Anais do
V Seminário Nacional de
Psicologia e Senso Religioso:
CD-ROM
PUC-CAMPINAS
14 a 16 de maio de 2004
Campinas
Junho de 2004
1
V SEMINÁRIO NACIONAL DE
PSICOLOGIA E SENSO RELIGIOSO:
RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
PSICOLOGIA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA VIDA
PUC-CAMPINAS
Realizado no
Campus I da PUC-Campinas
Auditório D. Gilberto
14 a 16 de maio de 2004
ANAIS DO SEMINÁRIO
CD-ROM
Organização de Mauro Martins Amatuzzi
Apoio técnico de Camila Oleski Amatuzzi
PUC-Campinas
Junho de 2004
2
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 4
PROGRAMA ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 6
RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS
CONFERÊNCIA 1: Espiritualidade e experiência religiosa: um potencial libertador?
Faustino Teixeira -----------------------------------------------------------------------------------------------7
CONFERÊNCIA 2: Psicologia da religião, psicologia da espiritualidade
Geraldo José de Paiva ----------------------------------------------------------------------------------------- 7
MESA REDONDA 1: Religião e espiritualidade: olhares multidisciplinares
Abertura e encerramento da mesa
Regis de Moraes ------------------------------------------------------------------------------------------------8
O olhar do filósofo
Germano Rigacci Jr. ------------------------------------------------------------------------------------------ 8
O olhar do sociólogo
Brenda Carranza ------------------------------------------------------------------------------------------------9
O olhar do psicólogo
João Edênio dos Reis Valle --------------------------------------------------------------------------------- 10
MESA REDONDA 2: Psicologia e Espiritualidade
Bases para uma psicologia da espiritualidade
Mauro M. Amatuzzi ----------------------------------------------------------------------------------------- 10
Psicologia existencial e espiritualidade
José Paulo Giovanetti ---------------------------------------------------------------------------------------- 11
A espiritualidade e os psicólogos
Marília Ancona Lopez --------------------------------------------------------------------------------------- 12
MESA REDONDA 3: Espiritualidade e atendimento clínico
Aconselhamento psicológico e espiritualidade
James Reaves Farris ----------------------------------------------------------------------------------------- 12
Religiões brasileiras de matriz africana e psicoterapia
Ronilda Iyakemi ---------------------------------------------------------------------------------------------- 13
Psicanálise e espiritualidade
Gilberto Safra ------------------------------------------------------------------------------------------------- 13
ENCONTRO INTER-RELIGIOSO: A Espiritualidade nas Religiões
Religião afro-brasileira
Ivete Miranda Previtalli ------------------------------------------------------------------------------------- 14
Budismo
Monja Coen --------------------------------------------------------------------------------------------------- 14
Catolicismo
Padre Benedito Ferraro -------------------------------------------------------------------------------------- 15
Protestantismo
Pastora Neusa Tetzner --------------------------------------------------------------------------------------- 16
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COMUNICAÇÕES DE PESQUISAS
GRUPO 1
Incorporando Papéis: Uma Leitura Psicossocial do Fenômeno da Mediunidade de Incorporação em
Médiuns de Umbanda
Wellington Zangari ------------------------------------------------------------------------------------------ 18
Relação Espiritualidade e Envelhecimento: Desejo de Eternidade ou Sinal de Maturidade?
Tereza Creusa de Góes Monteiro Negreiros ------------------------------------------------------------- 18
A Religiosidade Humana e a Clínica Winnicottiana
Maria Inês Aubert -------------------------------------------------------------------------------------------- 19
Processo Maturacional & Religiosidade: Revendo Conceitos a partir da Clínica das Psicoses
Fernando Genaro Junior ------------------------------------------------------------------------------------- 19
Quo Vadis, Peregrino? Uma Fenomenologia do Caminhar do Romeiro do Triângulo Mineiro
Ana Lucia Ribeiro de Oliveira ----------------------------------------------------------------------------- 20
"Construção da Identidade Político-Pentecostal". Notas de Uma Pesquisa na Igreja Assembléia de Deus
Claudirene Bandini ------------------------------------------------------------------------------------------ 20
Identidade Psicossocial de Sacerdotes Católicos Brasileiros
José Rogerio Machado de Paula --------------------------------------------------------------------------- 21
A Fenomenologia no Pensamento Filosófico e Teológico de Paul Tillich
Tommy Akira Goto ------------------------------------------------------------------------------------------ 22
GRUPO 2
O Perfil da Religiosidade do Jovem Universitário: Um Estudo de Caso na PUC-SP
Jorge Cláudio Ribeiro e Regina Pereira Lopes ---------------------------------------------------------- 22
O Significado da Religião na Formação do Psicólogo: Um Estudo em Andamento
Maria Cristina Soares Esteves ------------------------------------------------------------------------------ 23
O Contexto Científico e Filosófico que Descarta a Existência de Uma Verdade Absoluta Apresenta Algum
Espaço para a Idéia de Deus? Ou: Como encarar os relatos de experiências espirituais de pacientes
psiquiátricos em um contexto de relativização de todas as verdades?
Antônio Aranha e Maria Tavares Cavalcanti ------------------------------------------------------------ 24
As Funções da Meditação no Ensino da Arte Terapia
Irene P. G. Arcuri -------------------------------------------------------------------------------------------- 24
O Zen-Budismo na Trajetória de Fritz Perls e na Gestalt-Terapia, Uma Pesquisa em Andamento
Roberto Veras Peres ----------------------------------------------------------------------------------------- 25
Tensões e Conflitos em Relação ao Tema da Religiosidade no Atendimento a Grupos em Comunidades:
Um Tema para Pesquisa
Giovana Fagundes dos Santos ------------------------------------------------------------------------------ 25
Avaliação da Religiosidade/Espiritualidade no Psicodiagnótico Interventivo Fenomenológico-Existencial
Marizilda Fleury Donatelli ---------------------------------------------------------------------------------- 26
FOTOS ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 27
4
APRESENTAÇÃO
Esses Seminários de “Psicologia e Senso Religioso” começaram em Ribeirão Preto (SP),
em 1997, por iniciativa da SALUS – Associação para a Saúde. Visavam promover a reflexão e a
discussão sobre as relações entre psicologia, senso religioso e experiência religiosa. O I
Seminário, este de Ribeirão Preto, que reuniu cerca de 150 pessoas, constituiu-se de palestras em
torno de temas como: a experiência religiosa na prática clínica em psicologia, o conceito e a
pesquisa da experiência religiosa, história da psicologia da experiência religiosa.
O II Seminário ocorreu em Belo Horizonte, na UFMG (Universidade Federal de Minas
Gerais). Dele resultou um livro editado pela Loyola em 1999, intitulado “Diante do Mistério”,
com as contribuições dos palestrantes e membros de mesas redondas. Tratou de temas como: a
arte como experiência religiosa (Adélia Prado), a experiência religiosa no contexto da cultura e
da psicologia (Geraldo de Paiva, Marina Massimi, Miguel Mahfoud), experiência religiosa na
clínica psicológica (Marília Ancona Lopez, José Paulo Giovanetti), experiência religiosa e
processos psicológicos (Alysson Carvalho e Mauro Amatuzzi), alcance e limites das teorias
psicológicas sobre experiência religiosa (Eduardo Gontijo, Jader Sampaio, e Gilberto Safra). Se o
tema dominante do I Seminário foi o “Senso Religioso”, o deste foi a “Experiência Religiosa”.
Pouco a pouco o Seminário foi sendo assumido pelo Grupo de Estudos “Psicologia e
Religião” da ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia), grupo
que reúne professores pesquisadores de diversas universidades brasileiras. O III e o IV
Seminários ocorreram em São Paulo, nos dois anos seguintes, no centro cultural Maria Antônia
(da USP). Foram organizados pelo prof. Geraldo de Paiva, também coordenador do Grupo de
Estudos da ANPEPP. O III teve como tema “A Religião: entre a Necessidade e o Desejo”, e
contou com um convidado internacional, Antoine Vergote, de Lovaina, na Bélgica. Deste III
Seminário também resultou um livro editado pela Loyola em 2001: “Entre a necessidade e o
desejo: diálogos da psicologia com a religião”.
O IV Seminário, em 2002, levou como tema “A Representação na Religião” e terá
também seu livro publicado. Com dois convidados estrangeiros (um da Itália, M. Aletti e outro da
Bélgica, M. Jaspar), além das mesas redondas e conferências, contou também com um painel de
pesquisas de doutorandos na área.
Este V Seminário, cujos Anais estão aqui sendo apresentados, foi sediado pela PUCCampinas. Oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, do Centro de Ciências da
Vida (CCV), contou também com o apoio do Centro de Ciências Humanas (CCH), e foi
coordenado pelos professores Mauro Martins Amatuzzi (da Pós-Graduação em Psicologia, CCV)
e Silvana Suaiden (do CCH), que montaram o projeto. O tema escolhido desta vez foi: “Religião
e Espiritualidade”.
Tínhamos também um convidado internacional, José Severino Croatto, da Argentina. Foi
com imenso pesar que recebemos, primeiro uma mensagem pessoal dele dizendo que estava
muito doente e não poderia vir, e depois, poucos dias antes do Seminário, a notícia de seu
falecimento. Não podíamos deixar de lembrá-lo aqui, com carinho pela pessoa, respeito e
admiração pelo belo trabalho que ele vinha desenvolvendo na América Latina.
Neste Seminário tivemos também uma novidade: um encontro inter-religioso. A intenção
foi que ouvíssemos de pessoas de diferentes religiões como elas vivem sua espiritualidade, cada
uma no contexto de sua própria tradição religiosa.
Além de ter sido sediado e assumido pela PUC-Campinas, esse V Seminário contou
também com o apoio das editoras Alínea, Paulus, Paulinas e Vozes e de algumas universidades
5
amigas através do Grupo de Trabalho da ANPEPP, e em especial a UNIP na pessoa da professora
Marilia Ancona Lopez.
