CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FEI JÚLIA MARANGONI ESTUDO DA TRANSFORMAÇÃO DE FASE INDUZIDA POR DEFORMAÇÃO EM AÇO INOXIDÁVEL SUPERDÚPLEX São Bernardo do Campo 2015 JÚLIA MARANGONI ESTUDO DA TRANSFORMAÇÃO DE FASE INDUZIDA POR DEFORMAÇÃO EM AÇO INOXIDÁVEL SUPERDÚPLEX Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro Universitário da FEI, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica com ênfase em Materiais e Processos, orientada pelo Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco. São Bernardo do Campo 2015 Marangoni, Júlia Estudo da transformação de fase induzida por deformação em aço inoxidável superdúplex / Júlia Marangoni. São Bernardo do Campo, 2015. 140 f. : il. Dissertação de Mestrado - Centro Universitário da FEI. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco 1. Aço inoxidável superdúplex. 2. Deformação plástica a frio. 3. Transformação de fases. I. Magnabosco, Rodrigo, orient. II. Título. CDU 669.14.018.89h APRESENTAÇÃO DE DISSERTAÇÃO ATA DA BANCA JULGADORA Centro Universitário da F E I PGM-10 Programa de Mestrado de Engenharia Mecânica Aluno: Júlia Marangoni Matrícula: 213118-3 Título do Trabalho: Estudo da transformação de fase induzida por deformação em aço inoxidável superdúplex. Área de Concentração: Materiais e Processos ORIGINAL ASSINADA Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco Data da realização da defesa: 19/02/2015 A Banca Julgadora abaixo-assinada atribuiu ao aluno o seguinte: APROVADO REPROVADO São Bernardo do Campo, 19 de Fevereiro de 2015. MEMBROS DA BANCA JULGADORA Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco Ass.: ____________________________________________ Prof. Dr. Gustavo Henrique Bolognesi Donato Ass.: ____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Danieli Aparecida Pereira Reis Ass.: ____________________________________________ VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO Aprovação do Coordenador do Programa de Pós-graduação ENDOSSO DO ORIENTADOR APÓS A INCLUSÃO DAS RECOMENDAÇÕES DA BANCA EXAMINADORA ________________________________________ _______________________________________ Prof. Dr. Agenor de Toledo Fleury A Deus, à minha família e a todos que participaram direta ou indiretamente. AGRADECIMENTOS Inicialmente agradeço a Deus por todas as oportunidades que apareceram na minha vida e aos meus pais, Madalena e Roberto que viabilizaram a realização destas sempre me apoiando. A todos meus amigos e familiares, principalmente meus pais, tios, primos, avós e as amigas Cinthia de Borba Mendes e Mariana Belle Granja Rodrigues pelo apoio dado nos momentos de cansaço e pela compreensão de minhas ausências. Ao meu orientador Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco pelos aprendizados, importante parcela no meu desenvolvimento pessoal e profissional, paciência, compreensão, amizade e apoio. Ao Professor William Naville pelo suporte nos ensaios de compressão e a amizade. Aos professores Júlio César Dutra e Gustavo H. B. Donato pela disponibilidade de participar da banca de qualificação com comentários altamente construtivos que auxiliaram no desenvolvimento do trabalho. Aos funcionários do Centro de Desenvolvimento de Materiais Metálicos (CDMat-M), especialmente Geleci Ribeiro da Silva, Ricardo Alexandre Vieira, Jailson Soares da Gama, Lucian Cordeiro da Silva, Caio Duarte Bezerra, Marcela P. L. Gomes e Adelaide Bispo de Sá pela paciência, compreensão, amizade e apoio. Aos amigos mestrandos João Ricardo Ortega Alves e Juliana Gutierrez Caruso pelo apoio, cumplicidade e amparo nos momentos difíceis. A empresa Tupy Fundição S. A. e especialmente ao coordenador das engenharias de produtos e processos, Anderson José S. Tomaz da Silva, por entender e permitir minhas ausências no serviço e apoiar o desenvolvimento do mestrado. E a todos que participaram direta ou indiretamente ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá. Ayrton Senna RESUMO Aços Inoxidáveis Dúplex (AID) possuem uma estrutura de bandas alternadas de ferrita e austenita. Alguns estudos indicam que a aplicação de deformação plástica a frio em AID leva à redução da fração de ferrita presente. Tal evidência sugere que nestes aços pode ocorrer uma transformação da ferrita em austenita induzida por deformação, similar a uma transformação martensítica reversa induzida por deformação. Para investigar essa observação, é necessário o estudo da influência da quantidade de deformação plástica na fração de ferrita de um AID, este trabalho tem como objetivo avaliar esta transformação de fase em um aço inoxidável superdúplex (UNS S32750 ou SAF 2507) pela medida da fração de volume de ferrita usando medidas magnéticas, técnicas de caracterização de fases através de difração de raios X (DRX), microscopias óptica e eletrônica de varredura. O material conforme recebido apresentou apenas ferrita e austenita, o que foi constatado por DRX e análise microestrutural. A redução da fração de ferrita foi constatada através das medidas magnéticas sem que ocorresse a formação de novas fases. Os resultados de quantificação de fases através da DRX não foram conclusivos, possivelmente por conta da presença inevitável de textura. Não foram observadas diferenças significativas entre as composições químicas de ferrita e austenita obtidas por EDS e simulações computacionais realizadas com o auxílio do software Thermo-Calc. Observou-se ainda que existem indícios de que em baixas deformações ocorre a transformação martensítica induzida por deformação de austenita em ferrita anterior a transformação martensítica reversa de ferrita em austenita. Palavras-chave: Aço inoxidável superdúplex. Deformação plástica a frio. Transformação de fases. Quantificação de fases. ABSTRACT Duplex Stainless Steels (DSS) have a structure of alternated bands of ferrite and austenite. Some studies indicate that the application of cold plastic deformation in DSS leads to a reduction of the ferrite fraction. Such evidence suggests that in these steels may occur a transformation of ferrite into austenite induced by strain, similar to a reverse martensitic strain induced transformation. This study has as objective the evaluation of this phase transformation in a superduplex stainless steel (UNS S32750 or SAF 2507) by the measurement of ferrite volume fraction using magnetic measurements, phase characterization techniques through X ray diffraction (XRD), optical and scanning electron microscopy, in order to investigate the influence of the amount of plastic deformation in the ferrite fraction of a DSS. The as received material presented only ferrite and austenite, as verified by XRD and microstructural analysis. The reduction in the ferrite fraction was detected by magnetic measurements without the formation of new phases. The results of the ferrite quantification by XRD were inconclusive, possibly due to the inevitable presence of texture. No significant differences were observed between the chemical compositions of ferrite and austenite obtained by EDS and computer simulations carried out by Thermo-Calc software. It was also observed that there are indications that at low deformation levels occurs a strain-induced martensitic transformation of austenite into ferrite prior to the reverse martensitic transformation of ferrite in austenite. Keywords: Superduplex stainless steel. Cold plastic deformation. Phase transformation. Phase quantification LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1 - Equação para determinação do parâmetro PREN................................................ 19 Equação 2 – Equação para determinação do teor de níquel equivalente..................................23 Equação 3 – Equação para determinação do teor de cromo equivalente.................................23 Equação 4 – Equação do potencial termodinâmico para que a transformação martensítica ocorra........................................................................................................................................28 Equação 5 – Equação para determinação da porcentagem de trabalho a frio...........................35 Equação 6 – Equação para determinação da energia livre........................................................36 Equação 7 – Equação de igualdade entre energia livre e energia interna.................................36 Equação 8 – Equação da hipótese de constância de volume.....................................................37 Equação 9 – Equação para determinação da tensão para um dado escoamento do material....38 Equação 10 – Equação para determinação da tensão para área de um círculo.........................38 Equação 11 – Equação para determinação da tensão para a hipótese da constância de volume ...................................................................................................................................................38 Equação 12 – Equação do tensor das tensões para o estado triplo de tensões..........................39 Equação 13 – Equação para determinação da deformação verdadeira.....................................40 Equação 14 – Equação para determinação da deformação plástica efetiva total......................40 Equação 15 – Equação para quantificação de fases pelo método de Moser et. al....................46 Equação 16 – Equação para determinar o fator de espalhamento do material..........................47 Equação 17 – Equação para determinar o valor do parâmetro de rede.....................................48 Equação 18 – Equação para converter a redução de espessura proveniente da laminação em deformação plástica efetiva.....................................................................................................119 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Número PREN e propriedades mecânicas para os aços inoxidáveis dúplex...........20 Tabela 2 – Composição química (%peso) do aço inoxidável dúplex em estudo fornecida pela Villares......................................................................................................................................41 Tabela 3 – Dados para quantificação de fases de DRX para a fase austenita...........................47 Tabela 4 – Dados para quantificação de fases de DRX para a fase ferrita...............................47 Tabela 5 – Procedimento utilizado na realização da preparação metalográfica...................... 50 Tabela 6 – Comparação das medidas da fração de ferrita via DRX e ferritoscópio das amostras sem deformação........................................................................................................................80 Tabela 7 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 123, referente a amostra sem deformação tratada a 1000°C...................................109 Tabela 8 - Composição química das fases presentes a 1000°C em percentual mássico obtida pelo Thermo-Calc®................................................................................................................109 Tabela 9 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 127, referente a amostra tratada a 1100ºC com deformação verdadeira de 0,70....110 Tabela 10 - Composição química das fases presentes a 1100ºC em percentual mássico obtida pelo Thermo-Calc®................................................................................................................112 Tabela 11 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 130, referente a amostra tratada a 1200ºC com deformação verdadeira de 0,70....115 Tabela 12 - Resultados da composição química em percentual mássico do ponto 5 destacado na Figura 130, referente a amostra tratada a 1200ºC com deformação verdadeira de 0,70....114 Tabela 23 - Composição química das fases presentes a 1200ºC em percentual mássico obtida pelo Thermo-Calc®................................................................................................................116 Tabela 3 - Comparação entre as composições químicas da ferrita determinadas por TC nas três temperaturas de tratamento..............................................................................................117 Tabela 15 – Comparação entre as composições químicas da austenita nas três temperaturas de tratamento................................................................................................................................117 Tabela 16 – Comparação da redução total da fração de ferrita em média entre diferentes estudos.....................................................................................................................................120 Tabela 17 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 137, referente a amostra tratada a 1000ºC com 0,42 de deformação verdadeira....133 Tabela 18 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 144, referente a amostra tratada a 1100ºC com 0,42 de deformação verdadeira....135 Tabela 19 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 144..........................................................................................................................136 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Comparação entre quantificação do volume de ferrita, por meio de técnicas magnéticas e metalografia quantitativa, na seção longitudinal das amostras de aço inoxidável dúplex UNS S31803. ................................................................................................................ 15 Figura 2: Evolução dos resultados metalográficos e magnéticos de ferrita em relação à quantidade de encruamento. ..................................................................................................... 16 Figura 3: Amostra de aço inoxidável SAF 2205 solubilizada a 1250°C por uma hora, e resfriada em água. Ferrita (preta) e austenita (clara). Ataque: Beraha modificado. ................................ 18 Figura 4: Seção isotérmica a 1300°C do ternário Fe-Cr-Ni. .................................................... 21 Figura 5: Seção isotérmica a 1200°C do ternário Fe-Cr-Ni. .................................................... 22 Figura 6: Seção isotérmica a 1100°C do ternário Fe-Cr-Ni. .................................................... 22 Figura 7: Seção isotérmica a 1000°C do ternário Fe-Cr-Ni. .................................................... 23 Figura 8: A influência do cromo na corrosão atmosférica de um aço baixo carbono após 52 semanas de exposição. .............................................................................................................. 24 Figura 9: Austenita de reequilíbrio (γr) na forma de halos ao redor de grãos de austenita original (γ) na amostra envelhecida por 1 minuto a 850oC. Ataque: Beraha Modificado. .................... 26 Figura 10: Fração de ferrita das amostras solubilizadas em função do trabalho a frio sofrido.27 Figura 11: Diagrama de energia livre de Gibbs das fases austenita (γ) e martensita (α’) para concentração de carbono constante. ......................................................................................... 28 Figura 12: Microestrutura do material em estudo no plano de laminação em (a) conforme recebido e (b) depois de aplicada 85% de redução de espessura.............................................. 30 Figura 13: Diagrama esquemático das mudanças necessárias para transformar empilhamento CCC para CFC no plano (110)CCC. ........................................................................................... 31 Figura 14: Fração de ferrita, em função da deformação plástica em aço inoxidável SAF 2205. .................................................................................................................................................. 33 Figura 15: Comparação dos difratogramas raios X em função da deformação plástica aplicada em aço inoxidável dúplex SAF 2205. ....................................................................................... 34 Figura 16: Diagrama esquemático de energia livre de Gibbs das fases austenita (γ) e ferrita (α) de um aço dúplex que passaria por transformação martensítica reversa induzida por deformação. .............................................................................................................................. 35 Figura 17: Diagrama de tensão em função da deformação. ..................................................... 36 Figura 18: Representação esquemática do estado triplo de tensão. .......................................... 39 Figura 19: Ilustração dos eixos de deformação dos corpos de prova. ...................................... 40 Figura 20: Barra cilíndrica composta do aço inoxidável superdúplex UNS S32750. .............. 41 Figura 21: Ilustração esquemática da obtenção dos corpos de prova de compressão, cujas dimensões estão em milímetros, a partir do disco usinado na serra de corte. .......................... 42 Figura 22: Dimensões em milímetros do corpo de prova de compressão utilizado nos estudos exploratórios. ............................................................................................................................ 42 Figura 23: (a) Máquina de ensaios Universal MTS. (b) Suportes e garras utilizados para realização dos ensaios. .............................................................................................................. 44 Figura 24: (a) Ferritoscópio FISCHER modelo MP30 do CDMatM-FEI. (b) Padrões de calibração. ................................................................................................................................. 45 Figura 25: Regiões de medida com o ferritoscópio. ................................................................. 45 Figura 26: Demonstração da variação de seno em função da variação do ângulo. .................. 49 Figura 27: Exemplo de correção do parâmetro de rede proposto por Nelson e Riley (1944). . 49 Figura 28: Fração de ferrita medida por medidas magnéticas em diferentes regiões do corpo de prova da amostra sem deformação. .......................................................................................... 53 Figura 29: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra sem deformação. ....................................................................................................................... 54 Figura 30: Amostra sem deformação, seção longitudinal, do corpo de prova de compressão antes da deformação. A ferrita é a fase escura e a austenita a clara. Ataque: Beraha. ............. 54 Figura 31: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a, ............................................................................................................................................... 55 Figura 32: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a, ............................................................................................................................................... 55 Figura 33: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a, ............................................................................................................................................... 56 Figura 34: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a, ............................................................................................................................................... 56 Figura 35: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a, ............................................................................................................................................... 57 Figura 36: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a, ............................................................................................................................................... 57 Figura 37: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a, ............................................................................................................................................... 58 Figura 38: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura para a Amostra 8, RA = 0,40. .............................................................................................................. 58 Figura 39: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura para a Amostra 9, RA = 0,45. .............................................................................................................. 59 Figura 40: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura para a, .. 59 Figura 41: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura para a ... 60 Figura 42: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura para a ... 60 Figura 43: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura para as ε = 0,30 e RA = 0,69, respectivamente........................................................................................... 61 Figura 44: Fração de ferrita da área lateral dos corpos de prova em função da redução de altura aplicada. .................................................................................................................................... 62 Figura 45: Fração de ferrita da área do topo e da base dos corpos de prova em função da redução de altura aplicada. ..................................................................................................................... 63 Figura 46: Fração de ferrita da seção transversal dos corpos de prova em função da redução de altura aplicada. .......................................................................................................................... 63 Figura 47: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,05 de deformação verdadeira. ................................................................................................ 