1a Edição
Traduzido por Lena Aranha
Rio de Janeiro
2009
Dedicatória
Para meus colaboradores no evangelho
Matt Schmucker
Bruce Keisling
e Aaron Menikoff
que, como Febe, têm “sido de grande auxílio para muita gente, inclusive para mim”
(Romanos 16.2, NVI).
Agradecimentos
CERTA VEZ, Richard Sibbes comentou que “o que a mente mais estuda é o
que o coração mais gosta”. Ao perceber como este volume seria grande, pergunteime quem o leria. Independentemente de quem pertence a essa companhia, sei
que fui ajudado por muitos outros a entender e a apresentar a verdade da Bíblia
por meio destes sermões.
Quatro grupos de pessoas, em especial, merecem meus agradecimentos por
me ajudarem com estes sermões. Os primeiros e mais imediatos são os editores, e
o principal entre eles é Jonathan Leeman. Depois de muitos amigos transcreverem
estes sermões, coube a Jonathan passar meses comparando os sermões transcritos
com meus manuscritos. Jonathan — amigo e irmão no ministério — usou sua
própria compreensão da Bíblia, sua formação teológica e sua experiência como
editor para tornar estes sermões mais precisos, mais claros, mais acessíveis e
melhores para você, o leitor. Você deve a ele mais do que pensa!
Mas estes sermões já existiam havia muito tempo antes de Jonathan sequer
vê-los, o que me leva a outro grupo de pessoas a quem tenho de agradecer: a
congregação e, em especial, os presbíteros da Igreja Batista na Colina do Capitólio
com quem tenho tido o privilégio de servir. A congregação, como um todo, tem
sido uma família maravilhosa para se pregar. E cada um de meus irmãos presbíteros exerce atenta e amorosa influência sobre mim e minha pregação. O principal
dentre os que influenciaram minha pregação seria Bill Behrens, e por duas razões:
a primeira, ele dedicou seu tempo, sábado após sábado, durante anos, para tornar
8
A Mensagem do Novo Testamento
meus sermões melhores; a segunda, foi Bill quem me encorajou a certificar-me de
que a Bíblia estivesse presente em cada sermão. Se o evangelho está claramente
presente em meus sermões, isso não se deve às escolas que frequentei. Não, Bill
foi o instrumento humano que Deus usou para isso.
Outro grupo de pessoas que Deus usou para me encorajar foram os professores que — por intermédio de seus livros — ensinaram-me a observar o
panorama mais abrangente da história bíblica. O principal entre esses autores
teria de ser Graeme Goldsworthy e Bill Dumbrell. Eles, juntamente com Don
Carson, ajudaram a suprir toda teologia bíblica apresentada nestes sermões.
Por fim, e de forma mais profunda, tenho de agradecer a minha família. Para
mim, os sermões surgem em momentos inconvenientes, e, sem dúvida, Connie,
Annie e Nathan foram os mais importunados por isso. Oro para que na eternidade
todos nós sintamos que essas inconveniências valeram a pena e que o tempo foi
bem usado. Enquanto isso não acontece, expresso meu amor e agradecimento.
Muitas outras pessoas merecem agradecimento. Um agradecimento especial
para Duncan Rein, o primeiro a demonstrar entusiasmo e a dedicar tempo e esforço para que meus sermões fossem impressos. Bill Deckard e a excelente equipe
da Crossway acreditaram neste projeto e cuidaram dele até sua conclusão. Vários
amigos me encorajaram. Poderia continuar a agradecer a outros que contribuíram,
mas a responsabilidade final por estes sermões é minha. O crédito do que é bom,
eu, com alegria partilho com outros; a falha pelo que estiver errado realmente
é minha. Agora, ofereço-os a você com a oração de que seu coração ame mais a
Deus e, assim, sua mente se dedique mais a estudar a Palavra dEle.
—Mark Dever
Igreja Batista da Colina
do Capitólio
Washington, D.C.
Junho de 2005
Prefácio
SEM DÚVIDA, EXISTE mais de uma forma correta de abordar a exposição
bíblica. Quando o pregador pesquisa uma longa seção de texto bíblico, consegue
expor as ideias abrangentes e apresentar o grande fluxo da lógica bíblica de forma
panorâmica. Quando ele se dedica a seções menores dando mais atenção aos
detalhes, atinge questões específicas e explica-as com muita profundidade. Os
dois estilos apresentam vantagens e desvantagens. Os dois métodos têm espaço
legítimo na pregação bíblica.
De tempos em tempos, examino passagens abrangentes da Escritura. Certa
vez, preguei todo o Novo Testamento em seis sessões de tempo integral para
um grupo de pastores russos. Em outra ocasião, examinei capítulos inteiros,
grupos de capítulos ou livros inteiros da Escritura em um único sermão. (Um
dos sermões mais populares que fiz, intitulado: “A Jet Tour Through Revelation”
[Um Rápido Tour por Apocalipse], foi uma única mensagem que cobria todo o
livro de Apocalipse.)
Contudo, esses tipos de visões panorâmicas foram raras exceções à minha
abordagem usual. Na maior parte de meu ministério, em que preguei do começo
ao fim do Novo Testamento, dediquei cuidadosa atenção às palavras, às frases
e aos versículos, em geral, devotando sermões inteiros a uma frase selecionada
de um único versículo. Esta é a forma como trabalhei sistematicamente de livro
10
A Mensagem do Novo Testamento
a livro da Escritura: frase a frase; versículo a versículo; linha a linha; preceito a
preceito. Contudo, com esse método, levei 35 anos para cobrir a maior parte do
Novo Testamento e ainda não terminei.
Mark Dever, em total contraste a isso, usou 28 sermões nos anos iniciais de
seu ministério na Igreja Batista da Colina do Capitólio, em Washington, D.C.,
para pregar do começo ao fim de todo o Novo Testamento — um sermão para
cada um dos 27 livros do Novo Testamento e um sermão extra dedicado ao
exame do Novo Testamento como um todo. Ele, de forma única e magistral, é
dotado para ensinar dessa maneira.
Felizmente para nós, os sermões do pastor Dever sobre todo o Novo Testamento foram colecionados neste livro. Assim, acho que este livro lhe fornecerá
uma nova e profunda avaliação de como a abordagem panorâmica pode ser valiosa.
Este é um exame maravilhoso do Novo Testamento que nos revela uma visão
panorâmica dele — e os temas centrais de cada livro — com incrível clareza e
acuidade. Tive dificuldade em parar de ler o livro.
Tendo feito relativamente poucas exposições investigativas desse tipo, sei
como é difícil fazê-la bem. Mark Dever faz isso de forma soberba. Ele cobre
uma gama abrangente de tópicos sempre de forma sucinta, acurada e com notável
cuidado e clareza. Ele é muito bom em perceber o panorama geral, o que nem
sempre é fácil de fazer. Mas ele faz com que a tarefa pareça fácil, e o resultado é
uma ferramenta valiosa que, sei, ajudará milhares de pessoas a entender o Novo
Testamento de forma mais acurada.
Sou grato pelo evidente amor de Mark Dever pela Palavra de Deus, por seu
compromisso em tratar a Escritura com cuidado, por sua disposição de levar
a sério a verdade da Bíblia e por sua habilidade de ensiná-la com tanta clareza.
Tudo isso aparece de forma poderosa neste livro. Minha oração é que o Senhor
abençoe estas páginas em prol do coração de milhares de leitores.
