TRATAMENTO DO PERCOLADO DE ATERRO SANITÁRIO E AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO EFLUENTE BRUTO E TRATADO Alessandra Cristina Silva TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL Aprovada por: Prof. Geraldo Lippel Sant’Anna Jr., Dr.Ing Prof. Flávio César Borba Mascarenhas, D.Sc Prof. João Alberto Ferreira, D.Sc Prof. Juacyara Carbonelli Campos, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL JUNHO DE 2002 SILVA, ALESSANDRA CRISTINA Tratamento do Percolado de Aterro Sanitário e Avaliação da Toxicidade Rio de Janeiro 2002 IX, 79 p., 29,7 cm, (COPPE/UFRJ, M.Sc., Engenharia Civil, 2002) Tese - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Tratamento de Efluente; 2. Toxicidade I. COPPE/UFRJ II. Tı́tulo (série) ii Dedicatória: Dedico esta Tese à Deus, à Minha Famı́lia e ao Valentim, meu Companheiro. iii Agradecimentos: À Deus por está maravilhosa oportunidade ı́mpar na minha vida de aprendizado. Este trabalho seria muito mais difı́cil de ser realizado sem a valiosa ajuda dos muitos amigos que fiz durante sua execução. A todos eles meus sinceros agradecimentos e especialmente aos seguintes: Aos meus orientadores, Prof. Geraldo Lippel e Prof. Márcia Dezotti pelos conselhos, atenção, incentivo e muito carinho na orientação deste trabalho. À Gleidice pelo carinho, amizade e pelos conselhos imprescindı́veis, demonstrando sempre boa vontade em auxiliar o trabalho de tese e pela ajuda na realização dos testes de toxicidade, e também aos amigos Alexandre, Paulo, Fernando, Barbara e Fabiane(LABPOL/COPPE), pela colaboração, dedicação e agradável companhia durante o tempo convivido. Às minhas amigas, sempre presentes nos bons e maus momentos Ana Paula Marques, Ana Paula Lou e em especial a Michely Libos pelo apoio na decisão de vir para o Rio de Janeiro, redirecionando toda a minha vida e pelo companheirismo de juntas fazermos o mestrado na COPPE/UFRJ. Aos amigos do Programa de Recursos Hı́dricos (PEC/COPPE/UFRJ) Sérgio, Carlos, Honório, Patrick, MaxMiliano, Mariela e Roberta pelo conhecimento adquirido que compartilhamos juntos. Toda equipe do setor de projetos do Laboratório de Hidrologia(PEC/COPPE/UFRJ) pelo apoio, amizade e utilizações do laboratório. Aos amigos do Laboratório de Controle de Poluição de Águas (PEQ/COPPE/UFRJ), João Luiz, Eduardo, Flávia, Daniele, Alessandra Lima, Alessandra Magda, Lenise, Jaqueline, Antônio e Érica, pelo companheirismo e ajuda nos momentos difı́ceis. À FEEMA e à Petroflex S/A, pela realização de algumas análises. À White Martins e ao Dr. Filipe Montalvão pela oportunidade de utilização dos laboratórios do Centro Tecnológico da White Martins de Gases Industriais S/A. Aos amigos do Laboratório da White Martins, Carla, Diógenes e Ana Cecı́lia, pelo auxı́lio nos ensaios experimentais de ozonização. Ao Prof. Paulo Modesto (DESA/UFMT) que durante a graduação sempre incentivou a fazer o mestrado. À Prof. Eliana Beatriz e Dr. Peter Zeihofer (DESA/UFMT) coordenadores do mestrado Interinstitucional/COPPE/UFRJ pela participação como aluna especial, incentivando a fazer o mestrado na COPPE/UFRJ. Às amigas Liliana, Gersina, Cleide, Kátia, Cristina, Suzele pelo incentivo para fazer o mestrado. iv Aos amigos do Laboratório de Informática (PEC/COPPE/UFRJ) Thelmo, Jonny, Célio pelo apoio técnico. À direção do Aterro de Gramacho, pela autorização para realização das coletas. Aos funcionários do setor de transporte da (COPPE/UFRJ), principalmente ao Laerte, que se mostrou sempre disposto em ajudar. Ao amigo Eduardo da secretaria do PEQ, pelo apoio durante o desenvolvimento deste trabalho. Ao Prof. Flávio Mascarenhas, ao Dr. João Alberto e a Dr. Juacyara por terem aceito fazer parte da banca de tese. A todos os professores e funcionários administrativo do PEC, em especial, Rita, Vilma, Bete e Jairo pelo auxı́lio de sempre. À Capes pelo convênio MINTER que possibilitou a bolsa de auxı́lio ao mestrado. Aos meus pais, às minhas irmãs, ao meu sobrinho, pelo apoio e compreensão. E finalmente ao meu companheiro Valentim pelo carinho e apoio diário durante a realização deste trabalho. v Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) TRATAMENTO DO PERCOLADO DE ATERRO SANITÁRIO E AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO EFLUENTE BRUTO E TRATADO Alessandra Cristina Silva Junho/2002 Orientador: Geraldo Lippel Sant’Anna Jr. Márcia Dezotti Programa: Engenharia Civil Neste trabalho foi realizada a caracterização fı́sico-quı́mica do lı́qüido percolado (chorume) do Aterro Metropolitano de Gramacho (RJ) e foram estudadas diferentes técnicas para tratamento desse efluente, de modo a deixá-lo em condições adequadas para o lançamento no corpo receptor. Os processos de coagulação/floculação, ozonização e arraste por ar (remoção de amônia) foram investigados. O desempenho desses processos foi feito monitorando-se as remoções de matéria orgânica (DQO e COT), do teor de nitrogênio e dos teores de metais. Ademais, empregou-se a ecotoxicidade aguda como indicador do desempenho das técnicas de tratamento. Buscou-se, através da técnica de fracionamento por membranas, determinar as faixas de massa molar dos poluentes presentes no efluente e verificar a toxicidade associada a essas frações. Os testes de avaliação da ecotoxicidade mostraram-se um valioso indicador para inferir o impacto do lançamento do efluente bruto e tratado no corpo receptor, a Baı́a de Guanabara, cuja qualidade ambiental está bastante comprometida. vi Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) TREATMENT OF THE SANITARY LANDFILL LEACHATE AND EVALUATION OF THE RAW AND TREATED EFLUENT’S TOXICITY Alessandra Cristina Silva June/2002 Advisor: Geraldo Lippel Sant’Anna Jr. Márcia Dezotti Department: Civil Engineering This work deals with the physical and chemical characterization of the leachate from Gramacho Metropolitan Landfill (RJ) and with the treatment of this effluent by different techniques, which can produce an effluent suitable for discharge in the water receiving body. Coagulation and flocculation, ozonization and air stripping (for ammonia removal) were the treatment techniques investigated. The treatment performance was assessed by monitoring the removal of organic matter (COD and TOC), ammonium nitrogen and metals. The determination of acute toxicity was also performed and used as an indicator of treatment efficacy. The technique of membrane fractionation was employed to infer the molecular mass range of the pollutants found in the effluent and verify the toxicity associated to these mass molecular fractions. The ecotoxicity assays showed to be a valious indicator to forecast the environmental impact of leachate discharge in the Guanabara Bay, a heavily polluted water system. vii Sumário 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO 1 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Percolados de Aterros Sanitários . . . . . . . . . . . . . . 2.1.1 Caracterı́sticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Recalcitrância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.1 Desafios do Tratamento . . . . . . . . . . . . . . 2.2.2 Variabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Aterro Metropolitano de Gramacho . . . . . . . . . . . . . 2.4 Técnicas empregadas para tratar o percolado . . . . . . . . 2.4.1 Tratamento Primário . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.2 Tratamentos Oxidativos . . . . . . . . . . . . . . 2.4.3 Tratamento Biológico . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.4 Processos de Separação com Membranas . . . . . 2.4.5 Evaporação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.6 Recirculação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.7 Neutralização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.8 Eletroquı́mico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.9 Wetlands . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.10 Remoção de Voláteis e Amônia . . . . . . . . . . 2.5 Remoção de Metais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6 Considerações sobre as técnicas de tratamento de chorume 2.7 Toxicidade: Conceitos e Métodos . . . . . . . . . . . . . 2.7.1 Toxicidade aguda . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.7.2 Toxicidade crônica . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.7.3 Organismos Padronizados . . . . . . . . . . . . . viii . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 3 4 4 5 6 7 9 9 11 14 17 21 22 22 22 23 23 25 25 28 28 29 30 2.7.4 Leis Federais e Estaduais Para Avaliação da Toxicidade . . . . . . 3 Materiais e Métodos 3.1 Procedimentos de Coleta e Preservação das Amostras de Chorume 3.2 Caracterização do Chorume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3 Tratamento Primário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4 Ozonização do Efluente Pré-tratado . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.1 Planta Piloto de Ozonização . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.2 Procedimento experimental . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5 Fracionamento com Membranas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5.1 Procedimento Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . 3.6 Arraste da Amônia com Ar das Frações Percoladas . . . . . . . . 3.7 Bioensaios para determinação da toxicidade . . . . . . . . . . . . 3.7.1 Organismos testados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.7.2 Procedimento dos Testes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.7.3 Tratamento Estatı́stico dos Dados . . . . . . . . . . . . . 3.8 Metodologia Analı́tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8.1 DQO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8.2 COT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8.3 pH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8.4 Cor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8.5 Cloreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8.6 Amônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8.7 Metais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 37 38 39 40 40 43 43 44 46 47 47 47 50 51 51 51 51 51 52 52 52 4 RESULTADOS e DISCUSSÃO 4.1 Caracterização do efluente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 Tratamento primário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Ozonização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 Fracionamento com membranas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.5 Arraste da amônia das amostras fracionadas em membranas . . . . . . . . 4.6 Toxicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6.1 Efluente Bruto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6.2 Efluente Pré-tratado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6.3 Efluente Ozonizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6.4 Efluente Fracionado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6.5 Permeados submetidos ao arraste com ar para remoção de amônia 53 53 62 67 71 74 76 77 80 84 86 88 ix . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6.6 4.7 Efluente pré-tratado submetido ao arraste com ar para remoção de amônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Comentários finais sobre os tratamentos realizados . . . . . . . . . . . . 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 91 92 99 x Lista de Figuras 2.1 Daphnia Similis: diversas fases da vida do organismo . . . . . . . . . . . 31 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12 3.13 Local de Amostragem do Chorume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Teste de Coagulação/Floculação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Planta Piloto instalada na White Martins . . . . . . . . . . . . . . . . Coluna de Contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Diagrama esquemático da unidade piloto de ôzonio da White Martins Coluna de Contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esquema da unidade empregada nos ensaios de micro e ultrafiltração. Representação Esquemática da Célula de Permeação . . . . . . . . . Esquema do Sistema Utilizado para o Arraste da Amônia . . . . . . . Artemia salina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Daphnia similis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Brachydanio rerio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vibrio fisheri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 40 41 41 42 43 45 45 46 48 49 49 50 4.1 Fotografia ilustrativa da remoção de cor do chorume promovida pelo processo de coagulação/floculação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Remoção dos parâmetros analisados no processo de coagulação/floculação do chorume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Remoção de DQO obtida nos testes para diferentes dosagens de ozônio . Comportamento da DQO do chorume pré-tratado e ozonizado em diferentes condições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Variação do COT do chorume pré-tratado e ozonizado em diferentes condições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Remoção de cor no processo de ozonização do efluente pré-tratado para diferentes dosagens de ozônio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 xi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 64 67 68 69 70 4.7 4.8 4.9 4.10 4.11 4.12 4.13 4.14 4.15 4.16 4.17 4.18 4.19 4.20 4.21 Variação da cor do efluente com o pré-tratamento e posterior ozonização com diferentes dosagens de ozônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esquema e resultados do fracionamento do efluente em membranas com diferentes cortes (primeira amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esquema e resultados do fracionamento do efluente em membranas com diferentes cortes (segunda amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . Variação do teor de amônia no decorrer do ensaio de arraste com ar para o chorume pré-tratado e posteriormente fracionado em membranas com diferentes cortes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pirâmide representativa dos organismos em determinados nı́veis tróficos, destacando-se aqueles utilizados neste trabalho . . . . . . . . . . . . . . Resultados de toxicidade do chorume bruto para os diferentes organismos testados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Comportamento da toxicidade do chorume pré-tratado para os diferentes organismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Variação da toxicidade para primeira amostragem . . . . . . . . . . . . . Variação da toxicidade para segunda amostragem . . . . . . . . . . . . . Resposta do parâmetro efeito tóxico para amostras ozonizadas em diferentes condições ( amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Valores da DQO do chorume submetido a diferentes tratamentos . . . . . Resultados da Toxicidade nos diferentes tratamentos investigados na amostragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados da toxicidade nos diferentes tratamentos investigados na amostragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados da toxicidade para os efluentes submetidos ao arraste de amônia com ar em ambas as amostragens . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados do Efeito observado no teste de toxicidade para Artemia Salina para os efluentes submetidos ao arraste de amônia nas duas amostragens 70 71 72 75 76 80 81 82 83 86 95 xii 96 97 97 98 Lista de Tabelas 2.1 2.2 2.3 Íons presentes no chorume e suas principais fontes . . . . . . . . . . . . Potencial de remoção dos processos por membranas . . . . . . . . . . . . Sumário das técnicas de tratamento empregadas para tratar chorume . . . 3.1 Descrição do Coagulante e do Polieletrólito utilizados nos testes de coagulação/floculação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Relação de membranas usadas para microfiltração(MF) e ultrafiltração(UF). 44 3.2 Caracterização do Chorume: valores médios dos parâmetros fı́sicoquı́micos de duas amostras distintas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 Caracterização do chorume do Aterro de Gramacho feita em diferentes perı́odos por pesquisadores e técnicas distintas . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Dados recentes sobre parâmetros caracterı́sticos dos chorumes gerados em aterros de diferentes regiões brasileiras . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 Resultados das análises de metais presentes nas amostras de chorume do Aterro de Gramacho e limites de lançamento de alguns poluentes . . . . . 4.5 Resultados das análises de metais presentes na amostra de chorume do Aterro de Gramacho e limites de lançamento de alguns poluentes . . . . . 4.6 Resultados do processo de coagulação/floculação aplicado à primeira amostra do chorume: remoção de matéria orgânica, cor e cloreto . . . . . 4.7 Resultados do processo de coagulação/floculação aplicado à segunda amostra do chorume: remoção de matéria orgânica, cor e cloreto . . . . . 4.8 Resultados das análises de metais presentes nas amostras de chorume prétratado e limites de lançamento de alguns poluentes. . . . . . . . . . . . . 4.9 Remoção percentual de parâmetros fı́sico-quı́micos de interesse observados no processo de fracionamento por membranas . . . . . . . . . . . . . 4.10 Valores dos parâmetros fı́sico-quı́micos analisados nos permeados após o arraste da amônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 18 26 4.1 xiii 54 57 58 59 61 62 63 66 73 74 4.11 Resultados dos testes de toxicidade aplicados às amostras de chorume bruto 4.12 Resultados de toxicidade por Daphnia similis empregando-se correção de salinidade para o chorume bruto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.13 Resultados dos testes de toxicidade aplicados às amostras de chorume pré-tratado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.14 Resultado de toxicidade para Daphnia similis com correção da salinidade do chorume pré-tratado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.15 Resultados de toxicidade obtidos com o chorume pré-tratado e ozonizado em diferentes condições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.16 Avaliação global da toxicidade do chorume pré-tratado e ozonizado (diferentes dosagens) para Daphinia similis. Amostras com salinidade corrigida ( Amostragem). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.17 Toxicidade avaliada nos permeados obtidos nos processos de permeação com membranas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.18 Toxicidade para Daphnia similis das diferentes frações permeadas após o ajuste da salinidade ( amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.19 Resultados de toxicidade para amostras permeadas e submetidas ao arraste com ar (primeira e segunda amostragens) . . . . . . . . . . . . . . . . 4.20 Toxicidade dos permeados para Daphnia similis após o ajuste de salinidade 4.21 Resultados de toxicidade para Artemia salina expressos em termos de diversos parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.22 Resultados da toxicidade para o efluente pré-tratado e submetido ao arraste com ar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.23 Resultados da toxicidade para Artemia salina determinados para o chorume pré-tratado e submetido ao arraste com ar. . . . . . . . . . . . . . . . 4.24 Resultados de toxicidade para Daphnia similis com amostras do efluente pré-tratado e submetido ao arraste com ar. Amostras com salinidade corrigida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.25 Sumário dos principais parâmetros monitorados nos diversos tratamentos( amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.26 Sumário dos principais parâmetros monitorados nos diversos tratamentos( amostragem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiv 77 78 81 82 84 85 87 88 89 89 90 91 91 92 93 94 Lista de Abreviaturas CE50 CENO CEO CL50 CO COT DBO DE50 DL50 DQO FEEMA HO HO IBGE LABPOL MAP MF Concentração Efetiva em 50% dos organismos testados Maior Concentração do efeito não observado Menor Concentração do efeito observado Concentração Letal em 50% dos organismos testados Dióxido de Carbono Carbono de Orgânico Total Demanda Bioquı́mica de Oxigênio Dose Efetiva em 50% dos organismos testados Dose Letal em 50% dos organismos testados Demanda Quı́mica de Oxigênio Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente Água Peróxido de Hidrogênio Instituto Brasileiro Geografia e Estatı́stica Laboratório de Poluição das Águas (fosfato/ amônia/ magnésio) Microfiltração Amônia livre Amônia ionizada NT Normas Técnicas O Ozônio O Oxigênio OD Oxigênio Dissolvido OH Radical Hidroxila pH Potencial de Hidrogênio PM Peso Molecular POAs Processos Oxidativos Avançados PtCo Platina Cobalto R Radical UF Ultrafiltração UT Unidade de Toxicidade UV Radiação Ultra Violeta COMLURB Companhia de Limpeza Urbana do Municı́pio xv Capı́tulo 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO O crescimento urbano, a industrialização e a decorrente elevação dos patamares de consumo, vêm provocando o aumento da geração de resı́duos sólidos, principalmente nas regiões metropolitanas, impondo grandes demandas, tanto pela quantidade, quanto pelas caracterı́sticas dos resı́duos gerados. A falta de uma polı́tica para o gerenciamento dos resı́duos sólidos contribui para a poluição do ar, da água e do solo. A decomposição desses resı́duos gera um lı́quido denominado chorume, cuja composição é variada e complexa. A presença de diversos poluentes no chorume impõe a necessidade de tratamento adequado antes de seu lançamento no corpo receptor. O chorume, gerado nos aterros sanitários e locais de disposição denominados lixões, apresenta grande variabilidade no tocante à sua composição quı́mica, que, por sua vez, depende de vários fatores como a idade do aterro, as condições geológicas locais e eventos climáticos diversos. Vale ressaltar que mesmo quando os resı́duos sólidos são depositados no solo adequadamente e o aterro encerra suas atividades no tempo certo, a geração do chorume não se extingüe e, em geral, quanto mais velho o aterro, menos biodegradavél é esse efluente, necessitando de processos de tratamento mais complexos. Até bem pouco tempo a água era vista como um recurso ilimitado, agora, diante do conhecimento da sua escassez e do estabelecimento da polı́tica de Recursos Hı́dricos há uma expectativa de que haja um maior e mais rigoroso controle da poluição hı́drica. Logo, espera-se que os esforços para controlar a poluição das águas sejam expandi- dos, para que haja proteção da qualidade das águas. Os resı́duos sólidos urbanos comprometem a qualidade dos cursos hı́dricos, de modo muito intenso, sobretudo quando o gerenciamento desses resı́duos é precário. Constitui-se como objetivo deste trabalho investigar técnicas de tratamento do chorume e avaliar o seu desempenho não somente através de parâmetros fı́sico-quı́micos, como também através da determinação da toxicidade aguda através de bioensaios empregando alguns organismos padronizados como os microcrustáceos Daphnia similis e Artemia salina, a bactéria Vı́brio fisheri e o peixe Brachydanio rerio. A introdução de bioensaios de toxidade na rotina do controle de efluentes de chorume é muito importante para a preservação da qualidade de corpos receptores, assegurando o equilı́brio quı́mico do ambiente, condição indispensável e urgente para preservar a vida na terra. Esta dissertação está dividida em capı́tulos, cujos contúdos são sumarizados em seguida. No capı́tulo 2 são apresentados algumas das caracterı́sticas do percolado gerado no Aterro Metropolitano de Gramacho (RJ), e são descritas as técnicas investigadas neste estudo: pré-tratamento de coagulação/floculação para remoção de parte do material orgânico e metais, ozonização do chorume para remoção de cor e matéria orgânica, fracionamento por membranas para tentar identificar relacões entre recalcitrância e toxicidade com a massa molecular dos poluentes e arraste da amônia com ar. Nesse capı́tulo também são comentadas outras técnicas que estão sendo investigadas por diversos autores, para o tratamento de chorumes gerados em vários aterros e que apresentam caracterı́sticas de recalcitrância. Finalmente, são apresentados os testes de ecotoxicidade, considerados ferramenta essencial para a avaliação da eficiência dos tratamentos testados. No capı́tulo 3 estão descritos os procedimentos experimentais e as metodologias analı́ticas e as técnicas utilizadas nos tratamentos estudados e também os métodos toxicológicos empregados. Os resultados obtidos neste estudo estão descritos e discutidos no capı́tulo 4. No último capı́tulo são apresentados as conclusões do trabalho e são feitas sugestões para trabalhos futuros. 