Geo.br 1 (2001) 1-23
R.G. Silva, C.J.S. Gomes
ISSN1519-5708
http//:www.degeo.ufop.br/geobr
Análise da deformação na porção centro-sul do Sinclinal
Moeda, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais
Reginaldo G. da Silva, Caroline J. S. Gomes
Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto
Campus Morro do Cruzeiro S/N, Cep:35400-000, Ouro Preto, Minas Gerais,Brasil
e-mail:[email protected]
ABSTRACT
Lenses of quartz metaconglomerate of the Moeda Formation of the Caraça Group outcrops at
the limbs of kilometer-scale folds in the Quadrilátero Ferrífero. A strain analysis carried out in
the central-southern portion of the Moeda Syncline, whose axial trace anastomoses around the
granitic Bação Metamorphic Complex, allowed to obtain new data for a better understanding
of the tectonic framework of the region. The strain ellipses of the rock referred to above were
calculated by the Rf/φ (Lisle 1985) and the Shimamoto e Ikeda (1976) methods and the 3-D
strain parameters were obtained through the FITELI software (Dayan 1995). On the western
limb of the Moeda Syncline the X-axe of maximum length of prolate strain ellipsoids lies
parallel to the dip of the main metamorphic foliation and reveals a low deformation
magnitude. Different strain parameters characterize the eastern limb, where X-axes are nearly
horizontal and their shape varies from prolate in the southern part to oblate in the northern
portion of the study area, accompanying a decreasing strain. The different deformation states
in the Moeda Syncline limbs confirm the cinematic model of the Bação Metamorphic
Complex, which overrides from ESE to WNW the Moeda Syncline. The strain parameters
suggest a local transpression process with lateral mass escape in the eastern limb, and pure
compressional features in the western domain.
key-words: strain analysis; Moeda Syncline; Rf /φ method; software FITELI; Bação Metamorphic Complex
RESUMO
No presente estudo realizou-se uma análise da deformação nos metaconglomerados da
Formação Moeda, base do Supergrupo Minas, na porção centro-sul do Sinclinal Moeda, oeste
do Quadrilátero Ferrífero. O objetivo do trabalho é contribuir para uma melhor compreensão
da tectônica que causou a geometria peculiar do flanco leste do Sinclinal Moeda, no entorno
do Complexo Metamórfico Bação. Empregaram-se o método Rf /φ (Lisle 1985) e a técnica de
Shimamoto e Ikeda (1976) para o cálculo das elipses de deformação, em 2-D, e o programa
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FITELI (Dayan 1995) para a determinação do elipsóide de deformação, em 3-D. Os dados
revelaram no flanco oeste do Sinclinal Moeda, no qual os elipsóides têm eixo maior de
estiramento próximo ao mergulho da foliação, formas prolatas e deformação baixa. No flanco
leste, os elipsóides, em posição subhorizontal, mostraram formas distintas nos diferentes
subdomínios sul, central e norte, respectivamente, prolato, oblato/prolato e oblato. O cálculo
da magnitude da deformação revela, neste flanco, valores decrescentes de sul para norte. Os
resultados obtidos indicam que os flancos do Sinclinal Moeda foram submetidos a
deformações distintas e permitem a confirmação da tese do cavalgamento do Complexo
Metamórfico Bação sobre o sinclinal através de um movimento de ESE para WNW. No
domínio proximal (flanco leste do sinclinal) o cavalgamento causou transpressão com escape
lateral de massa rochosas e no domínio distal (flanco oeste), feições de uma compressão pura.
Palavras-chave: análise da deformação; método Rf /φ; programa FITELI; Sinclinal Moeda; Complexo
Metamórfico Bação
dextrais e sinistrais e rejeitos da ordem de
1. INTRODUÇÃO
Moeda
engloba
centenas de metros. Neste flanco, os
as
unidades
metassedimentos do Supergrupo Minas
litoestratigráficas do Quadrilátero Ferrífero
fazem contato com as rochas do Complexo
e
Complexo
Metamórfico Bonfim por meio de uma
Metamórfico Bonfim, à oeste, e com o
zona intensamente cisalhada, a Zona de
Complexo Metamórfico Bação, à leste
Cisalhamento Moeda-Bonfim, de natureza
(Fig. 1). Estende-se por aproximadamente
dúctil-rúptil e características extensionais.
40 km, e possui um flanco normal, de
Esta zona de cisalhamento normal é
direção N-S, oeste, e um flanco inverso,
superposta por uma tectônica reversa de
leste, de direção NW-SE, na porção norte,
polaridade para oeste (Endo e Nalini 1992;
e que contorna o Complexo Metamórfico
Hippertt et al. 1992; Jordt-Evangelist et al.
Bação no domínio sul.
1993; Silva 1999).
O
Sinclinal
praticamente
faz
todas
contato
com
o
O flanco oeste do Sinclinal Moeda
No flanco leste da megaestrutura
possui caimentos variáveis entre 40° e 50°
registra-se uma forte variação no mergulho
para leste. É cortado por falhas direcionais
NW-SE
que
possuem
deslocamentos
2
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rra
Se
do
Legenda
l
rra
Cu
20º 00' S
Belo
Horizonte
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4 3 º 1 5 ' W
N
Sin
cli
Z.C. Transcorrente
Z.C. de Cavalgamento
na
C.M. Bonfim
lM
oe
da
Z.C. Normal
Sinclinal
Sinclinal Invertido
Anticlinal
Direção Média do
Transporte Tectônico
C.M. Bação
Sinc
lin
O u ro
P r e to
0
5
10
Supergrupo Espinhaço
Grupo Itacolomi
Supergrupo Minas
Supergrupo Rio das Velhas
Complexos Metamórficos
15 km
al Dom B o s c o
Área de trabalho
Figura 1. Mapa geológico-estrutural do Quadrilátero Ferrífero com representação da área de trabalho
(modificado de Hashizume 1998). C.M.Bação - Complexo Metamórfico Bação; C.M.Bonfim Complexo Metamórfico Bonfim.
da foliação, de alto ângulo na porção norte
polaridade tectônica de ESE para WNW
a mergulhos médios (entre 40° e 45°) e
(Silva 1999).
