IMPACTOS AMBIENTAIS E TRATAMENTOS GERADOS PELOS EFLUENTES DE ABATEDOUROS DE BOVINOS Erica Minotto Tavares1 Marisa Isabel Weber2 RESUMO Com a explosão demográfica a demanda por carne tem aumentado e conseqüentemente trazendo junto à preocupação com o meio ambiente. O presente trabalho tem por objetivo mostrar alternativas de minimização dos impactos ambientais decorrentes dos efluentes gerados no abate de bovinos em abatedouros. A legislação ambiental estabelece parâmetros para que os estabelecimentos ofereçam reduções no despejo dos efluentes em rios. A redução do volume de resíduos, o uso racional e o reuso de água, a aplicação de medidas para uma produção mais limpa e o tratamento dos efluentes são medidas a serem tomadas para evitar o comprometimento ambiental da qualidade das águas e de seus corpos receptores. PALAVRAS CHAVES: Abatedouro, água, tratamento de efluentes ¹Acadêmica do curso de Pós-graduação MBA em sustentabilidade e gerenciamento ambiental/empresarial da Universidade Tuiuti do Paraná e-mail: [email protected]. ² Professora do Curso de Pós-graduação da Universidade Tuiuti do Paraná Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental Universidade Federal do Paraná e-mail: [email protected] 1 INTRODUÇÃO O aumento das atividades no setor de abate de bovinos tem como um dos principais fatores o crescimento populacional, explosão demográfica, este aumento populacional reflete-se de forma direta no aumento do consumo de carne e consequentemente na preocupação com meio ambiente, o aumento de geração de resíduos e dejetos que poluem o ar, a água e o solo. O abate de bovinos é uma das atividades econômicas mais importantes no mercado brasileiro, levando-se em conta que o Brasil é um dos maiores exportadores da carne bovina no mundo. Conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne - ABIEC (2011), a estimativa de 2011 para a produção de carne bovina brasileira é de 9.771 ton., ficando atrás apenas dos Estados Unidos, já na exportação de carne bovina o primeiro lugar é adquirido pelo Brasil com 1.650 ton. O abate humanitário de bovinos, assim como de outras espécies animais, é realizado para obtenção de carne e de seus derivados, destinados ao consumo humano. Esta operação, bem como os demais processamentos industriais da carne, é regulamentada por uma série de normas sanitárias destinadas a dar segurança alimentar aos consumidores destes produtos (PACHECO, 2006). Os problemas ambientais gerados pela atividade de frigoríficos e abatedouros estão relacionados com os seus despejos ou resíduos oriundos de diversas etapas do processamento industrial (ROCHA MARIA, 2008). Os principais impactos ambientais negativos são: a geração de efluentes hídricos que podem provocar a contaminação dos solos e das águas superficiais e subterrâneas, além de gerar odor indesejado na decomposição da matéria orgânica (BNB, 1999). Segundo Araujo (2005), impacto ambiental é qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulta no todo, ou em parte, de um ou mais aspectos ambientais de uma organização. Os efluentes são tudo aquilo que eflui, sai ou é expelido de algum lugar. Podemos classificar os efluentes em: industrial, gasoso e líquido. Em se tratando dos efluentes líquidos, estes são substâncias líquidas, predominantemente água, que eflui a partir de canais, ductos, reservatórios, estações de tratamento ou sistemas de disposição final (MALDANER apud SILVA, 2008). As águas residuárias de abatedouros normalmente contêm substâncias contidas no trato digestivo, sangue, gordura, excrementos, fragmentos de tecidos ou conteúdo intestinal, entre outros, caracterizando um efluente com alta concentração de matéria orgânica. Esse efluente, quando disposto ao meio ambiente sem tratamento, representa focos de proliferação de insetos e de agentes infecciosos, os nutrientes presentes