UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
MÁRIA BRUNA PEREIRA RIBEIRO
PROPOSTA METODOLÓGICA DE
ESTABILIDADE/VULNERABILIDADE
AMBIENTAL APLICADO NA ÁREA DE
ENTORNO DA HIDRELÉTRICA DO
FUNIL-MG
ALFENAS-MG
2011
2
MÁRIA BRUNA PEREIRA RIBEIRO
Proposta Metodológica De
Estabilidade/Vulnerabilidade Ambiental Aplicado
na Área de Entorno da Hidrelétrica do Funil-MG
Trabalho de Conclusão de
curso apresentado como
requisito para do Título de
Bacharel em Geografia da
Universidade Federal de
Alfenas.
Orientadora:
Profa.
Dra.
Marta Felícia Marujo Ferreira.
ALFENAS-MG
2011
3
AGRADECIMENTOS
A professora Marta Felícia pela orientação, atenção, confiança, paciência e
pelos conselhos que levarei por toda a vida.
Aos professores Evânio Branquinho, Ana Rute, Samuel Frederico, Flamarion
Dutra e Nádia Cristina que tiveram grande contribuição na minha formação
acadêmica.
Aos professores Clíbson e Ronaldo pelo apoio nos momentos oportunos.
Aos amigos de longe, mas que sempre me dão força Ivan, Tuila, Andrea, Bira,
Larissa, Daniele e Jéssica.
Aos amigos Diógenes, André, Daniel, Sara e Natalia pelas discussões
Geográficas e principalmente pela amizade.
As amigas Larissa Chiuli, Gabriela, Mayara, Ana Lia, Camila, Liana, Alessandra
em especial a Ana Paula pelo apoio de sempre.
Ao Alex e Cassiano meus grandes companheiros.
Aos meus pais Nilson e Gil pelo amor, carinho, compreensão, apoio e força em
todos esses anos.
A todos meus familiares em especial a meus irmãos Felipe e Leonardo por todo
incentivo e torcida.
4
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo aplicar a metodologia proposta
por Crepani et. Al. (2001) para identificar áreas vulneráveis através das
unidades territoriais na região de entorno da hidrelétrica do Funil-MG.
Os principais procedimentos foram a delimitação da área de estudo, a
elaboração dos mapas temático de Solo, Dissecação do Relevo, Geológico,
Uso do solo e cobertura Vegetal e a pesquisa sobre os dados pluviométricos, o
que garantiu material para o cruzamento dos dados e elaboração do Mapa de
Vulnerabilidade/Estabilidade ambiental.
A
contribuição
da
elaboração
desse
mapeamento
sobre
a
vulnerabilidade local garante uma agilidade no processo de tomada de decisão
pelo poder público, subsidiando a ocupação territorial ordenada, tendo como
consequência menores chances de acidentes ambientais.
5
LISTAS DE FIGURAS
Figura 1- Classes de Vulnerabilidade............................................................ p.14
Figura 2- Localização da Hidrelétrica do Funil dentro do Estado de MG...... p.23
Figura 3 – Material Cartográfico Utilizado na Pesquisa................................. p.24
Figura 4 - Fluxograma dos Procedimento Metodológicos............................. p.25
Figura 5 – Equação para a elaboração do Mapa de Vulnerabilidade........... p.26
Figura 6- Escala de Valores/Cores associados ao grau de vulnerabilidade p.27
Figura 7 – Matriz de Dissecção do Relevo.................................................... p.28
Figura 8 – Aquisição dos dados para o Mapa de Dissecação do Relevo..... p.29
Figura 9 – Mapa de Dissecação do Relevo.................................................. p.30
Figura 10 – Mapa de solos da área de entorno da Hidrelétrica do Funil..... p.31
Figura 11 – Mapa Geológico da Área de Estudo........................................... p.32
Figura 12 – Imagem do Satélite Alos na área de Extração de Calcário........ p.33
Figura 13 – Porcentagem dos tipos de Uso do Solo na área de Entorno da
Hidrelétrica do Funil....................................................................................... p.36
Figura 14 – Mapa de Uso e Ocupação do Solo............................................ p.37
Figura 15 – Precipitação média Anual.......................................................... p.38
Figura 16 – Mapa de Vulnerabilidade-Estabilidade Ambiental.................... p.39
Figura 17 – Mapa Morfodinâmico................................................................. p.40
Figura 18: Mapa de APP do Reservatório do Funil-MG................................ p.42
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Pesos Atribuídos ao Tipo de Solos................................................ p.31
Tabela 2: Pesos Atribuídos ao Tipo de Rochas............................................. p.33
Tabela 3: Pesos Atribuídos ao Tipo do Uso do Solo..................................... p.35
7
LISTA DE FOTOS
Foto 1..............................................................................................................p.34
Foto 2..............................................................................................................p.36
Foto 3..............................................................................................................p.38
Foto 4..............................................................................................................p.41
8
SUMÁRIO
1. Introdução e Justificativa............................................................................ 9
2. Revisão Bibliográfica ................................................................................ 12
2.1 Síntese dos Modelos de Fragilidade Ambiental......................................... 12
2.2. Construção das Barragens e Impactos Ambientais................................... 15
2..3 Unidades Territoriais.................................................................................. 20
3. Material e Método....................................................................................... 22
3.1Área de Estudo............................................................................................ 22
3.2 Materiais..................................................................................................... 23
3.3 Procedimentos Metodológicos.................................................................... 24
4. Resultados e discussões........................................................................... 28
5.Conclusão ................................................................................................... 43
6. Referências Bibliográficas ........................................................................ 44
9
1. Introdução e Justificativa
O desenvolvimento humano sempre esteve atrelado à busca por recursos
energéticos, uma vez que a demanda por recursos naturais é crescente, não
apenas pelo aumento da população mundial, mas pelo consumismo
desenfreado atrelado as novas necessidades. Segundo Ross (1994), os
ambientes naturais mostravam-se em estado de equilíbrio dinâmico até o
momento em que a sociedade começa a intervir na exploração dos recursos
naturais.
O produto da matéria-prima provenientes da exploração dos recursos não
é dividido igualmente entre todas as pessoas, pois poucos consomem os vários
produtos, e muitos acabam excluídos do consumismo, e por vezes até mesmo
de consumos básicos para a sobrevivência digna. É comum que essa
população com pouco ou nenhuma oportunidade, acabem por ter que conviver
com os ambientes degradados e instáveis para ocupação, muitas vezes fruto
da exploração dos recursos naturais. Ross admite que o Brasil, sofre uma forte
e incisiva influência do desenvolvimento tecnológico,
caracterizando-se como “importadores de tecnologias e capitais”. Os
problemas sociais, culturais e ambientais são marcadamente fruto da
disparidade da capacidade e de oportunidade das diferentes
camadas sociais, de absorver e ajustar-se aos impactos criados por
esse mecanismo. (Ross, 1994. p. 63)
É de importância fundamental o planejamento Físico Territorial que pode
(e deveria) constar no plano diretor municipal, sendo assim deve contar as
áreas próprias para ocupação humana e as áreas suscetíveis à vulnerabilidade
ambiental. Esta proposta ultrapassa a identificação das áreas apropriadas para
a ocupação humana, mas também tem o intuito de identificar quais são as
áreas que mais necessitam de proteção. A preocupação com essa preservação
ao meio ambiente estimula propostas de desenvolvimento sustentável, que visa
compatibilizar a exploração dos recursos naturais com as atividades
econômicas.
