Armando tivane:
Um herói desta Pátria de Heróis
Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de
Moçambique, nas celebrações dos 40 anos do desaparecimento físico do Herói Nacional
Armando Tivane.
Maqueze, 1 de Setembro de 2013
As nossas primeiras palavras são de saudação a todos quantos se
dignaram honrar este dia com a sua presença amiga. De longe e de
perto, para aqui em Maqueze, este acolhedor e pitoresco torrão do
nosso belo Moçambique, convergimos com o objectivo de nos
curvarmos perante a vida e obra de Armando Tivane:
v um dos combatentes da Luta de Libertação Nacional;
v um dos obreiros da nossa nacionalidade;
v um dos heróis nesta Pátria de Heróis.
Endereçamos uma saudação especial à população de Maqueze, de
Chibuto e de Gaza, nossos anfitriões, pelo trabalho preparatório que
realizaram para que esta cerimónia decorresse num ambiente que
dignifica o legado de Armando Tivane, seu querido filho, valoroso
filho que a nossa Pátria Amada gerou.
Compatriotas,
Em finais de Janeiro deste ano Maqueze, Chibuto e grandes
extensões de outras regiões da Província de Gaza sofreram os
efeitos das cheias que se saldaram:
v em vítimas humanas a lamentar e em compatriotas nossos
desalojados;
v saldaram-se ainda em culturas perdidas e em muitos bens
arrastados pelas águas, incluindo gado e nós sabemos o quão
precioso é o gado aqui em Maqueze, aqui no Chibuto, aqui em
Gaza;
1 v saldaram-se também em estradas cortadas, pontes destruídas
e em outras infra-estruturas arrasadas pelas águas.
Os sinais desta destruição são ainda visíveis e o seu impacto sentido
pela nossa população.
Porém, aqui no Chibuto orgulham-se de dizer que quando caiem,
soerguem-se, diríamos hoje, antes do bipeiro desligar o celular. Por
isso, graças ao vosso sentido de auto-estima não se resignaram
perante
tantas
perdas
e
dor.
Estão
a
soerguer-se
muito
rapidamente!
Este é também o espírito que encontramos nos homens e nas
mulheres de Gaza e de todo o nosso Moçambique. Muito, muito
obrigado
Gaza
por
mais
estas
lições
de
auto-estima,
de
determinação e de perseverança na luta contra a pobreza.
Compatriotas,
Viemos celebrar a vida e obra de Armando Tivane na sua terra
natal, facto que sublinha que os nossos heróis e as pessoas notáveis
deste nosso belo Moçambique não nascem como estrelas, não
nascem famosas.
Fazem-se heróis, pessoas famosas e de referência:
v quando dão significado especial à sua vida;
v quando interpretam e se apropriam da agenda de cada etapa
do nosso Povo; e
2 v quando dão uma contribuição de reconhecido valor e mérito à
sua Pátria, ao nosso Moçambique.
No meio de tantos desafios que tinham força suficiente para lançá-lo
para o anonimato, Armando Tivane soube dar rumo certo à sua vida,
definindo o seu papel na História de Moçambique para, assim,
transformar esses desafios em oportunidades que iluminariam o seu
caminho para integrar o panteão dos nossos heróis.
Aqui em Maqueze Armando Tivane foi integrado no sistema dos
valores milenares da sua comunidade, através da educação
tradicional:
v uma educação virada para o saber fazer, vendo como se faz e
fazendo;
v uma educação virada para formar o homem para saber ser e
estar na sociedade;
v uma educação virada para incutir valores sobre a forma como
os homens e as mulheres se devem relacionar
e relacionar-se com as instituições e a natureza.
Ele foi integrado neste sistema de valores através, por exemplo:
v da participação nas actividades culturais e recreativas;
v da prática da pastorícia e da agricultura de subsistência; bem
como
v através da participação em ritos e cerimónias da sua família e
da sua comunidade.
Por causa das barreiras impostas pelo regime colonial português,
Armando Tivane não tinha uma escola perto, por isso, frequentar
3 uma
instituição
de
ensino
estava
muito
longe
das
suas
possibilidades, dos seus horizontes.
Quando emigrou para os centros urbanos como Chibuto e Maputo e,
mais tarde, para as minas da África do Sul, Armando Tivane não só
procurava novos meios de sustento como também ensaiava formas
de dar um outro rumo à sua vida, despertando, no processo, para os
múltiplos métodos, insidiosos e abertos, de exploração e de
dominação
dos
moçambicanos.
Neste
despertar
vai
também
consolidando a sua consciência nacionalista.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Não
há
palavras,
actos
ou
homenagens
que
esgotem
o
reconhecimento da exemplar vida e obra do Herói Nacional
Armando Tivane.
Esta é uma vida cheia de lições para todos nós, é uma verdadeira
escola para a presente e para as futuras gerações.
Para além de um grande promotor da cultura, cujos fundamentos
adquiriu aqui em Maqueze, Armando Tivane veio a revelar-se um
grande Comissário Político, durante a Luta de Libertação Nacional.
Nesta qualidade tinha a missão:
v de dar moral aos guerrilheiros
para vencerem as dificuldades e ganharem forças para
vencerem o inimigo que nos combatia de armas na mão;
v Ele devia ainda explicar à população as razões que nos tinham
levado
4 a pegar em armas para uma luta que estava concebida para ser
prolongada porque o inimigo não aceitava entregar-nos a nossa
independência e nós não desistiríamos até conquistá-la;
v Ele devia também mobilizar a população para:
o produzir;
o transportar o material de guerra; e
o apoiar a guerrilha de várias formas.
