ISSN 2176-9095 Volume 4 • Número 3 • set/dez 2013 Volume 4 • Número 3 • set/dez 2013 Sumário/Contents RELATO DE PESQUISA/RESEARCH REPORTS Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí The profile and performance of the physical therapists of the Centers of Support for Family Health (NASF) in the city of Parnaíba- Piauí Mariana de Souza Costa, Carlos Eduardo Rodrigues Castelo Branco, Mara Dayanne Alves Ribeiro, Euriene Maria de Araújo Bezerra, Ana Karine de Figueiredo Moreira, Marcelo de Carvalho Filgueiras.......................................129 Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil Enteroparasites in food handlers of some public schools in the cities of Luz and Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brazil Alan Carvalho Caetano Moura, Daniel Moreira de Avelar.............................................................................................138 Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca Assessment of guideline of nursing in perioperative cardiac surgery Giuliano Michel Mussi, Kelly Medeiros de Souza, Marli da Silveira Félix...........................................................................147 ARTIGOS DE REVISÃO/REVIEW ARTICLES Admissões em centro cirúrgico classificadas por especialidade de pacientes em situações de emergência: um breve estudo observacional Surgical center admissions classified by specialty for patients in emergency situations: a brief observational study José Roberto Souza Pereira, Evanilza Borges Alves, João Victor Fornari, Anderson Sena Barnabé, Renato Ribeiro Nogueira Ferraz.....................................................................................................................................164 MINI REVISÃO/MINI REVIEW Comparação entre a taxa de sobrevida do enxerto renal oriundo de doador cadáver e doador vivo Comcparison of renal allograft survival rate from cadaver donors and from living donors Jéssica Suller Garcia, João Victor Fornari, Daniele Rodrigues, Renato Ribeiro Nogueira Ferraz, Maria Jose Leonardo, Daniela Angelo, Demetrius Paiva Arçari, Israel Silva, Anderson Bernabé............................................................................169 Cisto ósseo traumático mandibular: relato de caso Mandibular traumatic bone cyst: case report Tiago Estevam de Almeida, João Paulo Silveira Gandara, Gabriel Helene Cainelli, José Antonio Scrocco da Silva, Caio Maximiano de Oliveira, Maria Luiza Ramos de Carvalho, Rodrigo Ippolito Bouças, Marcelo Augusto Fontenelle Ribeiro Jr, Eduardo Achar.................................................................................................................................................173 Instruções aos autores........................................................................................................................................179 Science in Health A Science in Health é a revista de saúde da Universidade Cidade de São Paulo com publicação quadrimestral. Rua Cesário Galeno, 432 / 448 - CEP 03071-000 - São Paulo - Brasil Tel.: (11) 2178-1200/2178-1212 Fax: (11)6941-4848 • E-mail: [email protected] Reitor Prof. Dr. Luiz Henrique Amaral Pró-Reitora de Graduação Prof . Dra Amélia Jarmendia Soares a Apoio Editor chefe Joaquim Edson Vieira Vice editor Rodrigo Ippolito Bouças Assistente Editorial Mary Arlete Payão Pela Normalização e revisão Claudia Martins Edevanete de Jesus de Oliveira Editoração Eletrônica Vinicius Antonio Zanetti Garcia [email protected] Revisão do idioma português Antônio de Siqueira e Silva [email protected] Corpo Editorial por Secção 1. Biomedicina Editor Sênior: Márcio Georges Jarrouge mjarrouge@ unicid.br / [email protected] Editores Associados: Ana Cestari, Marcia Kiyomi Koike, Rodrigo Ippolito Bouças. 2. Ciências Biológicas e Meio Ambiente Editor Sênior: Prof. MS Alex Souza da Silva alex.silva@ unicid.edu.br Editores Associados: Ana Lúcia Beirão Cabral, Maurício Anaya, Sandra Maria Mota Ortiz 3. Ciências Sociais Aplicadas: Editor Sênior: Wagner Pagliato [email protected] Editores Associados: Edileine Vieira Machado da Silva, Eduardo Ganymedes, Julio Gomes de Almeida, Marco Antonio Sampaio de Jesus, Rinaldo Zaina Junior, Roberta de Cássia Suzuki, Wanderley Gonçalves 4. Educação Física Editor Sênior: Roberto Gimenez [email protected] Editores Associados: Marcelo Luis Marquezi, Maurício Teodoro de Souza 5. Enfermagem Editor Sênior: Wana Yeda Paranhos wana.paranhos@ unicid.edu.br Editores Associados: Patricia Fera, Fabiana Augusto Neman, Adriano Aparecido Bezerra Chaves 6. Fisioterapia Editor Sênior: Profa. Célia Regina Gazoti Debessa celia. [email protected] Editores Associados: Sérgio de Souza Pinto, Fábio Navarro Cyrillo, Renata Alqualo Costa, Alexandre Dias Lopes 7. Medicina Editor Sênior: José Lúcio Martins Machado [email protected] Editores Associados: Jaques Waisberg, Sonia Regina P. Souza, Edna Frasson de Souza Montero, Marcelo Augusto Fontenelle Ribeiro Júnior, Stewart Mennin 8. Odontologia Editor Sênior: Cláudio Fróes de Freitas claudio.freitas@ unicid.edu.br Editores Associados: Eliza Maria Agueda Russo, Rivea Ines Ferreira 9. Tecnologia em saúde Editor Sênior: Willi Pendl [email protected] Editores Associados: Waldir Grec, Rodrigo de Maio, Sergio Daré, Aníbal Afonso Mathias Jr Prezado leitor E D I T O R I A L Alcançamos, com muita satisfação, o número 3 deste volume IV, na 12ª edição da Science in Health. Temos uma grande expectativa para o 5º ano de vida desta estimada e ainda jovem revista de divulgação científica da Universidade Cidade de São Paulo – Cruzeiro do Sul Educacional. E também, para progredir, a Revista em um formato de Quarterly Journal, com quatro edições anuais, ampliando sua participação neste vibrante ambiente universitário. Tal perspectiva depende fortemente da excelência dos autores que escolhem a Science in Health. Essa excelência pode ser acompanhada na leitura, nesta 12ª edição, do artigo de Souza Costa e colaboradores, que entrevistaram fisioterapeutas de Equipes de Saúde da Família, em Parnaíba/PI. A investigação sugere um descompasso entre a formação profissional e a realidade dos serviços da Saúde Pública e a importância da preparação e qualificação desses profissionais para o atendimento na saúde coletiva. Nesse mesmo campo, Moura e Avelar analisaram a presença de enteroparasitos em manipuladores de alimentos em cantinas escolares públicas nas cidades de Luz e Dores do Indaiá, MG. As condições higiênico-sanitárias foram insatisfatórias e mostram a necessidade da implementação de medidas específicas e cumprimento da legislação vigente, para melhorar tais condições e identificar manipuladores portadores de enteroparasitos, a fim de se evitar contaminação e garantir a segurança alimentar. Mussi e colaboradores utilizaram um questionário dirigido às orientações de enfermagem em perioperatório de cirurgia cardíaca. Tais orientações, embora presentes, foram consideradas insuficientes pelos pacientes e familiares. Os autores sugerem a necessidade de reforço dessas orientações em todas as fases do período perioperatório, visando melhores resultados nesses procedimentos. Pereira e colaboradores investigaram os motivos das admissões de emergência em hospital municipal paulista, mostrando os traumas como motivos mais comuns, notadamente em neurocirurgia. Boa parte desses pacientes permaneceu internada na recuperação pós-anestésica ao invés de serem encaminhados para a unidade de terapia intensiva. Tal deficiência, apontam, pode tê-los privado de atendimento específico nessa situação. A revisão de Garcia e colaboradores, em pesquisa bibliográfica sobre a taxa de sobrevida do enxerto renal, sugerem que o órgão oriundo de doador vivo apresenta melhor performance e maior sobrevida de seus receptores. E a revisão de Almeida e colaboradores descreve e revisa o cisto ósseo traumático, lesão não neoplásica que perfaz 1% dos cistos maxilo-mandibulares e pode ser assintomática, sendo diagnosticada em exames de imagem de rotina. O tratamento cirúrgico, discutido pelos autores, demonstrou ser um procedimento simples e com um prognóstico extremamente favorável. Esperamos que esta edição, intensamente clínica e multiprofissional, estimule novas contribuições. Convidamos à leitura e aguardamos as ricas investigações das próximas edições da Science in Health. Novos artigos devem ser enviados por e-mail para [email protected]. Revista Science in Health Joaquim Edson Vieira Rodrigo Ippolito Bouças Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Science in Health set-dez 2013; 4(3): 129-37 PERFIL E ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NOS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF) EM PARNAÍBA – PIAUÍ THE PROFILE AND PERFORMANCE OF THE PHYSICAL THERAPISTS OF THE CENTERS OF SUPPORT FOR FAMILY HEALTH (NASF) IN THE CITY OF PARNAÍBA- PIAUÍ Mariana de Souza Costa 1 Carlos Eduardo Rodrigues Castelo Branco 1 Mara Dayanne Alves Ribeiro 1 Euriene Maria de Araújo Bezerra 1 Ana Karine de Figueiredo Moreira 2 Marcelo de Carvalho Filgueiras 2 RESU MO Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram recentemente implantados no Brasil, com objetivo de tentar suprir a demanda e apoiar as Equipes de Saúde da Família (ESF). As parcerias multiprofissionais são importantes na promoção, prevenção e reabilitação de saúde sendo a inserção do fisioterapeuta uma nova perspectiva de atuação voltada para a atenção básica de saúde. Este artigo tem como objetivo descrever o perfil e a atuação deses profissionais do NASF no município de Parnaíba. Utilizou-se a metodologia qualitativa e descritiva, com análise de conteúdo descrito por Bardin1. A entrevista foi realizada com todos os fisioterapeutas que compõem a equipe, expondo de maneira descritiva seu perfil e atuação. Percebe-se um descompasso entre a formação profissional e a realidade dos serviços da Saúde Pública, além da resistência encontrada pelo NASF na relação direta com Equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) em relação ao contexto multiprofissional da Saúde Pública. De um modo geral, fica explícita a importância da preparação e qualificação dos profissionais para o atendimento na saúde coletiva, assim como a participação em equipes multiprofissionais com a finalidade de se obter experiências acerca da atenção básica de saúde desde a graduação até as especializações continuadas, o que não foi observado com os profissionais deste estudo. Descritores: Medicina de família e comunidade • Fisioterapeutas • Saúde pública. ABST R ACT The Centers for Support of Family Health (NASF) have recently been implemented in Brazil, aiming to meet the support and demand of the Family Health Team (ESF). The multidisciplinary partnerships are important for the prevention, promotion and rehabilitation of health and the insertion of a physical therapist adds a new perspective focused on primary health care. This article aims to describe the profile and performance of these professionals in the NASF of Parnaíba. We used the qualitative and descriptive methodology with content analysis described by Bardin1. The interview was conducted with all physiotherapists who make up the team, showing their performance descriptively. A mismatch between the training and the reality of the Public Health services was noticed, in addition to a resistance encountered by the NASF direct towards the ESF related to the context of a multidisciplinary action in Public Health. It becomes clear the importance of preparation and qualification for the care in public health, as well as participation in multidisciplinary teams in order to obtain experience about the primary care from graduation to continuing education and specialties, which was not observed with the professionals in this analysis. Descriptors: Family practice • Physical therapists • Public health. 1 Fisioterapeuta graduado pela Universidade Federal do Piauí. 2 Professor efetivo do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Piauí. 129 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Costa MS, Branco CERC, Ribeiro MDA, Bezerra EMA, Moreira AKF, Filgueiras MC. Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 129-37 INTRODUÇÃO comunidade, no nível da atenção primária 5. A partir da Conferência Nacional de Saúde de 1986, processos importantes ocorreram, tais como a implantação do Sistema Unificado Descentralizado de Saúde (SUDS), com a concentração de poder nas secretarias estaduais de saúde, e o início do desmonte do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS). Além disso, estava sendo elaborada uma nova Constituição que provocaria profundas mudanças no modelo de saúde do Brasil2. Devido à necessidade de se aumentar a variedade e escopo das ações básicas de saúde, a Portaria GM Nº 154, em 24 de Janeiro de 2008 criou os Núcleos de Apoio à Saúde da família (NASF). Com o objetivo de ampliar a abrangência e o respaldo às ações de atenção básica, bem como sua resolubilidade, apoiando a inserção da Estratégia de Saúde da Família. A equipe multiprofissional que compõe o NASF deve atuar em parceria com as Equipes de Saúde da Família (ESF), compartilhando experiências, trabalhando de forma integrada e complementar buscando instituir a integralidade no atendimento à população adscrita. Assim, o NASF não é porta de entrada no sistema de saúde, mas atua como efetivador deste6. A Constituição de 1988 estabeleceu a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como forma de organização da saúde do país, regido pelas seguintes diretrizes: descentralização de comando nas esferas de governo, integralidade das ações de saúde e participação popular e integração da saúde na seguridade social. Sendo o serviço de saúde um direito social e dever do Estado3. O NASF pode ser constituído por uma equipe de apoio, integrada por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, como fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, educadores físicos, farmacêuticos, médicos acupunturistas e homeopatas, dentre outros, eleitos com função de suprir as necessidades de saúde, vulnerabilidades socioeconômicas e o perfil epidemiológico dos diversos territórios que abrangem os sistemas de saúde. Pode ser considerado como “retaguarda” das ESF, por atuar em conjunto com esses profissionais, compartilhando saberes e práticas de saúde no cotidiano dos serviços de cada território7. O conceito de saúde adotado vem passando por transformações importantes, indo de um modelo hospitalocêntrico, curativo e reabilitador, para um modelo integral, promotor de saúde, preventivo e com participação popular. Essa modificação vem evidenciando a necessidade de uma equipe interdisciplinar de saúde que tenha um real contato com a população, a fim de desenvolver atenção integral com promoção, prevenção e cuidado, contando com a participação de seus usuários desencadeando uma globalidade de ações de proteção à comunidade 4. O Mistério da Saúde criou em 1994 o Programa Saúde da Família (PSF) como forma de atingir os princípios de equidade e integralidade garantidos pelo SUS e melhorar a qualidade da atenção à população em geral. O PSF surge como um modelo de assistência cujo intento é desenvolver ações de promoção e proteção à saúde do indivíduo, da família e da comunidade, através de equipes de saúde, que farão o atendimento na unidade local de saúde e na As parcerias multiprofissionais são importantes na promoção, prevenção e reabilitação de saúde por proporcionar um atendimento global, observando as necessidades de uma pessoa no seu âmbito integral. Insere-se, então, o fisioterapeuta, numa nova perspectiva de atuação voltada para a atenção básica de saúde8. A fisioterapia foi inserida na atenção básica recentemente, compondo as equipes multiprofissio- 130 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Costa MS, Branco CERC, Ribeiro MDA, Bezerra EMA, Moreira AKF, Filgueiras MC. Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 129-37 nais dos NASF. Por esses motivos o objeto de atuação nos níveis preventivos e de promoção ainda não é um consenso9. Fato este que pode ser somado ao surgimento da profissão exclusivamente com caráter reabilitador, voltado ao tratamento de sequelas, próprias da atenção terciária. damente informados sobre a confidencialidade do estudo e sigilo de suas respostas, segundo a resolução do CNS 196/96 que regulamenta princípios éticos sobre pesquisa com Seres Humanos. O projeto foi encaminhado para apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, sendo aprovado sob parecer de número 0296.0.045.000-11 na data de 22 de setembro de 2011. Uma caracterização das ações da fisioterapia na atenção primária feita por Yonamine10 (2009) atribui ao fisioterapeuta funções de gestão, administração dos serviços públicos de saúde e capacitação dos demais profissionais da equipe multiprofissional10. O critério de inclusão foi o profissional estar exercendo suas funções nos NASF de Parnaíba – Piauí, sendo excluídos os fisioterapeutas que se encontravam afastados de suas funções por licença médica. As entrevistas continham questões abertas e fechadas, ocorreram nos próprios NASF e foram organizadas em dois blocos temáticos: Bloco 1 caracteriza o profissional e o paciente contendo perguntas sobre dados pessoais, formação profissional, jornada de trabalho, perfil dos pacientes, tipo de intervenção de promoção e prevenção feitas na comunidade adscrita pelo NASF em Parnaíba; o Bloco 2 trata de questões discursivas, como: a percepção dos fisioterapeutas sobre a implantação do NASF em Parnaíba; percepção sobre atuação dos mesmos no NASF de Parnaíba; as principais dificuldades da prática na saúde coletiva; as perspectivas para o futuro segundo os fisioterapeutas. Nesse novo campo de atuação, a formação do fisioterapeuta deve deixar de ter predominância curativista e reabilitadora para também ser voltada para a atuação coletiva, proporcionando-lhe prática e conhecimento sobre as questões sociais e de políticas públicas de saúde11. 8 Os resultados da inserção do fisioterapeuta na atenção básica de saúde são apontados como satisfatórios, pois garantem maior assistência à saúde integral da população, antes desassistida por esse profissional que agora toma forma de um instrumento educativo, preventivo e não apenas reabilitador12. Dessa forma, elucidar aspectos da inserção desse profissional no NASF, na perspectiva de seu perfil profissiográfico e percepção de sua atuação se faz necessário no contexto da Saúde Pública. As entrevistas ocorreram no período disponibilizado pelos profissionais, em locais com ambiente calmo e tranquilo, onde foi possível resguardar o sigilo das informações. Em seguida, as entrevistas foram transcritas para efeito de análise de conteúdo descrito por Bardin1. Foram entrevistados todos os fisioterapeutas dos 04 núcleos da cidade, totalizando 05 profissionais. MATERIAL E MÉTODOS Tratou-se de um estudo com abordagem qualitativa. Participaram das entrevistas os fisioterapeutas atuantes nos NASF da cidade de Parnaíba no Estado do Piauí, no período de Janeiro de 2012 a Julho de 2012. Os profissionais foram convidados a participar do estudo, após uma explicação sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa, confirmando sua participação com a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, sendo devi- A análise dos dados quantitativos para a caracterização dos sujeitos foi feita utilizando-se o software Excel; já para os resultados referentes às questões discursivas, foi realizada a leitura crítica e exaustiva do material produzido, partindo-se, então, para a 131 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Costa MS, Branco CERC, Ribeiro MDA, Bezerra EMA, Moreira AKF, Filgueiras MC. Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 129-37 análise do conteúdo das entrevistas, uma vez que essa metodologia visa evidenciar o sentido das informações colhidas durante o estudo, utilizando técnicas de pesquisa que favorecem a comparação e interpretação dos resultados. Com o conteúdo das respostas surgem categorias temáticas que expressam o pensamento dos informantes. O processo de análise se conclui com o confronto das informações com as já relatadas na literatura. NASF de Parnaíba mostrando que a maioria é do sexo feminino, com faixa etária predominante variando de 25 a 30 anos. Os Fisioterapeutas entrevistados são jovens e graduados recentemente. Essa característica é importante, pois a formação do fisioterapeuta nos últimos anos tem contemplado a temática da saúde coletiva; assim, há uma maior possibilidade de tais profissionais adquirirem conhecimento sobre o assunto na própria graduação10, 15 RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo Guanaes e Mattos16 (2008), reflexões sobre a formação do profissional da saúde surgiram enfatizando a necessidade de se adequar o seu perfil com as necessidades dos setores onde irão atuar, sobretudo considerando-se os princípios do SUS. Discutindo-se principalmente a importância de uma formação generalista, crítica e reflexiva que envolva os conhecimentos teóricos e práticos ao desenvolvimento concomitante de habilidades pessoais e de relacionamento humano, favoráveis às práticas de comunicação, liderança, trabalho em equipe e interação com a comunidade. Essas ações baseiam-se fundamentalmente no atual cenário da saúde, onde surge a atenção básica como estratégia de reorganização do modelo assistencial vigente. A cidade de Parnaíba, de acordo com o último senso do IBGE13 (2010), apresenta um total de 145.705 habitantes, com 125.287 pessoas cadastradas nos quatro NASF. O NASF de Parnaíba (Piauí) é composto por 25 profissionais, sendo 05 fisioterapeutas, distribuídos em 02 fisioterapeutas no NASF 1, 01 fisioterapeuta no NASF 2, 01 no NASF 3 e 01 no NASF 4. Todos os fisioterapeutas participaram do estudo. A inserção do fisioterapeuta no NASF de Parnaíba iniciou no ano de 2009, verificando-se a escassez de dados bibliográficos referentes ao assunto, especificamente na região. Isso gera um reflexo da reduzida experiência da fisioterapia na atenção primária, resultando em desconhecimento das inúmeras possibilidades de atuação do fisioterapeuta por outros profissionais de saúde, gestores e, muitas vezes, pela própria população14. Na totalidade, os 05 fisioterapeutas dizem estar satisfeitos com seu trabalho, porém todos assumem que a equipe não supre a demanda populacional. Com uma média de um fisioterapeuta para cada núcleo, que é composto por uma população estimada na média de 31.322 pessoas cada, é possível perceber essa dificuldade. A Tabela 1 caracteriza os fisioterapeutas do Tabela 1: Características dos Fisioterapeutas do NASF de Parnaíba Variável Sexo Masculino Feminino Faixa etária 20 a 24 anos 25 a 30 anos 31 a 35 anos n % 2 3 40% 60% 1 3 1 20% 60% 20% Campos e Belisário17 (2001) discutiam distintos problemas desde a época da implantação do PSF, sendo considerado por eles como o mais grave a carência de profissionais, quantitativa e qualitativamente, para atender à necessidade desse programa. Contudo, todos esses elementos só fizeram aprofundar o desafio ao se discutir o processo de formação e educação continuada desses profissionais organizados em 132 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Costa MS, Branco CERC, Ribeiro MDA, Bezerra EMA, Moreira AKF, Filgueiras MC. Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 129-37 equipe. Ainda, para eles, algumas modalidades como curso de especialização em saúde da família, dirigidos aos profissionais de nível superior e capacitação da equipe em conjunto, proporcionam uma formação mais voltada para as propostas das políticas vigentes. Ainda recentemente, após a implantação do NASF, temos carência de fisioterapeutas especializados mais especificamente nessa área de atuação na Saúde Pública, como mostram os dados deste estudo no município de Parnaíba. “ Existem dificuldades de trabalhar com a ESF, devido a falta de articulação com a rede...” FISIOTERAPEUTA E As principais dificuldades enfrentadas pelos fisioterapeutas do NASF de Parnaíba têm sido voltadas para a relação interpessoal com os demais profissionais da equipe e dificuldades estruturais. Segundo os entrevistados, há, semanalmente, reuniões de discussão interdisciplinar e multiprofissional. Porém, 80% afirmam em entrevista não haver suporte necessário para atuação, tendo-se como dificuldades citadas por todos: transporte e materiais, além de outros problemas também mencionados por alguns entrevistados como a territorização e outros em geral. Ao analisar o segundo bloco de perguntas, no qual os profissionais eram questionados sobre sua percepção quanto à implantação do NASF, foi possível identificar três categorias temáticas: (1) Resistência ao novo modelo por parte da ESF, (2) Importância da atuação do Fisioterapeuta na equipe do NASF e (3) Dificuldades enfrentadas. É de extrema importância para imprimir mais qualidade no serviço coletivo uma experiência conjunta de todos os atores envolvidos. Por tal motivo, em um estudo feito por Nunes18 (2005), em uma pós-graduação em saúde coletiva, a avaliação dos processos formativos para os trabalhadores do NASF indica que a residência multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) é uma das estratégias consideradas positivas para a formação de profissionais com perfil para trabalhar diretamente com as ferramentas do NASF. A RMSF fundamenta-se na interdisciplinaridade, facilitando a construção de um conhecimento ampliado de saúde, que precisa qualificar os trabalhadores para o desafio de trabalhar na coletividade, visualizando as dimensões objetivas e subjetivas dos sujeitos. A resistência imposta pela ESF ocorreu devido à expectativa equivocada sobre a atuação do fisioterapeuta centrado no modelo biomédico, excluindo-se a real condição preventiva no modelo de atenção à saúde do NASF, como podemos perceber em algumas falas: “O processo de implantação do NASF em Parnaíba foi bem complicado, encontramos muita resistência por parte das ESF, que gostariam e esperavam que fôssemos atuar através de atendimentos individuais.” FISIOTERAPEUTA A “[...] a implantação foi positiva, mas encontramos ainda dificuldade de aceitação por parte das ESF, de aceitar a prioridade dada à prevenção [...]” FISIOTERAPEUTA B Esse tipo de prática não é vista no município de Parnaíba, pois a totalidade dos entrevistados relata não possuir nenhum tipo de experiência semelhante a essas citadas acima. Podemos associar tal ausência de vivência em coletividade ao fato de encontrarmos tantas barreiras e dificuldades por meio dos fisioterapeutas em relação às ESF, que mostram, neste estudo, uma relação interpessoal e de convivência difícil. O trabalho em equipe multiprofissional ainda encontra obstáculos, sendo ne- “ a implantação dos NASF, veio preencher a lacuna, veio complementar uma equipe multiprofissional, com foco na prevenção diferente que a equipe era acostumado com fisioterapia[...]”. FISIOTERAPEUTA C “A ESF teve dificuldades com aceitação do modo preventivo dos fisioterapeutas também pelos motivo nos quais os primeiros que eram contratados e por causa de questões políticas fazia atendimentos ambulatoriais e domiciliares, mas quando mudou o regime para concursado começaram a trabalhar conforme as diretrizes do NASF” FISIOTERAPEUTA D 133 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Costa MS, Branco CERC, Ribeiro MDA, Bezerra EMA, Moreira AKF, Filgueiras MC. Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 129-37 cessária a busca de permeabilidade e inovação aos envolvidos nesse processo. coletivas com diversos grupos.” FISIOTERAPEUTA A “A atuação da fisioterapia por muito tempo foi encarada como simplesmente curativista e/ou reabilitadora, porém no NASF, o fisioterapeuta deve ter um olhar multidisciplinar, focando na reabilitação apenas quando preciso”. FISIOTERAPEUTA B Cardoso19 (2004), ao estudar sobre relações interpessoais nas equipes do PSF, verifica as diferenças entre os diversos tipos de profissionais, comprovando novamente que existem fatores que influenciam a interação nessas relações, não apenas entre os profissionais, mas também entre a equipe e a comunidade. Portanto, ao falar de uma equipe interdisciplinar, estamos nos referindo ao encontro de diferenças, tanto objetivas quanto subjetivas. São nesses encontros que o trabalho coletivo se desenvolve. Desde simpatia e alianças a conflitos e resistências. Na interseção dessas perspectivas profissionais e interpessoais, as dificuldades começam a surgir. “O trabalho em equipe permite que o conhecimento individual deixe de ser específico e assim todos têm oportunidade de ampliar seus conhecimentos e consequentemente sua capacidade de atuação em função do bem da comunidade, algo que todos os profissionais do NASF em Parnaíba estão aprendendo.” FISIOTERAPETA D Em relação às dificuldades enfrentadas pelos profissionais, todos afirmam haver contrariedades com ESF, falta de materiais e transporte. Como podemos constatar nos relatos: “Atualmente as principais dificuldades estão sendo estruturais. Há deficiência de materiais para as atividades, de transporte para o deslocamento dos profissionais e espaço adequado para realização de atividades” FISIOTERAPEUTA A Há, ainda, falta de profissionais habilitados para a prestação de assistência integral à saúde, avançando-se com dificuldade na garantia de equidade e resolutividade das assistências ambulatorial e hospitalar. O alcance de objetivos relacionados com a resolução desses problemas depende, entre outras medidas, do incentivo à educação permanente como estratégia na reorganização dos serviços de saúde e da integração de todos os membros envolvidos no processo de construção de saúde para todos20. “As dificuldades envolvem a falha na logística e a grande demanda populacional para a quantidade de profissionais do NASF. Porém, chamo a atenção para a falta de identidade dos profissionais para com o trabalho na Atenção Básica de Saúde, que acarreta disparidades na relação ESFxNASF. FISIOTERAPEUTA D A população mais atendida nos NASF de Parnaíba, segundo a pesquisa, é a idosa. Essas atividades são embasadas no conceito de envelhecimento ativo, preconizado pela Organização Mundial de Saúde, que também não exclui os atendimentos com foco em disfunções específicas como forma de atuação nesse grupo populacional21. Sobre os questionamentos de percepção quanto à atuação do fisioterapeuta no NASF, foi unânime o pensamento dos entrevistados, pois se revelaram conscientes sobre o seu papel quanto à prevenção e promoção da saúde, afastando-se do foco reabilitador da fisioterapia na Saúde Coletiva. Como mostram os seguintes relatos: Além da importância que têm os indivíduos portadores da patologia já instalada, podemos destacar as atividades com objetivo principal de promoção da saúde, envolvendo indivíduos com enfermidades ou não, que não possuam a patologia como critério de inclusão. Dessa maneira, a marcante presença do modelo assistencial tradicional pode ser percebida devido à citação de doenças como caracterização e denominação de alguns grupos22. Podemos “A atuação tem sido bastante desafiadora devido nossa formação ser voltada essencialmente para a reabilitação, até mesmo pela visão dos profissionais das ESF e da comunidade de que o fisioterapeuta tem que estar diretamente envolvido na terapia com o paciente. [...] a demanda de pacientes para a fisioterapia está sendo voltada para orientações e ensinamentos para os cuidadores e atividades 134 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Costa MS, Branco CERC, Ribeiro MDA, Bezerra EMA, Moreira AKF, Filgueiras MC. Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 129-37 citar alguns grupos de orientação do NASF de Parnaíba, como: Grupo Diabetes, Grupo Hipertensão Arterial Sistêmica e Grupo Equilíbrio. controle de riscos, e ações curativas no controle de danos. Assemelhando-se com o atual estudo, onde todos os entrevistados relatam que a equipe não supre a demanda populacional. Segundo Nascimento e Oliveira7 (2010), o NASF integra as equipes da ESF com a presença de outros profissionais, buscando-se alcançar a integralidade da atenção e a interdisciplinaridade das ações. Atuando em conjunto com esses profissionais, compartilhando com eles saberes e práticas de saúde no cotidiano dos serviços de cada território. As ações desenvolvidas pelo NASF visam buscar mais qualidade ao serviço prestado e não apenas suprir a demanda assistencial no seu aspecto meramente numérico. CONCLUSÃO Através dos resultados obtidos no estudo, observa-se a importância da prática fisioterapêutica no contexto da saúde pública e a sua relevância na atuação conjunta com a equipe multiprofissional. Porém, ainda se encontra resistência por parte das ESF com a inserção do fisioterapeuta na atenção primária. Além de ser observado que ainda convivemos com um modelo assistencial curativista, sendo a prevenção um processo em construção da fisioterapia. A atuação do fisioterapeuta é essencial para que o SUS e a comunidade compreenda que a fisioterapia não possui apenas a função curativista, mas também contribui para a saúde funcional de cada cidadão, através de uma atuação preventiva, com a finalidade de reduzir o número de leitos e custos para o tratamento da população23. A implantação do NASF com número insuficiente de equipes em relação a população adscrita, pode gerar conflitos e frustrações pela incapacidade dos profissionais de atender à demanda local, sendo este um agravante à permanência e formação de vínculo ao núcleo, havendo necessidade de maior atenção da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) com a ampliação da assistência pelo NASF às populações menos favorecidas. Quando questionados sobre o suporte necessário para atuação, 80% dos profissionais afirmam não ser suficiente. Porém, é de conhecimento de que o SUS é financiado com capital arrecadado por impostos e contribuições sociais pagos pela população e dispõe dos recursos dos governos federal, estadual e municipal. Tendo como objetivo ser mecanismo de promoção à igualdade na prestação de serviços, suprir as necessidades da saúde da população e oferecer serviços com qualidade24.Em pesquisas realizadas por Delai e Wisniewski25 (2011) , dos 24 entrevistados, a maioria (37,5%) dedicava carga horária semanal de 20 horas à função de fisioterapeuta do PSF. Considerada por eles como insuficiente para atender a demanda e solucionar os problemas de saúde prevalentes na população, sendo preciso tempo integral de dedicação, no qual poderiam ser desenvolvidas ações preventivas, no De um modo geral, fica explícita a importância da preparação e qualificação dos profissionais para o atendimento na saúde coletiva, assim como a participação em equipes multiprofissionais, com a finalidade de se obter experiências acerca da atenção básica de saúde desde a graduação até as especializações continuadas, o que não foi observado com os profissionais deste estudo. Durante a pesquisa, identificamos a escassez de publicações que quantifiquem os resultados da inserção do fisioterapeuta no NASF, sugerindo-se novas pesquisas no campo, de modo a identificar melhor o perfil e a atuação desses profissionais no atual modelo de assistência à saúde no Brasil. 135 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Costa MS, Branco CERC, Ribeiro MDA, Bezerra EMA, Moreira AKF, Filgueiras MC. Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 129-37 REFERÊNCIAS 11. P inheiro LBD, Diógenes PN, Filgueiras MC, Abdon 1. B ardin L. Análise de conteúdo. Liboa: edições 70; APV, Lopes ÉAB. Conhecimento de graduandos em fisioterapia na Universidade de Fortaleza sobre o Sistema Único de Saúde. Fisioter Pesqui 2009 Sept;16(3):211-6. 1977. 2. T relha CS, Silva DW, Iida LM, Fortes MH, Mendes TS. O fisioterapeuta no programa saúde da família em Londrina (PR). Rev Espaço Saúde, Londrina 2007 jun;8(2):20-5. 12. F erreira F, Leão I, Saqueto M, Fernandes M. In- tervenção fisioterapêutica na comunidade: Relato de Caso de uma paciente com AVE. Rev Saúde Com 2005 1(1):35-43. 3. B araúna MA, Testa CEA, Guimarães ÉA, Boa- ventura CM, Dias AL, Strini PJSA, et al. A importância da inclusão do fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família. Fisioter Bras 2008 jan.-fev.;9(1):64-9. 13. I BGE. 2010 [Acesso em 29 de maio de 2011]; Dis- ponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. 4. Véras MMS, Pinto VPT, Oliveira EN, Quinde- 14. Viana S, Merényi A, Sampaio RF, Furtado SRC. ré PHD. O fisioterapeuta na estratégia saúde da família: primeiros passos na construção de um novo modelo de atenção. Rev Sanare 2004 fev.-mar;5(1):169-73. Fisioterapia na atenção primária: uma experiência de integração entre ensino, serviço de saúde e assistência à comunidade. Rev bras fisioter 2003 7(2):159-65. 5. C astro SS, Cipriano Júnior G, Martinho A. Fisiote- rapia no Programa de Saúde da Família: uma revisão e discussões sobre a inclusão. Fisioter mov 2006 out.-dez.;19(4):55-62. 15. B rasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção 6. B rasil. Ministério do Estado da Saúde. Portaria 16. Guanaes C, Mattos ATR. O grupo de reflexão na 7. N ascimento DDG, Oliveira MAC. Reflexões so- 17. Campos FE, Belisário SA. O Programa de Saúde da 8. Rezende M, Moreira MR, Amâncio Filho A, Ta- 18. N unes ED. Pós-graduação em saúde coletiva no à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde na escola. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. formação do Profissional de Saúde: um enfoque construcionista social. Gerais: Rev Interinstitucional Psicologia 2008 1(1):79-85. GM n. 154, de 24 de Janeiro de 2008. O SUS cria núcleos de apoio à saúde da família - NASF. Brasília: Diário Oficial da União 2008. Família e os desafios para a formação profissional e a educação continuada. Interface 2001 9(1):13341. bre as competências profissionais para o processo de trabalho nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família. Mundo Saúde 2010 34(1):92-6. Brasil: histórico e perspectivas. Physis: Rev Saúde Coletiva 2005 June;15(1):13-38. vares MFL. A equipe multiprofissional da ‘Saúde da Família’: uma reflexão sobre o papel do fisioterapeuta. Ciênc saúde coletiva 2009 Oct;14(supl. 1):1403-10. 19. C ardoso CL. Relações interpessoais na equipe do programa saúde da família. Rev APS 2004 jan./ jun;7(1):47-50. 9. B arbosa EG, Ferreira DLS, Furbino SAR. Experi- ência da fisioterapia no Núcleo de Apoio à Saúde da Família em Governador Valadares, MG. Fisioter mov 2010 June;23(2):323-30. 20. Baduy R, Oliveira M. Pólos de formação, capaci- tação e educação permanente para os profissionais das Equipes de Saúde da Família: reflexos a partir da prática no pólo Paraná. Rev Olho Mágico 2001 8(2):17-20. 10. Yonamine CY, Trelha CS. O modo de fazer saúde: a fisioterapia na residência multiprofissional em saúde da família em uma unidade básica. Espaço Saúde 2009 dez.;11(1):17-27. 136 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Costa MS, Branco CERC, Ribeiro MDA, Bezerra EMA, Moreira AKF, Filgueiras MC. Perfil e atuação fisioterapêutica nos núcleos de apoio à saúde da família (NASF) em Parnaíba – Piauí • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 129-37 21. B rasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e saú- 24. Naves CR, Brick VS. Análise quantitativa e qua- de da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. litativa do nível de conhecimento dos alunos do curso de fisioterapia sobre a atuação do fisioterapeuta em saúde pública. Ciênc saúde coletiva 2011 16(supl. 1):1525-34. 22. P ortes LH, Caldas MAJ, Paula LT, Freitas MS. Atu- ação do fisioterapeuta na Atenção Básica à Saúde: uma revisão da literatura brasileira. Rev APS 2011 14(1):111-19. 25. D elai KD, Wisniewski MSW. Inserção do fisiote- rapeuta no Programa Saúde da Família. Ciênc saúde coletiva 2011 16(supl. 1):1515-23. 23. P loszaj A. SUS: Fisioterapia ou reabilitação? Fisio Brasil 2002 6(56):13. 137 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Science in Health set-dez 2013; 4(3): 138-46 ENTEROPARASITOS EM MANIPULADORES DE ALIMENTOS DE ALGUMAS ESCOLAS PÚBLICAS DAS CIDADES DE LUZ E DORES DO INDAIÁ, MINAS GERAIS, BRASIL ENTEROPARASITES IN FOOD HANDLERS OF SOME PUBLIC SCHOOLS IN THE CITIES OF LUZ AND DORES DO INDAIÁ, MINAS GERAIS, BRAZIL Alan Carvalho Caetano Moura1 Daniel Moreira de Avelar2 RESUMO A cadeia de transmissão das enteroparasitoses é influenciada pelos maus hábitos de higiene e pelas más condições sanitárias. As fezes figuram como o principal veículo de contaminação da maioria dos enteroparasitos e os manipuladores de alimentos portadores de enteropatógenos podem propagá-los. Este trabalho tem como objetivos analisar a presença de enteroparasitos em manipuladores de alimentos de escolas públicas e avaliar as condições higiênico-sanitárias das suas cantinas nas cidades de Luz e Dores do Indaiá, MG. Foram analisadas pelos métodos de sedimentação espontânea e centrífugo-flutuação (FAUST) 22 amostras fecais de 22 manipuladores de alimentos. Um total de 27,3% dos manipuladores estava infectado por enteroparasitos e em 13,6% foram constatados comensais. As condições higiênico-sanitárias das cantinas não foram satisfatórias quanto à conservação dos pisos, paredes, tetos, proteção nas janelas, ventilação adequada e presença de banheiros e vestiários exclusivos aos profissionais que manipulam alimentos. Esses resultados mostram a necessidade da implementação de medidas específicas e cumprimento da legislação vigente para melhorar as condições higiênico-sanitárias das áreas onde os alimentos são preparados e identificar manipuladores portadores de enteroparasitos, a fim de evitar a contaminação dos alimentos e garantir a segurança alimentar. Palavras-chave: Doenças parasitárias • Conservação de alimentos • Instituições acadêmicas • Vigilância sanitária. ABSTRACT The chain of transmission of intestinal parasites is influenced by poor hygiene and unsanitary conditions. The stools are shown as the main vehicle of contamination of most intestinal parasites and food handlers suffering from such pathogens may disseminate them to the food through manipulation. This study aimed to investigate the presence of enteroparasites in food handlers of public schools and the sanitary conditions of their canteens in the cities of Luz and Dores do Indaiá, MG. Fecal samples were analyzed by the methods of spontaneous sedimentation and Faust’s zinc sulphate flotation from 22 food handlers. A total of 27.3% of food handlers were infected by intestinal parasites and 13.6% were commensal. The sanitary conditions of the canteens were no satisfactory as the conservation of the floors, walls, ceilings, windows’ protection, adequate ventilation and the presence of toilets and changing rooms exclusive for food handlers. These results show the need to implement specific measures and compliance with current legislation to improve the sanitary conditions of the areas where food is prepared and to identify handlers who carry intestinal parasites in order to avoid contamination of food and ensure food security. Key words: Parasitic diseases • Food preservation • Schools • Health surveillance. 1 Graduado em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Alto São Francisco (FASF-UNISA) 2 Biólogo, Professor Doutor do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Alto São Francisco (FASF-UNISA). Tecnologista do Centro de Pesquisas René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz (CPqRR / FIOCRUZ) E-mail: [email protected] 138 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Moura ACC, Avelar DM. Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 138-46 INTRODUÇÃO higiênico-sanitárias das suas cantinas escolares, nas cidades de Luz e Dores do Indaiá, MG, Brasil. A relação entre alimento e saúde e o conceito de segurança alimentar é de grande relevância para a vigilância sanitária1, 2, 3, 4, 5. As doenças transmitidas por alimentos (DTAs) representam um importante problema de saúde pública, afetando milhões de pessoas em todo o mundo6. Dentre as DTAs, destacam-se as enteroparasitoses cuja contaminação ocorre principalmente por água ou por meio da transmissão de um indivíduo (manipulador) enfermo ou portador assintomático sem conhecimentos básicos de higiene pessoal, higiene do ambiente de trabalho e dos utensílios utilizados para o preparo dos alimentos7, 8, 9, 10, 11 . Um importante aspecto refere-se ao fato de que a maioria da população portadora de enteroparasitoses encontra-se como assintomática ou não diagnosticada, pois a sintomatologia geralmente é discreta e inespecífica12, 13, 14, 15. Nesse contexto, foi criado o Plano Nacional de Vigilância e Controle das Enteroparasitoses que tem como objetivo definir estratégias e desenvolver programas educacionais que difundam conhecimentos sobre o controle e a prevenção dessas doenças, utilizando informações de estudos analíticos sobre sua prevalência, morbidade e mortalidade5, 16. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo Este estudo foi realizado nos municípios de Luz e Dores do Indaiá. A cidade de Luz está localizada no Centro-Oeste do Estado de Minas Gerais (19º47’51”S / 45º41’14”W), com 17.486 habitantes distribuídos em 1.172 km2. O índice de desenvolvimento humano (IDH) é de 0,801. Dores do Indaiá (19º27’48”S / 45º36’06”W) é limítrofe de Luz, com área de 1.111 km2, 13.778 habitantes e IDH de 0,75219, 20. Nas duas cidades, o abastecimento e o tratamento da água são realizados pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). O sistema educacional público de Luz é composto por três escolas da rede estadual e duas escolas públicas municipais, enquanto que Dores do Indaiá possui duas escolas públicas de ensino estadual e três escolas públicas municipais. População de Estudo e aspectos éticos A população estudada constituiu-se de vinte e dois manipuladores de alimentos que, aceitaram participar voluntariamente. Na cidade de Luz, foram selecionadas três escolas públicas localizadas em diferentes áreas da cidade, enquanto que em Dores do Indaiá, foi escolhida uma única escola por ser a que atende à maior população de estudantes dessa cidade. Visto que os manipuladores são os responsáveis por todos os procedimentos relacionados ao preparo dos alimentos, é de suma importância que eles tenham conhecimentos relativos aos cuidados de higiene pessoal e sanitização17. Porém, nas escolas, devido à carência de profissionais qualificados para exercer a função de cantineiros, são contratados indivíduos deficientemente preparados e sem noções adequadas a respeito das práticas higiênico-sanitárias18. Dessa forma, a detecção de protozoários e helmintos parasitos nesses profissionais é de grande importância para interromper esse elo na cadeia de transmissão e desenvolver atividades educacionais que visem à mudança comportamental, contribuindo para a promoção da saúde do indivíduo e da coletividade. O objetivo do presente trabalho é determinar a presença de enteroparasitos entre os manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas e avaliar as condições Antes do início da coleta das amostras fecais, foi estabelecido contato com as Secretarias de Educação das cidades supracitadas, para interação das metas e dinâmica do estudo, bem como para se obter a autorização da participação dos funcionários que preparam alimentos nas escolas avaliadas. Além disso, este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Santo Amaro (UNISA), Protocolo 118/2011, e recebeu Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), protocolo nº. 0070.0.386.000-11, conforme estabelece 139 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Moura ACC, Avelar DM. Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 138-46 a Resolução nº. 196/96 deste último órgão. descritiva quanto às frequências de atendimento das variáveis. Como critérios de participação dos manipuladores de alimentos foram estabelecidos a concordância em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e não estar utilizando nenhum antiparasitário durante o período da coleta das fezes. RESULTADOS Das vinte e duas amostras fecais coletadas dos manipuladores de alimentos e submetidas aos métodos da sedimentação espontânea e centrífugo-flutuação (Faust), seis apresentaram enteroparasitos (27,3%), três apenas comensais (13,6%) e duas mostraram associação entre enteroparasito e um comensal (9,1%). Exame parasitológico do material fecal e avaliação higiênico-sanitária das cantinas De cada indivíduo foram coletadas, em um único frasco coletor contendo MIF, três amostras de fezes em dias alternados. Todas as vinte e duas amostras fecais foram recolhidas e analisadas no período de agosto a setembro de 2011 pelos métodos de sedimentação espontânea e de centrífugo-flutuação (Faust). O material sedimentado foi corado com solução de lugol e examinado no microscópio óptico em duplicata. Os dados obtidos da análise laboratorial das amostras coprológicas foram arquivados no programa Excel (versão 2010). A análise estatística foi realizada pelo Teste do Qui-quadrado (χ2), no programa Statext v.1.4.2b, sendo considerados significativos valores de p<0,05. Não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre a ocorrência de parasitos e o tipo de técnica empregada (χ2=0,68; p > 0,05). As espécies encontradas nas amostras fecais analisadas, em ordem decrescente de frequência, foram: Giardia lamblia, Entamoeba coli, Iodamoeba butschlii e Endolimax nana (Tabela 1). As informações obtidas pelo questionário, deTABELA 1: Distribuição de enteroparasitos e/ou comensais em amostras fecais de 22 manipuladores de alimentos de escolas públicas de Luz e Dores do Indaiá, MG, utilizando diferentes métodos coprológicos. Foi aplicado um questionário para a caracterização dos hábitos de higiene e atividades desempenhadas nos estabelecimentos escolares21, 22, 23. Também foi avaliado o ambiente (cantina) onde os alimentos são preparados dentro do âmbito escolar e se os manipuladores de alimentos usavam equipamentos de proteção individual (EPI’s), conforme formulário semiestruturado, tipo check-list, elaborado com base na RDC nº 216/0424. No formulário, foram contemplados os seguintes tópicos: 1) utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs); 2) edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios; 3) manipuladores de alimentos; 4) abastecimento de água e manejo de resíduos. O preenchimento do formulário foi realizado a partir de observação local e entrevistas. As informações coletadas foram tabuladas para construção de um banco de dados no programa Excel (versão 2010) e analisadas de forma Espécie Sedimentação espontânea (Hoffman, Pons e Janer) Centrífugo-flutuação (Faust) nº % nº % Giardia lamblia 06 27,3 05 22,7 Entamoeba coli 02 9,1 04 18,2 Iodamoeba butschlii 01 4,5 01 4,5 Endolimax nana 01 4,5 01 4,5 Total 10 45,4* 11 49,9* *χ2=0,68; p > 0,05 senvolvido para definir o perfil e comportamento de cada manipulador de alimentos no exercício de sua função, mostraram que os indivíduos desta pesquisa eram todos do sexo feminino, com faixa de idade en- 140 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Moura ACC, Avelar DM. Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 138-46 dos dados foi observado que a totalidade de participantes deste estudo usava avental e touca, mas que apenas uma pessoa utilizava luvas. A realização de múltiplos serviços foi verificada em 50,1% das manipuladoras. TABELA 2: Percentual de não conformidades (NCs) de aspectos estruturais e itens avaliados em cantinas de três escolas públicas da cidade Luz e uma escola pública de Dores do Indaiá, MG. Aspectos avaliados Ausência de ventiladores ou de ventilação suficiente para renovação de ar e manutenção do ambiente livre de fungos, fumaça, etc. Carência de banheiros e/ou vestiários em particular para os manipuladores de alimentos Percentual de NCs 75% 100% Inexistência de proteção (telas) nas janelas 75% Lixeiras com tampa manual 75% Pisos, paredes e tetos com rachaduras, infiltrações e/ou descascamentos Superfícies que entram em contato com os alimentos, como bancadas e mesas, em estado precário de conservação (rachaduras, trincas e outros defeitos) Todas as escolas mantinham o local de trabalho limpo e organizado, mas alguns aspectos estruturais e itens avaliados apresentaram inadequação (Tabela 2). Nenhum banheiro das escolas estudadas comunica-se diretamente com as áreas de produção e armazenamento dos alimentos. Porém, em 100% delas, as instalações sanitárias utilizadas pelas funcionárias das cantinas eram as mesmas disponibilizadas ao público em geral e não dispunham de sabonete líquido, sabonete antisséptico, papel toalha e lixeira dotada de tampa com pedal. Foi verificado que todas as cantinas analisadas apresentavam iluminação adequada, recebendo luz natural e possuindo luminárias sobre a área de preparação de alimentos. Entretanto, as janelas não eram protegidas por telas. Em sua totalidade, as cantinas eram abastecidas de água corrente e potável e tinham conexão com rede de esgoto. As caixas de gordura e esgoto localizavam-se na área externa. 50% 50% tre 39 a 56 anos (média de 48,1), apresentando nível fundamental de escolaridade (72,7%) e ensino médio completo (27,3%). Um total de 90,9% das manipuladoras tem vínculo empregatício na escola superior a três anos. DISCUSSÃO A maioria dos profissionais (68,2%) não recebeu treinamento ou capacitação por meio de curso a respeito de higiene pessoal, manipulação higiênica dos alimentos, doenças transmitidas por alimentos e “Boas Práticas” para serviços de alimentação. Apenas 31,8% das manipuladoras foram orientadas sobre asseio pessoal e manipulação de alimentos no trabalho, recebendo informações de uma nutricionista. A realização periódica de exames laboratoriais não é exigida e 68,2% afirmaram ter feito exame de fezes há mais de um ano. A ausência de ação patogênica por determinada espécie sugere que ela seja um comensal e não um parasito25. No presente estudo, consideraram-se como resultados positivos apenas os manipuladores de alimentos albergadores de espécies patogênicas (27,3%). Essa prevalência de enteroparasitoses está em concordância com os resultados achados por Costa-Cruz et al.26 (1995) em manipuladores de merenda escolar de estabelecimentos públicos da cidade de Uberlândia, MG, em que, 30,8% dos profissionais estavam infectados. Rezende et al.7 (1997), ao analisarem manipuladores de alimentos de 57 escolas da rede pública dessa mesma cidade, detectaram positividade em 17%, 10% e 10%, das amostras fecais coletadas em três períodos diferentes. Unanimemente as manipuladoras responderam que lavam as mãos antes das refeições, após usar o banheiro e que receberam EPI’s (touca, avental e luvas) para efetivação do trabalho. No momento da coleta 141 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Moura ACC, Avelar DM. Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 138-46 Entretanto, considerando como casos positivos os indivíduos cujas amostras de fezes continham parasitos e comensais, Guilherme et al.27 (1999) encontraram positividade em 26,4% dos horticultores de Maringá, PR. Já Capuano et al.8 (2002) observaram a ocorrência de enteroparasitos em 31,3% dos manipuladores de alimentos de Ribeirão Preto, SP, e Macedo et al.28 (2002) em 22% dos manipuladores do campus da UFPB. Em Morrinhos, GO, foi verificado que 38,1% dos manipuladores de escolas públicas estavam infectados29. Também avaliando como resultado positivo os indivíduos que apresentavam não só parasitos, mas também comensais, Silva et al.14 (2005) e Silva et al.11 (2009) constataram que 17,4%, de 23 manipuladores de alimentos do município de Ribeirão Preto, SP, e 21,7%, dos manipuladores em escolas públicas da cidade de Patos de Minas, MG, estavam parasitados, concomitantemente. apresentar imunidade protetora contra reinfecções25, 31, 32 . Uma prevalência significativa desse enteropatógeno também foi verificada por Costa-Cruz et al.26 (1995), Ferreira e Júnior33 (1997) em escolares de Martinésia, município de Uberlândia, MG, e por Nolla e Cantos30 (2005), em manipuladores de alimentos de estabelecimentos comerciais da cidade de Florianópolis, SC. Takizawa et al.31 (2009) afirmam que é mais comum o encontro de uma única espécie de parasito em material fecal de uma população amostral do que várias espécies. E que a maior expressividade de protozooses intestinais, hipoteticamente, pode estar relacionada à automedicação restrita para os helmintos, que não elimina protozoários. A investigação parasitológica detectou a associação de G. lamblia e E. coli em dois casos, dado que concorda com Costa-Cruz et al.26 (1995). Os demais protozoários encontrados (I. butschlii e E. nana), incluindo E. coli, são comensais e não estão associados com patologias, porém indicam maus hábitos de higiene e consumo de água ou alimentos contaminados com material fecal11, 27, 34. Esses protozoários não patogênicos são os mais encontrados em manipuladores de alimentos, o que está de acordo com Macedo et al.28 (2002), Silva et al.14 (2005), Reis e Carneiro29 (2007), Capuano et al.35 (2008) e Takizawa et al.31 (2009). Foram detectados apenas protozoários nos manipuladores de alimentos. Um número de protozoários maior do que o de helmintos em manipuladores de alimentos também foi verificado por outros autores7, 10, 11, 30, 31 . Comparando-se a ocorrência de cada espécie de protozoário e os dois métodos coprológicos empregados, foi constatado que um caso de G. lamblia foi evidenciado somente pelo método da sedimentação espontânea e dois casos de E. coli somente pelo método de centrífugo-flutuação. Levando-se em consideração que cada parasitose tem sua peculiaridade, é importante a utilização de diferentes técnicas parasitológicas que busquem metodologias mais sensíveis para a detecção de cistos de protozoários e ovos e larvas de helmintos, a fim de melhorar os resultados obtidos30. Entre os manipuladores de alimentos participantes dos estudos parasitológicos de Rezende et al.7 (1997) e Silva et al.11 (2009), 98,1% e 98,3% pertenciam ao sexo feminino, respectivamente. Macedo et al.28 (2002) constataram que 70% dos manipuladores do Campus I da UFPB estudaram apenas até o ensino fundamental. Como quesito para a participação nessa pesquisa, nenhum profissional fazia uso de medicamento antiparasitário e 72,7% disseram já ter apresentado alguma parasitose, tratada com medicamento próprio até o fim. Reis e Carneiro29, (2007) encontraram um percentual de 62% para manipuladores de alimentos que já haviam tido alguma doença O único parasito intestinal encontrado foi G. lamblia. Segundo Neves et al.25 (2005) e Silva et al.14 (2005), esse parasito é o mais comumente encontrado nos humanos, cuja infecção apresenta sintomatologia em menos de 20% dos adultos. A literatura relata que Giardia é encontrada principalmente em crianças com idade entre 0 a 5 anos de idade, pois adultos podem 142 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Moura ACC, Avelar DM. Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 138-46 parasitária em alguma etapa da vida. restaurantes da cidade do Gama, DF, afirmaram usar EPI e 33% disseram não utilizarem. Os equipamentos mais usados pelos manipuladores nesses estabelecimentos foram touca, jaleco, sapato, avental e uniforme completo. Cardoso et al.38 (2010) verificaram que 56,2% dos manipuladores observados usavam uniformes, mas de forma inadequada, pois 37,9% deles não retiravam o avental ao se deslocar da cantina para outro local, como banheiro, por exemplo. O pequeno número de manipuladores (31,8%) que receberam treinamento ou capacitação sobre boas práticas higiênico-sanitárias, está de acordo com os dado apresentados por Rezende et al.7 (1997), Germano36 (2003) e Silva et al.11 (2009). Esses autores afirmam que os profissionais que preparam os alimentos devem ser capacitados em higiene e manejo de alimentos para uma melhor qualificação da mão de obra utilizada. A Diretora Técnica do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde, pela Portaria CVS-6/99, de 10/03/99, determina que todos os funcionários que manipulam alimentos recebam treinamento constante em relação à higiene e técnicas corretas de manipulação. A supervisão dos manipuladores pode estar a cargo do proprietário do estabelecimento, pelo técnico responsável ou funcionário capacitado para garantir um trabalho seguro e que cumpra com todas as regras de sanidade necessárias à produção de alimentos saudáveis9. Como no presente estudo, Macedo et al.28 (2002) e Silva et al.11 (2009) também averiguaram, respectivamente, que manipuladores de alimentos de Patos de Minas, MG, e da Paraíba, PB, desempenham outras tarefas, como lavar banheiros, limpeza de jardins, hortas e pátios. Essa prática de funções gerais não é aconselhável e pode contribuir diretamente para a contaminação dos alimentos, mas a carência de profissionais influi para que essa falha não seja ponderada (Macedo et al.28 2002). A inadequação estrutural das cantinas aqui avaliadas está de acordo com os resultados apresentados por outros autores. Ao analisar as condições estruturais de 10 cantinas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Lacerda39 (2008) constatou que 70% delas não possuíam ventiladores na área de manipulação dos alimentos, o que tornava esses ambientes muito quentes e 60% dos pisos, embora com aspecto positivo, apresentavam defeitos estruturais. Em um levantamento descritivo sobre as condições de higiene ambiental de 24 unidades escolares estaduais de São Paulo, SP, Silva et al.40 (2003) descreveram que 50% das cantinas tinham pisos e paredes em más condições de conservação. E 12,5% delas não tinham telas ou proteção nas janelas, permitindo a entrada de insetos. Ainda que Santos et al.41 (2007), em 32 cantinas escolares do distrito de Vila Real, Portugal, tenham evidenciado nesses estabelecimentos condições estruturais higiênico-sanitárias satisfatórias, foram também observadas as seguintes não conformidades: deterioração das paredes e pavimentos, ineficácia da ventilação e ausência de redes nas janelas. A não exigência de exames laboratoriais periódicos dos manipuladores de alimentos aumenta o risco de transmissão de enteroparasitos. Considerando a contaminação e a possibilidade de algum manipulador ser portador assintomático de enteroparasitoses, torna-se de suma importância a realização rotineira de exames de saúde17. Silva et al.11 (2009) constataram que não havia obrigatoriedade da realização de exames clínico-laboratoriais para funcionários de cozinhas escolares da cidade de Patos de Minas, MG. Já Macedo et al.28 (2002) verificaram que 64% dos manipuladores de alimentos das unidades de alimentação do Campus I da UFPB haviam feito exame coproparasitológico há menos de um ano. O Ministério do Trabalho e Emprego, através da NR-06, define e estabelece quais os EPI’s que as empresas são obrigadas a fornecer a seus empregados, sempre que as condições de trabalho exigirem, a fim de resguardar a saúde e a integridade dos trabalhadores37. No estudo realizado por Souza4 (2006), 51,6% dos manipuladores das unidades de alimentação de 143 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Moura ACC, Avelar DM. Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 138-46 CONCLUSÕES Outros autores avaliando estabelecimentos educacionais encontraram situação semelhante a este estudo quanto à inadequação do estado de conservação dos móveis e superfícies que recebem os alimentos a serem preparados e distribuídos (Silva et al.40, 2003, Santos et al.41, 2007, Cardoso et al.38, 2010). Lacerda39, (2008) observou essas mesmas inconformidades na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ao passo que Cardoso et al.38, (2010) evidenciaram que 79,6% das unidades escolares visitadas não tinham banheiros próprios para os funcionários do serviço de alimentação, sendo estes de uso compartilhado com os estudantes, e que, em mais de 90% delas também não havia os produtos citados anteriormente necessários à higienização das mãos, nem coletores de lixo dotados de tampa. A presença de enteroparasitos e comensais nos manipuladores de alimentos das escolas analisadas representa um risco à saúde pública local. Assim sendo, é necessário o cumprimento da legislação vigente para o controle de qualidade dos alimentos, destacando-se a fiscalização e o monitoramento das condições de saúde desses profissionais por meio de exames clínico-laboratoriais periódicos e capacitação por meio de cursos sobre higiene pessoal e manipulação segura. Nesse contexto, a intervenção da Vigilância Sanitária ou do responsável por esse setor pode colaborar na detecção de manipuladores portadores assintomáticos ou não de enteroparasitoses, fornecendo-lhes tratamento apropriado e contribuindo para assegurar a inocuidade alimentar. Nas escolas investigadas por Cardoso et al.38 (2010) foi constatado que 90,2% das cantinas também tinham iluminação apropriada e, em sua maioria, sem proteção nas luminárias (96,6%). Antagonicamente, Lacerda39 (2008) verificou que apenas 50% das cantinas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro possuíam luz de procedência natural. Em 66,8% das unidades escolares pesquisadas por Cardoso et al.38 (2010) e em 90% das cantinas avaliadas por Lacerda39 (2008), foram encontradas caixas de gordura fora do local de manipulação dos alimentos. Percebeu-se que as cantinas, na generalidade, não demonstraram condições higiênico-sanitárias satisfatórias. Nos itens avaliados, como janelas, pisos, paredes, tetos, ventilação e superfícies que recebem os alimentos, foram encontradas várias inconformidades. Dessa forma, conclui-se que a produção dos alimentos servidos na merenda dos estabelecimentos escolares avaliados não atende aos quesitos de segurança alimentar e envolve riscos à saúde dos seus consumidores. 144 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Moura ACC, Avelar DM. Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 138-46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. B rayan F. Análise de risco nas empresas de alimentos. 