No Brasil temos os recursos hídricos como a principal exploração para a
geração de energia, sendo responsáveis pelo abastecimento de 95% da
10
energia consumida em todo o país, aproveitando a capacidade natural,
abundância das águas e o relevo serrano. As hidrelétricas são consideradas o
modo de produção de energia com menor impacto ambiental.
Para Saadi
(1997), grande parte da energia elétrica é produzida nas chamadas Unidades
Hidrelétricas-UHE’s compostas por barragem e lago gerado pelo represamento
de um rio.
Como alternativa para minimizar os impactos, surge a proposta das
pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), uma vez que produzem energia
causando menor impacto, já que a área de alagamento pelo reservatório é bem
menos extensa.
Nas PCHs, são aproveitadas as feições do relevo, que proporcionam
quedas d’agua para potencializar a geração de energia e diminuir a área
inundada. Sendo assim, há um aumento no número de hidrelétricas de
pequeno porte, mas é utilizado menos material e elas ficam mais próximas dos
mercados consumidores, diminuindo assim os cabos de transmissão
melhorando o transporte de energia e custos referentes a esses cabos.
Mesmo causando impactos menores as PCHs ainda são responsáveis por
uma degradação intensa do meio ambiente e podem intensificar os processos
erosivos e aumentar o grau de fragilidade ambiental de uma área.
A hidrelétrica do Funil é um exemplo de PCH, implantada no sul de
Minas Gerais localizando-se na sub-bacia do Rio Grande, que pertence à bacia
do Rio Paraná, entre os municípios de Perdões e Lavras, Minas Gerais. Esta
usina foi projetada para atender o aumento do consumo de energia elétrica,
com capacidade de produzir energia suficiente para abastecer uma cidade de
500 mil habitantes.
A história dessa área é muito semelhante á maioria das cidades da região
do sul de Minas Gerais, sendo ocupada a partir do ciclo do ouro. Com a queda
deste, foi utilizada por fazendas agropecuárias, modificando assim pela
primeira vez esse espaço geográfico. No século XIX implanta-se café na
região, cultura que perdura até os dias de hoje. A instalação da barragem
alterou a paisagem, e desapropriou muitos sitiantes, o que levou esses
11
agricultores a outras áreas, necessitando recomeçar o plantio e/ou, na maioria
das vezes, migrarem para áreas urbanizadas. É o caso das comunidades
criadas pela concessionária, Macaia, Funil e Nova Pedra Negra, que foi
obrigada a modificar o modo de vida.
Diante destas premissas, o presente trabalho tem como finalidade a
aplicação
de
uma
metodologia
baseada
na
análise
da
estabilidade/vulnerabilidade ambiental proposta por Crepani (2001). Esta
metodologia foi aplicada na área de entorno da Hidrelétrica do Funil, próximo
ao
município
de
Lavras-MG
estabilidade/vulnerabilidade.
com
objetivo
de
delimitar
zonas
de
12
2. Revisão Bibliográfica
2.1.
Síntese dos Modelos de Fragilidade Ambiental
Estudos sobre fragilidade ambiental são de estrema significância para o
planejamento ambiental e territorial, uma vez que fragilidade dos ambientes
naturais é intensificada pela antropização, e segundo Ross (1994) os
ambientes naturais normalmente estão em equilíbrio dinâmico, mas com a
evolução da sociedade há um aumento das necessidades de recursos naturais
e consequentemente uma degradação do ambiente. Com as revoluções
técnica-cientifica fez com que cada vez mais os homens se transformassem em
seres sociais, criando novas oportunidades, como a diminuição da mortalidade,
aumento das taxas de natalidade e intensificando cada vez mais suas
necessidades de sobrevivência e trazendo como resultado a intensificação da
exploração dos recursos naturais. Tricat (1977) afirma ser importante estudar a
organização do espaço para determinar a ação nas dinâmicas naturais para
corrigir aspectos desfavoráveis e facilitar a exploração dos recursos ecológicos
que o meio ambiente oferece.
Segundo Kawakubo et. al. (2005) o mapa de Fragilidade Ambiental é
uma das principais ferramentas na elaboração do Planejamento Territorial
ambienta, pois permite avaliar as potencialidade e restrições de cada lugar e
dimensionar os problemas da área.
Crepani et. Al. (2001) baseia-se nos estudos de Ross (op. Cit.) e Tricart
(op. Cit) corroborando da ideia do equilíbrio natural do meio, e por isso em seus
estudos trabalha com o conceito de Vulnerabilidade/Estabilidade dos processos
Naturais a Erosão Ambiental a partir da análise das Unidades territoriais
Básicas (UTB’s).
Os autores trabalham com cinco atributos: Solo, Rocha, Relevo, Clima e
Vegetação
e
Uso
e
ocupação
do
Solo.
São
atribuídos valores
a
Vulnerabilidade/Estabilidade onde de é considerado 1,0 a 1,4 Fragilidade Muito
Baixa, 1,4 a 1,8 Fragilidade Baixa, 1,8 a 2,2 Fragilidade Média, 2,2 a 2,6
Fragilidade Forte e 2,6 a 3,0 Fragilidade Muito Forte.
13
Neste modelo proposto a igual ponderação entre os diferentes atributos,
onde eles são cruzados e como produto apresenta-se um mapa de
Vulnerabilidade/Estabilidade Natural a Perca de Solos.
Os autores acreditam que conhecer os mecanismos que atuam nas
unidades de paisagem natural garante uma produtividade além de corrigir os
usos inadequados evitando assim consequências catastróficas.
Spörl e Ross (2004) aplicam três modelos distintos para comparar qual o
mais apropriado para os Estudos de Fragilidade Ambiental, sendo dois deles
propostos por Ross (1994) e um por Crepani et al (1996). O primeiro modelo
trabalhado utiliza a metodologia de Ross (op cit.) que utiliza quatro variáveis
que interferem nos ambientes, sendo elas Índice de Dissecação do Relevo,
Tipos de Solos, Cobertura Vegetal e Pluviosidade. Sendo assim para cada
variável há um valor associados que vai do intervalo de 1(fraca) a 5 (forte) para
o grau de fragilidade, conforme o fragmento abaixo:
Assim, as variáveis mais estáveis apresentarão valores mais
próximos de 1,0, as intermediárias ao redor de 3,0 e as mais
vulneráveis estarão próximas de 5,0.
