UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL
MARINA DA SILVA BATISTA
IMPORTÂNCIA DO CONTATO FÍSICO NO BINÔMIO MÃE E RECEM
NASCIDO PREMATURO NA UNIDADE NEONATAL DO HOSPITAL
DEPUTADO LUIS EDUARDO MAGALHÃES DE PORTO SEGURO –
BAHIA
SALVADOR – BAHIA
2011
ATUALIZA PÓS-GRADUAÇÃO
MARINA DA SILVA BATISTA
IMPORTÂNCIA DO CONTATO FÍSICO NO BINÔMIO MÃE E
RECEM NASCIDO PREMATURO NA UNIDADE NEONATAL DO
HOSPITAL DEPUTADO LUIS EDUARDO MAGALHÃES PORTO
SEGURO – BAHIA
Monografia apresentada a Universidade Castelo Branco
e Atualiza Associação Cultural, como requisito parcial
para a obtenção do título de Especialista em
Enfermagem neonatal e Pediátrica, sob orientação do
Prof. Dr. Fernando Reis do Espírito Santo.
SALVADOR – BAHIA
2011
B333i Batista, Marina da Silva
Importância do contato físico no binômio mãe e recémnascido prematuro na unidade neonatal do Hospital Luis
Eduardo Magalhães de Porto Seguro-BA / Marina da Silva
Batista. – Salvador, 2011.
41f.; 30 cm.
Orientador: Prof. Dr. Fernando Reis do Espírito Santo
Monografia (pós-graduação) – Especialização Lato Sensu
em Enfermagem Pediátrica e Neonatal, Universidade Castelo Branco,
Atualiza Associação Cultural, 2011.
1. Enfermagem pediátrica e neonatal 2. Recém-nascido 3.
Prematuro 4. Método mãe canguru I. Espírito Santo, Fernando
Reis II. Universidade Castelo Branco III. Atualiza Associação
Cultural IV. Título.
CDU 616-053
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Adriana Sena Gomes CRB 5/ 1568
MARINA DA SILVA BATISTA
IMPORTÂNCIA DO CONTATO FÍSICO NO BINÔMIO MÃE E RECEM
NASCIDO PREMATURO NA UNIDADE NEONATAL DO HOSPITAL
DEPUTADO LUIS EDUARDO MAGALHÃES PORTO SEGURO –
BAHIA
Monografia para obtenção do grau de Especialista em Enfermagem Neonatal e Pediátrica.
Salvador, ____ de _______________ 2011.
EXAMINADOR:
Nome: ____________________________________________________
Titulação:
____________________________________________________
PARECER FINAL:
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“Deus me conceda falar com propriedade e pensar de forma correspondente
aos dons que me foram dados, porque tu és o guia da sabedoria e o orientador dos sábios.
Em seu poder estamos nós, as nossas palavras, a nossa inteligência e as nossas habilidades.”
Livro da Sabedoria 7:15-17
“A sabedoria é resplandecentes, não murcha, mostra-se facilmente para aqueles que a amam.
Ela se deixa encontrar por aqueles que a buscam.”
Livro da Sabedoria 6:12-13
RESUMO
Atualmente, há inúmeros movimentos pela humanização da assistência à saúde com intuito de
resgatar valores afetivos e sociais. A adoção do Cuidado Mãe-Canguru (MMC) é estratégia
essencial para mudança institucional na busca da atenção à saúde, centrada na humanização
da assistência e no princípio da cidadania da família. O MMC se constitui em assistência
neonatal que prevê o contato pele a pele em tempo mais imediato, que seja possível, entre a
mãe / pai / familiar significativo e o recém nascido prematuro e/ou de baixo peso. Este
trabalho teve por objetivo analisar a importância do contato físico no processo de reabilitação
do recém-nascido prematuro ou de baixo peso; o alto custo da manutenção de Unidades de
tratamento intensivo neonatais (UTIN) no país, faz do MMC não só uma alternativa a
assistencia ao neonato prematuro mas como também alternativa a humanização do processo
de assistencia ao proporcionar menor interferencia da equipe médica/enfermagem no
cuidado, redução de custos hospitalares, enfatizando, de forma fundamental, os aspéctos
educativos voltados para o desenvolvimento das habilidades maternas, com a finalidade de
instrumentalizar a mulher /puérpera para o cuidado com o filho, responsabilizando-a por esse
cuidado. A metodologia adotada compreendeu tres passos. Primeiro foi realizada uma revisão
de literatura sobre o processo de gestação e nascimento, o segundo momento foi de aplicação
do questionário que, possibilitou, no terceiro momento a discussão dos sentimentos
vivenciados pelos pais ao lidar com um bebe prematuro e a experiencia de estar junto ao filho
no processo de reabilitação. Esta pesquisa demonstra a importância do toque como
instrumento de humanização da assistência ao RN, além de ser uma forma de cuidado que
permite a criação do vínculo família-bebê. Proporcionou a compreensão mais de perto, dessa
situação tão difícil, para otimizar o atendimento nas unidades neonatologicas, é importante
que haja uma relação de confiança entre a enfermagem e a família dos bebes, havendo sempre
estímulos ao toque no RN prematuro, tanto pela equipe neonatal como pela genitora, como
forma de cuidado humanizado.
Palavras-chave: recém-nascido; prematuro; método mãe- canguru
ABSTRACT
Right now there are various movements aiming the humanization of health care in order to
recover emotional and social values. The adoption of the Kangaroo Mother Care (MMC – in
Portuguese) is an essential strategy for an institutional change regarding health care,
humanization of assistance and the principle of citizenship within the family. The MMC is
neonatal care that promotes the immediate contact of skin between the mother / father / close
relative and the new born, premature or of low weight at birth. This study intended to examine
the acknowledgement of the importance of touch to the premature infant; the neonatal
intensive care units (NICU) maintenance high costs in the country makes MMC not only an
alternative for the caring of premature newborns but also an alternative to dehumanization of
the process, by promoting assistance with less interference from the medical / nursing staff,
reducing hospital costs, emphasizing, in fundamental ways, the educational aspects of
developing parenting skills, in order to equip women’s puerperium with skills to take care of
the child, making her responsible for that matter. The methodology involved three steps. First
a review of literature on the process of pregnancy and birth, in the second step a questionnaire
was applied which made possible in the third step, to discuss the feelings experienced by
parents when dealing with premature babies and the experience of being with their child in the
process of rehabilitation. This research demonstrates the importance of touch as a tool for
humanization of the newborn, as well as being a form of care that allows the creation of
family-infant bonding. This research provided a closer understanding of that difficult
situation. To help optimize treatment in neonatology units it is important to create a bond of
trust between the nursing staff and the families of the babies. There should always be
stimulation of touch at the RN, both by the neonatal staff and the mother, as a form of
humanized
care.
Keywords: newborn, premature, MMC
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................09
2. REFERENCIAL TEÓRICO..............................................................................................15
2.1 O evento gestacional e a gravidez de risco.........................................................................15
2.2 Prematuridade.....................................................................................................................17
2.3 A questão do apego entre mãe e filho.................................................................................19
2.4 Assistência humanizada......................................................................................................22
2.5 Método canguru..................................................................................................................24
3 METODOLOGIA...............................................................................................................26
3.1. Tipo de pesquisa.................................................................................................................26
3.2 Aspectos éticos....................................................................................................................27
3.3 Universo da amostra............................................................................................................27
3.4 Participantes da amostra......................................................................................................28
3.5 Elaboração dos instrumentos para coleta de dados.............................................................29
3.6 Coleta de dados e tratamento.............................................................................................29
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS...........................................................30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................38
6 REFERÊNCIAS...................................................................................................................39
ANEXOS..................................................................................................................................44
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 Situação do recém-nascido internado.....................................................................32
Gráfico 02 Faixa etária..............................................................................................................32
Gráfico 03Escolaridade.............................................................................................................33
Gráfico 04 Quais os sentimentos dos pais frente ao primeiro contato com o RN Prematuro...34
Gráfico 05 Quanto tempo você fica com o seu bebê................................................................35
Gráfico 06 Você sabe a importância de tocar o seu filho.........................................................36
1 INTRODUÇÃO
Apresentação do objeto de estudo
O nascimento há algumas décadas, ocorria no ambiente domiciliar tendo à mulher a
oportunidade de compartilhar com seus familiares esse momento. Contudo, a evolução
econômica e social, aliada ao aprimoramento técnico-científico na área materno-infantil, fez
com que as mulheres passassem a ser assistidas no momento do nascimento de seus bebês em
instituições hospitalares. A institucionalização da assistência ao parto percorreu o século
passado imprimindo transformações na forma de atendimento à mulher e à criança, bem como
à família. (Soares, 2003)
A transformação no modelo assistencial à mãe e filho atendeu em princípio, a necessidade de
minimizar os riscos de agravos à saúde da mãe e da criança, resultando na implantação de
berçários centralizados e decorrente separação da mãe e filho durante o período de internação.