—John MacArthur
Pastor da Igreja Comunidade da Graça
Sun Valley, Califórnia
Presidente do The Master’s College e Seminary
Sumário
Prefácio de John MacArthur...............................................................................................09
Introdução: Conseguindo um Lugar Privilegiado.........................................................13
A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas........................................17
A Verdade sobre Jesus
1 A Mensagem de Mateus: Jesus, o Filho de Davi.........................................................37
2 A Mensagem de Marcos: Jesus, o Filho do Homem..................................................57
3 A Mensagem de Lucas: Jesus, o Filho de Adão...........................................................79
4 A Mensagem de João: Jesus, o Filho de Deus........................................................... 101
5 A Mensagem de Atos dos Apóstolos: Jesus, o Senhor Ressuscitado................... 125
Principais conceitos chaves
6 A Mensagem de Romanos: Justificação...................................................................... 153
7 A Mensagem de 1 Coríntios: Igreja............................................................................ 175
8 A Mensagem de 2 Coríntios: Fraqueza...................................................................... 197
9 A Mensagem de Gálatas: Fé.......................................................................................... 219
10 A Mensagem de Efésios: Graça.................................................................................... 245
11 A Mensagem de Filipenses: Humildade..................................................................... 271
12 A Mensagem de Colossenses: Nova Vida.................................................................. 293
13 A Mensagem de 1 Tessalonicenses: A Segunda Vinda............................................ 317
14 A Mensagem de 2 Tessalonicenses: Esperança.......................................................... 339
15 A Mensagem de 1 Timóteo: Liderança...................................................................... 361
16 A Mensagem de 2 Timóteo: Sucesso.......................................................................... 379
17 A Mensagem de Tito: Inícios....................................................................................... 399
18 A Mensagem de Filemom: Perdão............................................................................... 421
Vivendo em um mundo real
19 A Mensagem de Hebreus: Apegar-se ao Melhor...................................................... 439
20 A Mensagem de Tiago: Fé que Funciona................................................................... 455
21 A Mensagem de 1 Pedro: Quando as Coisas Ficam Difíceis................................. 473
22 A Mensagem de 2 Pedro: Certeza............................................................................... 491
23 A Mensagem de 1 João: O Cristianismo e a Carne................................................. 507
24 A Mensagem de 2 João: Verdade e Amor................................................................... 523
25 A Mensagem de 3 João: Por que se Dar a todo esse Trabalho?............................. 537
26 A Mensagem de Judas: Ter Fé em Tempos de Descrença....................................... 551
27 A Mensagem de Apocalipse: Pelo que Esperamos?................................................. 567
Introdução:
Conseguindo um Lugar Privilegiado
ALGUMAS COISAS só podem ser vistas de grande altura. Vá ao ponto
mais alto de uma cidade, e o que você vê? Vistas panorâmicas que encantam e
entusiasmam. “Uau! Veja como a cidade é grande.” “Oh, é assim que o sistema
de ruas funciona.”
Se você for um pouco parecido comigo, você ama essas vistas. Quando
amigos de fora da cidade me visitam, gosto de levá-los ao telhado do prédio da
nossa igreja. De lá, podemos avistar a vizinhança da Colina do Capitólio, além de
inúmeros pontos de referência dela e da cidade de Washington. A vista lembrame a comunidade incomum em que Deus nos pôs. E essa vista emociona-nos,
desafia-nos e inspira-nos.
Na faculdade, gostava de ler minha Bíblia e de orar em uma saída de incêndio
do dormitório que tinha uma boa visão do campus.
O assento da janela de um avião também é imprescindível para mim. “Aquela
é Chicago!” “Veja o Grand Canyon!” “Você tinha noção de quantos lagos essa
região possuía?”
Lembro-me da primeira vez que voltei aos Estados Unidos com minha
família depois de passar alguns anos na Inglaterra. Assim que o avião chegou à
14
A Mensagem do Novo Testamento
paisagem dos Estados Unidos, observei da janela e lembrei como o continente
americano é grande e despovoado, em especial, quando comparado com a colcha de plantações que, da janela do avião, vemos na Grã-Bretanha. Observar as
duas paisagens bem do alto as põe em diferente perspectiva e me fornece uma
compreensão mais rica a respeito delas.
Isso é o que esperava que esses “sermões panorâmicos” fariam por minha
congregação e o que espero que façam por você.
Acredito que você achará estes sermões incomuns quando os comparar com
a maioria dos sermões que já ouviu. Em geral, há duas variedades de sermões.
Algumas pessoas fazem sermões tópicos que se concentram em um determinado
tópico, como dinheiro, paternidade, céu ou arrependimento. Os sermões deste
livro não são tópicos nesse sentido.
Outras pessoas fazem sermões expositivos. O sermão expositivo seleciona uma
porção da Escritura, explica-a e, depois, aplica-a à vida da congregação. O texto
do sermão pode ser algo do tipo: “Honra a teu pai e a tua mãe”; “Jesus chorou”;
Efésios 2.1-10 ou Salmos 23.
Os sermões deste livro são mais expositivos que tópicos, mas eles são expositivos com uma diferença. Em vez de examinar uma Escritura específica com
microscópio, observamos o texto de um avião.
Alguns pregadores expositivos sentem que demonstram sua seriedade em
pregar a Palavra de Deus no número de anos que dedicam a um livro específico.
Talvez você tenha ouvido alguém dizer: “Nossa igreja dedicou dezoito semanas
ao relato de Judas!”, ou um pastor testemunhar: “Há dois anos e meio, quando
cheguei à igreja, comecei a pregar o capítulo 1 do Evangelho de Mateus e só
agora chegamos ao Sermão do Monte”. Depois, é claro, existem os ministros
puritanos, como Joseph Caryl ou William Gouge, que dedicam diversas décadas
a Jó e a Hebreus, respectivamente! Você consegue imaginar ficar no livro de Jó
toda manhã de domingo durante décadas?
Não me interprete mal. A Palavra de Deus é inspirada e merece uma vida
dedicada ao seu estudo. Podemos legitimamente pregar durante décadas sobre
qualquer livro da Bíblia. A Palavra de Deus contém belezas a serem examinadas
com cuidado, de tal maneira que os mais impacientes entre nós jamais verá.
Preocupo-me com o perigo dessa pregação se tornar tópica sob a aparência de
expositiva. Isso também pode impedir que as pessoas aprendam sobre todas as
diferentes partes da Palavra de Deus.
Existe outro tipo de pregação expositiva que, acho, é mais rara, mas que
também serve bem à igreja. É o que chamo de “sermão panorâmico”, como
os deste livro. O sermão panorâmico tenta transmitir o tema principal de um
livro específico da Bíblia em uma única mensagem. Se um sermão expositivo
Introdução:
Conseguindo um Lugar Privilegiado
15
típico apresenta o ponto do texto bíblico como o ponto do sermão, o sermão
panorâmico simplesmente transforma o ponto de todo o livro bíblico no ponto
do sermão. Fiz estes sermões fundamentado na convicção de que entendemos
com mais clareza aspectos de Deus e do seu plano quando examinamos o livro
como um todo, e não só quando examinamos com microscópio a estrutura de
uma frase de um versículo.
Bem, preparar estes sermões é mais difícil do que preparar um sermão sobre
porções menores da Escritura. Mas como acontece quando fazemos uma revigorante subida de montanha, fornecem vistas raramente vistas de tirar o fôlego
por sua beleza, e de assombrar por sua utilidade.
Não me lembro a primeira vez quando pensei em fazer esse tipo de sermão. Talvez tenha sido quando ensinava um mulçumano recém-convertido ao
cristianismo e pedi que me ensinasse o livro de Hebreus em três reuniões (achei
que ele aprenderia melhor me ensinando). A cada reunião, eu leria uma ou duas
sentenças do livro de Hebreus e perguntaria a ele onde o versículo se encaixava
no argumento do livro. Não estava muito preocupado com que ele pudesse citar
referências de capítulo e versículo, mas, sim, se ele havia entendido o fluxo geral
do livro e como alguma ideia do livro se encaixava nesse fluxo.
