RELAÇÕES INTERPESSOAIS: FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A
INFLUÊNCIA POSITIVA DO PROFESSOR SOBRE OS ALUNOS
Valdir Vicente Lago Steganello1
Maiane Bitencourt da Silva2
Mariza T.Philippsen3
Karin Antunes Dalla Pozza4
Resumo:
É objetivo desta pesquisa identificar os principais fatores que motivam os alunos a escolher
alguns de seus professores como referência a ser seguida por eles e, por efeito, a influenciar
positivamente a sua formação de educador. É o problema: quais os fatores que integram a
vida existencial e profissional do professor imprimindo peculiaridades no seu processo
pedagógico, o qual influencia positivamente à formação profissional de seus alunos? O
universo pesquisado foi os alunos concluintes do Curso Normal de um Instituto Estadual de
Educação e os respectivos professores. A coleta de dados foi feita através de dois
questionários, um, aplicado aos alunos, e o outro, aos professores escolhidos por esses alunos.
A análise dos resultados permitiu traçar um esboço do perfil do “bom professor”. As
manifestações dos alunos indicaram um profissional que busca relacionar-se com seus alunos,
dando a eles incentivo e criando um ambiente de amizade, amor, carinho; que usa o diálogo
para motivar e equacionar os possíveis conflitos; que é competente em termos de domínio dos
conteúdos e na forma pedagógica com que eles são trabalhados em aula. Os professores por
sua vez pontuaram que são realizados em sua profissão e em sua vida pessoal; que primam
pelos valores como o respeito, a amizade, a honestidade, a solidariedade; que dão significado
à família e à profissão; e que atribuem à escolha de seus nomes, pelos seus alunos, em razão
do amor, da amizade e do carinho demonstrados a eles, do respeito mútuo, da contribuição
acadêmica e da tentativa de compreender, de forma abrangente, a realidade vivenciada de
forma singular por seus alunos. Em síntese, o fator afetivo é indicado como de fundamental
relevância pelos educandos e pelos educadores. Contudo, é necessário o professor ter domínio
sobre o fator conteúdo e o apresente de maneira pedagógica; e mais, que ele seja
1
- Prof. Centro de Educação – UFSM, RS.
- Acadêmica do Curso de Pedagogia – UFSM, RS.
3
- Acadêmica do Curso de Pedagogia – UFSM, RS.
4
- Acadêmica do Curso de Pedagogia – UFSM, RS.
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conhecedor de fatores pessoais do aluno, a saber, seu interesse e sua capacidade e assim
formar um ambiente pedagógico com características adequadas ao ensino e à aprendizagem.
Palavras-chave: Relacionamento. Influência positiva. Ação pedagógica.
Esta pesquisa intitulada “Relações Interpessoais: fatores que contribuem para a
influência positiva do professor sobre os alunos”, tem como foco principal o campo dos
relacionamentos humanos estabelecidos em sala de aula e em toda a situação de aprendizagem
escolar, especificamente no que tange à influência positiva que o professor exerce sobre os
seus alunos. Objetiva analisar os motivos pelos quais alguns professores são escolhidos pelos
seus alunos como referência a sua formação de futuros educadores.
O problema a ser pesquisado é assim enunciado: quais os fatores que integram a vida
existencial e profissional do professor imprimindo peculiaridades no seu processo
pedagógico, o qual influencia positivamente à formação profissional de seus alunos? O
universo pesquisado foi os alunos do 3° ano, do Curso Normal do Instituto Estadual de
Educação Vicente Dutra, escola localizada no município de Júlio de Castilhos-RS e os
respectivos professores escolhidos por esses alunos. A coleta de dados foi realizada através de
dois questionários de perguntas abertas, diferenciando-se apenas nos aspectos específicos de
cada um dos grupos investigados (alunos e professores).
