©2012 Aline Maira da Silva; Fabiana Cia
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permissão da editora e/ou autor.
Si381 Silva, Aline Maira da; Cia, Fabiana.
Problemas de Comportamento: conceituação e possibilidades de
intervenção para pais e professores/Aline Maira da Silva; Fabiana Cia.
Jundiaí, Paco Editorial: 2012.
160 p. Inclui bibliografia. Inclui tabelas. Vários autores.
ISBN: 978-85-8148-060-2
1. Comportamento 2. Escola 3. Inclusão escolar 4. Intervenção.
I. Silva, Aline Maira da. II. Cia, Fabiana.
CDD: 370
Índices para catálogo sistemático:
Educação – Pedagogia
Comportamento Social
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
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Vianelo - Jundiaí-SP - 13207-070
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370
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Sumário
INTRODUÇÃO........................................................................................7
Capítulo 1
PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO:
IMPLICAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO.........................................9
Aline Maira da Silva & Fabiana Cia
Capítulo 2
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA PAIS...................................23
Fabiana Cia & Elizabeth Joan Barham
Capítulo 3
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA PROFESSORES.................59
Aline Maira da Silva & Enicéia Gonçalves Mendes
Capítulo 4
EFEITOS DA INTERVENÇÃO VOLTADA PARA PAIS...................89
Fabiana Cia & Elizabeth Joan Barham
Capítulo 5
EFEITOS DA INTERVENÇÃO VOLTADA PARA PROFESSORES......131
Aline Maira da Silva & Enicéia Gonçalves Mendes
Lista de Tabelas, Figuras e Gráficos
Capítulo 2
Tabela 1. Medidas de tendência central e dispersão do conjunto
de aspectos que foram avaliados pelos pais/mães, em cada sessão.........49
Tabela 2. Porcentagem (%) dos sentimentos expressos pelos participantes...51
Tabela 3. Avaliação dos participantes sobre o programa de intervenção.....52
Tabela 4. Opinião dos participantes sobre ter
encontrado o atendimento que procurava no grupo................................53
Tabela 5. Opinião dos participantes sobre o que o
grupo ajudou nos cuidados e na educação dos filhos..............................54
Fugura 1...................................................................................................27
Capítulo 3
Quadro1. Organização da intervenção oferecida para as professoras.....64
Figura 1. Representação gráfica do jogo “caminho para a escola”..........72
Capítulo 4
Tabela 1. Bem-estar pessoal e familiar dos pais,
no pré-teste e no pós-teste: comparação do GE1, GE2 e GC................102
Tabela 2. Bem-estar pessoal e familiar dos pais,
no pós-teste e no follow-up: Comparação do GE1, GE2 e GC..............104
Tabela 3. Participação do pai nos cuidados com o filho,
no pré-teste e no pós-teste: Comparação do GE1, GE2 e GC...............106
Tabela 4. Participação do pai nos cuidados com o filho,
no pós-teste e no follow-up: Comparação do GE1, GE2 e GC..............109
Tabela 5. Média do número de comportamentos
do filho que agradam e desagradam o pai, no
pré-teste e no pós-teste: Comparação do GE1, GE2 e GC....................112
Tabela 6. Média do número de comportamentos
do filho que agradam e desagradam o pai, no
pós-teste e no follow-up: Comparação do GE1, GE2 e GC...................114
Tabela 7. Comportamentos do pai, quando o filho o desagrada, no
pré-teste, no pós-teste e no follow-up: Comparação do GE1, GE2 e GC.....116
Tabela 8. Participação em reuniões escolares
e contato com a professora do filho, no pré-teste
e no pós-teste: Comparação do GE1, GE2 e GC...................................118
Gráfico 1. Desempenho acadêmico das crianças
em aritmética no pré-teste, pós-teste e follow-up................................119
Gráfico 2. Desempenho acadêmico das crianças
em escrita no pré-teste, pós-teste e follow-up........................................120
Gráfico 3. Desempenho acadêmico das crianças
em leitura no pré-teste, pós-teste e follow-up........................................120
Gráfico 4. Desempenho acadêmico das crianças TDE
Total no pré-teste, pós-teste e follow-up................................................121
Capítulo 5
Quadro 1. Caracterização das professoras participantes do estudo.........142
Tabela 1. Escalas de comportamento internalizante
e comportamento externalizante no pré e no pós-teste..........................146
INTRODUÇÃO
Problemas de comportamento constituem um dos principais obstáculos atualmente enfrentados no ambiente escolar, pois dificultam o aprendizado e o bom relacionamento entre os alunos e entre eles e os professores.