Esperamos que esses Anais do Seminário possam dar uma idéia do que foi a riqueza de
suas palestras e comunicações de pesquisas, enquanto aguardamos a publicação de um novo
livro. E assim passamos adiante o bastão, desejando que os próximos encontrem a inspiração do
tempo e do lugar para aprofundar e divulgar conhecimentos nessa área delicada, mas importante
para o ser humano.
Mauro Martins Amatuzzi
PUC-Campinas, junho de 2004
6
PROGRAMA
6a. feira (14 de maio)18hs - Recepção
18,30hs - CORAL DA PUC-Campinas. No auditório.
19,30hs - CONFERÊNCIA 1: Espiritualidade e experiência religiosa: um potencial libertador?
Faustino Teixeira (UFJF)
Sábado (15 de maio)
8hs - CONFERÊNCIA 2: Psicologia da religião, psicologia da espiritualidade
Geraldo José de Paiva (USP/ANPEPP)
10hs - MESA REDONDA 1: Religião e Espiritualidade: olhares multidisciplinares
Coordenador: Regis de Morais (PUC-Campinas)
O olhar do teólogo: Paulo Fernando C. de Andrade (PUC-Rio)
O olhar do filósofo: Germano Rigacci Jr. (PUC-Campinas)
O olhar do sociólogo: Brenda Carranza (PUC-Campinas)
O olhar do psicólogo: João Edênio dos Reis Valle (PUC-SP)
13,30hs - MESA REDONDA 2: Psicologia e Espiritualidade:
Coordenador: Geraldo José de Paiva (USP/ANPEPP)
Bases para uma psicologia da espiritualidade: Mauro M. Amatuzzi (PUCCampinas/ANPEPP)
Psicologia existencial e espiritualidade: José Paulo Giovanetti (UFMG/ANPEPP)
A espiritualidade e os psicólogos: Marília Ancona Lopez (PUC-SP/UNIP/ANPEPP)
16hs - MESA REDONDA 3: Espiritualidade e atendimento clínico
Coordenadora: Marília Ancona Lopez (PUC-SP/UNIP/ANPEPP)
Aconselhamento psicológico e espiritualidade: James Reaves Farris (UMESP)
Religiões brasileiras de matriz africana e psicoterapia: Ronilda Iyakemi (USP/ANPEPP)
Psicanálise e espiritualidade: Gilberto Safra (USP/PUC-SP/ANPEPP)
19,30hs - MÚSICA NO AUDITÓRIO - CCA PUC-Campinas
20hs - ENCONTRO INTER-RELIGIOSO: A Espiritualidade nas Religiões
Coordenadora: Silvana Suaiden (PUC-Campinas)
Religião afro-brasileira: Ivete Miranda Previtalli
Budismo: Monja Coen
Catolicismo: Padre Benedito Ferraro
Protestantismo: Pastora Neusa Tetzner
Domingo (16 de maio)
8hs - COMUNICAÇÕES DE PESQUISAS
GRUPO 1 - Coordenador: Wellington Zangari (USP)
GRUPO 2 - Coordenador: James Farris (UMESP)
11hs - AVALIAÇÃO DO ENCONTRO: Geraldo José de Paiva (USP/ANPEPP)
12hs - ENCERRAMENTO
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RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS
CONFERÊNCIA 1
Espiritualidade e experiência religiosa: um potencial libertador?
Faustino Teixeira (Universidade Federal de Juiz de Fora)
E/e: [email protected]
Resumo
O objetivo da reflexão foi mostrar a presença no tempo atual de um forte impulso religioso e de
uma sede difusa de espiritualidade. A busca de espiritualidade não significa um reforço das
instâncias oficiais de sentido, que vivem um momento de crise palpável. Sobretudo após a crise
de importantes narrativas da modernidade, verifica-se um grande interesse pelo tema da
espiritualidade e de tudo aquilo que a ela se relaciona. A espiritualidade vem aqui entendida
como uma atmosfera, um clima peculiar de ver o mundo e de experimentar o mistério de
afirmação da vida. A espiritualidade funda-se numa experiência primordial de sentido, cuidado,
apoio, proteção e busca de significado. É igualmente fonte de inspiração do novo, de esperança e
geração de um nomos pleno e de um projeto-esperança. No âmbito da reflexão teológica latinoamericana, a emergência de uma espiritualidade da libertação foi de fundamental importância,
sobretudo após os anos 80, abrindo lugar e espaço para uma essencial reflexão sobre a gratuidade
e a dimensão de crescimento pessoal no processo de compromisso com os pobres.
CONFERÊNCIA 2
Psicologia da religião, psicologia da espiritualidade
Geraldo José de Paiva (USP - ANPEPP)
E/e: [email protected]
Resumo
Um exame do desenvolvimento da psicologia da religião em seu primeiro século de existência
mostra diversas oscilações temáticas. Se inicialmente, tanto na Europa como nos Estados Unidos,
partia-se do FATO da profissão da religião cristã para se pesquisarem os processos psicológicos
subjacentes ou relacionados a esse fato (por exemplo, experiência e conversão), incluiu-se a
seguir a própria NEGAÇÃO do fato, isto é, a profissão do ateísmo, como objeto de investigação
psicológica da religião. Comum a esses dois momentos foi a conceituação de religião como algo
distinto de outras modalidades da intencionalidade humana. Apesar das discussões relativas ao
enfoque substantivo ou funcional da religião, a referência dos bastidores permaneceu alguma
forma de transcendência. Hoje, discute-se a própria referência e pergunta-se se o objeto da
psicologia da religião não seria, ao menos em parte, a ESPIRITUALIDADE. No contexto da
discussão atual, o termo "espiritualidade" se impôs a partir do inglês e da cultura norte-americana
e dela se propagou, embora em ritmo mais lento, para culturas de outros idiomas. Na acepção
atual, "espiritualidade" pode ser descrita como sentimento pessoal, independente do institucional,
de "conexão" com o universo, que alimenta a busca do sentido da existência e permite o
desenvolvimento das potencialidades humanas, que são da ordem do "espírito" e não da
"matéria". Impõe-se, pois, à psicologia da religião reexaminar o âmbito de sua competência e
redefinir seu próprio objeto, seja reconhecendo a independência de uma psicologia da
espiritualidade, seja incluindo a psicologia da espiritualidade na psicologia da religião, seja, ao
contrário, incluindo-se a si própria numa psicologia da espiritualidade.
8
MESA REDONDA 1
Religião e espiritualidade: olhares multidisciplinares
Coordenação da Mesa: Regis de Morais (PUC-Campinas)
Abertura e encerramento da mesa
Regis de Morais (PUC-Campinas)
E/e: [email protected]
Resumo
Abertura
“As religiões se formam como estrelas mais ou menos brilhantes no seio de uma nebulosa. São
condensações em uma autêntica galáxia, que se estende desde os mais primevos tempos da
trajetória humana até os dias de hoje – e esta galáxia se chama espiritualidade”. - Fenômeno
recente é a emergência de uma nova espiritualidade, que não busca paraísos perdidos, mas se
volta para motivações ecumênicas. Apóia-se, agora, em cientistas prêmios Nobel da Revolução
Científica Contemporânea (Max Planck, W. Heisenberg, A. Einstein, A. Eddington e outros). São recorrentes, simultaneamente em nosso tempo, o tema da agonia das religiões
institucionalizadas e o de uma necessária espiritualidade ecumênica. Razão pela qual se mostra
muito relevante o tema desse nosso Seminário, “Religião e espiritualidade”, do qual participam
pensadores que podem elevá-lo a mais do que simples ato acadêmico, fazendo-o uma busca de
mais sentido para as nossas vidas.
Encerramento
Segundo Adélia Prado, “toda fé nasce do pânico; mas se transforma em um ato de amor quando
perdoamos Deus de não nos ter feito deuses também”. Das orgias materialistas do século XIX às
orgias místicas do século XX, estende-se a teologia da morte de Deus que parece ser a
vanguardeira das desconstruções pós-modernas, por não ter perdoado Deus de não ser nosso
companheiro de finitude. - O psicólogo Stanley Keleman, abordando a temática da psicologia
individual, propõe categorias (ou fases) que podem ser usadas para o sociocultural. Fala ele de
ending (final): quando constatamos que velhas atitudes, crenças e valores não funcionam mais; de
middle ground (espaço intermediário) no qual reina a perplexidade por não termos alcançado
ainda novos parâmetros valorativos, ocasião em que põe perigo a emergência de sombras
civilizatórias ameaçadoras; fala o psicólogo de rebirth (renascimento), que é a conquista de
novos sentidos, crenças e valores. - Certamente, estamos em pleno middle ground e precisamos
caminhar para renasceres. Isto tem perfeitamente a ver com a conquista de uma nova
espiritualidade. Sendo muito complexa a religiosidade brasileira, torna-se urgente aclararmos os
conceitos de “Religião e espiritualidade” para lograrmos mais segura maturidade de posições ante
o mundo e a transcendência.
Religião e espiritualidade: o olhar do filósofo
Germano Rigacci Jr (PUC-Campinas)
E/e: [email protected]
Resumo
A experiência religiosa e o encontro humano.
Temos como propósito dirigir nosso olhar sobre algumas experiências religiosas que
identificamos no mundo atual. A primeira é a que se efetiva sob a marca do fundamentalismo.
Considerada a partir de uma afirmação ortodoxa do sagrado, tal experiência produz o fechamento
do grupo que a vive a tudo o que lhe é diferente. Evita o plural e o diálogo. A segunda é a
desenvolvida no meio midiático e sustentada na cultura do espetáculo e no sentimento religioso
9
imediato. Neste caso vale tudo para provocar auto-exaltação da individualidade em detrimento de
uma cultura da solidariedade.