2 Capı́tulo 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Percolados de Aterros Sanit ários Os percolados de aterros são lı́qüidos escuros e turvos, de odor desagradável, que apresentam em sua composição altos teores de compostos orgânicos e inorgânicos, nas suas formas dissolvida e coloidal, liberados no processo de decomposição do lixo. Para a formação do chorume contribui também a água de chuva que entra pela face superior do aterro, através da chuva, provocando a lavagem do material aterrado, aumentando assim o volume do percolado e, conseqüentemente, diminuindo a concentração de muitos ı́ons presentes. A composição do chorume está condicionada a uma série de fatores e sua composição quı́mica é variável, dependendo muito dos tipos de resı́duos que são depositados no terreno. Para que se tenha um controle da situação, torna-se necessário o gerenciamento ambiental do percolado, monitorando-se, dentre outros fatores, a qualidade e a quantidade de chorume produzida. Determinar o volume de percolado gerado no aterro não é uma tarefa fácil, para tanto, vários pesquisadores vem estimando a produção do percolado com aplicação de modelos matemáticos. Segundo NETO et al. [1] esta ferramenta ainda apresenta imprecisões, decorrentes da diferença dos cenários para a aplicação do modelo e do grande número de variáveis envolvidas. 2.1.1 Caracterı́sticas Para bem determinar as caracterı́sticas e o volume do percolado, é necessário avaliar as particularidades de cada aterro. Para evitar a contaminação do solo e da água são necessários estudos de reconhecimento do perfil do solo e do subsolo, onde o aterro será construı́do. Além disso, devese avaliar parâmetros como: constituição do solo, permeabilidade, capacidade de carga, nı́vel do lençol freático e localização de jazidas de material para cobertura, grau de compactação, condições meteorológicas do lugar, condições de operação do aterro, tipos de equipamentos, tipo de recirculação do lixiviado, natureza dos resı́duos sólidos (tipo, umidade, nı́vel de matéria orgânica, outras caracterı́sticas), topografia (área e perfil do terreno), qualidade e quantidade de recicláveis e ainda hábitos da população, número de habitantes, bem como seu desenvolvimento econômico-sócio-cultural [2]. O conhecimento de todas as caracterı́sticas dos resı́duos sólidos, assim como de suas tendências futuras, possibilita calcular a capacidade e selecionar o tipo dos equipamentos de coleta, tratamento e destinação final mais adequados. 2.2 Recalcitrância A presença de substâncias recalcitrantes em chorumes gerados em aterros velhos foi apontada na literatura [3, 4]. À dificuldade ou impossibilidade de degradação de certas substâncias quı́micas na natureza associa-se o termo recalcitrância. Como os microorganismos são os principais agentes dos processos de degradação e reciclagem de nutrientes, sua incapacidade de degradar ou transformar essas substâncias é o indı́cio de sua recalcitrância ou persistência no meio ambiente. As substâncias podem oferecer dificuldade à biodegradação em decorrência de diversos fatores, a saber: i) estrutura quı́mica complexa desprovida de grupos funcionais reativos; ii) a molécula pode exercer uma ação tóxica sobre a microflora ou ainda inativar enzimaschaves do metabolismo celular; iii) a molécula pode se complexar ou interagir com elementos ou compostos quı́micos tornando-se pouco acessı́vel às enzimas extracelulares e a posterior metabolização. No caso dos chorumes, alguns autores afirmam que a recalcitrância estaria associada à presença de compostos de elevada massa molecular com estruturas muito complexas como é o caso das substâncias húmicas [5]. 4 As substâncias húmicas constituem uma importante fração do material orgânico dissolvido nas águas naturais. São definidas como macromoléculas polifuncionais que alteram com freqüência as suas conformações em função das interações que ocorrem entre os grupos funcionais presentes na sua estrutura. Essas substâncias possuem estruturas complexas e heterogêneas, compostas de carbono, oxigênio, hidrogênio e algumas vezes pequenas quantidades de nitrogênio, fósforo e enxofre. Ocorrem nos solos e águas naturais como conseqüência da decomposição de resı́duos de plantas e animais através de processos quı́micos, fı́sicos e biológicos [6, 7, 8, 9]. São divididas em três classes de materiais: ácidos fúlvicos - materiais solúveis em água em todas as condições de pH; ácidos húmicos - são solúveis em pH 2; humus - solúveis em qualquer pH. Segundo JONES et al. [6] essas macromoléculas possuem uma certa complexidade quı́mica e estrutural que torna difı́cil a sua caracterização. Vários métodos de determinação de massa molecular de polı́meros têm sido aplicados para substâncias, incluindo a medida de propriedades coligativas, técnicas de cromatografia, ultrafiltração, ultracentrifugação, viscometria e microscopia eletrônica. Os métodos oxidativos - CuO e a pirólise são largamente usados para caracterizar componentes individuais do material húmico [10, 8, 11]. CINTRA et al.[12] evidenciou em seus experimentos que se deve ter mais cuidado na realização da análise de de lixiviados provenientes de aterros sanitários, visto que o consumo de oxigênio por microorganismo na estabilização do substrato orgânico no perı́odo de cinco dias de incubação da amostra, pode não ser verdadeira, porque a carga orgânica é medida indiretamente no teste, devido à pequena concentração ou mesmo à ausência de uma biomassa aeróbia adaptada às condições adversas: toxicidade e substrato pouco assimilável pela cultura microbiana. 2.2.1 Desafios do Tratamento No Brasil são produzidos diariamente cerca de 241 mil toneladas de lixo, das quais 90 mil são de origem domiciliar. Em termos médios, a produção nacional de resı́duos domésticos por habitante estaria em torno de 600 g/dia [13]. Dados do IBGE (1991) revelam que no Brasil, 99% dos resı́duos sólidos são depositados diretamente no solo, sendo que a maioria (89%) é disposta a céu aberto ou em 5 aterros controlados, e apenas 10% vão para aterros sanitários [3]. Dentre as alternativas tecnológicas para disposição de resı́duos sólidos urbanos, o aterro sanitário ainda é a técnica mais utilizada mundialmente. A sua construção baseia-se na criação de uma estrutura impermeabilizada seguindo critérios de engenharia e normas de operação, cujo objetivo é impedir que elementos tóxicos, produzidos pela decomposição do lixo, entrem em contato com a água e o solo, poluindo o meio ambiente. Durante a sua vida útil e após cessar o seu funcionamento, é necessário que haja um monitoramento cuidadoso dos gases, bem como o emprego de técnicas de tratamento dos lı́quidos percolados gerados. O chorume gera impactos ambientais por apresentar elevado poder de poluição das águas. A percolação do lı́quido no aterro pode provocar a poluição das águas subterrâneas e superficiais, sendo que uma das primeiras alterações observadas é a redução do teor de oxigênio dissolvido, que pode prejudicar a fauna e a flora aquática. Outros poluentes presentes no chorume são os metais, que podem se apresentar em diversas formas (livres, complexados, não solubilizados). Esses poluentes devem ser monitorados com rigor face aos danos ambientais que promovem. Fatores fı́sicos, como a temperatura, também são importantes, pois muitos ı́ons não são solúveis em temperaturas baixas, enquanto outros têm a sua solubilidade reduzida em temperaturas elevadas. O chumbo ( ), por exemplo, é solúvel em água quente na forma de cloretos, enquanto a prata ( ) e o mercúrio ( ) não o são. Devido à sua complexidade, o chorume formado nos aterros deve ser tratado antes de seu lançamento em corpos receptores. 2.2.2 Variabilidade A variabilidade da composição dos resı́duos aterrados, pode produzir chorumes com elevados teores de metais tóxicos, xenobióticos (substâncias quı́micas produzidas pelas atividades humanas) e microorganismos perigosos à saúde. No chorume, os ı́ons presentes em grandes quantidades percolam pelo solo e combinam-se com espécies doadoras de , formando complexos (p.ex. + ). elétrons, como o ı́on Também podem se ligar a cadeias curtas de carbono, o que os torna solúveis em tecidos - S - Pb - S - ) [14]. animais, podendo atravessar membranas biológicas (p. ex. A reciclagem que é realizada em alguns depósitos, onde parte do lixo é separado em esteiras para reter materiais de valor comercial, como alumı́nio, pilhas, vidros e plásticos, representa uma importante etapa, que contribui muito para abrandar a composição do chorume em metais e materiais de difı́cil degradação. Os ı́ons que podem ser encontrados 6 no chorume e suas possı́veis origens estão ilustrado na Tabela 2.1[15]. 1 Tabela 2.1: Íons presentes no chorume e suas principais fontes Íons , , , , , , , , , , , , , , Fontes Material orgânico, entulhos de construção, cascas de ovos Material orgânico Material eletrônico, latas, tampas de garrafas Pilhas comuns e alcalinas, lâmpadas fluorescentes Baterias recarregáveis (celular, telefone sem fio, automóveis) Latas descartáveis, utensı́lios domésticos, cosméticos, embalagens laminadas em geral Tubos de PVC, negativos de filmes de raio-X Embalagens de tintas, vernizes, solventes orgânicos 2.3 Aterro Metropolitano de Gramacho Buscando um meio viável para dar destino final ao lixo, em 1933 surgiram na cidade do Rio de Janeiro os dois primeiro aterros sanitários; Praia do Retiro Saudoso e Parada do Amorim, localizados no bairro do Caju. Foram considerados aterros, porque o lixo recolhido era espalhado sobre o terreno pantanoso e coberto por uma camada de barro e areia, material este que era extraı́do de um terreno onde estava localizado o cemitério de São Francisco Xavier. Em novembro de 1978 foi criado no Rio de Janeiro, em uma área de 1.300.000 doada pelo INCRA, o Aterro Metropolitano de Gramacho, construı́do a 10 metros do nı́vel do mar e situado no bairro Jardim Gramacho, no municı́pio de Duque de Caxias, no km 1 http://www.messiaah.org/ 7 4,5 da Rodovia Washigton Luı́s (Rio-Petrópolis), com objetivo de receber resı́duos domiciliares dos municı́pios do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Niterói, São Gonçalo, São João do Meriti e Nilópolis, sendo depositados naquela época, em média 5.000 toneladas de lixo por dia [16]. 2 Devido à ausência de polı́ticas permanentes de saneamento por parte das prefeituras dos municı́pios mencionados acima, o aterro foi operado de forma deficiente, transformando-se num depósito de lixo a céu aberto, com alto potencial poluidor, tanto para a atmosfera (biogás, particulados, produtos de combustão) como para o corpo receptor, posto que o chorume produzido escorria para o Rio Iguaçu e o Rio Sarapuı́ e chegava até a Baı́a de Guanabara com conseqüências danosas para o manguezal e para a flora e a fauna. Este quadro só começou a ser revertido na década de 80, quando a COMLURB decidiu assumir a responsabilidade de recuperar a área degradada pela disposição descontrolada de resı́duos, inclusive industriais, garantindo a operação regular do Aterro, em conformidade com as normas técnicas e a legislação vigente. Em 1996 iniciaram-se as obras de recuperação do Aterro, que contemplavam a construção da barreira de contenção ao seu redor feita de argila orgânica, de modo a evitar o escoamento não controladodo chorume para a Baı́a de Guanabara e a construção de uma Estação de Tratamento do percolado, buscando atender o programa de monitoramento ambiental, com objetivo de garantir a qualidade da água dos corpos receptores no entorno do aterro. Após a sua recuperação, o aterro teria capacidade de receber 8.000 toneladas diárias de lixo e sua vida útil foi estimada entre 8 e 10 anos [17]. 3 A Baı́a de Guanabara segundo BILA [4] e CAMMAROTA et al, [18], recebia aproximadamente 800 /dia de um chorume altamente tóxico antes da construção de uma barreira de contenção em volta do aterro, resultante da percolação de lı́quido do Aterro Metropolitano de Gramacho, considerada uma das principais fontes de poluição desse corpo receptor. Os dados apresentados por BILA [4] e pela COMLURB, revelam que a quantidade de resı́duos depositada no aterro, atualmente, está compreendida na faixa de 5.500 a 6.700 toneladas diárias de lixo. Segundo CHARLET et al. [19], o aterro de Gramacho possui quase a metade de sua área total ocupada por lixo velho, com mais de 10 anos, gerando chorume com alta salinidade e alta concentração de compostos nitrogenados. O material orgânico é considerado recalcitrante, pois apresenta baixa biodegradabilidade, indicando que o tratamento 2 http://www.rio.rj.gov/comlurb/arti12.htm 3 http://www.signuseditora.com.br/Sa-57/SAgramac.htm 8 do chorume gerado, por suas caracterı́sticas, representa um desafio. 2.4 Técnicas empregadas para tratar o percolado O chorume é um efluente muito complexo, apresentando ainda variabilidade de composição, uma vez que cada aterro gera chorume com caracterı́sticas particulares, o que demanda uma avaliação do tipo de tratamento viável e eficiente para cada caso. Os trabalhos sobre chorume apresentados na literatura ressaltam que as caracterı́sticas, como a idade do aterro, têm influência significativa na composição quı́mica do chorume e conseqüentemente em sua tratabilidade. Portanto, a escolha entre as diversas alternativas de tratamento depende de parâmetros técnicos e econômicos [20, 21]. A seguir são descritas algumas das técnicas mais utilizadas relatadas na literatura para o tratamento de chorume. 2.4.1 Tratamento Primário A finalidade do tratamento primário é remover partı́culas coloidais, material sólido em suspensão e ajustar o pH para o posterior tratamento do efluente. A coagulação é um processo muito utilizado por promover a clarificação de efluentes industriais contendo partı́culas coloidais e sólidos em suspensão. Este processo consiste na adição de agentes quı́micos para neutralizar as cargas elétricas das partı́culas, ocorrendo ligações quı́micas e absorção das cargas superficiais presentes, havendo necessidade de aplicação de elevada energia à mistura. O coagulante mais popularmente utilizado nos dias atuais para o tratamento de águas residuárias é o sulfato de alumı́nio. Segundo DEZOTTI et al. [22], para favorecer a coagulação são usados ı́ons de alta valência ( e ) pois quanto maior a valência do ı́on maior será a sua capacidade de coagulação. O valor do pH exerce um papel muito importante na coagulação. O sulfato de alumı́nio, encontrado sob a forma quı́mica de , pode atuar, tanto para as condições ácidas como básicas. A utilização em condições ácidas exige uma certa alcalinidade para a solução, já nas condições básicas a solução pode apresentar baixa alcalinidade [23]. De todo modo é importante que a água que será submetida à coagulação contenha alguma alcalinidade, para que o sulfato de alumı́nio possa reagir e formar o precipitado. 9 Não é possı́vel estimar com exatidão a quantidade de sulfato de alumı́nio necessária para promover uma perfeita coagulação, mas a literatura relata que são necessários teoricamente cerca de 20 mg/L de sulfato de alumı́nio comercial para 7,7 mg/L de alcalinidade na forma de [24]. A adição de alcalinidade para melhorar a coagulação, poderá implicar no aumento da cor do efluente. Outra desvantagem é que o controle da coagulação através do ajuste do pH é uma tarefa difı́cil, devido à pequena faixa de valores adequados do pH e à tendência de diminuição do pH associada à adição do sulfato [24]. Vale ressaltar que os componentes quı́micos utilizados para promover a coagulação, agem também como aceleradores de floculação, que consiste na formação de macroflocos. As partı́culas formadas na coagulação possuem tamanho da ordem de 1 m, porém sob lenta agitação essas partı́culas tendem a se aglomerar formando flocos visı́veis. Um fator fı́sico muito importante para a formação dos flocos é a velocidade moderada proporcionada pela agitação mecânica do meio, formando flocos com tamanho levemente maior que uma cabeça de alfinete, pois turbulência maior pode provocar a ruptura dos flocos em partı́culas menores que são de difı́cil decantação, dificultando a sua remoção. As melhores condições para a formação dos flocos podem ser determinadas em ensaios laboratoriais, visto que a duração do perı́odo de floculação dependerá também das caracterı́sticas do efluente, da quantidade de coagulante utilizado e do tipo de floculante [24]. Temperaturas moderadas são mais satisfatórias porque favorecem a rápida formação de flocos, na etapa posterior à coagulação (floculação). O surgimento destes flocos está diretamente relacionado com a concentração do ı́on-hidrogênio e as relações aniônicas e catiônicas [24]. Para auxiliar no tratamento de coagulação/floculação estão sendo de largo emprego os compostos sintéticos, denominados polieletrólitos, que são substâncias poliméricas com alto peso molecular, solúveis em água, contendo cargas elétricas em sua estrutura. O polieletrólito é uma substância que não é afetada pelo pH do meio e pode servir como coagulante, pois pode reduzir a carga efetiva das partı́culas coloidais [23]. Com relação às cargas, o polı́mero pode ser classificado como catiônico e aniônico. Na ausência de cargas os polı́meros denominam-se não-iônicos. i) catiônico: possui cargas positivas capazes de absorver os flocos coloidais com partı́culas negativas; ii) aniônico: possui cargas negativas e realiza a troca destas cargas das partı́culas coloidais e permite a formação de pontes de hidrogênio entre o colóide e o polı́mero. Segundo REIS [25], a interação dessas moléculas com a matéria coloidal presente no 10 efluente favorece a neutralização das cargas ou facilita a formação de ligações (pontes) com as partı́culas individuais para formar um visı́vel precipitado insolúvel, ou floco. Os polı́meros sintéticos apresentam uma importante vantagem de mercado, porque essas moléculas podem ser produzidas sob medida, atingindo os requisitos especı́ficos para determinada aplicação. O aumento do tamanho e da densidade do floco é um dos principais motivos que levam a utilizar os polieletrólitos sintéticos como auxiliares no tratamento primário. Os polieletrólitos quando combinados com eletrólitos inorgânico oferecem vantagens, como a de reduzir o consumo de eletrólito inorgânico e conseqüentemente o volume do precipitado, e a de condicionar a formação de flocos com caracterı́sticas adequadas à operação de separação dos sólidos formados [22]. A coagulação e a floculação do chorume do Aterro de Gramacho foi investigada em dois trabalhos anteriores. CAMMAROTA et al. [26] testou várias dosagens de coagulantes em diferentes valores de pH, sendo que o tratamento se mostrou eficaz, observando-se razoáveis remoções de DQO (40%) com o coagulante cloreto férrico e (25%) com sulfato de alumı́nio a um valor de pH de 4,0 - 4,5 e dosagem de 400-500 mg/L. A utilização dos agentes coagulantes de forma combinada e o emprego de polieletrólitos não contribuı́ram para aprimorar a qualidade do efluente tratado. Este trabalho também verificou que o chorume gerado no Aterro Sanitário de Gramacho apresentou caracterı́sticas fı́sicas e quı́micas bastante distintas daquelas apresentadas por outros chorumes e reportadas na literatura. Com objetivo de remover material orgânico recalcitrante presente no chorume por processo de coagulação/floculação, BILA [4], em seu estudo, realizou vários experimentos testando as melhores condições de pH, a concentração dos agentes empregados e o melhor conjunto de coagulantes e polieletrólito. Dos produtos testados o sulfato de alumı́nio foi o que apresentou o melhor desempenho, com a faixa de pH ótimo entre 4,5 - 5,0, e com uma dosagem ótima entre 700 - 950 (mg/L). As maiores remoções foram obtidas utilizando um polieletrólito catiônico da Nalco denominado 7128. O estudo apresentou bons resultados em termos de remoção de DQO e COT, boa clarificação do efluente, e mostrou-se adequado quanto à formação e tamanho dos flocos. 2.4.2 Tratamentos Oxidativos Em busca de tecnologias limpas, com alto poder de destruição dos poluentes, surgiram os Processos Oxidativos Avançados (POAs), altamente eficientes para destruir substâncias orgânicas de difı́cil degradação e gerar como produtos finais da reação e [27]. 