Serviu de base teórica para a análise dos dados o livro “O bom professor e sua prática”,
de Maria Isabel da Cunha. Objetivando, portanto, traçar o perfil do que é o “bom professor”,
foram elencadas algumas questões relativas ao pensamento dos discentes referente às
características atribuídas aos professores escolhidos, ao porquê de sua escolha, à vida no seu
dia-a-dia, levando-se em conta a sua vida pessoal no que tange às questões
predominantemente existenciais e a sua vida profissional, sob os aspectos do fazer
pedagógico. Em relação aos professores escolhidos, destacamos praticamente essas mesmas
questões, enfocando sobremaneira os seus entendimentos relativos aos aspectos existenciais e
profissionais, e as explicações dos motivos pelos quais eles foram escolhidos pelos seus
alunos.
Foi efetivada a análise dos dados, primeiro, referentes às manifestações dos alunos a
respeito de cada um dos professores escolhidos e segundo, referentes às manifestações de
cada um desses professores acerca de sua respectiva atuação profissional. Em razão de se
preservar a respectiva identidade e, sobretudo, para garantir a impessoalidade da pesquisa, os
nomes dos professores abaixo são fictícios.
3
Professor escolhido, Ataídes:
Manifestação dos alunos5:
Segundo os alunos, vários são os motivos da escolha do professor Ataídes:
a) pelo fato de ele estar sempre disponível a dar apoio e prestar solidariedade a eles,
principalmente nos momentos em que se encontram em dificuldade; porque sabe
confraternizar com a turma contagiando positivamente as pessoas que o cercam com sua
forma alegre de ser; e ainda porque ele é amigo, despertando confiança em seus alunos, os
quais se sentem como sendo eles prioridades no processo pedagógico. Em suas investigações
acerca do que é ser um bom professor, Cunha (1989) faz referência às expressões mais usadas
pelos alunos: “é amigo”, “compreensivo”, “é gente como a gente”, “se preocupa conosco”, “é
disponível mesmo fora da sala de aula...” (p. 69);
b) porque as características pessoais estão relacionadas ao fato de ele ser uma pessoa
alegre e muito inteligente;
c) em razão de esse professor expressar que é uma pessoa que “está de bem com a vida”
dando, por efeito, significado a tudo o que faz. Nessa perspectiva, Cunha afirma que “um
último aspecto a considerar na fala dos respondentes é o valor que eles dão ao prazer de
aprender, algo que poderia traduzir como um clima positivo em sala de aula. O ‘senso de
humor do professor’, ‘o gosto de ensinar’, ‘o tornar a aula agradável, interessante’ são
aspectos que eles apontam como fundamentais” (Idem., p. 72);
d) pelo fato de os alunos sentirem-se amados por esse professor. Este tributo é uma
constante em suas manifestações, pois sempre que necessário ele expressava seu carinho e
amor por eles. Nesse sentido, Cunha destaca “...quando os alunos verbalizam o porquê da
escolha do professor, enfatizam os aspectos afetivos” (Ibid., p. 69);
e) porque a solução de possíveis conflitos sempre ocorre através do diálogo entre as
respectivas pessoas envolvidas, pois “parece conseqüência natural, para o professor que tem
boa relação com os alunos, preocupar-se com os métodos de aprendizagem e procurar formas
dialógicas de interação”, afirma Cunha (Ibid., p. 71);
5
- Para viabilizar a análise, optou-se por dividir em itens, os quais estão relacionados aos conteúdos de cada uma
das seis perguntas do questionário aplicado aos alunos.
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f) enfim, em virtude de esse professor ser lembrado pela forma carinhosa com que
conduzia as suas aulas e pela relevância da sua fala, em termos dos conteúdos acadêmicos e
em relação à totalidade do ser humano.