baixos (até 25°) no domínio a oeste e
No presente estudo, a análise
Metamórfico
quantitativa da deformação nas lentes
Bação, sempre com caimento no sentido
metaconglomeráticas do Quartzito Moeda,
leste. Neste domínio, um espesso pacote do
da base do Supergrupo Minas, visa
Supergrupo Rio das Velhas, que acunha
completar o acervo estrutural qualitativo
para
embasamento
obtido por Silva (1999). Pretendia-se obter
cristalino dos metassedimentos Minas. Um
novas informações sobre a interação do
complexo acervo estrutural, dúctil-rúptil
Complexo Metamórfico Bação com o
rúptil-dúctil a rúptil, de características
Sinclinal
compressivas predomina neste flanco e
Metamórfico
aponta
caracterização
sudoeste
do
sul,
para
Complexo
separara
uma
o
deformação
com
Moeda
(e
Bonfim)
dos
o
Complexo
através
da
elipsóides
da
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deformação. O objetivo do trabalho é
antiga proposta de Harder e Chamberlin
enriquecer a discussão sobre a deformação
(1915a;
que afetou o domínio centro-sul do
embasamento cristalino. Até o final da
Sinclinal Moeda caracterizado por duas
década de 80, a tectônica do Quadrilátero
situações peculiares: (i) pela geometria
Ferrífero era considerada exclusivamente
convexa, para oeste, de seu flanco leste e
de caráter compressivo, sugerindo-se para
(ii)
de
o Complexo Metamórfico Bação, no
estiramento que, nos contatos entre as
centro-sul, uma tectônica vertical de blocos
supracrustais
complexos
(Ladeira 1980; Drake e Morgan 1980;
metamórficos, é paralela à direção da
Gomes 1986; Alkmim et al. 1988). Em
foliação no domínio leste e ao mergulho,
1989, Marshak e Alkmim descrevem pela
na região oeste.
primeira vez uma deformação distensiva
pela
posição
e
das
os
lineações
b),
de
que
se
tratava
do
na região que, a partir de então, foi
2. O CONTEXTO TECTÔNICO E
ESTRUTURAL
DO
SINCLINAL
MOEDA
A tectônica que envolve o Sinclinal
amplamente
Moeda é controversa e abrange quase todas
Hippertt et al. 1992; Renger et al. 1994;
as
do
Machado et al. 1996; Endo 1997; Marshak
Quadrilátero Ferrífero: o desenvolvimento
et al. 1997 etc). Surge o conceito de ‘Bacia
dos complexos metamórficos, a formação e
Minas’ que diz respeito a uma fossa
a deformação da Bacia Minas. Em
tectônica hospedeira da Seqüência Minas,
trabalhos clássicos sobre o Quadrilátero
posteriormente deformada, resultando as
Ferrífero, Dorr (1969) e Herz (1970)
megaestruturas em dobra do Quadrilátero
consideram os corpos domicos, hoje
Ferrífero. Os debates continuam em torno
denominados ‘complexos metamórficos’,
dos complexos metamórficos e duas
de intrusivos na seqüência supracrustal,
escolas de pensamento se destacam: (i) os
vulcanossedimentar do Supergrupo Rio das
domos são considerados ‘metamorphic
Velhas. Guimarães (1966) e, mais tarde,
core complexes’ do tipo cordilheriano,
Ladeira (1980), Drake e Morgan (1980),
descritos no
Gomes
(Chemale Jr. et al. 1991; 1994) e (ii) o
etapas
da
(1985;
história
1986),
evolutiva
entre
outros,
reconhecida
por
outros
autores (Oliveira e Teixeira 1990; Chemale
Jr. et al. 1991; 1994; Marshak et al. 1992;
oeste dos Estados Unidos
descrevem zonas de cisalhamento nas
Quadrilátero
Ferrífero
constitui
uma
bordas dos complexos. O reconhecimento
província do tipo ‘dome and keel’. Nesta
destas zonas de cisalhamento reconduziu à
tese, a idéia principal é que os domos que
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Com
em suas feições externas lembram diápiros
base
em
um
minuciosa
teriam sua gênese relacionada à zonas de
trabalho de levantamento estrutural, Silva
cisalhamento de alto ângulo (Marshak et
(1999) sugere para o Proterozóico da
al. 1992; Marshak et al. 1997). Endo
região centro-sul do Sinclinal Moeda uma
(1997) defende a formação de fraturas
evolução em três eventos deformacionais.
crustais (NE-SW, N-S e NW-SE) no
O primeiro gerou uma calha sinclinorial
Neoarqueano que teriam sofrido sucessivas
em um evento de natureza distensiva, em
etapas de reativação. Para este autor, os
condições
domos gnaissicos teriam se formado em
sinformal teria resultado da flexão das
um evento extensional, por um processo de
rochas
soerguimento e abatimento relativo de
depositadas
blocos do embasamento.
arqueano, rígido, e que se amoldaram ao
A geometria curva, em planta, do
graben
rúpteis-dúcteis.
A
dobra
supracrustais
previamente
sobre
embasamento
extensional
o
através
de
um
flanco leste do Sinclinal Moeda, com
mecanismo do tipo deslizamento flexural.
convexidade
é
Segundo o autor, o sinclinal foi redobrado
relacionada por alguns autores a um
em dois eventos compressivos, o primeiro
cavalgamento do Complexo Metamórfico
com polaridade de sul para norte, gerando
Bação sobre o Sinclinal Moeda (Marshak e
braquissinclinais como conseqüência de
Alkmim 1989; Chemale Jr. et al. 1991;
um transporte de massa confinada à calha
1994) e, por outros, a um alto estrutural
sinformal. O segundo evento seria o
preexistente que induziu a bacia a se
principal responsável pela modificação da
moldar à sua forma (por exemplo, Endo e
geometria do Sinclinal Moeda, ocorrida
Carneiro 1996; Endo et al. 1996; Endo
através da movimentação horizontal do
1997; Gomes et al. 1997). A última
Complexo Metamórfico Bação, para oeste
hipótese se fundamenta na ocorrência de
gerando o estrangulamento do sinforme. A
uma expressiva zona de cisalhamento
modificação
dúctil, de caráter direcional, na borda do
amplificação do sinclinal através de um
Complexo Metamórfico Bação enquanto
mecanismo de cisalhamento flexural e pela
que a primeira se apoia na também dúctil e
inversão de seu flanco leste. No flanco
expressiva Zona de Cisalhamento Bonfim-
oeste, causou a reativação reversa da Zona
Moeda,
de Cisalhamento Moeda-Bonfim. A análise
cujas
voltada
para
características
inversão tectônica.
oeste,
sugerem
foi
acomodada
pela
estrutural cinemática da área sugere ainda
escape lateral das rochas incompetentes do
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Supergrupo Rio das Velhas, a leste do
do Quadrilátero Ferrífero teriam sofrido
sinclinal nas regiões a noroeste e sudoeste
um processo de amplificação pela ascensão
do Complexo Metamórfico Bação, e um
de domos granito-gnáissicos arqueanos
escape vertical em todo o interior do
(conforme Marshak et al. 1992 e Marshak
sinclinal.
et al. 1997) e alguns deles, com disposição
A
hipótese,
de
um
escape
ortogonal
ao
sentido
do
transporte
ascensional de massas rochosas na região
tectônico brasiliano (o Sinclinal Moeda e o
de maior constricção do Sinclinal Moeda,
Homoclinal da Serra do Curral), uma
foi aventada pela primeira vez por Endo
inversão.
