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MEMÓRIA HISTÓRICA DO
COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Fernando Henrique Cardoso
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
Paulo Renato Souza
SECRETARIA-EXECUTIVA DO MEC
Luciano Oliva Patrício
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
Maria Helena Guimarães de Castro
Escragnolle Dória
MEMÓRIA HISTÓRICA DO
COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Brasília
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
1997
COLÉGIO PEDRO II
Wilson Choeri
Diretor-Geral
COMISSÃO DE ATUALIZAÇÃO DA M E M Ó R I A HISTÓRICA DO COLÉGIO PEDRO II
Roberto Bandeira Accioli
Presidente
Afonso Bensabat Pinto Vieira, Aloysio Jorge do Rio Barbosa
António Nunes Malveira, Demóstheres Vieira Machado
Gastão Nogueira Gorrese, Marílio Pires Domingues
Noemi Pacheco Dias Gonçalves
EDIÇÃO ORIGINAL: 1937
FOTOGRAFIA E REPRODUÇÕES
Alexandre Souza Lima
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Regina Helena Azevedo de Mello, Rejane Dias Ferreira Ribeiro
PROJETO GRÁFICO
Danilo Barbosa, Marisa Maass, Matheus Gorovitz
REVISÃO
José Adelmo Guimarães
PUBLICAÇÃO REALIZADA DENTRO DO ACORDO MEC - UNESCO
TIRAGEM: 2.000 exemplares
INEP - SGAS, Quadra 607, Lote 50, 70200-670 Brasília - DF
Fone: (061) 244-2612 - Fax: (061) 244-4712
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Dória, Escragnolle.
Memória histórica do Colégio de Pedro Segundo / Escragnolle Dória;
Comissão de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II,
Roberto Bandeira Accioli... et ai. - Brasília: Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais, 1997.
XXVIII, 302 p.; il. ; color. ; retrs.
ISBN
85-86260-70-X
1. Ensino secundário - Colégio de Pedro Segundo - Brasil. I. Accioli,
R o b e r t o Bandeira. II. I n s t i t u t o Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. III. Projeto de Atualização da Memória Histórica do Colégio
Pedro II. III. Título.
CDU 37.057
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Sumário
Prefácio
Apresentação
Projeto de Atualização da M e m ó r i a Histórica do Colégio Pedro II
Luiz Gastão D'Escragnolle Dória: Apontamentos Biobibliográficos
Bibliografia de Escragnolle Dória
Texto da publicação original de 1937
índice onomástico
vii
ix
xi
XV
xxiii
1
285
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Prefácio
Em 1990, o professor António José Chediak, então diretor-geral,
nomeou uma Comissão, sob a presidência do professor emérito
Roberto Bandeira Accioli, para atualizar a Memória Histórica do Colégio
Pedro II, reeditando a Memória Histórica do Colégio de Pedro Segundo
- 1837-1937, de Luis Gastão d'Escragnolle Dória, de longa data
esgotada. Houve por bem a Comissão assim proceder, para, numa
segunda etapa, dar continuidade ao período que decorre de 1938 até a
época presente.
Ao assumirmos a Direção-Geral, tornou-se. também, nosso
empenho a realização desse empreedimerito.
Conhecedor dos nossos propósitos, e do papel que o Colégio
Pedro II vem desempenhando no desenvolvimento educacional,
pedagógico e cultural do Brasil, o Intituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (INEP), pelo zelo de sua presidente, professora
Maria Helena Guimarães de Castro, acolheu nossa proposta, como
uma das edições comemorativas dos 60 anos dessa consagrada
instituição.
Wilson Choeri
Diretor-Geral
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Igreja de São Joaquim (1758) posteriormente demolida
para o prolongamento da atual Avenida Marechal Floriano,
ao lado da qual existiu o Seminário de São Joaquim,
transformado em Colégio Pedro II.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837- 1937
Apresentação
A atualização da memória histórica do Colégio
Pedro II tem sentido bastante significativo.
A republicação de edição comemorativa do
Centenário, acrescida do texto referente ao transcurso,
daquela data em diante, traduz a experiência vivida,
evocando quadro da nossa evolução politica e cultural.
Nos mais variados setores da vida nacional,
qualitativa e quantitativamente, a contribuição do Colégio
Pedro II se fez valer de modo expressivo.
A condição democrática que o anima alicerça sua
atividade, desde seus primórdios, a impor um proceder
que se vê consagrado por mais de século e meio e
festejado por parte de todo o Brasil que pensa e ama as
belas realidades.
Assinalado no Colégio o ano letivo de 1881 pela
conversão do Conselho Colegialem Congregação, constitui
norma o provimento das cátedras por via de concurso de
títulos e provas.
A relação dos professores recai em personalidades
das mais representativas, no que diz respeito às funções
docentes.
À frente da administração do Colégio se acharam
figuras das mais dedicadas e eficientes, cujo procedimento
se torna apreciável.
A participação nas reformas de ensino se objetiva
com o intuito de oferecer a solidariedade de propósitos
para aperfeiçoamento dos princípios basilares, quais
cânones a serem devidamente assegurados em benéfico
rendimento ao progredir da coletividade.
O diploma de Bacharel em Letras ao aluno que tiver
completado todo o curso é galardão conferido a ostentar
não importa a profissão escolhida, em que geralmente seu
portador se destaca.
Compartilhando dos grandes momentos da
nacionalidade, o Colégio Pedro II, através de seus mestres,
discípulos e servidores, prega a Liberdade e o amor à
Pátria, sem qualquer restrição, o que constitui apanágio
habitual.
O pessimismo inoperante e o otimismo
inconsequente cedem lugar ao equilíbrio. Nota-se, ainda,
o esvanecimento da velha querela entre antigos e
modernos, reunindo os mais e menos idosos nos menores
empreendimentos, e, assim mantendo o adquirido,
harmonizado com a inspiração inovadora.
Fim precípuo da civilização que ora se elabora é
conciliar em uma cultura e uma educação reais os
conhecimentos que afluem, numerosos e indispensáveis,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
para definir os valores fundamentais e justificar os dias
que correm e os vindouros.
Na cultura geral, a pesquisa do essencial faz-se
imprescindível.
Na cultura especializada ao indivíduo cumpre
preservar o saber, não só acolhendo-o como simples
herdeiro, mas fiel depositário de um património a ser
ampliado. Incumbe partir do passado para colocar as
vinculações que conduzem ao presente e permitam definir
sua originalidade. É a esse preço que se libera. Fazendo
bom uso do passado, alimenta-se o êxito.
Distante do derrotismo peninsular de outrora não há
por que deixarmos de considerar a validade dos dias atuais
e contribuir para um futuro promissor a ser obtido em bom
prazo...
Eis o grande ensinamento do Colégio Pedro II.
Já foi dito "não se compreende o elogio da árvore
sem o apreço pela raiz".
Viver exclusivamente do passado seria truncar a
existência, que é considerada como renovação contínua
de que participam simultaneamente , além do passado, o
presente, o futuro.
Roberto Bandeira Accioli
Professor Emérito do Colégio Pedro II
Presidente da Comissão de Atualização da Memória
Histórica.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 -1937
Projeto de Atualização da Memória Histórica
do Colégio Pedro II
I - Justificativa
0 Colégio Pedro II é um marco educacional brasileiro
que atravessou, com a mesma excelência de trabalho,
dois momentos maiores da vida do país: o tempo do
Império e o surgimento da República.
Em 1739, foi fundado o Colégio dos Órfãos de São
Pedro, origem do Seminário de São Joaquim que, por
decreto de 1837 levado para assinatura do Regente Pedro
de Araújo Lima pelo eminente Ministro Bernardo Pereira
de Vasconcellos, veio a transformar-se no Colégio Pedro
II. Homem de sólida formação humanística de irradiação
francesa, Bernardo Pereira de Vasconcellos tinha como
objetivo criar no Brasil um estabelecimento nacional de
ensino que recordasse a grandeza do Colégio de França,
considerado o maior monumento cultural da Europa.
Não se veja aqui nenhum traço de cópia servil a
modelos estrangeiros, mas a vontade de dar passos em
caminhos já trilhados, na certeza de um resultado positivo
quanto à educação de um povo.
Os mais de cento e cinquenta anos de existência
do Colégio Pedro II respondem afirmativamente aos
anseios de seu idealizador. Durante esse período ele tem
sido a centelha viva a iluminar o aparecimento de novas
instituições. Seus professores irão participar da criação
do Instituto de Educação, do Colégio Militar e vieram a
influenciar outros estabelecimentos académicos, como a
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Em seus bancos escolares se educaram
personalidades ilustres em diversas áreas da cultura
brasileira. Do mundo das letras ao universo da política
brilham nomes como Álvares de Azevedo, Joaquim
Nabuco, Barão do Rio Branco, Visconde de Taunay, Antenor
Nascentes, Manuel Bandeira, Souza da Silveira, Afonso
Arinos de Melo Franco, dentre muitos outros. Contam-se
também os três presidentes da República: Rodrigues
Alves, Hermes da Fonseca e Washington Luís.
Se os alunos atestam o alto padrão da qualidade de
ensino do Colégio Pedro II, ele se justifica por um quadro
docente memorável, onde se destacam Joaquim Manuel
de Macedo, Araújo Porto Alegre, Gonçalves Dias,
Gonçalves de Magalhães, Barão de Planitz, Barão
Tautphoeus, Barão Homem de Melo, Barão do Rio Branco,
Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha, Fausto Barreto,
Carlos de Laet, Sylvio Romero, João Ribeiro, Manuel Said
Ali, José Veríssimo, Antenor Nascentes, Manuel Bandeira,
Celso Cunha em lista numerosa e exaustiva.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Nascentes e Bandeira foram alunos que voltaram
ao Colégio como professores, somando dois casos em
lista não menos numerosa e exaustiva. Esse contínuo ire-vir, essa dinâmica amorosa que só uma grande
instituição pode ostentar, é a marca do Colégio Pedro II.
Não esmoreceu no tempo. Hauriu forças sempre
novas de sua comunidade, atenta às mudanças e pronta
a mudar. Tantas vezes emprestou seus talentos a reformas
educacionais, quantas vezes o Brasil necessitou de sua
presença estelar. Contribuir para o desenvolvimento da
Educação nacional foi, é e será o compromisso maior do
Colégio Pedro II, entendendo tal meta como a disposição
perseverante na preparação de um futuro melhor para o
país. Educar não é informar, mas formar verdadeiros
cidadãos do mundo a experimentar a vida ao compasso
de um coração brasileiro em que repousem indeléveis os
valores de nosso povo.
Estamos a postos, trabalhando, como fizemos nas
Reformas Rocha Vaz e Francisco Campos, através da
presença, entre outros, dos Professores Catedráticos
Floriano de Brito e Delgado de Carvalho.
O Colégio Pedro II representa a tradição gloriosa de
uma instituição que cresceu, multiplicando espaço físico,
corpo docente, administrativo e discente, a partir do
"Casarão"da Rua Larga de São Joaquim (hoje Av. Marechal
Floriano), onde se encontra a Unidade Escolar Centro. Em
nossos dias, compreende um grande complexo
educacional desdobrado em nove casas de ensino que se
estendem por diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro:
quatro Unidades Escolares atendem a crianças da Classe
de Alfabetização até a 4a série do Ensino Fundamental e
as cinco restantes a adolescentes no prosseguimento dos
estudos até a 3a série do Ensino Médio, totalizando 15.000
(quinze mil) alunos com índice de aprovação e permanência
escolar que fazem inveja até a estatísticas de países no
mundo desenvolvido.
O Colégio Pedro II, reverente a seu património
histórico cujos fios se entrelaçam a tecer a vida cultural
brasileira, como atestam a obra literária de Pedro Nava e
a dramaturgia tão moderna de Dias Gomes e de Gilberto
Braga, deve permanecer como exemplo de uma instituição
escolar que cultua a liberdade e o conhecimento alicerçado
em valores a firmar raízes em sua tradição
sesquicentenária.
II - Proposta
A história dessa singular instituição federal de ensino
não pode ser perdida, com o risco de se perder também a
memória nacional.
É urgente que se alinhem no tempo os fatos
importantes que tiveram lugar no Colégio Pedro II.
Escragnolle Dória registrou, em páginas lapidares, a
trajetória do Colégio desde sua fundação até 1937. A
Memória histórica é parada obrigatória para qualquer
estudioso que pretenda penetrar no universo cultural
brasileiro quer na política, quer nas artes, quer na ciência,
quer na Educação. De tudo participou, emprestando sua
experiência e seu engenho.
Em branco está sua história pós-centenária a pedir
prelo que a imortalize na alma do leitor brasileiro,
desenhando o perfil de uma gente assinalada pela fé no
processo da Educação como o caminho transformador da
sociedade.
Eis por que se reedita, com ortografia atualizada, a
obra de Dória e a ela se dará continuidade, traçando a
linha histórica que liga o Colégio Pedro II de 1937 aos dias
atuais.
III - Objetivos
III.I Geral
Manter viva a memória do Colégio Pedro II, através
da organização de documentos existentes nos arquivos
das diversas Unidades Escolares e Administrativas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
III.II Específicos
Atualizar a ortografia da Memória histórica de
Escragnolle Dória, tanto quanto for possível, corrigir gralhas
e erros óbvios, reconhecíveis ou identificáveis.
Escrever a continuação dessa obra.
1837-1937
Com os originais prontos, a Comissão passou a
tratar da segunda fase do projeto: a elaboração de uma
obra a dar continuidade à Memória histórica que deverá
conter a evolução do Colégio Pedro II compreendida entre
2 de dezembro de 1937 e os dias atuais. Focalizando
eventos importantes e suas imediatas repercussões, a
linha narrativa obedecerá a duas partes gerais:
IV - Estratégias
Nessa busca pelo desenho de uma fisionomia
completa do Colégio Pedro II, desde suas origens até o
presente momento, foi criada uma comissão, presidida
pelo Catedrático Emérito e Decano Professor Roberto
Bandeira Accioli, que vem colhendo material, já tendo
formado um acervo de pesquisas de grande importância
para a confecção da obra pretendida.
Nomeada em 1990, pelo Professor António José
Chediak, então Diretor-Geral, mantida pela administração
da Professora Maria Amélia Amaral Palladino, a Comissão
de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II,
presidida pelo Professor Roberto Bandeira Accioli, é
formada pelos Professores Aloysio Jorge do Rio Barbosa,
António Nunes Malveira Demósthenes Vieira Machado,
Gastão Nogueira Gorrese, Marílio Pires Domingues, Noemi
Pacheco Dias Gonçalves e o Museólogo Alfonso Bensabat
Pinto Vieira.
1a parte: A evolução estrutural
2a parte: A evolução didático-pedagógica.
Na Primeira Parte, haverá uma abordagem sobre a
estrutura física, os bens patrimoniais que foram acrescidos
à Casa, a ampliação de suas instalações, expandindo a
área de atuação do Externato, no Centro da cidade, e do
Internato, no bairro de São Cristóvão, nas proximidades
do Palácio Imperial, para outros distritos administrativos,
como Humaitá e Engenho Novo, em 1952, e Tijuca, em
1957. Destaque-se ainda a reconstrução do complexo
arquitetônico de São Cristóvão, a partir dos anos 60, por
força de um incêndio que o destruiu.
Na Segunda Parte, o foco da obra centrar-se-á no
desdobramento didático-pedagógico, relacionando planos
e programas de ensino, o paulatino aumento de matrículas
e o crescimento dos corpos docente, paradocente e
técnico-administrativo.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
Luiz Gastão DEscragnolle Dória
Apontamentos Biobibliográficos
"Relativamente velho em um país tão novo, o Colégio de Pedro
II pode justamente se ufanar de sua existência e pode dizer às
gerações futuras que as passadas souberam cumprir nobremente o
seu dever".
Escragnolle Dória (Memória, 1937, p. 228)
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Luiz Gastão DEscragnolle Dória
Na
cidade do Rio de Janeiro, em 1869, no número 25
da Rua Visconde de Itaúna, hoje desaparecida para
a abertura da Avenida Presidente Vargas, nascia o nosso
historiador e literato arqueólogo. Em 1948, na mesma
cidade faleceu.
Filho de Luiz Manoel das Chagas Dória, General de
Divisão reformado, Bacharel em Ciências Físicas e
Matemáticas, professor da Escola Superior de Guerra, e
autor celebrado da obra Estradas de ferro em tempo de
guerra (Rio, 1883), que mereceu ser traduzida para o
alemão e o francês por oficiais daqueles exércitos;
escreveu, também, uma conceituada memória sobre a
estabilidade das abóbadas circulares.
Dona Adelaide d'Escragnolle Taunay Dória, sua mãe,
como se evidencia por seu sobrenome, era uma
Escragnolle Taunay. Eram tios do menino o Barão de Itaipu
e o Visconde de Taunay, ilustre ex-aluno do imperial colégio.
Pela Portaria de dois de abril de 1934, por decisão
da Colenda Congregação, Escragnolle Dória foi incumbido
de elaborar a história dos cem primeiros anos do Colégio
fundado por Bernardo Pereira de Vasconcelos em 1837.
No tempo aprazado, em 1937, terminou ele a
Memória Histórica do Colégio de Pedro II, obra que se
recomenda àqueles que estudam a evolução da Instrução
Pública, da Pedagogia, da Educação e da Cultura no Brasil
- fonte bibliográfica inestimável, raríssima e hoje muito
procurada - razão da presente reedição. Em justa
apreciação desse trabalho escreveu Noronha Santos:
"Obra de inestimável valor histórico, minuciosa e
excelentemente documentada, com testemunhos
fidedignos sobre a história daquele notável estabelecimento
de educação secundária, acompanhando o progresso e
desenvolvimento conquistados numa centúria em prol da
instrução pública no Brasil. Trabalho de raro mérito que
exemplifica a capacidade produtiva de Escragnolle Dória,
o seu esforço beneditino na consulta de documentos
arquivais, e, sobretudo na probidade, por todos reconhecido
como homem de bem a toda prova". (Revista da Semana,
10jan. 1948.).
Escragnolle Dória, efetivamente engajado, bem
cumpriu a tarefa que lhe fora atribuída - missão arduamente
beneditina de compulsar nas tradições do passado as
presenças infindas das forças de continuidade do futuro.
Com desvelo da sua operosidade, competência e
obstinação, foi coadjuvado pela ajuda reverente de dois
auxiliares, dois contínuos, Domingos e Leite, escribas
copistas e contritos, e que também passavam a conhecer
e eram parte da memória que ajudavam a recuperar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Entregue a sua preciosa Memória, jubilou-se, por
imperativo legal, do magistério do Colégio. A Congregação
Colenda, com sabedoria, justiça e alto espírito de
reconhecimento de seus serviços e proficiência, prestância
pedagógica e educacional singular, foi buscá-lo para, por
unanimidade, conferir-lhe solenemente o título de Professor
Emérito. O Professor Jônatas Serrano, educador
excepcional, saudou-o em nome de seus pares daquela
Congregação a qual o agraciado pertencia desde 1906.
Não era só o Colégio Pedro II que se rejubilava com
a outorga da emerência concedida. José Piragibe, citado
por Serrano, em comentário no Jornal do Brasil, naquela
oportunidade, assim se manifestou: "Só como professor
do Colégio Pedro II é que Escragnolle Dória está
aposentado. No sentido figurado da palavra emérito a
Congregação do Ginásio Nacional apenas confirmou a
opinião de quantos, mesmo sem o conhecerem,
aprenderam e continuarão a aprender com ele muito da
nossa História, muitas minúcias, grandes coisas aos olhos
dele, pelo mundo de maravilhas que encerram e que ele
nos desvenda, e que nos educam, tomando-nos melhores".
Jônatas Serrano, no seu discurso, glosando texto
do próprio Dória, sobre o papel do mestre como informador
e educador, visto não serem educação e instrução "coisas
nem sempre gémeas", acentuou: "E a segunda sem a
primeira - que pobreza moral e que perigo! Oxalá jamais
o olvidem os reformadores do ensino. Programas,
currículos, métodos renovados facilitam a tarefa. O
essencial no prodígio da formação de uma personalidade,
só o realiza o verdadeiro mestre, pelo que sabe, e,
sobretudo, pelo que é. Esta solenidade vos exalça pelo
que sabeis e pelo que sois".
Coroava-se, naquela sessão magna de 26 de agosto
de 1937, no Salão Nobre que ele tanto admirava e exaltara
em artigo especial, a carreira de um professor autêntico e
predestinado. Vocação que cedo se delineara.
Vejamos a formação de Escragnolle Dória.
Passou parte da sua infância no Alto da Boa Vista,
bem pertinho da Cascatinha da Tijuca, desfrutando da
beleza e da quietude daquele sítio privilegiado.
Terminados os estudos primários, Luiz Gastão foi
estudar no Colégio Aquino e no Colégio Amorim. O Pedro
II era passagem obrigatória, e, assim o confirma Jônatas
Serrano: "Desta Casa já éreis desde os tempos de aluno
e ainda o quero redizer, a ela tornastes como bom filho...".
Ainda com onze anos já demonstrava a sua
precocidade literária ao traduzir do francês uma novela
jocosa de Méry, O sábio e o crocodilo, que foi publicada
na Revista da Escola Militar, em 1880.
Em 1886 matriculou-se na Faculdade de Direito de
São Paulo, onde se diplomou em Ciências Jurídicas e
Sociais, em 1890. Foram seus condiscípulos Wenceslau
Braz e Delfim Moreira. Dois futuros presidentes da
República.
Durante algum tempo, exerceu brilhantemente a
advocacia, mas foi, sobretudo, no magistério e nas letras
que desenvolveria com maior proficiência, produtividade
e empenho as suas atividades, sem esquecer a sua
importante contribuição para a arquivística brasileira.
Desde 1887, talvez antes, já escrevia contos, mais
tarde, em 1902, enfeixados em volume com o título Dor,
nome do primeiro, e louvados pela crítica da época.
No magistério cedo ingressara como professor a
partir de 1890. Entre 1896 e 1898 foi Redator de Debates
do velho Senado Federal, que funcionava onde hoje está a
Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro.
De 1902 a 1909 ministrou aulas no Ginásio Nacional,
regendo interinamente as cadeiras de Francês, Inglês,
Lógica e Geografia. Entre os anos de 1908 e 1909, suas
atividades docentes se distribuíram, ainda, pelo
Pedagogium Municipal, Colégio Paula Freitas, Ginásio
Fluminense, Escola Normal, Ginásio Pio Americano,
Instituto Comercial, bem como outras instituições de
ensino.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Em 1906, em concurso ao qual concorreram José
Veríssimo, Felisbelo Freire, Joaquim Osório Duque Estrada,
Armando Dias e Pedro Coutto, obtém, com brilhantismo,
em primeiro lugar, a cátedra de História Universal e
especialmente da América e do Brasil do Colégio Pedro II,
então denominado Ginásio Nacional. Nomeado pelo
presidente Rodrigues Alves, bacharel do Colégio,
Escragnolle Dória tomou posse em sete de novembro
daquele ano, sendo saudado pelo professor Dr. Fortunato
Duarte, decano da Congregação.
Em 1909/1910, justo um ano. encontra-se na Europa
a serviço do Governo Brasileiro, o que irá ocorrer,
novamente, nos anos de 1911 e 1912, quando, por ordem
do Barão do Rio Branco, ficou à disposição do Ministério
das Relações Exteriores, para pesquisar e recolher nos
arquivos europeus documentos que pudessem interessar
à História do Brasil. E note-se, somente com os
vencimentos de professor do Colégio!...
O pai de Herbert Moses, sabendo em que condições
seria a sua estada na Europa, fez questão de entregar-lhe
uma carta de crédito de vinte mil francos, jamais utilizada
pelo professor, mas cujo gesto, de todo o coração,
também, jamais foi esquecido por Escragnolle Dória (cf.
AGRA.Alexandrino, O Globo de 2 fev. 1948.).
Max Fleiuss, em 1911, encabeça proposta que o
torna, em 1912, sócio do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro.
Nomeado para a direção do Arquivo Nacional, sua
gestão profícua desenvolveu-se de 1917 a 1922. Foi um
dos mais dignos e operosos diretores, cuja administração
caracterizou-se, principalmente, por grande atividade
arquivológica, à qual se juntava um acentuado culto às
mais genuínas tradições brasileiras, de que foi prova o
desenvolvimento dado ao Museu Histórico do Arquivo,
primitivo núcleo do outro que o sucedeu, ampliou-se, e
que hoje tanto se recomenda. Escragnolle Dória sabia que
só a preservação consciente desses valores, como
1837 - 1937
comportamento ético e social, cultural e cívico é que se
mantém viva a memória nacional. E isto ele o viu bem.
Era-lhe um sentimento inato.
As suas atividades de labor incansável, intelectual
e artístico, não o impediam de colaborar com outras que
eram pauta de seu espírito humanitário da verdadeira
caridade. Como Irmão da Santa Casa de Misericórdia ,
foi procurador da então Casa dos Expostos, depois
Fundação Romão de Matos Duarte, sobre a qual, registrese, deu à publicidade um opúsculo histórico que revela,
dentro da isenção do historiador, a sensibilidade de um
coração generoso. Depois de observar que "pouquíssimo
se sabe da vida de Matos Duarte", que viveu no Rio de
Janeiro no século XVIII, lembra que "a biografia deste
continuará tão árida quão fecundo foi o seu coração,
reduzido sacrário humano das infinitas bênçãos de Deus".
Uma instituição surgiu do mesmo espírito que fez nascer,
em 1739, um seminário para órfãos, que, mais tarde,
reformado e renovado, encontraria o seu historiador naquele
procurador da Misericórdia.
Não abandonou a liça. Como procurador, militara de
1912 até 1920. Novas atribuições o esperam de 1920 a
1921. É investido como Quinto Mordomo dos Prédios, e
passa a gerir o património do Hospital Geral. Como não
poderia deixar de ser, escreveu a História da quinta
mordomia, onde, num passo, exprimiu um pensamento
lapidar, principalmente, para as instituições: "Inútil tentar
entender, ainda menos explicar presente ou prever futuro,
sem recurso do passado. A ordem intelectual ou moral é
cadeia, tem elos, forçosamente".
Foi um missionário militante. E assim o
encontraremos nos registros das Irmandades da Glória do
Outeiro, na Cruz dos Militares ou da Lapa dos Mercadores.
Pertenceu a muitas instituições científicas, dentre
outras, ao Instituto histórico e Geográfico Brasileiro,
Instituto de Bacharéis em Letras, ao Instituto Genealógico
de São Paulo, e sócio correspondente da Sociedade de
Geografia de Lisboa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A campanha da Assistência Dentária Infantil
encontrou nele um grande incentivador participante e só
atingiu os seus objetivos porque foi apoiada por Escragnolle
Dória, Irineu Marinho, Eurides de Matos, Costa Rego e
Elmano Gomes Cardim.
Eo mestre!
Ele mesmo, antologicamente, se gizou no prefácio
do Epítome de história universal (1917), de Jônatas Serrano:
"Ser mestre não é dar aula mecanicamente, a
namorar o relógio, mastigando noções e deglutindo
enfados, chamando quatro ideias para manter palavra
durante sessenta minutos.
Ser mestre é um pouco mais, é espreitar com
alvoroço o progresso do aluno, afagando-o no impulso do
esforço, corrigindo-o no tatear do erro.
O aluno aproveitável, brioso de futuro, não se
desampara com o prazer à porta da escola, perdendo-o de
vista, para sempre, no reboliço da turba humana.
Cultivando-o para bem da comunidade, o mestre
continua a segui-lo pelo enleio sinuoso da vida, desviandoo do perigo pelo conselho, pelo apoio material se for
preciso, fixando-o no bem e no trabalho pelo aplauso,
sóbrio, mas cordial."
O depoimento de Heitor Beltrão, seu ex-aluno, atesta
que o mestre espelhara-se em si mesmo: "Se os discípulos
aproveitáveis precisavam, depois da aula, do seu concurso,
de seu conselho, e mesmo de seu auxílio material,
ressurgia-lhes Escragnolle Dória, como nume benfazejo
do Colégio, emissário espiritual das aulas idas, projetandose, amparador e discreto, até as lides ásperas cá de fora..."
(Jornal do Brasil, 18/11/1937).
Não fora outra a razão da homenagem que lhe
prestaram, em 24 de dezembro de 1933, seus alunos da
Quinta série - Turma B, que o tiveram como professor de
Francês, História do Brasil e História Universal, no
Externato, de 1929 a 1933. A sua efígie modelada em
bronze exorna a Sala 18, denominada, daí então, Sala
Escragnolle Dória.
Espírito polimórfico de invulgar sensibilidade, desde
cedo empolgou-se pela literatura, artes, teatro, ópera e
bel-canto. Apaixonado pela psicologia das emoções,
retrata nos seus contos as causas da dor ou da alegria, os
estados da alma e os desencontros, e as situações
conflitivas da vida na sua variada e cambiante
complexidade.
Biografias e perfis, como os do Visconde de Souza
Franco, de Salles Torres Homem ou do Conde de Porto
Alegre, pontilham luminosamente os seus artigos, quer
pela reversão de momentos vividos quer pela análise dos
documentos. Das suas lembranças da ópera e do BelCanto bem as evoca na série de artistas de outros tempos,
numa galeria que inclui, dentre outros, Juliana Bejeau,
Rosina Laborde, Gottschalk, SigismundoThalberg, Rosina
Stoltz, Enrico Caruso, Eleanora Duse e Adelaide Ristori.
Conhecedor de várias línguas, e, principalmente da
francesa, de que é exemplo precoce a tradução da novela
de Méry e, em especial, a que fez, mais tarde, do célebre
soneto de D'Arvers. Traduziu também O corvo, de Edgar
Allan Poe.
Parece ter sido o único brasileiro a ser mencionado,
com aplauso, no Journal des Goncourts. Correspondia-se
com François Coppée, Edmond de Goncourt, Júlio Verne,
Pierre Loti, Mistral, Massenet, Mallarmé, Maeterlinck,
Edmond Rostand, Saint-Saens, Émile Zola, dentre outros
grandes vultos consagrados da literatura e das artes da
França. Nomes representativos de uma "Belle Époque".
Professor e publicista, exerceu, com êxito, o conto,
a poesia, a crítica artística e literária. Outra atividade
querida, simultaneamente, o acompanhou em todo o curso
de sua vida - o jornalismo.
Iniciou-se no jornalismo em São Paulo. De julho de
1891 a 18 de fevereiro de 1893 colaborou na Folha da Tarde,
de Santos. Participou da segunda fase de A Semana de
Valentim Magalhães e Max Fleiuss, de 1892 a 1895. Passou
pelas redações do Jornal do Commercio (1891 -1922); Rua
do Ouvidor (1896), Gazeta de Notícias (1908), Capital
Paulista (1900), Anais (1905) etc. Colaborou nas revistas
Eu Sei Tudo, Renascença, Kosmos, A Semana, Arquivo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Público Mineiro, Século XX e Sul América. Longa é a lista.
Cumpre ressaltar que foi, sobretudo, na Revista da
Semana, onde, desde 1921 até 1948, escreveu cerca de
1320 artigos, tendo sido o último postumamente publicado:
"Três Cartas de Euclides da Cunha". Labutou ali durante
vinte e seis anos, com pequenas interrupções redigindo
artigos que fizeram época. Eram de ampla aceitação pelo
seu teor verdadeiramente documental e iconográfico.
Trabalhos honestos, pautados exclusivamente na verdade
histórica. O seu primeiro artigo na revista (01/01/1921)
intitulava-se Exposição de arte e história dos três reinados,
1808-1889.
Escreveu libretos para óperas e poemas sinfónicos
para: Jupira, Marabá e Insónia de Francisco Braga; Navio
Negreiro de Assis Nepomuceno; Anchieta de Newton
Pádua; Independência de Elza Cármen; e como não poderia
deixar de ser para a composição de Villa Lobos, A Guerra.
De 1913 a 1931 comentou os programas da
Sociedade de Concertos Sinfónicos.
Usou vários pseudónimos: Vegex, D. Demetrius,
Branca de Miramar, Ulisses de Aguiar, Mac Nemo, Nemo,
José Belém, Dornelas, Um Abelhudo, Álvaro Guedes, Jacy
Belém e E.D.
Nos artigos que escrevia na Revista da Semana
predominavam estudos sobre temas da História da
Civilização e, notadamente, assuntos brasileiros. Foram
crónicas de micro-história , mas necessárias, de
memorialista sublime, em estilo cativante, talvez, barroco
para nossa atualidade, onde o passado era visualizado pela
oportunidade da revalorização das instituições, dos
homens, dos monumentos e acontecimentos, com a
preciosidade do realce correspondente à sua fama
redimensionada.
O seu arquivo arqueológico de recuperação do
passado era excepcional em todos os sentidos, tanto dos
recursos documentais de que dispunha, quanto da sua
extraordinária memória. Entretanto, nada disto valeria se
não tivesse uma sensibilidade criadora - pedra de toque
1837 - 1937
da empatia que tornava o leitor presa das suas intenções
éticas, cívicas, artísticas e educacionais. Pela linguagem
dos periodistas e como um sacerdócio, escrevia um
mestre das nossas antiqualhas, da sua cidade e do Brasil.
Vinha Escragnolle Dória juntar-se a outros nomes
inesquecíveis do Colégio Pedro II: Joaquim Manoel de
Macedo (seu primeiro historiador) e Moreira de Azevedo,
professores, e Vieira Fazenda, ex-aluno, todos mestres de
antiqualhas.
Merece citada o elogio fúnebre que dele fez Pedro
Calmon, Professor Catedrático do Colégio no 110°
Aniversário da fundação do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro a 21 de outubro de 1948:
"Biógrafo, ensaísta, historiador admiravelmente
instruído acerca dos grandes e dos miúdos
acontecimentos, manteve até o final de laboriosa
existência a preocupação do patriotismo. O que de
panegírico houvesse na sua literatura, o que nela vibrasse
de tradicionalismo polémico, até o seu recorte vetusto de
evocação repassado de contrastes com a medíocre
atualidade, correspondiam à energia um tanto intratável
desse patriotismo intransigente. Dava aos moços que o
viam de longe no isolamento austero, de seus assuntos e
de sua idade, a impressão de um desterrado - não na sua
terra, senão no seu tempo, pois conservava intacta a alma
dos vinte anos e, o que era mais, a recordação e a
sensibilidade de sua literatura espoliada de acessórios
verbais que dispensava, para dar à frase uma suposta
elegância, torcendo-a a seu jeito. Que suprimia
sistematicamente os artigos e abusava do jogo de
palavras... mas não se negava a sua arte de recompor as
imagens, a engenhosa invocação dos cenários, a galanteria
e o virtuosismo das descrições de que ressaltava o perfil
vigoroso do seu personagem.
Possuía o segredo desse género literário e a seu
serviço punha o insondável acervo de sua erudição, espécie
de gaveta de feiticeiro donde, infalivelmente, o mago
solitário retirava, sem esforço o chiste, a raridade, a figura
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ou o esplendor dos episódios que contava. Contava-os
com o veio de ensinar. E ensinou honradamente até o
fim, artífice modesto agarrado a vida toda às ferramentas
do ofício e que só as deixou quando enregelado pela morte
já não podia suster a máo laboriosa."
Sua cidade soube homenageá-lo, dando o seu nome
a uma Rua de Santa Tereza, e a uma escola na Estrada do
Acaraí, em Costa Barros. Em maio de 1957, seu busto foi
erigido na Rua Conde de Bonfim, na Praça Pinheiro
Guimarães, defronte do Hospital da Penitência, na Tijuca.
O Colégio Pedro II jamais o esqueceu.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
Bibliografia de Escragnolle Dória
I - Obras publicadas em livros ou opúsculos:
DÓRIA, Escragnolle. As Semivirgens. Tradução do
romance de Mareei Presvot. Com
prefácio do tradutor. Rio de Janeiro:
[S.I.], 1896.
Dor: contos variados. [S.l.l: Liv.
Garnier.1904.
Coisas do passado. Rio de Janeiro,
1909. Separata do Tomo LXXI, 2"
parte da Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro.
Obs. Trabalho assim dividido:
Artistas de outros tempos: Rosina
Stoltz, Sigismundo Thalberg,
Henrique Tamberlick, Julianne
Dejean, Rosina Laborde, Emilio
Wrobleski, Gottshalk, Adelaide
Ristori, Carlota Patti, Ritter Sarasate,
Julião Gayarre, Domingos Santinelli
e Eleanora Duse. O Teatro na
exposição; - O noviço; As doutoras.
Deus e natureza. Os Irmãos das
almas. As Asas de um anjo;
História de uma moça rica. Notas
de história financeira.
Biografias do Visconde de Souza
Franco e de Sales Torres Homem
(Inhomirim). Figuras do passado:
Conde de Porto-Alegre.
Ubique Patriae Memor. Rio de
Janeiro, 1913. Separata do Tomo
LXXVI da Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro.
Três conferências Europeias sobre
o Brasil. Da conveniência de um
Acordo Luso-Brasileiro (Lisboa,
1909).
A significação da obra de Anchieta
na História do Brasil (Roma, 1910);
Un coup d'oeil sur 1'Histoire du
fírés/1 (Roma. 1910)
Romão de Matos Duarte, o benfeitor
da Casa dos Expostos. Rio de
Janeiro: [S.I.], 1916.
Publicações do Arquivo Nacional.
Rio de Janeiro, 1917. v. 17.
D. Pedro II, infância e educação.
Notas biográficas da família
imperial. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 1917. v. 17.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Publicações do Arquivo Nacional.
Rio de Janeiro. 1922. v. 20. Edição
Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, na turma de
c o m e m o r a t i v a do Centenário da
. Álvares de Azevedo no Colégio Pedro II. Jornal do
Independência.
Commercio, Rio de Janeiro, 2 abr. 1914. Miscelânea.
Terra
Fluminense.
Descrição
de
1847.
Aspectos da vida colegial do poeta.
todos os municípios do Estado do
. Antigos colégios cariocas: Pedro II, Marinho, Vitorio,
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: [S.I.],
Abílio, S. Pedro de Alcântara, Menezes Vieira, Aquino.
1929.
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 39, n. 40, set.
Memória
Colégio
de
1938.
oficial
do
. Ao pé da letra: uma anedota atribuída ao 1 o Marquez
Ministério de Educação e Saúde,
de Paranaguá. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v.
comemorativa
1, n. 2, ago. 1926.
Pedro II.
histórica
do
Publicação
do
Primeiro
Centenário (2 de dezembro de 1837
. O Barão de Tautphoeus (Jacob José Hermann).
- 2 de dezembro de 1937). Rio de
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 23, n. 10, mar.
Janeiro: MEC, 1937.
1922.
. Bernardo de Vasconcellos. Jornal do Commercio, Rio
de Janeiro, 1 maio 1914. Vultos históricos. Estadista,
II - T í t u l o s de t e m a s ou assuntos publicados em
ministro, fundador do Colégio Pedro II.
revistas ou periódicos que fazem referência ao Colégio
.
Pedro
dez. 1937. A propósito do 1 o centenário da fundação
II,
direta
ou
indiretamente,
levantados,
. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 39, n. 1,
principalmente, a partir do Códice que registra a produção
do Colégio Pedro II.
intelectual de Escragnolle Dória, incorporado ao arquivo
. Bertholdo Goldschmidt. Revista da Semana, Rio de
desse professor, e que se encontra sob a guarda da Seção
Janeiro, v. 34, n. 33, jul. 1933. Professor do Colégio
de Arquivos Particulares da Divisão de Documentação
Pedro II.
Escrita do Arquivo Nacional, no qual se podem contar quase
. O Bispo de Areópolis. Revista da Semana. Rio de
três mil títulos, talvez mais.
Janeiro, v. 47, n. 42, out. 1946. D. João de Seixas
III - Artigos de Periódicos
. Bom Retiro, professor. Revista da Semana, Rio de
Fonseca e Borges, beneditino.
Janeiro, v. 34, n. 42, nov. 1933. Luiz Pedreira do Couto
DÓRIA, Escragnolle. Um alunno histórico do Collegio Pedro
Ferraz, Visconde do Bom Retiro.
II. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 21 nov. 1916.
. A cadeira de história do Collegio Pedro II. Revista da
Sobre Carlos Vieira Ferreira, que socorreu o Barão do
Semana, Rio de Janeiro, v. 35, n. 20, abr. 1934.
Ladário, ferido no dia 15 de novembro do 1889.
Histórico da cátedra no Colégio e seus principais
. Um alunno do Pedro II. Boletim Oficial da Casa do
ocupantes.
Estudante, v. 1, n. 10, maio 1937. Transcrito t a m b é m
. Carlos de Laet. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
na Revista Ciências e Letras, dos alunos do Colégio
v. 4 1 , n. 4, jan. 1940. Professor e diretor do Colégio
Pedro II.
Pedro II.
. Álvares de Azevedo, bacharel em Letras. Revista da
.
Semana, Rio de J a n e i r o , v. 32, n. 30, jul. 1 9 3 1 .
Internacional de Obras Célebres, n. 11, p. 6330-1,119?].
Carlos de Laet:
notícia b i o g r á f i c a .
Bibliotheca
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Transcrito também em Bii (Boletim Oficial da Casa do
Estudante do Brasil).
. Centenário de Carlos de Laet. Revista da Semana,
Rio de Janeiro, v. 48, n. 40, out. 1947. Professor e
jornalista, 1847-1947.
. O centenário de Tautphoeus. Escola Primária, Rio de
Janeiro, v 2, n. 5, fev. 1918. O 100° aniversário natalício
de Tautphoeus.
. O centenário de Vieira Fazenda. Revista da Semana,
Rio de Janeiro, v. 48, n. 18, maio 1947. Bacharel em
Letras pelo Colégio Pedro II, médico pela Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, bibliotecário do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, 1847-1947.
. O Chácara do Mata. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 36, n. 19, abr. 1935. Edifício do antigo
Internato do Colégio Pedro II, ora Colégio da
Companhia Tereza de Jesus, na rua S. Francisco Xavier.
. O Collegio Pedro II. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 38, n. 52, dez. 1937. A propósito do 1o
centenário da fundação do Colégio.
. O Collegio de Pedro II em Riachuelo. Jornal do
Commercio, Rio de Janeiro, 11 jun. 1917. Vultos
históricos. A participação do Colégio na batalha,
através da presença de seu antigo aluno Aurélio
Garcindo Fernandes de Sá.
. Dantes (D. Duarte da Costa, 2o governador geral do
Brasil). Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 6,
jun. 1927.
. De Simoni: o médico, o professor, o literato. Revista
da Semana, Rio de Janeiro, v. 30, n. 25, jun. 1929.
. A dívida do estudante. Sciencias e Letras, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 3, set. 1926. Sobre a resistência dos
estudantes na invasão de Duclerc.
. Em demanda do Preste Johan. Pantheon, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 3, set. 1916. Transcrição.
. O Escudo de Minerva. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 23, n. 11, mar. 1922. Jornal manuscrito e
desenhado por alunos do Colégio Pedro II, entre eles
1837 - 1937
Jerónimo José Teixeira Júnior e António Ferreira Vianna,
depois figuras políticas eminentes do Segundo Reinado.
. A exposição de História do Brasil, em 2 de dezembro
de 1881, na Biblioteca Nacional, diretor Ramiz Galvão.
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 44, n. 51, dez.
1943.
. Farias Brito. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro,
22 jan. 1917. Poetas e prosadores. Raymundo Farias
Brito, filósofo brasileiro.
. Fausto Barreto. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro,
5 set. 1915. Professor do Colégio Pedro II.
. Ferreira Vianna, estudante. Revista da Semana, v.
33, n. 22, maio 1932. António Ferreira Vianna, notável
jurisconsulto.
. Frei Camilo de Monserrate. Revista da Semana, Rio
de Janeiro, v. 44, n. 5, jan. 1943. Professor do Colégio
Pedro e o bibliotecário da Biblioteca Nacional da Corte.
. Garcindo. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n.
5, nov. 1926. Aurélio Garcindo Fernandes de Sá, antigo
aluno do Colégio Pedro II e herói de Riachuelo.
.
. Pronome, Rio de Janeiro, v. 1, n. 25, jun. 1933.
. Gonçalves Dias. Pronome, Rio de Janeiro, v. 5, n. 26,
jul. 1933. António Gonçalves Dias, poeta.
. Gymnasio Nacional. Rua do Ouvidor, v. 1, n. 31, dez.
1898. Sem assinatura.
. A história e a anedota: relação entre ambas. O
NacionaL Rio de Janeiro, v.1, n. 2-3, out. 1924. Revista
do Colégio Pedro II.
. Homem de Mello. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 46, n. 26, jun. 1945. Barão Francisco Inácio
Marcondes, professor de história do Colégio Pedro II e
do Colégio Militar, 1837-1918.
. Homem de Mello: o erudito, o político, o professor.
Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 13 jan. 1918.
. Joaquim Caetano. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, 28 fev. 1913. Poetas e prosadores. Joaquim
Caetano da Silva, o sábio.
. Joaquim, médico. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 42, n. 42, out. 1941. Joaquim Caetano da Silva,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
recordações de sua vida, sobretudo do seu curso
Joaquim, hoje Marechal Floriano, demolida por ordem
médico na Faculdade de Montpellier.
do prefeito Passos, na presidência Rodrigues Alves.
. Jonathas Serrano. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
. O p r i m e i r o livro de Raul Pompeia: "Tragédia no
v. 45, n. 45, nov. 1944. Professor de história do Colégio
Amazonas", livro escrito quando o autor ainda era aluno
Pedro II e do Instituto de Educação.
do Colégio Pedro II.
. Justiniano da Rocha.
Janeiro, 21 abr. 1915.
Revista da Semana, Rio de
Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, v. 42, n. 4, jan. 1941. Justiniano José da Rocha,
. O 1 o reitor do Collegio de Pedro II: frei António de
jornalista e professor.
Arrábida, Bispo de Anemuria. Jornal do Commercio,
. Magistério. Revista d.
Semana, Rio de Janeiro, v.
Rio de Janeiro, 31 out. 1915. Vultos históricos.
4 2 , n. 5, fev. 1 9 4 1 . A p r o p ó s i t o da m o r t e dos
. Ramiz Galvão. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
professores José Piragibe e Caetano de Azeredo
v. 47, n. 29, jul. 1946. Bacharel em Letras pelo Colégio
Coutinho.
Pedro II; médico e professor de Botânica, por concurso,
. Manuel Artur Ferreira. Revista da Semana, Rio de
da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; diretor
Janeiro, v. 42, n. 43, jun. 1941. Pintor e professor do
da Biblioteca Nacional: preceptor dos príncipes; diretor
Colégio Pedro II.
da Instrução Pública Municipal.
. Marabá. Pantheon: Revista dos alunos do Colégio
. Rio Branco: a sua 1 a função pública: professor do
Pedro II. , Rio de J a n e i r o , v. 1, n. 2, jul. 1916.
Transcrição.
. Um mas: a propósito de palavras curtas. Sciencias e
Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, jul. 1926.
. Um ministro e um decreto: o cónego Januário da
Cunha Barbosa e o ministro Manoel António Galvão.
Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 8, nov. 1927.
. Na véspera do exílio: o último dia do Imperador no
Colégio Pedro II. Ateneu: Revista dos alunos do Colégio
Pedro II. Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, nov. 1933.
. Palavras da nossa história: " L i b e r t a s quae será
t a m e m " . Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4,
out. 1926.
. Posta r e s t a n t e : correspondência entre J o a q u i m
Caetano da Silva com Porto Alegre e Eusébio de
Queiroz. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 48, n.
Colégio Pedro II. Revista Americana, Rio de Janeiro,
v. 2, n. 1. abr. 1913.
. Rio Branco no Collegio Pedro II. Jornal do Commercio,
Rio de Janeiro, 20 abr. 1909. Artigo publicado no dia
de grande manifestação popular por seu natalício.
. A rua Larga. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v.
28, n. 17, abr. 1927. A rua Larga de S. Joaquim, ora
Marechal Floriano.
. Salão de Pedro II: a sala nobre do Externato do Collegio
de Pedro II. Revista da Semana. Rio de Janeiro, v. 26,
n. 49, nov. 1925. Edição do centenário.
. Salas magnas: a da Alfândega, a do Senado do Império
e a do Colégio Pedro II. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 47, n. 12. mar. 1946.
. Saldanha da Gama. Jornal do Commercio, Rio de
1, maio 1947.
Janeiro, 24 jun. 1914. Vultos históricos. O almirante
. O presente de dois de dezembro: a fundação do
Luiz Felippe Saldanha da Gama.
Colégio Pedro II. Ateneu, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3,
. Saldanha no Pedro II. Revista da Semana, Rio de
dez. 1933.
Janeiro, v. 27, n. 27, jun. 1926. Luiz Felippe Saldanha
. A primeira Igreja de S. Joaquim. Revista da Semana,
da Gama.
Rio de Janeiro, v. 36, n. 45, out. 1935. Igreja contígua
. Salvador de Mendonça, professor. Revista da Semana:
ao Externato do Colégio Pedro II, na rua Larga de S.
Rio de Janeiro, v. 42, n. 32, ago. 1941. Salvador Furtado
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
de Mendonça e Menezes, escritor, diplomata e
professor interino do Colégio Pedro II.
. Seminário de Bispos: recordação dos sacerdotes em
exercício no Colégio de Pedro II e depois bispos.
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 42, n. 14, abr.
1941.
. O Serão: jornal dos alunos do Colégio Pedro II. O
Serão, Rio de Janeiro, v. 1, n. 21, ago. 1934.
. Um 7 de setembro no Pedro II: recordações de uma
festa no Collegio em 1857. Jornal do Commercio, Rio
de Janeiro, 7 set. 1916.
. Sinos e história. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro,
v. 2, n. 7, jul. 1927. Transcrição da palestra sobre a
Batalha do Riachuelo, pela Radio Club do Brasil.
. A supressão do Gymnasio Nacional. Rua do Ouvidor,
v. 1, n. 30, dez. 1898. Sem assinatura.
. Tautphoeus educador. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 40, n. 54, dez. 1939. O magistério do Barão
de Tautphoeus e a fundação do seu colégio no Rio de
Janeiro.
. Tomaz Alves Nogueira: histórico da vida desse
professor do Colégio Pedro II. Revista da Semana, Rio
de Janeiro, v. 41, n. 13, mar. 1940.
. Último concurso. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 41, n. 32, ago. 1940. O último concurso no Colégio
Pedro II no Império, em novembro de 1889.
. Vésperas de centenário. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 35, n. 1, dez. 1933. A propósito do 1o
centenário de fundação do Colégio Pedro II.
IV - Discursos
DÓRIA, Escragnolle. Discurso de saudação ao Dr. Fortunato
Duarte, no Internato do Gymnasio Nacional, em 26 de
outubro de 1907. S.n.t.
. Discurso, no Externato do Gymnasio Nacional, pelo
70° aniversário da fundação do Colégio Pedro II, em
2 de dezembro de 1907. S.n.t.
1837 - 1937
. Discurso de paraninfo, no Externato do Gymnasio
Nacional, na colação de grau de Bacharéis em Letras,
em 2 de fevereiro de 1908. S.n.t.
. Discurso, no Gymnasio Nacional, pelo 71° aniversário
da fundação do Colégio Pedro II, em 2 de dezembro
de 1908. S.n.t.
. Discurso de paraninfo, no Externato do Gymnasio
Nacional, na colação de grau de Bacharéis em Letras,
em 28 de fevereiro de 1909. S.n.t.
. Discurso em nome da Congregação do Gymnasio
Nacional, no cemitério de S. João Batista, à beira do
túmulo do Dr. Alfredo Coelho Barreto, em 20 de março
de 1909. S.n.t.
. Discurso de posse no Instituto de Bacharéis em Letras,
em 28 de julho de 1909. S.n.t.
. Palavras ditas junto ao túmulo de Euclydes da Cunha,
no cemitério de S. João Batista, em 15 de agosto de
1916. S.n.t.
. Discurso, no Externato do Colégio Pedro II, em nome
da Congregação, na sessão solene comemorativa do
centenário natalício de D. Pedro II, em 2 de dezembro
de 1925. S.n.t.
. Discurso de paraninfo, no Externato do Colégio Pedro
II, na colação de grau dos Bacharéis em Letras, em
2 de dezembro de 1928. S.n.t.
. Discurso de paraninfo dos 5°anistas do Colégio Pedro
II. em 29 de dezembro de 1928. S.n.t.
. Discurso de paraninfo dos 5°anistas do Colégio Pedro
II, em 8 de setembro de 1929. S.n.t.
. Discurso de agradecimento no ato da inauguração,
em 24 de dezembro de 1933, de um medalhão numa
sala do Colégio Pedro II, designada com seu nome.
S.n.t.
. Discurso de agradecimento na sessão solene da
Congregação do Colégio Pedro II, em 25 de agosto
de 1937, ao lhe ser entregue o título de Professor
Emérito do mesmo Colégio. S.n.t.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
.
Discurso de agradecimento na sessão realizada no
. Prefácio. In: SERRANO, Jonathas. Epítome de história
Colégio Pedro II, em 7 de novembro de 1937, por
iniciativa de antigos alunos e amigos, por motivo de
sua jubilação.
S.n.t.
universal. Rio de Janeiro: F. Alves, 1917. p. 16
.
. In: CHEDIAK, António José. Carlos de Laet, o
polemista. São Paulo: Anchieta, 1942, v. 1
.Discurso, no Colégio Pedro II, na sessão comemorativa
do centenário natalício de Salvador de Mendonça, em
1 de agosto de 1941. Sn.t.
. O systema métrico decimal. In: THIRÉ, Cecil, SOUZA,
Mello e. Mathematica,
Ioanno. 4.ed. Rio de Janeiro:
F.Alves, 1933. p. 2 3 1 .
V - Diversos
VI - Bibliografia sobre Escragnolle Dória
DÓRIA,
Escragnolle.
agradecimento,
na
Alocução
sessão
radiofónica,
em
lítero-musical promovida
por alunos do Colégio Pedro II, por motivo de sua
jubilação,
realizada
na
Rádio
do
Ministério
da
Educação, em 3 de dezembro de 1937. S.n.t.
.
Conferência
sobre
um
episódio
da
Inconfidência
Boletim
Mensal
da
Seção
Guanabarina
da
Biblioteca
Municipal do Rio de Janeiro, v. 1, n. 22, fev. 1959.
ESCRAGNOLLE Dória,
"In Memoriam".
Rio de Janeiro:
Liv. F. Bastos, 1959.
Mineira. Promovida pela Academia de História do
FROTA, Guilherme de Andréa. O Rio de Janeiro na imprensa
Colégio, realizada no salão nobre do Externato do
periódica. Registros de número 1175 a 1682. Rio de
Colégio Pedro II, em 20 de abril de 1934. S.n.t.
Janeiro: [S.n.], 1966.
Escragnolle Dória
MEMORIA HISTÓRICA
DO
COLLEGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
Rio de Janeiro
* Reprodução da capa da edição original
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Colégio Pedro II. Vista atual do Externato, na Avenida Marechal
Floria no (antiga Rua Larga de São Joaquim), esquina com a Rua
Camerino (antiga Rua do Valongo, depois Rua da Imperatriz).
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Escragnolle Dória
Professor Emérito do Colégio de Pedro Segundo
Memória Histórica
Comemorativa do 1o Centenário do
Colégio de Pedro Segundo
(2 de dezembro de 1837 - 2 de dezembro de 1937)
Publicação oficial sob os auspícios do
Ministério da Educação
Rio de Janeiro
Presidente da República
Sua Excelência o Senhor Doutor
Getúlio Domelles Vargas
Ministro de Estado da
Educação e Saúde
Sua Excelência o Senhor Doutor
Gustavo Capanema
Presidente da Congregação
Professor Doutor
Fernando António Raja Gabaglia
Secretário
Dr. Octacilio Álvares Pereira
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Corpo docente do Imperial Colégio de Pedro Segundo
na Época de sua Fundação e Organização
1837-1838
Dr. Joaquim Caetano da Silva
Gramática Portuguesa e Língua Grega
José da Silva Pinheiro Freire
Gramática Nacional e Latina
Jorge Furtado de Mendonça
Gabriel de Medeiros Gomes
João de Castro e Silva
Latim
Dr. Justiniano José da Rocha
Geografia, História Antiga e Romana
Dr. Emílio Joaquim da Silva M a i a
Aritmética e Ciências Naturais
Dr. Domingos José Gonçalves de Magalhães
Manoel de Araújo Porto Alegre
Desenho
Januário da Silva Arvellos
Música
Padre Joaquim de Oliveira Durão
Padre Leandro Rebello Peixoto e Castro
Religião
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Antiga sala de Geografia, mantida em sua estrutura original.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Corpo Docente do Colégio de Pedro Segundo -1937
1837-1937
21 - Hahnemann Guimarães
2 2 - Q u i n t i n o do Valle
Congregação
23 - João Baptista de Mello e Souza
24 - Jonathas Archanjo de Silveira Serrano
1 - Francisco Pinheiro Guimarães
2 5 - G e o r g e Sumner
2 - Joaquim Ignácio de Almeida Lisboa
26 - Benedicto Raimundo da Silva
3 - José Cavalcante de Barros e Accioli
27 - Enoch da Rocha Lima
4 - Henrique César de Oliveira Costa
28 - José de Sá Roriz
5 - Agliberto Xavier
29 - Haroldo Lisboa da Cunha
6 - José Philadelpho de Barros Azevedo
30 - Ciro Romano Farina
7 - Augusto Xavier Oliveira de Menezes
31 - Nelson Roméro
8 - Fernando António Raja Gabáglia
32 - Clóvis do Rêgo Monteiro
9 - Lafayette Rodrigues Pereira
10 - Honório de Souza Silvestre
11 - Euclides de Medeiros Guimarães Roxo
12 -Antenor Nascentes
13 - Guilherme Augusto de Moura
14 - Cecil Thiré
1 5 - P e d r o do Couto
16 - J o s é Rodrigues Leite e Oiticica
Professores Catedráticos Jubilados
Adrien Delpech
Luiz Gastão de Escragnolle Dória
Manoel Said Ali Ida
Rodolpho Paula Lopes
17 - Waldemiro Alves Potsch
18 - Othello de Sousa Reis
Professor de Desenho Jubilado
19 - Henrique de Toledo Dodsworth Filho
20 - Carlos Miguel Delgado de Carvalho
Manoel Arthur Ferreira
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Professores Catedráticos Interinos
Gildásio A m a d o
Luiz Pinheiro Guimarães
Professor de Ginástica Jubilado
Guilherme Herculano de Abreu
Professor de Ginástica
Docentes Livres
Francisco Figueira de Almeida
Francisco Venâncio Filho
Jacques Raimundo da Silva
Jayme Coelho
Jurandir Paes Leme
Mozart do Rêgo Monteiro
Mecenas Pereira Dourado
Milton Barboza
Murilo Araújo
Oscar Przewodowski
Paulo Ferreira
Mário Belleti
Professores
Professores Assistentes
Israel França
Octávio de Castro
Oswaldo Ferreira Mendonça
Aldimir S. Paulo
Arlindo Fróes
Professores Dirigentes de Línguas Vivas
Ernesto de Paiva Marreca
Henrique Feio Galvão
João Capistrano Raja Gabáglia
João De Lamare S. Paulo
José Curvello de Mendonça
Luiz do Nascimento Gurgel
Walter Gomes Cardim
António Carneiro Leão
Augusto Rocha Vianna
Júlio Nogueira
Nuno Lopo Smith de Vasconcelos
Osvaldo Serpa
Tristão da Cunha
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
índice
Intróito
13
Cap. 1
15
A instrução secundária anterior à fundação do Colégio de
Pedro Segundo - Os seminários de São Pedro e São
Joaquim - A fundação do Colégio - D. Pedro II no dia da
fundação - Adaptação do Seminário São Joaquim - O zelo
de Bernardo de Vasconcellos pela recente fundação
Cap. II
29
O Colégio até 1839 - Primeiro reitor - Primeiros funcionários
- Primeiros professores efetivos e interinos - Primeiro livro
de matrícula - Primeiros alunos - Ainda os órfãos de São
Joaquim - Ação conjunta do Governo e da Reitoria do
Colégio - Retirada de Bernardo de Vasconcellos do Governo
- Seus sucessores - Novo reitor, novo vice-reitor - O Colégio
até 1839 - A sessão do Senado do Império em 1839
Cap. Ill
49
O Colégio de 1840 a 1843 - Novos Ministros do Império Alteração dos estatutos - Modificação no corpo docente O decreto Silva Maya e a colação de grau de Bacharel em
letras - A primeira colação de grau em 1843
Cap. IV
57
O Colégio de 1844 a 1851 - Solicitude de D. Pedro II para
com o Colégio - Vigilância do Governo - Pequenos sucessos
e curiosas providências - Joaquim Caetano e Frei Rodrigo
de São José - Retirada de Joaquim Caetano
Cap. V
75
O Colégio de 1851 a 1855 - Terceira reitoria do Colégio Relatório do Dr. Justiniano José da Rocha - Administração
Souza Corrêa - Reforma Pedreira - Retirada de Souza Corrêa
Cap. VI
83
O Colégio de 1855 a 1858- Início da reitoria Pacheco da
Silva - Reforma Pedreira - Património do Colégio Gonçalves da Silva e Joaquim Manoel de Macedo - Divisão
do Colégio em Externato e Internato - Instalação deste Seu primeiro reitor - Paula Menezes - Sete de setembro de
1857 - Novos professores - Imprensa colegial - Colação
de grau de 1858 - Incidentes colegiais
Cap. VII
97
O Colégio de 1859 a 1865 - O Colégio de 1859 a 1860 Confraternização do Externato e Internato - Ensino de
ginástica - Professores e repetidores em 1859 - Bacharéis
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de 1859 - Ministros do Império de 1859 - Aulas
suplementares - Aula de dança - Finanças do Colégio Ano letivo de 1860 - Novos professores - Morte do Bacharel
Gonçalves - O Colégio de 1861 a 1865
Cap. VIII
111
O Colégio de 1866 a 1875- Nova reitoria do Internato - O
Colégio e a guerra do Paraguai - Novos professores Introdução do sistema métrico decimal - Nova reitoria do
Externato - Professoras de ensino - O bacharelando Teixeira
Mendes - Reitoria interina do Internato - Matrícula do
príncipe D. Pedro Augusto - Nova Reitoria interina do
Internato - Bethencourt da Silva e o Salão Nobre do
Externato - A colação de grau de 1875
Cap. IX
125
O Colégio de 1876 a 1881 - Adiamento das aulas em 1876
- Desocupação da Igreja de São Joaquim - Caso Schieffler/
Thomaz Alves - Novos professores de Filosofia - Reforma
Leôncio de Carvalho - O ensino livre - Novos reitores - O
Conselho Colegial, suas sessões em 1880-1881 - A
conversão do Conselho Colegial em Congregação - A
primeira sessão da Congregação - A turma de bacharéis
de 1881
Cap. X
149
O Colégio de 1882 a 1889- Morte de Joaquim Manoel de
Macedo - Reforma Rodolpho Dantas - Parecer Ruy Barbosa
- Primeiras alunas no Colégio - Introdução do telefone Providências administrativas - Novo reitor do Internato Extinção de meio-pensionistas colegiais - Retiradas das
alunas do Colégio - Supressão de periódicos colegiais Fiscalização do Colégio - Dádivas ao mesmo Transferência do Internato - Novos reitores do Internato e
do Externato - Fim da Monarquia e do Imperial Colégio No dia da Proclamação da República
Cap. XI
171
O Colégio de 1890 a 1917 - os primeiros atos da República
em relação ao Colégio - Mudanças de nomes do mesmo Reformas Benjamin Constant e João Barbalho - O Código
de Ensino de 1892 - Fusão do Externato e Internato - O
restabelecimento de ambos - Reforma do Código de Ensino
de 1892 - A primeira equiparação do Ginásio Nacional Regulamento Amaro Cavalcanti - Reforma Epitácio Pessoa
- Novos diretores e novos lentes - Código de Ensino de
1901 - Concursos - Reforma Tavares Lyra - O património
do Colégio - Relatório Esmeraldino Bandeira - Novos lentes
- Reforma Rivadavia Corrêa - Eleições para diretor e
representante do Colégio, já de novo de Pedro Segundo,
junto ao Conselho Superior de Ensino - Extinção do
bacharelado pela reforma Rivadavia - O Anuário do Colégio
- Reforma Carlos Maximiliano - Nomeação de diretores
pelo Governo - Restabelecimento do bacharelado e do
concurso de provas
Cap. XII
199
O Colégio de 1917a 1925- Diretoria interina e efetiva Laet
- Batalhão escolar - A cadeira de Espanhol - Ampliação do
curso do Colégio - Arquivo e Biblioteca do Colégio - Obras
no Externato - Exames parcelados - Óbitos - Concursos
para substitutos - Novos óbitos - A gripe de 1918 e suas
consequências para o ensino - Reformas de gabinetes Restabelecimento da cadeira de Italiano - Novos lentes Óbitos - Concursos - O prémio Nerval de Gouvêa Platonismo da restauração do bacharelado em letras Serviços dos exames parcelados e suas dificuldades Trasladação dos restos mortais de Porto Alegre - O Colégio
nas comemorações do Centenário da Independência e na
volta dos restos mortais de D. Pedro II e D. Thereza
Christina - Óbitos e moções de pesar - Diversas ocorrências
- Projeto de reforma do ensino - O Colégio como Faculdade
de Letras - Novos lentes - Disponibilidade de professores Retirada do Diretor Laet
Cap. XIII
223
O Colégio de 1925 a 1931 - Reforma Rocha Vaz - Extinção
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
da cadeira de Espanhol - Diretoria Euclides Roxo -
biblioteca do Externato - Obras no Colégio - A galeria dos
Disponibilidade de professores - D e s m e m b r a m e n t o das
reitores e diretores - O gabinete de Educação - Serviço de
cadeiras de Física e Química, Latim e Português - Novos
refeições - Disciplina colegial - O Clube pela Paz - A
professores - Ressurgimento da cadeira de História do
celebração do centenário do Colégio - Homenagem ao
Brasil -Turmas suplementarei Instruçào Militar e Esporte
professor Frontin - Criação do curso noturno - O professor
- Sobrecarga da secretaria do Externato - Centenário
Garric - Curso livre de Grego - Cursos de aperfeiçoamento
Natalício de D. Pedro II - Nomeação efetiva do diretor e do
de História Natural e Química - Cursos livres de Canto
vice-diretor do Externato - 1926, ano dos concursos - Novos
Orfeònico - Concertos musicais educativos - Concursos e
piofessores - Óbitos - Modificações no Corpo Docente -
cursos estranhos ao Colégio - Óbitos - Inauguração do busto
Solenidades escolares - Diretoria Pedro do C o u t t o -
de Augusto Comte - Obras, reformas e novas instalações
Introdução
-
- Diretoria Raja Gabaglia - H o m e n a g e m ao professor
Melhoramentos materiais no Externato e no Internato -
dos
testes
no
ensino
do
Colégio
Escragnolle Dória - A Emenda n.° 1.845 - Projeto de
Exames parcelados - Transferência da cadeira de Instrução
Associação Brasileira de Cultura - Jubilação de antigos
Moral e Cívica - Proposta de supressão da livre docência
professores - A u m e n t o das disciplinas da 6 1 série - Cursos
Inauguração do retrato de D. Pedro II - Sessão solene em
complementares - Novos professores - Óbitos -
m e m ó r i a de Carlos de Laet - Vacância de cadeiras e
Homenagens - Propostas - Restauração das cadeiras de
modificações no Corpo Docente - Melhoramentos materiais
Historia do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito Usual
no Externato em 1929 - Medidas de disciplina propostas
- Concurso - Novos Óbitos - Centenário Coqueiro - O
em Congregação - Óbitos
Conselho Nacional de Educação e seu plano pedagógico Admissão de professores contratados no Colégio e a
Cap. XIV
245
maneira de regulá-la - A Circular 1.200 de 1 o de junho de
O Colégio de 1932 a 1937 - Gastão Ruch, professor
1937 - Escragnolle Dória, professor emérito - Óbito do
emérito - Dn etoria Dodswoi 1 h - Homenagem ao professor
professor Badaró - O professor Dodsworth Interventor no
Nascentes - Projeto de Instituto Brasileiro de Filologia -
Distrito Federal - A celebração do I" Centenário do Colégio
Reforma Francisco Campos - Extinção da cadeira de
I n s t r u ç ã o M o r a l e Cívica - Ensino de línguas vivas
Cap. XV
estrangeiras - Auxiliares de ensino e provas parciais -
O Instituto dos Bacharéis em Letras - Sua fundação - Seu
Imprensa e clubes colegiais - Intercâmbio pedagógico -
reconhecimento oficial - Sua vida e seus trabalhos - A
Embaixadas intelectuais ao estrangeiro - Curso livre de
solenidade de 2 de dezembro de 1902 - A equiparação ao
Italiano - M o v i m e n t o da secretaria, da tesouraria e da
Colégio e o Instituto - Seu eclipse.
271
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo Pereira de Vasconcelos, Ministro do Império. Idealizador e
fundador do Colégio (1837).
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Festejou-se, condignamente, a 2 de dezembro de 1937, primeiro
centenário de fundação do Colégio de Pedro Segundo. Associou-se
às comemorações a pátria inteira, avaliando-lhe alcance no render
preito ao passado, a esforços e sacrifícios de maiores.
Comemorações, mesmo ruidosas e brilhantes, acabam indo a
meio ou completo olvido ao correr do tempo roaz, na substituição de
sucessos, no transformar de gerações.
Para ciência e juízo dos pósteros convém apresentar-lhes
testemunhos fidedignos da vida das instituições. Tal em brevidade o
intuito das memórias históricas, de prefácio e subsídio a obras de
tomo, tal o propósito da presente Memória, resumo do essencial na
história da primeira centúria do Colégio de Pedro Segundo.
História completa e documentada dele dentro de século — 18371937 — é em diuturnidade matéria para não poucos volumes,
resultantes de pesquisas exaustivas, algumas infrutíferas,
acompanhando o desenvolvimento da instrução pública nacional.
sobretudo secundária. Sem estudar o Colégio de Pedro Segundo não
se compreende aquela.
Memória histórica não é quadro acabado, sim esboço em leve
tinta. No futuro, de tantos mistérios quantas surpresas, talvez do
próprio Colégio surja autor do quadro acabado: Avalie ao menos ele,
no desconto de naturais e humanas imperfeições, às quais se não
forrará, todo o amor com o qual foi traçado o atual esboço por quem
ao executá-lo sempre se lembrou do avisado conselho de Terêncio:
Quoniam non potest id fieri quod vis, id velis quod potuit.
2 de dezembro de 1937
E.D.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Imperador D. Pedro II, na data da fundação do Colégio (1837).
Verdadeira raridade, essa pintura a óleo encontra-se
exposta no Salão Nobre.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
I
A Instrução Secundária Anterior à Fundação do Colégio de Pedro Segundo •
Os Seminários de São Pedro e São Joaquim • A Fundação do Colégio • D. Pedro II
no Dia da Fundação • Adaptação do Seminário de São Joaquim • O Zelo de
Bernardo de Vasconcellos pela Recente Fundação.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Na a história da pedagogia brasileira escreveram os
jesuítas capítulo notável. Inútil suprimi-lo. Lançounos a Companhia de Jesus sementes de religião e cultura.
Outros semeadores, donatários, governadores-gerais,
lançar-nos-iam germens de organização administrativa.
Brasil afora os Colégios jesuíticos abriram e
alhanaram caminho a ensino secundário, preocupação da
Companhia no decorrer do tempo. Viveiro de capacidades,
confiava a Sociedade de Jesus seus Colégios a professores
escolhidos. Gente capaz de formar gente.
Ninguém versado em História ignora quanto à
perseguição adere, benditamente, porque alenta e apura
ao flanco da Companhia. Século a século acossam-na
inimigos para os quais fins de destruição justificam meios
de barbaridade. Absurdos monstruosos, fábulas irrisórias
com sobreteima são empregados para aniquilamento da
Companhia atirada à sepultura, rediviva porém.
Parece a Ordem de Jesus participar das amarguras
do Divino Pastor, da flagelação à cruz. No Brasil recebeu
vinditas em paga de serviços. Pombal não apagou
Anchieta. Perseguida pelo Ministro de D. José I, o
onipotente e depois o omnisubjugado, a Companhia
suspendeu esforços na catequese. Resposta silenciosa
à injustiça, tanto mais expressiva quanto até hoje secular.
Atacou a Sociedade quem lhe fora adstrito e por ela
socorrido: Pombal. Dias de claros benefícios iluminam
quase sempre vésperas de negra ingratidão.
Segundo Moreira de Azevedo, estudando instrução
pública em nossos tempos coloniais, mantiveram os
jesuítas aulas únicas no antanho do Brasil.
"Nas capitanias onde situavam Colégios ensinavam
g r a t u i t a m e n t e gramática latina, filosofia, teologia
d o g m á t i c a e moral, primeiras letras e matemática
elementar. Tais disciplinas eram exercidas por professores
de verdadeiro merecimento. Conferiam os colégios graus
científicos, literários e teológicos entre outros o de mestres
em artes — título então mais estimado do que é hoje o de
doutor por qualquer academia" (Moreira de Azevedo
escreveu isto em 1892). No Colégio da Bahia, além das
citadas aulas, criaram os jesuítas aula de retórica; meio
de bem ordenar pensamentos e palavras.
No Colégio de Piratininga, depois de S. Paulo,
ostentou Anchieta zelo inteiro sobre dedicação evangélica.
Encarregado de ensino dos neófitos, escrevia, na falta de
livros, nos cadernos de cada aluno. Aprendiam jovens
catecúmenos e filhos de colonos princípios das línguas
portuguesa, espanhola e brasileira ou tupi, indispensável
esta no trato com indígenas. Para ensinarem tupi os jesuítas
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
abriam escolas por eles frequentadas chamando
graciosamente, lá entre si, a língua indígena de grega.
Informa Varnhagen.
Constituiram-se os jesuítas mestres de distintos
brasileiros, cujos trabalhos formam literatura nossa nos
séculos XVII e XVIII. Entre outros, se assinalam Eusébio
e Gregório de Mattos, Manoel Botelho, Rocha Pitta, Basílio
da Gama, Santa Rita Durão, Cláudio Manoel da Costa, Silva
Alvarenga e Alvarenga Peixoto.
Expulsos os jesuítas, dentre nós, ficaram os estudos
confiados a escolas regidas por três ordens religiosas, a
beneditina, a carmelita e a franciscana.
Ainda segundo Moreira de Azevedo "Se a supressão
do instituto dos jesuítas não causou tanto abalo na
capitania do Rio de Janeiro como em outras foi isto devido
ao Bispo D. José Joaquim Justiniano". Trata-se de D. José
Joaquim Justiniano Mascarenhas Castello Branco, sétimo
Bispo do Rio de Janeiro, carioca de berço, por nascido na
freguesia da Candelária, prelado no Rio de 1774 a 1805.
Por muito tempo houve na cidade o Largo da Mãe do Bispo.
Era praça existente nas vizinhanças da Rua da Ajuda, via
pública quase desaparecida com a construção da Avenida
Central, hoje Rio Branco, e da Rua Evaristo da Veiga, esta
nas proximidades da Igreja anglicana. Teve o Largo da
Mãe do Bispo tal nome por morar nele a progenitora legítima
de D. José Joaquim Justiniano.
Cassando aos jesuítas o direito de ensinar no Brasil,
Pombal, pelo Alvará de 28 de junho de 1759, declarou
abolida a memória das classes-escolas regidas pelos
padres, "como se nunca houvessem existido no Reino e
nas colónias, onde haviam causado tantos prejuízos e
escândalos". Abolida a memória jesuítica, Pombal
esquecera a História vigilante, fossem quais fossem as
maldições de alvo à Companhia. A história registra, julga
e avisa. Pertencem-lhe passado, presente e futuro.
Que as acusações de Pombal eram levantadas só
para ferir fundo a Companhia parece prová-lo de sobra o
Alvará de 11 de junho de 1776. Aprova este estatuto para
1837-1937
estudos criados pelos franciscanos no Rio de Janeiro.
Obedeciam ao espírito dos estatutos pombalinos e
coimbrões, figurando nas aulas franciscanas o ensino da
retórica, do grego, da filosofia e da história eclesiástica.
Secularizado quanto possível o ensino, faltava darIhe recursos pecuniários. Criou-se para tanto o subsídio
literário, imposto cobrado sobre vinhos e outras bebidas
alcoólicas.
Coube aos vice-reis no Rio de Janeiro a arrecadação
do subsídio. Nem aos governos do Marquês do Lavradio,
de Luiz de Vasconcellos, do conde de Rezende foi alheia a
preocupação do ensino embora decadente.
Reconheceu-o Carta Régia de 9 de setembro de
1799 impondo aos governadores e capitáes-gerais a
obrigação de informar a coroa acerca do aumento do
subsidio literário. Caberia àquelas autoridades a inspeção
das escolas, de acordo com o Bispo quanto à nomeação
de professores no caso de dúvida, enviada a proposta à
metrópole para decisão final.
Pouco antes de expedir a Carta Régia de 9 de
setembro de 1799, a coroa lusa ordenara o
restabelecimento no Rio de Janeiro das cadeiras de grego,
latim, retórica, filosofia e matemática.
Com o tempo, as aulas destas três disciplinas foram
estabelecidas em outros pontos do país. Em Pernambuco.
por exemplo, uma carta régia instituiu aulas de aritmética,
geometria e trigonometria. No Rio de Janeiro, outra carta
régia, a de 20 de novembro de 1800, estabeleceu aula de
desenho. Deu-lhe titular brasileiro. Foi Manoel Dias de
Oliveira, com direito a ordenado equiparado ao dos
professores de filosofia. Manoel Dias, por alcunha o
"Romano", devido a estudos em Roma, abriu aula de
desenho em casa, em frente à Igreja do Hospício, na atual
Rua Buenos Aires.
Na era colonial conheceria o Rio de Janeiro duradoura
instituição de ensino. Foi chamada o Colégio dos Órfãos
de São Pedro. Fundou-a a Provisão de 8 de junho de 1739,
do quarto Bispo do Rio de Janeiro desde 1725, D. Frei
ESCRAGNOLLE DÓRIA
António de Guadalupe, português de Amarante, professo
na ordem franciscana.
Duas criações assinalaram o múnus pastoral de D.
Frei António na futurosa cidade carioca, o estabelecimento
do Seminário de São José e do Colégio de São Pedro, para
meninos órfãos de pais pobres. Foi posto Colégio.
seminário chamava-o a voz popular, nas costas da igreja
do Príncipe dos Apóstolos.
Anos após a criação do Colégio dos Órfãos de São
Pedro, retírou-se o Bispo Guadalupe para Portugal,
transferido para mitra de Viseu, falecendo pouco depois
em Lisboa.
De inicio tomara o Colégio ou Seminário de São
Pedro feição de convento. Funcionava em sobradinho da
rua de São Pedro, sujeito a reitores responsáveis pela
educação de meninos fadados a perdição. Pela experiência
da cidade e seus contornos, afirmara o prelado fundador.
Com o tempo e a boa administração de reitorias, o
Colégio de São Pedro obteve património para sustento e
educação de órfãos. Desses, o número em aumento
tornava sobremaneira insuficiente o sobrado-asilo. Era de
três andares, o térreo com portão, o segundo e o terceiro
com duas janelas, a imagem de São Pedro em nicho entre
as janelas do último pavimento.
A estreiteza das acomodações, de inconvenientes
para a disciplina e a higiene de coletividade, ajuntava-se,
conforme Monsenhor Pizarro, "o tumulto do centro da
cidade impedindo todo o sossego a qualquer estudo".
Tumulto carioca de 1758 provoca sorrir de hoje.
Alguém remediaria o mal; um "homem bom" da
cidade, Manoel de Campos Dias, pessoa de recursos
sobejantes. No Rio de Janeiro pequeno de então, embora
nele todas as distâncias dobradas por vencidas
pedestremente, a propriedade territorial constituía a riqueza
maior. Afluíam para ela as economias de quantos
amealhavam cruzados no chamado pé de meia. Preferiam
outros ocultá-los em soalhos e vãos de portas, não raro
para lucro de futuros e imprevistos herdeiros, os
demolidores de casas velhas.
Em terras empregou sobras, senão haveres ou
legado, Manoel de Campos Dias. Possuía terrenos no
Valongo, região da cidade na atual Rua Camerino, lados
da Saúde.
Por impulso filantrópico, mais digno supô-lo, ou
talvez pela convicção filosófica de ninguém levar nada do
mundo, preferível julgou Campos Dias aplicar bem a legar
a terceiros para mau ou péssimo destino de cabedais.
Campos Dias resolveu doar. Senhor de terras no Valongo
presenteou com elas os seminaristas de São Pedro. A
dádiva abrangia capela, terrenos adjacentes, tudo logo
aproveitado pelos reitores, o padre Jacintho Pereira da
Costa, antecedido pelo padre Sebastião de Motta Leitão.
o Cónego Manoel Pereira e o padre Pedro Luiz de Carvalho.
Resolveu o padre Costa erigir no sítio um Colégio
mais proveitoso aos seminaristas, pela localidade, silêncio
mui necessário às aplicações estudiosas e pelos cómodos
precisos, não só aos indivíduos da sociedade como às
oficinas de casa e seus arranjamentos.
Ao findar reitorado o padre Costa deixava edifício
semi-erguido. Devia rematá-lo sucessor o Cónego António
Lopes Xavier, com prática de mandar construir. Deve-lhe
o Rio de Janeiro uma igreja, a de N.S. da Conceição, na
Rua General Câmara, posta ao alto a expensas do Cónego
Xavier.
Coube a este, quando reitor, transferir os
seminaristas de São Pedro para a nova casa, em dezembro
de 1766, aproveitando a doação Campos Dias. Ao fundar
o Bispo Guadalupe o Colégio onde os órfãos não tivessem
infância pervertida, "com o leite dos maus costumes
relaxada, inepta, adversa aos séquitos das virtudes" —
expressões do Bispo — reinava em Portugal e dai sobre o
Brasil D. João V. Exercia por ele autoridade suprema na
América Portuguesa, de sede na Bahia, André de Mello e
Castro, Conde das Gaiveas.
Ao transportar o Cónego Xavier os colégios de São
Pedro para o Valongo, D. João V ausentara-se da vida
presente, após quarenta e quatro anos de reinado em
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
sessenta e um de existência. D. João V, Magnífico até
valia 320 réis), em três meses de aluguel, a m e s m a
em prole, de onze filhos, tivera pompa de cadáver no
propriedade devoluta na data da petição para venda.
Ponderava o reitor Rocha a conveniência de vender
mosteiro de S. Vicente de Fora.
Obedeceria o Brasil de 1766 ao filho e sucessor de
a casa dos órfãos de São Pedro com o m e s m o ónus da
D. João V, D. José I. O dia 31 de julho de 1750 fizera-o
capela de missas. Era útil à Irmandade de São Pedro
perder pai ganhando coroa, os herdeiros presuntivos quase
comprar o imóvel com o dito ónus por estar a propriedade
sempre entrando na majestade do poder após a da morte.
e n c o s t a d a às paredes de sua igreja. A s s i m q u a n t o
A doação de Campos Dias aos órfãos de São Pedro
pertencesse ao Príncipe dos Apóstolos a ele tornaria.
abrangia capela sob o orago de São Joaquim. Instalados
Realizou-se a venda, batidos por ela cinco mil
a q u e l e s ó r f ã o s no s í t i o foi o p o v o s u b s t i t u i n d o a
cruzados (20:000$000), dando mil cruzados de lucro sobre
denominação de órfãos de São Pedro pela de órfãos e
o custo primitivo.
depois seminaristas de São Joaquim.
Por muito que se tenham esforçado os reitores do
Ficou a cidade c o m dois seminários, o de São
Seminário de São Joaquim poucos excederam, em zelo e
Joaquim e o de São José, fundado este, c o m o o Colégio
utilidade, o padre Plácido Mendes Carneiro. Ficou-lhe
dos Órfãos de São Pedro, pelo m e s m o Bispo, D. Frei
devendo a casa obras de importância e o t e m p l o de São
António de Guadalupe, pois de filantrópica lembrança.
Joaquim a conclusão de torres.
Conforme declarou o prelado em provisão, ao criar
Com maior ou m e n o r regularidade, d e s t i n o de
o Seminário de São José, "logo que principiara a servir o
qualquer instituição, f o i vivendo o Seminário de São
bispado trouxera ele sempre no coração um ardente desejo
Joaquim no seu canto do Valongo. Nas três grandes
de que na cidade houvesse seminário para formação de
solenidades de São Joaquim, N. S. das Dores e São José
clero idóneo para a direção das almas."
afluía o povo devoto de sempre do seminário. Ao púlpito
Segundo Balthazar Lisboa, os seminaristas de São
aí subiam os seminaristas pelo reitor julgados mais de
Joaquim eram preferidos nas contínuas festas religiosas
habilitações para honrar na tribuna sagrada a palavra do
cariocas para mestres de cerimónias, coristas e cantores
Evangelho.
remunerados. Acompanhavam enterros de categoria, neles
participando de tudo quanto exigiam pompas fúnebres.
Em 1771, desaparecia a lembrança material da casa
de São Pedro o n d e deu raiz
a instituição do Bispo
Em 1807, porém, ia mudar por c o m p l e t o a vida do
seminário.
Transmigrou para o Brasil a Família Real
Portuguesa pondo-se a salvo da invasão napoleônica, esta
por terras de Portugal até alcançar Lisboa.
Guadalupe. O reitor do Seminário de São Joaquim, padre
A presença do Príncipe Regente e da Corte lusitana
Alexandre Ferreira da Rocha, antes vice-reitor, com licença
assinalando progresso para a colónia, a ponto de adiantar-
do ordinário, vendia o Colégio Velho, de tal nome por nele
Ihe independência, foi entretanto motivo do abater rápido
t e r e m assistidos os órfãos antes da transferência para o
do Seminário de São Joaquim.
de São Joaquim. Justificando venda, o padre reitor alegou
espanto, dada a religiosidade de D. João e consequente
"a n e n h u m a u t i l i d a d e " que o colégio recebia da
amparo a instituição da ordem do seminário.
propriedade. Dava até prejuízo "pela obrigação de mandar
Não deixa tal de causar
Tudo dependeu da substituição de ó t i m o reitor,
dizer capela de missas anuais por alma da instituidora D.
sucedido por outro sem sorte, sendo inepto.
Bernarda Castello Branco".
c o n t e n t o geral o padre M e n d e s Carneiro.
Para satisfação do encargo a
propriedade rendera apenas dez patacas por mês (a pataca
Servia a
Bons
administradores a muitos molestam e não raro por simples
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ações de presença. Infelizmente, Deus sabe levado por
que diabólicas sugestões, o Príncipe Regente entendeu
dispensar da reitoria o padre Carneiro. Ainda mais,
infelizmente lhe deu sucessor desastrado, José dos Santos
Salgueiro, Abade de Alverca, um da leva transmigratória.
O padre Mendes Carneiro saiu do cargo aspergido.
Recebeu o que os franceses chamam "eau bénite de cour".
São fingidos protestos de amizade ou recompensas de
consolação. A água benta da corte, para o padre Mendes
Carneiro, foi a promoção a Cónego da Capela Real.
Começava a decadência do Seminário de São
Joaquim, posto sob o orago do Pai da Virgem, este na
casa substituindo o patrocínio de Simão, pela palavra de
Jesus, na cena de Cesaréia, tornado Pedro para pedra
angular da Igreja.
Caíra, entretanto, o Seminário de São Joaquim nas
simpatias da cidade. Dádivas sucessivas acresceram-lhe
património. O "vil metal", a indicar tantos vilões, serve
não só de nervo à guerra, assim o proclamava Frederico
o Grande, como na paz prospera muito obra útil.
Populares, de longa data, eram os seminaristas de
São Pedro, depois de São Joaquim. Alcunhavam-nos de
"carneiros", pelo uso público de túnica marrom e barrete
de baetilha branca. Algumas vezes não escapavam os
seminaristas à perseguição da garotada, balindo, a puxarIhes túnicas com ressalva de fuga. De onde a alcunha?
Na opinião de Raja Gabaglia Sénior referia-se ao tempo de
instalação do seminário na Rua de São Pedro, antes da
construção da igreja da mesma invocação, contemporâneo
da Casa dos Órfãos de São Pedro. Durante algum tempo
a rua de São Pedro se chamou do Carneiro, em homenagem
à distinta senhora residente na rua.
Segundo Noronha Santos a denominação de rua do
Carneiro substituiu a de António Viçoso, a partir de 1602,
tradicionalmente carioca pois a referida via pública.
Para mal de seminário, antes bem andado, por
ordem do Príncipe Regente ficou fingindo dirigir o de São
Joaquim o padre Salgueiro, nome de árvore aliás tumular,
até enterrá-lo. Nem teve o Abade de Alverca apoio
eclesiástico sequer. Melindrara-se o Bispo diocesano com
o ato do Príncipe Regente. Entendia, e bem, D. José
Caetano da Silva Coutinho ter sido menoscabada a
autoridade prelatícia. Competia-lhe a direção dos
seminários, logo lhe pertencia a nomeação dos por eles
principais responsáveis.
Em fins de 1817 era o Bispo o primeiro a pugnar
pela extinção do seminário entregue ao Abade de Alverca.
Circunstância e ocasião veio favorecer o desaparecimento
desejado, a chegada de tropas portuguesas.
Desta vez ouvindo o Bispo, o Príncipe Regente, a
bem de militança, extinguiu o seminário, a 5 de janeiro de
1818.
Dizia o Príncipe Regente no decreto de extinção:
"Fazendo-se necessário determinar o local em que deve
estabelecer o conveniente aquartelamento, assim para um
dos batalhões de divisão de tropas, que mandei ir
ultimamente do exército de Portugal, como para o corpo
de artífices, engenheiros ,que acompanhou a mesma
divisão e reconhecendo-se que o edifício do seminário de
São Joaquim reúne as mais adequadas proporções para
aquele fim, ao mesmo tempo que sem inconveniente se
podem acomodar, com aproveitamento e maior vantagem,
tanto pública como particular , os atuais seminaristas
deste colégio, ou seja, no Seminário de São José aqueles
que, pelo seu adiantamento nos estudos e vocação, se
julguem prósperos para o estado eclesiástico, ficando
adidos ao sobredito corpo de artífices de ofícios mecânicos
nelas estabelecidos aqueles que não estiverem no mesmo
caso e circunstâncias. Hei por bem ordenar o seguinte:
Que o referido edifício do Seminário de São Joaquim e
suas dependências, passando a ser incorporado nos
próprios da coroa, seja destinado para aquartelamento da
tropa e artífices supra mencionados".
A tropa tomou conta do Seminário, o templo
adjacente servindo-lhe de casa de oração. As rendas do
estabelecimento desaparecido, para diversos fins, ficaram
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
incorporadas às do Seminário de São José, acudindo, dizia
o Príncipe Regente, "não só a manutenção e tratamento
dos alunos do extinto seminário de São Joaquim,
escolhidos pelo Bispo capeláo-mor por mais próprios e
aptos para a vida eclesiástica". Tais alunos seriam
admitidos e tratado no seminário de São José, "onde para
o futuro se admirariam e tratariam do mesmo modo,
rapazes órfãos e pobres, que pudessem com
aproveitamento destinar-se à vida eclesiástica, sendo
empregados utilmente, com vantagem do serviço de Deus
e da coroa".
Não ficou esquecido — diz Raja Gabaglia Sénior —
"o ex-reitor Abade de Alverca pelos desserviços feitos",
continuando a receber regularmente ordenado anual de
200$000 como aposentação.
Fechado o Seminário, disperso o seu mui minguado
património, lá se foi o arquivo da casa. Mais tarde, por
incumbência ministerial do Conde dos Arcos, Silva Lisboa,
ainda não Visconde de Cayru, conseguiu reunir alguns
documentos do arquivo quase todo posto fora. Mas a
coleção deles necessária ao estudo da origem e do
progresso da instituição ficou perdida para sempre, salvo
alguma ressurreição de documentos, pouco provável.
Católica, a antiga população do Rio de Janeiro atribuía
a castigos divinos os males de certas instituições
causados por atos desacertados de governos.
Ao tempo do Seminário de São Joaquim o estado
sanitário da casa fora sempre bom, gozando saúde os
seminaristas. Transformando o São Joaquim em quartel
por ele entraram enfermidades, de casos fatais, algumas
de caráter epidêmico como a zamperini, enfermidade a
lembrar o nome de afamada cantora do tempo.
Castigo! — murmurava o povo, como havia de
murmurar — quando pedras de inconstruída sé catedral,
no Largo de São Francisco de Paula, foram dar alicerce ao
hoje desaparecido Teatro São Pedro de Alcântara, presa
de sucessivos incêndios.
1837 - 1937
Não desaparecia porém o Seminário de São
Joaquim sem se recomendar à estima da gente culta da
cidade, por vários títulos, um deles o seguinte, assinalado
por José Silvestre Ribeiro.
" No dia 20 de abril do ano de 1813 foi aberto na sala
do Real Colégio de São Joaquim, no Rio de Janeiro, um
curso de preleções filosóficas, que tinham por objeto:
1o) A teoria do Discurso e da Linguagem; devendo
ser expostos os princípios da lógica da gramática geral e
da retórica;
2o) O tratado das paixões; primeiramente
consideradas como simples sensações, e versando sobre
matérias de gosto, donde se viam deduzidas as regras da
estética, ou a teoria da eloquência da poesia e das belas
artes, depois considerando-as como artes morais,
compreendidas nas ideias de virtude, ou de vício,
desenvolvidas as máximas ou Diceósyna que abrange a
ética e o direito natural;
3o) O sistema do mundo: em que, depois de se tratar
das propriedades gerais dos entes, ou da ontologia e da
nomenclatura das ciências físicas e matemáticas, seriam
expendidas as noções elementares da cosmologia, e
destas seriam deduzidas as relações dos entes criados
com o Criador, nos princípios da teologia natural.
Afora a exposição da teoria, era do plano do curso
ler e analisar, em cada uma das preleções, alguma obra
escolhida dos principais filósofos, oradores e poetas, assim
antigos como modernos, sagrados e profanos".
Anunciavam por esta forma o curso de filosofia do
Real Colégio de São Joaquim, tanto o Investigador
Portuguezem Inglaterra, de agosto de 1813, como a Gazeta
do Rio de Janeiro em seu número de 30 do mesmo ano.
ambas as publicações hoje raridades bibliográficas.
As preleções filosóficas do Seminário de São
Joaquim, tachado de Real Colégio, não foram confiadas a
qualquer. Tomou-as a cargo Silvestre Pinheiro Ferreira,
espírito tão culto quanto caráter íntegro, aliança pouco
frequente. Estadista, filósofo, mereceu Silvestre Pinheiro,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
este louvor: " m u i t o seria necessário para elogiá-lo, visto
deste então regente o Príncipe D. Pedro. A requerimento
a dificuldade de pintar gigantes em pequenas tábuas, como
de vários m o r a d o r e s do Rio de Janeiro, o novo Príncipe
tão imaginosamente diz frei Luiz de Souza".
Regente r e s t a b e l e c e u o Seminário de São Joaquim tal
Quando em Paris, por volta de 1839, Silvestre
como este se e n c o n t r a v a no m o m e n t o da extinção em
Ferreira realizou quanto prometera na introdução das
1818.
R e v e r t e u de n o v o tudo à instituição, imóveis,
Prelecções no Real Colégio de São Joaquim, publicadas
cabedais, t e m p l o .
no Rio de Janeiro, isto é, o projeto de compor compêndio
r e c o n d u z i d o a c a r g o " p e l a s provas de i n t e l i g ê n c i a ,
A t é o antigo reitor Cónego Carneiro foi
de f i l o s o f i a .
Noções
prudência e virtudes exigidas pelo importante e m p r e g o " .
Elementares de Philoscphia, Geral e Applicada às Sciencias
Nada c o m o um dia d e p o i s do outro, devia pensar sob a
Moraes e Politicas, Antologia,
batina o Cónego Plácido M e n d e s Carneiro, dispensado de
E s t a m p o u - o c o m o t í t u l o de
Mais tarde,
Psycologia e Ideologia.
Spix e Martius, os ilustres cientistas
vindos ao Brasil a mando de Maximiliano José I, rei da
obrigações na Capela Real e mandado morar quanto antes
na casa do m e s m o s e m i n á r i o .
Baviera, em viagem realizada e descrita de 1817 a 1820,
Apesar de toda a boa vontade do Cónego Carneiro e
de relação publicada em Munich em 1823, referiram-se à
seu digno sucessor, frei Pedro Nolasco da Sacra Família,
instrução secundária no Rio de Janeiro, nos seguintes
não pôde reerguer-se o seminário.
termos:
funestos para s e m p r e . Tal o padre Salgueiro.
Certos homens são
"A educação da juventude é cuidada na capital por
N e m valeu, para mascarar ruína, o título de Imperial
vários colégios privilegiados. Os abastados confiam a
concedido ao Seminário após a Independência. Todos os
professores particulares o preparo de seus filhos, a fim de
agitados sucessos do f é r v i d o Primeiro Reinado, desde o
frequentarem a Universidade de Coimbra. Isso é muito
r e c o n h e c i m e n t o do I m p é r i o , não davam m a r g e m à
custoso por falta de professores competentes. A maioria
regularidade de q u a l q u e r organização pedagógica.
deles pertence ao clero, atualmente de influência muito
Estudava q u e m queria, não quem devia ou podia.
menor, no que diz respeito à educação popular, do que
outrora e principalmente no t e m p o dos jesuítas.
Da Abdicação p a s s o u o Brasil à Regência, república
de fato sob f o r m a i m p e r i a l de direito. No tempo regencial
No Seminário de São Joaquim são ensinados os
encontrou r e f o r m a d o r o periclitante Seminário de São
rudimentos de estudo e cantochão. O melhor colégio,
Joaquim. Foi José Lino Coutinho, Ministro do Império de
porém, é o Liceu do Seminário São José, onde, a par do
julho de 1831 a janeiro de 1832.
Latim, do Grego, do Francês, do Inglês, da Retórica, da
Para execução de reforma obteve o seminário do
Geografia e da Matemática t a m b é m se ensinam Filosofia
Ministro novos e s t a t u t o s , regendo curso de seis anos. De
e Teologia".
minudência se m o s t r a v a m os estatutos. Assim na lista
Obra de piedade sobre beneficência não podia
das culpas e dos c a s t i g o s de discentes figuravam dois
perecer de vez o Real Colégio. Estava escrito, ressurgiria
pecados m o r t a i s . Punia-se a gula diminuindo alimento; a
o Seminário de São Joaquim metamorfoseado, dando
preguiça com trabalho braçal em serviço útil ao seminário.
ensejo à criação de colégio novo, o de Pedro Segundo.
Decadente e s t e , a d o t o u a Regência medida m u i t o
Questão de tempo dentro do qual o destino tantas surpresas
vulgar, no horror da responsabilidade, descartou-se do
guarda.
seminário, e n t r e g a n d o - o à Câmara Municipal.
O Príncipe Regente de 1807, D. João VI, em 1821
saiu do Brasil soberano, a antiga colónia subida a reino,
Confiou esta a direção leiga ao vereador Felippe
Ribeiro da C u n h a .
A d m i n i s t r a d o r e não p e d a g o g o ,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
aumentou património, melhorando materialmente o
seminário e igreja anexa. Mas a instrução ia de mal a
pior, na casa de ensino cada vez mais doutrinando
ignorância. Chegou a fechar oficinas, diz Joaquim Manoel
de Macedo, ignoradas as provas de asserção. Inútil, sofria
o Seminário de São Joaquim derradeira transformação em
1837.
Renasceria das próprias cinzas, tendo em áureos
tempos dado instrução a futuras glórias nacionais. No
Seminário de São Joaquim, entre outros, aprendeu Joaquim
José Ignacio, o vindouro almirante Visconde de Inhaúma,
cuja carreira de mar nossas últimas vitórias na Guerra do
Paraguai se encerraram em tanta glória para ele e para
nós, glória própria e nacional.
Lembrado da mitologia, apesar do caráter religioso
do Seminário de São Joaquim, alguns amigos das letras
clássicas talvez lhe atribuam a recordação da fénix
fabulosa. Após cinco séculos de existência a ave ainda
achava forças para formar ninho de plantas aromáticas
nele se deixando consumir por ardentes raios solares para
nova vida tirada de si mesma.
Politicamente, de excepcional importância para o
Brasil foi o ano de 1837. Não o seria menos para o
Seminário de São Joaquim. Pela renúncia do Regente Feijó
entrou a exercer, constitucional e interinamente, a regência
do Império o Senador Pedro de Araújo Lima.
No dia imediato da renúncia de Feijó, chamava
Araújo Lima o governo novo ministério, o de 19 de setembro
de 1837. Compunham-no Maciel Monteiro, Calmon,
Rodrigues Torres e Bernardo de Vasconcellos, este Ministro
da Justiça e interino do Império, pasta acabada de deixar
por Araújo Lima. Dava este a Bernardo o que recebera de
Feijó.
Regente e Ministro, Araújo Lima e Bernardo, ambos
por coincidência interinos, voltaram vistas para o Seminário
de São Joaquim. Avaliaram-lhe decadência, deliberando
encampá-lo. Chamaram-no ao Estado, absorveram-lhe o
património de origem colonial, transformaram o seminário
1837 - 1937
em estabelecimento modelo de letras secundárias. No
requiescat in pace da velha Instituição eclesiástica, feliz
a espaços, havia o renascer à fénix de nova instituição.
Não quiseram contudo Regente e Ministro escolher
para data da fundação do colégio dia insignificativo.
Elegeram um natalício, o do menino mais de vista no
Império: D. Pedro II.
Completava ele doze anos a 2 de dezembro de 1837.
Tinha aniversário de berço entre pompas e tristezas,
aquelas conferidas por uma nação ao seu Imperador, estas
impostas pelo destino a órfão de mãe com um ano de
idade, de pai aos nove.
Vejamos como transcorreu para D. Pedro II a data
da fundação do Colégio de seu nome. Di-lo oficio inédito
do encarregado de negócios da França no Rio de Janeiro
dirigido a 3 de dezembro de 1837 — no calor portanto do
grande natalício da véspera — ao Ministério dos
Estrangeiros de sua nação regida na época por Luiz Felippe,
rei dos franceses, não de todos porque alguns tentavam
assassiná-lo.
Às quatro e meia da tarde de 2 de dezembro de
1837, dia da fundação do colégio, chegava o jovem
Imperador de doze anos ao paço da cidade. Sem anúncio
prévio havia sido modificado o itinerário do cortejo imperial
de São Cristóvão para o largo do Paço. Em vez de tomar,
como de hábito, pela rua do Ouvidor, passou o cortejo
pelas ruas de São Pedro e Direita. Não faltou quem
quisesse ver na mudança do itinerário, aliás explicável de
modo muito simples, espécie de tendência para favorecer
e lisonjear o amor próprio dos portugueses domiciliados
no quarteirão distinguido. Para reforço de suposição vieram
à baila nomeações recentes recaindo em alguns lusitanos.
Recebeu o Imperador naquela parte da cidade —
Ruas de São Pedro e Direita — uma ovação no meio de
fervoroso acolhimento. Na passagem de D. Pedro II
crianças vestidas de anjo espalharam profusão de rosas e
poesias análogas ao dia. Sem levar em linha de conta
qualquer tendência lusitana, a mudança de itinerário fora
ESCRAGNOLLE DÓRIA
provavelmente devida a simples sugestão de Paulo
Barbosa, mordomo da casa Imperial, cioso de fazer admirar
novas e magníficas carruagens de obra inglesa. Pela
primeira vez saíram à rua, desejo de Paulo Barbosa pô-las
a rodar em vias públicas assaz largas e menos mal
calçadas da cidade. Assim mais a gosto poderia o povo
contemplar os veículos do que se estes descessem pela
angusta rua do Ouvidor.
Embora atrapalhasse um pouco a Paulo Barbosa o
pagamento imediato dos carros, a 2 de dezembro de 1837,
ignorava ainda o público que os veículos tinham custado
200.000 francos. Só os arreios valiam 80.000, arreios tão
pesados que, gracejando, dizia D. Pedro II ao mordomo
não poderem encontrar cavalos capazes de suportá-los.
Após o Te Deum na Capela Imperial, D. Pedro II,
loiramente ameninado, chegava à janela do palácio dando
para a praça. Mandou então o general comandante das
armas desfilar, do melhor modo possível, infantaria e
cavalaria da guarda nacional.
Finda a revista, entrou o corpo diplomático na sala
do trono. Cercado pelo Regente Araújo Lima, pelo tutor,
Marquês de Itanhaem, pelos Ministros de Estado e pela
chusma de pessoas da corte, muito mais numerosa do
que no anterior, recebeu o imperador os cumprimentos
congratulatórios pela data natalícia. D. Pedro II ostentava
vistosa farda, trazida com graça e desembaraço. A todos
acolhia de pé, tendo à esquerda a irmã mais nova, a
Princesa D. Francisca, notável pela compostura como
pelos atrativos de rosto. Quantos concorreram ao cortejo
reparavam no ar de saúde e viço da fisionomia do jovem
Imperador.
Mas como nem tudo quanto brilha ouro é, a cidade
estava cheia de boatos. Rumorejava-se que a solenidade
e as cerimónias do dia seriam perturbadas por motins e
gritos de viva a República e viva o Imperador emancipado.
Nada porém deslustrou o 2 de dezembro de 1837. Aliás o
comandante do Corpo de Permanentes, homem de
coragem e decisão, tomou precauções. As armas dos
soldados estavam carregadas, as patronas cheias de
cartuchos. Espalhou-se o boato que o comandante dos
Permanentes resolvera mandar atirar sobre a plateia do
teatro no espetáculo de gala à menor manifestação hostil
ao governo.
Nada porém justificou surpresas. Pôde o soberano
regressar a São Cristóvão sem o menor incidente
desagradável a assinalar o seu primeiro dia de protetor do
Colégio de Pedro Segundo.
O decreto de fundação do estabelecimento era
conciso, abrangia treze artigos. Copioso, porém, seria o
decreto de 31 de janeiro de 1838 aprovando estatutos
colegiais, discriminando em duzentos e tantos e dois as
regras atinentes à formação e desenvolvimento da Casa.
Apenas expedido o decreto de criação do Colégio,
ocupou-se Bernardo de Vasconcellos em conceder-lhe
instalação material. Procurou melhorar a do antigo
Seminário de São Joaquim, dando a muitas das velhas
dependências, espaço, ar e luz.
Valeu-se para tanto da competência do arquiteto
consagrado na Europa, Grandjean de Montigny, um dos
componentes da Missão Francesa atraída ao Rio de Janeiro
sob os auspícios de D. João VI pelo conde da Barca para
fundação da Escola das Belas Artes.
Arranjou Grandjean, no como pôde das pressas e
das adaptações, o antigo Seminário. Animava-o a presença
constante do Ministro, Bernardo de Vasconcellos,
encorajador tanto mais de louvar quanto por paralisia de
membros inferiores, não tinha movimento próprio, obrigado
a mover-se à triste sujeição do préstimo alheio.
Trabalharam, de acordo e rápido, Bernardo de
Vasconcellos e Grandjean de Montigny. Fora este
ordenador dos monumentos de Cassei, capital do reino
de Westphalia ao tempo de Jeronymo Bonaparte, soberano
de uma das realezas efémeras criadas através da Europa
pelo génio e pela espada de Napoleão. No Brasil de 1837,
por voltas do destino, Grandjean de Montigny, bem longe
de Cassei aprontava para inauguração o Colégio de Pedro
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Segundo, em rua aberta nos terrenos da antiga chácara do
Carneiro ou do Julião. A pedido do Ministro da Justiça, o
próprio Bernardo de Vasconcellos mandava o Ministro
interino do Império, ainda o mesmo Bernardo, recolher ao
Colégio "porção de prata da Igreja dos extintos Jesuítas,
sob a guarda do capelão do Colégio, visto não oferecer a
necessária segurança a Igreja do dito Colégio dos
Jesuítas". Tudo conforme aviso de 21 de março de 1838,
quatro dias antes da abertura oficial do Colégio de Pedro
Segundo.
Fixaram-lhe data de abertura relacionada com a
história pátria, 25 de março de 1838. Memorava o
aniversário do juramento da Constituição do Império que
custara vida à Constituinte de 1823, a morte da qual nem
faltou, à humana noite da de Agonia, a da véspera da
dissolução da Assembleia pela força armada contrariando
o cedant arma togaeciceroniano.
Na época, o dia 25 de março tinha suma importância
para a Igreja e o Estado, unia-se aquela a este na famosa
aliança histórica de trono e altar, nem sempre através dos
séculos isenta de lutas e contrariedades, inclusive no Brasil
onde vara e báculo contenderam desde Duarte da Costa.
A 25 de março celebrava a Igreja a Anunciação de
N. Senhora em Nazareth e o Estado, por meio de dia de
grande gala, assinalava o aniversário do juramento da
Constituição.
Dois dias antes da dupla celebração e da abertura
do Colégio de Pedro Segundo, seu primeiro reitor, figura
primacial na diocese do Rio de Janeiro, frei António de
Arrábida, Bispo titular de Anemúria, recebia Aviso do
Ministro Bernardo de Vasconcellos.
Aviso de alta prudência sobre subida cortesia, o
seguinte: "Bernardo Pereira de Vasconcellos envia ao
Exmo. E Rvmo. Sr. Bispo de Anemúria cópia do Discurso
que tem de recitar na ocasião da abertura do Colégio de
Pedro Segundo, no dia 25 do corrente, a fim de que S.
Exa. Revma. tenha dele prévio conhecimento".
1837 - 1937
Quarenta e oito horas depois estava o reitor
preparado para receber a augusta visita de D. Pedro II na
inauguração do Colégio de seu nome, a 25 de março de
1838.
Não veio só o Imperador, acompanhavam-no duas
irmãs, as Princesas D. Januária e D. Francisca, a segunda
já tendo tido ensejo de conhecer futuro esposo, o Príncipe
de Joinville, filho de Luiz Felippe, de passagem pela capital
do Império em 1838.
Na abertura do Colégio, dizia o "Jornal do
Commercio": "Quase todo o Rio de Janeiro intelectual se
achava, para ouvir da boca do Exmo. Sr. Vasconcellos, o
discurso que ele dirigia, em nome do Regente, ao Exmo.
Reitor (o Bispo de Anemúria)".
Não se moveu em vão o Rio de Janeiro intelectual.
Aplaudiu discurso lapidar, mais do que isso profético.
Relida a oração, verifica-se não ter o tempo lhe feito
perder valor. Constitui ainda programa. Afirmava Bernardo
de Vasconcellos: "O Colégio é o Reitor, nele principiando
e acabando a beleza e a utilidade do estabelecimento,
respeitando a mor parte das disposições do regulamento
do Colégio mais aos professores e inspetores de que aos
alunos, a severidade da disciplina devendo passar mais
sobre tais empregados do que sobre os discentes, fáceis
de conduzir quando a vigilância e o respeito lhes assinala
a estrada".
Quando errassem deveriam os alunos conhecer os
castigos desvanecendo-se o Governo que as penas
impostas "arraigassem desde cedo na mocidade o horror
ao crime, a aversão à indolência, o cuidado dessem
deveres, o necessário hábito de mandar sem despotismo
e obedecer sem servilismo".
Ao concluir sucinto e imortal discurso, declarava
Bernardo de Vasconcelos ser mister repetir ao Bispo de
Anemúria "que o intento do Regente interino ao criar o
Colégio era oferecer um exemplo ou norma aos que já se
achavam instituídos nesta Capital por alguns particulares,
ESCRAGNOLLE DORIA
convencido como estava que a educação colegial era
preferível à educação privada.
"Nenhum cálculo de interesse pecuniário, frisava o
Ministro, nenhum motivo menos nobre, e menos patriótico
que o desejo de ver a boa educação da mocidade, e o
estabelecimento de proveitosos estudos influíra na
deliberação do Governo. Relevava pois, ser fiel a este
princípio, manter e unicamente adotar os bons métodos,
resistir a inovação que não tivesse a sanção do tempo e o
abono de felizes resultados, prescrever e fazer abortar todas
as espertezas de especuladores astutos, ilaqueavam a
credulidade dos pais de família com promessas de fáceis
e rápidos resultados na educação dos filhos, repelir os
charlatães que aspiravam à celebridade inculcando
princípios e métodos que a razão desconhecia e muitas
vezes assustada reprovava."
"Pouco importava — adiantava Bernardo de
Vasconcellos — que a severidade da disciplina do Colégio,
que a prudência e a salutar tendência no proceder a
reformas afastassem do Colégio muitos alunos. O tempo,
sempre o condutor da verdade, e o destrutor da impostura
faria conhecer o seu erro. O Governo só fitava a perfeita
educação da mocidade, deixando (não sem pequeno pesar)
as novidades e a celebridade aos especuladores, que
faziam do ensino da mocidade um tráfico mercantil, nada
lhes interessando a moral e felicidade dos alunos. Ao
Governo só cabia sanear para colher os frutos".
A Bernardo Vasconcellos respondeu o Bispo-reitor,
oferecendo ao Governo a sua colaboração, sem que,
infelizmente, se encontre registrado o seu discurso, a
contrapor ao do diligente Ministro. É grande pena.
Finda a inauguração, o Imperador e as irmãs,
seguidos pela Corte, percorreram o plano superior do
Colégio. Abertas portas, logo escadas, corredores e salas
encheram-se de povo em burburinhos.
A 27 de março de 1838, o "Jornal do Commercio",
noticiando a inauguração, observava estar "o Colégio em
embrião, necessitando de auxílios para prosperar,
aprouvesse a Deus não lhe dar a sorte de todas a:
instituições fundadas com muito calor no Brasil, oxalá nã(
fosse o Colégio presa da guerra de individualidades, de
sistema desmoronador de ministro para o outro".
Cessadas as festas, começava labor. Um séculc
ainda não o interrompeu. Inaugurado o Colégio, no di<
seguinte da abertura, recebia o Bispo-reitor Aviso de
Ministro Bernardo Vasconcellos.
Comunicava "haver sido indicado ao Marquês tuto
do Imperador (o Marquês de Itanhaem) poder ser realizad.
a entrega ao tesoureiro interino do Colégio da quantia d(
400S000 como princípio da subscrição de 2:000$000
dádiva do Imperador ao Colégio".
Em seguida, autorizado por Aviso de 30 de marçc
de 1838, o Bispo-reitor recebia "mandada recolher a<
Colégio, a prata pertencente ao Colégio dos extinto:
Jesuítas por cuidados do Juiz de Paz da Freguezia d<
Jacarepaguá, dita prata encontrada entre o espólio do padn
José de Amor Divino".
Aberto o Colégio, Bernardo de Vasconcellos não (
pós à margem de preocupações de governo e atormentad(
como o da Regência. Dedicou à Casa cuidados <
providências de toda ordem visando futuro.
Em constante relação com o Bispo-reitor, ora lh<
comunicava a oferta de 50 exemplares do compêndio d<
Aritmética do bacharel Francisco de Paula Leal, ora lh<
participava o pedido ao Ministério da Guerra, do qua
Ministro Sebastião do Rego Barros, para que o Arsenal d<
Guerra aprontasse tábuas para as demonstrações d<
cálculo nas aulas do Colégio.
Preocupava-se Bernardo de Vasconcellos com <
fornecimento de água para a nova instituição
determinando, por Aviso de 11 de junho de 1838, que <
dito fornecimento, feito pela administração das obras di
Casa de Correção, fosse substituído pelo fornecimentt
pelas carroças empregadas em vender água na cidade.
Velava Bernardo de Vasconcellos pela higiene <
saúde da coletividade proibindo admissão de aluno:
internos portadores de doenças contagiosas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Comunicava o Ministro ao reitor "ter o Governo
resolvido que das máquinas, instrumentos e dos produtos
dos três reinos naturais existentes no Museu Nacional da
Corte se emprestassem ao Colégio aqueles que não
fizessem falta alguma ao mesmo Museu, fazendo aprontar
a casa, as estantes e armários convenientes onde
devessem ser conservados os referidos produtos" Dirigia
o Museu o sábio frei Custódio Alves Serrão.
Multiplicava avisos Bernardo de Vasconcellos
completando a fundação do Colégio. Num dia ampliava o
enxoval dos alunos internos, noutro autorizava a reitoria a
gratificar com 20S000 os professores que lecionassem
durante férias. Mereciam-lhe cuidados a adoção de
compêndios, aprovado para o ensino de História Universal
a tradução do compêndio de Poisson e Cayx para História
Antiga e o compêndio de De Rozoir e Dumont para História
Romana.
No ensino de Física era mandado adotar pelo zeloso
Ministro o compêndio de Barruel, reduzido a quadros pelo
Cónego Francisco Vieira Goulart, sendo adotado o
compêndio de Lacroix para estudo de Geometria.
Caberia ainda a Bernardo Vasconcellos expedir aviso
revogando o artigo 46 dos Estatutos do Colégio na parte
em que facultava precedendo licença especial do Governo,
admissão de alunos menores de 12 anos.
Apreciando a fundação do novo Colégio, assim se
exprimia o "Jornal do Commercio": "Qual será o coração
entusiasta pela prosperidade do Brasil que não sentirá
palpitações movidas por um interesse tão grande qual o
da fundação do Colégio de Pedro II, de um estabelecimento
que tende a preparar a nova geração que há de se reger os
futuros destinos do país de uma maneira mais ampla já
nos princípios adquiridos em prática, um dos dogmas da
religião, já pelo certames científicos que aí colherá em
sucessão de estudos clássicos e progressísticos.
Faltava ao Brasil um semelhante estabelecimento,
uma escola progressiva de educação à mocidade, como
1837 - 1937
disse o Ministro do Império, que servisse de tipo as outras
que se acham em atividade no país.
O pai de família folgará de receber em sua casa um
novo filho, modesto, laborioso, instruído e apto para penetrar
no santuário de qualquer missão civil que seus
compatriotas lhe encarreguem, um homem que tudo
apreciará porque ali ele aprenderá a tudo respeitar, enfim
um filho que respeitará o saber, a idade e não levará a
imprudência e o escárnio até o altar de Deus".
O Governo imperial querendo realizar esta grande
ideia lançou mão dos homens que lhe pareceram mais
hábeis para o desempenho de tão árdua tarefa e a escolha
do arquiteto, do reitor e dos professores, é de certo lisonjeira
para o Brasil.
Mr. Grandjean é um artista de cunho, um homem
de arte que sabe o que faz, reunindo ao útil o agradável, e
a grande atividade que ele empregou na restauração do
Seminário antigo, assim como o bem acabado da obra,
prova em seu abono as qualidades que deve possuir um
arquiteto.
O Exmo. Sr. Bispo de Anemúria é um homem moral,
de caráter firme, instruído e que já suportou sobre seus
ombros um peso maior que o do Colégio, o da educação
de dois príncipes (D. Pedro e D. Miguel): o seu nome sem
nódoa é a maior garantia para os pais de família e para a
prosperidade do Colégio de Pedro II. Dos professores
nomeados tais como os Srs. Magalhães, Silva, Maia, etc,
etc. são muito conhecidos por seus talentos e todos
laboriosos, o que não deixa a duvidar ser um belo
complemento à formação do corpo de ensino do Colégio".
Não foram vãos os esforços de Bernardo de
Vasconcellos na fundação do Colégio, granjeando aplauso
geral. Incansável o grande paralítico, deu exemplo a tantos
validos. Tolhido de passos, pôs entretanto o Colégio a
andar célere em caminho glorioso.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Frei D. António de Arrábida, Bispo de Anemúria, primeiro Reitor.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
II
O Colégio até 1839
Primeiro Reitor • Primeiros Funcionários • Primeiros Professores Efetivos e
Interinos • Primeiro Livro de Matrícula • Primeiros Alunos • Ainda os Órfãos de São
Joaquim • Ação Conjunta do Governo e da Reitoria do Colégio • Retirada de
Bernardo de Vasconcellos do Governo • Seus Sucessores • Novo Reitor, Novo
Vice-Reitor • O Colégio até 1839 • A Sessão do Senado do Império em 1839.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Descrita
seja, a largos traços, a vida nacional do ano
de 1838, primeiro do funcionamento regular do
Colégio de Pedro Segundo.
Cessaria a interinidade regencial do Senador Araújo
Lima, Regente efetivo por eleição para o cargo procedida
em todo o Império, alcançando nela o regente interino 4.308
votos.
Acudindo embora à debelação de guerras civis, quais
a Sabinada baiana, a Balaiada maranhense, a luta dos
Farrapos sul-riograndense, a Regência Araújo Lima, em
1838, procurava administrar, criava serviços de vulto,
reformava outros, favorecia instituições úteis, estimulava
iniciativas individuais, tentava conduzir o país à paz,
favorecido no intuito já pelo abrandamento de paixões e
linguagem da imprensa partidária, já pelo apreço público
votado a obras da inteligência em vários departamentos
do saber humano.
Assim, em 1838 formavam-se nove primeiros
doutorandos saídos da nossa Escola de Medicina instituída
pela lei de 3 de outubro de 1832, três cirurgiões pela antiga
Escola Médica Cirúrgica reformada pela mesma lei.
Dos nove doutorandos de 1838 mais se assinalaria,
na vida nacional, Martinho Álvares da Silva Campos,
deputado-geral, Senador do Império, presidente de
província, Presidente do Conselho de Ministros,
Conselheiro do Estado na monarquia, sobre tipo original
de inveterado oposicionista parlamentar.
Começava o Brasil a preocupar-se em ter
comunicações rápidas com o mundo por meio da
navegação a vapor. Pretendia a organização de companha
nacional, começada a estudar a possibilidade da abertura
do istmo de Panamá, quando no Rio de Janeiro se estudava
outra possibilidade, a do desmonte do Morro do Castelo.
Não se preocupava somente Bernardo de
Vasconcellos, Ministro da Justiça e interino do Império,
com a transformação e bom estabelecimento do Colégio
de Pedro Segundo. Merecera-lhe cuidados, por exemplo.
o Jardim Botânico da Lagoa de Rodrigo de Freitas, deraIhe regulamento, "de maneira que as pessoas que o
visitassem pudessem utilizar-se do que ele oferecia ao
recreio, à curiosidade e às investigações científicas, sem
contudo lhe causarem prejuízo, nem ofenderem a decência
que se deve guardar em um lugar de pública concorrência".
A 21 de outubro de 1838, surgia no Rio de Janeiro,
no seio da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Com esta
agremiação o protetor do Colégio de Pedro Segundo
repartiria desvelos vida inteira.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Começava a presidir a nova sociedade, do passado
vinda e agora no primeiro centenário, o Visconde de Sâo
Leopoldo, auxiliado pelo Cónego Januário da Cunha
1837-1937
do Governo imperial de escolher reitor à altura da criação.
"O Colégio é o reitor", declarava o Ministro inaugurante.
Na transição do Seminário de São Joaquim para
Barbosa e pelo Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia, professor
Colégio de Pedro Segundo, Bernardo de Vasconcellos
do Colégio de Pedro Segundo.
convidou um bispo para primeiro reitor do novo Instituto.
Em 1838, outro professor do Colégio, Gonçalves de
Escolheu o franciscano frei António de Arrábida, Bispo in
Magalhães, atraía atenção pública no Rio de Janeiro,
partibus de Anemúria. Trazia no nome religioso bastante
oferecia-lhe famosa primeira representação, a de António
pátria: António lembrava o santo que Pádua reclamou;
José ou o Poeta e a Inquisição, peça escrita em Bruxelas,
Arrábida, o convento luso da serra transtagana onde fez
levada à cena no Theatro Constitucional Fluminense, depois
pouso São Pedro de Alcântara.
