Memorial da Resistência de São Paulo
PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA
100 Lugares
SÍTIO DE IBIÚNA – IBIÚNA
Endereço: Serra de São Sebastião – Bairro dos Alves, Ibiúna.
Tipo: Sítio
O
sítio Muduru, localizado no bairro doas Alves, na cidade de Ibiúna (Serra de São
Sebastião) a 70 km da capital de São Paulo, tornou-se destaque nas páginas dos
jornais publicados em outubro de 1968 por ter sido escolhido para abrigar cerca de
700 estudantes no 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Essa propriedade, que pertencia a Domingos Simões, chegou a ser utilizada como abrigo de
militantes em momentos anteriores e foi disponibilizada ao congresso após uma reunião com Therezinha
Zerbini (conhecida por ter sido fundadora do Movimento Feminino pela Anistia) e Frei Tito de Alencar, à
época frade dominicano e estudante de Filosofia na Universidade de São Paulo (USP).
A luta estudantil contra os governos militares, que se instauraram a partir de um golpe contra o
governo de João Goulart (Jango) em 1964, teve início nos primeiros momentos do golpe. No dia 1º de
abril a sede da União foi invadida e incendiada por militares.
Por estarem organizados em grupos, e favoráveis à realização das reformas sociais propostas
durante o governo de Jango, os estudantes foram identificados pelos militares como comunistas e,
portanto, subversivos – ameaçadores da ordem e à manutenção do regime militar. A UNE, a União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), e respectivas Uniões Estaduais dos Estudantes (UEEs)
foram postas na ilegalidade com a aprovação da Lei Suplicy Lacerda, de novembro de 1964; ela previa a
reorganização das entidades estudantis, de forma dependente ao Estado e proibia que estas
desenvolvessem atividades políticas.
A partir da segunda metade da década de 1960, o Movimento Estudantil (ME) apoiado por
partidos e organizações políticas como a Ação Popular (AP), a Ação Libertadora Nacional (ALN), o
Movimento Revolucionário de 08 de outubro (MR-8), Dissidência da Guanabara (DI-GB) e Dissidência
de São Paulo (DI-SP) – grupos que se separaram do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) – passou a
sofrer com divergências internas. Depoimentos de estudantes que participaram da organização do 30º
Congresso apontam que essa dificuldade de coesão repercutiu em um clima de disputa que fragilizou a
organização do evento, além de destacarem a falta de estrutura do sítio para abrigar os estudantes em
Ibiúna.
A ex-UNE chegou a se reunir de forma ilegal, em locais clandestinos como conventos, igrejas e
mosteiros, porém com um número significativamente menor do que o número de estudantes que
integraram o congresso de Ibiúna.
Segundo informações, a grande quantidade de mantimentos comprados na cidade pelos
estudantes que chegaram durante a segunda semana de outubro de 1968, vindos de várias regiões do país,
inquietou os moradores da cidade, que alertaram a polícia local. Após uma denuncia de um sitiante que
havia se aproximado do sítio e visto a grande aglomeração, o 7º Batalhão Policial de Sorocaba e o
Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP) foram acionados; os
policiais apresaram o planejamento e a execução da Operação Ibiúna, como foi chamada pelos agentes do
Deops/SP.
O 30º Congresso da extinta UNE foi oficialmente finalizado com a invasão do sítio pela polícia às
07 horas e 15 minutos da manhã de 12 de outubro de 1968. “Todos foram presos” foi a frase mais usada
pela imprensa da época para destacar o resultado da operação policial, que prendeu todos os estudantes
envolvidos.
Atualmente e/ou acontecimentos recentes:
Passados 45 anos da organização do 30º Congresso da UNE em Ibiúna, não se tem mais noticias
sobre uso ou sinalizações no sítio que resgatem a memória do seu uso como espaço clandestino da
resistência estudantil.
Extra:
De acordo com o depoimento de Leopoldo Paulino, ao serem retirados de Ibiúna, os mais de 700
estudantes foram encaminhados ao Presídio Tiradentes, onde os estudantes foram recebidos pelos presos
comuns sob salva de palmas e brados de apoio à luta dos estudantes.
Lá foram mantidos em uma ala separada até que fossem encaminhados ao Deops/SP e liberados
– por serem réus primários ou após a determinação de habeas corpus; estes seriam os últimos habeas corpus
emitidos antes da decretação do Ato Institucional número 5 (AI-5) em 13 de dezembro de 1968. No artigo
10 do Ato, essa garantia ficou suspensa aos cidadãos nos casos de crimes políticos, contra a segurança
nacional e contra a ordem econômica e social.
