1.°-A queda dum anjo No meu velho laboratório da antiga Faculdade d e Medicina, entrou u m dia, acampa i n t e n d o o então presidente d a República, sr. Teixeira Gomes, uim homem de cartola e fraque. Era a i n d a novo, de aspecto tímido, e t i n h a alguma coisa de feminino n a s maneiras s u a ves e fugidias. Era ou parecia modesto e simples, este person a g e m de cartola e fraque, que me disseram ser o sr. Sérgio, Ministro d a Instrução. Fiquei, desde então, simpatizando com o sr. Sérgio. - / / D u r a n t e u m tempo n ã o mais ouvi dele falar, e esqueci o caso. Em Paris, u m dia, falaramm e do sr. Sérgio, que ali estava exilado, e em difíceis circunstâncias. E a m i n h a simpatia a u m e n tou, sem quis n o e n t a n t o e u soubesse a o certo quem era e o que fazia o sr. António Sérgio. tes d e cera poética do plangente vate d a Lágrima; se a prosa u l t r a - t r a b a l h a d a do sr. de Toledo, se a s congeminações trainis-históricais do sr. de P i m e n t a , e outras maravilhas, acreditei, confesso, n a realidade d o novo Herói e suas façan h a s . Dulcinea-Athena tinha, enfim, entre nós, o seu Quixote... Foi, porém, a m i n h a última ilusão. / / —Eils, com efeito, que, u m dia, tudo faz volte-face, e o Herol Renovador me aparece, bruscamente, sob a forma e s tupefaciente de um «Bluff», o «Bluff» António Sérgio; o qual intitulando-se Critico d a C a beça até aos pés, é apenas u:n Crítico sem pés n e m cabeça, u m Sofista de baixa estofa, e um muito pitoresco monsieur. Em extreimo pitoresco, mesmo: t ã o pitoresco que o personagem passou imediatamente a interessar-me como curiosidade c a r a c t e r o l ó g l c a . t a l q u a l o s r . de Toledo, o ST. de Pimenta, o proprietário d a s Barbas Gloriosas e outros Jarrões d o c e nário português. W este «Bluff», e m todo o seu pitoresco, que o público deve conhecer. Mais tarde, Já em Portugal, disseram-me a i n d a que o sr. Antes, porém, de o fazermos, António Sérgio, não sendo um convém explicar a s razões d o fura-paredes, sendo mesmo de facto. craveira m e n t a l muito modesCom efeito, o personagem em t a ,era, n o entanto, não só u m si, pouco vale. Como exemplo g r a n d e trabalhador, m a s u m caraterológico e psicológico h o m m i intelectualmente h o pertence a u m a categoria bem nestíssimo. E que, além de h o definida, e não tem, por isso, nesto, se batia pela probidade um interesse especial. Como Intelectual, tenazmente t r a b a «filósofo» faz rir .como «crítico» l h a n d o contra a retórica e oufaz chorar... t r o s vícios aue intoxicavam a Porque razão, nesse caso, nossa vida m e n t a l . vem o personagem & baila? Os tempos correram, e u m Porque é um Símbolo. Símdia o sr. Sérgio a p a r e c e u - m e . bolo d e um melo e de u m mode lança em punho, a r r e m e mento, d e u m a classe e de tendo precisamente contra u m u m a forma degenerada da culdos mais completos expoentes tura. da nosa «fumlsterie» intelecSímbolo porque, uim «Bluff» tual. deste género, quiando consegue ser tomado a sério, mesmo d u Não tive tempo d e seguir a r a n t e algum tempo, inclusivab a t a l h a . Um o u outro fram e n t e p o r algumas pessoas g m e n t o de arti<ro lido n a ocacultas e bean intencionadas, é sião desconso^aram-me p e l a um «Bluff» simból'co. cuia s i pobreza d a dlalétlca, pelo a r gnificarão é preciso escurecer, conselheira!, pela suficiência e cujos mailes é necessário coru m pouco p e d a n t e que nè'es t a r pela raiz. transparecia. M a s a mm*™ s i m p a t i a manteve-se, e assim, Porém, neste momento, u m a em dada ocasião, tornei-a m a o u t r a objecção se apresenta: nifeste. foi o autor deste artigo a ú n i c a pessoa, nesse caso. sufie'enteE tendo-me alguém dito, a esperta e p e n e t r a n t e propósito dessa pnena, n u s o m e n t e p a r a descobrir o «Bluff»? ST. Sérgio era o Herol Renovador da mentalidade portuDar-se-á, em s u m a . o caso do guesa, o Inimigo implacável Rei Vai Nú. e vem o autor fado filosofismo lírico e retór'co, zer aqui o papel do trirôto? sentimentalizado e ôco. à m i Não. leitor: o «Bluff» é c o n h a simpatia luntou-se e n t u nhecido de muita gente; mulsiasmo, que tornei manifesto: te gente snbe, reconhece e diz e, coimo vm soldado, p u z - m e que o sr. Sérgio é um «Bluff», a o lado do herol... grotesco personagem destituído de qualquer valor e serieAoezar d e ter vivido vinte dade. Muita gente, antes de a n o s n a comédia Intelectual mim, o verificou; mas, ou seja que é o nosso meio unf-iveTsitápor comodismo, ou seja porque rio e deools, ailgums anos. n a lhes repugna, ou ainda por cob a m b o c h a t a que é o nosso miseração, ou por outras r a meio Intelectual, onde não sabemos oue mais admirar, se a s zões, calam-se. e deixam assim correr ois marfins. apóstrofes teurtrerantes. do «Génio