São Pedro de Alcântara, hoje João Caetano, e interpretada
Frei António de Arrábida transmigrara com o Príncipe
pelo até hoje tido como primeiro ator nacional e proclamado
Regente tendo na pátria ocupado cargos na sua Ordem.
pelo próprio Gonçalves de Magalhães, " s e m p r e mestre e
discípulo de si m e s m o " .
A necrologia de 1838 registrava os nomes de vários
prestantes cidadãos brasileiros, entre eles, até na morte
primus inter pares, José Bonifácio de Andrada e Silva,
falecido às três horas da tarde de 5 de abril de 1838 em
São Domingos de Niterói e sepultado no Rio de Janeiro na
Igreja dos Terceiros do Carmo na atual Rua 1 o de Março.
Mal desceram os restos mortais de José Bonifácio
à catacumba do Carmo levantava-se na capital do Império
a ideia de consagrar monumento em memória dele e outro
à do soberano ao qual José Bonifácio tanto servira, D.
Pedro I do Brasil e IV de Portugal.
Escapara de vir ao Brasil antes da Corte lusitana. Em 1807,
o Príncipe Regente quase mandara ao Rio de Janeiro o
filho D. Pedro, duplamente infante, na idade, e na hierarquia
dinástica com o título de condestável. Acompanhá-lo-ia
um aio: Frei António. Em vez de o franciscano viajar só,
ou com o príncipe da Beira, chegou ao Brasil de roldão
com a corte portuguesa e milhares de compatriotas.
Frei António, no Rio de Janeiro, alusitanado do dia
para a noite, foi preceptor de D. Pedro e D. Miguel, para
muitos preceptor in partibus, dada a índole rebelde dos
dois irmãos príncipes.
Começando a operar a Independência, em 1823, foi
Eis fugidiamente descrito o maior fato do ambiente
frei António despachado 1 o bibliotecário da Biblioteca
social de 1838, primeiro ano do viver pedagógico do Colégio
Pública do Rio de Janeiro. Exerceu o cargo até a Regência
de Pedro Segundo.
O decreto de criação do Colégio chamava Reitor a
autoridade maior do estabelecimento. Corria a palavra na
Provisória Trina, afinal esta o pondo na rua, lugar pouco
grato a empregados.
Ficou em penúria frei António, a observar pobreza
época, de tradição coimbrã. Ainda não caíra em desuso,
além do voto franciscano.
aplicada a quantos em cargo ou negócios de certas
s u b s c r i ç ã o , a c u d i n d o m a i s t a r d e D. P e d r o II c o m
corporações, mais particularmente escolares ou religiosas.
mensalidade servida ao pensionista até a m o r t e para
Designando o chefe do Colégio, m e s m o quando dividido
manter decoro de bispo.
este, a palavra seria por longo tempo mantida no trato
oficial.
Amigos o remediaram c o m
Ao assumir a reitoria do Colégio de Pedro Segundo,
era frei António de Arrábida quase septuagenário. A última
No discurso de inauguração do Colégio, da lavra de
Regência de Araújo Lima reparava nos últimos dias de frei
Bernardo de Vasconcellos, bem patente estava o desejo
António a demissão imposta pela Regência Provisória Trina,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
talvez ao calor de paixões políticas e jacobinas, quiçá pela
necessidade de colocar apaniguados, coisa comum na
inversão de partidos.
Além do reitor, compunham o corpo administrativo
do Colégio um síndico, um vice-reitor e um tesoureiro; no
corpo subalterno, o número de serventes necessários.
Ajuntou-se-lhes mais tarde um secretário interino,
José Tavares de Mello. Eram reitor e funcionários
destinados a assegurar o regime do estabelecimento.
Mantendo-lhe instrução e vigilância, achou-se
congregado corpo de professores e inspetores; entre os
primeiros o professor de Religião tendo também a seu cargo
a Capelania do Colégio. Para cuidar da saúde física dos
alunos foram designados um médico e um cirurgião de
partido. Tanto o médico como o cirurgião tinham estipêndio
certo por serviço determinado. Condecorava ambos o
expressivo título de Professores de Saúde.
Sucinto fora o decreto de criação do Colégio.
Extenso, porém, veio a ser o decreto de 31 de janeiro de
1838, aprovando os Estatutos do Colégio, opondo 232
artigos aos 13 do decreto de criação. Segundo a cópia dos
artigos, da ação harmónica do corpo docente e
administrativo resultaria a prosperidade do Colégio, bem
justa em toda a parte a divisa das armas belgas: a União
faz a Força.
Aos professores primeiros do Pedro Segundo
lembrava o poder público, para exemplo de sucessores,
a necessidade de ensinar aos alunos letras e ciências,
sem contudo descurar imprescindíveis deveres para com
Deus, Pais, Pátria e Governo.
Eis os primeiros professores do Colégio nomeados
a 29 de abril de 1838 pelo ministro Bernardo de
Vasconcellos:
Coube a Joaquim Caetano da Silva a cadeira de
Retórica, ele interinamente encarregado de lecionar
Gramática Portuguesa e Grego. Rio-grandense-do-sul, de
Jaguarão, o jovem professor de 28 anos, precocemente
se graduara em Medicina na Faculdade francesa de
Montpellier, vemacularmente Monpilhér. Desde estudante
se anunciara mestre para ser depois mentor da mocidade
brasileira.
Justiniano José da Rocha foi designado professor
de Geografia, História Antiga e Romana, não muito
perceptível a exclusividade pedagógica da última disciplina.
Era outro professor moço e já notório. Carioca, de educação
literária em Paris, no célebre Colégio Henrique IV, contava
26 anos. Formado em Direito em S. Paulo, tornar-se-ia
figura política notável e mestre completo do jornalismo
político, representando a nação na Câmara dos Deputados.
A facilidade de composição de Justiniano era quase
miraculosa, atestou-a alguém que passou pelo magistério
do Colégio, embora por breve t e m p o : Salvador de
Mendonça. Disse-nos: "Justiniano escrevia em todo e
qualquer lugar, a toda e qualquer hora do dia ou da noite,
em casa, na Câmara dos Deputados, no teatro, sobre as
costas de uma cadeira, sobre a perna, em um peitoril de
janela, no silêncio do gabinete, na sua varanda, no meio
do chilrear dos pássaros e das correrias e barulho das
crianças".
Dizia Octaviano que Justiniano, ao acordar de
manhã, a primeira coisa que fazia era ver onde havia
deixado a pena na véspera e não garantia que não
escrevesse quando dormia.
Logrou nomeação de professor de Ciências Naturais
e interino de Aritmética Emílio Joaquim da Silva Maia.
Brasileiro dos mais ilustrados, natural da Bahia, como
Joaquim Caetano e Justiniano o recebera cultura europeia.
Graduou-se em Filosofia em Coimbra, em Medicina em
Paris. Na época do nascer do Colégio figurava entre os
membros fundadores do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
Contava trinta anos de idade em 1838 o jovem professor
Dr. Silva Maia, cuja vida seria das mais profícuas à ciência
e à pátria.
A Domingos José Gonçalves de Magalhães foi
entregue, em 1838, a aula de Desenho. Outro jovem
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
professor de 27 anos, carioca de 1811 e poeta já anunciador
do Romantismo nos Suspiros Poéticos e Saudades, obra
publicada pouco antes da nomeação do autor para o
Colégio.
Ao grupo dos primeiros nomeados para lecionar no
estabelecimento pertenceu por último Januário da Silva
Arvellos, professor de Música e como tal conhecido na
época. Ainda hoje, vez e outra, surge composição sua em
festividades religiosas.
Que Arvellos, no seu tempo, teve notoriedade não
padece dúvida, à vista dos versos de Porto Alegre
exaltando o Brasil e colocando Arvellos na linha de
compositores de arte, a principiar por José Maurício.
Augurando ao Brasil só brilhante futuro, Porto Alegre
apostrofava:
Em teus templos se animam, se engrandecem
Os cânticos sublimes que um Garcia,
Um Rosa, um Portugal, e um Arvellos
Anotaram co'a dextra sapiente.
Às primeiras nomeações efetivas seguiram-se
outras, a título interino, para o ensino de várias disciplinas.
Dos nomeados, mais notório era quem substituiu no ensino
do Desenho o professor Gonçalves de Magalhães.
Chamava-se Manoel de Araújo Porto Alegre, a grafar com
minúscula o último apelido, para lembrar terra natal sulrio-grandense, ele de berço em Rio Pardo.
Em 1838, o futuro barão de Santo Ângelo já cursava
a Academia das Belas Artes, onde foi discípulo de Debret,
vindo depois a percorrer a Europa em aperfeiçoamento de
estudos artísticos.
À designação dos primeiros professores devia
corresponder matrícula dos primeiros alunos.
Cumpria, porém, selecioná-los e depois, com o maior
escrúpulo, realizavam-se os exames de admissão ao 1o
ano do 1 ° ano letivo do Colégio, o de 1838.
1837-1937
Disto faz fé o ofício da mesa examinadora em ofício
redigido por Joaquim Caetano, ofício dirigido ao Exmo. e
Revmo. Sr. Bispo-reitor, peça na qual se insere o seguinte
tópico:
"Quando nós procedemos a exames de que até
agora temos sido encarregados, bem sabe V. Exa.
Revdma. o melindroso escrúpulo com que nos louvamos:
idade, mérito adquirido, mérito ingênito, tudo isto
averiguamos em cada menino, e nisso foi que fundamos
cada uma das notas. Facilmente poderíamos então
expender por miúdo os motivos da significação por nós
estabelecida unanimemente. Hoje, porém, no-lo veda o
decurso do tempo e o grande número de examinados que
a esta mesa se tem apresentado. Só podemos, portanto,
remeter agora essa mesma classificação rogando a V.Exa.
Revdma. se sirva lembrar-se de ponderação com que
assentarmos a organização da adjunta tabela, resultado
do nome consciencioso dos examinados que nela se
contém".
Do ofício resulta a prova de o nascente Colégio
selecionar quanto possível, tomando por lema pedagógico
o lema pauca sed bona, observado nas matrículas dos
futuros discentes da nova instituição.
No começo de longa existência, certo não lhe
faltariam livros de matrículas, o primeiro digno de especial
menção. Conserva-se no arquivo do Colégio o curioso livro,
solidamente encadernado em escuro, com 354 páginas
de excelente papel. Tinta de primeira ordem, com nitides
apresenta assentamentos. Representando tradição
venerável, o 1o livro de matrícula do Pedro Segundo
também retrata época aos olhos do observador arguto e
de comércio com a História.
Escriturado o livro minudentemente, dele na primeira
folha se lê:
Livro Primeiro de Matrfcula-Geral dos Alunos deste
Imperial Colégio de Pedro Segundo, no qual se nota para
os Internos o dia em que entraram para o Colégio, e, para
os Externos, aquele em que principiaram a cursaras aulas.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Mais abaixo:
Vão marcadas com umas entrelinhas os alunos que
saíram do Colégio sem ultimarem os seus estudos e com
duas, os Bacharéis.
A 27 de abril de 1838, único no dia, matriculou-se o
aluno de 16 anos, Pedro de Alcântara Lisboa, filho do
Conselheiro António Lisboa, nascido nesta Corte em 1822.
Interno. Tinha sido aprovado para a quinta classe,
mas, por falta de companheiros matriculou-se na sexta.
Passou para externo no 1o de agosto do mesmo ano. Em
dezembro foi aprovado unanimemente para a sétima classe
e obteve o primeiro prémio em Geografia, o segundo prémio
em Latim, Aritmética, História e Grego, e Menção Honrosa
em Francês e Desenho. Retirado do Colégio em 31 de
março de 1839.
Iniciada a matrícula em abril de 1838, ficou em aberto
o ano inteiro, a 20 de novembro, sob n.° 91, ainda se
matriculando último aluno, João da Silva Mondeiro.
O primeiro matriculado do Colégio, Pedro de
Alcântara Lisboa, seguiria estudos de engenharia em Paris.
Aí serviu à pátria adido de 1a classe à legação imperial
brasileira, e depois longamente professando matemática.
cuidando de agricultura e finanças.
Alguns dos primeiros alunos do Colégio distinguirse-iam na vida pública do Império. Assim, João José de
Andrade Pinto seria Ministro do Supremo Tribunal de
Justiça; Luiz Affonso de Escragnolle morreria em flor da
idade, 30 anos, capitão do exército e lente da Escola
Central, emulando em concurso com os seus amigos
Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, de tanta celebridade
matemática, e Ignacio da Cunha Galvão, a cabo de carreira
diretorda Escola Politécnica.
Outros dos primeiros alunos do Colégio:
António Pedro de Carvalho Borges, Barão de
Carvalho Borges, Ministro Plenipotenciário, representando
o Brasil na Áustria, na Holanda e em Portugal.
António Marianno de Azevedo, que, alcançando
renome na armada nacional, atingiu o posto de capitão de
mar-e-guerra, devendo-lhe especiais serviços a Biblioteca
da Marinha.
Segundo se depreende de ofício do Bispo-reitor a
Bernardo de Vasconcellos, a 8 de março de 1838, tentativas
houve logo no início do Colégio de perturbar-lhe a seriação,
afinal mantida. Pedindo a Deus que guardasse o Ministro
por muitos anos, consoante fecho de redação oficial da
época, dizia o Bispo-reitor:
"Tendo afluído inumeráveis pretendentes a
matricular-se táo-somente em diversas e singulares aulas
cujos requerimentos alguns no princípio foram admitidos,
como porém duvide qual seja o pensar de V. Exa. a este
respeito, rogo a V.Exa. mui particularmente uma declaração
que me sirva de regra geral para tais pretensões,
consideradas tão-somente as aulas em atual exercício ou
a qualquer outras que se abrirem, o bem do serviço me
obriga a rogar isto".
Opôs-se Bernardo de Vasconcellos à pretensão dos
alunos sem regra, providenciando também sobre outra
pretensão, a de quatro alunos do antigo Seminário de São
Joaquim, até então sob os cuidados do professor primário
Silva Moraes. Pretendiam os antigos órfãos do Seminário
matrícula no incipiente Colégio de Pedro Segundo; ordenava
porém o Ministro que se os mandassem examinar a ver,
se em condições de admissão a seguir Letras ou se, por
falta de talento e aplicação, conviria antes preferível destinálos para as Artes. Nada de pesos mortos no corpo discente,
frequentasse o Colégio quem merecesse e aproveitasse.
Ministro enérgico, Bernardo de Vasconcellos cortou abusos,
os quais, segundo máxima do Marquês de Maricá, como
os dentes, nunca se arrancam sem dores.
Sabendo do interesse de Bernardo de Vasconcellos
pelo Colégio, em ofício de 27 de maio de 1838, o Bisporeitor prestava-lhe informações sobre o andamento do^
serviço público no incipiente Colégio sub báculo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Atestava o Bispo-reitor:
"Dando conta hoje a V.Exa. do estado do Colégio de
Pedro Segundo para ser presente ao Regente interino em
nome do Imperador, devo declarar que julguei necessário
esse espaço de tempo para que não fossem simples
participações de alguns dias e dias de primeiros arranjos
e nem os dos passos dados no andamento da vida
colegial".
São dignas de menção as informações do Bisporeitor fora "dos dias de primeiros arranjos".
Dizia o Bispo de Anemúria em 1838, para ciência
de vindouros, que, a 27 de abril de 1838, tinham começado
a entrar no Colégio os primeiros alunos internos, faltando
só 6 dos 30 aceitos, no número dos 30 incluídos 7 pobres.
"Só admitia o edifício 65 alunos internos", declarado que
o espaço de leito a leito era menos do que aquele designado
nos estatutos.
Avisava também o reitor ao ministro que nos
primeiros dias de aula haviam ocorrido algumas
irregularidades, sobretudo na aula de Ginástica, e na de
Latim, nesta por falta do compêndio. Quanto à salubridade
do Colégio, afora incómodos de saúde de certos alunos, 4
graciosamente curados pelo Dr. Silva Maia, o estado
sanitário não oferecia perigo algum.
"O andamento económico — informava o Bisporeitor — enquanto a alimentos está frugalmente
estabelecido, e marcha variado e bem feito. Não tem este
sido assim, nem é quanto ao serviço de 2 únicos serventes
para uma casa de tão grande família e de tantos ministérios
e que tais bem eles têm sido. Hoje resta um só deles, o
qual havia procurado para me servir interna e externamente
em coisas do Colégio. Hoje acaba de entrar um terceiro
apesar de não saber o que havia de prometer. Este objeto
é vital para o estabelecimento. O estudo em que tem
estado é violento e irregular, eu não sei o que sucederia se
esses zelosos empregados, inclusive os inspetores de
alunos, e o Capelão não se dedicassem com toda boa
vontade e com grande zelo a todo serviço, até braçal e
grosseiro.
1837 - 1937
O estado do edifício é o de incompleto para o seu
destino. Não há aposento para o vice-reitor nem para o
Capelão. Esta obra é urgente. Não há onde se recolham
os serventes, nem mesmo os pretos."
"Na quadra do pátio há três casas inúteis porque
ficaram por acabar", dizia o Bispo-reitor ao ministro,
pugnando por diversos melhoramentos.
Com espírito cristão sobre-sacerdotal, o Bispo-reitor
chamava a atenção do ministro Bernardo de Vasconcellos
para a falta de conforto dos quatro negros incumbidos de
serviços grosseiros.
"Para conhecer o peso do trabalho na limpeza e
asseio basta lembrar a grandeza do Edifício, de que ele
não tem esgoto algum e do número de gente que o habita".
Com franqueza expunha o Bispo-reitor "o estado
deste tão excelente quão útil Estabelecimento, que
reunindo em um ponto as Ciências secundárias para encher
a lacuna que havia entre as grandes Escolas da Ciência e
as destacadas aulas de princípios. O Estabelecimento a
todas as respostas é digno do Século e da época em que
acaba de ser instituído, e para cujo aperfeiçoamento
nenhuns esforços serão excessivos".
Honrando-se em dirigir "um estabelecimento a todos
os respeitos digno do século", cientificava o Bispo-reitor
ao ministro "ter convocado professores para saber os que
se dispunham a aceitar a regência interina de várias
disciplinas, pronunciando-se pela aceitação os professores
Silva Maia, Justiniano José da Rocha, Joaquim Caetano
da Silva e Jorge Furtado de Mendonça. Abrira exceção o
professor de Filosofia, Magalhães, que declarava não se
achar em circunstâncias de encarregar-se da cadeira de
Desenho e que havendo de encarregar-se de alguma outra
diversa da sua (a de Filosofia) seria a dos primeiros anos
de História".
Segundo o Bispo-reitor "pela urgência das
circunstâncias se haviam aberto aulas sem designação
de compêndios e mais objetos necessários ao andamento
da instrução". Mas o reitor "solicitara dos professores as
ESCRAGNOLLE DÓRIA
novas ideias a respeito de compêndios e mais coisas
necessárias e sobre as instruções deles formaria lista
oferecida à designação de S. Exa.".
Louvando os esforços do Bispo-reitor, Bernardo de
Vasconcellos obtemperava: "É do concurso de todas as
vontades, do sacrifício de muitos cómodos, do zelo e
atividade da parte do reitor e de todos os demais
empregados que pode resultar o progressivo
aperfeiçoamento da classe. Em tal coadjuvação contava
o governo, como até então, achar em todos, especialmente
no reitor".
Para maiores ou menores providências entrava
sempre o Ministro em contacto com o reitor. Tendo este
lhe representado que a capacidade de dois dormitórios
apenas permitia admissão de 65 alunos, retorquia Bernardo
de Vasconcellos, dizendo "que o regente Araújo Lima se
persuadia que a capacidade dos dormitórios podia ser
aumentada. Cumpria mudar a posição das camas
colocando-as em quatro linhas ao comprido. Entre a
cabeceira de um leito e os pés do imediato ficaria apenas
espaço para a passagem de um homem. No momento,
fazer qualquer mudança nos dormitórios seria
desnecessária, visto o diminuto número de alunos".
De olhos abertos sobre abusos, Bernardo de
Vasconcellos advertia o próprio reitor. Recomendava-lhe
providências para que uns professores não estivessem
lecionando matéria estranha à sua aula quando o professor
gozando da substituição nenhum impedimento tinha que o
privasse de dar as lições de sua obrigação".
Nem à reitoria, para exato cumprimento de Estatutos,
faltavam avisos deste teor: "Fique a reitoria na inteligência
de que o Regente só quer a execução de ordens quando
não possam prejudicar os interesses do Colégio ou quando
a direção dele não tenha concebido outro plano e sistema
julgado preferível". Neste caso, daria parte do plano e
sistema com o necessário desenvolvimento, a fim de ser
resolvido o mais conveniente. Ficasse certa a reitoria "que
o Regente ouvia sempre com satisfação as reflexões
inspiradas pelos louváveis desejos de aperfeiçoamento
social, ainda quando não se lhe desse assenso".
Levava também o Ministro Bernardo de Vasconcellos
a solicitude a ponto de amparar docentes como sabia
adverti-los. Punha presente à reitoria do Colégio a
existência da "presumpção infundada", de ser certo
professor "homem debochado para que talvez contribuísse
o seu modo de andar". Informado, entretanto, Bernardo
de Vasconcellos "de suas boas qualidades, sobriedade e
bastante inteligência na sua arte, julgava conveniente que
o reitor procurasse desvanecer quanto fosse possível tão
desfavorável quão imerecida opinião a seu respeito".
Aliás, tanto Ministro como reitoria procuraram
melhorar retribuição pecuniária do corpo docente, por um
decreto, fixados provisoriamente parcos ordenados anuais
a professores e empregados do Colégio. Venceria o Capelão
700$000. Os professores de Latim, Grego, Aritmética e
Geografia teriam 500S000, os de Desenho e Música
400$000. Enquanto desse lição única semanal o professor
de Francês receberia 200$000, tanto quanto os inspetores
e caso estes pelo seu preparo servissem de substituto se
lhes abonaria mais 100S000.
Em continuação dos serviços de estreia do Colégio
ordenava o Regente que, em livro à parte, com o título de
Anais do Colégio de Pedro Segundo, se lançassem os
principais acontecimentos ocorridos ano por ano. Ter-seia especial cuidado pelos assuntos de interesse para a
instrução pública. Principiaria o 1o ano dos Anais a 2 de
dezembro de 1837 e acabaria a 31 de dezembro de 1838.
Incumbia também ao reitor apresentação do relatório
dos alunos internos conforme o disposto nos Estatutos,
Título e Capítulo 1 o , Artigo 4 o . Pelo mesmo relatório muitas
informações seriam ministradas sobre os alunos, sobre a
filiação, a residência, o aproveitamento e a conduta deles.
Até meados de outubro de 1838 esteve o Bispo-reitor
em exercício ativo de cargo, assaz pesado para o seu
avanço de idade e saúde precária. No meio de um Brasil
conturbado por lutas civis e dificuldades já políticas, já
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
financeiras, o Regente e o Ministro tinham auxiliado o
Bispo-reitor na organização do Colégio-modelo, cujo
augusto patrono crescia em anos para lhes dedicar vida
inteira.
Na inatividade do Bispo-reitor passou a dirigir o
Colégio o vice-reitor, padre Leandro Rabello Peixoto e
Castro, de 13 de outubro de 1838 em diante a entender-se
com Bernardo de Vasconcellos, o Ministro minudente.
Tudo do Ministro merecia atenção, reclamações do
reitor, número e divisão de aulas, saúde dos alunos à
inspeção do Dr. Silva Maia, andamento económico da
Casa. Cumpria nesta atender, dizia Bernardo de
Vasconcellos, à necessária economia, à abundância e
salubridade tão recomendadas nos Estatutos.
O serviço diário e interno da Casa ficava a cargo de
dois serventes, para a limpeza, de três empregados
especiais para a cozinha, quatro africanos incumbidos das
tarefas mais grosseiras. Até neste particular atendia o
Governo à reitoria, autorizando-a humanitariamente a
melhorar a condição dos africanos.
Representando a reitoria sobre a conveniência de
obras no Colégio, respondia o Governo que só obras novas
autorizaria quando estivesse "tudo em andamento e se
soubesse por meio de contas quais os recursos do
Colégio".
Estavam as contas de remessas atrasadas, mas
declarava Bernardo de Vasconcellos a reitoria pela omissão,
o Governo não a incriminava, nem aos empregados.
Reconhecia o Governo que nos primeiros tempos ou
fundação de Estabelecimento da ordem do Colégio, "tudo
eram embaraços e tropeços". Não era igualmente o
governo alheio às dificuldades com as quais "lutava o reitor
e com quantos haveria de lutar".
Sabendo que Bernardo de Vasconcellos fiscalizava
pessoalmente, meio único de bem dirigir, a reitoria do
Colégio tudo lhe relatava. Dizia-lhe, por exemplo,
atendendo a pedido ministerial de informações sobre o
requerimento do aluno Luiz de Almeida Brandão:
1837-1937
"Tenho a honra de informar a V. Exa. para fazer subir
ao conhecimento do Exmo. Regente que este pretendente
já pelo Governo foi atendido para frequentar as aulas do
Colégio na qualidade de aluno externo gratuito; o seu
comportamento tem sido louvável, e tem mostrado sempre
aplicação e aproveitamento, ele mora na rua da Alfândega
n.° 215 em companhia de sua avó, Catharina Margarida
Salinas, mas como esta se muda para fora da terra, a
procurar uma subsistência mais cómoda a suas
circunstâncias por isso é que o pretendente procura este
asilo, para poder desenvolver os talentos de que parece a
Providência o dotara. Por outra parte, o Colégio sustenta
sete alunos gratuitos, e mais dois que pagam a terça parte
e sustenta além desses mais quatro que no principio deste
Colégio foram daqui removidos para um Colégio particular
no Largo de Santa Rita. À vista do que pode V. Exa. tomar
a resolução que melhor convenha às circunstâncias
expostas".
Em outubro de 1838 também a reitoria informava
ao Ministro no tocante à marcha dos serviços de instrução
no Colégio: "Em observação do título e Capítulo 1 o , Artigo
4o dos Estatutos deste Imperial Colégio, remeto a V.Exa.
os inclusos Relatórios, nos quais se vê o grau de
aproveitamento de cada um dos alunos. Afirmando a
V.Exa. que o estado quer físico, quer moral do Colégio
tem com pouca atenção sido satisfatório e lisonjeiro."
Para tanto, concorria o zelo do professor de Saúde
Dr. Emilio Joaquim da Silva Maia, assistindo aos enfermos
com aquela atitude que o caracteriza, pelo que o Bisporeitor pedia-lhe fosse concedida justa gratificação.
Que os desvelos profissionais do Dr. Silva Maia
eram os de verdadeiro "professor de Saúde" ficou prova
em favor dele, da caridade do Bispo e reitor, da atenção
do Ministro a quanto se passava no Colégio. A 3 de
dezembro de 1838 dirigia o Bispo e reitor o seguinte ofício
a Bernardo de Vasconcellos, peça característica de época
e de seus homens até da linguagem deles:
ESCRAGNOLLE DÓRIA
"Levo ao conhecimento de V.Exa. que o aluno
Manoel Moreira de Figueiredo Mascarenhas, apresentando
há três dias uma pontada em um dos lados, acaba de
desenvolver um furioso pleuriz que tem merecido a mim e
ao professor de Saúde o maior cuidado e atenção. Dei
logo parte deste incidente ao Dr. António Ildefonso que é
seu parente, o qual aqui o veio visitar e juntamente com o
professor de Saúde do Colégio dirigiram o curativo que as
circunstâncias exigiam. Tenho a satisfação de poder
informar a V. Exa. que o enfermo tem apresentado hoje
notáveis melhoras, cedendo visivelmente a enfermidade
às sangrias que ontem se lhe aplicaram".
0 médico, ao qual se referia o reitor a propósito da
enfermidade do aluno Figueiredo Mascarenhas, era o Dr.
António Ildefonso Gomes. Gozava na época fama de ótimo
clinico, homem de notável cultura, muito dedicado aos
estudos de ciências naturais, incansável perlustrador de
terras brasileiras. Em medicina era o Dr. António Ildefonso
Gomes partidário da hidroterapia, antecessor, em 1848,
dos métodos curativos em momento tão em voga pela
propaganda de Monsenhor Kneipp. Com o Dr. Gomes, as
teorias tinham prática, pois andava quase sempre de pés
no chão, antecipando-se a conselhos kneippistas.
Não se limitava o Dr. António Ildefonso Gomes a
estudos nos livros, tinha-os em lição constante em
vastíssima chácara de sua propriedade, em Catumbi onde
vicejavam as mais variadas espécies, tanto nossas como
alienígenas.
Mostrava-se o Dr. António Ildefonso Gomes dedicado
ao Colégio onde, além do parente ao qual acudira, para
aliviá-lo de "furioso pleuriz", contava um neto António
Ildefonso Nascentes Burnier, bacharel em letras, falecido
em esperançosa adolescência.
A nomeação de inspetores para o Colégio merecia
também vigilante cuidado da reitoria. Tendo esta, exercida
pelo vice-reitor por exoneração do Bispo-reitor, de informar
ao Ministro acerca do requerimento de José Ferraz de
Oliveira Dourado pedindo o lugar de inspetor de alunos, no
dito requerimento exarava a reitoria na seguinte declaração:
"Tenho a informar a V.Exa. que eu nomeei o dito
Dourado interinamente, em virtude do Artigo 1 o dos
Estatutos, para poder firmar o meu juízo sobre suas
qualidades pessoais. Parece-me um moço de juízo, bem
instruído em Gramática Latina. Teve estudos completos
no Colégio de Jacuecanga na Ilha Grande, por isso,
Aritmética, a Álgebra e a Geometria, a Língua Francesa, e
a Filosofia não lhe são desconhecidas, ainda que confessa
estar nestas últimas faculdades algum tanto esquecido
por ter sido por seu pai aplicado por alguns tempos na
administração de sua roça. Pelo que me parece nas
circunstâncias de poder ser aproveitado". (Ofício de 3 de
novembro de 1838).
Por todos os meios procurava a direção do Colégio
ministrar a instrução dos alunos, buscando também formarIhes o caráter, ensinando-lhes gratidão.
A 2 de dezembro de 1838 completava D. Pedro II
treze anos de idade. Longo ofício do padre Leandro Rebello
Peixoto de Castro, vice-reitor do Colégio. Do natalício do
soberano conservou-se a memória na manifestação de
reconhecimento da instituição incipiente ao memorado dia
do imperador menor.
Associou-se o Colégio à data de berço celebrada
em todo o Império com o monarquismo então
característico no Brasil. Génio frio e melancólico, a frieza
provinda da raça germânica, a melancolia de orfandade
completa, da infância a verdes anos, D. Pedro II receberia
talvez com mais carinho, entre homenagens palacianas e
oficiais, o preito do seu Imperial Colégio.
Na benemerência dos papéis velhos, no remoçar
passado, ofício do vice-reitor do Colégio, padre Leandro
Rebello Peixoto de Castro, felizmente permite saber, e por
miúdo, quanto para o Colégio ocorreu a 2 de dezembro de
1838, informado Bernardo de Vasconcellos dos sucessos
do dia.
Não convém resumi-los, sim transcrever na íntegra
o ofício do vice-reitor de há século:
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
"limo. Exmo. Sr. — Tenho a honra e a satisfação de
levar ao conhecimento de V.Exa. a maneira satisfatória
com que os alunos deste Colégio de Pedro 2o celebraram
o dia natalício de S.M. seu Augusto Protetor. Na manha
deste dia dirigiu-se todo o Coletivo à Imperial Quinta da
Boa Vista onde chegou às oito horas da manhã, depois de
ter feito felizmente a viagem por mar desde o Saco do
Alferes até o porto de São Cristóvão. Às 8 e meia horas
depois que ali se chegou foi o Colégio introduzido à
presença de S.M. pelo Exmo. Tutor (na época o Marquês
de Itanhaem) e S. Majestade recebeu com especial
benevolência a todos e a cada um em particular
mostrando-se agradecido às felicitações que eu por me
achar à frente do Colégio tive a honra de lhe dirigir por
esta forma:
"Senhor
As felizes recordações que o dia de hoje nos inspira
são as que trazem diante de V. M. os alunos do Imperial
Colégio de Pedro 2o para terem a distinta honra de tributar
a seu Augusto e Imperial Patrono a homenagem do respeito
e do reconhecimento. Nós todos fazemos votos pela saúde
e prosperidade de V. M. I. e das Augustas Princesas com
que o Brasil tanto se enobrece, mas com impaciência
esperamos a hora em que V. M. I. assumindo as rédeas
de um governo, que por tantos títulos lhe é devido,
possamos então contar com a firmeza e a estabilidade
deste grande Império, sobre que a Providência tem velado
de um modo tão maravilhoso".
S. M. que com muita atenção ouviu o breve discurso
houve por bem responder que — Agradecia e se lisonjeava
com as felicitações que o Colégio acabava de lhe desejar.
Em seguida o Colégio se retirou fazendo a S. M. e
aos assistentes as vénias de costume.
Cumpre-me manifestar a V. Exa. que Sua Majestade
nos recebeu em o seu Gabinete particular e somente
rodeado do Exmo. Tutor e outros, creio que os professores
dos estudos a que S. M. se aplica, acolhimento este que
foi franco, singelo e sem as etiquetas da Corte, mais e
1837-1937
mais nos penhorou e nos fez ver a ternura de um coração
que nos ama e estima mesmo sem reservas nem
cerimónias.
Na volta de São Cristóvão nos dirigimos ao Palácio
da Câmara Municipal cujo Presidente nos tinha com
antecipação franqueado as janelas de dois salões para que
os alunos dali observassem o cortejo que trazia S. M. I. e
o desfilamento das bravas e asseadas tropas que, no
Campo de Santana, estavam postadas em respeito.
Pela volta do meio-dia, chegaram os alunos do
Colégio e em seguida nos foi servido o jantar, que as
circunstâncias do dia exigiram que excedesse alguma
coisa os termos do ordinário. Em atenção às mesmas
circunstâncias, permiti aos alunos que tivessem mais
liberdade (estando eu sempre presente) e, por isso, que
tiveram lugar as saúdes ao S. M. I., ao Exmo. Regente,
ao seu Governo, ao ilustre Ministro que imediatamente
vela sobre os destinos do Colégio etc, etc. Foi este ato
celebrado com a maior alegria e satisfação e me lisonjeio
que com a mais atenta e circunspecta civilidade.
À noite se iluminou o Colégio de modo que pôde
ser, no entretanto permita-me V. Exa. descer a notar a
minuciosidade que para cima de seiscentas luzes
brilharam nas torres e frontispício da Igreja e frente do
Colégio, o que junto com frequentes repiques de sinos da
Igreja tornavam esta festividade bastantemente airosa para
os alunos que se honraram de habitar o Colégio de Pedro
2o e de serem por S. M. I. tão benignamente acolhidos e
honrados".
O curioso sobre o precioso ofício do vice-reitor, reitor
interino, padre Leandro, merece alguns comentários. Nele
encontramos boleios de frases características da época e
também prova dos costumes desta. Assinala a predileção
e o interesse de D. Pedro II pelo Colégio, recebendo os
alunos dele em gabinete particular, sem etiqueta, rodeado
pelos professores aos quais incumbia instruir o jovem
monarca. Sem alongar comentários ponhamos reparo ao
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
de prover com urgência os calçados deles, bem como o
corte dos cabelos que acham bastante crescidos, podendo
mesmo V. S. tratar algum cabeleireiro que se incumba
deste último objeto. B. R de Vasconcellos".
As férias do primeiro ano letivo do Colégio, o de
1838, foram bem aproveitadas pelo vice-reitor, padre
Leandro, para melhorar materialmente o Colégio. Posta a
vestiaria, hoje se diz rouparia, na sala inferior detrás da
Igreja foi mandada pintar a óleo, pela posição oferecendo
a mesma vestiaria a vantagem de ser melhor guardada à
disposição dos Estatutos que proibia a entrada de alunos
na repartição, onde custosa de executar quando a vestiaria
se achava encravada no dormitório. Além de melhoria da
vestiaria, procurou o vice-reitor dotar o Colégio com outras
reformas de utilidade das quais sempre dava conta a
Bernardo de Vasconcellos, cujo zelo pela instituição que
ajudara a criar, os padecimentos físicos não conseguiram
diminuir, admirável resistência, não de estranhar no
Bernardo de Vasconcellos, chefe do governo de Minas em
1833. Segundo o Conde de Castelnau, o grande explorador
científico do Brasil, ao reger Bernardo de Vasconcellos a
província natal, em 1833, fora alvo de motim popular
quando em palácio estudava papéis. Chegando-lhe a
ouvidos o clamor público, Bernardo de Vasconcellos
determinou que o seu ajudante-de-ordens fosse saber do
que se tratava. De volta o oficial declarou: "O povo pede
a cabeça de V. Exa.". "Só isto?" obtemperou o
desdenhoso ameaçado e antes de recomeçar exame de
papéis, ajuntou irónico: "Volte e indague se em vez de
minha cabeça querem a sua".
A ministro de ordem tal devia corresponder zelo de
vice-reitor como o padre Leandro. Consultando-o Bernardo
de Vasconcellos acerca de remuneração que conviria a
conceder ao tesoureiro do Colégio, o padre Leandro assim
se externou sobre a pretensão:
"Tenho a honra de fazer subir ao conhecimento de
V. Exa. que em atenção ao artigo 155 e seguintes dos
Estatutos que marcaram as obrigações do tesoureiro, e
1837 -1937
dele exigem uma fiança eu lhe marcaria oitocentos mil
réis anuais, o que lhe daria neste ano por considerar que,
nas obras precedentes à abertura do Colégio, ele
empregaria mais cuidados, mas como depois daquela
época ele vem aqui apenas de passagem e se demora
uma hora e mais, quando muito, e somente se emprega
em cobrar as rendas do Colégio, eu não lhe daria mais
que quatrocentos mil réis por ano, se ele assim houver de
continuar.
No entretanto, permita-me V. Exa. a observação de
que me persuado que o tesoureiro deve estar neste Colégio
desde pela manhã até a noite, pelo assim exigir as
contínuas ocorrências que pelo dia adiante se oferecem;
são necessárias compras e tirar dinheiro do cofre, como
também recolher a ele as quantias que se recebem".
Considerando o tesoureiro, conforme os Estatutos,
"o braço direito do reitor no que tocava à administração
temporal", o vice-reitor, padre Leandro, concluía longo
ofício de 31 de dezembro de 1838 dizendo ao ministro:
"Pelo que repito que a continuar o Tesoureiro neste
modo de procurar os negócios do Colégio me persuado
que com 400S000 ficaria pago e bem pago: e a morar aqui
todo o dia, como convém, então venceria com justiça
800S000 anuais. V. Exa. porém determinará o que melhor
convier".
Assim se exprimia, no resguardo dos dinheiros
públicos, o vice-reitor do Colégio, onde, segundo ele no
mencionado ofício, o tesoureiro fazia "visitas de médico",
obrigando o padre Leandro a fazer-lhe às vezes para que
não periclitasse o serviço e os interesses das partes, "pelos
muitos afazeres do Tesoureiro de que se achava incumbido
na Carioca e no comando dos Guardas Nacionais".
O tesoureiro acumulador pagava um amanuense para
lhe fazer o serviço, mas como dizia o padre Leandro a
Bernardo de Vasconcellos "o amanuense se pode dizer
que só está enquanto o Tesoureiro aqui se conserva e
saindo um, o outro sai também".
Não só às voltas com o tesoureiro se amofinava o
vice-reitor, também tinha de acudir à vadiação de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
discurso do vice-reitor saudando D. Pedro II, oração fiel
ao esto brevis et placebis tão pouco obedecido por oradores
espraiados.
No momento do discurso, a ideia da antecipação da
Maioridade já andava nos espíritos e dela um sacerdote,
José Martiniano de Alencar, se tornara arauto fora do
púlpito, trocando-o pela tribuna parlamentar.
Em 1838 não eram poucos os sacerdotes políticos
ou politicantes. Ignoramos s i ao grupo pertencia o padre
vice-reitor do Pedro Segundo, que saudando D. Pedro II,
de treze anos, declarava: "com impaciência esperamos o
dia em que V. M. I., assumindo as rédeas de um governo
que por tantos títulos lhe é devido, possamos então contar
com a firmeza e a estabilidade deste grande Império sobre
que a Providência t e m velado de um modo tão
maravilhoso".
A ler nas entrelinhas do discurso transcrito no ofício
dirigido a Bernardo de Vasconcellos, justamente o ministro
cabeça da reação anti-maiorista de 1840, parece possível
acreditar que o vice-reitor do Colégio de longe, senão de
perto, acompanhava os maioristas abatinados.
Sem julgar intenções, impossíveis de apreciar tanto
no presente quanto no passado, "a impaciência"
manifestada pelo vice-reitor do Colégio, o anelo de poder
"contar com a firmeza e a estabilidade deste grande
Império sobre que a Providência tem velado de um modo
tão maravilhoso", pode parecer hoje alusão aos governos
regenciais tão trabalhados pelas guerras civis.
No fim do ano letivo de 1838, o vice-reitor padre
Leandro, reitor em exercício, pugnava junto a Bernardo de
Vasconcellos pelo aumento do edifício do Colégio. Levava
ao conhecimento do Ministro a avaliação de três prédios
paralelos ao Colégio da parte do Morro da Conceição, n.°
58, 60 e 62, de numeração correspondente a várias partes,
contíguos os prédios pela Rua do Aljube (mais tarde da
Prainha) oferecendo em globo quase 13 braças de frente e
28 de fundo e quintal maior que o quadrado interno do
Colégio.
"A benefício de um passadiço, alvitrava o vice-reitor,
se poderia arranjar um quintal para recreio dos alunos, o
qual se poderia aumentar pelo tempo adiante com outras
propriedades anexas, onde se poderia formar jardim
botânico que servisse para esclarecimento da História
Natural".
A avaliação do prédio mencionado pelo vice-reitor
subia a 12:400$000, não parecendo ao padre Leandro "fora
de razão".
Logo depois de oficiar no sentido do aumento do
Colégio, no mesmo dia, 13 de dezembro de 1838, o vicereitor pedia a Bernardo de Vasconcellos deliberação
conveniente a respeito de quatro antigos seminaristas de
São Joaquim, matriculados no colégio particular de
Felizardo Joaquim da Silva Moraes, no Largo de Santa Rita.
Pagava por aqueles seminaristas o Colégio e por
12$000 cada um os recebia o professor Moraes. "Mas
como houvessem no ato de remoção manifestado desejo
de seguir a profissão de alguma arte", entendia o vicereitor do Colégio necessárias providências, pois é certo,
dizia o padre Leandro, "que estão absorvendo o que poderia
sustentar três ou dois gratuitos neste Colégio de Pedro
I I " . Insurgia-se o vice-reitor contra aluno peso morto,
eterna praga colegial.
Afinal resolveu o Governo que os órfãos
aprendessem a arte de fundir tipos, exigindo-se-lhes
presença diária na oficina da Tipografia Nacional onde se
ensinava a arte, provendo-os a reitoria do Colégio, como
melhor lhe parecesse, ao sustento e vestuário.
Caso proposto pela reitoria a Bernardo de
Vasconcellos, caso resolvido. Não consultado o ministro,
providenciava por conta própria.
Para prova o seguinte aviso:
"limo. Sr. Padre Leandro de Castro Rabello.
Tendo-se finalizado os exames que nesse colégio
tiveram lugar, convirá que V. S. mande quanto antes passar
as camas dos meninos para a sala competente. Por esta
ocasião não posso deixar de mostrar a V. S. a necessidade
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
de prover com urgência os calçados deles, bem c o m o o
dele exigem uma fiança eu lhe marcaria oitocentos mil
corte dos cabelos que acham bastante crescidos, podendo
réis anuais, o que lhe daria neste ano por considerar que,
m e s m o V. S. tratar algum cabeleireiro que se incumba
nas o b r a s p r e c e d e n t e s à a b e r t u r a do C o l é g i o , ele
deste último objeto. B. P. de Vasconcellos".
empregaria mais cuidados, mas como depois daquela
As férias do primeiro ano letivo do Colégio, o de
época ele vem aqui apenas de passagem e se demora
1838, f o r a m bem aproveitadas pelo vice-reitor, padre
uma hora e mais, quando muito, e somente se emprega
Leandro, para melhorar materialmente o Colégio. Posta a
em cobrar as rendas do Colégio, eu não lhe daria mais
vestiaria, hoje se diz rouparia, na sala inferior detrás da
que quatrocentos mil réis por ano, se ele assim houver de
Igreja foi mandada pintar a óleo. pela posição oferecendo
continuar.
a mesma vestiaria a vantagem de ser melhor guardada à
No entretanto, permita-me V. Exa. a observação de
disposição dos Estatutos que proibia a entrada de alunos
que me persuado que o tesoureiro deve estar neste Colégio
na repartição, onde custosa de executar quando a vestiaria
desde pela manhã até a noite, pelo assim exigir as
se achava encravada no dormitório. Além de melhoria da
vestiaria, procurou o vice-reitor dotar o Colégio com outras
reformas de utilidade das quais sempre dava conta a
Bernardo de Vasconcellos, cujo zelo pela instituição que
ajudara a criar, os padecimentos físicos não conseguiram
diminuir, admirável resistência, não de estranhar no
Bernardo de Vasconcellos, chefe do governo de Minas em
1833. Segundo o Conde de Castelnau, o grande explorador
científico do Brasil, ao reger Bernardo de Vasconcellos a
província natal, em 1833, fora alvo de m o t i m popular
quando em palácio estudava papéis.
Chegando-lhe a
ouvidos o clamor público, Bernardo de Vasconcellos
determinou que o seu ajudante-de-ordens fosse saber do
que se tratava. De volta o oficial declarou: "O povo pede
a c a b e ç a de V. E x a . " .
"Só isto?" obtemperou o
desdenhoso ameaçado e antes de recomeçar exame de
contínuas ocorrências que pelo dia adiante se o f e r e c e m ;
são necessárias compras e tirar dinheiro do cofre, como
t a m b é m recolher a ele as quantias que se r e c e b e m " .
Considerando o tesoureiro, conforme os Estatutos,
"o braço direito do reitor no que tocava à administração
t e m p o r a l " , o vice-reitor, padre Leandro, concluía longo
ofício de 31 de dezembro de 1838 dizendo ao ministro:
"Pelo que repito que a continuar o Tesoureiro neste
modo de procurar os negócios do Colégio me persuado
que com 400$000 ficaria pago e bem pago: e a morar aqui
todo o dia, c o m o c o n v é m , então venceria com justiça
800$000 anuais. V. Exa. porém determinará o que melhor
convier".
A s s i m se exprimia, no resguardo dos dinheiros
públicos, o vice-reitor do Colégio, onde, segundo ele no
mencionado ofício, o tesoureiro fazia "visitas de médico",
obrigando o padre Leandro a fazer-lhe às vezes para que
papéis, ajuntou irónico: "Volte e indague se em vez de
não periclitasse o serviço e os interesses das partes, "pelos
minha cabeça querem a s u a " .
muitos afazeres do Tesoureiro de que se achava incumbido
A ministro de ordem tal devia corresponder zelo de
na Carioca e no comando dos Guardas Nacionais".
vice-reitor como o padre Leandro. Consultando-o Bernardo
O tesoureiro acumulador pagava um amanuense para
de Vasconcellos acerca de remuneração que conviria a
lhe fazer o serviço, mas como dizia o padre Leandro a
conceder ao tesoureiro do Colégio, o padre Leandro assim
Bernardo de Vasconcellos "o amanuense se pode dizer
se externou sobre a pretensão:
"Tenho a honra de fazer subir ao conhecimento de
que só está enquanto o Tesoureiro aqui se conserva e
saindo u m , o outro sai t a m b é m " .
V. Exa. que em atenção ao artigo 155 e seguintes dos
Não só às voltas com o tesoureiro se amofinava o
Estatutos que marcaram as obrigações do tesoureiro, e
v i c e - r e i t o r , t a m b é m t i n h a de acudir à vadiação de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
escolares. Remetia-lhe Bernardo de Vasconcellos o
requerimento do pai de aluno externo pedindo passagem
do filho para interno, desejando, para decidir, que o padre
Leandro o esclarecesse sobre a pretensão.
Assim o fez o vice-reitor nestes curiosos termos:
"Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exa.
que, segundo as informações a que procedi, achei que o
dito aluno externo era notavelmente remisso na frequência
das aulas: e apesar de parecer de conduta sossegada ele
pouco desenvolvimento apresentou nos exames gerais; e
por isto ficou esperando para fevereiro; e esta é a causa
que move o pai do dito aluno para solicitar o ingresso de
seu filho para ver se o obrigava a estudar, ainda que seja
à custa de meios coercitivos; no entretanto posso afiançar
a V. Exa. que se o mandar entrar para o Colégio, o mesmo
há de estudar e dar o que tem".
Com estes propósitos contra a vadiação abria o vicereitor segundo ano letivo do Colégio, o de 1839, a 4 de
janeiro deste ano. Mas também buscando amparar a quem
trabalhava, em ofício de 31 de janeiro de 1839, o vicereitor propunha ao ministro o pagamento de gratificação a
professores pelo trabalho extraordinário de lecionarem no
tempo de férias, gratificação aquela hoje a parecer por
demais módica se não atentarmos nas condições de vida
da época e no valor aquisitivo da moeda. Propunha o vicereitor pelo serviço extraordinário a gratificação de vinte
mil réis a todos, "apesar de se contarem a uns mais lições
que a outros".
No exercício da reitoria o vice-reitor de vez em
quando, antecipando Congregação, reunia professores para
ouvi-los sobre interesses do ensino no Colégio; de tais
reuniões dando conta a Bernardo de Vasconcellos. DiziaIhe, por exemplo, a 14 de fevereiro de 1839, que os
professores do Colégio desejavam ver em andamento as
aulas de Filosofia e Retórica. "Reflexionavam que seria
muito honroso ao Colégio que ao número das aulas se
ajuntasse de fato a de Filosofia, que no resto da cidade
eram pouco frequentadas e a de Retórica, de que na cidade
nenhuma aula havia".
Os professores do Colégio lembravam "que se devia
ter todo o cuidado em conservar o professor Magalhães,
(o futuro Visconde de Araguaia) o Génio da Filosofia, que
não sendo ocupado, em 1839, podia ser que se desviasse
da ocupação para que tinha sido nomeado".
Observavam os professores do Colégio que, na
Corte, se conhecia e era bem patente o desejo das duas
mencionadas aulas.
Entretanto, o vice-reitor julgava dever ponderar ao
ministro que "dentro do Colégio ainda não havia alunos
prontos a cursar tais aulas de 2a classe, somente por
externos avulsos podendo ser frequentadas, necessário,
porém, dispensar a portaria ministerial proibindo a
frequência de externos avulsos. Acrescia igualmente para
o bom andamento das aulas a criar a carência absoluta de
compêndios das disciplinas nelas lecionáveis.
Fazia igualmente o vice-reitor chegar ao
conhecimento do Governo a necessidade de quanto antes
serem fixados os ordenados dos professores e dos
principais empregados do Colégio.
Com instância pugnava o padre Leandro por aquelas
fixações, dirigindo-se a superior:
"Permita-me V. Exa. a observação de que se exige
fixarem-se quanto antes os ordenados dos professores e
dos principais empregados do Colégio porque se até julho
eles não tiverem sido fixados o Colégio vem a perder um
de seus mais acreditados professores — o Dr. Joaquim
Caetano da Silva, o qual é convidado para ir no Colégio de
Jacuecanga na Ilha Grande ocupar duas cadeiras,
vencendo por uma 800SOOO, e por outra 400$000, com
jubilação passados 20 anos de ensino".
A 16 de abril de 1839, no início do segundo ano letivo
do Colégio, deixava Bernardo Pereira de Vasconcellos o
exercício cumulativo de duas pastas, a da Justiça e a do
Império, no 1o Gabinete da Regência Araújo Lima, ode 19
de setembro de 1837. Tinham sido bem empregados os
574 dias dos ministérios de Bernardo de Vasconcellos, tão
úteis ao Colégio, onde deixava nome imortal.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
O ano letivo de 1839 seria assinalado pela
exoneração do reitor-Bispo, exoneração concedida, à vista
de representação do prelado, pelo governo "muito louvado
o distinto zelo com que desempenhara funções".
Reitor afastado, reitor posto. Saía do corpo docente
a nova cabeça da Casa. Recebeu a designação e a honra
o Dr. Joaquim Caetano da Silva, reitor de 29 anos de idade,
no qual verdor de idade não tolhia mérito, nem fama.
Doutor em medicina pela Faculdade de Montpellier,
Joaquim Caetano aí foi estudante hors ligne, já que se
trata de França, prenunciando quem, no decurso de 1861,
escreveria UOyapoc et 1'Amazone. questions brésilienne
et française. Obra magna, para D. Pedro II valendo
200.000 baionetas na fronteira, obra de tal importância que
dela se utilizaria Rio Branco 2o para base e defesa de
nossos direitos territoriais e alcançar do laudo de Berna, a
confirmá-los na chamada questão do Amapá.
Vinha Joaquim Caetano reitor encontrar o Colégio
sob a direção do vice-reitor, padre Leandro. Havia pouco
haviam sido "despedidos", palavra mais amena que
expulsados, dois alunos "pelo fato de brigarem à saída
das aulas", providência logo aplaudida pelo governo, por
entender que sem prémio e castigo não se anima nem
contém mocidade, pronta sempre a aproveitar abusos e
falhas de superiores
Entregava o vice-reitor a reitoria a Joaquim Caetano,
pela conservação do qual no corpo docente, o padre
Leandro pugnara. A um Príncipe da Igreja o governo
regencial dava por substituto no Colégio também um
Príncipe no saber, este de futuro alicerce na defesa de
direitos nossos levantados contra a França, ã qual
entretanto Joaquim Caetano devia cultura e até esposa.
Tornou-se, porém, o esplêndido prefaciador da obra de
reivindicação pátria que teria por último capítulo o laudo
de Berna, dando-nos na justiça o que por tantos anos
outros, de boa fé ou de má-fé, a França retivera como
bem próprio.
1837 - 1937
Porto Alegre, nas Brasilianas, à pintor esfumou
retrato de Joaquim Caetano, aludindo ao seu saber, ao
seu trato da História, e sobretudo ao de Grego. Disse-nos
de um professor do Colégio outro professor deste:
Meu nobre Silva, meu patrício caro,
Que a passos graves triunfante marchas
Por entre legiões de augustas larvas!...
Silva que eu amo, e a quem meu canto oferto,
Deixa os sepulcros dos helenios astros,
E o reino da morte a lousa fecha,
Os doutos solilóquios suspendendo
Teus ouvidos afeitos a magia
Da voz de Homero, dos antigos vates.
Pouco depois de nomeado Joaquim Caetano,
deixava governo quem o nomeara, o Senador Almeida e
Albuquerque, magistrado, substituído por outro magistrado
na Pasta do Império no Gabinete de 1o de setembro de
1839 organizado por Alves Branco.
Conheceria o Colégio novo Ministro, na pessoa do
Conselheiro Manoel António Galvão. Podia dar valor a quem
ensinava ou a quem estudava. Nascido na Cidade do
Salvador, fora Galvão caixeiro em Lisboa e Londres,
conseguindo, esforço a esforço, graduar-se em leis em
Coimbra, de bom exemplo, pois, a jovens estudantes.
Figurara na Constituinte de 1823, representando a
nativa Bahia e o Brasil, na Corte de Saint James, nessa
mesma Londres onde labutara no balcão.
Era o Conselheiro Galvão apto para compreender o
valor de Joaquim Caetano, nomeado por decreto que o
apontava para reitoria "em atenção às luzes e mais partes
que lhe concorrerem na pessoa".
De acordo com o reitor nomeou o Ministro Galvão,
em outubro de 1839, comissão encarregada de examinar
os Estatutos do Colégio "tendo em vista os inconvenientes
demonstrados pela experiência na sua execução, propondo
as alterações convenientes".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Compuseram a comissão dois Bispos, o de
Anemúria, com a experiência de reitor, e o Bispo eleito do
Rio de Janeiro D. Manoel do Monte Rodrigues de Araújo,
pouco depois confirmado por bula de Gregório XVI. Aos
dois bispos ajuntou o ministro Galvão, como membro da
comissão revisora de estatutos, o Senador José Saturnino
da Costa Pereira.
O Bispo Monte, pernambucano como o Regente
Araújo Lima, não era estranho ao magistério, professara
no Seminário de Olinda. O Senador Costa Pereira também
conhecia ensino. Nascido na Colónia do Sacramento, como
o irmão Hypolyto, o memorado redator do Correio
Braziliense, lecionava Matemática, ciência na qual o
graduara Coimbra, lente na Academia Militar do Rio de
Janeiro.
Nenhum, pois, dos membros da comissão revisora
dos Estatutos do Colégio de Pedro Segundo andaria às
cegas no assunto, deliberando com ciência e causa.
Pouco depois da vice-reitoria do Colégio, se retirava
o padre Leandro Rabello Peixoto de Castro, no exercício
do cargo e na reitoria interina, tendo prestado reconhecidos
serviços de excelência.
Como se ao Colégio houvesse deixado signo de cruz
o Seminário de São Joaquim, ao padre Rabello sucederia
em breve um frade. Era beneditino frei Rodrigo de São
José, cuja presença no Colégio em nada deslustraria o
antecessor, propondo-se a seguir-lhe, quanto à disciplina,
o lema do suaviter in modo fortiter in re.
Abrindo arquivos do Vaticano a pesquisas de
eruditos, declarou Leão XIII fazê-lo desassombrado, a
Igreja, não receando a verdade. No exemplo, o Colégio
não foge daquela, ocultando. Daí consignar aqui ter sofrido,
em segundo ano de existência, impugnações
parlamentares, defensores ou acusadores entre prós e
contras, sorte de tudo quanto acompanha obra humana,
mesmo a que se tenha por duradoura, nenhuma impecável.
No fim da sessão parlamentar de 1839, discutiu o
Senado o orçamento do Ministério do Império para 1840.
Governava a Regência exercida por Araújo Lima, presidia
o Senado Regente de havia pouco, Feijó.
Na sessão do Senado de 8 de outubro de 1839,
entrou em 1a e 2a discussão o orçamento do Ministério do
Império.
Rompeu debate na assembleia o Marquês de
Barbacena. Declarava ter visitado o Colégio de Pedro
Segundo, o qual lhe pareceu "um monumento de glória do
seu fundador". Entretanto, afirmava não estar o
estabelecimento nas condições desejáveis de disciplina e
moralidade. Reconhecia o Ministro do Império, Conselheiro
Manoel António Galvão, a procedência das censuras de
Barbacena, embora em consequência de desacatos,
alunos mais insubordinados houvessem sido expulsos. A
seu ver, contribuía para afrouxar da disciplina admissão
de alunos maiores de 15 anos.
Não foi Barbacena o único a observar. Acompanhouo o Marquês de Paranaguá quanto à ineficiência de certos
compêndios adaptados no Colégio. Entendia depois o
Senador padre Ferreira de Mello ter o governo violado a
Constituição, transformando o Seminário de São Joaquim
em Colégio de Pedro Segundo, desviado aquele do fim
almejado por seus instituidores, fins justos e filantrópicos.
Ignorava Ferreira de Mello porque, sem autorização
legislativa, havia julgado o Governo ter autoridade para fazer
tal mudança.
Acudia ao debate Bernardo de Vasconcellos,
declarando, mostrar depois, achar-se o Ministro do Império
mal informado sobre sucessos do Colégio.
Ponderava o Marquês de Barbacena não haver no
orçamento artigo expresso para o Colégio de Pedro II,
pedindo informações sobre ele por considerá-lo debaixo
da rubrica Obras Públicas. Esperava ocasião mais própria
para tratar dele, dizendo a sua opinião sobre o Colégio, no
seu sentir "o estabelecimento mais importante e mais útil
fundado pelo Gabinete de 19 de setembro".
Na sessão do Senado de 9 de outubro de 1839, na
discussão do orçamento do Império, tomou a palavra Feijó,
para combater a criação do Colégio, taxando de escândalo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
que um Ministro desviasse, arbitrariamente, o Seminário
sua fundação era Colégio de São J o a q u i m .
do destino dado por particulares apoiados na lei, criando o
redação".
Governo, além disso, empregos e ordenados para depois
vir
ao
Senado
pedir dinheiro
para
criação toda
governamental.
Salva a
O Ministro combateu a emenda; julgando que só
por t e r e m sido notadas no Colégio coisas defeituosas,
emendáveis, não parecia bem suprimir o estabelecimento.
Rogava, pois, Feijó ao Ministro do Império que, por
Declarava o M i n i s t r o dever o Colégio 7:200$000 de
honra do Senado e dever seu, não consentisse no progresso
m a t e r i a i s c o m p r a d o s para o b r a s , a r r u i n a d a s c a s o
do i l e g a l m e n t e c r i a d o , r e s t i t u i n d o ao S e m i n á r i o o
suspensas. Declarava ainda o Ministro que os ordenados
verdadeiro destino. Não bastava a Feijó acusar ao Ministro
dos p r o f e s s o r e s não e r a m p a g o s pela n a ç ã o , s i m
que, segundo ele arbitrariamente desmanchara obras
gratificados com o produto de matrículas.
feitas, dando nova forma ao edifício, aplicando-o a fim
diverso do próprio.
Ainda no dizer de Feijó, passava o
Barbacena veio à t r i b u n a d i z e n d o r e q u e r e r o
adiamento da discussão para que nela interviesse Bernardo
Senado pela vergonha de aprovar despesas de criação
de Vasconcellos, que então se havia retirado.
arbitrária, Feijó a c r e s c e n t a v a : — " Q u e m criou o
admira que o fizesse — observava Barbacena — porque
e s t a b e l e c i m e n t o que o d o t e e faça as despesas.
ele sofre muito em sua s a ú d e " .
A
assembleia não teve parte nisso".
"E não
Desejava Barbacena requerer o adiamento do debate
Roborou conceitos de Feijó o Senador Ferreira de
para a sessão seguinte, pelo motivo exposto. Entretanto
Mello. Declarou afinal mandar à mesa emenda suprimindo
tais haviam sido as razões expostas pelo Ministro do
despesas c o m o Colégio de Pedro Segundo, " p o r q u e
Império que Barbacena acreditava não deixar Senador
palavras s e m ser acompanhadas com e x e m p l o s não
algum de aprovar a consignação de 18:000$000 para o
valem nada".
Colégio Pedro II até o ano de 1840. Referindo-se ao Pedro
Na sessão de 9 de outubro de 1839 o Marquês de
Paranaguá (Villela Barbosa) discutiu os Estatutos do
II disse Barbacena: —
" E u sentirei m u i t o que esta
instituição pereça".
Colégio, por implicarem revogação de leis, referindo-se
Voltou à carga o Senador Ferreira de Mello. Padre,
aos artigos 234 e 235 dos m e s m o s estatutos. O primeiro
não concordava com a transformação do antigo Seminário.
conferia o diploma de bacharel em letras ao aluno aprovado
A c u s a v a de e r r o o G o v e r n o de tê-la o p e r a d o para
em todas as matérias ensinadas no curso; o segundo artigo
"acomodar afilhados", censurando até o título do Colégio,
conferia o direito de entrar nas academias do Império
" a p a r a t o s o , para fascinar a p o p u l a ç ã o " , referindo-se
mediante a apresentação daquele diploma.
t a m b é m à demissão do reitor-Bispo de Anemúria. Ouvira
Declarava Galvão, Ministro do Império, não julgar
Ferreira de Mello dizer que o Bispo se demitira por não
conveniente submeter logo os Estatutos do Colégio ao
concordar c o m a reversão ao Colégio de aluno dele
C o r p o Legislador.
despedido.
N o m e a r a c o m i s s ã o para e x a m e
daqueles estatutos, exame que concluído permitiria ao
Na sessão de 10 de outubro de 1839, continuando
M i n i s t r o dar d e s t i n o ao r e s u l t a d o dos t r a b a l h o s da
no Senado a d i s c u s s ã o do o r ç a m e n t o do I m p é r i o ,
comissão.
p r o n u n c i o u - s e Vergueiro contra a t r a n s f o r m a ç ã o do
Lida, apoiada, entrou em discussão a seguinte
Seminário de São Joaquim em Colégio de Pedro II.
emenda do Senador Ferreira de Mello. "Suprima-se a
quantia de 18:000$000 com o colégio de Pedro II, que na
Votava pela emenda Ferreira de Mello, fazendo-a
sua.
Sem desaprovar a i n s t i t u i ç ã o do Colégio,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
manifestava, como em outras ocasiões, a dor que lhe
causava ver que para se procurar um bem se destruía um
bem maior, alterando-se instituição estabelecida pela
caridade dos fiéis para fim diverso qual o do Colégio de
Pedro II.
Conveio o Senado na retirada da emenda Ferreira
de Mello, renovando-a Vergueiro, insistindo nas
ponderações do discurso anterior.
Pediu então a palavra Bernardo de Vasconcellos, para
defender o Colégio.
Não duvidava votar pela emenda supressiva da
consignação de 18:000$000. Para a sua manutenção e
despesas ordinárias, o Colégio dispensava graças
orçamentárias. Feito minudente histórico do Colégio e de
seus rendimentos, passou Bernardo de Vasconcellos a
referir-se aos estatutos do estabelecimento. Organizador
deles em não pequena parte, consultara os estatutos do
Colégio da Prússia, Alemanha e Holanda e o sistema de
educação adotado por Napoleão I e de todos aproveitara o
que lhe parecera mais adaptável às circunstâncias
nacionais. Não desanimava com desordens havidas e por
haver no Colégio. "Os mais bem administrados Colégios
e que vivem há séculos sofrem estes choques, a coisa
está em saber atalhar o progresso dos males". Lembrou
Vasconcellos caso idêntico no Seminário de Coimbra, não
se tendo por isto argumentado contra ele, nem se entender
que morria por sofrer desar. Durante o seu ministério não
tinha havido desordens, nem Vasconcellos usava de
severidade para conter meninos.
Longa e viva foi a defesa de Vasconcellos em prol
do Colégio de sua criação. Sucederam-lhe na tribuna
Galvão, Ministro do Império, Barbacena e Paranaguá, este
criticando compêndio do Colégio, apontando-lhe erros de
Geometria e Geografia. Replicava-lhes Vasconcellos,
sucedendo-lhe o Senador maranhense Costa Ferreira,
voltando à tribuna Galvão e Vergueiro não raro repisando
argumentos.
Concluída a discussão do orçamento do Império,
não passou a emenda supressora Vergueiro. Entretanto,
na sessão de 17 de outubro de 1839, o Senador Ferreira
de Mello requeria que se perguntasse ao Governo quantos
estudantes pobres havia no Colégio, qual o seu tempo de
entrada, acompanhadas as informações pela relação
nominal dos alunos e dos nomes dos pais dos meninos.
A discussão senatorial de 1839 acerca do Colégio
mostra zelo por ele e pela causa pública. Não é impossível,
porém, que a tudo isso se misturasse também um tanto
de oposição política. Feijó, renunciante da Regência em,
1835, cedera-a a Araújo Lima, seu adversário. Presidindo
Senado em 1839, a propósito da subvenção ao Colégio de
Pedro Segundo, descia da cadeira presidencial e vinha ao
recinto, à tribuna combater o Governo, formando ao lado
de impugnadores entre os quais o padre Ferreira de Mello
tão impressionado com a transformação do Seminário de
São Joaquim.
Os senadores empenhados na discussão do
orçamento do Ministério do Império são grandes figuras
na história pátria. Avivemos, porém, a figura do padre José
Bento Leite Ferreira de Mello, nascido em 1875 na hoje
cidade mineira de Campanha. Cónego honorário da Sé de
São Paulo, vigário colado de Pouso Alegre, membro de
governo provisório em Minas, deputado-geral, Senador do
Império em 1834. Atirado à politica seria um dos ardentes
pugnadores da Maioridade como parte menos ardente na
revolta de Minas em 1842. Declarou-o Xavier da Veiga
"homem de vontade forte, inteligente, ativíssimo, partidista
extremado, não fugia à responsabilidade de sua posição
leal e franca em quaisquer circunstâncias". Teria fim
trágico. Na tarde de 8 de fevereiro de 1844, ao regressar
a sua fazenda, próxima de Pouso Alegre, morria
assassinado, por questões de terras, autores do crime
antigos protegidos da vítima, um deles dela afilhado.
Defendendo o Colégio, no Senado, em 1839,
Bernardo de Vasconcellos merece mais um grande título
de gratidão do estabelecimento. Desconte-se no discurso
de defesa a parte do amor-próprio de criador, sobre ainda
assim motivo de reconhecimento do Colégio para com
Bernardo Pereira de Vasconcellos.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Uma coisa é trabalhar em condições de validez,
outra em estado de enfermidade persistente e
imobilizadora. Assim acontecia a Bernardo de
Vasconcellos. hemiplégico e achacado. Não exagerava
Barbacena quando declarava que Bernardo "sofria muito
em sua saúde".
A tal ponto ia sofrer que, na sessão do Senado, em
1839, Bernardo se dirigira à assembleia dizendo: "Peço
1837 - 1937
licença ao Senado para falar sentado, não só agora como
sempre, porque o meu estado de saúde não permite fazêlo de outro modo". Ouviu-se então Feijó declarar no alto
da cadeira da presidência: — "O Sr. Senador pode falar
sentado".
Em tais condições de saúde, a defesa do Colégio
por Bernardo de Vasconcellos sobe de ponto. Honra ao
vencedor de males e dores a bem do Pedro Segundo.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Vista Parcial do Colégio, em meados do século XIX.
Foto em exposição no Museu do Colégio.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
Ill
O Colégio de 1840 a 1843
Novos Ministros do Império • Alteração dos Estatutos • Modificação do Corpo
Docente • O Decreto Silva Maya e a Colação de Grau de Bacharel em Letras •
A Primeira Colação de Grau em 1843.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A ssinalaria o terceiro ano letivo do Colégio um
sucesso magno: a Maioridade. Trabalhado o Brasil
por lutas civis e por sedições militares na constância da
Regência, havia em 1840 no país inteiro ânsia de paz,
embora na míngua de completa harmonia nunca dos
nuncas atingida pela humanidade, desde obscuros tempos
da pré-história, a mostrar minuto a minuto quanto é o
homem lobo para o semelhante, consoante lição de Plauto
na Asinaria.
Mal começou D. Pedro II a adolescer, partidários
políticos de sua maioridade prematura entraram a surgir e
congregar-se, sobretudo, parlamentarmente. Frustraramse a princípio desígnios dos maioristas, afinal triunfantes,
a 23 de julho de 1840, vencida a Regência, exaltado ao
trono D. Pedro II aos quinze anos de idade incompletos,
quando o devia ser aos dezoito inteiros. Soubera o Partido
Liberal, hostilizando o Conservador, conjugar política
partidária e vontade popular, esta a exprimir-se na
conhecida quadrinha em 1840 tão de boca em boca.
Queremos Pedro Segundo
Embora não tenha idade;
A nação dispensa a lei,
E viva a maioridade!
Alvorecida esta, naturalmente o primeiro ministério
do incipiente reinado no Brasil de terceiro Bragança,
maternalmente Habsburgo, seria composto de maioristas,
adeptos do sucesso de 23 de julho tão de vulto quanto o 7
de abril de nove anos transatos. Fora a Abdicação obra
do ímpeto próprio de D. Pedro I, almejando coroar filho de
Portugal. Cedeu o pai à vontade do Exército e de fração
de povo no Rio de Janeiro, esta cidade, então, como
depois, arrogando-se poderes de procuradora do país.
Resultara a Maioridade, ainda na mesma procuração,
do movimento de um partido servindo-se do povo cansado
de discórdias. A abdicação tirara cetro ao pai, encostado
o cetro na Regência, a Maioridade colocou-o nas mãos do
filho "para bem de todos e felicidade geral da nação",
assim diziam muitos na época, parodiando o "Fico".
No dia seguinte da Maioridade, o jovem soberano
chamava a Governo o primeiro dos 36 gabinetes do seu
reinado, que também findaria em exílio como o primeiro.
No Ministério de 24 de julho de 1840 coube a Pasta do
Império, da qual na Monarquia sempre dependeu o Colégio
de Pedro Segundo, ao deputado de voz mais eloquente,
sobreardorosa no movimento liberal da Maioridade;. —
António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Era o Ministro mais vistoso e mais facundo do
Segundo o Ministro, cumpria a cada professor da
Gabinete. Tonitroava parlamentarmente desde as Cortes
Casa expor inconvenientes e defeitos demonstrados pela
de Lisboa, sustentando tradição de tribuno. Apostrofava
experiência na parte do ensino a seu cargo. Alvitraria o
com facilidade e frequência, c o m o orador tinha a
expositor providências para removê-los acrescentadas à
veemência, senão o coração nos lábios.
exposição de cada professor as reflexões do reitor sobre
Tornara-se A n t ó n i o Carlos f i g u r a p r i m e i r a da
o assunto. Remeter-se-ia tudo à Secretaria do Império a
Maioridade desde quando na Câmara dos Deputados fora
f i m de ser possível providenciar " c o m clareza e perfeito
lido decreto regencial adiando de julho para novembro de
conhecimento sobre tão importante o b j e t o " , dizia António
1840 a Assembléia-Geral. Subscrevera o ato o benfeitor
Carlos.
do Colégio de Pedro Segundo, Bernardo de Vasconcellos,
Certo, as exposições do reitor e do corpo docente
na Pasta do Império por nove horas, as mais honrosas de
não foram estranhas à primeira reforma dos estatutos do
sua vida pública, conforme confissão de interessado em
Colégio. Obteve-a pelo regulamento de 1 o de fevereiro de
célebre "Exposição" recolhida pela História.
Ao maiorismo, aos maioristas serviu então António
1841 da responsabilidade de António Carlos, auxiliado por
Joaquim Caetano em o novo plano de ensino.
Carlos, levantando-se no meio do tumulto provocado pela
Elevou o regulamento de 6 para 7 anos o curso de
leitura do decreto regencial. Soube exclamar: — " Q u e m
bacharelado, julgado necessário mais um ano de estudos
for brasileiro siga-me para o Senado". A História é tecida
para perfeição de curso secundário, exigidos antes a alunos
por aproximações e repetições. Em dezembro de I868,
de anos mais baixos da série escolar conhecimentos para
Caxias na ponte de Itororó, atirando-se à peleja, diria a
cuja aquisição lhes faltava ainda memória e raciocínio.
batalhões seus retrocedentes — "Sigam-me os que forem
brasileiros".
Não teria longa duração o Gabinete da Maioridade,
Modificou o Regulamento António Carlos o número
de lições semanais — 25 até o 5 o ano, 30 no 6 o e 7 o —
fixada uma hora para cada aula.
Ao p r o f e s s o r de
t a m b é m um pouco o dos parentes, Ministros António
Matemática incumbiria o ensino da disciplina e mais o de
Carlos e M a r t i m Francisco, ao lado de dois fraternos
Geografia e Cronologia.
Cavalcantis de A l b u q u e r q u e , um f u t u r o Visconde de
Albuquerque, e outro de Suassuna.
A n t ó n i o Carlos, na Câmara dos D e p u t a d o s , já
O Regulamento António Carlos, a ser executado no
Colégio, vinha encontrar o corpo docente e administrativo
um tanto modificado desde 1840.
Ministro, dissera "ter cabelos até então embranquecidos
Recebera o Colégio novo secretário, o Dr. Fernando
nos caminhos da verdade". Com experiência e cãs voltar-
Francisco Lessa, substituto do secretário interino José
se-ia para o Colégio de Pedro Segundo, reitorado por
Tavares de Mello
Joaquim Caetano da Silva com auxílio do vice-reitor frei
A maior novidade na corporação d o c e n t e era o
Rodrigo de São José, s u b s t i t u t o do esforçado padre
aparecimento da cadeira de Alemão, primeira da língua no
Leandro Rebello e Castro.
Brasil, tendo por titular Carlos Roberto, Barão de Planitz.
Em dezembro de 1840, dirigindo-se ao reitor Joaquim
Inaugurava no Colégio o que se poderia chamar nele a
Caetano, António Carlos declarava-lhe "ter o Imperador
série germânica continuada porTautphoeus, Goldschimidt,
em particular consideração o adiantamento da mocidade
Gade, Schieffler, Meschick e Hans Heilborn.
educada no Colégio", palavras jamais desmentidas pelo
tempo e pelo patrono.
Teria o Colégio outras séries de m a g i s t é r i o , a
nacional representada pela maioria dos professores do
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Colégio em extenso rol, a série francesa de Piquet ,
Halbout, Gastão Ruch, a série inglesa de Maze, de
Cumberworth, de Alfredo Alexander, a série italiana de De
Simoni, Lipparoni e Gervais, além da unidade grega de
Calógeras.
Em 1840, começou a lecionar no Colégio, a título
interino o professor de Aritmética, o Dr. Emilio Joaquim
da Silva Maia, a prestar à Casa importantes serviços
médicos e de magistério.
Além de Planitz, era em 1849 nomeado Tiburcio
António Craveiro, professor de Latinidade, Retórica e
Poética, com o vencimento anual de um conto de réis,
para aumento da série de professores acrescidos aos
primeiros de 1838.
Ao assumir a Pasta do Império, António Carlos
encontrou estabelecido no Colégio o regime das matrículas
gratuitas de internos e externos. Fixadas pela primeira
vez pelo Ministro interino do Império, efetivo da Justiça,
Conselheiro Assis Coelho, numa interinidade proveitosa a
desvalidos, suposta bem aplicada a mercê em distribuição
de justiça.
Um dos primeiros a solicitar o favor da gratuidade
foi Mathias José Fernandes de Sá, procurador de causas
litigiosas, subadvocacia exercida pelos solicitadores.
Dirigiu-se Sá ao reitor Joaquim Caetano para
obtenção da graça em benefício do filho, Aurélio Garcindo
Fernandes de Sá, informada favoravelmente por Joaquim
Caetano a petição paterna.
Atendeu o Governo à súplica, em nome de sua
Majestade o Imperador, mandando admitir como aluno
externo gratuito Aurélio Garcindo Fernandes de Sá.
Roda o tempo, o menino é homem, e de guerra,
oficial da armada. Em 1865, vamos encontrá-lo de pé na
história pátria, em dia de morte e glória sobre águas, o dia
de Riachuelo, Garcindo secundando Barroso no arrebatar
vitória no imortal tombadilho da Amazonas, Garcindo a
comandar a Parahyba, com o denodo celebrado no poema
épico Riachuelo, de Pereira da Silva, dizendo o poeta:
"... e nâo prescindo
Que o nome a todos chegue de Garcindo".
Retribuía assim em 1865 o aluno sergipano do
Colégio a gratuidade de seus estudos.
António Carlos, sem saber, não só concedia
gratuidades proveitosas, mais tarde como a de Garcindo
pagas na glória. Procurava, também, aperfeiçoar o ensino
do Colégio pela nomeação de bons professores,
recomendáveis pelo saber, tanto quanto pela compostura,
indispensável a quem se propõe a dirigir, sobretudo moços,
sempre a lançar descréditos e ridículos sobre mestres
nominais.
Referendava António Carlos a nomeação do Dr.
Marcellino José da Ribeira Silva Bueno, Cónego
penitenciário da Capela Imperial. Seria professor de História
Geral, Pátria, Geografia e Cronologia, "em consideração
aos importantes serviços prestados no magistério e em
outros lugares de Letras". Assim o disse, expressa e
expressivamente, o Decreto de 23 de setembro de 1840.
O novo professor era sacerdote secular, antes frade
franciscano, gozava, na Ordem do "poverello" de Assis,
fama de bom pregador. Pouco lecionaria, falecido a 21 de
janeiro de 1842.
A António Carlos, Ministro do Império, deveria o
Colégio a primeira nomeação de Comissário do Governo
para inspecionar o estabelecimento e sobretudo interferir
nos exames.
Recaiu o cargo no Dr. Joaquim Cândido Soares de
Meirelles, médico diplomado no Rio de Janeiro e em Paris,
um dos fundadores da Academia Imperial de Medicina,
amigo de Evaristo da Veiga, muito ligado aos sucessos
políticos da Independência, do Primeiro Reinado e da
Regência, cirurgião militar de vulto na armada e no exército.
Vinte e cinco anos após o comissariado pedagógico
no Pedro Segundo, em 1840, ainda assistiria à Rendição
de Uruguaiana.
À nomeação de Soares de Meirelles, na gestão
ministerial de António Carlos, recebeu o Colégio novo
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
tesoureiro, Manoel Raymundo Galvão, por exoneração de
José Teixeira de Abreu Silveira.
Sobretudo para a época, eram de vulto os bens
patrimoniais do Colégio, inventariados em 1838 e
constantes de dois prédios, uma morada de casas de
sobrado na Rua das Violas, ora Theophilo Ottoni, uma
morada de casas térreas, na Rua da Alfândega, uma
morada de casas de sobrado na Rua Estreita de São
Joaquim, desaparecida na República e na Prefeitura
Passos. No património do Colégio figuravam 163 apólices
de conto de réis, além de duas no valor de 400S000.
Em março de 1841, o Partido Conservador vencia o
Liberal da Maioridade, apeado de governo o ministério por
ele constituído e do qual era ministro António Carlos.
Organizando o Marquês de Paranaguá o Gabinete de 23 de
março de 1841, chamou o sucessor de fogo Andrada um
calmo, Cândido José de Araújo Viana, futuro Visconde e
Marquês de Sapucaí, já Senador do Império.
Ministro, pela última vez em 1841, Araújo Viana —
assim grafava segundo nome patronímico — interveio em
pequeno sucesso característico da época. Devia o
património do Colégio aumento a récitas promovidas em
seu benefício pela Sociedade Dramática do Teatro de São
Januário, bandas da rua D. Manoel. Dirigiu-se o diretor da
referida Sociedade ao reitor Joaquim Caetano. Propôs para
a 5o representação em benefício do Colégio levar à cena
intitulada O Ambicioso ou O Ministro Demitido.
Declarava o diretor ao reitor ser esta a única peça
com brevidade capaz de subir à cena ou então qualquer
de sete peças já vistas cuja relação acompanhava o ofício
do diretor da Sociedade Dramática.
Intervindo o governo, atendendo a consulta do reitor,
respondeu-lhe Araújo Viana. Mandava Sua Majestade o
Imperador declarar-lhe que "a não ser possível representarse peça nova, visto a indicada não convir, havia por bem
permitir, por esta vez, a representação da intitulada Abade
de UEpée.
Conteria O Ambicioso ou O Ministro Demitido
alusões a António Carlos exonerado? "Visto a indicação
1837 - 1937
não convir", diz o oficio de Araújo Viana a Joaquim Caetano,
a 3 de junho de 1841.
Provavelmente a peça Abade de VEpée exaltaria
serviço à humanidade prestado pelo sacerdote francês
fundador em Paris da escola dos surdos-mudos, a estes
permitindo, por sinais de convenção, comunicarem-se com
os semelhantes.
Em todo o caso se O Ambicioso ou O Ministro
Demitido falava demais, o Abade de 1'Épée, guia de surdosmudos, seria mais discreto.
Maior incómodo do que a censura teatral daria ao
Ministro Araújo Viana e ao reitor Joaquim Caetano, novo
tesoureiro do Colégio, suspenso de funções mal as
começava a desempenhar, substituído interinamente pelo
Dr. Silva Maia.
Intimado o funcionário a prestar imediatas contas
de gestão, Araújo Viana mandava pagar contas ao
professor de História, Justiniano José da Rocha, metade
das despesas pela tradução e impressão de compêndios.
Pouco antes havia o Ministro António Carlos
autorizado a adoção no Colégio de "Resumo de História
do Brasil" de Niemeyer Bellegarde e dos "Elementos de
Cronologia" do Senador José Saturnino da Costa Pereira.
Não bastava cultivar a inteligência do aluno, cumpria
robustecer-lhe o corpo. Daí a nomeação de Guilherme
Augusto de Taube para primeiro mestre de Ginástica do
Colégio. Por quatrocentos mil réis anuais robusteceria,
corrigindo falhas de calipedia.
Além de Taube, nomearia Araújo Viana novo
comissário do Governo para o Colégio, substituindo Soares
de Meirelles, chamado a outras funções. Em outubro de
1841 investia-se no cargo o Desembargador Rodrigo de
Souza da Silva Pontes, homem de luzes, caráter e probidade
jamais desmentidos em vida inteira. Magistrado,
parlamentar, presidente de três províncias , quando colhido
pela morte, em 1855, seria representante nosso
diplomático em Buenos Aires.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A 7 de dezembro de 1842, presidia Araújo Viana à
Em 1847, novo Ministro do Império, substituto de
solene distribuição de prémios aos alunos do Colégio. Dele
Araújo Viana, superintendeu o Colégio oficialmente, que o
se ausentava o professor de Filosofia, Domingos José
seu superintendente de coração se chamava D. Pedro II.
Gonçalves de Magalhães. Autorizava ausência da cadeira,
Para o Colégio os ministros passavam, o soberano, amigo
partida para o Rio Grande do Sul em c o m p a n h i a do
e patrono, permanecia, e ficou até o seu exílio.
Presidente da Província de São Pedro. Era este o Barão
Veio à Pasta do Império o Conselheiro de Estado
de Caxias a opor-se à luta farroupilha, guerra civil pelo
Silva Maia, no Gabinete de 20 de janeiro de 1843, Gabinete
Segundo Reinado da
Regência t r i s t e m e n t e herdada.
de São Sebastião, organizado no dia do padroeiro carioca,
Gonçalves de Magalhães já servira de secretário de Caxias
por Honório Hermeto Carneiro Leão, vindouro Marquês de
na repressão da Balaiada.
Paraná.
Casa.
Prestava o Governo a maior atenção à disciplina da
Na gestão ministerial de Silva Maia, em 1843,
Demonstrava-o o Decreto de 7 de novembro de
ocorreriam modificações no corpo docente do Colégio. Em
1842, referendado por Araújo Viana, revogando o artigo 135
dos Estatutos vigentes. Tais Estatutos, pelo citado artigo,
permitiam com a presença do Ministro, do Comissário do
Governo ou do reitor, reunião em banquete, dos alunos
contemplados com recompensas, livros, coroas de ramos
de café ou de flores. A distribuição de prémios, seguir-seia o banquete aos alunos distinguidos.
Entre os jovens
uniformizados, de casaca e calça verde e chapéu alto de
pelo, houve quem se excedesse por atos e palavras, talvez
procurando demais conhecer a exatidão do "in vino
veritas".
Não concordou o Governo com a pesquisa, suprimiu
março o Barão de Planitz era designado para a cadeira de
Geografia Descritiva e História; em julho frei Rodrigo de
São José, vice-reitor, nomeado professor de Religião, em
agosto o Cónego honorário Sebastião Pinto do Rego, futuro
Bispo de São Paulo, provido no cargo de Capelão do
Colégio. Deste se despedia o mestre de ginástica Guilherme
LuizdeTaube.
Continuava Joaquim Caetano na reitoria, a esta
anexada então, o que o Aviso de 3 de abril de 1843
chamava
concessão
do
sustento.
Residindo
e
alimentando-se no Colégio, Joaquim Caetano, em agosto
o banquete "por não ser acompanhado de vantagem
de 1843, foi chamado a providenciar para a realização de
alguma, mas antes de graves inconvenientes", declarava
festa extra-escolar na Casa sob sua digna direção.
o ministro Araújo Viana ao reitor Joaquim Caetano.
A 9 de setembro de 1843, à Sala Nobre — dizia-se
O Colégio não podia, entendia-se no alto, viver sem
então grande — do Colégio acolhia seleto auditório para
austeridade. Não costuma esta presidir banquetes nos
sessão instaladora do Instituto dos Advogados do Rio de
quais não raro inteligências se anuviam e línguas por
Janeiro.
demais se soltam.
Nem os alunos ficaram sem festa em 1843.
O
Estabelecimento de tradição honrosa, o Colégio
Ministro Silva Maia autorizou o reitor a conceder-lhes férias
participava do empenho do Governo em moralizar-lhe os
extraordinárias, tanto mais gostosas quanto inesperadas.
exames. Assim, para presidi-los especialmente convidava
Férias no decurso do ano letivo? A razão era grata
pessoa das mais notórias do Império, Fernandes Pinheiro,
sobre nupcial: — o casamento de D. Pedro II e D. Thereza
Visconde de São Leopoldo. Era personagem já tanto em
Christina.
história pátria quanto nos fastos da instrução pública
Não se acharam os alunos do Pedro Segundo
nacional, referendador do Decreto de 1827 instituindo
privados de participar do regozijo público pelo fausto
Cursos Jurídicos em São Paulo e Olinda.
sucesso conjugalmente assegurador de dinastia.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
A terceira Imperatriz do Brasil chegou de Nápoles a
3 de setembro de 1843, desembarcando no Valongo, zona
carioca entre Gamboa e Saúde, assim conhecida do período
colonial ao início do Segundo Reinado, nome ainda hoje
lembrado por uma ladeira em morro na citada zona.
Para entrar no Rio de Janeiro passou a nova
Imperatriz, nascida no ano de nossa independência, pela
Rua do Valongo, depois da Imperatriz em honra da soberana
e hoje Camerino. Os alunos do Colégio podiam ver pois
de casa a primeira festa, a do desembarque.
Seguiram-se para eles e para todos, outras
manifestações de regozijo, entre elas numerosos bailes já
oficiais, já familiares.
Cessados os festejos, outra vez vieram os alunos
do Pedro Segundo a aulas e sabatinas precedendo exames
sob a inspeção do Ministro do Império de havia pouco,
Araújo Viana, nomeado Comissário de Governo a 6 de
novembro.
No exercício do cargo teria ensejo de aplicar Araújo
Viana providência sua quando governo.
Todo e qualquer aluno chamado a exame deveria
prestá-lo no dia marcado. Para evitar repetição de recusa,
Araújo Viana, então Ministro, declarara ao reitor haver o
Imperador determinado que se algum aluno se abstivesse
de provas em dia para elas fixado "fosse considerado com
o ano perdido, como se tivesse sido reprovado". Salvo se
alegasse e provasse "que para tal procedimento houvesse
causa convincentemente j u s t i f i c a d a " .
Dada a
circunstância poderia ser admitido, por ordem do governo,
a exame na abertura das aulas do ano letivo seguinte.
Findos os exames em 1843, o Colégio preparou-se
para a solenidade habitual da distribuição de prémios, desta
vez realçada com a primeira colação de grau de bacharel
em letras. Na véspera do ato Silva Maia expediu decreto
a ele relativo.
Ouvido o Conselho de Estado, o Ministro referendou
o Decreto de 20 de dezembro de 1843, dizendo respeito à
colação do grau de bacharel em letras e respectiva
1837 - 1937
expedição de diplomas. Pela carta de lei de 30 de agosto
de 1843, já bastava apresentação de diploma do Colégio
para matricula imediata nas academias do Império.
Segundo o Decreto Silva Maia o bacharel em letras
prestaria juramento sobre os Santos Evangelhos, ligados
a Igreja e Estado, nem sempre em paz, o espiritual
incomodado pelo temporal e vice-versa.
Devia o bacharel, por juramento, respeitar e defender
constantemente instituições pátrias, concorrendo, quanto
possível para a prosperidade do Império, satisfazendo com
lealdade as obrigações a ele incumbidas.
Após o juramento, o Ministro do Império ou o
Comissário do Governo imporia ao bacharel barrete branco
franjado, proferindo solenemente estas palavras: — "Douvos o grau de bacharel em letras, que espero honreis
sempre tanto como o haveis sabido merecer".
Em ato solene ou não recebia diploma o novo
bacharel, diploma em pergaminho, subscrito pelo Ministro
do Império, pelo reitor e pelo vice-reitor.
Na segunda-feira 21 de dezembro de 1843, o Colégio
de Pedro Segundo engalanou-se para a cerimónia, o da
estreia da colação de grau à primeira turma de bacharéis,
cerimónia honrada com a presença do Imperador.
De acordo com os estatutos, deu princípio à
solenidade, obtida vénia imperial, o professor de Retórica,
Dr. Santiago Nunes Ribeiro, lendo discurso de cunho
filosófico, desejando demonstrar a necessidade de unir
religião à mocidade para esta produzir bons frutos.
Ao discurso de Santiago Ribeiro seguiu-se a
distribuição de prémios. Aos primeiros premiados dignouse D. Pedro II entregar recompensas, os demais atendidos
pelo reitor, com expressões de benignidade. A Sala Grande
da Casa, senão a maior do Brasil, estava repleta de público.
Dele boa parte, por má colocação de cadeiras, ficou privada
de presenciar o ato da colação e o cortejo dos alunos
premiados.
Ao cortejo seguiu-se a colação de grau conferido
aos seguintes alunos: — Agostinho Marques Perdigão
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Malheiro, de Minas Gerais, António Manoel Loureiro, da
província do Rio de Janeiro, Carlos Arthur Busch Varella,
do Município Neutro; Francisco de Salles Rosa, Joaquim
Fernandes da Silva, José Carlos de Almeida Arêas,
também da citada província, José Alexandrino Dias de
Moura, de Matto Grosso, Paulino de Souza Brito, de
Moçambique.
Finda a colação de grau o bacharel Busch Varella
leu discurso de agradecimento e despedida, a produzir no
auditório grata impressão.
"Este pequeno trabalho que foi ouvido com muita
atenção, causou no auditório bastante abalo, tanto pelo
garbo e entusiasmo com que foi recitado, como pelas flores
de retórica de que se achava adornado".
Disse-o Joaquim Manoel de Macedo, nas páginas
da Minerva Brasiliense, acrescentando: — "A criação e
existência do Colégio de Pedro Segundo é um dos
a c o n t e c i m e n t o s que mais honram aos nossos
contemporâneos; é o feito que mais deve concorrer para
o progresso e orgulho das letras Brasileiras".
Alguns dos novos bacharéis haviam participado da
primeira distribuição de prémios no Colégio a 13 de
dezembro de 1838. Pela primeira vez assistira também o
Rio de Janeiro a solenidade do género em estabelecimento
nacional, "esplêndida e aparatosa cerimónia quanto podia
ser", registrou-a imprensa da época , em sala ricamente
adornada, dossel e estrados preparados para o Jovem D.
Pedro e o Regente Araújo Lima, tendo aos lados os
Ministros e grande número de pessoas gradas. A
solenidade da primeira distribuição de prémios do Colégio
tivera novidade e importância alvoroçando alunos
premiados, incitando colegas a merecerem recompensas
idênticas entre alegrias de família. A solenidade da primeira
colação de grau de bacharéis em letras também novidade,
subia de importância. Dignificava jovens que, uns mais,
outros menos, teriam elevação social, destacados,
sobretudo. Perdigão Malheiro, o jurisconsulto, Busch
Varella, o grande orador forense, Arêas o diplomata,
quarenta e seis anos depois do seu bacharelado em letras
Visconde de Ourém. A Busch Varella reservava o destino
a dita de celebrar, em discurso e ato solene, o jubileu do
Colégio, substituída pelas cãs a alvura passageira do
barrete imposto ao jovem bacharel de 1843.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 -1937
IV
O Colégio de 1844 a 1851
Solicitude de D. Pedro II para com o Colégio • Vigilância do Governo • Pequenos
Sucessos e Curiosas Providências • Joaquim Caetano e Frei Rodrigo de São José •
Retirada de Joaquim Caetano.
ESCBAGNOLLE DÓRIA
Em
1844, entrava o Colégio em sétimo ano de labor.
Dezenove anos de idade contava o dele augusto
patrono. Começava já a mostrar Bernardo de Vasconcellos
profético no discurso de inauguração do Colégio. "O culto
das letras e das ciências seria um dos principais títulos
de glória de seu reinado" afirmara o estadista. Em 1844,
principiava D. Pedro II a ter por sacrário de tal culto o
Colégio sob sua proteção e seu nome.
A solicitude do amigo do Colégio só cresceria com
o tempo que tanto diminui ou suprime cuidados. Obrigavase o Ministro do Império, fosse qual fosse, a zelar pelo
Colégio, mesmo quando pessoalmente lhe não merecesse
especial atenção.
Assim reinando no Rio de Janeiro a escarlatina,
deliberara o facultativo do Colégio aplicar a alunos internos
a tintura de beladona, como preservativo. Logo veio ofício
do Ministro ao reitor Joaquim Caetano, aliás médico,
advertindo-o de não fazer uso da tintura, "convindo que
fosse mais geralmente experimentado e aprovado o
indicado preservativo, para que com prudência e segurança
fosse admitido no Colégio".
Não era de rosas o cargo de reitor, mesmo exercido
por homem qual Joaquim Caetano. Representando certa
vez o administrador da Tipographia Nacional contra o
costume de algumas Repartições Públicas mandarem
imprimir papéis de expediente em tipografia particular, com
grave prejuízo da Fazenda Nacional, houve então por bem
Sua Majestade o Imperador que o reitor do Colégio fizesse
imprimir naquela Tipographia tudo quanto pertencesse ao
expediente do estabelecimento a seu cargo.
Quando o Ministro do Império autorizava despesas
recomendava logo ao reitor parcimônia nos gastos. "Haja
a maior economia", dizia o Secretário do Estado a propósito
da iluminação do Colégio em noites de festa oficial.
Nem sempre corriam amenas as relações entre
ministro e reitor, não hesitando aquele em censurar este.
Havendo Joaquim Caetano despedido um servidor modesto
do Colégio, o despenseiro Manoel Pereira, em funções
desde 1838, foi ele queixar-se ao ministro. "Não me
havendo V. Mce. — dizia o ministro ao reitor — participado
este seu ato com razões que o compeliram a praticá-lo;
ocorrendo além disto o parecer tal ato contraditório, e
infundado, pois que na mesma ocasião em que V. Mce.
despede aquele empregado dessa casa lhe passa uma
Atestação em que afirma ter ele servido sempre muito
bem a todos os respeitos: manda Sua Majestade o
Imperador que V. Mce. informe circunstanciadamente sobre
este objeto, para se resolver como for conveniente".
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Tendo informado o reitor, mandou-lhe declarar o
Governo, sempre falando em o nome imperial, que embora
usasse o reitor da faculdade de demitir serventes
contratados do Colégio devia ficar em inteligência que uma
vez contratados tais serventes entravam no número dos
empregados da Casa e pois só podiam ser demitidos por
faltas ou transgressões cometidas.
"Estando, acrescentava o ministro, o Colégio
debaixo da imediata Inspeção do Ministro e Secretário de
Estado dos Negócios do Império, e devendo-lhe por isso
ser presente tudo quanto é relativo à disciplina, estudo, e
estado moral do mesmo Colégio, como à sua
administração em geral, preciso que o Reitor lhe
participasse o que ocorresse a respeito de tais objetos".
A respeito do atestado passado ao despenseiro
demitido o ministro censurava o reitor, em termos
energicamente corteses que não deviam ter doído pouco
ao subordinado ilustre.
A vigilância do governo, tanto a censurar o forte
como a ouvir o fraco, não escapava à equidade. O Ministro
do Império, Almeida Torres, organizador do Gabinete Liberal
de 2 de fevereiro de 1844 e sucessor do Ministro Silva
Maia, mandara oficialmente de modo especial, fossem
fornecidos alimentos ao vice-reitor, frei Rodrigo de São
José. "Por suas enfermidades e em razão das ocupações
dos seus lugares, não podia e não convinha que o vicereitor tomasse os seus alimentos no refeitório. Deviam
estes ser mandados ao seu cubículo não em géneros, mas
preparados da mesma maneira por que iam para o refeitório
na quantidade razoavelmente conveniente para a frugal
sustentação de uma pessoa".
Frei Rodrigo, monge beneditino, não devia estranhar
nem "cubículo, nem frugal sustentação", tudo na
observância do regime de sua ordem.
Mais ainda, sempre em atenção ao grande e ao
pequeno, ordenava o Ministro Almeida Torres que "se
continuasse o alimento como até então ao aluno José
Teixeira de Souza".
1837- 1937
Ao reitor prestava o ministro contas do favor que
dispensava àquele jovem "atentas as circunstâncias da
longitude em que morava sua família, e da pobreza dele,
além das circunstâncias do bom comportamento e da
aplicação do aluno". Favor justo é exemplo sobre estímulo.
Nem deixava o Ministro Almeida Torres de atender
ao requerimento de Joaquim Peixoto, índio da Aldeia de
São Pedro, pedindo admissão do filho de nome Joaquim
como aluno interno gratuito do Colégio.
A petição do índio fluminense, das cercanias de
Cabo Frio, apresenta-se sugestiva. Longe já havia chegado
o renome do Colégio.
Em 1844, também recebia o reitor, para informar, o
requerimento do major Manoel Mendes da Fonseca pedindo
fossem admitidos no Colégio, como alunos gratuitos
externos, quatro dos seus filhos. O major Fonseca era pai
de Deodoro, este em 1844 aluno da Escola Militar. Os filhos
para os quais o major Fonseca pedia gratuidade de
matrícula eram Pedro Paulino, na República governador
de Alagoas e Senador federal por esse Estado; Hypólito
Mendes da Fonseca, capitão do exército; Eduardo Emiliano
da Fonseca, major do exército, mortos ambos na guerra
do Paraguai e João Severiano da Fonseca, médico, futuro
chefe do Corpo de Saúde do Exército.
Às vezes, em nome do ministro dirigia-se ao reitor
o oficial-maior da Secretaria do Império então na Rua da
Guarda Velha, hoje 13 de Maio, António José de Paiva
Guedes de Andrade, poeta elegante, tradutor fiel de
clássicos latinos c de não terminada versão da Jerusalém
de Tasso.
Por ofício, solicitava Guedes Andrade a Joaquim
Caetano informação sobre a maneira de contar faltas aos
professores do Colégio. Convinha não mais fosse enviado
à Secretaria simples extrato, um mapa circunstanciado
das faltas, "de forma que se conhecesse se o Professor
faltava logo à primeira das lições ou a qual delas".
Grande era a preocupação do Governo quanto às
faltas dos professores. Assim o Ministro Almeida Torres
ESCRAGNOLLE DÓRIA
se julgava na obrigação de justificar ao reitor, o motivo de
certas faltas de seus administrados.
Dizia-lhe por exemplo, no Aviso de 11 de abril de
1844 que "tendo sido designados os professores do Colégio
Carlos Roberto, Barão de Planitz e Francisco Maria Piquet
para servirem de examinadores da língua francesa no
concurso dos opositores à Cadeira da língua no dia 18 do
corrente, e não podendo por isso comparecerem nesse
dia para dar aulas aos seus alunos, fazia isto chegar ao
conhecimento do reitor".
Incessantes e de minudente ordem eram as
providências do governo com relação ao Colégio. Delas a
variedade testemunha quanto os poderes públicos se
interessavam pela sorte e boa marcha do estabelecimento,
procurando acertar, deferindo ou indeferindo pretensões.
Mandava o Ministro do Império, à vista de
representação do interessado e de informação do reitor,
restituir ao recém-bacharel Reginaldo Netto Caldeira a
quantia de 25S000 por ele pagos ao Tesouro Público do
selo da respectiva carta. As despesas com os diplomas
dos bacharéis em letras alunos gratuitos do Colégio —
acrescentava o ministro — deviam ser feitas por conta
dos cofres do estabelecimento.
Por outro lado tendo conhecimento da nomeação,
embora a título interino, de um inspetor dos internos do
Colégio, o Governo cientificara ao reitor não confirmar tal
nomeação. E por quê? Fora o Ministro Almeida Torres
informado de haver sido o mesmo inspetor despedido do
noviciado do Convento do Carmo da Corte, por
irregularidade de comportamento. Declarava o Governo
ao reitor que "não podendo ser confirmada a nomeação,
fazia-se por isso desnecessário continuar o inspetor a servir
cargo interino para se conhecer da sua capacidade e
morigeração".
Mais significativo ainda é o ofício do Ministro
Almeida Torres, oficio registrado no Colégio sob n.° 788 e
expedido a 11 de setembro de 1845. Declara o ministro
ao reitor que "ficava Sua Majestade o Imperador inteirado
pela leitura do ofício do reitor, de haver sido entregue a
correspondente na corte, em presença do desembargador
Chefe de Polícia, um ex-aluno do Colégio, afim de embarcar
na escuna Ligeira com destino ao Rio Grande".
Nem se podiam queixar alunos de objeto único de
advertências em punições. Presentes ao Imperador, por
intermédio do Ministro do Império, os mapas das faltas
dos professores no trimestre de fevereiro a abril de 1845,
ordenava Sua Majestade que o reitor estranhasse àqueles
professores a falta de cumprimento de deveres.
Deixando Almeida Torres a Pasta do Império foi nela
substituído pelo deputado Joaquim Marcelino de Brito,
membro do Gabinete Liberal de 2 de maio de 1846,
organizado pelo senador Hollanda Cavalcanti.
Entre as punições infligidas aos alunos do Colégio
figurava a pena de reclusão em quarto preparado para tal
fim. Conheciam-no os alunos pelo nome de cafua.
Declarava o Ministro Marcelino de Brito ao reitor constar
na Augusta Presença de Sua Majestade o Imperador que
o quarto para reclusão dos alunos do colégio, por faltas
merecedoras de tal castigo, era inteiramente impróprio
para semelhante uso, tanto pela insuficiência da
capacidade dele como pela falta de luz e de circulação do
ar e pela prejudicial proximidade do lugar dos despejos do
Colégio. Assim mandava o Imperador, em nome de quem
falavam sempre os ministros do Império, que, com
urgência, se preparasse outro local sem as inconveniências
apontadas.
Certo não seria a cafua, mesmo melhorada, do
agrado dos alunos punidos. Mas quanto a todos, gratos
pareceria o aviso ministerial aprovando a prática de serem
feriados no Colégio, além dos dias marcados nos Estatutos,
a 2a e a 3a feira do Entrudo. Do Entrudo e não do Carnaval,
o segundo nascido bastante depois no Rio de Janeiro, em
1854.
Ao Entrudo deviam os alunos do Colégio férias
extraordinárias a serem aproveitadas estúrdia e c
hidroterapicamente, com dano às vezes para saúde.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Segundo os Estatutos, férias grandes eram as de 2
de dezembro a 1o de fevereiro, data esta de início do ano
letivo, aquela do seu encerramento. Era permitido a
interinos passar férias no Colégio. Mas aí teriam 2 horas
de aula e 4 de estudo, aulas às quais podiam comparecer
externos, remunerados os professores com gratificação
especial. Além de aulas e horas de estudo, os alunos de
férias no Colégio dariam passeios longos e instrutivos,
sobretudo úteis ao ensino da História Natural.
Além das férias grandes e do Entrudo lá vez ou outra
surgiam imprevistos feriados. Gozaram os alunos do
Colégio três dias de sueto por ocasião do batizado do
Príncipe imperial D. Afonso, nascido na Corte a 23 de
fevereiro de 1845, primogénito de D. Pedro II, e D.Thereza
Christina. A botão de flor mal despontada fenecida,
passava o príncipe pela vida, desaparecido infante, em
junho de 1847, com mágoa natural sobre dinástica dos
pais ao entregarem à morte filho e sucessor, esperança
de lar e de nação.
De 1844 a 1845 conheceu o Colégio duas figuras
novas, no corpo docente e no administrativo. Em 1844 o
professor de Inglês, Diogo Maze, declarava ao Governo
não lhe convir mais lecionar por quinhentos mil réis anuais.
Aceitou-lhe o Governo a demissão e designou-lhe
substituto, interino, José Luiz Alves, já professor público
de língua inglesa, efetivado no princípio de 1844. Na época
recebia a cadeira de Francês professor substituto, o Dr.
Fernando Francisco Lessa, já secretário do Colégio, ao qual
se proporcionava novo tesoureiro, Firmino José Soares da
Nóbrega.
Diogo Maze deixara o Colégio por insuficiência de
remuneração, na tabela de estudos, fixada desde 1841,
figurando o ensino de Inglês, do 2o ao 7o ano, e Francês
ensinado do 1o ao 7o ano.
Módicas as retribuições dos professores, em época
de moeda valorizada e vida fácil, não eram também
elevadas as contribuições dos alunos. Pagavam os
externos 24S000 trimestrais, só recebendo instrução; os
1837 - 1937
internos contribuíam com 100$000 trimestrais a troco do
ensino, alimentação e asseio, enxoval à custa dos pais
ou representantes. Caso da manutenção do enxoval, pela
lavagem e costura, se incumbissem os pais ou
responsáveis dos internos só deviam satisfazer o
pagamento anual de 300$000.
A admissão no Colégio era precedida de exame do
candidato por professor designado pelo reitor. Joaquim
Caetano costumava lançar despacho nos requerimentos
pedindo admissão, incumbindo o dito professor não só de
examinar como de classificar o pretendente, subscrevendo
o despacho com um bem conhecido Dr. Sa. R. (Doutor
Silva Reitor).
O professor designado aprovava ou não o candidato,
no primeiro caso designando-lhe ano de estudos conforme
capacidade revelada no exame vestibular.
Prestigiando sempre examinadores, mandava o reitor
fosse o candidato matriculado no ano designado pelo juiz
da admissão. Levava escrúpulo o reitor a ponto de lançar
no requerimento de admissão notas como esta em relação
a matriculados:
"Entrou como interno com o ónus do vestuário em
1o de junho de 1845, às 5 da tarde. Dr. Sa. R.".
Reitor e vice-reitor, Joaquim Caetano e frei Rodrigo
de São José, dividiam encargos da direção do Colégio.
Joaquim Caetano, sempre metido entre livros, ocupavase mais das relações administrativas da casa com o
Governo, relações nem sempre amenas, afora obrigações
de lente de Grego.
Frei Rodrigo de São José, o vice-reitor, zelava a
disciplina. Frade, só Deus e ele sabiam quão difícil é manter
ordem em casa de moços e meninos, assegurando-a entre
severidade e jeito, conforme ocorrências.
Os alunos viam mais frei Rodrigo que Joaquim
Caetano. A cultura clássica do vice-reitor porém não
destoava junto a do doutíssimo reitor. Frei Rodrigo, baiano
do arraial de São Pedro de Muritiba, município de Cachoeira,
era por sua vez um erudito. Amigo dos livros ainda mais
ESCRAGNOLLE DÓRIA
se lhes afeiçoara depois de muitos desgostos como abade
de S. Bento, no mosteiro da Corte.
Poliglota, filósofo, dedicou-se à musa e manejava a
latina com amor, abeberado de lição humanística, adjecto
a outras muitas lições de variados conhecimentos
humanos.
Dele disse professor do Colégio, Paula Menezes:
" Entusiasta da poesia latina, lia Horácio por gosto, e quase
por costume, e no seu género escreveu ele inúmeras odes
da mais acabada perfeição. Excelente poeta, feliz em tudo
quanto escrevia, cultivou a sátira, e o espírito fino e os
delicados conceitos da maior parte de suas poesias
deixam sentir o fundo de moralidade do coração de quem
as traçou. Inflamado do Espírito de David, imitou psalmos
e neste estilo nos deixou bem feitas traduções.
Frei Rodrigo foi um homem póstumo, pode-se assim
dizer: e condenado pela timidez de seu caráter a fugir da
sociedade, sepultava no fundo de uma gaveta todos os
seus preciosos trabalhos, que dificilmente mostrava aos
mais íntimos dos seus amigos".
A timidez de caráter de frei Rodrigo, assinalada por
Paula Menezes, deve ser interpretada simplesmente em
relação à sociedade. Nesta o monge não se comprazia,
sem dúvida conhecendo o fundo falso de tantos caracteres
humanos de sedutoras aparências.
Na vice-reitoria do Colégio a ação de frei Rodrigo
mostrava-se enérgica e severa. O próprio Paula Menezes
encarregou-se de prová-la. Disse do frei: "Alma cândida,
coração sincero, vontade de ferro, juntava a este montão
de qualidades superiores, uma modéstia que, degenerando
em timidez, punha em conflito quotidianamente sua
reputação com este desejo inqualificável de fugir a toda
publicidade".
Joaquim Caetano e frei Rodrigo, completando-se na
ilustração, estavam nas condições de tomar parte na
fiscalização do ensino do Colégio cujo proveito os exames
evidenciavam.
Assim os setimanistas de 1844, na seção de línguas
vivas e mortas, podiam ter das mesmas suficiente
conhecimento. Piquet, o professor de Francês, exigia a
bacharelandos a tradução dos melhores passos do teatro
clássico do século XVII já na "Athalia" de furores no verso
de Racine, já no "Misanthropo", de rir amargo em Molière.
Qualquer dos componentes da segunda e reduzida
turma de bacharéis em letras, a de 1844, formada apenas
por 5 sétimoanistas, devia mostrar-se habilitado no último
ano do curso. Passaria a vernáculo alguns 400 primeiros
versos do canto 1 o do "Paraíso Perdido", enquanto
Medeiros Gomes, o professor de Latim, lhes exigia
interpretação sem silabadas das odes e sátiras de Horácio,
o amigo de Augusto, o protegido de Mecenas, o poeta a
dar glória a ambos junto a renovados vindouros.
Joaquim Caetano pedia ao setimoanista de 1844 a
tradução do Canto 1 ° da "Miada" onde Homero, por conta
própria ou resumindo dados, situou vingança grega contra
Tróia.
Desembaraçados de exames, aos setimanistas de
1844 — entre eles José Teixeira de Souza - o aluno
beneficiado quanto ao sustento por aviso de 22 de março
de 1844, restava esperar a distribuição de prémios e a
colação de grau.
No momento de imposição do barrete branco, ante
numerosa e seleta assistência, o olhar de cada bacharel
nela buscava de preferência os seus, jubilosos com ele.
Primeira figura do auditório havia de ser o imperador, já
esposo em verdes anos, já primeiro magistrado de Império
imenso, já encarregado da tríplice responsabilidade perante
a consciência junto ao presente da nação, ante o futuro da
História.
Não sem humana pontinha de inveja, nas
solenidades de grau, acompanhariam condiscípulos a
partida dos novos bacharéis em letras, consolados os 6o
anistas pela proximidade da ventura. Nas escolas, de
grau em grau do ensino, os alunos contam os dias que os
avizinham de diplomas, ansiando pela vida prática, de
tantos meses de labuta e anos nas decepções, na virilidade
ou na velhice tornados saudosos os dias da adolescência.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Sempre sob a direção reitoral e vice-reitoral de
Joaquim Caetano e frei Rodrigo abriu-se no Colégio o ano
letivo de 1845.
Inauguração de ano letivo trazia à casa
mais juventudes, mormente para o 1 ° ano do curso. Alguns
jovens, por exceção, mediante exame, matriculavam-se
logo em anos a d i a n t a d o s .
A ousadia e o s u c e s s o
impressionavam pela raridade.
Em 1845 e s t u d a v a m e b r i l h a v a m nas aulas e
recreios do Colégio adolescentes que, não muitos anos
depois, ocupariam no Império altas posições em várias
carreiras.
Contraíam nos bancos escolares amizades
duradouras vida inteira pela lembrança de felizes dias na
alegria e na despreocupação.
Teixeira Júnior, Eduardo de Andrade Pinto, Castrioto,
Costa Pereira Júnior, não adivinhavam ainda, sob fardetas
colegiais, a farda bordada de Ministros de Estado. Eduardo
Callado não pressentia carreira de diplomata e de ministro
p l e n i p o t e n c i á r i o , n e m o irmão Dário a sina do seu
desaparecimento misterioso, inesperado, como chefe de
polícia da Corte. Anastácio do Bonsuccesso não cogitava
em tomar-se um dos nossos raros fabulistas.
Na época o estro já alvorecia em rapazola que
entrado no Colégio como veterano, escapou ao calourado,
quase sempre de ingratas recordações morais quando não
físicas pelo sarcasmo ou brutalidade dos mais adiantados.
Chamava-se o rapazola Manoel António Álvares de
Azevedo. Nascido em São Paulo, a 12 de setembro de
1831, matriculava-se como aluno interno a 2 de junho de
1845, c o m 14 anos por fazer.
Prestadas provas de
habilitação entrou logo Álvares de Azevedo para o 5 o ano
do curso de bacharelado.
Outro matriculado, Honório Hermeto Carneiro Leão
Filho, imitou-o, classificado porém no 4 o ano.
Ingressaram ambos no Colégio com a obrigação de
estudar mais que os outros colegas, pois começaram a
1837- 1937
aplicação em onze aulas, em disciplinas variadas, da
s i n t a x e latina exigida por Falletti aos s u s t e n i d o s e
bequadros de mestre Luz Pinto, do dizer história de Planitz
ao explicar ciências naturais do Dr. Silva Maia.
Em 1917, no Anuário do Colégio, foi minuciosamente
recordada, por professor da casa, a vida escolar de Álvares
de Azevedo.
Já por certa altivez, já pelo pendor para a caricatura,
Álvares de Azevedo sofreu bastante. Provou a cafua
colegial. Os chefes da disciplina reconhecendo que não
quebravam génio, nem lápis, por fim o deixaram em paz.
A saúde s e m p r e débil de Álvares de A z e v e d o não
consentia, sem maldade, castigos rigorosos.
Naturalmente o alvo principal das caricaturas de
Álvares de Azevedo foram os inspetores. Em todos os
colégios do mundo inspetores e alunos nem sempre se
entrestimam.
Em França, a gíria colegial atribui a inspetores de
alunos a alcunha de pion. Quando, porém, o tempo já
envelheceu os antigos alunos outrora lourinhos, voltamse eles para as reminiscências de antanho e estas nas
s o m b r a s d i v i s a m p r o f e s s o r e s e i n s p e t o r e s já s e m
exigências ou impertinências.
Todo glória, Edmond Rostand, lembrando colégio,
recordou antigos inspetores , consagrou versos àquele que
a irreverência juvenil alcunhava de Pif Luisant — Vieux
pion qu'on railluit, ô si doux philosophe.
Pif Luisant escrevia versos. Também os fazia
Rostand, ambos às escondidas, cada qual na sua idade e
posição.
Revelaram-se mutuamente, o inspetor encontrando
versos na carteira do inspecionado.
Célebre do dia para a noite, pelo Cyrano de Bergerac,
Rostand pensava no antigo inspetor do colégio de província.
Dedicou-lhe longa poesia, Le Vieux Pion, dizendo:
frequentar aulas em junho em ano letivo começado em
Pif Luisant je t'aimais.
fevereiro.
En repensant à toi.
A 5 a série do curso de bacharelado em letras não
era, como se dizia na gíria escolar, "brincadeira". Pedia
Quelque fois je suis triste
Qu'es tu donc devenu?
Cest toi qui m 'as prédit que je será is artiste
E c'est toi le premier rimeur que j'ai connu.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Célebre, Rostand indagava de si próprio porque
cargas de sorte o inspetor poeta fora ter ao colégio de
província. E na longa poesia, "Le Vieux Pion", disse ao
desaparecido toda sua saudade.
Não encontrou Álvares de Azevedo um rimador entre
os inspetores do Colégio em 1845. Três tinham os internos,
um os externos, aqueles distribuídos por divisões, de
maiores, médios e menores.
Os inspetores, à parte relações e quizílias com
certos alunos, eram pessoas estimáveis, aturando muito.
Alguns inspetores até se recomendavam por instrução
superior ao cargo. José da Silva Pinheiro Freire, a princípio
inspetor, fora professor substituto interino de Português e
Latim na reitoria do Bispo de Anemúria.
Desde tal reitoria, rapidamente firmara opinião
pública honroso conceito do Colégio, de estreia prestigiada
pelo Imperador e pelo Governo avantajava-se por isto a
quantos estabelecimentos de instrução secundária contava
a Corte. Não eram poucos na época, tanto para instrução
do sexo masculino como do feminino, sem nenhuma
tentativa de coeducação.
Acreditado o Colégio via-se alvo de doações, em
moeda, ou de outras espécies. No último trimestre de
1845, de transporte para o ano seguinte, donativos no valor
de 3:320$000 tinham sido entregues ao tesoureiro Firmo
José da Nóbrega para aumento do património.
No mesmo trimestre foi a receita de 24:844$822, a
despesa de 10:373$256, com saldo de 14:471$556.
Permitia a folga orçamentária certas larguezas de
administração qual a proposta de criação do cargo de
preparador de Química, largueza de 200S000 anuais de
ordenado.
Animava-se então o coronel Frederico Hoppe, súdito
espanhol, entretanto de nome a indicar ascendência
germânica, a pedir nomeação para mestre de Ginástica
com o vencimento anual de 800S000.
Informava o reitor ao Governo sobre tal proposta que
dizia "de sumo proveito por se encontrar o Colégio havia
quatro anos sem possibilidade de achar mestre daquela
arte". Anuiu o Governo e Hoppe começou funções de
setembro de 1846 em diante, preenchendo longa vacância,
substituindo Guilherme Augusto de Taube.
Não eram raras então as doações para o Colégio.
O Dr. Joaquim Vicente Torres Homem, pai do grande clínico
de igual nome, enriquecia a biblioteca do Colégio com a
oferta de 34 volumes de Walter Scott, as obras do
romancista escocês traduzidas em alemão.
Entre as ofertas ao Colégio era de assinalar a do
professor Barão de Planitz oferecendo amostra lavrada de
mármores branco de Carrara em que se esculpiria estátua
de D. Pedro I.
Qualquer estabelecimento de ensino obedece
sempre ao mesmo ritmo de vida. Abre-se o ano letivo,
chegam à casa alunos antigos e novos, começam as aulas,
encerram-se, realizam-se exames, graduam-se os
terminantes de curso, premiam-se quantos mais se
distinguiram, estimulando-os para maiores esforços a bem
do cultivo espiritual.
Cabeça do ensino secundário, o Colégio de Pedro
Segundo não podia fugir à regra geral, antes a pondo mais
de exemplo.
No fim do ano letivo de 1845, anunciava o Colégio
terceira colação de grau, bacharelando onze setimanistas,
um, João António Gonçalves da Silva, fadado a professor
da Casa. Começava o Colégio a encontrar para a regência
de cadeiras os próprios filhos espirituais, ufanos de o
serem.
A cerimónia de 1845, no salão grande da Casa,
trouxe a esta o imperador, a imperatriz e por conseguinte
após ambos o Rio de Janeiro de escol.
Era o dia da alegria no Colégio. Juncavam-no de
flores e folhas odoríferas fornecidas pelo Jardim Botânico
à requisição do reitor.
Vinham logo depois as férias, de transcorrer
aproveitado para limpeza geral e reparos mais urgentes
na Casa. Não podia ficar esta a mercê de incêndio,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
segurando-a o Governo como bem nacional, para a
operação escolhida a Companhia Argos Fluminense.
Assumia esta a responsabilidade de indenização de sinistro
pelo prémio anual de 411 $745, prémio a prazo, renovável
pelas partes.
Entrou em 1846 o Colégio em novo ano letivo sempre
debaixo das vistas do imperador, e superintendido naquele
ano pelo Ministro do Império, Conselheiro Marcelino de
Britto.
Atos oficiais presentes ao corpo legislativo ajudamnos a acompanhar progressos nas modificações do
Colégio.
Assim em 1846 o Ministro do Império, Conselheiro
Marcelino de Britto, dava contas administrativas aos
Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da
Nação e em relatório os informava quanto ao Colégio de
Pedro Segundo nos seguintes termos:
"No Colégio de Pedro Segundo tem continuado os
estudos com a costumada regularidade; cumpre-me nesta
ocasião chamar a vossa atenção para o pedido, que se
fez no antecedente relatório, de um legislativo que absolva
o Colégio da dívida em que está para com a Fazenda
Pública, proveniente da décima de prédios do mesmo
Colégio, e o isente para o futuro do lançamento do imposto
indicado.