Procuraremos nos apoiar para orientar nosso olhar sobre essas experiências religiosas num
plano filosófico. Aí instalados, recorreremos à categoria de alteridade, para desenvolver nossa
reflexão. De um lado, supomos que, no âmbito do fundamentalismo, o outro é sempre uma
ameaça, pois provoca dúvida e insegurança. De outro lado, presumimos que o outro gera fascínio
e, ao mesmo tempo, medo, pois se trata de um obstáculo a ser vencido. Enfim, admitimos
hipoteticamente que, em nenhum desses casos, a experiência religiosa efetivará a experiência em
que o sujeito venha a reconhecer o outro na sua diferença. Realizar então os dois mandamentos
de Jesus: “Amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo entendimento, e ao próximo
como a si mesmo” ( Mt 22, 37-39)
Religião e espiritualidade: o olhar do sociólogo
Profa. Brenda Carranza (PUC-Campinas)
E/e: [email protected]
Resumo
Após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 e 11 de março de 2004, nos quais o
fundamentalismo religioso tornou-se bandeira bélica no mundo todo, pode-se afirmar que a
religião é algo a mais que uma opção pessoal reduzida à esfera privada. Quando o uso do véu
islâmico nas escolas francesas pautou discussões parlamentares sobre o direito à livre expressão,
revelou-se o potencial polêmico que a religião traz como elemento identitário na configuração
cultural de um país. No momento em que a Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil se
propõe a marcar presença no Poder Legislativo do país, com a finalidade de libertar a política do
mal e pecado por meio da eleição de alguns de seus membros para o Congresso Nacional e o
Senado, evidenciam-se as tênues fronteiras entre a religião e a esfera pública.
Esse cenário fascinante de interações sócio-religiosas incita a compreender o papel que a
religião possa ter no mundo contemporâneo. Ele exige, em primeiro lugar, reconhecer que ela é
uma dimensão constitutiva dos processos culturais e, como tal, sujeita a uma construção social.
Nessa direção, autores clássicos, como Max Weber, Emile Durkheim e Peter Berger, entre outros,
sugerem que toda aproximação ao fenômeno religioso encontra-se atrelada a processos temporais
e geográficos específicos, isto é, datados e localizados.
Isso posto, abordar a religião e a espiritualidade, a partir do um ponto de vista
sociológico, pressupõe se posicionar perante um fenômeno multifacetário e pluridimensional que
faz referência a mitos e ritos, a sistemas simbólicos e de crenças, a instituições sociais portadoras
de propostas éticas que se expressam em contextos sócio-culturais específicos. Assim, a religião e
a espiritualidade dizem respeito a grupos e indivíduos que explicitam suas concepções do mundo,
de cosmo, do sentido da existência humana. Em geral essas noções pretendem capturar a maneira
como grupos e indivíduos formulam suas razões de felicidade ou tentam se explicar perante o
sofrimento, a dor e o limite humano. Tudo isso, num marco de pressões sociais que condicionam
e, às vezes, determinam as próprias manifestações religiosas de indivíduos e da coletividade.
Cabe à perspectiva sociológica, no conjunto das Ciências Sociais, alertar para as mutações
culturais que a sociedade vivencia e assinalar o lugar que ocupa a religião ora como expressão
identitária individual, na qual a construção da identidade pessoal e/ou coletiva pode ser
amalgamada a fatores religiosos, ora como instituição social hegemônica que se impõe, ou não,
pela força física ou simbólica a nações e povos.
Um olhar sociológico focaliza a armadilha, a que certos setores da comunidade científica
estão sujeitos, de relegar as manifestações e expressões religiosas a meras superstições que
10
podem ser facilmente superadas por meio do avanço científico. Nessa linha, são focados os
dramas e as tramas sociais que ampliam concepções iluministas, as quais apostam na
modernização tecnológica e/ou na democratização dos bens e serviços como armas para erradicar
todo resquício de atraso e arcaísmo dos quais a religião possa ser portadora. Em outras palavras:
acreditam que a superação da pobreza, com a modernização, levaria à superação do sentimento
religioso.
A visão sociológica contribui para a superação de qualquer reducionismo epistemológico
que possa levar a isolar o indivíduo como unidade empírica, cuja vivência religiosa e percurso
espiritual não tenham conexão com as tendências culturais de seu meio social, ou mesmo, que
possa desvincular os processos pessoais dos percursos coletivos de individuação moderna, de
construção subjetiva da identidade social e pessoal dos homens e mulheres contemporâneos.
Enfim, a sensibilidade sociológica, no conjunto das Ciências Humanas, qualifica toda e
qualquer aproximação à realidade religiosa, afirmando, uma vez mais, a complexidade dos
indivíduos e suas interações sociais, convidando à aventura analítica que pressupõe um diálogo
interdisciplinar.
Religião e espiritualidade: o olhar do psicólogo
João Edênio dos Reis Valle (PUC-SP)
E/e: [email protected]
Resumo
O artigo enfoca o relacionamento entre religião e espiritualidade desde o olhar do psicólogo. A
linha mestra do pensamento expresso vai na direção de evitar confusões epistemológicas e
psicoterapêuticas nessa interface entre o religioso e o psicológico. No relacionamento
espiritualidade-religião os dois reducionismos (o que vem "de cima"- o angelismo - e o que vem
"de baixo"- o psicologismo ) devem ser evitados. Com a abertura que está se dando no campo da
psicologia em relação à religião fazer as necessárias distinções não se tornou mais fácil. Para
evitar confusões o autor parte de um esclarecimento do sentido de três conceitos que são afins,
mas não idênticos: religião, religiosidade e espiritualidade. A posição adotada para a
aproximação psicológica ao conceito de religiosidade é a de A . Vergote. No campo da
psicoterapia é usado o conceito de "interpretação restauradora" de E.P. Shafranske. Do ponto de
vista da experiência religiosa cristã J. Mouroux e Lima Vaz são os guias adotados. No fim, o
autor tenta dizer o que não é e o que é a espiritualidade para quem vem da psicologia. Em resumo
é dito que se pode experimentar o sagrado e ter uma dimensão de significado que transcende o
cotidiano todas as vezes em que se desce às profundezas da vida, especialmente ali onde ela
apresenta brechas e se acha orientada para colher o transcendente.
MESA REDONDA 2
Psicologia e espiritualidade
Coordenador da Mesa: Geraldo José de Paiva (USP – ANPEPP)
Bases para uma psicologia da espiritualidade: uma antiga fenomenologia do espírito
Mauro Martins Amatuzzi (PUC-Campinas – ANPEPP)
E/e: [email protected]
Resumo
Fazendo uma leitura hermenêutica de Tomás de Aquino, um filósofo-teólogo cristão do
séc. XIII, a apresentação pretende mostrar como é possível construir uma verdadeira
11
fenomenologia do espírito (para falar como Hegel) na qual este se manifesta como a força
mobilizadora que atravessa todo processo evolutivo e o transcende também.
Quando Tomás de Aquino é consultado por um médico de Nápoles sobre como os
elementos materiais simples existem nos corpos compostos, ele responde que existem
subsumidos por uma estrutura mais complexa. Em latim sua resposta é que os elementos aí
existem “virtualmente”. Podemos entender essa “virtude” dos elementos materiais, que está na
base da composição dos seres mais complexos, como sendo sua força, ou seu poder, como algo
que não se confunde simplesmente com sua matéria nem com sua forma ou estrutura. É mesmo
sua “energia”, que mais tarde entenderemos como a primeira manifestação do espírito.
Num outro grau de complexidade aparecem os seres vivos. Aqui a estrutura, impulsionada
pela mesma energia básica, adquire características novas e próprias: ela se torna responsável pela
autonomia de movimentos. O ser vivo resiste ao desgaste dos processos materiais providenciando
sua própria subsistência e sobrevivência através de uma interação criativa com o meio ambiente.
A mais complexa das estruturas vivas conhecidas é a humana. Aqui o espírito, ou a
energia mobilizadora, se manifesta de um modo novo: o ser humano é capaz de dominar sua
própria relação com o meio. Ele pode não seguir simplesmente o instinto, ele pode decidir de
seus rumos. Essa liberdade está baseada na nova capacidade reflexiva que nele aparece como
nova manifestação do mesmo espírito. Aqui aparece de novo a palavra virtude: as virtudes
humanas. São qualificações da natureza, normalmente adquiridas com a prática, voltadas para a
ação plenamente satisfatória. Contudo, Tomás fala também de virtudes recebidas de Deus. São
aquelas qualificações da natureza humana que a orientam para um fim superior, antes apenas
vagamente pressentido na experiência do vazio da existência. O fato de existirem essas virtudes
“recebidas” já nos faz pensar no espírito como algo objetivo, e que mobiliza o homem como que
de fora.
O ser humano pode se encontrar com o espírito, o seu espírito reconhecendo o Espírito
que o transcende, e deixar-se mobilizar por ele. Mas aqui é preciso sair do âmbito da
consideração da natureza, para entrarmos no âmbito dos fatos concretos da história, pois é aí que
agora esse Espírito se manifesta. Do ponto de vista psicológico essa nova manifestação do
espírito aparece como experiência de um dom. E consiste em uma disponibilidade às
mobilizações do Espírito que transcendem o mero funcionamento natural das faculdades, e
preparam a pessoa para seu criativo caminhar histórico.
Uma psicologia que se queira humana deve levar em conta todas essas manifestações do
espírito.
Psicologia existencial e espiritualidade
José Paulo Giovanetti (UFMG – ANPEPP)
E/e: [email protected]
Resumo
A Psicologia cresceu muito no século XX devido ao diálogo que ela estabeleceu com
outros campos do saber. Por isto mesmo, não podemos encontrar uma definição do que seja a
Psicologia, mas, pelo contrário, devido à diversidade de inspirações que envolviam seu campo,
temos várias Psicologias. Assim, a Psicologia Existencial se coloca como uma das várias
matrizes da ciência psicológica. Desenvolveu-se graças ao diálogo que estabeleceu com a
doutrina filosófica denominada Existencialismo.
Nessa exposição vamos procurar perguntar o que a filosofia existencial pode trazer de
contribuição para o trabalho do psicólogo, chegando a constituir o que alguns denominam
Psicologia Existencial. Num segundo momento, vamos procurar apresentar uma conceptualização
12
do que entendemos por Espiritualidade, para, finalmente, esboçar uma possível contribuição da
Psicologia Existencial para a vivência da Espiritualidade.