nos efluentes líquidos de frigoríficos, quando em excesso, trazem sérios problemas, aos corpos receptores como o fenômeno da eutrofização. Esta atividade com grande potencial de poluição muitas vezes passa despercebido geralmente pela sociedade, uma vez que não utiliza em suas etapas de produção substâncias químicas altamente tóxicas, entretanto as pessoas que residem ao redor destes estabelecimentos sofrem com os fortes odores causados pela atividade. Embora a preocupação com o tratamento dos efluentes gerados pela atividade de abatedouros, não seja uma novidade, a descrição da eficiência dos processos utilizados e os cuidados com novas técnicas de tratamento, são de interesse não só dos abatedouros, mas também dos órgãos governamentais envolvidos, com a qualidade do meio ambiente, necessárias para desenvolver esta atividade econômica essencial, tomando os devidos cuidados com os resíduos líquidos gerados (ROCHA MARIA, 2008). A resolução nº. 430 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 13 de maio de 2011, dispõem sobre condições, parâmetros, padrões e diretrizes para gestão do lançamento de efluentes em corpos de água receptores, alterando parcialmente e complementando a Resolução n° 357, de 17 de março de 2005. O artigo n° 16 desta resolução cita as condições e padrões de lançamento de efluente (CONAMA, 2011). Toda vez que se gera um resíduo industrial, é necessário que exista uma alternativa para o seu tratamento, pois este não deve ser acumulado indefinidamente em um determinado local e muito menos disseminar seus resíduos no meio ambiente de qualquer maneira (lançando-os na atmosfera, nas águas ou no solo) (MALDANER, 2008). Diante do exposto, esse artigo justifica-se pela necessidade de discutir os problemas relacionados a essa atividade, mostrando a importância do manejo adequado dos resíduos em abatedouros de bovinos. Neste sentido, a referida pesquisa objetiva verificar os principais impactos ambientais ocorridos na geração dos resíduos contaminantes de abatedouros nos efluentes e os procedimentos que devem ser realizados para diminuir os impactos (principais tratamentos). 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Devido a uma maior fiscalização por parte dos órgãos ambientais o tratamento de seus resíduos se tornou fator predominante no gerenciamento ambiental das empresas, a questão da utilização da água é fator determinante, pois todas as etapas do processo desde a chegada até o abate dos bovinos consomem grande quantidade de água (ROCHA MARIA, 2008). Segundo Nunes (2008), o conhecimento das características das águas residuárias geradas em uma indústria é de suma importância para o estudo preliminar de projetos, para que se possa estabelecer o tipo de tratamento mais adequado. 2.1 PROCESSO E OPERAÇÕES INDUSTRIAIS Segundo Pacheco (2008) o processo de abate de bovinos dá-se da seguinte forma (Figura 1): - Recepção / Currais: o gado é transportado em caminhões até os abatedouros ou frigoríficos. Ao chegar, é descarregado nos currais de recepção por meio de rampas adequadas, preferencialmente na mesma altura do piso da carroceria dos caminhões; - condução e lavagem dos animais: os animais normalmente são lavados com jatos de água clorada. Estes jatos, com pressão regulada, podem ser instalados direcionados de cima para baixo (como chuveiros sobre os animais), para as laterais dos animais e de baixo para cima, o que permite uma lavagem melhor do esterco e de outras sujidades antes do abate e; - atordoamento: o objetivo desta operação é deixar o animal inconsciente. Chegando ao local do abate, os animais entram, um após o outro, em um “box” estreito com paredes móveis, para o atordoamento. O equipamento de atordoamento normalmente é a pistola pneumática, com pino retrátil, que é aplicada na parte superior da cabeça dos animais. Posteriormente o