Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP
Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão
Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011
ESTUDANTES DO PROEJA: TRAJETÓRIAS E VIVÊNCIAS
André Boccasius Siqueira1
RESUMO: Neste texto sumarizo excerto de minha tese de doutorado, que tratou acerca das histórias contadas
pelos estudantes do Ensino Médio, modalidade Educação de Jovens e Adultos, integrada ao Ensino
Profissionalizante. A pesquisa desenvolveu-se nos anos de 2006 até 2010. Realizada junto ao Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense, Campus Sapucaia do Sul/RS. Teve como objetivo
pesquisar as histórias dos estudantes do PROEJA. Entrevistou-se nove estudantes voluntários. A entrevista foi
gravada e semiestruturada. Apresenta-se o modo de ingresso dos estudantes, suas expectativas e tensões e cada
um deles. Por fim um desabafo de uma das estudantes e as considerações finais.
PALAVRAS-CHAVE: PROEJA; EJA; Trajetórias de vida.
1. Introdução
Este trabalho acadêmico tem por finalidade apresentar algumas reminiscências de
estudantes do Ensino médio profissionalizante, na modalidade de educação de jovens e
adultos, no IF-Sul, Campus Sapucaia do Sul. Os estudantes foram convidados a participar da
pesquisa já no primeiro dia após o ingresso no curso, que foi através de sorteio público. Neste
texto apresento o que os estudantes expressaram acerca do sorteio a que foram submetidos a
fim de ingressar no curso, bem como apresento brevemente cada um dos estudantes. No final
socializo uma carta que recebi de uma das estudantes, após a formatura e ingresso no ensino
superior. E teço minhas considerações acerca do PROEJA.
2. O Instituto
A instituição já possuía um curso de ensino médio na modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – EMA – que veio ser substituída pelo PROEJA. Hoje, então, oferece aos
estudantes de PROEJA o Curso Técnico de Nível Médio em Processos Administrativos
Forma Integrada à Modalidade de EJA, com duração de três anos. Os pré-requisitos de
ingresso são ter concluído o ensino fundamental e ter 18 anos completos. A forma de ingresso
da turma que se está pesquisando foi através de sorteio público. No dia seis de dezembro de
2006 os 149 inscritos para o ingresso em 2007 compareceram no horário combinado a fim de
acompanhar o sorteio das 35 vagas.
Os objetivos do curso do PROEJA, conforme o sitio oficial da instituição, são:
- atender à demanda pela elevação da escolaridade com profissionalização para
Jovens e Adultos;
- aproximar campos educativos de EJA, Ensino Médio e educação Profissional;
- sintonizar com as necessidades de Sapucaia do Sul e região a fim de oferecer
educação profissional para jovens e adultos que tenham concluído o ensino
fundamental (Disponível em: <http://www.cefetrs.edu.br/cursos.php>2. Acesso em:
18 ago. 2008).
1
Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado; Universidade do Sul de Santa Catarina –
UNISUL/Tubarão/SC. Endereços eletrônicos: [email protected]; [email protected]
2
Tal página não existe mais, e também não está disponível no endereço eletrônico do IF-Sul, Sapucaia do Sul.
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O Curso Técnico de Nível Médio em Processos Administrativos Forma Integrada
Modalidade de EJA, oferecido pela instituição, teve como origem uma pesquisa de campo
onde foram apontados pelos participantes como Mecânica e Informática em primeiros lugares
e, este foi escolhido pela comissão de implantação do PROEJA tendo em vista o material
disponível na escola, bem como o corpo docente. Para os primeiros havia a necessidade de
verbas especiais para a construção de laboratórios de que a escola não dispunha no momento.
Apesar da proposta final ter sido escolhida em terceiro lugar naquela pesquisa, a
aceitabilidade dos estudantes foi bastante grande, visto o número de inscritos. No Capítulo 6
verifica-se que a escolha teve frutos positivos, conforme a opinião dos estudantes que
contribuíram com essa pesquisa.