Desta forma, a partir da composição das relações destas
quatro variáveis:
Índices de Dissecação do Relevo – categoria hierárquica muito
fraca (1) a muito forte (5);
Solos - classes de fragilidade muito fraca (1) a muito forte (5);
Cobertura Vegetal - grau de proteção muito alto (1) a muito
baixo/nulo (5);
Pluviosidade - categoria hierárquica muito fraca (1) a muito
forte (5). (SPÖRL; ROSS, 2004, p.40)
Desta maneira é possível contabilizar os graus de fragilidade e
estabelecer quais as áreas mais criticas para a fragilidade potencial.
O segundo modelo analisado pelos autores, aponta a variável Índice de
Dissecação do relevo como determinante para a fragilidade da área gerando
um modelo de Fragilidade Potencial Natural. As classes de declividade foram
divididas em cinco categorias conforme o trecho abaixo:
1 – Muito Fraco – < 6%
2 – Fraco – 6 a 12%
3 – Médio – 12 a 20%
14
4 – Forte – 20 a 30%
5 – Muito Forte – > 30% (SPÖRL; ROSS, 2004, p.42)
Desta maneira é utilizado os Índices Declividade de ao invés da variável
Dissecação do Relevo para identificar a fragilidade da área.
A última metodologia utilizada pelos autores foi elaborada pelo INPEInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais, para auxiliar o zoneamento
Ecológico-Econômico da região Amazônica, desenvolvido por Crepani et al (op.
Cit.). Primeiramente é feita uma elaboração de mapa com as Unidades
Territoriais Básicas (UTB’ s) e posteriormente é associados as informações tem
éticas já preexistentes sobre a área. As variáveis trabalhadas são Solo,
Rochas, Relevo, Vegetação e clima, e como resultado final desta metodologia
temos um mapa para cada uma dessas variáveis, onde se se associa os pesos
de 1(Estável) a 3 (áreas mais vulneráveis). As classes consideradas são
subdivididas em muito baixa a Muito forte conforme a tabela abaixo:
Figura 1: Classes de vulnerabilidade
Fonte: (SPÖL; ROSS, 2004, p.45.)
Desta forma o grau de Estabilidade-Vulnerabilidade está entre as
classes de 1 a 3 diferentemente das metodologias propostas por Ross (op. Cit)
que variam de 1 a 5.
Spörl e Ross (op. Cit.) concluem que não há muitas diferenciações em
cada metodologia, mas que os procedimentos podem não refletir as
características reais da área já que um atributos na metodologia pode ter um
15
peso comum para uma determinada área é necessário hierarquizar os atributos
para representar fielmente as fragilidades locais, conforme o trecho a seguir:
[...] nem sempre o relevo mais dissecado é de fato mais frágil, ou ao
contrário, nem sempre o relevo pouco dissecado é realmente mais
estável. Pois a fragilidade depende também do tipo de rocha, dos
solos, do uso da terra e do regime de chuvas.
Isto quer dizer que a valorização do relevo/declividade (1°
dígito) no modelo sugerido por ROSS (1994) pode definir uma
fragilidade muito forte para uma área muito dissecada, mas que na
realidade as demais variáveis poderiam amenizar sua
vulnerabilidade, ou ainda, poderia determinar uma fragilidade muito
fraca para uma área de relevo estável, mas que as outras variáveis
poderiam acentuar sua vulnerabilidade.
Já no modelo proposto por CREPANI et al (1996), a igual
ponderação entre os diferentes médios para cada UTB pode acabar
por “mascarar” ou atenuar o resultado final do índice de fragilidade da
unidade identificada. (Spörl; Ross, 2004, p.48.)
O que mais modifica os modelos é justamente os pesos de cada
atributos mas como conclusão os autores julgam difícil estabelecer
precisamente qual o atributo mais significativo para cada área. Eles trazem
como apontamento identificar o melhor modelo que melhor se ajuste com os
eventos Naturais, e que os Estudos de Fragilidade ambiental são importantes
para a tomada de decisão.
2.2 Construção de Barragens e Impactos ambientais
Avaliar os impactos ambientais da instalação de usinas hidrelétricas é de
extrema importância para a sustentabilidade da área de entorno. Segundo a
resolução n° 302 do CONAMA (2002), é considerado um reservatório artificial a
“acumulação não natural de água destinada a quaisquer de seus múltiplos
usos”. O CONAMA (1986) considera ainda, impacto ambiental como qualquer
alteração física, química e biológica do meio ambiente causado por atividade
humana.
Esses impactos devem ser previstos em um estudo prévio para serem
minimizados, e essa é uma tarefa do Estudo de Impacto Ambiental (EIA). É o
que afirma Milaré (2002), quando ressalta que qualificar e quantificar
antecipadamente o impacto ambiental é o papel principal do EIA, como suporte
16
para um adequado planejamento de obras ou atividades relacionadas com o
meio ambiente.
Esse estudo de impacto se faz necessário, pois o meio ambiente foi
considerado um bem de uso comum a partir da Constituição de 1988, ou seja,
preserva-lo é uma tarefa do poder público e, por isso, é importante um estudo
para prever os impactos com objetivos de preservar um bem de uso difuso.
Além do EIA, é importante o relatório de impacto ambiental (RIMA) que
também é um instrumento do poder público para análise dos impactos
ambientais. De acordo com Machado:
[...] O estudo de impacto ambiental compreende o levantamento da
literatura científica e legal pertinente, trabalhos de campo, análise de
laboratório e a própria redação do relatório. O relatório de impacto
ambiental, destinando-se especificamente aos esclarecimentos e
conseqüências ambientais do empreendimento, refletirá nas
conclusões do EIA. (Machado.1996 apud Milaré 2002, p. 62)
Pesquisas comprovam que mesmo com os estudos para previsão dos
impactos eles ainda ocorrem. No caso do represamento de hidrelétricas
segundo Manyari (2007) a área mais afetada é a de jusante, pois recebe menor
atenção e por isso a degradação é mais evidente.
[...] a necessidade da consideração do espaço a jusante de barragens
para a geração de energia é fundamental no processo de
planejamento energético diante da magnitude dos potenciais
impactos.
[...] Desta forma, tem-se como hipótese de trabalho a necessidade da
consideração do espaço a jusante de barragens para a geração de
energia como fundamental no processo de planejamento energético
diante da magnitude dos potenciais impactos. (Manyari, 2007, p.2)
O autor conclui que é necessário avaliar toda a área de entorno e não
somente a de represamento, e dar atenção especial para área de jusante, pois
a degradação é mais intensa, resultando em mortandade de peixes,
assoreamento dos corpos d’ água e lançamento de efluentes domésticos e
industriais provenientes de municípios que estejam a montante.
17
Cunha (1995) também discute os impactos gerados pelo barramento em
rios, uma vez que, quando há alteração do leito original dos rios, três situações
podem ocorrer: a montante, o nível de base local é levantado, no reservatório,
ocorre uma situação de águas lênticas e, a jusante, ocorre, um entalhe maior
do leito do rio promovendo a instabilidade das margens e a ocorrência de
processos erosivos.