animal é pendurado pela pata traseira, em um transportador aéreo e lavado para remoção de vômito. SENAI (2003), no manual de produção mais limpa destinada a empresas de abate animal, recomenda não acumular carcaças atordoadas, sendo que o tempo entre o atordoamento e a sangria não deve ser superior a 1,5 minutos. - Sangria: por meio de corte dos grandes vasos do pescoço é feita a retirada do sangue, que é recolhido em canaleta própria. O sangue armazenado nos tanques pode ser processado por terceiros ou no próprio abatedouro, para a obtenção de farinha de sangue, utilizada na alimentação de outros animais. Após a sangria, os chifres são serrados e submetidos a uma fervura para a separação dos sabugos (suportes ósseos), e depois de secos podem ser convertidos em farinha ou vendidos. Quanto aos sabugos, são aproveitados na composição de produtos graxos e farinhas; - Esfola e remoção da cabeça: primeiro, cortam-se as patas dianteiras antes da remoção do couro, para aproveitamento dos mocotós. Via de regra, as patas traseiras só são removidas depois da retirada do úbere e dos genitais. Após a esfola, o couro pode seguir diretamente para os curtumes (chamado “couro verde”), ser retirado por intermediários, ou também pode ser descarnado e/ou salgado no próprio abatedouro; - Evisceração: as carcaças dos animais são abertas manualmente com facas e com serra elétrica. A evisceração envolve a remoção das vísceras abdominais e pélvicas, além dos intestinos, bexiga e estômagos. Após a lavagem, utilizando água quente, as carcaças são encaminhadas a câmara frigoríficas ou a desossa; - Refrigeração: as meias carcaças são resfriadas para diminuir possível crescimento microbiano. Para reduzir a temperatura interna para menos de 7 °C, elas são resfriadas em câmaras frias com temperaturas entre 0 e 4 °C. O tempo normal deste resfriamento, para carcaças bovinas, fica entre 24 e 48 horas e; - Cortes e desossa: havendo operação de cortes e desossam, as carcaças resfriadas são divididas em porções menores para comercialização ou posterior processamento para produtos derivados. FIGURA 1 - ESQUEMA DO ABATE E PROCESSAMENTO DE BOVINOS. FONTE: SCARASSATI ET AL. (2003). 2.2 CONSUMO DE ÁGUA Segundo Pacheco (2008), os padrões de higiene das autoridades sanitárias em áreas críticas dos abatedouros resultam no uso de grande quantidade de água, conforme pode ser observado, na Tabela 1. Os principais usos de água são: consumo animal e lavagem dos animais; lavagem dos caminhões; lavagem de carcaças, vísceras e intestinos; movimentação de subprodutos e resíduos; limpeza e esterilização de facas e equipamentos; limpeza de pisos, paredes, equipamentos e bancadas; geração de vapor; resfriamento de compressores. Scarassati (2003) efetuou consultas a fabricantes e técnicos no setor de equipamentos para abatedouro e frigoríficos, observando que o consumo de água varia muito de um abatedouro e frigorífico para outro, sendo difícil estimar um valor aproximado. TABELA 1 - Consumo de água em abatedouros e frigoríficos bovinos. Tipo de Unidade Consumo (L/Cabeça) 500 – 2500 Abate Abate 1.000 Abate mais industrialização Fonte Cetesb (1993) Cetesb (2003) 1.000 – 3.000 Cetesb (1993) 3.864 Cetesb (2004) da carne Completa (abate, industrialização da carne, graxaria) 2.3 CARACTERÍSITICA DO EFLUENTE LÍQUIDO DE ABATEDOUROS Em abatedouros, assim como em vários tipos de indústria, o alto consumo de água acarreta em grandes volumes de efluentes de 80 a 95% da água consumida é descarregada como efluente líquido. Estes efluentes caracterizam-se principalmente por: alta carga orgânica, alto conteúdo de gordura, flutuações de pH em função do uso de agentes de limpeza ácidos e básicos, altos conteúdos de nitrogênio, fósforo e sal. Desta forma, os despejos de frigoríficos possuem altos valores de DBO 5 (demanda bioquímica de oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio) – parâmetros utilizados para quantificar carga poluidora orgânica nos efluentes -, sólidos em suspensão, graxas e material flotável. Fragmentos de carne, de gorduras e de vísceras normalmente podem ser encontrados nos efluentes. Portanto, juntamente com sangue, há material altamente putrescível nestes efluentes, que entram em decomposição poucas horas depois de sua geração, tanto mais quanto mais alta for a temperatura ambiente (PACHECO, 2006). 