Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE ENTONACIONAL E PRAGMÁTICA DE CONVERSAS TELEFÔNICAS COLOQUIAIS: OS ENUNCIADOS INTERROGATIVOS TOTAIS NAS VARIEDADES DE BUENOS AIRES E SANTIAGO DO CHILE CAROLINA GOMES DA SILVA 2014 1 ANÁLISE ENTONACIONAL E PRAGMÁTICA DE CONVERSAS TELEFÔNICAS COLOQUIAIS: OS ENUNCIADOS INTERROGATIVOS TOTAIS NAS VARIEDADES DE BUENOS AIRES E SANTIAGO DO CHILE CAROLINA GOMES DA SILVA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, área de concentração Língua Espanhola). Orientadora: Prof.ª Dr.ª Leticia Rebollo Couto. Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Maristela da Silva Pinto. Rio de Janeiro Fevereiro de 2014 2 Análise entonacional e pragmática de conversas telefônicas coloquiais: os enunciados interrogativos totais nas variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile Carolina Gomes da Silva Orientadora: Prof.ª Dr.ª Leticia Rebollo Couto. Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Maristela da Silva Pinto. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, área de concentração Língua Espanhola). Examinada por: ______________________________________________________________________ Presidente, Prof.ª Dr.ª Leticia Rebollo Couto – Letras Neolatinas, UFRJ ______________________________________________________________________ Prof. Dr. João Antônio de Moraes – Letras Vernáculas, UFRJ ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Juan Manuel Sosa – Simon Fraser University/CA ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Claudia de Souza Cunha – Letras Vernáculas, UFRJ, Suplente ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Carolina Ribeiro Serra – Letras Vernáculas, UFRJ, Suplente Co-orientadora: *** ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maristela da Silva Pinto – UFRRJ Rio de Janeiro Fevereiro de 2014 3 GOMES DA SILVA, Carolina. Análise entonacional e pragmática de conversas telefônicas coloquiais: os enunciados interrogativos totais nas variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile / Carolina Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Faculdade de Letras, 2014. XIII, 274f.: il.; 31cm. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Leticia Rebollo Couto Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Maristela da Silva Pinto Dissertação (Mestrado) - UFRJ/ Faculdade de Letras / Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, área de concentração Língua Espanhola), 2014. Referências bibliográficas: p.179-185. 1. Entoação. 2. Pragmática. 3. Conversação Coloquial. 4. Buenos Aires. 5. Santiago do Chile. I. Rebollo Couto, Leticia; Pinto, Maristela da Silva. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, área de concentração Língua Espanhola). III. Título. 4 RESUMO Análise entonacional e pragmática de conversas telefônicas coloquiais: os enunciados interrogativos totais nas variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile Este estudo pretende investigar a correlação entre a forma prosódica e a função pragmática de enunciados interrogativos totais, realizados em conversas telefônicas coloquiais por falantes de espanhol das variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile. Os objetivos específicos são: i) verificar quais são os contornos entonacionais encontrados em conversas coloquiais dos enunciados interrogativos totais nas variedades argentina (Buenos Aires) e chilena (Santiago do Chile), através de dois parâmetros acústicos: frequência fundamental e duração e ii) analisar se há uma relação biunívoca entre a forma prosódica e a função pragmática. Para a coleta dos dados, foram analisadas quatro conversas telefônicas coloquiais, amostra de fala espontânea, nas quais encontramos 39 enunciados interrogativos totais para a variedade de Buenos Aires e 39, para a variedade de Santiago do Chile. Totalizando 78 enunciados interrogativos proferidos por oito informantes: dois do sexo feminino e dois do sexo masculino, para a variedade de Buenos Aires e dois do sexo feminino e dois do sexo masculino, para a variedade de Santiago do Chile. Os resultados das análises fonética e fonológica demonstram que os enunciados interrogativos totais apresentam diferentes contornos melódicos finais: na variedade de Buenos Aires, a ocorrência de enunciados interrogativos totais com contorno circunflexo no núcleo é majoritária, ao passo que na variedade de Santiago do Chile, o contorno ascendente no núcleo é o mais recorrente. No que se refere à análise pragmática, verificamos que para as diferentes categorias pragmáticas, encontramos configurações nucleares semelhantes, enquanto que para uma mesma categoria, verificamos diferentes configurações nucleares. Constatamos que tal variação de padrões no núcleo se relaciona com os graus de certeza epistêmica: pedido de informação e pedido de confirmação. Palavras-chave: entoação; pragmática; enunciados interrogativos totais; Buenos Aires; Santiago do Chile. Rio de Janeiro Fevereiro de 2014 5 RESUMEN Análisis entonacional y pragmática de conversaciones telefónicas coloquiales: los enunciados interrogativos totales en las variedades de Buenos Aires y Santiago de Chile Este estudio pretende investigar la correlación entre la forma prosódica y la función pragmática de enunciados interrogativos totales, realizados en conversaciones telefónicas coloquiales por hablantes de español de las variedades de Buenos Aires y de Santiago de Chile. Los objetivos específicos son: i) verificar cuáles son los contornos entonacionales que se encuentran en conversaciones coloquiales de los enunciados interrogativos totales en las variedades argentina (Buenos Aires) y chilena (Santiago de Chile), a través de dos parámetros acústicos: frecuencia fundamental y duración y ii) analizar si hay una correlación biunívoca entre la forma prosódica y la función pragmática. Analizamos cuatro conversaciones telefónicas coloquiales, muestra de habla espontánea, en las que encontramos 39 enunciados interrogativos totales para la variedad de Buenos Aires y 39, para la variedad de Santiago de Chile, con un total de 78 enunciados interrogativos proferidos por ocho informantes: dos del sexo femenino y dos del sexo masculino, para la variedad de Buenos Aires y dos del sexo femenino y dos del sexo masculino, para la variedad de Santiago de Chile. Los resultados de los análisis fonético y fonológico demuestran que los enunciados interrogativos totales presentan diferentes contornos melódicos finales: en la variedad de Buenos Aires, el contorno final circunflejo en el núcleo es mayoritario, mientras que en la variedad de Santiago de Chile, el contorno ascendente en el núcleo es el más frecuente. El análisis pragmático señala que para las diferentes categorías pragmáticas, encontramos configuraciones nucleares semejantes, mientras que para una misma categoría, verificamos diferentes configuraciones nucleares. Constatamos que dicha variación de patrones en el núcleo se relaciona con los grados de certeza epistémica: pedido de información y pedido de confirmación. Palabras-clave: entonación; pragmática; enunciados interrogativos totales; Buenos Aires; Santiago de Chile. Rio de Janeiro Fevereiro de 2014 6 ABSTRACT Intonational and Pragmatic analyis of colloquial long distance calls: yes-no questions in Argentinean Spanish and Chilean Spanish This work aims to analyze the correlation between prosodic form and pragmatic function of yes-no questions, extracted from telephone calls by Argentinean speakers (Buenos Aires) and Chilean speakers (Santiago do Chile). Our first goal is to verify what kinf of melodic contours of yes-no questions we can find in colloquial conversations in the Argentinean variety (Buenos Aires) and in the Chilean variety (Santiago) are. We used two acoustic parameters for that: fundamental frequency and duration. And, the second goal is to analyze if there is biunivocal relation between the prosodic form and the pragmatic function. The data were extracted from four colloquial long distance calls from USA to Buenos Aires or Santiago do Chile in which we found 78 examples of yes-no questions: 39 for Argentinean variety, made by 2 male and 2 female informants and 39 for Chilean variety, made by 2 male and 2 female informants too. The phonetic and phonologic results show that yes-no questions present different nuclear configurations: in the Buenos Aires’s variety, the occurrence of total interrogative sentences with circumflex curve in the nucleus is majority. As for the Chilean variety, the ascending curve in the nucleus is the most recurrent. Regarding the pragmatic analysis, we noticed that, for different pragmatic categories, similar nuclear configurations were found. We also noticed that for the same category, different nuclear configurations were found. Such variation of patterns in the nucleus is related to the degrees of epistemic certainty: information request and confirmation request. Key-words: Intonation; Pragmatic; yes-no questions; Argentinean Spanish; Chilean Spanish. Rio de Janeiro Fevereiro de 2014 7 Esta pesquisa foi integralmente financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 8 À Leny Luques, mulher guerreira e sábia, cozinheira de mão cheia, com o maior coração do mundo. E o melhor de tudo: minha avó! 9 “No novo tempo, apesar dos castigos, Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos pra nos socorrer. (...) No novo tempo, apesar dos castigos, De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga pra nos socorrer.” (Letra e Música: Vitor Martins e Ivan Lins) 10 AGRADECIMENTOS “E aprendi que se depende sempre De tanta, muita, diferente gente. Toda pessoa sempre é as marcas Das lições diárias de outras tantas pessoas.” (Gonzaguinha) Concluir esta dissertação é também fechar um ciclo de dois anos de novos aprendizados e novas descobertas. Ao longo desse tempo, contei com o apoio e paciência de muitas pessoas, a quem agradeço nas linhas e páginas que seguem. Em primeiro lugar, agradeço a Deus, que me sustentou e renovou minhas forças a cada dia e permitiu que eu concluísse esta dissertação de mestrado. Agradeço aos meus pais, Walter e Eliane, que nunca mediram esforços para que eu fosse criada da melhor forma possível. Ainda que não compreendam a diferença entre uma dissertação e uma tese, tenho certeza de que são as pessoas mais realizadas com esta vitória. Agradeço a minha avó, Leny, a quem dedico esta dissertação. Seu carinho, sua paciência e sua sabedoria foram e são fundamentais para mim. Agradeço também ao meu amigo e “namonoivo” Danilo, que acompanhou este processo desde o período de iniciação científica. Agradeço cada abraço dado nos momentos mais desesperadores, mesmo sem saber a força que continha cada um deles. Agradeço, ainda, pela ajuda com os dados no Excel, afinal, namorado também ajuda na análise dos dados! Agradeço a minha família querida: tia Eliane, tio Henrique, meus primos João Victor e Pedro Henrique, meus sogros Rosane e Edmundo e minhas cunhadas Daniele e Nayra, pelo carinho e pelas palavras de incentivo. Agradeço ao meu primo João Victor pela disponibilidade em me ajudar com as traduções para o inglês. Em especial, agradeço aos meus sobrinhos, Gabrielle e Gabriel, que colorem minha vida com sorrisos e amor. Finalmente, mas não menos importante, agradeço à tia Gilma e ao Vô Milton pelos dez anos de suas vidas que me dedicaram e por me fazerem sentir parte da sua família. Ainda pensando em casa, deixo meus agradecimentos aos meus “irmãos de quatro patas” que, de uma forma ou de outra, fazem parte da família: Samanta, irmã canina, que precisou me deixar no meio do caminho; Fred, irmão felino quase-canino, que “leu” todos 11 os textos comigo e Hello Kitty e Branca Leite, minhas irmãs felinas, ariscas, mas carinhosas quando querem comer ou beber leite. Esta longa caminhada seria incompleta sem o apoio de amigos. Por isso agradeço às amigas de infância, Beatriz e Natalia, minhas amigas desde zigoto. Obrigada por esses 24 anos juntas! Obrigada pelo apoio e amizade que sempre tivemos e desculpem-me pelos momentos em que precisei me ausentar por conta desta dissertação. Agradeço a todos os membros da família Lino pela amizade, apoio, orações e por permitirem que eu também faça parte dessa família tão querida. Agradeço também às minhas amigas banguenses pelos momentos agradáveis e por me aturarem falando de casamento: Bruna, minha quase gêmea; Tati, “produtora” do melhor caldo de cana da vida e Belinha, que compartilha comigo essa correria da vida acadêmica. Minha jornada na Faculdade de Letras da UFRJ não seria a mesma se não me encontrasse com Bruno Faber e Camila Pinheiro, formando assim, o tripé. Obrigada pelos quatro anos de faculdade e por tudo que vivemos juntos ao longo desse tempo. Tenho muito orgulho do caminho que cada um de nós escolheu seguir! À Camila, agradeço em especial pelo privilégio de ser sua madrinha de casamento e pela vida do meu sobrinho emprestado, Bernardo. Agradeço também aos amigos de Vernáculas: ao “quase artista” Caio Castro, por todo incentivo, pelas boas gargalhadas, por me emprestar sua voz para os trabalhos e pelas discussões fonéticas. Você é um exemplo! À companheira caxiense (agora lisboeta), Elaine Melo, pelo apoio, por não ter medo de andar de carro comigo e por me ensinar um pouco de Sintaxe. Aos queridos Ana Carolina Mrad, Camila Duarte, Érica Nascimento e Thiago Laurentino, deixo meu agradecimento pelas trocas, desesperos e conquistas compartilhadas ao longo desses anos. Agradeço aos amigos de “LitTrailer”, Diego Vargas, Vanessa Portugal, Renato Marques, Douglas Knupp (eterno Dylon) e Mariane Espinheira, que me acolheram tão bem quando eu ainda era uma caloura perdida. No âmbito acadêmico, agradeço aos professores com quem tive o privilégio de estudar durante a graduação e que me ajudaram a escolher um caminho a seguir. Agradeço também aos professores da pós-graduação pelos ensinamentos que muito contribuíram para a minha formação e para a elaboração desta dissertação: João Moraes, Claudia Cunha, Carolina Serra, Maria Mercedes Sebold, Consuelo Alfaro e Antônio Andrade. 12 Especialmente, agradeço aos professores João Moraes, Juan Manuel Sosa, Claudia Cunha e Carolina Serra por terem aceitado o convite e me darem o privilégio de participarem da banca desta dissertação. De forma muito querida, agradeço à minha orientadora, Leticia Rebollo Couto, por esses cinco anos de orientação. Agradeço por ter me mostrado o mundo da pesquisa e pelos ensinamentos acadêmicos, humanos e éticos. Sem dúvida, não teria conquistado o que conquistei se não fosse seu apoio e incentivo. À Leticia agradeço também pela leitura sempre tão atenta deste trabalho. De igual forma, agradeço a minha co-orientadora, Maristela da Silva Pinto, por todos esses anos de convívio, amizade e aprendizado. Agradeço pela paciência que sempre teve quando eu ainda engatinhava na pesquisa, pelos trabalhos que realizamos juntas e pelas conversas acadêmicas e não acadêmicas. Agradeço ainda aos amigos do grupo de pesquisa, Ricardo Pinho, Priscila Ferreira, Natalia Figueiredo, Carolina Fernandes, Aline Gabriel e Diana Pereira, pelos textos e conhecimentos compartilhados. Devo agradecer também aos meus alunos da UFRJ, em especial aos alunos do curso de Fonética e Fonologia do Espanhol, que sempre foram bastante receptivos às novas descobertas, incluindo o uso do PRAAT! Obrigada por me permitirem crescer com vocês. Agradeço à aluna Patricia Ramos que muito me ajudou na transcrição das gravações. Finalmente, de cunho mais técnico, agradeço ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas e também ao CNPq, pela bolsa de estudos concedida que me permitiu participar de diversos eventos, nos quais pude trocar ideias com outros pesquisadores e adquirir novos conhecimentos. 13 SUMÁRIO Lista de figuras .......................................................................................................... 18 Lista de tabelas .......................................................................................................... 23 Lista de gráficos ........................................................................................................ 25 Lista de esquemas ..................................................................................................... 26 Introdução .......................................................................................................................................27 1- Prosódia e entoação: modelos teóricos e representações ............................................. 31 1.1- Prosódia e entoação: definições, parâmetros e funções ................................................31 1.2- Modelos teóricos da entoação...........................................................................................34 1.2.1- Representando a entoação: o Sp_ToBI ................................................................36 1.3- Fonologia Prosódica ...........................................................................................................39 1.4- Estudos de enunciados interrogativos totais: Buenos Aires e Santiago do Chile ......41 1.4.1- Características entonacionais dos enunciados interrogativos de Buenos Aires . .......................................................................................................................................................... 42 1.4.2- Características entonacionais dos enunciados interrogativos de Santiago do Chile ...................................................................................................................................................47 1.5- Resumindo ...........................................................................................................................52 2- Conversação coloquial........................................................................................... 53 2.1- Coloquial versus Oral versus Espontâneo ...........................................................................53 2.2- Conversação coloquial .......................................................................................................56 2.3- Elementos coloquiais..........................................................................................................59 2.3.1- Partículas discursivas coloquiais ............................................................................59 2.3.1.1- Buenos Aires .................................................................................................60 2.3.1.2- Santiago do Chile ..........................................................................................63 2.3.2- Formas de tratamento coloquiais ..........................................................................66 2.3.2.1- Buenos Aires .................................................................................................67 2.3.2.2- Santiago do Chile ..........................................................................................69 2.3.3- Intensificadores e atenuadores .............................................................................71 2.3.3.1- Buenos Aires .................................................................................................72 14 2.3.3.2- Santiago do Chile ..........................................................................................74 2.3.4- Diminutivos ..............................................................................................................76 2.3.4.1- Buenos Aires .................................................................................................77 2.3.4.2- Santiago do Chile ..........................................................................................78 2.4- A estrutura conversacional ................................................................................................79 2.4.1- Os turnos de fala......................................................................................................79 2.4.2- A conversa telefônica ..............................................................................................80 2.5- Resumindo ...........................................................................................................................82 3- Metodologia........................................................................................................... 84 3.1- O corpus .................................................................................................................................84 3.1.1- Escolha das gravações .............................................................................................84 3.1.2- As conversas telefônicas .........................................................................................85 3.1.2.1- Conversa 1 .....................................................................................................86 3.1.2.2- Conversa 2 .....................................................................................................87 3.1.2.3- Conversa 3 .....................................................................................................87 3.1.2.4- Conversa 4 .....................................................................................................87 3.1.3- Critérios de transcrição ortográfica .......................................................................87 3.2- Programas de análise ..........................................................................................................89 3.2.1- Audacity ....................................................................................................................89 3.2.2- Praat ...........................................................................................................................90 3.3- Critérios de análise ..............................................................................................................91 3.3.1- Análise acústica ........................................................................................................91 3.3.2- Análise pragmática ...................................................................................................92 3.4- Resumindo ...........................................................................................................................94 4- Resultados e discussões: enunciados interrogativos totais – variedade de Buenos Aires ........................................................................................................................... 96 4.1- Análise Fonética ..................................................................................................................98 4.1.1- Análise Fonética: Descrição da F0 ........................................................................98 4.1.2- Análise Fonética: Descrição da duração ............................................................ 103 4.2- Análise pragmática e notação fonológica das curvas entonacionais ......................... 108 4.2.1- Análise pré-nuclear ............................................................................................... 109 4.2.2- Análise nuclear ...................................................................................................... 111 15 4.2.2.1- Detalhe de elaboração ............................................................................... 112 4.2.2.2- Informação suplementar........................................................................... 116 4.2.2.3- Iniciador de tópico .................................................................................... 120 4.2.2.4- Diretor do fluxo de informação .............................................................. 121 4.2.2.5- Pergunta esclarecedora.............................................................................. 122 4.2.2.6- Pergunta retórica........................................................................................ 126 4.3- Notação fonológica e padrão acentual .......................................................................... 130 4.4- Resumindo ........................................................................................................................ 131 5- Resultados e discussões: enunciados interrogativos totais – variedade de Santiago do Chile...................................................................................................... 133 5.1- Análise Fonética ............................................................................................................... 135 5.1.1- Análise Fonética: Descrição da F0 ..................................................................... 135 5.1.2- Análise Fonética: Descrição da duração ............................................................ 140 5.2- Análise pragmática e notação fonológica das curvas entonacionais ......................... 145 5.2.1- Análise pré-nuclear ............................................................................................... 145 5.2.2- Análise nuclear ...................................................................................................... 147 5.2.2.1- Detalhe de elaboração ............................................................................... 148 5.2.2.2- Informação suplementar........................................................................... 152 5.2.2.3- Pergunta esclarecedora.............................................................................. 154 5.2.2.4- Diretor do fluxo de informação .............................................................. 155 5.2.2.5- Iniciador de tópico .................................................................................... 156 5.3- Notação fonológica e padrão acentual.......................................................................... 159 5.4- Resumindo ........................................................................................................................ 161 6- Sintagmas entonacionais seguidos de tag question: análise preliminar ............. 163 6.1- Estudos sobre os tag questions: O âmbito prosódico.................................................... 163 6.2- Corpus Preliminar .............................................................................................................. 167 6.3- Análises preliminares ....................................................................................................... 168 6.3.1- Buenos Aires ......................................................................................................... 168 6.3.2- Santiago do Chile .................................................................................................. 171 6.4- Resumindo ........................................................................................................................ 174 Considerações Finais................................................................................................ 175 16 Referências Bibliográficas ........................................................................................ 179 Anexo 1: Médias de F0 e duração ............................................................................. 186 Anexo 2: Contornos entonacionais do pré-núcleo e do núcleo ............................... 207 Anexo 3: Contornos entonacionais dos Is+¿no?/Is+¿ah? ....................................... 239 Anexo 4: Transcrição das conversas telefônicas ...................................................... 247 17 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Esquemas dos acentos tonais (AGUILAR et alii., 2009). .........................................37 Figura 2: Esquemas dos tons de fronteiras (break índice of level 4) e tons de frases intermediárias (break índice of level 3) (AGUILAR et alii., 2009). ..........................................38 Figura 3: Esquema arbóreo dos constituintes prosódicos (BISOL, 2005, p. 244). ...............39 Figura 4: Contorno melódico do enunciado interrogativo total de Buenos Aires (SOSA, 1999, p.199). .....................................................................................................................................42 Figura 5: Enunciado interrogativo total com constituintes paroxítonos de Buenos Aires (GURLEKIAN et alii.., 2010). .......................................................................................................43 Figura 6: Contorno melódico do enunciado interrogativo total neutro (information seeking) de Buenos Aires (GABRIEL et alli., 2010, p. 296). ....................................................................44 Figura 7: Contorno melódico do enunciado interrogativo total confirmativo de Buenos Aires (GABRIEL et alli., 2010, p. 301). ........................................................................................44 Figura 8: Pergunta conformativa da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.91). .................................................................................................................................................45 Figura 9: Pergunta neutra da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.95). ....46 Figura 10: Pergunta incrédula, com foco amplo da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.104). .....................................................................................................46 Figura 11: Pergunta incrédula, com foco no pré-núcleo da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.104). .....................................................................................................46 Figura 12: Pergunta incrédula, com foco no núcleo da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.104). .....................................................................................................46 Figura 13: Pergunta retórica da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.109). ............................................................................................................................................................47 Figura 14: Valores de frequência fundamental das três repetições do enunciado “¿El saxofón se toca con obsesión?” (ROMÁN, COFRÉ & ROSAS, 2008, p.142). ....................49 Figura 15: Valores de frequência fundamental das três repetições do enunciado “¿La guitarra se toca con obsesión?” (ROMÁN, COFRÉ & ROSAS, 2008, p.142). ....................49 Figura 16: Valores de frequência fundamental das três repetições do enunciado “¿La cítara se toca con paciencia?” (ROMÁN, COFRÉ & ROSAS, 2008, p.143). ..................................49 Figura 17: Contorno melódico do enunciado interrogativo total neutro (information seeking) de Santiago do Chile (ORTIZ et alli., 2010, p. 264). ...................................................50 18 Figura 18: Contorno melódico do enunciado interrogativo total, com marcas de polidez de Santiago do Chile (ORTIZ et alli., 2010, p. 266). .......................................................................51 Figura 19: Contorno melódico do enunciado interrogativo total confirmativo de Santiago do Chile (ORTIZ et alli., 2010, p. 270). ........................................................................................51 Figura 20: Exemplo de uma gravação do nosso corpus no programa Audacity. ..................89 Figura 21: Exemplo de um enunciado do nosso corpus no programa Praat. ........................90 Figura 22: Exemplo de contorno melódico suavizado. .............................................................91 Figura 23: Comportamento da F0 no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ............................................................................................................98 Figura 24: Comportamento circunflexo da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ................................................................................................... 100 Figura 25: Comportamento ascendente da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ................................................................................................... 100 Figura 26: Comportamento descendente da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ......................................................................................... 101 Figura 27: Comportamento da duração no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ................................................................................................... 103 Figura 28: Comportamento da duração no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ....................................................................................................104 Figura 29: Comportamento da duração no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ......................................................................................................... 106 Figura 30: Comportamento da duração no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ......................................................................................................... 106 Figura 31: Contorno melódico do enunciado “¿Con tus amigos todo bien?”, produzido pelo falante 2 do sexo feminino. ................................................................................................ 109 Figura 32: Contorno melódico do enunciado “¿Alguien que esté también tan cerca?”, produzido pelo falante 1 do sexo feminino. ............................................................................ 110 Figura 33: Contorno melódico do enunciado “¿Venís para las fiestas?”, produzido pelo falante 2 do sexo masculino. ...................................................................................................... 110 Figura 34: Contorno melódico do enunciado “¿Le preguntaste a tu hermano de Manuel?”, produzido pelo falante 2 do sexo masculino. .......................................................................... 111 Figura 35: Contorno melódico do enunciado “¿Y esa casa es así como candidata?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 1 do sexo masculino). 113 19 Figura 36: Contorno melódico do enunciado “¿Te sentis responsable?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 1 do sexo feminino). ................................... 114 Figura 37: Contorno melódico do enunciado “¿Venís para las fiestas?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). ................................. 115 Figura 38: Contorno melódico do enunciado “Ah ¿estudia esto?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). ............................ 117 Figura 39: Contorno melódico do enunciado “¿Esa es la que vos la tenías cagazo?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). ......................................................................................................................................................... 118 Figura 40: Contorno melódico do enunciado “¿Dos de enero?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). ............................ 119 Figura 41: Contorno melódico do enunciado “¿Con tus amigos todo bien?”, classificado como iniciador de tópico (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). ............................ 121 Figura 42: Contorno melódico do enunciado “¿Está allá ahora?”, classificado como diretor do fluxo de informação (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). ............................... 122 Figura 43: Contorno melódico do enunciado “¿Hablaban em código?”, classificado como pergunta esclarecedora (produzido pelo falante 1 do sexo feminino). ................................ 123 Figura 44: Contorno melódico do enunciado “¿Ella está mal?”, classificado como pergunta esclarecedora (produzido pelo falante 1 do sexo feminino). ................................................. 124 Figura 45: Contorno melódico do enunciado “¿Con tu hermanito?”, classificado como pergunta esclarecedora (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). ................................ 125 Figura 46: Superposição dos contornos melódicos do enunciado “¿Con tu hermanito?”. Em linha contínua azul, classificado como pergunta esclarecedora e em linha pontilhada rosa, classificado como iniciador de tópico. ............................................................................. 126 Figura 47: Contorno melódico do enunciado “¿Sabés qué soñé?”, classificado como pergunta retórica (produzido pelo falante 1 do sexo feminino). ........................................... 127 Figura 48: Notação fonológica do enunciado com final proparoxítono “Ah ¿hablaban em código?”, produzido pelo falante 1 do sexo feminino. ........................................................... 130 Figura 49: Notação fonológica do enunciado com final oxítono “¿Sabías que hablando de Román está todo mal en la casa de él?”, produzido pelo falante 2 do sexo feminino. ...... 131 Figura 50: Comportamento da F0 no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ................................................................................................. 135 Figura 51: Comportamento da F0 no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ................................................................................................. 136 20 Figura 52: Comportamento ascendente da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ............................................................................................ 137 Figura 53: Comportamento descendente da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ................................................................................. 138 Figura 54: Comportamento circunflexo da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ............................................................................................ 138 Figura 55: Comportamento da duração no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ............................................................................................ 141 Figura 56: Comportamento da duração no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ............................................................................................ 141 Figura 57: Comportamento da duração no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ................................................................................................. 143 Figura 58: Comportamento da duração no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ................................................................................................. 144 Figura 59: Contorno melódico do enunciado “Pero ¿te conviene ir allá a la casa?”, produzido pelo falante 1 do sexo masculino. .......................................................................... 147 Figura 60: Contorno melódico do enunciado “¿Todos bien?”, produzido pelo falante 1 do sexo masculino. ............................................................................................................................ 147 Figura 61: Contorno melódico do enunciado “¿La empleada?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). ................................................ 149 Figura 62: Contorno melódico do enunciado “¿Este es adoptivo también?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). ....................... 151 Figura 63: Contorno melódico do enunciado “Ya ¿los mails?”, classificado como pergunta recíproca (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). ...................................................... 151 Figura 64: Contorno melódico do enunciado “¿Los tienes ahí?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). .............................. 153 Figura 65: Contorno melódico do enunciado “Pero ¿no está contento?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). .............................. 153 Figura 66: Contorno melódico do enunciado “¿U Chile?”, classificado como pergunta esclarecedora (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). ............................................... 156 Figura 67: Contorno melódico do enunciado “¿Te acuerdas de ese Arnoldo primo de nosotros?”, classificado como diretor do fluxo de informação (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). ............................................................................................................................. 157 21 Figura 68: Contorno melódico do enunciado “Oye ¿recibiste hoy una carta mía?”, classificado como iniciador de tópico (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). ....... 158 Figura 69: Notação fonológica do enunciado com final proparoxítono “¿Estai en el república?”, produzido pelo falante 1 do sexo masculino. .................................................... 160 Figura 70: Notação fonológica do enunciado com final oxítono “¿No recibiste nada así?”, produzido pelo falante 1 do sexo masculino. .......................................................................... 161 Figura 71: Exemplo de “I degenerado” (SERRA, 2009:135). ............................................... 165 Figura 72: Exemplo de fronteira prosódica entre o I precedente e o I que contém o “né?”, ambos com acento tonal e tom de fronteira (SERRA, 2009:135). ....................................... 165 Figura 73: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o I que contém o “¿no?”, ambos com acento tonal e tom de fronteira, na variedade de Buenos Aires. Enunciado produzido pelo informante 2, do sexo feminino. ............................................... 169 Figura 74: Contorno de “¿no?” L+H*HH%, realizado em 100% dos 8 casos. ................. 170 Figura 75: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿no?”, ambos com acento tonal e tom de fronteira, na variedade de Santiago do Chile. ................................... 171 Figura 76: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿ah?”, ambos com acento tonal e tom de fronteira, na variedade de Santiago do Chile. ................................... 172 Figura 77: Contorno de “¿no?” L+H*HH% realizada em 100% dos casos, na variedade de Santiago do Chile. ........................................................................................................................ 173 22 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Combinação de constituintes oxítonos, paroxítonos e proparoxítonos que compõem o corpus interrogativo (Gurlekian et alii., 2010). .....................................................43 Tabela 2: Combinação de constituintes oxítonos, paroxítonos e proparoxítonos que compõem o corpus interrogativo (Román, Cofré & Rosas, 2008). ..........................................48 Tabela 3: Partículas discursivas, conversa 1, entre mulheres da variedade de Buenos Aires. ............................................................................................................................................................60 Tabela 4: Partículas discursivas, conversa 2, entre homens da variedade de Buenos Aires. 61 Tabela 5: Partículas discursivas, conversa 3, entre mulheres da variedade de Santiago do Chile. .................................................................................................................................................63 Tabela 6: Partículas discursivas, conversa 4, entre homens da variedade de Santiago do Chile. .................................................................................................................................................64 Tabela 7: Formas de tratamento coloquiais, conversa 1, entre mulheres da variedade de Buenos Aires. ...................................................................................................................................67 Tabela 8: Formas de tratamento coloquiais, conversa 2, entre homens da variedade de Buenos Aires. ...................................................................................................................................67 Tabela 9: Formas de tratamento coloquiais, conversa 3, entre mulheres da variedade de Santiago do Chile. ...........................................................................................................................69 Tabela 10: Formas de tratamento coloquiais, conversa 4, entre homens da variedade de Santiago do Chile. ...........................................................................................................................69 Tabela 11: Intensificadores e atenuadores, conversa 1, entre mulheres da variedade de Buenos Aires. ...................................................................................................................................72 Tabela 12: Intensificadores e atenuadores, conversa 2, entre homens da variedade de Buenos Aires. ...................................................................................................................................72 Tabela 13: Intensificadores e atenuadores, conversa 3, entre mulheres da variedade de Santiago do Chile. ...........................................................................................................................74 Tabela 14: Intensificadores e atenuadores, conversa 4, entre homens da variedade de Santiago do Chile. ...........................................................................................................................75 Tabela 15: Diminutivos, conversa 1, entre mulheres da variedade de Buenos Aires. ...........75 Tabela 16: Diminutivos, conversa 2, entre homens da variedade de Buenos Aires. .............75 Tabela 17: Diminutivos, conversa 3, entre mulheres da variedade de Santiago do Chile. ...78 Tabela 18: Diminutivos, conversa 4, entre homens da variedade de Santiago do Chile. .....78 23 Tabela 19: Exemplos de marcas de espontâneo. ........................................................................88 Tabela 20: Categorias Pragmáticas (Adaptada de Hedberg et alii., 2010). ...............................93 Tabela 21: Quantitativo de enunciados interrogativos totais em cada categoria pragmática, variedade de Buenos Aires. ......................................................................................................... 112 Tabela 22: Variação tonal no núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ................................................................................................................................ 128 Tabela 23 Síntese das configurações nucleares encontradas para cada categoria pragmática. ......................................................................................................................................................... 129 Tabela 24: Quantitativo de enunciados interrogativos totais em cada categoria pragmática, variedade de Santiago do Chile. ................................................................................................. 148 Tabela 25 Variação tonal no núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ........................................................................................................................ 158 Tabela 26: Síntese das configurações nucleares encontradas para cada categoria pragmática. ....................................................................................................................................................... 159* Tabela 27: Distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?”, na variedade de Buenos Aires. ..................................................................................... 