À medida que trabalhamos Hebreus dessa maneira, descobri que a visão
geral do livro não era só benéfica para o meu amigo, mas também para mim,
como pastor. Quando prego uma passagem como Efésios 2, abordo o capítulo
no contexto do livro? Ou seja, estou usando o capítulo 2 da mesma maneira que
Paulo o usa no argumento mais abrangente que desenvolve em Efésios?
A visão panorâmica do livro de Hebreus também me fez pensar em minha
congregação. Quero que os membros da minha igreja fiquem tão familiarizados
com os livros bíblicos que possam folheá-los com a mesma facilidade que têm
com os livros cristãos populares. Por isso, quando os membros da igreja lutam
com um conflito, recomendo que leiam o livro sobre resolução de conflito de
Ken Sande, mas também quero que tenham sido treinados pelo sermão panorâmico a fim de que se perguntem de imediato: “O que Tiago fala a respeito dessa
situação”. Quando os cristãos querem aprender sobre a vida cristã, deixe-os ler
C. S. Lewis e J. I. Packer, mas também os faça pensar em ler 1 Pedro e 1 João!
Quando a pessoa luta com o desânimo, sem dúvida, lê livros de Ed Welch sobre
depressão, mas também lê o livro de Apocalipse! Quando as pessoas se preocupam
se estão passando para o legalismo, espero que elas se voltem para os escritos
de Martinho Lutero e de C. J. Mahaney, a respeito da vida centrada na cruz,
mas também espero que se voltem para a Epístola de Gálatas. Fico igualmente
contente quando a congregação lê sobre a igreja de Dever, mas, pelo bem dessas
pessoas, preferiria que conhecessem o argumento de Paulo em 1 Coríntios.
16
A Mensagem do Novo Testamento
Claro que só posso fazer esse tipo de sermão em minha igreja, 66 vezes. Este
volume apresenta os 27 sermões que fiz sobre os 27 livros do Novo Testamento
(com mais um sermão que fiz sobre o Novo Testamento como um todo). Espero
que estes sermões não sejam apenas preleções áridas, e que não sejam apenas
pensamentos fortuitos sobre meus versículos favoritos de cada livro. Antes, fiz
cada um desses sermões com a convicção de que eram exposições genuínas da
Palavra de Deus — exceto as passagens que eram um pouco mais longas do que
as que normalmente comentava. Em cada sermão, tentei apresentar o peso e o
equilíbrio do livro da Bíblia, com aplicações que representam o impulso original
do livro, mas que também se aplicavam a nossa congregação na época em que
fiz o sermão pela primeira vez. Em reconhecimento ao fato de que os sermões
se referem à época em que foram proferidos, incluímos, no início de cada capítulo, a data original em que o sermão foi feito. Contudo, em reconhecimento
à contínua relevância da Palavra de Deus, estes sermões também são oferecidos
para que você os examine.
Espero que você se sinta encorajado pela forma como os vários Evangelhos
apresentam a vida de Jesus Cristo; ou como Paulo apresenta a Igreja em 1 Coríntios; ou o que Pedro diz ser normal para a vida cristã em 1 Pedro; ou o que
o idoso e o prisioneiro João, em Apocalipse, percebe em sua triunfante visão da
soberania de Deus sobre o mundo.
Minha vida foi muito beneficiada pela preparação destes estudos! Eles me
familiarizaram com os argumentos dos vários livros, fazendo com que entendesse
suas partes mais em seu contexto! Oro para que eles tenham abençoado nossa
congregação!
Bem, nós os entregamos a você com nossas orações e com nosso desejo de
que você também seja surpreendido, encante-se e seja edificado quando livros tão
familiares assumem novos aspectos de coerência, poder e convicção.
—Mark Dever
Igreja Batista da Colina do Capitólio
Washington, D.C.
Maio de 2005
A Mensagem do Novo Testamento:
Promessas Cumpridas
Promessas Cumpridas1
Em 1858, a legislatura de Illinois elegeu Stephen A. Douglas para o Senado
dos Estados Unidos, em vez de Abraham Lincoln. Depois disso, um amigo
solidário perguntou a Lincoln como ele se sentia com isso, ao que ele respondeu: “Bem, um pouquinho como o menino que dá uma topada no dedo do
pé; sou muito grande para chorar e fiquei muito machucado para rir”. Como
pastor na Colina do Capitólio, a cada período eleitoral, fico perplexo pelo fato
de que a vitória política de uma pessoa representa a perda política de outra.
Não importa quem vença a eleição, um grande número de pessoas — mais da
metade — fica desapontada com o resultado. As pessoas ficam tão envolvidas
com partidos políticos que o período de eleição pode ser de grande esperança
para algumas, da mesma forma que, com certeza, é de grande desapontamento
para outras.
Às vezes, aguentamos bem o desapontamento. Algumas pessoas estão tão
acostumadas com desapontamento que, na verdade, parecem vicejar com ele.
Como o personagem Bisonho dos contos do ursinho Puff, elas encontram
conforto em procurar nuvens sombrias em volta de cada raio de esperança. No
entanto, para a maioria de nós, o desapontamento é como um golpe no coração.
Fazemos o que podemos para superá-lo.
Você já viu o filme Terra das Sombras — a história do casamento tardio de C. S.
Lewis com Joy Davidman? Em uma cena no começo do filme, Lewis está sentado
em meio a diversos alunos, em Oxford, e refere-se a uma poesia que menciona a
18
A Mensagem do Novo Testamento
imagem de um botão de rosa perfeito. Lewis pergunta o que a imagem do botão
representa. Um dos alunos responde.
— Amor?
— Que tipo de amor? — pergunta Lewis impaciente.
— Intocável — diz o aluno.
— Que ainda não se abriu, como um botão? — diz outro aluno.
— Sim, fale mais.
Outro aluno acrescenta de forma ansiosa.
— O amor perfeito.
— O que o torna perfeito? — pergunta Lewis. — Vamos lá, Acordem.
— O ideal refinado de amor?
Bem, essa é uma pequena brincadeira sobre Lewis, pois ele escreveu uma tese
sobre o refinado ideal do amor. Contudo, Lewis replica:
— Muito bem, o que é isso? Qual é sua qualidade essencial?
Os alunos ficam em silêncio. Eles não sabem a resposta. Então o próprio
Lewis responde.
— Intangibilidade. A maior alegria não repousa na posse, mas sim no desejo.
O desejo que não desaparece. O êxtase eterno só é nosso quando o que mais
desejamos está fora do nosso alcance.
Bem, isso é verdade? Isso soa excelente como ideal artístico e romântico, mas a
vida é assim? O único êxtase eterno é o êxtase do desejo, não o do cumprimento?
Se for esse o caso, como podemos ter esperança sem a possibilidade de realmente
conseguir aquilo pelo que esperamos? Afinal, a dor do desapontamento é aguda,
porque o objeto do nosso desejo esteve próximo do nosso alcance e o perdemos.
Quer seja a perda de uma eleição, quer a ruína de um negócio, quer uma teoria
recusada, quer as férias canceladas, quer a derrota de uma lei, quer o fracasso de
uma perspectiva de emprego, quer a partida do ente amado, entendemos o que
o autor do provérbio quer dizer quando fala: “A esperança demorada enfraquece
o coração” (Pv 13.12). Em outras palavras, não podemos ignorar o que o nosso
coração se prende.
Em que você repousa sua esperança? Se você não puder responder a essa
pergunta, talvez não consiga se beneficiar do restante deste estudo. É crucial que
você e eu respondamos a esta pergunta: Em que repousamos nossa esperança?
