ALTERAÇÕES QUÍMICAS EM ÓLEOS DE FRITURA E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS À SAÚDE Eliana Rodrigues Machado – INCQS / FIOCRUZ 21 de julho de 2009 Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 1 Principais substâncias formadas na alteração do óleo durante a fritura Voláteis TERMO-OXIDAÇÃO Não Voláteis DG TG MG AGL Monómeros O OH O Dímeros Polímeros HIDRÓLISE O trans Gloria Márquez Ruiz ALTA TEMPERATURA Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 2 Principais fatores que influenciam a alteração Temperatura, oxigênio, luz, tempo; Relação S / V; Tipo de óleo/gordura; Tipo de fritura. Parâmetros recomendados por Legislações Internacionais e limites estabelecidos Compostos Polares (CP) – 24 a 27 % (25 %) Dímeros e polímeros (polímeros) – 10 e 16 % Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 3 Hidrólise total de triacilgliceróis 3 H 2O HO+ H O O H2CC-O-C-C (CH2) 6-CH2-CH=CH-(CH 2)7-CH3 C-(CH2)6-CH2-CH=CH-(CH2)7-CH3 3 HO ÁCIDO GRAXO O H2C-O-C C-O-C- (CH2) 6-CH2-CH=CH-(CH2)7-CH 3 + H O H2C-O-C C-O-C- (CH2) 6-CH2-CH=CH-(CH2)7-CH3 TRIACILGLICEROL H-C-OH H-C-OH H-C-OH H GLICEROL Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 4 Substâncias formadas na alteração do óleo durante a fritura Substâncias majoritárias: substâncias de oxidação Hidroperóxidos Aldeídos Compostos carbonílicos a, b - insaturados Epóxidos, álcoois e cetonas Dímeros e polímeros Substâncias minoritárias Isômeros trans Monômeros cíclicos Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 5 Mecanismo de auto - oxidação SUBSTÂNCIAS SECUNDÁRIAS O Oxidação O2 Cetonas O OOH Epóxidos Dímeros OH Hidroperóxidos O SUBSTÂNCIAS PRIMÁRIAS Hidróxidos O CHO + Aldeídos não voláteis Substâncias voláteis + Polímeros OHC Gloria Márquez Ruiz Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 6 Substâncias de oxidação não voláteis majoritárias Triacilgliceróis - monômeros oxidados OOH Dímeros Polímeros O O O O O OH O O CHO Gloria Márquez Ruiz Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 7 O Formação de epoxi e formação sugerida de ceto e hidroxi. H2C-O-C-R 1 O (VELASCO et al., 2004) O H2C-O-C-R 2 O C-C=C H2C-O-C-(CH2) 6-CH2-CH=CH-(CH2)7-CH3 O2 O . HO OOH H2C-O-C-(CH2) 6-CH-CH=CH-(CH2)7-CH3 -[H ] . O CH-C=C HIDROPERÓXIDO O . (CETO) . +[H ] + H2C-O-C-(CH2) 6-CH2-CH=CH-(CH2)7-CH3 OH C-C=C O ROH + H2C-O-C-(CH2) 6-CH-CH O (HIDROXI) CH-(CH2) 7-CH3 Monoepoxiácido (EPOXI) Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 8 Compostos de oxidação voláteis Aldeídos Hidrocarbonetos Cetonas Ácidos Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 9 Formação de aldeídos voláteis e não voláteis A ld e íd o s v o lá t e is A B A ld e íd o s n ã o v o lá t e is Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 10 Ácidos graxos trans Monômeros cíclicos Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 11 Teores de “Compostos Polares” e suas frações em diversos óleos de fritura Ó le o s d e F r itu r a E m g e r a l1 E m g e r a l1 E m g e r a l1 E m g e r a l1 E m g e r a l1 S o ja 2 1 8 0 ºC - 0 h S o ja 2 1 8 0 ºC -2 5 h S o ja 2 1 8 0 ºC -2 5 h P a lm a 2 1 8 0 ºC -0 h P a lm a 2 1 8 0 ºC -2 0 h P a lm a 2 1 8 0 ºC -2 5 h P a lm a 2 1 8 0 ºC -2 5 h C o m p o s to s P o la r