Manifestação do professor Ataídes6:
Este professor indica a família e as atividades profissionais como os principais fatores
que são significados fundamentais para sua vida. Porém, destaca a família como a base de
tudo, principalmente para o desempenho das atividades profissionais. Afirma: “entendo e
valorizo a vida e a profissão a partir da perspectiva que aprendi com meus pais, hoje eles
simbolizam amor eterno e saudade”. E ao verbalizar que “está de bem com a vida”, atribui a
razão deste êxito à família, a qual ele chama carinhosamente de ‘ninho’. Freqüentemente nos
relatos de experiências contidos nas investigações realizadas por Cunha, os professores por
ela questionados referiram-se à família como um ponto importante para sua formação. No
caso desse professor, ele se realiza na atividade profissional porque “... o sentido da vida é
explicado a partir da simbiose: emoção, razão e ações produtivas. Neste sentido considero
essencial que a auto-estima, as referências teóricas e as alternativas metodológicas assegurem
o desenvolvimento de uma aula interessante, formativa e articulada à formação profissional”.
Esse professor vislumbra a possibilidade de “formar professores reflexivos, comprometidos,
capazes de aliar a construção do conhecimento, o resgate de valores e a formação consciente
da cidadania”. Ele prioriza os valores fundamentais tais como: o respeito, a ética, a fidelidade,
a amizade, a relação harmoniosa com outras gerações. No seu trabalho de educador ele prima
pela valorização do aluno e busca aliar a construção do conhecimento com os valores
humanos e segundo ele próprio, este teria sido o motivo pelo qual foi um dos professores
escolhidos pelos alunos. Para os possíveis conflitos, no caso de ordem afetiva, são
equacionados através do diálogo; os de ordem intelectual, através de leitura e pesquisa; e os
de ordem material, através da racionalização de gastos. Segundo esse professor, as
dificuldades de ordem pedagógica são equacionadas através de muita leitura e pesquisa, “aliar
teoria, metodologia, práticas e atitudes humanas é vital”. Nessa perspectiva, Cunha afirma que
“a forma de ser do professor é um todo e depende, certamente, da cosmovisão que ele possui”
(Ibid., p. 70). O professor Ataídes cria situações em sala de aula para que seu aluno sinta-se
amado por ele, pois “o espaço-tempo da sala de aula, ‘laboratório’ de ensino aprendizagem é
6
- Embora a coleta de dados referentes aos professores escolhidos foi realizada através de um questionário com
perguntas, para a análise desses dados optou-se pela forma de texto.
5
algo do cotidiano, renovado em todos os momentos, orientar a aprendizagem é sempre algo
prazeroso, eterno e profícuo”. Para Cunha “...todo o conhecimento faz parte da produção
humana e por isso tem a ver com a vida e com a sociedade. Em qualquer área parece ser
possível haver esse tipo de relacionamento e parece que nada é mais significativo do que
partir da experiência do aluno para dar ancoragem ao conhecimento organizado” (Ibid., p.
142).
Professora escolhida, Elisângela:
Manifestação dos alunos:
Segundo os alunos, os motivos principais da escolha de seu nome dentre os educadores
que mais exercem influências positivas sobre eles são:
a) pelo fato de ela ser gentil, compreensiva e confiante. É valorizada por sua
disponibilidade, força e determinação, sem deixar de trazer desafios e cobrar de seus alunos
quando se faz necessário;
b) por ser gentil no relacionamento com os alunos e expressar muita convicção e
determinação em seus empreendimentos pedagógicos;
c) porque ela manifesta que “está de bem com a vida” pelo fato de abraçar a profissão
de educar com “unhas e dentes” e dedicar-se ao que faz com prazer e com amor;
d) em razão de criar, em sala de aula, um ambiente no qual o aluno sente-se amado por
ela. Essa realidade é uma constante no exercício de suas atividades profissionais, evidenciado,
sobretudo, pelas manifestações de afeto e carinho, e por considerar a situação individual dos
alunos;
e) pelo fato de ela incessantemente amenizar os possíveis conflitos através do diálogo e
como forma de aproximar-se dos alunos;
f) e, for fim, porque ela será lembrada, segundo seus alunos, por manifestar atitudes de
determinação e persistência em suas atividades, ensejando que todo ser humano é capaz de
alcançar seus objetivos por ser inteligente; que as coisas acontecem com determinado
significado e que a educação ainda é a solução para todos os problemas.
