PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração Mestrado Profissional em Administração RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: o discurso e a prática na negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores Daniela Gomes Molica Belo Horizonte 2006 Daniela Gomes Molica RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: o discurso e a prática na negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração do Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre. Orientador: Prof. Dr. Antônio Moreira de Carvalho Neto Belo Horizonte 2006 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais M721r Molica, Daniela Gomes Responsabilidade social empresarial : o discurso e a prática na negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores / Daniela Gomes Molica– Belo Horizonte, 2006. 156f. Orientador: Antônio Moreira de Carvalho Neto Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração Bibliografia. 1. Responsabilidade social da empresa. 2. Negociação coletiva de trabalho. 3. Sindicalismo. 4. Sindicatos – Dirigentes e empregados I. Carvalho Neto, Antônio Moreira de. II. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título. CDU: 301.188.1 A Ana Luiza, minha filha. AGRADECIMENTOS Este trabalho não só é parte da minha experiência de vida, mas também fruto da colaboração, direta ou indireta, de muitas pessoas que, em diferentes momentos, ofereceram apoio e compartilharam das minhas reflexões. A elas, meus agradecimentos. Primeiramente, aos meus pais, Elmo Molica e Maria Francisca Gomes Molica, que me ensinaram a viver com dignidade, a conhecer o mundo e a respeitar o próximo. Que, apesar das dificuldades, sempre fizeram da minha instrução uma prioridade, muitas vezes, renunciando a seus sonhos para que eu pudesse realizar os meus. Em especial, aos meus irmãos, Juliana Gomes Molica e Elmo Molica Júnior, que sempre me encheram de força e vibraram com minhas conquistas. Ao Prof. Dr. Antônio Carvalho Neto, pela competência, pela orientação dinâmica, tranqüila e eficiente na condução da minha dissertação. A convivência com o meu criterioso orientador só fez aumentar a minha admiração, por ter permitido que eu me beneficiasse dos seus conhecimentos teóricos. Devo a ele, não só a orientação desta dissertação, mas, também, o apoio em um momento delicado na minha vida. E, principalmente, a Deus por ter me protegido e guiado durante toda a minha caminhada. E, também, por ter colocado em minha vida uma família maravilhosa e pessoas cheias de luz que me conduziram quando mais delas precisei. RESUMO Visto que o movimento empresarial em torno da responsabilidade social apresenta-se como uma oportunidade para a conquista e/ou consolidação de direitos coletivos, o presente trabalho tem o foco, verificar se os sindicatos dos trabalhadores e os sindicatos dos empregadores/empresas estão incorporando o discurso da Responsabilidade Social Empresarial- RSE- na negociação coletiva, em relação ao público interno. Foram realizados estudos sobre três negociações coletivas recentes. A amostra selecionada correspondeu a duas empresas, três sindicatos de trabalhadores e a um sindicato de empregadores dentre os mais atuantes da região metropolitana de Belo Horizonte, no tocante às ações sindicais. Constituiuse em uma pesquisa de estudo de casos múltiplos, centrada em técnicas qualitativas, de natureza descritiva Os dados coletados foram interpretados mediante a análise documental e entrevistas semi-estruturadas, o que permitiu inferir a avaliação do universo de significações dos entrevistados. Os resultados da pesquisa, que utilizou como variáveis de análise os indicadores definidos pelo Instituto Ethos para o relacionamento com o público interno, indicam que as empresas e sindicatos pesquisados não relacionaram nenhum dos temas reivindicados, negociados e /ou acordados com os indicadores Ethos de RSE, ainda que muitas cláusulas se constituíssem em indicadores de RSE, embora não entendido ainda como tal pelos dois lados. Portanto, diante do objetivo geral desta dissertação de verificar como a negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores está refletindo o discurso da RSE no tocante ao público interno, conclui-se que as empresas pesquisadas, embora relativamente afinadas com o discurso da RSE, não se perceberam como partes integrantes do mesmo. Palavras chave: responsabilidade social empresarial, negociação coletiva, sindicalismo de empregadores, sindicalismo de trabalhadores. ABSTRACT Since the corporate movement related to social responsibility presents itself as an opportunity for conquering and/or consolidating collective rights, the present work has the purpose of verifying whether the workers’ unions and the employers/companies unions are incorporating the CSR discourse into the collective bargaining, concerning the internal public. Studies on three recent collective bargaining negotiations were undertaken. The selected sample has corresponded to two companies, three workers’ unions, and one employees’ union, among the most active ones, concerning union actions, in the metropolitan region of Belo Horizonte. A multiple case study research, centered in qualitative techniques, of descriptive nature was conducted. The collected data were interpreted by means of a documental analysis and semistructured interviews, which has allowed inferring the evaluation of the interviewees’ universe of significations. The results of our research, which has used as analysis variables the indicators established by the Ethos Institute for the relationship with the internal public, indicate that the companies and unions studied have not related any of the revindicated, negotiated and /or agreed themes to the Ethos indicators of CSR, though many clauses were indicators of CSR, but not yet understood as such by both sides. Therefore, in line with the general purpose of the present dissertation, that is, verifying how the collective bargaining between employees and employers is reflecting the Corporate Social Responsibility (CSR) discourse, concerning the internal public, it can be concluded that the studied companies, though relatively tuned with the RSE discourse, have not perceived themselves as an integrating part of it. The research has also indicated that the main dilemma was the difference between discourse and practice, among the collective social actors, by means of document analysis and interviews, concerning the internal public. Key words: Corporate Social Responsibility, collective bargaining, employees unionism, workers unionism. LISTA DE SIGLAS 1. RSE Responsabilidade Social Empresarial 2. IBASE Instituto Brasileiro de Análises Socioeconômicas 3. GIFE Grupo de Instituições, Fundações e Empresas 4. OIT Organização Internacional do Trabalho 5. IEDI Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial 6. PME Pequenas e Médias Empresas 7. OIE Organização Internacional de Empregadores 8. PNBE Pensamento Nacional das Bases Empresariais 9. UBE União Brasileira de Empresários 10. CDI Conselho de Desenvolvimento Industrial 11. CPA Conselho de Política Aduaneira 12. CACEX Carteira de Comércio Exterior 13. CMN Conselho Monetário Nacional 14. CDE Conselho de Desenvolvimento Econômico 15. CIP Conselho de Interministerial de Preços 16. UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância 17. ECA Estatuto da Criança e Adolescente 18. IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 19. PLR Participação nos Lucros e Resultados 20. QVT Qualidade de Vida no Trabalho 21. LER Lesões por Esforços Repetitivos 22. DORT Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho 23. CUT Central Única de Trabalhadores 24. PCCS Plano de Carreiras, Cargos e Salários. 25. PPA Programa de Preparação para a Aposentadoria 26. CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 27. ONU Organização das Nações Unidas 28. DATAPREV Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 11 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................... 16 2.1 As transformações no mundo do trabalho....................................... 16 2.1.1 A reestruturação produtiva e suas conseqüências para o Brasil........ 20 2.2 O sindicalismo na Europa.................................................................. 21 2.2.1 A Crise internacional do sindicalismo............................................... 25 2.2. Algumas considerações sobre a legislação que rege as negociações coletivas no Brasil................................................................................ 29 2. 3 O movimento sindical dos trabalhadores no Brasil.............................. 32 2.3.1 A crise de representatividade do sindicalismo dos trabalhadores no Brasil................................................................................................ 38 2.4 As organizações sindicais de empregadores no plano internacional..... 41 2.4.1 Estrutura de representação dos interesses empresariais Brasileiros: caracterização e trajetória............................................................................ 46 2.5 Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e o público interno.. 51 2.5.1 Responsabilidade Social Empresarial interna e externa..................... 51 2.5.2 Indicadores de RSE relativos ao público interno................................ 55 2.5.2.1 Relações com sindicatos.................................................................. 57 2.5.2.2 Gestão participativa.........................................................................58 2.5.2.3 Compromisso com o futuro das crianças........................................ 59 2.5.2.4 Valorização da diversidade............................................................. 60 2.5.2.5 Relações com trabalhadores terceirizados..................................... 62 2.5.2.6 Política de remuneração, benefício e carreira............................... 64 2.5.2.7 Cuidados com saúde, segurança e condições de trabalho.............. 66 2.5.2.8 Compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade......................................................................... 68 2.5.2.9 Comportamento frente às demissões............................................... 69 2.5.2.10 Preparação para a aposentadoria................................................. 72 3 METODOLOGIA DA PESQUISA....................................................... 74 3.1 Tipo de pesquisa................................................................................... 74 3.2 Unidades Empíricas de análises.......................................................... 75 3.3 Caracterização das Unidades de Análises..........................................75 3.4 Técnica e instrumentos de coleta de dados........................................ 79 3.5 Caracterização dos entrevistados....................................................... 82 3.6 Análise dos dados................................................................................. 83 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................................... 84 4.1 Relações empresas-sindicatos............................................................. 84 4.2 Gestão participativa............................................................................ 90 4.3 Compromisso com o futuro das crianças.......................................... 91 4.4 Valorização da diversidade................................................................. 93 4.5 Relação com os trabalhadores terceirizados..................................... 98 4.6 Política de remuneração, benefícios e carreira................................. 102 4.7 Cuidado com a saúde, segurança e condições de trabalho............... 107 4.8 Compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade.................................................................................. 111 4.9 Comportamento frente às demissões..................................................115 4.10 Preparação para a aposentadoria.....................................................119 Quadro II - Análise das Convenções e Acordos Coletivos x Reivindicações dos Sindicatos de Trabalhadores...................... 123 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................140 REFERÊNCIAS........................................................................................... 146 APÊNDICE................................................................................................. 156 LISTA DE QUADROS Quadro I-Caracterização dos entrevistados............................................................. 82 Quadro II - Análise das Convenções e Acordos Coletivos x Reivindicações dos Sindicatos de Trabalhadores...................................................................................123 11 1 INTRODUÇÃO As mudanças no campo econômico e político das últimas décadas têm repercutido na sociedade em geral e no mundo do trabalho em particular, caracterizando um contexto de crise do trabalho assalariado e da representação sindical dos trabalhadores. No campo social, os problemas como a pobreza, a violência, o desemprego e a exclusão social têm se agravado, sendo que as formas tradicionais de lidar com eles vêm se mostrando ineficazes. As entidades sindicais, como atores sociais coletivos, exercem um papel de representação, tanto de trabalhadores, quanto de empregadores, e um compromisso no processo de desenvolvimento de ações que contribuem para a eliminação das desigualdades de oportunidade e as injustiças nas relações de trabalho, tendo, portanto, papel importante nesse contexto. Fruto desse cenário e em paralelo com o enfraquecimento do Estado, tem-se percebido um repensar de papéis de vários atores sociais, com o fortalecimento do chamado Terceiro Setor e também com um maior protagonismo do segundo setor, haja vista o crescimento do movimento da Responsabilidade Social Empresarial - RSE. A RSE, segundo conceito adotado pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, é uma forma de gestão empresarial que envolve a ética em todas as atitudes. Significa fazer todas as atividades da empresa e promover todas as relações – com seus funcionários, fornecedores, clientes, com o mercado, com o governo, com o meio ambiente e com a comunidade – de uma forma socialmente responsável. (ETHOS, 2005). No Brasil, o tema RSE tem se tornado mais presente, tomando corpo por meio de instituições, fundações, entidades e outras formas de organização que o promovem, demonstrando maior disposição das empresas para o desenvolvimento de ações sociais sem finalidade de lucro. Com atuação mais marcante, podem-se citar os trabalhos da Fundação 12 Abrinq pelos Direitos da Criança, do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, do Instituto Brasileiro de Análises Socioeconômicas – IBASE - e do Grupo de Instituições, Fundações e Empresas-GIFE. Uma das dimensões da RSE diz respeito ao público interno, ou seja, aos trabalhadores da empresa. Como base para a pesquisa que norteou esta dissertação, usaram-se os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, um dos instrumentos criados pelo Instituto Ethos para a avaliação da RSE. O objetivo geral desta dissertação é verificar como a negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores está refletindo o discurso da RSE no tocante ao público interno. Os objetivos específicos incluem: analisar as pautas de reivindicações mais recentes de três categorias profissionais das mais atuantes, verificando se elas refletem o discurso da RSE; analisar os acordos coletivos e/ou convenções coletivas mais recentes dessas três categorias profissionais, verificando se os mesmos contêm cláusulas que contemplem os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno; no caso de haver cláusulas nos acordos, convenções e/ou pautas que contemplem os indicadores, analisa-se a visão dos dirigentes sindicais e empresariais sobre sua percepção a respeito da relação existente ou não entre essas cláusulas e os indicadores de responsabilidade social empresarial para o público interno; no caso de não haver cláusulas, estuda-se a visão dos dirigentes sindicais e empresariais sobre a razão de não existirem indicadores de RSE nos acordos coletivos, convenções coletivas e/ou nas pautas de reivindicação. O problema de pesquisa situa-se no campo de estudo das relações de trabalho. A pesquisa teve como foco a ação sindical de trabalhadores e empregadores relativa à negociação coletiva. Visto que o movimento empresarial em torno da responsabilidade social 13 apresenta-se como uma oportunidade para a conquista e/ou consolidação de direitos coletivos, o problema de pesquisa é o seguinte: como os sindicatos dos trabalhadores e os sindicatos dos empregadores/empresas estão incorporando o discurso da RSE na negociação coletiva, em relação ao público interno? Dada a relevância do tema responsabilidade social no meio empresarial, o que se reflete na produção acadêmica mais recente, a RSE deixou de ser uma opção para se tornar, até mesmo, um componente estratégico na política de algumas das maiores empresas. Tal tendência vem se delineando substancialmente nos últimos anos e desafia as grandes empresas a adotarem uma postura não focada somente nos objetivos econômicos da organização, evitando que a imagem e os valores das empresas sejam confundidos como simples propaganda, viabilizando uma postura cidadã integrada ao processo de desenvolvimento social do País. Em consonância com a idéia acima, portanto, justifica-se investigar esse tema pela significância que a RSE vem adquirindo no campo não só da administração como no das ciências sociais. O campo da chamada gestão social é um campo ainda novo para as ações do empresariado, se se considerar a RSE não como filantropia empresarial, pois ela vai mais além que o simples ato de assistencialismo. Desse modo, é oportuno explorar qual a percepção dos atores sociais coletivos que representam os trabalhadores e empregadores sobre o tema da RSE em relação ao seu público interno. O público interno - os trabalhadores da empresa - é de vital importância para a organização, mas ainda são escassos os estudos nesse sentido. (PENA et al., 2005). É ainda um assunto pouco explorado nas discussões sobre a postura ética da empresa, visto que grande parte da atenção dos estudiosos volta-se para as ações sociais empresariais, ou seja, 14 para os projetos sociais externos à empresa, para fora da organização e, não também, para dentro da mesma. Analisar a visão da representação coletiva dos trabalhadores e empregadores vis-à-vis da RSE com o público interno reveste-se de importância, visto que a relação sindicato dos trabalhadores-empresa é um dos indicadores utilizados pelo instituto Ethos e por organismos internacionais como a Organização Internacional do Trabalho – OIT - e a Agenda Global Compact da Organização das Nações Unidas - ONU. Outro aspecto que justifica a relevância desta pesquisa é investigar sobre o sindicalismo dos empregadores, um tema pouco explorado, visto que a grande maioria das pesquisas são desenvolvidas em função dos sindicatos que representam os trabalhadores. Nesse sentido, a proposta de pesquisa vem cobrir uma importante lacuna nesse campo de investigação, no campo das relações de trabalho. Importa, ainda, que a administração como campo de conhecimento do gestor nas relações de trabalho no âmbito das organizações continue a investigar a temática sindical, conteúdo de grande relevância para os estudos organizacionais. (SARSUR et al., 2005). Diante desse quadro que demanda muito dos atores sociais coletivos, a presente pesquisa busca contribuir para avaliar como a temática RSE tem sido percebida pelos representantes sindicais de trabalhadores e empregadores. O capítulo da fundamentação teórica está dividido em três partes. A primeira apresenta algumas considerações teóricas acerca da crise do fordismo e a conseqüência do processo de reestruturação produtiva, particularizando as mudanças que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. A segunda aborda o Sindicalismo no mundo e no Brasil, caracterizando o sindicato dos trabalhadores e o sindicato dos empregadores e a crise de representatividade de ambos. Por último, apresenta-se conceitos da RSE externa e interna e discutem-se os indicadores Ethos de RSE em relação ao público interno. 15 A pesquisa é um estudo de casos múltiplos, centrada em técnicas qualitativas, de natureza descritiva. As unidades de análise correspondem a três sindicatos de trabalhadores (SINDICATO A, SINDICATO B e SINDICATO C), um sindicato de empregadores que negocia com o Sindicato C e duas grandes empresas (A e B), que negociam diretamente com os Sindicatos dos Trabalhadores A e B. Foram realizadas entrevistas com os três principais digirentes dos sindicatos dos trabalhadores e dois do sindicato de empregadores. No caso das empresas, foram entrevistados dois diretores de relações trabalhistas e gestores de recursos humanos. O universo de entrevistas correspondeu a 15 pessoas. A análise documental foi feita via acordos, convenções coletivas e as pautas de reivindicação mais recentes, jornais, sites, boletins, e outros tipos de publicações dos sindicatos dos trabalhadores, empresários e empresas. Os resultados permitem apontar que as empresas e sindicatos pesquisados, embora relativamente afinados com o discurso da RSE, não relacionaram nenhum dos temas reivindicados, negociados e /ou acordados com os indicadores Ethos de RSE, no tocante ao público interno. A pesquisa conclui, também, que a temática da RSE ainda está predominantemente associada a projetos sociais externos à empresa ou que visam a comunidade impactada direta ou indiretamente pela ação da empresa. 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 As transformações no mundo do trabalho Neste tópico buscou-se compreender, a partir do resgate das circunstâncias históricas que engendraram a crise do sistema fordista, o modo como a reestruturação produtiva foi adquirindo forma e conteúdo no interior de um novo modelo de acumulação flexível, particularizando as mudanças que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. Em seguida, será abordado o sindicalismo no mundo e no Brasil, caracterizando o sindicalismo dos trabalhadores dos empregadores e sua crise de representatividade. Por último, apresentam-se conceitos da RSE externa e interna e os indicadores Ethos de RSE em relação ao público interno. Na década de 1920, entra em cena o então novo modelo de desenvolvimento fordista, baseado na produção em massa de mercadorias, que se estruturava a partir de uma produção mais homogeneizada e enormemente verticalizada. (ANTUNES, 1999). Tal modelo apresentava os seguintes atributos: adotava princípios tayloristas como paradigma industrial; oligopolização de preços entre firmas; determinação de salários e níveis de consumo por meio de um sistema complexo de instituições tripartites formadas por empregadores, empregados e agências governamentais. (KUMAR, 1997). Segundo Carvalho Neto (2001), durante os anos 1950 e 1960, de grande expansão econômica sob o modelo fordista de regulação, implantado no pós-guerra pelos E.U.A no Japão e Europa, realizou-se o círculo virtuoso de investimentos, expansão da produção, pleno emprego, aumento da produtividade, aumento real de salários, consumo de massa, ganhos de escala e novos investimentos. 17 Como pontua Harvey (2000), o fordismo se caracterizou pela sua rigidez, que se expressava numa participação intensiva do Estado na regulação econômica, imobilizando capitais e subsídios na produção, na constituição do chamado Estado de Bem-Estar Social, com generoso sistema de previdência social (Welfare State), na participação ativa na negociação coletiva entre capital-trabalho. A partir da década de 1960, o fordismo começou a dar seus primeiros sinais de esgotamento. A produtividade começou a diminuir, bem como a lucratividade das empresas, ocorrendo queda da taxa de acumulação. (LIPIETZ e LEBORGNE, 1988). Segundo Carvalho Neto (2001), a crise do sistema fordista está associada ao rápido crescimento industrial das décadas de 1960 e 1970, a um crescente endividamento das famílias, empresas e governo americano, em efeito cumulativo e, assim, elevando os custos financeiros das empresas, induzindo o repasse de preços nos setores oligopolizados, formadores de preços em escala internacional. Os choques do petróleo (1971 e 1973) aumentaram a crise ainda mais. Gorender (1997) elenca os seguintes sinais do esgotamento do modelo fordista: desmotivação dos operários (altos índices de abandono do trabalho, de rotatividade e absenteísmo); uma grande quantidade de produtos defeituosos, a exigir uma considerável estrutura de reparo; grandes estoques, demandando ampliações crescentes de espaço e despesas de armazenagem; um longo tempo de preparação das máquinas para produção de um novo produto; inadequação do aparato fordista às inovações tecnológicas e a invasão do mercado americano de produtos japoneses, ameaçando a hegemonia norte-americana e européia. Realizava-se, então, uma interação entre elementos constitutivos da crise capitalista, que impossibilitavam a permanência do ciclo expansionista do capital, vigente desde o pósguerra. O esgotamento econômico do ciclo de acumulação coincidiu com as lutas de classes 18 ocorridas ao final dos anos 1960 e início dos 1970, oriundas do mundo trabalho. (ANTUNES, 1999). Frente a esse novo cenário, o capital investe em novas estratégias. Muitos processos e experiências no campo da produção emergem, e a produção em série, em massa, é substituída por novos processos. Surgem novas formas de acumulação de riquezas e de organização do trabalho e da produção, que trazem graves conseqüências para a qualidade de vida dos trabalhadores. (BORGES e DRUCK, 1993). Nessas circunstâncias, pode-se dizer que o mundo do trabalho passa por transformações sem precedentes na história das relações sociais de produção. A economia internacional passa por uma reestruturação produtiva. De acordo com Carvalho Neto (1995), essa reestruturação produtiva compõe-se de uma racionalização técnica que substitui mão- deobra por agregados científicos com alto investimento de capital, por exemplo, como ocorreu com a mudança da base metalmecânica para a mecatrônica. Os processos produtivos têm sido redesenhados com o advento da automação flexível. A especialização flexível vai se colocando, portanto, como o provável sucessor do modelo fordista. Segundo Kumar (1997), ela só se tornou viável a partir da microeletrônica, permitindo mudanças rápidas de produção em resposta às demandas do mercado. Não requer fábricas de grande porte como na era fordista. A economia de escala é substituída pela economia de escopo, voltada à produção de bens para mercados relativamente pequenos ou segmentados. Na acumulação flexível, ainda, as grandes empresas projetam um futuro no qual cada vez mais se assemelharão às confederações de pequenas empresas e, não mais, às grandes empresas centralizadas, hierarquicamente coordenadas, do tipo fordista. A reestruturação produtiva compõe-se também da racionalização organizacional, que redesenha os processos produtivos, provocando significativo enxugamento das grandes estruturas empresariais fordistas, que passaram a ser divididas em unidades de produção 19 menores e mais independentes. Já a partir dos anos 1980, tecnologias gerenciais – Qualidade Total, reengenharia, downsizing e terceirização – haviam se generalizado provocando uma febre de demissões. Dissemina-se a terceirização entre as empresas, que reforçaram a busca por redução de custos, por maior agilidade e flexibilidade administrativa, assim como por melhor controle da gestão da produção da atividade-fim. Em função de tais processos, agravam-se ainda mais a crise do emprego e a precariedade do contrato de trabalho. (CARVALHO NETO, 2001). Esses novos processos visam oferecer maiores racionalidade e previsibilidade ao processo produtivo, reduzindo custos. Entre as especificidades desse novo modelo de produção e gestão, Martins (1999) destaca os seguintes princípios: trabalho organizado em célula de manufatura, kaizen (aprimoramento contínuo na busca de melhores resultados), justin-time (eliminação de perdas e pronta entrega a partir da demanda do cliente), kanban (redução de estoque, otimização do fluxo de produção, redução das perdas e aumento da flexibilidade), programas de qualidade total e controle estatístico do processo (melhoria contínua, uso de técnicas estatísticas para auxiliar no controle da qualidade de processos). Pereira (2000) salienta que a reestruturação produtiva está causando transformações na organização do trabalho, nas relações hierárquicas dentro das empresas, nos níveis de participação e envolvimento dos funcionários, dando-se maior ênfase ao trabalho e ao desempenho de equipe, a indicadores coletivos e individuais de qualidade e produtividade. Na opinião de Santos (1996), a reestruturação produtiva tem seu caráter excludente, pois agrava o desemprego estrutural, precariza o trabalho e segmenta a classe trabalhadora, contribuindo para que as entidades sindicais se ressintam, também, da diminuição do seu poder de resistência, em um processo mais amplo de isolamento político. 