/ 38 REVIS'fA DO INSTITUTO HISTÓRICO dando todas as providencias. Só a matta cerrada do morro (mais tarde do Castello) e o deseccamento dos pantanos deramlhe grande trabalho, bem como o estabelecimento dos rudimentares edificios publicas e pousadas dos moradores, a quem favoreceu, dando terras sem iôro nem pensão. alguma. Obstando ao retalhamento do ~oio da nossa patria, Mem de Sã merece, pois, de todos os Brasileiros muita veneração, Ao verdadeiro fundador desta capital vão, enfim, os Cariocas pagar antiga dívida, dando o illustre nome de Mern de Sá a uma importanle avenida Antes tarde do que nunca! 25- de Janeiro rle 1905. --~--A RUA ESTREITA Tractando-sc {Ie abrir avenidas, não ha administrador que em vericia leve de vencida o nosso actual prefeito. Mais um nielhoramento importante acaba eJle de fazer, inaugurando outra beiJa avenida, que vai ser o grande successo da presente semana. Sem dilatação gradual, mas segundo os rápidos processos modernos, o dr , Passos transformou em pouco tempo a triste, feia e lugubre rua Estreita de S. Joaquim em larga via de communicação, que facilitará o transito publico entre o antigo sitio de Yoiuer de (largo de Sancta RUa e becco do João Baplista) e a rua Larga, depois Flcr iano Peixoto, aberta em terras da chácara de Manuel Casado Vianna, cujo antecessor, o Antonio Vieira, é mu i conhecido nas chronicas da te~ra pelo seu apellido . Por mais conhecedor Que se seja das antiguidades desta :::ebast}~nopolis,,,,custa hoje reconhecer o lagar em que existia a antiga villa, em cuj os principias tivera o seu cortume o José d . Costa. Quem dirá haver alli existido a egreja de S. Joaquim, que substituiu a antiga capclla doada aos meninos orphãos de. S. Pedra pelo )Ianuel de Campos Dias? ANTIQUALHAS E MEMORIAS DO RIO DE JANEIRO 39 O melhoramento realizado graças dynamite occupava a mente dos nossos homens ha mais de cincoenta annos. Demolida a velha: egreja de Sancta Anna e inaugurada a estrada de ferro, fallava-se na vantagem de prolongar a rua Larga até Prainha, pbrcommodidade do commercio. Projectos e projectos foram apresentados, mas todos nautragavam ante a vontade do alto, que não queria se tocasse na egreja ele S. Joaquim, annexa ao Imperial Collegio. Interdicta por muito tempo e· sem prestar serviços ao culto religioso, abrigou eIla sob seus tectos o Lyceu de Artes e Officios, o Instituto Cornmercial, a Dircctoria da Instrucção Publica, e até uma estação policial, na casa que serviu de resÍdencia aos antigos reitores do 'hoje Gymnasio Nacional. Mas querer é poder, e o dr. Passos entendeu que esse estado de cousas não podia continuar. Como Cesar elle póde exclamar - veni - vidJi - vicio E tudo foi feito; as baiucas da rua Estreita, as casas de tavolagens e de quitandeiras, as Iobregas lojas de violeiros vão dar legar a bellos edificios, que causarão inveja a-os da rua Acre e da Avenida Treze de Maio. E por fallar em violeiros. E' uma industria que vai em plena decadencia. Tantos eram elIes a principio e domiciliados na aetuaí rua Theophilo Ottoni, que fizeram trocar o nome antigo de Domingos Coelho pelo de Violas. Dahi emigraram para a rua ex-Estreita, hoje alargada. Em 1799, porém, segundo reza o Almanach de Duarte Nunes, existiam na cidade apenas quatro lojas de violas, donde se conclue ser esse mais ou menos .o numero dos industriaes recentemente desalojados .com as demolições. Entretanto, com ser feita, tenho saudades da antiga rua_ do Collegio Estreita. Recordações da mocidade do tempo Pedro lI. Era o caminho favorito de grande numero de collegiaes , Enquanto uns buscavam de preferencia a rua da Imperatriz para enticar com o celebre Alves, o patriarchâ dos cebos, feio como sapo e íràmundo como porco, outros preferiam a rua em questão. Principalmente para apreciarem -os trabalhos tie desobstrucção da antiga valia, que feita uma vez por armo du--'rava longos mezes. Ali i,do lado ímpar ainda conservado,' existe r á á 40 REVISTA DO' INSTI'l'UTO