Cenfocal – Acção de Formação Nº 16/2006 – “DIDÁCTICA DA ESCRITA”” – Formador: Manuel Dias Afonso
Tarefa de escrita – texto narrativo
Expansão da narrativa da “Estória de Lea”
Produto final
Escrita da estória da personagem Lea, expandido o resumo das
páginas 97-99 de O mundo em que vivi.
1. Narração no pretérito.
2. Narração na 3ª pessoa.
3. Manutenção – ou não – das marcas linguísticas do narrador.
4. Resolução das sequências elípticas que respondem às seguintes cinco perguntas:
1. Como se conheceram e apaixonaram Lea e o “Jovem Neuberg”?
2. Qual foi a reacção do “Jovem Neuberg” à decisão do pai e por que motivos a acatou?
3. Como teve Lea conhecimento da partida do namorado?
4. Como foi Lea parar ao rio Else?
5. Qual foi o final da história?
5. O texto deve incluir a descrição de um espaço físico da cidade.
6. Pormenorizar elementos da descrição das duas personagens: Lea e “Jovem Neuberg”.
7. O texto deve incluir uma cena dialogada entre Lea e o jovem Neuberg, em que as
personagens falam acerca das reacções do pai do jovem e da mãe de Lea ao seu namoro.
8. Extensão máxima e mínima do texto.
Produtos intermédios da escrita do texto
Resumo da história de Lea – O mundo em que vivi, capítulo 28
1. A Sr.ª Wehrheim, viúva, proprietária de uma loja de fazendas, pretendia casar a sua filha Lea
com um rapaz da mesma religião, pertencente a uma das outras quatro famílias judaicas da
cidade.
2. Lea apaixonou-se pelo filho do Sr. Neuberg, inspector dos correios e um reconhecido
anti-semita.
3. Lea e o jovem Neuberg passaram a namorar publicamente.
4. O Sr. Neuberg opôs-se ao namoro e arranjou para o filho uma colocação fora da cidade.
5. Lea é retirada do rio Else e reanimada no hospital, onde se lamenta de não a terem deixado
morrer.
Guião do texto narrativo – Expansão da história de Lea
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A Sr.ª Wehrheim, viúva, proprietária de uma loja de fazendas, pretendia casar a sua filha Lea
com um rapaz da mesma religião, pertencente a uma das outras quatro famílias judaicas da
cidade.
Lea apaixonou-se pelo filho do Sr. Neuberg,
inspector dos correios e um reconhecido
anti-semita.
Lea e o jovem
publicamente.
Neuberg
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Como se conheceram? Como se
apaixonaram?
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Cena dialogada – assunto: intenções dos
respectivos pais a seu respeito.
namoravam
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O Sr. Neuberg opôs-se ao namoro e arranjou
para o filho uma colocação fora da cidade.
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Como teve o jovem Neuberg
conhecimento da decisão do pai?
Como reagiu?
Como teve Lea conhecimento
sucedido?
Como foi Lea parar ao rio Else?
Como foi Lea salva do afogamento?
do
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Lea é retirada do rio Else e reanimada no hospital, onde se lamenta de não a terem deixado
11 morrer.
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Outras questões a planificar
1. Em que momento da acção introduzir as descrições das duas personagens – Lea e jovem
Neuberg?
2. Que espaço da cidade escolher para o namoro-diálogo (ler as descrições dos espaços da
cidade do capítulo 19 – p. 60)?
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Anexo 1
A Sra. Wehrheim, viúva e dona de uma casa de fazendas e a sua filha Lea faziam parte
das cinco famílias judaicas da cidade. Parecidas uma com a outra, ambas baixas e roliças, de
grandes olhos escuros, usavam o cabelo cortado à moda e alisavam-no, a cada instante, com
o mesmo lânguido gesto de mão. Passavam o dia na loja, a medir, a cortar e a conversar com
os fregueses. A preocupação máxima da Sra. Wehrheim era arranjar casamento para a filha.
- Sou uma pobre viúva, dizia, quero ver a pequena arrumada.
Teria preferido um rapaz judeu. Não porque fosse religiosa, mas por causa da tradição
e para evitar complicações futuras. Na cidade havia um único rapaz judeu com idade própria
para casar com Lea: Werner Levy, o filho do dono da sapataria. Mas Werner ia casar com a
filha do relojoeiro, uma rapariga frágil, de cabelo louro-quase-branco e de olhos claros,
sonhadores. A Sra. Wehrheim suspirava. Não achava justo Deus não unir Lea com Werner,
rapaz tão à sua feição, deixando-o em vez disso andar perdido atrás duma menina cristã e
ainda para cúmulo tão debilzinha que parecia partir-se dum momento para o outro. Mas ouvi
Lea dizer que tanto lhe fazia ter marido judeu como cristão. E não tardou que o provasse.
O caso foi falado. O pai de Werner, o Sr. Levy, previa que aquilo acabasse mal. O meu pai,
que raras vezes se intrometia na vida dos outros, lamentava:
- Tenho pena da rapariga. Para o que lhe havia de dar.
E Lilli, sempre interessada por toda a espécie de bisbilhotices da cidade, observou
filosoficamente:
- O amor não escolhe.