Para encerrar esse breve anúncio do IF-Sul, Campus Sapucaia do Sul, o texto (que
finaliza a apresentação da instituição) demonstra que a mesma tem a intenção de estar em
consonância com a comunidade escolar e industrial:
Dadas as características diferenciadas dos cursos oferecidos por este Instituto
Federal, acreditamos poder colaborar no desenvolvimento industrial, bem como
contribuir para a promoção do desenvolvimento social e a formação integral do
educando, consoante com o lema: Educação para a vida. Profissionais para o
mundo (Grifos no original).3
3. Implantação e Processo Seletivo do PROEJA
“Tá, eu não ia perguntar: mas o que é PROEJA?”4
Depois de ter percorrido várias escolas em busca de vaga para o curso de Ensino
Médio, Mafalda foi surpreendida quando entrou na lotação5 e encontrou uma colega que
também trabalhava na mesma empresa que ela. Nas palavras da estudante:
Foi quando eu estava na lotação, uma pessoa no ônibus, que é uma conhecida, já tinha me falado que ela… já
tinha estudado aqui no EJA só que ela desistiu, no… […] EMA6. E que ela tinha desistido e que ela tinha
começado a trabalhar lá e não sei o que… […] ela tinha filho e ficava pesado para ela. E eu disse: ‘Eu estou
precisando de um lugar assim’, eu disse para ela. ‘Vai lá, conversa com eles que eles são super gente fina’.
‘Tudo bem’, eu desconfiei… [risos] (Mafalda)
E de fato, a estudante procurou o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Sul-Rio-Grandense, Campus Sapucaia do Sul, a fim de receber maiores informações.
Desconfiada mas decidida, tomou a atitude de buscar as informações que almejava. Nas
palavras de Mafalda:
Pensei: ‘Será?’ Eu procurei tanto, eu estou remando tanto para conseguir. ‘Ah! Vou
lá, de repente…’. Aí acabei […] além dela me falar depois eu vi na lotação um
anúncio […] do PROEJA, coisa e tal, falando e eu digo: ‘mas vou lá, vou lá’. Peguei
um dia e decidi. Vim até a escola. E perguntei: ‘Ah!’ eu disse: ‘Ah!, gostaria de
saber sobre o ensino(sic) de jovens e adultos, e disse…’ e daí estava me
inscrevendo… Aí me inscrevi… Aí me falaram que era por sorteio. Eu digo: ‘nossa,
eu nunca ganhei nada…[risos]’ (Mafalda).
3
Fonte: http://www.ifsul.edu.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=32&Itemid=9.
A estudante Mafalda quando chegou na instituição não sabia do que se tratava o PROEJA. Procurou o IF SulSapucaia do Sul para completar seus estudos na Educação Básica, procurou o antigo EMA.
5
Denominação local ao transporte coletivo feito com microônibus que circula pela cidade. Possuem licença para
circular apenas na cidade.
6
Ensino Médio para Adultos.
4
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Apesar de a estudante estar quase cinco anos sem estudar, encontrou uma instituição
que a aceitasse. Segundo Mafalda, mesmo não sabendo de que se referia o PROEJA, assim
mesmo se matriculou, pois havia a possibilidade de concluir a educação básica, que era sua
meta. Nas palavras da estudante:
Então eu cheguei aqui [no IF-Sul] e me falaram do PROEJA […] Daí eu disse, […]
ta, PROEJA… daí eu perguntei: ‘é o ensino de jovem…’ para tirar a dúvida [risos]
[…] para tirar a minha dúvida, né? […] Tá, eu não ia perguntar: mas o que é
PROEJA?’ [risos] […] para não ‘pagar mico’7, eu digo: ‘é educação de jovens e
adultos’. ‘Tá, o que é que precisa?’ (Mafalda).
Sem ter certeza do curso que estava se inscrevendo, procurou sanar suas dúvidas no
momento de inscrição, mesmo assim, a estudante afirma que “Não me dei conta que era um
curso técnico, que era um curso… muito bom assim. Me dei conta realmente quando eu já
estava aqui dentro, sabe?”. Porque na hora da matrícula e no dia do sorteio houve uma breve
palestra aos 35 estudantes sorteados sobre o curso, mas Mafalda afirma que ouviu, mas não
apreendeu as informações. Nas palavras dela “na hora, na inscrição, no dia da palestra eles
falaram… Mas até então ainda para mim não tinha caído a minha ficha que era um curso
técnico…”. Somente depois de ter iniciado as atividades estudantis, no início do ano letivo,
percebeu que se tratava de um curso de Ensino Médio integrado ao Ensino Técnico. E, foi
melhor do que esperava. “Eu estava procurando… […] o ensino médio normal. […] Ou uma
coisa assim, e encontrei um PROEJA com técnico… […] e aqui, nessa escola… […] que é
uma referência…”. O fato do IF Sul-Rio-Grandense ser uma referência na cidade, também é
lembrado por outros de seus colegas.