(1997), que sugeriu um escape vertical das
Em vários trabalhos experimentais
rochas do Supergrupo Rio das Velhas,
simularam-se a formação e a deformação
confinadas entre o Complexo Metamórfico
da Bacia Minas no Quadrilátero Ferrífero.
Bação e as rochas rígidas do Supergrupo
A modelagem física analógica constitui
Minas. Silva (1999) retoma a idéia do
uma ferramenta da Geologia Estrutural e
escape vertical mas sugere que esta
Tectônica,
deformação teria se desenvolvido no
visualização dos processos deformativos.
interior do Sinclinal Moeda enquanto as
Costa (1993), Costa e Rosière (1993),
rochas do Supergrupo Rio das Velhas
Gomes (1995), Gomes (1996), Gomes et
sofreram transpressão (escape lateral). A
al. (1998) e Silva (1999) produziram
transpressão estaria registrada em zonas de
modelos do Quadrilátero Ferrífero, do tipo:
cisalhamento direcionais e nos seixos
(i) experimentos simples, com uma única
estirados, subhorizontais, da base do
etapa de extensão, (ii) simulações com um
Supergrupo Minas, e teria precedido ao
evento de extensão seguido por outro, de
escape vertical.
inversão e (iii) modelos mais complexos,
muito
empregada
para
a
Hippertt e Davis (2000) confirmam
com enfoque na distensão submetida a
a hipótese sobre a evolução do Sinclinal
diferentes ângulos de extensão e na
Moeda, com um estágio percursor de
influencia da crosta dúctil. Para a região do
flexão das rochas supracrustais, durante o
Sinclinal Moeda, Gomes (1996) demonstra
evento extensional transamazônico (2.1 –
que é mecanicamente possível que o
2.0 Ga) seguido por um processo de
Complexo
amplificação/inversão do sinclinal durante
existido como um alto estrutural antes do
a compressão brasiliana (0.8 – 0.6 Ga).
rifteamento, o que teria impedido a sua
Para os autores, todos os megassinclinais
abertura livre. A geometria convexa para
Metamórfico
Bação
tenha
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oeste do flanco leste do Sinclinal Moeda
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3. A ANÁLISE DEFORMACIONAL
Segundo Hatcher (1995) qualquer
seria o resultado desta situação. Em uma
de
objeto deformado em uma massa rochosa,
compressão, mostra-se que o Complexo
em que sua forma inicial possa ser
Metamórfico Bação pode ter produzido a
comparada quantitativamente com a forma
inversão no flanco leste do Sinclinal
final, pode servir como marcador da
Moeda.
deformação.
segunda
etapa
experimental,
Os primeiros trabalhos sobre a
Silva (1999) simula a porção
quantificação da deformação devem-se a
centro-sul da sub-bacia do Sinclinal Moeda
Albert Heim (1878) e a Alfred Wettstein
em experimentos nos quais trabalha com a
(1886) (In: Hatcher 1995) cujos estudos se
hipótese de que a antiga zona de fraqueza
centraram em fósseis. A partir daí, um
crustal teria possuído traço grosseiramente
grande
N-S (segundo Endo 1997) e uma suave
deformação foram utilizados, entre estes,
curva, convexa para oeste. Para o autor, o
alguns inusitados como centros de vulcões,
Complexo Metamórfico Bação constituiu
para deduzir deformações continentais
um backstop rígido que, na inversão dos
(Windley e Davis 1978), e agulhas
modelos,
comprimiu as rochas dos
estiradas de rutilo, encravadas em cristais
supergrupos Rio das Velhas e Minas contra
de quartzo, para a determinação da
o Complexo Metamórfico Bonfim. Os
deformação do mineral hospedeiro (Mitra
experimentos mostram um escape vertical
1978).
número
de
marcadores
da
das rochas, no interior e na borda oeste do
Os marcadores mais utilizados para
Sinclinal Moeda, em função da reativação
a quantificação são: manchas de redução,
reversa de antigas falhas normais do
oóides,
embasamento e da formação de novos
vesículas
empurrões. O trabalho aponta para o
atividade orgânica como cavidades de
importante
forma conhecida (icnofósseis), grãos e
Metamórfico
do
domínio
Moeda,
papel
Bação
leste
independente
do
Complexo
na
deformação
do
da
Sinclinal
arquitetura
das estruturas arquenas, pré-Minas.
agregados
oncólitos,
pisólitos,
(amígdalas),
de
fósseis,
indicadores
quartzo,
agregados
de
de
biotita/moscovita, cristais e pseudomorfos
de
cordierita,
clastos
de
feldspato,
xenólitos, boudins, gretas de contração e
conglomerados (Lisle 1985, Ramsay e
Huber 1983, Hatcher 1995).
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métodos
passiva. A maior vantagem deste método
desenvolvidos para o cálculo quantitativo
está na sua capacidade de estimar a
de uma deformação. As principais técnicas
deformação em vários tipos de rochas. A
e/ou aprimoramento destas, que utilizam
condição básica de sua aplicação é a
marcadores de forma circular/elíptica, o
presença de marcadores que possuam
caso dos microconglomerados basais da
formas elípticas, subelípticas ou similares
Formação Moeda, foram descritos por
(Lisle 1977, 1985, 1994).
Vários
são
os
Closs (1947), Ramsay (1967), Déramond e
O método de Shimamoto e Ikeda
Litaize (1976), Mimram (1976), Dunnet
(1976) é aplicável a objetos elipsoidais
(1969), Elliot (1970), Dunnet e Siddans
deformados
(1971), Flinn (1956), Shimamoto e Ikeda
necessariamente esféricos, em sua forma,
(1976), Robin (1977), Lisle (1977, 1985,
antes da deformação. Consiste de um
1986, 1994), Fry (1979), Miller e Oertel
método algébrico onde se considera uma
(1979), Siddans (1980), Dayan (1981), De
deformação passiva entre marcador e
Paor (1988), Pannozo (1994) e Nobre
matriz, podendo ser desenvolvido tanto
Martins (1998).
para uma deformação rotacional quanto
No presente trabalho as elipses de
deformação foram obtidas em três seções
perpendiculares
sido
irrotacional.