A espiritualidade e os psicólogos
Marília Ancona Lopez (PUC-SP – UNIP – ANPEPP)
E/e: [email protected]
Resumo
Romain Rolland, em carta escrita para seu amigo Sigmund Freud, refere-se a um sentimento
religioso espontâneo, ou sentimento oceânico que, para ele, é completamente diferente das
religiões. Rolland conceitua uma fonte subterrânea, um substrato profundo do inconsciente, que é
religioso por natureza, não é oposto à razão, nem redutível a um pensamento desejante ou desejo
de imortalidade. Ele é de uma ordem significativamente diferente da ordem da religião do
“homem comum”: é dinâmico, vital, criativo e independente dos vários acréscimos da religião
institucionalizada. Esse sentimento é apontado e descrito de formas diferentes por outros autores,
expondo, assim, a polimorfia da vivência espiritual. É exatamente essa polimorfia que se faz
presente nas vivências dos psicólogos clínicos, que eles mesmos consideram experiências
espirituais, de transcendência ou do sagrado. Os psicólogos relatam histórias pessoais, nas quais
se encontram crenças, valores, simbologias, concepções sobre o ser humano, sentidos de vida que
compõem suas elaborações pessoais e o conhecimento tácito que incide em sua ação clínica.
Dificilmente, no entanto, conseguem expressar suas vivências espirituais em linguagem
psicológica. As tentativas de “tradução” apontam a distância entre os sentimentos e as crenças
presentes em sua vida e os pressupostos de suas teorias de escolha. Sem expressão psicológica e,
usualmente, sem expressão religiosa, sem troca nem intercâmbio, a espiritualidade dos psicólogos
clínicos mantém-se como experiência infinita, expressão de uma experiência espiritual que não
ocupa lugar a não ser o de uma vivência não engajada e pouco definida. Paradoxalmente, essa
condição, ao invés de afastar a religião da prática clínica e diminuir sua influência nos
atendimentos, tem um efeito oposto. Mostram diferentes autores que, ante experiências religiosas,
os psicólogos reagem quase que exclusivamente a partir de suas crenças. Para Ricoeur, as
experiências de religiosidade necessitam de uma linguagem religiosa que as expresse. Observase, no entanto, entre os psicólogos um “medo das religiões” que aparecem, em suas falas, nas
vertentes fundamentalistas e são rejeitadas como rígidas, ortodoxas e limitadoras da própria
espiritualidade. Encontrar uma linguagem religiosa para a experiência espiritual não significa,
porém, para Ricoeur, aderir a uma religião, mas sim, estabelecer uma condição de possibilidade
de se abrir a uma hermenêutica.
MESA REDONDA 3
Espiritualidade e atendimento clínico
Coordenadora da mesa: Marília Ancona Lopez (PUC-SP – UNIP – ANPEPP)
Aconselhamento psicológico e espiritualidade
James Reaves Farris (UMESP)
E/e: [email protected]
Resumo
Essa apresentação discute a relação entre o aconselhamento psicológico e a espiritualidade. O
aconselhamento psicológico é definido em contraste com a direção espiritual e o aconselhamento
pastoral. A espiritualidade é definida como a procura ou a construção de significado, em
contraste com as tradições Cristãs que enfatizam a crença em Deus e tipos específicos de
13
devoção, piedade e práticas religiosas. É discutida também a relação entre as teorias de
desenvolvimento do ego e a espiritualidade. O reconhecimento e a transformação de centros de
valor e poder que dão ordem e coerência à totalidade de vida, ou a comportamentos específicos,
são identificados como elementos fundamentais na relação entre o aconselhamento psicológico e
a espiritualidade. O conceito de transcendência também é identificado como um elemento
fundamental na compreensão da relação entre o aconselhamento psicológico e a espiritualidade.
Religiões brasileiras de matriz africana e psicoterapia
Ronilda Iyakemi Ribeiro (USP – ANPEPP)
E/e: [email protected]
Resumo
Práticas terapêuticas inspiradas na sabedoria negro-africana certamente integram o quadro de
psicologias da Quarta Força, por suporem a possibilidade de auto-realização e
autotranscendência. Propostas psicoprofiláticas e psicoterapêuticas fundamentadas em
concepções negro-africanas de homem e universo, de espaço e tempo, de saúde, doença e cura
consideram necessariamente aspectos físicos, anímicos e espirituais, além dos subjetivos e
socioculturais. O diálogo, passível de ser estabelecido entre procedimentos psicoterápicos e
atividades religiosas que compartilham pressupostos e crenças de matriz negro-africana, exige de
quem se disponha a isso uma indispensável disposição para transitar em zona de fronteiras e,
simultaneamente, a coragem de questionar pressupostos epistemológicos e metodológicos, com
muita arte e engenho. Por quê? Porque desses profissionais se espera que, sem abandonar o
necessário rigor científico, realizem uma praxis coerente, capaz de articular exigências básicas
das psicologias com soluções religiosas para o sofrimento humano, e ainda, com demandas
concretas, cotidianas, por vezes, acanhadas das pessoas que buscam ajuda para se curar ou
desenvolver-se. E ao surgir a freqüente pergunta: “Então, como é que faz? Que técnicas se
mostram úteis a tais intervenções psicoterápicas?”, lembramos: todas as técnicas desenvolvidas
pelas diversas psicologias são válidas, desde que coerentes ideológica, epistemológica e
metodologicamente com as concepções de natureza, devir e destino humanos, de saúde, doença e
cura adotadas e desde que o terapeuta tenha claramente explicitadas para si, tais concepções, de
modo que sua prática não se divorcie, nem das convicções teóricas, nem do corpo de crenças.
Nem perca de vista que as técnicas servem humildemente à arte de favorecer, nos processos
humanos, que o metal menos nobre possa transformar-se em ouro.
Psicanálise e espiritualidade
Gilberto Safra (USP – PUC-SP – ANPEPP)
E/e: [email protected]
Resumo
Título para essa apresentação: Espiritualidade e religiosidade na clínica
contemporânea.
No mundo pós-moderno, em que tantos aspectos do ethos humano encontram-se
fragmentados, torna-se importante enfocarmos por quais maneiras o direcionar-se ao
transcendente acontece na clínica contemporânea.
Tomo como ponto de partida para essa discussão dois conceitos: o ôntico e o ontológico.
O ôntico refere-se aos acontecimentos no mundo em que o campo representacional é o
privilegiado. O ontológico aponta para o lugar a partir do qual a condição humana se abre para a
existência.
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Abordarei o fenômeno espiritual, em companhia de Edith Stein (Ser Finito, Ser Eterno),
como se situando no registro ontológico, como um direcionar-se para um mais além: aspecto
fundamental do ethos no ser humano. Nessa perspectiva, teremos condições de enfocar as
diferentes formas de espiritualidade como aparecem na clínica, até mesmo a espiritualidade atéia.
Tomarei a religiosidade a partir do campo representacional, como experiência
acontecendo no registro ôntico, entre a ontologia e teologia pessoal do indivíduo. Assim sendo,
poderemos falar de uma espiritualidade que acompanha ou não o idioma pessoal do sujeito.
ENCONTRO INTER-RELIGIOSO
Coordenadora da mesa: Silvana Suaiden (PUC-Campinas)
Religião afro-brasileira
Ivete Miranda Previtalli
Resumo
Por que o Homo Sapiens vai a busca da religião?
Refletindo sobre o não acabamento do homem e o diálogo entre a razão e a des-razão,
chegamos ao mundo da sensibilidade, que é o universo da subjetividade. Desta forma, são os ritos
e magias que vão dar sentido à especificidade da imaginação. Nós ocidentais acreditamos que o
melhor para se viver é construir uma ordem e uma rotina, rejeitando a mudança, a dinâmica, pois
a incerteza leva à insegurança que, na nossa cultura, é associada à fragilidade da espécie. Por ser
desta forma, quando nos deparamos com um símbolo como Exu, que carrega consigo a
ambigüidade, a constante presença de ruídos, a fraca estabilidade e a presença de uma fraqueza
da consciência que o remete ao horizonte da loucura, percebemos o quanto ele desconcerta o
pensamento que está relacionado à ordem e a uma verdade única. Baseada na idéia da
hipercomplexidade do ser humano, de Edgar Morin, proponho uma reflexão sobre a concepção
religiosa que o candomblé possui sobre o ser humano; Eledumare, o deus criador da essência, as
divindades primordiais e as manifestações da natureza, tendo como ponto de referência “Exu”, o
representante mais fiel do “homo sapiens demens” e o mais polêmico de todos os orixás.
Budismo
Monja Coen
E/e: [email protected]
Resumo
“Estudar o Caminho de Buda / É estudar a Si mesma. / Estudar a Si mesma / É esquecerse de si mesma. / Esquecer-se de si mesma / É ser iluminada por tudo que existe. / É abandonar
corpo e mente, seu e dos outros. / Nenhum traço de Iluminação permanece. / A Iluminação é
colocada à disposição de todos os seres.” (Mestre Zen Eihei Dôguen, 1200-1253). Mestre
Dôguen tem sido a figura de maior inspiração religiosa em minha vida. Seu legado em forma de
poesia e prosa, em forma de mosteiros e prática tem me conduzido com firmeza delicada e sutil
através do Caminho de Buda.
Buda significa a pessoa iluminada, aquela que despertou para a verdade, para o Ser
Verdadeiro. É Inter Ser. Estar presente no momento eterno e instável. Onde tudo se inicia e onde
tudo termina incessantemente. Uma rede imensa de inter relacionamentos, interconexões, onde
tudo se integra, tudo faz parte, tudo inter é. O sol, as nuvens, as plantas, os animais, os minerais,
aquilo que criamos com nossas mentes individuais e coletivas – tudo inter agindo, intersendo. É
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transcender julgamentos e entrar no universo de ir e vir no “assim como é.” A isto chamamos de
Tathagatha ou Nyorai - epítetos de Buda.