4.Ingresso por Sorteio
“Agora eu vou agarrar isso […] com unhas e dentes, sabia? E é o que estou fazendo…”.8
Em conversas informais com os membros da comissão que implantou o PROEJA na
instituição, esta teve a idéia de realizar sorteio para o ingresso dos primeiros estudantes desse
programa. O objetivo dessa comissão foi de ser justo com todos os futuros estudantes,
utilizando um método que não julgasse pelo conhecimento nenhum dos participantes no
processo seletivo a fim de eliminar aqueles que estavam mais tempo fora da escola.
O intuito foi de ser uma seleção que não medisse a quantidade de conhecimentos
prévios dos estudantes e nem conteúdos memorizados. A proposta inicial foi bastante
interessante, mobilizou várias pessoas da comunidade para a divulgação, para a seleção e para
o sorteio. Nessa seção procuro apresentar, no primeiro momento, o malabarismo que os
concorrentes à vaga tiveram que fazer em seus empregos, em suas rotinas diárias; num
segundo momento, a reação dos participantes durante o processo que os permitiu ingressar no
PROEJA, e por fim, questionamentos dos próprios estudantes acerca do sorteio e a defesa do
novo modelo de seleção. Pode-se constatar que os estudantes entrevistados têm críticas ao
processo seletivo empregado para a primeira turma e recomendam, por considerarem ser um
processo de melhor elaboração, o modo da seleção da segunda turma.
7
Expressão usada popularmente quando a pessoa, numa situação embaraçosa, passa vexame ou vergonha.
Expressão usada por Mafalda ao afirmar que esse curso fará até o final e que vai fazê-lo com máximo empenho
e dedicação.
8
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“[…] tudo na vida tem o momento certo…”.9
O retorno aos estudos era um desejo de vários estudantes. Com a possibilidade de
estudar perto de casa, no entanto, instigou que Guido realizasse sua inscrição para a seleção
do PROEJA, a fim de direcionar sua vida futura a outras atividades. Segundo ele, a inscrição
se deu “porque eu já queria, faz tempo, voltar a estudar”. E concluiu afirmando que tinha
como meta alçar novos rumos em sua vida. Nas palavras dele: “como surgiu essa
oportunidade e… como eu precisava fazer uma coisa para minha vida não ficar só no emprego
[…]”.
Depois de ter feito a inscrição no processo seletivo, Maria Luiza não acreditou nas
possibilidades de ser sorteada: “Sabe, na primeira, numa primeira instância, eu não estava
nem aí para nada…”, porém, na medida em que a data tão esperada se aproximava a
expectativa foi mudando, a adrenalina foi aumentando no organismo. Nos dias que
antecederam ao sorteio, trabalhou antecipado a fim de ter o direito de participar do mesmo,
uma vez que tal atividade não estava relacionada diretamente com as laborais ou as da
empresa e a presença era obrigatória. Nas palavras da estudante se observa a tensão nervosa a
que se submeteu:
quando chega o dia do sorteio, vai chegando perto, vai chegando perto, vai dando
aquela emoção. Depois no final das contas tu está te vendo, depois no final das
contas tu estás pagando horas adiantado para poder ir lá. Foi o que eu fiz. Paguei
hora adiantado para poder… […] eu trabalhei quatro horas antes para poder soltar…
era sete horas [da noite] que tinha que estar aqui […]. Eu fiquei… eu trabalhei dois
dias para poder […] aquele dia e mais um outro dia para poder…[…] Naquele dia eu
trabalhei de manhã para poder soltar e chegar aqui… Que correria… […] Só eu
mesmo…(Maria Luiza).
Apesar de toda a expectativa, Maria Luiza afirma que não lembra de muitas situações
no dia do sorteio, nas palavras da estudante: “[…] Mas, daí, graças a Deus… eu estava tão na
neura naquele dia que ele me chamou e eu nem ouvi… [risos]”. O sorteio se deu por número
de inscrição e o nome completo de cada estudante. Justificou do seguinte modo: “Sério. Sabe,
assim, é. Ai que raiva, eu trabalhei o dia inteiro, eu cheguei em casa e tomei um banho, saí
correndo e estou aqui esperando e nada… Sabe, […] tu começa… tricotando10 sozinha…”.
Por fim, foi chamada e “aí fiquei lá no cantão do palco, do auditório, no lado esquerdo eu bem
quieta, lá, tricotando comigo… mas que raiva, eu não consegui nada… mas tudo bem. Aí
depois ele chamou o número 104 e… Aqui, eu sou, eu sou… [risos]”. “Aí eu com um
papelzinho assim (neste momento da entrevista, a estudante pegou um pedaço de folha e
gesticulou-a balançando sobre a cabeça, como diz que teria feito na data do sorteio) depois
que fui me flagrar que era o meu número. Primeiro fiquei… estava [inaudível], nem ouvi
direito…”. Ou seja, o estado emocional tomou conta da estudante.