O método Rf/φ foi introduzido por
métodos Rf /φ (Lisle 1985, 1986, 1994) e
que a razão axial final de deformação (Rf)
de
A
e a orientação final (φ) de um marcador
integração das elipses, para a obtenção do
elíptico, não dependeriam somente da
elipsóide
feita
razão de deformação (Rs), mas também da
utilizando-se do programa FITELI (Dayan
orientação inicial (θ) e de sua razão axial
1981, 1995) que ajusta os dados de
inicial (Ri). Como Rs, Ri e θ são variáveis
deformação
um
desconhecidas o autor discute a aplicação
elipsóide (3D) pelo método 'dos mínimos
de uma razão de deformação Rs a um
quadrados'.
conjunto de marcadores que possuam, no
de
Ikeda
deformação,
bidimensionais
através
tenham
Ramsay (1967), que partiu do princípio
e
si
não
dos
Shimamoto
entre
que
(1976).
foi
para
O método Rf/φ de análise de
estado indeformado, uma mesma razão
deformação assume que o objeto elipsoidal
axial (Ri) e diferentes orientações (θ). O
(marcador da defomação) é deformado
resultado final plotado em um gráfico Rf x
juntamente com a matriz, isto é, de forma
φ mostra uma distribuição sobre uma curva
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em forma de ‘gota’ (para estágios mais
razões axiais (Ri) e mesma orientação (θ)
avançados de deformação), representando
(sedimentar ou estrutural), a distribuição
uma família de curvas Ri (Fig. 2a). Se o
no gráfico Rf x φ apresentará um
mesmo campo de deformação Rs for
comportamento geométrico
aplicado a um conjunto de marcadores que
(Fig. 2b), definindo uma família
possua, no estado indeformado, diferentes
curvas para os vários valores de θ.
a
diferente
de
b
Figura 2. Exemplo de dois gráficos Rf /φ. O eixo vertical corresponde à razão de deformação final (Rf), em
escala logarítimica, e o eixo horizontal é relacionado ao ângulo de orientação final φ (modificado de
Lisle 1985, 1994). a) Marcadores com orientação inicial aleatória e mesma razão Ri e b) Marcadores
com orientação inicial semelhantes e diferentes razões Ri.
Em raciocínio análogo, para uma
Os comportamentos diferenciados,
distribuição aleatória inicial, tanto de
mencionados acima, foram integrados por
elipticidades (Ri) quanto de orientações
Lisle (1985) em uma série de gráficos, para
(θ),
as mais variadas condições de Ri, θ e Rs.
os
dados
finais
devem
ser
simetricamente distribuídos em relação a
Estes gráficos foram utilizados para
uma linha de φ constante, que divide a
a
orientação dos eixos principais em dois
propriedades deformacionais registradas
grupos iguais. Este valor de φ define a
nas amostras coletadas neste trabalho.
identificação
e
caracterização
das
orientação do eixo principal máximo da
deformação.
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4. PROCEDIMENTO E RESULTADOS
Em
função
da
distribuição
geométrica e espacial dos elementos
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megaestrutura (domínios I e III-1 e III-2;
descrição da localização das amostras vide
tabela 6).
estruturais levantados durante o trabalho
A análise estrutural qualitativa
de campo na região centro-sul do Sinclinal
revelou diferenças marcantes no estilo
Moeda, Silva (1999) dividiu a área em
estrutural entre ambos os flancos do
domínios e sub-domínios estruturais (Fig.
sinclinal. No domínio do flanco leste, o
3). Com o intuito de se desvendar a relação
eixo maior de estiramento dos seixos
estrutural
deformados
entre
os
complexos
posiciona-se
próximo
à
metamórficos, Bação e Bonfim, e o
horizontal enquanto que, no flanco oeste,
Sinclinal
Moeda
apresenta alto ângulo de mergulho.
amostras
orientadas
de
quartzito
da
A aquisição de dados para a análise
Formação
Moeda,
nos
flancos
da
quantitativa da deformação foi feita em
coletaram-se
doze
Figura 3. Representação dos domínios e sub-domínios estruturais na área de trabalho (mapa geológico
modificado de Dorr 1969).
três lâminas delgadas, de 15 x 8 cm,
cortadas nas posições: xz - subparalela à
perpendiculares entre si. As seções foram
lineação
de
estiramento,
yz
-
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subperpendicular à mesma lineação e xy -
(Rf) através das médias geométrica (G),
subparalela ao plano da foliação. Em cada
aritmética (A) e harmônica (H):
uma destas lâminas foram delimitados os
marcadores da deformação e mensurados o
(1)
ângulo entre o eixo maior e a base da
lâmina (correspondendo ao ângulo φ),
(2)
assim como os comprimentos dos semieixos maiores e menores (1 + e1, 1 + e2 ou
(3)
1 + e3) de cada elipse. Conforme
recomendação
de
Dunnet
(1969),
procurou-se obter um mínimo de 40
onde Rf corresponde à relação: semi-eixo
seixos/microsseixos
seção
maior do microsseixo / semi-eixo menor, e,
analisada. Sempre que o contorno elíptico
n, ao número de marcadores na lâmina. Os
dos microsseixos não era bem distinto,
resultados constam da tabela 1.
para
cada
Os valores do comprimento dos
considerava-se o centróide dos mesmos
semi-eixos (1 + e1, 1 + e2 ou 1 + e3) das
(Robin 1977).
No
abordou
presente
o
trabalho
problema
da
se
elipses em cada seção assim como as
variação
razões Rxy = 1 + e1 / 1 + e2, Ryz = 1 + e2 / 1
não
marcadores
da
+ e3 e Rxz = 1 + e1 / 1 + e3, calculados pelo
considerando-se
a
método Rf/φ, estão listados na tabela 2. Na
composição dos seixos/microsseixos, de
mesma tabela constam também os valores
quartzito
da razão de deformação (Rs)
volumétrica
dos
deformação
que,
e/ou
quartzo
de
veio,
para cada
provavelmente não foi desprezível. Os
lâmina. Os parâmetros da
deformação,
dados aqui apresentados deverão, portanto,
em
método
ser entendidos como valores mínimos da
Shimamoto e Ikeda (1976) mostram-se
deformação.
muito
parecidos com aqueles calculados
pelo
método
Inicialmente, calculou-se para cada
2D,
obtidos
pelo
Rf/φ
(tabela
de
3).
lâmina a razão axial final da deformação
11
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ISSN1519-5708
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Tabela 1. As médias aritméticas, geométricas e harmônicas de cada uma das três seções das doze amostras
analisadas.
Amostras
WP 3
WP 21
WP 27
WP 36
WP 37
WP 45
WP 49
WP 51
WP 53
WP 54
WP 61
WP 93
Média
Média
Média
Aritmética
3,24
4,47
4,76
3,19
2,67
2,33
2,33
2,83
2,98
2,64
2,60
3,81
2,33
3,08
3,26
2,02
2,30
2,25
1,97
2,53
3,34
2,16
3,12
2,61
1,68
1,83
2,40
1,88
1,60
2,09
2,53
1,72
2,49
3,37
1,48
2,78
Geométrica
2,84
4,17
4,18
2,70
2,48
2,02
2,02
2,59
2,69
2,35
2,33
2,24
2,02
2,66
2,68
1,78
2,14
2,07
1,86
2,38
3,04
2,01
2,74
2,44
1,60
1,69
2,01
1,81
3,00
1,96
2,41
1,66
2,37
3,14
1,46
2,64
Harmônica
2,54
3,86
3,71
2,51
2,31
1,85
1,85
2,36
2,53
2,12
2,16
2,75
1,85
2,36
2,33
1,62
2,01
1,93
1,77
2,27
2,79
1,90
2,48
2,27
1,53
1,58
1,86
1,75
1,51
1,87
2,29
1,61
2,25
3,93
1,44
2,51
Seções
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
XY
YZ
XZ
12
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Tabela 2. Os valores do comprimento dos semi-eixos, das razões axiais finais (Rf) e das razões de deformação
(Rs) das três seções das amostras analisadas, calculados pelo método Rf /φ.
AMOSTRAS (1+ e1) (1+e2) (1+e3)
2.93
0.93 0.37
WP 3
2.04
0.90 0.55
WP 21
2.14
0.91 0.52
WP 27
1.63
1.00 0.62
WP 36
1.74
1.02 0.57
WP 37
1.23
1.09 0.75
WP 45
1.42
1.20 0.59
WP 49
1.39
1.12 0.64
WP 51
1.22
0.94 0.88
WP 53
1.42
0.94 0.75
WP 54
1.54
0.97 0.67
WP 61
1.86
0.77 0.70
WP 93
Rxy
3.14
2.29
2.37
1.64
1.70
1.12
1.19
1.25
1.30
1.52
1.60
2.42
Ryz
2.55
1.64
1.75
1.62
1.80
1.47
2.05
1.74
1.07
1.25
1.44
1.10
Rxz
8.01
3.76
4.15
2.65
3.07
1.65
2.43
2.17
1.39
1.90
2.30
2.66
Rsxy
2.45
1.90
1.65
1.70
1.65
1.15
1.20
1.25
1.40
1.60
2.05
2.65
Rsyz
3.60
2.20
2.15
2.05
2.05
1.50
1.85
1.75
1.45
1.25
1.40
1.15
Rsxz
3.40
2.30
2.35
2.40
2.45
1.60
2.55
2.14
1.65
1.80
2.00
2.35
Tabela 3. Os valores do comprimento dos semi-eixos, das razões axiais finais (Rf) e das razões de deformação
(Rs) das três seções das amostras analisadas, obtidos pelo método de Shimamoto e Ikeda (1976).
AMOSTRAS (1+ e1) (1+e2) (1+e3)
2.63
1.00 0.38
WP 3
2.02
0.93 0.53
WP 21
2.66
0.83 0.46
WP 27
1.66
1.00 0.60
WP 36
1.81
1.01 0.55
WP 37
1.32
1.12 0.68
WP 45
1.48
1.19 0.57
WP 49
1.46
1.11 0.62
WP 51
1.24
0.95 0.85
WP 53
1.43
0.95 0.74
WP 54
1.74
0.95 0.61
WP 61
1.90
0.75 0.71
WP 93
Rxy
2.63
2.19
3.22
1.66
1.80
1.17
1.25
1.31
1.31
1.50
1.83
2.54
Ryz
2.67
1.73
1.82
1.66
1.84
1.66
2.08
1.81
1.12
1.30
1.57
1.06
Rxz
7.02
3.79
5.85
2.75
3.32
1.94
2.59
2.36
1.47
1.94
2.87
2.68
Rsxy
2.66
2.00
1.69
1.83
1.72
1.20
1.29
1.38
1.51
1.68
2.11
2.65
Rsyz
3.61
2.26
2.16
1.18
2.18
1.68
2.05
1.90
1.51
1.27
1.49
1.10
Rsxz
3.46
2.30
2.41
2.49
2.54
1.89
2.57
2.23
1.77
1.74
2.19
2.52
programa
deformação. É definido em função
FITELI (Dayan 1981, 1990 e 1995)
das razões planares axiais, ou seja,
realizou-se o tratamento e a integração dos
k = (Rxy-1)/(Ryz-1);
Por
intermédio
do
dados em 3D. Determinou-se, assim, o
. K (Ramsay) → expressa a forma do
elipsóide de deformação de cada amostra,
elipsóide de deformação. Também é
bem como os parâmetros cujos valores
definido em termos da razão planar
constam nas tabelas 4 e 5, e cuja descrição
axial: K = ln (Rxy – 1) / ln (Ryz – 1);
. d (Flinn) → traduz a intensidade de
segue abaixo:
. k (Flinn) → expressa o quão mais oblato
ou
prolato
é
o
elipsóide
de
distorção do elipsóide de deformação
e é designado pela medida da
13
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R.G. Silva, C.J.S. Gomes
ISSN1519-5708
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distância do elipsóide até a origem
ν = [ln (Ryz – 1)
(no Diagrama de Flinn). É definido
[ln (Ryz – 1) + ln (Rxy – 1)];
pela equação:
2
da intensidade de distorção do
. D ( Ramsay) → é similar ao parâmetro d,
é
ln (Rxy – 1)] /
γoct → representa uma medida absoluta
d = [(Rxy – 1) +
(Ryz – 1)2]0,5.
porém
–
relacionado
às
elipsóide de deformação:
γoct = 2/3
[(ε1 - ε2)2 + (ε2 - ε3)2 + (ε3 - ε1)2]1/2
razões
logarítimicas, através da equação:
εs
→
constitui um parâmetro de
2
D = [(ln (1+e1) – ln (1 + e2)) +
intensidade
2 0,5
(ln (1+e2) – ln (1 + e3)) ]
de
deformação:
εs = (√3 / 2 ) γoct
. ν → o parâmetro de Lode também
descreve a forma do elipsóide;
expressa a deformação principal em
termos logarítmicos:
Tabela 4. Os resultados dos parâmetros da deformação em 3D, calculados a partir dos valores obtidos pelo
método Rf /φ e integrados pelo programa FITELI (Dayan 1981, 1995).