6
Manifestação da professora Elisângela:
As manifestações dessa professora indicam que ela se realiza na sua atividade
profissional por acreditar “no potencial do aluno, considerando como seres livres em
permanente crescimento, responsáveis por suas escolhas e capazes de expressarem-se de
forma autônoma”. Cunha, referindo-se às manifestações dos alunos, afirma que “Um
professor que acredita nas potencialidades do aluno, que está preocupado com sua
aprendizagem e com o seu nível de satisfação com a mesma, exerce práticas de sala de aula de
acordo com essa posição. E isto também está indicado na relação professor-aluno” (Ibid., p.
71). Ainda nessa mesma perspectiva este autor aponta para o fato de que todos os professores
foram unânimes em afirmar que gostam do que fazem, apreciam especialmente o contato com
os alunos e se estimulam com as respostas deles. No caso dessa professora, ela aproveita as
experiências negativas quando aluna e “procura fazer o contrário para que os alunos sintam-se
valorizados”. Nessa perspectiva, Cunha afirma que “É de sua história enquanto aluno, do
resultado da sua relação com ex-professores que os Bons Professores reconhecem ter maior
influência. Em muitos casos esta influência se manifesta na tentativa de repetir atitudes
consideradas positivas. Em outras, há o esforço de fazer exatamente o contrário do que faziam
ex-professores, considerados negativamente...” (Ibid., p. 159). Essa educadora vislumbra a
possibilidade de seu aluno buscar através da pesquisa e da leitura a tornar-se “um ser humano
mais sensível, crítico, capaz de interferir no mundo de forma criativa e harmoniosa”. Prioriza
os valores éticos e afetivos e entende que os motivos pelos quais foi uma das professoras
escolhidas estão relacionados com a sua forma espontânea, respeitosa e sincera e, sobretudo,
por contribuir satisfatoriamente na formação pessoal e profissional de seus alunos, fazendo
com que um se sinta amado em virtude de criar situações em que ocorra “o respeito pelo ser
humano, o acreditar nas potencialidades, o incentivar para o aprender fazendo e o orientar”.
Professora escolhida, Ivone:
Manifestação dos alunos:
Os motivos que levaram essa professora a ser escolhida pelos seus alunos foram:
a) porque incentiva o aluno a permanecer no curso, dando apoio nos momentos de
maior necessidade, contribuindo didaticamente no sentido de proporcionar a construção de
atividades pedagógicas em sala de aula. Segundo Cunha “a relação professor-aluno passa pelo
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trato do conteúdo de ensino. A forma como o professor se relaciona com a sua própria área de
conhecimento é fundamental, assim como sua percepção de ciência e de produção do
conhecimento” (Ibid., p. 71);
b) em razão de apresentar características pessoais que denotam ser pessoa amiga e ter
perseverança no que faz, primando o ser humano em suas atividades de educadora;
c) pelo fato de demonstrar que “está de bem com a vida” e, por efeito, manifestar alegria
no processo de ensinar, não permitindo, inclusive, que possíveis problemas pessoais se
sobreponham à alegria de ser educadora;
d) porque é uma constante em sua vida criar condições com as quais os alunos sintam-se
amados por ela, demonstrando seu bom humor, sua alegria e seu amor pelos alunos;
e) pelo fato de equacionar os possíveis conflitos de forma agradável e democrática,
através do envolvimento de todos no debate, para que estes sejam amenizados;
f) por fim, porque ela será sempre lembrada pela sua alegria, pelo seu modo agradável
de ensinar, pela sua disposição de ajudar os alunos, principalmente pelo amor demonstrado a
eles, e que a aprendizagem e o afeto devem caminhar lado a lado.