HISTORICO pequena casa terrea, habilada, ha quarenta e seis annos, pela quitandeira Josepha, que, por dous ou quatro vinténs, 'nos rV'(lndia pamonha, pés de moleque, pipocas, amendoins e ba'ranas. A' porta da boa africana faziamos ponto, esperando Q toque .le chamada para as aulas. Esse serviço era executado, com toda a per-ícia, ás 8 314 da manhã, pelo creoulo Xavier, bonito typo, de gaforina repartida ao centro ~ esrrada da liberdade, como então se dizia. O Xavier agarrava-se ao sino grande de S. Joaquim e só largava o badalo depois de ter visto das ruas circunvizinhas os retardatarios affIuirem portaria. Ainda, ha dias, ppr lá passei para ver os melhoramentos postos" em práctíca e notei a casa habitada pela celebre 29, rival-da Vacca Brau« e da Doutora dos Oculos. Para prevenir gracejos do rapazío munia-se a megéra de comprida vara de marmelIeiro, a qual conservava os meninos em distancia respeitosa. Estes, livres do alcance da 29, dirigiam-lhe chuf'as e pilherias, o que lhes valia grossas descomposturas, accornpanhadas de gestos indecentes. ;Não foi ainda demolido o sobradinho de janellas de peitoril onde residia a Joanninha, Dulcinéa de certo professor do Collegio. Em um belIo dia teve aquelle, em plena aula, ligeira syncope. Acodem os discipulos e o sympathico Viegas, inspector de alumnos. , Um destes, aliás muito bom estudante, no meio do sarilho, ou por ingenuidade ou por malicia, lembra-se de correr' a uma das janellas e gritar para que a Joanninha viesse soccorrer o que estava morrenoo . A moça teve o bom senso de não atravessar a: rua. O professor restabeleceu-se e souhe do facto. Jurou reprovar o rapaz. Este agarrou-se ao Paula Brito e á propria Joanninha, e por muito favor passou simplesmente! Na esquina da rua do Fogo (Andradas) , apresentando tres faces, uma ~para esta rua, outra para a das Violas (tampem dos. Tres Cegos), e a terceira para a rua Estreita, existe ainda grande sobrado, hoje historico. Pertenceu outr'ora ~os Marinhos, senhores do Engenho de 'I'apacurá . Foi , comprado mais. tarde ., ~. . pelo official de marinha José á ANTIQUALHAS E l\lEMORIAS DO RIO DE JANEIRO 41 .Dorningues Moncorvo, bis-avô do dr , Arthur Moncorvo. Conquanto Portugucz de nascimento, José Domingues adheriu sinceramente á causa do Brasil. Por vezes. cedeu- seus soldos para as uraencias do Estado e contribuiu com avultaJas sornmas para a' construcção de um navio de guerra. Em 24 de Junho de 1821, na casa referida, reuniram-se os patriotas com o fim de inaugurar a Loja Maçonica Commercio e Artes. AlIi concertaram-se planos em favor da In-. dependencia, qual, como é sabido, a Maçonaria prestou importantes e inolvidaveís serviços. á Em 1831 foi a rua Estreita theatro de um acontecimento, que trouxe em resultado a reforma do antigo Seminario de 8. Joaquim. Os collegiaes, que não primavam por muita disciplina, deram estrondosa vaia e desacataram certo individuo . Este dirige-se ao Governo pedindo proviãencias. Era ministro da Justiça o padre Diogo Antonio Feijo, que immediatamente enviou em 1 de Dezembro ao bispo Coutínnc o seguinte aviso: - «Exmo. e Révm. Sr. '- A Itegencia em nome do Imperador manda rernetter a V. Ex. o requerimento incluso de Anacleto Fragoso Rhodes, queixando-se de ter sido insultado pelos Seminaristas de S. Joaquim; afim de V. Ex , dar as providencias necessárias, não só para serem punidos os motores daquelle insulto, corno para que se não repitam aotos semelhantes. E se os estatutos da casa 'nãu ,providenciam a tal respeito, então V. E»: participe por esta Secretaria de EsLado para se mandar proceder judicialmente contra' os delinquentes .» Dias depois appareceu a reforma do Seminario, assignada pelo ministro do Imperio José Lino Coutinho, tirando á casa da jurisdicção do diocesano e entregando-a á Camara Municipal. O sobrado, sito outr'ora nos fundos da egreja, lembra certo f'acto occorrldo entre o reitor Sousa Corrêa e venerando sacerdote, professor de Philosophia .. 