65 Figura 48: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,10 de deformação verdadeira. ................................................................................................ 65 Figura 49: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,15 de deformação verdadeira. ................................................................................................ 66 Figura 50: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,20 de deformação verdadeira. ................................................................................................ 66 Figura 51: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,25 de deformação verdadeira. ................................................................................................ 67 Figura 52: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,30 de deformação verdadeira. ................................................................................................ 67 Figura 53: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,69 de deformação verdadeira. ................................................................................................ 68 Figura 54: Comparação dos difratograma de raios X em função da deformação plástica aplicada. .................................................................................................................................................. 69 Figura 55: Amostra 1, ε = 0,05, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. ........................................................................................................................ 69 Figura 56: Amostra 2, ε = 0,10, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. ........................................................................................................................ 70 Figura 57: Amostra 3, ε = 0,15, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. ........................................................................................................................ 70 Figura 58: Amostra 5, ε = 0,25, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. ........................................................................................................................ 70 Figura 59: Amostra 7, RA = 0,35, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. ................................................................................................... 71 Figura 60: Amostra 10, RA = 0,50, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. ................................................................................................... 71 Figura 61: Amostra 10, 50% deformada, seção longitudinal do corpo de prova de compressão. (a) com 50x de aumento e (b) com 100x. Ataque: Beraha Modificado. .................................. 72 Figura 62: Fração de ferrita medida por medida magnética em diferentes regiões do corpo de prova da amostra sem deformação nas três temperaturas de tratamento térmico. ................... 73 Figura 63: Diagrama de equilíbrio do aço superdúplex SAF 2507 pela simulação do software Thermo-Calc. ............................................................................................................................ 75 Figura 64: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra sem deformação tratada a 1000ºC. ........................................................................................... 76 Figura 65: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra sem deformação tratada a 1100ºC. ........................................................................................... 76 Figura 66: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra sem deformação tratada a 1200ºC. ........................................................................................... 77 Figura 67: Micrografia da região central do corpo de prova sem deformação tratado a 1000ºC. .................................................................................................................................................. 77 Figura 68: Micrografia da região central do corpo de prova sem deformação tratado a 1100ºC. .................................................................................................................................................. 78 Figura 69: Micrografia da região central do corpo de prova sem deformação tratado a 1200ºC. .................................................................................................................................................. 78 Figura 70: Amostra sem deformação cujo tratamento térmico foi realizado a 1000ºC............ 79 Figura 71: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,14. ........................................... 80 Figura 72: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,28. ........................................... 81 Figura 73: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,42. ........................................... 81 Figura 74: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,56. ........................................... 82 Figura 75: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,70. ........................................... 82 Figura 76: Condição dos corpos de prova depois de efetuado o ensaio de compressão em cada nível de deformação desejado em (a) vista lateral e (b) vista superior. .................................... 83 Figura 77: Fração de ferrita do topo e da base dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1000ºC de tratamento térmico. ........................... 84 Figura 78: Fração de ferrita do topo e da base dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1100ºC de tratamento térmico. ........................... 84 Figura 79: Fração de ferrita do topo e da base dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1200ºC de tratamento térmico. ........................... 85 Figura 80: Fração de ferrita da seção longitudinal dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1000ºC de tratamento térmico. ...................... 85 Figura 81: Fração de ferrita da seção longitudinal dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1100ºC de tratamento térmico. ...................... 86 Figura 82: Fração de ferrita da seção longitudinal dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1200ºC de tratamento térmico. ...................... 86 Figura 83: Comparação entre a quantidade de ferrita no topo e na base do corpo de prova e em sua seção longitudinal referente ao lote de 1000ºC de temperatura de tratamento térmico. .... 87 Figura 84: Comparação entre a quantidade de ferrita no topo e na base do corpo de prova e em sua seção longitudinal referente ao lote de 1100ºC de temperatura de tratamento térmico. .... 88 Figura 85: Comparação entre a quantidade de ferrita no topo e na base do corpo de prova e em sua seção longitudinal referente ao lote de 1000ºC de temperatura de tratamento térmico. .... 88 Figura 86: Fração de ferrita do topo e da base dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada nas três temperaturas de tratamento térmico em estudo. ...... 89 Figura 87: Fração de ferrita da seção longitudinal dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada nas três temperaturas de tratamento térmico em estudo. . 89 Figura 88: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,14 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. ............................................................ 90 Figura 89: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,28 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. ............................................................ 90 Figura 90: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. ............................................................ 91 Figura 91: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,56 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. ............................................................ 91 Figura 92: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. ............................................................ 92 Figura 93: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,14 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. ............................................................ 92 Figura 94: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,28 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. ............................................................ 93 Figura 95: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. ............................................................ 93 Figura 96: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,56 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. ............................................................ 94 Figura 97: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. ............................................................ 94 Figura 98: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,14 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. ............................................................ 95 Figura 99: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,28 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. ............................................................ 95 Figura 100: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. ............................................................ 96 Figura 101: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,56 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. ............................................................ 96 Figura 102: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. ............................................................ 97 Figura 103: Comparação dos difratogramas de raios X em função da deformação plástica aplicada das amostras tratadas a 1000ºC. ................................................................................. 98 Figura 104: Comparação dos difratogramas de raios X em função da deformação plástica aplicada das amostras tratadas a 1100ºC. ................................................................................. 98 Figura 105: Comparação dos difratograma de raios X em função da deformação plástica aplicada das amostras tratadas a 1200ºC. ................................................................................. 99 Figura 106: Fração de ferrita medida por DRX em função da deformação plástica aplicada para as amostras tratadas a 1100ºC................................................................................................. 100 Figura 107: Fração de ferrita medida por DRX em função da deformação plástica aplicada para as amostras tratadas a 1200ºC................................................................................................. 100 Figura 108: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,14 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC.................................................................................................... 101 Figura 109: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,28 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC.................................................................................................... 101 Figura 110: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,42 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC.................................................................................................... 102 Figura 111: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,56 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC.................................................................................................... 102 Figura 112: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,70 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC.................................................................................................... 102 Figura 113: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,14 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC.................................................................................................... 103 Figura 114: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,28 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC.................................................................................................... 103 Figura 115: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,42 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC.................................................................................................... 103 Figura 116: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,56 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC.................................................................................................... 104 Figura 117: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,70 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC.................................................................................................... 104 Figura 118: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,14 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC.................................................................................................... 104 Figura 119: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,28 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC.................................................................................................... 105 Figura 120: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,42 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC.................................................................................................... 105 Figura 121: Micrografias do corpo de prova com 0,56 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC sendo as regiões (a) o topo, (b) o centro e (c) a base do corpo de prova. .................. 105 Figura 122: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,70 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC.................................................................................................... 106 Figura 123: Micrografia da amostra sem deformação tratada a 1000ºC indicando os pontos de determinação da composição química. ................................................................................... 107 Figura 124: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 123. .................................. 107 Figura 125: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 123. .................................. 108 Figura 126: Espectro de EDS para o ponto 3 indicado na Figura 123. .................................. 108 Figura 127: Micrografia da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC indicando os pontos de determinação da composição química. ............................................. 110 Figura 128: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 127. .................................. 110 Figura 129: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 127. .................................. 111 Figura 130: Micrografia da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC indicando os pontos de determinação da composição química. ............................................. 112 Figura 131: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 130. .................................. 113 Figura 132: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 130. .................................. 113 Figura 133: Espectro de EDS para o ponto 3 indicado na Figura 130. .................................. 114 Figura 134: Espectro de EDS para o ponto 4 indicado na Figura 130. .................................. 114 Figura 135: Espectro de EDS para o ponto 5 indicado na Figura 130. .................................. 115 Figura 136: Comparação da queda da fração de ferrita dos resultados deste trabalho com os demais apresentados na revisão bibliográfica. ....................................................................... 120 Figura 137: Micrografia da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC indicando os pontos de determinação da composição química. ............................................. 129 Figura 138: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 137. .................................. 130 Figura 139: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 137. .................................. 130 Figura 140: Espectro de EDS para o ponto 3 indicado na Figura 137. .................................. 131 Figura 141: Espectro de EDS para o ponto 4 indicado na Figura 137. .................................. 131 Figura 142: Espectro de EDS para o ponto 5 indicado na Figura 137. .................................. 132 Figura 143: Espectro de EDS para o ponto 6 indicado na Figura 137. .................................. 132 Figura 144: Micrografia da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC indicando os pontos de determinação da composição química. ............................................. 133 Figura 145: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 144. .................................. 134 Figura 146: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 144. .................................. 134 Figura 147: Espectro de EDS para o ponto 3 indicado na Figura 144. .................................. 135 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AID – Aços Inoxidáveis Dúplex CCC – Cúbico de Corpo Centrado CFC – Cúbico de Face Centrada DRX – Difração de Raios X DSC – Differential Scanning Calorimetry (Calorimetria Exploratória Diferencial) EDS – Energy Dispersive System (Sistema de Energia Dispersiva) FWHM – Full Width at Half Maximum MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura PREN – Pitting Resistance Equivalent Number RA – Redução de Altura RE – Redução de Espessura LISTA DE SÍMBOLOS α – fase ferrita γ – fase austenita γr – austenita de reequilíbrio σ – tensão para um dado escoamento do material (no contexto de comportamento mecânico, ou fase sigma (no contexto de fases presentes no material) ε – deformação verdadeira τ – tensão cisalhante θ - ângulo de difração A - área da seção transversal do corpo de prova A0 - área original da seção transversal do corpo de prova Ad - área após a deformação do corpo de prova d - distância interplanar D – diâmetro final D0 – diâmetro inicial dG - variação de energia livre dS - variação de entropia dU - energia interna dV – variação de volume e-2M - fator de temperatura Debye-Waller F - força aplicada no corpo de prova F - fator da estrutura FC - força compressiva G - energia livre de Gibbs h – altura final h0 – altura inicial hkl - índices de Miller do plano cristalográfico de reflexão I - intensidade do pico integrada L/D – relação entre o comprimento e o diâmetro do corpo de prova de compressão Md - temperatura-limite de transformação martensítica Ms - temperatura de início da transformação martensítica n - número de picos da fase P – pressão p - fator de multiplicidade R - fator de espalhamento do material T0 - temperatura em que as duas fases estão em equilíbrio T - temperatura TF – trabalho a frio U’ - força motriz mecânica Vi - fração volumétrica da fase i V - volume da célula unitária W - trabalho de deformação SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS ............................................................................... 14 2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 17 2.1 Aços inoxidáveis dúplex ............................................................................................... 18 2.2 Transformação martensítica induzida por deformação ................................................. 27 2.3.1 Termodinâmica da transformação martensítica induzida por deformação ................... 30 2.3 Energia de deformação plástica .................................................................................... 34 2.4 Ensaio de compressão ................................................................................................... 37 3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL ..................................................................... 41 3.1 Confecção dos corpos de prova .................................................................................... 41 3.2 Ensaio de compressão ................................................................................................... 43 3.3 Medições magnéticas .................................................................................................... 44 3.4 Difração de raios X ....................................................................................................... 46 3.5 Análise metalográfica ................................................................................................... 50 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 52 4.1 Estudo exploratório ....................................................................................................... 52 4.2 Efeito da deformação e da temperatura de tratamento inicial ...................................... 73 5 POSSÍVEIS TRANSFORMAÇÕES DE FASES ................................................... 117 6 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 121 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................. 123 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 124 APÊNDICE A – ANÁLISES MICROESTRUTURAIS E EDS ....................................... 