No entanto, faltam respostas efetivas sobre como lidar com essa questão.
Diante disso, o principal objetivo deste livro é ir além da definição e
caracterização dos problemas de comportamento e apresentar duas propostas de intervenção, uma voltada para familiares e outra para professores. Este livro foi elaborado com base nas teses da primeira e segunda autoras, ambas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Educação
Especial da Universidade Federal de São Carlos. A tese da Aline Maira
Silva, intitulada “Psicologia e inclusão escolar: novas possibilidades de
intervir preventivamente sobre problemas comportamentais” foi publicada em 2010 e teve apoio financeiro do CNPq, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A tese da Fabiana Cia, intitulada “Um programa para aprimorar envolvimento paterno: Impactos no
desenvolvimento do filho” foi publicada em 2009 e teve apoio financeiro
da Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Para tanto, o livro foi dividido em cinco capítulos, sendo que os capítulos 2, 3, 4 e 5 fazem parte da tese das referidas autoras. No primeiro capítulo, “Problemas de comportamento: implicações ao desenvolvimento” são
abordadas considerações sobre o que são os problemas de comportamento,
suas características e os fatores biológicos, culturais, familiares e escolares
que influenciam a manifestação dos mesmos. Ainda no Capítulo 1, são apresentados estudos que correlacionam os problemas comportamentais ao autoconceito, o desempenho acadêmico e o repertório de habilidades sociais.
O Capítulo 2, “Proposta de intervenção para pais”, apresenta uma
proposta de intervenção voltada para pais, cujo foco é o aumento do
envolvimento paterno na educação dos filhos, assim como o ensino de
práticas parentais positivas. Nesse capítulo é realizada a descrição do
programa de intervenção e dados sobre como este programa foi avaliado
pelos pais participantes.
7
Aline Maira da Silva & Fabiana Cia (orgs.)
No Capítulo 3, “Proposta de intervenção para professores”, a descrição de uma proposta de intervenção para professores é apresentada, sendo
que o foco dessa intervenção é modificar o ambiente de sala de aula de
modo a prevenir e minimizar os problemas de comportamento manifestados na escola. Ao final do Capítulo 3, é relatada a opinião das professoras
participantes sobre a intervenção realizada. As intervenções apresentadas
nos capítulos 2 e 3 foram desenvolvidas e colocadas em prática como
parte das pesquisas de doutorado conduzidas pelas autoras.
Nos capítulos 4 e 5, respectivamente “Efeitos da intervenção voltada
para pais” e “Efeitos da intervenção voltada para professores”, são abordados os dados referentes às avaliações da intervenção com os pais e com
os professores. Dessa forma, no Capítulo 4 são apontados alguns impactos
da intervenção na vida dos pais e das crianças cujos pais participaram do
programa de intervenção e no Capítulo 5 os efeitos da intervenção desenvolvida junto aos professores, principalmente quanto às mudanças no
comportamento dos alunos em sala de aula.
Esperamos que as discussões realizadas nesta obra contribuam não
apenas para ampliar o conhecimento acerca dos problemas de comportamento, como também sejam utilizadas como subsídio para o planejamento
de intervenções voltadas para a prevenção dos mesmos.