169 Tabela 28: Distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?”, na variedade de Santiago do Chile. .............................................................................. 172 24 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Variação de média de F0 (em Hz) do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ............................................................................................99 Gráfico 2: Variação de média de F0 (em Hz) do núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ......................................................................................... 102 Gráfico 3: Variação média da duração (em ms) nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ..........105 Gráfico 4: Variação média da duração (em ms) nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. ................ 107 Gráfico 5: Variação de média de F0 (em Hz) do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ................................................................................. 136 Gráfico 6: Variação de média de F0 (em Hz) do núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ................................................................................. 139 Gráfico 7: Variação média da duração (em ms) nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. .. 142 Gráfico 8: Variação média da duração (em ms) nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. ......... 145 25 LISTA DE ESQUEMAS Esquema 1: Quantitativo de enunciados interrogativos totais do corpus. .............................86 26 INTRODUÇÃO Nossa pesquisa: objetivos e hipóteses Esta pesquisa consiste em uma descrição da entoação de enunciados interrogativos totais realizados em conversas telefônicas coloquiais por falantes de espanhol das variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile, a partir da investigação da correlação entre a forma prosódica e a função pragmática destes enunciados. Para isso, nos baseamos nos pressupostos da fonologia entonacional (LADD, 1996), além do sistema de notação prosódica SP_ToBI (ESTEBAS-VILAPLANA & PRIETO, 2008) e do modelo proposto por Hedberg et alii (2010) para a classificação pragmática dos enunciados interrogativos totais, segundo a função que os mesmos ocupam no discurso . A partir desse objeto de estudo, levantamos algumas perguntas de pesquisa, que norteiam nossa investigação: (i) As descrições existentes para a entoação dos enunciados interrogativos totais, em corpus de fala atuada, sugerem comportamentos divergentes do contorno de frequência fundamental, no núcleo. Gabriel et alii (2010) descrevem para os enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires um núcleo ascendente-descendente, ao passo que Ortiz et alii (2010) propõem para o núcleo desses enunciados, para a variedade de Santiago do Chile, um contorno ascendente. Tais movimentos dos contornos entonacionais também serão encontrados em conversas coloquiais dos enunciados interrogativos totais nas variedades argentina (Buenos Aires) e chilena (Santiago do Chile)? Ou seja, os dados de fala espontânea corroboram os resultados de pesquisas já realizadas para a fala lida e/ou atuada? (ii) A função pragmática que ocupa o enunciado interrogativo total modifica seu contorno entonacional ou haverá uma relação biunívoca entre a forma prosódica e a função pragmática? (iii) Pensando nas perguntas confirmativas, nos interessa nessa dissertação o caso do tag question “¿no?”. A teoria da fonologia prosódica (NESPOR & VOGEL, 1994) prevê que este elemento constitui um sintagma entonacional (I), uma vez que não faz parte da oração raíz. Perguntamo-nos, portanto, se esses tag questions são realizados como um mesmo I junto ao I que os precede 27 ou se realizam em Is diferentes e quais são os contornos entonacionais do marcador interrogativo “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e de Santiago do Chile? Para responder às perguntas levantadas anteriormente, propomos alguns objetivos, a saber: (i) Verificar quais são os contornos entonacionais encontrados em conversas coloquiais dos enunciados interrogativos totais nas variedades argentina (Buenos Aires) e chilena (Santiago do Chile), através de dois parâmetros acústicos: frequência fundamental e duração; observando se dados conversacionais e espontâneos confirmam ou não os resultados já descritos para a fala lida e/ou atuada (SOSA, 1999; GABRIEL et alii, 2010; ORTIZ et alii, 2010; FIGUEIREDO, 2011); (ii) Analisar se há uma relação biunívoca entre a forma prosódica e a função pragmática; (iii) Descrever os contornos entonacionais do tag question “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e de Santiago do Chile e verificar se dito marcador pertence a um mesmo sintagma entonacional ou se constitui um sintagma distinto. Três hipóteses iniciais podem ser pensadas a partir da relação entre forma prosódica e função pragmática: (i) Para a variedade de Buenos Aires, Gabriel et alii (2010) descrevem para os enunciados interrogativos totais um núcleo ascendente-descendente, ao passo que Ortiz et alii (2010) propõem para a variedade de Santiago do Chile, um núcleo com contorno ascendente. Valendo-nos de tais pesquisas já realizadas para os enunciados interrogativos totais, acreditamos que nossos dados confirmam as descrições anteriores para fala lida e/ou atuada; (ii) Em função das descrições já realizadas em que se comprovam divergências entre o contorno entonacional e as diferentes atitudes proposicionais (MORAES, 2008; FIGUEIREDO, 2011; SÁ, inédito), podemos supor que também não haverá biunivicidade entre a forma prosódica e a função pragmática dos enunciados interrogativos totais; (iii) Com relação aos tag questions “¿no?”, assim como os resultados encontrados por Serra (2009) para o português do Brasil, acreditamos que estes tag questions 28 serão realizados em sintagmas entonacionais diferentes, com contorno semelhante ao do sintagma entonacional que o precede. Organizamos nossa dissertação em seis capítulos, ao término dos quais seguem pequenos resumos das informações discutidas ao longo do texto. Inicialmente, no capítulo1, conceitualizamos a entoação, os modelos entonacionais e os estudos que guiam nossa descrição e análise. No capítulo 2, discutimos a caracterização do nosso corpus como conversação coloquial e espontânea (BRIZ, 1998, 2002; BLANCHE-BENVENISTE, 1998; LENVINSON, 2007). No capítulo 3, descrevemos as ferramentas metodológicas utilizadas para o exame dos dados, desde a constituição e seleção do corpus bem como os parâmetros acústicos que serviram de base para nossas análises. Ainda, apresentamos os instrumentos computacionais que permitiram a realização de nossa investigação. As análises e os resultados encontrados em nossa pesquisa são discutidos nos capítulos 4, 5 e 6 desta dissertação. Nos dois primeiros, 4 e 5, apresentamos as análises e discussões acerca dos enunciados interrogativos totais das variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile, respectivamente. No capítulo 6, apresentamos uma análise preliminar de sintagmas entonacionais seguidos do tag question “¿no?”. Em continuação a esses três capítulos de análises de dados, apresentamos as considerações finais e as referências bibliográficas, respectivamente. Contribuições para a área O presente trabalho, resultado de pesquisas realizadas no grupo de estudos “A interface pragmática e prosódica em diferentes tipos de enunciados e modos de produção do discurso oral”, constitui também uma complementação aos trabalhos realizados por Figueiredo (2011) e Pinho (2013), para o espanhol das variedades bonaerense e chilena, respectivamente. Muitos trabalhos que tratam sobre a entoação de enunciados interrogativos tanto do espanhol argentino como do chileno, como Sosa (1999), Gabriel et alii (2010), Ortiz et alii (2010), Figueiredo (2011) e outros, já foram realizados. Nossa proposta de estudo de fala espontânea, conversacional e coloquial soma-se a tais trabalhos ao descrever os contornos melódicos em outro contexto de fala: espontânea, coloquial e conversacional. Pretendemos, assim, expandir o enfoque dos estudos entonacionais por meio de 29 investigações no contexto de fala espontânea conversacional (BLANCHE-BENVENISTE, 1998; BRIZ, 1998 e 2002). 30 1 ENTOAÇÃO: MODELOS TEÓRICOS E REPRESENTAÇÕES Este capítulo pretende caracterizar a entoação e seus modelos teóricos. Para isso, apresentamos em 1.1, as definições, os parâmetros e as funções da entoação. Em 1.2 e 1.3, delimitamos os modelos teóricos nos quais nos baseamos para análise dos nossos dados: a fonologia entonacional e a fonologia prosódica, respectivamente. Finalmente, na seção 1.4, apresentamos estudos entonacionais de enunciados interrogativos totais para as variedades que estudamos nesta dissertação: Buenos Aires e Santiago do Chile. 1.1- Prosódia e entoação: definições e funções De acordo com Cortés (2000), a fonologia se divide em dois blocos de estudo: a fonemática e a prosódia. A primeira se dedica ao estudo dos fonemas de uma língua, ou seja, os sons (ou segmentos) que se produzem ou se identificam na comunicação oral. Diferentemente, a prosódia trata dos fenômenos prosódicos, em outras palavras, aqueles que afetam a unidades superiores ao fonema e que se superpõem a sua articulação para manifestar significado semântico ou pragmático. Por essa razão, é possível nomear a estes fenômenos de suprassegmentais, pois se estendem por mais de um segmento. A palavra “prosódia” se deriva do grego antigo, onde era usada como “som produzido acompanhado de música instrumental”. Atualmente, o termo é usado para referir-se às propriedades da fala que não podem ser derivadas da sequência segmental de fonemas subjacentes à fala humana (NOOTEBOOM, 1997, p.640). Segundo Fónagy (2003 apud Sá, inédito) a prosódia possui diferentes funções, a saber: (i) demarcar as unidades discursivas; (ii) segmentar a mensagem em partes; (iii) atrair a atenção do ouvinte para um ponto específico da mensagem; (iv) mostrar qual é o tipo gramatical do enunciado proferido; (v) retirar a ambiguidade de sentenças com dois (ou mais) sentidos; (vi) distinguir asserções de questões; (vii) preparar o que trará a frase seguinte; (viii) expressar a atitude, a emoção e/ou a intenção do locutor; (ix) auxiliar na identificação de quem fala e (x) contribuir para o reconhecimento de gêneros discursivos diferentes. Hirschberg (2002) aponta que a prosódia tem um importante papel no processamento da linguagem. Para os sintaticistas e os semanticistas, a prosódia funciona 31 como um desambiguador estrutural; para os cientistas da pragmática e da análise do discurso, a prosódia mostra pistas para a transmissão e entendimento dos atos de fala diretivos e indiretos e também para a organização hierárquica do discurso. Cortés (2000) considera como fenômenos prosódicos o ritmo, a acentuação e a entoação. Dentre esses fenômenos prosódicos, nos centraremos no fenômeno da entoação, definida por diversos autores, de distintas formas. Ladd (1996), por exemplo, afirma que o termo entoação se refere ao uso do caráter fonético suprassegmental que carrega significados pragmáticos no nível pós-lexical ou no nível da sentença de maneira linguisticamente estruturada. Seguindo a linha teórica de Ladd (1996), Prieto (2003) afirma que a entoação é um fenômeno linguístico, pertencente ao componente fonológico da linguagem. Cantero (2002:18) define entoação como “as variações de frequência fundamental que cumprem uma função linguística ao longo da emissão de voz”. Bem como Cantero (2002), outros autores também se baseiam nas variações de frequência fundamental (doravante, F0) e outros parâmetros acústicos como a duração e a intensidade ao definir a entoação. Aguilar (2000:110), por exemplo, sugere que a entoação é “la sensación perceptiva de las variaciones de tono, duración e intensidad a lo largo del enunciado”. Hirst e Di Cristo (1998 apud Pinho, inédito), por sua vez, afirmam que a entoação, do ponto de vista dos termos físicos, pode ser usada para referir-se às variações de apenas um ou de mais de um parâmetro acústico. Resumidamente, assumimos que a entonação abrange distintos parâmetros prosódicos que empregam os falantes de uma língua com finalidade comunicativa. Mas, quais seriam esses parâmetros prosódicos? Entre eles, é importante destacar o tom, cujo correlato acústico é a F0, isto é, a frequência que corresponde à vibração das cordas vocais durante a emissão do continuum sonoro. Além do tom, assinalamos a duração, que mantém relação com o tempo gasto para produzir a fala e a intensidade, que se relaciona à energia usada para a produção do som. Como mencionamos anteriormente, a entonação manifesta traços prosódicos que empregam os falantes de uma língua com finalidade comunicativa. Em vista disso, a entoação se converte em um importante fenômeno para a comunicação, pois por ela, percebemos as variações melódicas usadas para manifestar diferentes sentidos pragmáticos. Nesse sentido, segundo o contexto situacional em que se insere, o falante utiliza a entoação para distinguir entre o conteúdo da mensagem e o que se pretende comunicar. Uma frase não possui sentido concreto enquanto não adquire entoação, (NAVARRO TOMÁS, 1948 32 apud AGUILAR, 2000), o que significa que o que se diz deve ser completado com o conteúdo suprassegmental, indicando assim, se um enunciado é assertivo ou interrogativo, dito com raiva ou alegria, por exemplo. O que foi indicado no parágrafo acima constitui algumas das funções da entoação. Assim como a pluralidade de definições para o termo entoação, também existem distintos estudos que descrevem as funções da entoação. Aguilar (2000) propõe duas funções básicas para a entonação: uma fonológica e outra pragmática. A função fonológica, conforme afirma Aguilar (2000), é a capaz de distinguir enunciados, isto é, indica uma modalidade oracional ou a estrutura sintática do mesmo e equivale ao que Navarro Tomás (1948 apud Aguilar, 2000) denomina de função lógica da entoação. Por sua vez, a função pragmática interfere na expressão de determinados estados psíquicos e sentimentos, de certas intenções ou atitudes. Esta função possui grande importância na comunicação oral, uma vez que a interpretação da mensagem não passa despercebida pelo ouvinte e, por essa razão, com frequência escutamos algo como “Não fale comigo com esse tom de voz”. Dessa forma, não é difícil que a função da entoação apareça integrada ao discurso comunicativo oral. É o que Quilis (1993) apud Cortés (2000) denomina função integradoradelimitadora, dado que a entoação contribui para a estruturação da fala, mais especificamente de cada turno de fala, em porções discursivas significativas e de fácil compreensão tanto para o ouvinte como para o falante. Pinho (inédito), a partir de trabalhos de diferentes autores, sintetiza as funções da entoação em seis categorias: (i) função pragmática, (ii) função discursiva, (iii) função sintática, (iv) função semântica, (v) função expressiva e (vi) função sociolinguística. A função pragmática se relaciona à força intencional no modo de falar, ou seja, à atitude do locutor em relação ao interlocutor na interação. A função discursiva se caracteriza pela variação entonacional em função do estilo de fala (leitura, fala atuada ou fala espontânea). A função sintática, por sua vez, diz respeito à contribuição dada pela entoação na articulação, segmentação ou integração das unidades linguísticas. Semanticamente, a entoação é capaz de distinguir entre enunciados assertivos, interrogativos e imperativos. Do ponto de vista expressivo, a entoação se relaciona à expressão do estado emocional do falante. E, finalmente, do ponto de vista sociolinguístico, segundo Pinho (inédito), a entoação carrega marcas da identidade do falante, tanto de sua caracterização individual quanto das marcas do grupo ao qual pertence. Em síntese, podemos concluir que a entoação é um fenômeno prosódico, percebido através das variações de F0, duração e intensidade. Por um lado possui 33 características linguísticas, tais como o fato de distinguir modalidades oracionais e transformar unidades linguísticas em conversacionais. Por outro, compreende características que não são puramente linguísticas, mas expressivas, emocionais, atitudinais, ou seja, pragmáticas. 1.2- Modelos teóricos da entoação Os estudos linguísticos da entoação começam a desenvolver-se a princípios do século XX (PRIETO, 2003). Nesse contexto, surgem os primeiros modelos de análise para a língua inglesa: o modelo da escola britânica, que busca analisar os contornos melódicos como uma sequência de configurações expressas pelos movimentos tonais e o modelo da escola americana, que analisa os contornos melódicos mediante uma série de tons estáticos. Por isso, as propostas dessas escolas se denominam, respectivamente, análise por configurações e análise por níveis. Posteriormente a essas duas escolas, surgem outros modelos de análise mais atuais, mas que mantêm uma base nas tradições anteriores. Com inspiração na escola britânica, surge a escola holandesa (modelo IPO), que emprega como unidades mínimas de análise configurações e movimentos tonais. Segundo o modelo IPO, as unidades de análise tonal se configuram a partir de dez diferentes tipos de movimentos, sendo cinco do tipo ascendente e cinco do tipo descendente, que constituem as unidades básicas da análise melódica. Por outro lado, inspirados na escola americana, temos como modelos atuais de análise da entoação o modelo Aix-en-Provence. Este modelo considera como unidades básicas de um contorno os níveis T (top), ou altura tonal máxima do locutor; B (bottom), ou altura tonal mínima do locutor e M (mid), valor médio do locutor. Também inspirado na escola americana, encontra-se o modelo métrico-autossegmental. Segundo Prieto (2003), esses modelos atuais da entoação incluem, diferentemente das escolas tradicionais (britânica e americana), um componente fonético em suas análises, ou seja, verificam a relação entre o continuum melódico e a representação fonológica. A Fonologia Entonacional considera que a entoação apresenta uma organização fonológica própria (LADD, 1996). O objetivo do modelo é identificar os elementos contrastivos do sistema entonacional que produzem os contornos melódicos dos possíveis enunciados de uma língua e se situa dentro dos princípios do modelo métrico- 34 autossegmental (doravante, AM), proposto, inicialmente, por Pierrehumbert (1980) para a análise das características fonológicas da entoação do inglês. Este modelo entende os contornos melódicos como uma concatenação linear de dois tipos de elementos fonológicos que se associam com pontos prosodicamente marcados do enunciado, que estão associados a determinadas sílabas, ou seja, o modelo considera que há um vínculo entre a acentuação e a entoação, e do papel da estrutura métrica como coluna vertebral dos movimentos melódicos. Do ponto de vista fonológico, os tons podem se associar às sílabas acentuadas (acentos tonais) ou ao final dos enunciados (tons de fronteira). As distintas melodias que integram um enunciado são descritas a partir de uma sequência de dois tons: um tom alto (H, do inglês high) e um tom baixo (L, do inglês low). Os movimentos associados ao redor das sílabas tônicas dos enunciados são denominados acentos tonais (pitch accents), que podem ser monotonais (apenas um tom) ou bitonais (dois tons). Para o inglês, Pierrehumbert (1980 apud HUALDE, 2003) apresenta o seguinte repertório de acentos tonais H* e L* (monotonais) e L*+H, L+H*, H+L*, H*+H (bitonais). Os tons de fronteira (boundary tones), por sua vez, são os tons que se alinham aos limites de uma frase (L% ou H%). Beckman & Pierrehumbert (1986 apud HUALDE, 2003) sinalizam em seu trabalho, para a entoação do inglês, a existência de um acento de frase (ou tons de fronteiras intermediárias), que pode não ser de valia para outras línguas (SOSA, 1999). É interessante ressaltar que o número de acentos tonais e de tons de fronteira pode variar de língua para língua (HUALDE, 2003). Como cada língua possui contornos entonacionais particulares, é possível ampliar o repertório de combinações de tons, o que possibilita o uso de um tom de fronteira bitonal como LH% ou HL%. Cabe destacar também a inclusão dos diacríticos de upstep (¡) e downstep (!) no tom H, marcando uma ampliação ou redução da altura tonal. No entanto, ainda é controversa a utilização destes símbolos, visto que é necessária uma investigação mais detalhada a fim de verificar se o acento com escalonamento ascendente e descendente constitui unidades fonológicas ou se são variantes alofônicas de um mesmo acento (ESTEBAS-VILAPLANA & PRIETO, 2008). A seguir, descrevemos o sistema ToBI que é um modelo de notação prosódica, em nível fonológico, baseado no modelo AM. 35 1.2.1- Representando a entoação: o Sp_ToBI O sistema ToBI – Tones and Break Indices – é um sistema de notação prosódica, com raízes no modelo métrico-autossegmental (Pierrehumbert, 1980; Beckman & Pierrehumbert, 1986; Ladd, 1996 e outros). Considerando as características do modelo AM (já explicitadas na seção 1.2.1 deste capítulo), o sistema ToBI foi concebido como um tipo estandarizado de etiquetagem prosódica para transcrição entonativa do inglês norteamericano. Nos últimos anos, tem sido utilizado para a descrição prosódica de distintas línguas, incluindo a língua espanhola. Por essa razão, recebe o prefixo denotador “Sp” (Spanish). Inicialmente, o Sp_ToBI foi pensado como um modelo capaz de transcrever e notar fonologicamente a entoação de diversas variedades do espanhol (SOSA, 2003). Assim como Pinho (inédito), reconhecemos que, devido a sua amplitude inicial, algumas unidades propostas podem refletir não mais do que um nível bastante superficial, podendo ser interpretadas como alofônicas por falantes de outros dialetos. Tal sistema diferencia quatro níveis de análise (ESTEBAS-VILAPLANA & PRIETO, 2008): (i) nível ortográfico, em que se transcrevem ortograficamente as palavras ou sílabas dos enunciados; (ii) nível de disjunção 1 ou separação prosódica, em que se marca a presença ou ausência de domínios prosódicos que vão desde a palavra ortográfica à frase entonacional; (iii) nível tonal, em que se transcrevem os acentos tonais e tons de fronteira e (iv) nível miscelâneo, em que é possível anotar fenômenos paralinguísticos, como ruídos, risadas, etc. No que se refere aos acentos tonais, a primeira proposta do Sp_ToBI (BECKMAN et alii, 2002) propôs quatro acentos tonais para a língua espanhola L*+H, L+H*, H+L* e H*. A proposta mais recente do Sp_ToBI (AGUILAR et alii, 2009) propõe sete tipos de acentos tonais, a saber, dois monotonais: H* (F0 alta sem vale anterior) e L* (F0 baixa derivada de um descida progressiva da F0) e cinco bitonais: H+L* (acento descendente com queda na sílaba tônica), L*+H (tom baixo na sílaba tônica e subida na pós-tônica), L+H* (acento ascendente com pico alinhado à sílaba tônica), L+¡H* (acento ascendente com pico alinhado à sílaba tônica, com registro mais alto que o L+H*) e L+>H* (acento O sistema Sp_ToBI prevê cinco níveis de disjunção ou separação prosódica, a saber: (i) nível 0, que marca a fronteira de palavras ortográficas; (ii) nível 1, marca a fronteira de palavras prosódicas; (iii) nível 2, marca uma quebra sem efeito entonacional ou uma aparente fronteira entonacional, porém sem alongamentos ou outras pistas de pausa (marca a fronteira de uma frase fonológica, o nível inferior à frase intermediária – a existência da frase fonológica ainda não está comprovada em espanhol); (iv) nível 3, marca a fronteira de uma frase intermediária e (v) nível 4, que marca a fronteira de uma frase entonacional. 1 36 ascendente com pico deslocado à sílaba pós-tônica). Na figura 1, abaixo, apresentamos esses acentos tonais juntamente com suas respectivas representações esquemáticas: a caixa sombreada representa os limites das sílabas acentuadas e a caixa branca, os limites das sílabas adjacentes a acentuada. Figura 1: Esquemas dos acentos tonais (AGUILAR et alii, 2009). O sistema de notação Sp_ToBI propõe também sete tons de fronteira de frases entonacionais associados ao limite de um enunciado. São estes: dois monotonais, L% (queda de F0 de um acento alto anterior ou F0 baixa desde um acento baixo anterior) e M% (subida a uma F0 média desde um acento nuclear baixo, tom médio sustentado desde um acento nuclear alto ou queda a uma F0 média desde um acento nuclear alto); quatro bitonais, HH% (subida de F0 desde um acento baixo ou alto anterior), HL% (subidadescida de F0 depois de um acento nuclear baixo ou F0 alta com queda posterior se o tom anterior é alto), LH% (descida-subida de F0 depois de um acento nuclear alto ou F0 baixa com subida posterior se o tono anterior é baixo) e LM% (descida de F0 seguida de uma 37 subida até um tom médio de F0) e um tom de fronteira tritonal, LHL% (descida-subidadescida de F0 depois de um acento nuclear alto). Além dos tons de fronteira de frases entonacionais, o modelo propõe sete tons de fronteira de frases intermediárias. Há uma grande discussão se de fato pode-se considerar a existência de frases intermediárias na língua espanhola, mas Aguilar et alli (2009) apresentam dois argumentos para a existência deste nível em espanhol: a sua percepção auditiva e marcação tonal, que apresentaria níveis diferentes da frase entonacional. Figura 2: Esquemas dos tons de fronteiras (break índice of level 4) e tons de frases intermediárias (break índice of level 3) (AGUILAR et alii, 2009). Na figura 2, acima, apresentamos os tons de fronteira e os tons de frases intermediárias de forma esquemática. A caixa sombreada corresponde às sílabas póstônicas. Seguindo as propostas do sistema Sp_ToBI, pretendemos, nesta dissertação, elaborar uma lista de representações tonais para os enunciados interrogativos totais, visto que através deste modelo é possível representar de forma abstrata os diferentes tipos de contornos melódicos. 38 1.3- Fonologia Prosódica Como um dos objetivos desta dissertação é descrever os contornos entonacionais do tag question “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e de Santiago do Chile e verificar se dito marcador pertence a um mesmo sintagma entonacional ou se constitui um sintagma distinto, cabe-nos discutir os pressupostos da fonologia prosódica (NESPOR & VOGEL, 1994; SERRA, 2009), teoria na qual nos baseamos para a análise de tais dados. A teoria da fonologia prosódica sugere que a representação mental da fala está dividida em fragmentos hierarquicamente organizados (NESPOR & VOGEL, 1994, p.13). De acordo com esta teoria, a fonologia interage com outras estruturas da gramática, como a morfologia, a semântica e, principalmente, a sintaxe. Desde a perspectiva da hierarquia prosódica, assume-se a existência de constituintes, ou seja, uma unidade linguística formada por dois ou mais membros que estabelecem entre si uma relação de dominante e dominado (BISOL, 2005). É interessante destacar que o constituinte prosódico não é, necessariamente, isomórfico dos demais constituintes gramaticais. Nespor & Vogel (1994) propõem a existência de sete níveis estruturados hierarquicamente, a saber, em ordem crescente: sílaba (σ), pé (Σ), palavra fonológica (ω), grupo clítico (C), sintagma fonológico (Φ), sintagma entonacional (I) e enunciado (U). Muitos processos fonológicos (segmentais ou prosódicos) podem ser aplicados ou bloqueados nos limites desses domínios, o que justifica a distribuição hierárquica dos mesmos. Podemos representar a hierarquia entre os constituintes prosódicos através de um esquema arbóreo (BISOL, 2005, p. 244), como mostra a figura 3. Constituintes Prosódicos Figura 3: Esquema arbóreo dos constituintes prosódicos (BISOL, 2005, p. 244). 39 Para esta investigação, mais especificamente, nos centraremos na análise dos sintagmas entonacionaias, ou seja, um conjunto de sintagmas fonológicos ou apenas um sintagma fonológico que porte um contorno de entoação identificável (BISOL, 2005). O limite de um I pode ser identificado por uma pausa, um alongamento silábico pré-fronteira ou um movimento tonal. Segundo a teoria da fonologia prosódica, a boa formação de I segue as seguintes regras: Toda sequência não estruturalmente anexada à oração raiz ou todas as sequências de Φs em uma oração raiz são mapeadas dentro de I (Nespor & Vogel 1986, Frota 2000). A formação de I está sujeita a condições de tamanho prosódico: sintagmas longos (em número de sílabas e de palavras prosódicas) tendem a ser divididos, da mesma forma que sintagmas pequenos tendem a formar um único I com um I adjacente, o que leva à formação de sintagmas com tamanhos equilibrados. (SERRA, 2009, p. 70) De acordo com o algoritmo de construção de um I, citado anteriormente, o tag question “¿no?” deve ser prosodizado separadamente, uma vez que foi gerado fora da oração raiz. Observa-se em (1), um exemplo de prosodização prevista para um enunciado do nosso corpus. (1) [Es lo que hacés vos]I [pero tiene un nombre formal]I [digamos]I [¿no?]I No entanto, o sintagma entonacional pode sofrer um processo de restruturação em razão do seu tamanho, da velocidade de fala, do estilo de fala e também da proeminência contrastiva (NESPOR & VOGEL, 1994, p. 224). No que se refere ao tamanho de I, em alguns casos quando o material de I é muito longo, há reestruturação para criar constituintes menores por razões fisiológicas bem como por razões relacionadas ao processamento linguístico. Vale destacar também que há uma tendência a evitar sequências de Is muito pequenas e Is de diferentes tamanhos. Frota (2000 apud SERRA, 2009, p.130) corrobora tal ideia ao constatar, para o Português Europeu, que um I pequeno, como é o caso do “¿no?”, tende a constituir um domínio composto com um I adjacente. Nesse sentido nos perguntamos se, de fato, os 40 Is+¿no? ou a variante Is+¿ah?, na variedade de Santiago do Chile, são realizados como um mesmo I ou se realizam em Is diferentes. 1.4- Estudos entonacionais de enunciados interrogativos totais: Buenos Aires e Santiago do Chile O objeto de nossa investigação são os enunciados interrogativos totais, portanto, cabe-nos refletir sobre este tipo de enunciado. Escandell Vidal (1999) distingue entre oração interrogativa e perguntas, uma vez que estas objetivam obter uma informação do destinatário e as orações fazem referência a aspectos estritamente gramaticais, tanto sintáticos quanto semânticos. Observemos o exemplo (1). (1) ¿Acaso no cumplimos con nuestro deber? (ESCANDELL VIDAL, 1999, p.3931) No exemplo (1) acima, temos um exemplo de oração interrogativa, desde o ponto vista sintático. No entanto, tal oração não constitui um exemplo de pergunta, visto que não espera nenhuma resposta por parte do destinatário. Concluímos, com base em Escandell Vidal (1999), que uma pergunta é o protótipo de uma oração interrogativa. Pensando em termos pragmáticos, todas as perguntas se apresentam como uma estrutura proposicional aberta que possui, pelo menos, uma incógnita. No caso da interrogativa parcial, a incógnita corresponde ao pronome, adjetivo ou advérbio interrogativo. A interrogativa do tipo disjuntiva se caracteriza por restringir de maneira expressa e por meios lexicais, as possíveis respostas, já que a formulação da pergunta propõe uma alternativa. Já, a interrogativa total corresponde ao caráter afirmativo ou negativo da predicação. Ainda com base na autora, dividimos os enunciados interrogativos em duas classes: os neutros e os orientados. A primeira classe (perguntas, petições, oferecimentos) corresponde aos enunciados com ausência de marcas de orientação ao passo que a segunda classe (perguntas eco, retóricas) compreende os enunciados que possuem marcadores de orientação, como a não inversão de sujeito-verbo. Nesta seção, apresentamos os estudos já realizados para os enunciados interrogativos totais nas variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile. 41 1.4.1- Características entonacionais dos enunciados interrogativos de Buenos Aires Os estudos entonacionais da variedade argentina têm sido foco de pesquisas desde a segunda metade do século XX (GABRIEL et alii, 2010). As pesquisas iniciais, como a de Fontanella de Weinberg (1966, apud Figueiredo, 2011), sinalizam três tipos de inflexão final para os contornos dos enunciados interrogativos da variedade de Buenos Aires: um ascendente, um em suspensão e um descendente. As pesquisas mais recentes e no âmbito do modelo AM têm confirmado as características já descritas por Fontanella de Weinberg (1966). Entre tais pesquisas, destacamos o trabalho de Sosa (1999), considerado pioneiro, uma vez que descreve e atribui acentos fonológicos a entoação de distintos tipos de enunciados em dez variedades do espanhol. A partir da leitura do enunciado “¿Le dieron el número del vuelo?”, por um informante de Buenos Aires, o autor caracteriza o contorno melódico dos enunciados interrogativos totais com picos iniciais altos e contorno final ascendente, como ilustra a figura 4. ¿Le dieron el número del vuelo? Figura 4: Contorno melódico do enunciado interrogativo total de Buenos Aires (SOSA, 1999, p.199). Observamos que no núcleo do enunciado há uma subida da sílaba pretônica para a sílaba tônica que se mantém alta na sílaba pós-tônica, representada pela notação fonológica L+H*H%. Diferentemente da proposta de Sosa (1999), Gurlekian et alii. (2010b) apresentam para os enunciados interrogativos totais um contorno final circunflexo. Os autores estudam esse tipo de enunciado a partir da metodologia do projeto AMPER – Atlas Multimídia da Prosódia do Espaço Românico – cujo objetivo é analisar os padrões de duração, intensidade e entoação nas distintas variedades das línguas românicas. Para isso, foram 42 criadas nove frases a partir da combinação de “La guitarra / La cítara / El saxofón”, em posição não-final, com “se toca con mesura / pánico / obsesión”, em posição final, resultando em 108 enunciados, sendo 9 enunciados com 3 repetições de cada, produzidos por quatro informante do sexo feminino com ensino fundamental. Tabela 1 ¿La guitarra mesura? se toca con ¿La cítara pânico? ¿El saxofón obsesión? Tabela 1: Combinação de constituintes oxítonos, paroxítonos e proparoxítonos que compõem o corpus interrogativo (Gurlekian et alii., 2010b). Gurlekian et alii. (2010b) encontram, para a mmmposição pré-nuclear, dois acentos diferentes: H+L* e L*+>H. Para a posição nuclear, a configuração mais frequente foi a circunflexa, L+>H*L%, em que o diacrítico de “>” representa o alinhamento tardio do pico de F0. A figura 5 ilustra este contorno circunflexo final. ¿La guitarra se toca con mesura? Figura 5: Enunciado interrogativo total com constituintes paroxítonos de Buenos Aires (GURLEKIAN et alii., 2010b). Gabriel et alii (2010b) também descrevem os enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires, pertencente ao projeto “Atlas Lingüístico de la Entonación del Español” (PRIETO & ROSEANO, 2010) em diferentes contextos e atitudes. Os autores propõem um contorno circunflexo para os enunciados interrogativos totais que funcionam 43 como pedido de informação. Na figura 6, observamos que o acento pré-nuclear apresenta um movimento ascendente (L+H*). Já, para a posição nuclear, temos um contorno circunflexo com pretônica baixa, seguida de uma tônica alta, que se mantém alta na sílaba pós-tônica, onde se inicia o movimento de descida, representada pela notação L+¡H*HL%. ¿Tiene mandarinas? Figura 6: Contorno melódico do enunciado interrogativo total neutro (information seeking) de Buenos Aires (GABRIEL et alli., 2010, p. 296). Para os enunciados interrogativos totais que funcionam como perguntas confirmativas, os autores sugerem a mesma descrição fonológica do enunciado neutro: acento pré-nuclear ascendente e acento nuclear circunflexo (figura 7). Juan ¿venís a cenar esta noche? Figura 7: Contorno melódico do enunciado interrogativo total confirmativo de Buenos Aires (GABRIEL et alli., 2010, p. 301). 44 Encontramos descrições para os enunciados interrogativos totais também em Figueiredo (2011) que analisa este tipo de enunciado ao comparar a fala de Buenos Aires e Córdoba, em quatro contextos atitudinais: pergunta confirmativa, pergunta neutra, pergunta incrédula e pergunta retórica, a partir do estímulo “Marcela cenaba” produzido por oito informantes, sendo duas mulheres e dois homens de Buenos Aires e duas mulheres e dois homens de Córdoba. Os contextos atitudinais variam do eixo de maior certeza (confirmativo) ao de certeza de uma resposta negativa (retórico), passando pelo enunciado neutro e o de dúvida (estranheza). Apresentaremos os resultados descritos pela autora para a variedade bonaerense. Para as perguntas confirmativas, que correspondem a um pedido de informação em que o falante pretende certificar-se de uma informação na qual está quase seguro que é verdadeira, da variedade de Buenos Aires, a autora descreve um contorno ascendente em posição pré-nuclear e um contorno circunflexo em posição nuclear, com notação fonológica, com base nas propostas do Sp_ToBI, L+H*L%, conforme ilustrado na figura 8. ¿Marcela cenaba? Figura 8: Pergunta conformativa da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.91). As perguntas que funcionam como pedido de informação (neutras) em que o falante pretende conhecer a resposta para seu questionamento apresentam acento pré- 45 nuclear ascendente e acento nuclear circunflexo, com pico de F0 deslocado à sílaba póstônica, L+H*HL% (vide figura 9). ¿Marcela cenaba? Figura 9: Pergunta neutra da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.95). Para a descrição da curva melódica das perguntas incrédulas, que corresponde a um tipo de pedido de informação em que o interlocutor é posto em dúvida pelo que acaba de afirmar, a autora utiliza a notação L+>H*, para o pré-núcleo ascendente e L+H*L%, para o núcleo circunflexo. Vale destacar que Figueiredo (2011) não observa diferenças em termos de notação fonológica para os enunciados com foco amplo ou foco estreito tanto no pré-núcleo quanto no núcleo, como exemplificado nas figuras 10, 11 e 12. ¿Marcela cenaba? ¿Marcela cenaba? ¿Marcela cenaba? Figura 10: Pergunta incrédula, com Figura 11: Pergunta incrédula, com Figura 12: Pergunta incrédula, foco amplo da variedade de Buenos foco no pré-núcleo da variedade de com foco no núcleo da variedade de Aires (FIGUEIREDO, 2011, Buenos Aires (FIGUEIREDO, Buenos Aires (FIGUEIREDO, p.104). 2011, p.104). 2011, p.104). 46 Finalmente, para as perguntas retóricas, isto é, uma pergunta em que o pedido de informação não é real, pois falante e ouvinte já sabem que seu conteúdo proposicional é falso, Figueiredo (2011) propõe um contorno ascendente para a posição pré-nuclear, L+H*, e um contorno circunflexo para a posição nuclear, L+H*L% (vide figura 13). ¿Marcela cenaba? Figura 13: Pergunta retórica da variedade de Buenos Aires (FIGUEIREDO, 2011, p.109). Os trabalhos descritos nesta seção, Sosa (1999), Gurlekian et alii. (2010), Gabriel et alii. (2010) e Figueiredo (2011), embora apresentem propostas distintas, nos servirão de base para a análise dos nossos dados. Tais movimentos dos contornos entonacionais também serão encontrados em conversas coloquiais dos enunciados interrogativos totais na variedade de Buenos Aires? 1.4.2- Características entonacionais dos enunciados interrogativos de Santiago do Chile Os estudos entonacionais chilenos começam a desenvolver-se a partir da década de 50, a partir do desenvolvimento dos estudos fonológicos (ORTIZ et alii, 2010). Tais autores destacam alguns trabalhos, como o de Silva Fuenzalida (1956-1957) que identificou os contornos de acentos tonais e os reduziu a um número finito de “fonemas de pitch”, que se combinavam com o acento de palavra e com fonemas de juntura. Em 1976, Contreras desenvolve uma teoria que busca descrever a posição do acento nuclear em relação à ordem de palavras e à estrutura informacional do enunciado. Mais recentemente, em 1984, Silva Corvalán analisa a entoação de construções de foco 47 estreito e, em 1988, Urrutia descreve um dialeto do sul a partir de evidências espectrográficas. Nos últimos 15 anos, muitas pesquisas instrumentais foram elaboradas, através da análise da fala de Santiago e também de alguns dialetos do sul do país, como os trabalhos de Cepeda (1997, 1998a, 1998b, 2000, 2001, 2002), Cepeda et alli (1997, 1998‐1999, 1999), Cepeda & Poblete (1996a, 1996b) e Cepeda & Roldán (1995) para a cidade de Valdivia. De 1997 a 1999, a Pontifícia Universidade Católica do Chile desenvolve uma pesquisa que se baseava na teoria AM. Román, Cofré & Rosas (2008) apresentam os primeiros resultados prosódicos das frases assertivas e interrogativas sem expansão, do espanhol do Chile no marco do projeto Atlas Multimídia da Prosódia do Espaço Românico (AMPER). O corpus deste projeto consiste no enunciado La guitarra / La cítara / El saxofón se toca con paciencia / pánico / obsesión, produzido nas seguintes combinações: Tabela 2 ¿La guitarra paciencia? se toca con ¿La cítara pánico? ¿El saxofón obsesión? Tabela 2: Combinação de constituintes oxítonos, paroxítonos e proparoxítonos que compõem o corpus interrogativo (Román, Cofré & Rosas, 2008). Resultando em 27 enunciados, sendo 9 enunciados com 3 repetições de cada, produzidos por uma informante do sexo feminino, na faixa média de idade, que trabalha como secretária em um centro de estudos superiores, nascida e criada em Santiago do Chile. Os autores observam que nos enunciados interrogativos, o pico do contorno de frequência fundamental está deslocado à sílaba pós-tônica nos casos em que o primeiro acento tonal é oxítono ou paroxítono (saxofón ou guitarra), como exemplificam as figuras 14 e 15, abaixo. 48 ¿El saxofón se toca con obsesión? ¿La guitarra se toca con obsesión? Figura 14: Valores de frequência fundamental das Figura 15: Valores de frequência fundamental das três repetições do enunciado “¿El saxofón se toca con três repetições do enunciado “¿La guitarra se toca con obsesión?” (ROMÁN, COFRÉ & ROSAS, obsesión?” (ROMÁN, COFRÉ & ROSAS, 2008, p.142). 2008, p.142). No caso em que o primeiro acento é constituído por uma palavra proparoxítona (cítara), o pico de F0 está alinhado à sílaba final da palavra (“pós-pós-tônica”), como ilustra a figura 16, abaixo. ¿La cítara se toca con paciencia? Figura 16: Valores de frequência fundamental das três repetições do enunciado “¿La cítara se toca con paciencia?” (ROMÁN, COFRÉ & ROSAS, 2008, p.143). Em todos os casos e, independente da posição do acento, há um movimento ascendente final do contorno de F0, como ilustrado nas figuras 14, 15 e 16, anteriormente. 49 No que se refere à duração, no primeiro acento, na grande maioria dos casos, a sílaba tônica é a que apresenta maior duração, com uma exceção sistemática das proparoxítonas, em que a sílaba mais longa é a pretônica. No núcleo dos enunciados, a sílaba final é a que apresenta maior duração, o que coincide com a sílaba tônica nas palavras oxítonas. Em pesquisa recente, Ortiz et alii (2010) descrevem enunciados assertivos, interrogativos e exclamativos da variedade do espanhol de Santiago do Chile obtidos através de um questionário adaptado a cada variedade (PRIETO & ROSEANO, 2010). Para as perguntas totais, os autores observam três tipos de acentos pré-nucleares: um movimento descendente (H+L*), um ascendente (L+H*) e um acento baixo (L*). Para o núcleo, os autores descrevem um movimento ascendente na posição nuclear, com sílaba pretônica baixa, seguida de uma tônica ascendente (L+H*HH%), vide figura 17. ¿Ya llegó María? Figura 17: Contorno melódico do enunciado interrogativo total neutro (information seeking) de Santiago do Chile (ORTIZ et alli., 2010, p. 264). Outro tipo de enunciado interrogativo total analisado por Ortiz et alii. (2010) são as perguntas com marcas de polidez como “¿Tiene mermelada?”. Nestes casos, os autores também observaram um pré-núcleo descendente e um núcleo ascendente, como na figura 18. 50 ¿Tiene mermelada? Figura 18: Contorno melódico do enunciado interrogativo total, com marcas de polidez de Santiago do Chile (ORTIZ et alli., 2010, p. 266). Diferentemente desses enunciados, pergunta neutra e polida, os enunciados interrogativos totais confirmativos apresentam um pré-núcleo com movimento ascendente com pico deslocado à sílaba pós-tônica (L+>H*) e núcleo com movimento descendente de F0 (H+L*L%), como mostra a figura 19. ¿Verdad que vas a venir? Figura 19: Contorno melódico do enunciado interrogativo total confirmativo de Santiago do Chile (ORTIZ et alii., 2010, p. 270). Entre os estudos apresentados sobre as interrogativas de Santiago do Chile, observamos que há convergências entre as descrições propostas para as perguntas neutras. 51 Tanto Román, Cofré & Rosas (2008) quanto Ortiz et alli. (2010) propõem um movimento ascendente final. A partir desta revisão bibliográfica, analisaremos os dados de nossa pesquisa com o objetivo de encontrar características convergentes entre os enunciados produzidos pelos falantes das conversas telefônicas coloquiais. 1.5- Resumindo Neste capítulo, discutimos os modelos teóricos entonacionais e dos estudos nos quais nos baseamos para a análise dos nossos dados. Mais especificamente, descrevemos (i) os pressupostos da fonologia entonacional, situada dentro dos princípios do modelo métrico-autossegmental; (ii) o sistema de notação Sp_ToBI, concebido como um tipo estandarizado de etiquetagem prosódica capaz de transcrever e notar fonologicamente a entoação de diversas variedades do espanhol e (iii) os pressupostos da fonologia prosódica. Ainda neste capítulo, apresentamos estudos recentes da entoação de enunciados interrogativos totais das variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile. 52 2 CONVERSAÇÃO COLOQUIAL Este capítulo tem por objetivo definir e caracterizar uma conversação coloquial. Para isso, apresentaremos em 2.1, as diferenças entre coloquial, oral e espontâneo (BRIZ, 1996, 1998, 2000, 2002; BLANCHE-BENVENISTE, 1998). Em 2.2, caracterizamos a conversação coloquial e em 2.3, observamos as partículas discursivas, formas de tratamento, intensificadores e diminutivos coloquiais característicos das variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile. Finalmente, no item 2.4, apresentamos a estrutura de uma conversação e a estrutura organizacional de uma conversa telefônica (KERBRATORECCHIONI, 2006; LENVINSON, 2007). 2.1- Coloquial versus Oral versus Espontâneo O corpus de nossa investigação consiste em conversas telefônicas coloquiais e espontâneas. É importante, portanto, refletir sobre as definições e distinções entre os conceitos de coloquial, oral e espontâneo. A língua varia segundo o uso e as características próprias do usuário, como sua procedência, seu nível socioeconômico, seu sexo e também, segundo o registro (BRIZ, 1996). É convencional distinguir entre dois tipos de registros, o formal e o coloquial, muitas vezes entendidos como dois extremos opostos dentro do continuum da fala. O emprego do formal ou do coloquial se caracteriza pelo emprego de diferentes constantes linguísticas e não-linguísticas, relacionadas à situação comunicativa. O discurso coloquial, mais especificamente, é um registro determinado pelos traços situacionais que o compõem. Briz (1996) considera como traços situacionais (i) a relação de igualdade entre os interlocutores, social ou funcional; (ii) a relação de vivência, ou seja, a experiência e o conhecimento compartilhados; (iii) o espaço situacional, a relação que o participante tem com o lugar e (iv) a temática, relacionada com a cotidianidade em oposição a uma temática mais especializada. Além desses traços, o coloquial, conforme sinaliza Briz (1996), pode ser definido por outros traços que estabelecem relação estreita com os situacionais, denominados primários, já que sua presença é necessária para estabelecer o registro coloquial. O autor destaca como traços primários a ausência de planejamento do discurso, a finalidade interpessoal (reforçar ou não os vínculos sociais) e o tom informal, que é o resultado de todas essas marcas. 