129 ANEXO A – CARTÃO-REFERÊNCIA DO ICDD PARA AUSTENITA ...................... 137 ANEXO B – CARTÃO-REFERÊNCIA DO ICDD PARA FERRITA ............................ 138 ANEXO C – CARTÃO-REFERÊNCIA DO ICDD PARA SIGMA ................................ 139 14 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS Com base em recentes estudos deste grupo de pesquisa (MAGNABOSCO; AVILA; RABECHINI, 2011; MAGNABOSCO, R., TAVARES, D., FORGAS. A., MOURA, C., 2011; MAGNABOSCO; SPOMBERG, 2011; MARANGONI, 2012) nota-se que existe a evidência de que a aplicação de deformação plástica a frio em aço inoxidável dúplex leva à redução da fração de ferrita presente, o que sugere que nestes aços pode ocorrer uma transformação da ferrita em austenita induzida por deformação, similar a uma transformação martensítica reversa induzida por deformação. Sendo assim, o presente estudo tem por objetivo avaliar esta transformação de fase em um aço inoxidável dúplex (UNS S32750 ou SAF 2507). A quantificação da fase ferrítica foi feita através de medidas magnéticas, difração de raios X e análise metalográfica. Tanto nos estudos de Magnabosco e Spomberg (2011) quanto Magnabosco et al.. (2011) foram observadas intensas disparidades entre diferentes técnicas de quantificação de fases (magnética, difração de raios X e metalografia quantitativa), além de não apresentarem concordância aos resultados e simulação de equilíbrio no software ThermoCalc (TC). Apesar destas disparidades, tanto as medidas magnéticas quanto a metalografia quantitativa apresentaram clara tendência de redução da fase ferrítica em função do aumento da deformação imposta. Magnabosco et al.. (2011) notaram também que as diferenças de quantificação de ferrita entre seções paralelas, longitudinais ou transversais não são observadas com a mesma intensidade nas medições magnéticas realizadas com ferritoscópio. Entretanto, o comportamento de redução da fração de ferrita em função do aumento de deformação plástica aplicada foi confirmado. A Figura 1 apresenta uma comparação entre as medições de fração volumétrica de ferrita, com uso de medidas magnéticas e metalografia quantitativa, na secção longitudinal de amostras laminadas a frio de aço inoxidável dúplex UNS S31803. Tratam-se de duas técnicas de quantificação que, apesar dos princípios serem totalmente distintos, mostram a redução da fração de ferrita com o aumento da redução de espessura. A medida magnética quantifica a fração de fase magnética presente no material através do campo magnético gerado entre a ponta de prova e a amostra analisada, sendo assim, a presença de textura pode influenciar nos resultados da técnica. Já no caso da metalografia quantitativa são necessários preparação metalográfica, ataque para revelar a microestrutura e calibração do software de quantificação de fases para que os resultados sejam confiáveis, e também está sujeita à influência da textura. 15 65 ferrita [% volumétrica] longitudinal - ferritoscópio longitudinal - metalografia 55 45 35 25 -10 0 10 20 30 40 50 60 redução de espessura [%] Figura 1: Comparação entre quantificação do volume de ferrita, por meio de técnicas magnéticas e metalografia quantitativa, na seção longitudinal das amostras de aço inoxidável dúplex UNS S31803. Fonte:Magnabosco et al.., 2011. Pandi e Yue (1994) também observaram um fenômeno semelhante no qual a recristalização dinâmica é acompanhada por uma diminuição na fração volumétrica de ferrita durante a deformação intercrítica em um aço baixo carbono. Segundo os autores, o calor gerado pela deformação é responsável pela queda observada na fração da fase ferrítica. Já no estudo de Luo et al.. (2004), também com aços ao carbono e manganês, medidas dilatométricas das amostras não deformadas mostraram que a transformação termodinâmica induzida isotermicamente observada deve ser de austenita para ferrita. Portanto, a transformação de ferrita para austenita após deformação é possivelmente induzida pela energia de deformação introduzida. O modelo utilizado pelos autores se baseia no fato de que o aço deformado na zona intercrítica possui uma distribuição de tensão ao longo das duas fases. Os cálculos executados na modelagem sugerem que houve uma variação de energia armazenada em ambas as fases, resultante da cinética de recuperação distinta nas mesmas e, este é o possível motivo da ocorrência desta transformação. No entanto, foram encontrados até o momento apenas dois estudos externos a este grupo de pesquisa (SOUTHWICK; HONEYCOMBE, 1980; FANICA et al.., 2011) que indicam a ocorrência desta transformação de ferrita em austenita induzida por deformação em aços inoxidáveis dúplex. Segundo os autores Southwick e Honeycombe (1980), a decomposição da ferrita ocorre por dois mecanismos: nucleação e crescimento a elevadas temperaturas (650 – 1200oC) e por um processo martensítico a baixas temperaturas (300 – 650oC). Entretanto, estas observações foram feitas a temperaturas acima da ambiente. Fanica et al.. (2011) notaram a 16 influência do trabalho a frio sobre valores de fração de ferrita obtidos pela estimativa da fração volumétrica de ferrita pela contagem de pontos de uma grade padrão, conforme a norma ASTM E562 (2011)e através do ferritoscópio (Figura 2), sendo notável a redução da fração de ferrita em função do aumento de trabalho mecânico a frio aplicado nas análises do ferritoscópio, sem a formação de fases intermetálicas, justificando estudo mais detalhado como o proposto no presente trabalho. Esta aparente diferença entre os dados obtidos através de medidas magnéticas e estereologia quantitativa pode ser fruto do efeito de textura, visto que este provocará magnetização não uniforme na amostra em análise, como já observado no trabalho de Magnabosco et al. (2011). Contudo, é válido ressaltar que os autores não apresentaram o desvio padrão de cada medida, desta forma, é possível que os valores sejam iguais. Outra observação é que a aparente redução da fração de ferrita em função do aumento de deformação plástica poderia na verdade ser confundida com oscilação dos valores, o que poderia ser resultado de aplicação de deformação não uniforme nas amostras e que os resultados da metalografia quantitativa provavelmente seria constante caso existissem os valores de desvio padrão. Apesar destas contestações, trabalhos do grupo de pesquisa amplamente disponíveis e que serão discutidos na revisão bibliográfica, indicam que existe uma queda da fração de ferrita com o aumento de conformação plástica a frio utilizando diversas metodologias de quantificação de fases. Logo, o presente trabalho será conduzido com o objetivo de estudar esta transformação de fase e quantificar a fração de fase ferrítica em função da deformação plástica aplicada. Grade Padrão (ASTM E562) Ferrita (%) Ferritoscópio Encruamento (%) Figura 2: Evolução dos resultados metalográficos e magnéticos de ferrita em relação à quantidade de encruamento. Fonte: Autor “adaptado de” Fanica et al.. 2011. 17 2 REVISÃO DA LITERATURA Aços inoxidáveis possuem grande importância tecnológica e econômica em relação a outros materiais, e são utilizados na construção de equipamentos que precisam de elevada resistência à corrosão. Estes equipamentos são encontrados principalmente nas indústrias química, de petróleo, de processamento e de energia (SEDRIKS, 1996). Estes aços são ligas que apresentam teores mínimos de cromo livre na matriz de aproximadamente 11% em massa. Este elemento de liga é responsável pela formação de uma película superficial aderente, não porosa e auto-regenerativa, chamada película passiva, a qual confere aos aços inoxidáveis alta resistência à corrosão, em diversos meios corrosivos (SEDRIKS, 1996). Em alguns aços inoxidáveis, a quantidade de cromo pode atingir 30% e vários outros elementos de liga são adicionados a fim de conferir propriedades específicas ou facilitar a fabricação destes aços. Alguns destes elementos de liga são: níquel, nitrogênio e molibdênio que conferem resistência à corrosão; carbono, molibdênio, nitrogênio, titânio, alumínio e cobre que proporcionam resistência mecânica; enxofre e selênio estão relacionados à usinabilidade; e o níquel é adicionado para promoção da plasticidade e tenacidade (SEDRIKS, 1996). A adição de altos teores de elementos de liga pode causar a estabilização da ferrita ou austenita, sendo o cromo, silício e molibdênio, estabilizadores da fase ferrita, a qual possui estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC). Já o níquel, manganês, cobre, carbono e nitrogênio estabilizam a fase austenita, de estrutura cristalina cúbica de face centrada (CFC) (SOLOMON; DEVINE, 1982). Com relação à estrutura metalúrgica, os aços inoxidáveis podem ser divididos em três grupos principais de interesse neste trabalho: austeníticos, ferríticos e dúplex (SEDRIKS, 1996). Os aços inoxidáveis austeníticos apresentam a fase austenita estável inclusive em temperaturas inferiores à ambiente, e para tal, apresentam altos teores de elementos de liga estabilizadores da austenita – ou alto níquel equivalente, segundo a formulação de Schaeffler. Devido à presença do alto teor de níquel, apresentam custo elevado, não são magnéticos, têm alta ductilidade e tenacidade, além da boa soldabilidade, entretanto, são susceptíveis à corrosão sob tensão (ECKENROD; PINNOW, 1984; SOLOMON; DEVINE, 1982). Aços inoxidáveis ferríticos têm a ferrita como fase predominante, consequentemente, apresentam altos teores de elementos estabilizadores da ferrita (ou alto cromo equivalente). São 18 magnéticos, apresentam temperatura de transição de fratura dúctil-frágil, e menores ductilidade e tenacidade quando comparados com os austeníticos, contudo são imunes à corrosão sob tensão. Como não possuem o níquel como elemento de liga e apresentam menor teor de cromo nas classes mais usuais, costumam proporcionar menor custo (POTGIETER; CORTIE, 1991). 2.1 Aços inoxidáveis dúplex Os Aços Inoxidáveis Dúplex (AID) apresentam uma estrutura de bandas alternadas de ferrita e austenita (Figura 3), levando à união das melhores propriedades dos aços inoxidáveis austeníticos e ferríticos, o que é causado pela estrutura típica destes aços, a qual é composta por frações volumétricas aproximadamente iguais de ferrita e austenita – 40 a 45% de ferrita e 55 a 60% de austenita – obtida através do correto balanço entre os elementos e pelo tratamento térmico de solubilização entre 1000°C e 1200°C e resfriamento brusco (NILSSON, 1992; SEDRIKS, 1996; MAGNABOSCO; SANTOS; MELO, 2009). α γ Figura 3: Amostra de aço inoxidável SAF 2205 solubilizada a 1250°C por uma hora, e resfriada em água. Ferrita (preta) e austenita (clara). Ataque: Beraha modificado. Fonte: MAGNABOSCO, R., SANTOS, D., MELO, E.; 2009. Em relação aos aços inoxidáveis austeníticos, os dúplex apresentam vantagens relevantes, principalmente a interessante combinação da grande resistência à corrosão simultânea à alta resistência mecânica, sendo a segunda consequência da estrutura de grãos 19 refinados presente neste tipo de aço. Outro fator proeminente consiste na composição do aço inoxidável dúplex, que apresenta menor teor de níquel do que os austeníticos, o que o torna economicamente mais atraente (NILSSON, 1992). As primeiras análises e descrições da microestrutura dúplex surgiram em 1927, e a partir de 1930 iniciou-se o desenvolvimento deste aço nos Estados Unidos e na Europa. Todavia, este material passou a ser comercialmente disponível apenas na década de 70, quando foi possível a obtenção de um material mais refinado, e desde então sua utilização cresceu rapidamente nas indústrias. O uso deste aço com maior intensidade, contudo, só aconteceu a partir da década de 1990 (NILSSON, 1992). Os aços inoxidáveis dúplex são feitos pelo processo AOD – Argon-Oxygen Descarburization – descarburização por sopro combinado de oxigênio e argônio. Nesta técnica o teor de carbono é extremamente reduzido pelo sopro da mistura gasosa de argônio e oxigênio, fazendo com que estes aços sejam praticamente imunes à sensitização causada pela formação de carbonetos de cromo. Uma das vantagens deste procedimento é que o baixo teor de carbono pode ser obtido a partir de cargas com alto carbono com perdas mínimas e sem oxidação do cromo. Outro elemento que pode ser significativamente reduzido por este processo é o enxofre, reduzindo deste modo a presença de inclusões no aço, entre outras características positivas. Este tipo de aço é frequentemente utilizado em aplicações nas quais a atmosfera corrosiva é de intensa agressividade, como na indústria de óleo e gás, em plataformas petrolíferas, na indústria de papel e celulose, em aplicações offshore e em tanques para transporte marítimo de produtos químicos (SEDRIKS, 1996; ECKENROD e PINNOW, 1984). Estes aços são comumente classificados em quatro grupos distintos em função do PREN (Pitting Resistance Equivalent Number), que é o número equivalente de resistência à corrosão por pite. Segundo Nilsson (1992), este número é diretamente relacionado à composição química do material, sendo os elementos químicos que o controlam cromo, molibdênio e nitrogênio, sendo assim, tem-se a Equação 1: PREN = %Cr + 3,3∙(%Mo) + 16∙(%N) As quatro classificações em função do PREN são: a) Lean duplex; b) Dúplex ou “Standard duplex”; c) Superdúplex; d) Hiperdúplex. (1) 20 As características destas quatro categorias estão exemplificadas na Tabela 1. Tabela 1 - Número PREN e propriedades mecânicas para os aços inoxidáveis dúplex. Categoria do aço inoxidável 2304 Lean Dúplex 2205 Dúplex (Standardduplex) 2507 Superdúplex 3207 Hiperdúplex PREN Limite de escoamento (MPa) Limite de resistência (MPa) Alongamento (%)min Dureza (HRC) < 30 400 600 25 32 30 < PREN < 40 450 620 25 31 40 < PREN < 50 550 750 25 32 > 50 770 950 25 36 Fonte: Autor “adaptado de” RABECHINI, 2014. 2.1.1 Metalurgia física A composição básica dos aços inoxidáveis dúplex consiste em ferro, cromo e níquel e é possível estudar a metalurgia física destes aços através de análises do sistema ternário Fe-CrNi (RAYNOR e RIVLIN, 1988). O ternário Fe-Cr-Ni apresenta basicamente quatro fases sólidas. Destas, três são soluções sólidas: austenita (γ), de estrutura cristalina cúbica de face centrada; ferrita (α), cúbica de corpo centrado e α’, também cúbica de corpo centrado, porém rica em cromo. A quarta fase sólida é uma fase intermetálica denominada sigma (σ), de estrutura tetragonal, extremamente dura, frágil e não magnética (RAYNOR e RIVLIN, 1988). Usualmente, para ligas ferrosas, denomina-se por δ todo sólido de estrutura cúbica de corpo centrado formado na solidificação; no entanto, diversas referências que tratam sobre o ternário Fe-Cr-Ni (PUGH e NISBET, 1950; SOLOMON e DEVINE, 1982; RAYNOR e RIVLIN, 1988) convencionaram a utilização de α para qualquer ferrita formada por reações dependentes de difusão, fazendo distinção apenas à martensita, cuja formação independe da difusão. Deste modo, evita-se confusão referente às diferentes nomenclaturas, tornando fácil a interpretação do ternário citado, como pode ser constatado na Figura 4, que apresenta a seção isotérmica a 1300°C do ternário Fe-Cr-Ni. 21 Figura 4: Seção isotérmica a 1300°C do ternário Fe-Cr-Ni. Fonte: Autor “adaptado de” RAYNOR e RIVLIN, 1988. É possível observar que no ternário apresentado na Figura 4 existe um campo onde há a presença de ferrita e austenita simultaneamente; sendo assim, a formação da estrutura dúplex ferrita-austenita pode ser obtida pela correta escolha da composição e da realização de tratamento de solubilização seguido de resfriamento rápido. O mesmo raciocínio pode ser efetuado para os demais diagramas de equilíbrio das secções isotérmicas a 1200 oC, 1100 oC e 1000 oC – Figuras 5 a 7, respectivamente. Pode-se perceber que o campo de equilíbrio entre as duas fases aumenta com a redução de temperatura (POTGIETER et al.., 1991). 22 Figura 5: Seção isotérmica a 1200°C do ternário Fe-Cr-Ni. Fonte: Autor “adaptado de” RAYNOR e RIVLIN, 1988. Figura 6: Seção isotérmica a 1100°C do ternário Fe-Cr-Ni. Fonte: Autor “adaptado de” RAYNOR e RIVLIN, 1988. 23 Figura 7: Seção isotérmica a 1000°C do ternário Fe-Cr-Ni. Fonte: Autor “adaptado de” RAYNOR e RIVLIN, 1988. A composição básica dos aços inoxidáveis dúplex consiste em ferro, cromo e níquel, além dos elementos que se assemelham aos dois últimos na estabilização das fases ferrita e austenita, gerando o conceito de cromo e níquel equivalentes (SOLOMON e DEVINE, 1982). Esses equivalentes de níquel (estabilizador de austenita) e cromo (estabilizador da ferrita), podem ser calculados, em uma base percentual de massa, a partir, por exemplo, das equações (2) e (3) (SEDRIKS, 1996): % Ni equivalente = %Ni+% Co +30(%C)+ 25(%N)+ 0,5(%Mn)+ 0,3(%Cu) (2) % Cr equivalente = %Cr+2(%Si)+ 1,5(%Mo)+ 5(%V)+ 5,5(%Al)+ 1,75(%Nb)+ 1,5(%Ti)+ 0,75(%W) (3) Os elementos de liga têm extrema importância na formação da microestrutura dúplex, visto que além de possuírem o papel de otimizar as propriedades mecânicas e a resistência à corrosão do material, têm simultaneamente a competência de agir como estabilizadores de uma das fases da microestrutura. Estão relacionados a seguir os principais elementos de liga utilizados e os seus respectivos efeitos (POTGIETER et al.., 1991; SEDRIKS, 1996): 24 a) Cromo: sua principal função está relacionada à resistência à corrosão do material. O cromo livre em solução sólida na matriz possibilita a formação da película passiva, que protege o material contra agentes corrosivos, como mostra a Figura 8. No entanto, existe um limite máximo de cromo que pode ser adicionado, pois o cromo estabiliza a ferrita e aumenta a temperatura de transição dúctil-frágil, que pode reduzir a ductilidade e tenacidade do material Perda de massa [g/cm²] (POTGIETER et al.., 1991; SEDRIKS, 1996). 0,10 0,09 0,08 0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0,00 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Cromo [%] Figura 8: A influência do cromo na corrosão atmosférica de um aço baixo carbono após 52 semanas de exposição. Fonte: Autor “adaptado de” SEDRIKS, 1996. b) Molibdênio: provoca o aumento da resistência à corrosão por pite e em fresta. O limite máximo usual é de 4% em massa, pois este elemento facilita a formação de fase sigma, deletéria a resistência a corrosão e a tenacidade do aço. c) Níquel: é estabilizador da fase austenítica e, assim, proporciona boa combinação de resistência e ductilidade. d) Carbono: causa endurecimento e aumento da resistência mecânica da liga. Porém, tem um limite máximo de 0,03% mássico, já que em excesso causa perdas na trabalhabilidade e na resistência à corrosão (POTGIETER et al.., 1991; SEDRIKS, 1996). e) Titânio e Nióbio: apresentam importante função na manutenção da inoxidabilidade. Evitam a combinação do carbono com o cromo, impedindo possíveis perdas de resistência à corrosão devido à sensitização. 25 f) Nitrogênio: aumenta a resistência mecânica da liga a temperatura ambiente, diminui os riscos de precipitação de carbonetos e surgimento de fases intermetálicas no interior da fase austenítica, e aumenta a resistência à corrosão. Pode substituir o níquel na função de estabilizar a austenita. g) Manganês: provoca aumento da solubilidade do nitrogênio na liga. Portanto é empregado em combinação com o mesmo para que se possa diminuir a quantidade de níquel adicionado à liga. h) Silício: aumenta a resistência à corrosão sob tensão. Contudo, quando adicionado em porções superiores a 1% em massa aumenta a formação da fase sigma, que pode causar a perda de outras propriedades além da própria resistência à corrosão (POTGIETER et al.., 1991; SEDRIKS, 1996). 2.1.1.1 Austenita de reequilíbrio Alguns trabalhos (MELO; MAGNABOSCO, 2010; SANTOS; MAGNABOSCO, 2010) relataram a ocorrência do reequilíbrio entre ferrita e austenita durante envelhecimento isotérmico do aço UNS S31803. Nestes estudos, supõe-se que na temperatura de solubilização a fração de austenita é menor em relação à fração de equilíbrio na temperatura de envelhecimento, e no início deste tratamento foi verificado um aumento na fração de austenita em conjunto a uma redução da fração de ferrita, indicando a formação de austenita a partir da ferrita, que pode ser denominada austenita de reequilíbrio. Essa austenita de reequilíbrio acontece devido à busca de um reequilíbrio entre as frações volumétricas das fases presentes no aço. A fração volumétrica de austenita neste trecho seria a somatória entre as frações de austenita original e de reequilíbrio. Segundo Santos e Magnabosco (2010), este reequilíbrio também pode ser percebido através da análise de micrografias. É possível notar a formação de halos de austenita de equilíbrio (γr) ao redor dos grãos de austenita original, provavelmente devido a diferenças de composição química (Figura 9). 26 Figura 9: Austenita de reequilíbrio (γr) na forma de halos ao redor de grãos de austenita original (γ) na amostra envelhecida por 1 minuto a 850oC. Ataque: Beraha Modificado. Fonte: SANTOS; MAGNABOSCO, 2010. Com base em outro estudo (MAGNABOSCO; AVILA; RABECHINI, 2011) foi possível observar que a fração de ferrita das amostras diminui com o aumento do grau de encruamento (Figura 10). Esta observação sugere que pode ocorrer a formação de austenita de reequilíbrio, já relatada em outros trabalhos nos instantes iniciais de envelhecimento (MELO; MAGNABOSCO, 2010; SANTOS; MAGNABOSCO, 2010), mas que nesta condição aconteceria como a transformação de ferrita em austenita induzida por deformação. 27 Figura 10: Fração de ferrita das amostras solubilizadas em função do trabalho a frio sofrido. Fonte: MAGNABOSCO; AVILA; RABECHINI, 2011. 