Corroborando com Manyari (op. cit.), Magalhães (2006) também julga que
o estudo do entorno da área afetada é primordial e aponta “os homens” como
principais agentes ativos e passivos da degradação ambiental. Magalhães
(op.cit.) salienta ainda que, é necessário mensurar os impactos sócioambientais, levando em consideração não somente aspectos econômicos, que
ele acredita estar em evidencia na política do país, mas também
desenvolvimento social.
O autor aponta como das soluções viáveis para minimizar os impactos
causados pela geração de energia as pequenas centrais hidrelétricas, pois a
área de represamento é bem inferior e há a possibilidade de ser instalada mais
próxima aos centros consumidores. Para Souza (2000) a diminuição dos
impactos sócio-ambientais só é possível se houver um estudo e planejamento
preliminar, desde o projeto, passando pela construção, acompanhando a vida
útil da usina.
Conclui ainda, que essa analise preliminar deve ser realizada em duas
perspectivas globalmente e regionalmente, para aliar a necessidade de
recursos energéticos, mas excluindo os impactos causados localmente.
Conforme Müller:
Nos projetos hidrelétricos, a sociedade deve ser encarada em
dois níveis: difuso e pontual. No primeiro, a visão é macro onde
se prioriza o desenvolvimento econômico propiciado pelo
suprimento da energia gerada. A sociedade aqui é difusa. No
nível regional, o enfoque recai sobre os impactos acarretados
pelo empreendimento gerador de energia na área da obra, do
reservatório e suas adjacências. Estes dois pontos-de-vista
permitem considerar o conflito potencial entre os interesses
nacionais e os locais. (Müller 1995, apud Souza, 2000. p.106)
18
Trabalhos desenvolvidos por Junk e Mello (1998) na Amazônia, ressaltam
que a conciliação entre a instalação da hidrelétrica e a manutenção da
sustentabilidade da área depende de acordos políticos, feitos há muito tempo,
o que inviabiliza um projeto visando o desenvolvimento sustentável. Em
consequência de decisões políticas tomadas anos atrás sobre os grandes
projetos na bacia amazônica, as possibilidades reais de implantação desses
projetos, respeitando as necessidades ecológicas, são remotas.
Para os autores, a equipe técnica que avalia os impactos é chamada
quando essas decisões já foram tomadas e por isso acordos entre políticos e
engenheiros são bastante reduzidos. Esta situação acarreta em maiores
impactos na área, pois a degradação não é mensurada corretamente antes da
instalação. Outro problema encontrado em área de alagamento por barragem é
a falta de recomposição das APPs (Área de Proteção Permanente) que foram
devastadas pelo represamento e não foram reconstituídas. Isso é um
problema, pois essas áreas são fundamentais para a manutenção do meio
ambiente. Por esses motivos a resolução do CONAMA n°302 (2002) art. 2° que
trata de reservatórios artificiais determina que,
A Área de Preservação Permanente é a área marginal ao redor do
reservatório artificial e suas ilhas, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica,
a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem estar das populações humanas.
Desta forma, o CONAMA nº 302 (2002) art. 3° determina ainda que ao
longo do curso d'água, de reservatórios, deveria ser preservada uma faixa de
mata com em média 100m para as áreas rurais, e próximas às áreas urbanas
uma faixa de 30m.
A preocupação com a reconstituição da mata ciliar, não é a única tarefa
das concessionárias, uma vez que com o enchimento do reservatório as
pessoas que vivem na área de entorno são diretamente atingidas onde são
obrigadas a mudarem por completo seu modo de vida. E de responsabilidade
do empreendimento a realocação dessas pessoas. A década de 70 foi marcada
19
por arbitrariedades contra os atingidos por barragens, pois ocorreu uma crise
energética mundial tornando-se necessário a adoção de outros modelos
energéticos. No Brasil optou-se pela construção de hidrelétrica, mas sem a
preocupação com os aspectos socioambientais. Conforme o Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB):
Imediatamente iniciou-se a construção de grandes usinas em várias
regiões do país. Ao mesmo tempo que havia um estudo sobre o
potencial e como fazer o aproveitamento da energia, não havia uma
proposta de indenização adequada das famílias que viviam na beira
dos rios. Conseqüência disso foi a expulsão de milhares de famílias
de suas terras e casas, a maioria sem ter para onde ir. Muitas foram
para as favelas das cidades, engrossaram as fileiras de sem-terras.
(MAB, 2011)
Contudo, atualmente para a construção de uma barragem é necessário
um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que deve compreender os impactos das
populações atingidas. Na Licença Prévia do Funil em um documento da FEAM
(Fundação Estadual do Meio Ambiente) afirma que o meio socioeconômico e
cultural devem constar no EIA e devem ser pensadas de maneira coletiva
conforme o fragmento:
[...] a questão de remanejamento da população urbana deve ser
pensada de forma coletiva também, ou seja, incluindo uma medida
que possibilite a reconstrução dos aglomerados urbanos afetados
suas condições originais caso assim as populações desejem. Desta
forma evitar-se-ia a ruptura de laços afetivos, culturais e de
vizinhança, considerando como impacto irreversível e inevitável.
(Licença Prévia UHE Funil, 1992, p. 33)
Sendo assim é necessário um estudo mais profundo sobre as
populações para os impactos sejam os menores possíveis.
O barramento de rios e o reservatório gerado acarretam alteração do
meio acelerando os problemas ambientais e sociais no entorno. Estas duas
variáveis não podem ser dissociadas, pois elas se complementam e são
importantes para analisar com maior precisão a área afetada.
20
2.3 Unidades territoriais
Antecedendo de Estudos sobre a Vulnerabilidade Natural a Erosão para o
zoneamento ecológico econômico da Amazônia, proposta por Crepani et al
estão às unidades territoriais básicas (UTBs) para delimitação das áreas
estudadas.
Essas unidades podem ser divididas em duas: “unidades de paisagem
natural” e “polígono de intervenção antrópica”, que são delimitadas por
imagens do TM-LANDSAT.
A primeira considera elementos e interações que na prática podem ser
delimitadas pelas características fornecidas pela Geologia, Geomorfologia,
Pedologia, Fitogeografia e Climatologia. A Geologia contribui para a definição
da categoria morfodinâmica da unidade de paisagem natural, a Geomorfologia
indica a estabilidade da área através da morfometria, consideradas como
amplitude do relevo e declividade. A Pedologia nos indica se o que prevalece é
a morfogênese ou pedogênese caracterizando assim o grau de maturidade do
solo. A Fitogeografia fornece informações sobre a cobertura vegetal, qual a
tipologia e onde estão distribuídas além das áreas que não apresentam
cobertura vegetal e por isso são mais suscetíveis aos processos erosivos.
Já os “polígonos de intervenção antrópica” são as áreas de intervenção
humana, começando pelas áreas de desmatamento que retiram a cobertura
vegetal e matéria orgânica do solo expondo a superfície do solo ao
intemperismo físico e químico.