53 Caberia ainda especificar o traço conversacional de mais ou menos controle de turno de fala (TANNEN, 2005). Em determinados tipos de interação em que há maior controle de turno de fala, o registro é [- coloquial], como é o caso de gêneros como aulas, entrevistas e debates. Nos tipos de interação em que há menos controle de turno de fala, a tendência do registro é ser [+coloquial], considerando a experiência compartilhada, o lugar e a temática mais ou menos especializada. Podemos caracterizar o discurso coloquial a partir das modalidades situacionais, mencionadas anteriormente, mas também a partir das modalidades linguísticas coloquiais (BRIZ, 1998). O léxico no uso coloquial, por exemplo, pode sofrer redução, favorecida pelas áreas temáticas, ao passo que a capacidade significativa de muitas unidades lexicais pode ser potencializada. O léxico coloquial se distingue pela presença de marcas de identidade ou indicadores sociais, como as gírias, metáforas cotidianas e pelo emprego de algumas marcas que perderam seu significado original ao se converter em reguladores fático-apelativos, que são estratégias de chamada de atenção e reforço argumentativo, tais como verbos de percepção, formas nominais de tratamento e marcadores de enumeração e conclusão. Dentro das marcas linguísticas do coloquial, também destacamos os conectores pragmáticos, isto é, os recursos de conexão, responsáveis pela união e continuidade do fio discursivo. Os conectores pragmáticos, segundo Briz (1998), são uma classe funcional e heterogênea que possui a função de encadear as unidades de fala, assegurar a transição de determinadas sequências do texto e guiar a interpretação do discurso. Dessa maneira, esses conectores colaboram para a manutenção do discurso e da tensão comunicativa. Devido às características destacadas anteriormente, a saber, o léxico coloquial e os conectores pragmáticos que nem sempre funcionam de forma lógica, o coloquial se confunde, muitas vezes, com o oral. Comumente se acredita que um texto escrito está para o formal assim como um texto oral está para o coloquial. No entanto, a diferença entre o escrito e o oral encontra-se no meio de transmissão dos mesmos: gráfico ou fônico, respectivamente (BRIZ, 1998). O canal gráfico tem como unidades a palavra, a oração, os sinais de pontuação. Blanche-Benveniste (1998) assegura que não se pode considerar o escrito como representação do oral, visto que o que se escreve não constitui uma transposição direta do que se fala. Na verdade, o oral e o escrito são meios diferentes e, portanto, cada um deles tem suas características e também limitações. Por mais que existam na escrita sinais linguísticos capazes de representar traços da oralidade, estes não são suficientes para refletir todos os aspectos presentes na fala, o que significa que é difícil 54 transcrever à escrita marcas do oral, como a entoação, o timbre, a velocidade de fala, qualidades e modulações da voz. Da mesma maneira, determinadas características próprias da escrita são difíceis de levar ao oral, como por exemplo, os sinais de pontuação que marcam um limite sintático, nem sempre correspondente a uma ruptura real do fluxo da fala. O coloquial também pode confundir-se com o espontâneo, isto é o grau de planejamento da informação, que pode ser mais ou menos planejado (BLANCHEBENVENISTE, 1998). O espontâneo, assim como o coloquial, é encontrado em textos escritos ou orais. O discurso coloquial e oral pode apresentar marcas de espontâneo, ou seja, tipo de discurso no qual há menos planejamento da informação. Nosso entendimento de que a fala espontânea é a fala planejada simultaneamente à produção do discurso difere da proposta de Barbosa (2012) e de Lucente (2012). Para estes autores, a fala, para que seja considerada espontânea, deve levar em consideração dois pontos, a saber, o grau de controle do experimentador sobre a obtenção dos dados e o papel dos gêneros discursivos. Lucente (2012) afirma que o controle do experimentador sobre a obtenção do dado pode ir de um ponto extremo até a ausência total de controle. Neste, não há nenhuma orientação de produção; naquele, o experimentador diz como deve ser produzida a fala. Embora concordemos com Barbosa (2012) e Lucente (2012) na questão de que a fala espontânea pode ocorrer em diferentes gêneros discursivos, não sendo exclusivo de uma conversa, adotamos, nesta dissertação, a proposta de Blanche-Benveniste (1998). Para a autora, a fala espontânea se relaciona aos graus de planejamento da informação, levando em consideração, não só o gênero discursivo e o grau do experimentador, mas sim as marcas de espontâneo que um texto (oral ou escrito) possui. Destacamos essas marcas a seguir. A primeira característica de um texto espontâneo, tal como sugere BlancheBenveniste (1998), é que este nunca é uma produção acabada, o que significa que, no uso conversacional, a língua falada deixa ver suas etapas de produção. A segunda característica é que na fala espontânea aparecem comentários sobre a escolha do léxico e a dificuldade de encontrar a palavra adequada. Uma terceira característica é que neste tipo de discurso, as tentativas lexicais são conservadas, uma vez que não é possível apagar o que se acaba de dizer. De igual modo, a fala espontânea pode apresentar titubeios, repetições e falsos começos. Dessa forma, o espontâneo não apresenta uma sequência linear, ou sintagmática em ausência, mas está constituído por relações paradigmáticas em presença. Por tal razão, o 55 falante pode voltar atrás sobre sintagmas já mencionados, seja para melhorá-los, para acrescentar um comentário, para corrigir-se ou para adicionar aspectos que possam ser importantes, como destacamos no exemplo (1) a seguir. (1) [Características da fala espontânea: A e B conversam sobre Carlos Ortiz] 129 B: muy caballero muy mira es un chiquillo muy dije y tiene además una virtud 130 que tiene auto y es de esos chiquillos así difíciles de encontrar en Chile que son/ 131 que trabajan en el día en un banco y en la noche estudia en la tarde así estudia 132 esa cosa como contabilidad no sé qué es la cosa que estudia [Conversa 3 – Mulheres – Santiago do Chile] No exemplo 1, do nosso corpus, observamos que a falante B comenta sobre as dificuldades de explicar o que Carlos estuda (“no sé qué es la cosa que estudia”), além de acumular sintagmas, como em “que son/ que trabajan”. Este é um exemplo que demonstra que a fala espontânea não é uma produção acabada, mas sim planejada enquanto produzida, tal como entendemos aqui. Após termos apresentado as distinções entre coloquial, oral e espontâneo, baseando-nos em Briz (1996, 1998, 2002) e em Blanche-Benveniste (1998), abordaremos na próxima seção, o que entendemos por conversação coloquial. 2.2- Conversação coloquial Por que conversamos? Para Briz (2002:67), “hablar (…) es siempre argumentar, dar argumentos, razones, para llegar a una conclusión”. Desse fragmento, concluímos que conversar é negociar, ou seja, ainda que pareça que se está falando simplesmente por falar, há algo em jogo, seja chamar a atenção do ouvinte, seja interagir com outro para reforçar vínculos sociais ou chegar a um acordo. Todo ato comunicativo, em suma, possui uma intenção. A conversação se caracteriza por ser um tipo de discurso (i) oral, produzido e recebido pelo canal fônico; (ii) dialogal, já que possui uma sucessão de intercâmbios; (iii) imediato, uma vez que acontece aqui e agora; (iv) dinâmica, pois a troca de papel é frequente (de falante a ouvinte, de ouvinte a falante) e (v) cooperativo, visto que se constrói juntamente com a intervenção do outro (BRIZ, 1996; 2002). Tais características podem ser compartilhadas por outros discursos orais, como o debate ou a entrevista. O traço que distingue a conversação desses outros discursos é a 56 alternância de turnos não negociada de forma prévia. Em outras palavras, cada participante da conversa fala alternadamente sem que haja um momento planejado para que um comece o seu turno ou que o mesmo seja interrompido. Briz (1998, 2002) reconhece o discurso conversacional, ao somar todas as seis características aqui elencadas – oral, dialogal, imediato, dinâmico, cooperativo e mudança de turno não pré-determinada. A conversação coloquial, por sua vez, é o resultado da adição dos traços conversacionais somados aos traços situacionais e primários. Logo, uma conversação será coloquial se, do ponto de vista do registro, existir entre os interlocutores uma relação de vivência e proximidade, experiência compartilhada entre os participantes, relação de igualdade, temática marcada pela cotidianidade, finalidade interpessoal, marcas de espontâneo e tom informal. Cabe-nos, contudo, assinalar que com o advento das novas tecnologias, é possível e frequente termos trocas escritas em diferentes suportes como chats, blogs, facebook, que sejam dialogais, imediatas, dinâmicas, cooperativas e com alternância de turnos não prédeterminada, mas limitadas pelo meio e pela ferramenta utilizada. Como mencionamos anteriormente, a conversação é uma negociação. E como tal, se rege por princípios e regras que controlam o desenvolvimento da conversação, que deve ser entendida como um negócio social uma vez que é regulada socialmente por princípios e máximas, a saber, regras de cooperação, regras de cortesia e regras de pertinência situacional. As regras de cooperação, baseadas no princípio base que rege a comunicação humana (GRICE, 1975 apud KOCH, 2010), se resumem em quatro máximas conversacionais: (i) quantidade, “não diga nem mais nem menos do que o necessário”; (ii) qualidade, não diga o que sabe não ser verdadeiro”; (iii) relevância, “diga somente o que é relevante” e (iv) modo, “seja claro e conciso”. No entanto, em uma conversação coloquial essas regras podem ser transgredidas, sem que haja tensões na negociação. Isso se explica, segundo Briz (1998, 2002) pela hierarquização dos princípios e máximas. Ou seja, um falante deve ser claro desde que não transgrida uma regra superior, a de cortesia, que diz que não se deve ferir a imagem do outro (BROWN & LENVINSON, 1987). E mais, nem todo enunciado cortês se adéqua a determinados contextos, o que significa que a regra de pertinência situacional se sobrepõe às regras de cortesia e às máximas conversacionais. Assim, em uma conversação coloquial, verificamos que não há transgressões às regras, mas sim uma hierarquia de princípios e máximas que regulam o funcionamento de uma conversação. 57 Pensando, agora, nas características da conversação coloquial, cabe destacar que esta possui marcas de espontâneo (BLANCHE-BENVENISTE, 1998; BRIZ, 1998, 2002), tais como recomeços, que mudam o plano sintático do discurso; estruturas cortadas ou suspendidas; uso de que, simplificando estruturas mais complexas; enumerações; repetições; idas e vindas do discurso, etc. Ainda no plano do espontâneo, é possível observar que a ordem das palavras numa conversação coloquial corresponde a uma função pragmática de topicalização que realça a informação. A ordem em que as palavras se estabelecem é estratégica para marcar a atenção, o contraste, a reformulação ou para desfazer alguma ambiguidade. Finalmente, ressaltamos que grande parte da conexão e da coesão em uma conversação coloquial se dá através de partículas discursivas 2. A função de uma partícula discursiva está além da gramática, ou seja, este elemento não pertence a nenhuma categoria gramatical estabelecida (BRIZ, 1998). Além disso, uma partícula discursiva é o resultado de um processo de gramaticalização, em outras palavras, do ponto de vista gramatical, as partículas antes foram outra coisa: um verbo, adjetivo, advérbio, etc. O valor da partícula discursiva está relacionado ao seu uso na interação: com uma partícula, podemos justificar a conclusão ou opinião; podemos mudar o tema ou reorientálo; chamar a atenção sobre algo o realçá-lo; controlar o contato com o interlocutor; etc. É interessante observar que tais partículas possuem as funções de (i) indicar a atividade argumentativa e a interpretação dos enunciados, (ii) ajudar a formular e reformular os enunciados, (iii) ordenar o discurso e (iv) controlar com frequência o contato. Desde o ponto de vista da pragmática intercultural, o discurso é marcado por estas partículas através dessas quatro funções básicas, que funcionam como um guia para sua ordenação e interpretação (BRIZ, 1998). As funções vinculadas à atividade argumentativa, aquela que permite que o interlocutor interprete enunciados de outro falante como argumentos para determinada conclusão, são duas: a função de conexão argumentativa e a função modalizadora. A função de conexão argumentativa orienta o outro na argumentação: pode justificar, opor, concluir, etc. Como exemplo, apresentamos a partícula “aún mejor”, utilizada para destacar um argumento mais forte para chegar a conclusão final (DPDE, 2013) 3. 2 Utilizamos aqui o termo “partículas discursivas”, proposto por Briz para referir-nos aos termos também denominados por outros autores como marcadores discursivos, conectores pragmáticos. Lembramos ainda que, além das partículas discursivas, a entoação e o ritmo também podem conectar o discurso oral. 3 Os exemplos de partículas discursivas, aqui ilustrados, se encontram no Diccionario de Partículas Discursivas del Español (BRIZ, A., PONS, S., PORTOLÉS, J., 2013) e podem ser tanto de textos orais quanto de textos escritos. 58 Por sua vez, a função modalizadora é a que atenua ou intensifica o que se diz. Os intensificadores são estratégias retóricas de dizer mais do que realmente se diz (BRIZ, 1996), modificam o dito e reforçam o ato ilocutivo. Os recursos de expressão verbal podem ser morfológicos, como na frase “Me gusta su cuerpazo”; fônicos, “es un PE-SADO” (pronunciação silabada). Os atenuadores, por outro lado, estão vinculados à relação interlocutiva que suaviza a força ilocutiva de uma ação ou a força significativa de uma palavra. Podemos exemplificar com a partícula discursiva “al parecer, está proporcionando buenos resultados.”, indicando que o falante não é testemunha da informação transmitida e que a adquiriu por outras fontes. Briz (1998) também apresenta a função metadiscursiva. Esta função está vinculada à atividade formulativa que é responsável por organizar o que se diz e controlar o discurso, como a partícula “mejor dicho” que destaca o membro do discurso como uma correção e aclaração do dito anteriormente. A quarta função é a de controle de contato, que se centra na relação entre o falante e o ouvinte. Geralmente, esta função é sinalizada por uma partícula fático-apelativo como em “Yo nunca he visto una persona tan enrollada como el Andrés ¿eh?”, em que a partícula “¿eh?” pede que o ouvinte aceite ou confirme algo mencionado. Vejamos quais são os elementos coloquiais característicos das variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile. 2.3- Elementos coloquiais Neste item, apresentamos uma análise qualitativa de elementos coloquiais encontrados em nossas quatro conversas telefônicas. Primeiramente, apresentamos as partículas discursivas e, em seguida, descrevemos as formas de tratamento coloquiais que caracterizam as duas variedades de espanhol estudadas nesta dissertação. Apresentamos, também, os elementos de intensificação e atenuação e os diminutivos que encontramos como elementos coloquializadores. 2.3.1- Partículas discursivas coloquiais Conforme apresentado no item 2.2, deste capítulo, grande parte da conexão e coesão em uma conversação coloquial se dá através de partículas discursivas que funcionam como uma estratégia de encadear as unidades de fala, assegurar a transição de determinadas 59 sequências do texto e guiar a interpretação do discurso, colaborando, assim, para a manutenção do discurso e da tensão comunicativa. Em vista disso, buscamos em nosso corpus exemplos de partículas discursivas coloquiais. Apresentamos esta análise a fim de contribuir para os estudos das partículas discursivas em espanhol. 2.3.1.1- Buenos Aires Na conversa 1, entre duas falantes do sexo feminino, e na conversa 2, entre dois falantes do sexo masculino, ambas da variedade de Buenos Aires, elencamos as seguintes partículas discursivas em quatro posições distintas: (i) inicial, início de turno de fala; (ii) medial, meio do turno; (iii) final, que funciona como estratégia de passar o turno ao outro falante e (iv) isolada, quando a partícula aparece como único elemento do turno de fala do falante. Apresentamos, na tabela 3, as partículas discursivas encontradas na conversa 1 (mulheres de Buenos Aires) e, na tabela 4, as encontradas na conversa 2 (homens de Buenos Aires). Tabela 3 Inicial Sí (23) No (18) Ah (11) Y (11) Pero (7) Claro (6) Porque (6) Que (6) Ay (5) No sé (5) Así que (4) Ay Dios mío (2) Che (2) Entonces (2) ¿Eh? (1) Bueno (1) Eh (1) En serio (1) Encima (1) Es que (1) Lo que pasa es que (1) Partículas Discursivas – Conversa 1 Medial Final Y (48) ¿Entendés? (5) Pero (17) Ay (3) O sea (16) Pero (2) No (14) Qué sé yo (2) Tipo (10) Tipo (2) No sé (8) ¿No? (1) Que (5) ¿Sí? (1) Qué sé yo (5) Así que (1) Te juro (5) Como siempre (1) Ay (4) Como te puedo Bueno (4) explicar (1) Che (4) Che (1) Después (4) Después no (1) Acá (3) Digo (1) Aparte (3) Entonces (1) Igual (3) Es así (1) Lo que pasa es que Más o menos (1) (3) Me quedé (1) Porque (3) Ni nada (1) Así como (2) No sé (1) Encima (2) No sé qué (1) Entonces (2) No sé qué historia Isolada Mmm (8) Ahn (7) ¿Eh? (4) ¿Qué? (4) Ah (3) No (3) Sí (3) ¿Ehn? (2) Así que (2) ¿Cómo? (1) ¿En serio? (1) ¿No? (1) ¿Por qué? (1) ¿Quiénes? (1) ¿Sí? (1) ¿Y? (1) Ahá (1) Ay (1) Buen dia (1) Claro (1) Eso sí que no (1) Está bien (1) 60 Mirá (1) Mmm (1) No es que (1) Pero igual (1) Por eso (1) Qué mal (1) Te juro (1) Tipo (1) Uy (1) Y después (1) Y que (1) Y qué sé yo (1) Yo creo que (1) Ponele (2) (1) Este (1) Qué bueno (2) O sea (1) Hola (1) Sí (2) O sí (1) Qué sé yo (1) ¿Entendés? (1) Parece que (1) Te juro (1) ¿Sabés qué? (1) Pero sí (1) Uy (1) Ah (1) ¿Qué? (1) Ahí (1) Te juro (1) Así que (1) Un quilombo (1) Así que bien (1) Viste (1) Como que (1) Viste (1) Contame (1) Y (1) Después también (1) Y hasta ahí (1) Digamos (1) Y ya (1) En serio (1) Entiendo (1) Eso dice (1) Lo que pasa (1) No sé qué y no sé cuánto (1) Obvio (1) Pero así (1) Pero que (1) Pero que más (1) Por ejemplo (1) Porque eso (1) Sabés (1) Supuestamente (1) Viste (1) Yo te explico (1) Tabela 3: Partículas discursivas, conversa 1, entre mulheres da variedade de Buenos Aires. Tabela 4 Inicial Sí (45) No (23) Y (21) Ah (12) Este (7) Pero (6) Claro (5) Che (4) Eh (4) Bárbaro (2) Capaz que (2) Exacto (2) Exacto (2) O sea (2) Por eso (2) Ahá (1) Partículas Discursivas – Conversa 2 Medial Final Y (47) ¿No? (7) Es que (21) Sí (7) Porque (20) Digamos (6) ¿Viste? (17) Así (5) Pero (17) Y (5) Sí (17) Ya (4) Eso (11) Ah (3) No (11) Es eso (3) Digamos (8) Eso (3) Qué sé yo (8) Claro (2) Bueno (7) De ese tipo (2) Te digo (7) Eh (2) Este (6) Este (2) Así (5) Nada que ver con Esto (5) (2) Ah (4) Pues (2) Isolada Sí (22) Ah (10) Claro (10) Exacto (6) Ahá (3) Aham (3) Bien (3) Bueno (2) Mmm (2) Y (2) Este (1) Ya (1) 61 Aparte (1) Así (1) Así es que (1) Así que (1) Ba (1) Bueno (1) Entonces (1) Es que (1) Eso (1) Lo que pasa es que (1) Mira (1) Mirá (1) Mmm (1) Oh (1) Oye (1) Porque (1) Que (1) Uy (1) Aparte (4) Acá (1) Lo que (4) Esas cosas así (1) O sea (4) Eso es lo que pasa Claro (3) (1) No sé (3) Nada (1) Pues (3) Que (1) Yo te digo (3) Qué sé yo (1) ¿No? (2) Te digo (1) Acá (2) Así que (2) Ba (2) Bien (2) Como (2) Che (2) Encima (2) Mira (2) Tipo (2) A lo mejor (1) A ver (1) Además (1) Ahí (1) Capaz que (1) Como que (1) Entonces (1) Es verdad que (1) Esas (1) Lo que pasa es que (1) Lo que sea (1) No sé bien (1) Parece que (1) Todo eso (1) Uy (1) Tabela 4: Partículas discursivas, conversa 2, entre homens da variedade de Buenos Aires. Observamos que em posição inicial, as partículas “sí”, “no”, “ah” e “y” são as mais frequentes nas duas conversas da variedade de Buenos Aires. Para a posição medial, encontramos como mais frequente o marcador “y” em ambas as conversas. Não é coincidência que o “y” tenha sido recorrente nas duas posições. Este marcador une argumentos com a mesma orientação argumentativa, além de colaborar para a progressão do discurso (BRIZ, 2002). Exemplificamos em (2), tais ocorrências em posição inicial e medial (em negrito). (2) [A e B conversam sobre amigos em comum] 67 A: ah y el otro ¿qué? ¿se van a ver? 62 68 B: sí sí lo que pasa había ningún horario les coincidía pero se iban a ratear 69 ambos el lunes o el martes del cole de sus respectivos colegios 70 A: mmm 71 B: y se iban a encontrar [risas] [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] Em posição final, verificamos a ocorrência de marcadores confirmativos como “¿entendés?”, no caso da conversa feminina, e “¿no?” e “sí”, no caso da conversa masculina, ou palavras resumitivas, como “qué sé yo”, “es así” e “es eso”. Com relação às partículas isoladas, constatamos que seu uso serve como uma estratégia de chamada de atenção ou reforço argumentativo, mostrando o interesse do ouvinte, ou ainda o não entendimento de algo dito pelo falante. Na conversa feminina, observamos um uso frequente da partícula “mmm” (vide exemplo (3) anteriormente), mostrando interesse ao dito e da partícula “¿eh?” y “¿qué?”, quando algo não é entendido. Na conversa masculina, por outro lado, embora tenhamos observado a ocorrência das partículas encontradas na conversa feminina, a partícula “sí” foi a mais recorrente para mostrar atenção do ouvinte ao que se diz. 2.3.1.2- Santiago do Chile Na conversa 3, entre duas falantes do sexo feminino, e na conversa 4, entre dois falantes do sexo masculino, ambas da variedade de Santiago do Chile, elencamos os seguintes partículas discursivas, também em quatro posições distintas, inicial, medial, final e isolada, as quais apresentamos na tabela 5 e na tabela 6. Tabela 5 Inicial Y (18) Ah (11) Claro (11) Pero (10) Entonces (8) Oye (7) Sí (7) Mmm (5) Así es que (3) Mira (3) Partículas Discursivas – Conversa 3 Medial Final Y (47) ¿Ah? (5) Que (43) Pues (4) Pero (15) ¿Ahn? (4) Entonces (12) ¿Dices tú? (2) No (11) ¿Me entiendes? (2) Pues (10) Digamos (2) Mira (8) Entonces (2) Nomás (6) Oye (2) Porque (5) ¿No es cierto? (1) Así (4) Ahora (1) Isolada Ah (22) Sí (11) Claro (6) ¿Ahn? (5) ¿Sí? (4) Mmm (4) Oye (3) Bueno (2) Eso (2) ¿No? (1) 63 No (3) Ahora (2) Fíjate (2) Posiblemente (2) Si acaso (2) Ya (2) Ahí (1) Así es (1) Así que (1) Ay (1) Bueno (1) Como (1) Dice que (1) Eh (1) El otro día (1) Es que (1) Eso de (1) Hello (1) Igualmente (1) Más o menos (1) No creo yo (1) Oh (1) Parece que (1) Porque (1) Qué lástima (1) Qué lindo (1) Uy (1) No creo yo (4) Así que (1) Así (1) Oye (4) Claro (1) Ay (1) A lo mejor (3) Como un (1) Bah? (1) Como (3) Este (1) Cosa así (1) Como que (3) Fíjate (1) Malísimo (1) Eh (3) Igual que siempre Porque (1) Es que (3) (1) Qué cosa (1) Fíjate (3) Más o menos (1) Así es (2) Eso es lo que quiere Así es que (2) él (1) Bueno (2) No (1) Digamos (2) No vale la pena (1) Es decir (2) Nomás (1) Eso (2) Pero (1) Fíjate que (2) Pero si (1) Oh (2) Que (1) Sí (2) Que le (1) Todo eso (2) Todas esas cosas (1) Total (2) Además (1) Ahora (1) Así como (1) Así que (1) Cómo dices tú (1) Como para (1) Cuéntame (1) Dice que (1) La verdad es (1) Más encima (1) ¿Me entiendes? (1) No sé cuanto (1) O algo así (1) Po (1) Qué bueno (1) Quizás (1) Tabela 5: Partículas Discursivas, conversa 3, variedade de Santiago do Chile. Tabela 6 Inicial Ya (34) Sí (21) Y (14) Claro (11) Eh (9) No (9) Ah (8) Ahí (3) Así que (3) Porque (3) Partículas Discursivas – Conversa 4 Medial Final Y (35) Pues (7) Ya (23) Ya (5) Pero (12) Po (3) Parece que (10) ¿No? (2) Porque (10) Ah (2) Pues (10) Claro (2) Así que (8) Sí (2) Eh (8) ¿Ah? (1) No (6) Así que (1) Entonces (5) Eh (1) Isolado Sí (11) Ya (8) ¿Ah? (6) No (5) ¿Ahn? (2) Mmm (2) ¿Así es? (1) ¿Cómo? (1) ¿No? (1) Claro (1) 64 Es que (2) Parece que (2) A ver (1) Chúpala (1) Igual (1) O sea (1) Oye (1) Eso(s) (5) Es que (1) Chúpala (3) Eso (1) A ver (4) No (1) Claro (4) Parece (1) O sea (4) Y (1) Po (4) Qué sé yo (4) Nomás (3) ¿No? (2) Bueno (2) Es que (2) Este (2) Lo que (2) No sé (2) No sé qué (2) ¿Cierto? (1) A lo mejor (1) Ah (1) Al parecer (1) Oh (1) Parece (1) Por eso (1) Tabela 6: Partículas Discursivas, conversa 4, variedade de Santiago do Chile. Para esta variedade encontramos, em posição inicial, os marcadores “y”, “ya”, “claro” e “pero” como os mais freqüentes na conversa feminina, ao passo que na conversa masculina foram mais recorrentes as partículas “ya”, “sí”, “y” e “claro”, nesta ordem. Notase que em ambas as conversas as partículas “y”, “ya” e “claro” apareceram, embora o número de ocorrências tenha variado. Para a posição medial, verificamos que o marcador “y”, responsável por unir argumentos com a mesma orientação argumentativa e colaborar para a progressão do discurso foi o mais freqüente nas duas conversas. Cabe destacar que, no caso da conversa masculina, houve uma ocorrência significativa do marcador “ya”. Em posição final, verificamos a ocorrência de marcadores confirmativos como “¿ah?” e “pues”. Com relação às partículas isoladas, constatamos que seu uso serve como uma estratégia de chamada de atenção ou reforço argumentativo, mostrando o interesse do ouvinte, ou ainda o não entendimento de algo dito pelo falante, sendo as partículas “ah” e “sí”, mais recorrentes na conversa feminina e as partículas “sí” e “ya”, na conversa masculina. Verificamos em (3) as ocorrências mais frequentes nas quatro posições, destacadas em negrito. 65 (3) [A e B conversam sobre a possível viagem de verão de Carlos Ortiz] 190 A: y ¿por qué piensa quedarse él más tiempo? ¿para poder conocer o por qué 191 dice? 192 B: parece que eso es lo que él quiere ¿ah? 193 A: ah conocer darse un paseo 194 B: ah 195 A: sí 196 B: claro porque mira oye viene los lunes en la mañana va a donde Raúl que se 197 debe latear su poco viene aquí que también se debe latear su poco a pesar de que 198 nosotras somos un poco más risueñas que que allá pues y que los pobres están 199 tan así como cabizbajos todo el tiempo [Conversa 3 – Mulheres – Santiago do Chile] Confrontando os usos das partículas discursivas coloquiais nas duas variedades, Buenos Aires e Santiago do Chile, observamos a recorrência do marcador “y” tanto em posição inicial quanto em posição medial. Em posição final, notamos que as partículas “¿me entendés?” e “¿no?” são as mais freqüentes na variedade de Buenos Aires enquanto que, para a variedade de Santiago do Chile, observamos um uso frequente de “¿ah?” 4, “pues” e “ya”. 2.3.2- Formas de tratamento coloquiais Em uma conversação, os falantes utilizam as formas de tratamento como um recurso para marcar e construir a relação interpessoal (KERBRAT-ORECCHIONI, 2011), seja para chamar a atenção de um falante ou para selecionar um falante entre outros possíveis falantes. Segundo Rebollo Couto & Kulikovski (2011:497), Las formas de tratamiento se manifiestan en el empleo de formas pronominales, verbales o nominales y pertenecen al ámbito de la deixis social: constituyen la codificación lingüística de identidades sociales de los participantes y de la relación que existe entre ellos. No capítulo 6, desta dissertação, analisamos a entoação das partículas confirmativas (tag questions) “¿no?” e “¿ah?”, a partir da teoria da fonologia prosódica (NESPOR & VOGEL, 1994). 4 66 Pensando nessas características das formas de tratamento de segunda pessoa, verificaremos nesta seção quais são as formas de tratamento coloquiais (nominais, verbais e pronominais) características das variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile. 2.3.2.1- Buenos Aires Analisando as conversas 1 (mulheres de Buenos Aires) e 2 (homens de Buenos Aires), elencamos as seguintes formas de tratamento, apresentadas nas tabelas 7 e 8, respectivamente. Tabela 7 Formas de Tratamento – Conversa 1 Formas Verbais Formas Pronominais ¿Entendés? (6) Vos (11) Podés (3) A vos (1) Ponele (2) A vos misma (1) Sabés (2) Tenés (2) Contame (1) Mirá (1) Bancás (1) Callate (1) Mandale (1) Sentís (1) Venís (1) Tabela 7: Formas de tratamento coloquiais, conversa 1, entre mulheres da variedade de Buenos Aires. Formas Nominais Boluda (11) Tati (3) Hija de puta (2) Gorda (1) Pobrecita (1) Tabela 8 Formas Nominais Hermano (1) Loco (1) Viejo (1) Formas de Tratamento – Conversa 2 Formas Verbais Formas Pronominais Tenés (12) Vos (15) Sabés (6) Con vos (2) Anotá (3) A vos (1) Mirá (3) Encontrás (2) Hacés (2) Ponés (2) Seguís (2) Sos (2) Terminás (2) Agrandás (1) Contame (1) Dame (1) Escuchás (1) 67 Extrañás (1) Ganás (1) Hablás (1) Podés (2) Ponele (1) Quedás (1) Sensibilizás (1) Sentís (1) Tardás (1) Te acordás (1) Venís (1) Tabela 8: Formas de tratamento coloquiais, conversa 2, entre homens da variedade de Buenos Aires. Observamos em nossas conversas um uso recorrente da forma verbal e pronominal de voseo. Fontanella de Weinberg (1999) sinaliza que a partir da segunda metade do século XX, o uso de voseo, como marca de confiança, passou a ser usado de forma generalizada tanto em textos escritos quanto em textos orais. Pragmaticamente, Rebollo Couto & Kulikovski (2011) corroboram que o voseo argentino apresenta um prestígio social e uma aceitação positiva por parte dos falantes. Destacamos ainda que na região bonaerense, há um sistema pronominal com duas formas para o singular: “vos” e “usted” (FONTANELLA DE WEINBERG, 1999). Vale destacar ainda que não existem diferenças no uso das formas voseantes em relação ao sexo do falante (CARRICABURRO, 1997), ou seja, tanto homens quanto mulheres utilizam esta forma de tratamento pronominal e verbal, como exemplicam as tabelas 5 e 6 de nossa dissertação. No exemplo (4), verificamos o uso do pronome sujeito e da forma verbal “vos”, somados ao uso de pronome reflexivo “te”, o que corresponde ao proposto por Fontanella de Weinberg (1999:1406) para o paradigma flexivo desta variedade. (4) [A e B conversam sobre a viagem de A para Argentina] 7 B: te voy a preguntar ¿cuándo vas a venir vos? ¿si sabés o si tenés una idea? 8 A: sí mirá tengo pasaje reservado para el dieciséis pero lo tengo que pagar todavía 9 B: ¿de qué? 10 A: de diciembre 11 B: ah falta todavía 12 A: sí sí 13 B: ¿venís para las fiestas? 14 A: para las fiestas exacto me quedaré hasta el dos o el tres 68 15 B: ¿vos escuchás bien o tardás en pensar? [Conversa 2 – Homens – Buenos Aires] No que se refere às formas de tratamento nominais, Carricaburro (1997) destaca que as formas nominais também constroem estratégias discursivas para marcar a relação que existe entre os interlocutores. Ao analisar nossos dados, observamos que a forma mais frequente, na conversa feminina é “boluda”. Esta forma de tratamento, bem como a forma “gorda”, possuíam conotação pejorativa, mas atualmente funcionam de forma fática (CARRICABURRO, 1997), ou seja, chamam a atenção ou interpelam o interlocutor. No caso da conversa masculina, verificamos o uso das formas de tratamento amistosas “viejo”, “hermano” e “loco”. 2.3.2.2- Santiago do Chile Analisando as conversas 3 (mulheres de Santiago do Chile) e 4 (homens de Santiago do Chile), elencamos as seguintes formas de tratamento, apresentadas nas tabelas 9 e 10, respectivamente. Tabela 9 Formas de Tratamento – Conversa 3 Formas Nominais Formas Verbais Formas Pronominais Graciela (7) Oye (27) Tú (8) La Candis (2) Mira (14) La Elisabeth (2) Fíjate (8) Cheli (1) ¿Me entiendes? (3) La Mirian (1) Cuéntame (1) La Sandis (1) Estás (1) Pregúntale (1) Tabela 9: Formas de tratamento coloquiais, conversa 3, entre mulheres da variedade de Santiago do Chile. Tabela 10 Formas Nominais Gallo(s) (8) Guatón (6) Huevón (3) Formas de Tratamento – Conversa 4 Formas Verbais Formas Pronominais Tení (5) Tú (26) Estai (3) Podei (3) Poní (3) Puedes (3) Échale (2) 69 Entrai (2) Espérate (2) Tomai (2) Vai (2) Ahorrai (1) Anota (1) Conoces (1) Decís (1) Déjame (1) Graduai (1) Mándalas (1) Métete (1) Metís (1) Oye (1) Sabei (1) Tenei (1) Tienes (1) Tabela 10: Formas de tratamento coloquiais, conversa 4, entre homens da variedade de Santiago do Chile. Verificamos que, na conversa 3, entre as mulheres da variedade de Santiago do Chile, há um uso recorrente de formas verbais e pronominais tuteantes, ao passo que na conversa 4, entre os homens, há uma preferência pelas formas verbais de voseo e formas pronominais de tuteo. Do ponto de vista pragmático, o voseo chileno intensifica a proximidade entre homens ou intensifica os desacordos (REBOLLO COUTO & KULIKOVSKI, 2011), o que explicaria o uso majoritário de tuteo na conversa feminina e, e voseo verbal na conversa masculina, principalmente nos momentos finais da conversa, em que há um aumento quantitativo do uso dessa forma de tratamento. Segundo as autoras, no Chile o voseo verbal (quando o sujeito das formas verbais voseantes é o pronome “tú”) funciona como marca de coloquialidade, confiança ou familiaridade, ao passo que a forma do voseo pronominal (em que o sujeito “vos” vai acompanhado de formas verbais de voseo) não tem tanto prestígio social. Cabe destacar também, valendo-nos das investigações de Torrejón (2010), que o uso do voseo verbal, antes característico dos grupos jovens, se estendeu também a outras faixas etárias como forma de tratamento solidário entre pessoas de um mesmo grupo de idade, o que nos leva a supor que não encontramos exemplos de voseo na conversa feminina, provavelmente, pelo fato das interlocutoras apresentarem faixas de idades distintas. (5) [A e B conversam sobre o cotidiano do falante B] 187 A: ah la máquina y tú ¿estái durmiendo? 70 188 B: no yo ya iba saliendo yo estaba justo terminando de tomar desayuno 189 A: ah ¿sí? chupalla 190 B: sí 191 A: ah ya ¿tení clases temprano ahí? 192 B: sí 193 A: ya y ¿cómo te ha ido? 194 B: bien 195 A: ya 196 B: bien 197 A: ya y ¿para cuándo te graduai? 198 B: no sé pues [Conversa 4 – Homens – Santiago do Chile] Observamos no exemplo (5) o uso do pronome sujeito “tú” e da forma verbal voseante, destacados em negrito, corroborando o uso do voseo verbal chileno como marca de coloquialidade, confiança e familiaridade. Com relação às formas de tratamento nominais, verificamos que na conversa masculina, os falantes utilizam com frequência a forma referencial “gallo”, “guatón” e “huevón”. Destacamos também o uso do artigo determinado diante dos nomes próprios, na conversa feminina. Tal uso é referencial e marca afeto, proximidade e familiaridade. Ainda sobre este uso, observamos que se dá majoritariamente diante de nomes femininos (Candis, Elisabeth, Mirian, Sandis), inclusive quando não funciona como forma de tratamento nominal (“¿la Claudia está durmi-?”). 2.3.3- Intensificadores e atenuadores Já mencionamos em 2.2 que os intensificadores são estratégias retóricas de dizer mais do que realmente se diz (BRIZ, 1996), modificam o dito e reforçam o ato ilocutivo. Os atenuadores, por sua vez, estão vinculados à relação interlocutiva que suaviza a força ilocutiva de uma ação ou a força significativa de uma palavra. Nesta seção, verificaremos que estratégias intensificadoras e atenuadoras caracterizam as variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile. 71 2.3.3.1- Buenos Aires Na conversa 1, entre duas falantes do sexo feminino, e na conversa 2, entre dois falantes do sexo masculino, encontramos os seguintes recursos intensificadores e atenuadores. Tabela 11 Intensificadores – Conversa 1 Atenuadores – Conversa 1 Mucho sentido (1) “Cómo te puedo explicar” (verbo Mucho raye (1) perfomativo) Tengo mucho (1) “Estoy como sola” Muy bien (1) “Voy aprendiendo” (Perífrasis de futuro) Muy mal (1) “Yo te explico” (verbo perfomativo) Muy ambiguo (1) Ponele (2) Re bien (6) Re divino(a) (3) Re buen tipo (2) Re culpable (1) Re macanuda (1) Re mambiada (1) Re mal (1) Re jodido (1) Súper comunicativos (1) Súper enamorada (1) Bastante depresivo (1) Buenazo (1) Tabela 11: Intensificadores, conversa 1, entre mulheres da variedade de Buenos Aires. Tabela 12 Intensificadores – Conversa 2 Re agrandás (1) Re lejos (1) Re copado (1) Muchísimas cosas (1) Muy buena (1) Muy rompepelota (1) No me copa (2) Contrasta mucho (1) El culo del mundo (1) Boludeces (2) Buenísimo (2) Dimes y diretes (1) Chotas líneas (1) Fue un/ es el culo (1) Alucinante (1) Súper sensibilizás (1) Atenuadores – Conversa 2 De repente (7) Capaz que (3) Creo que (2) Ponele (2) Depende de que (1) “Es como que estoy entrando recién en el grupo” “Debe haber un español” (verbo modal) “Debe ser como no sé el diario de un pueblo” (verbo modal) “Te voy a preguntar” (verbo performativo / perífrasis de futuro) “Como un retardo te digo” “Más adelante te pido algún dato sobre qué va que me pueda mandar ella sobre programas” 72 “Algún que otro laburo” “Estás ahorrando como loco” “Te digo que va a ser va a ser medio jodido en el sentido que voy a estar poco tiempo” (verbo performativo / perífrasis de futuro) “Vamos a tener que combinar” (perífrasis de futuro / verbo modal) “Vamos a tener que hablar” (perífrasis de futuro / verbo modal) “Como te digo” (verbo performativo) “Fue algo groso” “Lo que te quería decir” (verbo performativo) Tabela 12: Intensificadores, conversa 2, entre homens da variedade de Buenos Aires. Com relação aos intensificadores, observamos um uso recorrente do prefixo “re” além das formas “muy” e “mucho” que podem intensificar adjetivos, advérbios e verbos. Assinalamos ainda o uso de palavras avaliativas com sentido negativo, como “chotas”. Já, com relação aos atenuadores, verificamos que aparecem nos momentos mais sensíveis, evitando que a conversa fique pesada. Observamos o exemplo (6). (6) [A e B conversam sobre a viagem de A para Argentina] 225 A: sí y cuando yo vaya en diciembre ¿vos vas a estar dando vueltas? 226 B: en diciembre voy estar acá todavía no me voy de vacaciones a 227 A: en las fiestas ah okey sí porque te digo que va a ser va a ser medio jodido en el 228 sentido que voy a estar poco tiempo y y 229 B: y encima son las fiestas 230 A: y son las fiestas y 231 B: o sea hasta ¿cuánto tiempo vas a estar más o menos? ¿un mes? 232 A: mirá llegaré un sábado creo que sábado dieciséis de diciembre 233 B: sí 234 A: y me quedaré hasta el martes dos y en el medio qué sé yo ¿viste? este mi 235 familia ¿cómo? 236 B: ¿dos de enero? hasta el dos de enero nada más 237 A: dos de enero sí y en el medio viste mi familia nos iremos a la costa unos días 238 B: vas a estar poco y nada 239 A: este claro por eso así este eso vamos a tener que combinar 73 240 B: sí tratar de combinar aunque sea un par de veces vernos 241 A: no eso es seguro pero lo que quiero decir es que bueno vamos a tener que 242 hablar este [Conversa 2 – Homens – Buenos Aires] O exemplo (6) demonstra que o uso de verbos com ideia de futuro e partículas de dúvida atenuam o fato de que o falante A passará um tempo em casa, mas terá outros compromissos e não vai ter muito tempo para estar com o amigo, ou seja, suaviza a força ilocutiva do ato. 2.3.3.2- Santiago do Chile Na conversa 3, entre duas falantes do sexo feminino, e na conversa 4, entre dois falantes do sexo masculino, encontramos os seguintes recursos intensificadores e atenuadores. Tabela 13 Intensificadores – Conversa 3 Bien bueno (1) Bien cariñoso (1) Bien cortito (1) Bien morenito (1) Bien pobres (1) Muchos problemas (1) Mucho desorden (1) Mucho gusto (1) Muchos errores (1) Hablabas mucho (1) Mucha gente (1) Ha progresado mucho (1) Han cambiado mucho (2) Falta mucho (2) Tiene que ser mucho en plata chilena (1) Han cambiado muchísimo (1) Muy dice (2) Muy caballero (1) Muy buenos mozos (1) Muy mormón (1) Muy fina (1) Muy educada (1) Muy buena (1) Tan bonito (1) Tan espantoso (1) Atenuadores – Conversa 3 “Después te voy a mandar explicar más detalles en carta” (perífrasis de futuro / verbo performativo) “Yo le invitaría” (verbo condicional) “parecía que estaba como molesto de que le hablabas mucho de Eddie” “si acaso le pagarían el pasaje de vuelta si él se fuera más tarde porque él se quería quedar unos tres meses más aquí” (verbo condicional / subjuntivo) “posiblemente podría ser una semana o dos semanas o algo así quizás” (verbo condicional) “los pobres están tan así como cabizbajos todo el tiempo” “el niñito este es bien morenito” (formas no diminutivo) 74 Tan espontáneo (1) Tan intenso (1) Tan lindo (1) Montonal (1) Re malo (1) Tabela 13: Intensificadores, conversa 3, entre mulheres da variedade de Santiago do Chile. Tabela 14 Intensificadores – Conversa 4 Chuta (4) Chuta madre (1) Mucha radiación (1) Muy caro (1) Puta madre (1) Puta (2) Carísimo (1) Toda esa bosta (1) Chitas (1) Chiva (1) Atenuadores – Conversa 4 “de una de una como se llama de un consorcio de universidades que se formó en el año noventa parece una cuestión así” “al parecer parece que lo mandó a la jota” “al parecer no no tengo idea realmente no sé” “estaba como vieja tecleando” “tienen que registrarse parece que estos gallos no se han registrado” “porque estaba parece no sé qué le pasó parece que estaba sin lentes no veía” “ya te digo recibí otro también del de un administrador parece que fue pero venía en blanco con tres líneas en blanco” “parece que sí no lo tengo aquí a mano” “está re lejos parece que está para arriba para La Reina” “como se llama el primer disco parece que está corrupto” “texto de T X T y parece que todos están con punto cómo se llama esta rayita de subrayado y otras dos letras o sea que parece que se substituyeron esos archivos de alguna manera” “voy a ver si ahora puedo” (verbo performativo) “ahí te estaba explicando queee de los discos de la agenda que te digo yo electrónica del playboy” No creo que (2) Miento ¿Cómo me dijo? Tabela 14: Intensificadores, conversa 4, entre homens da variedade de Santiago do Chile. Observamos um uso recorrente do intensificador “bien” e “tan”, diante de substantivos e adjetivos na conversa 3, feminina. Já na conversa masculina, verificamos o 75 uso do intensificador “chuta”, que pode ser usado tanto isolado como diante de um substantivo (versão atenuada de “chucha”, genitália feminina, ou “puta”). Com relação aos atenuadores, verificamos que são usados para atenuar a força ilocutiva do ato de fala, bem como reafirmas que o falante não tem certeza de algo. Sinalizamos, na conversa masculina, o uso recorrente do atenuador “al parecer”/ “parece que”, usado para indiciar que o falante não é testemunha da informação transmitida e que a adquiriu por outras fontes. O diminutivo também aparece como atenuador ao atenuar um pedido, como no exemplo 7, abaixo. (7) [A e B conversam sobre a instalação de um arquivo no computador] 248 A: ya o si no échale una mirada o que le dé una mirada el guatón porque el 249 mismo juego de discos se los dí al guatón al José Pacheco 250 B: y ¿tendrá computador? 251 A: parece que no tiene el gua- no sé si tendrá en la bega pero puedes decirle tú 252 que te los preste para echarle una miradita si es que los tuyos están malos no sé 253 po porque no creo que tenga en la casa (( )) así que pues eso nomás y les mandé 254 también otro paquetito de sorpresa para ustedes [Conversa 4 – Homens – Santiago do Chile] Confrontando o uso dos intensificadores em ambas as variedades, notamos como formas comuns “muy” e “mucho”. Já, para os casos divergentes, observamos que o uso de “re” foi mais frequente na variedade de Buenos Aires, ao passo que na variedade de Santiago do Chile, obtivemos mais ocorrência de intensificadores e elencamos como mais frequentes as formas “tan” e “bien”. No que se refere ao uso dos atenuadores, observamos que em ambas as variedades os falantes utilizam determinadas estratégias de atenuação, como os tempos verbais e os verbos perfomativos, anunciando o que vão fazer, para assim, suavizar a força ilocutória do ato. 2.3.4- Diminutivos Uma das funções do afixo diminutivo de grau, segundo Loures (2000, apud Gonçalves, 2007: 152), é expressar afetividade do falante, “podendo carrear aspectos positivos ou negativos”, ou seja, os diminutivos, além da noção de diminuição, expressam atitudes individuais e subjetivas dos próprios falantes. 76 2.3.4.1- Buenos Aires Na conversa 1, entre duas falantes do sexo feminino, e na conversa 2, entre dois falantes do sexo masculino, encontramos as seguintes formas de diminutivos. Tabela 15 Diminutivos – Conversa 1 Hermanito (3) Pobrecito(a) (2) Tabela 15: Diminutivos, conversa 1, entre mulheres da variedade de Buenos Aires. Tabela 16 Diminutivos – Conversa 2 Limpito (1) Tabela 16: Diminutivos, conversa 2, entre homens da variedade de Buenos Aires. Observamos que predomina o uso de diminutivo na conversa feminina (5 casos) em comparação com a conversa masculina (apenas 1 caso). As formas encontradas, “hermanito”, “probrecito” e “limpito”, são exemplos de formas lexicalizadas e/ou formulaicas. Em outras palavras, a forma “hermanito” é convencionalmente usada em referência à relação de parentesco (irmão) e a forma “pobrecito(a)” se usa de forma irônica, como no exemplo (8) abaixo. (8) [A e B conversam sobre os sonhos de A] 72 A: mirá vos qué bueno yo me sentí re culpable cuando me desperté re mal me 73 sentí [risas] 74 B: [risas] pobrecita [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] Nota-se neste exemplo que a falante B não acredita que a falante A é, de fato, uma pobrezinha, sendo um uso já formulaico com atitude irônica. O mesmo vale para a forma “limpito” (“porque voló un edificio completo así limpito”) que já se encontra lexicalizado. 77 2.3.4.2- Santiago do Chile Na conversa 3, entre duas falantes do sexo feminino, e na conversa 4, entre dois falantes do sexo masculino, encontramos as seguintes formas de diminutivos. Tabela 17 Diminutivos – Conversa 3 Chiquillo(s) (9) Hermanitos (3) Niñitos (2) Chiquito (1) Negrito (1) Cortito (1) Autito (1) Viajecito (1) Raulito (1) Morenito (1) Calladito (1) Guaguita (1) Librito (1) Cosita (1) Tabela 17: Diminutivos, conversa 3, entre mulheres da variedade de Santiago do Chile. Tabela 18 Diminutivos – Conversa 4 Fotita (1) Libreta (1) Miradita (1) Paquetito (1) Rayita (1) Tabela 18: Diminutivos, conversa 4, entre homens da variedade de Santiago do Chile. Assim como na variedade de Buenos Aires, também observamos na variedade de Santiago do Chile, o uso mais frequente das formas de diminutivos pelos sujeitos do sexo feminino do que pelos sujeitos do sexo masculino. No caso das mulheres, o uso predominante é em situações de maior afetividade, em especial para falar de crianças, como em “ese chiquillo es un chiquillo encantador”. Vale destacar que a forma “chiquillo” já está lexicalizada, bem como a forma “libreta”, que aparece na conversa masculina. Analisando os usos na conversa masculina, observamos que os falantes preferem a forma de diminutivo ao falar sobre algo relacionado à família (“les mande también otro 78 paquetito de sorpresa para ustedes” e “y para que me manden alguna fotita”) ou para representar signos informáticos, como em “cómo se llama esta rayita de subrayado”. Confrontando o uso de diminutivo nas duas variedades, constatamos ser mais produtivo na variedade de Santiago do Chile, em especial quando se refere a crianças. 