Muitos de nossos problemas são provenientes do fato de ligarmos nossa esperança
a coisas que não foram feitas para suportá-la. Algumas coisas sustentam nossas
grandes promessas, mas, à medida que a vida continua, provam ser fantasias
passageiras. Outras coisas são realmente perigosas e destrutivas. Neste mundo
velho, não é só na política que as promessas feitas não são necessariamente
promessas cumpridas.
A Mensagem do Novo Testamento:
Promessas Cumpridas
19
Claro que esse é o ponto em que Deus entra. Como aquEle que nos criou,
Ele sabe como funcionamos melhor. Ele sabe pelo que devemos esperar e estabeleceu essas exatas coisas na Bíblia, para que ajustemos nossas esperanças a
elas. No livro anterior, A Mensagem do Antigo Testamento,2 observamos o “panorama
geral” do Antigo Testamento. Agora, temos uma visão panorâmica semelhante
do Novo Testamento.
No Antigo Testamento, vimos que Deus criou a terra e, depois, aguentou
pacientemente um povo que se rebelava contra Ele. A começar por Abraão, Ele
escolheu um povo especial para si mesmo. Esse povo, a nação de Israel, aumentou
e diminuiu por quase dois milênios até que suas esperanças, antes altas, quase se
desvanecessem quando sua nação foi esmagada pela última vez por um invasor
estrangeiro — o poderoso Império Romano. Quando essa derrota final ocorreu,
eles ficaram desapontados a ponto de ficar desesperados e deprimidos. A libertação deles nunca viria? Eles nunca seriam restaurados à comunhão com o Deus
pelo qual ansiavam havia tanto tempo? O mundo nunca seria restaurado?
O Novo Testamento conta a história de como todas as promessas feitas no
Antigo Testamento foram de fato cumpridas. E quando compreendemos o que
Deus está fazendo no grande esquema da história, nossos desapontamentos e
esperanças começam a entrar em perspectiva.
A fim de examinar todo o Novo Testamento, primeiro observaremos Cristo,
depois, o povo da aliança de Deus e, por fim, a renovação de toda a criação. Imagine
três círculos concêntricos. Primeiro, enfatizamos Cristo; depois, expandimos para
o povo da nova aliança; e, por fim, observamos toda a criação.
Cristo
A primeira pergunta que devemos formular em relação ao Novo Testamento
é: O Libertador prometido por Deus no Antigo Testamento realmente veio? O
Novo Testamento responde à pergunta do Antigo Testamento com um retumbante “sim”! E Ele não é apenas um Libertador humano comum, Ele é Deus
que veio em carne. O Filho unigênito, Jesus, que manifesta perfeitamente o Pai,
para que o povo de Deus o possa conhecer e ser libertado de seus pecados. O
Novo Testamento concentra-se diretamente em Cristo. Ele é a essência do Novo
Testamento. Ele é o centro da mensagem do Novo Testamento.
Deus sempre teve um plano para a criação. O Novo Testamento ensina que,
antes mesmo do princípio da história, Deus planejou enviar seu Filho como
ser humano para morrer pelos pecados de seu povo. Depois de Deus criar o
universo e a raça humana, Adão e Eva rebelaram-se contra o justo governo do
Senhor. Por isso, Deus chamou um povo especial para si mesmo em Abraão. Por
intermédio do descendente de Abraão, Jacó, ou Israel, a família cresceu para ser
20
A Mensagem do Novo Testamento
uma grande nação. Depois, a maior parte dessa nação foi destruída por exércitos
invasores por causa de seus pecados; enquanto os sobreviventes foram levados
cativos, foram exilados, dispersos, e apenas parte deles se reuniu de novo depois
do exílio. Contudo, o plano de Deus permaneceu firmemente no lugar em meio
a tudo isso. Nesse remanescente aos pedaços seria encontrado o Libertador por
vir, o Ungido — em hebraico, o “Messias”; em grego, o “Cristo”.
A coletânea de 27 livros que compõem o Novo Testamento começa com
quatro relatos da vida desse Messias — Jesus de Nazaré. Olhe o sumário de sua
Bíblia. Sob o título Novo Testamento, você encontra quatro livros no topo da
lista — Mateus, Marcos, Lucas e João. Depois desses quatros livros, tem um
quinto — Atos dos Apóstolos. Esses cinco livros afirmam que Jesus de Nazaré
é o Messias. Esses livros, por assim dizer, são documentários da vida de Jesus e
defendem o a sua chamada messiânica. Eles apresentam a seus leitores a incrível
notícia de que o Libertador prometido realmente veio! AquEle por quem o povo
de Deus esperava, veio! Quando Adão e Israel falharam e foram infiéis, Jesus
provou ser fiel. Ele resistiu às tentações. Ele levou uma vida sem pecado. Além
disso, Jesus cumpriu a promessa que Deus fez a Moisés de um profeta por vir
(Dt 18.15,18, 19). Jesus cumpriu a promessa que Deus fez a Davi de um rei
por vir (2 Sm 7.12,13). Jesus cumpriu a profecia do Filho do Homem divino
feita por Daniel (Dn 7.13,14). Esses quatro Evangelhos dizem que todas essas
promessas e mais outras foram cumpridas em Jesus de Nazaré. Na verdade, de
acordo com João 1, Jesus é a Palavra de Deus encarnada — o próprio Deus
vivendo na forma humana.
Ao nos voltarmos para esses Evangelhos individualmente, observamos que
é provável que o Evangelho de Mateus tenha sido escrito por uma comunidade
judaica. Ele enfatiza o cumprimento das profecias do Antigo Testamento em Jesus,
bem como as muitas profecias a respeito do seu nascimento. Mateus inclui cinco
seções principais de ensinamento, cada uma delas mostra que Jesus é o grande
profeta prometido por Moisés.
Talvez Marcos registre as lembranças de Pedro. O livro não diz isso, mas
várias coisas nele nos fazem pensar que Marcos compilou as lembranças de Pedro
a respeito de Jesus para os cristãos romanos, talvez por volta da época em que
Pedro foi morto por ser cristão. Talvez a igreja, ao ver os primeiros apóstolos
mortos, tenha desejado registrar fatos por escrito. O relato de Marcos é o mais
curto de todos os Evangelhos e talvez o mais antigo.
Lucas, o terceiro Evangelho, às vezes é chamado de Evangelho para os gentios.
Lucas enfatiza que o Messias não veio apenas para o povo judeu, mas para todas
as nações do mundo, e ele faz bom uso das profecias do Antigo Testamento que
envolvem essa promessa. Lucas também escreveu um segundo volume, o livro
A Mensagem do Novo Testamento:
Promessas Cumpridas
21
de Atos dos Apóstolos. Esse livro é a “parte dois” da obra de Lucas. Atos dos
Apóstolos mostra como Jesus expandiu ativamente sua igreja por intermédio
do seu Espírito. Por isso, a obra de Jesus — mesmo após sua crucificação, ressurreição e ascensão — continua à medida que a igreja cresce e à medida que
Deus estabelece essa nova sociedade. Lucas conclui sua narrativa com a prisão
de Paulo — embora este continue a ministrar — em Roma.
O quarto livro é o Evangelho de João, talvez o mais amado dos Evangelhos.
De alguma forma, ele é diferente dos outros Evangelhos. Ele não ensina uma
teologia diferente, mas enfatiza de forma especialmente evidente, a identidade
de Jesus como Messias e o fato de que o Messias é Deus. No capítulo 20, João
afirma de forma explícita esse propósito para seu Evangelho: “Estes, porém,
foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em seu nome” (20.31).