2.4 TRATAMENTO DOS EFLUENTES LÍQUIDOS DE ABATEDOUROS Segundo Giordano (2003) os sistemas de tratamentos de efluentes objetivam primordialmente atender à legislação ambiental e em alguns casos ao reuso de águas. Os métodos de tratamento que devem ser empregados, devem levar em conta a composição do efluente e os padrões que pretende-se atingir para a remoção de substâncias indesejáveis da água ou para sua transformação em outras formas aceitáveis segundo a legislação ambiental e seus padrões determinados pelas autoridades, o que vai variar muito de empresa para empresa. Em geral, inicia-se com processos físicos, tendo como objetivo remover sólidos de maior dimensão e os líquidos imiscíveis na água (óleos e gorduras), os quais não podem ser segregados. E depois realiza-se processo físico-químico ou biológico para minimizar outros contaminantes (MALDANER, 2008). Num frigorífico, há separação ou segregação inicial dos efluentes líquidos em duas linhas principais: a linha “verde”, que recebe principalmente os efluentes gerados na recepção dos animais, nos currais, na condução para o abate/ “seringa”, nas áreas de lavagem dos caminhões, na bucharia e na triparia; e linha “vermelha”, cujos contribuintes principais são os efluentes gerados no abate, no processamento da carne e das vísceras, incluídas as operações de desossa/cortes e de graxaria, caso ocorram na unidade industrial (RIBEIRO, 2010). De acordo com Nunes (2008), as estações de tratamentos de efluentes tradicionais costumam ser divididas em quatro etapas: a) Tratamento preliminar: ocorre retenção de material grosseiro, flutuantes e material mineral sedimentável. Utiliza-se para isto grades, desarenadores (caixa de areia), caixas de retenção de óleo e gordura e peneiras. b) Tratamento primário: consiste na remoção de matéria orgânica em suspensão. Os processos ocorrem através de decantação primária, precipitação química, flotação e neutralização. Segundo Pacheco (2008), o tratamento primário é realizado para a linha “verde” e para a linha “vermelha”, separadamente. Em seguida ocorre a equalização; realizada em um tanque de volume e configuração adequadamente definidos, com vazão de saída constante e com precauções para minimizar a sedimentação de eventuais sólidos em suspensão, por meio de dispositivos de mistura. Permite absorver variações significativas de vazões e de cargas poluentes dos efluentes líquidos a serem tratados, atenuando picos de carga para a estação de tratamento. Isto facilita e permite aperfeiçoar a operação da estação como um todo, contribuindo para que se atinjam os parâmetros finais desejados nos efluentes líquidos tratados. c) Tratamento secundário: separação da matéria orgânica dissolvida e em suspensão. Os procedimentos mais conhecidos nesta etapa são os processos de lagoas de estabilização, lodo ativado, sistemas anaeróbios com alta eficiência de remoção do carbono orgânico, filtros biológicos, lagoas aeradas e precipitação química. d) Tratamento terciário: é aplicado quando se pretende obter um efluente de alta qualidade, ou a remoção de outras substâncias contidas nas águas residuárias. Pode ocorrer através de adsorção de carvão ativo, osmose inversa, eletrodiálise, troca iônica, filtros de areia, remoção de nutrientes, oxidação química e remoção de organismos patogênicos. 