2.4- A estrutura conversacional Kerbrat-Orecchioni (2006: 11) compara a regulamentação do funcionamento conversacional ao funcionamento do trânsito. Segundo a autora, em um cruzamento de ruas, por exemplo, cada motorista “deve, não ‘falar em seu turno’, mas ‘passar na sua vez’, sendo obrigado tanto a ceder o lugar, quanto a se apossar dele”. O desenvolvimento de uma conversação é regido por princípios e regras de alternância de turnos, que serão discutidos a seguir, no item 2.4.1. Em continuação, em 2.4.2, apresentamos, conclusivamente, a estrutura conversacional de uma conversa telefônica, uma vez que nosso corpus é constituído por este tipo de conversação. 2.4.1- Os turnos de fala Como já mencionamos anteriormente, uma conversação se apresenta como uma sucessão de turnos de fala, em que cada participante possui seus deveres e seus direitos. A alternância de turno é uma troca mínima entre um par adjacente de pergunta-resposta, pedido-recusa/aceitação, etc. Os analistas da conversação sugerem que a organização da conversação se estrutura em uma sequência ABABAB, isto é A fala e para; B começa, fala e para e assim sucessivamente (KERBRAT-ORECCHIONI, 2006; LENVINSON, 2007), sendo mínimo o espaço entre uma troca e outra, caso contrário, produz-se um gap, intervalos de silêncio que separam os turnos. Há também um Lugar de Relevância da Transição (doravante, LRT), no qual os falantes poderão mudar o turno. O falante que detém o turno sinaliza, através de marcas verbais (perguntas, morfemas conclusivos ou fáticos), caracteríticas prosódicas (curva entonacional marcada por vales ou alongamentos; redução da velocidade de fala ou pausa) e marcas visuais e/ou gestuais ou lexicais, como as repetições, que o falante seguinte pode pegar o turno para si. Vale mencionar que tais marcas são culturalmente variáveis. Embora a regra conversacional exprima que um único falante deve falar por vez, não raro encontramos, em conversações coloquiais, casos de sobreposição de fala (overlap), 79 ou seja, apropriações indevidas e momentâneas do turno de fala que ocupam o lugar do outro falante, mesmo que não o usurpe (BRIZ, 1998). A sobreposição nem sempre significa que o falante que se sobrepõe queira tomar o turno para si, pois pode corresponder a uma tentativa de colaborar, de mostrar acordo ou de manifestar interesse com o que se diz. 2.4.2- A conversa telefônica A conversa telefônica possui uma organização geral bastante reconhecível. Tal tipo de conversação apresenta uma seção de abertura, ou seja, quando o telefone toca, o receptor fala em resposta ao som do telefone. Temos assim, um par adjacente: o toque do telefone-resposta do receptor (LENVINSON, 2007; COUPER-KUHLEN, 2013). As seções de abertura podem apresentar também a identificação da pessoa que telefona, caso o receptor não a reconheça pela voz e cumprimentos do tipo “como você está?”, como bem sintetiza Lenvinson (2007: 397): As organizações sobrepostas aqui são, portanto, as seguintes: (a) as conversas telefônicas (e outras relacionadas) começam com pares de chamado e resposta; (b) saudações recíprocas são relevantes logo no início das chamadas; (c) também logo no início das chamadas, o reconhecimento (ou identificação) é uma preocupação primordial. No entanto, as conversas do nosso corpus apresentam uma estrutura de seção de abertura diferente das conversas telefônicas em geral. Isso se deve ao fato de que nossas conversas pertençam a um projeto5 em que o receptor já sabe quem é a pessoa que liga. Observamos, no exemplo (9), a presença de um par adjacente de saudação (hola – buen día) e, em seguida, o falante A já apresenta alguma informação sobre o funcionamento do projeto, na linha 3. (9) [Seção de abertura] 1 A: hola 2 B: buen día 3 A: es que me dijeron si porque te dan sesenta segundos para colgar [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] 5 Descreveremos este projeto no capítulo 3, desta dissertação. 80 Em outro exemplo de conversa do nosso corpus, verificamos que não há nenhuma marca de chamado-resposta ou cumprimentos recíprocos. (10) [Seção de abertura] 255 A: ahora tengo que decir yo que doy permiso para que esta llamada sea grabada 256 tú también tienes que decir lo mismo 257 B: doy permiso para que esta llamada sea grabada 258 A: ya ahora empezamos 259 A: eh recibí tu mensaje ayer ¿te dieron (( ))? [Conversa 4 – Homens – Santiago do Chile] O falante A anuncia que permite a gravação da conversa telefônica, assim como o falante B e já começam a conversar. Esta parte que sucede a seção de abertura é denominada corpo (COUPER-KUHLEN, 2013): o falante apresenta a razão do chamado e o primeiro tópico, que pode ser único ou seguido por outros tópicos. Por fim, a última parte da organização de uma conversa telefônica é a seção de fechamento. Para Lenvinson (2007:403) esta parte constitui um problema “delicado” para os participantes em dois sentidos. O primeiro é considerado um problema técnico, pois tem que estar claro que os falantes já disseram tudo o que precisavam dizer. E o segundo se encontra no nível social, uma vez que, se for um fechamento rápido demais ou, por outro lado, lento demais, pode acarretar inferências que não são bem vindas sobre a relação social dos participantes. A fim de evitar tais problemas, há alguns mecanismos para encerrar uma conversa telefônica: (i) um tópico de fechamento implicativo, com envio de lembrança a outros membros da família, por exemplo; (ii) pares de turnos de passagem com itens de préfechamento, como “ok” ou “certo” e finalmente, (iii) uma troca de elementos terminais (tchau). Como na seção de abertura, em que a estrutura não corresponde às aberturas gerais de conversas telefônicas, em nossas conversas não há seções de fechamento, uma vez que a gravação é interrompida após 15 minutos e os falantes não controlam este tempo. Em síntese, tanto a alternância de turnos quanto a estrutura de uma conversa telefônica caracterizam a atividade conversacional que é distinta de uma conversação. Lenvinson (2007) distingue estas duas unidades, argumentando que outros discursos orais 81 possuem características conversacionais, mas não são conversações, como o interrogatório em tribunais (em que há alternância de turnos pré-determinada). Reafirmamos, portanto, o que apresentamos na seção 2.2 deste capítulo: o traço que distingue a conversação de outros discursos orais é a alternância de turnos não negociada de forma prévia. 2.5- Resumindo Definimos neste capítulo 2, quatro conceitos: (i) coloquial, que se relaciona ao registro situacional; (ii) oral, produção e recepção pelo canal fônico; (iii) espontâneo, que se relaciona ao grau de planejamento da informação e (iv) conversacional, caracterizado por ser oral, dialogal, imediato, dinâmico, cooperativo e mudança de turno não prédeterminada. Conceituamos, dessa forma, a conversação coloquial, uma modalidade conversacional com marcas de situacional (coloquial). Observamos também que a conversação coloquial pode apresentar marcas de espontâneo. Analisamos nossas quatro conversas a fim de verificar as partículas discursivas, formas de tratamento, intensificadores, atenuadores e diminutivos característicos de cada variedade aqui apresentada. Com relação às partículas discursivas, observamos que, em ambas as variedades, é frequente o uso do marcador “y” tanto em posição inicial quanto em posição medial. Em posição final, notamos que as partículas “¿me entendés?” e “¿no?” são as mais frequentes na variedade de Buenos Aires enquanto que, para a variedade de Santiago do Chile, observamos um uso frequente de “¿ah?”, “pues” e “ya”. Com relação às formas de tratamento, observamos em nossas conversas da variedade de Buenos Aires, um uso frequente da forma verbal e pronominal de voseo. Já para a variedade de Santiago do Chile, destacamos que entre as mulheres há um uso frequente de formas verbais e pronominais tuteantes ao passo que entre os homens, há uma preferência pelas formas verbais de voseo e formas pronominais de tuteo. Com relação aos intensificadores, ao confrontar o uso dos intensificadores em ambas as variedades, notamos como formas comuns “muy” e “mucho”. Já, para os casos divergentes, observamos que o uso de “re” foi mais frequente na variedade de Buenos Aires, ao passo que na variedade de Santiago do Chile, elencamos como mais frequentes as formas “tan” e “bien”. 82 No que se refere ao uso dos atenuadores, observamos que em ambas as variedades os falantes utilizam determinadas estratégias de atenuação, como os tempos verbais e os verbos perfomativos, anunciando o que vão fazer, para assim, suavizar a força ilocutória do ato. Com relação aos diminutivos, ao confrontar o uso de diminutivo nas duas variedades, constatamos ser mais produtivo na variedade de Santiago do Chile, em especial quando se refere a crianças. Finalmente, destacamos a estrutura de uma conversação a partir da sucessão de turnos de fala e, em especial, a estrutura organizacional de uma conversa telefônica, já que o corpus desta pesquisa se constitui por conversas deste tipo. No próximo capítulo, descrevemos a metodologia utilizada para a análise dos nossos dados. 83 3 METODOLOGIA Como este trabalho tem como objetivo analisar prosódica e pragmaticamente a entoação de enunciados interrogativos totais realizados em conversas telefônicas coloquiais por falantes de espanhol de Buenos Aires e de Santiago do Chile, cabe refletir sobre os métodos que utilizamos para a análise de ditos enunciados. Nesse sentido, descreveremos, neste capítulo, as etapas de coleta do corpus, os programas computacionais utilizados bem como os critérios de análise. 3.1- O Corpus Nesta seção, apresentaremos os critérios para a escolha das gravações telefônicas e os critérios de transcrição ortográfica das gravações bem como uma descrição das conversas telefônicas utilizadas em nossas análises. 3.1.1- Escolha das gravações Para coletar os dados desta pesquisa, utilizamos o corpus FISCHER6. Este material é composto por setenta e nove gravações de conversas telefônicas, realizadas por ligações de longa distância desde os Estados Unidos, da década de 1990, entre pessoas que se conhecem (amigos, familiares, etc.). Um dos falantes está nos Estados Unidos em função dos estudos e seu interlocutor continua em seu país de origem. Em meados da década de 1990, ainda sem Internet, proliferaram este tipo de coleta de dados. O projeto, que resultou no corpus FISCHER, disponibilizou aos estudantes residentes nos Estados Unidos quinze minutos de ligação telefônica internacional gratuita em troca da permissão de que tais conversas fossem gravadas e, posteriormente, comercializadas para estudos linguísticos. Em um primeiro momento, escutamos todas as setenta e nove gravações a fim de identificar a origem dos falantes (conferir anexo 1). Para tal, nos baseamos em (i) critérios sintáticos, como uso de algum tipo de voseo a partir da morfologia verbal; (ii) critérios fonéticos tais como: aspiração do fonema /s/, realização palatalizada do fonema /t/ e O corpus FISCHER é vinculado ao Projeto The Intonation of Spanish Interrogatives: Dialectal and Pragmatic Variation da Simon Fraser University, Vancouver, Canadá, coordenado por Nancy Hedberg. 6 84 fonológicos, como o tipo de yeísmo; (iii) critérios lexicais referidos durante a conversa, como o nome dos países, de cidades e moedas e (iv) formas de tratamento pronominais. Evidentemente, não foi possível identificar a origem dos falantes de todas as gravações. Em vista disso, optamos por trabalhar com aquelas em que estivesse definida a origem dos informantes. Portanto, desse total de setenta e nove gravações, selecionamos quatro para constituir o corpus da nossa pesquisa, sendo duas gravações entre falantes de espanhol da variedade argentina de Buenos Aires e duas, da variedade chilena de Santiago do Chile. A escolha por essas duas variedades de espanhol constitui uma complementação aos trabalhos realizados por Figueiredo (2011) e Pinho (2013), no âmbito do projeto em que esta dissertação se insere. 3.1.2- As conversas telefônicas Como mencionado anteriormente, selecionamos quatro gravações de conversas telefônicas7 para constituir o corpus de nossa pesquisa. Cada gravação foi etiquetada numericamente, a fim de facilitar nossa análise, a saber: (i) conversa 1, entre duas informantes do sexo feminino, da variedade de Buenos Aires; (ii) conversa 2, entre dois informantes do sexo masculino, da variedade de Buenos Aires; (iii) conversa 3, entre duas informantes do sexo feminino, da variedade de Santiago do Chile e (iv) conversa 4, entre dois informantes do sexo masculino, da variedade de Santiago do Chile. Nas quatro gravações telefônicas, encontramos setenta e oito enunciados interrogativos totais, sendo 39 enunciados para a variedade de Buenos Aires e mais 39 para a variedade de Santiago do Chile, conforme ilustrado no esquema 1, abaixo. 7 As transcrições ortográficas das conversas telefônicas podem ser encontradas no anexo 4, desta dissertação. 85 Esquema 1 39 variedade de Buenos Aires 78 enunciados interrogativos totais 4 conversas telefônicas 39 variedade de Santiago do Chile 26 proferidos pelos informantes do sexo feminino 13 proferidos pelos informantes do sexo masculino 15 proferidos pelos informantes do sexo feminino 24 proferidos pelos informantes do sexo masculino Esquema 1: Quantitativo de enunciados interrogativos totais do corpus. Cabe salientar que o número de enunciados interrogativos totais em cada variedade foi o mesmo: 39 para cada uma das variedades aqui estudadas. A coincidência numérica do total de enunciados encontrados na variedade de Buenos Aires e na variedade de Santiago do Chile não deixa de ser surpreendente e deixa margem para que imaginemos que, no mesmo tipo de conversa, com o mesmo tipo de duração, as “porções interrogativas” das conversas poderiam ter a mesma frequência de distribuição. Os enunciados foram etiquetados em função da modalidade, com a sigla “int”; da variedade lingüística, “a” para Buenos Aires e “c” para Santiago do Chile e, em função do sexo do informante, sendo “f” para feminino e “m” para masculino. Assim, um enunciado com rótulo “intcm1” indica um enunciado interrogativo total, produzido pelo informante masculino da variedade de Santiago do Chile. 3.1.2.1- Conversa 1 A Conversa 1 ocorre entre duas informantes do sexo feminino da variedade de Buenos Aires. São duas amigas que conversam sobre diferentes temas: estudos, amigos em comum, familiares, festas, etc. Verificamos nesta gravação a ocorrência de 26 enunciados interrogativos totais: 11 proferidos pelo informante 1 e 15, pelo informante 28. Ressaltamos que o informante 1 é sempre o que liga, isto é, o falante que está nos Estados Unidos. E, o informante 2 é o que recebe a chamada, portanto o que está no país de origem. 8 86 3.1.2.2- Conversa 2 A Conversa 2 ocorre entre dois informantes do sexo masculino da variedade de Buenos Aires. São dois rapazes que conversam sobre os seguintes temas: estudos de pósgraduação, trabalho, família, as cidades onde vivem, etc. Verificamos nesta gravação a ocorrência de 13 enunciados interrogativos totais: 5 proferidos pelo informante 1 e 9, pelo informante 2. 3.1.2.3- Conversa 3 A Conversa 3 ocorre entre duas informantes do sexo feminino da variedade de Santiago do Chile. São duas amigas que conversam sobre diferentes temas: estudos, amigos em comum, familiares, festas, etc. Verificamos nesta gravação a ocorrência de 15 enunciados interrogativos totais: 2 proferidos pelo informante 1 e, 13 pelo informante 2. 3.1.2.4- Conversa 4 A Conversa 4 ocorre entre dois informantes do sexo masculino da variedade de Santiago do Chile. São dois rapazes que conversam sobre os seguintes temas: estudos de pós-graduação, trabalho, família, as cidades onde vivem, etc. Verificamos nesta gravação a ocorrência de 24 enunciados interrogativos totais: 18 proferidos pelo informante 1 e, 6 pelo informante 2. Nesta conversa, diferentemente das outras três anteriores, o informante 1 foi o que mais perguntou. Acreditamos que essa diferença se encontre no tópico da conversa, uma vez que o informante 1 tenta ajudar o informante 2 a solucionar seu problema com o acesso à internet. 3.1.3- Critérios de transcrição ortográfica Após escolhermos as quatro gravações que constituiriam o corpus, seguimos para a primeira etapa de revisão. Dos quinze minutos de cada conversa, dez já estão transcritos ortograficamente, por isso transcrevemos os cinco minutos restantes a fim de observar a 87 ocorrência de outros enunciados interrogativos totais 9. Vale mencionar que essa segunda transcrição das quatro conversas telefônicas foi revisada por duas falantes de espanhol, a primeira com idade de 45 anos, nascida em Montevidéu (Uruguai) e residente no Brasil desde os 7 anos e a segunda com idade de 27 anos, nascida em Misiones (Argentina) e residente no Brasil desde os 21 anos. Na transcrição ortográfica das gravações optamos pela não utilização de sinais de pontuação, com exceção do ponto de interrogação, ao início e fim de enunciados interrogativos. Os interrogativos totais foram destacados em negrito. Utilizamos as letras maiúsculas para nomes próprios; fonte itálica para as palavras do inglês; parêntesis duplo – (( )) – para o não entendimento de alguma palavra e a sigla “[risas]” para sinalizar a risada dos falantes. Também optamos por registrar marcas de fala espontânea tais como: (i) repetições, (ii) recomeços, (iii) supressão de sílabas e (iv) pausas sonoras. Na tabela 19 abaixo, exemplificamos tais marcas. Tabela 19 Marcas do discurso espontâneo Repetições Exemplos A: capaz que no sé no sé bien a lo mejor porque son chotas líneas nada más eso y no te andaba comentando vos sabés que acá hay hay un departamento que se llama epidemiology que es básicamente estadística aplicada a medicina [Conversa 2] Recomeços B: pero me ac- pero me acuerdo que es lo importante [Conversa 2] Supressão de sílabas A: ah mi (her)manito re bien [Conversa 1] Pausas sonoras B: que lástima eh pero es mejor que tomes eso que no te de ese dolor tan espantoso [Conversa 3] Tabela 19: Exemplos de marcas de espontâneo. Encontramos no total dos 20 minutos que não possuíam transcrição ortográfica (5 minutos para cada uma das 4 gravações), mais 27 enunciados interrogativos totais, além dos 51 já transcritos: 8 enunciados na conversa 1; 4, na conversa 2; 8, na conversa 3 e 7, na conversa 4. 9 88 Cabe mencionar que cada linha da transcrição ortográfica das gravações foi numerada em ordem crescente. 3.2- Programas de Análise Apresentaremos os dois programas computacionais utilizados para a análise dos dados desta dissertação: Audacity e Praat. 3.2.1- Audacity Audacity10 é um programa livre utilizado para a gravação e edição de som. Para o trabalho desenvolvido nesta pesquisa, o programa nos permitiu separar os enunciados interrogativos totais das demais partes das gravações. Janela do Audacity Figura 20: Exemplo de uma gravação do nosso corpus no programa Audacity. Após a separação dos enunciados no Audacity, estes foram analisados acusticamente no Praat. É possível fazer o download http://www.baixaki.com.br/download/audacity.htm. 10 do programa Audacity no endereço: 89 3.2.2- Praat Praat11 é um programa de análise acústica desenvolvido por Paul Boersma e David Weenink da Universidade de Amsterdam (1993-2013). Este software se programa a partir de scripts que permitem adequá-lo às mais diferentes pesquisas na área de Ciências da Fala. Especificamente para a nossa investigação, este programa permitiu analisar o contorno e valores de F0 e de duração, bem como segmentar manualmente cada enunciado em três níveis: segmentação das vogais, segmentação das sílabas e notação fonológica das sílabas do pré-núcleo e do núcleo, como ilustrado na figura 2. Janela do Praat Figura 21: Exemplo de um enunciado do nosso corpus no programa Praat. Ao observar nossos enunciados, constatamos que algumas curvas melódicas, como a exemplificada no exemplo da figura 2, acima, apresentavam algumas perturbações não pertinentes em função de fatores fonéticos, microprosódicos ou externos. Como solução a este problema, suavizamos12 os contornos melódicos para sua melhor visualização, como ilustra a figura 3. É possível fazer o download do programa Praat no endereço: http://www.fon.hum.uva.nl/praat/. Para suavizar uma curva melódica no Praat é necessário selecionar o arquivo de som, clicar em analyse periodicity e em to pitch (ac). Será criado um arquivo de pitch que deverá ser selecionado. Feita a seleção, clicar em convert e em smooth. Será criado um novo arquivo de pitch. Para obter a curva selecionar o novo arquivo de pitch e o text grid e clicar em draw e draw separately (logarithmic). (SÁ, 2013). 11 12 90 ¿Hablaban en código? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a ha a bla L+>H* a ban e o en co i di o go L+¡H* HL% ¿hablaban en código? 0 1.292 Time (s) Figura 22: Exemplo de contorno melódico suavizado. A seguir, apresentamos os critérios utilizados para a análise dos dados. 3.3- Critérios de Análise Para a realização deste estudo, levamos em consideração dois tipos de análise: uma análise do ponto de vista acústico e outra, do ponto de vista pragmático. A seguir, apresentamos, detalhadamente, essas duas etapas de análise. 3.3.1- Análise Acústica Do ponto de vista fonético, analisamos o comportamento da frequência fundamental e da duração no pré-núcleo e no núcleo dos enunciados interrogativos totais. Cabe lembrar que consideramos como pré-núcleo o vocábulo que contém a primeira sílaba tônica do enunciado e como núcleo, o vocábulo que contém a última sílaba tônica do enunciado. Calculamos os valores de frequência fundamental, em hertz, a partir do ponto mais alto de intensidade das sílabas tônicas do pré-núcleo e do núcleo e suas respectivas sílabas adjacentes, pretônica e pós-tônica. Para o cálculo da duração, em milissegundos, consideramos o valor total das sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas dos enunciados. 91 Do ponto de vista fonológico, recorremos à versão do modelo Sp_ToBI, Spanish Tones and Break Indices (ESTEBAS-VILAPLANA & PRIETO, 2008; AGUILAR et alii, 2009), apresentada no capítulo 1, que constitui uma nova proposta de etiquetagem prosódica da língua espanhola capaz de representar os contrastes entonacionais encontrados em cada variedade. Objetivamos, através dessa análise fonológica, elaborar uma lista de representações para os enunciados interrogativos totais proferidos por nossos informantes de Buenos Aires e Santiago do Chile. A partir dos resultados de nosso estudo descritivo, esperamos corroborar ou não os resultados encontrados por Sosa (1999), Gabriel et alii (2010) e Figueiredo (2011) para a variedade de Buenos Aires e Ortiz et alii (2010) para a variedade de Santiago do Chile. 3.3.2- Análise Pragmática Consideramos em nossa pesquisa o modelo de classificação adotado por Hedberg et alii (2010). Este modelo foi proposto com o objetivo de investigar a correlação entre a forma prosódica e a função pragmática de enunciados interrogativos parciais, do inglês. A questão de pesquisa de tais autores parte do trabalho de Halliday (1994), uma vez que este sugere que o contorno melódico das interrogativas parciais do inglês é descendente. No entanto, sabe-se que nem todos os contornos melódicos desse tipo de enunciado se apresentam em queda. Nesse sentido, Hedberg et alii (2010) buscam verificar se o contexto influencia na escolha do contorno entonacional. Para isso, definem-se cinco dimensões binárias que são relevantes para a caracterização de cada categoria pragmática, a saber: (i) busca de informação, se a pergunta é utilizada para solicitar uma informação a fim de preencher uma lacuna informativa do interrogador; (ii) mudança de piso conversacional, se a pergunta é utilizada para passar o direito de falar ao outro, sem mudar o falante que detém o turno da conversa; (iii) mudança de tópico, se a pergunta é utilizada para mudar o tópico da conversa; (iv) interrupção, se a pergunta interrompe o curso do discurso, sobrepondo-se a um enunciado ainda não terminado e (v) conteúdo proposicional está na gravação, se a pergunta apresentar uma proposição mencionada anteriormente na gravação em forma de resposta. A partir dessas cinco dimensões, definem-se as nove categorias pragmáticas, identificadas minimamente para que fossem diferentes uma das outras categorias em pelo 92 menos uma das cinco dimensões, conforme a tabela 20, abaixo. Cada dimensão recebe um valor “+”, caso a interrogativa satisfaça este critério ou um sinal “-”, caso seja o contrário, conforme tabela abaixo em que a dimensão cuja sigla é “IS” significa busca de informação; “FP”, mudança de piso conversacional; “TC”, mudança de tópico; “INT”, interrupção e a sigla “IR” significa conteúdo já mencionado na conversa. Categorias Pragmáticas Categorias Pragmáticas Dimensão Pragmática IS FP TC INT IR Detalhe de Elaboração + Mudança de Turno + + ± Diretor do Fluxo de Informação + + Pergunta Retórica ± ± ± ± Informação Suplementar + + Iniciador de Tópico + ± + Pergunta Recíproca + + Pergunta Esclarecedora + ± + Retomada de Tópico + ± + + Tabela 20: Categorias Pragmáticas (Adaptada de Hedberg et alii, 2010.) As nove categorias de classificação propostas por Hedberg et alii (2010) são: (i) detalhe de elaboração – engloba os enunciados interrogativos que visam uma elaboração sobre o tópico atual da conversa. São perguntas que buscam uma informação (IS+) sem mudar o piso converacional (FP-), nem o tópico (TC-). Tampouco há interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-). (ii) mudança de turno – as perguntas são usadas como estratégia para passar o turno ao outro falante. São perguntas que buscam uma informação (IS+) ao passar o piso conversacional ao outro falante (FP+), podendo ou não mudar o tópico da conversa (TC±). Nesta categoria, não há interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-). (iii) diretor do fluxo de informação – perguntas usadas pelo ouvinte como uma estratégia de controlar o tema da conversa, pois o direciona. São perguntas que buscam uma informação (IS+), ao mudar o tópico da conversa (TC+). Nesta categoria não se passa o piso conversacional (FP-), não há interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-). 93 (iv) pergunta retórica – são perguntas que não buscam uma informação (IS-), pois o falante as faz para si mesmo. Do ponto de vista atitudinal (MORAES, 2008b; FIGUEIREDO, 2011; SÁ, inédito), consideramos uma pergunta como retórica quando o falante tem certeza da negatividade do conteúdo proposicional. (v) informação suplementar – engloba as perguntas que indagam sobre alguma informação relevante ao tópico corrente. São perguntas que buscam uma informação (IS+) sem mudar o piso conversacional (FP-), nem o tópico (TC-), nem há conteúdo proposicional na gravação (IR-). Diferencia-se da categoria de detalhe de elaboração por haver interrupção do falante que possui o turno de fala (INT+). (vi) iniciador de tópico – perguntas que objetivam iniciar um novo tópico. São perguntas que buscam uma informação (IS+), ao mudar o tópico da conversa (TC+), podendo ou não mudar o turno (FP±), nem interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-). (vii) pergunta recíproca – perguntas que o falante faz para o ouvinte assim que o falante acaba de responder a mesma pergunta. São perguntas que buscam uma informação (IS+) ao passar o piso conversacional ao outro falante (FP+), mas sem mudar o tópico da conversa (TC-). Nesta categoria, não há interrupção do falante que possui o turno de fala (INT-) nem conteúdo proposicional na gravação (IR-). (viii) pergunta esclarecedora – perguntas que funcionam como um pedido de repetição de uma informação já dada anteriormente. São perguntas que buscam uma informação (IS+) sem mudar o turno (FP-), nem o tópico (TC-). No entanto, há conteúdo proposicional na gravação (IR+). (ix) retomada de tópico – perguntas que mudam o tópico da conversa ao retomar um antigo tópico. São perguntas que buscam uma informação (IS+) podendo ou não mudar o turno (FP±). Nesta categoria, há conteúdo proposicional na gravação (IR+) e mudança de tópico (TC+). 3.4- Resumindo Neste capítulo, relatamos como foram coletados os 78 enunciados interrogativos totais analisados para esta dissertação. Cabe lembrar que trabalhamos com 4 gravações de conversas telefônicas coloquiais, sendo duas da variedade de Buenos Aires, nas quais encontramos um total de 39 enunciados interrogativos totais e duas da variedade de 94 Santiago do Chile, nas quais também repertoriamos um total de 39 enunciados interrogativos totais. Com os resultados deste estudo descritivo esperamos verificar, do ponto de vista fonético, quais são os comportamentos dos parâmetros acústicos F0 e duração dos enunciados interrogativos totais nas variedades argentina (Buenos Aires) e chilena (Santiago do Chile). Do ponto de vista fonológico, objetivamos elaborar uma lista de representações para os enunciados interrogativos totais proferidos por nossos informantes de Buenos Aires e Santiago do Chile. E ainda, do ponto de vista pragmático, esperamos observar se há equivalência entre forma prosódica e função pragmática, isto é, verificar se a função pragmática desempenhada no discurso modifica ou não o contorno entonacional dos enunciados interrogativos totais. Nos próximos capítulos, a partir da metodologia adotada, veremos os resultados obtidos com o corpus analisado. 95 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES: ENUNCIADOS INTERROGATIVOS TOTAIS – VARIEDADE DE BUENOS AIRES Como exposto anteriormente, esta dissertação pretende descrever a entoação a partir da análise prosódica e pragmática de enunciados interrogativos totais realizados em conversas telefônicas coloquiais, do ano de 1995, por falantes de espanhol de Buenos Aires e Santiago do Chile. Neste capítulo, apresentaremos os resultados obtidos a partir da análise dos contornos entonacionais dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Em um primeiro momento, se discutirá a análise fonética, considerando os valores de frequência fundamental (F0) e duração do pré-núcleo – primeiro vocábulo tônico – e do núcleo – último vocábulo tônico. Posteriormente, uma análise e discussão, baseada no modelo de classificação pragmático proposto por Hedberg et alii (2010) aliado à análise fonológica, isto é, uma classificação tonal segundo a proposta do SP_ToBI (ESTEBASVILAPLANA & PRIETO, 2008). Foram analisados 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires, sendo 26 enunciados proferidos pelos dois falantes do sexo feminino, da Conversa 1 e 13, pelos dois falantes do sexo masculino, da Conversa 2. A seguir, transcrevemos estes 39 enunciados e sublinhamos o pré-núcleo e o núcleo. 39 enunciados interrogativos totais repertoriados nas duas conversas da variedade de Buenos Aires FEMININOS 1- ¿Con tus amigos todo bien? 2- ¿Con tus amigos todo bien? 3- ¿Y con tu hermanito? 4- ¿Y con tu hermanito? 5- ¿Sabés13 qué soñé? Os vocábulos destacados em negrito se referem a marcadores conversacionais ou formas de tratamento coloquiais característicos da variedade de Buenos Aires. 13 96 6- ¿Se van a ver? 7- ¿Le preguntaste a tu hermano de Manuel? 8- ¿Lo sabías? 9- Ah ¿hablaban en código? 10- ¿Hablaban en código? 11- ¿Sabías que hablando de Román está todo mal en la casa de él? 12- ¿Se separaron? 13- ¿Lo ves seguido? 14- ¿Ella está mal? 15- ¿Ella está mal? 16- ¿Alguien que esté también tan cerca? 17- ¿Te sentís responsable? 18- ¿Te dijo algo por el viaje? 19- ¿Te lo bancás? 20- ¿Esa es la que vos le tenías cagazo? 21- ¿Buena onda? 22- ¿ Buena onda? 23- ¿Está allá ahora? 24- ¿Se quedó a vivir? 25- ¿Y que el padre se volvió? 26- ¿Estará arrepentido Román? MASCULINOS 1- ¿Venís para las fiestas? 2- Ah ¿estudia esto? 3- Che ¿estás en contacto acá con tu familia con alguien más? 4- ¿Es el código de Seattle? 5- ¿Es verdad que se empezaron a comprar cosas? 6- ¿En la casa de ella? 7- ¿Y esa casa es así como candidata? 8- ¿Vos vas a estar dando vueltas? 9- ¿Un mes? 10- ¿Dos de enero? 11- ¿Noticias del país hoy? 97 12- ¿Capaz que vas? 13- ¿Vos terminás ahora un año y ahí te dan un título? 4.1- Análise Fonética Esta seção apresenta os resultados referentes à análise fonética, ou seja, à implementação dos padrões prosódicos de F0 e duração dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. 4.1.1- Análise Fonética: Descrição da F0 Analisamos o comportamento da frequência fundamental (F0) no pré-núcleo e no núcleo dos 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Em primeiro lugar, com relação ao comportamento da F0 no pré-núcleo, observamos algumas divergências entre as variedades estudadas. Para a variedade de Buenos Aires, nota-se que 79% dos 33 enunciados interrogativos totais que possuem pré-núcleo, este contorno é ascendente, com subida da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica, conforme observado na figura 23. ¿Con tus amigos todo bien? 450 299Hz Pitch (Hz) 264Hz gos mi con tus bien todo a 75 0 1.423 Time (s) Figura 23: Comportamento da F0 no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Subida de 35Hz da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado, produzido pela falante 2 do sexo feminino. 98 Posteriormente, analisamos a média de F0 no pré-núcleo, considerando as vogais pretônicas, tônicas e pós-tônicas. Trabalhamos com a média de 14 vogais pretônicas, 21 vogais tônicas e 16 vogais pós-tônicas para os enunciados femininos e 8 vogais pretônicas, 12 vogais tônicas e 9 vogais pós-tônicas para os enunciados masculinos. É possível observar algumas diferenças na implementação da F0 no pré-núcleo. Analisando o gráfico 1, nota-se que os sujeitos do sexo feminino, realizam, em média, uma subida da pretônica para a tônica e também da tônica para a pós-tônica. Diferentemente, os sujeitos do sexo masculino realizam uma subida da pretônica para a tônica seguida de uma pequena descida da tônica para a pós-tônica. Média de F0 das vogais do pré-núcleo Valores em Hz 250 200 150 100 200 140 231 207 155 153 Feminino 50 0 Masculino Feminino Masculino Pretônica 140 200 Tônica 155 207 Pós-tônica 153 231 Gráfico 1: Variação de média de F0 (em Hz) do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Em síntese, a partir da análise dos dados, é possível destacar as seguintes conclusões: em média, os sujeitos do sexo feminino implementam a F0 no pré-núcleo na variedade de Buenos Aires com uma subida de 7Hz da pretônica para tônica, isto é +3%, e uma nova subida de 24Hz da tônica para pós-tônica, +10%, sendo a vogal pós-tônica mais proeminente. Com relação aos sujeitos do sexo masculino, estes implementam a F0 no prénúcleo, em média, com uma subida de 15Hz da pretônica para tônica, +10%, e uma descida de 2Hz da tônica para pós-tônica, -1%. Analisemos agora o comportamento da F0 no núcleo destes 39 enunciados. Verifica-se, primeiramente, que há diferenças no comportamento da frequência fundamental: dos 39 enunciados interrogativos totais, em 19 enunciados, o contorno é circunflexo (figura 24); em 13 enunciados, o contorno é ascendente (figura 25) e em 7 enunciados, o contorno é descendente (figura 26). 99 ¿Te dijo algo por el viaje? 350 215Hz Pitch (Hz) algo te dijo 174Hz via je por el 203Hz 75 0 1.736 Time (s) Figura 24: Comportamento circunflexo da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Subida de 41Hz da pretônica para a tônica e descida de 12Hz tônica para a pós-tônica no núcleo, neste enunciado produzido pela falante 1 do sexo feminino. ¿Le preguntaste a tu hermano de Manuel? 550 gun tas Pitch (Hz) le te 287Hz a tu her 181Hz ma de pre nuel ma no 75 0 1.814 Time (s) Figura 25: Comportamento ascendente da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Subida de 106Hz da pretônica para a tônica no núcleo, neste enunciado produzido pela falante 2 do sexo feminino. 100 ¿Buena onda? 350 226Hz Pitch (Hz) on bue na 181Hz da 75 0 0.8479 Time (s) Figura 26: Comportamento descendente da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Descida de 85Hz da tônica para a pós-tônica no núcleo, neste enunciado produzido pela falante 2 do sexo feminino. Em um segundo momento, analisamos a média de F0 no núcleo, considerando as vogais pretônicas, tônicas e pós-tônicas. Trabalhamos com a média de 24 vogais pretônicas, 26 vogais tônicas e 14 vogais pós-tônicas para os enunciados femininos e 9 vogais pretônicas, 13 vogais tônicas e 11 vogais pós-tônicas para os enunciados masculinos. Para calcular a média de F0 da vogal pós-tônica do núcleo, nos casos em que há mais de uma, somamos todas e depois dividimos este valor pelo total de sílabas pós-tônicas, para assim obtermos a F0 média. É possível observar algumas diferenças na implementação da F0 no núcleo. Analisando o gráfico 2, observa-se que os sujeitos do sexo feminino, realizam em média uma subida da pretônica para a tônica e uma descida da tônica para a pós-tônica. Diferentemente, os sujeitos do sexo masculino realizam uma subida da pretônica para a tônica seguida de uma pequena subida da tônica para a pós-tônica. 101 Média de F0 das vogais do núcleo Valores em Hz 250 238 200 150 100 183 219 160 158 117 Feminino 50 0 Masculino Feminino Masculino Pretônica 117 183 Tônica 158 238 Pós-tônica 160 219 Gráfico 2: Variação de média de F0 (em Hz) do núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Em síntese, a partir da análise dos dados, observa-se que, em média, os sujeitos do sexo feminino implementam a F0 no núcleo na variedade de Buenos Aires com uma subida de 55Hz, ou seja de +23%, da pretônica para tônica seguida de uma descida de 21Hz, isto é -10%, da sílaba tônica para a pós-tônica. Por outro lado, os sujeitos do sexo masculino implementam a F0 no núcleo com uma subida de 41Hz, ou seja de +26%, da sílaba pretônica para a tônica e uma pequena subida de 2Hz, ou seja de +2%, da sílaba tônica para a pós-tônica. Confrontando o comportamento da F0 no núcleo, verifica-se que, no caso dos sujeitos do sexo feminino, a sílaba tônica é a mais saliente em relação às sílabas adjacentes. No entanto, para os sujeitos do sexo masculino, há uma pequena subida da sílaba tônica para a pós-tônica. Portanto, na análise fonética, temos que na implementação da F0 no núcleo dos 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires, em 49% (19) dos casos há uma subida e descida final da curva de F0 (núcleo circunflexo); em 33% (12), a F0 apresenta uma subida final (núcleo ascendente) e em 18% (8) há uma descida da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica (núcleo descendente)14. Nossa hipótese inicial é a de que tal diferença de comportamento nesta variedade se deva à função que a interrogativa total ocupa no discurso (função pragmática), que será discutido na seção 4.2 deste capítulo. Vejamos a seguir, como se implementa a duração das sílabas nestes enunciados. 12 dos 13 enunciados que apresentam núcleo ascendente possuem núcleo oxítono ou constituído por um monossílabo tônico. Acreditamos que tenha havido truncamento do padrão esperado (circunflexo). Confirmaremos tal hipótese na seção 4.2 e 4.3, deste capítulo. 14 102 4.1.2- Análise Fonética: Descrição da Duração Analisamos o comportamento da duração das sílabas do pré-núcleo e do núcleo dos 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Em primeiro lugar, com relação ao comportamento da duração no pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires, em 18 dos 33 enunciados interrogativos totais que possuem pré-núcleo, a sílaba tônica apresenta maior duração. ¿Y esa casa es así como candidata? 350 157ms 300 125ms Pitch (Hz) 200 100 50 oy quebueno y esa ca sa oy, qué bueno! es así como candidata ¿ y esa casa es así como candidata? 0 2.467 Time (s) Figura 27: Comportamento da duração no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Redução de 32ms da sílaba tônica para a pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado produzido pelo falante 1 do sexo masculino. Em 9 dos 33 enunciados considerados para esta análise, a sílaba pós-tônica apresenta maior duração que as sílabas adjacentes, conforme ilustrado na figura 28. 103 ¿Te dijo algo por el viaje? 500 165ms 400 67ms Pitch (Hz) 300 200 100 0 te di jo al go por el via je te dijo algo por el viaje? 0 1.736 Time (s) Figura 28: Comportamento da duração no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Aumento de 98ms da sílaba tônica para a pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado produzido pelo falante 2 do sexo feminino. Cabe mencionar que em outros seis enunciados dos 33 analisados, a sílaba pretônica apresenta maior duração que às sílabas adjacentes Em segundo lugar, analisamos a média de duração no pré-núcleo, considerando a totalidade das sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas. Trabalhamos com a média de 14 sílabas pretônicas, 20 tônicas e 15 pós-tônicas para os enunciados femininos e 9 sílabas pretônicas, 13 tônicas e 10 pós-tônicas para os enunciados masculinos. Analisando o gráfico 3, o qual ilustra a variação média da duração, em ms, nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires, nota-se que tanto os sujeitos do sexo feminino quanto os sujeitos do sexo masculino apresentam, em média um alongamento na sílaba tônica. 104 Valores em ms Média de duração das sílabas do pré-núcleo 100 Masculino 139 106 112 Feminino 117 0 Pretônica Tônica Pós-tônica 20 40 60 80 Feminino 112 127 117 100 Pretônica 127 120 Tônica 140 160 Pós-tônica Masculino 100 139 106 Gráfico 3: Variação média da duração (em ms) nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Em suma, analisando os dados de duração do pré-núcleo, observamos que, em média, na variedade de Buenos Aires, os sujeitos do sexo feminino implementam a duração com um alongamento de +12% da sílaba pretônica para a sílaba tônica (+15ms) e redução de -8% da tônica para pós-tônica (-10ms). Nos sujeitos do sexo masculino há um alongamento médio de +28% da pretônica para a sílaba tônica (+39ms) e redução média de -23% da tônica para a sílaba pós-tônica (-33ms). Vejamos agora o comportamento da duração no núcleo destes 39 enunciados. Deste total analisado, em 24 o padrão acentual é paroxítono ou proparoxítono, portanto os enunciados apresentam sílaba pós-tônica. Verificamos que em 83% destes 24 enunciados há alongamento da sílaba pós-tônica em relação às demais, conforme ilustrado na figura 29. 105 ¿Es el código de Seattle? 250 228ms 171ms 200 Pitch (Hz) 150 100 50 30 es el código de sea tle ¿Es el código de Seattle? 0 1.266 Time (s) Figura 29: Comportamento da duração no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Aumento de 57ms da sílaba tônica para a pós-tônica no núcleo, neste enunciado produzido pelo falante 2 do sexo masculino. Nos demais 15 enunciados, em que o padrão acentual do núcleo é oxítono ou constituído por um monossílabo tônico, a sílaba tônica é a que apresenta maior duração em 100% dos casos, vide figura 30. ¿Sabés qué soñé? 650 335ms Pitch (Hz) 159ms 75 sa bes que so ñe sabes que soñé? 0 1.187 Time (s) Figura 30: Comportamento da duração no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Aumento de 176ms da sílaba pretônica para a tônica no núcleo, neste enunciado produzido pelo falante 1 do sexo feminino. 106 Pode-se afirmar que as sílabas finais do núcleo, sejam elas oxítonas, paroxítonas ou proparoxítonas, dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires apresentam maior duração, o que poderia ser esperado considerando o alongamento final (final lengthening). Em um segundo momento, analisamos a média dos valores de duração no núcleo, considerando as sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas. Trabalhamos com a média de 24 sílabas pretônicas, 26 tônicas e 14 pós-tônicas para os enunciados femininos e 10 sílabas pretônicas, 13 tônicas e 9 pós-tônicas para os enunciados masculinos. Vale ressaltar que para o cálculo da média de duração da sílaba pós-tônica do núcleo, nos casos em que há mais de uma, somamos todas e depois dividimos este valor pelo total de sílabas pós-tônicas, para assim obtermos a média. Observando o gráfico 4, confirmamos que tanto os sujeitos do sexo feminino quanto os sujeitos do sexo masculino da variedade de Buenos Aires, apresentam, em média, um alongamento da duração na sílaba pós-tônica. Valores em ms Média de duração das sílabas do núcleo 121 Masculino 132 Feminino 0 Pretônica Tônica Pós-tônica 210 50 Feminino 132 233 253 100 150 255 233 200 250 Pretônica 253 Tônica 300 Pós-tônica Masculino 121 210 255 Gráfico 4: Variação média da duração (em ms) nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Em suma, analisando os dados de duração do núcleo, observamos que, na variedade de Buenos Aires, os sujeitos do sexo feminino implementam a duração com um alongamento de +40% da sílaba pretônica para a sílaba tônica (+97ms) e um novo alongamento médio de +8% da tônica para pós-tônica (+20ms). Nos sujeitos do sexo 107 masculino há um alongamento médio de +43% da pretônica para a sílaba tônica (+89ms) e um novo alongamento médio de +18% da tônica para a sílaba pós-tônica (+45ms). Na próxima seção, apresentaremos a análise pragmática a partir do modelo de classificação de Hedberg et alii (2010) e discutiremos as propostas de notação fonológica para os enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. 4.2- Análise Pragmática e Notação Fonológica das Curvas Entonacionais Esta seção apresenta as análises e discussões referentes à análise pragmática e à atribuição tonal. Do ponto de vista pragmático, categorizamos as perguntas segundo o modelo de análise proposto por Hedberg et alii (2010) e atribuímos tons aos contornos prénucleares e nucleares de acordo com a proposta do Sp_ToBI (ESTEBAS-VILAPLANAS & PRIETO, 2008). Com relação à configuração pré-nuclear e nuclear das perguntas que funcionam como pedido de informação, esperamos encontrar em nossas análises o mesmo padrão proposto por Gabriel et alii (2010: 298), ou seja, pré-núcleo com acento bitonal ascendente – L+H* – e núcleo circunflexo, com alinhamento do pico do contorno de F0 na sílaba pós-tônica, L+¡H*HL%. Como apresentado no terceiro capítulo desta dissertação, o modelo adotado por Hedberg et alii (2010) prevê cinco dimensões pragmáticas de acordo com cada instância em que se usam as interrogativas e nove categorias pragmáticas utilizadas para classificar a função de cada pergunta no discurso. Segundo os autores, cada uma das nove categorias é identificada minimamente para que seja diferente das outras categorias em pelo menos uma das cinco dimensões. Para a classificação dos 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires, utilizamos seis das nove categorias propostas por Hedberg et alii (2010). Classificamos 12 perguntas como detalhe de elaboração; 10 perguntas como informação suplementar; 6 perguntas como iniciador de tópico; 5 como pergunta esclarecedora; 5 perguntas como diretor do fluxo de informação; 1 pergunta como retórica. Apresentamos, abaixo, as análises propostas detalhadamente. 108 4.2.1- Análise Pré-nuclear Com relação ao pré-núcleo, Gabriel et alii (2010) propõem a notação ascendente L+H*, para as interrogativas totais neutras (pedido de informação) para a variedade de Buenos Aires. Um dos nossos objetivos é verificar se nossos dados confirmam o que já foi proposto por Gabriel et alli (2010). Observamos três diferentes tipos de acentos tonais para o pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires (25+6+2 ocorrências). O padrão majoritário foi encontrado em 25 dos 33 enunciados15 (76%). Nestes casos, o prénúcleo apresentou contorno ascendente com pico deslocado à sílaba pós-tônica, com notação fonológica L+>H*. Tal resultado difere do apresentado por Gabriel et alii (2010), mas se assemelha a proposta de Figueiredo (2011) para as interrogativas neutras também da variedade de Buenos Aires, vide figura 31. ¿Con tus amigos todo bien? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o con u a tus a i mi o gos o o todo L+>H* ie bien L+¡H* HL% con tus amigos todo bien? 0 1.423 Time (s) Figura 31: Contorno melódico do enunciado “¿Con tus amigos todo bien?”, produzido pelo falante 2 do sexo feminino. Em outros 6 enunciados dos 33 analisados (18%), o pré-núcleo apresentou um contorno baixo, com notação fonológica L* (figura 32). 15 Relembramos que 33 dos 39 enunciados analisados na variedade de Buenos Aires possuem pré-núcleo. 109 ¿Alguien que esté también tan cerca? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a ie al e guien e que esté a ie tam bién a e tan a cer L* ca L* L% ¿alguien que esté también tan cerca? 0 1.717 Time (s) Figura 32: Contorno melódico do enunciado “¿Alguien que esté también tan cerca?”, produzido pelo falante 1 do sexo feminino. Ainda encontramos o padrão descendente H+L*, queda da curva de F0 na sílaba tônica, em 2 enunciados (6%), como ilustrado na figura 33 e 34. ¿Venís para las fiestas? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e i venís H+L* a a pa’ las ie a fiestas L+H* L% ¿venís para las fiestas? 0 1.292 Time (s) Figura 33: Contorno melódico do enunciado “¿Venís para las fiestas?”, produzido pelo falante 2 do sexo masculino. 110 ¿Le preguntaste a tu hermano de Manuel? Pitch (Hz) 550 10 e le e u a ea pre gun tas ue a te a tu her ma o no de a ue ma nuel H+L* L+¡H* HL ¿le preguntaste a tu hermano de Manuel? 0 1.814 Time (s) Figura 34: Contorno melódico do enunciado “¿Le preguntaste a tu hermano de Manuel?”, produzido pelo falante 2 do sexo masculino. Em síntese, observamos que na análise pré-nuclear, o padrão mais recorrente em 25 dos 33 analisados foi L+>H*, isto é, sílaba pretônica baixa seguida de sílaba tônica ascendente com pico deslocado à sílaba pós-tônica. A seguir, apresentamos a análise da notação fonológica para o núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. 4.2.2- Análise Nuclear Como mencionado anteriormente, dos 39 enunciados interrogativos totais, classificamos 12 perguntas como detalhe de elaboração; 10 perguntas como informação suplementar; 6 perguntas como iniciador de tópico; 5 como pergunta esclarecedora; 5 perguntas como diretor do fluxo de informação; 1 pergunta como retórica, conforme sintetiza a tabela 21 abaixo. 111 Tabela 21 Categoria Pragmática Quantitativo Detalhe de Elaboração 12 Informação Suplementar 10 Iniciador de Tópico 6 Diretor do Fluxo de Informação 5 Pergunta Esclarecedora 5 Pergunta Retórica 1 Tabela 21: Quantitativo de enunciados interrogativos totais em cada categoria pragmática, variedade de Buenos Aires. A seguir, vejamos as análises propostas, detalhadamente. 4.2.2.1- Detalhe de Elaboração (12 ocorrências) As perguntas classificadas como detalhe de elaboração referem-se àquelas usadas com o objetivo de que se elabore o tópico atual da conversa, conforme exemplificado em (1). (1) [A e B conversam sobre os planos de casamento] 173 A: ahá y qué ¿qué planes hay? digamos 174 B: nos gastamos nos gastamos como dos lucas en eso 175 A: a la flauta ¿y dónde lo tienen? ¿en la casa de ella? 176 B: claro ella tiene la casa del abuelo que falleció quedó vacía y lo tenemos ahí 178 A: oy qué bueno ¿y esa casa es así como candidata? 179 B: como depósito no no queremos ver donde sacar un crédito en realidad [Conversa 2 – Homens – Buenos Aires] (1) é um exemplo de uma pergunta do tipo detalhe de elaboração, ou seja, o falante A deseja obter mais detalhes sobre o tópico atual da conversa. Portanto, em uma pergunta deste tipo é necessário que se busque uma informação (IS+). Nota-se que em tal categoria não se passa o turno (FP-), ou seja, o falante A interroga por detalhes do tópico corrente e o falante B mantém o turno da conversação, uma vez que precisa responder à pergunta feita. 112 Em uma pergunta desta categoria também não se muda o tópico da conversação (TC-) nem o mesmo é interrompido (INT-), isto é, A elabora uma pergunta em seu turno, sem que interrompa ou se sobreponha ao turno de B. Finalmente, é interessante destacar que as perguntas deste tipo não possuem conteúdo proposicional (IR-), o que significa que o conteúdo da pergunta não foi mencionado anteriormente na gravação. Classificamos nesta categoria, 12 enunciados interrogativos dos 39 analisados, com três configurações nucleares distintas (9+2+1 ocorrências). O contorno mais recorrente foi o ascendente-descendente, L+¡H*HL%, em 9 dos 12 casos (75%), vide figura 35. ¿Y esa casa es así como candidata? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 oi e ue o y e oy que bueno y a esa a ae casa a es así i o o como a i a candidata L+>H* oy, qué bueno! a L+¡H* HL% ¿ y esa casa es así como candidata? 0 2.467 Time (s) Figura 35: Contorno melódico do enunciado “¿Y esa casa es así como candidata?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 1 do sexo masculino). Nota-se neste contorno que a sílaba pretônica está baixa, a tônica está em movimento ascendente e a sílaba pós-tônica continua o movimento de subida antes de começar o movimento descendente, com atribuição tonal nuclear L+¡H*HL%. Como mencionado, este padrão é o esperado para os enunciados interrogativos totais. Observamos também um contorno descendente da curva de F0 no núcleo para esta categoria em dois enunciados. Tais perguntas, que apresentam um padrão entonacional diferente do esperado, possuem alguma atitude? Vejamos o exemplo (2). (2) [A e B conversam sobre a mãe de B] 221 A: ah ningún amigo tipo de tu vieja ¿alguien que esté también tan cerca? 222 B: no o sea o sea soy yo sola si mi vieja está mal mi mamá no tiene un esposo ni 113 223 tiene otro hijo ¿entendés? 224 A: claro 225 B: toy yo y yo argentina tengo que ir 226 A: ¿te sentís responsable? 227 B: soy muy sí siento que tengo una responsabilidad demasiado grande [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] Em (2), verificamos que a pergunta de A (em negrito) funciona como um pedido de confirmação de uma informação já sabida, isto é, uma modalidade epistêmica em que o falante tem mais certeza de que a resposta é sim. Além disso, é possível imaginar um tag question “¿no?” ao final da pergunta, ratificando a atitude confirmativa expressa. Gabriel et alii (2010: 299) propõem um núcleo circunflexo, com pico alinhado à sílaba pós-tônica, L+¡H*HL%, para as perguntas confirmativas da variedade de Buenos Aires, o mesmo padrão encontrado para as perguntas que funcionam como pedido de informação. Diferentemente da proposta de tais autores, Figueiredo (2011) propõe um núcleo circunflexo, mas com pico alinhado à sílaba tônica, L+H*L%, para os enunciados com esta atitude confirmativa. Em nossos dados, diferentemente dos contornos já descritos por estes autores, encontramos um contorno descendente da curva de F0, L*L%, para este enunciado interrogativo total com função atitudinal confirmativa, vide figura 36. ¿Te sentís responsable? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e e i e o te sen tís res pon L+>H* a sa L* e ble L% ¿Te sentís responsable? 0 1.475 Time (s) Figura 36: Contorno melódico do enunciado “¿Te sentis responsable?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 1 do sexo feminino). 114 O contorno exposto na figura 36, encontrado em 2 dos 12 enunciados desta categoria, apresenta um movimento descendente da curva de F0 que está baixa na sílaba tônica e também na sílaba pós-tônica, com notação fonológica L*L%. Além do contorno descendente, caracterizando os enunciados interrogativos totais com função atitudinal confirmativa, verificamos a ocorrência de um contorno circunflexo. Cabe ressaltar que encontramos em nossos dados duas variantes para o contorno circunflexo. Em uma, o pico da curva de F0 está alinhado à sílaba pós-tônica, ao passo que na segunda variante, o pico encontra-se alinhado à sílaba tônica. Optamos por nomear, na análise e discussão dos dados, o contorno do primeiro caso como ascendente-descendente (pico alinhado à sílaba pós-tônica) para evitar mal-entendidos na leitura do texto. Em 1 enunciado desta categoria, o contorno circunflexo se apresenta com pico alinhado à sílaba tônica, L+H*L%, como ilustra a figura 37. ¿Venís para las fiestas? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e i venís a a pa’ las H+L* ie a fiestas L+H* L% ¿venís para las fiestas? 0 1.292 Time (s) Figura 37: Contorno melódico do enunciado “¿Venís para las fiestas?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). Na figura 37, acima, nota-se que a sílaba pré-tônica está baixa, seguida de um movimento ascendente na sílaba tônica onde começa o movimento descendente. Por essa razão, este contorno recebeu notação L+H*L%. Acreditamos que este enunciado está prosodicamente marcado por um foco contrastivo no núcleo. Vejamos o exemplo (3). (3) [A e B conversam sobre a vigem de A] 8 A: sí mirá tengo pasaje reservado para el dieciséis pero lo tengo que pagar todavía 115 9 B: ¿de qué? 10 A: de diciembre 11 B: ah falta todavía 12 A: sí sí 13 B: ¿venís para las fiestas? 14 A: para las fiestas exacto me quedaré hasta el dos o el tres [Conversa 2 – Homens – Buenos Aires] No diálogo (3), B confirma se A vem para as festas de fim de ano, já que sua passagem está marcada para o mês de dezembro. Contudo, fiestas, neste enunciado, instaura uma série que contrasta com qualquer outra possibilidade dentro do conjunto de eventos festivos anuais, como o carnaval. Em Ladd (1996:163) 16, verificamos que o autor sinaliza a possibilidade de um foco entre um grupo, que funciona como uma unidade, constrastando com outro conjunto de possibilidades. Assim, confirmamos a hipótese de que sobre o núcleo recai um foco contrastivo, uma vez que contrasta com outros elementos dentro da categoria. 4.2.2.2- Informação Suplementar (10 ocorrências) A categoria informação suplementar refere-se às perguntas que indagam sobre alguma informação relevante ao tópico corrente. (4) [A e B conversam sobre os estudos de máster] 30 B: aparte en Seattle hay un centro grande de ¿cómo se llama? de oncología y qué sé 31 yo que es en estadística 32 A: exacto más te digo porque una de mis roomates una de las personas una de las 33 chicas que vive conmigo estudia eso ahí por eso lo sabía 34 B: ah ¿estudia eso? 35 A: yyy sí sí sí [Conversa 2 – Homens – Buenos Aires] Tomando como exemplo a frase “I didn´t give him a dollar, I gave him five francs”, five francs contrasta como uma unidade em relação à outra unidade (no caso a dollar, que poderia ser my notebook ou a sandwich), é o que Ladd (1996) denomina como broad focus, deixando claro que este tipo de foco “amplo” envolve apenas a frase “five francs”. Nas palavras de Ladd (1996:163): “Here, the phrase five francs is contrasted as a unit to some other phrase from a more or less unlimited set of possibilities”. 16 116 Nesse exemplo (4), observa-se que o participante A busca uma informação (IS+) sobre o tópico corrente, sem mudar o tema da conversação (TC-). Tampouco há mudança de turno (FP-), mas o falante B é interrompido pela pergunta de A (INT+). Dos 39 enunciados interrogativos totais analisados, classificamos pragmaticamente 10 enunciados como informação suplementar. Tal categoria apresenta três distintos padrões entonacionais no núcleo (6+3+1 ocorrências). O contorno mais recorrente foi o ascendente-descendente, L+¡H*HL%, em 6 dos 10 casos (60%), vide figura 38. Ah ¿estudia esto? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e a u ia e o estudia L+>H* esto L+¡H* HL% ah, ¿estudia esto? 0 1.187 Time (s) Figura 38: Contorno melódico do enunciado “Ah ¿estudia esto?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). Observamos neste contorno que a sílaba pretônica está baixa, a tônica está em movimento ascendente e a sílaba pós-tônica continua o movimento de subida antes de começar o movimento descendente, com atribuição tonal nuclear L+¡H*HL%. O segundo contorno mais recorrente foi o descendente, L*L%, em 3 dos 10 enunciados (30%), conforme ilustra a figura 39. 117 ¿Esa es la que vos le tenías cagazo? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e a e esa a a es la que vos la e te ia nías a ca L+>H* a ga L* o zo L% ¿Esa es la que vos le tenías cagazo? 0 1.658 Time (s) Figura 39: Contorno melódico do enunciado “¿Esa es la que vos la tenías cagazo?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Observamos neste contorno que a sílaba tônica está em movimento descendente e a sílaba pós-tônica continua este movimento, por essa razão a atribuição tonal dada foi L*L%. Constatamos que as perguntas que apresentaram contorno descendente funcionam, do ponto de vista atitudinal, como perguntas confirmativas. (5) [A e B conversam sobre os professores de A] 285 A: no sé no sé no sé por qué no sé igual o sea tipo la profesora de historia me vio 286 sólo por el pasillo y me dijo Mónica dónde estuviste te te estaba buscando te estaba 287 esperando por qué no habías llegado no sé qué 288 B: [risas] 289 A: tipo me trata re bien porque tengo que hacer la primera parte de su materia y 290 tipo me dice y bueno igual a vos como no te va a ir bien no sé que tipo re bien yy 291 B: ¿esa es la que vos le tenías cagazo? 292 A: claro en el cole digamos es la más difícil porque es la materia que más tengo para 293 mí fue la materia más difícil y después por la de inglés me tratan bien por general 294 tipo la de teatro me trata bien tipo bienvenida Mónica [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] O exemplo (5) confirma que a falante B possui uma atitude confirmativa em relação ao conteúdo proposicional, ou seja, apresenta a certeza de que aquilo que se pergunta 118 possui uma resposta afirmativa, certeza que sim, que o conteúdo proposicional do seu enunciado será confirmado. Vale destacar também que encontramos um terceiro contorno, o circunflexo, L+H*L%, para esta categoria em 1 enunciado (10%) dos 10 classificados como informação suplementar (figura 40). ¿Dos de enero? 350 300 Pitch (Hz) 200 75 o e e dos o de enero L+H* L% ¿dos de enero? 0 0.874 Time (s) Figura 40: Contorno melódico do enunciado “¿Dos de enero?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). Nota-se um movimento circunflexo: a sílaba pré-tônica é baixa, a sílaba tônica é alta e a sílaba pós-tônica possui um movimento descendente, representado pela configuração nuclear L+H*L%. Assim como a discussão levantada na seção 4.2.2.1, deste capítulo, acreditamos que este enunciado está marcado por um foco no núcleo. Observemos o exemplo (6). (6) [A e B conversam sobre a viagem de A] 225 A: mira llegaré un sábado creo que sábado dieciséis de diciembre 226 B: sí 227 A: y me quedaré hasta el martes dos y en el medio qué sé yo ¿viste? este mi 228 familia ¿cómo? 229 B: ¿dos de enero? hasta el dos de enero nada más 230 A: dos de enero sí y en el medio viste mi familia nos iremos a la costa unos días [Conversa 2 – Homens – Buenos Aires] 119 Semelhantemente ao exemplo (3), a pergunta feita por B confirma até que mês A ficará em Buenos Aires. Enero, neste caso, contrasta com qualquer outra possibilidade dentro da série ou conjunto de meses do ano. Nesse sentido, corroboramos a hipótese de que sobre o núcleo recai um foco contrastivo, marcado pelo movimento circunflexo de F0. 4.2.2.3- Iniciador de Tópico (6 ocorrências) Como o próprio nome sugere, a categoria de iniciador de tópico é caracterizada por perguntas que iniciam um novo tópico. Esta categoria, obviamente, possui mudança de tópico (TC+) bem como uma busca de informação (IS+). O participante que detém o turno pode ou não passá-lo ao outro participante (FP±), como no exemplo (6). (6) [A e B conversam sobre a metodologia da gravação] 7 A: entonces te dan sesenta segundos y después te preguntan si están de acuerdo en 8 grabar la conversación y que sé yo 9 B: sí escuché hablan en español 10 A: ah sí sí sí 11 B: risas 12 A: sí 13 B: che y contáme ¿con tus amigos todo bien? [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] Classificamos como iniciador de tópico 6 enunciados interrogativos dos 39 analisados. O contorno mais recorrente foi o ascendente-descendente, L+¡H*HL%, encontrado em 100% das perguntas desta categoria, vide figura 41. 120 ¿Con tus amigos todo bien? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o con u a tus a i mi o gos o o todo L+>H* ie bien L+¡H* HL% con tus amigos todo bien? 0 1.423 Time (s) Figura 41: Contorno melódico do enunciado “¿Con tus amigos todo bien?”, classificado como iniciador de tópico (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Verificamos que a sílaba pretônica está baixa, a tônica está em movimento ascendente e a sílaba pós-tônica continua o movimento de subida antes de começar o movimento descendente, com atribuição tonal nuclear L+¡H*HL%. 4.2.2.4- Diretor do Fluxo de Informação (5 ocorrências) As perguntas que funcionam como diretor do fluxo de informação são perguntas usadas como uma estratégia para controlar o tópico da conversa, pois controlam a direção da informação. Nota-se que esta categoria apresenta dimensões pragmáticas semelhantes à categoria de iniciador de tópico. A diferença se encontra na dimensão mudança de turno (FP-) que em diretor do fluxo de informação é negativa, ou seja, não é possível haver mudança de turno. As demais dimensões são idênticas às dimensões das perguntas que funcionam como iniciador de tópico: há mudança de tópico (TC+), o que significa que um dos participantes não deseja tomar o turno para si, mas deseja mudar o tópico corrente. Observa-se também que há uma busca pela informação (IS+), sem que um dos participantes interrompa o outro (INT-). Tampouco há conteúdo proposicional na gravação (IR-), como em (7): 121 (7) [A e B conversam sobre alguns amigos] 307 A: y que sé yo saludo así la alemana que también 308 B: y tu amiga la que estaba acá en aquella vez ¿está allá ahora? 309 A: se quedó acá boluda se quedó allá digo [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] Classificamos 5 enunciados como diretor do fluxo de informação, sendo o padrão mais recorrente para esta categoria o final alto-descendente, L+¡H*HL%, encontrado em 100% dos enunciados analisados, vide figura 42. ¿Está allá ahora? 350 300 Pitch (Hz) 200 75 e a está allá a a o aho L* a ra L+¡H* HL% ¿está allá ahora? 0 1.066 Time (s) Figura 24: Contorno melódico do enunciado “¿Está allá ahora?”, classificado como diretor do fluxo de informação (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Nota-se que a sílaba pretônica está baixa, a tônica está em movimento ascendente e a sílaba pós-tônica continua o movimento de subida antes de começar o movimento descendente, com atribuição tonal nuclear L+¡H*HL%. 4.2.2.5- Pergunta Esclarecedora (5 ocorrências) As perguntas esclarecedoras referem-se às perguntas que funcionam como um pedido de repetição de uma informação já dada anteriormente. 122 Nesta categoria há busca de informação (IS+) e há um conteúdo proposicional (IR+). Além disso, pode haver ou não interrupção no turno de um dos participantes (INT±), como exemplificado em (8). (8) [A e B conversam sobre alguns amigos em comum] 143 B: no vos también pensaste que era el novio no era el novio [risas] 144 A: ah ¿hablaban en código? 145 B: ¿eh? 146 A: ¿hablaban en código? [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] Classificamos cinco enunciados nesta categoria pragmática, com três padrões nucleares distintos (2+2+1). O padrão esperado – ascendente-descendente, L+¡H*HL%, com pico de F0 alinhado à sílaba pós-tônica – foi encontrado em 2 destas 5 perguntas (40%), como ilustrado na figura 43. ¿Hablaban en código? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a ha a bla a ban e o en L+>H* co i di L+¡H* o go HL% ¿hablaban en código? 0 1.292 Time (s) Figura 43: Contorno melódico do enunciado “¿Hablaban em código?”, classificado como pergunta esclarecedora (produzido pelo falante 1 do sexo feminino). Neste contorno melódico, observamos uma sílaba pretônica baixa, uma sílaba tônica em movimento ascendente que continua na sílaba pós-tônica onde começa a descer. Portanto, atribuímos o tom L+¡H*HL%. 123 Para outros 2 casos das 5 perguntas classificadas como esclarecedora, encontramos um contorno baixo, L*L% (figura 44). ¿Ella está mal? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 75 e a ella e a está L+>H* a mal L* L% ¿ella está mal? 0 0.736 Time (s) Figura 44: Contorno melódico do enunciado “¿Ella está mal?”, classificado como pergunta esclarecedora (produzido pelo falante 1 do sexo feminino). Verifica-se neste contorno uma sílaba tônica baixa que se mantém baixa até o final do enunciado, com notação fonológica L*L%. Ainda para esta categoria, encontramos 1 contorno ascendente com sílaba pretônica baixa, seguida de uma sílaba tônica alta que se mantém alta na sílaba pós-tônica, com atribuição tonal L+H*M%, com alongamento da sílaba final (figura 45). Segundo a proposta do Sp_ToBI, o tom de fronteira médio é utilizado para indicar uma subida a uma F0 média desde um acento nuclear baixo ou um tom médio sustentado desde um acento nuclear alto ou ainda, uma descida a uma F0 média desde um acento nuclear alto. Dito tom de fronteira é encontrado nas formas de tratamento nominais (vocativos) e também em enunciados interrogativos totais em que há marcas de cortesia ou nos contornos de dúvida (ESTEBAS-VILAPLANA & PRIETO, 2008:277). Segundo Gabriel et alii. (2010:290), o tom de fronteira médio, na variedade de Buenos Aires, pode ser observado nos vocativos que funcionam como chamamentos. 124 ¿Con tu hermanito? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 75 o ue con tu her a ma i o ni to L+H* M% ¿con tu hermanito? 0 1.214 Time (s) Figura 45: Contorno melódico do enunciado “¿Con tu hermanito?”, classificado como pergunta esclarecedora (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Vale ressaltar que este enunciado, classificado como pergunta esclarecedora, foi produzido anteriormente como iniciador de tópico, vide exemplo (9) abaixo. (9) [B inicia um novo tópico ao perguntar pelo irmão de A] 36 B: ¿y con tu hermanito? 37 A: ¿ehn? 38 B: ¿con tu hermanito? 39 A: ah mi (her)manito re bien [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] É importante observar que a pergunta foi feita no início da gravação (seção de abertura) e que as falantes, provavelmente, ainda estavam adaptando-se ao canal e ao tempo de envio e recepção da voz pelo satélite. Por essa razão, pode ter sido necessária a repetição da pergunta, visto que o marcador “¿ehn?” marca o não entendimento da pergunta. Destacamos ainda que não foi a segunda repetição de um par de perguntas iguais. No diálogo em questão, a primeira vez em que foi feita a pergunta (linha 36), a curva de F0 apresentou um movimento ascendente-descendente no núcleo, ao passo que, na repetição do mesmo enunciado para esclarecer uma informação não entendida (linha 38), houve um alongamento da sílaba pós-tônica, resultando na sustentação da curva de F0. A figura 46, abaixo, ilustra a superposição dos contornos destes dois enunciados: em linha 125 contínua azul, a pergunta esclarecedora e em linha pontilhada rosa, a pergunta como iniciador de tópico. ¿Con tu hermanito? Figura 46: Superposição dos contornos melódicos do enunciado “¿Con tu hermanito?”. Em linha contínua azul, classificado como pergunta esclarecedora e em linha pontilhada rosa, classificado como iniciador de tópico. Observamos que na repetição da pergunta há uma redução de -25% da duração da sílaba tônica da primeira produção e um alongamento de +35% da sílaba pós-tônica, também em relação à primeira produção da pergunta. Além desse critério fonético, valemonos do critério de o enunciado interrogativo em questão ser uma pergunta de cortersia que coincide com o descrito para os vocativos da variedade de Buenos Aires, razão pela qual, optamos por utilizar tal notação fonológica L+H*M%, com tom de fronteira médio. 4.2.2.6- Pergunta Retórica (1 ocorrência) As perguntas retóricas são aquelas em que não há o objetivo de se obter alguma informação ou resposta do outro falante, ao contrário, são perguntas que o falante faz para si mesmo, uma vez que está certo de uma resposta negativa. Nesta categoria um participante não solicita uma informação ao outro (IS-) e pode ou não mudar o turno, bem como o tópico (FP±/TC±), como ilustrado em (9). 126 (9) [A e B conversam sobre seus sentimentos pessoais] 55 B: mmm 56 A: no sé qué no no tengo ganas de nada ¿sabés qué soñé? 57 B: ¿qué? [Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires] Classificamos apenas um enunciado dos 39 interrogativos totais analisados, que apresentou contorno melódico final ascendente (figura 47). ¿Sabés qué soñé? 550 500 400 300 Pitch (Hz) 200 75 a e sa bes e que o so L+>H* e ñe L+¡H* HL% sabés qué soñé? 0 1.187 Time (s) Figura 26: Contorno melódico do enunciado “¿Sabés qué soñé?”, classificado como pergunta retórica (produzido pelo falante 1 do sexo feminino). É possível notar que a sílaba tônica está baixa, mas nesta própria sílaba há um movimento ascendente. No entanto, cabe destacar que o padrão acentual é oxítono, o que resulta em um padrão truncado do contorno de F0, já que não há espaço para que a curva complete seu movimento (CUNHA, 2000; PINTO, 2009). Por esta razão, atribuímos a configuração nuclear L+¡H*HL%. Do ponto de vista da análise e notação fonológica dos tons, podemos sintetizar nossos dados a partir da tabela abaixo: 127 Tabela 22 Variedade Núcleo N % Atitude e/ou estrutura informativa Buenos Aires L+¡H*HL% 29 74% Pedido de informação L*L% 7 18% Pedido de confirmação L+H*L% 2 5% Foco contrastivo L+H*M% 1 3% Cortesia 39 100% Total Tabela 22: Variação tonal no núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Buenos Aires. Verificamos a ocorrência de quatro diferentes configurações tonais no núcleo. A primeira e majoritária, L+¡H*HL%, se caracteriza por um movimento circunflexo final, com pico alinhado à sílaba pós-tônica, encontrada em 74% dos enunciados. Observamos que esse contorno é característico das perguntas que funcionam como um pedido de informação. A segunda configuração mais freqüente, L*L%, se caracteriza por um movimento descendente final, encontrado em 18% dos enunciados. Tal contorno é característico dos enunciados interrogativos totais que funcionam, atitudinalmente, como uma pergunta confirmativa. Em 5% dos enunciados, encontramos a configuração nuclear circunflexa, com pico alinhado à sílaba tônica, L+H*L%, característico dos enunciados interrogativos totais que possuem foco contrastivo no núcleo. Ainda encontramos um contorno com tom de fronteira médio, L+H*M%, caracterizando os enunciados que possuem marca de cortesia. Lembramos que a pergunta que apresentou tal configuração, foi dita no início da conversa; há dúvida por parte da falante a quem a pergunta se dirige, uma vez que esta não entende o conteúdo e em outro momento anterior já havia sido necessário repetir uma pergunta. Acreditamos que tais razões tenham contribuído para a implementação do padrão ascendente com tom de fronteira médio. No que se refere à análise pragmática, apresentamos na tabela 23 uma síntese de nossos resultados. 128 Tabela 23 Categoria Pragmática Detalhe de Elaboração Buenos Aires L+¡H*HL% (9) L*L% (2) L+H*L% (1) Informação Suplementar L+¡H*HL% (6) L*L% (3) L+H*L% (1) Iniciador de Tópico Diretor do Fluxo L+¡H*HL% (6) de L+¡H*HL% (5) Informação Pergunta Esclarecedora L+¡H*HL% (2) L*L% (2) L+H*M% (1) Pergunta Retórica L+¡H*HL% (1) Tabela 23: Síntese das configurações nucleares encontradas para cada categoria pragmática. Nota-se que para as diferentes categorias pragmáticas, encontramos configurações nucleares semelhantes, ao mesmo tempo em que para uma mesma categoria, verificamos diferentes configurações nucleares. Acreditamos, assim como Couper-Kuhlen (2012), que tal variação de padrões no núcleo se relaciona com os graus de certeza epistêmica estabelecidos pelo contexto. Nesse sentido, nos casos em que o grau de certeza é neutro, isto é, um pedido de informação em que se deseja obter um dado, encontramos um contorno final circunflexo, com pico de F0 alinhado à sílaba pós-tônica L+¡H*HL%. Para os casos em que há certeza da verdade do conteúdo proposicional do enunciado, ou seja, as perguntas confirmativas, encontramos um contorno melódico final descendente ou baixo L*L%. Além dos dois graus de certeza epistêmica, atitude proposicional neutra (pedido de informação) e atitude proposicional confirmativa (pergunta confirmativa), é possível observar a ocorrência do padrão L+H*M%, para pergunta com atitude social de cortesia. Podemos pensar ainda em uma variante do padrão circunflexo L+¡H*HL%. Neste caso, o pico de F0 se alinha à sílaba pós-tônica. No caso dos enunciados com foco contrastivo, o pico de F0 está alinhado à sílaba tônica, L+H*L%, o que corrobora que o falante pode marcar o foco através da entoação (FACE & D’IMPERIO, 2005; FACE, 129 2006), ou seja, o alinhamento do contorno de F0, onde a subida termina, marca diferenças entre um enunciado com foco contrastivo e um enunciado sem foco (foco amplo). Cabe verificar no nível fonológico se há alguma modificação na implementação do padrão acentual proposto, devido à estrutura acentual final do enunciado. 4.3- Notação fonológica e padrão acentual Como é sabido, nossos dados são repertoriados em corpus de fala espontânea. Em vista disso, não foi possível controlar o padrão acentual dos vocábulos do núcleo (realizações oxítonas, paroxítonas e/ou proparoxítonas), o que resultou em dados com os distintos padrões. É interessante verificar e discutir se há alguma modificação na implementação do padrão acentual proposto, devido à estrutura acentual final do enunciado. Ao analisar a implementação no núcleo dos enunciados com padrão acentual final proparoxítono, verificamos que a atribuição tonal não é diferente do padrão paroxítono, no entanto ao contar com uma sílaba a mais o contorno do padrão final fica melhor delineado, vide figura 48. Ah ¿hablaban en código? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a ah ha a bla a ban L+>H* e o en co i di o go L+¡H* HL% ah ¿hablaban en código? 0 1.553 Time (s) Figura 48: Notação fonológica do enunciado com final proparoxítono “Ah ¿hablaban em código?”, produzido pelo falante 1 do sexo feminino. Analisando a implementação no núcleo dos enunciados com padrão acentual final oxítono, consideramos que a atribuição tonal também não variou, embora o padrão fique 130 comprimido pelo final abrupto ou incompleto, causado pela ausência de sílabas posteriores à tônica, vide figura 49. ¿Sabías que hablando de Román está todo mal en la casa de él? 350 300 Pitch (Hz) 200 75 a ia e sabías eoa que hablando deRomán e a está o todo a e a mal en la a a e casa L+>H* de él L+¡H* HL% ¿sabías que hablando de Román está todo mal en la casa de él? 0 2.624 Time (s) Figura 49: Notação fonológica do enunciado com final oxítono “¿Sabías que hablando de Román está todo mal en la casa de él?”, produzido pelo falante 2 do sexo feminino. No caso de Buenos Aires, o padrão mais recorrente no núcleo é o circunflexo, com pico alinhado à sílaba pós-tônica. Para os enunciados em que o núcleo é oxítono, observamos que o contorno da curva de F0 pode ser ascendente. No entanto, optamos por manter a notação fonológica L+¡H*HL%, uma vez que, houve truncamento da curva de F0, pelo final abrupto ou incompleto pela ausência de sílabas posteriores à tônica. 4.4- Resumindo Em resumo, constatamos com as análises dos nossos dados que: Com relação à implementação de F0 no pré-núcleo, observamos que 79% (26) dos 33 enunciados que possuem pré-núcleo apresentam contorno ascendente. Com relação à implementação de F0 no núcleo, observamos que 54% (19) dos 39 enunciados analisados apresentam contorno circunflexo. Com relação à implementação da duração no pré-núcleo, observamos que a sílaba tônica apresenta maior duração em relação às demais sílabas do enunciado. 131 Com relação à implementação da duração no núcleo, observamos que a sílaba póstônica apresenta maior duração em relação às demais sílabas do enunciado. Com relação à atribuição tonal, 76% (25) dos 33 enunciados que possuem pré-núcleo receberam notação fonológica L+>H*. Já, para o núcleo, 74% (29) dos 39 enunciados analisados receberam notação fonológica L+¡H*HL%. Com relação à análise pragmática, classificamos os 39 enunciados interrogativos totais em seis das nove categorias propostas por Hedberg et alii (2010): (i) como detalhe de elaboração, 75% dos 12 enunciados apresentaram padrão ascendente-descendente no núcleo, L+¡H*HL%; (ii) como informação suplementar, 60% dos 10 enunciados apresentaram padrão ascendente-descendente no núcleo, L+¡H*HL%; (iii) como iniciador de tópico, 100% dos 6 enunciados apresentaram padrão ascendentedescendente no núcleo, L+¡H*HL%; (iv) como diretor do fluxo de informação, 100% dos 5 enunciados apresentaram padrão ascendente-descendente no núcleo, L+¡H*HL%; (v) pergunta esclarecedora, 40% dos 5 enunciados também apresentaram padrão ascendente-descendente no núcleo, L+¡H*HL%, outros 40% apresentaram padrão descendente, L*L% e (vi) como pergunta retórica, um enunciado (100%) apresentou padrão ascendente-descendente, L+¡H*HL%. Tal distribuição e classificação podem dar-nos pistas sobre o funcionamento conversacional e as funções das perguntas nas interações conversacionais. No entanto, não se distinguem por diferentes padrões, acentos ou configurações tonais. O contraste fonológico está mais relacionado ao nível semântico, de atitudes (atitude proposicional confirmativa ou atitude social de cortesia) ou estruturas informativas (foco contrastivo) do que ao nível pragmático conversacional. 132 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES: ENUNCIADOS INTERROGATIVOS TOTAIS – VARIEDADE DE SANTIAGO DO CHILE Neste capítulo, apresentaremos os resultados obtidos a partir da análise dos contornos entonacionais dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago. Assim como no capítulo anterior, discutiremos, primeiramente, a análise fonética, considerando os valores de frequência fundamental (F0) e duração do pré-núcleo – primeiro vocábulo tônico – e do núcleo – último vocábulo tônico. Posteriormente, se apresentará uma análise e discussão, baseada no modelo de classificação pragmático proposto por Hedberg alii (2010) aliado à análise fonológica, isto é, uma classificação tonal segundo a proposta do SP_ToBI (Estebas-Vilaplana & Prieto, 2008). Foram analisados 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile, sendo 15 enunciados proferidos pelos dois falantes do sexo feminino, da Conversa 3 e 24 enunciados proferidos pelos dois falantes do sexo masculino, da Conversa 4. A seguir, transcrevemos estes 39 enunciados e sublinhamos o pré-núcleo e o núcleo. 39 enunciados interrogativos totais repertoriados nas duas Conversas da variedade de Santiago do Chile FEMININOS 1- ¿Marcaste el uno? 2- ¿La empleada? 3- Pero17 ¿no está contento? 4- Oye ¿recibiste hoy una carta mía? 5- ¿Tú te acuerdas de Armando primo de nosotros? 6- ¿De mí? 7- ¿Los tienes ahí? 8- ¿Los tienes ahí? Os vocábulos destacados em negrito se referem a marcadores conversacionais ou formas de tratamento coloquiais característicos da variedade de Santiago do Chile. 17 133 9- ¿Este es adoptivo también? 10- Pero ¿no tan intenso como antes? 11- ¿Está muy mormón él? 12- ¿Lo dicen? 13- ¿Dicen eso? 14- ¿La Elisabeth? 15- ¿Así que actualmente está en vacaciones? MASCULINOS 1- Ya ¿los mails? 2- ¿No recibiste nada así? 3- ¿No está registrada en Reuna? 4- ¿Lo cambiaste? 5- ¿Te podei meter a alguna de la Chile? 6- ¿Eso es? 7- ¿U Chile? 8- ¿Todos bien? 9- ¿La Claudia está durmi-? 10- ¿Está durmiendo la Claudia? 11- ¿Tenís clases temprano ahí? 12- Ah ¿llamó? 13- Pero ¿te conviene ir allá a la casa? 14- ¿Y hay que limpiarlo? 15- ¿Y él tendrá computador? 16- ¿Sacaron el rollo al final? 17- ¿Cobran muy caro? 18- ¿Así es? 19- ¿El sobre con dos cheques? 20- ¿Anotaste todos? 21- ¿La ocho y media? 22- Y tú ¿estái durmiendo? 23- ¿Estai en el República? 24- Ah y ¿te tomai después el metro? 134 5.1- Análise Fonética Esta seção apresenta os resultados referentes à análise fonética, ou seja, à implementação dos padrões prosódicos de F0 e duração dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. 5.1.1- Análise Fonética: Descrição da F0 Analisamos o comportamento da frequência fundamental (F0) no pré-núcleo e no núcleo dos 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Em primeiro lugar, com relação ao comportamento da F0 no pré-núcleo, nota-se que em 18 dos 3018 enunciados interrogativos totais que possuem pré-núcleo, este contorno é ascendente, com subida da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica, conforme observado na figura 50. Oye ¿recibiste hoy una carta mía? 550 466Hz te 388Hz hoy una car ta mía Pitch (Hz) bis re ci 75 0 1.971 Time (s) Figura 50: Comportamento da F0 no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Subida de 78Hz da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado, produzido pelo informante 1 do sexo feminino. Nos demais 12 enunciados, o contorno do pré-núcleo é descendente ou baixo, como ilustra a figura 51. Embora sejam 31 os enunciados que apresentam pré-núcleo, em um enunciado o contorno de frequência fundamental está ensurdecido. 18 135 ¿Tenís clases temprano ahí? Pitch (Hz) 450 hí tem 125Hz te pra ses nís no a cla 123Hz 50 0 1.135 Time (s) Figura 51: Comportamento da F0 no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Descida de 2Hz da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado, produzido pelo informante 1 do sexo masculino. Posteriormente, analisamos a média de F0 no pré-núcleo, considerando as vogais pretônicas, tônicas e pós-tônicas. Trabalhamos com a média de 9 vogais pretônicas, 11 vogais tônicas e 9 vogais pós-tônicas para os enunciados femininos e 14 vogais pretônicas, 19 vogais tônicas e 13 vogais pós-tônicas para os enunciados masculinos. É possível observar, ao analisar o gráfico 5, que tanto os sujeitos do sexo feminino como os sujeitos do sexo masculino, realizam em média uma subida da pretônica para a tônica e também da tônica para a pós-tônica. Valores em Hz Média de F0 das vogais do pré-núcleo 350 300 250 200 150 100 50 0 Masculino Feminino 333 249 266 138 137 151 Pretônica 138 249 Tônica 137 266 Pós-tônica 151 333 Masculino Feminino Gráfico 5: Variação de média de F0 (em Hz) do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. 136 Em síntese, a partir da análise dos dados, é possível destacar as seguintes conclusões: em média, os sujeitos do sexo feminino implementam a F0 no pré-núcleo na variedade de Santiago do Chile com uma subida de 17Hz da pretônica para tônica, isto é +6%, e uma nova subida de 67Hz da tônica para pós-tônica, +20%, sendo a vogal póstônica mais proeminente. Com relação aos sujeitos do sexo masculino, estes implementam a F0 no pré-núcleo, em média, com uma subida de 14Hz da tônica para pós-tônica, isto é +9%. Analisemos agora o comportamento da F0 no núcleo destes 39 enunciados. Verifica-se, primeiramente, que há diferenças no comportamento da frequência fundamental: dos 39 enunciados interrogativos totais, em 33 enunciados, o contorno é ascendente (figura 52); em 5 enunciados, o contorno é descendente (figura 53) e em 1 enunciado, o contorno é circunflexo (figura 54). ¿Cobran muy caro? 350 253Hz Pitch (Hz) ro 178Hz ca cobran 121Hz muy 50 0 0.6128 Time (s) Figura 52: Comportamento ascendente da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Subida de 57Hz da sílaba pretônica para a sílaba tônica e uma nova subida de 75Hz da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado, produzido pelo informante 1 do sexo masculino. 137 ¿Pero no está contento? 350 306Hz con 229Hz Pitch (Hz) ten está no pero to 80Hz 50 0 1.449 Time (s) Figura 53: Comportamento descendente da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Descida de 77Hz da sílaba pretônica para a sílaba tônica e uma nova descida de 149Hz da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado, produzido pelo informante 2 do sexo feminino. Ya ¿los mails? 350 Pitch (Hz) 177Hz 130Hz mail ya los 106Hz 50 0 0.7173 Time (s) Figura 54: Comportamento circunflexo da F0 no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Subida de 47Hz da sílaba pretônica para a sílaba tônica e descida de 71Hz da sílaba tônica para a sílaba pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado, produzido pelo informante 2 do sexo masculino. Em um segundo momento, analisamos a média de F0 no núcleo, considerando as vogais pretônicas, tônicas e pós-tônicas. Trabalhamos com a média de 14 vogais pretônicas, 138 125 vogais tônicas e 8 vogais pós-tônicas para os enunciados femininos e 20 vogais pretônicas, 25 vogais tônicas e 13 vogais pós-tônicas para os enunciados masculinos. Para calcular a média de F0 da vogal pós-tônica do núcleo, nos casos em que há mais de uma, somamos todas e depois dividimos este valor pelo total de sílabas pós-tônicas, para assim obtermos a F0 média. É possível observar algumas semelhanças na implementação da F0 no núcleo dos enunciados interrogativos totais. Analisando o gráfico 6, observa-se que tanto os sujeitos do sexo feminino quanto os sujeitos do sexo masculino realizam em média uma subida da pretônica para a tônica e uma nova subida da sílaba da tônica para a pós-tônica. Valores em Hz Média de F0 das vogais do núcleo 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Masculino Feminino 318 348 362 227 143 Pretônica 143 318 175 Tônica 175 348 Masculino Feminino Pós-tônica 227 362 Gráfico 6: Variação de média de F0 (em Hz) do núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Em síntese, a partir da análise dos dados, observa-se que, em média, os sujeitos do sexo feminino implementam a F0 no núcleo na variedade de Santiago do Chile com uma subida de 30Hz, ou seja de +9%, da pretônica para tônica seguida de uma subida de 14Hz, isto é de +4%, da sílaba tônica para a pós-tônica. De igual modo, os sujeitos do sexo masculino implementam a F0 no núcleo com uma subida de 32Hz, ou seja de +18%, da sílaba pretônica para a tônica e uma nova subida de 52Hz, ou seja +23%, da sílaba tônica para a pós-tônica. Confrontando o comportamento da F0 no núcleo, verifica-se que, tanto no caso dos sujeitos do sexo feminino quanto dos sujeitos do sexo masculino, a sílaba tônica é a mais saliente em relação às sílabas adjacentes. Portanto, na análise fonética, temos que na implementação da F0 no núcleo dos 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile, em 85% dos 139 casos há uma subida da F0 da pretônica para a tônica que se mantém alta na pós-tônica (núcleo ascendente); em 13%, a F0 apresenta uma descida da tônica para a pós-tônica (núcleo descendente); e, 2% dos enunciados analisados apresentam uma subida da F0 da pretônica para a tônica seguida de uma descida da tônica para a sílaba pós-tônica (núcleo circunflexo). Nossa hipótese é a de que tal diferença de comportamento nesta variedade se deva à função que a interrogativa total ocupa no discurso (função pragmática), que será discutido na seção 5.2 deste capítulo. Vejamos a seguir, como se implementa a duração das sílabas nestes enunciados. 5.1.2- Análise Fonética: Descrição da Duração Analisamos o comportamento da duração das sílabas do pré-núcleo e do núcleo dos 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Em primeiro lugar, com relação ao comportamento da duração no pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile, vale destacar que 31 dos 39 enunciados possuem pré-núcleo. Observamos que em 19 dos 31 enunciados considerados para esta análise, a sílaba tônica apresenta maior duração que as sílabas adjacentes, como verificado na figura 55. 140 ¿La Claudia está durmi-? 250 173ms 200 119ms 75ms Pitch (Hz) 150 100 75 la clau dia tá durmi ¿La Claudia está durmi-? 0 0.9001 Time (s) Figura 55: Comportamento da duração no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Aumento de 98ms da duração da sílaba pretônica para a sílaba tônica e redução de 54ms da sílaba tônica para a pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado produzido pelo informante 1 do sexo masculino. Em 9 dos 31 enunciados considerados para esta análise, a sílaba pós-tônica apresenta maior duração que as sílabas adjacentes, conforme ilustrado na figura 56. ¿Los tienes ahí? 500 100ms 400 147ms 211ms Pitch (Hz) 300 200 100 0 los tie nes ahí ¿Los tienes ahí? 0 1.109 Time (s) Figura 56: Comportamento da duração no pré-núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Aumento de 47ms da duração da sílaba pretônica para a sílaba tônica e aumento de 64ms da sílaba tônica para a pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado produzido pelo informante 2 do sexo feminino. 141 Cabe mencionar que em outros três enunciados dos 31 considerados para a análise, a sílaba pretônica apresenta maior duração que às sílabas adjacentes. Posteriormente, analisamos a média de duração no pré-núcleo, considerando a totalidade das sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas. Trabalhamos com a média de 9 sílabas pretônicas, 11 tônicas e 9 pós-tônicas para os enunciados femininos e 14 sílabas pretônicas, 20 tônicas e 13 pós-tônicas para os enunciados masculinos. Analisando o gráfico 7, o qual ilustra a variação média da duração, em ms, nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile, nota-se que os sujeitos do sexo feminino apresentam a sílaba pós-tônica com maior duração. Já os sujeitos do sexo masculino apresentam, em média um alongamento na sílaba tônica. Valores em ms Média de duração das sílabas do pré-núcleo 83 Masculino 117 Feminino 0 Pretônica Tônica Pós-tônica 112 106 50 Feminino 117 158 172 100 158 150 Pretônica 172 Tônica 200 Pós-tônica Masculino 83 112 106 Gráfico 7: Variação média da duração (em ms) nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Em suma, analisando os dados de duração do pré-núcleo, observamos que, em média, na variedade de Santiago do Chile, os sujeitos do sexo feminino implementam a duração com um alongamento de +26% da sílaba pretônica para a sílaba tônica (+41ms) e um novo alongamento de +8% da tônica para pós-tônica (+14ms). Nos sujeitos do sexo masculino há um alongamento médio de +26% da pretônica para a sílaba tônica (+29ms) e redução média de -5% da tônica para a sílaba pós-tônica (-6ms). 142 Vejamos agora o comportamento da duração no núcleo destes enunciados interrogativos totais. Dos 39 enunciados analisados, em 22 o padrão acentual é paroxítono ou proparoxítono, portanto os enunciados apresentam sílaba pós-tônica. Nos demais 17 casos, o núcleo possui padrão acentual oxítono ou é constituído por um monossílabo tônico. Independentemente do padrão acentual do núcleo, observamos que em 24 dos 39 enunciados analisados (62%), a sílaba tônica apresentou maior duração, vide figura 57. ¿Y hay que limpiarlo? 400 146ms 300 137ms 118ms Pitch (Hz) 200 100 50 y hay que lim piar lo Y ¿hay que limpiarlo? 0 0.7695 Time (s) Figura 57: Comportamento da duração no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Aumento de 28ms da duração da sílaba pretônica para a sílaba tônica e redução de 9ms da sílaba tônica para a pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado produzido pelo informante 2 do sexo masculino. Diferentemente, em 11 enunciados (28%) a sílaba pós-tônica foi alongada em relação às demais sílabas do enunciado, vide figura 58. 