Estes são os quatro Evangelhos e o livro de Atos dos Apóstolos. Eles iniciam
o Novo Testamento mostrando que as promessas feitas a respeito do Messias, no
Antigo Testamento, foram cumpridas em Cristo.3 Eles proclamam as Boas Novas
de que Deus não só cumpre as promessas feitas ao seu povo do Antigo Testamento, mas também a nós, se nos arrependermos de nossos pecados e seguirmos
seu Filho. Se a coletânea dos Evangelhos e de Atos dos Apóstolos o impressiona
apenas como um livro de histórias antigas um pouco mais embolorado, você
não os leu muito bem. Leia-os de novo. Acho que você descobrirá mais do que
imagina, da mesma forma que eu descobri quando, como agnóstico, comecei a
lê-los com todo cuidado. Os Evangelhos mostram que Jesus, o Messias, não é
apenas Senhor das pessoas que viveram dois mil anos atrás, mas é o Senhor que
você precisa na sua vida.
O Povo da Aliança
Esse tema nos traz ao nosso segundo círculo concêntrico para compreender
a mensagem global do Novo Testamento. Cristo está no centro da mensagem
do Novo Testamento, depois, movemo-nos para a parte mais externa, seu povo
especial da aliança. Os Evangelhos mostram vislumbres da obra de Cristo entre
seu povo, em especial, entre os discípulos. Contudo, sua obra realmente ganha
força no livro de Atos dos Apóstolos e, depois, nas epístolas do Novo Testamento. Conforme observaremos nos Evangelhos, o próprio Deus tomou a forma
humana a fim de manifestar sua imagem em Jesus Cristo. Todavia, o Antigo Testamento ensina que Deus fez os seres humanos — todos nós — a sua imagem
para manifestar sua imagem na criação. Portanto, à medida que lemos o Novo
Testamento, a obra transformadora e clarificadora de imagem de Cristo entre seu
povo especial da aliança, emerge como o segundo tema dominante.
22
A Mensagem do Novo Testamento
Bem, sei que hoje não se usa muito o termo “aliança”. Se é que se usa, ele
soa como termo legal. Em nosso estudo do Antigo Testamento, consideramos
a linguagem “aliança” usada na antiga Israel e constatamos que não é uma linguagem fria, legal; é a linguagem de relacionamento. Por isso, nos Evangelhos,
Jesus usa a linguagem de aliança quando partilha a última ceia com os discípulos:
“Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lc
22.20). Usam-se alianças para formar novos relacionamentos, motivo pelo qual
Jesus veio ao mundo: estabelecer um novo relacionamento para seu povo com
Deus, pois esse relacionamento fora destruído pelo pecado.
No início do Evangelho de João, Jesus diz algo muito estranho: “Derribai
este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19). Naquele momento, Ele estava
no Templo de Jerusalém; mas, a seguir, diz aos discípulos que falava sobre seu
próprio corpo (2.21,22). Ele mesmo era o templo que seria destruído e reconstruído. Ele seria o novo local de reunião de Deus com seu povo, da mesma forma
como o Templo de Jerusalém fora nos dias antigos. Ele seria o mediador entre
Deus e o homem. Conforme já observamos, Jesus Cristo cumpriu a promessa do
Antigo Testamento de que o Messias viria como profeta e Rei. Contudo, para
libertar seu povo do pecado e estabelecer a nova aliança, Jesus também cumpriu
a promessa de que o Messias viria como Sacerdote. Como os sacerdotes levíticos
do Antigo Testamento, Ele intercederia entre Deus e o homem com o sacrifício
de sangue. Em última instância, o resgate que o povo de Deus precisava era o
resgate de seu pecado.
O templo, os sacerdotes e os sacrifícios do Antigo Testamento não podiam
realizar de forma eficaz (nem nunca se pretendeu que pudessem) a obra de intercessão e de reconciliação, o que nos leva ao enigma do Antigo Testamento. Em
Êxodo 34, Deus revela-se como o Senhor “que perdoa a iniquidade” (veja 34.7).
A seguir, na mesma sentença, ele diz “que ao culpado não tem por inocente”. O
enigma é este: Como Deus pode perdoar a iniquidade e ao culpado não ter por
inocente? Os sacerdotes levíticos não podiam resolver o enigma com o sacrifício
de touros e bodes (Hb 10.4). Claro que a resposta do enigma é Jesus. Ele veio
como Sacerdote, sacrifício, templo e substituto a fim de ser o mediador entre Deus
e o homem ao tomar sobre seu corpo a punição de Deus pelo pecado. Assim,
Deus poderia perdoar a maldade de seu povo e ainda garantir que a maldade deles
fosse punida. O Novo Testamento oferece a resposta para o enigma apresentado
no Antigo Testamento. A morte de Jesus na cruz permite que Deus tanto perdoe
como puna. Cristo forma a nova aliança — Ele restabelece o relacionamento
entre Deus e seu povo — com seu sangue.
Não que o Antigo Testamento não prenuncie isso. Em todo o relato do
profeta Isaías, o Senhor promete:
A Mensagem do Novo Testamento:
Promessas Cumpridas
23
Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores
levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele
foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo
que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados. Todos
nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho,
mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos (Is 53.4-6).
Isaías disse essas coisas séculos antes do nascimento de Cristo. No entanto,
foi exatamente isso que Deus fez por nós em Cristo! Os Evangelhos deixam
claro que Jesus meditou a respeito da passagem de Isaías e sabia que cumpriria
aquelas mesmas profecias. Por isso, Ele ensinou aos discípulos: “Porque o Filho
do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida
em resgate de muitos” (Mc 10.45). Após sua ressurreição, “começando por
Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as
Escrituras”. Ele também lhes disse: “Assim está escrito, e assim convinha que
o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos; e, em seu nome,
se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações,
começando por Jerusalém” (Lc 24.27,46,47).
Cristo não veio para si mesmo. Ele veio para o seu povo. Ao ler o Novo
Testamento, você não só constata que Jesus é o Messias, como também o que
isso representa para nós. Conforme Paulo escreveu: “Deus enviou seu Filho,
nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei,
a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gl 4.4,5). Cristo veio para fazer um
povo para si mesmo.
O capítulo 5 de Apocalipse é uma das passagens mais extraordinárias do
Novo Testamento. O apóstolo João recebe uma visão da sala do grande trono de
Deus no céu. Enquanto João observa, o decreto de Deus para o resto da história é
trazido para a sala em um livro. João quer muito saber o que essa história contém.
O que Deus determinou? Mas o livro está selado, por isso, ele começa a chorar.
Um ancião aproxima-se de João e diz: “Não chores; eis aqui o Leão da tribo de
Judá, a Raiz de Davi, que venceu para abrir o livro e desatar os seus sete selos”
(Ap 5.5). João levanta os olhos para ver esse Leão da tribo de Judá, esse poderoso
rei dos animais, mas o que ele vê? “E olhei, e eis que estava no meio do trono [...]
um Cordeiro, como havendo sido morto” (5.6). O feroz Leão que Deus envia
para devorar seus inimigos é um Cordeiro que Ele envia para ser morto. Essa
não é a maneira como você e eu resgataríamos um povo. Se fôssemos diretores e
produtores da vinda messiânica, enviaríamos alguém que venceria as pesquisas de
opinião pública, que venceria todas as batalhas e que traria tudo que nossa carne
deseja. Mas não foi dessa maneira que Deus agiu. O inimigo a ser devorado é o
24
A Mensagem do Novo Testamento
pecado. Por essa razão, Ele enviou um sacrifício para morrer em nosso favor. O
Leão da tribo de Judá é o Cordeiro que foi morto.
