Jornal dos Empregados do itaú Unibanco | Sindicato dos BancÁrios e FinanciÁrios de SÃo Paulo, Osasco e regiÃo | CUT | dezembro de 2011
Uma carta
do além
Às vésperas do Natal, entre anjos, harpas e clarins,
um banqueiro “aposentado” e arrependido
resolve escrever uma carta para seu filho
Meu querido filho,
Desde que me aconcheguei por
aqui no conforto celestial, tendo nuvens como descanso dos pés e ladeado de anjos que tocam suavemente
suas harpas e clarins, tenho pensado
muito em lhe escrever. Os sinos natalinos me encorajaram e, daqui onde
estou, posso lhe falar com clareza sobre o propósito da vida. Sei que você
é um executivo muito importante e
ocupado, mas tenho certeza de que
terá um tempo para seu velho pai.
Você bem sabe que ainda quando
estava com vocês eu já falava para todos sobre meu orgulho de te ver assumir a presidência do nosso empreendimento e logo em seguida o banco crescer tanto, vindo a tornar-se o
maior banco privado da América do
Sul. Você ficou com fama de Midas,
onde coloca a mão vira ouro e o banco ganha dinheiro e fama. Parabéns
mais uma vez.
Porém, desde o início eu recomendei a você que tratasse os funcionários
com respeito. Durante toda minha
vida no banco os nossos trabalhadores tiveram orgulho de trabalhar conosco. Por isso preciso fazer algumas
observações.
Daqui tenho visto e ouvido muitos
funcionários reclamando que o banco virou capitanias hereditárias, onde
cada diretor vice-presidente faz o que
quer. Demite, terceiriza e até economiza no papel higiênico em nome
dos custos. Sem contar no desrespeito para com aqueles que nos ajudaram a construir esse patrimônio. Por
formação, os funcionários, para mim,
sempre foram colegas de trabalho e
de vida. Tanto foi assim que criei uma
festa para homenagear os colegas que
completam 30 anos de trabalho conosco. Ficava orgulhoso com essas
pessoas que compartilharam suas
vidas com a gente. Uma demonstração de confiança que não pode ser
medida.
Hoje percebo que esses são pobres
sobreviventes. E são poucos. Quantas pessoas que sonhavam em fazer
carreira no banco estão saindo desgastadas, doentes ou mesmo sendo
colocadas para fora por esses gestores
em que você tem confiado. Assim não
é possível manter o brilho nos olhos.
Nosso banco nem parece mais o mesmo, aliás parecem dois bancos dentro
do mesmo.
Quando eu estava ainda aí, no “andar debaixo”, costumava visitar nossas agências e departamentos. Conversava com as pessoas e tomava as
decisões mais importantes. Mas vejo
que tudo isso mudou muito, principalmente após a fusão. Até mesmo
de denúncias às entidades internacionais, devido às más condições de
trabalho e demissões, eu tenho ouvido falar.
Filho, eu tenho muito orgulho e algumas dúvidas sobre os prêmios que
você tem conquistado. Mas quero que
você reflita: vale a pena esse custo?
Vale à pena tantas demissões e tanto
assédio moral em nossas agências e
departamentos em nome do mercado
e do índice de eficiência? Tantas reclamações por conta do atendimento
deficiente, das demoras nas filas?
Não deixe a ganância e a ambição
assumirem o controle de sua vida.
Sempre que estiver em dúvida saiba
que estou por aqui, pronto a te ajudar.
De seu querido pai.
2•
• dezembro de 2011
São Pil antra
Feliz Natal para quem?
Ano foi generoso para o banco e cruel com bancários que sofreram com demissões e assédios
Faltam poucos dias para a edição 2011 da tradicional corrida do “São Pilantra”, evento
em que os principais “vilões”
do ano são lembrados durante
um ato lúdico, promovido
pelo Sindicato desde 1998,
parodiando a São Silvestre. A
corrida acontece no dia 28 de
dezembro, na Avenida Paulista,
e o que não faltam são candidatos para essa lista.