Em outro momento da entrevista, ela voltou ao assunto, dando uma outra versão ao
momento do sorteio e, rindo, disse: “eu fui uma das quatro últimas bolachinhas do pacote11
[…] Das 35 fui a 3112. […] Nossa […] quando chegou no 30 já comecei a resmungar…”. E
9
Palavras da estudante Maria Luiza defendendo a seleção por sorteio.
Esta é outra expressão popular que quer dizer que a pessoa se envolve em seus pensamentos e praticamente
não ouve e não vê o que está acontecendo em sua volta. Em outro momento, também, é usada essa expressão
quando duas pessoas conversam animadamente sem se importar com quem está em seu entorno.
11
Fez alusão a uma propaganda de uma marca de biscoitos onde valoriza a última bolacha afirmando que essa é
a melhor.
12
Em minhas anotações no diário de campo feitas no dia do sorteio, a estudante foi a 19° a ser sorteada. Nossas
percepções podem mudar de acordo com o estado emocional do momento.
10
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afirmou que para o curso é preciso esforço pessoal. “Aí eu disse ai, não, puxa vida… tanto
esforço para nada… daí… quando me chamaram… pelo menos, o porquê eu estar aqui até
hoje, estou levando a sério e estou me empenhando e tomara que consiga seguir.”
A oportunidade de cursar o PROEJA apresenta uma possibilidade de ascensão pessoal
enquanto caminho para seguir diferente do que vinha tendo, e a expectativa de chegar a um
lugar social diverso de onde está inserida. Durante frações de segundos passou pelo
imaginário dos estudantes a sua vida e até onde pretendiam chegar com o agraciamento da
vaga ou o que fazer se não fosse um dos sorteados. Com os ensinamentos do curso e com a
pretensão de seguir para caminhos ainda não percorridos, mas seguros, poderiam galgar novos
horizontes e proporcionar, através de seu trabalho na nova profissão, uma vida melhor para
seus familiares e para si próprios.
As reflexões a seguir dizem respeito ao processo seletivo propriamente dito e que foi
acompanhado pelos estudantes e pela comunidade escolar.
“Bah, hoje, assim, eu sei que… vale a pena, valeu a pena, e… com certeza, tem que dar o melhor
de si, aproveitar ao máximo e…”.13
A seleção de um curso de PROEJA na cidade de Sapucaia do Sul mobilizou vários
segmentos da comunidade. Havia a exposição de cartazes no transporte coletivo que circula
na cidade, em escolas públicas e em prédios públicos. Quase 200 pessoas inscreveram-se,
porém pouco menos de 150 pagaram a taxa de inscrição14. O sorteio das vagas para a primeira
turma do PROEJA ocorreu no dia 4 de dezembro de 2006. Para o momento do sorteio, o
candidato deveria estar presente ou enviar representante legal.
Maria Luiza: É, não adiantava tu estar… tu ser sorteado, tu tinhas que
estar…
Entrevistador: Estar…
Maria Luiza: Estar no sorteio…
Entrevistador: Ou alguém te representando…
Maria Luiza: Não, tinha que ser a pessoa.
Entrevistador: Não?
Maria Luiza: Só se for com procuração…
Entrevistador: Ah! está… porque eu lembro, eu estava aqui no sorteio,
naquele dia…
Maria Luiza: Mas eu acho que tinha, tinha que estar sim, porque eu me
lembro que…
Entrevistador: É eu acho que fazia […] dava a presença…
Maria Luiza: Eu não lembro disso não, André, tu me desculpa…
Entrevistador: Acho que sim, porque assinava a presença ali na frente e
depois…
Maria Luiza: É assinava…
[…]
Maria Luiza: Depois os sorteados ficaram por último…
(Entrevista com a estudante Maria Luiza – novembro de 2008).
Quase dois anos se passaram desde o dia do sorteio até quando foi realizada a
entrevista com a estudante Maria Luiza, cujo excerto foi apresentado acima. Algumas
situações podem ter ocorrido e a então candidata não ter se dado conta, uma vez que tal
sorteio poderia ou não mudar a trajetória de vida futura. É provável que a estudante não
recorde dos detalhes que observei e que os anotei em meu diário de campo. Eram duas
13
14
Estudante Adolpho confirmando que valeu a pena ter sido sorteado e iniciado o curso.
Foi cobrado como taxa de inscrição um valor simbólico de R$5,00. Porém nem todos conseguiram tal recurso.