Deus tinha plena justificativa para nos deixar eternamente separados dEle,
no inferno, como punição por nossos pecados; todavia, em seu grande amor,
Ele não fez isso. Ele enviou seu Filho, que veio e levou uma vida perfeita e que,
portanto, não merecia a ira nem a punição pelo pecado. Cristo morreu na cruz
especificamente para tomar o lugar de todos que se voltam para Ele e crêem
nEle. Em troca por nossa pecaminosidade, recebemos a santidade dEle. Assim,
em Cristo, somos declarados santos diante de Deus e somos reconciliados em
um relacionamento eterno com Ele!
Exatamente o que a Epístola aos Hebreus menciona e que nunca aconteceu no
Antigo Testamento acontece, agora, no Novo Testamento. No Antigo Testamento,
o povo de Deus era puro apenas de forma cerimonial. A aliança do Antigo Testamento era real, mas parcial. Os profetas sabiam disso e prometeram que haveria
uma nova aliança. Falando por intermédio do profeta Jeremias, Deus disse:
Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de
Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais,
no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porquanto
eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.
Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz
o Senhor: porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração; e eu
serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. [...] porque perdoarei a sua maldade
e nunca mais me lembrarei dos seus pecados (Jr 31.31-33,34b).
Bem, no Novo Testamento, finalmente, Deus tem um povo que não é puro
apenas de forma cerimonial; a culpa do pecado deles foi de fato removida por
causa da morte de Cristo na cruz.
Hoje, em Cristo, nós, os cristãos, somos considerados totalmente justos e santos
em nossa vida, conforme atestado por nossa maneira de viver e de interagir uns com
os outros. De maneira alguma somos perfeitos. Se você tem dúvida em relação a
isso, pegue um espelho. No entanto, crescemos e melhoramos com a ajuda de Deus,
lidando com a vida de uma maneira que traga glória e honra a Ele, sem pretender
que não tenhamos desapontamentos, mas sabendo para quem nos voltar diante
desses desapontamentos e em quem pôr nossas esperanças. Deus está nos fazendo
dEle, e aguardamos a conclusão de sua obra. Pois, nesse dia, seremos santos de
forma plena, pessoal e final, da maneira como hoje somos santos em Cristo.
Em tudo isso, a salvação cristã é passado, presente e futuro. Por isso, Paulo
pôde dizer aos cristãos efésios que eles foram salvos (Ef 2.8,9), aos cristãos co-
A Mensagem do Novo Testamento:
Promessas Cumpridas
25
ríntios que eles estão sendo salvos (1 Co 1.18) e aos cristãos romanos que eles
devem ser salvos (Rm 5.9). Essa salvação realizada, em andamento e prometida,
distingue o povo da aliança de Deus do restante da humanidade.
O sentido disso tudo ocupa quase todo o restante do Novo Testamento.
Se você olhar o sumário do Novo Testamento, encontrará primeiro os quatro
Evangelhos. A seguir, o livro de Atos dos Apóstolos, que é realmente a transição
dos Evangelhos para os livros que tratam da maneira que devemos viver como
o povo de Deus. Em Atos dos Apóstolos, o evangelho se expande para fora de
Jerusalém alcançando a Judeia, Samaria e, com as jornadas missionárias de Paulo,
os confins do mundo. Os outros livros do Novo Testamento, depois de Atos dos
Apóstolos, são epístolas escritas para os cristãos primitivos que tratam sobre o
que representa viver como o povo especial da aliança de Deus, uma maneira de
viver distinta da do resto do mundo.
As treze primeiras epístolas foram escritas pelo apóstolo Paulo, ex-rabino e
fariseu, convertido de forma extraordinária por Deus enquanto viajava para, como
ele mesmo diz, perseguir cristãos “até à morte” (At 22.4). Suas epístolas estão
ordenadas no Novo Testamento da mais longa para a mais curta — primeiro
as epístolas às igrejas e, depois, aos indivíduos. Em sua primeira epístola, aos
Romanos, Paulo explica que Deus é fiel à sua aliança por intermédio de Cristo.
Deus, por intermédio de Cristo, providenciou justiça para seu povo, justiça essa
que, como no caso de Abraão, é-nos creditada pela fé.
A seguir, 1 e 2 Coríntios foram escritas para uma igreja com muitos problemas. A igreja vivia em uma sociedade muito secular, portanto, Paulo tentava
ajudá-los a saber como levar uma vida santa, especial e distinta em uma cultura
ímpia. Você encontra muita coisa interessante nessas duas epístolas, como o
famoso capítulo sobre o amor (1 Co 13). Na Segunda Epístola aos Coríntios,
Paulo defende de forma apaixonada seu ministério.
Se você quiser apenas o que é mais contundente no ensinamento de Paulo,
a carta aos Gálatas é um bom resumo disso. Ele é bastante claro a respeito do
que fala e do que não fala.
Em Efésios, Paulo escreve à igreja que Deus está criando. Deus sempre planejou
criar a igreja, e ela é uma nova sociedade que reúne judeus e gentios em Cristo.
Filipenses — com frequência chamado de o mais alegre livro do Novo
Testamento, porque parece que Paulo não tem nenhuma palavra atravessada a
dizer — encoraja seus leitores a se regozijar no Senhor. A epístola inclui o belo
hino do capítulo 2 descrevendo como Cristo, embora igual a Deus, fez-se nada
e se entregou para morrer na cruz (Fp 2.6-11).
Colossenses é a respeito da supremacia de Cristo sobre tudo e de algumas
implicações que isso tem para nossa vida.
26
A Mensagem do Novo Testamento
A primeira e a segunda carta aos Tessalonicenses são as primeiras epístolas de Paulo. Parece que algumas pessoas de Tessalônica ouviram a respeito
da Segunda Vinda de Cristo e, ao interpretar isso erroneamente, deixaram
o trabalho. Eles estavam apenas se comportando como fanáticos à espera
de que Deus fizesse alguma coisa. Por isso, Paulo escreve e diz para que
arrumem trabalho.
A seguir, estão as epístolas pessoais de Paulo, escritas para seus amigos
pessoais. Paulo escreveu 1 e 2 Timóteo para Timóteo, jovem ministro que ele
doutrinou e treinou. As cartas pretendiam encorajar esse jovem cooperador em
seu trabalho como presbítero. A Segunda carta a Timóteo, provavelmente, foi a
última que Paulo escreveu.
A Epístola a Tito foi escrita para um amigo de ministério a quem Paulo deixou
na ilha de Creta para instituir os presbíteros das novas igrejas e para completar
outros negócios não concluídos.
Por fim, Paulo escreveu uma carta muito breve para Filemom, que você teria
facilidade em ler em cinco minutos. Filemom era dono de um escravo fugitivo
que se encontrou com Paulo e se tornou cristão. É interessante observar como
Paulo lida com um dono de escravo.
O restante do Novo Testamento compreende um segundo conjunto de
epístolas, nenhuma das quais foi escrita por Paulo. Há nove delas, e, mais uma
vez, elas estão dispostas por ordem de extensão. O autor da primeira epístola
desse segundo conjunto, Hebreus, é desconhecido. O livro de Hebreus ajudanos a entender a relação entre o Antigo e o Novo Testamentos e também o que
representa para nós ser o povo da nova aliança de Deus. É evidente que alguns
cristãos consideravam voltar para alguma versão da antiga aliança que Deus
fizera com Moisés. Afinal, aquelas simples reuniões cristãs na casa de alguém,
destituídas de qualquer grande pompa e cerimônia, pareciam inexpressivas. No
Templo de Jerusalém, havia incenso, sacrifícios, vestimentas extravagantes, grandes cornetas e assim por diante. Tudo que parece especial pode, até mesmo, ser
satisfatório do ponto de vista religioso. Por isso, as pessoas começavam a voltar
atrás. O autor de Hebreus responde a isso dizendo: “Preste bem atenção. Sob a
antiga aliança, temos sacerdotes que morreram por causa do próprio pecado. E
os sacrifícios intermináveis de bois e bodes que eles fizeram deixavam a pessoa
pura apenas do ponto de vista cerimonial. Mas veja o que vocês têm em Cristo!