143 ¿Marcaste el uno? 600 211ms 186ms Pitch (Hz) 107ms 50 mar cas te el u no ¿Marcaste el uno? 0 1.971 Time (s) Figura 58: Comportamento da duração no núcleo de enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Aumento de 79ms da duração da sílaba pretônica para a sílaba tônica e aumento de 25ms da sílaba tônica para a pós-tônica no pré-núcleo, neste enunciado produzido pelo informante 2 do sexo feminino. Em um segundo momento, analisamos a média dos valores de duração no núcleo, considerando as sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas. Trabalhamos com a média de 14 sílabas pretônicas, 15 tônicas e 8 pós-tônicas para os enunciados femininos e 20 sílabas pretônicas, 24 tônicas e 14 pós-tônicas para os enunciados masculinos. Vale ressaltar que para o cálculo da média de duração da sílaba pós-tônica do núcleo, nos casos em que há mais de uma, somamos todas e depois dividimos este valor pelo total de sílabas pós-tônicas, para assim obtermos a média. O gráfico 8 exemplifica a variação média da duração, em ms, nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Verifica-se que há divergência no comportamento da duração em relação ao sexo dos sujeitos. Nas mulheres, a sílaba pós-tônica é a que apresenta maior duração, ao passo que, nos homens, a sílaba tônica é a que possui maior duração. 144 Valores em ms Média de duração das sílabas do núcleo 104 Masculino 139 140 Feminino 0 50 Feminino 140 189 196 Pretônica Tônica Pós-tônica 100 150 166 Pretônica 189 196 200 Tônica 250 Pós-tônica Masculino 104 166 139 Gráfico 8: Variação média da duração (em ms) nas sílabas pretônicas, tônicas e pós-tônicas do núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. Em suma, analisando os dados de duração do núcleo, observamos que, na variedade de Santiago do Chile, os sujeitos do sexo feminino implementam a duração com um alongamento de +26% da sílaba pretônica para a sílaba tônica (+49ms) e um pequeno alongamento médio de +4% da tônica para pós-tônica (+7ms). Nos sujeitos do sexo masculino há um alongamento médio de +37% da pretônica para a sílaba tônica (+62ms) seguido de uma redução média de -19% da tônica para a sílaba pós-tônica (-27ms). Na próxima seção, apresentamos a análise pragmática a partir do modelo de classificação de Hedberg alii (2010) e discutimos as propostas de notação fonológica para os enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. 5.2- Análise Pragmática e Notação Fonológica das Curvas Entonacionais Nesta seção, apresentamos as análises referentes à análise pragmática e atribuição tonal. Do ponto de vista pragmático, categorizamos as perguntas segundo o modelo de análise proposto por Hedberg alii (2010) e atribuímos os tons aos contornos pré-nucleares e nucleares de acordo com a proposta do Sp_ToBI (ESTEBAS-VILAPLANAS & PRIETO, 2008). Como exposto no capítulo anterior, o modelo de classificação adotado por Hedberg alii (2010) prevê cinco dimensões pragmáticas de acordo com cada instância em que se usam as interrogativas e nove categorias pragmáticas utilizadas para classificar a 145 função de cada pergunta no discurso. Para tais autores, cada uma das nove categorias é identificada minimamente para que seja diferente das outras categorias em pelo menos uma das cinco dimensões. Com relação à configuração pré-nuclear e nuclear das perguntas que funcionam como pedido de informação, esperamos encontrar em nossas análises o mesmo padrão proposto por Ortiz alii (2010: 262), ou seja, pré-núcleo com acento bitonal descendente, H+L* e núcleo ascendente, L+H*HH%. Para a classificação dos 39 enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile utilizamos cinco das nove categorias propostas por Hedberg alii (2010). Classificamos 12 perguntas como detalhe de elaboração; 11 perguntas como informação suplementar; 9 como pergunta esclarecedora; 5 perguntas como diretor do fluxo de informação; 1 pergunta como recíproca e 1 pergunta como iniciador de tópico. A seguir, apresentamos nossas análises e discussões. 5.2.1- Análise Pré-nuclear Com relação ao pré-núcleo, Ortiz alii (2010) propõem a notação descendente H+L*, para as interrogativas totais neutras (pedido de informação) para a variedade de Santiago do Chile. Verifiquemos se nossos dados confirmam o que já foi proposto por estes autores. Observamos quatro diferentes tipos de acentos tonais para o pré-núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile (16+10+2+2 ocorrências). O padrão majoritário foi encontrado em 16 dos 3019 enunciados (52%). Nestes casos, o pré-núcleo apresentou contorno ascendente com pico deslocado à sílaba pós-tônica, com notação fonológica L+>H* (figura 59). Tal resultado difere do apresentado por Ortiz alii (2010). Relembramos que 30 dos 39 enunciados interrogativos totais analisados para a variedade de Santiago do Chile possuem pré-núcleo. 19 146 Pero ¿te conviene ir allá a la casa? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e pero te o ie e i conviene allá ir a a allá a a la casa L+>H* L+H* HH% Pero ¿te conviene ir allá a la casa? 0 1.396 Time (s) Figura 59: Contorno melódico do enunciado “Pero ¿te conviene ir allá a la casa?”, produzido pelo informante 1 do sexo masculino. Em outros 10 enunciados, 33% do total, o pré-núcleo apresentou um contorno baixo, como notação fonológica L*, como exemplificado pela figura 60. ¿Todos bien? Pitch (Hz) 550 30 o ie todos bien L* L+H* HH% ¿todos bien? 0 0.5605 Time (s) Figura 60: Contorno melódico do enunciado “¿Todos bien?”, produzido pelo informante 1 do sexo masculino. Finalmente, cabe sinalizar que encontramos outros dois padrões para o pré-núcleo, H+L*, queda da curva de F0 na sílaba tônica, em dois enunciados e L+H*, ascendente com pico alinhado à sílaba tônica, em um enunciado. 147 A seguir, apresentamos a análise da notação fonológica para o núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. 5.2.2- Análise Nuclear Conforme já mencionamos, classificamos 13 perguntas como detalhe de elaboração; 11 perguntas como informação suplementar; 9 como pergunta esclarecedora; 5 perguntas como diretor do fluxo de informação e 1 pergunta como iniciador de tópico, conforme sintetiza a tabela 24 abaixo. Tabela 24 Categoria Pragmática Quantitativo Detalhe de Elaboração 13 Informação Suplementar 11 Pergunta Esclarecedora 9 Diretor do Fluxo de Informação 5 Iniciador de Tópico 1 Tabela 24: Quantitativo de enunciados interrogativos totais em cada categoria pragmática, variedade de Santiago do Chile. Vejamos as análises propostas a seguir, detalhadamente. 5.2.2.1- Detalhe de Elaboração (13 ocorrências) Em (1) temos um exemplo de uma pergunta do tipo detalhe de elaboração, ou seja, o falante B deseja obter mais detalhes sobre o tópico atual da conversa. Portanto, em uma pergunta deste tipo é necessário que se busque uma informação (IS+). Nota-se que em tal categoria não se passa o turno (FP-), ou seja, o falante B interroga por detalhes do tópico corrente e o falante A mantém o turno da conversação. (1) [A e B conversam sobre as ligações telefônicas] 5 A: igualmente Graciela mira aprovechando esta oportunidad antes las llamé pero no 6 estaban 7 B: ¿ahn? 148 8 A: y entonces me dijeron que como a las dos y media iban a llegar pero a esa hora 9 no podía llamar así que 10 B: ¿quién te contestó? ¿la empleada? 11 A: yo creo [Conversa 3 – Mulheres – Santiago do Chile] Nas perguntas desta categoria não há mudança no tópico da conversa (TC-) nem o mesmo é interrompido (INT-), isto é, B elabora uma pergunta em seu turno, sem que interrompa ou se sobreponha ao turno de B. Finalmente, é interessante destacar que as perguntas deste tipo não possuem conteúdo proposicional (IR-), o que significa que o conteúdo da pergunta não foi citado previamente na conversa. Classificamos, nesta categoria, 13 enunciados interrogativos dos 39 analisados, com duas configurações nucleares distintas (11+1+1 ocorrências). O contorno mais recorrente foi o ascendente, L+H*HH%, em 11 dos 13 casos (92%), vide figura 61. ¿La empleada? Pitch (Hz) 650 50 a la e e em ple a a a da L+H* HH% ¿la empleada? 0 0.7695 Time (s) Figura 61: Contorno melódico do enunciado “¿La empleada?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Verificamos no contorno acima que a sílaba pretônica está baixa, a tônica está em movimento ascendente e a sílaba pós-tônica mantém o movimento descendente, com atribuição tonal nuclear L+H*HH%, padrão esperado para os enunciados interrogativos totais. 149 No entanto, em 1 pergunta desta categoria, verificamos um contorno descendente, H+L*L%, da frequência fundamental. Acreditamos que tenha havido diferenças nos padrões nucleares devido à presença de alguma atitude. Observemos o exemplo (2). (2) [A e B conversam sobre as crianças que A cuida] 236 A: el Keylor ah ese es uno ese es un chico que tiene no más va a cumplir un año y 237 aho- 238 B: mmm oh que es chiquitito 239 A: va a cumplir un año el sábado y y ahora la mamá entonces va a adoptar a otro 240 bebé hermanito de él digamos 241 B: ah 242 A: que va a nacer ahora que va a nacer ahora esta otra semana 243 A: entonces la la señora esta lo va a adoptar también así es que van a ser hermanitos 244 digamos reales 245 B: mmm ¿este es adoptivo también? 246 A: sí es adoptivo el Keylor es adoptivo [Conversa 3 – Mulheres – Santiago do Chile] Este enunciado, especificamente, foi dito com o objetivo de confirmar uma informação, ou seja, o falante tem certeza de que a resposta do ouvinte é afirmativa. Ortiz alii (2010: 269) propõem um núcleo descendente – H+L*L% – para as perguntas confirmativas da variedade de Santiago do Chile. Na figura 62, abaixo, confirmamos este padrão proposto por tais autores. 150 ¿ Este es adoptivo también? 550 500 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e e a este es o i adop ti o a vo tam L+>H* ie bién H+L* L% ¿Este es adoptivo también? 0 1.37 Time (s) Figura 62: Contorno melódico do enunciado “¿Este es adoptivo también?”, classificado como detalhe de elaboração (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Observamos que a sílaba pretônica está alta e a tônica está em movimento descendente, com atribuição tonal nuclear H+L*L%. Além do contorno descendente, caracterizando os enunciados interrogativos totais com função atitudinal confirmativa, verificamos a ocorrência de um contorno circunflexo. Em 1 enunciado desta categoria, o contorno circunflexo se apresenta com pico alinhado à sílaba tônica, L+H*L%, como ilustra a figura 63. Ya ¿los mails? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a ya o ai los mail L+H* L% ¿ ya los mails? 0 0.7173 Time (s) Figura 63: Contorno melódico do enunciado “Ya ¿los mails?”, classificado como pergunta recíproca (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). 151 Na figura 63, acima, nota-se que a sílaba pré-tônica está baixa, seguida de um movimento ascendente na sílaba tônica onde começa o movimento descendente. Por essa razão, este contorno recebeu notação L+H*L%. Acreditamos que este enunciado está prosodicamente marcado por um foco contrastivo no núcleo. Vejamos o exemplo (3). (3) [A e B conversam sobre mensagens e e-mails] 5 A: eh recibí tu mensaje ayer ¿te dieron (( ))? 6 B: sí 7 A: ¿ahn? 8 B: ¿cómo? 9 A: que recibí tu mensaje ayer 10 B: ya ¿los mails? 11 A: sí [Conversa 4 – Homens – Santiago do Chile] Em (3), B confirma se a mensagem a que A se refere são os mails. No entanto, mails, neste enunciado, contrasta com qualquer outra possibilidade dentro de uma sério ou conjunto de tipos de mensagem. Assim, confirmamos a hipótese de que sobre o núcleo recai um foco contrastivo, marcado pelo movimento circunflexo de F0, o que converge com os resultados dos dados de Buenos Aires, apresentados e discutidos no capítulo 4. 5.2.2.2- Informação Suplementar (11 ocorrências) A categoria informação suplementar engloba as perguntas que indagam sobre alguma informação relevante ao tópico corrente, como em (4). (4) [A e B conversam sobre as novidades da vida de A] 212 B: oye pero cuéntame de ti 213 A: Eh ¿de mí? 214 B: mmm 215 A: ah aquí estoy ¿de mí o de Myriam? [risas] 216 B: de ti 217 A: mmm mira siempre cuidando los niñitos 218 B: ¿los tienes ahí? 152 219 A: ¿ahn? 220 B: ¿los tienes ahí? 221 A: sí están aquí ahora están comiendo así es Myriam [Conversa 3 – Mulheres – Santiago do Chile] Observa-se em (4) que o participante B busca uma informação (IS+) sobre o tópico corrente, sem mudar o tema da conversação (TC-). Não há mudança de turno (FP-), mas o falante B é interrompido pela pergunta de A (INT+). Dos 39 enunciados interrogativos totais analisados, classificamos pragmaticamente 11 enunciados como informação suplementar, com dois padrões nucleares distintos (7+4 ocorrências). Para esta categoria encontramos, em 7 enunciados (64%), um padrão ascendente, L+H*HH %, como ilustrado na figura 64. ¿Los tienes ahí? Pitch (Hz) 550 20 o ie los e tienes L+H* a i ahí L+H* HH% ¿Los tienes ahí? 0 1.109 Time (s) Figura 64: Contorno melódico do enunciado “¿Los tienes ahí?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Na figura 64, a sílaba pretônica está baixa e a tônica está em movimento ascendente, com atribuição tonal nuclear L+H*HH%. Embora tenhamos verificado este padrão, encontramos também, em 4 enunciados (36%), um padrão descendente, H+L*L%, característico das perguntas que funcionam com uma atitude confirmativa (ORTIZ alii, 2010). 153 Pero ¿no está contento? Pitch (Hz) 550 20 e o pero o no a está o e con L+>H* o ten to H+L* L% pero no está contento? 0 1.449 Time (s) Figura 65: Contorno melódico do enunciado “Pero ¿no está contento?”, classificado como informação suplementar (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Nota-se na figura 65, acima, um exemplo de pergunta classificado como informação suplementar que funciona também, do ponto de vista atitudinal, como uma atitude confirmativa. Observa-se, no núcleo, contorno de F0 com sílaba pretônica alta, seguida de uma tônica baixa e uma pós-tônica também baixa, H+L*L%. (5) [A e B conversam sobre Nando? 14 B: [risas] oye ¿cómo le está yendo al Nando? 15 A: mira más o menos no más Graciela 16 B: ¿por qué? 17 A: no ha resultado como realmente pensábamos ¿ahn? 18 B: uy 19 A: hay muchos problemas ahí en esta compañía y mucho desorden y no mira 20 después te voy a mandar explicar más detalles en carta pero 21 B: ¿pero no está contento? 22 A: claro no no [Conversa 3 – Mulheres – Santiago do Chile] O exemplo (5), acima, confirma que a falante B possui uma atitude confirmativa em relação ao conteúdo proposicional, ou seja, apresenta a certeza de que aquilo que se pergunta possui uma resposta afirmativa. 154 5.2.2.3- Pergunta Esclarecedora (9 ocorrências) Os enunciados interrogativos classificados como perguntas esclarecedoras englobam as perguntas que funcionam como um pedido de repetição de uma informação já dada anteriormente, como em (6). (6) [A e B conversam sobre contas de e-mail] 164 A: parece que sí no lo tengo aquí a mano espérate a ver estoy buscando 165 **tututututú** chuta madre espérate déjame buscar aquí en esta otra libreta -- 166 B: [noise] 167 A: aquí está Araucaria sec U Chile C L 168 B: ¿U Chile? 169 A: sí U Chile [Conversa 4 – Homens – Santiago do Chile] Observamos no diálogo do exemplo (6) que o falante B busca uma informação informação (IS+) ao pedir a repetição de um conteúdo já dito anteriormente na gravação (IR+). Dos 39 enunciados analisados, 9 foram classificados pragmaticamente como pergunta esclarecedora e todos apresentaram um contorno ascendente, L+H*HH%, como ilustrado na figura 66. 155 ¿U Chile? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 u i u chile e L+H* HH% ¿U Chile? 0 0.6911 Time (s) Figura 66: Contorno melódico do enunciado “¿U Chile?”, classificado como pergunta esclarecedora (produzido pelo falante 2 do sexo masculino). Na figura 66, a sílaba pretônica está baixa e a tônica está em movimento ascendente, seguida de uma pós-tônica alta, com atribuição tonal nuclear L+H*HH%. 5.2.2.4- Diretor do Fluxo de Informação (5 ocorrências) As perguntas desta categoria são usadas como uma estratégia para controlar o tópico da conversa, pois controlam a direção da informação. Nesta categoria não há mudança de turno (FP-), mas há mudança de tópico (TC+), o que significa que um dos participantes não deseja tomar o turno para si, mas deseja mudar o tópico corrente. Notase ademais que o falante busca uma informação (IS+), sem que interrompa o ouvinte (INT-). Tampouco há conteúdo proposicional na gravação (IR-), como em (7). (7) [A e B conversam sobre alguns familiares] 121 B: ya pues le dije vamos pero tiene que decirlo en serio pues Eddie no no así no 122 más porque entonces yo pensé que podía invitar 123 B: a a un nieto de Arnoldo ¿te acuerdas de ese Arnoldo primo de nosotros? 124 A: sí [Conversa 3 – Mulheres – Santiago do Chile] 156 Encontramos para esta categoria pragmática 5 enunciados interrogativos totais dos 39 analisados. Em todos os casos, observamos um contorno ascendente, L+H*HH%, como o ilustrado na figura 67. ¿Te acuerdas de ese Arnoldo primo de nosotros? Pitch (Hz) 650 30 u ea ue tú te a cuer a ea das de ar a man o do i pri o e o mo de no L* o so L+H* o tros HH% Tú te acuerdas de Armando primo de nosotros? 0 1.867 Time (s) Figura 67: Contorno melódico do enunciado “¿Te acuerdas de ese Arnoldo primo de nosotros?”, classificado como diretor do fluxo de informação (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Nota-se um núcleo ascendente com sílaba pretônica baixa, seguida de uma tônica alta que se mantém alta na sílaba pós-tônica, com configuração nuclear L+H*HH%. 5.2.2.5- Iniciador de Tópico (1 ocorrência) A categoria de iniciador de tópico se caracteriza pelas perguntas que iniciam um novo tópico. Nesta categoria há mudança de tópico (TC+) bem como uma busca de informação (IS+). O participante que detém o turno pode ou não passá-lo ao outro participante (FP±), como em (8). (8) [A e B conversam sobre seus familiares] 22 A: claro no no 23 B: oye ¿recibiste hoy una carta mía? 24 A: no 25 B: ah yo pensaba que iba a recibirla porque hoy es el quinto día que le eché 26 A: ah no no la 157 27 B: ahí te contaba unas cosas de Eddie [Conversa 3 – Mulheres – Santiago do Chile] Dos 39 enunciados analisados, apenas 1 foi classificado como iniciador de tópico. O contorno de tal enunciado apresentou sílaba pretônica baixa, e uma tônica em movimento ascendente, com configuração nuclear L+H*HH%. Oye ¿recibiste hoy una carta mía? Pitch (Hz) 650 30 e i re ci i bis e te o i u hoy a una a car L+>H* Oye a ta ia mía L+H* HH% recibiste hoy una carta mía? 0 1.971 Time (s) Figura 68: Contorno melódico do enunciado “Oye ¿recibiste hoy una carta mía?”, classificado como iniciador de tópico (produzido pelo falante 2 do sexo feminino). Do ponto de vista da análise fonológica, podemos sintetizar nossos resultados a partir da tabela abaixo: Tabela 25 Variedade Núcleo N % Atitude e/ou estrutura informativa Santiago do Chile Total L+H*HH% 33 85% Pedido de informação L*L% 5 12% Pedido de confirmação L+H*L% 1 3% Foco contrastivo 39 100% Tabela 25: Variação tonal no núcleo dos enunciados interrogativos totais da variedade de Santiago do Chile. 158 Verificamos a ocorrência de três diferentes configurações tonais no núcleo. A primeira e majoritária, L+H*HH%, se caracteriza por um movimento ascendente final, encontrada em 85% dos enunciados. Observamos que esse contorno é característico das perguntas que funcionam como um pedido de informação. A segunda configuração mais freqüente, H+L*L%, se caracteriza por um movimento descendente final, encontrado em 12% dos enunciados. Tal contorno é característico dos enunciados interrogativos totais que funcionam, atitudinalmente, como um pedido de confirmação. Finalmente, em 3% dos enunciados, encontramos a configuração nuclear circunflexa, com pico alinhado à sílaba tônica, L+H*L%, característico dos enunciados interrogativos totais que possuem foco contrastivo no núcleo. No que se refere à análise pragmática, apresentamos na tabela 26 uma síntese de nossos resultados. Tabela 26 Categoria Pragmática Detalhe de Elaboração Santiago do Chile L+H*HH% (12) H+L*L% (1) Informação Suplementar L+H*HH% (7) H+L*L% (4) Pergunta Esclarecedora Diretor do Fluxo L+H*HH% (9) de Informação L+H*HH% (5) Iniciador de Tópico L+H*HH% (1) Tabela 26: Síntese das configurações nucleares encontradas para cada categoria pragmática. Observa-se que para as diferentes categorias pragmáticas, encontramos configurações nucleares semelhantes, enquanto que para uma mesma categoria, verificamos diferentes configurações nucleares. Acreditamos, assim como Couper-Kuhlen (2012), que tal variação de padrões no núcleo se relaciona com os graus de certeza epistêmica estabelecidos pelo contexto. Dessa forma, nos casos em que o grau de certeza é neutro, isto é, um pedido de informação em que se deseja obter um dado, encontramos um contorno final ascendente 159 (L+H*HH%). Para os casos em que há certeza da verdade do conteúdo proposicional do enunciado, ou seja, as perguntas confirmativas, encontramos um contorno melódico final descendente (H+L*L%), o que corrobora o contorno já descrito por Ortiz alii (2010). Outra característica dos nossos dados pode ser pensada se levamos em consideração os padrões fonológicos do núcleo: o enunciado com foco contrastivo, L+H*L%. Cabe verificar no nível fonológico se há alguma modificação na implementação do padrão acentual proposto, devido à estrutura acentual final do enunciado. 4.3- Notação fonológica e padrão acentual Como se sabe, nossos dados são repertoriados em corpus de fala espontânea. Em vista disso, não foi possível controlar o padrão acentual dos vocábulos do núcleo, o que resultou em dados com os distintos padrões: oxítono, paroxítono e proparoxítono. É interessante verificar e discutir se há alguma modificação na implementação do padrão acentual proposto, devido à estrutura acentual final do enunciado. Ao analisar a implementação no núcleo dos enunciados com padrão acentual final proparoxítono, verificamos que a atribuição tonal não é diferente do padrão paroxítono, no entanto ao contar com uma sílaba a mais o contorno do padrão final fica melhor delineado, vide figura 69. ¿Estai en el república? Pitch (Hz) 600 30 ai tai e e en el u i a república L* L+H* HH% ¿estai en el república? 0 1.161 Time (s) Figura 69: Notação fonológica do enunciado com final proparoxítono “¿Estai en el república?”, produzido pelo falante 1 do sexo masculino. 160 Analisando a implementação no núcleo dos enunciados com padrão acentual final oxítono, consideramos que a atribuição tonal também não variou, embora o padrão fique comprimido pelo final abrupto ou incompleto, causado pela ausência de sílabas posteriores à tônica, vide figura 70. ¿No recibiste nada así? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o no o no e i e a recibiste L+>H* i nada así L+H* HH% No ¿no recibiste nada así? 0 1.344 Time (s) Figura 70: Notação fonológica do enunciado com final oxítono “¿No recibiste nada así?”, produzido pelo falante 1 do sexo masculino. No caso da variedade de Santiago do Chile, o padrão mais recorrente no núcleo é o ascendente. Optamos por manter a notação fonológica L+H*HH%, uma vez que uma vez que, houve truncamento da curva de F0, pelo final abrupto ou incompleto pela ausência de sílabas posteriores à tônica. 4.4- Resumindo Em resumo, constatamos com as análises dos nossos dados da variedade de Santiago do Chile que: Com relação à implementação de F0 no pré-núcleo, observamos que 60% (18) dos 30 enunciados apresentam contorno ascendente. Com relação à implementação de F0 no núcleo, observamos que 85% (32) dos 39 enunciados analisados apresentam contorno ascendente. 161 Com relação à implementação da duração no pré-núcleo, observamos que as mulheres tendem a alongar a sílaba pós-tônica ao passo que os homens tendem a apresentar a sílaba tônica com maior duração. Com relação à implementação da duração no núcleo, também observamos que as mulheres tendem a alongar a sílaba pós-tônica, embora seja uma diferença quase imperceptível ao ouvido humano. Por outro lado, os homens tendem a apresentar a sílaba tônica com maior duração. Com relação à atribuição tonal, 53% (16) dos 30 enunciados que possuem pré-núcleo receberam notação fonológica L+>H*. Já, para o núcleo, 85% (32) dos 39 enunciados analisados receberam notação fonológica L+H*HH%. Com relação à análise pragmática, classificamos os 39 enunciados interrogativos totais em seis das nove categorias propostas por Hedberg et alii (2010): (i) como detalhe de elaboração, 92% dos 12 enunciados apresentou padrão ascendente no núcleo, L+H*HH%; (ii) como informação suplementar, 64% dos 11 enunciados apresentou padrão ascendente no núcleo, L+H*HH%; (iii) como pergunta esclarecedora, 100% dos 9 enunciados também apresentou padrão ascendente; (iv) como diretor do fluxo de informação, 100% dos 5 enunciados apresentou padrão ascendente, L+H*HH% e (v) como iniciador de tópico, um enunciado (100%) apresentou padrão ascendente, L+H*HH%. Tal distribuição e classificação podem dar-nos pistas sobre o funcionamento conversacional e as funções das perguntas nas interações conversacionais. Entretanto, não são distintivas por diferentes padrões, acentos ou configurações tonais. O contraste fonológico está mais relacionado ao nível semântico, de atitudes (atitude proposicional confirmativa) ou estruturas informativas (foco contrastivo) do que ao nível pragmático conversacional. 162 6 SINTAGMAS ENTONACIONAIS SEGUIDOS DE TAG QUESTION: ANÁLISE PRELIMINAR Nesta dissertação, objetivamos analisar prosódica e pragmaticamente a entoação de enunciados interrogativos totais. Em nossos dados, amostras de fala espontânea, chamounos a atenção, as perguntas finais de confirmação (ou tag questions). Por essa razão, interessou-nos investigar, ainda que preliminarmente, a estrutura prosódica da partícula “¿no?”. O Dicionário de Partículas Discursivas do Espanhol (BRIZ, PONS & PORTOLÉS, 2008) define o marcador discursivo “¿no?” como aquele que (i) apela ao ouvinte solicitando de maneira reforçada que confirme, ratifique ou aceite o dito ou o que o falante pede e (ii) reafirma o que o próprio falante diz ao mesmo tempo em que chama a atenção do ouvinte para que se alie com o que se está dizendo. Nos últimos anos tem crescido o número de pesquisas e estudos sobre as propriedades destas partículas discursivas, no entanto, o âmbito suprassegmental está pendente de uma investigação mais profunda. Em vista disso, pretendemos com esta análise preliminar descrever os contornos entonacionais do tag question “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e Santiago do Chile. Além disso, verificaremos se dito marcador pertence a um mesmo sintagma entonacional ou se constitui um sintagma distinto. Assim como os resultados encontrados em Serra (2009) para o português do Brasil, acreditamos que estes tag questions serão realizados em sintagmas entonacionais diferentes. Para nossas análises utilizaremos os pressupostos da fonologia prosódica (NESPOR & VOGEL, 1994; SERRA, 2009) e da fonologia entonacional (PIERREHUMBERT, 1980; LADD, 1996; SOSA, 1999; ESTEBAS-VILAPLANA & PRIETO, 2008), já discutidos no capítulo 1 desta dissertação. 6.1- Estudos sobre os tag questions: O âmbito prosódico Como já mencionamos anteriormente, não são muitos os trabalhos que se propõem a descrever a entoação de partículas discursivas em espanhol. Nesta seção, discutiremos 163 alguns estudos que tratam da análise prosódica dessas partículas, embora não apresentem coincidências em termos de métodos nem de elementos prosódicos analisados. Cid (1996) realiza uma investigação experimental sobre a produção de tag questions, através de gravações de fala atuada por seis falantes de espanhol de diferentes nacionalidades, a fim de verificar o comportamento do contorno entonacional nesse tipo de pergunta confirmativa. O objetivo da autora é identificar as diferenças entre os tag questions “¿no?” e “¿verdad?” produzidos em espanhol (língua materna) e seus equivalentes em inglês (língua estrangeira) por esses seis falantes e compará-los com a produção do mesmo item por anglofalantes. Cid (1996) conclui que os falantes de espanhol tendem a produzir o tag question com contorno ascendente final tanto em espanhol como língua materna quanto em inglês como língua estrangeira ao passo que os falantes de inglês tendem a basear-se em conteúdos atitudinais e semânticos determinados pelo contexto. Em trabalho semelhante para o português do Brasil, variedade carioca, Serra (2009) apresenta um estudo sobre percepção e realização de fronteiras prosódicas dos Is+né. Em relação à percepção, a autora afirma que a preferência dos juízes está em marcar a ruptura depois do I+né. Por outro lado, em relação à realização de Is+né em fala espontânea, os resultados são variados, podendo o I+né constituir um único I ou constituir dois Is separados. Das 37 ocorrências de fala espontânea estudadas pela autora, apenas 2 casos de Is+né foram realizados como um único I. Para estes casos, foram propostos dois contornos nucleares distintos: H*+LL% e L+H*LH%. No que se refere à realização de Is+né constituindo dois Is separados, Serra (2009) observa um contorno caracterizado pela realização no primeiro I de um acento tonal e tom de fronteira e por apenas um tom de fronteira no I constituído pelo “né”, sem acento tonal, ao qual denomina “I degenerado”20. Nos 4 dados de fala espontânea deste tipo, foram observados os seguintes contornos: H+L* L% + L%, em 1 I percebido; H+L* L% + H%, em 2 Is não percebidos e L+H* L% + L%, em 1 I não percebido (figura 71). 20 Conferir em Ladd (1996:220) exemplos, para o inglês, da entoação de tags sem acento tonal. 164 [pra começar a entrar literaturas]I [né]I Figura 71: Exemplo de “I degenerado” (SERRA, 2009:135). Na figura 71, acima, observamos um exemplo do que a autora denomina “I degenerado”, caracterizado pela realização de um acento tonal e de um tom de fronteira no primeiro I e por apenas um tom de fronteira no I constituído pelo “né”, sem acento tonal. Para os demais casos em que o I que contém o “né” possui acento tonal, Serra (2009) apresenta um contorno do primeiro I semelhante ao do segundo I, H+L* L% + H+L* L%, vide figura 72. [é o curso que tá salvando um pouco a faculdade]I [né]I Figura 72: Exemplo de fronteira prosódica entre o I precedente e o I que contém o “né?”, ambos com acento tonal e tom de fronteira (SERRA, 2009:135). A autora conclui que há uma grande variedade de contornos entonacionais para os Is+né. Além disso, a diferença encontrada entre a produção e a percepção, em que houve preferência pela marcação de ruptura após o I+né, corrobora a proposta de restruturação 165 de I que prevê que um I pequeno tende a constituir um domínio composto com um I adjacente. É possível encontrar para o espanhol, estudos de outros marcadores discursivos, embora não sejam exclusivamente interrogativos, como a investigação de Martín Butragueño (2003). Em sua pesquisa, o autor descreve o contorno entonacional de diferentes marcadores encontrados em um corpus do projeto “Cambio y Variación Lingüística en la Ciudad de México” de três estilos de fala: gravação de conversa, questionário lido e texto lido. Considerando a classificação discursiva proposta por Martín Zorraquino e Portolés (1999), o autor divide os marcadores em cinco categorias: (i) estruturadores da informação, (ii) conectores, (iii) reformuladores, (iv) operadores argumentativos e (v) marcadores conversacionais. Além destes critérios discursivos, o autor considera em suas análises a redução fônica ou não dos marcadores, a presença ou ausência de fronteiras (pausas, alongamentos ou inflexões melódicas) anteriores ou posteriores aos marcadores e os acentos tonais associados a tais itens. Considerando alguns estudos que sugerem que os marcadores são seguidos de pausas e outras investigações que propõem a associação dos marcadores a estruturas nucleares suspensivas, Martín Butragueño (2003) parte da hipótese de que os marcadores apresentam contorno nuclear H*+HL%. Sua análise corrobora que os marcadores seguidos de fronteira apresentam uma marca prosódica específica, com estrutura suspensiva H*+(H)L%, ou seja, um início alto, que pode ou não ser seguido de uma nova subida, seguida de uma descida final. Por outro lado, quando o marcador não possui fronteira e se incorpora ao enunciado, isto é, não possui autonomia tonal, recebe acentos tonais esperados para as posições pré-nucleares: L*+H e algumas vezes H* e L+H*, este último quando o marcador apresenta algum tipo de focalização. Para o espanhol do Chile, mais especificamente, Pereira (2011) descreve os padrões fonético-acústicos dos marcadores “a ver”, “bueno”, “claro”, “vale”, “¿cómo?” e “ya”, associados aos significados pragmáticos de raiva, assentimento e estranheza, por informantes de nível superior, falantes de espanhol do Chile. Os enunciados gravados foram construídos através de situações fictícias semelhantes a situações reais de fala (fala atuada). Para a análise entonacional, o autor considerou a proposta de análise por configurações de Cantero (2002) e Cantero e Font (2009), que consiste em “discriminar los valores frecuenciales relevantes (los segmentos tonales) de los valores irrelevantes (las F0 de las consonantes sonoras y de las glides)” (CANTERO e FONT, 2009 apud PEREIRA, 2011: 90). 166 A partir dessa investigação, Pereira (2011) sugere que os marcadores discursivos estudados apresentam diferenças significativas na manifestação tanto fonética quanto acústica dependendo do significado pragmático do contexto em que o marcador se insere. Pensando nas discussões realizadas até aqui, levantamos as seguintes questões: (i) os tag questions “¿no?” são realizados como um mesmo I junto ao I que os precede ou se realizam em Is diferentes? e (ii) quais são os contornos entonacionais do marcador interrogativo “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e Santiago do Chile? 6.2- Corpus Preliminar Para responder às duas perguntas levantadas anteriormente, analisamos 18 ocorrências de Is+¿no?: 9 encontradas nas duas entrevistas da variedade de Buenos Aires e 9, nas duas entrevistas da variedade de Santiago do Chile. Para a variedade de Santiago do Chile, encontramos uma variante do marcador conversacional confirmativo ¿no?, o ¿ah?, que funciona como indexador social e regional. Por isso, analisamos também os casos em que o ¿ah? aparece como confirmativo final. Nesta seção, objetivamos apresentar uma descrição inicial do fenômeno de fronteiras prosódicas, a partir de uma pequena amostra piloto, que será ampliada em trabalhos futuros. A seguir, transcrevemos estas 18 ocorrências de Is+¿no? ou da variante Is+¿ah?, na variedade de Santiago do Chile. 9 ocorrências de Is+¿no? repertoriadas nas duas entrevistas da variedade de Buenos Aires FEMININOS 1- [sí]I [por um año]I [¿no?]I MASCULINOS 1- [es lo que hacés vos]I [pero tiene un nombre formal]I [digamos]I [¿no?]I 2- [sí]I [por eso por eso]I [igualmente]I [te lo comentaba]I [nunca se sabe]I [¿no?]I 3- [es la que vive en Quilmes]I [¿no?]I 4- [no hay ninguna]I [¿no?]I 5- [huevadas]I [¿no?]I 167 6- [con cosas del mundial y con cosas del atentado]I [¿no?]I [bastante deprimente la verdad]I 7- [yaquilandia es uno]I [¿no?]I 8- [mucho tiempo]I [¿no?]I 9 ocorrências de Is+¿no? e de sua variante regional “ah” repertoriadas nas duas entrevistas da variedade de Santiago do Chile FEMININOS 1- [medio celoso]I [¿no?]I 2- [estaba como molesto de que le hablabas mucho de Eddie]I [¿ah?]I 3- [porque cuando él él ya termina]I [otro va a ir en su lugar]I [¿ah?]I 4- [parece que eso es lo que él quiere]I [¿ah?]I 5- [y así como para quedarse tanto tiempo tampoco]I [¿ah?]I 6- [posiblemente podría ser una semana]I [o dos semanas]I [o algo así quizás]I [¿ah?]I MASCULINOS 1- [el reuna es lo que les da servicio a ustedes]I [parece]I [¿no?]I 2- [conoces el reuna tú]I [¿no?]I 3- [porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera]I [¿no?]I Vejamos a seguir, as análises e discussões dos dados para cada variedade do espanhol. 6.3- Análises Preliminares Vejamos, a seguir, as análises e discussões dos dados para cada variedade do espanhol. 6.3.1- Buenos Aires Conforme explicamos no capítulo 1, a teoria da fonologia prosódica (NESPOR & VOGEL, 1994) sugere que o limite de um I pode ser identificado por uma pausa, um alongamento silábico pré-fronteira ou um movimento tonal. No caso da variedade de 168 Buenos Aires, o alongamento e a inflexão tonal foram responsáveis pela marcação do limite de I, uma vez que em nenhum dos dados analisados houve pausa entre o I precedente e o “¿no?”. Para os 8 enunciados analisados, observamos que em 100% dos dados, os Is+¿no? foram realizados como dois Is separados, ou seja, houve realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿no?”, com acento tonal e tom de fronteira em ambos os Is, como ilustrado na figura 73. [sí]I [por un año]I [¿no?]I 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 sí por un año H* no L% L+H* HH% 0 1.475 Time (s) Figura 73: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o I que contém o “¿no?”, ambos com acento tonal e tom de fronteira, na variedade de Buenos Aires. Enunciado produzido pelo informante 2, do sexo feminino. Com relação às fronteiras que ocorreram no I antes do “¿no?”, observamos que 8 dos 9 enunciados (89%), a fronteira foi realizada com tom de fronteira baixo e apenas 1 (11%), a fronteira foi realizada com um tom alto. A tabela 27 ilustra a distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?”. 169 Tabela 27 Configurações Nucleares Ocorrências (L+)H*L% 5 (H+)L*L% 3 H*H% 1 Tabela 27: Distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?”, na variedade de Buenos Aires. Levando em consideração os contornos para os Is constituídos pelo “¿no?”, constatamos que em todos os dados a fronteira foi realizada com um tom alto. Em 100% dos casos, a configuração nuclear do “¿no?” é composta por um acento bitonal e tom de fronteira alto L+H*HH%, como ilustra a figura 74. [es es la que vive en Quilmes]I [¿no?]I 450 400 Pitch (Hz) 300 200 100 50 (( )) es es la que vive en Quilmes L+H* 0.69 no L% L+H* HH% 2.18 Time (s) Figura 74: Contorno de “¿no?” L+H*HH%, realizado em 100% dos 8 casos. A análise dos dados demonstra que os tag questions dos enunciados analisados na variedade de Buenos Aires se prosodizam separadamente, isto é, são realizados em Is diferentes. O I que precede o ¿no?” apresenta tom de fronteira baixo em 88% dos dados analisados. Além disso, 100% dos Is constituídos pelo “¿no?” apresentam um contorno entonacional com final ascendente (HH%) composto também por acento tonal (L+H*). 170 6.3.2- Santiago do Chile No caso da variedade de Santiago do Chile, observamos que nos 9 enunciados analisados, tanto os 5 casos Is+¿no? quanto os 4 casos de Is+¿ah? foram realizados como dois Is separados, ou seja, houve realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿no?”/“¿ah?”, com acento tonal e tom de fronteira em ambos os Is, como ilustrado na figura 75 e 76, respectivamente. [porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera]I [¿no?]I 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera no? H* L% L+H* HH% 1.812 2.73 Time (s) Figura 75: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿no?”, ambos com acento tonal e tom de fronteira, na variedade de Santiago do Chile. 171 [porque cuando él él ya termina]I [otro va a ir en su lugar]I [¿ah?]I 450 400 Pitch (Hz) 300 200 100 30 porque cuando él él ya termina otro va a ir en su lugar 373ms L* L% ¿ah? L+H* HH% 2.011 4.035 Time (s) Figura 76: Realização de fronteira prosódica entre o I precedente e o “¿ah?”, ambos com acento tonal e tom de fronteira, na variedade de Santiago do Chile. Com relação às fronteiras que ocorreram no I antes do “¿no?”, observamos que 8 dos 9 enunciados (89%) se realizaram com tom de fronteira baixo e apenas 1 (11%) foi realizada com um tom de fronteira alto-descendente. A tabela 28 ilustra a distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?” ou de sua variante “¿ah”. Tabela 28 Configurações Nucleares Ocorrências H*L% 6 L*L% 2 H*HL% 1 Tabela 28: Distribuição das configurações nucleares obtidas para os Is precedentes ao “¿no?”, na variedade de Santiago do Chile. Com relação aos contornos dos Is constituídos pelo “¿no?” ou “¿ah?”, constatamos que em todos os 9 dados (100%) a fronteira foi realizada com um tom alto. Cabe destacar também que em todos os dados, encontramos um acento tonal ascendente L+H*, como ilustrado na figura 77. 172 [el reúna es el que les da servicio a ustedes]I [parece]I [¿no?]I 350 300 Pitch (Hz) 200 75 el reuna es el que le da servicio a ustedes parece L* no? L% L+H* HH% 1.937 3.018 Time (s) Figura 77: Contorno de “¿no?” L+H*HH% realizada em 100% dos casos, na variedade de Santiago do Chile. A análise dos dados demonstra que os tag questions dos 9 enunciados analisados na variedade de Santiago do Chile se prosodizam separadamente, isto é, são realizados em Is diferentes. O I que precede o “¿no?” ou o “¿ah?” apresenta tom de fronteira baixo em 88% dos dados analisados. Além disso, 100% dos Is constituídos pelo “¿no?” apresentam um contorno entonacional com final ascendente (HH%) composto também por acento tonal (L+H*). Confrontando a realização de Is+¿no? nas duas variedades de espanhol aqui analisadas, notamos que em ambas há realização majoritária de uma fronteira prosódica entre o I precedente e o I constituído pelo tag question, conforme já havia sido parcialmente divulgado em Serra e Gomes da Silva (2013). Destacamos também a recorrência de uma configuração nuclear ascendente neste segundo I. Tal configuração ascendente difere das realizações do tag question “né?”, em português do Brasil, variedade carioca. Segundo Serra (2009), o I constituído pela pergunta confirmativa apresenta, como mais frequente, um contorno descendente H+L*L%. Cabe ressaltar a necessidade de ampliação do corpus e de realização de um teste perceptivo a fim de verificar se os juízes perceberão a realização dos Is+¿no? ou Is+¿ah? em Is diferentes, como foi demonstrado na análise prosódica. 173 6.4- Resumindo A análise dessa amostra preliminar de dados demonstra que os tag questions dos enunciados se prosodizam separadamente, isto é, são realizados em Is diferentes. O I que precede o “¿no?” ou da variante “¿ah?”, na variedade de Santiago do Chile apresenta tom de fronteira baixo em 16 dos 18 enunciados analisados (89%). Além disso, 100% dos 18 Is constituídos pelo “¿no?”/“¿ah?” apresentam um contorno entonacional com final ascendente (HH%) composto também por acento tonal L+H* em todos os dados. 174 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta dissertação, tivemos como proposta descrever a entoação de enunciados interrogativos totais realizados em conversas telefônicas coloquiais por falantes de espanhol das variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile, a partir da investigação da correlação entre a forma prosódica e a função pragmática destes enunciados. Três objetivos nos conduziram durante a produção do trabalho, a saber: (i) verificar quais são os contornos entonacionais encontrados em conversas coloquiais dos enunciados interrogativos totais nas variedades argentina (Buenos Aires) e chilena (Santiago do Chile), através de dois parâmetros acústicos: frequência fundamental e duração; observando se dados conversacionais e espontâneos confirmam ou não os resultados já descritos para a fala lida e/ou atuada (SOSA, 1999; GABRIEL et alii, 2010; ORTIZ et alii, 2010; FIGUEIREDO, 2011); (ii) analisar se há convergência ou divergência entre a forma prosódica e a função pragmática; (iii) descrever os contornos entonacionais do tag question “¿no?” nas variedades do espanhol de Buenos Aires e de Santiago do Chile e verificar se dito marcador pertence a um mesmo sintagma entonacional ou se constitui um sintagma distinto. No capítulo 1, nos centramos na discussão dos modelos teóricos entonacionais e dos estudos que nos embasaram para que pudéssemos analisar os nossos dados. Mais especificamente, descrevemos (i) os pressupostos da fonologia entonacional, situada dentro dos princípios do modelo métrico-autossegmental; (ii) o sistema de notação Sp_ToBI, concebido como um tipo estandarizado de etiquetagem prosódica capaz de transcrever e notar fonologicamente a entoação de diversas variedades do espanhol e (iii) os pressupostos da fonologia prosódica. Ainda neste capítulo, apresentamos estudos recentes da entoação de enunciados interrogativos totais das variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile. Definimos, no capítulo 2, os conceitos de (i) coloquial (registro situacional); (ii) oral (produção e recepção pelo canal fônico); (iii) espontâneo (grau de planejamento da informação) e (iv) conversacional, (discurso oral, dialogal, imediato, dinâmico, cooperativo e mudança de turno não pré-determinada). Apresentamos, também, o que entendemos por conversação coloquial, uma modalidade conversacional com marcas de situacional (coloquial). Além de destacar a estrutura de uma conversação a partir da 175 sucessão de turnos de fala e, em especial, a estrutura organizacional de uma conversa telefônica. No capítulo metodológico, o capítulo 3, relatamos como foram coletados os 78 enunciados interrogativos totais analisados para esta dissertação, bem como os critérios de análise dos dados, tanto do ponto de vista fonético e de notação fonológica quanto do ponto de vista pragmático. Apresentamos as análises e discussões dos nossos dados nos capítulos 4, 5 e 6, em que objetivamos responder às perguntas levantadas na introdução desta dissertação. Nos capítulos 4 e 5, apresentamos as análises referentes à descrição dos contornos dos enunciados interrogativos totais a partir das medidas de F0 e de duração nas variedades de Buenos Aires e Santiago do Chile, respectivamente. Verificamos algumas diferenças entre as duas variedades aqui analisadas. Do ponto de vista fonético e no que se refere à implementação de F0 no pré-núcleo, em ambas as variedades observamos um comportamento, majoritariamente, ascendente. Por outro lado, a implementação de F0 no núcleo apresentou diferenças significativas entre as duas variedades. Na variedade de Buenos Aires, observamos três diferentes contornos para o núcleo dos enunciados interrogativos totais: contorno circunflexo, em 19 dos 39 dados analisados (49%); contorno ascendente em 12 dos 39 dados analisados (31%) e contorno descendente em 8 dos 39 dados analisados (20%). Verificamos ainda que nos 12 enunciados em que o núcleo é ascendente, o vocábulo final possui padrão acentual oxítono ou é constituído por um monossílabo tônico. Portanto, constatamos que, nestes casos, houve truncamento do padrão esperado para a variedade de Buenos Aires, o circunflexo. Para a variedade de Santiago do Chile, também observamos três diferentes contornos para os enunciados interrogativos totais: contorno ascendente, em 32 dos 39 dados analisados (85%); contorno descendente, em 5 dos 30 dados analisados (13%) e contorno circunflexo, em 1 dos 39 dados analisados (2%). Confrontando as duas variedades aqui estudadas, constatamos que na variedade de Buenos Aires, a ocorrência de enunciados interrogativos totais com contorno circunflexo no núcleo é majoritária, ao passo que na variedade de Santiago do Chile, o contorno ascendente no núcleo é o mais recorrente. Com relação à implementação da duração, também foi possível encontrar comportamentos distintos entre as duas variedades. Na variedade de Buenos Aires, 176 encontramos uma diferença entre pré-núcleo e núcleo. O primeiro apresenta maior duração da sílaba tônica ao passo que no núcleo, a sílaba pós-tônica apresenta maior duração. Na variedade de Santiago do Chile observamos uma diferença entre sujeitos do sexo feminino e sujeitos do sexo masculino. Tanto no pré-núcleo como no núcleo, a sílaba pós-tônica apresenta maior duração, no caso dos sujeitos do sexo feminino e, no caso dos sujeitos do sexo masculino, a sílaba tônica é a que apresenta maior duração. Cabe salientar, contudo, que independente do sexo do sujeito, há um aumento médio de +35ms, para o pré-núcleo e um aumento médio de +56ms, para o núcleo, da sílaba pretônica para a tônica, o que poderia caracterizar a implementação da duração nesta variedade. Pensando na notação fonológica dos contornos do núcleo e considerando as descrições realizadas por Gabriel et alii (2010) e por Ortiz et alii (2010), para as variedades de Buenos Aires e de Santiago do Chile, respectivamente, para dados de fala atuada, verificamos em nossos dados de fala espontânea a ocorrência majoritária do mesmo contorno para o núcleo dos enunciados interrogativos totais propostos pelos autores. Portanto, no que se refere à implementação de F0 e notação fonológica, 30 dos 39 enunciados analisados (77%) na variedade de Buenos Aires receberam notação L+¡H*HL%, isto é, contorno de F0 com sílaba pretônica baixa, tônica ascendente até a sílaba pós-tônica onde inicia o movimento descendente. Já, para a variedade de Santiago do Chile, 32 dos 39 enunciados analisados (85%) receberam notação L+H*HH%, ou seja, sílaba pretônica baixa, seguida de tônica ascendente com tom de fronteira também ascendente. Para dar conta da análise pragmática dos dados, recorremos ao modelo de classificação proposto por Hedberg et alii (2010), que prevê nove categorias pragmáticas para os enunciados interrogativos, segundo o seu uso no discurso. Observamos que para as diferentes categorias pragmáticas, encontramos configurações nucleares semelhantes, enquanto que para uma mesma categoria, verificamos diferentes configurações nucleares. Por essa razão, constatamos que tal variação de padrões no núcleo se relaciona com os graus de certeza epistêmica, estabelecidos pelo contexto (COUPER-KUHLEN, 2012). Nossos dados demonstram a ocorrência de duas certezas epistêmicas que se distinguem pelo comportamento de F0 na posição nuclear do enunciado. A primeira equivale aos casos em que o grau de certeza é neutro, isto é, um pedido real de informação em que se deseja obter um dado. A segunda engloba os casos em que há certeza da verdade do conteúdo proposicional do enunciado, ou seja, as perguntas confirmativas. 