8
Capítulo 1
PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO:
IMPLICAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO
Aline Maira da Silva
Fabiana Cia
Muitos professores se queixam da indisciplina dos alunos, do descaso
das famílias, e se declaram desamparados por não saberem como lidar
com situações envolvendo problemas comportamentais. Os problemas
comportamentais, por sua vez, podem interferir não só no aprendizado
acadêmico, mas no desenvolvimento global dos estudantes.
A ocorrência de problemas de comportamento é comumente observada nas escolas e isso ocasiona consequências negativas para professores,
alunos e familiares. Cabe destacar que muitos problemas de comportamento originam-se de interações sociais realizadas pela criança. Isso quer dizer
que familiares, professores, colegas e vizinhos, que fazem parte do ambiente dessa criança, podem arranjar condições que propiciam ou mantêm
comportamentos indesejáveis. Dessa forma, problemas de comportamento
não devem ser considerados simplesmente como ações inapropriadas das
crianças, mas como interações inadequadas entre essas crianças e outras
pessoas (Kauffman, 2005).
Problemas comportamentais podem ser definidos, segundo Kauffman (2005), como uma necessidade educacional especial caracterizada
por respostas comportamentais ou emocionais diferentes das respostas de
uma idade apropriada, cultura ou normas éticas. Tais respostas afetam
adversamente o desempenho educacional, incluindo habilidades sociais,
vocacionais e pessoais.
Os problemas de comportamento podem ser descritos de acordo com
duas dimensões: comportamento internalizante e comportamento externalizante. Segundo Gresham e Kern (2004), o comportamento internalizante refere-se a todos os comportamentos problema que são direcionados interiormente e que representam problemas que o indivíduo tem
consigo mesmo. Problemas de comportamento do tipo internalizantes são
frequentemente impostos pelo próprio indivíduo e envolvem déficits com9
Aline Maira da Silva & Fabiana Cia
portamentais e padrões de isolamento social. Os seguintes exemplos de
comportamentos internalizantes podem ser citados: apresentar níveis de
atividade baixos ou restritos; não falar ou falar pouco com outras crianças;
timidez; falta de assertividade; isolamento de situações sociais; preferência por ficar sozinho; agir de modo assustado; não participar de jogos e
atividades; não apresentar respostas para interações sociais iniciadas por
outras pessoas; não se posicionar.
O comportamento internalizante pode ser manifestado por alunos retraídos ou ansiosos, e é caracterizado por depressão, ansiedade, tendências
obsessivas compulsivas, ideação ou tentativa de suicídio e somatização.
Esses sintomas podem facilmente não ser notados já que tais alunos não
se expressam por meio de ações, não incomodam os outros e não resistem
às regras da sala de aula (Kampwirth, 2003).
Por sua vez, os comportamentos externalizantes referem-se aos comportamentos inadequados que são direcionados para o ambiente social.
Comportamentos externalizantes são caracterizados por comportamentos
antissociais que se referem a qualquer comportamento relacionado com a
violação das regras sociais e/ou atos contra os outros. Em geral, comportamentos antissociais estão relacionados com a agressão, roubo, mentiras
e vandalismo (Gresham; Kern, 2004).
Dentro dos problemas de comportamento externalizantes tem-se a delinquência. Segundo Bee (2008), a delinquência se refere à transgressão intencional da lei, mas normalmente as crianças e adolescentes que cometem
atos delinquentes também têm outros transtornos de condutas associados.
Segundo dados de pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos, existe uma
alta porcentagem de adolescentes que já roubaram e/ou cometeram atos
violentos, sendo que os homens cometem mais crimes violentos do que as
mulheres. Tais adolescentes que cometeram algum ato delinquente tendem
a ter menor desenvolvimento cognitivo, principalmente os que começaram a
apresentar os comportamentos desviantes na primeira infância.