20 2.1.1 A reestruturação produtiva e suas conseqüências para o Brasil As organizações brasileiras também têm sido compelidas a adotar novas tendências de gestão para tornar-se extremamente competitivas, promovendo investimentos maciços em novas tecnologias e mudanças organizacionais. Segundo Heloani (1994), esse elevado volume de investimentos levou as empresas a apelarem para a adesão dos trabalhadores, para obter novos ganhos de produtividade. A classe empresarial percebeu que essas inovações, por razões técnicas ou estratégicas, renderiam mais e melhor em mãos qualificadas e, sobretudo, confiáveis, dado o alto custo e relativa fragilidade dos equipamentos, o que justificaria, pois, a necessidade de cooperação entre empresários e trabalhadores. (LEITE, 1994). No entanto, autores como Leite (1993), Pochmann (1999b) e Carvalho Neto (2001) salientam que, no mercado de trabalho brasileiro como um todo, observa-se maior desemprego, maior precariedade do contrato de trabalho, aliados ao aumento na qualificação e queda na renda média. Para Hirata (1996), também, no Brasil, surge um novo modelo de produção flexível que contrasta com a lógica de utilização da força de trabalho do taylorismo e fordismo, pois se tem uma divisão menos acentuada do trabalho, uma integração mais pronunciada de funções, em que a comunicação e a cooperação fazem emergir um novo paradigma organizacional. Este novo paradigma requer trabalhadores polivalentes e multifuncionais, cujas, capacidade de julgar, discernir, intervir, resolver problemas e propor soluções, criatividade e inovação são valorizadas. A reestruturação produtiva é um processo que também vai impactar as relações de trabalho. Ela impõe mecanismos de controle sutis sobre o trabalhador, pela terceirização e pela implantação de novos sistemas e cadeias produtivas que fragmentam o tecido industrial de base fordista. Como resultado desse novo modelo, no Brasil, ocorrem mudanças na 21 estrutura do emprego, em que se observa um inchaço do setor terciário, como em outros países, e um aumento considerável das atividades informais, este muito maior que nos países centrais. Percebe-se uma precarização das relações de trabalho no que tange aos benefícios e aos direitos adquiridos (POCHMANN, 1999a). Como salienta esse autor, a segmentação do mercado de trabalho no Brasil, principalmente o aumento dos empregos precários, tem contribuído para o acirramento das desigualdades sociais, da exclusão de uma parcela da sociedade chamada inimpregável. Tais transformações têm repercutido no padrão de uso e remuneração da força de trabalho e no avanço da desregulamentação do mercado de trabalho, aumentando, assim, o grau de autonomia das empresas em detrimento do poder de barganha dos trabalhadores. Inegavelmente, esse quadro traz inúmeros impactos e desafios aos sindicatos, o que passa discutir em seguida. A seguir, contextualizar-se-á o sindicalismo no mundo e no Brasil: origens, desafios, tendências, oportunidades, os sindicatos dos trabalhadores e empregadores e a crise de representatividade de ambos. 2.2 O sindicalismo na Europa Os sindicatos que Cattani (1997, p.225) define como sendo “[...] instâncias organizativas decorrentes do movimento associativo, criadas para compensar a fraqueza do trabalhador, atomizado na sua relação contratual com o capital”, têm sua origem associada à Revolução Industrial. Noronha (1993, p.18) lembra que “[...] os sindicatos nascem como resposta às conseqüências sociais impostas pela Revolução Industrial na Inglaterra”. Com a Revolução Industrial, consolida-se o nascimento do proletariado, ou seja, os indivíduos que vivem exclusivamente da força de seu trabalho. No início do século XIX, não havia leis de proteção ao trabalho. O único limite para a duração da jornada de trabalho era o 22 esgotamento físico do trabalhador (jornadas de 16 horas diárias eram amplamente aceitas), os operários viviam em insegurança constante, pois, se despedidos, não dispunham de meios de subsistência. Estavam constantemente ameaçados por doenças, acidentes e desemprego. (ENGELS, 1997). Essas condições incentivaram a organização sindical. A organização operária de caráter reivindicatório era inicialmente proibida. Mas as péssimas condições de trabalho impulsionaram os trabalhadores a associarem-se em busca de melhores condições, à revelia da lei e apesar de violentamente reprimidos. (TEJERA, 2000). Em seu início, o movimento sindical teve orientação mutualista e assistencial e visava ajudar o trabalhador em momentos de dificuldades econômicas ou nas greves. Gradativamente, esse enfoque se altera para a luta pelos direitos fundamentais do trabalho. Em 1825, partindo da idéia de que só seria possível disciplinar a organização operária legalizando-a, o Parlamento Inglês revogou a lei que proibia a constituição de associações operárias, o que proporcionou condições para o seu desenvolvimento por toda a Inglaterra e, mais tarde, por toda a Europa. (NORONHA, 1993). Quase um século depois, nos anos 1919, surgiu a OIT, que ajudou a impulsionar a consolidação do movimento sindical nos países signatários de sua carta de princípios. No período compreendido entre o final da Segunda Guerra Mundial e o início dos anos 1970, já em pleno fordismo, houve uma combinação de crescimento econômico e pleno emprego. Neste período, considerado como a Época de Ouro do capitalismo, transcorreram anos de extraordinário crescimento econômico e transformação social, que, provavelmente, mudou de maneira mais profunda a sociedade humana de que qualquer outro período de brevidade comparável. (HOBSBAWN, 1995). Os países capitalistas, em especial os da Europa Ocidental, governados pela socialdemocracia, desenvolveram um sistema de relações de trabalho que consagrava a ampla 23 liberdade de contratação coletiva, garantia de liberdade sindical e de representação dos trabalhadores nos locais de trabalho, amplo processo de negociação setorial e por empresa e processos de negociação para resolução dos conflitos coletivos. Com isso, o movimento sindical “[...] expandiu-se em termos do número de trabalhadores sindicalizados, de sua capacidade de mobilização, pressão e participação nos vários níveis da economia e do sistema político”. (RODRIGUES I., 1999, p.19). O movimento sindical inglês o - trade unionism - vivenciou períodos de ascensão, como nas décadas de 1890 e 1970, como também períodos de declínio, como nos anos 1930 e, especialmente, a partir dos anos 1980. Fases ascensionais e de declínio também ocorreram em outros países da Europa Ocidental em momentos diferenciados, retratando configurações políticas e ideológicas bastante heterogêneas. (ACKERS, SMITH e SMITH, 1996). O sindicalismo inglês esteve sempre associado à idéia de força e estabilidade. Seu nível de sindicalização era amplo e extensivo. Nos anos 1960, mais de 20 sindicatos representavam os trabalhadores em uma fábrica da Ford. Existiam 651 sindicatos na Inglaterra. Houve grandes paralisações, que atingiram, nos anos 1969-1974, a média de 3.000 greves, alcançando 12, 5 milhões de trabalhadores paralisados. (ANTUNES, 1999). Segundo Antunes (1999), com a ascensão do liberal conservadorismo do governo da ministra Margareth Thatcher, na década de 1980, uma nova agenda vai transformar substancialmente a trajetória do movimento sindical. Erigiu-se um contexto que propiciou o advento de uma nova cultura empresarial, marcada pela proliferação de conceitos e práticas contrárias ao coletivismo então existente no mundo do trabalho. A Inglaterra ingressava na era de um maior individualismo e das novas tecnologias de gestão. Na opinião de Ackers, Smith e Smith (1996), a Inglaterra torna-se um país menos industrializante e mais voltado para os serviços, menos orientado para a produção e mais financeiro, menos coletivista e mais individualizado, mais desregulamentado e menos contratualista, mais flexibilizado e menos 24 rígido nas relações entre capital e trabalho, mais fundamentado no laissez-faire, no monetarismo, contrário ao estatismo nacionalizante da fase trabalhista. A conversão do sindicalismo em inimigo central do neoliberalismo inglês trouxe conseqüências diretas no relacionamento entre Estado e classe trabalhadora. Transitou-se de um sistema legal anterior, que regulamentava de maneira mínima as relações de trabalho, para um sistema cujo significado essencial era, por um lado, desregulamentar as condições de trabalho e, por outro, coibir e restringir ao máximo a atividade sindical (CARVALHO NETO, 1994; ANTUNES, 1999). As privatizações de amplos setores da indústria e dos serviços públicos ingleses enfraqueceram bastante o sindicalismo inglês. (CARVALHO NETO, 1994). Finda a breve exposição sobre o berço do sindicalismo dos trabalhadores, a Inglaterra, antes de entrar na discussão dos impactos sobre o sindicalismo internacional, cumpre exemplificar com o aguerrido sindicalismo italiano o ocorrido na Europa Continental Ocidental. O processo de unificação européia, a partir dos anos 1990, teve efeitos significativos sobre a política econômica e a sociedade civil italianas, influenciando profundamente o papel e a organização do movimento sindical. As centrais sindicais desempenharam um papel fundamental, ajudando o país a conduzir uma profunda mudança política, econômica e, conseqüentemente, também na política social. (MOIA, 2001). Esse é um exemplo de como a concertação social funcionou mais na Europa Continental do que na Inglaterra e nos E.U.A. Segundo Moia (2001), a reestruturação econômica, social e do trabalho, envolvendo o sistema italiano no seu conjunto, não modificou substancialmente a organização do sindicato italiano. Contribuiu para aumentar a sua autoridade junto às instituições, a sua importância nos processos de formulação da política econômica e social do país, o seu reconhecimento como interlocutor das empresas e, conseqüentemente, possibilitou sua maior participação de forma menos conflituosa. 25 A organização sindical italiana continuou a ser fundada sobre duas estruturas, ambas fortalecidas e com funções específicas: a estrutura central, horizontal, com funções de representação em direção ao sistema políticoinstitucional, em nível nacional, e também com funções de representação dos trabalhadores associados, em nível local; a estrutura baseada em federações por ramo de atividades, vertical, com funções contratuais, tanto em nível nacional como no âmbito da empresa. (MOIA, 2001). De toda forma, seja onde houve mais, seja onde houve menos concertação social, o processo de reestruturação produtiva colocou em xeque o sindicalismo, atingindo a organização coletiva dos trabalhadores e mudando significativamente a correlação de forças entre capital e trabalho, mesmo nos países centrais. As mudanças no perfil do mercado de trabalho, o aumento do desemprego e a desregulamentação das relações de trabalho são fatores que têm levado à diminuição da eficácia da ação sindical no mundo. (RODRIGUES I., 1999). 2.2.1 A Crise internacional do sindicalismo A flexibilização do trabalho enfraquece o poder sindical com a implantação dos processos de terceirização, de subcontratação por parte das grandes empresas, que incentivam a formação de pequenos negócios (estruturas antigas de produção, familiar e artesanal), e de descentralização da produção. “A grande quantidade de mão-de-obra excedente (desempregados ou subempregados) permite aos empregadores tirarem proveito para impor contratos de trabalho mais flexíveis, fragmentando o coletivo do trabalho”. (HARVEY, 2000, p. 143). 26 Como observa Laranjeira, apud Rodrigues I. (1999), as novas estratégias empresariais têm o propósito de manter afastados os sindicatos, contribuindo para a desagregação dos coletivos, propondo, por exemplo, formas individualizadas, não-salariais de remuneração, via concessão de bônus e outras formas de participação nos lucros e resultados. Dessa forma, estariam rompendo com formas tradicionais de dominação, estimulando a cooperação entre trabalhadores e gerentes. Como bem enfatiza Leite (1997), os sindicatos dos trabalhadores viram cair muito sua capacidade de mobilização, afetada pelo temor do desemprego, pois os trabalhadores adotam uma postura mais defensiva e deixam de responder aos sindicatos, preferindo a preservação do emprego. Assim, acordos coletivos resultantes de negociações pouco vantajosas são aceitos pelos trabalhadores, o que acaba incentivando o empresariado em suas investidas pela redução de benefícios e pela desregulamentação das relações de emprego. Nesse contexto, observa-se que as transformações ocorridas nos anos 1990 contribuíram para enfraquecer o movimento sindical de trabalhadores, quebrar sua unicidade e abalar o sistema articulado de barganha coletiva. O poder dos sindicatos, ao longo dos anos 1990, foi fortemente abalado por esse conjunto de transformações, e apresentou as seguintes tendências: redução da abrangência das convenções e acordos coletivos, com a estagnação ou diminuição das cláusulas negociadas; intransigência do empresariado no que se refere à democratização das relações de trabalho, por exemplo, no tocante à representação coletiva no local de trabalho; introdução de questões que visam a flexibilização do trabalho e imprimem às negociações uma dinâmica de descentralização para o âmbito das empresas. (DIEESE apud LEITE, 2003). Segundo Carvalho Neto (2001), a crise internacional do sindicalismo é diagnosticada por inúmeros autores, como Offe (1989); Fiorito, Gramm e Hendricks, (1991); Rodrigues L., 27 (1992); Edwards, (1995); Antunes, (1995); Barbosa, (1995); Chaison, (1996); Heckscher, (1996); Hyman, (1996), tendo como sinais mais evidentes: as acentuadas quedas nas taxas de sindicalização; queda da taxa de greves; dificuldade de representação de uma força de trabalho cada vez mais heterogênea, com interesse e histórico de participação sindical muito diferenciados; dificuldade de representar os trabalhadores de empresas subcontratadas, temporários e/ou part-time; incapacidade de se integrar de forma significativa e permanente a importantes movimentos sociais, falhando na representação das reivindicações de boa parte da força de trabalho, como as mulheres e os negros; individualização crescente das relações de trabalho, em contraposição a valores fundamentais do sindicalismo, como a solidariedade e a ação coletiva; aumento das negociações coletivas no nível da empresa, diminuição da influência política e do poder de barganha. Rodrigues, apud Carvalho Neto (2001), analisa os possíveis cenários para o sindicalismo, levando em conta que, mesmo diversos governos socialistas, social-democratas e trabalhistas com fortes vinculações com o sindicalismo, em diferentes momentos nas últimas décadas, não têm conseguido deixar de aplicar políticas condizentes com a lógica liberal. Os autores defendem, no entanto, que o sindicalismo não deverá definhar na nova ordem pós-industrial, já que, historicamente, o movimento sindical sempre soube superar momentos desfavoráveis, alguns particularmente longos. Portanto, o sindicalismo europeu, em virtude de um novo cenário de competição entre países, aponta para uma transformação nas relações de trabalho, privilegiando negociações descentralizadas, diminuindo o papel do Estado na regulação do trabalho e inserindo questões 28 como competitividade, produtividade e desempenho nas pautas de negociações coletivas, com forte apelo para a flexibilização do trabalho e da própria remuneração dos trabalhadores. (SARSUR et al., 2005). Mesmo com o movimento de descentralização, a OIT (1998) ressalta que as consultas e as negociações coletivas centralizadas seguem sendo elemento essencial das relações de trabalho na Europa Ocidental. De acordo com Carvalho Neto (2001), sem negar a importância das negociações centralizadas, num mercado de trabalho mais heterogêneo do que o fordista, questiona-se o predomínio da negociação coletiva centralizada, que não daria conta de representar os anseios de grupos com interesses profundamente divergentes, como os trabalhadores temporários e os estáveis, os empregados e os desempregados, os qualificados e os não qualificados. Os regimes centralizados e descentralizados de negociação apresentam vantagens e desvantagens. Segundo Pereira (1998), a maior vantagem da negociação descentralizada é permitir explorar melhores benefícios comuns para a empresa e os trabalhadores por meio de esquemas mais adequados às peculiaridades de cada empresa. A negociação descentralizada, por exemplo, permite aos sindicatos uma participação mais efetiva quando se trata de remuneração flexível, baseada em ganhos de produtividade, negociação de concessões entre nível de emprego e remuneração e participação em questões de qualidade e produtividade e outras áreas estratégicas. Na opinião do autor, o ideal seria a existência de uma negociação relativamente centralizada, para estabelecer uma base, um piso, podendo ser completada por negociações em nível da empresa. Segundo Carvalho Neto (2001), as novas tecnologias organizacionais trazem inúmeros desafios ao sindicalismo tradicional da era fordista, atingido pelas demissões em massa de trabalhadores industriais, precisamente aqueles com maior histórico de participação em sindicatos. A necessidade de referenciar a ação sindical no dia-a-dia dos locais de 29 trabalho, de conhecer profundamente o processo de trabalho, de estabelecer estratégias para lidar com a gestão participativa e coordenar ações no nível micro com macro são alguns desses desafios apontados pelo autor. Diante de tais desafios, o movimento sindical dos trabalhadores vem convivendo com novos temas e novas práticas que ampliam e tornam complexa sua agenda e podem vir a se constituir, conforme Leite (2003) e Carvalho Neto (2001), numa renovação da vida sindical, ainda que restrita às categorias mais organizadas de trabalhadores com empregos estáveis. No entanto, como salienta Leite (1996), é inegável que, depois de décadas de crescimento, o movimento sindical mundial começou a viver, especialmente a partir da década de 1980, uma profunda crise. 2.2 Algumas considerações sobre a legislação que rege as negociações coletivas no Brasil A teoria dos sistemas de relações de trabalho está estruturada entre três atores sociais: o Estado, por intermédio de suas instituições; os empresários e os trabalhadores, por meio de suas entidades de representação. (GALVÃO; TRINDADE, 1999, CARVALHO NETO, 2001). Os empregados se unem num sindicato classista, a fim de se fortalecerem, reunindo forças para pressionar os empregadores a fazerem acordos que tragam benefícios à sua categoria. Os empregadores também podem agir da mesma forma, tentando resistir as reivindicações ou à obtenção de concessões (BLANPAIN, 1998), além de fazerem suas próprias reivindicações aos empregados e aos governos. A negociação coletiva entre empregadores e trabalhadores produz uma série de direitos e dela podem emergir três tipos de soluções: dissídio coletivo, as convenções coletivas ou acordos coletivos resultantes das negociações e que têm força de lei durante a 30 sua vigência, indo além da legislação já existente. Quando não há acordo, há a possibilidade de instauração do dissídio coletivo. (CARVALHO NETO, 2001). Quanto à solução de conflitos, no caso de não acordo, à Justiça do Trabalho é atribuído o poder normativo, o que significa que seu papel não se limita ao arbítrio de divergências e à interpretação de lei ou de cláusulas em vigor, mas estende-se à fixação de normas a serem cumpridas. Esse aspecto é reforçado pela possibilidade de qualquer das partes envolvidas no conflito poder recorrer, unilateralmente, à sua interferência, por meio da instauração de dissídio coletivo. Em caso de greve, a recorrência aos tribunais do trabalho pode ser de iniciativa da Procuradoria do Trabalho, à revelia das partes. (PERTENCE, 2003). As restrições abrangem, ainda, o conteúdo das reivindicações, que, mesmo nos casos de concordância entre patrões e trabalhadores, estão sujeitas a serem suspensas, caso a Justiça avalie que possam comprometer metas ou parâmetros da política econômica do governo. O art.611 da CLT define convenção coletiva de trabalho como “[...] acordo de caráter normativo pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categoriais econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho”. Os acordos coletivos de trabalho têm o mesmo papel e importância das convenções coletivas de trabalho. O que os distingue é que, nos acordos coletivos, a categoria econômica não necessita estar representada por sindicatos. As próprias empresas individualmente ou grupo de empresas estão autorizadas a firmá-los isolada ou separadamente. Têm previsão legal no parágrafo 1° do art. 611 da CLT, que afirma: [...] é facultado aos sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito das empresas acordantes às respectivas relações de trabalho. 31 Tem a convenção ou acordo coletivo de trabalho dupla função: solucionar uma disputa trabalhista e constituir ou declarar regras gerais por um tempo determinado, chamado de database, (limite de dois anos-parágrafo 3° do art. 614, da CLT), automaticamente aderindo aos contratos individuais do trabalho. São, portanto, fruto da manifestação de vontade dos sujeitos coletivos, legitimados que são por seus representados, por meio de suas instâncias de deliberação e representação celebradas entre o sindicato patronal e o sindicato dos trabalhadores de determinado setor numa mesma base territorial. (CARVALHO NETO e CARVALHO, 1998). Em princípio, visa estabelecer normas e condições de trabalho não reguladas pelo aparato legal ou mesmo adequá-las às especificidades das categorias profissionais e econômicas envolvidas. Seria, em situação ideal, um instrumento de aperfeiçoamento das relações de trabalho, assegurando vantagens aos trabalhadores e também aos empregadores, ao possibilitar a regulação das relações de trabalho, estabelecendo canais coletivos de comunicação empresa-trabalhador. Outro dado que merece destaque é que o art. 612 da CLT estabelece que a legitimação das entidades sindicais para firmar acordos coletivos de trabalho decorre de autorização dos interessados, independentemente de associação ao sindicato via assembléia. No início dos anos 1980, são inseridas, basicamente nos acordos coletivos no âmbito das empresas do setor metalúrgico paulista, cláusulas que tratam da constituição de comissões de fábrica. A oposição empresarial no que se refere a essa negociação, entretanto, traz obstáculos à sua difusão no resto do País, limitando-a a algumas empresas dos setores mais organizados da indústria. (CARVALHO NETO, 2001). 32 2..3 O movimento sindical dos trabalhadores no Brasil Na primeira metade do século XIX, surgiram as primeiras organizações operárias no Brasil, em que os trabalhadores não tinham condições de interferir ou influenciar na regulamentação do trabalho, “[...] limitando-se as atividades mutualistas”. (VIANNA, 1978, p. 38). Criadas com base nos modelos associativos do sindicalismo europeu, as sociedades operárias de socorro mútuo tinham por objetivo prestar ajuda aos operários, como: auxílio pecuniário nos casos de velhice ou greve, assistência médica e auxílio funerário. Nas últimas décadas do século XIX, as associações mutualistas começaram a ser substituídas pelas ligas operárias de natureza sindical. A função de prestar socorro mútuo não desaparece, embora passe para um plano secundário. As ligas operárias consideravam prioritária a função de promover a defesa dos interesses imediatos da classe trabalhadora, isto é, lutar por uma contínua melhoria nas condições de trabalho, emprego e salário, por meio do uso da greve como instrumento de pressão sobre os empregadores. (ERICKSON, 1979). A ideologia predominante era de cunho anarquista, que defendia a coletivização dos meios de produção; enfatizava o papel dos sindicatos na organização da classe operária e de toda a sociedade (era contra a formação de um partido político da classe operária); defendia a greve como instrumento de reivindicação e luta e reforçador da solidariedade operária; considerava inútil o recurso à atividade normativa do Estado. Os sindicatos deveriam ser sociedades autônomas em relação ao Estado e aos empregadores. Na visão anarquista, devido ao seu caráter classista, o sindicato deveria ser organizado e mantido pelos próprios trabalhadores. (ERICKSON, 1979). Nas primeiras décadas do século XX, o parque industrial foi se expandindo, consolidando-se a posição da burguesia industrial. Ainda, de acordo com o autor, as intervenções do Estado eram restritas, tanto em termos de ingerência direta nas atividades 33 produtivas, como na regulamentação das relações capital/trabalho. As manifestações mais significativas da interferência do Estado ocorriam durante os movimentos grevistas, duramente reprimidos porque eram vistos como perturbação do status quo. A atuação das organizações sindicais era neutralizada por meio da demissão, prisão ou deportação de seus líderes. De 1919 a 1930, ocorre um declínio da militância operária, principalmente no que concerne às atividades grevistas, causada pela forte repressão governamental. O governo começa a regular as relações de trabalho e o movimento dos trabalhadores mantém seu caráter reivindicador, agora lutando também por aumento dos direitos de cidadania da classe operária. (VIANNA, 1978). Conforme Fleury e Fischer (1992), o Estado passou a intervir diretamente em todas as instâncias da vida política, econômica e social do País, criando o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e desenvolvendo dispositivos regulamentadores das condições de trabalho, da organização sindical e da previdência social. A legislação sindical promulgada tem uma concepção autoritária, na medida em que define o sindicato como função delegada do Estado. A revolução de 1930 marca o fim da Velha República, a perda da hegemonia política dos cafeicultores e a transição de uma economia agrário-exportadora para uma economia industrializante. Erickson (1979) aponta as seguintes características do sindicalismo a partir da Revolução de 1930: 1. um sindicalismo profissional, corporativo e cristão, que não objetiva a luta de classes nem a reforma social; 2. a distinção rigorosa entre sindicatos e partidos políticos; 3. sindicatos estruturados objetivando a integração social para a formação da nação. 34 A partir dos anos 1937, com a implantação da ditadura do Estado Novo, consolida-se a formalização do papel do Estado como elemento onipresente no cenário das relações de trabalho brasileiras. A organização da Justiça do Trabalho, a promulgação da CLT, a legalização e garantia de subsistência da estrutura sindical (atrelada pelo imposto obrigatório à máquina do Estado) são alguns dos indicadores desse processo político-institucional. (ERICKSON, 1979). Na década de 1950, o controle do Ministério do Trabalho sobre os sindicatos passou a ser menos estrito, levando a uma grande expansão do movimento sindical, acompanhando o desenvolvimento industrial. Nos anos de 1959 e 1960, foram observadas centenas de greves, em reação à diminuição dos salários, achatados pela inflação. Finalmente, com a necessidade de atuar politicamente, foram criadas as condições para o surgimento de uniões sindicais de nível nacional, como o Pacto de Unidade e Ação, que englobava ferroviários, marítimos e aeroviários, e também o Comando Geral dos Trabalhadores, que surgiu espontaneamente durante a crise político-militar que se deu após a renúncia do Presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, quando se registrou a primeira greve geral nacional de caráter político da história sindical do Brasil. (RODRIGUES L., 1979). Segundo Oliveira (1994), o governo militar pós-1964 trouxe mudanças no movimento operário na medida em que desmobilizou as forças populares, por meio da eliminação dos seus canais de participação no jogo político nacional. Exemplo disso são intervenções legais que reduziram o poder de barganha dos sindicatos – cassação de dirigentes e nomeação de interventores (KECK, 1988), o aumento do poder normativo da Justiça do Trabalho e a repressão militar e policial sistemática às greves. (OLIVEIRA, 1994). Com o processo de redemocratização da sociedade, o movimento sindical ressurge nos anos 1980. Com essa retomada, há o deslocamento da predominância da atividade sindical das 35 categorias tradicionais (têxtil, funcionários públicos) para as categorias vinculadas às grandes e modernas empresas automobilísticas, metalúrgicas e petrolíferas. O novo sindicalismo, que teve início em 1977, caracterizou-se pela ênfase na organização de base, com maior contato entre esta e a liderança sindical; a reivindicação de revisão da legislação trabalhista, com intuito de tornar os sindicatos autônomos do Estado e uma grande disposição à militância. Os sindicatos perderam o estigma de assistência social e ocuparam o papel de representantes dos trabalhadores, lutando por suas reivindicações. Esse caráter permitiu a difusão do movimento operário e a consecução de greves em diversos setores e estados do País no período de 1978 e 1979. (OLIVEIRA, 1994). A luta sindical tornava claro que não bastava eliminar algumas restrições ou aspectos mais repressivos da legislação, e a bandeira do contrato coletivo de trabalho passou a ser defendida pelos atores mais avançados do sindicalismo brasileiro. (OLIVEIRA, 1994). É nesse contexto que entra em voga a negociação direta com os empregadores: “[...] a negociação coletiva implicava que os trabalhadores tivessem arma de coação com as quais enfrentariam os empregadores, mais especificamente, o direito de greve”. (KECK, 1988, p. 390). Nos anos 1980, quando praticamente todo o mundo desenvolvido já se encontrava imerso em políticas de ajuste econômico, o Brasil continuava ainda a seguir os mesmos padrões desenvolvimentistas adotados no período da industrialização pela política de substituição das importações. Os anos 1980 (com exceção de alguns curtos períodos) foram caracterizados por um agudo processo de crise em que as altas taxas inflacionárias e as baixas taxas de crescimento econômico, quando não de recessão aberta, foram suas marcas principais. Uma década perdida do ponto de vista econômico, mas que, em termos políticos e sociais, caminhava no sentido progressivo, seja pelo ressurgimento dos movimentos sociais seja pela redemocratização do País. (LEITE, 1997). 