Este Colégio foi ultimamente provido de uma boa
coleção de clássicos gregos, e de alguns produtos de
história natural; um chafariz ali construído lhe fornece a
água necessária para seu uso; havendo ele obtido em
prémios que tirou na décima sexta loteria do Teatro de
São Pedro de Alcântara a quantia de Rs. 18:440$000, foi
esta convertida em apólices da dívida pública, em cujo
produto se tornará menos sensível o decrescimento e
cessação de alguma de suas rendas. O reitor tem proposto
a conversão dos prédios que o Colégio possui em apólices
daquela dívida; mas o governo ainda não resolveu sobre
este objeto. O conserto da igreja é a obra de mais urgência
necessidade, e para ela conta o governo com o auxílio
1837 - 1937
que de vós solicitou no antecedente relatório. O ordenado
do tesoureiro foi elevado a 800S000, por decreto de 8 de
setembro do ano passado".
Bacharelaram-se, no fim do curso letivo de 1846,
cinco bacharéis, dois dos quais mais notáveis, um José
Carlos Pereira de Almeida Torres, fadado a professor do
Colégio, e José Pedro Werneck Ribeiro de Aguilar, da alta
representação nossa diplomática no estrangeiro.
Curiosa seria lista dos bacharéis em letras pelo
Colégio de serviços distribuídos de diversas classes
sociais nossas e diversos interesses pátrios.
Enquanto graduava jovens, continuava o Colégio a
firmar conceito na opinião pública, cujo favor e cujos
aplausos se evidenciavam já no crescer de matrículas, já
no ambicionar por parte de professores o ter assento no
corpo docente da instituição.
Eis a prova. Em 1847, cinco candidatos, por
concurso de títulos, pediam a cadeira de História e
Geografia Descritiva. Eram Francisco José Borges, o padre
Patrício Muniz, Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut,
Ludgero da Rocha Ferreira Lapa e João Baptista Calogeras.
Até então o ingresso no corpo docente fora feito
mediante livre nomeação do governo. O concurso de 1847
tornou-se no Colégio o primeiro indício de concurso,
embora de títulos, o governo imperial acostumado ao ad
libitum das designações desde 1838.
Qualquer dos candidatos de 1847 não era
desconhecido ou professor improvisado.
Francisco José Borges dirigia estabelecimentos de
educação, ensinava língua vernácula, História e Geografia
e gozava de conceito público.
O padre Patrício Muniz, ilhéu da Madeira, chegara
ao Brasil com oito anos de idade. Formara-se em letras
em Paris, em teologia em Roma, ali se ordenando
presbítero secular. Bom pregador, lia História Sagrada no
Seminário de São José.
Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut era médico,
baiano, com tirocínio de professor. Também médico,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ludgero da Rocha Ferreira Lapa, exercia o cargo de
bibliotecário da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Joáo Baptista Calogeras, grego de Corfu, tinha grande
trato de coisas de cátedra e ensino.
Dirigiram-se os cinco candidatos à cadeira de
História e Geografia do Colégio ao Ministro do Império de
1847, o Senador Alves Branco. Encaminhou este os
requerimentos ao reitor Joaquim Caetano pedindo-lhe
informações sobre o mérito dos requerentes.
Sempre foi e será de suma delicadeza pronunciarse em qualquer espécie de concurso da inteligência ou da
própria beleza. Haja vista a sentença de Paris no Monte
Ida, simples maçã aniquilando um povo.
Os escolhidos principiam indiferentes ao eleitor, os
excluídos a ele logo infensos. Não saberemos jamais o
que sucedeu a Joaquim Caetano. Sabemos certo ter
informado as petições dos candidatos à cadeira de História
e Geografia Descritiva.
Parece valer a pena, ao menos pelo inédito,
transcrição das informações do eminente reitor de 1847.
1o) Francisco José Borges — Sabe Francês. Não
tem estudos de História.
2o) Padre Patricio Muniz. É doutor em Teologia pela
Universidade de Roma e bacharel em letras pela Faculdade
de Paris; sabe Latim, Francês e Italiano. Esteve quatro
anos em Paris e dois em Roma. Não tem estudos
especiais de História.
3o) Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut é formado
em medicina pela Faculdade desta Corte; sabe Latim e
Francês, não tem estudos de História.
4o) Ludgero da Rocha Ferreira Lapa — É formado
em medicina pela Faculdade desta Corte; sabe Latim e
Francês; tem muito talento, mas não me consta que o
tenha empregado no estudo de História.
5o) João Baptista Calogeras — Possui bem as línguas
e as literaturas Grega, Latina, Francesa. Italiana e Inglesa;
é dotado de raro talento, de uma cabeça filosófica e grande
facilidade de elocução e tem se aplicado com muito mérito
e proveito ao estudo da História. Pelo que o considero
capaz de reger a cadeira com indisputável superioridade.
Esteve dois anos em Bolonha e nove em Paris.
O governo concordou com a preferência de Joaquim
Caetano pela cabeça filosófica. Foi Calogeras provido na
cadeira de História e Geografia Descritiva. Mas uma vez
se verificara que o Evangelho tinha razão, último tornado
primeiro. No 5o lugar da lista dos candidatos, Calogeras
saía vencedor.
Em 1847, como sempre, a vencidos em qualquer
prélio caberia exalar ou remoer queixas, por espaço de
quarenta e oito horas, alguns vida inteira.
Professor novo, Calogeras participava da cerimónia
da colação de grau de bacharel em letras em 1847. Mal
tivera tempo de lecionar à turma do 7o ano, sem dúvida
com a facilidade de elocução, reconhecida por Joaquim
Caetano.
Compunha-se a turma de 1847 de sete alunos, todos
destinados a futuro. A estrela da turma fulgia em Manoel
António Álvares de Azevedo. Deste o génio seria luz breve,
tanto quanto haviam de ser imortais seus versos, sua
posição nas letras patrícias.
Pela preeminência em literatura nacional merece
transcrição o seguinte documento inédito relativo à
admissão de Álvares de Azevedo ao Colégio. Não só lhe
atesta invulgar capacidade prematura como revela bastante
usos do estabelecimento na época, não se esquecendo
sequer o reitor, Dr. Joaquim Caetano da Silva, de notar a
hora de entrada do aluno admitido.
"limo. Sr. Reitor do Imperial Colégio de Pedro 2o.
Diz Ignacio Manoel Álvares DAzevedo residente na
cidade de Niterói na rua da Cadeia n.° 23, onde tem o seu
escritório de advocacia que desejando admitir no Colégio
o seu filho Manoel António Álvares dAzevedo, nascido na
cidade de São Paulo no dia 12 de agosto de 1831, do que
não pode agora apresentar a respectiva certidão, mas se
obriga a apresentar em um termo razoável, pretende que
V. S.a se digne mandar admiti-lo a exame a fim de que
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
sendo aprovado possa entrar no Colégio como aluno
interno, obrigando-se porém o suplicante a fornecer-lhe a
roupa necessária para seu vestuário por tanto.
R a V.S. seja servido deferir-lhe na forma requerida.
RR. Mcê.
Ignacio Manoel Álvares d'Azevedo
Despachos:
Peço ao Sr. Barão de Planitz queira examiná-lo e
classificá-lo. — Dr. Sa. R.
Aprovado para o quinto ano de estudos. — Rio de
Janeiro, 15 de maio de 1845.
Matricule-se no quinto ano — 15 de maio 45 — Dr.
Sa. R.
Tem boas cicatrizes de vacina e nenhum sinal de
doença contagiosa. Rio de Janeiro 1 de junho de 1845.
Dr. Maia
Entrou para o Colégio como interno com o ónus do
vestuário do quinto ano, em 2 de junho de 1845, ao meiodia.
Dr. Sa. R."
A colação de grau de 1847 daria ensejo a pedido de
providências ao Governo por parte da reitoria do Colégio,
no momento às ordens do vice-reitor frei Rodrigo de São
José.
Solicitava este ao Ministro do Império, Alves Branco,
medidas "que obstassem a continuação do escandaloso
abuso introduzido no Colégio de não comparecerem os
alunos com prémios ou menções honrosas ao ato solene
da distribuição de recompensas sem darem justificação
da falta".
Respondia Alves Branco ao vice-reitor, logo após o
ato solene de 1847. Explicou, em nome de Sua Majestade
o Imperador, que os Estatutos do Colégio exigiam a
presença dos premiados. Não ficava portanto dependente
do mero arbítrio o cumprimento da exigência. Mister se
fazia, pois, de futuro tornar público, com antecedência,
que na conformidade dos Estatutos os alunos quer
1837 - 1937
premiados, quer distinguidos com menção honrosa, eram
irremissivelmente obrigados a comparecer ao ato de
distribuição, a fim de serem proclamados e receberem os
prémios. O comparecimento pessoal constituía condição
essencial para a efetiva e real aquisição dos mesmos
prémios e honras, salvo provado impedimento legitimo e
reconhecido pelo Reitor do Colégio.
No fim do ano letivo de 1847 perdia o corpo docente
do Colégio o professor de Inglês, José Luiz Alves, falecido
na véspera do Natal daquele ano. Enfermara gravemente
outro professor, o de Retórica, Santiago Nunes Ribeiro,
substituído no impedimento pelo médico Dr. Francisco de
Paula Menezes.
O ano letivo de 1848 abriu-se com a falta de Santiago
Nunes Ribeiro, falecido a 21 de janeiro de 1848. Pertencia
Santiago ao grupo dos professores estrangeiros da Casa,
grupo renovado no decurso do tempo.
Santiago, chileno de origem, emigrara para o Rio de
Janeiro, com um tio frade. Morrendo este ficou o sobrinho
desvalido. A princípio caixeiro, depois taquígrafo, tornouse em seguida professor ilustrado, como Macedo disse
ser Santiago, excessivamente modesto, triste de rosto,
de voz muito débil, de timidez depressiva, mas de mérito
real e incontestável. Morreu ainda muito moço, "quem
passara na vida inteira, esperando, sofrendo e por isto
sempre infeliz". Era poeta, fundador e último redator da
celebrada revista literária do tempo, a "Minerva Brasileira".
O Ministro do Império Almeida Torres, Visconde de
Macaé, nomeou, para a vaga de Santiago Ribeiro, o Dr.
Paula Menezes, professor público de Retórica desde 1844,
portanto nada hóspede na cadeira lecionada a disciplina já
por ele, bem como Filosofia, professada no Colégio, a título
interino.
O princípio do ano letivo de 1848 foi quadra de
nomeações. Além de Paula Menezes entravam para o
corpo docente do Colégio, José Manoel Garcia Ximenes e
para o ensino da língua inglesa, Guilherme Fairfax Norris,
nomeado na mesma data de Paula Menezes, 17 de março
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de 1848 e o Dr. Joaquim Pinto Brasil, designado para reger
interinamente a cadeira de Filosofia a 15 de maio de 1848.
O Governo imperial nomeava e fiscalizava. A um
mestre do Colégio, à vista de representação do reitor
acusando-o de "ter constantemente faltado aos seus
deveres", o Ministro Visconde de Macaé repreendia a 14
de abril de 1848. Comunicava ao reitor que ao mestre
incriminado deveria ser "estranhado o irregular
procedimento, suspendendo-se-lhe pagamento do
ordenado, fazendo-lhe saber que seria demitido do
Emprego, no caso de reincidência".
No dia seguinte da reprimenda, o mesmo Ministro
Macaé aprovava a expulsão, sumária, ordenada pelo reitor,
de aluno externo do 4o ano, "visto ter ele obstinadamente
se recusado ao castigo de que não devia ser relevado".
A justiça do Governo não queria nem devia ter dois
pesos e duas medidas, recairia sobre grandes e pequenos
ou não seria justiça.
Quase trimestre esteve o mestre culposo fora do
cargo, nele reintegrado com a obrigação de dar aulas
dobradas. O perdão levava castigo. Nem era para admirar
a determinação. A minudência fiscalizadora do governo
baixava a conceder ao reitor permissão, à vista de razão
justa, para que aluno externo do 2o ano do Colégio nele
passasse o dia e jantasse. As concessões não iam a
granel, o alto queria saber como e a quem eram dadas.
Em 1908, desejoso de estudar a história do Colégio,
o professor Escragnolle Dória pedia informações ao antigo
Conselheiro de Estado, ex-Ministro da Marinha e da
Justiça, Manoel Duarte de Azevedo, irmão do professor
do Pedro Segundo Dr. Manuel Duarte Moreira de Azevedo.
Cursara o Conselheiro Duarte de Azevedo o Colégio
de 1848 a 1851, do 4o ao 7o ano, tendo tido, dizia ele, "a
felicidade de merecer o 1o prémio em todos os anos de
estudo", o que com ufania relembrava apesar "da carga
de 77 anos de idade".
"Nesse tempo — em 1848 — era o reitor o Dr.
Joaquim Caetano da Silva e vice-reitor o Revmo. frei
Rodrigo de São José, por sua energia e severidade o
verdadeiro diretor do Colégio"
E, reportando-se à meninice da ancianidade,
acrescentou epistolarmente o Conselheiro Duarte de
Azevedo menção de sucesso que lhe dizendo respeito não
é displicente para a história do Colégio.
"Releve-me uma nota de falta de modéstia que
lançará em conta das saudosas recordações de minha vida
de colégio, no 6o ano retardaram-me o exame, para que,
fosse feito em presença do Imperador, e fui dispensado
de fazer exame em várias matérias, porque os professores
declararam-se satisfeitos com o do ano, com exceção da
aula de Desenho, em que tinha o segundo lugar, havia
obtido o primeiro nos concursos mensais de todas as aulas.
Perdoe-me esta recordação".
Pouco mais de vinte anos depois, o sextanista de
1848, cujo exame fora retardado para ser realizado em
presença de Sua Majestade, encontrava-se com ele nos
despachos ministeriais de São Cristóvão, Ministro do
Gabinete Rio Branco, o 7 de março tão assinalado pela
Lei do Ventre Livre.
Releva notar que os exames de 1848 tinham a
presença efetiva do Comissário do Governo, o Visconde
de Abrantes, já dos mais altos personagens do Império.
Antes de iniciar o ano letivo de 1849 pedia demissão
Bernardo José Falleti de professor de Latim. Para lecionar
Geografia e História Antiga era nomeado, a 3 de abril de
1849, com o ordenado anual de 800$000 um homem de
letras, já bem destacado, o Dr. Joaquim Manoel de
Macedo, tão beletrista que a sua tese inaugural médica
versara "A Nostalgia", tese cheia de fundo científico e
forma literária.
Não era Macedo o único professor ilustre novo no
Colégio, nem o único de fora para dentro a trazer láurea.
De poeta insigne a conquistara o professor de Latim do 2o
e 3o ano: António Gonçalves Dias, de latinista a trazia outro
professor de latinidade, o Dr. António de Castro Lopes,„
lecionando o 4o ao 7o ano.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Para substituir o professor de Filosofia Pinto Brasil
era designado douto monge beneditino frei José de Santa
Maria Amaral, ornamento de corpo docente. Nele já
figurava, com foros de sábio, pela universalidade da
cultura, o Barão de Tautphoeus ensinando alemão depois
de Planitz.
Além de novos professores, de vencimento taxado
em um conto de réis anual, o Colégio no ano letivo de
1849 recebia alterações nos Estatutos, alterações
mandadas executar na conformidade do Decreto de 25 de
março de 1849, referendado pelo Ministro do Império,
Visconde de Monte Alegre (este grafava MonfAlegre).
O decreto era justificado pela "urgente necessidade
de providenciar sobre o julgamento dos exames do Colégio
de Pedro Segundo, a fim de que houvesse em aquele ato
a maior garantia de imparcialidade e retidão, bem como
necessidade de distribuir melhor as matérias de ensino de
algumas Cadeiras então oneradas de excessivo número
de lições".
Atendia também o decreto Monte Alegre "à precisão
de melhorar a sorte dos professores, fazendo desaparecer
a desigualdade e mesquinhez no vencimento de alguns,
bem assim à conveniência de regular a hora de entrada
dos professores, de modo a fiscalizar e punir qualquer
impontualidade da parte deles".
O decreto Monte Alegre bipartiu a cadeira de
Geografia e História, lecionadas na 1a cadeira Geografia,
História Média e Moderna e do Brasil, posta a cargo da 2a
cadeira a História Antiga. Subdividiu o decreto a 2a cadeira
de Latim, suprimiu a prática do quarto de hora de tolerância
para entrada de professores em aula, havidos por faltosos
aqueles que "ao toque preciso na hora não se achasse à
porta da aula, descontando-se no vencimento a parte
equivalente à hora perdida".
Na parte relativa a exames o Decreto Monte Alegre
introduziu modificações sensíveis nos Estatutos de 1838.
O tribunal de exame continuaria a compor-se na
forma do artigo 132 do regulamento de 1838. Segundo
1837-1937
tribunal, o de julgamento, seria constituído pelo Comissário
do Governo, pelo reitor, pelo vice-reitor e por dois
professores, um da classe de ciências e outro da de letras,
designados pelo Ministro do Império no dia da abertura
dos exames.
A unanimidade de votos aprovava plenamente; a
minoria a favor aprovava simplesmente, a maioria contrária
reprovava.
O julgamento se realizaria no fim de cada exame.
O reitor proclamaria logo o resultado do escrutínio ante
alunos e assistência.
No dia da abertura dos exames, para uso particular
do Comissário do Governo, o Colégio fornecer-lhe-ia o
apanhamento das notas dos bancos de honra obtidos pelos
alunos no transcorrer do ano letivo.
O Decreto Monte Alegre, de 25 de março de 1849,
dividia a cadeira de História e Geografia. A 3 de abril o
Ministro Monte Alegre comunicou à reitoria do Colégio ter
Sua Majestade o Imperador havido a bem da 1a cadeira de
História e Geografia, desligar o ensino da História do Brasil.
Ficava provisoriamente o ensino da disciplina a cargo do
professor da 2a cadeira de Latim, Dr. António Gonçalves
Dias, devendo este em vez de dez lições dar doze
semanais, as duas últimas destinadas ao ensino da
História Pátria.
Venceria pelo acréscimo de trabalho a gratificação
anual de 200S000 contada do dia da entrada em exercício.
Distribuído o ensino de História e Geografia no
Colégio, lecionaria Calogeras a 1a cadeira, Macedo a
segunda, a História Pátria a cargo de Gonçalves Dias, escol
de docentes pois.
A título de atividade, e também de prova de
meticulosidade da época, aqui se consigne Aviso do
Ministro Monte Alegre à reitoria do Colégio:
"Rio de Janeiro — Ministério dos Negócios do
Império em 27 de abril de 1849.
Participando o Ajudante de Bibliotecário da Biblioteca
Pública desta Corte que existe em poder do Professor da
ESCRAGNOLLE DÓRIA
1a cadeira de História e Geografia desse Colégio, João
Baptista Calogeras, a História de Southey que o Professor
da 2a cadeira de Latim do mesmo Colégio, o Bacharel
António Gonçalves Dias, deseja consultar para o
desempenho de trabalhos que tem a seu cargo: Há Sua
Majestade o Imperador por bem que a referida História de
Southey seja entregue ao dito bacharel Gonçalves Dias,
debaixo de sua responsabilidade. O que comunica a V.
Mcê. Para seu conhecimento e execução.
Deus Guarde a V. Mcê.
Visconde de Mont'Alegre".
Prosseguia o Colégio em missão educativa retriz
quando, em 1850, veio perturbá-lo sucesso de maior
gravidade para o Rio de Janeiro em peso, a irrupção de
violenta epidemia de febre amarela, uma das mais
dizimadoras da população da capital do Império. Havia de
trazer consequência, a supressão de enterramentos nas
catacumbas das igrejas, datando daí a criação das grandes
necrópoles cariocas.
Em fevereiro de 1850, à vista de ponderações do
reitor do Colégio, no resguardo da saúde dos alunos, o
Ministro Monte Alegre recomendava ao reitor que os
internos porventura afetados de moléstias contagiosas ou
epidemias graves não fossem tratados no
estabelecimento, mas imediatamente entregues a pais ou
correspondentes.
A 13 de março de 1850, por Aviso ao reitor a este
comunicava o ministro "fizesse parar as aulas do Colégio
até depois da Páscoa, mandando os alunos para a casa
de seus pais ou correspondentes, a fim de prevenir que aí
se desenvolva a epidemia que está grassando".
A 31 de março de 1850, o Ministro Monte Alegre, à
vista de novas ponderações do reitor, participando-lhe
haverem sido atacados de febre amarela quase todos os
criados do Colégio, autorizava a continuação do
fechamento das aulas até segunda ordem.
A 6 de maio de 1850, o mesmo Ministro, atendendo
a ofício do reitor, sobre o estado sanitário do Colégio,
ordenava fossem abertas "quanto antes" as aulas do
estabelecimento. Restabelecida a normalidade, e para
coibir abusos, o Ministro Monte Alegre tomava
providências.
Para obstar impontualidades no desempenho de
cargos propôs o reitor ao governo a necessidade de dirigir
aos professores menos pontuais, uma circular participandoIhes que a falta de um professor à sua aula seria justificada,
não excedendo a falta a mais de três dias, e caso o faltoso
com antecedência dirigisse parte oficial ao reitor
declarando-se enfermo. Excedesse a falta três dias, por
enfermidade, deveria ainda o faltoso dirigir ao reitor certidão
de médico, selada e com firma reconhecida. Todos estes
alvitres do reitor, participava-lhe o Ministro Visconde de
Monte Alegre, haviam merecido aprovação imperial.
Pouco depois, a 1 ° de junho de 1850, comunicava o
mesmo Ministro ao reitor não poder ser chamado a lecionar
o Dr. Joaquim Manoel de Macedo por se achar com assento
na Assembleia Provincial Fluminense, não podendo ele
enquanto impedido receber vencimento algum pelo
Colégio, vencimento aplicado a substituto interino.
Também comunicava o ministro ao reitor, para
conhecimento e execução, referindo-se ao professor
Calogeras, não ser lícito a professor algum residir fora da
cidade sem permissão para tanto, mesmo enfermo, salvo
se no gozo de licença enfermasse ao findar esta. Neste
caso, justificada a enfermidade, devia ser impetrada
prorrogação de licença.
Antes do início do ano letivo de 1851, perdia o
Colégio professor eminente. A 18 de janeiro era concedida
demissão de emprego de professor de Alemão a Hermann
de Tautphoeus, à vista de representação dele atendida pelo
imperador.
Cargos oficiais são sempre objeto de esperança ou
cobiça. Não adiantemos que suba esta a ponto de haver
quem deseje a morte ou o afastamento do ocupante,
tornando-se a saúde ou os revezes da sorte dele objeto de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
preocupação de noite e dia de candidatos à vaga,
preocupação que o otimismo manda crer carinhosa.
Vaga a cadeira de Alemão, pelo pedido de demissão
de Tautphoeus, logo se apresentaram dois candidatos, Luiz
de Azevedo Júnior e Bertholdo Goldschmidt, sobre cuja
idoneidade para o emprego o governo desejava informação
do reitor.
Nenhum dos dois candidatos alcançaria nomeação.
Por decreto de 3 de fevereiro de 1851 era nomeado
professor de Alemão o Dr. Jorge Gade, brasileiro
naturalizado. Sacramento Blake adianta ter ele sido
professor de línguas modernas na escola prussiana de
Eiderferd.
Do início até hoje inscreveu sempre o Colégio no rol
de professores personalidades estrangeiras ou
descendentes de alienígenas.
Calogeras, o grego, tendo solicitado demissão de
professor da 1a cadeira de História foi nesta provido o Dr.
Joaquim Manoel de Macedo. Logrou nomeação para a 2a
o monge beneditino frei Camillo de Montserrate, expedindose aviso ao abade do mosteiro do Rio de Janeiro, para frei
Camillo poder exercer o magistério no Colégio.
Frei Camillo, no século Camillo Cléon, trazia nome
dos pais adotivos. Na verdade era Bourbon, filho natural
do Duque de Berry, gênito do conde de Artois, depois rei
de França, dinasticamente Carlos X.
Ano antes da nomeação para o Colégio professara
Camillo Cléon na Ordem Beneditina no Rio de Janeiro.
Tinha 32 anos, nascido em Paris a 14 de novembro de
1818. Humanista, erudito, helenista e latinista por amor e
ofício, o jovem monge professor vinha honrar no mais alto
grau o magistério do Colégio a cuja frente encontrava outro
helenista, Joaquim Caetano, cujos anos de saber já se
iam contando dobrados no estudo.
Embora frei Rodrigo de São José, outro beneditino,
como vice-reitor do Colégio fosse o fiscal supremo da
disciplina dos discentes, por estes muito se interessava
Joaquim Caetano.
1837 -1937
De tudo ficou prova na solicitude com que procedeu
na ocasião da epidemia de febre amarela de 1850,
arrebatadora de tantas vidas, entre as quais a de Bernardo
de Vasconcellos, o ministro fundador de 1837.
Dentre os alunos do Colégio alcançados pela
epidemia, dois teriam futuro mais notório, José Fernandes
da Costa Pereira Júnior, transportado para a casa de
correspondentes, e Henrique Francisco dÁvila, não levado
a casa por ser tempo chuvoso quando adoeceu.
Restabeleceram-se ambos, bacharelaram-se em
letras, e em direito, entraram na política. Costa Pereira no
Partido Conservador. Ávila no Liberal, aquele deputado geral
pelo Espírito Santo, presidente de cinco províncias, Ceará,
Pernambuco, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do
Sul, Ministro da Agricultura no Ministério Rio Branco de
1871 e do Império no Gabinete João Alfredo de 1888.
O aluno de 1850, Henrique Francisco d'Ávila, como
o condiscípulo Costa Pereira, teria feliz carreira politica.
Presidiria o Ceará e a província natal, o Rio Grande do Sul.
Seria ministro da Agricultura no Ministério Paranaguá de
1882, deputado geral pelo Rio Grande e finalmente por este
Senador do Império, com a honra de preencher a vaga do
Duque de Caxias.
Dois afastamentos importantes assinalariam o ano
letivo de 1851, o primeiro no princípio dela, o segundo no
seu termo.
Em março de 1851, ausentava-se do Colégio o
professor Gonçalves Dias. Encarregava-o o Governo de
correr quase todas as províncias do Norte em busca de
documentos para enriquecimento do Arquivo Público do
Império, na época dirigido pelo seu primeiro diretor Cyro
Cândido Martins de Brito.
Verificaria também Gonçalves Dias, na constância
da comissão arquivista itinerante, o estado da instrução
pública no Norte, recebendo durante a dita comissão
vencimentos integrais de professor do Colégio.
Macedo substituiu Gonçalves Dias em regência da
cadeira de História do Brasil, o douto poeta sucedido na
ESCRAGNOLLE DÓRIA
cadeira de Latim do 2o e 3o ano por Jorge Furtado de
Mendonça.
Estendia-se o escrúpulo nas nomeações até o corpo
de inspetores, buscando o Governo não fossem somente
manequins para manutenção de disciplinas, sim homens
de certa ou boa capacidade mental e até pedagógica.
No corpo de inspetores do Colégio figurava Felippe
Hypollito Ache, futuro e competentíssimo lente da Escola
de Marinha, após brilhante curso.
Em 1851, como sempre, o governo imperial nomeou
comissário para os exames do Colégio. Como sempre
também recaiu nomeação em pessoa de notoriedade
social, em 1851, o Conselheiro de Estado Visconde de
Abrantes.
A 27 de novembro de 1851 encerrava-se o ano letivo
com a costumeira solenidade da colação de grau de
bacharel em letras, solenidade invariável.
Por cuidados da Diretoria do Jardim Botânico da
Lagoa de Rodrigo de Freitas, as salas do Colégio ficavam
juncadas de folhas de cravo e canela em dias festivos.
Joaquim Caetano e frei Rodrigo de São José
aformoseavam-nas, dando últimas ordens a alunos e
empregados. À porta do estabelecimento formava guarda
de honra.
Súbito rodar de carruagem, quadrupedar de cavalaria,
vozes do capitão comandante da guarda, apresentar armas,
som de Hino Nacional.
Chegava o Imperador, recebido à porta pelo reitor,
vice-reitor e lentes, conduzido ao Salão Nobre, Sua
Majestade cumprimentado e cumprimentando.
Tomava assento no trono, ao lado da Imperatriz, e o
ato principiava pelos coros de alunos entoando o Hino da
Independência.
Procedia-se à chamada dos premiados, do primeiro
ao sétimo ano. Iam buscar recompensas nas mãos do
Imperador e da Imperatriz, a ambos apresentados os
prémios em salvas de prata trabalhada.
O principal atrativo escolar da solenidade consistia
na colação de grau, termo em geral de septênio de estudos,
permitido, entretanto, mediante sérias provas de
habilitação, matricular-se diretamente até o 5o ano do
curso.
Cabia imposição do barrete branco ao Ministro do
Império, em 1851 o ex-regente Visconde de Monte Alegre,
Presidente do Conselho.
A turma de bacharéis de 1850 havia contado em
seu grémio estudantes dos mais distintos aos quais, o
futuro e posições elevadas no país dariam ensejo de
confirmar créditos iniciados na juventude.
Da turma de vinte bacharéis de 1850 mais notáveis
no porvir seriam Paulino de Souza, Henrique d'Ávila,
Ministros e Senadores do Império, Ferreira Viana, Ministro
e deputado-geral, António Carlos 2o, lente de Direito em
São Paulo, João Ribeiro de Almeida, Barão de seu nome e
chefe do Corpo de Saúde da Armada, Caetano José de
Andrade Pinto, magistrado na Relação da Corte, Felisberto
Pereira da Silva, deputado-geral e presidente da terra natal,
o Rio Grande do Sul, em 1879.
Luzida era também a turma de bacharéis de 1851,
cuja imposição de grau se realizava na augusta presença
de S.S.M.M. Imperiais, como se dizia no tempo.
Compunham a turma vinte bacharéis, nela os rostos
juvenis de três futuros ministros de Estado de outro ministro
de Estado a receberem o barrete branco. Eram aqueles
bacharelandos de 1851, Manoel António Duarte de
Azevedo, Carlos Frederico Castrioto e José Fernandes da
Costa Pereira, os quais da Câmara dos Deputados
passariam aos Conselhos da Coroa.
As solenidades de grau eram rematadas pelo
discurso de professor de Retórica, não sem propriedade
portanto. Em 1851 lecionava a disciplina um médico, o
Dr. Francisco de Paula Menezes, amigo de letras e de
pendor para a tribuna académica, na qual tão a gosto se
sentia outro professor do Colégio, Joaquim Manoel de
Macedo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Não eram as solenidades de grau no Pedro Segundo
assinaladas apenas pela presença dos soberanos e de
membros da família imperial, pela satisfação de lentes ao
verem premiados discípulos diletos, pela alegria ainda não
contaminada de mundo dos alunos recompensados.
Participavam das festas de grau quantos de coração,
por parentesco ou estima, se achavam ligados a
bacharelandos ou a premiados, sobrelevando-se a todos
alegria de progenitores.
Pouco depois de graduar a turma de 1851,a 14 de
dezembro deste ano, o Dr. Joaquim Caetano da Silva
deixava o exercício cumulativo de reitor e professor de
Grego do Colégio.
Dirigira Joaquim Caetano o Colégio por espaço de
doze anos, cinco meses e dias. Deixava a casa em boas
condições administrativas e financeiras e nem sempre lhe
fora fácil atender aos interesses do ensino. Os interesses
financeiros do Colégio, na reitoria Joaquim Caetano, foram
até auxiliados pela sorte, premiado com 20:000$000 o
bilhete n.° 3859 da 23a loteria do teatro São Pedro de
Alcântara contempladas na época com bilhetes lotéricos
instituições de ensino ou caridade.
Não alheio às ciências físicas e naturais, Joaquim
Caetano nos últimos tempos de reitoria, bastante se
esforçara para melhorar o estudo daquelas ciências,
propondo a criação do cargo de preparador de Química.
Venceria 200S000 anuais, indicado para o cargo o boticário
José Caetano da Silva Costa, estabelecido na rua Larga
de São Joaquim 116. Inassíduo, não poderia invocar
distância do Colégio.
Desamparando esta, o reitor Joaquim Caetano
mudava de carreira, trocava o magistério e a administração
pública pela carreira diplomática, nomeado nosso
Encarregado de Negócios em Haia. Aliás havia dez anos,
1837-1937
estávamos sem representante junto à Holanda, último
encarregado nosso no país, em 1841, Felisberto Caldeira
Brant de Oliveira e Horta, 2o Visconde de Barbacena, fadado
a morrer centenário.
Afastado Joaquim Caetano da Silva da longa reitoria
do Pedro Segundo, o Governo Imperial honrava o douto e
a Casa. Retirava-se Joaquim Caetano para estabelecer
na Holanda negociações com o fito de solver a questão de
limites entre o Brasil e a Guiana Holandesa. A questão só
seria resolvida a 5 de março de 1906 pelo tratado Rio
Branco, subscrito em nome da Holanda pelo seu Ministro
residente no Rio de Janeiro, Frederico Palm.
Não parou nas negociações de Haia a glória, ainda
não devidamente recompensada pela altura dos serviços
patrióticos do ex-reitor do Pedro Segundo, Joaquim
Caetano. Seria ainda o paladino de direitos nossos nos
monumentais volumes do "L'Oyapoc et TAmazone"
escritos em francês pelo antigo estudante de Montpellier,
defendendo direitos do Brasil sobre as fronteiras do Oyapoc
e da serra de Tumucumaque contra pretensões francesas,
levando a Guiana Francesa até o Araguari e o Rio Branco.
Terminada a questão, a 1 ° de dezembro de 1900, na
presidência Campos Salles, pelo laudo de Berna, a favor
do Brasil. Amparando-lhe causa, nosso representante em
missão especial, o Barão do Rio Branco, sobremaneira se
valeu da obra de Joaquim Caetano. Tornou-se indispensável
para redação da primeira e segunda memória nossa
apresentadas ao árbitro, o presidente da Confederação
Helvética, junto à qual, para adversário, a França deputara
o embaixador Pierre Bihourd.
Na defesa de nossos direitos territoriais assinalaramse, pois, dois professores do Colégio: Joaquim Caetano e
Rio Branco.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Uniformes de gala em 1855. O desenho original pertence ao acervo
do Museu do Colégio.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
V
O Colégio de 1851 a 1855
Terceira Reitoria do Colégio • Relatório do Dr. Justiniano José da Rocha •
Administração Souza Corrêa • Reforma Pedreira • Retirada Souza Corrêa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Deixando
Joaquim Caetano a reitoria do Pedro
Segundo, a 14 de dezembro de 1851, mister foi
escolher-lhe condigno substituto. Escolha e substituição
a cargo do Ministro do Império, o Visconde de Monte
Alegre, não demoraram. Recaíram sobre o Capitão-demar-e-guerra José de Souza Corrêa, do qual foi traçada
biografia no 2o volume do Anuário do Colégio em 1915.
O primeiro reitor fora um frade, o segundo um sábio,
o terceiro seria um homem do mar. Contraste frisante.
Do burel e da cruz ao livro, do livro e da pena à espada e à
âncora.
Quem era o capitão-de-mar-e-guerra designado para
comandar o Colégio?
Quantos tratam do Pedro Segundo mencionam
apenas o nome e o cargo de Souza Corrêa, as datas de
sua nomeação e demissão. Documentos do Arquivo e da
Biblioteca de Marinha auxiliam, porém, a mostrar a figura
de Souza Corrêa com traço firme e real.
O terceiro reitor do Pedro Segundo era português
como o primeiro. Nascera em Santarém, onde na igreja
do convento da Graça foi sepultado Cabral, nosso
descobridor.
Aos 17 anos Souza Corrêa assentava praça na
Brigada Real de Marinha, vindo ao Brasil com o Príncipe
Regente. Em 1820 nomearam-no lente substituto da
Academia de Marinha, em 1844, lente proprietário, hoje
se diria catedrático, da mesma Academia. Ano antes fora
reformado, galões de capitão-de-mar-e-guerra aos punhos.
Após sete anos de reforma e vida privada via-se
Souza Corrêa terceiro reitor do Colégio de Pedro Segundo.
Encontrava a Casa organizada, em pleno funcionar, com
movimento pedagógico adquirido. Lente jubilado de ensino
superior, não era, pois, estranho ao magistério, ao lado
dos professores do Colégio não um intruso, sim um par.
É tradição, porém, ter Souza Corrêa conservado na
reitoria do Pedro Segundo, locuções de velho marujo.
Chamava, talvez por graça, às salas de aulas "beliches",
à portaria "portaló". "tombadilho " era a sala da diretoria.
A reitoria Souza Corrêa assinalar-se-ia por movimento
notável de reforma do ensino secundário e primário. Tal
movimento fora determinado pela inspeção de professor
do Colégio aos institutos de ensino da Corte por
incumbência do Governo.
A 5 de abril de 1851, o Dr. Justiniano José da Rocha
apresentava relatório ao Governo. Fez época, pelo
desassombro. Nenhum mal do ensino deixou de ser
apontado pelo professor do Pedro Segundo. Multiplicação
de colégios sem necessárias garantias, improvisação de
educadores da mocidade, açodamento de pais em formar
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
filhos a trouxe-mouxe de saber, diretores de colégios pouco
escrupulosos no desejo de náo perder clientela, tudo
Justiniano pôs a nu.
Como providência de reação lembrava ao Governo
o professor do Pedro Segundo a criação de inspetoria de
aulas públicas e particulares, instituição de colégio de
externos com um reitor e um censor de estudos, com
professores nomeados por concurso, a este concorrendo
os professores de estabelecimentos particulares,
"recompensando e prometendo futuro aos que se
dedicavam ao triste lidar do magistério".
Extenso o estudo do Dr. Justiniano, publicado em
anexo no Relatório do Ministério do Império de 1851. Da
longa exposição convém reter algumas providências
propostas ao governo imperial.
Uma: — quando estrangeiro o diretor de qualquer
estabelecimento de educação ser-lhe-ia exigido que pelo
menos metade do corpo docente fosse brasileiro, e sendo
brasileiro o diretor pelo menos um terço.
Outra providência: — no fim de cada ano letivo todos
os alunos dados por prontos em quaisquer
estabelecimentos de instrução secundária nas matérias
de ensino do externato (inclusive os do Pedro Segundo)
apresentar-se-iam em concurso geral. Constaria o concurso
de tantas provas escritas, feitas em dias sucessivos,
quantas fossem as matérias do externato. Amparariam
os concursos todas as seguranças contra a injustiça e o
patronato, coisa facílima, admitida a prática dos colégios
franceses.
Propunha o Dr. Justiniano que os cinco melhores
alunos distinguidos pelo concurso geral f o s s e m
matriculados gratuitamente nas Academias, recebendo
coleção de compêndios adotados nas que quisessem
frequentar.
Ainda mais, se todos os cinco premiados fossem
alunos do mesmo estabelecimento, o diretor deste seria
condecorado, igualmente agraciado o diretor que em três
anos consecutivos apresentasse alunos premiados, não
premiado o aluno maior de 18 anos.
1837 -1937
As provas do concurso geral conferiria aos
aprovados o diploma de bacharel em letras.
O Dr. Justiniano José da Rocha estudara
humanidades em França, no Liceu Henrique IV. Imbuíra,
pois, o seu Relatório de 1851 muita pedagogia francesa,
assim a do concours general seguido em ponto menor pelo
palmarés ou lista de prémios concedidos em uma escola
a cabo de ano letivo.
Profundamente nacionalista, o Dr. Justiniano da
Rocha chamava a atenção do Governo para a nacionalidade
de estrangeiros, muitos diretores de colégios tidos por
brasileiros.
"Parece-me isto de suma gravidade, dizia um dos
cardeais objetos da educação da mocidade deve ser infundir
o culto da pátria, o conhecimento de suas glórias, o amor
às suas tradições, o respeito aos seus monumentos
artísticos e literários, nobre aspiração torná-la mais bela e
mais gloriosa. Esse sentimento de religiosa piedade para
com a nossa mãe comum não se ensina com preleçôes
catedráticas, comunica-se, porém, nas mil ocasiões em
que se apresentam no correr da vida e das lições colegiais,
mas para comunicá-lo é necessário tê-lo".
Enquanto o Governo e Justiniano José da Rocha se
entendiam a respeito de reformas de ensino, o reitor Souza
Corrêa buscava administrar economizando.
Ao assumir cargo inventariara o estabelecimento.
Parecera-lhe excessivo ter encontrado na vestiaria 828
lençóis e 711, tudo de bom linho. Propôs ao governo
fossem uns reservados à enfermaria, vendendo-se o
excesso de roupa. Aplicar-se-ia o produto da operação na
compra de camas de ferro para dormitórios. Opinava
igualmente Souza Corrêa pelo aluguel das lojas da casa
da reitoria, visto não oferecerem cómodos para família.
Comunicava Souza Corrêa ao Ministro do Império,
Visconde de Monte Alegre, ter achado excessiva a lavagem
de roupas da casa por 90, 100 e 130S000, providenciando
nesta e noutras despesas no sentido da economia. Nas
pequenas despesas do Colégio figuravam remunerações
ESCRAGNOLLE DÓRIA
a subalternos cuja menção não deixa de ser curiosa por
evidenciar o custo da vida naquela época, os criados do
Colégio vencendo 14$000 mensais, o despenseiro e o
cozinheiro 30S000.
Contra algumas medidas do reitor representou o
tesoureiro do Colégio, por ver nelas invasão de suas
atribuições. Sem apurar o caso, era o eterno conflito entre
subordinado, não raro no hábito de abusos, contra o
superior desejoso de modificar corrigindo, a bem da causa
pública.
Apoiou, porém, o Governo, in totum, o reitor,
autorizando-o a tomar todas as providências necessárias
à economia e regularização de despesas.
Não se estendeu só ao administrar o zelo de Souza
Corrêa. No impedimento do professor de Matemática Lino
António Rabello lecionou a cadeira aos alunos do 5o e 6o
ano, louvado por isto pelo governo imperial.
Na reitoria Souza Corrêa em 1852, em março,
entravam a lecionar Grego o Dr. Jorge Gade, transferido
da cadeira de Alemão e Tautphoeus renomeado para ela.
Enquanto estudava o relatório de Justiniano José
da Rocha, nomeava o Governo o Barão de Kulner para
substituto interino da cadeira de Inglês, exonerado a pedido
o tesoureiro Firmo José Soares da Nóbrega, entregando
ele cargo a sucessor, Graciano Leopoldino dos Santos
Pereira.
Souza Corrêa continuava administrando e
providenciando. Assim mandava pintar a capela do Colégio,
à própria custa. Homem de mar estava acostumado a
respeitar Deus no infinito do oceano.
Mandou pintar a capela do Colégio e o corredor que
a ela conduzia "pelo estado de indecência em que se
achavam", pedindo que o governo aceitasse como pequena
oferta ao Colégio a quantia de 3245000, em que importara
a respectiva despesa.
Por Aviso de 29 de abril de 1852, o ministro Monte
Alegre agradeceu as despesas da pintura satisfeitas com
o ordenado do reitor, agradecendo a oferta, em nome de
Sua Majestade o Imperador.
Acrescentava, porém, o ministro: — "Louvo o zelo
que manifesta pela prosperidade do Estabelecimento
confiado à sua direção sem que porém anua ao sacrifício
que quer fazer da ténue retribuição que lhe dá o Colégio
para aplicá-la àquela despesa, que aliás deverá ser paga
pelos fundos do Colégio".
Em maio de 1852 cumpria a Souza Corrêa prestar
atenção ao provimento interino da cadeira de Grego. Jorge
Gade, professor para ela nomeado em março, partia para
a Europa no gozo de licença de um ano, sem vencimento
algum.
Mal saía do Rio de Janeiro, requeria Alexandre Audret
a regência interina da cadeira. O Governo decidiu ouvir o
reitor sobre a pretensão e o pretendente. Opinava Souza
Corrêa pela nomeação interina de Tautphoeus, substituído
este na cadeira de Alemão.
Pouco depois deixava Pasta do Império o Visconde
de M o n f A l e g r e , sempre assim se assinava
nobiliarquicamente José da Costa Carvalho, antigo
Regente do Império.
Substituiu-o na Pasta Gonçalves Martins, futuro
Visconde de São Lourenço, um dos vultos mais notáveis
e operosos da terra natal, a Bahia, sobre prestimoso
servidor do Brasil.
Recomendava o novo ministro a maior atenção
quanto à assiduidade dos professores, providenciando o
reitor em relação aos faltosos, tornando-se "indispensável
prover-lhes a substituição, por não ser do interesse da
instrução que as lições deixassem de ser dadas aos
respectivos alunos".
Completava Gonçalves Martins a instante
recomendação concedendo trimestre de licença ao
professor de Latim, Castro Lopes, devendo este indicar e
pagar à sua custa substituto idóneo.
Quinzena de licença era também concedida a
Gonçalves Dias, este sem prejuízo de vencimentos, para
escrever sumário da instrução pública nas províncias do,
Norte.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Só em julho de 1852 uma portaria de Gonçalves
Martins preenchia interinamente a cadeira de Alemão,
Tautphoeus além da de Grego. Entrava para o corpo
docente do colégio, Bertholdo Goldschmidt. enquanto
daquele desaparecia o professor de Inglês, Guilherme
Fairfax Norris, falecido a 23 de julho de 1852.
Outro professor também se retirava do Colégio,
exonerado a pedido, a 5 de agosto de 1852, Gonçalves
Dias, o proprietário da 2a Cadeira de Latim. Oferecia-se,
porém, o demissionário para lecionar, gratuitamente, a
cadeira de História do Brasil até o fim do ano letivo.
Recebia então o Colégio Ernesto Ferreira França Júnior para
a regência interina da cadeira de Inglês, vaga pelo óbito
de Norris.
Pouco depois, em setembro de 1852, perdia o reitor
prestimoso auxiliar, no Colégio figura venerável e útil, o
vice-reitor frei Rodrigo de São José.
Nascera a 9 de agosto de 1789, na Bahia, filho do
intendente do Ouro, Dr. Marcellino da Silva Pereira. Monge
beneditino aos 18 anos, viera ao Rio de Janeiro, em 1820.
Aí mais tarde exerceria dignidade abacial no mosteiro de
sua Ordem, dignidade amargurada por desgostos não
poucos. Desaparecia frei Rodrigo em 1852,aos 63 anos
de idade, dos quais os últimos consagrados ao Pedro
Segundo, não tendo a idade conseguido vencer-lhe férrea
vontade.
Outro monge, outro beneditino, substituiria frei
Rodrigo, frei Luiz da Conceição Saraiva, irmão do político
do Império, o Conselheiro Saraiva, e futuro Bispo do
Maranhão.
Com estes principais sucessos findava o ano letivo
de 1852, marcados nele os exames para 8 de novembro
de 1852, com a presença e fiscalização do Comissário do
Governo, o Visconde de Abrantes.
Findos os exames, sempre com a presença do
Imperador, bacharelava-se a turma dos setimanistas de
1852. Figuravam entre eles dois que muito amor
demonstrariam sempre ao Colégio, Manoel Duarte Moreira,
1837 - 1937
só mais tarde Moreira de Azevedo, futuro professor da
Casa; Anastácio Luiz do Bonsuccesso, de tantos serviços
à vindoura instituição, ao Instituto dos Bacharéis em Letras.
No período de férias do Colégio continuava
Gonçalves Martins a ocupar-se incessantemente com o
estabelecimento, no zelo pelo interesso público. Inspirava
este determinação do ministro de mandar o Colégio
executar obras de encadernação nas oficinas da Casa de
Correção, preferindo-as a qualquer outra para a feitura de
livros em branco. O Estado protegia o Estado.
Também antes de iniciar-se o ano letivo de 1853, na
reitoria Souza Corrêa, iluminava-se a gás o Colégio.
Beneficiava de pronto pelo melhoramento havia pouco
introduzido no Rio de Janeiro, cujas ruas mais centrais
conheceram clarear de gás a 25 de março de 1852,
solenizada em progresso mais uma data do juramento da
Constituição do Império, o Brasil sempre na vanguarda
da aplicação das grandes ou pequenas conquistas da
civilização.
O ano letivo de 1853 principiava com o Colégio todo
iluminado a gás e pintado de novo, por 870S000, informação
para quantos estudam o custo da antiga vida nacional.
De fevereiro a março de 1853, o corpo docente do
Colégio sofria alteração.
Gonçalves Dias deixava de reger grátis a cadeira de
História do Brasil, transferido provisoriamente para ela
Joaquim Manoel de Macedo, professor de Geografia e
História Moderna.
Castro Lopes saía da cadeira de Latim do 4o ao 7o
ano , exonerado por pouca assiduidade. Vinha ocupar,
cátedra, a título interino, outro médico, o Dr. António José
de Souza.
Novo elemento para o corpo docente era, proposto
pelo reitor Souza Corrêa, o Dr. Valdez y Palácios,
substituindo interinamente na cadeira de Inglês o professor,
também interino, Ernesto Ferreira França Júnior.
No meio do ano letivo retirara-se de vez do Colégio
o professor de Grego, Jorge Gade, substituído por
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Tautphoeus, vigilante sempre o Governo quanto à
assiduidade dos professores. Pelo Aviso de 6 de junho de
1853, o Ministro Gonçalves Martins pedia ao reitor que
"ouvisse Joaquim Manoel de Macedo se havia
probabilidade de continuar enfermidade sua para
providenciar-se sobre imediata substituição".
Só uma vez ministro, e do Império, foi, entretanto,
Gonçalves Martins dos mais operosos e diligentes
ocupantes daquela pasta dos negócios públicos, pasta
política na monarquia brasileira.
No ministério único de Gonçalves Martins, gestão
de 483 dias, teriam início muitos melhoramentos no Brasil
e sobretudo no Rio de Janeiro, melhoramentos aqueles à
testa dos quais se encontrou sempre Mauá, ainda somente
na época Irineu Evangelista de Souza.
Seria, porém, coisa mais rara do que se pensa, o
operoso Gonçalves Martins substituído por outro operoso,
tanto ou mais do que o antecessor.
Em setembro de 1853, nas vésperas de memória
da Independência, organizava o Visconde, depois Marquês
de Paraná, famoso Ministério entre os numerosos
Gabinetes Monárquicos, dez no Primeiro Reinado, doze
na Regência e onze no Segundo Reinado até a ascensão
de Paraná.
Presidente do Conselho de Ministros de fato em
1843, e de direito em 1853, — a Presidência do Conselho
de Ministros criada a 20 de julho de 1847, pela
conveniência de dar a ministérios organização mais
adaptada às condições do sistema representativo, — seria
Paraná o 6o Presidente do Conselho após a criação do cargo
no Ministério Alves Branco.
Ficaria o Gabinete Paraná marcado para a História
com o nome da ideia principal de sua formação. Paraná
chamou a governo membros dos dois partidos políticos, o
Conservador, ao qual ele pertencia, e o Liberal, abrigandoIhes representantes no Ministério conhecido por isto pelo
da Conciliação.
Apreciar os intuitos e os serviços do organizador e
bem assim os do gabinete por ele composto não cabe
neste ensaio da vida do Pedro Segundo. Com os latinistas
dele diremos non erat his locus.
Do Ministério Paraná cumpre, porém, apartar o
Ministro do Império, não só por ele ser administrativamente
o superintendente supremo do Colégio como de envolta
com os interesses daquele ser também um grande
remodelador da instrução pública brasileira.
Conhecia-a bem, lente s u b s t i t u t o e depois
catedrático da Faculdade de Direito de São Paulo.
Remodelara-a, presidente de província, no Espírito Santo
em 1846, do Rio de Janeiro em 1848.
Está nomeado Conselheiro Luiz Pedreira do Couto
Ferraz duplicando ele o " t " em o nome de família. Futuro
Barão e Visconde de Bom Retiro, o Conselheiro Pedreira
gozava de excepcional estima de D. Pedro II, deste amigo
de infância, respeitosa e discretamente fiel até o túmulo.
Também o imperador, ao visitá-lo no leito de morte, havia
de declará-lo "a consciência mais pura que conhecera".
Não era dizer pouco. Valia muito tal conceito de soberano
que, em reinado semi-secular, avaliara tantos homens da
mais variada espécie na zoologia social e política.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1818, o Ministro do
Império, Pedreira, em 1853 contava 35 anos. No vigor da
idade, no continuar brilhante carreira política a afastá-lo
do magistério superior, pretendia fazer muito, e muito fez
na gestão da Pasta para a qual o designara a clarividência
de Paraná.
Em 1851, o Poder Legislativo entregara ao Governo
autorização para reforma do ensino primário e secundário
do Município da Corte ou Neutro. Lançando mão da
medida legislativa, Pedreira realizou a projetada e adiada
reforma por um Regulamento aprovado pelo decreto de 17
de fevereiro de 1854.
De tal regulamento disse justiça alheia, assim se
exprimindo:
"Este regulamento se não foi obra completa,
encerrava todos os gérmens preciosos sobre a educação .
de que tanto se ufanam hoje as nações civilizadas, sendo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
para lamentar que disposições importantes nunca fossem
postas em prática, e outras só mui tardiamente e sob
vistas diversas. Estão nesse caso as que se referem ao
ensino obrigatório, ao estabelecimento das conferências
pedagógicas e ao das escolas do 2o grau".
Na Reforma Pedreira, de 1854, foram incluídas
algumas medidas propostas pelo professor do Colégio de
Pedro Segundo, Justiniano José da Rocha, no referente
ao ensino particular primário e secundário.
Estatuía a reforma estímulo para este. Anualmente,
em novembro, os alunos de colégio particulares seriam
admitidos a exames escritos de todas as matérias exigidas
como preparatórios para entrada no ensino superior.
Os alunos distintos em tais provas gozariam de
isenção de matrícula para receber grau de bacharel em
letras no Pedro Segundo, gozariam da mesma isenção no
ensino superior e finalmente no Colégio teriam preferência
na nomeação para repetidores.
"Estabelecendo este regime de concursos — foi por
outrem ponderado — não quis o reformador, divergindo
nesse ponto da proposta do Dr. Justiniano da Rocha,
estendê-lo ao bacharelado em letras. Contentou-se em
declarar que de futuro poder-se-iam ampliar os concursos
a todas as matérias constitutivas do curso do Colégio de
Pedro Segundo".
Ajudado pelo Inspetor-Geral do Ensino Primário e
Secundário, figura notável, a do Visconde de Itaboraí, o
Ministro Pedreira em 1855, por meio de instruções
expedidas a 5 de janeiro, completava a reforma de 1854.
De acordo com esta e com as instruções anexas
ficou o Colégio de Pedro Segundo dividido em duas classes
de estudos. Consideravam-se estudos de 1a classe os do
1o ao 4o do curso, de 2a classe os do 5o ao 7o ano. No
ensino de línguas vivas da 1a classe estava compreendida
a conversação nas mesmas línguas entre professor e
discípulos.
A dança e a ginástica preencheriam horas de recreio,
as aulas de Música e Desenho dadas às quintas-feiras.
1837 - 1937
Os exames do Colégio deveriam ser prestados sobre
pontos tirados à sorte dentre os formulados pelo Conselho
Diretor de Instrução Primária e Secundária. Tais pontos
abrangeriam para os exames do 4o ano as matérias dos
cursos de estudos da 1" classe, para os exames do 7o ano
as matérias do curso de estudos da 2a classe e para os
outros anos apenas as matérias ensinadas em cada um
deles.
A Reforma Pedreira teve início de cumprimento na
reitoria Souza Corrêa, o capitão-de-mar-e-guerra não alheio
às causas do ensino por ele ministrado aos alunos da
Academia de Marinha, como já foi dito.
Em breve, porém cessaria a sua ação no Colégio
de Pedro Segundo de onde, a 24 de outubro de 1854, já
desaparecia, por falecimento, o professor de Inglês Dr.
José Manoel Valdez y Palácios.
Peruano de nascimento, advogado, teve de deixar a
pátria por motivo de perseguições políticas. Para salvar a
vida e a de um filho atravessou os Andes, foi ter ao Pará,
daí se transferindo para o Rio de Janeiro, mal refeito de
penosa viagem de Cuzco a Belém, varando rios, avaliados
os transes da vida do Dr. Valdez na fuga repentina, na
passagem de abismos e desertos, com um menino que
mal movia os passos. Viagem de contemplações e
horrores, de termo em Cocabambilla, onde Valdez se veria
a salvo de inimigos. Mas até certeza de vida, quantos
obstáculos ante pai e filho: atravessar de rochedos,
sotoposição de montes debaixo dos pés, frio insuportável,
vento furioso, abrigo em cavernas, passagem por um
vulcão, num espaço de 10 ou 12 milhas de circunferência
a dois mil pés aproximadamente de profundidade,
contendo em tal superfície mais de sessenta crateras
cónicas já apagadas, em aspecto ondeante de superfície
inconsistente. Tudo dito pelo Dr. Valdez, em livro publicado
no Rio de Janeiro em 1844.
Segundo Porto Alegre, "no meio destes magníficos
episódios do grande livro da terra, no meio do ansiar aflitivo
do leitor, Valdez fazia alguma vez rir quando se pintava
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ironicamente, e se considerava com o seu escudeiro (o
filho) como dignos da musa humorística de Cervantes".
Após provações sobre provações, o Dr. Valdez,
embora sempre pobre, devia ter o Rio de Janeiro pelo
paraíso terrestre. Naturalizou-se, lecionando no Colégio
de Pedro Segundo e no Liceu de Niterói, um dos redatores
de Minerva Brasiliense, colaborando no Correio Mercantil
e fundando A Nova Minerva, periódico científico, moral,
artístico e literário. Lutou sempre tanto com a sorte o Dr.
Valdez y Palácios que, ao ser sepultado, um orador resumiu
adeus dizendo: — "Vai começar tua primeira hora de
felicidade".
Em junho de 1855, retirou-se do Colégio o capitãode-mar-e-guerra José de Souza Corrêa, nomeado em 1851,
em substituição ao segundo reitor Dr. Joaquim Caetano
da Silva.
Não tinha Souza Corrêa o mérito intelectual, nem a
erudição do antecessor. Contudo, soube sempre conduzirse de modo digno no exercício do cargo, em boas relações
com os ministros do Império dos quais dependia.
Deram-lhe apoio e robusteceram força moral,
condições indispensáveis a quem dirigindo se vê
dependente de aprovação e auxílio superior.
Deixando a reitoria do Pedro Segundo, exercida por
três anos e meses, Souza Corrêa passou cargo ao vicereitor interino Jorge Furtado de Mendonça, professor de
Latim desde a fundação do Colégio.
Retirava-se com honra o terceiro reitor, afastandose do posto com sossego de consciência. Tal o confere
dentro de si próprio o bem intencionado, à espera da justiça
divina, tantas vezes suprindo a humana, falível ou ratinhada
pela inveja.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
VI
O Colégio de 1855 a 1858
Início da Reitoria Pacheco da Silva • Reforma Pedreira • Património do Colégio •
Gonçalves da Silva e Joaquim Manoel de Macedo • Divisão do Colégio em
Externato e Internato • Instalação Deste • Seu Primeiro Reitor • Paula Menezes •
Sete de Setembro de 1857 • Novos Professores • Imprensa Colegial •
Colação de Grau de 1858 • Incidentes Colegiais.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Exonerado
Souza Corrêa de reitor do Colégio em junho
de 1855, teve o Governo imperial de prover
substituição.
Empenhou-se, sobretudo, no intento o principal
responsável ante o Imperador, pelo acerto da escolha, nas
questões relativas ao Colégio indispensável ouvir o
Imperador.
Era aquele responsável o Ministro do Império,
Conselheiro Pedreira. Nem deixaria Pedreira de consultar
o soberano seu amigo, nem tão pouco ao Presidente do
Conselho, Paraná, Visconde elevado a Marquês a 2 de
dezembro de 1854, natalício de D. Pedro II.
Recaiu afinal a escolha para quarto reitor do Colégio
no Dr. Manoel Pacheco da Silva, em exercício a 10 de
setembro de 1855. Encontrava a Casa não mais dirigida
pelo vice-reitor interino Jorge Furtado de Mendonça,
substituído pelo monge beneditino José da Purificação
Franco.
Nascera Pacheco da Silva, o novo reitor, no Rio de
Janeiro, em 1812, do consórcio de pai baiano e mãe
andaluza. Doutorara-se em Medicina no Rio de Janeiro
em 1839.
Caber-lhe-ia continuar aplicação da Reforma
Pedreira no Colégio a cuja reitoria fora chamado não sem
haver já mostrado interesse por questões pedagógicas.
No início da administração Pacheco, existiam no
Colégio quatro classes de alunos: — pensionistas de 1a
classe, com direito a repetidores em horas de estudo,
médico, botica, não se dizia ainda farmácia, refeitório,
banhos, roupa lavada e engomadas; pensionistas de 2a
classe com as mesmas vantagens, salvo lavagem e
engomado de roupa; meio-pensionistas e externos. A
matrícula anual para todos custava 12S000, a pensão
trimestral, de acordo com as classes, 100S000, 75S000,
37S000 e 24S000. A aula de Italiano, criada em 1855, e
regida pelo Dr. Luiz Vicente De Simoni, também professor
de Latim, era considerada avulsa, com pagamento à parte.
Qualquer sociedade humana baseia manutenção
no prémio e no castigo, ideias derivadas de princípios
eternos, o bem e o mal. Para premiar dispunha o reitor de
meios, de outros para castigar. Tinham estes a seguinte
ordem: — repreensão, trabalhos nas horas de recreio,
prisão com trabalho na cafua, comunicação aos pais para
elevação de punições, expulsão do Colégio, com vénia do
Inspetor-Geral da Instrução Pública.
Para auxílio de estudos, mormente dos pensionistas
de 1 e 2a classes, haviam sido criados seis lugares de'
repetidores. Um para Grego e Alemão; um para Francês e
a
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Inglês; um para Matemática; um para Filosofia e Retórica;
um para Latim; um para Ciências Naturais com encargos
de preparador e conservador.
Morariam os repetidores no Colégio, com direito a
sustento. Venceriam 4005000 por ano; o repetidor de
Ciências Naturais, por acumular funções, teria 600$000,
ordenado dos demais repetidores, enquanto não residissem
no Colégio. Deveriam obter nomeação mediante concurso
e no decorrer de aulas serviriam como inspetores de
alunos. A fiscalização do ensino no Colégio cabia ao
Inspetor-Geral da Instrução Pública, reservada ao reitor a
inspeção direta das aulas e a direção económica da casa.
Assumindo reitoria, em meados de 1855, o Dr.
Pacheco presidiria ao bacharelado da turma de 7o ano
composta de oito jovens um dos quais se distinguiria no
professorado do Colégio, Evaristo Nunes Pires.
Em 1855, prestando diretamente exames par o 5o
ano, matriculava-se na casa, menino de doze anos
chamado Alfredo Maria Adriano d' Escragnolle Taunay,
futuro Senador do Império e autor de duas obras imortais,
na literatura pátria e fora dela, a primeira pelo número de
traduções, Inocência e A Retirada da Laguna.
Deixar-nos-ia, em 1890, notas sobre pregressa vida
escolar e nelas muitas impressões de várias espécies,
sobre o Colégio e seu funcionamento.
Declarava Taunay não ter sido nos anais do Colégio
dos mais felizes o ano letivo de 1856, desavindos o reitor
e quase todo o corpo docente. Por quê? Não nos foi dito.
O professor de subida força moral na época era João
António Gonçalves da Silva, mais conhecido por Bacharel
Gonçalves, graduado em letras pelo Colégio em 1845. Em
1855, substituía frei Camillo de Montserrate nomeado
diretor da Biblioteca Nacional. O bacharel Gonçalves,
dispondo de muita audácia e pretensão, tinha reais aptidões
para o professorado. Conhecia de pronto os bons
estudantes, sabia estimulá-los e encaminhá-los, à maneira
dos espartanos em relação aos ilotas, aproveitando vadios
e madraços, para exemplo e contraste.
1837-1937
A desunião entre reitor e corpo docente não podia
deixar de trazer consequência, indisciplina colegial
resultante da falta de harmonia dos encarregados de mantêla nas aulas sem apoio da primeira autoridade da casa.
Releva-se em jovens a turbulência, a insolência não.
Traquinadas dos alunos, algumas sem atenção a
professores ilustres quais frei Camillo e Tautphoeus, não
encontravam imediato corretivo, e não lhes teria faltado
no tempo do vice-reitor frei Rodrigo de São José.
Compreende-se, pois, que jovens se atrevessem a
alcunhar professores, o de Física e Química tido pelo
Besouro, "por causa do modo monótono e igual de expor
lição".
Ao iniciar-se o ano letivo de 1856, aviso do Ministro
do Império, o reformador Pedreira, aprovou provisoriamente
os primeiros programas de ensino do Colégio, organizados
pelo Conselho Diretor da Instrução Pública.
Conforme fonte oficial "foram um progresso para a
instrução secundária, não só porque estabeleciam a
orientação dos estudos de um modo analítico, mas também
porque traziam as indicações dos livros didáticos".
Desde 1851 conhecia o Imperial Colégio programa
impresso para exames. Nele se mencionavam o tribunal
de exame, por ordem de antiguidade dos professores, o
tribunal de julgamento, o nome dos alunos ano a ano, por
ordem de antiguidade, e a lista dos pontos para exame,
disciplina por disciplina.
Em 1856 terminaria a independência económica do
Colégio,
oficializado
apenas
pedagógica
e
administrativamente desde Bernardo de Vasconcellos.
Pela lei orçamentária do exercício financeiro de 18521853, fora concedido ao governo a faculdade de levar à
hasta pública os prédios do património do Colégio, outrora
constituído por legados e doações com fins expressos,
convertendo em apólices inalienáveis o produto da venda
dos imóveis.
Daí serem leiloados oito dos prédios do Colégio, três
não encontrando adquirentes. Eram imóveis bem situados,
na parte central e comercial da cidade. O último dos três
ESCRAGNOLLE DÓRIA
prédios inalienados em 1856 foi o da Rua Estreita de São
Joaquim, n.° 66 à ilharga do Colégio, utilizado para serviços
deste. Arrematou-o na República a Prefeitura Passos, por
34:000$000, quando do alargamento da Rua Larga de São
Joaquim, hoje Avenida Marechal Floriano.
O ano de 1856, malaventurado na disciplina,
encerrou-se com sombrios vaticínios para os alunos.
Tinham culpas e não se lembravam do destino das cordas
até nos patíbulos arrebentando pelo lado mais fraco. O
lente de Latim, Dr. António José de Souza, anunciou a
catástrofe com solenes palavras na aula de despedida.
"Meus amiguinhos, breve chegará para vocês, odies illa,
dies irae." Veio o dies irae em novembro de 1856; com
os exames, presente o Imperador, os alunos todos
encasacados. Houve rigores e injustiças, quando
reprovação doía ao reprovado, a ponto de levar ele tempos
e tempos sem sair à rua por vexame, certos pais
mandando fechar janelas dando para a rua em sinal de
pesar.
Deu bom resultado o dies irae de 1856, embora
alguns justos pagassem por chusma de pecadores. Trouxe
calma e regularidade ao ano letivo de 1857, honradas as
aulas do Colégio, vez ou outra com a presença de
personagens. Um: Eusébio de Queiroz.
"Que homem tão simpático este! Anotou Taunay.
Ainda me lembro da atração que sentia ao vê-lo,
admirando-lhe os olhos tão grandes, tão serenos e de azul
puro!". A impressão da meninice persistia viva na
memória de Taunay, afinal Senador do Império como o
fora Eusébio.
Foi 1857 ano típico para o Colégio, até então
conjuntamente internato, semi-internato e externato. A 3
de maio de 1857 deixava o governo o Ministério da
Conciliação. Falecera a 3 de setembro de 1856 o seu
organizador, o Marquês de Paraná, fora o gabinete
continuado, por algum tempo, na Presidência do Conselho
pelo Ministro da Guerra, o Marquês de Caxias, já de tanta
luz como general e pacificador.
A 4 de maio de 1857, pela segunda vez Presidente
do Conselho, antigo Regente do Império, o Marquês de
Olinda organizava ministério. Reservou-se nele a Pasta
do Império na qual acabavam de revelar tanta operosidade
próximos antecessores. Gonçalves Martins e Pedreira.
Por inspiração de Olinda foi baixado o Decreto de
24 de outubro de 1857 cujo Regulamento secionou a
fundação de 1837, em dois estabelecimentos distintos —
Externato e Internado do Imperial Colégio de Pedro
Segundo.
Não se limitou o Regulamento à separação,
reformou, substituindo a divisão de estudos do Colégio,
da Reforma Pedreira, em 1a e 2a classes. Estabeleceu
curso geral de sete anos, a cabo do qual o aluno seria
bacharel em letras.
Formou curso especial de cinco anos, ao termo
deste entregue ao aluno apenas um certificado de estudos.
No dito curso eram dispensados os estudos de Desenho,
Música, Dança, Ginástica e Italiano, exigidos para o
bacharelado em letras. O curso especial representava mais
ou menos o curso do bacharelado até o 5o ano.
A Reforma Olinda, segundo explicação do relatório
do Ministério do Império em 1858, "tinha unicamente por
fim organizar o plano dos estudos do Colégio de Pedro
Segundo de modo que se restringisse algumas matérias
cujo excessivo desenvolvimento prejudicava o ensino de
outras disciplinas mais indispensáveis e tornar assim
possível melhor distribuição das matérias pelos diversos
anos do curso, com maior aproveitamento do tempo".
Na reitoria Pacheco, em julho de 1857, dava-se
execução à divisão do Colégio prescrita pela Reforma
Olinda. Descongestionando o Externato, pretendia
contribuir para melhorar a disciplina da Casa. Até as
tormentas aumentam pelo tamanho das naus.
Distinto ia ficar o novo Internato do antigo Externato,
instalado, aquele por aluguel, em casarão do Engenho Velho
na chamada chácara do Matta, nome do proprietário, o Dr.
Nascimento Matta.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Ir da cidade ao Largo da Segunda-Feira, com o qual
fazia esquina a chácara do Internato, coisa penosa em
1858. Não dispunha o Rio de Janeiro de fáceis meios de
transportes públicos. Recentemente, Noronha Santos
compendiou-os em dois ótimos sobre alentados volumes,
"Meios de transporte no Rio de Janeiro", ricos de seguras
informações.
Em 1858, localizado o Internado do Pedro Segundo
na chácara do Matta, no bairro do Engenho Velho, cabiam
seis viagens diárias de ônibus até o Largo da SegundaFeira. Daí regressavam os veículos à Praça da
Constituição, hoje Tiradentes, ponto inicial dos ônibus, até
1859 transferido depois para o Largo de São Francisco.
A criação do Internato ocasionou muitas
modificações na vida do Colégio. Passou o reitor do
Externato a ter por substituto um vice-reitor, nomeado por
decreto, e tirado do corpo docente, não acontecendo o
mesmo ao vice-reitor do Internato, de simples escolha do
governo.
Viram-se melhorados materialmente os repetidores.
Houve autorização para criação reitoral de turmas
suplementares conforme o número de alunos em cada
aula. A divisão das turmas, a nomeação de professores,
dependeriam porém da aprovação governamental.
Além do vencimento, o professor do Internato teria
gratificação para transporte, arbitrada segundo
necessidade de presença no Colégio. Os vencimentos
dos funcionários do Internato sobrelevariam um pouco os
do Externato. Perceberia o reitor do Internato 4:000$000
anuais, o colega de Externato receberia 3:000$000.
Descendo na escala administrativa, o capelão do
Internato venceria 800S000, o do Externato 400$000,
estabelecida proporção para todos os cargos de uma e
outra seção do Colégio.
Instalado o Internato, informava ao Governo o reitor,
Dr. Pacheco. "Os professores do Externato, dizia ele,
exceto os docentes de Grego e de Latim do 5o ano, que
propunham condições, estavam prontos a servir em
1837-1937
qualquer das duas. Para o do Internato seguiriam os
inspetores de alunos mais antigos, fornecido para a
instalação da nova casa material pedagógico do Externato".
Teve em 1858 o Internato, por primeiro reitor, o Dr.
Joaquim Marcos de Almeida Rego, médico carioca, clínico
dos mais abalizados, irmão do Dr. José Pereira Rego, Barão
do Lavradio.
Presidente do Ceará em 1851, o Dr. Almeida Rego
fora benemérito na província pelo procedimento como
homem de bem e de ciência. Quis a província, por
gratidão, elegê-lo deputado geral, declinando ele da oferta.
Instalando o Internato, logrou Almeida Rego um bom
auxiliar, transferido do cargo de vice-reitor do Externato,
frei José da Purificação Franco. Contrabalançava no
Externato a bondade do reitor. Era disciplinador, atestou-o
em 1914, antigo bacharel do Internato, Vieira Fazenda,
dizendo-nos pitorescamente na habitual bonomia de grande
sabedor da história do berço carioca.
"Trazia-nos de canto chorado o tal vice-reitor, o
beneditino Frei José da Purificação Franco. Não deixava
passar camarão por malha. Parecia até sogra ranzinza".
Assim em 1865, com maioria de razão, mais moço em
1857, devia ser disciplinador às direitas. Nem sempre se
achava coadjuvado frei José da Purificação. Muitos
inspetores não tinham precisa força moral, daí abusos dos
alunos, contidos os meio-pensionistas por inspetor de real
prestígio, o Viegas, muito afeiçoado ao professor
Gonçalves.
Com o Viegas as brincadeiras saíam bem caras,
daí evitadas. Aliás os meio-pensionistas, sob a guarda
do Viegas, vinham de casa almoçados, a entrada no
Colégio, quando ainda não dividido, marcada para as oito
e quarenta e cinco da manhã.
Jantavam no
estabelecimento e dele saíam às quatro e meia ou cinco
da tarde.
No ano letivo de 1857, tão assinalado na criação do
Internato, morria professor bastante querido dos alunos o
Dr. Francisco de Paula Menezes, dono da cadeira de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Retórica e Poética, "falador a valer e figura indispensável
ao Instituto Histórico, bom coração e cheio de meiguices",
diz Taunay.
Acrescenta este: — "Reuniram-se, quando ao
Colégio chegou a notícia do seu falecimento, os alunos
que ele lecionara e tratou-se, por meio de uma discussão,
que tomou logo feição de sessão, do modo de melhor
manifestarmos nossos sentimentos". Valeram-se para isto
de associação colegial a "Sociedade Recreativa".
Nela costumavam os alunos, como hoje nos grémios
congéneres, discutir, absolver ou condenar personagens
em júris históricos. Em associações tais o essencial é
falar, sem nenhum abalo do mundo universo, nem o menor
desarranjo das biografias dos personagens históricos
louvados ou incriminados.
A turma de 1857 seria a última das quinze turmas
que, desde 1843, graduara o Colégio indiviso. Contava
cinco bacharéis em letras.
Na vida pública se distinguiriam Manoel de Queiroz
Mattoso Ribeiro, filho de Eusébio de Queiroz, formado em
Direto em São Paulo, em 1863, deputado provincial na
monarquia, Senador federal na República pelo Estado do
Rio de Janeiro e vice-presidente do Senado; José António
de Azevedo Castro, formado em Direito em São Paulo,
em 1862, alto funcionário do Tesouro agraciado com o título
de Conselheiro e por longos anos até a morte, em 1911,
delegado do Tesouro em Londres, aí gozando da maior
confiança e apreço, presidente do Rio Grande do Sul em
1875; António Rodrigues Monteiro de Azevedo, formado
em Direito em São Paulo, em 1862, chefe de polícia na
província do Rio de Janeiro e magistrado na Corte; Gervásio
Mancebo, promotor público na Corte e finalmente Manoel
Thomaz Alves Nogueira, formado em Filosofia na
Alemanha, país do qual foi sempre admirador e longo
tempo habitante.
Doutíssimo, regeria Thomaz Alves a cadeira de
Grego do Colégio, autor de obras substanciosas. Para glória
do sábio escritor e do estabelecimento onde se instruiu e
lecionou mereciam ser bem mais conhecidas do que são.
Após alegrias da distribuição de prémios e da
colação de grau de bacharel, seriam as férias de 1857
assinaladas tristemente pelo desaparecimento do estimado
professor Bacharel Gonçalves. Seguia para o túmulo
acompanhado pela fidelidade de afeição do inspetor Viegas.
Segundo Taunay, 6o anista em 1857, era grande o
entusiasmo entre alunos, despertado pelo bacharel
Gonçalves.
Nas aulas, admiração lhes inspiravam os menores
ditos e gestos do mestre, tal ideia formavam os discípulos
das habilitações do lente, da sua elevada posição, da
influência exercida ou por exercer na sociedade brasileira,
que o falecimento de Gonçalves sinceramente pareceu aos
escolares verdadeira calamidade pública.
Diziam o bacharel Gonçalves versado em grego.
Atesta também Taunay ter o seu professor muito jeito para
o teatro, aquele cómico por natureza. Em representação
particular no Ginásio Dramático desempenhara o principal
papel no António José ou O Poeta e a Inquisição, a
celebrada peça de Gonçalves de Magalhães. Saiu-se
Gonçalves da Silva da empresa com muito talento,
recebendo calorosos aplausos.
O Bacharel Gonçalves aproximara-se dos alunos
auxiliando-os na celebração patriótica do dia 6 de setembro
de 1857.
Mercê das lembranças de escolar coeva, Rego
César, o nonagenário em 1935, no 3o volume do Annuario
do Colégio foi pelo professor Escragnolle Dória descrita a
festa de 7 de setembro de 1857.
Nessa noite, em palco improvisado, representavamse a comédia Brancas o Distraído, o drama O Judeu e a
farsa Aviso à Gazeta.
Na comédia defenderam papéis os alunos Manoel
de Queiroz, Gervásio Mancebo, Monteiro de Azevedo e
Azevedo Castro, todos setimanistas, Jorge João
Dodsworth, Rego César e Gomensoro, quintanistas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
No drama O Judeu apresentaram-se duas damas
sob cujas saias se ocultavam os alunos Gomensoro e Luiz
da Cunha Feijó, o futuro lente de medicina.
O Aviso à Gazeta pedia no palco a presença de duas,
Andreza, o aluno Gomensoro, e Ludovina, o calourinho
Possolo.
Findo o espetáculo, bem depois da meia-noite, após
a saída do Imperador e da Imperatriz, o Colégio continuou
em festa.
Em pleno 7 de setembro, foi servida ceia, primeiro
às senhoras, a ele conduzidas pelo braço de jovens alunos,
na preocupação própria da idade a de parecerem homens
fortes.
Em seguida, a meninada t o m o u conta da mesa,
erguendo brindes ao ex-Ministro do Império Pedreira, ao
Marquês de Olinda, Ministro da Pasta e Regente do Império
na criação do Colégio, a Eusébio de Queiroz, inspetor da
Instrução Pública, à Independência.
"Houve — disse depois o Diário do Rio de Janeiro
— em todo esse festejo um entusiasmo cheio de inocência
que o h o m e m não pode sentir em qualquer outra idade da
vida". Na festa o mais velho dos alunos contava dezesseis
anos.
Da importância do Colégio na época fornece notícia
obra de Kidder e Fletcher, Braziland the Brazilians, editada
em Nova York, justo em 1857.
Dizem aqueles autores "que a instituição pedagógica
a despertar mais interesse do que congéneres na capital
do Brasil fora organizada em fins de 1837 com o nome de
Colégio de D. Pedro I I " .
Acrescentam
Kidder
e
Fletcher:
—
"em
desenvolvimento e proteção primava o Colégio em relação
aos liceus provinciais".
O ano letivo de 1858 foi, principalmente no 7 o ano,
de estudos severos sobre aperto de disciplina.
Assinalou-o também a entrada de vários professores
efetivos, um deles Bacharel do Colégio, Joaquim Mendes
Malheiros, graduado em letras em 1847, colega de turma
1837 - 1937
de Álvares de Azevedo, o poeta impedido pela morte de
pagar à vida todas as promessas de talento genial pela
precocidade.
Malheiros substituía Gonçalves da Silva, substituição
difícil, não só pela distinção com a qual o antecessor regera
a cadeira de História Geral como pela simpatia por ele
desfrutada entre alunos.
Tinha, porém, Malheiros prática de magistério, e isto
m u i t o vale a docente novo em qualquer estabelecimento
de ensino. Conhece os segredos do ofício, as manhas
dos alunos de audácia ou de fingida ingenuidade se
servindo para experimentara força do professor. Não era
Malheiros pedagogo fácil de ludibriar. Conhecia a Casa e
a sua presença nela poderia aplicar, mudada a quarta
palavra, o:
"Nourri dans le sérail j ' e n connais les d é t o u r s " .
Enérgico e mordaz, sabia Malheiros impor t o d o
respeito a adolescentes propensos à familiaridade, geradora
da confiança, no mau sentido.
Havia adquirido Malheiros, no Colégio, boa cultura
de humanidades, a ponto de novel bacharel em letras e
académico na Faculdade de Direito de São Paulo ser
convidado, conforme Almeida Nogueira, pelo diretor da
Faculdade para, em substituição, lecionar e examinar
Geografia e História no Curso Anexo.
Nada neófito no magistério. Malheiros assumia,
c o m garbo e segurança, a cadeira de História no Colégio,
cadeira honrada por ilustres antecessores.
Outro professor efetivo de 1858 foi o de Geografia,
Pedro José de Abreu, a reger cadeira por longos anos até
fins do Império. Era baiano, de estudos na província natal.
M a i s t a r d e , em 1867, seria autor de c o m p ê n d i o da
disciplina com edições sucessivas, em muita voga nos
colégios da época imperial.
Com Malheiros e Abreu entrara para o Colégio quem
nele deveria permanecer anos e anos, morrendo no cargo:
— José Francisco Halbout.
De
progénie francesa,
pelo atavismo
bem
familiarizado com a língua a ensinar, aos poucos foi-se
ESCRAGNOLLE DÓRIA
tornando Halbout temido pela severidade, pela minúcia com
a qual ensinava ou exigia a partir, sobretudo, da publicação
de sua gramática teórica e prática da língua francesa, em
dois volumes.
Português de origem, José Ventura Boscoli
transferiu-se em 1858 de cargo na Biblioteca Nacional para
a cadeira de Matemática do Colégio.
Não era estranho a este o professor efetivo de
Filosofia Frei José de Santa Maria Amaral, tendo lecionado
a matéria como substituto. Monge beneditino, professo
na Bahia, terra nativa, era Santa Maria Amaral considerado
por saber e virtudes, sobre douradas por modéstia, levandooa recusar a mitra de Diamantina.
Para completar série de professores efetivos de
1858, seja mencionado o lente de Grego, Guilherme
Henrique Theodoro Schieffler, hanoveriano, formado em
Direito em Goettingen, servindo cargos de magistratura
na pátria.
Chegara ao Brasil em 1853, dedicando-se ao
magistério particular lecionando línguas vivas e mortas.
Naturalizando-se, concorreu à cadeira de Grego, obtendo
também por concurso cadeira de Alemão no Instituto
Comercial.
Halbout e Schieffler tinham lecionado no Colégio a
título interino no próprio ano letivo de 1858.
Por ocasião da abertura deste o reitor Pacheco
comunicara à Inspetoria do Ensino Primário e Secundário
do Município da Corte, tornar-se necessária substituição
de alguns professores por não pretenderem exercer
funções nas duas casas do Colégio.
Na leva dos interinos de 1858 haviam figurado
Halbout, Schieffler, colegas de alguém que não prosseguiria
no magistério, para se notabilizar na cultura nacional:
Baptista Caetano de Almeida Nogueira, o insigne cultor da
língua tupi. Dele, em relação a esta, foi dito: — Nenhum
brasileiro em tal estudo se lhe avantajou, ele excedeu a
todos.
Então pelo professorado, seleto tanto quanto
possível, se distinguia o Colégio, vanguardeiro na
pedagogia nacional. Também os alunos procuravam apurar
cultivo intelectual. Ensaiavam-no em associações e
jornaizinhos destinados a primícias de inteligência e
mostras de pendores literários.
Antes de 1858 já se conheciam no Colégio o que
alunos com a enfatuação própria dos estreantes,
chamavam pomposamente "órgãos de imprensa".
Dez anos antes de surgir O Tamoyo, no qual pela
primeira vez viu impresso composição sua, o futuro
Visconde de Taunay, e o relembraria com emoção no
declínio da idade, aparecia no Colégio o Escudo de Minerva,
órgão da associação do mesmo nome.
Compunham-na, em 1848, um presidente, dois
secretários e vinte e um sócios, entre eles Teixeira Júnior,
Ferreira Vianna, André Fleury e Duarte de Azevedo, futuros
ministros de Estado.
O Escudo de Minerva era manuscrito. Cada sócio
concorria com quarenta réis mensais para compra de
papel, capas, lápis para desenhos e fitas. O jornalzinho
feito com muita ordem e limpeza, com ortografia e
caligrafia, proporcionava também aos leitores alguns
desenhos a lápis ou a bico de pena. Apresentava, por
exemplo, um dos números do Escudo de Minerva, a célebre
Madona na Cadeira de Rafael, jóia do florentino Palácio
Pitti. Muito bem desenhada figurava a obra-prima de Sanzio
nas páginas do colegial Escudo de Minerva, que num de
seus números, a bico de pena, trazia a vista de São Paulo.
Não é despiciendo conservar aqui uma ou outra
amostra dos escritos dos juvenis colaboradores do Escudo
de Minerva, dada, sobretudo, a notoriedade adquirida pelos
mesmos.
Assim em escorço intitulado Do Brazil— Ferreira
Vianna, o futuro panfletário da Conferência dos Divinos,
referia-se a D. Pedro I nos seguintes termos: —
"Revolvei, desfolhai com toda a atenção as páginas
de uma história, que talvez achareis quem o iguale, mas
quem o exceda não.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837- 1937
D. Pedro s u s t e n t a v a duas coroas, abdicou-as,
o setimanista de então Alfredo d E s c r a g n o l l e Taunay,
chamando a si unicamente o título de Duque de Bragança,
dizendo: — "estudávamos seriamente esse 7 o ano e não
e nas duas campanhas contra seus próprios súditos; ele
faltaram provas do nosso aproveitamento".
c o m a destra empunhava a espada e c o m a sinistra
Também, em ofício a Eusébio de Queiroz, Inspetor
enxugava os prantos, corria com seus soldados, partilhador
da Instrução Pública, Pacheco da Silva, então mais
de suas desgraças, enfim seu fiel companheiro.
sof ridamente aproximado do corpo docente do que no início
O Brasil é uma planta ainda nascente, mas que
brotará galhos em cuja sombra acolherá todas as nações.
Finalmente o Amazonas, o Xingu, o Tocantins e o
Prata não foram criados pela mão do Onipotente para serem
habitados por um povo bárbaro, mas sim por um povo que
tenha um monarca que do alto de seu trono radiante,
conferencia com as nações e até, traça-lhes a rota dos
da reitoria, afirmava "severidade na disciplina e polícia da
casa".
M a s c o m o nos m i n ú s c u l o s jornais de a l u n o s
houvesse abuso de liberdade de imprensa, apressava-se
o reitor em pedir à Inspetoria de Instrução licença para
censura prévia de publicações colegiais.
Zelava P a c h e c o da Silva o r e n o m e da Casa.
seus d e s t i n o s " .
Outro colaborador do Escudo de Minerva, Jeronymo
José Teixeira Júnior, o vindouro Senador do Império,
ministro, Conselheiro do Estado e Visconde de Cruzeiro,
Publicação no Jornal do Commercio levantara acusação
ao porteiro do Colégio, a de maltratar alunos.
Dava-se pressa o reitor, h o m e m de ponto, em
Oração Fúnebre do Barão de Planitz, professor do
sindicar providência. Dirigiu-se pessoalmente à redação
Colégio, revelava em uma produção tristeza e educação
do Jornal, comunicou-lhe o resultado do inquérito, o porteiro
clássica.
chamando à responsabilidade aquele órgão de imprensa.
na
"Quão frágil é a vida humana!. Um só dia... um só
Pacheco informa-se do n ú m e r o exato de aulas
instante, mais rápido que o pensamento, bastou para
dadas. Apresentava-se nas mesmas. Quando nalgumas
roubar-lhe todos os encantos da vida/
notava atraso de alunos oficiava à Inspetoria de Instrução,
dies
infesta sibi proemiae
Omnia admitum
vitae".
externando com franqueza seu modo de pensar: —
Teixeira Júnior conservaria até a morte, com carinho,
quase com religião, cinco números do manuscrito Escudo
de
Minerva.
Ofereceu-os, ao Arquivo Nacional, quando o dirigia
o professor Escragnolle Dória, o Dr. Henrique Carneiro Leão
Teixeira, digno filho do Visconde do Cruzeiro. Na primeira
página do Escudo de Minerva, circundando efígie da deusa
medicina Dr. António Félix Martins. Dizia-lhe:
"Deve um professor ocupar-se unicamente dos que
podem dar boas lições deixando entregues a si sós os
outros que por sua idade ou compreensão menos feliz o
não podem fazer contentando-se em chamá-los à lição de
sapiente a divisa: — Vita sine Litteris Mors Est.
Em 1858, O Tamoyo, indigenamente procurou imitar
o Escudo de Minerva, com vantagem de impressão.
A bem do ensino consultava o reitor Pacheco a
Inspetoria a cargo do Barão de São Félix, o professor de
Do
O Tamoyo dá-nos lembrança um dos colaboradores, o
q u a n d o em q u a n d o , e x p l i c a n d o as lições em f o r m a
académica sem se importar que todos entendam ou não?
Nunca pensarei assim.
O Governo colocou-me à
futuro Visconde de Taunay, como a respeito do Escudo de
testa deste estabelecimento para velar pela execução das
Minerva nos informa o vindouro Visconde do Cruzeiro.
leis que o regulam, eu faltaria a deveres se carecesse de
Apesar das preocupações jornalísticas o ano letivo
de 1858 correu com regularidade. Atestou-o, mais tarde,
zelo e atividade no desempenho do honroso cargo que me
foi conferido".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Mais um ano de reitoria venceu Pacheco em 1858.
Chegou a época dos exames, prestados os do 7o ano, por
processo diferente do até então adotado.
Houve dia marcado para as provas escritas e orais
de cada disciplina. A votação seria final, matéria por
matéria, em geral os exames presenciados pelo Imperador,
das 11 da manhã às 5 da tarde e além, já escuro.
Findas as provas, aprovados uns, reprovados outros,
raiava suspirado dia, o da distribuição de prémios e colação
de grau a 24 de dezembro de 1858, dia bem próprio, pelo
Natal, para santas alegrias.
A Sala Nobre do Colégio, muito comprida, tinha
numa das extremidades uns quartinhos onde se alojava a
música. Na ponta oposta erguia-se o trono, com duas
cadeiras douradas, para o Imperador e a Imperatriz. Não
longe dos sólios, alçados sobre estrados, havia extensa
mesa coberta com pano verde. Sentavam-se à mesa o
Ministro do Império, os reitores do Externato e do Internato
e os professores.
Dois trechos musicais soavam, infalíveis na
cerimónia: — O Hino da Independência e um trecho da
"Stabat Mater" rossiniano.
Acolhia o Imperador e a Imperatriz o Hino Nacional
executado à porta do Colégio pela banda de música da
guarda de honra.
Começava a distribuição de prémios, estes, livros
ricos, apropriados à idade do recompensado. Conduziam
os prémios dois alunos menores até o Imperador e a
imperatriz que para entregá-los, tomavam-nos de bandejas
de prata, bandejas com pé. Muitos dos bacharelandos
viam-se premiados, com obras de latinidade ou de filosofia.
A entrega dos prémios era feita pelo Imperador e
pela Imperatriz, bondosos para com todos os laureados,
mormente para aqueles cujas famílias mantinham
conhecimento mais próximo com o par imperial.
Assim, premiado em 1858, disse o futuro Visconde
de Taunay: — "Ao chegar diante dos Imperantes, deles
recebi um olhar tão bom, tão meigo, tão enternecedor, de
verdadeiros pais a partilharem a alegria de um filho, que
medi, desde então, a verdadeira afeição que me dedicavam
como primogénito de quem lhes era bom e leal amigo: —
Félix Emílio Taunay".
Fora este, mestre de Grego, História Universal e das
Artes, de Desenho, do Imperador e o discípulo o
recompensou dizendo ao primogénito, o bacharel de 1858:
— "Por mais distante que eu olhe para meu passado,
sempre me recordo de haver visto o seu bom Pai e com
ele estado a conversar".
Mais tarde, no exílio, em Cannes, conversando com
Ferreira Viana, sobre os guias de sua educação, dir-lhe-ia
D. Pedro II, referindo-se no momento a seu preceptor frei
Pedro de Santa Mariana, Bispo do Crisópolis: — "Era
matemático, mas a quem tudo devo é ao velho Taunay.
Espírito vasto, versado em quase todos os ramos dos
conhecimentos humanos, este, sim, foi meu verdadeiro
mestre".
A presença, constante do Imperador e da sua família,
de Ministros de Estado, das pessoas mais gradas do Rio
de Janeiro, imprimiam à colação de grau dos bacharéis
em letras pelo Pedro Segundo a maior importância e
solenidade ao ato anual.
Não duvidemos: alguns a ele sem dúvida só
compareciam para que o Imperador os visse.
Aos bacharelandos a cerimónia impunha gastos para
os quais muitos se preparavam com antecedência, quando
favorecidos de pecúnia.
O alfaiate da moda era o Raunier, ao qual se dirigiam
os bacharelandos mais endinheirados, para uma casaca,
um colete e uma calça desejados a primor.
Segundo a praxe, o bacharelando devia ir de casa
ao Pedro Segundo de coupé. puxado por parelha de cavalos
brancos e cujo aluguel por horas custava muito caro, pelo
menos cem mil réis, despesa fabulosa no tempo. Daí
alguns bacharelandos repartirem gastos, dois no mesma
carro.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Aquelas despesas nào se limitavam ao graduado,
abrangiam a família dele. em todo o tempo senhoras se
apresentando de ponto em branco, faceirando-se jovens.
Dez bacharéis contou a turma de 1858, da qual mais
notório se tornou o Visconde de Taunay, tendo por êmulos
Agostinho José de Souza Lima, lente de Medicina,
autoridade em Medicina Legal, e José Viriato de Freitas,
lente de Direito e mestre também na matéria.
Aos dez bacharelandos do Externato ajuntaram-se
dois do Internato. Deste se tinham transferido para o
Externato, quando dividido administrativamente o Colégio
e reformado seu plano de estudos.
Foram aqueles bacharéis, os primeiros do Internato,
Cândido José Rodrigues Torres e João José de Moura
Magalhães. Torres, parente do Visconde de Itaboraí seria
deputado geral, depois Ministro do Brasil em Haia, em
1873, agraciado pelo governo português com o título de
Visconde de Torres, nosso último ministro-residente em
Haia, onde não tivemos representante diplomático de 1878
a 1893.
Possuía Cândido Torres veleidades literárias,
extraindo do Sul, Olinda e Recife, os gloriosos cursos
jurídicos do Norte. Cândido Torres, em 1868, teria a
coragem de combater Itaboraí, Presidente do Conselho e
tio do oposicionista, exigindo dele nada mais nada menos
do que proposta de paz a Solano Lopes.
Tinha Cândido Torres veleidades literárias, extraindo
de D. Quixote um drama, aproveitando na obra de
Cervantes, entre imaginação e sátira, o episódio de
Cardênio.
Em 1858, um dos primeiros bacharelandos do
Internato, longe estava Cândido Torres, ainda de brilhar na
vida. Entre os bacharelandos de 24 de dezembro de 1858,
completa a distribuição de prémios, viera Cândido Torres
prestar juramento aos Santos Evangelhos para receber o
barrete branco.
Refere um dos bacharéis do dia, Taunay, ter ocorrido
curioso incidente na solenidade. Por enfermo não pôde
acudir a esta António Ildefonso Nascentes Burnier.
1837-1937
Constituiu representante para tomar grau por ele. O
procurador "sui generis" foi bacharel do ano anterior, Costa
Ferraz, depois bem conhecido médico, e espírito sempre
original.
Dando dela prova precoce, intentou Costa Ferraz,
dizendo-se já bacharel, ficar com o gorro branco à cabeça
durante o ato e na presença do Imperador.
Proibido de tal, Costa Ferraz, representando Burnier,
que faleceria pouco depois, não se eximiu de beijar como
os demais colegas, a mão de D. Pedro Segundo e de D.
Thereza Christina, bondosa a ponto de merecer o cognome
de Mãe dos Brasileiros.
Nas colações de grau, como de estilo, discursava o
professor de Retórica, lendo peça cheia de considerações
históricas ou literárias de conselhos e advertências aos
bacharelandos.
Em 1858 orou o lente de Retórica, Cónego Fernandes
Pinheiro, desfavorecido de voz, mas muito querido de
alunos.
O discurso do professor, como se dizia então, de
Poética e Eloquência nacional rematava colação de grau.
Despediam-se o Imperador e a Imperatriz, ao som
do Hino Nacional, invariavelmente seguidos até à porta da
rua, atapetada de folhagens, pelo reitor e pelos professores
incorporados.
Os novos bacharéis dirigiam-se para casa, no
famoso coupé de cavalos brancos, não sem se demorar
alguns na entrada do Colégio para serem melhor
contemplados.
O Imperador e a Imperatriz rumo de São Cristóvão,
afastava-se a guarda de honra ao som de dobrado de sua
banda de música.
Voltava a Rua Larga de São Joaquim ao sossego,
da cerimónia restando na via pública folhas de mangueira
e canela e requisitadas com antecedência, e fornecidas
pelo Horto Botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Cada qual no seu bairro, eram os bacharéis
esperados pela vizinhança, aglomerada às portas e janelas
para observar a chegada do recente triunfador.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Vinham visitas cumprimentá-lo, enchia-se a casa
de amigos e parentes, e não raro opíparo jantar ou animado
baile acabavam dia inolvidável.
Os próprios professores, os mais folgazões, não se
dedignavam de presidir jantares oferecidos por colegas a
colegas.
Robora afirmação testemunho de Taunay, bacharel
de 1858:
— "Disse-nos:
Desfrutava eu o começo das férias quando em casa
apareceu comissão de bacharéis, três dos meus colegas
e mais o Dr. Souza (Dr. António José de Souza, professor
de Latim no Colégio), a fim de pedir a meus pais
consentissem fosse eu assistir ao jantar que um rapaz de
nossa turma nos dava. O primeiro movimento de meu pai
foi recusa...
— Vai ser um bródio formidável e Alfredo é capaz
de perder-se! Mas enfim, ponderava minha mãe, vendo o
desejo louco que eu tinha de ir, já não é mais um fedelho,
precisamos conceder-lhe alguma liberdade".
Aí usaram meus pais ardilzinho, que prometi
confirmar pela minha atitude durante aquele banquete e
com efeito confirmei por escrúpulo de consciência.
"Alfredo irá, concordou meu pai, mas como está bastante
adoentado, não comerá nada que lhe possa fazer mal, e
torno o Dr. Souza responsável de qualquer transgressão
na meia-dieta em que se acha".
Todos prometeram vigiar-me e lá partimos de carro.
De fato o jantar foi opíparo; mas mantive boa a palavra
dada a meu pai, e voltei bem cedo para casa, enquanto os
outros convivas faziam mil diabruras".
Tudo a demonstrar época, costumes e de envolto
com estes sentimentos de família. Eram levados a ponto
de mandar esta fechar a casa quando algum dos seus
jovens habitantes sofria reprovação.
Privava-se, espontaneamente, o desditoso de sair
à rua dias e dias, evitando qualquer pergunta indiscreta ou
amarga.
Acendrados,
declaravam-se
igualmente,
sentimentos de solidariedade entre colegas e
condiscípulos. Colega da turma de 1858, revivendo
aqueles sentimentos, conservou-nos memória, no fim da
vida, o Visconde de Taunay.
Salvou um pouco do olvido aquele Burnier,
representado na colação de grau pelo excêntrico Costa
Ferraz, fazendo tanta questão do barrete à cabeça, diante
do Imperador.
Nascentes Burnier, faleceria em 1860, dois anos
após o bacharelado por procuração, morrendo em Juiz de
Fora, minado pela tuberculose assassina de tantas
juventudes, antes dos 18 anos de idade, e cursando
estudos jurídicos.
Versejava Burnier, com extrema elegância e adorável
naturalidade desde os 12 anos — atesta-nos o condiscípulo
Taunay — e reunia poesias, repassadas de melancolia e
profunda tristeza, num livrinho intitulado Cantos dos Quinze
Annos, tomando por epígrafe, dolorosa previdência,
significativo e bem adequado verso — Poete, il n'a vécu
que la saison des roses.
Além de ter deixado no Colégio fama de espírito
superior sobre excelente estudante, irmanou-se um tanto
na precocidade poética com Álvares de Azevedo, também
da Casa Ilustre. São aproximáveis os Cantos dos Quinze
Annos da Lyra dos Vinte Annos, falecidos Álvares de
Azevedo e Nascentes Burnier, quando cursavam estudos
jurídicos, aquele no 5o ano em São Paulo, e este no 1 ° em
Recife.
Tudo mostra tendência para o cultivo das letras nos
estudantes do Colégio, também propensos a pilhérias, nem
sempre de bom gosto, mas reprimidas por quem de direito.
Certa vez, no Jornal do Commercio, apareceu
anúncio em aviso de feriado na véspera de São Pedro.
Deu-se pressa o reitor Pacheco em contravisar professores
e alunos, muitos dos quais entretanto compareceram no
Externato no dia anunciado de féria. Reclamando o,
autógrafo da publicação na tipografia, teve razões o reitor
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Pacheco em atribuí-la a aluno do Internato. Disto deu logo
ciência ao reitor do Internato, para devida sindicância e
Dunicão do culpado se descoberto.
1837-1937
Não há notícia de o haver sido. Riu-se à socapa na
ocasião para mais tarde talvez sentir peso de consciência.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Alunos em aula de ginástica sueca, no Internato - 1908.
Foto em exposição no Museu do Colégio
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 -1937
VII
O Colégio de 1859 a 1865
O Colégio de 1859 a 1860 • Confraternização do Externato e Internato • Ensino de
Ginástica • Professores e Repetidores em 1859 • Bacharéis de 1859 • Ministros do
Império de 1859 • Aulas Suplementares • Aula de Dança • Finanças do Colégio
Ano Letivo de 1860 • Novos Professores • Morte do Bacharel Gonçalves •
O Colégio de 1861 a 1865.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em
1859 entrava o Colégio em 21° ano letivo, à frente
A regra geral conheceu exceção, a bem do professor
ainda do Externato o Dr. Pacheco da Silva, em 3 o
de Italiano, o Dr. De Simoni, de aula facultativa pouco
ano de reitorado. Regia o Internato o Dr. Joaquim Marcos
de Almeida Rego, duas vezes colega de Pacheco, no cargo
administrativo e na profissão médica.
frequentada.
Beleza suprema da justiça é tocar a todos. Abriamse, p o r é m , exceções em favor de alunos quando
Confundiam-se a vida de Externato e Internato,
circunstâncias especiais justificavam um pouco de
embora separados por distância, na época considerável,
transgressão ao regime do Internato. Ainda assim só o
Rua Larga de São Joaquim de um lado, chácara do Matta
Ministro do Império podia ser juiz da exceção.
na Rua de S. Francisco Xavier, do outro e oposto.
Em 1859, o Ministro Sérgio de Macedo autorizava
Reitores e vice-reitores do Colégio, professores e
uma. O reitor do Internato permitia que aluno de 11 anos,
funcionários das duas seções do estabelecimento viviam
filho do Barão de Muritiba, o Senador Manoel Vieira Tosta,
em constante comunicação. Carecedor de qualquer auxílio
" e m atenção ao seu estado de saúde pudesse ir todos os
material, o Internato recorria logo ao Externato. Tal fora no
domingos à casa paterna". Mas acrescentava o ministro
m o m e n t o da instalação do primeiro, assim depois, uma
" m e n o s que não deva ser retido por castigo ou que não
seção procurando rivalizar com a outra.
haja outro motivo inconveniente à sua s a ú d e " . Favor não
A s s i m , inaugurada aula de Ginástica, construído
invalida disciplina.
pórtico no Internato para a disciplina e seus exercícios,
Guarda o arquivo do Internato, na correspondência
em breve o Dr. Pacheco pedia ao governo levantamento
do Ministério do Império com a respectiva reitoria, curioso
de pórtico de madeira para o m e s m o fim no Externato.
documento favorável a pai de família chamado Marquês
No ano letivo de 1859 seria alvitrada e posta em
de Caxias.
execução medida vedando aos professores do Colégio
"Sua Majestade o Imperador, atendendo ao que
ensinar em colégios e casas particulares as matérias das
representou o Marquês de Caxias, há por bem permitir
quais p u d e s s e m ser e x a m i n a d o r e s , no I n t e r n a t o ou
que Luiz Alves de Lima, filho do suplicante, e aluno desse
Externato.
Internato, possa depois do toque de recolher, sair desse
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
Estabelecimento para ir dormir na casa paterna, enquanto
deputado Sérgio Teixeira de Macedo, ao Senador Ferraz,
estiver d o e n t e . O que c o m u n i c o a V.Mce. para seu
interinamente, e ao deputado João de Almeida Pereira Filho.
conhecimento e execução.
Em fevereiro de 1860 abriam-se as aulas do Colégio,
Deus Guarde a V.Mce.
presentes às nove horas da manhã, no Externato, 148
Marquês de Olinda".
alunos, 11 gratuitos meio pensionistas e 34 externos, num
O favor não era gracioso. Há disso prova terrível, a
total de 45 gratuitos para 103 alunos contribuintes.
No
da morte. O segundo Luiz Alves de Lima, varão único na
Internato a abertura das aulas sempre sofria um pouco
descendência de Caxias, desaparecia adolescente e quem
mais demora para espera de colegiais, muitos regressando
sabe quantos sonhos alimentava para o filho, sempre
de lares longínquos.
l e m b r a d o , o g l o r i o s o pai, s o l i c i t a n t e de 1859.
Não
Propôs então ao governo, o reitor do Internato,
continuara Caxias, altivamente, a carreira magna do pai,
aumento anual de 20S000 nas pensões dos alunos e
o brigadeiro Lima e Silva, o Regente do Império?
extinção dos pensionistas de 2 a classe. Ouvida a seçào
Q u e m concedia graças t a m b é m as retirava.
O
ministro Ferraz mandava declarar ao reitor do Internato
importar a reprovação do aluno gratuito em duas matérias
perda imediata da gratuidade.
Em 1859 começaram os dirigentes do Externato e
do Internato a cogitar das desvantagens dos repetidores
em exercício a c u m u l a r e m cargos nas duas casas do
Colégio, fiéis os reitores ao preceito de ninguém poder
bem servir a dois senhores.
Sem maiores tropeços decorreu o ano letivo de 1859,
ao f i m do qual se graduaram somente seis bacharéis do
Externato, três dos quais mais notórios em subsequente
vida pública: — Francisco Belfort Duarte, deputado geral
do Império do Conselho de Estado, respondeu o Ministro
Almeida Pereira ao reitor, não poder ser aceita a proposta
"nas circunstâncias da vida de então, não convindo
dificultar os meios de instrução".
Insistiam m u i t o os reitores na conveniência de
possuir cada seção do Colégio repetidores privativos,
assim como na vantagem da criação de aulas, cadeiras
dizia-se na época, suplementares para desafogo das lições
de professores efetivos. Chegaram os reitores a alvitrar
t a m b é m a criação de professores substitutos, transitório
o caráter dos suplementares.
Autorizada cadeira suplementar de M a t e m á t i c a
pelo Maranhão e orador parlamentar apreciado; João
entraram a requerê-la Benjamin Constant Botelho de
Joaquim Pizarro, facundo lente de Botânica da Faculdade
Magalhães, José Arthur de Murinelly, Jorge Eugênio de
de Medicina do Rio de Janeiro, e o Dr. João Pinto do Rego
Lossio, e Seiblitz e Joaquim Inácio do Couto.
César, médico de muita reputação no Rio de Janeiro,
A presença de 100 alunos no 1 o ano determinava a
tornando-se nele figura da cidade, decano dos bacharéis
criação de cadeiras suplementares qual a de Matemática.
em letras até 1 de janeiro de 1935, data do seu falecimento,
Foi a cadeira suplementar de Português confiada ao
nascido Rego César em Porto Alegre a 14 de dezembro de
repetidor Dr. João da Cruz Santos, a de Francês ao repetidor
1839. Era h o m e m de bem na maior extensão da palavra,
Simeão Pereira de Moraes, a de Geografia ao professor
digno de saudade do Colégio.
efetivo
Dependia este de duas entidades administrativas, o
Ministério do Império e a Inspetoria-Geral de Instrução
Pública Primária e Secundária do Município da Corte.
Gonçalves
da
Silva,
a
de
Matemática,
interinamente, a Benjamin Constant, a de Doutrina Cristã
a José Manoel Garcia.
Seria este, mais tarde, secretário e professor efetivo
Em 1859 as reitorias do Externato e do Internato
do Colégio, autorizado por Eusébio de Queiroz, Inspetor
tiveram de subordinar-se a três Ministros do Império, ao
da Instrução Pública, a lecionar Doutrina Cristã, por clérigo
ESCRAGNOLLE DÓRIA
"in minoribus". A tanto ninguém podia ascender sem
aprovação do respectivo diocesano nas matérias teológicas
exigidas pelos cânones. Tais matérias tinham sido
estudadas por José Manoel Garcia no Seminário Episcopal
de Santo António, em São Luís do Maranhão, terra natal
de Garcia, mestre em artes pela Universidade norteamericana da Pensilvânia.
O ano letivo de 1860 assinalar-se-ia no Colégio pela
criação da aula de Dança ante o desejo manifestado por
muitos pais de alunos de iniciarem os filhos nos passos e
meneios da coreografia comedida da época, arte de recreio
e salão sem apelo à voluptuosidade disfarçada em
diversão, no respeito mútuo de dois sexos instruídos pelo
lar.
Dirigida por Júlio Toussaint, inaugurava-se no
Externato a aula de Dança, na tarde de 29 de setembro de
1860. Servia de complemento à instrução fornecida pelo
Colégio, compreendendo a aula conhecimento das regras
de civilidade social então apurada.
Em fins de 1860 um decreto estatuía novo regime
de matrículas, declarando o Governo a renda do Colégio
arrecadável pela Recebedoria do Município Neutro, com
escrituração especial. Em consequência foram recolhidas
ao erário público as apólices patrimoniais do Colégio.
Satisfaria o Tesouro os compromissos pecuniários do
estabelecimento, suprimido o cargo de tesoureiro,
transferidas atribuições dele aos escrivães do Externato e
do Internato.
Não cuidava, porém, só o Ministro do Império dos
dinheiros públicos, também da presteza no serviço ainda
público, expedindo-o as atribuições dele aos escrivães do
Externato e do Internato.
"Havendo muitas vezes demora nas informações
que se exigem das Autoridades, Repartições e Empregados
sujeitos a este ministério, do que resulta inconvenientes
para o serviço público: — cumpre que V.S., quando lhe for
exigida alguma informação, dê toda pressa em satisfazê-la.
O que lhe hei por muito recomendado".
Ambas as seções da Casa graduaram bacharéis em
1860, o Externato 6, o Internato 4; formando estes a
segunda turma de bacharelandos do Internato. A do
Externato forneceria à Faculdade de Medicina dois lentes:
— Domingos José Freire e António Caetano de Almeida.
Desde a criação em 1837, a vida do Colégio ia a par
da vida nacional, expressa sobretudo no Rio de Janeiro,
passado para este, em 1763, o vice-reinado do Brasil antes
na Bahia. A influência do centro sobre a periferia cada
vez mais se acentuaria.
Dos sucessos sociais também participava o Colégio.
Viera da quarta Regência, presenciara a Maioridade, o
encerrar em 1848 do ciclo fratricida das lutas civis do
Império. Conheceu Segundo Reinado para receber de quem
o representava, D. Pedro Segundo, a mais decidida e
desvelada proteção desdobrada em amor e vigilância. Era
o Colégio a menina dos olhos azuis do Imperador, desde a
inauguração presente às solenidades do estabelecimento,
depois às suas aulas nas quais, inspetor escolar coroado,
observava professores estimulando alunos.
Sempre sob tais auspícios, pregressos e presentes,
inaugurou-se no todo do Colégio, Externato e Internato, o
ano letivo de 1861.
Nele, recebia o Colégio, a título efetivo, professores
já nele conhecidos. Designado para reger a cadeira de
Ciências Naturais, honrada no mais alto grau pelo Dr. Emílio
Joaquim da Silva Maia, um dos novos catedráticos, Sá e
Benevides, era filho da Casa, por ela bacharelado em
numerosa turma de setimanista, os de 1853. De tal turma
haviam participado Henrique Pereira de Lucena e José
Ladislau Terra, uruguaio. Lucena desempenharia papel
político notório no Império e na República, presidente de
Pernambuco no momento da Questão Religiosa movida
pelo Bispo D. Vital, partícipe na República do golpe de
Estado de 3 de novembro de 1891 dissolvendo o Congresso,
Nacional. José Ladislau Terra atuaria na política do Uruguai,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
aí senador, e mais tarde o filho, em visita oficial ao Brasil,
relembraria o bacharelando paterno no Colégio de Pedro
Segundo.
Oito anos depois de bacharelado o colega de Lucena
e Terra, António Maria Corrêa de Sá e Benevides, a lecionar
então Matemática no Colégio, passava nele a proprietário
da cadeira de Ciências Naturais, também por ele
professada no Seminário de São José.
Benevides era campista, nascido fluminense em
1836. Moço, de trinta e cinco anos, tinha amor à Casa
onde se instruíra e procurava honrá-la. Entrava para o
corpo docente com o Cónego Félix Maria de Freitas
Albuquerque e o Dr. Felipe da Mota Azevedo Correia,
nomeados professores efetivos de Religião e Inglês.
O Cónego, depois Monsenhor, Félix Maria de Freitas
Albuquerque, era português, de Coimbra, beneditino
professo no mosteiro da Bahia. Secularizado exerceria no
ofício eclesiástico cargos importantes, 8o pároco colado
da freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá, inspetor
da Capela Imperial, confessor de D. Pedro Segundo e D.
Thereza Christina, finalmente vigário capitular por morte
do bispo Monte, de 1863 a 1866, vigário geral até morte,
em 1883.
Fortalecido o corpo docente com a nomeação de
bons professores efetivos, para maior regularidade do
ensino, os reitores Pacheco e Almeida Rego, responsáveis
pelas duas casas do Colégio, continuaram atentos aos
interesses pedagógicos das respectivas seções. Em geral
as providências tomadas para uma seção logo na outra
se refletiam.
No Externato, naturalmente de frequência superior
à do Internato, a reitoria Pacheco, em junho de 1861,
pugnava pela divisão das aulas em três turmas, e na
verdade em turmas numerosas só há ensino em bolo.
Consentia a Inspetoria de Instrução na divisão
proposta, reduzindo as turmas de três a duas. Em longo
sobre expressivo ofício respondia Pacheco ao Inspetor Félix
Martins, dizendo com independência: — "Sou obrigado,
1837 -1937
Exmo. Sr., a entrar em minuciosas referências para
esclarecer V. Ex.a de tudo que há a esse respeito, para
que nem a V. Ex.a, em coisas que são importantes, nem a
mim, caiba a pecha do — não cuidar — nem a maldição
dos pais. Quanto a falta de dinheiro nada posso dizer a
não ser onde não há el-rei o perde"..
Como em 1861 recebia o Colégio novos professores,
a 18 de junho de 1861,perdia um dos seus bons sobre
estimados docentes, o bacharel em letras João António
Gonçalves da Silva, cuja perda acentuava a reitoria.
Não só a reitoria também o corpo discente
manifestou consternação grande pela morte do esforçado
professor.
Outro afastamento, com causa bem diversa,
ocorreria em 1861, o de um professor do Externato, sob
ação criminal por injúrias. Convidou o reitor Pacheco um
bacharel em letras dos mais distintos da classe, Manoel
Thomaz Alves Nogueira, para substituição do professor
afastado de funções. Recusou-se Thomaz Alves alegando
necessidades de ultimar "trabalhos académicos".
Empregando frase feita, a chave de ouro de todos
os anos letivos do Colégio era a solenidade da distribuição
de prémios e da colação de grau.
Diminuta foi a turma de bacharelandos do Externato
em 1861, formada apenas por cinco bacharéis, menor ainda
a do Internato de sextanista único. Entre os setimanistas
do Externato, figurava Benjamin Franklin Ramiz Galvão,
cuja individualidade se iria afirmando no decurso do tempo
e na cultura do país, sobretudo na pedagogia, no magistério
superior de medicina, na direção do ensino, sem lhe
esquecer serviços prestantíssimos como diretor da
Biblioteca Nacional.
A 3 de fevereiro de 1862, abriam-se as aulas do
Colégio, afluindo 215 alunos no Externato. Dois dias antes,
referendado pelo Ministro do Império, José Ildefonso de
Souza Ramos, membro do Ministério Caxias de 1861, um
decreto alterava o ensino no Colégio. Reduzia-lhe
disciplinas, tornando facultativo o estudo do Alemão, do
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Italiano e das Artes. Tornar facultativo é meio fácil de
suprimir estudos. Acabava o Decreto Souza Ramos com
o curso especial de 5 anos, os exames de T ano prestados
somente quanto às matérias do ano. Para cada matéria
de exame final haveria duas provas, a escrita e a oral,
para as matérias de promoção unicamente se exigiriam
provas orais.
Antes de inaugurar-se o ano letivo de 1862, o Ministro
do Império, ainda Souza Ramos, tratava do aumento do
edifício do Internato, ouvindo previamente dois professores
da Academia Imperial das Belas Artes.
Sem incidentes de monta, decorreu o ano letivo de
1862. Nele passaria a secretário do Externato, o professor
José Manoel Garcia, e começaria a lecionar História
Universal o Dr. Francisco Inácio Marcondes Homem de
Mello, em 1877 Barão Homem de Mello.
Entrava a lecionar, após concurso, disputando
cátedra a valente contendor, o Dr. Cortines Laxe. Era
Homem de Mello aquisição de proveito para o Colégio,
privado do professor Malheiros.
Assim Martim Francisco 3o definiu Homem de Mello:
— "foi, era e ainda depois de morto continuava a ser: o
homem que sabia História".
E sabia mesmo. Por baixo da farda do Conselheiro
da coroa (Ministro do Império, Homem de Mello, em 1881)
sentia-se a beca do professor; tal foi por concurso que
teve data nos fastos intelectuais do país, sobejando para
isso a circunstância de ter como contendor o talento
brilhante de Cortines Laxe, foi professor ainda aos oitenta
anos, trôpego, cego.
No Pedro Segundo de 1862, como antes, o
ensinamento literário ia a par do religioso. Nas duas seções
do Colégio celebrava-se missa aos domingos, com homilia
para compreensão do Evangelho do dia, prática suspensa
por algum tempo no Externato, não autorizado o reitor a
despesas com a capela.
Domingo a domingo, com ou sem missa, chegou a
termo o ano letivo de 1862, assinalando, a 2 de dezembro,
25° aniversário da fundação do Colégio. Ainda vivia o
Marquês de Olinda, dela criador como Regente do Império,
morto o seu insigne colaborador, Bernardo de Vasconcellos,
arrebatado pela febre amarela em 1850.
A turma de bacharelandos do Externato, em 1862,
compunha-se de oito alunos, a do Internato de seis.
Salientou-se na primeira José Pereira Rego Filho, que,
médico, prestou muitos serviços ao país, notadamente à
Academia Imperial de Medicina, da qual anos e anos, foi
alma como secretário geral. Daí merecer, por ocasião do
jubileu como membro da associação, o colocar de seu
busto em bronze, obra do emérito escultor Pinto do Couto,
na sala das sessões da Academia.
Na turma do Internato, em 1862, figuraram João
José de São Paulo e Galdino Fernandes Pinheiro, o qual
dedicado à vida agrícola, continuou trato de letras. Com o
pseudónimo de Galpi, tirado do próprio nome, escreveu
Narrativas Brasileiras e romance de costumes nacionais,
O Flor.
Decorreu em calma o ano letivo de 1863. O
Externato era dirigido por Pacheco da Silva, o Internato
por Almeida Rego, sempre fiscalizado o ensino pela
imperial instância superior, a ponto de exigir esta lhe fosse
presente, em separado, a relação dos professores menos
assíduos, pois o Imperador desejava conhecê-los. No
momento da celebração no Colégio do centenário natalício
do patrono, em 1925, o orador oficial do Colégio proclamou
sem exagero, D. Pedro II o maior inspetor escolar do
Segundo Reinado.
Vigiados pelo soberano, os Ministros do Império
faziam igualmente muita questão, senão real. aparente,
da assiduidade dos professores do Colégio. Tendo, em
1863, o professor de Latim do Internato, Gabriel de
Medeiros Gomes, requerido continuação no magistério,
com aumento de 5a parte de ordenado, o Ministro. Marquês
de Olinda, pedia ao reitor do Internato informação do
"número de faltas dadas pelo professor, desde início do ,
exercício no Colégio".
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Na turma de bacharelandos de 1863, no Externato.
teriam subsequente relevo intelectual, científico e social
1837 -1937
de 1864, para desempenhar cargo que deixaria em outubro
do m e s m o ano.
os médicos Santos Titara, Rocha Lima e na turma do
Em setembro de 1864, já não era t a m b é m mais
Internato, os médicos Furquim Werneck, prefeito do Distrito
Ministro do Império José Bonifácio, substituído por outro
Federal na República, e Pedro Afonso de Carvalho Franco,
lente de Direito, José Liberato Barroso.
A 9 de novembro de 1864, falecia Jorge Furtado de
lente de medicina e operador de nota.
Seria o ano letivo de 1864 assinalado por nomeação,
Mendonça, lente de Latim no Colégio desde a fundação,
de certo, grata ao Colégio, designado o antigo segundo
em 1864 a lecionar a disciplina no Internato. O reitor deste,
reitor, Dr. Joaquim Caetano da Silva, Inspetor da Instrução
Dr. Almeida Rego, t o m o u a deliberação de suspender as
Pública.
aulas do dia, em sinal de pesar; c o m u n i c a n d o - o ao
Na turma de bacharéis de 1864, contavam-se, por
ministro, pela Inspetoria de Instrução. Em aviso entendeu
parte do Externato, Alfredo Piragibe, futuro diretor do
o superior respondendo a consulta sobre o procedimento
Internato, e por parte deste, João Baptista de Lacerda,
a adotar em caso de óbito de professores, que só o reitor
m é d i c o c o m o Piragibe, diretor do M u s e u Nacional e
podia julgar da conveniência do seu ato, não reconhecido
presidente
pelo governo como disposição genérica.
da
Academia
Imperial
de
Medicina,
recomendando-se por trabalhos de ordem científica, assim
a aplicação do permanganato como antídoto ofídico.
Da severidade e minúcia com os quais o Governo
Imperial participava da vida do Colégio, não f a l t a m
exemplos, m e s m o porque, o Ministro do Império, nos
despachos semanais, presididos pelo Imperador, em São
Cristóvão ou no Paço da Cidade, era obrigado a estar ao
corrente de quanto sucedia no Colégio, para de pronto
responder por ele ante D. Pedro II.
Em 1864,perdeu o Colégio bom professor, H o m e m
de Mello, pouco antes provido na cátedra de História, após
provas de concurso. Nomeado Presidente da Província
natal, São Paulo, para aceitar nomeação teve de renunciar
a cátedra. Era Ministro do Império José Bonifácio, o Moço,
Nos anais do C o l é g i o , o ano de 1864, ficaria
assinalado pela aprovação dos Estatutos do Instituto dos
Bacharéis em Letras, por Decreto de 16 de maio de 1864.