O Filho eterno e sem pecado de Deus entregou-se de uma vez por todas para
fazer seu povo verdadeiramente puro e santo. O sangue dos sacrifícios anteriores
apenas apontava para Ele”.
A Epístola de Tiago é muito prática. Ela descreve como viver a vida cristã
demonstrando a preocupação prática pelos outros.
A Mensagem do Novo Testamento:
Promessas Cumpridas
27
A Primeira e a Segunda Epístolas a Pedro são relevantes para a igreja de hoje
porque foram escritas para cristãos que começavam a passar por dificuldades por
causa de sua fé. Isso os confundiu. Acho que eles presumiam o seguinte: “Se estou
vivendo da forma correta, tudo não deveria correr bem em minha vida?” Pedro
responde: “Na verdade, se observarem a vida de Jesus, vocês percebem que essa
não é uma boa suposição. De fato, viver da forma correta talvez signifique que a
vida não seja fácil, pelo menos, não neste mundo”. As duas epístolas encorajam
os cristãos a perseverar na fé, tendo Cristo como exemplo. A segunda epístola
também adverte sobre o perigo dos falsos mestres.
Primeira, Segunda e Terceira João são três breves epístolas escritas para encorajar os cristãos em sua vida de amor e obediência fiel ao Senhor.
Judas é uma epístola curta, semelhante a 2 Pedro, que adverte contra os
falsos e imorais mestres.
Essas são as instruções do Novo Testamento para nós em relação ao que
representa ser o povo da aliança de Deus. No Novo Testamento, as promessas
feitas para o povo santo no Antigo Testamento são cumpridas no povo de Deus
da nova aliança. Se somos cristãos, elas são mantidas em nós hoje.
Criação
Em muitos cultos, você ouve a oração: “Venha o teu Reino. Seja feita a tua
vontade, tanto na terra como no céu” (Mt 6.10). Você já se perguntou qual é o
sentido dessas palavras? Elas saem da nossa boca com tanta facilidade. Muitos
de nós dizemos essas palavras desde a infância.
“Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu.”
Pense por um momento nos tipos de pessoas que protegem seu coração
porque querem evitar mágoas ou desapontamentos. As únicas esperanças que se
permitem são as que podem realizar. As únicas promessas que ouvem ou fazem
para si mesmas são as promessas que têm poder para cumprir. Contudo, limitar
nossas promessas desse jeito contrapõe-se totalmente ao cristianismo. Se você zela
por seu coração dessa maneira, encorajo-o a examinar o evangelho. Pedro, como
cristão, diz: “... aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça”
(2 Pe 3.13); e isso está totalmente fora do nosso poder de realização. Nenhum
partido escolhido, nenhum esquema econômico, nenhuma promoção no trabalho
e nenhum relacionamento bem-sucedido pode realizar as grandes coisas pelas
quais esperamos como cristãos. Aguardamos o cumprimento de nossa primeira e
última esperança: o mundo inteiro ser restaurado, da mesma forma como o plano
de Deus, no Novo Testamento, estende-se de Cristo para seu povo da aliança no
círculo mais externo — toda a sua criação. Em outras palavras, esperamos a vinda
do seu Reino e que sua vontade seja feita, “tanto na terra como no céu”.
28
A Mensagem do Novo Testamento
É isso que encontramos no final do Novo Testamento, no livro de Apocalipse.
Ele também é uma epístola, mas é uma epístola incomum na qual o apóstolo João
descreve algumas visões que Deus lhe concedeu. Em certos aspectos, a epístola
apocalíptica de João recupera algumas tradições proféticas do Antigo Testamento
ao destacar os grandes eventos que se sucederão aos habitantes da terra. O livro
de Apocalipse, mais especificamente, descreve a consumação do povo de Deus,
no lugar de Deus e no relacionamento certo com Ele. A igreja militante torna-se
a igreja triunfante — a igreja vitoriosa no céu. E os céus e a terra são recriados
para sempre (veja Ap 21.1-4; 21.22—22.5).
A Bíblia não apresenta os cristãos como platônicos nem gnósticos — pessoas que acham que este mundo e as coisas materiais não importam, que acham
que apenas a vida espiritual após a morte tem importância. Do começo ao fim
do livro de Apocalipse e em todo o Novo Testamento, os autores enfatizam a
natureza física da ressurreição. Jesus ressuscitou fisicamente, e sua ressurreição é
chamada de “as primícias”. Ela inicia o que vivenciaremos na ressurreição final da
morte. Seremos acolhidos para estar com Deus para sempre, mas essa não é uma
proposição de negação do mundo. O plano de Deus para o mundo não existe em
algum plano etéreo distante da realidade concreta. Há um versículo interessante
no livro de Apocalipse que diz: “E as nações andarão à sua luz [de Cristo], e os
reis da terra trarão para ela [a cidade do céu] a sua glória e honra” (Ap 21.24).
Na consumação final da criação, os reis da terra apresentarão todo seu esplendor
e toda a grandeza cultural do mundo diante da assembleia celestial reunida; e
todas essas coisas demonstrarão a glória de Deus, à medida que descobrimos o
plano dEle para a criação. Não só o que Marcos, o pregador, ou Maria, a professora da Escola Dominical, trazem serão considerados coisas de valor. Antes,
as coisas que você e eu fazemos em nossa vida diária nos negócios, na educação,
no governo, nos cuidados de saúde e na nossa família — se as fizermos para o
Senhor — serão apresentadas no último dia e acrescentadas ao brilho da glória
de Deus. Essas coisas fazem parte do plano de Deus para o mundo. E aqui, no
fim, a santidade do povo de Deus finalmente será completa, quando estivermos
em casa com Ele. João escreveu em sua primeira epístola: “Amados, agora somos
filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos
que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é
o veremos” (1 Jo 3.2). O fim será como o princípio, só que melhor. O jardim do
Éden, em algum sentido, será restaurado. Deus habitará com seu povo. O livro
de Apocalipse apresenta a cidade celestial completa como um cubo perfeito, o
que nos faz lembrar o Santo dos Santos do templo do Antigo Testamento. O
Santo dos Santos que representava a presença de Deus na terra também tinha a
forma de cubo. Só que esse cubo celestial não está restrito à entrada dos sumos
A Mensagem do Novo Testamento:
Promessas Cumpridas
29
sacerdotes uma vez por ano, como na antiga Israel; todos os filhos de Deus entrarão na presença dEle, e viveremos com Ele para sempre! É assim que o livro
chamado Novo Testamento termina.
Acho essa uma boa maneira para o Novo Testamento acabar. Esse final
fornece-nos, como cristãos, excelentes notícias a darmos ao mundo. Hoje, vivemos um tempo de espera, mas esperamos com e por Deus. Afinal, o livro de
Apocalipse foi escrito por um homem, na casa dos noventa anos, que fora exilado
em uma ilha pela força mais poderosa da terra, o Império Romano. Naquela
época, os cristãos eram mortos por causa de sua fé. Ele estava muito desesperado
e dependia totalmente de Deus. Contudo, estava cheio de esperança, porque sua
esperança não repousava nas circunstâncias exteriores. Sua esperança repousava
no Deus soberano que governava acima dos imperadores romanos. Foi nesse
ponto que desceu a cortina do Novo Testamento.
Na Escritura, Deus promete que a terra ficará repleta do conhecimento da
glória dEle, e a promessa, com certeza, será cumprida em sua nova criação.