2.2 Transformação martensítica induzida por deformação Há indícios de que a aplicação de deformação plástica é capaz de induzir a transformação da austenita em martensita. Caso ocorra o resfriamento rápido de um aço austenítico até uma temperatura entre o início e o fim da transformação martensítica, o material apresentará determinada quantidade de austenita não transformada. Se após este procedimento esse aço for deformado plasticamente nessa temperatura, sucede a transformação dessa austenita retida em martensita. Entretanto, esse fenômeno também foi observado num aço com estrutura austenítica acima da temperatura de início da transformação martensítica (Ms), quando este é deformado plasticamente. Nesta situação existe uma relação entre a quantidade de austenita transformada em martensita e a temperatura Ms. Quanto mais alta a segunda menos austenita transformada se tem, tendo uma temperatura-limite (Md), acima da qual essa transformação não ocorre. Quando acima de Ms essa transformação pode ocorrer mesmo para tensões correspondentes ao limite elástico. Logo, aços com elementos de liga que caracterizam Ms abaixo da temperatura ambiente, possuem a capacidade de endurecer com a aplicação de tensões à temperatura ambiente (PORTER; EASTERLING, 2004; SANTOS, R., 2006). A Figura 11 mostra exatamente o fenômeno descrito acima, através do diagrama das energias livres das fases austenita (γ) e martensita (α) de um aço carbono comum em função da temperatura para teor de carbono constante. T 0 é a temperatura em que as duas fases estão em equilíbrio, ou seja, ∆G=0. Nesta figura, a transformação martensítica ocorrerá somente se a 28 diferença entre as energias livres das fases austenita e martensita atingirem o chamado potencial γ → α' termodinâmico crítico (∆GMS ), que ocorre na temperatura Ms. Porém, sabe-se que a nucleação de martensita é extremamente dependente da formação de discordâncias, portanto ao aplicar uma tensão externa ao sistema, aumentando as deformações internas e portanto as distorções da rede cristalina, evidentemente facilita-se a geração de discordâncias e, consequentemente, a formação da martensita. Portanto, nestes casos a transformação martensítica poderia ocorrer em temperaturas superiores à Ms, como ilustrado na Figura 11 e na equação (4), onde U representa a força motriz mecânica, devida à deformação plástica aplicada ao sistema (PORTER; EASTERLING, 2004; SANTOS, 2006; WAYMAN; BADESHIA, 1996). α' → γ ∆GMd α' → γ + U= ∆GMS (4) Todavia, há o limite de temperatura acima da qual nenhuma martensita pode se formar por deformação, esta temperatura é denominada Md. Isto é, o aumento da densidade de discordâncias por deformação deve aumentar o número de locais de nucleação potenciais, porém deformação excessiva pode introduzir limitações para a nucleação e crescimento da nova fase (PORTER; EASTERLING, 2004; SANTOS, 2006; WAYMAN; BADESHIA, 1996). Figura 11: Diagrama de energia livre de Gibbs das fases austenita (γ) e martensita (α’) para concentração de carbono constante. Fonte: Autor “adaptado de” WAYMAN, C.M.; BADESHIA, H.K.D.H., 1996. 29 Segundo Hornbogen (1985), transformações martensíticas podem envolver grande quantidade de cisalhamento. Estas reações são de primeira ordem e, geralmente nucleadas heterogeneamente, começam com superresfriamento abaixo da temperatura de equilíbrio termodinâmico, sendo que esta temperatura é fortemente afetada pela adição de elementos de liga e pode ser definida como função da tensão crítica interna. Ainda com relação ao tipo de esforço mecânico aplicado e a ocorrência da transformação martensítica induzida por deformação, Tessler e Barbosa (1990) notaram que a martensita α’ é mais facilmente induzida quando as tensões aplicadas são de tração em comparação às de compressão. Segundo Tessler e Barbosa (1990), apesar de alguns tipos de aços inoxidáveis apresentarem a ocorrência da transformação da fase austenita em martensita através de resfriamento rápido ou até mesmo deformação, existem várias características do material em estudo e dos processos envolvidos que podem influenciar na intensidade da transformação da martensita induzida por deformação, sendo estes parâmetros do material, tais como a composição química, o tamanho de grão e parâmetros de processo tais como temperatura, velocidade de deformação e o modo de carregamento do material. Breda et al.. (2015) estudaram a possível transformação de martensita induzida por deformação no aço inoxidável dúplex SAF 2205 e também ressaltaram sobre a influência da deformação local, taxa de deformação, direção de deformação, temperatura e estado de tensões na resposta do material e sua transformação de fases induzida por deformação plástica aplicada. Apesar de afirmarem que parte da austenita é transformada em martensita foi notado que a resistência a corrosão por pite não foi alterada e, além disso, na micrografia apresentada no trabalho não é possível encontrar martensita após aplicada a laminação, permanece apenas com a presença de ferrita e austenita (Figura 12). Além disso, a alegada redução na fração volumétrica de austenita poderia ser entendida como erro experimental da medida das frações volumétricas das fases, erros estes não informados no trabalho (Breda et al., 2015). 30 (a) (b) Figura 12: Microestrutura do material em estudo no plano de laminação em (a) conforme recebido e (b) depois de aplicada 85% de redução de espessura. Fonte: Breda et al.., 2015. 2.3.1 Termodinâmica da transformação martensítica induzida por deformação Latapie e Farkas (2003) estudaram transformação de fase induzida por tensão e nucleação de grãos na ponta de trinca em Fe-α nanocristalino (CCC). Chegaram à conclusão de que ocorre formação de novos grãos induzida pela tensão; e esta ocorre através de uma transformação de fase metaestável de CCC para CFC na ponta da trinca presente na amostra. Com o aumento da intensidade de tensão, a trinca continua a propagar na orientação cristalográfica mais favorável, parte da região CFC mais próxima à ponta da trinca é transformada de volta para uma estrutura mais estável CCC. Essa região CCC formada a partir da fase CFC não tem a mesma orientação cristalográfica que o grão original CCC. Ou seja, a deformação plástica na ponta da trinca do ferro alfa nanocristalino não está associada somente à geração de discordâncias, mas também às transformações de fase e nucleação de grãos novos. Assim sendo, o CCC1 transformou-se em CFC que por sua vez transformou-se em CCC2. Verifica-se, portanto, que mesmo nos estudos de transformação martensítica induzida por deformação há indicativos da transformação reversa de ferrita em austenita, como aquela em estudo neste trabalho e já aventada em outro estudo (MAGNABOSCO; AVILA; RABECHINI, 2011). Já foram relatados indícios da presença de uma transformação martensítica reversa de ferrita para austenita em aço nanocristalino (MACLAREN et al.., 2006). Neste mesmo estudo o aço inicialmente perlítico foi severamente deformado por torção e passou a existir a fase austenita. Os autores chegaram a conclusão que ocorreu, possivelmente, uma transformação martensítica em temperatura ambiente ou próxima. Ao efetuar medições de dilatometria (DSC), 31 foi constatado que o material em estudo estava bem distante do equilíbrio, com a energia da entalpia de aquecimento de 2,5 kJ.mol -1, o que corresponde a cerca de 60% de diferença de energia livre de Gibbs. Estes mesmos autores afirmam que forças de cisalhamento podem ativar as transformações martensíticas reversas. Maclaren et al.. (2006) alegaram que a transformação que estudaram poderia ocorrer por conta do processo de cisalhamento descrito na Figura 13. Nesta, é mostrado o processo de cisalhamento para a transformação martensítica de ferrita para austenita, de modo que seja necessário uma discordância parcial de 1/6 na direção [11̅ 0]CCC para provocar o cisalhamento que faria com que o empilhamento do tipo ABAB da estrutura CCC passasse a ser o empilhamento de estrutura ABCABC da estrutura CFC do plano (110) CCC , sendo que qualquer relaxamento atômico ou cisalhamento secundário faria com que a simetria cúbica fosse alcançada. Fazendo com que o retângulo torcido pelo cisalhamento da CCC se transforme no hexágono da CFC. Figura 13: Diagrama esquemático das mudanças necessárias para transformar empilhamento CCC para CFC no plano (110)CCC. Fonte: Autor “adaptado de” Maclaren et al.., 2006. Foram estudados outros dois artigos que citam a transformação de austenita para martensita induzida por deformação em aços inoxidáveis. Os autores Moser, Gross e Korkolis (2014) estimaram a temperatura Md através de ensaios de tração isotérmicos no aço inoxidável 304. Neste caso, foi utilizada a quantificação de fases por difração de raios X. A região do empescoçamento foi desconsiderada e o teor de martensita foi praticamente constante ao longo da seção de cada amostra. Já os autores He et al. (2014) estudaram a influência da superfície livre sobre a estabilidade dos grãos de austenita retida num aço inoxidável dúplex e notaram que a transformação martensítica ocorre exatamente nesta região. Além disso, chegaram à conclusão de que a energia de deformação armazenada durante a nucleação da martensita pode 32 ser reduzida através da criação de superfície livre, o que diminui a barreira de energia para a nucleação da martensita, de modo que a transformação ocorra espontaneamente. Indícios da ocorrência da transformação de ferrita em austenita induzida por deformação em aços inoxidáveis, similar a uma transformação martensítica reversa, foram encontrados em outros dois artigos (SOUTHWICK; HONEYCOMBE, 1980; FANICA et al.., 2011). Southwick e Honeycombe (1980) afirmam que a decomposição da ferrita pode acontecer por dois mecanismos: por um processo martensítico a baixas temperaturas (300 – 650 oC) e/ou nucleação e crescimento a elevadas temperaturas (650 – 1200 oC). Esta reação martensítica é isotérmica, ou seja, não ocorre durante têmpera de água a partir de 1300 ºC. Fanica; et al.. (2011) notou que ao realizar trabalho a frio em aços superdúplex há uma relação direta sobre seus resultados obtidos através do ferritoscópio, ocorrendo redução da fração de ferrita em função do aumento deste trabalho mecânico a frio aplicado, sem a formação de fases intermetálicas como já mostrado na Figura 2. Para averiguar tais observações, criando arcabouço de evidências experimentais que justifiquem estudo aprofundado de transformação militar de fases induzida por deformação, foi realizado estudo metódico da influência do grau de encruamento na fração de ferrita presente num aço dúplex SAF 2205, caracterização por difratometria de raios X (DRX) das fases presentes, além da avaliação da variação da densidade em função da aplicação do trabalho mecânico a frio aplicado (MARANGONI, 2012). A Figura 14 mostra a fração de ferrita das amostras medida com ferritoscópio em função da deformação plástica. Como esperado, o aumento da quantidade de deformação plástica diminui a fração de ferrita, o que é possível notar comparando os valores da área com o contorno tracejado vermelho (média dos valores de fração de ferrita iniciais) e os valores após deformação. Fração volumétrica de ferrita (%) 33 60 58 56 54 52 50 48 46 44 42 40 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Deformação plástica, ε Figura 14: Fração de ferrita, em função da deformação plástica em aço inoxidável SAF 2205. Fonte: MARANGONI, 2012. Os resultados das medições magnéticas permitiram análise da redução da porcentagem da fase de ferrita presente em função do aumento de deformação plástica a frio aplicada. Notouse que em dada deformação plástica (ou após determinado trabalho de deformação) a fração da fase ferrítica passa a não decrescer mais com o aumento da deformação e é estabilizada. Então, existe a possibilidade de existir um mínimo de ferrita presente no material em estudo, de modo que mesmo introduzindo mais energia de deformação neste aço inoxidável dúplex a transformação de fases induzida por deformação não ocorra mais. Observou-se que este limite é de aproximadamente 0,2 de deformação plástica efetiva (reta verde da Figura 14). Uma possível explicação para este fenômeno é que em determinada deformação existe elevada quantidade de discordâncias e um grau de encruamento extremamente intenso, de modo que não haja espaço para que novas discordâncias sejam nucleadas, e nem exista campo de tensões elásticas necessário a nucleação de martensita. Depois de aplicadas as deformações plásticas respectivas a cada amostra e feita a análise de DRX foi notado que todas as amostras apresentaram o mesmo tipo de comportamento, como mostrado na Figura 15, na qual as intensidades foram deslocadas apenas para mostrar que não houve variação de intensidade e alteração de posição de picos, de acordo com a quantidade de deformação plástica aplicada, e as únicas fases presentes são austenita e ferrita. Esta técnica 34 permitiu a análise de que a transformação da fase ferrítica em fase austenítica induzida por deformação realmente ocorre sem envolver a formação de qualquer outra fase. Figura 15: Comparação dos difratogramas raios X em função da deformação plástica aplicada em aço inoxidável dúplex SAF 2205. Fonte: MARANGONI, 2012. 2.3 Energia de deformação plástica O regime de deformação elástica, para a maioria dos materiais metálicos, persiste apenas até deformações de aproximadamente 0,005. A tensão imposta sobre o material além deste ponto passa a não ser mais proporcional à deformação e ocorre uma deformação permanente, não recuperável após a liberação da carga aplicada, denominada deformação plástica (DOWLING, 1999). O encruamento é um fenômeno segundo o qual um metal dúctil se torna mais duro e mais resistente à medida que é submetido a um processo de deformação plástica em uma temperatura abaixo de suas temperaturas de recuperação e recristalização. Por isso, esse fenômeno também é chamado de endurecimento por trabalho a frio, pelo fato da temperatura em que a deformação ocorre impede fenômenos de recuperação e recristalização. Existem aços estáveis e metaestáveis, e neste segundo caso a resistência é aumentada através do aumento de densidade de discordâncias e de transformação de fase (DOWLING, 1999; TESSLER, M.; BARBOSA, C., 1990). Normalmente é conveniente expressar o grau de deformação plástica como uma porcentagem de trabalho a frio, em vez de uma deformação. É possível calcular a porcentagem de trabalho a frio (%TF) através da equação (5): 35 %TF= ( A0 - Ad ) x 100 A0 (5) onde A0 é a área original da seção transversal sob deformação e Ad é a área após a deformação (DOWLING, 1999). O fenômeno do encruamento é explicado com base em interações entre as discordâncias e os campos de deformação destas. O aumento de deformação ou de trabalho a frio aplicados num material metálico promovem o acréscimo de densidade de discordâncias. Consequentemente, a distância média de separação entre estas diminui, ou seja, ficam posicionadas mais próximas umas das outras. Sendo assim, ocorre aumento da energia interna do material, causando, portanto, aumento da energia livre total do sistema. Pode-se relacionar este fenômeno com as Figura 10 e Figura 11, pois este aumento de energia livre devido a força motriz (U’) pode ser responsável pela redução da fração volumétrica da ferrita e pela facilitação da transformação da austenita em ferrita na temperatura Md. Todavia, o presente trabalho apresenta a ocorrência desta transformação de forma reversa, ou seja, a ferrita torna-se austenita com a aplicação de trabalho mecânico a frio, como mostra a Figura 16, onde a austenita seria a fase mais estável, de tal maneira que ao aplicar o potencial termodinâmico a ferrita se transformaria em austenita. α→γ ∆G MS G ∆G α→γ Md U’ γ α MS Md T0 Temperatura Figura 16: Diagrama esquemático de energia livre de Gibbs das fases austenita (γ) e ferrita (α) de um aço dúplex que passaria por transformação martensítica reversa induzida por deformação. Fonte: Autor “adaptado de” WAYMAN, C.M.; BADESHIA, H.K.D.H., 1996. O acréscimo de energia associada com a deformação do corpo é denominado de energia de deformação, ou seja, é o trabalho realizado pelo aumento gradual da carga aplicada neste 36 corpo. Também é definida como a energia de deformação por unidade de volume, e corresponde à área abaixo da curva do diagrama tensão-deformação de um determinado material, como mostra a Figura 17. Tensão verdadeira, σ Trabalho de deformação plástica 0,002 Deformação verdadeira, ε Figura 17: Diagrama de tensão em função da deformação. Fonte: Autor; 2014. Ao aplicar trabalho mecânico em um material a fim de deformá-lo plasticamente, uma pequena parcela da energia imposta é armazenada no mesmo. Esta energia de deformação armazenada promove um acréscimo de energia interna tornando-a superior a seu equilíbrio termodinâmico, ou seja, o material torna-se metaestável. Caso a deformação aplicada ocorra à temperatura e pressão (P) constantes, é possível obter a equação 6, a qual associa a variação de energia livre (dG) e a energia interna (dU) (SANTOS, 2006; DOWLING, 1999; DIETER; 1988): dG = dU + P.dV - T.dS (6) Como a conformação plástica não promove variação considerável de volume (dV) e a variação de entropia (dS) pode ser considerada desprezível quando comparada com a variação de energia interna (dU) pode-se obter a equação 7 (SANTOS, 2006). dG ≅ dU (7) 37 É esta variação de energia livre a fonte de energia de ativação U’ na Figura 16 para permitir a nucleação da transformação martensítica reversa de ferrita em austenita na temperatura Md. 2.4 Ensaio de compressão O ensaio de compressão é resultado de um esforço axial, no qual o corpo de prova sofre uma redução de sua altura original. Esta redução de altura é proveniente da deformação aplicada e passa por dois estágios: deformação elástica e posteriormente plástica, que é permanente. Esta redução da altura promove aumento da seção transversal por conta do volume do corpo de prova não ser alterado (DOWLING, 1999). O ensaio de tração é mais comumente utilizado para os metais em comparação com o ensaio de compressão, contudo, o primeiro é muitas vezes limitado na máxima deformação plástica uniforme possível pelo fenômeno de estricção. Uma outra vantagem do ensaio de compressão é a simplicidade dos corpos de prova (DOWLING, 1999). Um dos principais problemas do ensaio de compressão é a flambagem, que é a instabilidade plástica caracterizada quando a amostra sofre flexão transversal devido à compressão axial aplicada. Para minimizá-la adota-se uma razão entre o comprimento e diâmetro (L/D) entre 1 e 3, visto que quanto maior o comprimento para um mesmo diâmetro a possibilidade de ocorrência de flambagem aumenta. Além disso, comprimentos muito pequenos podem apresentam resultados inválidos por conta do atrito das superfícies do corpo de prova com a máquina de ensaio. Para minimizar o atrito é comum a utilização de lubrificantes nas regiões de contato do corpo de prova (DOWLING, 1999). As propriedades mecânicas resultantes deste ensaio são o limite de escoamento, limite de proporcionalidade e o módulo de elasticidade. (DIETER, 1988; DOWLING, 1999; ASM, 2000) O cálculo da tensão e deformação verdadeiras é efetuado a partir da hipótese de constância de volume, na qual assume-se que o volume antes e a após aplicada a deformação é o mesmo, conforme demonstrado na equação 8. πD20 .h0 = πD2 .h onde: D0 é o diâmetro inicial h0 é a altura inicial (8) 38 D é o diâmetro final h é a altura final Sabendo que a tensão consiste na relação entre força aplicada e a área que sofre esta força, tem-se a equação 9: σ= F A (9) onde: σ é a tensão para um dado escoamento do material F é a força aplicada no corpo de prova A é a área da seção transversal do corpo de prova Ao substituir a área A pela equação da área de um círculo obtém-se a tensão verdadeira produzida pela força compressiva F, conforme mostrado na equação 10: σ= 4.F π.D2 (10) onde: σ é a tensão para um dado escoamento do material F é a força aplicada no corpo de prova D é o diâmetro do corpo de prova (DOWLING, 1999) Aplicando a Lei de constância de volume resulta a equação 11: σ= 4.FC .h π.D20 .h0 onde: FC é a força compressiva h é a altura final do corpo de prova D0 é o diâmetro inicial do corpo de prova h0 é a altura inicial do corpo de prova (11) 39 Para o estado triplo de tensões (Figura 18), têm-se a equação 12, que representa o tensor das tensões: σx σij = |τyx τzx τxy σy τzy τxz τyz | σZ (12) Figura 18: Representação esquemática do estado triplo de tensão. Fonte: DOWLING, 1999. É extremamente apropriado ressaltar que as formulações expostas acima pressupõem manutenção da seção prismática durante a compressão, ou seja, se o corpo de prova após deformado apresentar as bordas externas curvadas e não mais paralelas, as formulações deixam de ser válidas, já que neste caso que as tensões não foram uniformes. Assumindo que as deformações ao longo do diâmetro são as mesmas nas duas direções x e y e, efetuando-se os cálculos das deformações em cada eixo (x, y e z, considerados os eixos de deformação dos corpos de prova em estudo da Figura 19, pode ser determinada a deformação plástica efetiva total (p), com o uso das equações 13 a 14 respectivamente. Valores típicos num aço inoxidável SAF 2507 dos coeficientes de deformação H e de encruamento n são, respectivamente, 904 ± 5 MPa e 0,067 ± 0,001, conforme indicado no trabalho de Magnabosco e Donato (2004). 