Ato governamental reconhecia instituição pela qual jovens
bacharéis em letras continuavam a recomendar por ensaios
literários a instrução ministrada pelo Colégio.
Em seu nome a Associação dos Amigos do Pedro
Segundo, que no valor da própria individualidade reconhecia
os serviços do estabelecimento a bem da cultura nacional.
Daí merecer a instituição referência particular nesta
memória, por viver muitos anos, celebrando regularmente
sessões, até magnas, animando vocações literárias, em
viva tradição do Colégio, onde s e m p r e funcionaria o
Instituto dos Bacharéis em Letras.
graduados, p l e i t e a v a m
Muitos destes, mal
logo a d m i s s ã o no I n s t i t u t o ,
lente de Direito. Obtemperou a D. Pedro II não existir
continuando assim a frequentar a casa de ensino de onde
incompatibilidade entre o cargo de professor e o de
haviam saído laureados.
presidente de província, de natureza transitória este,
Foi 1864 tempo de guerra para o Brasil, empenhado
d e p e n d e n d o de confiança de g o v e r n o s por sua vez
em luta contra o Uruguai. Ano seguinte, o de 1865, não
substituíveis.
seria de paz.
À campanha do Uruguai, seguiu-se a do
O Imperador discordou do ministro, observando: "Eu
Paraguai, movida por três nações sulamericanas, Brasil,
só governo duas coisas no Brasil: a minha Casa e o Colégio
Argentina e Uruguai, contra o governo tirânico de Francisco
de Pedro Segundo".
Solano Lopez e não contra o Paraguai, segundo declaração
H o m e m de Mello, exonerado de
professor, foi presidir São Paulo, nomeado a 8 de março
oficial constante.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
No sobressalto geral da naçáo, ajuntado ao dos lares,
direta ou indiretamente atingidos pela guerra, transcorreria
para o Colégio o ano letivo de 1865.
Dela, no início, entravam em exercício na regência
da cadeira de História e Corografia do Brasil, no
impedimento de Joaquim Manoel de Macedo, conterrâneo
deste, itaboraíense como ele, Salvador Furtado de
Mendonça e Menezes Drumond.
Crescer-lhe-ia fama nas letras na vida pública em
carreira consular e diplomática, com bastante luzimento e
labor, já na América, nos Estados Unidos, já na Europa,
em Portugal. Cegando nos últimos anos de vida, até
derradeiros momentos manteve na inteligência e na
memória a luz que nos olhos lhe faltava.
Cursava, em 1865, o Internato, o setimanista José
Vieira Fazenda. Muito e muito conheceria a história da
terra carioca, concorrendo despretensiosamente para
divulgação de usos, costumes e sítios do torrão natal, deste
benemérito cronista.
O setimanista de 1865, muitos anos depois, em
1915, em Anuário do Colégio, daria testemunho da vida
daquele no período de 1860 a 1865.
Por Vieira Fazenda, possível é conhecer a existência
colegial do tempo, no Internato, abrigado no Engenho Velho,
na chácara do Matta. Vamos evocá-la acrescentando
talvez.
Os internos despertavam às cinco e meia da manhã.
No verão o sono é encurtável sem dificuldade; no inverno,
embora doce a estação no Rio de Janeiro, sair cedo da
cama representa não pequeno sacrifício do sonolento do/ce
farniente.
Mas às cinco e meia da manhã, sol em raios ou
neblina a cobrir a serra da Tijuca, o porteiro do Internato
agarrava-se à corda da sineta, enchendo o casarão do
Matta de um nunca acabar de badaladas.
No princípio do ano o despertar dos calouros era
desagradável. Judiavam com eles os veteranos, os do 2o
ano sobretudo, sequiosos de vingança nas recordações
de vexame de pouco antes. Transformavam calças e
mangas das jaquetas dos calouros em verdadeiras roscas,
obrigando o 1o anista, com os dentes, a desatar nós da
roupa.
Às seis da manhã, os alunos do Internato entravam
na capela. Sobre o altar, diz Vieira Fazenda, havia velho
livro de orações, impresso em Lisboa, no qual se pedia
pela saúde do Rei, do Vigário e do povo da paróquia. Caso
o estudante menos prevenido não substituísse tais
palavras pelas do Imperador, Reitor e Colégio, era alvo de
risota. Acontecia tal quando o aluno, à míngua de prática
ou por descuido, lia automaticamente.
Da capela iam os internos para o silêncio, leia-se
para o estudo, até oito horas. Às oito e meia, a meninada
conhecia o refeitório, seguindo-se recreio até às nove.
Principiavam então as aulas até uma da tarde.
Meia hora depois nova ida ao refeitório, para o jantar,
"farto e bem feito", atesta Vieira Fazenda: — O menu não
trazia surpresas, mas em 1915 provocava ainda
"saudades" no setimanista de 1865.
Tudo comida bem brasileira, às quintas-feiras,
feijoada completa, às sextas, peixe frito, aos sábados,
picadinho com batatas e azeitonas, "cozido suculento",
nos domingos sem saída.
Recreios das duas às três, das cinco às seis, das
oito e meia às nove da noite, silêncio ou sala de estudos
das três às cinco, das seis às oito; e assim decorria a
vida dos internos de 1865.
Tinham, pois, quatro aulas diárias, quatro recreios,
três horas de sala de estudo.
"Estudávamos a valer", declara Vieira Fazenda.
Havia rigor na disciplina, força moral no reitor Almeida
Rego, "distinto médico provou-o quando caridoso prestou
serviços ao Ceará, por ele presidido em 1851, numa
epidemia amarílica, profundo latinista e ótimo
administrador".
Em 1915, Vieira Fazenda, ao dizê-lo, ainda se
lembrava de Almeida Rego, inspecionando o Internato,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
precedido por um cachorrinho de estimação.
ouvir voar uma m o s c a " .
"Podia-se
de anos anteriores, baile de convites disputados por
Nas aulas quando as moscas
famílias da cidade e das redondezas. Danças até duas da
voam o ensino e a disciplina andam.
Dia de sabatina, dia de pavor, sobretudo, na aula de
Grego, mais temidas as de verbos irregulares helénicos.
"Davam cólicas".
1837 - 1937
E acrescenta Vieira Fazenda:
madrugada, no tempo sucesso quase orgíaco. Subscrição
entre alunos aprovisionaram o buffet de doces, sorvetes e
refrescos. Orquestra alemã, a quarenta mil réis por noite,
pôs a girar os pares.
"Schieffler não concedia quartel, três notas más, só
Mostra-nos tudo isto não só vida transata do Colégio
conquistando um sofrível no t r i m e s t r e " . Três notas más
como época, vida recordada por Vieira Fazenda, às vezes
em trimestre equivaliam, no máximo, a simplesmente
em linguagem bem pitoresca. Em que dia o memorava o
pelo amor de Deus ou, mais certo, a bomba.
grande cronista carioca? A 8 de dezembro de 1914. Havia,
Não só o professor de Grego obrigava alunos a
aoristos bem sabidos.
então ele, quarenta e nove anos antes, recebido o grau de
Na lista dos exigentes, Vieira
bacharel em letras, em ato solene, presidido pelo Marquês
Fazenda colocou os p r o f e s s o r e s de Francês, L a t i m ,
de Olinda, presentes o Imperador e a Imperatriz, no salão
Geografia, História Natural, Matemática, Inglês, Física e
de honra do Colégio.
Química, a saber, Halbout, Jorge Furtado de Mendonça,
Abreu, Benevides, Bôscoli, Mota e Silva Lisboa.
A o s u b i r das r e c o r d a ç õ e s c o n f e s s a v a Vieira
Fazenda, em nome da juventude desvanecida: " Q u e m não
No rol dos benévolos figuravam os professores de
terá saudades desses tempos que jamais voltarão? Dessa
Retórica, História e Corografia do Brasil, Latim, nomeados
vida de mocidade na qual tudo é visto pelo prisma da
Fernandes Pinheiro, Macedo e Lucindo dos Passos.
esperança, embora esta muitas vezes se transforme em
Ao rigor da disciplina do reitor Almeida Rego, com
enganadora m i r a g e m " .
propriedade dizia amen o monge beneditino frei José da
Lembrava-se t a m b é m Fazenda da grata notícia da
P u r i f i c a ç ã o F r a n c o , v i c e - r e i t o r , l e v a n d o à risca a
rendição de Uruguaiana, recebida no Rio de Janeiro, nos
manutenção da ordem. Os colegiais comparavam o vice-
primeiros dias de outubro de 1865, desafrontado o solo
reitor à " s o g r a " .
brasileiro e sul-riograndense, da invasão paraguaia no
Fumar constituía crime passível de prisão simples,
privação de recreio por três dias, na reincidência recolhidos
os delinquentes à cafua, sob uma escada. Aí o estudante
período da guerra ofensiva de Lopez contra a Tríplice
Aliança.
Aos alunos do Internato acarretou a nova da rendição
de História Natural podia solitariamente recordar a matéria,
ordem de saída geral.
à passagens rápida de rato ou ao voejar de baratas,
patrióticas, deram vivas a D. Pedro II, ao duque de Saxe,
sobretudo em tarde calmosa, quando se assanham.
Isto era, contudo, tristeza evitável. Nem faltavam
alegrias no Internato, sobretudo na festa de São Joaquim,
padroeiro do Colégio todo. Celebrava-se missa festiva nas
duas seções, a da chácara do Matta e a da rua Larga.
Em liberdade ensaiaram arengas
ao Conde d'Eu, aos Voluntários da Pátria. Acrescentaram
ao júbilo algumas amabilidades dirigidas a Solano Lopez,
tirano do seu povo no ensanguentar América do Sul.
Efémero, porém, o feriado de Uruguaiana. Cumpria,
depois dele, aos internos regresso à Chácara do Matta, a
Em 1865, a festa de São Joaquim teve, no Internato,
cujo portão estava, tomando nota dos retardatários, o
brilho especial, divino e profano. Na capela executou-se
porteiro Cordovil, outrora soldado, no cumprir ordens
missa de Santos Pinto, professor de Música da Casa. No
continuando antigo ofício. De pena em punho, não tinha
edifício do Colégio realizou-se baile mais concorrido que o
misericórdia para lançar nomes na lista dos atrasados.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Quem não estivesse à hora marcada, podia contar com a
mais desagradável das penalidades: — quinzena de
privação de saída. Nenhum empenho livrava do castigo.
Cordovil sabia os superiores inflexíveis. Depois de
Cordovil, de soldado a porteiro, passou a receber alunos,
no Internato, o inspetor José Romualdo de Noronha, exator. Participara da companhia de João Caetano, dele amigo
e frequentador da Petalógica, centro de reunião de literatos
na loja de Paula Brito, no Rocio, ora praça Tlradentes.
De bela cabeça, um tanto calvo, sorriso a mostrar
lindeza de dentes, cara sempre escanhoada, o inspetor
Romualdo, compadre de Paula Brito, tinha maneiras à
fidalga. Abrandar-lhe rigores era citá-lo como ator que
figurara no palco do São Pedro, ao lado de João Caetano.
Tal o meio único de torná-lo menos perseguidor de
fumantes. Entretanto, como o homem, desde pequeno,
é eterno fraudador de leis e disciplina, os fumantes
procuravam burlar a severidade do Romualdo, usando
fósforos especiais em tirazinhas de couro.
Houve expansões patrióticas da meninada do
Colégio, por motivo do feriado extraordinário pela rendição
de Uruguaiana, presenciada por D. Pedro II, a declarar-se
o primeiro Voluntário da Pátria.
Não se olvidem porém, expansões cívicas de outro
género dos alunos do Colégio, anos antes requisitados para
participar da inauguração da estátua de D. Pedro I.
Haviam sido, então, os discentes do Colégio,
incluídos orfeonicamente no Te Deum entoado por ocasião
da estreia do monumento. Principiaram ensaios colegiais
na chácara do Internato. Seguiram-se ensaios gerais, no
Quartel General da então Praça da Aclamação, atualmente
da República. Francisco Manoel dirigia os ensaios gerais,
substituindo a batuta por uma bengala, atento aos coros
juvenis.
Presenciou o Colégio a inauguração da estátua de
D. Pedro I, no Rio de Janeiro, um dos mais belos
monumentos do mundo universo. Concebido pelo artista
nacional João Maximiano Mafra, fora modificado e prefeito
pelo escultor francês Luiz Rochet. A cidade ficou devendo
o monumento à iniciativa da sua Ilustríssima Câmara
Municipal, na sessão extraordinária de 7 de setembro de
1854, por proposta do vereador Haddock Lobo. O Senado
da Câmara, de onde proviera a Ilustríssima em 1825, já
havia aventado a ideia de erigir estátua ao fundador do
Império, posto o monumento na Praça da Aclamação ou
Rocio, apresentando Granjean de Montigny dois planos para
levantamento da estátua, um plano para cada praça.
Não foi adiante o projeto, renovado em 1838, em
1844, em 1852, neste ano, na Câmara Municipal, por
proposta do vereador, Dr. Domingos de Azevedo Coutinho
Duque Estrada, em 1854, na Câmara dos Deputados e
outra vez na edilidade.
Finalmente, a 30 de março de 1862, inaugurava-se
a estátua, em presença do Imperador, da Imperatriz, das
Princesas, da Corte, do Ministério presidido pelo Marquês
de Caxias, da Câmara Municipal e com o concurso da
população carioca apinhada no Rocio e no Morro de Santo
António.
Após a bênção da estátua, seguiu-se, ao ar livre, a
execução do Te Deum, de Segismundo Neukom, presente
no Rio de Janeiro, no governo de D. João VI. Neukom
recebera lições de Haydn, por seu turno mestre de
contraponto de D. Pedro I e de Francisco Manoel.
Dirigiu este o Te Deum executado por orquestra de
242 músicos e 653 cantores, entre eles os alunos do
Colégio, bem ensaiados, do Engenho Velho ao quartel do
Campo.
Alguns de tais alunos, um deles Vieira Fazenda,
chegados à virilidade ou à velhice se jactavam de saber
de cor a sua parte no Te Deum de Neukom.
Não muito longe da inauguração da estátua de D.
Pedro I, a turma de bacharelandos de 1865, recebia grau.
Coisa invulgar, foi a turma do Internato bem mais numerosa
que a do Externato, 17 bacharéis do Internato, 7 do
Externato. A esta pertencia António Mendes Limoeiro,
futuro professor do Colégio, depois de médico. Na turma
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
do Internato figuravam vindouro professor substituto da
Casa, o Dr. Afonso Carlos Moreira, e futuro catedrático, o
Dr. Custódio Américo dos Santos. Tiveram para colegas,
entre outros, José Vieira Fazenda, o cronista carioca, e o
foi em ponto pequeno do Colégio, e Joaquim Aurélio Barreto
Nabuco de Araújo, a subir na vida nacional.
Em 1865, porém, cursava no Internato último ano
de estudos secundários, um paulistazinho de
Pindamonhangaba, discípulo conceituado por aplicação e
procedimento. Chamava-se Francisco de Paula Rodrigues
Alves. O Ministro do Império que, em fins de 1865, lhe
impôs o barrete branco do bacharelado, o Marquês de
Olinda, certo nem por sombras poderia suspeitar tudo
quanto o destino reservava ao jovem bacharel do Internato.
Dados a D. Pedro II e ao antigo Regente do Império
dons divinatórios, serviriam a ambos para desvendar até
onde chegaria o bacharelando de 8 de dezembro de 1865.
Trinta e sete anos depois, Francisco de Paula
Rodrigues Alves, a 15 de Novembro de 1902, Presidente
da República, ocuparia o lugar de D. Pedro II, como primeiro
magistrado da nação, nomeador de ministros quem das
mãos do Marquês de Olinda recebera o barrete branco.
Em 1865 viagem de cientista célebre se assinalaria
não só na vida intelectual do Rio de Janeiro, como mais
particularmente na existência do Colégio.
Veio ao Brasil, em 1865, Luiz Agassiz, afamado
paleontogista e geólogo suíço. Nascido em 1807, no cantão
de Friburgo, ainda estudante fora encarregado, por Martius,
da descrição de peixes recolhidos no Brasil por Spix e
Martius. Transferindo-se para os Estados Unidos, aí fundou
Agassiz grande museu zoológico em Cambridge. Atraído
ao Brasil, antecipadamente aí contando com a viva
simpatia pessoal de D. Pedro II, este levando a mesma
simpatia a todos os empreendimentos científicos, no dizer
do próprio Agassiz. O célebre geólogo chegou ao Rio de
Janeiro em fins de abril de 1865, acompanhado pela
esposa, sua colaboradora, e por vários companheiros de
excursão, alguns dos quais sócios de diferentes préstimos
1837 - 1937
na empresa científica de Agassiz. Eram um desenhista,
um conchiologista, um ornitologista, um preparador e dois
geólogos, estes Frederico Carlos Hartt e Orestes Saint
John. Canadense de berço, Hartt consagraria existência
ao Brasil onde falecera, no Rio de Janeiro, em 1878, vítima
da febre amarela. Morrendo, como desaparecem todos
os homens de trabalho e da ciência, pobre e desanimado
deixava ao desamparo esposa dedicada, e na orfandade
dois inocentes filhinhos, as mais doces esperanças de
sua vida, vivida para o labor, para o estudo e para a ciência.
Assim disse o Dr. Carlos Alberto de Menezes, traçando
biografia de Hartt.
Com Agassiz, em 1865, conheceu-o o Colégio de
Pedro Segundo, justa pois, homenagem à sua memória.
Demorando-se no Rio de Janeiro e a ele tornando
após viagem ao Amazonas, ao Pará e ao Ceará, Agassiz,
amparado pela proteçáo do Imperador e pela estima do
reitor Dr. Pacheco da Silva, realizou duas séries de
conferências no salão nobre do Externato. De tais
conferências, da novidade delas, vai dizer o mesmo
Agassiz, na alentada obra ilustrada de sua lavra Viagem
ao Brazil, de mais de 500 páginas, com 54 gravuras e 5
mapas, obra traduzida do inglês para o francês por Félix
Vogeli, recebendo também a obra colaboração da senhora
Agassiz.
Referindo-se às conferências no Colégio, a obra de
Agassiz consigna o seguinte trecho a transcrever na
íntegra.
Representa atestado não só de cultura, como de
importância do Colégio no qual o Imperador, sempre por
ele desvelado, fez questão fossem ouvidas lições de honra
para a Casa, quais as de um sábio.
Disse Agassiz: — "Estas conferências , a dar crédito
aos próprios brasileiros, foram para eles novidade
desconhecida e até certo ponto revolução de hábitos.
Trabalho científico ou literário é apresentado ao público
do Rio em condições especiais e diante de seleto auditório,
na presença do Imperador, ante o qual o autor procede
ESCRAGNOLLE DÓRIA
solenemente à leitura do seu trabalho. O ensino popular,
consistindo em admitir livremente, todos quantos querem
ouvir e aprender, foi causa até aqui desconhecida. A ideia
partiu do Dr. Pacheco, diretor do Colégio D. Pedro II, homem
de cultura, de espírito verdadeiramente liberal e de grande
inteligência ao qual a instrução pública no Rio deve mais
de um progresso. A ideia encontrou acolhimento junto ao
Imperador, sempre bem disposto quando se trata de
estimular o gosto pelo estudo no seu povo. A pedido do
Imperador, o Sr. Agassiz deu, em francês, uma série de
lições familiares sobre diversos assuntos científicos.
Julgou-se muito feliz por poder assim introduzir neste país,
um meio de educação popular cuja influência o Sr. Agassiz
julgou das mais salutares. A princípio a presença das
senhoras foi tida por impossível como inovação demasiado
grande nos costumes nacionais; mas o preconceito em
breve foi vencido e as portas ficaram abertas para todos,
à verdadeira moda da Nova Inglaterra. Se a atenção a
mais seguida é da parte de auditório prova de inteligência,
manda dizer a verdade que nenhum orador pode almejar
auditório mais inteligente ou melhor dotado do que aquele
ao qual o Sr. Agassiz teve o prazer de dirigir-se no Rio de
Janeiro. Foi, aliás, para ele, gozo, após ensino de mais
de vinte anos por meio da língua inglesa, libertar-se dos
entraves de idioma estrangeiro e de exprimir-se de novo
em francês. Seja como for, salvo raras exceções, a língua
materna de um homem torna-se sempre para ele o idioma
preferível como o ar ao pássaro, a água ao peixe, o
elemento no qual se move à vontade. O Imperador e a
família imperial assistiram a estas reuniões e coisa digna
de nota, a testemunhar bem a simplicidade dos hábitos
imperiais, em vez de ocupar o estrado erguido para ele, a
Imperatriz e as Princesas, D. Pedro fez colocar as poltronas
destinadas a ele e aos seus, no mesmo plano das demais,
como se tivesse querido mostrar que ao menos ante a
ciência todas as hierarquias se apagam".
Tornado de viagem ao Norte, Agassiz voltou a
conferenciar no Colégio. Do êxito das mesmas disse a
obra do professor Agassiz com mostras de conhecimento.
"O Sr. Agassiz terminou esta semana outra série
de conferências no Colégio D. Pedro II, sobre a formação
do vale amazônico e suas produções. A presença de
senhoras nestas tardes científicas não provoca mais
comentários, havia-as em muito maior número no auditório
do que nas primeiras conferências, nas quais a presença
feminina constituía novidade. Nada há mais simpático de
que um auditório brasileiro e, isto porque o público do Brasil
se assemelha mais ao da Europa do que o norte-americano
sempre frio e impassível. Há ligeiro movimento, espécie
de comunicação entre orador e ouvintes e se alguma coisa
lhes apraz manifestam, não raro palavra de elogio ou de
crítica".
Bem antes de Agassiz, dois viajantes, os reverendos
pastores Kidder e Fletcher em volumosa e mínudente obra,
O Brasil e os Brasileiros, publicada nos Estados Unidos
em 1857, haviam se referido em termos lisonjeiros ao
Colégio, termos completados pelas expressões de
Agassiz.
Segundo Kidder e Fletcher: "Na cidade do Rio a
instrução podia ser dividida nas seguintes classes: — a
primária, a secundária, e a dos colégios. O Colégio de
Pedro Segundo, a academia Militar e a de Marinha, o
Colégio Médico, e o Seminário Teológico de São José estão
sob a direção do Estado. Nos colégios particulares há
aproximadamente 500 alunos.
Nesses estabelecimentos de ensino a mocidade
brasileira ascende à montanha do saber. Uma instituição
a despertar maior interesse do que qualquer outra na capital
do Brasil, foi organizada no fim de 1837, com o nome de
Colégio de Pedro Segundo. É destinada a dar educação
escolar completa e corresponde, em plano geral, aos liceus
estabelecidos em muitas províncias, embora em progresso
e proteção, o Colégio de Pedro Segundo se avantaje a
qualquer outra instituição da mesma espécie.
A afluência de alunos foi considerável, desde a'
primeira organização das aulas do Colégio. Ponto de grande
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
interesse, relativo à instituição, é a circunstância de
expressamente determinarem os estatutos do Colégio a
leitura e o estudo das Escrituras Sagradas em língua
vernácula. Por algum tempo antes da criação do Colégio,
exemplares das Escrituras se achavam em uso em outras
escolas e seminários da cidade, nos quais começaram a
1837 - 1937
ser apreciadas depois do exemplo do Colégio do
Imperador".
Não se contentava D. Pedro II em prezar o Colégio,
queria-o benquisto no conceito público, eliminando quanto
possível o que naquele o prejudicasse. Amar é sobretudo
resguardar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Salão Nobre, após a reforma de Bethencourt da Silva, em 1875.
Local de reunião da Congregação e das solenidades magnas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
VIM
O Colégio de 1866 a 1875
Nova Reitoria do Internato • O Colégio e a Guerra do Paraguai • Novos Professores •
Introdução do Sistema Métrico Decimal • Nova Reitoria do Externato •
Professoras de Ensino • O Bacharelando Teixeira Mendes • Reitoria Interina do
Internato • Matrícula do Príncipe D. Pedro Augusto • Nova Reitoria Interina do
Internato • Bethencourt da Silva e o Salão Nobre do Externato •
A Colação de Grau de 1875.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A
no letivo de 1866 transcorreria no Colégio dentro em
mais um ano da luta externa na qual o Brasil,
aliado à Argentina e ao Uruguai, se empenhava contra o
g o v e r n o de Solano Lopez. E n t r e t a n t o , a e s t e o pai,
antecessor na presidência da República do Paraguai, Carlos
António Lopez, instantemente recomendara não combater
o Brasil com a espada, sim com a pena.
Os colegiais do Externato e do Internato, pelo lar,
pelas agitações públicas ao anunciar de vitórias,
forçosamente participariam da guerra, por muito que a
adolescência seja versátil. Um tudo nada de curiosidade
sempre lhe fica.
Viam escolares um professor, o alferes Pedro
G u i l h e r m e Meyer, iniciador dos alunos nas v o l t a s e
destrezas da Ginástica, de partida para o Paraguai, a
combater no Exército já em plena campanha.
Coisa não belicosa era a exoneração do mestre de
dança, Júlio Toussaint, valente auxiliar coreográfico das
companhias de João Caetano.
Voltava às dançarinas
deixando para s u b s t i t u t o de r i t m o s e mesuras José
Lourenço de Paiva.
Nem ao internato t a m b é m faltavam ritmos e
mesuras.
O Ministro Marquês de Olinda autorizava ao
Internato o pagamento de 2405000 "ao rabequista auxiliar
do professor de dança", concedendo 360S000 anuais à
v e r b a para o d e n t i s t a e para c a b e l e i r e i r o do
estabelecimento.
Concorriam os alunos com gosto às aulas de Dança,
naturalmente por facultativas menos frequentadas as de
Alemão e Italiano, s e m p r e de d i m i n u t o auditório.
Goldschmidt lecionava um aluno, De Simoni, onze.
Dia houve, porém, de ficar o Colégio deserto e
danificado por memorada chuva de pedras, da qual muito
t e m p o se falou no Rio de Janeiro, bombardeado pelo céu.
Só no Colégio a chuva partiu 317 vidros, cuja reparação
nos caixilhos, determinando suspensão de aulas, custou
bem mais de 600S000, atingida a Sala do Retrato, assim
chamada por figurar nela retrato em ponto grande de D.
Pedro II.
Para o Externato isto, para o Internato o ano de 1866
seria assinalado pela retirada do primeiro reitor, o Dr.
Almeida Rego.
Substituiu-o frei José de Santa Maria Amaral, nome
e pessoa das mais distintas do Colégio, nomeado vicereitor o padre Sá e Benevides, professor da Casa. Ao Dr.
Almeida Rego, médico, sucedia Santa Maria Amaral, frade,
a religião t a m b é m medicina de alma.
A o n o v o r e i t o r p r e s t a r i a m o b e d i ê n c i a dez'
setimanistas de 1866, em breve bacharéis, entre eles
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
futuro lente de medicina, Chaves Faria. Nove eram os
bacharelandos do Externato, dois vindouros lentes de
medicina, Augusto Ferreira dos Santos e Kossuth de Vinelli,
acrescidos de futuro jurisconsulto, Carlos de Carvalho.
Sem dúvida a colação de grau de 1866 passaria com
sombras de tristeza, como as demais até encerrar a Guerra
do Paraguai. Muita gente morria, muita sofria, ao longe
ou de perto. Tudo dor no coração do Rio de Janeiro.
Nas mesmas disposições de ânimo público, a
refletirem-se nos lares, entrou no Colégio o ano de 1867.
Recebeu novo mestre de Ginástica, Valeriano Ramos da
Fonseca, substituto de Meyer, no Paraguai.
Da turma de bacharéis de 1867, no Externato,
incontestavelmente, o nome de mais brilho seria o de
Carlos de Laet, aliás, sempre ufano, vida inteira, do título
de bacharel em letras. À turma do Internato pertencia
Guilherme Afonso de Carvalho, depois professor do
Colégio, aumentando a lista dos docentes filhos da Casa.
No relatório do Ministério do Império, em 1867, pelo
Ministro da Pasta, Senador José Joaquim Fernandes Torres,
foi apresentada à Assembleia Geral, Senado e Câmara,
estatística referente ao Colégio, à vista de informação da
Inspetoria de Instrução Pública, a cargo de antigo reitor e
professor do Colégio, o Dr. Joaquim Caetano da Silva.
Em 1867 haviam se matriculado no Externato 65
alunos contribuintes, totalmente externos e 14 meio
pensionistas, 67 alunos gratuitos, totalmente externos e
13 meio pensionistas, total 159.
No Internato tinham permanecido 95 alunos
contribuintes e 20 gratuitos, total 115. Trezentos e quatro
alunos contava o Colégio, para que deles prestassem
exames 8 1 , 74 aprovados com diversos graus e 7
reprovados. 10 concluindo curso e recebendo o diploma
de bacharéis em letras. Achavam-se matriculados 2.000
alunos em diversos estabelecimentos de ensino particular,
alguns dos quais de maior fama, como os colégios Marinho
e Victorio, São Pedro de Alcântara, para o sexo masculino,
assinalados entre colégios para o sexo feminino os de
1837-1937
Imaculada Conceição, Leuzinger e Taulois. Em alguns
desses estabelecimentos de instrução lecionavam
professores do Colégio, antigos ou futuros, como por
exemplo, no Colégio Pinheiro, os Drs. Joaquim Mendes
Malheiros e Luiz Pedro Drago.
Em 1868, o Colégio seria atingido, por providência
do governo imperial, visando a recompensar bravura extinta
na vida eterna da caridade. Decreto de 1o de fevereiro de
1868, referendado pelo Ministro do Império, Senador
Fernandes Torres, provisoriamente elevava o número de
pensionistas gratuitos. Tal o meio de admitir no Internato,
alguns filhos dos militares falecidos no Paraguai ou
invalidados na campanha.
Premiava também o Governo a longa reitoria de
Pacheco da Silva, outorgando-lhe o título de Conselheiro.
Com ele, de 22 de abril de 1868 em diante, começou a
subscrever correspondência oficial.
Avultando em guerra o ano de 1868, o Colégio, deu
poucos bacharéis, três no Externato, quatro no Internato.
Destacar-se-ia da turma do Externato, José Pedro da Silva
Maia, filho do Dr. Silva Maia, lente do Colégio, o bacharel
de 1868, não só vindouro funcionário da Secretaria da
Guerra como distinto ocupante interino da cadeira de
Literatura do Colégio.
Os bacharéis do Externato, na ausência do
catedrático de História e Corografia do Brasil, Joaquim
Manoel de Macedo, não raro no Parlamento, ouviram lições
de substituto interino. Chamava-se José Maria da Silva
Paranhos, seria o Barão do Rio Branco.
Não só no Brasil o Colégio de Pedro II gozava fama
crescente, a notícia do seu progresso despertava interesse
em patrícios nossos no estrangeiro, prova-o fato seguinte.
Em 26 de outubro de 1869, a Legação Imperial em
Bruxelas, a cargo do Ministro Thomaz Fortunato de Brito,
depois Barão de Arinos, avisava ao reitor Pacheco da Silva,
da partida de Antuérpia com destino ao Colégio de oferta
ESCRAGNOLLE DÓRIA
do referido ministro qual a de coleção de modelos de
figuras geométricas em arame, de invenção do professor
Stressner.
"As vantagens que para o ensino oferece o novo
sistema — dizia o ofertante — me parecem
exuberantemente provadas, não só pelo fato de ter sido
ele adotado por considerável número de estabelecimentos
de instrução pública deste país, como também pelas
razões que V.S. encontrará exaradas em parecer incluso".
Aberto o ano letivo de 1869, por licença de três
meses, concedidos a Schieffler, lente de Grego, era
interinamente chamado a lecionar a cadeira o Dr. Benjamin
Franklin Ramiz Galvão, do qual a nomeada o tempo só iria
acrescentando.
Entram uns, saem outros, tal a lei da vida, bem de
extremidades em berço e túmulo. Da existência saía o
mestre de Dança do Colégio, Paiva, entrava no cargo
Francisco de Paula Paiva, daquele filho.
Ficava também em cátedra da Casa, por concurso,
o professor de História Média e Moderna, o Dr. Domingos
Ramos Mello. Não só então se dedicaria à cadeira como
estimaria a disciplina publicando, já jubilado, em 1923,
Lições de História Universal. Antiguidade, Vinte e Um anos
de Magistério no Tempo do Imperador. Obra na qual o
autor revela um erudito, a par de todos os adiantamentos
da História, e por vezes apreciável pensador. Pena foi a
morte não deixar Ramos Mello concluir obra valiosa.
Bastantes anos de magistério lograria Ramos Mello,
a jubilação pelo Império concedida aos professores de
qualquer grau por cinco lustros de exercício. Em 1869,
estava no caso o mestre de Desenho do Colégio, Faria
Pardal, a pedir conservação no magistério, também
permitida a juízo do governo, mostrando Pardal "necessária
atividade e robustez para desempenho de cargo".
A turma de bacharéis de 1869 daria mais tarde ao
ensino superior e secundário, quatro lentes: Domingos Jacy
Monteiro Júnior, lente de Medicina; Viriato Belfort Duarte,
lente da Politécnica, ambos do Externato; Francisco van
Erven, lente da Escola de Minas, e João Henrique Braune,
lente do Colégio, os dois graduados no Internato.
Seria 1870 ano de júbilo e desafogo para o Brasil.
Terminou nele, a guerra do Paraguai, expiando Solano
Lopez, com coragem, de espada em punho, vida
sanguinosa, bem característica de tirano divinamente
elevado a El Supremo.
No ano letivo de 1870, passado o reitor do Internato,
frei Santa Maria Amaral a Inspetor Interino da Instrução
Pública, voltaria a lecionar Retórica, no impedimento do
catedrático, Fernandes Pinheiro, o havia pouco substituto
interino de Grego, Ramiz Galvão.
Embora a título interino, substituindo o catedrático
Silva Lisboa, teria ingresso no corpo docente do Colégio,
para lecionar Física, o bacharel Agostinho José de Souza
Lima, futuro lente de Medicina.
Matéria lecionada no Colégio, sofreria modificação
no programa de estudos com a introdução do Sistema
Métrico Decimal no Império.
A Lei n.° 1157, de 26 de junho de 1862, referendada
por Sinimbu, Ministro da Agricultura do 3o Gabinete Olinda,
substituiu, em todo Brasil, o sistema de pesos e medidas
vigente e complicado pelo Sistema Métrico Francês.
Nada fácil a mudança e até motivou, no Norte, a
revolta dos Quebra Quilos. No Colégio também se operou
lenta a introdução do ensino do Sistema Métrico Decimal.
No programa pedagógico da Casa, em 1865, ainda se
mencionava, logo após o estudo das operações relativas
às frações ordinárias, o dos números complexos e
operações sobre eles, tudo pela Aritmética de Ottoni.
Desde 1868, o professor de Matemática, João
Bernardo de Azevedo Coimbra, pedira ao reitor Pacheco,
cessão de sala para ensinar o novo sistema, opusera-se o
reitor à concessão, a bem da disciplina, a seu ver já
prejudicada pela presença de preparatorianos em exames
no Colégio.
Mas pouco a pouco, sem embargo de resistência^
da Inglaterra ao sistema métrico francês, Albion, fiel às
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
jardas, o Brasil e nele o Colégio, foi aceitando a morte dos
complexos, sepultados o alqueire, a vara, o arrátel.
Substituir o antigo sistema de pesos e medidas pelo
novo sistema, não foi única preocupação da reitoria
Pacheco. Felizmente o Colégio nunca onerado com dívidas,
sem credor de espaço, desejava aumentar-se no Externato,
o Internato à folga no Engenho Velho. Para alargar-se e
alojar-se, cumpria ao Externato desalojar dois hóspedes,
a irmandade de N. S. da Batalha e o Liceu de Artes e
Ofícios. Funcionava aquela na igreja de São Joaquim,
anexa ao Colégio, este desde a inauguração, a 1o de
fevereiro de 1859, também ocupava cada vez mais o
templo, não cessando o reitor Pacheco de pugnar por
desalojamento.
Pacheco e o próprio governo sofriam obstáculos nas
pretensões. Quem dirige pode aborrecer muitos, mas se
aborrece muito. Estejam certos disso, os mais incrédulos
ou os mais desejosos de proventos e se persistirem na
dúvida tentem experiência.
Experiência , de outro género, porém, houve no
Colégio, em setembro de 1868, pelo Chefe de Polícia,
Francisco Augusto Xavier de Brito, solicitada ao reitor
Pacheco devida permissão para no Externato ser feita
colocação provisória de telégrafo elétrico, no lugar indicado
pela reitoria.
Desde 1868, era Ministro do Império o Conselheiro
Paulino de Souza, bacharel em letras. Tendo sugerido ao
Parlamento, em 1869, medidas úteis à elevação e
fiscalização do ensino, em agosto de 1870 formulou projeto
pedagógico.
Projeto de amplitude. Criava universidade
abrangendo Faculdades de Direito, Medicina, Ciências
Naturais e Matemáticas e Teologia. Suprimia Cursos
Anexos nas Faculdades de São Paulo e Recife. Dando o
Colégio de Pedro Segundo por Padrão ao ensino secundário,
Paulino de Souza desejava abrir externatos em São Paulo,
Recife e Salvador. Transferia o internato do Colégio para
cidade do interior, da província do Rio de Janeiro ou de
1837 - 1937
Minas. Reorganizando cursos primário e secundário do
município da Corte ou Neutro, criava o Ministro uma Escola
Normal.
O projeto Paulino de Souza, discutido no Senado,
encontrou contradições.
Partiram de dois membros conspícuos daquela
Câmara, versados em assuntos de instrução pública, os
Senadores Zacarias de Góes e Vasconcellos e o padre
Thomaz Pompeu de Souza Brazil.
Retirando-se Paulino de Souza do governo, com a
queda do Gabinete 16 de julho de 1868 e formação do
Ministério de 29 de setembro de 1870, o projeto morreu no
nascedouro.
Contudo Paulino de Souza teve ensejo, pelo Decreto
de 1o de fevereiro de 1870, de alterar regulamentos do
Colégio pelo qual se graduara em letras vinte anos antes.
As alterações visavam apenas à distribuição de disciplinas,
passando a obrigatórias aulas facultativas: Desenho,
Música e Ginástica. Nos exames de admissão os
candidatos deveriam mostrar-se habilitados em doutrina
cristã, leitura e escrita, em noções elementares de
gramática portuguesa, nas quatro operações aritméticas
fundamentais e no Sistema Métrico Decimal.
Os exames seriam de suficiência ou finais, estes
realizados no Externato, a aprovação nos exames finais
conferindo os direitos dos exames prestados na Instrução
Pública ou de preparatórios. Desapareciam do Colégio a
cadeira de Italiano e o ensino de Dança.
O Decreto Paulino de Souza mandava continuar
facultativa a aula de Alemão, designava duas classes de
professores, a dos comuns ao Externato e ao Internato,
assim, por exemplo, o de Francês e Retórica, a dos
professores privativos de cada seçáo, verbi gratia o de
Ciências Naturais. Para o ensino de Música e Ginástica
os reitores contratariam mestres.
Escapando, por setimanistas, às modificações do
Decreto Paulino de Souza, seis foram, em 1870, os
bacharéis do externato, em igual número os do Internato.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Da turma do externato, mais destacados se tornariam, no
transcurso do tempo, António Felizardo Cupertino do
Amaral, alto funcionário da Secretaria do Império e do
Interior, na República, e Domingos Sérgio de Sabóia e Silva,
engenheiro de boa nota e deputado federal pelo Ceará, dele
berço.
É corrente a imagem do "pâo do e s p í r i t o "
significando cultura intelectual. A par deste pão, defeso a
padeiros, os alunos do Internato, incluídos no número
destes os bacharéis de 1870, recebiam outro, o fabricado
por aqueles, na masseira e no forno, onde cumprindo à
risca preceito bíblico, os amassadores ganham a vida com
o suor do rosto, acrescentando-lhes outras transpirações,
para que quantos obtêm o pão nosso de cada dia o achem
alvo e saboroso.
Também o Externato em 1870 fornecia dois pães a
alunos meio pensionistas, o pão da mesa a par do "pão
do espírito" este devorado ou rejeitado nas aulas. Para
fornecimento do primeiro dos dois pães abria-se
concorrência de padeiros, minúcias não despiciendas na
pintura de épocas. Em 1870, havia padeiro para propor
"ao Imperial Externato de Pedro Segundo, durante
semestre, fornecer pão ao preço de 29 réis cada pão de 4
onças". Logo acudia outro fornecedor de carnes verdes
para propor abastecer o mesmo Externato, por seis meses,
de carnes a 160 réis a libra.
Além das funções de regedor supremo da direção
do ensino do Colégio, da disciplina, das relações com o
governo, cabia ao reitor o fiscalizar da alimentação, de
cuidados maiores no Internato pelas naturezas do
estabelecimento. Cumpria estar atento, pois a solicitude
do Imperador pela Casa se estendia à fiscalização da boa
qualidade dos géneros fornecidos às duas seções do
Colégio, mormente o Internato.
Não tratava o Colégio apenas do sustento material
de alunos, preocupava-o sobremaneira o alimento espiritual
dos mesmos.
No fim de ano letivo costumavam professores
apresentar aos reitores súmula dos trabalhos de aula no
decurso do tempo que lhes fora dado lecionar, não raro
perturbado o ano letivo por efeito de reformas pedagógicas.
O zelo do Imperador pelo Colégio era de todas as
horas. Mudassem os ministros, o grande inspetor escolar
lá estava em São Cristóvão. Nada se passava no Colégio
sem ciência dele e certo não lhe seria estranha a proposta
que, em 1871, fazia o reitor Pacheco do aumento de
remuneração do pessoal administrativo do Colégio,
elevados, por exemplo, os do secretário a 1:800$000
anuais. Favorecia-se, assim, o ocupante do cargo, José
Manoel Garcia, não só clérigo de ordens menores como
mestre em artes pelo Trinity College, estabelecimento de
instrução norte-americano com privilégio universitário.
A proposta de aumento monetário descia aos cargos
mais modestos da casa. Beneficiava Inspetores com
1:000$000 anuais, o porteiro com 600S000 anuais. Na
proposta o aumento dos reitores expressivamente ficava
em branco.
Procurava-se também associar a mocidade a
demonstrações patrióticas. Assim ao reitor do Internato
enviava o Ministro do Império o programa organizado pelo
Ministério da Guerra para recepção dos contingentes do
nosso exército de regresso da campanha do Paraguai, "a
fim de ter o programa a devida execução na parte que
competia ao Internato".
Sem maiores tropeços escoou-se o ano letivo de
1871, assinalado pela entrada do novo catedrático de
Matemática, Dr. Luiz Pedro Drago, de tão famosa rispidez
para com discentes.
Foi de doze a turma de bacharéis de 1871 do Colégio,
sete no Externato, cinco no Internato. Entre os sete
bacharéis do Externato, dois engenheiros civis se
destacariam em profissão, Luiz Goffredo d' Escragnolle
Taunay e Ezequiel Corrêa dos Santos, enquanto bacharel
do Internato, Martinho Álvares da Silva Campos, ocuparia
posições políticas elevadas.
A vida do Colégio tinha ritmo habitual, rarg
modificado. Os anos letivos seguiam curso marcado por
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
sucessos de data fixa, abertura de aulas, lições, sabatinas,
exames, encerramento de aulas, distribuição de prémios,
colação de grau. Só perturbavam o curso dos anos letivos,
reformas de ensino e substituições de reitores, vice-reitores
e professores. Menos sensíveis para alunos eram
substituições no corpo administrativo com o qual só por
acidente lidavam; zelados de perto os interesses dos
alunos por pais ou responsáveis. Estudante de então só
tinha uma coisa a fazer: estudar, apontados os estudantes
honorários.
Duas modificações sofreria o Colégio em 1872, a
retirada do reitor do Externato e uma reforma do ensino.
Cerca de dezesseis anos desempenhava a reitoria
do Externato o Dr. Manoel Pacheco da Silva, em 1855
substituto do Capitão-de-mar-e-guerra Souza Corrêa.
Datando último ofício de reitoria a 6 de agosto de
1872, o Dr. Pacheco deixava superintendência do Colégio,
para ocupar outro cargo atinente à instrução. Fora
escolhido preceptor dos príncipes D. Pedro Augusto e D.
Augusto Leopoldo, netos de D. Pedro Segundo, filhos da
princesa D. Leopoldina e do Duque de Saxe. Morrera-lhes
a mãe em Viena d' Áustria e o avô materno, D. Pedro II,
trouxera-os ao Brasil para educá-los sob suas vistas.
Passara o Dr. Pacheco a acompanhar-lhes a vida diária e
nela as lições que fossem recebendo, de contínuo
fiscalizados pelo Imperador, chegado havia pouco de
primeira viagem à Europa, ausente do Império desde 24
de maio de 1871. Ao regresso imperial associou-se o
Colégio. Em abril de 1872 apresentava-se ao soberano e
protetor para felicitá-lo por volta à pátria. Precedido pela
banda de música do 1o Batalhão de Artilharia a pé,
aquartelado no largo do Moura, no bairro da Misericórdia,
dirigiu-se o Colégio, incorporado, à presença do Imperador
e da Imperatriz, por ambos afavelmente acolhido, timbrando
sempre D. Pedro II em dar ao Colégio mostras de pública
consideração.
A obrigação da reitoria era dirigir, observando e
ponderando. Antes de passar reitoria, dirigida a Inspetoria
1837 - 1937
de Instrução em 1872 pelo Conselheiro José Bento da
Cunha e Figueiredo, ponderava o reitor Pacheco. Ponderava
que em consequência da alteração de horário vigente desde
1870 para execução do Decreto 4468, de 1o de fevereiro
daquele ano, precisava a reitoria do Colégio de algum
tempo para acompanhar a marcha do ensino antes de emitir
juízo seguro. Daí demora em atender a ordens superiores.
Frutos e reformas carecem de sazão. Não deixaria o reitor
Pacheco de expor ao Inspetor José Bento, em longo ofício,
os resultados de sua observação.
Verificada a demissão de Pacheco, nomeou o
governo reitor do Externado um sacerdote, sucedendo a
um bispo, a um marinheiro, a um médico, tais os três
primeiros reitores do Colégio.
O novo reitor, o Cónego da Capela Imperial, José
Joaquim da Fonseca Lima, tomava posse da reitoria a 26
de agosto de 1872.
Fonseca Lima, natural da Bahia, pertencia ao cabido
da Catedral, desde 1864, protonotário ad/'r>sfar, governador
interino do Bispado do Rio de Janeiro. Gozava fama de
bom pregador, chamado a missão em atos oficiais solenes.
Logo ao entrar no Colégio, apresentava o novo reitor
pormenorizado ofício sobre o estado da Casa, ele, no
Externato, executor de ordens do Ministro do Império, o
Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira Andrade, o
qual, em 1872, já suprimira último nome, acabando por
ser depois geral e mais tarde historicamente conhecido
por João Alfredo.
Com este ocorrera fato raríssimo no Brasil, de até
então e de futuro, no regime monárquico nosso Ministro
do Império no Gabinete São Vicente de 29 de setembro de
1870 continuou, João Alfredo a ocupar o mesmo cargo no
Gabinete subsequente, o de 7 de março de 1871, organizado
pelo Visconde do Rio Branco e fadado a decretar, para os
anais da Nação, e tábuas de ouro da História, a lei
Argêntea. Áurea a de 13 de maio, Argêntea seria a lei de
28 de setembro de 1871, libertando os nascituros da
escrava.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Expediu o Ministro João Alfredo o Decreto de 24 de
outubro de 1872, tornando obrigatória a residência do vicereitor no Internato. Atendia também o Decreto ao aumento
de inspetores da Casa. Cada uma das duas seções teria
cinco inspetores, vencendo anualmente 1:000$000,
conforme proposta do ex-reitor Pacheco.
Venceriam os reitores 4:800$000 ou 4005000
mensais, os vice-reitores 300S000 mensais, os secretários
100S000, os escrivães, substitutos dos antigos tesoureiros,
2:000$000 por ano, os bedéis 9005000, os porteiros
700S000, os repetidores 1:200$000, o médico do Internato
8005000. Era este o Dr. Carlos Luiz de Saules, cultor das
letras, autor do drama original brasileiro em cinco atos,
Manoel Beckman representado por João Caetano.
A decretação da residência efetiva do vice-reitor do
Internato já encontrava morando no estabelecimento o
reitor frei Santa Maria Amaral e o vice-reitor padre-mestre,
bacharel em letras, Corrêa de Sá e Benevides. Nos fundos
do Externato morava também o respectivo reitor Cónego
Fonseca Lima.
Para eles e para os funcionários do Colégio, grato
seria o ano letivo de 1872, pelo aumento de vencimentos,
e na época nosso câmbio oscilava entre 24 e 25 14.
Funcionário bem remunerado e digno redobra
esforços em bem da causa pública. Aumentados de
vencimentos, os funcionários do Colégio, em 1872, certo
apurariam zelo pela disciplina, sempre mais fácil de manter
no Externato pela não permanência de discentes.
A vida disciplinar do Internato, em 1872, pode ser
avaliada por curioso documento recolhido à seção de
manuscritos da Biblioteca Nacional. Em livro bem
encadernado acham-se lançados os nomes de todos os
internos de 1872 e considerados os seus procedimentos
no ano letivo.
Encontram-se no referido livro notas favoráveis e
desfavoráveis a discentes de há mais de meio século;
mostrando a irrepreensibilidade do proceder de uns, o
propósito de emenda de outros, ou a vontade de persistir
no mal, praticando sem conhecer o vídeo meliora proboque
deteriora sequor das palavras de Medeia no verso ovidiano.
Justo é ainda hoje mencionar o ótimo proceder de
alguns alunos de 1872, louvados então; calando os nomes
daqueles que na idade de turbulências insopitáveis,
incidiam em falta e castigo, aquela de vária ordem, este
de vários graus.
Algumas notas do livro:
Raymundo Teixeira Mendes— Irrepreensível.
Luiz Cândido Paranhos de Macedo— Irrepreensível.
José Thomaz da Porciúncula— Irrepreensível.
Qualquer destes discentes não desmentiu na vida o
proceder da juventude. Teixeira Mendes foi o apóstolo do
Positivismo no Brasil, ao lado de Miguel Lemos. É possível
discordar das ideias filosóficas de Teixeira Mendes, do
seu caráter ninguém duvidou. Paranhos de Macedo dirigiu
o Internato e professou no Colégio, distinguindo-se como
administrador pela energia sob aparências de bonomia,
pelo espírito de disciplina, que empreendera como aluno
e, portanto, em perfeita paz de consciência podia exigir de
discípulos. O terceiro "irrepreensível", José Thomaz da
Porciúncula, seria na República, governador do Estado do
Rio de Janeiro, Senador, Ministro do Brasil no Uruguai.
Alguns discentes de 1872 mereciam quanto o
procedimento a nota — sofrivelmente — Um aluno recebia
" 1 o castigo por conversar no silêncio, segundo informava
o inspetor Vaz Pinto". O mesmo aluno foi Ministro do Brasil
em cortes europeias e na carreira diplomática, na qual não
raro nas negociações a habilidade consiste em "conversar
no silêncio", vingou-se o diplomata da parte do inspetor
de 1872. Mostrado o céu e o purgatório da disciplina, baixa
o livro do Internato de 1872 a indicar o inferno com o seu
círculo de incorrigidos. Um era posto no índex colegial
com a menção "castigado várias vezes, mau no último
semestre", outro aluno acompanhado por menção pior:
"no último semestre tem procedido mal e deixa graves
suspeitas por escritos que lhe atribuem e sem assinatura".
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
A menção é tanto mais curiosa quanto o aluno, uma
vez homem, se caracterizou como polemista temido de
adversários, violento, satírico em prosa e verso,
escrevendo com elegância reveladora de cultura clássica.
Não só pelo lado psicológico, tão considerado hoje
pela ciência moderna, como atestado do zelo pela
disciplina, e bastante curioso o livro guardado na Biblioteca
Nacional, expressiva minima pars na história do Colégio.
Fique também registrada na história do Colégio, em
1872, a distinção dispensada ao Internato, pelo governo
Imperial, comissionando pelo Ministério da Agricultura, o
secretário João Barbosa Rodrigues para explorações
botânicas no vale amazônico, sem vencimento algum pelo
Colégio.
A primeira solenidade de distribuição de prémios e
colação de grau das quais o novo reitor, Fonseca Lima,
participaria, seriam as do ano de 1872, graduando-se cinco
bacharéis no Externato, três no Internato.
Em obras a Sala Nobre do Colégio, a cerimónia da
colação de grau à turma conjunta de 1872 não se pôde
realizar na Casa, sim na pinacoteca da Academia Imperial
das Belas Artes, esta então nos fundos da atual rua Barbara
de Alvarenga, antiga Leopoldina.
No dia de Ano Bom de 1873, passava a morar no
Colégio novo vice-reitor, o padre João Pires de Amorim,
nomeado a 28 de dezembro de 1872, Cónego em 1877,
Monsenhor em 1875, por motivos de consciência
recusando, em 1893, recém-criada diocese de Curitiba.
De cátedra ou emprego no Colégio, gente sacerdotal
tornou-se um tanto o estabelecimento viveiro de prelados.
Bispo fora o primeiro reitor, frei António de Arrábida, Bispo
de São Paulo tinha sido de 1861 a 1868 Monsenhor
Sebastião Pinto do Rego, antigo capelão do Externato,
Bispos ainda de Mariana e do Maranhão foram o padre
Benevides e frei Luiz da Conceição Saraiva, aquele bacharel
em letras e professor da Casa, este também ai tendo
lecionado. Mais tarde, reitor do Colégio, Monsenhor Brito,
seria Bispo de Olinda.
1837-1937
O ano letivo de 1873 assinalar-se-ia por duas
providências governamentais, relativas ao Colégio, o Aviso
de 18 de março e o Decreto de 6 de agosto de 1873. O
citado Aviso isentava o aluno aprovado em exame final
de qualquer disciplina, do estudo da mesma, embora
reprovado noutras matérias do respectivo ano. O Decreto
de 6 e agosto, inspirado pelos reitores do Externato e do
Internato, ambos sacerdotes, mandava fazer no Colégio,
dominicalmente, o comentário do Evangelho do dia. Além
disto, o Decreto, a pedido dos reitores do Externato e do
Internato, tornava obrigatório o estudo do Alemão e
ordenava distribuição de aulas por todos os dias úteis da
semana, cessando a prática do ensino de religião e de
artes em dia único da semana.
No ano letivo de 1873 tomava posse, após concurso,
do cargo de professor de Português, Geografia e Aritmética
do primeiro ano do Internato, quem no Colégio deveria
percorrer longa e notável carreira, bacharel em Letras,
bacharel em Ciências Físicas e Matemática pela Escola
Central, mais tarde Politécnica. Chamava-se o novo
professor de 1873, Carlos Maximiliano Pimenta de Laet,
cuja causticidade famosa um de seus sobrenomes já
exprimia.
Findo o ano letivo de 1873, tomaram grau três
bacharéis do Externato, um deles futuro professor do
Colégio, Carlos Ferreira França, e três bacharéis do
Internato. Um bacharelando deixou de receber grau,
Raymundo Teixeira Mendes, recusando-se ao juramento
do estilo, de manter a religião do Estado, obedecer e
respeitar ao Imperador e às instituições vigentes,
concorrendo quanto possível para a prosperidade do
Império e satisfazendo com lealdade as obrigações que
lhe fossem impostas.
Raymundo Teixeira Mendes estudara no Internato,
desde o 2o ano, aluno gratuito, como faz fé o seguinte
termo extraído do livro competente do Internato:"Matrícula
385. Aos trinta e um dias de janeiro de mil oitocentos e
sessenta e oito, matricula-se no 2o ano do Internato de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Pedro Segundo, como aluno gratuito por aviso de 20 de
setembro de 1867, o senhor Raymundo Teixeira Mendes,
filho do Dr. Raymundo Teixeira Mendes, natural do
Maranhão, nascido em 5 de janeiro de 1856. Para constar
lavrei o presente termo que assino como Secretário. João
Barbosa Rodrigues.
Frei José de Santa Maria Amaral".
Antes da abertura das aulas de 1874, o Ministro João
Alfredo dividiu em duas cadeiras, comuns ao Externato e
ao Internato, o ensino das Ciências Naturais. Por seu lado
antes da abertura das aulas de 1874, por ofício de 5 de
janeiro, pedia o reitor Fonseca Lima a nomeação de mais
dois inspetores de alunos. No Externato só havia 5,
contendo 258 escolares, lidando o dia inteiro, sem um
momento de folga. Qual o resultado? Respondia o reitor:
"Falta de paciência para resistir à tendência tão natural da
mocidade de ir ao encontro às leis disciplinares, e daí a
prepotência e um rigor de inspeção ditado pela cólera e
pela vingança do que pelo amor do bem no regime escolar".
Logo depois, em fevereiro de 1874, o Ministro João
Alfredo firmava doutrina quanto a gratificações adicionais
resolvendo o caso do professor jubilado do Colégio, Gabriel
de Medeiros Gomes. Declarava o ministro que ao dito
professor, nomeado para a cadeira de Português, em 1838,
competiam não só o ordenado e a gratificação do cargo,
como a gratificação extraordinária correspondente à quinta
parte do vencimento. Eram 960S000 concedidos em
recompensa de serviços distintos no magistério.
Já bem antes do caso Medeiros Gomes, em
novembro de 1854, fora declarado ser a gratificação
adicional prémio de serviços e não pro-labore permanente
e cabendo a todos os professores jubilados.
O ano letivo de 1874 findava por nova providência
governamental em relação à Casa. Determinava o poder
público o provimento de cadeiras por concurso, dispondo
sobre a composição das mesas de exame e sobre o
tribunal de julgamento de tais certames, tribunal composto
de examinadores, do reitor do Externato ou do Internato,
conforme a seção, cuja cadeira fosse provida a concurso,
do inspetor de Instrução e de um membro do Conselho
Diretor desta. Caso a cadeira a concurso abrangesse mais
de uma disciplina, os candidatos sorteariam ponto para
cada disciplina. Constaria o concurso de duas provas, a
de preleção e a complementar para confirmar o juízo do
examinador, defeso debate entre este e o candidato.
Em 1874 deixava a reitoria do Internato frei José de
Santa Maria Amaral, Monsenhor Félix Maria de Freitas e
Albuquerque nomeado substituto Interino.
A turma de bacharéis do Externato de 1874, oito,
forneceria mais tarde, ao Colégio, um professor, António
Henrique de Noronha, e ao jornalismo carioca Fernando
Mendes de Almeida. Dos quatro bacharéis do Internato,
em 1874, um lecionaria na Escola Normal, já na República,
Ugolino Ayres de Freitas e Albuquerque.
Aos setimanistas, de 1874, estaria, porém,
reservado grata distinção a coroar-lhe esforços. Com a
turma de bacharéis de 1874, começou a entrega do anel
simbólico do bacharelado em letras, anel ostentando opala
cercada de brilhantes. Aplaudia Fonseca Lima a inovação
da entrega da jóia no ato da colação de grau. Entendia o
reitor do Externato ser aquela entrega, naquele ato,
"incentivo para maior concorrência ao grau de bacharel
em letras".
Opinava também, oficialmente, Fonseca Lima, no
sentido de usarem os professores do Colégio, anel igual
ao dos bacharéis, bem como de outra insígnia no ato da
distribuição dos prémios e nas solenidades em que
tivessem de aparecer em corporação, convindo cercar a
classe dos professores de todas as considerações
possíveis e, para isso, não pouco concorriam distintivos
oficiais, tanto mais quanto outras corporações do país os
possuíam.
Em 1874, declarava à Assembleia Geral o Ministro
do Império, Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira,
reconhecer "os serviços do Imperial Colégio de Pedro II èu
instrução pública em consequência de sua regular
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
organização e pelos hábeis e zelosos reitores e professores
que tinha". Anteriormente, em 1872, o mesmo ministro
aventava a conveniência de algumas modificações no
regulamento do Colégio, no intuito de melhor ordenar o
ensino de certas matérias, desenvolvendo o de outras,
instituindo-se a classe dos substitutos, de falta sensível,
ao menos para algumas aulas, aumentando-se o número
de explicadores e dos inspetores de alunos. De acordo
com tais ideias anunciava o ministro João Alfredo estar
preparando projeto sujeito à ilustrada consideração do Corpo
Legislativo.
Abria-se o ano letivo de 1875 por distinção especial
do augusto patrono do Colégio. D. Pedro II mandava
estudar nele um neto, o príncipe D. Pedro Augusto, filho
dos duques de Saxe, órfão de mãe, a princesa D.
Leopoldina, o pai de residência na Europa.
Confiada a primeira educação do príncipe ao antigo
reitor do colégio, Dr. Manoel Pacheco da Silva, era D. Pedro
Augusto, em 1875, levado a estudos secundários regulares
no primeiro estabelecimento de instrução secundária do
país.
Para a matrícula do príncipe expediu o reitor do
Externato, Cónego Fonseca Lima, a seguinte ordem:
"O Senhor secretário matricule como aluno externo
deste Externato no primeiro ano, depois de feitos os
competentes exames de habilitação e independente de
qualquer outro documento a S. Alteza o Senhor D. Pedro
de Alcântara. Externato do Imperial Colégio de Pedro II,
1o de fevereiro de 1875. O Cónego José Joaquim da
Fonseca Lima — Reitor."
Obedeceu o secretário, ao tempo José Manoel
Garcia, e nas matrículas de 1875 figurou esta:
"N." 181 — S. A. o Príncipe D. Pedro de Alcântara.
Ano do curso— 1.
Naturalidade — Rio de Janeiro.
Anos de idade — 9.
Classe — Externo contribuinte.
Moradia — Imperial Quinta da Boa Vista.
Filiação — S. A . o Duque de Saxe."
1837 - 1937
Conserve-se aqui, a titulo de curiosidade, a prova
escrita de ditado e aritmética do exame de admissão do
imperial externo contribuinte de 1875, de residência na
Quinta da Boa Vista.
" Externato do Imperial Colégio de Pedro 2o — 1 ° de
fevereiro de 1875.
Ditado — As primeiras criaturas que com suas vozes
nos injuriam e envergonham entre aquelas que o mesmo
Senhor criou, mas não remiu são as aves. A sociedade
nos trabalhos aligeira o peso deles como a singularidade
os agrava.
368105
48
2944840
1472420
17669040
D. Pedro.
Prova escrita e oral muito boas.
M. O. R. Costa.
Prova de Doutrina ótima.
Monsenhor Félix d'Albuquerque."
O ano letivo de 1875 assinalou-se, pois, no
Externato, pela matrícula do príncipe D. Pedro.
Seguia o avô, D. Pedro II, exemplo do rei Luiz
Felippe, este matriculando os filhos em colégios afamados
em Paris. Assinalar-se-ia também o ano letivo de 1875,
no Internato pela nomeação interina de novo reitor, o Dr.
César Augusto Marques, ao qual Monsenhor Félix
entregaria cargo.
César Marques, nascido em 1826, ia completar
cinquenta anos. Nascido no Maranhão, matriculado na
Universidade de Coimbra, a estudos matemáticos, viu-se
privado de continuá-los pela revolução conhecida na história
lusitana pela da Maria da Fonte.
Veio, então, César Marques, filho de pai
farmacêutico, estudar medicina na Bahia, aí graduando
ESCRAGNOLLE DOR
em 1846, depois médico militar, servindo vários cargos
administrativos no Amazonas, no Piauí e no Maranhão.
Era um estudioso, mormente de coisas pátrias,
avultando entre escritos seus até a entrada para a reitoria
do Internato, o "Almanaque Histórico de Lembranças
Brasileiras", em 3 volumes, as traduções das obras de
Cláudio d' Abeville e Ives d' Evreux, relativas ao norte do
Brasil, e o "Dicionário Histórico Geográfico do Maranhão",
obra publicada em 1870, cabendo ao autor várias ordens
honoríficas, entre elas, o Oficialato da Rosa, e a admissão
em diversas associações científicas.
Começadas as aulas do ano letivo de 1875, a 11 de
fevereiro, a 27 de fevereiro o Colégio abria as portas para
a colação de grau à turma de bacharéis de 1874, no amplo
Salão Nobre da Casa, inaugurado com júbilo da instituição.
Havia de exprimi-lo o reitor Fonseca Lima ao Inspetor
José Bento, dizendo: — "Seja-me licito felicitar o Governo
Imperial pela glória de realizar obra tão suntuosa, que é
neste género a primeira do Império e um monumento de
gosto e primor de arte que honra o País e com razão tem
merecido os louvores de Nacionais e Estrangeiros".
"Seja-me ainda permitido agradecer ao mesmo
Governo por parte deste Estabelecimento, imerecidamente
confiado aos meus cuidados, mais este assinalado
benefício, com que ele, na sua solicitude pela Instrução o
enriqueceu, tomando-o com esta majestosa obra, mais
digno do fim a que é destinado e do Augusto nome que
tem".
Devia o Colégio "a obra tão suntuosa, à fecundidade
de iniciativas do Ministro do Império, João Alfredo. Ainda
incompleto o Externato do Colégio, encarregou o ministro
a Bethencourt da Silva o acabamento do edifício e a reforma
da parte construída. Entendeu o arquiteto, discípulo de
Granjean de Montigny, este o adaptador do Seminário de
São Joaquim, transformado em Colégio, convir na
empreitada um plano geral de reedificação.
Professor do Colégio, bacharel em letras, o Dr.
Moreira de Azevedo, no 2o volume de importante obra O
Rio de Janeiro, reeditada em 1877 e dedicada a colega do
corpo docente, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, legounos enumeração dos serviços prestados ao Colégio pelo
talento artístico de Francisco Joaquim Bethencourt da Silva,
filho de portugueses e nascido em alto mar, a bordo do
Novo Commerciante, a 8 de maio de 1831.
Após carreira artística notável, Bethencourt da Silva,
a 27 de fevereiro de 1875, na arte ainda uma vez se
afirmava com a inauguração do Salão do Grau do
Externato, dando o maior realce à distribuição de prémios
e à colação de grau aos bacharéis cujo curso findara em
1874.
Recebeu a obra de Bethencourt da Silva apoio
constante do Ministro João Alfredo, mas sobretudo, quase
escusa dizê-lo, a de D. Pedro II. Reproduzia-se sem cessar
a profecia de Bernardo de Vasconcellos em 1838, ao
inaugurar o Colégio, asseverando que ele animava
"sobretudo a certeza da poderosa proteção do Príncipe,
cujo nome honrava a instituição, e cuja generosidade para
com ela e aplicação, afiançavam que o culto das letras e
das ciências seria um dos principais títulos de glória de
seu reinado".
O Segundo Reinado, em 1875, já ia em quarenta e
quatro anos, a datar da Abdicação e em parte alguma mais
do que no Colégio com tanto amor se assinalaria.
O Imperador e todos os participantes ou
espectadores da inauguração do Salão do Bacharelado do
Externato puderam, a 27 de fevereiro de 1875, com
satisfação, admirar quanto a proficiência de Bethencourt
da Silva havia se esmerado na grandiosa Sala Nobre do
Externato.
Tivera Bethencourt da Silva de dar forma ao teto e
ao soalho de molde a disfarçar defeitos de construção,
corrigindo excesso de comprimento em desacordo com a
largura. Mereceu-lhe especiais cuidados o soalho,
substituído o antigo e comum por novo e precioso.
Formava este mosaico obtido pela combinação das
nossas mais escolhidas madeiras. Segundo Moreira de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Azevedo, "constituindo florões e festões de cores vivas e
variadas e delicados arabescos, era o soalho um lindo
mosaico de preciosas madeiras do país, constituindo
florões de cores vivas e variadas, e delicados arabescos;
soalho lindo e rico espécimen da opulenta flora brasileira".
O teto do salão não destoava do conjunto. Cinco
painéis o enchiam, cheios de enfeites de folhas de carvalho
e louro, de flores e folhas, ali rosas, aqui acantos, nos
ângulos do painel central, relevos simbólicos, lembrando
letras, artes, ciências físicas e matemáticas.
Tal, em traços gerais, o Salão Nobre do Externato
onde, a 27 de fevereiro de 1875, recebia grau a turma de
bacharéis de 1874, salão principiado a modificar em março
de 1873.
Acabada a festa recomeçou o ano letivo de 1875,
numa casa em parte nova, devido ao esforço e à
inteligência de Bethencourt da Silva. Nas partes
reconstruídas o arquiteto levantara o madeiramento mais
de metro, arejara e iluminara salas, melhorando,
substituindo, ornando.
Uma das partes principais do edifício era o pátio
central, onde dispostos aparelhos ginásticos. Sombreavamno amendoeiras, nas quais ao abrasar do verão se ouvia o
si-si alistridente das cigarras. Outrora, vindo sem dúvida
do tempo do seminário de São Joaquim, no centro do pátio,
erguia-se um poço mandado tapar pelo reitor Souza Corrêa.
No correr do ano letivo de 1875, o Ministro do Império
e os reitores do Externato e do Internato zelavam interesses
do Colégio, sabendo quanto por ele se desvelara o
Imperador.
Opunha-se, por exemplo, o reitor do Externato,
Cónego Fonseca Lima, que para matrícula no Colégio fosse
dispensado de repetir provas o estudante aprovado em
qualquer disciplina, nos exames prestados na Instrução
Pública.
Mostrava-se o reitor infenso à isenção, abrindo
precedente do qual se pretendia valer "Jean Gustave de
Frontin" matricular, no 5o ano do Colégio, seu filho André
Gustavo Paulo de Frontin.
1837 -1937
Cuidado pelos reitores correu o ano letivo para o
Colégio e para os alunos, sempre em maior número no
Externato, 212 em 1875, entre eles, como dizia o reitor
Fonseca Lima ao Inspetor da Instrução, "S. A. o Príncipe
D. Pedro, honra com que S. M. o Imperador dignou-se de
distinguir o estabelecimento".
Ano letivo concluído, exames feitos, distribuição de
prémios, colação de grau, de novo reaberto para ela o Salão
Nobre, em dia de recompensar e despedir.
Em 1875, novo público vinha admirar o Salão Nobre
do Externato, na solenidade da colação de grau aos
bacharéis em letras. À espera do Imperador, sempre tão
pontual, tendo talvez meditado a advertência de ser a
pontualidade a suprema cortesia dos reis, muita gente
passava olhos e admirações na obra recente de
Bethencourt da Silva.
Contemplavam os espectadores as paredes do
salão, revestidas de estuque-lustre, formando apainelados
coroados de rosas e louros com filetes dourados.
Apresentava o saláo do século XIX, alguma coisa graciosa,
do faceiro estilo Pompadour.
Enquanto aguardavam a chegada do soberano, mais,
do amigo indefectivel da Casa, os bacharéis de 1875
podiam relancear vistas nas sobreportas do salão, nada
menos de vinte três, nelas, entre adornos esculturais,
gravados nomes que para os bacharéis constituíam
verdadeiro ementário das matérias do curso de bacharelado
em letras.
Em cada sobreporta um vulto gravado: Euler
simbolizando a matemática, Demóstenes, a retórica,
Horácio, a poesia, Lucena, a literatura portuguesa, Basílio
da Gama, a brasileira, Xenofonte, a língua grega, César, a
latina, Bossuet a francesa, Goethe, a alemã, Milton, a
inglesa, Rossini a música, Rafael o desenho, Clias, a
ginástica, Anchieta, a doutrina cristã, Calmet a história
sagrada, Temístocles, a antiga, Gibbon, a média, Guizot,
a moderna, Gândavo, a do Brasil, Platão, a filosofia, Cuvier,
as ciências naturais, Kepler, a cosmografia, Estrabão, a
geografia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Interromperam, contudo, os bacharéis de 1875, o
exame das sobreporias, cujos símbolos diziam aos haviam
pouco setimanistas, todo o curso do bacharelado. Ouvíuse o Hino Nacional. Subiram da rua vozes de comando à
guarda de honra. Reitores, corpo docente desceram a
escada, chegavam o Imperador e a Imperatriz. Não
tardavam muito a entrar no salão.
Cumprimentando à direita e à esquerda,
correspondidos com inclinações de cortesia por parte da
assistência, dirigiram-se o Imperador e a Imperatriz ao
trono, enquanto, na tribuna da música, alunos do 1o e 2o
anos do Colégio entoavam o Hino da Independência.
Ao fundo do salão erguiam-se duas enormes
cariátides , ornato arquitetônico a ressaltar de superfície
quase sempre vertical, para sustentação de figura ou
objeto.
Tinham as cariátides do salão do Colégio significação
especial, simbolizavam a capital do Império, cingidas de
coroas douradas sustentavam cimalha, esta com escudos
das armas imperiais e as setas de São Sebastião, padroeiro
da cidade carioca.
Ao fundo do salão assim ornamentado erguia-se
todos os anos, no dia de grau, o trono imperial , entre
cortinas de veludo verde, dragões ao lado, o dragão símbolo
da Casa de Bragança.
O Imperador e a Imperatriz ocupavam lugar
privilegiado. Sentava toda a assistência , de pé desde a
entrada dos imperantes, começava a cerimónia.
Distribuídos os prémios, ouvia-se o discurso do
professor de retórica, uma vez conferido grau a treze
bacharéis, 6 do Externato e 7 do Internato. Três teriam
vida de magistério no Colégio: Alfredo Augusto Gomes,
professor interino da Casa; Samuel Castrioto de Oliveira
Coutinho, substituto no Colégio; Luiz Cândido Paranhos
de Macedo, vice-reitor da Casa, e nela catedrático em 1911.
Alguém, num prefácio à obra didática do professor
da Casa, Jonathas Serrano, pôde expender os seguintes
conceitos: —
"Mercê de Deus, nunca houve míngua no Colégio
de Pedro II, de professores distintos e de alunos
distinguidos".
Do Colégio têm saído as mais belas flores para as
exposições de nossa cultura intelectual".
Daí o famoso estabelecimento, em tão boa hora
fundado pela Regência, possuir, pelo menos, um
representante conspícuo em cada província de saber no
reino do engenho humano.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837- 1937
IX
O Colégio de 1876 a 1881
Adiamento das Aulas em 1876 • Desocupação da Igreja de São Joaquim •
Caso Schieffler/Thomaz Alves • Novos Professores de Filosofia • Reforma Leôncio
de Carvalho • O Ensino Livre • Novos Reitores • O Conselho Colegial, suas
Sessões em 1880-1881 • A Conversão do Conselho Colegial em Congregação •
A Primeira Sessão da Congregação • A Turma de Bacharéis de 1881.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ao iniciar-se o ano letivo de 1876, propunha o reitor
do Externato, Fonseca Lima, o adiamento da
abertura das aulas para 15 de fevereiro, de acordo com
César Marques, reitor interino do internato. O Externato
achava-se em obras, entendendo o Cónego Fonseca Lima,
necessário aquele adiamento, e justificava-o "por náo ser
higiénico respirarem os alunos, em quadra de excessivo
calor, a exalação de substâncias mais ou menos tóxicas
de que se compõem as tintas".
Anuiu o Governo, pelo Ministro do Império, José
Bento da Cunha e Figueiredo, abrindo-se as aulas do
Colégio a 15 e não 1o de fevereiro.
Logo após, em abril, era o Colégio distinguido , com
a nomeação de um de seus professores, o Dr. Azevedo
Corrêa, para Comissário do Ministério do Império, na
Exposição de Filosofia, comemorativa do 1o Centenário
da Independência Norte-americana, na qual Washington
alcançara imortalidade, modelo humano na História.
Outro professor do Colégio, o Dr. Joaquim Manoel
de Macedo funcionava como Secretário-Geral da
Exposição Nacional, dispensado de aulas no
estabelecimento. Tudo distinções a refletirem sobre o
Colégio.
No meio do ano letivo, pedia o reitor do Externato
restituição ao culto religioso da Igreja de São Joaquim,
anexa ao Colégio. Segundo o Cónego Fonseca Lima "darse-ia a Deus o que pertencia a Deus", evangelicamente
de acordo com a decisão de Jesus no dever do tributo a
César. Achava-se também a igreja ocupada pelo Liceu de
Artes e Ofícios, mal acomodado, no perigo constante de
incêndio no templo pelo número excessivo de luzes acesas
nos diversos andares de madeira, levantados no recinto
sagrado. Tudo ponderado pelo reitor do Externato. Dentro
em breve era satisfeito o desejo do Cónego Fonseca Lima.
Restituiu o Ministro José Bento, ao Colégio, a igreja
e as acomodações das quais tivera privado havia anos.
A 22 de dezembro de 1876, graduava-se a turma de
bacharelandos do ano, importando a solenidade da colação
de grau e distribuição de prémios na despesa de
1:267$000, metade da despesa por conta do Internato.
Bacharelavam-se, em 1876, nove jovens no
Externato, entre eles futuro lente da Escola Politécnica,
Francisco Manoel das Chagas Dória, e sete jovens no
Internato, um deles Manoel Edwiges de Queiroz Vieira,
futuro chefe de polícia e Ministro da Agricultura em a
República.
No correr do ano letivo de 1877, avultaria no Colégio,
uma dessas questões não raras nas casas de ensino^
provocando atrito entre docentes.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
No Externato lecionava Grego o professor Schieffler,
no Internato o professor Manoel Thomaz Alves Nogueira,
bacharel em letras de 1857. Constando a Schieffler que
alunos do Internato estavam a traduzir a Ilíada, reclamou
o professor do Externato, junto ao reitor Fonseca Lima,
pedindo providências. Cumpria fazer cessar "a imensa
disparidade resultante do atraso para os alunos do
Externato aos quais fora categoricamente proibida a
tradução da Ilíada, reservado o poema homérico para os
exames".
Urgido por Schieffler, o reitor Fonseca Lima pedia
explicações ao reitor do Internato, César Marques.
Agradeceu este a Fonseca Lima "a prova de intimidade e
bom coleguismo, enviando-lhe a reclamação" de Schieffler.
Ponderou, porém, que não havendo subordinação entre as
duas seções do Colégio, alvitrava o encaminhamento do
protesto à Inspetoria de Instrução. Tudo por "desejar
corresponder à atenção que lhe merecia a pessoa de
Fonseca Lima", afiançava César Marques. Ele "reputava
nulo e impertinente" o protesto do professor do Externato.
Entretanto, submetia-o à consideração do incriminado
Thomaz Alves.
Expendendo defesa surgia o professor do Internato:
"Prescrevo aos alunos do T ano leituras de Homero, porque
ignoro haver artigo ao Regulamento vigente que proíba aos
alunos exercitarem-se nas formas poéticas e de
metrificação que constituem matéria de e x a m e " .
Acrescentava a Schieffler: "A respeito da disparidade de
circunstâncias que deste fato possa resultar para os que
não são alunos deste Internato, não é da minha atribuição
cogitar".
Não nos informam documentos do Colégio como
terminou o caso Schieffler-Thomaz Alves e logo a propósito
da belicosa Ilíada. No poema homérico às vezes
intervinham nas pelejas deusas ocultas em nuvens, em
1877, a mitologia já sem poder de auxílio.
Em meados de 1877, jubilava-se o professor de
Filosofia do Externato, frei José de Santa Maria Amaral.
1837-1937
Passou a reger a cadeira o substituto, Dr. Joaquim
Jerônymo Fernandes da Cunha Filho. Transferido logo após
para o Internato ocupou a cadeira do Externato, Frei
Saturnino de Santa Clara Antunes de Abreu. Monge
beneditino como o antecessor, Santa Maria Amaral, era o
substituto deste dele continuador na cátedra.
Ensinaria pelo compêndio de Barbe, professando
Lógica e Metafísica no 6o ano, Ética e História da Filosofia,
detida esta em Descartes, Malebranche, Spinoza e Leibniz,
no 7o ano.
O professor de Filosofia do Internato era moço lido
em filosofia mais moderna. Chamava-se Joaquim
Jerônymo Fernandes da Cunha Filho, formado em Direito
pela Faculdade de São Paulo, ledor infatigável, dotado de
ótimas humanidades, possuía palavra fluente, presença
agradável, físico desgracioso, jamais favorecendo
professor. Manifestaria depois o professor do Colégio dotes
oratórios na Câmara dos Deputados, dotes por assim dizer
de família, Fernandes da Cunha Pai um dos maiores
oradores que têm honrado a tribuna parlamentar pátria,
cognominado o "Cícero Brasileiro".
É de assinalar na reitoria do Cónego Fonseca Lima
ofício de 31 de outubro de 1877, ofício de maior extensão.
Nele o reitor expunha ao Ministro do Império, Costa Pinto
e Silva, as necessidades do estabelecimento posto à
guarda do nome Imperial. É documento completo e digno
de leitura por parte de quantos amam o passado do Colégio.
Findo o ano letivo de 1877 ocorria, a 23 de dezembro,
distribuição de prémios e colação de grau. Para a
solenidade, à porta do Externato, achavam-se a guarda
de honra habitual no ato, pela primeira vez, porém, a Guarda
dos Arqueiros. Só acompanhava esta o Imperador nas
sessões de abertura ou encerramento da Assembleia Geral
no Paço do Senado.
Na lista dos premiados em 1877, entre outros
nomes, liam-se o do 1 o anista Argemiro Gabriel de
Figueiredo Coimbra, futuro comediógrafo, o do 3o anista
Príncipe D. Pedro Augusto, o de Pardal Mallet, o de José
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Cândido de Albuquerque, depois de Albuquerque, Mello
Mattos, vindouro diretor do Colégio, e do setimanista
António Jansen do Paço, futuramente funcionário ilustrado
da Biblioteca Nacional e do Ministério das Relações
Exteriores.
Quando sextoanista, em 1876, tivera Jansen do
Paço necessidade de recorrer a concessão especial do
Ministro do Império, o Conselheiro José Bento da Cunha
Figueiredo. Autorizara este ao reitor do Internato a deixar
sair da Casa, por horas, a Jansen do Paço, a fim de
presenciar casamento em sua família. O sucesso e dos
menores, dele, porém, é possível tirar conclusão maior, a
do rigor e exemplo nas saídas extraordinárias.
Com mais dezesseis colegas do Externato, e do
Internato, recebia Jansen do Paço o grau de bacharel em
letras, toda a turma jurando aos Santos Evangelhos, honrar
o grau conferido, pelo Ministro do Império, Conselheiro
António da Costa Pinto e Silva, ministro desde 15 de
fevereiro de 1877.
No ano letivo de 1878, o Colégio sofreria perturbação.
A institutos de instrução sempre as acarretam reformas
de ensino. Logo no Ano Bom de 1878, ascendeu ao
Governo, o Partido Liberal em ostracismo havia quase
decénio. Organizado o primeiro gabinete da nova situação,
o de 5 de janeiro de 1878, nele coube a Pasta do Império a
professor da Faculdade de Direito de São Paulo, o Dr. Carlos
Leôncio de Carvalho, recusada a pasta pelo Senador José
Bonifácio.
Leôncio de Carvalho, imbuído de ideias pedagógicas
norte-americanas de liberdade do ensino, sem pesar bem
o perigo das adaptações, tanto a desajeitar sociedades
como roupas, entrou para o ministério disposto a reformar
o ensino superior do Império e o secundário e primário da
Corte.
Começou pelo Colégio de Pedro Segundo, alterandoIhe, ou antes, golpeando-lhe o regulamento, pelo Decreto
de 20 de abril de 1878. A simples enumeração das
providências nada previdentes do Decreto mostra quanto
o velho Colégio de chofre virava pelo avesso.
Antes de tudo tornou-se livre a frequência no
Externato. O bedel passou a figura nula. Ficou o ensino
religioso sem caráter obrigatório, modificando o juramento
para concessão do grau de bacharel em letras.
Restabeleceu a reforma as aulas avulsas, permitindo a
qualquer, fosse qual fosse a idade, frequência nas aulas
do Externato. Reduziu o número dos substitutos,
designando-os, bem como os professores do Colégio, para
examinadores gratuitos de preparatórios, melhorados os
seus vencimentos de magistério. A Reforma Leôncio de
Carvalho restabeleceu a cadeira de Italiano, conservou o
septenato de curso.
Malgrado inconvenientes, tornou, porém, mais
aligeirado o ensino por melhor distribuição de disciplinas.
No Internato, uma vez por semana, funcionaria aula
de Latim para turma grande composta dos alunos do 4 o ,
5o, 6o e 7o anos, uma aula de Inglês conjunta para os 5o, 6o
e setimanistas, uma vez por semana. Nestas aulas
especiais seriam lidas, vertidas, obras clássicas latinas e
inglesas, acompanhadas de temas e análises.
Em outubro de 1878, Leôncio de Carvalho ainda
aprovaria instruções para provimento dos cargos de
professor catedrático e substituto do Colégio, neste as
reformas do ministro inovador, nem por todos bem aceitas.
A reforma do regulamento do Colégio fora primeiro
passo do reformador. Passo maior seria em breve o do
Decreto de 19 de abril de 1878, reformando o ensino
superior em todo o Brasil, o ensino primário e secundário
no Município Neutro, declarado tal ensino inteiramente
livre.
No momento de 1878, a Reforma Leôncio de
Carvalho não podia deixar de perturbar o curso do ano letivo
do Colégio, em menor grau para os setimanistas a saírem
da casa em número de cinco, três no Externato e dois no
Internato.
Propugnador do ensino livre, entretanto, o Ministro
Leôncio de Carvalho, a João Severiano da Fonseca,
Hermes, bacharel pelo Internato, em 1878, e a Hemeterio
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
José dos Santos, negava permissão "para, por convite de
alguns pais, explicarem a alunos as matérias que tinham
de estudar no Internato".
De modo diferente, a quem estudava ou não, os
professores do Colégio prestavam atenção, louvando ou
reclamando, premiando estudiosos, incriminando
desidiosos.
A 25 de outubro de 1878, o professor Goldschmidt
pedia providências ao reitor Fonseca Lima contra a falta
de aplicação de dois alunos do 5o ano, cujos nomes
declinava, "alunos estes que nunca estudam a lição,
confiados nos seus colegas dos quais procuram obter
cola". Desejava o professor fossem punidos, rogando a
S. Ex.a o reitor que o ajudasse não só para o progresso
dos alunos, mas ainda para a moralidade do Colégio".
Zeloso pelo cargo, no ano letivo de 1878, o professor
de Ginástica, Paulo Vidal, representava ao reitor Fonseca
Lima acerca da frequência dos discentes, à hora da aula,
muitos pais alegando motivos para o não comparecimento
dos filhos às aulas da tarde.
"Mudada a hora — dizia Paulo Vidal — esses
inconvenientes todos haviam de desaparecer. Teríamos
aula proveitosa para todos. Teríamos o desenvolvimento
físico considerado como elemento especial na educação
e como auxiliar indispensável na vida intelectual, ou se
fosse possível, os exercícios físicos entremeados com
as aulas fanam uma feliz diversão à posição forçada, à
imobilidade e quietação das aulas, servindo também, de
descanso ao espírito.
Dispondo dum lugar livre das intempéries do tempo,
não haveria inconveniente que fosse adotada qualquer hora,
conquanto fosse respeitada a digestão.
Apresento a V. Ex.a o risco de um pavilhão, podendo
ser levantado no centro do pátio, pavilhão cuja capacidade
permite exercitar os alunos por turmas e que em nada
prejudicam as condições higiénicas do estabelecimento.
Das escolas do Governo e do Imperial Colégio de
Pedro Segundo devia partir a iniciativa em tudo que diz
respeito à educação.
1837- 1937
Não se lhe dando a devida atenção nos ditos
colégios, com dificuldade a educação física se propagaria
ao Brasil, apesar dos esforços que cidadãos beneméritos
t ê m feito procurando em vários escritos e várias
conferências demonstrar a sua utilidade.
Poderia transcrever um número considerável de
pareceres de homens competentes, apóstolos benévolos
de tudo o que o progresso ordena a favor da mocidade,
futuro do país, cujo fraco trabalho apresento a V. Ex.a
esperando merecer a vossa sábia e justa aprovação."
O ofício de Paulo Vidal é prova de atenção por saúde
e desenvolvimento físico de discentes.
Foram atendidas as ponderações do professor de
Ginástica, construído em centro de pátio, como alvitrava
Paulo Vidal, um pavilhão onde em dias chuvosos se não
interrompiam exercícios de educação física, hoje, tão
preconizada a ponto de não raro entre alunos a mens sana
ser prejudicada pelo corpore sano; o pavilhão de ginástica
do Externato subsistindo até reconstrução do edifício.
Ao abrir-se o ano letivo de 1879, verificou-se não
haver nenhum aluno matriculado no 7o ano do Externato.
No Internato, vigoravam novidades, a dispensa da
aula de Religião para os alunos acatólicos, reformado até
o juramento de grau de modo a poder ser proferido por
bacharelandos acatólicos, a elevação de exigências para
o exame de admissão só podendo ser realizada matrícula
de maiores de onze anos e menores de quinze.
A 20 de março de 1879, declarava o Ministro Leôncio
de Carvalho às reitorias do Colégio as condições para
concessão de gratuidades escolares.
Caberiam a órfãos reconhecidamente pobres, a
filhos de militares falecidos na Guerra do Paraguai, a filhos
de professores com dez anos de bons serviços no
magistério, a alunos pobres que se houvessem distinguido
no ensino primário.
A 19 de abril de 1879, referendava Leôncio de
Carvalho, o Decreto chamado do Ensino Livre, livre em
todos os graus de instrução.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O Decreto tornava extensíveis as prerrogativas do
Colégio de Pedro Segundo aos colégios que pelo programa
de estudos dele se moldassem, funcionando com
regularidade por espaço de sete anos, apresentando no
mínimo 60 alunos ao grau de bacharel em letras.
O Decreto de 19 de abril, entre protestos e aplausos,
coisa humana, acabou influindo para a demissão de
Leôncio de Carvalho, substituído pelo Conselheiro
Francisco Maria Sodré Pereira, executor da Reforma
Leôncio.
No ano por esta assinalado, 1879, pela primeira vez,
não se graduou ninguém no Externato, cabendo ao
Internato a colação de grau inteiro, à qual compareceram
quatro bacharéis.
Em 1879, o Externato não apresentava
pesarosamente setimanista algum para receber grau. No
meado do ano, lamentava a perda do vice-reitor interino
— Cónego Pedro da Silva Corrêa —, substituído pelo padre
Álvaro Soares de Andréa, admitido como inspetor de alunos
quem mais tarde dirigiria o Internato: Luiz Cândido Paranhos
de Macedo.
Não teve o Ministro Sodré Pereira tempo de ocuparse com o Colégio, poucos meses à testa da Pasta do
Império.
Apenas alterou o regime dos exames de
preparatórios na Corte, determinando fossem prestados
perante mesas presididas pelo reitor do Externato.
Comporiam as mesas três membros indicados pelo reitor
e tirados dos corpos docentes do Colégio e da Escola
Normal. Só pelo Decreto de 4 de setembro de 1877
haviam tido validade, em qualquer tempo, os exames de
preparatórios, anteriormente de validade limitada a prazo
certo.
Encerrava-se o ano letivo de 1879 com um concurso
de Filosofia, para preenchimento do cargo de substituto
da cadeira.
Tal concurso merece especial menção, não só por
ter sido muito disputado, como por ter aberto ensejo a
curioso incidente.
Apresentavam-se em concurso oito candidatos: —
Monsenhor Gregório Lipparoni, o Cónego José Gomes de
Azambuja Meirelles, os Drs. Sylvio Romero, Rozendo
Muniz Barreto, António Luiz de Mello Vieira, Joaquim
Jerônymo Fernandes da Cunha Filho e os Srs. Boaventura
Plácido Loureiro de Andrade e Franklin da Silva Lima e
André Gustavo Paulo de Frontin.
Para julgá-los constituiu-se comissão examinadora
composta do Conselheiro José Bento da Cunha Figueiredo,
Inspetor da Instrução Pública, dos reitores do Externato e
do Internato, Cónego Fonseca Lima e Dr. César Marques
e do professor do Colégio, Pedro José de Abreu. Serviriam
de examinadores os Drs. Nuno de Andrade e Joaquim José
do Carmo.
Logo no início do concurso ocorreram dois casos.
O candidato Silva Lima, alegando enfermidade, pediu
adiamento por um mês, tendo o mesmo candidato
participado de concurso anterior da matéria, aliás anulado.
Resolveu a comissão examinadora não espaçar o certame.
Logo após, o candidato Paulo de Frontin, ainda menor,
requereu à comissão julgadora lhe fosse facultado tirar
ponto para tese, ao menos condicionalmente.
Respondeu-lhe a comissão julgadora ter consultado
o Ministro do Império "o Conselheiro Sodré Pereira"
expondo a dúvida de admitir o candidato à concurso, por
não ter a idade legal de 21 anos.
Sem solução da consulta, entendia a comissão não
lhe ser lícito dar ponto ao candidato Frontin, nem
condicionalmente, podendo ele ter ciência do ponto
sorteado, dissertando sobre o mesmo por sua conta e risco
até resolução do Governo.
Comunicada esta resolução ao candidato Frontin,
procedeu-se ao sorteio do ponto para tese, tirando
Monsenhor Lipparoni da urna o ponto n.° 8: Da interpretação
filosófica na evolução dos fatos históricos.
Frontin recusou-se a copiar o ponto sorteado,
protestando em grau de recurso para o Conselho de Estada
se o Ministro do Império o desatendesse.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Nas férias de 1879. prosseguiria o concurso de
Filosofia.
1837-1937
s e g u n d o lugar, c a b e n d o o p r i m e i r o a M e l l o Vieira,
particularmente recomendado ao Governo pelo diretor da
A 12 de janeiro de 1880, realizava-se. na presença
de D. Pedro II, a defesa de teses de cinco candidatos dos
Faculdade, Paula Baptista, em ofício reservado, segundo
Clóvis Bevilacqua.
o i t o d a i n s c r i ç ã o : S y l v i o R o m e r o , Rozendo M u n i z ,
Sylvio — diz o m e s m o Clóvis — não se conformou
F e r n a n d e s da Cunha F i l h o . M e l l o Vieira e C ó n e g o
c o m esta classificação, que, realmente não era de justiça
Azambuja, submetidos todos à prova escrita a 16 de
absoluta, dados os seus méritos excepcionais de
janeiro, versando a prova sobre o ponto número 3. — Da
inteligência e preparo, além do julgamento do concurso de
ideia de um Ente Supremo.
1875, anterior à defesa de teses.
Lidas as provas escritas dos candidatos, a 17 de
Mas devemos reconhecer que se não afastou muito
janeiro, procedeu-se à classificação daqueles, dado o
da justiça c o m o c o s t u m a m praticá-la os homens.
primeiro lugar a Sylvio Romero, com as seguintes notas
sempre t e m ela olhos vendados.
da comissão examinadora (Nuno de Andrade e Carmo —
Tese oficial — Provas escrita e oral, ótimas).
Rozendo Muniz e Mello Vieira foram classificados
o
Nem
No ano anterior, dera-se o escândalo, da defesa de
teses do futuro grande brasileiro e já escritor notável.
A Congregação fora injuriada, a mágoa era muito
o
ex aequo em 2 lugar, cabendo o 3 ao Cónego Azambuja
recente, e os julgadores não tiveram a isenção de ânimo
e o 4 o a Fernandes da Cunha Filho.
preciso para esquecer o desrespeito e ver o mérito em
S y l v i o R o m e r o , o s e r g i p a n o , vinha do N o r t e
sua límpida afirmação.
precedido pela fama não só do mérito próprio como pelo
Ao Ministério Sinimbu de 1878 sucedia em 1880 o
incidente de famoso concurso na Faculdade de Direito de
Primeiro Gabinete Saraiva. Nele ocuparia a Pasta do
Recife, em março de 1875.
Império antigo professor do Colégio, o Barão H o m e m de
No curso da arguição de Sylvio, pelo lente Coelho
Rodrigues, tendo este declarado que a lógica não excluía
Mello, nomeado Ministro, em março de 1880, quando o
Colégio em 42° ano letivo.
a metafísica, replicou Sylvio Romero, dizendo esta é morta.
Francisco Ignácio Marcondes H o m e m de Mello,
"Foi O senhor que a matou?..." perguntou Coelho
Barão H o m e m de Mello, regressava indiretamente ao
Rodrigues. "Foi o progresso, foi a civilização", retorquiu
Colégio, onde, por concurso, lecionara a cadeira de História
o c a n d i d a t o , r e t i r a n d o - s e da sala c o m e x p r e s s õ e s
Universal, dela se demitindo para exercer a Presidência
indignadas.
de São Paulo, em 1864.
Exposto o incidente ao Governo pela Congregação
da Faculdade deu em nada.
No concurso do Pedro Segundo, em 1879, veio Sylvio
Alguns lustros depois, Ministro do Império, entrava
a superintender o Colégio e logo para lhe reformar estudos
no ano seguinte da nomeação ministerial.
Romero encontrar, entre contendores, o Dr. Mello Vieira,
Ao ministro novo, sucedia reitor novo no Externato.
que com ele concorrera, em 1876, por provimento da
Deixava a reitoria deste, exercida desde 1872, o Cónego
cadeira de Filosofia do Curso de Preparatórios anexo à
Fonseca Lima, o baiano da ilha de Itaparica, cheio de cargos
Faculdade de Direito de Recife.
e encargos na vida, entre aqueles o de Coronel-chefe do
Concorrendo pela segunda vez — da primeira em
Corpo Eclesiástico do Exército e seu organizador.
concurso anulado fora Sylvio classificado em primeiro lugar
Na tribuna sagrada tivera sempre preferência para
— à cadeira do Curso Anexo se viu Sylvio colocado em
grandes solenidades, famosa na Bahia, a oração fúnebre
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de Fonseca Lima nas exéquias de Labatut, de ossos
trasladados para a matriz de Pirajá, onde combatera pela
Independência, tão doente o pregador que o tinham levado
do leito ao púlpito. Na Bahia ainda orara nas exéquias por
D. Maria II, em 1854, por D. Pedro I, em 1859 e 1860,
chamando-o então o repentista Muniz Barreto de "sagrado
poeta do Evangelho".
Vindo ao Rio de Janeiro, Fonseca Lima ainda
continuara carreira feliz de pregador apreciado, produzindo
orações fúnebres quais as dos Bispos Conde de Irajá e de
Crysopolis, quais a da Imperatriz D. Amélia e da Princesa
D. Leopoldina, qual a oração fúnebre nas exéquias da
Capela Imperial pelos mortos na Guerra do Paraguai, oração
que lhe valeu elogio do Ministério da Guerra.
Na fecundidade das obras impressas do Cónego
Fonseca Lima destacava-se, para o Colégio, a
"Consolidação de todas as disposições relativas ao
Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo", trabalho
publicado em 1874.
Com a exoneração do Cónego Fonseca Lima,
homem público ilustre, respeitável e respeitado, assumiu
reitoria do Externato, o Dr. José Joaquim do Carmo, natural
do Rio de Janeiro, bacharelado em direito pela Faculdade
de São Paulo.
Sobre versado em matéria de instrução pública,
antigo diretor de colégio particular, tinha o Dr. Carmo prática
de administração. Antes de reitor do Externato presidira
três províncias do Império, a do Paraná, em 1861, a do
Espírito Santo, em 1865, a do Pará, em 1878. Tomou posse
da reitoria do Externato a 26 de julho de 1880. Quando o
Externato recebia novo reitor, Carmo em substituição a
Fonseca Lima, dispensava o Governo o reitor do Internato,
César Marques, dando-lhe por sucessor, a 25 de julho de
1880, o Dr. António Henriques Leal, maranhense como o
antecessor.
Médico pela Faculdade do Rio de Janeiro, clinicara
Leal em S. Luís até 1868, quando de insulto cerebral lhe
resultou hemiplegia do lado esquerdo. Passando a Lisboa
aí residiu muitos anos, tornado ao Rio de Janeiro para dirigir,
interinamente, o Diário Oficial, deixando o cargo para
exercer a reitoria do Internato.
Era António Henriques Leal, homem de muitas boas
letras, espírito de trabalhador servido por sólida cultura,
vencendo no bem o mal físico resultante do insulto de
1868. Polígrafo, dedicava amor à terra natal e ao assumir
a reitoria do Internato já havia publicado, em Lisboa, em 4
volumes, o Pantheon Maranhense, tentando ensaios
biográficos de falecidos maranhenses ilustres.
É trabalho ainda hoje lido e consultado assim como
a Notícia acerca da vida e das obras de João Francisco
Lisboa, da estimada lavra do mesmo António Henriques
Leal.
Entrou este em exercício no Internato, justo, quando
José Joaquim do Carmo tomava posse da reitoria do
Externato, onde, a exemplo de antecessores, deu
oficialmente balanço no estabelecimento, cuja direçáo lhe
haviam confiado.
Logo de princípio opôs-se o novo reitor ao
provimento da vaga de preparador de Física, por um
requerente reprovado em concurso, em maio de 1880.
Novo reitor no Externato, recebeu este novo vicereitor, muito de Casa. Era José Manoel Garcia o "Canário",
assim o tratavam os alunos, em ausência, bem se vê, ele
muito louro. Chegava à vice-reitoria quase no fim do ano,
nomeado a 9 de novembro de 1880, de posse a 12,
substituto do padre Álvaro Soares de Andréa.
Encerrava-se o ano letivo de 1880 com a colação
de grau à turma de bacharéis. Compunha-se de oito 7o
anistas, quatro do Externato e quatro do Internato. Entre
os bacharelandos do Externato figuravam António
Fernandes Figueira, depois médico pediatra notável e cultor
de letras sob o pseudónimo de Alcides Flávio, e Raul de
Ávila Pompeia, o futuro romancista do Atheneu, já se
ensaiando no Colégio com a publicação da novela Uma
Tragédia no Amazonas, célebre na Casa o seu dissídio
entre Pompeia e Schieffler, o professor de Grego.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No primeiro ano da reitoria Carmo, o de 1880,
fazer para remediar esse estado de coisas? — 3 o — Que
reviveria aquela disposição caída em desuso, embora
medidas adotar quanto à conveniência dos estudos do
consignada no regulamento primitivo do Colégio, o de 31
estabelecimento?
de janeiro de 1838. Por tal disposição o reitor deveria ser
L o n g a m e n t e , vários p r o f e s s o r e s d i s c u t i r a m o
assistido pela reunião de professores da Casa, formando
assunto da consulta reitoral, cada um não só do ponto de
Conselho Colegial.
vista geral como visando interesses da sua cadeira.
A 2 de agosto de 1880, o reitor Carmo presidia
Tornou a reunir-se o Conselho Colegial a 6 de
primeira sessão do Conselho Colegial, presentes o vice-
setembro, de cinco da tarde às oito da noite, sem nenhum
reitor do Externato e os seguintes professores catedráticos:
prejuízo de aulas.
Na sessão, o professor Lucindo dos
— G o l d s c h m i d t , Monsenhor Félix, Pedro José de Abreu,
Passos, condenava o ensino do Latim pela Artinha do padre
Halbout, Schieffler, Silva Lisboa, Lucindo, Ramos Mello,
Pereira, preconizando tal ensino pelo método de Clintock.
Drago, Pacheco da Silva Júnior, Araújo Góes, João José
Moreira, e Rozendo Muniz Barreto.
Assim justificava opinião: — "Chegando a esta
Corte, tive a ventura de ter às minhas ordens a boa livraria
Achavam-se t a m b é m p r e s e n t e s à reunião, t r ê s
latina do m e u pranteado amigo Dr. Almeida Rego, então
professores substitutos regendo cadeiras interinamente,
estimadíssimo reitor do Internato, cujo nome olvidado pelo
Berquó, Carlos França e João Rodrigues de Macedo, bem
G o v e r n o , terá s e m p r e gratas recordações nos seus
c o m o os m e s t r e s de M ú s i c a , D e s e n h o e Ginástica,
discípulos, amigos, colegas e clientes.
Mathias Teixeira, Poluceno Manoel e Paulo Vidal.
Foi nessa biblioteca despertada minha curiosidade
Abrindo sessão inaugural do Conselho Colegial, o
para as pesquisas do Latim, e foi por essa curiosidade
reitor Carmo mostrou rapidamente a conveniência da sua
que ao ler um anúncio de se achar esgotada em 10 anos a
o
nova reunião, revivida assim a prática do artigo 2 do
8 a edição da gramática de Clintock, eu a mandei buscar.
Regulamento de 31 de janeiro de 1838, " e m desuso de
O que fiz com ela, máxime no Internato é mais que sabido,
tempo imemorial".
Em seguida o reitor convidou os
e para minha glória basta dizer que o Barão de Tautphoeus
presentes a expenderem parecer sobre pontos para os
assim que ela apareceu a admitiu no seu Colégio, e o
quais previamente lhes chamara atenção.
m e s m o fez o Sr. Dr. Abilio (Dr. Abílio César Borges, depois
Coube a Goldschmidt, professor de Alemão, em
n o m e de colegas e no próprio, agradecer a prova de
atenção e apreço do reitor, procurando ouvir, o que nunca
acontecera, o corpo docente do Colégio.
Barão de Macaúbas): — haverá alguém mais competente
que estes dois Senhores?
Muitos outros a t e m admitido principalmente nas
províncias.
Discutiu o Conselho, logo em primeira sessão,
Esgotada a 2 a edição e a necessidade próxima de
numerosos assuntos relativos ao ensino e indicados aos
3 a , provam que muito acertei acomodando t a m b é m para o
professores e mestres pelo reitor Carmo em ofício de 27
Brasil essa excelente obra, que só t e m um grande defeito:
de julho de 1880.
— dá muito trabalho ao professor".
Começada às cinco horas da tarde
prolongou-se a sessão até às oito da noite, lavrando-se
dela minuciosa ata.
A 4 de outubro de 1880, nova reunião do Conselho
Coíegial, iniciada pela proposta para a concessão de
Apresentara o reitor Carmo ao Conselho Colegial as
o
bancos de honra aos alunos do Colégio, por proposta dos
seguintes perguntas: — 1 — Quais as causas da baixa
respectivos professores, notando-se entre os distinguidos
de matrícula do Colégio em 1880? — 2 o — Que convém
no 5 o ano João da Costa Lima Drumond, bancos de honra
ESCRAGNOLLE DÓRIA
em História, Física e Cosmografia, no 6o ano o príncipe
D. Pedro Augusto e João Carlos Pardal de Medeiros Mallet,
bancos de honra em Retórica, no 7o ano e Raul de Ávila
Pompeia, bancos de honra em Italiano, História e Corografia
do Brasil.
Em seguimento ocupou-se o Conselho Colegial de
responder a quesitos formulados pelo reitor Carmo, tratando
de estabelecer bases para a distribuição de notas, da
conveniência de monitores nas aulas e da presença nestas
do inspetor da turma.
Na marcha da discussão colhiam-se opiniões
diversas, não fosse o Conselho assembleia humana,
sempre propensa à multiplicidade de sentenças pela das
cabeças.
Declarava o professor Schieffler "achar impossível
outras bases para as notas que não os sentimentos de
justiça e equidade do professor", esposada a opinião do
professor pelos demais docentes.
Mais agitada foi a discussão quanto à necessidade
de monitores nas aulas.
Schieffler declarou-os "nocivos ao ensino, nada do
que foi estudado ficando senão o obtido pelos próprios
esforços do estudante".
Halbout entendia convenientes os monitores em
aulas numerosas, na opinião acompanhado pelo professor
Ramos Mello.
Drago declarava "abominável à instituição,
mormente quando se poderia lançar mão de professores
suplementares, cada aula no máximo com 40 alunos".
O substituto Berquó não aceitava os monitores,
segundo ele "nesse cargo os alunos se tornam servis".
Tinha a propor, em relação à presença de inspetores
nas aulas, "medida que poderia parecer estranha, mas
nem por isto menos profícua".
Reconhecia o bom desempenho dado a deveres
pelos inspetores do Colégio, mas desejaria que nele
houvesse um inspetor "manejando bem francês, outro
inglês, outro alemão, a fim de se dirigirem sempre aos
alunos a seu cargo naquelas línguas representando o papel
de professores meramente práticos".
Apoiou a ideia o Dr. Moreira, professor de Italiano,
achando-a excelente, desejando-a estendida ao Italiano.
O professor de Inglês, João Rodrigues Macedo,
defendia os monitores, "não podendo tolerar se dissesse
o monitor um delator, quando o seu papel era de confiança,
habilitando alunos à prática da justiça".
Quanto à polícia das aulas entendia o professor
Macedo "absolutamente desnecessária a presença de
quem quer que fosse além do professor para manter a
ordem. Tal coisa, a seu ver, "redundaria em menoscabo
do professor que conscienciosamente cumpria dever".
Acentuava Macedo a "que por mais numerosa que fosse
a classe, quem não sabia manter disciplina, não merecia
o nome de professor ipso facto desmoralizado". "O aluno
— dizia Macedo — tateia o pulso do professor e de achálo forte ou fraco torna-se bom ou mau".
"A manutenção da ordem em uma classe está tãosomente no critério do professor e nenhum há que o não
tendo, possa, jamais por meio de inspetores, conseguir a
ordem e o respeito que lhe são devidos".
A 8 de novembro de 1880, o reitor Carmo, sempre
às horas do costume, das cinco da tarde às oito da noite,
reunia o Conselho Colegial, com a presença de quatorze
professores.
Tratou-se na sessão de concessão dos bancos de
honra e de notas em aulas, até nas de Halbout. Até hoje
há muito quem represente o professor Halbout como
distribuidor feroz de notas más, reprovador-mór, sem
atenção a quaisquer méritos. Tal apreciação do seu
procedimento proveio de alunos jamais esquecidos da
severidade justa do docente.
Na sessão do Conselho Colegial de 8 de novembro
de 1880, propunha, entretanto, Halbout, medida destoante
da sua proclamada ferocidade. Achava "que as notas de
aula deviam ter toda a importância nos exames, garantindo-.
lhes os resultados. Prestasse o aluno mau exame, desde
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
que f o s s e m boas as suas contas de ano, deveria ser
José Teixeira, a 8 de novembro de 1880, — "Penso que
aprovado, embora com grau inferior".
os alunos merecedores durante o ano letivo de 9 notas
Tais as ideias do impiedoso Halbout.
boas de aplicação e de exemplar procedimento, poderão
Roborou-as L u c i n d o , o p r o f e s s o r de L a t i m ,
ter distinção; os que obtiverem 6 notas boas de aplicação,
lembrando o caso de dois alunos seus, de notas más em
tendo bom procedimento — plenamente — os que tiverem
aplicação, contudo prestando bons exames.
3 n o t a s b o a s de a p l i c a ç ã o ,
Ramos Mello, o professor de História, entendia
No sentir de
Ramos Mello, quando o exame fosse bom, embora más
Quanto a punições por ser o reitor "chefe e versado
em dirigir estabelecimento de instrução, era o competente
para decretar castigo com o maior critério".
as notas de aulas, o aluno devia ser aprovado.
O professor Drago, outro feroz, opinava haver três
elementos a atender no julgamento de exames finais: —
Só deveria ser concedido, no sentir de Mathias
Teixeira, banco de honra ao aluno apresentando 3 notas
boas no trimestre, além de exemplar procedimento.
prova escrita, prova oral e conta de ano, aprovado o aluno
quando reunisse ao menos dois desses elementos.
Na sessão do Conselho Colegial de 8 de novembro
de 1880, o Dr. João José Moreira, professor de Italiano,
entrou " e m largas considerações sobre a necessidade de
ter a corporação docente do Colégio a autonomia de
Congregação para decidir de tudo quanto dissesse respeito
ao ensino e até ao provimento dos lugares de magistério,
mediante concurso".
Isto encartado na discussão do valor de notas e
"Notas de aplicação, bancos de honra pesariam a
favor do aluno nos e x a m e s de suficiência ou finais,
elevando-os
um
grau
se
as
provas
fossem
De grande importância são prémio e castigo, num
e s t a b e l e c i m e n t o de instrução, s o b r e t u d o secundária,
frequentado por adolescentes encalorados pela puberdade,
na inexperiência de m u i t o s ou na audácia de alguns,
julgando permitido ou tolerado justamente o defeso.
Prémio
e
punição,
como
dispensá-los
na
manutenção da sociedade humana, se até o céu reclama
paraíso, purgatório, inferno. Viver às claras, sim, às soltas,
professores presentes.
Cabe, pois, ao Dr. João José Moreira a ideia da
t r a n s f o r m a ç ã o do C o n s e l h o Colegial do Colégio em
não.
Pedida a opinião do professor de Desenho, Poluceno
Pereira da Silva Manoel, acerca de prémios e punições,
Congregação.
Opinavam também os professores de Arte
consultados pelo reitor sobre assuntos
de
desfavoráveis ao aluno".
b a n c o s de honra em relação a e x a m e s f i n a i s e de
suficiência, empenhados naquela discussão muitos dos
procedendo —
simplesmente.
" d e v e r e m ser tidas em muita consideração nos exames
as contas do ano e os bancos de honra.
bem
pedagógicos,
propunha ela o s i s t e m a de graus para os alunos de
progresso, graus de 1 a 10, conferido graus 10 ao aluno de
funcionando qualquer estabelecimento de instrução por
constantes notas boas.
engrenagem, na harmonia de vistas entre professores de
aluno de notas entremeadas boas e sofríveis; os graus de
todas as disciplinas lecionadas, sem distinção pueril de
5 a 1 seriam conferidos ao aluno só de notas sofríveis.
cadeiras maiores e menores tendentes no conjunto a bem
instruir os que se supõem vir à escola educados.
Os graus de 9 a 6 caberiam ao
Quanto a punições, Poluceno entendia não ter que
opinar.
Consultado sobre o s i s t e m a de r e c o m p e n s a e
A respeito de bancos de honra, julgava não ser
punições a alunos, respondia o professor de Música Mathias
conveniente tal recompensa na aula de Desenho: — "O
ESCRAGNOLLE DÓRIA
aluno mudando de banco para ser prejudicado quanto ao
bom lugar", dizia o professor, interessado na justiça de
julgamento.
Em vez de banco de honra na sua aula, seria
preferível a escolha dos melhores desenhos. Figurariam
em quadro, num quadro os nomes dos autores dos
desenhos.
A 6 de dezembro de 1880, nova sessão do Conselho
Colegial muito concorrida, la o Conselho tratar do ensino
de Línguas e da conveniência da adoção do método de
Clintock para o estudo do Latim.
Segundo o professor Schieffler, no ensino das
Línguas Vivas a prática devia ser associada à teoria, esta
precedendo aquela, vicioso o processo contrário, dele
provindo a incapacidade de reduzir, estendendo a todos os
alunos.
Contrariava Goldschmidt a opinião de Schieffler,
entendendo dever a parte prática preceder a teórica, em
cursos distintos ambas, por corresponder o método e
ensino das Línguas Vivas ao modo como o menino aprende
a língua materna, só servindo a acumulação de prática e
teoria para sobrecarregar o estudante e distrair-lhe a
atenção.
A discussão sobre a gramática de Clintock, tão
preconizado pelo professor Lucindo, levou Schieffler a
discordar.
Goldschmidt acreditava o livro de Clintock útil
apenas nas aulas dos primeiros anos de Latim.
Declarava Halbout não conhecer o método de
Clintock, sabendo-o, porém, inspirado no de Jacotot. já
condenado pela prática.
Com tal método o aluno progredia nos primeiros dias
ou meses, estacionava depois.
Lucindo não podia deixar Clintock indefeso.
Declarou-lhe o sistema meia modificação do de
Ollendorf. Preferia o livro de Clintock depois de ter lido e
relido vinte e seis gramáticas.
Praticamente com o método clintockiano colhera
grandes resultados, não só no Colégio, como no Colégio
de Santa Cândida, os alunos do Externato, dando quinaus
nos do Internato.
Dezoito edições contava a gramática de Clintock nos
Estados Unidos, "só podendo ser repelida por aqueles
que não a conheciam bem".
O professor Rozendo Muniz Barreto, concordava
com Halbout.
No ensino das Línguas Vivas a teoria devia preceder
à prática sob pena de tomarem-se os alunos "papagaios".
Informava ter conhecido e conhecer na Bahia
eminentes professores de Latim alheios, na sua formação
e no seu ensino, ao método Clintock.
Lastimava o professor Ferreira França, a ausência
do colega Pacheco da Silva Júnior, "que reunia
conhecimento para tratar proficientemente dos assuntos
sujeitos à discussão", combatendo, França, como o colega
Rodrigues de Macedo, o método Clintock. Às quatro da
tarde findava a agitada sessão do Conselho Colegial,
iniciada às duas horas.
Afora as sessões do Conselho Colegial,
manifestavam-se os professores sobre a orientação
pedagógica do Colégio.
Assim dirigia o professor Goldschmidt ofício ao reitor
Carmo, a 11 de novembro de 1880, dizendo-lhe: —
" Permita V.Ex.a que aqui apresente por escrito uma
ideia que expus na última Conferência Colegial, e, segundo
me parece, passou desapercebida, isto é, que na reforma
que se tem de fazer, se acabe com os exames de
suficiência, servindo o último concurso trimestral, que pode
ser assistido ou mesmo presidido por V. Ex.a, como prova
do exame, e aos alunos que nele passarem, serem
aprovados conforme os seus merecimentos.
Deste modo o exame tornar-se-á de certo modo mais
rigoroso e ao mesmo tempo mais agradável aos alunos e
aos professores, mais rigoroso por constar de uma prova
escrita, mais agradável aos alunos, porque não terão de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
fazer exames de prova ostentação e mais agradável aos
professores porque poderão empregar o tempo gasto por
eles em exames em pura perda, porque já conhecem o
merecimento de cada um de seus discípulos.
Se V. Ex.a achar esta minha ideia plausível, dignese de aceitá-la, se não, desculpe o haver eu ocupado o
p r e c i o s o t e m p o d e V.Ex. a c o m o b j e t o t ã o p o u c o
importante".
O ofício de Goldschmidt em 1880 é curioso por
despertar reflexões. A proposta dele precede de muito o
regime atual das aprovações por média, tanto o novo é
quase sempre muito velho.
À espera do início do ano letivo de 1 8 8 1 , por ofício
de 16 de fevereiro, declarava o reitor Carmo a superiores
hierárquicos, o M i n i s t r o do Império e o Inspetor de
Instrução Pública, " q u e o Imperial Colégio de Pedro
Segundo não preparava alunos para os cursos superiores
tais quais se achavam constituídos entre nós, preparavaos para c o n h e c i m e n t o mais amplo das matérias que
c o n s t i t u e m o seu programa, f o r n e c e n d o - l h e s os
i n d i s p e n s á v e i s e l e m e n t o s para e s s e r e s u l t a d o , e
preparava-os para as condições de cidadãos nas múltiplas
e complexas relações da sociedade em que tinham que
viver, f o s s e m ou não os alunos do Colégio bacharéis em
Direito, doutores em Medicina ou M a t e m á t i c a " .
Em abril de 1 8 8 1 , declararia o reitor Carmo "que
Externato e Internato não eram dois estabelecimentos de
instrução distintos e separados senão duas seções de um
só e s t a b e l e c i m e n t o " , frisando assim a imperiosa
necessidade da i n d e f e c t i v e l harmonia entre as duas
seções de Casa única.
Ponderava Carmo a vantagem da harmonia entre
as reitorias do Externato e do Internato. "Ponho, dizia,
todo o empenho em conservar tal harmonia, bem certo de
que da rivalidade e da luta entre essas duas seções só
poderiam resultar prejuízos para a m b a s " .
Observava o reitor Carmo que tomando posse do
cargo cogitara em restabelecer a disposição do artigo 2
1837-1937
do Regulamento n.° 8, de 31 de janeiro, reunindo o Conselho
Colegial nos dias ai determinados.
Afigurava-se a Carmo que para certo declínio do
Colégio contribuiu o isolamento em que se haviam mantido
largo tempo os membros do corpo docente, cada um deles
concentrado na esfera relativamente estrita de sua aula,
fato sem dúvida a dificultar senão impedir direção técnica,
geral e harmoniosa de ensino.
Em fevereiro de 1 8 8 1 , novo encargo vinha pesar
sobre a reitoria do Externato, transferidos da Inspetoria da
Instrução Pública para aquela reitoria superintendência dos
exames gerais de preparatórios.
Entendia, p o r é m , o reitor Carmo conveniente a
extinção das delegacias e das mesas de e x a m e s de
preparatórios em algumas províncias.
"— Sei — dizia Carmo — de que ordem são as
objeções que se o p õ e m a este desideratum; mas não
recuo diante da ideia que sugiro (ao Ministro H o m e m de
Mello), porque estou certo que nenhuma objeçào assenta
em considerações de interesse público.
Não basta por diante a palavra descentralização para
ocultar os inconvenientes que derivam da conservação das
escolas a que aludo, que não c u m p r e m , que não podem
cumprir, a missão que lhes é confiada."
Carmo procurava c u m p r i r a p r o m e s s a , não há
dúvida, no grande e no pequeno. Assim tendo os alunos
do 7 o ano pedido feriado nos dias 25, 27 e 28 de junho, por
serem dias intercalados entre os feriados de São João e
São Pedro, ponderava Carmo ao Ministro Homem de Mello,
que os feriados legais não constituíam razão para converter
em feriados dias úteis a estes próximos. Além disso o
ano letivo de 1881 iniciara-se a 2 de abril e não a 16 de
março, diferença de 16 dias nos trabalhos letivos.
Trabalhando com afinco na direção do Externato, em
janeiro de 1 8 8 1 , havia o reitor Carmo remetido ao Ministro
H o m e m de Mello projeto de reforma do Imperial Colégio,
ponderando a conveniência de qualquer modificação ao
plano de estudos da Casa era útil antes de iniciar o ano
letivo.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Querendo expedir reforma do ensino no Colégio, o
Ministro Homem de Mello desejou que fossem ouvidos
os professores da Casa sobre o projeto de reforma em
elaboração.
O reitor Carmo reuniu o Conselho Colegial às cinco
horas da tarde de 8 de fevereiro e abrindo sessão, declarou
"que os Srs. Professores estavam habilitadíssimos para
dar, de momento, seus pareceres sobre a reforma, não só
pela sua experiência no magistério, como porque já sobre
o assunto também detida atenção, ao responderem aos
quesitos formulados na primeira reunião do Conselho
Colegial (a 2 de agosto de 1880).
Então o secretário interino do Externato, João Alves
Mendes da Sylva, sem interrupção procederia à leitura de
todo o projeto de reforma e seu plano geral. Seguir-se-ia
leitura espaçada de cada artigo, de modo a permitir
observações por parte de professores.
Das cinco da tarde às dez da noite, o Conselho
Colegial discutiu a matéria, oferecida à sua consideração
pela do Ministro; conforme atas do Conselho Colegial.
A 24 de março de 1881, um Decreto referendado
pelo ex-professor do Colégio, o Ministro Homem de Mello,
modificava bastante os regulamentos da instituição.
A reforma não alterava a duração do curso de
bacharelado, continuava a ser septenato. Dezoito
professores leriam no Externato, outros tantos no Internato.
Treze substitutos, comuns às duas seções do Colégio,
auxiliariam os catedráticos no curso de bacharelado. O
estudo da língua vernácula prosseguiria até o 5o ano.
Prosseguiria também no 6o ano o estudo da Retórica,
da Poesia e da Literatura Nacional. No 7o ano far-se-ia o
estudo comparativo do Português e das Línguas
Românicas, dos principais períodos literários da Língua
Portuguesa, analisadas as diversas fases da Literatura de
Portugal.
Pela reforma de 1881 seriam assim estudadas as
disciplinas no Colégio: —
Latim — N o 2o, 3o, 4o e 5o ano.
Grego — N o 6o e 7o ano.
Inglês — No 4o e 5o ano.
Francês — No 1 o , 2o e 3o ano.
Alemão — N o 6o e 7o ano.
Português — No 1 o , 2 o . 3o, 4o e 5o ano.
Italiano — No 7o ano.