(Soares, 2003)
Atualmente, há inúmeros movimentos pela humanização da assistência à saúde com intuito de
resgatar valores afetivos e sociais. O Método Mãe Canguru (MMC) foi adotado inicialmente
na Colômbia por falta de recursos, especialmente incubadoras. As vantagens do MMC vão
além da questão da sobrevivência em países pobres, pois atualmente vários países
desenvolvidos apontam o método como uma forma de atenção vantajosa, viável e segura, que
proporciona maior contato entre mãe e bebê e suporte à amamentação. (Toma, 2003).
Preocupado em encontrar uma metodologia de abordagem perinatal que tivesse como foco a
humanização da assistência, o Ministério da Saúde lançou, em 2002, a Norma de Atenção
Humanizada ao Recém- Nascido de Baixo Peso – Método Mãe-Canguru - MMC, como
política pública.(Venâncio, 2003).
O contato pele a pele, também conhecido como “cuidado canguru”, levou esse nome porque
as mães canguru carregam seus filhotes em contato pele a pele enquanto esses se
desenvolvem. Este contato é um método em que o recém-nascido, após o nascimento, é
colocado em contato pele a pele com a mãe em posição vertical na região torácica entre os
seios. O contato pele a pele das mães com o bebê traz benefícios para ambos. Para os bebês,
faz com que mantenha a temperatura corporal estável; melhore a oxigenação; proporcione
ciclos regulares de sono profundo; ganhe peso corporal mais rápido; diminua os períodos de
agitação e choro. Portanto o toque é enfatizado como de grande importância para a melhora
do estado geral do RN prematuro.
A adoção do Cuidado Mãe-Canguru é estratégia essencial para mudança institucional na
busca da atenção à saúde, centrada na humanização da assistência e no princípio da cidadania
da família. Cada etapa requer subsídios que assegurem à puérpera e ao bebê condições para o
aprimoramento do vínculo, a promoção do aleitamento e a capacitação materna do cuidado
com o filho. Entre os subsídios estão a vinda diária à unidade de internação, o auxílio para o
transporte coletivo às mães que necessitarem, o oferecimento de refeições durante a
permanência diurna e de espaço para seu descanso, a realização de palestras e o livre acesso
dos pais à unidade neonatal. Dos bebês, exige-se a estabilidade clínica, respiratória e
circulatória e para a equipe de saúde pede-se a orientação aos pais sobre o Método, a
estimulação quanto à manutenção do contato tátil com a criança, apoio e intervenção para a
manutenção da produção láctea e armazenamento do leite ordenhado.
A adoção do método estimula a formação dos laços afetivos; favorece a produção do leite
materno, beneficiando assim a lactação e a amamentação; ajuda no desenvolvimento físico e
emocional do bebê; reduz o estresse e o choro do RN; estabiliza o batimento cardíaco, a
oxigenação e a temperatura do corpo do bebê; possibilita lembrar o som do coração materno,
da voz da mãe, o que transmite calma e serenidade; desenvolve, no bebê, sentimentos de
segurança e tranqüilidade; diminui riscos de infecção cruzada e hospitalar; reduz o número de
abandono desses bebês e contribui para o apego entre mãe/filho.(BRASIL,2002).
O peso ao nascer é um dos mais significativos indicadores da qualidade de vida da criança e a
prematuridade sempre representou um grave problema, não apenas para os profissionais de
saúde, como também sócio-econômico, especialmente nos países mais pobres. Para podermos
descrever as características de um bebê prematuro, faz-se necessário classificá-lo quanto a sua
maturidade. O pré-termo (prematuro) é aquele em que a gestação teve duração menor do que
37 semanas, sendo considerados com “viabilidade” (Tamez, 1999).
Reforça-se ainda que a possibilidade de sobrevivência dos prematuros entre 23 e 26 semanas
de gestação aumenta cerca de 2 % a cada dia que conseguem sobreviver (Tamez, 1999). A
classificação precisa da maturidade fetal, sendo um fator determinante para sua adaptação e
reestruturação, bem como eficácia no tratamento. A Organização Mundial da Saúde adotou o
peso ao nascer e a idade gestacional como padrão de classificação internacional. (Oliveira,
2002).
A etiopatogenia da prematuridade é complexa envolvendo tanto fatores maternos quanto
fetais, placentários e iatrogênicos. Evitar a prematuridade continua sendo um grande desafio
dos pesquisadores e profissionais de saúde devido ao conhecimento incompleto dos fatores
etiológicos e da fisiopatologia da prematuridade. Apesar de os últimos anos ter ocorrido
importante avanço nos estudos solucionando ao parto prematuro a sua prevenção, a taxa de
prematuridade se mantém constantemente elevada, tornando imprescindível a melhora da
assistência pré-natal como um todo e precoce, e a identificação do risco nos estágios iniciais
do trabalho de parto prematuro (T.P.P.).
A prevenção é a maior arma terapêutica e deverá não só impedir ou proteger o nascimento
prematuro, mas também propiciar melhores condições de nascimentos de muitas crianças.
Quando se planeja uma gravidez ou quando as pessoas são surpreendidas com a notícia de que
o bebê já está a caminho, o ser humano é invadido por sonhos, expectativas, inseguranças,
felicidade e muita responsabilidade para com o novo ser que invadirá seu espaço.
Justificativa
A importância do toque ao recém nascido prematuro motivou o interesse em realizar esta
pesquisa, uma vez que, o contato físico é necessário para a formação do vínculo afetivo do
binômio mãe e filho, aos cuidados prestados no desenvolvimento desses bebês, e o quanto
estes dependem de seus cuidadores para a sua sobrevivência, ressaltando o toque como a
função primordial dos genitores, na melhoria do estado geral do RN prematuro.
O alto custo da manutenção de Unidades de tratamento intensivo neonatais (UTIN) no país
faz do MMC não só uma alternativa a assistência ao neonato prematuro mas como também
alternativa a humanização do processo de assistência ao nascer, ao proporcionar menor
interferência da equipe médica/enfermagem no cuidado e a redução de custos hospitalares,
enfatizando, de forma fundamental, os aspectos educativos voltados para o desenvolvimento
das habilidades maternas, com a finalidade de instrumentalizar a mulher /puérpera para o
cuidado com o filho, responsabilizando-a por esse cuidado.
Outro aspecto a ser destacado é a questão da humanização da assistência à mulher no período
gestacional e pós-parto, para um tratamento mais eficaz e humano da mulher nesse período
tão especial e ao mesmo tempo angustiante.
Nesse cenário, esse estudo se justifica pelo interesse e importância em conhecer
aprofundadamente sobre os benefícios do contato com a mãe, com o seu toque para a
recuperação dos récem-nascidos prematuros ou com baixo peso.
Problema
Qual a importância do contato físico no processo de reabilitação do RN prematuro ou de
baixo peso?
Objetivo
Analisar a importância do contato físico no processo de reabilitação do recém-nascido
prematuro ou de baixo peso.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O EVENTO GESTACIONAL E A GRAVIDEZ DE RISCO
A gravidez é um evento fisiológico na vida da mulher, pois em que seu organismo e todo o seu ser
sofre modificações, em processo lento e adaptativo. Embora a gravidez seja um fenômeno
biologicamente normal e um acontecimento especialmente significativo na vida da mulher, a mesma
irá passar por algumas transformações importantes que certamente terão reflexos sobre si, seu
concepto e sua família.
Sendo assim, pode-se dizer que a gravidez, bem como a adolescência e o climatério, são períodos
críticos de transição no ciclo vital da mulher, influenciando no desenvolvimento de sua personalidade.
Estes períodos caracterizam-se, muitas vezes, por “mudanças complexas, estado temporário de
equilíbrio instável devido às grandes perspectivas de mudanças envolvidas nos aspectos de papel
social, necessidade de novas adaptações, reajustamentos interpessoais e intrapsíquicos e mudanças de
identidade”, afirmam Guimarães e Monticelli (2007, p.14).
Ainda segundo os mesmos autores, “o decurso da gravidez poderá sofrer transformações intensas,
impulsionadas por algumas intercorrências físicas e psicológicas, em que a mulher, introjetada com
esta condição de doente, tende a ficar mais ansiosa e dependente, gerando mais distúrbios de saúde”.
Alguns aspectos emocionais vão então se destacando no decorrer da gravidez, levando a gestante a
experienciar diferente modalidades de reações, inclusive aquelas que correspondem à expectativa do
papel materno. (GUIMARÃES e MONTICELLI, 2007, p.15).