36 Como aponta Keck (1988), esse foi um período em que se consolidava a negociação coletiva, e o sindicalismo se fortalecia, o que pode ser percebido via aumento nas taxas de sindicalização e implantação de novos sindicatos. Carvalho Neto (2003) caracteriza esse período do sindicalismo brasileiro como a década de ouro, pois é nele que as melhorias nas relações de trabalho são relevantes e o poder político dos sindicatos dos trabalhadores aumenta significativamente, ao contrário da tendência mundial. O sindicalismo brasileiro ressurge, após o período da ditadura militar, em 1978, como um dos principais atores sociais nos processos de reorganização da sociedade civil e da transição democrática. (LEITE, 1997). Tendo no movimento grevista seu principal meio de confrontação com os empregadores, os sindicatos brasileiros cresceram em representatividade, organizaram-se em centrais sindicais, federações e confederações fora da estrutura sindical e conseguiram incrementar substancialmente a negociação direta com o empresariado. (REZENDE, 1986), Fleury e Fischer (1992, p.14) fortalecem essa idéia: “[...] nunca foi tão amplo o escopo das discussões sobre condições de trabalho, organização sindical, direito de greve, participação do trabalhador, tanto nas sessões parlamentares quanto em diversos fóruns estimulados por associações de classe e imprensa”. Em outubro de 1988, foi promulgada a nova Constituição do Brasil, com alguns avanços na legislação que normatiza a organização sindical, tais como: 1. liberdade de associação sindical, sem que seja necessária a autorização do Estado; 2. direito de greve; 3. permissão de sindicalização ao funcionário público civil; 4. criação da representação dos trabalhadores em empresas com mais de 200 empregados (no entanto, a falta de estabilidade no emprego para seus membros, como há na Europa Ocidental, levou a que tal direito se transformasse em letra morta). 37 Pochmann (1998), ao tratar do sindicalismo nos anos 1980, diz que o processo hiperinflacionário e a inexistência de significativas alterações nas formas de gestão da produção e da mão-de-obra contribuíram para a concentração da ação sindical em torno das negociações coletivas de trabalho e da realização de greves como mecanismos decorrentes de perdas salariais. Para Noronha (1991), a ação sindical dos anos 1980 revelava um misto de demandas trabalhistas, descontentamento social e político, explosão de demandas reprimidas durante os anos de autoritarismo e estratégias de consolidação de novas lideranças sindicais. Assim, pode-se afirmar que o movimento sindical no Brasil, durante a década de 1980, contrariando a tendência internacional de enfraquecimento, ganhou projeção e conseguiu poder de intervenção na esfera política. Ou seja, conquistou uma representatividade baseada na estratégia do confronto com os empregadores, que, em muitos aspectos, superou a dimensão corporativa. De 1978 a 1984, foram contabilizadas no País 1.602 greves, numa média de 230 ao ano. No primeiro semestre de 1985, houve 279 greves no Brasil, sendo 89% delas no setor industrial. Em 1987, o volume grevista alcançou mais de 2.000 greves e mais de 130 milhões de jornadas não-trabalhadas. (ANTUNES, 1991). Outra característica foram as greves com a ocupação das fábricas (por exemplo, greve da GM em 1985; greve da CSN, em 1988, na qual morreram três operários em confronto com o exército; greve da FORD em 1990, na qual houve a depredação das instalações da área de recursos humanos). Além das ações grevistas, a atuação sindical dos anos 1980 é marcada também pela explosão do sindicalismo dos assalariados médios e do setor de serviços. Trinta por cento das greves ocorridas no período 1978 e 1987 foram de assalariados de classe média. (BOITO JR, 1991). Foram marcantes também os avanços do sindicalismo rural, o nascimento das centrais sindicais e as tentativas de consolidação de organização dos trabalhadores dentro das fábricas. (ANTUNES, 1991). 38 A década de 1980 traz consigo o início de um processo de mudança no sistema produtivo nacional que vem se consolidar na década de 1990. De acordo com Fleury e Fischer (1992), é nesse momento que se inicia a adoção de novas tecnologias e uma mudança na forma de organização do trabalho que tem como conseqüência imediata a necessidade de formação de um novo perfil da força de trabalho, tanto do ponto de vista de sua qualificação, quanto de seus valores e expectativas – crescimento do papel da área de recursos humanos, maior qualificação da mão-de-obra, diminuição da rotatividade e composição de um quadro de pessoal mais enxuto. 2.3.1 A crise de representatividade do sindicalismo dos trabalhadores no Brasil Durante os anos 1980, houve avanço significativo das negociações coletivas no Brasil. Apesar de um contexto político e econômico bastante adverso, caracterizado na primeira metade da década pela resistência à ditadura militar e pela crise da dívida externa e, na segunda metade, pelo processo hiperinflacionário, a luta do movimento sindical permitiu que os acordos e convenções coletivas fossem regulando, de forma crescente, as relações entre capital e trabalho. Terminou-se a década com contratos de trabalho com mais de uma centena de cláusulas, tratando dos mais diversos aspectos do cotidiano das relações de trabalho. (MARTINS, 1986). No entanto, a partir do choque liberal do governo Collor na economia em 1990, o processo de regulação crescente do mercado de trabalho começou a ser contestado, gerando enfraquecimento das entidades sindicais, da sua capacidade de negociação, quadro provocado, principalmente, pela precarização do mercado de trabalho e pelo desemprego. (POCHMANN et alii ,1998). O novo quadro econômico e político dos anos 1990 apresentou novos desafios ao movimento sindical, como o de superar sua crise e ao mesmo tempo responder a novas 39 demandas impostas aos trabalhadores, muitas delas remetidas para a nova institucionalidade da política de emprego em torno das negociações coletivas e /ou acordos coletivos de trabalho. (LEITE, 1997). Nesse contexto, observa-se que o movimento sindical brasileiro vem, desde então, enfrentando dificuldades e amargando reveses. A combinação de certos elementos tem contribuído para debilitar a ação sindical: grande redução das taxas de inflação devido à estabilização econômica, que fez com que o principal motor das reivindicações dos trabalhadores, a correção salarial, perdesse importância; abertura da economia, que causou privatizações, além do fechamento de muitos negócios, o que aumentou o desemprego; mudanças na organização e na gestão dos processos produtivos; tendência à redução da contratação com registro em carteira de trabalho; flexibilização das normas reguladoras da relação capital-trabalho. (PIOLLI, 2004) Pochmann et alii (1998, p.10) observam que ,nos anos 1990, há vários indícios de crise da atuação sindical, como “[...] a redução na quantidade de greves realizadas, a queda da taxa de sindicalização e a maior fragilidade das negociações coletivas”. Carvalho Neto (2001) elenca cinco sinais que tornam evidente a crise vivida pelo sindicalismo brasileiro: 1. quedas nas taxas de sindicalização; 2. queda acentuada nas taxas de greves; 3. dificuldade em representar uma força de trabalho cada vez mais heterogênea, especialmente os trabalhadores terceirizados; 4. incapacidade de se integrar de forma significativa e permanente a outros movimentos sociais; 40 5. diminuição da influência política e do poder de barganha. O movimento sindical começa então a gastar o estoque de direitos que tinha formado durante as lutas da década anterior, como salienta Prado (1998), para quem, na década de 1990, a abrangência das convenções e acordos coletivos foi reduzida, apesar da ampliação da liberdade e autonomia sindicais pós-1998, havendo uma estagnação ou diminuição do número de cláusulas negociadas. Vários autores, como Leite (1997) e Nabuco, Neves e Carvalho Neto (2002), salientam que a substituição de tradicionais centros industriais por regiões sem passado industrial e sindical – além do desemprego e do fenômeno da terceirização – afigurar-se-iam como os principais determinantes do enfraquecimento do poder sindical. Nesse cenário, a negociação coletiva ganha cunho descentralizado e passa a depender da conjuntura de cada setor e empresa. As gerências das áreas de recursos humanos e relações industriais cedem lugar às gerências da produção na responsabilidade pela gestão do trabalho e da negociação. A pequena penetração dos sindicatos no interior das empresas diminui a sua capacidade de intervenção nesse tipo de negociação. (COMIN e CASTRO 1998). O sindicalismo já não se mobiliza em torno das negociações de data-base, dos reajustes de salário, das greves de categoria e das grandes questões nacionais com a mesma intensidade da década anterior. “Agora, assume uma postura mais defensiva, pois as motivações dos grevistas durante a década de 1990 dão-se crescentemente em função da defesa de direitos desrespeitados, enquanto decrescem as paralisações decorrentes de reivindicações”. (LEITE, 2003, p. 96). Pochmann et alii (1998) trazem a idéia de que o movimento sindical, enfrentando a reestruturação produtiva e as conseqüências da integração competitiva como problemas presentes, teve que ampliar sua temática e desenvolver formas de ação distintas daquelas típicas dos anos 1980, que se revelavam ineficazes. Assim, o sindicalismo da década de 1990 41 já não se caracteriza somente pela mobilização em torno das negociações de data-base, dos reajustes salariais, verificadas durante o período de ascensão. Para esses autores, o papel do sindicato vai sendo redefinido pelo surgimento de questões como participação nos lucros e resultados, remuneração variável, produtividade, flexibilização das normas reguladoras das relações capital-trabalho, reestruturação das empresas e de setores econômicos e flexibilização da jornada de trabalho. É nesse amplo contexto que o sindicalismo brasileiro faz um amargo encontro com uma crise que já estava instalada nos sindicatos dos países desenvolvidos. Carvalho Neto (2003) lembra, que nos governos que sucederam o de Collor – Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula –, as políticas liberais de abertura de mercado continuaram gerando aquilo que Alves (2001, p. 192) denomina como “[...] recuo político-ideológico do trabalho”. O movimento sindical dos trabalhadores, de maneira geral, encontra dificuldades na construção de novas formas de organização para enfrentar as metamorfoses que vêm ocorrendo no mundo do trabalho desde a crise do fordismo. Os sindicatos dos trabalhadores têm sido atores mais passivos do que o Estado e os empregadores. (CARVALHO NETO, 2001). 2.4 As organizações sindicais de empregadores no plano internacional As organizações de empregadores se compõem de empresas que, apesar de se terem unido na mesma entidade de representação, seguem competindo entre si e tomam decisões autônomas no que se refere a suas próprias operações. A causa dessa característica natural é a estrutura de cada organização sindical de empregadores, que é muito complexa. Operam em distintos planos – local, regional, nacional e internacional – e seu mandato pode estender-se a toda atividade produtiva ou limitar-se a determinado setor. Às vezes são muito centralizadas, 42 como nos países escandinavos, ou se assemelham às federações pouco compactas, como nos Estados Unidos e Austrália. Sua estrutura costuma depender de como tenham conseguido conciliar os diferentes objetivos perseguidos por seus membros. Essas organizações criam-se e se desenvolvem no marco da economia de mercado e da livre empresa, que lhes é indispensável e, por isso, não é de estranhar que tenham ressurgido com força nos países da Europa oriental, pois o desabar das economias planificadas e dirigidas deu grande impulso à constituição e ao desenvolvimento espontâneo de novas e ativas organizações de empregadores. (OIT, 1997). Em outras regiões do mundo, a crescente importância das privatizações e da economia de mercado contribuiu para que se desenvolvessem organizações sindicais empresariais cada vez mais vigorosas em países que tinham estado sujeitos a um alto grau de centralização econômica, ou naqueles em que o Estado regulava muito as relações de trabalho. Muitas organizações de empregadores foram criadas a partir da pressão exercida pelos sindicatos de trabalhadores para lograr que os empresários negociassem com eles. Em geral, as organizações sindicais nacionais de empregadores criadas para representar amplamente os interesses de seus afiliados apareceram entre dez e vinte anos mais tarde que as centrais sindicais de trabalhadores. (OIT, 1997). Os objetivos gerais desses sindicatos de empregadores abrangem três funções principais: defesa da empresa e da sua imagem e, com freqüência, da economia de mercado; representação das empresas no sistema de relações de trabalho e prestação de serviços aos afiliados. (OIT, 1997). A crise de representação do sindicalismo atinge também as organizações empresariais. O motivo é a dificuldade de coordenar a ação dos diferentes setores da economia e também de unificar os interesses empresariais divergentes. O índice de afiliação das empresas a seus 43 sindicatos segue sendo muito baixo, em virtude das divergências e dos conflitos de interesses entre as grandes empresas e as demais. Em geral, as pequenas e médias empresas são a maioria, e a sua proporção aparece, inclusive, em aumento, e são as fontes principais de geração de novos empregos. No entanto, a maioria das empresas pequenas não são afiliadas às organizações patronais representativas. Pequenas e Médias Empresas – PMEs - expressam com freqüência suas dúvidas em relação à capacidade das confederações de empregadores de levar em conta os problemas que lhe são próprios. Muitas PMEs, têm suas próprias associações, como na Bélgica, na Espanha, na Irlanda e nos Países Baixos. Observa-se que as associações de microempresários que se criam em países em desenvolvimento, como na Argentina, no Brasil, no Peru e na Índia, carecem, na maioria das vezes de vínculos com as demais organizações patronais. (OIT, 1997). Sempre existiu na história das empresas e de suas associações representativas no plano social uma tensão entre duas correntes opostas. A primeira, no Canadá e nos Estados Unidos, por deixar os empresários na liberdade mais completa possível para que possam eles próprios organizar com seus trabalhadores as relações trabalhistas da sua empresa. A segunda propõe uma regulamentação num plano mais elevado, como um setor, uma região, ou todo o país. Trata-se, por um lado, de evitar uma grande concorrência, na maioria das vezes, prejudicial para todos e, por outro de garantir a estabilidade necessária para uma gestão que possa prever e facilitar os investimentos. Esta, por exemplo, é a forma preferida que manifestam os empregadores europeus. O mais difícil aí é evidentemente determinar aquilo que pode ser aceito por todas as empresas, desde as mais competitivas até aquelas que não o são tanto. O mundo empresarial é muito heterogêneo. As divergências tradicionais de opinião entre organizações empresariais setoriais em vários países e setores, como a metalurgia e os serviços, vêm a somar-se à diversidade. Portanto, não é fácil encontrar uma visão unificadora 44 que vá além de uns poucos princípios fundamentais, como a liberdade de gestão de empresa, nem tampouco soluções uniformes para problemas que são muito diversos. Num ponto se observa, porém, uma confluência: se, por um lado, as empresas públicas conservam, às vezes, uma representação própria, há uma tendência, como na Itália, à sua incorporação às estruturas patronais, dada a importância que se atribui às qualidades da gestão privada. (OIT, 1997). Contudo, apesar de os empregadores desejarem mais flexibilidade e, às vezes, uma simplificação dos acordos coletivos, como na Alemanha, nem todos os sindicatos de representação empresarial desejam que se acentue a concorrência em relação aos salários, à implantação de novas tecnologias ou à jornada de trabalho. Muitos seguem pensando segundo pesquisa recente, na Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Itália, que semelhante estratégia tem mais inconvenientes que vantagens e preferem, em todo caso, a centralização das negociações no nível do setor ou da região. (OIT, 1997). As direções das principais empresas japonesas se aliam e estabelecem vínculos verticais ou horizontais, permanentes e interativos, como é o caso dos fabricantes e distribuidores de roupas. Há uma unificação das estratégias, não somente industriais e comerciais, mas também sociais. No entanto, tudo isso pode debilitar as associações patronais tradicionais, que reagem, convertendo-se em organizações que podem prestar serviços a seus membros – formação, assessoramento jurídico, planejamento estratégico. Antes apenas órgãos de representação, atualmente, vêm-se adaptando à nova situação, melhorando a qualidade e atualizando seus serviços. A Federação de Empregadores de Nova Zelândia é um exemplo típico. (OIT, 1997). Há fusões numerosas entre as organizações patronais com fins econômicos e sociais em diversos países, como Finlândia, Noruega e Irlanda. Tal fenômeno acontece tanto nas associações centrais como nas setoriais. 45 As empresas e suas associações se interessam agora muito mais pela inserção e a reintegração social. Algumas delas participam como acontece no Canadá, em particular nas empresas do setor do aço, com representantes dos trabalhadores em comitês paritários de aperfeiçoamento profissional; como o setor de aço, por exemplo, tem empreendido um programa de readaptação profissional de vítimas das demissões econômicas. Por outra parte, grupos nacionais ou internacionais de empresários tentam intervir em favor do emprego e também na luta contra a exclusão social, como, por exemplo, a União Internacional Cristã de dirigentes de Empresas. Um desdobramento desse movimento é a evolução da RSE no contexto internacional. Portanto, há uma tendência atual de certos sindicatos de empregadores de aliar-se a outras organizações sociais, tendo como alvo a consecução de objetivos comuns. (OIT, 1997). Analogicamente, as relações com as autoridades governamentais e ou políticos regionais ou nacionais constituem com freqüência uma faceta significativa de suas atividades de promoção. Mais ainda, certas organizações de empregadores têm estabelecido vínculos com grupos sociais de mulheres, de jovens e instituições educativas. A Federação de Empregadores de Nova Zelândia, por exemplo, tem criado uma autêntica associação com escolas e centros de formação para organizar períodos de trabalho de seus alunos nas empresas. A Organização Internacional de Empregadores (OIE), com sede em Genebra, que agrupa atualmente as confederações de mais de 100 países, exerce como atividade principal defender as teses patronais sobre problemas sociais na OIT. Coordena as posições dos dirigentes empresariais em relação à política normativa e à dimensão social do comércio internacional e, também, em relação a qualquer outro debate na OIT. (OIT, 1997). 46 2.4.1 Estrutura de representação dos interesses empresariais brasileiros: caracterização e trajetória No sistema de representação de interesses do empresariado industrial prevaleceu, desde o início da industrialização nos anos 1930 até o momento presente, a estrutura dual integrada pelas organizações corporativas oficiais e as associações paralelas ou extracorporativas, que manteriam, ao longo do tempo, funções complementares, alternando relações cooperativas ou conflitivas, em face a diferentes conjunturas políticas (DINIZ e BOSCHI, 1991; DINIZ e BOSCHI, 2004). A estrutura corporativa, criada pelo presidente Getúlio Vargas nos anos 1930, é formada pelos sindicatos de empregadores, organizados por ramos de atividade e de base local, pelas federações representando as empresas de cada setor econômico de cada estado e por uma confederação, órgão de cúpula, representando o conjunto das empresas nacionais. Essa estrutura ficou subordinada a uma legislação específica, pautando seu funcionamento pela garantia do monopólio da representação dos interesses de cada setor de empregadores, pelo princípio da unicidade sindical e pela obrigatoriedade da contribuição financeira, independentemente da filiação da empresa àquele sindicato. Em todos esses aspectos, estrutura dos sindicatos de empregadores é similar à dos sindicatos de trabalhadores. Por outro lado, a estrutura extracorporativa é constituída pelas associações civis voluntárias, setoriais e de abrangência nacional, funcionando de maneira autônoma em relação à legislação sindical. Embora implantadas desde o início do processo de industrialização, tais associações expandiram-se de forma particularmente intensa durante os dois principais surtos desenvolvimentistas, nos anos 1950 e no período correspondente ao 1 chamado Milagre Econômico dos governos militares, entre meados dos anos 1960 e 1970 . Durante esse último período, a sociedade brasileira alcançou os mais altos índices de crescimento econômico e industrial de sua história, o que se traduziu numa organização social 47 cada vez mais complexa e diferenciada. Tais tendências foram estimuladas pelas mudanças políticas decorrentes da abertura do regime militar e do padrão de transição negociada que conduziu à instauração da democracia, entre 1975-1985. A força e autonomia crescentes da sociedade civil, a proliferação de novas formas de organização e de participação política abalaram as antigas formas de controle estatal. A partir de então, a persistência da estrutura dual acima descrita se faz acompanhar de mudanças no sentido de sua maior flexibilidade, configurando-se uma rede de interesses extremamente complexa e diversificada. Incorporando a maior parte dos setores industriais do País e, em alguns casos, cadeias produtivas de grande peso econômico, as associações paralelas, a partir de meados dos anos 1970, viriam a se revestir de maior dinamismo e capacidade de representação em face das organizações corporativas, que, ao contrário, experimentariam um gradual esvaziamento e perda de prestígio. (DINIZ e BOSCHI, 2004). __________________________________ 1 Entre as principais associações deste tipo, podemos citar a ABDIB (Associação Brasileira das Indústrias de Base), a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Eletro-Eletrônica), a ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), a ANFPC (Associação Nacional dos Fabricantes de Papel e Celulose), a ABIA Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), a ABIFARMA (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), a ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química) e a APEOP (Associação dos Empreiteiros de Obras Públicas). 48 Nos anos 1980, o sistema de representação empresarial tornou-se ainda mais complexo pela criação das chamadas novas organizações empresariais, como o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial – IEDI -, o Pensamento Nacional das Bases Empresariais PNBE - e os vários institutos liberais, localizados nos principais centros industriais do País. Tais organizações surgiram para preencher o que os empresários consideravam uma lacuna no campo da produção de idéias e da difusão de princípios ideológicos relacionados com o desenvolvimento do capitalismo brasileiro. O IEDI, por exemplo, que teve seu auge entre os anos de 1989 e 1993, destacou-se produzindo estudos e propostas voltados para a formulação de uma política industrial capaz de orientar o processo de inserção do País no mercado global, preservando simultaneamente o espaço da produção interna. No período subseqüente, entre 1994 e 1998, essas organizações experimentariam um certo esvaziamento, notadamente o IEDI, o que pode estar relacionado ao êxito das prioridades da nova agenda pública, com a implementação das reformas orientadas para o mercado, que implicaram o desaparecimento da política industrial como objetivo legítimo da ação governamental. Dessa forma, o aprofundamento da industrialização se fez acompanhar da expansão e diversificação das organizações empresariais. Os anos 1980 determinaram uma reestruturação do sistema em seu conjunto, com mudanças do peso e importância relativos de alguns setores, reforçando-se a tendência geral à especialização e multiplicidade dos canais de representação à disposição dos diferentes segmentos empresariais. Evoluiu-se para a configuração de um sistema híbrido e multipolar (DINIZ E BOSCHI, 2004), acarretando a quebra do monopólio da representação via estrutura corporativa. Esta, embora não tenha sido eliminada, sofreu um processo de enfraquecimento e passou a exercer um papel complementar, perdendo a centralidade que lhe fora atribuída pelo modelo varguista. Quanto à modernização que ocorreu a partir da década de 1970 e se intensificou nos anos 1990, a falta de uma entidade de cúpula de alto teor de abrangência e poder de agregação 49 persistiria como um fator de bloqueio das práticas de pactos e alianças supra-setoriais, inviabilizando ainda o surgimento de uma instância capaz de funcionar como porta-voz da classe empresarial como um todo. Ações conjuntas e estratégias de concertação foram sempre estranhas ao modelo aqui implantado. Sob esse aspecto, perpetuou-se um traço historicamente enraizado, marcado pela segmentação e diversidade dos interesses, aspecto em grande parte responsável pela fragilidade do empresariado brasileiro como ator coletivo e pelas dificuldades do setor na articulação de plataformas de maior amplitude e abrangência. Esforços no sentido da criação de entidades de cúpula de caráter integrador foram esparsos e tiveram uma vigência circunstancial. A União Brasileira de Empresários - UBE-, que nasceu com o objetivo de representar os interesses do conjunto do empresariado na Assembléia Nacional Constituinte de 1988, foi desativada logo após a promulgação da nova Constituição. (DINIZ E BOSCHI, 2004). A tradição corporativa no Brasil consagrou a representação de interesses no interior do aparelho do Estado, limitando, porém, tal representação a áreas específicas da política econômica - como a definição de medidas protecionistas, a concessão de incentivos e subsídios - bem como a certos estágios do processo decisório, principalmente, a consulta e a implementação. Institucionalizou-se a prática da negociação compartimentada entre os grupos econômicos e o Estado, transformando-se o Executivo em arena privilegiada para o encaminhamento das demandas empresariais. Deve-se ainda ressaltar que o corporativismo estatal viabilizou a participação das elites industriais nas estruturas decisórias, mas excluiu os trabalhadores como parceiros dos acordos corporativos em torno das políticas econômicas mais relevantes. (CARVALHO NETO, 2001). O que prevaleceu foi um estilo de negociação bipartite, envolvendo representantes empresariais e funcionários governamentais em torno de políticas setoriais. Ao longo das várias fases da industrialização substitutiva de importações, expandiram-se as arenas de 50 negociação entre os setores público e privado, com o fortalecimento dos conselhos técnicos dotados de representação empresarial. Órgãos como o Conselho de Desenvolvimento Industrial – CDI -, o Conselho de Política Aduaneira - CPA, a Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil - CACEX, os grupos executivos do Governo Kubitschek, o Conselho Monetário Nacional - CMN -, o Conselho de Desenvolvimento Econômico- CDE - e o Conselho de Interministerial de Preços - CIP-, para citar apenas os mais conhecidos, representaram importantes espaços de participação das elites empresariais no processo decisório governamental. 2 Esse traço, exacerbado pela longa duração dos regimes autoritários, levou ao estreitamento do intercâmbio e dos vínculos entre os interesses públicos e privados, dando origem à privatização do Estado, ampliando as oportunidades de desperdícios e distorções graves na alocação de recursos. (DINIZ E BOSCHI, 2004). ________________________ 2 Inúmeros trabalhos estudaram esse formato de articulação entre os setores público e privado na produção de políticas públicas entre os anos 30 e 80. Ver, por exemplo, Diniz (1978), Boschi (1979), Lima Jr e Abranches (orgs), (1987); Castro Santos (1993), Tápia (1995) e Leopoldi (1992). 51 Finda a discussão em torno do sindicalismo, podemos dizer que as entidades sindicais, exercem um papel de representação, tanto de trabalhadores, quanto de empregadores, e um compromisso no processo de desenvolvimento de ações sociais coletivas, que refletem à negociação coletiva, expressa pelos acordos, convenções coletivas e as pautas de reivindicações entre os sindicatos de trabalhadores e empresas. Analisar a visão da representação coletiva dos trabalhadores e empregadores com a RSE em relação ao público interno reveste-se de importância, visto que movimento empresarial em torno da responsabilidade social apresenta-se como uma oportunidade para a conquista e/ou consolidação de direitos coletivos. 2.5 Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e o público interno Neste tópico, discutir-se-á a responsabilidade social empresarial em relação ao público interno, que reflete o discurso moderno do empresariado internacional, que, em virtude das pressões da globalização, conquistou seu espaço no Brasil, sendo representado, entre outros, pelos indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Os indicadores Ethos são uma ferramenta de aprendizado e avaliação da gestão no que se refere à incorporação de práticas de responsabilidade social empresarial na gestão de pessoas. 