Imprensa:
“Polícia surpreende congresso da UNE, prende líderes e centenas de estudantes”, Folha de S. Paulo
13/10/1968 pp. 01, 05, 10
“Promotor diz que estudantes terão prisão especial”, Folha de S. Paulo 13/11/1968 p. 1
“Presidente em exercício da UNE diz que congresso continuará”, Folha de S. Paulo 10/11/1968 p. 12
“Estudantes presos em Ibiúna poderão sair até o natal”, Folha de S. Paulo 06/12/1968 p. 11
“Paralisação” Folha de S. Paulo 09/12/1968 p. 05
“Em são Paulo, II Auditoria salta 29 estudantes presos em Ibiúna”, Folha de S. Paulo 12/12/1968 p. 18
“Líderes presos na reunião do UNE em Ibiúna obtém ‘habeas corpus’ a STF”, Folha de S. Paulo
13/12/1968 p. 10
“Sumário – Umas e outras”, Folha de S. Paulo 10/09/1969 p. 03
“Em Ibiúna, Ulisses discute a campanha com peemedebistas”, Folha de S. Paulo 30/12/1983 p. 26
“E os artistas foram aonde o povo estava”, Folha de S. Paulo 11/04/1984 p.05
“Sarney sanciona lei do reconhecimento da UNE”, Folha de S. Paulo 01/11/1985 p. 24
“Cultura exibe especial sobre UNE”, Folha de S. Paulo 10/08/1987 p. 23
“Em 1968, congresso da UNE em um sítio da cidade acaba com prisões”, Folha de S. Paulo 08/01/1988
pp. 06, 04
“Do panfleto político ao ‘Libê’”, Folha de S. Paulo 22/03/1988 p. 7, 2
“Filhos de militantes de 68 acham que seus pais são ‘heróis’”, Folha de S. Paulo 01/05/1988 p. 38
“Brigas e disputas políticas impedem a realização do congresso da UNE”, Folha de S. Paulo 11/10/1988
p. 06
“CIA quis se livrar dos militares”, Folha de S. Paulo 02/05/1993 p. 07
“Ibiúna foi símbolo de resistência”, Folha de S. Paulo 28/06/1993 p. 04
“Delegado faz autocrítica de prisões em 68”, Folha de S. Paulo 12/10/1993 p. 13
“284 anos de história”, Folha teen, Folha de S. Paulo 19/09/1994 p. 08
“Denunciante atuou em ações históricas da esquerda armada”, Folha de S. Paulo 01/06/1997 p. 26
“Painel do Leitor”, Folha de S. Paulo 14/06/1997 p. 03
“Bombas denúncias e meias verdades”, Folha de S. Paulo 22/061997 p. 26
“Cenas que fizeram a história”, Folha teen Folha de S. Paulo 27/10/1998 p. 10
“O curso especial”, Folha de S. Paulo 23/08/1998 p. 06
“Eleições sem oposição”, Folha de S. Paulo 30/06/2003 p .08
“Programas relembram os anos de chumbo”, Folha de S. Paulo 29/03/2004 p. 10
“Papeis secretos da ditadura são achados em sítio no RS”, Folha de S. Paulo 17/12/2004 p. 04
“Cronologia do movimento estudantil”, Folha de S. Paulo 17/03/2008 p. 07
“Vale a pena saber” Fovest, Folha de S. Paulo 13/05/2008 p. 06
“Memória Militar”, Folha de S. Paulo 23/05/2008 p. 02
“Retrospectiva”, Folha de S. Paulo 21/11/2008 p. 02
“Aqueles dias de Glória”, Folha teen Folha de S. Paulo 16/05/2011 pp. 01, 07, 08, 09
“Todos Presos – assim acabou o congresso da ex-UNE”, Capa Revista Veja 18/10/1968 Edição 6
“Ficarão na detenção 21 estudantes paulistas”, Estado de S. Paulo 23/10/1968 p. 09
“Armas indicam clandestinidade”, Estado de S. Paulo 16/10/1968 p. 34
“Liberados todos, menos os líderes”, Estado de S. Paulo 18/10/1968 p. 12
“Polícia achou fácil demais”, Estado de S. Paulo 13/10/1968 p. 28
“Libertação já vai começar,” Estado de S. Paulo 17/10/1968 p. 16
“Prêsa cúpula da ex-UNE”, Estado de S. Paulo 13/10/1968 p. 01
“Presos 720 no congresso da ex. UNE”, Estado de S. Paulo 13/10/1968 p. 27
“Auditoria decreta a prisão de dois”, Estado de S. Paulo 16/10/1968 p. 18
“Polícia armou esquema na 6ª-feira”, Estado de S. Paulo 13/10/1968 p. 29
“Estudantes agitam oito Estados,” Estado de S. Paulo 17/10/1968 p. 17
“10 flagrantes já na Auditoria”, Estado de S. Paulo 15/10/1968 p. 16
“DOPS já não têm ninguém prêso”, Estado de S. Paulo 19/10/1968 p. 10
“Quinta ou sexta passeata no Rio”, Estado de S. Paulo 18/10/1968 p11
“Os cariocas vão à greve”, Estado de S. Paulo 22/10/1968 p. 13
“Congresso espera decisão do STF”, Estado de S. Paulo 16/10/1968 p. 03
“Estudantes saem hoje à rua”, Estado de S. Paulo 18/10/1968 p. 36
“Vanguarda ataca subversão”, Estado de S. Paulo 20/10/1968 p. 28
“2 estudantes ficam presos”, Estado de S. Paulo 09/11/1968 p. 06
“Ação contra jornal”, Estado de S. Paulo 19/04/1969 p. 02
“Conselho condena estudantes”, Estado de S. Paulo 30/05/1969 p. 04
“A UNE prega no deserto”, Estado de S. Paulo 06/06/1991 p. 90
“O STF reforma sentença”, Estado de S. Paulo 15/11/1969 p. 04
“Eis os 15 que vão ser soltos”, Estado de S. Paulo 06/09/1969 p. 08
“A derrota na vitória?”, Estado de S. Paulo 25/03/1994 p. 6
“Golpe, pesadelo”, Estado de S. Paulo 24/04/1998 p. 82
“Memórias do poder”, Estado de S. Paulo 31/03/2004 p. 80
“Fundações divulgam prêmios”, Estado de S. Paulo 18/12/2007 p. 57
“Tarso: condenação de Ustra é histórica”, Estado de S. Paulo 11/10/2008 p. 18
“Memória dura”, Estado de S. Paulo 20/03/2010 p. d2
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