Faz-se necessário afirmar que “o primeiro trimestre de gestação se constitui no momento da
percepção, consciente ou inconsciente da gravidez, tendo início a formação do vínculo mãe-filho e
incluindo a família em mais uma etapa da vida”, explicitam Guimarães e Monticelli (2007,
p.16).Ocorre também neste trimestre, para muitas mulheres, de maneira mais intensa do que nos
demais, a ambivalência afetiva, ou seja, a balança entre o querer ou não esta gravidez, que por estar no
início, às vezes, parece não ser tão concreta e real.
Vale lembrar, segundo Carvalho (2001, p.42), “ que não existe uma gravidez totalmente aceita ou
totalmente rejeitada, o que pode ocorrer é o predomínio de um dos sentimentos, no entanto, o outro
jamais estará ausente”. O segundo trimestre tem sido considerado como sendo o mais estável do ponto
de vista emocional, destacando-se a percepção dos primeiros movimentos fetais como sendo a
primeira vez que a mulher sente o feto como uma realidade concreta dentro de si. As fantasias e as
representações mentais que a mulher faz, de si própria como mãe, e de seu futuro bebê, podem
influenciar no vínculo que ela formará com o filho. Com o transcorrer da gravidez, as mulheres se
deparam então com o terceiro trimestre. Para muitas delas, ocorre uma nova elevação no nível de
ansiedade, devido à proximidade do parto e à necessidade de mudanças na rotina de vida após a
chegada do bebê.
Além dos aspectos colocados, devemos acrescentar ainda o fato de esta mulher, muitas vezes, “cobrarse” com relação ao tempo certo para concluir a gravidez, bem como se seu filho nascerá saudável e
fisicamente perfeito. Ao mesmo tempo reflete em como será o cotidiano de sua vida, devendo inserir
mais uma responsabilidade em seu dia-a-dia e se terá capacidade para realizar todos os cuidados
exigidos pela presença do novo integrante da família, bem como criá-lo e educá-lo da maneira ideal.
Mas se a vivência da gravidez em “si mesma” isto é, considerando-se os aspectos multifacetados das
transformações normais esperadas do processo fisiológico da gestação – já é um período de
experiências múltiplas, críticas e emocionalmente densas, imagine-se então se a mulher que é sujeito
ativo de sua vivência gestacional experimenta, de forma quase sempre inesperada, uma crise adicional
em termos biopsicoemocionais, como é a gestação de alto risco. Isto sem dúvida fará com que a
mulher tenha novas preocupações, e não apenas com a relação às vicissitudes que terão forçosamente
que serem ultrapassadas para levar essa gravidez até o final (o mais saudável possível), mas também
com relação aos sentimentos que serão extravasados num futuro próximo, quando tiver diante de si um
bebê quase sempre prematuro, necessitado de cuidados especializado e provavelmente distante
daquele filho idealizado e sonhado. (CAETANO, 2004).
Algumas dessas mulheres, ao perceberem sua real situação, e tendo que permanecer fora de casa por
período indeterminado, sente-se culpadas por deixarem seus filhos em casa, ausentando se de suas
responsabilidades, tanto maternas como de esposa/companheira, perdendo muitas vezes sua autonomia
e poder de decisão. Neste período poderá ocorrer certa revolta com o ser que está sendo gerado, pois o
mesmo é o principal motivo de seu afastamento. A gestação de alto-risco apresenta algumas
interferências patológicas e/ou sociais que são fatores de agressão ao binômio gestante-feto. (CALIL,
1996)
Camarotti (2000, p. 83), argumenta que “mesmo antes de nascer o bebê já existe no
inconsciente materno e que, durante a gravidez, o bebê é vivido psiquicamente como parte do
seu corpo sendo chamado de bebê imaginário, portador dos sonhos e desejos maternos”. Para
compreender e satisfazer as necessidades do feto e recém nascido durante e depois da
gravidez, a mulher sofre mudanças tanto biológicas como psíquicas, visando o bem estar e
equilíbrio de ambos. Winnicott (1994 apud CAMAROTTI, 2000, p84 ) denominou este
estado de regressão narcísica de “preocupação materna primária”, que possibilitará a mãe
amar e nutrir seu bebê sem se sentir libidinalmente vazia.
Para Winnicott (1994 apud CAMAROTTI, 2000, p.85), “as mães são capazes de se colocar
no lugar do bebê desenvolvendo uma capacidade de identificação que permite perceber as
necessidades básicas do recém-nascido de forma que máquina alguma seria capaz”. Durante a
gestação, a mulher vai integrando o feto à sua imagem corporal e, com o nascimento, vai ter
de integrá-lo psiquicamente como um ser separado, sendo o estado narcísico e fusional da
gravidez interrompido pelo parto.
Em conformidade com Padovani (2004, p.28), “nos nascimentos de bebês prematuros,
geralmente a família não está preparada para este acontecimento e gera uma situação
estressante e ansiogênica”. Desta forma, pode-se dizer que a separação da mãe e filho logo
após o nascimento, decorrente da necessidade do bebê ser submetido a cuidados
especializados na UTI Neonatal, leva a família à incerteza da sua sobrevivência. Além disto,
ocorre a distorção da “imagem do bebê ideal” criado pela família quando se depara com a
imagem real do bebê prematuro, sendo necessário reorganizar o quadro imaginário e adequálo à imagem do bebê pequeno e frágil.
Durante a gravidez a mulher oscila facilmente entre a felicidade e a tristeza, podendo ser
atribuída ao aumento de progesterona e estrógeno. São mudanças significativas no perfil
endócrino que ocorrem durante a gestação, destacando-se os hormônios que desempenha um
papel fundamental para a mãe e para o feto, onde ele tem a função de controlar as alterações
do útero e das mamas que são necessárias para assegurar a vida fetal até o seu
desenvolvimento.
No período da gravidez a mãe e/ou pai vão se preparando num processo de desejo de que o
seu filho seja perfeito e ao mesmo tempo a insegurança e o receio de que possa vir a ter algum
problema. Assim surge o bebê idealizado numa imagem composta pelas representações que
esta mãe tem de si própria. O nascimento é uma experiência intensa e esgotante do ponto de
vista funcional e emocional, tanto para a mãe quanto para o recém-nascido (RN). O apego é o
laço afetivo que os pais estabelecem com o bebê, essencial para sua sobrevivência e
desenvolvimento.
Para Brazelton (1988, p. 77), “os pais trabalham contra a reação de luto, reação esta causada pela
perda do bebê perfeito que esperavam e lamentam os defeitos no bebê que produziram, culpandose a si mesmos”. Também Maldonado (1989) reflete que os temores do nascimento de um bebê
prematuro ou malformado sempre estão presentes em maior ou menor grau e, quando esta situação
realmente acontece, gera na família o susto pelo inesperado, frustração de não poder sair do
hospital com o bebê no colo e, também, o medo de que ele não sobreviva. Os familiares vivem então
um anticlímax, passando da preocupação à esperança, do ânimo ao desalento.
2.2 PREMATURIDADE
Para a Organização Mundial de Saúde, o limite entre pré-termos e termo situa-se em 37 semanas
completas. Para fins práticos, há recém-nascidos antes do termo tanto pode ser denominada pré-termo
quanto “ prematuro”.Os prematuros podem ser subdesenvolvidos em três categorias:
 Prematuro Limítrofe: segundo Gomes (2004, p.41), “estão situados entre 37 a 38
semanas de gestação, inclui os RN-PT entre 35 e 36/7 semanas, peso entre 2.200g e
2.800g, comprimento ao redor de 45cm a 46cm e perímetro cefálico de
aproximadamente 32,5cm”. Constituem cerca de 65% dos RN-PT nascidos vivos. Os
bebês que se enquadram neste grupo podem apresentar debilidade de sucção,
instabilidade térmica, desconforto respiratório e infecções no período neonatal. Este
grupo geralmente apresenta baixo índice de mortalidade (<1%). (GOMES, 2004)

Prematuro Moderado: ainda conforme Gomes (2004, p.42), compreende o período entre
“31 a 36 semanas de gestação, RN-PT com idade gestacional entre 30 e 346/7 semanas, sendo
que o peso de nascimento pode oscilar entre 1.600 e 2.300g e o comprimento pode variar de
39 a 44cm; o perímetro cefálico mede de 29cm a 32cm”. As complicações mais comuns são as
respiratórias, podendo apresentar membrana hialina e crises de apnéia (asfixia perinatal que
costuma ser mais grave quanto menor for o peso do bebê), acidose metabólica tardia,
dificuldade na sucção e hiperbilirrubinemia.

Prematuro Extremo: em conformidade com Gomes (2004, p.43), compreende o período
entre “24 a 30 semanas RN-PT com idade gestacional inferior a 30 semanas e peso menor que
1.500g, sendo que o comprimento e perímetro cefálico do recém-nascido costumam ser
inferiores a 38cm e 29cm, respectivamente”. As intercorrências mais comuns costumam ser as
mesmas da prematuridade moderada, porém com maior gravidade em virtude da sua
imaturidade. Além das intercorrências descritas, acrescenta o autor, “os bebês podem
apresentar
também
enterocolite
necrotizante,
distúrbios
metabólicos,
hemorragia
intracraniana, persistência do canal arterial, infecções congênitas ou adquiridas, raquitismo da
prematuridade, entre outras”. Muitos bebês prematuros sobreviventes podem apresentar
sequelas, tendo sua qualidade de vida prejudicada.