2.5.1 Responsabilidade Social Empresarial interna e externa Hoje, já se pode afirmar que um número progressivamente maior de organizações entende que ter uma atuação expressiva no âmbito social fundamenta um dos pilares de sustentação dos seus negócios. (MCINTOSH et al., 2001). A evolução das exigências de 52 mercado impõe um desafio às empresas: oferecer não apenas preço e qualidade em seus produtos e serviços, mas também desenvolver uma postura calcada em princípios éticos, que inclui o respeito aos trabalhadores. Cada vez mais as empresas se deparam com pressões sociais que lhes cobram a conservação do meio ambiente, o respeito aos direitos trabalhistas e a colaboração com projetos sociais dentre outros aspectos. (COELHO, 2004). Segundo Vergara e Branco (2001, p.22), empresa socialmente responsável é sinônimo de empresa “[...] humanizada”, [ou seja,] é aquela que está voltada para seus funcionários, procurando agregar outros valores além de tão somente a maximização dos lucros e do retorno para os acionistas”. Na opinião de Furtado e Pena (2005), entende-se que os aspectos mais relevantes do conceito de responsabilidade social são o caráter voluntário e consciente das ações empresariais tomadas no sentido de melhorar as condições da vida em sociedade e a percepção de que, para atingir a condição de socialmente responsável, é necessário que a empresa vá além do estipulado em lei, buscando não só atender as exigências legais, mas pautando seu comportamento também em função dos benefícios às gerações vindouras, em uma ética orientada para o futuro. De acordo com Pena, et al. (2005), a RSE é o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que afetem positivamente todos os seus stakeholders, não só para fora da empresa, com a sociedade em geral, mas também para dentro da empresa, com seus trabalhadores. Para Bullara (2003), ser uma empresa socialmente responsável não significa somente dar vida a um projeto educativo ou realizar algumas ações de melhoria na prática dos negócios. A empresa precisa desenvolver internamente pessoas que sejam socialmente responsáveis. Somente contando com pessoas capazes de pensar e agir dessa forma pode-se 53 desenvolver internamente a cultura da responsabilidade social e fazer com que esta transcenda os limites da empresa. Para Srour, apud Coelho (2004), a RSE conjuga o desenvolvimento profissional dos funcionários e a co-participação destes em decisões técnicas, investimentos tanto em segurança como em melhores condições de trabalho, benefícios sociais e participação nos lucros e nos resultados. Prescreve a não-discriminação e o tratamento equânime para as pessoas, implica parceria efetiva entre clientes e fornecedores para gerar produtos e serviços de qualidade, preços competitivos e confiabilidade e exige a conservação do meio ambiente via intervenções não predatórias. A empresa que se quer socialmente responsável deve desenvolver ações no âmbito interno e externo da organização. (CARVALHO NETO, COELHO, 2005). Melo Neto e Froes (2001) detalham três dimensões da RSE: 1. a gestão social interna, que tem como foco as atividades regulares da empresa, saúde e segurança dos funcionários e qualidade do ambiente de trabalho, foco desta dissertação; 2. a gestão social externa, que se refere ao ônus das externalidades negativas ao meio ambiente, como poluição, uso dos recursos naturais, à sociedade e aos seus consumidores; 3. gestão social cidadã, que abrange a promoção do desenvolvimento social e a implementação de seus projetos sociais. Quanto às ações internas, Melo Neto e Froes (2001) destacam: 1. investimentos no bem-estar dos funcionários e seus dependentes (programa de remuneração e participação nos resultados, assistência médica, social, odontológica, alimentar e de transporte) e; 2. investimento na qualificação dos empregados (programas internos de treinamento, capacitação e programas de financiamento de cursos realizados pelos funcionários com vistas à sua maior qualificação profissional). 54 Melo Neto e Froes (2001) revelam ainda que o exercício da responsabilidade social interna deve contemplar a gestão de benefícios e remuneração e a gestão dos direitos dos empregados. Esta refere-se à proteção social que a empresa concede aos seus empregados mediante a adoção dos direitos de proteção do trabalhador, dos direitos trabalhistas, da manutenção da sua privacidade pessoal e liberdade de expressão e garantia de tratamento imparcial. Para os autores, além do retorno do investimento pelo aumento de produtividade, a empresa socialmente responsável alcança diversos outros tipos de retorno, como: melhoria da qualidade de vida de seus empregados; diminuição com gastos com a saúde e assistência social dos empregados, pois estes se tornam mais resistentes às doenças profissionais; redução do índice de absenteísmo; aumento da auto- estima dos empregados; melhoria do clima organizacional e a consolidação de uma nova cultura empresarial. No que tange ao desenvolvimento dos funcionários, Bartlett e Gloshal (2000) ressaltam que altos gerentes devem adotar uma visão mais ampla do treinamento e desenvolvimento dos funcionários. Em vez de simplesmente treinar funcionários em habilidades ligadas às suas tarefas, as empresas devem desenvolver suas capacidades em direção ao crescimento pessoal. Os autores ainda indagam sobre a atuação do gestor de RH. Este deve atuar no sentido de capturar a atenção e o interesse dos funcionários, envolver a organização, construir valores essenciais e transmitir uma mensagem de comprometimento, não esquecendo que é um caminho de dupla mão, na qual os gestores devem reconhecer a contribuição dos funcionários e os tratar como ativos valiosos. O movimento de RSE certamente tende a trazer benefícios sociais. No entanto, se desencadeado de maneira não planejada, pode ser danoso à imagem das empresas, na medida em que pode criar expectativas em excesso por parte dos diversos grupos de stakeholders: trabalhadores, clientes, fornecedores, acionistas, concorrentes, comunidade, governo. (PENA 55 et alii, 2005). É preciso que a responsabilidade social seja pensada em consonância com a estratégia global da organização. (COUTINHO; MACEDO-SOARES, 2002). 2.5.2 Indicadores de RSE relativos ao público interno O Insitituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social , fundado em 1998, é uma associação de empresas que pretendem discutir meios de propagar a cidadania empresarial no país. O Instituto afirma que a empresa é socialmente responsável quando “vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores, e faz isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa”. Em Junho de 2000 o Instituto Ethos lançou os “Indicadores Ethos”, que têm a finalidade de servir como um “instrumento de avaliação e planejamento para empresas que buscam excelência e sustentabilidade em seus negócios”. Da forma que são construídos, os indicadores fornecem um referencial prático para as empresas sobre as questões a serem consideradas ao refletirem sobre um comportamento socialmente responsável. Servem como uma diretriz objetiva e de aplicação imediata, tanto na avaliação das ações da empresa, quanto no planejamento da sua estratégia de ação em direção à responsabilidade social. Contudo, os Instituto Ethos não oferece uma extensiva definição do que seja responsabilidade social empresarial em termos conceituais e não fundamenta teoricamente a origem dos indicadores que propõe. (ETHOS, 2005). O Instituto Ethos organiza o conceito de Responsabilidade Social Empresarial e os Indicadores Ethos em sete tópicos, abrangendo todos os stakeholders, da seguinte forma: valores e transparência, público interno, meio ambiente, fornecedores, comunidade, consumidores/clientes e governo e sociedade. 56 Os Indicadores de Responsabilidade Social em relação ao público interno, proposto pelo Instituto Ethos, que darão fundamento a discussões nesta dissertação, abrangem as seguintes categorias: diálogo e participação, respeito ao indivíduo e trabalho decente. Segundo o Instituto Ethos, a principal função dos Indicadores é fornecer às empresas um instrumento de acompanhamento e monitoramento das suas práticas de responsabilidade social. A ferramenta funciona basicamente como uma auto-avaliação, pois o Instituto não fornece certificações de responsabilidade social. Em relação ao público interno, o Ethos considera que a empresa [...] socialmente responsável deve ir além e investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas relações com os empregados. Também deve estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável com as minorias e instituições que representam seus interesses. (ETHOS, 2005). Indicadores do Instituto Ethos para o público interno. Diálogo e participação: • relações com sindicatos; • gestão participativa; • compromisso com o futuro das crianças. Respeito ao indivíduo: • valorização da diversidade; • relações com trabalhadores terceirizados. Trabalho decente • política de remuneração, benefício e carreira; • cuidado com saúde, segurança e condições com o trabalho; • compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade; 57 • comportamento frente às demissões; • preparação para a aposentadoria. Em seguida, discutir-se-á cada um dos indicadores Ethos mencionados acima. 2.5.2.1 Relações com sindicatos Segundo o Instituto Ethos (2005), a empresa que se quer socialmente responsável com o público interno procura manter bom relacionamento com o sindicato dos trabalhadores, compartilhando com seus representantes as informações necessárias à tomada de decisões que dizem respeito aos interesses de seus trabalhadores. Além disso, deve estabelecer negociações com as entidades sindicais visando solucionar demandas coletivas. A empresa deve, portanto, buscar consolidar a prática de interlocução transparente com essas entidades, em torno de objetivos compartilhados. Por outro lado, como salienta o Ministério Público do Trabalho, os sindicatos não têm apenas a tarefa de denunciar, mas o compromisso de apresentar propostas e o dever de lutar pela sua implementação, fazer com que a discriminação no ambiente de trabalho seja eliminada. Para isso, faz-se necessário introduzir cláusulas antidiscriminatórias nas negociações e acordos coletivos; reivindicar a criação nas empresas de campanhas e programas que contribuam para a eliminação das desigualdades de oportunidade e tratamento igualitário no mercado de trabalho. (BRASIL, 2005). A empresa deve permitir a atuação do sindicato no local de trabalho. É fundamental a criação de canais efetivos de comunicação, com a transmissão de informações sobre condições de trabalho, dados financeiros, objetivos estratégicos que atinjam os trabalhadores. (ETHOS, 2005) 58 2.5.2.2 Gestão Participativa A importância da gestão participativa, sobejamente ressaltada na literatura, está relacionada ao respeito que as empresas têm ou deveriam ter por seus funcionários. É mais perceptível quando permite que o público interno expresse a sua opinião e contribua com idéias e alternativas para a gestão organizacional. Essa política traz retornos e benefícios às empresas, visto que otimiza resultados, descentraliza a forma de gestão (diminuindo a burocracia) e valoriza um dos mais importantes recursos que o empregado tem a oferecer: a criatividade. (ETHOS, 2005). Os programas de gestão participativa incentivam o envolvimento dos empregados na solução dos problemas da empresa. A empresa deve possibilitar que os empregados compartilhem seus desafios, o que também favorece o desenvolvimento pessoal e profissional e a conquista de metas estabelecidas em conjunto. (ETHOS, 2005). Segundo Ulrich (2002), esse tipo de gestão, que valoriza a participação das pessoas no processo de tomada de decisões sobre diversos aspectos nas organizações, proporciona: melhores resultados para a organização e para os indivíduos dela participantes; aumenta o grau de integração com a cultura organizacional; permite uma base mais sólida para tomadas de decisões; propicia a participação dos trabalhadores nos objetivos organizacionais, gerando um clima positivo para o trabalho e acelera as condições de competitividade da empresa. Assim, uma empresa socialmente responsável com relação ao seu público interno deve desenvolver técnicas de gestão participativa, voltadas, principalmente para compartilhar o poder nas tomadas de decisões, provocar e criar ambientes de motivação, comprometer as pessoas com o trabalho, desenvolver sistemas de sugestões eficientes e duradouras, formar e conduzir equipes para a eliminação dos problemas e vencer resistências à implantação das mudanças que se fazem necessárias. (ETHOS, 2005). 59 2.5.2.3 Compromisso com o futuro das crianças O trabalho infantil é conhecido desde a revolução industrial nos séculos XVIII e XIX. É motivo de preocupação dos organismos multilaterais, como a OIT e o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF. Para tentar erradicar este tipo de trabalho, a OIT estabeleceu normas como a Convenção138, que estabelece a idade de 15 anos como idade mínima para o trabalho infantil. A educação e o desenvolvimento pleno da criança ou adolescente são ameaçados pelo trabalho perigoso, que ponha em risco o seu bem-estar físico, mental ou moral. As formas inquestionavelmente piores de trabalho infantil são a escravidão, a prostituição, os conflitos armados e a pornografia. (SILVA; NEVES JÚNIOR; ANTUNES, 2002). Segundo estimativas da OIT (2002), em 2000, eram mais de 351 milhões as crianças entre cinco e 17 anos de idade economicamente ativas no mundo. Dessas, mais de 245 milhões estavam efetivamente ocupadas, sendo que 178 milhões nas chamadas piores formas de trabalho infantil, e mais de 170 milhões realizavam trabalhos considerados perigosos. Ou seja, 23% das pessoas entre cinco e 17 anos de idade estavam economicamente ativos, 11,5% em atividades consideradas como as piores formas de trabalho infantil. Para Marques, Neves e Carvalho Neto (2002), o problema do trabalho infantil atinge especialmente crianças e adolescentes de países pobres. Para os autores, a predominância das atividades agrícolas e o fato de estarem fortemente associadas à economia informal são características marcantes do trabalho infantil. A criança que trabalha quase sempre o faz em detrimento da escola e do lazer, o que gera um adulto com baixa qualificação e que, possivelmente, encontrará muitas dificuldades para competir no mercado de trabalho. Muitas vezes, com a finalidade de garantir o sustento 60 da família, os pais pobres introduzem seus filhos precocemente no mercado de trabalho. (SANTOS, 2002). A Constituição Federal brasileira proíbe todo e qualquer tipo de trabalho aos menores de 16 anos, à exceção do trabalho na condição de menor aprendiz, a partir dos 14 anos. Outro importante dispositivo legal brasileiro é o Estatuto da Criança e Adolescente - ECA-, sancionado em 1990, que regula as conquistas consubstanciadas na Constituição Federal. As empresas engajadas em ações sociais em torno da erradicação do trabalho infantil buscam investir na RSE por meio de vários programas. De um modo geral, procuram chamar a atenção para as violações dos direitos da infância e da adolescência e conscientizar seus próprios trabalhadores e fornecedores além de segmentos específicos ou a opinião pública para o problema. (ETHOS, 2005). 2.5.2.4 Valorização da diversidade A diversidade está associada à prática de responsabilidade social e à sua capacidade de agregar valor para a empresa. Os aspectos da temática da diversidade apontados pelo Instituto Ethos são: gênero, raça e etnia, portadores de necessidades especiais, crenças e opiniões, idade e temas específicos (preferências sexuais, portadores do vírus HIV, alcoólatras e dependentes de drogas). (ETHOS, 2005). O Brasil é signatário, desde 1965, da Convenção n. 111 da Organização Internacional do Trabalho, assumindo o compromisso de formular e aplicar uma política nacional que tenha por fim promover a igualdade de oportunidades e de tratamento em matéria de emprego e profissão. Na definição da Convenção n. 111, discriminação compreende “[...] toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de 61 oportunidades ou tratamento em matéria de emprego ou profissão”. (CONVENÇÃO. 111, p.32). Para Carroll e Buchholtz (2000), discriminação significa uso da raça, cor, religião, sexo ou origem nacional como base de tratamento das pessoas diferentemente ou de maneira desigual. Essa forma de discriminação ficou conhecida como tratamento desigual. Evitar esse tipo de discriminação significa que todos os grupos ou indivíduos devem ser tratados de maneira equânime. Publicado em 1999, com base em pesquisa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos- DIEESE -, o Mapa da População Negra no Mercado de Trabalho mostrou que os negros recebem salários menores que os não-negros, ocupam a maior parte dos postos de trabalho precários, estão mais sujeitos ao desemprego e mais distantes dos cargos de chefia. A pesquisa foi realizada em seis regiões metropolitanas brasileiras e constatou que a taxa de desemprego entre os negros, em relação aos não-negros, chega a ser 45% maior em Salvador e 41% maior em São Paulo. Segundo a pesquisa, os maiores salários ficam com os homens não-negros, seguidos pelas mulheres não-negras, que, por sua vez, recebem salários maiores que os homens negros. O último lugar da escala salarial é o das mulheres negras, vítimas do duplo preconceito. Em contrapartida, pesquisa divulgada em 1999 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA-, órgão do Ministério do Planejamento, mostrou que, nas capitais brasileiras, a classe média negra teve um crescimento relativo de 10% a partir de 1992, representando um contingente expressivo de pessoas que se incorporaram ao mercado consumidor e de trabalho. Para Arruda, Whitaker e Ramos (2001), o reconhecimento do talento das pessoas, preservando os valores da organização, deve-se sobrepor à discriminação de sexo, raça, idade, região geográfica, nas políticas de recursos humanos. Para os autores, os negócios se 62 desenvolvem cada vez de forma mais diversificada, não havendo espaço para discriminação de qualquer tipo. Conforme Werlang (2003, p.347), “[...] é preciso mudar a forma como a organização pensa e percebe a si mesma”. Administrando as diferenças, gerindo a diversidade, a empresa pode tornar-se um forte embrião de mudança na sociedade, consolidando a sua atuação no campo da responsabilidade social. Uma empresa não deve permitir qualquer tipo de discriminação em termos de recrutamento, acesso a treinamento, remuneração, avaliação ou promoção de seus empregados. Devem ser oferecidas oportunidades iguais às pessoas, independentemente do sexo, raça, idade, origem, orientação sexual, religião, deficiência física, condições de saúde etc. Atenção especial deve ser dada a membros de grupos que geralmente sofrem discriminação na sociedade. (ETHOS, 2005). 2.5.2.5 Relações com trabalhadores terceirizados Amaro Neto (1995) encontrou como motivação principal para adoção da terceirização a conquista de maior flexibilidade produtiva. A dimensão da flexibilidade destacada como mais importante, entretanto, foi a que permite maior liberdade de gestão da força-de-trabalho, seja via flexibilização dos contratos de trabalho (formas de contratação, duração da jornada e do local de realização do trabalho), seja por meio da redução dos encargos sociais e trabalhistas. Segundo várias pesquisas (DIEESE, 1994; FARIA 1994; CARVALHO NETO, 1996), a terceirização no Brasil está, via de regra, associada a: ganhos em custos; aumento do número de micro/pequenas empresas; 63 enxugamento de estruturas organizacionais, ocasionando demissões; menores salários; perdas de benefícios e vantagens salariais constantes dos acordos coletivos sindicais; maior precariedade do vínculo empregatício, das condições de trabalho e de segurança ; menor participação dos trabalhadores na vida sindical; crescimento do trabalho temporário. Em relação à RSE, o que deve ser considerado como essencial no planejamento estratégico da terceirização, além da preocupação em determinar mudanças nos processos utilizados e na estrutura organizacional, é exigir para os trabalhadores terceirizados condições semelhantes às de seus próprios empregados. Cabe à empresa evitar que ocorram terceirizações em que a redução de custos seja conseguida pela degradação das condições de trabalho e das relações com os trabalhadores. (RAMALHO e MARTINS, 1994). Os terceiros, embora participando do mesmo processo produtivo que os contratados diretos, estão excluídos da categoria dominante em termos de enquadramento sindical. As conquistas salariais e sociais firmadas em acordo coletivo, além de não alcançarem os terceiros, funcionam como elemento de pressão e ameaça sobre os trabalhadores diretamente empregados, (SINDICATO DOS METALÚRGICOS DO ABC 1993), já que eles estariam cada vez custando mais às empresas, em comparação com os terceiros. Uma iniciativa importante para a empresa é buscar disseminar seus valores pela cadeia de fornecedores, empresas parceiras e terceirizadas. Cabe à empresa evitar que ocorram terceirizações em que a redução de custos seja conseguida pela degradação das condições de trabalho e das relações com os trabalhadores terceiros. (ETHOS, 2005). 64 2.5.2.6 Política de remuneração, benefício e carreira Para Carvalho Neto (2001) e Martins (2002), a remuneração variável é uma tendência geral, embora com ênfase variada, dependendo do país. A Participação nos Lucros e Resultados - PLR- no Brasil ganhou espaço na gestão empresarial a partir dos anos 1990. As formas de remuneração variável têm sido cada vez mais utilizadas como instrumento de adaptação empresarial a um ambiente fortemente competitivo e de mudanças rápidas, permitindo a diminuição ou o aumento do salário total ao sabor das flutuações do mercado. Entre as vantagens da PLR, Picarelli e Wood (1996) apontam: aumenta entre os funcionários a compreensão do negócio; reforça a importância da convergência de esforços; leva a uma visão mais abrangente do negócio e dos sistemas; reduz a resistência a mudanças; aumenta a pressão dos funcionários por sistemas de gestão mais eficazes. Para Carvalho Neto (2001), sempre foi difícil negociar a PLR no Brasil, tanto para os trabalhadores quanto para os empresários. Para o sindicalismo brasileiro, a dificuldade foi de natureza ideológica, já que participar dos lucros seria aceitar os valores capitalistas. Para as empresas, seria o temor de estar criando possibilidade de os trabalhadores conhecerem o desempenho empresarial, econômico e financeiro, até certo ponto dando-lhes oportunidades de questionar e participar da gestão. Mas esses temores estão superados e, atualmente, a negociação da PLR é generalizada no País. Atualmente, transfere-se para o trabalhador a responsabilidade de administrar as transições em sua carreira. (MCDANIELS e GYLBERS, 1992; CHANLAT, 1995; FREITAS, 1997; AMHERDT, 1999). 65 Chanlat (1995) relata dois grandes modelos de carreiras a partir das sociedades industrializadas: o modelo tradicional e o modelo moderno. O modelo tradicional fordista, que vigorava até os anos 1970, foi marcado pela estabilidade, enriquecimento, progresso e divisão sexual e social do trabalho, em que apenas os homens trabalhavam, ou seja, a possibilidade de ascensão pertencia apenas aos grupos socialmente dominantes. A progressão da carreira era linear e vertical, e os trabalhadores tinham maior estabilidade no emprego. Já o novo modelo, a partir dos anos 1980 e 1990, caracteriza-se por oportunidades para o profissional tanto do sexo masculino como do sexo feminino e pertencente a grupos sociais variados; a progressão na carreira é descontínua, mais horizontal do que vertical e apresenta maior instabilidade. De acordo com Chanlat (1995), as principais causas do declínio da carreira tradicional estão relacionadas aos seguintes fatores: penetração crescente das mulheres no mercado de trabalho; elevação dos graus de instrução; cosmopolitização do tecido social; afirmação dos direitos dos indivíduos; globalização da economia, competitividade e turbulência ambiental; necessidade de mudanças nas organizações, flexibilização do trabalho A empresa socialmente responsável deve considerar seus funcionários como sócios, desenvolvendo uma política de remuneração, benefícios e carreira que valorize as competências potenciais de seus funcionários e invista em seu desenvolvimento profissional. Além disso, deve monitorar a amplitude de seus níveis salariais com o objetivo de evitar reforçar mecanismos de má distribuição de renda e geração de desigualdades sociais, efetuando ajustes quando necessário. (ETHOS, 2005). 66 2.5. 2.7 Cuidados com saúde, segurança e condições de trabalho Walton, apud Silva e Tolfo (1999), defende que a idéia de Qualidade de Vida no Trabalho –QVT- é calcada em humanização do trabalho e responsabilidade social da empresa, envolvendo o interesse pelas necessidades e aspirações do indivíduo, por meio da reestruturação do desenho de cargos e novas formas de organização do trabalho, aliado à formação de equipes com maior autonomia e à melhoria do meio organizacional. A temática da QVT engloba temas como motivação, satisfação, condições de trabalho, estresse e estilos de liderança, dentre outros. (SILVA e TOLFO, 1999). O conceito de QVT refere-se à preocupação com o bem-estar geral dos trabalhadores e sua saúde no desempenho de suas tarefas. Berndt e Coimbra (1995) afirmam que a ausência de equilíbrio entre influências ambientais, modos de vida e componentes da natureza humana, quando percebida no processo dinâmico de realização profissional, resulta em disfunções ou doenças, como o stress. Segundo esses autores, relações equilibradas, éticas e não ameaçadoras são fundamentais para a saúde da organização e das pessoas que nelas se inserem. Moraes e kilimnik (1994) colocam que a QVT apresenta um conteúdo subjetivo, na medida em que está ligada à satisfação de necessidades intrínsecas e, também, um conteúdo objetivo e concreto que diz respeito à forma como o trabalho está organizado. Segundo esses autores, as pesquisas e estudos sobre QVT, por categoria sócioprofissional, demonstram que a falta de identidade coletiva é uma constante e resulta na insatisfação geral e na falta de mobilização dos profissionais junto a associações e sindicatos. Em tal situação, verifica-se um círculo vicioso em que falta de identidade gera pouca conscientização e mobilização e, assim, 67 insuficiente representatividade sindical, que, por sua vez, redunda em negociações fracas e, daí, a índices de QVT insatisfatórios. Nos anos 1990, as negociações coletivas entre empresários e trabalhadores, nos setores metalúrgicos (mineiro e paulista), químico e bancário , apresentaram algumas conquistas na área de saúde e segurança no trabalho. No setor bancário, as negociações foram em torno da preocupação com doenças ocupacionais, como Lesões por Esforços Repetitivos - LER, Distúrbios osteomusculares relacionadas ao Trabalho - DORT – e violências urbanas que desencadeiam distúrbios psíquicos. Os químicos (São Paulo e do ABC) acordaram com as empresas importantes cláusulas referentes à segurança e saúde, como a complementação de salário por quase um ano e três anos de plano médico, para acidentados e doentes profissionais e a manutenção de equipamentos de proteção coletiva ocupando a vanguarda sindical do País nas questões de saúde. Os metalúrgicos negociaram cláusulas, na linha do sindicato-cidadão, como garantia de empregos aos portadores de HIV, readaptação de acidentados, treinamento contra riscos no primeiro dia de trabalho. (CARVALHO NETO, 2001). Segundo a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social DATAPREV-, os trabalhadores que mais são acometidos pelas doenças provocadas pelo trabalho são os do setor de intermediação financeira. Relacionam-se às atividades bancárias e de digitação, que dão origem ao maior grupo de doenças ocupacionais denominadas LER e DORT. Esse setor consome a maior parte dos benefícios destinados aos trabalhadores que adquirem incapacidade parcial permanente, seguido pela indústria de transformação. Assim, visando assegurar boas condições de trabalho, saúde e segurança, a empresa socialmente responsável com relação aos seus funcionários, além de realizar campanhas regulares de conscientização, deve definir a participação dos trabalhadores, metas e 68 indicadores de desempenho que não prejudiquem a saúde e divulgá-las amplamente. (ETHOS, 2005). 2.5.2.8 Compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade É consenso na literatura que investir no desenvolvimento profissional dos trabalhadores deve fazer parte das estratégias das organizações. (ARGYRIS, 1992). Na mesma linha, Fleury (1997) atesta um certo despertar para a importância do treinamento e educação dos trabalhadores como um fator que pode reverter em ganhos de produtividade para as organizações. Dentro do quadro atual, a necessidade de investir em práticas contemporâneas de recrutamento e seleção, o treinamento e o desenvolvimento de pessoas são considerados uma grande fonte de vantagem competitiva. Isto devido à sua “[...] capacidade original de combinarem emoção com razão, subjetividade com objetividade, quando desempenham suas tarefas, interagem e decidem”. (DAVEL e VERGARA, 2001 p.32). O emprego, no novo contexto organizacional, passou a exigir novos requisitos: agilidade, abertura a mudanças, capacidade de assumir riscos continuamente e flexibilidade. A empregabilidade é vista como a capacidade do trabalhador de assegurar um emprego, frente às novas exigências das organizações. Diversos outros autores criticam a ênfase na empregabilidade como um discurso que transfere a responsabilidade pelo emprego, da sociedade e do Estado unicamente para o trabalhador. Carrieri e Sarsur (2002), por exemplo, entendem a empregabilidade como uma estratégia adotada pela alta gestão para transferir a responsabilidade da organização pela não-contratação ou demissão para o trabalhador. 69 Nesse sentido, é alvissareiro o discurso da RSE, que assume parte da responsabilidade pelo desenvolvimento da carreira como sendo da empresa. Cabe à empresa comprometer-se com o investimento na capacitação e desenvolvimento profissional de seus empregados, oferecendo apoio a projetos de geração de empregos e fortalecimento da empregabilidade para a comunidade com que se relaciona. (ETHOS, 2005). 