, pois está no meio da palavra, precedido por consoante e seguido
de vogal.
No item c, o fonema | s | tem som sibilante brando, “que correspondente ao do “z”, porque as palavras apresentam o primeiro elemento
“trans”, em que o “n” representa mero sinal de nasalização; portanto, é como se o fonema | s | estivesse entre duas vogais, “uma nasal e outra
oral”.
04. (Peso 14%) Leia a frase abaixo. Se ela estiver bem articulada, transcreva-a no espaço de resposta. Se estiver mal articulada, transcreva-a,
fazendo a correção.
Tem chovido muito ultimamente. Por causa da chuva ocasiona muitos acidentes na estrada.
Resolução: Tem chovido muito ultimamente. Por causa disso, ocasionam-se muitos acidentes na estrada.
05. (Peso 14%) Os termos da frase abaixo apresentam paralelismo? Explique e, se necessário, reformule o período.Ao entrar na sala, mostrou
boa inflexão de voz, não estar insegura e firmeza nos movimentos.
Resolução: Ocorre falta de paralelismo entre os complementos do verbo “mostrar”: o primeiro e o terceiro têm núcleo substantivo; o
segundo é uma oração. Reformulado adequadamente, o período será “Ao entrar na sala, mostrou boa inflexão de voz, segurança e firmeza nos
movimentos” ou “Ao entrar na sala, mostrou ter boa inflexão de voz, não estar insegura e ser firme nos movimentos”.
06. (Peso 7%) Na língua portuguesa há palavras que são expletivas, isto é, são utilizadas para realce. Isso ocorre, por exemplo, com as palavras
só, se e que em, respectivamente, olha só o que aconteceu, ele foi-se embora e evidentemente que ele não saiu hoje.
Transcreva os períodos abaixo, eliminando as palavras expletivas.
Marcel disse que não jogaria os dados, só se fosse desafiado. Depois, arrependeu-se. Resolveu desafiar a todos, ele mesmo. Ao
voltar-se, tropeçou, quase que caiu, mas conseguiu endireitar-se. Por pouco que não caiu sobre Alzira.
Resolução: Marcel disse que não jogaria os dados, só se fosse desafiado. Depois, arrependeu-se. Resolveu desafiar a todos. Ao voltar-se,
tropeçou, quase caiu, mas conseguiu endireitar-se. Por pouco não caiu sobre Alzira.
Leia o texto abaixo, fragmento de um conto chamado “A Nova Califórnia”, de Lima Barreto. Depois, responda às perguntas correspondentes.
1.
Ninguém sabia donde viera aquele homem. O agente do correio pudera apenas informar
2. que acudia ao nome de Raimundo Flamel (..........). Quase diariamente, o carteiro lá ia a um dos
3. extremos da cidade, onde morava o desconhecido, sopesando um maço alentado de cartas
4. vindas do mundo inteiro, grossas revistas em línguas arrevesadas, livros, pacotes...
5.
Quando Fabrício, o pedreiro, voltou de um serviço em casa do novo habitante, todos na
6. venda perguntaram-lhe que trabalho lhe tinha sido determinado.
7. — Vou fazer um forno, disse o preto, na sala de jantar.
8. Imaginem o espanto da pequena cidade de Tubiacanga, ao saber de tão extravagante
9. construção: um forno na sala de jantar! E, pelos dias seguintes, Fabrício pôde contar que vira
10. balões de vidros, facas sem corte, copos como os da farmácia — um rol de coisas esquisitas a se
11. mostrarem pelas mesas e prateleiras como utensílios de uma bateria de cozinha em que o
12. próprio diabo cozinhasse.
07. (Peso 10%) Explique o uso que têm os advérbios donde (Linha 1), onde e aonde, segundo a norma culta da língua portuguesa. Formule uma frase para cada um
desses advérbios.
Resolução: O pronome relativo “onde” funciona como adjunto adverbial de lugar de verbos que não expressam movimento e pode ser substituído por “em que”.
Exemplo: “A casa onde/em que moro será demolida.”
O termo “donde” é uma combinação da preposição “de” com o pronome “onde” e pode ser usado como adjunto adverbial de verbos que expressam movimento
e exigem tal preposição.
Exemplo: “Você vem donde/de + onde?”
Processo semelhante ocorre com o termo “aonde”, combinação da preposição “a” e do pronome “onde” exigida por verbos de movimento, como o do exemplo:
“Vou aonde me levam”.
08. (peso 7%) Explique por que a forma verbal pôde (Linha 9) traz acento circunflexo.
Resolução: A forma verbal “pôde”, no passado, recebe acento para diferenciá-la da forma verbal “pode” no presente. O uso do acento circunflexo justifica-se pelo
timbre fechado do “o”.
09. (peso 7%) Com a palavra casa, no sentido de lar, ocorre um fato curioso na língua portuguesa: quando utilizada nesse sentido, sem qualquer modificador, não é
acompanhada por artigo definido feminino. Por exemplo, diz-se estou em casa e não estou na casa. Contudo, quando é seguida por algum modificador, vem o
artigo a acompanhá-la: venho da casa (de + a) de José.
Por outro lado, na linguagem familiar, costuma-se dizer vou na escola em vez de vou à escola, contrariando a norma culta que manda usar a preposição a com
verbos que indicam movimento.
Pergunta-se: no exemplo abaixo deve ou não ocorrer o acento indicador da crase? Explique.
Vou à casa do novo habitante da cidade.
Resolução: Deve ocorrer o acento indicador da crase, porque na oração em destaque a palavra “casa” não possui o sentido de lar e admite artigo “a”, modificada
que está pelo adjunto adnominal do novo habitante da cidade.
10. (peso 7%) Nas frases abaixo, a palavra venda tem o mesmo sentido e a mesma classificação? Explique.
• Quando Fabrício, o pedreiro, voltou de um serviço em casa do novo habitante, todos na venda perguntaram-lhe que trabalho lhe tinha sido determinado
(Linha 6).
• A venda do veículo foi feita pela Internet. Os documentos foram solicitados ao Departamento de Trânsito, que os enviou imediatamente.
Resolução: Na primeira ocorrência, a palavra “venda” classifica-se como núcleo do adjunto adverbial de lugar “na venda” e tem sentido de “loja”, estabelecimento
comercial. Na segunda ocorrência, “venda” é núcleo do sujeito e tem o sentido de “ação de vender”.
11. (peso 7%) Observe as frases abaixo. Entre elas há diferença na função sintática das palavras Fabrício e pedreiro. Explique essa diferença.
• Quando Fabrício, o pedreiro, voltou de um serviço... (Linha 5)
• Quando o pedreiro Fabrício voltou de um serviço...
Resolução: Na primeira ocorrência, “Fabrício” é núcleo do sujeito e “pedreiro” é seu aposto. Na segunda, ocorre o inverso: “pedreiro” é núcleo do sujeito e
“Fabrício” é o aposto. Define-se aposto como termo de núcleo substantivo, que modifica seu antecedente também substantivo. Dessa forma, a inversão dos
termos implica a inversão de sua classificação.
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