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Ricardo Xavier,
diretor-presidente da
Seguradora Líder DPVAT
Divulgação
Seguros
Os acidentes
não estão
diminuindo, só
estão mudando
de perfil:
aumentando a
frequência e
diminuindo a
gravidade
Q
AMPARO
ÀS VÍTIMAS
Números de indenizações do seguro DPVAT
oferecem um quadro fiel da insegurança
no trânsito brasileiro
Alexandre Carvalho dos Santos
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uem estudou um pouco sobre a violência do nosso trânsito já sabe: o País tem
dificuldades em contar seus mortos e feridos em acidentes. As estatísticas
oficiais que existem são poucas e carecem de um aprofundamento maior. Nesse
contexto, a Seguradora Líder DPVAT, administradora do consórcio que gerencia o seguro
obrigatório DPVAT, descobriu que tinha uma informação importantíssima nas mãos:
seus dados sobre indenizações às vítimas de trânsito dão uma noção muito clara sobre
a evolução das mortes e das ocorrências de invalidez no trânsito. Um exemplo: entre
janeiro e setembro de 2013, o número de indenizações subiu 25%. E a conclusão aí é
óbvia: se tem mais gente pedindo indenização, é porque tem mais acidente acontecendo.
Para explicar um pouco mais sobre essa relação, falamos com o diretor-presidente da
Seguradora Líder DPVAT, Ricardo Xavier – em entrevista exclusiva para a Revista CESVI.
A última divulgação de vocês apontou para
uma redução de 9% na mortalidade. O
trânsito ficou mais seguro?
De jeito nenhum. Eu até fico preocupado quando leio matéria na
imprensa minimizando esse problema. Claro que é importante
dizer, por exemplo, que a Lei Seca está contribuindo para a
redução das mortes. Só que, enquanto a mortalidade diminuiu,
a invalidez permanente aumentou, não para de crescer. Se você
comparar nossos dados de 2012 com os de 2013, a invalidez
subiu 36%. E isso não é bom, isso é muito ruim. Os acidentes
não estão diminuindo, só estão mudando de perfil: aumentando a
frequência e diminuindo a gravidade. É bom, lógico, que morram
menos pessoas, mas é extremamente grave que tenhamos mais
inválidos. E quem é que está ficando inválido? Em quase 80%
das vezes, é o homem de 18 a 34 anos, economicamente ativo,
que faz a força deste país, que sustenta uma família...
Revista CESVI
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A motocicleta continua como destaque
negativo nesses acidentes?
Exatamente. Quando analisadas as indenizações por tipo de
veículo, 72% dos benefícios foram pagos em consequência de
acidentes de trânsito envolvendo motocicletas. Não devemos
demonizar a moto, mas conscientizar de que a motocicleta é um
agente altamente causador de acidentes. Para que os usuários
tenham um comportamento mais seguro – em benefício das
próprias vidas. Com a melhora das condições das classes
mais pobres, há mais gente participando da economia, o que
é ótimo para todo mundo. Só que as pessoas que ganharam a
possibilidade de comprar uma moto não estão preparadas nem
conscientizadas em relação aos riscos envolvidos. A pessoa
que consegue comprar uma moto por R$ 5 mil, dividindo em
48 prestações, às vezes não tem o dinheiro para comprar o
capacete, ou não tem a percepção dessa importância. E, num
final de semana com a família, coloca o filho e a esposa na
garupa da moto. Então não é de se espantar que as estatísticas
de crianças acidentadas com motocicletas só tenham crescido.
Por que as indenizações do DPVAT viraram
parâmetro da evolução de acidentes?
Primeiro porque as estatísticas oficiais são muito frágeis, há uma
dificuldade muito grande em coletar dados – então nada melhor
do que aquela estatística produzida pelo próprio cidadão que vai
buscar sua indenização. Por isso mesmo, desde 2011, criamos um
centro de estatísticas e vamos divulgando boletins regularmente.
Em fevereiro, certamente estaremos com os números completos
do ano de 2013 e levaremos essas informações para a imprensa.
E por que fazemos assim? Porque entendemos que somente com
a divulgação desses números é que conseguiremos sensibilizar
a sociedade, os meios de comunicação e as autoridades para o
problema do trânsito no País, que é caótico.
Como surgiu o DPVAT?
Com o desenvolvimento da indústria automobilística, primeiro
nos países desenvolvidos, constatou-se que o veículo é um
agente potencial de danos a terceiros. Logo concluíram que
era preciso criar mecanismos de proteção econômica para
esses terceiros, que nem sempre podem contar com uma
compensação por parte de quem provocou o acidente. Então foi
criada uma modalidade mais clássica, que existe no mundo todo,
que é o seguro de responsabilidade civil obrigatória para veículos
automotores contra danos a terceiros, cobrindo de modo geral
danos pessoais e materiais. No Brasil, esse seguro foi previsto
em 1966, junto com a lei do seguro. Mas só foi instituído em
1974, quando veio outra lei que o regulamentou.
O que mudou de lá para cá?
Até 1985, esse seguro passava por procedimentos complicados,
exigia determinar de quem era a culpa, para ver de que apólice
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sairia essa indenização, entre outros obstáculos. Foi só nessa
época que o governo entendeu que seria importante vincular
a liberação do licenciamento com a contratação do seguro. E
formou um convênio com o mercado segurador, estabelecido
com uma resolução em 1986. Desde então, o cidadão já sabe
que, na hora de pagar o imposto, também deve pagar o seguro.
E os processos começaram a se dar de uma maneira mais
instantânea. Não interessa mais tanto de quem é a culpa; todo
veículo deve ter o seguro obrigatório. E a lei permite que, quando
a pessoa não paga o seguro, o consórcio pague a indenização
e depois busque o ressarcimento junto ao inadimplente. Assim
o seguro ficou muito mais ágil no seu processo – já que você
não precisa mais identificar o culpado, nem fazer perícia... Se a
pessoa é vítima de acidente de trânsito, ela automaticamente
tem direito à indenização.
Quanto, do dinheiro arrecadado, vai para a
educação de trânsito?
Bom, 50% dos recursos arrecadados vão direto para o governo
federal, e 5% para o Denatran, com a finalidade de promover
ações de educação e redução de acidentes de trânsito. Os outros
45% vão para o Sistema Único de Saúde, com a finalidade de dar
atendimento às vítimas de acidentes de trânsito nos hospitais
públicos e conveniados. Para se ter uma ideia, só no ano passado,
o Denatran recebeu mais de R$ 400 milhões do DPVAT.
Que ações a Seguradora Líder tem
promovido sobre educação no trânsito?
Por exemplo, no Congresso, acompanhamos permanentemente
as atividades da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito
Seguro, produzimos e divulgamos informações para essa frente,
temos contatos com os deputados mais atuantes, como Hugo
Leal, do Rio de Janeiro, e Beto Albuquerque, do Rio Grande
do Sul. Na iniciativa privada, temos parcerias como esta feita
com o CESVI, de instalação de totens que servem para divulgar,
em diversas capitais brasileiras, informações sobre acidentes,
sobre segurança e sobre a própria existência do seguro DPVAT.
Também apoiamos estudos e campanhas relacionados à redução
de acidentes. Estamos sempre atentos e desejosos de participar
das melhores iniciativas nesse campo.
A Seguradora Líder
DPVAT tem um blog
sobre segurança no
trânsito, com notícias
e dicas. Confira:
viverseguronotransito.
com.br
yesbrasil.net
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Entrevista Ricardo Xavier