Manifestação da professora Ivone:
Para essa professora toda situação de desafio lhe desperta interesse e atenção; e a sala de
aula é uma dessas realidades. Considera-se realizada na sua profissão porque a vê como uma
vocação. “Tudo o que faço deve ser bem feito”, afirma. A sua percepção sobre os fatores que
mais contribuem para que ela esteja de “bem com a vida” estão relacionados à vontade de
vencer, à escolha da profissão, ao fato de estar de bem com as pessoas com quem convive e
de fazer boas leituras. Deseja que seus alunos tenham conhecimentos que proporcionem o
desenvolvimento do raciocínio de maneira autônoma e que construam valores fundamentais
que efetivamente sejam praticados na sociedade. Os motivos de ter sido uma das professoras
escolhidas ela atribui aos elementos relacionados à amizade, ao carinho e à compreensão que
se estabelecem em sala de aula. Em situações de conflito ela procura ler muito e orar. No caso
dos conflitos pedagógicos, segundo essa professora, os mesmos sempre são solucionados
através do diálogo, pois este é o mecanismo através qual se obtém a devida compressão das
dificuldades individuais dos alunos. Nesse sentido, Cunha afirma que “A linguagem nasce e
encontra sua referência na vida cotidiana, referindo-se em especial à realidade que se
experimenta e que se partilha com os outros. É através dela que manifestamos a nós mesmos”
(Ibid., p. 37). Essa professora tem convicção de que cria ambiente próprio para que o aluno se
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sinta amado, sendo este fato uma constante em sala de aula, pois o professor deve ser aquele
que “contamina o aluno no seu ser”. Corrobora esse entendimento a manifestação de Cunha
ao sentenciar que “de qualquer forma, a projeção que os BONS PROFESSORES fizeram de
seu cotidiano mostra o quanto esta realidade é multifacetada, resultante de muitas interações,
de histórias e projetos de vida particulares que foram construídos num determinado
contexto” (Ibid., p. 164).
Professora escolhida, Tânia:
Manifestação dos alunos:
Segundo os alunos, os motivos pelos quais esta professora foi escolhida vinculam-se:
a) a sua postura pedagógica no sentido de incentivar e fazer com que os alunos criem
perspectivas positivas de vida, mostrando-se bastante crítica para fins de auxiliar os alunos
nas suas dificuldades. Ela adota posturas caracterizadas de “pulso firme” perante os alunos,
porém simultaneamente é muito compreensiva, tornando-se uma professora que serve de
exemplo a ser seguindo pelos alunos, em qualquer profissão;
b) às características pessoais, pois possui capacidade de discernimento para se tornar “a
verdadeira mãe puxando a orelha quando há necessidade e pegando no colo quando mais
precisamos”; e também transmite solidariedade e segurança naquilo que realizada. Nessa
perspectiva, Cunha afirma que “...os alunos não apontam como melhores professores os
chamados ‘bonzinhos’. Ao contrário. O aluno valoriza o professor que é exigente, que cobra
participação e tarefas” (Ibid., p. 71);
c) ao fato de essa professora manifestar que “está de bem com a vida”, tanto por razões
pessoais como profissionais, pois expressa alegria no exercício de suas atividades de
educadora e na vida cotidiana;
d) ao sentimento dos alunos de sentir-se amados por ela de forma permanente e, em
conseqüência, de demonstrar muito amor à vida e a sua profissão;
e) à tarefa de essa professora equacionar os possíveis conflitos, dialogando com seus
alunos de forma serena para chegar a bom termo.
f) enfim, ao fato de ela ser sempre lembrada “pela sua forma de trabalhar e ver o
mundo, encarando sempre de cabeça erguida”; pela sua autoconfiança e amizade por seus
alunos; por levar “a exercitar as relações pessoais na convivência, na competência profissional
e humana”. Cunha aponta que
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Mesmo nesta perspectiva da sociedade moderna, continua-se
reconhecendo no professor, além da capacidade de ensinar
conhecimentos especializados, a tarefa de transmitir, consciente ou
inconscientemente, valores, normas, maneiras de pensar e padrões de
comportamento que contribuem eficazmente para a permanência da
vida social. As relações são os aspectos mais ressaltados pelos alunos,
ainda que elas ainda não possam ser separadas completamente do todo
que é o professor (Ibid. p.157-158).