11 Os POAs são processos que geram radicais hidroxila ( OH) altamente oxidantes, capazes de oxidar completamente as moléculas orgânicas presentes em águas poluı́das. A oxidação com ozônio, com peróxido de hidrogênio combinados ou não com radiação ultra violeta (UV), bem como a fotocatálise se constituem nos POAS com alto potencial de uso. Segundo DEZOTTI [28] e STEENSEN [27] algumas vantagens desses processos podem ser destacadas, como: Não requerem a transferência de fase do poluente (como a absorção em carvão ativo); Apresentam alto potencial de oxidação; Não formam sub-produtos sólidos (lodo); Podem levar à mineralização completa dos poluentes, se necessário, ou a formas biodegradáveis ou a compostos não tóxicos; Promovem a remoção de cor; Removem Ferro e Manganês. Dentre os POAS a ozonização é uma das técnicas mais difundidas. O ozônio é comumente produzido por descarga elétrica no ar ou oxigênio puro: O +O Esta reação pode ser catalisada por radiação, ultrasom, e catalisadores homogêneos (metais). Quando o ozônio se decompõe são gerados radicais de grande poder oxidativo. Estas reações são ilustradas abaixo: O + +O 2HO Dentre os tratamentos terciários existentes, a aplicação do ozônio tem se destacado como a segunda técnica mais importante em nı́vel industrial. Esta etapa de tratamento é exigida quando os nı́veis de poluentes nos efluentes industriais a serem descartados estão acima dos valores estabelecidos pelos órgãos ambientais. A aplicação do ozônio promove também, além da remoção da DQO e da DBO, o aumento do teor do oxigênio dissolvido, a remoção de cor, odor, sabor e turbidez. 12 No estudo desenvolvidos por RIBEIRO [29] verificou-se a remoção de toxicidade, em casos onde foram utilizados peróxido de hidrogênio como agente oxidante em uma solução de metionina e ozônio em amostras contendo compostos aromáticos. As reações quı́micas do ozônio com contaminantes orgânicos ocorre através de dois mecanismos. Um deles é o mecanismo direto, com o ozônio na forma molecular, cujas reações são altamente seletivas. Outro mecanismo á de ação indireta, pois acontece a decomposição do ozônio formando radicais livres altamente oxidantes. Soluções com pH ácido, constituı́dos de radicais destruidores, como o carbonato e o bicarbonato, tenderão a favorecer as reações diretas com ozônio molecular. Já as soluções que apresentarem pH alcalino, incidência de luz ultravioleta, altas temperaturas e presença de catalisadores como o peróxido de hidrogênio, promovem a decomposição do ozônio favorecendo as reações indiretas. Sendo assim, fica difı́cil estabelecer qual das duas formas de reação predomina em situações particulares, visto que as reações indiretas com formação de radicais livres, predominam na utilização do ozônio em reações de oxidação de sistemas aquosos, e as reações diretas com ozônio molecular, formam radicais orgânicos e inorgânicos como produtos, processando assim reações pelo mecanismo de radicais livres. O ozônio reage com quase todos os elementos da tabela periódica, com exceção de um membro da série dos haletos, o flúor, que possui potencial de oxidação mais elevado que o ozônio. Quanto ao ı́on cloreto, é oxidado muito lentamente em soluções ácidas. O ozônio também não reage com metais alcalinos e alcalinos terrosos, porque possuem apenas um estado de oxidação. Para as espécies inorgânicas que se apresentam na forma reduzida, o ozônio é um excelente oxidante, por gerar compostos com baixa solubilidade, que na forma de precipitados podem ser removidos facilmente do meio aquoso pelo processo de filtração. Os processos oxidativos vem sendo empregados em muitas plantas de tratamento de águas residuárias, para remover os metais de transição (como o ferro e o manganês) que se encontram entre essas espécies. O ozônio pode ser empregado tanto para o tratamento de água como de esgoto, com a finalidade de obter na etapa final das plantas de tratamento, o polimento dos efluentes e a purificação das águas. Uma das mais recentes aplicações do ozônio em tratamento de água e efluente, consiste em promover o aumento da biodegradabilidade dos compostos orgânicos. Porém, em alguns casos onde foi utilizado o ozônio para desinfecção final, verificou-se a possibilidade de crescimento biológico extensivo, o que pode acarretar sérios problemas. KUO [30] comparou duas maneiras de adicionar ozônio no tratamento de um efluente visando a remoção de DQO e COT. Na primeira adicionando ozônio através do borbulha13 mento no fundo do reator com auxı́lio de um agitador magnético, na segunda empregando a injeção em fluxo descendente, aplicando pressão no topo do reator. O segundo teste apresentou os melhores resultados, devido à melhor transferência de massa obtida da fase gás para a fase lı́quida. PERKOWSKI et al. [31] confirmaram a aplicação da oxidação com resultados positivos na decomposição dos poluentes contidos nos efluentes gerados nos processos de tingimento e lavagem de uma indústria textil. Quando combinou-se os três POAs, houve quase remoção completa da cor, dos surfactantes presentes no efluente proveniente do tingimento e obteve-se também 80% de remoção da DQO. Para que ocorra a oxidação da amônia, é preciso que seja considerado o pH e a presença de outras substâncias oxidáveis no meio aquoso. O pH alcalino na faixa entre 7 e 9, favorece o deslocamento da curva de equilı́brio, aumentando a concentração de amônia livre, podendo-se observar nessas condições razoáveis taxas de reação. A amônia é dificilmente oxidada na presença de substâncias orgânicas, devido à cinética de oxidação de compostos orgânicos ser muito mais rápida do que a da reação entre o ozônio e a amônia. Assim, nessas condições, a amônia não é praticamente oxidada [29]. 2.4.3 Tratamento Biológico De acordo com a literatura, o tratamento biológico tem se mostrado pouco eficiente para chorumes provenientes de aterros velhos, devido à presença de compostos recalcitrantes. Dentre os processos biológicos encontrados na literatura para o tratamento de chorume destacam-se: lodos ativados, lagoas aeradas e filtros biológicos. CAMMAROTA et al. [18] não encontrou resultados satisfatórios para o tratamento biológico aeróbio, pois verificou que com o aumento da concentração de chorume no meio de alimentação do reator biológico, a eficiência de remoção da DQO era reduzida. Os resultados obtidos nesse estudo, com testes de biodegradabilidade, levaram à conclusão de que o tratamento biológico do chorume “in natura” não deve se constituir na primeira etapa da seqüência de tratamento a que deve ser submetido este efluente. Nos testes de tratabilidade biológica realizados por BILA [4] com amostra de chorume pré-tratado pelo processo de coagulação/floculação, observou-se que o lodo ativado foi perdendo sua atividade com o aumento da concentração de chorume na alimentação do reator. Estas conclusões foram subsidiadas por observações do lodo, que constataram escassez de flocos, que quase não apresentaram filamentos estruturais, e ausência de protozoários no lodo, indicativos de lodo com más caracterı́sticas. A natureza recalcitrante 14 do chorume e sua possı́vel toxicidade foram sugeridas em função da pequena quantidade de lodo presente no reator no final do teste de tratabilidade. BILA [4] também investigou o comportamento do lodo biológico face ao chorume pré-tratado com diferentes dosagens de ozônio (0,5; 1,5; e 3,0 g/L). Para a menor dosagem de ozônio baixas remoções de DQO e COT foram observadas com prejuı́zo das caracterı́sticas do lodo biológico. As caracterı́sticas do lodo melhoraram quando o reator foi alimentado com efluente tratado com as maiores dosagens de ozônio. Neste caso, os flocos se apresentaram bem formados, com a presença de filamentos estruturais e de protozoários. Os nı́veis mais elevados de ozonização parecem ter contribuı́do para promover uma redução da recalcitrância e da toxicidade do efluente. No entanto, foi possı́vel observar que mesmo com o aumento da biodegradabilidade do chorume proporcionada pela ozonização, este efluente ainda apresentava compostos recalcitrantes de difı́cil biodegradação. A legislação norueguesa de 1994 estabeleceu como ideal para o tratamento de chorume, o emprego de técnicas que possam ser facilmente adaptáveis, pouco sensı́veis às variações de vazão e concentração com capacidade de remover um grande número de compostos que podem impactar o meio ambiente, de fácil operação e de pouca manutenção, e ainda de baixo consumo de energia e custos compatı́veis. HAARSTAD & MAEHLUM [32] buscando simplicidade e baixo custo, verificaram que as técnicas adequadas para as condições da Noruega seriam a utilização de lagoas aeradas em combinação com sistemas naturais tais como: infiltração no solo, irrigação, filtração e wetlands (leitos alagados com plantas aquáticas). A utilização das lagoas aeradas é bastante utilizada como etapa que precede a disposição final do chorume em estações de tratamento de esgotos, onde bons resultados de biodegradação são obtidos para chorumes provenientes de aterros jovens. ROBINSON [33] verificaram que nos aterros de grande porte, os sistemas adotados para o tratamento do chorume envolvem, além das lagoas e tanques de aeração, os wetlands e tratamento com ozônio para reduzir a massa molar de compostos tóxicos, transformando-os em moléculas orgânicas menores. O processo biológico nitrificação/desnitrificação foi investigado por ILIES e MAVINIC [34], IM et al. [21] como método econômico e mais efetivo para remoção de nitrogênio, no tratamento de chorume produzido em aterro sanitário contendo altas concentrações de amônia. Nesse estudo em que o efluente apresentava 2200mg/L de amônia, conseguiu-se com o tratamento uma remoção de 50%. McBEAN et al. [35] verificaram que os filtros biológicos, além de eficientes na remoção de compostos orgânicos biodegradáveis, podem promover a nitrificação. Mas os autores ressaltam que a sua utilização no tratamento de chorume, pode ficar compro15 metida pela facilidade de entupimento do filtro. Algumas instalações que operam segundo o princı́pio dos filtros biológicos de percolação têm sido divulgadas, sem, no entanto, se informar a eficiência de operação desses sistemas. No aterro de Holstinharjn, na Finlândia, foi construı́da uma torre de 10m de altura, preenchida com galhos de salgueiro. O chorume era bombeado para o topo da torre, percolado pelo recheio, sendo aerado e sofrendo decomposição biológica (Jornal DEMARI, 29/8/97 apud [36]). Utilizando o mesmo princı́pio citado acima, uma empresa da Suécia (GEODESIGNAB), construiu uma torre com módulos de vigas de concreto preenchidos com um meio filtrante (argila expandida ou galhos de árvore) formando uma espécie de filtro biológico, sendo o chorume lançado no topo da torre e escorrendo pelo meio filtrante. O tratamento dava-se por evaporação, aeração e decomposição biológica [36]. O tratamento anaeróbio também tem sido considerado como técnica de tratamento de chorumes com alta percentagem de matéria orgânica biodegradável. As lagoas anaeróbias podem vir a apresentar bons resultados quando empregadas como uma etapa subseqüente de tratamento do chorume, promovendo adequada degradação da matéria orgânica [36]. Os filtros anaeróbios e os sistemas hı́bridos têm se mostrado eficientes na remoção de metais (na forma de sulfetos) e DQO. Isso ficou evidenciado em um tratamento realizado com o chorume do Aterro Sanitário de Bandeiras-SP, utilizando um reator anaeróbio hı́brido de fluxo ascendente com manta de lodo e filtro. A remoção de 66% de DQO (inicial de 15.500 mg/L) e de cerca de 70% de DBO (inicial de 10.200mg/L) tornou viável essa técnica como pré-tratamento para o chorume (MORAES e GOMES,1993, apud [36]). BORZACCONI et al. [37] utilizando um reator anaeróbio seguido de um reator aeróbio rotativo de contato, obtiveram em 1 ano de teste, com adição de fósforo, uma redução de 80% de DQO para carga de 20kg DQO , e em torno de 94% de eficiência de remoção para o conjunto todo. Ademais, os autores afirmam que houve baixo consumo de energia e reduzida produção de lodo. Apesar das diferenças entre os chorumes gerados nos aterros, o tratamento biológico é muito citado na literatura como opção de tratamento. No entanto, FERREIRA et al. [36] aponta que este tipo de tratamento pode ser ineficiente em se tratando de chorumes provenientes de aterros de meia-idade e velhos, pelo fato do despejo apresentar-se mais resistente à biodegradação. Outros aspectos negativos, apresentados pelos processos biológicos são: Não apresentam bom desempenho na presença de metais tóxicos (ex: Cu, Zn e Ni podem inibir a nitrificação); Demandam a adição de fósforo para assegurar o tratamento aeróbio, visto que é 16 freqüente a deficiência desse elemento no chorume; Podem levar à formação de espuma na aeração artificial; Pode ocorrer precipitação de com prejuı́zo ao equipamento de aeração; A aeração artificial é de alto custo. 2.4.4 Processos de Separação com Membranas O fracionamento é uma técnica laboratorial que permite estimar os intervalos de massa molar dos componentes de uma mistura. Para tal, utiliza-se um processo de separação por membranas, que em função das suas caracterı́sticas podem ser classificadas como: microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose inversa. Nos últimos 30 anos, os processos com membranas têm atingido patamares de crescimento devido a diversos fatores, como o menor consumo energético em comparação com os outros processos de separação tradicionais, a flexibilidade operacional pelo fato do sistema ser mais compacto e a obtenção de produtos finais de melhor qualidade. As membranas apresentam caracterı́sticas distintas para cada tipo de processo. Para microfiltração, ultrafiltração e nanofiltração o principal fator na separação é a dimensão dos permeantes, com o uso tradicional de membranas porosas. No transporte dos permeantes, os materiais devem apresentar estabilidade a diferentes solventes e valores de pH, para que não ocorram alterações estruturais [38]. A ultrafiltração (UF) tem como finalidade purificar e fracionar soluções contendo macromoléculas pelo processo de separação por membranas. O diâmetro dos poros de uma membrana de ultrafiltração (UF) varia na faixa entre 1 a 100nm, sendo mais fechados do que os das membranas de microfiltração (MF) [39, 40]. Em função do tamanho do poro, a pressão exercida para o processo pode estar entre 2 e 10 bar. Por sua vez, a capacidade seletiva da membrana está diretamente relacionada com as relações entre o tamanho das espécies e as dimensões dos poros da membrana (CAMPOS [41]), podendo ocorrer retenção de maneira distinta de solutos com pesos molares diferentes. A eficiência de uma dada membrana é determinada por dois parâmetros: seletividade e fluxo de permeação. A seletividade de uma membrana por uma mistura é geralmente expressa, no caso de membranas porosas, pela rejeição (R). Onde o soluto é parcialmente ou completamente retido, enquanto o solvente (geralmente água) passa pela membrana, portanto o coeficiente de rejeição pode ser definido pela fórmula abaixo: 17 (2.1) onde é a concentração de soluto na alimentação e é a concentração de soluto no permeado. As membranas são especificadas através da massa molecular de corte ou “cut off”que pode ser definido como sendo valor da massa molecular para a qual a membrana apresenta um coeficiente de rejeição de 95%. O processo com membranas tem também como objetivo a remoção de organismos patogênicos incluindo protozoários, bactérias e vı́rus, conforme indicado na Tabela 4.9. Tabela 2.2: Potencial de remoção dos processos por membranas Membrana Porosidade Material retido Microfiltração 0,1 m - 0,2 m Protozoários, bactérias, vı́rus (maioria), partı́culas Ultrafiltração 1.000 - 100.000Da Material removido na MF + colóides + totalidade de vı́rus Nanofiltração 200 - 1.000Da Íons divalentes e trivalentes, moléculas orgânicas com tamanho maior do que a Osmose reversa porosidade média da membrana. Íons, praticamente toda a matéria orgânica Fonte:SCHNEIDER & TSUTIYA [40]. Uma série de testes empregando vários tipos de membranas de microfiltração e ultrafiltração com a porosidade nominal compreendida entre 0,2 m e 100kDa, desenvolvido por Jacangelo et al, (1995) para remoção de protozoários e vı́rus, obteve sucesso com a remoção completa dos protozoários Cryptosporidium e Giardia e das bactérias 18 Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli. A remoção de vı́rus geralmente é alcançada com membranas de UF [40]. Vale ressaltar que o permeado não é uma solução completamente estéril, isto é, pode conter microorganismos, mesmo em baixo número, pelo fato das membranas não serem fabricadas em ambientes e com materiais totalmente estéreis. Segundo SCHNEIDER & TSUTIYA [40] as membranas de microfiltração e ultrafiltração são muito eficientes para remover o material orgânico responsável pela turbidez da água. Além da remoção de contaminantes biológicos, estas membranas removem também contaminantes que englobam todas as substâncias ou partı́culas não biológicas como: carbono orgânico dissolvido de baixa massa molar; substâncias solúveis que dão cor inaceitável para os padrões de consumo; toxinas solúveis de algas; metais pesados reduzidos como por exemplo o manganês e o ferro; sais de cálcio e magnésio, que aumentam a dureza da água. -Nanofiltração Na literatura há informações que a osmose reversa gera um permeado de alta qualidade, mas é considerada cara. No entanto alguns autores têm mostrado que altas remoções de poluentes podem ser alcançadas com nanofiltração, especialmente no caso de chorume velho. A nanofiltração exige menor pressão que a osmose reversa, menor custo de operação e causa menos entupimento nas membranas MARTTINEN et al. [42]. A literatura relata que a nanofiltração é eficiente na remoção de carga orgânica, pois este processo consegue separar os ı́ons monovalentes e bivalentes agregados no material orgânico, dificultando assim a remoção do cloreto e do sódio, que sozinhos podem passar livremente pelos poros das membranas utilizadas neste processo PETERS [43]. Segundo URASE et al. [5] nos experimentos usando nanofiltração a remoção do ı́on cloreto foi zero, porque os tamanhos dos poros das membranas usadas neste processo favoreceram a passagem desses sais, e a repulsão de cargas foi enfraquecido pela presença de sais, obtendo baixas remoções e um volume menor do lı́quido permeado, devido a elevada concentração de sais no chorume. De acordo com o estudo realizado por [43] a aplicação de módulos com membrana de nanofiltração para efluentes especı́ficos como o chorume, deve ser projetada de forma adequada para otimizar a interação dos fluxos e de parâmetros tais como: o fluxo de 19 água através da membrana, a queda de pressão, a limpeza eficiente das membranas, a possibilidade de operar com micro-partı́culas e também a obtenção de uma boa relação entre custo/desempenho. Uma parte do chorume produzido pelo Aterro Metropolitano de Gramacho, atualmente é tratado pela técnica de nanofiltração como um processo terciário, após passar por um tratamento biológico. Segundo FERREIRA [36] o volume obtido após a permeação corresponde a 60% do volume inicial, isento de coliformes e totalmente clarificado, sendo em seguida lançado na Baı́a de Guanabara. O rejeito do sistema retorna ao tratamento biológico. MARTTINEN et al. [42] observaram em seus estudos, que o tipo de membrana afeta significativamente na separação dos compostos orgânicos, bem como nos parâmetros operacionais. A combinação do pré-tratamento biológico com nanofiltração apresentou uma remoção de 90% para DQO total, de 27-50% para nitrogênio amoniacal, considerada maior que a esperada, visto que a remoção de sais de amônia do chorume por nanofiltração depende da sua complexidade. A remoção da condutividade foi baixa, uma vez que a maior parte dos ı́ons solúveis no chorume passou pela membrana. - Osmose Reversa A osmose reversa é utilizada para dessalinizar águas com salinidade elevada. Tem sido recentemente aplicada em tratamento terciário, quando se exigem concentrações de substâncias inorgânicas muito baixas. O chorume produzido em aterro sanitário usualmente contém alta concentração de sais, cuja pressão osmótica é de 2 a 10 bar. Portanto este valor tende a aumentar durante o processo, sendo necessário operar com elevada pressão. O processo utilizando osmose reversa para o tratamento do chorume tem sido empregado na Alemanha com grande eficiência, utilizando uma pressão de operação de 120 bar [5]. Segundo PETERS [43] a taxa de recuperação do permeado entre 95 e 97% indica que a combinação de osmose reversa com nanofiltração e cristalização é o processo mais econômico para tratar o chorume produzido em aterro sanitário na Alemanha. Com base nesses estudos, algumas companhias colocaram a disposição do mercado o sistema “own and operate”, onde o cliente paga um preço por do chorume tratado sem perda de capital e com o mı́nimo de envolvimento operacional. AMOKRANE et al. [44], em seu estudo verificaram que a osmose reversa removeu 95% de DQO e sólidos dissolvido totais, para um chorume pré-tratado por microfiltração e ultrafiltração. Na literatura consta que na França e em toda Europa e na América, o tratamento do chorumes provenientes de aterros, com 10 anos ou mais, utilizando, processos biológicos de degradação, tratamento fı́sico-quı́mico e adsorção por carvão ativado mostraram-se raramente efetivos. Portanto, o tratamento pelo processo com mem- 20 branas vem ganhando destaque. Entretanto, para se obter maior eficiência no processo com osmose reversa para chorumes, os mesmos devem ser devidamente pré-tratados. Freqüentemente, o tratamento biológico tem se mostrado ineficiente como pré-tratamento para a osmose reversa, mas a coagulação/floculação ou precipitação quı́mica tem tido êxito. A adequação da coagulação/floculação como pré-tratamento deve-se à remoção de partı́culas coloidais, que são as principais impurezas do chorume retidas na osmose reversa. O permeado resultante do processo de osmose reversa contém nı́veis muito baixos de contaminantes orgânicos e inorgânicos, portanto, pode contribuir muito para resolver o problema da poluição das águas. A eficiência deste processo pode ser facilmente avaliada pela medida da condutividade elétrica do permeado [43]. Módulos tubulares foram os primeiros usados em sistema de osmose reversa para purificação de chorume de aterro, a partir de 1984. Em 1997 foi relatado que o DT-modulo representa mais de 80% da capacidade total instalada para purificação de chorume por osmose reversa. Uma planta instalada no aterro Kolenfelder na Alemanha, que começou a operar em fevereiro de 1990, indicou eficiência sempre maior que 98% para condutividade elétrica e de 99% para DQO. Novas membranas foram instaladas depois de mais de 3 anos de operação em função da queda do fluxo do permeado. Este dados de longos tempos de experiência têm sido confirmados pelos resultados de mais de 120 sistemas que estão em operação em diferentes aterros e pelos dados coletados durante numerosos testes com plantas piloto por toda Europa, América do Norte e alguns paı́ses do Leste Europeu [43]. 