UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA MESTRADO EM BIOQUÍMICA ROBERTA LUCIANA DO NASCIMENTO GODONE ISOLAMENTO DE UMA QUITINASE EXTRAÍDA DO CEFALOTÓRAX DO CAMARÃO MARINHO Litopenaeus schmitti (BURKENROAD, 1936): AVALIAÇÃO DE SUAS ATIVIDADES ANTIMICROBIANA E LARVICIDA NATAL/RN 2011 ROBERTA LUCIANA DO NASCIMENTO GODONE ISOLAMENTO DE UMA QUITINASE EXTRAÍDA DO CEFALOTÓRAX DO CAMARÃO MARINHO Litopenaeus schmitti (BURKENROAD, 1936): AVALIAÇÃO DE SUAS ATIVIDADES ANTIMICROBIANA E LARVICIDA Dissertação Departamento apresentada de Bioquímica ao da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Bioquímica. Orientadora: Profa. Dra. Adriana Ferreira Uchôa Co-orientadora: Profa. Dra. Luciana Duarte Martins da Matta Natal/RN 2011 Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Biblioteca Central Zila Mamede Godone, Roberta Luciana do Nascimento. Isolamento de uma quitinase extraída do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus Schmitti (BURKENROAD, 1936) : avaliação de suas atividades antimicrobiana e larvicida / Roberta Luciana do Nascimento Godone. – Natal, 2011. 100 f. : il. Orientadora: Adriana Ferreira Uchôa. Co-orientadora: Luciana Duarte Martins da Matta. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Departamento de Bioquímica. Mestrado em Bioquímica. 1. Biotecnologia – Caracterização e aplicação – Dissertação. 2. Invertebrado – Dissertação. 3. Enzimas – Dissertação. 4. Glicosidases – Dissertação. I. Uchôa, Adriana Ferreira. II. Matta, Luciana Duarte Martins. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/BCZM CDU 577.15(043.3) Dedico esta obra A Deus, Deus fonte de aguá viva, meu pai fiel, estais comigo e eu contigo a todo o momento, seja ao meu lado ou me carregando nos braços, obrigada por todas as graças derramadas em minha vida. Amém! À minha mãe Aneide e o meu irmão Matheus, Matheus por toda paciência, carinho e compreensão, durante toda a minha vida, agradeço a Deus todos os dias desde o momento que acordo ate ir dormir, sei que sou uma pessoa abençoada, pois tenho vocês. À minha Orientadora, Profa. Dra. Luciana Duarte Martins da Matta, Matta pela grande oportunidade de ingressar na ciência, pela amizade, atenção, carinho, compreensão e ensinamentos. Para mim é uma honra inesplicavél, fazer parte do seu tão maravilhoso grupo de pesquisa, e sinto-me mais honrada ainda em poder dizer que fui preparada pela senhora. Quando vejo este trabalho concluído, me emociono, pois trabalhamos juntas e finalmente conseguimos o que tanto sonhavamos. Obrigada sempre... Ao Prof. Dr. Maurício Pereira de Sales (in memoriam), pela oportunidade que me ofereceu, me aceitando como aluna de mestrado e me fazendo participar de seu grupo de pesquisa. Por depositar em mim, uma grande confiança, por acreditar no meu potencial, e ainda me fazer mais forte e determinada. Sou muito grata porisso e levarei comigo grandes lições de vida que aprendi convivendo ao seu lado. Muito obrigada e sinto saudades. AGRADECIMENTOS A Deus meu pai e amigo sinto-me tão feliz, pois sei que nunca me abandonaste e nunca me abandonará.Te amo Deus. À minha mãezinha e meu irmãozinho por sempre acreditarem em mim, até quando eu não acreditava. Obrigada! Á minha Orientadora Profa. Dra. Luciana da Matta (Profa), (Profa) pela confiança e apoio, em minha caminhada científica. A senhora é simplesmente Demais!!!! Aos meus grandes amigos e cúmplices: Caroline Gabriela (Gabi (Gabi) Gabi), Nerivaldo (Nerí (Nerí) Nerí), Stélio (Stelhinho (Stelhinho) Stelhinho) e Simony (Júlia) que a todo tempo sempre estão de prontidão a me ouvir e ajudar, vocês são exemplo de caráter e otimismo. Simplesmente adoro vocês. Ao Prof. Dr. Luiz Roberto pela ajuda, disponibilidade e contribuições valiosas em minha banca de qualificação, obrigada por ter participado desta etapa tão importante de minha vida. Ao Prof. Dr. Maurício Pereira de Sales (in memorian) por ter me aceitado como aluna de mestrado e ter acreditado no meu potencial. Obrigada! À Profa. Dra. Adriana Uchôa por ter me aceitado como orientanda. Serei sempre grata porisso. À Profa. Dra. Ana Heloneida por ter aceitado participar de minha banca de qualificação, muitíssimo obrigada. À Profa. Dra. Vânia Andrade , por ter aberto as portas de seu laboratório, pela orientação nos ensaios microbiológicos, por ter colocando uma de suas melhores alunas para me ajudar e por ter aceitado em participar de minha banca de qualificação, fazendo apontamentos valiosíssimos. Muito Obrigada. Aos Professores Doutores José Luiz Lima Filho e João Paulo Matos, Matos por terem aceitado participar de minha banca de defesa. Muito Obrigada. As meninas do LAMEA: Gabriela (Gabi), Raísa e Luiza. Luiza Obrigada meninas!!! O anjinho de candura, Gabriela (Gabi), a qual sem ela eu não teria conseguido realizar nem entender os experimentos na Microbiologia. Obrigada pela paciência e percistência. Gabi você é mil... À Profa. Dra. Fátima Ximenes, Ximenes por ter disponibiizado o seu laboratório para a realização dos ensaios com os Aedes aegypti. À Veterinária Patrícia Barra (Pati), (Pati) pela amizade incondicional, pelos momentos de descontração e passeios tão divertidos. Sem sua ajuda e ídeias tão pespícazes, eu não teria feito muita coisa. Sei que além de uma colega de trabalho, ganhei uma amiga para vida toda, você foi imprecindível na realização deste trabalho. A Rafaella (Rafinha), (Rafinha) pela amizade, palavras de força e dedicação, sei que sempre poderei contar contigo. E como eu ando dizendo pra você “Tô aqui viu”... A Joyce, Joyce pela amizade tão sincera e carinho para comigo, adorei ter te conhecido e ser sua amiga, conta sempre comigo! A Henrique, Henrique pela amizade tão querida, pela companhia no Lab e pelas conversas tão divertidas e peculiares, que por muitas vezes me fizeram rir horrores... Te amo Lindão!! Aos meus queridos amigos e companheiros da tão maravilhosa convivência no nosso “céuzinho” chamado LQFP: Bruna (Brunete), (Brunete), Henrique (Amore), (Amore), Juliana (Jú), (Jú), Paula, Leonardo (Léo), (Léo), Daniela (Dani) e Sílvia Sílvia, lvia obrigada pelo apoio e ajuda nos experimentos, saibam que estarão sempre em meu coração. À minha “IC/especial preferida” Bruna (Bruninha/Brunete), (Bruninha/Brunete) pela ajuda incondicional nos experimentos, força, amizade e companheirismo, sempre me colocando pra cima. Sem sua ajuda não sei o que seria de mim. Adoro você minha florzinha. A Ticiana (Tici) e a Carol (De boa na lagoa) pela convivência, paciência e carinho que sempre tiveram comigo, me lembrarei de vocês com carinho imenso, Obrigada. A Sheyla Varela e a Dayse Caroline, Caroline pela acolhida em minha mudança de laboratório, no início do mestrado e pela convivência tão especial, vocês duas foram muito importantes nesta etapa de minha vida. Meninas, muito obrigada! Ao pessoal tão querido do BIOPOL Prof Prof. of. Dr. Hugo Oliveira, Oliveira, Sara, Mariana, Leandro, Popó, Popó, Rafael, Nedinaldo, Nedinaldo, Arthur e Jailma. Jailma A Jailminha Jailminha minha amiguinha do peito, muito obrigada pelo apoio, amizade e carinho, nunca esquecerei o que você fez e até hoje faz por mim, pode ter certeza você nunca sairá de meu coração. Convivendo com pessoas como você, só me faz ter mais certeza que ainda existem “os puros de coração”. Os meus mais sinceros agradecimentos. Aos professores do Departamento de Bioquímica que direta ou indiretamente contribuirão na minha formação. Aos amigos de departamento que colaborarão com a realização de experimentos: Patrícia, Norberto, Nathália, Raf RafaelL aelLa, Joyce, Rafael e Ana Paula (minha 1º IC/querida). Ao querido amigo Paulo Ricardo (Paulindo), (Paulindo) pela amizade e ajuda na utilização dos programas estatísticos. Se não fosse você, nem sei. Brigadinha.... Aos companheiros da turma de Mestrado 2009: Clarissa, Alisson, Renata, Ana Keyla, Larissa, Leandro Karlan, Dayse, Dayse Caroline, Dayse Santos, Nathália, Janisson, Angélica, Jana, Rafael, Leonardo Nobre, Nobre, Marcos Felipe, Felipe, Ruth, Luciana, Leonardo Rêgo e Diego Diego. go Aos funcionários do Departamento de Bioquímica: Seu Marcos, Creuza, Seu Itamar, Itamar, Jonas, Ângela, Eliene, Ricardo, Seu Rogério e Dona Margarita. Margarita Aos amigos queridos do DBQ, Virgínia, Raquel, Érika, Ricardo, Marília, Tuane, Luiza, Celina, Celina, Carol, Gabriel, Raniere, Cínthia, Richelle, Alexandre, Jéssica,Thiago, Jéssica,Thiago, Rafael Russi, Hugo e Vanessa. Vanessa A todos que contribuíram de alguma forma para realização deste trabalho. A UFRN e agências financiadoras CAPES e CNPq. “... Não desanime de você, ainda que a colheita de hoje não seja muito feliz. Não coloque um ponto final nas suas esperanças. Ainda há muito o que fazer, ainda há muito o que plantar, e o que amar nessa vida. Ao invés de ficar parado no que você fez de errado, olhe para frente, e veja o que ainda pode ser feito... A vida ainda não terminou. E já dizia o poeta "que os sonhos não envelhecem...por isso devemos sonhar sempre, sonhar grande, sonhar lindo, sonhar rindo..." Padre Fábio de Melo RESUMO As quitinases são enzimas envolvidas na degradação da quitina e estão presentes em uma gama de organismos, inclusive os que não contêm quitina, tais como bactérias, vírus, plantas e animais desempenhando importantes papeis fisiológicos e ecológicos. A quitina é hidrolisada por um sistema quitinolítico classificado como: Endo-quitinases, Exo-quitinases e N-acetil-β-D-glucosaminidases. Neste trabalho, a Litochitinase1 foi extraída do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus schmitti e purificada 987,32 vezes utilizando-se cromatografia de troca iônica DEAE-Biogel e de exclusão molecular Sephacryl S-200. Esta apresentou massa molecular em torno de 28,5 kDa. Os resultados obtidos, após os testes cinéticos com a Litochitinase1 utilizando-se como substrato o p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminideo, mostraram Km aparente de 0,51 mM, atividade ótima em pH variando de 5,0 a 6,0, temperatura ótima a 55°C e estabilidade de atividade quando pré-incubada nas temperaturas de 25, 37, 45, 50 e 55°C. A enzima apresentou uma faixa de estabilidade nos pHs de 4,0 a 5,5. O HgCl2, inibiu significativamente a Litochitinase1 enquanto que o MgCl2 potencializa levemente sua atividade. Os testes antimicrobianos realizados mostraram que a Litochitinase1 apresenta atividade contra a bactéria gram-negativa Escherichia coli numa concentração que varia 800 a 500 µg/mL. A atividade larvicida contra Aedes aegypti foi investigada com os extratos brutos, F-III (50-80%) e na Litochitinase1 com tempo de 24 e 48 horas. Os resultados obtidos mostraram atividade larvicida em todas estas amostras com valores de EC50 de 6,59 mg/mL para o extrato bruto, 5,36 mg/mL para F-III e 0,71 mg/mL para Litochitinase1 com 24 horas de ensaio e 3,22 e 0,49 mg/mL, para F-III e Litochitinase1 no tempo de 48 horas. Outros experimentos realizados confirmaram a presença de quitina no intestino médio das larvas de Aedes aegypti, as quais podem estar sofrendo a ação da Litochitinase1 provocando suas mortes, como ainda a ausência de proteínas bioativas como inibidores de proteases serínicas e lectinas no extrato bruto, F-III e Litochitinase1, indicando que a morte das larvas é mesmo por ação da Litochitinase1. Observou-se ainda que, as enzimas extraídas do homogenato intestinal das larvas não interferiram na atividade da Litochitinase1. Estes resultados indicam que esta enzima pode ser usada como alternativa para controlar infecções causadas por Escherichia coli, como também na redução da infestação do mosquito vetor da dengue. Palavras Chaves: Glicosidases, Invertebrados, Purificação, Caracterização e Aplicação Biotecnológica. ABSTRACT Chitinases are enzymes involved in degradation of chitin and are present in a range of organisms, including those that do not contain chitin, such as bacteria, viruses, plants and animals, and play important physiological and ecological roles. Chitin is hydrolyzed by a chitinolytic system classified as: endo-chitinases, exo-chitinases and N-acetyl-β-D-glucosaminidases. In this study a Litochitinase1 extracted from the cephalotorax of the shrimp Litopenaeus Schmitt was purified 987.32 times using ionexchange chromatography DEAE-Biogel and molecular exclusion Sephacryl S-200. These enzyme presented a molecular mass of about 28.5 kDa. The results, after kinetic assay with the Litochitinase1 using as substrate p-nitrophenyl-N-acetyl-β-Dglucosaminideo, showed apparent Km of 0.51 mM, optimal activity at pH ranging from 5.0 to 6.0, optimum temperature at 55°C and stability when pre-incubated at temperatures of 25, 37, 45, 50 and 55°C. The enzyme showed a range of stability at pH 4.0 to 5.5. HgCl2 inhibited Litochitinase1 while MgCl2 enhances its activity. Antimicrobial tests showed that Litochitinase1 present activity against gram-negative bacterium Escherichia coli in the 800 µg/mL concentration. The larvicidal activity against Aedes aegypti was investigated using crude extracts, F-III (50-80%) and Litochitinase1 at 24 and 48 hours. The results showed larvicidal activity in all these samples with EC50 values of 6.59 mg/mL for crude extract, 5.36 mg/mL for F-III and 0.71 mg/mL for Litochitinase1 at 24 hours and 3.22 and 0.49 mg/mL for the F-III and Litochitinase1 at 48 hours, respectively. Other experiments confirmed the presence of chitin in the midgut of Aedes aegypti larvae, which may be suffering the action of Litochitinase1 killing the larvae, but also the absence of contaminating proteins as serine proteinase inhibitors and lectins in the crude extract, F-III and Litochitinase1, indicating that the death of the larvae is by action of the Litochitinase1. We also observed that the enzymes extracted from intestinal homogenate of the larvae no have activity on Litochitinase1. These results indicate that the enzyme can be used as an alternative to control of infections caused by Escherichia coli and reducing the infestation of the mosquito vector of dengue. Keywords: Glucosidases, Biotechnology application. Invertebrate, Purification, Characterization and LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 FIGUTA 02 FIGURA 03 FIGURA 04 Estrutura Química da quitina. (Modificado de SEIDL, 2008)............................................................................................. Representação esquemática das estruturas polimórficas de quitina, sendo que as setas representam as cadeias poliméricas no sentido do terminal não redutor para o redutor. (CAMPANA-FILHO, 2006)............................................................................................ Esquema dos padrões de clivagem de enzimas quitinolíticas. As subunidades da cadeia da quitina são mostradas em azul claro e o açúcar redutor em azul escuro. As tesouras representam as ações enzimáticas. (Modificado de SEIDL, 2008)............................................................................................ Mapa da distribuição geográfica do camarão branco Litopenaeus schmitti. (MARTINELI, 2005).................................... 21 22 23 29 FIGURA 05 Litopenaeus schmitti..................................................................... FIGURA 06 Fluxograma do fracionamento com sulfato de amônio.................. 37 FIGURA 07 Atividades enzimáticas presentes no extrato bruto e nas frações obtidas da precipitação com sulfato de amônio............................ FIGURA 08 FIGURA 09 FIGURA 10 Perfil de eluição protéico da F-III em cromatografia de troca iônica e de atividade quitinásica ................................................... Perfil de eluição da Litochitinase1 e atividade quitinásica em cromatografia de exclusão molecular (Sephacryl S-200)............. SDS-PAGE das amostras protéicas durante o processo de purificação..................................................................................... FIGURA 11 Determinação do Km da Litochitinase1.......................................... FIGURA 12 Efeito da temperatura sobre a atividade 32 51 52 53 55 56 da Litochitinase1................................................................................. 57 FIGURA 13 Efeito da pré-incubação a diferentes temperaturas na atividade da Litochitinase1............................................................................ 58 FIGURA 14 Efeito do pH sobre a atividade da Litochitinase1.......................... FIGURA 15 Efeito da pré-incubação a diferentes pHs na atividade da Litochitinase1................................................................................. 60 .. 59 FIGURA 16 Curva de temperatura ótima para a detecção da atividade das enzimas proteolíticas presentes no homogenato intestinal de 67 larvas de A.aegypti........................................................................ FIGURA 17 Efeito da pré-incubação com as enzimas digestivas de A.aegypti na atividade da Litochitinase1....................................................... 