História Geral — No 5o e 6o ano.
Corografia do Brasil — No 7o ano.
Geografia Geral — No 1 o , 3o e 4o ano.
Matemática — No 1 o , 2o, 3o e 4o ano.
Filosofia — N o 6o e 7o ano.
História Natural — No 6o ano.
Dispensava a Reforma Homem de Mello para a
obtenção de grau de bacharel em letras, aprovações em
Desenho, e Música e Ginástica, sem dispensa contudo
das respectivas aulas. Não seria obrigado o acatólico à
frequência ou exame da aula de Religião.
Fixava a reforma horária das aulas. Iniciadas às 9
da manhã, nos dias úteis, findariam às 3 da tarde.
Programas de ensino, adoção de livros, horários ficariam
a cargo de reitores, consultados professores e mestres,
submetendo o Inspetor Geral da Instrução ao Ministro do
Império as providências das reitorias. Mantinha a reforma
a classe dos meio-pensionistas e no Externato frequência
de aulas avulsas, habilitado o candidato a elas a seguirIhes o ensino, prestados exames vagos de qualquer ou de
todas as matérias do curso. Visando acatólicos, a reforma
substituía verbo no juramento do grau. Deveria o acatólico
jurar respeitar e não manterá religião do Estado.
Anualmente, no Diário Oficial, seria publicada, por
indicação dos competentes mestres, a lista dos alunos
mais destacados nas aulas de Música, Desenho e
Ginástica.
Em vigor no Colégio a Reforma Homem de Mello, o
reitor Carmo convocava o Conselho Colegial a 2 de maio
de 1881.
Aberta a sessão, às cinco e meia da tarde, o reitor
pôs em discussão vários pontos já submetidos em circular
ao exame dos professores, a circular expedida a 23 de
abril.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Os pontos sujeitos à consideração do Conselho eram
os seguintes: —
1o — relação entre o ensino e os exames. Meios
práticos de evitar prejudicial antagonismo entre a
preocupação destes e o fim daquele, atendendo-se, não
só ao que respeitava os exames do Colégio como o que
entendia com os exames gerais de preparatórios.
2o — Condições que deviam reunir os professores
e se suficientes as até então exigidas para admissão ao
professorado do Imperial Colégio de Pedro Segundo.
3o — Possibilidade de converter-se, desde logo, o
Conselho Colegial em Congregação, em que condições,
consideradas as duas seções — Externato e Internato.
Abriu discussão o professor Goldschmidt dizendo
que por mais que procurasse não achara possível o
antagonismo enunciado no primeiro quesito da circular.
Quanto ao segundo, entendia suficientes, senão
excessivas, as condições em vigor para admissão ao
professorado do Colégio.
Nunca compreendera a vantagem da divisão do
Colégio em duas seções, parecendo-lhe que deveria a Casa
ser dirigida por um só reitor, dois vice-reitores servindoIhe de auxiliares.
Opinava ainda Goldschmidt pela conveniência da
conversão do Conselho Colegial em Congregação,
mantendo-se a reitoria em esfera elevada, concedida ao
corpo docente mais direta e eficiente influência na direção
do ensino.
Schieffler e Halbout declaravam-se de inteiro acordo
com Goldschmidt, cujas, ideias também Monsenhor Félix
aceitava. Mas este não confiava muito nos corpos
coletivos parecendo-lhe necessária alteração dos
regulamentos em vigor para conversão do Conselho
Colegial em Congregação real e não nominal.
O professor Silva Lisboa reputava insuficientes as
provas de concurso da época, mau o sistema de teses,
podendo elas ser escritas por terceiros, preparando-se o
candidato para prova de efeito, simuladora de habilitação,
1837-1937
pondo em jogo recursos intelectuais próprios. Condenando
a prova oral, o professor Lisboa encarecia, em parte, o
valor da escrita. Recuava o mesmo professor ante a ideia
da conversão do Conselho Colegial em Congregação. Não
podia combinar os interesses dos professores com a
utilidade e proveito do Colégio, deixando a competentes a
solução do problema.
O professor Olímpio da Costa declarava não
compreender bem o que fosse antagonismo entre ensino
e exames, parecendo-lhe que se antagonismo havia entre
o Colégio e o que fora dele se passava, evitá-lo-ia
uniformização dos programas.
Referindo-se aos concursos, dizia o professor
Olímpio da Costa "não acompanhar os que queriam
quebrar os andaimes por onde haviam subido" ao
professorado do Colégio.
Parecia-lhe preferível arguição recíproca entre
candidatos, julgando necessária a conversão do Conselho
Colegial em Congregação útil, caso realizada sobre a base
da distinção entre administração e economia.
Declarava o professor estar de acordo quanto ao 1o
quesito com o professor Goldschmidt, quanto ao 2o com o
professor Lisboa, quanto ao 3o com Monsenhor Félix.
Parecia-lhe, entretanto, que o candidato à cadeira
de uma ciência deveria mostrar-se habilitado em todas as
ciências lecionadas no Colégio, o mesmo se dando com o
aspirante a cadeira de qualquer língua. Não parecesse o
seu juízo exigência rigorosa, pois pelas disposições em
vigor ao bacharel pelo Colégio cabia preferência na
nomeação para professor.
O professor Rozendo Muniz Barreto entendia dever
o programa de exames estar de acordo com o do ensino,
o mesmo programa vigorando para os exames do Imperial
Colégio e os de preparatórios. Aludindo aos "andaimes"
citados pelo professor Olímpio, asseverava o professor
Rozendo "não se arrecear de quebrar a escada por onde
subira, ainda que fácil a ascensão, o que para ele não se
dera".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Focalizando a questão apenas no interesse público,
julgava Rozendo o pergaminho, presunção da habilitação,
suficientes as provas de concurso, confirmadoras da
presunção derivada do pergaminho, "colocando o candidato
em condições de não ser equiparado a qualquer
aventureiro".
Dava toda importância à apresentação de tese,
insuficiente, porém, o prazo de quinzena para sua
apresentação. Era pela arguição mútua dos candidatos,
substituída a da mesa examinadora, mormente o Conselho
Colegial convertido em Congregação apreciadora das
provas. Quanto à conversão cumpria distinguir entre
matérias permanentes, administrativas e outras de
natureza pedagógica ou de natureza mista. Caberiam
exclusivamente as primeiras à reitoria, as segundas ao
professor, as terceiras à Congregação presidida pelo reitor
com voto de qualidade, conveniente reitoria única para as
duas seções do Colégio.
Manifestou-se o professor Rodrigues de Macedo,
em substância, de acordo com o professor Goldschmidt,
julgando possível "o compadresco na arguição pelos
examinadores", embora o mal encontrasse corretivo na
suprema inspeção do Governo.
O professor Arthur de Oliveira pediu vénia para
abster-se no momento de participar da discussão, visto
ser "homem novo na casa".
Lamentava o mestre de Ginástica, Paulo Vidal, não
se achar a sua classe em pé de igualdade com a dos
professores. Para as aulas de Ginástica não se exigiam
habilitações, todavia indispensáveis provas do
conhecimento do corpo humano, de osteologia, da
miologia, da diferenciação dos grandes centros nervosos.
O mais longo dos pareceres foi o de José Manoel
Garcia, professor de Português do 2o e 5o ano do Externato
e dele vice-reitor.
Disse que estabelecer programas de pontos para
exames gerais, de molde a conhecer se o examinando
sabia a matéria inteira era "descarregar golpe de morte na
especulação que preparava por pontos ad hoc os jovens
preparatorianos".
Quanto a concursos entendia Garcia que dos
candidatos se deveria exigir, além do perfeito conhecimento
da matéria, provas de habilitação e metodologia,
especialmente da matéria a ensinar. Não era inovação em
face das instruções de 5 de janeiro de 1855, considerando
Garcia insuficiente a prova oral estabelecida pelas
instruções de 24 de outubro de 1878.
Nenhuma importância ligava à prova de tese, pois
esta podia ser feita por terceiro, dando-se o caso de ser o
candidato ensaiado para brilhante defesa. Não via
inconveniente na arguição mútua de candidatos, autorizado
o presidente do ato excluir dele quem não se portasse
com devida urbanidade e circunspeção.
Tratando da transformação do Conselho Colegial em
Congregação, opinava Garcia haver duas espécies de
Congregação: — as autónomas e as dependentes de
quem as custeia. A primeira espécie não lhe parecia
aplicável ao Imperial Colégio, porquanto o "self
government" só pertencia às corporações de ensino livre
administradoras do próprio património.
Supunha a segunda espécie, a da Congregação
dependente, o mesmo pé de igualdade de seus membros
quanto à ilustração, consideração e importância pessoal.
De outro modo, dizia Garcia a seus pares, o interesse
individual, a inveja inconfessável, os ódios reencontrados,
as pretensões contrariadas acharão meios de formar
maiorias caprichosas, para levar de vencida os adversários,
e daí o prejuízo do ensino, o declínio da instrução, sem ser
possível descobrir o verdadeiro responsável.
Com estas e outras muitas considerações severas
opunha-se Garcia à transformação do Conselho Colegial.
Como lhe lembrassem existência de Congregação
na Escola Normal da Corte, "filha de Garcia" diziam
lembradores, o impugnador retorquia ser a Escola Normal
ainda muito jovem, mal se podendo prever o que produziria
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
no futuro. Nâo lhe cabia responsabilidade na criação da
Congregação da Normal. Já existia quando para ela
entrara.
Caso ao Governo aprouvesse transformar em
Congregação o Conselho Colegial, julgava Garcia que, dos
males preferido o menor, mais consentâneo seria a índole
da Instituição, estabelecer-se reitor único para as duas
seções do Colégio, uma só Congregação formada pelos
professores das duas seções da Casa dirigida por aquele
reitor. Teria a Congregação esfera de ação determinada,
sujeitos os seus atos à aprovação do Governo.
Assim, às 7Vè da noite de 2 de maio de 1881
terminava mais uma sessão de Conselho Colegial. Às 5
M? da tarde de 6 de junho de 1881 nova sessão para discutir
quesitos propostos pela reitoria do Externato aos
professores por circular de 19 de maio.
Desejou consultá-los a reitoria para saber se os
compêndios e manuais de ensino usados no Colégio
satisfaziam necessidades da instituição e dado que não
satisfizessem quais os susceptíveis de revisão, correção
ou organização.
Desejava mais a reitoria dissesse o Conselho que
obras literárias, pedagógicas ou científicas conviria adquirir
para engrandecimento da Biblioteca do Externato, como
ordenava o plano de estudos do Colégio.
Pronunciar-se-ia, também, o Conselho Colegial
sobre a utilidade de preleções ou conferências públicas e
periódicas feitas pelos professores do Externato, apontando
o Conselho, no caso afirmativo, quem se achava em
condições de realizar aquelas conferências.
O professor Schieffler julgava-as, com franqueza
rude, "inconvenientes, porquanto em geral só se animava
a tomar nelas a palavra quem não entendia da matéria".
Acompanhou-o na franqueza germânica a franqueza
de Halbout, no bom sangue francês polvilhando-a de ironia.
"Parece-me, disse, que o Colégio deve resistir ao
prurido de falar, moléstia crónica ou enfermidade da moda,
1837-1937
manifestada nas conferências, onde não raro apareciam
pigmeus, como nas da Glória a que a gargalhada pública
fazia justiça".
Monsenhor Félix acrescentava que preleções e
conferências figuravam entre causas da queda do Império
Romano. Silva Lisboa pendia para a utilidade das
conferências, "uma vez não feitas a esmo, embora
onerassem professores". Lucindo aplaudia as conferências,
mas constituindo cursos. Era Carlos França favorável à
ideia das conferências.
"Produziriam excelentes resultados para os ouvintes
e dariam medida da importância do Colégio".
Conferências públicas, inscrições voluntárias e
pontos de discussão escolhidos pelos professores nos
limites da matéria do programa do ensino, seriam de
incontestável utilidade. E França terminava oração, com
uma seta do parta. "Talvez me exprimo assim porque
não falto". Difícil, se não impossível, saber hoje quem
recebeu a seta.
O professor Rodrigues de Macedo, a propósito do
melhoramento da Biblioteca do Externato, dizia saber "que
as obras pedagógicas eram úteis, embora já tivesse
passado o tempo em que cada erro, cada bolo. Ao
professor que não soubesse tocar a corda sensível do
estudante pouco poderiam aproveitar tais obras".
Era adverso às conferências porque o público ficaria
formando mau conceito do professor que não pudesse falar
por acanhamento e, demais, não podendo as preleções
versar sobre matéria inteiramente nova ninguém lhes
prestaria atenção e qualquer aranha distrairia o público.
O professor de Ginástica, Paulo Vidal, lembrando
conveniência de organização de compêndio de educação
física nacional, entendia úteis as preleções se
consistissem na exposição de métodos de ensino.
O mestre de Desenho Poluceno Manoel achava as
preleções úteis relativamente à arte de sua aula.
Terminou a sessão do Conselho Colegial às 7 % da
noite por longa exposição do professor José Manoel Garcia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Entre muitas considerações disse pugnar "para que o
público ficasse conhecendo que no Imperial Colégio de
Pedro Segundo havia professores que mereciam tal nome,
dissipando a má impressão causada pela acusação de
plágio e o ridículo que em publicações a pedido nos jornais
da Corte se tinham lançado sobre algumas teses de
concurso."
Entendia, mais uma vez, o professor Garcia que o
concurso provava apenas habilitação em tal ou tal disciplina
e não que o professor escolhido tivesse variada ilustração
e tino pedagógico.
Amiudava o reitor Carmo as sessões do Conselho
Colegial, a eles chamados os professores e mestres do
Externato e do Internato.
A 4 de julho de 1881 reunia o Conselho, sujeitandoIhe à apreciação três quesitos mandados a estudo prévio
a 27 de julho.
Desejava o reitor que o Conselho lhe dissesse:
1o — Atento o fim da instituição, cuja resolução
depende do trabalho harmonioso de todos os senhores
professores, em que condições e dentro de que limites
podia cada um opinar e influir sobre a direção das aulas
dos outros.
2o — Em que bases convinha assentar com as
noções de gramática geral recomendadas pelas instruções
em vigor para uso de todas as aulas de línguas no
estabelecimento.
3o — Qual o melhor método para o ensino de Línguas
Vivas.
Rompeu discussão o professor Halbout. Julgou
competir à administração e não professores a inspeção
das aulas, tendo como certo não ser possível tal inspeção
por destacadas as matérias do ensino.
Não via necessidade de gramática geral, "cuja
consequência seria modificarem-se compêndios de
colegas que, no seu entender, continham ideias
extravagantes. Quanto ao melhor método do ensino de
Línguas Vivas eram a regra, o exemplo, a aplicação, mais
profícuas do que guias de conversação e repetidas
composições."
Pensava o professor Lisboa haver utilidade no
preparo de gramática geral, achando ao mesmo tempo
difícil "harmonizar tantas cabeças divergentes".
Declarou-se o professor Lucindo de acordo com os
preopinantes, seguindo-se o professor Olímpio da Costa,
entre várias considerações, declarando insuficiente o
tempo para que os alunos pudessem bem falar uma língua
estrangeira. Com a franqueza e independência reveladas
nas discussões do Conselho, o professor Olímpio da Costa
opinava "que o Governo não tinha meios de satisfazer o
luxo de fazer o aluno, dada a premência do tempo,
expressar-se bem no idioma alienígena para ingressar na
sociedade, ele Governo não tendo podido cumprir as suas
promessas relativamente ao ensino primário".
Com a mesma franqueza do professor Olímpio da
Costa, perguntava o professor Carlos França "porque os
Srs. Ministros que para resoluções procuravam auxílio de
simples empregados de secretarias não consentiam ao
professor habilitado opinar sobre o ensino das diversas
aulas".
Desejava França nomeação de comissão que
assentasse as bases das noções de gramática geral,
convocados os professores de línguas para juízo do plano,
resolvida finalmente em assembleia geral.
No ensino de Línguas Vivas entendia indispensável
prática, muita prática, ao lado da teoria. Deviam, no seu
entender, ser feitas traduções e versões em alta escala,
vertendo e compondo os alunos frases de uso quotidiano,
ao arbítrio do professor, quais as encontradas nas contas,
artigos de jornais, até em rótulos de garrafas.
Sugeria a ideia da criação de três censores falando
bem francês, inglês e alemão, com eles praticando os
alunos. Nos colégios das irmãs de caridade as meninas
não falavam francês?
A necessidade de exprimir-se em línguas
estrangeiras parecia ao professor França incontestável,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
"até porque tínhamos corpo diplomático ao qual convinha
mostrar-se
habilitado
a
exprimir-se
em
línguas
estrangeiras."
1837 - 1937
2 o — Nos Externatos de instituição oficial a ação do
Estado deve limitar-se à instrução, isto é, ao fornecimento
de certa ordem de conhecimentos ou estender-se a direção
Segundo o professor Macedo qualquer professor
moral, à educação propriamente dita.
podia influir e opinar sobre aulas alheias, mas só por meio
Ao primeiro quesito — Qual o melhor sistema para
de colóquios e conversações particulares. Podia "parecer
formação dos professores de ensino secundário — assim
carranca", mas entendia que no ensino de Línguas Vivas
responderam vários docentes na sessão do Conselho
a teoria ia a par da prática, facilmente o aluno chegando a
Colegial de 2 de agosto de 1 8 8 1 :
esta uma vez senhor do mecanismo da língua.
"Ainda
assim o aluno devia dar graças a Deus se conseguisse
verter da língua estranha para a nacional e vice-versa,
condição essencial o conhecimento da língua vernácula,
bastão e a r r i m o " .
O professor José Manoel Garcia discutiu longamente
os q u e s i t o s p r o p o s t o s pela reitoria, considerando o
Conselho Colegial, c o n s e l h o de família, necessárias
Monsenhor
Félix:
—
Mostrar-se
o
professor
habilitado na matéria que leciona e capaz de ensiná-la.
Abreu: — Possuir a índole e o génio do professorado,
escolhido quem revelasse mais prática de ensino.
Schieffler. — Mandar estudar na Europa desde oito
anos de idade quantos se d e s t i n a s s e m à carreira do
magistério, evitando-se assim professores curiosos ou
providências para atingir o ensino o grau de perfeição
amadores e o preenchimento de cadeiras por bacharéis
desejável em Colégio modelo qual o de Pedro Segundo;
apenas três meses após bacharelado.
evitando-se que os professores de certas aulas pudessem
Silva Lisboa: — Exigir do professorado conhecimento
queixar-se do mau progresso de alunos em outras aulas.
especial da matéria a lecionar e das disciplinas mais
Acudia Lucindo
declarando que não duvidaria
ensinar português (Garcia era professor da língua), aos
alunos de Latim que mal o soubessem.
Respondia-lhe
intimamente
relacionadas
com
aquela,
além de
conhecimentos de pedagogia.
Lucindo: — De inteiro acordo com Monsenhor Félix.
Garcia que "pagando o Governo professor para certa
Ramos Mello: — De acordo com o professor Abreu,
disciplina não era justo encarregar outrem do trabalho que
não parecendo indispensável ir à Europa para aprender
não lhe c o m p e t i a " .
alguma coisa, bastando como aperfeiçoamento pedagógico
No curso secundário, Garcia conforme no ensino de
Línguas Vivas era "preferível o m é t o d o universitário, isto
é, regra, e x e m p l o e prática, e não aquele dando ao
professor o papel de ama de l e i t e " .
As sessões do Conselho Colegial, correspondentes
à futura novidade dos Conselhos Técnicos, demonstravam
interesse pelo "grau de perfeição" desejado pelo professor
Garcia para o colégio modelo, depois padrão. Modelo ou
padrão o essencial é o ser.
A 27 de julho de 1881 propunha o reitor Carmo ao
corpo docente os seguintes quesitos:
1o —
Qual o melhor sistema para formação dos
professores de ensino secundário.
prémio de viagem "ad instar" do praticado com alunos da
Academia das Belas Artes.
Rozendo
Muniz:
—
Adquirir
antes
de
tudo,
indispensavelmente, a arte comunicativa de transmitir os
fatos do pensamento, a educação literária do professor,
devendo favorecer o estilo na eloquência didática, não
sendo menos útil penetrar as origens e os verdadeiros
elementos da vida nacional, nem sendo para desdenhar
os exercícios corpóreos por aspirante a professores, sendo
até bom que possuíssem o que se denominava academia
da antiga nobreza, por formar o ensino médio a nata social,
a aristocracia intelectual do país.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Olímpio da Costa: — Fundar estabelecimento normal
secundário ou, atentas circunstâncias do país, dividir os
estudos do Imperial Colégio em seções, com uma seção
pedagógica para formação de professorado.
Carlos França: — Impedir o sistema proposto pelo
professor Schieffler de preparar para o magistério
estudantes desde oito anos de idade, idade de propensões
e tendências não bem definidas, impossível verificar então
vocações para o professorado.
Rodrigues de Macedo: — Estabelecer-se liceu ou
academia para verificação de aptidões para o magistério,
contratados professores hábeis em pedagogia.
Garcia: — Criar seminários pedagógicos para
preparação de professorado.
Ao segundo quesito formulado pelo reitor Carmo —
Nos Externatos de instituição oficial a ação do Estado deve
limitar-se à instrução, isto é, fornecimento de certa ordem
de conhecimentos ou estender-se à direção moral da
educação propriamente dita — assim se manifestaram
vários membros do Conselho Colegial.
Monsenhor Félix: — Instrução sem educação,
principalmente religiosa, nada vale.
Abreu: — Cumpre aproveitar todo o ensejo para
inocular no ânimo dos alunos princípios de boa educação.
Schieffler: — Ensino sem educação é quadro sem
moldura.
Lucindo: — De acordo com Monsenhor Félix.
Ramos Mello: — A educação pertence à sociedade,
a família é a verdadeira escola para formação do coração
e do caráter.
Rozendo Muniz: — Não é possível ser homem e
cidadão sem princípios de moralidade. Assim sendo, não
há pretexto para que o Estado se possa subtrair à missão
de exercer, pelo professor e pelo ensino, influxo moral nos
alunos. Opinião antecedida por muitas e eruditas
considerações.
Olímpio da Costa: — A instrução não pode
absolutamente ser separada da educação moral, como
também esta se não pode separar da educação religiosa,
inconveniente em Externato oficial, firmar o princípio da
educação religiosa, essencialmente católica ou não. No
primeiro caso por ir de encontro à liberdade de cultos, no
segundo por afrontar o pensamento da maioria consagrado
na religião do Estado, não inspecionável a educação dada
pela família, podendo afrontar a oficialmente dita e em
prejuízo desta.
Rodrigues de Macedo : — A felicidade do homem
está no cumprimento do dever.
Paulo Vidal: — Instrução sem educação é
instrumento de ruína.
Indagava o reitor Carmo do Conselho Colegial qual
o melhor regime disciplinar aplicável ao Colégio.
Assim vários professores respondiam:
Monsenhor Félix: — No regulamento vigente está
exarado o melhor regime.
Abreu: — De modo absoluto não se pode determinar
qual o melhor regime, variável conforme o caráter do
professor e as circunstâncias do país e só pelos resultados,
avaliável o mentor de regime disciplinar qualquer.
Schieffler. — O regime depende da índole, do caráter
e de outras circunstâncias.
Lucindo: — De acordo com o Monsenhor Félix.
Ramos Mello : — Nada acrescentaria ao juízo dos
colegas.
Rozendo Muniz : — Sem impugnar o regime
disciplinar vigente no Colégio, só lhe restava dizer não
haver regime disciplinar capaz de manter a ordem,
despertar a emulação e corrigir delinquentes ; por falta de
ensinamentos ou por vícios e firmeza de inteligência
próprios da índole, quando o professor, personificação da
lei que prefere impedir a falta a castigá-la improficuamente,
deixa de ser vivo transunto da mansuetude, da paciência
eda equidade.
Olímpio da Costa: — A verdadeira moral consiste
na aplicação das regras da disciplina, em estabelecimento,
disciplinado, cada professor na sua aula incumbido de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
manter disciplina de apoio na força moral dada pelos
administradores.
José Manoel Garcia: — Posto em prática com o
devido critério o regime disciplinar vigente no Colégio nada
deixa a desejar.
Tal a última das sessões do Conselho Colegial,
objeto do artigo 2o do Regulamento de 31 de janeiro de
1838, e ressuscitado pela reitoria Carmo.
Pelo Decreto de 24 de agosto de 1881, atendendo
às representações dos professores e substitutos do
Imperial Colégio, o Ministro Homem de Mello convertia
em Congregação o Conselho Colegial, cuja breve
existência ficou assinalada por discussões minudentes e
interessantes, entendendo de perto com a vida da
instituição, discussões nas quais se observou a maior
liberdade de juízos, alguns repassados de expressões
felizes e até de ironias.
O Decreto instituidor da Congregação traçava-lhes
direitos e deveres. Os substitutos só tomariam parte no
corpo congregado, quando ocorresse matéria de concurso,
os mestres nele presentes se ocorressem assuntos
relativos às suas aulas.
Organização anual de programas de ensino, de
horários, de adoção de obras e compêndios, mediante
aprovação do Ministro do Império, formação dos pontos
dos exames finais e de suficiência, isto é, de promoção,
julgamento de expulsão de alunos com efeitos devolutivos
para o Governo, eleição de mesas examinadoras de
concursos, julgamento destes, apresentação ao Governo
de lista de candidatos classificados por ordem de
merecimento, além de regimento especial de provas e
processos dos concursos e programas dos pontos a serem
utilizados nestes, eleição de professor para elaborar a
memória histórica do ano letivo findo, tudo o Decreto
Homem de Mello entregava à Congregação do Colégio,
providenciando também sobre formação das mesas de
exames finais e de suficiência, sempre presididas pelo
reitor.
1837 - 1937
Havia o Conselho Colegial durado justo um ano, de
2 de agosto de 1880 a 2 de agosto de 1881, no espaço de
ano de vida, celebrando dez sessões prolongadas,
estendendo-se da tarde à noite, cinco sessões em 1880 e
outras tantas em 1881.
As atas do Conselho Colegial são dignas de leitura
e demonstram o interesse do corpo docente por questões
pedagógicas, esclarecidas com conhecimento de causa.
O Decreto n.° 8227 de 24 de agosto de 1881
convertera em Congregação o Conselho Colegial do
Imperial Colégio de Pedro Segundo.
Quase mês depois celebrava a nova assembleia
primeira sessão numa das salas do Externato, sob
presidência do Inspetor Geral de Instrução Primária e
Secundária, Conselheiro José Bento da Cunha e Figueiredo,
presentes os reitores do Externato e Internato, Carmo e
Leal, vinte e nove catedráticos, e treze substitutos, faltando
apenas três membros da Congregação.
Às cinco e meia da tarde de 24 de setembro de 1881,
o Conselheiro José Bento, abrindo sessão primeira da
Congregação explicava o fim da reunião. Tratava-se de
dar execução ao Decreto criador da Congregação, convindo
desde logo que ela cogitasse de regimento interno.
Após algum debate resolveu a Congregação em
definitivo e por votação nominal, que ela se limitasse a
nomear comissão para redigir projeto de regimento sujeito
a ulterior discussão.
Assentou votação nominal que a comissão fosse
composta de cinco membros.
Saíram eleitos os professores Carlos de Laet, por
37 votos, Caminhoá por 35, Frontin por 33, Goldschmidt
por 21, Abreu por 19, encerrando-se em seguida a sessão
por nada mais caber na ordem do dia, conforme ata redigida
e subscrita pelo secretário do Externato — João Alves
Mendes da Sylva, o qual fazia aliás muita questão do y
em vez do /no apelido último.
A 3 de novembro de 1881 reunia-se de novo a
Congregação para eleger duas comissões, uma incumbida
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de alunos e do regimento do Colégio, outra de elaborar
regimento especial de provas e processos de concurso.
Procedeu-se a eleição por listas de dez nomes cada
uma, presentes 35 votantes.
Para a primeira comissão foram eleitos, por ordem
de votação, Goldschmidt, Frontin, Tautphoeus, Drago e
Garcia, para a segunda comissão mais votados
Tautphoeus, Drago, Caminhoá, Thomaz Alves e Ramos
Mello.
Instituindo a Congregação do Imperial Colégio, o
Governo procurava prestigiá-lo. Assim, na sessão de 31
de dezembro de 1881, o Inspetor da Instrução Pública,
presidente da assembleia, declarava-lhe, de ordem do
Ministro do Império, então interinamente na Pasta o
Senador Dantas, poder a Congregação do Colégio dar
parecer sobre projeto de Universidade nas vistas do
Governo, parecer sobre todo projeto e não só sobre
instrução primária e secundária.
Assinalado no Colégio o ano letivo de 1881 pela
conversão do Conselho Colegial em Congregação também
o termo do referido ano letivo assinalaria turma de
bacharéis.
Compunha-se de doze setimanistas, seis do
Externato, seis do Internato. Na turma, pela posição social,
primava o príncipe D. Pedro, neto do Imperador pelo lado
materno, colega no Externato de João Carlos Pardal de
Medeiros Mallet, que mosqueteiro, desde moço, deveria
destacar-se nas letras, e de Alexandre Soares de Mello,
mais tarde secretário do Externato, por fim, diretor geral
de uma seçâo do Ministério da Justiça e Negócios
Interiores. Na turma do Internato figurava Aureliano Vieira
Werneck
Machado, conhecido depois como
dermatologista.
Distinguia-se D. Pedro II, pela presença nas
solenidades de grau do Colégio e só ausência motivada
delas o privava.
À satisfação habitual de presidir colações de grau
no Colégio, juntou-se em 1881, o grande prazer de saber e
ver laureado neto pelo qual se desvelava. No ato o chefe
de família sobrelevava-se ao soberano, o coração à coroa.
Encerrando o histórico do ano letivo do Colégio em
1881, cumpre frisar uma das principais preocupações de
Carmo, como reitor do Externato, a fiscalização dos
exames gerais de preparatórios, realizados, por força do
Decreto de 5 de fevereiro de 1881, perante mesas
presididas pelo reitor do Externato e formadas por três
examinadores designados pelo reitor e tirados do corpo
docente do Colégio ou da Escola Normal.
Não só o reitor Carmo influíra para as disposições
do referido Decreto, referendado pelo Ministro Sodré
Pereira, como tomava parte ativa nos exames de
preparatórios presente, ora em uma mesa, ora em outra,
correndo todas. Os professores do Colégio haviam
coadjuvado o reitor no impedir que alunos do Pedro
Segundo prestassem exames entre preparatorianos.
Em 1880, o professor substituto João Rodrigues de
Macedo, "fazendo as vezes de catedrático", como se
dizia na época, ou catedrático interino, como hoje se diz,
protestava junto à reitoria contra aquele fato.
Referindo-se às aprovações de alunos do Colégio
na Instrução Pública, declarava Rodrigues de Macedo, ao
reitor Carmo, que tais aprovações "desmoralizavam o
aluno aprovado aos olhos de alguns colegas que, sensatos,
lhes conheciam a força; ao mesmo tempo que espantavam
outros que, ignorantes, não sabiam a quem dar crédito —
se ao professor da cadeira que lhes assegurava que não
sabia e que lhes cumpria estudar muito se à mesa
examinadora que os aprovava acoroçoando-lhes a estulta
crença de que conheciam a matéria trazendo, como
consequência, o desamparo dos livros, da aplicação, a
indolência enfim".
Vários professores do Colégio, em 1881, reclamavam
contra o abuso da prestação de exames de preparatórios
por alunos da Casa obtendo boas notas, quando não se
mostravam habilitados nas disciplinas nas quais haviam
sido aprovados.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
O professor de Filosofia, Rozendo Muniz Barreto,
dizia o reitor Carmo, entre considerações, que "se por um
lado era honroso para o Colégio, que os seus piores alunos
ombreassem com os melhores dos colégios particulares,
por outro lado não se fariam esperar funestas
consequências de tantas disparidades".
Halbout, professor de Francês, reclamava também
contra prestação de exames de alunos do Colégio na
Instrução Pública, citando casos ocorridos em suas aulas,
concluindo por dizer ao reitor Carmo:
"Aproveito a oportunidade que se me oferece,
chamando a ilustrada atenção de V.Ex.a , para tão
clamoroso abuso que reclama providências muito
enérgicas, a fim de impedir que se reproduza como
efetivamente se tem repetido de alguns anos a esta parte,
com grave prejuízo da disciplina do Externato."
Assim, no ano de 1880, em Latim, exame
considerado mais difícil, se haviam inscrito nos exames
1837-1937
gerais de preparatórios 278 candidatos, aprovados 229,
nenhum com a nota de distinção, reprovados 49.
Em 1880, apareceram 1.329 candidatos ao exame
de Aritmética, 992 aprovados, 337 reprovados. Em 1881,
os inscritos eram 1.118, 670 aprovados, 448 reprovados.
Incumbido de fiscalizar exames de preparatórios não
foi pequeno, em 1881, o trabalho do reitor Carmo, nele
incluído a regência do Colégio para o qual, a 30 de maio
de 1881, entrava em exercício, coadjuvante contratado de
Desenho, quem depois seria professor efetivo da arte,
Manoel Arthur Ferreira, de assinalados serviços à
instituição pela perícia no ensino, formador de muitas
vocações pelo rigor de disciplina em aula modelar no
silêncio e no respeito.
Tinha então o provecto Manoel Arthur Ferreira como
colega, Quintino José de Faria, coadjuvante também
contratado, outro nome benquisto na arte nacional,
constante a preocupação de Colégio em escolher para
docentes os melhores elementos do magistério nacional.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Francisco de Paula Rodrigues Alves, Presidente da República
(1902 - 1906). Ex-aluno, bacharelando de 8 de dezembro de 1865.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 -1937
X
O Colégio de 1882 a 1889
Morte de Joaquim Manoel de Macedo • Reforma Rodolpho Dantas • Parecer Ruy
Barbosa • Primeiras Alunas no Colégio • Introdução do Telefone • Providências
Administrativas • Novo Reitor do Internato • Extinção de Meio-Pensionistas •
Retiradas das Alunas do Colégio • Supressão de Periódicos Colegiais • Fiscalização
do Colégio • Dádivas ao Mesmo • Transferência do Internato • Novos Reitores do
Internato e do Externato • Fim da Monarquia e do Imperial Colégio •
No Dia da Proclamação da República.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A 1 ° de março de 1882 abriam-se as aulas do 44° ano
letivo do Colégio, pouco antes, a 18 de dezembro
de 1881, a lamentar a perda do professor de Italiano, Dr.
João José Moreira.
Logo ao iniciar-se o ano letivo o reitor Carmo dirigiuse a autoridade superior para saber se devia continuar no
Externato a prática de alunos avulsos deixarem de
comparecer às aulas subsequentes às outras nas quais
matriculados, aulas que funcionavam em primeiro lugar
em cada dia útil, com a justificativa apresentada pelos
alunos avulsos de receberem lições em outros
estabelecimentos de ensino.
Consultando, a quem de direito, Carmo obtemperava
que "a experiência demonstrava prejuízo da medida quanto
à boa ordem e disciplina do Colégio".
Logo após a consulta Carmo, recebia o Colégio
lutuosíssima notícia, a da perda de um dos luminares do
corpo docente, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, falecido
a 12 de abril de 1882, na terra natal, tão recordada em
suas obras São João de Itaboraí.
Fecunda fora a vida de Macedo.
Dela boa parte se escoara em cátedra do Colégio.
Neste, por lições e livros, ensinava discípulos a amar o
Brasil, a recordar-lhe feitos de maiores em glorioso
passado nacional.
Por ocasião da morte de Macedo pôde dizer dele
Franklin Távora, sem receio de contestação: — "O romance
nacional perdeu seu fundador, o drama um dos seus mais
devotados cultores, a poesia, uma de suas inspirações, a
história pátria uma de suas autoridades, a política, um
nome puro, a família, um esposo exemplar e um irmão
capaz de sacrifício".
À voz de Franklin Távora, orador do Instituto
Histórico, ajuntou a pena de alguém do Colégio, Carlos de
Laet, sentenciando: "Macedo exerceu o magistério no
Colégio de Pedro II e para seus alunos escreveu tratado
de corografia e história do Brasil, muito criticados, mas
geralmente copiados pelos que o censuram".
Outro homem de letras, Rozendo Muniz, ao ser
proposto voto de pesar na Congregação do Colégio pelo
falecimento de Macedo, professor da Casa desde 1849,
assim se expressou: — "O vulto humano de tão ilustre
colega atravessou esta vida em honra do magistério, da
família e da pátria.
A síntese de sua gloriosa carreira pode-se exprimir
nestas três palavras: — talento, trabalho e probidade".
"Homem de bem"— Macedo —, declarava um
antigo discípulo dele, Alfredo d' Escragnolle Taunay, ao
dedicar-lhe romance de estreia "A Mocidade deTrajano".
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Prova a dedicatória quanto o professor vivia na
memória de alunos agradecidos, grupo à parte na massa
dos estudantes.
Provido na cátedra de Macedo, de História e
Corografia do Brasil, o professor substituto Joáo Maria da
Gama Berquó, a vida no Colégio retomou imperiosos
direitos.
Nele o Decreto de 24 de agosto de 1881, referendado
por Homem de Mello, antigo professor da Casa, convertera
o Conselho Colegial em Congregação: "Aspiração dos
professores", dizia o reitor Carmo ao Ministro do Império
Rodolpho Dantas.
Observava porém o reitor ter sido dada a presidência
da Congregação à Inspetoria de Instrução, colocados à
margem, à maneira de simples membros da corporação,
os reitores aos quais incumbia a direção do Colégio.
Ao Ministro Rodolpho Dantas, deveu o Colégio, o
Decreto de 23 de junho de 1882 mandando observar o
regimento especial das provas e processos de concurso
para provimento dos lugares de catedráticos e substitutos.
Segundo o regimento e o Decreto os concursos
seriam realizados no Externato.
Constaria de defesa de tese, de provas escrita e
oral e de provas práticas, estas nos concursos de Física,
Química e História Natural.
A tese seria apresentada dentro de 40 dias contados
do sorteio do ponto. O Inspetor Geral de Instrução presidiria
a mesa examinadora composta pelo reitor do Externato
ou do Internato, conforme ocorresse a vaga nesta ou
naquela seção, de um juiz e de dois examinadores eleitos
pela Congregação; cada examinador arguindo o candidato
por espaço de meia hora.
A prova escrita, comum a todos os candidatos,
realizar-se-ia no prazo de quatro horas sobre ponto tirado à
sorte.
A prova oral duraria uma hora, sorteado para
preleção um ponto, com vinte e quatro horas, de
antecedência. A prova prática efetuar-se-ia três dias após
a oral.
1837-1937
As notas atribuídas pela comissão julgadora seriam:
ótima, boa, sofrível e má. Julgar-se-ia inabilitado o
candidato que não alcançasse para habilitação maioria de
votos. Logo depois a comissão passaria a classificar os
habilitados por ordem de merecimento. A Congregação
apreciaria o parecer da Comissão e apresentaria ao
Governo o candidato que julgasse digno de preencher a
vaga.
Não se contentou o Ministro do Império, Rodolpho
Dantas, com o Decreto de 23 de junho de 1882. Sujeitou
à apreciação da Câmara dos Deputados, projeto
remodelador da instrução pública.
Partidário das universidades, quanto ao ensino
superior, em relação ao primário pugnava Rodolpho Dantas
pela urgência de criação dos jardins de infância e
acreditando preponderante o papel feminino no ensino
primário defendia a ideia da instituição de Internatos
normais para formação de professoras.
Dominado por teorias norte-americanas acerca de
instrução, entendia o Ministro Dantas, indispensável a
supressão dos exames de preparatórios descidos a muita
desmoralização nas províncias.
No ensino secundário prevaleceria o bacharelado em
ciências e letras, não concedido a estabelecimentos
particulares independente de fiscalização.
O projeto Dantas foi distribuído na Câmara dos
Deputados à comissão respectiva, relator do projeto o
Deputado Ruy Barbosa.
Apresentou este extenso parecer cujos pontos
principais eram: — a criação de um Ministério de Instrução
Pública, a liberdade do ensino, a laicidade e a frequência
da escola pública, a divisão do ensino, a divisão do ensino
primário no Município Neutro, em quatro categorias (jardins
de infância, escolas primárias elementares, médias e
superiores), além de escolas mistas, dirigidas somente
por professoras, escolas normais uma de arte aplicada,
com museu anexo, tipo Inglês, constituição de fundo
escolar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Isto q u a n t o ao ensino primário, em relação ao
da disciplina comportaria a história da evolução filosófica
secundário, o Externato do Colégio de Pedro Segundo,
das i d e i a s , e s c o l a s e s i s t e m a s de f i l o s o f i a c o m a
recebendo o nome de Liceu, manteria os seguintes cursos:
a p r e c i a ç ã o c r í t i c a da i n f l u ê n c i a de cada e s c o l a , o
— ciências e letras, finanças, comércio, agrimensura e
conhecimento da apologia das bases de cada sistema, a
direção de obras agrícolas, m a q u i n i s t a s , i n d u s t r i a l ,
separação entre a parte dessas ideias confirmadas pela
relojoaria e instrumentos de precisão.
verificação experimental e a parte pertencente ao domínio
O curso de ciências e letras compreenderia seis
anos, conferindo o diploma de bacharel.
A criação dos
outros cursos do futuro Liceu era justificada pelo autor do
parecer.
extra-científico da metafísica e dos sentimentos pessoais
do sistemático ou c r e n t e " .
Justificando opinião, adiantava Ruy Barbosa: —
Entendia este, por exemplo, " d e manifestar
"Ensina-se hoje a provar como de certeza absoluta, como
conveniência o curso de relojoaria e i n s t r u m e n t o s de
de exatidão verificada, certas e determinadas maneiras
precisão".
de ver, a respeito da natureza da alma, da origem do
A classe dos relojoeiros era entre nós numerosa em
mundo, das coisas finais da o r d e m do universo. Mas
toda a parte, balda da instrução indispensável para que
acerca de cada um desses imensos problemas quantas
dela fosse possível surgirem artistas capazes de alargar e
opiniões diversas, contrárias, opostas, não t ê m existido e
fecundar tal indústria.
disputado a palma da verdade?"
A classe de fabricantes de instrumentos de precisão,
Dizia Ruy Barbosa: "Porventura
o Estado há de
limitada em toda parte, tendia a assumir importância
escolher, t e m o d i r e i t o de escolher, nessa luta de
c r e s c e n t e m e n t e avultada pela d i f u s ã o d o s e s t u d o s
afirmações e negações p r o f u n d a s , bandear-se a um
m a t e m á t i c o s , d o s t r a b a l h o s d e alta c i ê n c i a , das
sistema, militar numa escola, impor aos que frequentam
investigações experimentais.
os seus institutos docentes o ensino do credo, de uma
O país lucraria consideravelmente em abrir ensino
filosofia especial ou de uma seita religiosa?
Com que
a esta espécie de vocações, a cujos produtos nunca
direito ordenais ao examinando, ao aspirante ao currículo
faltariam procura e copiosa retribuição.
das Faculdades: — Provai-me a imaterialidade da alma
No curso de ciências e letras do Imperial Liceu de
ou as portas do ensino superior não se vos abrirão? Não,
Pedro Segundo o parecer de Ruy Barbosa incluía disciplinas
este não é o papel do Estado; entre as filosofias, entre as
novas, E s t e n o g r a f i a , A g r i c u l t u r a , E c o n o m i a Política,
r e l i g i õ e s , não é a e l e q u e i n c u m b e eleger, m a s a
Sociologia e Direito Constitucional em noções elementares,
consciência individual".
a estenografia em exercício.
Dando suma importância ao ensino de Línguas Vivas
no Imperial Liceu, baseada no princípio capital de não saber
Línguas Vivas sem as saber falar, o parecer Ruy Barbosa
Aparatoso o Projeto de Reforma da Instrução Ruy
Barbosa, ficou onde repousam tantos projetos, no papel
impresso.
Findo o ano letivo de 1882, g r a d u a r a m - s e no
aconselhava que no Imperial Liceu o A l e m ã o f o s s e
Externato 8 bacharéis e igual n ú m e r o no I n t e r n a t o ,
estudado durante quatro anos, o Francês e o Inglês durante
sobrelevando-se na turma João da Costa Lima Drummond,
três, o Italiano durante dois, condenado como improdutivo
futuro e notável juiz, e Roberto Nunes Lindsay, engenheiro
o ensino por temas e versões.
civil e professor da Escola Normal.
Em relação ao ensino da Filosofia no programa do
A abertura do ano letivo de 1883 no Externato seria
bacharelado, entendia Ruy Barbosa que "o programa oficial
assinalado por novidade. O Dr. Cândido Barata Ribeiro,
#
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
lente de medicina, requerera matrícula no 1 ° ano para suas
filhas Cândida e Leonor Borges Ribeiro.
Ocupava a Pasta do Império, no Gabinete
Paranaguá, o Senador Pedro Leão Velloso, o qual por aviso
de 22 de fevereiro de 1883 autorizou o reitor Carmo a admitir
no Externato alunos do sexo feminino, por não existir
disposição legal proibitiva.
Aproveitaram-se da concessão Cândida e Leonor
Borges Ribeiro, Maria Júlia Picanço da Costa, depois
professora municipal, Maria Olympia e Zulmira de Moraes
Kohn, também depois professoras municipais.
Ainda Leão Velloso na Pasta do Império veio lecionar
interinamente Latim, no Externato, o Dr. Amaro Cavalcanti,
futuramente de altos postos na República, inclusive os
de Prefeito do Distrito Federal e Ministro da Justiça.
Zelando pelo Internato, o ministro Leão Velloso
designava ali o bedel António Alves Carneiro para substituto
do secretário no impedimento deste.
Talvez cortando algum abuso, o Ministro
recomendava ao reitor vigilância quanto à distribuição de
passes gratuitos das companhias de carris, destinados
segundo o Ministro "para auxiliar o serviço do Estado e
não em benefício de funcionários ou pessoas de suas
famílias".
Em maio de 1883 era o Senador Leão Velloso
substituído na Pasta do Império pelo deputado sulriograndense Francisco Antunes Maciel, membro do
Ministério Lafayete.
Caber-lhe-ia autorizar, em novembro de 1883, o
assentamento de linhas telefónicas no Colégio pela
Empresa Telefónica do Brasil, sabido quanto a presença e
a animação do D. Pedro II na Exposição de Filadélfia em
1876 contribuiu para chamar atenção para Graham Bell e
o seu invento.
Encerrou o ano letivo de 1883 a respectiva colação
degrau.
Para realce desta o reitor Carmo pedia a guarda de
honra do estilo, "por isso que, frisava no pedido, SS. MM.
II, têm de assistir, como sempre, à solenidade.
1837 - 1937
Ao ato concorreu, para bacharelado, reduzida turma,
de 4 bacharelandos, 2 do Externato, 2 do Internato, um
daqueles Tito Lívio de Castro, futuro médico cuja perda as
letras e a ciência lamentaram prematuramente.
Dois bacharéis em 1883, num Externato frequentado
por 236 alunos, atestava que não se ia facilmente ao 7o
ano do curso.
Seria este assinalado, em 1883, pelo meio jubileu
de magistério de dois assíduos professores, o Dr. José da
Silva Lisboa e Monsenhor Félix de Freitas Albuquerque,
como também em 1884 completaria o professor Schieffler
vinte e cinco anos de cátedra.
Em junho de 1884 passou a Ministro do Império, no
Gabinete Dantas, Felippe Franco de Sá, homem de grande
cultura e sabedor do vernáculo conforme hábito da terra
natal, o Maranhão, cognominada Atenas Brasileira.
Qual antecessores, Franco de Sá velava pelo Colégio,
querendo saber o que nele se passava, a exemplo do
"Homem de São Cristóvão". Assim, na intimidade, os
políticos do Império, temendo-o soíam tratar o Imperador.
Abrindo exemplo, pela presença e pela fiscalização,
o "Homem" queria que os ministros olhassem para o
Colégio, fossem quais fossem suas ocupações.
À menor acusação pública contra a instituição era
mister imediata resposta do Governo, para confundir ou
punir. Um exemplo: — Em 1884, apareceu artiguete nas
colunas, assaz oposicionistas e com tinta republicana,
da Gazeta da Tarde, acusando o Externato de manter portas
abertas, alta noite.
Apressou-se o reitor daquele em informar logo ao
ministro e publicamente declarar ao jornal que o articulista
só se podia referir ao Instituto Farmacêutico cujo edifício
contíguo ao Externato fora entregue ao mesmo Instituto
sob cuja guarda se achava.
Viviam os reitores do Externato e do Internato em
constante correspondência, já com o Ministro do Império,
já com o Inspetor da Instrução Pública, cargo para o qual
se escolhiam pessoas notórias e quanto possível versadas
ESCRAGNOLLE DÓRIA
em assuntos pedagógicos. Ao Ministro do Império subiam
variando entre 14 e 10 anos. Só 1 aluna frequentava o 3 o
com frequência consultas e pedidos das reitorias do
ano, as outras matriculadas no 2 o e 1 o ano.
Na gestão da Pasta do Império, o Senador Meira de
Colégio.
Em 1884, o Ministro Franco de Sá tanto tinha de
Vasconcellos continuou exemplo de antecessores zelando
receber o pedido dos alunos do Internato, representados
pelo bom nome do Colégio, para mantê-lo, não hesitando,
pelo reitor, para ser feriado a véspera de São João, como
embora reservadamente, em advertir.
consulta do m e s m o reitor do Internato acrescida de
Assim tendo o vice-reitor do Internato publicado na
pretensão do vice-reitor do Internato e do s u b s t i t u t o
imprensa ofício do reitor sobre caso ocorrido no
Almeida Torres à regência de turmas suplementares.
estabelecimento com um aluno do m e s m o , ofício dirigido
Decidia o ministro d e t e r m i n a n d o que idênticos
à Inspetoria de Instrução Pública, o Ministro declarava ao
pedidos fossem acompanhados de informação do reitor
reitor "que, sem permissão do Governo, não podia nenhum
sobre a idoneidade moral e pedagógica dos pretendentes.
funcionário dar à publicidade, ofício dirigido às autoridades
As t u r m a s s u p l e m e n t a r e s eram quase s e m p r e
o
destinadas a subdividir o ensino no 1 ano, turmas únicas
e reduzidas, as dos anos superiores do Colégio.
Em 1884 o 7 o ano graduava 2 bacharéis, e o
Internato 1.
Assinalava-se lutuosamente o ano letivo de 1885,
pelo falecimento do professor, e antigo secretário do
superiores".
A 20 de agosto de 1885, saia Meira de Vasconcellos
da Pasta do Império, pouco antes da perda do reitor do
Internato, Dr. António Henrique Leal, falecido a 29 de
setembro de 1885; substituído interinamente pelo vicereitor, o bacharel em letras Luiz Cândido Paranhos de
Macedo.
Externato, José Manoel Garcia, desaparecido a 14 de julho
As mutações de Governo para o Colégio, eram
de 1885. Deixando família em condições de pobreza, as
s e n s í v e i s na Pasta do I m p é r i o , da q u a l e l e t ã o
dos servidores do Império, o Governo procurou suavizá-la.
estreitamente dependia.
Adquiriu a biblioteca de Garcia, assaz numerosa e dividiu
Fora do poder o Gabinete Saraiva, organizado o
livros entre o Colégio e a Biblioteca Nacional, no t e m p o
Gabinete Cotegipe. de 20 de agosto de 1885, teria dele a
dirigida pelo Dr. João Saldanha da Gama.
Pasta do Império o Senador Ambrósio Leitão da Cunha,
Deixara a Pasta o Senador Franco de Sá, pela
retirada do Gabinete Dantas, substituído pelo Senador Meira
de Vasconcellos, membro do Segundo Gabinete Saraiva.
Ministro novo, o Senador Meira de Vasconcellos,
recebeu ofício do reitor do Externato, comunicando-lhe a
existência no estabelecimento de 15 alunas matriculadas
e 5 ouvintes.
Barão de Mamoré.
Caber-lhe-ia referendar o Decreto de nomeação de
novo reitor do Internato, o professor do Colégio Aureliano
Corrêa Pereira Pimentel, entrado em exercício em outubro
de 1885.
Merece referência especial o ingresso de Aureliano
Pimentel no corpo docente do Colégio. Nascido no mineiro
Pedia ao m e s m o t e m p o a nomeação de inspetora,
São João d'EI Rey a 26 de novembro de 1830, distinguiu-
ponderando contudo a conveniência de serem as alunas
se Aureliano Pimentel na cidade natal como escritor e
do Externato encaminhadas para a Escola Normal ou para
jornalista, cultor da prosa e do verso, por obra volumosa
o Liceu de Artes e Ofícios.
cuja parte inédita dava para publicação de alguns volumes.
Das alunas do Externato no ano letivo de 1885 uma
Sabedor emérito da língua vernácula e de Latim, vivia
contava 22 anos de idade, outra 16, a idade das demais
Aureliano Pimentel na sombra provinciana, à luz apenas
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
dos estudos de gabinete. D. Pedro II visitou, porém, Minas,
e teve ensejo de conversar com o modesto douto,
induzindo-o logo à cadeira do Colégio. Transferiu-se
Aureliano Pimentel para o Rio de Janeiro, obtendo por
concurso, e notável, a cadeira de Português cuja posse
lhe vaticinara o soberano. Certo não foi alheia a
benevolência deste na elevação de Aureliano Pimentel à
reitoria do Internato.
Pouco antes da designação de Aureliano Pimentel,
o Ministro Barão de Mamoré, pelo Aviso de 26 de setembro
de 1885, extinguia o meio-pensionato no Colégio.
Dava este ensejo ao reitor Carmo de pedir aumento
de vencimentos dos funcionários do Externato à vista da
cessação de alimentos aos mesmos.
Aproveitando ocasião, propugnava pelos interesses
dos serventes, dizendo ao ministro fazê-lo "embora não
tendo podido requererem eles pelo seu direito".
Finalizava o ano letivo de 1885, com a providência
do Ministro Mamoré no sentido de não mais serem
admitidas alunas no Externato.
"O orçamento vigente não facultava verba para
inspetora de alunas, sendo o Colégio destinado somente
ao ensino de pessoas do sexo masculino. Mas como
seria injusto deixar as alunas do Externato ao desamparo
de instrução convinha encaminhá-las para a Escola
Normal, para o Liceu de Artes e Ofícios ou mesmo para o
curso noturno secundário da fundação do professor José
Manoel Garcia".
A 30 de dezembro de 1885 recebia grau a mais que
reduzida turma dos 7°anistas do ano, 1 do Externato, 1 do
Internato. Pouco antes de iniciar-se o ano letivo de 1886 o
Governo deu ciência aos reitores que só com autorização
dele Governo, seria lícito prorrogar trabalhos de qualquer
aula dos estabelecimentos.
Não tardou também providência equitativa , a do
aumento de vencimentos de funcionários do Externato
prejudicados pela falta de alimentação, suprimido o meiopensionato dos alunos, aumento pecuniário de 50S000,
30$000 e 20S000 segundo categorias.
1837 - 1937
Extinto o meio-pensionato, a reitoria do Externato
deu destino à sobra dos géneros alimentícios da despensa
do estabelecimento, remeteu-os ao Asilo de Meninos
Desvalidos, ora Instituto Profissional João Alfredo,
procedendo-se à venda dos fogões e da bateria de cozinha.
O reitor, em mão de distribuir e remover, removeu
vários objetos da igreja do Externato para a Capela
Imperial.
Procurava o reitor Carmo manter a casa em ordem
e asseio, este mais aliviado com a extinção do meiopensionato.
Visitado o Colégio pelo presidente da Junta de Higiene
Pública, o Barão de Ibituruna, e mais dois membros da
Junta, autorizou aquele ao reitor a participar ao ministro
as boas condições higiénicas em que as autoridades
sanitárias tinham encontrado o Colégio.
Quando necessário cedia este, mediante autorização
superior, o Salão Nobre para solenidades, assim em 1886
o cedeu para instalação da Associação Geral de Auxílios
Mútuos da Estrada de Ferro D. Pedro Segundo.
Na época, o Ministro Mamoré ordenou que das
gratificações adicionais concedidas por merecimento aos
professores do Colégio se não deviam descontar faltas
justificadas ou licenças com vencimentos.
De fiscalização ao Internato, por Aviso de 9 de junho
de 1886, o Ministro Mamoré pedia ao reitor Aureliano
Pimentel informações sobre a publicação de jornal colegial
intitulado A Discussão.
Desejava que, ao informá-lo, o reitor considerasse
não só as ideias expendidas no periódico, mas também o
prejuízo que pudesse advir para os estudos dos trabalhos
a que se dedicassem alunos para levar a efeito a
publicação. Informou o reitor "que os trabalhos de redação
do periódico A Discussão concorriam para que os alunos
desamassem estudos". Logo após declarava o Ministro
ao reitor "não convir a continuação do periódico".
No fim do ano letivo de 1886 verificou-se ausência
absoluta de bacharéis em letras a graduar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Não se limitava o Ministro do Império a fiscalizar o
Colégio por dentro, queria-o defendido fora. Um caso.
O órgão conservador e do partido do Ministro — O
Rio de Janeiro — no seu número de 15 de abril de 1887,
inseriu local, sob a epígrafe Colégio de Pedro II— acusando
o professor de Religião do Externato de considerar
acatólicos 7 ou 8 alunos ouvintes, obrigados pelo professor
a se retirarem da aula.
"Para queé pago o professor?" perguntava o jornal.
No mesmo dia da acusação, 15 de abril de 1887, o
Ministro do Império, Barão de Mamoré, pedia informações
ao reitor do Externato, Dr. José Joaquim do Carmo,
encarregando este da respectiva sindicância o vice-reitor
Dr. Urbano Burlamaqui Castello Branco.
Informou o segundo sem demora:
"O fato narrado no referido jornal é o seguinte: O Sr.
Fr. Saturnino, professor de Religião da 1a seção, disse em
aula que, geralmente, os alunos ouvintes eram oriundos
dos reprovados no exame de admissão, portanto sem o
necessário preparo para serem estudantes deste Colégio,
que o professor tendo de empregar toda a sua atenção
com os matriculados, e não sendo pelo regulamento
obrigado a chamar os ouvintes à lição os mesmos se
aproveitavam dessa circunstância para descurarem de
seus deveres escolares. Não fez intimação aos ouvintes
para se retirarem de sua aula, mas os aconselhou a
aproveitarem melhor o tempo".
O jornal deu-se por satisfeito.
No ano letivo de 1887, sempre fiscalizando, o
Ministro Mamoré expedia aviso indeferindo pedido do
escrivão do Internato quanto à alimentação, fundado em
dispositivo legal e em tabelas orçamentárias.
Declarou mais o Ministro que, de acordo com
prescrição regulamentar, o escrivão poderia participar de
refeição, no Internato, pagando, professores e empregados
sem direito à alimentação.
A fiscalização não era só governamental, exerciamna também, professores, reclamando à reitoria do Externato
contra insuficiência de tempo para bem julgar alunos em
exame, considerado este, dizia o professor de Latim, Dr.
Lucindo Pereira dos Passos, "pesado encargo para os que
não examinassem com os olhos no chapéu".
Vivia o Colégio em círculo de fiscalizações, a do
Imperador, a do Ministro, a do reitor, a de professores.
Não era de estranhar, pois, que Mamoré expedisse aviso
ao reitor do Internato pedindo informações sobre os
motivos da saída de alunos em desacordo com as
prescrições do regulamento n.° 8 de 31 de janeiro de 1838.
Mandava este limitar a saída de internos, duas
vezes por mês, os colegiais acompanhados pelos
progenitores ou por pessoas expressamente autorizadas.
Não recebia, porém, só o Internato pedido de
informações, também dádivas.
Em junho de 1887, o professor Dr. Manoel Thomaz
Alves Nogueira oferecia ao Internato quadros e livros de
valor.
Pedia a colocação daqueles na sala de aula de
História do Brasil. Entre as telas oferecidas havia uma
pequena de Kiesser, obra de 1618, representando São
Sebastião e também uma vista do Rio de Janeiro.
Entre as dádivas de Thomaz Alves à biblioteca do
Internato figurava a obra de Villegaignon sobre a expedição
de Carlos V a Alger em 1541, tradução de Menrad no fim
do livro de Schomburgle.
"Obra raríssima, declarava o doador, com o
merecimento de ser de Villegaignon e apreciada como o
melhor livro que se conhece sobre aquela expedição
imperial".
Em 21 de julho de 1887 deixava a Pasta do Império
o Barão de Mamoré, substituído pelo Conselheiro Manoel
do Nascimento Machado Portella, lente da Faculdade de
Direito de Recife.
Com a saída de Mamoré do Ministério Cotegipe,
coincidia o pedido de demissão do reitor Aureliano Pimentel,substituído pelo vice-reitor Paranhos de Macedo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Pouco se demorou o Conselheiro Machado Portella
na Pasta do Império, não reeleito deputado pelo 1o distrito
eleitoral de Pernambuco, de sede principal no Recife.
Chamou a si a Pasta o Presidente do Conselho e
Ministro da Fazenda, Barão de Cotegipe.
Apesar de interino, até demissão do Gabinete de 20
de agosto de 1885, caber-lhe-ia na qualidade de Ministro
do Império impor o barrete branco aos bacharelandos de
1887, em número de doze, sete do Externato e cinco do
Internato.
Em 9 de março de 1888 alterava o Barão de Cotegipe
várias disposições do regulamento do Colégio, mandando
abrir-lhe as aulas a 15 de março e fechá-las a 30 de
novembro.
Fixava o número de alunos no Internato à vista da
tabela orçamentária e no Externato atendendo aos recursos
do pessoal docente e de inspeção.
O Internato admitiria 25 alunos gratuitos, e o
Externato 100, aqueles favorecidos com enxoval e livros.
Deviam obter matrícula gratuita menores de
atestada pobreza, preferidos em igualdade de méritos os
órfãos, os filhos de professores públicos com dez anos de
bons serviços, os filhos de oficiais subalternos da armada
e do exército e os filhos de empregados públicos com
mais de dez anos de função.
Caberia também ao Barão de Cotegipe providência
de maior relevância quanto ao Colégio, a de transferência
do Internato.
Desde 1858, funcionava este na chácara do Matta,
na rua de São Francisco Xavier, a dois passos do largo da
Segunda-Feira. Deliberou mudá-lo o Governo, mandando
para bairro bem diferente, o de São Cristóvão. Para tanto,
a 24 de novembro de 1888, compareciam na Diretoria-Geral
do Contencioso do Tesouro Nacional como outorgante
vendedora a Irmandade do Santíssimo Sacramento da
Candelária, e como outorgada compradora a Fazenda
Nacional.
1837-1937
Representavam a Irmandade o vice-provedor Dr.
António Ferreira Viana, aliás bacharel em letras, e outros
irmãos de mesa, em figura da Fazenda Nacional o
procurador fiscal Dr. Carlos de Menezes.
Vendia a Irmandade ao Governo o prédio da praça
D. Pedro I, mais conhecida por Campo de São Cristóvão.
Fora o prédio construído em terreno onde haviam existido
dois imóveis, n.° 9 e 11; comprados ao Banco do Brasil.
Receberia a Irmandade 200:000$000, dependente o
pagamento da concessão de crédito pelo poder legislativo.
Entretanto, a chave do prédio fora entregue ao
Governo desde fevereiro de 1888, pagando ele 10:000$000
de aluguel anual até poder dispor do crédito.
Caso não fosse este concedido para pagamento
total, o prédio seria ocupado por arrendamento, durante 9
anos, vencendo 10:000$000 de aluguel por ano.
O poder legislativo votou o crédito e o prédio ficou
definitivamente em poder do Património Nacional para nova
instalação do Internato.
Ao prazer da mudança, vinha ensombrar o suicídio
de um aluno gratuito, participando-o o reitor do Internato,
ao Ministro José Fernandes da Costa Pereira Júnior,
bacharel em letras.
Substituía o Conselheiro Costa Pereira o Barão de
Cotegipe, na Pasta do Império, no Ministério João Alfredo.
Recomendava então Costa Pereira ao reitor "o
emprego de todos os esforços para que fossem os alunos
convenientemente doutrinados no sentido de fortificar-se
a sua instrução moral e religiosa", à vista do lamentável
sucesso ocorrido fora da Casa.
Desde fevereiro de 1888 assumira a reitoria do
Internato o Conselheiro João Capistrano Bandeira de Mello
Filho, recebendo a administração do vice-reitor Paranhos
de Macedo.
Bandeira de Mello antigo professor como o pai, da
Faculdade de Direito de Recife, presidira províncias do
Império, cinco, enquanto o pai regera três.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O novo reitor de 1888 achara-se à testa do Rio Grande
do Norte em 1873, de Santa Catarina em 1875, do Pará,
do Maranhão em 1885 e da Bahia em 1866.
Não só o Internato recebeu novo reitor, sucesso
idêntico ocorreu no Externato aí substituído em março de
1888, o reitor Dr. José Joaquim do Carmo por Monsenhor
Luiz Raymundo da Silva Brito, voltando-se assim à tradição
de sacerdotes à frente de destinos do Imperial Colégio.
Nascido em 1840, na vila maranhense de São Bento,
monsenhor Brito na província natal paroquiara freguesias,
exerceu a reitoria do seminário, nele regendo cadeiras.
Transferindo-se para a capital do Império fora vigário
em Niterói, vigário geral do bispado do Rio de Janeiro,
professor de Religião da Escola Normal.
Orador sagrado dos mais solicitados e ouvidos,
Monsenhor Brito, de futuro, encerraria como Bispo de
Olinda a lista dos bispos de vida no Colégio de Pedro
Segundo, aí tendo por antecessores de mitra, Arrábida,
Saraiva, Pinto do Rego e Benevides.
Apenas assumia a reitoria do Externato. Monsenhor
Brito pedia ao Governo desocupação do prédio contíguo
ao estabelecimento onde funcionava o Instituto
Farmacêutico.
Protestava também o novo reitor contra a utilização
da igreja de São Joaquim anexa ao Colégio.
Dizia ser "profanação dolorosa a continuar um
templo antigo, objeto de veneração de maiores,
transformado em laboratório farmacêutico, como se a
cidade não possuísse lugar mais próprio para ser despojada
do que a Casa de Deus e não igreja interdita, que nunca o
fora, e sim aberta à profanação".
Dirigindo-se ao Ministro do Império alegava ainda o
reitor Brito: — "a restituição da parte ocupada pelo Instituto
Farmacêutico trazia a vantagem de alargar e regularizar
as propriedades dos serviços internos do Colégio, reabrindo
um templo à piedade cristã".
Reforçando opinião, observava ainda o reitor Brito
ao Ministro do Império: — "V. Ex.a resolverá como melhor
entender e como espero de seu amor por este
estabelecimento que se orgulha de o contar entre seus
filhos (era Ministro o Conselheiro Costa Pereira, bacharel
em letras de 1851) e pelo respeito que lhe inspiravam pelo
templo os seus sentimentos religiosos".
Conseguido afinal o templo foi nele reorganizada a
irmandade de São Joaquim, realizado afinal o desejo do
antigo reitor do Colégio, Monsenhor Fonseca Lima, o da
restauração do culto na vetusta igreja.
Nomearam para ela um cura, restabelecidas as
solenidades religiosas, sempre ameaçado porém o templo
pelo projeto de alargamento da Rua Larga de São Joaquim.
Assim os bacharéis de 1888 puderam ouvir a missa
do Espírito Santo na velha igreja, daqueles bacharéis, 6
saídos do Externato e 5 do Internato.
A colação de grau dos bacharéis em letras da turma
de 1888 tem hoje significação especial, derradeira
solenidade do Colégio no regime monárquico.
Foi solenidade na qual, pela última vez, no Salão
Nobre se ouviu a voz de quem conferia o grau repetir a
cada bacharel em letras a bela fórmula, subsequente ao
juramento: — "a lei vos declara bacharel em letras cujo
grau espero honreis tanto quanto o haveis sabido merecer".
Pela última vez encheu-se de povo a Rua Larga de
São Joaquim para assistir à chegada de quantos acudiam
à festa do Colégio.
Mais curiosidade despertava a vinda das pessoas
imperiais e a estas a guarda de honra prestava continências
ao som do Hino Nacional.
Até simples visitas do Imperador ao Externato
despertavam atenção popular, o modesto carro do
soberano, tão avaro consigo mesmo quão pródigo na
caridade, precedido por bulhentos cadetes batedores e
seguido por piquete do 1 o Regimento de Cavalaria
estacionado em São Cristóvão.
O ano letivo de 1889 seria o último do Imperial
Colégio, tendo este à sua testa no Externato Monsenhor,
Brito e no Internato o Conselheiro Bandeira de Mello.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Apesar de envelhecido e enfermiço, gasto no serviço
da pátria, escapo à morte em 1888 quando em Milão, o
Imperador não cessava visitas ao Colégio, a cujos
concursos jamais negou presença.
Era regra para admissão no corpo docente
catedrático da Casa em 1886, como assegurava o reitor
do Externato, prestando informação num requerimento
sujeito à sua apreciação: — "Não consta até esta data
que se tenham efetuado nomeações de professor
catedrático independente de concurso, exceto da cadeira
de Religião em que este nunca foi exigido".
E como aqui se versam aspectos intelectuais e
morais da vida do Colégio no seu último ano letivo
transcorrido, na Monarquia, em 1889, não vem fora de
molde ajuntar, àqueles aspectos, outras feições até
materiais da Casa no referido ano quando tudo ia mudar
na instituição e mormente no Brasil.
Nunca os aspectos da vida do Colégio foram
recordados com tanta significação como no centenário do
nascimento de D. Pedro II, celebrado pelo Colégio em
presença do neto do Imperador, o príncipe D. Pedro.
Recordou muitos daqueles aspectos, como orador
oficial, o professor Escragnolle Dória.
Relembrou-os o professor de medicina Dr. José
António de Abreu Fialho, bacharel em letras, em nome de
antigos alunos do Colégio.
A formosa oração justiceira do Dr. Abreu Fialho
presta-nos de preferência subsídios para caracterizar as
visitas, a assistência moral indefectível do Imperador ao
Colégio do seu mecenato.
Eis aqui o depoimento de Abreu Fialho e muitos
bacharéis do Colégio do tempo do Império poderiam prestar
depoimentos idênticos.
"O Imperador, (e este é já lugar comum) visitava
amiúde o Colégio, não por formalidade ou cortesia, como
turista, mas como visita interessada, de dever e de
amizade e de estudo, de quem quer se inteirar por si próprio
das coisas, vê-las e examiná-las com o coração.
1837 - 1937
Aquela sineta que despertava com reticência sonora
o silêncio da hora de aula, que soava álacre, acelerava
igualmente o ritmo cardíaco dos Colegiais. Aí vinha o
Imperador! A que aula vai chegar? E se aqui vier, a esta
de Latim, quem apresentará como decurião o nosso
Mestre? Isso perguntávamos nós, os da classe de Lucindo
em certo dia do ano de 1888.
Eu me considerava um dos papáveis, por ter assento
em banco de honra, mas desejava que o destino me
poupasse o sobressalto, o enleio, a confusão de chamada
imperial. De nada, porém, me valeram os votos íntimos.
Lucindo segredou ao Imperador o meu nome. O Imperador
chamou-me à lição. Traduzia-se naquele tempo a Vita
Agricolae de Tácito.
D. Pedro II abriu o livro, que lhe passou Lucindo,
convidou-me a ler e traduzir certa extensão daquele trecho
que assim começa: — Nunc demum redit animus; sed
quamquam, primo statim...
Entalado em naturais apertos, li paulatinamente o
texto corrido, como quem mede alturas, fiz segunda leitura
na ordem direta. O Imperador acompanhava solícito a
leitura, com o seu pencenê de tartaruga a meio do nariz.
Eu arriscava de instante a instante uns furtivos
olhares, como se quisesse avaliar os efeitos dos meus
recursos no ânimo do Imperador, que se mantinha
indiferente à minha proeza, mas sempre atento ao livro.
Já agora mais quietado o meu ânimo daquela
responsabilidade de que me sentia salteado, e com meio
caminho andado, iniciei a tradução, que os meneios da
cabeça do Imperador anunciavam aprovar. Sobre duas
outras palavras latinas deu-me um correspondente
português, a seu ver mais preciso que a minha tradução.
A respeito de certo vocábulo apontou como as edições
divergiam.
E na sua galanteria de homem culto e polido e sua
bondade e candidez de Imperante, premiou-me a lição com
alguns amáveis e lisonjeiros conceitos.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Depois trocou com Lucindo impressões sobre aquela
obra de Tácito — a biografia de Júlio Agrícola — escrita
em estilo enxuto, sentencioso, elegante, embora austero,
à altura de seu valor de filósofo e de moralista.
A propósito da passagem traduzida, ora fitando
Lucindo, ora olhando-me por sobre o pencenê, falou com
admiração viva do amor de Tácito à liberdade, liberdade
que os tiranos tornam ainda mais apetecida e cobiçada.
Pôs Tácito entre as duas épocas, a de Domiciano e
a de Nerva e Trajano.
Eu ouvia maravilhado aquelas coisas, aqueles
comentários, aquelas erudições atraentes, raros pratos
que não costumavam figurar na tradução trivial de cada
dia.
Depois de breve pausa perscrutadora, e voltandose para mim com certa curiosidade, o Imperador indagou
de qualquer parentesco meu com os Fialho do Rio Grande
do Sul, eu, nada versado ainda naquela idade em
genealogias, não pude satisfazer à pergunta de D. Pedro.
Limitei-me a dizer, com certo entono orgulhoso, que
descendia de tronco genuinamente nortista, e era eu próprio
do Norte.
Com isto levantou-se o Imperador, não sem me
recomendar que quando sobrassem folgas lesse
empenhadamente toda a obra de Tácito, talvez que nesta
ordem, Vida de Júlio Agrícola, Costumes dos Germanos,
História, Anais."
Depois de narrar com tanta singeleza, na qual se
obriga a elegância no dizer, conta-nos Abreu Fialho à
chegada ao lar onde se deu pressa em contar ao pai todo
o sucedido no Pedro Segundo, junto ao progenitor,
"monarquista fiel, e político do partido liberal, capitão da
velha guarda nacional, Conselheiro da Ordem da Rosa".
Não pôde o pai ocultar ao filho a satisfação do seu
ânimo.
Ao filho sempre falava o pai "da vantagem que
tinha todo homem em escrever e possuir o seu Diário, no
curso da vida, presenteando com vistoso livro àquele fim
destinado".
Julgava Abreu Fialho Sénior, de bom conselho fazer
com que o descendente honrasse a primeira página do
Diário com a narrativa já para ele história aula de latinidade,
"grande , porém, foi a decepção paterna quando viu no
limiar do livro, e precedido de algumas palavras políticas
e colegialmente ingénuas, um excerto de gazeta
republicana da época, com uma tirada demagógica contra
o trono, que, dizia o jornal, "amordaçava a opinião e
sufocava a liberdade".
Abreu Fialho Pai, "depois de alguns instantes, teve
o sorriso satisfeito de quem dialoga com os próprios
pensamentos, e deles tem assentimento íntimo, concluiu
que nunca tão de molde viria ali aquela narrativa que lhe
havia feito o filho, e onde o acaso tinha posto a defesa
filial do Imperador e de sua política liberal".
Aplicava o método filosófico do confronto, de
comparar para julgar.
Iluminado o espírito pela experiência, já mais
amadurecido e emancipado nas ideias, Abreu Fialho
escreveria comentários à margem do livro doado pela
bondade paterna. E dizia, entre outras coisas, "Honrar
com entusiasmo a Tácito nos seus ódios à tirania é louvar
uma alma republicana e livre. Falar em amor à Liberdade
é mostrar-se liberal. Que diferença haverá entre um
Imperador democrata e liberal, fazendo provança de suas
virtudes, e um verdadeiro estadista republicano".
O contato moral com D. Pedro II, "com quem tratara
frente a frente, que o interrogara em lições e, camarada e
familiarmente, conversara com um rapazinho de 14 anos,
começou a esmaecer os fumos de republicanozinho, que
lia gazetas republicanas e decorava tiradas demagógicas
contra o trono".
Em 1925, pôde o antigo colegial consagrar a D. Pedro
II seu examinador adhoc, a aula em que o examinara fora
a de Latim, as seguintes palavras: — "Pela primeira vez
depois de fitar o semblante sereno do Imperador, e pelos
tempos afora muitas vezes e a outros propósitos, repito e'
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
tenho repetido a justeza deste princípio: — "Quantos
murmuram de nossas coisas, sem que nos conheçam de
rosto!"
Não só a D. Pedro II prestou justiça Abreu Fialho,
também ao Imperial Colégio, denominando-o escola de
civismo, "ensinando pais e mestres a respeitar a lei como
o melhor exemplo de educação cívica".
Formava o Colégio pequenino Estado, com a sua
lei, os seus chefes supremos e os auxiliares destes,
mestres ou não, desenvolvendo tudo quanto requer a vida
coletiva: —a cidadania, a união, a solidariedade, o espírito
de disciplina social, o hábito de convivência em
comunidade, a consciência dos deveres e dos direitos.
Conforme Abreu Fialho, sabia o aluno que
implicitamente na lei do Colégio a obrigação era estudar,
estudando para saber, voltando o escolar a repetir ano se
não bem saldadas e rigorosas as contas de aproveitamento,
julgado cada um segundo obras e méritos.
Para contas bem saldadas em fim de ano o aluno
do Colégio levava, informa Fialho, ordenadas para o dia
seguinte, as obrigações, os exercícios, os temas, as
lições, tudo fiscalizado pelas chamadas de presenças,
pelas chamadas à lição, pela verificação dos "deveres",
pelas notas, pelas médias de trimestre, pelos exames.
Ninguém se dizia escravo! E escravo do dever "era titulo
de honra sublinhando ainda mais o de bacharel".
A perda do ano por faltas convidava à assiduidade.
As notas em público, em face dos examinadores,
dos colegas, e do auditório, valiam por aplicação prática
da justiça.
Completava-a, durante o ano e na ocasião dos atos,
o Imperador, "chamando, interrogando, explicando,
animando paternalmente os estudantes, fossem aplicados
ou obstinados, contumazes na vadiação, presidindo a
chamadas, banca de exames e aos atos solenes do
bacharelando, o Imperador trazia a todos enleados em
doce e confortante atmosfera, e ensinava civismo, unia
os interesses do Estado aos da instrução pública, porque
1837 -1937
avaliava a influência moral que dá a presença do Chefe da
Nação no exato funcionamento da complexa máquina
governamental".
Além da oração do Dr. Abreu Fialho, várias foram
as homenagens prestadas no Colégio ao ínclito protetor
de outrora por ocasião do seu primeiro centenário natalício.
Entre aquelas homenagens, mostrando ainda o
Colégio até 1889, roborando o testemunho de Abreu Fialho,
outro depoimento prestou em discurso o Dr. Luiz
Cantanhede de Carvalho e Almeida, o professor da Escola
Politécnica e bacharel em letras do Externato na turma de
1893.
Mostrou o professor Cantanhede "no Colégio um
grupo a cuja frente, vagaroso caminhava um velho,
cercado pelas atenções de pequeno séquito. O velho era
o Imperador, acompanhado de grande servidor do Brasil
velhinho de passo ainda firme e cabeça branca, aureolada
de glória, que foi o orgulho do Brasil e se chamava
Tamandaré; aos dois grandes velhos acompanhavam o
Reitor e o vice-Reitor, Monsenhor Brito e o Dr. Epiphanio
José dos Reis".
Entrou o Imperador na aula de Francês regida por
Halbout.
Estava um estudante a terminar lição, pouco antes
do fim da aula. "Ajudado o estudante que traduzia, pela
atenção maior que Halbout dava ao Imperador, não
percebendo ou desculpando algumas faltas que em dias
normais seriam notáveis a sineta anunciou fim de aula.
De pé a turma, o Imperador e comitiva se retiraram; mas
antes de descer os três degraus que ligavam a sala ao
corredor o velho Imperador faz voltar Tamandaré, para dar
ao aluno que acabara de receber uma nota boa, as
felicitações do Imperador, felicitações de um grande avô
que o Herói transmitia ao estudante, quando este e os
colegas comentavam os riscos da aventura bem
sucedida".
Grandemente apoiados por Cantanhede Almeida,
bacharel de 1893, e pelas recordações do bacharel Raul
Paranhos Pederneiras, da turma de 1892, e do bacharel
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Júlio Adolpho da Fontoura Guedes, da turma de 1901, além
das recordações próprias, busquemos fixar ainda mais um
pouco o aspecto do Colégio quando a mudança de regime
ia afastar para sempre o patrono da Casa.
Assim os atuais alunos e os vindouros poderão
evocar antecessores e deles os modos de vida, assaz
diferentes, pela natureza das duas seções do Colégio, no
Externato e no Internato.
Comecemos pelo primeiro, o decano e a princípio
também Internato.
De manhã cedo chegavam os alunos ao Colégio, os
calouros canhestros, com medo dos veteranos, os segundo
anistas todos anchos pela perda do calourado, dando-se
ares de veteranos ante os primeiro anistas. Mostravamse os demais alunos, do 3o ao 5o ano familiarizados com
a Casa , os do 6o ano procurando imitar os setimanistas
compenetrados de posição especial, a dar-lhes próximo
ingresso em cursos superiores, embora aí de novo
baixassem à calouros.
Livros em bolsa ou empacotados e presos por
pegador, merenda no bolso depois da extinção do meiopensionato, lá se apresentavam no Colégio os alunos de
farda verde com botões dourados onde em relevo RH.
Chegavam alguns mais cedo, sem dúvida
moradores de arrabalde ou longínquo subúrbio, aqueles
trazidos ao centro da cidade pelas linhas ferro-carris, estes
pelas composições da Estrada de Ferro D. Pedro II, ou
Central do Brasil. Desembarcavam na Estação Central
ou popularmente do Campo, estação terminal de via férrea
com perto de mais de 700 quilómetros em tráfego e de
penetração em três províncias, Rio de Janeiro, São Paulo
e Minas, estendida a linha suburbana da Corte ao Realengo.
Os alunos de chegada mais cedo costumavam ficar
pelas imediações do Colégio, pelas Rua da Imperatriz, hoje
Camerino, pela Rua Estreita de São Joaquim, ao flanco da
igreja da mesma invocação.
Permaneciam alguns na porta sempre fechada do
templo, que o povo dizia interdita por ter sido nela morto
um padre! Tudo imaginação, fértil sempre a do vulgo.
Em qualquer colégio há sempre um funcionário
conhecido de todos os alunos, o porteiro.
Conhecê-lo é sabê-lo preposto à sineta, outrora a
do Externato confiada ao velho Babo, à memória do qual
Joaquim Manoel de Macedo não desdenhou consagrar
referências ao passear em livro pela cidade do Rio de
Janeiro.
Nos fins do Império portaria e sineta do Externato
estavam a cargo de Carlos Gonçalves Mattos, primeiro
fiscal de quem entrava ou saía.
Eram então familiares as figura dos seis inspetores
da época de Alexandre Mondaini, Manoel Silveira,
Domingos Lima, o segundo capitão, o terceiro tenente da
Guarda Nacional, de Joaquim Alves, depois escrivão do
Externato, de Pedro Baptista, depois bedel, finalmente do
Pereira Santos, madrugando para vir ao Colégio, por morar
na Pavuna.
Todos terríveis inspetores, "que ameaçavam
sempre", disse Cantanhede. No fundo excelentes
criaturas.
Quando por efeito da repreensão ou castigo se lhes
queria mal era por pouco tempo. Sabiam os alunos, os
inspetores prestigiados pelas reitorias, vez por outra a
corrigir-lhes demasias, mas em surdina, longe de
discentes, de modo a nem abater autoridade de subalternos
nem proporcionar reincidências a discentes animados
nelas por fraquejar de disciplina, tocando a todos. Um
exemplo.
Durante o seu curso de bacharelado foi sempre o
príncipe D. Pedro Augusto de bom procedimento. "Uma
dama", dizia dele o seu inspetor Pereira dos Santos.
Mostrando lhaneza e gravidade natural era D. Pedro muito
estimado pelos inspetores. Quando andava de "coupé"
debruçava-se à portinhola do veículo para saudá-los fosse
onde fosse.
Entretanto, um dia, ao correr no pátio do Externato,
em ocasião indevida, excedeu-se o príncipe aluno, privadç
do recreio pelo inspetor Santos.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Nisto chega ao Colégio, em visita, o Imperador.
Detendo-se na sala do vice-reitor, perguntou D. Pedro II:
"Onde está o Pedrinho?". "De castigo", foi-lhe respondido.
"Muito bem, muito bem, redarguiu o Imperador, nada de
exceções, é aluno como outro qualquer".
Anos muitos depois, decaído o Império, compraziase o inspetor Santos em narrar o incidente a quantos se
interessavam pela vida do Colégio e não se esqueciam de
ir registrando particularmente o que no passado lhe dizia
respeito.
Retomado fio de narração, diga-se que estabelecida
forma, às badaladas da sineta da portaria, cada turma
seguia corredores afora, em marcha cadenciada, em busca
das salas de aula sobre cujas mesas dos professores o
inspetor respectivo estendia a lista caligrafada pelo bedel,
José Pinto da Silva Leal, baixo, barbado, superintendendo,
à cérbero amável no cumprimento do dever, as presenças
e faltas de professores e alunos.
Depois da chamada à aula, nesta recebido de pé os
lentes, alguns bem recordados por Cantanhede. Inolvidável
era Halbout, de sobrecasaca negra, mento e lábios
raspados entre "suíças" bastas; usando rapé sem um só
salpico, ao invés dos tabaqueadores descuidados
procurando esconder desmazelos nasais em grandes
lenços policrômicos de Alcobaça.
Em contrário ao depoimento de muito vadio, jamais
esquecido das notas más ou das reprovações ou "raposas"
de Halbout, Cantanhede diz-nos este tipo íntegro de juiz,
igual nas exigências da repetição das páginas de sua
gramática. E que pontualidade a de José Francisco
Halbout! "Velho mestre cuja falta à aula nunca foi
prevista, porque nunca acontecera e aconteceria, dele a
falta escapava ao cálculo das probabilidades; a presença
de Halbout era certeza. Faltou dois dias no Colégio para
morrer no terceiro dia".
Na aula de Matemática "aparecia a velhice esguia
de Drago, magro, alto, secarrão, nervoso, um tanto
agitado, gritando sempre, metendo muito medo aos
calouros".
1837 - 1937
"Os veteranos já lhe conheciam as manhas e
sabiam que dentro daquele velho brigador e rabugento,
havia uma criatura bonachona e mansa que era preciso
saber levar com jeito, dentro das páginas do livro de Ottoni
onde se achavam todas as chaves que abriam as portas
do curso de matemática elementar".
O livro de Ottoni, leia-se os compêndios do então
Senador Christiano Benedicto Ottoni, outrora lente da
Academia de Marinha.
Autor de compêndio qual Halbout, era Pedro José
de Abreu, professor de Geografia, "sempre bem apurado
no traje, de fino trato, tipo de avô tolerante", muito
preconizador das excelências da sua habilitação no morro
das Dores, na estação de Todos os Santos e aí tido por
espécie de patriarca.
Tão calmo era Abreu quão impaciente o professor
Lucindo Pereira dos Passos, enraivecido e impacientado
se não conseguia incutir a alunos gosto pela latinidade,
para ele só aprendível pelo método de Clintock.
Corpulento, não era qualquer cadeira que lhe servia
e devia estar bem limpa para não lhe macular as habituais
calças brancas. Sabia Latim e queria que o soubessem,
olhos a fuzilarem atrás dos óculos de ouro se o aluno dava
silabadas, ou gaguejava quando César mostrava como
vencera Vercingetorix ou Horácio em ode indicava quão
fugidia é a vida humana, quão preciso aproveitá-la ao ritmo
da ampulheta que a todos mede existência.
Dois sacerdotes ensinavam Religião, regular um,
secular o outro. Do mosteiro de São Bento descia frei
Saturnino Santa Clara Antunes de Abreu, pregador imperial,
teólogo da Nunciatura Apostólica, ao tempo no convento
do Carmo no largo da Lapa, e vinha explicar História
Sagrada aos meninos do Externato, com a gravidade dum
abade titular de São João Gualberto. "Alma de erudito —
declara Cantanhede — em cujo olhar se percebia uma
faísca de convicção do próprio valor, que a humildade da
sotaina não conseguira apagar de todo, contrapondo-se à
figura simples do velho sacerdote, Monsenhor Amorim,
seu substituto".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
À galeria dos professores do Externato dos quais
nos deu até agora muitos traços Cantanhede de Almeida,
distraídos e vadios "memória de abóbora", coisa que na
cucurbitácea jamais a botânica descobriu.
a j u n t e m o s o u t r o s t i p o s : — Ramos M e l l o , professor
Aureliano Pimentel dirigia a aula de Português, língua
estimado, culto, cuja modéstia bem mostrava quanto sabia
ainda não diferenciada da brasileira, do 2 o ao 5 o ano. A
que o tudo do saber humano é afinal nada; Rozendo Muniz,
calourada ficava a cargo de Manoel Olympio Rodrigues
poeta emaranhado no ensino de Filosofia; Nerval de
da Costa,
e s f o r ç a d o no entregar bons discípulos a
Gouvêa, baixinho, rotundo, calvo, organização intelectual
Aureliano Pimentel.
de primeira ordem que tornava a Física e a Química quase
f r e q u e n t e m e n t e consultado pelos paredros do idioma,
Este " e r u d i t o abalizado, seguro,
s o r r i d e n t e s por l i ç õ e s e n t r e saber e a m a b i l i d a d e ;
primava pelas lições de redação e de estilo, possuindo
Goldschmidt, maciçamente germânico e c o m o tal não
caderno onde averbava as cincadas e os cochilos dos
desdenhando cachimbo, de fumaças no intervalo das
professores e letrados da época". Muito havia aproveitado
aulas, numa pausa entre Schiller e Goethe. O mais esquivo
no recolhimento de longos anos em Minas, no nativo São
dos lentes era o de Retórica, Poética e Literatura, Franklin
João d'El Rey de onde o havia retirado D. Pedro II ao passar
Dória, já Barão de Loreto, ora Ministro, ora deputado geral.
Cada um desses e cada um dos mais lentes do
Colégio que longos estudos de personalidades merecem,
cada qual com seu jeito de ensinar, com seus cacoetes,
com seus tiques observados pelos alunos, inspetores
mudos ou traquinas dos mestres no decurso das aulas,
entre bater de sineta para entrar ou sair delas.
Em artigo — com o título O Velho Colégio e subtítulo
Um Pouco de Saudade — Raul Pederneiras e Fontoura
Guedes concorreram para lembrar sob diversos aspectos
professores do Colégio no fim de Império.
Apresentam-se-nos em 1889: — Halbout "para os
vadios e r e l a p s o s " t e m e r o s o , usando de a m e a ç a s
pela cidade.
Diz-nos Fontoura G u e d e s dos p r o f e s s o r e s do
Colégio, ainda do tempo do Império, cujas lições recebeu
no Externato de 1895 a 1901: — "Cada professor possuía
uma psicologia própria, um modo particular, especial na
forma de lecionar; bondosos ou rigorosos eram todos
acatados, respeitados por seus discípulos, incapazes de
manifestações h o s t i s " .
N e m e s c a p a r a m aos c r o n i s t a s da saudade do
Colégio os tipos dos inspetores, os dois Lima, o Leal Pai,
o Baptista Pai. o Santos, o Perrayon, bondoso como a
bondade, chamando o estudante desobediente "de quinta
roda de carro".
Quando a aula estava quieta o inspetor
ficava a ler clássicos franceses.
cumpridas para chamá-los ao cumprimento do dever, de
Do a s p e c t o i n t e l e c t u a l e m o r a l p a s s e m o s ao
estribilho no fim do ano há de contar com minha bolinha
material do Externato no fim do Império, aspecto
preta; Alexander que ensinando Inglês "pouco faltava para
conservado até bem adiante na República.
ser Berlitz, desenhando quadros explicativos da aplicação
Recorda-o Raul Pederneiras descrevendo o Externato
das palavras invariáveis por meio de pássaros em torno
"no amplo edifício do antigo seminário, de arquitetura
de uma gaiola", quando não arrastava alunos, e até o reitor
monástica, com enormes arcarias circundando o vasto
Monsenhor Brito
à Quinta da Boa Vista, toda silêncio,
pátio central, transformado em campo de recreio e da
despovoada e vegetações, para exercícios de cultura física,
g i n á s t i c a , salas a m p l a s , a r e j a d a s , c h e i a s d e luz,
nisto Alexander bem Inglês.
destinavam-se às aulas, em dois pavimentos".
Ramos Mello ensinava História Universal servido por
A entrada das aulas era ao lado da Igreja de São
invejável m e m ó r i a , Pedro J o s é de A b r e u explicava
Joaquim, aquela de feitio severo, entre colunas de granito
Geografia p e r s o n i f i c a n d o a bondade, a t r i b u i n d o aos
e capitéis de bronze.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Notável pela extensão a sala de estudo onde em
torno das paredes corriam os cabides numerados para
guarda de chapéus.
Havia dois lugares reservados na Casa. Um era a
secretaria onde no fim do Império trabalhavam o Secretário,
António Joaquim Rodrigues Júnior, substituído nos
impedimentos pelo inspetor Carneiro Vidal, e o escrivão
João Bernardo de Brito. O aluno conhecia a secretaria por
tradição, e mesmo no princípio da República, atesta Raul
Pederneiras, "nenhum aluno subiu as escadas rumo da
Secretaria". Quem falava aí por ele e pelos seus interesses
eram pais ou responsáveis.
O segundo lugar reservado do Colégio, onde o aluno
só entrava uma vez por ano, era o Salão Nobre. Mas para
o dia de contemplá-lo haviam primeiro de chegar os dias
dos exames finais.
"Solenes, realizados no salão de estudo,
enormíssimo e repleto, à mesa os reitores, os vice-reitores,
os professores da matéria, do Externato e do Internato,
muita vez sob a presidência do Imperador", segundo Raul
Pederneiras.
Para os setimanistas, o termo dos exames finais
era anúncio da colação de grau. Patenteava-se então a
solenidade a entrada nobre do edifício no ângulo da Rua
da Imperatriz, ora Camerino, da Imperatriz em lembrança
da chegada de D. Thereza Christina ao Rio de Janeiro em
1843, desembarcada no antigo Valongo.
Na entrada nobre da Casa pompeava "imponente
escadaria artística de madeira lavrada, ostentando no limiar
admiráveis esculturas de grifos, símbolos alados da
previdência, obra de arte substituída (depois do Império)
por escada angulosa, inestética, de ferro batido e mármore
vulgar".
No dia da colação de grau os setimanistas e os
premiados em vários anos do curso esqueciam por
momentos os sustos de fim de ano, os terríveis exames,
no verão já bem de rigor, anunciado pelas cigarras nas
amendoeiras do pátio central.
1837 -1937
O dia era de ouro na colação de grau e na distribuição
de prémios. Quão melodiosos aos ouvidos dos
recompensados soavam as vozes de colegas orfeonizados
pelos ensaios e esforços do Mathias Teixeira e do seu
coadjuvante Balduíno Rodrigues de Carvalho, morador em
Niterói, no largo da Memória, a gravar na dos alunos os
exercícios de solfejo de Garandé.
O dia da colação de grau assinalava o do descanso
temporário para o Mathias, zangado se o tratavam por
doutor, lisonjeado se o chamavam de maestro, e para o
Balduíno, a declarar aos recalcitrantes de solfejo que "os
desafinados afinam-se", enquanto eles se vingavam
alcunhando o zeloso professor de "suplemento musical",
aludindo ao cargo de coadjuvante do Mathias.
Certo não faltava malícia aos alunos do Externato,
como ao dizerem ser possível acertar relógios pelos
espirros infalíveis do professor Goldschmidt ao soar do
meio-dia, anunciado à cidade pela badalada de numerosos
sinos. O anedotário do Colégio é vasto, abrange no decurso
do tempo muito e muitos, para ele contribuindo uns mais,
outros menos na Casa onde o estudo era vigiado por todos
os lados, do Imperador e dos ministros, aos reitores e
vice-reitores, aos inspetores.
Assim pôde Raul Pederneiras asseverar, "que o
vadio, o amigo de 'gazetas' não escapava; os pais
recebiam, no dia seguinte ao 'fato', um bilhete participando
que o estudante não comparecera às aulas".
O ajuste de contas era feito em casa, da
admoestação ao puxão de orelhas, e às vezes de
consequências piores para o reincidente, sem nenhuma
atenuante, nem mesmo o da privação de sentidos
inadmissível na vadiação sobretudo crónica, coisa na
época assaz rara, o aluno de passos da casa para o Colégio
e vice-versa, os menores acompanhados pelos pais ou
por pagens.
No ano de 1889, último do Império de 1822, último
do Segundo Reinado, o Internato do Imperial Colégio de
Pedro Segundo deixara havia pouco a chácara do Matta,
no Engenho Velho, onde funcionava desde instalação.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Passava-se para bairro bem oposto, o de Sâo
Cristóvão.
Desamparava solar, boscarejamente entre árvores,
leões de gesso ao portào, para abrigar-se em ponto
elevado, dominador de paisagem, sobranceiro a vasta
praça, o Campo de São Cristóvão, então praça Pedro I,
sem nenhum ajardinamento, teatro de frequentes revistas
de tropa pela amplitude do logradouro sobremaneira
favorecidas.
A mudança do Internato, posto em prédio destinado
a asilo, constituía, pois, novidade para os alunos do
estabelecimento. A quem podem ser mais gratas as
novidades senão à juventude no deslumbramento de viver.
Quem em 1889, dia e noite, velava pelo Internato?
O vice-reitor Luiz Cândido Paranhos de Macedo, residente
na Casa, como a maioria dos inspetores. Tinha-os, pois,
Paranhos de Macedo, à mão para manter a ordem no
respeito.
O reitor, Conselheiro Bandeira de Mello, salvo caso
excepcional, vinha só ao expediente diário. Secundava
porém o auxiliar mantendo-lhe as determinações
sobretudo no tocante à disciplina, nem sempre fácil de
assegurar, pelas diferenças de idades e índoles em alunos,
uns nascidos e criados para compreendê-la, outros para
contrariá-la por interioridades de temperamento ou de meio
social.
Como o reitor, só vinham também a São Cristóvão
e ao Internato para desempenho de funções os professores
do Colégio, catedráticos ou substitutos. Traziam-nos os
bondes da Companhia de São Cristóvão, de lenta quando
não acidentada tração animal, bondes aqueles, à subida
ou à descida, passando pela Praça D. Pedro I de onde
irradiavam nada menos de sete vias públicas. Serviam-se
os professores do Internato das linhas ferro-carris do
Pedregulho, São Januário, Ponta do Caju e Alegria, uma
os deixando mais perto, outras mais longe.
Em a nova casa do Internato lecionavam
Tautphoeus, regendo as cadeiras de Alemão e Grego, de
Schiller se transportando a Homero; Oliveira Fernandes,
antigo oficial do exército, ensinando Francês sem os
extremos de rigor de Halbout; Fortunato Duarte, lendo Latim,
explicando com a maior vida a língua morta.
Desvendava o Idioma Vernáculo ao 1 ° ano quem do
idioma se servia a primor, Carlos de Laet, cuja ironia
enfrentara impávida o sarcasmo de Camillo. Do 2o ao 5o
ano a Língua Portuguesa era explicada por Fausto Barreto,
que abandonando o curso médico se tornara
exclusivamente professor e dos melhores.
A cadeira de Italiano, qual a de Grego, vagara.
Preenchia-a o substituto, Monsenhor João Onofre de Souza
Breves, sacerdote de físico imponente, douto e viajado.
O Inglês, tão oposto ao Italiano, ensinava-o o Dr.
Custódio Américo dos Santos, médico e bacharel em letras;
o Dr. Joaquim Gonçalves Guillon dirigia alunos na
Matemática; Oliveira de Menezes Pai, na Física e na
Química; Caminhoá na História Natural; António Limoeiro,
bacharel em letras e médico na História Literária. Sylvio
Romero na Filosofia, examinando de acordo com a cadeira,
filosoficamente, disposto a perdoar as inteligências
negativas.
Entusiasta no ensino da Retórica, Poética e Literatura
Nacional era o professor da cadeira, o médico Dr. José
Maria Velho da Silva, loquaz como convinha a professor
de Retórica, arroubado como quem cultivava poesia,
literato, como quem às letras pátrias entregara Gabriella,
romance histórico a competir com as Memórias de um
Sargento de Milícias de Manoel António de Almeida, outro
médico como Velho da Silva.
Os alunos, sobretudo, os menos aplicados,
esperavam sempre que nos exames, ao interrogá-los,
Velho da Silva, tomasse a palavra, permitindo-lhes delicioso
silêncio. Passava não raro o examinador a prestar o
exame, enquanto a areia ia passando da superior para a
inferior da ampulheta...
Frei Bento da Trindade Cortez, monge da abadia
carioca de N. S. de Montserrat, vinha do Mosteiro de São
Bento doutrinar Instrução Religiosa e dizer missa, Capelão,
da Casa.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Além dos catedráticos no Internato, aí funcionavam
mestres de Música, Desenho, Ginástica e Esgrima.
Também serviam ao ensino os substitutos comuns
ao Externato e ao Internato, Carlos Jansen lecionando
Alemão, João Henrique Braune, Grego; Vicente de Souza,
Latim, Magalhães Couto, Francês, Almeida Torres, Inglês,
Frontin, Filosofia, Carlos França, Retórica, Raja Gabaglia,
Matemática, Gama Berquó, Geografia e Cosmografia.
Em 1889, regia Berquó a cadeira de História do Brasil
no Externato por impedimento do titular, ou do proprietário
como se dizia outrora, da cadeira, João Capistrano de
Abreu.
Ficara no Internato a cátedra de Geografia a cargo
exclusivo do professor efetivo, o Dr. Francisco José Xavier,
médico e diretor do Hospício de Nossa Senhora das Dores,
em Cascadura, estabelecimento da Santa Casa da
Misericórdia, então dirigido pelo Barão de Cotegipe.
Geografia e História irmanam-se. No Internato, em
1889, História Universal chegava a alunos por intermédio
do Dr. Moreira de Azevedo, pela bondade para os alunos o
Vovô, médico e bacharel em letras, ao qual a crónica do
Rio de Janeiro ficou devendo grandes serviços.
Professava História e Corografia do Brasil outro
médico, o Dr. Mattoso Maia, de préstimos da profissão na
Guerra do Paraguai.
Dele disse Raul Pederneiras mostrando-o "jovial,
comunicativo, amigo até o sabugo da alma, condimentando
a aridez dos assuntos com episódios anedóticos".
Sempre de preto, de longas barbas brancas em
contraste, pausado no andar e rápido da palavra, Mattoso
Maia era dos mais estimados professores do Colégio.
Continuando a tradição de muitos colegas, quais por
exemplo Justiniano da Rocha, Calógeras, Gonçalves da
Silva, Tautphoeus, Macedo, Ramos Mello, Thomaz Alves
Nogueira, Moreira de Azevedo, autores de compêndios de
História, Mattoso Maia também os escreveu versando
história universal e pátria.
1837-1937
Era frequente reduzirem os professores do Pedro
Segundo lições a compêndios, declarando-os para uso dos
alunos do Imperial Colégio. Não impedia isso de serem
aqueles
compêndios
adotados
em
outros
estabelecimentos de instrução secundária. Consideravam
o Pedro Segundo Colégio tipo, sabiam-no sujeito à
fiscalização suprema do Imperador, jamais nela
esmorecido. O exemplo sempre desce do alto. Modelase fatalmente o subalterno pelo superior. Tal um, tal outro.
Antigo aluno do Internato, o Dr. Everardo Vallim
Pereira de Souza, a honrar na vida pública o nome paterno
do Conselheiro Pedro Luiz, forneceu ao professor
Escragnolle Dória subsídios para dizer algo da vida do
Internato, "intra muros", no fim do Império.
Atestou a impressionante frequência das visitas do
Imperador ao Internato. "Chegava sempre de surpresa,
sem avisos prévios, com o mesmo traje preto, não
dispensando cartola. De preferência entrava pela cozinha,
dizia qualquer coisa ao chefe da mesma. Passava à
despensa, examinando géneros e ao despenseiro solicitava
informações. Na copa observava o estado de limpeza do
respectivo material. Percorrendo o refeitório fazia
observações sobre quaisquer irregularidades.
Sucedia o mesmo quanto aos dormitórios. Na
enfermaria, se nela havia doentes, inquiria do estado de
cada um, desejando sempre melhoras a todos. Quando
na rouparia não raro fazia descer roupas dos gavetões, a
fim de verificar-lhes o asseio. As dependências sanitárias
não ficavam esquecidas e triste do chefe da faxina se
qualquer coisa deixasse a desejar!
Ao entrar em diferentes aulas, assistia às lições e
comumente interrogava os alunos. Quando na Biblioteca
lá confabulava com alguns lentes, nunca deixando de dizer
duas palavras ao velho Barão de Tautphoeus, quase sempre
em alemão.
Ao despedir-se do reitor, D. Pedro II manifestava
as impressões da visita. Em todas as festas solenes
pontualmente comparecia. Ao passar pelos recreios, não
ESCRAGNOLLE DÓRIA
raro mandava chamar alguns alunos, filhos de pessoas
suas conhecidas, e com eles ligeiramente confabulava".
A missa dominical era obrigatória para quantos não
saíam aos sábados e, às vezes, havia confissões e
comunhões gerais.
Tais práticas eram com ânsia disputadas e sempre
que possível repetidas, porquanto os que caíam em graça
ganhavam goiabada ao jantar, servidas bananas aos infiéis.
A alimentação dos alunos era da melhor qualidade,
muito farta e bem feita...
Estado sanitário ótimo.
Do zelo de D. Pedro II, diga-nos, apoiado no
testemunho do apoio paterno, o Dr. João Marques, filho
do antigo reitor do Internato, Dr. César Augusto Marques.
"O Imperador dando aos Ministros plena liberdade
de ação no Governo, fazia exceção para o Colégio de Pedro
II, Internato e Externato. O Colégio, todos o sabiam, vivia
sob a direção imediata e pessoal do Imperador. Havia
exageros na acusação de poder pessoal tão falado pelos
políticos da época... quando o seu partido deixava o
Governo.
Ah! Não... Quanto ao Colégio, o poder pessoal do
Imperador era verdade incontestável e cuja existência não
se podia negar.
Acompanhava os concursos, exame por exame,
passo por passo, tomando notas, conversando com os
examinadores e com os concorrentes, e no fim verificavase não lhe ter escapado qualquer minuciosidade e qualquer
circunstância.
Quase todas as semanas aparecia inopinadamente,
com tal insistência que sempre se contava com a visita
do Imperador. Não se limitava a assistir às aulas, percorria
a chácara, os dormitórios, a biblioteca, a cozinha e mais
de uma vez sentava-se à mesa e provava a comida.
Constantemente, o Imperador mandava recados ao
reitor, relativos ao Colégio, numa tira de papel, a lápis azul,
sem endereço, com rabisco já conhecido como assinatura
imperial".
Prova-o de sobejo a dedicação ininterrupta de D.
Pedro II pelo Colégio de seu nome, dedicação à qual o
destino apôs fundo selo.
O último dia do Imperador seria vivido no Externato,
onde se processava concurso para preenchimento da
cadeira de Inglês.
Uma das provas do certame foi realizada a 14 de
novembro de 1889, e Abreu Fialho fixou a lembrança do
involuntário adeus de D. Pedro II ao Colégio, que se honrava
tendo-o D. Pedro II por protetor.
"Parecia — refere Abreu Fialho — que do alto de
seu trono tinha a visão sinóptica das necessidades do
Estado, e a elas acudia com amor, e, no particular do
ensino, nunca se afastou no curso do seu patriótico mister,
antes persistiu nesta louvável porfia, porque ainda nas
vésperas da revolução que lhe derribou a potestade, às 5
horas, mais ou menos, da tarde de 14 de novembro de
1889, na porta do Externato, acabava de assistir à prova
do concurso de Inglês, e ao tomar o carro que o levaria à
Estrada de Ferro para Petrópolis, virou-se para Tautphoeus,
o divino Tautphoeus, como o chama o nosso Sylvio
Romero, lembrando-lhe jocoso, que trouxesse bem
estudada a lição de grego do dia seguinte, cadeira de que
era detentor aquele inolvidável sábio e mestre".
Cinco da tarde, mais ou menos, de 14 de novembro
de 1889. Poucas horas depois graves sucessos
terminados pela Proclamação da República.
Depoimento de bacharel do Colégio, em 1889 a
cursar o 1o ano do Externato, vai dizer de 15 de Novembro
de 1889. Disse-nos:
"Desci a Ladeira do Senado, atravessei a rua do
Riachuelo, a do Senado, a travessa do Senado , o Campo
de Santa Ana, saindo pelo portão do parque fronteiro ao
Quartel General em direção à Rua Larga.
Movimento de tropas em frente ao grande quartel.
Virei-me para o colega que me acompanhava e observei:
— Hoje não há aula. Vamos ver a parada. E ficamos
vendo a parada. E fomos ficando. Não me lembro bem
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
do que vi, nem do que fiz. Atravessei a tropa e subo, lado
da rua Larga. Chego ao Pedro II. O Imperador estava
demorando e cansamos de esperá-lo.
Lá dentro grande vozeria, para as bandas do 6o ano.
Tomei o corredor à esquerda e dirigi-me à sala do 1o ano
onde o inspetor naquele dia era impotente para manter
ordem. O vice-reitor entrou e soltou um berro:
— Todos de pé e de braços cruzados.
Mas a voz tremeu. O homem estava fulo. Sentouse na cadeira do professor. Mão no queixo e pôs-se a
meditar.
Assim ficamos por algum tempo, depois tivemos
ordem de sentar e a de saída, ao meio-dia, quando nos
retirávamos de ordinário à hora e meia.
Dirigi-me para a cidade, em companhia de colega.
Quando íamos dobrar uma esquina, surge papai, muito
pálido. Aparece também o aio do colega. Papai vinha de
tílburi. Entrei neste.
— Por que não voltou para casa? Perguntou meu
pai, em caminho.
Indaguei o que havia de novo.
— Proclamaram a República. O ditador é o Deodoro.
Ignorava o que vinha a ser república, nunca ouvira
pronunciar o nome de Deodoro, não sabia o que era ser
ditador. Para admissão no Pedro II bastava saber ler,
escrever, cantar e doutrina Cristã.
E, no tílburi, perguntei a papai se Deodoro ficava
então sendo Imperador.
Meu pai não teve tempo de entrar em explicações,
já estávamos em casa, onde, no portão, mamãe me
esperava toda chorosa".
Assim, descrita por um calourozinho de 10 anos,
hoje glória do magistério nacional, transcorreu no Externato
a manhã de 15 de Novembro de 1889. É de crer que no
Internato, pela proximidade de quartéis de cavalaria e
artilharia, chegassem logo notícias do movimento militar
encabeçado pelo Marechal Deodoro.
Não nos ficou, porém, depoimento algum de aluno,
mesmo calouro, do Internato.
1837 - 1937
Na deposição do D. Pedro II aprouve ao destino dar
papel histórico a aluno do Colégio.
Na noite de 14 para 15 de Novembro de 1889,
inteirado do movimento militar, reuniu-se o ministério
presidido pelo Visconde de Ouro Preto na Chefatura de
Polícia, na Rua do Lavradio, no Arsenal de Guerra e no de
Marinha onde o Governo viu clarear o dia, acabando o
Ministério por se congregar no Quartel General do Exército,
exceto o Ministro da Marinha, o chefe de esquadra José
da Costa Azevedo, Barão do Ladário.
Ao dirigir-se de carro para o Campo, ajuntando-se a
colegas, ao descer de "coupê", intimado por um tenente,
teve ordem de prisão. Sem palavra, com o silêncio que
nas ocasiões supremas fala tão alto, Ladário alvejou o
tenente intimador. O tenente atirou e Deodoro acudiu ao
estampido. Ladário alvejou-o também, sem atingi-lo, a bala
passou pela cabeça de Deodoro. Já se retirava Ladário,
quando o piquete de Deodoro, desfechando tiros, atingiu o
Ministro com quatro ferimentos.
Ladário apressou o passo e caiu na calçada, junto
ao armazém de secos e molhados da Rua Larga de São
Joaquim, com uma porta para a Rua de São Lourenço,
hoje Visconde da Gávea. O armazém fechou-se, às
pressas. Ladário ficou estendido sobre o lajedo.
Acercou-se então do ferido um moço. Chamava-se
Carlos Vieira Ferreira, aluno sextanista do Externato do
Colégio de Pedro II. Com certeza aí tinha se fartado, como
o calouro cujo depoimento citamos, de esperar o
Imperador, de visita anunciada.
Acercou-se Vieira Ferreira de Ladário. Então alguns
homens do povo acabaram se aproximando, curiosos,
humildes.
A mocidade generosa pediu-lhes auxílio para socorro
do ferido. Não podia ficar assim no meio da rua, talvez
morrer, sem alívio, ou pelo menos sem piedade.
O apelo foi correspondido. O grupinho dos
populares, aquecido pela chama de caridade de Vieira
Ferreira, levantou Ladário.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Acrescidos de um comissário da armada, os
enfermeiros improvisados do momento trágico conduziram
Ladário ao saguão do Palácio Itamarati. No edifício achavase o Dr. João Pinto do Rego César, bacharel em letras, à
cabeceira de enfermo, um genro da Marquesa de Itamarati,
o Comendador Monteiro. Segundo depoimento inédito do
Dr. Rego César, mandou este pedir à família Itamarati um
lençol de linho para fazer ataduras. Pensado de urgência
Ladário, o Dr. Rego César pediu a presença de outro
médico, indicando o Dr. João Câncio Nunes de Mattos,
cirurgião militar, que julgava dever encontrar-se na farmácia
São Joaquim, na Rua Larga, próximo à do Costa.
Realmente, o Dr. Câncio de Mattos permanecia na
farmácia, ponto de encontro de vários facultativos
conhecidos e empório de diversos preparados de muita
vulgarização no mercado de droga da época, procurada
sobretudo por gente da roça em busca de anti-sezônicos.
O Dr. João Câncio seguiu Vieira Ferreira, o aluno do
Imperial Colégio, e o fulgor do ato do escolar iluminava
em chefe o Colégio inteiro. Provou-o para a posteridade,
à bíblica, o bom samaritanozinho compassivo do Pedro II
amparando homem idoso, tinto de sangue a jorrar de
ferimentos em honra de causa vencida.
Justifica-se, pois, o apontar de alguns dados
biográficos de Carlos Vieira Ferreira, dado o seu papel,
honrando-se e honrando o Colégio, no dia 15 de Novembro
de 1889.
Carlos Vieira Ferreira pertenceu à turma dos
bacharéis em letras do Externato em 1890. Descendia do
Dr. Miguel Vieira Ferreira, maranhense ilustrado, amigo e
colega dileto de Benjamin Constant.
Homem
desinteressado, de variadas aptidões, no fim da vida
fundou, no Rio de Janeiro, igreja protestante.
Formado em Direito, Carlos Vieira Ferreira iniciou
vida pública por magistério no Colégio Militar. Mais tarde
entrando para a carreira diplomática, serviu o cargo de 2o
secretário (1898). Por efeito de medidas de economia
governamental, retirou-se do corpo diplomático. Muito
jovem, faleceu a 3 de junho de 1900, deixando viúva D.
Albertina Gusmão Vieira.
Honra à memória de Carlos Vieira Ferreira.
Bem merece no Colégio homenagem especial.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
XI
O Colégio de 1890 a 1917
Os Primeiros Atos da República em Relação ao Colégio • Mudanças de Nomes do
Mesmo • Reformas Benjamin Constant e João Barbalho • O Código de Ensino de
1892 • Fusão do Externato e Internato • O Restabelecimento de Ambos •
Reforma do Código do Ensino de 1892 • A Primeira Equiparação do Ginásio
Nacional • Regulamento Amaro Cavalcanti • Reforma Epitácio Pessoa •
Novos Diretores e Novos Lentes • Código de Ensino de 1901 • Concursos •
Reforma Tavares Lyra • O Património do Colégio • Relatório Esmeraldino Bandeira •
Novos Lentes • Reforma Rivadávia Corrêa • Eleições para Diretor e Representante
do Colégio, já de Novo de Pedro Segundo, junto ao Conselho Superior do Ensino •
Extinção do Bacharelado pela Reforma Rivadávia • O Anuário do Colégio •
Reforma Carlos Maximiliano • Nomeção de Diretores pelo Governo •
Restabelecimento do Bacharelado e do Concurso de Provas.
ESCRAGNOLLE DORIA
Proclamada
a República, instituído nela primeiro
Governo
Provisório, presidido por Deodoro da
Fonseca, foi o Ministério do Império, a cuja jurisdição
pertencia o Colégio de Pedro Segundo, transformado em
Ministério do Interior.
Nele serviu como primeiro ministro o Dr. Aristides
da Silveira Lobo, antigo político da monarquia.
Quanto à instrução a breve passagem daquele
Ministro, pela Pasta, apenas se assinalava por um Aviso,
determinando que continuassem a regular-se pelas
disposições vigentes os institutos de ensino superior ou
secundário criados ou dirigidos por leis de caráter geral.
No Governo Provisório o sucessor de Aristides Lobo,
Cesário Alvim, nomeado em fevereiro de 1890,
presenciaria a separação dos negócios relativos à instrução
pública dos negócios políticos da Pasta do Interior.
Solvendo crise violenta no Governo Provisório, surgiu
nova Pasta, a da Instrução Pública, Correios e Telégrafos
para ela transferido Benjamin Constant, Ministro da Guerra.
Lente da Escola Militar e pouco antes da República.
da Escola Superior de Guerra, Benjamim Constant,
assumindo nova Pasta, encontrou como ato único da
administração Alvim, um Aviso riscando dos programas
de ensino a instrução religiosa..
Ministro da Instrução, na Pasta criada a 19 de abril
de 1890, Benjamin Constant, em julho do mesmo ano,
modificava o processo de concurso do antigo Imperial
Colégio de Pedro Segundo.
Havia este passado a Instituto Nacional de Instrução
Secundária quando Ministro Aristides Lobo.
Por Decreto de 14 de julho de 1890, dos concursos
do Instituto desaparecia a defesa de tese, arguidos os
candidatos por dois examinadores sobre provas escritas
e orais.
A arguição das primeiras seria feita no dia seguinte
ao da leitura pública das provas, a arguição das provas
orais, logo após a sua realização.
Julgariam o concurso a comissão examinadora e a
Congregação, logo depois da arguição do último candidato.
Não tardaria Benjamin Constant a reformar a
instrução pública primária e secundária do antigo Município
Neutro ou da Corte, rotulado pelo novo regime como —
Distrito Federal.
No regulamento anexo ao Decreto de 8 de novembro
de 1890 enfeixou Benjamin Constant a reforma do ensino
de inspiração e lavra própria.
Principiou mudando o nome de Instituto Nacional.
de Instrução Secundária, substituto do Imperial Colégio
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
de Pedro Segundo, para Ginásio Nacional, mantendo-lhe
provisoriamente a velha divisão em Internato e Externato.
Antigo professor das duas seções da Casa, a título
suplementar, Benjamin Constant conservou no Ginásio o
curso septenal.
1837-1937
No Conselho Diretor da Instrução figuraria um lente
do Ginásio.
No Internato e no Externato haveria em sala de honra
um Panteão.
Destinava-se aos retratos de alunos distintos pelo
T o r n a v a , p o r é m , i n d e p e n d e n t e s por i n t e i r o ,
talento, amor ao trabalho, procedimento exemplar e mais
administrativamente, Externato e Internato. Reger-se-iam
virtudes, a recompensa do Panteão dependendo do juízo
pela mesma lei, com identidade de programas, sujeitos à
da Congregação.
Inspetoria Geral do Ensino e a Conselho Diretor desta.
Extinguia a Reforma Benjamin Constant a classe
Todas as matérias do curso seriam obrigatórias,
dos substitutos, o reformador tendo pertencido a esta
facultado porém ao aluno escolher a aula de Inglês ou a
classe, com o titulo de repetidor, na antiga Escola Militar
de Alemão.
da Praia Vermelha, aí lente interino por longos anos, provido
Doze anos de idade, pelo menos, seriam exigidos
o
a f i n a l e m c á t e d r a n a Escola S u p e r i o r d e G u e r r a ,
ano, a l é m da apresentação do
estabelecimento de ensino militar criado no fim do Império.
atestado de vacina e de diploma de exame final primário
Pela Reforma Benjamin Constant, o corpo docente
ou certificado do grau primário, mediante exame procedido
do Ginásio Nacional compor-se-ia de 12 lentes privativos
no Ginásio.
de cada estabelecimento, Externato e Internato e de 6
para a d m i s s ã o ao 1
Os exames de suficiência ou de promoção
lentes comuns a ambas as seções, cada uma servida por
constariam de provas orais, os finais de provas escritas,
professores de Ginástica, Evoluções Militares e Esgrima.
orais e práticas, os exames de madureza prestados no
fim do curso para verificação da cultura individual.
Aos exames de madureza só concorreriam os alunos
do Ginásio aprovados em todos os exames finais.
A 22 de novembro de 1890, Benjamin Constant
completava a reforma expedindo regulamento especial
para o Ginásio Nacional. Abrangia plano de estudo e sua
distribuição por curso de 7 anos, condições de admissão
Aos aprovados em tal exame, pelo menos com 2/3
de alunos no Internato e Externato, organização do corpo
de notas plenas seria atribuído o título de bacharel em
docente, aulas e exames, processo de concursos, jogos
ciências e letras.
escolares, distribuição de prémios, não se descuidando o
Poderiam ser a d m i t i d o s a exame de madureza
regulamento do pessoal administrativo e docente.
candidatos estranhos, munidos de atestados fornecidos
Teria o reitor 6:000$000 de vencimento anual, e cada
pelos diretores de colégios ou pelos professores
lente 5:400$000, o secretário 3:000$000. Em novembro
particulares que os houvessem habilitado, informando dos
de 1890, estendia-se aos funcionários de nomeação efetiva
precedentes intelectuais e morais dos discípulos.
e aposentáveis do Ministério do Instrução, o montepio
Pela Reforma Benjamin Constant, o corpo docente
obrigatório criado em 31 de outubro de 1890.
do Ginásio procedia de concurso, dirigida a Congregação
Não abrangia o benefício o amparo das famílias, do
da Casa pelos reitores, por alternativa de presidência. A
pessoal subalterno do Ministério do Instrução e do Colégio,
Congregação elaboraria os programas de ensino, confiando-
bem necessitadas de tal amparo.
Ihes a elaboração a comissão por ela eleita.
Apresentados os programas sofreriam exame do
Conselho Diretor de Instrução acompanhado de parecer
da Congregação e do Reitor Presidente.
Os porteiros do Colégio venceriam 850S000 anuais,
os serventes 720S000.
No momento em que a Reforma Benjamin Constant
assinalava no Colégio a primeira reforma de ensino do
ESCRAGNOLLE DÓRIA
regime republicano, perdia o estabelecimento, por morte,
Cinco anos depois recebia designação efetiva,
um dos seus mais antigos e conceituados professores:
assumindo interinamente a diretoria da Escola Normal, no
Halbout, — filho de pais franceses, tido por muitos por
impedimento do diretor Dr. João Pedro de Aquino, por
francês, nasceu José Francisco Halbout, no Rio de Janeiro.
portaria de 23 de dezembro de 1887, expedida pelo Ministro
Educou-se em meio pedagógico, a mãe, M m e . Luiza
do Império, Barão de Cotegipe.