AMOSTRAS
WP 3
WP 21
WP 27
WP 36
WP 37
WP 45
WP 49
WP 51
WP 53
WP 54
WP 61
WP 93
k
1.38
1.99
1.81
1.03
0.88
0.26
0.17
0.33
4.15
2.05
1.35
14.63
K
1.23
1.66
1.53
1.02
0.91
0.30
0.24
0.40
3.76
1.86
1.28
9.54
d
2.64
1.44
1.56
0.89
1.07
0.48
1.06
0.78
0.31
0.57
0.74
1.43
D
1.48
0.96
1.03
0.69
0.79
0.40
0.74
0.59
0.27
0.47
0.59
0.89
ν
-0.10
-0.24
-0.21
-0.01
0.04
0.54
0.61
0.43
-0.58
-030
-0.12
-0.81
γoct
1.70
1.09
1.17
0.80
0.92
0.43
0.77
0.65
0.28
0.53
0.68
0.88
εs
1.47
0.95
1.02
0.69
0.79
0.36
0.66
0.56
0.25
0.45
0.59
0.76
14
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Tabela 5. Os resultados dos parâmetros da deformação em 3D, calculados a partir dos valores obtidos pelo
método de Shimamoto e Ikeda (1976) e integrados pelo programa FITELI (Dayan 1981, 1995).
AMOSTRAS
WP 3
WP 21
WP 27
WP 36
WP 37
WP 45
WP 49
WP 51
WP 53
WP 54
WP 61
WP 93
k
1.13
1.63
2.73
1.00
0.95
0.26
0.23
0.38
2.62
1.67
1.44
17.98
K
1.08
1.43
1.94
1.00
0.97
0.31
0.30
0.45
2.42
1.55
1.33
10.39
d
2.47
1.40
2.37
0.93
1.16
0.68
1.10
0.86
0.33
0.58
1.00
1.54
D
1.43
0.95
1.27
0.71
0.85
0.53
0.70
0.65
0.28
1.55
0.75
0.93
ν
-0.04
-0.18
-0.33
000
0.02
0.57
0.53
0.38
-0.41
-0.22
-0.14
-0.89
γoct
1.65
1.09
1.47
0.83
0.98
0.57
0.81
0.72
0.32
0.55
0.86
0.91
εs
1.43
0.95
1.27
0.71
0.85
0.49
0.70
0.62
0.28
0.47
0.75
0.78
deformação em 2D e portanto deve ser
5. DISCUSSÃO
A Análise da Deformação sensu
empregado com cuidado.
Para a discussão dos resultados
strictu. O exame dos dados da razão axial
final da deformação (Rf), obtidas através
optou-se por utilizar, como referência, os
das médias geométricas (G), aritméticas
resultados obtidos pelo método Rf /φ e, para
(A) e harmônicas (H) (Tab. 1), confirmam
a magnitude da deformação em 2D, a
a
na
seção xz. Assim, assinala-se na tabela 2
literatura, de A > G > H. Entre as
uma forte variação na razão axial final da
relação
normalmente
descrita
diferentes médias observa-se uma variação
1.39
pequena dos valores.
Os dados obtidos pelos métodos Rf
/φ e Shimamoto e Ikeda (1976) também
variam muito pouco, entre si. No entanto, a
comparação entre os resultados das três
médias (Tab. 1) e aqueles obtidos pelos
métodos Rf /φ e Shimamoto e Ikeda (1976)
(Tabs. 2 e 3) revela uma diferença muito
grande. Lisle (1977) sugere que o cálculo
através
das
médias
geométricas,
aritméticas e harmônicas fornece apenas
uma
estimativa
deformação (Rxz) que varia em geral entre
da
magnitude
da
e
4.15,
com
uma
amostra
apresentando Rxz = 8.01 (amostra WP3).
As razões da deformação (Rsxz) oscilam
bem menos, observando-se para todos os
valores uma variação entre 1.60 e 3.40. A
amostra WP3 representa, juntamente com
aquelas de número WP21 e WP27, o
conjunto de amostras de razão axial mais
elevada do flanco leste do Sinclinal
Moeda, relativa à região sul do subdomínio III-2 (Fig. 3). Estes altos valores
se
refletem
também
nos
parâmetros
calculados em 3D.
15
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Os
deformacional
resultados
em
3D
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da
análise
parâmetro de forma de Lode ν (Hsu 1966)
são
melhor
e a deformação efetiva (εs) de Nadai
analisados através de sua representação
(1963) (Ramsay e Huber 1983).
nos diagramas de Flinn e de Hsu. O
Em ambos os diagramas (Figs. 4 e
primeiro relaciona as razões axiais dos três
5) nota-se uma relativa concentração de
eixos
valores
principais
do
elipsóide
de
de
acordo
com
o
domínio
deformação entre si, sendo assim possível
estrutural, o que se torna ainda mais
determinar a sua forma: prolata (1 < k <
evidente quando se divide o subdomínio
∞), oblata (0 < k < 1) ou de deformação
III-2 (Fig. 3), em um setor sul (a sudoeste
plana (k = 1). O segundo diagrama, o
do Complexo Metamórfico Bação) e outro,
Diagrama de Hsu, relaciona entre si o
norte (a oeste do complexo) (Tab. 6).
k=1
k=1
a
b
Figura 4 – A representação dos elipsóides de deformação no Diagrama de Flinn: a) através do método Rf /φ e b)
através do método Shimamoto e Ikeda (1976)
1.0
1.0
0.5
0.5
a
b
Figura 5 – A representação dos elipsóides de deformação no Diagrama de Hsu: a) através do método Rf /φ e b)
através do método Shimamoto e Ikeda (1976).
16
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Tabela 6 – Os elipsóides de deformação das amostras analisadas relacionados aos domínios estruturais, com
descrição da localização. SM = Sinclinal Moeda, CMB = Complexo Metamórfico Bação.