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pessoas com perspectivas diferentes no mesmo tempo-espaço, com objetivos diferentes um e
outra. Acerca da entrevista, a estudante lembrou que os candidatos sorteados permaneceram
no auditório onde foram realizados os sorteios, para receber as boas-vindas do diretor da
instituição, dos professores da comissão de implantação e do futuro coordenador do curso.
Vale a pena lembrar que “a memória parece ser um fenômeno individual, algo
relativamente íntimo, próprio da pessoa” (POLLAK, 1992, p. 201). Ela pode, também, ser um
“fenômeno coletivo e social” (Id.), por esse motivo, pode ser “submetido a flutuações,
transformações, mudanças constantes” (Id.). Ela contribui para o sentimento de identidade de
um grupo, nesse caso, o de estudantes que ingressaram na primeira turma do PROEJA através
de um sorteio público, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-RioGrandense, Campus Sapucaia do Sul.
A memória, ainda, “permite-nos tanto lembrar quanto esquecer. A qualquer momento,
nós podemos lembrar, esquecer, e reinventar certos aspectos de nosso passado pessoal e
coletivo” (ERRANTE, 2000, p. 162). Desse modo conseguimos expressar melhor o passado,
refletir sobre o presente. Assim, compartilhamos com o outro nossos passos, traçados com
muito esforço, ou reinterpretados e resignificados durante a narração, pois “o que nós
lembramos e contamos, e os modos pelos quais fazemos isso, são expressões de construções
locais de pessoa e de voz” (Idem, p. 168). Algumas vezes as memórias são compartilhadas por
comunidades que reinventam a história. As “experiências novas ampliam constantemente as
imagens antigas e no final exigem e geram formas de compreensão” (THOMSON, 1997, p.
57), porque a relação entre o presente e o passado é muito tênue.
[...] ao narrar uma história, identificamos o que pensamos que éramos no passado,
quem pensamos que somos no presente e o que gostaríamos de ser. As histórias que
relembramos não são representações exatas do nosso passado, trazem aspectos desse
passado e os moldam para que se ajustem às nossas identidades (Id.).
Depois do sorteio, a estudante Maria Luiza relata que estava eufórica e queria chegar
em casa e dividir a feliz notícia com seus familiares:
eu estava muito… ufff…, oba-oba, não lembro de ninguém… […] Só via eu mesma
[risos] […] já imaginaste que lindo, só olhar e só… ver tu mesma, né? Ai eu cheguei
em casa e eu estava em estado de graça… Mas eu só queria abraçar todo mundo…
[e gritar:] êh êh êhêhêh… [risos] (Maria Luiza).
Segundo a estudante, aquela noite passou tão devagar, pois, no dia seguinte, queria
dividir sua alegria, também, com seus colegas de trabalho:
Eu cheguei no outro dia ao serviço… [as colegas perguntaram:] ‘E aí conseguiste?’
[Maria Luiza respondeu:] ‘Consegui… hehehehe…’ E todo mundo queria sabe
porque eu estava gritando… o que é que foi, o que ela ganhou, o que ela ganhou,
será que sortearam… ai que bom…
Mesmo colocando em jogo todo o futuro seu e de sua família, vários estudantes não
acreditavam que pudessem ser sorteados. Assim mesmo relatam que tomaram todas as
medidas necessárias para a participação do sorteio, ou seja, a inscrição no prazo estipulado
pela instituição. Foi o que aconteceu com a candidata sorteada, Mafalda:
Aquela coisa que a gente nunca acreditar na gente… quando é por sorteio, a gente
diz: ‘ih…’ [risos] […] aí vim, mas eu vim com fé, assim, no dia do sorteio e coisa e
tal. [Antes,] trouxe foto, trouxe tudo… aí me inscrevi […], vim aqui no dia do
sorteio. Nossa, eu estava muito nervosa…
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Apesar de não acreditar que pudessem ser sorteados, alguns dos estudantes
desconsideravam, também, o próprio sucesso, pois se compreendiam “sem sorte” para
ingressar no PROEJA. Vários entrevistados revelaram surpresa ao serem sorteados, uma vez
que o contrário, no entender de alguns, mostram um sentimento de derrota ou um acúmulo de
sucessivas decepções, como, por exemplo, na expressão da estudante Mafalda: “daí eu, bah, é
aquela…, aquele medo de não ser sorteada e sair decepcionada de novo, sabe?”. O número de
participantes assustou-a, mas, “eram quase 200 […]. Eu acho que… e eu fui […] a 18a. […] a
ser chamada”. A sua estratégia para tentar não ficar nervosa era contar o número de sorteados.