Halbout mantendo acreditado Colégio de meninas no centro
Além das funções docentes, Halbout exercia outras,
da cidade, na Rua do Hospício, ora Buenos Aires, esquina
sem sair do magistério, quais os encargos de examinador
da Rua São Jorge, ora Gonçalves Ledo.
de concursos no Colégio e no Instituto Comercial.
Adolescente, dedicou-se Halbout à profissão de
relojoeiro, desamparada pelo magistério.
C o m e ç o u a lecionar b e m j o v e m , aos 22 anos,
iniciando carreira para a vida inteira.
Após c o n c u r s o , Halbout o c u p o u no magistério
secundário oficial posição digna de seus méritos.
Por Decreto de 5 de junho de 1858, referendado pelo
Marquês de Olinda, foi Halbout nomeado professor de
Francês do Internato e Externato do Imperial Colégio de
P e d r o S e g u n d o , p e r c e b e n d o o o r d e n a d o anual de
1:600$000.
Autorizado o diretor do Instituto Comercial, o reitor
do Colégio de Pedro Segundo, o Dr. Pacheco, por Aviso
ministerial, a convidar os professores do Imperial Colégio
que q u i s e s s e m lecionar no I n s t i t u t o , n e s t e Halbout
ocupando a cadeira de Francês por Decreto de 7 de outubro
de 1863, com o vencimento anual de 1:200$000.
Pôs a pena a serviço de traduções de monografias,
destinadas a exposições universais das quais o Brasil
participava.
Assim traduziu Halbout para francês as Noções de
Corographia do Brasil, do colega Joaquim Manoel de
Macedo.
Para se avaliar a monta da tradução basta dizer que
constou de livro de 504 páginas, com vários mapas, livro
impresso em 1873 pela tipografia Brockhaus de Leipzig.
Ficou a cargo dos p r o f e s s o r e s T h o m a z A l v e s
Nogueira e Guilherme Schieffler a tradução da mesma obra
para o Alemão.
Após decénio de magistério na Escola Normal da
Corte, dela se retirava Halbout, jubilado por Decreto de 4
de março de 1889, percebendo pela jubilação 1:600$000
anuais.
C o n t i n u o u , p o r é m , a lecionar no Externato do
Imperial Colégio, até pouco depois da República.
Na folha de serviços de Halbout ao magistério
Nos últimos tempos de magistério, escusava-se de
nacional ainda se registrariam os de lições de Francês, na
examinar, o que fizera longos anos, a seu ver o programa
Escola Normal da Corte.
de estudos vigente só favorecendo reprovações.
Antes, porém de ter nela ingresso, Halbout passou
no Colégio a reger unicamente a cadeira de Francês do
Externato, por opção feita nos t e r m o s do art. 56 do
Lembrado para diretor da Escola Normal, já na
República, Halbout não aceitou o cargo.
Noticiando o óbito de Halbout, dizia a Gazeta de
regulamento anexo do Decreto 61.30, de 1 o de março de
Notícias, então um dos maiores órgãos da imprensa
1876, expedido na 2 a Regência Imperial de D. Isabel.
carioca:
Por Decreto de 2 de outubro de 1885, era Halbout
"O vulto que acaba de desaparecer há de ser sempre
nomeado professor da Escola Normal da Corte, a funcionar
lembrado
provisoriamente oito anos na Escola Politécnica, já tendo
cumprimento mais rigoroso do dever.
Halbout na Escola Normal regido para ela a cadeira de
Francês em 1880.
c o m o t i p o da mais alta honestidade e do
Seus m u i t o s discípulos podem ter se queixado,
alguma vez, da severidade de seus juízos, mas é difícil
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
que os tenham acoimado de injustiças, porque de fato ele
pôs o mais meticuloso cuidado em não cometê-las."
1837 - 1937
Dela Ministro, a 22 de janeiro de 1891, m e m b r o do
segundo Gabinete do Governo Provisório, o do Barão de
Para acréscimo do ligeiro esboço da personalidade
Lucena, Barbalho, logo em fevereiro de 1891 mandou
de Halbout fiquem destacadas as seguintes linhas de
entrarem em vigor, provisoriamente, os regulamentos
Evaristo Nunes Pires, professor no Colégio, inscritos na
anteriores ao regulamento expedido pelo antecessor
o
Revista Didáctica de 1 de janeiro de 1906.
Benjamin Constant. Isto a 6 de fevereiro de 1891 e no dia
"Quando Halbout completou 25 anos de carreira
s e g u i n t e um Decreto golpeava a Reforma Benjamin
pública, tratou de justificar faltas, então se apurando que
p e r m i t i n d o , s e m c o n c u r s o , primeira n o m e a ç ã o para
só 5 vezes deixara de dar aula.
cadeiras vagas ou recém-criadas.
Também de Halbout foi dito que, primando sempre
Em março de 1891, o Inspetor da Instrução Pública,
pela e x e c u ç ã o de d e v e r e s , n i n g u é m o e x c e d i a no
Dr. Ramiz Galvão, bacharel em letras, propunha ao ministro
desempenho das funções do magistério, assim t a m b é m
Barbalho várias medidas em relação ao Colégio.
na banca de examinador, n i n g u é m se mostrava mais
Entre elas a de vigorar o antigo plano de estudos
honestamente rígido e altaneiro às importunações do
com algumas modificações de pequena monta, atendendo
empenho.
a próxima apresentação de projeto reformador do plano do
Não só na sociedade brasileira, vinda de berço, era
Ginásio Nacional.
como no seio da colónia
Promulgada a primeira Constituição da República, a
francesa à qual o ligava o a t a v i s m o que honrava por
24 de fevereiro de 1891, entrou a nação em regime regular,
c o s t u m e s puros de excelente chefe de família, c o m o
eleito Presidente da República, pelo Congresso Nacional,
professor considerando o ensino "o mais santo dos
o marechal Deodoro da Fonseca para o primeiro quadriénio
deveres".
legal, de 25 de fevereiro a 15 de novembro de 1894.
Halbout tido em subida conta
Tanto era a estima da colónia francesa do Rio de
Nomeou Deodoro Ministério do qual continuou chefe
Janeiro por Halbout que pessoas i n f l u e n t e s dela se
o Barão de Lucena, passando João Barbalho da Pasta da
interessavam junto ao Ministro da França no Brasil, Conde
Instrução Pública para a da Justiça, substituído naquela
Amelot de Chaillot, para ser concedido a Halbout o grau
pelo Desembargador António Luiz Affonso de Carvalho.
de cavaleiro da Legião de Honra, em curso o pedido quando
Tomaria este alguma providência de ordem secundária
a morte de Halbout veio tristemente cancelá-lo.
quanto ao ensino público.
A Benjamin Constant sucedeu na Pasta da Instrução
Pública o Dr. João Barbalho Uchôa Cavalcanti
Em
dezembro
de
1891,
em
virtude
da
constitucionalização do r e g i m e , surgia a primeira lei
Aluno assinalado do Ginásio Pernambucano, aí
orçamentária da República atribuindo dotação de
recebendo primeiro prémio em 1859 e prémio entregue por
175:530$000 ao Externato, igual soma destinada ao
D. Pedro II, em viagem pelo Norte, Barbalho por espaço
Internato.
de 17 anos dirigira a instrução pública em Pernambuco.
Autorizado pela referida lei orçamentária, o Governo
Sempre a par do movimento pedagógico universal,
equipararia as vantagens dos lentes e professores do
procurando adaptá-lo na província de berço, Barbalho, futuro
Ginásio Nacional às dos lentes e professores de ensino
e douto comentador da Constituição de 1891, dera a lume
superior.
várias obras versando pedagogia.
deslocado na Pasta da Instrução.
Não era, pois. um
No ano letivo de 1891 receberiam grau 19 bacharéis
da turma de futuros cargos no Colégio, Francisco Pinheiro
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Guimarães, lente de Português e Literatura, e Sylvio Alfredo
Bevilacqua, secretário do Internato.
Com a proclamação da República, havia coincidido
a entrada de novos lentes para o Colégio, os seguintes: —
Alonso Garcia Adjunto, lente de Grego, Manoel Said Ali
Ida e Augusto Guilherme Meschick, lentes de Alemão,
Rodolpho de Paula Lopes e João Ribeiro, lentes de História
Natural e de História Universal, Guilherme Affonso de
Carvalho, de Inglês, Alfredo Coelho Barreto e Agostinho
Luiz da Gama, lentes de Matemática, e João Gonçalves
Coelho Lisboa, lente de Geografia.
O ano letivo de 1892 seria inaugurado com reformas
para o Colégio.
De posse de autorização competente, qual a da
primeira lei orçamentária da República, o Governo ia mais
uma vez modificar o Ginásio Nacional.
Renunciante da Presidência da República, a 23 de
novembro de 1891, o Marechal Deodoro da Fonseca
entregou governo ao Vice-presidente, Marechal Floriano
Peixoto; o qual confiou o Ministério do Instrução Pública
ao Dr. José Hygino Duarte Pereira.
Professor de humanidades na juventude, lente de
Direito no Recife, como João Barbalho, seu conterrâneo,
José Hygino não era também um deslocado na Pasta da
Instrução.
A exemplo do antecessor e comprovinciano numa
época de transição, a da Monarquia para a República, José
Hygino pouco podia fazer pelo ensino.
Apôs, entretanto, referendo ao Decreto de 2 de
fevereiro de 1892 a alterar profundamente a estrutura do
antigo Colégio de Pedro Segundo de 1837. O citado Decreto
extinguiu o Internato, substituindo-o por 2o Externato,
sujeito às disposições do 1o e funcionando no edifício do
extinto Internato sem modificação de pessoal docente ou
administrativo.
Extinto por sua vez o Ministério da Instrução Pública,
Correios e Telégrafos, os assuntos e interesses do ensino
ficaram subordinados a novo Ministério, denominado da
Justiça e Negócios Interiores, para o qual foi nomeado, na
Presidência Floriano Peixoto, o Dr. Fernando Lobo Leite
Pereira.
A passagem do Dr. Fernando Lobo pela Pasta da
Justiça e Negócios Interiores assinalou-se pela elaboração
e aplicação de um Código de Ensino precedido de
autorização legislativa.
Encerrou o Código disposições tendentes a garantir
e premiar corpos docentes e discentes.
Determinou que a Congregação de cada instituto de
ensino superior bienalmente indicasse catedrático ou
substituto para em viagem ao estrangeiro estudar métodos
de ensino ou proceder a investigações científicas.
Ao aluno anualmente classificado primeiro de cada
estabelecimento de curso superior teria direito a prémio
de viagem na Europa ou na própria América.
O Código de 1892 permitia que os estabelecimentos
de ensino formassem património, recebendo doações,
legados e subscrições, livre ao Governo a concessão do
título de Faculdades ou Escolas, equiparando-as às
federais, as Faculdades ou Escolas de fundação particular,
mediante condições.
O ano de 1892 foi de reformas no ensino.
Transformado em Distrito Federal o antigo município
Neutro ou da Corte, pela Lei Orgânica do mesmo Distrito,
de 20 de setembro de 1892, a instrução primária do Distrito
ficou a cargo da Prefeitura Municipal, à expensas da União
a instrução secundária.
Em novembro de 1892, Ministro ainda o Dr. Fernando
Lobo, a lei orçamentária do citado ano autorizou o Governo
a fundir o 1o Externato, o do centro da cidade, e o 2o
Externato do Ginásio Nacional, o antigo Internato do Campo
de São Cristóvão.
Desaparecida a divisão, em dezembro de 1892, o
Ministro Fernando Lobo aprovava novo regulamento para
o Ginásio.
Tal regulamento extinguia as denominações de reitor
e vice-reitor no alto do corpo administrativo, substituía-os'
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
pelas de diretor e vice-diretor, delegados de confiança
governamental, fixados em 6:000$000 anuais os
vencimentos dos lentes, pelo Regulamento Fernando Lobo.
A Proclamação da República encontrara dois
reitores, um no Externato do Imperial Colégio, Monsenhor
Luiz Raymundo da Silva Brito, outro no Internato, o
Conselheiro Joáo Capistrano Bandeira de Mello,
substituído o primeiro em janeiro de 1892, por José
Veríssimo Dias de Mattos, até dezembro com o título de
Reitor, e o segundo em 1890 e 1891 por Paranhos de
Macedo, este em 1891 substituído o primeiro em janeiro
de 1892, por José Veríssimo Dias de Mattos, até dezembro
com o título de reitor, e o segundo em 1890 e 1891 por
Paranhos de Macedo, este em 1891 substituído pelo Dr.
Alfredo Piragibe, médico e bacharel em letras da turma de
1864, o segundo bacharel da Casa a exercer-lhe reitoria,
sendo o primeiro Paranhos de Macedo.
No ano de 1892, de tantas modificações para o
Ginásio Nacional, por ele se graduavam em ciências e
letras duas turmas de setimanistas, a do Externato
composta de 13 jovens e a do Internato de 9. Haviam
estudado no Externato diversos bacharéis votados ao
ensino superior ou secundário.
No ensino superior figurariam Raul Paranhos
Pederneiras, professor de Direito e da Escola Nacional das
Belas Artes, e João Marinho de Azevedo, professor de
Medicina. Da turma do Externato em 1892 passaria para
o corpo docente do Ginásio Nacional, Gastão Mathias Ruch
Sturzenecker, pela competência e assiduidade um dos
ornamentos da Congregação e do ensino público.
Professor interino, seria ainda o bacharel Carlos
Leopoldo Jorge Sallaberry, da turma do Externato,
pertencendo à do Internato José Bernardino Paranhos da
Silva, servidor da instrução pública em vários cargos,
inclusive o de Diretor do Internato.
No ano letivo de 1892 foi aventada a ideia da
fundação de associação de socorros mútuos destinada a
auxiliar funcionários do Ginásio Nacional, por várias formas
beneficentes.
1837 -1937
A 14 de junho de 1892, para tal fim, acharam-se
reunidos na sala da Biblioteca do então 1o Externato do
Ginásio, a convite do capitão Domingos da Silva Lima, os
Srs. António Joaquim Rodrigues Júnior, António Manoel
Pereira dos Santos, Carlos Galdino Leal, Domingos da
Silva Lima, Joaquim José de Oliveira Alves, João Francisco
de Góes, Marcellino Sampaio Castello Branco, Pedro Pinto
Baptista e Pedro Felippe Perrayon.
Pelo capitão Silva Lima foram expostas as bases
da fundação da Caixa Beneficente de Socorros Mútuos do
Ginásio Nacional, eleita comissão para redação de
estatutos, escolhidos os Srs. Oliveira Alves, Rodrigues
Júnior e João de Góes.
Com vária sorte progrediu a Caixa, que ainda há
pouco se tratou de reformar.
O ano de 1893 transcorreria entre perturbação da
vida nacional, agitada pela revolta da armada, de início a
6 de setembro de 1893, e chefiada pelo Contra-almirante
Custódio José de Mello.
Pouco antes de explodir a revolta na baía do Rio de
Janeiro, para mais tarde conjugar-se com a Revolta
Federalista estendendo-se ao sul do país, o vice-presidente
do Senado o Dr. Prudente José de Moraes e Barros
promulgava Decreto, a 5 de julho de 1893.
Criava em Minas Gerais, na cidade de Campanha,
um Externato ou Ginásio Nacional, servindo nele o pessoal
docente ou administrativo que a isto se dispusesse, dirigido
para o estabelecimento a criar o material das duas seções
do Ginásio Nacional, material inaproveitado na fusão.
Conforme Raja Gabaglia, tal Decreto ficou letra
morta, a legislação também necrópole.
Lei orçamentária para o exercício financeiro de 1894,
em breve restabeleceria o Internato, convertido até então
em 2o Externato com o pessoal docente e administrativo
correspondente.
Findo o ano letivo de 1893, através de sucessos de
ordem pública, quais os oriundos das revoltas naval e
federalista e das mudanças no regime do Colégio,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
bacharelaram-se no Externato dez setimanistas e no
Internato quatro. Dos bacharéis do Externato dois se
encaminhariam para o ensino superior, Fernando Augusto
Ribeiro de Magalhães, professando na Faculdade de
Medicina e Luiz Cantanhede de Carvalho e Almeida na
Escola Politécnica.
Em dezembro de 1893. deixava a Pasta da Justiça
e Negócios Interiores o Dr. Fernando Lobo, republicano
histórico, desde a formatura jurídica em São Paulo em 1876.
Homem sempre respeitado pela integridade de caráter.
Levá-lo-ia este a renunciar mandato de senador por
Minas por ter sido apresentado pelo Partido Republicano
Federal, para a Vice-Presidência da República.
Vencido nas eleições, pobre e desprendido, entendeu
renunciar ao mandato legislativo, nunca mais tornando à
política. Um homem e um exemplo.
Foi o Dr. Fernando Lobo substituído pelo Dr. Alexandre
Cassiano do Nascimento, riograndense do sul.
Na Presidência, Floriano Peixoto acumularia o
exercício de várias Pastas, Ministro efetivo do Exterior e
interino da Justiça e da Fazenda.
Longa seria a interinidade de Cassiano do
Nascimento na Pasta da Justiça, de 8 de dezembro de
1893 a 15 de novembro de 1894, termo da Presidência de
Floriano Peixoto.
Ministro interino da Justiça, Cassiano do Nascimento
apôs referenda ao Decreto de 15 de janeiro de 1894,
aprovando regulamento para o revivido Internato.
Pelo citado Decreto, militarizados, os alunos do
Internato formariam batalhão escolar, de quatro
companhias, a instrução militar ministrada por oficiais
subalternos do exército.
O batalhão escolar do Internato, no qual os alunos
tinham graduações militares, teria ensejo de exibir-se
publicamente e com garbo, comandante do batalhão o
aluno considerado mais distinto do estabelecimento.
A 15 de novembro de 1894, tomava posse da
Presidência da República o Dr. Prudente de Moraes,
nomeando Ministro da Justiça o Dr. António Gonçalves
Ferreira, pernambucano de longa prática na magistratura
e na administração da sua província, deputado geral por
ela, presidente de Minas, na monarquia, lente de Direito
no Recife.
Coube-lhe referendar, mal na Pasta da Justiça, o
Decreto de 7 de dezembro de 1894, aprovando, para
modificá-lo ou acrescentá-lo, o Código de Ensino de 1892.
Modificou-o o novo Decreto sobretudo na parte
financeira, aumentando ou diminuindo ordenados e
gratificações, gratificando porém o pessoal do Ginásio a
serviço de exames de preparatórios.
Findou o ano letivo de 1894, ainda de bastante
agitações políticas, quais as posteriores à transição da
Presidência Floriano Peixoto para a de Prudente de Moraes.
Tais agitações, perduraram por bastante tempo culminando
na tentativa de assassínio de Prudente de Moraes no antigo
Arsenal de Guerra, pelo anspeçada do exército do 10°
Batalhão de Infantaria, Marcellino Bispo dos Santos.
No fim do ano letivo de 1894 haviam de bacharelarse dez alunos do Externato e três do Internato.
Assinalou também o referido ano letivo a admissão
no corpo docente de lentes novos, o Dr. Francisco Pinheiro
Guimarães, provido na cadeira de Português do Internato,
o Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima na de Geografia, o
Dr. José Dias Delgado de Carvalho na de Francês do
Externato e Timotheo Pereira na de Matemática, o último,
exemplo da força de vontade, pois se elevara de humilde
empregado no comércio a professor acatado e bem
autodidata.
Em 1895, ainda na Pasta da Justiça, o Dr. Gonçalves
Ferreira referendava o Decreto de 22 de abril de 1895
concedendo ao Instituto Kopke, equiparação ao Ginásio
Nacional.
A concessão alargar-se-ia, não raro com grave dano
para a regularidade e moralidade do ensino.
No sentir de Raja Gabaglia, o Decreto de 22 de abril
de 1895 "foi a fonte de onde emanou a desmoralização e
o declínio da instrução secundária". Outras fontes viriam
e de abundante jorro.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
No ano letivo de 1895, o Externato do Ginásio
Deixou estudos académicos no 4 o ano da Faculdade
Nacional graduou seis bacharéis no Externato, cinco no
para dedicar-se ao cultivo de línguas, cultivo para o qual
Internato.
sentia irresistível pendor, dedicando-se também à Filosofia.
Dos bacharéis do Externato dois consagrar-se-iam
A cópia de estudos linguísticos
e filosóficos não
ao ensino: — Henrique César de Oliveira Costa, lente do
privou Garcia Adjunto de bacharelar-se em direito e com
Ginásio e da Escola Politécnica, e Heitor Lyra da Silva,
brilho.
lente da Escola das Belas Artes.
Concorrendo à cadeira de Grego do Internato do
Em 1896, por lei orçamentária, foram transferidos
para os diretores de e s t a b e l e c i m e n t o s de instrução
atribuições
das
Congregações,
não
referente
e x c l u s i v a m e n t e ao e n s i n o , a d i s c i p l i n a escolar, a
programas, a exames, a prémios ou concursos.
conhecimentos
obteve-a
revelando invulgares
l i n g u í s t i c o s , t a m b é m por c o n c u r s o
conquistando a cadeira de Inglês no Liceu de Humanidades
de Niterói.
A p r o p ó s i t o d o s c o n c u r s o s de Garcia A d j u n t o
Graduaram-se no ano letivo de 1896 sete bacharéis
no Externato e onze no Internato. Da turma do Externato
menos numerosa que a do Internato, coisa não muito
c o m u m , serviria o ensino Everardo Adolpho Backeurser,
lente distinto da Escola Politécnica. Da turma do Internato
se destacaria para o ensino José Ferreira da Costa Piragibe,
lente interino do Colégio, diretor do Instituto Ferreira Vianna
e do Instituto Profissional João Alfredo, figura de relevo
no magistério secundário.
O ano l e t i v o de 1 8 9 7 , no G i n á s i o N a c i o n a l ,
transcorreria como o de 1886, no antigo Imperial Colégio
de Pedro S e g u n d o .
Ginásio Nacional,
N e n h u m a das seções da casa
consigna conterrâneo dele, o professor Olympio Gonzaga,
dois sucessos assinalados.
Diz o professor Gonzaga:
"Descobrindo no Morro de Santo António, no Rio de
Janeiro, um professor de Grego, em Alemão aprendeu essa
língua, tão bem que em 3 meses derrotou o seu professor
em concurso para ocupar cadeira de Grego no Ginásio
Nacional, onde lecionava com proficiência.
Segundo e s t a m o s i n f o r m a d o s , a nomeação do
saudoso conterrâneo para a cadeira de Inglês do Liceu de
Niterói, foi feita após concurso admirável, "sendo preciso
que se criasse nota acima de distinção para qualificação
tradicional graduaria bacharéis.
Lutuoso sucesso assinalaria o f i m do ano letivo de
de provas".
Três dias após o aniversário da fundação do Colégio
que a Congregação do Ginásio Nacional viu desaparecer
Tal foi o Dr. Alonso Garcia Adjunto, tal o professor
1897.
de Pedro Segundo, falecia no Rio de Janeiro, a 5 de
e m 1897.
dezembro, o Dr. Alonso Garcia Adjunto, lente de Grego no
Tinha 34 n o s de i d a d e o m e s t r e q u e , c o m o
Ginásio Nacional e de Inglês no Liceu de Humanidades de
adivinhando morte prematura, tanto na vida se anteciparia.
Ficou
Niterói.
o Governo
em
1897,
a r m a d o de
lei
Iniciando
orçamentária. Permitia-lhe reforma, na sua parte relativa
estudos na cidade natal completou-os no Seminário de
ao ensino secundário, do regulamento baixado com o
Diamantina.
Decreto de 4 de novembro de 1890, isto é, o da Reforma
Nascera em Paracatu, Minas, em 1863.
Prestados exames preparatórios, de uma só vez,
Benjamin Constant.
e m O u r o P r e t o , v e i o A d j u n t o a o Rio d e J a n e i r o ,
Tratava logo o Governo de valer-se da autorização,
frequentando um ano a Escola Politécnica e quatro anos a
sendo Ministro da Justiça o Dr. Amaro Bezerra Cavalcanti,
Faculdade de Medicina.
inspetor da Instrução Pública e diretor do Liceu do Ceará
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de 1881 a 1883, tendo exercido interinamente o cargo de
professor de Latim no Imperial Colégio.
Referendou o antigo docente, quando Ministro, o
Decreto de 30 de março de 1898, com o qual se abriu o
ano letivo de 1898, aprovando novo regulamento, não só
a vigorar no Ginásio Nacional como no ensino secundário
a cargo dos Estados.
Foi mantida a divisão do Ginásio Nacional em
Externato e Internato, regidos pela mesma lei,
independentes quanto a administração, unidos os seus
professores em congregação única, presidida um ano pelo
diretor do Externato, no seguinte pelo do Internato.
Abrangeria o ensino dois cursos simultâneos, um
propedêutico ou realista, de seis anos, outro humanista
ou clássico, de sete anos.
As disciplinas de ambos os cursos seriam as
mesmas, não estudando porém Latim e Grego os alunos
chamados propedêuticos, permitido a todos os alunos a
escolha de aulas de Inglês ou Alemão. Constituiria sétimo
ano curso de revisão acrescido do estudo de Literatura
Geral e Nacional, bem como do estudo da História da
Filosofia. Os exames seriam substituídos por promoções
de ano. No fim do curso propedêutico receberia o aluno
certificado de conclusão de curso secundário, dando-lhe o
direito de requerer exame de madureza mediante
condições.
Tal exame realizar-se-ia ante a Congregação,
formando prova geral de habilitação, exame aquele também
facultado ao candidato inscrito nas matérias dos dois
cursos.
A habilitação nos exames de madureza conferiria
ao aprovado o grau de bacharel em ciências e letras.
O Decreto de 30 de março de 1898 minudentemente
tratou dos exames de madureza, dos de admissão, dos
concursos para lentes, do pessoal administrativo, da
colação de grau.
Duas seriam as causas principais da oposição à
Reforma Amaro Cavalcanti, dificultando-lhe aplicação.
Primeira a constituição do exame de madureza,
depois o aproveitamento de professores dos extintos
Cursos Anexos às Faculdades Jurídicas de São Paulo e
Recife, para preenchimento no Ginásio Nacional de
segundas cadeiras de Línguas Vivas e Matemática.
Para apressar nulificação da Reforma Amaro
Cavalcanti breve viria, em lei orçamentária, autorização
ao Governo para reformar de novo.
Em meio, porém, de tanta incerteza de vistas e
propósitos, como em 1897, em 1898 nem o Externato,
nem o Internato graduariam bacharéis em letras, sucesso
único nos cinquenta e dois anos de existência do Pedro
Segundo no Império, sucesso duas vezes ocorrido nos
seus nove anos de vida na República.
O ano letivo de 1899 iniciar-se-ia no Ginásio Nacional
com aplicação de reforma, a do Decreto de 8 de abril de
1899, referendado pelo Ministro da Justiça da presidência
Campos Salles, Dr. Epitácio Lindolpho da Silva Pessoa.
Pelo citado Decreto, o curso do Ginásio abrangeria
seis anos, os exames seriam de promoções sucessivas
e de madureza, mantido o curso propedêutico, a nomeação
dos diretores recaindo sobre lentes do Ginásio ou cidadãos
brasileiros de notória competência.
Tais as disposições de maior relevo num texto de
lei de 166 artigos.
Além de regulamento novo recebeu o Ginásio
Nacional em 1899 novo lente, o de História Natural do
Internato, o Dr. Wenceslau Leite Alves de Oliveira Bello,
provido mediante concurso.
Findo o aludido ano letivo graduaram-se no Externato
quatro bacharéis, não dando o Internato bacharel algum,
dois setimanistas da seção transferidos para o Externato
em meio do curso.
No ano letivo de 1900, em setembro, achou-se o
Externato privado de vice-diretor, extinto o cargo.
Dirigia então o Externato o Dr. Francisco Carlos da
Silva Cabrita, nomeado a 15 de setembro de 1898, em
substituição de José Veríssimo Dias de Mattos, exonerado
a pedido.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Desde 1897 o Internato estava sob a direçáo do Dr.
José de Souza da Silveira, substituto do Dr. Alfredo
Piragibe, falecido no cargo.
O Dr. Cabrita havia muito militava no magistério, já
na Escola Normal, já na Politécnica servindo a causa do
ensino popular gratuito no liceu de Artes e Ofícios, além
de autor de compêndios de matemática.
Tanto Cabrita como o diretor do Internato, D. José
da Silveira, que não dispensava o uso e o tratamento de
dom, tornaram-se bastante conhecidos pelo espírito
disciplinador, procurando ambos trazerem os seus
estabelecimentos como um brinco, conforme expressão
familiar ao povo.
Vaga a cadeira de Francês, pela renúncia do Dr. José
Dias Delgado de Carvalho, foi em 1900 provida por
concurso, pouco depois dele aberta segunda vaga, por
falecimento do lente de Francês do Internato, Dr. Manoel
de Magalhães Couto, antigo diretor do Instituto dos SurdosMudos, principiado o ensino destes no Rio de Janeiro, em
1856 pelo surdo-mudo francês Huet, no Colégio Vassimon,
na Rua Municipal n.° 8.
Iniciara-se com dois alunos, um menino e uma
menina, mediante a pensão anual de 500S000 para cada
um, pensão paga por D. Pedro II.
O Governo imperial mandou o Dr. Magalhães Couto
à Europa para habilitar-se no Instituto dos Surdos-Mudos
de Paris, regressando ele em 1862, para dirigir o Instituto
do Rio de Janeiro até 1868.
Falecido o Dr. Magalhães Couto, a 23 de março de
1900, a 10 de abril eram nomeados para as cadeiras vagas
do Externato e do Internato o Dr. Henrique Monat, médico,
e Gastão Mathias Ruch Sturnezecker, bacharel em letras.
Ambos em breve escreveriam um método para o
ensino da língua francesa, rivais classificados no mesmo
concurso, Monat em 1o lugar, Ruch em 2o.
Não passou o ano letivo de 1900, também assinalado
pela nomeação de Hans Heilborn, por concurso, para a
cadeira de Grego, sem alteração na vida do Ginásio
Nacional.
1837 - 1937
Por autorização legislativa e orçamentária ficou o
Governo autorizado a rever o Código de Ensino baixado
com o Decreto de 2 de dezembro de 1892 ao tempo do
ministro Fernando Lobo.
Findo o ano letivo de 1900, haviam se habilitado ao
grau de bacharel em letras, oito setimanistas, só no
Internato, o Externato sem bacharelandos.
Havia também o Internato mudado de diretor,
nomeado para o cargo o Dr. Alexandre Camillo, por motivo
de óbito repentino do Dr. D. José de Souza da Silveira.
A 1o de janeiro de 1901 o Governo da República,
presidido por Campos Salles, utilizava autorização
legislativa expedindo o Decreto aprovando o Código dos
Institutos Oficiais de Ensino Superior e Secundário,
dependentes do Ministério da Justiça.
Não terminara janeiro de 1901 e já em Decreto
referendado pelo Ministro da Justiça, Epitácio Pessoa,
aprovava regulamento para o Ginásio Nacional.
Dele disse Raja Gabaglia: — "Pouco diferia do
anterior, mas teve uma originalidade, extinguiu a cadeira
de História do Brasil quando se comemorava o 4 o
Centenário do Descobrimento".
Desaparecia em 1901 a cadeira inaugurada em 1849
por Joaquim Manoel de Macedo e ocupada na época por
Capistrano de Abreu no Externato e Mattoso Maia no
Internato.
Ficou o Ginásio Nacional com a cadeira de História
Universal especialmente do Brasil, pelo Decreto de 26 de
janeiro de 1901, o qual por disposição transitória, enquanto
não vigorasse o exame de madureza, mandava conferir
aos sextanistas, de curso completo o grau de bacharel
em letras. Conferido em 1901 a turma de 16 alunos do
Externato e 11 do Internato.
O Dr. Alexandre Camillo deixando a diretoria foi
substituído pelo Dr. João António Coqueiro. Desprovido
de cabedais, rico porém, de força de vontade, o Dr.
Coqueiro estudara em Paris, dedicando-se aí a altos
estudos de ciências físicas e matemáticas, graduando-se
ESCRAGNOLLE DÓRIA
nelas, praticando astronomia no Observatório de Bruxelas,
doutorando-se na Universidade da capital belga.
Aos 18 anos, ainda estudante em Paris, publicou
tratado de Aritmética, alvo de elogios de cientistas
eminentes. Numerosas e sempre bem aceitas foram as
obras do Dr. Coqueiro no domínio da Matemática,
professada por ele em diversos cargos do magistério no
Maranhão, contribuindo com estudos e planos para a
transformação no Rio de Janeiro da Escola Central em
Politécnica. Na província natal o Dr. Coqueiro prestou
serviços relevantes à indústria de açúcar. Transferindo-se
para o Rio de Janeiro, aí exerceu o Dr. Coqueiro vários
cargos, na Repartição de Telégrafos e na Prefeitura
Municipal, até ser diretor do Internato do Ginásio Nacional.
Sucesso eclesiástico para honra do Colégio e motivo
de sua satisfação, ocorreu em Roma, no consistório público
de 18 de abril de 1901, nomeado Bispo de Olinda o último
reitor do Externato no regime monárquico, Monsenhor Luiz
Raymundo da Silva Brito.
Com assistência do Colégio, seria sagrado, a 5 de
maio de 1901, na Catedral do Rio de Janeiro, sagrantes D.
Joaquim Arcoverde, Arcebispo da Diocese, D. Silvério
Gomes Pimenta, Bispo de Mariana e D. João Braga, Bispo
de Petrópolis.
Ao sair o novo Bispo da Catedral, o povo desatrelou
os animais do carro de Monsenhor Brito e à mão conduziu
o veículo aos altos do Palácio do Morro da Conceição.
Após o prazer ou à elevação a dor e a queda, tal a
vida em qualquer de seus múltiplos setores.
No ano letivo de 1901, a 11 de maio, falecia no Rio
de Janeiro, onde nascera a 5 de janeiro de 1827, o Dr.
António de Castro Lopes, latinista eminente e antigo
professor de latinidade no Colégio.
Pouco depois, a 25 de junho de 1901, desaparecia
no Rio de Janeiro, nascido em 1828, o Dr. José da Silva
Lisboa, médico como Castro Lopes, por muitos anos
professor de Física e Química no Imperial Colégio. Era
filho do Visconde de Cayru.
No Colégio também, de 1878 a 1890, professara
literatura outro médico, o Dr. José Maria Velho da Silva,
nascido em 1831, e falecido a 1o de junho de 1901.
Cultor assíduo das letras, vangloriava-se de havêlas bem tratado no romance histórico Gabriella, memorativo
de tempos coloniais.
Em 5 de novembro de 1901 perdia o Ginásio Nacional
o professor Thimoteo Pereira, nele e na Escola Naval, lente
de Matemática, de nascimento e principio de vida humilde,
elevado socialmente pelo próprio esforço, sem auxílio da
sorte, tantas vezes se negando a prestá-la ao mérito.
Em 1902 apenas alguns avisos do Ministro da
Justiça, José Joaquim Seabra, lente de direito no Recife,
cuja Faculdade dirigira, atingiram o Ginásio Nacional, para
o corpo docente do qual entrava, após concurso, o Dr.
Joaquim Ignacio de Almeida Lisboa, nomeado a 21 de
junho de 1902.
Numerosa seria a turma de bacharéis do Externato
em 1902, de dezenove setimanistas, a turma do Internato
apresentando três bacharelandos.
Na turma do Externato figurava quem deveria honrar
altamente o magistério no Colégio. Antenor Nascentes.
Dois alunos da turma dedicar-se-iam ao ensino normal e
particular, Aloysio Ferdinando de Souza da Silveira e
Washington Garcia.
O ano letivo de 1903 abrir-se-ia para o Externato
com a nomeação de diretor, substituto de Cabrita, o Dr.
José Gil Castello Branco, nomeado a 23 de março de 1903.
Na diretoria Castelo Branco, o Ministro da Justiça,
Seabra, referendava o Decreto legislativo de 24 de agosto
de 1903, tornando privativas duas cadeiras até então
comuns ao Externato e ao Internato, as de Lógica e
Literatura.
Por Decreto de 31 de agosto de 1903 foi o lente de
Português do Internato, Dr. Francisco Pinheiro Guimarães
transferido para a cadeira de Literatura do mesmo Internato,
substituindo-o interinamente na cadeira de Português, o
Dr. José Júlio da Silva Ramos.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
Lecionava este disciplina no estabelecimento, cinco
Capistrano Bandeira de Mello, último reitor do Imperial
anos a titulo suplementar, professor e diretor no Estado do
Colégio de Pedro Segundo, a exercer o cargo quando
Rio do Ginásio Fluminense.
proclamada a República.
Para a cadeira de Lógica do Externato foi transferido
Graduar-se-iam em 1905, onze bacharéis em letras,
o lente de Latim, Dr. Vicente de Souza, a cadeira de
um dos quais, João Baptista de Mello e Souza fadado a
latinidade provida interinamente pelo Dr. José Cavalcanti
professor da Casa e Carlos Leoni Werneck fadado ao
de Barros Accioli.
magistério e à diretoria da Escola Normal.
Assinalado o ano letivo de 1903 pela nomeação para
No ano letivo de 1906, obtinham os professores
diretor do Externato do Dr. José Gil Castello Branco,
catedráticos elevação de vencimentos, promovida pelo Dr.
assinalado também ficaria pela revogação de quatro artigos
Victorino de Paula Ramos, deputado federal por Santa
do Código de Ensino de 1 9 0 1 .
Catarina, beneficiado t a m b é m na elevação o magistério
Referiam-se à impressão e prémios de trabalhos
elaborados por professores e bem assim ao prémio de
viagem
concedido,
de
dois
em
dois
anos,
superior.
Dois concursos preencheriam as vagas no corpo
a
d o c e n t e de 1906, as da cadeira de História Geral,
estabelecimento de ensino para investigações cientificas
especialmente do Brasil e da América, no Externato, vaga
no estrangeiro.
pelo transferência para o Internato do respectivo lente, João
Dezesseis bacharéis graduaram-se no Externato em
Ribeiro, e a cadeira de Latim, ainda do Externato, vaga
1903, dois no Internato. Daqueles, dois se dedicariam ao
pela remoção do Dr. Vicente de Souza para a cadeira de
ensino superior na Escola Politécnica, Carlos Américo
Lógica do Externato.
Barbosa de Oliveira e Cipriano Amoroso Costa.
Após concurso empossavam-se como catedráticos
No corpo docente do Ginásio Nacional, em 1903,
de História Geral e de Latim, Luiz Gastão d'Escragnolle
tomou assento antigo e ótimo professor suplementar de
Dória, nomeado a 5 de novembro de 1906, no m o m e n t o
Português, Francês e Matemática, Floriano Corrêa de Britto,
professor suplementar de Inglês no Internato, e José
de sólida cultura de humanidades.
Cavalcanti de Barros Aciolli, nomeado a 27 de novembro
Obteve em segundo concurso a cadeira de Francês
e nomeação para catedrático a 4 de agosto de 1903.
Tomou posse da cadeira do Internato, transferido
para o Externato o professor Gastão Ruch, a 23 de março
de 1903.
Ficavam assim ambas as cadeiras de Francês da
Casa ocupadas por bacharéis em letras.
Breve seria a administração do Dr. José Gil Castello
de 1906 e interino desde 1903.
Do exercício interino da cadeira de História Geral do
Externato, retirava-se o bacharel em letras Joaquim Osório
Duque Estrada.
Em 1907, Decreto referendado na presidência de
Affonso Penna pelo Dr. Tavares de Lyra, Ministro da Justiça,
elevava a gratificação dos diretores do ensino superior e
t a m b é m a dos diretores do Ginásio Nacional.
Branco, no Externato, falecido a 14 de fevereiro de 1905.
No ano letivo de 1907, deixava a direção do Internato
A pedido, foi o Dr. Coqueiro transferido da diretoria
o Dr. Leôncio Correia para assumi-lo o Dr. José Bernardino
do Internato para a do Externato a 29 de maio de 1905,
nomeado para dirigir o Internato o Dr. Leôncio Correia.
Paranhos da Silva, bacharel em letras.
No m e s m o ano, outro bacharel em letras, após
Também funebremente assinalaria o ano letivo de
concurso, entrava para o corpo docente da Casa, o Dr.
1905 o falecimento, a 18 de outubro, do Conselheiro João
Henrique César de Oliveira Costa, nomeado para a cadeira
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de Matemática do Internato a 20 de junho de 1907, dois
anos preparador do gabinete de Física e Química do
Externato, tendo regido interinamente as cadeiras de
Matemática do Externato e Internato. Mas tarde ocuparia
cátedra de Geometria Descritiva da Escola Politécnica, por
onde o fizeram engenheiro civil.
No ano letivo de 1907, o professor de História
Universal, da América e do Brasil, Escragnolle Dória,
lecionando História Pátria no 6o ano do curso ginasial,
inaugurou a prática de visitas a sítios ou instituições, lições
com caráter objetivo, assim, por exemplo, a visita pela
turma de sextanistas de 1907 ao morro do Castelo, para
explicação dos primórdios do Rio de Janeiro.
No curso de visitas foram professor e alunos
recebidos nas seções de manuscritos e medalhas da
Biblioteca Nacional, nas diversas seções, histórica,
administrativa e judiciária, do Arquivo Nacional.
No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
acharam-se os visitantes amavelmente acolhidos pelo
bacharel em letras Dr. Vieira Fazenda, bibliotecário do
Instituto solícito em patentear a futuros colegas livros e
manuscritos referentes aos estudos de História Pátria.
Findo o ano letivo de 1907, achavam-se prontos para
recebimento de grau oito bacharéis em letras, sete do
Externato e um do Internato.
Não quiseram os bacharelandos de 1907 deixar para
sempre o Colégio sem honrá-lo de modo especial.
Coadjuvados pelo professor Escragnolle Dória,
celebraram os bacharelandos do Ginásio Nacional o
septuagésimo aniversário da fundação do antigo Colégio
de Pedro Segundo.
Na noite de 2 de dezembro de 1907, iluminou-se o
Ginásio para sessão solene presidida pelo professor e
diretor interino Nerval de Gouvêa.
Proferiu discurso oficial o professor Escragnolle
Dória, recitando poesias o Sr. Adriano Delpech, seguindose palestra do sextanista propedêutico Jacques Raymundo
Ferreira da Silva sobre Álvares de Azevedo, o glorioso
bacharel em letras de 1847. Recitou duas poesias de
Álvares de Azevedo o mesmo sextanista Jacques
Raymundo.
À parte literária seguiu-se variada parte musical
desempenhada pelas pianistas senhoritas Guiomar de
Nóbrega Beltrão, Cármen Casado Lima, pelos professores
Amaro Barreto e Eurico Costa, pelo violinista Orlando
Frederico, e pelo Sr. Quirino de Oliveira.
Com o Ginásio Nacional ainda em férias escolares,
recebiam grau os bacharelandos da turma de 1907.
Designado para a festiva solenidade do costume o
dia 2 de fevereiro de 1908, por circunstância imprevista
perdeu todo caráter festivo.
A 1o de fevereiro de 1908, chegaram ao Rio de
Janeiro notícias de regicídio em Lisboa, vítimas de atentado
el-rei D. Carlos e seu filho, herdeiro presuntivo da coroa,
D. Luiz Felippe, ferido o infante D. Manoel.
Na impossibilidade de ser transferida a solenidade
do Ginásio, a 2 de fevereiro, uma comissão de
bacharelandos dirigiu-se à legação de Portugal para
apresentar pêsames ao Encarregado de Negócios,
explicando-lhe a impossibilidade de adiar a colação de grau.
Abrindo a sessão no Ginásio, o diretor do Internato,
Dr. Paranhos da Silva, presidente da Congregação, declarou
ao auditório ter infelizmente a cerimónia perdido toda
alegria ante o atentado de Lisboa.
Procedeu-se apenas à distribuição de prémios e à
colação de grau, suprimidas as bandas de música e as
danças subsequentes à festa.
Feita a chamada dos alunos premiados — Euclides
de Medeiros Guimarães Roxo, João Baptista Guimarães
Roxo e Jairo Maciel de Aquino Penteado — entregues aos
recompensados, livros de rica encadernação, o Dr.
Paranhos da Silva conferiu o grau aos bacharelandos da
turma de 1907, tendo estes por paraninfo o professor
Escragnolle Dória e por orador o bacharelando Heitor da
Nóbrega Beltrão.
A turma de bacharéis de 1907, privada das festas,
de colação de grau, foi distinguida com um almoço de
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
honra, oferecido no Internato pelo respectivo diretor Dr.
Paranhos da Silva. Do almoço participaram em
confraternização, lentes do Externato e do Internato e os
bacharéis do Externato em geral e neste vários 6o anistas
antigos alunos do curso do Internato.
Delegaram os bacharéis do Externato ao professor
Escragnolle Dória a incumbência de agradecer a
homenagem, pedindo o Dr. Paranhos da Silva que
trabalhassem os novos graduados continuamente pelo
progresso do Ginásio. Fora o Dr. Paranhos da Silva o
presidente da colação de grau da turma de 1907.
Enquanto o Ginásio esperava abertura do ano letivo,
no Externato se realizavam exames de preparatórios com
mesas examinadoras constituídas de conformidade com
as instruções anexas ao Decreto 4.247 de 23 de novembro
de 1901, aproveitados os serviços de muitos professores
do Ginásio nas referidas mesas examinadoras.
Assinalar-se-ia lutuosamente o ano de 1908 pela
morte do professor da cadeira de Lógica do Externato Dr.
Vicente de Souza, falecido a 18 de setembro de 1908.
Durante muitos anos, como substituto e depois
catedrático, regera no Externato a cadeira de Latim, tendo
aí concorrido a vaga de lente de Filosofia.
Encerrado, porém, o ano letivo de 1908, o corpo
discente do Ginásio Nacional celebrou de modo condigno
o septuagésimo primeiro aniversário de fundação,
encontrando para tanto o professor Escragnolle Dória o
mais decidido apoio, na turma de bacharéis de 1908, apoio
ao qual se ajuntou o dos colegas de outros anos tomando
a peito continuar tradição, festejando a data insigne da
instituição, por meio de subscrição entre os próprios
discentes. Nem a celebração de 2 de dezembro, já em
1907, já em 1908 custou um real aos cofres do Ginásio.
Começou a solenidade de 2 de dezembro de 1908,
realizada à noite no Salão Nobre da Casa, por parte literária
com discursos do professor Escragnolle Dória e do
bacharelando Olympio dos Reis Netto.
1837 - 1937
No discurso da festa teve o professor Escragnolle
Dória o grato ensejo de caracterizar a festividade como a
da tradição.
"Sem respeito pela tradição — disse — nada
subsiste, no progresso dos povos, nas instituições e
baixando o vôo nos institutos de ensino".
Pela tradição, os alunos do Ginásio em 1908 entram
em íntima correspondência com os colegas de 1838, os
primeiros alunos do Colégio Pedro Segundo, de ninguém
foram calouros.
No discurso de 1908 referiu-se o orador ao Decreto
do Governo de Minas Gerais, em data de 26 de novembro
de 1908, subscrito pelo então Secretário do Interior da
presidência João Pinheiro, Dr. Estevão Leite de Magalhães
Pinto.
Fora o Decreto precedido de várias considerações
de alto valor moral, educativo e patriótico, entre aquelas
considerações as seguintes demonstrativas da solicitude
de Pedro Segundo pela instrução pública nacional.
"Considerando que D. Pedro Segundo sempre
revelou acendrado amor e dedicação à causa da instrução
pública no Brasil e que essa virtude se traduziu por
múltiplos atos positivos e dentre eles pela aquisição de
prédio em Ouro Preto para escolas públicas primárias.
Considerando que este prédio adotado para nele
funcionar o grupo escolar dessa cidade, resolve o Governo
de Minas dar o nome do grupo escolar D. Pedro II ao
estabelecimento recentemente criado em Ouro Preto."
Ao discurso do professor Escragnolle Dona seguiuse oração do bacharelando Ignácio dos Reis Netto, dizendo
este, em nome dos discentes:
"Queremos instituir tradição que entre futuro a
dentro, conservando a memória do dia 2 de dezembro de
1837, viva e perene como o fogo sagrado que ardia nas
aras do tempo.
A tradição é a história viva do passado. É corrente
mas cujo último elo temos na mão. É tão venerável como
o tempo, porque do tempo é irmã."
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Finda a parte literária da solenidade de 1908 deu-se
início a parte concertante.
Dela participaram a consagrada violinista Paulina
D'Ambrásio. o Dr. António Carlos de Arruda Beltrão,
aplaudido cultor do canto.
Secundaram-nos a professora Maria dos Santos
Mello, laureada pelo Instituto Nacional de Música, o Dr.
Roberto Gomes e o Sr. Ernani Braga acompanhando estes
últimos executantes.
A terceira parte do programa da festa de dois de
dezembro de 1908 apresentou nota de originalidade, por
constar da representação da comédia em um ato "Os
Viúvos", subida à cena em palco improvisado no fundo do
Salão Nobre.
Era a comédia da lavra do segundanista Horácio
Mendes Campos, intérpretes da peça os segundanistas
Vicente Trotte, Nelson Alves de Oliveira, Olindo Pinto
Coelho, Sebastião Pereira Brazil e António Coelho
Bittencourt.
Todos os jovens atores desempenhavam papéis com
naturalidade e graça, provocando gostosas gargalhadas,
no fim da comédia muito aplaudidos autor e atores.
Na peça figurava apenas um papel feminino, o da
criada Miquelina, confiada ao aluno António Coelho
Bittencourt, cujo desempenho do papel e cujo perfeito
travesti foram muito apreciados.
Infelizmente trágica seria a sorte de António Coelho
Bittencourt, falecido na flor da idade, académico de
medicina na Faculdade do Rio de Janeiro da qual era lente
o pai o Dr. Nascimento Bittencourt inconsolável pela perda
do esperançoso filho, vítima de desastre em via férrea.
Remataram a festa de 1908 danças animadas, para
satisfação de muitas e muitos dos numerosos convidados.
Em 1908, graduaram-se no Internato cinco
bacharéis, um dos quais Cecílio de Carvalho, futuro
bibliotecário do Ginásio e Leonidas Ribeiro de Rezende,
vindouro lente de Direito da Universidade do Rio de Janeiro.
Quatorze foram os bacharéis de 1908. Figuravam
na turma, Quintino do Valle, João Baptista Ferreira Pedreira
e Mário Paulo de Britto.
O primeiro consagraria vida à Casa, nela chefe de
disciplina do Internato em 1915, de 1909 a 1915 tendo
lecionado, já no Internato já no Externato várias disciplinas,
Português, Francês e Latim, afinal e por concurso lente
catedrático do Colégio.
Dois bacharéis da turma do Externato em 1908 se
dedicaram ao magistério e ao ensino, Mário Paulo de Britto,
lente da Escola Politécnica, acatado diretor de ensino
municipal e federal, e João Baptista Ferreira Pedreira,
íntegro magistrado, no ensino secundário se especializando
no cultivo e na propaganda da língua latina.
Dirigida a República pelo Presidente Affonso Penna,
antigo deputado geral e ministro três vezes na monarquia,
o Governo usando de autorização orçamentária, no último
dia do ano de 1908, mandava observar o regulamento
subscrito pelo Dr. Tavares de Lyra.
Providenciava a respeito da administração dos
patrimónios dos vários estabelecimentos subordinados ao
Ministério da Justiça, entre eles o Ginásio Nacional.
Superintendidos pelo Ministro, confiados à direção
de Conselho Administrativo, de caráter gratuito, ficariam
os patrimónios dos ditos estabelecimentos.
No Conselho Administrativo, de dez membros,
figurariam os diretores dos institutos cujos bens
patrimoniais convinha zelar, possivelmente acrescidos por
doações, legados, dotações, subvenções e quotas
lotéricas.
A verba orçamentária fixada para o Ginásio Nacional
era então de quantia superior a 700 contos, suspensa a
admissão de matrículas gratuitas por excesso de alunos
extraordinários.
No ano letivo de 1908, fora o Ginásio Nacional alvo
da atenção do Ministro da Justiça, Dr. Tavares de Lyra, o
qual pretendeu reformar o Ginásio mediante autorização
legislativa.
Expôs o Ministro oficialmente as suas ideias
esperando reduzi-las a lei. Segundo o plano Tavares de
Lyra o ensino secundário seria reformado nas seguintes
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
bases: — a) — divisão do ensino em dois ciclos, o primeiro
propedêutico e simplificado, o segundo, o do bacharelado
em letras de conhecimentos mais aprofundados; — b) —
exigência de provas escritas e orais só para exames finais,
os de promoção dependentes de notas e provas parciais
no curso do ano letivo; — c) — organização de programas
de noções essenciais; — d) — desdobramento de cadeiras
para evitar turmas numerosas confiadas a professor único;
— e) — fundação de escolas normais superiores ou
admissão no professorado por concurso de títulos, o
tirocínio no magistério condição preponderante para
escolha do candidato; — f) — extinção da vitaliciedade
imediata de professores, concedida aquela após estágio
e no caso de recondução; — g) — verificação de provas
de capacidade, assiduidade, gosto e dedicação no
magistério para assegurar a professores proporcionalidade
de vantagens; — h) — concessão de disponibilidade aos
professores em limite máximo de idade ou de tempo de
serviço; — i) — extinção definitiva dos exames de
preparatórios e restrições de equiparações ao Ginásio
Nacional.
O plano Tavares de Lyra ficou para as calendas mais
famosas, as gregas, embora encerrasse medidas postas
depois em prática e outras inexecutadas, mas dignas de
atenção.
Coube contudo ao Dr. Tavares de Lyra ensejo de
mandar apurar pelo Ministério a seu cargo o património do
Ginásio Nacional, Externato e Internato, este em 1908
tendo passado por grande remodelação material na diretoria
Paranhos da Silva, remodelação da qual ficou lembrança
em opúsculo ilustrado.
Incumbiu o Ministro o Sr. Pedro Guedes de Carvalho
e o Dr. Luiz Augusto Drumond Alves de estabelecer
positivamente o valor do património da Casa, não
administrado desde 1860, quando extinto o cargo de
tesoureiro do Colégio, então as apólices e os imóveis dele
passadas à guarda da Recebedoria do Tesouro Nacional e
posteriormente à Diretoria de Rendas Públicas do mesmo
Tesouro.
1837 - 1937
Dispondo embora de escassas informações, a
comissão do Ministério da Justiça apurou de princípio ser
o património do ex-seminário de São Joaquim, ex-Colégio
de Pedro Segundo, então Ginásio Nacional, composto de
163 apólices da dívida pública de 1:000$000, juros de 6%
e de 2 apólices de 400S000, do edifício do Externato, da
igreja de São Joaquim, e de 30 prédios, cabendo ao
património em 10 deles só a quarta parte.
Verificou a comissão a venda da maior parte dos
imóveis, transformando o produto da venda em apólices e
na conservação dos prédios restantes.
Tais prédios eram situados na zona mais central da
cidade, Rua 1o de Março, Candelária, Mercado, e na
Travessa do Comércio.
Apurou-se que, em 1908, na Presidência Campos
Salles, Ministro da Fazenda o Dr. Joaquim Murtinho, fora
lavrado na Diretoria do Contencioso do Tesouro Federal
uma escritura de sub-rogação da quarta parte dos prédios
do Ginásio à Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência.
Na transação não se ouvira o Ministério da Justiça, não
cientificado da transação uma vez realizada.
À Ordem da Penitência, a troca da sub-rogação
entregou ao Tesouro 260 apólices de 1:000$000, das quais
os juros, por inadvertência de inscrição na Caixa de
Amortização, passaram a recebimento pelo Tesouro. Este,
até 1905, recebeu não só tais juros como os de todas as
apólices do património do Ginásio.
Enfim, em 1908, a comissão do Ministério da
Justiça, designada pelo Ministro Tavares de Lyra, pôde
fixar o total do património do Ginásio. Computou-o em
4.496:457$427, excluindo do cálculo o edifício do
Externato, avaliado na época em 580:000$000 e o do
Internato em 200:000$000.
O ano letivo de 1909 seria assinalado já pela entrada
de novos professores, já pelo falecimento do Dr. Affonso
Penna, Presidente da República. Dois concursos
memorariam o citado ano letivo, rumoroso o de provas
para obtenção da cadeira de Lógica do Externato, vaga
ESCRAGNOLLE DÓRIA
pelo falecimento do Dr. Vicente de Souza e interinamente
regida pelo professor Escragnolle Dória.
Apresentaria novidade, o da reprodução pela
taquigrafia, para publicação na imprensa, da prova oral do
candidato Euclydes da Cunha.
Este, embora classificado em 2o lugar, o 1o cabendo
ao Dr. Farias Brito, logrou nomeação, facultada então a
nomeação do primeiro ou do segundo candidato
classificado em concurso.
A 21 de julho de 1909, dava Euclydes da Cunha
primeira aula no Ginásio e pouco depois última, a 15 de
agosto, tragicamente arrebatado à vida.
Vaga a cadeira de Latim do Internato, pelo
falecimento do Dr. Fortunato da Fonseca Duarte, abriu-se
concurso para o provimento da cátedra, nela afinal
empossado o Dr. Eduardo Gê Badaró, classificado em 2o
lugar.
Coubera o 1o a Joaquim Luiz Mendes de Aguiar,
graduado em humanidades, filosofia, teologia, e direito
canónico pelo seminário arquiepiscopal de São Salvador
da Bahia.
Mendes de Aguiar, emérito latinista, tinha longo
tirocínio no magistério ao qual também pertencia seu
competidor, o Dr. Badaró, onze anos catedrático de Latim
no Ginásio de Campinas, no Estado de São Paulo.
A 14 de junho de 1909, falecia no Palácio do Catete,
o Dr. Affonso Penna, Presidente da República, ocasionando
o triste sucesso reviravolta política de sucessão.
Coube esta, na forma constitucional, por não haver
o Presidente Penna exercido dois anos de mandato, ao
Vice-Presidente da República, Dr. Nilo Peçanha.
Tal ascensão à suprema magistratura determinou
logo modificação ministerial.
Do Ministério da Presidência Affonso Penna, formado
a 15 de novembro de 1906, dois Ministros entenderam
servir a Presidência Nilo Peçanha, o Barão do Rio Branco
na Pasta das Relações Exteriores e o Contra-almirante
Alexandrino Faria de Alencar na da Marinha.
Exonerado a pedido o Ministro da Justiça, Dr. Tavares
de Lyra, teve por substituto na Pasta o Dr. Esmeraldino
Olympio Torres Bandeira, formado em Direito no Recife,
no ano da Proclamação da República, pertencendo portanto
à última turma de bacharéis do Império na Faculdade
Pernambucana.
Mais tarde Esmeraldino Bandeira participaria do
ensino, lente de Direito Penal em Faculdade jurídica do
Rio de Janeiro, membro do Conselho Superior de Ensino.
Ao assumir Pasta encontrou Esmeraldino Bandeira
o Senado Federal a discutir reforma do ensino superior e
secundário de alçada da União.
Teve ensejo o novo Ministro de apresentar relatório
no qual expendeu juízo sobre a aludida reforma, pugnando
pelo preparo pedagógico de professores, pela cultura
generalizada e não especializada em relação a alunos, pela
simplificação de programas acarretando a inutilização da
sobrecarga dos mesmos, por boa forma de exames,
criticando a existente c terminando por condenar a
colocação do Externato em edifício sem as condições mais
comuns de higiene pedagógica.
A 14 de julho de 1909, um Decreto dava duplo nome
ao antigo e unificado Imperial Colégio de Pedro Segundo,
nas duas seções, Externato e Internato.
O Externato do Ginásio Nacional passou a Colégio
de Pedro Segundo e o Internato a Colégio Bernardo de
Vasconcellos.
Medida pouco feliz. Não só golpeava a fundo a
tradição como a bacharéis em letras formados pelo mesmo
instituto de ensino concedia diplomas parecendo expedidas
por estabelecimentos diferentes.
Nem é talvez demasia pensar que à memória do
próprio Bernardo de Vasconcellos não parecia consentânea
a homenagem, dela excluído o Regente do Império, Araújo
Lima, com Bernardo de Vasconcellos, em nome do
imperador menor, criador do Colégio de Pedro Segundo
em 1837.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
No relatório do Ministério da Justiça, subscrito por
Esmeraldino Bandeira, a par das ideias deste relativas à
reforma do ensino superior e secundário, encontram-se
resumidamente informações sobre a reforma do Colégio
Bernardo de Vasconcellos, destacado do de Pedro Segundo,
informações prestadas pelo diretor do primeiro
estabelecimento, Paranhos da Silva.
Simplificação de programas, criação do antigo cargo
de substitutos, modificações no processo de concursos,
distribuição de disciplinas por seções, vitaliciedade de
professores após um lustro de exercício, instituição de
jubilação compulsória para os professores com mais de
três décadas de exercício, elevação de matrículas
gratuitas, aumento do quadro de funcionários cujos
vencimentos eram os mesmos havia vinte anos, exceto
quanto a diretores, tais as bases apresentadas pelo Diretor
do Colégio Bernardo de Vasconcellos, ex-lnternato do
Ginásio Nacional, para reforma do estabelecimento.
No antigo Internato, em 1909, bacharelavam-se dois
alunos, um deles Euclides de Medeiros Guimarães Roxo,
laureado com o prémio Panteão, futuro diretor e professor
da Casa.
No antigo Externato bacharelavam-se nove alunos,
dois dos quais se consagrariam a magistério, Maurício
Joppert da Silva, vindouro professor da Escola Politécnica,
e Pandiá Hermann de Tautphoeus Castello Branco,
professor da Escola de Comércio.
A vida é tecido de escassos fios no prazer, de
espessos na dor. Assim, à alegria dos bacharelandos de
1909 se opunha o necrológio do Colégio no mesmo ano.
A 9 de março de 1909 falecia José Barbosa
Rodrigues, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
antigo secretário do Internato e nele professor de Desenho.
Para recomendá-lo, como naturalista, basta a sua
"Iconografia das Orquídeas do Brasil", em 17 grandes
volumes com 1.000 estampas.
A 15 de agosto de 1909, era o Colégio surpreendido
pela morte brutal e imprevista do recém-professor de
1837 - 1937
Lógica, Euclydes da Cunha, assassinado na estação da
Piedade, quando havia imenso a esperar do talento de quem
estreara nas letras com a publicação de "Os Sertões".
A 9 de dezembro de 1909 perdia o Colégio antigo
professor de Física e Química, o Conselheiro Saturnino
Soares de Meirelles, também lente da Escola de Marinha
e fervoroso propagandista das doutrinas homeopáticas.
Eleito Presidente da República, para o quadriénio de
1910a 1914, o Marechal Hermes da Fonseca, dois antigos
alunos do Colégio, os Drs. José Moreira Pacheco e João
Maria Portugal tomavam a iniciativa de reunir os
condiscípulos do novo chefe da nação em almoço íntimo.
Foi escolhida para tanto a casa de um deles, na
praia de Botafogo n.° 290.
Reuniram-se aí 35 antigos colegas do Marechal
Hermes participantes de refeição durante a qual uns e
outros relembravam episódios de vida colegial comum.
Na sala do almoço, em delicada homenagem,
achavam-se dois retratos bem significativos para os
convivas, um representando o Conselheiro Manoel
Pacheco da Silva e outro o professor José Manoel Garcia,
o primeiro reitor e o segundo secretário a tempo de estudos
dos convivas (1868-1869).
0 próprio "menu" do almoço recordava aquele
tempo.
Ei-lo como alegre lembrança do Colégio:
"Menu do almoço oferecido a Hermes da Fonseca
pelos jovens condiscípulos de 1868-1869 no Imperial
Colégio de Pedro Segundo. Em 6 de janeiro de 1910
CARDÁPIO
1 — Uma porção de coisas esquisitas para abrir o
apetite.
2 — Mistura de coisas do mar, com produtos de
terra, vegetais e animais, como gostava o nosso velho
Reitor, Conselheiro Pacheco.
3 — Arranjos de galinha, pelo sistema do secretário
Garcia, amante de canários do reino.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
4 — Badejo com molho, cuja receita o velho latinista
Souza aceitaria.
5 — Língua com gelatina, mais quente que a do
inspetor Aguiar, que não tinha papas na mesma.
6 — Neve artificial, com o respectivo álcool, para
ficar a gente gelada, tal como quando o Halbout exigia as
regras de cor.
7 — Peru, um pouco mais gordo de que era o Bóscoli,
mesmo com a flecha em roletes. Isto vai com presunto,
conforme o costume, e o "visto" do Brito escrivão,
meticuloso o Francisco Bernardo de Brito, como bom
custódio da Fazenda Nacional.
Para adoçar a boca, uma fruta daqui e dalém mar,
conforme a geografia do Abreu.
Para sobremesa uma série de complicações, piores
que os exames com aquele pessoal todo.
Apesar de jovens, há vinhos velhos e águas moças,
licores e preciosa rubiácea, para que vejam que somos
todos brasileiros".
Tal cardápio, evocativo sobre espirituoso, relembrava
muito aos convivas do almoço de 1910, condiscípulos de
1868-1869. Era resumo gastronómico de vida colegial,
nela destacando figuras magnas ou modestas, do corpo
docente ou do administrativo.
Avultava na evocação o reitor, Conselheiro Pacheco,
seguindo-se-lhe o secretário José Manoel Garcia, por
alcunha o canário do reino, visto ser muito louro, ao
Marquês de Abrantes, por orador dulçuroso dada também
a alcunha de canário do Senado.
O badejo com molho trazia à lembrança o professor
de Latim, Dr. António José de Souza, ao que diziam
gastrônomo na pausa dos gerúndios.
A língua com gelatina, "mais quente que a do
inspetor Aguiar", aludia a veemências de voz ou palavras
de Carlos Augusto da Costa Aguiar, zelando disciplina.
A neve artificial era de lembrete, ao treme-treme
das sabatinas gramaticais de Halbout, com o peru recordava
as arguições de José Ventura Bóscoli, professor de
Matemática, seguindo com a flecha em roletes
demonstrações na pedra, já nas extrações de raiz cúbica,
já no desenvolvimento do problema dos correios, já no
teorema do quadrado da hipotenusa.
As frutas daqui e dalém mar, para adoçamento de
boca, resumiam pomiferamente as lições de geografia do
bondoso Pedro José de Abreu, em antonimia com Halbout,
ríspido e justo.
O fecho do cardápio dos convivas do almoço de 6
de janeiro de 1910, com vinhos velhos e alguns moços
era chistoso resumo de horas sobressaltadas.
Daí constar a sobremesa "de uma série de
complicações, piores que os exames com aquele pessoal
todo".
Estas quatro últimas palavras punham em
reminiscência o fim dos anos letivos, o fechar de contas
de aplicação prestadas a examinadores, contas de relativa
tranquilidade para estudiosos, de susto e remorso para
quem preferira nas aulas e em casa livro fechado a aberto.
Num almoço entre antigos condiscípulos, reunidos
para saudades, a oratória aparece, mas sem ênfase, entre
fraternidade e risos, cada qual conhecendo de longa data
os vizinhos de mesa.
No repasto íntimo de 6 de janeiro de 1910 houve
discursos fora da retórica, um pouco baralhados talvez
exórdio, narração, confirmação e peroração.
Oraram, de acordo com o caráter da festa diversos
convivas.
Mendes de Almeida, bacharel da turma do Externato
em 1874, respondeu agradecendo sem demora ao Marechal
Hermes, sem dúvida com a "imperatoria brevitas" marcial.
Em seguida, o Dr. Alfredo Gomes, bacharel do
Externato em 1875 saudou o antigo condiscípulo como
homem de coração, secundado pelo coronel Augusto
Goldschmidt, acentuando quanto a festa alegrava os
presentes elevando-lhes as almas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
De novo orava o Dr. Fernando Mendes de Almeida,
secundado pelo Dr. Fonseca Hermes, bacharel do Internato
em 1877.
Correspondidos todos os brindes com entusiasmo,
mais o foi o brinde de honra erguido pelo Dr. Fernandes
Mendes: à Amizade.
Em 1910, o ano letivo no Pedro Segundo assinalava
luto, o da perda do diretor do Externato, Dr. João António
Coqueiro, que em 1908 apresentara ao Governo minucioso
projeto de reforma do ensino secundário, mandado publicar
na íntegra no Diário Oficial.
Passou a dirigir o Externato o Dr. José Cândido de
Albuquerque Mello Mattos, ex-aluno do Colégio, antigo
promotor público de renome no foro do Rio de Janeiro, exdeputado do Congresso Nacional pelo Distrito Federal.
Além do diretor Mello M a t t o s , dois novos
professores recebia o Colégio, o Dr. Arthur Thiré e o Dr.
Agliberto Xavier, nomeados para as cadeiras de
Matemática e Filosofia. O Dr. Thiré, nascido em Caen,
antiga capital da Baixa Normandia, continuava no Pedro
Segundo a tradição dos professores dele de berço ou de
origem francesa, Piquet, Halbout, Ruch, Escragnollle Dória.
Aluno da Escola de Minas de Paris, por ela formado,
fora o Dr. Thiré convidado por D. Pedro II, constante
selecionador de competências, para secundar o professor
Gorceix na organização e início da escola de Minas de
Ouro Preto.
Aí lente de várias cadeiras e diretor interino da Escola
até 1885, Dr. Thiré dirigiu a mineração de ouro em Sabará,
para mais tarde ocupar cargos de administração nos
Estados de Minas e do Rio de Janeiro para afinal, a 14 de
abril de 1910, ser professor efetivo de Matemática no
Internato do Pedro Segundo, então Colégio Bernardo de
Vasconcellos. Não se limitou o Dr. Thiré a professar, a
literatura didática ficou-lhe devendo compêndios úteis e
despretensiosos, no molde do caráter e da vida de Arthur
Thiré.
1837 -1937
Outro professor de 1910 era o Dr. Agliberto Xavier,
nomeado lente de Lógica do Colégio Bernardo de
Vasconcellos, ou melhor do Internato, à vista do parecer
da Congregação e nos termos do parágrafo único do artigo
52 do Código de Ensino de 1901. Em maio de 1909 fora o
Dr. Agliberto Xavier unanimemente habilitado no concurso
para provimento da cadeira de Lógica.
Dedicado ao ensino, professor na Escola de Estado
Maior do Exército, docente na Escola Normal do Distrito
Federal, ora Instituto de Educação, preparador de Química
Orgânica na Escola Politécnica, o Dr. Agliberto Xavier vinha
ser ornamento do magistério no Pedro Segundo.
Aí, em 1910, graduavam-se em ciências e letras
quinze alunos do Externato e dois do Internato. Da turma
de 1910 destinar-se-iam a futuro magistério Arnaldo de
Moraes, professor de medicina, Ciro Romano Farina,
professor do Colégio, Guilherme José Jorge, professor da
Escola Wenceslau Braz e José Philadelpho de Barros
Azevedo, professor do Colégio, um dos alunos mais
distintos do Internato, merecedor do prémio denominado
Panteão conferindo colocação de retrato em sala nobre.
A 15 de novembro de 1910 assumira a Presidência
da República o Marechal Hermes da Fonseca, antigo aluno
do Internato, chamando à Pasta da Justiça o Dr. Rivadávia
da Cunha Corrêa.
A 5 de abril de 1911, o Dr. Rivadávia Corrêa,
utilizando autorização legislativa, referendava Decreto
modificando completamente a orientação pedagógica do
ensino. Estabelecia a medida governamental a Lei
Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental na
República.
Compreendia a Lei Orgânica 137 artigos. Logo no
primeiro declarava não gozarem de privilégio de qualquer
espécie a instrução superior e a fundamental difundidas
pelos institutos criados pela União.
A Lei Orgânica, entre disposições mais importantes
declarava corporações autónomas, didática e
administrativamente, os institutos até então subordinados
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ao Ministério da Justiça; dando-se-lhes personalidade
jurídica. Criava ainda a Lei Orgânica o Conselho Superior
do Ensino para substituir a funçào fiscal do Estado.
Estabeleceria o Conselho as necessárias e
imprescindíveis ligações no regime de transição, partindo
da oficialização completa do ensino, vigente na época, para
total independência futura, entre a União e os
estabelecimentos educativos.
Cabendo a estes, em virtude de inteira autonomia
didática, a organização dos programas de seus cursos,
revestir-se-iam os do Colégio de Pedro Segundo de caráter
prático, libertando-se da condição subalterna de mero curso
preparatório para as Academias.
Mandou a Lei Orgânica, no artigo 11, que o Conselho
Superior de Ensino tivesse sede na capital da República,
funcionando num dos institutos aos quais se referia a Lei
Orgânica, escolhido para sede do Conselho parte do edifício
do Externato.
Providenciara a Lei Orgânica sobre a composição
do Conselho. Nele deveriam figurar o diretor do Colégio
de Pedro Segundo e um docente deste, eleito pela sua
Congregação para mandato bienal; duas vezes por ano,
em fevereiro e agosto, convocado o Conselho.
Cada instituto de ensino, prescrevia a Lei Orgânica
de 1911, seria dirigido por diretor eleitor pela respectiva
Congregação, por dois anos; o diretor substituído nos
impedimentos pelo vice-diretor, este sempre o diretor do
período anterior.
A Lei Orgânica , aplicando tais disposições ao
Colégio de Pedro Segundo nele incumbiu ao vice-diretor
simples dever, o de substituir o diretor em exercício nos
impedimentos. Para manutenção da ordem interna do
Colégio, antes a cargo do vice-diretor, a Lei Orgânica criou
lugares de chefe de disciplina, uma para o Externato e
outro para o Internato, funcionários de livre escolha e
nomeação do diretor.
Só os professores ordinários, antes catedráticos,
poderiam ser eleitos diretores, inelegível o diretor saído
de funções.
Eleito em dezembro, o novo diretor tomaria posse
no primeiro dia útil de janeiro.
Cada instituto de ensino teria corpo docente formado
por professores ordinários, extraordinários efetivos ou
honorários, mestres e livres-docentes, o corpo docente do
Colégio de Pedro Segundo composto apenas por
professores ordinários e mestres.
Inspirando-se nos processos de ensino alemães, a
Lei Orgânica suprimiu o concurso de provas para o
provimento de cátedras.
Estabeleceu o de títulos e obras, exigido estágio no
magistério superior, proibindo admissão em cátedra, a
qualquer, sem o exercício de auxiliar de ensino.
Os professores extraordinários efetivos seriam
nomeados pelo Governo em lista tríplice apresentada pela
Congregação em votação uninominal, mediante concursos
de títulos e obras. A Congregação , em casos especiais,
indicaria nome único, tal nome devendo ser indicado por
unanimidade de votos.
No Colégio de Pedro Segundo a nomeação de
professor ordinário seria feita pelo Governo. Escolheria
este um nome tirado da lista tríplice apresentada pela
Congregação e formada por eleição nos termos de
regulamento especial.
Um dos pontos capitais da Lei Orgânica era a criação
da livre-docência; estabelecidas as condições da sua
obtenção e de seu exercício, "da instituição da livredocência esperando o legislador os melhores resultados,
confiando-lhe a correção dos abusos e transformando-a
no viveiro ou estágio dos futuros professores". Com tal
intuito a Reforma Rivadávia Corrêa estabelecia minudentes
normas para a habilitação à livre-docência, assegurandoIhe elementos para o seu magistério.
Tratava também a Reforma Rivadávia das
Congregações, traçando-lhes composição, marcando-lhes
fins, atribuições e normas gerais para as sessões.
0
Concedia apenas aos mestres dos institutos de ensino
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
superior e do Pedro Segundo o direito de participar das
advertência particular feita pelo diretor, mais pesada a de
reuniões quando se tratasse de assunto referente aos seus
exclusão de estudos em todas as Faculdades nacionais,
cursos.
sem
O artigo 60 da Reforma,
fixando atribuições das
e m b a r g o das penas do
C ó d i g o Penal
para
delinquentes.
C o n g r e g a ç õ e s foi declarado "o f u l c r o da r e f o r m a " ,
No Pedro Segundo, dirigidos pelo Chefe de disciplina,
acrescentado que "a autonomia didática, a independência
seriam os inspetores de alunos encarregados de manter a
administrativa, a representação no Conselho Superior e
ordem interna.
tudo mais que decorria desses grandes princípios estava
respeitado no artigo e em suas letras".
O artigo 124 da Reforma Rivadávia Corrêa suprimia,
de acordo com o seu artigo 1 o , a concessão de títulos
Achou-se o regime escolar superior e secundário
académicos. Determinou o artigo 124 que, ao terminar o
profundamente modificado pela Reforma de 1911. Dividia
aluno provas escolares, mediante pagamento da taxa
o ano l e t i v o e m dois períodos, de 1 o de abril a 31 de julho,
r e s p e c t i v a , f o s s e e x p e d i d o o c e r t i f i c a d o que lhe
de 15 de agosto a 31 de dezembro, fechadas as aulas a
competisse, de acordo com os regulamentos especiais.
30 de novembro.
Na defesa e na explicação da Reforma Rivadávia
Entre aqueles dois períodos escolares mediaria
quinzena de férias.
Proceder-se-ia a exames em todo o
mês de dezembro, seguindo-se janeiro, fevereiro e março
para gozo de férias dos docentes e discentes.
Para a matrícula de internos no Pedro Segundo a
Reforma exigia no máximo14 anos, para a matrícula de
externos 12 no mínimo.
Destacada da Reforma a parte relativa aos exames
no Pedro Segundo proibia aquela, exames finais, ou
promoção, ao estudante que em cada período letivo
houvesse dado 20 faltas.
As médias bimensais de aproveitamento e as notas
de conduta garantiriam promoção e nos exames finais
influiriam no julgamento.
Corrêa salientou-se na imprensa o professor do Colégio,
Dr. Francisco Pinheiro Guimarães, nas colunas do Jornal
do Commercio e em editoriais da
Gazeta de Notícias.
recolhidos os seus artigos em opúsculos para retirá-los
da publicidade efémera do jornalismo.
Assinalado pela Reforma Rivadávia Corrêa, o ano
letivo de 1911, para todo o Colégio, t a m b é m se assinalou
na seção do Internato pela utilização de vasto terreno
contíguo ao estabelecimento e adquirido em 1910 por
50:000$000 por indicação do diretor do Internato, Dr.
Paranhos da Silva e resolução do Conselho Administrativo
dos
Patrimónios do Ministério da Justiça e Negócios
Interiores.
Posteriormente, um Regulamento do Colégio de
De acordo com a Lei Orgânica do Ensino, em 1911,
Pedro Segundo auxiliaria o espírito da reforma. Segundo
o Colégio passou a obedecer a direção única das suas
aquele regulamento a promoção seria feita em reunião do
duas s e ç õ e s , deixando a reitoria do Internato o Dr.
diretor e dos professores de cada série, aprovada ou não
Paranhos da Silva, visto determinar a Lei Orgânica, no seu
a promoção por votação, à vista do confronto das notas
artigo 2 1 , que cada instituto de ensino fosse dirigido por
obtidas pelo aluno nos períodos escolares.
um diretor eleito pela Congregação para período bienal.
Declarava a R e f o r m a , no a r t i g o 82, a polícia
Não sendo o Dr. Paranhos da Silva m e m b r o do corpo
académica destinada a manter, no seio da corporação
docente, não podia continuar a dirigir o Internato por força
académica, a ordem e a moral.
de lei.
No caso de infrações cominar-se-iam penas
O b e d e c e n d o a e s t a , a Congregação do Pedro
disciplinares a docentes e discentes, mais leve a pena de
Segundo, em sessão de 20 de abril de 1911, elegeu diretor
ESCRAGNOLLE DÓRIA
do Externato e do Internato o Dr. José Cândido de
Albuquerque Mello Mattos, diretor do Externato desde
1910, na vaga por falecimento do Dr. João António
Coqueiro, de saudosa memória.
Em 22 de abril de 1911 elegia a Congregação, ainda
em obediência à Lei Orgânica, o seu representante no
Conselho Superior do Ensino, escolhendo o Dr. Augusto
Daniel de Araújo Lima.
O diretor eleito, Mello Mattos, havia sido aluno do
Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo e em 1911,
independente de concurso, à vista de disposição da Lei
Orgânica, artigo 136, fora nomeado professor ordinário de
Instrução Cívica e Noções Gerais de Direito.
O primeiro representante do Colégio no Conselho
Superior de Ensino foi o Dr. Araújo Lima, também professor
do Colégio Militar, e professor ordinário de Geografia no
Internato.
A Lei Orgânica de 1911, em todo o seu texto, sempre
se referia ao Colégio de Pedro Segundo, desaparecendo,
pois o nome de Colégio Bernardo de Vasconcellos atribuído
ao Internato em 1909, regressando-se pois à tradição do
Colégio, a de conservar o nome do imperial patrono.
Interpretando a Lei Orgânica endereçou o Ministro
da Justiça ao da Fazenda um Aviso declarando-lhe que os
vencimentos dos estranhos ao antigo quadro do pessoal
do Colégio, isto é, os novos nomeados, deveriam ser pagos
na tesouraria do respectivo instituto, continuando os demais
a receber vencimentos no Tesouro Nacional.
Mais tarde, em 1911. outro Aviso do Ministro da
Justiça declararia que os professores, auxiliares e novos
empregados dos institutos de ensino superior ou secundário
não eram considerados funcionários públicos federais.
Em 1911, ano de tantas modificações no ensino,
não houve bacharéis no Pedro Segundo, Lei Orgânica
havendo extinto o bacharelado em letras, iniciado em
1843.
Pouco depois, o património do Colégio era destacado
de direção alheia e confiado ao diretor Dr. Mello Mattos e
ao tesoureiro Dr. Mário Bevilacqua, nomeado para o cargo
a 24 de abril de 1912 e antes subsecretário. Ao diretor e
ao tesoureiro foram entregues os imóveis pertencentes
ao Colégio e 479 apólices gerais nominativas.
Coadjuvou o M i n i s t r o Rivadávia Corrêa o
reerguimento do património do Colégio e bem assim
auxiliou a remodelação material do Externato, de tanto
monta que o obrigou a pedir asilo a instituição de ensino.
Com a maior boa vontade, foi-lhe concedido pela
Sociedade Propagadora das Belas Artes, benemérito nela
o nome de Bittencourt da Silva, lembrada a sociedade do
abrigo que durante tantos anos tiveram no Externato do
Pedro Segundo as aulas noturnas do Liceu de Artes e
Ofícios.
Em fins de 1912 expirava o mandato do diretor Mello
Mattos, eleito para o cargo, pelo voto da Congregação, o
Dr. Eugênio de Barros Raja Gabaglia, a 21 de novembro de
1912. Professor antigo do Colégio, nele professor substituto
e em 1890 catedrático de Matemática, além de professor
da Escola Politécnica e da Escola Naval, dispunha Raja
Gabaglia de vasta cultura demonstrada em várias provas
públicas.
Do seu amor ao Colégio, ficou indestrutível prova
na criação do Anuário da instituição. Dizia da obra o
fundador no prefácio do 1o volume do Anuário:
"Na qualidade de Diretor do Colégio de Pedro
Segundo resolvi publicar um Anuário, onde, além das
informações úteis para os que necessitam manter relações
com o mesmo Colégio, se conserve a tradição dos que
nele trabalharam em prol do florescimento de nossa Pátria.
Relativamente velho em um país tão novo, o Colégio
de Pedro II, pode justamente se ufanar de sua existência
e pode dizer às gerações futuras que as passadas
souberam cumprir nobremente o seu dever.
A princípio pobre Seminário de Órfãos, criado pela
clarividência e pela caridade de um elevado e santo prelado,
o Colégio, depois de quase um século (Gabaglia escrevia
isto em 1913) de glorioso trabalho, lutando dia a dia, foi
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
radicalmente transformado pelo profundo saber de um
grande estadista, que o colocou sob a proteçâo do ilustre
brasileiro que, por Gladstone, mereceu ser julgado "o
modelo dos soberanos".
"O Bispo D. António de Guadalupe, o Ministro
Bernardo de Vasconcellos e o Imperador Pedro II são as
figuras eminentes que dominam a evolução histórica do
Colégio até o advento da República."
Não se contentou Raja Gabaglia em criar oAnnuário
do Colégio, logo no 1 o volume deste se encontrava
substanciosa memória de sua lavra, fruto de aturada
pesquisa, memória de 130 páginas aclarando o passado
da instituição, dos primórdios de 1739, data da criação do
Seminário dos Órfãos de São Pedro depois de São Joaquim,
até 1812. Não se cifrou o autor em historiar, retificou pontos
controversos, restabelecendo a verdade.
Na vigência da diretoria Raja Gabaglia, a
Congregação, a 26 de abril de 1913, elegeria segundo
representante no Conselho Superior do Ensino, recaindo a
escolha no professor de Geografia do Externato, João
Gonçalves Coelho Lisboa.
Terminado o prazo da diretoria Raja Gabaglia, na
constância da qual entrara o Colégio novo professor de
Inglês, no Externato, Carlos Américo dos Santos, foi eleito
diretor por escolha da Congregação o Dr. Augusto Daniel
de Araújo Lima, professor de Geografia do Internato,
escolhido por seus pares, a 21 de dezembro de 1914, para
nortear as duas seções da Casa.
Pouco antes sucedera ao Marechal Hermes da
Fonseca na Presidência da República o Dr. Wenceslau Braz
Pereira Gomes, o qual nomeou Ministro da Justiça o Dr.
Carlos Maximiano Pereira dos Santos, antigo deputado
federal pelo Rio Grande do Sul, jurista e constitucionalista
reputado.
Pouco depois de Ministro da Justiça o Dr. Carlos
Maximiliano referendava o Decreto n.° 11.538 de 18 de
1837 - 1937
março de 1915, reformando o ensino a cargo da União,
ouvidas pelo Ministro autoridades pedagógicas de várias
espécies.
No Decreto 11.530 larga parte foi reservada ao
Colégio de Pedro Segundo. Considerando-o de alto, em
relação ao Colégio, encontram-se no Decreto 11.530 as
seguintes disposições principais:
a) — fixação do período letivo, de 1 ° de abril a 15 de
novembro (artigo 73 do Decreto), compreendendo o ano
escolar 80 lições, suprimidas férias de meio de ano;
b) — modificação dos exames de admissão no
sentido de simplificá-los;
c) — modificação do processo de exames;
d) — instituição de exames parciais, precedência
do exame de certas disciplinas, assim o de Português
antecedendo o de qualquer outra língua, o de Geografia
antes do de História;
e) — nomeação dos diretores dos institutos de
ensino, e portanto do Pedro Segundo, por nomeação do
Presidente da República, considerados aqueles diretores
demissíveis ad nutum, escolhidos porém dentre os
professores catedráticos ou jubilados de cada instituto de
ensino, vice-diretor o decano dos catedráticos;
f) — restabelecimento do concurso de provas,
eliminando dele a prova escrita, limitando o concurso ao
provimento das vagas de substituto, dispensado do
concurso, pelo voto de 2/3 da Congregação e voto
confirmativo do Conselho Superior do Ensino o autor de
obra verdadeiramente notável sobre o assunto de qualquer
das cadeiras de uma seção. No concurso de provas seria
nomeado o candidato classificado pela Congregação em
primeiro lugar, não recaindo nomeação em candidato
classificado nos dois primeiros lugares como
anteriormente;
g) — fortificação da constituição, do funcionamento
das atribuições das Congregações;
h) — restabelecimento integral das solenidades de
colação de grau, de distribuição de prémios e da entrega
ESCRAGNOLLE DÓRIA
dos certificados de conclusão de curso, na solenidade do
Colégio de Pedro Segundo, inaugurado o retrato ou os
retratos, na sala chamada de Panteão, dos alunos que
terminando curso nele se houvessem distinguido por
inteligência, excepcional aproveitamento e exemplar
procedimento.
Contariam os laureados pelo menos dois terços de
distinções sem nenhuma aprovação simples.
A colação de grau nos institutos de ensino, antes
tão festiva e solene, descera no Colégio de Pedro Segundo
a ponto de ser presidida por um representante de ministro
apenas preparatoriano.
O Decreto 11.530 fora precedido de parecer sobre a
reforma de ensino apresentado ao Governo da República
pelo Conselho Superior do Ensino, parecer da lavra de
professor do Colégio de Pedro Segundo, o Dr. André
Gustavo Paulo de Frontin, em sessão de 23 de fevereiro
de 1915; existindo no parecer Frontin muitas referências
ao Colégio no qual Frontin se iniciara no magistério como
substituto de Filosofia no tempo do Império, nomeado por
concurso a 10 de agosto de 1886.
Expressamente declarou a Reforma Carlos
Maximiliano o Colégio de Pedro Segundo "difusor do ensino
das ciências e letras (artigo 30), nas duas antigas seções,
Externato e Internato, feito em ambas as seções um curso
ginasial de cinco anos com caráter literário e científico
suficiente para ministrar a estudantes sólida instrução
fundamental de modo a prepará-los para o exame vestibular
exigido para ingresso em qualquer academia.
Os alunos que se destinassem aos cursos de
odontologia, farmácia ou obstetrícia seriam dispensados
do estudo de Inglês, de Alemão, de Latim, de Álgebra,
Geometria e Trigonometria retilínea e de História Universal
e Pátria.
O aluno escolheria o estudo do Alemão ou do Inglês,
podendo frequentar o curso facultativo de Psicologia,
Lógica e História da Filosofia funcionando no Externato e
no Internato.
Só os alunos das quatro primeiras séries receberiam
lições de Ginástica e Desenho, cada aula teórica de
cinquenta minutos, tanto quanto possível prático o ensino
das Línguas Vivas, não podendo receber mais de quatro
aulas diárias os alunos de cada ano.
Ao diretor do Colégio, Araújo Lima, caberia começar
a aplicação da Reforma Carlos Maximiliano no instituto à
sua guarda, assinalando Araújo Lima "a excelência do
Decreto reformador".
Ao diretor do Colégio parecia "o ensino secundário
passar por uma fase de verdadeiro renascimento".
Logo em início de administração , o diretor Araújo
Lima introduziu no Colégio a prática do canto de hinos
patrióticos, composto e musicado especialmente para o
estabelecimento a Canção da Marcha, útil sobretudo à
instrução militar obrigatória administrada nas duas seções
do Colégio após o regulamento anexo ao Decreto de 8 de
maio de 1908; criando batalhões escolares no Externato
e no Internato, concorrendo ambos a solenidades cívicas.
Em campeonato promovido pela Confederação do Tiro
Brasileiro 3o anista do Colégio, Astor Ramos Quitito,
alcançou primeiro lugar nas provas de fuzil Mauser.
Na vigência da diretoria Araújo Lima, por efeito da
Reforma Carlos Maximiliano. passou a ser restabelecida
no Internato a cadeira de Física e Química, suprimida pela
Lei Orgânica Rivadávia.
Fora então transferido para a cadeira de Física e
Química do Externato o catedrático das disciplinas no
Internato, Dr. Francisco Xavier Oliveira de Menezes,
substituindo o Dr. Oscar Nerval de Gouvêa, falecido.
Restabelecida a cadeira no Internato serviram-na o próprio
diretor Araújo Lima, professor de Física e Química no
Colégio Militar, e o substituto Dr. Augusto Xavier Oliveira
de Menezes.
Desejou porém e obteve o catedrático Oliveira de
Menezes volta à cadeira do Internato, passando para a do
Externato o substituto Dr. Augusto Xavier Oliveira de
Menezes.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 -1937
Na a d m i n i s t r a ç ã o Araújo Lima, perdia o corpo
Maximiliano, o qual mandava excluir dentre os alunos
docente do Colégio membro distinto, o Dr. Hans Heilborn,
gratuitos do Internato os filhos de homens conhecidos
catedrático de Grego do Internato, falecido a 21 de dezembro
como abastados, dando preferência aos órfãos pobres no
de 1916.
preenchimento das vagas anuais dos dispensados do
Continuava o Colégio a ser preterido para instrução
pagamento de mensalidades.
de alunas e a apresentar boa situação financeira, conforme
Com a reversão rigorosa ao património do Colégio
as disposições da Reforma Carlos Maximiliano, cabendo
das taxas exigidas dos alunos, pôde o Ministro Carlos
à C o n g r e g a ç ã o elaborar, por m e i o de c o m i s s ã o , o
Maximiliano ultimar obras no edifício do Externato.
o r ç a m e n t o da receita e despesa do Colégio sujeito à
Em meados de 1917, cessava a administração
aprovação do Conselho Superior do Ensino e homologado
Araújo Lima.
pelo ministro.
Deixando cargo, o diretor comunicava em
S o m e n t e 7 t u r m a s s u p l e m e n t a r e s no
carta oficial a sua demissão, a pedido, ao decano da
Externato, 1 no Internato, cuja despesa ficava fora de
Congregação, Dr. Carlos de Laet, convidando-o a substitui-
previsão orçamentária, exigiam abertura de crédito.
lo no governo da Casa, na forma das disposições vigentes.
Para melhoria dos gabinetes de Física e Química,
Entendeu-se Laet c o m o Ministro, a confirmar a
nas duas seções do Colégio, incluía a Congregação elevada
comunicação
verba orçamentária, a deficiência daqueles gabinetes
assumindo a diretoria do Colégio o decano da Congregação,
Araújo L i m a , s e m maior f o r m a l i d a d e
representando a maior lacuna do Colégio modelo, lacuna
decanato conferido por longos anos de prática e utilidade
que a Conflagração impediria de tornar desaparecida com
no magistério, reconhecido Laet decano do Corpo Docente
prontidão, perturbando ela a vida dos povos europeus e o
por decisão do Conselho Superior do Ensino a 14 de
intercâmbio comercial no mundo universo.
fevereiro de 1917.
Na remodelação dos gabinetes de Física e Química,
Sete meses após tal decisão, assumiria Laet a
coadjuvando os respectivos lentes das disciplinas e a
direçào efetiva do Colégio ao qual serviria no relevo de
Congregação do Colégio, empenhava-se o Ministro Carlos
inconfundível personalidade.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca,
Presidente da República (1910- 1914). Ex-aluno.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
XIII
O Colégio de 1925 a 1931
Reforma Rocha Vaz • Extinção da Cadeira de Espanhol • Diretoria Euclides Roxo •
Disponibilidade de Professores • Desmembramento das Cadeiras de Física e
Química, Latim e Português • Novos Professores • Ressurgimento da Cadeira de
História do Brasil • Turmas Suplementares • Instrução Militar e Esporte •
Sobrecarga da Secretaria do Externato • Centenário Natalício de D. Pedro II •
Nomeação Efetiva do Diretor e do Vice-Diretor do Externato • 1926, Ano dos
Concursos • Novos Professores • Óbitos • Modificações no Corpo Docente •
Solenidades Escolares • Diretoria Pedro do Coutto • Introdução dos Testes no
Ensino do Colégio • Melhoramentos Materiais no Externato e no Internato •
Exames Parcelados • Transferência da Cadeira de Instrução Moral e Cívica •
Proposta de Supressão da Livre Docência • Inauguração do Retrato de D. Pedro II •
Sessão Solene em Memória de Carlos de Laet • Vacância de Cadeiras e
Modificações no Corpo Docente • Melhoramentos Materiais no Externato em
1929 • Medidas de Disciplina Propostas em Congregação • Óbitos.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em
1925, o Colégio de Pedro Segundo conheceria
mais uma reforma de ensino. Estabeleceu-a o
Decreto 16.782-A , de 13 de janeiro do citado ano.
Expedido na Presidência Arthur Bernardes, Ministro
da Justiça o Dr. João Luiz Alves, o Decreto 16.782-A,
conhecido vulgarmente como Reforma Rocha Vaz,
estabelecia o concurso da União no sentido de difundir o
ensino primário, organizava Departamento de Ensino,
reformava este no grau superior e secundário.
Criava o Decreto um Departamento Nacional do
Ensino, subordinando-o diretamente ao Ministério da
Justiça e Negócios Interiores.
Teria o novo Departamento a seu cargo assuntos
referentes ao ensino, bem como o estudo e a aplicação
dos meios tendentes à difusão e ao progresso das ciências,
letras e artes no país.
Sena o Departamento presidido por um Diretor-Geral.
também Presidente do Conselho Nacional do Ensino, criado
em substituição do Conselho Superior do Ensino.
O Conselho Nacional discutiria, proporia e opinaria
sobre questões do ensino público submetidas à sua
deliberação pelo Governo, pelo Presidente do Conselho ou
por qualquer dos membros deste.
Comporiam o Conselho três seções: — a do Ensino
Superior e Secundário, a do Ensino Artístico, a do Ensino
Primário e Profissional.
Na primeira seção figurariam os diretores do Pedro
Segundo, um catedrático deste instituto, anualmente eleito
pela Congregação, bem como um docente-livre,
anualmente designado pelo Ministro da Justiça.
Fixou o Decreto 16.782-A a competência do
Conselho de Ensino Superior e Secundário, mantendo-o
oficialmente no Externato e no Internato de Pedro Segundo.
Destinava-se o ensino secundário, prolongamento
do primário, a fornecer a cultura média geral do país.
Compreenderia seis anos de estudos, providenciou o
Decreto sobre o número de disciplinas do curso, programas
dele, exames de promoção e finais, conferindo o
bacharelado ao sextanista aprovado em todas as matérias
da última série.
A idade mínima para matrícula no Pedro Segundo
seria a de dez anos. Livres-docentes, e na falta deles
pessoa idónea, substituiriam catedráticos, autorizados
estes, em caso de desdobramento de turmas, a regerem
duas turmas suplementares além das efetivas próprias.
Providenciava o Decreto 16.782-A sobre constituição, ,
direitos e deveres do corpo docente do ensino superior e
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
secundário, constituído no Pedro Segundo por catedráticos,
estabelecidas para o concursos de catedráticos. Constaria
docentes-livres, professores honorários e professores de
o concurso da docência-livre da defesa de tese de livre
Desenho e Ginástica. Os catedráticos seriam escolhidos
escolha, de prova oral de 50 minutos, com 24 horas de
por concurso, nomeados por Decreto e vitalícios desde a
antecedência, versando sobre ponto sorteado entre os
data da posse. Para a inscrição em concurso no Colégio,
pontos de lista aprovada pela Congregação, e de prova
cumpriria ao candidato provar curso completo de
prática segundo a natureza da disciplina. Ao candidato à
humanidades ou diploma de escola superior.
docência-livre que houvesse obtido média final inferior a 7
As
provas
do
concurso
para
catedráticos
não seria conferido o título , só admitindo a novo concurso
c o m p r e e n d e r i a m a defesa de duas t e s e s perante a
passado biénio, durante este defeso ao candidato recusado
Congregação, uma prova oral de caráter didático por
inscrição para catedrático.
espaço de 50 minutos, sobre ponto sorteado com 24 horas
Condições para nomeação de professores honorários
de antecedência entre dez pontos constantes de lista
e privativos, para obtenção de disponibilidade, composição
aprovada pela Congregação.
e competência de congregações, foram reguladas pelo
Das duas teses, uma versaria assunto escolhido pelo
candidato, a outro assunto sorteado entre os dez pontos
aprovados pela Congregação. Discorreriam assim todos
os candidatos sobre ponto c o m u m , anunciado na abertura
da inscrição para o concurso.
Decreto 16.782-A.
Na presidência da Congregação do
Pedro Segundo revezar-se-ia, em anos alternados, os
diretores do Externato e do Internato, auxiliados por três
comissões eleitas pela Congregação, a saber, a de Ensino,
a de Docência e a de Redação de Publicações.
Constaria este t a m b é m de prova prática, quando o
caso, sobre assunto sorteado de m o m e n t o . A inscrição
para c o n c u r s o s e s t a r i a a b e r t a d u r a n t e s e m e s t r e .
Determinou o Decreto 16.782-A o modo de proceder às
provas, atribuindo-lhes notas por grau de 0 a 10, públicas
todas as provas.
Achar-se-ia unicamente habilitado para o provimento
do cargo de catedrático o candidato que alcançasse média
final superior a 7, nomeado livre-docente o candidato
merecedor de média superior a 5.
Terminado o concurso, o diretor do Colégio, por
intermédio do Conselho Nacional do Ensino, comunicaria
ao Governo o nome do candidato de maior média a f i m de
nomeação. No caso de empate de médias, a Congregação
No Colégio, segundo o citado Decreto, o Externato
e o Internato teriam cada um o seu diretor, o seu vicediretor e o seu secretário. Dois seriam os períodos do ano
escolar, de 1 ° de abril a 15 de julho, de I o de agosto a 15
de novembro, considerados de férias escolares os períodos
de 15 a 31 de julho, e de 1 o de janeiro a 1 o de março.
Matrículas, e x a m e s , r e g i m e escolar eram objeto de
providências no Decreto 16.782-A. No Pedro Segundo as
transferências de alunos ou de remoção de funcionários
do Externato para o Internato e vice-versa ficariam a cargo
do Diretor-Geral do Departamento Nacional do Ensino, de
cuja aprovação dependeria o horário das aulas do Colégio.
Concedia o Decreto 16.782-A equiparação ao Pedro
enviaria ao Governo os nomes dos candidatos em igualdade
Segundo, mediante condições, aos estabelecimentos de
de média, para escolha do Governo.
Na hipótese do
ensino secundário oficialmente mantidos pelos Estados.
empate de média, a preferência para nomeação caberia
O Decreto cassava a equiparação aos institutos de ensino,
ao bacharel diplomado pelo Colégio.
por qualquer forma equiparados aos oficiais, se no prazo
A docência-livre poderia ser obtida na segunda
de ano, salvo q u a n t o a p a t r i m ó n i o , o do t e m p o da
quinzena de outubro, sujeito o concurso para docentes e o
equiparação, não se houvessem revigorizado na forma do
respectivo julgamento, no que fosse aplicável às regras
Decreto 16.782-A.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A estabelecimentos de ensino particular, de qualquer
sede, poderia ser concedida a faculdade da obtenção de
juntas examinadoras para os diferentes anos do curso
secundário. Entre as condições para a concessão se
enumerava a de provar o estabelecimento manter corpo
docente idóneo, observando nos seus cursos programa
igual ao do Pedro Segundo.
Os exames de cada aluno se cingiriam às matérias
de cada ano do curso, rigorosamente observada a seriação
do Pedro Segundo.
Determinava o Decreto 16.782-A que o professor da
cadeira de Espanhol poderia ser, como foi, transferido para
a 2a cadeira de Português, extinta a cadeira de Espanhol,
continuando facultativo no 4o ano o ensino de Italiano.
A Reforma Rocha Vaz, a do Decreto 17.782-A, de
13 de janeiro de 1925, aboliu no Colégio a unidade de
direção das duas seções.
Voltava-se à divisão de diretorias, uma para o
Externato, outra para o Internato, este desde maio de 1925
exercida pelo bacharel em letras Quintino do Valle.
Convidado o professor Escragnolle Dória para diretor
do Externato, agradecendo declinou o convite, nomeado
então interinamente para dirigir o Externato o professor
Euclides Roxo, bacharel em letras como o antecessor Laet,
por Decreto de 19 de agosto de 1925, saudado o novo
diretor em nome da Congregação pelo professor Gastão
Ruch e também pelo ex-diretor Laet.
De 1925 em diante começaram de novo Externato e
Internato vida administrativa independente, continuando
vida pedagógica entrelaçada.
No Externato, a reforma do Decreto 16.782-A trouxe
modificações sensíveis ao corpo docente. Em virtude do
citado Decreto, obtiveram disponibilidade, de golpe, quatro
professores: — Said Ali, Paula Lopes, Manoel Arthur
Ferreira e Arthur Higgins, professores de Alemão, História
Natural, Desenho e Ginástica.
Desmembrada em duas cadeiras, uma de Física, a
outra de Química a antiga cátedra de Física e Química, foi
na cadeira de Física provido o respectivo substituto Dr.
Henrique de Toledo Dodsworth e professor de Química ficou
sendo o antigo catedrático de Física e Química Dr. Augusto
Xavier Oliveira de Menezes.
Empossou-se na cadeira de História Natural o
substituto Dr. Waldemiro Alves Potsch, assumindo a
cadeira nova de Cosmografia o substituto de Geografia,
Dr. Othelo de Souza Reis.
Desdobradas as cadeiras de Latim e de Português
do Externato e do Internato foram providos na nova cadeira
de Latim o professor substituto da disciplina, Joaquim Luiz
Mendes de Aguiar, e na cadeira nova de Português o
substituto Dr. José Oiticica.
Ressurgida a cadeira especial de História do Brasil,
foi nela provido o professor Escragnolle Dória, desde 1906
catedrático por concurso de História Universal, da América
e do Brasil, ocupada a cadeira vaga de História Universal
por provecto professor catedrático interino, o Dr. Marcos
Baptista dos Santos, nomeado catedrático de História do
Brasil no Internato o Doutor Pedro do Coutto.
Preencheram também interinamente as cadeiras de
Instrução Moral e Cívica, Alemão e Literatura o Cónego
Francisco Mac Dowell e os Drs. Tristão da Cunha e Júlio
Nogueira.
O professor Adriano Delpech, único dos substitutos
do Colégio a não ter acesso a catedrático, passou a reger
a cadeira de Sociologia, interinamente, criada a cadeira
por disposição do Decreto 16.782-A, de 13 de janeiro de
1925.
Novos lugares de professores de Desenho ficaram
sendo exercidos, interinamente, pelos professores José
Paula Ferreira e Araripe Macedo.
Assegurada pelo Decreto 16.782-A a unidade
didática do Colégio e a indivisão do seu corpo docente,
portanto a da sua Congregação, decorreu o ano letivo no
Externato, em 1925, sem incidentes de maior monta, na^
constância da direção interina do professor Euclides Roxo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
O maior inconveniente para o ensino em 1925, como
em anos anteriores, provinha da grande quantidade de
alunos em cada turma. Muitas compreendiam 55
discentes quando além de 20, no máximo 25, não pode
haver ensino completo, embora a pouca frequência de
alguns alunos faça baixar um tanto nas turmas o número
diário de presentes.
Pugnava o diretor Roxo, sem possibilidade de
aumentar turmas suplementares, dada a míngua
pecuniária, pela homogeneidade na composição das
turmas, reunidos os repetentes em turmas para o ensino
das quais os professores lançariam mão dos recursos
pedagógicos próprios para os menos aplicados ou
retardados de natureza.
Apontava também o diretor Roxo, em 1925, diversas
causas geradoras da pouca eficiência do ensino em geral
e em particular no Colégio. Entre elas, mencionava a
insuficiência de preparo dos candidatos ao exame de
admissão, a falta de disciplina moral, de amor ao estudo,
de entusiasmo pela nobre curiosidade de saber, pela falta
de impulso inicial dado pelo lar e pela insuficiência de curso
primário.
Continuou a ser ministrada, no ano letivo de 1925, a
instrução militar no Externato, com a frequência média de
80 a 100 alunos e encerrado o período de instrução a 15
de novembro, de acordo com os regulamentos dos Tiros
de Guerra. Nos exames para obtenção da Carteira de
Reservista de 2a classe foram aprovados 66 candidatos,
quantos se apresentaram; deles provada resistência em
duas marchas de 12 quilómetros e uma de 24.
Participou também o Externato do campeonato de
atletismo instituído pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro
e do campeonato de basquetebol organizado pelo Clube
de Regatas Flamengo.
Continuou a Secretaria do Externato, em 1925, a
carecer do auxílio de inspetores pelo aumento anual de
serviços. Declarava o diretor Roxo poder afirmar com
1837 - 1937
segurança não haver em todo o país nenhuma repartição
que conseguisse tanto com o triplo de empregados.
Só pelo protocolo da Secretaria passaram, em 1925,
21.899 papéis de diversas classificações.
Sobrecarga de trabalho sobre responsabilidade para
a Secretaria continuou a ser em 1925 o serviço dos exames
seriados de candidatos estranhos, ajuntado ao serviço dos
exames de preparatórios.
Procurou o diretor Roxo, por várias medidas, aligeirar
o trabalho e a responsabilidade da Secretaria, de modo a
não se prolongar o expediente até alta madrugada, não
raro até o clarear da manhã, chegando funcionários a se
alimentarem às pressas ou a mal dormirem no Externato.
A 2 de dezembro de 1925, transcorreu o primeiro
centenário natalício de D. Pedro II. Não podia o Colégio
do qual era patrono desde origem, desde 1837, conservarse alheio à celebração de semelhante data. Não via mais
a instituição o soberano de cetro de quase meio século na
pátria, sim o desvelado amigo e protetor do Colégio, deste
lembrado a toda a hora, chegando a adiantar haver para
ele no Brasil só duas posições invejáveis, a de senador
do Império e a de professor do Colégio que lhe consagrava
o nome.
Coube ao diretor Roxo dispor a celebração do
centenário natalício de D. Pedro II. Associou-se o Colégio
às manifestações tributadas à memória e aos serviços do
antigo imperador, manifestações do Amazonas ao Prata,
para utilizar expressão de D. Pedro I em proclamação
célebre.
A 2 de dezembro de 1925, no Salão Nobre do Colégio,
onde tantas vezes comparecera D. Pedro II para a
solenidade da colação de grau de bacharel em letras e
para distribuição de prémios, realizava-se sessão magna.
Presidiu-a Ministro da Justiça, Dr. Affonso Penna Júnior,
filho de quem no Império, fora Ministro de Estado dos
Negócios da Guerra, na Justiça e da Agricultura, o Dr.
Affonso Augusto Moreira Penna, ex-Presidente da
República.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Na mesa da solenidade figurava neto materno de D.
Pedro II, ex-aluno do Colégio, o Príncipe D. Pedro de
Orleans e Bragança, e sua esposa, a Princesa Elisabeth,
Condessa Dobrenzenky de Dobrzenicz, na Bohemia.
Em bancada especial, na extremidade do salão, onde
outrora erguido trono imperial armado para as solenidades
de colação de grau, tomaram assento a Congregação do
Colégio, o secretário do Externato e o decano dos bacharéis
em letras, Dr. José António de Magalhães Castro, graduado
na turma de 1856.
Em face da mesa de honra ficaram, em lugares
reservados, numerosos bacharéis em letras, alguns destes
figurando na Congregação os bacharéis Laet, Ruch,
Nascentes, Philadelpho Azevedo, José Piragibe, Quintino
do Valle e João Baptista de Mello e Souza.
Abriu a sessão o diretor Roxo, mostrando que "o
próprio nome do Instituto justificava sobejamente a atitude
de seus diretores, lentes e alunos ao promoverem a
solenidade, a que em boa hora se tinham associado os
bacharéis e discípulos em formoso e espontâneo gesto
que revelava nobilitantes sentimentos de solidariedade e
gratidão".
Oraram na solenidade o professor Escragnolle Dória,
em nome da Congregação, logo após o diretor Roxo, o
professor Abreu Fialho, catedrático da Faculdade de
Medicina, em nome de antigos alunos do Colégio.
Em nome dos bacharéis em letras discursou o
professor Cantanhede e Almeida, catedrático da Escola
Politécnica, recitando o professor Adriano Delpech poesia
de sua lavra "São Vicente de Fora", alusiva ao túmulo de
D. Pedro II em Lisboa.
Além da senhorita Zita Coelho Netto, filha do
professor do Colégio Henrique Coelho Netto, e da senhorita
Edla da Costa Lima, participaram da parte literária da
solenidade os seguintes alunos do Externato — Mário de
Oliveira e Silva, do 5o ano, Fahim Pedro e Nelson
Rodarte Machado, ambos do 3o ano, recitando sonetos
de D. Pedro II.
Findou a solenidade com a execução do Hino
Nacional, cantado por alunos. Em seguida, no pavimento
térreo do Colégio, logo no saguão de entrada, foi inaugurada
placa de bronze com a efígie de D. Pedro II, singela, mas
expressiva homenagem promovida e realizada por um
grupo de 86 bacharéis em letras. Ao ser inaugurada a
placa, o professor Mendes de Aguiar recitou poesia em
latim, de sua lavra, em honra a D. Pedro II.
Na placa a este memorou inscrição de antigos
alunos:
A Pedro II
Patrono deste Collegio
Os que aqui estudaram
1825-2-XII — 1837-XII-2-1925
Antes de inaugurar-se o ano letivo de 1926, eram
nomeados, por Decreto de 3 de março, diretor efetivo o
interino, Professor Roxo e vice-diretor, o professor Othelo
Reis.
Em consequência da Lei 16.782-A, 1926 seria o ano
dos concursos. Iniciou-o o de Latim, para provimento de
vaga proveniente do desdobramento de cadeira no
Internato.
Concorreu à vaga em maio de 1926, candidato único,
antigo aluno do Externato, o Dr. Hahnemann Guimarães .
Foi o 1o candidato a concurso no Colégio a submeter-se
às quatro provas exigidas pelas disposições vigentes do
Decreto 16.782-A, isto é, defesa de tese sobre ponto
sorteado, defesa de tese de livre escolha, prova prática e
prova oral.
Habilitado unanimemente pela comissão
examinadora e pelos votos da Congregação na 1 a , 2a e 4a
das mencionadas provas e com grau 8 na 3a, foi o Dr.
Hahnemann Guimarães nomeado catedrático de Latim do
Internato por Decreto de 4 de junho de 1926.
Ao concurso de Latim, para cadeira do Internato,.
seguiu-se o de Português para a mesma seção do Colégio,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
em virtude do desdobramento de cadeira por efeito do
Decreto
16.782-A.
Suscitaram-se,
por
parte
1837 - 1937
Interposto recurso, por um dos candidatos, contra o
da
julgamento
Congregação, dúvidas sobre a interpretação do artigo 164
reclamação.
do c o n c u r s o não l o g r o u p r o v i m e n t o a
do Decreto 16.782-A, dúvidas resolvidas pelo Diretor-Geral
Tratando-se ainda no ano letivo de 1926 do
do Departamento do Ensino, autorizada a Congregação a
provimento da cadeira de Química do Internato, após vários
convidar pessoas estranhas ao corpo docente do Colégio
incidentes, processado o concurso em setembro de 1926,
para membros das comissões examinadoras de concurso,
à vista do resultado geral do certame e de acordo com a
podendo nelas ser admitida a presença de professores
d i s p o s i ç ã o do a r t i g o 170 do D e c r e t o 1 6 . 7 8 2 - A , a
interinos, de outras cadeiras, não sujeita a concurso.
Congregação, a 29 de outubro, indicou ao Governo o nome
Processou-se o concurso de Português de 10 de
do professor Correggio de Castro para catedrático e os
junho a 9 de julho de 1926, classificados respectivamente
nomes dos professores Arlindo Fróes, Luiz Pedreira de
os candidatos Quintino do Valle, bacharel em letras de
Castro Pinheiro Guimarães, Rubens Descartes e Júlio
curso no Internato e no Externato, Jacques Raymundo
Hauher para livres-docentes por tempo de dez anos. Foi,
Ferreira da Silva, antigo aluno do Externato onde concluíra
porém, nulo o concurso por decisão do Dr. Affonso Penna
curso propedêutico, e Clóvis do Rego Monteiro, acatado
Júnior, Ministro da Justiça, apreciando razões de recurso
professor de língua vernácula.
de um dos candidatos.
Por Decreto de 4 de agosto de 1926, foi nomeado
Em setembro de 1926, logo após o concurso anulado
catedrático o bacharel Quintino do Valle, não tendo obtido
de Química, procedia-se no Colégio ao concurso para
provimento um recurso contra o resultado do concurso.
provimento de cadeira de História Universal no Externato
Por ato do Diretor-Geral do Departamento do Ensino, na
e outra no Internato, a primeira vaga pela transferência do
forma das disposições vigentes, foram nomeados livres-
professor Escragnolle Dória para a cadeira de História do
docentes da cadeira de Português, por dez anos, os Drs.
Brasil no Internato, pelo professor Pedro do Coutto,
Jacques Raymundo Ferreira da Silva e Clóvis do Rego
nomeado para a cadeira de História do Brasil na seção do
Monteiro.
Internato.
Em princípio de agosto de 1926, ocupava-se a
Após quatro provas de concurso, tendo antes, este
Congregação do Colégio com o provimento de três lugares
sofrido prorrogação de prazo, acabou a Congregação
de professor de Desenho, um vago pela disponibilidade do
indicando, a 30 de outubro de 1926, os Drs. Jonathas
professor Arthur Ferreira e dois novamente criados.
Archanjo da Silveira Serrano e João Baptista de Mello e
Processado o concurso, a Congregação indicou ao
Souza, classificados em 1 o e 2 o lugares para catedráticos,
Governo os nomes dos candidatos classificados nos três
r e s p e c t i v a m e n t e do E x t e r n a t o e do I n t e r n a t o .
primeiros lugares, os Drs. Enoch da Rocha Lima, José de
Congregação habilitou para a livre-docência os Drs.
Sá Roriz e Alcino José Chavantes, o primeiro para a seção
Francisco Mozart do Rego Monteiro, bacharel em direito e
do Internato, os dois outros para a do Externato.
docente da Escola Normal, Jayme Coelho, M e c e n a s
À vista das médias obtidas, a Congregação indicou
A
Pereira Dourado, bacharel em direito, Mário Guedes Naylor,
para a livre-docência de Desenho os Srs. Jurandyr dos
bacharel em letras, António Figueira de Almeida, bacharel
Reis Paes Leme, diplomado pela Escola Nacional de Belas
em direito e Milton Pires Barbosa, bacharel em direito e
Artes, José Paulo Ferreira, bacharel em letras e Murillo
Oscar Przewodowski, bacharel em direito e candidato
Araújo, t a m b é m bacharel em direito.
classificado em anterior concurso no Colégio, o de Inglês,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
um candidato, deixando de ser proposto para a livre-
A Congregação escolhera s i m p l e s m e n t e quantos lhe
docência, visto não haver obtido média superior à exigida
pareceram merecer valioso prémio de esforços.
pelas disposições do Decreto 16.782-A.
S a l i e n t o u i g u a l m e n t e o p r o f e s s o r Sá Roriz a
Não logrou provimento recurso interposto contra o
cordialidade existente entre os candidatos do concurso de
julgamento do concurso de História Universal por um dos
Desenho na constância das provas do m e s m o certame.
candidatos classificado como livre-docente, nomeados
Ninguém, afirmou o concorrente primeiro classificado, "ao
catedrático do Externato o classificado em 1 o lugar Dr.
vê-los juntos trabalhando diria que jogavam reciprocamente
Jonathas Archanjo da Silveira Serrano, antigo aluno do
futuro. Pena que, para concorrentes legais e cavalheiros,
Externato, e catedrático do Internato o classificado em 2 o
não e x i s t i s s e m o u t r o s t a n t o s l u g a r e s para g e r a l
lugar — Dr. João Baptista de Mello e Souza, bacharel em
aproveitamento".
letras, nomeados por Decretos de 10 e 12 de novembro
de 1926.
Agradecendo, por sua vez, a saudação do professor
Raja Gabaglia, um dos examinadores do concurso de
A posse dos novos professores do Colégio, os Drs.
História, o novo catedrático, Dr. Jonathas Serrano, recordou
José de Sá Roriz, Enoch da Rocha Lima, Alcino José
ter sido aluno no Colégio, d e p o i s p r e p a r a t o r i a n o e
Chavantes, Jonathas Archanjo da Silveira Serrano e João
académico ao tempo em que a Faculdade de Ciências
Baptista de Mello e Souza, deu ensejo a sessão solene, a
Sociais e Jurídicas funcionava no edifício do Externato, à
18 de novembro de 1926, como belo fecho do ano letivo.
tarde, findas aulas do Colégio.
Na Faculdade, o novo
De improviso, o professor Raja Gabaglia saudou os
professor recebera grau jurídico acrescido de prémio
novos colegas, reconhecendo nos três professores de
especial por distinção de curso, o Prémio Manoel Portella.
Desenho, Roriz, Rocha Lima e Chavantes qualidades para
Acabando de prestar no Colégio renhido concurso,
i m p r i m i r ao e n s i n o do D e s e n h o t o d a a e f i c i ê n c i a
julgava o professor Serrano ser o concurso, "apesar das
obedecendo à pedagogia moderna.
múltiplas objeções e dos reais inconvenientes deparados
Referindo-se às cadeiras de História Universal,
na prática, capaz de dar bons frutos e corresponder
declarou o professor Gabaglia que cadeiras havia no Colégio
cabalmente ao que dele se espera quando cercadas as
tão cheias de tradições gloriosas como as que vinham
provas de todas as indispensáveis garantias".
ocupar os Drs. Serrano e Mello e Souza, professores de
nomeada no magistério público e particular.
Às
saudações
do
professor
Raja
Referindo-se o professor Serrano às gloriosas
tradições do Colégio, às qualidades necessárias aos
Gabaglia
mestres de História, não arma de partido, privilégio de
responderam os novos professores Sá Roriz e Jonathas
escola, pseudo-demonstraçào de teses, sim a mais alta,
Serrano.
a mais e d u c a t i v a , a mais g e n u i n a m e n t e cristã das
Salientou o professor Roriz que ao candidatar-se ao
concurso de Desenho, desconhecido e completamente
homenagens porventura prestadas à Verdade.
E, afirmado credo católico, lembrava o professor
estranho ao meio, apresentara-se confiante na justiça dos
Serrano o gesto de Leão XIII, abrindo arquivos do Vaticano
homens, cônscio, porém, do pouco valimento de forças
a pesquisadores de qualquer doutrina, roborando o pontífice
próprias. Aquela justiça, afirmou o novo professor, surgiu,
o gesto pela declaração de não ter a Igreja m e d o da
pois imparciais e retos tinham sido os juizes, esquecendo
Verdade.
antigas amizades, compromissos e simpatias, e direitos
N e m deixou o professor Serrano, na alegria do
em parte adquiridos por outros já na cátedra interinamente.
triunfo, de recordar antigos mestres cujas lições recebera
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
no Colégio, Fausto Barreto a iniciá-lo nas belezas e
sutilezas do vernáculo, Alexandre Monat a mostrar-lhe toda
a disciplina e brilho do Francês, Alfredo Alexander, senhor
e transmissor dos tesouros do Inglês, finalmente Raja
Gabaglia Sénior, consagrado cultor da ciência matemática.
Não só a posse de cinco distintos professores
encerraria jubilosamente o ano letivo de 1926, e tanto mais
jubilosamente quanto aquela posse derivava apenas da
criação dos desmembramentos de cadeiras e não de
sucessões por falecimentos.
Também em relação ao corpo discente seria
encerrado com prazer o ano letivo de 1926.
Restabelecido o curso de bacharelado frequentou
6°ano aluno único, Mário de Oliveira e Silva. Aprovado
em exames de primeira época, recebeu diploma de
bacharel em ciências e letras. Coube-lhe ser o primeiro
aluno do Externato laureado em Ciências e Letras,
restabelecido prémio de curso completo, abolido havia
quinze anos.
A Mário de Oliveira e Silva, dos mais esperançosos
alunos da fase moderna do Colégio, parecia fadado
brilhante futuro. Decidiu a sorte o contrário. Destinandose à carreira militar, nela dedicado à aviação, foi Oliveira
e Silva vítima de desastre aviatório, perecendo
instantaneamente a 8 de maio de 1931.
Não raro começam os anos letivos por lutos no corpo
docente ou administrativo, até no corpo discente. Antes
da abertura das aulas, falecia, a 26 de fevereiro de 1927, o
catedrático de Latim, provecto e bom, Joaquim Mendes
de Aguiar, classificado em 1o lugar num concurso para a
cadeira em 1909, nomeado porém o 2o classificado, como
permitia a legislação vigente Professor suplementar no
Colégio, já de Latim, já de Português, Mendes de Aguiar,
por voto da Congregação, foi escolhido para substituto de
Latim, cargo exercido de 1915 a 1925, enfim catedrático
pelo desdobramento da cadeira em virtude da Reforma
Rocha Vaz.
1837 - 1937
Mendes de Aguiar falava e escrevia em Latim.