Amostras Tipo de Elipsóide
Domínio Estrutural
WP 3
Prolato Geral
Setor Sul – Subdomínio III.2
WP 21
Prolato Geral
Setor Sul – Subdomínio III.2
WP 27
Prolato Geral
Setor Sul – Subdomínio III.2
WP 36 Limite Prolato/Oblato Setor Norte – Subdomínio III.2
WP 37 Limite Oblato/Prolato Setor Norte – Subdomínio III.2
WP 45
Oblato Geral
Subdomínio III-1
WP 49
Oblato Geral
Subdomínio III.1
WP 51
Oblato Geral
Subdomínio III.1
WP 53
Prolato Geral
Subdomínio III.1
WP 54
Prolato Geral
Domínio I
WP 61
Prolato Geral
Domínio I
WP 93
Prolato Geral
Domínio I
Localização das amostras
Flanco leste do SM, a sudoeste do CMB
Flanco leste do SM, a sudoeste do CMB
Flanco leste do SM, a sudoeste do CMB
Flanco leste do SM, a oeste do CMB
Flanco leste do SM, a oeste do CMB
Flanco leste do SM, a oeste do CMB
Flanco leste do SM, a noroeste do CMB
Flanco leste do SM, a noroeste do CMB
Flanco leste do SM, a noroeste do CMB,
em uma zona de cisalhamento
Flanco oeste do SM, porção norte.
Flanco oeste do SM, porção
intermediária
Flanco oeste do SM, porção sul
O setor sul do subdomínio III-2
O subdomínio III-1, à noroeste do
revela elipsóides prolatos, subhorizontais
Complexo Metamórfico Bação (Fig. 3) do
(amostras WP3, WP21 e WP27; Figs. 4 e 5
qual é separado por uma larga faixa de
e Tab. 6) com o parâmetro k oscilando
rochas do Supergrupo Rio das Velhas,
entre 1.38 < k < 1.99 para o método Rf/φ.
caracteriza
A deformação efetiva (εs) apresenta, neste
subhorizontais (WP45, WP49 e WP51;
setor valores entre 0.95 < εs < 1.47 e o
Figs. 4 e 5 e Tab. 6) e, uma amostra, a
parâmetro de Lode (ν), valores entre –0.10
WP53, um elipsóide prolato. A forma
< ν < -0.24.
distinta da amostra WP53 pode estar
Elipsóides de deformação plana,
cujo eixo de maior estiramento também se
encontra
em
posição
subhorizontal
elipsóides
oblatos,
relacionada ao fato de que esta foi
coletada em uma zona de cisalhamento que
mostra indícios de reativação. Os valores
(amostras WP36 e WP37; Figs. 4 e 5 e
dos parâmetros k, εs e ν variam no
Tab. 6), foram encontrados no setor norte,
subdomínio III-1 entre 0.17 < k < 0.33,
do mesmo subdomínio. Considerando-se
0.36 < εs < 0.66 e 0.43 < ν < 0.61.
sempre o método Rf/φ, obteve-se 0.88 < k
< 1.03, 0.69 < εs < 0.79 e -0.01 < ν <
0.04.
No
flanco
oeste
do
Sinclinal
Moeda, no domínio I, no qual o eixo de
maior estiramento dos seixos se posiciona,
diferente do que no flanco leste, paralelo
17
Geo.br 1 (2001) 1-23
R.G. Silva, C.J.S. Gomes
ao
mergulho
determinados
da
foliação,
elipsóides
foram
prolatos.
Os
parâmetros k, εs e ν mostram os seguintes
ISSN1519-5708
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rochas muito mais antigas nas quais a
superposição a tramas pretéritas não é de
fácil compreensão.
valores: 1.35 < k < 14.63, 0.45 < εs < 0.76
e -0.12 < ν < -0.81.
A Análise de Deformação no
cenário estrutural da região centro-sul
Outros estudos de quantificação da
do Sinclinal Moeda.
O cálculo da
deformação têm sido desenvolvidos no
deformação no flanco leste do Sinclinal
Quadrilátero Ferrífero. Gomes (1991) e
Moeda mostra, de sul para norte (do setor
Corrêa Neto et al. (1997) desenvolveram o
sul do
cálculo da deformação utilizando os
setor norte do mesmo subdomínio até o
mesmos marcadores, microsseixos/clastos
subdomínio III-1), tanto uma mudança
de metaconglomerados quartzíticos,
no
progressiva da forma dos elipsóides, de
Grupo Itacolomi, domínio sudeste, e na
prolato para oblato, quanto um decréscimo
Formação Casa Forte, do Grupo Maquiné,
na magnitude da deformação. Estes fatos
domínio leste, respectivamente. Os valores
corroboram a proposta de Silva (1999),
da magnitude da deformação encontrados,
que descreve um evento deformacional
de 1.65 < Rxz < 3.62 e 0.30 < εs < 0.95, no
compressivo,
sudeste do Quadrilátero Ferrífero, e de Rxz
Complexo
até 25.50, na região leste, no domínio do
condições dúcteis-rúpteis, com polaridade
Sistema de Cisalhamento do Fundão, são,
tectônica de ESE para WNW. O processo
no entanto, de difícil comparação em
compressivo teria sido acomodado por um
função
escape
das
particularidades
subdomínio III-2, passando pelo
pela
movimentação
Metamórfico
lateral
de
Bação,
massas
do
em
rochosas,
tectônicas/estruturais de cada área. Da
incompetentes, do Supergrupo Rio das
mesma forma, a correlação com os
Velhas, aprisionadas entre os quartzitos da
resultados obtidos por Gomes (1993) e
Formação Moeda (a oeste) e as rochas do
Gomes e Baptista (1994), nas rochas
Complexo Metamórfico Bação (a leste).
arqueanas
e
No setor sul do subdomínio III-2, a análise
leste/nordeste do Complexo Metamórfico
cinemática aponta para um movimento
Bação (3.01 < Rxz < 17.36; 0.89 < εs < 2.02
dextral superposto por outro, sinistral, que,
e 2.02 < Rxz < 4.58; 0.51 < εs < 1.08,
segundo o autor, resultaria do escape
da
borda
oeste/noroeste
respectivamente) é complicada, e, neste
caso, especialmente difícil, por se tratar de
lateral de massas e retorno do fluxo em
função da reduzida espessura das rochas do
Supergrupo
Rio
das
Velhas
(menos
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R.G. Silva, C.J.S. Gomes
ISSN1519-5708
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competentes), que acunham e desaparecem
unidades das rochas que constituem o
para leste. A superposição da deformação
Sinclinal Moeda, através do método de Fry
pode ter causado a elevada magnitude da
(1979). Desconsiderando-se as zonas de
deformação
nos
cisalhamento no contato supracrustais/
da
embasamento em ambos os flancos do
Formação Moeda, na zona de contato entre
sinclinal, nas quais a magnitude da
ambos os litotipos. Além disto, é possível
deformação é naturalmente mais elevada,
que a forma oblata dos elipsóides, no sub-
os autores encontraram, ao contrário dos
domínio III-1 resulte do escape lateral de
valores aqui apresentados, razões axiais
massas
registrada
seixos/microsseixos
dos
quartzitos
um
campo
Rxz levemente mais altas na borda oeste
aproximadamente
frontal
(2.40 e 3.60 contra 1.90, 2.30 e 2.66 em
(evento compressivo com vergência para
presente trabalho, domínio I) do que na
WNW).