Considerando especificamente o contexto escolar, de acordo com
Francisco e Libório (2009), a questão da violência nas escolas torna-se
cada vez mais preocupante devido à grande incidência com que ela é manifestada em todos os níveis de escolaridade. O bullying foi definido pelos
autores como uma violência que “ocorre através da perseguição e intimi10
Problemas de Comportamento
dação de um aluno por um ou vários colegas, com a intenção clara de provocar-lhe sofrimentos e apresenta caráter repetitivo e intencional” (2009,
p. 200). De acordo com Fante (2003), no Brasil, o estudo do fenômeno do
bullying ainda é recente, assim como os esforços para compreendê-lo e,
a partir disso, desenvolver intervenções voltadas para a nossa realidade.
Para Lopes Neto (2010), o bullying se refere a um tipo de agressão na
qual o agressor é mais “forte” ou mais poderoso do que a vítima, e os comportamentos agressivos são cometidos intencionalmente, repetidamente,
ao longo do tempo. A criança ou o adolescente que comete o bullying usa
o poder com o intuito de controlar os pares, ou seja, há uma desigualdade
de poder entre aluno vítima e aluno autor, a qual pode ser física, de popularidade, entre outros.
Quanto aos fatores que influenciam a ocorrência de problemas de comportamento, é possível determinar os efeitos de fatores diversos, tais como
fatores biológicos, culturais, familiares e escolares. Os fatores biológicos
que podem contribuir para o desenvolvimento de distúrbios emocionais e
de comportamento são, segundo Kauffman (2005): fatores genéticos, lesões ou disfunções cerebrais, desnutrição e alergias e temperamento.
• Fatores genéticos: crianças herdam de seus pais predisposição genética para certas características comportamentais. O que é herdado é a
predisposição para comportar-se de certas maneiras, uma tendência em
relação a certos tipos de comportamento que pode ser fortalecida ou enfraquecida pelas condições ambientais;
• Lesões ou disfunções cerebrais: é possível levantar a hipótese de
que problemas de comportamento, em algum nível, estão relacionados
com problemas estruturais e químicos do cérebro;
• Má alimentação e alergias: a desnutrição severa pode ter efeitos catastróficos no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. São resultados da desnutrição: retardo no crescimento do cérebro, lesões irreversíveis no cérebro, deficiência intelectual ou uma combinação desses efeitos.
Apatia, retraimento social e dificuldades escolares também são esperados
em longo prazo se crianças são severamente desnutridas. Além disso,
fome ou alimentação inadequada interfere na habilidade para concentração na aprendizagem acadêmica e social. Kampwirth (2005) destaca que
alguns alunos têm alergias que podem influenciar sua capacidade para se
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Aline Maira da Silva & Fabiana Cia
concentrar em trabalhos escolares. Outros podem apresentar problemas de
saúde que irão influenciar seu comportamento;
• Temperamento: um temperamento difícil, caracterizado por irregularidade no funcionamento biológico, retraimento social, respostas negativas para novos estímulos, lenta adaptação para mudanças
no ambiente, frequente manifestação de humor negativo e reações
geralmente intensas, pode aumentar o risco de ocorrência de problemas comportamentais. Segundo Kampwirth (2003), alguns alunos
parecem ser inerentemente mais impulsivos e irritáveis que outros.
Diferenças inatas em relação ao nível de atividade, adaptabilidade e
humor interagem com as variáveis ambientais para produzir certos
comportamentos.
Em relação aos fatores culturais, Kauffman (2005) lembra que pessoas importantes na vida da criança, assim como a própria criança, são
parte de uma cultura que modela seus comportamentos. Pais e professores apresentam valores, comportamentos e expectativas que são consistentes com a cultura na qual eles estão inseridos. As atitudes e o comportamento da criança são influenciados pelas normas de suas famílias,
pares e comunidade. Os fatores culturais envolvem instituições sociais,
tais como, nações, grupos étnicos, religiões, escolas e famílias. Estas e
outras instituições estão interconectadas de maneira que desafiam explicações simplistas sobre as influências causais dessas instituições no
comportamento do aluno.