40 Figura 19: Ilustração dos eixos de deformação dos corpos de prova. Fonte: Autor. D h 0 o εx = εz = ln D ; εy = ln h ; (13) onde: ε é a deformação verdadeira h0 é a altura inicial do corpo de prova h é a altura final do corpo de prova 2 εp =√ . (ε2x +ε2y +ε2z ) 3 (14) 41 3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL O material estudado, fornecido pela empresa Villares Metals, foi uma barra cilíndrica de 82 mm de diâmetro e 3 metros de comprimento de aço superdúplex UNS S32750 (Figura 20), que foi obtida através do processo de fusão em forno elétrico a arco, posteriormente foi laminada, passou pelo tratamento térmico de solubilização a 1120ºC por 1h30min e resfriamento em água e, em seguida, foi acabada pelo processo de descascamento. Esta barra foi estudada através de equipamentos de propriedade do Centro de Desenvolvimento de Materiais Metálicos – CDMatM-FEI conforme será apresentado na sequência. 80 mm Figura 20: Barra cilíndrica composta do aço inoxidável superdúplex UNS S32750. Fonte: Autor. A composição química deste aço fornecida pela Villares é apresentada na Tabela 2. Tabela 2 – Composição química (%peso) do aço inoxidável dúplex em estudo fornecida pela Villares. Cr Ni Mo N C Mn Si Ce Al W Cu 25,17 6,88 3,61 0,25 0,01 0,60 0,40 0,00 0,01 0,69 0,58 P S 0,03 <0,001 bal. Fe Fonte: Villares Metals. 3.1 Confecção dos corpos de prova Para o estudo proposto foram confeccionados corpos de prova para ensaios de compressão transversais à barra original. Para isto, foram cortados em serra de corte discos de aproximadamente 10 mm de espessura, sendo que foram retirados de cada disco 7 corpos de prova de compressão (Figura 21), três da tira central e dois de cada tira lateral, através da máquina de eletroerosão a fio. A Figura 22 mostra as dimensões do corpo de prova de compressão usados no estudo exploratório desta dissertação. 42 Figura 21: Ilustração esquemática da obtenção dos corpos de prova de compressão, cujas dimensões estão em milímetros, a partir do disco usinado na serra de corte. Fonte: Autor. Figura 22: Dimensões em milímetros do corpo de prova de compressão utilizado nos estudos exploratórios. Fonte: Autor. Apesar da literatura apresentada na revisão bibliográfica sugerir que relação L/D possua valor entre 1 e 3 para que não haja flambagem todavia, conforme será apresentado no item 4.1.2, mesmo utilizando nos corpos de prova da Figura 22 L/D igual a 2, as dimensões deste corpo de prova permitiram que este fenômeno ocorresse e, desta forma, ocasionando a não uniformidade da deformação imposta, o que é potencialmente um fator complicador para o objetivo do estudo. Por isso, após os estudos exploratórios do item 4, foram realizados estudos 43 incluindo também a influência da temperatura de tratamento do aço mantendo-se o diâmetro de oito milímetros do primeiro modelo de corpo de prova, mas reduzindo a altura dos corpos de prova, passando de 16 para 7 milímetros. Sendo assim, a razão L/D passou de 2 para 0,9. Para estudo da influência da temperatura de formação da estrutura ferrítica e austenítica na transformação de fase induzida por deformação em estudo foram realizadas 3 condições de tratamento térmico a 1000ºC, 1100ºC e 1200ºC por uma hora e meia e, em seguida, foi aplicada a deformação plástica através do ensaio de compressão, sempre seguindo os procedimentos descritos no próximo item. 3.2 Ensaio de compressão A deformação plástica a frio foi aplicada em cada amostra através do uso da Máquina de Ensaios Universal MTS do CDMatM-FEI – Figura 23a. A Figura 23b representa os suportes e a garra utilizados. No estudo exploratório utilizou-se o lubrificante Molykote® para minimizar a influência do atrito nos resultados, já no estudo feito posteriormente utilizou-se o Teflon®. Foi utilizada uma velocidade de deslocamento das placas de compressão de 2 mm/min. Nesta etapa calculou-se qual seria a altura final do corpo de prova para que fosse atingido o nível de deformação verdadeira desejado para que cada ensaio fosse interrompido na deformação verdadeira calculada. Para o estudo exploratório este nível foi variado de 0,05 a 0,69, sendo que os valores foram alternados de 0,05 em 0,05 até 0,55 e a amostra da curva total apresentou 0,69 de deformação verdadeira, sendo válido ressaltar que cada ensaio foi realizado em triplicata vezes para que fosse possível ter maior número de dados e compará-los caso ocorresse alguma disparidade significativa. Já para o segundo estudo, no qual as alturas dos corpos de prova haviam sido reduzidas, as deformações verdadeiras foram variadas de 0,14 a 0,70 com passo de 0,14. Além disso, nesta etapa do trabalho utilizou-se Teflon® como lubrificante, pois excesso de Molycote® também poderia ter sido causador da flambagem observada no estudo exploratório, e apresentada no item 4.1.2. 44 (a) (b) Figura 23: (a) Máquina de ensaios Universal MTS. (b) Suportes e garras utilizados para realização dos ensaios. Fonte: Autor. 3.3 Medições magnéticas No estudo exploratório foi feita a medida da fração volumétrica de ferrita nas doze amostras a serem estudadas, através de medidas magnéticas, depois de aplicada deformação plástica a frio. Este procedimento foi efetuado através do uso do ferritoscópio FISCHER modelo MP30 (Figura 24) do CDMatM-FEI; este aparelho é calibrado com o auxílio de padrões, tendo como limite de detecção 0,1% de ferrita. É uma técnica simples de quantificação de fases, que consiste em colocar a ponta de prova do ferritoscópio perpendicularmente sobre o plano da chapa conformada mecanicamente e o valor da porcentagem volumétrica de ferrita aparece no visor do aparelho. Dez medições foram realizadas em cada uma das amostras em cada lateral, no topo e na base dos corpos de prova depois de deformados (Figura 25). 45 (a) (b) Figura 24: (a) Ferritoscópio FISCHER modelo MP30 do CDMatM-FEI. (b) Padrões de calibração. Fonte: Autor; 2012. Topo Lateral 1 Lateral 2 Base Figura 25: Regiões de medida com o ferritoscópio. Fonte: Autor. 46 Também foi medida a fração de ferrita da seção longitudinal das amostras embutidas analisando 20 pontos aleatórios desta região a fim de verificar se existem diferenças de deformação entre a superfície e o centro dos corpos de prova. No segundo estudo foram medidas as frações ferríticas do topo e da base e da seção longitudinal dos corpos de prova, sendo medidos 16 e 20 pontos aleatórios nestas regiões, respectivamente. 3.4 Difração de raios X A difração de raios X (DRX) foi realizada no equipamento Shimadzu XRD-7000 do CDMat-M da FEI, na seção longitudinal dos corpos de prova, com radiação de Cu-Kα e monocromador de Ni; foram varridos os ângulos de difração 35°<2θ<105°, a velocidade de 1 °/min e amostragem a cada 0,02 º, sendo a fonte de raios X excitada a 30 kV e 30 mA. Foi realizada a DRX em todas amostras, como recebidas e deformadas, a fim de comprovar a presença das fases em cada amostra, avaliar a possibilidade de quantificação de fases por este método e possíveis deslocamentos dos picos em função da deformação. Nas amostras de altura reduzida, para evitar flambagem e deformação não uniforme dos corpos de prova utilizou-se a metodologia para quantificar a fração de ferrita por DRX proposta no estudo de Moser et al.. (2014) na qual a estimativa quantitativa de fases baseia-se no uso de proporções internas. Partindo do princípio de que os grãos estão orientados aleatoriamente, a intensidade integrada I de uma dada fase i é proporcional à fração de volume da referida fase, Vi, como mostra a equação 15 adaptada do modelo de Moser para um material bifásico (austenita e ferrita) em estudo abaixo: 1 n Ii ∑ n 1 Ri Vi = 1 n Iγ 1 n Iα ∑ ∑ n 1 Rγ + n 1 Rα onde i: fase Vi: fração volumétrica da fase i n: número de picos da fase I: intensidade do pico integrada R: fator de espalhamento do material (15) 47 O fator de espalhamento do material é calculado através da equação 16. Rhkl = ( 1 2 ) [|F| V 2 p( 1+ cos² 2θ )] e-2M sin² θ cos θ (16) onde: hkl: índices de Miller do plano cristalográfico de reflexão V: volume da célula unitária F: fator da estrutura p: fator de multiplicidade θ: ângulo de difração e-2M: fator de temperatura Debye-Waller No artigo de Moser et al.. (2014) foram disponibilizados os valores de F, p e e -2M para austenita (Tabela 3) e ferrita (Tabela 4). Tabela 3 –Dados para quantificação de fases de DRX para a fase austenita. hkl F p e-2M 111 18,16 8 0,963 200 16,55 6 0,951 220 13,66 12 0,904 311 11,36 24 0,871 Fonte: Fonte: Autor “adaptado de” Moser et al., 2014 Tabela 4 – Dados para quantificação de fases de DRX para a fase ferrita. hkl F p e-2M 110 18,16 12 0,961 200 15,04 6 0,925 211 12,43 24 0,889 220 11,36 12 0,860 Fonte: Fonte: Autor “adaptado de” Moser et al., 2014 Outro valor necessário para prosseguir a quantificação é o volume das fases presentes, que corresponde ao parâmetro de rede (representado pela letra a) elevado ao cubo. Sendo assim, é necessário determinar o valor deste. Sendo as duas estruturas cúbicas é possível calcular o 48 parâmetro de rede da austenita e da ferrita pela equação 17, para cada plano cristalográfico (uvw) de reflexão que gera pico na DRX. a= dhkl √h2 +k2 +l2 2. sin θ (17) onde: d é a distância interplanar Para o cálculo do parâmetro de rede utilizou-se a equação 17 sendo obtidos diversos valores para cada fase, pois cada pico de cada fase forneceu um valor de distância interplanar e, consequentemente o de parâmetro de rede. Então, foi calculada a média dos valores do parâmetro a de todos os picos de cada fase. Como utilizamos o seno do ângulo é necessário corrigir o valor do parâmetro de rede calculado, pois ligeiras variações no ângulo podem causar variações de seno deste ângulo extremamente maiores conforme destacado na Figura 26. O que é possível notar é que quanto mais próximo dos 90º menor será o erro (também destacado na Figura 27), basta comparar a variação do seno do ângulo para um ângulo de 20 a 30 º, tem-se um seno de 0,35 a 0,50; enquanto que para ângulos entre 80 e 90 º tem-se um seno de 0,975 a 1,0. Sendo assim, temos que o parâmetro de rede depende do seno do ângulo e que o erro do seno será mínimo se o ângulo tender a 90º. 49 1 1 0,6 0,01 0,4 0,001 0,2 0,0001 0 ∆seno para ∆θ= 0,01 rad 0,1 senθ 0,8 0,00001 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 θ seno ∆seno para ∆θ= 0,01 rad Figura 26: Demonstração da variação de seno em função da variação do ângulo. Fonte: Autor. Sendo assim, foram feitas as correções devidas à absorção, erro de medida do ângulo e a excentricidade conforme apresentado nos trabalhos de Nelson e Riley (1944) para a fase austenita de um aço inoxidável (Figura 27); ao extrapolar a linha de tendência para x igual a zero no exemplo para fase austenita tem-se que o parâmetro de rede é 3,59 Å. 3,6250 y = 0,0135x + 3,5894 R² = 0,9977 3,6200 3,6150 a, Å 3,6100 3,6050 3,6000 3,5950 3,5900 2,5 2 1,5 1 0,5 2 2 1/2[(cos θ/senθ)+(cos θ/θ)] 0 Figura 27: Exemplo de correção do parâmetro de rede proposto por Nelson e Riley (1944). Fonte: Autor. 50 Para o cálculo do volume faz-se o parâmetro de rede encontrado depois da correção do parâmetro de rede proposto por Nelson e Riley (1944) elevado ao cubo. As análises por difração de raios X, contudo, têm como principal objetivo avaliar quais são as fases presentes após a deformação, pois sem a confirmação de que existam apenas ferrita e austenita, não se poderia supor a transformação de ferrita em austenita em processo semelhante a uma transformação martensítica reversa induzida por deformação, alvo principal de estudo desta proposta. 3.5 Análise metalográfica Após a conformação plástica, os corpos de prova foram preparados metalograficamente conforme mostrado na Tabela 5. Nesta etapa foi feito uso do equipamento de polimento semiautomático Struers Abramin localizado no CDMatM-FEI. Para a revelar a microestrutura das amostras no estudo exploratório foi utilizado o reagente de Beraha modificado para análises no microscópio óptico. Tabela 5 – Procedimento utilizado na realização da preparação metalográfica. Passo Suporte #1 #2 #3 #4 #5 #6 Dia-Grit Dia-Grit DPMOL DPMOL DPNAP DPNAP Tamanho do abrasivo 220 grit 9 m 6 m 3 m 1 m 0,25 m Lubrificante Água Água Álcool Álcool Álcool Álcool Força (N) 200 200 200 200 200 150 Tempo (minuto) 3 3 3 3 3 1,5 R.P.M. 150 150 150 150 150 300 No estudo exploratório a revelação microestrutural foi realizada com o auxílio do reativo de Beraha modificado, cuja solução base é constituída de 20 mL de ácido clorídrico (HCl) e 80 mL de água destilada e deionizada, na qual foram adicionados 1 g de metabissulfito de potássio (K2S2O5) e 2 g de bifluoreto de amônio (NH4HF2), o ataque foi realizado variandose o tempo entre 5 e 10 s de imersão ininterrupta. O ataque foi interrompido com água, e a superfície de observação seca através de evaporação de álcool etílico, auxiliada por jato de ar frio. Na segunda etapa do trabalho, as microestruturas das amostras polidas foram reveladas com o ataque eletrolítico com solução 10% de ácido oxálico. Neste, há uma fonte acoplada a uma cuba de inox com a solução citada e foi aplicada uma tensão de 6 Vcc. A amostra foi 51 mergulhada nesta substância, variado o tempo de ataque entre 25 e 35 segundos. Nesta situação a cuba age como catodo e a amostra como anodo, permitindo o fechamento do circuito e com isso o ataque da amostra. A interrupção do ataque e a secagem da superfície foram realizadas da mesma maneira já descrita para o ataque de Beraha. Após os ataques metalográficos, as amostras atacadas foram observadas no microscópio Olympus do CDMatM-FEI com objetivas de 20x e 50x de aumento, para os ataques de Beraha e ácido oxálico, respectivamente. Além disso, foram selecionadas amostras mais representativas apenas polidas e com ataque eletrolítico para serem analisadas no MEV CamScan CS3200LV dado o longo tempo demandado para uma análise completa em cada uma, e dentre estas amostras foram examinadas minuciosamente a sem deformação, duas com valores intermediários de deformação e a mais deformada plasticamente. O feixe de elétrons incidente fez com que a imagem da microestrutura fosse gerada por elétrons secundários nas amostras atacadas com ácido oxálico e por elétrons retroespalhados em algumas amostras polidas. Análises por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) foram realizadas para determinar se as regiões analisadas tinham a composição química típica de austenita ou ferrita. 52 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste item serão apresentados os resultados e discussão do estudo exploratório, no qual foram definidas alterações dimensionais no corpo de prova de compressão e, do efeito da deformação e da temperatura de tratamento inicial na transformação de fases pesquisada neste trabalho. 4.1 Estudo exploratório Neste item serão apresentados e discutidos os resultados obtidos ao final da etapa de qualificação, sendo estes resultados referentes às amostras originais e depois de deformadas dos corpos de prova com relação L/D=2, na condição de tratamento térmico de fornecimento do material em estudo. 4.1.1 Material conforme recebido Primeiramente foram retirados os corpos de prova de compressão da barra cilíndrica doada pela empresa Villares Metals, e em seguida as análises foram realizadas nestes corpos de prova conforme recebido, sendo as medições magnéticas efetuadas na área lateral, topo e base e seção longitudinal do corpo de prova, a fim de quantificar a fração de fase ferrítica presente (Figura 28). A diferença entre os valores encontrados para as três regiões distintas analisadas pode ser fruto da imposição de deformação pela ferramenta de usinagem na própria confecção dos corpos de prova, visto que nas regiões onde ocorreram os cortes (topo, base e área lateral) apresentam menor valor de fração volumétrica de ferrita e é possível assumir que nestas regiões a quantidade desta fase presente é extremamente similar. 53 Fração de ferrita, %α [%] com ferritoscópio 70 60 50 40 30 45,80 48,94 56,88 Área lateral do corpo-deprova Topo e base do corpo-deprova Longitudinal 20 10 0 Regiões de medida da fração de ferrita, %α [%] Figura 28: Fração de ferrita medida por medidas magnéticas em diferentes regiões do corpo de prova da amostra sem deformação. A análise por difração de raios X na seção longitudinal foi feita varrendo-se ângulos de difração entre 35 ° e 105 ° (Figura 29), a fim de comprovar quais eram as fases presentes. Comprovou-se que as únicas fases presentes são ferrita e austenita, com os picos de difração correspondentes aos planos cristalográficos destas fases identificados nas figuras citadas. A micrografia da seção longitudinal do corpo de prova antes da deformação, em sua região central, está exposta na Figura 30 e é possível observar que as únicas fases presentes são austenita e ferrita. 54 γ (111) α (110) 3500 2500 α (220) γ (222) 500 γ (311) α (200) 1000 α (211) 1500 γ (220) 2000 γ (200) Intensidade [cps] 3000 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 29: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra sem deformação. Figura 30: Amostra sem deformação, seção longitudinal, do corpo de prova de compressão antes da deformação. A ferrita é a fase escura e a austenita a clara. Ataque: Beraha. 4.1.2 Ensaio de compressão Através dos ensaios de compressão foi possível gerar as curvas tensão e deformação verdadeiras para cada nível de deformação apresentado (Figura 31 a Figura 42). Notou-se que a partir de 0,35 de deformação verdadeira aplicada as curvas obtidas não apresentavam o comportamento esperado para este tipo de ensaio, ou seja, não cresciam continuamente. Sendo assim, não se pode afirmar que a equação 11 era então válida, visto que após a ocorrência do 55 ponto de máximo certamente o corpo de prova de compressão havia flambado, apesar de ter sido utilizada a relação h⁄D ≤ 2. 900 Tensão verdadeira, σc [MPa] 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 Deformação verdadeira, εc [-/-] Figura 31: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira ε = 0,05. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0,02 0,04 0,06 0,08 Deformação verdadeira, εc [-/-] Figura 32: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira ε = 0,10. 0,1 56 Tensão verdadeira, σc [MPa] 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16 Deformação verdadeira, εc [-/-] Figura 33: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira ε = 0,15. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,05 0,1 0,15 0,2 Deformação verdadeira, εc [-/-] Figura 34: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira ε = 0,20. 0,25 57 Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 Deformação verdadeira, εc [-/-] Figura 35: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira ε = 0,25. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 Redução de altura, RA [-/-] Figura 36: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira ε = 0,30. 0,35 58 Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 Redução de altura, RA [-/-] Figura 37: Curva de compressão tensão verdadeira em função da deformação verdadeira ε = 0,35. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 Redução de altura, RA [-/-] Figura 38: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura RA = 0,40. 0,45 59 Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 Redução de altura, RA [-/-] Figura 39: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura RA = 0,45. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 Redução de altura, RA [-/-] Figura 40: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura RA = 0,50. 0,6 60 Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Redução de altura, RA [-/-] Figura 41: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura RA = 0,55. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 Redução de altura, RA [-/-] Figura 42: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura RA = 0,69. A Figura 43 compara as curvas obtidas para as amostras 6 e 12, ε = 0,30 e RA = 0,69, respectivamente, e a fotografia destas amostras e da original. Nesta foto é possível evidenciar a flambagem ausente, iniciada na deformação de 0,30 e extremamente acentuada no corpo de prova de maior deformação plástica aplicada. Ou seja, ao ocorrer este fenômeno a deformação 61 plástica aplicada deixa de ser uniforme ao longo do corpo de prova, inviabilizando o estudo seguro da influência do grau de deformação a frio numa possível transformação de fase martensítica reversa induzida por deformação como a proposta neste trabalho. 1200 Tensão verdadeira, σc [MPa] 1000 800 600 400 Original 200 0,69 de redução de altura 0,30 de deformação verdadeira 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 Redução de altura, RA [-/-] εc = 0,30 RA = 0,69 Figura 43: Curva de compressão tensão verdadeira em função da redução de altura para as ε = 0,30 e RA = 0,69, respectivamente. Portanto, todos os resultados obtidos para deformações verdadeiras maiores ou iguais a 0,30 devem ser avaliados com cuidado nas análises deste estudo exploratório, visto que por terem flambado, é possível afirmar que a partir desta amostra a deformação aplicada não foi uniforme ao longo de toda a seção do corpo de prova. 