da Raça», se os p i n g e n Não entendemos, porém, £3 / / coisas desta forma. Porque é um dever para com o público esclarecê-lo, u m a vez o caso constatado e documentado. Ora, o «Bluff» Sérgio está e m demasia constatado:—e documentado, irrefutavelmente, p e lo próprio sr. Sérgio. p o r A B E L Um «Bluff», sim leitor, um tremendo e inconcebível «Bluff», crescido n o nosso meio como o tortulho n a s á r vores, sem o público disso se aperceber... Um «Bluff» quási épico, e m Depois, como dissemos, o sr. que a petulância, a jactância, Sérgio é um Símbolo. Ora, s u a suficiência, a inconsciência, cede cem os Símbolos o qu3 sue a ignorância se dão a s mãos. cede com os corcundas, h a Um «Bluff» em que se conjuvendo-os perfeitíssimos, em seu gam o Catedrático, o Acácio, género. Mr. P r u d h o m m e , o Gros-Guillame. o Cristo laico, o PonO sr. Sérgio como Símbolo é tiíex Maximus, o Tartufo, o perfeito. Pois é quási incrível, e n o e n t a n t o iielal, que u m Mr. Joiurdain, e vários outros que ao «Bluff» legaram os seus «Biutff» do tipo Sérgio, p u d « s e detrictus. a p r e s e n t a r - s e n u m meio qualquer, d u r a n t e t a n t o tempo, sob Um «Bluff»' enfim, de t a l a s aparências do Herói Renoordem, e t ã o singular, que o vador, e a Lenda d a Seriada próprio WC. Sérgio é vitima i n ecnwtflente do seu próprio de grave, da Honestidade sem «Bfiuff»... mácula. da P r o b d a d e síim n ó doa, com que, d u r a n t e anos e Esta é a singularidade do anos, foi aureolado. E ainda «Bluff»-Sérgio: — singulaque n o mesmo meio, u m tão ridade t a l que podemos dizer completo exemplo d e vacuidasem receio d e desmentido que o sr. Sérgio, sendo u m «Tarde intelectual, d e i n é p c a filotuffo». n ã o tem a consciência sófica, d e inaptidão crítica, d e do seu Tartufismo; e que, senpífia dialética, de mísera d o u m pfiagialdoir, quási n ã o sofística, pudesse ser considet e m a consciência d e WH o rado como u m Herói Renovaseja... dor. Paradoxo este d e que o leit o r terá a explicação, quando, E h á mais. O atrazo intelecn a ocasião próp-ia, t r a ç a r m o s tual, a Ignorância geral e particular, d o Renovador, a s u a o esquisso caracterológlco do triste personagem. comroleta incompreensão do espírito inte'ectual moderno, a T t M e porque o sr. Sérgio é um destes exemplares h u m a sua inaptidão p a r a abraçar o nos ouei, em vez de gerar ódios movimento filosófico contemou antaigendsmos, aipenais gera porâneo em s u a valstldõo e o dó: poils é a vítima, n o fundo complexidade, a s u a absoluta ingénua e pueril, de u m a consinsuficiência e falta de prepa teirte ilusão, a ilusão d o seu ração para seguir e compreenpróorio HaaL M o é. d a t r a n s der o subtil e coimtíexo mecaformação lautemiãtica do seu nismo do pensamento científiEu-Real n o seu Eu-IdeaiT. co actual, fazem dele u m a Vítima a i n d a d a s w a s t ã o nele triste caricatura de filosofise v e r M a ppfca má^ioa do p e n mo sediço, estafado, degenerasam en to e pela hipnose dos do. derrancadO, rum'm.ando pefDAmrirwws, o«i° nele criaram velhos sofismas, velhos para • a ambição falida, e n o r isso logfrimns. velhas p-oo^s' -ões mesmo t a n t o mais obsessiva. sem sentido:—um chá de ToJa.oCfrante, d o irwvaimen*» e lentino filosoflslta. q u e já a da critica, d a razão e da filotodos enjoa. sofa. E este exPtoolo triste de filosofismo, d e banalidade, de rabuiice. conjugado com o t e m p e r a m e n t o caturra, o espirito maníaco, a obsessão CTÍti"a. e auti"is madure^ais. co-i^- ' tfituean em larea escala pr-q, faipT d o nosso famoso s ario «"KMiff». o corcwndia pçrfritttasimo do nosso neo-filosoflsmo. 4r, Ora, õste fíloi-flimo. velho ou novo. é p r e e l s a m ^ t e u m a d a s c o t i a s » extirpar d o nos;o mielo i n t e W t i n l , p o r êl» Inconscientemente intoxicado a t é à medula. E p o r p*,«a r a zão ainda Sérgio-«Bluff» n o s aparece c o m o S nV>olo. sob a s u a lenda pitoresca d e Herói Renovador, e Catão : õa mentalidade portuguesa. ir IViiha forma o sr. Sérgio, símbolo de um mei'o. é. a o me<imo t.°mna. símbolo de u m t ir>o: é este d u H o símbolo oue Eds derl» imter^TOir p o r u m moimento. Powuie e n t r a r n a çvirMBWtotá <We é e n t r a r n a consciência do q u e é a » f u m l s terio» do nosso insto InfttHectuial. n r d e . d a s universidades às laoindeimlns. e do fllivro a o jornal, passando pela revista, ti"Ho é. com MOGMR í>v<-eoções, «Bluff» ouro e comédia. : E n e n h u m peor «bluff», n e n h u m a peor comédia d e q u e aquela q u e se aoresenita. com laispectos messiânicos, revoluciionárlos, ou renovadores, a u e n ã o s ã o mais d o q u e p u r a s aronrências encobrindo u m a realidade bem diferente. q-uatca miit m IH m IIWH. uiinii-iiiMiiiirw ninHKii sai nascente . •»M »nn<ii™i«imii»>m«il>*lt»i r nmitiniiniiiim MI