13. L eal C, Gaban C, Costa S. Detecção de Satphylococus Hig Aliment 1984 3(1):92-100. 2. B randäo ACBH, Brandäo AAH, Germano MIS, Germano PML. Segurança alimentar nos estabelecimentos de consumo. Hig aliment 1991 out.; 5(19):20-2. 3. F igueiredo VF, Costa Neto PLO. Implantação do HACCP na indústria de alimentos. Gest Prod 2001 Apr;8(1):100-11. 4. S ouza R. Manipuladores de alimentos: um desafio para a implementação da RCD 216/04 [Monografia de especialização]. Brasília: Universidade de Brasília; 2006. 5. B rasil. Ministério da Saúde. Plano nacional de vigilância e controle das enteroparasitoses. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. 6. D iagnosis and management of foodborne illnesses: a primer for physicians and other health care professionals. MMWR Recomm Rep 2004 Apr 16;53(RR-4):1-33. 7. R ezende CHA, Costa-Cruz JM, Gennari-Cardoso ML. Enteroparasitoses em manipuladores de alimentos de escolas públicas em Uberlândia (Minas Gerais), Brasil. Rev Panam Salud Publica 1997 Dec.;2(6):392-7. 8. C apuano DM, Bettini MJCB, Okino MHT, Takayanagui OM, Lazzarini MPT, Castro e Silva AAMC, et al. Busca ativa de teníase e de outras enteroparasitores em manipuladores de alimentos no município de Ribeiräo Preto, SP, Brasil. Rev Inst Adolfo Lutz 2002 61(1):33-8. 9. B rasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Cartilha sobre Boas Práticas para Serviços de Alimentação. 3. ed. Brasília: ANVISA; 2004. 10. Carneiro LC. Enteroparasitoses em manipuladores de alimentos de escolas públicas em Morrinhos - GO. Vita et Sanitas 2007 Jan/Jun;1(1):49-57. 11. S ilva ÉJ, Silva RMG, Silva LP. Investigação de parasitoses e/ou comensais intestinais em manipuladores de alimentos de escolas públicas. Biosci j (Online) 2009 july-aug;25(4):160-3. 12. U ngar M, Germano M, Germano P. Riscos e consequências de manipulação de alimentos para a saúde pública. Hig Aliment 1992 6(1):14-7. aureus nas mãos e narinas de manipuladores de alimentos e avaliação das condições higiênicas das cozinhas, em escolas estaduais no município de Campo Grande – MS. Ensaios e Ciência 2002 ago;6(2):49-56. 14. S ilva JO, Capuano DM, Takayanagui OM, Giacometti Júnior E. Enteroparasitoses e onicomicoses em manipuladores de alimentos do município de Ribeirão Preto, SP, Brasil. Rev bras epidemiol 2005 Dec.;8(4):385-92. 15. T avolaro P, Oliveira CAF, Lefèvre F. Avaliação do conhecimento em práticas de higiene: uma abordagem qualitativa. Interface 2006 June;10(19):243-54. 16. C ardoso RCV, Souza EVA, Santos PQ. Unidades de alimentação e nutrição nos campi da Universidade Federal da Bahia: um estudo sob a perspectiva do alimento seguro. Rev Nutr 2005 Oct. ;18(5):669-80. 17. S ouza RR, Germano PML, Germano MIS. Técnica da simulação aplicada ao treinamento de manipuladores de alimentos, como recurso para a segurança alimentar de refeições transportadas. Hig aliment 2004 jul;18(122):21-5. 18. Magalhães C, Gonçalves H. Manipulação de alimentos: otimização de cozinhas industriais no município de Seropédica – RJ. Hig Aliment 2001 15(80/81):134. 19. P rograma das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil: atlas do desenvolvimento humano. Brasília: PNUD; 2003. 20. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo: Luz e Dores do Indaiá - MG. Brasília: IBGE; 2010. 21. S antos A. Importância da higienização das mãos. Rev Meio de Cultura Eurofarma Hospitalar 2000 set/dez;1(1):10-4. 22. S ilva Junior E. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. São Paulo: Livraria Varela; 1995. 23. H azelwood P. Manual de higiene para manipuladores de alimentos. São Paulo: Livraria Varela; 1994. 24. B rasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vi- gilância Sanitária. Resolução de diretoria colegiada nº 216, de 15 de setembro de 2004: dispões sobre o regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação. Brasília: ANVISA; 2004. 145 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Moura ACC, Avelar DM. Enteroparasitos em manipuladores de alimentos de algumas escolas públicas das cidades de Luz e Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 138-46 25. N eves D, Melo A, Linardi P, Vitor R. Parasitologia hu- 34. Knaippe F, Tanus R. Prevalência de giardíase e flutua- mana. 11. ed. São Paulo: Atheneu; 2005. ção sazonal em uma amostra da população urbana da região centro-oeste do Brasil. Rev Bras Farm 1992 mai/ ago;73(2):33-4. 26. C osta-Cruz JM, Cardoso ML, Marques DE. Intestinal parasites in school food handlers in the city of Uberlandia, Minas Gerais, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 1995 May-Jun;37(3):191-6. 35. C apuano DM, Lazzarini MPT, Giacometti Júnior E, Takayanagui OM. Enteroparasitoses em manipuladores de alimentos do município de Ribeirão Preto - SP, Brasil, 2000. Rev bras epidemiol 2008 Dec.;11(4):687-95. 27. G uilherme ALF, Araújo SM, Falavigna DLM, Pupulim ÄRT, Dias MLGG, Oliveira HS, et al. Prevalência de enteroparasitas em horticultores e hortaliças da Feira do Produtor de Maringá, Paraná. Rev Soc Bras Med Trop 1999 jul.-ago.;32(4):405-11. 36. G ermano M. Treinamento de manipuladores de ali- mentos: fator de segurança alimentar e promoção da saúde. São Paulo: Varela; 2003. 28. M acedo E, Santos G, Lopes T, Agra S, Siqueira A, Hirs- 37. B rasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regu- ch-Monteiro C. Como andam as mãos dos manipuladores de alimentos das unidades de alimentação e nutrição do campus I da UFPB? . In: Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, editor.; João Pessoa: UFPB; 2002. lamentadora nº.6 – NR 6, portaria SIT nº. 25, de 15 de outubro de 2001: estabelece as disposições relativas aos EPIs. Brasília: Ministério do Trabalho; 2001. 38. Cardoso RCV, Góes JÂW, Almeida RCC, Guimarães 29. R eis R, Carneiro L. Indicador higiênico-parasitário em AG, Barreto DL, Silva SA, et al. Programa nacional de alimentação escolar: há segurança na produção de alimentos em escolas de Salvador (Bahia)? Rev Nutr 2010 Oct.;23(5):801-11. manipuladores de alimentos em Morrinhos, GO. Estud Biol 2007 jul/dez;29(68/69):313-7. 30. Nolla AC, Cantos GA. Relação entre a ocorrência de 39. L acerda A. Avaliação das condições ambientais e de se- enteroparasitoses em manipuladores de alimentos e aspectos epidemiológicos em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Cad Saúde Pública 2005 Apr.;21(2):641-45. gurança das cantinas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro [Dissertação]. Rio de Janeiro: Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2008. 31. T akizawa MGMH, Falavigna DLM, Gomes ML. Entero- parasitosis and their ethnographic relationship to food handlers in a tourist and economic center in Paraná, Southern Brazil. Rev Inst Med tro S Paulo 2009 51(1):315. 40. Silva C, Germano MIS, Germano PML. Condições hi- giênico-sanitárias dos locais de preparação da merenda escolar, da rede estadual de ensino em São Paulo, SP. Hig Aliment 2003 jul;17(110):49-55. 32. U chôa CMA, Lobo AGB, Bastos OMP, Matos AD. Para- 41. S antos MJO, Nogueira JMR, Mayan O. Condições hi- sitoses intestinais: prevalência em creches comunitárias da cidade de Niterói, Rio de Janeiro - Brasil. Rev Inst Adolfo Lutz 2001 60(2):97-101. gio-sanitárias das cantinas escolares do distrito de Vila Real. Rev Port Saude Publica 2007 jul/dez;25(2):51-8. 33. F erreira CB, Marçal Junior O. Enteroparasitoses em escolares do Distrito de Martinésia, Uberlândia, MG: um estudo piloto. Rev Soc Bras Med Trop 1997 Oct. ;30(5):373-7. 146 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Science in Health set-dez 2013; 4(3): 147-63 AVALIAÇÃO DA ORIENTAÇÃO DE ENFERMAGEM NO PERÍODO PERIOPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA ASSESSMENT OF GUIDELINE OF NURSING IN PERIOPERATIVE CARDIAC SURGERY Giuliano Michel Mussi 1 Kelly Medeiros de Souza 2 Marli da Silveira Félix 2 RESU MO Este estudo tem o objetivo de evidenciar a eficácia da orientação de enfermagem em perioperatório de cirurgia cardíaca na recuperação dos pacientes nessa situação. Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, realizado com 30 pacientes internados em um hospital de médio porte da cidade de São Paulo, com idade de 40 a 70 anos, utilizando-se como instrumento de pesquisa um questionário semiestruturado com auxílio da escala de Likert com 26 perguntas, abordando itens pertinentes à orientação de enfermagem. Observou-se que as orientações, apesar de presentes, foram consideradas insuficientes pelos pacientes e familiares. Embora os pacientes mostrassem um bom nível de compreensão sobre o preparo operatório, foi elevado o número de pacientes inclusos na amostra que desconheciam os eventos pós-cirúrgico. Dessa forma, justifica-se a necessidade de reforço das orientações em todas as fases perioperatórias para que, no futuro, os pacientes estejam seguros quanto aos eventos que podem levar ao comprometimento da cirurgia cardíaca. Palavras-chave: Cirurgia torácica, Cuidados pré-operatórios, Comunicação, Enfermagem perioperatória. ABST R ACT This study aims to demonstrate the efficacy of perioperative nursing orientation of cardiac surgery in the recovery of involved patients. This is a study about quantitative approach, conducted with 30 patients admitted to a midsize hospital in the city of São Paulo, aged 40 to 70 years. The instrument was a questionnaire using semi structured Likert scale with 26 questions, covering items pertinent to nursing orientation. It was observed that even though the present guidelines were considered insufficient for patients and families. Although patients showed a good level of understanding of the surgical preparation, the number of patients included in the sample who were unaware of the events after surgery was high. Thus it is justified the need for strengthening the guidelines at all stages so that in the future perioperative patients will have insurance about the events that may lead to a cardiac surgery. Key words: Thoracic surgery; Preoperative care; Communication; Perioperative nursing. 1 ProfessorMestre em Distúrbios do Desenvolvimento e Pesquisador pela Universidade de São Paulo 2 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Cidade de São Paulo. E-mail: [email protected] 2 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Cidade de São Paulo. E-mail: [email protected] 147 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 INTRODUÇÃO o profissional que presta os cuidados deve ser capacitado e com experiência para tal função, detentor de conhecimentos específicos que lhe permitam um direcionamento adequado e de qualidade da assistência; sendo o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, exigindo do profissional competência, habilidades, conhecimento técnico científico, capacidade e liderança. Enfim, reconhece-se que atualmente o mercado de trabalho absorve o profissional melhor preparado, capaz de interagir, reagir e refletir na facilidade de transmitir informações de maneira clara e objetiva, tanto aos seus subordinados quanto aos pacientes sob seus cuidados. Na área da cardiologia, a doença coronariana condiz com uma situação preocupante que traduz o perfil e os hábitos da população brasileira. As doenças cardiovasculares ocupam o primeiro lugar no ranking da morbimortalidade, culminando no aumento dos casos de internações e refletindo significativamente no aumento do número de cirurgias cardíacas1. A cirurgia cardíaca é um procedimento de grande porte, com repercussões fisiopatológicas e emocionais que afetam tanto o paciente quanto seus familiares e implicam em alterações nos hábitos de vida e laborais. Geralmente, os pacientes submetidos a tal procedimento apresentam lesões coronarianas difusas, com acometimento de mais de um território coronariano e com envolvimento de artérias vitais, como o tronco da coronária esquerda e o ramo descendente anterior. Os resultados da revascularização cirúrgica do miocárdio são bem conhecidos e, indubitavelmente, melhoram a qualidade e a expectativa de vida dos pacientes2, 3. O trabalho do enfermeiro é pautado numa sistemática que garante uma assistência humanizada e individualizada. A sistematização da assistência de enfermagem perioperatória (SAEP) é um processo que tem como objetivos promover, manter e recuperar a saúde do cliente e de sua família. A SAEP abrange três fases da experiência cirúrgica: o pré-operatório mediato e imediato, transoperatório e pós-operatório mediato e imediato. O período pré-operatório compreende dois momentos: o pré-operatório mediato que compreende desde o momento do agendamento da cirurgia até as 24 horas que antecedem o procedimento. É considerado como pré-operatório imediato as 24 horas que antecedem o momento da intervenção. Nesse período, a atuação do profissional enfermeiro, em conjunto com outros profissionais, fica voltada para a revisão dos processos que envolvem a intervenção cirúrgica, as orientações necessárias aos pacientes e familiares, confirmação de todas as solicitações, cabendo a cada profissional atuar de maneira específica (porém conjunta à equipe) em sua área4, 5. A cirurgia cardíaca de maior prevalência é a Revascularização do Miocárdio (RM). Nesse tipo de cirurgia, um vaso sanguíneo (geralmente a veia safena e/ou a artéria mamária interna) é anastomosado com a artéria coronária, distal ao ponto ocluído e a aorta ascendente, de forma a isolar o local do vaso obstruído e restabelecer a perfusão da artéria coronária. O objetivo da revascularização do miocárdio é aliviar a angina e preservar a função do miocárdio2. Acredita-se que a readaptação desse tipo de paciente depende do envolvimento e colaboração de familiares e do próprio paciente, pois se trata de uma fase complexa onde os mínimos detalhes podem condizer com o sucesso ou insucesso da RM pós-procedimento2. O Ministério da Saúde ressalva que “todos os pacientes têm direito a exigir dos profissionais da área de saúde informações sobre quais os procedimentos médicos que serão adotados no seu tratamento”, como também está disposto na Constituição Fede- Contudo, o paciente cirúrgico de alta complexibilidade necessita de uma assistência focada, isto é, 148 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 ral, Lei n. 8.080/90, que é dever do Estado prover e assegurar ao cidadão o tratamento adequado, efetivo e de qualidade pelo Sistema Único de Saúde6, 7. este motivo, é imprescindível observar a maneira como esse paciente é recebido, assistido, acolhido e como se estabelece uma relação de confiança, pois esses fatores influenciam significativamente no desenvolvimento do processo, desde sua submissão cirúrgica até sua recuperação. Justificamos que a interação do paciente com o profissional enfermeiro constitui um vínculo jamais estabelecido por outro profissional de saúde9. Portanto, é direito dos cidadãos ter atendimento resolutivo com qualidade, em função da natureza do agravo, com garantia de continuidade da atenção, sempre que necessário, tendo garantidas as informações sobre o seu estado de saúde, extensivas aos seus familiares e/ou acompanhantes, de maneira clara, objetiva, respeitosa, compreensível adaptada à condição cultural, respeitados os limites éticos por parte da equipe de saúde sobre, entre outras: Outro fato é que as informações sobre os cuidados que devem ser priorizados no perioperatório é de responsabilidade multiprofissional, porém o papel da enfermagem é primordial, uma vez que este paciente é assistido 24 horas pela equipe, havendo uma afinidade e estreitamento natural na relação paciente/profissional, o que facilita o monitoramento dos padrões psicológicos e fisiológicos durante a internação10. a) hipótese diagnóstica; b) diagnósticos confirmados; c) exames solicitados; d) objetivos dos procedimentos diagnósticos, cirúrgicos, preventivos ou terapêuticos; Todavia, a comunicação é uma necessidade humana básica, podendo-se estabelecer através dela apoio, conforto e informação, influenciando em seu comportamento. Esta intervenção pela comunicação deve acontecer de maneira clara e objetiva, compatível com a compreensão do paciente, visando o cuidado individualizado para que esta não seja repetitiva e ritualizada11. e) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas diagnósticas e terapêuticas propostas; f) duração prevista do tratamento proposto; g) no caso de procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos ou cirúrgicos, a necessidade ou não de anestesia e seu tipo e duração, partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências indesejáveis, duração prevista dos procedimentos e tempo de recuperação; Para o enfermeiro estabelecer uma comunicação efetiva deve obter alguns manejos para poder expressar-se empaticamente, como a inclinação do tórax, tom de voz, meneios de afirmação com a cabeça, ouvir sem interromper, olhar nos olhos e segurar nas mãos, falar corretamente, não utilizar termos técnicos e prestar atenção no comportamento não verbal próprio e do paciente12. h) finalidade dos materiais coletados para exames; i) evolução provável do problema de saúde; A Sociedade Brasileira de Cardiologia orienta que a avaliação perioperatória tem o objetivo de aprimorar e unificar a linguagem utilizada por toda equipe multiprofissional, incluindo o paciente e sua família13. j) informações sobre o custo das intervenções das quais se beneficiou o usuário8. A orientação de enfermagem no perioperatório de cirurgia RM causa impactos favoráveis ao paciente quando atende suas reais necessidades. Por Outro fato condiz com as informações sobre o 149 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 evento cirúrgico: entende-se que as informações passadas de forma coerente e simples para o paciente reduzem a ansiedade deste com relação ao procedimento, refletindo positivamente sobre a diminuição das complicações no pós-operatório14. cirúrgica, auxiliando no enfrentamento do estresse cirúrgico17. Sabendo-se que a orientação do enfermeiro não deve estar focada somente nas rotinas hospitalares que antecedem o evento cirúrgico, e sim na individualização do cuidado, principalmente em se tratando de um procedimento cirúrgico complexo como a RM, compreende-se que é necessário esclarecer ao paciente e familiares o que acontecerá na recuperação pós-operatória na UTI. Esclarecer as dúvidas e tentar minimizar o quadro de ansiedade e medo, por meio da comunicação e do encorajamento da verbalização, nesse caso, é mais do que fundamental. Evidencia-se aqui a ideia Freireana que diz :“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho e na ação-reflexão”. Da mesma forma, a enfermagem em sua prática assistencial midiatizada pelas ideias Freireanas, pode ser considerada, junto com seu cliente, também uma aprendiz, no momento em que ela visualiza o cuidado como atividade de educação em saúde, não se percebendo como dona do cuidado e não tendo uma atitude verticalizada no ato holístico de cuidar. Assim ela poderá construir uma prática libertadora, crítica, valorizando o cliente15. O presente estudo teve como objetivo principal avaliar a eficácia das orientações de enfermagem em pacientes submetidos à cirurgia de RM e seus aspectos relevantes através do uso de instrumento norteador elaborado, assim como evidenciar a importância da orientação de enfermagem pré-operatória a pacientes submetidos a procedimentos de RM na fase imediata de recuperação; contribuir e oferecer subsídios para a prática de enfermagem baseada em evidência científica, na aplicação da sistematização da assistência a pacientes submetidos a RM. A associação do coração como órgão vital e o medo da morte no pré-operatório e no pós, em ambiente inseguro na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mostram o quanto é necessária a intervenção da Orientação de Enfermagem pelo Diagnóstico de Enfermagem. Como também se torna essencial saber ouvir e ser compreensivo, fornecendo informações que ajudem tanto o paciente quanto a família a dissipar as preocupações. Para que o adulto aprenda uma informação ou realize uma ação, é preciso que ele compreenda sua utilidade, para melhor associá-las aos problemas reais de sua vida. Assim, é recomendado que o profissional de saúde, ao passar informações para o paciente, o faça explicando a utilidade prática de tais informações5, 16. MATERIAIS E MÉTODOS Tratou-se de uma pesquisa de campo, com abordagem quantitativa, realizada em uma Instituição privada de médio porte da cidade de São Paulo, que presta atendimento especializado a pacientes cardiológicos. Os dados foram coletados através de um instrumento semiestruturado, utilizando-se escala de Likert. Foram abordados 30 pacientes, de ambos os sexos, com idade entre 40 e 70 anos, que foram submetidos à cirurgia de RM. Concordamos com alguns autores quando estes afirmam que devemos considerar que o desconhecido provoca medo, ansiedade, angústia e, muitas vezes, bloqueios para a ação e a transformação de situações críticas passíveis de serem modificadas. Compreende-se que fornecer orientações para o cliente em período perioperatório possibilita a este uma visão mais aproximada da experiência O fato dos pacientes serem submetidos a outros procedimentos concomitantes à cirurgia de RM, ou seja, no mesmo tempo cirúrgico como, por exemplo, valvoplastia, troca de valva cardíaca 150 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 e aneurismectomia de ventrículo esquerdo não foi considerado fator para a exclusão do estudo. Os critérios de exclusão aplicados neste estudo foram estabelecidos para pacientes em pós-operatório de RM que não estavam de alta da UTI para a Unidade de Internação até o terceiro pós-operatório e que não eram alfabetizados. Foram participantes deste estudo os pacientes em pós-operatório de RM, que obtiveram alta da UTI até o terceiro dia pós procedimento. A abordagem desses pacientes ocorreu já quando se encontravam internados na Unidade de Internação, onde foi explicado ao paciente e aos familiares o conteúdo da pesquisa, confidencialidade