Os bancos correm como favoritos e, entre eles, o Itaú
Unibanco com sua política de
demissões.
regularidades e fechando locais em
obras.
Outro problema foi a decisão da
diretoria de abolir a segunda via da
bobina de caixa, medida que tem
trazido transtornos para quem apresenta diferenças de caixa no final do
expediente.
Pressão e demissões – Mas nada se
comparou às condições de trabalho.
Com poucos trabalhadores e muita demanda, os bancários sofreram
pressões de todos os lados. Devido
à falta de funcionários, os gerentes
operacionais são obrigados a abrir o
caixa, sobrepondo uma função que
não é deles. Já os caixas não conseguem nem fazer o intervalo de descanso a que têm direito.
A tensão é maior ainda já que o
banco adotou uma política de demissões de funcionários mais antigos, substituindo-os por trabalhadores com salários inferiores. Iniciou
terceirizações em algumas áreas, demitindo vários colegas e em nome
mauricio morais
A se pensar pelo tilintar das moedas que caíram no cofre do Itaú Unibanco, o ano de 2011 foi memorável.
Nos três primeiros trimestres lucrou
R$ 10,9 bilhões, recorde na história
do sistema financeiro nacional. Além
disso, consolidou seu processo de internacionalização e atualmente está
presente em países como Argentina,
Chile, Uruguai, Portugal, Inglaterra,
Estados Unidos, Japão e China, tornando-se o maior banco do hemisfério sul. Comemorou também o
(duvidoso e contestado) prêmio de
“banco mais sustentável do mundo”
do jornal Financial Times, recebido
em junho.
Porém, o que se viu nesse ano foi
truculência e desrespeito com os
trabalhadores. A começar pelas muitas reformas realizadas em agências
obrigando funcionários e clientes a
conviverem com barulho, pó, cheiro
forte de produtos químicos e fiação
elétrica exposta. Mobilizados, os trabalhadores intervieram em diversas
dessas agências, denunciando as ir-
Ato na av. Paulista em julho contra demissões
da reestruturação e da redução dos
custos promoveu demissões nas áreas de tecnologia da informação, jurídico, crédito consignado, imobiliário,
entre outras.
Um dos mais emblemáticos casos ocorreu no edifício Patriarca, no
centro da capital, quando de uma só
vez 62 demissões foram feitas pela
empresa, atingindo trabalhadores da
Unidade de Suporte Jurídico, inclusi-
ve pessoas com deficiência.
Gerou ainda revolta a afirmação
“A meritocracia é o único critério
de seleção e a base para a excelência
na gestão de pessoas”, dita pelo presidente do Conselho de Administração do Itaú, Pedro Moreira Salles.
Que meritocracia é essa que atinge
funcionários com larga experiência,
próximos a se aposentar e com boas
avaliações?
Em 2012 os desafios permanecem
Mobilização deve continuar para garantir melhores condições de trabalho e o fim das demissões
[email protected] • Editado
pela Secretaria de Imprensa do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco
e Região-CUT • Presidenta: Juvandia
Moreira • Diretor de Imprensa: Ernesto Shuji Izumi • Diretores responsáveis:
Adriana Oliveira Magalhães, Aladim
Takeyoshi Iastani, Ana Tércia Sanches,
André Luis Rodrigues, Antônio Alves
de Souza, Antônio Inácio Pereira Junior,
Carlos Miguel B. Damarindo, Clarice
Torquato Gomes da Silva, Daniel Santos Reis, Ivone Maria da Silva, José do
Egito Sombra, Julio Cesar Silva Santos,
Manoel Elídio Rosa, Márcia do Carmo
Nascimento Basqueira, Maria Cristina
Castro, Maria Helena Francisco, Marta
Soares dos Santos, Mauro Gomes, Nelson Ezídio Bião da Silva, Rogério Castro
Sampaio, Sérgio Francisco, Onísio Paulo
Machado, Aline Molina (Fetec-CUT),
Andréia Aniela (Fetec-CUT), Érica Godoy
(Fetec-SP/CUT), Paulo A. Silva (FetecCUT), Antonio Soares (Fetec-SP/CUT),
Jair Alves dos Santos (Fetec-SP/CUT),
Valeska Pincovai (Fetec-SP/CUT), Sérgio
Luis Lopes (Fetec-SP/CUT), Valter Madalena (Fetec-SP/CUT), Andréia Barcelos
(Fetec-SP/CUT) • Correspondência: Rua
São Bento, 413, 2º andar, Subsecretaria de Bancos • CEP 01011-100 • Tel.