Armando Tivane veio a revelar as suas qualidades de nacionalista,
de guerrilheiro e, sobretudo, de Comissário Político, na Frente de
Tete. Nessa altura estava em construção a Barragem de Cahora
Bassa.
As águas da albufeira desta barragem seriam usadas como uma
barreira para impedir o avanço da Luta de Libertação Nacional, para
o que na altura se chamava de Província de Manica e Sofala. Esta
albufeira tem cerca de 270 quilométros de comprimento, portanto,
daqui de Maqueze até mais ou menos Boane, na Província de
Maputo, ou daqui de Maqueze até Machaíla, em linha recta. A
distância de uma margem dessa albufeira para a outra é de cerca de
30 quilómetros, portanto, daqui de Maqueze a Nalazi ou daqui de
Maqueze a Fumane, em linha recta. Desta forma, esta barragem
estava concebida para ser uma barreira difícil de transpôr pelos
guerrilheiros. Para além disso, a implantação de um colonato, como
aquele que tinha sido implantado aqui perto, no Chókwè, serviria de
uma outra barreira ao avanço da nossa guerrilha.
Como complemento a estas barreiras, o sistema de administração
estrangeira concentrou muitas tropas e muito equipamento militar
em diferentes pontos de Tete e do Vale do Zambeze.
5 Todavia, os nossos guerrilheiros, sob o comando de compatriotas de
fibra como Armando Tivane empenharam-se para frustrar estes
planos
coloniais.
Eles
vinham
de
diferentes
províncias
de
Moçambique e estavam unidos por uma causa justa e nobre, a causa
da libertação nacional.
Por isso, sempre dizemos que como moçambicanos devemos
preservar e valorizar a Unidade Nacional porque nós moçambicanos,
de diferentes espaços geográficos deste nosso belo Moçambique
libertámos juntos os diferentes espaços geográficos deste nosso belo
Moçambique. É neste contexto que não se compreenderia que hoje,
depois de termos lutado juntos para nos libertarmos da dominação
estrangeira, hostilizássemos os nossos irmãos moçambicanos só
porque não nasceram ali onde vivem ou trabalham ou porque não
falam a língua nacional dominante nesse local. A palavra Unidade
Nacional tem sido fundamental desde que decidimos viver como um
Povo que vê na sua diversidade cultural, artística e linguística
riqueza e fonte de orgulho.
Foi graças ao sentido de Unidade Nacional de homens e mulheres de
valor como Armando Tivane, que colocámos, em Tete, os
portugueses em estado de aflição ao ponto de serem forçados a
convidar os rodesianos, ao serviço do regime de Ian Smith, para
apoiá-los na luta contra a guerrilha da FRELIMO.
Armando Tivane não se intimidou com a chegada desses reforços e
manteve-se:
v fiel aos ideais do nosso Povo;
v firme no cumprimento da sua missão; e
6 v convicto de que a vitória final seria para os moçambicanos.
Em Setembro de 1973 perde a sua preciosa vida, ao cair numa
emboscada dos rodesianos quando realizava uma missão de
reconhecimento em preparação de mais um combate.
Tinha 36 anos de idade! Trinta e seis anos de vida!
A presença dos rodesianos no teatro das operações demonstrava
que não lutávamos apenas contra o colonialismo português.
Demonstrava que lutávamos contra regimes que insistiam que
Moçambique, África do Sul, Rodésia do Sul, hoje Zimbabwe, Namíbia
e Angola deviam ser dirigidos por eles, racistas e opressores dos
nossos povos.
Contudo, tentar impedir a vontade de um povo é como tentar travar
o vento com as próprias mãos e, por isso, a vontade desses racistas
e opressores não teve sucesso. Armando Tivane teve a oportunidade
de celebrar connosco a abertura da Frente de Manica e Sofala, em
Julho de 1972, um marco importante na nossa marcha imparável
rumo a um Moçambique livre e independente.
Porém,
não
testemunharia,
em
vida,
a
proclamação
dessa
Independência Nacional porque consentira tantos sacrifícios que
culminariam com o derramamento do seu precioso sangue.
Compatriotas,
A melhor homenagem que podemos prestar ao Herói Nacional,
Armando Tivane:
v passa pela valorização da nossa auto-estima, da Unidade
Nacional e da nossa irrepetível Independência;
7 v passa
igualmente
pela
nossa
continuada
entrega
na
implementação da nossa Agenda Nacional de Luta contra a
Pobreza;
v passa ainda pela consolidação da Paz, para que continuemos a
registar mais conquistas
na luta contra esse flagelo da pobreza;
v passa, enfim, pelo reforço do Estado do Direito, diversificação
dos canais de diálogo e pelo respeito das instituições legítimas
e legitimadas por processos democráticos, factores que
enriquecem a referência maior na Nação Moçambicana: a
nossa Constituição.
v Memória inesquecível de Armando Tivane hoye!
v Unidade Nacional hoye!
v Povo Moçambicano unido do Rovuma ao Maputo hoye!
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Leia na íntegra o discurso do Chefe de Estado