2.5.2.9 Comportamento frente às demissões A sociedade contemporânea, principalmente nas últimas duas décadas do século XX, passou por fortes transformações. O liberalismo e sua reestruturação produtiva produziram um monumental desemprego, em escala globalizante. (HOBSBAWM, 2002). Empresas privadas e públicas já fizeram drásticos enxugamentos de pessoal no País, mas novos cortes estão sempre acontecendo. No Brasil, como salienta Carmo (1995), é ainda muito maior a instabilidade diante da perspectiva de perda do emprego, um drama que afeta a todos. Estar desempregado não é estar com tempo livre para o lazer: a falta de recursos financeiros, os momentos de tensão, o sentimento de fracasso, de exclusão social e a sensação de ser facilmente descartável afetam profundamente o desempregado. E, no Brasil, país de histórico déficit na área de seguridade social, desemprego e exclusão estão muito mais relacionados do que nos países centrais. O enxugamento ou corte de pessoal revela importantes facetas das empresas, especialmente pela forma como lidam com essa situação, que envolve a transparência e a comunicação. (OLIVEIRA, FRANÇA 2005). No Brasil, as empresas começaram a enxugar seus quadros de pessoal de forma sistemática a partir da década de 1990. Entre 1991 e 1994, cerca de 35 grandes empresas 70 realizaram demissões em massa e muitas dessas organizações eram modelos em práticas administrativas. (CALDAS, 2000). Caldas (2000 p. 60) diz que uma das justificativas para a demissão é que, quando as empresas percebem queda de competitividade ou de atividade no mercado, os dirigentes partem da premissa de que “[...] custos futuros são mais simples de prever do que receitas futuras. E nessa visão, os empregados são percebidos como itens de despesas, pois cortar custos com o desligamento de pessoal seria uma aposta segura no crescimento da receita líquida da empresa e, por extensão, nos lucros”. Como lembram Bessi e Grisci (2003), uma das alternativas com que a empresa conta frente às demissões são os programas de demissões voluntárias. O Programa de Demissão Voluntária –PDV- é entendido como uma forma de desligamento funcional que procura atender as necessidades da organização, de diminuição de seu quadro por meio de um conjunto de benefícios sociais e pecuniários aos trabalhadores atingidos. Assim, esse tipo de programa implica oferecer pacotes de desligamento, incluindo indenizações ou outras compensações para aqueles que se propõem a serem desligados. As empresas devem avaliar criteriosamente a questão da redução de mão-de-obra, analisando os efeitos que acarretam. As crises podem ter origem na gestão das empresas e, não, no número de empregados. Demissões mal conduzidas podem levar a processos trabalhistas e a desgaste da imagem da empresa. A ilusão de cortar custos fixos com funcionários também pode gerar gastos maiores no futuro por meio de recrutamento de pessoal, treinamentos, perda da produtividade e credibilidade afetada no mercado dentre outros. (SARSUR, 1997). Muitas empresas não percebem os problemas e as conseqüências negativas que uma demissão em massa pode causar. Perda de liderança, queda na participação em programas de envolvimento de pessoal, redução do trabalho em equipe, aumento de conflitos e estresses 71 organizacionais são uns dos efeitos no ambiente de trabalho e que podem inibir a eficácia e a competitividade das empresas no mercado. As variáveis no ambiente de trabalho são afetadas com os cortes de funcionários, e a tensão provocada pode levar queda de auto-estima, menor motivação e satisfação, tanto dos funcionários demitidos como dos que continuam na empresa: os remanescentes. O menor comprometimento dos empregados com a organização pode levar ao absenteísmo, acidentes, doenças, perda de produtividade e insatisfação dos clientes entre outros. (CALDAS, 2000). As empresas estão percebendo que existem alternativas para evitar demissões. Redução da jornada de trabalho, redução de benefícios e férias coletivas são medidas que diminuem custos, evitam ou adiam processos de demissão em massa. Essa preocupação vem da percepção de que demissão afeta não só os funcionários, mas também a percepção que os outros públicos têm sobre a empresa. Consumidores, imprensa, concorrência, por exemplo, começam a especular sobre a situação da empresa, e isso pode influenciar na sua posição no mercado. (CALDAS, 2000). Segundo o Instituto Ethos, as demissões de pessoal não devem ser utilizadas como primeiro recurso de redução de custos. Quando forem inevitáveis, a empresa deve realizá-las com responsabilidade, estabelecendo critérios para executá-la e assegurando os benefícios que estiverem a seu alcance. Além disso, a empresa pode utilizar sua influência e acesso a informações para auxiliar a recolocação dos empregados demitidos. (ETHOS, 2005). 2.5.2.10 Preparação para a aposentadoria Na sociedade contemporânea, em que a produtividade das pessoas ainda está bastante associada ao emprego, mudanças que visem desvincular o emprego da própria vida são difíceis para os indivíduos. O emprego possibilita à maioria dos indivíduos o estabelecimento 72 de uma rede central de relações, pois, por meio dela, orienta sua identidade, dizendo a si próprio e ao outro o que são. (BRIDGES, 1995). Carvalho e Serafim (1995) salientam que é muito traumatizante na sociedade de consumo aceitar a tese de que todos são programados biologicamente para nascer, desenvolver, amadurecer, envelhecer e morrer. Nesse contexto, a palavra aposentadoria soa desagradável e frustrante para muitos profissionais em fim de carreira. Para estes autores, três aspectos importantes levam os indivíduos a não conseguirem separar a razão de viver da razão de trabalhar: a perda do vínculo com a organização, a dúvida do que fazer com o tempo livre e a questão do status que algumas funções dão ao trabalhador. Nesse sentido, a aposentadoria pode representar um momento de mudança forçada até mesmo coagida -, gerando crises e forte sensação de perda, tanto no plano emocional quanto no psicológico, como, ainda, nos planos sociais e financeiros. A adaptação para a aposentadoria dependerá do envolvimento dos indivíduos com o trabalho, da sua história de vida, dos seus projetos futuros no que diz respeito às suas expectativas e limitações e do compromisso que a empresa deve criar, visando reduzir o impacto negativo da aposentadoria no nível de renda, e estimulando a participação dos aposentados em seus projetos sociais. (FRANÇA, 2002). Pelo último mapeamento dos dados de cobertura previdenciárias do País, 27 milhões de trabalhadores brasileiros estavam socialmente desprotegidos. Desse total, 16,9 milhões contavam com renda igual ou superior a um salário mínimo e, conseqüentemente, poderiam ser incorporados ao sistema previdenciário contributivo, a partir de políticas de inclusão previdenciária, que podem ser praticadas também por empresas. (IBGE 2002). A empresa socialmente responsável tem forte compromisso com o futuro de seus funcionários. O momento da aposentadoria representa excelente oportunidade para demonstrá-lo na prática. A empresa deve criar mecanismos de complementação 73 previdenciária, visando reduzir o impacto da aposentadoria no nível de renda e estimular a participação dos aposentados em seus projetos sociais. (ETHOS, 2005). 74 3 METODOLOGIA DA PESQUISA 3.1 Tipo de pesquisa O objeto do estudo consiste na negociação coletiva, expressa pelos acordos, convenções coletivas e as pautas de reivindicações entre o sindicato de trabalhadores, empresas e sindicato de empregadores. A estratégia de pesquisa recaiu sobre um estudo de casos múltiplos, centrada em técnicas qualitativas, de natureza descritiva. Na opinião de GIL (1999, p.73), [...] o estudo de caso vem sendo utilizado com freqüência cada vez maior pelos pesquisadores sociais, visto servir a pesquisas com diferentes propósitos, tais como: explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; e explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos. Para Goldenberg (1999), o estudo de caso reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto. Segundo Yin (2001), o mesmo estudo pode conter mais de um caso. Quando isso ocorrer, o estudo precisa utilizar um projeto de casos múltiplos, em que cada caso deve ser cuidadosamente selecionado de forma a prever resultados semelhantes ou produzir resultados contrastantes. Gil (1999) esclarece que as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Enfatiza, ainda, que uma das características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. 75 A pesquisa descritiva compreende descrição, registro, análise e interpretação na natureza atual ou processo dos fenômenos. O enfoque se faz sobre condições dominantes ou sobre como uma pessoa, grupo ou coisa se conduz ou funciona no presente. (SALOMON, 2001). Para Vieira e Zouain (2004), uma importante característica da pesquisa qualitativa é que ela geralmente oferece descrições ricas e bem fundamentadas, além de explicações sobre os processos em contextos locais identificáveis. Para os autores, mesmo tendo uma natureza mais subjetiva, a pesquisa qualitativa oferece um maior grau de flexibilidade ao pesquisador para a adequação da estrutura teórica ao estudo do fenômeno organizacional. 3.2-Unidades empíricas de análises Foram realizados estudos sobre três negociações coletivas recentes, com data-base 2005/2006, entre os sindicatos dos trabalhadores, empresas e sindicato de empregadores. Os critérios para a escolha foram os mais atuantes da região metropolitana de Belo Horizonte, no tocante às ações sindicais. Assim, as unidades de análise foram três sindicatos de trabalhadores (SINDICATO A, SINDICATO B e SINDICATO C), um sindicato de empregadores que negocia com o Sindicato C e duas grandes empresas (A e B), que negociam diretamente com os Sindicatos dos Trabalhadores A e B. 3.3 Caracterização das Unidades de Análises CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA A A Empresa A pertence ao setor de energia e atua na região Sudeste do Brasil. Produz energia para atender mais de 17 milhões de pessoas. A empresa, de grande porte, é uma das maiores do mundo. 76 Atualmente, conta com mais de 10.000 funcionários, dos quais cerca de 70% são filiados ao Sindicato A de trabalhadores. Considerada uma empresa eficiente e competitiva, em 2004, encerrou o exercício registrando um lucro líquido de 16% superior ao de 2003. A empresa A investe no que há de mais avançado em tecnologia, desde o atendimento e o monitoramento dos reservatórios, com sistemas que recebem informações on-line via satélite, até sua contabilidade interna. SINDICATO A O Sindicato A representa uma categoria de trabalhadores com mais de 50 anos de organização e mobilização e é filiado à Central Única de Trabalhadores - CUT. É composta por nove dirigentes sindicais de base estadual, um conselho deliberativo, dez secretarias, sendo que cada uma delas tem um diretor responsável pelo planejamento e execução do trabalho determinado pela diretoria estadual e pelo conselho deliberativo. Possui 10 funcionários. Na época em que o Sindicato A começava a sua organização, as condições de trabalho do Sindicato eram péssimas, muitos não recebiam treinamento, e os acidentes de trabalho eram freqüentes, os salários eram baixos e a jornada de trabalho ia de 10 a 12 horas diárias, sem direito a horas extras. Nos anos 1970, os sindicalistas partiram para a luta, mobilizações, greves e obtiveram vitórias importantíssimas. As principais conquistas foram: anuênio de 1% do salário-base para cada ano trabalhado, limitado a 35%; liberação dos membros da Comissão interna de prevenção de acidentes- CIPA- por quatro horas semanais para reuniões e inspeção nos locais de trabalho; participação do sindicato na apuração de acidentes graves e fatais com trabalhadores próprios (hoje, a reivindicação é que a participação ocorra também para apurar 77 acidentes com empreiteiras); pagamento da 1ª parcela do 13º salário a qualquer momento (a critério do empregado); empréstimo de férias; plano de saúde; turno ininterrupto de revezamento com jornada de seis horas em escalas alternativas; pagamento de 30% de adicional de periculosidade para todos os empregados em exercício de atividades de risco; participação nos resultados; concurso interno para todos os cargos vagos; tíquete-refeição; abertura de concurso externo para mulheres. EMPRESA B A Empresa B é a terceira maior companhia de saneamento básico do País pelo critério de receita líquida. Adicionalmente, em agosto de 2005, foi considerada a primeira companhia do setor de saneamento básico no Brasil pelo critério de rentabilidade (lucro líquido sobre patrimônio líquido) em 2004. Suas principais atividades compreendem o planejamento, a elaboração de projetos, a execução, ampliação, remodelagem e exploração de serviços de saneamento, principalmente, serviços públicos. Adicionalmente, a Companhia conduziu atividades de cooperação técnica em diversos municípios do estado de Minas Gerais, inclusive naqueles que não tem concessões, bem como junto ao setor privado. No segundo trimestre de 2006, findo em 30 de junho de 2006, a Companhia registrou receita líquida de R$415 milhões e lucro líquido de R$105,6 milhões. Conta com cerca de 11 milhões de clientes. É uma empresa de grande porte, com 11 mil empregados, sendo que 60% são filiados ao Sindicato B de trabalhadores. A estrutura organizacional da Companhia é composta pela presidência, vice-presidência e por seis diretorias, sendo quatro operacionais e duas de suporte, cujas responsabilidades são determinadas pelo seu conselho de administração. A empresa mantém 29 laboratórios espalhados pelo estado que realizam, mensalmente, mais de 80 mil análises que permitem um eficiente controle da qualidade dos serviços prestados que é distribuída à população. 78 Em 2005, a Companhia recebeu os prêmios Melhores do Dinheiro, na categoria melhor empresa do País em serviços de utilidade pública segundo a revista Isto é Dinheiro, Balanço Anual – Melhor Empresa na Categoria de Saneamento e Limpeza, segundo o jornal Gazeta Mercantil e Empresa do Ano, segundo a revista Saneamento Ambiental, neste último caso pelo segundo ano consecutivo. SINDICATO B O Sindicato B atua há 26 anos e é também filiado à CUT. Suas principais conquistas são: PLR; cuidados com a saúde e segurança no trabalho; igualdade de oportunidades; benefícios como tíquete alimentação e cesta básica, plano de cargos carreiras e salários e liberação de dirigentes sindicais para atuarem no sindicato. Conta com 10 diretores executivos e seis diretores de base estadual e um conselho fiscal. SINDICATO DOS EMPREGADORES O Sindicato dos Empregadores foi fundado há cerca de 60 anos. Nasceu a partir da iniciativa de um grupo de profissionais que viram um sinal de fortalecimento dos princípios da livre iniciativa. O Sindicato se fortaleceu com o tempo e ampliou sua atuação. Hoje, a representatividade é a base para atuações, em diversos campos, na defesa de um grande número de empresas privadas pequenas, médias e grandes. Representando milhares de empreendedores privados no setor de serviços do estado de Minas Gerais, seus principais programas são: defesa do direito de seus associados; capacitação de comissão permanente para acompanhar a implementação de acordos sindicais; ampliação da articulação política com as demais entidades representativas no Brasil; mediação de parcerias; competência gerencial, ofertando serviços inovadores; tecnologia 79 diferenciada e formação para o exercício da cidadania e aprimoramento dos recursos de comunicação e fortalecimento da relação das empresas com os meios de comunicação social. SINDICATO C O Sindicato C foi fundado há cerca de 70 anos e também é filiado à CUT. Desde a fundação até a ditadura militar, o Sindicato C sofreu intervenções constantes. A interiorização do Sindicato C começou no início da década de 1950, com maior impulso a partir de 1962. A primeira campanha salarial data de mais de 60 anos e a primeira negociação coletiva de mais de 50 anos. Nos anos 1959, foi registrada a primeira greve da categoria. A partir de 1980, passou a ser dirigido com maior autonomia. Em 1989, foi registrada a conquista de adicional salarial, vinculado à produtividade e à antecipação quinzenal de salário mensal. Nos anos de 1997 e 1998, o ponto alto da atuação do Sindicato C foi o aperfeiçoamento profissional, por meio da promoção de cursos voltados aos sindicalizados e ao investimento em lazer e cultura. As principais conquistas do Sindicato C foram: em 1949, a primeira negociação salarial, quando foi aprovada em assembléia a instauração do dissídio coletivo. No ano de 1959, a primeira greve da categoria. Em 1970, a conquista do cálculo do salário do trabalhador a partir do salário base, incluindo definitivamente outros adicionais e a consolidação das bolsas de estudos. No ano de 1993, o direito de eleição do representante ou delegado sindical, com estabilidade. 3.4 Técnica e instrumentos de coleta de dados As técnicas de coleta de dados para o estudo em questão foram: análise documental e entrevistas semi-estruturadas. 80 A análise documental constituiu-se de técnica fundamental na presente pesquisa. Foi realizada abrangente análise nos acordos, convenções coletivas e nas pautas de reivindicação mais recentes, bem como em jornais, sites, boletins e outros tipos de publicações dos sindicatos dos trabalhadores, empregadores e empresas. A análise documental constitui-se de parte significativa do trabalho de pesquisa, abrangendo dois acordos coletivos, uma convenção coletiva, três pautas de reivindicação, totalizando 319 cláusulas acordadas e reivindicadas para todos esses instrumentos. As 319 cláusulas foram tabuladas separadamente entre acordadas e não acordadas, segundo os indicadores Ethos para o público interno, a saber: relações com os sindicatos, gestão participativa; compromisso com o futuro das crianças; valorização da diversidade; relações com trabalhadores terceirizados; política de remuneração, benefício e carreira; cuidado com saúde, segurança e condições com o trabalho; compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade; comportamento frente às demissões e preparação para a aposentadoria. (Quadro II). Para as entrevistas semi-estruturadas escolheram-se dirigentes dos sindicatos dos trabalhadores e do sindicato de empregadores, bem como de duas grandes empresas que negociam diretamente com os sindicados dos trabalhadores. Os critérios da escolha dos entrevistados se deram pelo cargo dos ocupantes nas empresas/sindicatos, tempo de experiência nas negociações coletivas e tempo de experiência na área sindical e empresarial. Foram entrevistados diretores de relações trabalhistas e gestores de recursos humanos. No caso das empresas, foram entrevistados diretores e gestores de recursos humanos. O universo de entrevista correspondeu a 15 pessoas, caracterizadas e qualificadas conforme o quadro I. Segundo Yin (2001), as entrevistas constituem uma fonte essencial de evidências para os estudos de casos. A análise de dados consiste em examinar, categorizar, tabular e, muitas vezes, recombinar evidências no sentido de atender as proposições iniciais do estudo. 81 A entrevista é uma técnica em que o pesquisador interage diretamente com o participante da pesquisa, formulando-lhe perguntas cujo objetivo é a obtenção de dados para a investigação. Segundo Moura, Ferreira, Paine (1998), a entrevista semi-estruturada se situa num ponto intermediário, entre as entrevistas estruturadas e inestruturadas, e se apresenta sob a forma de um roteiro preliminar de perguntas, que se molda à situação concreta da entrevista, já que o entrevistador tem liberdade de acrescentar novas perguntas a esse roteiro, com o objetivo de aprofundar e clarificar pontos que ele considere relevantes aos objetivos em estudo. O roteiro de entrevistas está no Apêndice A. 82 3.5 Quadro I-Caracterização dos entrevistados SINDICATO A (Trabalhadores) Três diretores: relações sindicais e Total de trabalhistas (10 anos de experiência em entrevistados negociações coletivas), coordenador geral e diretor financeiro (ambos com 3 nove anos de experiência sindical). Os três diretores participam das negociações coletivas CASO A EMPRESA A SINDICATO B (Trabalhadores) CASO B EMPRESA B SINDICATO C (Trabalhadores) CASO C SINDICATO EMPREGADORES Dois gestores: assessoria de relações sindicais e trabalhistas. Tem seis e10 anos de empresa e ambos participam das negociações coletivas há cinco anos Presidente: 12 anos de experiência na área sindical, participando das negociações coletivas. Dois diretores: diretor secretário (12 anos de experiência na área sindical) e diretor de comunicação (10 anos de experiência na área sindical) Dois gestores: relações trabalhistas (13 anos de empresa e participa das negociações coletivas há 10 anos) e superintendente de recursos humanos (oito anos de empresa e será a primeira vez que participará de uma negociação coletiva) Presidente: 15 anos de experiência na área sindical. Dois diretores: 20 e 10 anos de experiência na área sindical. O presidente e um diretor participam da mesa de negociações Um superintendente: seis anos de experiência na área sindical. Um diretor de relações de trabalho: 15 anos de atuação sindical. Participa das negociações coletivas) TOTAL DE ENTREVISTADOS Fonte: elaborada pela autora da dissertação 2 3 2 3 2 15 83 3.6 Análise dos dados Conforme Gil (1999), a análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados, de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Na análise qualitativa de conteúdo, não há regras tão formalmente definidas como na análise quantitativa, ainda que análise e interpretação muitas vezes se confundam (LAVILLE e DIONNE, 1999). Para Laville e Dionne (1999), isso não significa que o procedimento seja aleatório e subjetivo. Ao contrário, é preciso assegurar-se de que a análise continue estruturada, rigorosa e sistemática. Como variáveis de análise, pautou-se pelos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, no tocante ao público interno, que apresentam os seguintes aspectos a serem pesquisados: diálogo e participação, respeito ao indivíduo e trabalho decente. Diálogo e participação - Relações com sindicatos, gestão participativa e compromisso com o futuro das crianças. Respeito ao indivíduo - Valorização da diversidade, relações com trabalhadores terceirizados. Trabalho decente - Política de remuneração, benefício e carreira; cuidado com saúde, segurança e condições com o trabalho; compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade; comportamento frente às demissões; preparação para a aposentadoria. 84 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS A análise das informações coletadas nos três sindicatos dos trabalhadores (Sindicato A, Sindicato B e Sindicado C), Sindicato de Empregadores e nas duas empresas pesquisadas (Empresa A e Empresa B) será apresentada de acordo com os indicadores de público interno do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, conforme especificado na metodologia. Os gestores entrevistados ocupavam funções de relações trabalhistas ou relações sindicais, funções estas que apresentaram as mesmas características, alocadas dentro da grande área de recursos humanos. Denominam-se doravante tais funções como de gestores de relações sindicais genericamente, para simplificar a leitura. 4.1 Relações empresas-sindicatos Caso A Na visão dos gestores de relações sindicais da Empresa A, manter boas relações com o sindicato foi uma forma encontrada pela empresa para antecipar conflitos com os trabalhadores. Os entrevistados afirmam que atuam proativamente com os seus funcionários, antes da intervenção do sindicato. A Empresa A mantém reuniões periódicas com o sindicato para acompanhar e analisar como está o cumprimento das cláusulas do acordo coletivo e os aspectos que afetam as relações de trabalho, como a liberação de dirigentes sindicais sem prejuízo de remuneração do cargo e a notificação ao sindicato de ocorrência de acidentes graves ou fatais. Na opinião dos gestores entrevistados da Empresa A, deve haver interação permanente com os funcionários, atendendo suas necessidades e conquistando sua simpatia, satisfação e confiança, 85 mantendo um canal permanente de comunicação para surpreendê-los positivamente. Assim, conforme os gestores entrevistados, “uma vez satisfeitos, e suprindo suas necessidades, os nossos funcionários terão menos envolvimento com o sindicato. Este por sua vez, irá perdendo força e sua função de representatividade até obtermos participação nula do sindicato na vida empresarial”. (Gestor). Essa postura da Empresa A em querer inibir a atuação sindical na vida dos trabalhadores indica que ela não adota uma postura considerada socialmente responsável pelo Instituto Ethos, uma vez que ela não esconde seu desejo de anular a ação da organização coletiva de seus empregados. Um dos princípios universais do Global Compact, o Pacto Mundial de direitos humanos da OIT, prevê que os empregadores não devem exercer influência indevida sobre a decisão de um empregado em filiar-se e atuar ativamente no seu sindicato. Os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores A discordam da empresa quanto ao bom relacionamento entre ambos. Na visão dos sindicalistas, não há um bom entendimento entre as partes. Enfatizam que a Empresa A deveria apoiar a liberdade de filiação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva. Para os sindicalistas, a Empresa A sempre diz que deseja uma boa relação, desde que o sindicato aceite as suas condições: “nós do sindicato não estamos aqui para isso. Pelo contrário, estamos aqui para garantir os direitos e conquistar as mudanças que a sociedade precisa”. (Sindicalista). Para os sindicalistas entrevistados, hoje há uma linha dura na Empresa A, que escolheu o caminho de quebrar a espinha do sindicato, proibindo os sindicalistas de conversar com o trabalhador e tentando aliená-lo. Conforme diz o sindicalista entrevistado, 86 “a empresa quer que cada um cuide apenas do que é de seu interesse, sem perspectiva de cidadania. Assim, o trabalhador deixa de ser cidadão para virar peça, sem questionar nada. Mas é preciso refletir sobre este modelo que suga o trabalhador, que hoje sequer reconhece o seu lugar no trabalho, em meio à impessoalização da tecnologia”. (Sindicalista) Para os dirigentes do Sindicato A, negociar cláusulas como liberdade de ação sindical e acesso ao local de trabalho são de extrema importância, pois, para eles, as empresas estão proibindo e dificultando cada vez mais a participação do sindicato na vida dos trabalhadores. Segundo os sindicalistas do Sindicato A, nos últimos anos a Empresa A vem dificultando o acesso dos dirigentes ao interior da companhia pois tiveram que recorrer até à polícia para conseguir entrar na empresa. Segundo ele, a empresa vende uma imagem de instituição democrática e com boas relações trabalhistas, mas não é o que ocorreria na prática. Para os sindicalistas entrevistados, o melhor investimento que o trabalhador faz é ter um sindicato que o represente, pois é um único canal para a defesa dos seus direitos, como a melhoria do ambiente de trabalho na empresa e a maior garantia de emprego, com a manutenção no quadro de pessoal. Foi por meio do sindicato que a categoria conquistou benefícios históricos, como o plano de saúde e participação nos resultados, ressaltam eles. “Não temos o poder de mídia e nem administrativo da Empresa A, mas temos como mostrar razão e conhecimento e podemos unir os trabalhadores. Este é o maior medo da empresa: somos a força do trabalho e, principalmente, a força social”. (Sindicalista). Concluí-se, assim, que há acentuada divergência na fala da empresa e do sindicato dos trabalhadores quanto ao bom relacionamento entre as partes. Pelas entrevistas, infere-se que o clima não é de respeito mútuo. 87 Caso B Para os gestores de relações sindicais da Empresa B, o relacionamento com o sindicato é muito tranqüilo, motivo pelo qual os entrevistados acham desnecessário acordar cláusulas como liberdade para o Sindicato na empresa, uma vez que, acordado ou não, o sindicato sempre terá acesso à empresa por meio dos seus representantes eleitos . Manter uma relação estreita com o sindicato significa, para os gestores, conquistar a confiança de seus funcionários. A posição dos gestores quanto ao relacionamento com o sindicato é mostrada da seguinte maneira: eles utilizam a transparência com o sindicato, divulgando informações sobre a movimentação dos empregados e a situação econômico-financeira da empresa, decisões e intenções de maneira clara e acessível. De acordo com os gestores, estes agem sempre de maneira íntegra e coerente com os valores e princípios da empresa. São realizadas reuniões trimestrais com os dirigentes sindicais para divulgar assuntos de interesses dos trabalhadores, bem como para debater problemas e solucioná-los. A empresa abriu espaço para uma comissão discutir a PLR e a participação do processo de Plano de Carreiras, Cargos e Salários - PCCS. A empresa fornece, também, informações sobre condições de trabalho, dados financeiros e objetivos estratégicos que afetam os trabalhadores, em tempo hábil, para que o sindicato e os trabalhadores se posicionem. O Sindicato B confirma o discurso da empresa quanto ao bom relacionamento entre as partes. Esta constatação está de acordo com a fala dos sindicalistas entrevistados. “Temos acesso às informações, reuniões periódicas com a empresa, liberação de dirigentes sindicais, enfim, um canal de comunicação consolidado. Ainda não conseguimos livre acesso na empresa, mas sempre que propusemos conversar, intervir, somos bem recebidos”. (Sindicalista). 