2.4.5 Evaporação É um processo de destinação do chorume que pode ser considerado para regiões em que as condições climáticas favorecem a evaporação. Esta técnica consiste na utilização de tanques abertos para evaporação do lixiviado. Em lugares com alto ı́ndice pluviométrico usam-se instalações cobertas para que também ocorra a evaporação do lixiviado durante o perı́odo chuvoso. O mau cheiro é a desvantagem apresentada pela implantação desta técnica (TCHOBANOGLOUS et al., [45]). A ocorrência de aumento da concentração de sais solúveis, tais como cloreto de sódio, pode conduzir a nı́veis inibidores à ação microbiana sobre o resı́duo não evaporado. 21 2.4.6 Recirculação A recirculação do chorume, segundo alguns autores, pode ser considerado um método de tratamento. Além de reduzir o volume por evaporação, aumenta a degradação anaróbia no interior do aterro com a conversão dos ácidos orgânicos em e , promovendo a melhor distribuição de nutrientes e umidade. É uma técnica que se adapta às condições ambientais do Brasil, como temperatura, ventos e irradiação solar que favorecem a evaporação [14, 39, 36, 26]. No Estado do Rio de Janeiro esta técnica de recirculação foi implantada no Aterro Metropolitano de Gramacho desde 1997 com grande eficácia, atualmente são recirculados cerca de 600 /dia de chorume, e o aterro ainda conta com um sistema de 10 aspersores com vazão de 1 /h, recirculando por volta de 110 /dia, contribuindo para a redução do volume do chorume a ser tratado. [36]. Verifica-se que nos aterros que empregam esta técnica, os mecanismos de remoção primária de metais são a precipitação como sulfeto e hidróxido. Observa-se também uma maior produção de gás. A geração de gás pode ser vista como um ponto positivo, contribuindo para minimizar o impacto ambiental se o gás produzido for empregado de maneira adequada. Estudos mostraram que esta técnica aumentou a eficiência de compactação do aterro, facilitando o reaproveitamento posterior do terreno, e a recirculação é capaz de reduzir o tempo necessário para estabilização do aterro desde algumas décadas para 2 a 3 anos (REINHART & AL-YOUSFI,1996, apud [36]). 2.4.7 Neutralização A neutralização é um método de tratamento mais simples e comum para contaminantes inorgânicos, que envolve a adição de ácidos ou bases para ajustar o pH em nı́veis aceitáveis entre 6-9 [39, 23]. É uma reação que produz sais solúveis e insolúveis, sendo usada no tratamento de chorume, para acondicioná-lo para outras etapas de tratamento [46]. 2.4.8 Eletroquı́mico O processo eletrolı́tico é mais usado para recuperação de metais, e consiste na passagem de uma corrente elétrica entre dois eletrodos [46]. 22 TSAI et al. apud [36] utilizaram em seu estudo dois pares de eletrodos para remover a matéria orgânica do chorume, conseguindo remover moléculas pequenas e grandes, utilizando placas de eletrodo de aço carbono, positivas e negativas, Fe-Cu e Al-Cu alcançando para ambos os casos remoções na faixa de 30-50% para a DQO. 2.4.9 Wetlands Os Wetlands são descritos como sistemas artificiais, que têm como princı́pio básico a modificação da qualidade da água que ocorre nos Wetlands naturais como várzeas dos rios, igapós da Amazônia, banhados, pântanos, manguezais etc.. Estes sistemas apresentam uma ação depuradora devido à absorção de partı́culas pelo sistema radicular das plantas, pela absorção de nutrientes e metais pelas plantas, pela ação de microorganismos associados à rizosfera. Neste sistema o fenômeno natural da evapotranspiração também contribui para a redução do volume produzido. É um sistema considerado economicamente viável pois apresenta baixo custo de implantação, alta eficiência de melhoria dos parâmetros que caracterizam os recursos hı́dricos, alta produção de biomassa, que pode ser utilizada na produção de ração animal, energia e biofertilizantes [36, 47]. Segundo FERREIRA et al. [36] alguns autores destacam o uso deste sistema de Wetlands como um polimento final, após um tratamento biológico, para promover a remoção adicional da matéria orgânica e da amônia, além de promover a desnitrificação. O alto teor de amônia encontrado no chorume pode prejudicar o sucesso desta técnica quando empregada como a única forma de tratamento. 2.4.10 Remoção de Voláteis e Amônia Resultante dos processos bioquı́micos, o nitrogênio contribui muito para a poluição das águas, podendo ser encontrado na água residuária sob a forma de nitrogênio orgânico, amônia ou ainda na forma de nitritos e nitratos. A amônia apresenta-se na forma livre ( ) e/ou ionizada ( ). A amônia livre ( ) dissolvida na água, pode ser tóxica aos peixes, mesmo em baixas concentrações. Segundo SEIFFERT (2000) a agência americana de proteção ambiental estabelece um limite de 0,02 ppm de N na forma de ( ) em águas, para proteção da vida aquática. O nitrogênio amoniacal pode ser removido das águas residuárias por volatilização. Este processo de arraste da amônia envolve a elevação do pH para nı́veis altos, usualmente na ordem de 10,5 a 11,5 [47, 48]. 23 A amônia pode ser removida por arraste (stripping), por cloração ou ainda por outros métodos prévios de remoção de metais [23]. Arraste com ar consiste em um processo fı́sico de transferência dos compostos orgânicos voláteis com a injeção de ar na água através de difusores ou outros mecanismos de aeração. Segundo alguns autores, os fatores responsáveis pela eficiência de remoção dos compostos orgânicos voláteis envolve a área de contato (gás de arraste - lı́quido), a solubilidade do contaminante na fase aquosa, a difusividade do contaminante no ar e na água, a turbulência das fases e a temperatura ambiente de operação. O processo de arraste é simples, mas a literatura apresenta algumas vantagens e desvantagens [47]. As desvantagens podem ser relacionadas como: elevado custo de operação e manutenção, pois requer cal para o controle do pH; é limitado para um caso especial que requer o pH elevado para outras reações; o processo é sensı́vel à temperatura, pois a solubilidade da amônia com a diminuição da temperatura; acumulação do carbonato de cálcio causando entupimento na tubulação; potencial problemas com ruı́do e estético. Algumas vantagens consideradas: o processo pode ser controlado para se obter uma determinada remoção da amônia; a maioria da aplicabilidade é requerida em combinação estacinária com sistema de cal para remoção de fósforo; o processo pode ser alcançar o padrão necessário para lançamento; não é sensı́vel para substâncias tóxicas. A preocupação com aumento da poluição do ar, liberando amônia para atmosfera e o aumento de carbonato de cálcio pela adição de cal para elevar o pH, levaram alguns autores a buscarem outras alternativas para remover a alta concentração de amônia do chorume, usando a técnica fosfato/ amônia/ magnésio (MAP) para precipitação da amônia formando compostos insolúveis que podem ser facilmente separados da água. O emprego desse precipitante (MAP), demonstrou uma remoção muito satisfatória para amônia, para uma concentração inicial de 5618 mg/L de amônia contida no chorume bruto foi reduzida rapidamente para 112mg/L em um perı́odo de 15 minutos com pH controlado entre 8,5 e 9,0 [49]. 24 2.5 Remoção de Metais A precipitação quı́mica é a técnica mais comumente usada para a remoção de metais pesados de águas residuárias. Uma remoção mais eficiente pode ser obtida com a precipitação na forma de sulfetos, mas a precipitação na forma de hidróxidos, usando cal ou soda caústica, é a mais usada. Isto se deve ao fato da precipitação com sulfeto ser de maior custo e poder gerar gás sulfı́drico, enquanto que a precipitação com hidróxido apresenta menor custo e é menos perigosa. No caso dos chorumes, a concentração de metais depende do tipo de lixo depositado no aterro, sendo relativamente baixas para o lixo doméstico, podendo aumentar para os despejos industriais e variar de acordo com o estágio de decomposição do lixo, sendo maiores durante a fase de fermentação ácida, quando estes elementos estão mais solúveis e menores nas últimas fases de estabilização, quando o pH normalmente é mais alcalino [50]. Empregando somente o tratamento fı́sico-quı́mico, não se consegue alcançar grande eficiência na redução da carga orgânica poluidora e da toxicidade do chorume, mas seu emprego não deixa de ser necessário para remover os metais e hidrolisar alguns compostos orgânicos. Os metais pesados encontrados estão presentes tanto na forma dissolvida, mais facilmente incorporada pela fauna e a flora, quanto na forma particulada associados a partı́culas em suspensão. Cada compartimento ambiental apresenta uma limitada capacidade de suportar a ação dos metais, que ameaçam o ecossistema e conseqüentemente podem atingir o homem pelo acúmulo na cadeia alimentar [50]. A desvantagem do emprego da precipitação quı́mica é a produção de lodo, que deve ser tratado como resı́duo perigoso devido ao seu conteúdo de metais pesados. 2.6 Considerações sobre as técnicas de tratamento de chorume A Tabela 2.3 apresenta um resumo das várias técnicas utilizadas para o tratamento do chorume produzido em aterro sanitário. 25 Tabela 2.3: Sumário das técnicas de tratamento empregadas para tratar chorume Processo de Tratamento Aplicação Observação Processos Biológicos Remoção de substâncias Podem ser necessários aditivos (Lodos ativados) orgânicas biodegradáveis (anti-espumantes) Processos Biológicos Remoção de substâncias Similar a lodos ativados, (Reator Batelada orgânicas biodegradáveis somente é aplicável para vazões Sequencial-RBS) de operação não muito elevadas Processos Biológicos Remoção de substâncias Requer uma grande área (Aeração prolongada) orgânicas biodegradáveis Processos Biológicos Remoção de substâncias Freqüentemente utilizado para (filtros percoladores, orgânicas biodegradáveis efluentes industriais similares contactores biológicos ao lixiviado, porém não muito rotativos) testados com lixiviados de aterros Processos Biológicos Remoção de substâncias Requer menor energia e produz (Lagoas anaeróbias) orgânicas biodegradáveis menos lodo que os sistemas aeróbios; possui maior potencial para a instabilização do processo; mais lento que os sistemas aeróbios Processos Biológicos Remoção de nitrogênio A nitrificação/desnitrificação (Nitrificação/ pode ocorrer simultâneamente desnitrificação) com a degradação da matéria orgânica Processos quı́micos Controle de pH (Neutralização) De aplicação limitada para a maioria dos lixiviados Processos fı́sico- Remoção de metais e Produz um lodo, que pode quı́micos (Precipitação) alguns ânions requerer descarte como resı́duo perigoso 26 Tabela 2.3 - Continuação Processos Quı́micos Remoção de compostos Funciona melhor com resı́- (Oxidação) orgânicos;detoxificação e duos diluı́dos; o uso de cloro remoção de algumas pode provocar a formação espécies inorgânicas de organo-clorados Processos Quı́micos Degradação de compostos De alto custo; funciona bem (Oxidação por ar úmido) orgânicos com poluentes orgânicos resistentes Processos Fı́sicos Separação do material Tem aplicação limitada; (sedimentação/flotação) em suspensão pode ser utilizado conjuntamente com outros processos de tratamento Processos Fı́sico- Separação do material Quı́micos (Filtração) Arraste por ar Separação por vapor Somente útil como processo de refino Separação de amônia e Pode requerer equipamento compostos orgânicos de controle da contaminação voláteis atmosférica Separação de compostos Alto custo energético; orgânicos voláteis o vapor condensado requer tratamento adicional Absorção Remoção de compostos Tecnologia aprovada; custos orgânicos variáveis de acordo com lixiviado Troca iônica Ultrafiltração Evapotranspiração Remoção de substâncias e Útil somente como processo ı́ons inorgânicos dissolvidos de polimento Separação de bactérias e de Propenso a entupimento; compostos orgânicos com aplicação limitada para alta massa molar alguns lixiviados Quando não se permite a O lodo resultante pode ser descarga de lixiviados perigoso; é viável normalmente apenas em regiões áridas Osmose reversa Remoção de substâncias Custo elevado; é necessário orgânicas e dessalinização pré-tratamento extensivo Fonte: TCHOBANOGLOUS et al. [45] 27 2.7 Toxicidade: Conceitos e Métodos Devido à complexibilidade e à variabilidade apresentada pelos compostos orgânicos e inorgânicos que podem estar presentes num efluente ou no corpo hı́drico, recomenda-se que a caracterização dessas águas seja complementada por testes biológicos para obter informações não reveladas pela simples caracterização fı́sica e quı́mica. Esta necessidade tem estimulado a realização de testes de toxicidade, atualmente considerados como análises indispensáveis para se obter um controle mais abrangente das fontes de poluição das águas. Através desses testes determina-se o potencial tóxico de um agente quı́mico ou de uma mistura complexa, sendo os efeitos desses poluentes mensurados através da resposta de organismos vivos. Nem sempre as técnicas de tratamento empregadas asseguram que o efluente é desprovido de toxicidade. Impõe-se, portanto, o controle da toxicidade do efluente lı́quido, tornando compatı́vel seu lançamento com as caracterı́sticas do corpo receptor, de tal forma que este não cause efeitos tóxicos de natureza aguda ou crônica à biota aquática, principalmente, quando um dos seus principais usos se referir a proteção da flora e da fauna. A contaminação quı́mica, indubitavelmente, tem merecido maior atenção em nossa sociedade, devido ao aumento, quase exponencial, do número de substâncias sintetizadas pelo homem no último século. Para que se tenha uma idéia, das 6 milhões de substâncias conhecidas, 63 mil são de uso cotidiano, e ainda é importante citar que apenas 2 mil foram bem estudadas do ponto de vista ecotoxicológico. Tomando como base 118 agentes quı́micos, 103 orgânicos e 15 inorgânicos, considerados mundialmente como prioritários para efeito de controle, verifica-se que a maioria deles é persistente e acumulativa no meio aquático, sendo assim pode-se constatar que a bióta aquática pode estar sujeita aos efeitos dessas substâncias por prolongados perı́odos de tempo em diferentes locais [51]. O grau da toxicidade pode ser avaliado através do efeito que a dose ou concentração de uma certa substância causará a determinado organismo num dado intervalo de tempo. Esses efeitos podem ser classificados em agudos e crônicos. 2.7.1 Toxicidade aguda A toxicidade aguda corresponde a uma resposta severa e rápida dos organismos aquáticos a um estı́mulo, que se manifesta, em geral, num intervalo de 0 a 96 horas. A letalidade é um dos indicadores utilizados para avaliar a resposta dos organismos à toxicidade aguda provocada por um composto ou um efluente. Pode ser expressa através 28 do parâmetro CL50 que corresponde à concentração que causa o efeito (letalidade) a 50% da população testada [52]. Quando se observa o efeito do agente tóxico sobre as funções vitais ou funcionais dos organismos teste, utiliza-se o ı́ndice de toxicidade CE50 ou DE50, que corresponde a concentração ou dose efetiva que causa efeito em 50% dos organismos testados [53]. A DL50 por sua vez é a dose letal do tóxico administrada diretamente nos experimentos com animais, com efeito letal para 50% da população exposta sob diferentes condições do teste [54]. 2.7.2 Toxicidade crônica A toxicidade crônica corresponde à resposta a um estı́mulo prolongado ou contı́nuo, por um longo perı́odo de tempo, podendo abranger parte ou todo ciclo de vida do organismo. Os testes de toxicidade são bioensaios que consistem na exposição do organismo teste a diferentes concentrações de uma ou mais substâncias ou fatores ambientais por um determinado perı́odo de tempo, visando observar os efeitos sobre as funções biológicas fundamentais como mudança de apetite, crescimento, metabolismo reprodutivo, diminuição da taxa de natalidade em decorrência de alterações nas fases meióticas das células reprodutoras e/ou por anomalias no processo de desenvolvimento embrio-larval, bem como mutações ou morte [55, 52]. Já foi evidenciado na literatura que os organismos-teste reagem de forma diferente para um mesmo composto, em testes realizados em laboratório ou em meio natural, portanto, a utilização de métodos de ensaio, que se aproximem das condições reais, pode trazer respostas mais precisas do efeito causado ao ecossistema. O lançamento de efluentes lı́quidos, mesmo que tratados, de forma contı́nua no ambiente aquático, pode causar efeitos crônicos, uma vez que os organismos são expostos a baixas concentrações de determinados poluentes durante longos perı́odos de tempo. Se estes poluentes forem degradáveis, ocorrerá equilı́brio a uma certa distância do ponto de lançamento, mas, no trecho ou área em que esse fenômeno se processa, os organismos poderão enfrentar impedimentos ou dificuldades para se manter no ambiente, levando a alterações na estrutura e funcionamento do ecossistema aquático. O lançamento de substâncias persistentes ou bioacumuláveis poderas causar efeitos drásticos nas populações expostas [56, 57, 52]. O efeito crônico deve ser objeto de verificação quando os testes de toxicidade aguda não forem suficientes para caracterizar um efeito tóxico mensurável. 29 Tem aumentado o emprego dos testes de toxicidade nos últimos anos, que encontramse padronizados e podem detectar a toxicidade de efluentes lı́quidos em organismos aquáticos vivos, permitindo inclusive ações de controle. Desta forma é possı́vel exercer o mesmo nı́vel de controle para diferentes efluentes lı́quidos e para diferentes corpos d’água [52]. Os organismos aquáticos apresentam sensibilidade diferentes às propriedades tóxicas das substâncias quı́micas. Essas diferenças de uma espécie para outra, ocorrem justamente pela especificidade de seus metabolismo e pela natureza de seus “habitats”, que depende das caracterı́sticas particulares de cada ecossistema aquático. É recomendável, sempre que possı́vel, avaliar o efeito agudo e crônico em sistemas de fluxos contı́nuos, com mais de uma espécie representativa da biota aquática, atendendo diferentes nı́veis tróficos, para que se possa, através do resultado obtido com o organismo mais sensı́vel, estimar com maior segurança o impacto desse efluente no corpo receptor [58, 56, 57, 52]. Além das informações sobre os efeitos causados a diferentes organismos, estes testes podem prever um impacto ambiental, fornecendo informações referentes à ocorrência ou não de bioacumulação e ao transporte e bioamplificação do agente nas cadeias alimentares [59]. 2.7.3 Organismos Padronizados Os testes de toxicidade são realizados com diversos organismos e as metodologias já estão padronizadas pelos órgãos ou institutos ambientais. Abaixo estão relacionados alguns organismos pertencentes a diferentes nı́veis tróficos, mais utilizados em testes de toxicidade, que foram avaliados neste trabalho. Os microcrustáceos Daphnia e Artemia são considerados consumidores primários ou secundários, e constituem um importante elo entre os nı́veis inferiores e superiores da cadeia alimentar de um ecossistema [51]. Daphnia similis Segundo DAMATO [60] Daphnia similis é uma espécie de microcrustáceo da famı́lia Daphnidae, pertence à ordem Cladocera (Crustacea-Branchiopoda) e exerce um papel fundamental na comunidade zooplanctônica. Este microcrustáceo está presente em todos ambientes de água doce, é facilmente encontrado em lagos, represas, rios e planı́cies inundadas. Conhecido popularmente como pulga d’água, mede cerca de 0,5 a 5,0 mm de comprimento e alimenta-se basicamente de algas, bactérias, protozoários e detritos orgânicos, os quais são capturados por processo de filtração (comum nos microcrustáceos). A natação é feita pela movimentação das longas 30 antenas, que funcionam como remos. O ciclo de vida deste organismo, pode variar de três a cinco semanas, sua população é composta de fêmeas, porque a forma de reprodução é partenogênese, isto é, assexuada. As fêmeas produzem células diplóides que originam fêmeas com o mesmo genótipo. A Figura 2.1 ilustra as diversas fases da vida desses organismos. Figura 2.1: Daphnia Similis: diversas fases da vida do organismo Daphnia é um organismo muito sensı́vel. Alteração no manuseio da cultura, não disponibilidade de nutrientes, mudanças de temperatura, na qualidade da água etc., podem influenciar a reprodução deste organismo, provocando o surgimento de machos e fêmeas com óvulos constituı́dos de células haplóides. Com a presença de machos, esses óvulos são fecundados, e posteriormente recobertos com uma carapaça quitinosa escura, visı́veis no saco embrionário das fêmeas adultas, resultante então de reprodução sexuada, denominada efı́pio [61, 62, 63, 64]. Artemia Artemia salina é um pequeno crustáceo marinho caracterı́stico de poços e pequenos lagos de água salgada. Este organismo apresenta uma grande adaptação às variações de salinidade (igual ou maior que 5 g/kg). Os nauplius da Artemia salina são utilizados 31 internacionalmente em testes de toxicidade por apresentarem caracterı́sticas significativas como: os seus organismos adultos têm um grande potencial reprodutivo; são de fácil aquisição no mercado e manutenção em laboratório; os cistos (ovos) são de fácil eclosão e os testes apresentam uma boa reprodutividade [65, 66, 55, 67]. Para determinar a faixa de concentração que será utilizada no teste, deve-se verificar as concentrações de uso do produto e as observadas em campo. Em se tratando de efluentes, amostras ambientais e extratos são normalmente avaliados nas concentrações de 1%, 10%, 30%, 50%, 70%, e 100% v/v. Na realização dos testes, as análises fı́sico-quı́micas para determinação de pH, cloretos, oxigênio dissolvido (OD), devem ser feitas para controlar as condições básicas de exposição dos organismos-teste e subsidiar a interpretação dos resultados. Peixes São organismos consumidores, componentes da comunidade nectônica, constituem o nı́vel superior na cadeia alimentar de um ecossistema aquático e têm grande interesse econômico [51]. Com base nos estudos desenvolvidos pela FEEMA, a fim de estabelecer limites de toxicidade para o lançamento de efluentes industriais em corpos receptores, o peixe zebra (Brachydanio rerio) foi considerado o organismo mais resistente e, portanto padronizado pelo órgão ambiental para testes de toxicidade aguda. Os resultados dos testes são expressos em Unidade de Toxicidade (UT) “considerando-se como seu limite superior o valor 8 (oito) e inferior o valor 2 (dois)” , conforme a NT 213 - Critérios e Padrões para Controle da Toxicidade de Efluentes Lı́quidos Industriais [68]. (2.2) Os peixes por serem considerados como importante recurso alimentı́cio, podem ser a principal via de contaminação de metais pesados para o homem, donde a sua importância como organismos indicadores, utilizados em bioensaios para verificar a presença ou a ausência de efeitos aparentes dos contaminantes sobre os organismos vivos. O aumento da contaminação nos ambientes aquáticos evidencia-se pela redução da população de animais residentes e espécies migratórias de peixes. 