68 LISTAS DE QUADROS QUADRO 1 Técnica de Difusão em Disco, cepas selecionadas e concentrações da quitinase utilizada.......................................... 43 QUADRO 2 Técnica de Microdiluição em Caldo, cepas selecionadas e concentrações da quitinase ulitizada.......................................... 44 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Família das glicosil-hidrolases que possuem atividade Nacetil-β-D-glucosaminidásica.............................................. 20 TABELA 2 Algumas quitinases já isoladas e caracterizadas............... 28 TABELA 3 Etapas de purificação da Litochitinase1............................. 54 TABELA 4 Efeitos de íons e compostos sobre a atividade da Litochitinase1.............................. TABELA 5 61 Avaliação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) da Litochitinase1 do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus schimitti.......................................................... TABELA 6 Detecção de quitina em intestinos médios de Aedes aegypti................................................................................ TABELA 7 62 Concentração efetiva do extrato bruto, F-III 63 e Litochitinase1 necessária para matar 50% (EC50) das larvas L4 de Aedes aegypti em 24 e 48 h.......................... 64 TABELA 8 Inibição de proteases serínicas.......................................... 65 TABELA 9 Atividade Hemaglutinante no extrato bruto, F-III e Litochitinase1 com eritrócitos nativos e tratados enzimaticamente................................................................ 66 LISTA DE ABREVIATURAS α Denota anomericidade alfa ATCC American Type Culture Collection β Denota anomericidade beta BHI Brain Heart Infusion °C Grau Celsius cm Centímetros CTT Cloreto de 2,3,5 – trifenil - tetrazólio DO Densiometria óptica EB Extrato Bruto EDTA Acido etilenodiamino tetra-acético F-I Extrato protéico precipitado com 0-30% de sulfato de amônio F-II Extrato protéico precipitado com 30-50% de sulfato de amônio F-III Extrato protéico precipitado com 50-80% de sulfato de amônio xg Gravidade g Grama GlcNAc N-acetil-β-D-glucosamina HCl Ácido Clorídrico IUMBM International Union of Biochemistry and Molecular Biology HI Homogenato intestinal kDa Kilodaltons Km Constante de Michaelis-Menten EC50 Concentração Efetiva M Molar mM Milimolar min. Minuto mg Miligramas µg Microgramas mL Mililitro µl Microlitro NaCl Cloreto de Sódio NaOH Hidroxido de Sódio nm Nanômetro pH Potencial hidrogeniônico PNF p-NITROFENIL SDS Dodecil sulfato de sódio t Tonelada TCA Ácido tricloro acético Tris Tris hidroximetil aminometano TEMED Tetra metileno diaminoetano [S] Concentração Molar de Substrato UH Unidade de Hemaglutinação SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 18 1.1. GLICOSIDASES.......................................................................................... 18 1.1.1. 1.1.1.Glicosil-Hidrolases................................................................................... 19 1.1.2. 1.1.2.Quitinases................................................................................................. 21 1.1.2.1. Ocorrência e Função das Quitinases................................................. 23 1.1.2.2. Aplicações Biotecnologicas................................................................ 26 1.2. Litopenaeus schmitti (BURKENROAD, 1936) COMO FONTE DE QUITINASES.............................................................................................. 28 2. OBJETIVOS................................................................................................... 2.1. GERAIS....................................................................................................... 2.2. ESPECÍFICOS.......................................................................................... 3. MATERIAIS................................................................................................... 31 31 31 32 3.1. MATERIAL BIOLÓGICO............................................................................... 32 3.1.1. 3.1.2. 3.1.3. 4. 3.1.1. Camarão Litopenaeus schmitti............................................................. 3.1.2. Insetos..................................................................................................... 3.1.3. Eritrócitos Humanos............................................................................... 3.1.4. Microorganismos..................................................................................... 3.2. SUBSTRATOS SINTÉTICOS DERIVADOS DE AÇUCAR....................... 3.3. REAGENTES, SOLUÇÕES, MEMBRANAS E MATRIZES CROMATOGRÁFICAS............................................................................. 3.4. APARELHOS............................................................................................ 4. MÉTODOS...................................................................................................... 32 32 33 33 33 33 34 36 4.1. OBTENÇÃO DO EXTRATO BRUTO........................................................... 36 4.2. FRACIONAMENTO COM SULFATO DE AMÔNIO...................................... 36 4.3. DETERMINAÇÃO DAS ATIVIDADES ENZIMÁTICAS COM pNITROFENIL DERIVADOS DE AÇÚCAR.................................................... 37 4.4. DOSAGEM DE PROTEÍNAS....................................................................... 4.5. PURIFICAÇÃO DA ENZIMA........................................................................ 4.5.1. Cromatografia de Troca Iônica DEAE-Biogel...................................... 4.5.2. Cromatografia de Exclusão Molecular – Sephacryl S – 200.............. 38 38 38 38 4.6. ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA EM CONDIÇÕES DESNATURANTES-SDS/PAGE................................................................ 4.7. ESTUDOS CINÉTICOS.............................................................................. 4.7.1. Determinação da Constante de Michaelis- Menten (Km).................... 4.7.2. Efeito da temperatura sobre a atividade enzimática........................... 39 40 40 40 4.7.3. Influência do pH sobre a atividade enzimática.................................... 41 4.7.4. Influência de diversos sais e EDTA na hidrólise do p-nitofenil-Nacetil-β β-D-glucosaminídeo..................................................................... 41 4.8. PREPARAÇÃO DA QUITINASE PARA OS ENSAIOS BIOLÓGICOS......... 42 4.9. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA...................................... 42 4.9.1. Análise Qualitativa- Técnica de Difusão em Disco............................. 4.9.2. Análise Quantificativa- Determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM)............................................................................................ 4.10. ENSAIOS COM Aedes aegypti................................................................ 4.10.1. Obtenção das larvas de Aedes aegypti.............................................. 4.10.2. Dissecação das larvas de Aedes aegypti.......................................... 4.10.3. Preparo do homogenato intestinal das larvas.................................. 4.10.4. Detecção de quitina no intestino das larvas de Aedes aegypti...... 42 4.10.5. 4.10.6. 4.10.7. 4.10.8. 45 46 46 Ensaios com larvas de Aedes aegypti............................................... Determinação da EC50......................................................................... Análises Estatísticas........................................................................... Investigação de proteínas bioativas interferentes no processo digestório nas larvas de Aedes aegypti............................................. 4.10.8.1. Ensaio de inibição de proteases serínicas...................................... a) Preparo do substrato................................................................................... b) Atividade anti-quimotriptica....................................................................... c) Atividade anti-triptica.................................................................................. 4.10.8.2. Ensaios de hemaglutinação............................................................. a) Preparo do sangue..................................................................................... b) Tratamento dos eritrócitos com papaína................................................. c) Tratamento dos eritrócitos com tripsina.................................................. d) Ensaio........................................................................................................... 4.10.8.3.Efeito do homogenato intestinal das larvas de Aedes aegypti sobre a atividade quitinolítica........................................................... a) Determinação de atividade azocaseínolítica............................................. b) Efeito da temperatura sobre a atividade azocaseínolitica a pH 7,5........ 43 44 44 44 45 45 46 46 46 46 47 47 47 47 48 48 48 48 49 c) Influencia das enzimas digestivas do Aedes aegypti na hidrólise do pnitrofenil-N-acetil-β β-D-glucosaminídeo....................................................... 49 5. RESULTADOS ............................................................................................. 50 5.1.IDENTIFICAÇÃO DE GLICOSIDASES E SULFATASES NOS CEFALOTÓRAX DOS CAMARÕES MARINHOS litopenaeus schmitti........................................................................................................... 50 5.2. PURIFICAÇÃO DA QUTINASE.................................................................... 51 5.2.1. Em cromatografia de troca iônica......................................................... 51 5.2.2. Em cromatografia de exclusão molecular S-200................................. 52 5.2.3. Resumo das etapas de purificação....................................................... 53 5.3. PERFIL ELETROFORÉTICO DAS AMOSTRAS EM SDS-PAGE............... 54 5.4. EXPERIMENTOS CINÉTICOS.................................................................... 5.4.1. Determinação do Km............................................................................. 5.4.2. Efeito da temperatura sobre a atividade enzimática........................... 5.4.3. Efeito do pH sobre a atividade da Litochitinase1............................... 5.4.4. Efeito de sais e EDTA sobre a atividade enzimática........................... 5.5. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA...................................... 5.5.1. Utilizando a técnica de difusão em disco............................................ 5.5.2. Utilizando a técnica de microdiluição em caldo para a determinação da concentração inibitória mínima (CIM).................... 5.6. ENSAIO COM Aedes aegypti...................................................................... 5.6.1. Detecção de quitina no intestino médio de larvas de Aedes aegypti 5.6.2. Ensaio larvicida em Aedes aegypti...................................................... 5.6.3. Detecção de inibidores de proteases serínicas no EB, FIII e Litochitinase1......................................................................................... 5.6.4. Atividade hemaglutinante...................................................................... 5.6.5. Determinação da temperatura ótima das atividades proteolíticas presentes no homogenato intestinal das larvas de Aedes aegypti..................................................................................................... 5.6.6. Influência das enzimas digestivas de Aedes aegypti sobre a Litochitinase1......................................................................................... 6. DISCUSSÃO............................................................................................... 7. CONCLUSÕES........................................................................................... REFERÊNCIAS .......................................................................................... 55 55 56 58 60 61 61 62 62 62 63 64 65 66 67 70 79 81 18 INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO 1.1 GLICOSIDASES As glicosidases são um grupo de enzimas que clivam O-glicosídeos, Nglicosídeos e tio-glicosídeos (DUMONT, 2008; WITHERS, 2010). Estando desta forma diretamente envolvidas no metabolismo de monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos e até polissacarídeos (FERREIRA, 2001). Dentre elas destacam-se as endoglicosidases e exoglicosidases. As endoglicosidases são enzimas que clivam cadeias liberando dissacarídeos ou oligossacarídeos. Já as exoglicosidases são um grupo de enzimas que clivam a cadeia oligossacarídica através de sua porção não redutora liberando monossacarídeos (MALLEY et al.,1989). As glicosidases formam um grupo altamente heterogêneo de enzimas hidrolíticas (BHATIA et al., 2002). Tais enzimas são encontradas em diversos organismos, como bactérias (KATAYEVA et al., 1992; PAAVILAINEN et al., 1993; SESTELO et al., 2004; ARO et al., 2005) fungos (RICCIO et al., 1999; JAGER et al., 2001; YUN et al., 2001; BELANCIC et al., 2003) plantas (SUE et al., 2000; CAMERON et al., 2001; GERARDI, 2001; SARRY; GÜNATA, 2004) e animais (MARANA et al., 1995; HAYS et al., 1998; MARANA, 1999), (PONTOH; LOW, 2002; DRUMONT, 2008),como por exemplo em crustáceos (KOSTANJNEK et al., 2010; ALLARDYCE et al., 2010) e o homem (GRACE et al., 1994; DAY et al., 1998; NEMETH et al., 2003; GERMAIN, 2004). A principal reação catalisada por estas enzimas é a hidrólise de ligações βglicosídicas. Estas enzimas possuem uma carboxila e um carboxilato responsáveis pela catálise, um funcionando como nucleófilo e o outro como doador de prótons (JONES, 2002). A especificidade das β-glicosidases pode variar, pois algumas destas enzimas podem ser capazes de atuar sobre uma gama enorme de substratos e outras podem ser mais restritas (FERREIRA, 1998, 2001, 2003; AZEVEDO, 2003). Desta forma o nome β-glicosidase é dado a diferentes tipos de enzimas capazes de hidrolisar ligações β-glicosídicas em dissacarídeos, oligossacarídeos e glicosídeos conjugados (COULON et al., 1998; BHATIA et al., 2002). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 19 INTRODUÇÃO 1.1.1 GLICOSIL-HIDROLASES As glicosil-hidrolases são glicosidases que hidrolisam ligações O-glicosídicas e são classificadas, pela Enzyme Commission Numbers (EC) a International Union of Biochemistry and Molecular Biology (IUBMB), com base na sua especificidade pelo substrato, por exemplo: β-glucosídeo ou β-galactosídeo, e no tipo de ligação, por exemplo: β-1,4 ou β-1,3. Esta classificação é útil, pois unifica a nomenclatura e evita as ambigüidades dos nomes triviais. Entretanto, tal classificação não reflete as características estruturais e correlações evolutivas entre as enzimas (MARANA, 1999). A fim de estabelecer uma classificação que contemplasse o aspecto estrutural e evolutivo das glicosil-hidrolases, HENRISSAT (1991), partindo do pressuposto de que existe uma correlação entre similaridade da seqüência de aminoácidos, e a estrutura terciária das proteínas, foi realizado um alinhamento de seqüências e conjuntos de aminoácidos hidrofóbicos das glicosil-hidrolases disponíveis e montouse um sistema de classificação para estas enzimas(CHOTIA; LESK, 1986). Esta classificação baseou-se em um total de 291 seqüências correspondendo a 39 diferentes EC que puderam ser classificadas em 35 famílias em seguida HENRISSAT; BAIROCH, (1993), ampliaram ainda mais o sistema de classificação atingindo um total de 45 famílias. Agrupando as enzimas de origem evolutiva comum, independentemente das reações que elas catalisam aproximadamente 90 famílias de glicosil-hidrolases são conhecidas (WITHERS, 2002). Além do critério de similaridade na seqüência de aminoácidos, elas também podem ser classificadas segundo mecanismos de reação, que as categoriza segundo dois mecanismos: o de retenção e o de inversão da configuração do anômero C1 do anel glicosídico. A hidrólise se dá via catálise ácida, onde há um doador de prótons e um nucleófilo. Em ambos, o doador de prótons está próximo ao oxigênio glicosídico e o nucleófilo fica na posição vicinal do carbono 2 do anel. A diferença é que no mecanismo de inversão a distancia do nucleófilo é maior, a fim de comportar uma molécula de água. Essa distância é cerca de 5,5 Å no mecanismo de retenção e ~10 Å no de inversão na formação do complexo enzima substrato. (DAVIS, 1995; KOSHALND, 1953). O ataque nucleofílico é feito pelos dois resíduos Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 20 INTRODUÇÃO aproximando-se pelo lado oposto da ligação glicosídica e há a retenção ou inversão da configuração anomérica do anel glicosídico (HENRISSAT, 1995). A clivagem da ligação glicosídica entre um resíduo de N-acetil-β-Dglucosamina e outro resíduo adjacente, pode ser do tipo exo ou endoglucosidasicas, e essas se encontram distribuídas em seis famílias de glicosilhidrolases: GH3, GH18, GH19, GH20, GH73 e GH84. (LIMA, 2006). A tabela 1 abaixo sumariza as características das seis famílias citadas. O sistema de classificação glicosil-hidrolase (GH), introduzido e desenvolvido por HENRISSAT, (1991) e HENRISSAT; BAIROCH, (1993) está disponível em um banco de dados geral (http://afmb.cnrs-mrs.fr/~CAZY/index.html) (COUTINHO; HENRISSAT, 1999; LIMA, 2006). Tabela 1: Família das glicosil-hidrolases que possuem atividade N-acetil-β-Dglucosaminidásica. Família GH3 Atividades conhecidas β-glicosidase (EC 3.2.1. 