da
borda leste (2.20 e 2.30 contra 2.65 e 3.07
deformação, neste domínio, se deve à
subdomínio III-2, norte). Hippertt e Davis
maior espessura das rochas do Supergrupo
(2000) justificam a menor magnitude da
Rio
deformação no flanco leste do Sinclinal da
rochosos
compressivo
A
das
baixa
Velhas,
em
magnitude
que
conduziu
à
acomodação de parte da deformação no
Moeda
pela
seu interior.
deformações
superposição
de
de
componentes
duas
de
A deformação registrada no flanco
cisalhamento simples opostas, no domínio
oeste do Sinclinal Moeda (caracterizado
do flanco inverso. Neste domínio, a
por elipsóides prolatos e uma magnitude da
deformação resultaria da subtração do
deformação
é
cisalhamento simples sinistral, mais novo,
atribuída por Silva (1999), que se apóia em
relacionado ao movimento do Complexo
uma cuidadosa análise cinemática, ao
Metamórfico Bação no sentido oeste, do
escape vertical de massas rochosas que
mais antigo, dextral, este causado pelo
teria
desenvolvimento do sinclinal através do
relativamente
ocorrido
na
calha
baixa)
sinformal,
concomitante ao escape lateral a leste,
processo de deslizamento flexural.
também em decorrência ao confinamento
A diferença nos valores absolutos
causado pela movimentação do Complexo
da magnitude da deformação encontrado
Metamórfico Bação.
nos dois estudos é sutil e pode ser atribuída
Hippertt e Davis (2000) efetuaram
ao
estudo
em
empregadas e/ou aos distintos métodos de
porfiroclastos de quartzo nas principais
cálculo. Entretanto, a amostragem efetuada
um
da
deformação
reduzido
número
de
amostras
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R.G. Silva, C.J.S. Gomes
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em presente estudo, em todo o entorno
geométrica e cinemática desta hipótese. A
oeste do Complexo Metamórfico Bação,
deformação por transpressão das rochas da
traz um número maior e complementar de
base das seqüências supracrustais, também
dados.
as
reconhecida no levantamento estrutural
da
qualitativo, foi corroborada em presente
magnitude da deformação ao longo de todo
estudo através da análise quantitativa da
flanco leste estudado assim como as
deformação.
Assim,
informações
são
significativas
relativas
à
variação
mudanças nas formas dos elipsóides. Estes
A posição subhorizontal dos seixos
dados associados à análise cinemática
de quartzito no flano leste do Sinclinal
efetuada por Silva (1999) na região,
Moeda combinada aos fatores, (i) variação
apontam claramente para um escape lateral
de forma, de prolato no domínio sudoeste a
de massas, com ou sem subtração (ou
oblato na região noroeste, e (ii) magnitude
adição) da magnitude de deformação, esta
de deformação decrescente no mesmo
de difícil avaliação.
sentido, balizam a proposta do transporte
tectônico
Bação,
6. CONCLUSÕES
Os
deformação
resultados
na
do
porção
do
de
Complexo
ESE
para
Metamórfico
WNW,
com
cálculo
da
características transpressivas. Sugere-se
centro-sul
do
que a região noroeste (subdomínio III-1),
Sinclinal Moeda confirmam a proposta de
na
Silva (1999) de que o fator principal para a
deformação por achatamento (0.17 < k <
geometria curva do flanco leste do
0.33), represente o domínio frontal, de
Sinclinal Moeda estaria relacionado ao
antepaís,
evento
Bação. O domínio sudoeste (subdomínio
compressivo
brasiliano,
com
qual
os
do
sofreram
Complexo
Metamórfico
III-2,
Metamórfico Bação (como elemento rígido
prolatos (1.38 < k < 1.99), indica
e anisotrópico), causando deslocamentos
preferencialmente um movimento lateral e
reversos
e
a porção oeste (subdomínio III-2, norte),
transpressivos (um escape lateral) de
representada por seixos tanto prolatos
massas rochosas. Para a interpretação do
quanto oblatos (0.88 < k < 1.03), uma zona
escape vertical das rochas do Supergrupo
de transição. A magnitude de deformação
Minas, o autor se balizou na análise
menor na região frontal (subdomínio III-1)
cinemática da área
(0.36 < εs < 0.66 ) do que na lateral (0.95 <
escape
vertical)
e em experimentos
caracterizado
uma
movimentação horizontal do Complexo
(um
sul),
seixos
por
seixos
físicos que demonstraram a viabilidade
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R.G. Silva, C.J.S. Gomes
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εs < 1.47 ) e de transição (0.69 < εs < 0.79)
críticas construtivas, contribuíram para a
é relacionada à forma de ocorrência das
melhor apresentação do artigo.
rochas do Supergrupo Rio das Velhas entre
o embasamento e as rochas do Supergrupo
Minas, mais espessas a noroeste do que a
sudoeste. Na porção mais espessa as
rochas incompetentes do Supergrupo Rio
das
Velhas
acomodaram
parte
da
deformação.
No flanco oeste do Sinclinal Moeda
(domínio I) onde o eixo maior dos seixos
prolatos (1.35 < k < 14.63), se posiciona
próximo à linha de máxima declividade da
foliação e é paralelo ao estiramento dos
cristais
de
quartzo
do
embasamento
adjacente, confirma-se a proposição do
escape vertical de massas rochosas do
Supergrupo Minas. Estas rochas foram
submetidas durante a inversão tectônica a
uma deformação do tipo compressão pura
cuja magnitude foi dissipada pela longa
distância entre o flanco oeste e o
Complexo Metamórfico Bação (0.45 < εs
< 0.76).
Agradecimentos
Os
autores
expressam
os
seus
agradecimentos à FAPEMIG, pelo auxílio
financeiro (processo CEX 1279/97) que
tornou possível a realização deste trabalho,
e, aos revisores anônimos que, através de
Referências
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