Para pensar sobre o ensino da arte... Profa. Caroline Bertani da Silva1 Sabemos que a arte é sobretudo portadora de sinais, de marcas deixadas pelo não-racional coletivo, social, histórico (...). A arte tem assim uma função que poderíamos chamar de conhecimento, de ‘aprendizagem’. Seu domínio é o do não-racional, do indizível, da sensibilidade: domínio sem fronteiras nítidas, muito diferente do mundo da ciência, da lógica, da teoria. Domínio fecundo, pois nosso contato com a arte nos transforma. Porque o objeto artístico traz em si, habilmente organizados, os meios de despertar em nós, em nossas emoções e razão, reações culturalmente ricas, que aguçam os instrumentos dos quais nos servimos para apreender o mundo que nos rodeia. (COLI, 1998, p. 109) Apreender este mundo, estar em contato com a arte e vivenciá-la, permite saborear as sensações múltiplas que a obra oferece, do lúdico às questões sociais, do sublime ao impressionante, do sensorial ao intelectual, da atração à repulsa, da dúvida às respostas, da análise à interpretação. Interpretar o mundo visual significa perceber que não há apenas coisas presas no jogo combinado de linhas e cores, dos modelos e matérias, existindo, também, o meio em que eles se inserem. Isto seria a “atmosfera” que envolve o objeto real nos contextos (...). Emoções e sentimentos que não se revelam e são indizíveis pela lógica da linguagem verbal, presentificam-se nas linguagens artísticas. (CAMPOS, 2002:108) Conforme Campos (2002: 108-109), ter experiências estéticas, estar em contato com essas emoções que a arte oportuniza, são experiências ímpares na formação do educador e na construção do seu olhar, pois quanto mais contextos ele vivenciar, com seus múltiplos olhares, escolhas e interpretações, mais preparado estará, também, para selecionar o que ensinar e, como constante aprendente, selecionar também o que tem a aprender. Outra questão a pensarmos e que propõe Pedrosa, é o fato de que a referência usada ainda nos dias atuais, para qualificar e compreender uma obra são os cânones renascentistas. Para ele, “o mundo de agora não sabe o que é arte” e, conseqüentemente, não consegue compreendê-la (1996, p. 41). Sabemos que, além da necessidade de trabalhar arte com os alunos, nossa preocupação também deve voltar-se à formação dos professores, para que estejam preparados a, junto de seus alunos, construir leituras consistentes do mundo e da arte a partir de uma concepção interacionista de ensino, pois a escola é o local onde é possível efetivar e refletir sobre a importância do papel cultural e social da arte. Referências: CAMPOS, Neide Pelaez. A construção do olhar estético-crítico do educador. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2002. COLI, Jorge. O que é arte? 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. PEDROSA, Mário. Forma e percepção estética: textos escolhidos II. São Paulo: USP: 1996. 1 Fragmento do artigo publicado na íntegra no Livro VETOR: SILVA, Caroline Bertani da. Pinacoteca da Feevale: espaço de educação continuada. In: COSTA, Clóvis Martins; JOHN, Richard (Org.). Vetor. Novo Hamburgo, RS: Feevale, 2009 p. 266-270.