Manifestação da professora Tânia:
Para esta professora, as coisas que lhe despertam maior atenção e interesse estão
relacionadas à família e ao trabalho. Ela manifesta sua convicção de que se realiza na
atividade profissional, em conseqüência da escolha profissional que fez. Pretende sempre
mais se aperfeiçoar, teórica e pedagogicamente, tornando o ambiente de sala de aula um lugar
de prazer e satisfação. Ela atribui o motivo da sua satisfação profissional e pessoal a fatores
relacionados à estrutura familiar, à capacidade de saber ouvir, porque são formas eficientes e
eficazes para a obtenção de conhecimento do que é a pessoa humana. Prioriza os valores
relacionados ao conhecimento e à ética; e as possíveis dificuldades que ocorrem são
enfrentadas de maneira a não envolver as questões particulares com as questões profissionais.
As dificuldades pedagógicas são equacionadas através de leituras, troca de experiências entre
os profissionais. Para fazer com que o aluno sinta-se amado é preciso que o professor seja o
referencial, ou seja, “...o interventor seguro, capaz de auxiliar seus alunos a exercitar sua
imaginação, a desafiar seu raciocínio, a levantar hipóteses, a investigar resultados, a trabalhar
suas emoções e sua liberdade, oportunizando o saber, os valores e as atitudes necessárias à
sobrevivência da sociedade.”. Conforme Cunha, “A produção do conhecimento é entendida
aqui como a atividade do professor que leva à ação, à reflexão crítica, à curiosidade, ao
questionamento exigente, à inquietação e à incerteza. É o oposto da transmissão do
conhecimento pronto, acabado. É a perspectiva de que ele possa ser criado e recriado pelos
estudantes e pelos professores na sala de aula” (p.111).
A análise apresentada indica que há uma expressiva coerência entre as respostas dos
alunos e as dos professores. Isto ocorre pelo fato de os professores escolhidos como “bons
professores” desempenharem uma função que realmente os satisfazem pessoal e
profissionalmente. Os motivos citados pelos alunos, para embasar as suas escolhas relativas
ao que é para eles o “bom professor”, estão relacionados prioritariamente aos aspectos
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existenciais e profissionais, a saber, o “estar de bem com a vida”, a disponibilidade, a
compreensão, a construção de uma relação de respeito, de amizade, de amor, o domínio dos
conteúdos, o uso de metodologias adequadas etc. Isto condiz com o entendimento dos
próprios docentes quanto aos principais motivos de terem sido escolhidos pelos seus alunos,
pois entendem que tais fatores são fundamentais para um bom relacionamento entre eles, no
ambiente da sala de aula, e acreditam que manter uma relação de respeito, amizade e carinho
em ambiente escolar estimula a participação e favorece o aprendizado dos seus alunos.
Com relação às características pessoais, fica claro, nas respostas dos alunos, o valor
dado à amizade. Aquele professor que é amigo, que apóia e estimula seus alunos a seguirem
em frente, é considerado um “bom professor”. Os alunos indicam como relevante a alegria, a
inteligência e a capacidade de criar desafios como características dos seus “bons professores”.
Quanto ao aspecto de “estar de bem com a vida”, a posição dos alunos mais uma vez é
clara, pois para eles, esses professores demonstram esse tributo, em razão de atribuírem
significado a tudo o que fazem, e manifestarem o sentimento de prazer e alegria no
desempenho de suas funções de educadores. Também sob este aspecto identifica-se certa
coerência entre as respostas dos alunos e as informações dadas pelos docentes. Para ambos os
grupos, valorizar a vida e a profissão e estar de bem com as pessoas com quem convivem, é
“estar de bem com a vida”.