32 Bactérias As bactérias são microorganismos que podem transformar substâncias orgânicas complexas em elementos dissociados na forma oxidada (mineralização). Esses organismos podem estar presentes em todas as partes de um corpo d’água [51]. Vibrio fisheri é uma bactéria bioluminescente de origem marinha, anaeróbia, Grannegativa, pertencente a famı́lia das Vibrinaceae, que emite luz e apresenta vida livre ou associada com outros organismos superiores [69, 70, 67, 71]. Nestas bactérias, a enzima luciferase catalisa a reação da flavina (mononucleotı́deo) com um aldeı́do e o oxigênio, obtendo-se um ácido orgânico, água e a emissão de luz. A reação em questão faz parte da cadeia transportadora de elétrons e a emissão de luz está associada ao metabolismo celular. A ação de um tóxico em qualquer nı́vel celular afetará a bioluminescência. A inibição de uma enzima qualquer deste processo irá causar uma diminuição na taxa de emissão de luz, que pode ser quantificada em um sistema com um fotomultiplicador e um fotômetro [72, 73, 74, 75]. O teste de toxicidade com bactérias luminescentes mais difundido é o Microtox, considerado simples e reprodutivo. Segundo REIS [73], MUNKITTRICK et al. [76], ARGESE et al. [77], STEVENS [78] os ensaios são bastante rápidos, pois, após a exposição a uma pequena amostra, o organismo responde rapidamente a um vasto número de substâncias, podendo o efeito ser determinado num tempo de 5 a 15 minutos. Algumas desvantagens citadas na literatura (REIS [73]) para este teste são: a necessidade do aumento da salinidade de algumas amostras, para um nı́vel compatı́vel com as exigências da bactéria utilizada, pode favorecer a precipitação de metais pesados; a bio-luminescência das bactérias diminui com o tempo, requerendo um controle preciso da duração do teste e limitando o número de amostras que podem ser processadas simultaneamente; a cor do efluente a ser testado influencia na medida da luz emitida pelas bactérias marinhas. Segundo MUNKITTRICK et al. [76] a U.S. Agência de Proteção Ambiental tem recomendado os testes com Microtox, para avaliar a toxicidade de águas residuárias e chorumes gerados em aterros sanitários. No teste Microtox a CE50 é obtida pela razão corrigida entre a redução da quantidade de luz e a quantidade de luz remanescente expressa em um gráfico, em função da concentração da amostra. A partir de então, pode-se obter a concentração efetiva da 33 amostra que causa uma redução de 50% na quantidade de luz emitida após os perı́odos de exposição determinados para o teste. A não ocorrência de decréscimo na produção de luz, pelo organismo teste, significa ausência de efeito tóxico. 4 Existe um grande interesse no teste com bactérias luminescentes, devido a rapidez de resposta. As principais bactérias são: Photobacterium fisheri, Photobacterium phosphoreum, Spirillum volutans e Beneckea harveyi [69, 73]. É comum encontrar-se na literatura testes utilizando Photobacterium phosphoreum, mas a partir de dois anos para cá, foi introduzida no mercado a bactéria Vibrio fisheri que apresenta maior sensibilidade. Ambas são bactérias marinhas pertencentes a famı́lia dos Vibrionaceae [79]. A toxicidade é inversamente proporcional ao valor de ou , ou seja, quanto menor o valor da ou , mais tóxica é a amostra. A maior concentração do efeito não observado é designada como CENO, e o parâmetro CEO corresponde a menor concentração de efeito observado. A cada série das amostras testadas é realizado um teste de toxicidade com um padrão, com o objetivo de verificar se os organismos estão respondendo na faixa de toxicidade previamente estabelecida para as condições de laboratório. Considera-se que: i) amostras que apresentam 0 a 10% de mortalidade na concentração de 100% do produto bruto testado são consideradas não tóxicas; ii) para valores entre 11% e 29%, considera-se baixo indı́cio de toxicidade; iii) entre 30% e 49%, alto indı́cio; iv) as amostras que apresentam entre 50% e 79% são consideradas tóxicas; v) são muito tóxicas as amostras cujos ı́ndices estão entre 80% e 100%. LAMBOLEZ et al. [80] estudaram o efeito tóxico em 15 amostras de chorume de vários aterros, avaliando a toxicidade aguda com o Microtox e o microcrustáceo Daphnia e também a realizando testes crônicos com microalgas. Os resultados foram distintos para as diferentes amostras testadas e em muitos casos não foi possı́vel correlacionar os resultados dos testes de toxicidade com os parâmetros fı́sico-quı́micos. Também foi verificado que quatro amostras apresentavam produtos mutagênicos. A presença desses produtos nos resultados, evidencia a importância do monitoramento utilizando testes de toxicidade em conjunto com análises fı́sico-quı́mas no gerenciamento dos resı́duos sólidos. 4 Efeito tóxico observado: é a razão entre o total de organismos afetados pelo total de organismos testa- dos 34 2.7.4 Leis Federais e Estaduais Para Avaliação da Toxicidade Legislação Federal Está fundamentado para águas de classe 2 e 3 que a “ Resolução CONAMA 20 [81] permite, como uso preponderante, a preservação de peixes em geral e outros elementos da fauna e flora, bem como a proteção de comunidades aquáticas”. Nos artigos 18 e 23 da mesma resolução está estabelecido “que os efluentes, não obstante atenderem aos limites fixados para substâncias especı́ficas, não poderão conferir ao corpo receptor caracterı́sticas em desacordo com o enquadramento do mesmo na classificação das águas”. E o seu artigo 12 reforça as argumentações ligadas à classificação dos corpos d’água, estabelecendo que as eventuais ações sinérgicas entre substâncias especı́ficas de um efluente, citadas ou não na legislação, não poderão conferir às águas caracterı́sticas capazes de causar efeitos letais ou alterações de comportamento, reprodução ou filosofia de vida”. Verifica-se portanto, que os ensaios de toxicidade não são exatamente mencionados, mas não deixam de ser contemplados [82]. Para efeito de enquadramento de um lançamento, que causa efeito tóxico em um corpo receptor, deve-se considerar as legislações estaduais. Estado de São Paulo A Legislação Ambiental do Estado de São Paulo (Regulamentada da Lei 997, 31/5/76, aprovado pelo Decreto 8468, de 8/9/76) é similar à Lei Federal (Resolução CONAMA 20), na qual os ensaios de toxicidade não são citados textualmente. Desta forma, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) continua a controlar os agentes tóxicos nos efluentes lı́quidos, através dos padrões de emissão e de qualidade das águas, como também, através do controle da toxicidade mesmo sem exigência legal [82, 73]. Segundo ZIOLLI e JARDIM [83] o Estado de São Paulo iniciou em 1996 uma revisão na Lei 997 de 1976, objetivando contemplar os testes de toxicidade no controle dos poluentes, a qual entraria em vigor em junho de 1998. A revisão desta lei significa um ganho importante na preservação do meio ambiente. Estado do Rio de Janeiro A NT 202 R10, Critérios e Padrões para Lançamento de Efluentes Lı́quidos, da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), publicada em 12/12/86, 35 indica no Item 3.6: “A FEEMA poderá estabelecer exigências quanto à redução de toxicidade dos efluentes lı́quidos, ainda que os mesmos estejam dentro dos padrões preconizados por esta Norma Técnica”. Na NT 213 R4, publicada em 18/10/90, o órgão ainda estabelece Critérios e Padrões para Controle da Toxicidade em Efluentes Lı́quidos Industriais, utilizando testes de toxicidade com organismos vivos, de modo a proteger os corpos d’água da ocorrência de toxicidade aguda ou crônica. A NT 213 estabelece um limite máximo de toxicidade para efluentes industriais e considera ainda que esse valor pode ser restrito, conforme o potencial de diluição do efluente no corpo receptor. 36 Capı́tulo 3 Materiais e Métodos Neste capı́tulo é descrita toda a parte experimental desenvolvida neste trabalho, as formas de tratamento estudada, os testes de toxicidade e as demais metodologias analı́ticas empregadas. 3.1 Procedimentos de Coleta e Preservaç ão das Amostras de Chorume A coleta foi realizada no Aterro Metropolitano de Gramacho - Duque de Caxias RJ. No perı́odo estudado foram realizadas duas coletas de amostras nos meses de maio e outubro de 2001. As amostras utilizadas neste estudo foram coletadas em um valão próximo a canaleta lateral. As amostras foram armazenadas em bombonas de plásticos e preservadas abaixo de assim que transferidas para o laboratório, para posterior utilização. A figura 3.1 ilustra o local de amostragem no referido aterro. Figura 3.1: Local de Amostragem do Chorume 3.2 Caracterização do Chorume A caracterização do chorume foi feita com base nos seguintes parâmetros: pH, demanda quı́mica de oxigênio (DQO), carbono orgânico (dissolvido) total (COT), cor, nitrogênio amoniacal (N-NH4+), metais pesados e cloreto. Os teores de metais pesados foram determinados por espectrofotometria de absorção atômica. Todos os procedimentos analı́ticos utilizados se basearam no AWWA (APHA[84]). Foram realizados bioensaios de toxicidade para avaliar a toxicidade aguda do chorume aos organismos aquáticos Daphnia similis, Artemia salina, Brachydanio rerio e bactérias luminescente Vibrio fisheri (Sistema Microtox). 38 3.3 Tratamento Prim ário A primeira abordagem usada para o tratamento do chorume consistiu da utilização da técnica fı́sico-quı́mica. Os testes de coagulação/floculação foram realizados em um aparelho Jar Test, marca Digimed, modelo Módulo Floculador MF-01. Este equipamento tem a capacidade de realização de 6 ensaios simultâneos, podendo tratar 1000mL da amostra em bécheres de 2 litros,como mostra a Figura 3.2, com controle individual de rotação (agitação mecânica) ajustável de 0 a 150 rpm. Estes testes foram realizados no Laboratório de Controle de Poluição de Águas (LABPOL) do PEQ/COPPE/UFRJ. Com base em um estudo de BILA [4], foi utilizado neste trabalho o coagulante ( - Sulfato de Alumı́nio), com uma dosagem ótima de 700 mg/L, sob agitação rápida de aproximadamente 150 rpm por 5 minutos, acarretando a formação de pequenos flocos. Em seguida ocorre a floculação, que promove a aglomeração das partı́culas, facilitando a sua sedimentação. Nesta etapa aplicou-se agitação branda de 15 rpm por 15 minutos, acompanhada da adição de polieletrólito catiônico em uma concentração de 3,0 mg/L. As amostras de chorume bruto submetidas a este teste tiveram o pH ajustado para 4,5, considerado ótimo. O tempo de decantação do efluente, após o perı́odo de agitação, foi de 30 minutos. A descrição do material utilizado neste ensaio encontra-se na tabela 3.1. Tabela 3.1: Descrição do Coagulante e do Polieletrólito utilizados nos testes de coagulação/floculação Nome do Produto Descrição Procedência Sulfato de Alumı́nio Coagulante Inorgânico VETEC Nalco 7128 Polı́mero Catiônico Nalco Brasil Ltda 39 Figura 3.2: Teste de Coagulação/Floculação Foram realizados vários experimentos para obter-se o volume necessário para realização dos tratamentos posteriores. As amostras do sobrenadante foram armazena, cor, cloretos, metais e das, sendo submetidas às seguintes análises: DQO, COT, Ntestes de toxicidade. 3.4 Ozonização do Efluente Pré-tratado 3.4.1 Planta Piloto de Ozonização Utilizou-se a ozonização por ser uma técnica de oxidação quı́mica que promove a decomposição parcial ou completa de poluentes orgânicos de difı́cil degradação. Os testes de ozonização do chorume foram realizados no CTR - Centro de Tecnologia da White Martins, localizado em Duque de Caxias/RJ. A empresa possui uma planta piloto de ozonização para realizar ensaios com efluentes. A planta piloto utilizada é composta de 4 partes principais: um gerador de ozônio, dois analizadores de ozônio, uma unidade de distribuição de ozônio e uma coluna de contato, ilustradas nas Figuras 3.3 e 3.4 40 Figura 3.3: Planta Piloto instalada na White Martins Figura 3.4: Coluna de Contato Gerador de Ozônio: O gerador de ozônio usado foi do tipo PCI, no qual são gerados até 40g/h de ozônio, sendo usado oxigênio comercial como gás de alimentação. O processo de geração de ozônio ocorre através de descargas elétricas no gás de alimentação, que quebram as ligações duplas das moléculas de oxigênio e, assim, os átomos gerados reagem com outras molécula de oxigênio formando o ozônio. Analisadores de Ozônio: As quantidades de ozônio na alimentação e na corrente de saı́da da coluna de contato foram medidas através de um monitor PCI, esse instrumento 41 é controlado por um computador e baseia-se na absorção de ozônio na faixa do UV. A absorção de UV na amostra gasosa é medida e a concentração de ozônio é calculada utilizando a lei de Beer. Coluna de Contato: No ensaio utilizou-se uma coluna de acrı́lico de 1,0 m de altura por 0,1 m de diâmetro. O difusor localizado na parte inferior da coluna constitui-se de um disco poroso de aço inox 316 L com 10 micrômetros de diâmetro de poro, gerando bolhas da ordem de 3 mm de diâmetro. Unidade de Destruição de Ozônio: Tanto os gases que saem da coluna de contato como dos analisadores de ozônio passam através de uma unidade catalı́tica de destruição de ozônio, a qual contém dióxido de manganês, dióxido de cobre e dióxido de alumı́nio. Somente após a sua destruição, os gases são lançados na atmosfera. Unidade de destruição Ozônio Célula de Contato Unidade de O2 Monitoramento AT 286 Gerador de O2 Ozônio Figura 3.5: Diagrama esquemático da unidade piloto de ôzonio da White Martins 42 3.4.2 Procedimento experimental Foram realizados ensaios de ozonização com o chorume previamente submetido à etapa de coagulação/floculação. Com base nos experimentos realizados por BILA [4], foram empregadas quatro dosagens de ozônio (0,1; 0,5; 1,5 e 3,0 g de ozônio absorvido/litro de efluente) em ensaios que tiveram duração de 15 a 150 min. Foram ozonizados 5,5 litros de amostra para cada concentração de ozônio absorvido e durante a realização do teste o chorume promoveu a geração de espumas. Para eliminá-la adicionou-se 2mL de anti-espumante (Nalco718) na amostra de efluente antes de ser introduzida na coluna de contato. A Figura 3.6 mostra o efluente na coluna de contato em operação em dois ensaios tı́picos. Todos os ensaios de ozonização foram realizados na temperatura ambiente com pH do efluente corrigido para valores da ordem de 4,5. Figura 3.6: Coluna de Contato As amostras de chorume ozonizadas foram monitoradas pelos seguintes parâmetros: DQO, COT, cor e toxicidade. 3.5 Fracionamento com Membranas Os processos de separação por membranas são utilizados quando se deseja separar moléculas com diferentes tamanhos de uma dada solução. Neste estudo, o chorume pré43 tratado (coagulação/floculação) foi filtrado previamente em papel de filtro e posteriormente filtrado em membrana de microfiltração de 0,22 (Osmonics) ou 0,45 (Milipore), com objetivo de remover materiais em suspensão. Em seguida, com pH o ajustado em 7,0 foi realizado o processo de ultra filtração de membranas com diferentes cortes (cutoff ), a saber: 50.000, 20.000 e 5.000 Da, conforme indicado na Tabela 3.2. As amostras de efluente ultrafiltrado (permeado) tiveram as suas caracterı́sticas determinadas (toxicidade e parâmetros fı́sico-quı́micos). Tabela 3.2: Relação de membranas usadas para microfiltração(MF) e ultrafiltração(UF). Membrana Material Corte nominal MF éster de celulose 0,22 Procedência m Osmonics UF polisulfona 5 kDa Osmonics UF polisulfona 20 kDa Osmonics UF polisulfana 50 kDa Osmonics 3.5.1 Procedimento Experimental O sistema de separação por membranas usado neste trabalho foi de fluxo cruzado onde a unidade de permeação era constituı́da basicamente de um vaso de alimentação, bomba de engrenagem, rotâmetro, manômetros e célula de permeação como ilustrada na Figura 3.7 . Os experimentos foram efetuados a temperatura ambiente e o efluente que não era permeado pela membrana, retornava ao vaso de alimentação. A célula de permeação foi construı́da em acrı́lico, e possuı́a uma área útil de membrana de 0,004738 . A alimentação era efetuada por um orifı́cio ligado à uma canaleta para distribuição uniforme no interior do módulo. No outro extremo da célula uma canaleta semelhante coletava o efluente conduzindo-o ao orifı́cio de saı́da, como ilustra a Figura 3.8. 44 Figura 3.7: Esquema da unidade empregada nos ensaios de micro e ultrafiltração. Figura 3.8: Representação Esquemática da Célula de Permeação 45 Após o efluente pré-tratado ter sido submetido ao processo de ultrafiltração com uma dada membrana, os seguintes parâmetros eram monitorados: DQO, COT,cor,Ne toxicidade. 3.6 Arraste da Amônia com Ar das Frações Percoladas Com o intuito de reduzir o alto teor de nitrogênio amoniacal presente no chorume bruto e no chorume tratado, foram feitos ensaios de remoção da amônia por arraste com ar. O arraste consiste na transferência da amônia da fase lı́quida para a fase gasosa por injeção de ar no efluente. Este processo só ocorre em altos pH, entre 10,5 e 11,5. O volume de amostra submetido ao arraste foi de aproximadamente 600 mL com uma perda entre 100 e 150 mL, a amostra de chorume foi colocada em um recipiente com capacidade de 10 litros, devido a grande produção de espuma durante a aeração. A Figura 3.9 mostra o esquema do sistema utilizado para arraste da amônia. O pH foi corrigido para 11 a cada 24 horas, juntamente com avaliação do teor de amônia, até alcançar nı́veis abaixo de 5ppm, cada teste teve uma duração de até 7 dias. Frasco Bolhas de Ar Pedra Porosa Figura 3.9: Esquema do Sistema Utilizado para o Arraste da Amônia 46 3.7 Bioensaios para determinaç ão da toxicidade Foram realizados bioensaios de toxicidade para avaliar a potência relativa de agentes quı́micos sobre organismos vivos, observada através de efeito agudo (exposição do organismo-teste ao efluente por perı́odo de 48 ou 96 horas). Estes testes foram aplicados para o efluente bruto, pré-tratado, ozonizados, fracionado por membranas e submetido ao arraste para remoção da amônia. 3.7.1 Organismos testados Levando em consideração os efeitos que um agente pode causar à biota aquática, atingindo uma comunidade em diferentes nı́veis e maneiras, recomenda-se realizar testes com organismos representativos de diferentes nı́veis tróficos (produtores, consumidores primários e consumidores secundários). Os organismos utilizados neste estudo foram: Artemia salina, Daphnia similis, Brachydanio rerio e a bactéria luminescente Vibrio fisheri. 3.7.2 Procedimento dos Testes Todos os testes foram realizados em uma sala aclimatada com uma temperatura de C. i) Artemia salina Os testes de toxicidade foram realizados com organismos jovens de Artemia também conhecido como camarão duende, microcrustáceo de água salgada, provenientes de cistos liofilizados (ovos) comprados no mercado MACAU/RN, que quando colocados para eclodir, após 24 horas de eclosão em fase larvar obtém-se os náuplios II-III, para serem usados nos testes. A exposição destes organismos foram realizadas diferentes diluições da amostra com água do mar sintética e expostos em cinco concentrações, foram separados 10 mL e transferidos para os bécheres, e para cada concentração foram montadas cinco réplicas, onde 10 organismos foram introduzidos com auxı́lio de uma pipeta Pauster, tendo ainda um grupo controle executado com cinco réplicas contendo apenas água do mar. Os testes foramrealizados num sistema estático por um perı́odo de 24 e 48 horas. A toxicidade é medida em termos de efeitos sobre a mortalidade, através dos seguintes parâmetros: - Concentração inicial de amostra que causou letalidade a 50 dos organismos expostos; - CENO-Maior concentração de efeito não observado; - CEO-Menor 47 concentração de efeito observado. A Figura 3.13 apresenta uma fotografia do microcrustáceo Artemia salina. Figura 3.10: Artemia salina ii) Daphnia Similis: Nos testes de toxicidade foram utilizadas jovens de Daphnia similis, microcrustáceo de água doce, com idade entre 6 e 24 horas. Para realização dos testes as amostras foram submetidas a diferentes diluições da amostra com água reconstituı́da e expostos em cinco concentrações, 10 mL foram transferidos para os bécheres, e para cada concentração foram montadas cinco réplicas, onde 5 organismos foram introduzidos em cada replicação, e um grupo controle executado com cinco réplicas contendo apenas água reconstituı́da, num sistema estático, ou seja, um sistema fechado no qual não ocorre a renovação da solução teste por um perı́odo de 24 e 48 horas. A toxicidade é medida em termos de efeitos sobre a mobilidade, onde a -Concentração inicial que causou efeito adverso a 50 % dos organismos expostos, CENO-Maior concentração de efeito não foi observado eCEO-Menor concentração de efeito observado . A Figura3.13 apresenta uma fotografia do microcrustáceo Daphnia similis. 48 Figura 3.11: Daphnia similis iii) Brachydanio rerio: Os peixes de água doce,Brachydanio rerio mais conhecido como paulistinha ou peixe zebra, submetidos ao teste, tinham um comprimento de 30 a 35 mm e peso de 0,1 a 0,3g, foram adquiridos em piscicultura e aclimatados em laboratório, o fornecedor está localizado no bairro Vista Alegre (RJ), e possui capacitação técnica para fornecer estes organismos. Foram realizados testes com diferentes concentrações da amostra diluı́das com água reconstituı́da a um volume total de 3000 mL em bécheres de 4000 mL. Em cada bécher foram adicionados 10 organismos e os efeitos foram observados por um perı́odo de 24 a 96 horas, num sistema estático. A toxicidade foi medida em termos de efeitos sobre a letalidade , e CENO. Foram realizados testes com grupos controle com apenas água reconstituı́da. A Figura 3.13 apresenta uma fotografia do peixe Brachydanio rerio. Figura 3.12: Brachydanio rerio 49 iv) Microtox: O sistema Microtox é um fotômetro de precisão, especialmente desenvolvido para realização deste bioensaio. O organismo usado neste teste é a Vibrio fisheri, bactéria de origem marinha que emite luz naturalmente. Neste teste uma pequena quantidade de amostra exposta ao teste com as bactérias bioluminescente, as quais emitem luminosidade proporcional às suas reações. A avaliação do efeito é dada em 5 e 15 minutos onde se observa uma conseqüente redução na emissão de luz, indicando assim a quantidade de organismos que podem estar afetados pela carga tóxica. O teste de referência foi conduzido com sulfato de cobre com quatro diluições (0,9; 0,45; 0,225 e 0,112 mg/L de Cu) e mais um grupo controle. A toxicidade é medida em CE50, observando a redução da luminescência das bactérias. Caso não haja decréscimo na produção de luz pelo microorganismo teste, significa ausência de efeito tóxico. A Figura 3.13 apresenta uma fotografia do Vibrio fisheri Figura 3.13: Vibrio fisheri 3.7.3 Tratamento Estatı́stico dos Dados Para obter o valor da CL 50 e da CE 50 determinados na avaliação da toxicidade aguda, os resultados obtidos foram submetidos a testes estatı́sticos, empregando-se o método de ajuste Sperman-Karber, que fornece também o intervalo de 95 % de confiança [85]. Os resultados dos testes com peixe, também podem ser expressos em UT, que corresponde ao fator de diluição da amostra, em número inteiro. 