Os recém-nascidos pré-termos extremos costumam apresentar problemas clínicos que são comuns aos
demais recém-nascidos pré-termo, embora numa intensidade e gravidade mais acentuadas, devido ao
grau de imaturidade que os caracteriza. Já ao nascimento, observa-se uma maior incidência de anóxia
perinatal neste grupo, o que provavelmente reflete uma ação dos fatores responsáveis por essa
prematuridade extrema.
Os bebês prematuros, explicitam Gomes (2004, p.22), “estão sujeitos à infecção e a problemas
respiratórios durante o período de internação que geralmente é prolongado, apresentando oscilações
entre melhora e piora, momentos em que a vida fica por um fio”. E os sentimentos dos pais
acompanham estes altos e baixos. Para sobreviver, um recém-nascido precisa de alguém que cuide
dele e não que apenas alimente-o e o mantenha limpo. É necessário também alguém para lhe
transmitir, com sua presença e interações, segurança e otimismo. Para Ferraris (2005 apud
GUIMARÃES e MONTICELLI, 2007, p.13), a proximidade, o contato físico e a voz são os veículos
por meio dos quais o sentido de segurança e o bem estar psicológico da criança é alimentado.
Nascer prematuramente expõe o RN num ambiente cheio de novas adaptações num mundo
desconhecido com inúmeros riscos. A troca de afagos que anteriormente era estabelecida pelo
contato físico intra-uterino agora se dá através de um ambiente extra-uterino numa incubadora
dentro de uma UTI - neonatal, cujo suas necessidades são de cuidados intensivos.
O progresso da medicina vem possibilitando a sobrevida de recém nacidos prematuros, e,
falar de prematuros envolve muitos conceitos teóricos, investigações cientificas, critérios
internacionais de saúde, avanços tecnológicos, e de especial importância para nós, os aspectos
pisco-afetivos, que pressupõem as questões relacionais no qual se destaca a relação pais e
filhos. Assim, torna-se essencial perceber o que passam os pais nestes momentos dolorosos e
como podem intervir os profissionais de saúde.
Para o Dr. Walmar Augusto Miranda, pediatra e intensivista pediátrico da assistência médica
domiciliar Home Doctor (2002 apud CASTELO, 2005), a área de medicina intensiva
neonatal, que responde pelos cuidados com os prematuros, tem avançado muito nos últimos
anos. “Há 20 anos, era muito difícil tratar um bebê abaixo de 1,5 Kg. Hoje temos resultados
de sucesso com crianças de menos de 1 Kg, considerados prematruras extremas”, comemora o
médico.
Com o aperfeiçoamento dos cuidados pré-natais em associação com a tecnologia recém-nascidos que
há poucos anos eram “inviáveis” hoje recebem alta das unidades neonatais em condições satisfatórias.
Em geral, a incidência de prematuridade e tanto maior quanto menos desenvolvido é o meio. O
número total de nascimentos de baixo peso também é submetida à mesma influência, sendo de notar
que, no total de recém-nascidos de baixo peso, considera-se que a proporção dos não prematuros é
diretamente proporcional ao subdesenvolvimento do meio, a prematuridade por sua vez pode refletir
deficiência de cuidados pré-natal e problema socioeconômico culturais.
2.3 A QUESTÃO DO APEGO ENTRE MÃE E FILHO
Klaus et al (2000, p.90) dizem que “o apego ou vínculo dos pais com o bebê começa durante
a gravidez e aumenta um pouco após o nascimento. O vínculo daqueles que cuidam,
geralmente mãe e pai, com a criança é crucial para a sua sobrevivência e desenvolvimento”.
Ainda segundo esses autores, Klaus et al (2000),
“o apego é de extrema importância para a sobrevivência e para o bom
desenvolvimento da criança, visto que esse laço inicial entre pais e recémnascido (RN) é fonte de todas as ligações subsequentes da criança e que o
caráter deste apego influenciará a qualidade de todos os laços futuros com
outros indivíduos”. O apego, contudo, não é algo instantâneo, mas sim um
processo que se desenvolve com o tempo e que precisa de mecanismos que
garantam a sua sobrevivência. (KLAUS et al, 2000, p.91).
Nessa perspectiva, Cecchetto (2005, p.191), compreende que “ao nascer, o RN prematuro ou
com baixo peso é levado para longe da mãe, para um tratamento intensivo. Essa separação
causa danos tanto para o bebê quanto para a mãe, uma vez que a relação de apego é abalada”.
Para Tamez e Silva (1999), a saúde mental da criança é construída desde o início pela mãe,
proporcionando um ambiente facilitador, ou seja, criando fundamentos da força de caráter e
da riqueza de personalidade futura.
Ferreira e Vieira (2003, p.44), refletem que “a mãe, por um lado, fica insegura e ansiosa por
não poder cuidar do seu filho, e a criança sente falta da segurança e apego que lhe foi
transmitido pela mãe durante a gravidez”. Este fato pode causar danos à mãe uma vez que, ao
se sentir incapaz ou insegura para cuidar do filho, se afasta perdendo ou esfriando o
sentimento de apego pela criança, acabando por não acreditar na recuperação deste e
abandonando-o. Brazelton (1988, p.69) revela que “nos casos de bebês o desenvolvimento do
apego é menos calmo e suave, mas não existem razões para que o resultado eventual não seja
bastante gratificante”.
Desta forma, complementam os autores, “o esforço dos pais para superar as dificuldades pode
ser um grande passo para o apego”. Para o autor supracitado, a elaboração dos sentimentos de
tristeza e culpa pelos pais e o desenvolvimento futuro destes bebês poderia ser claramente
favorecido se os pais pudessem se relacionar com o bebê antes de levá-lo para casa. Para um
melhor entendimento de vinculo e apego uma definição foi buscada e que, segundo Klaus et
al (2000, p.), “vínculo refere-se à ligação emocional dos pais em relação ao filho, trata-se de
um relacionamento único entre duas pessoas que é específico e persiste ao longo do tempo;
apego, em geral, é usado para a ligação da criança aos pais.
De acordo com Bowlby (1990 apud RIBEIRO, 2001, p.62), “ocorrem três fases no
desenvolvimento do apego”. A primeira fase é determinada desde o nascimento até os três
meses de vida, na qual a criança necessita do colo e manipulação, não conseguindo
demonstrar preferência pelo agente cuidador (fase pré-apego); já em seguida, a criança
começa a dar preferência pelas figuras familiares, não sendo necessariamente a mãe (fase da
gênese do apego): aos seis meses inicia-se a fase do apego propriamente dita, a qual
caracteriza-se pela insistência da criança em ser cuidada pela mãe ou cuidador
principal.(RIBEIRO, 2001).
Scochi (2003, p.594), acredita que “a separação entre pais e filhos devido à internação, gera
sentimentos contraditórios como culpa por se sentirem responsáveis pelo sofrimento do filho
ao mesmo tempo em que manifestam esperança e resignação”. Se a mãe que tem seu bebê
internado não for estimulada a ter um contato com o filho, seu sentimento materno pode ser
adiado, visto que a mãe tem medo de cuidar da criança por receio de machucá-la. Tal medo é
agravado pelo fato de a UTIN ser um ambiente hostil que provoca uma impressão de maior
fragilidade do RN , sustentam Ferreira e Vieira (2003). Com isso, muitas mães conformam-se
em deixar os cuidados maternos para a figura da enfermeira, quem a mãe julga ter maior
competência para cuidar do seu filho, sem colocá-lo em maior risco. As mães pensam que as
enfermeiras podem oferecer um melhor atendimento materno para seus filhos e, com essa
impressão, surge um sentimento de inferioridade (Klaus e Kennell, 1993). Daí a importância
da equipe de profissionais fazer com que a mãe se sinta importante para a recuperação do seu
filho, sendo este um fator imprescindível para o estabelecimento do vínculo entre a mãe e o
bebê. Segundo Camarotti (2000).
“os bebês hospitalizados estão expostos a uma sobrecarga de excitação e de
sensações desprazerosas que exacerbam suas angústias primitivas, os quais,
como defesa, apresentam a necessidade de se auto agarrar, auto conter”, pela
formação de dorso duro, de contraturas das extremidades e fixação do olhar a
um ponto luminoso, sendo estes sinais de sofrimento psíquico do bebê”.
(CAMAROTTI, 2000,p.77).
