Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Programa de Mentoria da Escola Cidade Sustentável Projeto Juventude e Trabalho 2011/2012 © 2013. Agenda Pública – Agência de Análise e Cooperação em Políticas Públicas É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. PROJETO ESCOLA CIDADE SUSTENTÁVEL Direção de projeto Bruno Gomes Coordenação administrativa-financeira Maria Mercedes Salgado Agnaldo Soares Lima Apoio pedagógico Alba Juste Centelles Comitê de monitoramento Carlos André G. Santos (SEMAM/Cubatão) Helenice Fontes Alves (GPM-COARTI/Santos) Maria Cristina F. Mancuso (SEDUC/Santos) Mirian Della Casa (SEAS/Santos) Pedro Nolasco P. Almeida (SEDUC/Cubatão) Thiago C. S. Garcia (Coord. Juventude/Cubatão) Wellington Araújo (DEARTI/Santos) Kátia Regina Barbosa dos Santos (SETUR/Santos) Júlio César Santos (SEDES/Santos) PROGRAMA DE MENTORIA Concepção metodológica Sergio Andrade Supervisão técnica e apoio psicossocial Tatiana Gottsfritz Mentores Alessandra Anhai Prado Ferreira, Amarildo de Melo Tenório, Ana Paula Passaes Galdino, Carla Katia da Silva Saloes, Carolina Marchioli Borges Minas, Eliana Pinto, Elisabeth Aparecida Walter, Inês Dantas de Souza, Kátia Regina Barbosa Dos Santos, Lidyane Oliveira dos Santos, Marco Aurélio de Matos Penso, Maria Cecilia Boscolo Laurindo, Maria Claudia Mibielli Kohler, Maria Teresa da Silva Teixeira Pinto, Paulo Nélson Macuco Araujo (Paju), Rafael Max de Souza, Rosana Barros dos Santos, Sandra Cunha dos Santos Mentorandos Aline de Jesus do Carmo, Ana Carolina dos Santos, André Luiz de Lima, Beatriz Megda da Silva, Bruno da Cunha Fernandes, Camila Araújo de Oliveira, Cauã Silva Chagas, Daiane Bezerra Lima, Dayane Barros Lima, Débora Bispo da Silva, Diane Soares Martinho Pereira, Djair Oliveira de Mattos, Ellen Cristina Santos do Nascimento, Elton Graça da Paz, Fernanda Ferreira Claudio, Flávia Castilho Fogazzi, Jamille dos Santos de Lima, Jeferson dos Santos Pereira da Silva, Jéssica de Souza Morais, Jessica Lourenço dos Santos, Jorge Maicon Santos Rossi, Kédla Regina Monteiro Santos, Laíza dos Anjos Silva, Luiz Felipe Tiburcio Oliveira, Mariane de Almeida Cunha, Mayara Costa Silva Mange, Mayara Felix Sena, Michele de Souza de Morais, Nathalia Batista Corrêa, Nayane Caroline Queiroz de Lima, Paulo Henrique Carvalho dos Santos Silva, Rafaela dos Santos Nascimento, Raniele Morais dos Santos, Roberta Aparecida Campos da Silva, Sandy Caroline Mariano, Syomara Viana de Morais, Talitha da Silva Santos, Tamyres Baldim Alves, Tatiane de Andrade Rosendo da Silva, Thaís de Jesus Mariano, Thaynara Souza da Silva, Vanessa do Carmo Vieira, Verônica Pereira de Faria Braz, Yasmine Aparecida Pires de Lima MENTORIA: CONSTRUINDO UMA REFERÊNCIA DE POLÍTICA PÚBLICA PARA ORIENTAÇÃO E APOIO A JOVENS PROFISSIONAIS Elaboração Sergio Andrade Colaboração Isabela Oliveira e Mariana Ruivo Revisão ortográfica Andréa Bruno Diagramação e editoração Ricardo Hurmus Supervisão de arte Helena Buarque Agradecemos especialmente a todos(as) os(as) educadores(as) e educandos(as), mentores e mentorandos que participaram deste programa e que tanto nos inspiraram. Agradecemos a toda a equipe das prefeituras de Santos e de Cubatão, especialmente a Helenice Fontes Alves, Adelaide Ferreira, Thiago Garcia, Wellington Araújo, Caio Martins, Maria Cristina Mancuso, Mirian Della Casa, Carla Katia da Silva Saloes, Fábio Alexandre Nunes (Fabião) e Karina Cruz. Agradecemos também a todos os integrantes do Comitê de Monitoramento por seu tempo, apoio e ideias para correções de rumos. Agradecemos a toda a equipe de projeto e a todos que para ele contribuíram. Agradecemos também a todos os parceiros e apoiadores, entre eles Geração Muda Mundo/Ashoka. Agradecemos também a Petrobras pelo inestimável apoio. SU MÁ RIO Apresentação........................................................................... 8 PARTE I.................................................................................... 11 Cenário, problema e ações Cenário..................................................................................... 12 Problema............................................................................... 16 Perguntas e apostas................................................................. 20 PARTE II 33 A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens Síntese do programa piloto de mentoria (agosto a dezembro/2012)........................................................... 34 Escola Cidade Sustentável: proposta educativa para qualificação profissional............................................................................... 42 Etapas do processo de implementação da mentoria........................ 63 Regras da mentoria compartilhadas entre os participantes – mentores e mentorandos............................................................ 65 Breve balanço dos resultados...................................................... 66 Referências............................................................................... 78 8 Escola Cidade Sustentável: componentes do programa O objetivo desta publicação é apresentar um relato de experiência das estratégias e ações de formação e inserção profissional de jovens no mercado de trabalho no interior do Programa de Mentoria implementado pela Escola Cidade Sustentável – Projeto Juventude e Trabalho nas cidades de Santos e Cubatão, no estado de São Paulo. Com isso, o que se pretende é realizar uma reflexão sobre a metodologia utilizada nesta iniciativa em particular no contexto das políticas de emprego no Brasil, especialmente aquelas voltadas para os jovens. A Escola Cidade Sustentável foi criada a partir de uma parceria entre a Agenda Pública, a Petrobras e as prefeituras de Cubatão e Santos, com a finalidade de dar suporte e potencializar a relação entre juventude, trabalho e desenvolvimento sustentável local. A essência deste projeto é harmonizar a qualificação e atualização profissional, na perspectiva do conceito de emprego verde, com a ampliação de redes de sociabilidade profissional para jovens entre 18 e 24 anos, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social. Ao mesmo tempo, procura fomentar o diálogo entre o poder público e os atores sociais sobre políticas públicas de emprego e renda para a juventude, mas também sobre as demais questões que cercam a temática da juventude. O primeiro eixo do projeto, a qualificação profissional, compreendeu o oferecimento de três cursos profissionais com carga horária de 800 horas nas áreas de Gestão Ambiental, Turismo Sustentável e Gestão de Negócios Sustentáveis. Tais ações se seguiram do fortalecimento das instâncias de participação social ligadas à juventude, principalmente em relação ao tema da empregabilidade. O terceiro eixo tratou da orientação profissional e da ampliação de redes de sociabilidade dos jovens participantes do projeto, como forma de ampliar seu acesso a 9 melhores oportunidades de trabalho. Este último conjunto de ações integrou o programa de mentoria oferecido no último bimestre do projeto, que teve duração total de dois anos. Considerando que a eficácia das políticas de formação profissional requer medidas adicionais de inserção no mundo do trabalho, programas de mentoria ganham ainda mais relevância. Seus bons resultados já são conhecidos no setor privado como ferramenta para o crescimento profissional e também nas universidades, onde a mentoria é utilizada em benefício de seus formandos, oferecendo-lhes orientação e permitindo que criem redes de relacionamento que aumentem suas chances de entrarem no mercado de trabalho com uma boa colocação. Sendo assim, esta publicação tem a preocupação de compartilhar os aprendizados do programa de mentoria desenvolvido neste projeto para estimular a reflexão e o emprego de seus aprendizados como insumos para políticas públicas. Pensar a mentoria como objeto de ação governamental é uma inovação importante na inserção profissional de jovens. Esperamos que as referências, conceitos e a experiência, propriamente dita, possam apoiar os gestores e técnicos da administração municipal e estadual no tratamento da questão. PROGRAMA DE MENTORIA EM SANTOS/SP PROGRAMA DE MENTORIA EM CUBATÃO/SP PARTE I Cenário, problema e ações 12 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais De acordo com os dados do Censo de 2010 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população jovem representa aproximadamente 26,5% dos brasileiros. Considerando jovens as pessoas com idades entre 15 e 29 anos, como definido pela Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), o Brasil possui cerca de 50 milhões de habitantes nessa faixa etária. Cenário Sabemos que a entrada dos jovens brasileiros no mundo do trabalho é, muitas vezes, marcada por dificuldades relativas à oferta e qualificação. Em geral, eles deixam a escola por volta dos 18 anos, independentemente do grau de escolaridade alcançado, resultando em altas taxas de desemprego juvenil e precariedade das ocupações oferecidas às juventudes. Um panorama sobre a questão do trabalho urbano no Brasil realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que o padrão de estruturação do trabalho no país entre as décadas de 1930 e 1980 se caracteriza com base nos seguintes aspectos (Cardoso Jr., 2009): - Grande participação do setor terciário (comércio ambulante, serviços pessoais e domésticos etc.) na composição setorial da força de trabalho. - Alto grau de informalização das relações de trabalho. - Alto nível de desemprego (na comparação internacional). - Precarização das condições de trabalho (jornadas de trabalho, remunerações, acesso a bens e serviços sociais). - Segmentação e discriminação no mercado do trabalho do tipo espacial (rural x urbano); de gênero (homem x mulher); de raça (branco x não branco); etária (jovem x idoso); de grau de instrução (qualificado x não qualificado) etc. Ainda que o padrão de estruturação do mercado de trabalho venha se alterando no Brasil desde a década de 1990, tendo como marco Cenário, problema e ações PARTE I Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais os avanços no plano social e de direitos assegurados pela Constituição de 1988, ainda são vários os desafios a serem enfrentados pelos jovens no processo de inserção no mundo do trabalho. São os jovens que mais sofrem com o desemprego, com a falta de qualificação, baixa remuneração e representam a maior participação no setor informal urbano de trabalho. Essa realidade, contudo, apresenta um contorno estrutural: o desemprego jovem tem se intensificado em praticamente todos os países. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no Segundo o Eurostat, instituto estatístico europeu, os dados relativos ao desemprego de jovens (menos de 25 anos) nos 27 países da Europa revelam uma marca de 18%. Até fevereiro de 2012, 35,4% dos jovens portugueses estavam sem trabalho. Na Espanha e na Grécia, a mesma taxa estava em torno de 50,5%. mundo, a taxa de desemprego entre 15 e 24 anos, em 2011, foi de 12,6%, número semelhante àquele registrado em 2009, auge da crise econômica. Na América Latina, segundo relatório da OIT, o desemprego na região foi de 14,3% em 2011 e até 2016 deve oscilar entre 14,4% e 14,6%. No Brasil, embora haja registro de redução da taxa de desemprego na última década, o desemprego entre os trabalhadores entre 15 e 24 anos ainda é quase três vezes maior que na faixa entre 25 e 49 anos, 16,3% e 5,7%, respectivamente (Comunicado Ipea 156/2012). Cenário, problema e ações PARTE I 13 14 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais O Brasil assiste hoje à inversão na sua estrutura etária, que registra diminuição da sua população jovem. Esse fenômeno é conhecido como transição demográfica, caracterizada pela queda nas taxas de fecundidade acompanhada da redução das taxas de mortalidade, o que resulta no aumento da esperança de vida e da longevidade. Com essas mudanças na demografia, a população brasileira está envelhecendo e caberá aos jovens o papel fundamental no sustento dos mais velhos. Gráfico 1: Taxa de desocupação por faixa etária (%) 18,9 20,0 18,8 20,7 19,3 19,0 18,9 18,0 18,3 16,6 10,0 7,6 9,9 7,3 10,5 7,9 9,7 7,2 10,2 7,4 9,2 8,9 6,8 6,9 9,1 7,8 7,3 7,1 5,9 4,5 2001 4,3 2002 Brasil 4,6 2003 3,9 2004 4,1 2005 3,6 3,6 2006 2007 De 15 a 24 anos 2,9 2008 De 25 a 49 anos 5,7 3,7 2009 2,8 2010 2011 50 anos ou mais Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: Ipea De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio do IBGE, em 2011, a população brasileira com mais de 16 anos – e, portanto, legalmente apta para o trabalho – foi estimada em 149.795.000 pessoas, das quais, cerca de 33% (49.370.000) eram, eram jovens com idade entre 15 e 29 anos. No Brasil, 32.909.000 jovens estavam de alguma forma trabalhando, sendo que a menor parcela (44%) na condição de assalariados em Cenário, problema e ações PARTE I Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais ocupação formalizada, o que corresponde a menos da metade dos jovens. No entanto, esse percentual esconde uma grande diferença entre as regiões do país, uma vez que a formalização do emprego é mais forte nas regiões Sul e Sudeste e mais baixa no Norte e Nordeste. Ao longo da década de 2000, políticas para a juventude foram reforçadas com o objetivo de responder aos problemas enfrentados pelos jovens ao buscar inserção no mercado de trabalho. No final dos anos 1990, a Emenda Constitucional nº 20 alterou os parâmetros legais de idade mínima para o trabalho – no caso, 16 anos, abrindo caminho para a ratificação da Convenção 138 da OIT1, em 2001. No ano de 