"Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou com um de nós, conhecedor do bem e do mal..." (Gênesis 3.22) "Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador..." (Tito 3.4-6) A Trindade O Velho Testamento insiste constantemente em que há somente um Deus, o auto-revelado Criador, que deve ser adorado e amado com exclusividade (Dt 6.4,5; Is 44.6; Is 45.22,23). O Novo Testamento confirma-o (Mc 12.29,30; 1Co 8.4; Ef 4.6; 1Tm 2.5), porém fala de três agentes pessoais, Pai, Filho e Espírito Santo, que operam juntos em forma de equipe para efetivar a salvação (Rm 8; Ef 1.3-14; 2Ts 2.13,14; 1Pe 1.2). A formulação histórica da Trindade (derivada da palavra latina trinitas) procura circunscrever e salvaguardar este mistério (não explaná-lo, pois ele está além de nossa compreensão), e nos confronta com a mais difícil noção talvez que a mente humana já teve de assimilar. Ela não é fácil; mas é verdadeira. A doutrina origina-se dos fatos que os historiadores do Novo Testamento relatam, e do ensino revelador que, humanamente falando, decorreu desses fatos. Jesus, que orou a seu Pai e ensinou seus discípulos a fazerem o mesmo, convenceu-os de que Ele era pessoalmente divino, e de que a crença em sua divindade e na retitude de dedicar-lhe adoração e oração é básica à fé neotestamentária (Jo 20.2831; Jo 1.18; At 7.59; Rm 9.5; Rm 10.9-13; 2Co 12.7-9; Fp 2.5,6; Cl 1.15-17; Fp 2.9; Hb 1.1-12; 1Pe 3.15). Jesus prometeu enviar outro Paráclito (Ele mesmo tendo sido o primeiro), e Paráclito significa um ministério pessoal multiforme, como conselheiro, advogado, ajudador, confortador, aliado, sustentador (Jo 14.16,17,26; 15.26,27; 16.7-15). Este outro Paráclito, que veio no Pentecoste para cumprir este ministério prometido, era o Espírito Santo, reconhecido desde o início como uma terceira pessoa divina: mentir a Ele, diz Pedro não muito depois do Pentecoste, é mentir a Deus (At 5.3,4). Assim, Cristo prescreveu o batismo "em nome (singular: um Deus, um nome) do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" - as três pessoas que são um Deus, a quem os cristãos se submetem (Mt 28.19). Portanto, encontramos as três pessoas no relato do próprio batismo de Jesus: o Pai reconheceu o Filho, e o Espírito mostrou sua presença na vida e no ministério do Filho (Mc 1.9-11). É assim que lemos a bênção trinitária de 2Co 13.13, e a oração por graça e paz do Pai, Espírito e Jesus Cristo, em Apocalipse 1.4,5 (teria João colocado o Espírito entre o Pai e o Filho, se não reconhecesse o Espírito como divino no mesmo sentido em que Eles são?). Estes são alguns dos mais notáveis exemplos da perspectiva e ênfase trinitárias do Novo Testamento. Embora a linguagem técnica do trinitarianismo não seja aí encontrada, a fé e o pensamento trinitários estão presentes por meio de suas páginas, e, neste sentido, a Trindade deve ser reconhecida como doutrina bíblica: uma eterna verdade a respeito de Deus, que, embora não explícita no Velho Testamento, é clara e marcante no Novo. A afirmação básica desta doutrina é que a unidade de Deus é complexa. As três "subsistências" pessoais (como são chamadas) são centros co-iguais e co-eternos de autoconsciência, cada qual sendo "Eu" em relação aos dois que são "Vós", e cada qual participando da plena essência divina (a "substância" da deidade, se assim podemos chamá-la) juntamente com os outros dois. Eles não são três papéis representados por uma pessoa (o que seria modalismo), nem são eles três deuses agrupados (o que seria triteísmo); o Deus ("Ele") é, igualmente, "Eles", e "Eles" estão sempre juntos e sempre cooperando, com o Pai iniciando, o Filho aquiescendo e o Espírito executando a vontade de ambos, que também é sua. Esta é a verdade acerca de Deus, a qual foi revelada mediante as palavras e obras de Jesus, e que dá suporte à realidade da salvação, à medida que o Novo Testamento a expõe. A importância prática da doutrina da Trindade é que ela requer que demos igual atenção e igual honra às três pessoas na unidade de seu gracioso ministério para conosco. Esse ministério é o ponto central do evangelho, que, como demonstra a conversa de Jesus com Nicodemos, não pode ser declarado sem incluir seus diferentes papéis no plano da graça de Deus (Jo 3.1-21). Todas as formulações nãotrinitárias da mensagem cristã são, pelos padrões bíblicos, inadequadas e, de fato, fundamentalmente duvidosas, tendendo naturalmente a deformar a vida cristã.