Fazendo referência à condição de sentirem-se amados por seus professores, os alunos,
em sua totalidade, afirmam que foi uma constante durante o período escolar, pois são
evidenciadas, por eles, relações de amor, de carinho e de afeto, demonstradas por esses
professores para com a turma. Os professores confirmam tal afirmação quando expressam que
o espaço da sala de aula deve ser um lugar para uma aprendizagem prazerosa e respeitosa,
ambiente este que não acontece se não houver uma relação de respeito, de amizade, de amor.
O diálogo, na visão dos alunos, é um quesito imprescindível para que um educador seja
um “bom professor”. Dessa forma, eles afirmam que o diálogo e conversas amistosas sempre
estiveram presentes no ambiente de sala de aula, como mecanismo eficiente e eficaz para
solução de possíveis conflitos. Os professores se utilizam dessas importantes ferramentas
como meios para equacioná-los. Nesse sentido, Cunha afirma:
... Não sei até que ponto há percepção do diálogo como pressuposto de
uma proposta pedagógica. Mas, sem dúvida, os nossos interlocutores
compreenderam que o ambiente verbal da sala de aula é a chave para
uma aula participativa e até criativa. Ainda que a grande iniciativa de
agilização verbal esteja localizada no professor, percebe-se uma
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intenção de que os alunos participem, que valorizem uma interação
entre os mesmos, o conteúdo e o professor... (Ibid., p. 139).
Enfim, observa-se que o fator afetivo se sobrepõe aos demais na escolha dos “bons
professores”. Os educadores aqui escolhidos pelos seus alunos serão sempre lembrados em
virtude da forma carinhosa com que conduzem suas aulas, as quais denotam ser
circunstanciadas pelo amor, respeito, diálogo, vontade de aprender e incentivos profissionais.
Segundo CUNHA “Essas expressões evidenciam que a idéia de BOM PROFESSOR presente
hoje nos alunos de 2° e 3° graus passa, sem dúvida, pela capacidade que o professor tem de se
mostrar próximo, do ponto de vista afetivo” (Ibid., p. 70-71). Estas palavras descritas acima
nos remetem diretamente àquelas manifestas pelos alunos entrevistados, pois a afetividade
mostra-se como algo de fundamental relevância tanto para educandos como para educadores.
Dessa forma, pode-se dizer que o “bom professor” é aquele que consegue estabelecer este
vínculo de amizade com seu aluno. Contudo, é necessário o professor ter domínio sobre o
fator conteúdo e o apresente de maneira pedagógica; e mais, que ele seja conhecedor de
fatores pessoais do aluno, como seu interesse e sua capacidade e assim formar um
ambiente pedagógico com características adequadas ao ensino e à aprendizagem.
A
determinação e perseverança de tais professores também não passam despercebidas diante dos
olhos e corações de seus alunos, como também a alegria e a maneira agradável de ensinar,
tornando o ambiente escolar um local de sentir-se bem e descobrir-se a cada dia. Conforme
Cunha,
... a escolha que o aluno faz do bom professor é permeada por sua
prática social, isto é, o resultado da apropriação que ele faz da prática
e dos saberes histórico-sociais. Só que elas são diferentes no sujeito,
ou seja, eles fazem apropriações diferentes em funções de seus
interesses, valores, crenças, experiências etc...” e “a história de cada
professor é própria e única, não havendo dados que permitam
generalização, a não ser de que a experiência de vida é fundamental
no encaminhamento das pessoas (Ibid., p. 67).
Referências bibliográficas
BECKER, Fernando. Epistemologia do professor: o cotidiano da escola. Petrópolis. Vozes,
1994.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. Petrópolis. Vozes, 2000.
12
MARTINS, Joel; BICUDO, Maria A.Viggiani. A pesquisa qualitativa em psicologia:
fundamentos e recursos básicos. São Paulo. EDUC – Editora da PUC, 1989.
MASINI, Elcie F. Salzano. Enfoque fenomenológico de pesquisa em educação. (59-67) In:
FAZENDA, Ivani. Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo. Cortez, 2000.
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relações interpessoais: fatores que contribuem para a