A reação, ao ser sorteada, foi ímpar, mas na mesma plenitude dos demais colegas. Descreve-a
do seguinte modo: “Nossa, eu não sabia se estava gelada, se eu estava quente, se eu estava...
[risos]. Eu sei que eu fiquei muito, muito contente… Eu digo: ‘Agora eu vou agarrar isso com
unhas e dentes15’, sabia?”. E completa afirmando que “é o que eu estou fazendo…”.
Segundo Adolpho, ele ficou ao mesmo tempo entusiasmado e surpreso quando foi
sorteado:
[…] entusiasmo e surpreso, porque… Como eu te disse: estávamos eu, minha esposa
e a Edi Julieta até…[…] Porque… a Edi Julieta estava até com um problema na
perna, tinha feito uma cirurgia, um negócio assim. E a gente foi na casa dela e
buscou-a. Então ficamos eu, minha esposa e ela [sentados]… e acabou por… e eu
até brincando: ‘isso aqui eu não vou ganhar, nunca ganho nada […]. A única coisa
que o cara ganha é conta a pagar, se ganhar alguma coisa’, fui o segundo. O segundo
a ser sorteado fui eu, então, foi surpresa e claro, bah, fiquei tri feliz e… mas foi mais
uma euforia, mas foi mais até surpresa […] ganhar qualquer coisa tu fica feliz,
ganhar uma caneta, ganhar uma… que legal… […] Um curso… um curso e tal…
mas foi muito bom. Bah, hoje eu sei que… vale a pena… com certeza, tem que dar o
melhor de si, aproveitar ao máximo… (Adolpho).
A reação de Edi Julieta ao ser sorteada foi relembrada durante a entrevista. A
estudante teve uma reação bastante espontânea, pois se diz ser expansiva em seu modo de ser
e fizeram, junto com o já sorteado estudante Adolpho e sua esposa uma “algazarra”. Nas
palavras da estudante
Tu só imagina… tu tem uma noção de como eu sou… tu só imagina o que eu fiz,
né? […] Ele foi o segundo. Ele dizia: eu não ganho nada em sorteio, não tem nem…
e aí chegou no dia ele foi o segundo e daí eu dizia: minha nossa… e eu fui a
vigésima sétima… eu não acreditei… eu já sou esparrenta… fiz aquela algazarra…
Aí, eu nem acredito… (Edi Julieta).
Em minha compreensão, para os 35 pré-candidatos sorteados o momento foi ímpar, de
plenitude, de felicidade, de alegria, enfim, de sentimentos só positivos. Aos que não foram
sorteados não houve nem a possibilidade de entrar com recursos contra o processo, uma vez
que estava descrito no edital e ocorreu de modo transparente. Participei, como observador, de
todo o processo cuja transparência ficou evidente.
15
“Agarrar com unhas e dentes” é uma expressão popular usada com sentido de não perder algo que conseguiu,
nesse caso, não perder a oportunidade, dedicar-se ao máximo, seguir em frente e concluir o curso que estava se
candidatando e que fora, na ocasião, sorteada para integrar a primeira turma da instituição na modalidade de
PROEJA.
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5. Escolha dos Sujeitos de Pesquisa
Após as devidas autorizações do coordenador do curso e do instituto, procurei os
estudantes em sala de aula, expus os objetivos da pesquisa e solicitei voluntário. Prontamente
dez candidataram-se. No desenvolver das atividades e, uma desistiu de expor sua opinião, isto
é, de participar das entrevistas individuais.
Abaixo apresento cada sujeito. Por questões éticas substituí seus nomes por outros a
fim de não serem identificados facilmente. Apresento-os em ordem alfabética:
Adolpho: É natural de Seberi e atualmente reside em Sapucaia do Sul. Quando o entrevistado
ainda era criança, os nove membros da família migraram com o intuito de conseguir melhores
condições de vida, para a cidade de Novo Hamburgo. Hoje ele tem três filhos com a primeira
esposa e com a segunda nenhum. Teve uma infância difícil e humilde, pois seus pais eram
pobres. Recebeu pouco incentivo para os estudos. Ingressou cedo no mercado de trabalho,
deixando, em segundo plano, os estudos. Conseguiu um bom emprego devido a seus novos
conhecimentos adquiridos ao longo do curso no PROEJA. É uma pessoa bastante
comunicativa. Participou da primeira e da segunda entrevistas.
Deolina: É casada e não tem filhos. Residente em Canoas, mas é natural de Sapucaia do Sul.
Gosta de trabalhar porque está sempre em contato com pessoas. Seu primeiro emprego foi na
empresa do pai. É uma pessoa líder. Quando estudante do ensino fundamental era “sapeca e
arteira” e, nas séries finais, sempre foi considerada a líder (monitora, representante) da turma.