Mas Lea andava feliz. Os olhos brilhavam-lhe, ria-se por tudo e por nada como se a
vida fosse um divertimento contínuo. Andava apaixonada pelo filho do Sr. Neuberg, inspector
dos correios, homem robusto, de cara dura. O meu pai chamava-lhe: «anti-semita». Eis a palavra
que me era familiar como «inflação», mas que, tal como ela, fazia parte das palavras
desconfortáveis, estrangeiras. Anti-semita significava para nós o mesmo que inimigo, por isso
fazia-me lembrar, com os ii agudos, o vento gelado que no Inverno nos cortava a pele.
- Por que é que há quem nos odeie?, perguntei ao Sr. Heim. Depois de ter esboçado um
sorriso triste, disse:
- É difícil de responder, Rose. Há quem afirme que somos um povo inteligente e que isso nos
traz invejas; há os que crêem que o nosso destino é uma tragédia determinada por Deus; e não
faltam outros que nos atribuem qualidades inferiores e nos consideram malvados.
- Mas somos como toda a gente, Sr. Heim.
- Claro que somos como toda a gente, mas somos poucos, e poucos não têm defesa contra
muitos.
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O filho do inspector e Lea passeavam todas as noites pelas ruas ou sentavam-se num
dos bancos do jardim público. Formavam um contraste flagrante: ela, morena e de cabelo
preto; ele, fazendo lembrar, com a sua pele muito branca e o cabelo amarelo claro, um cálamo
de trigo. Vimo-los assim ao longo dum ano, mesmo que chovesse ou nevasse.
- Não sei o que é que a Lea encontra naquele rapaz, ouvi comentar a minha mãe.
Mas, certo dia, o rapaz desapareceu. Depressa se soube que o inspector dos correios,
após diversas tentativas, conseguira arranjar-lhe colocação longe da cidade e o ameaçara à
despedida: «Acabou-se a brincadeira com a judia».
Lembro-me daquela tarde em que tiraram Lea do rio Else e a levaram para o hospital
onde, acabando por ser reanimada, se desesperou: «Meu Deus, porque é que não me
deixaste morrer?». Lembro-me bem da Lea de então, magra, de cara descarnada, a alisar o
cabelo com gesto cansado.
- Coitada da rapariga, compadeciam-se as pessoas durante algum tempo.
Mas a história triste de Lea deixou de ser assunto do dia. Mesmo o padeiro, que gostava de
comentar os acontecimentos extraordinários, acabou por se fartar dela. O mundo continua sempre a
girar, dão-se constantemente coisas novas e, ao fim e ao cabo, uma história de amor que acaba mal
não é tão importante que não possa cair no esquecimento.
O mundo em que vivi, Ilse Losa, pp. 97-99
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Anexo 2
Percorríamos as ruas, os campos, os prados. Subíamos os montes e brincávamos à beira-rio.
Não havia na cidadezinha ponto que não me fosse familiar e a que não ficasse ligada por alguma
recordação, boa ou má.
Havia uma rua larga com casas pintadas a cores, um rio de nome Else, que é nome de
rapariga; uma avenida debruada de espinheiros que davam flores escarlates na Primavera e
sombras no Verão. No Inverno a neve caía silenciosa e cobria a cidade. Quando eu via, pela janela
da sala aquecida, o espectáculo do cair dos flocos, as árvores então sem folhas, cobertas de branco,
os telhados brancos das casas vizinhas, a rua a ficar com o tapete branco cada vez mais alto, os
sonhos levavam-me longe para o mundo das histórias do avô Markus. Havia de chegar o tempo em
que o espectáculo da neve não me inspirava senão tristeza por saber os amigos a morrer de frio em
campos de concentração. Mas como adivinhar isso nessa época, em que os nossos trenós
deslizavam pelos montes abaixo e eu vivia despreocupada como toda a gente?
Na nossa floresta as faias eram mais altas, os carvalhos mais nodosos, os pinheiros mais
escuros, as bétulas com as manchas negras sobre os troncos brancos mais luminosas do que em
parte alguma do mundo, e da terra brotavam as fontes mais cristalinas. No chão de musgo nasciam
as airelas, pretas e doces, e os murtinhos, vermelhos e amargos. Na Primavera os prados
punham-se verdes e florzinhas brancas rompiam a terra ainda fria. No mês de Abril aguaceiros
alternavam com o sol, o que parecia um jogo dos dois. Corríamos para os campos e apontávamos
com o dedo para a ponte do arco-íris, mas os velhos avisavam-nos de que não se devia apontar
para o arco-íris, que nos nasceriam verrugas nas mãos, justamente como não se devia apontar com
o dedo para as estrelas no céu da noite, que nos traria azar. E por não se dever apontar para ela
com o dedo, a ponte das sete cores era misteriosa, tal como as estrelas no céu da noite. A chuva
dava de beber à terra, mas deixava-nos ficar charcos e sulcos: Reno, Alba, Oder, Weichsel corriam,
obedientemente, para o Norte e para o Leste desaguando nos mares onde os barquinhos de papel
navegavam e se afundavam, desfeitos. E enquanto o sol dançava sobre os nossos rios, pingas
grossas desprendiam-se das árvores primaveris. O ar era puro, apetecia respirar fundo. Do lado do
monte vinha uma aragem fresca que obrigava os barquinhos a navegarem depressa.
O mundo em que vivi, Ilse Losa, pp. 60
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