Quanto aos fatores familiares, segundo Kauffman (2005), a modelação, o reforço e a punição por parte dos pais em relação aos comportamentos apresentados pelos filhos são as chaves de como a família influencia
o comportamento de uma criança. Dessa forma, segundo o mesmo autor,
os pais podem fazer uso de práticas disciplinares ineficazes porque eles
não têm habilidade ou não estão dispostos para impor limites consistentes,
estáveis e não ambíguos.
Mais especificamente, pais que disciplinam seus filhos de modo efetivo apresentam, de acordo com Gomide (2004) e Weber (2007), os seguintes padrões de comportamento:
• São sensíveis para as necessidades dos filhos, são empáticos e
atenciosos;
12
Problemas de Comportamento
• Estabelecem com seus filhos um padrão de interações positivas e recíprocas, e utilizam o entusiasmo, a cordialidade e a reciprocidade como base
para estabelecer vínculos emocionais ou compromissos entre adulto e criança;
• Monitoram seus filhos por meio de supervisão apropriada, e enfrentam comportamentos inadequados diretamente e constantemente em vez
de tentar manipular ou coagir seus filhos;
• Fornecem instruções não ambíguas e fazem exigências de modo
firme, mas não hostil, e apresentam consequências negativas, mas não
abusivas, para comportamentos inadequados;
• Fornecem reforço positivo na forma de encorajamento, elogio, aprovação e outras recompensas para os comportamentos desejáveis de seus filhos.
Para Pacheco et al. (2005), os problemas de comportamento entre as
crianças estão associados, principalmente, às características das interações familiares, à medida que os membros da família treinam diretamente
esse padrão comportamental na criança. Quando a criança apresenta problemas comportamentais, ambos os pais, em geral, não usam reforçadores
positivos contingentes às iniciativas pró-sociais dos seus filhos e fracassam no uso de técnicas disciplinares adequadas, que pudessem reduzir
os comportamentos desviantes. Estas famílias se caracterizam pelo uso
de disciplina severa e inconsistente, com pouco envolvimento parental
e pouco monitoramento e supervisão dos comportamentos das crianças.
Além da família, a escola é, provavelmente, a influência social mais
importante exercida sob crianças e jovens. De acordo com Kauffman
(2005), a escola pode contribuir para a ocorrência de comportamentos
inadequados e baixo desempenho acadêmico das seguintes maneiras:
• Insensibilidade para a individualidade dos alunos: é necessário conhecer as necessidades individuais dos alunos. Uma grande proporção de alunos
com problemas de comportamento e dificuldades de aprendizagem reflete a
recusa do sistema educacional em acomodar diferenças individuais;
• Expectativas inapropriadas em relação aos alunos: é possível suspeitar que a discrepância entre as habilidades do aluno e as expectativas
dos adultos em relação ao desempenho desse aluno contribui diretamente
para o desenvolvimento de problemas de comportamento. Quando as expectativas são muito altas ou muito baixas, o aluno pode tornar-se desinteressado, desanimado e disruptivo;
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Aline Maira da Silva & Fabiana Cia
• Manejo inconsistente de comportamento: a falta de estrutura ou ordem na rotina diária dos alunos contribui com a ocorrência de comportamentos disruptivos. Além disso, a falta de consistência nas consequências
oferecidas também é prejudicial, já que quando alunos não podem prever
a respostas dos adultos para seu comportamento eles se tornam ansiosos,
confusos e inábeis para escolher comportamentos alternativos apropriados;
• Instruções não funcionais e irrelevantes: uma maneira na qual a escola aumenta a probabilidade de os alunos se engajarem em comportamentos inadequados é oferecendo instruções das quais os alunos não irão
fazer uso real ou imaginário. Por isso, as instruções educacionais precisam
ser relevantes para o aluno;
• Instruções não efetivas em habilidades críticas: aceitação social e
autopercepções positivas são intensificadas pela competência acadêmica
e pelas habilidades de interação com os pares e as figuras de autoridade.