Ao terminar o ensino fundamental, fez seleção nessa instituição, mas não permaneceu
estudando. Quando parou de estudar noivou. Retornou no PROEJA para finalizar o ensino
médio. Nos últimos meses do segundo ano passou a dedicar-se exclusivamente aos estudos,
com o incentivo do esposo e do pai. Pensa em cursar o ensino superior, talvez Biologia.
Participou da primeira e da segunda entrevistas.
Edi Julieta: A estudante é casada e tem um filho do qual se orgulha bastante. Criada pela
mãe, teve uma infância difícil, quando tinha 11 anos o pai apareceu, mas permanece até hoje
sem vínculos com ele. Começou a trabalhar com oito anos de idade. Em se tratando de vida
escolar, não teve muito incentivo da família para estudar. Faz amizades facilmente por ser
bastante comunicativa. É natural de Sapucaia do Sul. Seu sonho, desde a infância, é cursar o
ensino superior. Estava muito distante. Tem se preparado para tal. Na sala de aula se destaca
dos demais colegas por ser uma das líderes. Foi escolhida como representante da turma em
um encontro de professores e estudantes de PROEJA, no ano de 2008. Sente-se realizada por
estar cursando o PROEJA. Participou da primeira (2006) e da segunda entrevista (2008).
Guido: É natural de Porto Alegre e hoje reside em Sapucaia do Sul. É solteiro e mora com a
mãe. Quando criança faltava a escola para jogar futebol com os amigos. Cedo teve que
trabalhar para ajudar no sustento da família. Adapta-se muito bem a novos grupos. Hoje se
dedica bastante ao trabalho, deixando, em alguns momentos a escola em segundo plano.
Pretende especializar-se em plástico e no futuro ser professor, ensinar o quanto sabe sobre o
assunto. Participou somente da segunda entrevista, em 2008.
Mafalda: É natural de Sapucaia do Sul e mora na mesma cidade que nasceu. Era uma aluna
bastante tímida e fazia poucos amigos devido a sua introspecção. Era apegada a sua mãe.
Quando estava na quinta série ingressou no mercado de trabalho e abandonou a escola,
retornando com muito esforço pessoal, depois de alguns anos. Quase não recebia incentivos
dos pais para estudar porque possuía muitas irmãs. Trabalhou muitos anos no setor de
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produção de uma empresa em Sapucaia do Sul e admirava os colegas da área de
administração. Achava-os inteligentes: “Pareciam filosofar”. Hoje é uma trabalhadora da área
de administração. Participou somente da segunda entrevista.
Maria Cândida: É solteira (noiva) e mora com os pais. Até o final do segundo ano morava
defronte da escola, no ano seguinte mudou-se para São Leopoldo. É natural de Sapucaia do
Sul. Quando terminou a educação básica ingressou no mercado de trabalho e iniciou dois
cursos superiores, mas não os concluiu. Foi sorteada como quarta suplente. Ao realizar a
matrícula para o segundo curso superior, foi comunicada de que abrira a vaga par o PROEJA.
Não titubeou, sempre quis fazer o curso técnico no IF. Era bastante envergonhada, mas está
fazendo esforço para desinibição. Trabalha como recepcionista, por esse motivo está perdendo
a vergonha. Considera-se líder, com fortes opiniões e perfeccionista. Ao concluir o PROEJA,
voltará aos estudos de língua estrangeira, juntamente com o noivo. Participou somente da
segunda entrevista (em 2008).
Maria Luiza: É separada judicialmente, tem um filho e mora com a família em Sapucaia do
Sul. É natural de Esteio. Não tinha muita persistência para estudar, pois quando encontrava
dificuldades não insistia. Não teve muitos incentivos familiares. Entretanto, sempre gostou
muito de aprender. Incentiva o filho e o sobrinho para estudarem no IF por considerar uma
instituição escolar de qualidade. Antes da seleção no PROEJA fazia cinco anos que não
estudava. Iniciou no mercado de trabalho para adquirir suas próprias roupas. Afirma que
sempre quis trabalhar no escritório de uma empresa. Está realizando um sonho. Participou
somente da segunda entrevista, em 2008. Na primeira entrevista foi voluntária, mas não
conseguimos conciliar nossos horários.