No entendimento de Javorsky (1997 apud CAMAROTTI, 2000, p.78), “a permanência das
mães junto aos seus filhos, após avanços na área de controle das doenças infecciosas,
trouxeram mudanças reintroduzindo os pais na UTIN sem ocasionar aumento na infecção”.
E isso é importante, reflete Ferreira e Vieira (2003, p. 48), “pois o RN internado na UTI, além
da privação materna, sofre inúmeros estímulos mecânicos que dificultam sua organização
fisiológica ao meio externo, submetendo-o a uma condição estressante”. Diante disso, autores
como Brazelton (1988), Tamez e Silva (1999) afirmam que este estresse do RN pode ser
amenizado mediante aproximação dos pais no período de hospitalização. Essa aproximação,
contudo, deve ser gradativa, já que os pais apresentam-se ansiosos e muitas vezes confusos
por causa da condição do filho e necessitam de um preparo psicológico prévio, uma vez que
há um desgaste emocional muito grande com a vivência dessa situação (KLAUS, 2000).
Para Vigna (2003), o contato físico é essencial para que os bebês tenham desenvolvimento
físico, neurológico, psicológico e emocional normal. O ato de tocar se insere em alto grau de
importância desde a convivência gestacional e posterior a ela, onde o contato da mãe com o
seu bebê, já implicam em momentos favorecedores na formação do recém nascido
(RN).Partindo do dito popular de que ao segurar o recém-nascido no colo pode deixá-lo
manhoso, algumas mães receavam o toque prolongado com seus filhos, porém já foi provado
que é altamente benéfico o toque ao RN. Quanto mais contato a criança tiver, mais
prontamente for atendida em suas necessidades de aconchego e carinho mais segura ela será e
desenvolverá somática e neurologicamente.
Existe uma influência precoce e prolongada das estimulações táteis sobre o funcionamento e o
desenvolvimento do bebê. A pele é o órgão de transformação de estímulos físicos em
comunicadores químicos e em estados psicológicos. Em qualquer época da vida, um contato
terno e amoroso na pele produz a sensação de apoio, consolo, companhia e presença amiga,
portanto, a pele, além de órgão envoltório do organismo, com múltiplas funções de proteção e
equilíbrio, informa o sistema nervoso permanentemente sobre o que se passa no ambiente e
gera imagens mentais, emoções e sentimentos o tempo todo.
De acordo com Brum (2007), a qualidade da relação binômio mãe e filho têm sido
considerados fundamentais para que ocorra um adequado desenvolvimento infantil, onde os
primeiros meses de vida são primordiais para o desenvolvimento da conduta de apego entre o
bebê e sua mãe.
Segundo Tamez e Silva (1999, p. 104), “algumas intervenções são importantes para interação
dos pais com o RN na UTI Neonatal. É necessário mostrar o bebê aos pais após o nascimento,
antes de transferi-lo para a UTI e também explicar aos pais sobre o que está ocorrendo”. Nas
visitas, deve-se procurar dirigir a atenção dos pais aos filhos, ao invés dos equipamentos,
bem como promover aos pais horários flexíveis de visita e incentivá-los a trocarem o RN
explicando a forma correta de fazê-lo sem o estresse do mesmo. É de igual importância,
salientam os mencionados autores,
“explicar aos pais as formas de comunicação do RN e envolve-los nos
cuidados básicos como, por exemplo, na troca de fralda ou no banho;
incentivar e promover o contato pele a pele assim que o RN esteja estável,
incentivar o aleitamento e promover o envolvimento e o aprendizado dos pais
nos cuidados mais complexos também torna-se imprescindível. Os autores
citam ainda que se um prematuro é tocado, embalado, acariciado ou trazido
ao colo diariamente, durante a hospitalização, ele apresenta menos períodos
de apnéia, ganho de peso aumentado, menos liberação de fezes e um avanço
em algumas áreas de funcionamento do sistema nervoso central “.(TAMEZ e
SILVA, 1999,p.105).
Para que essas práticas ocorram hoje, no entanto, explicitam Santoro e Santoro (2002, p.96),
“foi necessário muito sofrimento de pais e bebês para que se percebesse que não bastava a
intervenção no corpo biológico, que a assistência deveria ser complementada através da
assistência humanizada”, objeto de estudo do próximo tópico.
2.4 ASSISTÊNCIA HUMANIZADA
O parto hospitalar, na concepção de Sabatino et al (2000, p.111), “ colocou a mulher como
objeto, e não como sujeito da ação durante o processo de nascimento, no qual as ações e
rotinas de trabalho são mais importantes que a mãe e seu filho e suas ligações afetivas”. A dor
e a ansiedade são desconsideradas em favor da performance clínica. O atendimento,
complementam esses autores, “ é impessoal e autoritário, com excesso de tecnologias,
afastando, assim,cada vez mais o contato interpessoal dos profissionais de saúde com as
parturientes”.Em 1998, o Ministério da Saúde (MS) criou diferentes portarias para conter as
cesarianas e incentivar o parto normal.
Segundo Cardoso et al (2007), “à medida que foi sistematizada a atenção à saúde da mulher,
houve a elaboração de políticas públicas prioritárias e de manuais para a padronização de
condutas dos profissionais de saúde”. A política de humanização do atendimento culminou
com a elaboração do Manual sobre atenção ao Parto, Aborto e Puerpério – Assistência
Humanizada à Mulher (MS, 2001). Esse manual, descreve a gravidez e o parto como eventos
sociais que integram a vivência reprodutiva de homens e mulheres, como experiência humana
extremamente significativa e enriquecedora. (MS, 2001).
A portaria GM n.º569, que instituiu o Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (
PHPN), traz, em seu primeiro "considerando", o seguinte texto:"...considerando que o acesso
das gestantes e recém-nascidos a atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação,
parto, puerpério e período neonatal são direitos inalienáveis de cidadania ..." (BRASIL,
Ministério da Saúde; 2000, p.5).
Surge então o conceito de atenção humanizada que é amplo e envolve um conjunto de
conhecimentos, práticas e atitudes que visam a promoção do parto e do nascimento saudáveis
e a prevenção da morbi-mortalidade materna e perinatal. Inicia-se no pré-natal e procura
garantir que a equipe de saúde realize procedimentos comprovadamente benéficos para a
mulher e o bebê, que evite as intervenções desnecessárias e que preserve sua privacidade e
autonomia. ( BRASIL, Ministério da Saúde; 2001)
Em conformidade com Cardoso et al,( 2007), “após intensas discussões referentes à
assistência à mulher no pré-natal, um consenso sobre a maior receptividade das gestantes às
estratégias de atenção à saúde reforça a participação efetiva da mulher no pré-natal”. Isso
possibilita a aquisição de novos conhecimentos, amplia sua percepção corporal para a sua
capacidade de gestar, parir e maternar, acrescentam estas autores. As modificações do corpo,
promovidas pelo desenvolvimento da criança, favorecem a compreensão da maternidade
envolvendo emoções e valores relacionados a si, à criança e à família (OLIVEIRA, 2001).
Para Ribeito et al (2004,p.535), “o Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento foi
planejado como política nacional em atenção aos direitos das mulheres, buscando uma ação
para a melhoria da qualidade obstétrica e redução da mortalidade materna e perinatal” Isto,
complementam os autores, “em conjunto com outras medidas adotadas para alcançar esse
objetivo como o limite percentual no pagamento das cesáreas e a implantação de um sistema
de atenção à gestação de alto risco”.
Durante sua implantação, reflete Tedesco (2002, mobilizou, em tempo relativamente curto,
quase quatro mil municípios e permitiu a ratificação de muitas hipóteses sobre a assistência
pré-natal, com um macro diagnóstico da saúde materna. Isto por que, nas últimas décadas, em
hospitais do mundo, o suporte à mulher durante o trabalho de parto tornou-se mais uma
exceção do que uma rotina. O interesse sobre o retorno desse apoio vem acontecendo como
uma das estratégias de humanização do nascimento.
2.5 MÉTODO CANGURU
O Método Mãe-Canguru (MMC), de acordo com Lamy (2003, p.142), “foi criado em 1978
pelo Dr. Edgar Rey Sanabria, no Instituto Materno-Infantil (IMI) de Bogotá, na Colômbia”. O
método consiste em colocar o bebê entre os seios maternos, em contato pele a pele, na posição
supina (postura preventiva para refluxo gastroesofágico e aspiração pulmonar). Desta forma,
mantendo-se aquecidos com o calor do corpo de sua mãe, os bebês poderiam sair mais cedo
da incubadora e, consequentemente, ir mais cedo para casa, minimizando um grave problema
da época: superlotação e infecção. Além dessas vantagens, observou-se, desde o início, que o
contato pele a pele precoce e duradouro entre a mãe e o seu filho também favorecia a
formação de vínculos afetivos e um melhor desenvolvimento do bebê, o que despertou
interesse do UNICEF por pesquisas e observações desta nova prática.