50 3.8 Metodologia Analı́tica 3.8.1 DQO As determinações da demanda quı́mica de oxigênio(DQO) foram feitas segundo o método 5220 D (método colorimétrico) descrito pela AWWA (APHA [58]), empregandose equipamento da HACH, modelo 45600, para a digestão das amostras e um espectrofotômetro visı́vel, modelo DR/2000 da HACH. 3.8.2 COT O teor de carbono orgânico foi determinado por técnica instrumental, empregando-se um analisador de COT Shimadzu, modelo 5000 A. Todas as amostras foram previamente filtradas através de membranas com diâmetro de poro igual a de 0,45 m (Milipore), obtendo-se desta maneira, o teor de carbono orgânico dissolvido. 3.8.3 pH A determinação do pH foi feita pelo método potenciométrico em um medidor de pH da marca Digimed, modelo DMPH-2, previamente calibrado com solução tampão de pH 7,0 e pH 4,0. 3.8.4 Cor A cor foi determinada de acordo com o método padrão Platium-Cobalt seção 2120 C, AWWA (APHA [58]). Este método se baseia na determinação da absorbância de uma uma solução e sua correlação com absorbância de uma solução padrão de platina e cobalto. As absorbâncias foram determinadas em um espectrofotômetro HACH, modelo DR/2000, em um comprimento de onda de 455 nm. O pH das amostras foram previamente corrigidos para 7,0. O resultado é expresso em unidades de cor (UNITS PtCo COLOR). 51 3.8.5 Cloreto O teor de cloretos foi determinado pelo o método argentométrico,seção 4500-Cl- B AWWA (APHA [58]). 3.8.6 Amônia Para determinar a concentração de N, utilizou-se um eletrodo de ı́on seletivo (Orion Model 720).Antes de realizar o teste, foi necessário fazer uma curva de calibração, para isso foram preparados padrões de concentrações 1ppm, 10ppm, 100ppm de amônia, e no momento da leitura adicionou-se 0,2ml de solução ISA(Ionic Strengh Adjustor) e manteve-se em agitação moderada. Introduziu-se o eletrodo tomando cuidado de evitar a formação de bolhas na parte inferior do mesmo. A leitura dos padrões determinou os coeficientes A e B da equação 3.1 para calcular a concentração (em ppm) de amônia das amostras. (3.1) 3.8.7 Metais De acordo com os levantamentos bibliográficos feitos com o chorume de Gramacho, verificou-se a importância da analisar a concentração de metais pesados, visto que eles podem contribuir para a toxicidade deste efluente. Os metais Al, Ba, Cu, Pb, Cu, Cr, Sn, Fe, Mn, Hg, Ni, K, S, Zn, Ca e Mg foram avaliados nos chorume bruto e prétratado (coagulação/floculação), pelo método de Espectrometria de Absorção Atômica com chama de Ar-Acetileno e Óxido Nitroso. Essas determinações foram realizadas em laboratórios externos como o da FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) e o da Petroflex S.A. 52 Capı́tulo 4 RESULTADOS e DISCUSSÃO Os resultados experimentais obtidos serão apresentados a seguir, de acordo com as técnicas de tratamento empregadas neste estudo, bem como o comportamento da toxicidade do chorume bruto e tratado pelas técnicas investigadas. 4.1 Caracterização do efluente Neste estudo, realizado com o chorume proveniente do aterro Metropolitano de Gramacho coletado em duas amostragens em diferentes épocas do ano, foi evidenciada elevada concentração de material orgânico recalcitrante, metais pesados, bem como elevados teores de amônia. Os resultados da caracterização dos parâmetros fı́sico-quı́micos das amostras do chorume estão apresentados de uma forma resumida na Tabela 4.1. Tabela 4.1: Caracterização do Chorume: valores médios dos parâmetros fı́sico-quı́micos de duas amostras distintas. Parâmetros Amostragem pH DQO ( ) Cor ( ) Cloretos ( ) Amostragem 8,16 8,25 3455 3470 150* 150* 23,03 23,13 0,04 0,04 815 1001 0,24 0,29 5250 6925 802 754 4129 5142 - Resultado de outra amostragem, reportado por BILA [4] A recalcitrância do material orgânico, pode ser ilustrada pela alta razão tı́pica de aterro velho, a qual indica o nı́vel de biodegradabilidade de um determinado efluente. Quanto maior for esta razão, menos biodegradável é o efluente. Infelizmente não foi possı́vel, no ambito deste trabalho realizar determinações de DBO com as amostras coletadas. No entanto, mesmo para alguns valores mais elevados reportados na literatura (Tabela 4.2), da ordem de 500 mg L, ainda assim fica evidenciada a recalcitrância. De acordo com os resultados obtidos, verificou-se que o pH do chorume foi praticamente o mesmo nas duas amostragens. Na realidade um aterro sanitário funciona como um grande reator biológico, dentro dele ocorrem processos de conversão anaeróbia, caracterizados por várias reações seqüenciais. Cada conjunto de reações ocorre pela ação de uma população bacteriana especı́fica, distinguindo-se quatro etapas diferentes: hidrólise, acidogênese, acetogênese e a metanogênese [86]. Com o conhecimento dos contaminantes potenciais que pode conter o chorume, é possı́vel entender os resultados obtidos neste estudo, relacionando-os com os processos 54 descritos acima. Abaixo encontram-se relacionados tipos de contaminantes potenciais encontrados no chorume, tal como relatado por BARBOSA et al.[87]: i) Matéria orgânica dissolvida: medida pela Demanda Quı́mica de Oxigênio (DQO) e pela Demanda Bioquı́mica de Oxigênio (DBO), ou pelo Carbono Orgânico Total (COT), incluindo o metano, os Ácidos Graxos Voláteis (AGV) e outros compostos orgânicos; ii) Componentes Orgânicos Antrópicos (COA):hidrocarbonetos aromáticos, fenóis, compostos alifáticos clorados, entre outros; , , , , , , iv) Ânions: , , ; iii) Cátions: ; v) Metais pesados: cádmio, cromo, cobre, chumbo, nı́quel e o zinco. Embora existam compostos tóxicos de várias naturezas no chorume, como por exemplo metais pesados e alguns compostos orgânicos, a amônia é também preocupante, pois está presente em nı́veis altos. CLÉMENT et al. [88] relataram que nos trabalhos realizados por vários autores, em 89 amostras de chorume testadas o nı́vel de amônia encontrava-se alto, em média 404 mgN/L, nı́vel este considerado tóxico. Ainda que os parâmetros alcalinidade, condutividade e amônia não estejam mencionados no regulamento de descarte de chorume na França, CLÉMENT, desde 1993, vem estudando a contribuição destes parâmetros, e através de cálculos utilizando regressão matemática aplicada aos parâmetros fı́sico-quı́micos e toxicológicos, foi obtida a confirmação de que esses parâmetros podem ser os principais contribuintes à toxicidade desses despejos. Portanto, os seus resultados indicaram que o pH e a alcalinidade do chorume, que será lançado no corpo receptor, devem ser controlados, para não criar condições favoráveis para o surgimento de amônia na forma tóxica, pois a alcalinidade e o pH afetam o equilı́brio da amônia (ionizada ou não). O controle do lançamento no tocante à amônia pode evitar também os riscos de eutrofização [88]. Altas concentrações de nitrogênio amoniacal presentes no percolado podem ser consequência da degração biológica de aminoácidos e outros compostos orgânicos nitrogenados, durante a fase acetogênica, podendo ocorrer elevadas concentrações de amônia [3, 34, 21]. 55 BAIG et al. [89]., verificaram que o chorume de um aterro pode ser considerado esta bilizado quando apresenta valores de , razão e para razão COT/DQO igual a 0,4. Conforme indicado na Tabela 4.1, a matéria orgânica medida através dos parâmetros DQO e COT, apresenta valores similares em ambas amostragens. Os resultados indicam que a razão encontra-se em torno de 23, cerca de 0,04 para razão e uma média de 0,27 para a relação COT/DQO, evidenciando assim, a baixa biodegradabilidade do chorume. Portanto, este efluente precisa ser submetido a tratamentos que diminuam a sua recalcitrância, tornando-o mais biodegradável. O valor da DBO registrado na Tabela 4.1 e usado para o cálculo das razões acima foi obtido do trabalho anterior conduzido no laboratório com o chorume do Aterro de Gramacho [4]. Os dados obtidos nesta caracterização evidenciaram que os fatores climáticos não interferiram nas caracterı́sticas do chorume para as amostras coletadas em diferentes épocas do ano. A caracterização revela também a presença de altas concentrações de cloretos e de intensa cor no chorume. Os resultados apresentados na Tabela 4.2, revelam as caracterı́sticas do chorume do aterro de Gramacho/RJ analisados em perı́odos diferentes em nosso laboratório e por empresas de tecnologia ambiental. 56 Tabela 4.2: Caracterização do chorume do Aterro de Gramacho feita em diferentes perı́odos por pesquisadores e técnicas distintas Amostras Parâmetros pH ) DQO ( Cloretos ( CAMMAROTA GEOPROJETOS HIDROQUÍMICA TECMA BILA 1991 1994 1995 1997 1998 2000 8,3 8,3 7,9 8,2 8,0 8,2 9590 6924 8805 3792 2694 3096 360 468 3232 857 494 150 26,64 14,79 2,72 4,42 5,45 20 15540 8169 - - 3534 3700 2200 1871 - - 500 - ) Sulfatos ( COPPE-UFRJ ) Pode-se observar dos resultados da Tabela 4.2 que parece haver uma tendência de decréscimo dos valores de DQO, a medida que a idade do aterro foi aumentando. Para a DBO não se observa esta mesma tendência, isso pode ter acontecido devido à maneira como foram realizadas as determinações deste parâmetro. Os dados da Tabela4.2 mostram que para três dos estudos efetuados, a relação foi muito elevada (superior a 14) e para apenas um deles foi encontrada uma relação baixa (2,7). Os dados deste trabalho apresentados na Tabela 4.1 também confirmam a alta razão obtida para esse parâmetro, que é indicativo de um efluente de baixa biodegradabilidade. No Brasil não existe uma legislação que forneça os limites de lançamento para este tipo especı́fico efluente, devendo-se obedecer às normas estaduais e a legislação federal. O valor de lançamento para efluentes de qualquer fonte poluidora estabelecido pelo CONAMA N 20 [81] é de 5,0 mg/L para amônia, e a legislação Estadual (FEEMA) estabelece lançamento de 250mg/L para DQO para efluentes de natureza industrial. Para ilustrar a variabilidade de composição e caracterı́sticas dos chorumes, são apresentados na Tabela 4.3 alguns dados recentes referentes a percolados de diversas pro- 57 cedências. Observa-se que mesmo para os percolados que se encontram em processo de degradação anaeróbia (fase metanogênica) há uma apreciável diferença nas suas caracterı́sticas. Tabela 4.3: Dados recentes sobre parâmetros caracterı́sticos dos chorumes gerados em aterros de diferentes regiões brasileiras Parâmetros pH DQO ( Médias na fase ) ( ) ( ) Cloretos ( ) 7,5-9,0 500-4500 20-550 30-3000 100-5000 8,0 3275 494 934 3534 Metanogênica Chorume de Gramacho-RJ Chorume do Jockey Club-DF 7,4-7,7 955 Chorume do Jangurussu-CE 8,5 6027 409 Chorume de 7,7-8,7 5200-1150 2800-4000 5,57-8,4 588-49680 99-26799 0,6-1258 7,6 298 61 47,3 Nitéroi-RJ Chorume de São Giácomo-RS Chorume de 526 4204 22-42 Porto Alegre-RS Chorume de Biguaçu-SC 7,43-7,57 2370-8480 - Não foi avaliado ,1997) apud OLIVEIRA et al.[3]; FERREIRA et al.[36]; (SANTOS, 1996)apudOLIVEIRA et al.[3]; OLIVEIRAet al.[3]; SISINO et al. [90]; PESSIN et al. [91]; KUAJARA et al. [92]; Fonte: EHRIG (apud LUZ [53]. Para os chorumes de Gramacho, Jangurussu e Porto Alegre fica evidenciada a alta 58 relação . Ademais, os nı́veis de nitrogênio amoniacal são bastante elevados. Os teores de metais medido neste trabalho para as duas coletas efetivadas no Aterro de Gramacho encontra-se na Tabela 4.4, que também apresenta os limites de descarte determinados pela legislação. Tabela 4.4: Resultados das análises de metais presentes nas amostras de chorume do Aterro de Gramacho e limites de lançamento de alguns poluentes Amostras de Chorume Bruto Parâmetros Amostra1 (mg L) (mg L) Al Ba Cd Pb Co Amostra2 (mg L) VMP (mg L) VMP (mg L) 1,5 5 0,2 0,1 0,5 0,5 Cu 0,08 0,1 1 0,5 Cr 0,2 0,1 0,5 0,5 Sn 4 Fe 5,5 8 15 Mn 0,2 0,05 1 2 1,2 0,01 0,01 Ni 0,1 0,25 2 1 K 1700 1900 Na 2700 3200 Zn 0,35 0,25 5 1 Ca 320 240 Mg 97,2 72,9 Hg - Concentrações determinadas nolaboratório da FEEMA em ( Hg( ) 59 ), exceto o - Valores Máximos Permissı́veis por Lei - Fonte: Resolução CONAMA - Valores Máximos Permissı́veis por Lei - Fonte:NT-202 (FEEMA) [93] [81] Observa-se na Tabela 4.4 que o teor de metais presentes no chorume bruto é inferior ao limite estabelecido para todos os metais. Segundo BAIG et al. [94] em chorumes velhos que apresentam caracterı́sticas de estar estabilizados, geralmente podem ser observadas concentrações elevadas de cálcio, ferro, magnésio, metais pesados, sódio e potássio. No presente trabalho observou-se para ambas as amostras analisadas teores elevados de Na, K, Ca e Mg. Foram feitas determinações de metais da primeira coleta, logo após a amostragem, usando a mesma técnica analı́tica, porém realizadas no laboratório da Petroflex S.A. Os resultados mostrados na Tabela 4.5 são distintos daqueles apresentados na Tabela 4.4, é importante considerar que as análises foram realizadas em laboratórios diferentes, por material e pessoas diferentes. Cabe ressaltar que os teores de Al, Cu, Fe, Mn, Ni e Zn encontram-se abaixo do limite de descarte. Entretanto, os metais Cr e Sn apresentaram-se em teores superiores ao padrão de lançamento. 60 Tabela 4.5: Resultados das análises de metais presentes na amostra de chorume do Aterro de Gramacho e limites de lançamento de alguns poluentes Amostras de Chorume Bruto Parâmetros Amostra1 VMP VMP (mg L) (mg L) (mg L) (mg L) Al 1,32 1,5 Co 0,25 Cu 0,15 1 0,5 Cr 0,83 0,5 0,5 Sn 6,98 4 Fe 4,63 15 Mn 0,21 0,5 Ni 0,78 2 1 K 1962 Na 1839 Zn 0,21 5 1 Ca 18,7 Mg 87,5 2 1 - Concentrações determinadas na Petroflex - Valores Máximos Permissı́veis por Lei - Fonte: Resolução CONAMA [81] - Valores Máximos Permissı́veis por Lei - Fonte:NT-202 (FEEMA) [93] Os resultados das Tabelas 4.5 e 4.4 apontam que para a maioria dos metais analisados, os teores encontrados no chorume estão aquém do padrão de descarte. Há uma preocupação com o cromo e com estanho, posto que esses dois últimos mostraram-se elevados em uma das amostras analisadas. É também recomendável que um maior número de amostras seja coletada para que possam ser tiradas conclusões mais definitivas. 61 4.2 Tratamento prim ário No teste de coagulação/floculação ocorreu uma apreciável remoção da maioria dos parâmetros analisados, conforme indicado nas Tabelas 4.6 e 4.7 . O principal objetivo do tratamento primário é a remoção do material orgânico recalcitrante do chorume, que está diretamente relacionado com as condições fı́sicas e quı́micas do chorume e com as condições operacionais. Este tratamento também pode remover alguns metais presentes no chorume bruto. Segundo KANG e HWANG [95] os processos fı́sico-quı́micos têm sido ideais para tratar chorumes velhos. Em seus estudos os autores conseguiram remoção de DQO do chorume através da coagulação em pH ótimo na faixa entre 3 a 6. A escolha do coagulante utilizado neste trabalho, foi ditada pelos resultados obtidos por BILA [4], em cujo trabalho ficou também determinado o ponto ótimo da coagulação (pH=4,5). Naquele trabalho, o ( ) foi utilizado em pHs baixos, resultando assim na formação de um meio com predominância de cátions multivalentes. A natureza das partı́culas presentes no chorume, propiciou a formação de complexos com esses cátions, resultando na neutralização das cargas elétricas das partı́culas e conseqüentemente na diminuição das forças de repulsão, favorecendo a formação de flocos. Boas remoções foram alcançadas também com a utilização do polieletrólito catiônico. Tabela 4.6: Resultados do processo de coagulação/floculação aplicado à primeira amostra do chorume: remoção de matéria orgânica, cor e cloreto Coagulação-Floculação Concentração Inicial * Remoção Final (%) 3455 2670 23 815 690 15 5250 1550 70 4129 3599 13 concentrações em ( concentrações em ( ) 62 ) Tabela 4.7: Resultados do processo de coagulação/floculação aplicado à segunda amostra do chorume: remoção de matéria orgânica, cor e cloreto Coagulação-Floculação Concentração Inicial * Remoção Final (%) 3470 2530 27 1001 757 24 6925 2225 69 5142 4906 5 concentrações em ( concentrações em ( ) ) Com base nos dados encontrados na literatura, a percentagem de remoção para DQO e COT obtidos na coagulação/floculação está geralmente compreendidas entre 10-25% para chorume do tipo estabilizado, isto é, proveniente de aterros que apresentam idade superior a 10 anos [44]. Levando em consideração as caracteristicas do chorume, a coagulação/floculação apresentou uma boa remoção da matéria orgânica, expressa como DQO e COT. Os nı́veis de remoção da DQO variaram de 23 a 27% e os de COT de 15 a 24% para as amostras 1 e 2 , respectivamente. Devido ao volume de amostra tratada no laboratório, o teor de amônia não foi determinado nesta etapa de tratamento, pelo fato de poder apresentar um valor incorreto. A remoção de cloretos foi muito pequena, como era de se esperar, ficando próxima da faixa de erro do método. A remoção de cor foi elevada no pré-tratamento, cerca de 70%. A Figura 4.1 ilustra a remoção de cor obtida nesse processo. Os dados gerais de remoção de DQO, COT, cor e cloretos estão representados na forma de gráfico de barras na Figura 4.2 63 Figura 4.1: Fotografia ilustrativa da remoção de cor do chorume promovida pelo processo de coagulação/floculação Figura 4.2: Remoção dos parâmetros analisados no processo de coagulação/floculação do chorume 64 Tal como ilustrado nas Figuras 4.1 e 4.2, verifica-se que o parâmetro fı́sico cor, foi o que alcançou maiores remoções, na faixa de 69 a 70%. As concentrações de metais presentes no chorume, após o tratamento primário estão mostradas na Tabela 4.8 , juntamente com os valores máximos de descarte permissı́veis. Observa-se que o tratamento com o coagulante ( ) promoveu um elevado aumento do teor de Al no efluente tratado em comparação com o chorume bruto. A coagulação/floculação proporcionou alguma remoção para vários metais analisados (Cu, Fe, Mn, K, Na, Zn e Ca), em ambas as amostragens, como se depreende da comparação dos dados das Tabelas 4.8 e 4.4. Observou-se também que para Hg, Mg, Ni e Cr não foram observadas remoções consistentes. Para Ba, Cd, Pb, Co os teores foram idênticos aos encontrados no chorume bruto e estão abaixo do limite de detecção do método. 65 Tabela 4.8: Resultados das análises de metais presentes nas amostras de chorume prétratado e limites de lançamento de alguns poluentes. Amostras de Chorume Pré-Tratado (Coagulação Floculação) (mg L) (mg L) (mg L) (mg L) Al 28 40 1,5 Cd Pb Co VMP Amostra1 Ba Amostra1 Parâmetros VMP (mg L) 5 0,2 0,1 0,5 0,5 Cu 0,04 0,06 1 0,5 Cr 0,15 0,2 0,5 0,5 Sn Fe 4 15 0,05 1 1,6 2 0,01 0,01 Ni 0,15 0,1 2 1 K 1500 1700 Na 2700 2900 Zn 0,1 0,3 5 1 Ca 240 200 Mg 24,3 97,2 Mn Hg 2,8 4 ), exceto - Concentrações determinadas no laboratório da FEEMA em ( Hg( ) - Valores Máximos Permissı́veis por Lei - Fonte: Resolução CONAMA [81] - Valores Máximos Permissı́veis por Lei - Fonte:NT-202 (FEEMA) 66 4.3 Ozonização A ozonização foi empregada com o objetivo de aumentar a biodegradabilidade do chorume. Esta técnica tem-se mostrado eficiente para degradar poluentes orgânicos, muitas vezes presentes no chorume, como os hidrocarbonetos poli-aromáticos e clorofenóis, contribuindo para a redução da toxicidade do efluente [42, 95, 94, 30]. Os resultados relativos à remoção de DQO do chorume pré-tratado no processo de ozonização estão apresentados na Figura 4.3. Neste gráfico pode-se observar que houve uma redução nos nı́veis de DQO à medida que foi aumentanda a dosagen de ozônio. Figura 4.3: Remoção de DQO obtida nos testes para diferentes dosagens de ozônio Observa-se também que praticamente não houve remoção da DQO para as dosagens de ozônio iguais ou inferiores a 0,5 g/L. Segundo BILA [4] as baixas remoções e até remoções negativas (aumento da DQO) observadas para baixas dosagens de podem ser atribuı́das à rápida mudança na estrutura dos compostos orgânicos como conseqüência de reações de formação de intermediários de curta duração, que são mais prontamente oxidáveis pelos reagentes de DQO (aumento da DQO detectável). Quando maiores dosagens são aplicadas esses compostos são oxidados, promovendo uma efetiva redução de DQO. KANG e HWANG [95] observaram em seus estudos uma eficiente remoção da DQO na oxidação de acordo com o pH da reação. A oxidação mais completa foi observada em pH de aproximadamente 4,0. 67 Antes da amostra de chorume pré-tratado pelo processo de coagulação/floculação ser submetida ao processo de ozonização, a ela foi adicionado um anti-espumante, afim de reduzir a formação de espuma na coluna de contato. Observou-se que após a adição deste produto houve um aumento no valor da DQO, medida em ambas as amostragens realizadas, de 2700 para cerca de 3000 mg/L. A Figura 4.4 mostra os valores de DQO do efluente tratado com diferentes dosagens de ozônio. Figura 4.4: Comportamento da DQO do chorume pré-tratado e ozonizado em diferentes condições Quanto ao COT, pode-se observar na Figura 4.5, que praticamente não houve redução desse parâmetro para todas as dosagens de ozônio investigadas, havendo em algumas condições (dosagens intermediárias) até aumento do seu valor. 68 Figura 4.5: Variação do COT do chorume pré-tratado e ozonizado em diferentes condições O aumento de COT na ozonização também foi observado por LIMA [96] e RIBEIRO [29]. Esses autores explicam que o aumento do COT pode ser atribuı́do à presença de compostos recalcitrantes que só são oxidados durante a ozonização, e que não são oxidados na análise instrumental. Ao serem modificados na ozonização, esses compostos tornam-se menos recalcitrantes e passam a ser quantificados, gerando valores de COT maiores do que o inicial. Embora neste trabalho não tenham sido observadas remoções de COT na ozonização, na literatura há relato de apreciável remoção de COT de chorume, quando combinou-se com UV [97]. O chorume ozonizado, pré-tratado por processo de coagulação/floculação, apresentou um menor nı́vel de cor. A remoção de cor aumentou com a dosagem de ozônio, tal como indicado nas Figuras 4.6 e 4.7. 