Conclusão
Claro que alguns desapontamentos têm utilidade. A ruína de nossos planos
acalentados, com frequência, torna-se o passo que damos em direção ao verdadeiro
bem que Deus tem a nossa espera. Algumas das mesmas coisas que você espera
para este instante são o que Deus, em seu grande amor, quer tirar de suas mãos
para que você possa receber dEle o que é melhor. Paulo aprendeu isso quando
orou três vezes a Deus para que removesse o espinho de sua carne. Deus disse
a Paulo que a força dEle se aperfeiçoaria na fraqueza de Paulo. Assim, Paulo
regozijou-se em se tornar fraco para a glória de Deus. E é isso que encontramos
em nossa vida. Quando nos apegamos ao mundo com toda nossa força, logo
percebemos que não conseguimos nos sustentar. Conforme Jesus disse: “Pois que
aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 8.36).
Deus tem algo muito melhor do que todo o mundo para seus filhos.
No último parágrafo da série de livros As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis,
o autor capta algo da natureza da esperança cristã. Ele escreve:
E, à medida que Ele falava, já não lhes parecia mais um leão. E as coisas que
começaram a acontecer a partir daquele momento eram tão lindas e grandiosas
que não consigo descrevê-las. Para nós, este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer, com absoluta certeza, que todos viveram felizes para sempre. Para
eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história. Toda a vida deles
neste mundo e todas as suas aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e
a primeira página do livro. Agora, finalmente, estavam começando o Capítulo
A Mensagem do Novo Testamento
30
Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua
eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior.4
Após considerar os mistérios de Deus, a sua misericórdia para conosco em
Cristo, e a esperança que temos como filhos da aliança dEle, Paulo passa para
a doxologia, dizendo: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como
da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis,
os seus caminhos!” (Rm 11.33).
Assim, espero ter sido claro: o ponto do Novo Testamento, na verdade, o ponto
de toda a Bíblia é que Deus nos fez promessas, Ele cumpriu essas promessas, e
somos convocados a confiar nEle, pois Ele é o cumpridor de promessas! Deus
revelou-se para a humanidade por meio de suas promessas. Por isso, a fé é tão
importante. No fim do dia, a Bíblia não repousa na prateleira como um objeto
passivo de investigação. No fim do dia, ela vira-se, olha para nós e diz: “Você
crerá e confiará?” Ou, como a senhora Sabedoria do livro Provérbios, diz-nos:
“Quem confiará? Quem seguirá? Quem acreditará no que digo?”
Deus entrega sua Palavra e suas promessas para nós. Ele convoca-nos a confiar
em sua Palavra e a crer em suas promessas. No jardim do Éden, Adão e Eva não
creram. Jesus creu durante toda sua vida e, em especial, no jardim do Getsêmani.
E quando você e eu ouvimos a Palavra de Deus e cremos nela, somos restaurados
ao relacionamento com Ele para o qual fomos feitos. Essa é a esperança na qual
podemos confiar, pois essa esperança não nos desapontará. A Bíblia — o Antigo
e o Novo Testamentos — diz respeito a isso.
Oremos:
Senhor, nós o louvamos por não nos ter deixado sozinhos, apesar de termos pedido que saísse de
nossa vida. Nós o louvamos por ter enviado Jesus como o Messias, e pelo fato de Ele não ter vindo
só para demonstrar sua santidade e nos excluir, mas para nos incorporar em sua santidade e nos
fazer seu povo. Ele, com amor, misericórdia e perdão, veio e contou-nos sobre o amor do Senhor ao
entregar-se totalmente, para que pudéssemos ser feitos aceitáveis para o Senhor. Nós o louvamos,
Senhor Deus, pelo amor que, em Cristo, demonstra por nós e pelo povo que está preparando para
si mesmo. Oramos para que o Senhor ponha em nosso coração uma esperança que nos impulsione
a viver como o novo povo que o Senhor nos fez para ser, confiando no Senhor e em sua Palavra.
Deus, o Senhor deu-se totalmente para nós. Oramos para que o Senhor venha e tome toda nossa
vida e nos use para sua glória, em nome de Jesus. Amém.
Questões para Reflexão
1. Você já recebeu, ou alcançou, uma coisa pela qual buscou por muito tempo
apenas para ficar desapontado com ela? Quando? Por que você ficou desa-
A Mensagem do Novo Testamento:
Promessas Cumpridas
31
pontado? Existe alguma coisa neste mundo digna de ser desejada que não
seja assim?
2. Qual é o principal argumento dos quatro Evangelhos?
3. O que quer dizer “Cristo”? O que quer dizer “Messias”?
4. Explique o enigma do Antigo Testamento. Explique como apenas Cristo
resolve esse enigma.
5. Conforme observamos, Jesus, o Leão da tribo de Judá, veio para devorar o
inimigo, o pecado. Como o Leão devorou esse inimigo?
6. De modo geral, o que as epístolas do Novo Testamento tentam realizar?
7. O que significa quando nos referimos a Cristo como nosso “Sacerdote”?
Como Ele age como nosso Sacerdote?
8. Conforme observamos, hoje, os cristãos são contados como perfeitamente
justos, embora não sejamos de maneira alguma perfeitos. Isso é uma contradição? Como isso funciona?
9. Consideramos, no texto, o tipo de pessoa que tenta proteger seu coração
ao esperar somente coisas que elas têm o poder de controlar ou de fazer
acontecer. Depois, vimos que o cristianismo chama para exatamente o oposto
disso. Como? Por quê?
10.Qual é a importância de a cidade celestial ter a forma semelhante a de um
cubo?
11. Conforme consideramos, algumas das mesmas coisas que você espera para
este instante são o que Deus, em seu grande amor, quer tirar de suas mãos
para que você possa receber dEle o que é melhor. O que Ele pode querer tirar
das suas mãos? A que sonho, esperança, ambição, exigência, expectativa, posse,
pessoa, você está firmemente apegado que Ele possa pedir que renuncie?
12. Renunciar às coisas pelas quais ansiamos requer um tipo de morte — a
morte de um desejo. E é difícil escolher essa morte de boa vontade. Isso
requer que creiamos — realmente creiamos! — que o que Deus promete é
ainda melhor. Você lembra-se de algum momento de sua vida no qual Deus
provou ser fiel a sua promessa de lhe conceder algo melhor? Você acha que
Ele fará diferente da próxima vez?
13. O fim do livro A Última Batalha, de Lewis, é maravilhoso, não é mesmo? Uma
estrofe do hino “Graça Maravilhosa”, de John Newton, evoca um sentimento
similar ao dizer: “Dez mil anos com o Senhor habitar; como o sol a brilhar
[...]” Reserve alguns momentos para meditar, como as coisas que pareceram
tão importantes para você nessa última semana parecerão daqui a dez mil
anos? Daqui a dez mil anos, a contar de agora, o que você acha que gostaria
de ter feito na próxima semana?
14. Diga em um minuto ou menos, quais são as boas novas do cristianismo?
Notas
A Mensagem do Novo Testamento: Promessas Cumpridas
1
Este sermão foi originalmente pregado em 6 de setembro de 1996, na Igreja Batista da Colina
do Capitólio, Washington, D.C.
2
A Mensagem do Antigo Testamento: Promessas Feitas. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
3
Entre muitas outras designações, Jesus também é descrito como o último Adão (1 Co 15.4547); o justo (1 Pe 3.18; At 3.14; 1 Jo 2.1); maior que Moisés (Jo 1.17; 5.45,46; Hb 3.1-6);
maior que Davi (Mt 22.41-45; At 2.29-36). Abraão também exultou em ver o dia dEle (Jo
8.56-58).
4
C. S. Lewis, A Última Batalha, em As Crônicas de Nárnia. São Paulo: Martins Fontes, 2005,
p. 737.
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