Também Charpak, (1999, p. 152), discorre que “o Método Canguru é um tipo de assistência
neonatal voltada para o atendimento do recém-nascido prematuro que implica colocar o bebê
em contato pele a pele com sua mãe”. A sua criação, em Bogotá, na Colômbia, surgiu da
busca de uma solução imediata para a superlotação das unidades neonatais nas quais muitas
vezes se encontravam dois ou mais recém-nascidos em uma mesma incubadora. A partir dessa
experiência, no entanto, estudos subsequentes apontaram que a presença contínua da mãe
junto do bebê, além de garantir calor e leite materno, trazia inúmeras outras vantagens dentre
as quais a promoção do vínculo mãe-bebê, condição indispensável para a qualidade de vida e
sobrevivência do recém-nascido após a alta da Unidade Neonatal. Diante disso, Ferrato
(2002), reflete que
“no Brasil, hoje, mesmo aqueles profissionais que não utilizam o método em
seus serviços e até os que fazem restrições a ele têm buscado compreender
melhor a proposta nacional de utilização que foge da perspectiva de
substituição de incubadora, utilizando o Método Canguru como mais uma
tecnologia disponível para o cuidado do bebê internado em terapia intensiva
neonatal. Desta forma o Método Canguru abrange questões como os cuidados
técnicos com o bebê (manuseio, atenção às necessidades individuais,
cuidados com luz, som, dor); o acolhimento à família; a promoção do vínculo
mãe/bebê e do aleitamento materno; e o acompanhamento ambulatorial após
a alta”. (FERRATO, 2002, p.55).
Sabatino et al (2000, p. 88), afirmam que “o Ministério da Saúde adotou o Método Canguru
como uma Política Nacional de Saúde, inserido no contexto da humanização da assistência
neonatal a partir de 1999”. Para compreender a trajetória do Método Canguru como Política
Nacional de Saúde, no Brasil, é necessário destacar que a humanização no ambiente da
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) é uma questão de importância crescente na
qualidade da atenção ao recém-nascido. Portanto, humanização e qualidade da assistência não
podem ser vistas como fenômenos dissociados. (MONTAGU, 1988). Os trabalhos pioneiros
de Klaus & Kennell (2000), também destacam a importância dos cuidados maternos para o
melhor desenvolvimento do bebê, chamam a atenção para os efeitos que a separação precoce
e prolongada entre mãe e bebê podem trazer como fator de risco para atraso no
desenvolvimento e sequelas neurológicas.
Essa ampliação do olhar sobre o método reflete Cecchetto (2005, p. 92), “foi de fundamental
importância para a sua disseminação no Brasil. Entretanto, outros dois fenômenos também
estão inseridos nesse contexto”. Primeiro, o crescente reconhecimento, por parte das equipes
de neonatologia, da importância dos cuidados maternos para a recuperação dos bebês e, em
segundo lugar, o momento atual no qual a humanização da assistência tem sido apresentada
como política nacional do Ministério da Saúde.
3 METODOLOGIA
Uma pesquisa é um processo de construção do conhecimento que tem como metas principais
gerar novos conhecimentos e/ou corroborar ou refutar algum conhecimento pré-existente. É
basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da
sociedade na qual esta se desenvolve. A pesquisa como atividade regular também pode ser
definida como o conjunto de atividades orientadas e planejados pela busca de um
conhecimento .
3.1. TIPO DE PESQUISA
Trata-se de uma pesquisa de carater descritivo, na qual são analisados e interpretados os fatos,
caracterizando a população de recem-nascidos participantes do MMC. Apresenta natureza
quali-quantitativa, com aplicação de um questionário, cujo os dados foram coletados no mês
de Junho a dezembro de 2009 com oitenta genitoras de um hospital geral na cidade de Porto
Seguro/BA, através de entrevistas realizadas com as envolvidas. Foi feito um contato prévio
com a unidade hospitalar, e após autorização do conselho de ética do mesmo, os sujeitos
foram esclarecidos sobre o estudo, e então a coleta foi feita de acordo com a disponibilidade
dos depoentes e sua aceitação em participar da pesquisa.
A metodologia adotada compreendeu três passos. Primeiro foi realizada uma pesquisa
bibliográfica sobre o processo de gestação e nascimento, o segundo momento foi de aplicação
do questionário que, possibilitou, no terceiro momento a discussão dos sentimentos
vivenciados pelos pais ao lidar com um bebe prematuro e a experiencia de estar junto ao filho
no processo de reabilitação. As pesquisas bibliográficas, segundo Gil (2002, p. 85),
"apresentam como principal vantagem o fato de permitir ao investigador a cobertura de uma
gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente".
Os descritores utilizados na pesquisa via internet foram: UTI, neonatal, humanização do
parto e pós-parto, Ministério da Saúde.
3.2 ASPECTOS ÉTICOS
A pesquisa em questão foi desenvolvida
respeitando-se os aspectos éticos e legais de
pesquisa envolvendo seres humanos de acordo com a Resolução 196/96 do Ministério da
Saúde (BRASIL, 1998).
Desta forma, os sujeitos foram convidados pela pesquisadora a participar recebendo
esclarecimentos sobre os objetivos e finalidades do estudo, bem como liberdade de
participação e desistência se assim o desejassem. Todo cuidado foi tomado para evitar
situações constrangedoras e as informações levantadas através do instrumento de pesquisa
foram confidenciais, protegendo a privacidade dos indivíduos.
Foi solicitada a assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), após
todos os esclarecimentos necessários (Anexo 1). Para operacionalização deste estudo, o
projeto foi apresentado à instituição onde ocorreu a pesquisa a fim de obter a anuência do
Hospital, para que a coleta de dados fosse realizada (Anexo 2).
3.3 UNIVERSO DA AMOSTRA
O estudo foi realizado em um hospital público de Porto Seguro-BA. Sua capacidade é de
cerca de 275 leitos, sendo 100% deles destinado a atendimento de pacientes do Sistema Único
de Saúde (SUS). A taxa de ocupação gira em torno de 90% e a equipe de enfermagem é
formada por quarenta e dois enfermeiros plantonistas, 4 coordenadores das unidades e 1
Coordenação de enfermagem geral. Atualmente conta também com o Programa de Saúde da
família. Nesse hospital as puérperas, gestantes de alto risco e acompanhantes ficam internadas
no segundo andar.
A maternidade fica no segundo andar do hospital público pesquisado e conta com vinte e
cinco leitos em esquema de alojamento conjunto, destes, cinco são reservados para o
atendimento a gestantes de alto risco do município. Tanto no alojamento conjunto como nos
demais setores de internação é permitida a entrada de visitas das 14:30 horas até as 16:30
horas, e toda puérpera tem direito a um acompanhante, portanto, poderá ficar boa parte do dia
em companhia dos familiares e amigos. A equipe de enfermagem deste setor é composta por
uma enfermeira e dois técnicos de enfermagem por plantão.
As mães que têm seu bebê internado na UTIN contam ainda com atendimento profissional de
uma psicóloga e de duas assistentes sociais. São realizados cerca de cento e trinta partos por
mês e é permitido acompanhante na sala de pré-parto e de recuperação pós-anestésica; já na
sala de parto somente é permitido acompanhante que já passou pela avaliação da equipe e foi
considerado em condições de permanecer dentro da sala de parto.
Desde que não tenha ocorrido qualquer intercorrências com a mãe-filho, o bebê é colocado
para sugar já na primeira meia hora após o nascimento pelo pediatra ou enfermeira, que o
posiciona colocando-o em contato pele a pele com a mãe imediatamente após ter feito a sua
recepção. Na sala de recuperação pós-anestésica, a mãe é mantida junto com o bebê e este
contato é interrompido rapidamente apenas para procedimentos de rotina. O pai participa
ajudando a posicionar o bebê no peito e os acompanha até o quarto.
A UTI Neonatal do hospital pesquisado atende apenas pacientes do SUS. Seu quadro de
funcionários é composto por uma enfermeira e quatro técnicos de enfermagem, distribuídos
nos plantões. O setor conta ainda com a atuação de fisioterapeutas e fonoaudióloga que
cuidam da parte respiratória, do estímulo à sucção, da organização motora e de outras
necessidades do recém nascido. Não é permitido o uso de bicos e mamadeiras, exceto com
indicação médica. O leite, para a maioria dos bebês, é leite humano pasteurizado oferecido no
copinho, por sonda oral ou nasogástrica.
3.4 PARTICIPANTES DA AMOSTRA
As oitenta participantes foram orientadas sobre o motivo do estudo, e antes de começar a
entrevista foi assinado um termo de consentimento livre e esclarecido. O roteiro da entrevista
foi constituido de perguntas abertas e fechadas, e após a coleta de dados, o material coletado
recebeu valor matemático-estatístico, e os mesmos foram analisados e tabulados através da
estatistica descritiva e formativa, de acordo com as normas da ABNT (2009), utilizando o
programa do word 2007, e discutido com base na literatura pertinente.
