ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DA CLOREXIDINA SOBRE ESPÉCIES DE CANDIDA ISOLADAS DE PACIENTES COM PERIODONTITE. Guilherme Antonio Matté (BIC-UEPG), Isadora Benato dos Santos, Amanda Meireles Gomes Moura, Fabio André dos Santos, Osnara Maria Mongruel Gomes, Eduardo Bauml Campagnoli (Orientador) e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Ponta Grossa / Departamento de Odontologia Ponta Grossa, PR. Área: Ciências da Saúde (4), sub-área: Odontologia (4.02.00.00-0). Palavras-chave: Candida spp., clorexidina, periodontite. Resumo: O gluconato de clorexidina é uma droga amplamente usada na odontologia, pois é efetivo no controle químico do biofilme dentário, bem como tem ação antifúngica. No entanto, resistência a clorexidina tem sido relatada em alguns fenótipos de Candida spp. O objetivo do trabalho foi determinar a susceptibilidade das espécies de Candida isoladas da saliva e de bolsa periodontal de pacientes com periodontite frente a diferentes concentrações de clorexidina. Foram analisadas 42 amostras de Candida spp isoladas de bolsas periodontais e 51 amostras obtidas da saliva de pacientes com periodontite crônica. As amostras foram reativadas e suspensões padronizadas (106células/ml) preparadas. Alíquotas de 200µl foram semeadas em duplicata em placas contendo Ágar Sabouraud Dextrose com cloranfenicol. Em seguida, discos de papel filtro embebidos com 10µL de solução de digluconato de clorexidina com diferentes concentrações (0,12%; 0,5%; 1,0% e 2,0%) foram depositados na superfície do ágar. Após incubação a 37ºC por 48 horas, os halos de inibição foram mensurados. Nenhuma amostra exibiu ausência de halo de inibição, sendo que os menores halos foram de 10 e 13 mm para as amostras de bolsas periodontais e da saliva, respectivamente. As amostras de Candida spp provenientes das bolsas periodontais foram estatisticamente (Mann-Whitney, p<0,0001) mais susceptíveis a ação da clorexidina 0,12% do que as amostras obtidas da saliva. Clorexidina a 2% apresentou o melhor efeito antifúngico, estatisticamente significante, quando comparado com as demais concentrações. Introdução O desequilíbrio da microbiota bucal resulta em aumento na multiplicação dos microrganismos no biofilme dental, levando desde uma inflamação no tecido gengival até o envolvimento das estruturas de suporte. (Martins et al., 2002; Carranza et al., 2004). Diversas bactérias têm sido descritas como possíveis causadoras da doença periodontal, entretanto, outros microrganismos também podem estar associados, como alguns vírus Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. e leveduras (Rams et al., 1997). Estudos microbiológicos têm demonstrado a presença de leveduras do gênero Candida, principalmente a C. albicans, em bolsas periodontais (Rams et al., 1997, Reynaud et al., 2001; Hannula et al., 2001). As Candida spp. possuem fatores de patogenicidade que possibilitam o agravamento da doença periodontal, dentre eles: a capacidade de invadir o epitélio do sulco, inibição de função dos polimorfonucleares, lisar monócitos e produção de enzimas, como a fosfolipase e proteinase, que exercem papel importante na invasão da célula do hospedeiro (Martins et al., 2002). O digluconato de clorexidina é uma substância efetiva no controle químico do biofilme dentário, prevenindo doenças periodontais (Gupta et al., 2008), bem como é um agente antifúngico (Azevedo et al., 1999; Barasch et al., 2004). No entanto, resistência a clorexidina tem sido relatada em alguns fenótipos de Candida spp. (Suci e Tyler, 2003) Contudo, a presença de leveduras nas bolsas periodontais, não tem recebido ainda o enfoque necessário à compreensão do seu papel como periodontopatógenos (Hube e Naglink, 2001), principalmente se considerarmos a susceptibilidade de Candida spp. isoladas de pacientes com periodontite crônica a diferentes concentrações de clorexidina. Diante desse fato, o objetivo da pesquisa foi determinar a susceptibilidade das espécies de Candida isoladas da saliva e de bolsa periodontal de pacientes com periodontite frente a diferentes concentrações de clorexidina. Materiais e métodos Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Protocolo 02267/09; Parecer n° 13/2009). Foram utilizadas 93 amostras de Candida spp. previamente isoladas, tipificadas e armazenadas no Laboratório de Microbiologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, sendo que 42 amostras foram provenientes de bolsa periodontal de 10 pacientes e 51 amostras obtida da saliva de 27 pacientes com periodontite. O teste in vitro utilizado foi difusão em ágar com discos de papel de filtro embebido em solução de clorexidina com diferentes concentrações. As amostras de Candida spp. foram semeadas em ágar Sabouraud Dextrose e incubadas a 37ºC por 24 horas para reativação. Após esta etapa foi preparada suspensão contendo aproximadamente 10 6 células de levedura/mililitro da solução, a qual foi ajustada em espectrofotômetro. A suspensão foi homogeneizada e alíquotas de 200 µl da suspensão foram semeados em placas contendo ágar Sabouraud Dextrose com Cloranfenicol. Na seqüência, discos de papel filtro embebidos com 10 µl de soluções de clorexidina nas seguintes concentrações 2%, 1%, 0,5%, e 0,12%; foram depositados na superfície do ágar e as placas incubadas a 37ºC por 48 horas. Após esse tempo os halos de inibição foram mensurados. Como controle negativo, utilizou-se discos de papel filtro embebidos com solução salina estéril. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Resultados e Discussão Das 42 amostras isoladas de Candida spp. da bolsa periodontal 36 (85,7%) eram da espécie Candida albicans. Já das 51 amostras isoladas da saliva de pacientes com periodontite 33 (64,7%) eram Candida albicans. Estes dados estão de acordo com a literatura que aponta a Candida albicans como a espécie mais prevalente (Rams et al., 1997, Reynaud et al., 2001; Hannula et al., 2001). Nenhuma amostra exibiu ausência de halo de inibição, sendo que os menores halos encontrados foram de 10 e 13 mm em amostras obtidas de bolsa periodontal e da saliva respectivamente. As amostras de Candida spp obtidas de bolsa periodontal foram mais sensíveis a ação da clorexidina a 0,12% do que as amostras obtidas da saliva de pacientes com peridontite (Mann-Whitney, p<0,0001), conforme pode ser observado na tabela 01. Tabela 01: Ação das diferentes concentrações de Clorexidina sobre Candida spp isoladas de pacientes com periodontite. Amostras Bolsa Periodontal Clorexidina Média (mm) Halo de inibição Mediana Mínimo Máximo Amostras Saliva Clorexidina 2% 1% 0,5% 0,12% 2% 1% 0,5% 0,12% 23,9 22,0 21,1 18,2* 24,3 21,9 20,3 17,0* 23,5 19,0 30,0 22,0 10,0 29,0 21,0 15,0 32,0 19,0 14,0 23,0 24,0 17,0 33,0 21,0 18,0 30,0 20,0 16,0 28,0 17,0 13,0 24,0 Nota: * diferença estatisticamente significante (Mann-Whitnhey, p<0,0001) A Clorexidina na concentração de 2% teve maior efetividade antifúngica do que nas demais concentrações, tanto nas amostras de bolsa periodontal como nas de saliva (Gráfico 01), sendo a diferença estatisticamente significante (Kruskal-Wallis p<0,0001). Halos de inibição (mm) Gráfico 01: Mediana, quartis e amplitude dos halos de inibição obtidos com as diferentes concentrações de Clorexidina sobre Candida spp isoladas de pacientes com periodontite. * * Nota: Clor = Clorexidina; B = amostras de bolsa periodontal; S = amostras da saliva * diferença estatisticamente significante (Kruskal-Wallis p<0,0001) Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Conclusões De acordo com os resultados obtidos pode-se concluir que nenhuma das amostras testadas apresentou resistência a ação da Clorexidina. A Clorexidina na concentração de 2% apresentou maior efetividade. Logo, a clorexidina poderia ser uma ferramenta auxiliar no tratamento da doença periodontal, quando houver a presença de Candida spp em bolsa periodontal. Agradecimentos A Fundação Araucária (PR) pelo apoio financeiro a esta pesquisa. Referências • Azevedo, R.V.P.; Komesu, M.C.; Candido, R.C.; Salvetti, C.; Rezende, F.H.C. Candida sp in the oral cavity with and without lesions: maximal inhibitory dilution of propolis and Periogard. Revista de Microbiologia. 1999; 30:335-341. • Barasch, A.; Safford, M.M.; Dapkute-Marcus, I.; Fine, D.H. Efficacy of chlorhexidine gluconate rinse for treatment and prevention of oral candidiasis in HIV-infected children: a pilot study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2004; 97(2):204-207. • Carranza, F. et al. Periodontia Clínica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. • Gupta, R; Padit, N; Aggarwal, S; Verma, A. Comparative evaluation of subgingivally delivered 10% doxycycline hyclate and xanthan-based chlorhexidine gels in the treatment of cronic periodontitis. J Contemp Dent Pract. 2008; 9(7): 25–32. • Hannula, J.; Dogan, B.; Slots, J.; Ökte, E., Asikainen, S. Subgingival strains of Candida albicans in relation to geographical origin and occurrence of periodontal pathogenic bacteria. Oral Microbiol Immunol. 2001; 16: 113-118. • Hube, B.; Naglik J. Candida albicans proteinases: resolving the mystery of a gene family. Microbiology. 2001; 147(8): 1997-2005. • Martins, C.A.P.; Santos, S.S.F; Loberto, J.C.S.; Koga-Ito C.Y.; Jorge A.O.C. Presença Candida spp. em pacientes com periodontite crônica. Ciência Odontológica Brasileira. 2002; 5(3): 75-83. • Rams, T.E.; Flynn, M.J.; Slots, J. Subgingival microbial associations in severe human periodontitis. Clin Infect Dis. 1997; 25 (2): 224–226. • Reynaud, A.H.; Nygaard-Ostby, B.; Boygard, G.K.; Eribe, E.R.; Olsen, I.; Gjermo, P. Yeasts in periodontal pockets. J Clin Periodontol. 2001; 28(9): 860-864. • Suci, P.A.; Tyler B.J. A method for discrimination of subpopulations of Candida albicans biofilm cells that exhibit relative levels or phenotypic resistance to chlorhexidine. J Microbiolo. Methods. 2003; 53(3):313-325. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.