2003, o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego2, com o objetivo de criar postos de trabalho para os jovens ou prepará-los para ingressar no mercado de trabalho. O programa não teve êxito e, por ter apresentado resultados insuficientes, foi interrompido em 2007. Em 2005, o Governo Federal deu mais um passo importante ao instituir a Política Nacional da Juventude e ao criar o Conselho Nacional da Juventude – CONJUVE – e a Secretaria Nacional de Juventude. No mesmo momento foi lançado o ProJovem, Programa Nacional de Inclusão de Jovens, que tem como objetivo garantir a conclusão do Ensino Fundamental, a profissionalização e o desenvolvimento de ações comunitárias pelos jovens. No entanto, essas políticas parecem não alcançar a maioria da população nessa faixa etária. Também carecem de um marco legal que lhes dê mais consistência e definição. Mesmo assim, o projeto de lei do Estatuto do Jovem, que define seus direitos e estabelece o Sistema Nacional de Juventude, segue em tramitação no Congresso Nacional. Para maiores informações, ver: www.oit.org.br/sites/all/ipec/normas/conv138.php 2 Para maiores informações, ver: www.mte.gov.br/pnpe/leg_default.asp 1 Cenário, problema e ações PARTE I 15 16 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Pesquisa publicada por pesquisadores da Universidade de Harvard aponta que a população jovem está diminuindo em pelo menos 85 países (Bloom, 2012). No Brasil, depois de atingir 23,9 milhões de pessoas em 2005, recuou para 22,7 milhões em 2009 e deve cair para 21,9 milhões neste ano, segundo estimativas do departamento econômico do Bradesco, a partir de dados do IBGE. Esse fenômeno tem impacto direto no mercado de trabalho e deve favorecer os jovens no futuro. Problema A partir do cenário aqui descrito é possível observar que, apesar das mudanças na estruturação do mercado de trabalho que vêm ocorrendo desde o início da década de 1990 no Brasil, as estratégias de empregabilidade específicas voltadas para a juventude datam somente da segunda metade da década de 2000. Esse cenário reforça a necessidade de elaboração de ações e estratégias que possam dar conta dessa demanda em termos de melhorias das condições e acesso ao mundo do trabalho por parte de uma parcela que representa em torno de 25% da população do país. A entrada dos jovens brasileiros no mundo do trabalho se dá de forma precária e difícil. Dados do livro Juventude e políticas sociais no Brasil, publicado em 2009 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revelam que, em 2008, a dedicação exclusiva ao estudo na adolescência (15 a 17 anos) seguida da inserção no mercado de trabalho (entre os 18 e 24 anos) era uma realidade de poucos. Apenas um terço das mulheres e metade dos homens vivenciavam essa trajetória. Em geral, observa-se que os jovens deixam a escola por volta dos 18 anos. Isso não significa, no entanto, que eles saiam desse ambiente ao concluir o Ensino Médio. Ao contrário, o que mostram os levantamentos do Ipea é que os adolescentes abandonam as instituições de ensino aos 18 anos, mas isso independentemente do grau de escolaridade alcançado. Diante do quadro de baixa escolaridade, altas taxas de desemprego juvenil e precariedade das ocupações oferecidas à juventude, as Cenário, problema e ações PARTE I Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais políticas federais voltadas a essa população têm optado por dois enfoques. Por um lado, preparam o jovem para fazer a transição do mundo da escola para o do trabalho, facilitando sua contratação e oferecendo-lhe melhores oportunidades. Por outro, prolongam sua escolarização, retardando a entrada desse público no mercado de trabalho. Outros dados chamam a atenção para esta questão: o recente relatório O que estão fazendo os jovens que não estudam, não trabalham e não procuram trabalho? (Camarano & Kanso, 2012), publicado na série Mercado de Trabalho: conjuntura e análise, em novembro de 2012, indica um aumento no número de pessoas que não trabalham nem estudam na idade de 15 a 29 anos que totaliza 17,2% do total dos jovens. Um dos principais resultados desse levantamento indica ainda que esses jovens que não estudam e não participam de atividades econômicas residem exatamente nos domicílios de baixa renda, o que indica uma maior dificuldade de acesso à escola e de inserção no mundo do trabalho por parte de jovens oriundos de famílias em situação mais vulnerável socialmente. Cenário, problema e ações PARTE I 17 18 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Gráfico 2: Jovens de 15 a 24 anos fora do mercado de trabalho por gênero (%) 30,4% 29,3% +26,9% 26,0% 23,5% 19,7% 18,2% +10,6% 7,1% 9,0% +8,3% +3,9% Homem na escola Homem fora da escola 2009 2011 Mulher na escola Mulher fora da escola var.% 2009-2011 Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: Ipea Se esse segmento enfrenta maiores dificuldades no mundo do trabalho se comparado a outras faixas etárias, quais estratégias e ações poderiam ser adotadas para minimizar tais problemas? Partindo da premissa de que nos processos de segmentação e discriminação no mercado do trabalho as classificações etárias se entrecruzam e se somam a outros marcadores sociais como classe social, diferenças espaciais, de gênero, raça/etnia/cor e de grau de instrução/ formação/escolaridade, algumas das questões enfrentadas pelos jovens na inserção no mundo do trabalho extrapolam a simples educação Cenário, problema e ações PARTE I Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais formal ou os conteúdos dos programas de formação ou capacitação. Dessa perspectiva, as ações e estratégias buscadas para minimizar as barreiras enfrentadas pelos jovens no mercado de trabalho devem ter como norte vencer o desafio de perpetuação de um ciclo de falta de oportunidades e de igualdade de condições enfrentadas pelos jovens em situação social mais vulnerável. Como aponta a pesquisa A construção do mapa da juventude em São Paulo (Bousquat & Cohn, 2003) realizada pelo CEDEC (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea) em parceria com a Coordenadoria da Juventude da Prefeitura Municipal de São Paulo, um dos maiores problemas enfrentados na cidade de São Paulo é a exclusão socioespacial – marcada por categorias como centro e periferia. Esse fenômeno, entretanto, só reforça um tipo de segregação social a que jovens vivendo em contextos urbanos estão sujeitos e compõe uma rede complexa de marcadores sociais para além de classe social, na qual estes, como dissemos, se sobrepõem em termos de idade, espaço, gênero, raça/etnia/cor e de grau de instrução/formação/escolaridade. Assim, se alta taxa de desemprego entre jovens é preocupante por razões ligadas à garantia de direitos, mas também por estar fortemente relacionada a instabilidades políticas e sociais, cabe reconhecer que ela afeta de forma distinta os grupos sociais. Para muitos, o ingresso no mercado de trabalho é menos uma questão de escolha ou um direito mas, praticamente, um dever no caso dos mais pobres. A questão do trabalho, normalmente, não se coloca para os mais ricos antes dos 24 anos de idade, a não ser por escolha ou um valor em si. Cenário, problema e ações PARTE I 19 20 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais (educação e trabalho) Pesquisa divulgada em 2013 pela consultoria McKinsey, com mais de 4,5 mil jovens, 2,7 mil empregadores e 900 educadores em 10 países, entre eles o Brasil, revela que cerca de 40% dos empregadores estão com dificuldades para preencher as vagas nos escalões mais baixos porque os candidatos não têm qualificação adequada. Perguntas e apostas Ainda que os jovens tenham o Ensino Médio concluído e alguma formação profissional, constatam-se grandes dificuldades para sua inserção no mercado de trabalho, especialmente para o sexo feminino, em função da condição reprodutiva. As causalidades são muitas e algumas bem conhecidas, como o dilema em que o mercado costuma cobrar experiência, mas não oferece oportunidades; exige qualificação, mas não está disposto a treinar. A falta de qualificação adequada reflete uma situação verdadeira, o diálogo ruim entre educação e trabalho (ver box) no Brasil. É importante notar que nesse diagnóstico, ao contrário de culpabilizar o indivíduo, procura-se enfocar o problema a partir da perspectiva das políticas públicas, o que nos levaria a um segundo aspecto: a geração de vagas e oportunidades de trabalho para a juventude. Cenário, problema e ações PARTE I Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais No Brasil, em 15 anos, o número de vagas de primeiro emprego passou de 1,7 milhão em 1996 para 2,9 milhões em 2012 (Observatório Jovem/UFF), mas há predomínio da oferta de trabalhos precários, que oferecem salários muito baixos e poucas perspectivas de melhoria, levando-nos também ao debate sobre emprego decente (ver box) para a juventude3. O quadro apresentado nas últimas seções nos permite concluir que a visão do problema unicamente a partir do binômio educação e trabalho é simplista, o que requer uma abordagem multifacetada do ponto de vista das políticas. Procurando analisar a situação de um ponto de vista mais original para o tema, encontramos nas teorias sobre capital social e cultural formuladas por Pierre Bourdieu uma perspectiva fértil conceitualmente e também promissora para a formulação de proposições e alternativas de política pública. “O mundo social pode ser concebido como um espaço multidimensional construído empiricamente pela identificação dos principais fatores de diferenciação que são responsá- (emprego decente) Nos termos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho decente pressupõe o respeito aos direitos no trabalho, em especial, nos termos da Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho na sua redação de 1998: (i) liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii) eliminação de todas as formas de trabalho forçado; (iii) abolição efetiva do trabalho infantil; (iv) eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação; a promoção do emprego produtivo e de qualidade; a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social. veis por diferenças observadas num dado universo social ou, em outras palavras, pela descoberta dos poderes ou formas de capital que podem vir a atuar, como ases num jogo de cartas neste universo específico que é a luta (ou competição) pela apropriação de bens escassos (...) os poderes sociais fundamentais são: em primeiro lugar o capital econômico, em suas diversas formas; em segundo lugar o capital cultural, ou melhor, o capital informacional também 3 Consultar também a Agenda Nacional para o Trabalho Decente: http://portal.mte.gov.br/antd Cenário, problema e ações PARTE I 21 22 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais (capital social) “O volume do capital social que um agente individual possui depende então da extensão da rede de relações que ele pode efetivamente mobilizar e do volume do capital (econômico, cultural ou simbólico) que é posse exclusiva de cada um daqueles a quem está ligado.” (Bourdieu, 2003, p. 67) em suas diversas formas; em terceiro lugar, duas formas de capital que estão altamente correlacionadas: o capital social, que consiste de recursos baseados em contatos e participação em grupos e o capital simbólico, que é a forma que os diferentes tipos de capital toma uma vez percebidos e reconhecidos como legítimos.” (Bourdieu, 1987, p. 4) Do que nos interessa mais diretamente para as finalidades desta discussão, podemos definir em primeiro lugar o capital social (ver box) como “o conjunto dos recursos reais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de inter-reconhecimento mútuos, ou, em outros termos, à vinculação a um grupo, como o conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns (passíveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros e por eles mesmos), mas também que são unidos por ligações permanentes e úteis” (Bourdieu, 2003, p. 67). Nessa concepção, a conectividade, as interações e os relacionamentos com essa característica designam um vasto campo de possibilidades para a vida social, uma multiplicidade de oportunidades. As redes são fontes e também caminhos que permitiriam aos indivíduos incrementar suas probabilidades de realização. Aspectos não materiais, mas simbólicos, possibilitam o acesso a recursos econômicos, ou seja, relações sociais podem ser convertidas em capital. A noção de capital cultural aqui é importante, pois surge como recurso de poder, fonte de dominação na medida que permite separar indivíduos ou grupos ou atribuir-lhes uma “relevância especial”. Como Cenário, problema e ações PARTE I Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais cada grupo social tende a formar um padrão específico de preferências, isso proporcionaria a aproximação dentro de um mesmo grupo, como também dificultaria o trânsito, a mobilidade social, entre os grupos, o que constitui um princípio de diferenciação quase tão poderoso quanto o do capital econômico. (gostos) “Não há nada tão poderoso quanto o gosto musical para classificar os indivíduos e por onde somos infalivelmente classificados.” (Bourdieu, 1979, p. 17) A cultura, inclusive aquela reconhecida por diplomas e títulos, age como fator de distinção social na medida em que permite ao grupo dominante se legitimar e legitimar sua cultura como a melhor, atribuindo-lhe valor simbólico superior. Aqueles que têm acesso a esse capital cultural, às informações que fazem de uma cultura legítima socialmente, terão maior valor, mais “distinção”, assim como acesso facilitado a outros recursos escassos. Esses gostos (ver