Natália: É casada e não tem filhos. É residente de Sapucaia do Sul e natural de Recife,
Pernambuco. Trabalha confeccionando doces e salgados e os vende nos pontos comerciais da
cidade e aos colegas da escola. Já possui a educação básica completa, mas queria realizar um
curso de qualidade, então procurou o PROEJA. Considerava-se uma criança que aprontava na
escola, mas não desrespeitava os professores. Cursou os cursos técnicos em contabilidade, em
enfermagem em Recife e vários cursos profissionalizantes em Brasília. Apesar de apontar
lacunas no atual curso, considera-o importante para sua inserção na área de trabalho. Quer
colocar uma empresa formal para administrar. Trabalha desde os onze anos de idade.
Participou somente da segunda entrevista, em março de 2009.
Waldemar: É natural de Santo Antônio das Missões e reside em Sapucaia do Sul. É casado e
tem um casal de filhos. Trabalha na mesma empresa desde que migrou para a cidade.
Representa ser tímido e introvertido, mas se expressa muito bem, dizendo claramente o que
quer e com segurança. Saiu de casa e da escola muito jovem para trabalhar. Nos primeiros
anos como aluno apresentou dificuldades de relacionamento com os colegas devido a sua
introspecção. Hoje exerce cargo de liderança na empresa onde trabalha. Com o curso do
PROEJA, elevou sua auto-estima e aumentaram as possibilidades de ascensão profissional.
Participou somente da segunda entrevista.
Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP
Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão
Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011
6. Último Contato
Edi Julieta inspirou-se e enviou o seguinte texto, após sua formatura e no seu primeiro
ato enquanto bolsista de Iniciação Científica do Curso de Pedagogia da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos – UNISINOS, no Seminário da Pós-Graduação em Educação, em março de
2010.
O desafio da transformação
Para todos aqueles que se envolvem com a educação na Modalidade PROEJA, seja esses
docentes ou discentes, a maior perspectiva é o resultado da transformação.
Os professores com suas formações e crenças na construção da educação profissional, da
concepção de formação integral do cidadão que combine práticas e fundamentos com políticas de
inclusão social.
O aluno por sua vez, com expectativas de um aprendizado profissional e social, conseguindo
uma oportunidade no mercado de trabalho.
Uma moeda de lados, mas com um único objetivo transformar este país dentro de uma
perspectiva de desenvolvimento e justiça social.
A crença no ser humano, a esperança na educação.
Novos desafios são assumidos, com propostas diferenciadas e papel estratégico na formação
do aluno PROEJA.
Esta educação busca resgatar e reinserir no sistema escolar jovens e adultos, entretanto vai
além, é mais que um projeto educacional, ele é um instrumento de resgate da cidadania, de uma grande
parcela de excluídos do sistema escolar tradicional.
(Edi Julieta).
7. Considerações Finais
O PROEJA vem se consolidando através dos tempos, isto é, a partir de seu surgimento
no ano de 2005 e expandido às instituições públicas e privadas do país. Contribui para que
estudantes de todo o Brasil consigam se realizar enquanto cidadãos, uma vez que completam
o ensino médio em instituições que dificilmente conseguiriam estudar, dado as dificuldades de
ingresso e permanência destes institutos.
Apresentei as histórias de nove estudantes do PROEJA, mas que poderiam ser
histórias de qualquer brasileiro que não conseguiu seguir seus estudos na época considerada
regular. Pessoas com histórias de ingresso precoce no Mundo do Trabalho, pessoas com
pouca adaptação ao sistema escolar, na época em que deveriam estar estudando, contudo,
estavam trabalhando também para contribuir ao sustento da família, geralmente numerosa.
Enfim, trouxe as histórias de pessoas comuns que se dedicaram com o máximo de suas
forças para concluir o ensino médio, algumas conseguindo e outras ainda não.
Há muito que se desenvolver na educação àqueles que não concluíram sua
escolarização básica, contudo, este programa é uma fagulha que se estende para todo o
território nacional. Acredito que, com iniciativas como a do PROEJA, outros cidadãos
transformem-se em pessoas muito mais felizes, como o exemplo de Edi Julieta e seus colegas.
Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP
Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão
Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011
Referências
ERRANTE, A. Mas afinal, a memória é de quem? Histórias orais e modos de lembrar e
contar. História da Educação – ASPHE/FaE/UFPel. n. 8, Set. 2000. Pelotas: Editora da
UFPel. p. 141-174.
SIQUEIRA, A. B. Alunos do PROEJA: Histórias de Estudantes do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense, Campus Sapucaia do Sul. 2010. 301 f.
Tese (Doutorado)-Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em
Educação, 2010, São Leopoldo.
THOMSON, A. Recompondo a memória: questões sobre a relação entre História Oral e as
memórias. Projeto História, n. 15, p. 51-71, Abr. 1997.
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Estudantes do PROEJA: trajetórias e vivências