3188-5200, fax 3104-3354 • Produção
gráfica: Thiago Meceguel • Impresso
na Bangraf 011 2940-6400.
Os bancários do Itaú Unibanco
possuem uma série de desafios pela
frente. A aurora do ano novo deve
também reunir muita mobilização
contra as práticas adotadas pela instituição financeira. A mais urgente
é a luta pela proteção do emprego e
por melhores condições de trabalho.
O Sindicato realizará novos protestos
durante 2012, inclusive com campanhas junto à sociedade para mostrar
a verdadeira face do Itaú, que vem
demitindo trabalhadores com longo
tempo de casa e prestes a se aposen-
tar, e terceirizando setores apenas para
economizar com mão de obra.
O Sindicato cobra também transparência no Programa de Cargos e
Salários (PCS) e eficácia ao Plano de
Oportunidade de Carreira (POC),
que serve para realocar os trabalhadores. Em alguns casos, o gestor
comunica seu subordinado que ele
tem um mês ou até mesmo uma
semana para procurar uma outra
área para trabalhar. Mesmo com vagas disponíveis, os funcionários não
conseguem viabilizar o processo de
realocação e acabam demitidos. Há
ainda a política de objetivos Agir na
qual os critérios mudam a cada instante e a quantidade de metas supera
o suportável pelos funcionários das
agências.
RH modelo? – Recentemente o Itaú
Unibanco foi premiado como uma
das “Empresas mais admiradas do
Brasil”. Coube a Zeca Rudge, vicepresidente de Recursos Humanos,
receber o prêmio. O Sindicato irá
cobrar que o banco aplique de fatos
boas práticas na gestão da empresa,
estabelecendo um diálogo social com
os representantes dos trabalhadores.
O RH não pode se limitar a administrar a folha de pagamento.
Outra ferramenta questionável é
o “Fale Francamente” por meio da
qual os funcionários relatam suas
opiniões sobre a gestão. O problema
desse recurso é que os trabalhadores
precisam se identificar com o CPF.
Só quem não conhece a vida dos
bancários pode afirmar que há contentamento nos locais de trabalho.
Sindicato denúncia Itaú à OCDE e ao CADE
Órgão internacional e nacional são notificados sobre as práticas abusivas da instituição financeira
O Sindicato entregou cartas à
Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) denunciando o Itaú Unibanco
por desrespeitar diretrizes para
empresas multinacionais e reduzir
postos de trabalho causando ma-
lefícios ao desenvolvimento econômico do país.
Para a OCDE, o Sindicato explicou que o banco demitiu milhares de trabalhadores entre
janeiro e novembro de 2011. “O
banco está promovendo um forte
processo de terceirização de suas
atividades, provocando demissões
e precarizando o trabalho bancário”, assinala Juvandia Moreira,
presidenta do Sindicato e quem
assina a carta.
Já para o Cade, o documento
afirma que “Os ‘investimentos’ em
fusões e aquisições, por sua vez,
representam apenas transferência
patrimonial entre agentes econô-
micos, com o objetivo de reduzir
custos. O Itaú Unibanco parece
levar ao pé da letra esta máxima e,
se dá em detrimento de seu principal patrimônio, que é seu corpo
de trabalhadores, responsáveis por
construir os excelentes indicadores econômicos apresentados pela
instituição financeira”.
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Itaunido dezembro - Sindicato dos Bancários