box) associados à cultura “O gosto é o principio de tudo o que temos (pessoas e coisas), de tudo o que somos para os outros e é através dele que classificamos e somos classificados.” (Bourdieu, 1979, p. 59) legítima não correspondem unicamente ao padrão erudito, à medida que incluem preferências e hábitos sutis, que vão desde as maneiras de se expressar, vestir e depois comer, às escolhas de atividades sociais e esportivas que expressam o estilo de vida da classe dominante. A discussão sobre a igualdade de oportunidades entre os cida-dãos leva em conta a natureza da atuação do Estado para reduzir desigualdades estruturais às quais estão submetidas parcelas da população. Nesse sentido, cabe ao Estado promover programas sociais e econômicos que deem a oportunidade de esses cidadãos superarem essa condição. No entanto, nos países de bem-estar social avançado considera-se que as políticas de educação, saúde, emprego e renda são insuficientes para superar desigualdades de capital social e cultural de forma mais ampla. Assim, determinadas condições sociais condicionam um status que permite o acesso a oportunidades de outro modo restritas. Cenário, problema e ações PARTE I 23 24 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Tais constatações poderiam ser traduzidas em algumas situações do senso comum, nas quais o diagnóstico é quase o mesmo: é fundamental desfrutar de “boas relações” para ter acesso a melhores oportunidades. Isso é bem evidente quando pensamos em termos da obtenção de empregos de melhor qualidade, em que a inserção e o pertencimento a certas redes de relacionamento ou sociabilidade são determinantes. Não pertencer às “redes sociais certas” equivale, portanto, mesmo desfrutando de uma boa formação, a ter menos oportunidades. Não é por acaso que expressões como QI (“quem indica”) adquiriram sentido corriqueiro no universo das relações profissionais no Brasil. Nesses termos, o capital cultural pode ser entendido como um mecanismo reprodutor das condições sociais que opera em associação com as outras formas de capital (social, econômico e simbólico). Assim sendo, considerando que os jovens estão inseridos em realidades em que essas lógicas imperam, alguns questionamentos são importantes: - Considerando que a maioria dos jovens não se beneficia de redes semelhantes, como proceder? - Se as relações patrimonialistas são um traço definidor da sociabilidade brasileira, como construir estratégias capazes de “driblar” condições sociais intrínsecas que engendram tais assimetrias? - Como ampliar o capital relacional de jovens em situação de vulnerabilidade? Cenário, problema e ações PARTE i Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais - Como lidar com “códigos”, linguagens, posturas e características que são alheias às suas realidades, mas são exigências para mobilidade social? - Como ver ampliadas suas oportunidades de acesso a melhores postos de trabalho? O surgimento do programa de mentoria Em conjunto com os governos municipais da Baixada Santista, o projeto Juventude e Trabalho (ver box), contemplado em 2010 pelo Programa Petrobras Desenvolvimento e Cidadania, atuou ao longo de dois anos em sintonia com os modelos de políticas públicas mais exitosos no Brasil nos últimos 20 anos, segundo o Ipea. Tais políticas procuraram integrar o incentivo à conclusão do Ensino Médio (ampliação da escolaridade), programas de aprendizagem profissionalizante e estratégias de inserção profissional. Como é muito fácil observar ou deduzir, jovens em situação de vulnerabilidade social, objetivamente não desfrutam de condições Entre os principais resultados do Projeto Juventude e Trabalho (2010-2012) estão: Formação técnica: -Participantes que cursaram pelo menos uma temática em um dos três cursos oferecidos: 258 -Participantes finais (fizeram pelo menos 50% de um dos cursos): 133 Inserção profissional: Resultados com base em amostra de 80 educandos(as) com frequência superior a 70%, nos últimos seis meses: -64 começaram a trabalhar no decorrer do curso (80%) o projeto desenvolveu várias ações para favorecer tal condição; -10 já trabalhavam (10%); -seis não trabalhavam e ainda não trabalham ou pararam de trabalhar por motivos pessoais (7,5%). favoráveis para a formação de redes de sociabilidade profissional (networking). Portanto, somente a qualificação e os esforços tradicionais de inserção profissional não são suficientes. Assim, já na última fase desse primeiro ciclo do projeto, que previa formação profissional em três áreas distintas (Turismo Sustentável, Gestão Ambiental e Gestão de Negócios Sustentáveis) segundo a concepção de Cenário, problema e ações PARTE i 25 26 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais (emprego verde) Os empregos verdes são definidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como “postos de trabalho decente em atividades econômicas que contribuem significativamente para reduzir emissões de carbono e/ou para melhorar/conservar a qualidade ambiental”. A mesma organização define o trabalho decente como “um trabalho produtivo, adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, igualdade e segurança, que seja capaz de garantir uma vida digna para os trabalhadores e trabalhadoras e suas famílias”. A OIT Brasil analisou os impactos ambientais dos bens e serviços produzidos pelas mais diversas atividades econômicas e concluiu que, em 2008, os empregos verdes representavam 6,73% do total dos empregos formais no país. emprego verde (ver box), passou-se a considerar uma estratégia alternativas de inserção profissional. A mudança de estratégia veio com o fracasso da opção original, a qual partia da concepção da pesquisa realizada inicialmente com os governos e as empresas para identificar temáticas para cursos conectados com as respectivas vocações regionais, que, juntamente com uma formação focada na autonomia dos sujeitos, formação crítica e voltada para o desenvolvimento de habilidades e competências para a resolução de problemas, seriam atrativos suficientes para que as empresas efetuassem contratações, na condição de aprendizes ou estagiários, entre os egressos dos cursos. Para que os benefícios da formação fossem visíveis para as empresas, foi conduzida uma estratégia agressiva para apresentação do perfil dos jovens do programa às respectivas áreas de recrutamento e seleção das empresas. Juntamente com as prefeituras de Santos e de Cubatão, a partir do cadastro municipal por atividade econômica foram organizados seminários temáticos, de acordo com a área da empresa, para apresentação da proposta formativa. Utilizou-se também os Postos de Atendimento ao Trabalhador (PATs) para identificar possibilidades de inserção dentro do perfil específico de formação. Nesse sentido, essa estratégia de inserção profissional em nada se diferenciou dos programas tradicionais de formação para o trabalho. Talvez por isso as respostas por parte das empresas não poderiam ter sido mais frias. A partir daí, adotou-se um caminho distinto, a formulação de uma iniciativa piloto para um programa de mentoria, a Cenário, problema e ações PARTE i Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais qual está baseada no conceito de mentoring, com adaptações próprias à lógica de uma ação pensada como política pública. Conceito de mentoria Mentoria é uma espécie de tutoria em que um profissional mais velho e mais experiente orienta e compartilha com profissionais mais jovens, que estão iniciando no mercado de trabalho ou numa empresa, experiências e conhecimentos no sentido de dar-lhes orientações e conselhos para o desenvolvimento de suas carreiras. Essas orientações vão desde o âmbito pessoal até o profissional. No entanto, o mentor de um(a) jovem profissional não será ne- (nos Estados Unidos) A mentoria é uma estratégia organizacional muito difundida nos Estados Unidos. Esta é considerada uma ferramenta que auxilia instituições a atingirem melhores resultados significativos e mensuráveis. Para isso, os programas organizacionais de mentoria preveem que o profissional mais experiente transfira seus conhecimentos para o de menor experiência, uma transferência do conhecimento organizacional e profissional, amplamente falando. cessariamente seu “padrinho”, chefe ou alguém dentro do seu contexto hierárquico ou mesmo afetivo. Ambos relacionam-se tendo por base o estabelecimento de uma meta em comum, sair de um estado atual para um estado desejado. Mais especificamente, mentoring ou mentoria, é um conceito que começou a ser aplicado de fato nos Estados Unidos (ver box) e nos países da Europa. Costa (2007, p. 39) utiliza-se da definição de Kram (1988, p. 2) para explicar em que consiste, sendo, então: “Um relacionamento entre um jovem adulto e um adulto mais velho, mais experiente, que ajuda o indivíduo a navegar no mundo adulto e no mundo do trabalho. O mentor suporta, guia e aconselha o jovem adulto enquanto ele realiza essa importante tarefa.” Cenário, problema e ações PARTE i 27 28 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Assim, a mentoria é “a ação de influenciar, aconselhar, ouvir, ajudar a clarificar ideias e a fazer escolhas, guiar”4. Essa relação se dá através de suporte, direção e feedback relacionados ao desenvolvimento pessoal e profissional do mentorando. No contexto organizacional, o mentorando normalmente é um profissional recém-chegado à empresa. Ali, a importância do mentor se confirma também ao ajudar na adaptação ao ambiente, no conhecimento da cultura organizacional e no estabelecimento de contatos com os colegas e superiores. Nesse contexto, o mentoring surge como uma importante estratégia tanto para o crescimento do jovem adulto que está se inserindo no mercado de trabalho e precisa de um suporte confiável, quanto para a valorização do conhecimento daquele que possui anos de experiência organizacional e de vida. Para a empresa essa relação é nada mais do que positiva, já que a aplicação do conceito tem se tornado reconhecida para o suporte da área de recursos humanos por proporcionar maior comprometimento do trabalhador com a empresa, fazendo com que a rotatividade de empregados diminua consideravelmente. Nesse sentido, a mentoria entra no mundo dos negócios, sobretudo na década de 1970, com o objetivo de melhorar a qualidade de trabalho nas empresas, criando condições para que as pessoas possam mostrar suas potencialidades. Nos dias atuais, empresas de consultoria praticam mentoria por meio do acompanhamento de consultores iniciantes por veteranos, viabilizando oportunidade de aprendizagem, VERGARA, 2005, p.36 apud SANTOS, Edméia et al. “Mentoria: a formação inicial e continuada dos professores – tutores no programa FGV Online” 4 Cenário, problema e ações PARTE i melhor exercício de suas atividades profissionais e como complementando sua formação. Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Em termos metodológicos, a mentoria costuma ser classificada como formal e informal. A diferença está basicamente na natureza da relação. A mentoria informal é a mais usual, nela o mentor e o mentorando se aproximam não só por questões corporativas e aconselhamentos profissionais, mas também por interesses comuns e até mesmo por admiração. Essa relação ultrapassa as paredes da empresa e, por não ter um gerenciamento ou uma estrutura fechada, não é reconhecida pela organização. Costa (2007, p. 40) define deste modo as diferenças entre os modelos, “funções psicossociais, que incluem amizade, aconselhamento e aperfeiçoamento profissional, ou funções relacionadas com a carreira Na Grécia antiga, mentor era o responsável pelo desenvolvimento físico, social, intelectual e espiritual dos jovens. Essa função não se confundia com a de professor. O mentor era um conselheiro e protetor, principalmente por ser dotado de vasta experiência. No Renascimento, os mecenas ricos desempenhavam o papel de mentores, financiando e influenciando obras de artistas. como: orientação, tarefas desafiadoras e exposição ou visibilidade na profissão”. Dentro da função psicossocial a mais recorrente é o papel como modelo, no qual o mentorando reconhece no seu mentor um modelo a ser seguido. Considerando que a relação do jovem adulto com pessoas em posição de orientá-lo, mesmo que de maneira assistemática, geralmente não é única, essas funções não são exercidas somente por um mentor. Comumente, há uma rede de pessoas que se dispõem a apoiá-lo ou a assisti-lo, gerando relacionamentos múltiplos. (Costa, p.140; Packard, p.1) Cenário, problema e ações PARTE i 29 30 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Relação entre mentoring e coaching Segundo o Instituto Brasileiro de Coaching, diferente de mentoring, esse conceito remete a um processo com começo, meio e fim. O treinador (coach) auxilia o seu cliente a alcançar seus objetivos por meio de treinamentos semanais ou quinzenais que possibilitem a tomada das melhores decisões. Ou seja, o cliente já possui suas próprias problemáticas e soluções, o coach, neste caso, apenas guia sua visão. “Diferente de um mentor um coach não precisa necessariamente ter experiência na área de atuação de seu cliente e tampouco o aconselha ou dá as soluções para seus problemas ou orientações de carreira” (IBC, s.d). Já Costa (2007, p. 53) utiliza-se do conceito aplicado ainda ao jovem adulto, no qual a função de “coach” (treinador) pode ser exercida também pelo mentor. Assim, o coaching seria mais um recurso para aumentar o conhecimento do mentorando. Hobson (2012, p. 60) compartilha deste entendimento partindo de Kram (1985), Malderez e Bodoczky (1999), já que para estes a mentoria é o conceito mais amplo