e s 2 3 ,1 2 5 ,5 2 6 ,4 2 7 ,6 2 7 ,6 T r ia c ilg lic e r ó is M o n ô m e ro s P o lím e r o s O x id a d o s 1 3 ,2 6 ,8 1 3 ,7 8 ,8 1 4 ,4 6 ,4 1 7 ,4 7 ,2 1 0 ,9 9 ,4 DG3 2 ,5 2 ,6 5 ,0 2 ,3 6 ,2 AGL4 0 ,6 0 ,7 0 ,5 0 ,6 1 ,0 5 ,1 0 ,5 2 ,9 1 ,3 NM 5 2 0 ,8 1 1 ,5 6 ,8 2 ,0 NM 5 4 2 ,6 2 9 ,0 1 1 ,2 1 ,7 NM 5 6 ,1 0 ,4 0 ,7 4 ,6 NM 5 2 5 ,5 1 1 ,4 8 ,6 5 ,0 NM 5 3 4 ,8 1 7 ,8 1 1 ,4 5 ,3 NM 5 4 1 ,0 2 1 ,1 1 3 ,9 5 ,2 NM 5 1: Apresentação em evento de Márquez Ruiz, G., 2007; 2: Machado, E. R. et al., 2006; 3: Diacilgliceróis; 4: Ácidos graxos livres; 5: Não medido. Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 12 Hidrólise enzimática Gloria Márquez Ruiz Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 13 Lipólise de triacilglicerois oxidados TG Monômeros Ox. AG livres TG Monômeros Ox. TG Dímeros MG DG Lipase Pancreática TG Dímeros TG Polímeros Diglicerídoos TG Polímeros AG livres Márquez-Ruiz et al., Fat Sci. Technol. (1992), JAOCS (1998) Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 14 Digestão da gordura – Etapa inicial No alimento Depois da lipólise OH HOOC O HOOC OH O HOOC HOOC Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 15 Digestibilidade dos triacilgliceróis e ácidos graxos termo-oxidados no intestino delgado Monômeros oxidados Dímeros oxidados Dímeros C- C Polímeros 75 - 90 % 35 - 49 % 5 - 11 % 23 - 35 % Márquez-Ruiz et al., JAOCS (1992) Márquez-Ruiz and Dobarganes, J. Chromatog. B (1995) Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 16 Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 17 Efeitos à saúde de substâncias minoritárias Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 18 Ácidos graxos trans • Presentes em alimentos fritos, em óleos parcialmente hidrogenados e em óleos refinados. • Se detecta sua formação em fritura em pequenas quantidades. • Fatores de risco de enfermidades cardiovasculares. • Os efeitos fisiológicos diferem entre isômeros. Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 19 Monômeros cíclicos • Pequena quantidade e só em óleos ricos em AGPI • Acúmulo em tecidos cardíacos e hepáticos • Potencialmente tóxicos Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 20 Efeitos à saúde de substâncias majoritárias Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 21 Hidroperóxidos Tóxicos mediante administração intravenosa Efeitos in vitro: - Modificações do LDL. - Implicação nas 3 fases do proceso aterosclerótico. - Interações com DNA. - Estimulação da proliferação celular em células Caco-2. Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 22 Modificações do LDL As modificações oxidativas da LDL são determinantes no desenvolvimento da aterosclerose. (Curi et al., 2002; Judd et al., 2002; Lima et al., 2000). Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 23 Formação de hidroperóxidos in vivo No estômago: - A partir de lipídos insaturados da dieta - Presença de catalizadores de outros alimentos (Fe) - Presença de oxigênio - pH baixo No cólon: - A partir de lipídos da dieta - A partir de lipídos da membrana de células epiteliais - Presença de catalizadores de outros alimentos - Ação da microflora intestinal Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 24 Modificações de