Desta maneira Crepani et.al. (op. cit.) considera com unidades territoriais
as características naturais e antrópicas de cada área, para avaliar o grau de
vulnerabilidade.
O tipo de atividade antrópica desenvolvida sobre uma determinada
unidade de paisagem natural pode representar sua destruição devido
a sua pequena capacidade de absorver os estímulos advindos desta
atividade econômica, enquanto que sua interação com outra unidade
de menor vulnerabilidade, seguindo os sistemas de manejo mais
indicados com práticas conservacionistas, pode representar uma
atividade economicamente rentável. Isto parece mostrar que a
escolha entre um desastre ecológico ou o desenvolvimento
sustentado, passa pelo conhecimento da natureza da interação
21
existente entre as unidades de paisagem natural e os polígonos de
intervenção antrópica. (CREPANI, 2001. p. 17)
22
3 – Material e Método
3.1. Área de Estudo
A hidrelétrica do Funil se localiza no planalto do Alto Rio Grande, na
sub-bacia do Rio Grande, pertencente à bacia do Rio Paraná, entre os
municípios de Perdões e Lavras, Minas Gerais. A área do estudo é delimitada
pelas coordenadas geográficas 21º06’24’’ e 21º13’60’’ de latitude S e 45º04’38’’
e 44º54’13’’ de longitude W. Dentro da área, inclui-se parte dos municípios de
Ijací, Bom Sucesso e Ribeirão Vermelho (Figura 1).
A região foi ocupada durante o período de descoberta de metais. Com a
queda do ciclo do ouro, no século XVIII, formaram-se fazendas agropecuárias e
no século XIX, introduziu-se a cultura do café. Atualmente, encontram-se
também culturas como milho, banana, fumo e além dessas atividades a
pecuária e o turismo. De acordo com Oliveira-Filho e Fluminhan-Filho (1999),
na região do alto Rio Grande a cobertura vegetal primitiva foi reduzida a
remanescentes esparsos, em sua maioria bastante perturbada pelo fogo, pela
pecuária extensiva ou pela retirada seletiva de madeira. As florestas
semidecíduas, em particular, foram criticamente reduzidas, uma vez que sua
ocorrência coincide com os solos mais férteis e úmidos, e portanto mais
visados pela agropecuária.
A vegetação compreende uma região de transição entre os domínios do
cerrado e das florestas semidecíduas montanas, presentes em fragmentos
florestais (Veloso et al., 1991, apud Dutra, 2005). Curi et al (1990), definem a
geologia e pedologia de acordo com cinco diferentes superfícies de erosão,
classificadas conforme a altitude. As principais rochas encontradas são os
Gnaisses. Há presença de calcários na região de Ijací e sedimentos
predominantemente areno-siltosos nas baixas altitudes, próximas do rio
Grande. Em relação à pedologia, a um predomínio de latossolo vermelhoamarelo. Próximo ao leito maior do rio Grande, predomina-se solo hidromórfico.
O clima da região é classificado como Cwb, segundo classificação de
Köppen, com chuvas irregulares distribuídas ao longo do ano, havendo
excesso de água nos meses de novembro a março e deficiência no período de
23
abril a agosto (Villela e Ramalho, 1979, apud Dutra, 2005). A figura abaixo
mostra a localização da área de estudo:
Figura 2 – Localização da hidrelétrica do Funil dentro do Estado de Minas Gerais.
3.2. Materiais
Primeiramente foi feita uma revisão bibliográfica e levantamento de
documentos sobre a hidrelétrica tais como as licenças prévias, licença de
instalação e operação e levantamento Cartográfico da Área. Os dados
referentes aos Licenciamentos (licença de Prévia, Licença de Instalação e
Licença de Operação) foram adquiridos na SUPRAM (Superintendência
Regional do Meio Ambiente), e outros dados no site da própria concessionária.
Os materiais cartográficos disponíveis sobre a área de estudada
constituem de cartas topográficas nas escalas 1:50.000 e 1:250.000. Além
destas cartas, foram selecionados também produtos de sensoriamento remoto,
tais como imagens de satélite Alos e Mapas Geológicos.
24
Documentos
Cartográficos
Articulação
Escala
Ano
Executor
Carta topográfica de
Lavras
SF-23-X-CI-1
1:50.000
1973
IBGE
Carta topográfica de
Nepomuceno
Carta topográfica
Varginha
Mapa geológico – Folha
Lavras
SF-23-I-II-2
1:50.000
1973
IBGE
SF-23-V-D
1:250.000
1979
IBGE
SF.23-X-C-I
1:100.000
2003
Projeto
sul de
Minas
1:250.000
2004
COMIG
Resolução
2,5m
03/02/10 Jaxa
(Japan
Aerospa
ce
Explorati
on
Agency)
Mapa geológico - Minas
Gerais
Imagem do satélite Alos
(Advanced Land
Observing Satellite) –
Sensor Prism
ALPSMN2146
44025
Figura 3 – Material cartográfico utilizado na pesquisa.
3.3. Procedimentos Metodológicos
Após a leitura e discussão dos modelos de fragilidade ambiental, foi
aplicada a metodologia de Vulnerabilidade/Estabilidade ambiental proposta por
Crepani et al. (2001) que utiliza as variáveis: Geologia, Geomorfologia, Solos,
Clima e Cobertura Vegetal, atribuindo-lhes pesos. Os pesos variam de 1 a 3
onde:
1- Estável (áreas menos vulneráveis)
2- Intermediaria
3- Instável (áreas mais vulneráveis)
Para a aplicação da metodologia, foram elaborados os seguintes mapas
temáticos através do software Ilwis 3.4: Uso do Solo e Cobertura vegetal,
Dissecação do Relevo, Tipos de Solo, Mapa Geológico e Distribuição
25
Pluviométrica. O fluxograma a seguir demonstra as etapas dos procedimentos
metodológicos (Figura 4).
ELABORAÇÃO DOS MAPAS
A
Q
U
I
S
I
Ç
Ã
O
D
E
D
A
D
O
S
E
D
I
Ç
Ã
O
D
O
S
D
A
D
O
GEOLOGIA
GEOMORFOLOGIA
SOLO
USO DO SOLO E
COBERTURA
VEGETAL
DADOS
PLUVIOMÉTRICOS
A
T
R
I
B
U
I
Ç
Ã
O
D
O
S
VULNERABILI
DADEESTABILIDAD
E AMBIENTAL
P
E
S
O
S
Figura 4: Fluxograma dos procedimentos metodológicos.
O mapa de Uso do Solo e Cobertura Vegetal foi confeccionado a partir
da interpretação das imagens do satélite japonês Alos, sensor Prism, com o
auxilio das cartas topográficas de Lavras e Nepomuceno.
O Mapa Geológico foi compilado das Cartas 1: 100.000 (Projeto Sul
Minas) e 1: 250.000 (COMIG) para contemplar toda a área de Estudo.
O Mapa de Solos foi elaborado a partir do mapa de Solos de Minas
Gerais na escala 1: 500.000 atualizado durante os trabalhos de Campo no ano
de 2010 e 2011 através de cortes de estradas.
