Bruno Pilastre de Souza Silva Dias Rozana Reigota Naves Universidade de Brasília Este trabalho apresenta uma releitura da tese de Rubin (2004), a partir da proposta de Collins (2005), adotada em Dias (2012) para a construção passiva. Sugerimos que a distinção entre crianças típicas e jovens com Síndrome de Down (SD) é decorrente da disponibilidade ou não do núcleo funcional Voice. No caso das crianças típicas, esse núcleo estaria disponível nos primeiros estágios da aquisição (adotando-se a Hipótese da continuidade fraca). No caso dos jovens com SD, esse núcleo não estaria disponível (ou seria acessado muito tardiamente e de maneira parcial). A investigação desenvolvida em Rubin (2004) centrou-se na produção, na imitação e na compreensão de sentenças passivas na SD. A autora constatou que jovens portadores da SD não produzem, não imitam e não compreendem passivas reversíveis e não reversíveis, curtas e longas, com verbo de ação e de não ação, e propôs que esses jovens compreendem a passiva como ativa, ao interpretarem o primeiro DP/NP da passiva ouvida como agente/causador. Essa hipótese tem força porque a estrutura adotada para explicar a passiva é semelhante à da ativa. Essa é, segundo a autora, a proposta de Boeckx (1998), o qual propõe haver, para a passiva, um Argumento Implícito (AI) passivo pro, o qual é licenciado pelo morfema de particípio (-do). Lima & Rubin (2008) lembram que um modelo minimalista como o de Chomsky (1995) permite a representação sintática do AI passivo com pro como argumento implícito, como atesta a proposta de Boeckx (1998) para a passiva. No entanto, em modelos como os de Chomsky (2000, 2001) não parece ser possível representar o AI como pro. pro, com um conjunto incompleto de traços-ɸ (só possui o traço [pessoa]), não é aceito na posição do argumento externo, porque nessa posição, ao entrar em relação de Agree com T, ele barra a possibilidade de o DP objeto se mover para T para valorar Caso Nominativo. Há, então, nessa configuração, o Efeito de Intervenção Defectivo levando ao Princípio de Maximização de Relações de Checagem. Diante da incompatibilidade da proposta de Boeckx (1998) ao modelo de Chomsky (2000, 2001), discutimos a força explicativa da proposta de Collins (2005), adotada em Dias (2012), para a passiva na Síndrome de Down. Na análise de Collins (2005), sentenças ativas e passivas diferem em um único aspecto, que é a projeção da categoria Voice nas passivas. O papel de Voice é duplo: ele atribui Caso Acusativo ao DP no especificador de vP e atrai PartP para seu especificador, para licenciar o particípio passivo. Ao se mover para o especificador de Voice P, PartP carrega consigo (smuggles) o argumento interno do verbo. Esse movimento é a saída para evitar um possível efeito de intervenção (Chomsky 2000, 2001) que o DP no especificador de vP poderia causar na relação de Agree entre I (a sonda) e o DP argumento interno (o alvo). Ao ser levado por PartP para o especificador de Voice, o argumento interno fica livre para estabelecer Agree com o núcleo I. Assumindo a constatação de Rubin (2004) de que jovens com SD interpretam a passiva como ativa, desenvolvendo a hipótese de que este fato decorre da não manifestação, ou da manifestação tardia, do núcleo Voice nesse contexto. Referências bibliográficas BOECKX, C. A Minimalist View on the Passive. Working Papers in Linguistic. Occasional Papers 2. University of Connecticut. 1998. CHOMSKY, N. The Minimalist Program. Cambridge Mass: MIT Press. 1995. CHOMSKY, N. Minimalist Inquiries: the framework. In: MARTIN, Roger; MICHAELS, David; URIAGEREKA, Juan. Step by Step: Essays on Minimalist Syntax in Honor of Howard Lasnik, Cambridge, MA: MIT Press, 2000. CHOMSKY, N. Beyond Explanatory Adequacy. MIT Occasional Papers in Linguistics, vol. 20. Cambridge, MA: MITWPL. 2001. COLLINS, C. A Smuggling Approach to the Passive in English. Syntax, 8.2., pp. 81-120. 2005. DIAS, B. Aspectos das construções passivas com verbos psicológicos. 2012. Dissertação (mestrado) - Universidade de Brasília, Instituto de Letras, Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas, Programa de Pós-Graduação em Linguística, 2012. LIMA, R.; RUBIN, M. Efeitos de intervenção no sistema de Agree: o caso das passivas. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL. Vol. 6, n. 10. 2008. RUBIN, M. A passiva na Síndrome de Down. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil. 2004. SILVA. 2011