69 Figura 4.6: Remoção de cor no processo de ozonização do efluente pré-tratado para diferentes dosagens de ozônio. CHORUME BRUTO CHORUME PRE− TRATADO CHORUME CHORUME OZONIZADO OZONIZADO 0,1gO3/L 0,5 gO3/L CHORUME OZONIZADO 1,5g O3/L CHORUME OZONIZADO 3,0g O3/L Figura 4.7: Variação da cor do efluente com o pré-tratamento e posterior ozonização com diferentes dosagens de ozônio ZHOU e SMITH [98] observaram que a ozonização foi eficiente no tratamento de eflu70 entes de uma fábrica de polpa de papel, pré-tratado por processos biológicos, alcançando 80% de remoção para cor e 50% de remoção para AOX (haletos orgânicos adsorvı́veis). A ozonização tem se mostrado eficiente para diferentes águas residuárias inclusive para chorumes, que possuem matrizes orgânicas constituı́das por diversos tipos de compostos altamente complexos. 4.4 Fracionamento com membranas Os resultados obtidos no fracionamento apresentaram apreciáveis remoções para os parâmetros DQO, COT e cor. Esta remoção pode ser observada à medida que o efluente foi permeando por membranas de poros mais fechados, como ilustrado nas Figuras 4.8 e 4.9. Para que haja remoção da amônia no chorume, que foi insignificante por essa técnica, deve-se levar em conta alguns fatores que interferem na composição do chorume, (pH, temperatura entre outros). Em função do tamanho molecular da amônia não era esperada a sua remoção, a não ser que ocorresse complexação desse ı́on ou interação com compostos de maior massa molecular. Efluente 50.000 Permeado − PM < 50.000 DQO= 1850 mg/L COT= 845 mg/L cor= 1520 N−NH 4 + =1679ppm 20.000 Permeado − PM < 20.000 DQO= 1310 mg/L COT= 492 mg/L cor= 630 N−NH +4=1296ppm 5.000 Permeado − PM < 5.000 DQO= 1250 mg/L COT= 485 mg/L cor= 540 N−NH 4 += 1515 ppm Figura 4.8: Esquema e resultados do fracionamento do efluente em membranas com diferentes cortes (primeira amostragem) 71 Efluente 50.000 Permeado − PM < 50.000 DQO= 1900 mg/L COT= 898 mg/L cor= 2160 N−NH 4+ =1451ppm 20.000 DQO= 1670 mg/L COT= 629 mg/L cor= 2040 N−NH 4+= 1394ppm Permeado − PM < 20.000 5.000 Permeado − PM < 5.000 DQO= 1480 mg/L COT= 576 mg/L cor= 790 N−NH 4 + = 1591 ppm Figura 4.9: Esquema e resultados do fracionamento do efluente em membranas com diferentes cortes (segunda amostragem) A técnica empregada não se caracteriza como um método de determinação de massa molecular. Pode-se com essa técnica ter uma estimativa não muito precisa da faixa de massa molecular dos poluentes presentes no efluente. Fenômenos como a adsorção de moléculas na membrana e na camada de ultrafiltração formada ao longo da operação (fouling) e possı́veis interações moleculares durante o processo de concentração fazem com que a separação por massa molecular não seja absoluta com relação ao tamanho de corte da membrana. De todo modo, a técnica é útil para previsões e estimativas relacionadas ao tamanho molecular dos compostos presentes no efluente. Admitindo-se uma alimentação (chorume pré-tratado) com DQO da ordem de 2600 mg/L, COT de 750 mg/L e cor de 1550 (amostra 1) e 2225 mg PtCo/L (amostra 2), observam-se as remoções mostradas na Tabela 4.9 72 Tabela 4.9: Remoção percentual de parâmetros fı́sico-quı́micos de interesse observados no processo de fracionamento por membranas Parâmetro DQO (mg/L) COT (mg/L) Cor (mg PtCo/L) Permeado (50.000 Da) Amostra1 Amostra2 Permeado (20.000 Da) Amostra1 Amostra2 Permeado (5.000 Da) Amostra1 Amostra2 29 27 50 36 52 43 34 16 35 23 2 3 59 8 65 64 - Não foi calculado (não houve remoção) Dos resultados infere-se que cerca de 50% da DQO do efluente provem da contribuição de compostos com massa molecular superior a 5.000Da. Para o COT essa contribuição é menor, da ordem de 30%. No entanto, para a cor, a contribuição dos compostos de alta massa molecular, acima de 5.000 Da, é significativa, da ordem de 65%. A massa molecular de 5.000 Da, a menor investigada no fracionamento, corresponde a moléculas orgânicas grandes, para exemplificar, essa massa corresponde a cerca de 28 moléculas de glicose agrupadas. Talvez, se utilizada uma membrana de corte menor (2.000 Da), a ultrafiltração poderia ser uma boa técnica para o tratamento do chorume, desde que fluxos adequados de permeado fossem obtidos. De acordo com alguns trabalhos da literatura é importante considerar o tipo de material da membrana, para obter melhor desempenho no processo. BOHDZIEWICZ et al. [99] empregaram três tipos de membranas: cloreto de polivinila, polisulfona e acetato de celulose no processo de ultrafiltração, utilizando chorume com caracterı́sticas recalcitrantes. Após o tratamento biológico o melhor resultado quanto a fluxo de permeação do chorume foi obtido com uma membrana de polisulfona. A experiência com o tratamento biológico não foi boa para BOHDZIEWICZ et al.[99] pois apresentou uma pequena remoção de 6,7% de DQO, apresentando valores elevados para todos os outros parâmetros analisados. Empregando o processo de ultrafiltração na seqüencia do tratamento, observou-se melhora nos resultados, mas o pH e o teor de matéria orgânica dissolvida continuaram elevados. Somente com a posterior aplicação de um tratamento de oxidação quı́mica foi obtida a remoção da DQO. Os dados apresentados na literatura sugerem que os processos com membranas, podem ser muito eficientes para o tratamento de chorumes com caracterı́sticas recalcitrantes. 73 Conforme já comentado, neste trabalho foram obtidas apreciáveis remoções de cor e DQO para a permeação em membrana de 5.000Da. 4.5 Arraste da amônia das amostras fracionadas em membranas O método fı́sico-quı́mico mais comum para remoção de amônia do chorume é o arraste por ar. O objetivo principal do emprego deste processo de tratamento foi remover a amônia presente no chorume após o tratamento primário, visto que o teor de nitrogênio amoniacal ainda apresentava-se muito elevado, podendo contribuir para a alta toxicidade do efluente. O arraste com ar aplicado às amostras do chorume fracionado por membranas contribuiu para uma significativa remoção da amônia, enquanto os demais parâmetros permaneceram praticamente inalterados, conforme se constata da comparação dos resultados expressos nas Figuras 4.8 e 4.9 com dados da Tabela 4.10. Cabe ressaltar que durante o arraste ocorre evaporação da água e concentração da amostra. Os valores constantes da Tabela 4.10 foram corrigidos em função da variação de volume da amostra durante o teste. Tabela 4.10: Valores dos parâmetros fı́sico-quı́micos analisados nos permeados após o arraste da amônia Parâmetro DQO (mg/L) COT (mg/L) (mg/L) Cor (mg PtCo/L) Amostra 1 Amostra 2 50.000 Da 20.000 Da 5.000 Da 50.000 Da 20.000 Da 5.000 Da 1840 607 5,0 1430 1080 442 2,9 608 1420 562 1,2 NC 1750 860 1,5 1292 1590 416 0,8 580 1430 570 2,0 730 NC - Não foi calculado Conforme anteriormente comentado, praticamente não houve remoção de DQO e COT no processo de arraste (Tabela 4.10 e Figuras 4.8 e 4.9). Alguma remoção de cor foi observada para o chorume permeado proveniente da segunda amostragem, em particular, para os permeados das membranas de maior corte (50.000 e 20.000 Da). MARTTINEN et al. [42] alcançaram 93% de remoção de amônia para um chorume que apresentava alta concentração inicial. Esta remoção significativa ocorreu em pH 11. 74 A remoção de DQO foi muito baixa, entre 4-21% indicando assim pouca volatilização de compostos orgânicos. Experimentos de arraste com ar feitos por LIAO et al. [100] apresentaram remoção de 90,3% de amônia, em 7h de operação com pH 11,5 a C com efluente de suinocultura. A fim de eliminar a possibilidade da amônia estar contribuindo para a toxicidade do chorume, ela foi reduzida a valores abaixo de 5mg/L, limite este determinado pela Resolução CONAMA 20 [81] para que um efluente industrial possa ser lançado no corpo receptor. O comportamento, ou ainda, a cinética de remoção da amônia observada experimentalmente encontra-se ilustrada na Figura 4.10. b) Permeado-Membrana de 50.000Da a) Pré-Tratado c) Permeado-Membrana de 20.000Da d) Permeado-Membrana de 5.000Da Figura 4.10: Variação do teor de amônia no decorrer do ensaio de arraste com ar para o chorume pré-tratado e posteriormente fracionado em membranas com diferentes cortes Dos gráficos da Figura 4.10 observa-se uma tendência de se atingir o limite de descarte de amônia mais rapidamente para os permeados das membranas, o que ocorre em praticamente 48 horas. 75 4.6 Toxicidade A concentração de componentes inorgânicos do chorume é muito alta, sendo talvez a principal responsável pela toxicidade. Levando em consideração as condições do corpo receptor, esta toxicidade irá afetar organismos que são produtores primários, componentes do fitoplâncton, que constituem o elemento básico da cadeia alimentar, transformando a matéria inorgânica em orgânica, para alimentar outros organismos. Um grande ecologista (Elton, 1927) instituiu o ”princı́pio do tamanho trófico”que define o conceito da pirâmide dos números, onde os organismos se dispõem em quantidade e classes, estando os animais maiores próximos do fim da cadeia. A cadeia alimentar ou cadeia trófica é formada por uma série de organismos desde os produtores até os consumidores finais [101, 102]. Portanto, pode ocorrer a concentração de tóxicos ao longo da cadeia, fenômeno denominado bioacumulação. Os representantes da cadeia trófica empregados neste estudo estão representados na Figura 4.11. NÉCTON (Consumidores terciários) PLANCTON (Consumidores secundários) FITOPLANCTON (Produtores primários) Figura 4.11: Pirâmide representativa dos organismos em determinados nı́veis tróficos, destacando-se aqueles utilizados neste trabalho Na literatura há poucos trabalhos que correlacionam a tratabilidade dos efluentes com a sua toxicidade, a grande maioria dos trabalhos aborda principalmente a toxicidade do efluente final e seu possı́vel impacto no corpo receptor. É importante ressaltar que este estudo não produziu resultados suficientes para avaliar a cadeia trófica do corpo receptor que recebe o chorume, porque para obter essas impor76 tantes informações seria necessário avaliar tanto a toxicidade aguda como a toxicidade crônica por um certo perı́odo de tempo no corpo receptor. No entanto, este estudo pode contribuir para a escolha dos organismos que poderiam dar uma resposta adequada num trabalho futuro mais completo, que poderá informar as reais condições da poluição gerada por este efluente. Estudos têm demonstrado que nem sempre os resultados obtidos das análises fı́sico quı́micas podem ser comparados com os dados apresentados nos testes de toxicidade. Os resultados obtidos neste trabalho procuram levar em conta tanto dados fı́sico-quı́micos como os resultados dos bioensaios de toxicidade. 4.6.1 Efluente Bruto A toxicidade do chorume bruto retrata as condições em que se encontrava o percolado gerado no aterro de Gramacho durante os perı́odos de amostragem. Na Tabela 4.11 encontram-se os resultados obtidos nos testes de toxicidade realizados em laboratório. Tabela 4.11: Resultados dos testes de toxicidade aplicados às amostras de chorume bruto Amostra Microtox Daphnia Artemia B.rerio CE50(%) CE50(%) CL50(%) CL50(%) Coleta 15,02 2,26 11,89 2,24 Coleta 11,27 2,04 25,58 2,24 A fase metanogênica propicia condições, para redução do oxigênio a nı́veis muito baixos, favorecendo o aparecimento dos microorganismos anaeróbios responsáveis pela e , sendo que o tem um poder muito tóxico para quase todos produção de os animais superiores [103]. Dentre os inúmeros compostos presentes no chorume que podem causar toxicidade, a amônia merece destaque, porque apresenta-se em altas concentrações. Em alguns estudos foi verificado o aumento da toxicidade causada pela amônia, que na forma livre é mais tóxica, enquanto que na forma iônica é levemente tóxica para maioria dos organismos [88, 76, 104]. A amônia e a alcalinidade são fatores importantes que contribuem para a toxicidade do chorume como evidenciam alguns resultados encontrados na literatura ( CL ÉMENT et al., 1996 apud PIRBAZARI et al. [105]). 77 Os dados da Tabela 4.11 evidenciam a elevada toxicidade do chorume para todos os organismos testados, após 48 h de exposição. No que se refere ao organismo Brachydanio rerio a toxicidade foi muito elevada, o teste é expresso em 48 h, porém, podendo ser estendido até 96h, e vale ressaltar que os organismos morreram nas primeiras horas de exposição. Embora seja um organismo dulcı́cula, este peixe pode ser considerado também como um organismo estuarino. Os testes com este organismo foram padronizados pela FEEMA, com salinidade determinada em 5g/L. Uma outra resposta muito tóxica apresentada por este percolado foi observada para o organismo Daphnia similis, o que já era esperado, pois trata-se de um organismo dulcı́cula, muito sensı́vel, que não suporta alta salinidade. Vale ressaltar que esse teste foi realizado para se ter uma idéia das conseqüências que o chorume pode trazer para os rios, levando-se em conta que no Brasil os rios são os cursos que mais recebem este tipo de efluente. Cabe também alertar para o impacto que o percolado gerado em Gramacho possa ter causado, antes da construção de uma barreira de contenção de argila, para os dois rios mais próximos ao aterro que são o Iguaçu e o Sarapuı́. Para confirmar se o efeito tóxico causado com o organismo Daphnia similis foi provocado pela salinidade, foram realizados novos testes com correção da salinidade. Surpreendentemente os resultados foram idênticos aos obtidos sem a correção, como ilustrado na Tabela 4.12. Portanto, comprovou-se que a toxicidade do chorume bruto para Daphnia não foi causada somente pela salinidade. A norma da FEEMA estabelece que a sensibilidade deste organismo permanece até 5g/L (salinidade). Nos testes efetivados trabalhou-se com concentração máxima de 3g/L, para não atingir o limite máximo de tolerância do organismo teste. Tabela 4.12: Resultados de toxicidade por Daphnia similis empregando-se correção de salinidade para o chorume bruto CE50% CENO (%) 2,05 1 CEO (%) 2 Efeito (%) 100 GRAU DE (%) CLASSIFICAÇ ÃO TOXICIDADE DA AMOSTRA MT* Péssimo * - Muito Tóxica Estudos já realizados revelaram que o organismo Daphnia foi mais sensı́vel aos compostos inorgânicos presentes no chorume, do que bactérias e peixe, exceto para mercúrio, arsênio e cobalto que foram muito tóxicos para todos os organismos testados [76, 80]. 78 Alguns autores relatam que a presença de nı́veis elevados de cloretos, potássio, cálcio, magnésio, sódio e metais pesados tornam os efluentes potencialmente tóxicos [88, 71]. SVENSON et al. [106] observaram que os metais Zn,Pb e Cu, e elementos como o enxofre foram indicados como causadores do efeito tóxico nos testes realizados com Microtox. O organismo Artemia salina que também é um microcrustáceo, só que de origem marinha, não apresenta valor limite para salinidade, exigindo um mı́nimo de 6g/L . Este organismo teve uma melhor resposta à toxicidade do chorume, apresentando na segunda coleta um resultado cerca de duas vezes melhor do que na primeira Tabela 4.11. Para o sistema Microtox foram obtidos resultados similares em ambas as coletas. Este teste foi realizado com bactérias bioluminescentes de origem marinha, portanto resistente a salinidades entre 10 e 40 g/L. Porém, é sabido que essas bactérias são muito sensı́veis às variações (muito pequenas) na salinidade no efluente. A matriz orgânica, constituı́da por inúmeros compostos distintos, pode contribuir para a toxicidade. PIRBAZARI et al. [105] observaram um marcante efeito da matéria orgânica na toxicidade do chorume. Esta consideração pode ser perfeitamente válida para este efluente, pois ele está constituı́do de matéria orgânica altamente recalcitrante. A Figura 4.12 ilustra os resultados mostrados na Tabela 4.11 . Os organismos de água doce, evidentemente, foram os mais afetados, mas pode-se afirmar que o efeito tóxico do efluente foi forte para todos os organismos testados para os dois perı́odos amostrados. 79 Figura 4.12: Resultados de toxicidade do chorume bruto para os diferentes organismos testados. 4.6.2 Efluente Pré-tratado Os testes de coagulação/floculação promoveram uma diminuição da toxicidade para os organismos Daphnia, Artemia e Brachydanio rerio. Entretanto, um resultado inverso foi observado para o Microtox, como mostrado na Tabela 4.13. A Figura 4.13 ilustra os resultados obtidos para os diferentes organismos testados. 80 Tabela 4.13: Resultados dos testes de toxicidade aplicados às amostras de chorume prétratado Amostra Coleta Coleta Microtox Daphnia Artemia B.rerio CE50(%) CE50(%) CL50(%) CL50(%) 0,3 6,42 17,44 7,07 2,78 32,21 7,07 - Toxicidade muito elevada (não passı́vel de cálculo) Figura 4.13: Comportamento da toxicidade do chorume pré-tratado para os diferentes organismos O organismo Daphnia similis foi ainda muito afetado pelo chorume, mesmo prétratado. A correção de salinidade também foi feita neste caso, observando-se uma redução da toxicidade. Para o chorume pré-tratado observou-se CE50 de 6,42%, no entanto, quando corrigida a salinidade a melhora foi tão significativa que impediu a expressão dos resultados através desse parâmetro. Empregou-se, então, o efeito tóxico observado, que no caso foi de 40%, indicativo de um alto grau de toxicidade, conforme indicado na Tabela 4.14. 81 Tabela 4.14: Resultado de toxicidade para Daphnia similis com correção da salinidade do chorume pré-tratado CE50% CENO (%) CEO (%) 3 4 Efeito (%) 40 GRAU DE (%) CLASSIFICAÇ ÃO TOXICIDADE DA AMOSTRA AIT* Regular * - Alto Indı́cio de Toxicidade Cabe ressaltar que, em geral, o efluente pré-tratado apresentou-se menos tóxico do que o bruto e que a melhora alcançada neste tratamento, ressaltada pelos parâmetros fı́sicosquı́micos, também se refletiu nos resultados de toxicidade. O confronto dos resultados de toxicidade para o chorume bruto e o pré-tratado encontra-se ilustrado nas Figuras 4.14 e 4.15. Figura 4.14: Variação da toxicidade para primeira amostragem 82 Figura 4.15: Variação da toxicidade para segunda amostragem BERTOLETTI [107] relatou que pode-se esperar uma variação na toxicidade de efluentes industriais com a mudança do pH, particularmente se uma substância tóxica está sujeita à ionização. Os resultados para amostras com diferentes pHs originais, foram ajustadas para o pH neutro antes de serem submetidas ao teste de toxicidade e verificouse que, em 38% dos casos a toxicidade manteve-se inalterada após o ajuste do pH; em 52% dos casos houve uma redução, no entanto, duas amostras mostraram-se mais tóxicas do que as amostras originais, para o organismo teste Daphnia similis. Vale ressaltar que o pH padronizado para os testes de toxicidade deve obdecer os limites impostos pela legislação, e se o ajuste conferir maior toxicidade outras maneiras para solucionar o problema deverão ser estudadas. Substâncias que têm a sua toxicidade alterada pelo pH podem se apresentar em elevados teores à medida que o pH diminui. Isto é verificado para certos metais como Al, Hg e Mg, que se apresentaram com teores muito elevados após o tratamento primário, que promoveu alteração no pH do efluente. É possı́vel, segundo MUNKITTRICK et al. [76], SWEET e MEIER [108] que a bactéria usada nos teste Microtox, estando na forma liofilizada, mostre um aumento de sensibilidade, podendo apresentar facilidade para que certos compostos tóxicos penetrem em sua parede celular. O teste utilizando o sistema Microtox apresentou resultado altamente tóxico para o efluente, isto pode ter ocorrido devido ao aumento dos teores de alguns metais (Al, prin- 83 cipalmente) observado no efluente após o processo de coagulação/floculação. 4.6.3 Efluente Ozonizado Métodos de tratamento, nos quais o chorume é modificado quimicamente por ajuste de pH ou uso de reagente oxidante, podem causar mudanças inesperadas na toxicidade. Relacionar a toxicidade do chorume com a medida da DQO é mais difı́cil do que com o teor de amônia, que como já se sabe é tóxica para a maioria dos organismos. O valor da DQO reflete a presença de diferentes substâncias, que podem ser responsáveis pela diferença na sensibilidade apresentada pelas diferentes espécies de organismos testados. A excessiva adição de produtos quı́micos, por métodos padronizados como a oxidação e a coagulação, promove a clarificação do efluente, mas contribui para o aumento da toxicidade [75]. Apesar da diferença de sensibilidade dos organismos, os resultados obtidos após a ozonização apresentaram uma melhora considerável na toxicidade, de acordo com os valores apresentados na Tabela 4.15. Tabela 4.15: Resultados de toxicidade obtidos com o chorume pré-tratado e ozonizado em diferentes condições Dosagens de Microtox CE50% Daphnia CE50% Artemia CL50% B. rerio CL50% 0,1 0,5 1,5 3,0 Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2 1,18 3,35 7,88 2,45 19,6 29,8 9,25 13,24 1,33 2,15 6,13 2,58 26,0 37,35 11,07 10,79 0,41 1,95 6,30 3,60 29,46 32,77 11,07 14,48 0,37 1,56 6,30 4,46 43,04 33,36 15,87 14,48 Ozônio Para as diferentes dosagens de ozônio aplicadas neste trabalho, as bactérias foram os organismos mais sensı́veis quanto à toxicidade. Houve um decréscimo da CE50 nos testes com Microtox, apresentando-se o efluente mais tóxico quando maiores dosagens de ozônio foram empregadas (1,5 e 3,0 g /L), como indicado na Tabela 4.15. Para Daphnia, Artemia e Brachydanio rerio observou-se um resultado inverso. O acompanhamento da toxicidade revelou uma tendência de diminuição com o aumento na dosagem de ozônio, com certa estabilidade para as maiores dosagens aplicadas. 84 Os resultados obtidos com as amostras ozonizadas para Daphnia similis mostrados na Tabela 4.16, comprovaram uma melhora obtida com este tratamento quando houve ajuste da salinidade. Neste caso as dosagens de ozônio referentes a 1,5 e 3,0 g /L só apresentaram indı́cios de toxicidade. Os resultados relativos ao parâmetro efeito tóxico encontram-se ilustrados na Figura 4.16. Tabela 4.16: Avaliação global da toxicidade do chorume pré-tratado e ozonizado (diferentes dosagens) para Daphinia similis. Amostras com salinidade corrigida ( Amostra- gem). Amostra 0,1 0,5 1,5 3,0 CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) TOXICIDADE CLASSIFICAÇÃO DA AMOSTRA 4,6 3 4 68 T* Péssimo 3,7 1 2 68 T* Péssimo 4 5 12 BIT** Bom 3 4 36 AIT* Regular * - Tóxica * - Baixo Indı́cio de Toxicidade ** - Alto Indı́cio de Toxicidade 85 Figura 4.16: Resposta do parâmetro efeito tóxico para amostras ozonizadas em diferentes condições ( amostragem) Nos testes com peixe, a mortalidade foi observada antes mesmo de 24 horas, as demais leituras mantiveram o resultado, ou seja, o efeito resulta nas primeiras horas. A ozonização do chorume contribuiu para uma certa redução de sua toxicidade em relação ao chorume simplesmente pré-tratado. Para os organismos B.rerio e Artemia a ozonização, mesmo com baixa dosagem (0,1 ), promoveu redução da toxicidade. Os valores da CE50% se alteraram de 7,07 para 9,25, de 17,44 para 19,60 (amostra 1), para B.rerio e Artemia, respectivamente. Para Daphnia o parâmetro efeito tóxicoobservado foi de 40% para o chorume pré , indicando um aumento da toxicidade tratado e 68% para o ozonizado com 0,1 com a ozonização. No entanto, para as maiores dosagens o efeito observado caiu para 12 e 36% Figura 4.16. Como comentado, é difı́cil saber que compostos orgânicos contribuem para a toxicidade do chorume. Estudos feitos por BÖHME et al. [89] e MARTTINEM et al. [42] empregando cromatografia, revelaram que a ozonização foi efetiva para degradar hidrocarbonetos poli-aromáticos e clorofenóis presentes no chorume. 