e sigilo sobre os dados coletados, e somente após a concordância deles em participar da pesquisa foi-lhes entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo seguiu os princípios éticos da Declaração de Helsinki de 1964 . RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização da população estudada Dos 30 pacientes respondentes do questionário, observou-se que 96.7% do total pertenciam ao sexo masculino (Tabela1). Esse dado está de acordo com outros estudos levantados na literatura, onde se destaca a pesquisa realizada no Serviço de Reabilitação Cardíaca - REVICARDIO (HUSM) com duração de 3 anos e11 meses, onde se observou que nesse período a prevalência do gênero masculino em doenças cardíacas e intervenções cirúrgicas foi de 66,9 %18. A coleta de dados foi realizada no período de maio a junho de 2012, os dados foram coletados durante 60 dias, em dias alternados da semana, de acordo com a programação cirúrgica da Instituição, no turno da manhã, quando foi entregue ao paciente o questionário elaborado pelos pesquisadores composto de vinte e seis questões (25 fechadas e 1 aberta) elaboradas a partir do modelo de Likert. O questionário foi preenchido pelo próprio paciente e/ou acompanhante, na Unidade de Internação, onde puderam ser abordadas as mais diversas questões sobre o procedimento cirúrgico de RM e os processos necessários para tal. Após o preenchimento, o formulário foi devolvido aos pesquisadores. Os dados coletados foram primeiramente analisados e, depois, a análise foi trabalhada estatisticamente, quando, então, se relacionou a frequência das respostas ao número total de participantes, obtendo-se, assim, o coeficiente parcial de maior ou menor esclarecimento para cada questão analisada. Tabela 1- Sexo do público entrevistado (São Paulo, 2012). Gênero Feminino Masculino Total Frequência 1 29 30 Porcentagem 3,3% 96,3% 100% Fonte: Elaboração própria. Outro fato observado foi idade dos pacientes que se submeteram a RM (Tabela 2). Em nosso estudo, observou-se a média de 59,6± 7,8635 anos. Um dos fatores de risco da DAC que não são modificáveis é a idade; a estratificação de risco cardiovascular tem como item homens com idade superior a 45 anos e mulheres com mais de 55 anos19. Para a descrição da fundamentação teórica deste estudo, efetuou-se uma busca sistematizada abrangendo livros, teses, dissertações e artigos de periódicos indexados nas Bases de Dados: MEDLINE, SCIELO e LILACS, por meio da busca com descritores de saúde: cirurgia cardíaca, orientação pré-operatória, comunicação efetiva, Enfermagem Perioperatória. Avaliação das respostas dos pacientes conforme a informação fornecida pela equipe de enfermagem Na análise final dos dados (Tabela 1) obtidos através do “Questionário da Avaliação da eficácia das orientações de Enfermagem em Perioperatório 151 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 Tabela 2 – Idade média do público entrevistado (São Paulo, 2012). Idade Valid N (Listwise) N 30 30 Minimum 42,00 Maximum 70,00 Mean 59,6000 Std. Deviation 7,86349 Fonte: Elaboração própria. Tabela 3- Questionário da Avaliação da eficácia das orientações de Enfermagem em Perioperatório de Cirurgia Cardíaca (São Paulo, 2012). Itens 1. O esclarecimento sobre o jejum no período pré-operatório foi eficaz. (Fui orientado que devo manter restrição de alimentos e líquidos até o momento cirúrgico). 2. Fui orientado (a) sobre o preparo da pele (Banho e Tricotomia) a ser realizado antes da cirurgia. Raspagem de pelos em local do procedimento cirúrgico. 3. Recebi orientações sobre a retirada dos adornos antes do centro cirúrgico (Próteses dentárias, alianças, piercing, joias e artigos religiosos). Recebi a orientação de cofre com segredo à minha disposição na unidade de internação. 4. Fui esclarecido sobre o uso da camisola ou avental na ida ao Centro Cirúrgico e a retirada de roupas íntimas. Discordo Discordo Completamente (%) (%) Nem concordo, nem discordo (%) Concordo (%) Concordo Completamente (%) Total (%) Porcentual Acumulativo (%) 30 100 3 2 0 4 21 (10%) (6,7%) - (13,3%) (70%) 2 3 0 1 24 30 (6,7%) (10%) - (3,3%) (80%) (100%) 1 3 2 2 22 30 (3,3%) (10%) (6,7%) (6,7%) (73,3%) (100%) 1 2 2 3 22 30 (3,3%) (6,7%) (6,7%) (10%) (73,3%) (100%) 152 100 100 100 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 Itens 5. Meus familiares e/ ou acompanhantes foram orientados sobre o procedimento cirúrgico e como auxiliar-me no pósoperatório. 6. Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre a cânula de intubação traqueal (tubo localizado na cavidade oral em direção à traqueia para respiração mecânica). 7. Recebi orientações de forma clara e objetiva, sobre a finalidade e tempo de permanência do cateter venoso central. (Dispositivo venoso, para administrar medicações e soros que fica localizado próximo ao ombro ou pescoço). 8. Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre o cateter venoso periférico. (punção venosa realizada em membro superior direito ou esquerdo, para infusão de medicamentos). 9. Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre a finalidade e permanência do cateter arterial. (Dispositivo localizado no pulso direito ou esquerdo para verificar a pressão arterial). Discordo Discordo Completamente (%) (%) Nem concordo, nem discordo (%) Concordo (%) Concordo Completamente (%) Total (%) 5 4 4 1 16 30 (16,7%) (13,3) (13,3%) (3,3%) (53,3%) (100%) 5 9 1 3 12 30 (16,7%) (30%) (3,3%) (10%) (40%) (100%) 8 7 4 2 9 30 (26,7%) (23,3%) (13,3%) (6,7%) (30%) (100%) 4 9 5 4 8 30 (13,3%) (30%) (16,7%) (13,3%) (26,7%) (100%) 7 9 4 3 7 30 (23,3%) (30%) (13,3%) (10%) (23,3%) (100%) 153 Porcentual Acumulativo (%) 100 100 100 100 100 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 Itens 10. Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre a utilização de drenos. (Dreno pleural localizado no tórax direito ou esquerdo e ou mediastino, localizado entre as costelas, serve para retirar o excesso de líquidos provenientes do ato cirúrgico). 11. Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre o cateter vesical de demora. (Dispositivo para eliminar urina). 12. Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre a permanência dos curativos no local da incisão cirúrgica (corte cirúrgico). 13. Através da orientação soube identificar e entender a necessidade de estar monitorizado e em Ventilação Mecânica (respiração através de aparelho). 14. Recebi orientações sobre o despertar pós-anestésico na UTI de que estaria restrito ao leito. (contenção de membros realizada com amarras em punho). Discordo Discordo Completamente (%) (%) Nem concordo, nem discordo (%) Concordo (%) Concordo Completamente (%) Total (%) 9 7 3 5 6 30 (30%) (23,3%) (10%) (16,7%) (20%) (100%) 6 9 2 3 10 30 (20%) (30%) (6,7%) (10%) (33,3%) (100%) 6 5 3 3 13 30 (20%) (16,7%) (10%) (10%) (43,3%) (100%) 6 8 3 3 10 30 (20%) (26,7%) (10%) (10%) (33,3%) (100%) 6 9 5 3 7 30 (20%) (30%) (16,7%) (10%) (23,3%) (100%) Fonte: Elaboração própria. 154 Porcentual Acumulativo (%) 100 100 100 100 100 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 Itens 15. Conforme orientação prévia consegui relatar sobre a dor e solicitar analgesia. (Solicitei medicação para dor sempre que esta me trouxe desconforto). 16. Recebi orientação sobre os ruídos internos da UTI, referentes aos alarmes de monitores, telefones e equipamentos necessários. 17. Fui esclarecido sobre a iluminação e temperatura na UTI. (Iluminação muito clara e temperatura menor que a temperatura ambiente). 18. Consegui identificar e ficar tranquilo referente ao fluxo da equipe multiprofissional que atua na UTI? (Número maior de funcionários no setor em relação à unidade de internação). 19. Recebi orientações sobre a utilização de travesseiro e assumir posição antálgica ao tossir. (Exercícios respiratórios realizados antes da cirurgia que permitirão uma postura adequada para minimizar a dor). Discordo Discordo Completamente (%) (%) Nem concordo, nem discordo (%) Concordo (%) Concordo Completamente (%) Total (%) 3 3 1 3 20 30 (10%) (10%) (3,3%) (10%) (66,7%) (100%) 11 10 3 2 4 30 (36,7%) (33,3%) (10%) (6,7%) (13,3%) (100%) 13 11 0 2 4 30 (43,3%) (36,7%) - (6,7%) (13,3%) (100%) 4 1 3 5 17 30 (13,3%) (3,3%) (10%) (16,7%) (56,7%) (100%) 8 4 3 4 11 30 (26,7%) (13,3%) (10%) (13,3%) (36,7%) (100%) Fonte: Elaboração própria. 155 Porcentual Acumulativo (%) 100 100 100 100 100 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 Itens 20. Recebi orientação sobre exercícios de membros inferiores e recursos antitrombóticos. (Exercícios de flexão de membros inferiores que facilitam o retorno venoso). 21. Acredito que receber orientações sobre o ambiente UTI, monitorização, intubação e de todos os dispositivos venosos, drenos e sondas ajuda na recuperação pósoperatória. 22. As orientações passadas foram importantes para a aquisição de conhecimento. 23. Me senti tranquilo após as orientações sobre o meu procedimento (Cirurgia de Revascularização do Miocárdio). 24. Me senti mais seguro quanto às informações obtidas. 25. Estas ações colaboraram para minha recuperação. Discordo Discordo Completamente (%) (%) Nem concordo, nem discordo (%) Concordo (%) Concordo Completamente (%) Total (%) 9 3 1 4 13 30 (30%) (10%) (3,3%) (13,3%) (43,3%) (100%0 0 1 3 4 22 30 - (3,3%) (10%) (13,3%) (73,3%) (100%) 1 0 2 5 22 30 (3,3%) - (6,7%) (16,7%) (73,3%) (100%) 2 5 3 2 18 30 (6,7%) (16,7%) (10%) (6,7%) (60%) (100%) 1 3 3 4 19 30 (3,3%) (10%) (10%) (13,3%) (63,3%) (100%) 1 0 2 3 24 30 (3,3%) - (6,7%) (10%) (80%) (100%) de Cirurgia Cardíaca”, para o item 1 do “Questionário” - “O esclarecimento sobre o jejum no período pré-operatório foi eficaz”, observou-se que 83,% dos pacientes consideraram que as informações sobre o jejum fornecidas pela enfermagem foram eficazes. Entende-se que o jejum é necessário para que não surjam causas devastadoras para o indivíduo durante o ato cirúrgico e até após este, uma vez que a Porcentual Acumulativo (%) 100 100 100 100 100 100 presença de resíduos alimentares aumenta o risco de aspiração pulmonar20. Já o item 2 do “Questionário”, – “Fui orientado(a) sobre o preparo da pele (Banho e Tricotomia) a ser realizado antes da cirurgia. Raspagem de pelos em local do procedimento cirúrgico” observou-se que 83,3% haviam recebido tal orientação. A orientação sobre o 156 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 cuidado com a pele visa à diminuição de infecções nosocomiais, um dos estudos analisados descreve que cerca de 6% das infecções nosocomiais podem ser impedidas através de mínima intervenção. Métodos simples que podem ser usados para limitar o risco incluem a remoção de forma adequada dos pelos (Tricotomia)21. momento da admissão, diminuindo ansiedades e medos, orientando-o e a família sobre exames, médicos, medicações e também quanto à alta da Unidade de Terapia Intensiva23. Quanto ao item 6 -“Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre a cânula de intubação traqueal”, ao item 7 - “Recebi orientações de forma clara e objetiva, sobre a finalidade e tempo de permanência do cateter venoso central” e ao item 8 – “Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre o cateter venoso periférico”, a concordância dos entrevistados em terem recebido orientações nesses requisitos foi bem semelhante. Com relação ao item 6, apenas 50% da amostra; já no item 7 - 50 % dos pacientes relatam não terem obtido informações sobre o dispositivo; e no item 8 – 43% dos pacientes discordam em terem recebido orientações. Entende-se que, no processo de preparo para cirurgia, devem ser fornecidas orientações ao paciente quanto aos procedimentos invasivos de maneira clara, objetiva e de acordo com o nível cultural do paciente. Este deve ser orientado quanto à anestesia, intubação orotraqueal, utilização de tubos, sondas e cateteres, monitorização cardíaca, exercícios respiratórios, possibilidades de dor e administração de medicamentos14, 24. No item 3 – “Recebi orientações sobre a retirada dos adornos antes do centro cirúrgico (Próteses dentárias, alianças, piercing, joias e artigos religiosos). Recebi a orientação de cofre com segredo à minha disposição na unidade de internação”, constatou-se que 80% dos respondentes afirmam ter recebido algum tipo de informação a respeito. A retirada de prótese dentária, joias, piercing e adornos deve ser orientada pela equipe de enfermagem ao paciente e família. Quando possível, esses objetos devem ser entregues à família do paciente ou serem protocolados e guardados em cofre com segredo dentro da unidade de internação até que o paciente e familiar tenham condições de recebê-los de volta5. O item 4 tratou de “Fui esclarecido sobre o uso da camisola ou avental na ida ao Centro Cirúrgico e a retirada de roupas íntimas” – e observou-se que 83,3% dos entrevistados concordam que foram esclarecidos sobre o uso da camisola ou avental antes de serem conduzidos ao centro cirúrgico. As camisolas do hospital são apropriadas para o ato cirúrgico porque possuem abertura correta para facilitar a retirada, sendo seguras, limpas e apropriadas para o ambiente22. A terapia intravenosa (IV) é indicação para a maioria dos pacientes hospitalizados, sendo indispensável à condição da internação. Das atividades realizadas pelos profissionais de enfermagem a punção venosa periférica é uma das mais frequentes, exigindo competência técnica para sua realização, destreza manual e domínio de anatomia e fisiologia, habilidade prática, a escolha adequada do dispositivo e da veia adequada. A punção venosa periférica é realizada através de um cateter vascular, que é um tubo (cateter) inserido em um ducto ou vaso sanguíneo. É indicado para clientes que necessitem da administração de medicamentos e soluções. No caso de cirurgia cardíaca, deve ser colocado em vaso calibroso e seu tempo de permanência é de 72h. Deve-se orientar sobre flebite e solicitar No item 5 – “Meus familiares e/ou acompanhantes foram orientados sobre o procedimento cirúrgico, e como auxiliar-me no pós-operatório”, pôde-se notar que 56,6% afirmam ter recebido orientações. Entende-se que família deve ser orientada e tranquilizada quanto aos procedimentos, assim como ser informada sobre seus resultados, próximos procedimentos e quaisquer outras informações relevantes. O elo de ligação entre a família e o paciente se dá por meio da enfermeira, que assumirá o paciente no 157 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 que o paciente comunique se tem dor, sinais flogísticos ou extravazamento25, 26. de secreção na incisão, bem como a evolução da cicatrização, sem dúvida são importantes cuidados a serem considerados, na evolução do paciente de Cirurgia Cardíaca30. Já quanto ao item 9 – “Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre a finalidade e permanência do cateter arterial”; ao item 10 – “Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre a utilização de drenos” e ao item 11 – “Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre o cateter vesical de demora” – mais da metade dos pacientes discordam em terem recebido informações sobre o uso ou finalidade desses dispositivos. De acordo com o item 9 – 53,3% dos pacientes negam ter recebido informações sobre a cateterização arterial e a necessidade de sua permanência; já no item 10 – obteve-se a mesma discordância de 53,3% dos entrevistados. O item 11 obteve 50% de desaprovação dos pacientes sobre a orientação pela equipe de enfermagem. No item 13 – “Através da orientação soube identificar e entender a necessidade de estar monitorizado e em Ventilação Mecânica”, observa-se que 46,7% dos pacientes alegam não terem recebido orientações quanto à necessidade do uso de Ventilação Mecânica e da monitorização. A monitorização dos parâmetros ventilatórios é indispensável, auxiliando no ajuste adequado destes, reduzindo o risco de complicações induzidas pelo ventilador, otimizando a interação do paciente como esse dispositivo e determinando o momento ideal para a descontinuidade do suporte ventilatório31. No item 14 – “Recebi orientações sobre o despertar pós-anestésico na UTI de que estaria restrito ao leito” e no item 15 – “Conforme orientação prévia consegui relatar sobre a dor e solicitar analgesia”; observou-se que 50% dos pacientes não receberam informações sobre o despertar pós-anestésico e de possível quadro de agitação. Já a concordância de orientações sobre solicitação de analgesia foi bem expressiva, chegando a 73,7% dos 30 entrevistados. Na literatura as orientações com relação aos dispositivos de permanência são relatadas como fundamentais para o controle de infecções e complicações. A cateterização arterial periférica tem a finalidade da monitorização da pressão arterial média, para pacientes críticos, bem como facilita a coleta de amostras de sangue para exames laboratoriais27. Em cirurgias cardíacas, o emprego de drenos é imprescindível, pois estes permitem a drenagem de ar ou líquidos da cavidade pleural resultantes da manipulação cirúrgica, visando restabelecer a expansão pleural adequada. Já o uso de cateter estéril na bexiga com longa permanência permite o controle hídrico; a manipulação errada desses dispositivos é compatível com complicações e infecções que colocam a vida do paciente em risco28, 29. Compreende-se que a remoção acidental da cânula orotraqueal pelo paciente apresenta índices relevantes, exigindo que uma contenção macia no pulso do paciente seja empregada como último recurso. O enfermeiro deve comunicar antecipadamente ao paciente e a seus familiares sobre o procedimento e sua finalidade. Porém, a observação rigorosa é essencial para garantir a segurança e evitar a ocorrência de lesão32. Já o controle da dor pós-operatória é essencial para a assistência integral ao paciente cirúrgico, visto que estímulos dolorosos prolongados parecem predispor a maior sofrimento e complicações no pós-operatório33. Já no item 12 – “Recebi orientações de forma clara e objetiva sobre a permanência dos curativos no local da incisão cirúrgica” - nota-se que 53,3% concordam que foram esclarecidos sobre a permanência do curativo no local da incisão cirúrgica. Para alguns autores, a observação do aspecto, da coloração, da temperatura e a presença de sangramentos ou No que condiz ao item 16 – “Recebi orientação sobre os ruídos internos da UTI, referentes aos alarmes de 158 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 monitores, telefones e equipamentos necessários”, ao item 17 – “Fui esclarecido sobre a iluminação e temperatura na UTI” e ao item 18 – “Consegui identificar e ficar tranquilo referente ao fluxo da equipe multiprofissional que atua na UTI?” – observa-se que as orientações quanto ao barulho não são consideradas pelos profissionais de enfermagem, uma vez que 70% dos entrevistados negam terem recebido orientações. O mesmo ocorre com o item 17, onde 80% dos entrevistados relatam não terem sido alertados pelos profissionais de saúde. O mesmo não ocorre com o item 18, onde 73,4% alegam terem recebido orientação. O barulho excessivo tem sido apontado como um dos fatores determinantes do estresse, alguns pacientes parecem ser mais sensíveis ao barulho; outros, menos. A comunicação entre os multiprofissionais da UTI é um dos principais fatores que interferem na satisfação dos clientes34, 35. Compreende-se que no ambiente UTI a iluminação deve contar com luz natural para promover ao paciente noção de tempo e espaço, a temperatura deve permitir a escolha do que seja agradável36. das para realizar tosse com expectoração eficaz e reduzir a dor37. A prevenção da trombose venosa das veias profundas das pernas é a principal causa de embolia pulmonar. A formação de trombos nos membros inferiores pode ser prevenida evitando-se repouso prolongado na cama, movimentação ativa das pernas e uso de meias elásticas. Os exercícios de MMII devem ser orientados no pré-operatório pelo Enfermeiro e reforçada a sua prática no pós-operatório imediato devido ao repouso absoluto no leito5. Para que o adulto aprenda uma informação ou realize uma ação, é preciso que compreenda sua utilidade para melhor afrontar problemas reais de sua vida. Assim, é recomendado que o profissional de saúde, ao passar informações ao paciente, o faça explicando a utilidade prática de cada informação.16 No que se refere à tranquilidade do paciente com relação as informações passadas pela enfermagem, no item 22 – “As orientações passadas foram importantes para a aquisição de conhecimento”, 90% relataram ser importante; já no item 23 – “Me senti tranquilo após as orientações sobre o meu procedimento”, observou-se que 66,7% afirmaram se sentirem mais tranquilos após as orientações; no item 24 – “Me senti mais seguro quanto às informações obtidas”, os dados apontam que 66,6% concordam que se sentiram seguros com as informações obtidas; e no item 25 –“ Estas ações colaboraram para minha recuperação”, na maioria, 90% dos entrevistados concordam que os esclarecimentos colaboraram para sua recuperação. Já o item 19 – “Recebi orientações sobre a utilização de travesseiro e assumir posição antálgica ao tossir”; item 20 – “Recebi orientação sobre exercícios de membros inferiores e recursos antitrombóticos” e item 21 – “Acredito que receber orientações sobre o ambiente UTI, monitorização, intubação e de todos os dispositivos venosos, drenos e sondas ajuda na recuperação pós-operatória” – observou-se que, referente ao item 19, 50% dos pacientes receberam orientações, tanto sobre o uso de travesseiros quanto a necessidade de exercícios respiratórios. Já com relação ao item 20, 56,6% relatam terem recebido informações sobre exercícios de membros inferiores e recursos antitrombóticos. Com relação ao item 21, evidenciou-se que 86,6% dos sujeitos da pesquisa concordam que receberam orientações sobre o ambiente da UTI, monitorização, drenos e dispositivos utilizados para ajudar na recuperação pós-operatória. É necessário dar ao paciente a orientação sobre a pressão ao tórax com a utilização de travesseiros ou compressas enrola- O adequado conhecimento da situação