Encontrei o Caminho de Buda, formalmente em Los Angeles, na Califórnia, quando à
procura de quem autenticasse minhas práticas meditativas individuais e solitárias, penetrei o
Zazen dos Budas Ancestrais. Havia um grande mestre e uma grande comunidade de leigos e
monásticos que me acolheram e me guiaram nesta caminhada de conhecer a mim mesma e de
esquecer-me de mim mesma. Zazen e zazen. Za é sentar e Zen é meditação. Meditação sem
objeto, sem sujeito. Uma entrega de fé na tradição dos Budas.
A procura e o encontro. Desde muito jovem questionei a religião de minha mãe, de minha
escola, de meus professores, de minha avó. Procurava Deus. Não nas cerimônias religiosas. Não
nos livros sagrados. Procurava no céu, na natureza, na rua, nas pessoas, em mim mesma.
Existiria Deus? A que se referiam as pessoas ao falar Deus? Onde estaria e onde não estaria?
Teria uma face de longas barbas brancas? Seria pura luz, energia vibrante que nos fala não
através de palavras e conceitos, mas através do amor, da entrega, da fé, da confiança? Nitsche e a
morte de Deus me pareciam coerentes. Sim, havia morrido. Será que existira alguma vez? Foi
com treze anos de idade que deixei de freqüentar igrejas. Por mais de dez anos vivi, sem preces,
sem igrejas, templos, mesquitas, sinagogas, terreiros, centros. Mas a pergunta continuava: o que
é Deus?
Fui morar em Londres. Ouvi dizer dos jovens músicos que meditavam. Vi gurus na BBC.
Gurus indianos e Jung. Iniciei práticas meditativas através de livros e encontrei nas explicações
de Jung sobre as mandalas um sentido especial. Sentava-me silenciosa. Pernas entrelaçadas e
Om! Om! Om! A mente silenciava. O questionamento dialético, os pensamentos desapareciam.
Tudo se tornava apenas o momento presente. Intenso, vibrante. Sempre se transformando como
as nuvens no céu.
Nos inúmeros retiros que fiz mais tarde em Los Angeles fui revendo minha vida,
encontros e desencontros, amores e desamores. Tudo se encaixava e fazia sentido. Ninguém
para ser criticado, julgado. Tudo e todos os acontecimentos, todas as pessoas faziam parte da
mandala de minha vida. Surgiu a profunda gratidão pelas inumeráveis experiências vividas –
quer agradáveis, quer desagradáveis. Tudo é minha Vida. Tudo é o Caminho.
Fui ordenada monja em 1983, mesmo ano em que fui para o Convento de Nagoya, no
Japão onde fiquei por oito anos em sistema de internado e semiinternato. Fiz mestrado e voltei
ao Brasil em 1995. Minha experiência do sagrado me une a todas as formas de vida. Minha
missão é abrir portais para que todos possam atingir a Suprema Sabedoria e Infinita Compaixão.
Sempre mantenho este pensamento: como construir uma Cultura de Paz e de não violência ativa?
Como me tornar um verdadeiro agente transformador da sociedade e do mundo mantendo a
coerência de meus pensamentos, ações e palavras, em minha-nossa própria existência? Como
abrir mentes e corações para o respeito à diversidade encontrando a reconciliação e soluções
pacíficas para os conflitos?
Catolicismo
Padre Benedito Ferraro
E/e: [email protected]
Resumo
A mística e a espiritualidade da libertação na perspectiva cristã se enraízam na compaixão
pelo pobre e pelo excluído. No seguimento de Jesus de Nazaré que se compadece da multidão
cansada e abatida como ovelhas sem pastor (Mt 9,35-36), encara-se a vida dos seres humanos e
de toda a natureza a partir da sensibilidade histórica. Há uma ligação da fé com a vida, de tal
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modo que tudo o que é humano acaba repercutindo no coração dos seguidores de Jesus Cristo,
como bem expressa o Vaticano II: "As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos
seres humanos de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada
verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração".
Esta ligação fé-vida nos faz compreender a mística do engajamento nos diferentes campos da
atividade humana, tornando a espiritualidade operante, de tal forma que ela possa desembocar no
amor e na caridade eficazes. Desta forma, é a partir do engajamento nos movimentos populares de
reivindicação, nos movimentos populares específicos (luta da mulher, do negro, dos índios, dos sem
terra, sem teto, dos moradores/as de rua), no movimento sindical, na participação política atuando
nos partidos populares, que podemos sentir um novo modo de viver a fé (uma nova prática dos
cristãos e cristãs assumindo as dores e sofrimentos dos pobres e excluídos, visando à construção de
uma sociedade da inclusão); um novo modo de transmitir a fé (há a criação de um novo modo de
fazer teologia com a teologia da libertação, um novo modo de se ler a Bíblia, uma nova forma de se
fazer catequese), articulada com os problemas humanos e com a perspectiva de colaborar em sua
solução, como bem explicita a Gaudium et Spes: “A fé esclarece todas as coisas com luz nova.
Manifesta o plano divino sobre a vocação integral do ser humano. E por isso orienta a mente para
soluções plenamente humanas". Além disso, notamos ainda um novo modo de celebrar a fé criando
uma liturgia que assume os valores culturais das diferentes etnias de nosso país e do continente
latino-americano e caribenho.
A mística e a espiritualidade da libertação têm ajudado na vivência do ecumenismo e do
diálogo inter-religioso, favorecendo a luta pelos direitos humanos e pela preservação da natureza,
assumindo a luta ecológica como uma de suas bandeiras fundamentais. Preservar o planeta é
preservar a vida de todos os seres da natureza, homens e mulheres e também os animais e plantas.
Concretamente, neste ano, vivenciamos a Campanha da Fraternidade com a afirmação de que a água
é fonte de vida.
A mística e a espiritualidade da libertação têm ajudado também a ampliar os horizontes do
projeto da Pátria-Mátria Grande, abrindo os nossos olhos para a dimensão da latino-americanidade.
Esta perspectiva é de fundamental importância para se criarem laços e se refundar a convivência
entre os diferentes povos do continente latino-americano e caribenho.
A partir da vida concreta, à luz da Palavra de Deus, compreende-se a presença do Reino de
Deus na história através da luta por melhores condições de vida na busca da vida abundante para
todos (Jo 10,10).
Protestantismo
Neusa Tetzner (Pastora luterana - IECLB)
E/e: [email protected]
Resumo
Essa apresentação pode ter como título “A espiritualidade na doença: a influência da fé
religiosa no tratamento junto a pessoas com câncer”. Qual o papel da religião junto aos
enfermos? Todas as tradições religiosas afirmam o cuidado que se deve ter com os enfermos.
No decorrer da História, a medicina passou a tratar o doente por partes. O corpo foi sendo
dissociado. A fé, a religiosidade, a espiritualidade passaram a ser ignoradas. Com a psicanálise a
espiritualidade começa a ganhar importância. Groddeck é um dos nomes da medicina que passa a
entender a doença como um todo do corpo. Ele afirma que é preciso amar e temer a doença para
cuidar dela e a ferramenta mais eficaz para provocar uma mudança na vida do paciente é a
palavra.
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Atualmente muito se tem falado nos meios de comunicação sobre a importância da fé no
tratamento e cura de diversas doenças (em especial o câncer) por meio de experiências religiosas.
Reportagens na TV apresentam casos que levantam a discussão sobre o assunto. Contudo, é
necessário cuidado quando tratamos desse assunto no âmbito da comunicação de massa. É
preciso estudar os casos antes de afirmar uma eventual cura para não colocar o paciente em risco.
Estudos recentes realizados na Inglaterra e Estados Unidos demonstram que “bem-estar
espiritual oferece proteção contra o desespero do fim da vida para pacientes cuja morte é
iminente”. Quando se pensa que não há mais nada por fazer, ainda há muito por fazer afirmam os
médicos que tratam desses pacientes.
Estabelecer o diálogo entre fé e medicina não é tarefa fácil, numa época em que a
tecnologia domina o mundo, mas se faz necessário quando se trata de humanizar as relações, em
especial nos hospitais.
O serviço de Capelania Hospitalar tem colaborado para que pacientes recebam um
atendimento pastoral e possam compartilhar as angústias, sofrimentos e esperança em relação à
sua enfermidade. A pesquisa que está sendo realizada no Ambulatório de Oncologia Clínica –
UNICAMP – tem demonstrado que 90% dos pacientes crêem que a fé é um elemento
fundamental na aceitação do diagnóstico do câncer e seu tratamento. Afirmam que apesar do
medo, da tristeza, do desespero quando confrontados com a doença, a fé em Deus é o suporte
necessário para enfrentar o tratamento. A fé gera esperança, coragem, determinação para seguir
adiante.
A pesquisa tem demonstrado que existem três tipos de pacientes/ reações diferentes:
a) O paciente que participa regularmente das atividades de uma comunidade de fé tende a aceitar
a doença com maior tranqüilidade.
b) O paciente que passa por um processo de conversão quando confrontado com a doença
costuma crer que deve fazer algo para Deus. São as barganhas feitas com Deus.
c) O paciente que não pertence a nenhuma denominação religiosa tem como meta a própria vida,
a família. Não se sente comprometido com nenhuma instituição ou com Deus, mas possui fé em
si mesmo. James Fowler fala da fé humana, da fé inerente no ser humano.
A fé tem esse poder de manter o equilíbrio emocional. Pela fé o paciente sabe que não
está sozinho em sua luta. Nas palavras de um paciente: “não precisa ser fanático, nem viver na
Igreja, mas reconhecer que existe um ser maior”. A fé dá esperança, coragem para lutar.
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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES DE PESQUISAS
GRUPO 1
Coordenador: Wellington Zangari
INCORPORANDO PAPÉIS: UMA LEITURA PSICOSSOCIAL DO FENÔMENO DA
MEDIUNIDADE DE INCORPORAÇÃO EM MÉDIUNS DE UMBANDA
Wellington Zangari (Doutor em Psicologia pela USP; Pós-Doutorando no IP-USP com bolsa
Fapesp).