dos dois. Desse modo, ele refere à mentoria essa relação “um para um” entre o jovem adulto e o adulto experiente. O treinamento (coaching) seria um dos papéis que esse mentor pode exercer, uma vez que o coaching está relacionado ao desenvolvimento de habilidades específicas. Delimitações conceituais à parte, de fato são inúmeros os benefícios e impactos da intervenção do mentor na vida do mentorando. Cenário, problema e ações PARTE i Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Isso porque, nos programas organizados, o mentor vai apoiá-lo a alcançar objetivos, apontar habilidades que deve aprender para enfrentar problemas, para gerenciar ou tolerar mudanças (Deakins, 1999). Assim, nesses programas, o mentorando consegue desenvolver suas habilidades e seu empreendedorismo. Segundo análise de Raggins (1999), além de aspectos relacionados à carreira como o envolvimento em tarefas desafiadoras, crescimento da exposição e da visibilidade do mentorando, a mentoria possibilita mais engajamento e facilidade nas interações sociais ou amizades, levando o mentorando a estar mais satisfeito e com sua autoestima mais elevada. Assim, o processo resulta em melhorias que vão além do sucesso profissional, contribuindo inclusive para desenvolver o protagonismo social dos participantes. ALUNAS EM CUBATÃO Cenário, problema e ações PARTE i 31 PARTE II A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens 34 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Síntese do programa piloto de mentoria (agosto a dezembro/2012) O programa de mentoria foi realizado no segundo semestre de 2012, com núcleos na cidade de Santos e Cubatão. Um de seus principais desafios foi a adaptação do conceito de mentoria, tradicionalmente associado ao contexto corporativo. Em escala reduzida, o programa piloto de mentoria buscou criar melhores condições de mobilidade e ascensão social pelo trabalho para os participantes do projeto que concluíram a formação nos três cursos oferecidos (Gestão de Negócios Sustentáveis, Turismo Sustentável e Gestão Ambiental). Por meio de adesão espontânea, cerca de 60 jovens (35 em Santos e 25 em Cubatão) foram acompanhados por 19 mentores(as) de diferentes áreas profissionais. A experiência teve duração de cinco meses (agosto a dezembro de 2012) e contou com o acompanhamento sistemático da psicóloga do projeto. Assim, tanto os mentores quanto os mentorandos receberam preparação específica. Entre os(as) mentores(as) que participaram do programa havia desde secretários municipais, gestores de grandes empresas privadas até técnicos com longa experiência nas suas áreas de atuação. Cada um deles recebeu uma bolsa simbólica de R$ 100 para cada jovem que acompanhava. O artifício buscava estimular seu comprometimento com o programa e com as sistemáticas de avaliação. Cada um deles podia acompanhar até cinco jovens, fornecendo semanalmente orientações pessoais e profissionais, encorajando e motivando esses(as) jovens. Tais orientações se basearam na experiência e na formação do(a) A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II mentor(a) nas temáticas dos cursos oferecidos pelo projeto. As atribuições do(a) mentor(a) também incluíam apresentar o(a) educando(a) às suas redes de relacionamento profissional (espaços e pessoas) e esti- Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais mular sua participação em eventos que favorecem sua empregabilidade e a ampliação de seus conhecimentos. Ao utilizar como base o conceito de mentoria para elaborar uma estratégia de inserção de jovens no mercado de trabalho, um dos maiores desafios foi a adaptação de um tipo de conceito, metodologia e de valores criados no interior do que se pode definir como management, ou seja, no interior de uma série de técnicas e saberes voltados para a gestão de empresas. Uma importante questão nesse processo de adaptação do conceito é que haja compatibilidade entre a visão de mundo do mentor e do mentorando, portanto, é preciso levar em consideração a cultura de um e de outro. Costa (2007, p. 23) aponta outros fatores que podem afetar um relacionamento de mentoria: “fatores estruturais, que incluem fatores organizacionais e características do meio, tais como, tipo de indústria e região geográfica”. Assim, apesar do modelo internacional ser a base, é necessário pensar nas especificidades de cada país, nesse caso, as especificidades de uma mentoria brasileira. Pensando nessas especificidades, o conceito de mentoring com sua metodologia e valores se baseia na busca de respostas para necessidades do mundo corporativo guiadas por noções de sucesso individual, liderança e busca por maior produtividade, ascensão profissional e retorno financeiro. Ao transpor essa metodologia para um projeto que se orienta menos por essas questões do plano individual e mais por questões do plano social, ao tratar de atores que estruturalmente estão mais vulneráveis, sobretudo, em termos de oportunidades educacionais e de empregabilidade, alguns elementos que não estão A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 35 36 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais presentes na discussão de mentoring tal como aplicada no mundo corporativo devem ser considerados, tais como: - A consideração do conceito de juventude como uma categoria socialmente construída. A definição do que é ser jovem é um fenômeno recente em termos antropológicos, sociológicos e psicológicos e também nas políticas públicas. - O reconhecimento da condição dos mentorandos como entes políticos no interior da esfera pública e social mais ampla. - A necessidade de pensar a noção de desenvolvimento de capacidades para além de questões ligadas ao consumo material ou ganho de dinheiro. Ainda que esta seja uma dimensão fundamental no mundo do trabalho, outros elementos devem se fazer presentes, como noções de ética e cidadania. - Ainda em relação ao conceito de desenvolvimento, se o conceito de mentoring é baseado na busca por sucesso profissional, sua adaptação deve considerar a ampliação de horizontes, escolhas e oportunidades por parte de atores que são frágeis no sentido político, social e econômico. Ao considerar esses elementos, o processo de mentoring adotado no Programa de Mentoria da Escola Cidade Sustentável se orientou pelos seguintes objetivos: - O desenvolvimento de capacidades dos mentorandos. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II - A ampliação de horizontes, escolhas e oportunidades independentemente da inserção profissional em si. Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais - Construção e inserção dos mentorandos em uma rede de relacionamentos profissionais. - Ampliação dos círculos de sociabilidade para além da família ou da escola dos jovens. - A superação de estigmas ou entraves para a participação dos mentorandos no mundo do trabalho qualificado, tais como diferenças de padrões culturais de comportamento (a existência de construções e valores do que são considerados padrões desejáveis de vestimenta, expressão verbal e não verbal, apresentação pessoal e outras etiquetas presentes no mundo do trabalho que muitas vezes não são claramente formuladas no mundo empresarial e que expressam um tipo de segregação de classe, educacional, geracional, espacial, de gênero etc.5). - A busca pela inserção profissional em si mesma como uma atividade produtiva e geradora de renda para os jovens e suas famílias. Nesse sentido, essa atividade de mentoria pode ser compreendida como uma relação de apoio e suporte, na qual uma pessoa mais experiente busca ajudar outra menos experiente em determinada atividade, possibilitando a mobilização de suas competências no novo contexto que se apresenta. Deve-se levar em conta, também, as relações afetivas e de amizade entre mentor e mentorando, que podem ser uma consequência de um vínculo que se forma com base na cooperação mútua e confiança. Por isso, a mentoria pode trazer benefícios tanto para o mentorando quanto para o mentor, uma vez que se constrói por meio de 5 Essa tarefa é realmente difícil, a começar pela atitude necessária para que a orientação não soe como um tipo de preconceito. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 37 38 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais uma relação de (com)partilhamento de experiências. A diversidade de situações profissionais com as quais mentor e mentorando se deparam ao longo desse processo é capaz de mobilizar novas competências em ambos, que aprendem com essa relação. Tomando como base a adaptação do conceito de mentoria e coaching para o contexto dos projetos realizados na Baixada Santista, o papel de cada ator envolvido no processo pode ser assim descrito: O papel do mentor Um ponto importante na mentoria é o papel exercido pelo mentor. O mentor é o indivíduo que oferece conhecimento, insight6, perspectiva, experiência ou sabedoria, ou seja, são indivíduos que exercem influência auxiliadora, são conselheiros sensíveis e de confiança. Mesmo assim, considerando a perspectiva construtivista que marcou o processo educativo, essa influência do mentor sobre o jovem surge de um contexto de trocas que mais se aproxima de uma relação dialógica de influência mútua. O mentor desempenha diversos papéis no processo de mentoria, dentre os quais o mentor deve desenvolver confiança e comportaTermo em inglês que se refere à percepção, discernimento. 6 A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II mentos positivos, ajudar nas tomadas de decisões a respeito de metas e trajetórias para a carreira do mentorando, buscar desenvolver sua autoestima e, antes de tudo, respeitar a confidencialidade, oferecer sugestões, caminhos, alternativas e pensamentos criativos, estimulando-o e apoiando-o em novas situações e tarefas. Tudo isso levando em Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais conta os desejos do mentorando, seus anseios e necessidades e não somente o que o mentor acredita que seja bom para o jovem. Além disso, outra atribuição do mentor é a de atuar como catalisador do crescimento do mentorando, ajudando a definir prioridades e estimulando o equilíbrio profissional e pessoal, escutando suas ideias, preocupações e sugestões, principalmente porque a base para o sucesso do mentor está na habilidade de saber ouvir e respeitar os anseios do mentorando. Dessa forma, ao pensar a mentoria como estratégia de política pública, espera-se que o mentor: - Esteja comprometido com o processo de tutoria. - Transmita aprendizados sobre sua experiência. - Fomente/desperte o compromisso cidadão (espírito público). - Crie oportunidades de aprendizagem. - Desafie e provoque o mentorando para que ele alcance seu padrão de excelência e possa resolver problemas, distanciando-se de um perfil meramente operacional. - Estimular uma reflexão sobre os padrões organizacionais desejados/valorizados. - Comunique-se intensamente/constantemente com o mentorando. - Aceite as possibilidades e os limites do mentorando. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 39 40 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais - Incentive o mentorando a sentir orgulho do que faz, que sugere o orgulho de si mesmo para que, consequentemente, ocorra uma elevação da autoestima para a fruição de suas competências para o contexto da ação. O papel do mentorando Como já vimos, no processo de mentoria há duas funções principais: a primeira, relacionada com a carreira profissional, e a segunda, psicossocial. Apesar de serem funções distintas, não são inteiramente separadas. Assim, o mentor pode atuar junto ao mentorando em uma variedade de funções, incluindo amizade, aconselhamento e aperfeiçoamento profissional. A primeira função, vocacional ou de carreira, refere-se aos aspectos do relacionamento que melhoram a aprendizagem do mentorando preparando-o para uma inserção profissional adequada e para o desenvolvimento de uma carreira que o realize. Nessa função, o mentor atua visando ao desenvolvimento da vocação do seu mentorando, dando orientação, apresentando profissões e tarefas desafiadoras. A segunda função, psicossocial, está ligada diretamente ao relacionamento que desenvolve um senso de identidade e perspectiva, na qual o mentor irá ajudar seu mentorando a desenvolver seus próprios conceitos, analisando a realidade. Estão incluídas funções como moA mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II delar papéis, aceitação, confirmação, amizade e conselho. Para isso, é esperado que o mentorando: Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais • Identifique áreas de melhoria. • Assuma a iniciativa (atitude proativa). • Seja aberto e forneça informação relevante (diálogos significativos). • Elabore um plano de ação. • Aceite os desafios propostos pelo mentor. • Participe de atividades sociais. • Informe ao mentor sobre os progressos conseguidos (feedback). • Esteja aberto à aprendizagem. • Aceite a crítica construtiva. • Perceba os desafios como oportunidades de melhoria e transformação. • Tome decisões. • Demonstre compromisso. FEIRA DO EMPREGO EM SANTOS A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 41 42 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Escola Cidade Sustentável: proposta educativa para qualificação profissional Nesta experiência, o programa de mentoria foi antecedido por um processo consistente de formação para qualificação profissional geral e específica, voltado às diversas habilidades e capacidades pessoais e profissionais. Esse trabalho foi materializado pela oferta dos cursos de Turismo Sustentável, Gestão de Negócios Sustentáveis e Gestão Ambiental. Partindo de uma abordagem voltada para uma formação integral de um público de jovens entre 18 e 24 anos, a proposta buscou contribuir com sua capacitação para o mundo social e do trabalho, oportunizando o cumprimento do estabelecido na Lei 10.097/2000, Decreto nº 5.598/2005. Para isso, envolveu a criação de situações de aprendizagem que levassem cada jovem a aprender a aprender/conhecer, a aprender a fazer, a aprender a ser, a aprender a conviver, a mobilizar, a articular ações, conhecimentos, técnicas, habilidades e atitudes em níveis crescentes de complexidade. Objetivo geral dos cursos Dotar o(a) educando(a) de conhecimentos, habilidades, competências e atitudes que o(a) qualifiquem profissionalmente, especialmente nas questões ambientais, de forma a ampliar seu acesso ao mercado de trabalho, nos termos do conceito de empregos verdes. Além disso, ao final dos cursos, o(a) educando(a) deverá adquirir A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II conhecimentos, técnicas, habilidades e atitudes para: • Compreender o ser humano como titular de direitos fundamentais. Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais • Desenvolver hábitos de sociabilidade no convívio social e no trabalho. Objetivo específico do curso de Turismo Sustentável Propiciar o desenvolvimento de conhecimentos, competências, habilidades e atitudes específicas para a formação de técnicos(as) em nível básico de Turismo Sustentável, preparando o(a) educando(a) a compreender os conceitos e experiências para: executar os procedimentos de transporte de passageiros e de sua bagagem; conduzir indivíduos ou grupos em passeios, visitas e/ou viagens monitorando-os e promovendo a interação entre eles e as comunidades receptoras e incentivando a valorização mútua de diferenças culturais a fim de reduzir impactos socioculturais, favorecendo assim a construção de uma experiência qualitativa; e desenvolver produtos e serviços turísticos planejando e elaborando roteiros, fornecendo alternativas de viagens e executando as rotinas operacionais e administrativas pertinentes para atender às necessidades e preferências da demanda, visando à sustentabilidade econômica da agência e/ou operadora de turismo. O curso habilitava o(a) educando(a) para o trabalho nas esferas pública, privada e terceiro setor, em agências de viagens, operadoras turísticas ou agências de receptivo, atuando como Monitor de Turismo Regional (no estado de São Paulo) e de Excursão Nacional (no Brasil) na recepção e condução de grupos; como agente de serviços ao cliente; A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 43 44 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais ou em consultoria de viagens, como profissional autônomo ou como empreendedor do seu próprio negócio. Objetivo específico do curso de Gestão de Negócios Sustentáveis Propiciar o desenvolvimento de conhecimentos, competências, habilidades e atitudes específicas para a formação de técnicos(as) em nível básico de Gestão de Negócios Sustentáveis, preparando o(a) educando(a) para compreender a premissa do Desenvolvimento/Gestão Sustentável, que é gerar uma relação de harmonia entre os agentes econômicos, ambientais e sociais, ou seja, um modelo de crescimento empresarial/organizacional, sem exclusão social e com respeito ao meio ambiente; assim como compreender o objetivo desse tipo de gestão, que é o fim do desperdício de investimentos, matérias-primas, energia e talento humano, sem a transferência futura de custos exponenciais, capazes de invalidar as conquistas do presente. O curso habilitava o(a) educando(a) para o trabalho nas esferas pública, privada e terceiro setor, atuando como aprendiz, auxiliar, assistente, profissional autônomo ou como empreendedor do seu próprio negócio, colaborando no desenvolvimento da sustentabilidade de uma empresa/organização. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Objetivo específico do curso de Gestão Ambiental Propiciar o desenvolvimento de conhecimentos, competências, habilidades e atitudes específicas para a formação de técnicos(as) em nível básico de Gestão Ambiental, formando profissionais com capacidade de relacionamento humano, competências técnicas e científicas amplas e atualizadas das bases e formas de gestão do meio ambiente e dos recursos naturais, para que possam contribuir de maneira significativa no desenvolvimento humano e sustentável de suas comunidades. Devem ser capazes de planejar, gerenciar e executar as atividades de diagnóstico, avaliação de impacto, proposição de medidas mitigadoras/corretivas e preventivas/recuperação de áreas degradadas e ainda acompanhamento e monitoramento da qualidade ambiental. O curso habilitava o(a) educando(a) para o trabalho nas esferas pública, privada e terceiro setor, atuando como auxiliares ou assistentes, na elaboração de relatórios de impactos ambientais, controle de uso de equipamentos de segurança, contribuindo para a exploração de recursos naturais de forma sustentável, auxiliando ou assistindo projetos de recuperação de áreas degradadas e de produção limpa. Permitia ainda, como profissional autônomo ou como empreendedor do seu próprio negócio, elaborar e implantar projetos de meio ambiente, que tratem da regulação do uso, controle, proteção e conservação do meio ambiente, avaliação de conformidade legal, análise de impacto ambiental e elaboração de laudos e pareceres etc., contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e a preservação da natureza. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 45 46 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Carga horária Compreendia a oferta de cursos técnico-profissionais em nível básico, com a duração mínima de 800 (oitocentas) horas-aula, das quais: 400 (quatrocentas) horas-aula, no mínimo, destinadas ao desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes básicos para formação humana e científica na ocupação; 400 (quatrocentas) horas-aula, no mínimo, destinadas ao desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos para formação na ocupação. Para isso, foram estruturados dois módulos, progressivos e integrados, possibilitando conclusão com direito a certificado. A carga horária total de cada curso foi distribuída no período de doze meses, de agosto de 2011 a julho de 2012. Os cursos foram oferecidos em dois períodos: matutino e noturno, em função da necessidade e da conveniência dos(as) jovens inscritos(as) em cada município. As aulas aconteceram de segunda a sexta-feira e tiveram a duração de quatro horas de aula por dia: • Aulas no período matutino – das 8h às 12h15, com um intervalo de 15 minutos. • Aulas no período noturno – das 19h às 23h15, com um intervalo de 15 minutos. Além disso, foram ministradas aulas regulares, complementaA mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II res, de reposição ou de temas extracurriculares aos sábados. Aulas com conteúdo extracurricular, em classe ou em campo, em função da sua natureza (palestras, visitas, estudos de campo etc.), também fo- Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais ram programadas em dias e horários alternativos, sempre em função da disponibilidade e conveniência dos(as) educandos(as) e dos(as) professores(as) ou anfitriões, no caso de visitas. Organização curricular O currículo dos cursos técnico-profissionais foi organizado conforme: • O artigo 4º, da portaria nº 615, de 13 de dezembro de 2007, do Ministério do Trabalho e do Emprego. • As diretrizes do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, do Ministério da Educação. A organização do currículo buscou: • A garantia de situações de aprendizagem com a repetição necessária para o aperfeiçoamento das técnicas e para a integração dos conhecimentos teórico-práticos em relação, não só ao desempenho dessas técnicas, mas, também, à aquisição de atitudes e hábitos requeridos pela qualificação técnica e profissional em questões ambientais. • A articulação dos conhecimentos científicos com sua aplicação nos estágios de aprendizagem. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 47 48 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Os componentes curriculares foram organizados em dois módulos: MÓDULO I – Desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes básicos para formação humana e científica na ocupação • 400 h/a – Componentes Curriculares obrigatórios que atendam à Legislação – Portaria nº 615, de 13 de dezembro de 2007, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); • Carga Horária: 4 h/dia. MÓDULO II – Desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos para formação na ocupação • 400 h/a – Componentes Curriculares sugeridos que atendam às orientações do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos do Ministério da Educação; • Carga Horária: 4 h/dia. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Componentes curriculares Curso de Turismo Sustentável MÓDULO I Desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos para formação humana e científica Componentes Curriculares obrigatórios que atendam à Legislação – Portaria nº 615, de 13/12/2007, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Carga Horária Comunicação e Expressão 32 h/a Consumo 28 h/a Direitos Humanos 28 h/a Educação Sexual 28 h/a Educação Ambiental 28 h/a Educação Fiscal 28 h/a Educação para a Saúde 28 h/a Geração de Renda 28 h/a Informática 28 h/a Matemática Comercial e Financeira 28 h/a Mundo do Trabalho 28 h/a Relações Interpessoais 32 h/a Segurança no Trabalho 28 h/a Segurança Pública Total de horas/aula no Módulo I 28 h/a 400 h/a A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 49 50 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Curso de Turismo Sustentável MÓDULO II Desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos para formação na ocupação Componentes Curriculares sugeridos que atendam às orientações do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos do Ministério da Educação Artes e Cultura 48 h/a Espanhol 48 h/a Geografia e Cartografia 48 h/a Guiamento no Contexto Regional e Nacional (Agências e Roteiros Turísticos) 48 h/a História e Museologia 48 h/a Infraestrutura do Turismo (Logística e Hospedagem) 48 h/a Inglês 48 h/a Legislação e Gestão aplicadas ao Turismo 48 h/a Sistemas de Informação 20 h/a Total de horas/aula no Módulo II A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II Carga Horária 400 h/a Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Curso de Gestão de Negócios Sustentáveis MÓDULO I Desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos para formação humana e científica Componentes Curriculares obrigatórios que atendam à Legislação – Portaria nº 615, de 13/12/2007, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Carga Horária Comunicação e Expressão 32 h/a Consumo 28 h/a Direitos Humanos 28 h/a Educação Sexual 28 h/a Educação Ambiental 28 h/a Educação Fiscal 28 h/a Educação para a Saúde 28 h/a Geração de Renda 28 h/a Informática 28 h/a Matemática Comercial e Financeira 28 h/a Mundo do Trabalho 28 h/a Relações Interpessoais 32 h/a Segurança no Trabalho 28 h/a Segurança Pública Total de horas/aula no Módulo I 28 h/a 400 h/a A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 51 52 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Curso de Gestão de Negócios Sustentáveis MÓDULO II Desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos para formação na ocupação Componentes Curriculares sugeridos que atendam às orientações do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos do Ministério da Educação Carga Horária Gestão do Conhecimento 60 h/a Gestão Financeira, Trabalhista, Financeira e Contábil 60 h/a Gestão Sustentável 80 h/a Legislação Trabalhista, Tributária e Empresarial 60 h/a Matemática Financeira 20 h/a Métodos e Técnicas Administrativas e Redação Oficial 40 h/a Organização Empresarial 80 h/a Total de horas/aula no Módulo II Curso de GESTÃO DE NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS EM CubATÃO A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 400 h/a Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Curso de Gestão Ambiental MÓDULO I Desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos para formação humana e científica Componentes Curriculares obrigatórios que atendam à Legislação – Portaria nº 615, de 13/12/2007, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Carga Horária Comunicação e Expressão 32 h/a Consumo 28 h/a Direitos Humanos 28 h/a Educação Sexual 28 h/a Educação Ambiental 28 h/a Educação Fiscal 28 h/a Educação para a Saúde 28 h/a Geração de Renda 28 h/a Informática 28 h/a Matemática Comercial e Financeira 28 h/a Mundo do Trabalho 28 h/a Relações Interpessoais 32 h/a Segurança no Trabalho 28 h/a Segurança Pública Total de horas/aula no Módulo I 28 h/a 400 h/a A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 53 54 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Curso de Gestão Ambiental MÓDULO II Desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes específicos para formação na ocupação Componentes Curriculares sugeridos que atendam às orientações do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos do Ministério da Educação Legislação e Políticas Ambientais 60 h/a Gestão Ambiental 60 h/a Educação Ambiental e Ecossistemas 60 h/a Impactos Ambientais e Poluição Ambiental 60 h/a Desenvolvimento e Tecnologias Sustentáveis 60 h/a Processos Produtivos 60 h/a Saúde Coletiva 40 h/a Total de horas/aula no Módulo II Curso de Gestão Ambiental EM SANTOS A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II Carga Horária 400 h/a Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Indicação