que está por vir, neste caso a cirurgia, torna o paciente mais tranquilo e preparado para a intervenção cirúrgica. A orientação pré-operatória é evidenciada através da percepção dos seres envolvidos como um momento provedor de calma e tranquilidade, noção, esclarecimento e conhecimento, instrução e coragem11. O paciente, ao ser submetido a um 159 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 evento cirúrgico, tem suas necessidades psicológicas e fisiológicas básicas alteradas, o que afeta o seu equilíbrio físico-emocional.9 . Todo paciente deve ter suas necessidades consideradas e avaliadas pela equipe de enfermagem, sendo a orientação parte do procedimento. Essa afirmação demonstra que a orientação de enfermagem elaborada de forma planejada para atender e minimizar os anseios do paciente acerca do procedimento cirúrgico repercute de forma positiva na sua recuperação11, 38. relação às orientações fornecidas. O predomínio de crítica nesse sentido serve como alerta da necessidade de mudanças sobre as orientações fornecidas pela equipe de enfermagem. Na revisão da literatura, foi ressaltado, ao longo do estudo, o quanto o ambiente da UTI é temível aos pacientes, sendo o local de maiores dúvidas. Esta, infelizmente, ainda é um lugar desafiador ao imaginário humano, associado à gravidade e à morte, portanto um ambiente hostil, capaz de gerar um medo imprevisível e incontrolável a quem necessita de cuidados especializados19. O item 26, identificado como “Deixe sua crítica, sugestão ou elogio às orientações que recebeu e se faltou orientação de seu interesse” – (Gráfico1) apontou que 44% dos entrevistados apresentaram críticas com O estudo proposto nesta pesquisa objetivou avaliar a eficácia da orientação de enfermagem em 160 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 perioperatório de cirurgia cardíaca de RM. Buscamos evidenciar tanto por meio dos resultados quanto pelo conflito destes com a literatura existente, que o paciente previamente orientado sobre procedimentos cirúrgicos apresenta melhor resposta de recuperação e maior disposição para colaborar durante a execução destes. mostraram-se menos eficientes. Verificamos que o paciente não é informado sobre o ambiente da UTI e dispositivos com que irá se deparar após narcose anestésica (sondas, drenos cateteres e intubação orotraqueal), e assim não sabe a finalidade dos mesmos e, portanto, a colaboração e a compreensão ficam prejudicadas. Com foco numa enfermagem moderna e holística, não centrada apenas na execução do cuidado, mas atenta ao direito do paciente e família a informações pertinentes ao período perioperatório, deve-se objetivar esclarecer e minimizar todas as dúvidas, dando o suporte esperado e facilitando a aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem, norteando os diagnósticos de enfermagem e facilitando o plano de intervenções. Como acadêmicos de enfermagem destacamos a necessidade de uma orientação contínua que possa garantir ao paciente autonomia de conhecimento. Para a enfermagem fica o desafio de tornar a orientação de cirurgia cardíaca um instrumento individualizado, capaz de fornecer conhecimento sobre todos os processos, corroborando, assim, para minimizar o estresse cirúrgico que o paciente vivencia. Nesta pesquisa, se nota que as orientações referentes ao pré-operatório atenderam às necessidades da grande maioria da amostra e que orientações pertinentes ao período pós-operatório em UTI Sugerimos a realização de novos estudos voltados à elaboração de instrumentos de orientação, em cirurgia cardíaca, recorrendo-se a esses cuidados com evidências científicas. REFERÊNCIAS 5. B runner L, Suddarth D. Tratado de enfermagem 1. S ousa R. Perfil de morbimortalidade brasileira e médica cirúrgica. 11. ed. Rio de Janeiro: Mcgraw Hill; 2009. suas repercussões sociais. In: Calil A, Paranhos W. O enfermeiro e as situações de emergência. São Paulo: Atheneu; 2007. p. 3-6. 6. B rasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 1.820/09. 2.Galdeano LE, Rossi LA, Nobre LF, Ignácio DS. Diagnóstico de enfermagem de pacientes no período transoperatório de cirurgia cardíaca. Rev Latino-Am Enfermagem 2003 Mar.;11(2):199-206. Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde. 2009 [Acesso em 12 set. 2012]; Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1820_13_08_2009.html. 3. P êgo-Fernandes PM, Gaiotto FA, Guimarães- 7. B rasil. Ministério da Saúde. Constituição Federal. Lei n. 8.080/90. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 1990 [Acesso em 15 set. 2012]; Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. -Fernandes F. Estado atual da cirurgia de revascularização do miocárdio. Rev Med 2008 abr.-jun.;87(2):92-8. 4. Conselho Federal de Enfermagem. Decreto 94.406 de 08 de junho de 1987 (BR). Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986,que dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras providências. 1987 [Acesso em 20 set. 2012]; Disponível em: http://novo.portalcofen. gov.br/decreto-n-9440687_4173.html. 8. Brasil. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários de saúde. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2007. 161 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 9. H udak C, Gallo B. Cuidados intensivos de enfer- 20. Moro ET. Jejum pré-operatório. Rev Fac Ciênc Méd 10. Kawamoto E. Enfermagem em clínica cirúrgica. 21. B rasil. Ministério da Saúde. Organização Mundial magem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. Sorocaba 2003 5(1):27-9. São Paulo: EPU; 1986. da Saúde: segundo desafio global para a segurança do paciente: cirurgias seguras salvam vidas (orientações para cirurgia segura daOMS). Rio de Janeiro: Organização Pan-Americana da Saúde; 2009. 11. B aggio MA, Teixeira A, Portella MR. Pré-operató- rio do paciente cirúrgico cardíaco: a orientaçäo de enfermagem fazendo a diferença. Rev gaúch enferm 2001 jan.;22(1):122-39. 22. C astanheira S. Importância das orientações de enfermagem no pré-operatório [Monografia]. Maringá/PR: Centro Universitário de Maringá; 2007. 12. S adala MLA, Stefanelli MC. Avaliação do ensino de relacionamento enfermeira-paciente. Rev Latino-Am Enfermagem 1996 Apr. ;4(spe):139-52. 23. B erg MRR, Cordeiro ALAO. Orientação e registro 13. S ouza A, Mansur A. SOCESP - Cardiologia: Socie- pré-operatório para o cuidar em enfermagem. Rev Baiana Enfermag 2006 20(1/2/3):57-67. dade de Cardiologia do Estado de São Paulo. São Paulo: Atheneu; 1996. 24. Cunha J, Povoa P. Cateteres venosos centrais e in- 14. Zago MMF, Casagrande LDR. A comunicação do fecção: proposta de protocolo. Rev Portug Med Inten 1999 8(1):26-33. enfermeiro cirúrgico na orientação do paciente: a influência cultural. Rev Latino-Am Enfermagem 1997 Oct. ;5(4):69-74. 25. O liveira FT, Silva LD. Uso da solução salina para manutenção de acessos venosos em adultos: uma revisão. Rev bras enferm 2006 Dec;59(6):787-90. 15. F reire P. Ação cultural para a liberdade. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra; 1997. 26. T orres MM, Andrade D, Santos CB. Punção venosa 16. Leite M, Caprara A, Coelho Filho J. Habilidades de periférica: avaliação de desempenho dos profissionais de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem 2005 June;13(6):299-304. comunicação com pacientes e famílias. São Paulo: Sarvier; 2007. 17. Souza NVDO, Silva MF, Marques GS, Rodrigues 27. B edford R. Invasive blood pressure monitoring. In: FR, Cruz ÉJER. Avaliando as orientações de enfermagem no período perioperatório segundo perspectivas do cliente cirúrgico. Online braz j nurs (Online) 2006 5(1):1-10. Casey D. Blit:monitoring in anesthesia and critical care medicine. New York: Churchill Livingstone; 1990. p. 93-132. 28. B ueno DF, Kerkis I, Costa AM, Martins MT, Ko- 18. G onçalves M, Real A, Nascimento J, Machado A, bayashi GS, Zucconi E, et al. New source of muscle-derived stem cells with potential for alveolar bone reconstruction in cleft lip and/or palate patients. Tissue Eng Part A 2009 Feb;15(2):427-35. Albuquerque I, Barbosa V. Análise da Prevalência de Cirurgia Cardíaca no Serviço de Reabilitação Cardíaca do Hospital Universitário de Santa Maria-Revicardio e sua relação com a idade e gênero. 2012 [Acesso em 27/10/2012]; Disponível em: http://www.unifra.br/eventos/sepe2012/Trabalhos/5351.pdf. 29. S ouza V, Mozachi N. O hospital: manual do am- biente hospitalar. 10. ed. Curitiba: Manual Real; 2008. 19. L emos RCA, Rossi LA. O significado cultural atri- 30. Auler JO, Jr., Barreto AC, Gimenez SC, Abel- buído ao centro de terapia intensiva por clientes e seus familiares: um elo entre a beira do abismo e a liberdade. Rev Latino-Am Enfermagem 2002 June;10(3):345-57. lan DM. Pediatric cardiac postoperative care. Rev Hosp Clin Fac Med Sao Paulo 2002 MayJun;57(3):115-23. 162 Relato de Pesquisa/Research Reports ISSN 2176-9095 Mussi GM, Souza KM, Félix MS. Avaliação da orientação de enfermagem no período perioperatório de cirurgia cardíaca • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 147-63 31. J ubran A. Advances in respiratory monitor- 35. M oritz RD. Como melhorar a comunicação e pre- ing during mechanical ventilation. Chest 1999 Nov;116(5):1416-25. venir conflitos nas situações de terminalidade na Unidade de Terapia Intensiva. Rev bras ter intensiva 2007 Dec;19(4):485-9. 32. A lves J. Auxílio de enfermagem na intubação oro- 36. Ribeiro R, Jatobá M. Humanização na unidade de traqueal. São Paulo: Associação Paulista para o desenvolvimento da medicina; 2006 [Acesso em 17 set. 2012]; Disponível em: http://www.unifesp. br/hsp/testealfa/arquivos/hsp/assist/espec/uti/ uti_s_4.pdf. terapia intensiva: enfermagem em unidade de terapia intensiva. 2. ed. São Paulo: Martinari; 2011. 37. B runner L, Suddarth D. Tratado de enfermagem médica-cirúrgica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. 33. S ilva YB, Pimenta CAM. Análise dos registros de enfermagem sobre dor e analgesia em doentes hospitalizados. Rev esc enferm USP 2003 june;37(2):109-18. 38. L eite J, Correa D, Fernandes C. Necessidades e expectativas do paciente em pós-operatório de cirurgia cardíaca: avaliação de uma abordagem prática. Rev Bras Enferm 1985 38(314):238-44. 34. B iley F. Efeitos do ruído em hospitais. Nursing 1995 8(87):18-21. 163 Artigo de Revisão/Review Articles ISSN 2176-9095 Science in Health set-dez 2013; 4(3): 164-8 ADMISSÕES EM CENTRO CIRÚRGICO CLASSIFICADAS POR ESPECIALIDADE DE PACIENTES EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA: UM BREVE ESTUDO OBSERVACIONAL SURGICAL CENTER ADMISSIONS CLASSIFIED BY SPECIALTY FOR PATIENTS IN EMERGENCY SITUATIONS: A BRIEF OBSERVATIONAL STUDY José Roberto Souza Pereira 1 Evanilza Borges Alves 2 João Victor Fornari 3 Anderson Sena Barnabé 4 Renato Ribeiro Nogueira Ferraz 5 RESU MO Este estudo observacional foi realizado em um hospital municipal da Zona Sul da capital paulista com o objetivo de identificar os motivos das admissões dos pacientes em situações de emergência, agrupando-os por especialidade no centro cirúrgico, bem como o destino dos mesmos após a cirurgia. Os dados obtidos são provenientes do acompanhamento de 20 indivíduos atendidos em um período determinado. Os resultados mostraram que os traumas foram os motivos mais comuns para a admissão de pacientes no setor descrito, principalmente os encaminhados para a neurocirurgia. Todavia, boa parte dos pacientes permaneceu internada na recuperação pós-anestésica ao invés de serem encaminhados para a unidade de terapia intensiva (na maioria dos casos por falta de leitos na unidade), privando-os do atendimento por profissionais mais bem treinados para esse tipo de situação. Novos estudos que acompanhassem pacientes nas mesmas condições por um tempo maior após a cirurgia e durante o período de recuperação poderiam dizer se a não transferência para o setor mais indicado influenciaria no prognóstico. Palavras-chave: Medicina de Emergência • Cirurgia Geral • Unidades de Terapia Intensiva ABSTRACT This observational study was conducted in a municipal hospital located in the southern São Paulo city with the aim of identifying the reasons for admissions of patients in emergency situations, grouping them by specialty in the surgical center, as well as by their destination after surgery. The data are obtained from the monitoring of 20 patients seen in a given period. The results showed that trauma was the most common reason for admission of patients described in the sector, mainly referred for neurosurgery. However, many patients remained hospitalized in the post-anesthetic recovery instead of being sent to the intensive care unit (in most cases for lack of beds in the unit), depriving them of specialized care by professionals trained for this type situation. New studies to accompany patients under the same conditions for a longer period of time after surgery and during the recovery period could tell if the lack of on time transfer to the most appropriate sector would influence the prognosis. Key words: Emergency Medicine • General Surgery • Intensive Care Units 1 Graduado em Enfermagem pela Universidade Ítalo Brasileira. Especialista em Saúde Coletiva com ênfase em Programa de Saúde da Família pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) – SP. [email protected] 2 Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Ciências Humanas, Saúde e Educação de Guarulhos. Especialista em Saúde Coletiva com ênfase em Programa de Saúde da Família pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) – SP [email protected] 3 Enfermeiro e Nutricionista, Mestre em Farmacologia pela UNIFESP. Docente do Departamento de Saúde da UNINOVE. Professor dos cursos de Pós-graduação da Universidade Gama Filho – UGF [email protected] 4 Biólogo, Mestre e Doutor em Saúde Pública pela USP – SP. Docente do Departamento de Saúde da UNINOVE. Professor dos cursos de Pós-graduação da Universidade Gama Filho – UGF [email protected] 5 Biólogo, Mestre e Doutor em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo – SP. Professor do Mestrado Profissional em Gestão em Sistemas de Saúde da UNINOVE - SP. Professor dos cursos de Pós-graduação da Universidade Gama Filho – UGF. [email protected] 164 Artigo de Revisão/Review Articles ISSN 2176-9095 Pereira JRS, Alves EB, Fornari JV, Barnabé AS, Ferraz RRN. Admissões em centro cirúrgico classificadas por especialidade de pacientes em situações de emergência: um breve estudo observacional • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 164-8 INTRODUÇÃO atendimento durante todo o período perioperatório5. Os acidentes e as situações violentas, assim denominados pela Classificação Internacional de Doenças (CID) na sua décima revisão, como causas externas de lesões e envenenamento, têm sido motivos constantes de atendimentos e de internações no Brasil, resultando em alta demanda aos serviços de saúde, além do inerente sofrimento das vítimas. Ainda, elevados custos diretos e indiretos, com respeito ao próprio evento e também a suas sequelas, comprometem a qualidade de vida dos que por eles foram acometidos 1. Todos os fatores previamente discutidos que afetam os pacientes na preparação para a cirurgia aplicam-se a esses pacientes, em geral em um intervalo de tempo muito condensado. Na realidade, a avaliação pré-operatória pode coincidir com os esforços de reanimação no departamento de emergência. Para o paciente inconsciente, o consentimento informado e as informações essenciais, como as alergias e a história clínica pregressa pertinente precisam ser obtidos a partir de um membro da família, quando a cirurgia de emergência decorre do trauma5. O estado psicológico do paciente que se submete a cirurgia de emergência deve ser rapidamente examinado quando ele está acordado. O paciente pode ter sofrido uma experiência muito ameaçadora e precisar de suporte e explicações adicionais sobre a cirurgia5. O atendimento adequado e o tempo decorrido entre o acidente e a admissão hospitalar é um fator extremamente relevante para reduzir a mortalidade das vítimas de lesões produzidas por acidentes e violência. A primeira hora após a ocorrência de uma lesão traumática é considerada o tempo crítico para a instituição do tratamento que modificará o prognóstico 2. Perante as informações aqui apresentadas, julga-se importante a realização da quantificação dos motivos de admissão em um centro cirúrgico com o intuito de, conhecendo-se melhor as características da população atendida, sistematizar o atendimento e melhorar o desempenho dos profissionais envolvidos. Após o atendimento na emergência hospitalar, os pacientes vítimas de acidentes e violência, ou até mesmo acometidos por doenças com diagnósticos desconhecidos e que correm risco de morte, são encaminhados ao centro cirúrgico para a equipe especializada, com o intuito de serem submetidos a procedimentos cirúrgicos variados 3 OBJETIVO Clavreul4 (1983) ressalta que o estudante de medicina é submetido a um discurso que tem como finalidade desenvolver um saber absoluto e positivo. Tal discurso considera a doença e não o ser humano, além de excluir a subjetividade, tanto de quem fala como de quem escuta. O corpo é tido como local da doença e nunca sede de desejo. Assim, o médico é obrigado a pesquisar a causalidade da doença em fatos materiais. Identificar os motivos das admissões dos pacientes em situações de emergência no centro cirúrgico, categorizando-os por especialidade, bem como verificar o destino deles após o atendimento, visando conhecer a realidade da unidade e buscando criar programas de sistematização do atendimento. MÉTODO Trata-se de um estudo prospectivo, quantitativo e observacional, realizado no período de agosto de 2011, nos dias ímpares, horário noturno, em um hospital municipal localizado na Zona Sul da Cidade de São Paulo - SP, considerado referência em As cirurgias de emergência não são planejadas e ocorrem com pouco tempo para a preparação. A natureza imprevisível do trauma e da cirurgia de emergência gera desafios únicos para a equipe de 165 Artigo de Revisão/Review Articles ISSN 2176-9095 Pereira JRS, Alves EB, Fornari JV, Barnabé AS, Ferraz RRN. Admissões em centro cirúrgico classificadas por especialidade de pacientes em situações de emergência: um breve estudo observacional • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 164-8 atendimento de emergência. ingestão de corpo estranho = 5% (01 indivíduo); abdome perfurado = 5% (01 indivíduo) e ferimento abdominal = 5% (01 indivíduo). Foram incluídos neste estudo todos os pacientes encaminhados em caráter de emergência e que foram conduzidos de imediato ao centro cirúrgico da Instituição. Dos indivíduos atendidos foram observados dados como sexo, idade, etnia, motivos da admissão, especialidades cirúrgicas às quais foram encaminhados, bem como o seu destino. Os dados foram apresentados por suas frequências absoluta e relativa ao total da amostra, sem a aplicação de testes estatísticos específicos. Em relação à especialidade cirúrgica, 35% (07 indivíduos) foram encaminhados para a neurocirurgia; 30% (06 indivíduos) para a ortopedia; 20% (04 indivíduos) para a cirurgia geral; 10% (02 indivíduos) para a endoscopia e 5% (01 indivíduo) para a buco-maxilo. Quanto ao destino dos pacientes no pós-operatório, 85% (17 indivíduos) foram encaminhados à recuperação anestésica, 10% (02 indivíduos) para UTI adulto e 5% (01 indivíduo) para UTI pediátrica. Todos os pacientes arrolados neste estudo (ou seus responsáveis) consentiram na utilização de tais informações através da assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Nenhuma informação que pudesse identificar os pacientes ou a Instituição onde este trabalho foi realizado foi divulgada. Esta pesquisa foi registrada no Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e aprovada pela instituição onde foi realizada por estar de acordo com as diretrizes previstas na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde quanto aos seus aspectos éticos e legais. DISCUSSÃO Identificar os motivos das admissões hospitalares em condições de emergência é essencial, pois, conhecendo-se as causas dessas admissões, podem ser criados protocolos de atendimento compatíveis com cada tipo de necessidade, reduzindo o tempo de espera, contribuindo para um melhor prognóstico do indivíduo afetado. RESULTADOS Os resultados deste trabalho mostram que o número de admissões é maior em relação ao sexo masculino. Isso se justifica pelo fato destes indivíduos estarem mais expostos às violências e acidentes, o que contribui, na maior parte das indicações, para atendimento de emergência pelas equipes do trauma2. No período descrito, foram admitidos 20 pacientes, sendo 65% do sexo masculino (13 indivíduos) e 35% do sexo feminino (07 indivíduos), com média de idade de 33 ± 21 anos. Quanto à etnia, observou-se que 45% (09 indivíduos) eram pardos, 35% (07 indivíduos) eram brancos, e 20% (04 indivíduos) negros. Embora tenhamos trabalhado com um número pequeno de admissões, oriundo de doze dias de observação, os percentuais apresentados nas admissões de negros e pardos contrariam a pesquisa populacional realizada por Campante6, cujos resultados mostram um índice de acometimento menor dessas duas populações na região Sudeste do Brasil, local onde o estudo foi realizado. Acreditamos que, para relacionar o número de admissões por etnia com a frequência da etnia na população, pesquisas Ao se avaliar os motivos de admissão, foram identificadas as seguintes incidências: TCE (Traumatismo Crânio Encéfalo) = 35% (07 indivíduos); fratura de membros superiores = 15% (03 indivíduos); fratura de membros inferiores = 15% (03 indivíduos); dor abdominal = 10% (02 indivíduos); fratura de mandíbula = 5% (01 indivíduo); HDA (Hemorragia Digestiva Alta) = 5% (01 indivíduo); 166 Artigo de Revisão/Review Articles ISSN 2176-9095 Pereira JRS, Alves EB, Fornari JV, Barnabé AS, Ferraz RRN. Admissões em centro cirúrgico classificadas por especialidade de pacientes em situações de emergência: um breve estudo observacional • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 164-8 arrolando uma quantidade bem maior de indivíduos são imprescindíveis. cirurgia, para uma unidade de recuperação compatível com suas necessidades põe em risco a sua recuperação, devido aos perigos que podem ocorrer por falta de profissionais capacitados, equipamentos e materiais insuficientes para a sua recuperação. Vale lembrar a necessidade de cada unidade hospitalar conhecer a clientela à qual presta serviço, visando fornecer atendimento imediato dentro das necessidades de cada paciente. Para isso, levantamentos periódicos das admissões por especialidade cirúrgica, das características dos pacientes atendidos e do desfecho dos casos seriam uma importante ferramenta para a melhora contínua dos serviços prestados. Discutindo-se os motivos das admissões dos pacientes deste estudo, nota-se que são compatíveis com o perfil de um hospital de referência nos atendimentos de emergência, sejam tais atendimentos decorrentes de violência, acidentes ou até mesmo doenças com diagnósticos desconhecidos, prevalecendo os traumas com os percentuais maiores2. Com respeito às especialidades cirúrgicas mais solicitadas, os resultados obtidos mostram uma incidência maior das admissões relacionadas com as especialidades envolvidas nos atendimentos de emergências de traumas, sendo as três primeiras a neurocirurgia com 35%, a ortopedia com 30% e a cirurgia geral com 20% dos atendimentos. Martins1 (2005)apresentou resultados diferenciados com relação aos percentuais de atendimentos de traumas, estando estes envolvidas com boa parte dos atendimentos cirúrgicos. Em seu estudo, TCE significou 33% dos atendimentos, realizados pela neurocirurgia. As fraturas representaram 9,2%, dos atendimentos direcionados para a ortopedia. Ainda, 4,8% dos atendimentos do trauma foram direcionados para cirurgia geral. Reconhecemos que este é apenas um estudo piloto, realizado com uma amostra populacional muito reduzida, e que levantou apenas a prevalência pontual de um fenômeno específico. Todavia, chamamos a atenção para a necessidade da realização de trabalhos controlados, com amostra significativa, e que comparem resultados de vários centros, com o intuito de averiguar se o fenômeno aqui observado poderá se repetir quando estudado em maior escala. CONCLUSÃO Por fim, foi observado neste trabalho o alto percentual de encaminhamento para recuperação anestésica após o atendimento cirúrgico. É sabido que a sala de recuperação anestésica é o setor de destino do maior número dos pacientes que são submetidos à cirurgia. Todavia, os resultados deste estudo não demonstraram que todos os pacientes tinham indicação de recuperação nesse setor. Alguns deles apresentavam necessidade de encaminhamento para as Unidades de Terapia Intensiva, que na ocasião encontravam-se com sua lotação esgotada. Por esse motivo, os resultados apontam o baixo percentual no destino dos pacientes para as UTIs adulto e pediátrica. Os dados deste breve levantamento categorizaram as admissões de emergência por especialidade, prevalecendo os maiores percentuais nas admissões de traumas, em indivíduos do sexo masculino, na especialidade de neurocirurgia. Quanto ao destino no pós-operatório, a recuperação anestésica prevaleceu com maior percentual. A falta de vagas nas UTIs fez com que muitos pacientes acabassem sendo encaminhados para a recuperação anestésica. Estudos realizados num maior período de tempo, com maior número de pacientes, e com um acompanhamento mais prolongado no pós-operatório, poderiam elucidar se a transferência para a recuperação pós-anestésica e não para a UTI influenciou no prognóstico dos pacientes. O não encaminhamento desses pacientes, após a 167 Artigo de Revisão/Review Articles ISSN 2176-9095 Pereira JRS, Alves EB, Fornari JV, Barnabé AS, Ferraz RRN. Admissões em centro cirúrgico classificadas por especialidade de pacientes em situações de emergência: um breve estudo observacional • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 164-8 REFERÊNCIAS 1. M artins CBG, Andrade SM. Causas externas entre 4. Clavreul J. A ordem médica: poder e impotência do menores de 15 anos em cidade do sul do Brasil: atendimentos em pronto-socorro, internações e óbitos. Rev Bras Epidemiol 2005 jun;8(2):194-204. discurso médico. São Paulo: Brasiliense; 1983. 5. M eeker MH RJ. Alexander: cuidados de enferma- gem ao paciente cirúrgico. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. 2. L adeira RM, Barreto SM. Fatores associados ao uso de serviço de atenção pré-hospitalar por vítimas de acidentes de trânsito. Cadernos de Saúde Pública 2008 24(2):287-94. 6. C ampante FR, Crespo ARV, Leite PGPG. Desigual- dade salarial entre raças no mercado de trabalho urbano brasileiro: aspectos regionais. Revista Brasileira de Economia 2004 jan/jun;58(2):185-210. 3. R ezende JM. Cirurgia e patologia. Acta Cirurgica Brasileira 2005 set/out;20(5):346. 168 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Science in Health set-dez 2013; 4(3): 169-72 COMPARAÇÃO ENTRE A TAXA DE SOBREVIDA DO ENXERTO RENAL ORIUNDO DE DOADOR CADÁVER E DOADOR VIVO COMCPARISON OF RENAL ALLOGRAFT SURVIVAL RATE FROM CADAVER DONORS AND FROM LIVING DONORS Jéssica Suller Garcia 1 João Victor Fornari 1 Daniele Rodrigues 2 Renato Ribeiro Nogueira Ferraz 2 Maria Jose Leonardo 2 Daniela Angelo 2 Demetrius Paiva Arçari 3 Israel Silva 2 Anderson Bernabé 2 RESU MO Introdução: O primeiro transplante renal data de 1960; porém, ele continua sendo o tratamento de escolha para a doença renal crônica avançada. O número de órgãos de doadores cadáveres não é suficiente para a quantidade de pessoas na fila de espera para o transplante; logo, o órgão de doador vivo também é utilizado. Objetivos: Realizar uma revisão sistemática sobre a taxa de sobrevida do enxerto renal oriundo de doadores cadáver e vivo. Métodos: Foi feita uma pesquisa bibliográfica na base de dados PubMed/MEDLINE, no período de agosto a outubro de 2012. Resultados: Foram incluídos 11 artigos, que relacionavam o estudo entre os dois tipos de doadores. Conclusão: O órgão oriundo de doador vivo apresenta melhor sobrevida devido ao menor tempo de isquemia fria, menor tempo de diálise do paciente e melhor compatibilidade entre receptor e doador. Palavras-chave: Transplante de rim • Doadores de tecidos • Doadores vivos • Sobrevivência de enxerto. ABST R ACT Introduction: The first kidney transplant date from 1960, however, it remains the treatment of choice for advanced chronic kidney disease. The number of organs from cadaver donors is not enough for the amount of people on the waiting list for transplantation, so the organ from a living donor is also used. Objectives: Conduct a systematic review on survival rates of kidney graft derived from cadaver donors and alive. Methods: It was performed a literature search in PubMed/MEDLINE, from August to October 2012. Results: Eleven articles were included, related to the study between the two types of donors. Conclusion: The organ derived from a living donor has a better survival due to less cold ischemia time, shorter dialysis patient and better compatibility between recipient and donor. Key words: Kidney transplantation • Tissue donors • Living donors • Graft survival. 1 Departamento de Biotecnologia da Universidade Nove de Julho – UNINOVE – São Paulo, SP, Brasil 2 Departamento de Saúde da Universidade Nove de Julho – UNINOVE – São Paulo, SP, Brasil 3 Departamento de Saúde da Universidade Nove de Julho – UNINOVE – São Paulo, SP, Brasil - departamento de Saúde do Centro Universitário Amparense – UNIFIA – Amparo, SP, Brasil 169 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Garcia JS, Fornari JV, Rodrigues D, Ferraz RRN, Leonardo MJ, Angelo D, Arçari DP, Silva I, Bernabé A. Comparação entre a taxa de sobrevida do enxerto renal oriundo de doador cadáver e doador vivo • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 169-2 INTRODUÇÃO MÉTODOS A ideia de transplante de órgãos é muito antiga na humanidade. Muitas são as esculturas e pinturas em que quimeras são representadas. No entanto, o transplante de órgãos passou da fantasia à possibilidade quando, no início de século XX, se aprimoraram as técnicas cirúrgicas que permitiram efetivamente a realização de enxertos1. Tal procedimento tornou-se o mais eficiente tratamento para uma série de doenças terminais2. Uma das mais notáveis realizações da Medicina no século XXI é o marcante sucesso dos transplantes e isso é bem ilustrado pelos transplantes renais1. Uma revisão sistemática foi realizada através de pesquisas no banco de dados PubMed/ MEDLINE utilizando a seguinte estratégia de busca: (((renal transplant) AND graft survival) AND cadaver donor) AND living donor). O filtro foi utilizado na interface “Advanced”. Foram recuperados artigos através dos seguintes critérios de inclusão: textos integrais livres, publicados nos últimos cinco anos, tendo humanos como fonte dos estudos comparando a sobrevida do enxerto renal entre doadores cadáver e vivo. Devido ao baixo número de artigos encontrados na busca, todos foram lidos e utilizados na revisão. O primeiro transplante renal data de 1960, porém, ele continua sendo o tratamento de escolha para a doença renal crônica avançada1,3, a qual é definida como lesão renal, evidenciada por anormalidades estruturais e funcionais por mais de três meses ou persistente redução da filtração glomerular pelo mesmo período 4. A melhora da qualidade de vida e a redução de mortalidade para a maioria dos pacientes fizeram com que esse procedimento se firmasse como a melhor terapêutica há mais de 50 anos1, além de apresentar um custo mais baixo do que a diálise3. RESULTADOS A revisão da literatura foi finalizada no dia 14 de Outubro de 2012. Um total de 08 artigos foi encontrado, dos quais apenas um se adequou aos critérios de inclusão. Depois de uma leitura cuidadosa e de uma análise, 07 artigos foram excluídos por não compararem a sobrevida do enxerto renal entre receptores de órgão de cadáver e de vivo. Logo, com base nas referências bibliográficas dos artigos, mais 08 trabalhos foram separados e incluídos no estudo por compararem a sobrevida do enxerto de doadores cadáver e vivos. No entanto, existe uma escassez de órgãos doados ao lado de uma crescente lista de espera, aumentando com o tempo de espera do paciente pelo órgão1. Doação de órgãos de cadáver deve ser desenvolvida em cada país, tanto quanto possível, como indicado na Resolução Madrid. No entanto, a doação de rim vivo deve ser considerada uma parte importante de qualquer programa de transplante de órgãos. Pela resolução, a Organização Mundial de Saúde insta os Estados-membros “... para estender o uso de doações de rins vivos quando possível” 2. Segundo Rajaeefard et al.4 (2012), apesar de não haver relação significativa entre a taxa de sobrevivência e o tipo de doador, a prevalência de rejeição foi muito maior em transplantes de doadores falecidos (25,8%), enquanto que em doadores vivos, aparentados e não aparentados, a prevalência de rejeição foi de 5% e 8,7%, respectivamente. No estudo de Guirado et al.5 (2008), levando-se em conta apenas o tipo de transplante recebido, os pacientes que recebem um transplante de doadores vivos têm melhor sobrevida do enxerto e apresentam melhores resultados do que aqueles que recebem de um doador falecido. A explicação poderia O seguimento do paciente transplantado renal é um caminho logo e complexo, sujeito a várias intercorrências1. 170 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Garcia JS, Fornari JV, Rodrigues D, Ferraz RRN, Leonardo MJ, Angelo D, Arçari DP, Silva I, Bernabé A. Comparação entre a taxa de sobrevida do enxerto renal oriundo de doador cadáver e doador vivo • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 169-2 estar na melhor compatibilidade de HLA, a idade mais jovem do receptor e o menor tempo de diálise do transplantado de doador vivo. nica entre rins de vivos e doadores falecidos. Uma superexpressão renal significativa de muitos componentes da via do complemento são vistas em rins de doadores falecidos antes da reperfusão e tal fato pode prejudicar o enxerto. Porém, após o transplante, na ausência de qualquer função retardada do enxerto ou lesão histológica, a ativação adicional da unidade de expressão do gene de complemento independe da fonte doadora. Dada a associação previamente estabelecida de expressão do gene do complemento com a rejeição aguda do enxerto, pode-se supor que o meio local do aloenxerto renal está agora preparado para a ativação imunitária e lesão alvo em ambos os tipos de doadores. Entre os 1.204 receptores de rins de doadores vivos, 96 pacientes (7,97%) tiveram complicações vasculares enquanto 37 (12,5% dos 296 receptores de rins de cadáveres desenvolveram complicações vasculares, segundo o estudo de Salehipour e colaboradores6. O estudo de Berman et al.7(2008) utilizou resultados de dados da UNOS, a Rede Unida de Compartilhamento de Órgãos, que há muito tempo demonstrou que as melhores taxas de sobrevivência ocorrem em receptores de rins de doadores vivos. Por exemplo, a análise de cinco anos das taxas de sobrevivência de Kaplan Meier para transplantes de rim realizados entre 1995 e 2002 é de 90,5% para os beneficiários de doadores vivos, ao contrário de 82,5% para os pacientes que receberam órgãos de doadores falecidos. Já Graff et al.11 (2009), utilizaram dados de registro da OPTN para investigar associações de células T positivas (T+) e células T negativa / células B positiva (T-B+) com risco de falência precoce do enxerto (0-1 anos) e tardia (anos> 1-5) após o transplante. Em transplantados de doadores vivos, T-B+ estava associada com um risco relativo de cerca de 40% mais elevado de perda de enxerto no final do período de estudo. Padrões similares foram obtidos para doadores falecidos. O transplante renal de doador vivo possui várias vantagens sobre o transplante de doador cadáver, incluindo um tempo de espera menor com a possibilidade de transplante antes da diálise, uma menor taxa de perda gradativa da função do enxerto e melhora na sobrevivência deste a longo prazo, segundo informações obtidas na revisão de Akoh8. A análise crítica de Solà12 afirma que os melhores resultados na sobrevida do enxerto de doadores vivos com relação aos doadores cadáveres devem-se ao menor tempo do tratamento dialítico. Utilizando a sua base de dados de um centro único, Matas et al.9 (2008) verificaram que os sobreviventes após 10 anos do transplante tinham uma taxa relativamente constante de perda de enxerto, maior em receptores de doadores cadáveres do que de doadores vivos. Algumas dessas perdas do enxerto ocorreram devido à “morte com a função”, que é de se esperar com o envelhecimento da população. No entanto, a média de idade dos pacientes do estudo no momento da morte com a função foi de 55 ± 13 anos. Com base em todos os estudos relatados, verificamos que o órgão oriundo de doador vivo apresenta melhor sobrevida do enxerto no receptor. Tal fato somente é possível, porque o receptor de doador vivo acaba passando por menor tempo de diálise, o órgão fica menos tempo em isquemia fria (momento em que o órgão deixa o corpo do doador até o transplante no receptor) e a compatibilidade entre receptor e doador pode ser melhor estudada. Naesens et al10 (2009) forneceram uma análise em profundidade das diferenças de expressão gê- Esses estudos acabam por propiciar uma solução à extensa lista de espera por um rim na fila dos SÍNTESE DE EVIDÊNCIA 171 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Garcia JS, Fornari JV, Rodrigues D, Ferraz RRN, Leonardo MJ, Angelo D, Arçari DP, Silva I, Bernabé A. Comparação entre a taxa de sobrevida do enxerto renal oriundo de doador cadáver e doador vivo • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 169-2 transplantes, pois a doação de órgão de cadáver, embora em grande número, ainda não é suficiente e tal fato deve-se, ainda, ao medo e receio da família do falecido. Porém, faz-se necessário o estudo dos doadores vivos anos após o transplante para de fato se verificar se a sobrevida com apenas um rim não irá prejudicar o organismo dessa pessoa. REFERÊNCIAS 1. R iella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios 7. B erman E, Lipschutz JM, Bloom RD, Lipschutz hidroeletroliticos. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010. JH. The bioethics and utility of selling kidneys for renal transplantation. Transplant Proc 2008 Jun;40(5):1264-70. 2. C iszek M, Paczek L, Lukow P, Rowinski W. Effec- tive optimization of living donor kidney transplantation activity ensuring adequate donor safety. Ann Transplant 2012 Jul-Sep;17(3):103-10. 8. Akoh JA. Renal transplantation in develop- 3. H elal I, Abdallah TB, Ounissi M, Tahar G, Cherif 9. M atas AJ, Gillingham KJ, Humar A, Kandaswamy ing countries. Saudi J Kidney Dis Transpl 2011 Jul;22(4):637-50. M, Boubaker K, et al. Short- and long-term outcomes of kidney donors: a report from Tunisia. Saudi J Kidney Dis Transpl 2012 Jul;23(4):853-9. R, Sutherland DE, Payne WD, et al. 2202 kidney transplant recipients with 10 years of graft function: what happens next? Am J Transplant 2008 Nov;8(11):2410-9. 4. Rajaeefard AR, Almasi-Hashiani A, Hassanzade J, 10. Naesens M, Li L, Ying L, Sansanwal P, Sigdel TK, Salahi H. Graft survival rate following renal transplantation in diabetic patients. Saudi J Kidney Dis Transpl 2012 Jul;23(4):707-14. Hsieh SC, et al. Expression of complement components differs between kidney allografts from living and deceased donors. J Am Soc Nephrol 2009 Aug;20(8):1839-51. 5. G uirado L, Vela E, Cleries M, Diaz JM, Facundo C, Garcia-Maset R. [Why renal transplant from living donors gives better results than cadaver renal transplant?]. Nefrologia 2008 28(2):159-67. 11. G raff RJ, Xiao H, Schnitzler MA, Ercole P, Solo- mon H, Pessin T, et al. The role of positive flow cytometry crossmatch in late renal allograft loss. Hum Immunol 2009 Jul;70(7):502-5. 6. S alehipour M, Salahi H, Jalaeian H, Bahador A, Nikeghbalian S, Barzideh E, et al. Vascular complications following 1500 consecutive living and cadaveric donor renal transplantations: a single center study. Saudi J Kidney Dis Transpl 2009 Jul;20(4):570-2. 12. S olà R. El trasplante renal de donante vivo da los mismos resultados que el trasplante renal de donante cadáver. Nefrologia 2008 28(5):561-2. 172 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Science in Health set-dez 2013; 4(3): 173-7 CISTO ÓSSEO TRAUMÁTICO MANDIBULAR: RELATO DE CASO MANDIBULAR TRAUMATIC BONE CYST: CASE REPORT Tiago Estevam de Almeida 1 João Paulo Silveira Gandara 1 Gabriel Helene Cainelli 1 José Antonio Scrocco da Silva 1 Caio Maximiano de Oliveira 1 Maria Luiza Ramos de Carvalho 1 Rodrigo Ippolito Bouças 2 Marcelo Augusto Fontenelle Ribeiro Jr 3 Eduardo Achar 4 RESU MO O cisto ósseo traumático é uma lesão não neoplásica, que não apresenta cápsula de revestimento epitelial, não caracterizando, assim, um cisto clássico. Acredita-se que a lesão se origine devido a uma hemorragia intraóssea com consequente liquefação do coágulo, levando formação de uma cavidade patológica. A incidência do cisto ósseo traumático é de 1% dos cistos maxilo-mandibulares, acometendo principalmente a região de sínfise e corpo mandibular. A maior prevalência é na segunda década de vida, sendo rara em adultos. Por ser assintomático, é diagnosticado, normalmente, em exames de imagem de rotina. Em relação ao tratamento, há diversas abordagens: ressecção, curetagem, enxerto ósseo, injeção de corticosteroides e, mais recentemente, injeção de medula óssea autóloga. Neste trabalho é relatado um caso diagnosticado após um ano de acompanhamento ortodôntico, onde se optou pelo tratamento cirúrgico do cisto ósseo traumático, demonstrando ser um procedimento simples e com um prognóstico, em longo prazo, extremamente favorável. Palavras-chaves: Cistos ósseos • Ferimentos e lesões • Doenças maxilares • Cirurgia bucal. ABST R ACT The traumatic bone cyst is a non-neoplastic lesion that lacks capsule epithelial lining; therefore it is not a classic cyst . It is believed that the lesion is originated due to an intra-osseous hemorrhage with resultant liquefaction of the clot leading to formation of a pathologic cavity. The incidence of traumatic bone cyst is 1% of the maxillo-mandibular cysts, affecting mainly the region of mandibular symphysis and body. The highest prevalence is in the second decade of life and it is rare in adults. Being asymptomatic, it is usually diagnosed on routine imaging studies. Regarding to treatment, there are several approaches: resection, curettage, bone grafting, corticosteroid injection and, more recently, injection of autologous bone marrow. We report a case diagnosed after one year follow-up orthodontic, where we opted for surgical treatment of traumatic bone cyst, proving to be a simple procedure and prognosis, long-term, extremely favorable. Key-words: Bone cysts; Wounds and injuries; Maxillary diseases; Diagnosis; Surgery, oral. 1 Acadêmicos de Medicina da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). 2 Mestre e Doutor em Bioquímica pela UNIFESP-EPM; Professor Adjunto pela Universidade de Santo Amaro (UNISA); Professor pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) e Professor pela Universidade Bandeirante – Anhanguera (UNIBAN). 3 Mestre e Doutor em Cirurgia pela UNIFESP-EPM; Professor Titular e Chefe do núcleo de Clínica Cirúrgica da Universidade Santo Amaro (UNISA); Coordenador do Curso de Medicina da UNISA e Professor de Habilidades Cirúrgicas da UNICID. 4 Mestre e Doutor em Nefrologia pela UNIFESP-EPM; Especialista em Docência pela Universidade Cidade de São Paulo; Professor Tutor e de Habilidades Cirúrgicas da UNICID. 