E/e: [email protected]
Estuda a mediunidade de incorporação entre médiuns de Umbanda em sua dimensão
psicossocial, a partir da teoria de papéis proposta por Hjalmar Sundén. Os Ss são 12 médiuns de
incorporação, entre 16 e 61 anos de idade, 11 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, do
Templo Espírita de Umbanda Xangô Agodô, situado na cidade de São Paulo. Os médiuns passam
por entrevistas semi-dirigidas e são observados durante rituais de incorporação. Com o objetivo
de reconhecer a cultura do grupo ao qual pertencem, realizam-se, ainda, entrevistas informais
com pessoas não médiuns que também participam regularmente das atividades do referido
templo. Apresenta um modelo interpretativo interdisciplinar da mediunidade de incorporação,
considerando: a) a importância da dimensão grupal ampla, da dimensão social dos grupos e da
dimensão individual, e da relação entre estas dimensões para a compreensão da mediunidade de
incorporação; b) a importância da linguagem, em sentido amplo, como meio de interação social
necessário para a existência e manutenção da mediunidade de incorporação; c) o processo de
construção tanto social quanto individual da mediunidade de incorporação; d) o processo de
adoção e assumição de papéis por parte dos médiuns de incorporação; e) a função social da
mediunidade de incorporação; e f) os possíveis ganhos psicológicos por parte dos médiuns de
incorporação. Conclui que a mediunidade de incorporação pode ser compreendida como um
papel social complexo em que estão em jogo tanto elementos sociais quanto individuais em que
as entidades incorporadas são consideradas como constructos psicossociais e, assim, os médiuns
são, ao mesmo tempo, seus intérpretes e co-autores.
RELAÇÃO ESPIRITUALIDADE E ENVELHECIMENTO: DESEJO DE ETERNIDADE
OU SINAL DE MATURIDADE?
Profa. Tereza Creusa de Góes Monteiro Negreiros (Professora do Depto. de Psicologia da
PUC/Rio e Doutora em Psicologia Clínica pela PUC/Rio).
E/e: [email protected]
Refletindo sobre a relação espiritualidade e envelhecimento, destacamos que, além deste
tema ser passível de preconceito, com recente inserção na literatura científica acadêmica, ainda
permanece em psicologia a polêmica: será a espiritualidade um sinal de maturidade ou refere-se a
um desejo infantil de eternizar-se a ser superado? A partir de pesquisa realizada com 80 sujeitos
com idade superior a 60 anos, discutimos diversas concepções de espiritualidade. À luz dos
resultados obtidos e da revisão de literatura sobre o tema, verificamos vários indicadores de que a
busca de um sentido para a vida, a vivência esperançosa, a prática de virtudes e a crença na
transcendência, com o avançar da idade atenuam o impacto de novas formas de mal-estar
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contemporâneo vividos pelos idosos, bem como podem atuar como recursos para a melhoria de
condições de saúde física e mental. Concluímos que a maturidade, conforme entendida por Jung,
Vitor Frankl e Erik Erison está implicada num aumento de espiritualidade com o avançar da
idade – desde um maior cuidado com o outro, até a compreensão da transitoriedade da vida –,
apontando para além de um desejo de imortalidade, uma aceitação do inevitável, compatível com
a perda da onipotência infanto-juvenil.
A RELIGIOSIDADE HUMANA E A CLÍNICA WINNICOTTIANA
Maria Inês Aubert (Doutora pela PUC –SP).
E/e: [email protected]
A problemática principal da tese a que se refere esta comunicação é a interface
Psicologia-Religião, entendendo-se esta como a possibilidade de, ao mesmo tempo em que um
Psicólogo acompanha as etapas de desenvolvimento do paciente no processo terapêutico, poder
acompanhar o despontar da religiosidade. Teve como objetivo principal verificar as formas e os
níveis em que a paciente vê Deus, procurando estudar qual a função (sentido) que a religiosidade
tem na vida de cada um. Procedimento: transcrição e análise das sessões do ponto de vista do
desenvolvimento maturacional e psicológico, tomando-se como base a teoria de Winnicott;
análise de todos os relatos sobre a experiência religiosa trazidos pela paciente nas sessões
terapêuticas. Principais conclusões: confirmação de que é possível ao Psicólogo, dentro do
processo terapêutico, seguindo determinados critérios éticos, poder lidar tanto com a busca de seu
paciente no acompanhamento de suas etapas maturacionais, quanto com a religiosidade dele,
entendida como a maneira peculiar de cada um se ligar a Deus; verificar que, numa determinada
etapa, a religiosidade desponta sutilmente ou se impõe, mas não sendo acolhida, retrai-se,
velando-se; verificar que o ambiente terapêutico “suficientemente bom” e acolhedor pode
facilitar o surgimento da religiosidade; verificar que a experiência religiosa pode ser fonte de
transformações psicológicas e o desenvolvimento do self pode conduzir a novas imagens de
Deus; verificar que Deus pode ser “visto”, “sentido”, “amado”, “lembrado pelo paciente, como
também pode ser desprezado e deixado de lado, mas não pode ser reprimido totalmente.
PROCESSO MATURACIONAL & RELIGIOSIDADE: REVENDO CONCEITOS A
PARTIR DA CLÍNICA DAS PSICOSES
Fernando Genaro Junior (Psicólogo, Especialista em Clínica pelo HC-FMUSP, Mestrando em
Psicologia Clínica pela PUC-SP, Docente da UNIP)
E/e: [email protected]
Esse trabalho parte de um estudo maior que venho desenvolvendo, o qual visa
compreender, do ponto de vista da constituição do self, o quanto a religião pode, ou não,
propiciar a pacientes psicóticos experiências integradoras. Essa pesquisa propõe investigar e
refletir o processo de busca e vivência religiosa em pacientes portadores de sofrimento psíquico
de ordem psicótica, em específico a esquizofrenia paranóide. Emprega-se o método clínico
compreensivo proposto por TRINCA, que permite a análise qualitativa e a reflexão sobre os
relatos pessoais de dois pacientes internados no Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP. Para
tanto, utiliza-se da teoria winnicottiana do processo maturacional e de ponderações desenvolvidas
por SAFRA. Assim, essa comunicação oral visa discutir possíveis aproximações entre diferentes
níveis de religiosidade e aspectos ônticos desses pacientes, partindo do pressuposto de que a
subjetividade humana é a base para o desenvolvimento da religiosidade. Neste momento, serão
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discutidos alguns conceitos norteadores como: religião, religiosidade, fé, crença, mistério e
sagrado; assim como, articulações a partir do conceito de ilusão e dados preliminares sobre os
casos clínicos, apontando para alcances e limites no campo psicológico.
QUO VADIS, PEREGRINO? UMA FENOMENOLOGIA DO CAMINHAR DO
ROMEIRO DO TRIÂNGULO MINEIRO
Ana Lucia Ribeiro de Oliveira (Doutoranda em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Univ. Fed. de
Uberlândia).
E/e: [email protected]
Esse estudo surgiu da minha experiência de caminhar entre os romeiros que vão ao
Santuário Mariano na cidade de Romaria, região do Triângulo Mineiro, por ocasião da festa em
louvor a Nossa Senhora da Abadia. Com a intenção de recuperar a estranheza desse ato religioso
chamado “romaria a pé”, coloquei-me pronta para ver o que esse fenômeno poderia me mostrar
de si mesmo. Busquei a fenomenologia como método hermenêutico para minha análise e daí
pude chegar à compreensão de importantes sentidos para o caminhar humano. O estudo descreve
as agruras nos caminhos, as estratégias usadas para um caminhar menos fatigante, as paradas, os
encontros, as experiências de acolhimento e partilha e, por fim, o grande momento da chegada ao
Santuário. Ofereço aqui, a partir de uma análise da fenomenologia desse caminhar, uma
alternativa de interpretação dos símbolos característicos desse romeiro que são a vara, o chapéu,
o embornal, o agasalho, a pequena lanterna, bem como as suas vivências de partilhar o pouco
que se tem, de ser acolhido como peregrino, de tomar parte em um “lava-pés”, de alcançar a
escadaria do Santuário e das experiências vividas diante da imagem da santa, a Senhora da
Abadia. Por fim, mostro, igualmente, possíveis sentidos desse caminhar. Ao buscar compreender
o que há por detrás do ato de partir, de caminhar, dos caminhos percorridos e da destinação
pretendida, vejo que a romaria do devoto expressa bem o que somos: seres-a-caminho,
viandantes, peregrinos, pois atravessamos o tempo e a história da nossa existência. “Quo vadis,
peregrino?” é a pergunta a que cabe a qualquer um de nós responder enquanto caminheiros do
nosso percurso existencial. Se feita ao devoto mineiro, ele responderia na sua ingenuidade
caipira: vou à Romaria.
"CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE POLÍTICO-PENTECOSTAL". NOTAS DE UMA
PESQUISA NA IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS.
Claudirene Bandini (Doutoranda em Ciências Sociais na Universidade Federal de São Carlos).
E/e: [email protected], ou: [email protected]
A pesquisa aborda, a partir do enfoque da Sociologia da Religião, as estratégias utilizadas
pelas lideranças pentecostais paulistas nas eleições de 2002. Apresenta as estratégias políticas das
igrejas: Assembléia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja Universal do Reino de
Deus. O interesse está nos critérios pelos quais as igrejas escolhem seus candidatos; nos vínculos
existentes entre os candidatos e as lideranças eclesiásticas; no discurso das lideranças e dos seus
candidatos; e em como se trabalha o voto dentro das igrejas e nos resultados esperados tanto pela
liderança quanto pelos candidatos. A trajetória dos políticos torna-se interessante, por
exemplificar a preocupação da interação entre a prática religiosa e a prática política. Foram
realizadas entrevistas com pastores, deputados oficiais - em locais não pertencentes às igrejas - e
com eleitores pentecostais a fim de entender sua receptividade em relação aos candidatos oficiais.