21); xilano 1,4-β-xilosidase (EC 3.2.1. 37); β-N-acetilhexosaminidase (EC 3.2.1. 52); glicano 1,3-β-glicosidase (EC 3.2.1. 58); glicano 1,4-β-glicosidase (EC 3.2.1. 74); exo-1,31,4-glicanase (EC 3.2.1. -); α-L-arabinofuranosidase (EC 3.2.1. 55) GH18 Quitinase (EC 3.2.1. 14); endo-β-N-acetilglicosaminidase (EC 3.2.1. 96) GH19 Quitinase (EC 3.2.1. 14) GH20 β-hexosaminidase (EC 3.2.1. 52); lacto-N-biosidase (EC 3.2.1. 140) GH73 Endo-β-N-acetilglicosaminidase (EC 3.2.1. 96); β-1,4-N- acetilmuramoilhidrolase GH84 β-N-acetilglicosaminidase (EC 3.2.1. 52); hialuronidase (EC 3.2.1. 35) Fonte: (modificado de HENRRISAT ; COUTINHO, 1999). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 21 INTRODUÇÃO 1.1.2 QUITINASES As quitinases são enzimas que clivam ligações O-glicosídicas entre os carbonos C1 e C4 dos resíduos de β-1,4-N-acetilglucosamina (GlcNAc), constituintes do polímero de quitina (Figura 01). Estas enzimas são classificadas como glicosil hidrolases e compreendem cerca de 90 famílias de enzimas descritas. As quitinases foram colocadas na família 18, 19 e 20, na qual, as da família 18 são encontradas em vírus, bactérias, fungos filamentosos ou leveduriformes, plantas e animais, e, portanto, a família é diversa em termos evolucionários. Membros da família 19 são quase que exclusivas de plantas. A família 20 consiste em N-acetil-β-Dhexosaminidase ou N-acetil-β-D-glucosaminidases de bactérias, fungos e seres humanos (HORSCH et al., 1997; WITHERS, 2002; SEIDEL, 2008). Figura 01: Estrutura Química da quitina. Fonte: (Modificado de SEIDL, 2008) A quitina é a segunda substância orgânica até então conhecida na biosfera sendo superada apenas pela celulose, mas supera esta última em termos de taxa de reposição, que chega a ser duas vezes maior que a da celulose (THARANATHAN; KITTUR 2003; YEN et al., 2009). Quitina e celulose possuem características estruturais semelhantes e atuam como invólucros protetores e materiais de suporte e defesa nos organismos em que ocorrem. A quitina e/ou polímeros de N-acetil-glucosamina encontra-se na matriz da estrutura esquelética de invertebrados, como artrópodes, anelídeos, moluscos e cnidários, em algas diatomáceas, no peptideoglicano da parede celular das bactérias e também está presente nas paredes celulares de alguns fungos, como ascomicetos, zigomicetos, basidiomicetos e deuteromicetos (KARAMANOS, 1997; RIVAS et al., 2002; DUO-CHAN, 2006; ZHANG et al., 2010). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 22 INTRODUÇÃO Este biopolímero ocorre naturalmente em três diferentes formas α-, β- e γquitina (Figura 02). A α-quitina é encontrada em estruturas rígidas e resistentes, como a cutícula de artrópodes, e nesses casos ocorre fortemente associada a proteínas, materiais inorgânicos ou ambos. A α-quitina é a forma mais abundante e é também considerada a mais estável, visto que a conversão das duas últimas formas na primeira é irreversível (ROBERTS, 1992). As formas β- e γ-quitina ocorre em estruturas flexíveis embora também resistentes. Nas lulas do gênero Loligo a αquitina constitui uma fina capa que reveste as paredes do esôfago e do estômago, a β-quitina ocorre como o principal componente das conchas, ou plumas, e a γ-quitina integra uma espessa cutícula que recobre outras zonas do estômago (ABRAM; HIGUERA, 2004). Figura 02: Representação esquemática das estruturas polimórficas de quitina, sendo que as setas representam as cadeias poliméricas no sentido do terminal não-redutor para o redutor. Fonte: (CAMPANA-FILHO, 2006). As quitinases podem ser classificadas ainda, quanto ao seu modo de ação sobre o substrato. A nomenclatura enzimática oficial (EC) classifica as enzimas quitinolíticas em apenas dois grupos de enzimas: as quitinases, também conhecidas como endoquitinases, que catalizam a hidrólise randômica de ligações β-1,4 de Nacetilglucosamina (GlcNac) liberando produto solúveis como quitotetraoses, quitotriose e diacetilquitobiose; e as N-acetilglucosaminidases, também conhecidas como exoquitinases, que clivam a quitina em monômeros N-acetilglucosamina. Entretanto algumas enzimas quitinolíticas não se encaixam nessa classificação. Assim diferentes classificações foram sugeridas. Dependendo dos seus padrões de clivagem as quitinases foram divididas em três tipos: endoquitinases, exoquitinases e N-acetil-β-D-glucosaminidases. As endoquitinases Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 23 INTRODUÇÃO clivam as ligações β-1,4 da quitina a partir de qualquer ponto ao longo da cadeia polimérica liberando produtos (oligossacarídeos) de tamanho aleatório, enquanto as exoquitinases atuam a partir da porção não-redutora da cadeia e seus produtos finais geralmente são dímeros de N-acetil-β-D-glucosamina (GlcNAc)2 (SAHAI; MANOCHA, 1993; SEIDEL, 2008). As N-acetil-β-D-glucosaminidases são um grupo de enzimas que hidrolisam componentes O-glicosídicos, removendo resíduos terminais não-redutores de N-acetil-β-D-glucosamina, sendo assim, considerada uma exoglicosidase (HORSCH et al., 1997). Estas enzimas também são denominadas de N-acetil-β-D-hexosaminidases (EC 3.2.1. 52), devido ao fato de possuírem atividade N-acetil-β-glucosaminidásica bem como atividade N-acetil-βgalactosaminidásica (KRESSE; GLOSSL, 1987; HORSCH et al., 1997; NIIMI et al., 2001).( Figura, 03). Endoquitinases Exoquitinases N-acetilglucosaminidases Figura 03: Esquema dos padrões de clivagem de enzimas quitinolíticas. As subunidades da cadeia da quitina são mostradas em azul claro e o açúcar redutor em azul escuro. As tesouras representam as ações enzimáticas Fonte: (Modificado de SEIDL, 2008). 1.1.2.1 OCORRÊNCIA E FUNÇÕES DAS QUITINASES Diversos estudos apontam o papel fisiológico e ecológico das quitinases. Na maioria destes estudos conclui-se que elas estão envolvidas em processos de defesa contra patógenos, mas que também desempenham outros papéis importantes que serão abordados adiante. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 24 INTRODUÇÃO A quitina, além de estar presente em fungos, também se encontra em insetos e crustáceos (LENARDON et al., 2010; CHEN et al., 2010; QIN et al., 2010). As quitinases em crustáceos são associadas à degradação parcial do exoesqueleto durante seu desenvolvimento, por um mecanismo que parece estar sob o controle hormonal. Assim como nos crustáceos, o desenvolvimento de insetos está diretamente relacionado com a regulação da síntese e degradação de quitina, que é o principal componente do seu exoesqueleto (SPINDLER-BARTH, 1993). Além do papel no desenvolvimento, as quitinases também exercem o papel de defesa contra patógenos em outros invertebrados Segundo MULLEN et al. (2004), estudos preliminares mostraram a presença de altos níveis de exo e endoquitinases em corais infectados por fungos. As quitinases em fungos parecem ser um fator decisivo na colonização e predação para obtenção de alimentos (BISHOP et al., 2000). A atividade quitinolítica é de fundamental importância para patogênese de infestação por fungos, como por exemplo, Metarhizium anisopliae sf. acridum (SCREEN et al., 2001). Através da indução com quitina, este microorganismo foi capaz de secretar isoformas básicas e acidas de endoquitinases (KANG et al.,1999). Estas enzimas são largamente utilizadas por M. anisopliae na colonização de lagartas de Manduca sexta, digerindo a cutícula e a membrana peritrófica (SCREEN et al., 2001). No culicídeo Aedes aegypti, a quitina é um dos componentes principais da membrana peritrófica (MP) formada no meio intestinal da fêmea adulta após o repasto sanguineo, o que ocasiona a proteção do sangue ingerido contra micróbios patogênicos, promovendo assim uma barreira a distribuição e crescimento subseqüente desses patógenos. (FILHO et al., 2002), desta forma a degradação da membrana peritrófica nesses insetos pode ocasionar crescimento de microorganismos promovendo sua infestação como também pode ocasionar a ruptura no tecido intestinal, o vazamento do fluido celular e o desbalanceamento osmótico, matando o inseto por desidratação ou inanição (BISHOP et al., 2000). Estudos mostraram que quando o culicídeo Aedes aegypti se alimenta de alosamidina X, ocorre a formação atípica da membrana peritrófica (MP), sugerindo a presença de um sistema quitinolítico no intestino do inseto, responsável pela modificação e controle da formação da MP. O conhecimento de como este sistema quitinolítico funciona e sua função na formação da MP pode facilitar o Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 25 INTRODUÇÃO desenvolvimento de estratégias que podem ser usadas para manipular o processo natural, incluindo a interrupção da invasão de patógenos em mosquitos vetores (FILHO et al., 2002). As quitinases são também podem ser encontradas em alguns organismos que não apresentam a quitina em sua constituição, como em bactérias, nematódeos e plantas (COHEN-KUPIEC; CHET, 1998). Em bactérias como Serratia e Streptomyces como também em nematódeos (Onchocerca gibsoni) (McNAB; GLOVER, 1991), sua função está relacionada à nutrição. Dessa forma, a hidrólise de uma variedade de quitinas encontradas na natureza permite ao organismo utilizar esses polímeros como fonte de energia (VAN AALTEN et al., 2001; COHENKUPIEC; CHET, 1998). Em nematódeos, as quitinases estão presentes na casca do ovo e contribuem para a manutenção de sua integridade (ARNOLD et al., 1993). Quitinases em plantas estão associadas à defesa contra patógenos e fazem parte do grupo de proteínas denominadas PR (Pathogenesis Related Proteins), que são proteínas capazes de induzir resistência local ou sistêmica ao ataque de fungos e outros fitopatógenos. Evidências indicam que as quitinases têm um papel direto nessa defesa por atacar diretamente os polímeros de quitina, que é o maior componente da parede celular da maioria dos fungos (COLLINGE et al., 1993; KUPIEC; CHET, 1998; HODGE et al., 1996). Nesses casos, essas enzimas possuem um papel de defesa contra organismos que possuem quitina em sua composição, inibindo in vitro o crescimento de fungos filamentosos, especialmente em combinação com β-1,3-glucanase (COHEN-KUPIEC; CHET, 1998; ISELI et al.,1996). Embora animais vertebrados não sejam produtores de quitina, a presença de quitinases tem sido verificada no organismo de várias espécies desses animais. Essas enzimas são encontradas em vários órgãos e tecidos, como no trato digestivo, participando do metabolismo de carboidratos (JEUNIAUX, 1993). Peixes que se alimentam de crustáceos ou insetos contêm uma grande concentração de quitinases em seu suco pancreático (ROTTA, 2003). A expressão de quitinases em mamíferos não havia sido reportada até 1994 quando HOLLACK et al. identificaram a primeira quitinase humana em pacientes com a Doença de Gaucher. Em outro estudo BOOT et al. (2001) identificaram no trato gastrintestinal e pulmões, outra quitinase denominada AMCase (acidic mammalian chitinase). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 26 INTRODUÇÃO A ocorrência de quitinases em mamíferos e humanos sugere que sua função esteja relacionada com a metabolização de carboidratos e de participação em mecanismos de defesa contra agentes patogênicos. No entanto, seu papel fisiológico em mamíferos e especialmente em humanos ainda não é completamente conhecido e parece ser um paradoxo, sendo presença da quitotriosidase fortemente associada também à arteriosclerose e a presença da AMCase associada à asma. Esses dados sugerem que essas enzimas possam participar de desordens inflamatórias (DONNELY; BARNES, 2004). 1.1.2.2 APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS Extensos estudos sobre quitinases estão sendo desenvolvidos devido ao fato de sua ampla capacidade de aplicação na biotecnologia, nas mais diversas áreas como na agricultura, medicina e o setor industrial. A aplicação de quitinases na agricultura objetiva principalmente o controle biológico seja pelo desenvolvimento de bioinseticidas para controle de insetos, fungos fitopatogênicos e bactérias ou pelo desenvolvimento de plantas transgênicas resistentes ao ataque de microorganismos ou ainda na produção de quitooligossacarídeos biologicamente ativos (PATIL et al., 2000; FLEURI, 2008). Muitas quitinases de várias fontes têm apresentado atividade contra patógenos de plantas e contra insetos que causam pestes na agricultura (DAHYIA et al., 2006). Quitinases de T. harzianum (DEMARCO et al., 2000), Enterobacter sp. NRG4 (DAHYIA et al., 2005), Cellulosimicrobium cellulans 191 (FLEURI; SATO, 2008) Clonostachys rósea (LU BECK et al., 2009) e de sementes de Acacia confusa (NG et al., 2010) , já mostraram atividade inibitória contra alguns desses patógenos, podendo assim ser utilizados como suplementos na produção de fungicidas e inseticidas. A partir da bactéria Bacillus circulans foi produzido uma quitinase para ser usada como suplemento bioinseticida da bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis para controle de larvas de lepidópteras. Um sistema lítico composto das seguintes enzimas: quitinase, protease, β-glucanase e lipase foram utilizadas para o controle de manchas nas folhas de centeio, causadas por Biopolaris sorokiniana (FLEURI; SATO, 2005). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 27 INTRODUÇÃO Tem sido extensamente pesquisada a utilização das quitinases na produção de quitooligossacarídeos com atividades biológicas. Estes são potencialmente úteis na medicina. Por exemplo, a quitohexaose e quitoheptaose mostraram atividade antitumoral. A combinação específica de enzimas quitinolíticas com altos níveis de endo-quitinases e baixa atividade de N-acetilglucosaminidases e exo-quitinases podem ser necessárias para obter o oligossacarídeo desejado. Em contrapartida a produção de N-acetilglucosamina pode ser obtida utilizando altas proporções de exo-quitinases e N-acetilglucosaminidases. Este açúcar quando aplicado por via intramuscular ou oral é um potente antiinflamatório podendo ser utilizado no tratamento de colites ulcerativas ou doenças gastrointestinais (PATIL et. al., 2000). Quitinases purificadas podem liberar oligômeros de quitina, a partir da parede celular fúngica (SCHLUMBAUM et al., 1986) como também podem agir semelhantemente à lisozima, sobre paredes celulares bacterianas (HERGET et al., 1990; STINTZI et al., 1993). A quitina também está presente na membrana peritrófica (MP) de insetos como o Aedes Aegypti. A MP protege o epitélio intestinal e promove a compartimentalização das enzimas digestivas, sendo fundamental para o processo digestório. As quitinases podem ter ação inseticida por interferirem na integridade da MP. Etapas adicionais de purificação dessa (s) quitinase(s) poderão indicar essas proteínas como candidatas no controle do inseto transmissor da dengue. Outro campo em que pode haver utilização de quitina é a bioconversão. O consumo de camarões no mundo é muito grande, principalmente em países costeiros. No entanto, somente a carne é consumida e o cefalotórax e a casca, são descartados. Há dados em que alguns países são produzidos mais de 2,5 milhões toneladas de lixo dessa natureza (HAKI et al., 2003; DAHYIA, 2006). Assim, o desenvolvimento de métodos de conversão desse rejeito em produtos derivados de quitina é de grande importância. E esses derivados de quitina podem ser obtidos pela degradação desses pelas quitinases. Nos últimos anos várias quitinases derivadas de diversos organismos foram isoladas, clonadas ou expressas na forma recombinante (Tabela 2). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 28 INTRODUÇÃO Tabela 2: Algumas quitinases já isoladas e caracterizadas. Origem Streptomyces sp. TH-11 Massa Molecular (kDa) 29 Penaeus monodon 72,4 e 51,9 PROESPRAIWONG et al., 2010 Ipomoea carnea 30,6 PATEL et al., 2010 Pennahia argentatus 42 IKEDA et al., 2009 Pieris rapae 59,5 e 57,2 SHI et al., 2006 Bacillus thuringiensis 74 Pseudomonas aeruginosa 385 Pseudomonas sp YHS-A2 58 THOMPSON et al., 2001 67 LEE et al., 2000 1.2 Litopenaeus schmitti (BURKENROAD, Autor/Ano HOANG et al., 2011 BARBOZA-CORONA et al., 2002 1936) COMO FONTE DE QUITINASES O camarão branco Litopenaeus schmitti, é o único pertencente ao gênero Litopenaeus que ocorre em águas brasileiras. Assim como várias outras espécies da família Penaeidae, possuem alta fecundidade, procriam em águas costeiras e apresentam estágio larval planctônico por uma semana ou mais, sendo facilmente disperso pelas correntes (LUVESUTO, 2006). As áreas estuarinas são zonas adequadas para a nutrição e desenvolvimento dos camarões (GAMBA; RODRIGUEZ, 1987), onde crescem aproximadamente de 10 mm a 75 mm, durante aproximadamente de 6 a 9 meses (EWALD, 1965; NEIVA et al., 1971). Os machos da espécie crescem em torno de 170 mm e as fêmeas comumente atingem um tamanho de 200 mm. Os maiores indivíduos devem ter em torno de 2 anos, uma vez que os camarões peneídeos possuem baixa longevidade (1,5 a 2 anos) (ROTHLISBERG et al.,1985). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 29 INTRODUÇÃO A espécie Litopenaeus schmitti popularmente conhecida como “Vila Franca”, ocorre no Atlântico ocidental desde as Antilhas até o Rio Grande do Sul (Figura 04), sendo os adultos encontrados em pequenas profundidades de até 47 metros (PÉREZ-FARFANTE, 1970; SILVA, 1977). Figura 04: Mapa da distribuição geográfica do camarão branco Litopenaeus schmitti . Fonte: (MARTINELI, 2005). O camarão branco apresenta características relacionadas à sua distribuição e ao seu ciclo de vida que podem influenciar a estruturação em escala fina de suas populações, como a ocorrência do acasalamento e postura próximos a costa (entre 20 e 30 metros) e a permanência dos pré-adultos nas proximidades de regiões estuarinas (SILVA, 1977). Nesta espécie, a postura aparentemente é realizada em águas marinhas de pequena profundidade e de salinidade elevada (EWALD, 1965; PÉREZ-FARFANTE, 1970; COELHO; SANTOS, 1994). A maior parte das fêmeas em postura tem 7 meses de idade, sendo a idade média da Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 30 INTRODUÇÃO primeira maturação inferior a 6 meses; poucas se reproduzem novamente aos 1012 meses de idade (COELHO; SANTOS, 1994). Sua distribuição está associada a substratos maciços e lamacentos com um conteúdo orgânico relativamente alto e alta turbidez da água, característico de águas estuarinas (DALL et al., 1990). Há poucos estudos sobre essa espécie de camarão, principalmente quando se diz respeito à enzimologia. Os trabalhos existentes abrangem outras espécies de camarão ou aspectos ligados a identificação de genes relacionados ao sistema imune de Litopenaeus vannamei (LIMA NETO, 2006), bioconversão de resíduos para produção de quitosana (ASSIS et al., 2008), efeitos de íons mercúrio na atividade da qutinase (LIN et al., 2005), caracterização dos glicosaminoglicanos isolados do L. schmitti (SANTOS, 2006) e análise filogenética de quitinases do camarão Penaeus monodon (PROESPRAIWONG et al., 2010). Os estudos realizados em nosso laboratório sugerem uma ampla perspectiva de trabalhos a serem realizados com endo-, exoglicosidases e sulfatases encontradas em aninais marinhos como, por exemplo, a identificação de glicodidases e sulfatases em diferentes tecidos do molusco Aplysia cervina (MATTA; ABREU, 2005), indentificação de uma nova β-N-acetylhexosaminidase do cnidário Palythoa caribaeorum (SOUZA et al., 2008) e a purificação de uma β-Nacetylhexosaminidase do mamífero marinho Sotalia fluviatilis (GOMES JÚNIOR et al., 2010). O estudo e a purificação destas enzimas e suas utilizações biotecnológicas como antifúngicos, antibacterianos e bioinseticidas é uma das propostas desta pesquisa e servirão como ferramentas moleculares na elucidação de estrutura química de glicoconjugados, dissacarídeos e/ou oligossacarídeos e de polissacarídeos marinhos de algas marinhas, como ainda a produção de oligossacarídeos com potenciais atividades farmacológicas. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 31 OBJETIVOS 2. OBJETIVOS: 2.1. Gerais Isolar, caracterizar cineticamente e realizar ensaios microbiológicos e larvicida com a quitinase, obtida do camarão Litopenaeus schmitti. 2.2. Específicos • Extrair glicosidases e sulfatases do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus schmitti; • Fracionar estas enzimas através de precipitação com sulfato de amônio e identificar glicosidases e sulfatases nestas frações utilizando substratos sintéticos específicos; • Purificar a quitinase utilizando cromatografias; • Propor a massa molecular da quitinase isolada; • Realizar testes cinéticos com a Litochitinase1; • Avaliar a atividade antibacteriana e antifúngica da Litochitinase1 sobre cepas de Staphylococcus aureus, Candida albicans, Candida tropicalis, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa; • Investigar a presença de quitina nos intestinos médios das larvas de Aedes aegypti; • Avaliar a atividade larvicida das frações ricas em Litochitinase1 contra larvas de Aedes aegypti; • Identificar a presença de proteínas bioativas como: proteinases serínicas e lectinas, nas frações ricas em Litochitinase1; • Avaliar a influência das enzimas digestivas de A. aegypti sobre a Litochitinase1. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 32 MATERIAIS 3. MATERIAIS 3.1. Material Biológico 3.1.1 Camarão Litopenaeus schmitti Surperfilo: Artropoda Filo: Crustacea Classe: Malacostraca Ordem: Decapoda Família: Penaeidae Gênero: Litopenaeus Espécie: Litopenaeus schmitti Figura 05: Litopenaeus schmitti. Fonte: Arquivo Próprio Os camarões da espécie Litopenaeus schmitti foram obtidos no Mercado de peixes situado na cidade do Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Estes foram mantidos a 4°C durante o transporte e depois armazenados a -20°C até seu processamento. 3.1.2. Insetos As larvas do quarto instar de Aedes aegypti foram obtidas da criação mantida no Laboratório de Entomologia (LABENT) do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFRN. Estes experimentos foram realizados com o auxílio da aluna de pós-graduação, a Veterinária (CRMV- RN 373) Patrícia Barra e da Profa. Dra. Maria de Fátima F. de M. Ximenes. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 33 MATERIAIS 3.1.3. Eritrócitos Humanos Os eritrócitos humanos foram obtidos através de doações de bolsas de sangue pelo HEMOCENTRO-RN. As bolsas fornecidas encontravam-se fora do prazo de validade para transfusões. 3.1.4. Microorganismos As cepas de Staphylococcus aureus (25923), Candida tropicalis (13803), Escherichia coli (25922) e Pseudomonas aeruginosa (27853), foram obtidas do Banco de Cepas ATCC (Americam Type Culture Collection) e Candida albicans (12) obtida do banco ICB e mantidas no Laboratório de Micologia Médica e Ambiental (LAMEA) no Departamento de Microbiologia e Parasitologia da UFRN. Estes experimentos foram realizados sob a supervisão e orientação da Profa. Dra. Vânia Sousa Andrade e com o auxílio da aluna de Iniciação Cientifica (Bolsista PROPESQ) Gabriela Medeiros Araújo. 3.2. Substratos Sintéticos derivados de açúcares p-nitofenil-sulfato; p-nitrofenil-N-acetil-β-D-Glucosaminídeo; p-nitrofenil-β-Dglucopiranosídeo; p-nitrofenil-α-D-glucopiranosídeo; p-nitrofenil-N-acetil-α-D- galactosaminídeo; 4-Nitrofenil N, N’-diacetil-β-D-quitobiosideo; 4-Nitrofenil β-D-N, N’, N’’-triacetilquitotriose foram adquiridos da Sigma Chemical Company (St Louis, MO, EUA). 3.3. Reagentes, Soluções, membranas e matrizes cromatográficas • Acrilamida e bisacrilamida da Bio-Rad Laboratories (Hercules, CA, EUA), dodecil sulfato de sódio (SDS) e ácido acético (C2H4O2) da Reagen, Quimibras Indústrias Químicas S.A. Indústria Brasileira (Rio de Janeiro, RJ, Brasil); • Hidróxido de sódio (NaOH), Álcool etílico (C2H6O) foi obtido da CIRQ Cromato Produtos Químicos LTDA (São Paulo, SP, Brasil); Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 34 MATERIAIS • Albumina sérica bovina, ácido etilenodiamino tretra-acético (EDTA), persulfato de amônio, glicina, N, N,N’ tetra-metileno diamino (TEMED), nitrato de prata, “Coomassie brilhante blue” G 250, Azocaseína, Proteases Serínicas: Tripsina e Quimotripsina, Protease Cisteínica: Papaína, da Sigma Chemical Company (St Louis, MO, EUA); • Padrões de massa molecular para eletroforese da Fermentas Life Sciences (Ontário, Canadá); • Tiossulfato de sódio (Na2S2O3), acetato de sódio (NaC2H3O2), cloreto de sódio (NaCl), ácido clorídrico (HCL), cloreto de potássio (KCL), sulfato de amônio ((NH2)2SO4), e fosfato de sódio monobásico (Na2HPO4.H2O), acetona, sulfato de sódio (Na2SO4), fosfato de sódio dibásico (NaH2PO4) e citrato de sódio (NaC6H5O7) foram adquiridos da VETEC Química Fina LTDA (Rio de Janeiro, RJ, Brasil); ácido tricloroacético (CCl3COOH) da MERCK (Darmstadt, Germany); • Membranas de diálise (limite de exclusão: 6.000-8.000 e 12.000-14.000 dáltons) da Spectrum Medical Industries, Inc.(Houston TX, EUA); • Matriz cromatográfica DEAE-Biogel A 1,5m da Bio Rad Laboratories (Richmond, CA, EUA); • Matriz cromatográfica Sephacryl S-200 da Sigma Chemical Company (St Louis, MO, EUA). 3.4. Aparelhos • Agitador orbital modelo 2525, Banhos e estufas de temperaturas constantes da FANEM LTDA (São Paulo, SP, Brasil); • Balança analítica – SCIENTECH, obtidos da QUIMIS Aparelhos Científicos LTDA (Diadema – SP, Brasil); • Bomba peristáltica modelo 18-1110-91 e coletor de frações modelo 18-1003- 64, Pharmacia Biotech, (Uppsala, Sweden); • Centrifuga refrigerada modelo CR 21 da Hitachi Koki Co. LTDA (Tóquio, Japão); • Concentrador 5301 Eppendorf (Hamburgo, Germany); • Espectrofotômetro Hitachi U 2000 (Tóquio, Japão) ; • Lupa, Olympus (California, USA) Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 35 MATERIAIS • Medidor de pH Digimed (São Paulo, SP, Brasil); • Microcentrífuga Eppendorf 5410 (Hamburgo, Germany); • Sistema de eletroforese em gel vertical, modelo Mini-VE da Amersham Biosciences (Uppsala, Suécia); • Sistema de ultrapurificação de água Millipore modelo Milli-Q Plus (NYE, EUA) • Fluxo Lâminar-Purifier Class II Biosafety Cabinet (Kansas City, EUA). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 36 MÉTODOS 4. MÉTODOS 4.1. Obtenção do Extrato Bruto Os camarões da espécie Litopenaeus schmitti foram descongelados, os cefalotórax foram cuidadosamente separados da musculatura e homogeneizados com dois volumes de tampão acetato de sódio 0,1 M pH 5,0, em banho de gelo. Em seguida centrifugados a 12.000 x g (4°C) e as fases solúveis (extratos brutos) utilizados para posterior fracionamento utilizando-se sulfato de amônio. 4.2. Fracionamento com Sulfato de Amônio O fracionamento com sulfato de amônio foi efetuado em três etapas de saturação: 0-30%, 30-50% e 50-80%. A concentração de sal, correspondente a cada saturação, foi adicionado lentamente sobre a amostra sofrendo leve agitação e, posteriormente deixado por 18 horas a 4°C (geladeira). Em seguida foram centrifugados a 12.000 x g, os precipitados ressuspensos em tampão acetato de sódio 0,1 M pH 5,0 e dialisados por 18 horas contra o mesmo tampão (quatro vezes). Todos estes processos foram executados a 4°C. Estas frações foram denominadas F-I, F-II e F-III, referindo-se aos percentuais de saturação 0-30%, 3050% e 50-80%, respectivamente (Figura 06). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 37 MÉTODOS Homogenizado com tampão acetato de sódio 0,1M pH 5,0 12.000 x g – 30’, 4 ºC Sobrenadante (Extrato Bruto) 0-30% Sulfato de amônio 12.000 xg –30’, 4 ºC Precipitado (F-I) Sobrenadante 30-50% Sulfato de amônio 12.000 xg –30’, 4 ºC Precipitado (F-II) Sobrenadante 50-80% Sulfato de amônio 12.000 xg –30’, 4 ºC Precipitado (F-III) Figura 06: Fluxograma do fracionamento com sulfato de amônio. 4.3. Determinação das Atividades Enzimáticas Com p-Nitrofenil Derivados de Açúcar As incubações com p-nitrofenil derivados de açúcar (p-nitrofenil-α-Dgalactopiranosideo, p-nitrofenil-sulfato, p-nitrofenil-β-D-glucopiranosídeo, p-nitrofenilβ-D-N-acetilglucosaminídeo e p-nitrofenil-α-D-glucopiranosídeo, 4-Nitrofenil N, N’diacetil-β-D-quitobiosideo, 4-Nitrofenil β-D-N, N’, N’’-triacetilquitotriose) foram realizadas utilizando-se 10 mM de cada substrato sintético com alíquotas do extrato bruto, das frações precipitadas com sulfato de amônio e cromatográficas (volume final de 100 µL). Os ensaios foram realizados no tempo de 30 minutos a 37°C para o EB e F-III e 2 horas a 55°C para as cromatografias. As reações foram interrompidas com 1 mL de hidróxido de sódio 0,25 N e o p-nitrofenol liberado lido em Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 38 MÉTODOS espectrofotômetro a 405 nm. Para cada ensaio foram feitos controles negativos dos substratos (substrato e tampão no mesmo volume e concentração do ensaio). Uma unidade de atividade foi definida como a quantidade de enzima capaz de aumentar em 0,01 unidade de absorbância a 405 nm. 4.4. Dosagem de Proteínas Para a quantificação das proteínas utilizamos o método de SEDMAK; GROSSBERG (1977) com albumina sérica bovina como padrão. 4.5. Purificação da Enzima 4.5.1. Cromatografia de Troca Iônica DEAE-Biogel A fração F-III (9,32 mg), proveniente do fracionamento com sulfato de amônio, foi submetida à cromatografia de troca-iônica DEAE-Biogel. A coluna com cerca de 10 cm3 de gel foi equilibrada em tampão fosfato de sódio 0,02 M pH 8,0. Para a remoção das proteínas, que não se complexaram com o gel, foi feita eluição (fluxo de 1 mL/3min) com o mesmo tampão até que nenhuma proteína fosse detectada no eluato. Este pico protéico é, geralmente, denominado de não-retido. Em seguida, as proteínas retidas, foram eluídas da coluna utilizando-se o mesmo tampão, acrescido de cloreto de sódio nas concentrações de 0,2; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0M. Todas as etapas foram realizadas a 4°C. O perfil de eluição protéica das frações da coluna foi determinado por absorção a 280 nm. Para determinação das atividades enzimáticas, alíquotas de 20 µL (0,062 µg) destas frações foram ensaiadas a 37°C durante uma hora com p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo. O p-nitrofenol liberado foi lido a 405 nm em espectrofotômetro. 4.5.2. Cromatografia de Exclusão Molecular – Sephacryl S – 200 Cerca de 2 mL (1 mg), da fração eluída a 0,2 M de NaCl proveniente da cromatografia de troca iônica DEAE-Biogel, foi aplicada em cromatografia de exclusão molecular Sephacryl S-200 (com diâmetro de 104 cm x 0,9 cm), equilibrada Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 39 MÉTODOS com tampão acetato de sódio 0,1 M pH 5.0. As proteínas foram eluídas utilizando-se o mesmo tampão com o fluxo de 0,4 mL por minuto, sendo coletadas frações de 2 mL/5 min e armazenadas a 4°C até o uso. O perfil de eluição protéica foi monitorado em espectrofotômetro a 280 nm e para a determinação das atividades enzimáticas, alíquotas de 50 µL destas frações foram avaliadas a 45°C durante 2 horas com pnitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo. O p-nitrofenol liberado foi lido a 405 nm em espectrofotômetro. 4.6. Eletroforese em gel de Poliacrilamida em condições desnaturantesSDS/PAGE Para avaliar o grau de pureza da quitinase e determinar a massa molecular aparente, alíquotas (20 µg) das frações: extrato bruto, F-III, pico protéico de maior atividade quitinásica eluído da cromatografia de troca iônica DEAE-Biogel e exclusão molecular Sephacryl S-200 foram submetidos a uma eletroforese em gel de poliacrilamida 10% em presença de SDS, de acordo com a metodologia descrita por LAEMMLI, (1970). As frações foram precipitadas com acido tricloroacético 90% na razão de 9:1. Após 30 minutos de precipitação em banho de gelo, as amostras foram centrifugadas durante 15 minutos a 15.000 x g, o sobrenadante foi descartado e ao precipitado adicionado acetona e uma nova centrifugação foi realizada nas mesmas condições da anterior. Uma vez descartado o sobrenadante, o precipitado foi ressuspenso em 20 µL de tampão de amostra (azul de bromofenol 5%, SDS 20% e sacarose 10%). A corrida eletroforética foi realizada a uma corrente de 30mA por aproximadamente 2 horas. Para a revelação das bandas protéicas, o gel foi corado com coomassie blue R 250 0,1% em solução de metanol 40% e ácido acético 10%, e descorado com a solução de metanol 40% e ácido acético 10%. Para a detecção de proteínas na ordem de nanogramas, o gel foi corado com nitrato de prata de acordo com a seguinte metodologia: O gel corado, como já descrito, foi desidratado seqüencialmente com três lavagens em solução de etanol 50%, por 20 minutos cada. Em seguida, o gel foi colocado sob agitação durante 1 minuto em solução de tiossulfato de sódio 0,02%. Este foi lavado rapidamente três vezes com água destilada e, em seguida, foi adicionado solução de nitrato de prata 0,2% acrescida de 74 µl de formaldeído 37% mantendo-se por 20 minutos sob Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 40 MÉTODOS agitação. O gel foi lavado novamente três vezes com água destilada e adicionou-se solução reveladora de carbonato de sódio 6%, acrescida de 50 µl de formaldeído 37% e 2 mL de tiossulfato de sódio 0,02%. A reação foi interrompida com acido acético 13% após obtida a coloração desejada. 4.7. Estudos Cinéticos Os experimentos cinéticos foram realizados incubando-se a quitinase, obtida purificada da cromatografia de exclusão molecular Sephacryl S-200, com o pnitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo como substrato. Os ensaios foram realizados em duplicatas, com seus respectivos controles negativos (tampão e substrato no mesmo volume, concentrações, temperaturas e pH dos ensaios). 