CIRCULAÇÃO LOCAL NA FLORESTA NACIONAL DOS TAPAJÓS UTILIZANDO-SE
DADOS DAS TORRES DE FLUXOS
Sandra Isay Saad 1 , Humberto Ribeiro da Rocha¹, Maria Assunção Faus da Silva Dias¹
RESUMO: Este trabalho apresenta um estudo observacional sobre a circulação local na torre de fluxos
próximo ao k67 da Rodovia Cuiabá-Santarém, na Floresta Nacional do Tapajós. O vento, bastante
dependente da grande escala, foi predominantemente de leste em decorrência da atuação dos ventos
alíseos. Porém, observou-se um aumento de intensidade e uma mudança de direção durante o dia em
relação ao vento noturno. Essa mudança de direção foi atribuída à atuação da mesoescala pela
ocorrência de brisa fluvial do rio Tapajós e por efeitos topográficos.
A direção do vento foi comparada ao nível de condensação por levantamento, PLCL, (estimativa
da profundidade da camada abaixo da base da nuvem), motivação dada pelos resultados de Betts et al.
(2002) em Rondônia, pela qual os autores encontraram uma forte dependência do PLCL com a atuação
de sistemas de larga escala. Porém, em análise preliminar, não foi encontrada uma relação em
Santarém.
ABSTRACT: This research presents an observational study about the local circulation in the
micrometeorology tower next to k67 of the Cuiabá-Santarém Highway, in Floresta Nacional do
Tapajós. The wind, which is strongly related to the large scale, was predominantly from east due to the
trade winds. However, an increase of wind intensity and direction was attributed to the mesoscale
actuation as represented by the river breeze from Tapajós river and topographic variation.
The wind direction was compared to the lifting condensation level, PLCL, (estimative of the
subcloud layer), motivation given by the results of Betts et al. (2002) in Rondônia, in which the authors
encountered a strong dependence of PLCL on the large scale actuation. Nevertheless, in a preliminary
analysis, no relationship was found in Santarém.
Palavras-Chave: Vento, mesoescala, Tapajós
1. INTRODUÇÃO
A condição de larga escala atuante na Floresta Nacional do Tapajós, próximo a Santarém, PA, é
bastante forte no local. O regime de chuvas é marcado no verão e outono pelo estabelecimento da zona
de convergência da célula de Hadley-Walker na bacia amazônica. Ao contrário das regiões oeste e
central da bacia, Santarém localiza-se em uma faixa que, do nordeste até a parte central da Bacia
Amazônica, a sazonalidade de chuvas é também influenciada pela migração sazonal da Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT). Assim, apresenta redução da chuva quando a ZCIT se desloca para
o norte da bacia entre setembro a dezembro. Em baixos níveis, o vento predominante no local é de
quadrante leste, em decorrência da atuação dos ventos alíseos.
1
Departamento de Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo. . Rua do Matão, 1226, São Paulo, SP. Cep 05508900. (11) 3091 4713. e-mail: [email protected], [email protected] , [email protected] .
1
quanto maior for a umidade, ou mais precisamente, mais alta for a umidade relativa do ar (UR) (Betts
et al. 2002). A forte correlação dessa variável com a chuva foi bastante notável (Fig. 5.a,b), inclusive
porque picos de chuva na estação seca foram correspondidos por valores relativamente baixos de PLCL.
A relação do PLCL com o vento, no entanto, não foi verificada (Fig. 5.b,c).
O PLCL também foi comparado com o vento em escala de um dia (não mostrado) e a correlação
não foi verificada. Possivelmente, em casos que o vento é essencialmente fluvial (não apenas sua
anomalia), esta relação poderia ser encontrada. Assim, a continuação deste trabalho, será comparar o
PLCL de casos em que houve efetivamente o transporte de ar fluvial (brisa) com o de casos em que não
ocorreu brisa.
3. CONCLUSÕES
O vento atuante na torre próximo ao k67 da BR-163, a sul de Santarém e ao lado leste do rio
Tapajós, em 2002, foi predominantemente de nordeste durante o dia e de leste durante a noite. Esse
efeito de mudança de direção do vento foi devido à atuação da mesoescala pelo efeito de brisa fluvial
do rio Tapajós, impondo uma componente de leste no vento de oeste, e pela variação topográfica,
induzindo um vento de norte de dia subindo a topografia (vento anabático) e um vento de sul durante a
noite descendo a topografia (vento catabático).
O nível de condensação de levantamento apresentou uma forte correlação com a chuva, porém,
em análise preliminar, aparentemente nenhuma relação com a direção do vento.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos à Fapesp pela bolsa de mestrado (05/57829-0) e em nome do
projeto temático “Interação Biosfera-Atmosfera Fase 2: Cerrados e Mudanças de Uso da Terra
(02/09289-9), do qual faz parte este trabalho.
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