4.6.4 Efluente Fracionado Os permeados obtidos por fracionamento em membranas apresentaram menor efeito tóxico observado nos testes com Microtox e com o microcrustáceo Artemia salina. 86 Para a bactéria do teste Microtox, os dados da Tabela 4.17 indicam que os compostos de menor massa molecular contribuem mais para a toxicidade do que os de maior massa. Para Artemia, os resultados de CL50% são próximos em todas as frações permeadas, no entanto, o simples fracionamento na membrana de corte 50.000 Da já proporcionou uma redução da toxicidade em relação ao chorume pré-tratado (CL50 passou de 17,44 (Amostra1) e 32,21 (Amostra2) para 39.06 (Amostras 1 e 2)). Portanto, pode-se supor que há compostos de alto peso molecular ( ) conferindo alguma toxicidade ao chorume. Para Daphnia os resultados foram inesperadamente piores, ou seja, os valores de CE50 das diversas frações diminuı́ram muito em relação aos valores obtidos para o efluente pré-tratado. Esses resultados, de difı́cil interpretação, mostram como efeitos antagônicos podem ser observados, dependendo do organismo empregado no teste de toxicidade. Tabela 4.17: Toxicidade avaliada nos permeados obtidos nos processos de permeação com membranas Permeado Microtox CE50% Daphnia CE50% Artemia CL50% Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2 50.000 Da 15,51 13,24 7,04 0,51 39,06 39,06 20.000 Da 6,82 8,85 0,32 0,32 41,91 39,85 5.000 Da 5,35 5,71 0,32 0,32 35,93 28,42 A complexidade do chorume, dificulta uma análise conclusiva dos resultados, tendo em vista que efeitos sinérgicos poderam estar presentes. LAGE [38] evidenciou que membranas com corte de 50.000 e 20.000 Da, removem praticamente todos os compostos que possuem alto peso molecular, mas os cloretos, que afetam particularmente Daphnias, permeiam livremente pela membrana. Segundo CARLSON-EKVALL e MORRISON [71] a presença de ı́ons cloreto contribui para o aumento da toxicidade, determinada no teste com Microtox, pois ocorre diminuição de emissão de luz quando este ı́on está presente em grande quantidade na amostra, devido à formação de complexos com ı́ons de metais dissolvidos. De acordo com a literatura o cloreto pode ser um dos causadores da toxicidade no permeado obtido neste processo de tratamento. MUNKITTRICK et al. [76] verificaram que os testes realizados com Microtox apresentaram maior sensibilidade para certas formulações comerciais, como os herbicidas e 87 pesticidas do que para substâncias quı́micas isoladas. Análises com Microtox apresentaram maior toxicidade para o chorume do que para compostos quı́micos puros. O mesmo comportamento se repetiu para o organismo Daphnia similis quando submetida, ao ajuste de salinidade, conforme mostrado na Tabela 4.18. Os resultados de CE50 nela apresentados, quando confrontados com os da Tabela 4.17 ( amostragem), evidenciam que a toxicidade é alta e persiste mesmo após o ajuste da salinidade. Tabela 4.18: Toxicidade para Daphnia similis das diferentes frações permeadas após o ajuste da salinidade ( Amostra CE50% amostragem) CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) TOXICIDADE CLASSIFICAÇÃO DA AMOSTRA 50.000 Da 0,29 0,01 0,1 100 T* Péssimo 20.000 Da 0,32 0,1 1 100 T* Péssimo 5.000 Da 0,34 0,1 1 100 T* Péssimo * - Tóxica 4.6.5 Permeados submetidos ao arraste com ar para remoç ão de amônia Na Tabela 4.19 encontram-se os resultados obtidos nos ensaios de toxicidade realizados com os efluentes que passaram pelo processo de arraste da amônia, para os organismos: bactéria Vibrio fisheri (Sistema Microtox) e microcrustáceos Daphnia similis e Artemia salina. Cabem as seguintes observações: i) houve significativa redução da toxicidade para Artemia, com drástica redução do efeito tóxico para os permeados; ii) para Daphnia similis praticamente não houve redução de toxicidade em relação às amostras não submetidas ao arraste; iii) para o Microtox também quase não houve alteração nos nı́veis de toxicidade. Não foram feitos testes com B.rerio por insuficiência de volume de amostra. 88 Tabela 4.19: Resultados de toxicidade para amostras permeadas e submetidas ao arraste com ar (primeira e segunda amostragens) Permeado Microtox CE50% Daphnia CE50% Artemia Efeito% Am1 Am2 Am1 Am2 Am1 Am2 50.000 Da 18,2 5,57 7,75 3,05 11 0 20.000 Da 6,7,67 6,57 0,32 1,36 24 0 5.000 Da 6,57 3,95 0,29 0,33 53 15 Apesar dos efluentes fracionados apresentarem valores de amônia que se enquadram 20 [81] (5,0 mg/L), estes não foram suficientes para eliminar na legislação CONAMA a toxicidade das amostras, com exceção da ação tóxica para o organismo Artemia salina. Os efeitos da salinidade sobre o organismo Daphnia similis, não foram significativos neste tratamento, como mostram os resultados na Tabela 4.20. Tabela 4.20: Toxicidade dos permeados para Daphnia similis após o ajuste de salinidade Amostra CE50% CENO (%) CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) TOXICIDADE CLASSIFICAÇÃO DA AMOSTRA 50.000 Da 3,8 2 3 88 T* Péssimo 20.000 Da 0,65 0,1 1 100 T* Péssimo 5.000 Da 0,32 0,1 1 100 T* Péssimo * - Tóxica De todos os ensaios evidencia-se que não se pode atribuir à amônia, isoladamente, a causa da toxicidade do efluente. A toxicidade do chorume tem sido pouco correlacionada com a concentração de amônia e a DQO, no entanto, a remoção conjunta destes dois parâmetros parece reduzir a toxicidade do chorume. Esta hipótese orientou o trabalho desenvolvido por MARTTINEN et al. [42], que em seu experimento para remoção da amônia por arraste com ar, verificou que o chorume apresentou uma toxicidade mais elevada para Daphnia, mesmo quando cerca de 89% de amônia havia sido removida. A justificativa para o efeito tóxico observado nesse experimento foi atribuı́da ao ajuste de pH, que foi aumentado para 11. Esta variação pode ter 89 causado alguma mudança reversı́vel no conteúdo orgânico do chorume e com isso rendido alguns constituintes no chorume mais tóxicos para Daphnia. No presente trabalho os resultados foram diferentes dos obtidos por alguns autores, mas a justificativa citada acima pode ser perfeitamente plausı́vel, visto que a alteração de pH pode provocar mudanças na matriz orgânica e inorgânica do efluente. Os resultados para o microcrustáceo Artemia salina após o fracionamento (efeito tóxico) são absolutamente menores do que para as amostras fracionadas sem remoção da amônia, mostrando que o arraste fez com que houvesse uma diminuição considerável nos valores de toxicidade. Houve redução relevante nos valores de CL50, principalmente na amostra fracionada em uma membrana de 50.000Da, como mostra a Tabela 4.21, cujos resultados estão expressos em relação ao efeito tóxico observado (em porcentagem), ou seja, a razão entre o total de organismos afetados pelo total de organismos testados. Baixo indı́cio de toxicidade foi obtido para o permeado da membrana com corte equivalente a 20.000Da. O permeado da membrana com corte de 5.000Da mostrou-se tóxico para Artemia salina, mas ainda assim, o arraste da amônia promoveu uma redução do efeito tóxico para esse efluente. Tabela 4.21: Resultados de toxicidade para Artemia salina expressos em termos de diversos parâmetros Artemia salina Amostra CE50% CENO (%) CEO Amostragem (%) Efeito (%) GRAU DE (%) TOXICIDADE 50.000 Da 20.000 Da 5.000 Da 66,71 CE50% NT* DA AMOSTRA Excelente 30 50 23 BIT** Bom 10 30 53 T*** Ruim Artemia salina Amostra 0 CLASSIFICAÇÃO CENO (%) CEO (%) Amostragem Efeito (%) GRAU DE (%) TOXICIDADE CLASSIFICAÇÃO DA AMOSTRA 50.000 Da 0 NT* 20.000 Da 0 NT* Excelente 15 BIT** Bom 5.000 Da 50 70 * - Não Tóxica * - Baixo Indı́cio de Toxicidade ** - Tóxica 90 Excelente 4.6.6 Efluente pré-tratado submetido ao arraste com ar para remoção de amônia Os melhores resultados com relação à toxicidade, com o emprego da técnica de arraste, foram obtidos para o efluente pré-tratado por coagulação/floculação, para o qual a toxicidade foi totalmente eliminada para certos organismos, conforme indicam os resultados apresentados na Tabela 4.22. Tabela 4.22: Resultados da toxicidade para o efluente pré-tratado e submetido ao arraste com ar. Microtox CE50% Am1 Am2 Daphnia CE50% Am1 Am2 Artemia Efeito% Am1 Am2 29,67 13,97 0 36,21 11,35 4 Esses resultados, obtidos para o efluente pré-tratado, podem ser considerados surpreendentes, pois a remoção de toxicidade foi significativa. A CE50 para Daphnia praticamente dobrou e houve também um aumento muito expressivo deste parâmetro para o ensaio Microtox. Para Artemia salina os resultados foram muito bons, só tendo sido possı́vel calcular o efeito observado. Os resultados para este organismo encontram-se detalhados na Tabela 4.23. Tabela 4.23: Resultados da toxicidade para Artemia salina determinados para o chorume pré-tratado e submetido ao arraste com ar. CE50% CENO (%) Artemia salina Amostragem CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) TOXICIDADE 0 NT* Artemia salina Amostragem CEO (%) Efeito (%) GRAU DE (%) CLASSIFICAÇÃO DA AMOSTRA Excelente CE50% CENO (%) TOXICIDADE 50 70 4 NT* CLASSIFICAÇÃO DA AMOSTRA Excelente *- Não Tóxico Os resultados obtidos para Daphnia similis, quando efetivada a correção de salinidade, foram excelentes, conforme indicado na Tabela 4.24. 91 Tabela 4.24: Resultados de toxicidade para Daphnia similis com amostras do efluente pré-tratado e submetido ao arraste com ar. Amostras com salinidade corrigida. CE50% CENO (%) 5 CEO (%) Efeito (%) 0 GRAU DE (%) CLASSIFICAÇ ÃO TOXICIDADE DA AMOSTRA NT* Excelente *- Não Tóxico Neste caso (chorume pré-tratado), a contribuição da amônia para a toxicidade parece evidente. O mesmo efeito, porém não foi observado para os permeados do efluente pré-tratado submetidos ao arraste. É difı́cil encontrar explicações para esses resultados somente com base nos dados experimentais coletados. No entanto, pode-se refletir sobre algumas causas para essa diferença de resultados. O fracionamento removeu substâncias de alta massa molecular, que poderiam interagir com ı́ons presentes no chorume (inclusive o ı́on amônio), alterando o equilı́brio iônico da fase lı́quida, com consequente efeito na toxicidade. Outra possı́vel influência, refere-se ao efeito de consecutivas alterações do pH das amostras, o que pode provocar alterações na matriz dos componentes do efluente. Assim, o chorume pré-tratado e submetido ao arraste teve o seu pH ajustado três vezes até o ajuste para o teste de toxicidade. Para os permeados do pré-tratado submetidos ao arraste, esse ajuste teve quatro etapas. A variação do pH prévia ao teste de toxicidade pode alterar o efeito da amônia e, consequentemente, o efeito tóxico do chorume para os organismos teste, como citado na literatura [88, 104]. 4.7 Comentários finais sobre os tratamentos realizados Com a finalidade de sumarizar os resultados obtidos no conjunto amplo de testes efetuados, encontram-se nas Tabelas 4.25 e 4.26 os principais parâmetros monitorados e os respectivos valores, para as amostragens 1 e 2, respectivamente. 92 Tabela 4.25: Sumário dos principais parâmetros monitorados nos diversos tratamentos( amostragem) Parâmetros Monitorados (Amostra1) Efluentes DQO ( COT ) ( ) ( Cor ) ( Microtox ) CE50(%) Daphnia CE50(%) Artemia CL50(%) B.rerio CL50(%) (Efeito) Ch.Bruto 3455 815 802 5250 15,02 2,26 11,89 2,24 Ch.Pré-Tratado 2670 690 * 1550 0,3 6,42 17,44 7,07 Ch.Ozonizado 3025 647 * 930 1,18 7,88 19,55 9,25 2955 686 * 500 1,33 6,13 26,02 11,07 2630 856 * 300 0,41 6,3 29,46 11,07 1970 762 * 250 0,37 6,3 43,04 15,87 1850 845 1679 1520 15,51 7,04 39,06 * 1310 492 1296 630 6,82 0,32 41,91 * 1250 485 1515 540 5,35 0,32 35,93 * 1840 807 4,94 1430 18,15 7,75 (0 100) * 1080 442 2,91 608 7,67 0,32 (23 100) * 1420 560 1,19 * 6,57 0,29 66,71 * 2480 841 1,0 2275 29,97 13,97 (0 100) (0,1 ) Ch.Ozonizado (0,5 ) Ch.Ozonizado (1,5 ) Ch.Ozonizado (3,0 ) Permeado 50.000Da Permeado 20.000Da Permeado 5.000Da Arraste c/ ar 50.000Da Arraste c/ ar 20.000Da Arraste c/ ar 5.000Da Arraste c/ ar e Pré-Tratado * - Não Calculado 93 * Tabela 4.26: Sumário dos principais parâmetros monitorados nos diversos tratamentos( amostragem) Parâmetros Monitorados (Amostra2) Efluentes DQO ( COT ) ( Cor ) ( ( Microtox ) CE50(%) Daphnia CE50(%) ) Artemia CL50(%) B.rerio CL50(%) (Efeito) Ch.Bruto 3470 1001 754 6925 11,27 2,04 25,58 2,24 Ch.Pré-Tratado 2530 757 * 2225 0 2,78 32,21 7,07 Ch.Ozonizado 2900 898 * 1480 3,35 2,45 29,80 13,24 3310 957 * 890 2,15 2,58 37,35 10,79 2710 968 * 540 1,95 3,6 32,77 14,48 1190 845 * 200 1,56 4,46 33,36 14,48 1900 898 1451 2160 13,24 0,51 39,06 * 1670 629 1394 2040 8,85 0,32 39,85 * 1480 576 1591 790 0,32 28,42 * c/ ar 1750 860 1,45 1292 5,57 3,05 0 100 c/ ar 1590 416 0,80 580 6,57 1,36 0 100 c/ ar 1430 570 1,96 730 3,95 0,33 15 100 Arraste c/ ar e 2990 1084 3,91 3100 36,21 11,35 2 100 (0,1 ) Ch.Ozonizado (0,5 ) Ch.Ozonizado (1,5 ) Ch.Ozonizado (3,0 ) Permeado 50.000Da Permeado 20.000Da Permeado 5.000Da Arraste 50.000Da Arraste 20.000Da Arraste 5.000Da Pré-Tratado * - Não Calculado 94 * * * * Alguns comentários podem ser feitos relativamente aos processos de tratamento investigados. No tocante à remoção de matéria orgânica (DQO e COT) houve uma pequena, mas apreciável, contribuição do pré-tratamento (coagulação floculação). A ozonização, por sua vez, contribuiu pouco para a redução da matéria orgânica, obtendo-se resultados mais expressivos para a DQO quando condições mais elevadas de dosagem de ozônio foram empregadas (3,0 ). A técnica de ultrafiltração foi a mais efetiva para a remoção da matéria orgânica, obtendo-se bons resultados quando utilizada uma membrana de 20.000Da, que assegura um bom compromisso em termos de fluxo de permeado e eficiência. Na Figura 4.17 estão mostrados os valores de DQO dos efluentes obtidos com diversas técnicas de tratamento. Figura 4.17: Valores da DQO do chorume submetido a diferentes tratamentos Chorume Bruto; Chorume Pré-tratado; Chorume Ozonizado (3,0 ); Permeado na membrana de 50.000Da; Permeado na membrana de 20.000Da; Permeado na membrana de 5.000Da A amônia foi removida de modo muito intenso com a técnica de arraste por ar, que assegurou, no efluente tratado, nı́veis sempre inferiores a 5 . No entanto, o emprego desta técnica exige aumento significativo do pH e um tempo de operação 95 razoável. Ademais, essa técnica transfere o poluente para a atmosfera, podendo ser exigido tratamento da fase gasosa. A cor foi removida em nı́veis elevados por todas as técnicas testadas. Evidentemente, a ozonização e o fracionamento por membranas foram muito efetivos para tal finalidade. Para a remoção da toxicidade, os melhores resultados foram obtidos para o chorume pré-tratado (coagulação floculação) e submetido ao arraste com ar para a remoção da amônia. De um modo geral, os organismos testados tiveram respostas diferentes em relação à toxicidade do chorume tratado de diversas formas. Entretanto, todos os tratamentos investigados contribuı́ram de algum modo para redução da toxicidade, como mostram as Figuras 4.18 a 4.20. Figura 4.18: Resultados da Toxicidade nos diferentes tratamentos investigados na amostragem Chorume Bruto; Chorume Pré-tratado; Chorume Ozonizado (3,0 membrana de 50.000Da (B.rerio não testado nessa avaliação) 96 ); Permeado na Figura 4.19: Resultados da toxicidade nos diferentes tratamentos investigados na tragem Chorume Bruto; Chorume Pré-tratado; Chorume Ozonizado (3,0 amos- ); Permeado na membrana de 50.000Da (B.rerio não testado nessa avaliação) Figura 4.20: Resultados da toxicidade para os efluentes submetidos ao arraste de amônia com ar em ambas as amostragens PA50.000-Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 50.000Da; PA20.000- Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 20.000Da; PA5.000-Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 5.000Da; PTA- Pré-Tratado e submetido ao arraste 97 com ar Figura 4.21: Resultados do Efeito observado no teste de toxicidade para Artemia Salina para os efluentes submetidos ao arraste de amônia nas duas amostragens PA50.000-Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 50.000Da; PA20.000- Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 20.000Da; PA5.000-Permeado e submetido ao arraste com ar na membrana de 5.000Da; PTA- Pré-Tratado e submetido ao arraste com ar 98 Capı́tulo 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES Como conclusões deste trabalho, podemos observar as seguintes constatações: Os dados obtidos neste trabalho revelaram que o chorume gerado no Aterro Metropolitano de Gramacho apresenta um elevado teor de compostos recalcitrantes e elevada toxicidade para todos os organismos testados. O pré-tratamento do chorume pelo processo de coagulação/floculação promoveu uma certa remoção da matéria orgânica (de 23 a 27% da DQO e de 15 a 24% do COT) e uma elevada remoção da cor desse efluente (da ordem de 70%). Como era esperado, não houve remoção significativa dos metais presentes no chorume. Porém, a utilização de sulfato de alumı́nio no processo levou a um expressivo aumento do teor de Al no efluente tratado, que atingiu nı́veis muito superiores ao padrão de lançamento. O pré-tratamento promoveu uma certa redução da toxicidade do efluente para os organismos Artemia salina e Brachydanio rerio. A ozonização do chorume pré-tratado não foi efetiva para remoção da matéria orgânica. Somente quando elevadas dosagens de ozônio foram empregadas (3 ) observou-se alguma remoção desses poluentes em termos de DQO (de 36 a 60%). A remoção de cor foi muito efetiva nesse processo, atingindo-se nı́veis de 80 a 90% para as maiores dosagens de ozônio. Quanto à toxicidade foram observados efeitos distintos para os diversos organismos testados. Para as dosagens elevadas de ozônio houve redução da toxicidade para Daphnia similis, Artemia salina e Brachydanio rerio. No entanto, a toxicidade determinada no teste Microtox, em contraste com as demais, aumentou no efluente ozonizado. Observou-se apreciável remoção de matéria orgânica para o efluente permeado, obtendo-se, em termos de DQO reduções na faixa de 27 a 52%, com tendência crescente para as membranas de menor tamanho de corte. A remoção de cor foi bastante efetiva para a membrana com corte de 5.000. Esses resultados indicam que os composto de massa molar maior do que 5.000 Da contribuem significativamente para o conteúdo de matéria orgânica e para a cor do efluente. No que se refere à toxicidade, este parâmetro não mostra uma tendência clara de variação nas diversas frações de permeado testadas. Para os organismos Daphnia similis e para a bactéria Vibrio fisheri (Microtox) houve uma aumento da toxicidade nas frações permeadas. Para Artemia salina houve uma redução da toxicidade em relação ao chorume pré-tratado, no entanto para os diferentes permeados houve uma leve tendência de aumento desse parâmetro com a diminuição do tamanho de corte da membrana. Para remover o alto teor de amônia presente no chorume, empregou-se a técnica do arraste com ar em pH elevado, visando a redução da toxicidade do efluente. Essa técnica permitiu reduzir a concentração de amônia para nı́veis inferiores a 5 mg/L. O efluente pré-tratado submetido ao arraste com ar teve a sua toxicidade significativamente reduzida. Observou-se que o efeito tóxico para Artemia salina foi nulo e para os demais organismos testados (Daphnia similis e Vibrio fisheri) houve sensı́vel aumento do parâmetro CE50. Para o chorume pré-tratado e posteriormente fracionado em membranas, observou-se uma redução marcante da toxicidade para Artemia salina, em especial para o fracionado na membrana de 50.000 Da. Entretanto, para Daphnia similis e Vibrio fisheri não foi observada apreciável redução da toxicidade. Dos organismos testados para avaliar a toxicidade do chorume bruto ou tratado por diversas técnicas, a bactéria Vibrio fisheri (Microtox) mostrou-se o mais sensı́vel. Daphnia similis também mostrou-se muito sensı́vel aos efluentes testados, mesmo quando houve a necessária correção de salinidade. O peixe Brachydanio rerio foi menos afetado nos testes em que foi empregado. Trata-se de um organismo muito adequado para o trabalho de laboratório e representativo dos ecossistemas aquáticos. O microcrustáceo Artemia salina foi o organismo menos afetado e permitiu indicar que alguns dos tratamentos efetuados levaram a redução total do efeito tóxico do efluente. Esses resultados evidenciam a importância de se trabalhar com 100 diferentes organismos representativos da cadeia trófica, que podem apresentar respostas diferentes quanto à toxicidade dos efluentes. Com vistas à continuidade deste trabalho, são feitas as seguintes sugestões: Quanto ao tratamento do chorume sugere-se investigar uma combinação das técnicas de precipitação de metais, na forma de hidróxidos, conjugada com a operação de arraste da amônia com ar, visto que esses processos ocorrem em valores elevados de pH. Evidentemente, o tratamento dos gases deverá ser considerado. Como foi observado, os compostos de alta massa molar presentes no chorume são responsáveis por grande parte da cor e da DQO ou COT desse efluente. Assim, a técnica de ultrafiltração pode ser investigada mais detalhadamente, procurando-se selecionar uma membrana adequada que permita obter remoções apreciáveis dos poluentes com um bom fluxo operacional. A forte presença de compostos de alta massa molar no chorume não permitiu que elevadas eficiências de mineralização fossem obtidas no processo de ozonização. Assim, recomenda-se a utilização combinada de ozônio e UV para incrementar as taxas de oxidação desses compostos. A toxicidade do chorume, revelada neste estudo, deve ser melhor avaliada através de monitoramento periódico do chorume, que contemple não apenas os efeitos tóxicos agudos como também aqueles crônicos. Deve-se estimular os estudos de levantamento de vazões de efluente e do corpo receptor, para melhor estimar os efeitos de diluição. A importância dos testes de toxicidade, ressaltada neste trabalho, deve ser levada em conta no âmbito da legislação estadual, de forma clara e regulamentada para prevenir a constante agressão aos ecossistemas aquáticos e estabelecer critérios de lançamento de efluentes mais seguros. 101 Referências Bibliográficas [1] J. 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