88 O Sindicato B reivindicou na última negociação coletiva livre acesso às dependências da empresa, para o exercício das atividades sindicais. A empresa não concedeu esta cláusula. Assim como o Sindicato A, o Sindicato B teme a proibição da entrada dos sindicalistas nos locais de trabalho. “A Empresa B nunca proibiu a nossa entrada, mas como está virando prática das empresas agirem desta forma, gostaríamos de nos resguardar”. (Sindicalista). Confirma-se, portanto, que a Empresa B mantém bom relacionamento com o sindicato dos trabalhadores, compartilhando com os seus representantes as informações necessárias à tomada de decisões que dizem respeito aos interesses dos trabalhadores. Mais próxima, portanto, de uma postura socialmente responsável em relação ao indicador de relações com sindicatos do que a Empresa A. Caso C Para o Sindicato de Empregadores, as diretrizes de relacionamento com o Sindicato dos Trabalhadores C se sustentam nos valores e crenças de respeito mútuo, da transparência, da legitimidade, do diálogo e das decisões mutuamente compartilhadas. A partir desses pressupostos, acreditam eles que terá uma postura mais coerente e que trará maiores benefícios para as partes envolvidas: empregados e empregadores. O Sindicato dos Empregadores salienta que ter dirigentes sindicais de trabalhadores dentro das empresas que representa, informando-os das principais conquistas, direitos e deveres, consolida o canal de comunicação empregado/empresa/sindicato. No entanto, para os diretores entrevistados do Sindicato dos Trabalhadores C, há uma tendência generalizada das empresas representadas pelo Sindicato dos Empregadores de coibirem a representação sindical. Segundo os dirigentes do Sindicato de Trabalhadores C, muitas empresas estão descumprindo o acordo coletivo nessa área. Mas, para os mesmos sindicalistas representantes 89 dos trabalhadores (sindicado C), a manutenção da cláusula da convenção coletiva que permite o acesso dos dirigentes sindicais no local de trabalho nas empresas significa uma grande vitória dos trabalhadores. Análise-Casos A, B e C Segundo o movimento de RSE, as empresas adotam práticas socialmente responsáveis com o seu público interno quando fornecem ao sindicato informações sobre as condições de trabalho, concedem e formalizam, em acordo coletivo, a liberdade para a presença do sindicato no local de trabalho, quando os gestores se reúnem com os sindicatos para ouvir sugestões e negociar reivindicações. Além disso, a empresa é considerada pelo Instituto Ethos como socialmente responsável quando negociam aspectos que dizem respeito aos trabalhadores. Nesse sentido, apesar de as empresas e os sindicatos pesquisados não perceberem a relação das cláusulas acordadas com o indicador relações com o sindicato de RSE, a nossa pesquisa indica que os acordos coletivos e/ou convenções coletivas contêm cláusulas que contemplam os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno. Tanto o Sindicato A quanto o Sindicato B reivindicaram livre acesso às dependências das empresas para o exercício das atividades sindicais, o que não foi concedido pelas empresas formalmente, em acordo, conforme ficou claro nas entrevistas. Também não foi concedido ao Sindicato A fornecimento de informações referentes a todos os empregados, como registro na carteira de trabalho e previdência social, cargos, salários, recolhimento de FGTS e Previdência, concessão de férias e desconto de contribuição sindical. As reivindicações dos Sindicatos A e B e tanto a negativa quanto a justificação da recusa pelas Empresas A e B mostram que a relação sindicato-empresa não é dos melhores no caso A e há um receio em formalizar o que parece uma boa relação no caso B (o que denota certa desconfiança da empresa B em relação ao Sindicato B). 90 A responsabilidade social é um modelo de gestão que se baseia na ética e no respeito ao ser humano. Os direitos dos trabalhadores merecem o respeito do empregador. É um dos direitos consagrados no plano internacional, inclusive, de livre associação e negociação sindical. A pesquisa indicou que a Empresa B, em primeiro lugar, e o Sindicato de Empregadores, em segundo, procuram manter um bom relacionamento com os sindicatos de trabalhadores, compartilhando com os seus representantes as informações sobre condições de trabalho e objetivos estratégicos que atinjam a tomada de decisões que dizem respeito aos interesses de seus trabalhadores. Já a postura adotada pela Empresa A, de querer anular a organização coletiva de seus empregados, antecipando-se a ela, não está de acordo com os princípios da RSE. 4.2 Gestão participativa Em termos de gestão participativa, não houve cláusulas reivindicadas e acordadas entre empresas, sindicados de trabalhadores e o sindicato de empregadores. No que concerne à gestão participativa, conforme apontado na revisão da literatura, a empresa deve ter um programa para estimular e reconhecer as contribuições dos empregados com sugestões para a melhoria dos processos internos e disponibilizar informações econômicofinanceiras, oferecendo treinamento aos empregados para que possam compreender e analisar tais informações. Além desses parâmetros, a empresa deve prever a participação de representantes dos empregados em comitês de gestão encarregados da formulação de sua estratégia. (ETHOS, 2005). Essa de fato é uma das questões mais difíceis, mais raras de serem negociadas. Assim, comparando os parâmetros do Instituto Ethos com os resultados da nossa pesquisa, constata-se que os acordos coletivos e/ou convenções coletivas não contêm cláusulas que 91 contemplem os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno, em relação à gestão participativa. Cumpre ressaltar o fato de sequer haver sido reivindicado algum grau de gestão participativa pelos sindicatos de trabalhadores, confirma-se o despreparo desses sindicatos para entender e atuar no quadro de mudanças organizacionais que já completou 26 anos. 4.3 Compromisso com o futuro das crianças Caso A De acordo com a análise das convenções e acordos coletivos e pautas de reivindicações, a Empresa A acordou uma cláusula referente ao compromisso com o futuro das crianças, ajuda de custo ao aprendiz EMPRESA A /SENAI-Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e um programa de apoio ao menor para capacitação e qualificação profissional. Na opinião dos gestores entrevistados, a Empresa A define estratégias de ação social, tanto em termos financeiros, quanto em critérios para apoio de projetos, de modo a balizar a ação de seus executivos, gerentes e demais agentes de acordo com sua missão social. A Empresa A promove entre seus funcionários e/ou parentes de funcionários, em todos os níveis hierárquicos, a possibilidade efetiva de colaborar em ações sociais da organização. De acordo com os gestores entrevistados, os objetivos incluem: sensibilizar mais pessoas e organizações, de forma a colaborar para o crescimento do projeto, estabelecer vínculos mais profundos entre os empregados e a empresa, com benefícios tanto para a ação social escolhida e seus beneficiários, quanto para as atividades cotidianas da empresa e criar uma cultura comum da ação social na área de influência da empresa, que abarca funcionários, famílias e clientela. 92 Caso B A Empresa B, apesar de não ter acordado cláusula referente ao compromisso com o futuro das crianças, desenvolve projetos internos de integração e apoio aos filhos dos funcionários, apóia diversos projetos sociais para desenvolvimento de crianças e adolescentes da comunidade e tem programa de educação ambiental e sanitária para estudantes da 5ª série do 1º grau. Buscam promover a educação, despertar nos jovens o resgate da cidadania, oferecendo orientação médica, psicológica e social para grupos de adolescentes, filhos de empregados da empresa. Análise-Casos A, B e C Portanto, no tratamento da questão dos direitos da criança e do adolescente, apenas a Empresa A assinou cláusulas de acordo coletivo com o Sindicato A que contemplam indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno. Os Sindicatos de Trabalhadores B e C e o Sindicato de Empregadores não se posicionaram em relação ao tema acima. É interessante observar que o Sindicato B, mesmo existindo na Empresa B programas sociais para crianças e adolescentes, não esteja atento a uma oportunidade de a ação sindical se aproximar mais dos trabalhadores que são pais e mães e se preocupa com o futuro de seus filhos. 93 4.4 Valorização da diversidade Caso A Na visão dos gestores de relações sindicais da Empresa A, a diversidade representa um princípio básico de cidadania, que visa assegurar a cada indivíduo condições de pleno desenvolvimento de seus talentos e potencialidades. A prática da diversidade representa a efetivação do direito à diferença, criando condições e ambientes em que as pessoas possam agir em conformidade com seus valores individuais. Na opinião dos gestores de relações sindicais da Empresa A, a valorização da diversidade é uma meta a ser buscada e praticada coletivamente em toda a organização. A adoção da diversidade na força de trabalho, além de ser um compromisso ético da empresa, de acordo com os gestores tem se mostrado um caminho para aumentar a competitividade. Para tanto, a Empresa A está investindo em ações voltadas para os dependentes dos empregados, como apoio ao portador de necessidades especiais (deficiente físico e mental), cobrindo as despesas básicas e reembolsando 50% para pagamento de escolas especializadas. “Diante da tendência de disponibilidade cada vez maior dos recursos tecnológicos, a vantagem competitiva de uma empresa será determinada em grande medida pela qualidade da relação que ela mantém com as pessoas, interna e externamente. E essa qualidade está diretamente relacionada ao problema da inclusão ou exclusão de diferentes grupos sociais, com suas múltiplas culturas, visões de mundo e estilos de trabalho”. (Gestor). No entanto, as entrevistas evidenciaram divergências entre o Sindicato A e a Empresa A. Segundo os dirigentes sindicais do Sindicato dos Trabalhadores A, muitos funcionários 94 presenciaram preconceito dentro da empresa, brincadeiras racistas e a dificuldade de ascensão dos negros: “É difícil encontrar algum negro que não tenha um caso, alguma situação em que se sentiu discriminado. O fato de ser negro com certeza pesa na hora de escolher um gerente ou supervisor”. (Sindicalista). De acordo com os diretores entrevistados do Sindicato dos Trabalhadores A, um dos objetivos sindicais é estabelecer estratégias no combate às desigualdades no trabalho, especialmente as que sejam fundadas em raça e gênero. “Se a empresa não se ajustar será penalizada com o ajuizamento de ação civil pública, forçando a desconstrução do quadro de desigualdade”. (Sindicalista). Para os sindicalistas entrevistados, a Empresa A usa um modo muito disfarçado de racismo, mas que atinge os negros diretamente. Um exemplo mencionado foi a ausência de negros em cargos altos, e acreditam não ser por incompetência, mas por má vontade da empresa. Foram reivindicadas pelo Sindicato A igualdade de garantias para trabalhadores e trabalhadoras desenvolvendo uniformes, equipamentos e instalações para as trabalhadoras, conferindo-lhes o direito de participarem desse desenvolvimento, conscientização e orientação sobre assédio moral e sexual, discriminações de sexo, raça, religião, para prevenir e coibir posturas discriminatórias no ambiente de trabalho. No entanto, a Empresa A não quis colocar essas questões em acordo coletivo. Percebe-se, portanto, uma atitude incoerente da Empresa A, uma vez que adota em sua fala uma postura consciente de promoção da diversidade, mas, por outro lado, omite-se diante da concessão de cláusulas relacionadas à igualdade de oportunidades entre gênero e prevenção de posturas discriminatórias no ambiente de trabalho. 95 Certamente, certas questões são difíceis de consubstanciar em acordo formal sem deixar brechas jurídicas que possam vir a ser mal interpretadas e dar margem a prejuízos futuros para as empresas. No entanto, um programa estabelecido conjuntamente com o sindicato para combater assédio sexual e discriminações já poderia ser um passo interessante e que foi dado pela Empresa B, como se vê a seguir. Caso B Na opinião dos gestores de relações sindicais da Empresa B, um ambiente baseado na diversidade tende a ser mais estimulante e produtivo, favorecendo a elaboração de novos projetos e soluções. Conforme diz o gestor de relações sindicais da Empresa B entrevistado, “a valorização da diversidade contribui para a obtenção de um clima positivo que, pelo combate à intolerância, estimula a cooperação e a sinergia entre os profissionais da organização em torno de seus objetivos comuns. Com isso, cria-se um ambiente que reforça os vínculos dos funcionários com o trabalho e sua identificação com a empresa”. (Gestor). A Empresa B estabelece programas de incentivo à diversidade e métodos de gestão voltados para detectar e prevenir situações potenciais de discriminação, desvalorização da mulher e assédio moral. Com isso, os gestores entrevistados alegam que a Empresa B torna-se menos vulnerável frente às exigências do sindicato dos trabalhadores. “Um tratamento mais justo aos empregados e a possibilidade de expressarem suas queixas reduz o número de ações trabalhistas motivada por discriminação”. (Gestor). 96 A Empresa B concedeu auxílio para filhos de empregados portadores de necessidades especiais e programas educativos, visando coibir discriminações, assédio moral e assédio sexual. Para os diretores entrevistados do Sindicato dos Trabalhadores B, a valorização da diversidade no mundo contemporâneo é decorrência do reconhecimento cada vez maior da democracia como fator essencial para o aprimoramento das sociedades e da busca de novos padrões de convivência, assentados em relações socialmente mais justas. Para o Sindicato B, a opção de valorizar a diversidade não deve estar apenas no discurso dos porta-vozes. A Empresa B deve combater todas as formas de discriminação e valorizar as oportunidades oferecidas pela riqueza étnica e cultural de seus trabalhadores. Assim, de acordo com os entrevistados, são fiscalizadas constantemente as práticas da Empresa B na adoção de políticas antidiscriminatórias, eqüidade na participação de homens e mulheres em cargos gerenciais, eqüidade salarial para homens e mulheres, negros e brancos. Na visão dos diretores entrevistados do Sindicato dos Trabalhadores B, praticar e valorizar a diversidade são ações que se traduzem no combate ao preconceito e à discriminação. Entretanto, se é fácil encontrar no senso comum a aceitação da premissa de que o preconceito deve ser combatido, é complexo converter essa proposição em mudanças efetivas de culturas, comportamentos, hábitos e rotinas. De acordo com o Instituto Ethos, uma empresa socialmente responsável deve valorizar a diversidade das seguintes formas: ter normas escritas que proibem e prevejam medidas disciplinares contra práticas discriminatórias, ter processos formais de recebimento de denúncias e desenvolver atividades de valorização de grupos pouco representados na organização. Nesse caso, conforme a análise documental e os resultados da entrevista, pode-se concluir que a Empresa B está se esforçando no sentido de valorizar a diversidade no seu ambiente de trabalho, e tanto o Sindicato A quanto o Sindicato B têm se valido das oportunidades que o discurso da RSE oferece. 97 Caso C Apesar de o sindicato de Empregadores, no último acordo coletivo, não ter feito nenhuma concessão em relação à valorização da diversidade, seus dirigentes empresariais, posicionaram-se em relação ao tema da seguinte forma: “as empresas vêm ampliando sua definição de diversidade, passando a considerar questões como condição socioeconômica dos empregados, estilo de trabalho, idade, ascendência, nacionalidade, estado civil, orientação sexual, deficiência física ou mental e condições de saúde, entre outras diferenças. Também estão tornando-se mais inclusivas, criando ambientes de trabalho receptivos a trabalhadores tradicionalmente discriminados, estigmatizados ou marginalizados”. (Gestor). Para os gestores entrevistados, as políticas de diversidade incrementam a competitividade, ao possibilitar às empresas usufruírem de todo o potencial resultante das diferenças positivas entre seus empregados. Portanto, no caso do Sindicato de Empregadores, representa muitas empresas de variado porte, belo discurso que, no entanto, não se consubstanciou em qualquer compromisso formal em acordo coletivo. Na visão dos entrevistados do Sindicato de Trabalhadores C, há empenho deles próprios, dirigentes sindicais, em conscientizar e combater todas as formas de discriminação e de valorizar as oportunidades oferecidas pela riqueza da diversidade da sociedade. Mas, de acordo com a análise documental, não houve cláusulas acordadas e nem tampouco reivindicadas entre o Sindicado de Empregadores e o Sindicato de Trabalhadores C, sobre a valorização da diversidade, o que contradiz tal empenho do Sindicato C. 98 Análise-Casos A, B e C No geral, conclui-se que, no discurso dos entrevistados, tanto das empresas quanto dos sindicatos, cada lado estimula a diversidade e combate a discriminação. Entretanto, quando analisadas, as convenções, acordos coletivos e pautas, constata-se que há um percentual pouco significativo de cláusulas reivindicadas e concedidas sobre o tema abordado. Portanto, o discurso dos entrevistados contradiz as práticas empresariais e sindicais expressas nas negociações coletivas. Apesar de os acordos coletivos e/ou convenções coletivas conterem cláusulas que contemplem os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno, em nenhum momento da entrevista houve percepção nem dos gestores de relações sindicais (empresas) e nem dos dirigentes sindicais (sindicatos) quanto ao indicador valorização da diversidade e às cláusulas correlatadas serem parte componentes do discurso da RSE. 4.5 Relação com os trabalhadores terceirizados Caso A Na visão dos gestores de relações sindicais da Empresa A, a prática da terceirização na Empresa A está relacionada com a qualidade, competitividade e a produtividade. Para os gestores, com a terceirização, a Empresa A concentra-se naquilo que é capaz de fazer melhor, com competitividade e maior produtividade. Assim, as tarefas secundárias e auxiliares são realizadas por empresas que se especializaram de maneira mais racional e com menor custo. Em suma, portanto, a Empresa A é a favor da terceirização, mas com uma preocupação de proporcionar para os trabalhadores terceirizados condições semelhantes às dos próprios empregados. Cabe à empresa, 99 segundo eles, evitar que ocorram terceirizações em que a redução de custos seja conseguida pela degradação das condições de trabalho e das relações com os trabalhadores. Segundo os dirigentes sindicais do Sindicato dos Trabalhadores A, a terceirização tem resultados desastrosos para consumidores e para trabalhadores subcontratados. Desde 1995, a empresa reduz a folha de pessoal, acelerando a terceirização e criando duas classes distintas de trabalhadores. Justamente nesse período, segundo o Sindicato A, aumentaram os acidentes com terceirizados, que quase sempre têm pouca qualificação para atividades de risco, não contam com equipamentos de proteção e recebem baixos salários. Nos últimos anos, o Sindicato A vem lutando para que a Empresa A acabe com a terceirização e contrate todo o pessoal de que precisa para executar o serviço. Contudo, o Sindicato A diz que a Empresa A se nega a cumprir a lei. De acordo com o sindicalista, “[...] queremos que a Empresa A exija das empreiteiras salários e condições de trabalho semelhantes a que oferece aos seus empregados”. “Mais do que ilegal do ponto de vista trabalhista, a terceirização da atividade-fim é hoje uma questão de direitos humanos, tal é o desprezo pela vida”. (Sindicalista). Conclui-se, portanto, após a fala dos dirigentes sindicais, que a Empresa A necessita estruturar áreas e designar pessoas responsáveis pelo gerenciamento, acompanhamento e avaliação da prestação dos serviços terceirizados, para melhorar o estreitamento de relações entre a empresa contratante e terceiros. Caso B Para os gestores de relações sindicais da Empresa B, a implementação da terceirização na Empresa B conquistou maior flexibilidade produtiva, tanto na esfera operacional quanto na 100 gerencial , pois permitiu maior liberdade de gestão da força de trabalho, por meio da flexibilização dos contratos de trabalho, redução dos encargos sociais e trabalhistas da Empresa B e eliminação de investimentos em atividades de apoio como mão-de-obra e treinamento. “Concentramo-nos nas competências centrais, no que sabemos fazer de melhor e destinamos as outras tarefas, secundárias e auxiliares, para empresas especializadas”. (Gestor). Foi acordado que a Empresa B concluirá os estudos referentes à terceirização e primarização dos serviços e definirá políticas para a sua implementação com participação do Sindicato B. Para os sindicalistas entrevistados do Sindicato B, a terceirização de parte das operações afeta negativamente os trabalhadores e suas organizações sindicais. Os sindicalistas acreditam que a Empresa B, ao subcontratar as operações subsidiárias, principalmente de pequenas e médias empresas, desprovidas de organização sindical, enfraquece a ação sindical. As subcontratadas oferecem salário e condições de trabalho piores que os garantidos pela contratante, o que contribui para aumentar a insegurança no emprego e a segmentação do mercado de trabalho. Em termos reais de remuneração e relacionamento humano, tal prática cria na Empresa B duas camadas de trabalhadores vinculados com a mesma empresa: um núcleo estável de trabalhadores altamente capacitados e bem remunerados e uma maioria de trabalhadores eventuais ou não estáveis. Na fala do dirigente sindical, “a dimensão que a terceirização atingiu e os efeitos devastadores que acarretou à classe trabalhadora fizeram com que o movimento sindical despertasse para uma reflexão e uma ação mais ofensiva em relação à questão. O próprio fato de os processos de terceirização estarem redundando na precarização das condições de trabalho pode ser em parte explicada pela sua implantação não negociada com as representações sindicais. A exclusão dos sindicatos, além de revelar uma postura empresarial de dirigir isoladamente o processo de terceirização, 101 denuncia a motivação política de diluir e enfraquecer a organização sindical.” (Sindicalista). Foi reivindicado pelo Sindicato B redução dos serviços terceirizados e das contratações por prazo determinado na empresa, de forma a preservar a vida, a dignidade e valorização dos postos de trabalhos. A Empresa B não concedeu essa cláusula. A Empresa B procura manter as terceirizações mais em atividades acessórias e de apoio, pois, quanto mais próxima da atividade-fim for a terceirização, segundo os gestores entrevistados, maiores são os cuidados e problemas devido a fatores como qualidade dos serviços e relação empresa versus terceiros. Os dirigentes sindicais relataram que existe forte sentimento por parte dos terceiros de pertencerem às empresas tomadoras de serviços, corrobando resultado de pesquisas nesse sentido. (FERNANDES e CARVALHO NETO, 2005). Caso C Apesar de o Sindicado de Empregadores e o Sindicato C de Trabalhadores não terem acordado nenhuma cláusula referente à terceirização, eles se posicionaram em relação ao tema. Na visão do Sindicado de Empregadores, a terceirização está sendo usada pelas empresas como uma das estratégias de gestão e opção de modernização, posicionamento competitivo no contexto atual e adequação às necessidades do mercado. Para os empresários entrevistados, o movimento de terceirização, quando feito dentro de critérios consistentes, traz os resultados desejáveis, como melhoria da competitividade, aumento do lucro, ampliação significativa da flexibilidade técnica e econômica e a possibilidade concreta de estabelecimento de parcerias. Os dirigentes sindicais do Sindicato de Trabalhadores C não opinaram sobre o processo de terceirização. 102 Análise-Casos A, B e C As entrevistas, no geral, indicam que as empresas têm opinião contrária à dos sindicatos de trabalhadores quanto à terceirização. Para os sindicatos de trabalhadores, a terceirização registra: perdas em vários níveis, reduzindo os empregos estáveis e ampliando as formas precárias de inserção da força de trabalho no mercado, como o trabalho temporário, em tempo parcial ou informal; queda nos níveis salariais praticados nas terceiras, em geral inferiores aos da empresa contratante; redução de benefícios sociais, como saúde, transporte e alimentação dos terceirizados em relação aos empregados das contratantes e degradação das condições de trabalho e das relações com os trabalhadores. Para as empresas, a terceirização traz melhoria da competitividade, aumento do lucro, uma maior liberdade de gestão da força-de-trabalho, seja via flexibilização dos contratos de trabalho (diferentes formas de contratação) seja por meio da redução do custo do trabalho. As empresas e os sindicatos pesquisados não perceberem a relação das cláusulas acordadas com o indicador de RSE que retrata a terceirização, mas mantêm cláusulas que contemplam os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno. 4.6 Política de remuneração, benefícios e carreira Caso A Para os gestores de relações sindicais da Empresa A, diante do acirramento da concorrência no mercado, a empresa está buscando, cada vez mais, uma política de benefícios que atenda as necessidades específicas dos seus funcionários, além de oferecer um salário compatível com os níveis praticados no mercado. A Empresa A oferece: plano de benefícios para funcionários e dependentes; programa de assistência financeira; programa de seguros sociais; complementação 103 salarial de empregados em licença médica; benefícios acidentários e previdenciários; auxílio funeral; creche e participação nos resultados (no entanto, sem metas pactuadas a serem atingidas pelos empregados); ajuda de custo em cursos técnicos e de graduação; anuênio-adicional por tempo de serviço; tíquete refeição e tíquete lanche e adicional de 30% do salário base para o exercício de atividades de risco. Na percepção dos gestores de relações sindicais da Empresa A, o processo de negociação em relação à política de salários e benefícios está ultrapassado, pois novos desafios estão surgindo a cada rodada de negociações, acompanhando as alterações do mercado de trabalho. De acordo com os gestores, profissionais preparados e treinados, que recebam pelo seu desempenho, é a tendência atual, sendo a remuneração variável a saída. Sindicatos, empresas e legislação precisam permitir novas formas de remuneração, avaliam os gestores da Empresa A. Para os gestores da Empresa A, os acordos de participação nos lucros e resultados têm aumentado significativamente na empresa: “talvez isso seja um reflexo de que o caminho para a livre negociação esteja se abrindo”. Mudar o conceito de salário para remuneração pelo desempenho e produtividade é uma das soluções na opinião dos gestores entrevistados. Para isso, os gestores querem contar com o apoio do sindicato. "O sindicato deve transmitir a realidade aos seus associados, senão teremos uma massa de insatisfeitos”. (Gestor). Ainda para os gestores entrevistados da Empresa A, a questão remuneratória é tratada pelos sindicalistas do Sindicato A em um nível de decisão mais tático que estratégico, tendo implícita a concepção instrumental de pagar, de forma justa, a força de trabalho. Para os gestores de relações sindicais, essa é uma visão limitada, pois uma política de remuneração pode ter reflexos para o cliente, já que as melhorias nos resultados podem estar associadas ao pagamento variável, constituindo-se em um precioso investimento. Nesse sentido, para os gestores, a 104 remuneração é um elemento essencial para alavancar mudanças estratégicas visando a melhoria da competitividade da empresa, na mediada em que torna concretos seus valores e objetivos. Para o Sindicato de Trabalhadores A, a remuneração nas negociações coletivas inclui diferentes modalidades: salário base, benefícios, remuneração variável (bônus e outros incentivos), remuneração por habilidade e competência. É o maior componente de custo operacional, impacta o sucesso empresarial e constitui-se em uma ferramenta motivacional poderosa. Para o Sindicato A, a remuneração variável é uma forma que a Empresa A encontrou para estimular a melhoria da produtividade e lucratividade, mas, para os funcionários, o reflexo é negativo, uma vez que não há justiça, em termos de contribuição para os resultados. Caso B Na visão dos gestores da Empresa B, por meio de uma remuneração e benefícios mais justos, a Empresa B conquista retornos como redução de gastos com assistência médica, diminuição do absenteísmo e de rotatividade, aumento da moral dos funcionários e melhoria da imagem da empresa. “Antecipamos as vontades dos nossos funcionários, procuramos satisfazer todas as suas necessidades. Temos um ótimo plano de remuneração e benefícios, comparados às grandes empresas privadas. Estamos sempre revendo nosso plano de cargos e salários, inclusive com a participação do sindicato. Quando fazemos pesquisas de clima organizacional, temos resultados satisfatórios”. (Gestor). Além da PLR, a Empresa B está oferecendo aos seus trabalhadores remuneração variável com base no alcance de metas estabelecidas não negociadas, como, por exemplo, anuênio, gratificação por tempo de serviço (50% a cada 25 anos de serviço), tíquete refeição, cesta básica, 105 auxílio creche, complemento de até um salário mínimo aos empregados que recebem auxílio doença e auxílio funeral para os empregados e dependentes legais. Para os dirigentes sindicais do Sindicato B, no Brasil, durante os anos 1980, a questão salarial manteve-se como o ponto central das campanhas reivindicatórias dos trabalhadores. Nos anos 1990, com a abertura do mercado, inaugurou-se a discussão sobre a flexibilização salarial. As primeiras medidas concretas foram a extinção da política salarial e dos reajustes automáticos de salários, com a introdução da negociação sobre participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas (PLR). Conforme salientam os sindicalistas entrevistados, a conjugação dessas duas medidas trouxe conseqüências importantes, como redução ou a não concessão de reajustes salariais, provocando o rebaixamento do salário fixo e o crescimento da parcela variável da remuneração e alteração da dinâmica das negociações coletivas, dado que a PLR intensificou o processo de descentralização das negociações para o âmbito das empresas. Caso C Para o Sindicato de Empregadores, as mudanças no mundo do trabalho levam as empresas a investirem nos seus funcionários e, com isso, planejar boas políticas de remuneração e benefício. “Por isso, várias empresas que representamos• buscam superar os pisos salariais firmados com o sindicato de trabalhadores, • tratando os funcionários como um recurso valioso”. (Gestor). Segundo os empregadores, a política de estímulos inclui boa remuneração e investimento em desenvolvimento profissional, de acordo com planos de carreira, valoriza competências, investe no desenvolvimento de carreiras, inclusive, de novas habilidades. Foi concedido em acordo pelo Sindicato de Empregadores: garantia de salário contra rescisão imotivada durante o período de seis meses; indenização em caso de redução sazonal do 106 trabalho demandado; isonomia salarial: proibição da contratação com salário-base inferior ao trabalhador que tenha menor tempo de serviço; promoção por tempo de serviço e por mérito; adicional de 5% do salário mensal, quando contar cinco anos de trabalho; bolsas de estudos para o trabalhador, cônjuge e dependentes legais e estabilidade para a gestante até cinco meses. Para o Sindicato de Empregadores, a dificuldade em negociar um acordo coletivo com o Sindicato de Trabalhadores C reside no fato de que existe uma disparidade grande entre a pauta de reivindicação e a contraproposta da empresa. "A negociação a cada dia fica mais difícil, pois o sindicato de trabalhadores insiste em manter a mesma posição de anos atrás, na época em que vivíamos sob as regras de uma inflação galopante”. (Gestor). Os empresários entrevistados do Sindicato de Empregadores salientam que falta consciência aos sindicalistas que representam os trabalhadores de que o aumento salarial precisa ser discutido com cuidado. Por um lado, o Sindicato C alega que os trabalhadores trabalham mais, geram lucros e novos investimentos e acabam por não terem direito a uma fatia maior dos ganhos das empresas, que não repassam seus lucros para os salários. Por outro lado, o sindicato de empregadores diz que não está atingindo metas de produtividade e lucro suficientes para discutir manutenção do emprego, quanto mais aumento real de salário. Análise-Casos A, B e C Quanto aos mecanismos de política de remuneração, benefício e carreira, a empresa socialmente responsável com seu público interno, de acordo com os indicadores Ethos, deve considerar seus funcionários como sócios, desenvolvendo uma política de remuneração, de benefícios e de carreira que valorize as competências potenciais de seus funcionários e invista em 107 seu desenvolvimento profissional. Além disso, deve monitorar a amplitude de seus níveis salariais, com o objetivo de evitar reforçar mecanismos de má distribuição de renda e geração de desigualdades sociais, efetuando ajustes quando necessário. É consenso entre os dois atores sociais pesquisados, empresários / sindicato de empregadores e sindicato de trabalhadores, que está havendo um avanço nas relações de trabalho. Os sindicatos já não querem mais assumir uma postura de pura oposição contrária aos empregadores. O que se busca é uma solução justa e não traumática para os trabalhadores, segundo os sindicalistas. Apesar de os acordos coletivos e/ou convenções coletivas conterem cláusulas que contemplem os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno, em nenhum momento da entrevista houve percepção nem dos gestores de relações sindicais (empresas) nem dos dirigentes sindicais (sindicatos) quanto à relação do indicador política de remuneração, benefício e carreira de RSE com as cláusulas acordadas. Os resultados desta pesquisa sugerem que, apesar de empresas e sindicatos terem acordado várias cláusulas em torno da remuneração e benefícios, há uma falha na formulação de cláusulas que dizem respeito à carreira dos trabalhadores. 