Neste estudo foi realizada a amostragem não probabilística por conveniência, que segundo
Severino (2002, p. 217), “é usada frequentemente para obter idéias sobre determinado assunto
de interesse. Neste tipo de amostragem, o elemento pesquisado é selecionado por estar
disponível no local e no momento em que a pesquisa está sendo efetivada”.
3.5 ELABORAÇÃO DOS INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS
Para a coleta de dados junto aos participantes da amostra, a opção foi por entrevistas a partir
de um formulário semi- estruturado elaborado para registro dos dados referentes, contendo 06
(seis) questões referentes ao trato com os recém-nascidos prematuros ou de baixo peso.
3.6 COLETA DE DADOS E TRATAMENTO
Para fazer a pesquisa in loco junto às mães, primeiramente foi feito um contato com a direção
do hospital , pedindo a autorização para tal procedimento, assim como explicitando a
finalidade da pesquisa (Anexo 01). De posse do consentimento para tal atividade, foi definido
quando seria feita a pesquisa.
A coleta dos dados foi realizada em quatro momentos. O primeiro contato foi feito em uma
quarta-feira e quinta-feira normal e o segundo momento ocorreu nos feriados de setembro e
outubro de 2009. A escolha de datas diferentes teve por objetivo estar em contato com
diferentes realidades do cotidiano do hospital, em especial no que diz respeito ao atendimento
neonatal.
Após a realização da coleta junto aos participantes da amostra, os dados foram analisados e
categorizados para melhor entendimento do objeto de estudo no que se refere a importância da
presença da mãe junto ao recém-nascido internado no hospital pesquisado, caracterizando o
tratamento dos dados obtidos.
4 Apresentação e Discussão dos DADOS
A transição para a vida extra-uterina ocorre sem anormalidades na maioria dos nascimentos,
no entanto em aproximadamente 10% dos casos a intervenção de uma equipe treinada é
necessária, segundo o Ministério da Saúde (2003). Na unidade hospitalar neonatológica em
estudo observou-se a necessidade de intervenção em nascimentos de RN prematuros. A
transição prematura da vida intra para a extra-uterina provoca uma série de mudanças
fisiológicas que colocam o recém nascido em risco.
O RN prematuro e com baixo peso, que correspondem a vinte milhões do nascimento anual
no mundo, um terço deles morre antes de completar um ano de vida. Tal fato levou muitos
estudiosos a pesquisas e discussões permanentes, obtendo respostas que sinalizam o contato
da pele entre o RN prematuro e seus genitores o que denominou de “Método Canguru”
representando um modelo eficaz de atendimento a este RN com relação à melhoria da vida.
O nascimento de um prematuro é mais provável em qualquer uma das condições gestacional:
idade extrema (abaixo de 19 semanas e acima de 34 semanas), estado nutricional precário,
pré-natal deficiente, anomalias uterinas, condição socioeconômica ruim, placenta previa,
enfim. (KENNER, 2001)
De acordo com o Ministério da Saúde (2003), o método canguru é desenvolvido por etapas.
Portanto após o nascimento de um recém-nascido de baixo peso que, impossibilitado de ir
para o alojamento conjunto, necessita de internação na unidade. Nessa etapa, os
procedimentos deverão seguir os seguintes cuidados especiais:
 Orientar a mãe e a família sobre as condições de saúde da criança, ressaltando as
vantagens do método. Estimular o livre e precoce acesso dos pais à unidade neonatal,
propiciando sempre que possível o contato tátil com o RN. É importante que essas
visitas sejam acompanhadas pela equipe assistencial, para que orientações como
medidas de controle, de infecção (lavagem adequada das mãos), informações sobre os
procedimentos hospitalares utilizados e as particularidades ambientais possam ser
mais bem compreendidas pela família.Nessa etapa deverão ser iniciadas as medidas
para estimulo à amamentação. Dessa forma, ensinam-se os cuidados com as mamas, a
ordenha manual e a armazenagem do leite ordenhado. Deve-se implantar a co-
participação da mãe no estimulo à sucção e na administração do leite ordenhado, além
dos adequados cuidados de higienização.
 Nas situações em que as condições clinicas da criança permitirem, deverá ser iniciado
o contato pele a pele direto entre mãe e criança, progredindo até a colocação do
recém-nascido sobre o tórax da mãe ou do pai.
 Ressaltar, sempre, a importância da atuação da mãe e da família na recuperação da
criança.
 Após o parto, os primeiros cinco dias deverão ser utilizados para prestar todos esses
ensinamentos à mãe e à família. Portanto, deve ser assegurada à puérpera a
permanência na unidade hospitalar, pelo menos durante esse período, recebendo todo
o suporte assistencial necessário. (BRASIL, 2003)
No entanto, o bebê pré-termo, logo ao nascer, devido a suas condições, necessitará ser
separado de seus pais e ser cuidado por um período pela equipe de saúde. Contudo precisa ter
seu desenvolvimento afetivo preservado e, para que isso ocorra, necessitará da presença de
seus pais.
O luto pela perda do bebê imaginário e a adaptação ao bebê real se dá com todo o nascimento.
Esta perda se torna muito mais evidente quando se trata do nascimento de um bebê prematuro,
que não corresponde ao bebê idealizado. Segundo Mouta (2006), trata-se de uma tempestade
psíquica que se abate sobre o casal, em que a realidade se junta à fantasia, na qual o bebê
idealizado não corresponde ao bebê da incubadora.
Visando uma melhor compreensão dos resultados obtidos na pesquisa de campo realizada, os
resultados foram transformados também em gráficos, dados quali-quantitativos, conforme
apresentado abaixo. Os entrevistados demonstraram sentimentos frente ao primeiro contato
com o RN prematuro, entre os quais observou-se sentimentos de medo, tristeza, tranquilidade,
alegria, satisfação.
Gráfico 01 - Situação do recém-nascido internado
30%
Nascidos prematuros
70%
Nascido abaixo do
peso
Fonte: Dados da Pesquisadora, 2009.
Entre as participantes da amostra, 70% tinham seu filho internado por terem nascido
prematuros num total de 56 crianças; as outras 30% por terem recém-nascidos que nasceram
abaixo do peso, num total de 24 bebês.
Gráfico 02 - Faixa etária
5%
20%
15 a 29
30 a 35
35 a 40
55%
20%
Fonte: Dados da Pesquisadora, 2009.
Acima de
40
Nesta questão, a pesquisa aponta que 55% da amostragem se situa na faixa etária de 15
a 29 anos de idade; outros 5% possuem acima de 40 anos e 60% das mães entrevistadas estão
na faixa etária entre 15 e 29 anos. Isso indica que são mulheres jovens, muitas passando pela
experiência do primeiro filho e, portanto, bastante ansiosas, muitas vezes inexperientes e
assustadas com o fato de terem seu bebê internado tão prematuramente.
Gráfico 03 – Escolaridade
10%
30%
Segundo grau completo
segundo grau incompleto
60%
Ensino fundamental
Fonte: Dados da Pesquisadora, 2009.
Em termos de escolaridade, 30% das entrevistadas possuem o segundo grau completo, 60%
afirmaram possuir o segundo grau incompleto e 10% delas disseram ter apenas o ensino
fundamental.
Essa realidade retrata a situação comum do município onde grande parte das mulheres-mães
possuem um baixo nível de escolaridade, visto que a questão turística e a necessidade de
trabalhar cedo, contribuem para esses índices.
Gráfico 04 – Quais os sentimentos dos pais frente ao primeiro contato com o RN
Prematuro?
10%
Alegria
Ansiedade
30%
60%
Preocupação
Fonte: Dados do pesquisadora, 2009.
Nessa questão, 60% das entrevistadas afirmaram que a preocupação foi o sentimento
dominante frente ao primeiro contato com o RN Prematuro; 30% disseram que foi a ansiedade
em reconhecer os riscos de tal situação e os outros 10% que sentiram alegria apesar da
situação.
Esses sentimentos negativos configuram um cenário em que a mãe é confrontado com uma
sensação de irrealidade, em virtude da interrupção brutal da gravidez. Situação que para
Mouta (2006) se explica pelo fato de a mulher vê-se diante da emergência de se tornar uma
mãe prematuramente. Dentre os sentimentos mais evidentes, o do Medo e Tristeza se
destacam, visto que surge a partir da não correspondência do filho desejado ao filho real, pois
a mãe se encontra muitas vezes frustrada e ferida por não ter podido levar a termo sua
gestação.