2.4.1 Lagoa de estabilização As primeiras pesquisas sobre lagoas de estabilização foram realizadas nos Estados Unidos, nos estados de Dakota do Norte e Sul, no ano de 1948, onde entrou em funcionamento a primeira lagoa projetada para receber esgoto bruto. No Brasil a primeira lagoa foi construída em São José dos Campos em São Paulo, seguindo o Sistema Australiano (Anaeróbia e facultativa) denominado no Brasil pelo Professor Benoit A. Victoretti, onde os parâmetros se espalharam para todo o país (VALE apud JORDÃO e PESSOA, 2010). Segundo Sperling (1995), as lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriana e/ou redução fotossintética (bactérias ou algas). Segue a descrição sucinta dos principais sistemas de lagoas de estabilização: - Lagoa facultativa: que se caracteriza por sua DBO solúvel e finamente particulada sendo estabilizada aerobiamente por bactérias dispersas no meio líquido, ao passo que a DBO suspensa tende a sedimentar, sendo convertida anaerobicamente por bactérias no fundo da lagoa. O oxigênio requerido pelas bactérias aeróbias é fornecido pelas algas, através da fotossíntese (SPERLING, 1995). A lagoa facultativa recebe uma carga de apenas 30% a 50% do efluente bruto. As lagoas facultativas normalmente têm profundidade entre 1,5m a 2m (MALDANER apud ITACRETO, 2008). TABELA 2: Vantagens e desvantagens do sistema de lagoa facultativa Sistema Vantagens Desvantagens Lagoa - eficiência na remoção de DBO - elevados requisitos de área Facultativa - razoável eficiência na remoção - dificuldade em satisfazer de patógenos padrões de lançamento restritivos - reduzidos custos de implantação - a simplicidade operacional pode e operação trazer o descaso na manutenção - ausência de equipamentos (crescimento de vegetação) Mecânicos - requisitos energéticos praticamente nulos - possível necessidade de remoção de algas do efluente para cumprimento dos padrões - resistência a variações de carga rigorosos - remoção de lodo necessária apenas - performance variável com as após períodos superiores há 20 anos condições climáticas - Possibilidade do crescimento de Insetos Fonte: ROCHA MARIA, 2008 - Lagoa anaeróbia seguida de facultativa: caracteriza-se pela DBO em torno de 50 a 70% removida na lagoa anaeróbia (mais profunda e com menor volume) enquanto a DBO remanescente é removida na lagoa facultativa. O sistema ocupa uma área inferior ao de uma lagoa facultativa única (ROCHA MARIA apud SPERLING, 2008). TABELA 3: Vantagens e desvantagens do sistema de lagoa Anaeróbia facultativa Sistema Vantagens Desvantagens Lagoa - Idem lagoas facultativas - Idem lagoas facultativas Anaeróbia - Requisitos de área inferiores aos das lagoas facultativas únicas - Possibilidade de maus odores na lagoa anaeróbias - Necessidade de afastamento razoável as resistências circunvizinhas - Necessidade da remoção continua ou periódica de lodo da lagoa anaeróbia Fonte: ROCHA MARIA, 2008 - lagoa aerada facultativa: caso se deseje ter um sistema predominantemente aeróbio, e de dimensões ainda mais reduzidas, pode-se optar pela lagoa aerada facultativa. A principal diferença com relação à lagoa facultativa convencional é quanto à forma de suprimento de oxigênio, o qual é advindo principalmente da fotossíntese. Já na lagoa aerada facultativa o oxigênio é obtido por meio de equipamentos denominados aeradores. Com maior entrada de oxigênio na lagoa, obtém-se uma rápida decomposição da matéria orgânica. Como a lagoa é também facultativa, uma grande parte dos sólidos do efluente e da biomassa sedimenta, sendo decomposta por bactérias anaeróbias no fundo desta unidade (RIBEIRO, 2010). TABELA 4: Vantagens e desvantagens do sistema de lagoa Aerada facultativa Sistema Lagoa aerada Vantagens - Construção, operação e manutenção relativamente simples - requisitos de área inferior aos Desvantagens - Introdução de equipamentos - ligeiro aumento no nível