metodológica A Escola Cidade Sustentável no geral adotou a metodologia do ensino direto e dialogado, utilizando-se de métodos e técnicas de ensino individualizado e em grupo, enfatizando ao máximo a parte prática, no intuito de alcançar os objetivos propostos para os cursos, bem como palestras e mesas redondas abrangendo temas de interesse dos futuros profissionais. Exercícios simulados, com o levantamento de situações-problema, aproximados ao máximo da realidade local, foram empregados para potencializar a significância, aguçar a busca pelo conhecimento e antecipação de soluções aos fatos reais vivenciados e experienciados, respeitando condições de segurança adequadas, a cargo e sob a responsabilidade de cada curso. Assim, para o desenvolvimento dos componentes curriculares dos planos de curso foram adotadas estratégias diversificadas de vivências práticas para possibilitar a participação ativa dos(as) educandos(as) no desenvolvimento das habilidades e competências necessárias às atividades relacionadas com seu campo de trabalho. Fundamento didático-andragógico Todo o processo educativo foi orientado pelos princípios da andragogia e do construtivismo. Esses princípios trazem uma nova relação entre educador(a), educando(a) e conhecimento. Essa relação é a de interação, uma relação construtiva, compartilhada, democrática, em que o conhecimento passa a ser visto como um conjunto de verdades relati- A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 55 56 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais vas, que correspondem a uma interpretação que o homem dá ao mundo físico e social. As verdades são relativas ao momento histórico de cada indivíduo e de cada grupo em seu contexto social. Andragogia diz respeito ao ensino de jovens e adultos. Segundo Knowles (1976, p. 17), andragogia é a “arte e a ciência destinada a auxiliar os adultos a aprender e a compreender o processo de aprendizagem de adultos”. Ela busca compreender o adulto considerando os aspectos psicológicos, biológicos e sociais e, por isso, se aproxima dos modelos pedagógicos transformadores. A educação de jovens e adultos embasada em um modelo andragógico tem como princípios: • A necessidade em saber a finalidade, o “porquê” de certos conteúdos e aprendizagens. • A facilidade em aprender pela experiência. • A percepção sobre a aprendizagem como resolução de problemas. • A motivação para aprender é maior se for interna (necessidade individual), e se o conteúdo a ser aprendido for de aplicação imediata. • Os jovens e adultos trazem uma bagagem de experiências que podem contribuir para sua própria aprendizagem. No modelo de educação andragógico-construtivista no qual se baseou o programa, os educandos participam das diversas fases do A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II processo de ensino-aprendizagem, tais como: diagnóstico das necessidades educativas; elaboração de plano e estabelecimento de objetivos Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais a partir do diagnóstico; e formas de avaliação. A metodologia é voltada para a participação ativa dos educandos e a organização curricular é flexível, visando atender às especificidades de cada jovem. A proposta também prevê um rompimento com o modelo conteudista, marcado pela transmissão de informações por parte do educador e pela memorização passiva e repetitiva por parte aluno. Na abordagem andragógica, procura-se desafiar os jovens levando-os a problematizar, pesquisar, refletir, dar significado e entender. Isso porque essa perspectiva concebe a aprendizagem, fundamentalmente, como uma experiência social, de interação pela linguagem e pela ação. Também parte do pressuposto de que as necessidades e características do jovem devem ser respeitadas e consideradas sempre em articulação com uma proposta de formação profissional, social e política, necessária ao desenvolvimento do espírito cidadão. O educador é considerado um facilitador e, como tal, sua relação com os educandos é horizontal, tendo como principais características o diálogo, o respeito, a colaboração e a confiança. O clima propício para a aprendizagem, segundo o modelo andragógico, tem como características o conforto, a informalidade e o respeito, garantindo assim que o aluno se sinta seguro e confiante. Dentro da andragogia inspirada nos princípios da construção do conhecimento, o(a) educando(a) deixa de ser um(a) mero(a) receptor(a) de informações e passa a ser um(a) construtor(a). Em outras palavras, o conhecimento se constitui nas relações que cada sujeito estabelece, frente às interpretações que o(a) educador(a) lhe faz de um saber cons- A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 57 58 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais truído e aceito socialmente. Assim, o processo de aprendizagem é de dentro para fora, isto é, é o(a) próprio(a) educando(a) que, a partir de uma experiência de vida, de seu próprio universo simbólico, fará uma interpretação que deverá ser compartilhada ao máximo com outros membros da sociedade. Logo, a proposta pedagógica se pautou por uma visão do processo educativo que favorecesse um desenvolvimento harmonioso dos(as) educandos(as) nos domínios cognitivo, afetivo, psicológico, biológico e social. Isto visa ajudar a formar um cidadão autônomo e competente, capaz de viver plenamente sua cidadania. Técnicas de ensino Existem diferenças entre método e técnica de ensino. Podemos dizer que método é o conjunto de passos que começa com a introdução do conteúdo e termina com a avaliação deste. Já a técnica é um recurso particular que o(a) educador(a) usa para realizar uma parte da aprendizagem a que o método se propõe. Então, um método de ensino pode utilizar uma ou mais técnicas diferentes para atingir os objetivos educacionais. Assim sendo, o critério para adoção das técnicas de ensino foi o envolvimento ativo dos(as) educandos(as) no aprendizado. Para tanto, as técnicas apresentadas aos facilitadores de cada tema incluíam mapas conceituais, estudos de campo como forma de desenvolA mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II ver competências, seminários, simpósios, painéis, mesas-redondas, workshops (oficina ou laboratório), discussões e debates em forma de Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais júri, dramatizações, estudo de casos, entrevistas, equipes de síntese, fóruns, diálogos e jogos. Orientação psicossocial Outro aspecto fundamental de um programa como esse, no qual participam jovens em situação de vulnerabilidade, é a existência de profissionais que ofereçam também apoio psicossocial. Essa é uma dimensão fundamental e dela participaram não só a psicóloga do projeto, mas também profissionais dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), especialmente nos casos que exigiam maior atenção por parte da proteção social. Diretrizes para o apoio psicossocial Basicamente, compreendiam a atenção e o mapeamento dos fatores que pudessem favorecer ou dificultar o desenvolvimento e influenciar no modo de interação do jovem. Uma vez mapeados, esses elementos deveriam ser acompanhados em grupo ou, nos casos mais específicos, individualmente, seja pela psicóloga ou pelas equipes do CRAS: - Identificar fatores de risco aos quais os jovens estão sujeitos, incluindo as características individuais (personalidade, problemas genéticos, habilidades sociais e intelectuais pobres, baixa autoestima, deficiência física e intelectual, histórico de abuso) e ambientais (vulnerabilidade socioeconômica, famílias numerosas, violência intrafamiliar, A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 59 60 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais (fatores de proteção) Os fatores de proteção podem ser classificados em três tipos: 1) individuais, nas disposições positivas de personalidade; 2) familiares, um ambiente que ofereça apoio emocional e social; e 3) rede de apoio, com a presença de outros sistemas externos de apoio (Masten & Garmezy, 1985). Eles têm a função de: 1) reduzir o impacto dos riscos, alterando a exposição à situação adversa; 2) reduzir as reações negativas em cadeia, seguintes à exposição; 3) estabelecer e manter a autoestima e a autoeficácia, através de relações de apego seguro; e 4) criar oportunidades para reverter efeitos de estresse (Pesce, Assis, Santos & Oliveira, 2004). abuso e ausência de apoio social e afetivo, isolamento, desemprego e baixa escolaridade). Identificar fatores de proteção (ver box) que proporcionem um ambiente mais favorável ao desenvolvimento e diminuam a incidência e gravidade de resultados negativos frente aos fatores de risco (Paludo & Koller, 2005). Todos esses fatores, a oferta de acompanhamento e formação especializados, a existência de mecanismos para a construção de redes e o desenvolvimento de contatos profissionais, permitiram aos(às) jovens agir com maior protagonismo. Programa de mentoria na prática A seguir, apresentamos as diretrizes e orientações gerais que compuseram a experiência da mentoria em Santos e Cubatão no interior da Escola Cidade Sustentável. Objetivos específicos do programa de mentoria: - Proporcionar uma ampliação das redes de sociabilidade dos(as) jovens que integram o projeto Escola Cidade Sustentável, inserindo-os em redes das quais fazem parte tanto os educadores quanto os parceiros do projeto. - Oferecer aos jovens ferramentas para acessar essas redes, incluindo o conhecimento e os códigos culturais específicos. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II - Construir uma experiência e sistematizá-la como referência para subsidiar políticas públicas. Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Mentores(as) O processo de mentoria, propriamente dito, foi conduzido através de sessões semanais ou quinzenais e, a cada encontro, o mentor apresentava atividades definidas em conjunto com o(a) jovem profissional orientado(a), para que este(a) agisse no sentido de alcançar as metas definidas, dentro de seu prazo predeterminado. (infraestrutura para os encontros) Para que a mentoria seja realizada é necessário garantir um espaço para os encontros entre o(a) mentor(a) e mentorando(a), que pode ser uma escola ou qualquer outro espaço de aprendizagem. Orientações gerais: - Cada mentor(a) pode orientar até, no máximo, cinco jovens, recebendo mensalmente R$ 100 por jovem orientado (RPA), a título de ajuda de custo. - O período de orientação deve variar de três a quatro meses. - O mentor deve fornecer orientação pessoal e profissional, encorajando e motivando os(as) jovens. - As orientações fornecidas devem se basear na experiência e formação do(a) mentor(a) nas temáticas dos cursos oferecidos pelo projeto. - O mentor deve apresentar o(a) mentorando(a) às redes de sociabilidade (espaços e pessoas). - O mentor deve estimular a participação em eventos que favoreçam a ampliação da empregabilidade e dos conhecimentos desses(as) jovens. - O mentor deve agendar reuniões semanais ou quinzenais (ver box) com os(as) mentorandos(as), seja presencialmente ou pelo telefone. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 61 62 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais (vulnerabilidade social) Por vulnerabilidade social, entende-se pessoas ou grupo de pessoas que estão em fase de fragilidade do vínculo social, antes de sua ruptura, o que leva à exclusão social. Caracteriza-se pelo alto risco ao desemprego, à precariedade do trabalho, à pobreza e à falta de proteção social. Para maiores informações, ver: www.mte.gov.br/observatorio/ sumario_2009_TEXTOV1.pdf Mentorandos Para participar, o jovem deveria ter entre 18 e 24 anos, estar cursando ou já ter concluído o Ensino Médio. Jovens em situação de vulnerabilidade social (ver box) constituíam o público preferencial. O processo de divulgação ocorreu através do cadastro no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e por meio da publicação no Diário Oficial dos municípios e em jornais locais. Supervisão técnica A supervisão técnica foi realizada por uma psicóloga, a qual acompa- (reunião mensal) Durante as reuniões com a supervisão, cada mentor fala a respeito de seu trabalho, o que foi feito ou não, como está a relação com o jovem. As reuniões também são momentos de cumplicidade em que os mentores trocam experiências e constituem redes de auxílio com o objetivo de apoiar os mentorandos. nhou o processo, dando suporte por e-mail e telefone ou durante as reuniões de supervisão presenciais. O trabalho incluía ainda: - Formação e orientações iniciais para os mentores. - Atenção aos casos encaminhados pelos mentores, principalmente aqueles que apontavam para problemas pessoais graves ou para conflitos entre mentor e mentorando. - Organização de reunião mensal (ver box) para fins de orientação e compartilhamento de experiências com os mentores. - Organização das fichas de presença com a assinatura dos jovens atestando a realização de pelo menos dois encontros mensais com o mentor, bem como dos formulários de avaliação tanto do mentor A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II quanto do mentorando sobre os progressos e as orientações. Etapas do processo de implementação da mentoria Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Etapa 1 – Convite aos profissionais Foram enviados convites para os profissionais que, direta ou indiretamente, participaram do projeto Escola Sustentável. São pessoas que trabalham tanto no meio privado como no público que poderiam contribuir com o programa de mentoria. Em média, dos 50 profissionais inscritos, foram selecionados 15. Etapa 2 – Seleção dos mentores A seleção foi feita a partir de uma ficha de inscrição indicando interesse, experiência e disponibilidade do(a) candidato(a) a mentor. Etapa 3 - Escolha dos jovens pelos mentores A seleção dos mentorandos foi realizada entre os jovens que concluíram os cursos oferecidos pelo programa. Para tanto, foram realizados seminários nos quais os(as) jovens fizeram uma apresentação com o balanço e significado pessoal do processo de formação pelo qual passaram. Considerando que a relação entre mentor e mentorando requer empatia, cada mentor identificou alguns jovens com os quais gostaria de trabalhar. Contudo, para evitar embaraços, os(as) jovens não tiveram conhecimento prévio do processo de escolha, mas cabia a eles a palavra final sobre a escolha do mentor que o acompanharia. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 63 64 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Etapa 4 – Escolha dos mentores pelos jovens Nessa etapa, para não ocorrer interferência nas escolhas, foi feito um painel com alguns dados dos mentores – como idade e área de atuação, não sendo divulgado o nome nem o sexo do mentor. Assim, os(as) jovens foram orientados(as) a agir como se estivessem fazendo uma seleção profissional, uma contratação real, baseada nos seus próprios interesses e nas habilidades e competências existentes nos currículos que ali apresentavam. Para gerar corresponsabilidade pelo sucesso do programa de mentoria, a todo momento eram lembrados de que o profissional que os estava orientando foi, na verdade, “contratado” por eles. Como critério de qualidade limitou-se o número de mentorandos por mentor ao máximo de cinco. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II Regras da mentoria compartilhadas entre os participantes – mentores e mentorandos: Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais 1 – LOCAL DOS ENCONTROS Os encontros devem ser realizados em locais neutros. Nunca nas casas nem do(a) mentor(a) nem do(a) jovem. Também não devem ser feitos em locais como bares. 2 – SEMPRE PROCURAR A SUPERVISÃO a.Ao surgirem problemas por razões de vulnerabilidade social envolvendo os(as) jovens. b.Ao surgirem dúvidas sobre qualquer parte do processo. c. Ao sentirem insegurança em qualquer ação proposta. 3 – SÃO OBRIGATÓRIOS NO MÍNIMO DOIS ENCONTROS PRESENCIAIS POR MÊS 4 – NÃO É PERMITIDA A SUBSTITUIÇÃO DE MENTORES Se o(a) mentor(a) não puder estar em um encontro pré-combinado ele não poderá enviar um substituto; deverá remarcar o encontro. 5 – É OBRIGATÓRIO O MÍNIMO DE UM ENCONTRO PRESENCIAL PARA SUPERVISÃO MENSAL A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 65 66 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Breve balanço dos resultados: Além do desafio da adaptação conceitual para o contexto de mentoria como opção de política pública, a avaliação dos resultados também apresenta um desafio, uma vez que alguns dos objetivos formulados no projeto não podem ser medidos apenas pela inserção profissional desses jovens no mercado de trabalho. Envolvem também mudanças de atitude e comportamentos e o desenvolvimento de habilidades por parte dos jovens. Como se trata de uma experiência recente, evidentemente também há a dificuldade em acompanhar o impacto de tal projeto na vida profissional e pessoal, sobretudo dos mentorandos, alvo desta ação específica. Apesar de tais entraves para a sistematização dos resultados do projeto, um importante parâmetro de avaliação é a percepção dos próprios atores envolvidos no processo. Assim, mentores e mentorandos foram convidados a descrever suas experiências. Estas são relatadas abaixo e fornecem um panorama das complexidades envolvidas na formulação de um programa de mentoria com essas características. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Sobre o conceito de mentoria “Tive alguma dificuldade para descrever o que é o processo de mentoria. Escrevi e reescrevi, mas acredito que cheguei a uma conclusão: o processo não é exatamente uma orientação, um guiamento como se encontra em definições na internet. Todos temos experiências, seja qual for a idade ou os processos pelos quais passamos. Então vejo que a mentoria é um processo de avaliação pessoal a respeito das habilidades de cada jovem. É uma oportunidade que o mentorando tem para pensar sobre as coisas que ele faz bem e sobre as que ele gosta de fazer, e também se essas coisas coincidem.” Lidyane Oliveira, mentora Sobre o desenvolvimento de capacidades, habilidades e competências “A mentoria não despreza as competências do jovem, ela busca aflorá-las ou fazer com que o jovem as perceba e, dessa forma, tenha melhores resultados com a escolha profissional. O mentor poderá indicar feiras de profissões para que dúvidas acerca de determinadas áreas sejam esclarecidas, para que se tenha um contato com trabalhadores da área e sejam obtidas informações sobre mercado de trabalho na região e fora, assim como também poderá apresentar profissionais que poderão auxiliá-lo na inserção no mercado de trabalho. Como um processo que não visa somente empregar o jovem, devemos preocupar-nos em estimular os estudos, o aperfeiçoamento profissional, a busca por informações e conhecimento a respeito dos acontecimentos A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 67 68 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais locais e no mundo. Dessa forma, auxiliamos no aprimoramento da leitura, no desenvolvimento de uma fala mais articulada, na ampliação do leque de assuntos que poderão ser debatidos, até mesmo no despertar para pesquisas que poderá ser provocado pela curiosidade e vontade pelo saber.” Lidyane Oliveira, mentora Sobre a interação pessoal com os mentores “A mentoria tem sido um processo muito gratificante para mim, pois não imaginava que se tornaria essa coisa gostosa de participar. [A mentoria] me desenvolveu como pessoa e profissionalmente me proporcionou uma visão clara e objetiva dos meios que tenho a seguir na vida profissional, fazendo com que vejamos a diferença da teoria e da prática, seja na conversação, nas visitas técnicas no bate-bola de informações durante os encontros, ou até mesmo da disponibilidade e empenho do mentor com o mentorando. Apesar da falta de local e da distância, isso não desanimou a mentora e os mentorados a se encontrarem pessoalmente, tendo assim um contato pessoal e mais claro sobre os assuntos abordados. Isso proporcionou um impacto bem positivo, ajudando a enfrentar os problemas do dia a dia, revendo as situações e mudando de postura, facilitando a interação social e amigável e me deixando mais segura para ter uma carreira bem desenvolvida e um crescimento profissional.” A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II Roberta Campos, mentoranda Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Sobre ampliação de horizontes, escolhas e oportunidades “Nunca foi um sonho trabalhar com turismo, mas fiz o curso de Turismo Sustentável. A princípio já não estava trabalhando ou estudando, mas foi uma experiência incrível, aprendi a importância do convívio, cada professor foi capaz de ensinar e simpatizar de uma forma que ficou gravada em minha memória. Todo o processo do curso fez com que eu mantivesse contato com os professores até hoje e com os outros educandos e colaboradores de uma forma não fria, mas pessoal, de uma maneira que todos pudessem acompanhar o desenvolvimento do outro. Claro que crescimento é de certa forma pessoal, mas não sempre e nem em todas as ocasiões. Algo em que sempre acreditei é que ‘toda informação é poder’ e a ideia da mentoria ao meu ver é uma fonte de ‘poder’, para aqueles que, assim como eu, têm uma estrutura familiar sem uma base escolar devida. Crescemos sendo induzidos à típica jornada, a escolha entre funcionário ou operário, não que seja algo ruim, mas nunca nos mostraram outra alternativa e nem nos perguntaram o que queríamos pra vida. E o curso nos deu alternativa e agora com a mentoria estamos encontrando o caminho certo, estou aprendendo coisas que alguns professores da época de escola até gostariam de ensinar, mas infelizmente eles tinham que cumprir com a grade do governo. É indescritível a sensação de poder se encontrar, uma segunda-feira sim outra não, com uma professora dedicada, que te incentiva no que você quer fazer da vida como profissão, me sinto um verdadeiro aprendiz com um mestre.” Elton Graça, mentorando A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 69 70 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Sobre as expectativas de inserção profissional a partir da mentoria “Acredito que a intenção não seja me dar um emprego, mas me deixar preparado para quando surgir uma oportunidade, com ela posso tirar dúvidas e aprender significados, desmitificar algumas coisas, todas relacionadas a estudo e trabalho. Com ela aprendi a fortalecer e manter minhas redes sociais de comunicação, principalmente nas áreas em que eu quero trabalhar, me ensinou também a ter e fazer planejamentos. Não é como uma simples aula, aprendo coisas que levariam muito tempo para aprender, espero poder continuar com o projeto de mentoria e que outros projetos também venham. Me sinto com sorte e gostaria que outros tivessem essa sorte e interesse.” Elton Graça, mentorando Sobre o processo de formação profissional e consciência política “Comecei o curso em março de 2012, bem depois de seu início (agosto de 2011), em Cubatão. Soube através de um e-mail de divulgação que mandaram para minha madrinha. Entre os cursos do projeto Escola Cidade Sustentável, interessei-me pelo de Gestão Ambiental. Quando entrei, logo me enturmei. A turma, no fim só de mulheres, era muito agitada. Além do curso e do material serem gratuitos, A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II com certificação, o projeto disponibilizava uma bolsa-auxílio de, inicialmente, R$ 80,00, à exceção dos passes dados pela prefeitura de Cubatão. Em pouco tempo tive várias temáticas com bons Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais professores, o que diferencia muito de outros cursos que, geralmente, fazemos. Com isso, as poucas semanas das temáticas tornaram-se satisfatórias em vez de enfadonhas. Uma das que eu mais apreciei foi Impactos Ambientais e Poluição Ambiental. Cada aula era uma surpresa! Os debates foram importantíssimos para o nosso aprendizado, pois houve troca de saberes, problemas nas comunidades de cada colega ou na cidade além das atividades que cada professor(a) oferecia. Tivemos nossa formatura juntamente com as turmas de Santos. Porém, antes, principiou o processo de ‘mentoria’. Esse é um auxílio dado por ‘mentores’ que são professores, escolhidos pelos interessados (alunos), a partir de sua ficha técnica. Minha escolhida, que mais tarde cada aluno soube quem seria, foi a Lidyane. Quando possível, temos reuniões com várias propostas e atividades como: escolher um livro que goste, escrever textos sobre temas propostos, assistir a vídeos, fazer saídas técnicas, entre outros. Isso ajuda a compreender como será o mercado de trabalho e suas dinâmicas. Eu estou honrada em ter realizado esse curso e fico muito feliz em saber que vai ter continuidade.” Verônica Pereira de Faria Bráz, mentoranda Sobre a ampliação dos círculos de sociabilidade e das redes de relacionamento “O trabalho de mentoria ajuda a promover a questão da rede do conhecimento, o network, que, ao longo das nossas vidas, adquirimos ou herdamos de nossas famílias. Ao longo desse processo, pude constatar a fonte de oportunidades que podem ser geradas para o A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 71 72 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais jovem. Para sua trajetória, para a sua inserção no mercado de trabalho, o seu pertencimento a determinadas ‘redes sociais’ é determinante. (...) O foco desse tipo de ação é desenvolver a pessoa como um todo e proporcionar as técnicas amplas e diversificadas para adquirirem experiência de vida e no mundo do trabalho, que podem ser utilizadas adequadamente na vida pessoal e profissional. No decorrer dos encontros presenciais com a mentoranda, observei em vários momentos as expectativas, inseguranças pertinentes a vários assuntos. Com isso, [procurava] despertar ainda mais a sua efetiva participação. As atividades e eventos proporcionados no processo operacional serviram como instrumento de motivação para desenvolver as habilidades interpessoais e incentivar os projetos pessoais, contribuindo, assim, para uma formação mais ampla como cidadã plena em que ela pudesse adquirir e desenvolver o seu emponderamento pessoal (...). [Assim], o acompanhamento da jovem baseou-se em promover a responsabilidade pessoal e coletiva, necessária para desenvolver bons hábitos e aprimorar um melhor convívio social, destacando a importância do trabalho em equipe e ressaltando a contribuição individual como fator relevante para o bom desempenho de todos.” Inês Dantas de Souza, mentora A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II Sobre inovação metodológica como fator de insegurança “Alguns itens podem ser apontados como indicadores que negativamente interferiram no processo. Por ser algo inovador, causa a Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais princípio a insegurança e desconfiança ao mentorando. Talvez, por ter uma rotina flexível e não tão formalizada nos moldes convencionais, cause algumas inquietações. O fato de não ter um currículo institucional formal influencia um pouco no compromisso do jovem. Mas, ao longo do percurso do projeto, pude visualizar que depende exclusivamente de motivação para que as etapas sejam alavancadas naturalmente e sejam