4.7.1. Determinação da constante de Michaelis-Menten (Km) Com o objetivo de se determinar o Km aparente da quitinase para a hidrólise do p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo, alíquotas de 50 µl (4,05 µg) da enzima foram incubadas a 55°C durante 2 h com diferentes concentrações finais do pnitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo (0,25; 0,50; 0,75; 1,0; 1,25; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0 e 3,5 mM). Os ensaios foram feitos em duplicatas, sendo interrompidos com 1 mL de NaOH 0,25 N e o p-nitrofenol liberado lido em espectrofotômetro a 405 nm. Controles negativos dos substratos foram feitos para cada concentração utilizada. Os valores de Km foram calculados por meio do programa de computador ORIGIN 5.0. 4.7.2. Efeito da temperatura sobre a atividade enzimática A influência da temperatura sobre a atividade da quitinase foi realizada incubando-se 50 µl (4,05 µg) desta e 1,5 mM do p-nitrofenil-N-acetil-β-Dglucosaminídeo durante 2 horas nas temperaturas de 4; 25; 37; 45; 50; 55; 60; 70 e 80°C. Transcorrido cada ensaio as reações foram interrompidas como descrito em 3.3. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 41 MÉTODOS A fim de testar a estabilidade da quitinase frente a variadas temperaturas, foram feitas pré-incubações usando 50 µl (4,05 µg) da enzima durante 30 minutos a 25, 37, 45, 50, 55, 60, 70, 80 e 100°C na ausência do substrato. Transcorrido o tempo, o p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo foi adicionado para uma concentração final de 1,5 mM e incubado a 55°C durante 2 h. Em seguida as reações foram interrompidas como descrito em 3.3. 4.7.3. Influência do pH sobre a atividade enzimática Para a realização destes experimentos alíquotas de 200 µl (16,2 µg) da quitinase foram dialisadas durante 18 horas contra os tampões: glicina-HCl pH 3,0; 3,5 e 4,0; acetato de sódio pH 4,0; 5,0 e 5,5; fosfato de sódio pH 5,5; 6,0 e 7,0 e Tris-HCl pH 7,0; 8,0 e 9,0. Todos os tampões estavam na concentração de 0,1 M. Após a diálise alíquotas de 50 µl (4,05 µg) da enzima dialisada, nos tampões já citados, foram incubadas com 1,5 mM de p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo durante 2 horas a 55°C. Transcorrido o tempo de ensaio as reações foram interrompidas e quantificadas a 405 nm em espectrofotômetro. A fim de testar a estabilidade da quitinase frente a variações de pHs, alíquotas de 200 µl (16,2 µg) da quitinase foram dialisadas durante 18 horas contra os tampões: glicina-HCl pH 3,0; 3,5 e 4,0; acetato de sódio pH 4,0; 5,0 e 5,5; fosfato de sódio pH 5,5; 6,0 e 7,0 e Tris-HCl pH 7,0 ;8,0 e 9,0. Foram feitas pré-incubações usando 50 µl (4,05 µg) da enzima durante 30 minutos a 50°C na ausência do substrato. Transcorrido o tempo, o p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo foi adicionado para uma concentração final de 1,5 mM e incubado a 55°C durante 2 h. Em seguida as reações foram interrompidas como descrito em 3.3. β4.7.4. Influência de diversos sais e EDTA na hidrólise do p-nitrofenil-N-acetil-β D-Glucosaminídeo. Alíquotas de 50 µL (4,05 µg) da enzima foram pré-incubadas a 50°C, durante 15 minutos, na presença de diversos sais e EDTA a uma concentração final de 10 mM. Transcorrido este tempo, foi adicionado o p-nitrofenol-N-Acetil-β-D- Glucosaminídeo numa concentração final de 1,5 mM e procedemos com o ensaio a Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 42 MÉTODOS 55°C, e após 2 h, os ensaios foram interrompidos com 1mL de NaOH 0,25 N e o pnitrofenil liberado, lido em espectrofotômetro a 405 nm. Os sais utilizados nesse experimento foram: Cloreto de Magnésio (MgCl2), Cloreto de Potássio (KCl), Cloreto de Cálcio (CaCl2), Tiossulfato de sódio pentahidratado (Na2S2O25H2O), Sulfato de sódio (Na2SO4), Fosfato de sódio dibasico (NaH2PO4), Fosfato de sódio monobásico (Na2HPO4.H2O), Citrato de sódio(NaC6H5O7), cloreto de sódio (NaCl), além do ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA). 4.8. Preparação da quitinase para os ensaios biológicos A Litochitinase1, foi submetida a precipitação em 2 volumes de acetona,na qual esta foi adicionada lentamente sobre a amostra sofrendo leve agitação e, posteriormente deixada por 18h a 4°C (geladeira). Em seguida foi centrifugada a 12.000 x g, o sobrenadante descartado e o precipitado ressuspenso em tampão acetato de sódio 0,1 M pH 5,0 para a realização dos ensaios biológicos. Todos estes processos foram executados a 4°C. 4.9. 4.9.1. Avaliação da atividade antimicrobiana Análise Qualitativa- Técnica de Difusão em Disco Para avaliação in vitro da atividade antimicrobiana da quitinase foi inicialmente aplicada à técnica de difusão em disco (BAUER et al., 1966). A partir de cultivo em Ágar Mueller-Hinton e Ágar Saboraund foram preparadas suspensões ajustadas pela escala 0,5 Mc Farland, para as bactérias (Staphylococcus aureus) e leveduras (Candida albicans e Candida tropicalis). Em seguida as suspensões foram plaqueadas em Ágar Mueller-Hinton e Saboraund para as bactérias e leveduras, respectivamente. Posteriormente Discos de papel filtro (Whatman 6 mm), foram impregnados, com 20 µL da quitinase nas concentrações de 676 µg/mL e 1600 µg/mL, e fixados sobre a superfície do meio inoculado (Quadro 1). As placas foram incubadas em estufa bacteriológica por 24 horas, a 35 ºC. Os halos de inibição do crescimento bacteriano e fúngico foram medidos em milímetros com auxílio de uma régua milimetrada. Foi realizado o controle negativo utilizando, água destilada e/ ou tampão acetato de sódio 100 mM, pH 5,0. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 43 MÉTODOS Quadro 1: Técnica de Difusão em Disco, cepas selecionadas e concentrações da quitinase utilizada TÉCNICA MICROORGANISMO AMOSTRA TESTADA (QUITINASE) Difusão em disco S. aureus 676 µg/mL Acetato de sódio 100 mM, pH 5,0 C. albicans 1600 µg/mL Acetato de sódio 100 mM, pH 5,0 1600 µg/mL água C. tropicalis 4.9.2. Ánalise Quantificativa- 1600 µg/mL Acetato de sódio 100 mM, pH 5,0 Determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) A CIM foi obtida por meio do método de Microdiluição em caldo, de acordo com a metodologia descrita no Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI 2003). Os microorganismos utilizados nesta técnica foram: Staphylococcus aureus, Candida albicans, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa. A quitinase apartir de diluições seriadas foi testadas nas concentrações finais de 800, 400, 200 e 100 µg/mL. O teste foi realizado pela distribuição em placas de microdiluição estéreis contendo 96 poços, em cada orifício teste e de controle de crescimento foram adicionados 20 µL de inoculo microbiano e 100 µL dos meios BHI e caldo Saboraund para bactérias e leveduras, respectivamente. Os orifícios testes receberam também 50 µL da quitinase na concentração inicial de 1.600 mg/mL, já os orifício contendos os controles negativos continham 50 µL de tampão acetato de sódio 100 mM, pH 5,0 e os controles positivos continham 20 µL de gentamicina na concentração de 40 µg (Quadro 2). Em seguida, as placas foram incubadas em estufa bacteriológica por 24 horas, a 37 ºC para as bactérias e por 24 horas, a 28 ºC para as leveduras. Para leitura, que foi realizada visualmente, após o tempo de 3 h, foram adicionados 20 µL de cloreto de, 2,3,5 – trifenil – tetrazólio (CTT) em cada orifício, indicador de multiplicação bacteriana, que apresenta coloração avermelhada na presença de células viáveis. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 44 MÉTODOS Quadro 2: Técnica de Microdiluição em Caldo, cepas selecionadas e concentrações da quitinase utilizada TÉCNICA MICROORGANISMO AMOSTRA TESTADA (QUITINASE) 800µg/mL Acetato de sódio 100 Mm, pH 5,0 C. albicans 800 µg/mL água Microdiluição em Caldo S. aureus 800 µg/mL Acetato de sódio 100 Mm, pH 5,0 E. coli 800µg/mL Acetato de sódio 100 Mm, pH 5,0 800 µg/mL água P.aeruginosa 800µg/mL Acetato de sódio 100 Mm, pH 5,0 *Para os ensaios de microdiluição em caldo foram realizadas diluições seriadas 4.10. Ensaios com Aedes aegypti 4.10.1. Obtenção das larvas de Aedes aegypti Armadilhas (Ovitrampas) foram colocadas em diversos pontos no Campus Universitário da UFRN e no Bairro Nordeste (elevado índice de infestação predial), Natal-RN. Semanalmente as palhetas foram trazidas para o LABENT, Laboratório de Entomologia Médica da UFRN, e após a contagem dos ovos, foram submersas em uma bandeja plástica (30 cm x 20 cm x 15 cm) com água limpa contendo ração para peixes autoclavada. Após a eclosão as palhetas foram removidas e as larvas identificadas em microscópio estereoscópico como sendo de Aedes aegypti, onde posteriormente foram utilizadas nos ensaios. 4.10.2. Dissecação das larvas de A. aegypti Cem larvas de A. aegypti no quarto instar foram dissecadas em banho de gelo, com o auxílio de uma lupa, e trato intestinal das larvas foi exposto utilizando-se pinças e transferido para microtubos de ensaio contendo solução tampão Tris-HCl Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 45 MÉTODOS 50 mM pH 7,5. Todos os materiais coletados foram mantidos a -20°C, até a extração do homogenato intestinal e utilização nos ensaios de inibição. 4.10.3. Preparo do homogenato intestinal das larvas O homogenato intestinal foi preparado seguindo a metodologia estabelecida por TERRA et al. (1997), com algumas modificações. Os intestinos das larvas dos insetos foram homogeneizados com o auxílio de um pistilo em tubos eppendorff, em banho de gelo, por aproximadamente 10 minutos, usando-se como extrator 800 µL de Tris-HCl 50 mM pH 7,5. Em seguida os homogenatos foram centrifugados a 10.000 x g durante 15 minutos a 4°C. Os sobrenadantes obtidos foram utilizados posteriormente para os ensaios de inibição. 4.10.4. Detecção de quitina no intestino das larvas de A. aegypti Os intestinos das larvas foram retirados com auxílio de pinça e bisturi, e em seguida reservados. Os intestinos foram então lavados para a remoção dos conteúdos luminais remanescentes. A presença da quitina foi verificada por meio do teste de Von Wisselingh (ROGER; PERKINS, 1968). Este teste qualitativo detecta quitosana produzida após tratamento térmico do material contendo quitina, com NaOH saturado por 15 minutos a 160 °C. Resíduos foram lavados com diferentes concentrações de álcool etílico: 10, 20, 30, 40, 80 e 95%. Após a reação, a presença de quitina foi observada com solução de lugol e, em seguida, ácido sulfúrico a 1%. Controle positivo foi feito utilizado quitina de lagosta e para controle negativo foi utilizado celulose. 4.10.5. Ensaios com larvas de A. aegypti A atividade larvicida da Litochitinase1 foi avaliada utilizando uma adaptação da Organização Mundial de Saúde (1981). Cinco larvas do quarto estádio (L4) foram colocadas em recipientes plásticos descartáveis contendo os extratos brutos, F-III e S-200. As concentrações utilizadas para o extrato bruto foram 1,55; 3,8; 5,7 e 7,22 mg/mL. Já as concentrações para a F-III foram 1,23; 1,84; 3,08 e 4,31 mg/mL e para a Litochitinase1 foram utilizadas as seguintes concentrações: 0,472; 0,675; 0,9 e 1,12 mg/mL. O volume final do ensaio larvicida foi de 20 mL de solução de teste ou controle negativo. Os ensaios foram realizados em Programa de Pós-Graduação em Bioquímica quadruplicatas e a taxa Roberta L. N. Godone 46 MÉTODOS de mortalidade das larvas foi determinada após 24 e 48 h de incubação a 28 ± 2 ° C com fotoperíodo de 12/12 h (claro-escuro). As larvas foram consideradas mortas quando não respondiam a estímulos mecânicos como, por exemplo, a agitação aos recipientes plásticos. 4.10.6. Determinação da EC50 A concentração da quitinase que mata 50% das larvas L4 da Aedes aegypti foi determinada pela construção de uma curva regressão linear simples a qual relaciona o percentual de mortalidade com a concentração de enzima utilizada no ensaio. 4.10.7. Análises Estatísticas A análise estatística dos dados experimentais foi realizada utilizando o software de computador GraphPad Prisma 5® para Windows® (GraphPad Software, Inc, USA), para determinar a significância das diferenças (p <0,05) entre os tratamentos, por meio dos testes ANOVA e Kruskal-Wallis. 4.10.8. Investigação de proteínas bioativas interferentes no processo digestório nas larvas de Aedes aegypti 4.10.8.1. Ensaio de inibição de proteases serínicas a) Preparo do Substrato Azocaseína a 1% e 1,5% (substrato protéico) foi solubilizada em 50 mL de tampão Tris-HCL 50 mM pH 7,5. A solução foi fervida por cerca de 10 minutos. Após resfriamento o volume foi completado com água destilada. A solução foi conservada a -20 ºC até sua utilização. b) Atividade anti-quimotríptica A atividade inibitória sobre a quimotripsina foi determinada utilizando 20 µL de solução de quimotripsina bovina (0,2 mg/mL em tampão Tris-HCL 50 mM, pH 7,5, contendo CaCl2 20 mM) pré-incubada em tampão Tris-HCL 50 mM, pH 7,5, contendo CaCl2 20 mM e 100 µL das amostras enzimáticas (EB (1557,7 µg) , F-III (1121,4 µg) Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 47 MÉTODOS e a Litochitinase1 (8,1µg)) por 15 minutos a 37 °C. Após esse período, a reação foi iniciada adicionando-se 200 µL de azocaseína 1%. Descorridos 30 minutos, a reação foi interrompida adicionando-se 300 µL de solução de TCA 20%. A mistura da reação foi centrifugada a 12.000 x g por 10 minutos e o sobrenadante alcalinizado com NaOH 2 N na proporção de 1:1. A absorbância foi medida em espectrofotômetro a 440 nm. Provas em branco foram realizadas e os ensaios foram realizados em triplicatas. c) Atividade anti-tríptica A atividade anti-tríptica foi determinada utilizando azocaseína como substrato alíquotas de 20 µL de solução de tripsina bovina (0,3 mg/mL em tampão Tris-HCl 50 mM pH 7,5), foram pré-incubadas por 15 minutos a 37 °C, com 120 µL de HCl 2,5 mM, 350 µL de tampão Tris-HCl 50 mM pH 7,5 e 200 µL da amostra (EB (3115,4 µg), F-III (2242,8 µg) e a Litochitinase1(16,1 µg)). Após isso a reação foi iniciada adicionando-se 200 µL de azocaseína 1%. Descorridos 30 minutos, a reação foi interrompida adicionando-se 300 µL de solução de TCA 20%. A mistura da reação foi centrifugada a 12.000 x g por 10 minutos e o sobrenadante alcalinizado com NaOH 2 N na proporção de 1:1. A absorbância foi medida em espectrofotômetro a 440 nm. Provas em branco foram realizadas e os ensaios foram realizados em triplicatas. 4.10.8.2. Ensaios de Hemaglutinação a) Preparo do sangue Alíquotas de 2 mL de sangue foram lavadas com 8 mL de solução salina fisiológica e centrifugadas a 924 x g, até a obtenção de uma massa de eritrócitos íntegros livre de soro e material hemolisado. b) Tratamento dos eritrócitos com Papaína Uma solução estoque de papaína de 1 mg/mL em solução salina foi adicionada aos eritrócitos, previamente lavados na proporção de 1:1 (v/v). A mistura Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 48 MÉTODOS foi incubada por 30 minutos a 37 °C, com leve agitação ocasional, Em seguida foi centrifugada a 924 x g, por 5 minutos e seu precipitado foi lavado 6 vezes com solução salina. Realizou-se o hematócrito e em seguida uma solução de eritrócitos na concentração de 4% foi preparada. c) Tratamento dos eritrócitos com Tripsina Uma solução estoque de tripsina na concentração de 1mg/mL foi preparada e adicionada a 1 mL de eritrócitos, previamente lavados. A mistura foi deixada em repouso por 1 hora, a temperatura ambiente, com leve agitação ocasional. Em seguida, foi centrifugada a 924 x g, por 5 minutos e seu precipitado lavado por 6 vezes com solução salina. Realizou-se o hematócrito e uma solução de eritrócitos diluída a 4% em solução salina foi preparada. d) Ensaio Os testes de hemaglutinação foram realizados por meio de diluição seriada das amostras testes em microplacas com fundo em “V”. No primeiro poço foram adicionados 25 µL da amostra (EB (389,4 µg) e/ou F-III (280,3 µg) e/ou Litochitinase1 (2 µg)) e 25 µL de uma suspensão de eritrócitos a 4% tratados enzimaticamente enquanto que, a partir do segundo em diante foram adicionados 25 µL de solução salina, 25 µL da amostra diluída seriadamente e 25 µL da suspensão de eritrócitos a 4%, submetido a tratamentos enzimáticos. A reação foi incubada por 1 hora, a temperatura ambiente. O grau de aglutinação foi observado visualmente e o título expresso em unidade de hemaglutinação (UH), que é definido como o inverso da maior diluição da amostra que tenha apresentado nítida aglutinação (MOREIRA et al., 1977). 