O Mapa de Dissecação do Relevo foi elaborado a partir das cartas
topográficas de Lavras e Nepomuceno, de onde foram extraídas a amplitude
Altimétrica e amplitude Interfluvial.
26
Índices Pluviométricos foram adquiridos junto a Agência Nacional das
Águas (ANA).
Nesta metodologia proposta por Crepani et.Al.( 2001) todos os atributos
aparecem com o mesmo peso, o que não revela as características particulares
de cada área. Isso quer dizer que em uma área onde o relevo seja o fator
determinante nos processos de Vulnerabilidade local, ele aparecerá com o
mesmo peso de qualquer outra característica.
Nesta área temos um único valor para os índices pluviométricos, 2,0 que
é atribuído uma característica Intermediaria, contribuiu para a homogeneização
do mapa fnal.
Cruzamento dos dados
Após a elaboração dos mapas temáticos com os pesos distribuídos, foi
aplicada uma fórmula proposta por Crepani et al. (2001) para a geração de um
mapa final de vulnerabilidade da área, considerando todas as variáveis,
conforme a Figura 5.
V
= Vulnerabilidade
G = vulnerabilidade para o tema
Geologia
R = vulnerabilidade para o tema
Geomorfologia
S
= vulnerabilidade para o tema Solos
V g = vulnerabilidade para o tema
Vegetação
C
= vulnerabilidade para o tema Clima
Figura 5: Equação para elaboração do mapa de Vulnerabilidade.
Fonte: ADAPTADO de CREPANI et al (2001)
Como todos os atributos têm o mesmo peso, sobrepomos cada mapa
através da Tabela Bidimencional, desta maneira obtemos o mapa final de
Vunerabilidade/Estabilidade Ambiental.
27
Para a elaboração do mapa final, com o grau de vulnerabilidade,
consideramos os pesos e a tabela de cores proposta por Crepani et al. (2001)
(Figura 6).
Figura 6: Escala de valores/cores associados ao grau de Vulnerabilidade.
Fonte: CREPANI et al (2001, p. 22)
As cores azuis correspondem às classes estável e moderadamente
estável, os tons de verde, para medianamente estável, moderadamente estável
para os tons de amarelo, até se aproximar do vermelho, que corresponde a
classe vulnerável.
28
4 - Resultados e Discussão
A implantação de hidrelétricas comumente resultam em impactos
ambientais e sociais que podem ser intensificados pela vulnerabilidade das
condições naturais do local ou pelo uso da região. Em função disso, é
necessário um estudo para avaliação do grau de fragilidade de uma área, para
o bom ordenamento territorial, a fim de evitar desastres naturais.
Neste trabalho foram analisados atributos geoambientais (rocha, solo,
relevo, clima, vegetação e uso do solo) e elaborados mapas temáticos da área,
com objetivo de aplicar a metodologia do Crepani et al.(2001). Esta
metodologia resultou no mapa de estabilidade/vulnerabilidade ambiental que
mostra zonas com diversos graus de fragilidade tendo como área o entorno da
Hidrelétrica do Funil-MG.
O Mapa de Dissecação do relevo foi elaborado a partir da carta
topográfica 1:50.000 do IBGE (1973), de onde foi extraído dados para o cálculo
da distância interfluvial e o grau de entalhamento dos vales. Para a elaboração
do mapa, utilizou-se dados morfométricos, conforme a figura 7:
Figura 7: Matriz dos índices de Dissecação do Relevo e respectivos valores de Vulnerabilidade.
Fonte: CREPANI et. Al. (op. Cit. p. 78)
29
O entalhamento dos vales é calculado a partir da amplitude altimétrica,
ou seja, a subtração da cota altimétrica máxima, e a cota mínima. Para este
mapa, foram consideradas a bacias hidrográficas que integram a área do
estudo.
Já amplitude Interfluvial são os valores referentes à distância entre os
interflúvios, ou seja o valor entre a última curva de um rio principal até outro rio
de uma bacia limítrofe, assim temos a distância do interflúvio que separa as
duas bacias, conforme a figura 8.
Após a aquisição dos dados das principais bacias, cada valor de
dissecação foi atribuído um peso de 1 a 3, onde 1 é estável, 2 intermediário e 3
vulnerável.
CÁLCULO DA DISSECAÇÃO DO RELEVO
Figura 8: Aquisição dos dados para o Mapa de dissecação do Relevo
O mapa de dissecação do relevo (Figura 9) mostra que grande parte da
área apresenta o grau moderadamente estável/vulnerável e moderadamente
vulnerável. Estes resultados corroboram com a dominância de relevos de
colinas e morros com encostas suaves. Uma pequena área, nas proximidades
da comunidade Ribeirão Vermelho, mostra com grau vulnerável (valor próximo
de 3,0). Este fato deve-se a ocorrência de relevos de morros e montanhas,
cujas declividades de suas vertentes aproximam-se de 30%.
30
Figura 9: Mapa de Dissecação do Relevo.
O segundo Mapa a ser elaborado foi o mapa de Solos, embora possam
ser considerados como agente passivo nos processos erosivos, suas
características são imprescindíveis para o entendimento da erosão da área.
Basicamente os latossolos são considerados estáveis, os Argissolos como
solos Intermediários e Cambissolos como Instáveis, onde foram atribuídos os
valores de 1,0 a 2,5 (na escala de 1 a 3) respectivamente.
Na área foram encontrados solos hidromórficos, considerados mais
estáveis por encontrar-se em áreas de planície e receber sedimentos, ou seja,
atribui-se peso 1 estável. Como exemplos de solos frágeis encontramos
Cambissolo atribui-se peso 2,5, conforme a tabela a seguir:
31
Tipo de solo
Pesos:
Grau de
Estabilidade/Vulnerabilidade
Vulnerabilidade
1,0
Estável
1,0
Estável
2,0
Medianamente
Hidromórficos
Latossolo
Vermelho-
Amarelo
Argissolos
Estável/Vulnerável
Argissolos
2,2
/Cambissolos
Cambissolos
Medianamente
Estável/Vulnerável
2,5
Vulnerável
Tabela 1: Pesos atribuídos aos tipos de solos.
O mapa de solos foi confeccionado a partir do modelo digital do terreno.
Foi possível identificar (na figura 10) os solos do tipo Hidromórfico, Latossolo
vermelho-amarelo, Argissolos, Argissolos com Cambissolos e Cambissolos. Os
pesos associados foram respectivamente: Estável, Estável, Medianamente
Estável-Vulnerável, Medianamente Estável-Vulnerável e Vulnerável, conforme
a tabela anterior (tabela 1). Nesta área o solo Hidromórfico acompanha o leito
dos rios, nas áreas de planícies, e por este motivo recebe maior sedimento
fluvial o que diminui os processos erosivos e por isso associa-se a uma
condição Estável.