Também foi indispensável a observação de cultos, participação em reuniões de pastores e eventos
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políticos-religiosos. Analisamos jornais denominacionais, propaganda eleitoral e literatura
produzida pelos líderes denominacionais. A interação entrevistador-entrevistado permitiu detectar
elementos implícitos na análise do discurso político pentecostal. Detectamos três formas de ação
dos políticos pentecostais. A primeira é a de grupos que se apresentavam diretamente
associados à identidade pentecostal -reconhecendo e, as vezes, até usufruindo da existência do
estigma. A segunda refere-se àqueles que procuravam passar à margem dessa identidade. E, por
último, aqueles candidatos que tentavam “encobrir” sua identidade religiosa e/ou utilizar-se
desta identidade somente quando fosse conveniente. A comunicação a ser apresentada neste
evento tem o propósito de apresentar duas abordagens desta pesquisa: primeiro, como estes
agentes sociais se apropriam dos bens religiosos quando os associam ao sistema de prestígio e
poder delimitando e defendendo seus espaços sociais através de uma profissionalização de suas
estratégias eleitorais e, segundo, de que maneira constróem uma cidadania enquanto identidade
religiosa protestante e como esta imagem pentecostal é negociada na esfera política.
IDENTIDADE PSICOSSOCIAL DE SACERDOTES CATÓLICOS BRASILEIROS
José Rogerio Machado de Paula (psicólogo, Mestre em Psicologia Social e Psicologia da
Religião, Doutorando em Psicologia Social na USP).
E/e: [email protected]
O projeto de pesquisa aqui proposto pretende traçar o perfil da identidade psicossocial do
sacerdote católico contemporâneo no Brasil. Utiliza a teoria da identidade social em sua
dimensão intragrupal (prototipicalidade de Turner) e extragrupal (comparação social de Tajfel).
O método da pesquisa envolverá abordagem qualitativa e quantitativa. Os instrumentos utilizados
serão a entrevista semidirigida e escala tipo Likert. Estes instrumentos testarão alguns tópicos
relativos à identidade e à prática sacerdotal (ecumenismo e diálogo inter-religioso; Igreja
universal e Igreja local; obediência e autonomia; papel dos leigos; relações pessoais do sacerdote;
atuação na mídia; serviço comunitário; oração). A população pesquisada será constituída por dois
grupos: a) sacerdotes católicos brasileiros (dimensão intragrupal) e b) fiéis católicos leigos
(dimensão extragrupal da identidade do sacerdote). A análise dos resultados será baseada no
conceito de auto-estima, em duas dimensões. A primeira é a carga de ameaça (por parte do
contexto social mais amplo) que uma determinada identidade pode acarretar em dois níveis: a) o
individual; e b) o grupo (definido pela própria identidade). A segunda dimensão é o
comprometimento do indivíduo com esta mesma identidade. O cruzamento destas duas
dimensões resulta na seguinte tipologia que será empregada na discussão dos resultados: a) baixo
envolvimento com o grupo e nenhuma ameaça dirigida à identidade (não envolvimento); b) alto
comprometimento com o grupo e nenhuma ameaça dirigida à identidade (expressão da
identidade); c) baixo comprometimento e ameaça dirigida ao sujeito (auto-afirmação); d) alto
comprometimento e ameaça dirigida ao sujeito (aceitação); e) baixo comprometimento e ameaça
dirigida ao grupo (mobilidade individual); e f) alto comprometimento e ameaça dirigida ao
grupo (afirmação grupal). Esta tipologia permitirá identificar quais tópicos apresentam maior
potencial de ameaça ou, inversamente, quais aqueles que intensificam o comprometimento com a
identidade psicossocial do sacerdote católico contemporâneo no Brasil.
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A FENOMENOLOGIA NO PENSAMENTO FILOSÓFICO E TEOLÓGICO DE PAUL
TILLICH
Tommy Akira Goto (Psicólogo, Mestre em Filosofia e Ciências da Religião, Doutorando em
Picologia na PUCCAMP).
E/e: [email protected]
O presente estudo tem como objetivo explicitar a presença da fenomenologia no
pensamento filosófico e teológico de Paul Tillich, percorrendo tanto a questão metodológica
quanto a investigação do fenômeno religioso. Apesar de Paul Tillich ter tido uma metodologia
própria na sua teologia – como o método da correlação e o círculo teológico – também podemos
encontrar, nas suas obras principais, comentários sobre a fenomenologia e sua aplicabilidade na
investigação da experiência religiosa. Assim, a fenomenologia que afirmamos estar presente no
pensamento de Tillich não é uma fenomenologia “pura” no sentido de Husserl e nem uma
fenomenologia hermenêutica inspirada em Heidegger – apesar de ter sido influenciada por ambos
autores - mas uma fenomenologia crítica, como o próprio teólogo sugeriu, que seria a união do
elemento intuitivo-descritivo (fenomenologia clássica) com o existencial-crítico. Neste sentido,
partimos dos comentários feitos por Tillich à fenomenologia, entendendo o que ele quis dizer
sobre essa metodologia e investigamos a relevância destes comentários para a construção de sua
teologia e filosofia. A proposta desse trabalho, proveniente da tese de mestrado, foi levantar
algumas considerações: Apesar de Paul Tillich ter recebido muitas influências filosóficas e
teológicas, sendo elas existencialistas ou essencialistas, também sofreu a influência da
fenomenologia filosófica; E, a partir disso, mostrar como seu pensamento contribuiu para a
fenomenologia da religião abrindo um novo caminho para a descrição da experiência religiosa e
para a teologia no estudo da sistemática. A originalidade desse trabalho tem o propósito de
contribuir para as ciências da religião, para a teologia e para a fenomenologia da religião,
mostrando como o teólogo Paul Tillich esteve entre estas fronteiras.
GRUPO 2
Coordenador: James Farris
O PERFIL DA RELIGIOSIDADE DO JOVEM UNIVERSITÁRIO: UM ESTUDO DE
CASO NA PUC-SP
Jorge Cláudio Ribeiro (Doutor em Antropologia- Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP)
e Profa. Dra. Regina Pereira Lopes (Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP)
E/e: [email protected]
Entendemos “religiosidade” como uma dimensão humana histórica e culturalmente
determinada que se abre à transcendência, mobiliza energias e se materializa em formas
cognitivas e emocionais na construção de sentido para a totalidade da existência. Os traços mais
marcantes da imagem do transcendente no jovem atual e as relações que essa imagem
intermedeia, provavelmente revelarão importantes traços da religiosidade juvenil. Nossa pesquisa
pretende iluminar um “grau zero” da crença, prévia a sua formação religiosa, e que apresenta
“embriões do sagrado”, e participar da gestação de novos sentidos através de uma religiosidade
23
autonomizada. A religiosidade como dimensão humana é “educável” e, portanto, conhecê-la pode
fornecer elementos para a formação integral do jovem. Elabora-se, assim, uma Pedagogia da
Religiosidade, quase inédita e que é distinta do Ensino Religioso.
Nosso estudo foi realizado na PUC-SP e seguiu três etapas: a partir de entrevistas
elaborou-se um questionário com 68 afirmações; no ano de 2000 esse instrumento foi aplicado a
1.032 sujeitos. Desde então, vimos elaborando a interpretação dos dados. Pretendemos construir
uma série histórica a partir do aperfeiçoamento do questionário que será reaplicado em 2004.
Dentre as frases com maiores médias, estão: “lutar pelo acredito é um de meus rituais”; “existe
uma energia que envolve toda a nossa vida”; e, situadas na zona de rejeição (menores médias):
“para mim a vida é sem sentido”; “exerço minha espiritualidade exclusivamente com o grupo da
minha igreja”. Essas frases oferecem indícios sobre como é vivida essa dimensão pelo jovem e
seu significado.
O SIGNIFICADO DA RELIGIÃO NA FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO: UM ESTUDO
EM ANDAMENTO
Maria Cristina Soares Esteves (Mestra em educação, doutoranda em Psicologia Clínica pela
PUC-SP).
O presente estudo é parte de uma pesquisa maior que visa compreender o significado da
religião para docentes de um curso de Psicologia de uma Instituição de Ensino Superior na cidade
de São Paulo. Se entendermos a religiosidade como autêntica dimensão humana cuja vivência
favorece a plena realização do homem, deixa-nos intrigados o fato de que em um curso de
Psicologia, os docentes, em especial, pouco ou quase nada falam acerca de religião e das
experiências religiosas do homem. A partir de tal fato busco, neste estudo, compreender melhor o
que se passa com esses psicólogos professores que parecem cobrir o assunto com um certo véu e
resistem em não tocar naquilo que se mantém velado. A partir dos relatos obtidos em entrevistas
realizadas com alguns psicólogos que atuam na clínica e em Instituições de Ensino como
docentes, foi possível esclarecer o seguinte: os entrevistados relataram que sentiram que houve
negligência, superficialidade, descaso, deboche e indiferença, durante os anos de ensino de
graduação, em relação aos temas religião/ religiosidade. Após a formação - na prática clínica -,
com a experiência, sentem-se mais tranqüilos para falarem com o cliente acerca da dimensão
religiosa, em relação à época de recém-formados. Já na prática docente, as entrevistas mostram
que existe nas universidades um clima de hostilidade em relação ao tema Religião. No entanto,
aparece uma certa abertura para se falar de práticas religiosas ligadas às tradições orientais como
o ioga, meditação, mantras, práticas espirituais alternativas. A mudança de paradigma já está
favorecendo um clima onde é possível falar de algumas práticas religiosas, mas ainda predomina
um clima de fechamento em relação às religiões cristãs.
24
O CONTEXTO CIENTÍFICO E FILOSÓFICO QUE DESCARTA A EXISTÊNCIA DE
UMA VERDADE ABSOLUTA APRESENTA ALGUM ESPAÇO PARA A IDÉIA DE
DEUS? Ou: Como encarar os relatos de experiências espirituais de pacientes psiquiátricos
em um contexto de relativização de todas as verdades?