177 Em síntese, as perguntas que funcionam como um pedido de informação apresentam como contorno mais frequente o ascendente-descendente, com notação fonológica L+¡H*HL% e as que funcionam como um pedido de confirmação, apresentam como contorno mais frequente o descendente com notação L*L%, para a variedade de Buenos Aires. Já para a variedade de Santiago do Chile, as perguntas que funcionam como um pedido de informação apresentam como contorno mais frequente o ascendente, com notação fonológica L+H*HH% e as que funcionam como um pedido de confirmação, apresentam como contorno mais frequente o descendente com notação H+L*L%. Ainda encontramos três exemplos de enunciados interrogativos totais cujo núcleo apresenta foco contrastivo, dois na variedade de Buenos Aires e um na variedade de Santiago do Chile. Nestes casos, o contorno mais recorrente, para ambas as variedades, foi o circunflexo, L+H*L%. No caso específico da variedade de Buenos Aires, encontramos enunciado interrogativo, funcionando como uma pergunta de cortesia. Este enunciado apresentou contorno ascendente, com tom de fronteira médio e recebeu notação fonológica L+H*M%. Realizamos, no capítulo 6, uma análise preliminar de um corpus piloto composto por sintagmas entonacionais (Is) seguidos de “¿no?”, caracterizado por ser uma pergunta final de confirmação. A análise dessa amostra piloto de dados demonstra que os tag questions dos enunciados se prosodizam separadamente, isto é, são realizados em Is diferentes. O I que precede o “¿no?” apresenta tom de fronteira baixo em 16 dos 18 enunciados analisados (89%). Além disso, 100% dos 18 Is constituídos pelo “¿no?” apresentam um contorno entonacional com final ascendente (HH%) composto também por acento tonal L+H* em todos os dados. Esperamos com esta dissertação ter contribuído para os estudos entonacionais de língua espanhola por meio de investigações no contexto de fala espontânea conversacional. 178 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUILAR, L. “La entonación”. In: ALCOBA, Santiago (org.) La expresión oral. Barcelona: Ariel, 2000, pp. 115-145. _________________. “La prosodia”. In: ALCOBA, Santiago (org.) La expresión oral. Barcelona: Ariel, 2000, pp. 89-113. AGUILAR, L.; DE-LA-MOTA, C.; PRIETO, P. (coords). Sp_ToBI Training Materials. 2009. Web page: http://prosodia.upf.edu/sp_tobi/ BECKMAN, M.; DÍAZ-CAMPOS, M.; MCGORY, J. and MORGAN, T. Intonation across Spanish in the Tones and Break Indices frameworks. In: Probus 14. 2002. p. 9-36 BISOL, L. Os constituintes prosódicos. In: BISOL, L. (org.). Intodução a estudos de fonología do portugués brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005, P. 243-255. BLANCHE-BENVENISTE, C. Lo hablado y lo escrito. 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PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 225Hz 264Hz 299Hz 226Hz 280Hz - Duração 78ms 150ms 145ms 68ms 324ms - Tom L+>H* L+¡H*HL% 2- ¿Con tus amigos todo bien? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 202Hz 253Hz 257Hz 217Hz 249Hz - Duração 62ms 145ms 131ms 106ms 399ms - Tom L+>H* L+¡H*HL% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 3- ¿Y con tu hermanito? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 222Hz 280Hz 316Hz Duração - - - 156ms 231ms 275ms Tom L+H*HH% 186 4- ¿Con tu hermanito? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 192Hz 239Hz 252Hz Duração - - - 120ms 174ms 421ms Tom L+H*HH% 5- ¿Sabés que soñé? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 301Hz 262Hz - 245Hz 261Hz - Duração 74ms 156ms - 159ms 335ms - Tom L+>H*’ L*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 6- ¿Se van a ver? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 162Hz 149Hz - 153Hz 357Hz - Duração 103ms 145ms - 69ms 228ms - Tom H* L*HH% 7- ¿Le preguntaste a tu hermano de Manuel? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 279Hz 280Hz 394Hz 181Hz 287Hz - Duração 81ms 122ms 80ms 159ms 414ms - Tom L+H* L+H*HH% 187 8- ¿Lo sabías? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 175Hz 370Hz 191Hz Duração - - - 145ms 110ms 325ms Tom L+¡H*HL% 9- Ah ¿hablaban en código? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 233Hz 229Hz 233Hz 200Hz 247Hz 227Hz Duração 120ms 207ms 30ms 128ms 180ms 188ms Tom L+>H* L+¡H*HL% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 10- ¿Hablaban en código? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 161Hz 193Hz 210Hz 177Hz 210Hz 216Hz Duração 88ms 163ms 141ms 133ms 109ms 222ms Tom L+>H* L+¡H*HL% 11- ¿Sabías que Orlando Román está tomado en la casa de él? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 234Hz 153Hz 154Hz 176Hz 182Hz - Duração 126ms 109ms 95ms 179ms 360ms - Tom L+¡H*HL% 188 12- ¿Se separaron? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 77Hz 229Hz 241Hz Duração - - - 177ms 160ms 259ms Tom L+¡H*HL% 13- ¿Lo ves seguido? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 158Hz 164Hz - 166Hz 239Hz 240Hz Duração 138ms 132ms - 102ms 160ms 143ms Tom L+>H* L+¡H*HL% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 14- ¿Ella está mal? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 168Hz 182Hz 169Hz 169Hz - Duração - 95ms 119ms 80ms 262ms - Tom L+H* L*L% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 15- ¿Ella está mal? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 173Hz 173Hz 169Hz 169Hz - Duração - 103ms 124ms 94ms 188ms - Tom L+>H* L*L% 189 16- ¿Alguien que esté también tan cerca? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 151Hz 159Hz 142Hz 161Hz 158Hz Duração - 162ms 194ms 173ms 169ms 223ms Tom L+>H* L*L% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 17- ¿Te sentís responsable? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 164Hz 175Hz - 162Hz 173Hz 164Hz Duração 184ms 136ms - 229ms 154ms 177ms Tom L+>H* L *L% 18- ¿Te dijo algo por el viaje? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 195Hz 190Hz 192Hz 174Hz 215Hz 203Hz Duração 125ms 67ms 165ms 98ms 248ms 337ms Tom L+H* L+¡H*HL% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 19- ¿Te lo bancás? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 180Hz 219Hz - Duração - - - 197ms 345ms - Tom L+¡H*HL% 190 20- ¿Esa es la que vos la tenías cagazo? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 247Hz 295Hz 204Hz 220Hz 186Hz Duração - 97ms 109ms 189ms 139ms 262ms Tom L+>H* L*L% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 21- ¿Buena onda? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 210Hz 205Hz - 234Hz 187Hz Duração - 125ms 139ms - 248ms 241ms Tom L*L% 22- ¿Buena onda? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 209Hz 211Hz - 226Hz 181Hz Duração - 63ms 165ms - 117ms 275ms Tom L*L% 23- ¿Está allá ahora? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 192Hz 194Hz - 241Hz 258Hz 308Hz Duração 142ms 90ms - 75ms 140ms 198ms Tom L+>H* L+¡H*HL% 191 24- ¿Se quedó a vivir? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 206Hz 244Hz 239Hz 209Hz 254Hz - Duração 93ms 96ms 33ms 109ms 285ms - Tom L+H* L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 25- ¿Y que el padre volvió? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 214Hz 220Hz 225Hz 185Hz 242Hz - Duração 81ms 122ms 80ms 134ms 306ms - Tom L+>H* L+¡H*HL% 26- ¿Estará arrepentido Román? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 181Hz 188Hz - 161Hz 220Hz - Duração 187ms 173ms - 100ms 280ms L+¡H*HL% - Tom L+>H* 192 MASCULINOS 1-¿Vienes para las fiestas? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 113Hz - 99Hz 146Hz 88Hz Duração - 220ms - 149ms 323ms 226ms Tom L+H*L% 2- Ah, ¿estudia esto? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 108Hz 147Hz 126Hz - 135Hz 104Hz Duração 64ms 153ms 110ms - 128ms 398ms Tom L+H* L+¡H*HL% 3- Che, ¿estás en contacto acá con tu familia con alguien más? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 121Hz 163Hz 155Hz - 165Hz - Duração 142ms 145ms 112ms - 314ms - Tom L+H* L+¡H*HL% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 4- ¿Es el código de Seattle? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 132Hz 128Hz 134Hz 106Hz 149Hz 141Hz Duração 125ms 104ms 89ms 87ms 171ms 228ms Tom L+>H* L+¡H*HL% 193 5- ¿Es verdad que empezaron a comprar cosas? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 179Hz 246Hz 209Hz 148Hz 204Hz 225Hz Duração 80ms 140ms 66ms 125ms 224ms 254ms Tom L+¡H*HL% 6- ¿En la casa de ella? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 128Hz 145Hz 150Hz - 161Hz 155Hz Duração 115ms 81ms 118ms - 184ms 282ms Tom L+>H* L*L% 7- ¿Y esa casa es así como candidata? PRÉ-NÚCLEO F0 Duração NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica - 178Hz 171Hz 116Hz 162Hz 218Hz 132ms 157ms 125ms 112ms 127ms 288ms Tom L+>H* L+¡H*HL% 8- Pero, ¿vas a estar dando vueltas? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 190Hz 187Hz 135Hz 165Hz 244Hz Duração - 153ms 30ms 79ms 182ms 79ms Tom L+>H* L+¡H*HL% 194 9- ¿Un mes? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 95Hz 164Hz - Duração - - - 66ms 207ms - Tom L*HH% 10- ¿Dos de enero? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 115Hz 99Hz 99Hz 131Hz 94Hz Duração - 127ms 151ms 151ms 185ms 186ms Tom L+H*L% 11- ¿Noticias del país hoy? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 179Hz 246Hz 209Hz 148Hz 204Hz 225Hz Duração 80ms 140ms 66ms 125ms 224ms 254ms Tom L+H* L+¡H*HL% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 12- ¿Capaz que vas? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 88Hz 112Hz - - 130Hz - Duração 77ms 158ms - - 307ms - Tom 195 13- ¿Ahí te dan un título? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 91Hz 111Hz - 110Hz 140Hz 103Hz Duração 89ms 112ms - 192ms 158ms 359ms Tom L+¡H*HL% 196 ENUNCIADOS INTERROGATIVOS TOTAIS DA VARIEDADE DE SANTIAGO DO CHILE FEMININOS 1- ¿Marcaste el uno? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 237Hz 305Hz 377Hz - 391Hz 446Hz Duração 279ms 147ms 128ms - 93ms 196ms Tom L+H* L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 2- ¿La empleada? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 260Hz 364Hz 532Hz Duração - - - 144ms 72ms 236ms Tom L+H*HH% 3- Pero ¿no está contento? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 241Hz 152Hz - 306Hz 229Hz 80Hz Duração 50ms 156ms - 167ms 286ms 187ms Tom L+>H* H+L*L% 4- Oye, ¿recibiste hoy una carta mía? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 301Hz 388Hz 466Hz 377Hz 414Hz 514Hz Duração 133ms 190ms 140ms 164ms 239ms 97ms Tom L+>H* L+H*HH% 197 5- ¿Te acuerdas de Armando primo de nosotros? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 142Hz 164Hz 180Hz 344Hz 378Hz 489Hz Duração 50ms 162ms 127ms 107ms 186ms 211ms Tom L+H*HH% 6- ¿De mí? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 245Hz 528Hz - Duração - - - 171ms 236ms - Tom L+H*HH% 7- ¿Los tienes ahí? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 243Hz 288Hz 290Hz 246Hz 316Hz - Duração 100ms 147ms 211ms 106ms 177ms - Tom L+H* L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 8- ¿Los tienes ahí? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 256Hz 259Hz 278Hz 247Hz 356Hz - Duração 141ms 141ms 288ms 111ms 136ms - Tom L+H* L+H*HH% 198 9- ¿Este es adoptivo también? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 268Hz 348Hz 427Hz 233Hz - Duração - 141ms 84ms 125ms 204ms - Tom L*+H H+L*L% 10- Pero ¿no tan intenso como antes? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 311Hz 324Hz 321Hz 297Hz 268Hz 161Hz Duração 97ms 233ms 116ms 114ms 173ms 249ms Tom L+H* H+L*L% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 11- ¿Está muy mormón él? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 263Hz 151Hz 331Hz 356Hz 227Hz - Duração 111ms 126ms 207ms 267ms 200ms - Tom L*+H H+L*L% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 12- ¿Lo dicen? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 252Hz 252Hz 471Hz Duração - - - 104ms 200ms 245ms Tom L+H*HH% 199 13- ¿Dicen eso? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 309Hz 405Hz 427Hz 544Hz - Duração - 189ms 248ms 98ms 264ms - Tom L*+H L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 14- ¿La Elisabeth? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 371Hz 428Hz - Duração - - - 175ms 157ms - Tom L+H*HH% 15- ¿Así que actualmente está en vacaciones? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 247Hz 315Hz - 292Hz 287Hz 200Hz Duração 90ms 104ms - 107ms 214ms 147ms Tom L+H* L+H*HH% 200 MASCULINOS 1- ¿Ya los mails? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 130Hz 177Hz - Duração - - - 134ms 239ms - Tom L+H*L% 2- ¿No recibiste nada así? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 126Hz 135Hz 147Hz 162Hz 214Hz - Duração 108ms 221ms 57ms 150ms 211ms - Tom L*+H L+H*HH% 3- ¿No está registrada en Reuna? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 107Hz 115Hz 116Hz 105Hz 121Hz 202Hz Duração 101ms 99ms 84ms 143ms 105ms 120ms Tom L+H* L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 4- ¿Lo cambiaste? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 120Hz 157Hz 256Hz Duração - - - 155ms 179ms 98ms Tom L+H*HH% 201 5- ¿Eso es? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 138Hz 144Hz - 191Hz - Duração - 33ms 87ms - 155ms - Tom L+H*HH% 6- ¿U Chile? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 112Hz 150Hz 266Hz Duração - - - 53ms 87ms 174ms Tom L+H*HH% 7- ¿Todos bien? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 162Hz - - 194Hz - Duração - 192ms - - 171ms - Tom L+H*HH% 8- ¿La Claudia está durmi-? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 127Hz 144Hz 158Hz 139Hz 131Hz 173Hz Duração 75ms 173ms 119ms 83ms 82ms 124ms Tom L+H* L+H*HH% 202 9- ¿Está durmiendo la Claudia? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 133Hz 130Hz 166Hz 190Hz 247Hz Duração - 64ms 88ms 109ms 165ms 112ms Tom L+H*HH% 10- ¿Tenís clases temprano ahí? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 125Hz 123Hz 133Hz 186Hz 198Hz - Duração 64ms 136ms 90ms 47ms 264ms - Tom L*+H L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 11- Ah ¿llamó? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - - 129Hz 176Hz - Duração - - - 106ms 146ms - Tom L+H*HH% 12- ¿Te podei meter a alguna de la Chile? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 115Hz 123Hz - 147Hz 192Hz 212Hz Duração 82ms 155ms - 96ms 127ms 155ms Tom L+H*HH% 203 13- Pero ¿te conviene ir allá a la casa? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 115Hz 136Hz 175Hz 175Hz 216Hz 133Hz Duração 102ms 108ms 113ms 119ms 122ms 212ms Tom L+H* L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 14- ¿Y hay que limpiarlo? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 122Hz 123Hz - 118Hz 118Hz 232Hz Duração 18ms 129ms - 118ms 146ms 137ms Tom L* L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 15- ¿Y él tendrá computador? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 106Hz 108Hz 100Hz 122Hz 166Hz - Duração 67ms 54ms 198ms 101ms 149ms - Tom L+H* L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 16- ¿Sacaron el rollo al final? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 131Hz 141Hz 159Hz 222Hz 213Hz - Duração 84ms 110ms 110ms 111ms 248ms - Tom L+H* L+H*HH% 204 17- ¿Cobran muy caro? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - - 131Hz 121Hz 178Hz 253Hz Duração - 34ms 160ms 149ms 74ms 78ms Tom L+H*HH% 18- ¿Así es? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 231Hz 181Hz - - 174Hz - Duração 60ms 124ms - - 298ms - Tom L+H*HH% 19- ¿El emisor le mandó el cheque? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 139Hz 161Hz 160Hz 156Hz 178Hz 226Hz Duração 115ms 116ms 108ms 90ms 190ms 142ms Tom L+H* L+H*HH% PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO 20- ¿Anotaste todos? Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 126Hz 155Hz 268Hz - 185Hz - Duração 89ms 152ms 67ms - 266ms - Tom L+H* L+H*HH% 205 21- ¿Las ocho y media? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 135Hz 136Hz 141Hz 142Hz 183Hz 290Hz Duração 106ms 50ms 102ms 31ms 107ms 116ms Tom L+H*HH% 23- Y tú ¿estás durmiendo? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 142Hz - 144Hz 159Hz 222Hz Duração - 187ms - 86ms 182ms 152ms Tom L+H*HH% 23- ¿Estai en el república? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 - 123Hz - 111Hz 190Hz 243Hz Duração - 197ms - 94ms 164ms 117ms Tom L+H*HH% 24- Ah y ¿te tomai después el metro? PRÉ-NÚCLEO NÚCLEO Pretônica Tônica Pós-tônica Pretônica Tônica Pós-tônica F0 224Hz 124Hz - 146Hz 154Hz - Duração 93ms 145ms - 105ms 106ms 202ms Tom L*L% 206 ANEXO 2: CONTORNOS ENTONACIONAIS DO PRÉ-NÚCLEO E DO NÚCLEO ENUNCIADOS INTERROGATIVOS TOTAIS DA VARIEDADE DE BUENOS AIRES 1- Detalhe de Elaboração 1.1- Enunciados Femininos 1.1.1- ¿Se van a ver? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e a se a e van a ver L* L* HH% ¿Se van a ver? 0 0.8479 Time (s) 1.1.2- ¿Lo sabías? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o lo a i a sa bias L+¡H* HL% ¿lo sabías? 0 0.7956 Time (s) 207 1.1.3- ¿Alguien que esté también tan cerca? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a ie al e guien e que esté a ie tam bién a e tan a cer L* L* ca L% ¿alguien que esté también tan cerca? 0 1.717 Time (s) 1.1.4- ¿Te sentís responsable? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e e i e o te sen tís res pon a sa L+>H* e ble L* L% ¿Te sentís responsable? 0 1.475 Time (s) 1.1.5- ¿Se quedó a vivir? Pitch (Hz) 650 30 e se e o quedó a a i vi L+>H* i vir L* HL% ¿Se quedó a vivir? 0 0.9262 Time (s) 208 1.1.6- ¿Estará arrepentido Román? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e a uh a e e io estará arrepentido o a Román L+>H* L+¡H* HL% uh ¿estará arrepentido Román? 0 1.632 Time (s) 1.1.7- ¿Se separaron? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 uy uy e se e se a pa a ra L+¡H* uy o ron HL% ¿se separaron? 0 1.553 Time (s) 209 1.2- Enunciados Masculinos 1.2.1- ¿Venís para las fiestas? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e i venís a a pa’ las ie a fiestas H+L* L+H* L% ¿venís para las fiestas? 0 1.292 Time (s) 1.2.2- ¿Es el código de Seattle? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e e o es el i o e código ea de u seatle L+>H* L+¡H* HL% ¿Es el código de Seattle? 0 1.266 Time (s) 1.2.3- ¿Y esa casa es así como candidata? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 oi e ue o y e oy que bueno y a esa a ae casa a es así i o o como a i a candidata L+>H* oy, qué bueno! a L+¡H* HL% ¿ y esa casa es así como candidata? 0 2.467 Time (s) 210 1.2.4- ¿Vas a estar dando vueltas? 350 300 200 Pitch (Hz) 100 50 a pero a e a a vas a estar o dando L+>H* ruido ue a vueltas L+¡H* HL% Pero ¿vas a estar dando vueltas? 0 1.449 Time (s) 1.2.5- ¿Vos terminás ahora un año y ahí te dan un título? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 o vos e i a ao terminás ahora a u silencio a o un año ai e yyy L+>H* i ahíte dan un u o título L+¡H* HL% ¿vos terminás ahora un año yyy ahí te dan un título? 0 5.628 Time (s) 211 2- Informação Suplementar 2.1- Enunciados Femininos 2.1.1- Ah ¿hablaban en código? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a ah ha a a bla e ban o en L+>H* i co di L+¡H* o go HL% ah ¿hablaban en código? 0 1.553 Time (s) 2.1.2- ¿Lo ves seguido? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o e lo e ves se L+H* i o gui do L+¡H* HL% ¿lo ves seguido? 0 1.214 Time (s) 212 2.1.3- ¿Ella está mal? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e a e a ella a está mal L*+H L* L% ¿ella está mal? 0 0.6665 Time (s) 2.1.4- ¿Esa es la que vos la tenías cagazo? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e a e esa a a es la que vos e la te ia nías a a ca o ga L+>H* zo L* L% ¿Esa es la que vos le tenías cagazo? 0 1.658 Time (s) 2.1.5- ¿Buena onda? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 ue bue L* a na o a on L* da L% ¿Buena onda? 0 0.7434 Time (s) 213 2.1.6- ¿Y que el padre se volvió? 550 500 400 300 Pitch (Hz) 200 75 y e a y que el e e padre o io se volvió L+>H* L+¡H* HL% ¿Y que el padre se volvió? 0 1.309 Time (s) 2.2- Enunciados Masculinos 2.2.1- Ah ¿estudia esto? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e u a ia e o estudia esto L+>H* L+¡H* HL% ah, ¿estudia esto? 0 1.187 Time (s) 2.2.2- ¿En la casa de ella? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e a en la a a casa a de ella L+>H* ruido e L+¡H* HL% ¿en la casa de ella? 0 1.083 Time (s) 214 2.2.3- ¿Dos de enero? 350 300 Pitch (Hz) 200 75 o e e dos o de enero L+H* L% ¿dos de enero? 0 0.874 Time (s) 2.2.4- ¿Capaz que vas? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 a a capaz e a que vas L+>H* L+¡H* HL% ¿capaz que vas? 0 0.7434 Time (s) 215 3- Iniciador de Tópico 3.1- Enunciados Femininos 3.1.1- ¿Con tus amigos todo bien? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o con u a tus a i o mi o gos o todo ie bien L+>H* L+¡H* HL% con tus amigos todo bien? 0 1.423 Time (s) 3.1.2- ¿Y con tu hermanito? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 y o u e a y con tu her ma i ni L+H* o to HL% y con tu hermanito? 0 1.37 Time (s) 216 3.1.3- ¿Le preguntaste a tu hermano de Manuel? Pitch (Hz) 550 10 e e le u a ea pre gun tas ue a o te a tu her ma no de a ue ma nuel H+L* L+¡H* HL ¿le preguntaste a tu hermano de Manuel? 0 1.814 Time (s) 3.1.4- ¿Sabías que hablando de Román está todo mal en la casa de él? 350 300 Pitch (Hz) 200 75 a ia e sabías eoa e que hablando deRomán a está o todo a e a mal en la a a e casa de él L+>H* L+¡H* HL% ¿sabías que hablando de Román está todo mal en la casa de él? 0 2.624 Time (s) 3.2- Enunciados Masculinos 3.2.1- ¿Es verdad que se empezaron a comprar cosas? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e e ao a o a es verdad que empezaron comprar L+>H* o a cosas L+¡H* HL% ¿es verdad que se empezaron a comprar cosas? 0 3.199 Time (s) 217 3.2.2- ¿Noticias del país hoy? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 o i ia e noticias a i oi del país hoy L+>H* L+¡H* HL% ¿noticias del país hoy? 0 1.527 Time (s) 4- Pergunta Esclarecedora 4.1- Enunciados Femininos 4.1.1- ¿Con tus amigos todo bien? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 75 o u con tus a i amigos o o todo L+>H* ie bien L+¡H* HL% ¿con tus amigos todo bien? 0 1.788 Time (s) 218 4.1.2- ¿Y con tu hermanito? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 75 o ue con tu her a i ma o ni to L+H* M% ¿con tu hermanito? 0 1.214 Time (s) 4.1.3- ¿Hablaban en código? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a ha a bla a ban e o en co L+>H* i di o go L+¡H* HL% ¿hablaban en código? 0 1.292 Time (s) 4.1.4- ¿Ella está mal? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 75 e a ella e a está L+>H* a mal L* L% ¿ella está mal? 0 0.736 Time (s) 219 4.1.5- ¿ Buena onda? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 75 ue a bue o a na on L* da L* L% ¿Buena onda? 0 0.8479 Time (s) 5- Diretor do Fluxo de Informação 5.1- Enunciados Femininos 5.1.1- ¿Te dijo algo por el viaje? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 75 e i te o dijo a o algo o e por el L* ia via L+¡H* e je HL% te dijo algo por el viaje? 0 1.736 Time (s) 220 5.1.2- ¿Te lo bancás? 350 300 Pitch (Hz) 200 75 e te o lo a a ban cás L+¡H* HL% te lo bancás? 0 0.8479 Time (s) 5.1.3- ¿Está allá ahora? 350 300 Pitch (Hz) 200 75 e a está allá a a o aho L* a ra L+¡H* HL% ¿está allá ahora? 0 1.066 Time (s) 221 5.2- Enunciados Masculinos 5.2.1-Che ¿estás en contacto acá con tu familia con alguien más? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e che e a e o a estás en contacto oa a o acá o a con con tu i ia o a ie familia a con alguien mas L+H* L%L+>H* L+¡H*HL% che ¿estás en contacto acá con tu familia? con alguien más? 0 3.33 Time (s) 5.2.2- ¿Un mes? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e un mes L* HH% ¿un mes? 0 0.5344 Time (s) 222 6- Pergunta Retórica 6.1- Enunciados Femininos 6.1.1- ¿Sabes que soñé? 550 500 400 300 Pitch (Hz) 200 75 a sa e bes e que o so L+>H* e ñe L+¡H* HL% sabés qué soñé? 0 1.187 Time (s) 223 ENUNCIADOS INTERROGATIVOS TOTAIS DA VARIEDADE DE SANTIAGO DO CHILE 1- Detalhe de Elaboração 1.1- Enunciados Femininos 1.1.1- ¿La empleada? Pitch (Hz) 650 50 a e la e em ple a a a da L+H* HH% ¿la empleada? 0 0.7695 Time (s) 1.1.2- ¿Este es adoptivo también? 550 500 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 e e este es a o adop i ti o a vo tam L+>H* ie bién H+L* L% ¿Este es adoptivo también? 0 1.37 Time (s) 224 1.2- Enunciados Masculinos 1.2.1- ¿No recibiste nada así? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o no o e no i e a recibiste i nada así L+>H* L+H* HH% No ¿no recibiste nada así? 0 1.344 Time (s) 1.2.2- Ah ¿llamó? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 a a Ah o llamó L+H* ruido Ah ¿llamó? HH% ruido 0 0.5605 Time (s) 1.2.3- ¿Y hay que limpiarlo? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 i ai y hay e i que ia o limpiarlo L* L+H* HH% Y ¿hay que limpiarlo? 0 0.7695 Time (s) 225 1.2.4- ¿Sacaron el rollo al final? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a a o e sacaron ojo el a rollo i al a final L+>H* L+H* HH% ¿Sacaron el rollo al final? 0 1.318 Time (s) 1.2.5- ¿Cobran muy caro? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o a ui cobran a muy caro L* L+H* HH% ¿cobran muy caro? 0 0.6128 Time (s) 1.2.6- ¿El sobre con dos cheques? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e o llegó e e el e e cheque L* o el L% le llegó el cheque sobre e o o con dos L+>H* e e cheques L+H* HH% ¿el sobre con dos cheques? 0 2.729 Time (s) 226 1.2.7- ¿Anotaste todos? Pitch (Hz) 550 30 a a o ya a e o anotaste todos L+>H* L+H* HH% Ya ¿anotaste todos? 0 1.057 Time (s) 1.2.8- Y tú ¿estás durmiendo? Pitch (Hz) 550 30 i u y tú a u je tás o durmiendo L* L+H* HH% Y tú, ¿estás durmiendo? 0 0.9785 Time (s) 1.2.9- ¿Estai en el República? Pitch (Hz) 600 30 ai tai e e en el u i a república L* L+H* HH% ¿estai en el república? 0 1.161 Time (s) 227 1.2.10- Ah y ¿te tomai después el metro? 500 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e ah y o te ai tomai e ue e e después el L+>H* o metro L+H* HH% ah y ¿te tomai después el metro? 0 1.396 Time (s) 2- Informação Suplementar 2.1- Enunciados Femininos 2.1.1- Pero ¿no está contento? Pitch (Hz) 550 20 e o pero o no a está o e con L+>H* ten H+L* o to L% pero no está contento? 0 1.449 Time (s) 228 2.1.2- ¿Los tienes ahí? Pitch (Hz) 550 20 o ie e los a i tienes ahí L+H* L+H* HH% ¿Los tienes ahí? 0 1.109 Time (s) 2.1.3- Pero ¿no tan intenso como antes? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e o pero o no a i tan in e ten o so o o a como H+L* e an H+L* tes L% pero no tan intenso como antes? 0 1.971 Time (s) 2.1.4- ¿Está muy mormón él? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e es a tá ui muy o mor L+>H* o e mon el H+L* L% está muy mormón el? 0 1.579 Time (s) 229 2.1.5- ¿Lo dicen? 500 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o i lo e di cen L+H* HH% ¿lo dicen? 0 0.7173 Time (s) 2.1.6- ¿Así que actualmente están de vacaciones? Pitch (Hz) 550 30 a i así e ua e e e que actualmente a a está en a io e vacaciones L+>H* H+L* L% ¿así que actualmente está en vacaciones? 0 1.971 Time (s) 2.2- Enunciados Masculinos 2.2.1- ¿No está registrada en Reuna? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 o no a está e i a registrada e e en L* u a reuna L+H* HH% ¿No está registrada en Reuna? 0 1.658 Time (s) 230 2.2.2- ¿Te podei meter a alguna de la Chile? Pitch (Hz) 550 30 e oei te podei e e a a meter a a la u a alguna a la L+>H* a i e chile L+H* HH% ¿te podei meter a la: alguna a la Chile? 0 2.102 Time (s) 2.2.3- ¿Eso es? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e o e eso es L+H* HH% ¿Eso es? 0 0.6389 Time (s) 2.2.4- Pero ¿te conviene ir allá a la casa? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e pero te o ie e i conviene allá ir a allá a L+>H* a a la casa L+H* HH% Pero ¿te conviene ir allá a la casa? 0 1.396 Time (s) 231 2.2.5- ¿Y él tendrá computador? 500 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 i e y él e a o tendrá u o computador L* L+H* HH% Y ¿él tendrá computador? 0 1.187 Time (s) 3- Pergunta Esclarecedora 3.1- Enunciados Femininos 3.1.1- ¿De mí? Pitch (Hz) 650 30 e i de mí L+H* HH% ehn ¿De mí? 0 risas 1.37 Time (s) 232 3.1.2- ¿Los tienes ahí? 500 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 o ie los e a i tienes ahí L+H* L+H* HH% ¿Los tienes ahí? 0 1.161 Time (s) 3.1.3- ¿Dicen eso? Pitch (Hz) 650 30 i e di e cen o eso L+>H* L+H* HH% dicen eso? 0 0.8 Time (s) 3.1.4- ¿La Elisabeth? Pitch (Hz) 650 30 a la e i a e elisabeth L+H* HH% la elisabeth? 0 0.8479 Time (s) 233 3.2- Enunciados Masculinos 3.2.1- Ah ¿lo cambiaste? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a o ah a ia lo e cambiaste L+H* HH% ah ¿lo cambiaste? 0 0.874 Time (s) 3.2.2 ¿U Chile? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 u i u chile e L+H* HH% ¿U Chile? 0 0.6911 Time (s) 3.2.3- ¿Todos bien? Pitch (Hz) 550 30 o ie todos bien L* L+H* HH% ¿todos bien? 0 0.5605 Time (s) 234 3.2.4- ¿Está durmiendo la Claudia? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a tá u ie a durmien pausa/ruido tá u ie o durmiendo a la L+>H* au ia claudia L+H* HH% ¿Está durmien- está durmiendo la Claudia? 0 1.396 Time (s) 3.2.5- ¿Así es? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a i e así es H+L* L+H* HH% ¿así es? 0 0.7173 Time (s) 235 4- Diretor do Fluxo de Informação 4.1- Enunciados Femininos 4.1.1- ¿Marcaste el uno? Pitch (Hz) 550 30 a a mar e cas u te L+>H* o el uno? L+H* HH% ¿Marcaste el uno? 0 1.971 Time (s) 4.1.2- ¿Tú te acuerdas de Armando primo de nosotros? Pitch (Hz) 650 30 u ea ue tú te a cuer a ea das de ar a man o do i pri o e o mo de no L* o so L+H* o tros HH% Tú te acuerdas de Armando primo de nosotros? 0 1.867 Time (s) 236 4.2- Enunciados Masculinos 4.2.1- ¿La Claudia está durmi-? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a au la ia a claudia u tá i durmi L+>H* L+H*HH% ¿La Claudia está durmi-? 0 0.9001 Time (s) 4.2.2- ¿Tenís clases temprano ahí? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 e i a tenís e a clases o a i temprano ahí L* L+H* HH% ¿tenís clases temprano ahí? 0 1.135 Time (s) 4.2.3- ¿Las ocho y media? 450 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a o las o ocho e ia y media L* L+H* HH% ¿las ocho y media? 0 0.5866 Time (s) 237 5- Pergunta Recíproca 5.1- Enunciados Masculinos 5.1.1- ¿Ya los mails? 350 300 Pitch (Hz) 200 100 30 a o ya ai los mail L+H* L% ¿ ya los mails? 0 0.7173 Time (s) 6- Iniciador de Tópico 6.1- Enunciados Femininos 6.1.1- Oye ¿recibiste hoy una carta mía? Pitch (Hz) 650 30 e i re ci i bis e te o i u hoy a una a car L+>H* Oye . a ta ia mía L+H* HH% recibiste hoy una carta mía? 0 1.971 Time (s) 238 ANEXO 3: CONTORNOS ENTONACIONAIS DOS IS+¿NO?/IS+¿AH? VARIEDADE DE BUENOS AIRES 1- Enunciados Femininos 1.1- [sí]I [por um año]I [¿no?]I 350 300 Pitch (Hz) 200 100 50 sí por un año H* no L% L+H* HH% 0 1.475 Time (s) 2- Enunciados Masculinos 2.1- [es lo que hacés vos]I [pero tiene un nombre formal]I [digamos]I [¿no?]I 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 pero tiene un nombre formal digamos L* 2.27 no L%L+H* HH% 4.427 Time (s) 239 2.2- [sí]I [por eso por eso]I [igualmente]I [te lo comentaba]I [nunca se sabe]I [¿no?]I 250 200 Pitch (Hz) 150 100 50 igualmente te lo comentaba nunca se sabe no H* L% L+H* HH% 1.842 3.46 Time (s) 2.3- [es la que vive en Quilmes]I [¿no?]I 450 400 Pitch (Hz) 300 200 75 (( )) es es la que vive en Quilmes no L+H* L% L+H* H% 0.6605 2.18 Time (s) 2.4- [no hay ninguna]I [¿no?]I 400 300 Pitch (Hz) 200 100 30 noticias del país hoy 43ms no hay ninguna H+L* 0.4287 no? L% L+H*HH% 2.441 Time (s) 240 2.5- [huevadas]I [¿no?]I 250 200 Pitch (Hz) 150 100 50 30 huevadas no H+L* L% L+H* HH% 0 1.083 Time (s) 2.6- [con cosas del mundial y con cosas del atentado]I [¿no?]I 450 400 Pitch (Hz) 300 200 75 con cosas del mundial y con cosas del atentado no H* H%L+H*H% 1.011 2.919 Time (s) 2.7- [yaquilandia es uno]I [¿no?]I 250 200 Pitch (Hz) 150 100 50 30 Yanquilandia es uno no H* 0 L%L+H* HH% 1.214 Time (s) 241 2.8- [mucho tiempo]I [¿no?]I 250 200 Pitch (Hz) 150 100 50 30 mucho tiempo L* ¿no? L% L+H* 0 HH% 1.553 Time (s) 242 VARIEDADE DE SANTIAGO DO CHILE 1- Enunciados Femininos 1.1- [medio celoso]I [¿no?]I 400 300 Pitch (Hz) 200 75 medio celoso no? H* HL% L+H* HH% 0 1.067 Time (s) 1.2- [estaba como molesto de que le hablabas mucho de Eddie]I [¿ah?]I 450 400 Pitch (Hz) 300 200 100 30 estaba como molesto de que le hablabas mucho de Eddie H* ¿ah? L% 2.196 L+H* HH% 3.356 Time (s) 243 1.3- [porque cuando él él ya termina]I [otro va a ir en su lugar]I [¿ah?]I 450 400 Pitch (Hz) 300 200 100 30 porque cuando él él ya termina otro va a ir en su lugar 373ms L* ¿ah? L% L+H* HH% 2.011 4.035 Time (s) 1.4- [parece que eso es lo que él quiere]I [¿ah?]I 500 400 Pitch (Hz) 300 200 100 30 parece que eso es lo que él quiere H* ¿ah? L% L+H* HH% 1.143 1.997 Time (s) 1.5- [y así como para quedarse tanto tiempo tampoco]I [¿ah?]I 500 400 Pitch (Hz) 300 200 100 30 y así como para quedarse tanto tiempo tampoco H* L% 2.832 221ms ¿ah? L+H* HH% 4.009 Time (s) 244 1.6- [posiblemente podría ser una semana]I [o dos semanas]I [o algo así quizás]I [¿ah?]I 450 400 Pitch (Hz) 300 200 100 30 o dos semanas o algo así quizás 335ms H* L% ¿ah? L+H* HH% 3.454 5.289 Time (s) 2- Enunciados Masculinos 2.1- [el reuna es lo que les da servicio a ustedes]I [parece]I [¿no?]I 350 300 Pitch (Hz) 200 75 el reuna es el que le da servicio a ustedes parece L* no? L% L+H* 1.937 HH% 3.018 Time (s) 245 2.2- [conocei el reuna tú]I [¿no?]I 450 400 Pitch (Hz) 300 200 100 50 conoces el reuna tú no? H* L% L+H* HH% 0.1071 1.11 Time (s) 2.3- [porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera]I [¿no?]I 400 300 Pitch (Hz) 200 100 50 porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera no? H* L% L+H* HH% 1.812 2.73 Time (s) 246 ANEXO 4: TRANSCRIÇÃO DAS CONVERSAS TELEFÔNICAS Conversa 1 – Mulheres – Buenos Aires 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 A: hola B: buen día A: es que me dijeron si porque te dan sesenta segundos para colgar B: ahn A: por eso puedes dejar antes el mensaje B: ahn A: entonces te dan sesenta segundos y después te preguntan si están de acuerdo en grabar la conversación y qué sé yo B: sí escuche hablan en español A: ah sí sí sí B: risas A: sí B: che y contáme ¿con tus amigos todo bien? A: ¿ehn? B: ¿con tus amigos todo bien? A: ehhhh el día que llegué me llamó el hincha del español B: ah ¿y por qué? A: de pedo ayy no no es re divino lo que pasa es que está más solo que un hongo pero pero no es buen tipo re divino aparte el otro día fui a almorzar con él y chocó el auto nuevo B: no A: así que estaba pobre te juro me dio una lástima B: ¿lo hizo mierda o más o menos? A: la puerta del conductor y encima yo me ligué un ausente por su por su culpa B: un ausente porque fue yendo a colegio ¿fue? A: no no él fue a visitar al colegio entonces me fue a buscar averiguó y me fue a buscar a la clase que tengo antes de almorzar viste después íbamos a ir almorzar supuestamente B: ahn A: no pero buena onda después también el día que llegué de pedo también porque no sabía que yo había llegado me llamó mi amiga esta la Yanqui Alis con la que fui a hacer ski aquático. B: ahn A: así que re divina no me llamó re divina estuvo y después me dijo de ir a almorzar el otro día que sé yo así que bien y después me llamó B: ¿y con tu hermanito? A: ¿ehn? B: ¿con tu hermanito? A: ah mi (her)manito re bien B: ¿cómo está él? A: no él está re bien ahora él es el que me tiene que bancar a mí porque en realidad yo no estoy muy bien no sé qué me pasa estoy medio depre B: ¿sí? A: sí pero pobre les empecé a grabar un casete a ustedes pero está bueno así 247 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 tiene contraste porque está bastante depresivo el asunto B: [risas] A: pero esperá va a estar mejor entonces van a decir mirá que bien que está Mónica ahora B: [risas] A: me grabé todo el casete así porque si no se van a deprimir ustedes B: qué mal boluda y ¿con Lola hablaste ya o no? A: no B: ¿no? A: no no no sé qué voy a hacer no tiene mucho sentido nada así que B: mmm A: no sé qué no no tengo ganas de nada ¿sabes qué soñé? B: ¿qué? A: me siento mal por haber soñado eso [risas] A: soñé que me tranzaba a Matus gorda boluda [risas] B: ah [risas] A: te juro me quedé B: a Matus la llamó la Mina A: ¿eh? B: a Matus la llamó la Mina de Bariloche A: ¿en serio? B: te juro A: ah y el otro ¿qué? ¿se van a ver? B: sí sí lo que pasa había ningún horario les coincidía pero se iban a ratear ambos el lunes o el martes del cole de sus respectivos colegios A: mmm B: y se iban a encontrar [risas] A: mirá vos qué bueno yo me sentí re culpable cuando me desperté re mal me sentí [risas] B: [risas] pobrecita A: pero bueno vos ¿cómo estás che? B: yo acá boluda estoy yendo para el cumpleaños de Martín que es hoy A: ah hoy es su cumpleaños B: sí por eso me estaba bañando para ese tal acontecimiento [risas] A: Ah [risas] ¿qué tal con él? B: [risas] bien bien más o menos [risas] A: [risas] B: él está pasando por un mal momento y yo estoy en mi mejor momento A: ah CarelB: este A: ¿qué? B: encima ¿sabes qué? che ¿le preguntaste a tu hermano de Manuel? A: sí B: ¿y? A: me dijo ay es re buen tipo re divino ay me encanta porque Mariana también me caía bien me dice qué bueno qué divino me dice eso dice que es un buenazo que es un pan de Dios B: ¿sí? A: que de él fue amigo pero de momento como Víctor tiene como tres o cuatro años más que él B: sí 248 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 A: en el momento era amigo pero en el club cuando estaban ahí después no salían porque él estaba en otra onda B: sí A: pero igual le ha parecido siempre re buen tipo A: y ¿qué pasó? B: ah mañana es fiesta del reencuentro en Bariloche A: ah B: y no va a ir Martín y yo estoy desesperada pobre [risas] A: ay Tati B: ¿qué? A: qué hija de puB: no soy de hielo che soy humana A: y se nota que no estás bien con Martín hija de puta B: yo estoy bien él no está bien [risas] A: sí estás re bien B: [risas] A: super enamorada no no tenés [risas] B: no eso sí que no [risas] B: ay así que A: qué y pero qué más o sea A: Martín que cuando volvieron estuvieron bien o tipo vos no te sentías tan unida como antes o sí B: boluda yo no sé si es pasajero o que pero yo estoy en otra estoy en la luna de Valencia cómo te puedo explicar A: en el colegio es cualquier cosa B: el el mmm el colegio no existe me duermo en todas las clases todas A: [risas] B: todas el otro día entramos a la una de la tarde salimos a las cuatro Maru y yo nos dormimos Male vino y nos despertó chicas tienen inglés nos dijo A: [risas] B: eso no todo el mundo apolizando nadie le da bola a nada a nadie le interesa nada A: ay Dios mío ayayay B: {cough} boluda ¿sabías qué? A: ¿qué? B: que Jedy tranzó con el coordinador ¿lo sabías? A: sí Tati si te lo dije en el micro A: y te dije que a mí me habían dicho que también Nelly se habían encamado B: bueno ah bueno no estuvo sólo con ese estuvo como con cuatro o cinco coordinadores B: Carolina también Geraldin A: ay miB: estuvo con José a punto A: hijo si yo sabía pero no no hicieron nada tipo A: estaba el novio de Geraldin ahí B: no sé o sea estuvieron (( )) B: no vos también pensaste que era el novio no era el novio [risas] A: ah ¿hablaban en código? B: ¿eh? A: ¿hablaban en código? B: ¿quiénes? 