Exmo. Senhor. Presidente da Câmara Municipal do Crato Exmo. Senhor, Presidente da Assembleia Municipal Exmo. Senhores Autarcas e Entidades Civis e Militares Meus Senhores Minhas Senhoras A 25 de Abril de 1974 era bastante jovem. Pertenço á geração que se fez adulta com a democratização do país. Aprendi a importância da política e a grandeza da democracia, assistindo á construção de uma sociedade mais livre, mais igualitária e mais solidária em Portugal. Tenho o privilégio de pertencer a uma geração que viveu o processo da democratização política, mas também económica e social, apostando no bem-estar de todos e na, cada vez mais justa, redistribuição da riqueza. Mas, apesar de todas as frustrações, de todos os sonhos desfeitos, de todos os entusiasmos que acabaram por morrer na praia, para a minha geração, que ainda viu e andou em escolas aonde chegavam crianças debaixo de chuva, a pé percorrendo quilómetros e quilómetros. Existe, hoje, de facto um país profunda e radicalmente diferente. Um Portugal mais livre, um Portugal mais igualitário, um Portugal mais solidário, um Portugal mais democrático. É verdade que somos uma sociedade pobre ungida pela intervenção do Estado-Providência. É verdade que nos últimos 10 anos, com a pressão neo-liberal, imposta por essa Europa com o seu modelo de sociedade que desloca a sua razão de ser do bem-estar das pessoas para a garantia do lucro dos chamados mercados. Mas há um núcleo essencial de direitos, que a minha geração se, 1 habituou a chamar "Conquistas de Abril" e que permanecem no texto constitucional. E a pergunta que se impõe “O que restará dessas Conquistas de Abril daqui a 5 anos, quando a cura para a crise trazida pela União Europeia já fizer efeito em Portugal?” Á beira de comemorarmos o 37º aniversário do 25 de Abril, o verso de Eugénio de Andrade “Já gastaram as palavras pela rua”, é o retrato mais rigoroso da nossa presente situação nacional. Todas as palavras com que construímos o ideário destes 37 anos – justiça, dignidade, solidariedade, independência – não só nos parecem gastos, como quando as repetimos não acontece nada. E, contudo, como escreveu Eugénio de Andrade “Tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam quando as pronunciávamos”. A situação que Portugal vive é dominada pelas dificuldades económicas e financeiras. Todavia, há um problema de natureza não económica e que inquina as relações entre os políticos e destes com os cidadãos. Esse problema tem um nome, verdade. A verdade ingénua, a verdade nua, não existe em política. Em Política, só há verdades cobertas. Mas a verdade coberta em politica, não pode ser confundida com a mentira. Co m a v erdade coberta quero dizer, com posição articulada da verdade no conjunto dos seus elementos, o contexto histórico e o sócioeconómico, consciência sobre a interpretação do sentido das palavras. A verdade coberta, pela sua natureza complexa é atreita á usura, o que a lança com facilidade nos braços da demagogia, da dissimulação e, por vazes, da falsidade ou da pura mentira. Nem uma medida sobre a nossa economia vai, por isso, resolver por si a sociedade portuguesa. É preciso associar às medidas a capacidade da verdade, trabalho que agora corresponde a um penoso e longo exercício de restauração. Se assim não for, será impossível obter os compromissos 2 necessários para que a sociedade portuguesa volte a confiar em si própria e se comprometa para ser mais estável e próspera. É por isso crítica a responsabilidade dos autores políticos, neste momento. Saibam por a verdade como elemento axial ao poder e o serviço público como destino da política. Entre a apatia e a crise social, haja capacidade para não transformar Portugal num protectorado europeu dos credores internacionais. Tirando a esquerda radical, que acha que o equilíbrio e a disciplina orçamental são uma invenção burguesa e que o défice e o endividamento público são virtuosos, poucos duvidam hoje seriamente de que finanças públicas estruturalmente equilibradas são condição para o crescimento sustentável e para a equidade intergeracional. A questão está em como estabelecer e manter tal equilíbrio jogando tudo na redução da despesa pública e no “Estado Mínimo”, como quer a ortodoxia neoliberal, ou incluir também na equação uma melhoria das receitas públicas, de modo a salvaguardar o funcionamento do Estado e os serviços públicos essenciais. O problema é de importância crucial na actual circunstância do país, obrigado a um severo programa de reequilíbrio financeiro, depois do choque orçamental de 2009 e da “crise das dívidas soberanas” na Europa. O pacote de ajuda, financeira a Portugal vai estar concluído, provavelmente até final do mês pela Troika .Fundo Monetário Internacional - FMI .União Europeia – EU .Banco Central Europeu – BCE O documento deverá ser assinado na próxima reunião do Ecofin, que se realizará a 16 de Maio e que dará luz verde para activar as verbas dos fundos de ajuda europeus do FMI. O plano de ajuda português terá ainda de ser traduzido e seguir para o parlamento filandês e para a Comissão do orçamento do Bundestag, o 3 parlamento alemão, para ser aprovado. A Filandia e a Alemanha são os únicos países da Zona Euro onde a contribuição para ajuda externa tem de passar pelas respectivas assembleias. A Troika esteve a ouvir os parceiros sociais e os partidos políticos com excepção do PCP, o BE e os Verdes que recusaram os convites para esses encontros. As medidas preconizadas pela Troika (FMI; EU e BCE) prevêem-se duras e difíceis. É de crer que a generalidade dos portugueses aceitam os sacrifícios necessários para equilibrar as contas públicas e quebrar a maldição do endividamento excessivo, mas desde que os seus custos sejam socialmente equilibrados e equitativamente distribuídos. As vítimas da austeridade orçamental não podem ser sobretudo os que mais dependem do Estado Social que uma direita serodiamente liberal quer agora aproveitar para desmantelar. Queremos contrariar o poeta Eugénio de Andrade e clamamos para que as palavras justiça, dignidade, solidariedade, independência não nos pareçam gastas Temos de acreditar todos num amanha melhor, com rigor financeiro, sentido de compromisso e redobrada solidariedade e coesão nacional. Pelo Partido Socialista Dr. António Pratas 4