hidroperóxidos in vivo Os hidroperóxidos podem reducir-se a Álcoois (-OH) e Aldeídos (AD) em condições gástricas. Kanazawa & Ashida, BBA (1998) Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 25 Radicais livres implicados na carcinogênese Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 26 Aldeídos voláteis Elevada reatividade com proteínas e ácidos nucléicos in vitro: efeitos citotóxicos e mutagênicos 2-ALQUENAL Em óleos poli - insaturados 4-HIDROXI-2-ALQUENAL MALONDIALDEÍDO Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 27 Aldeídos voláteis Reação de malondialdeído com adenosina Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 28 Aldeídos voláteis Produto de reação de malondialdeído com cisteína Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 29 Aldeídos voláteis Estruturas de malondialdeído em soluções aquosas Presentes em pequeníssima quantidade e só em lípidos poli - insaturados Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 30 Aldeídos voláteis 4-hydroxy-2-trans-nonenal: associação com câncer, Alzheimer e esclerose 4-hydroxy-2-nonenal deoxyguanosine 4-hydroxy-2-nonenal Esterbauer et al., Free Rad. Biol. (1991) Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 31 Aldeídos não voláteis de cadeia curta CHO CHO HOOC HOOC CHO 8-oxo-C8:0 9-oxo-C9:0 ALDEHYDE - Implicações fisiológicas pouco estudadas - Presentes na dieta (0.09-0.16% em óleos de fritura no nível máximo de alteração recomendado para consumo humano) - 9-oxononanoato afeta o metabolismo hepático (diminui a síntese de novo de ácidos graxos e inativa enzimas hepáticas) Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 32 Epóxidos 9 C18:1 O 10 cis-9,10-ES HOOC O HOOC trans-9,10-ES 9 O 10 HOOC cis-9,10-EO O HOOC trans-9,10-EO C18:2 12 O 13 HOOC cis-12,13-EO O HOOC trans-12,13-EO Velasco et al., J. Agric. Food Chem (2004) - Abundantes em produtos fritos (0,9-1,5% no limite de compostos polares). - Elevada absorção em humanos. Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 33 Dados de toxicidade dos Epóxidos e Hidroxiácidos Monoepóxidos do ác. linoléico e seus metabólitos diós: processos patológicos no homem (KOSAKA et al., 2004; TOTANI, 2000), e citotoxicidade em sistema animal (MORAN et al., 2000) e em células Sf-21 (MITCHELL; MORAN; GRANT, 2002). Os ésteres metílicos de monoepóxidos de ácidos graxos de cadeia longa e seus metabólitos diós: potentes pró-toxinas em células Sf-21 (GREENE et al., 2000); Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 34 Formação de Epóxidos in vivo Cytochrome Epoxy hydrolase Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde Leukotoxina diol é associada a condições patológicas severas 35 Hidroxi C18:0 EpoxiC18:0 8 1 7 C21:0 2 3 CetoC18:0 4 5 6 20 25 30 35 min Picos: éster metílico do ácido heneicosanóico (C21:0), e dos grupos hidrogenados: monoepoxiácidos (Epoxi C18:0), monocetoácidos (Ceto C18:0) e monohidroxiácidos (Hidroxi C18:0). 1, trans-9,10-epoxiestearato de metila; 2, trans-12,13-epoxiestearato de metila; 3, cis-9,10-epoxiestearato de metila; 4, cis12,13-epoxiestearato de metila; 5, 9-cetoestearato de metila; 6, 13-cetoestearato de metila; 7, 9-hidroxiestearato de metila; 8, 13- hidroxiestearato de metila. Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 36 Compostos polares (g/100 g do óleo) e ésteres metílicos de monoepoxiácidos (E), monocetoácidos (C) e monohidroxiácidos (H) (mg/g do óleo), em gordura de soja parcialmente hidrogenada, óleo de soja e óleo de palma usados a 180º C por 25 h em experimentos de fritura descontínua de batatas. Compostos polares(%) 1ºexperimento 2ºexperimento 44,1 32,5 1ºexperimento 2ºexperimento 20,8 42,6 1ºexperimento 2ºexperimento 34,8 41,0 E C 1 1 (mg/gdeóleo) (mg/gdeóleo) Gorduravegetal 7,990,18 4,320,22 4,140,48 2,350,35 Óleodesoja 3,300,16 1,510,01 4,121,68 1,930,54 Óleodepalma 5,960,66 1,930,18 8,240,40 3,770,42 H 1 (mg/gdeóleo) 8,711,53 5,280,45 3,420,24 4,120,73 5,540,41 8,190,18 1: média de 2 determinações e desvio padrão. Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 37 Compostos polares (CP) (g/100 g do óleo); lipídios (g/100 g de batata frita) e ésteres metílicos de monoepoxiácidos (EPOXI), monocetoácidos (CETO) e monohidroxiácidos (HIDROXI) mg por 100 g de batatas fritas preparadas em gordura de soja parcialmente hidrogenada, óleo de soja e óleo de palma, usados a 180º C por 25 h em experimentos de fritura descont ínua de batatas. CP Lipídios1 EPOXI3 (g/100 g do óleo) (g/100 g de batata) (mg/100 g de batata) CETO3 HIDROXI3 (mg/100 g de batata) (mg/100 g de batata) Gordura vegetal 1º experimento 2º experimento 44,1 6,6 ± 1,3 52,73 28,51 57,49 32,5 6,62 27,32 15,51 34,85 Óleo de soja 1º experimento 2º experimento 20,8 8,2 ± 1,3 27,06 12,38 28,04 42,6 8,22 33,78 15,83 33,78 Óleo de palma 1º experimento 2º experimento 34,8 8,2 ± 0,9 48,87 15,83 45,43 41,0 8,22 67,57 30,91 67,16 Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 38 Caminhos do ácido trans -9,10 - epoxiesteárico (EPO) Músculo Estômago EPO EPO Absorvido Intestino delgado Sangue Tecido adiposo Não Absorvido Risco de câncer OH OH CH CH DIOL TÓXICO Fígado Intestino grosso O NAPH P 450 (H idrolases ) (METABOLISMO) CH CH EPO TÓXICO O ácido trans-9,10-epoxiesteárico (EPO) foi citotóxico, em células hepáticas de rato, na faixa de 15 a 125 µM de 20 a 100 % (Machado et al, 2007). O EPO foi genotóxico, em células hepáticas de rato, nas concentrações: 2,5; 10 e 20 µM em unidades arbitrárias (UA), respectivamente: 45, 59 e 57, no grau de dano = 3, UA do solvente: 9 (dados não publicados) (Machado et al, 2008). 39 Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde Em 100 g de batata frita, o teor do ácido trans epóxido esteárico: em óleo de palma (28 mg), em gordura de soja (18 mg) e em óleo de soja (4 mg). Estimativas do ácido cis epóxido esteárico em 100 g de batata frita em óleo de palma (14 mg), em gordura de soja (18 mg) e em óleo de soja (8 mg). FANKHAUSER-NOTI et al., 2006, óleo de soja epoxidado (OSE), aditivo para PVC: IDA de 1 mg / kg de peso OSE – 53 % de diepóxido do ácido linoléico 25 % de monoepóxido do ácido oléico (cis epóxido esteárico) 7 % de triepóxido do ácido linolênico Ácidos palmítico e esteárico Supondo a IDA do cis epóxido esteárico = 0,25 mg / kg de peso. Para criança (30 kg) = 7,5 mg e para adulto (60 kg) = 15 mg Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 40 Obrigada! e-mail: [email protected] Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde 41