Familiarizado no idioma nele poetava com elegância e
facilidade, buscando introduzir o metro poético moderno
da língua morta.
Professor assíduo até últimos dias, resistindo a
morte prematura com resignação de católico convicto,
Mendes de Aguiar deixou memória de colega sem refolhos.
Não só o nigro notando lapillo do óbito de Mendes
de Aguiar assinalaria o ano letivo de 1927 no Colégio. A
13 de agosto de 1927, desaparecia no Rio de Janeiro, João
Capistrano de Abreu, professor em disponibilidade de
Corografia e História do Brasil, afastado do ensino desde
1899 por absurda extinção de cadeira.
Na necrologia de Capistrano de Abreu feita no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro pelo orador da
associação, Dr. Ramiz Galvão, bacharel em letras, declarou
este, ter Capistrano "regido com amor a sua cadeira, até
o ano em que uma reforma infeliz a suprimiu no programa
de estudos do grande instituto oficial de ensino secundário
"reduzida a obra grandiosa de História Pátria a simples
capítulo da História Universal".
Passou Capistrano a dedicar-se com mais afinco a
estudos históricos e linguísticos, figurando entre suas obras
notáveis "A Língua dos Caxinauás", tribo indígena dos
confins de Mato Grosso, produto de três anos de trabalho
e resultado da convivência de Capistrano e de dois jovens
selvagens caxinauás.
Também estudou Capistrano, pelo mesmo processo
de convivência, a língua de outra tribo indígena, a dos
Bacaeris.
Os trabalhos de Capistrano em matéria de história
pátria têm peso e autoridade, fruto de pacientes pesquisas.
Posto em disponibilidade em 1899, por efeito de
reforma, ao vagar no Externato em 1909 a cadeira de
História Universal, da América e do Brasil, pela
transferência do professor João Ribeiro para a cadeira da
disciplina no Internato, escusou-se Capistrano de reger a
cadeira vaga.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Participou, entretanto, da comissão examinadora do
concurso para o preenchimento da vaga da cadeira de
História Universal, da América e do Brasil do Externato,
concurso terminado pela nomeação, a 5 de novembro de
1906, do professor Escragnolle Dória, classificado em
primeiro lugar.
Abria-se o ano letivo de 1927, com dois lutos, deveria
encerrar-se com outros.
Um seria a perda do catedrático de Francês do
Internato, o bacharel em letras Floriano Corrêa de Britto,
falecido a 27 de outubro de 1927, outro luto o da perda do
catedrático de Português do Externato e deste ex-diretor,
Carlos de Laet, bacharel em letras.
Floriano de Britto sempre tivera em mira obter
cátedra no Colégio, por onde se graduara, e para tanto se
empenhara em dois concursos de Francês, em ambos
bem classificado, da segunda vez em 1o lugar, nomeado
catedrático a 4 de agosto de 1903. De então, até a morte,
salvo interrupções pelo exercício do mandato de deputado
federal em duas legislaturas, de 1912 a 1917,
representando o Distrito Federal, consagrou-se Floriano de
Britto ao ensino de humanidades e, sobretudo, ao da língua
francesa, autor de gramática deste idioma. Na Câmara
dos Deputados apresentou Floriano de Britto parecer sobre
reforma de instrução pública. Militou na imprensa e em
serviços técnicos da Prefeitura Municipal. Dotado de
grande cultura humanística, salientava-se em qualquer
discussão pelo ardor de convicções, pela veemência das
afirmações, fiel a compromisso, dedicado ao extremo às
causas que abraçava, prometia para cumprir.
De Floriano de Britto, bacharel em letras, disse com
razão o diretor Roxo: — "Era um dos atestados mais
brilhantes da eficiência do ensino clássico do Colégio, de
que fora aluno dos mais distintos e onde formara a sua
profunda cultura humanística".
Atestou ainda o diretor Roxo a assiduidade modelar
do extinto em largos anos de magistério.
Regesse aulas de turmas efetivas de obrigação,
suplementares, foi sempre Floriano de Britto um desses
professores tão assíduos que a menor de suas faltas de
presença constitui acontecimento para o estabelecimento
onde lecionava. Onde havia 82 aulas a dar 82, eram dadas
por Floriano de Britto.
A atividade dele no Colégio foi sempre exercida no
Internato. Por ocasião do seu falecimento, tanto a diretoria
do Internato, exercida pelo Dr. Pedro do Coutto, como a
do Externato, pelo Dr. Euclides Roxo, timbraram em
prestar-lhe homenagens, inclusive a de armar câmara
mortuária no Salão Nobre do Internato, de onde partiu o
enterro de quem tanto nele estudara, vivera e labutara.
Foi em relação a lutos particularmente doloroso ao
Colégio o ano de 1927. Mal a terra pátria em necrópoles
do Rio de Janeiro havia coberto os despojos mortais de
Mendes Aguiar e de Floriano de Britto, a mesma terra se
abria para leito último dos restos terrenos de outro notável
professor e dirigente da Casa, Carlos de Laet, falecido a 7
de dezembro de 1927.
Historiar a vida intelectual de Laet nas letras
nacionais, no magistério, no jornalismo, na administração
pública, com escala breve pela política, na tribuna
académica, é matéria para obra ainda não composta.
Cumpre ser escrita, tanto melhor se emanar de professor
ou ex-aluno do Colégio, bacharel em letras ou não.
No Colégio professou Laet por mais de meio século.
Teve jubileu de ouro no magistério, consagrado por sessão
especial e solene, dando ensejo para lhe serem tributadas
grandes homenagens. Diretor do Colégio, de 1917 a 1926,
Carlos de Laet mereceu do sucessor Euclides Roxo este
juízo: — "Como diretor, manteve sempre linha impecável
de administrador honesto, justiceiro e zeloso de suas
atribuições, tendo durante a sua administração aumentado
muito o prestígio do Colégio, graças à austeridade, ao brilho
intelectual e à integridade moral de sua pessoa. Era
incontestável a grande ascendência que tinha sobre os
colegas, resultante não só das suas qualidades pessoais,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
como da sua aureolada anciania, que lhe permitia, quando
necessário, tratar a alguns como filhos ou mesmo como
netos".
Assim disse o diretor do Externato. No Internato,
de 1873 a 1890, lecionara Laet, professor por concurso de
Português, Geografia e Aritmética do 1o ano. Voltou a
lecionar no Colégio, mas no Externato, de 1915 a 1927.
Exonerado por ato ditatorial em 1890, por haver protestado
em Congregação, contra a mudança de nome do Colégio,
privado de ser de Pedro Segundo, jubilado e posto em
disponibilidade, só assim se afastou Laet do Colégio de
1890 a 1915.
Exerceu, porém, neste lapso de tempo o magistério
particular, notadamente no Ginásio São Bento e no
Seminário Arquiepiscopal de São José, tendo ao tempo
do Império lecionado na Escola Normal da Corte.
Demitido do cargo vitalício de professor do Colégio,
recebeu Laet, por parte de conspícuos cidadãos e alunos
do Internato, manifestação de apreço promovida em
reunião nos salões de Derby Club, a 5 de maio de 1890, e
levada a efeito na própria residência de Laet.
À frente da comissão estavam os Drs. Rodrigo
Lobato, Amarílio de Vasconcellos e Domingos José da Silva
Cunha.
Representavam o Internato os Srs. Bandeira de
Mello, Pinheiro Guimarães, Cantão, Jayme de Miranda,
Arthur Cunha, Francisco Passos, Torquato Vieira de
Mesquita, João Roberto d'Escragnolle e Amarílio Hermes
de Vasconcellos.
Entregou a comissão a Laet mimo de alto valor,
custoso relógio e corrente em cuja medalha, na qual, entre
cintilar de brilhantes e azular de safiras, havia sido gravada
divisa horaciana: "Impavidum ferient ruinae".
Por parte dos admiradores de Laet, orou o Dr. Rodrigo
Lobato, destacando-se no discurso expressivo trecho, o
seguinte:
"Na minha província (o então Estado de São Paulo),
os melhores cidadãos apressaram-se a alistar-se entre
1837 - 1937
os subscritores desta manifestação, sem embargo de não
partilharem todos inteiramente às vossas opiniões
políticas. É que lá, no seio daquele povo altivo, ainda os
que sentem diversamente de vosso modo de sentir vos
respeitam e admiram."
Em seguida ao Dr. Rodrigo Lobato, orou o aluno do
Internato, Amarilio Hermes de Vasconcellos, para declarar:
— "Nós que fazemos parte da mocidade, nós que
representamos o futuro, viemos em nome da mocidade
brasileira, que não é ingrata, em nome do futuro, que nos
não intimida, comissionados pelo corpo de alunos do
Internato do Instituto Nacional de Instrução Secundária,
trazer ao nosso querido ex-professor Dr. Laet a homenagem
de nossa saudade".
Respondendo aos manifestantes, de coragem e
coração, disse Laet, "considerar-se viajante perdido em
meio de gelos polares, quase sem esperança de atingir
desejada meta, por toda a parte, rodeado pela escuridão e
pelo frio. Banidos muitos de seus melhores amigos,
dissolvido ao sopro da revolução o partido a que pertencia
(o liberal) bem sabia trancado para a sua pessoa todo o
futuro político na pátria. Acontece, porém, que nas gélidas
regiões do pólo basta um raio de sol para fazer um prisma
de cada fragmento de neve e iriar a paisagem com
surpreendentes e mágicos reflexos."
Este raio de sol traziam-nos os amigos ao orador e
de coração ele o agradecia".
Associados à manifestação a esposa e os filhos de
Laet, foi-lhe entregue a representação dirigida ao Chefe do
Governo Provisório, Marechal Deodoro da Fonseca,
reclamando contra o Decreto de demissão de Laet,
professor vitalício do Colégio, "dizendo-se e parecendo que
determinou o ato do Governo a proposta daquele professa
na respectiva Congregação, indicando que se pedisse ao
Governo para aquela instituição de ensino se
restabelecesse a anterior denominação de Colégio de Pedro
Segundo".
Ponderava a representação ao chefe do Governo
Provisório:
ESCRAGNOLLE DORIA
"Não há na proposta, Sr. General, nada de ofensivo
ao Governo, como nada há de inconvenientes à ordem
social, em seus termos e nas razões que lhe serviram de
fundamento e foram publicados pela imprensa. O
proponente relembrou os serviços prestados pelo Sr. D.
Pedro II ao instituto e disse que se devia conservar para
este o nome de seu fundador.
Começai, Sr. General, vossa obra de patriotismo,
restituindo ao magistério da República o digno e talentoso
professor. Esse ato honrará o vosso Governo e nós vô-lo
pedimos no interesse da educação superior e em nome
dos nossos concidadãos."
Só, porém, em 1915, o poder executivo do pais anuiu
ao voto de 1890, tendo o poder judiciário reparado outro
ato do Governo ditatorial Deodoro, demitindo professor
vitalício do Colégio, o Barão de Loreto, companheiro de
exílio de D. Pedro II, reintegrado Loreto em funções
docentes, não mais exercidas. Bem mais tarde, a justiça
dos homens na voz da História, restituiria ao Colégio
primitiva denominação. O episódio da vida de Laet
também é testemunho de coragem cívica de discentes na
existência do Colégio.
Por ocasião do falecimento de Laet e interpretando
particularmente pensamento do Internato, o diretor do
mesmo, o Dr. Pedro do Coutto, entre louvores, declarava
que, "professor por mais de meio século no Colégio de
Pedro Segundo, Laet formara gerações que o admiraram
e que lhe aclamavam o nome, do Colégio irradiado
brilhantemente para o país inteiro, através de colaboração
assídua nos jornais, onde em estilo pessoal, elegante e
correto lhe dava relevo em meio às nossas letras.
Professor de várias matérias do curso secundário,
nelas se revelou sempre mestre culto, mas especialmente
Laet se destacava pelo vigor, pelo brilho e pela argúcia da
inteligência, pronta e impressionante. Um talento
fulgurante forrado de cultura bem cuidado."
Memorados os mortos de 1927 pelo Colégio,
apresentou este no ano letivo a vida operosa de sempre
nas seções do Externato e do Internato. Presidia a
Congregação o diretor do Internato, na forma das
disposições vigentes, alternando-se direção do Corpo
Congregado cada um dos diretores da Casa.
No decurso do ano letivo de 1927 seria preenchida a
vaga de professor de Física do Internato, mediante
concurso, processado de 18 de agosto a 10 de setembro,
afinal indicado para catedrático o engenheiro civil Dr.
George Sumner e para livre docente o engenheiro civil Dr.
Francisco Venâncio Filho. O Dr. Sumner, desde junho de
1926, exercia no Internato funções de repetidor interino de
Ciências Físicas. Tomou posse da cadeira de Física a 5
de outubro de 1927, proferindo discurso, correspondido
em nome da Congregação pelo professor Accioli. Em
oração inaugural, o novo catedrático evocou grandes
mestres de sua juventude na terra natal, o Pará, e fora da
mesma. Agradeceu ao lar e a amigos, "obreiros do
coração e do afeto, a dedicação do seu carinho, o apoio
da sua afeição desinteressada". Evocou dois ilustres
antecessores na cadeira de Física e Química — Nerval de
Gouvêa e Oliveira de Menezes. Declarou não deslustrar a
memória desses grandes mestres associando à sua
evocação a lembrança da passagem pelo Internato de
professor ilustre, que o glorioso instituto se honrava de
contar entre os seus catedráticos. Referia-se ao Dr. José
Ferreira da Costa Piragibe, filho de antigo diretor do
Internato, ele próprio bacharel em letras por esta seção do
Colégio. Frisou o novo catedrático ter-se imposto o
professor José Piragibe entre os que militavam na
espinhosa carreira do magistério, "como educador de escol,
mestre inexcedível, cujo lugar ao professorado era indicado
pelo consenso unânime de sucessivas gerações de
discípulos".
Além do provimento da cadeira de Física do
Internato, no ano letivo de 1927, sofreu o corpo docente
catedrático do Colégio algumas modificações de
relevância.
A 21 de novembro de 1927, o Dr. Carlos Delgado de
Carvalho, ocupante da cadeira de Inglês do Externato, era'
Ml MÓRIAHISTÓRH ADOCOI I GlO DF PEDRO SEGUNDO
1837
1937
t r a n s f e r i d o para a c a d e i r a de S o c i o l o g i a , r e g i d a
realizou-se a solenidade da entrega de certificados de
interinamente pelo substituto Adriano Delpech.
conclusão de curso a alunos de 1925 e 1926. Foi conferido
A 5 de dezembro de 1927, via-se o referido substituto
o Prémio Nerval de Gouvêa, instituído em 1921, para
promovido a catedrático de Francês no Internato, na vaga
recompensar os estudantes mais distintos no estudo da
aberta pela morte do professor Floriano de Britto.
Física e da Química. Coube o prémio de 1925 a aluno do
Saudado em nome da Congregação pelo mais novo
dos p r o f e s s o r e s desta, o Dr. Sumner, respondeu
o
p r o f e s s o r D e l p e c h e x a l t a n d o a m e m ó r i a e a obra
pedagógica do antecessor.
Externato, Eurico António da Costa, obtendo-o t a m b é m
alunos do Internato, Albino Silva e Henrique Vaz Corrêa, o
primeiro em 1925, o segundo em 1926.
"Unicamente com as lições
Uma das constantes preocupações das diretorias
recebidas no Colégio de Pedro Segundo, completados pelo
do Colégio era atender às sugestões dos professores de
próprio esforço, Floriano de Britto tornara-se senhor da
disciplinas exigindo ensino prático a par do t e ó r i c o ,
filologia francesa."
obedecendo à moderna orientação pedagógica. Crédito
Logo após, p o r é m , era Delpech, catedrático de
de 150 contos votado pelo Congresso para os gabinetes
Francês do Internato, transferido para a cadeira de Literatura
de ciências físicas e naturais, p e r m i t i u em 1927, no
Brasileira e de Línguas Latinas até então interinamente
Externato, aparelhar os gabinetes de Física e Química.
ocupada pelo Dr. Júlio Nogueira, por sua vez nomeado
Sensivelmente alargado o primeiro ficou possuidor do que
catedrático interino de Francês do Internato.
requer o ensino moderno da Física, podendo, segundo o
No ano letivo de 1927, o ensino em ambas as seções
do Colégio correu com regularidade, aplicadas disposições
diretor
Roxo,
sofrer
confronto
com
qualquer
estabelecimento congénere nacional ou estrangeiro. Ao
de novo Regimento Interno. Dividindo turmas de alunos
professor Henrique Dodsworth, aos seus esforços, ficou
respeitava a classificação de discentes obtida pela média
devendo a cadeira de Física do Externato importantes
das notas de exames do ano anterior, alguns professores
melhoramentos materiais, uma das salas do gabinete tendo
embora, discordassem da medida apresentando objeções.
recebido o nome daquele professor.
Na cadeira de História Natural do Externato, bem
Melhorados consideravelmente ficaram, em 1927,
como nas cadeiras de Física, Química e Instrução Moral
os g a b i n e t e s de H i s t ó r i a N a t u r a l , b e m c o m o o de
e Cívica, o ensino revestiu muito feição prática por parte
Geografia, t a m b é m sala de aula da disciplina, dotado com
dos respectivos professores. O professor suplementar Dr.
aparelho, máquina de projeção fixa, servida por 300
Octacílio Álvares Pereira, acompanhou alunos de turma a
diapositivos, de preferência apresentando vistas e coisas
seu cargo nas diversas visitas feitas a estabelecimentos
nacionais.
públicos ou particulares.
Dava assim execução a programa da cadeira, tendo
Mostruários com amostras de produtos nossos,
quadros r e p r e s e n t a t i v o s de vários tipos
de c o r t e s
em vista concretizar os ensinamentos da mesma. Visitou
geológicos, desenhados no próprio estabelecimento, sob
a 3a turma suplementar do 1o ano, entre outros
a d i r e ç ã o do Dr. D e l g a d o de Carvalho, e x c e l e n t e s
estabelecimentos, o Arquivo Nacional, o Instituto Histórico
fotografias, ornaram c o m proveito a sala de aula de
e Geográfico Brasileiro, o Tribunal do Júri, o "Jornal do
Corografia do Brasil.
Brasil".
Sob a direção dos professores Serrano e Delgado
A 27 de maio de 1927, na sala da Congregação,
de Carvalho preparou-se em 1927 sala destinada às aulas
presidida pelo Ministro da Justiça, Dr. Vianna do Castello,
de História Universal, cujas paredes receberam, a fresco,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
seis grandes mapas de diversos épocas históricas, sob
Em 1927, foi chamado a exercer o cargo de chefe
as quais figuravam retratos de grandes vultos americanos.
de disciplina, no qual já se notabilizara Quintino do Valle,
A estabelecimento como o Externato do Colégio de
o Dr. José Lourenço dos Santos, docente da Escola Normal,
Pedro Segundo, frequentado por numerosíssimos alunos,
incumbido de zelar pela ordem na Casa, auxiliado por 28
de vária formação educativa e sentimentos nem sempre
inspetores para 400 alunos. Não havendo substituto para
c u l t i v a d o s até primor, a disciplina é c o n d i ç ã o v i t a l ,
o chefe de disciplina, mister foi criar cargo de subchefe.
disciplina eficaz quando temperada pela justiça e pela
Em 1927 o foi o Dr. Octávio Severo Castão, antigo inspetor
equidade. No ano letivo de 1927, a disciplina no Externato,
de alunos, podendo assim o chefe de disciplina revezar
à parte algumas punições a tempo, por faltas leves, não
um pouco nas funções incessantes.
sofreu alteração, em porte, mercê de inspetores n e m
Empenhou-se a diretoria do Internato na regularidade
sempre isentos de contrariedades no exercício de funções
da instrução militar, participando os alunos de várias
para as quais não está habilitado qualquer.
solenidades e campeonatos de jogos desportivos.
Demandam
não só cultivo intelectual como, sobretudo, formação
m o r a l , a m í n g u a de um e m o r m e n t e da outra logo
percebidas pelo aluno,
p r i n c i p a l m e n t e , pelo mal
intencionado ou desrespeitador por natureza.
Desde 17 de março de 1926, achava-se o Internato
sob a direção interina do Dr. Pedro do Coutto, passando
este em 1927, a dirigi-lo efetivamente. Exerceu o cargo
de vice-diretor o bacharel em letras Quintino do Valle,
catedrático de Português, o Dr. Coutto catedrático de
História do Brasil na seção do Internato.
Coube ao Dr.
Pedro do Coutto, em 1927, a presidência da Congregação,
a qual escolheu o catedrático Doutor Philadelpho de
Azevedo para representante no Conselho Superior do
Zelou também a diretoria do Internato pela eficiência
do serviço médico, a cargo do Dr. Rodolpho Chapot Prevost,
e do dentário, a cargo do Dr. Francisco de Paula Severino
da Silva. É sabido hoje a importância ligada pela medicina
à odontologia para descoberta, cura ou lenitivo de várias
afecções das muitas que ameaçam, minam ou extinguem
vida humana.
Em 1927, propunha o Dr. Chapot Prevost várias
medidas tendentes a melhorar as condições higiénicas do
estabelecimento: — pavilhões separados para dormitório
de limitado número de colegiais, acréscimo de banheiras,
aquisição de instrumentos, adoção de lâmpadas elétricas
com vidros foscos para resguardo da vista dos alunos nas
Ensino.
Cresceu, sobremaneira, a matrícula no Internato no
salas de estudo.
Na série de medidas proposta pelo
ano letivo de 1927, ampliado o quadro da Secretaria,
m é d i c o do I n t e r n a t o , achavam-se incluídas algumas
exercido o cargo de secretário do estabelecimento pelo
relativas à higiene intelectual de modo a não prejudicar a
Sr. João Baptista Torres.
Prestava bons serviços no
corpórea, lembrando o Dr. Chapot Prevost, que dada a
inspetor de alunos, amanuense
idade dos colegiais e o nosso clima, a fadiga cerebral é
desde 1917, conhecendo bem o mecanismo administrativo
dez vezes mais funesta de que a dos outros sistemas de
no instituto de ensino ao qual se dedicara e onde, degrau
economia.
Internato desde 1906,
a d e g r a u , c o n q u i s t o u p o s t o de s e c r e t á r i o , nele se
assinalando.
A disciplina em Internatos é muito diferente da
As solenidades do costume encerraram o ano letivo
de 1927 no Colégio, ano letivo no curso do qual vários
professores experimentaram nas aulas o uso de testes,
exigida nos Externatos nos quais a vigilância se exerce
facultado pelo regimento.
Dois professores, Antenor
por algumas horas e não dia e noite como num Internato.
Nascentes
de
e
Delgado
Carvalho,
adotaram
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
definitivamente tal processo de avaliações de
aproveitamento nas sabatinas e concursos bimestrais de
suas aulas.
Bastante melhorado materialmente ficou o Internato
em 1927, construído mais um andar e nele localizados
três vastos dormitórios e uma rouparia. Reconhecia,
porém, o diretor Coutto, que a despeito da boa vontade e
esforço do corpo docente e administrativo, o Internato
"ainda estava bem longe do que devia ser estabelecimento
de seu género".
Igualmente, o diretor Roxo, quanto ao Externato,
reconhecia o edifício impróprio para os seus fins.
Apresentava as razões do seu sentir, sugerindo a
localização do Externato nos Morros de Santo António ou
da Conceição, tornado fácil o acesso aos mesmos. A única
vantagem da presença do Externato na Rua Marechal
Floriano era o de ser esta ponto central, sem maior
dificuldade atingido pelos alunos dos bairros pobres ou dos
subúrbios, isto é, pela maioria dos alunos do Colégio.
Sendo impossível despender avultada quantia para
a construção de novo e modelar Externato, dizendo-se
precisos para tanto 20.000 contos, propunha o diretor Roxo
várias alterações, no edifício, alterações orçadas em 500
contos, para melhoria de condições higiénicas e
pedagógicas do instituto a seu cargo. Entre as medidas
propostas pelo diretor Roxo avultava a construção de casa
para o porteiro em terreno de propriedade do Colégio, com
oito metros de frente para a Rua da Prainha. Isso permitiria
a construção de três boas salas de aula na parte então
tomada pela residência do porteiro, construção de 3o andar
na ala do edifício, dando para a Rua da Prainha,
ajardinamento dos pátios internos e outras medidas
tendentes a tornar quanto possível o Externato edifício
capaz de preencher ainda por alguns anos sua natureza e
seus fins.
Aos poucos iria o diretor Roxo atendendo às
necessidades mais urgentes do Externato, uma delas a
remodelação do Arquivo, finalmente senhor de excelentes
1837 - 1937
armações metálicas adquiridas pelo diretor Laet.
Removidos os documentos do arquivo das estantes de
madeira para as de aço, ficou a importante seção do
Colégio, confiada ao inexcedível zelo do arquivista Augusto
Pedro da Silva Maia, localizada na parte do edifício de face
para a Rua Marechal Floriano, parte imprópria para o
serviço das aulas, visto o contínuo e numerosíssimo
trânsito público pela citada rua, uma das mais
pulverulentas.
Estabeleceu o diretor Roxo confortável sala para
professores, um gabinete contíguo à sala da Congregação,
ampliada para o duplo da antiga área e formada
interiormente.
Muitos outros melhoramentos materiais nas
diversas dependências do Colégio foram devidos à
administração Roxo, zelando por uma casa que lhe
preparara o espírito e abrira carreira.
Entre aqueles melhoramentos de utilidade para o
bom funcionamento das aulas, cumpre mencionar a
instalação de relógio central elétrico colocado no gabinete
da diretoria, acionando outros relógios postos em diversos
pontos do edifício.
Automaticamente, o relógio central punha a soar as
campainhas elétricas, dando anúncio do início ou fim das
aulas, fim tão grato aos menos aplicados.
Encerradas as aulas em 1927, teve mais uma vez o
Colégio de incumbir-se de serviço exaustivo, o dos exames
parcelados e seriados, prestados uns pelo Decreto 5.309A, outros pelo Decreto 11.530, outros ainda obedecendo
a Lei 16.782-A.
Compreende-se facilmente o aperto de serviço e o
redobrar da possível fiscalização na realização simultânea
de exames processados de acordo com três Decretos
diferentes, os de números 5.309-A e 11.530, referindo-se
a exames de preparatórios e o de número 16.782-A a
exames de curso seriado realizados por candidatos
estranhos ao Colégio.
Para ser bem avalizada a monta do serviço
extraordinário do Colégio, basta dizer que outrora, no
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Império, tal serviço incumbia a uma repartição especial, a
Inspetoria de Instrução Pública Primária e Secundária do
Município da Corte.
Os anos letivos do Colégio começavam sempre por
convocações de Congregação. A 2 de março de 1928,
precedendo a abertura de aulas, reunia-se a Congregação,
presidida pelo diretor do Externato, Dr. Roxo. Comunicava
ele oficialmente ao Corpo Congregado o falecimento do
professor Laet, não sem lhe ter consagrado expressões
de respeito e saudade, propondo a realização de sessão
solene em memória do desaparecido. À proposta do
presidente da Congregação foram acrescentadas propostas
dos professores Lafayette Pereira e Henrique Dodsworth.
Requereu o primeiro inserção em ata de voto de profundo
pesar pela morte de Laet, propondo o segundo que, de
acordo com antiga sugestão sua, fosse dado o nome de
Carlos de Laet a uma das salas do Externato. Todas as
propostas receberam sanção unânime.
No ano letivo de 1928, o ensino no Colégio sofreria
alteração, apresentada em sessão da Congregação,
proposta subscrita por numerosos professores, proposta
motivada tendente a modificar a seriação do curso do
Colégio.
A proposta sugeria a conveniência da transferência
da cadeira de Instrução Moral e Cívica do 1 ° para o 5o ano,
a ideia combatida pelos professores Gabaglia e Delpech,
chegando o primeiro a propor a extinção da cadeira.
Discutida a proposta Gabaglia, com emenda deste
professor mantendo a Cadeira no 1o ano, foi mandada a
proposta à Comissão de Ensino, visto insistir o professor
Gabaglia no propósito de serem ouvidas as respectivas
comissões sobre assuntos ventilados em Congregação.
Voltando esta a discutir o plano de nova seriação de
matérias do curso secundário aprovou o Corpo Congregado
o parecer da Comissão de Ensino relativo ao assunto.
Manteve, por 17 votos contra 12, a denominação da cadeira
de Português em vez da de Idioma Nacional. Por 18 votos
contra 7, confirmou a denominação da cadeira de Instrução
Moral e Cívica em vez Instrução Cívica e Noções de Direito
Usual.
Entendeu também a Congregação nomear comissão
para estudo dos pontos alteráveis do Regimento Interno
do Colégio. Ficou a comissão constituída pelos vicediretores do Externato e do Internato, Othello Reis e
Quintino do Valle e pelos professores Antenor Nascentes
e Escragnolle Dória.
Para representante do Colégio no Conselho Superior
do Ensino em 1929, elegeu a Congregação, por 18 votos,
o professor Philadelpho Azevedo. Representava os
docentes-livres na Congregação, em 1927, o docente
Jayme Coelho, substituído em 1928 pelo docente Dr.
António Figueira de Almeida.
Aliás, o Conselho Superior do Ensino, por voto
unânime, solicitara ao Governo a supressão da docêncialivre no Pedro Segundo, opinião secundada pelo juízo do
diretor Roxo por não se justificar no Colégio a docêncialivre, instituição universitária e própria de ensino superior.
Caracterizava a docência-livre a faculdade pela escolha
de professores por parte do aluno — dizia o diretor do
Externato — tal escolha, evidentemente, não podia partir
de meninos ou adolescentes. Acrescia a esta ponderação
a impossibilidade de adaptar-se a livre-docência à
organização de turmas em colégio de instrução secundária,
organização sujeita a critérios pedagógicos, qual por
exemplo a limitação do número de alunos, devendo haver
nas referidas turmas necessária homogeneidade.
Em relação ao ensino, foi apresentada à
Congregação proposta do professor George Sumner. Por
intermédio do Ministro da Justiça, sugeria ao Congresso
Nacional a conveniência de serem considerados
catedráticos os professores de Desenho do Colégio.
Aceita pela comissão de Docência, foi a proposta
de Sumner unanimemente aprovada pela Congregação.
Todos os serviços do Externato, em 1928, correram
com a devida regularidade, humanamente embora sujeitos
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
a senões, o diretor Roxo procurando corrigi-los por meios
suasórios, ou discretos se de maior monta.
Tratava também de corrigir, no alcance de sua
autoridade e das possibilidades financeiras do Colégio, os
senões da localização do Externato. Insistia pelo
ajardinamento dos pátios da Casa, "não só para tornaremse aprazível local de estudos, como permitindo o
jardinamento a constituição de pequeno horto com certo
número de espécies botânicas para estudos de História
Natural".
Desejoso de levantar o inventário do Externato,
designava o diretor Roxo Comissões para auxílio seu na
realização do intento. Incumbia aos professores
Escragnolle Dória e José Oiticica e ao bibliotecário do
Externato, Dr. Fernandes Veiga, a avaliação dos 15.000
volumes da biblioteca do estabelecimento.
Duas solenidades encerraram o ano letivo de 1928.
A 2 de dezembro, data natalícia de D. Pedro II e, portanto,
sempre memorável no Colégio, presidida pelo Ministro da
Justiça, realizava-se sessão solene comemorativa do 91°
aniversário da fundação da Casa. À cerimónia ajuntou-se
a inauguração do retrato de D. Pedro II, retratado o antigo
soberano de corpo inteiro, trazendo numa das mãos o
Decreto de fundação do Colégio, quadro aquele obra do
pintor patrício Carlos Osvald.
Seguiu-se à inauguração da tela a colação de grau
dos bacharéis em Ciências e Letras de curso concluído
em 1927: — António Gabriel de Paula Fonseca, Carlos
Rocha Mafra de Laet, neto de Carlos de Laet, José Cândido
Sampaio de Lacerda e Luiz Torres Barbosa, alunos do
Externato.
Doze alunos receberam prémios de aplicação e sete,
de procedimento exemplar, cabendo o Prémio Nerval de
Gouvêa a aluno do Internato, Plínio Gomes de Mattos Filho.
Constou a festa também de parte literária e musical,
preenchida aquela pela recitação de poesias por alunos e
alunas, estas por execuções de trechos clássicos de
Beethoven e Schumann por alunos, encerrada a solenidade
1837 - 1937
com o Hino Nacional cantado pelo Orfeão do Colégio.
A 29 de dezembro, realizou a Congregação sessão
solene dividida em três partes, a primeira dedicada a Carlos
de Laet, a segunda, à entrega de certificados aos alunos
de 5o ano de curso concluído em 1927, a terceira, à sessão
literária.
Apreciando a personalidade inconfundível de Laet
oram o professor Jonathas Serrano, em nome da
Congregação e o quintanista Gentil Coelho de Castro, em
nome de colegas de turma.
Analisou o professor Serrano a individualidade de
Carlos de Laet sob os variados aspectos por ela
apresentados na existência, "professor quase até o dia da
morte". O professor Serrano, em minudente estudo, disse
muito sobre aquele a quem elogiava e "cuja obra, na
imprensa, daria, reduzida a volumes, uma biblioteca",
desejoso o orador "por ver a obra de Laet reduzida a livros,
apelo feito da tribuna do Colégio que o escritor amou, dirigiu
e dignificou, sem se acomodar, emudecer ou infletir na
defesa de ideais", declaração tanto mais insuspeita
porquanto oriunda de antigo adversário do polemista na
imprensa, o que não impedira Laet de prestar justiça ao
seu contendor ao concorrer este a cátedra no Colégio.
Estudando, longamente, a vida de Carlos de Laet, o
professor Serrano concluiu, lembrando-lhe feição conhecida
de poucos, a da sua capacidade poética, citando-lhe um
soneto: — "Rosa", bem digno de figurar em antologia.
la Rosa vestir-se e do vestido
Uma voz se desprende e assim murmura:
"Muitas morremos de uma morte escura
Porque te envolva sérico tecido".
la toucar-se e escuta-se um gemido
Do marfim que as madeixas lhe segura:
"Por dar-te o afeite desta minha alvura
Jaz na selva meu corpo sucumbido".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Põe um colar e a pérola mais fina:
vaga pela transferência para a cadeira congénere do
"Para pescar-me quantos párias, quantos
Externato do professor Álvaro Espinheira.
Padeceram no mar lúgubres s o r t e s " .
Frequentemente, havia cadeiras vagas no Colégio,
j á por f a l e c i m e n t o s , d i v e r s o s i m p e d i m e n t o s , não
E Rosa chora: O h ! desditosa sina!
permitindo preencher definitivamente vagas resultantes de
Todo sorriso é feito de mil prantos
óbitos ou disponibilidades.
Toda vida se tece de mil m o r t e s ! "
Assim, transferido o professor Nascentes da cadeira
de Português do Internato para a do Externato, vaga
a transcrição e a
proveniente do falecimento do professor Laet, passara reger
memória deste soneto porque, recitado em sessão solene,
interinamente a cadeira respectiva no Externato o Dr.
o professor Serrano pôde acrescentar perorando, " q u e m
Jacques Raymundo Ferreira da Silva, docente-livre.
Não pareça fora de propósito
metrificou e rimou tais estrofes não era apenas uma
Serviram t a m b é m interinamente, no impedimento
inteligência robusta, era ainda um coração capaz de
dos professores Almeida Lisboa, Henrique Dodsworth e
emoção e ternura, uma alma que vibrava aos grandes
Oliveira de Menezes, os dois últimos no exercício de
mistérios da dor".
funções eletivas, os Drs. Irineu Leite de Freitas, Francisco
O ano letivo de 1929 abriu-se com certo número de
cadeiras vagas, quais no Externato as de Alemão, vaga
desde junho de 1925, por efeito da disponibilidade do
professor Said Ali, a de Latim, vaga desde fevereiro de
Venâncio Filho e Corregio de Castro nas cadeiras de
Matemática. Física e Química.
Considerável era o n ú m e r o de matriculados no
Colégio.
1927, pelo falecimento do professor Mendes de Aguiar, a
Daí necessidade de criar turmas suplementares, 14
de Química, vaga desde setembro de 1929, em virtude da
no Externato, onde sempre mais numerosas estas turmas,
disponibilidade do professor Oliveira de Menezes, a de
menos três turmas em 1929 do que em 1927 e em 1928.
Instrução Moral e Cívica, criada pela Reforma Rocha Vaz,
Difícil era sempre organizar horário de aulas no Colégio,
a tais cadeiras achava-se interinamente e respectivamente
sobretudo no Externato, cujo edifício cada vez mais, pelo
ocupadas pelos professores Drs. Tristão da Cunha, Nelson
crescer de matriculados, se ressentia da impropriedade
Romero, Luiz Pinheiro Guimarães e Cónego Dr. Francisco
para preencher fins educativos, a falta de espaço sensível
da Gama Mac Dowell.
a cada m o m e n t o em prédio de faces voltadas para vias
Havia, porém, anteriormente, o Governo resolvido
sustar inscrições para concurso no Colégio.
públicas de intenso trânsito e ruído, quais a Avenida Passos
e as ruas Marechal Floriano e Camerino.
Todas as cadeiras acima enumeradas pertenciam
Pelos fundos ficava o edifício, voltado para a rua da
ao E x t e r n a t o , no I n t e r n a t o t a m b é m vagas a l g u m a s
Prainha, ora L e a n d r o M a r t i n s , o n d e se localizavam
cadeiras, assim a de Francês, vaga, pelo óbito do professor
estabelecimentos industriais de rumor e perigo, serrarias
Floriano de Britto e transferência do professor Delpech,
e fundições.
regendo-a interinamente o professor Júlio Nogueira, antes
aulas com a música das serras, as segundas enfumaçando
lecionando no Externato a cadeira de Literatura Brasileira
e enfagulhando salas.
e de Língua Latina.
No Internato, também preenchia interinamente o Dr.
Nuno Lopes Smith de Vasconcellos a cadeira de Inglês,
As primeiras acompanhavam não raro as
Nos edifícios do Externato e do Internato tudo
acabava se reduzindo a obras de simples adaptação ou
remodelações.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Em abril de 1929, a diretoria Roxo pôde concluir a
reconstrução começada em 1928, das alas do edifício do
Externato dando para a Rua da Prainha e de esquina com
a rua Camerino, abrangendo cerca de 300 metros em cada
um dos pavimentos.
Com a reconstrução pôde o imóvel conter bem maior
número de dependências no pavimento térreo e no
superior.
Neste, o Salão Nobre foi inteiramente restaurado.
Durante algum tempo esteve a obra de Bettencourt da Silva
ameaçada de completa destruição, ideia contra a qual
sempre se manifestaram sobretudo os professores Carlos
de Laet e Escragnolle Dória.
Felizmente, não medrou ideia tão contrária à tradição
e beleza do estabelecimento. Achou-se o soalho, mudado
por inteiro, trazido ao nível do resto do pavimento, foram
mudadas as esquadrias, restaurados, pintados e
redoirados os painéis de estuque do teto e das paredes.
Para obter mais duas salas de aula houve mister sacrificar
parte do salão, aquele em que figurava tribuna de música.
Mais tarde, ficou reconhecido que mais valia ter conservado
o Salão Nobre do Externato qual o havia legado o Império.
Muito se perdeu.
Outras adaptações foram feitas no edifício do
Externato em 1929, recebendo o Salão Nobre mobiliário
de imbuia, trabalho nacional de fábrica de Santa Catarina,
reformado aos poucos o mobiliário escolar, estabelecidos
filtros para uso dos alunos, aproveitada antiga sala dos
inspetores, num vestíbulo, para instalação de pequeno
refeitório para uso de professores, no intervalo de aulas, e
para venda de merendas a alunos.
Substituía a modesta instalação outra do mesmo
género e modestíssima, localizada na parte do edifício do
lado da Rua da Prainha, instalação pitorescamente
denominada Café Fumaça e dirigida por serventes, ai
obtendo parcas vantagens acrescidas a minguados
vencimentos, daqueles serventes o mais popular entre
docentes e discentes o de nome Romeu.
1837 - 1937
Num estabelecimento com a frequência diária de
700 alunos, como o Externato em 1929, houve apenas a
lamentar um caso de indisciplina, de aluno do 1o ano contra
o seu inspetor, punido o aluno, após inquérito regular feito
por professores, com a pena de suspensão de exames
em 13 e 2a época.
Outro caso de indisciplina, por parte de um
preparatoriano, por ocasião de exames parcelados,
também foi objeto de inquérito, proposta ao Diretor-Geral
do Departamento de Ensino a exclusão do preparatoriano
dos estudos, por tempo a arbitrar, de quaisquer
estabelecimentos oficiais ou equiparados.
Procurava, assim, a diretoria Roxo resguardar o
princípio indispensável da disciplina, sem o qual não vale
a pena abrir portas de estabelecimento de instrução.
Nem se estendia a vigilância da diretoria só a
discentes e preparatorianos, também a subordinados,
advertindo inspetor, convidando-o usar com alunos, de
linguagem que não desse motivo a reclamações.
Advertia a diretoria do Externato, mas reconhecia
oficialmente que "no desempenho de funções exercidas
com zelo e dignidade os inspetores faziam jus a preito de
reconhecimento por parte da administração do Colégio".
Daí, lamentar este o falecimento inesperado, com
suspeitas infelizmente não apuradas de crime, por traição,
em sua própria residência, do inspetor de alunos Octávio
Freire de Andrade, desaparecido do número dos vivos a
19 de outubro de 1929. Admitido como inspetor no
Internato em 1912, no mesmo ano transferido para o
Externato, aí no decurso de 16 anos de exercício distinguiuse por espírito disciplinador. Conseguia, com pouco vulgar
serenidade, manter ordem e respeito nas turmas das quais
era encarregado, sem altear voz sem punir, por simples
força moral, equiparando-se destarte a outros colegas
dotados das mesmas qualidades.
Coadjuvava os diretores do Externato e do Internato
a Congregação do Colégio, a eleger em 1929 representante
dos docentes-livres junto ao Corpo Congregado — Dr. Mário
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Guedes Naylor. Procurava o Corpo Congregado não só
manter a disciplina como pugnar por quanto interessasse
a causa do ensino, mormente em relação ao Colégio.
Em 1929, a Congregação discutia longamente, à
vista de parecer de comissão especial, indicação
apresentada ao Conselho de Ensino pelo professor Figueira
de Mello sobre reforma do ensino secundário.
Sem maior alteração e sob a direção Roxo correu
em 1930 o ano letivo no Externato, funcionando na
Congregação, como representante dos docentes-livres o
Dr. Oscar Przewodowski, eleito para servir em 1930.
Escolheu igualmente a Congregação para representá-la no
Conselho Nacional do Ensino o professor Quintino do Valle,
sucedendo ao professor Gastão Ruch.
Por proposta do professor Lafayette Pereira, votava
louvores a Congregação com o professor Oiticica, então
na Alemanha, pelo brilhantismo das lições do mencionado
lente de Português do Externato, naquele país de tanta
cultura e apreciado saber.
Ainda por proposta do professor Lafayette Pereira,
votava louvores a Congregação aos docentes-livres Jayme
Coelho e Clóvis do Rego Monteiro, por motivo de seus
concursos na Escola Normal e subsequentes nomeações
para as cadeiras de História da Civilização e Literatura da
referida Escola.
Ao encerrar-se o ano letivo de 1930, por proposta
do professor Quintino do Valle, secundada pelo diretor
Roxo, a Congregação votava moção de pesar, lamentando
a morte do Doutor José Júlio da Silva Ramos, falecido a
15 de dezembro de 1930.
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra,
após concurso, fora nomeado lente de Português do
Internato a 6 de junho de 1907, aí lecionando até obter
disponibilidade. Servira de professor suplementar de
Português do Externato em 1884, 1895, 1896 e 1897, três
anos inspetor escolar no Distrito Federal, diretor e professor
durante dois anos do Ginásio Fluminense instalado em
Petrópolis. Era, pois, Silva Ramos um radicado no ensino.
Lamentou-lhe a morte a Congregação do Colégio, a qual
foi presente proposta do professor Lafayette Pereira, para
ser dado o nome de Silva Ramos à sala de História Natural
do Internato.
No Externato, por oferta do professor Escragnolle
Dória, foi inaugurado, na sala dos inspetores, o retrato de
meio corpo do finado inspetor de alunos Octávio Freire de
Andrade, retrato aquele obra fotográfica ampliada de outro
inspetor, Carlos Pederneiras.
A 18 de outubro de 1930, realizou-se a inauguração
do retrato do inspetor Andrade. O diretor Roxo pôs
empenho na realização do ato como exemplo ao corpo de
inspetores e a discentes.
Reunidos aqueles e presente toda a turma do 5o ano
B, a última inspecionada pelo inspetor Andrade, no 2° ano
daquela turma em 1929, foram descerradas as cortinas
de sobre o retrato.
Oraram o professor Escragnolle Dória e o diretor
Roxo, ambos concitando os inspetores em face de alunos,
a nunca desampararem trabalho e dever conforme fizera
o colega desaparecido.
Em nome do Colégio, orou agradecendo um inspetor,
realizando-se a modesta, mas expressiva solenidade, na
véspera do 1o aniversário da morte do inspetor Andrade,
por ser o dia de tal aniversário um domingo.
No ano letivo de 1930, entendeu o diretor Roxo
promover no Externato algumas conferências de caráter
educativo ou instrutivo, conferências concorridíssimas por
parte de alunos e seguidas com interesse por parte de
docentes.
Também no ano letivo, para entretenimento de
alunos, realizavam-se no Salão Nobre, com o auxílio de
profissionais, curiosas sessões de prestidigitação e
transmissão de pensamento.
O fim do ano letivo de 1930 contaria, em outubro,
alguns dias de sobressalto geral, a refletir-se no Colégio,
em virtude de sucessos políticos findos em mudança
radical nas instituições vigentes, afastado do Governo o
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Presidente Dr. Washington Luiz Pereira de Souza, aluno do
Internato no Império, instituído afinal um Governo
Provisório, tendo por chefe o Dr. Getúlio Dornelles Vargas,
empossado a 3 de novembro, com poderes discricionários.
A 7 de novembro era expedido um dos primeiros
Decretos do novo Governo adiando os exames do Colégio.
Encerrava-se o ano letivo para o Colégio com
mudanças na direção das suas duas seções. Deixava a
direção do Internato o professor Pedro do Coutto, nomeado
para substituí-lo o diretor do Externato, o professor Roxo,
nomeado diretor do Externato o professor Delgado de
Carvalho, tudo por Decretos de 9 de dezembro de 1930.
Continuava na vice-diretoria do Internato o professor
Quintino do Valle. Era nomeado para o cargo de vice-diretor
do Externato, exercido pelo professor Othelo Reis, o
professor Escragnolle Dória, que não aceitou tal nomeação
como declinara a de diretor em 1925.
Ressentira-se o Colégio de efeitos da revolução de
abalo ao país em 1930, depondo o Presidente da República,
Doutor Washington Luiz Pereira de Souza, a 24 de outubro
de 1930, quando poucos dias faltavam para terminação
de mandato e consequente entrega de Governo a sucessor
eleito e reconhecido, Dr. Júlio de Albuquerque Prestes. A
31 de outubro de 1930, chegava ao Rio de Janeiro, vindo
do Rio Grande do Sul, terra natal, o Dr. Getúlio Dornelles
Vargas, para chefiar Governo Provisório.
Adiados, a 6 de novembro, os exames do Colégio,
a 11 do mesmo mês, parte do edifício do Externato era
transformado em quartel provisório de batalhão do exército
trazido ao Rio de Janeiro pelo movimento revolucionário,
a inaugurar novo período político chamado República Nova.
Aquartelou-se em parte considerável do edifício do
Externato o 8o Batalhão de Caçadores, repetindo-se assim
mais uma vez a História, pois o seminário de São Joaquim,
ao tempo do Príncipe Regente, dera guarida a tropas
portuguesas.
Ao iniciar-se o ano letivo de 1931, a Congregação
entendeu designar comissão de membros seus para
acompanhamento dos trabalhos de comissão nomeada por
1837 - 1937
parte do novo Ministério da Educação e Saúde Pública com
o fim de adotar o regimento interno do Colégio de Pedro
Segundo a nova reforma do ensino. Por proposta aprovada
do presidente da Congregação, o diretor Roxo, ficou a
referida comissão a cargo dos professores Nascentes,
Philadelphoe Coutto.
A 4 de fevereiro de 1931, falecia o catedrático de
Inglês, Álvaro Espinheira, antigo e probo substituto da
cadeira por escolha da Congregação, em 1915, e
catedrático em 1920, designado para o Internato, tendo
servido como chefe de disciplina no Externato de 1911 a
1915.
A 25 de março de 1931, em sessão de Congregação,
o professor George Sumner propunha voto de pesar pelo
trespasse de Espinheira, declarando-o "sempre cumpridor
de deveres por modo distinto". Como sucede a professores
ríspidos, nem a todos agradava Álvaro Espinheira, mas
no tocante a assiduidade, a cumprimento exato de
deveres, de palavra, a devotamento, a obrigações de
cidadão e de chefe de família, só merecia louvores. Sabia
mais o "fortiter in re" do que o " suaviter in modo", no
exercício de funções de magistério, exercendo-as, porém,
com escrúpulo, alheio a empenhos de torcer justiça.
A 20 de setembro de 1931, sob a presidência do
Ministro interino da Educação e Saúde Pública, Dr. Belisário
Augusto de Oliveira Penna, no edifício do Externato
realizava-se a colação de grau à turma de bacharéis de
curso concluído em 1930. Na mesma ocasião, foram
distribuídos prémios a alunos que melhores teses haviam
apresentado na aula de Geografia do professor Raja
Gabaglia.
O Colégio festejava os seus, sabendo honrar alheios.
Assim, recebeu em 1931 os delegados do 2o Congresso
Feminino, dedicando-lhes sessão especial no Salão Nobre
do Externato, chamando à mesa da solenidade as
delegadas Dras. Bertha Lutz e Cármen Portinho.
No decurso do ano letivo de 1931, realizaram-se na
aula de História Natural do Externato interessantes
ESCRAGNOLLE DÓRIA
preleções da disciplina por alunos, preleções às quais, a
convite do professor Potsch, davam presença vários
professores do Colégio. Tais exercícios, antes inaugurados
nas aulas de História do professor Escragnolle Dória,
serviam de estímulo a alunos, sobrelevando-se entre outras
as preleções da aula de História Natural as das alunas
Oridéa Fernandes, Cybelle Gourlart, Rosa Vianna e dos
alunos Daniel Penna Aarão Reis e Alberto Raja Gabaglia.
Mostravam-se assim os alunos do Colégio não só
empenhados em dar largas de inteligência como a
patentear sentimentos de coração.
Demonstrou estes a turma do 3o ano B do Externato
ao falecer colega dos melhores, Newton Costa de Azevedo
Osório, um dos mais apreciados alunos do Colégio; de
morte geralmente pranteada, o que convém mencionar,
para abono do coração e caráter dos discentes do Colégio,
que também prestaram idêntica homenagem por ocasião
do falecimento do distinto quintanista Linneu Bittencourt
Quadros.
Luto também foi para o Colégio em 1931, a 9 de
setembro, o desaparecimento prematuro do professor
Mário Barreto, professor do Colégio Militar, tendo também
lecionado no Internato do Colégio. Continuando nesta
tradição paterna, a de Fausto Barreto, Mário Barreto era
respeitado como filólogo, sempre na estacada para estudar
e defender o lídimo da língua vernácula. Levou-oa morte
quando a vida ainda bastante lhe prometia para lustre de
nome e proveito de estudiosos. Por ocasião do seu
falecimento foram suspensas as aulas do Colégio, além
de outras homenagens ao professor bom e modesto.
A 28 de novembro, deixava a diretoria do Externato,
passando a vice-diretor, o Dr. Delgado de Carvalho,
empossado como diretor o Dr. Henrique de Toledo
Dodsworth, a assumir direção no período rumoroso do
Colégio, o dos exames, prolongado até nova abertura de
aulas pelos exames parcelados e de candidatos estranhos
sujeitos a provas perante professores do Colégio. O labor
sempre o caracterizou, nele de reflexo a atividade do seu
Augusto Patrono, nas funções de semi-secular
desempenho no cargo de primeiro magistrado da Nação
fiel ao "nulla dies sine labor".
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
XIV
O Colégio de 1932 a 1937
Gastão Ruch, Professor Emérito
• Diretoria Dodsworth
• Homenagem ao
Professor Nascentes • Projeto de Instituto Brasileiro de Filologia • Reforma
Francisco Campos • Extinção da Cadeira de Instrução Moral e Cívica • Ensino de
Línguas Vivas Estrangeiras • Auxiliares de Ensino e Provas Parciais • Imprensa e
Clubes Colegiais • Intercâmbio Pedagógico • Embaixadas Intelectuais ao
Estrangeiro • Curso Livre de Italiano • Movimento da Secretaria, da Tesouraria, da
Biblioteca do Externato • Obras no Colégio • A Galeria dos Reitores e Diretores •
O Gabinete de Educação • Serviço de Refeições • Disciplina colegial • O Clube pela
Paz • A Celebração do Centenário do Colégio • Homenagem ao Professor Frontin •
Criação do Curso Noturno • O Professor Garric • Curso Livre de Grego • Cursos de
Aperfeiçoamento de História Natural e Química • Cursos Livres de Canto Orfeônico •
Concertos Musicais Educativos • Concursos e Cursos Estranhos ao Colégio •
Óbitos • Inauguração do Busto de Augusto Comte • Obras, Reformas e Novas
Instalações • Diretoria Raja Gabaglia •
Homenagem ao Professor Escragnolle Dória •
A Emenda n.° 1.845 • Projeto de Associação Brasileira de Cultura •
Jubilação de Antigos Professores • Aumento das Disciplinas da 6a Série •
Cursos Complementares • Novos Professores • Óbitos • Homenagens • Propostas •
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Restauração das Cadeiras de História do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito
Usual • Concurso • Novos Óbitos • Centenário Coqueiro • O Conselho Nacional de
Educação e seu Plano Pedagógico • Admissão de Professores Contratados no
Colégio e a Maneira de Regulá-la • A Circular 1.200 de 1o de Junho de 1937 •
Escragnolle Dória Professor Emérito • Óbito do Professor Badaró •
O Professor Dodsworth Interventor no Distrito Federal •
A Celebração do 1 o Centenário do Colégio.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Wf em antes da abertura do ano letivo de 1932, a 16 de
ILJ janeiro, reunia-se a Congregação do Colégio, em
sessão solene, a da colação de grau aos bacharéis em
Ciências e Letras de curso findo, em 1931, curso enlutado
pela perda do probo professor Álvaro Espinheira, falecido
a 4 de fevereiro de 1931.
A 30 de janeiro, realizava a Congregação nova
sessão.
Dedicou-a ao professor Gastão Mathias Ruch
Sturzenecker, havia pouco jubilado, a 5 de janeiro,
catedrático de Francês do Externato.
Oraram o professor Delpech, salientando a nobreza
da vida de magistério do homenageado; o professor
Nascentes, afirmando o amor de Ruch pelo ensino; o
professor Accioli interpretando sentimentos próprios e dos
funcionários administrativos do Colégio, bem como os dos
professores de Línguas Vivas Estrangeiras; o professor
Raja Gabaglia, traduzindo a emoção dos professores exalunos de Gastão Ruch; o professor Sumner, louvando em
nome do corpo discente, por último, o professor
Przewodowski, prestando homenagem pelos livresdocentes.
Em seguida, a Congregação, por unanimidade,
aprovava moção subscrita por 23 professores.
1837 - 1937
Conferia ao colega jubilado o título de Professor
Emérito, atendendo a serviços relevantes prestados ao
Ensino Secundário durante mais de 30 anos com a maior
assiduidade e sobretudo interesse.
Na mesma sessão de homenagem a Ruch, o
professor Roxo fundamentou duas propostas, uma relativa
ao professor Delgado de Carvalho, pela sua atuação na
diretoria do Externato, outra de congratulação com o
Governo Provisório pela escolha do professor Dodsworth
para diretor do Externato, assinalando o esforço do
nomeado em favor do Colégio, na qualidade de deputado
federal.
Nova homenagem, esta porém no fim do ano letivo
de 1932, prestaria a Congregação.
Distinguiu um de seus membros, o professor
Nascentes, por motivo da publicação de notável e útil
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, por mestres
apreciada a obra no Brasil e no estrangeiro.
Na sessão de homenagem ao professor Nascentes,
a 22 de dezembro de 1932, orou o professor Oiticica.
Defendeu então a ideia de conseguir o Colégio dos
poderes públicos a criação do Instituto Brasileiro de
Filologia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Independente ou agregado ao Museu Nacional, teria
por diretor o professor Nascentes, digno da honra por títulos
de honestidade, esforço e competência.
Agradecendo a homenagem da Congregação, frisou
o professor Nascentes que "a publicação do dicionário de
sua lavra interessava não tanto à pessoa do autor como à
corporação docente do Colégio".
"Apagado o nome do autor, cumpria elevar o do Pedro
Segundo, prestando-lhe assim o mais meritório dos
serviços."
No decurso do ano letivo de 1932, elevar-se-ia,
sobremaneira, o número de alunos do Externato, perto de
500.
Foram divididos em turmas, no 1 ° ano obedecendose ao critério da média dos graus nos exames de admissão
e nas demais séries, observada quanto possível a
classificação de ano anterior.
Assinalar-se-ia o ano letivo de 1932 no Colégio e no
Ensino Secundário brasileiro pelo começo de execução de
reforma daquele ensino.
Triunfante a revolução de 1930, o Chefe do Governo
Provisório, o 2o da República, Dr. Getúlio Vargas, expediu
o Decreto 21.241, de 4 de abril de 1932.
Referendou-o o Ministro da Educação e da Saúde
Pública, Dr. Francisco Luiz da Silva Campos, expedido
aquele Decreto para consolidação das disposições sobre
o Ensino Secundário entre outras providências.
Pelo citado Decreto, o Ensino Secundário,
oficialmente reconhecido, seria ministrado no Colégio de
Pedro Segundo e em estabelecimentos sob regime de
inspeção oficial.
Compreendiam dois cursos seriados: — um
fundamental, de 5 anos, e outro complementar de 2, o
segundo curso obrigatório para os candidatos à matrícula
em determinados institutos de ensino superior,
discriminadas as disciplinas necessárias aos candidatos
à matrícula em cada instituto de ensino.
Poderia o curso complementar ser organizado no
Colégio de Pedro Segundo.
Os catedráticos do Pedro Segundo deveriam ser
nomeados por Decreto, mediante concursos de provas e
de títulos, escolhidos entre diplomados pela Faculdade de
Educação, Ciências e Letras.
Enquanto não houvesse tais diplomas, o cargo de
professor do Pedro Segundo seria provido por concurso,
nas condições estabelecidas para a escolha dos
catedráticos de ensino superior.
Indicaria o Conselho Nacional de Educação três
membros da comissão examinadora do concurso, porém,
estranhos à Congregação do Colégio.
O professor seria nomeado por 10 anos. Findo o
decénio, caso fosse o professor candidato a recondução
no cargo, sujeitar-se-ia a novo concurso, ao qual
concorreria conjuntamente com professores do
estabelecimento de Ensino Secundário nomeados por
concurso.
Não sendo o professor nomeado por 10 anos
candidato à recondução, o concurso seria de títulos e
provas.
Para o ensino de Línguas Vivas no Colégio haveria
professores contratados, auxiliados por professores
nacionais ou estrangeiros admitidos anualmente por
portaria de contrato, tendo a seu cargo pequenas turmas,
no máximo de 20 alunos.
Contratar-se-iam serviços de professores de Música
e Educação Física.
O candidato a exame de admissão no Pedro Segundo
deveria provar, por certidão de registro civil, ter a idade de
11 anos ou completado até 30 de junho do ano em que
requeresse inscrição.
Seriam nulos os exames de admissão prestados na
mesma época em mais de um estabelecimento de Ensino
Secundário, válido o exame de admissão feito no Pedro
Segundo para a matrícula no 1o ano em qualquer outro
estabelecimento de citado grau.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
No Pedro Segundo, a banca examinadora de
admissão constaria de três professores do Colégio
designados pelo diretor de cada seção.
Processada a matrícula no curso secundário na
primeira quinzena de março, o ano letivo começaria a 15
de março para terminar a 30 de novembro, salvo caso de
força maior, mediante autorização do Ministro da Educação.
Haveria férias escolares nos meses de janeiro,
fevereiro até a primeira quinzena de março inclusive, tido
por período de férias a segunda quinzena de junho.
Cada aula duraria 50 minutos, obrigatória a
frequência às aulas, não podendo prestar exame, em
primeira época, o aluno de frequência inferior a ZA da
totalidade das aulas obrigatórias da respectiva série.
Constariam os trabalhos escolares no ano letivo de
arguições, trabalhos práticos, provas escritas parciais,
quatro, para cada disciplina. A tais provas deveriam ser
atribuídas notas, graduadas de cinco em cinco pontos, em
maio, junho, setembro e novembro.
Entrando em minudentes providências sobre as
provas parciais, isentas de segunda chamada, o Decreto
21.241 estabelecia que ao aluno faltoso a uma prova parcial
se atribuísse a nota zero, quaisquer que fossem os motivos
da ausência.
Determinou o Decreto 21.241 as condições para ser
o aluno secundário aprovado na última série do curso ou
promoção em qualquer das duas séries.
Extinguiu o Decreto 21.241 a Cadeira de Instrução
Moral e Cívica de lições a princípio ministradas no 1o ano
e depois no 5o ano do curso ginasial.
Nomeado para reger interinamente aquela Cadeira,
o Cónego, depois Monsenhor, Dr. Francisco da Gama Mac
Dowell, por Decreto de 9 de julho de 1925, desempenhou
ele funções até ser exonerado, por extinção da Cadeira,
pelo Decreto de 27 de julho de 1932.
Tal ocorria, quando o ensino de Línguas Vivas
Estrangeiras, instituído no Colégio pelo Método Direto, com
caráter exclusivamente prático, carecia de instruções.
1837 - 1937
Formularam-nas os professores Antenor Nascentes,
Adriano Delpech, Delgado de Carvalho e o dirigente do
ensino de Francês, Dr. António Carneiro Leão, aprovadas
as mencionadas instruções pelo Ministro da Educação e
Saúde Pública.
Determinaram as instruções a finalidade do ensino
direto do Francês, do Inglês e do Alemão no Colégio. Tal
ensino seria ministrado em turmas de 15 alunos, fixados
o horário das aulas, estabelecido o processo dos exames
finais de Línguas Vivas por meio de provas escritas e orais.
Foi o ensino pelo Método Direto iniciado no ano letivo
de 1932 somente no 1o e 2o ano, não podendo principiar o
curso de Alemão, visto os alunos da 3a e 4a séries
estudantes daquela língua estarem sujeitos a regime
anterior.
A fins de estímulo, resolveu o diretor Dodsworth
aproveitar como auxiliares de ensino ex-alunos do Colégio.
Escolheu os mais distintos por aplicação e conduta,
favorecendo assim estreia de magistério a elementos de
boa recomendação para o Colégio.
Em 1932, o regime das provas parciais entrou a ser
aplicado a todas as séries do curso, no termo do ano letivo
processada a promoção dos alunos do Colégio de acordo
com os dos institutos de ensino superior, secundário,
comercial e técnico profissional.
Feita nos termos do Decreto 22.167 de 5 de
dezembro de 1932, a promoção era obtida por média
aritmética superior ou igual a 40 pontos no cômputo das
disciplinas das séries nas quais se achassem os alunos
regularmente matriculados.
No ano letivo de 1932, procurou a diretoria do
Externato animar o gosto de alunos por questões
intelectuais. Fundou o corpo discente vários periódicos,
nascidas quatro associações colegiais: Academia de
História, Academia de Sciencias, Lettras e Artes, o Grémio
Scientifico e Litterario e o Club de Química, achando-se
em projeto a Academia dos Dez.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O Clube de Química reunia-se na sala de preleções
do gabinete da disciplina, sala por voto unânime da
Congregação denominada Oliveira de Menezes em
lembrança do primeiro professor da Cadeira, separada da
de Física, Dr. Augusto Xavier Oliveira de Menezes.
Grande atividade desenvolveu a Academia de
História, fundada por iniciativa do professor Serrano.
Recebeu estatutos elaborados pelos 5o anistas Ascanio
Pedro de Farias, António Jorge Ananias, Jorge Américo
de Araújo. Octávio Christo Miscow, Pedro Américo de
Araújo, Renée Nogueira e René Pereira Alves.
A par da atividade das associações colegiais de
cultura surgiam vários periódicos redigidos por alunos.
Traziam variados nomes: Pronome, O Atalaia, O Arauto,
Sciencias e Lettras, Atheneu e Noticias, este último
subvencionado pela administração do Colégio, no intuito
de trazer o corpo discente bem informado das medidas
referentes ao ensino.
Assim, os alunos, sem dispêndio, tomavam
conhecimento fidedigno dos sucessos da vida escolar.
Nas modestas lides jornalísticas do Colégio
adestravam-se muitos alunos, entre outros Júlio Salek,
Sérgio Frazão, Ary da Matta, Alziro Zarur, Carmindo Carneiro
da Rocha, Eremildo Vianna, Sylvio e Hamilton Elia, Daniel
Aarão Reis, Annibal Barcellos, Carlos Brazil de Araújo,
Hugo Kammseter.
Era redator chefe do Noticiário, órgão semi-oficial
do Colégio, aluno dos melhores, pela aplicação,
procedimento e cultura: Alziro Zarur.
Por sua parte, o Decreto 21.241 de 4 de abril de
1932 procurava apegar ao Colégio os alunos e os pais
responsáveis por eles, e também nos estabelecimentos
de Ensino Secundário sob inspeção. Haveria reuniões de
pais de alunos ou responsáveis por eles, no intuito de
desenvolver em colaboração harmónica a ação educativa
da escola.
Por seu lado, a diretoria do Externato buscava facilitar
o intercâmbio de correspondência entre estudantes
nacionais e estrangeiros, recebendo destes mensagens
destinadas àqueles. Assim acontecia com a dos alunos
do Liceu José Henrique Rodo, em Montevideu, do Liceu
Normal Pedro Nunes, de Lisboa, do Liceu João de Deus,
do Porto, e de outras instituições.
Aos exercícios intelectuais praticados por uns,
juntavam-se os esportivos do agrado, força e destreza de
outros, para tanto construída no pátio interno do Externato
uma quadra destinada a jogos de basquetebol, realizandose ali vários páreos entre alunos do Colégio, e discentes
de vários estabelecimentos de Ensino Secundário,
sobrelevado o Colégio Militar.
Bacharéis ou alunos do Colégio participavam de
manifestações de vida intelectual, como a do concurso
de oratória, estabelecido pelo Diretório Central Académico,
e favorecido pela Reitoria da Universidade do Rio de
Janeiro, para escolha da embaixada académica, retribuindo
em Portugal a visita de estudantes lusitanos ao Rio de
Janeiro.
Triunfou no concurso o académico de Direito,
bacharel do Externato, José Guilherme de Araújo Jorge,
para dar cabal desempenho ao mandato, muito apreciada
em Portugal a eloquência do jovem bacharel.
Procurando conhecer o país natal, uma embaixada
de 19 alunos quinto e quartanistas do Externato, visitaram
em excursão educativa, sob a inspeção do secretario Dr.
Octacílio Álvares Pereira, as cidades de Juiz de Fora e
Ouro Preto. Sabia-se a primeira digna de nota pelo
desenvolvimento industrial, merecendo ser chamada a
Manchester brasileira, a segunda cidade cheia de
recordações históricas e coloniais constituindo verdadeiro
museu a céu aberto, de lições patrióticas.
Nada disso impedia no Colégio zelo pela regularidade
do ensino.
No Externato, evitava a diretoria a coincidência de
duas aulas de Línguas Vivas no mesmo dia, estabelecia
também a necessária alternância entre as demais aulas,
acomodadas em 1932 nada menos de 28 turmas no limite
do horário.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
No Externato, funcionou, com a devida autorização
ministerial, um curso livre de literatura italiana, sobretudo
medieval, ministrado por meio de conferências pelo
professor Guido Vitalleti.
O curso, inteiramente gratuito, era útil a estudantes
e à classe intelectual, sendo patrocinado pelo Governo
Italiano, difundindo e ampliando relações de cultura ítalobrasileira.
Realizadas no decurso do ano letivo de 1932, duas
vezes por semana, as conferências Vitalleti atraíram cerca
de 80 alunos e angariaram seletos auditórios de pessoas
gradas.
Sempre onerada de serviços, a última organização
deles datando de 1927, a Secretaria do Externato, em 1932,
sofreu reorganização dividida em seções: de Ensino, de
Contabilidade, de Protocolo, Informações e Arquivos e de
Expediente.
Nas disposições gerais da remodelação da
Secretaria, remodelação realizada à vista de exposição de
motivos do Secretário, a diretoria do Externato buscava
facilitar o serviço, presidido pelo Secretário, com a
obrigação de atender este diariamente, das 11 às 15 horas,
as pessoas que o procurassem em objeto de serviço,
encarregados vários amanuenses da chefia das seções
cujo expediente seria despachado com o secretário, o
despacho deste com o diretor em hora fixada pelo último.
Para simplificação do serviço da Secretaria, o diretor
Dodsworth mandava organizar um fichário, para
assentamentos relativos a alunos, destinados a fichas,
ano inteiro, a permitir de pronto conhecer a vida escolar
de cada estudante.
Outro órgão da maior importância no Colégio foi
sempre a Tesouraria. De 1925 a 1931, funcionou no
Departamento do Ensino, a cargo do funcionário exemplar,
o Dr. Mário Bevilacqua.
Transferida a Tesouraria para o Colégio, aí recebeu
instruções permitindo a eficiência de serviços,
apresentando em 1932, receita superior a 800:000$000 e
saldo aproximado de 160:000$000.
1837 - 1937
Balanceada a Tesouraria em 1932, como de hábito,
nela tudo foi encontrado na mais perfeita ordem.
Quanto ao movimento, apresentou igualmente a
Biblioteca do Externato, em 1932, frequência crescente, a
de perto de 6.000 leitores consultando 5.849 obras em
várias línguas.
A Biblioteca do Externato, como as demais
dependências do edifício, ressentia-se da insuficiência do
prédio, este longe de apresentar requisitos necessários
ao cabal preenchimento de sua natureza e de seus fins.
De ano a ano, apesar de por muito combatido, o Colégio
via crescer matrícula de discentes, prova de favor público,
malgrado defeitos atribuídos à instituição.
Aumenta aqui, diminui ali, adapta além, continuou
o Colégio, nas suas duas seções, a abrigar elevado número
de alunos, impossível satisfazer a inclusão de muitos e
muitos aprovados nos exames de admissão com graus
menos elevados.
Para acudir a necessidades, julgadas prementes, os
edifícios do Externato e do Internato viviam por assim dizer
em obras.
Assim, em 1932, a diretoria do Externato tratou de
dotar duas salas ao ensino eficiente do Desenho, não só
lhes melhorando condições de luz, como permitindo melhor
colocação de alunos, facilitando trabalho aos professores.
Aperfeiçoados os gabinetes de diversas disciplinas,
serviram a alunos de outros estabelecimentos secundários.
Foram franqueados, por exemplo, os gabinetes de Física
e Química, mediante solicitação, às alunas do último ano
do Externato Nossa Senhora de Sião, sob a fiscalização
de professora do respectivo Colégio.
Entre melhoramentos materiais do Externato, um
avultou, em significação moral elevada, a criação de
galeria, instalada no gabinete do Diretor, apresentando os
retratos dos antigos reitores e diretores do Externato.
Em colocação de honra passaram a figura na galeria
as efígies de D. Pedro II, o inexcedível patrono do Colégio,
e o de Bernardo de Vasconcellos, o zeloso Ministro do
Império de tantos serviços na fundação da ilustre Casa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Impossível foi obter na ocasião os retratos dos três
primeiros reitores do Colégio, a saber frei António de
Arrábida, Bispo de Anemuria (1838-1839), Dr. Joaquim
Caetano da Silva (1839-1851) e Capitâo-de-Mar-e-Guerra
José de Souza Corrêa (1851-1855).
Ficaram no momento da inauguração na Galeria de
Honra do Externato os retratos de cinco dos reitores:
Dr. Manoel Pacheco da Silva (Barão de Pacheco)
— 1857-1872
Dr. Monsenhor José Joaquim da Fonseca Lima
— 1872-1880
Dr. José Joaquim do Carmo
— 1880-1888
Monsenhor Luiz Raymundo da Silva Brito
— 1888-1892
José Veríssimo Dias de Mattos
— 1892-1898
Ainda na estreia da Galeria de Honra do Externato
figuravam os retratos dos seguintes diretores:
Dr. Francisco Carlos da Silva Cabrita
— 1898-1903
Dr. José Gil Castello Branco
— 1903-1905
Dr. João António Coqueiro
— 1905-1910
Dr. José Cândido de Albuquerque Mello Mattos
— 1910-1912
Dr. Eugénio de Barros Raja Gabaglia
— 1912-1914
Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima
— 1914-1917
Dr. Carlos Maximiliano Pimenta de Laet
— 1917-1925
Dr. Euclides de Medeiros Guimarães Roxo
— 1925-1930
Dr. Carlos Delgado de Carvalho
— 1930-1931
Instituído no Externato um Gabinete de Educação,
foi ele, por aviso de 13 de maio de 1932, incumbido de
serviços de várias ordens: — inspeção do regime alimentar
de discentes, organização de gráfico fornecendo à primeira
vista o aspecto morfofisiológico de aluno por aluno.
Realizaram-se no Gabinete de Educação palestras
semanais sobre questões de higiene, palestras por espaço
de quarenta minutos, com projeções luminosas quanto
possível, tudo sem perturbar funcionamento de aulas. No
Gabinete de Educação, dirigido pelo vice-diretor do
Externato, das referidas palestras ficou encarregado o
diretor do serviço médico do Gabinete, Dr. Savino Gasparini,
subinspetor sanitário rural, zeloso funcionário, auxiliado pelo
inspetor de alunos, de excelente nota, António da Rocha
Nogueira, em comissão no Gabinete.
Instituindo palestras sobre questões de higiene, de
acordo com um programa de 30 lições, o Dr. Gasparini
com elas prestava serviços ao desenvolvimento da cultura
no Colégio, modelo dos estabelecimentos de Ensino
Secundário. Frisava o Dr. Gasparini a ação geral das
grandes endemias nacionais, a enfraquecerem a raça.
Constituíam-se, pois, aqueles alunos, bem
instruídos, ótimos propagandistas da higiene no meio da
população, sobretudo nas classes menos favorecidas de
pecúnia.
Assistiriam às lições do Gabinete de Educação
apenas alunos do 4 o , 5o e 6o anos, já em idade de recebêlas com proveito. Sobre cada ponto de higiene individual
seriam formulados testes.
Em 1932, anexo ao Gabinete de Educação, funcionou
serviço de refeições, especialmente destinado ao pessoal
docente e administrativo do Externato, depois ampliado
este serviço em proveito de discentes, por D. Leopoldina
de Maya Monteiro, inspetora de alunas, com todos os
requisitos para o delicado cargo, do nascimento às
qualidades pessoais.
Do corpo disciplinar do Externato desaparecia, a 6
de julho de 1932, o inspetor de alunos Jurandyr Veiga,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
falecido em Lavras, Minas, aos 29 anos, quando havia
ainda muito a esperar de sua vida.
1837 - 1937
Álvares Pereira, promoveu a fundação de um "Clube pela
Paz", sob a égide de Alexandre de Gusmão, o santista de
Tanto valia o d e s a p a r e c i d o que a Diretoria do
tantas colaborações no reinado de D. João V, colocado o
Externato o declarou " u m dos bons elementos do corpo
clube sob os auspícios da Fundação Carnegie, pela Paz
disciplinar, gozando gerais simpatias de seus superiores,
Internacional.
colegas e inspecionados".
Encerrava o ano letivo de 1932, sucesso lutuoso qual
Apontava a Diretoria do Externato o inspetor Veiga
o do falecimento de antigo vice-diretor do Internato, Nestor
como um dos bons elementos da disciplina, mas tratava
Victor dos Santos, à memória do qual a Congregação
t a m b é m de eliminar d i s c e n t e s incompatíveis c o m a
consagrou voto de pesar.
regularidade da vida colegial. Para tanto, a Congregação
O ano l e t i v o de 1 9 3 3 , em período de f é r i a s ,
elegia os p r o f e s s o r e s Gabaglia, Roxo e N a s c e n t e s ,
assinalou-se pela colação de grau à turma de bacharéis
i n c u m b i n d o - o s de p r o c e d e r e m ao d e v i d o e x a m e da
em ciências e letras de 1932, colação realizada em sessão
situação dos indesejáveis, inclusive os envolvidos em
solene da Congregação a 4 de fevereiro.
inquéritos e com responsabilidade comprovada.
O cuidado da disciplina, por parte da Diretoria do
Externato, era contínuo, pois ao encerramento do ano letivo
Ainda em período de férias, a 25 de março, abriramse inscrições no Colégio para os concursos às cadeiras
vagas de Português, Latim, Matemática e Química.
no Colégio, sempre se seguiam exames parcelados ou de
Nas primeiras sessões da Congregação, em 1933,
candidatos estranhos, determinando afluência de pessoas
começou a
ao edifício do Externato e ao seu estreito âmbito.
condignamente o centenário da fundação do Colégio, a 2
No Colégio, a disciplina era coadjuvada, nas suas
duas seções, pela instrução militar.
Conduz esta a hábitos de obediência e subordinação,
e s b o ç a r - s e o d e s e j o de c o m e m o r a r
de dezembro de 1937. Na sessão de 18 de julho cogitou o
Corpo Docente de medidas tendentes à realização daquele
fim.
existente aquela instrução obrigatória desde maio de 1908.
O presidente da Congregação e diretor do Internato,
No Externato não pôde, dada a insuficiência de local
o professor Roxo, aventou a ideia de ser solicitado ao
apropriado, ser ministrada no próprio edifício. Solicitou o
Governo
1 ° sargento instrutor Arlindo Gonçalves Raposo permissão
funcionamento do Externato e do Internato, realizando-se
a quem de direito para instruir alunos no pátio do Quartel-
igualmente na data centenária um Congresso Internacional
General, no Campo de Instrução da Vila Militar e no Estande
de Ensino Secundário.
de Tiro na mesma Vila.
Em 1932, por ordem superior, não havendo exames
para encerramento de instrução militar foram os alunos
do Colégio, em virtude de Aviso Ministerial, considerados
reservistas de segunda categoria.
Ao lado da p r e p a r a ç ã o para a guerra e s e u s
a
construção
de
novos
edifícios
para
Propôs o professor Serrano a nomeação de comissão
de
professores
para
elaborar
projeto
de festas
comemorativas.
A u t o r i z o u a Congregação ao seu p r e s i d e n t e a
designá-la, nomeando então o professor Roxo, comissão
composta pelos professores Antenor Nascentes, Jonathas
imperiosos flagelos, a preparação para a paz e seus
Serrano, Henrique Dodsworth, Raja Gabaglia, Cecil Thiré,
fecundos benefícios.
João Baptista de Mello e Souza e Escragnolle Dória.
Um grupo de professores e alunos do Colégio, a cuja
testa se colocou o secretário do Externato, Dr. Octacílio
A 10 de agosto de 1933, reunia-se a Congregação
em sessão s o l e n e ,
la prestar h o m e n a g e m a figura
ESCRAGNOLLE DÓRIA
expressiva do corpo docente, o professor André Gustavo
Paulo de Frontin, falecido a 15 de fevereiro de 1933. Entrara
para o Colégio em 1880, provido por concurso no cargo de
substituto de Filosofia, cargo exercido até 1890, então
nomeado lente catedrático de Mecânica e Astronomia do
Externato até disponibilidade em 1911. por extinção da
Cadeira.
Lamentando a perda do professor Frontin, a
Congregação realizou, em honra de sua memória, sessão
solene. Oraram nela os professores Roxo, Accioli,
Nascentes, este como discípulo de Frontin, Gabaglia e
Przedowoski, este por parte dos docentes-livres.
Falecendo, a 2 de outubro de 1933, o chefe da
disciplina do Internato, Octávio Severo Castão, a 23 de
outubro de 1933 via-se ainda o Internato privado dos
serviços de seu prestimoso ecónomo João Guilherme de
Seixas.
A 25 de novembro de 1933 reunia-se a Congregação
em caráter ainda solene, desta vez festivo. Tratava-se da
posse de novo diretor do Externato, o Dr. Fernando António
Raja Gabaglia, em substituição ao Dr. Henrique de Toledo
Dodsworth, exonerado a pedido, tendo a 16 de novembro
transmitido a direção do Externato ao vice-diretor Delgado
de Carvalho.
Neto de antigo reitor e filho de antigo professor e
diretor do Colégio, ao tomar posse, propôs-se o Dr. Raja
Gabaglia a continuar lembradas carreiras de avô e pai na
direção e professorado da Casa Ilustre.
Revestiu-se a posse do novo diretor de grande e
jubilosa solenidade, felicitando o recém-nomeado
administrador o professor Delgado de Carvalho em nome
da Diretoria, o professor Jonathas Serrano pela
Congregação, o Dr. Octacílio Pereira, por delegação do
corpo administrativo, e o bacharel Carlos Brasil de Araújo,
por parte de discentes.
Em sessão de 18 de dezembro de 1933, a
Congregação tomava conhecimento de requerimento
firmado por 36 alunos representantes da turma B do 5o
ano. Pediam vénia para homenagear o professor
Escragnolle Dória, o qual por espaço de lustro lecionara a
turma B na mesma sala 18. Segundo o desejo da turma,
tal homenagem consistiria na colocação na referida sala
de medalhão comemorativo, conferido à sala o nome do
professor Escragnolle Dória.
Dando conhecimento ao corpo Congregado, da
petição a ele dirigida, o professor Roxo, presidente da
Congregação, sugeriu a ideia de associar-se a mesma às
homenagens solicitadas; proposta aprovada sob
aclamação, segundo ata da Congregação.
Julgando interpretar sentimento de pares, o professor
Roxo designou os professores Coutto, Serrano e Mello e
Souza para no dia da homenagem orarem, o primeiro em
nome da Congregação, o segundo em nome do Externato
e o terceiro em nome do Internato. Generosamente, o
professor Mello e Souza manifestou satisfação em
associar-se à homenagem projetada e o professor Serrano
agradeceu à Congregação a honra de sua designação.
A 24 de dezembro de 1933, realizava-se, na sala
18, a homenagem ao professor Escragnolle Dória, já na
sala figurando o nome dele, bem como medalhão com o
seu retrato, obra artística do laureado escultor Benevenuto
Berna, por vezes professor suplementar de Desenho no
Externato, o dito medalhão materialmente adquirido por
subscrição entre alunos.
Por ocasião da solenidade, oraram os professores
Roxo, Gabaglia, Serrano e Mello e Souza, em nome do
Colégio, o Dr. Octacílio Pereira, em nome do corpo
administrativo, e os alunos Dagmar Barbosa Pereira Filho,
Ary da Matta e Júlio Salek, em nome do corpo discente,
com a maior boa vontade associado à manifestação o
diretor do Externato, Dr. Raja Gabaglia.
Ao Externato, pela sua natureza afluíam cada vez
mais candidatos à matrícula. Superlotados os cursos
matutino e vespertino do Externato foi nele criado, em 1933,
terceiro curso, e noturno. Para matrícula em tal turno só
houve uma dificuldade, a de atender à cópia das
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
pretensões, para tanto em parte contribuindo a
circunstância de ser o Colégio o estabelecimento de Ensino
Secundário cobrando menores taxas.
Já em 1932, por iniciativa de professor do Internato,
Doutor Honório Sylvestre, fora proposta a criação do
referido curso, instituído não sem estudos preliminares,
sobretudo pelo lado financeiro, de modo a não
sobrecarregar os cofres públicos. Submetido, porém, em
1933, como de costume, o orçamento interno do Colégio
à aprovação do Ministro da Educação e Saúde Pública,
foi a este presente o projeto da criação do curso noturno.
Aprovou-a, o Ministro por despacho de 3 de junho de 1933,
atento o perfeito equilíbrio entre receita e despesa,
assegurando vida própria ao dito curso.
A principio foi pensamento da diretoria do Externato
iniciar o curso noturno somente pela 1a série. Seriam nele
matriculados quantos candidatos tivessem logrado
aprovação nos exames de admissão do Colégio, sem
possibilidade de matricula nos cursos matutino e vespertino
por falta de vagas. Classificados entre os graus 67 e 50
nos referidos exames, havia nada menos de 300 candidatos
à espera de ensino.
A requerimento, porém, de estudantes impedidos
de frequentar o Colégio no correr do dia, por empregos
públicos ou obrigações particulares, ficou criado um curso
destinado a candidatos à habilitação na 3a, 4a e 5a séries,
na conformidade do artigo 100 do Decreto 21.241, de 4 de
abril de 1932, seus números e parágrafos.
Nos três turnos, matutino, vespertino e noturno do
Externato, achou-se ministrado ensino, em 1933, a perto
de 2.000 alunos distribuídos por 37 turmas.
Auxiliando o ensino, pelo alargar de cultura,
funcionavam no Externato cursos livres. Assim o de
Italiano a cargo do professor José Citanna, da Real
Universidade de Milão, coincidindo com a abertura do
curso, a 10 de junho de 1933, inauguração de bronze
artístico, oferta do Governo Italiano ao Colégio,
comparecendo à solenidade o Embaixador da Itália,
Roberto Cantaluppo.
1837 - 1937
Funcionou igualmente no Externato, em 1933, um
curso livre de Literatura Francesa, por meio de conferências
feitas pelo professor Roberto Garric, da Sorbonne, curso
inaugurado com a presença do ilustre Embaixador da
França, Luiz Hermitte.
Interessou-se o professor Garric pelo ensino de
Línguas Vivas no Colégio, assistindo às aulas de Francês
ministradas pelo Método Direto.
Devido ao professor José Oiticica foi instituído, em
1933, um curso livre de Grego, de caráter inteiramente
gratuito e regido por aquele professor. Logo se inscreveram
no curso 126 pessoas, entre professores, funcionários e
alunos da Casa, além de académicos de diversos cursos
superiores.
Continuaram em funcionamento cursos de
aperfeiçoamento de História Natural e Química, destinados
a alunos da 4a e da 5a séries, cursos promovidos e mantidos
por iniciativa e presença dos professores Waldemiro Potsch
e Luiz Pinheiro Guimarães.
Funcionaram igualmente no Externato, em 1933,
cursos livres de Música e Canto Orfeônico, instituído o
ensino de Música, nas três primeiras séries do curso
ginasial.
Voltara-se assim, por disposição de decreto, à
tradição do Colégio, onde o ensino de Música começou a
vigorar desde fundação em 1837.
No começo do ano letivo de 1933, independente de
remuneração, a diretoria do Externato aceitou o
oferecimento de duas professoras de Música, D. Maria
Elisa Leite de Freitas Lima e Francisca Miranda Freitas.
Pediram e obtiveram autorização para funcionamento de
cursos livres de Música e Canto Orfeônico do Externato,
onde o professor José Oiticica já iniciara algumas aulas
daquele Canto, compondo até hino para o Colégio.
Em breve o pequeno, mas afinado, Coro Orfeônico
Pedro II, com 40 vozes, 25 femininas e 15 masculinas,
classificadas de acordo com o timbre, a afinação e a
extensão, pôde participar de solenidades da Casa, dirigido
o Coro pela professora Maria Elisa Leite de Freitas Lima.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O ensino da Música no Colégio, em 1933, foi
completado por concertos educativos organizados pelo
professor José Oiticica e a cargo de duas distintas artistas
de piano e de canto, a senhorita Dora Bevilacqua e D.
Rosetta da Costa Pinto.
No correr dos concertos, o professor Oiticica
incumbia-se de explicar ao auditório, sempre numeroso,
os números dos programas, comentando ligeiramente a
vida e a obra dos músicos naqueles apresentados.
Realizavam-se os concertos educativos no Salão
Nobre do Externato. Aí também se reunia ainda o Club
pela Paz Alexandre de Gusmão, presidido pelo secretário
do Externato, Doutor Octacílio Álvares Pereira.
Por iniciativa de bacharéis e bacharelandos do
Colégio, aqueles da turma de 1929, estes da turma de
1933, foi inaugurado numa das salas do Externato,
previamente designada pela Diretoria, o busto de Augusto
Comte, presidido o ato pelo Dr. Octacílio Pereira, ouvidos
vários oradores.
Sem mais alteração, continuaram os serviços de
ordem diversa do Colégio. No Externato, anexo ao Gabinete
de Educação e por sua vez anexo ao serviço de refeições,
começou a funcionar, em 1933, serviço da natureza do
primeiro. Destinava-se a fornecer ligeiras refeições aos
alunos, entregue o serviço à exploração de concessionário
de serviços idênticos na Escola Politécnica e no Instituto
de Educação, antiga Escola Normal.
Insuficiente mostrava-se o Externato para os
próprios interesses do Colégio. Ainda assim, além de dar
sede a exames estranhos à Casa, nunca recusou auxiliar
com a maior boa vontade, o bem público que serve no
Ensino Secundário. Cedeu o Externato várias salas para
realização de cursos e concursos alheios ao Colégio.
Foram cedidas, por exemplo, em 1932, por um trimestre,
3 salas para funcionamento de Cursos de Emergência
criados pelo Departamento de Correios e Telégrafos, então
a cargo de antigo aluno do Pedro Segundo, o Dr. Trajano
Furtado Reis.
Orientados tais cursos pelo Dr. João Pinto Pessoa,
no fim de missão, dirigiu este agradecimento à Diretoria
do Externato, louvando funcionários do Colégio que, para
regularidade dos Cursos de Emergência, haviam trabalhado
fora de horas de expediente.
Devendo, em fins de 1933, realizar-se na Faculdade
de Direito da Universidade do Rio de Janeiro um concurso
para professor catedrático foi o mesmo certame
processado no Salão Nobre do Externato, para tanto
oferecido, por não dispor a Faculdade de Direito de local
amplo onde se realizassem a série de provas destinadas
a prover-lhe cátedra. Materialmente, zelando pelo bom
nome do Colégio, já na limpeza do edifício durante o ano
letivo, já em ocasiões extraordinárias, como as dos cursos
e concursos aos quais foi feito referência, os serventes
do Externato na modéstia de funções procuravam
coadjuvar, deixando honrada memória quando colhidos
pela morte.
Por isto, a diretoria, o corpo docente e o
administrativo manifestaram especial pesar ao
desaparecer do corpo de serventes do Externato um dos
mais antigos servidores da classe, Manoel José da Silva.
Mias de trinta anos de serviços, assiduidade, dedicação,
respeito a superiores e a ordens, popularidade no corpo
discente, dão-lhe direito a menção de estímulo e
homenagem à classe, tanto a justificar o conceito da fábula
de La Fontaine:
On a souvent besoin
D un plus petit que soi
Inibido, em razão de enfermidade, de prestar serviços
como servente, desde 1927, Manoel José da Silva
desempenhou o cargo de ajudante de porteiro, sempre
demonstrando o mesmo zelo e dedicação até o último
alento.
Nos estabelecimentos e qualquer ordem, pequenos
e pequenas coisas têm grande importância.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Em 1933, sofreu reforma de vulto o mobiliário
escolar.
1837- I937
A nova instalação da carpintaria produziu logo bons
Instalavam-se nas salas de aulas 100 carteiras
f r u t o s , reconhecendo-lhe o f i c i a l m e n t e a diretoria do
de imbuia compensada, de tipo pedagógico e higiénico
Externato, os inúmeros trabalhos, os valiosos serviços,
moderno, adquiridas mesas e poltronas de fabricação
com apreciável economia para os cofres do Colégio.
nacional destinadas a professores.
Concretando, reparando, pintando e fabricando,
Do mobiliário antigo foram cedidos ao Internato
colocando, a oficina de carpintaria, de serviços executados
carteiras, mesas e armários melhor conservados, as
por serventes do Externato, robora quanto da modesta,
demais peças sujeitas a concorrência pública de bom
mas profícua classe já foi dito.
resultado pecuniário.
À reforma do mobiliário, seguiu-se, por parte da
Acudiram à licitação numerosos pretendentes, entre
diretoria do Externato, reforma das instalações elétricas
os quais diretores de escolas, professores particulares e
do edifício, consultada a Inspetoria-Geral de Iluminação,
representantes de prefeituras de Estados vizinhos do
julgando defeituosa a instalação elétrica existente,
Distrito Federal.
não distribuir boa luz, em edifício onde funcionava curso
por
No plano de reforma do mobiliário, ficou abrangida
noturno frequentado por jovens estudantes, sujeitos por
a Secretaria do Externato, os seus m ó v e i s pedindo
deficiência de luz a perturbações visuais e até nervosas.
substituição.
Aconselhava a Inspetoria-Geral de Iluminação o uso
Foram m e l h o r a d a s as c o n d i ç õ e s materiais da
mesma Secretaria pela ampliação de salas,
instalada
de aparelhos de luz indireta, diminuindo as manchas de
sombra, permitindo iluminação em qualquer ponto de
convenientemente a movimentada seção do Protocolo,
salas, antes de ser determinado o tipo de aparelho mais
sempre cheia de interesses e de interessados na solução
próprio, bem estudados a cor, a natureza do teto e a das
daqueles, e por não pouco tempo, a seção confiada ao
paredes dos aposentos, tudo de suma importância técnica.
dedicado servente António Leite, habilitando-se a estudos
Coube ao d i r e t o r Raja Gabaglia, inaugurar no
no Colégio no esforço de louváveis aspirações.
Externato, o ano letivo de 1934, presidindo a Congregação.
M o b i l i á r i o r e f o r m a d o e não i n c e s s a n t e m e n t e
A esta, em sessão especial de 19 de maio, dava o
cuidado, mobiliário em breve estragado, m o r m e n t e em
diretor conhecimento de estar-se cuidando na Assembleia
casa de ensino, onde nem t o d o s os discentes zelam
Nacional Constituinte da passagem automática do Colégio
propriedade c o m u m .
para a Prefeitura Municipal.
Compreendendo-o, a diretoria do Externato mandara
Emenda de n.° 1.845, apresentada à Assembleia
construir um galpão nos fundos do edifício, ai instalando a
e l a b o r a d o r a de C o n s t i t u i ç ã o dava
oficina de carpintaria a n t e r i o r m e n t e mal acomodada,
Municipalidades a faculdade de coordenação de ensino
embora a título provisório, na garagem do Externato.
em todos os seus graus, observando o diretor Gabaglia à
Ficou dotada a útil seção do estabelecimento, para
continuidade de incessantes trabalhos, de área de 60
metros quadrados em concreto e cimento.
aos E s t a d o s e
Congregação quão perniciosa era a Emenda tal qual estava
redigida.
Recebeu o
Declarou o m e s m o diretor ter-se entendido com a
galpão da carpintaria telhado de uma só água a f i m de não
Comissão Coordenadora da Assembleia Nacional
ser prejudicada iluminação de salas vizinhas.
Constituinte.
As obras das novas instalações do Externato foram
Junto a esta se manifestava em favor do Colégio, o
fiscalizadas por professor do Colégio, o Dr. Enoch da Rocha
seu corpo discente, bem recebido pelo presidente da
Lima, abalizado engenheiro construtor e arquiteto.
Constituinte, Dr. António Carlos Ribeiro de Andrada.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em seguida às ponderações do diretor Gabaglia, o
professor Mello e Souza leu moção de protesto contra a
projetada medida.
Deliberou a Congregação mandar imprimir o protesto,
para maior e pronta divulgação do mesmo.
Na ocasião, declarou o professor Philadelpho de
Azevedo votar pela conclusão do projeto relativo ao Colégio.
Novamente reunida a Congregação, em sessão
extraordinária a 30 de maio de 1934, o presidente do Corpo
Congregado, o professor Gabaglia, propôs expedição de
telegrama de congratulações à Assembleia Nacional
Constituinte, na pessoa do presidente desta, Dr. António
Carlos, bem como aos deputados, Henrique Dodsworth e
Euvaldo Lodi, aquele representante do Distrito Federal, e
este Deputado Classista, por seus esforços em prol do
Colégio.
A Assembleia, por grande maioria, aprovou o regime
do ensino preconizado pelo Colégio.
Era o estabelecimento apoiado pela imprensa e a
esta também entendeu a Congregação endereçar
telegramas de felicitações e agradecimentos.
Na mesma sessão extraordinária de 30 de maio de
1934 propôs à Congregação o professor Accioli a realização
por parte da Congregação de sessão solene em
homenagem a quantos haviam secundado os esforços do
Colégio na rejeição legislativa da Emenda 1.845.
Propôs também o professor Lafayette Pereira da
formação de associação de professores, sob a
denominação de Associação Brasileira de Cultura, com o
fim de trabalhar pela difusão do ensino e pela propaganda
dos processos de ensino educativo.
A 3 de novembro de 1934, por proposta do diretor
Gabaglia, a Congregação formulou votos de homenagem
e saudade a quatro professores havia pouco jubilados: Said
Ali, Paula Lopes, Badaró e Arthur Ferreira, por muitos anos
lecionando no Colégio nas cátedras de Alemão, História
Natural, Latim e Desenho.
À proposta, unanimemente aprovada, ajuntou o
professor Sumner a ideia, logo aprovada, da realização
solene de preitos aos professores por força de tempo e lei
afastados do exercício de funções.
Na mesma sessão de 3 de novembro de 1934,
encareceu o professor Gabaglia a necessidade de aumento
de disciplinas na 6a série, visto funcionar esta para
concessão de bacharelados, propondo aquele diretor,
desde logo, a criação do curso de História da América no
anoletivode 1936.
M o s t r o u também o professor Gabaglia a
conveniência de dirigir-se a Congregação ao Poder
Legislativo no sentido de não serem reduzidos para 30 ou
40 os coeficientes exigidos para promoção no curso
seriado.
Provinha a sugestão do diretor da notícia de haver
em andamento, na Câmara dos Deputados, projetos no
sentido de redução dos citados coeficientes.
Encerrou a Congregação seus trabalhos em 1934
com a sessão solene de colação de grau à turma de
bacharéis do Colégio em 1934.
Realizou-se a cerimónia, a 2 de dezembro, data de
saudade e reverência para as duas seções da Casa, visto
ser a data natalícia de D. Pedro II, tão desvelado pelo
Colégio, em meio às ocupações e preocupações de meio
século de reinado.
Bem precisava o Colégio de nota final de alegria em
1934. Para ele o ano decorrera entre lutos de perda de
professores. Retirava a morte do corpo docente quatro
professores: José Cândido de Albuquerque Mello Mattos,
ex-diretor, falecido a 2 de janeiro de 1934, desaparecidos,
João Ribeiro a 13 de fevereiro, Gastão Ruch a 25 de outubro
e Henrique Coelho Netto a 28 de novembro de 1934. A
todos esses professores prestou o Colégio homenagens
fúnebres, tradutoras de reconhecimento e saudade.
Começou o Colégio, desde 1935, a tratar com mais
afinco da celebração do 1o Centenário de sua fundação,
mesmo entre labores do ano letivo. Assinalou-se este
pelo processo do concurso para provimento da cadeira de
Matemática do Internato, concurso terminado pela
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
indicação e nomeação do candidato classificado em 1o
lugar, Dr. Haroldo Lisboa da Cunha, processado também,
mas interrompido o concurso para provimento das cadeiras
de Química do Externato e do Internato.
Nomeado por Decreto de 24 de junho de 1935, o Dr.
Haroldo Lisboa da Cunha tomou posse do cargo de
professor catedrático de uma das cadeiras de Matemática
do Internato, em sessão solene da Congregação, realizada
a 2 de julho. Saudado pelo presidente da Congregação,
Dr. Raja Gabaglia, e em nome daquela pelo professor
Lafayette Pereira, o novo professor respondeu agradecendo
as demonstrações de acolhida.
A 18 de novembro de 1935, reunia-se de novo
solenemente a Congregação para dar posse, após
concurso, ao professor Nelson Romero, nomeado
catedrático de Latim por Decreto de 11 de novembro de
1935.
Concorrendo e obtendo a cadeira por concurso, bem
classificado em concurso de Italiano processado no
Colégio, Nelson Romero conseguia satisfazer alta aspiração
de saber mesclada ao nobre desejo de figurar em
corporação docente na qual tivera assento e relevo o
inconfundível Sylvio Romero.
Ao novo professor de Latim, saudou o presidente
da Congregação, Raja Gabaglia, dando-lhe boas vindas em
nome de colegas o professor Sumner, a todos agradecendo
Nelson Romero.
A 2 de dezembro de 1935, com o aparato e o
programa do costume, conferia o Colégio o grau de bacharel
em ciências e letras aos alunos de 6a série concluída num
ano letivo de termo socialmente perturbado pelos sucessos
de levante no 3o Regimento de Infantaria e na Escola de
Aviação, triunfando a ordem.
No decurso do ano letivo de 1935, o rol fúnebre do
Colégio seria acrescido pelo falecimento, a 14 de janeiro,
do decano nonagerário dos bacharéis em letras, Dr. João
Pinto do Rego César, figura da cidade na de um homem
de bem, na extensão da palavra.
1837 - 1937
Inscrever-se-iam no citado rol fúnebre de 1935 os
nomes: de antigo professor suplementar do Colégio, Aprigio
Carlos de Macedo, falecido a 29 de maio no Asilo São
Luiz, de Carlos Galdino Leal, inspetor de alunos no Externato
de 1895 a 1921 e dele chefe de disciplina de 1921 até a
morte. Faleceria, a 24 de novembro, antigo médico do
Internato, o Dr. Luiz de Castro.
A 23 de dezembro, a Congregação votava moção
de pesar pelo óbito do chefe de disciplina Carlos Galdino
Leal.
É de estímulo dar sempre o Colégio homenagem à
memória de alunos seus distintos, aberto exemplo, pelo
Internato, ornando-se com o retrato de falecido aluno,
Simão. A 11 de dezembro de 1935, sucumbia, em Friburgo,
o bacharel e oficial da reserva do Exército José Ângelo
Cavalli, exemplo de gratidão e respeito a mestres por ele
lembrados e agradecidos comovedoramente em leito de
morte. A discentes tais devem ser consagrados preitos
de retribuição a nobres sentimentos.
A 9 de junho de 1936, deliberava a Congregação
nomear representantes com o fim de associar-se o Colégio
às homenagens prestadas pelo Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro ao orador perpétuo da associação,
fundada ano após o Colégio e, como este, sempre de
especial desvelo por parte de D. Pedro II. Após o
falecimento do Dr. Rego César, nonagenário como ele, o
Dr. Ramiz Galvão se tornara o decano dos bacharéis em
letras, diplomado em turma do Externato em 1861.
No mesmo momento de participação das
homenagens do Instituto Histórico, recebia a Congregação
ofício do Embaixador Argentino, Dr. Ramon Carcano,
comunicando a criação no seu país de curso quadrienal
de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
No decurso do ano letivo de 1936, a 4 de agosto foi
submetido ao juízo e ao voto da Congregação, proposta
subscrita pelos professores Coutto, Sumner e Thiré,
pedindo a restauração das cadeiras de História do Brasil,
Instrução Moral e Cívica e Direito Usual.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Entendeu a Congregação sujeitar a proposta a exame
de comissão, para ela designados os professores Coutto,
Oliveira de Menezes e Alcino Chavantes, relator o primeiro
dos eleitos.
Apresentou parecer o professor Coutto, opinando
pelo restabelecimento das mencionadas cadeiras.
Votou a Congregação pelo ressurgir da cadeira de
História do Brasil, estabelecendo-se divergência de opiniões
quanto ao restabelecimento da cadeira de Instrução Moral
e Cívica. Pelo restabelecimento votaram 8 professores, 8
outros o condenando.
Chamado a pronunciar-se por último, o presidente
da Congregação, professor Raja Gabaglia, pelo voto de
qualidade decidiu contra o restabelecimento.
No intuito de celebrar o 1o Centenário de fundação
do Colégio, em sessão de 1o de dezembro de 1936, a
Congregação encaminhou à Câmara dos Deputados
indicação tendente a ser auxiliada oficialmente aquela
celebração, apresentada a indicação pelo deputado
Henrique Dodsworth, professor do Colégio, além de exdiretordo Externato.
Por proposta do professor Sumner. congratulou-se a
Congregação, a 10 de agosto, com o professor Accioli pelo
seu 33° ano de magistério no Colégio.
Em 1936, procederia a Congregação a concurso para
uma das cadeiras de Português, deixada vaga pelo
falecimento de Carlos de Laet e longamente preenchida
em interinidade pelo docente Jacques Raymundo Ferreira
da Silva. Processado o concurso, nele foi classificado
em 1o lugar o Dr. Clóvis do Rego Monteiro, já distinto no
magistério do Colégio.
Não poupou a morte o Colégio no decurso do ano
letivode1936.
Arrebatou-lhe um dos seus estimados professores,
o de Desenho, Dr. Alcino José Chavantes, que por concurso
obtivera o cargo.
Operoso, prezado pelos colegas e pelos discentes,
competente, lhano de trato, honrava posição no Colégio
do qual fora aluno.
Por ocasião do falecimento do Dr. Chavantes, deu o
Colégio à sua memória devidos preitos, ocorrido tão
lamentável e prematuro sucesso a 24 de novembro de
1936.
Ajuntou-se a Congregação às homenagens
administrativas do Colégio ao honrado professor não só
votando moção de pesar, como aprovando proposta do
professor Lafayette Pereira para ser dado o nome de Alcino
Chavantes à sala de aula de desenho no Externato.
Após o óbito do catedrático Chavantes, ocorreu o
do docente Dr. Mário Guedes Naylor, falecido a 20 de junho
de 1936, ele bacharel em letras.
Haja igualmente lembrança do desaparecimento de
dois modestos servidores do Colégio no Externato, o do
servente José Romeu, falecido a 3 de novembro, e o do
auxiliar Aleixo Pinheiro, falecido a 12 de novembro.
Tornara-se o primeiro muito popular entre docentes
e discentes, o segundo encarregado da vigilância noturna
do Externato e a zelava intransigentemente.
Por ocasião do falecimento de ambos, administrativa
e particularmente, foram atendidas não só despesas de
funeral como as de primeiros socorros à família do
servente Romeu, caída em desvalimento pela perda do
chefe, fulminado pela morte por "angina pectoris" no
exercício de funções.
Felizmente, abriu-se o ano letivo de 1937 com a
sessão solene de 22 de janeiro, convocada para dar posse
da cadeira de Português, no Internato, ao Dr. Clóvis do
Rego Monteiro, para ela nomeado por Decreto de 14 de
janeiro.
Prestado o compromisso de bem preencher funções,
recebeu o novo lente saudações por parte do presidente
da Congregação, Raja Gabaglia, felicitado em nome da
Congregação pelo Professor Hanehmann Guimarães,
agradecendo a todos os professor Clóvis Monteiro.
Por Decreto de 5 de abril de 1937, a pedido e nos
termos constitucionais, foi concedida jubilação ao
professor Escragnolle Dória, catedrático de História do
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Externato e neste de posse de cadeira a 7 de novembro
de 1906, em virtude da nomeação por concurso a 5 de
novembro.
A 30 de abril de 1937, entendeu o Colégio associarse à celebração do centenário do nascimento de antigo
diretor do Internato e depois do Externato, o Dr. João
António Coqueiro, centenário que mereceu expressivas
comemorações em vários setores da cultura nacional em
reverência àquele educador.
Na direção do Colégio, em suas duas seções,
continuou o Dr. Coqueiro a lembrança de comprovincianos
maranhenses que regeram a instituição, assim os Dr.
António Henrique Leal, Monsenhor Raymundo da Silva
Brito e D. José de Souza da Silveira.
Memorou o centenário natalício do Dr. Coqueiro no
Colégio, sessão solene no Salão Nobre do Externato,
sessão presidida pelo diretor deste, Dr. Raja Gabaglia.
Pelo mesmo diretor especialmente convidados
oraram na solenidade o Almirante Graça Aranha nos
louvores à vida científica e pedagógica de Coqueiro, pelo
diretor Raja Gabaglia declarando que, sem grave injustiça,
seria impossível ao Colégio de Pedro Segundo deixar em
olvido a memória do seu antigo diretor. Participou também
das homenagens um representante do corpo discente.
Na sessão do dia 30 de abril do Conselho Nacional
de Educação, rendeu preito ao Dr. Coqueiro, membro do
referido Conselho, o Dr. Alceu de Amoroso Lima, bacharel
em letras da turma de 1908, graduado no Externato, então
dirigido pelo Dr. Coqueiro.
Recordou o aluno de outrora a figura do seu diretor,
assinalando-lhe austeridade impecável, zelo pela disciplina,
indefectível espírito de justiça, qualidade de tanta auréola
a quem dirige seja o que for, a obediência devendo vir
tanto mais exata de baixo quanto o exemplo mais exato
de cima.
Aliás, o centenário Coqueiro mereceu grande
homenagens, não só na capital da República, como em
1837 - 1937
outros pontos do país, notadamente no Maranhão, onde o
preito de muitos pôs em relevo a memória do conterrâneo
ilustre.
Logo após a celebração do centenário natalício de
quem com proficiência e austeridade dirigira o Internato e
o Externato do Colégio, o Conselho Nacional de Educação
entregou ao Ministro de Educação e Saúde Pública, plano
de educação elaborado dentro de prazo fixado, achandose no dito Conselho representado o Colégio pelo professor
Jonathas Serrano, partícipe de tudo quanto especialmente
respeitava o Ensino Secundário.
Trabalhando incessante, o Conselho realizou 65
sessões com a maior diligência de seus membros e de
seus auxiliares, os funcionários da Secretaria do Conselho
e os da Reitoria da Universidade.
No plano apresentado pelo Conselho certas
disposições mais de perto entendiam com o Colégio.
Segundo o plano, um representante do Ensino
Secundário deveria figurar entre os representantes do
ensino em seus diferentes ramos e graus e os da cultura
nacional, os primeiros em número de 13, os segundos
sendo 6, nomeados todos pelo Presidente da República e
escolhidos em lista tríplice organizada pelo próprio
Conselho, aberta exceção para o representante da
Imprensa como representante da cultura nacional.
O ensino religioso deveria ser ministrado de acordo
com os princípios da confissão religiosa do aluno,
manifestada por pais ou responsáveis no ato da matrícula,
facultativa a frequência nas respectivas aulas.
Nos cursos secundários a educação moral e cívica
seria ministrada pelo professor de História do Brasil,
naqueles cursos obrigatória a Educação Física.
O plano elaborado pelo Conselho Nacional de
Educação declarou o Ensino Secundário destinado à
educação do adolescente, visando ao desenvolvimento
harmónico da personalidade física, intelectual e moral por
meio de cultura geral autónoma.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Deveria o Ensino Secundário abranger dois ciclos,
um fundamental de 5 anos, outro complementar de 2.
Neste curso, o estudo do Grego, Italiano e Espanhol seria
somente obrigatório em casos previstos em lei. O aluno
que concluísse o curso secundário, obteria o diploma de
bacharel em letras, se aprovado em exame final de
conjunto e no de Grego.
Toda a matéria relativa ao Ensino Secundário, quando
discutida no Conselho Nacional de Educação, recebeu a
participação assídua e orientadora do professor Jonathas
Serrano.
No seu título VI o plano pedagógico elaborado pelo
Conselho Nacional de Educação dispunha sobre assistência
escolar, já conhecida no ensino primário, mantida sobretudo
pelo corpo docente do magistério primário com muitos
esforços e dedicação, tanto mais meritórios quanto
obscuros.
Para estender assistência escolar, tratou o Conselho
Nacional de Educação de providenciar quanto à assistência
a alunos necessitados por meio de Caixas Escolares,
bolsas de estudos e colónias de férias .
As Caixas Escolares seriam administradas pelo
diretor de cada estabelecimento de ensino primário ou
secundário, auxiliado por um representante do corpo
discente ou dos pais dos alunos, coadjuvada a Caixa
Escolar pelos poderes públicos, por meio de quota aplicada
aos fins de assistência. Para atender aos gastos com a
assistência escolar, seria reservada anualmente quota
mínima de 10% dos fundos especiais de educação.
A bolsa de estudos, de que tratava o plano de
educação, deveria equivaler à soma que permitisse ao
estudante pobre manter-se, pagar taxas e contribuições
escolares, seguir cursos especiais, adquirir livros e material
indispensável ao aperfeiçoamento dos estudos.
Perderia direito à bolsa: — a) o aluno reprovado em
qualquer disciplina; b) o que não obtivesse notas plenas
ou distintas em mais de duas provas parciais ou finais; c)
o que deixasse de preencher as condições necessárias à
promoção para a série imediata sem motivo justificado;
d) o que não tivesse bom comportamento escolar ou social.
Conforme o plano pedagógico do Conselho Nacional
de Educação, os poderes públicos deveriam assegurar aos
alunos necessitados o repouso dos trabalhos escolares
em instituições destinadas a este fim ou em locais
convenientes, instituídas também pelos poderes públicos
colónias de férias para os alunos dos cursos primário,
secundário e profissional.
Seriam admitidos em tais colónias os alunos dos
referidos cursos mediante as seguintes condições: — a)
idade mínima de 13 anos; b) não poderem por motivos
económicos iniciar estudos ou neles prosseguir, preferidos
os filhos de famílias numerosas: c) estar em condições
de matricular-se em estabelecimento de Ensino
Secundário, profissional ou superior; d) ter obtido somente
notas plenas ou distintas nas provas parciais ou finais das
séries ou cursos anteriores.
Tais as disposições principais relativas ao Ensino
Secundário do plano elaborado pelo Conselho Nacional de
Educação, plano constante de 501 artigos, muitos
completados por parágrafos. Outras disposições do
mesmo plano entendiam com o Ensino Secundário de
modo geral, lembrado que só poderiam ser oficialmente
reconhecidos pelos poderes públicos os estabelecimentos
particulares de ensino que reservassem anualmente 5%
de matrículas gratuitas para alunos necessitados.
Pelo plano do Conselho Nacional de Educação era
vedada a dispensa de concurso de títulos e provas no
provimento dos cargos de magistério oficial, entendendose tal o que dependesse de nomeação dos poderes
públicos, federais ou municipais.
A 7 de abril de 1937, o Decreto n.° 1.555 regulou,
entre outras providências, a admissão de professores
contratados no Colégio de Pedro Segundo.
Pelo citado Decreto, organizadas em cada ano letivo,
as turmas do curso fundamental e complementar, os
diretores do Externato e do Internato, deveria ser oferecida
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
aos catedráticos a escolha da Regência direta das turmas
das disciplinas em que se mostrarem habilitados. As
turmas excedentes, na disciplina respectiva, seriam
distribuídas a docentes-livres e preparadores. No caso de
turmas sem Regência, ao diretor de cada seção do Colégio,
por edital, competiria abrir inscrição para contrato ânuo
de professores, mediante condições especificadas na
referida inscrição, entre elas a da prova de idade maior de
21 anos, certificado de professor expedido pelo
Departamento Nacional de Educação, prova de exercício
de magistério com indicação de tempo de serviço e títulos
diversos de cultura.
Para regulamento dos títulos apresentados e
classificação de candidatos seria organizada comissão da
qual participantes os diretores das duas seções do Colégio,
como membros permanentes, e os professores
catedráticos das várias disciplinas, membros variáveis na
comissão.
A classificação obedeceria ao número de pontos
atribuído a cada candidato, pontos de 0 a 100, pontos de
cada membro da comissão julgadora, a nota de
classificação constituída pela média aritmética dos pontos
obtidos pelo candidato.
Caberiam as designações de professores ao Ministro
da Educação e Saúde Pública, segundo as necessidades
do ensino e na ordem de classificação, disciplina por
disciplina.
Salvo os professores contratados para o ensino de
Línguas Vivas, os demais se obrigariam a 12 horas
semanais de ensino, no mínimo.
O professor catedrático de cada disciplina nas
seções do Colégio orientaria e fiscalizaria os trabalhos dos
professores contratados. No caso de haver mais de um
catedrático para a mesma disciplina o encargo da
orientação e fiscalização entre catedráticos sofreria
distribuição equitativa.
Tratou ainda o Decreto 1.555 de 7 de abril de 1937
da gratificação devida a docentes livres e professores
1837-1937
contratados no curso fundamental, 22S000 por hora,
gratificados os professores do curso complementar com
50S000 por hora de trabalho na Regência de turma até 3
horas semanais e com 22S000 por hora excedente.
Na Regência de turmas ou na orientação e
fiscalização do ensino, as gratificações a professores
catedráticos, contratados ou preparadores deveriam ser
pagas segundo instruções baixadas pelo Ministro da
Educação e Saúde Pública. Professor algum, de qualquer
categoria, prestaria mais de cinco horas de trabalho diário.
A 1 o de junho de 1937, o Diretor-Geral do
Departamento Nacional de Educação, Dr. Lourenço Filho,
baixava a Circular n.° 1.200 dando instruções às escolas
superiores em 1938, encontrando-se na citada circular
referências a exames prestados no Pedro Segundo.
A 12 de junho de 1937 reunia-se a Congregação do
Colégio e por unanimidade de votos, à vista de motivada
moção, proclamava Professor Emérito o professor
Escragnolle Dória, que, após mais de 30 anos de serviço,
requerera jubilaçáo, concedida por Decreto de 5 de abril
de 1937. Ao honroso voto da Congregação ajuntaram-se
demonstrações oficiais de apreço por parte do Diretor-Geral
do Departamento Nacional de Ensino, Dr. Lourenço Filho,
e do Diretor do Ensino Secundário, Doutor Mário Paulo de
Brito, bacharel em letras do Colégio.
Como a vida é oscilar entre alegria e tristeza, a 24
de junho de 1937, finava-se, em Guaratinguetá, Estado de
São Paulo, onde residia, o professor jubilado de Latim do
Internato e depois do Externato Dr. Eduardo Gê Badaró,
sem muito tempo para gozar jubilaçáo.
Admitido no Colégio após dois concursos, um em
1906 e outro em 1909, o professor Badaró deixou entre
colegas lembranças de moderação e competência, entre
discípulos exemplo de benevolência e assiduidade no
cumprimento do dever.
Para justificação do conceito de ser a vida oscilar
perpétuo entre dor e alegria, rejubilou-se o Colégio, a 3 de
julho de 1937, com a posse do Dr. Henrique de Toledo
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Dodsworth, professor catedrático de Física do Externato
e seu antigo diretor, no cargo de Interventor no Distrito
Federal de onde é natural.
Em novembro de 1937, organizado programa oficial
para comemorar o 1o Centenário de fundação do Colégio
de Pedro Segundo, foram iniciadas comemorações de vária
ordem, tendentes todas a alvo único, o de fixar bem na
memória pública a gloriosa data secular de 2 de dezembro
de 1837.
Conferências na Escola Nacional de Música, missa
em sufrágio de reitores, diretores, professores e
funcionários falecidos no decurso do centenário de
existência do Colégio, missa campal na praça de São
Cristóvão, colação de grau à turma dos bacharéis em
ciências e letras da turma de 1937, denominada do
Centenário, lançamento de pedra fundamental de novo
edifício para o Colégio na Praia Vermelha, sessões solenes
no Externato e no Internato para entrega de certificados a
alunos de curso fundamental concluído, bailes escolares
nas duas seções do Colégio, baile de gala no Automóvel
Clube, espetáculo do Teatro Escolar no Teatro João
Caetano, com papéis confiados a alunos do Externato e
Internato, entrega da Bandeira Nacional e de estandartes
do Colégio à Diretoria do Externato; bandeiras e estandartes
adquiridos pelos corpos docente, administrativo e discente,
nada seria poupado para lustro das solenidades
memorativas da fundação do Colégio, no sétimo ano de
reinado em minoridade de D. Pedro Segundo.
Novembro de 1937 constituiu como que um mês
de preparação espiritual para as festas do Centenário. Na
Escola Nacional de Música, em sessões presididas pelo
Ministro da Educação, os professores Francisco Venâncio
Filho, Jonathas Serrano e Raja Gabaglia discorreram,
sucessiva e respectivamente, sobre as personalidades de
Euclydes da Cunha, Farias Brito e Capistrano de Abreu,
ocupantes de cátedras no Colégio e por concursos
memoráveis.
Nas comemorações do Centenário nem foi só
lembrada a vida presente, não olvidados o fundo e o cunho
religioso da instituição secular.
Mandou esta celebrar missa em sufrágio de reitores,
professores e funcionários falecidos no decurso da centúria.
No Salão Nobre o Externato realizou a Congregação sessão
solene de culto à memória de catedráticos falecidos em
1936, os Drs. Eduardo Gê Badaró e Alcino José Chavantes
Júnior, do primeiro dizendo o professor Nelson Romero e
do segundo o professor Enoch da Rocha Lima.
Demonstrações de natureza diferente assinalaram
o memorar do primeiro centenário de fundação do Colégio.
No extenso sobre variado rol das comemorações,
cumpre sobrelevar algumas solenidades de alta ou piedosa
expressão, umas de incitamento à vida, outras de
reverência à morte.
No número das últimas incluem-se romarias em
memória de D. Pedro Segundo, do Marquês de Olinda e
de Bernardo de Vasconcellos.
Realizou o Colégio, matutinamente, a 1 ° de dezembro
de 1937, romaria a Petrópolis, onde jazem os restos mortais
de D. Pedro Segundo e da consorte, a Imperatriz D. Theresa
Christina.
Umas 600 pessoas participaram da ida do Colégio
à Cidade de Pedro, de nascedouro em 1834. Foi a romaria
ali recebida pelo secretário da Prefeitura, Dr. Cardoso de
Miranda, por autoridades locais e por delegações dos
colégios São Vicente de Paulo, Pinto Ferreira, Plínio Leite
e do Ginásio Petropolitano, estabelecimentos de Ensino
Secundário associados à homenagem.
Reunido o Colégio na Matriz, em torno do local onde
se achavam os despojos terrenos dos imperantes, depois
de ter sido depositada coroa de bronze junto ao ataúde de
D. Pedro Segundo, orou em nome da Congregação do
Colégio o diretor e professor Raja Gabaglia, traduzindo
sentimentos de respeito e gratidão ao protetor do Colégio,
que lhe consagrara larga parte de vida. Presenciaram a
cerimónia o neto e o bisneto de D. Pedro Segundo, os
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Príncipes D. Pedro de Orleans e Bragança e D. Pedro
Gastão, associando-se assim o antigo lar do finado
Imperador à renovada família do Colégio.
Na Catedral, ao ser benzida a coroa de bronze
ofertada ao Imperador pelo Colégio, disse da significação
do ato, Monsenhor Mac Dowell, professor do Pedro
Segundo. Ao túmulo imperial, ainda de caráter provisório,
o Ginásio Pinto Ferreira entregou coroa de flores naturais.
Na cerimónia, o Centro Carioca achou-se representado
pelo Dr. Ernani de Figueiredo Cardoso, ex-aluno do Colégio
e conhecido educador.
Nem deixou o Colégio, congregado em Petrópolis,
de passar pela estátua de D. Pedro Segundo, num dos
locais de maior evidência da cidade serrana. Admiraram
todos a estátua que representa D. Pedro Segundo à
paisana, sem nenhum atributo imperial, na atitude do
pensamento, tão própria do soberano que, à filósofo
meditativo, tanto reinou sobre os homens quanto sobre os
livros.
Ante a estátua de D. Pedro II, tomaram a palavra o
professor Raja Gabaglia, pela Congregação do Colégio, o
professor Murillo Araújo, em nome de antigos alunos,
orando em nome dos alunos atuais um 5o anista do
Externato, os intérpretes do Colégio dizendo em nome
deste todo o reconhecimento da instituição centenária ao
ínclito Imperador.
Oferecido, no Palace Hotel, um almoço à romaria
pelo prefeito Dr. Yeddo Fiúza, o Dr. Miranda Cardoso,
secretário da Prefeitura, explicou a homenagem, dizendoa não só preito à comemoração cívica, como de sinal de
simpatia ao Colégio de Pedro Segundo, na dedicação à
memória do seu patrono, também o de Petrópolis.
Agradeceu o professor Dr. Lafayette Pereira, Diretor
do Internato, retribuindo o acolhimento hospitaleiro do povo
petropolitano, acolhimento que, logo ao chegar ao Rio de
Janeiro, o professor Raja Gabaglia pôs em relevo num
expressivo telegrama de novo agradecimento.
Iniciaram-se as comemorações do mês da fundação
do Colégio em 1837, a 2 de dezembro de 1937, no
1837-1937
nemoroso parque da Quinta da Boa Vista. No Palácio
nascera D. Pedro II e passara vida até exílio. Realizou-se
missa campal em sítio, pois lembrado do bairro de São
Cristóvão, onde ainda funciona o Internato.
Por desejo e iniciativa da Comissão do Centenário,
foi o santo sacrifício da missa celebrado, em altar adrede
preparado próximo à estátua de D. Pedro Segundo,
convidado para celebrante D. Benedito Alves de Souza,
Bispo resignatário do Espírito Santo e titular de Oriza.
Finda a missa, orou o professor Jonathas Serrano,
professor de História da Civilização, disciplina do exame
na justiça, estudando D. Pedro Segundo e relembrando o
maior de seus amigos, também amigo do Colégio e seu
reformador, o Visconde de Bom Retiro.
Estavam representados na solenidade a Presidência
da República, vários Ministros de Estado, comandos de
forças militares.
Numerosas delegações dos mais opostos centros
de cultura deram presença ao ato, sobrelevando-se
naquelas delegações, a da colónia norte-americana no Rio
de Janeiro na pessoa do Sr. e da Sra. Danfort.
No pedestal da estátua, os professores Raja
Gabaglia, Philadelpho de Azevedo e Benevenuto Berna,
este presidente do Centro Carioca, depuseram palma florida
ofertada por aquele Centro em nome da Cidade do Rio de
Janeiro. Alunos do Colégio atiraram então flores à estátua
do Grande Amigo da Instituição, e isso ao som do Hino
Nacional, tão grato aos ouvidos de D. Pedro Segundo no
decurso do seu reinado.
Completou o preito do Centro Carioca um discurso
de representante do mesmo, Dr. Luiz Paula Freitas, diretor
do Instituto Brasileiro de Ensino, trazendo à mente e à
memória dos presentes a imagem e o afeto de D. Pedro
Segundo pelo Colégio a ele dedicado pela Regência Araújo
Lima.
A 29 de novembro, mandada celebrar missa pelos
bacharéis de 1937, em ação de graças por feliz conclusão
de curso, pelo meio-dia de 2 de dezembro, no Salão Nobre
ESCRAGNOLLE DÓRIA
do Externato, realizou-se a colação de grau de bacharel
em ciências e letras à turma de 1937, em presença do
Ministro da Educação, para os amigos do passado a
solenidade de evocação à primeira em 1843.
O fim da tarde de 2 de dezembro de 1937 foi
consagrado ao lançamento de pedra angular de novo
edifício do Colégio, na Praia Vermelha, em terrenos do
Hospício Nacional de Alienados, antigo Hospício de D.
Pedro Segundo, erguido pela Santa Casa da Misericórdia
do Rio de Janeiro, na benemerência do seu provedor José
Clemente Pereira.
Participou do lançamento da pedra básica o
Presidente da República, primeiro a lançar-lhe pá de
revestidor cimento, discursando no ato o Ministro da
Educação e o professor Raja Gabaglia. Acentuou o
Ministro que em o novo edifício, surgiria novo ciclo de
grandeza da prestimosa instituição. Agradeceu o diretor
do Externato o apoio do Presidente da República às
comemorações do Centenário, concluindo por afirmar "que
o Colégio seria, como fora e era, o Seminário da
Nacionalidade".
Às 9 horas da noite de 2 de dezembro, grandiosa
festa encerrou o magno dia evocador da fundação do
Colégio, celebrando sessão solene no Teatro Municipal.
Abriu sessão o Ministro da Educação, proferindo
longo discurso de natureza cívica e pedagógica, no correr
do qual declarou o Colégio de Pedro Segundo "um dos
mais preciosos monumentos do património nacional,
havendo pois, justo motivo de alegria pública a celebração
do seu primeiro centenário", numa época que o orador
declarou "dura e trágica".
Em seguida, discursaram o professor Raja Gabaglia,
em nome do Colégio, o professor Fernando de Magalhães,
bacharel em letras da turma de 1891, em nome de antigos
alunos, o Dr. Ramiz Galvão, outrora professor interino do
Colégio por onde se graduara em 1861, declarando-se o
decano dos bacharéis em letras ao qual a Divina
Providência ainda dilatara vida para presença na
solenidade.
O professor Ignácio de Azevedo Amaral, pela
Universidade do Rio de Janeiro, o Dr. Leon Renault, exdiretor do Instituto de Minas, João Pinheiro, pelo ensino
profissional, e o Dr. Costa Senna, diretor do Departamento
da Educação na Prefeitura, relembraram a glória e os
serviços do Colégio.
Em nome do corpo discente orou o 5o anista do
Internato, Octávio Costa, que se revelando orador
empolgou a atenção do auditório, do qual mereceu
entusiásticas ovações pela elevação, fluência e patriotismo
do seu discurso de filho espiritual do Colégio.
Para remate da brilhante sobre inolvidável sessão,
orou o Dr. Getúlio Vargas, declarando logo ao romper oração
que "entre as numerosas solenidades que presidira,
nenhuma lhe parecera mais edificante e sugestiva, porque
o centenário do Colégio de Pedro Segundo evocava todo o
quadro da evolução política e cultural do Brasil".
Assinalou também o orador: "quão difícil fora
estabelecer os fundamentos de tal obra, quão grande o
devotamento de seus organizadores.
Na missão árdua a que se devotaram, orientando o
problema da aculturação brasileira, os nossos primeiros
educadores chegaram a resultados os mais
extraordinários. Só o espírito evangelizador e as virtudes
da fé podem explicar o milagre de termos conseguido
amálgamas na sociedade colonial os fatores díspares e
primários de nossa formação — indígenas da idade da
pedra, escravos africanos em diversos estados culturais
e imigrantes peninsulares — integrados todos na
civilização cristã" — Tais palavras do Presidente da
República em louvor do Colégio.
À sessão solene do Teatro Municipal, promovida pelo
Ministério da Educação, deram presença o Presidente da
República, o Corpo Diplomático, Ministros de Estado, o
Prefeito do Distrito Federal, professor do Colégio, muitas
autoridades e pessoas gradas, convidados os antigos e
novos alunos do Colégio, comparecendo a Congregação
para remate da homenagem. Nem da festa, para exemplo
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
sobre união, foram excluídos os demais estabelecimentos
vítima ilustre de uma das mais devastadoras epidemias
de Ensino Secundário do Rio de Janeiro, representados
de febre amarela no Rio de Janeiro, e de Pedro de Araújo
por docentes e discentes.
Lima, Marquês de Olinda, falecido em 1870, vinte anos
Dera início à sessão magna comemorativa o erguer
de vozes dos orfeões do Externato e do Internato dirigidos
após o eficacíssimo colaborador na obra ingente e futurosa
da fundação do Colégio de Pedro Segundo.
pelas professoras D. Maria Elisa de Freitas e Lucilia Villa-
Em homenagem a Bernardo de Vasconcellos, junto
Lobos. De pé, a assistência ouviu os sons do Hino Nacional
a seu túmulo, aos ecos da necrópole, orou em nome da
consagrador da Pátria na memória de seu autor, Francisco
Congregação o professor Nelson Romero. Delegado da
Manoel da Silva. Após o hino pátrio, o do Colégio.
m e s m a c o n g r e g a ç ã o , o p r o f e s s o r Pedro do C o u t t o
A sessão solene de 2 de dezembro de 1937 foi
discursou junto ao túmulo do Marquês de Olinda, ambos
realizada em recinto fechado e acessível só a convidados.
evocando em síntese a vida e os serviços do Regente do
Outra homenagem do Colégio à sua primeira centúria seria
Império e do Ministro de 1837.
patenteada ao público, a 4 de dezembro. Tal o desfile pela
Avenida Rio Branco de préstito formado por professores.
antigos e novos alunos e funcionários do Colégio. Do
desfile participaram com o maior garbo e luzimento não
só o Colégio como o Colégio Militar e estabelecimentos
de grau secundário, da Prefeitura Municipal e de ensino
particular.
Desfile comovedor o de 4 de dezembro de 1937,
apesar do desfavorecimento da tarde salpicada de chuva,
afrontando o cortejo, a intempérie como se realizada a
marcha em dia entre azul e sol.
Professores, bacharéis, funcionários encanecidos,
não se deixaram vencer no entusiasmo pelo vigor das
mocidades de corpo no desfile, os mais velhos ritmando
No mesmo dia 5 de dezembro, no Internato, realizouse sessão solene para entrega de certificados de conclusão
do curso fundamental aos quintanistas do estabelecimento.
turma paraninfada pelo professor Lafayette Pereira e tendo
como orador o aluno Octávio Costa, que da sua eloquência
dera tão brilhante cópia na sessão solene do Teatro
Municipal.
A 6 de dezembro, o Externato entregava
certificados de conclusão de curso fundamental aos alunos
5 o anistas da seção, com os festejos do costume.
Em continuação aos festejos do Centenário, o Teatro
Escolar, de sede no Externato, realizou espetáculo original
no Teatro João Caetano, antigo São Pedro de Alcântara,
exibição pública bem curiosa, visto nela só representar
gente do Colégio.
Renovava-se destarte tradição no estabelecimento.
passo com os mais jovens. Não houve quem comentando
Neste, em espaçados tempos, no Externato e no Internato,
não aplaudisse , a principiar pelo Presidente da República.
alunos de ambas as seções haviam representado quase
A 1 o de dezembro, o Colégio, reunido em Petrópolis,
sempre em datas magnas da Pátria ou do Colégio, assim
rendera preito a D. Pedro Segundo, organizada para tanto
a 7 de s e t e m b r o , assim a de 2 de dezembro, datas
romaria cívica, tributando justiça ao protetor do Colégio,
presentes a todas as memórias pelo alto significado.
título a resistir a qualquer negação de outros títulos ao
antigo monarca.
Nova romaria conduziu o Colégio, a 5 de dezembro
de 1937, à necrópole da Venerável Ordem Terceira dos
A exibição pública do Teatro Escolar do Colégio, no
âmbito do Teatro João Caetano, a 23 de dezembro de 1937
e à noite, obedecia à direçáo dos professores Delgado de
Carvalho, Raul Penido Filho e Gilberto Chrokatt de Sá.
Mínimos de S. Francisco de Paula. Aí se encontram os
O programa do espetáculo merece ser conservado.
túmulos de Bernardo de Vasconcellos, falecido em 1850,
Com o tempo perde a lembrança de muito e de muitos
ESCRAGNOLLE DÓRIA
fins da presente Memória resguardar passado para
apresentá-lo a futuro.
Compreendeu o espetáculo comemorativo de 23 de
dezembro de 1937 duas partes no seu programa, uma parte
musical e outra teatral.
A execução do Hino do Colégio, música de Francisco
Braga e letra do aluno Hamilton Elia, deu princípio à festa,
seguindo-se apresentação ao público do Teatro Escolar pelo
professor Raul Penido Filho.
Minueto, música de Barroso Netto, letra de Marinha
Braga — Sonho de Amor, adaptação da Serenata de
Schubertpor Lozano, letra de Máximo de Moura Santos
— Luar do Sertão, música de J. F. Guimarães, poesia de
Catullo Cearense — tais foram as composições
executadas pelo Orfeão do Colégio, dirigido pela professora
Maria Elisa de Freitas. A execução de Mocidade, marcha,
música e letra do professor Sá Roriz, seria ainda confiada
às vozes do mesmo Orfeão. Complementaria a parte
musical o aluno Jayme Cluck interpretando a Symphonia
Hespanhola de F. Sala.
Na parte teatral da festividade apreciou o público,
seleto e numeroso, os esquetes Duas Cartas, de Chrokatt
de Sá, e Crepúsculo de Satanás, do mesmo autor, professor
do Colégio, bem como Primos Por Selecção, farsa em 1
ato do professor Delgado de Carvalho.
No desempenho das três peças de caráter ligeiro,
foi notado o desembaraço dos intérpretes Dinorah Santos,
Edilia da Rocha Coelho e Néa Rosenbaum, alunas do
Colégio, secundadas pelos seus colegas efetivos de estudo
e momentâneos de palco, Décio Guimarães Abreu, Hilgard
Sternberg e Mário Camarinha, sem esquecer Dirceu e
Tasso.
Menção especial fique reservada à aluna Lygia
Walker nos papéis a ela confiados em Duas Cartas e
Primos Por Selecção.
Reserve-se também menção particular para a
representação de Casamento A Pulso, título dado à comédia
de Molière — Le Mariage Force— pelo seu adaptador em
vernáculo, o Dr. Pires de Almeida.
Molière é autor de obra diante da qual se inclina a
posteridade, obrigando à curvatura a Academia Francesa
em peso, ao declarar que nada faltava à glória do
comediógrafo se a glória de acolhê-lo no seu grémio faltara
à Academia, de tantos imortais de vidas logo perecedouras
e ocas de méritos, até para coevos.
Rien ne manque à sa gloire, il manquait à la nôtre.
Tal a inscrição do busto de Molière na Academia
Francesa.
É mister, no programa do Teatro Escolar, acentuar
fundo o Casamento A Pulso. Mesmo de título mudado,
representa Molière na sua admirável galeria de tipos
humanos, na originalidade das suas pinturas de costumes
e de caracteres, dos seus processos cómicos e
dramáticos.
Que o génio francês luz em Molière não padece
dúvida, justificada a resposta de Boileau a Luiz XIV, padrinho
da filha do ator-autor, ao perguntar-lhe o "Rei Sol" que
escritor mais lhe honrara o reinado. "Molière, Senhor",
responde Boileau, que a confrades não poupava sátiras.
Le Mariage Force, representado em França de 7 a
13 de maio de 1664, seria exibido no Rio de Janeiro a 21
de abril de 1792, data da execução capital de Tiradentes.
Afirmou-o Pires de Almeida na 3a parte da desordenada,
mas útil coletânea Brazil-Theatro, na qual é preciso achar
o fio dos assuntos para proveito da pesquisa.
Segundo Pires de Almeida, a comédia de Molière
foi representada "em terreno baldio e fronteiro ao adro da
capelinha da Lapa dos Mascates", que constituía então
os fundos da igreja da atual Igreja da Cruz dos Militares e
a parte alargada pelo mar, na qual se construiu mais tarde,
e definitivamente, a atual Igreja da Lapa dos Mercadores
(no fim da Rua do Ouvidor, próxima ao mar).
Não são despiciendas tais informações. Dão cunho
literário e histórico à comédia molieresca de 1664,
interpretada em 1937 por alunas e alunos do Colégio,
ensaiados por Celestino Silva, de papéis bem sabidos
para folga do ponto Paschoal Américo e movendo-se num
cenário devido a Gustavo Dória.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Oito personagens deram vida à comédia de Molière
1837 - 1937
sessão solene em o Grémio Litterario Mello e Souza, no
na qual em torno de figura feminina única, gira a ação da
Internato também oferecido e promovido pelos quintanistas
peça, a figura de Dorimena, encarnada na graciosa aluna
da casa um almoço em homenagem a professores e ex-
Cilka da Silva Leite, em discreto papel de Pagem a aluna
alunos daquela seção do Colégio. Discentes do Externato
Walkyria Almeida.
e do Internato dedicaram irradiações radiofónicas, emitidas
Alcantor,
pela estação do Ministério da Educação, em honra das
Alcides encarregaram-se c o m distinção e aplauso os
Dos
papéis
de
Sganarello,
Jeronymo,
duas casas do Colégio e dos professores Raja Gabaglia,
alunos Decio Guimarães Abreu, Augusto Cláudio Ferreira,
Pedro do Coutto, José Accioli, Henrique Dodsworth e
Nilo Andrade e Hilgard Sternberg.
Escragnolle Dória.
Na comédia de Molière a prosa deste fustiga em
Pancrácio,
filósofo
pirrônico e
em
Marfório.
Para a segunda quinzena de março de 1938, ficou
filósofo
reservada, ainda na lembrança do Centenário do Colégio,
aristotélico, todas as contendas e rusgas da filosofia no
sessão solene, no Salão Nobre do Externato, sessão
século XVII.
presidida pelo Ministro da Educação e consagrada à lição
Marfório, o filósofo pirrônico encontrou no aluno
inaugural do ano de 1938, proferida pelo professor Dr.
Waldomiro Rothberg um bom intérprete. Mas, a revelação
Francisco Pinheiro Guimarães, e a inauguração na Sala da
da noite na obra de Molière foi a do aluno Octacilio da
Congregação dos bustos de D. Pedro Segundo, do Marquês
Silva Chaves, encarnando Pancrácio, filósofo aristotélico.
de Olinda e de Bernardo de V a s c o n c e l l o s .
Dicção, gesticulação, a gosto em cena, tudo no jovem
s o l e n i d a d e c o n d i g n o f e c h o das c o m e m o r a ç õ e s d o
intérprete impressionou o auditório.
Centenário.
Dir-se-ia ele
acostumado ao palco tal a naturalidade e vivacidade com
as quais representou, aplaudíssimo.
Seria a
No programa das festividades da centúria, b e m
assinalado ficou o empenho de associar a elas, o mais
O curioso e bem-sucedido espetáculo do Teatro
p o s s í v e l , a c l a s s e inteira dos bacharéis em l e t r a s ,
Escolar do Colégio, na noite de 23 de dezembro de 1937,
graduados, ex-alunos e discentes próximos de graduação.
terminou ao som do Hino Nacional, pelo Orfeão do Colégio,
Grande o júbilo a 2 de dezembro de 1937, ao abrir-
hino aquele mais do que simples música, a voz da própria
se o Colégio, menor não foi o prazer do mesmo em 1937,
Pátria.
ao acentuar bem fundo o seu traço indelével na cultura
Alunos das duas seções do Colégio acresceram
realizações do programa oficial comemorativo.
Realizou
o corpo d i s c e n t e celebração de missa na matriz do
nacional.
Muito deveu o Colégio a D. Pedro Segundo, como
ao Colégio, em cem anos, ficou devendo o Brasil.
Ao
Engenho Velho, celebrante vigário da paróquia, Monsenhor
considerar-lhe existência, serviços, esforços, lustre, pôde
Mac Dowell, professor do Colégio.
a Pátria dizer, em 1937, Casa Benemérita, em lembrança
Realizaram t a m b é m
os alunos da 5 a série do Externato e do Internato sessões
lítero-musicais nas duas casas do Colégio, no Internato
humanística e dantesca:
Onorate
I'Altíssima
Progénie.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Quadro de formatura, no Museu do Colégio, dos Bacharéis em
Ciências e Letras, turma de 1902, do Ginásio Nacional, nome do
Colégio na época, e onde se encontram, entre outros, Antenor
Nascentes, Manuel Bandeira e Souza da Silveira.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
XV
O Instituto dos Bacharéis em Letras • Sua Fundação • Seu Reconhecimento Oficial •
Sua Vida e Seus Trabalhos • A Solenidade de 2 de Dezembro de 1902 •
A Equiparação ao Colégio e o Instituto • Seu Eclipse.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
M
erece referência especial, na vida centenária do
Colégio de Pedro Segundo, instituição singular
Em r e u n i ã o de 2 de j u l h o de 1 8 6 3 ,
— data
festejadíssima na Bahia por último selo de Independência
florescida nele anos seguidos. Constituiu associação de
— propôs o bacharel
antigos alunos da Casa a preceder de muito associações
grémio a criar — Instituto Brazileiro de Sciencias e Letras.
do género, tão apreciadas na Europa e ora tentadas de
novo no Brasil.
Na espécie cabe prioridade ao Instituto
dos Bacharéis em Letras.
Pereira Rego se denominasse o
A 25 de junho de 1863, realizava-se segunda sessão,
presentes os bacharéis fundadores e mais 21 bacharéis,
a c o n v i t e dos f u n d a d o r e s para reunião de t o d o s os
Em 1863, a 2 de j u l h o , c o n g r e g a v a m - s e s e t e
bacharéis residentes na Corte. Sejam eles mencionados
bacharéis do Pedro Segundo para dar corpo à ideia do
com o ano de graduação, pelas duas seções do Colégio,
grémio.
realizada a divisão do Colégio em 1857.
Àqueles, a coevos, a vindouros recordariam a vida
do Colégio, nele as lições, o proveito do seu ensino, a sua
tradição enfim.
Américo Romão de Figueiredo Mussuranga
— (1853)
(Bacharel pelo Liceu da Bahia)
Sete foram os fundadores do grémio.
De inteira
Augusto José de Castro e Silva
— (1852)
justiça é memorar-lhes os nomes, mencionando o ano do
António Dias Pinto Aleixo
— (1853)
seu bacharelado.
Anastácio Luiz do Bomsuccesso
— (1852)
Alfredo d'Escragnolle Taunay
— (1858)
Benjamim Franklin Ramiz Galvão
— Externato (1861)
António José de Souza Rego
—(1849)
Eduardo César de Almeida Rego
— Internato (1862)
António Maria Corrêa de Sá e Benevides
— (1862)
Ernesto Frederico da Cunha
— Internato (1862)
Carlos José Xavier
—(1849)
Francisco José Xavier
— Internato (1862)
Domiciano Fortes de Bustamante e Sá
— (1849)
João Carlos Mayrink
— Internato (1862)
Domingos José Freire
—(1860)
José Pereira Rego Filho
— Externato (1862)
Evaristo Nunes Pires
—(1855)
Pantaleão José Pinto
— Externato (1861)
José António de Araújo Filgueiras
— (1856)
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
João José de S. Paulo
João de Saldanha da Gama
João Pinto do Rego César
José Carlos de Almeida Áreas
José Vicente de Azeredo Coutinho
José Manoel da Silva
Luiz José de Carvalho Mello Mattos
Manoel Francisco Corrêa
Theophilo das Neves Ledo
(Bacharel em Letras pelo Liceu da Bahia)
—(1862)
— (1853)
—(1859)
— (1843)
— (1849)
— (1862)
— (1855)
—(1855)
—(1850)
Do grupo dos fundadores e dos primeiros adeptos,
do novel Instituto, muitos das primeiras turmas do Colégio,
haviam de notabilizar-se mais na vida nacional: Sá e
Benevides, Bispo de Mariana, Domingos Freire, lente de
Medicina, Alfredo d'Escragnolle Taunay e Manoel Francisco
Corrêa, Senadores do Império, o último também Ministro
de Estado, dos Negócios Estrangeiros.
Progrediu rapidamente o Instituto, a ponto de
encontrar amparo e consagração oficial, dada pelo Decreto
de 16 de maio de 1864, concedendo ao Instituto dos
Bacharéis em Letras autorização para exercer funções e
aprovando-lhe os respectivos Estatutos.
Era a consagração pelo poder público da sociedade
fundada na Corte com o título de Instituto dos Bacharéis
em Letras.
Fora o título proposto pelo bacharel Evaristo Nunes
Pires e aceito no correr da discussão de estatutos,
preferido ao de Instituto Brazileiro de Sciencias e Letras,
proposto pelo bacharel Pereira Rego, a 2 de julho de 1863.
O Decreto n.° 3.270 de 16 de maio de 1864, ano
quadragésimo terceiro da Independência e do Império, deu
prestígio ao Instituto.
Pelo Decreto, declarava Sua Majestade o Imperador,
com a referenda do Ministro do Império, José Bonifácio
de Andrada e Silva, que, atendendo à representação do
presidente do Instituto (o futuro Bispo de Mariana — Sá e
Benevides) e à resolução tomada sobre o parecer da seçáo
dos Negócios do Império do Conselho de Estado, exarado
1837 - 1937
em consulta de 16 de abril de 1864, ficava o Instituto
autorizado a funcionar.
O Decreto de 16 de maio de 1864, porém, estatuía
explicitamente que as resoluções constantes do artigo 44
dos estatutos do Instituto não podiam contrariar disposições
do Decreto.
Careciam de aprovação do Governo Imperial os
princípios que se pretendiam servir de arestas e as reformas
a que se referia o artigo 45.
Diziam os estatutos:
Artigo 44 — Qualquer caso não previsto pelos
presentes Estatutos será provisoriamente resolvido pela
Diretoria, cuja resolução, para formar aresto, fica
dependendo de aprovação da assembleia geral.
Artigo 45 — Os sócios em número superior à metade
dos efetivos, poderão, quando julgarem necessário,
requerer uma assembleia geral, para reforma dos Estatutos,
o que, sendo aprovado, se incumbirá tal reforma a uma
comissão especial composta de cinco membros.
Os estatutos submetidos ao "placet" do Governo
Imperial haviam sido subscritos na sala das sessões do
Instituto pelos bacharéis Costa Ferraz, Freitas Mussuranga
e José Pereira Rego Filho.
Constavam os estatutos de 12 capítulos e 45 artigos.
Destes, os dois primeiros davam como juiz ao
candidato a reunião dos bacharéis em letras do Império,
para, pelos melhores meios possíveis, combinar e
promover o progresso intelectual de associados.
A fim de alcançar tal escopo, o Instituto realizaria
reuniões, e também aulas públicas, fundando caixas de
beneficência, quando possível.
Compor-se-ia o Instituto de cinco classes de sócios:
— efetivos, honorários, beneméritos, benfeitores e
correspondentes.
Fundadores seriam quantos houvessem
comparecido à sessão inicial, a 2 de julho de 1863.
Desejando pertencer ao Instituto devia o candidato,
bacharel em letras, apresentar memória sobre qualquer
parte dos estudos do Imperial Colégio de Pedro II.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Os sócios efetivos contribuiriam com a quota mensal
de 2$000, remidos e benfeitores se oferecessem a quantia
de 50$000.
Todas as outras categorias de sócios do Instituto
ficavam isentas de contribuição pecuniária.
Cuidavam os estatutos da administração do Instituto
Incumbia-se o orador de produzir na sessão
aniversaria o elogio histórico dos sócios falecidos durante
o ano social, também caber-lhe-ia orações à beira túmulo.
As sessões ordinárias do Instituto não se realizariam
em novembro e dezembro, bimestre considerado de férias.
A abertura das sessões ordinárias dependeria da presença
mínima de 6 sócios.
Para apreciação de trabalhos dos sócios manteria o
Instituto 11 comissões, de 3 membros cada uma, relator
o membro mais votado. Uma de tais comissões seria a
de línguas vivas, especialmente a nacional, atendendo
também à indígena.
A 2 de julho de 1864, no Externato do Imperial
Colégio de Pedro Segundo, o Instituto celebrava sessão
inaugural contando no quadro social 52 bacharéis em letras.
À imitação de qualquer sociedade do género,
verificou, porém, o Instituto durante muito tempo presença
e esforços de infatigável grupo de sócios.
Em 1867, o Instituo conseguia publicar revista.
Intitulava-se — Bibliotheca do Instituto dos Bacharéis
em Letras. Trazia 298 páginas abrangendo, entre outros
trabalhos literários, o discurso proferido na sessão solene
de instalação do Instituto pelo respectivo presidente
bacharel — Sá e Benevides, O Púlpito no Brasil, da lavra
do bacharel Ramiz Galvão, e Quatro Vultos, ensaio críticobiográf ico de Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Laurindo
Rabello e Gonçalves Dias pelo bacharel Anastácio Luiz do
Bomsucesso.
Tal número da Biblioteca foi único, é hoje raridade
bibliográfica. Infelizmente, nisto ficou a publicação, não à
míngua de trabalhos literários, sim por falta de recursos
pecuniários de qualquer género.
Portaria do Ministério do Império, de 15 de fevereiro
de 1865, concedeu ao Instituto dos Bacharéis uma sala
no Externato para celebração de sessões e organização
da biblioteca.
Cumprindo a portaria, e dando maior desafogo ao
Instituto, muito se interessou por ele o secretário do
Externato e nele professor — José Manoel Garcia, daí o
Instituto conferir-lhe o título de sócio honorário.
Os bibliotecários do Instituto, de 1865 em diante,
deles primeiro o bacharel Francisco José Xavier,
esforçaram-se por desenvolver a seção a seu cargo.
Contou a Biblioteca do Instituto, depois desamparada
e dispersa, obras de valor e coleção de manuscritos dignos
de apreço como fossem:
a) — A Estolaida, poema herói-còmico do Cónego
João Pereira da Silva, oferecido ao Instituto pelo bacharel
Rego César.
Do poema publicado em 1878, só se conheciam
algumas estrofes e estas mesmo adulteradas.
Pereira da Silva era carioca, Cónego da Capela Real
em 1803, pregador régio, humanista de vida vária, tendoa iniciado como soldado. Escreveu A Estolaida. Do poema
extraiu e publicou o Cónego Januário da Cunha Barbosa,
no seu Parnaso, algumas oitavas do canto 2o, descrevendo
o Pão de Açúcar e a baía de Botafogo.
b) — Poesias humorísticas e satíricas do monge
beneditino frei Rodrigo de São José, vice-reitor do Externato
e neste alma de disciplina para honra do Colégio.
c) — O Orphão, trabalho de Joaquim Gonçalves
Ledo, o prócer da Independência, oferecido ao Instituto
pelo bacharel Carlos Alberto de Menezes, ajuntando este
à dádiva breve memória explicativa da sua autenticidade.
Era, aliás, a Biblioteca do Instituto alvo de dádivas
importantes. Assim a do bacharel Fernando Mendes de
Almeida, doador de 300 obras, pertencentes à biblioteca
paterna, a do laborioso sobreerudito Senador Cândido
Mendes de Almeida.
Em 1874, o Instituto dos Bacharéis em Letras
recebia graça especial do poder público. Concedia-o o .
Decreto de 22 de julho de 1874, permitindo aos sócios do
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Instituto, em atos públicos e solenes, uso de medalha de
ouro pendente de colar também de ouro. Numa das faces
da medalha via-se gravada a cabeça de Minerva, deusa
da sabedoria, laureada com a inscrição Pefro Duce et
Auspice Petro, eras ingens iterabimus aequor. Na outra
face da medalha, na parte central, a data do Decreto de
sua instituição — 22 de julho de 1874 — em derredor —
Instituto dos Bacharéis em Letras.
O distintivo foi estreado por vários sócios em sessão
solene do Instituto, honrada com a presença de D. Pedro
II e da Família Imperial.
Até 1884, muitos trabalhos foram lidos nas sessões
regulares do Instituto. Entre eles figuravam, como mais
importantes, não só pelo interesse dos assuntos como
pela notoriedade dos autores, as seguintes produções:
Humanidade e Progresso — (estudo das diversas
escolas filosóficas até a cartesiana), pelo bacharel Corrêa
de Sá e Benevides.
Geração Espontânea — pelo mesmo , futuro Bispo
de Mariana.
O Púlpito no Brasil— pelo bacharel Ramiz Galvão.
Quatro Vultos (Álvares de Azevedo, Junqueira Freire.
Laurindo Rabello e Gonçalves Dias) — pelo bacharel
Bomsuccesso.
Historia da Poesia no Brazil— pelo bacharel Oscar
Adolpho de Bulhões Ribeiro, futuro lente de medicina e
reputado cirurgião.
Historia do Theatro Grego — pelo bacharel João
Baptista de Lacerda, futuro diretor do Museu Nacional.
A Glória de Colombo aos olhos da Historia — pelo
bacharel Ramiz Galvão.
O Génesis e a Geologia — pelo bacharel Pedro
Affonso de Carvalho, futuro lente de medicina e Barão de
Pedro Affonso.
Analyse das causas da decadência da litteratura
portugueza nos séculos XVI, XVII e XVIII, sua restauração
em Portugal — pelo bacharel Alfredo Piragibe, futuro
diretor do Internato do Colégio.
1837 - 1937
Estudos sobre a provinda do Pará— pelo bacharel
Custodio Américo dos Santos, futuro médico e professor
de Inglês do Colégio.
A Epopeia no Brasil — pelo bacharel Carlos
Maximiano Pimenta de Laet, futuro professor e diretor do
Colégio.
Historia e Geographia da Provinda do Espirito Santo
— pelo mesmo.
Etymologia, prosódia e ortographia das palavras
portuguezas derivadas do grego — pelo bacharel Ramiz
Galvão.
Historia da cidade do Rio de Janeiro— pelo bacharel
Vieira Fazenda, futuro cronista emérito da Cidade.
Apontamentos para a historia civil e ecclesiástica
do Rio de Janeiro— pelo mesmo.
Diccionario etymologico e prosodico da lingua
portugueza (princípio da letra A) — pelo bacharel Ramiz
Galvão.
Historia e Geographia da provinda de Goyaz— pelo
bacharel Carlos Artur Moncorvo de Figueiredo,futuro e
acatado pediatra.
Catálogo dos manuscriptos que possam interessar
à historia e geographia do Brazil— pelo mesmo.
Macbeth — pelo bacharel Augusto Ferreira dos
Santos, futuro lente de Medicina do Rio de Janeiro.
Viagem à America por João de Léry— tradução do
bacharel Moncorvo.
Estudo sobre o theatro nacional — pelo bacharel
Manoel Veloso Paranhos Pederneiras, futuro decano do
jornalismo carioca.
Considerações sobre a obra de Draper — Conflito
de Ciência e da Religião — pelo bacharel João Pinto do
Rego César, futuro médico, clínico por longos e notórios
anos no Rio de Janeiro.
A Alma e o Cérebro— pelo bacharel Rego César.
Considerações sobre a obra Fim da Criação ou a
natureza interpretada pelo senso commum— pelo bacharel
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Rego César (A obra não traz nome do autor, é porém da
autoria de José de Araújo Ribeiro, Visconde do Rio Grande
e Senador do Império).
A educação da Mulher — pelo bacharel Alfredo
Moreira Pinto, o futuro geógrafo.
Hermann e Dorothéa, tradução do original de Goethe
— pelo bacharel João Henrique Braune, futuro lente de
Grego do Colégio.
O Sonho, o Elogio da Mosca, e Tragapo dagra
(tradução do original grego de Luciano) — pelo bacharel
Tomaz Ramos da Fonseca, futuro lente de Grego no Colégio.
Além dos mencionados trabalhos literários, outros
muitos foram lidos nas sessões do Instituto dos Bacharéis
em Letras, assim as produções dos seguintes bacharéis:
— Pantaleão José Pinto (Estudos das Línguas Vivas),
Manoel Gomes Belfort Duarte (História da Literatura
Antiga), António Teixeira de Souza Alves (Principais
Classificações Mineralógicas), João Marinho de Azevedo
(Agentes Plutônicos), Ernesto Frederico da Cunha (História
dos Primeiros Séculos do Cristianismo), Joaquim da Cunha
Barbosa (Consciência e Crime, Poesia, e História da
Literatura Sagrada e Profana), José Pereira Leitão Júnior
(Concerto dos Séculos), Balthazar Bernardino Baptista
Pereira (Memória Histórica do Município de Itaboraí e
Memória sobre os Governadores do Brasil), João Luiz dos
Santos Titara (Considerações sobre o Governo do Paraguai),
João Diogo Esteves da Silva (A Filosofia e a Humanidade
e Estudos sobre a Educação Brasileira), José Tito de
Araújo (Lendas Bíblicas Históricas e Imaginativas), Eduardo
de Lima Barros (Estudos Bibliográficos dos Poetas
Nascidos no Brasil), e traduções em verso da Piedade
Suprema hugoana, de To Be or Not To Be (o monólogo
Shakespeareano), Evaristo Nunes Pires (A Pasmaceira,
poema satírico), Carlos Alberto de Menezes (Calabar
Perante a História), Childerico Paranhos Pederneiras
(História das Artes no Brasil, Os Meninos das Ruas de
Nova âorú, tradução), Duarte José de Mello Pitada
(Apontamentos Curiosos e Históricos), António Mendes
Limoeiro (O Passado e o Futuro, poesia. Vida e Progresso,
sátira. Páginas Literárias, 93 e Vitor Hugo), Anastácio Luiz
do Bomsuccesso (Análise do Colombo, de Porto Alegre,
em 6 cartas dirigidas ao bacharel Nunes Pires, A Fábula,
sua Cultura em todos os Tempos e em todos os Lugares,
Alegrias da Pátria, Análise de três romances de Alencar:
Iracema, O Garatuja e O Ermitão da Glória), José Basileu
Neves Gonzaga (Memória sobre o Dilúvio Universal).
Copiosa, pois, a lista de trabalhos apresentados ao
Instituto dos Bacharéis em Letras e nele discutidos.
Celebrava o Instituto, em 1884, à solene, o
aniversário de instalação (1863-1884).
Memorava a data em sessão honrada, pela segunda
vez, com a presença de D. Pedro II e da Família Imperial,
em 2 de julho de 1884.
Dizia então o secretário do Instituto, o doutor em
medicina e bacharel em letras Diogo Garcez Palha,
referindo-se às augustas presenças imperiais: — "Praza
aos Céus que tal ventura sirva de estímulo ao Instituto
para continuar no trabalho e aplicação e fazendo pela minha
parte votos pela sua prosperidade , peço aos meus
colegas que não desanimem, certos de que no estudo das
ciências só poderão encontrar um hino majestoso entoado
ao Criador e ao ordenador dos mundos e que só com muita
aplicação poderão descobrir armas para as contrariedades
que têm sofrido e que não são mais que a revelação da
imperfeição e contingências humanas, e lhes peço que se
dediquem ao trabalho tendo sempre em vista que o homem
nascido para a verdade jamais a poderá encontrar na terra
que habita e nas ciências que possui, por maior que seja
a sua soma, se as deixar de aceitar, aprender e conservar
cuidadoso na revelação do Supremo Criador do Universo.
Avante, pois, senhores do I n s t i t u t o , não
desanimemos após vinte anos de trabalhos e, ainda,
quando pareçam superiores às vossas forças os
obstáculos a vencer, prossegui, trabalhai, lutai porque a
luta é a vida".
A enumeração dos principais trabalhos dos sócios
do Instituto no decurso de mais de dois lustros, os
decorridos de 1863 a 1884, sugere reflexões.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
Cumpre considerar primeiro o esforço de sucessivas
1837 - 1937
De 1863 a 1867 ocupou a presidência do Instituto o
diretorias, buscando manter a continuidade e o prestígio
bacharel Sá e Benevides, s u b s t i t u í d o em 1867 pelo
do Instituto.
dedicadíssimo bacharel Anastácio Luiz do Bomsuccesso,
Assinale-se o interesse manifestado por muitos
s ó c i o s pelos t r a b a l h o s do I n s t i t u t o .
Observe-se a
anteriormente 1 o secretário e vice-presidente.
Foi o cargo de orador do Instituto desempenhado de
orientação do espírito de alguns bacharéis em letras,
1864 a 1871, pelo bacharel Ramiz Galvão.
orientação partida do Instituto e seguida vida inteira.
Ihe o bacharel Neves Gonzaga, orador de 1871 a 1875, o
Sucederam-
Assim Ramiz Galvão a preocupar-se com estudos
bacharel Mendes Limoeiro de 1875 a 1877, e de 1880 a
linguísticos, muitos hauridos do grego, Vieira Fazenda a
1881, o bacharel Manoel Velloso Paranhos Pederneiras de
tratar no Instituto do passado do Rio de Janeiro.
Nem
pareça descurioso notar a orientação inversa dos espíritos
de outros sócios do Instituto, tais os de Oscar Bulhões e
1877 a 1878, o bacharel Rego César de 1878 a 1879, o
bacharel Fernandes Figueira de 1880 a 1881.
Solenidade das maiores e da mais alta expressão
Pedro Afonso, de Moncorvo de Figueiredo, de Moreira Pinto,
promoveu o Instituto dos Bacharéis em Letras, presidido
os três primeiros dedicados à ciência médica, o último,
em 1902 pelo bacharel José Bernardino Paranhos da Silva.
cultor da História e Geografia de tão boa sociedade.
Às diretorias do Instituto coube grande parte do
Foi aquela solenidade a sessão comemorativa do
65° aniversário da fundação do Colégio de Pedro 2 o , então
merecimento de conservação dele. A primeira diretoria,
"Gymnásio Nacional", nome no qual as paixões partidárias
eleita para o biénio 1863-1864, assim se compôs:
de m o m e n t o obliteravam gratidão perene.
Presidente — Bacharel António Maria Corrêa de Sá
Pouco antes da solenidade de 2 de Dezembro de
e B e n e v i d e s , ao depois Bispo de Mariana. — Vice-
1902, o Instituto dos Bacharéis em Letras incumbira uma
Presidente — Manoel Francisco Corrêa, depois deputado
comissão de elaborar o programa do ato festivo.
geral, Senador do Império e Ministro de Estado.
1 o Secretário — Bacharel Ernesto Romão de Freitas
Mussurunga.
2 o Secretário — Bacharel Benjamin Franklin Ramiz
Galvão, sócio fundador, lente de medicina, diretor da
Biblioteca Nacional, preceptor dos Príncipes D. Pedro e D.
Luiz de Orleans e Bragança.
Compunha-se
a
delegação
dos
bacharéis:
Conselheiro Manoel Francisco Correia, da turma de 1849,
Alfredo Russell, da turma de 1 8 9 1 , Paranhos da Silva, da
t u r m a de 1892, Raul Pederneiras, da m e s m a t u r m a ,
Theodoro Magalhães, da turma de 1893.
A 2 de dezembro de 1902, às 11 horas da manhã,
Monsenhor João Pires de A m o r i m , ex-vice-reitor e antigo
Tesoureiro — Bacharel José Pereira Rego Filho,
professor de Religião do Colégio, celebrou missa em ação
sócio fundador, m é d i c o , secretário-geral da Imperial
de graças acolitado por antigo aluno do Colégio, Cónego
Academia de Medicina.
Manoel Marques de Gouvêa.
Orador — Bacharel Luiz José de Carvalho Mello
Rezou-se a missa na igreja de São Joaquim, contígua
Mattos, advogado, Presidente da Assembleia Provincial
ao Colégio, nela celebrada outra missa, a 3 de dezembro,
Fluminense.
por alma dos bacharéis em letras desaparecidos no
1
o
Suplente — Bacharel João Carlos M a y r i n k ,
médico, sócio fundador.
decurso de mais de meio século de vida do Instituto.
Na manhã de 2 de dezembro de 1902, comissão de
o
bacharéis, representando o Instituo, na necrópole de
médico.
Catumbi, visitou os túmulos do marquês de Olinda e de
2 Suplente — Bacharel Ernesto Frederico da Cunha,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo de Vasconcellos, o Regente e o Ministro
fundadores do Colégio, sem ser possível prestar igual
homenagem aos restos mortais do primeiro reitor, o Bispo
D. Frei António de Arrábida.
Junto aos túmulos de Olinda e Bernardo de
Vasconcellos, quedaram-se respeitosos os bacharéis
Conselheiro Manoel Francisco Correia, da turma de 1849,
Theodoro Magalhães, Alfredo Russell, Werneck Machado,
da turma de 1881, Amarílio de Vasconcellos e Hermínio
Lyra da Silva, da turma de 1893.
Reuniram-se depois ao tradicional toque da sineta,
no pátio do Externato do Ginásio Nacional, numerosos
bacharéis em letras.
Muitos representavam outros colegas.
Formaram todos, por ordem de turmas, à testa
destes o bacharel decano de 1849, Carlos Arthur Busch
Varella. Caminharam os bacharéis para o Salão Nobre do
Ginásio.
Aí os aguardava luzido auditório no qual, entre
pessoas gradas, figuravam o Dr. José Joaquim Seabra,
Ministro da Justiça, os Drs. Francisco Cabrita e Coqueiro,
diretores do Externato e Internato, assistidos pela
Congregação do Ginásio composta de lentes em exercício
e jubilados.
Fora reservado aos bacharéis lugar distinto na
solenidade.
Sentaram-se por ordem de turmas. No meio de
colegas da turma de 1865, divisava-se o então Presidente
da República, Rodrigues Alves, perto dos bacharéis José
Américo dos Santos, Edmundo Mendes Limoeiro, Luiz
Betim Paes Leme e Valeriano da Fonseca.
Na mesa de honra da sessão alvejavam dois
barretes. Um havia imposto grau aos bacharéis de 1849,
da primeira turma saída do Colégio, o outro pousara sobre
a cabeça dos bacharéis de 1901, última turma graduada
em ciências e letras.
Convidou o presidente do Instituto dos Bacharéis,
Paranhos da Silva, o bacharel mais antigo, Busch Varella,
para presidir a sessão.
Ficavam-lhe ao lado os bacharéis Theodoro
Magalhães e Lima Drummond, 1o secretário e orador do
Instituto.
Como de direito orou primeiro o bacharel Busch
Varella, cheio de triunfos oratórios na tribuna forense. O
discurso do bacharel decano de 1843 foi expressivo
transunto de passado e saudade.
Com aquele rememorou a vida oficial do Colégio,
com esta a vida íntima dele.
Bacharel em letras em 1843, era Busch Varella
advogado da mais célebre nota. Em 1902, remontando ao
antanho, dizia de antigos professores do Colégio,
Gonçalves de Magalhães, Joaquim Caetano, Santiago
Nunes Ribeiro, Silva Maia, Porto Alegre.
Do patrono da casa, D. Pedro II, afirmava Busch
Varella, referindo-se aos primórdios do Colégio Imperial:
— "Poucos eram então os alunos; o jovem Imperador,
moço da mesma idade que eles, visitava com frequência
as aulas, acompanhado quase sempre do seu venerando
amigo, o Visconde de Sapucaí, de saudosa memória;
tomava vivo interesse pelo adiantamento dos alunos,
assistia às suas lições e para todos tinha boas palavras
de animação. Foi assim que ele radicou nos corações de
todos aqueles moços uma respeitosa simpatia que o
acompanhava nos seus dias de glória e nos transes de
sua acidentada existência".
Tratando das reformas de modificação, à primitiva
regulamentação do Colégio, observava ainda Busch
Varella: —
" Dessas reformas, a mais importante foi a de 1854,
elaborada pelo benemérito Visconde de Bom Retiro, que
com tanto zelo, atividade e inexcedível patriotismo geria
os negócios do Ministério do Império, onde deixou traços
luminosos de sua passagem.
Não me acoimeis de indiscrição se vos disser que
o Ministro Visconde, declinando dos louvores que alguém
tributava ao seu magnífico trabalho, respondeu que todo o
merecimento dessa reforma cabia ao Imperador, que tinha
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
estudado acirradamente todo o movimento pedagógico nos
modernos sistemas e métodos de ensino na Europa,
especialmente em França".
Prosseguindo na oração, o bacharel Busch Varella,
em nome da Pátria, pugnou pela repatriação dos restos
mortais de D. Pedro II e de D. Theresa Christina postos no
panteão mortuário bragantino do mosteiro de São Vicente
de Fora, em Lisboa.
"A iniciativa da ideia não é minha, antes de mim
manifestou-a na imprensa um ilustre brasileiro que não
pode ser averbado de suspeito; onze anos foi ele Cônsul
e Ministro do Brasil nos Estados Unidos da América do
Norte e a sua adesão às formas republicanas é bem
conhecida: — foi ele quem em 1893 aconselhou à
República que para dar ao mundo documento de sua
estabilidade mandasse trasladar para a terra da Pátria os
restos mortais do Brasileiro e de sua santa esposa, que
nos deram a todos o modelo da família e o exemplo dos
bons costumes e dos sentimentos pios, o republicano que
assim se exprime é o Sr. Salvador de Mendonça."
Vinte anos passaram. Só em 1922, celebrado o 1o
Centenário da Independência, realizaram-se os votos de
Salvador de Mendonça, em 1893, e de Busch Varella em
1902, a 2 de dezembro de justo em data natalícia do
Imperador, "dia outrora festivo e de gala", como disse
Busch Varella, comparando D. Pedro II "a filho que chorava
com saudade, mas não se queixava da mãe que o lançara
de si".
A Busch Varella sucedeu na tribuna o 1o Secretário
do Instituto dos Bacharéis em Letras, o bacharel Theodoro
Augusto Ribeiro de Magalhães inventariando, às rápidas,
os principais sucessos da vida do Colégio, da fundação a
1902.
Prestando homenagens aos vultos da Casa,
exaltando-lhes préstimos sem lhes calar culpas
obedientes à franqueza humana, "como republicano
intransigente e cronista imparcial ", Theodoro Magalhães
salientava sobretudo a valia do estabelecimento
1837 - 1937
"sancionada pelo correr dos decénios e testificada pela
lista dos 704 bacharéis por ele diplomados, não contando
os estudantes que abandonaram o curso no 5o e 6o ano de
estudos para, com aproveitamento, frequentarem as
academias".
Ao bacharel Theodoro de Magalhães seguiu-se com
a palavra o bacharel João da Costa Lima Drummond, desde
os bancos colegiais tido por orador, na solenidade de 2 de
dezembro de 1902, o sendo por mandato e conta do
Instituto dos Bacharéis em Letras.
O discurso de Lima Drummond focalizou sobretudo
a figura de Bernardo Pereira de Vasconcellos, o Ministro
interino da Regência Olinda a desvelar-se tanto na fundação
como na posterior defesa do Colégio.
Pôs Lima Drummond também em relevo a figura de
morto querido do Instituto, o Dr. Anastácio Luiz do
Bomsuccesso — "o médico caridoso e exímio fabulista,
que durante muitos anos do género fora muitas vezes a
única personificação genuína e viva, desdenhando sempre,
por inúteis e fugaces, as seduções da força e do poder, na
íntima convivência com os pobres e os humildes, porque
confiava nestes dois poderosos elementos de formação
do caráter, o trabalho e a honra, transunto fiel da sua vida".
Principiada ao meio-dia, findava quase às quatro
horas da tarde a solenidade promovida pelo Instituto dos
Bacharéis, a 2 de Dezembro de 1902.
Tornara realidade ideia havia muito no pensamento
de alguns bacharéis em letras, entre eles Teixeira Júnior,
Visconde do Cruzeiro, e Busch Varella.
A 5 de agosto de 1902, em reunião de 40 bacharéis,
fora resolvido levar avante a ideia da comemoração do
65° aniversário da fundação do Colégio.
Realizou-se o ato, qual o narramos, com toda a
solenidade e júbilo geral da classe dos bacharéis em letras
do Pedro Segundo.
A estes associaram-se vultos da maior
representação pátria e até estrangeira, presente à festa o
Dr. Susviela Guarch, Ministro do Uruguai no Brasil, também
entre convidados o Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Joaquim
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti e representantes de
oito associações científicas, bem como significativamente
irmãos da Irmandade de São Joaquim, funcionando no
templo contíguo ao Externato do então Gymnásio Nacional.
Por ocasião da solenidade de 2 de Dezembro de 1902,
reeditou e distribuiu o Instituto de Bacharéis em Letras o
discurso lapidar de Bernardo de Vasconcellos, na abertura
do Colégio, a 25 de março de 1838, dia de grande gala
pelo aniversário do juramento da Constituição do Império.
Nunca se mostrou o Instituto de Bacharéis indiferente
às questões de ensino, sobretudo se diziam respeito ao
Colégio.
Sobretudo aos bacharéis em letras sempre parecer
provisório o título de Ginásio Nacional.
A divina justiça imanente, superando a dos homens,
dia mais, dia menos, restituiria à gloriosa Casa o nome
daquele cujos auspícios fora fundada em 1837.
Do interesse do Instituto dos Bacharéis por questões
pedagógicas, mormente relativas ao Colégio, há frisante
exemplo.
No uso de Direito Constitucional, o de petição, aos
membros do Congresso Nacional representou o Instituto
dos Bacharéis em Letras.
Verberou o ato do poder executivo federal contido
no Decreto equiparando em 1895 ao Gymnásio Nacional,
aos seus 58 anos de existência, o Instituto Kopke com
sede no Rio de Janeiro, dirigido aliás por pessoa digna e
de cultura.
O Instituto dos Bacharéis nomeou comissão para
redigir representação ao Congresso Nacional.
Compuseram-na os bacharéis Luiz Carlos Fróes da
Cruz, presidente, José Bernardino Paranhos da Silva,
relator, Carlos José Sallaberry, Alfredo de Almeida Russell
e Ildefonso Castilho Lisboa.
A extensa e bem elaborada representação do
Instituto foi distribuída em avulso. Analisava os artigos
dos Decretos aos quais se referia o ato do poder executivo,
bem como os avisos e as deliberações do mesmo poder
referentes ao assunto, entrando por último o relator da
representação a estudar, com minudência e segurança, o
Decreto favorecendo o Instituto Kopke.
Ao próprio Congresso Nacional, o Instituto Kopke
pleiteara a equiparação ao Ginásio Nacional, pelo Poder
Legislativo rejeitada a pretensão.
A representação do Instituto, pelo relator desta,
Paranhos da Silva, mostrava a ilegalidade da concessão
do Poder Executivo ao Instituto Kopke.
O Instituto dos Bacharéis firmou, pois, protesto
contra o regime das equiparações cuja história, cujas
consequências não serão aqui narradas, examinando quais
os seus efeitos em relação ao ensino.
Nem foi o Instituto dos Bacharéis indiferente à
postergação do nome de D. Pedro II como o do verdadeiro
nome do Colégio. Em sessão ordinária, por unanimidade
de votos e sob a presidência do bacharel Paranhos da Silva,
aprovou o Instituto representação dirigida ao Presidente
da República e da lavra do sócio honorário professor
Escragnolle Dória ao qual o Instituto conferira aquele título
pelo seu devotamento à instituição, na qual tomara posse
proferindo discurso de exaltação ao Colégio, aos seus
serviços, à sua tradição
No recuperar antiga denominação de Colégio de
Pedro Segundo, podem encontrar-se o esforço e os votos
do Instituto de Bacharéis em Letras.
Eis, como em nome dele, se expressava o professor
Escragnolle Dória, dirigindo apelo aos altos poderes do país
no sentido de reparar injustiça oriunda de instantes
agitados de transição do regime monárquico para o
republicano, quando por efeito de paixões momentâneas
até direitos adquiridos de professores do Colégio foram
violados para ulteriores reparações judiciárias e
administrativas.
A Mudança de Nome do Ginásio Nacional
Eis a representação do Instituto pedindo a restituição
ao Colégio do nome de D. Pedro II:
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
"Sr. Presidente da República — O Instituto de
Trinta e dois anos de tradição lhe assinalaram as
Bacharéis em Letras, associação exclusivamente fundada
denominações de Externato e Internato do Colégio de Pedro
por Bacharéis do Colégio de Pedro Segundo e por eles
Segundo. Tradição inteiriça, coesão perfeita.
também exclusivamente mantida 46 anos (1863-1909), não
2 o — No período republicano, o Gymnasio Nacional
pode conservar-se indiferente à mudança de nome ora
se viu dividido em Externato e Internato do Gymnasio
sofrida pelo Gymnasio Nacional.
Nacional e não recebeu duas denominações opostas.
Considerando-se, com justo orgulho, ante mural do
3 o — O voto da Congregação, o desejo dos órgãos
Gymnasio, tendo sido por várias vezes pelo Governo
da opinião nacional, a voz dos oradores nas festas de grau
julgado objeto de favores especiais, o que equivale à
da Casa sempre pediram a mesma coisa: — a volta do
declaração implícita de utilidade pública o Instituto acredita
nome de Pedro Segundo para todo o estabelecimento. Só,
ter pleno direito de intervir no assunto com a força de sua
pura e simplesmente.
4 o — Quaisquer que tenham sido os serviços de
tradição e o vigor de suas convicções.
Fundado em 1837, o Colégio de Pedro Segundo
Bernardo Pereira de Vasconcellos ao Colégio, no momento
começou a funcionar em 1838 c o m o internato, s e m i -
histórico de sua fundação — e ninguém os nega como
internato e externato. Corridos dois decénios, o Decreto
ninguém esquece t a m b é m os préstimos do Regente, a
de 24 de outubro de 1857 desmembrou o estabelecimento
primeira figura do Governo — tais serviços se limitaram à
em duas seções: — Externato e Internato do Colégio de
época da fundação.
Pedro Segundo. A divisão não alterou o nome principal do
identificou-se c o m o Colégio de Pedro Segundo, e o
Colégio.
soberano muito se esforçou nas funções de protetor da
E n t r e t a n t o , a vida do Monarca
Sobrevêm a República. Apaga-se o título do Colégio.
Casa, proporcionando-lhe o maior esplendor, impondo-a
Extingue-se o internato. Transformam-se as antigas duas
de tal modo, que de 1889 par diante todos reivindicaram a
seções em 1
o
e 2
o
Institutos de Instrução Secundária,
ambos em caráter de externato.
Mais tarde,
adota-se,
restituição ao Gymnasio Nacional do título de Colégio de
Pedro Segundo.
enfim, novo nome, Gymnasio Nacional — seccionando em
Ninguém falou em Bernardo Pereira de Vasconcellos.
Externato e Internato do Gymnasio Nacional, seguimento
5 o — O nome de Bernardo Pereira de Vasconcellos,
do Externato e Internato Imperial Colégio de Pedro
na tradição do Colégio de Pedro Segundo, representa corpo
Segundo.
estranho, quando pode merecer c o m p l e t o aplauso e
Agora desaparece o Gymnasio.
Surgem em lugar
dele o Externato Nacional de Pedro Segundo e o Internato
Nacional Bernardo de V a s c o n c e l l o s , s u b s t i t u i n d o o
Externato e o Internato do Gymnasio Nacional.
C o m a devida licença, parece ao I n s t i t u t o de
Bacharéis em Letras lhe ser lícito pleitear para o exGymnasio Nacional a restituição in-integrum do antigo título
Externato e Internato de Colégio de Pedro Segundo, pelas
razões seguintes:
1 o — Cinquenta e dois anos de tradição sagraram
para o Colégio o nome de Pedro Segundo.
unânime simpatia a concessão do glorioso nome a nova
fundação pedagógica. Chamado Bernardo Pereira de
Vasconcellos o Internato, é forçoso chamar o Externato —
Marquês de Olinda — pois, na época da fundação do
Colégio, Olinda dirigia o país em nome do Imperador menor,
nada se podendo fazer sem anuência dele.
Tradições equivalem a grandes brilhantes, não se
partem. Que valor t e m a Estrela do Sulou o Kohinoorem
pedaços?
6 o — Argumentando por absurdo, c o m o muitos
argumentam no caso, o nome de Pedro Segundo representa
apenas adulação antiga de 1837, com a qual se conformou
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo Pereira de Vasconcellos. Que nos ensinam,
porém, lições do mundo civilizado?
Os nomes de monarcas podem estar ligados a
institutos de ensino, corroborando a posteridade
homenagem oficial do momento. Na cultíssima França
— espelho secular da civilização e dela perene exemplo
— nos plenos dias da democrática Terceira República
ninguém ainda se insurgiu em Paris contra o Lycée Henry
IV'ou contra o Lycée Louis le Grand.
Não consta a presença de Henrique IV ou de Luiz
XIV na história da pedagogia.
Ninguém se lembrou de arrancar o nome de Henrique
IV e de substituí-lo pelo de Sully, entretanto Ministro de
assinaladíssimos serviços ao rei e à Pátria.
7o — Denominar o ex-Gymnasio Nacional —
externato de Pedro Segundo e Internato Bernardo de
Vasconcellos — equivale a produzir confusões em muita
ordem de assuntos:
a) — dividindo a Congregação em dois grupos
anualmente presidido pelo diretor de estabelecimento de
nome diferente; dois corpos visíveis animados por suposta
alma.
b) — provocando a coexistência de títulos como o
de bacharel em ciências e letras pelo Externato de Pedro
Segundo e bacharel em ciências e letras pelo Internato
Bernardo de Vasconcellos — quando, entretanto, tais títulos
emanam da fonte e contudo nada de comum representam;
c) — disassociando completamente em futuro muito
próximo a tradição histórica e a vida em comum de dois
estabelecimentos ligados há mais de meio século;
d) — dificultando distribuição das rubricas
orçamentárias e de todos os serviços delas decorrentes.
8o — A presença de dois títulos — Colégio de Pedro
Segundo e Colégio Bernardo de Vasconcellos — acarretará
para o Governo numerosas dúvidas para as equiparações
de que infelizmente tanto se usa.
Qualquer colégio a equiparar-se a qual será
equiparado — ao Externato de Pedro Segundo ou ao
Internato Bernardo de Vasconcellos?
Talvez se responda: — os externatos ao Externato
tipo — o Pedro Segundo — os internatos ao Internato tipo
— o Bernardo de Vasconcellos.
Mas os colégios "ad-equiparandum" são de regime
misto na maior parte. A solução não resolve, pois, a
dificuldade.
O argumento é apresentado pelo Instituto apenas
como lisura e inteireza na argumentação, porquanto o
Instituto não dá quartel ao regime das equiparações, que
combateu e combaterá tenaz e inflexivelmente.
Volvendo-se à denominação — Colégio de Pedro
Segundo — Externato e Internato — tudo ficará sanado.
A restituição será perfeita, a tradição se tornará
inteira, as complicações de ordem administrativa
desaparecerão.
Não há desar para governo algum reconsiderar seus
atos.
A fórmula — sem efeito — que os governos
empregam quotidianamente em relação a pessoas e
coisas jamais os desdoura, quando derivados de motivos
justos ou recuo de boa fé.
Nem o Estado é oráculo, nem os estadistas são
granito. Insensatez é teimar sem razão. O futuro, aliás,
governa mais do que o presente. Leis e medidas bem feitas
perduram. Na hipótese contrária espera-as o porvir para
suprimi-las ou modificá-las.
Ousaria o Governo de 1890 transformar o Instituto
Nacional de Instrução Secundária em Colégio de Pedro
Segundo?
Entretanto, em 1909, dentro da mesma geração, foi
o ato perfeitamente possível e aplaudido.
Os signatários de célebre manifesto republicano de
1870 foram tachados de visionários. Que se disse deles
em 1889?
Não é demais insistir no amor ao nome antigo do
colégio. Nome ilustre constitui na pátria, em qualquer ordem
social, na própria família, património inestimável, defendido
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
à custa dos maiores sacrifícios, honrado a poder dos
maiores esforços.
Protestando, pois, o seu súbito apreço ao Governo
constituído, o Instituto dos Bacharéis em Letras, escudado
na razão, nas tradições, no desejo unânime da classe,
vem respeitosamente solicitar-lhe a restituição inteira do
nome de Pedro Segundo para o Externato e o Internato do
ex-Gymnasio Nacional".
1837 - 1937
Infelizmente, após longos anos de vitalidade, na
constância de esforço pela cultura, o Instituto dos
Bacharéis em Letras entrou em eclipse do qual não saiu
até hoje. Merece ressurreição pois, e sempre teve vida
nobre. Que ressurja.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Washington Luiz Pereira de Souza,
Presidente da República (1926- 1930). Ex-aluno.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
índice Onomástico*
AARÃO REIS, Daniel Penna 244, 250
ABRANTES, Marquês de ver ALMEIDA, Miguel Calmon
du Pin e
ABREU, Decio Guimarães 268-269
ABREU, Joào Capistrano de 167, 181,222, 231, 264
ABREU, Pedro José de 89, 105, 130, 133, 143-145, 163164, 190
ABREU, Saturnino Santa Clara Antunes de, Frei
127,
163
ACADEMIA DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES 249
ACADEMIA DE HISTÓRIA
249
ACADEMIA DE MARINHA
76, 108, 163
ACADEMIA DOS DEZ 249
ACADEMIA FRANCESA
268
ACADEMIA IMPERIAL DAS BELAS ARTES
102, 119,
143
ACADEMIA IMPERIAL DE MEDICINA
102-103
ACADEMIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO 44, 108
ACCIOLI, José Cavalcanti de Barros
183, 234, 254,
258, 260, 269
ACHE, Felippe Hypolito 72
ADJUNTO, Alonso Garcia 176, 179
AFFONSO PENNA JÚNIOR 221, 229
AFFONSO PENNA, Presidente (1906-1909)
183, 186188,227
AGASSIZ, Luiz
107-108
AGRÍCOLA, Júlio
159
AGUIAR, Carlos Augusto da Costa
190
AGUIAR, Joaquim Luiz Mendes de 188, 226, 228, 231232, 240
AGUILAR, José Pedro Werneck Ribeiro de 65
AITA, Nella
210
ALBUQUERQUE, Almeida e 43
ALBUQUERQUE, António Francisco de Paula e Holanda
Cavalcanti de
51
ALBUQUERQUE, Félix Maria de Freitas e 101,120-121,
153
ALBUQUERQUE, Francisco de Paula Cavalcanti de 51
ALBUQUERQUE, José Cândido de 128
ALBUQUERQUE, Ugolino Ayres de Freitas e 120
ALBUQUERQUE. Visconde de ver ALBUQUERQUE.
António Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de
ALEIXO, António Dias Pinto 272
ALENCAR, Alexandrino Faria de
188
ALENCAR, José Martiniano de 40
ALEXANDER, Alfredo 52, 164, 231
ALFREDO, João ver OLIVEIRA, João Alfredo Correia de
71, 117-118, 120, 122
ALMEIDA LISBOA, Joaquim Ignacio de 182, 240
ALMEIDA, António Caetano de 100
* Elaborado pela Comissão de Atualização. As entradas para nomes institucionais aparecem em itálico e para os títulos de
publicações, em negrito. (N. do E.)
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ALMEIDA, António Figueira
ANDRADE, Octávio Freire de
229.238
241
ALMEIDA, Cândido Mendes de
274
ANDRÉA, Álvaro Soares de
ALMEIDA, Fernando Mendes de
120, 191, 274
ANEMÚRIA, Bispo dever ARRÁBIDA, António de, Frei
ALMEIDA, Joào M e n d e s de
ANUÁRIO
190,213
ALMEIDA, João Ribeiro de
63, 76
AQUINO, João Pedro de
72
ALMEIDA, Luiz Castanhede de Carvalho e
161-164,
ARAGUAIA,
130. 132
174
Visconde de ver MAGALHÃES, Domingos
José Gonçalves de
178,213,228
ALMEIDA, Manoel António de
ARANHA, Graça, Almirante
166
ALMEIDA, Miguel Calmon du Pin e
ALMEIDA, Pires de
23, 68, 72, 79
ARAÚJO, Jorge Américo de
212,218
ALMEIDA, Walkyria
276
ARAÚJO, Manoel de Monte Rodrigues de
17
ALVARES DE AZEVEDO, Manoel António
63-64, 66, 89,
ARAÚJO, Murillo
250
ALVERCA, Abade de ver SALGUEIRO, José dos Santos
ARAÚJO, Urbano dos Santos da Costa
ALVES, António Teixeira de Souza
ARAUTO, O
ALVES, João Luiz
ALVES, Joaquim José de Oliveira
ALVES, José Luiz
21
ARCOVERDE, Joaquim
162, 177
182,280
ARÊAS, José Carlos de Almeida
ALVES, Luiz Augusto Drumond
187
ARNIZAUT, Luiz Joaquim de Almeida e
ARQUIVO NACIONAL
172
A M A R A L , António Felizardo Cupertino do
266
A M A R A L , José de Santa Maria
69, 90, 112, 114, 118,
25, 27, 31,35, 45, 64, 119,
158,252,278
120,127
ARTOIS, Conte de
71
ARVELLOS, Januário da Silva
268
ATALAIA, O
AMOR DIVINO, José de
26
ATHENEU E NOTÍCIAS
119, 163, 277
AUDRET, Alexandre
250
A Z A M B U J A , Cónego
5 0 - 5 1 , 53, 72,
ANDRADE, António José de Paiva Guedes de
ANDRADE, Boaventura Plácido Loureiro de
AZEVEDO JÚNIOR. Luiz de
71
34
AZEVEDO, António Rodrigues Monteiro de
AZEVEDO, Duarte Moreira de
130-131
AZEVEDO, João Marinho de
88
68, 122, 167
AZEVEDO, Ignacio Manoel Alvares de
242
ANDRADE, Nuno de
59
130
121
131
AZEVEDO, António Mariano de
257-258
ANDRADE, Nilo
250
78
AUGUSTO, Pedro, Dom, Príncipe
16,123
ANDRADA, António Carlos Ribeiro de
33
250
A M O R I M , João Pires de
ANANIAS, António Jorge
65-66
184, 235
ARRÁBIDA, António de, Frei
116
A M A R A L , Ignacio de Azevedo
ANCHIETA
56,273
ARINOS, Barão dever BRITO, Thomás Fortunato de
250
AMÉRICO, Paschoal
214
250
ARCOS, Conde dos
61,67
ALVES, René Pereira
ALVIM, Cesário
276
214, 216, 2 2 1 , 224
44
229, 265
ARAÚJO. Pedro Américo de
94, 184
107
250
ARAÚJO, José T t o Nabuco de
269
ALVARENGA, Silva
250, 254
ARAÚJO, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de
268
ALMEIDA, Vital de
261
ARAÚJO, Carlos Brasil de
177,276
66-67, 274
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
AZEVEDO, José da Costa
BARRUEL
169
AZEVEDO, José Philadelpho de Barros
191, 204, 214,
AZEVEDO, Manoel António Duarte de
BABO
72, 90
BEETHOVEN
239
153
BELLEGARDE, Niemeyer
53
BELLO, Wenceslau Leite Alves de Oliveira
16-17, 68
BELTRÃO, António Carlos de Arruda
162
BACKEUSER, Everardo Adolpho
BADARÓ, Eduardo Gê
188-189
162, 177, 200-201, 203
Marquês de ver
PONTES,
Felisberto
63
BERNA, Benevenuto
254, 265
BERNARDES, Arthur
214, 218, 2 2 1 , 224
BERQUÓ, João Maria da Gama
Caldeira Brant
BARBOSA, Francisco Vilela
BARBOSA, Isaltino
BERRY, Duque de
44-46
133-134, 1 5 1 , 167
71
BEVILÁQUA, Clóvis
202
131
BARBOSA, Januário da Cunha
3 1 , 274
BEVILÁQUA, Dora
256
BARBOSA, Joaquim da Cunha
276
BEVILÁQUA, Mário
194, 2 0 1 , 203, 251
BARBOSA, Luiz Torres
BARBOSA, Milton Pires
BARBOSA, Paulo
BARBOSA, Ruy
BEVILÁQUA, Sylvio Alfredo
239
BIBLIOTECA NACIONAL
229
BIHOURD, Pierre
151-152
BARCA, Conde da
90, 101. 118-119, 184
BITTENCOURT, Nascimento
250
31
73
BITTENCOURT, António Coelho
24
BARCELLOS, Annibal
176
BIBLIOTECA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO
24
100-101,
122
BERGERAC, Cyranode
131
BAPTISTA, Pedro Pinto
184
105, 112, 118-119, 158,272-275,277
BENTO, José
164
BAPTISTA, Paula
186
BENEVIDES, António Maria Corrêa de Sá e
188, 258, 263-264
180
184
BELTRÃO, Heitor da Nóbrega
213
BANDEIRA, Esmeraldino Olympio Torres
BAPTISTA PAI
BELTRÃO, Guiomar de Nóbrega
179, 212
BACKEUSER, João Carlos Restier
BARBACENA,
27
BELL, Graham
216, 222, 228, 236, 238, 243, 258, 265
AZEVEDO, Moreira
1837 - 1937
186
186
BARRETO, Alfredo Coelho
176
BLAKE, Sacramento
BARRETO, Amado Menna
201
B O M RETIRO, Barão de ver FERRAZ, Luiz Pedreira do
BARRETO, Amaro
184
Couto
BARRETO, Fausto
166, 2 3 1 , 244
BARRETO, Mário
244
BOMSUCESSO, Anastácio Luiz do
130-131, 133. 136, 139,
BONAPARTE, Jeronymo
BORGES, Abílio César
143, 147, 150, 164
BARROS, Eduardo de Lima
BARROS, Sebastião do Rego
177-178
BORGES, Francisco José
BOSCOLI, José Ventura
BOSSUET
268
123
BOTELHO, Manoel
52
BARROSO, José Liberato
26
103
24
133
BORGES, António Pedro de Carvalho
276
BARROS, Prudente José de Moraes e
BARROSO, Almirante
63, 79, 272, 274-277,
279
BARRETO, Rozendo Muniz
BARROSO NETTO
71
BRAGA, Ernani
186
17
34
65-66
80, 90, 105, 190
ESCRAGNOLLE DÓRIA
BRAGA, Francisco
BRAGA, João
CAMPOS, Horácio Mendes
268
CAMPOS, Martinho Alvares da Silva
182
BRANCO, Alves
66-67
CANTALUPPO, Roberto
BRANDÃO, Luiz de Almeida
BRANNER, John Casper
37
CANTÃO
214
BRASIL, Joaquim Pinto
114,167,276
BRAZIL, Sebastião Pereira
CARLOS V
71
209, 215, 232, 235
BRITO, Francisco Augusto Xavier
BRITO, Francisco Bernardo
115
60
BRITO, Luiz Raymundo da Silva
BRITO, Marcelino de
119, 158, 161, 164,
65
249
CARNEIRO, António Alves
153
19-20,22
CARVALHO, António Luiz Affonso de
CARVALHO, Carlos de
106, 186, 263
56
BRITO, Raymundo Farias
188, 203, 264
BRITO, Thomaz Fortunato de
CARVALHO, Carlos Leôncio de
113
CARVALHO, Cecílio de
52
277
CABRITA, Francisco Carlos da Silva
38, 93-94
180-182, 252, 278
106,112
CALDEIRA, Reginaldo Netto
60
186, 203, 205, 2 1 1 , 217-218,
221
CARVALHO, João da Costa
CALOGERAS, João Baptista
52, 65-66, 6 9 - 7 1 , 167
181
145-146,166
202
275
CARVALHO, Pedro Guedes de
187
18
236, 254
19
CASTELLO BRANCO, José Gil
182-183, 252
CASTELLO
Joaquim
BRANCO,
José
Justiniano
17
CASTELLO BRANCO, Marcelino Sampaio
177
CASTELLO BRANCO, Pandiá Hermann de Tautphoeus
73, 180-181, 187
CAMPOS. Francisco Luiz da Silva
CASTÃO, Octávio Severo
Mascarenhas
CAMPOS SALLES, Manoel Ferraz de, Presidente (1898)
178, 181
CARVALHO, Pedro Affonso de
CASTELLO BRANCO, Bernarda
268
113, 176, 209
69-70, 72, 76-78
CARVALHO, José Dias Delgado de
CARVALHO, Pedro Luiz de
123
CAMILLO, Alexandre
128-130
CARVALHO, Guilherme Affonso de
BURNIER, António Ildefonso Nascentes
CAMARINHA, Mário
210-211, 220, 234-236,
243-244, 247, 249, 252, 254, 267-268
BUENO, Marcelino José da Ribeira Silva
BULHÕES, Oscar
175
165
113
CARVALHO, Carlos Delgado de
BRITO, Paulino de Souza
CAMÕES
131
CARNEIRO LEÃO, António
CARVALHO, Balduíno Rodrigues de
BRITO, Mário Paula
CAMINHOÁ
CARMO, Nuno de Andrade
Pedro de Carvalho
177, 182,252
CALMET
130, 132, 134, 136-138, 142-
144, 146-147, 150-151, 153, 155-156, 158, 252
CARVALHO BORGES, Barão de ver BORGES, António
165
BRITO, Joaquim Marcelino de
265
CARNEIRO, Plácido Mendes
190
265
156
CARMO, José Joaquim do
1 6 6 , 2 0 8 , 2 1 0 , 212
BRITO, Cyro Cândido Martins de
BRITO, João Bernardo de
CARDOSO, Miranda
115
186
BREVES, João Onofre de Souza
BRITO, Floriano Corrêa de
259
CARDOSO. Ernani de Figueiredo
BRAZIL, Thomaz Pompeu de Souza
30, 116
255
233
CARCANO, Ramon
69
BRAUNE, João Henrique
CAETANO, João
186
248
189
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
CASTELLO BRANCO, Urbano Burlamaqui
CASTELLO, Vianna do
156
235
CASTELNAU, Conde de
COELHO, Jayme Jansen
229,238,242
COELHO, Manuel Inácio Souto Maior Pinto
41
COELHO, Olindo Pinto
CASTRIOTO, Carlos Frederico
CASTRO, Correggio de
1837-1937
63, 72
COIMBRA, Argemiro Gabriel de Figueiredo
229, 240
CASTRO, Gentil Coelho de
COIMBRA, João Bernardo de Azevedo
239
CASTRO, José António de Azevedo
CASTRO, José António de Magalhães
CASTRO, Leandro Rebelo Peixoto e
COLÉGIO AQUINO
88
228
37-38, 4 0 - 4 1 , 44,
16
COLÉGIO DE JACUECANGA
38, 42
COLÉGIO DE PIRATINGA
16
COLÉGIO DE PIRATININGA
259
16
COLÉGIO DE SANTA CÂNDIDA
CASTRO, Tito Lívio de
153
COLÉGIO DOS JESUÍTAS
CAVALCANTE, Amaro Bezerra
153, 179, 180
136
16-17
COLÉGIO HENRIQUE IV
282
CAVALCANTI, Holanda
60
COLÉGIO IMMACULADA DA CONCEIÇÃO
CAVALLI, José Angelo
259
COLÉGIO LEUZINGER:
CAXIAS, Duque de ver SILVA, Luiz Alves de Lima e
COLÉGIO MARINHO
CAYRU, Visconde de ver LISBOA, José Maria da Silva
COLÉGIO MILITAR
CAYX
27
CENTRO CARIOCA
CERVANTES
268
265
COLÉGIO PINHEIRO
218
113
COLÉGIO PLÍNIO LEITE
CÉSAR, João Pinto do Rego
88, 99, 170. 259, 273, 275,
264
264
COLÉGIO SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA
COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO
277
CHAILLOT, A m e l o t de, Conde
175
COLÉGIO VASSIMON
CHAPOT PREVOST, Rodolpho
236
COLÉGIO VICTORIO
CHAVANTES, Alcino José
229-230, 260, 264
CHAVES, Octacilio da Silva
CHRISTINA, Thereza
CITANNA, José
255
CLÉON, Camillo
71
269
267-268
CORDOVIL
181-182, 191, 1 9 4 , 2 5 2 , 2 6 1 ,
105-106
126
235
CORRÊA, José de Souza
268
COELHO NETTO, Henrique
COELHO, Assis
99, 170, 172-173, 179
CORRÊA, Henrique Vaz
133,136,163
COELHO NETTO, Zita
256
COQUEIRO, João António
CORRÊA, Azevedo
CLUCK, Jayme
16
278
123
CLINTOCK
113
COMPANHIA DE JESUS
COMTE, Augusto
113
264
181
CONSTANT, Benjamim
61
CHROKATT DE SÁ, Gilberto
CLIAS
113
250
COLÉGIO PINTO FERREIRA
82, 93
113
113
COLÉGIO PAULA FREITAS
CEARENSE, Catulo da Paixão
127
114
200
COLÉGIO DA BAHIA
51
CASTRO, Luiz de
24, 26
186
258
252
CORRÊA, Manoel Francisco
228
CORRÊA, Pedro da Silva
52
COELHO, Edilia da Rocha
76-79, 81-82, 84, 117, 123,
268
273, 277
130
CORRÊA, Rivadavia da Cunha
191-194
ESCRAGNOLLE DÓRIA
CORREIA, Felipe da Motta Azevedo
CORREIA, Leôncio
CUNHA, Joaquim Jeronymo Fernandes da
101
CUNHA, Tristão da
183
CORTEZ, Bento da Trindade
CUVIER
166
226,240
123
COSTA, Cláudio Manoel da
17
D A B E V I L L E , Cláudio
COSTA, Cypriano Amoroso
183
D'AMBRÁSIO, Paulina
COSTA, Eurico António da
D7WILA, Henrique
235
COSTA, Henrique César de Oliveira
COSTA, Jacintho Pereira da
DANFORT
18
COSTA, José Caetano da Silva
139, 142, 144,
COSTA, Octávio Corrêa
DE ROZOIR
151
27
184, 226, 228, 235, 238, 240, 247,
249
153
DEMOSTHENES
266-267
123
COTEGIPE, Barão de ver WANDERLEY, João Maurício
DIAS, António Gonçalves
COUTINHO, José Caetano da Silva
DIAS, Manoel de Campos
COUTINHO, José Lino
20
DIRCEU
22
COUTINHO, José Vicente de Azeredo
COUTO, Pinto do
DODSWORTH, Jorge João
167,181
227
209, 214, 226, 235,
88
DÓRIA, Francisco Manoel das Chagas
215-216, 226, 229, 232, 234-235,
237, 243, 254, 259, 260, 267, 269
CRAVEIRO, António Tibúrcio
268
238, 240, 244, 247, 249, 253-254, 258, 263, 269
102
COUTTO, Pedro do
18-19
DODSWORTH, Henrique de Toledo
124
99
COUTO, Manoel de Magalhães
6 8 - 7 1 , 78-79, 202, 274
DOBRENZENKY. Condessa de
273
COUTINHO, Samuel Castrioto de Oliveira
COUTO, Joaquim Ignacio do
233
265
DELPECH, Adriano
164
COSTA, Maria Júlia Picanço da
186
72
DANTAS, Rodolpho
73
COSTA, Manoel Olympio Rodrigues da
122
D'ESCRAGNOLLE, João Roberto
179, 183
127
DÓRIA, Franklin
164,234
DÓRIA, Gustavo
268
DÓRIA, Luiz Gastão d'Escragnolle
52
126
68, 167, 183-185,
CRISOPÓLIS. Bispo dever SANTA MARIANNA, Pedro de
188. 191, 213, 216. 226, 228, 232, 238-239, 241-243,
CRUZ, Luiz Carlos Fróes da
253-254, 263, 269, 280
280
CRUZEIRO, Visconde de ver TEIXEIRA JÚNIOR, Jerónimo
CUMBERWORTH
DRAGO, Luiz Pedro
52
CUNHA FILHO, Joaquim Jeronymo Fernandes da
127,
130-131
154-155
D R U M O N D , João da Costa Lima
233
CUNHA, Ernesto Frederico da
CUNHA, Euclides da
133, 152, 278-279
166, 188
DUARTE, Francisco de Paula Belfort
DUARTE, Manoel Gomes Belfort
CUNHA, Domingos José da Silva
233
272, 276-277
188-189, 203, 264
CUNHA, Felippe Ribeiro da
CUNHA, Haroldo Lisboa da
22
259
38
229
113, 116, 132, 135, 146, 163
DUARTE, Fortunato da Fonseca
CUNHA, Ambrósio Leitão da
CUNHA, Arthur
DOURADO, José Ferraz de Oliveira
DOURADO, Mescenas Pereira
José
DUARTE, Viriato Belfort
DUMONT
99
276
114
27
DUQUE ESTRADA, Domingos de Azevedo Coutinho
DUQUE ESTRADA, Joaquim Osório
DURÃO, Rita, Santa
17
183
106
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
ELIA, Hamilton
250, 268
ELIA, Sylvio
250
ERVEN, Francisco van
114
24
191
30
ESCOLA DE MINAS DE OURO PRETO
ESCOLA DE MINAS DE PARIZ
191
191
ESCOLA DE SOLDADOS DO COLLEGIO
217
ESCOLA NORMAL DO DISTRITO FEDERAL
FERREIRA, António Gonçalves
178
269
169-170
FERREIRA, José Paula
226,229
FERREIRA, Luiz Nunes
212
FERREIRA, Manoel Arthur
147, 214, 226, 229, 258
FERREIRA, Miguel Vieira
170
FERREIRA, Silvestre Pinheiro
130, 140,
146, 152, 154-155, 158, 174, 183, 1 9 1 , 256
FIALHO SÉNIOR, Abreu
21-22
160
FIALHO, José António de Abreu
114, 119, 126, 161, 174, 191,
256
FIGUEIRA, António Fernandes
159, 161, 168, 228
132, 277
FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis
ESCOLA WENCESLAU BRAZ
ESCUDO DE MINERVA
ESPINHEIRA, Álvaro
ESTATUTOS
LETRAS
DO
191
FIGUEIREDO, José Bento da Cunha e
240,243,247
INSTITUTO
DOS
BACHARÉIS
EM
FIÚZA, Yeddo
123
EVREUX, I v e s d '
FLETCHER
122
FACULDADE DE DIREITO DE RECIFE
131, 157
FACULDADE DE DIREITO DE SÃO PAULO
FALLER, Annibal
FARIA, Quintino José de
203
147
FARIAS, Ascanio Pedro de
FAZENDA, José Vieira
FEIJÓ, Luiz da Cunha
191,212
FERNANDES, Oridéa
90
FONSECA, António Gabriel de Paula
59
FONSECA, João Severiano da
59
FONSECA, Manoel Deodoro da
169, 172, 176, 233-234
FONSECA, Manoel Mendes da
59
FONSECA, Marechal Deodoro da
59
FONSECA, Marechal Hermes da
189-191
89
FONSECA, Thomaz Ramos da
FONSECA, Valeriano Ramos da
113, 278
FRAENKEL, Cláudio Alfredo de Magalhães
FRANÇA, Carlos Ferreira
93, 273
FERRAZ, Jorge Belmiro de Araújo
FRANCISCA, Princesa
215
79
119, 133, 136, 141-142, 144,
167
219
210
276
FRANÇA JÚNIOR, Ernesto Ferreira
166
244
239
59
FONSECA, Mariano José Pereira da
133, 139-140, 143-144, 153
FERNANDES, Oliveira
FLEURY, André
104-107, 275, 277
23, 44-47
FÉLIX, Monsenhor
FERRAZ, Costa
250
272
265
FONSECA, Hypolito Mendes da
113
FARINA, Ciro Romano
217, 218
89,108
FONSECA, Eduardo Emiliano da
68
FARIA, Eutropio Pereira de
FEIJÓ, Regente
80, 89, 127
207,218
FALLETI, Bernardo José
FARIA, Chaves
277
FILGUEIRAS, José António de Araújo
105,214
275, 277
117, 126, 128,
130, 145
FIGUEIREDO, Moncorvo de
FIGUEIREDO, Sebastião Ferreira de
123
EU, Conde d'
169
FIGUEIREDO, Carlos Arthur Moncorvo de
90
103
ESTRABÁO
EULER
8 0 - 8 1 , 86, 265, 278
FERREIRA, Carlos Vieira
ESCOLA DE ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA POLYTECHNICA
FERRAZ, Luiz Pedreira do Couto
FERREIRA, Augusto Cláudio
ESCOLA DAS BELLAS ARTES
ESCOLA DE MEDICINA
1837-1937
24-25
ESCRAGNOLLE DÓRIA
FRANCISCO, M a r t i m
51
FRANCO, José da Purificação
84, 87, 105
FRANCO, Pedro Affonso de Carvalho
FRAZÃO, Sérgio
250
FREDERICO, Orlando
184
FREIRE, Domingos José
100,272-273
FREIRE, José da Silva Pinheiro
FREIRE, Junqueira
64
274
FREITAS, Francisca Miranda de
FREITAS, Irineu Leite de
240
FREITAS, José Viriato de
93
FREITAS, Luiz Paula
255
265
FREITAS, Maria Elisa Leite de Lima
FRÓES, Arlindo
103
255, 267-268
229
FRONTIN, André Gustavo Paulo de
123, 130, 146-147,
196,208,254
FRONTIN, Jean Gustave de
123
GABAGLIA SÉNIOR, Eugênio Raja
20-21, 167, 177-178,
181, 194-195, 200, 208-209, 231
GABAGLIA, Alberto Raja
244
GABAGLIA, Fernando António Raja
203, 214-216, 218-
219, 230, 238, 243, 247, 253-254. 257-259, 260-261,
264-266, 269
GADE, Jorge
5 1 , 7 1 , 78-79
GALVÃO, Ignacio da Cunha
GALVÃO, Manoel António
34
43-46
GALVÃO, Manoel Raymundo
GALVEAS, Conde das
GAMA, Agostinho Luiz da
GAMA, Basilioda
176,215
17, 123
GAMA, João Saldanha da
GÂNDAVO
53
18
154, 273
123
GARCEZ PALHA, Diogo
GARCIA, José Manoel
276
99-100, 102, 116, 121, 132,140-
142, 144-146, 154-155, 189, 274
GARCIA, Roberto
255
GARCIA, Washington
GASPARINI, Savino
182
252
GASTÃO, Pedro
265
GAZETA DA TARDE
1 53
GAZETA DE NOTÍCIAS
174, 193
GAZETA DO RIO DE JANEIRO
21
GERVAIS, Desnelle de
52, 208
GIBBON
123
GINÁSIO NACIONAL
173, 186-188
GINÁSIO PETROPOLITANO
264
GÓES, Araújo
133
GÓES, João Francisco de
177, 203
GOETHE
123,164
GOLDESCHMIDTBertholdo
5 1 , 7 1 , 7 9 , 129, 133, 136137, 139-140, 145-146
GOLDSCHMITDT, Augusto 5 1 , 190
GOMENSORO
88
GOMES, Alfredo Augusto
124. 190
GOMES, António Ildefonso
38
GOMES, Gabriel de Medeiros
62, 102, 120
GOMES, Roberto
186
GOMES, Wenceslau Braz Pereira
195
GONÇALVES, Bacharelvex SILVA. João António Gonçalves
da
GONÇALVES, Salathiel Firmino
205. 209
GONZAGA, José Basileu Neves
276-277
GONZAGA, Olympio
179
GORCEIX, Henrique
191,220
GOULART, Cybelle
244
GOULART, Francisco Vieira
27
GOUVÊA, Manoel Marques de
277
GUADALUPE, António de, Bispo
18-19, 195
GUARCH, Susviela
279
GUEDES FILHO, Manoel Joaquim
217-218
GUEDES, Júlio Adolpho da Fontoura
162, 164
GUILLON, Joaquim Gonçalves
166
GUIMARÃES, Francisco Pinheiro
176, 178, 182, 193,
269
GUIMARÃES, Hanehmann
228,260
GUIMARÃES, J. F.
268
GUIMARÃES, Luiz Pedreira de Castro Pinheiro
233, 240, 255
229,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
GUIZOT
123
ITANHAEM, Marquês dever COELHO, Manuel Inácio Souto
HALBOUT, José Francisco
52, 89-90, 105, 133-136,
139, 147, 1 6 1 , 163-164, 166, 174-175, 190-191
HARRT, Frederico Carlos
HAUHER, Júlio
107
JOÃO V, Dom
128, 191
213,226
JORNAL DO BRASIL
H O M E M , Joaquim Vicente Torres
102-
KAMMSETER, Hugo
64
62, 123, 163
L OIAPOQUE
ESCOLA NORMAL DO
INSTITUTO DOS ADVOGADOS DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DOS BACHARÉIS EM LETRAS
INSTITUTO DOS SURDOS MUDOS
54
272, 283
GEOGRAPHICO
LABATUT
132
103, 205
LACERDA, José Cândido Sampaio de
LACROIX
QUESTIONS
43, 73
239
27
BRAZILEIRO
113, 119, 145,
150, 166, 197, 200-210, 212-214, 216-222, 226, 228,
232-234, 239, 2 4 1 , 252, 260. 275
LAET, Carlos Rocha Mafra de
178, 280
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA
INSTITUTO PHARMACEUTICO
INVESTIGADOR PORTUGUEZ
IRAJÁ, Conde de, Bispo
239
LAPA, Ludgero da Rocha Ferreira
186
65-66
LAVRADIO, Barão dover REGO, José Pere\ra
158
INSTITUTO PROFISSIONAL JOÃO ALFREDO
Rodrigues
L AMAZONE,
LAET, Carlos Maximiliano Pimenta de
179
30, 1 8 4 , 2 3 5 , 2 5 9
ITABORAHY,
ET
LADÁRIO, Barão de ver AZEVEDO, José da Costa
181
INSTITUTO FERREIRA VIANNA
INSTITUTO KOPKE
153
78
LACERDA, João Baptista de
FEDERAL
HISTÓRICO E
38
BRESILIENNE ET FRANÇAISE
I N H A Ú M A , Visconde dever INÁCIO, Joaquim José
INSTITUTO
16, 19
250
156
KULNER, Barão de
23
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ver
25-27, 193
KOHN, Zulmira de Moraes
176, 222, 226, 240, 258
62,127
DISTRITO
89,108
KNEPP, Monsenhor
155
INÁCIO, Joaquim José
123
KIDDER
KIESSER
181
ILLIADA
KEPLER
250
235
JORNAL DO COMMÉRCIO
JOSÉ I, Dom, Ministro
64
62,166
IDA, Manoel Said Ali
191
JORGE, José Guilherme de Araújo
103, 131, 137-138, 145, 151, 204
IBITURUNA. Barão de
25
JORGE, Guilherme José
H O M E M DE MELLO, Francisco Ignácio Marcondes
HUET
19-22,24,31,106
JOINVILLE. Príncipe
Francisco Ignácio Marcondes
HORÁCIO
25
18-19
JOÃO VI, Dom
255
H O M E M DE MELLO, Barãover H O M E M DE MELLO,
HOPE, Frederico
167
JANUARIA, Princesa
5 1 , 181, 197
HIGGINS, Arthur
136
JANSEN, Carlos
HERMES, João Severiano da Fonseca
HERMITTE, Luiz
Maior Pinto
JACOTOT
229
HEILBORN, Hans
HOMERO
1837 - 1937
155,179
21
132
Visconde de ver TORRES, Joaquim José
LAXE, Cortines
LEAL PAI
102
164
LEAL, António Henrique
LEAL, Carlos Galdino
132, 154, 261
177,212,259
LEAL, Francisco de Paula
26
ESCRAGNOLLE DÓRIA
LEAL, José Pinto da Silva
LEAL, Pedro Galdino
163
LISBOA, João Francisco:
209, 212
LISBOA, João Gonçalves Coelho
LEÁO FILHO, Honório H e m e t o Carneiro
LEÃO XIII
132
63
230
LISBOA, José da Silva
182
LEÃO, Francisca de Azevedo
221
LISBOA, José Maria da Silva
LEÃO, Honório Hermeto Carneiro
54, 80, 86
LISBOA, Pedro de Alcântara
LEÃO, José Eugénio de Azevedo
221
LOBATO, Rodrigo
LEDO, Theophilo das Neves
LEIBNITZ
LODI, Euvaldo
276
LEITÃO, Sebastião da Motta
204-205
LOPES, Rodolpho de Paula
LOPES, Moacyr Araújo
LEME, Luiz Betim Paes
LEMOS, Miguel
LICEU DE ARTES E OFÍCIOS
112
93,114
LOUREIRO, António Manoel
LOURENÇO FILHO
LUCENA
261
LIMA, Augusto Daniel de Araújo
103. 105, 112, 114
LORETO, Barão de ver DÓRIA, Franklin
115, 126, 154-155
LIMA, Alceu de Amoroso
178, 194-197, 202,
123
LUCENA, Barão de ver LUCENA, Henrique Pereira de
LIMA, Domingos da Silva
LIMA, Edla da Costa
LUCIANO
184
162.177
228
103, 229-230. 257, 264
LIMA. Franklin da Silva
130
117-118, 120-123,
126-132, 158,252
100,175
276
LUISANT, Pif
63
LUTZ, Bertha
243
LYCÉE HENRY IV
LYRA, Tavares
LIMA, José Joaquim da Fonseca
56
263
LUCENA, Henrique Pereira de
205.211,252
LIMA, Carmem Casado
77, 282
183, 186-188
MAC DOWELL, Francisco, Cónego
226, 240, 249, 264,
269
98-99
LIMA, Pedro de Araújo
MACAÉ, Visconde de ver TORRES, José Carlos Pereira
86, 99, 102, 105, 107, 112, 174,
188, 264-265, 267, 269, 278-279, 281
LIMOEIRO, António Mendes
106, 166, 276-277
LIMOEIRO, Edmundo Mendes
LINDSAY, Roberto Nunes
LISBOA, Balthazar
176. 206-207, 221-222, 226.
LOPEZ. Francisco Solano
5 1 , 61
LIMA, Agostinho José de Souza
LIPPARONI, Gregório
216
LOPEZ, Carlos António
118
LIMA, Luiz Alves de
68, 78, 182
258
229
278
LESSA, Fernando Francisco
LIMA, Enock Rocha
258
LOPES, António de Castro
LEME, Jurandyr dos Reis Paes
172
178
18
257
LEITE. António Pires Ferreira
34
233
LOBO, Fernando
LEITÃO JÚNIOR, José Pereira
21
LOBO, Aristides da Silveira
273
127
LEITE. António
176
105, 133, 139, 141-143, 153,
278
152
52, 130, 208
19
LISBOA, Ildefonso Castilho
de Almeida
MACAHUBAS, Barão de ver BORGES, Abílio César
MACEDO, Aprigio Carlos de
MACEDO, Araripe
MACEDO, João Rodrigues de
133-134, 136, 140-142,
144, 146
MACEDO, Joaquim Manoel de
280
259
226
67-72, 79-80, 1 0 5 , 1 1 3 ,
122, 126, 147, 150-151. 162, 167, 174, 181
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
MACEDO, Luiz Cândido Paranhos de
118, 124, 154,
MACEDO, Sérgio Teixeira de
98-99
91
146
200
M A C H A D O , Leão Vieira do Nascimento
MACHADO, Nelson Rodarte
207
212
MATTA, A r y d a
150,254
MATTOS, Carlos Gonçalves
218
106
MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de
31-33, 35.
42,202,278
MATTOS, Eusébio de
17
MATTOS, Gregório de
17
239
162
MATTOS, João Cancio Nunes de
170
MATTOS. José Cândido de Albuquerque Mello
MAGALHÃES, Fernando Augusto Ribeiro de
MAGALHÃES, João José de Moura
178, 266
93
212, 214,
277-279
191,
194,252, 258
MATTOS. José Veríssimo Dias de
MAGALHÃES, Theodoro Augusto Ribeiro de
177, 180, 252
MATTOS, Luiz José de Carvalho Mello
128, 217, 273,
277
MAGNUS, Gustavo
203
M A X I M I L I A N O , Carlos
MAIA, Augusto Pedro da Silva
237, 278
MAIA, Emilio Joaquim da Silva
MAIA, Mattoso
201
MAYRINK, João Carlos
31-32, 35, 37, 52, 54-
MAZE, Diogo
272,277
52, 61
MEIRELLES, Joaquim Cândido Soares de
5 5 , 6 3 , 100
MAIA, José Pedro da Silva
MEIRELLES, José Gomes de Azambuja
59,113
MEIRELLES, Saturnino Soares de
167, 181
MALEBRANCHE
MALHEIROS, Joaquim Mendes
55
254, 258
127, 134, 146
MELLO, Alexandre Soares de
M A M O R É , Barão de ver CUNHA, Ambrósio Leitão da
MELLO, Custódio José de
M A M O R É , Ministro
MELLO, Domingos Ramos
156
MANCEBO. Gervásio
88
MANOEL. Francisco
106
MELLO, Figueira de
133, 135
M A R A N H Ã O , Bispo de ver SARAIVA, Luiz da Conceição
146
177
114, 133-135, 143-144, 146,
242
MELLO, João Capistrano Bandeira de
MELLO, José Bento Leite Ferreira de
MARICÁ, Marquês dever FONSECA, Mariano José Pereira
MELLO, José Tavares de
22,107
168
121, 126-127, 130, 132, 168
MENDES, Fernandes
44-46
32,51
MELLO, Maria dos Santos
da
157-158,166, 177,
183
MARIANNA, Bispo dever PIMENTA, Silvério Gomes
MARQUES, João
157
164. 167. 212
M A N O E L , Poluceno Pereira da Silva
MARQUES, César Augusto
183, 228-230, 253-
MELLO FILHO, João Capistrano Bandeira de
89,113
MALLET, João Carlos Pardal de Medeiros
52
130
189
MELLO E SOUZA, João Baptista de
127
MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão
MARTINS
38
86
MATTOS FILHO, Plinio Gomes de
153
MAFRA, João Maximiniano
MASSINI.José
MATTA, Nascimento
228
MACIEL, Francisco Antunes
78-80, 86
MASCARENHAS, Manoel Moreira de Figueiredo
M A C H A D O , Aureliano Vieira Werneck
MACIEL, Maximiniano
MARTINS, António Félix
MARTINS, Francisco Gonçalves
156-157, 166,204-205
M A C H A D O , Brasido
1837 - 1937
186
191
MENDES, Raymundo Teixeira
118-120
MENDONÇA, Jorge Furtado de
35, 72, 82, 84, 103, 105
ESCRAGNOLLE DÓRIA
MENDONÇA, Salvador Furtado de
32, 104, 279
MENEZES, Augusto Xavier de Oliveira de
196, 204, 215,
MENEZES, Carlos Alberto de
107, 274, 276
MENEZES, Francisco de Paula
62, 67, 72, 87
MENEZES, Francisco Xavier Oliveira de
166, 196, 207,
MESCHICK, Augusto Guilherme
51, 176,211.215
MESQUITA, Torquato Vieira de
MEYER, Pedro Guilherme
99
MUSEU NACIONAL
187
103, 248
MUSSURANGA, Américo Romão de Figueiredo
NAPOLEÃO I
24
182. 209, 212-213, 228, 236,
NASCIMENTO, Alexandre Cassiano do
NAYLOR, Mário Guedes
62, 123
MIRANDA, Jayme de
NERVA
82
106
NOGUEIRA, Júlio
NOGUEIRA, Renée
162
MONTE ALEGRE, Marquês de ver CARVALHO, João da
250
NORONHA, António Henrique de
NORONHA, José Romualdo de
Costa
MONTEIRO JÚNIOR, Domingos Jacy
MONTEIRO, Clóvis do Rego
114
229, 242, 260
MONTEIRO, Francisco Mozart do Rego
MONTEIRO, Leopoldina de Maya
229
MONTIGNY, Granjean de
MONTSERRATE, Camillo de
7 1 , 85
MORAES, Simeão Pereira de
34, 40
99
82
203, 226, 239. 242,
247, 255-256
OLIVEIRA, Arthur Baptista de
107
OLIVEIRA, Manoel Dias de
133-135, 150, 208
79
OLIVEIRA, Nelson Alves
OLIVEIRA, Quirino de
OLLENDORF
M O U R A , Guilherme Augusto de
140, 213, 216-217
OLIVEIRA, Carlos Américo Barbosa de
105
65-66
250
250
OLINDA, Marquês de ver LIMA, Pedro de Araújo
MORAES, Felizardo Joaquim da Silva
MUNIZ, Patrício
NOTÍCIAS
106
67,79
OLINDA, Bispo d e v e r BRITO, Luiz Raymundo da Silva
191
MOREIRA, Manoel Duarte
NOTICIÁRIO
120, 215
OITICICA, José Rodrigues Leite e
24, 27, 106, 122
MOREIRA, Affonso Carlos
NORRIS, Guilherme Fairfax
NOVA MINERVA
252
23
MOREIRA, João José
88, 1 0 1 , 127, 146,
156, 167, 174
M O N D A I N I . Alexandre
MORAES, Arnaldo de
89-90
226,235,240
NOGUEIRA, Manoel Thomaz Alves
181
MONTEIRO, Maciel
6 1 , 78
NOGUEIRA, Baptista Caetano de Almeida
250
231
MONAT, Henrique
229, 242
NÓBREGA, Firmino José Soares da
62,268
MONAT, Alexandre
178
160
NEUKON, Segismundo
264
233
MISCOW, Octávio Christo
272
273, 277
238, 240, 243, 247-249, 253-254
112-113
MIRANDA, Cardoso de
MOTTA
MURTINHO, Joaquim
NASCENTES, Antenor
233
27
MINERVA BRASILIENSE
MOLIÈRE
MURINELLY, José Arthur de
MUSSURANGA, Ernesto Romão de Freitas
209-210,260
MILTON
131,143-144
MURITIBA, Barão de ver TOSTA, Manoel Vieira
226, 234, 240, 250
MIGUEL, Dom
MUNIZ, Rozendo
56, 205. 209
183
17
186
184
136
OLYMPIA, Maria
153
OSÓRIO, N e w t o n Costa de Azevedo
244
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
OTTONI, Christiano Benedicto
OTTONI.Theophilo
OURO PRETO.
1837-1937
PEREIRA JÚNIOR, Castrioto Costa
163
PEREIRA JÚNIOR, José Fernandes da Costa
114
Visconde de ver FIGUEIREDO. Afonso
PEREIRA. Baltazar Bernardino Baptista
Celso de Assis
PEREIRA, Fernando Lobo Leite
PACHECO, José Moreira
PEREIRA, Francisco Maria Sodré
189
PAÇO, António Jansen do
PAIVA, José Lourenço de
PALM. Frederico
114
PEREIRA. Hypolyto José da Costa
PEREIRA, José Clemente
112
Honório H e r m e t o
PARANHOS JÚNIOR, José Maria da Silva
PARANHOS, José Maria da Silva
73, 113, 188
105. 133, 135-136, 141-
59
PEÇANHA, Nilo
188
PETALOGICA
242
PEDERNEIRAS, Raul Paranhos
275, 277
161, 164-165, 167, 177
PEDREIRA, João Baptista Ferreira
228
2 0 1 , 203, 2 1 1 . 235, 250,
164, 177
186
106
182
PIMENTEL, Aureliano Corrêa Pereira
PINHEIRO, Aleixo
154-156, 164
260
PINHEIRO, Fernandes, Cónego
93, 105
PINHEIRO, Galdino Fernandes
102, 114
PINHEIRO, João
185
PINHEIRO, José Feliciano Fernandes
17
176,178
PINTO, Alfredo Moreira
PEIXOTO, Joaquim
59
PINTO, António da Costa
243
184
PEREIRA DE SOUZA, Washington Luiz, Presidente(1926-
128
PINTO, Eduardo de Andrade
72
63
PINTO, Estevão Leite de Magalhães
PINTO, João José de Andrade
PINTO, Luz
243
34
63
PEREIRA FILHO, Dagmar Barbosa
254
PINTO, Pantaleão José
PEREIRA FILHO. João de Almeida
99
PINTO, Rosetta da Costa
3 1 , 54
212, 276-277
PINTO. Caetano José de Andrade
267-268
PENNA, Belisario Augusto de Oliveira
PENTEADO, Jairo Maciel de Aquino
180-181
256
PEIXOTO, Floriano
PENIDO FILHO, Raul
79
178,182
PIMENTA, Silvério Gomes
276
PEDERNEIRAS, Manoel Velloso Paranhos
PEIXOTO, Alvarenga
PEREIRA, Timotheo
PESSOA, João Pinto
PEDERNEIRAS, Childerico Paranhos
PEDRO, Fahim
18,58
PESSOA, Epitacio Lindolpho da Silva
PEDERNEIRAS, Carlos
31
PEREIRA, Manoel
PERRAYON, Pedro Felippe
144, 156. 159, 163
PEDRO I, Dom
204-205. 207. 219, 238,
253-254, 256
233
PAULINO, Pedro
44, 53
242, 258. 260. 265, 267
PEREIRA, Octacilio Alvares
114
PASSOS, Lucindo Pereira dos
1930)
1 76
PEREIRA, Marcelino da Silva
71,117
44
PEREIRA, José Saturnino da Costa
PEREIRA, Lafayette Rodrigues
Carneiro
PARANAGUÁ, Marquês de ver BARBOSA, Francisco Vilela
78
266
PEREIRA. José Hygino Duarte
73
PASSOS, Francisco
130
PEREIRA, Graciano Leopoldino dos Santos
Marquês de ver LEÃO,
PARDAL, Faria
276
176
128
PAIVA, Francisco de Paula
63, 71-72,
157-158
PACHECO, Barão de ver SILVA, Manoel Pacheco da
PARANÁ,
63
272, 276
256
185
ESCRAGNOLLE DÓRIA
PINTO, Santos
PINTO, Vaz
105
RAMIZ GALVÃO, Benjamin Franklin de
108
216, 2 3 1 , 259. 266. 272. 274-275, 277
PIQUET, Francisco Maria
PIRAGIBE, Alfredo
52, 60, 191
RAMOS, Álvaro Porfírio de Andrade
103,177,181,275
PIRAGIBE, José Ferreira da Costa
PIRES, Evaristo Nunes
PITA. Rocha
276
RAPHAEL, Sanzio
99
PLANITZ, Carlos Roberto
5 1 , 54, 60, 63-64, 67
123
POMBAL, Marquês de
101-105, 112, 272
REGO, Sebastião Pinto
132, 134
54,119,158
44-46, 73
PONTES, Rodrigo de Souza e Silva
53
REIS NETTO, Olympio dos
PORTELLA, Manoel do Nascimento Machado
156
PORTO ALEGRE, Manoel de Araújo
33, 8 1 , 202, 214,
278
189
REIS, José
214
PRESTES, Júlio de Albuquerque
PREVOST, Rodolpho Chapot
243
236
250
PRZEWODOWSKI, Oscar
229, 242, 247, 254
141
QUADROS, Linneu Bittencourt
QUEIROZ, Euzébio de
86,99
QUEIROZ, Manoel de
88
QUITITO, Astor Ramos
244
RENAULT, Leon
208, 226, 228, 238, 243
256
256
REZENDE, Conde dever VASCONCELOS, Luiz de
REZENDE, Leonidas Ribeiro de
RIBEIRO, Cândida Borges
153
RIBEIRO, Cândido Barata
152
37, 4 0 - 4 1 , 44
37. 40
186
RIBEIRO, Delphim Moreira da Costa
276
RIBEIRO, José Silvestre
21
RIBEIRO, Leonor Borges
153
RIBEIRO, Manoel de Queiroz Mattoso
RAJA GABAGLIA ver GABAGLIA
RIBEIRO, Oscar Adolpho de Bulhões
RAMIZ GALVÃO, Barão dever RAMIZ GALVÃO, Benjamin
RIBEIRO, Santiago Nunes
Franklin de
208
176,183,222,231,258
RIBEIRO, José de Araújo
41
RABELLO, Lino António
REIS, Trajano Furtado
RIBEIRO, João
196
RABELLO, Leandro de Castro
215
REIS, Othello de Souza
226, 244, 255
185
161
214
REIS, Manoel Pereira
PORTUGAL, João Maria
185
REIS, Epiphanio José dos
REIS, Ernani
243
87, 98, 133
87
PONTES, Felisberto Caldeira Brant
RABELLO, Laurindo
272
REGO, Eduardo César de Almeida
REIS NETTO. Ignacio dos
PULUCENO, Manoel
102, 272-273, 277
REGO, António José de Souza
REGO, José Pereira
16-17
POMPEIA, Raul de Ávila
PRONOME
253
REGO, Joaquim Marcos de Almeida
27
POTSCH, Waldemiro
183
123
REGO FILHO, José Pereira
PLANITZ, Barão de ver PLANITZ. Carlos Roberto
PORTINHO, Cármen
182, 222, 242
RAPOSO, Arlindo Gonçalves
18
101-102
203
RAMOS, Victorino de Paula
PIZARRO, Monsenhor
POISSON
RAMOS, José Júlio da Silva
RAMOS, Lameira
17
PIZARRO, João Joaquim
212
RAMOS, José Ildefonso de Souza
179, 228, 234
85, 175, 272-273, 276
PITADA, Duarte José de Mello
PLATÃO
101, 114, 175,
RICCI, Gian Pietro
212
88
275
55, 67, 278
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
RIO BRANCO, Barão do ver PARANHOS JÚNIOR, José
S A I N T J O H N , Orestes
SAKKA, F.
Maria da Silva
RIO BRANCO, Visconde d e v e r PARANHOS, José Maria
1837 - 1937
SALÃO NOBRE
SALEK, Júlio
da Silva
RIO DE JANEIRO, O
156
ROCHA VAZ, Juvenil
221-222, 224, 226. 2 3 1 , 240
107
268
122-124
250, 254
SALGUEIRO, José dos Santos
20
SALINAS, Catharina Margarida
37
ROCHA, Alexandre Ferreira de
19
SALLABERY, Carlos José
ROCHA, Carmindo Carneiro da
250
SALLABERY, Carlos Leopoldo Jorge
ROCHA, Justiniano José da
ROCHET, Luiz
32, 35, 53, 76-78, 167
RODRIGUES JÚNIOR, António Joaquim
RODRIGUES, António Joaquim
RODRIGUES, Coelho
131
RODRIGUES, José Barbosa
189
260
116
SANTOS, Hemeterio José dos
129
SANTOS, Inspetor
162-164
99
56
268
178
SANTOS, Marcos Baptista dos
226
SANTOS, Nestor Victor dos
269
SANTOS, Noronha
ROXO, Euclides de Medeiros Guimarães
236
SANTOS, Marcellino Bispo dos
SANTOS, Máximo de Moura
63-64
ROTHBERG.Waldomiro
278
SANTOS, José Lourenço dos
123
ROSTAND, Edmond
268
SANTOS, José Américo dos
229-230, 268
ROSA, Francisco de Salles
195-197, 2 0 1 ,
107, 166, 275
SANTOS, Ezequiel Corrêa dos
SANTOS, João da Cruz
212
ROSENBAUM, Néa
195, 220-221
SANTOS, Carlos Maximiliano Pereira dos
SANTOS, Dinorah
240, 259, 264, 267
RORIZ, José de Sá
113, 275
SANTOS, Carlos Américo dos
SANTOS, Custodio Américo dos
130-131. 166, 168, 259
ROMITTI. Mário
177
203
119-120
ROSSINI
177
165
RODRIGUES, Joào Barbosa
ROMEU, José
SANTOS, António Manoel Pereira dos
SANTOS, Augusto Ferreira dos
107,278
ROMERO. Sylvio
177
92
de Araújo
250
RODRIGUES ALVES, Francisco de Paula, Presidente (1902-
ROMERO, Nelson
SANTA MARIANNA, Pedro de
SANTO ANGELO, Barão de ver PORTO ALEGRE, Manoel
106
RODO, José Henrique
1906)
280
268
253
87
184, 189, 209,
SANTOS, Pereira
162
2 2 1 , 226-228, 232, 235, 237-238, 242-243. 247, 252-
SANTOS, Urbano
208,210
254
SÂO FÉLIX, Barão dever MARTINS, António Félix
ROXO, João Baptista Guimarães
RUSSEL, Alfredo de Almeida
184
211-212, 277, 280
SÁ, Aurélio Garcindo Fernandes de
52
SÁ, Domiciano Fortes de Bustamante e
SÁ, Felippe Franco de
SÂO JOSÉ, Rodrigo, Frei
153-154
SÁ, Mathias José Fernandes de
72,79,85,274
SÂO LEOPOLDO,
272
44, 5 1 , 54, 59, 61-63, 68, 7 1 -
Visconde de ver PINHEIRO, José
Feliciano Fernandes
SÂO LOURENÇO, Visconde de ver MARTINS, Francisco
52
SACRA FAMÍLIA, Pedro Nolasco da, Frei
Gonçalves
SÂO PAULO, Bispo dever REGO, Sebastião Pinto
ESCRAGNOLLE DÓRIA
SÁO PAULO, João José de
SILVA, João António Gonçalves da
102,273
SAPUCAÍ, Marquês d e v e r VIANA, Cândido José de Araújo
SARAIVA, Conselheiro
131
SATURNINO,
79, 119, 158
SILVA. João Pereira da
Frei ver A B R E U , Saturino Santa Clara
Antunes de, Frei
118
5 1 , 90,105,
114, 126, 132-134, 136, 139-140, 143-144, 174
156
SILVA, José Manoel da
64
182, 278
SEIBLITZ, Jorge Eugénio de Lossio e
SEMINÁRIO DE SÃO JOAQUIM
SEMINÁRIO DE SÁO JOSÉ
99, 218
54, 7 1 , 8 6 , 98, 106
SILVA, Manoel Pacheco da
84-87, 91-92, 94, 98, 101228, 231
189
SILVEIRA, Aloysio Ferdinando de Souza da
27
SILVA JÚNIOR, Pacheco da
124, 229-230,
SILVEIRA, José de Souza da
SIMONI, Luiz Vicente de
50-
51
SINIMBU
127
SILVA, Augusto José de Castro e
SILVA, Benecdito Raymundo da
52, 84, 98, 112
SOUTHEY
214
SOUZA, António José de
116
236
SILVA, Francisco Joaquim Bethencourtda
215
79,86,94,190
SOUZA, Benedicto Alves de
72
SILVA, Francisco de Paula Severino da
122-123, 202,
241
265
SOUZA, Carlos Henrique Pereira de
201
SOUZA, Everardo Vallim Pereira de
167
SOUZA, Irineu Evangelista de
SOUZA, Joaquim Gomes de
SILVA, Francisco Manoel da
267
SOUZA, José Teixeira de
179,212
SOUZA, Luiz de, Frei
SILVA, Jacques Raymundo Ferreira da
SILVA, João Alves Mendes da
INDÚSTRIA
70
SOUTO, Luiz Honório Vieira
268
SILVA, Felisberto Pereira da
DA
30
272
SILVA, Domingos Sérgio de Sabóia e
205, 2 1 1 , 255
114,131
SOCIEDADE AUXILIADORA
SILVA, António da Costa Pinto e
53
162
SILVESTRE, Honório de Souza
SILVA, António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e
184, 229, 240
138,145
182
1 8 1 , 261
SILVEIRA, José Teixeira de Abreu
SILVEIRA, Manoel
133, 136
235
SILVA, Heitor Lyra da
SILVA, Luiz Alves de Lima e
SILVA, Maurício Joppert da
235, 239, 253-254, 2 6 1 , 264-265
SILVA, Celestino da
166, 182
SILVA, Mário de Oliveira e
18-19, 108
SERRANO, Jonathas Archanjo da Silveira
SILVA, Albino
3 1 , 273
102, 107-108, 113-117,1 74, 189-190, 252
19,21,122
207, 266
SERÃO, Custodio Alves
177, 183-185, 189,
256, 273
SILVA, José Maria Velho da
SEABRA, José Joaquim
SENNA, Costa
56
SILVA, José Bernardino Paranhos da
SILVA, José Bonifácio de Andrade e
239
SCOTT, Walter
32, 35, 42-43, 51-52, 58-59,
193,277,278,280
164,166
SCHUMAN
SILVA, Joaquim Caetano da
SILVA, Joaquim Fernandes da
SCHIEFFLER, Guilherme Henrique Theodoro
SCHOMBURGLE
276
274
61-63, 66, 68, 72-73, 76, 103, 113, 252, 278
SAULES, Calos Luiz de
SCHILLER
168
SILVA, João Diogo Esteves da
SARAIVA, Luiz da Conceição
64, 85, 88, 99, 101,
80
34
59, 62
22
SOUZA, Octávio Augusto Inglez de
SOUZA, Paulino de
72,115
212
NACIONAL
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
SOUZA, Pedro Luiz Pereira de
SOUZA, Vicente de
1837 - 1937
TORRES, Cândido José Rodrigues
167
TORRES, João Baptista
1 6 7 , 1 8 3 , 188, 203
23, 93
2 0 1 , 2 1 7 , 236
SOUZINHA, O ver SOUZA, Joaquim Gomes de
TORRES, Joaquim José Rodrigues
SPINOSA
TORRES, José Carlos Pereira de Almeida
SPIX
127
22, 107
STRESSNER
268, 269
TORRES, José Joaquim Fernandes
114
TOSTA, Manoel Vieira
STURZENECKER, Gastão Mathias Ruch
52, 177, 181,
183, 191, 216, 219, 226, 228, 242, 247, 258
de Paula Cavalcanti de
SUMNER, George
159-160
98
160
TRINDADE, Elpidio Maria da Silva
202, 2 0 6 , 2 1 1 , 217
116
TROTTE, Vicente
186
UCHÔA CAVALCANTI, João Barbalho
161
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
268
53-54, 64
TAUNAY, Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle
VALLE, Quintino do
85-86,
88,90-95, 150,272-273
116
TAUNAY, Visconde cie ver TAUNAY, Alfredo Maria Adriano
79, 81-82
186, 205, 222, 226, 228-229, 236,
238, 242-243
VALLONGO
TAUNAY, LuizGoffredod'Escragnolle
175
22
VALDEZ Y PALÁCIOS, José Manoel
TAUBE, Guilherme Augusto de
18
VARELLA, Carlos Arthur Busch
VARGAS, Getulio Domelles
56, 278-279
242, 248, 266
VASCONCELLOS, Amarilio Hermes de
d'Escragnolle
TAUTPHOEUS, Barão deverTAUTPHOEUS, Hermann de
TAUTPHOEUS, Hermann de
5 1 , 69-70, 78, 80, 85, 133,
VASCONCELLOS, Bernardo Pereira de
233
23-27, 30-32, 34,
36-38. 40-42, 46-47, 5 1 , 58. 7 1 , 85, 102, 188, 195, 2 5 1 ,
264, 267, 269, 278-279, 281-282
146, 166-168
TAVARES, Carlos Augusto
TÁVORA, Franklin
VASCONCELLOS, Meira de
206
TEATRO JOÃO CAETANO
VASCONCELLOS, Zaccarias de Góes e
267
VASCONCELOS, Luiz de
266
TEIXEIRA JÚNIOR, Jerónimo José
TEIXEIRA, Mathias José
TERRA, José Ladislau
THEMISTOCLES
63, 9 0 - 9 1 , 279
133, 135, 165
58
TITARA, João Luiz dos Santos
TORRES, Almeida
167
103, 276
218,239
252
46
153
VENÂNCIO FILHO, Francisco
218
115
52
VELLOSO, Pedro Leão
191,220-221
240
17
VEIGA, João José Fernandes
VEIGA, Xavier da
220, 253, 259
TIPOGRAFIA NACIONAL
VEIGA, Evaristo da
VEIGA, Jurandir
100
123
T H O M A Z N E T T O , João
154
VASCONCELLOS, Nuno Lopes Smith de
150
TEATRO MUNICIPAL
THIRÉ, Cecil
113
100,112
TRINITYCOLLEGE
234-235, 238, 243, 247, 258-260
TAMANDARÉ, Marquês de
THIRÉ, Arthur
TOUSSAINT, Júlio
TRAJANO
SUASSUNA, Visconde de ver ALBUQUERQUE, Francisco
TASSO
59-60, 65, 67-
68, 154
STENBERG. Hilgard
TÁCITO
81
VERGUEIRO, Senador
45-46
VERNEY, Luiz António
213
VIANA, Cândido José de Araújo
VIANNA, António Ferreira
234, 240, 264
53-55
90, 92, 157
ESCRAGNOLLE DÓRIA
VIANNA, Eremildo
VIANNA, Rosa
VIDAL, Carneiro
VIDAL. Paulo
VIEGAS
250
VOCABULÁRIO DE BLUTEAU
144
VOGELI, Feliz
165
WALKER. Lygia
129,133,140-141.144
WERNECK. Carlos Leoni
170
VIEIRA, António Luiz de Mello
WERNECK, Furquim
130-131
VIEIRA, Manoel Edwiges de Queiroz
VILLA-LOBOS, Lucília
VILLEGAIGNON
267
156
VILLELA. Dantas
XAVIER, Agliberto
113
1 9 1 , 206. 208
XAVIER, Carlos José
18
272
167, 272, 274
123
XIMENES, José Manoel Garcia
ZARUR, Alziro
251
183
XAVIER, António Lopes, Cónego
XENOFONTE
100
VITALLETI, Guido
126
156-157
103
XAVIER, Francisco José
217
VINELLI, K o s s u t h d e
VITAL, Dom
268
WANDERLEY, João Maurício
87-88
VIEIRA, Albertina Gusmão
202
107
250
67
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