4.1.3 Medições magnéticas As medidas das frações volumétricas de ferrita nas doze amostras em estudo foram feitas através de medidas magnéticas. Dez medições foram realizadas em cada uma das amostras em cada lateral dos corpos de prova depois de deformados. Cinco amostras foram medidas também dez vezes, porém desta vez no topo e na base dos corpos de prova. As seções longitudinais dos corpos de prova também foram analisadas em 20 campos distintos e aleatórios. Das Figura 44 a Figura 46 tem-se a fração de ferrita das amostras em função da redução de altura – visto que 62 a partir de 0,30 a deformação passa a não ser uniforme – destas três avaliações, respectivamente. Como esperado, em ambos os casos, o aumento da quantidade de deformação plástica diminui a fração de ferrita, o que é possível notar comparando os valores da fração de ferrita da amostra original e das amostras deformadas. É válido ressaltar que pode se assumir deformação constante para deformações verdadeiras menores ou iguais a 0,25 e que os valores da deformação que ocorre na área lateral, no topo e na base do corpo de prova não são conhecidos, e mesmo que fosse usada a teoria de plasticidade conhecida a geometria final de cada corpo de prova e admitindo isotropia, não se conseguiria obter medição de ferrita em local preciso o suficiente para se associar a deformação assim calculada. As deformações utilizadas no eixo X α [%], fração de ferrita medida por ferritoscópio dos gráficos destas condições foram utilizadas apenas para referenciar as amostras em análise. 55 50 45 40 35 30 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 Redução de altura, RA [-/-] %α área lateral do corpo-de-prova Amostra original Figura 44: Fração de ferrita da área lateral dos corpos de prova em função da redução de altura aplicada. α [%], fração de ferrita medida por ferritoscópio 63 55 50 45 40 35 30 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 Redução de altura, RA [-/-] %α topo e base do corpo-de-prova Amostra original α [%], fração de ferrita medida com ferritoscópio Figura 45: Fração de ferrita da área do topo e da base dos corpos de prova em função da redução de altura aplicada. 60 55 50 45 40 35 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 Redução de altura, RA [-/-] %α seção longitudinal do corpo-de-prova Amostra original Figura 46: Fração de ferrita da seção transversal dos corpos de prova em função da redução de altura aplicada. Através dos resultados obtidos por medições magnéticas, foi possível comprovar a redução da porcentagem da fase de ferrita presente em função do aumento de deformação plástica a frio aplicada. Os dados do trabalho desenvolvido por Marangoni (2012) foram 64 analisados e constatou-se uma observação interessante, em dada deformação plástica a fração da fase ferrítica medida pelo ferritoscópio passa a não decrescer mais com o aumento da deformação e é estabilizada. Então, há a possibilidade de existir um mínimo de ferrita presente no material em estudo, de modo que mesmo introduzindo mais energia neste aço inoxidável dúplex SAF 2205 a transformação de fases induzida por deformação passa a não ocorrer. Este limite é de aproximadamente 0,2 de deformação plástica efetiva (reta verde da Figura 14). Neste trabalho este mesmo valor de estabilização não ocorre para as deformações aplicadas. A única constatação é que por ferritoscópio em todas as condições de deformação a fração de ferrita é reduzida. Existe diferença entre as medidas do topo e base e as demais regiões, isso ocorre devido aos locais medidos terem deformações diferentes, o que é agravado nos casos de flambagem, mas o fato é que existe uma deformação e esta leva a queda da fração de ferrita, mais uma vez permitindo aceitar a hipótese de uma transformação martensítica reversa de ferrita em austenita induzida por deformação. Para tal, contudo, é preciso comprovar que apenas ferrita e austenita estão presentes nas amostras, comprovação esta realizada por DRX, como mostrará o próximo item. 4.1.4 Difração de raios X A difração de raios X das amostras foi feita varrendo-se ângulos de difração 35°<2θ<105° (Figura 47 a Figura 53), a fim de comprovar quais são as fases presentes. Comprovou-se que as únicas fases presentes são ferrita e austenita, com os picos de difração correspondentes aos planos cristalográficos destas fases identificados nas figuras citadas, nas quais ε significa deformação verdadeira e a sigla RA significa redução de altura, já que deformações acima de 0,30 não são mais uniformes por conta da flambagem. 65 α (110) 9000 7000 6000 γ (111) 5000 1000 α (220) γ (222) γ (220) 2000 γ (311) 3000 α (211) α (200) 4000 γ (200) Intensidade [cps] 8000 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 47: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,05 de deformação verdadeira. γ (111) α (110) 3000 α (220) γ (222) 500 γ (311) α (200) 1000 γ (220) 1500 α (211) 2000 γ (200) Intensidade [cps] 2500 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 48: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,10 de deformação verdadeira. 66 γ (111) α (110) 7000 5000 4000 α (220) γ (222) γ (311) 1000 α (211) α (200) 2000 γ (220) 3000 γ (200) Intensidade [cps] 6000 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] 5000 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) γ (311) α (211) γ (220) α (200) γ (200) γ (111) α (110) Intensidade [cps] Figura 49: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,15 de deformação verdadeira. 100 110 2θ [º] Figura 50: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,20 de deformação verdadeira. 67 α (110) 4000 3000 γ (111) 2500 α (220) γ (222) 500 γ (311) α (200) 1000 γ (220) 1500 α (211) 2000 γ (200) Intensidade [cps] 3500 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 51: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,25 de deformação verdadeira. γ (111) α (110) 3000 2000 α (220) γ (222) γ (311) α (200) 500 γ (220) 1000 α (211) 1500 γ (200) Intensidade [cps] 2500 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 52: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,30 de deformação verdadeira. 68 γ (111) α (110) 3500 2500 2000 α (220) γ (222) γ (311) α (200) 500 γ (220) 1000 α (211) 1500 γ (200) Intensidade [cps] 3000 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 53: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105 o, da amostra 0,69 de deformação verdadeira. Todas as curvas de intensidade em função do ângulo de difração apresentaram o mesmo comportamento, mostrado na Figura 54 que representa os valores das condições mais relevantes ao estudo, sem deformação plástica, com um valor intermediário de deformação plástica e com o máximo de deformação plástica aplicada. Os picos apresentados são relativos apenas às fases α (220) γ (222) γ (311) α (211) γ (220) α (200) γ (200) α (110) Intensidade γ (111) ferrita e austenita, descartando-se a presença de outras fases nas microestruturas. 30 40 50 60 70 80 90 100 2θ [º] Amostra 0; ε = 0 Amostra 6; ε = 0,30 Amostra 12; RA = 0,69 110 69 Figura 54: Comparação dos difratograma de raios X em função da deformação plástica aplicada. 4.1.5 Análise microestrutural das amostras deformadas As micrografias a seguir (Figura 55 a Figura 60) foram realizadas no microscópio Olympus do CDMatM-FEI com objetiva de 20x de aumento e o ataque utilizado foi o Beraha modificado, sendo a ferrita a região escura e a austenita a clara, mostrando que em todas amostras estão presentes apenas ferrita e austenita. O plano longitudinal das amostras foi analisado. É possível perceber que quanto mais deformado o material, mais refinada e preferencialmente orientada torna-se a estrutura, e também é possível notar que a partir da amostra 6 (deformação 0,30) praticamente todas as micrografias apresentaram pontos de austenita nucleados dentro da fase ferrítica, o que pode ser uma evidência da transformação de fases em estudo, visto que a redução da ferrita teoricamente originaria esta nova austenita. Figura 55: Amostra 1, ε = 0,05, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. 70 Figura 56: Amostra 2, ε = 0,10, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. Figura 57: Amostra 3, ε = 0,15, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. Figura 58: Amostra 5, ε = 0,25, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. 71 Figura 59: Amostra 7, RA = 0,35, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. Figura 60: Amostra 10, RA = 0,50, plano longitudinal do centro do corpo de prova de compressão. Ataque: Beraha. As regiões destacadas por círculos vermelhos nas Figura 61a e b podem ser sinais da transformação de fase induzida por deformação em estudo no presente trabalho. Para melhor análise da região destacada na Figura 61a tem-se micrografia deste local em maior aumento nas Figura 61b, usando objetiva de 100x de aumento. Na região destacada com o círculo vermelho aparentemente a austenita iniciou sua nucleação dentro do grão de ferrita, o que pode ser observado em mais regiões próximas a este ponto. Além disso, a indicação da seta vermelha destaca uma região aparentemente residual de ferrita dentro da austenita, ambas as observações reforçando a hipótese em estudo de transformação da fase ferrita em austenita induzida por deformação. 72 (a) (b) Figura 61: Amostra 10, 50% deformada, seção longitudinal do corpo de prova de compressão. (a) com 50x de aumento e (b) com 100x. Ataque: Beraha Modificado. 73 4.2 Efeito da deformação e da temperatura de tratamento inicial Neste item serão apresentados e discutidos os resultados obtidos após o estudo exploratório apresentado anteriormente, referentes às amostras tratadas em três temperaturas diferentes, em seis condições de deformação e com o corpo de prova de menor altura para evitar a flambagem que ocorreu no estudo exploratório. 4.2.1 Material solubilizado sem deformação Depois de reduzida a altura dos corpos de prova e efetuados os tratamentos térmicos em três temperaturas distintas 1000 ºC, 1100 ºC e 1200 ºC foram realizadas as medidas magnéticas efetuadas no topo e base e na seção longitudinal do corpo de prova, com o objetivo de quantificar a fração de fase ferrítica presente (Figura 62). Figura 62: Fração de ferrita medida por medida magnética em diferentes regiões do corpo de prova da amostra sem deformação nas três temperaturas de tratamento térmico. Analisando a Figura 62 é possível notar que com o aumento da temperatura houve aumento da fração de fase ferrita, conforme esperado, e que apesar de existirem valores similares desta fase nas duas regiões do corpo de prova em estudo, ao menos na média é visto 74 que para todas as temperaturas tem-se valores menores de ferrita na seção longitudinal do que no topo e na base com no mínimo 2,4% de diferença, além disso, os desvios padrão do topo e base são sistematicamente maiores em pelo menos 32% do que do centro do corpo de prova. Assim, para avaliação da transformação de fase optou-se pelo estudo da fração de ferrita medida por ferritoscópio na seção longitudinal das amostras, a mesma usada nas análises de difração de raios X e análises microestruturais. Conforme será apresentado adiante, ocorreu a formação de fase sigma a 1000 ºC no tratamento térmico, o que pode ser explicado através do diagrama de temperatura em função da fração em massa das fases presentes (Figura 63) do aço em estudo obtido através do software Thermo-Calc (TC) versão 4.0, base de dados TCFE7. Deve se ressaltar que na simulação foram considerados os elementos ferro, nitrogênio, carbono, silício, manganês, cromo, níquel, vanádio, tungstênio e cobre que são os de maior relevância e mostraram-se presentes nas análises de EDS realizadas posteriormente. Na simulação foi possível observar que em 1000 ºC tem-se presente cerca de 1% de nitreto de cromo Cr2N (HCP_A3#2); 6% de sigma; 39 % de ferrita (BCC_A2) e 54 % de austenita (FCC_A1); já em 1100ºC existe 51 % de ferrita (BCC_A2) e 49 % de austenita (FCC_A1); e em 1200 ºC há a presença de 62 % de ferrita (BCC_A2) e 38 % de austenita (FCC_A1). Comparando a média das frações de ferrita medidas com o ferritoscópio das amostras sem deformação com os valores do TC são encontradas diferenças de 7,7 a 16%, esta diferença pode ocorrer pelo fato da prática ter algumas variáveis que não são contempladas no TC, como por exemplo problemas com o resfriamento das amostras, com o próprio forno em que foi realizado o tratamento térmico, dentre outros. 75 Figura 63: Diagrama de equilíbrio do aço superdúplex SAF 2507 pela simulação do software Thermo-Calc. A análise de difração de raios X na seção longitudinal foi feita conforme apresentado na metodologia e foram obtidos os difratogramas apresentados nas Figura 64 aFigura 66, com o objetivo de identificar as fases presentes. Comprovou-se que as fases presentes nas amostras tratadas a 1100 °C e 1200 °C são ferrita e austenita, mas na amostra tratada a 1000ºC encontrouse também a fase intermetálica sigma, conforme identificado nos difratogramas. 76 γ (111) α (110) 1600 ε = 0; 1000ºC 200 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) α (200) 400 γ (311) 600 σ (710) 800 γ (220) σ (411) γ (200) 1000 α (211) 1200 σ (002) σ (410) σ (202) σ (331) Intensidade [cps] 1400 100 110 2θ [º] Figura 64: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra sem deformação tratada a 1000ºC. γ (111) α (110) 1800 ε = 0; 1100ºC 1400 1200 1000 α (220) γ (222) 200 γ (311) α (200) 400 α (211) 600 γ (220) 800 γ (200) Intensidade [cps] 1600 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 65: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra sem deformação tratada a 1100ºC. 77 α (110) 1600 ε = 0; 1200ºC 1200 α (200) γ (200) 400 200 γ (220) 600 α (220) γ (222) 800 γ (311) 1000 α (211) γ (111) Intensidade [cps] 1400 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 66: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra sem deformação tratada a 1200ºC. Na microscopia óptica foi possível notar que as amostras tratadas a 1000 ºC realmente apresentavam a fase intermetálica sigma (pontos pretos), além de ferrita (região lisa e em alto relevo) e austenita (com maclas e baixo relevo). Já as amostras tratadas a 1100 e 1200 ºC apresentaram apenas ferrita e austenita (Figura 67 a Figura 69). Figura 67: Micrografia da região central do corpo de prova sem deformação tratado a 1000ºC. 78 Figura 68: Micrografia da região central do corpo de prova sem deformação tratado a 1100ºC. Figura 69: Micrografia da região central do corpo de prova sem deformação tratado a 1200ºC. Através de 20 imagens automáticas e aleatórias coletadas pelo MEV em imagens de elétrons retroespalhados (como a da Figura 70) foi determinada a fração da fase sigma na amostra sem deformação a 1000ºC com auxílio do software AnalySIS Docu do microscópio Olympus, sendo o valor encontrado 3,68 ± 2,14 %, ou seja de 1,54 a 5,82%. 79 Figura 70: Amostra sem deformação cujo tratamento térmico foi realizado a 1000ºC. Além de comprovar as fases presentes, a análise de difração de raios X também foi utilizada para quantificação da fração de ferrita nas amostras que possuíam somente as fases ferrita e austenita. Os resultados das amostras tratadas a 1100 °C e 1200 °C (que apenas apresentam ferrita e austenita) sem deformação obtidos por DRX usando o método de Moser, et al.. (2014) estão apresentados na Tabela 6 e comparados com os valores mensurados pelo ferritoscópio e com os valores obtidos na simulação de equilíbrio do TC. O valor de austenita calculado apresentado nesta tabela representa a subtração da ferrita quantificada por medidas magnéticas e a fração da fase sigma pelo software AnalySis. Nota-se que apesar do ferritoscópio apresentar a mesma tendência do TC de aumento da fração de ferrita com o aumento da temperatura de tratamento térmico, não há coincidência entre os valores obtidos experimentalmente e os obtidos na simulação computacional. Já os dados obtidos por DRX não mostram a tendência de aumento da fração de ferrita com o aumento da temperatura de tratamento, indicando que a provável existência de textura cristalográfica invalida a quantificação de fases por DRX nestas amostras. Inclusive para as amostras sem deformação a quantificação de fases não mostrou coerência com o embasamento teórico, o valor da fração de ferrita para 1200 ºC esperado seria maior do que para 1100 ºC e não foi isso que aconteceu. Uma possível explicação para isto seria que esta metodologia parte do pressuposto de que o material não possui textura, e mesmo as amostras sem deformação possuem textura, visto que 80 o processamento de obtenção da barra cilíndrica da qual foram retirados os corpos de prova inclui processo de laminação. Tabela 6 – Comparação das medidas da fração de ferrita via DRX e ferritoscópio das amostras sem deformação. Fração Fração Fração Fração Fração Fração Temperatura Fração de de Fração de de de de de de de sigma ferrita ferrita (%) - ferrita sigma austenita austenita austenita tratamento (%) (%) – Ferritoscópio (%) (%) (%) (%) (%) (ºC) AnalySIS DRX TC TC DRX calculada TC 1000 32,77 39 3,68 6 63,55 54 43,48 56,52 1100 45,94 51 0 54,06 49 42,31 57,69 1200 52,45 62 0 47,55 38 4.2.2 Ensaio de compressão Através dos ensaios de compressão foi possível gerar as curvas tensão vs. deformação verdadeiras para cada nível de deformação apresentado (Figura 71 a 75). Apesar das diferenças microestruturais mostradas anteriormente, não se nota grandes diferenças de comportamento mecânico nas curvas de compressão apresentadas. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 Deformação verdadeira, εc [-/-] ε = 0,14, 1000ºC ε = 0,14, 1100ºC ε = 0,14, 1200ºC Figura 71: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,14. 81 Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 Deformação verdadeira, εc [-/-] ε = 0,28, 1000ºC ε = 0,28, 1100ºC ε = 0,28, 1200ºC Figura 72: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,28. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Deformação verdadeira, εc [-/-] ε = 0,42, 1000ºC ε = 0,42, 1100ºC ε = 0,42, 1200ºC Figura 73: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,42. 82 Tensão verdadeira, σc [MPa] 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 Deformação verdadeira, εc [-/-] ε = 0,56, 1000ºC ε = 0,56, 1100ºC ε = 0,56, 1200ºC Figura 74: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,56. Tensão verdadeira, σc [MPa] 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 Deformação verdadeira, εc [-/-] ε = 0,70, 1000ºC ε = 0,70, 1100ºC ε = 0,70, 1200ºC Figura 75: Curvas de compressão das três temperaturas de tratamento térmico estudadas, tensão verdadeira em função da deformação verdadeira para a ε = 0,70. Conforme exposto nas curvas tensão versus deformação, a redução da altura do corpo de prova sem deformação utilizado para o estudo exploratório atingiu o objetivo esperado de evitar a ocorrência de flambagem. Outra evidência desta constatação pode ser vista na Figura 83 76 que demonstra a condição final dos corpos de prova para cada deformação imposta, visto que a redução de altura foi obtida mantendo o paralelismo das bordas do corpo de prova e o diâmetro apresentou acréscimo uniforme para todas as direções com o aumento da deformação compressiva imposta perpendicularmente ao topo e base dos cilindros. Assim, a ocorrência de flambagem observada no estudo exploratório pode ser descartada, e pode-se então assumir que a deformação imposta às amostras foi uniforme em toda a seção longitudinal dos corpos de prova. (a) (b) Figura 76: Condição dos corpos de prova depois de efetuado o ensaio de compressão em cada nível de deformação desejado em (a) vista lateral e (b) vista superior. 4.2.3 Medições magnéticas Através das medidas magnéticas foi possível notar a considerável redução da fração de ferrita no topo e na base dos corpos de prova (Figura 77 a Figura 79) e também na seção longitudinal dos mesmos (Figura 80 a Figura 82) para as três temperaturas de tratamento térmico. Contudo, antes da redução de fração de ferrita observou-se que para as menores deformações, levou um pequeno aumento da fração desta fase, o que não havia sido reportado nos trabalhos anteriormente citados (Magnabosco et al.., 2011; Magnabosco; Avila; Rabechini, 2011; Marangoni, 2012). Assim, pode se supor duas transformações martensíticas induzidas por deformação: uma ocorrendo à baixas deformações, onde a austenita se transforma em ferrita, e outra em maiores níveis de deformação, chamada reversa, pois levaria a ferrita a se transformar em austenita. 84 %Ferrita [ferritoscópio] 40 38 36 34 32 30 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] %α do topo e da base do corpo de prova, 1000ºC Figura 77: Fração de ferrita do topo e da base dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1000ºC de tratamento térmico. %Ferrita [ferritoscópio] 54 52 50 48 46 44 42 40 38 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] %α do topo e da base do corpo de prova, 1100ºC Figura 78: Fração de ferrita do topo e da base dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1100ºC de tratamento térmico. 85 %Ferrita [ferritoscópio] 61 59 57 55 53 51 49 47 45 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] %α do topo e da base do corpo de prova, 1200ºC Figura 79: Fração de ferrita do topo e da base dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1200ºC de tratamento térmico. %Ferrita [ferritoscópio] 40 38 36 34 32 30 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] %α seção longitudinal do corpo de prova, 1000ºC Figura 80: Fração de ferrita da seção longitudinal dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1000ºC de tratamento térmico. 