A internação do RN prematuro na UTI é uma situação geradora de grande ansiedade e medo
para os pais, o que provoca a elaboração de sentimentos variados. Tal ambiente é para o
recém-nascido, um local de conservação e recuperação do seu bem-estar e de garantia de
sobrevida. Contudo é primordial a participação dos pais nos cuidados (alimentação, troca de
fraldas), na implantação de uma prática humanizada. Sendo o toque uma forma de
humanização e de extrema importância para os bebês prematuros.
Atualmente se reconhece a importância vital de uma relação estável e permanente durante os
primeiros anos de vida, mesmo quando o bebê é pré-termo. De acordo com a entrevista
realizada, os pais na sua maioria permanecem com o bebê, num período de 3 horas. (Figura II)
Gráfico 05 – Quanto tempo você fica com o seu bebê?
Mais de 6 horas
10%
20%
20%
6 horas
3 horas
1 hora
50%
Fonte: Dados da pesquisadora, 2009.
Embora fossem uma minoria as mães/pais que passavam mais de 6 horas com o seu bebê,
relataram que o carinho que é transmitido aos seus filhos durante o ato de tocar melhora o
estado do bebê, e que tentam passar o máximo de carinho e amor possível, no tempo que lhe é
permitido, e ressaltam, que a sua distancia é percebida como um sentimento ruim, uma
carência, uma saudade, que provoca nessa mãe/pai, até sinais de depressão.
No entanto, para as mães que passavam de 3 a 6 horas com seu bebê, relataram que a
condição de fragilidade do bebê prematuro devido ao seu aspecto físico e sua condição na
UTI neonatal fazia brotar o sentimento de incapacidade de cuidar de seu filho, pelo
sofrimento do bebê e por conta do estado emocional de cada mãe. Nas entrevistas percebeu-se
a falta de proximidade dos pais em relação aos seus filhos devido ao momento difícil e muitas
vezes inesperados por eles vivenciados, alguns chegaram a relatar que não conseguiam cuidar
de seu filho,pois ficava com medo de pegá-lo.
Para os bebês prematuros internados na unidade neonatológica, o fato da privação parcial de
suas mães, requer da equipe de enfermagem uma atenção especial, para que haja uma
estimulação do contado pele a pele para com os bebês, o qual tem um importante papel no
seu desenvolvimento psíquico.
Para Silva (2006) o toque faz parte do mecanismo de apego e deve ser incentivado de acordo
com as condições do paciente. E como esses bebês não tem contato a todo o momento com
suas mães/pais, é importante que a equipe de enfermagem durante o processo do cuidar
estimule o toque de forma afetiva. Sabe-se que o ambiente da UTI neonatal é estressante, mas
os profissionais e familiares devem ter disponibilidade para tocar o bebê, já que através desta
ação pode-se perceber diversos sinais do RN, além de acalentá-lo.
Em algumas entrevistas percebemos que o distanciamento dos pais em relação aos seus filhos
devido à situação de estresse por eles vivenciados, dificulta o toque por parte dos genitores. E
ao perguntar se sabiam a importância de tocar o seu filho a maioria disse que não, conforme
figura abaixo:
Gráfico 06 – Você sabe a importância de tocar o seu filho?
40%
Sim
60%
Não
Fonte: Dados da pesquisadora, 2009
Quase sempre, os pais hesitam em tocar um bebê muito pequeno ou doente, principalmente se
estão em incubadoras. Alguns pais necessitam fazer várias visitas ao berçário antes que
consigam tocar nos filhos. Segundo Mouta (2006) a condição de fragilidade do bebê
prematuro devido ao seu aspecto físico e sua condição na UTI neonatal, juntamente com o
fato da impossibilidade de permanência dos pais ao seu lado, protegendo e zelando por sua
saúde, gera em alguns pais o nervosismo.
Quando o bebê nasce é muito importante que sinta o toque da mãe. Essa é a primeira
linguagem que ele entenderá como afeto da parte de quem mais o ama. Este gesto de colo
diminui a ansiedade do bebê logo após a parte traumatizante do parto. O bebê deve estar em
contato direto com a pele da mãe, para que o processo de linguagem emocional se desenvolva
a partir desse momento. O bebê irá sentir-se logo ligado emocionalmente à mãe, e ao mundo.
Num bebé recém-nascido o fato de a mãe o tocar e manter um contato físico, faz com que o
bebê se desenvolva emocionalmente e fisicamente muito mais rápido do que se estiver
privado deste contato com a mãe.
Para Montagu (1988), pegar e segurar o bebê no colo não vai mimá-lo. A importância do
toque para um bebê não pode ser superestimada, um fato que agora é reconhecido como parte
do processo de vínculo encorajado pelos médicos. O vínculo com o bebê parece se estreitar
muito quando os pais têm um contato físico prolongado com o bebê imediatamente após o
nascimento. Dizem que as mães que foram separadas de seus filhos durante as duas primeiras
semanas após o nascimento são de alguma maneira, menos confiantes sobre suas habilidades
maternas intuitivas do que aquelas que passaram pelo processo de vínculo.
Para Montagu (1988), a pele do bebê é o órgão sensorial mais desenvolvido imediatamente
depois do nascimento, e o maior órgão do corpo. Sua estimulação pode ter um efeito profundo
no comportamento do bebê. O toque gentil, confiante e firme acalmará o bebê, assim como o
fará se sentir seguro do seu amor.
E como diz Klaus e Kennel (1992), quanto mais tempo uma mãe espera para ver o seu bebê,
mais tempo terá para imaginar que suas piores fantasias são verdadeiras. Deve-se encorajar a
mãe para ver seu filho e falar a respeito, mas jamais deve ser forçada para tocar em uma
incubadora ou entrar no berçário, sem que queira fazer isto.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da revisão de literatura foi possível perceber que o bebê possui mais chance de
sobrevivência, em geral, se tiver um contato maior com o corpo e o calor de sua mãe, seu
leite, sua voz, seu toque, seus braços envolvendo seu corpinho, ele será consolado quando
chorar e receberá seu carinho e seu afeto, ou seja, ele conhecerá uma proteção viva, humana,
que pulsa e responde a suas necessidades, fortalecendo dessa forma os laços afetivos. Esta
pesquisa proporcionou a compreensão mais de perto, dessa situação tão difícil, para otimizar o
atendimento nas unidades neonatologicas é importante que haja uma relação de confiança
entre a enfermagem e a família dos bebes, havendo sempre estímulos ao toque no RN
prematuro, tanto pela equipe de enfermagem como pela família, como forma de cuidado
humanizado.
A equipe de saúde tem um papel importante, evidentemente, mas o bebê não precisará ser
separado de seus pais, salvo em situações especiais, pois ao ser separado dos mesmos, ele será
privado de tudo aquilo que um bebê nascido a termo recebe ao nascer no que se refere a
cuidados parentais. Esta pesquisa demonstra assim a importância do toque como instrumento
de humanização da assistência ao RN, além de ser uma forma de cuidado que permite a
criação do vínculo família-bebê.
Portanto, em resposta á indagação que norteou esse estudo sobre qual a importância do
contato físico no processo de reabilitação do RN prematuro ou de baixo peso, pode-se afirmar
a partir das pesquisas realizadas que o toque ao bebê prematuro é de extrema importância para
sua recuperação. Observou-se que as mães/pais não tem a mesma percepção, na medida em
que relatam na figura III. Isso demonstra claramente uma falta de informação e descontrole
emocional, e que deve ser trabalhado até mesmo pela equipe de enfermagem, para que a
mesma seja parceira dos pais, tirando as dúvidas, ensinando o que eles podem fazer no
cuidado do seu filho, transmitindo segurança, explicando a importância do toque, servindo de
base emocional para a família desses bebês.
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ANEXO
Anexo 01
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO:
Você está sendo convidado a participar voluntariamente de uma pesquisa intitulada
IMPORTÂNCIA DO CONTATO FÍSICO NO BINÔMIO MÃE E RÉCEM NASCIDO
PREMATURO NA UNIDADE NEONATAL DO HOSPITAL DEPUTADO LUIS
EDUARDO MAGALHÃES PORTO SEGURO – BAHIA.
Procedimentos:
Para a realização do estudo será entregue a você um formulário contendo as perguntas
necessárias para conhecimento do objeto desse estudo que é a importância do contato físico
no binômio mãe e recém-nascido prematuro na unidade neonatal do Hospital Deputado Luis
Eduardo Magalhães Porto Seguro – Bahia.
Confidencialidade:
Toda informação obtida sobre você será mantida em poder dessa pesquisadora. Apenas
pessoas envolvidas neste estudo terão acesso a essas informações. Dados de identificação
pessoal não serão revelados.
Eu, _______________________________________________, declaro que fui informada, de
maneira clara, dos objetivos da pesquisa intitulada e que estou ciente e concordo com as
informações recebidas. Informo ainda que, a qualquer momento, poderei decidir não mais
participar desse estudo.
Porto Seguro, _____ de ___________________de 2009.
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