de sofisticação sistemas de lagoas facultativas - requisitos de área ainda elevadas e anaeróbio-facultativas - requisitos de energia relativamente - maior independência das elevados condições climáticas que os - baixa eficiência na remoção de sistemas de lagoas facultativas coliformes e anaeróbio-facultativas - necessidade de remoção continua - satisfatória resistência a variações ou periódica do lodo de carga - reduzidas possibilidades de maus odores Fonte: ROCHA MARIA, 2008 - Lagoa de maturação: seu objetivo é a remoção de organismos patogênicos. Nas lagoas de maturação predominam condições ambientais adversas para bactérias patogênicas, como radiação ultravioleta, elevado pH, elevado OD, temperatura mais baixas que a do corpo humano, falta de nutrientes e predação por outros organismos. Ovos de helmintos e cistos de protozoários tendem a sedimentar. As lagoas de maturação constituem um pós tratamento de processos que objetivem a remoção da DBO, sendo usualmente projetadas como uma série de lagoas, ou como uma lagoa única com divisões por chicanas. A eficiência na remoção de coliformes é elevadíssima. TABELA 5: Vantagens e desvantagens do sistema de lagoa Aerada facultativa Sistema Vantagens Lagoa de maturação Desvantagens - Idem sistema de lagoas - idem sistemas de lagoas - elevadas eficiências na remoção - requisitos de área bastante de patógenos elevados - razoável eficiência na remoção de nutrientes A Tabela 06 apresenta a eficiência para remoção dos parâmetros físicos químicos dos principais sistemas de lagoas de estabilização. (ROCHA MARIA apud SPERLING, 2008). TABELA 6: Características da eficiência dos principais sistemas de lagoas Item geral Eficiência Item específico Sistemas de lagoas Facultativo Anaeróbia Aerada DBO (%) 75-85 75-85 75-85 DQO (%) 65-80 65-80 65-80 Sólidos sedimentáveis (%) 70-80 70-80 70-80 Amônia (%) < 50 < 50 < 30 Nitrogênio (%) < 60 < 60 < 30 Fósforo (%) < 35 < 35 < 30 Coliformes (%) 90-99 90-99 90-99 2.5 MEDIDAS DE PRODUÇÃO MAIS LIMPA Segundo Pacheco (2006) a principal estratégia para P+L (produção mais limpa) efetiva nos frigoríficos, é: coletar e separar todo material orgânico secundário (que não seja produto direto) gerado ao longo do processo produtivo, da forma mais abrangente e eficiente possível, evitando que se juntem aos efluentes líquidos, e maximizar o seu aproveitamento ambientalmente adequado, com o menor uso possível de recursos. As medidas de P+L trazem benefícios significativos, em termos de melhoria de desempenho ambiental e de ganhos econômicos. No entanto, quando se trata de setores da indústria alimentícia, é importante verificar que estas medidas não coloquem em risco a segurança dos produtos da empresa. O foco das ações de P+L deve direcionar-se, preferencialmente, aos aspectos ambientais mais significativos, que possuem os maiores impactos ambientais. No caso de frigoríficos/abatedouros, o consumo de água, o volume e a carga dos efluentes líquidos e o consumo de energia são os principais, seguidos de resíduos sólidos e de emissão de substâncias odoríferas. 2.5.1 Uso Racional de Água É importante implementar de forma efetiva e consolidada, a medição confiável do consumo de água. Deve-se medir o consumo total e o consumo em alguns pontos do processo onde o uso de água é significativo. As estratégias para redução do consumo de água são: utilizar técnicas de limpeza a seco, varrição, catação e raspagem dos resíduos, em todas as áreas, pisos e superfícies antes de qualquer lavagem com água – nos caminhões de transporte dos animais, nos currais, nos corredores de condução dos animais e em todas as áreas produtivas, incluindo as superfícies externas e internas de equipamentos de processamento de carnes (fabricação de derivados da carne) e da graxaria. Equipamentos que recolhem resíduos a vácuo (como “aspiradores”) podem