86 %Ferrita [ferritoscópio] 50 48 46 44 42 40 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] %α seção longitudinal do corpo de prova, 1100ºC Figura 81: Fração de ferrita da seção longitudinal dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1100ºC de tratamento térmico. %Ferrita [ferritoscópio] 56 54 52 50 48 46 44 42 40 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] %α seção longitudinal do corpo de prova, 1200ºC Figura 82: Fração de ferrita da seção longitudinal dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada referente a 1200ºC de tratamento térmico. As Figura 83 a Figura 85 mostram os gráficos da comparação da fração de ferrita na seção longitudinal e no topo/ base dos corpos de prova, medida com o ferritoscópio em função 87 da deformação verdadeira aplicada para as três temperaturas de estudo, respectivamente. É possível notar que na maioria dos casos a seção longitudinal apresentou uma queda mais acentuada da fração ferrítica. Uma provável explicação deste resultado é a questão de que no topo e na borda do corpo de prova pode existir algum atrito entre as amostras e as placas de compressão, ou seja, estas regiões estão expostas a um estado hidrostático mais intenso e a deformação é menor e menos uniforme, tanto que os desvios padrão desta região na grande maioria das vezes foram maiores do que os da seção longitudinal. %Ferrita dos corpos-de-prova [ferritoscópio] 40 38 36 34 32 30 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] Topo e base, 1000ºC Seção longitudinal, 1000ºC Figura 83: Comparação entre a quantidade de ferrita no topo e na base do corpo de prova e em sua seção longitudinal referente ao lote de 1000ºC de temperatura de tratamento térmico. 88 %Ferrita dos corpos-de-prova [ferritoscópio] 54 52 50 48 46 44 42 40 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] Topo e base, 1100ºC Seção longitudinal, 1100ºC Figura 84: Comparação entre a quantidade de ferrita no topo e na base do corpo de prova e em sua seção longitudinal referente ao lote de 1100ºC de temperatura de tratamento térmico. %Ferrita dos corpos-de-prova [ferritoscópio] 65 60 55 50 45 40 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] Topo e base, 1200ºC Seção longitudinal, 1200ºC Figura 85: Comparação entre a quantidade de ferrita no topo e na base do corpo de prova e em sua seção longitudinal referente ao lote de 1000ºC de temperatura de tratamento térmico. Além disso, conforme previsto no Thermo-Calc® e o esperado independentemente da região medida e da quantidade de deformação plástica aplicada, tem-se mais ferrita nas amostras tratadas a 1200 ºC e menos nas amostras tratadas a 1000ºC, as Figura 86 e Figura 87 89 mostram esta comparação para as três temperaturas em estudo na região topo / base do corpo de prova e seção longitudinal do corpo de prova, respectivamente. %Ferrita do topo e base dos corposde-prova [ferritoscópio] 63 58 53 48 43 38 33 28 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] 1000ºC 1100ºC 1200ºC %Ferrita da seção longitudinal dos corpos-de-prova [ferritoscópio] Figura 86: Fração de ferrita do topo e da base dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada nas três temperaturas de tratamento térmico em estudo. 55 50 45 40 35 30 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ε [-/-] 1000ºC 1100ºC 1200ºC Figura 87: Fração de ferrita da seção longitudinal dos corpos de prova em função do aumento de deformação verdadeira aplicada nas três temperaturas de tratamento térmico em estudo. 90 4.2.4 Difração de raios X A difração de raios X das amostras foi feita varrendo-se ângulos de difração de 35° a 105° (Figura 88 a Figura 102), a fim de comprovar quais são as fases presentes. Comprovou-se que nas amostras de 1000ºC além de ferrita e austenita existe a fase sigma conforme previsto na simulação do Thermo-Calc®. Nas demais amostras foram constatadas as presenças de ferrita e austenita somente. γ (111) α (110) 200 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) 400 α (200) 600 α (211) 800 γ (220) 1000 ε = 0,14; 1000ºC σ (002) σ (410) σ (202) σ (411) σ (331)γ (200) Intensidade [cps] 1200 γ (311) 1400 100 110 2θ [º] Figura 88: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,14 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. γ (111) α (110) 1200 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) γ (311) 200 α (211) 400 α (200) 600 γ (220) 800 σ (002) σ (410) σ (202) σ (411) σ (331)γ (200) Intensidade [cps] 1000 ε = 0,28; 1000ºC 100 110 2θ [º] Figura 89: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,28 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. γ (111) 1400 ε = 0,42; 1000ºC 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) 200 γ (311) 400 α (200) 600 γ (220) 800 α (211) 1000 σ (002) σ (410) σ (202) σ (411) σ (331)γ (200) Intensidade [cps] 1200 α (110) 91 100 110 2θ [º] Figura 90: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. γ (111) α (110) 200 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) 400 α (200) 600 α (211) 800 γ (220) 1000 ε = 0,56; 1000ºC σ (002) σ (410) σ (202) σ (411) σ (331) γ (200) Intensidade [cps] 1200 γ (311) 1400 100 110 2θ [º] Figura 91: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,56 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. γ (111) 900 ε = 0,70; 1000ºC 700 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) 100 γ (311) 200 α (211) 300 γ (220) 400 α (200) 500 σ (202) σ (331) γ (200) σ (411) 600 σ (002) σ (410) Intensidade [cps] 800 α (110) 92 100 110 2θ [º] Figura 92: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC. α (110) 2000 ε = 0,14; 1100ºC γ (111) 1500 α (220) γ (222) γ (311) α (211) α (200) 500 γ (220) 1000 γ (200) Intensidade [cps] 2500 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 93: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,14 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. 93 α (110) 1800 ε = 0,28; 1100ºC 1400 1200 γ (111) 1000 α (220) γ (222) γ (311) 200 α (200) 400 γ (220) 600 α (211) 800 γ (200) Intensidade [cps] 1600 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 94: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,28 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. α (110) 700 ε = 0,42; 1100ºC 500 γ (111) 400 α (220) γ (222) γ (311) γ (220) 100 α (200) 200 α (211) 300 γ (200) Intensidade [cps] 600 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 95: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. α (110) 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 ε = 0,56; 1100ºC 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) γ (311) α (211) γ (220) α (200) γ (200) γ (111) Intensidade [cps] 94 100 110 2θ [º] Figura 96: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,56 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. α (110) 1800 ε = 0,70; 1100ºC 1400 1200 γ (111) 1000 800 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) γ (311) γ (220) 200 α (200) 400 α (211) 600 γ (200) Intensidade [cps] 1600 100 110 2θ [º] Figura 97: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC. 95 α (110) 800 ε = 0,14; 1200ºC 600 500 α (220) γ (222) α (211) γ (311) 100 γ (220) 200 α (200) 300 γ (200) 400 γ (111) Intensidade [cps] 700 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 2θ [º] Figura 98: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,14 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. α (110) 3000 2000 1500 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) γ (311) γ (220) 500 α (200) γ (200) 1000 α (211) γ (111) Intensidade [cps] 2500 ε = 0,28; 1200ºC 100 110 2θ [º] Figura 99: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,28 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. α (110) 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 ε = 0,42; 1200ºC 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) γ (311) α (211) γ (220) α (200) γ (200) γ (111) Intensidade [cps] 96 100 110 2θ [º] Figura 100: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. α (110) ε = 0,56; 1200ºC 2000 1500 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) 0 γ (311) γ (220) 500 α (200) γ (200) 1000 α (211) γ (111) Intensidade [cps] 2500 100 110 2θ [º] Figura 101: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,56 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. 97 α (110) 1600 ε = 0,70; 1200ºC 1200 1000 0 30 40 50 60 70 80 90 α (220) γ (222) 200 α (200) γ (200) 400 γ (311) 600 γ (220) 800 α (211) γ (111) Intensidade [cps] 1400 100 110 2θ [º] Figura 102: Difratograma de raios X, compreendendo os ângulos entre 35 e 105o, da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC. Todas as curvas de intensidade em função do ângulo de difração apresentaram o mesmo comportamento para cada grupo amostral em função da temperatura de tratamento térmico, conforme mostrado nas Figura 103 a Figura 105, que representam os valores das condições mais relevantes ao estudo, sem deformação plástica, com um valor intermediário de deformação plástica e com o máximo de deformação plástica aplicada de 1000, 1100 e 1200 ºC de tratamento térmico, respectivamente. Os picos apresentados são relativos apenas às fases ferrita e austenita nas temperaturas de 1100 e 1200 ºC e também de sigma nas amostras de 1000 ºC. 98 Figura 103: Comparação dos difratogramas de raios X em função da deformação plástica aplicada das amostras tratadas a 1000ºC. Figura 104: Comparação dos difratogramas de raios X em função da deformação plástica aplicada das amostras tratadas a 1100ºC. 99 Figura 105: Comparação dos difratograma de raios X em função da deformação plástica aplicada das amostras tratadas a 1200ºC. Através da metodologia utilizada neste trabalho, foi possível calcular a fração de fase ferrítica pelo tratamento de dados por DRX, comparando estes resultados e os obtidos via medidas magnéticas (Figura 106 e Figura 107) é possível notar que os obtidos por DRX apresentaram oscilação elevada e nenhuma tendência definida, além de apresentar quantidade de ferrita inferiores aos da literatura e aos calculados por Thermo-Calc® (como mostrado na Tabela 6). Sendo assim, possivelmente devido à presença inevitável de textura, a quantificação de ferrita por DRX foi inviável neste estudo. 100 %Ferrita dos corpos-de-prova, 1100ºC 55% 50% 45% 40% 35% 30% 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 ε [-/-] DRX Ferritoscópio Figura 106: Fração de ferrita medida por DRX em função da deformação plástica aplicada para as amostras tratadas a 1100ºC. %Ferrita dos corpos-de-prova, 1200ºC 65% 60% 55% 50% 45% 40% 35% 30% 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 ε [-/-] DRX Ferritoscópio Figura 107: Fração de ferrita medida por DRX em função da deformação plástica aplicada para as amostras tratadas a 1200ºC. 101 4.2.5 Análise microestrutural das amostras deformadas As micrografias a seguir (Figura 108 a Figura 122) apresentaram ferrita, região lisa e em alto relevo, austenita, com maclas e baixo relevo e sigma, os pontos negros corroídos nas amostras tratadas a 1000°C (Figura 108 a Figura 112). Foi analisada a seção longitudinal dos corpos de prova. Foi possível perceber que quanto mais deformado o material, mais refinada e preferencialmente orientada torna-se a estrutura constituindo-se apenas ferrita e austenita no material, exceto para as amostras tratadas a 1000ºC.. Figura 108: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,14 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC. Figura 109: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,28 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC. 102 Figura 110: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,42 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC. Figura 111: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,56 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC. Figura 112: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,70 de deformação verdadeira tratado a 1000ºC. 103 Figura 113: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,14 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC. Figura 114: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,28 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC. Figura 115: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,42 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC. 104 Figura 116: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,56 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC. Figura 117: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,70 de deformação verdadeira tratado a 1100ºC. Figura 118: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,14 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC. 105 Figura 119: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,28 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC. Figura 120: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,42 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC. Figura 121: Micrografias do corpo de prova com 0,56 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC sendo as regiões (a) o topo, (b) o centro e (c) a base do corpo de prova. 106 Figura 122: Micrografia da região central do corpo de prova com 0,70 de deformação verdadeira tratado a 1200ºC. 4.2.6 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) As análises das microestruturas assim como da composição química das fases presentes foram realizadas através do uso do MEV. Entretanto, é válido ressaltar que a composição química é efetuada num ponto, mas existe um volume no qual os raios X são gerados, ou seja, não será analisado apenas o ponto identificado, mas também parte de suas regiões vizinhas. Contudo, caso a transformação de fase em estudo esteja acontecendo, provavelmente a austenita proveniente da ferrita teria composição química distinta da austenita sem deformação. A Figura 123 representa a micrografia da amostra sem deformação tratada a 1000 ºC, na qual estão indicados os pontos em que foi realizado o EDS para quantificação dos elementos existentes em cada fase do material (Figura 124 a Figura 126). 107 Figura 123: Micrografia da amostra sem deformação tratada a 1000ºC indicando os pontos de determinação da composição química. 10000 Mn Fe 9000 Cr Intensidade [cps] 8000 7000 6000 5000 4000 3000 Fe Ni Mo Cr Mn 2000 Cr Mn W Si 1000 W W Mo Fe Ni W W Ni W 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 WW 9 Energia [keV] Figura 124: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 123. 10 WW 11 12 108 12000 Fe Intensidade [cps] 10000 8000 Cr 6000 4000 Fe Ni 2000 Cr Si W W 0 0 1 Mo W 2 Fe Ni W Cr Mo 3 4 5 6 7 Ni WW 8 WW 9 WW 10 11 12 10 11 12 Energia [keV] Figura 125: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 123. 12000 Mn Fe Intensidade [cps] 10000 8000 Cr 6000 Fe Ni Mn Cu 4000 2000 Cr Cr Mn Mo Si Mo 0 0 1 2 3 Fe Ni Cu 4 5 6 7 Ni Cu Cu 8 9 Energia [keV] Figura 126: Espectro de EDS para o ponto 3 indicado na Figura 123. Avaliando as composições químicas da amostra sem deformação tratada a 1000ºC obtidas pelo MEV (Tabela 7) e pelo Thermo-Calc® (Tabela 8) é possível notar considerável aderência entre os valores encontrados. O que indica que apesar da análise semi-quantitativa do EDS não ser pontual e considerar parte das regiões vizinhas os resultados são extremamente 109 satisfatórios. Além disso, não foram observadas diferenças de composição química entre ferrita e austenita em nenhum momento, visto que a austenita proveniente da ferrita possivelmente teria composição similar à da fase que a originou. Todavia, as amostras de 1000ºC apresentaram menor redução de ferrita para a mesma deformação verdadeira aplicada quando comparadas as amostras tratadas a 1100 e 1200ºC, e assim é interessante efetuar esta análise para estes grupos de amostras. Tabela 7 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 123, referente a amostra sem deformação tratada a 1000°C. Elemento Ponto 1 - Sigma Ponto 2 - Ferrita Ponto 3 - Austenita Si 0,50 0,47 0,51 Cr 30,65 28,37 24,73 Mn 0,70 - 0,68 Fe 51,71 59,95 61,88 Ni 4,06 5,09 8,36 Mo 10,15 4,84 3,05 W 2,23 1,27 - Tabela 8 - Composição química das fases presentes a 1000°C em percentual mássico obtida pelo Thermo-Calc®. Elemento Sigma Ferrita Austenita Si Cr Mn Fe Ni Mo W N C Cu V 0,01 31,78 0,34 50,12 3,58 11,38 2,78 0,00 0,00 0,00 0,01 0,47 27,95 0,48 61,31 4,58 4,02 0,76 0,02 0,00 0,38 0,02 0,39 21,51 0,72 64,35 9,00 2,56 0,44 0,22 0,01 0,79 0,01 Foram analisadas duas regiões da microestrutura da amostra mais deformada plasticamente e tratada a 1100 ºC conforme mostra a Figura 127, os espectros destas regiões estão apresentados nas Figura 128 e Figura 129, a quantificação de cada elemento químico destas regiões sumarizados nas Tabelas 9 e 10 os valores de composição química das fases 110 previsto pelo TC, não existindo diferenças significativas entre as composições de ferrita e austenita medidas pelo EDS e simuladas pelo TC, repetindo o comportamento já observado para a amostra sem deformação tratada a 1000ºC. Figura 127: Micrografia da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC indicando os pontos de determinação da composição química. 12000 Mn Fe Intensidade [cps] 10000 8000 Cr 6000 Fe Ni Mn Cu 4000 2000 Cr Cr Mn Mo Si Fe Ni Mo Cu Ni Cu 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Energia [keV] Figura 128: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 127. 10 11 12 111 12000 Fe Intensidade [cps] 10000 8000 Cr 6000 4000 Ni Fe 2000 Mo Cr Si Cr Fe Ni Mo Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Energia [keV] Figura 129: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 127. Tabela 9 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 127, referente a amostra tratada a 1100ºC com deformação verdadeira de 0,70. Elemento Ponto 1 - Austenita Ponto 2 - Ferrita Si 0,39 0,61 Cr 24,37 27,86 Mn 0,82 - Fe 61,87 61,03 Ni 8,70 5,50 Cu 0,82 - Mo 3,02 5,00 112 Tabela 10 - Composição química das fases presentes a 1100ºC em percentual mássico obtida pelo ThermoCalc®. Elemento Ferrita Austenita Si 0,45 0,35 Cr 27,12 22,90 Mn 0,51 0,70 Fe 61,04 62,79 Ni 5,09 8,78 Mo 4,38 2,81 W 0,85 0,53 N 0,05 0,39 C 0,00 0,02 Cu 0,46 0,71 V 0,04 0,04 Por fim, a microestrutura da amostra mais deformada plasticamente e tratada a 1200 ºC teve 4 regiões analisadas por EDS (Figura 130), cujos espectros estão apresentados nas Figura 131 a Figura 135 e as quantificações dos elementos presentes nestas regiões nas Tabelas 11 e 12. Novamente não foi possível encontrar regiões indicativas da transformação de fases e alterações nas composições químicas das fases comparadas aos dados obtidos através da simulação usando TC, Tabela 13, mesmo na amostra mais deformada plasticamente a 1200 ºC. Figura 130: Micrografia da amostra com 0,70 de deformação verdadeira tratada a 1200ºC indicando os pontos de determinação da composição química. 113 12000 10000 Intensidade [cps] Fe 8000 6000 Cr 4000 Ni Fe 2000 Cr Si Fe Cr Mo Ni Mo Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 10 11 12 Energia [keV] Figura 131: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 130. 12000 10000 Intensidade [cps] Fe 8000 Cr 6000 4000 Fe Ni 2000 Cr Mo Mo Si Cr Fe Ni Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Energia [keV] Figura 132: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 130. 114 12000 10000 Intensidade [cps] Fe 8000 Cr 6000 4000 Fe Ni 2000 Cr Mo Si Fe Cr Ni Mo Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 10 11 12 Energia [keV] Figura 133: Espectro de EDS para o ponto 3 indicado na Figura 130. 12000 10000 Intensidade [cps] Fe 8000 Cr 6000 4000 Fe Ni 2000 Cr Mo Si Cr Fe Ni Mo Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Energia [keV] Figura 134: Espectro de EDS para o ponto 4 indicado na Figura 130. 115 12000 Intensidade [cps] 10000 8000 Fe Cr 6000 4000 O Cr Fe Ni 2000 Al Mo Si Cr Fe Ni Mo Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Energia [keV] Figura 135: Espectro de EDS para o ponto 5 indicado na Figura 130. Tabela 11 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 130, referente a amostra tratada a 1200ºC com deformação verdadeira de 0,70. Elemento Ponto 1 - Austenita Ponto 2 - Ferrita Ponto 3 - Ferrita Ponto 4 - Ferrita Si 0,56 0,76 0,64 0,75 Cr 25,26 27,0 27,08 26,88 Fe 62,55 61,21 61,93 61,54 Ni 8,57 6,36 5,89 6,10 Mo 3,06 4,67 4,46 4,74 Tabela 12 - Resultados da composição química em percentual mássico do ponto 5 destacado na Figura 130, referente a amostra tratada a 1200ºC com deformação verdadeira de 0,70. Elemento Ponto 5 - Inclusão O 11,84 Al 9,17 Si 0,42 Cr 24,55 Fe 45,87 Ni 4,69 Mo 3,46 116 Tabela 13 - Composição química das fases presentes a 1200ºC em percentual mássico obtida pelo ThermoCalc®. Elemento Ferrita Austenita Si 0,44 0,33 Cr 26,35 23,26 Mn 0,54 0,70 Fe 61,41 62,36 Ni 5,67 8,84 Mo 4,16 2,72 W 0,79 0,53 N 0,08 0,49 C 0,00 0,02 Cu 0,51 0,69 V 0,05 0,05 Nas análises microestruturais feitas no MEV foram encontradas as fases esperadas pela simulação do TC e identificadas por difrações de raios X. Além disso, apesar da análise semiquantitativa feita pelo EDS não ser capaz de medir um ponto exclusivamente, os resultados de composição química das fases das amostras apresentados mostram bastante aderência com a composição química obtida pelo TC, conforme apresentado acima nas Tabelas 8, 10 e 13, para as temperaturas de 1000, 1100 e 1200 ºC, respectivamente. Além disto, não foi possível verificar regiões com possíveis indícios da transformação de fases em estudo mesmo nas temperaturas mais altas de tratamento nas quais a redução de ferrita foi mais intensa e nem nas amostras com maior deformação plástica aplicada. Outras amostras foram analisadas além destas apresentadas neste item e estão apresentadas no Apêndice A. 117 5 POSSÍVEIS TRANSFORMAÇÕES DE FASES Analisando os resultados apresentados obtidos pelas medidas magnéticas é possível notar que houve a redução da fração de ferrita com o aumento de deformação plástica aplicada. Todavia, as amostras sem deformação tratadas a 1000 e 1100 ºC (Figura 87) apresentam menor fração de ferrita do que o das amostras deformadas plasticamente, exceto as deformações verdadeiras de 0,14 e 0,14 e 0,42, respectivamente. Tal fato pode ser encarado como um erro experimental, mas tal hipótese seria desmentida dados os baixos valores de desvios-padrão das medidas. Excluindo-se erro experimental, o aumento da fração de ferrita para baixas deformações pode ser indício de que em baixas deformações ocorre a transformação martensítica induzida por deformação de austenita em ferrita fazendo com que a deformação verdadeira de 0,14 tenha maior fração ferrítica em sua microestrutura. Todavia, maiores deformações levam a redução da fração de ferrita a níveis menores que aqueles encontrados nas amostras tratadas termicamente, o que leva a aceitação da hipótese de ocorrência de transformação martensítica induzida por deformação reversa, de ferrita em austenita, para deformações maiores que 0,14 nas amostras tratadas a 1000°C e 1100°C. Aparentemente o fato das amostras tratadas a 1000ºC terem apresentado a fase sigma exerceu influência sobre as transformações de fase em estudo, visto que nestas amostras a redução da fração de ferrita foi extremamente baixa quando comparada com este estudo e os demais citados acima. Nas amostras tratadas a 1200°C não foi observado o aumento da fração de ferrita em comparação a amostra sem deformação em nenhum dos níveis de deformação estudados, portanto neste caso hipoteticamente ocorre apenas a transformação de ferrita em austenita induzida por deformação, ou seja, transformação martensítica induzida por deformação reversa. Uma possível explicação para este comportamento é a diferença de composição química entre as amostras tratadas a 1200 ºC e as de 1000 e 1100 ºC, nas análises de TC. É possível notar que a ferrita a 1200 ºC apresenta menor teor de cromo e maior de níquel e nitrogênio (Tabela 14), enquanto a austenita mais cromo e nitrogênio, e menos ferro (Tabela 15). 