4.7 Cuidado com a saúde, segurança e condições de trabalho Caso A Para os gestores de relações sindicais da Empresa A, a melhoria das condições de vida e da saúde tem sido um tema de crescente importância, já que impacta indireta ou diretamente a produtividade das pessoas, e os resultados obtidos pelas empresas. Por isso, um dos grandes desafios que a Empresa A vem enfrentando é promover e assegurar a qualidade do bem-estar geral dos seus trabalhadores, pois é nas empresas que o ser humano desenvolve uma parte muito significativa de sua vida, o trabalho. 108 De acordo com os gestores entrevistados, a Empresa A ainda apresenta um número alto de acidentes, principalmente, com os trabalhadores terceirizados, que trabalham em empreiteiras, expostos ao excesso de trabalho, horas extras, sem um treinamento adequado, mais sujeitos a doenças ocupacionais. Conforme os gestores da Empresa A, foram acordadas cláusulas de interesse da Empresa A e do trabalhador, como: escalas de plantão e intervalos especiais para repouso ou alimentação do trabalhador; políticas e ações visando a prevenção de doenças e acidentes; ações de melhoria das condições de trabalho e equipamentos de proteção; informações sobre ambiente de trabalho que possam interferir na saúde; notificação da ocorrência de acidentes graves ou fatais, com responsabilidade pela internação, caso haja dificuldade na rede hospitalar credenciada e adicional de periculosidade em área de risco (30% do salário/base). Para os dirigentes sindicais do Sindicato A, o ambiente empresarial, no qual o trabalhador permanece cerca de um terço de sua vida, está, de modo geral, repleto de situações de risco à saúde humana. Os acidentes de trabalho geram uma série de inconvenientes, tanto para as empresas quanto para os empregados. Conforme os dirigentes sindicais, a melhor forma de prevenir acidentes é oferecer um bom treinamento e condições de trabalho adequadas. Os sindicalistas salientaram que a empresa A registra - ao lado de consecutivos recordes em seu lucro - o maior número de acidentes de trabalho no setor elétrico brasileiro. Segundo dados da própria Empresa A, entre 1996 e março de 2005, 65 trabalhadores morreram prestando serviço para a empresa. Os sindicalistas do Sindicato A apontaram alguns fatores que causam os acidentes: redução do quadro de pessoal, aumento de horas extras, o que gera maior cansaço e aumenta as possibilidades de acidentes. Os depoimentos dos representantes da Empresa A e do Sindicado de Trabalhadores A sugere que há interesse por parte de ambos em implementar um sistema de gestão de segurança e 109 saúde no trabalho que promova a redução dos acidentes e doenças ocupacionais, melhore a eficiência da empresa e, conseqüentemente, traga benefícios a todas as partes interessadas. Caso B Na visão da Empresa B, a relação entre as condições de trabalho e as condições de saúde têm-se destacado um elemento estratégico na defesa de padrões mais qualificados e saudáveis de vida para os trabalhadores. A Empresa B vem ampliando seu campo de atuação, investindo em ações sociais, culturais, artísticas, educacionais, esportivas, operacionais e ambientais destinadas aos seus empregados e à população em geral, aprimorando procedimentos, desenvolvendo tecnologias, descobrindo e incentivando talentos artísticos, trabalhando para a recuperação e a construção de uma sociedade mais justa e saudável. “O acidente do trabalho significa uma agressão à sociedade, uma perda econômica significativa para o país, afeta a qualidade de produtos e serviços e tem influência na produtividade e nos resultados da empresa.” (Gestor). Para os dirigentes do Sindicato B, os benefícios potenciais advindos da implantação de um sistema de gestão de segurança e saúde do trabalhador compreendem: manter boas relações com a empresa e trabalhadores; reduzir acidentes que impliquem em responsabilidade civil; compartilhar soluções de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais. Os dirigentes sindicais analisam positivamente a preocupação da Empresa B com a saúde de seus trabalhadores e a oferta de boas condições de trabalho. O Sindicato de Trabalhadores B reivindicou readaptação funcional por motivo de acidente ou doença de trabalho, sem perda salarial. No entanto, não foi concedido pela Empresa B. 110 Caso C Na opinião do Sindicato de Empregadores, assegurar condições de saúde e segurança no trabalho é desenvolver um conjunto de ações que envolvem diagnósticos e implantação de melhorias e inovações gerenciais dentro do ambiente de trabalho, visando propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a realização do trabalho. Foram acordadas entre o sindicado de empregadores e o sindicato C: intervalo para descanso, folgas semanais e recessos durante o ano; garantia de emprego aos funcionários acometidos de doença profissional ou vítimas de acidente de trabalho; limite da carga de trabalho, no intuito de manter a qualidade do serviço e a saúde do trabalhador. Na percepção do Sindicato de Trabalhadores C, a precarização das relações de trabalho afeta não somente os trabalhadores que perderam seu emprego, mas, também, os trabalhadores que, mantendo seus vínculos empregatícios sob a constante ameaça de demissão, sujeitam-se a formas brutais de exploração do trabalho, vivendo relações de trabalho cotidianas tensas e competitivas. A insatisfação prolongada no trabalho gera problemas como hipertensão, insônia, estresse, alcoolismo e acidentes de trabalho, salientaram os sindicalistas. O Sindicato de Trabalhadores C não reivindicou nenhuma cláusula nova referente ao cuidado com a saúde, segurança e condições com o trabalho. Análise-Casos A, B e C A preocupação com o cuidado com a saúde, segurança e condições de trabalho é percebida como responsabilidade compartilhada entre empresas e sindicatos. As empresas procuram seguir as normas e parâmetros fixados pela legislação, desenvolvem campanhas regulares de conscientização, promovem acesso a informações relevantes e acompanham o percentual de acidentes de trabalho que resultaram em afastamento. 111 Não houve percepção dos gestores de relações sindicais (empresas) nem tampouco dos dirigentes sindicais (sindicatos) quanto às cláusulas de condições de trabalho, saúde e segurança acordadas terem relação com os indicadores de RSE. No entanto, as empresas ostentam uma postura que pode ser considerada socialmente responsável com seus trabalhadores nessa área. 4.8-Compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade Caso A Para a Empresa A, a rapidez das mudanças organizacionais implica que a habilidade de aprender, de inovar e de ser flexível são fundamentais no ambiente empresarial. Portanto, as políticas adotadas nesse sentido são gerenciadas sob a forma de uma nova linguagem, mais sofisticada, mais lógica e mais coerente com os princípios e valores da empresa. Sob essa perspectiva, foram lançados alguns desafios organizacionais para os gestores: identificar os empregados que necessitam de aperfeiçoamento; descobrir o surgimento de novos talentos na organização; fornecer feedback aos empregados; subsidiar programas de mérito, promoções e transferências; definir e mensurar o grau de contribuição de cada empregado na consecução dos objetivos da organização; subsidiar as ações de treinamento e desenvolvimento; facilitar o planejamento de ações para corrigir desempenhos, como readaptações, remanejamentos, transferências e aspectos comportamentais. Para o Sindicato de Trabalhadores A, a Empresa A vem exigindo de seus empregados grande capacidade de inovação, habilidades para resolver problemas complexos, além de outras qualidades pessoais, dedicação a um aprendizado contínuo, habilidades sociais e alto nível de comprometimento com os valores da empresa. Programas especiais de formação e treinamento são essenciais para ampliar os horizontes dos trabalhadores de todos os níveis. No entanto, os 112 dirigentes sindicais salientam que os empregados não se sentem valorizados pela empresa, não consideram justas as regras para a avaliação de desempenho, não há feedback, nem reconhecimento, recompensa justa , justiça, motivação , credibilidade e participação na definição de metas com as chefias . A fala dos gestores entrevistados denota interesse da Empresa A em investir em treinamento de pessoal. Ainda que a crítica dos dirigentes sindicais soe excessivamente contundente, quando analisadas as convenções, os acordos e pautas de reivindicações, a Empresa A concedeu ajuda de custo em cursos técnicos e de graduação. Portanto, o discurso dos gestores entrevistados, enfático, contradiz a análise documental, que mostra, pelo menos no nível do que foi acordado em negociação coletiva, pequenos avanços. Por outro lado, os dirigentes sindicais do Sindicato A criticaram rigidamente a postura da Empresa A quanto ao desenvolvimento profissional e, no entanto, reivindicaram apenas uma cláusula de manutenção de empregos. Portanto, há que se relativizar a crítica dos dirigentes do Sindicato A, que não se mostraram sequer interessados em reivindicar algo em relação ao desenvolvimento profissional. Caso B Para os entrevistados da Empresa B, em função da globalização, as tendências mundiais apontam para um cenário caracterizado por mudanças tecnológicas, alta complexidade, velocidade das informações, acirramento da competitividade empresarial, inovação e crescente exigência do consumidor. Buscando acompanhar essa evolução, a Empresa B tem optado por treinar seus empregados para capacitá-los e poder sustentar-se no mercado competitivo em que se encontram. Melhor preparados, os profissionais de nível médio e superior encontram mais desafios e são 113 exigidos em mais requisitos, como conhecimentos e habilidades, capacidade de trabalho em equipe, domínio de microinformática, atualização profissional permanente. A Empresa B promove a educação pelo trabalho, despertando nos jovens as suas verdadeiras aptidões e possibilitando crescimento pessoal e profissional, integração social e resgate da cidadania. Há um Programa de Estagiários, destinado a estudantes dos níveis médio profissionalizante e superior, que promove uma articulação entre os aprendizados teórico e prático, propiciando experiência profissional que poderá contribuir para sua inserção futura no mercado de trabalho. A Empresa B relatou que realiza atividades de treinamento no desempenho de tarefas específicas de cada cargo e que concede bolsas de estudos e incentivo à capacitação. Segundo os gestores da Empresa B, a valorização de ações voltadas para a qualificação da força de trabalho, como forma de possibilitar aos trabalhadores a valorização de seus empregos, é um ponto positivo da Empresa B. A questão da formação profissional e a capacitação dos trabalhadores são retratadas com grande ênfase pela Empresa B. Para o Sindicato dos Trabalhadores B, a evolução profissional exigida hoje pelas empresas está dentro de um outro quadro. Segundo os dirigentes sindicais, até pouco tempo, a Empresa B estabelecia fortes vínculos com seus funcionários, de segurança mútua e relacionamento quase vitalício. Hoje, as pessoas que construíram suas carreiras no velho modelo agora encontram dificuldades para se adaptar ao novo esquema. Diante das mudanças nos padrões de emprego, a certeza de fazer carreira, em organizações estáveis, de forma linear e segura, transforma-se em ilusão. Por isso, o Sindicato B reivindicou a estabilidade no emprego. Essa cláusula não foi acordada. 114 Caso C Para o Sindicato de Empregadores, a exigência do mercado é por um profissional ciente de seu papel e com coragem para enfrentar os desafios. “Em função desde cenário, as empresas que representamos têm feito altos investimentos em cursos de capacitação profissional”. (Gestor). O Sindicato de Trabalhadores C discorda do Sindicato de Empregadores quanto ao investimento em cursos de capacitação que são oferecidos aos trabalhadores. “Os cursos de aperfeiçoamento profissional são uma iniciativa e custeado pelos próprios profissionais”. (Sindicalista). Pela análise documental dos acordos e convenções coletivas, não há cláusulas concedidas pelo Sindicado de Empregadores que justifiquem a fala do empresário acima. Apesar de o Sindicato de Empregadores e do Sindicato de Trabalhadores C não terem reivindicado e acordado cláusula sobre o desenvolvimento profissional e a empregabilidade, há em comum, entre os entrevistados (sindicado de trabalhadores e empregadores), a preocupação de discutir tais questões. Análise-Casos A, B e C As empresas e os sindicatos pesquisados não perceberam, mais uma vez, a relação das cláusulas acordadas com o indicador Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade, mas mantêm cláusulas que contemplam os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno nessa área. 115 4.9 Comportamento frente às demissões Caso A De acordo com os gestores de relações sindicais, a Empresa A é uma organização que tem suas ações orientadas por princípios éticos rígidos e que preza a imagem de empresa sólida e confiável construída ao longo dos anos. Por essa razão, a empresa trata seus funcionários com respeito e consideração, desde sua admissão, passando pelo exercício de suas funções, até o eventual desligamento da empresa. A pessoa a ser desligada participa de uma conversa com a área de desenvolvimento organizacional para compreender as razões que levaram à demissão e pode, inclusive, fazer críticas e avaliações. Os gestores entrevistados da Empresa A alegam que a baixa rotatividade na empresa deve-se ao fato de que os funcionários encontram um clima saudável, gestão transparente e um ambiente de estímulo ao desenvolvimento profissional, segundo os gestores entrevistados. Ao optar por uma demissão, a Empresa A realiza um processo de desligamento pautado pela transparência, para os gestores entrevistados. Procura–se identificar os pontos falhos, quer na empresa, quer quanto ao funcionário em desligamento. Uma vez sendo necessária a demissão, a Empresa A estende benefícios e oferece novas opções de recolocação no mercado, como forma de minimizar o impacto da demissão na vida dos funcionários, além da extensão da assistência médica e compensação financeira adicional. Para os dirigentes sindicais do Sindicato A, uma demissão é sempre uma perda para o profissional, para a empresa e para a sociedade. É possível evitá-la, desenvolvendo potenciais individuais e aprimorando a gestão organizacional. Feedback e franqueza são alicerces fundamentais para o crescimento de todos. 116 Há um consenso entre o Sindicato A e a Empresa A de que o processo de demissão deve ser muito bem conduzido, tanto em relação a quem sai quanto em relação a quem fica. É considerado dever da empresa tratar com transparência tanto os motivos das dispensas quanto as razões das permanências. O gerenciamento da demissão deve ser feito visando manter uma imagem pública favorável e o comprometimento e a lealdade dos funcionários que continuam na empresa, o que pode acontecer à medida que os desligamentos sejam vistos de forma legítima e justa. Caso B Para os gestores de relações sindicais da Empresa B, é possível manter a transparência nos processos de demissão sem comprometer o clima organizacional, a motivação, o comprometimento das pessoas e os resultados. “Ser transparente pressupõe uma postura responsável por parte da empresa, que precisa estar ciente de que é co-autora das demissões, já que o desenvolvimento profissional depende não somente dos funcionários, mas dos processos de seleção, gestão e desenvolvimento de talentos da empresa”. (Gestor). Um outro requisito nessa área é enfatizado pelos gestores. “Um item primordial para uma gestão transparente na demissão é a informação. As organizações devem possibilitar o acesso às informações, fazendo com que os funcionários estejam cientes de seus rumos nas empresas. A informação não deve se limitar ao alto escalão. A empresa deve ter uma política de comunicação de modo a gerenciar questões delicadas como a demissão”. (Gestor). Foi acordado pela Empresa B e Sindicato B transparência nas demissões, nas admissões e nas promoções, bem como em relação à situação econômica e financeira da Empresa B. 117 Já, para o Sindicato de Trabalhadores B, a Empresa B não percebe adequadamente os problemas e as conseqüências negativas que o processo de demissão pode causar ao trabalhador. A tensão provocada pode levar à queda na auto-estima, menor motivação e satisfação, tanto dos funcionários demitidos como dos que continuam na empresa, os remanescentes. Para os sindicalistas, o menor comprometimento dos empregados com a companhia devido a um processo de demissão mal feito pode levar ao absenteísmo, acidentes, doenças, perda de produtividade. Apesar de uma demissão ser sempre um ato difícil, não deve ser traumática. Para tanto, é preciso que a empresa tenha capacidade de conduzir o processo de forma profissional e tranqüila. Caso C Na visão do Sindicato de Empregadores, um dos maiores problemas atuais é o desemprego ou a precarização dos empregos. A desestruturação do mundo do trabalho é resultado dos complexos de transformações produtivas, que promovem o desemprego e a precariedade do trabalho assalariado com poucas perspectivas futuras de que tal quadro venha a se reverter. As empresas se dizem procurando alternativas para evitar o enxugamento de pessoal. Redução da jornada de trabalho, redução de benefícios, férias coletivas são medidas que diminuem custos, evitam ou adiam processos de demissão em massa. Conclui-se, após a fala dos sindicalistas do Sindicato de Empregadores, que a preocupação vem da percepção de que a demissão afeta não só os trabalhadores, mas também a percepção que os outros públicos têm sobre a empresa. Consumidores, imprensa, concorrência, por exemplo, começam a especular sobre a situação da empresa em caso de demissão, e essa imagem negativa pode influenciar até mesmo, na sua posição no mercado. O Sindicato de Empregadores acordou as seguintes cláusulas: quando da demissão imotivada, garantia de salário durante o restante do semestre e aviso prévio previsto em lei mais um dia para cada ano de vigência do contrato de trabalho, até o limite de 20 dias. 118 Já para o Sindicado de Trabalhadores C, com o pensamento direcionado para o lucro imediato, as empresas não visualizam as conseqüências e efeitos que a demissão acarreta. Para os dirigentes sindicais dos trabalhadores, as crises podem ter origem na má gestão das empresas e num número supostamente excessivo de empregados. “Demissões mal conduzidas podem levar a processos trabalhistas e a desgaste da imagem da empresa. A ilusão de cortar custos fixos com funcionários também pode gerar gastos maiores no futuro por meio de recrutamento de pessoal, treinamentos, perda da produtividade, credibilidade afetada no mercado, dentre outros”. (Sindicalista). Análise-Casos A, B e C Cortes de pessoal tornaram-se prática comum, principalmente, diante de crises financeiras. Uma empresa socialmente responsável com o seu público interno, conforme parâmetros do Instituto Ethos, deve procurar evitar demissões e, se tiver mesmo que fazê-lo, limitar-se ao estritamente necessário. A empresa deve analisar e discutir alternativas de contenção e redução de despesas com empregados e oferecer programa de demissão voluntária. Tem também de estabelecer indicadores socioeconômicos para orientar a definição de prioridades na demissão e oferecer adicionalmente serviço de apoio, recolocação e/ou recapacitação e extensão de benefícios a todos os trabalhadores demitidos. As entrevistas indicam que há avanços nessa área, como a estabilidade provisória de seis meses concedida em acordo coletivo pelo Sindicado de Empregadores. Os Sindicatos de Trabalhadores A e B consideram justos os processos de desligamento feito pelas Empresas A e B. Apesar de as empresas e de os sindicatos pesquisados novamente não perceberem a relação das cláusulas acordadas com o indicador comportamento frente às demissões, esta pesquisa indica que os acordos coletivos e/ou convenções coletivas contêm cláusulas que contemplam alguns dos indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno nessa área. 119 4.10 Preparação para a aposentadoria Caso A A preparação para a aposentadoria, para os gestores de relações sindicais da Empresa A, é uma iniciativa interessante por parte das empresas, pois proporciona aos funcionários que estão prestes a se aposentar um espaço de reflexão sobre as possíveis perdas e ganhos relativos ao afastamento do trabalho. A Empresa A acordou prêmio correspondente a 1,7% da remuneração mensal para quem contar 17 anos de casa, acrescido de 10% da referida remuneração mensal para cada ano excedente, até no máximo 35 anos de serviços prestados à Empresa A. No entanto, não tem um programa de preparação para a aposentadoria que proporcionaria a seus trabalhadores melhores condições psicológicas e não só financeiras de enfrentar essa nova fase da vida. Para os dirigentes sindicais do Sindicato A, é por meio dos programas de preparação para a aposentadoria que o trabalhador será mais esclarecido quanto a seus direitos e possibilidades de vida futura. Embora a Empresa A e o Sindicado de Trabalhadores A tenham acordado cláusula que preocupa com a aposentadoria dos seus trabalhadores, em termos de RSE e aposentadoria, faz-se necessário investir mais nessa questão. Caso B Para os gestores de relações sindicais da Empresa B, a palavra aposentadoria soa desagradável e frustrante para muitos profissionais em fim de carreira. Para os gestores, três 120 aspectos importantes levam as pessoas a não conseguirem separar a razão de viver e a razão de trabalhar: a perda do vínculo com a organização, a dúvida do que fazer com o tempo livre e a questão do status que algumas funções dão ao indivíduo. As pessoas costumam atribuir importância primordialmente a dois aspectos de suas vidas: família e trabalho. Para os gestores da Empresa B, por ocasião da aposentadoria, ocorre uma ruptura com o mundo do trabalho e, diante desse fato, os funcionários reagem de modo diferente, o que poderá afetar de modo positivo ou negativo as suas identidades. Ao se defrontar com o tempo livre que a aposentadoria permite, é possível o sujeito se sentir esvaziado, quando a sua prioridade na vida ativa sempre foi a sua atividade profissional. Para minimizar tal situação, a Empresa B criou outros caminhos de interação social e de atividades a serem realizadas, como o Programa de Preparação para Aposentadoria – PPA-, que objetiva minimizar o impacto provocado no indivíduo pela passagem do estágio de trabalho para o pós-trabalho, preparando-o para uma nova vida e para assumir novos papéis sociais que lhe garantam outro sentido para a vida. A Empresa B acordou benefícios vitalícios, por motivo de aposentadoria e aposentadoria antecipada voluntária, concessão de assistência médica, odontológica e seguros. Para os sindicalistas do Sindicato B, a preparação para a aposentadoria pode ser uma via para ajudar os trabalhadores a fazerem o planejamento dos anos posteriores ao seu desligamento da empresa, além da elaboração de projetos futuros de vida. O Sindicato B reivindicou estabilidade no emprego até 36 meses antes da aposentadoria e multa rescisória do FGTS, referente ao Plano Collor e Verão. Esta cláusula não foi acordada. Caso C Para o Sindicato de Empregadores, a adaptação para a aposentadoria dependerá do envolvimento das pessoas com o trabalho, da sua história de vida e dos seus projetos futuros no 121 que diz respeito às suas expectativas e limitações. Na visão dos sindicalistas do Sindicato C, é bom enfatizar que existem hoje alguns programas destinados às pessoas idosas que são de fácil acesso e que permitem a instrução, o divertimento, a socialização, o lazer, o desenvolvimento de habilidades manuais e artísticas, enfim, possibilitam que os idosos despertem para outras coisas que anteriormente sequer podiam imaginar fazer. Os grupos da terceira idade assumem um compromisso importante para o aumento de bem-estar e, conseqüentemente, da qualidade de vida dos idosos. Foi acordado entre o sindicato de empregadores e o sindicato de trabalhadores garantia contra rescisão imotivada nos doze meses que antecedem a data prevista em lei para a complementação do tempo de aposentadoria voluntária. Para o Sindicato de Trabalhadores C, a preparação para a aposentadoria é importante no sentido de que pode auxiliar a pessoa na reflexão sobre a sua vida após o desligamento do trabalho, bem como no planejamento, construção e viabilidade de novos projetos. Cabe ressaltar que o Sindicato de Trabalhadores C não reivindicou cláusulas sobre aposentadoria. Análise-Casos A, B e C Visando preparar seus funcionários para a aposentadoria, a empresa socialmente responsável com seu público interno, conforme os indicadores Ethos, deve adotar os seguintes parâmetros: orientar e oferecer assessoramento regular quanto a modificações na legislação; alternativas e procedimentos administrativos necessários para a obtenção da aposentadoria; desenvolver atividades de aconselhamento e preparação para a aposentadoria, discutindo seus aspectos psicológicos e de planejamento financeiro e oferecer oportunidades de aproveitamento da capacidade de trabalho dos aposentados. 122 Esta pesquisa indicou, portanto, que as empresas e os sindicatos acordaram cláusulas voltadas para um programa de aposentadoria, indícios claros de que estão em consonância com o discurso da RSE no tocante à aposentadoria. Mais uma vez, empresas e sindicatos pesquisados não perceberam a relação das cláusulas acordadas com o indicador preparação para a aposentadoria de RSE. Esta pesquisa indicou que os acordos coletivos e/ou convenções coletivas contêm cláusulas que contemplam os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno, mas não são percebidos como tal pelos atores sociais. 123 QUADRO II - Análise das Convenções e Acordos Coletivos x Reivindicações dos Sindicatos de Trabalhadores Indicadores Ethos Relação com o sindicato: 1) Liberdade para o sindicato no Local de trabalho 2)Fornecimento de informações ao sindicato 3)Reuniões periódicas com os sindicatos. 4)Canal de comunicação consolidado com o sindicato 5) Organização por local de trabalho Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas 8:Comissão para discutir a PLR 41: Acesso dos dirigentes 19: participação do processo PCCS sindicais ao local de 22 parágrafos 2: fornecimento de trabalho informações referente às condições de trabalho 42: comissão para discutir a melhoria nas condições de trabalho 47: Transparência nas informações sobre o movimento dos empregados e a situação econômica/financeira da empresa 50: Liberação de dirigentes sindicais. 51: Reuniões trimestrais com os dirigentes sindicais. PLR: Participação nos Lucros e Resultados. PCCS: Plano de Carreiras Cargos e Salários Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas 4: Reuniões para acompanhar e analisar o andamento e o cumprimento das cláusulas do acordo coletivo e os aspectos que afetam as relações trabalhistas 45: Participação das reuniões das comissões internas de prevenção de acidentes 56: Liberação de dirigentes sindicais sem prejuízo da remuneração do cargo 67: Notificar a ocorrência de acidentes graves ou fatais. 69: Reuniões mensais com a assessoria de relações sindicais/RH para soluções de problemas localizados 70: Canal de comunicação aberto, repasse de informações. 124 Indicadores Ethos Relação com o sindicato: 1) Liberdade para o sindicato no Local de trabalho 2)Fornecimento de informações ao sindicato 3)Reuniões periódicas com os sindicatos. 4)Canal de comunicação consolidado com o sindicato 5) Organização por local de trabalho Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato A Sindicato de Empregadores Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) (2005/2006) (50 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas 17: Acesso às dependências da 5: Livre acesso e permanência em empresa, para o exercício de todas as instalações da empresa atividades sindicais 26: fornecimento de registro na carteira de trabalho e previdência social, cargos, salários, -----------------------------recolhimento FGTS e Previdência, concessão de férias e desconto de contribuição sindical de todos os empregados 125 Indicadores Ethos Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Cláusulas acordadas Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Cláusulas acordadas Compromisso com o futuro das crianças. 1) Discussão da importância da educação e as conseqüências do trabalho infantil 2) Programa específico para contratação de aprendizes 3 Projetos para as crianças e adolescentes da comunidade 4) Projetos para o desenvolvimento dos filhos dos empregados ---------------------------- ------------------------- Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas ------------------------ --------------------------- Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas 15: Aajuda de custo ao aprendiz de R$324,00 72: Programa de apoio ao menor Reivindicações não concedidas ---------------------------- 126 Indicadores Ethos Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas 14: Auxílio para filhos de Valorização da diversidade empregados portadores de 1)Políticas anti-discriminatórias necessidades especiais na contratação, salário, 45: Programas para coibir treinamento e demissão -----------------------------discriminações, assédio moral e 2)Equidade na participação de assédio sexual homens e mulheres em cargos gerenciais 3)Equidade salarial para homens Reivindicações não concedidas Reivindicações não e mulheres, negros e brancos no concedidas mesmo nível hierárquico ---------------------------------------------------------------4) Atividades de valorização (negros, partos, mulheres, pessoas acima de 45 anos) 5)Combate ao assédio sexual 6)Programa para contratação de deficientes físicos Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas 72: Apoio ao deficiente especial (físico e mental): cobrir despesas, integração à sociedade, de dependentes dos empregados. Reembolso de 50% para escolas especializadas Reivindicações não concedidas 15: Igualdade de garantias para trabalhadores e trabalhadoras 18: Igualdade de oportunidades: conscientização e orientação sobre assédio moral e sexual, discriminações de sexo, raça, religião, para prevenir e coibir posturas discriminatórias no ambiente de trabalho 127 Indicadores Ethos Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Cláusulas acordadas Relação com Trabalhadores Terceirizados 1) Integra-os com a cultura, valores e princípios da empresa? 2)Integra-os aos seus programas de treinamento e desenvolvimento profissional? 3)Oferece condições de saúde, segurança, benefícios 4)Cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias 46: Estudos referentes à terceirização e primarização dos serviços e definição de políticas para a sua implementação com participação dos sindicatos Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Cláusulas acordadas ---------------------------- Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas 40: Concurso público para a primarização e a terceirização. Anualmente por um período de 5 anos promoverá contratação de 3,0% do seu quadro de pessoal 62: Fiscalização de empreiteiras quanto a segurança do trabalho 67: notificar a ocorrência de acidentes graves ou fatais mesmo com os terceiros 128 Indicadores Ethos Relação com Trabalhadores Terceirizados 1) Integra-os com a cultura, valores e princípios da empresa? 2)Integra-os aos seus programas de treinamento e desenvolvimento profissional? 3)Oferece condições de saúde, segurança, benefícios 4)Cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas 17: Política de primarização e redução dos serviços terceirizados e das contratações por prazo determinado na empresa ------------------------------ 21: Determinação das atividades que não podem ser terceirizadas 27: Responsabilidade solidária às obrigações decorrentes do contrato de trabalho 23: Oportunidade, mediante treinamentos e estabelecimento de critérios pontuando experiência e cursos 129 Indicadores Ethos Política de remuneração, benefício e carreira 1)Mede a satisfação dos empregados quanto à sua política de remuneração e benefícios? 2)Benefícios: saúde, educação, creche 3) Valorização por competências através da remuneração e desenvolvimento profissional 4)Política estruturada de carreira Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas 1: Reajuste salarial de 6,61% 2: Remuneração variável. com base no alcance de metas estabelecidas 3:Anuênio 4:Gratificação por tempo de serviço( 50% a cada 25 anos de serviço) 8: Participação nos Lucros 9:Tíquete refeição(R$264,00 mensais) 10:Cesta básica (R$180,00) 15: Auxílio creche 4: Proibição de trabalho extra fora do horário contratual semanal, salvo acordo das partes, devendo ser pago 12: Garantia de salário contra rescisão imotivada durante 6 meses 21: Indenização em caso de redução sazonal do trabalho demandado 23: Remuneração por outros serviços prestados no local de trabalho 27: Isonomia Salarial 28: Promoção por tempo de serviço, por habilitação, mérito ou crédito 42: Reajuste salarial de 5,86% 1: Reajuste salarial de 7,57% 6:gratificação especial anual 14: salário-habitação, teto de: R$255,00 17: ajuda de custo em cursos técnicos e de graduação 30: anuênio - adicional por tempo de serviço 33 e 34: tíquete refeição e tíquete lanche (R$, 6,50) 52: adicional de 30% do salário base para o exercício de atividades de risco 130 Indicadores Ethos Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Cláusulas acordadas 19: Proposta de reformulação do PCCS25: Complemento de até um salário mínimo aos empregados que recebem auxílio doença 28: Reembolso de despesas 5) programa de inscritas no Programa de participação nos Assistência especial resultados da empresa 31: Auxílio funeral-empregados e 6) programa de dependentes legais (R$929,10). bonificação da empresa Política de remuneração, benefício e carreira. Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas 31: Adicional de 20% para outras atividades demandadas 32: Adicional de 5% do salário mensal, quando contar 5 anos de efetivo exercício 33: Adicionais de 20% para outras condições 35 e 36: Bolsas de Estudos para o associado, cônjuge e dependentes legais 17: Estabilidade para Gestante até 5 meses, licença paternidade 5 dias Creche: local apropriado para guarda de seus filhos 53: Pagamento do adicional de insalubridade 64: Seleção interna para preenchimento de cargos vagos 72: Plano de benefícios assistenciais também para dependentes. Programa de assistência financeira Programa de seguros sociais: complementação salarial de empregados em licença médica, benefícios acidentários e previdenciários. Auxílio funeral. Creche 78: Participação nos resultados (sem metas pactuadas a serem atingidas pelos empregados) 131 Indicadores Ethos Política de remuneração, benefício e carreira. 1)Mede a satisfação dos empregados quanto à sua política de remuneração e benefícios? 2)Benefícios: saúde, educação, creche 3) Valorização por competências através da remuneração e desenvolvimento profissional 4)Política estruturada de carreira 5) Programa de participação nos resultados da empresa, 6) Programa de bonificação da empresa. Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas 5:Implementar jornada de 6 horas diárias de segunda à sexta-feira em todas as suas unidades 5: horários flexíveis de entrada e saída no trabalho, inclusive para repouso e refeição Assessoria gratuita (cível criminal e administrativa para os empregados que se envolverem em acidentes de trânsito e assessoria administrativa para as infrações de trânsito). 6: Valorização do Trabalhador.: 4: Indenização de 0,38% da vigente por contratação por jornada de trabalho. remuneração Plano de cargos e salários. Adicional corrosão do salário real de 30% por atividades em outros municípios. Incentivo à qualificação para os trabalhadores que cursam especialização, mestrado e doutorado. Adicional de titulação para especialistas (20%), mestre (25%), doutores (30%) e pós-doutores (40%) 132 Indicadores Ethos Política de remuneração, benefício e carreira. 1)Mede a satisfação dos empregados quanto à sua política de remuneração e benefícios? 2)Benefícios: saúde, educação, creche 3) Valorização por competências através da remuneração e desenvolvimento profissional 4)Política estruturada de carreira. 5) programa de participação nos resultados da empresa 6) programa de bonificação da empresa Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas -Integralidade de todos os benefícios aos empregados licenciados -A empresa concederá folga ao trabalhador no dia do seu aniversário 7: Valorização do trabalhador menos qualificado 63: Plano de saúde para o associado 62: Vale refeição no valor de R$ 8,00 60: Proibição de atividades aos sábados ( pena de pagamento de 500% sobre o valor da hora normal 8: Plano odontológico e revisão do custeio do Programa Prosaúde 10: reembolso de todas as despesas relativas a formação (técnico, superior e posterior) 11: Fim da co-participação dos tíquetes refeição e alimentação 133 Indicadores Ethos Cuidado com a saúde, segurança e condições com o trabalho-SST 1)Oferece programas específicos para a saúde da mulher e para os portadores de HIV 2)Promove programa de combate ao estresse 3)Metas para atingir padrões de excelência em SST 4)Programa de prevenção e tratamento para dependência de drogas e de álcool? 5)Política de compensação de horas extras para todos os empregados, inclusive gerentes e executivos? 6) Média de acidentes de trabalho por empregado/ano Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas 22: Política de Saúde, Segurança e Medicina do Trabalho visando atendimento das demandas de Segurança do Trabalho, Saúde Ocupacional, Assistência Social e Saúde Preventiva da Mulher e do Homem. Parágrafo 2: Acompanhamento específico aos empregados que trabalham em locais isolados. 23: Exames médicos periódico, preventivos 25: Complemento de auxílio doença de até um salário mínimo para quem recebe auxílio doença do INSS. 42: Proposta de melhoria nas condições de trabalho 2: Duração da jornada de trabalho e intervalos para descanso. 3: Folgas semanais e recessos durante o ano 14: Garantia de emprego aos associados acometidos de doença profissional ou vítimas de acidente de trabalho 33: Limite no ritmo de trabalho 38: Escalas de plantão, intervalos especiais para repouso ou alimentação 45: Políticas e ações que visem à prevenção de doenças e acidentes do trabalho 46: Condições de trabalho, equipamentos de proteção. 54: Informações sobre ambiente de trabalho que possam interferir na saúde. 67: Notificar a ocorrência de acidentes graves ou fatais Responsabilidade pela internação, caso dificuldade na rede hospitalar credenciada. 73: Adicional de periculosidade em área de risco (30% salário/base) 134 Indicadores Ethos Cuidado com a saúde, segurança e condições com o trabalho-SST 1)Oferece programas específicos para a saúde da mulher e para os portadores de HIV 2)Promove programa de combate ao estresse 3)Metas para atingir padrões de excelência em SST 4)Programa de prevenção e tratamento para dependência de drogas e de álcool? 5)Política de compensação de horas extras para todos os empregados, inclusive gerentes e executivos? 6) Média de acidentes de trabalho por empregado/ano Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas 10: Programas de saúde Preventiva. Assistência especial dos trabalhadores e dependentes. Descontos em medicamentos para trabalhadores e dependentes. Reembolso de despesas com psicológicos de seus (as) empregados (as) -------------------------------- 13: Redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais sem redução de remuneração 17: Readaptação funcional por motivo de acidente ou doença de trabalho, sem perda salarial 135 Indicadores Ethos Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Cláusulas acordadas Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade. 1) Promove atividades de treinamento no desempenho de tarefas específicas 2)Atividades de capacitação visando aperfeiçoamento do pessoal 3)Bolsas de Estudos 4)Erradicação do analfabetismo, educação básica 5) Desenvolvimento de identificação de competências 6) coerência entre os valores e princípios éticos da organização com os valores e princípios individuais de seus empregados? 13: Incentivo a capacitaçãoformação 2° grau, técnica e graduação 14: Reembolso de auxílio educação no valor de 300,00 26: Estabilidade de 1 ano após o retorno de afastamento do INSS, por acidente de trabalho e doenças profissionais 42: Cursos de direção defensiva de veículos e motocicletas para o exercício de suas atividades 43: Elaborar projetos de terminais de computadores para a área operacional Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Cláusulas acordadas Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas 17: Ajuda de custo em cursos técnicos e de graduação, auxílio educação -------------------------------- 136 Indicadores Ethos Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade. 1) Promove atividades de treinamento no desempenho de tarefas específicas 2)Atividades de capacitação visando aperfeiçoamento do pessoal 3)Bolsas de Estudos 4)Erradicação do analfabetismo, educação básica 5) Desenvolvimento de identificação de competências 6) coerência entre os valores e princípios éticos da organização com os valores e princípios individuais de seus empregados? Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas 22: Estabilidade no emprego durante a vigência do presente acordo, executada a hipótese de demissão por justa causa 40: Manutenção de empregos: aumentar o quadro mínimo de pessoal com o número de postos de trabalho que serão primarizados ---------------------------------- 137 Indicadores Ethos Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Cláusulas acordadas Transparências nas às 47: demissões, admissões, e promoções, bem como à 1)Evitar demissões, situação econômica e financeira alternativas de contenção e da Empresa redução de despesas 2)Incentivos para a demissão voluntária 3)Recolocação e capacitação de trabalhadores demitidos 4)Avalia periodicamente a Reivindicações não concedidas rotatividade de pessoal Comportamento demissões. frente Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas 16: Se houver rescisão imotivada, garantia de salário durante o semestre 18: Aviso prévio previsto em lei mais um dia para cada ano de vigência do contrato de trabalho, até o limite de 20 dias 71: Demissão sem justa causa, direito de defesa, perante a sua Diretoria, dentro do prazo máximo de 48 horas Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas ----------------------------------------- -------------------------------- -------------------------------- 138 Indicadores Ethos Preparação para a aposentadoria. 1)Informações quanto à obtenção da aposentadoria 2)oferece programa de previdência complementar a todos os seus empregados? 3) participa da elaboração de políticas públicas com foco em idosos? 4)Oportunidade de aproveitamento da capacidade de trabalho dos aposentados. 5)Preparação para a aposentadoria, aspectos psicológicos e planejamento financeiro Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas 33: Benefícios vitalícios, por motivo de aposentadoria e aposentadoria antecipada voluntária a concessão de assistência médica, odontológica e seguros 13: Garantia contra rescisão imotivada nos doze meses que antecedem a data prevista em lei para a complementação do tempo de aposentadoria voluntária 18: Prêmio correspondente a 1,7% da remuneração mensal para 17 anos de casa, mais 10% para cada ano excedente, até no máximo 35 anos de serviços prestados Reivindicações não concedidas 11. Estabilidade no emprego até 36 meses antes da aposentadoria. Multa rescisória do FGTS, referente ao Plano Collor e Verão Reivindicações não concedidas Reivindicações não concedidas 28: Proibição de contratar aposentados de forma interposta, indireta, autônoma, ou , mediante qualquer outra forma de contratação, sem vínculo de emprego direto ------------------------------------- 139 Indicadores Ethos Sindicato B Empresa B (2005/2006) (54 cláusulas) Cláusulas acordadas Sindicato C Sindicato de Empregadores (2005/2006) (50 cláusulas) Sindicato A Empresa A (2005/2006) (82 cláusulas) Cláusulas acordadas Cláusulas acordadas ----------------------------- ----------------------------- Gestão participativa 1) Participação de ---------------------------representantes dos empregados em comitês de gestão e nas decisões estratégicas 2) Discussão e análise das Reivindicações não informações econômico- concedidas financeira com os empregados. 3)Programa para estimular e -----------------------reconhecer sugestões dos empregados Reivindicações não concedidas ---------------------------- Reivindicações não concedidas ---------------------------- 140 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados desta pesquisa, que utilizou como variáveis de análise os indicadores definidos pelo Instituto Ethos para o relacionamento com o público interno, indicam que as empresas e sindicatos pesquisados não relacionaram nenhum dos temas reivindicados, negociados e /ou acordados com os indicadores Ethos de RSE. Muitas cláusulas acordadas, como liberdade para o sindicato no local de trabalho, fornecimento de informações e reuniões periódicas com o Sindicato, programas para coibir discriminações, assédio moral e assédio sexual bem como apoio ao deficiente especial e programa de participação nos resultados da empresa se constituíram em indicadores de RSE. Quanto aos benefícios: saúde, educação, creche, política de saúde, segurança e medicina do trabalho visando atendimento das demandas de segurança do trabalho, saúde ocupacional, assistência social e saúde preventiva da mulher e do homem, assim como condições de trabalho, equipamentos de proteção, incentivo a atividades de capacitação, formação 2 ° grau, técnica e graduação ,transparências nas demissões, admissões e promoções e benefícios vitalícios, por motivo de aposentadoria, também se constituíram em indicadores de RSE, embora não fossem entendidos ainda como tal pelos dois lados. Os sindicatos de trabalhadores reivindicaram cláusulas que não foram acordadas pelas empresas, como conscientização e orientação sobre assédio moral e sexual, discriminações de sexo, raça, religião, para prevenir e coibir posturas discriminatórias no ambiente de trabalho. E também assistência especial dos trabalhadores e dependentes, readaptação funcional por motivo de acidente ou doença de trabalho, sem perda salarial e integralidade de todos os benefícios aos empregados licenciados. Isto indica que o discurso empresarial da RSE não está sendo utilizado de forma a auxiliar a ação sindical, que não percebe o seu potencial para cobrar o compromisso público que as empresas assumiram. 141 Um dos aspectos complicadores da atuação social das empresas é que, muitas vezes, o investimento social privado pode caminhar para intervenções no nível da comunidade/sociedade sem que ações consistentes aconteçam quanto ao público interno, visto que a RSE ainda não é percebida como estando relacionada também às áreas de relações de trabalho/recursos humanos em muitas organizações. Portanto, diante do objetivo geral desta dissertação, de verificar como a negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores está refletindo o discurso da RSE no tocante ao público interno, conclui-se que as empresas e o sindicato de empregadores pesquisados, embora relativamente afinados com o discurso da RSE, não se perceberam como parte integrante do mesmo. A pesquisa evidenciou tendências gerais sobre as cláusulas acordadas e reivindicadas entre empresas e sindicados de trabalhadores em relação aos indicadores Ethos de RSE, que sintetizam em seguida. Quanto ao relacionamento empresa-sindicato, a pesquisa indicou que a Empresa B, em primeiro lugar, e o Sindicato de Empregadores, em segundo, procuram manter um bom relacionamento com os Sindicatos de Trabalhadores, compartilhando com os seus representantes as informações sobre condições de trabalho e objetivos estratégicos que atinjam a tomada de decisões que dizem respeito aos interesses de seus trabalhadores. Já a postura adotada pela Empresa A, de querer anular a organização coletiva de seus empregados, antecipando-se a ela, não está de acordo com os princípios da RSE. Sobre a gestão participativa, não houve cláusulas reivindicadas e acordadas entre empresas e sindicados de trabalhadores. A participação ainda é um tabu para o empresariado conservador e uma área em que os sindicatos de trabalhadores estão pouco qualificados para agir e, até mesmo, para reivindicar. 142 No tratamento da questão dos direitos da criança e do adolescente, apenas uma empresa acordou programa de apoio ao menor. Outra, apesar de não ter acordado cláusulas referentes ao compromisso com o futuro das crianças, desenvolve projetos nesta área. Nenhum sindicato de trabalhadores posicionou-se em relação ao tema acima, o que não coaduna com o seu discurso de promoção da cidadania dos excluídos. Podemos inferir por meio do discurso dos entrevistados, que tanto as empresas quanto os sindicatos estimulam a valorização da diversidade e o combate à discriminação. Entretanto, quando analisadas as convenções, acordos coletivos e pautas de reivindicação, conclui-se que há um percentual pouco significativo de cláusulas tanto reivindicadas quanto concedidas sobre o tema abordado. Portanto, há ainda mais discurso que práticas empresariais e sindicais. Com exceção da Empresa B, que parece estar se esforçando no sentido de valorizar a diversidade no seu ambiente de trabalho. No último acordo coletivo entre o Sindicado de Empregadores e o Sindicato C de Trabalhadores, não foi feita nenhuma reivindicação nem qualquer concessão empresarial em relação à valorização da diversidade. A pesquisa indica que, para as empresas pesquisadas, a terceirização traz melhoria da competitividade, liberdade de gestão da força-de-trabalho e aumento do lucro, enquanto para os sindicatos de trabalhadores pesquisados, a terceirização registra perdas em vários níveis, reduzindo os empregos estáveis e ampliando as formas precárias de inserção da força de trabalho no mercado. Este é um posicionamento esperado das empresas e sindicatos de trabalhadores, como mostra a literatura. Quanto à terceirização, os sindicatos de trabalhadores reivindicaram limites, o que foi negado pelas empresas. No que diz respeito à remuneração, benefícios e carreira, é consenso entre os dois atores sociais pesquisados que está havendo um avanço nas relações de trabalho nesse aspecto. Os resultados desta pesquisa indicam que duas empresas dispõem de programa de PLR. No entanto, para os sindicatos de trabalhadores, a PLR provoca o rebaixamento do 143 salário fixo e a alteração da dinâmica das negociações coletivas, dado que a PLR intensificou o processo de descentralização das negociações para o âmbito das empresas. Os resultados desta pesquisa indicam que há uma deficiência na formulação de cláusulas reivindicadas e acordadas que dizem respeito à valorização da carreira dos trabalhadores. Ou seja, mais uma vez os sindicatos mostram-se despreparados para lidar com as complexas mudanças no mundo do trabalho. A preocupação com a saúde, segurança e condições de trabalho é percebida como responsabilidade compartilhada entre empresas e sindicatos pesquisados. No entanto, a Empresa A relata um número alto de acidentes, principalmente com os trabalhadores terceirizados. Fatores como redução do quadro de pessoal e aumento de horas extras foram apontados como causa desses acidentes pelos sindicalistas entrevistados. Quanto ao compromisso com o desenvolvimento profissional dos funcionários, as empresas têm feito investimentos em cursos de capacitação profissional, como forma de possibilitar aos trabalhadores a valorização de seus empregos e desenvolvimento educacional, no que diz respeito ao ensino médio, fundamental e superior. Os dirigentes sindicais criticaram a postura das empresas quanto ao desenvolvimento profissional, pois não consideram justas as regras para a avaliação de desempenho. O Sindicato de Empregadores e o Sindicato de Trabalhadores C não reivindicaram nem acordaram quaisquer cláusulas sobre desenvolvimento profissional e a empregabilidade. É mais uma área em que os sindicatos de trabalhadores apresentam deficiências em intervir. Já, no que diz respeito ao comportamento das empresas e sindicatos pesquisados frente a demissões, é consenso entre os dois atores sociais que o processo de demissão deve ser muito bem conduzido, tanto em relação a quem sai quanto a quem fica, realizado de forma profissional e transparente. No entanto, para o Sindicato B e o Sindicato C, as empresas não visualizam adequadamente os problemas e as conseqüências negativas que o processo de demissão pode causar ao 144 trabalhador, como a queda na auto-estima, menor motivação e satisfação, tanto dos funcionários demitidos como dos que continuam trabalhando e, para as empresas, processos trabalhistas e desgaste de imagem. Empresas e sindicados pesquisados estão voltadas para um programa de aposentadoria no sentido de ajudar os trabalhadores a fazerem o planejamento dos anos posteriores ao seu desligamento da empresa, além da elaboração de projetos futuros de vida. Embora a Empresa A, Sindicado de Empregadores e o Sindicado de Trabalhadores A e o Sindicato de Trabalhadores C tenham enfatizado que se faz necessário investir mais nessa questão. Após, a análise do acordo coletivo e das entrevistas, a pesquisa conclui que a Empresa B está mais avançada em relação aos indicadores Ethos de RSE, como: relacionamento empresa- sindicato, programas de incentivo à diversidade e métodos de gestão voltados para detectar e prevenir situações potenciais de discriminação, desvalorização da mulher e assédio moral. A Empresa B está oferecendo aos seus trabalhadores a PLR e a remuneração variável com base no alcance de metas estabelecidas não negociadas. Investe em ações sociais, culturais, artísticas, educacionais, esportivas, operacionais e ambientais destinadas aos seus empregados e à população em geral, treinamento no desempenho de tarefas específicas de cada cargo e concessão de bolsas de estudos e incentivando à capacitação. Por meio da análise documental celebrada entre os atores sociais coletivos, no tocante ao público interno, e das entrevistas realizadas, as contribuições deste estudo para as pesquisas sobre responsabilidade social empresarial e negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores foi no sentido de salientar que os indicadores Ethos de Responsabilidade Social para o público interno ainda são ignorados como tal por empresas e sindicatos na negociação coletiva. Os atores sociais coletivos não associaram RSE com o público interno, com as práticas de gestão de pessoas e relações de trabalho. O que não deixa de ser um reflexo do fato de a 145 temática de RSE estar ainda predominantemente associada pelas empresas às ações sociais empresarias externas à empresa, para fora da empresa. Faz-se necessário, entretanto, que a organização busque tenazmente uma linha de coerência entre o discurso e a prática de suas ações. Assim, uma empresa não é socialmente responsável se, por um lado, remunerar mal seus empregados, corromper a área de compras de seus clientes, pagar ou receber propinas e, por outro, desenvolver bons programas em entidades sociais da comunidade. Espera-se que os resultados da presente dissertação possam servir de base para pesquisas futuras, no que diz respeito à negociação coletiva, expressa pelos acordos, convenções coletivas e as pautas de reivindicações entre os sindicatos de trabalhadores e empresas. 146 REFERÊNCIAS ACKERS, Peter.; SMITH, Chris.; SMITH, Paul (Org.). The new workplace and trade unionism: critical perspectives on work and organization. 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(cláusulas relacionadas com a RSE). • As cláusulas que foram acordadas e reivindicadas têm alguma relação com a RSE?