Figura 10: Mapa de Solos da área de Entorno da hidrelétrica do Funil-MG
32
Há um predomínio do Latossolo vermelho-amarelo, que é considerado
Estável e por isso para o quesito solos, a área não é considerada na sua
maioria frágil. De acordo com o mapa geológico (Figura 11), podemos observar
que próximo à região de Ijaci temos o predomínio de rochas metacalcárias, que
é considerada frágil, onde associa-se o Latossolo vermelho-amarelo Estável, o
que transforma a área em uma situação intermediária no cruzamento dos
dados.
Figura 11: Mapa Geológico da área de Estudo.
Este mapa é resultado da compilação de mapas já existentes nas
escalas 1:100.000 (Projeto Sul Minas) e 1:250.000 (COMIG). Em função do
mapa 1:100.000 não contemplar toda a área do estudo, optou-se em realizar
um mapa com dados geológicos das duas escalas. Como na área próximo a
Ijaci há extração de calcário, e o mapa na escala 1:250.000 não constava a
presença de metacalcários e calcifilitos, adicionou-se as informações do mapa
33
geológico 1:100.000, que continha tal informação. Em seguida foram atribuídos
os pesos as rochas encontradas conforme a tabela 2.
Rochas
Peso
Grau de
Vulnerabilidade
Charnockito
1,3
Charnockito e corpos de enderbito, tonalito,
1,3
Estável
anortosito e gabro.
Estável
Gnaisse
1,3
Estável
Metacalcário e Calcifilitos
2,0
Medianamente
Estável/Vulnerável
Sedimentos Fluviais do Quaternário
3,0
Vulnerável
Tabela 2: Pesos atribuídos ao tipo de rocha.
Pode-se observar um predomínio de rochas Estáveis como o gnaisse e
o charnockito em quase toda a área, mas com a presença dos metacalcários e
calcifilitos que apresentam uma vulnerabilidade, já que podem ocasionar a
formação de caverna, intensificando a fragilidade. Esta área tem uma intensa
exploração comercial, retirando o calcário para a produção de cimento como
pode se observar na figura 12.
Córrego do Pintado
Córrego da Serrapilheira
Cava de
Extração
de Calcário
Figura 12: Imagem do satélite Alos na área de Extração de Calcário.
34
Os processos erosivos são intensificados pela exploração de Calcário
que acabam por assorearem os cursos d’água. A retirada de material não é o
único problema, mas também o chamado “Bota-fora” dos rejeitos que tem
como destino terrenos próximos a cava. Estes estão próximos de cursos
d’água e de pequenas propriedades rurais, intensificando os processos de
assoreamento dos rios, prejudicando a vida dos moradores da área de entorno
da exploração. A foto 1 mostra a proximidade do material residual da
exploração do calcário pela Empresa Camargo Correia.
Bota Fora da Mineração
Córrego da Serrapilheira
Foto1: Bota-Fora da Exploração de Calcário.
Fonte: RIBEIRO; MESSIAS. 2010
Os próprios moradores da área de entorno afirmam que é muito difícil
conviver com os impactos causados pela exploração, pois afeta diretamente a
produção dos alimentos, que são usados para a venda e subsistência, e por
causar transtornos a saúde como problemas respiratórios. A qualidade da água
também é afetada, uma vez que nesta região já era comum o consumo de
poços artesianos, já que a água superficial apresenta teor alcalino imprópria
para o consumo. Ressalta-se também, que a exploração do calcário promoveu
um aumento nos níveis de sedimentos nos cursos d’água.
Com o contato com a população e com os trabalhos de campo feitos na
região de Ijaci, percebemos em um primeiro momento que esta é uma área
vulnerável e que deve ter um ordenamento territorial a fim de evitar a
intensificação das condições naturais e amenizar os problemas já existentes.
35
Em relatos dos moradores da cidade de Ijaci o solo desta região é difícil
de ser agricultável, mas na grande maioria da área estudada há uma
predominância do uso agrícola. Basicamente temos a presença de pastagem,
culturas anuais, silvicultura de eucaliptos, fragmentos de matas, área urbana e
a mineração de calcário.
As imagens utilizadas neste trabalho apresentam resolução espectral de
2,5 metros, onde pode-se observar com muita clareza os tipos de uso. Foram
encontrados oito tipos de uso e atribuídos os pesos de 1 a 3, conforme a tabela
(tabela 3)
Pesos do Uso do Solo e Cobertura Vegetal
Uso do Solo
Mata
Pesos: Fragilidade/Estabilidade
Grau de Vulnerabilidade
1,6
Medianamente
Estável/Vulnerável.
Capoeira
2,0
Medianamente
Estável/Vulnerável
Área Urbana
2,0
Medianamente
Estável/Vulnerável
Lavras
2,5
Medianamente Vulnerável
Pastagem
2,8
Vulnerável
Silvicultura
2,8
Vulnerável
Cultura
2,9
Vulnerável
Solo Exposto
3,0
Vulnerável
Mineração
3,0
Vulnerável
Tabela 3: Pesos atribuídos ao uso do solo.
Com os pesos estabelecidos para o mapa de uso do solo e cobertura
vegetal foram atribuídos os pesos através da tabela Bidimensional no próprio
SIG, sendo assim cada polígono que delimita o tipo de uso tem o seu valor
especifico. O gráfico (Figura13) mostra em porcentagem cada tipo de uso do
solo.
36
Porcentagem dos usos na Área de Entorno do Funil-MG
Figura 13: Porcentagem dos tipos de uso do solo na área de entorno da hidrelétrica do Funil.
Fonte: MESSIAS; RIBEIRO; FERREIRA, 2011.
A pastagem predomina na área, com mais de 50% e por mais que isso
seja uma cobertura vegetal, acarreta problemas, como o rastejo, que inicia os
processos erosivos e a compactação do solo (Foto 2)
Fragmentos de Matas
Capoeira
Pastagem
Foto 2: Áreas de pastagem predominante na paisagem local
Fonte: RIBEIRO; MESSIAS, 2010.
As culturas, como milho, aparecem com 20%, os fragmentos de matas e
capoeiras representam menos de 20% e acompanham os principais cursos
37
d’água, mas não em sua totalidade como demonstra o mapa de uso dos solo
(Figura 14).
Figura 14: Mapa de uso e ocupação do solo
Fonte: MESSIAS; RIBEIRO; FERREIRA, 2011.
É importante salientar, as nascentes dos principais cursos d’água, não
apresentam mata ciliar o que intensifica a fragilidade da área tendo em vista
que os cursos d’água ficam expostos a processos erosivos. Ressalta-se
também, que na área de exploração do calcário, ocorrem canais de 1ª. ordem
intensificando ainda mais esses processos, agravados pela falta de cobertura
vegetal.
No mapa de uso do solo (figura 14) observamos cinco aglomerados
urbanos que foram agrupados em 2 classes: a primeira corresponde a Ribeirão
Vermelho, Ijaci, Comunidade novo Funil e Comunidade Nova Macaia que
correspondem a área urbana, associadas a fragilidade de valor 2,0. Como não
há um grande adensamento populacional, não foi considerada uma área
vulnerável. Por outro lado, estas cidades ocupam uma área de planície, sujeita
a alagamento. Desse modo, consideramos uma área intermediária com valor
2,0.