173 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Almeida TE, Gandara JPS, Cainelli GH, Silva JAS, Oliveira CM, Carvalho MLR, Bouças RI, Ribeiro Jr. MAF, Achar E. Cisto ósseo traumático mandibular: relato de caso. • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 173-7 INTRODUÇÃO rulhos por seu ortodontista que descobriu a lesão radiolúcida na região mentual em uma radiografia panorâmica de controle. O curioso é que o ortodontista só observou a presença da lesão um ano após o início do tratamento. O cisto ósseo traumático é uma lesão não neoplásica, que não apresenta cápsula de revestimento epitelial com evidencia própria, não possuindo, assim, características de cistos. Essa ausência de cápsula faz com que sua patogênese não seja totalmente conhecida1. Acredita-se que a lesão se forme, provavelmente, devido a uma hemorragia intraóssea com consequente liquefação do coágulo, levando à formação de uma cavidade patológica, o “cisto” 2. A anamnese revelou um trauma na região mentual quando o paciente tinha 4 anos de idade. Ao exame físico não se constatou nenhum abaulamento ou crepitação óssea. Também os elementos dentários envolvidos na lesão apresentavam vitalidade pulpar aos testes térmicos e de percussão. A incidência do cisto ósseo traumático é de 1% de todos os cistos maxilo-mandibulares, acometendo principalmente a região de sínfise e corpo mandibular. A maior prevalência é na segunda década de vida, sendo rara em adultos 2,3. Os exames de imagem, radiografia panorâmica e tomografia computadorizada, revelaram uma lesão radiolúcida em região mentual, entre os elementos dentários 13 e 23. Essa patologia apresenta uma diversidade de denominações na literatura médica e odontológica, como: cisto ósseo simples, cisto ósseo traumático, cisto ósseo hemorrágico e cisto ósseo solitário. Com base na história coletada e nos exames complementares, foi proposta como tratamento a biópsia excisional. O ato cirúrgico foi realizado sob anestesia geral com intubação naso-traqueal, no qual se realizou uma incisão tipo Novak-Peter entre os elementos dentários 13 a 23. Ao se expor a região do mento, notou-se que o osso nessa região estava papiráceo e assim não houve dificuldades para se realizar a punção que apresentou um conteúdo sanguinolento. Foi realizada uma osteotomia vestibular com tamanho aproximado 3,0 por 2,0 cm a partir de um alveolótomo. A cavidade óssea foi curetada e abundantemente irrigada onde se confirmou a ausência de cápsula cística. Normalmente, esses cistos são diagnosticados em exames de imagem de rotina, já que são assintomáticos, apresentando uma imagem unilocular delimitada por uma cortical. Com relação ao tratamento, há uma divergência na literatura, desde o tratamento cirúrgico até o acompanhamento que espera por uma resolução espontânea. A proposta deste trabalho é relatar um caso cirúrgico de cisto ósseo traumático, demonstrando que tal patologia apresenta um tratamento simples com um prognóstico, em longo prazo, extremamente favorável. Os fragmentos ósseos e o conteúdo da punção foram enviados para análise patológica que revelaram aspectos de normalidade. A ferida cirúrgica foi suturada com fio de nylon 4,0, sendo removida com 7 dias de pós-operatório. RELATO DE CASO Paciente C.L.S., 21 anos de idade, gênero masculino, leucoderma, residente no município de Santa Isabel, no Estado de São Paulo, Brasil, foi encaminhado ao Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Municipal de Urgências de Gua- RESULTADOS E DISCUSSÃO O cisto ósseo traumático tem como principal teoria fisiopatológica um trauma, que levaria a uma 174 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Almeida TE, Gandara JPS, Cainelli GH, Silva JAS, Oliveira CM, Carvalho MLR, Bouças RI, Ribeiro Jr. MAF, Achar E. Cisto ósseo traumático mandibular: relato de caso. • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 173-7 hemorragia intraóssea, com consequente liquefação do coágulo, e à formação de uma cavidade cística, indo de acordo com o caso relatado, já que na história da lesão o paciente apresentou um trauma na região quando tinha 4 anos de idade1,2. porém alguns autores relatam não haver diferença entre os gêneros7. Com relação à localização do cisto ósseo traumático, este é mais comum na mandíbula, região do corpo seguido da região de sínfise 4, onde estava localizada a patologia do caso relatado. Com relação à epidemiologia, a literatura afirma que essa patologia é mais comum na segunda década de vida4,5. No caso apresentado, o paciente acabara de entrar na 3° década de vida; esse diagnóstico um pouco tardio em relação à literatura aconteceu devido à falha de seu ortodontista que não deu atenção devida a sua documentação ortodôntica. Há uma concordância da literatura de que o cisto ósseo traumático apresenta-se assintomático; sendo assim, se explica seu diagnóstico durante radiografias de rotina, como no caso exposto8 A literatura relata diversas modalidades de tratamento, incluindo ressecção, curetagem, enxerto ósseo, injeção de corticosteroides e, mais recentemente, injeção de medula óssea autóloga9,10 . Essa patologia apresenta uma prevalência maior no gênero masculino6 indo de acordo com o caso, Figura I: Aspecto transoperatório, onde se nota cavidade óssea vazia após lavagem. 175 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Almeida TE, Gandara JPS, Cainelli GH, Silva JAS, Oliveira CM, Carvalho MLR, Bouças RI, Ribeiro Jr. MAF, Achar E. Cisto ósseo traumático mandibular: relato de caso. • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 173-7 Figura II: Radiografia panorâmica de controle pós-operatório após a cirurgia, onde já se observa reconstituição óssea no local. Dentre estas, a curetagem cirúrgica com intensa lavagem da cavidade óssea é a opção mais recomenda1,2, o que vai de acordo com o relato apresentado (Figura I). Por fim, a literatura também afirma que esses cistos podem regredir de forma espontânea. Devido a ser um procedimento de baixo risco e também à necessidade de rápida resolução do caso para que o paciente continuasse o tratamento ortodôntico, optou-se pelo tratamento cirúrgico. A Figura II evidencia a radiografia panorâmica de controle pós-operatório após a cirurgia, onde já se observa reconstituição óssea no local. um período de proservação para acompanhar a remissão da lesão e detectar precocemente possíveis alterações na resposta ao tratamento11. Portanto, o cisto ósseo mandibular traumático, por ser considerado assintomático, é diagnosticado, normalmente, em exames de imagem de rotina. Em relação ao tratamento, foram observadas diversas abordagens, entre elas, ressecção, curetagem, enxerto ósseo, injeção de corticosteroides e, mais recentemente, injeção de medula óssea autóloga. O tratamento cirúrgico demonstrou ser um procedimento simples e com um prognóstico, em longo prazo, extremamente favorável. Embora sua recidiva seja rara e esteja relacionada a uma intervenção inadequada, recomenda-se 176 Mini Revisão/Mini Review ISSN 2176-9095 Almeida TE, Gandara JPS, Cainelli GH, Silva JAS, Oliveira CM, Carvalho MLR, Bouças RI, Ribeiro Jr. MAF, Achar E. Cisto ósseo traumático mandibular: relato de caso. • Science in Health • set-dez 2013; 4(3): 173-7 Embora diversas publicações científicas evidenciem relatos de caso e os diferentes tratamentos dessas lesões, a ausência de informações sobre a etiopatogênese do cisto ósseo impossibilita qualquer discussão sobre a participação do trauma or- todôntico em seu desenvolvimento. Assim, o ortodontista necessita de atenção especial aos exames radiográficos possibilitando, assim, um diagnóstico precoce e preciso de possíveis lesões ósseas. REFERÊNCIAS: 1. L ago CA, Cauás M, Pereira AMP, Portela L. Cis- 6. L aureano Filho JR, Araújo de Morais HH, Raldo 2. S hear M. Cistos da região bucomaxilofacial: diag- 7. S chreuder HW, Conrad EU, 3rd, Bruckner JD, FV, Moraes M, Moreira RWF. Cisto ósseo solitário. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac 2003 jul./ set.;3(3):21-5. to ósseo traumático em mandíbula: relato de caso. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac 2006 abr./ jun.;6(2):17-22. Howlett AT, Sorensen LS. Treatment of simple bone cysts in children with curettage and cryosurgery. J Pediatr Orthop 1997 Nov-Dec;17(6):814-20. nóstico e tratamento. 3 ed. São Paulo: Ed. Santos; 1999. 3. S app JP, Stark ML. Self-healing traumatic bone cysts. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1990 May;69(5):597-602. 8. Valladares CP, Israel MS, Noleto JW, Braga CLS, Lourenço SdQC, Dias EP. Cisto ósseo simples em pacientes sob tratamento ortodôntico: relato de dois casos. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial 2008 mar./abr.;13(2):132-7. 4. Copete MA, Kawamata A, Langlais RP. Solitary bone cyst of the jaws: radiographic review of 44 cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 1998 Feb;85(2):221-5. 9. F ielding AF, Louden RD, Johnson AL. Simple bone cyst. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 1999 Sep;88(3):277-8. 5. X anthinaki AA, Choupis KI, Tosios K, Pagkalos VA, Papanikolaou SI. Traumatic bone cyst of the mandible of possible iatrogenic origin: a case report and brief review of the literature. Head Face Med 2006 2(40. 10. Lokiec F, Wientroub S. Simple bone cyst: etiology, classification, pathology, and treatment modalities. J Pediatr Orthop B 1998 Oct;7(4):262-73. 11. T ong AC, Ng IO, Yan BS. Variations in clinical pre- sentations of the simple bone cyst: report of cases. J Oral Maxillofac Surg 2003 Dec;61(12):1487-91. 177 R E V I S TA S C I E N C E I N H E A LT H Guia de publicação para autores. ISSN 2176-9095 Universidade Cidade de São Paulo TIPOS DE PUBLICAÇÃO R E L ATO DE P E S QU I S A . São artigos descrevendo dados de pesquisa original, produto de observação experimental, clínica ou desenho teórico. Relatos de casos não são considerados como dentro do escopo da revista. M I N I-R E V I S ÕE S. Tratam-se de pequenas revisões temáticas destinadas a chamar a atenção para as conseqüências, implicações ou avanços de determinados temas na área da saúde e afins. P O N T O D E V I S TA . Essa sessão é dedicada a ensaios, que podem ser análises e comentários sobre um determinado assunto, seja ele observado sob uma nova perspectiva ou quando algum aspecto admite uma nova interpretação. Em geral, os textos essa sessão são assinados por convidados da revista; porém autores podem propor assuntos cuja pertinência será avaliada pelo corpo editorial. RESENH A S. Espaço aberto a resenhas de livros que os colaboradores se interessem em divulgar. Devem ser acompanhadas do Título original, autor do livro resenhado, Editora e ISSN ou ISBN. C A R TA S A O E D I T O R . edições anteriores. Esse é um espaço aberto a comentários e réplicas sobre material publicado na revista em G U I A D E P U B L I C A Ç Ã O PA R A A U T O R E S . Submissões para a revista Science in Health e todo o trato até a publicação são feitas on line. As instruções para composição do manuscrito estão em “Instruções aos Autores da Science in Health no site: http://www. unicid.br/new/revista_scienceinhealth/06_set_dez_2011/revista_scienceinhealth_06.html. Seus arquivos devem ser enviados em formato de editor de texto (Word® ou “Rich Text Format”- rtf) para o e-mail [email protected]. Os arquivos para análise por pares serão formatadas em PDF, bem como no processamento posterior para edição e publicação. Toda a correspondência a partir da submissão inicial, acompanhamento e eventuais revisões serão feitos através de comunicação eletrônica por e-mail. Os artigos devem ser elaborados em língua Portuguesa corrente ou, a critério do(s) autor(es), opcionalmente em língua Inglesa. No caso de manuscritos em Inglês, caberá ao proponente a adequação da grafia e gramática que será objeto de avaliação pelos pareceristas e comitê editorial. No caso de submissões em Português, a editora reserva-se no direito de solicitar ou efetuar (conforme o caso) eventuais modificações para adequação do perfeito léxico. Na elaboração do texto dever estar indicados os locais sugeridos de inserção de figuras e tabelas e as citações (e referências) bibliográficas devem respeitar a convenção-estilo de Vancouver. O texto dever ser digitado em processadores de texto compatíveis com a plataforma Windows, usando preferencialmente as letras em Times New Roman ou Arial, tamanho 12, com espaçamento duplo, margens padrão (2,5 cm nas quatro dimensões), justificado à esquerda em páginas numeradas a partir do título (página 1). Símbolos devem ser inseridos no texto, no local apropriado, e o uso de caracteres especiais deve ser evitado ao máximo. A confecção do arquivo deve respeitar um dos cinco tipos de publicações aceitas pela revista, que contêm regras próprias. R E L A T O D E P E S Q U I S A : Sugere-se que o texto principal deva conter entre 3.000 e 5.000 palavras, excluindo referências bibliográficas, e deve ser construído contendo: 178 • Página de rosto com o título do artigo em Português e o título em língua Inglesa, nome do(s) autor(es), nome do local e afiliação institucional do(s) autor(es), endereço postal, endereço eletrônico e número do telefone do autor correspondente. • Um resumo em língua Portuguesa e um outro (abstract) em língua Inglesa, não maior que 250 palavras cada, com uma lista de até cinco palavras-chave em Português e até cinco palavras-chave (keywords) em Inglês. • Corpo do texto contendo quatro seções principais: Introdução, Material e Métodos, Resultados e Discussão. Figuras e Tabelas devem ser apresentadas após a lista de referências. Numerar figuras e tabelas com algarismos (não utilizar números Romanos). • Agradecimentos e apoio financeiro, quando houver. • Referências bibliográficas. • Legendas de figuras. M I N I - R E V I S Õ E S . Manuscritos relativamente curtos (preferencialmente entre 4.000 e 10.000 palavras) com a intenção de chamar a atenção para temas específicos incorporando descobertas originais e/ou apontando para novas implicações sobre o assunto. O(s) autor(es) deve(m) apresentar uma retrospectiva histórica e a seguir discutir aspectos controversos oferecendo a visão e criticismo do(s) autor(es) a respeito do assunto. É desejável que se empregue uma linguagem genérica, de modo a ampliar o universo de leitores sobre o tema. A página de rosto, resumos (Inglês e Português, de até 250 palavras), agradecimentos e referências bibliográficas seguem o padrão determinado para Relato de Pesquisa. O corpo do texto deve conter um sumário com o as subdivisões que trata o artigo logo no início sendo seguido pelo desenvolvimento do manuscrito. P O N T O D E V I S TA . Textos com um limite máximo de 3.000 palavras e um máximo de 15 referências bibliográficas. Compõem-se de uma breve introdução, o desenvolvimento do texto principal e as referências bibliográficas, podendo prescindir das subdivisões Material e Métodos e Resultados, cujo conteúdo de ser diluído ao longo do texto. Ilustrações são limitadas a duas, sejam figuras, tabelas ou sua combinação. Regras para página de rosto e agradecimentos são similares às de Relatos de Pesquisa, porém os resumos em Português e Inglês têm restrição de até 150 palavras, mais até cinco palavras-chave. RESENH A S. São artigos bastante breves (até 1.500 palavras), onde o(s) autor(es) oferecem um resumo e opiniões sobre a leitura de um livro de interesse para as áreas de graduação e pós-graduação da Universidade Cidade de São Paulo e do público em geral. Uma ilustração pequena (até meia página) pode ser aceita. Não são necessárias: a página de rosto, as subdivisões tradicionais no corpo do texto e o(s) resumo(s). O texto deve conter, ao final, o Título original e autor do livro resenhado, Editora e ISSN ou ISBN, e passará por processo de avaliação pelos Editores. C A R TA S A O E D I T O R . A Science in Health está aberta a receber, a qualquer momento, correspondência dos leitores com comentários, críticas e opiniões a respeito do material publicado na própria revista. Parte da correspondência será publicada, em especial aquela que aponta e questiona aspectos interessantes e pertinentes sobre artigos divulgados. Os Editores reservam-se o direito de selecionar e condensar partes da correspondência para preservar a natureza científica da revista, de atender aos limites físicos do espaço destinado e ainda facilitar a compreensão dos leitores, mas sem modificar o conteúdo original do(s) autor(es). Quando necessário, serão convidados autor(es) do(s) artigo(s) citados para réplicas ou tréplicas, no sentido de preservar o espaço destinado 179 ao debate científico e assegurar amplo direito a todos. EL ABOR AÇÃO DA F IGUR A S. Figuras são aceitas em formatos EPS, TIFF, PDF ou JPEG. Importante saber que figuras em JPEG não oferecem a necessária definição e podem comprometer a qualidade do trabalho a ser divulgado. Utilize um mínimo de 300 dpi de resolução para imagens em preto e branco e coloridas e para desenhos (bitmapped line drawings) um mínimo de 1000 dpi. Combinações de ambos (bitmapped line/half-tone, coloridas ou gradações de cinza) deverão ser construídas a partir de 500 dpi. Quando trabalhar com desenhos vetoriais (EPS), grave os arquivos no modo gráfico. Não trabalhe ou importe imagens usando processadores de texto ou similar. Cada figura deve ser preparada de forma individual e compor um arquivo único em uma página ou meia página impressa (limites máximos de 170mm X 230mm ou 80mm X 230mm, respectivamente). As figuras devem ser referenciadas Figura (abreviatura Fig.) e numeradas sequencialmente em ordem de citação e em números arábicos. As legendas devem ser auto explicativas e permitir a compreensão do material apresentado sem a necessidade de ler o texto principal. E L A B O R A Ç Ã O D E TA B E L A S . Tabelas devem ser construídas de modo a serem compreendidas sem a leitura do texto, em numeração (arábica) consecutiva de acordo com a ordem de aparecimento e citação. Cada tabela precisa conter um título e um cabeçalho e as unidades de medida devem estar claramente indicadas. Colunas e linhas devem ser compostas por grades de tabulação e não por espaçamento. Utilize um guia de construção de tabelas em seu processador de texto. Atente para a não duplicidade de resultados na combinação de tabelas e gráficos. C O N S I D E R A Ç Õ E S É T I C A S . Artigos submetidos para publicação precisam conter declaração de conduta e, em especial quando tratar de humanos, devem trazer testemunho de que foram aprovados por Comissão de Ética em acordo com a Declaração de Helsinke de1964 (http://www.wma.net). Também deve explicitamente declarar que as pessoas foram devidamente esclarecidas e que o(s) autor(es) detêm o consentimento para inclusão no estudo. Detalhes que permitam a identificação dos sujeitos devem ser omitidos. Tratando-se de trabalhos usando modelos animais, estes devem declarar que todo o desenrolar experimental foi feito em acordo com os princípios de conduta para uso e cuidado animal, dentro de leis específicas. O corpo editorial se reserva no direito de rejeitar manuscritos que não contemplam os requisitos acima mencionados. Autor(es) é(são) responsável(is) por falsas declarações ou malversação dos princípios acima. REF ERÊNCIA S. As referências citadas no texto devem estar presentes na lista de referências (e vice-versa). Resultados não publicados e comunicações pessoais não são aceitos como referências e seu uso não é recomendado. Caso seja imprescindível, essas citações devem ser seguidas das expressões (resultados não publicados ou comunicação pessoal, respectivamente) no corpo do texto principal. Citações de trabalhos aceitos, mas ainda não publicados devem ser sucedidos da informação “in press”. Trabalhos em preparação, mas não publicados, não devem ser citados. A revista Science in Health adota o sistema autor-data para citação, em conformidade com o determinado no documento Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals [International Commitee of Medical Journal Editors, Ann Int Med (126): 36-47, 1997). Assim, as citações no texto devem estar entre parênteses, identificadas pelo sobrenome dos autores e o ano da publicação do documento. Elas necessitam ser pertinentes e, quando mais de uma, devem seguir a ordem cronológica de aparecimento. Tanto as citações quanto a lista de referências devem seguir a recomendação do Estilo de Vancouver. A lista de referências deve ser composta em ordem alfabética e, se necessário, cronológica. Mais de uma referência de um mesmo autor devem ser identificadas com letras minúsculas “a”, “b”, “c”, acrescidas após o ano de publicação P R O VA S. Quando aceito, será enviado ao autor correspondente um arquivo de prova contendo a forma editada do artigo, que deverá ser revisado e aprovado pelo autor. Quaisquer correções devem ser listadas e apontadas para posterior ajuste. Nessa época não serão aceitas modificações no corpo do texto, apenas equívocos de digitação e 180 acertos menores, sem interferência no conteúdo do manuscrito. D I R E I T O S D E C Ó P I A . A submissão de um manuscrito à Science in Health implica que o material não foi publi- cado (exceto na forma de resumo em anais de congresso ou como parte de monografia, dissertação, ou tese do autor) e que não está em processo de submissão em outra revista. A submissão ainda implica que o autor correspondente obteve anuência de todos os demais co-autores e que obteve tácita autorização dos responsáveis pelos locais onde foi feita a pesquisa. Se aceito o manuscrito, o autor correspondente assinará em nome de todos os co-autores um termo de responsabilidade e ciência de disseminação das informações nele contidas. TERMO DE TRANSFERÊNCIA DE DIREITOS AUTORAIS Eu (nós), autor(es) do trabalho intitulado [título do trabalho], o qual submeto(emos) à apreciação da Revista Science in Health, declaro(amos) concordar, por meio deste suficiente instrumento, que os direitos autorais referentes ao citado trabalho tornem-se propriedade exclusiva da Revista Science in Health da Universidade Cidade de São Paulo. No caso de não-aceitação para publicação, essa transferência de direitos autorais será automaticamente revogada após a devolução definitiva do citado trabalho por parte da Revista de Science in Health da Universidade Cidade de São Paulo. 181