popular catarinense > imbituba > Sexta-FEIRA - 27 - julho - 2012 Maria Aparecida Pamato Santana Revivendo a história Imbitubense JOÃO EUFRÁSIO DE FIGUEIREDO EXEMPLO DE PROBIDADE E FÉ O segundo filho do homenageado de hoje, senhor Nelson Figueiredo, discorreu sobre a vida do pai, com muita emoção, respeito e saudade; com orgulho mesmo! Disse-me que seu pai era natural do Ribeirão Pequeno, município de Laguna- SC, nascido em 09 de janeiro de 1902. Estudou num dos mais antigos educandários da região, o Colégio Lagunense. Desde criança, era muito inteligente e religioso; e ainda jovem, foi Presidente da Congregação Mariana da terra natal. Aos dezoito anos, iniciou a vida profissional, como administrador de um Descascador de Arroz, montado na localidade “Ponta da Custódia” (Imaruí), que ficava bem em frente ao Mirim. Hoje, a localidade não existe mais. Esse empreendimento pertencia a empresários de Laguna, exportadores de cereais. O arroz era semeado e colhido em terras alagadiças ao longo do Rio D´Una. O encarregado desse trabalho era o senhor José Canto, sogro do senhor Manoel Amaro, que ainda alugava um paiol para armazenar a colheita. O arroz beneficiado era depois, transportado em barcaças para Laguna, e de lá, exportado. O senhor Nelson comentou: “Meu pai era conhecido por lá como “João Caixeiro” e “João Professor”; isto, porque nas horas vagas, ensinava crianças e adultos da localidade a ler e fazer o nome, escrevendo nas pedras, com carvão de lenha, resultante dos braseiros”. O senhor João casou com uma jovem do lugar, Maria Pires de Figueiredo, nascida em julho de 1912. Ela, com quatorze anos, e a única irmã casaram cedo, após a morte da mãe. O senhor João retornou ao Ribeirão, com esposa e dois filhos, lá permanecendo até 1938. Atuou como comerciante, comprando em Tubarão e em Capivari, produtos da serra e da redondeza, para vender em Laguna (lenha de cambuim, fumo de corda, farinha de milho torrada, carne e costela de porco, etc., tudo negociado na encosta dos rios. Três famílias eram consideradas as mais ricas do Ribeirão, a do parente Elói Figueiredo, a do seu pai e a dos De Bem. Possuíam canoas grandes para o transporte da mercadoria. João Eufrásio, com trinta anos. 11 Em 1938 mesmo, veio só para Imbituba, trabalhar na Carpintaria da Cia. Docas. Trouxe definitivamente a família para cá, em 1940, residindo numa casa alugada, à Rua General Osório, e mais tarde, na casa que construiu na Avenida Santa Catarina. Homem de inteligência e voz privilegiadas, herdadas por filhos, netos e bisnetos e essencialmente católico, logo fez parte da Congregação Mariana, fortalecendo-a, com seus dotes musicais e doutrinários. Uniu- se aos amigos congregados, Lilino Ribeiro (da Casa Glória) e Antônio (Doca) Pamato, e compraram um harmônio para a Capelinha da Praia. Em seguida, formou o primeiro coral. “Esse harmônio está na Capela do Hospital”, falou o senhor Nelson. “Em 1943, meu pai foi admitido na Cerâmica “Henrique Lage”, da Organização Lage, como Almoxarife, passando a residir numa casa, no pátio da empresa. Nessa casa, nasceram seus outros filhos. Fomos quinze no total. São cinco mortos e dez vivos. Nove residem em Florianópolis: Maria Conceição, Maria da Glória, Teresa, Nilda, Nésia, Nésio, Geraldo, Mário e José Paulo. Eu sou o único em Imbituba”. O senhor João permaneceu, com a família na casa da Cerâmica até se aposentar, mudando-se para Vila Nova. Todos possuem magníficas vozes, como seu Nelson que foi membro e Regente do Coral Imaculada Conceição por vinte anos, após o falecimento do Maestro Gualberto Pereira. Maria Conceição, a Professora Quita, mantém seu coral familiar em Florianópolis, o “Grupo Fielsons”. Espetacular! “Com o falecimento da nossa mãe, aos 43 anos de idade, com filhos muito pequenos, meu pai precisou casar de novo. Escolheu uma moça do Ribeirão, Maria Mônica de Figueiredo. Quando ela faleceu, Conceição deixou sua carreira religiosa, para cuidar dos irmãos menores, dedicando-se com muito amor”. Na foto abaixo, o senhor João, Ministro da Eucaristia, ao lado do Padre Sidnei, abençoando o filho Nelson e a nora Alba quando comemoravam as suas Bodas de Prata. O filho Nelson, desde a infância, já apresentava liderança nata, tornando-se Congregado Mariano. Na política, foi membro do PSP, da UDN e da ARENA, partido que o elegeu a Vereador em 1969, tornado-se Presidente da Câmara Municipal, por dois anos. Em 1971, disputou a Prefeitura como candidato único da Arena, com o apoio da Cerâmica, onde trabalhava desde seus quinze anos. Recebeu 70% dos votos válidos, mas perdeu para o concorrente Eduardo Elias que somou os votos da legenda de outros partidos. Hoje, considera-se um vencedor, gra- ças a Deus, a seus pais, aos familiares e amigos que o consideram muito. Seu pai, depois de muito tempo hospitalizado em Florianópolis, no Hospital de Caridade, faleceu em 09 de novembro de 1978. “Foi um ano muito difícil, marcado pela dor da perda do meu pai; pelo meu sofrimento físico e emocional, por ter amputado a minha perna direita, motivada pela osteomielite, iniciada quando muito jovem. E ainda, pelo falecimento de grandes amigos do meu pai e da família: Doca Pamato, seu mais íntimo amigo, companheiro do Ministério da Eucaristia, compadre, ao batizar a filha Glória (e ao mesmo tempo, Luís Hipólito); ajudou muito meu pai a enfrentar a doença; Paulo Martins, Seu Pudico e o Sérgio, do Bar Rosana”, todos o seguiram nesse ano. Cinco dias antes de morrer, disse ao filho Nelson: “Não tenho mais nada para fazer aqui; leva-me para morrer em casa”. E na véspera, à noite, perguntou: “Já preparaste o túmulo da tua mãe? Chama teus irmãos”. E faleceu no outro dia pela manhã. Respeitadíssimo por todos, não só católicos, foi velado na Igreja Matriz. “O que nos deixou muito agradecidos a Deus, ao Pároco e a todos. Grande catequista, não só no centro, como em Vila Nova, chegou a preparar cento e cinquenta crianças para a Primeira Comunhão num só ano. “Seu Francisco (Chico) Martins, era morador da Vila e um dia me disse a seguinte frase: - As duas pessoas mais religiosas e com capacidade que conheço, são: teu pai, João e dona Laura Barreto”. A família do senhor João Eufrásio recebeu em 2005, o calor de uma homenagem póstuma da Pastoral da Catequese – Paes Leme, deixando todos sensibilizados. A reputação intocável de João Eufrásio de Figueiredo, sempre alicerçada pela religiosidade, sabedoria e humildade, ficou eternamente reconhecida por suas palavras: “Nivela o mais alto magistrado, salvaguardando as devidas proporções, pelo último da sarjeta, pois somos todos feitos de matéria”.