0 -.J Corrêa, aliás dist.incto official de marinha, era em demasia atrabiliario e grosseiro até á brutalidade. Em máo dia (I lente procurou o reitor afim de combinar' certas alterações no programma de ensino. Corrêa estava no banho, e o criado, convidou o sacerdote a esperar. 42 REVISTA DO INSTITUTO HISTORICO Depois de ionga demora appareceu o reitor, mãos no!'! bolsos, e sobrecenho carregado: Que quer, seu padre '( Venho lembrar a V. S. que não posso nem devo entrar em grandes particularidades sôbre as doutrinas de Ep icuro, porque ... - Ora, f.oi para isto que aqui veio? Arranje-se com os rapazes, que eu uadu tenho cem hlstorias de hicudos e botoeudos l ! ! Mas preciso é dizer alguma causa sôbre as antiguidades da rua, qU0 d'ora avanto passou a ser alargada. Foi elIa aber-ta de um lado em parte da mui conheôída Ilha Sêcca, zona ele terrenos enxutos e que existia no meio, de pantanos .e Iagõas . De outra parte foi eonstítuída por terras tiradas da grande e antiga chácara da Conceição dos Coqueiros, de qlJ~ foi dono Antonio Coelho Lobo, e em 1737, seu cunhado Antonio Vidal de Castilhos . 'I'empos depois era senhor dessa extensa superfície Julião José de Oliveira. Muito modernamentc, da chacara dos Coqueiros tinha o dorninio util o commcndador João Alves Affonso. A Prefeitura, segundo ultimas noticias, dadas pelos [ornaes, adquiriu por 60 contos 'essa propriedade, que ainda hoje abrange grande extmsâo , Da rua da Conceição para a egreja, a rua Estreita, salvo êrro, {oi formada á custa de terras de Manuel de Campos Dias. E' o que resulta da carta de aforamento, passada' pela Camara em 4 de Ou tuhro de 1786, «de tres braças de chãos de testada na 'l'ua de S. Pedra, da Valla pam o Campo com sete braços de fundo para a Ilha Secca, fazendo canto com a rua, que vae da Capellintui da Conceição do Coneço para a pedreira, passada ao alferes Ignacio da Costa Machado, de que paga de f'ôro, em cada um anuo, novecentos e sessenta réis». "Esses terrenos haviam pertencido ao pa-dre Dionysio Corrêa de Freitas. O alferes, em sua petição, allega que taes terras, depois da morte do padre, S~ achavão desde muitos annos devolutas, occupoâas sómente P01' um montu1'o, que notempo de agt:.as só serue de encharcar as j'tWS. AKTIQUALHAS E MEMORIAS DO RIO DE JANEIRO 43 Na medição feita pela Carnara diz-se: «e se achou Ler na frente na rua de S. Pedro ires braças, fazendo canto na rua que atravessa da Capellinha da Conceição do' Coneqo para a Pedreira e de fundos sete braças a dividir com fundos que 10rão de Manuel Campos Dias, hoje pertencentes ao Seminario de S. Joaquim>. Falta-nos espaço para mais. E o que vai referido basta para dar aos leitores lembranças da antiga rua Estreita: Não têm eIlas, sou o primeiro a reconhecer, grande importancia. São apenas pequeno contingente de minha admiração por mais esse melhoramento, que muito vai concorrer para dar ao nosso RIO de Janeiro feição moderna, de belleza, eonfôrto e de hygiene. Não desanime o prefeito e, em caso de duvida, agarre ..se a Sancta Rila, que alli fica á mão. Dizem as velhas ser a heroma de Cassia a saneta dos im~ possiveis. 3D de Janeiro de 1905. UM DESENHO, DE HENRIQUE FLEIUSS UMA SESSÃO IMPERIAL Na extensa relaçã-o, o rgamzadà pelo visconde de Taunay de extrangeiros illustres e presí.imosos, que concorreram com todo o exfôrço e. dedicação para o engrandecimento intelleclual, artístico. moral, militar, litterar-io, economico, industrial, cornmercial e material do Brasil, occupa logac honroso nome do inolvidavel Henrique FIeiuss. Era filho legitimo do dr . Henrique Fleiuss, director geral da Instrucção Publica da .Prussia, e de d. Catharina von Drach, ermã dn eomrnandante Max Otto Frederico von Drach, morto na batalha de Eylau . Veio para o Brasil em 1858. Em 1860, associado a seu ermão darIos Fleiuss e a CarIos Úndo, fundou à Semana Iüustroda, n-osso p-ímeíro jornal 11Umoristico, que durante -J 6 .annos realizou o ridendo castiaat i: