Sessão 4 – DIABETES TIPO 2 Insulinas – Novas versus antigas Elizabete Geraldes [email protected] Endocrinologista Ex-Chefe de Serviço de Endocrinologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra Lisboa, 20 de Fevereiro de 2010 Actualizada em 2012 Agenda • Uma visão histórica da Insulinoterapia • O “porquê” de novas insulinas. • Vantagens e desvantagens dos análogos de insulina • Controvérsias dos análogos de insulina • Conclusões e futuro Agenda • Uma visão histórica da Insulinoterapia • O “porquê” de novas insulinas. • Análogos de insulina • Controvérsias dos análogos de insulina • Conclusões e futuro Insulinoterapia A insulina é o tratamento mais antigo e mais eficaz para controlar os níveis de glicose em pessoas com diabetes Controla qualquer grau de hiperglicemia: - na diabetes de tipo 1 (tratamento de substituição vital), - na diabetes tipo 2, em monoterapia ou combinada com anti diabéticos orais. …De Iletin aos análogos de insulina “Iletin”- 1923 Perspectiva histórica 1921 Anos 30-40 Banting e Best 1955 Frederick Sanger 1923 Prémio Nobel de Medicina 1969 Dorothy Hodgkin Descoberta da adição de protamina à molécula de insulina, prolonga o seu efeito.(1936) Insulina NPH 1950 23 de janeiro de 1922 Leonard Thompson,14 anos de idade, tratado com insulina. A sequência de aminoácidos da insulina 1958 A estrutura cristalina da insulina 1964 P Nobel de Química P Nobel de Química Perspectiva histórica Anos 60 -70 Insulinas Monocomponentes (MC) Anos 80 Padronização da Insulina 40 U/ml 80 U/ml Purificação 1973 100 U/ml Biostator 1974 insulina humana produzida por Engenharia Genética. Ins recombinantes humanas 1982 1996 1998 Monitorização Contínua da Glicose 1999 ANOS 2000 … 2004 2006 Combinação de glicometro + bomba infusora comunicando sem fios Análogos lentos Detemir FDA (EUA) aprova Exubera 2003 Análogos rápidos Apidra Anos 90 Análogos lentos Lantus Análogos rápidos Novorapid insulina inalada Exubera Análogos rápidosHumalog Perspectiva histórica 2008 Análogo de insulina ultra-longa Perspectiva histórica 2010 insulina degludec ANOS 2000 … Pâncreas artificial 2011 2014 ? Agenda • Uma visão histórica da insulinoterapia • O “porquê” de novas insulinas. • Análogos de insulina • Controvérsias dos análogos de insulina • Conclusões e futuro Insulinoterapia - insulinas convencionais Formulações de insulina convencionais não mimetizam a secreção endógena de insulina Não há clara separação entre insulina basal e prandial Análogos foram criados para colmatar as deficiências das insulinas convencionais Necessário imitar o melhor possível a secreção endógena, de insulina, no indivíduo não diabético. Problemas das insulinas convencionais CGMS APM, 52 anos Hipoglicemias nocturnas Hiperglicemias pré-prandiais Hipoglicemias pós-prandiais LM, 42 anos Aumento de peso Variabilidade na absorção - insulinas convencionais Factor Efeito Local de injecção abdomen, braço, coxa Profundidade da injecção sc,im Dose de insulina Doses + elevadas têm duração de acção + prolongada Exercício Exercitar os músculos aumenta a velocidade de absorção Calor/massagem Aumenta a velocidade de absorção Suspenção Absorção irregular Perfil imprevisível Agenda • Uma visão histórica da insulinoterapia • O “porquê” de novas insulinas. • Análogos de insulina • Controvérsias dos análogos de insulina • Conclusões e futuro Análogos de insulina. Análogos são insulinas humanas modificadas na estrutura molecular, de modo a alterar o perfil de acção. A alteração molecular modifica: . a velocidade com que é absorvida após a injecção . a rapidez com que actua . o tempo de duração. Existem análogos de acção rápida e análogos de acção lenta. Análogos de insulina Acção rápida Lispro (Humalog®) Aspart (NovoRapid®) Glulisina (Apidra®) Acção longa Glargina (Lantus®) Detemir (Levemir®) Características farmacodinâmicas e farmacocinéticas mais estáveis e favoráveis Análogos rápidos As moléculas de Insulina Humana em concentrações terapêuticas ligam-se fortemente sob a forma de DÍMEROS, HEXÂMEROS E COMPLEXOS MAIORES A taxa de absorção pelo plasma depende do peso molecular Análogos que não formem hexâmeros estáveis têm uma absorção rápida Insulina Lispro (Humalog®) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 O aminoácido prolina na posição B28 foi trocado com a lisina da posição B29 As moléculas são mais rapidamente absorvidas. 30 29 28 27 26 Prl LIS 21 25 22 23 24 Insulina Aspart (NovoRapid®) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Asp O aminoácido prolina na posição B28 foi substituído pelo ácido aspártico, o que reduz a tendência para se associar em hexâmeros e dímeros. A absorção mais rápida e > pico. 30 29 28 27 26 Prl 21 25 22 23 24 Insulina Glulisina (Apidra®) O amino-ácido lisina substitui o ácido aspártico na posição B3 A glicina substitui a lisina na posição B29 Perfil semelhante à Lispro e Aspart Características farmacodinâmicas Insulina e análogos Análogos Rápidos Lispro (Humalog®) Aspart (Novorapid®) Glulisina(Apidra®) Insulinas rápidas convencionais Actrapid® Ishuman Rapid® Humulin Regular® Análogos rápidos Início (h) Pico acção(h) Duração efectiva (h) 1/4-1/2 1-1e1/4 3-4 1/2-1 2-3 3-6 Insulinas rápidas convencionais Lispro (Humalog®) Análogos rápidos Pico maior e mais rápido e Aspart (NovoRapid®) menor duração de acção Acção mais previsível Lispro e Aspart e Glulisina Glulisina (Apidra®) têm características farmacocinéticas semelhantes Análogos rápidos - vantagens Melhoram o perfil glicémico pós-prandial Diminuem o risco de hiperglicemia precoce ou hipoglicemia tardia. Atenuam o aumento de peso Têm maior flexibilidade Apresentam adesão mais elevada (hipoglicemias, horários) Summet et al. CMAJ 2009;180:385-97 Hartman et al. Clinical Med Res 2008; 6: 54-67 Análogos da Insulina de mistura Lispro 25/50 Aspart 30 (Humalog Mix ) (Novo Mix ) Insulina Glargina (Lantus®) Gly 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Asp 21 Substituição de Asparagina em A21 pela glicina Arg Arg e adição de 2 aminoácidos terminais. Precipita quando injectada, formando micro precipitados (hexâmeros) no tecido subcutâneo. Absorção lentificada e duração aumentada da acção da insulina.(24H) 32 31 30 29 28 27 26 25 22 23 24 Insulina Glargina (Lantus®) Substituição de Asparagina em A21 pela glicina e adição de 2 aminoácidos terminais. Precipita quando injectada, formando micro precipitados (hexâmeros) no tecido subcutâneo. Absorção lentificada e duração aumentada da acção da insulina.(24H) Insulina Glargina (Lantus®) vs NPH Ausência de diferença na A1C Menor risco de hipoglicemia nocturna Menor ganho de peso Dor no local da injecção Insulina Detemir (Levemir®) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Retirada à cadeia B o último aminoácido. Junção do ácido gordo Mirístico à lisina B29. Ligação reversível à albumina no tecido subcutâneo e na circulação prolongando a sua duração de acção. (14 – 21H) 21 Ac. mirístico 29 28 27 26 30 Tre 25 22 23 24 Insulina Detemir (Levemir®) Retirada à cadeia B o último aminoácido. Junção do ácido gordo Mirístico à lisina B29. Ligação reversível à albumina no tecido subcutâneo e na circulação prolongando a sua duração de acção. (14 – 21H) Insulina Detemir (Levemir®) vs NPH A1C sobreponível Menor risco de hipoglicemia (geral) e de hipoglicemia nocturna Perda de peso Menor variabilidade intra-individual Doses maiores para atingir o mesmo controlo glicémico Características farmacodinâmicas dos análogos lentos de insulina Insulina e análogos Início (h) Pico Acção (h) Duração efectiva (h) Insulina de acção Intermédia convencional NPH 2-4 4-8 10-16 2-4 2-4 8-16 6-8 20 14 Longa Glargina Detemir Duração (h) 20-24 18 Pico mais discreto Acção mais sustentada, mais em plateau Curva mais semelhante à secreção basal endógena Meta-análise: Ins. Glargina associa-se a menor risco de hipoglicémia nocturna (vs NPH) • • Meta-análise (5 estudos): 2641 DMT2 “naives” de insulina, que foram tratados com Insulina Glargina ou NPH, administrada ao fim da tarde (+ADO , em esquema posologico semelhante) O risco de hipoglicémia nocturna foi significativamente menor com Insulina Glargina versus NPH, evitando que uma em cada oito pessoas tratadas tivesse um episódio nocturno de hipoglicémia confirmado (auto-determinação da glucose sanguínea <3,9 mmol/L) Home PD, e colab. ADA 2009 Insulina Glargina: maior duração de acção Estudo aleatorizado, comparativo da Insulina Glargina com insulina Detemir em 24 indivíduos com DMT1, que nunca tinham sido previamente tratados com Insulina Glargina e Detemir Porcellati F, e colab. Diabetes Care 2007;30(10):2447–2452 Eficácia semelhante na HbA1c: Insulina Glargina vs Detemir Meta-análise (24 ensaios clínicos) que avaliaram doentes com DMT2 que nunca tinham sido previamente tratados com insulina (naive) e que iniciaram uma das insulinas basais A alteração na HbA1c e no peso foi semelhante nos dois grupos Dose de Detemir é sig. mais elevada para atingir mm A1C Dailey G, e colab. ADA 2009, Insulina Glargina vs Detemir HbA1c inicial =8,6% Para uma eficácia semelhante ( A1c) à da Ins. Glargina, a Ins.Detemir é administrado duas vezes por dia em mais de 50% dos diabéticos e a dose é mais elevada (77%) Rosenstock J, e colab. Diabetologia 2008;51(3):408–416 Alteração do peso (kg) Detemir na diabetes Tipo 2: aumento de peso semelhante ao registado com Insulina Glargina duas vezes por dia (A1C: 8.6 para 7.2 e 7.1 %) Detemir Detemir uma vez duas vezes por dia por dia †p<0.012 *p<0.001; Detemir (globalidade) Insulina Glargina Rosenstock J, e colab. Diabetologia 2008;51(3), 408-16 Análogos de insulina versus insulina convencional …Qualidade de vida Actividades de lazer Barreiras psicológicas Controlo da diabetes Controlo do peso Tratamento Dependência Qualidade do sono Pontuação total O tratamento com Insulina Glargina esteve associado a melhores resultados relatados pelos doentes que o tratamento com NPH Scholten T, e colab. Diabetologia 2008;51(Suppl 1):S406 Vantagens - Análogos lentos Menor risco de hipoglicemia (nocturna e severa) Melhoria do perfil no período interprandial Melhoria da glicemia do jejum Menor aumento de peso Maior adesão (sem horários rigídos; 80% só uma adiministração de glargina) Summet et al. CMAJ 2009;180:385-97 Hartman et al. Clinical Med Res 2008; 6: 54-67 Desvantagens - Análogos de insulina Insulina Dor no local na injecção (glargina) Prurido/rash (+ glulisina) • Poucos estudos em grávidas e crianças (< 6 a) e idosos • Preço $$$$$$ Curta Preço € (3mL) 3,6 Análogos Rápidos Humalog (Lispro) NovoRapid (Aspart) Glulisina (Apidra) 5,29 6,19 7,26 Intermédia 4,9 Análogos Lentos Lantus (Glargina) Levemir (Detemir) 10,65 11,77 Insulin Glargine Safety in Pregnancy: A transplacental transfer study CONCLUSIONS Insulin glargine, when used at therapeutic concentrations, is not likely to cross the placenta. Pollex EK et al. Diabetes Care 2010 ; 33 : 29-33. Análogo de Insulina Ultra Lenta _Insulina Dugladec _ Insulina Dugladec Mantém a sequência de aminoácidos da insulina humana, excepto para a exclusão de ThrB30 e a adição de um diácido gordo de carbono-16 anexado ao LysB29 via ácido glutâmico. No local da injecção, a insulina degludec auto-associasse formando grandes multi-hexâmeros num depósito solúvel,com libertação continua e prologada, resultando uma longa duração de acção e sem picos. Permite esquemas de administração mais flexíveis e diminui o risco de hipoglicemia. Insulina Dugladec Em 2012 foi proposta a sua aprovação à EMEA e FDA Está também proposta para aprovação a mistura de Insulina Dugladec/ insulina Aspart The Lancet, Volume 377, Issue 9769, Pages 924 - 931, 12 March 2011 Agenda • Uma visão histórica da insulinoterapia • O “porquê” de novas insulinas. • Análogos de insulina • Controvérsias dos análogos de insulina • Conclusões e futuro Cancro e análogos de insulina Insulin glargine and malignancy: an unwarranted alarm. Pocock SJ, Smeeth L Lancet. 2009;374:511-513. 