38
Nas proximidades da área urbana de Lavras, foi atribuído um valor maior
de fragilidade (2,5), já que a cidade não é arborizada e há a presença de
algumas voçorocas e ravinas, demonstrando a fragilidade do local. A foto 3
mostra um dos processos de voçorocamento do município de Lavras.
Voçoroca
Foto 3: Voçoroca no município de Lavras
Fonte: RIBEIRO; MESSIAS, 2011.
A presença desses processos erosivos já demonstra certa fragilidade do
local, o que deve ser considerado no planejamento territorial e no mapa de
vulnerabilidade, já que são áreas instáveis.
Para a atribuição dos fatores climáticos considerou-se os atributos
pluviométrico adquiridos nas séries históricas disponibilizadas pela ANA
(Agência Nacional de Águas) através do Hidro Web. Foi constatado que as
médias históricas para a área está em torno de 1600mm por ano, distribuídas
regularmente ao longo do ano conforme o quadro síntese (Figura 15).
Precipitação
Duração
do Intensidade
Valor
Média Anual
Período Chuvoso
Pluviométrica
Fragilidade
1600
11
133
2,0
de
Figura 15: Precipitação média anual
As chuvas são um agente ativo na esculturação da paisagem,
promovendo a erosão pluvial.
39
Na área estudada, ocorrem chuvas irregulares ao longo do ano, uma vez
que há presença de chuvas em 11 meses do ano, não chove os mesmos
milímetros de chuva a cada mês.
Sendo assim comparamos os dados obtidos com o modelo proposto por
Crepani et al. (2001) e consideramos um valor de 2,0 para a precipitação. Não
foi gerado um mapa sobre esse quesito, mas o seu valor foi cruzado
diretamente com o mapa final através da tabela Bidimensional do Ilwis, já que é
o mesmo valor para toda a área.
A partir de todas as informações de cada atributo considerado pela
metodologia do Crepani et. al (op. cit.) e após a atribuição de todos os pesos,
foi elaborado o mapa final de vulnerabilidade-estabilidade ambiental, que
demonstra a sobreposição de todas as informações adquiridas sobre a área,
conforme a figura 16:
Imagem 16: Mapa de Vulnerabilidade-Estabilidade Ambiental
Podemos
observar
que
a
área
apresenta
predominância
de
moderadamente estável, habilitando a área para diversos usos, dentro das
legislações ambientais. A área que merece maior atenção é aquela nas
40
proximidades de Ijaci, pois apresenta categorias moderadamente estávelvulnerável, moderadamente vulnerável e vulnerável, isso porque é uma região
de calcário, e o uso predominante é a mineração, fazendo com que tenham
dois atributos com pesos próximos ao 3,0 (valor de vulnerabilidade) o que
demonstra uma vulnerabilidade da área.
Próximo a Ribeirão Vermelho temos uma área moderadamente
vulnerável, e o quesito que mais determinou este valor foi o relevo, já que é
uma região de morros, com declividade acentuada, o qual foi atribuído um valor
próximo a 3,0.
Os resultados alcançados com a aplicação da metodologia do Crepani et
al. (2001) na área do estudo, comprovam uma homogeneidade nas zonas que
determinam o grau de estabilidade/vulnerabilidade, e como cada atributo tem o
mesmo valor pode acabar por distorcer o resultado final.
É possível identificar através do mapa Morfodinâmico a espacialização de
alguns processos erosivos que não são considerados pela metodologia,
conforme o Mapa a seguir (figura 17).
Figura17: Mapa Morfodinâmico.
Fonte: MESSIAS; RIBEIRO; FERREIRA, 2011.
41
Á Noroeste do Mapa, acima de Ribeirão Vermelho, pode-se observar na
figura 17, a presença de anfiteatros, sulcos, ravinas, processos de rastejo que
sabemos que tornam a área mais frágil. Na foto a seguir, é possível perceber
que o solo esta em maior parte ocupado por pastagem, e que esta atividade
está associada ao processo de rastejo intensificando ainda mais a
vulnerabilidade local.
Anfiteatro
Rastejo
Foto 4: Processos erosivos na área de entorno do reservatório do Funil-MG
Fonte: RIBEIRO; MESSIAS, 2011.
Mas no decorrer da aplicação da metodologia não há um atributo que
considera os processos erosivos descritos acima e como consequência disso
no Mapa final, isso não foi diagnosticado. A maioria das redes de drenagem
presentes na área, apresentam pouca ou nenhuma cobertura vegetal,
intensificando ainda mais esses processos, como mostra o mapa de APP (Área
de Preservação Permanente)
42
Figura 18: Mapa de APP do Reservatório do Funil-MG
Fonte: RIBEIRO; MESSIAS, 2010.
Sabe-se que essas áreas são potencialmente frágeis e. mais uma vez, isso não
é diagnosticado no mapa final, ou seja, á áreas que não foram comtempladas
pela metodologia, são frágeis e aparecem como estáveis.
De
maneira
geral,
a
área
mostra
pouca
vulnerabilidade,
não
corroborando com os dados coletados em campo, que mostra áreas de grande
fragilidade ambiental representadas pela presença de anfiteatros degradados,
voçorocas ativas e em processo de regeneração, presenças de sulcos erosivos
e ravinas e a ocorrência de rastejo.
43
5. Conclusão
A construção da Hidrelétrica do Funil modificou a paisagem da área
devido a construção do reservatório, onde as áreas de várzeas e as
vegetações ciliares foram perdidas.
Com os trabalhos de campo é perceptível diagnosticar que há falta de
mata ciliar ao longo do reservatório e nos cursos d’água, e há presença de
processos erosivos que fragiliza ainda mais esses locais.
Segundo o mapa de vulnerabilidade a área em geral não apresenta um
grau de vulnerabilidade intenso (grau 3), mas sim grau intermediário (2) que
significa uma moderação para a exploração deste local.
A Aplicação desta metodologia considera todos os atributos com a
mesma importância, sendo assim características como os processos erosivos
não são considerados, o que acaba por “mascarar” essa evidencia.
É comum as áreas frágeis apresentarem um baixo valor de mercado e
por isso ser destinadas a ocupação da população de baixa renda. Contudo,
com os estudos de vulnerabilidade utilizados pelo poder público, é possível
zonear quais são as áreas que podem ser ocupadas e consequentemente
prevenirem fatalidades ambientais protegendo assim a população.
Por isso os estudos de Vulnerabilidade/Fragilidade são imprescindíveis
na tomada de decisão, e aplicar a metodologia adequada para cada área de
estudo é fundamental para um bom zoneamento territorial.
A metodologia aplicada na área do estudo, apresentou certa deficiência
pois promoveu a uniformização das características do meio físico, não
corroborando com os levantamentos e observações realizadas em campo,
traduzidas pelo mapa morfodinâmico.
44
6- Referências Bibliográficas
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