249 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 A: Geraldin y Paula B: ¿por qué? A: porque a mí me habían dicho que estaba el novio B: ah sí el novio de Geraldin estaba en Bariloche pero yo una vez entré al cuarto de ellas y había un flaco medio en bola entonces me di vuelta y en la cama con Geraldin entonces él yo no sabía nada de eso me dije debe ser el novio de si ese era el novio yo ahí mismo me di vuelta y me fui pero oh era José A: ah era José B: sí boluda A: ay Dios mío pero qué ¿Jedy se encamó al final con este Marcelo o no? B: parece que sí ella no me dijo nada pero todo el mundo dice que sí A: mmm ay esta chica B: y después había Gabriela Korganski se tranzó se los tranzó a los dos en pedo a Diego Cantillano y a Román A: no B: Román se quiere cortar un testículo boluda [risas] parece que -A: [risas] pobrecito está totalmente -B: lo que pasa que con Román estuvo a punto de de de tener relaciones A: uh ¿estará arrepentido Román? B: Román no se acordaba nada nada tenía un pedo A: ay dale B: no te juro que me que le dijeron al otro día A: sí no se quiere acordar boluda B: Gabriela no parece que Gabriela le escribió una carta A: porque está B: porque Gabriela quería que dejara la novia que él tiene A: mmm B: así que che ¿sabías que hablando de Román está todo mal en la casa de él? A: ¿cómo? B: porque los padres están separados A: uy ¿se separaron? B: sí porque el padre se mandó una cagada terrible A: ¿qué hizo? B: vos callate no digas nada pero ganaron el juicio el seguro de Marcelo por lo del accidente A: ahá B: y con esa guita iban a pagar el el departamento donde están viviendo ahora que está sin pagar y un día antes la madre de Román se entera que la guita no está que el padre se cagó toda la guita en un negocio tratando de duplicarla multiplicarla no sé qué historia A: uy B: que eran setenta mil dólares boluda tienen un quilombo A: ay y encima obviamente no la disfrutó ni nada B: no no así que y Romy está con un ataque depresivo te juro lo veo re mal A: ay ¿lo ves seguido? B: ¿eh? estuvo el otro día en el cole no habla y yo me encontré con él el domingo a la noche cuando vol- cuando volvía del aeropuerto A: mmm B: porque sabía que estaba mal que Jedy me había comentado lo llamé nos encontramos me contó 250 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 B: y después no no lo vi más hablé por teléfono A: mmm B: más nada A: ay mandale saludos míos B: mmm A: yo ahora mandé a revelar las fotos B: ah yo también y me olvidé ir a buscar o sea se me pasó el tiempo y cerró hoy el negocio y no la he podido ir a buscar [risas] A: qué boluda A: con tus viejos ¿qué tal tán? B: con mis viejos con mi viejo re bien o sea bastante bien con mi mamá estoy bien pero estoy preocupada por mi mamá A: ¿ella está mal? B: ¿eh? A: ¿ella está mal? B: muy mal te juro estoy preocupada A: nmm A: [noise] B: no no sé qué hacer porque eso yo le decía el otro día el otro día a mi papá que yo estoy como sola o sea no tengo a nadie a quien recurrir ni con quien compartirlo ¿entendés? B: sí no no te juro – A: ah ningún amigo tipo de tu vieja ¿alguien que esté también tan cerca? B: no o sea o sea soy yo sola si mi vieja está mal mi mamá no tiene un esposo ni tiene otro hijo ¿entendés? A: claro B: (es)toy yo y yo argentina tengo que ir A: ¿te sentís responsable? B: soy muy sí siento que tengo una responsabilidad demasiado grande A: mmm B: así que A: lo que pasa es que no tenés que tomarla como o sea vos te la estás tomando como responsabilidad B: es que es inevitable boluda A: pero ya que es inevitable pero te juro que vas a tener que hacer un esfuerzo para separarlo Tati porque si no B: sí pero por ejemplo hoy hoy yo estaba acá tirada a punto de tirarme a dormir a la tarde me llamó que estaba enferma que no se podía mover que vaya a llevar el remedio y no sé qué y no sé cuanto y me tuve que quedar toda la tarde cuidándola A: ¿y qué tenía? B: y viste no tiene ochenta años que bueno y mi abuela mi abuela nunca lo hace A: pero ¿por qué no se podía mover? B: porque le agarró un ataque al hígado y no se podía mover de la cama estaba hecha mierda A: ¿en serio o está demasiado tipo? B: y yo no sé viste A: tú crees B: yo creo que sí que en serio lo que pasa es sicológico de acá a la China ¿entendés? A: claro o sea es bien tipo si no venís conmigo me muero bien que te di ella no 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 te ayuda a sacarte los -B: sí pero no sé si lo hace a propósito o lo hace inconscientemente pero o o sea sicológicamente es obvio ¿entendés? no sé si lo hace consciente o inconscientemente pero yo no puedo decir que no ¿entendés? A: claro en esa situación no es difícil pero es difícil B: así que A: pero no no podés por más que no no seas sabés te sentís no podés o sea tenés que ayudarte a vos misma no sentirte responsable porque no es lo que o sea B: no responsable no o sea con culpas no me siento pero me siento responsable A: no pero o sea como que vos en este momento a tu vieja vos no la podés ayudar aunque quieras ella sola se tiene que ayudar es así B: sí pero igual a veces me preocupa el otro día hablé y me preocupó en serio ¿entendés? A: sí si entiendo obvio que entiendo voy aprendiendo pero sí B: así que che y vos con Jorge ¿cómo estás? A: ah yo tamos no está la no estamos en súperB: es el mejor momento A: claro súper comunicativos y cariñosos tipo pero está tranquilo qué sé yo más o menos o sea no no no creamos B: ¿te dijo algo por el viaje? A: no no no no hablamos nada lo único que en un momento comentó así como de paso pero para que yo lo oiga que él pensaba que yo debería haber llegado la semana anterior pero así como de paso como para que yo lo oiga pero no no discutimos digamos nada B: está bien A: qué sé yo A: me enteré que hay una brasilera ahora en el colegio B: que ¿qué? A: hay una brasilera en el colegio nueva que no sabe hablar nada de inglés ya B: ah ¿sí? A: voy a tratar de B: che qué tal el cole- el reintegro vos ¿te lo bancás? A: sí yo sé que me lo voy a poder bancar lo que pasa es que no sé a menos que esté muy mal B: sí ¿por qué? A: no sé no sé no sé por qué no sé igual o sea tipo la profesora de historia me vio sólo por el pasillo y me dijo Mónica dónde estuviste te te estaba buscando te estaba esperando por qué no habías llegado no sé qué B: [risas] A: tipo me trata re bien porque tengo que hacer la primera parte de su materia y tipo me dice y bueno igual a vos como no te va a ir bien no sé que tipo re bien yy B: ¿esa es la que vos la tenías cagazo? A: claro en el cole digamos es la más difícil porque es la materia que más tengo para mí fue la materia más difícil y después por la de inglés no me tratan bien por general tipo la de teatro me trata bien tipo bienvenida Mónica B: ¿buena onda? A: ¿ehn? B: ¿buena onda? A: sí pero lo que pasa es que ponele es muy ambiguo todo porque yo necesito otras cosas yyy ponele la de teatro dijo bueno bienvenida Mónica y que sé yo que que y todos me aplaudieron y dijo que yo le dije que iban a estar contenta 252 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 que viniera y ella no me creía y yo le dije que algunos habían venido a preguntarme y qué sé yo pero yo no me doy cuenta en realidad o sea hay gente que es macanuda conmigo pero así de pasada o sea tipo re macanuda pero B: lo suficiente y hasta ahí A: claro B: ahn A: y que sé yo saludo así la alemana que también B: y tu amiga la que estaba acá en aquella vez ¿está allá ahora? A: se quedó acá boluda se quedó allá digo B: ¿se quedó a vivir? A: llegó llegué acá y llamé el españ- Fernando me dijo y yo no entendía nada entonces llamé a la hermana de ella que vivía acá y me dijo que sí que dos horas antes del avi- del vuelo no sé que decidió quedarse se ve que la vieja la debe haber presionado porque la vieja quería que se quede B: ¿y que el padre se volvió? A: sí B: ahn A: tá loca porque aparte ahora tiene que hacer todas las equivalencias y ya viste no sé B: sí por un año ¿no? A: sí mucho ralle aparte porque ella nunca pensaba tipo quería quedarse estudiando acá ella entonces B: debe ser re jodido A: pero se quedó allá y fui al colegio en auto una vez B: ¿estás usando el auto o lo usa Victor? A: nos vamos a turnar lo que pasa es que cuando llegué estaba en el mecánico y cuando lo sacaron del mecánico pusieron al en el taller al otro B: ahn A: entonces ahora estamos con el que usamos Victor y yo y lo está usando Jorge porque él tiene que ir a la oficina B: claro y vos ¿en qué vas al cole? A: en colectivo como siempre B: always A: always A: pero qué sé yo y tengo mucho para estudiar y leer y estoy B: bueno eso es bueno por lo menos te vas a distraer A: y que no me puedo enganchar estoy re mambiada no me puedo enganchar bueno más o menos B: pero ¿por qué estás mambiada? A: no sé estoy re B: qué estás tipo por ejemplo yo te explico estoy en otra pero porque estoy en viaje todavía y tengo que volver y toda la bola 253 Conversa 2 – Homens – Buenos Aires 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 B: vos sos el que llama A: sí ya marqué uno B: ahí está A: espero a lo mejor espero que no se corte sí ya marqué B: bueno capaz que se cortó la otra vez porque no marcaste A: eh sí por eso ahora marqué vamos a ver che te decía B: te voy a preguntar ¿cuándo vas a venir vos? ¿si sabés o si tenés una idea? A: sí mirá tengo pasaje reservado para el dieciséis pero lo tengo que pagar todavía B: ¿de qué? A: de diciembre B: ah falta todavía A: sí sí B: ¿venís para las fiestas? A: para las fiestas exacto me quedaré hasta el dos o el tres B: ¿vos escuchás bien o tardás en pensar? A: no no es que hay un delay es porque B: como un retardo te digo A: sí es del satélite B: ah bueno no porque yo cuando llamaba a Europa no tenía tanto retardo A: capaz que no sé no sé bien a lo mejor porque son chotas líneas nada más eso y no te andaba comentando vos sabés que acá hay hay un departamento que se llama epidemiology que es básicamente estadística aplicada a medicina B: si es epidemiologia bueno si es eso A: es lo que hacés vos pero tiene un nombre formal digamos ¿no? B: sí acá también hay una carrera que me parece que yo voy a hacer eso A: ah bueno B: en la universidad Belgrano están haciendo un máster de epidemiología A: ah bueno A: ah porque acá tengo amigos B: aparte en Seattle hay un centro grande de ¿cómo se llama? de oncología y qué sé yo que es en estadística A: exacto más te digo porque una de mis roomates una de las personas una de las chicas que vive conmigo estudia eso ahí por eso lo sabía B: ah ¿estudia eso? A: yyy sí sí sí B: lo que ahora más adelante te pido algún dato sobre qué va que me pueda mandar ella sobre programas esas cosas así A: aham B: lo que pasa es que yo irme a estudiar yo te digo realmente irme a estudiar allá que por lo menos son dos anos un año que sé yo ehh un pedo ¿viste? pero digamos que tengo otros planes más inmediatos A: sí por eso por eso igualmente te lo comentaba nunca se sabe ¿no? B: sí yo pensaba porque viste yo me recibí de analista y lo pensaba hacer un Master acá A: sí A: mmm B: en en Estadística A: claro B: pero en Estadística no Estadística Matemática(s) sino Estadística aplicada a 254 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 Medicina A: aplicada claro B: claro estoy laburando en otro lado aparte ahora ¿viste? tengo bastante laburo A: ah qué qué ¿en dónde estás laburando? B: estoy laburando con un grupo de trasplante A: ah B: y aparte en la Academia que es mi laburo de siempre digamos A: che y en la Academia al final este tus relaciones andan bien como para que puedas usar el e-mail o seguís así B: no porque eso mirá B: esa es una historia ¿viste? porque ahí en la academia son muy rompepelota con esas cosas A: ya B: con esas A: ahá B: y solamente las quieren usar para fines académicos digamos ah A: sí B: y para las cosas que yo quiero hablar con vos realmente no me sirve porque lo que pasa es que quiero poner cosas personales A: exacto chusmear personales B: no me interesa hablar de otro tipo de cosas con vos B: así que no sé por ahora se me ocurre más que nada escribir A: sí no está bien B: o llamar A: no el problema con escribir es que la verdad ¿viste? cuesta sentarse a escribir y B: es medio plomo es medio lento aparte ese tema de escribir eso seguro A: sí es más o sea es es me gusta más porque lees la letra pero yo te digo en el email en el e-mail yo paso todo el día en la computadora B: pero es lento esto es lento y se pierde correlación en las cosas yo te cuento una cosa que A: exacto B: resulta que cuando te llega es vieja y bueno lo mismo te pasa a vos A: exacto exacto B: es un embole che ¿estás en contacto acá con tu familia con alguien más? A: más o menos mira por carta me ando escribiendo con algunas chicas yyy con hombres mira sos vos el único con quien me escribo porque los hombres en general son todos más más vagos B: claro sí A: chicas me estoy escribiendo con tres con mi familia hablo casi todas las semanas eh B: te acordás de los amigos ah A: sí sí sí como ahora dirás ya B: sí más o menos más o menos A: [risas] B: una vez por mes A: y bueno viejo vos no me llamaste nunca [risas] B: pero me ac- pero me acuerdo que es lo importante A: [risas] che loco voy a cumplir treinta B: sí sabés que sí A: el mes que viene qué bárbaro B: y está que se te allanó sabés que yo te diga ¿no? no entiendo lo que dice 255 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 A: no pero vos B: el mes que viene treinta pirulos hermano B: ah dame tu tele yo no tengo tu teléfono eso es lo que pasa A: ah cambié el teléfono es verdad anotá B: y por lo menos aparte por lo menos para llamarte para tu cumpleaños A: sí anotá anotá es el dos cero seis B: sí dos cero seis A: seis tres dos B: ¿ese es el código de Seattle? A: sí B: sí dale A: seis tres dos eh dos siete nueve cinco B: sí a ver seis tres dos dos siete nueve cinco A: sí B: dos cero seis Yanquilandia es uno ¿no? A: sí A: y Yanquilandia creo que sea el internacional es uno sí sí B: este no pero llamarte para tu cumple aunque sea A: bárbaro bárbaro está bien B: así no te podés quejar A: che y después alguna novedad así de este tu vieja -A: ah ahá B: y a ver de laburo ando bien este mi abuela este anda medio jodida A: mmm está vieja digamos claro B: va jodida jodida por los años B: claro exacto este A: tu vieja ¿cómo anda? B: mi vieja bien el ojo ¿viste? anda más o menos viste pero ve mejor que antes A: ah ah ahá B: no tanto como ella esperaba porque ¿viste? la primera operación fue muy buena A: ahá B: ve perfecto del primer ojo que le operaron y del segundo ¿viste? ve mejor que antes pero no perfecto A: le contrasta un poco claro con el otro B: claro porque esperaba bueno que iba a ser como como lo otro y parece que el primer ojo fue una decepción no se fue un culo como que recuperó el cien por ciento de la visión de una persona normal A: [risas] y el otro fue normal digamos B: el otro fue lo que se espera de una operación de ese tipo A: ah mirá pobre sí B: una mejora pero relativa no un porcentaje tan alto [noise] B: este y bien mi vieja vive enquilombada con el tema de mi abuela y todo eso pero bien - noise A: sí me imagino B: este yo que bien estoy con mi novia bárbaro noise A: sí sí ¿cómo se llama? porque por lo menos tengo que B: María Laura A: María Laura sí sí María Laura espero acordarme B: noise A: este es es la que vive en Quilmes ¿no? 256 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 B: claro claro A: oh tenés seguís viajando así [risas] tenés B: oh no viene ella prácticamente te digo prácticamente A: te que- [risas] siguen las -B: yo voy con cuentagotas siguiendo mis preceptos A: sí sí del estilo Frank tiene un estilo así B: nada esta vez digamos que es otra cosa nada que ver con A: no no no no no no simplemente hay B: y de estilo este vagan pues A: algunos patrones se mantienen ahora [risas] B: el estilo vago sigue igual vamos A: exacto estilo vago B: fundidos A: y otra B: no pero bien estamos bárbaro A: sí ah B: sí sí bárbaro A: así es que ¿es verdad que se empezaron a comprar cosas? B: y más no pues y claro que te con- verdad compramos muebles compramos un juego de dormitorio y un juego de living A: ahá y qué ¿qué planes hay? digamos B: nos gastamos nos gastamos como dos lucas en eso A: a la flauta qué ¿y dónde lo tienen? ¿en la casa de ella? B: claro porque ella tiene la casa del abuelo que falleció quedó vacía y lo tenemos ahí A: uy qué bueno ¿y esa casa es así como candidata? B: como depósito no no queremos ver donde sacar un crédito en realidad A: no pero ah ah ah B: porque esa casa queda al lado de la casa de los viejos A: ah B: y a mí no me copa mucho la idea A: sí es el culo del mundo B: eso que queda re lejos y segundo viste ya A: al lado de la cuñada al lado de la suegra B: por eso no me copa eso A: sí sí si te entiendo B: sí pues la idea es juntar eh ¿viste? para poder sacar un crédito o una cosa así A: sí eso es B: que tenés que juntar el cuarenta por ciento del valor del inmueble y te manA: cuarenta por ciento y qué con lo que ganás co- ¿cuánto estás ganando? ¿cómo está el tema de sueldos? sí B: yo estoy bien yo estoy bien porque tengo varios laburos digamos ahora tengo dos laburos encima los laburos que hago aparte pero eso no lo puedo contar todos los meses A: claro contame pero así más o menos algo estándar o sea lo lo que hacés en la Academia ¿cuánto te da? B: y ahí una luca ponele y media luca más del otro laburo A: mmm B: y promedio ponele que haga algún que otro laburo promedio que es el laburo promedio por tres gambas más aparte A: claro y te digo ¿te estás matando o te queda tiempo? ah 257 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 B: no no sí sí sí generalmente tipo cuatro de la tarde yo me desocupo de todo A: claro claro ah bien bien bien B: o sea algún día un poco más viste otro día tres y media depende estoy tranquilo digamos estoy así loco loco A: claro y estás ahorrando como loco me imagino ¿más o menos? B: y claro estoy pagando la cuota de un auto A: ah qué bien B: este -- y estoy ahorrando noise A: y haciendo haciendo vida como de gente grande [risas] B: me compré un equipo de música alucinante con una cosa con tres compacts A: ah a la flauta ah B: este sí de estos bichos que tienen una cosa arriba de la otra A: sí uy qué pinta qué bueno B: sí buenísimo buenísimo B: estoy re copado A: sí y cuando yo vaya en diciembre ¿vos vas a estar dando vueltas? B: en diciembre voy estar acá todavía no me voy de vacaciones a A: en las fiestas ah okey sí porque te digo que va a ser va a ser medio jodido en el sentido que voy a estar poco tiempo y y B: y encima son las fiestas A: y son las fiestas y B: o sea hasta ¿cuánto tiempo vas a estar más o menos? ¿un mes? A: mirá llegaré un sábado creo que sábado dieciséis de diciembre B: sí A: y me quedaré hasta el martes dos y en el medio qué sé yo ¿viste? este mi familia ¿cómo? B: ¿dos de enero? hasta el dos de enero nada más A: dos de enero sí y en el medio viste mi familia nos iremos a la costa unos días B: vas a estar poco y nada A: este claro por eso así este eso vamos a tener que combinar B: sí tratar de combinar aunque sea un par de veces vernos A: no eso es seguro pero lo que quiero decir es que bueno vamos a tener que hablar este B: sí estoy A: che y después bueno el resto bien ya B: es que esto es tranqui que sé yo A: está bien ninguna ¿noticias del país hoy? no hay ninguna ¿no? B: y no el quilombo ese que hubo ese del atentado A: acá sí pues la bomba me dijeron leí por ahí que hubo una especie de falsa alarma B: ah sí sí A: que andan todos histéricos que nadie quiere acercarse a las cosas judías B: la semana pasada sí no es para tanto ya eso A: sí están medio así que Grondona transmitió de un establecimiento judío eh eh huevadas ¿no? B: ah sí esos son B: lo únic- lo único por donde fue el atentado digamos después de lo demás A: sí B: es de esas cosas dimes y diretes digamos eh A: justamente me acaban de llegar me mandaron una pila de diarios y revistas y B: sí 258 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 A: con cosas del Mundial y con cosas del atentado ¿no? bastante deprimente la verdad B: sí eso continuaba A: es la de acá la de acá B: parece un bodrio eso eso lo como cien personas murieron allí A: sí fue cien personas sí sí sí además como te digo te súper sensibilizás desde acá porque acá cualquier cosa que dicen de Argentina te -B: claro A: la re agrandás ah sí B: claro A: ah más yo por ejemplo acá viste me la paso jugando al fútbol me gusta el tango B: pero igual fue algo groso esto eso no es una pelotudez es un atentado A: no no objetivamente B: en cualquier lado del mundo es algo importante A: sí igual te da armate de bronca porque vos sabés en el New York Times B: oye porque voló un edificio completo así limpito A: sí sí no lo que te quería decir que la importancia que se le da a eso acá porque A: por ejemplo fue tapa en el New York Times pero el English New York Times es un diario importante tipo La Nación así B: sí A: y en el diario local de Seattle B: mmm ni bola A: este no salió salieron cuatro renglones al día siguiente del atentado B: no pero el diario local de Seattle debe ser como no sé el diario de un pueblo de A: de Santiago del Estero viste sí B: claro A: pero acá estamos hablando de ciudades de cinco millones de personas eso sí te da una bronca eso B: sí ya sé pero con la mentalidad que tienen ven solamente lo que tienen ellos a su alrededor A: exacto B: por eso digo o sea digo no me extraña aunque sean ciudades grandes pero que sé yo de repente vos ves periodistas que van a preguntar cosas que sabe todo el mundo y ellos no lo saben dónde queda Buenos Aires y ellos dicen en Brasil A: exacto A: bueno te digo que esas son historias que te las encontrás acá todo el tiempo ah B: entonces por eso es verdad eso A: ah hablando de Brasil vos sabés que me estoy empezando a enganchar con un grupo acá para trabajar que van a hacer experimentos en Brasil el año que viene así que estoy tratando ahí de ver B: ¿capaz que vas? A: y depende de que como que haya parado porque es como que estoy entrando recién en el grupo y todavía no B: ¿cómo es el tema? ¿vos terminás ahora un año y ahí te dan un título? A: eh no no tenés que aprobar en materias de cursos tenés que aprobar el examen que voy a tomar ahora B: sí A: yyy B: ¿pero vos te quedás más tiempo para terminar lo que estás haciendo o para hacer otra cosa más? A: eh bueno una vez que terminás los cursos más o menos para la época o sea un 259 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 poco antes de terminar los cursos ya tenés que tener decidido si vas a seguir trabajando para hacer el doctorado o para hacer el master B: ahan ahan A: eh mi idea es este y eso es más o menos para diciembre para la vuelta de Buenos Aires ya lo voy a tener decidido en realidad también quiero ir un poco a Buenos Aires y ver cómo está todo allá ver cómo me siento también B: acá está todo bien va todo entonces A: no no como me sienta así de qué sé yo viste de extrañar y ver a los amigos de nuevo B: ahora com ¿cómo te sentís allí? ¿bien? A: baja sube y baja sube y baja este B: ah ¿tenés días? A: sí exacto de repente tengo acá teng- gente que me estoy haciendo amiga eh B: no no me imagino que debés estar bien seguro porque si no no te quedarías tampoco pero te agarra de repente qué sé yo ¿extrañás un poco o nada? A: sí sí no extraño extraño y es algo que no lo podés parar ehh B: mucho tiempo ¿no? A: sí además es mucho bronca porque de repente te ponés o sea- te ponés a hablar con alguien y no tenés si tenés algo en común es solamente lo que viviste en el último año B: tenés razón A: claro entonces no podés no podés hablar de cuando Argentina salió campeón mundial porque a nadie le interesa B: hasta compartir las boludeces qué sé yo hasta nuestra misma forma de hablar no sé si nosotros hablamos así como estamos hablando ahora los otros no entienden nada A: sí bueno esto también hay esas boludeces tuve bastante problemas con el tema de bueno que nosotros nos manejamos mucho con B: debe haber un español chato que no hablás en realidad todos los días vos A: no no hablo español no hablo español B: de repente encontrás a alguien que es qué sé yo chileno o no sé o ecuatoriano o lo que sea hablan un idioma que no es el tuyo A: no no prefiero eso a que de repente porque estando acá te das cuenta que con la gente latina tenés muchísmas cosas en común que estando en Argentina no te dabas cuenta yyy de repente contrasta mucho cuando te ponés a hablar con norteamericanos particularmente con norteamericanos que no viajan 260 Gravação 3 – Mulheres – Santiago do Chile 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 A: hello Graciela B: ¿marcaste el uno? A: sí ya estoy lista B: ya oye que gusto de oírte A: igualmente Graciela mira aprovechando esta oportunidad antes las llamé pero no estaban B: ¿ahn? A: y entonces me dijeron que como a las dos y media iban a llegar pero a esa hora no podía llamar así que B: ¿quién te contestó? ¿la empleada? A: yo creo B: y no me dijo nada A: ah así que B: [risas] oye ¿cómo le está yendo al Nando? A: mira más o menos nomás Graciela B: ¿por qué? A: no ha resultado como realmente pensábamos ¿ahn? B: uy A: hay muchos problemas ahí en esta compañía y mucho desorden y no mira después te voy a mandar explicar más detalles en carta pero B: ¿pero no está contento? A: claro no no B: oye ¿recibiste hoy una carta mía? A: no B: ah yo pensaba que iba a recibirla porque hoy es el quinto día que le eché A: ah no no la B: ahí te contaba unas cosas de Eddie A: y ¿qué es de mi hijo? ¿cómo? B: ay está tan lindo A: ¿cómo lo encuentra? ¿y qué le ha parecido? B: oh nos encanta oye a mí me encanta y a la nena también es tan dije tan mira la verdad es tan bueno tan oh me encanta estar con él fíjate A: ah que bueno B: desgraciadamente puede venir los lunes en la mañana un día tan re malo porque se encuentra pura gente de edad yo le invitaría gente pero los días sábados po pero es muy dice es tan mira es tan se sacrifica en todas las cosas ahí de los mormones camina por las calles y todo eso pero lo hace con tanta fe oye que da gusto (( )) A: claro B: da mucho gusto verlo a él A: así son todos oye no solamente él A: así son toda la gente B: fíjate el otro día hablé con e- cuando fue anteayer que me llamó Cristian por este mismo sistema B: sí B: entonces le dije yo que Eddie estaba aquí y que me gustaba tanto que era tan veraz que era tan responsable y entonces me dijo todos los Moreli son así la Chela Orlando y la Myriam todos son así me dijo B: [risas] 261 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 B: todos son bondadosos y responsables A: [risas] ay B: buena la idea que tiene de ti A: fíjate sí pero eh B: [risas] A: eh Christian él me llamó para acá y me dijo que tú habías hablado con él pero como que estaba me dio la impresión como que parecía que estaba como molesto de que le hablabas mucho de Eddie ¿ah? B: ¿bah? A: pienso yo como que a lo mejor que estaba como medio celoso que le estarían quitando el cariño [risas] B: medio celoso ¿no? B: No no no A: [risas] así es que -B: uno tiene corazón que puede querer a mucha gente A: claro pues claro yo me alegré de que él las vaya a ver y todo eso y que vaya a ver a mis papis todo eso porque B: claro este lunes no vino porque tenían creo que iban a jugar fútbol o una cosa así A: sí B: y y el otro día habían tenido también una una reunión de una reunión de mormones total que no le sacamos ninguna palabra porque dijo que habían sido puras payasadas [risas] y eso fue todo él iba a cantar con otro -A: ah [risas] B: uno que es per- uno que es peruano es decir que la mamá es peruana y él es norteamericano A: ah B: y habla re mal castellano pero malísimo -A: ah B: pero fíjate que tiene una carita como de esos chiquillos bien pobres chilenos oye así A: ¿sí? [risas] B: chiquito negrito y todo eso y cuando lo oigo lo oigo hablar así tan difícil [risas] [[imitating a foreigner]] A: [risas] B: [[risas]] me dio risa y le dije y ese chiquillo por qué habla así porque es norteamericano me dijo A: [risas] B: oye pero Eddie ha progresado mucho en su castellano y sabe hartas A: me imagino me imB: hartas palabras de gente joven oye me da tanta risa -A: ay qué cómico B: porque un día le estaba diciendo yo que ahora que tú le habías mandado los cien dólares él iba a ser multimillonario me dijo ¿dónde la viste? [risas] -A: [risas] B: eso de dónde la viste quiere decir de donde sacaste eso A: Ah [risas] B: [risas] y tiene montones de términos así le encanta decir sí **pú** no **pú** [risas] -A: [risas] ah B: y es tan risueño oye 262 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 A: sí B: pero se ve tan diferente de las fotografías que tú nos has mandado -A: ¿sí? B: porque anda con el pelo tan cortito pero si -A: claro claro por eso B: cortísimo y más encima los días lunes parece que siempre se corta el pelo -A: ah B: dice que así es más cómodo A: [risas] B: [risas] B: anda con el pelo bien cortito A: qué cosa B: pero a mí me da la impresión de que ahí lo quieren harto oye A: ah sí? B: sí y tiene unos unos compañeros y fíjate que yo le dije el otro día que yo tenía un departamento en Viña entonces me dijo pero me encanta Chely eso que sea tan espontáneo me dijo podíamos ir en el verano allá A: [risas] B: el año cuando yo me pueda ir A: [risas] B: ya pues le dije vamos pero tiene que decirlo en serio pues Eddie no no así nomás porque entonces yo pensé que podía invitar B: a a un nieto de Arnoldo ¿te acuerdas de ese Arnoldo primo de nosotros? A: sí B: que se murió A: sí ah B: bueno total que ese chiquillo es un chiquillo encantador -A: ah B: muy caballero muy mira es un chiquillo muy dije y tiene además una virtud que tiene auto y es de esos chiquillos así difíciles de encontrar en Chile que son que trabajan en el día en un banco y en la noche estudia en la tarde así estudia esa cosa como contabilidad no sé qué es la cosa que estudia -A: ya B: y tiene un autito entonces yo pensaba iba a tener una persona más o menos de su edad pues oye A: Claro B: y entonces yo le dije que le preguntara porque tiene que preguntarle al presidente -A: ah B: si acaso el presidente de los mormones -A: sí B: si acaso le pagarían el pasaje de vuelta si él se fuera más tarde porque él se quería quedar unos tres meses más aquí entonces él cada vez le digo yo oye pues Ed- oye pues Eddie y preguntaste no no he preguntado porque no lo he visto falta mucho todavía no pues Eddie es que yo tengo que ordenar las cosas porque yo le tengo que decir a este chiquillo si es que quiere ir a veranear con nosotros pero yo creo que a este chiquillo le gustaría porque con nosotros es bien cariñoso este -A: sí B: este chiquillo que se llama Carlos Ortiz A: sí 263 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 B: y entonces pues ahí más encima dispondríamos de un auto y podríamos conocer hartas cosas de ahí pues oye ¿no es cierto? A: posiblemente que no no no creo yo que le den permiso ah no creo que le den permiso B: ah A: y así como para quedarse tanto tiempo tampoco ah? B: pero que se quedara un mes siquiera -A: posiblemente podría ser una semana o dos semanas o algo así quizás ah? -B: mmm pero -A: pero no creo yo B: ah ojalá que le den pues -A: porque ellos tienen que cumplir una ellos tienen que cumplir un período y es todo es toda una cosa planeada ¿me entiendes Graciela? B: mmm A: porque cuando él él ya termina otro va a ir en su lugar ah? B: ah A: así es que no B: bueno pero la cosa es que lo que quiere él no es seguir de misionero sino que lo que quiere él es sencillamente le paguen el pasaje después el mismo pasaje que le iban a pagar el año anterior eso es lo que quiere él A: ¿cómo dices tú no seguir de misionero? B: no pues es decirA: cuando él cuando él ya acabe su período ¿dices tú? -B: eso A: y entonces quedarse un tiempo ex- quedarse un tiempo extra ¿dices tú? B: entonces (( )) claro quedarse un tiempo extra lo único que le interesa a él es que le paguen el pasaje -A: claro B: entonces tiene que consultar si le pagan el pasaje o no yo no encuentro que no perderían nada si le pagaran el pasaje pues oye A: claro pero no no creo yo fíjate no creo yo que B: ojalá que le resulte A: no creo yo que le B: el parece que tiene ciertas ideas fíjate y en este tiempo la casa está el departamento está arrendado y además en este tiempo allá suele llover y hace frío ha habido temblores y todas esas cosas A: claro sí B: así es que no no vale la pena A: y por qué piensa quedarse él más tiempo? ¿para poder conocer o por qué dice? B: parece que eso es lo que él quiere ¿ah? A: ah conocer darse un paseo B: ah A: sí B: claro porque mira oye viene los lunes en la mañana va a donde Raúl que se debe latear su poco viene aquí que también se debe latear su poco a pesar de que nosotras somos un poco más risueñas que que allá pues y que los pobres están tan así como cabizbajos todo el tiempo -A: sí B: mm y entonces fíjate que a lo mejor se podría dar un viajecito a lo mejor Raulito lo podría invitar que ellos salen de viaje van el año pasado fueron al sur 264 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 a una cantidad de lago y de cosas entonces es lindo eso pues -A: claro claro B: y lo único que tendrían que hacer sería pagarle el pasaje nomás -A: claro quizás pues a lo mejor -B: ¿cuánto vale el pasaje de aquí para allá oye? A: como unos mil doscientos dólares será más o menos -B: ah eso no sé cuanto es en plata chilena ah pero eso tiene que ser mucho en plata chilena A: así es oye -B: oye pero cuéntame de ti A: Eh ¿de mí? B: Mmm A: ah aquí estoy ¿de mí o de Myriam? [risas] B: de ti A: mmm mira siempre cuidando los niñitos B: ¿los tienes ahí? A: ahn? B: ¿los tienes ahí? A: sí están aquí ahora están comiendo así es Myriam B: [risas] A: la Myriam les está dando la comida así es porque a las seis se van B: [risas] A: allá van a ser las siete aquí van a ser las seis ahora en este momento B: ah B: sí A: así es que ahí están comiendo y y bueno cuido siempre a los mismos dos hermanitos que cuidaba antes B: mmm A: pero el más grande ya va a la escuela así es que ese viene nomás por las tardes nomás un rato -B: Ah A: y entonces cuido al chico -B: y el otro que tiene un nombre Calem no sé cuánto se llama -A: el Keylor ah ese es uno ese es un chico que tiene nomás va a cumplir un año y ahoB: mmm oh que es chiquitito A: va a cumplir un año el sábado y y ahora la mamá entonces va a adoptar a otro bebé hermanito de él digamos -B: ah A: que va a nacer ahora que va a nacer ahora esta otra semana A: entonces la la señora esta lo va a adoptar también así es que van a ser hermanitos digamos reales B: mmm ¿este es adoptivo también? A: sí es adoptivo el Keylor es adoptivo B: mmm B: ah A: eh y es un matrimonio joven A: me bien bien dije oye muy buenos mozos ellos B: ah A: el niñito este es bien morenito yo creo que tiene mezclas así como de iraní o algo así ahn 265 386 387 388 389 390 391 392 393 394 395 396 397 398 399 400 401 402 403 404 405 406 407 408 409 410 411 412 413 414 415 416 417 418 419 420 421 422 423 424 425 426 427 428 429 430 431 432 433 434 435 436 B: ah bueno pero tú ¿cómo estás de tu salud? A: más o menos mira hay día que estoy mejor igual que siempre B: pero ¿qué es que te duele? ¿qué te pasa? A: pero siempre tomando todos los remedios y si no no es que los dolores son permanentes me entiendes? no se me desaparecen entonces la única manera es B: pero no tan intenso como antes? A: claro de tenerlo así calladito digamos soportable es tomar un montonal de remedios que tengo que tomar todos los días pues B: que lástima eh pero es mejor que tomes eso que no te de ese dolor tan espantoso A: claro B: oye ¿qué es de Claudio? A: mira está bien ayer ayer B: ¿está muy mormón él? A: sí ahora sí eh echaron él a la iglesia hace un tiempo B: me mandaron decir a Raúl que estaba feliz A: le encanta oye ir a la iglesia B: bueno A: es que mira la gente de aquí de donde nosotros vamos es toda gente muy fina Graciela y no solamente muy educada sino que es toda gente muy buena B: ahn A: son gente tan unida servicial te ayudan qué sé yo todo el mundo está preocupado con los otros los otros que están enfermos tenemos unos comités digamos que nos preocupamos de llevarles comida todas las señoras que tienen guagüita les llevamos comida para que no tengan que estar preocupadas porque es que aquí no tenemos empleados Graciela B: claro A: entonces uno mira todo el mundo se ayuda es tan lindo B: que lindo que estés metida en eso A: es tan bonito que entonces B: y claudio ya ha cambiado entonces A: mucho han cambiado les falta mucho que recorrer todavía pero han cambiado esto ya no ven la vida del signo peso nomás como veían antes pues han cambiado mucho ahora ellos se dan cuenta de muchos errores que cometieron ellos mismos al enseñar a sus niños B: ¿lo dicen? A: ¿ahn? B: ¿dicen eso? A: sí claro a mí me lo dicen pues B: ah que bueno A: sí y y han cambiado muchísimo sí claro que es un largo camino porque no es fácil cambiar de un día para el otro B: claro oye y la hi y la hija de Claudio ¿que está estudiando? A: la Elisabeth? bueno la Elisabeth acaba de terminar el Liceo recién se acaba de graduar ahn B: ah A: así que ahora va a estar de vacaciones de verano que aquí es verano ahora B: ah A: ahora aquí los chicos salieron a vacaciones de verano B: ah A: entonces ya no comienzan la escuela otra vez hasta septiembre 266 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 447 448 449 450 451 452 453 454 455 456 457 458 459 460 461 462 463 464 465 466 467 468 469 470 471 472 473 474 475 B: ¿(( )) de vacaciones? A: claro todos salieron de vacaciones aquí así que entonces ella va a ir al coles B: ¿qué va a estudiar? A: mira los primeros años son todos así comunes digamos B: ahn A: entonces ahí tienen la oportunidad que les muestran todo lo que pueden estudiar ¿me entiendes? B: es bueno esto A: si es bien bueno B: oye ¿cómo está margari? A: margarita está bien ella está cui a ella cuida a la Candis vive con ella ahora B: sí sí supe esto A: sí supiste A: el otro día fue una llamada de Lindsay entonces hice unas fotos que te voy a mandar Grasiela B: ay qué bueno A: para que puedas ver ahí a la Candis y a la Sandis para que puedas ver a las Fotos B: que bueno A: así que te explico más en la carta te escribí el otro día porque le mandé una tarjeta a la nena como va a estar de cumpleaños entonces le escribí pero B: claro A: ahora como dices tú que me mandaste una carta entonces y ahora te la voy a contestar B: yo saqué las cuentas de cinco días y pensaba que la ibas a recibir hoy A: oye Graciela pregúntale a Andrés si él recibió yo le mandé un paquete como un B: me dijo que le había llegado un paquete A: ah sí? B: porque a veces hablamos por teléfono A: ah? B: entonces me dijo que le había llegado un paquete pero ¿que cosa eran oye? A: bueno B: ah dice que le llegó un librito y que eran pura bromas de los misioneros A: ah sí B: y que me lo iba a traer para que yo lo viera A: es que siempre le ando mirando por cosita así para alegrarlo un poco para que no se sienta tan solo A: y le mandé así una polera gruesa 267 Gravação 4 – Homens – Santiago do Chile 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 A: ahora tengo que decir yo que doy permiso para que esta llamada sea grabada tú también tienes que decir lo mismo B: doy permiso para que esta llamada sea grabada A: ya ahora empezamos A: eh recibí tu mensaje ayer ¿te dieron (( ))? B: sí A: ¿ahn? B: ¿cómo? A: que recibí tu mensaje ayer B: ¿ya leí los mails? A: sí B: ayer me dieron una cuenta o sea el lunes A: ya B: no miento el lunes traté ayer eh me habilitaron la cuenta en la mañana A: ya ya ya B: y tú te mandaste un mail en mayo a un señor que se llama Esteban Álvarez A: Álvarez ya B: ya él es el jefe de computación de la escuela A: ya B: él recién la vio el lunes A: tutaro puta bueno que es flojo ¿eh? ¿por qué no lo había visto antes? B: porque según él tenía malo el terminal no sé que cuestiones el pc no sé que cuestiones tenia A: igual que tu amigo de Maturana también hice un finger yo y él que no abre su mail desde el 15 de agosto que no lo abre B: hum hum A: o sea que los mensajes que nos mandamos la otra vez después ya no lo vieron más B: claro seguramente A: ya ya y yo traté de contestarte pero como tú me decís no se puede tú no puedes recibir mensajes B: ¿mails? A: no B: ¿no? A: no así es que que sé seeee / yo le mandé B: estoy seguro que sí se puede o no ah porque yo traté de hacer un doc y no pasó nada B: no no no A: y el mail tampoco no llevó ningún mail yo no sé si tú mandaste algún mail A: sí yo te mandé pero se me devuelve para acá porque resulta que tu maqu- la máquina donde estái conectado tú eh… después del signo arroba de portales esa máquina no está registrada con el reuna el reuna es el que le da servicio a ustedes parece ¿no? B: sí A: conoces el reuna tú ¿no? B: algo algo algo A: de una de una como se llama de un consorcio de universidades que se formó en el año noventa parece una cuestión así y después empezaron a dar servicio se formaron comercialmente y empezaron a dar servicio todas las universidades 268 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 privadas ahora están con ellos B: claro eso es lo que tenía entendido A: ya entonces pa- pa- tienen que registrarse parece que estos gallos no se han registrado y por eso que mi com- las computadores de acá de fuera no los reconocen yo creo que incluso dentro de Chile que no sean internos de la Portales no los reconocen A: así que yo le mandé por ejemplo a este Álvarez le mandé después que me mandaste tú le mandé a él un mensaje -B: ayer A: diciéndole que había recibido ayer claro B: ya A: después que tú me mandaste que había recibido tu mensaje pero que no podía contestarte así que por favor te mandara un mensaje interno avisándote ¿no recibiste nada así? B: no A: le mandé a varios gallos le mandé uno al gallo de Reúna también y le mandé otro al Rutz de de la Portales así que a lo mejor hoy día te van pero los gallos esos parece que no se conectan nunca pues oh así es que no -B: yo tengo entendido que que el administrador porque el administrador primero se sentó y mandó un mensaje y al parecer parece que lo mandó a la jota ocho tres A: ya A: sí si yo hablé yo le mandé un mensaje al tres y me lo mandó y luego luego -B: y claro y lo mandó el administrador -A: ya ya ya ya B: porque estaba parece no sé qué le pasó parece que estaba sin lentes no veía los números y estaba como vieja tecleando y después lo corrigió pues -A: ya te digo recibí otro también del de un administrador parece que fue pero venía en blanco con tres líneas en blanco B: ah claro A: claro B: es que estaban probando porque ni ellos saben si está bien porque tienen ese problema de configuración A: ya A: ya ya ya yo le contesté y bueno el mensaje me rebotó se me dio vuelta para acá se devolvió porque no encontró el -B: y no sé me dijo hay un compañero que trabaja allá arriba también que me dijo si yo te doy el paso -B: eh tú puedes hacer un un ¿cómo me dijo? entrar al del de Portales al servidor y después -A: ya claro B: de adentro -A: ya me conecto como tú -B: claro A: claro pero tampoco lo reconoce eso lo hice yo el comando es un Telnet parece -B: claro un telnet A: claro pero no se puede porque no lo reconoce porque no está registrada la máquina de ustedes A: no lo no lo no se reconoce B: ¿no está registrada en Reúna? A: en Reúna claro así que eso es lo que porque el Reúna tiene que poner al día 269 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 los archivos son todos estos son archivos los que hay entonces cuando el computador tiene que ponerse en contacto con otra máquina distante empieza a buscar a buscar a buscar y ahí tiene que estar registrado con esos archivos si no está registrado no no hace la conexión pues B: sí yo ayer me estuve metiendo a FreeNet A: ¿a cuál FreeNet te metís tú? B: al a la tuya pues a la a la dirección que tú me diste -A: ¿cómo te metiste? B: con un Telnet A: ya B: un Open A: ya B: el Open primero A: ah entonces métete en la cuenta mía po tú te anota tú te sabei ya el el A J ocho ocho dos qué sé yo arroba FreeNet FreeNet Carleton -B: arroba Carleton FreeNet punto Carleton punto C A -A: ya el password es lulito dos -B: ¿cuánto? A: lulito dos B: ya ya A: ya así que te metí ahí nomás y eh tú mandaste tu password de tu cuenta al gallo este de la ocho ocho tres así es que -B: no si lo cambié po -A: ah ¿lo cambiaste? ¿cuándo? ¿ayer? B: sí ayer pues ayer mismo porque me di cuenta que este gallo la mandó mal A: ah ya ya ya así que claro eso te iba a decir yo [background speech] por si ese gallo se puede por -- pero como te digo la máquina de ustedes no está accesible de afuera de fuera de la Portales así que -B: no lo cambié en el momento A: ya porque ustedes no han recibido nada de mensajes de afuera ¿no? ¿alguien ha recibido recibe mensajes de afuera o no? B: eh no pues al parecer no no tengo idea realmente no sé pues A: no (( )) no eso no se puede ya está pues B: yo voy a tratar de comunicarme con un amigo de la Chile ahora así -A: ya a ver si se puede B: y me tira algo para acá pues A: ya A: porque eso también sería la otra si tú te puedes comunicar con ese de la Chile y de ahí de la Chile salir para acá para fuera B: ah claro A: claro con quién es con el Maturana o con otro B: claro pero el Maturana el Maturana tiene hartas cuentas que le han dado los Jáquer A: puta el huevón este ya B: tiene tiene varias cuentas A: chuta y no usa ninguna ¿o usa alguna? B: no yo lo llamé ayer para decirle pero estaba durmiendo porque se quedó toda la noche estudiando -A: chitas B: ayer en la tarde estaba durmiendo po -A: ya 270 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 B: {throat clear} A: puta madre ya -B: y entonces hay un par de cuentas que debe tener desocupadas pues A: podías usar tú pero de ahí de tu escuela ¿te podei meter a alguna de la Chile? B: no sé ayer me traté de meter pero no no me acordaba del del del servidor pues es Araucaria punto punto sec parece -A: eh espérate a ver (( )) **tutututú** Araucaria no -B: Araucaria punto sec punto U C H punto C L A: claro parece que es así -B: ¿eso es? A: parece que sí no lo tengo aquí a mano espérate a ver estoy buscando **tututututú** chuta madre espérate déjame buscar aquí en esta otra libreta -B: [noise] A: aquí está ya Araucaria sec U Chile C L B: ¿U Chile? A: sí U Chile B: ¿o U C H? A: no U Chile B: a ver Araucaria -A: Sec -B: sec -A: U Chile -B: U Chile -A: C L -B: C L ahí está pues voy a ver si ahora puedo A: ya A: okey y ¿cómo están allá en la casa? B: bien A: sí ¿todos bien? ¿la Claudia está durmi-? B: sí todos bien ¿ah? A: ¿está dur- está durmiendo la Claudia? B: no la Claudia se partió al colegio A: ah ya se fue ya chúpala ¿a qué hora entra? B: sí pues a las ocho A: ah la máquina y tú ¿estái durmiendo? B: no yo ya iba saliendo yo estaba justo terminando de tomar desayuno A: ah ¿sí? chúpala B: sí A: ah ya ¿tení clases temprano ahí? B: sí A: ya y ¿cómo te ha ido? B: bien A: ya B: bien A: ya y ¿para cuándo te graduai? B: no sé pues A: chuta B: ah a todo esto a todo esto llamó ayer José -A: Ah el France -B: Sí cómo Pacheco -- 271 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 A: Pacheco ah ¿llamó? B: Pacheco sí A: ah ¿sí? B: ayer lo llamé anoche A: ya ya está y podéi pasar por ahí por la -- ¿está trabajando ya o no? yo creo que sí ah B: eh no me me dijo que fuera a la casa -A: Ah a la casa B: porque la está arreglando y -A: ah ya B: me dijo que a cualquier hora podía ir -A: ya ya ya pero ¿te conviene ir allá a la casa? está re lejos parece que está para arriba para La Reina -B: queda al otro lado del mundo -A: está para arriba para La Reina parece está (( )) B: sí al final al final -A: chuta ¿qué vai a hacer? ¿vai a esperar que vuelva a trabajar o no? B: eh no voy a ir me voy a pegar un pique no sé pues uno de estos días le voy a decir a un compañero que -A: ya B: que me deje cerca uno que ande en auto que me tire -A: ya B: me deje cerca y después me vuelvo en micro si -A: ya porque yo te estoy mandando -B: la vieja no -- ¿ah? A: ¿ah? porque yo te estoy mandando el cheque ahora junté dos cheques ahora te lo estoy mandando esta tarde -B: ya A: y ahí te estaba explicando queee de los discos de la agenda que te digo yo electrónica del playboy eh -B: mmm A: como se llama el primer disco parece que está corrupto B: y ¿hay que limpiarlo? A: eh no eh tiene que haber en el primer disco tiene que haber archivos con extensión X C o extensión T X T -B: ya cómo texto A: texto de T X T y parece que todos están con punto cómo se llama esta rayita de subrayado -A: y otras dos letras o sea que parece que se substituyeron esos archivos de alguna manera -A: así que si tú no tení archivo échale una mirada al disco uno sobre todo si no tení eh porque tení que empezarlo a instalar con el disco uno eh si no tení archivo X C quiere decir que te lo voy a tener que mandar de nuevo -B: nmm B: ya A: ya o si no échale una mirada o que le dé una mirada el guatón porque el mismo juego de discos se los dí al guatón al José Pacheco B: y ¿tendrá computador? A: parece que no tiene el gua- no sé si tendrá en la bega pero puedes decirle tú que te los preste para echarle una miradita si es que los tuyos están malos no sé po porque no creo que tenga en la casa (( )) así que pues eso nomás y les mandé 272 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 también otro paquetito de sorpresa para ustedes B: ya una cámara me dijo también que venía me dijo este gallo -A: ah te dijo el guatón puta el guatón sapo el guatón B: sí [risas] A: le dije al huevón que era sorpresa (( )) [risas] puta el huevón metió las patas el guatón ya ya ojalá que les guste les sirva -B: ya A: y para que me manden alguna fotita para eso se las estoy mandando la chiva de que todavía está el rollo adentro -B: mmm [noise] A: ¿sacaron el rollo al final? B: sí (( )) [[distortion]] sí parece que lo sacaron -A: puta y -- y ¿cómo estaba? ¿está bueno o no? B: no sé yo realmente no lo he visto -A: chúpala y ahí habían fotos de aquí de Canadá poB: sí no sé debe estar el rollo por ahí no no no creo que las hayan mandado a revelar todavía -A: por Dios ya B: es que ya es un robo sacar fotos aquí -A: ¿ah? B: es un robo ya la cuestión de las fotos aquí A: sí ¿por qué? ¿cobran muy caro? B: oye el carísimo el revelado es carísimo A: ¿así es? A: pobre pueden mándalas para acá yo creo que se -velan si le pasan por la aduana B: claro con mucha radiación A: claro porque todos están pasando todos por los rayos x B: sí radiación queda manchado A: ¿ahn? B: queda manchado A: claro ya está bueno ¿qué otra cosa más te iba a decir? ¿les llegó el cheque? ¿el sobre con dos cheques? B: sí llegó uno con dos cheques hace un tiempo A: ya sí po ya hace unas tres semanas como máximo B: más o menos un mes A: ya está como te digo te estoy mandando hoy día ese cheque B: ya A: así que una semana más ya está llegando para allá ya está ¿qué más tenía que decirte yo? A: ya bueno en caso de que te podei conectar tú me bueno aquí a la free net de aquí B: ya cuando yo trate de meterme allá yo hago un tel net open y hago el después open free net punto carleton A: bueno para ahorrarte un a mí pa ahorrarte el paso del open two le poní el tel net y el número del o sea el nombre del domain que le llamamos aquí en inglés B: tel net free net A: que es el nombre después del signo arroba entonces le poní tel A: tel net free net B: le poní tel net free net punto carleton punto cl 273 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 342 343 344 345 346 A: sí A: ahí te ahorrai el open toda esa bosta B: ahí me va a pedir el (( )) A: ahí se va a conectar claro te va a decir trying que sé yo está llamando B: sí A: y después hasta que te salga el login en el login le entrai ehh la j B: después me pide el password también A: después le metí el password claro B: ya A: ya y a ver si te funciona esa bosta B: mmm A: ¿anotaste todo eso? B: sí A: sí ya ya está B: sí A: ok ¿qué hora es ya? ¿la ocho y media? ocho y veinticinco B: las ocho y veinticinco A: ya ¿a qué hora entrai a la clase? B: a las ocho A: chuta madre o sea que estai un poco atrasado B: sí hoy entraba a las sí si tú me llamaste eran las ocho cinco ¿cierto? claro cinco ocho diez A: sí B: y yo yo no parto a esa hora porque nadie ningún profesor llega a esa hora temprano a las ocho siempre llegan ocho media nueve A: andan todos con la misma ley A: [risas] B: ¿ah? A: andan todos al mismo paso B: sí A: y ¿dónde tenei clases tú? B: ehh A: ehh ¿estai en el república? B: en el ejército A: ¿ah? B: en el ejército en ejército A: ya ya ya B: (( )) A: ¿cuántos micros te tomai? ¿uno nomás? B: un micro y un metro A: ah y te tomai después el metro ¿ya? B: sí porque son como cuatro cuadras de lo de la avenida estoy a cuatro cuadras 274