direcionadas para bons resultados.” Inês Dantas de Souza, mentora Sobre experiências práticas da realidade profissional “Uma formação excelente, com vasta bagagem, muitos aprendizados, trocas, experiências e o saldo é a riqueza de conhecimento. Tudo isso faz parte da formação da Escola Cidade Sustentável. Todo esse conhecimento adquirido em uma formação de 800 horas precisa ser canalizado. A partir dessa necessidade inicia-se um processo de mentoria. Que caminho vou seguir? O que eu desejo para meu futuro? Como começar? Quais metas vou estabelecer para mim? Uma série de perguntas se formam e aí surge o mentor - um profissional já formado, empregado, com uma carreira sólida e experiência - para trabalhar junto com você suas dúvidas, trilhar seu caminho e traçar metas. Se o mentor fizesse apenas isso já estaria bom, porém o mentor vai além e faz dos encontros um momento ótimo. Em meu caso, fui conhecer a fundo o Jardim Botânico de Santos, juntamente com meu mentor, que é Coordenador de A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 73 74 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Parques e Áreas Verdes, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santos. Adquiri uma visão global que não possuía, desde o contexto histórico do Jardim Botânico, quanto sua relevância, dados, importância, funcionamento enquanto equipamento público até a política local, regional, do país e do mundo. A mentoria veio, além de tudo que já falei, enriquecer mais ainda meu conhecimento. Compreendi a fundo o que foi a Rio+20, na qual meu mentor esteve presente, me aprofundei no tema diante de livros, revistas e na internet. Fui muito bem apresentado a profissionais importantes, que me enxergaram com muitos bons olhos quando souberam de minha formação. Traçamos como meta o desenvolvimento de um empreendimento social comunitário, projeto da ONG Ashoka, financiado pelo Instituto Camargo Corrêa, que conhecemos através da Agenda Pública. Traçamos também como meta a minha inserção no mercado de trabalho.” André Luiz Lima, mentorando Sobre iniciativa e capacidade para resolução de problemas A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II “Dias atrás, apresentei meu projeto de empreendimento, o qual foi analisado por quatro painelistas e aprovado. Estou trabalhando atualmente em um excelente serviço. Isso aconteceu graças às orientações que meu mentor deu e agora vamos traçar mais alguns objetivos e acompanhá-los de perto, como a implementação de meu empreendimento, meu ingresso no Ensino Superior e o desenvolvimento de minha carreira profissional.” André Luiz Lima, mentorando Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Reaplicação da experiência: mentoria como alternativa de política pública (inserção dos jovens no mercado de trabalho) Números da inserção profissional: Considerando o universo de 80 participantes com frequência superior a 70%, nos últimos seis meses, constatamos que: • 64 começaram a trabalhar no decorrer do curso (80%) - segundo os participantes, as ações desenvolvidas pelo projeto favoreceram tal condição; • 10 já trabalhavam (12,5%); • seis não trabalhavam, ainda não trabalham ou pararam de trabalhar por motivos pessoais (7,5%). Como considerações finais, é possível problematizar as possibilidades de que tal experiência seja realizada em outros contextos. Nesse caso, será importante observar aspectos sensíveis, como os relacionados ao funcionamento do programa no contexto do poder público ou a ajuda de custo para os jovens e também para os mentores, mas também questões que envolvem escolhas conceituais e metodológicas mais amplas, como os objetivos e resultados que se espera alcançar ao final deste tipo de ação. Em iniciativas semelhantes, cabe estar atento também aos resultados esperados para além da inserção profissional, como, por exemplo, o autorreconhecimento dos jovens como atores políticos e o aprendizado de habilidades e competências para o desempenho de atividades específicas no mundo do trabalho, o acesso a círculos de sociabilidade e redes de relacionamento mais amplos e o incentivo para a criação de uma perspectiva sobre o mundo do trabalho baseada na busca pela ética, considerando noções de consumo e desenvolvimento de maneira crítica7. Nesse caso, se as dimensões que envolvem concretamente a inserção dos jovens no mercado de trabalho podem ser mais facilmente medidas através da observação dos jovens que conseguiram alcançar um vínculo profissional relativamente estável ao término do programa, outras dimensões são relativamente mais complexas de se mensurar. 7 Nos termos da proposta pedagógica apresentada. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 75 76 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Questões que envolvem ética, política, padrões culturais e cidadania, ainda que possam ser observadas no discurso dos jovens, são exemplos dessa dificuldade. Porém, aspectos como a ampliação dos círculos de sociabilidade e das redes de relacionamento são ainda mais difíceis em sua avaliação e mensuração8. Apesar desses desafios, podemos afirmar que o projeto combinou com sucesso propostas alternativas de inserção com medidas de formação e qualificação profissional focadas no desenvolvimento de talentos, habilidades e competências. Com a colaboração de nossos parceiros foi possível qualificar e harmonizar aspectos da formação profissional de cada jovem que concluiu o processo, explorando e desenvolvendo seus potenciais. Contudo, uma das metas fundamentais do processo ainda permanece um desafio: a construção de capacidades no interior dos governos de modo a fortalecer as políticas públicas de emprego e renda focadas no segmento de juventude. Ainda estamos A esse respeito, o trabalho de Eduardo César Leão Marques, As redes sociais importam para a pobreza urbana?, fornece um panorama de como a literatura sociológica aponta que comunidades mais pobres gerariam laços mais fortes de sociabilidade entre seus moradores – o que teria orientado uma série de políticas públicas, mas, que a despeito desta perspectiva, contextos de pobreza e de segregação espacial gerariam uma maior dificuldade na manutenção de relacionamentos sociais para além da família ou vizinhança, o que geraria um círculo mais restrito e menos diversificado de pessoas. 8 A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II longe de institucionalizar as práticas desenvolvidas por esse projeto enquanto ações de governo. Seja como for, existe um potencial a ser explorado e é necessário o aprimoramento da metodologia em futuras experiências desenvolvidas no interior de governos. Considerando os resultados até aqui, podemos dizer que o esforço é promissor. Nessa perspectiva, ao sistematizar e difundir as experiências de Santos e Cubatão, esperamos que sejam insumo e inspiração para outros atores governamentais (estados e municípios). Evidentemente, nossa intenção não é apenas compartilhar metodologias, mas também sensibilizar os gestores para o grave Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais problema do emprego para a juventude. Tal situação exige soluções criativas, mas também um comprometimento político à altura do desafio. Esse é o nosso dever para com o futuro. A mentoria na prática: mentoria como estratégia de complementação das políticas públicas tradicionais de inserção profissional de jovens PARTE II 77 78 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais Referências Ação Educativa - Jovens e trabalho no Brasil – desigualdades e desafios para as políticas públicas. Disponível em: www.acaoeducativa.org/index.php/component/content/article/1509 BARONDESS, Jeremiah A. A brief history of mentoring. New York: New York Academy of Medicine, 1995. Disponível em: www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2376519 BOUSQUAT, Aylene; COHN, Amélia. A construção do Mapa da Juventude de São Paulo. Lua Nova, nº 60, 2003, pp. 81-96. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ln/n60/a05n60.pdf CARDOSO JR., J.C. A questão do trabalho urbano e o sistema público de emprego no Brasil contemporâneo: décadas de 1980 e 1990. In: Jaccoud, L. (org.) Questão social e políticas sociais no Brasil contemporâneo. Brasília: Ipea, 2005. Disponível em: www.ipea.gov.br/sites/000/2/livros/2009/Livro_Questao_Social.pdf CAMARANO, Ana Amélia; KANSO, Solange. O QUE ESTÃO FAZENDO OS JOVENS QUE NÃO ESTUDAM, NÃO TRABALHAM E NÃO PROCURAM TRABALHO? Governo Federal, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministro–Carlos Daudt Brizola, Secretário Executivo Substituto–Carlos Antonio Sasse53 2012, p. 38. COSTA, Marisilvia G.S. Em busca de um modelo brasileiro de mentoria e liderança: o caso de uma organização de call center. Dissertação de mestrado do programa de pós-graduação da Faculdade Boa Viagem, Recife, 2007. Disponível em: www.fanor.edu.br/_media/textos/462012171215.pdf Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais DAUD, Laetitia Tavares. Programa de Mentoria: qualidade e natureza da relação entre mentor e mentorado. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade de Brasília, Brasília/DF, 2008. DIEESE – Os jovens e o trabalho no Brasil. Disponível em: www.dieese.org.br/livroSituacaoTrabalhoBrasil/SiteCap12.pdf HOBSON, Andrew. J. Fostering face-to-face Mentoring and Coaching. In. FLETCHER, Sarah. J; MULLEN, Carol A. (org.) The Sage Handbook of Mentoring and Coaching in Education. London: Sage, 2012. GARVEY, Bob. What is mentoring and what is coaching? In. ______ Coaching and Mentoring: Theory and Practice. London: Sage, 2008. Disponível em: www.sagepub.com/upm-data/42873_Garvey.pdf INSTITUTO BRASILEIRO DE COACHING. O que é coaching e mentoring? Goiânia, [s.d.]. Disponível em: www.ibccoaching.com.br/tudo-sobre-coaching/coaching/ o-que-e-coaching-e-mentoring MARQUES, E. As redes sociais importam para a pobreza urbana? Revista Dados, Nº 52, 2009. Disponível em: www.scielo.br/pdf/dados/v52n2/v52n2a06.pdf SANTOS, Edméa Oliveira dos; TRACTENBERG, Leonel & PEREIRA, Marcia. Mentoria: a formação inicial e continuada dos professores – tutores no programa FGV Online. Disponível em: www.abed.org.br/congresso2005/por/pdf/144tcc5.pdf 79 80 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais UNESCO. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Brasília: Unesco, 2010. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf WAI-PACKARD, Bekcy. Definition of mentoring. Mounty Holyoke College, [s.d.]. Disponível em: http://ehrweb.aaas.org/sciMentoring/Mentor_Definitions_Packard.pdf Indicação de leituras Básica: BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2008. __________. Escritos de Educação. 5ª edição. Petrópolis: Vozes, 2003. JOHNSON, W.Brad. On being a mentor: a guide for a higher education faculty. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2007. KRAM, K.E; CHANDLER, D.E. Mentoring and developmental networks in the new career context. Boston: University School of Management, 2005. KRAM, K.E; HALL, D.T. Mentoring as an antidote to stress during corporate trauma. Human Resource Manegement, Michigan, v.28, n.4, Winter, 1989. Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais KRAM, K. E; ISABELLA, L. Mentoring alternatives: the role of peer relationships in career development. Academy of Manegement Journal, Champaing, v.28. n.1, 1985. LEVINSON, D.J.et al. Season of a man’s life. New York: Knopf, 1978. Autores Nacionais: AZEVEDO, S. D; DIAS, S. M. R. C. Mentoria e comprometimento organizacional: o caso das secretárias executivas da Universidade Federal de Pernambuco, XXVI Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, Salvador, 2002. CARVALHO, M.G. O fenômeno da mentoria na vivência dos médicos residentes: o caso dos hospitais universitários de Pernambuco. Dissertação de mestrado da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2003. MEDEIROS, R.A.S.M. O impacto do programa de iniciação científica (CNPq) na carreira do graduando, à luz do fenômeno de mentoria e de competência: o caso dos alunos de administração da UFPE. Dissertação de mestrado em administração da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2005. SALGUES, L.J.V; DIAS, S.M.R.C; MORAES, I.C. Processos de mentoria: existência de múltiplos mentores e as características de uma relação de mentoria: In: Encontro da associação nacional de pós-graduação em administração, 28, 2004, Curitiba. Anais... Curitiba: ENANANPAD, 2004. 81 82 Mentoria: construindo uma referência de política pública para orientação e apoio a jovens profissionais SOUZA, D.C; DOURADO, D.P; GOMES, R.A. A realidade observada de um programa de mentoria, o que a máscara esconde? O caso de uma multinacional de consultoria. In: Encontro da associação nacional de pós-graduação em administração, 27., 2003, Atibaia. Anais... São Paulo: ENANPAD, 2003. Disponível em: www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnANPAD/enanpad_2003/COR/ COR1758.pdf RÉGIS, H.P. Construção social de uma rede informal de mentoria nas incubadoras de base tecnologia do Recife. Tese de doutorado da Universidade de Pernambuco, Recife, 2005. Compilação de Bibliografias Comentadas: ADVANCED. Mentoring workshop annotated bibliography. [s.l.], [s.d.]. Disponível em: www.advance.arizona.edu/MENTORING_ANNOTATED_BIBLIOGRAPHY.pdf COORDINADORA Mentoria per a la inclusió. Publicacions sobre Mentoria. Barcelona, [s.d.]. Disponível em: http://mentoriasocial.org/en/qui-som INSPER. Bibliografia sobre carreira, mentoring e afins. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: www.insper.edu.br/portaldoaluno/aberto/downloads/carreiras/Bibliografia_sobre_Carreiras_Mentoring_Afins_2010.pdf