118 Tabela 14 - Comparação entre as composições químicas mássicas da ferrita determinadas por TC nas três temperaturas de tratamento. Elemento 1000ºC 1100ºC 1200ºC Si 0,47 0,45 0,44 Cr 27,95 27,12 26,35 Mn 0,48 0,51 0,54 Fe 61,31 61,04 61,41 Ni 4,58 5,09 5,67 Mo 4,02 4,38 4,16 W 0,76 0,85 0,79 N 0,02 0,05 0,08 Cu 0,38 0,46 0,51 V 0,02 0,04 0,05 Tabela 15 – Comparação entre as composições químicas mássicas da austenita nas três temperaturas de tratamento. Elemento 1000ºC 1100ºC 1200ºC Si 0,39 0,35 0,33 Cr 21,51 22,90 23,26 Mn 0,72 0,70 0,70 Fe 64,35 62,79 62,36 Ni 9,00 8,78 8,84 Mo 2,56 2,81 2,72 W 0,44 0,53 0,53 N 0,22 0,39 0,49 C 0,01 0,02 0,02 Cu 0,79 0,71 0,69 V 0,01 0,04 0,05 Neste trabalho as reduções da fração de ferrita (medidas por ferritoscópio) foram menos expressivas quando comparadas às dos estudos apresentados na revisão bibliográfica (Magnabosco et al.., 2011; Magnabosco; Avila; Rabechini, 2011; Marangoni, 2012), conforme mostrado na Figura 136. O estudo de Magnabosco; Avila; Rabechini, 2011 foi o que explorou 119 maiores deformações plásticas e, consequentemente o que obteve maior redução da fração de ferrita, como mostra a Tabela 16. A diferença principal entre estes estudos, é que neles os esforços mecânicos foram aplicados através de laminação, num estado de deformação biaxial (estado plano de deformação), ao contrário da deformação aqui aplicada, uniaxial de compressão, onde a deformação uniforme foi garantida. Para obter a Figura 136 a redução de altura por laminação foi convertida para deformação verdadeira efetiva, segundo a equação 18, já que se pode admitir que a laminação de planos impõe estado plano de deformações, e assim adaptando-se a equação (14) tem-se que a deformação plástica efetiva na laminação pode ser relacionada a redução de espessura segundo a equação 18. ε𝑝 = 1,155*(RE/100) (18) onde: εp: deformação plástica efetiva; RE: redução de espessura Deste modo, pode se verificar que o modo de deformação provavelmente afeta a transformação martensítica induzida por deformação nos aços inoxidáveis dúplex em estudo. Apenas na deformação uniaxial imposta pelo ensaio de compressão foi possível observar a ocorrência de dois tipos de transformações martensíticas induzidas por deformação, a reversa que vem sendo estudada, e a direta, que até o momento não havia sido mencionada em outros trabalhos. Esta transformação direta foi observada apenas nas amostras tratadas a 1000 e 1100 ºC e a diferença entre estas e as tratadas a 1200 ºC é a composição química das fases, sendo assim, esta transformação possivelmente ativada também por composição química. Ambas as suposições, tanto forma de carregamento quanto composição química do material, sugerem a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema. 120 %Ferrita [ferritoscópio] 60 55 50 45 40 35 30 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Deformação plástica efetiva, ε [-/-] 1100ºC 1200ºC Marangoni, 2012 Magnabosco et al., 2011 MAGNABOSCO; AVILA; RABECHINI, 2011 Figura 136: Comparação da queda da fração de ferrita dos resultados deste trabalho com os demais apresentados na revisão bibliográfica. Tabela 16 – Comparação da redução total da fração de ferrita em média entre diferentes estudos. Redução total na fração de ferrita (%) 1000ºC 1100ºC 1200ºC 1,89 7,12 15,24 Magnabosco; Marangoni, Magnabosco Avila; Rabechini, 2012 et al.., 2011 2011 24,68 40,63 36,81 121 6 CONCLUSÕES Através da análise dos resultados obtidos e da base teórica desenvolvida foi possível concluir que: 1. As análises de difração de raios X e análise microestrutural do material como recebido mostraram que as únicas fases presentes eram ferrita e austenita. 2. As únicas amostras que apresentaram outra fase a não ser austenita e ferrita foram as solubilizadas a 1000ºC, visto que nestas ocorreu a formação da fase intermetálica sigma. 3. As medições magnéticas mostraram queda da fração de fase ferrítica das amostras deformadas comparadas com a amostra sem deformação, independentemente da deformação ser uniforme ou não e da temperatura de tratamento utilizada, exceto nas baixas deformações a 1000 e 1110 ºC. 4. Mesmo depois de aplicada a deformação plástica não ocorreu a formação de novas fases, mantendo-se as fases preexistentes porém com diferentes proporções. Isto foi comprovado pelos resultados de DRX e micrografias obtidas. Logo, é possível descartar a presença de outras fases nas microestruturas que possam participar da transformação de fases. 5. Os resultados de quantificação de fases através da DRX não foram conclusivos, possivelmente devido a presença de textura. 6. Os resultados de quantificação de fases por medidas magnéticas apresentaram tendência coerente ao esperado, tanto em redução da fração de ferrita com o aumento da deformação, quanto ao fato de que quanto mais elevada a temperatura de tratamento térmico maior é a fração de ferrita presente no material. 7. Não foi possível encontrar diferenças significativas entre as composições químicas de ferrita e austenita obtidas por EDS e TC. 8. Foram encontrados indícios de que em baixas deformações ocorre a transformação martensítica de austenita em ferrita induzida por deformação nas amostras das tratadas a 1000 e 1100 ºC. 9. Para deformações em compressão superiores a 0,14 e 0,42 foi observado uma possível transformação martensítica direta de ferrita em austenita induzida por deformação para as amostras de 1100 e 1000 ºC, respectivamente. 10. As amostras tratadas a 1200 ºC apresentaram apenas queda da fração de ferrita para todos níveis de deformação aplicados, ou seja, apenas transformação de ferrita em austenita, 122 provavelmente devido a diferença de composição química das fases a 1200 °C, se comparadas às obtidas nas outras temperaturas estudadas. 123 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Para trabalhos futuros sugere-se comparar as transformações martensítica induzidas por deformação de ferrita em austenita e de austenita em ferrita estudando as características do material em estudo e dos processos envolvidos que podem influenciar na intensidade desta transformação de fase, como por exemplo: a) tamanho de grão; b) temperatura, apesar do foco deste estudo ser apenas mecânico, seria interessante avaliar se a temperatura exerce influência na transformação; c) taxa de deformação; d) modo de carregamento do material, já que há evidência de que esforços trativos promovem mais transformação martensítica do que esforços compressivos, fazendo uso de validações por meio de simulações numéricas; e) análise microestrutural e quantificação de fases por estereologia quantitativa utilizando o reagente Beraha modificado; f) comparar o modo de carregamento para um mesmo corpo de prova padronizado para qualquer ensaio mecânico. 124 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. et al. Monitoramento da Transformação de Fase Induzida por Deformação em Aços para Gasodutos Classe API 5l X80 por Medidas Magnéticas. In: CONGRESSO DA ABM, 67., 2012, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABM, 2012.p. 1634-1644. AGGEN. G. et al. In: American Society For Metals International; ASM handbook: Material Characterization. USA: ASM International, c.1986, v.10, p. AGGEN, G. et al. In: American Society For Metals International; ASM handbook: Mechanical Testing Evaluation. USA: ASM International, c.2000, v.8 BORBA, R. Comparativo de técnicas de determinação de fase ferrita no aço UNS S31803. 2009. Relatório final de Iniciação Científica - Centro Universitário da FEI. Disponível em < http://fei.edu.br/~rodrmagn/PROJETOS_IC/2009/RMB_2009-final.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2011. BRADLEY, A. et al. A method for deducing accurate values of the lattice spacing from X-ray powder photographs taken by Debye-Scherrer method. Proceedings of the Physical Society, v. 44, n. 5, p. 563-579, Sept.1932. BREDA, .M, et al. Effects of Cold Rolling and Strain-Induced Martensite Formation in a SAF 2205 Duplex Stainless Steel. Metallurgical And Materials Transactions, v. 46A, n. 2, p. 577586, Feb., 2015. CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 7 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. COLPAERT, Hubertus. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. 4. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2008. CULLITY, B. D. Elements of X-ray diffraction. 3rd. ed. New York, USA: Prentice-Hall, 2001. DIETER, George Ellwood. Metalurgia mecânica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, c1988. 45-47 p. 125 DOWLING, Norman E. Mechanical behavior of materials: engineering methods for deformation, fracture, and fatigue. Upper Saddle River, New Jersey: Prentice-Hall, c1999. 254p. ECKENROD, J. J. PINNOW, K. E. Effects of chemical composition and thermal history on the properties of alloy 2205 dúplex stainless steel. In: New developments in stainless steel technology. Detroit 1984 p.77-87. FANICA, A., PASSOT, G., LHENRY, L. Forming and stress relieving of welded superdúplex. In: EUROPEAN STAINLESS STEEL CONFERENCE - SCIENCE AND MARKET, 7. 2011, Milão. Milão: AIM, 2011. HE, B. B. et al. Effect of Free Surface on the Stability of Individual Retained Austenite Grains in a Duplex Stainless Steel. Metallurgical And Materials Transactions, Pennsylvania, v. 45A, n. 11, p. 4875-4881, Oct., 2014. HORNBOGEN, E. The Effect of Variables on Martensitic Transformation Temperatures. Acta Metallurgica, v. 33, p.595-601, Apr., 1985. LATAPIE, A.; FARKAS, D. Molecular dynamics simulations of stress-induced phase transformations and grain nucleation at crack tips in Fe. Modelling and Simulation in Materials. Science Engineering, v. 11, p. 745-753, Jul., 2003. LUO, H., SIETSMA, J., ZWAAG, S. A novel observation of strain-induced ferrite-to-austenite retransformation after intercritical deformation of C-Mn steel. Metalurgical and Materials Transactions A, v. 35A, n. 9, p. 2789-2797, Sept., 2004. MACLAREN, I., IVANOSENKO, Y., VALIEV, R. Z., FECHT, H. J. Reverse martensitic transformation of ferrite to austenite under severe plastic deformation. Journal of Physics: Conference Series, v. 26, p. 335-338, Feb., 2006. MAGNABOSCO, R., AVILA, C. C., RABECHINI, F. M. Influência do encruamento na cinética de formação de fase sigma em aço inoxidável dúplex. In: CONGRESSO INTERNACIONAL ANUAL DA ABM, 66., 2011, São Paulo. Anais... São Paulo: ABM, 2011. MAGNABOSCO, R.; DONATO, G. H. B. Comportamento mecânico monotônico e cíclico de dois aços inoxidáveis dúplex. In: CONGRESSO INTERNACIONAL ANUAL DA ABM, 59, 2004, São Paulo. Anais... São Paulo: ABM, 2004. p. 1864-1873. 126 MAGNABOSCO, R.; SANTOS, D. C.; MELO, E. Relation between microstruture and selective corrosion of dúplex stainless steel submmited to heated clhoridric acid. In: EUROCORR, 2009, Nice: EUROCORR, 2009. 1 CD-ROOM. MAGNABOSCO, R., SPOMBERG, S. Comparative study of ferrite quantification methods applied to dúplex stainless steels. In: EUROPEAN STAINLESS STEEL CONFERENCE SCIENCE AND MARKET, 7. 2011, Milão. Milão: AIM, 2011. MAGNABOSCO, R., TAVARES, D., FORGAS. A., MOURA, C. Ferrite-to-austenite transformation during cold working of a dúplex stainless steel. In: EUROPEAN STAINLESS STEEL CONFERENCE - SCIENCE AND MARKET, 7. 2011, Milão. Milão: AIM, 2011. MARANGONI, J. MAGNABOSCO, R. Investigação da transformação de ferrita em austenita induzida por deformação em aço inoxidável dúplex. 2012. Disponível em <http://fei.edu.br/~rodrmagn/TFC/2012/JM_tfc_2012.pdf>. Acesso em: 03 fev 2015. MELO, E. B., MAGNABOSCO, R. Transformações de fase a 475ºC e a 650ºC do aço UNS S31803 e sua influência no potencial de pite em solução 0,6M NaCl. In: CONGRESSO DA ABM, 65, 2010, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABM, 2010. p. 316-327. MOURA, M., FIGUEIREDO, M. Aplicação das Técnicas de Picnometria de Gás e de Porosimetria de Mercúrio à Caracterização da Madeira de E. globulus. In: Silva Lusitana, 10(2), 2002, Lisboa. P. 207-216. MOSER, N. H., GROSS, T. S., KORKOLIS, Y. P. Martensite Formation in Conventional and Isothermal Tension of 304 Austenitic Stainless Steel Measured by X-ray Diffraction. Metallurgical And Materials Transactions A, Pennsylvania, v. 45A, n. 11, p. 4891-4896, Oct., 2014. NELSON, J. B., RILEY, D. P. An experimental investigation of extrapolation methods in the derivation of accurate until-cell dimensions of cristals. Proceedings of the Physical Society, v. 57, p. 160-177, 1944. NILSSON, J. O. Super dúplex stainless steels. Materials science and technology, v. 8, p. 685700, Aug., 1992. PADILHA, A. F.; JR. F. S. Encruamento, recristalização, crescimento de grão e textura. 2 ed. São Paulo: ABM, 1996. 158 p. 127 PANDI, R.; YUE, S. Dynamic Transformation of Austenite to Ferrite in Low Carbon Steel. ISIJ International, v. 34 1994, p, 270-279. PORTER, David A.; EASTERLING, Kenneth E. Phase transformations in metals and alloys. 2nd. ed. Flórida: CRC, 2004. 514 p. POTGIETER, J. H. et alli Dúplex: complex or simplex. FWP journal v. 31 jan. 1991 p. 17-29. POTGIETER, J. H.; CORTIE, M. B. Determination of the microstructure and alloy element distribution in experimental dúplex stainless steels. Materials Characterization. v. 26, 1991, p. 155-65. PUGH, J. W.; NISBET, J. D. A study of the iron-chromium-nickel ternary system. JOM v. 188 fev. 1950 p. 268-76. RAYNOR, G. V. RIVLIN, V. G. Phase equilibria in iron ternary alloys. The Institute of Metals, London, 1988 p. 316-32. SANTOS, D. C., MAGNABOSCO, R. Influência da formação de sigma no potencial de pite do aço inoxidável dúplex UNS S31803 em solução 0,6 M NaCl envelhecido a 850 e 900ºC. In: CONGRESSO DA ABM, 65., 2010, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABM, 2010, p. 216-227. SANTOS, Rezende Gomes dos. Transformações de fases em materiais metálicos. Campinas: Ed. da Unicamp, 2006. p. 429 SEDRIKS, A. J. Corrosion of stainless steels. 2 ed. New York; Chicheste; Brisbane: John Wiley, 1996. Sociedade Brasileira de Física. Espectro eletromagnético. Disponível em: <http://pion.sbfisica.org.br/pdc/index.php/por/Multimidia/Imagens/Eletromagnetismo/Espectr o-eletromagnetico>. Acesso: 28 ago de 2011. SOLOMON, H. D. DEVINE Jr., T. M. Dúplex stainless steels – a tale of two phases. In: Dúplex stainless steels – conference proceedings. ASM Metals Park Ohio 1982 p. 693-756. SOUTHWICK, P.; HONEYCOMBE, R. Decomposition of ferrite to austenite in 26% Cr5%Ni stainless steel. Metal Science, july 1980, p. 253-261. 128 TESSLER, M.; BARBOSA, C. O Encruamento em aços inoxidáveis austeníticos – o efeito martensita induzida por deformação. In: II Seminário Brasileiro sobre Aços Inoxidáveis, 1990. WAYMAN, C.M.; BADESHIA, H.K.D.H.. Phase Transformations, Nondiffusive. In: CAHN, R.W.; HAASEN, P. Physical Metallurgy. Amsterdam: Elsevier Science B.V., 1996, v.3, p.1508-1537. 129 APÊNDICE A – ANÁLISES MICROESTRUTURAIS E EDS A micrografia da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC (Figura 137) teve 6 regiões analisadas por EDS e o espectro de cada uma delas está apresentado da Figura 138 a Figura 143 e os valores da quantificação de cada ponto estão apresentados na Tabela 17. Mais uma vez, os pontos analisados apresentam composição química próxima da prevista pelo TC. Além disso, não foram encontradas regiões com indícios da ocorrência de transformação de fases, ainda parte da ferrita tornou-se austenita e portanto, esta nova austenita possivelmente teria composição química similar a da ferrita, contudo isso não pode ser observado. Todavia, as amostras de 1000ºC apresentaram menor redução de ferrita para a mesma deformação verdadeira aplicada quando comparadas as amostras tratadas a 1100 e 1200ºC é interessante efetuar esta análise para estes grupos de amostras. Figura 137: Micrografia da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1000ºC indicando os pontos de determinação da composição química. 130 16000 Intensidade [cps] 14000 12000 10000 Fe 8000 6000 Cr 4000 Fe Ni 2000 Cr Si MoMo Fe Ni Cr Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Energia [keV] Figura 138: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 137. 16000 Intensidade [cps] 14000 12000 10000 Fe 8000 6000 Cr 4000 Fe Ni 2000 Cr Mo Si Cr Mo Fe Ni Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Energia [keV] Figura 139: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 137. 10 11 12 131 16000 Intensidade [cps] 14000 12000 10000 Fe 8000 Cr 6000 4000 Fe Ni Cr 2000 Mo Mo Si Fe Cr Ni Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 10 11 12 Energia [keV] Figura 140: Espectro de EDS para o ponto 3 indicado na Figura 137. 16000 Intensidade [cps] 14000 12000 10000 Fe 8000 Cr 6000 4000 Fe Ni Cr 2000 Mo Mo Si Cr Fe Ni Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Energia [keV] Figura 141: Espectro de EDS para o ponto 4 indicado na Figura 137. 132 16000 Intensidade [cps] 14000 12000 10000 Fe 8000 Cr 6000 4000 Fe Ni 2000 Cr Mo Si Fe Cr Mo Ni Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 10 11 12 Energia [keV] Figura 142: Espectro de EDS para o ponto 5 indicado na Figura 137. 16000 Intensidade [cps] 14000 12000 10000 Fe 8000 6000 Cr 4000 Fe Ni 2000 Cr Mo Mo Si Cr Fe Ni Ni 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Energia [keV] Figura 143: Espectro de EDS para o ponto 6 indicado na Figura 137. 133 Tabela 17 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 137, referente a amostra tratada a 1000ºC com 0,42 de deformação verdadeira. Ponto 1 - Ponto 2 - Ponto 3 - Ponto 4 - Ponto 5 - Ponto 6 - Austenita Austenita Ferrita Ferrita Ferrita Austenita Si 0,56 0,57 0,78 0,70 0,82 0,56 Cr 25,08 25,21 28,81 28,72 28,92 25,07 Fe 63,06 62,96 61,25 61,17 61,10 63,15 Ni 8,45 8,28 4,90 4,86 4,82 8,38 Mo 2,86 2,98 4,26 4,55 4,34 2,83 Elemento A amostra referente à 0,42 de deformação verdadeira e tratada a 1100ºC (Figura 144) teve 3 pontos de análise de EDS realizados (Figura 145 a Figura 147) e as Tabelas 18 e 19 apresentam os teores de cada elemento nestes pontos analisados. Como já destacado para as amostras de 1000°C, as composições químicas das fases ferrita e austenita obtidas por EDS estão próximas das simuladas no TC, impedindo confirmar a hipótese de identificação de regiões de ferrita ou austenita que tenham se originado das transformações martensítica de austenita em ferrita ou reversa de austenita em ferrita. Figura 144: Micrografia da amostra com 0,42 de deformação verdadeira tratada a 1100ºC indicando os pontos de determinação da composição química. 134 12000 Mn Fe Intensidade [cps] 10000 8000 Cr 6000 Fe Ni Mn Cu 4000 2000 Cr Cr Mn Mo Si Fe Ni Mo Cu Ni Cu 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Energia [keV] Figura 145: Espectro de EDS para o ponto 1 indicado na Figura 144. 12000 Intensidade [cps] 10000 Fe 8000 Cr 6000 4000 Fe Ni 2000 Si Mo W Mo W W Cr Cr Fe Ni W Ni W W 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 WW 9 Energia [keV] Figura 146: Espectro de EDS para o ponto 2 indicado na Figura 144. 10 WW 11 12 135 14000 Intensidade [cps] 12000 Al Cr Ce O 10000 8000 6000 Ce Ni Fe Mg 4000 2000 Ce Ce Ce Cr Ce Fe Ce Ce Ce Ca Cr Ca Ce Ce Si S Ca 0 0 1 2 3 4 5 6 Fe Ni 7 Ni 8 9 10 11 12 Energia [keV] Figura 147: Espectro de EDS para o ponto 3 indicado na Figura 144. Tabela 48 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 144, referente a amostra tratada a 1100ºC com 0,42 de deformação verdadeira. Elemento Ponto 1 - Austenita Ponto 2 - Ferrita Si 0,54 0,47 Cr 24,57 27,96 Mn 0,66 - Fe 61,86 60,09 Ni 8,37 5,44 Cu 0,71 - Mo 3,30 4,83 W - 1,22 136 Tabela 19 - Resultados da composição química em percentual mássico dos pontos destacados na Figura 144. Elemento Ponto 3 - Inclusão O 37,68 Mg 3,27 Al 20,62 Si 0,30 S 0,88 Ca 2,03 Cr 3,44 Fe 5,88 Ni 0,44 Ce 25,46 137 ANEXO A – CARTÃO-REFERÊNCIA DO ICDD PARA AUSTENITA 138 ANEXO B – CARTÃO-REFERÊNCIA DO ICDD PARA FERRITA 139 ANEXO C – CARTÃO-REFERÊNCIA DO ICDD PARA SIGMA 140