4.10.8.3. Efeito do homogenato intestinal das larvas de A. aegypti sobre a atividade quitinolítica a) Determinação de atividade Azocaseinolítica A atividade azocaseinolítica foi pesquisada por incubação de 30, 50 e 70 µL de homogenato intestinal com 450 µL de tampão Tris-HCl 50mM pH 7,5 e 500 µL de Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 49 MÉTODOS solução de azocaseína 1,5% por 30 minutos a 37 °C. A reação foi paralisada com 150 µL de TCA 20%. Transcorridos 30 minutos, a suspensão foi centrifugada por 15 minutos, a 12000 x g a temperatura ambiente. Alíquotas de 800 µL do sobrenadante foram alcalinizadas com 800 µL de NaOH 2 N. Todos os ensaios foram feitos em triplicatas e provas em branco foram realizadas. A atividade azocaseinolítica foi medida pela absorbância a 440 nm. b) Efeito da temperatura sobre a atividade azocaseinolítica a pH 7,5 O efeito da temperatura foi avaliado utilizando as seguintes temperaturas: 5, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80 e 90 °C. Os ensaios foram realizados com descrito no item 4.11.4. c) Influência das enzimas digestivas do A. aegypti na hidrólise do pβ-D-Glucosaminídeo nitrofenil-N-acetil-β Alíquotas de 50 µL (4,05 µg) da Litochitinase1 foram pré-incubadas a 50°C, durante 15 minutos, na presença do homogenato intestinal das larvas do mosquito A. aegypti. Transcorrido este tempo, foi adicionado o p-nitrofenol-N-Acetil-β-DGlucosaminídeo numa concentração final de 1,5 mM e procedemos com o ensaio a 55°C, e após 2 h, o ensaio foi interrompido com 1 mL de NaOH 0,25 N e o pnitrofenil liberado, lido em espectrofotômetro a 405 nm. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 50 RESULTADOS 5. RESULTADOS 5.1. Identificação de glicosidases e sulfatases nos cefalotórax dos camarões marinhos Litopenaeus schmitti A identificação das atividades enzimáticas foi pesquisada no EB e nas frações precipitadas com sulfato de amônio (F-I, F-II e F-III) obtidas dos cefalotórax dos camarões. Para isso foram utilizados alguns substratos sintéticos derivados de açúcar. Os resultados mostraram a presença de quase todas as atividades enzimáticas pesquisadas no extrato bruto, F-I, F-II e F-III (Figura 07). É possível observar ainda, no gráfico da figura 07, que os ensaios utilizando o EB e as amostras F-I, F-II e F-III, mostraram que, de todas as atividades pesquisadas, a N-acetil-β-D-glucosaminidase (quitinase) foi a que mais se sobressaiu em todos estes testes apresentado maior atividade específica na F-III. Devido a isto a F-III, foi submetida ao fracionamento em cromatografia de troca iônica DEAE-Biogel. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 51 RESULTADOS 0,03 β-D-glucosaminidase 0,025 α-D-glucosaminidase 0,02 Sulfatase 0,015 α-D-galactosaminidase 0,01 N-acetil-β-D-glucosaminidase 0,005 0 Bruto F-I F-II F-III Frações Figura 07: Atividades enzimáticas presentes no extrato bruto e nas frações obtidas da precipitação com sulfato de amônio do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus schmitti. Alíquotas das frações do extrato bruto, F-I, F-II e F-III foram incubadas com cada p-nitrofenil para uma concentração final de 10 mM a 37 ºC, durante 30 minutos. Estas foram interrompidas pela adição de 1 mL de NaOH 0,25 N e o p-nitrofenol liberado é lido em espectrofotômetro a 405 nm. Onde: Bruto, é o extrato bruto antes da precipitação com sulfato de amônio, F-I, F-II e F-III, frações precipitadas com 0-30%, 30-50% e 50-80% de sulfato de amônio, respectivamente. A atividade específica foi encontrada através da relação entre a quantidade de p-nitrofenol liberado e a massa em µg de proteína contida no volume de cada fração ensaiada, por um período de 30 minutos. 5.2. Purificação da Quitinase 5.2.1. Em cromatografia de troca-iônica DEAE-Biogel A fração F-III, por ser mais rica na atividade quitinásica, foi submetida (9,32 mg) a cromatografia de troca iônica DEAE-Biogel. Nesta etapa de purificação observou-se inicialmente a eluição de um pico não retido, eluído com o tampão de equilíbrio da coluna e, em seguida, a eluição de picos protéicos utilizando-se as concentrações de NaCl de: 0,2; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0M (Figura 08). Todas as frações eluídas da cromatografia foram incubadas com o p-nitrofenil-N-acetil-β-D- glucosaminídeo para o acompanhamento da atividade enzimática e eluição da quitinase. Estes testes mostraram a eluição da quitinase apenas no pico protéico eluído com 0,2 M de NaCl. Nas outras molaridades de NaCl, não observou-se a Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 52 RESULTADOS presença de atividade enzimática (Figura 08). O pico protéico e de atividade quitinásica eluído com 0,2 M de NaCl foram reunidos, dialisados contra tampão acetato de sódio 0,1 M pH 5,0, concentrados com dois volumes de acetona e NR 0,2 0,18 0,16 0,14 0,12 0,1 0,08 0,06 0,04 0,02 0 1 9 0,2 M 17 25 0,4 M 33 proteina 41 0,6 M 49 57 65 Frações 1M 0,8 M 73 81 89 0,5 0,45 0,4 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 D.O. 405 nm D.O. 280 nm aplicado em cromatografia de exclusão molecular Sephacryl S-200. 97 105 Atividade N-acetil-beta-D-glucosaminidase Figura 08: Perfil de eluição protéico da F-III em cromatografia de troca iônica e de atividade quitinásica. Cerca de 2 mL da F-III (~9,32 mg) foi submetida a cromatografia de troca iônica. A coluna com cerca 3 de 10 cm de gel foi equilibrada em tampão fosfato de sódio 0,02 M pH 8,0. A eluição (fluxo de 1 mL/3 min) foi realizada com o mesmo tampão até que a leitura de proteínas se aproximasse de zero, em seguida, utilizamos como tampão de eluição (fosfato de sódio 0,02 M pH 8,0 acrescido de NaCl nas concentrações de 0,2; 0,4; 0,6; 0,8 e 1 M). As proteínas das frações eluidas (1 mL) foram lidas a 280 nm e o perfil das atividades realizado com o p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminideo com leituras a 405 nm. 5.2.2. Em cromatografia de Exclusão molecular O pico protéico eluído com 0,2 M de NaCl oriundo da cromatografia de trocaiônica que apresentou atividade enzimática, foi aplicado em cromatografia de exclusão molecular Sephacryl S-200. Esta cromatografia revelou um pico protéico de elevada absorbância a 280 nm, mas sem atividade enzimática (Figura 09). A quitinase foi eluída em um pequeno pico protéico, anterior ao principal, e com elevada atividade específica. Este pico protéico foi visualizado em SDS-PAGE e Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 53 RESULTADOS posteriormente utilizado nos testes cinéticos. Esta fração por ser rica em atividade quitinásica, a enzima foi denominada Litochitinase1. Figura 09: Perfil de eluição da Litochitinase1 e atividade quitinásica em cromatografia de exclusão molecular (Sephacryl S-200). A coluna foi equilibrada e eluída com tampão acetato de sódio 0,1 M pH 5,0. Foram coletadas frações de 2 mL/5 min. A eluição das proteínas foi monitorada em espectrofotômetro a 280 nm e o perfil das atividades com o p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo determinadas por leitura a 405 5.2.3. Resumo das etapas de purificação protéica As etapas utilizadas na purificação da Litochitinase1 estão sumarizadas na tabela de purificação (Tabela 3). É possível identificar um índice de purificação final de 987,32 vezes e uma recuperação de 2,62%, com a remoção de uma grande quantidade de proteínas durante o processo de isolamento entre as etapas F-III e as cromatografias. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 54 RESULTADOS Tabela 3: Etapas de purificação da Litochitinase1 Etapas Proteína Ativ. total Ativ. Purificação Recuperação total (mg) (U) Específica (X) (%) (U) EB 4501,06 1551,200 0,34 1 100 F-III 396,414 265,625 0,67 2 17,12 DEAE-Biogel 51,026 37,050 0,72 2,12 2,38 Litochitinase1 0,12129 40,716 335,69 987,32 2,62 Tabela construída utilizando-se os resultados obtidos nos ensaios enzimáticos com o pnitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminideo. Onde: Atividade Total (U) = 1U corresponde a 0,01 unidade de absorbância a 405 nm; Purificação = Razão entre a atividade específica em cada passo de purificação e a atividade específica do extrato bruto; Recuperação = Percentual de atividade total em cada passo de purificação em relação a atividade total no extrato bruto (100%). 5.3. Perfil eletroforético das amostras em SDS-PAGE Para avaliar o grau de pureza e determinar a massa molecular aproximada da Litochitinase1, alíquotas do EB, F-III, pico 0,2 M da DEAE-Biogel e pico de atividade da S-200 foram submetidas à eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS (Figura 10). A análise do gel mostrou um grau de pureza relevante do pico com atividade da S-200 onde apenas uma banda protéica é observada na região de 28,5 kDa. Esse valor foi determinado pela correlação entre o logarítimo do peso molecular das proteínas padrões versus o logarítimo de migração das proteínas. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 55 RESULTADOS kDa 230 130 95 72 56 36 28,5 kDa 28 M EB F-III 0,2 M Litochitinase1 Figura 10: SDS-PAGE das amostras protéicas durante o processo de purificação Onde: M- mistura de proteínas de diferentes pesos moleculares utilizadas como padrão, EB- extrato bruto, F-III, fração precipitada com 50-80% de sulfato de amônio, 0,2M de NaCl na cromatografia de troca-iônica e Litochitinase1 eluída na cromatografia de exclusão molecular. 5.4. Experimentos cinéticos A Litochitinase1 foi utilizada para realizar os estudos cinéticos. Nestes experimentos foi utilizado p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminideo como substrato, variando-se sua concentração, como também as condições de temperatura e pH dos ensaios. 5.4.1. Determinação do Km Estes experimentos foram realizados incubando-se a Litochitinase1 com diferentes concentrações do substrato (Figura 11). Os resultados mostraram um Km aparente de 0,51 mM obitido pelo calculo utilizando o programa ORIGIN 5.0. Observa-se ainda que a partir da concentração de 1,5 mM de substrato, a atividade enzimática tende a estabilizar até atingir a velocidade máxima da reação. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 56 RESULTADOS Velocidade (V)nm) Absorbância (405 0,55 0,50 0,45 0,40 Km 0, 51232 0,35 Data: Data1_mean Model: Hyperbl Chi^2 = 0.00046 P1 0.61317 P2 0.51232 0,30 0,25 ±0.02175 ±0.0667 0,20 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 [S] Figura 11: Determinação do Km da Litochitinase1 50 µl da quitinase (4,05 µg) foram incubadas a 55 ºC por 2 horas com diferentes concentrações (0,25; 0,50; 0,75; 1; 1,25; 1,5; 2; 2,5; 3 e 3,5 mM) de p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminideo. Transcorrido este tempo, as reações foram interrompidas e o p-nitrofenil lido a 405 nm. O experimento foi realizado em duplicatas e o resultado apresentado, no gráfico representa as médias com seus respectivos desvios padrões. 5.4.2. Efeito da temperatura sobre a atividade enzimática Neste estudo incubou-se a Litochitinase1 com o substrato sob diferentes temperaturas. Após o ensaio foi observado que a 55°C ocorre maior atividade quitinásica (Figura 12), embora na temperatura de 50°C ainda se observe quase 73% da atividade enzimática, mas esta decai consideravelmente em temperaturas acima de 55°C. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 57 RESULTADOS 120 100 Atividade % 80 60 40 20 0 4 °C 25°C 37°C 45°C 50°C 55°C 60°C 70°C 80°C 0 Temperatura C Figura 12: Efeito da temperatura sobre a atividade da Litochitinase1 50 µl da quitinase (4,05 µg) foram incubados com 1,5 mM de p-nitrofenil-N-acetil-β-Dglucosaminideo em diferentes temperaturas durante 2 horas. Transcorrido o tempo, as reações foram interrompidas como descrito em métodos. O experimento foi realizado em duplicatas e o resultado apresentado no gráfico representa as médias com seus respectivos desvios padrões. A estabilidade térmica foi pesquisada pré-incubando a Litochitinase1, em diferentes temperaturas. A Figura 13 mostra que nas temperaturas de 25, 37 e 45°C a atividade enzimática permanece estável. No entanto observa-se que nas temperaturas de 50 e 55°C ocorre uma potencialização da atividade enzimática e que coincide com a temperatura ótima de atividade da enzima. Ainda observa-se uma atividade considerável a uma temperatura de 60°C e que cai até a completa perda de atividade enzimática a 70, 80 e 100°C. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 58 RESULTADOS 140 Atividade residual (%) 120 100 80 60 40 20 0 30 40 50 60 70 80 90 100 110 0 Temperatura de pré-incubação ( C) Figura 13: Efeito da pré-incubação a diferentes temperaturas na atividade da Litochitinase1 50 µl da quitinase (4,05 µg) foi pré-incubada durante 30 minutos a 25, 37, 45, 50, 55, 60, 70, 80 e 100°C na ausência do substrato. Transcorrido o tempo, o p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo foi adicionado para uma concentração final de 1,5 mM e incubado a 55°C durante 2 h. Em seguida as reações foram interrompidas como descrito em métodos. 5.4.3. Efeito do pH sobre a atividade da Litochitinase1 O efeito do pH sobre a catálise do substrato foi avaliado. Observou-se que a maior atividade enzimática sobre o substrato ocorreu na faixa entre os pH 5,0 e 6,0 (Figura 14), embora o gráfico mostre atividade ótima em pH 5,5, os erros experimentais (não plotados) demonstram que estas diferenças não são significativas. Em pH 4,0 e 8,0 a atividade da enzima cai consideravelmente. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 59 RESULTADOS Tampão Tampão Tampão Tampão 120 Atividade (%) 100 Glicina Acetato de sódio Fosfato de sódio Tris 80 60 40 20 0 3 4 5 6 7 8 9 pH Figura 14: Efeito do pH sobre a atividade da Litochitinase1 Alíquotas de 200 µl (16,2 µg) da quitinase foram dialisadas durante 18 horas contra os tampões: glicina-HCl pH 3,0; 3,5 e 4,0; acetato de sódio pH 4,0; 5,0 e 5,5; fosfato de sódio pH 5,5; 6,0 e 7,0 e Tris-HCl pH 7,0;8,0 e 9,0. Todos os tampões estavam na concentração de 0,1 M. Após a diálise alíquotas de 50 µl da enzima foram incubadas com 1,5 mM de p-nitrofenil-N-acetil-β-Dglucosaminídeo durante 2 horas a 55°C. Transcorrido o tempo de ensaio as reações foram interrompidas e quantificadas a 405 nm em espectrofotômetro. A estabilidade frente ao pH foi estimada pela determinação da atividade da Litochitinase1, após pré-incubação por 30 minutos a diferentes pHs. De acordo com o gráfico da figura 15, a quitinase não é estável em pHs muito ácidos e muito básicos, perdendo completamente a sua atividade. A estabilidade da enzima é atingida numa faixa de pH entre 4,0 – 5,5, embora a Litochitinase1 apresente um pico de atividade no pH 7,0. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 60 Atividade Residual (%) RESULTADOS Glicina-HCl Acetato de Sódio Fosfato de Sódio Tris-HCl 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 -10 -20 -30 -40 -50 3 4 5 6 7 8 9 pH Figura 15: Efeito da pré-incubação a diferentes pHs na atividade da Litochitinase1 Alíquotas de 200 µl da quitinase foram dialisadas durante 18 horas contra os tampões: glicina-HCl pH 3,0 e 3,5; acetato de sódio pH 4,0 e 5,0; fosfato de sódio pH 5,5 e 6,0; e Tris-HCl pH 7,0, 8,0 e 9,0. Todos os tampões estavam na concentração de 0,1 M. Após a diálise alíquotas de 50 µl das enzimas foram pré-incubadas durante 30 minutos em suas temperaturas ótimas, na ausência do substrato. Transcorrido o tempo, o p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo foi adicionado na concentração de 10 mM e incubado na temperatura ótima da enzima durante 2 h. Em seguida as reações foram interrompidas como descrito na metodologia. 5.4.4. Efeito de sais e EDTA sobre a atividade enzimática O efeito de sais e EDTA sobre a atividade da Litochitinase1 foi estimada pela determinação da atividade, após a pré-incubação com vários compostos. De acordo com a tabela 4, a Litochitinase1 apresentou sua atividade enzimática levemente reduzida na presença do Na2HPO4 (5%). Por outro lado, os sais NaCl, KCl, NaH2PO4 e HgCl2, afetaram de forma expressiva a atividade enzimática, reduzindo-a em aproximadamente: 28, 30, 40 e 98%, respectivamente (valores aproximados). O sal MgCl2 foi o único que estimulou (~8%) levemente a atividade enzimática da quitinase. CaCl2, Na2SO4, EDTA e o NaC6H5O7 não interferiram na atividade da enzima. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 61 RESULTADOS Tabela 4: Efeitos de íons e compostos sobre a atividade da Litochitinase1 Sais e EDTA Ativ. Residual (%) MgCl2 107,6 ± 4,2 KCl 71,4 ± 3,4 CaCl2 100,09 ± 5,3 Na2S2O25H2O 99,09± 4,07 Na2SO4 99,59 ± 2,26 HgCl2 1,09 ± 0,137 NaH2PO4 57,635 ± 7,04 Na2HPO4 91,405 ± 3,68 NaC6H5O7 98,025 ± 1,58 NaCl 80,39 ± 9,07 EDTA 96,075 ± 0,40 A enzima foi pré-incubada durante 15 minutos com cada sal e/ou EDTA antes de ser iniciado o ensaio. Os resultados foram apresentados com as médias seguidas de seus respectivos desvios padrões. 5.5. Avaliação da atividade antimicrobiana 5.5.1. Utilizando a técnica de difusão em disco Para se avaliar as atividades antimicrobianas foi, inicialmente, utilizada a técnica de difusão em disco. Os resultados obtidos com a Litochitinase1 em estudo, não produziram halos de inibição para os microrganismos testados, sugerindo ausência de atividade antimicrobiana sobre estirpes de: S. aureus, C. tropicalis, e C. albicans. Os discos utilizados como controle negativo (tampão acetato de sódio 100 mM, pH 5,0/água), também não demonstraram qualquer atividade inibitória sobre os microorganismos (Dados não mostrados). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 62 RESULTADOS 5.5.2. Utilizando a técnica de microdiluição em caldo para determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) Na técnica de microdiluição em caldo os valores de CIM foram obtidos por diluições sucessivas e determinados por leitura visual. Os resultados obtidos com a Litochitinase1, não apresentaram atividade contra os microorganismos: S. aureus, C. albicans e P. aeruginosa. Apresentando atividade antimicrobiana apenas para o microorganismo E. coli variando de uma concentração de 800 a 500 µg/mL (Tabela 5). Tabela 5: Avaliação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) da Litochitinase1 do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus schmitti. Cepas utilizadas Concentração Atividade utilizada antimicrobiana S. aureus - - C. albicans - - E. coli 800 - 500 mg/mL + P. aeruginosa - - (-) Não apresentou atividade antimicrobiana nas concentrações testadas; (+) Apresentou atividade antimicrobiana nas concentrações testadas. 5.6. Ensaios com os Aedes aegypti 5.6.1. Detecção de quitina no intestino médio de larvas de Aedes aegypti A fim de detectar a presença de quitina no intestino médio das larvas de Aedes aegypti foi utilizado o método químico qualitativo de Von Wisseling. Os resultados confirmaram a presença de quitina no intestino médio de larvas destes insetos (Tabela 6). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 63 RESULTADOS Tabela 6: Detecção de quitina em intestinos médios de Aedes aegypti Teste de Von Wisseling Coloração marrom (lugol) Coloraçao violeta (H2SO4) Quitina de lagosta + + Intestinos de Aedes aegypti + + Algodão ND ND (ND) não detectado; (+) detecção. Controle positivo: quitina de lagosta; Controle negativo: algodão 5.6.2. Ensaio larvicida em Aedes aegypti Estes experimentos foram feitos com o intuito de analisar o efeito larvicida da Litochitinase1 sobre larvas do quarto instar de A. aegypti. Cinco larvas (L4) foram colocadas em recipientes plásticos descartáveis contendo alíquotas do EB, F-III e a Litochitinase1, em concentrações crescentes, e seus respectivos controles negativos, com volume final do ensaio de 20 mL. Os ensaios foram realizados em quadruplicatas e a taxa de mortalidade das larvas foi determinada após 24 e 48 h de incubação a 28 ± 2 ° C com fotoperíodo de 12/12 h (claro-escuro). Os resultados obtidos apontam que todas as amostras testadas apresentaram atividade larvicida contra A. aegypti de forma dose dependente, onde a Litochitinase1 revelou-se mais eficiente do que as outras amostras testadas, tendo como valores de EC50 para 24 horas de ensaio 0,71 mg/mL e para 48 horas de 0,49 mg/mL. Para as outras frações como EB o valor de EC50 foi de 6,59 mg/mL e para F-III a EC50 para 24 e 48 horas foi de 5,36 e 3,22 respectivamente. No ensaio com o EB, no tempo de 48 horas, todas as larvas morreram. As análises estatísticas realizadas por meio dos testes ANOVA e Kruskal-wallis, mostraram significância entre os resultados destes quando se utilizou o EB, FIII e a Litochitinase1 em diferentes concentrações, nos tempos de 24 e 48 horas, com p< 0,05. As larvas do grupo controle apresentaram grande mobilidade, cuja locomoção foi percebida por meio das contrações do corpo, reagindo rapidamente a qualquer toque. Os valores da EC50 estão sumarizados na tabela 7. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 64 RESULTADOS Tabela 7: Concentração Efetiva do Extrato bruto, F-III e Litochitinase1 necessária para matar 50% (EC50) das larvas L4 de Aedes aegypti em 24 e 48 h. Amostras EC/ Tempo (h) EC /24h 50 EC /48h 50 EB 6,59 mg/mL * F-III 5,36 mg/mL 3,22 mg/mL Litochitinase1 0,71 mg/mL 0,49 mg/mL *Todas as larvas mortas. Onde EC: concentração letal de proteínas necessárias para matar 50% (EC) de larvas de A. aegypti L4 em 24 e 48 h. 5.6.3. Detecção de inibidores de proteases serínicas no EB, FIII e Litochitinase1 Considerando que as enzimas digestivas de Aedes aegypti são proteases serinicas e que inibidores destas enzimas poderiam comprometer o processo digestório e o conseqüente desenvolvimento dessas larvas, foi verificada a presença de inibidores de proteases. O EB, a F-III e a Litochitinase1, oriundas do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus schmitti, foram submetidas à avaliação de atividade inibitória sobre tripsina e quimotripsina. Os resultados confirmaram a ausência de inibidores de proteinases serinicas em todas as amostras analisadas (Tabela 8). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 65 RESULTADOS Tabela 8: Inibição de Proteases Serínicas Enzimas Amostras Inibição EB ND FIII ND Litochitinase1 ND EB ND FIII ND Litochitinase1 ND Tripsina Quimotripsina (ND) não detectado 5.6.4. Atividade hemaglutinante Com o objetivo de avaliar a presença de lectinas nas amostras do cefalotórax do camarão aliquotas do EB, F-III e Litochitinase1, foram submetidas a ensaios de hemaglutinações com eritrócitos do sistema ABO tratados ou não com enzimas, visando elucidar qual tipo sanguíneo apresentaria maior título de hemaglutinação e qual tratamento enzimático se apresentaria mais eficiente na exposição de carboidratos na superfície das células. Os resultados obtidos não apontaram a presença de atividade hemaglutinante em nenhuma das frações testadas tanto com eritrócitos sem tratamento nem com os tratados. No entanto a F-III apresentou um leve potencial hemolítico em todos os tipos sanguíneos não tratados ou tratados (Tabela 9). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 66 RESULTADOS Tabela 9: Atividade hemaglutinante no extrato bruto, F-III e Litochitinase1 com eritrócitos nativos e tratados enzimaticamente SISTEMA ABO FRAÇÕES PROTEÍCAS (UH)* Sem tratamento EB F-III Litochitinase1 A ND hemólise ND B ND hemólise ND O ND hemólise ND A ND hemólise ND B ND hemólise ND O ND hemólise ND A ND hemólise ND B ND hemólise ND O ND hemólise ND Tratamento com tripsina Tratamento com papaína *UH: Unidade de hemaglutinação; (ND) não- detectado 5.6.5. Determinação da temperatura ótima das atividades proteolíticas presentes no homogenato intestinal das larvas de A. aegypti Para analisar a temperatura ótima de atividade das enzimas proteolíticas no homogenato intestinal das larvas de A.aegypti, as mesmas foram incubadas com o substrato azocaseína 1,5% em diferentes temperaturas. As enzimas presentes nos homogenatos intestinais foram ativas na faixa de temperatura de 10 a 60°C (Figura 16). Sendo assim a temperatura do ensaio realizado para analisar se as enzimas digestivas dos insetos inibiriam a atividade da Litochitinase1 poderia ser feita na temperatura ótima desta que é de 55°C. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 67 RESULTADOS Figura 16: Curva de temperatura ótima para a detecção da atividade das enzimas proteolíticas presentes no homogenato intestinal de larvas de A.aegypti. Alíquotas de 50 µL de homogenato intestinal foram utilizadas nos ensaios 5.6.6. Influência das enzimas digestivas do A. aegypti sobre a Litochitinase1 Com o intuito de avaliar se as enzimas digestivas do A. aegypti teriam algum efeito inibitório ou degradativo sobre a atividade da Litochitinase1, foi realizado um ensaio por meio da pré-incubação de 50 µl (4,05 µg) desta enzima na presença do homogenato intestinal do inseto, na temperatura ótima da enzima, por 15 minutos. Após a pré-incubação, o substrato foi adicionado e incubado na temperatura ótima da enzima, durante 2 horas. Transcorrido o tempo de ensaio a reação foi interrompida e quantificada a 405 nm em espectrofotômetro. Controles da enzima pré-incubada e não-incubada foram feitos. De acordo com o gráfico da figura 17, a Litochitinase1 apresentou atividade inalterada na presença do homogenato intestinal do A. aegypti. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 68 RESULTADOS Figura 17: Efeito da pré-incubação com as enzimas digestivas de A.aegypti na atividade da Litochitinase1. 50 µl da Litochitinase1 foram pré-incubados durante 15 minutos com o homogenato intestinal, na ausência do substrato. Transcorrido o tempo, o p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glucosaminídeo foi adicionado na concentração de 10 mM e incubado na temperatura ótima da enzima durante 2 h. Em seguida as reações foram interrompidas como descrito na metodologia. Onde: CNI- Controle da Litochitinase1 não pré-incubado; CI- Controle da Litochitinase1 pré-incubado sem enzimas do homogenato e EHILitochitinase1 pré-incubada com enzimas do homogenato intestinal. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 70 DISCUSSÃO 6. DISCUSSÃO Em 2003, a produção mundial de camarão foi de 4.630.000 toneladas sendo que 1.630.000 t (35,21% do total) foram produzidas por cultivo (REVISTA PANORAMA DA AQÜICULTURA, 2004). No Brasil, a pesca extrativa marinha produziu 35.451,5 toneladas de camarão em 2007 (ESTATÍSTICA DA PESCA, 2007). A carcinicultura, após um pico de produção de 90.190 t em 2003, manteve uma produção de 65.000 t anuais de camarão no período de 2005 a 2007 (ROCHA, 2008). O processamento de cerca de 100.000 t anuais de camarão no Brasil gera uma enorme quantidade de rejeitos, principalmente durante a etapa de retirada da casca e do cefalotórax (GOMES et al., 2010). Algumas das propostas para eliminar este resíduo da indústria pesqueira incluem a elaboração de farinha de casca de camarão (para a utilização em alimentos) e o aproveitamento da quitina para diversos usos, como na produção de catalisadores, em complementos alimentares para redução do colesterol e controle do peso (SHAHIDI et al., 1999; KIM; RAJAPAKSE, 2005) ou como agente imobilizador de enzimas e microorganismos (PALLA et al., 2011). A transformação dos rejeitos da indústria de processamento do camarão em quitosanas ou quitinooligossacarídeos com massas molares médias e níveis de desacetilação controlados seria uma alternativa viável, gerando produtos com alto valor agregado para usos biotecnológicos (GOMES et al., 2010). Dentre as principais tecnologias que surgiram desde a década de 70, a biotecnologia tem atraído maior atenção por ter se revelado capaz de gerar enorme riqueza e influência em cada setor da economia com destaque para a saúde, produção e processamento de alimentos, agricultura, proteção ambiental e produção de materiais (GAVRILESCU; CHISTI, 2005). A indústria de enzimas é resultado de um desenvolvimento rápido, alcançado nas últimas quatro décadas, graças à evolução da biotecnologia moderna. O desenvolvimento dos processos de purificação e fermentação, ocorrido durante a última metade do século passado, permitiu a produção de enzimas mais puras, bem caracterizadas e em larga escala (KIRK, 2002). O mercado mundial de enzimas movimentou em 2007 cerca de 2,3 bilhões de dólares e espera-se para 2012 um movimento superior a 2,7 bilhões, com um aumento anual de 4% (THAKORE, 2008). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 71 DISCUSSÃO As enzimas quitinolíticas apresentam inúmeras aplicações biotecnológicas no ramo da indústria e agricultura. As quitinases podem ser utilizadas no controle de fungos patógenos de plantas e insetos, como ainda na produção de quitinooligossacarídeos biologicamente ativos (PATIL, et al,2000). O objetivo principal deste trabalho foi estudar uma quitinase purificada e extraída do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus schmitti, porção esta normalmente descartada sem qualquer tipo de aproveitamento tecnológico (FOGAÇA; LEGAT, 2009) e avaliar sua aplicabilidade biotecnológica como agente microbicida e larvicida. Os resultados iniciais utilizando os p-nitrofrofenís derivados de açúcar como substrato mostraram a presença de quase todas as atividades enzimáticas pesquisadas no EB, F-I, F-II e F-III. Estes não foram tão surpreendentes, pois extratos enzimáticos nos primeiros passos de purificação geralmente são ricos em diversas atividades glicosidásicas e sulfatásicas. Fato este já observado nos extratos dos celenterados Palythae coribaerum (SOUZA, 2003); Palythoa voriabitis (FERREIRA, 2003); no molusco Aplysia cervina (MATTA; ABREU, 2005); Echinometra lucunter (LIMA, 2006) e no microcrustáceo Artemia franciscana (NASCIMENTO, 2008). As possíveis funções dessas enzimas seriam a degradação de carboidratos complexos, como polissacarídeos e glicosaminoglicanos (KRESSE; GROSSI, 1987; STAM et al., 2005). De todas as frações testadas com os substratos sintéticos derivados de açúcar a F-III apresentou maior atividade específica, ressaltando que nesta fração a atividade quitinásica se sobressai das demais. Resultados semelhantes foram encontrados no molusco Chiton sp. (VIEIRA, 2002), Strombus goliath (ARAÚJO, 2002), Paliythoa caribaeorum (SOUZA, 2003) e no Echinoderma marinho Echinometra lucunter (LIMA, 2006) onde a enzima que apresentou atividade quitinolítica também mostrou maior atividade específica nas frações protéicas extraídas destes animais. Para a obtenção de quitinases purificadas, diferentes métodos são utilizados tais como, precipitação com sulfato de amônio (IKE et al., 2006), cromatografia de interação hidrofóbica (DUO-CHAN, 2005), cromatografia de troca iônica (IKE et al., 2006), cromatografia de afinidade a quitina (KIM et al., 2007) dentre outras. Para uma purificação total geralmente se faz necessário a utilização de mais de um dos métodos acima. Para a purificação da quitinase extraída do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus Schmitti combinou-se cromatografia de troca iônica e exclusão Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 72 DISCUSSÃO molecular S-200, onde foi obtida a enzima purificada 987,32 vezes com um rendimento de 2,62 %. Este baixo rendimento pode ter sido causado pela perda de atividade enzimática ao longo do processo de purificação. Acredita-se que, por serem glicoproteínas, estas enzimas possam perder sua porção carboidrática ao longo do processo de purificação, o que compromete sua atividade (PASTORE, 2003). A enzima assim purificada recebeu o nome de Litochitinase1. Resultados de purificações elevadas foram encontrados na literatura com Nacetilhexosaminidases como é o caso de SOUZA (2003) e GOMES-JÚNIOR (2010) que obtiveram alto grau de purificação, 4826 vezes e 2232 vezes, respectivamente. Para avaliar o grau de pureza e determinar a massa molecular aproximada da Litochitinase1 uma eletroforese em gel de poliacrilamida em condições desnaturantes revelou que esta possui uma banda protéica com o peso de 28,5 kDa. Em geral a literatura traz exemplos de quitinases com massas moleculares variando em uma ampla faixa que vai de 40 a 240 kDa (PETERS et al., 1998; CIFALI; DIAS FILHO, 1999; AMUTHA, 1999), porém recentemente foi descrito por GOMES et al . 2010 duas quitinases com peso molecular de 24 e 30 kDa extraída de Vitis vinífera e ainda L. KOPPARAPU et al. (2011) descreveram uma quitinase extraída de Punica granatum cujo peso molecular é de 29 kDa, peso este bem próximo ao encontrado no gel de SDS–PAGE apresentado neste trabalho. O valor de Km aparente de 0,51 mM encontrado demonstra que essa enzima possui grande afinidade por seu substrato e que sua hidrólise obedeceu à cinética de Michaelis-Menten. O valor de Km obtido não diferiu significativamente de alguns valores encontrados em outros trabalhos, como no caso da quitinase de Pennahia argentatus onde foi observado um Km de 0,52 mM (IKEDA et al., 2009) e da quitinase de Hexagrammos otakii (MATSUMIYA et al., 2006) que apresentou um Km de 0,494 mM. Entretanto, muitos estudos encontraram valores de Km mais elevados como no caso da quitinase de ovos de Halocynthia roretzi (MATSUURA et al., 1993) que apresentou Km de 1,2 mM, e quitinase do vírus Autographa californica (DI MARO et al., 2010) onde se observou um Km de 3,5 mM. A temperatura ótima observada para a Litochitinase1, após duas horas de ensaio a diferentes temperaturas, foi de 55°C. Essa atividade decai em temperaturas abaixo e acima deste ponto, podendo indicar desnaturação proteíca. Estudos cinéticos realizados com exoquitinases de diversas outras fontes demonstraram para esse tipo de glicosidase temperaturas estáveis entre 37 e 50°C (TSUJIBO et al., Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 73 DISCUSSÃO 1995; MATSUO et al., 1999; KAMEI et al., 1999; ARAÚJO, 2002; VIEIRA, 2002). Recentemente KOPPARAPU et al. (2011) relataram uma temperatura ótima de 70°C para a quitinase extraída da romã (Punica granatum). Outras quitinases purificadas de uva, tamarindo, abacaxi, látex de Ficus microcarpa e do camarão Penaeus monodon apresentaram temperaturas ótimas de 40, 45, 60 e 55°C, respectivamente (ANO et al., 2003; TAIRA et al., 2005a, 2005b; RAO; GOWDA, 2008; PROESPRAIWONG et al., 2010). Temperaturas estas, muito próximas a temperatura ótima da quitinase estudada neste trabalho. A pré-incubação da enzima por 30 minutos a várias temperaturas revelou que a Litochitinase1 é estável de 25 a 60° C. Entre 50 e 55° C sofre uma leve ativação aumentando em aproximadamente 20% sua atividade de catálise do substrato. Isto indica que a Litochitinase1, ao ser submetida a estas temperaturas, de alguma maneira elas afetam positivamente sua atuação sobre o substrato. Temperaturas acima de 60ºC as inativaram rapidamente. Recentemente, PATEL et al., (2010), isolaram uma quitinase do látex de Ipomoea carnea que apresentou estabilidade até a temperatura de 80ºC. Uma estabilidade relativa até a temperatura de 40ºC foi observada em uma quitinase recombinante, purificada do camarão tigre negro (Penaeus monodon) (PROESPRAIWONG et al., 2010). O pH ótimo encontrado para a hidrólise do p-nitrofenil-N-acetil-β-Dglucosaminídeo foi entre os pH 5,0 e 6,0. Em pH 4,0 e 8,0 a atividade da enzima cai consideravelmente. Uma quitinase purificada do vírus Autographa californica (DI MARO et al., 2010) mostrou estabilidade em pH que variava de 5,0 a 7,0, resultado este semelhante ao encontrado para a enzima aqui estudada. Da mesma forma CHEN et al., (2011), purificou uma enzima presente no látex do mamão que apresentava atividade ótima no pH 5,0 e PATEL et al., (2010), purificaram uma quitinase do látex da Ipomoea carnea que apresentou atividade máxima no pH 5,5. A Litochitinase1 não é estável em pHs muito ácidos e muito básicos, perdendo completamente as suas atividades. Isso possivelmente é devido ao fato de que nesses pHs a enzima perde sua conformação nativa, devido a mudanças no estado de ionização das cadeias laterais dos aminoácidos localizados no sitio ativo desta, alterando assim a distribuição de cargas, interferindo de sobremaneira na estrutura da proteína e na atividade enzimática. A estabilidade da enzima é atingida numa faixa de pH entre 4,0 – 5,5, embora apresente um pico de atividade no pH 7,0. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 74 DISCUSSÃO O efeito de vários sais e EDTA sobre a hidrólise do p-nitrofenil-N-acetil-β-Dglucosaminídeo pela Litochitinase1 foi estudado. A enzima apresentou sua atividade levemente reduzida na presença do Na2HPO4 (5%). Por outro lado, os sais KCl, HgCl2, NaH2PO4, e NaCl afetaram de forma expressiva a atividade enzimática, reduzindo sua atividade em 28, 98, 40 e 30%, respectivamente. O MgCl2 estimulou só levemente (~8%) a atividade da Litochitinase1, porém concentrações mais elevadas do sal, possam estimular ainda mais a enzima. CaCl2, Na2SO4, EDTA e o NaC6H5O7 não interferiram na atividade da enzima. O efeito de sais (íons) e compostos é amplamente variável, dependendo da enzima em estudo. O efeito inibitório observado com a adição de HgCl2 (íon Hg2+ ) é geralmente observado em outras glicosidases (CHEN et al., 1994; WEI et al., 1996; NAKANO et al., 1998; RIOU et al., 1998; HAYASHI et al., 1999; LUCAS et al., 2000; YAZDI et al., 2003; ZANOELO et al., 2004; LI et al., 2005). O íon Hg2+ é reconhecido agente oxidante de grupos sulfidril (-SH), e a inibição provocada por este íon pode indicar o envolvimento de importantes grupos sulfidril no sítio catalítico da enzima (PAINBENI et al., 1992; GUEGUEN et al., 1995a, 1997b; WEI et al., 1996; NAKANO et al., 1998; OH et al., 1999). No entanto, a inibição observada na presença de Hg2+ pode não estar apenas relacionada à ligação deste íon com grupos sulfidril, mas também à interação deste íon com resíduos de triptofano e/ou grupamentos carboxil em aminoácidos da enzima (LUSTERIO et al., 1992). O EDTA, reagente com a capacidade de quelar íons metálicos, é empregado em diversos testes bioquímicos visando, entre outros, diminuir a ação de metaloproteinases em extratos brutos. Entretanto, o EDTA pode tornar-se problemático caso as enzimas dependam de íons como o Ca+2 (MATEO; DI STEFANO, 1997). Nas concentrações utilizadas, este reagente não apresentou efeito sobre a atividade da Litochitinase1, desta forma estes estudos sugerem que a não interferência do EDTA indica que a catálise não é dependente de íons Ca+2, similarmente a outros estudos, sugerindo que a enzima não requer co-fatores metálicos (DRIDER et al., 1993; GUEGUEN et al., 1995a; NAKANO et al., 1998; RIOU et al., 1998; YAN et al., 1998; KIMURA et al., 1999; OH et al., 1999; ZANOELO et al., 2004; LI et al., 2005; FERREIRA, 2010). A literatura a respeito da ação antifúngica e antibacteriana de produtos naturais é escassa, sendo que a maioria dos estudos verifica seu potencial como antiinflamatórios e produtos dermatológicos. Produtos naturais como substâncias Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 75 DISCUSSÃO antimicóticas e bactericidas derivados de origem protéica não são muito estudados. A maioria das substâncias empregadas como agentes microbicidas são de origem vegetal, e já foi demonstrado, por exemplo, o efeito antifúngico de plantas como estragão e tomilho (DUKE, 1985; BRANTNER et al., 1996), de substancias como o própolis (NOSTRO et al., 2006; PONTIN et al., 2008), ação antibacteriana do Anacardiun occidentale (cajueiro) que foi estudado mostrando-se efetivo para bactérias gram-positivas e gram-negativas (KUDI, 1999) e antimicrobiana do extrato bruto da folha de Baccharis a atividade dracunculifolia (DA SILVA FILHO et al., 2008). No presente estudo, testes microbiológicos utilizando a quitinase purificada foram realizados e os resultados obtidos pela técnica de difusão em disco, para as cepas testadas de S. aureus, as leveduras C. tropicalis e C. albicans não apresentaram halos de inibição, logo, a Litochitinase1 não foi capaz de inibir o crescimento desses microorganismos, isto pode ser atribuído a dificuldades na padronização e comparação de técnicas de difusão em disco, devido à interferência das características de algumas amostras na capacidade de difusão (SILVEIRA et al., 2009), pois em se tratando de avaliação de produtos naturais RIBEIRO; SOARES (2000) afirmam que as características de solubilidade do material em teste interferem na difusão do mesmo no meio de cultura. Diferente dos resultados obtidos neste estudo, já é relatado na literatura à ação de quitinases extraídas do amedoim e do microorganismo Trichoderma harzianum contra bactérias gram-positivas como S. aureus (WANG et al., 2007; LIN et al., 2009). Várias enzimas têm sido estudadas como agentes antifúngicos em potencial. A ação fungicida deve-se principalmente à hidrólise dos componentes da parede celular (FLEURI; SATO, 2007). Porém a maioria dos estudos relacionados à ação de quitinases como agentes antifúngicos é aplicada em fungos fitopatogênicos como revela estudos desenvolvidos por YE; NG (2005), WANG (2007), FLEURI; SATO (2008) e LAM; NG (2010). Para os resultados de microdiluição em caldo dentre as quatro cepas testadas, a Litochitinase1 não apresentou atividade antimicrobiana para S. aureus, C. albicans e P. aeruginosa. Estudos realizados com quitinases de outras fontes como a da planta Brassica Junceae se mostraram ativas contra estes microorganismos (GUAN et al., 2008). No entanto a Litochitinase1 apresentou-se efetiva contra o microorganismo E. coli, inibindo-o partindo de uma concentração inicial de 800 Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 76 DISCUSSÃO µg/mL, concentração bem inferior a de outros trabalhos que utilizaram a mesma cepa e o mesmo teste de microdiluição, como mostrado no estudo de CHOWDHURY (2008) onde uma proteína extraída da Solanum villosum consegue efeito bactericida contra E. coli partindo de uma concentração de 1800 µg/mL. Escherichia coli é a espécie predominante entre os diversos microrganismos anaeróbios facultativos e comumente encontrada na microbiota normal no trato gastrointestinal humano (GILL et al., 2006) e outros vertebrados, com o qual geralmente estabelece associações comensais. Esse microrganismo pertence à família Enterobacteriaceae e entre suas principais características destacam-se: bacilos gram-negativos, não esporulados capazes de fermentar glicose com produção de ácido e gás (FRANCO; LANDGRAF, 2003). Seres humanos saudáveis tipicamente, têm mais de um bilhão de células de E. coli no intestino. Estima-se que metade das células vivas de E. coli estão fora do seu hospedeiro, em seu habitat secundário (SAVAGEAU, 1983). Além destes habitats, algumas estirpes têm o potencial de causar um amplo espectro de doenças intestinais e extra-intestinais, como infecção do trato urinário, septicemia, meningite e pneumonia em humanos e animais (DONNENBERG, 2002) e como também aumento da inflamação da mucosa gástrica em pacientes com doença de Crohn (BARNICH et al., 2010). Com a sua vasta gama de patologias, a E. coli é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, causando a cada ano mais de dois milhões de mortes por diarréia infantil (BISSON et al., 2002; RODRÍGUEZ-BAÑO et al., 2006) e infecções extra-intestinais (principalmente septicemia derivados de infecção urinária) e também é responsável por aproximadamente 150 milhões de casos de cistite simples (DU et al., 2002). Durante a última década, tem havido um marcado aumento nas infecções por E. coli resistentes a antibióticos, tais como: Fluoroquinolona. Esta crescente resistência limita as opções de tratamento e podem afetar o prognóstico da doença (LAUTENBACH et al., 2001), como também ocorrer o uso inadequado de antimicrobianos ocasionando atrasos na terapia correta. O aumento da resistencia bacteriana, justifica a necessidade urgente por novos agentes antibióticos que atuem por mecanismos de ação diferentes dos fármacos em uso (PAYNE et al., 2007; COATES; HU, 2007). Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 77 DISCUSSÃO As novas estratégias da pesquisa em produtos naturais, envolvendo a busca de substâncias pouco exploradas para o acesso da descoberta de novos antibióticos extremamente importantes num cenário de rápido desenvolvimento de resistência pelas bactérias aos agentes terapêuticos disponíveis, indica que a Litochitinase1 pode vir a ser utilizada como uma possível alternativa no combate das doenças causadas pela E.coli. A dengue é a mais importante e global arbovirose da atualidade, causando de 50-100 milhões de casos/ano em mais de 100 países (REGIS et al., 2008) e submetendo 2,5 bilhões de pessoas ao risco de se infectarem, principalmente em países tropicais e subtropicais onde as condições climáticas (temperatura e umidade) são favoráveis a proliferação do mosquito transmissor, o Aedes aegypti (POLANCZYK et al., 2003, SIMAS et al., 2004). Como não há vacina disponível para prevenção, o controle da dengue tem sido limitada ao combate do vetor e centrado na aplicação de inseticidas químicos (CARVALHO et al., 2004; LIMA et al., 2005a; MACORIS et al., 2007; SILVA; MENDES, 2007), especialmente os organofosforados e piretróides para os adultos e organofosforados para as larvas (LIMA et al., 2006). Todavia, relatos de populações de insetos resistentes (RODRIGUES et al, 2001) a esses inseticidas apontam para a necessidade de pesquisas que busquem novas alternativas de controle, isentas de risco para a saúde humana e ao meio ambiente. Não obstante os trabalhos realizados por COSTA et al. (2005); SILVA et al. (2007); LUZ et al. (2008); MEDEIROS, (2007) e FERREIRA et al. (2009) utilizando como fontes produtos naturais contra as larvas de Aedes nenhum utilizavam quitinases. Por isso resolveu-se verificar o potencial larvicida da Litochitinase1. Os ensaios in vivo apontam que todas as amostras testadas apresentaram atividade contra larvas do quarto estádio de A. aegypti de forma dose dependente. Essa atividade aumenta à medida que se utiliza material com maior grau de purificação (EB: EC50 6,59 mg/mL, F-III: EC50 5,36, Litochitinase1: EC500,71 mg/mL) sugerindo que a molécula responsável pela morte das larvas tenha sido a Litochitinase1, e que, supostamente esta poderia estar atuando na quitina presente no exoesqueleto e/ou na membrana peritrófica do inseto. A membrana peritrófica é um revestido do intestino médio constituída por proteínas e quitina, cuja presença foi confirmada pelo teste de Von Wisselingh, e vem sendo bastante estudada como alvo para a ação de bioinseticidas (HARPER, HOPKINS; CZAPLA, 2001). A favor dessa segunda hipótese verificamos a não degradação da Litochitinase1 pelas enzimas Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 78 DISCUSSÃO digestivas de A. aegypti e, adicionalmente, a ausência de outras moléculas bioativas que poderiam também interferir no processo digestório das larvas, como inibidores de proteases serinicas e lectinas nas frações testadas, indicando mais uma vez que a morte das larvas está ocorrendo por ação da Litochitinase1. As enzimas digestivas de A. aegypti são proteases serinicas tipo tripsina e quimotripsina (KUNZ, 1978). Ensaios com outros insetos mostram que a inibição destas enzimas compromete o processo digestório e o consequente desenvolvimento e/ou morte das larvas, por privação de nutrientes. A maioria dos inibidores de proteases tem sido obtidos de fontes como órgãos de reservas de plantas (XAVIER-FILHO, 1992; ARAÚJO et al., 2004), todavia trabalhos recentes na literatura descrevem inibidores de proteinases serínicas em invertebrados marinhos como no camarão Fenneropenaeus chinensis (KONG et al., 2009) e Penaeus momodon (VISETNAN et al., 2009; DONPUDSA et al., 2010). . Lectinas tem sido encontradas em quase todos os organismos, sendo amplamente distribuídas entre vegetais, vírus, bactérias, mamíferos e vários grupos de invetebrados (GERLACH et al., 2005) como por exemplo: nos camarões Penaeus paulensis (MARQUES; BARRACO, 2000), Penaeus monodon (LUO et al., 2005) e Penaeus japonicus (YANG et al., 2007). As lectinas ligantes de N- acetilglucosamina, oriundas das plantas Moringa Oleifera (COELHO et al., 2009) e Myracroduom urundeuva (SÁ et al., 2009) mostraram atividade larvicida contra Aedes aegypti. Mesmo diante da necessidade de estudos complementares que esclareçam o mecanismo pelo qual a quitinase provoca a morte de larvas de A. aegypti, e comprovem a ausência de efeitos deletérios ambientais e sanitários, percebe-se o potencial dessas moléculas para serem utilizadas como ferramentas auxiliares no controle do vetor transmissor da dengue. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 79 CONCLUSÃO 7. CONCLUSÃO • Pôde-se observar a presença de atividades glicosidásicas e sulfatásicas nos extratos enzimáticos obtidos do cefalotórax do camarão marinho Litopenaeus schmitti; • A fração F-III (50-80%) apresentou maior atividade quitinolítica; • A Litochitinase1 foi purificada na ordem de 987,32 vezes e com recuperação de 2,62% apresentando massa molecular de aproximadamente 28,5 kDa; • A temperatura ótima para a catálise do substrato sintético pela Litochitinase1 é de 55°C e elevada estabilidade térmica permanecendo com 100% de sua atividade quando pré-incubada nas temperaturas de 25, 37 e 45°C e apresentando aumento desta nas temperaturas de 50 e 55°C; • A atividade ótima para atuação da Litochitinase1 ocorre em uma faixa de pH, entre 5,0 e 6,0, com faixa de estabilidade nos pHs 4,0 a 5,5; • O HgCl2 na concentração de 10mM inibe significativamente a Litochitinase1 enquanto que o MgCl2 na mesma molaridade potencializa sua atividade; • A Litochitinase1 apresentou constante de Michaelis-Menten (Km) de 0,51 mM, indicando que a enzima possui alta afinidade pelo substrato quando comparadas com dados da literatura; • A Litochitinase1 demonstrou potencial microbicida contra a bactéria gramnegativa E. coli demonstrado pela inibição de seu crescimento, avaliado pelo método de microdiluição em caldo, podendo ser utilizada no combate de infecções causadas por este patógeno ; • A Litochitinase1 apresentou atividade larvicida contra larvas de Aedes aegypti de maneira dose dependente e, de acordo com os outros resultados obtidos como: ausência de proteínas contaminantes como inibidores de proteinases serínicas e lectinas, esta atividade se confirma indicando-a para ser usada como alternativa de controle eficaz na redução da infestação pelo mosquito vetor. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 80 CONCLUSÃO • No Brasil, a carcinicultura marinha é uma das atividades agroindustriais mais atrativas economicamente, concentrando 93% de sua produção no Nordeste. No entanto, durante o processamento do camarão, cerca de 50% do peso do animal resulta em subproduto (cefalotórax, segmentos abdominais e carapaças), descartado sem qualquer tipo de aproveitamento tecnológico (FOGAÇA; LEGAT, 2009). Diante de tal fato, a utilização dos cefalotórax para extração de enzimas com enormes aplicabilidades, constitui-se numa via alternativa de aproveitamento destes resíduos. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica Roberta L. N. Godone 81 REFERÊNCIAS REFERENCIAS ABRAM, A. P.; HIGUERA, I. Em Quitina y quitosano: obtencion, caracterizacion y aplicaciones;. ed.; Programa Cyted 2004, - Pontificia Universidad Catolica Del Peru/Fondo Editorial: Lima, 2004, cap 1. ALLARDYCE, B. J; LINTON, S. M; SABOROWSKI, REINHARD. 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