Antônio Aranha (historiador, médico, residente em psiquiatria no Instituto Municipal de
Assistência à Saúde Philippe Pinel no Rio de Janeiro) e Maria Tavares Cavalcanti (Psiquiatra,
Doutora em Psiquiatria pela UFRJ, Docente da Fac.de Medicina da UFRJ)
E/e: [email protected]
Uma das máximas que orientam a filosofia do final do século XX e do começo do século
XXI é a de que “não existe verdade absoluta”. Esta afirmação, que se pretende absoluta, é
contraditória por si só. Por outro lado, ela faz da fé no mundo espiritual e na existência de Deus
uma explicação ingênua da realidade. Esse entendimento do mundo certamente é datado.
Pesquisando, através da história das mentalidades, o desenrolar do pensamento judaico cristão do
Ocidente, desde a Alta Idade Média até os dias atuais, percebe-se o contínuo embate do
monoteísmo e seus dogmas imutáveis com o individualismo e a necessidade de afirmação dos
desejos humanos. Os caminhos das Doenças Mentais e da espiritualidade por diversas vezes se
cruzam. Por sua vez, os profissionais da Saúde Mental advêm de uma sociedade onde o
pensamento acima citado domina os meios intelectuais. Uma questão premente, pois, é verificar
como estes profissionais encaram os problemas espirituais que seus pacientes lhes trazem. O
método consistirá no estudo e revisão da bibliografia pertinente, para localizar o contexto de
formação dos profissionais “psi” e como esse contexto influencia na escuta de idéias espirituais
que porventura lhes são trazidas por seus pacientes. Em uma segunda parte da pesquisa,
realizaremos entrevistas semi-estruturadas com oito profissionais psiquiatras e psicólogos que
trabalham na instituição.
AS FUNÇÕES DA MEDITAÇÃO NO ENSINO DA ARTE TERAPIA
Irene P. G. Arcuri (Mestra em Gerontologia, Doutoranda em Psicologia Clínica na PUC-SP).
E/e: [email protected]
Com o objetivo de observar que funções a prática da meditação pode exercer no ensino de
arte terapia, visando à liberação da criatividade, introduzi nas disciplinas que ministro a prática
da meditação. Em um primeiro momento, solicitava aos alunos que ficassem sentados de olhos
fechados, observando a respiração e buscando um estado de silencio interior, tendo como
objetivo o contato consigo próprio. Em seguida, propunha a expressão livre, na qual se busca a
exteriorização da experiência vivida no silencio, ou das imagens que surgem de forma
espontânea. Os alunos eram convidados a usar materiais diversos para este procedimento, como
argila, tinta, giz de cera, etc. Ao olhar para a sua produção artística, passamos para a etapa da
elaboração, na qual escrevendo sobre o processo, os alunos se percebem em consonância com
seus sentimentos, pensamentos, percepções e cognições. O relato dos alunos que passaram por
essa experiência permite observar que o uso da meditação, em arte terapia, pode desempenhar as
funções de diminuição das resistências à expressão livre, alterações do estado de humor,
modificações das tensões e emoções negativas, surgimento de insight ligado ao
autoconhecimento, facilitação da organização do pensamento. Estas observações apontam para a
importância de conhecer mais profundamente as funções da meditação em arte terapia, e seus
efeitos nos alunos, apontando para a possibilidade de sua utilização em atividades
psicoterapeuticas.
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O ZEN-BUDISMO NA TRAJETÓRIA DE FRITZ PERLS E NA GESTALT-TERAPIA,
UMA PESQUISA EM ANDAMENTO
Roberto Veras Peres (Psicólogo Clínico, Mestrando em Psicologia Clínica pela PUC-SP)
E/e: [email protected]
Esse estudo nasceu do interesse em investigar mais profundamente as possíveis pontes
entre conceitos da Gestalt-Terapia (GT) e do Zen-Budismo. Seu objetivo é desenvolver esta
faceta do corpo teórico da GT, mencionada por diversos autores, porém, sem significativos
desdobramentos. Como método de investigação, utiliza-se do modelo gestáltico: através do
processo de formação e destruição de figura (gestalten), delinear o ponto de partida e/ou figura
inicial. Podem-se observar três fases na relação de Perls com o Zen-Budismo. A primeira é
motivada provavelmente pela busca de um auto suporte, cujos reflexos aparecerão em seu
primeiro livro, no qual para esclarecer e ilustrar seu pensamento, lança mão do círculo taoista do
Yin e Yang. A segunda, quando Perls começa a aprofundar seus conhecimentos sobre o Zen
Budismo. E a terceira no inicio dos anos 60, quando Perls viajou ao Japão com o objetivo de se
aprofundar no Zen. Nunca houve uma aderência total de Perls ao Zen-Budismo, mas os
pressupostos filosóficos do Zen se tornaram fonte constante de inspiração e ilustração para a
edificação da GT. No corpo teórico da GT, alguns conceitos podem ser estritamente relacionados
ao Zen-Budismo. Entre eles o “ponto zero”, ou “vazio fertil”. Outros conceitos do Zen e da
Gestalt revelam um grande “parentesco”, como o fluxo de “awareness” e a meditação. GT e Zenbudismo enfatizam a experiência imediata pré-reflexiva e a tomada de consciência da experiência
vivida no presente.
TENSÕES E CONFLITOS EM RELAÇÃO AO TEMA DA RELIGIOSIDADE NO
ATENDIMENTO A GRUPOS EM COMUNIDADES: UM TEMA PARA PESQUISA
Giovana Fagundes dos Santos (Psicóloga, estranda em Psicologia Clínica na PUC-SP).
E/e: [email protected]
Como estagiária em trabalhos de grupos em centros de saúde pública, utilizava métodos
da Gestalt-terapia, e tinha como pressuposto a importância de se levar em conta o contexto sóciocultural e o conjunto de crenças e concepções de cada um acerca de si e do mundo. O trabalho
teve avaliações positivas por parte da equipe do Programa e dos próprios pacientes. Observava-se
maior envolvimento com o tratamento médico, além da revisão dos posicionamentos pessoais dos
participantes. Havia, no entanto, uma dimensão não explorada da vida das pessoas, que aparecia
continuamente, sendo evitada a fala a seu respeito: a religiosidade. Era grande a demanda de falar
sobre isso. Porém, havia instruções, por parte dos psicólogos responsáveis, de não se trabalhar o
tema. A justificativa para tal posicionamento era a complexidade do assunto, que poderia gerar
desavenças ou pregações, provocando confusões quanto ao papel dos psicólogos. Em outro
momento da minha trajetória fui convidada a auxiliar o trabalho de uma ONG católica na cidade
de Belo Horizonte: grupos de pais, em uma comunidade carente. A atitude proposta para o
atendimento baseava-se na abordagem fenomenológico-existencial, no entanto, consideravam as
sessões “confusas”, com um grande número de desistências. Observou-se que os psicólogos
tinham como foco estabelecer uma relação entre o que era dito pelos participantes e seus
pressupostos religiosos, o que tornava sua postura mais diretiva. O desejo de compartilhar sua
visão de mundo com os membros do grupo direcionava o olhar para temas relacionados à
dimensão religiosa, em detrimento de outros assuntos. As dificuldades dessa proposta acabaram
levando o grupo a ser interrompido. Algumas questões foram levantadas: Que dificuldades o
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psicólogo vivencia diante das experiências espirituais colocadas pelo cliente? Como abordar o
tema na clínica, sem se distanciar do referencial existencial-fenomenológico? Como explorar a
religiosidade da pessoa de forma a contribuir para que ela se mostre na sua singularidade e
autenticidade? Ambas as situações acima descritas, são parte de uma pesquisa em
desenvolvimento na PUC-SP e evidenciam a dificuldade do psicólogo em lidar com a questão
religiosa na clínica em nosso meio.
AVALIAÇÃO DA RELIGIOSIDADE/ESPIRITUALIDADE NO PSICODIAGNÓTICO
INTERVENTIVO FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL
Marizilda Fleury Donatelli (Mestra e doutoranda em Psicologia Clínica pela PUC-SP).
O presente trabalho se propõe a apresentar um modo de avaliar a
religiosidade/espiritualidade dos clientes atendidos em Psicodiagnóstico Interventivo
Fenomenológico-Existencial. A psicologia e a religião estiveram distanciadas durante muito
tempo, uma vez que a primeira preocupava-se em obter o estatuto da ciência, constituindo-se a
partir dos padrões de exigência desta última. Desse modo, questões ligadas à
religiosidade/espiritualidade humana foram negligenciadas. Contudo, essas questões aparecem no
psicodiagnóstico Interventivo e é notável a dificuldade dos psicólogos para lidar com elas, já que
é uma prática pouco estudada e divulgada. Apesar de terem sido elaboradas várias pesquisas no
domínio da Psicologia e Religião, estas são poucos conclusivas e, às vezes, até contraditórias.
Entretanto, tais pesquisas fornecem subsídios para uma proposta de avaliação de
religiosidade/espiritualidade que, ao ser inserida no Psicodiagnótico Interventivo, amplia e
aprofunda seus alcances. O que fundamenta essa proposta é o pressuposto de que o ser humano se
constitui enquanto subjetividade, a partir das relações que estabelece com o mundo, estando
imerso num determinado tempo, espaço e cultura. A religiosidade/espiritualidade é parte da
cultura, sendo, desta forma, constituinte do campo fenomenal no qual o indivíduo registra suas
experiências, significa-as e a partir do qual se coloca no mundo. É uma pesquisa qualitativa ainda
em desenvolvimento. Partiu de levantamento bibliográfico sobre o assunto. Apresenta também a
análise de modelos de avaliação da religiosidade e traz uma sugestão nesse sentido. Foram
realizadas cinco triagens com objetivo de selecionar uma para o estudo de caso.
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Anais do V Seminário Nacional de Psicologia e - PUC