Em vista disso, habilidades sociais, assim como habilidades acadêmicas,
devem ser ensinadas em sala de aula, já que a exposição constante ao
fracasso escolar e às relações desfavoráveis com os pares ocasiona sentimentos de frustração, irritabilidade, raiva e desvalia;
• Contingências destrutivas de reforço: a escola pode contribuir para
a ocorrência de problemas de comportamento oferecendo reforço positivo
para comportamentos inadequados, falhando em oferecer reforço positivo
para comportamentos desejáveis e oferecendo reforço negativo para comportamentos que permitem que o aluno evite a atividade proposta;
• Modelos indesejáveis de conduta escolar: crianças tendem a imitar
o modelo de pessoas que são social ou fisicamente poderosas, atrativas e
que comandam reforçadores importantes. Por isso, é necessária atenção
para que os alunos com comportamentos disruptivos não exerçam atração
em relação aos demais;
• Condições físicas e organizacionais: escolas e salas de aula lotadas
e deterioradas estão associadas a agressões e falta de motivação por parte
dos alunos.
É importante destacar que crianças com dificuldades comportamentais podem apresentar uma diminuição na capacidade para aprender e,
consequentemente, não se beneficiar do ambiente escolar (Rones; Hoagwood, 2000).
14
Problemas de Comportamento
De fato, dados da literatura apontam que o autoconceito, o desempenho acadêmico e os problemas de comportamento de crianças são interligados. Por exemplo, crianças com baixo autoconceito tendem a ter baixo
rendimento acadêmico (Del Prette; Del Prette, 2005; Okano et al., 2004)
e maior índice de problemas de comportamento (Del Prette; Del Prette,
2005); quanto maior a frequência de problemas de comportamento apresentados pelas crianças, pior o desempenho acadêmico (D’Avila-Bacarji;
Marturano; Elias, 2005; Del Prette; Del Prette, 2005; Dessen; Szelbracikowski, 2004; Dunn et al, 2004).
Os problemas de comportamento prejudicam as relações interpessoais em sala de aula pela rejeição por pares e adultos e, normalmente, são
acompanhados pelo baixo desempenho acadêmico e por queixas escolares
(Brancalhone; Fogo; Williams, 2004; Marinho, 2003; Marturano; Toller;
Elias, 2005; Santos; Graminha, 2006).
Neste sentido, Stevanato et al (2003) compararam o autoconceito de
crianças brasileiras com dificuldades de aprendizagem, com e sem problemas de comportamento, com o autoconceito de crianças com bom desempenho escolar. Participaram do estudo 58 crianças da 1ª à 4ª série
do ensino fundamental, provenientes de escolas públicas. Os resultados
demonstraram que as crianças com dificuldades de aprendizagem e sem
problemas de comportamento, quando comparadas às crianças com bom
desempenho escolar, apresentaram menor autoconceito: total, comportamental, de status intelectual e de popularidade. Por sua vez, as crianças
que apresentaram dificuldades de aprendizagem e também problemas de
comportamento, quando comparadas às crianças com bom desempenho
escolar, apresentaram menor autoconceito: total, comportamental, de status intelectual, de ansiedade e de popularidade.
Vários pesquisadores acreditam que problemas de comportamento
refletem problemas no repertório de habilidades sociais da criança. Miles
e Stepek (2006) realizaram um estudo longitudinal com 400 crianças, avaliadas pela primeira vez quando estavam com idade entre 4 e 6 anos, com o
objetivo de verificar a associação entre o repertório de habilidades sociais
(agressão e comportamento pró-social) e o desempenho acadêmico. Os
professores avaliaram o comportamento agressivo e pró-social das crianças, e o desempenho acadêmico foi avaliado por meio de testes aplicados
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