15 de agosto de 2009 Insulina glargina e malignidade: um alarme injustificado Cancro e análogos de insulina Setembro de 2009 Hemkens LG, Grouven U, Bender R, et al. Risk of malignancies in patients with diabetes treated with human insulin or insulin analogues: a cohort study. Diabetologia. 2009;52:1732-1744. Jonasson JM, Ljung R, Talbäck M, Haglund B, Gudbjörnsdòttir, Steineck G. Insulin glargine use and short-term incidence of malignancies--a population-based follow-up study in Sweden. Diabetologia. 2009;52:1745-1754. Colhoun HM; SDRN Epidemiology Group. Use of insulin glargine and cancer incidence in Scotland: A study from the Scottish Diabetes Research Network Epidemiology Group. Diabetologia. 2009;52:1755-1765. Currie CJ, Poole CD, Gale EA. The influence of glucose-lowering therapies on cancer risk in type 2 diabetes. Diabetologia. 2009;52:1766-1777. Kurtzhals P, Schäffer L, Sørensen A, et al. Correlations of receptor binding and metabolic and mitogenic potencies of insulin analogs designed for clinical use. Diabetes. 2000;49:999-1005 ……estudos epidemiológicos no futuro. Cancro e análogos de insulina Capacidade mitogénica - Acção mitogénica e anti-apoptótica favorecendo os mecanismos fisiopatológicos subjacentes ao crescimento de neoplasias - A insulina regula a biodisponibilidade de IGF-1 (Insulin-like growth factor 1) através da modulação das concentrações de IGFBP. ( Insulin-like growth factor binding proteins ) - A insulina detemir tem menor acção mitogénica que a glargina por ter baixa afinidade para os receptores IGF-1. -Não se pode extrapolar o que se passa in vitro para in vivo - Não há dados actuais suficientes para se confimar ou negar - São necessários mais estudos The Canadian Medical Association Journal Fevereiro de 2009 Efficacy and safety of insulin analogues for the management of diabetes mellitus: a meta-analysis From the Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health, Ottawa, Ont. Foram incluídos 68 estudos controlados e randomizadoss na análise dos análogos rápidos de insulina e 49 na análise de análogos de longa ação de insulina. A maioria dos estudos foram de curta a média duração e de baixa qualidade. Em termos de hemoglobina A1c, encontramos diferenças mínimas entre análogos rápidos de insulina e insulina humana regular em adultos com diabetes tipo 1 ... resultados semelhantes nos diabéticos tipo 2 As diferenças entre análogos lentos de insulina e a protamina neutra Hagedorn, em termos de hemoglobina A1c foram marginais entre adultos com diabetes tipo 1 Os benefícios em termos de redução de hipoglicemia foram inconsistentes. Não havia dados suficientes para determinar se os análogos de insulina são melhores do que as insulinas convencionais na redução a longo prazo das complicações da diabetes e mortalidade. Sumeet Singh ; Chris Cameron R CMAJ • February 17, 2009 Agenda • Uma visão histórica da insulinoterapia • O “porquê” de novas insulinas. • Análogos de insulina • Controvérsias dos análogos de insulina • Conclusões e futuro Análogos de insulina: Conclusões Eficácia semelhante na redução A1C Os objectivos do tratamento devem ir além da A1C e incluir: perfil glicémico mais estável, esquemas flexíveis, grau de satisfação, menos efeitos secundários Melhoram o perfil glicémico associando-se a melhoria da glicemia pósprandiais e do jejum com diminuição das hipoglicemias. Insulina prandial Insulina basal Análogos de insulina: Conclusões Possibilitam esquemas de insulina mais flexíveis (insulinoterapia funcional) - Insulinoterapia basal/bolus - O doente adapta a insulina prandial em função da alimentação, actividade física, horário de trabalho,… Têm menor variabilidade intrapessoal Há menor ganho de peso São necessários mais estudos para determinar o impacto dos análogos na redução das complicações crónicas e da mortalidade (curta duração dos estudos). ….em investigação Diabetes Spectrum March 20, 2009 22:92-106 Futuro …perfusão endovenosa. …por pâncreas artificial. …..? Obrigada pela vossa atenção