facilitar a coleta e o direcionamento destes resíduos para destinação e processamento adequados; utilizar sistemas de alta pressão e baixo volume para fazer as lavagens com água; Instalar sistema de transporte do material removido que não utilize água (por exemplo, esteiras); Utilizar fluxos de água descontínuos, intermitentes ao invés de fluxos contínuos – sistemas automáticos com “times” que abrem/fecham as válvulas de água; Utilizar sistemas de acionamento automático do fluxo de água (sensores de presença, por exemplo) nas estações de lavagem das mãos, de esterilização de facas e em pontos de lavagem de vísceras e outras partes, pedais, botões ou outro sistema prático de acionamento; utilizar o mínimo fluxo de água quente necessário e controlado e dotar o equipamento de isolamento (parede dupla) ou de camisa de aquecimento (água quente ou vapor) para manter/controlar melhor a temperatura desejada; Utilizar, onde possível, sistemas de lavagem das carcaças com fechamento/abertura automática de água, em sincronia com a movimentação das carcaças nos trilhos aéreos (tem carcaça, abre água – não tem carcaça, fecha água); Dotar todas as mangueiras de água com gatilhos, na sua extremidade de uso, para acionamento do fluxo de água pelos operadores somente quando necessário; Utilizar, onde forem possíveis, bocais com “sprays” (ou chuveiros, no mínimo) nos pontos de saída/uso de água, ao invés de tubos perfurados ou saídas de tubos livres. 2.5.2 Reuso da água Segundo SENAI (2003) são encontradas algumas alternativas de reuso de água para consideração e avaliação: Utilizar a água para lavagens de pátios ou áreas externas; Condensar o sistema de refrigeração e da purga das caldeiras; Na produção de charque reuso na salmoura da água da lavagem da carne após a salga seca (salga úmida) e nesta mesma lavagem (lavagem inicial, por exemplo); Utilizar na alimentação dos cozinhadores de carne água evaporada e condensada da concentração de caldo de carne; Água das pias de lavagem das mãos: para auxiliar transporte de materiais para a graxaria; Utilizar nas áreas externas os efluentes tratados no final, onde possível. O reuso da água implica em investimento inicial para segregação, coleta, armazenamento, eventual tratamento e distribuição até o ponto de utilização desta água. O tratamento, a reciclagem pode ser compensadora; assim, é necessário analisar caso a caso, considerando vantagens e desvantagens do reuso potencial frente à situação atual, sempre preservando a segurança dos produtos da empresa e consultando o órgão ambiental competente (SENAI, 2003) 3. CONCLUSÃO As empresas poluidoras devem se conscientizar e procurar alternativas para minimizar seus impactos ao meio ambiente, pois cada vez mais os consumidores exigem que seus produtos sejam ambientalmente corretos. Os processos industriais em abatedouros devem ter um adequado manejo ambiental dos seus resíduos e implantar alternativas de produção sustentável, adequando-se o processo industrial às condições e legislações ambientais.O desenvolvimento sustentável através do uso de mecanismos de desenvolvimento limpo, tornou-se de vital importância para a saúde publica, para combater a poluição das águas e com isso as indústrias minimizam os custos e geram renda. REFERÊNCIA Associação brasileira das industrias exportadoras da carne (ABIEC). Disponível em: < http://www.abiec.com.br/download/stat_mercadomundial.pdf >. Acesso em 15 de nov. 2011. ARAUJO, G.M. VERVUURT, A. Sistema de gestão ambiental ISO 14001/2004 comentada. Rio de Janeiro: GVC, 2005. 77p. BNB. BANCO DO NORDESTE. Manual de Impactos Ambientais.1. ed. Coord. Ademir Costa. Fortaleza: Banco do Nordeste, 1999. 297p. COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL - CETESB – Resíduos Sólidos Industriais Atlas/São Paulo, 1993. 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